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Alterações dos mecanismos inibitórios dependentes de GABA
A atividade epileptiforme está amplamente associada a uma hipofunção dos
sistemas inibitórios, fundamentalmente daqueles de neurotransmissão mediados por
GABA. A facilidade em localizar neurônios inibitórios GABAérgicos, por detecção da
enzima descarboxilase do ácido glutâmico (GAD), levou muitos autores a pesquisar
se as epilepsias se acompanham da perda de neurônios GAD-positivos (Ribak, et
al., 1979). Um estudo imunohistoquímico para GAD demonstrou uma diminuição
significativa de terminais GAD-positivos no foco epiléptico induzido
experimentalmente em macacos por aplicação cortical de gel de AlCl
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(Ribak et al.,
1979). Esses estudos levaram a hipótese de que existe uma redução do controle
sináptico inibitório de neurônios piramidais do hipocampo proporcionando uma
hipersensibilidade dos mesmos ao influxo excitatório normal. Esta hipótese tem sido
considerada a base da teoria do GABA na epilepsia (Avanzini et al., 1985). Neste
sentido, vários trabalhos mostraram diminuição da inibição sináptica hipocampal
tanto na fase aguda como na crônica do modelo de epilepsia induzido pelo ácido
caínico (Sloviter e Damiano, 1981; Fisher e Alger, 1984; Cornish e Wheal, 1989).
Apesar das diversas observações de hipofunção GABAérgica, algumas
investigações têm demonstrado que muitos interneurônios inibitórios GABAérgicos
sobrevivem na ELT humana e em modelos experimentais. Especificamente, no
modelo de ELT induzido pela pilocarpina, um estudo imunocitoquímico para GAD,
na fase crônica do modelo, demonstrou a preservação de alguns neurônios GAD-
imunoreativos no hipocampo de ratos com epilepsia (Cavalheiro, 1990). Esses
dados são corroborados por trabalhos em hipocampo humano ressecado de
pacientes com epilepsia, onde existe uma perda acentuada de neurônios piramidais,
porém muitos interneurônios inibitórios estão, de certa forma, preservados (Babb et
al., 1989; Lanerolle et al., 1989). O fato de neurônios GABAérgicos estarem
preservados em tecido com comprovada epileptogenicidade levou muitos autores a
pensar sobre a existência da hipofunção dos mesmos. Diferentes hipóteses foram
propostas para explicar tal déficit inibitório GABAérgico na ELT, desde alterações
funcionais no transportador de GABA (During et al., 1995) até alterações nas
subunidades do receptor de GABA
A
(Gibbs et al., 1996). Realmente, as epilepsias
como processo de plasticidade neuronal alterada produz mudanças significativas a
longo prazo no sistema GABAérgico, as quais podem participar na epileptogênese
crônica (Houser e Esclapez, 1996).
Apesar do importante papel da inibição GABAérgica, mais recentemente, vem
crescendo o número de evidências de sua ação despolarizante. A despolarização
induzida por GABA tem sido apontada com papel de destaque na geração de
atividade interictal e ictal em modelos experimentais (Higashima et al., 1996;
Fujiwara-Tsukamoto et al., 2003) e em tecido humano proveniente de cirurgia de
epilepsia (Cohen et al., 2002). Foi proposto que a sincronização das crises poderia
ser gerada pela transmissão GABAérgica excitatória num foco epileptogênico que
seria propagado sincronicamente para regiões corticais (Isomura et al., 2003). Esta