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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS
-
GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
-
MESTRA
DO
MAIANGO DIAS
Absenteísmo em
contact center
-
Estudo de caso com preditores micro e macro
-
organizacionais
Uberlândia
2005
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1
MAIANGO DIAS
Abse
nteísmo em
contact center
-
Estudo de caso com preditores micro e macro
-
organizacionais
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Psicologia Aplicada
Mestrado
do Instituto de Psicologia da Universidade
Federal de Uberlândia como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Psicologia
Aplicada.
Área de concentração: Psicologia Social e do
Trabalho.
Orientadora: Profa. Dra. Maria do Carmo
Fernandes Martins
Uberlândia
2005
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2
FOLHA
DE
APROVAÇÃO
Maiango Dias
Absenteísmo em
co
ntact center
Estudo de caso com preditores micro e macro
-
organizacionais
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Psicologia Aplicada
Mestrado
do Instituto de Psicologia da Universidade
Federal de Uberlândia como requisito parcial à
obt
enção do título de Mestre em Psicologia
Aplicada.
Aprovada em 25 de Abril de 2005.
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra.: Maria do Carmo Fernandes Martins (Presidente)
Instituição: Universidade Federal de Uberlândia
Uberlândia, MG.
Prof. Dr.: Jairo Eduar
do Borges
-
Andrade (Membro)
Instituição: Universidade de Brasília, Brasília, DF.
Prof. Dr.: Sinésio Gomide Junior (Membro)
Instituição: Universidade Federal de Uberlândia
Uberlândia, MG.
3
Dedico esta obra especialmente a meus
pais,
Vânia e Marcos, e à minha avó, Maria Helena,
pela compreensão e pelo suporte irrestrito às
minhas decisões pessoais e profissionais,
possibilitando, assim, esta realização.
4
AGRADECIMENTOS
A meus pais, Vânia e Marcos, por tudo. Amor incondicional, suporte, liberdade,
educação, cultura, respeito e tantas outras coisas. Espero que, de uma forma ou de outra,
vocês tenham ciência da importância que m em minha vida, mas que essas palavras não
explicam.
À minha avó, Maria Helena, por ser minha mãe em Uberlândia, durante tantos anos
aprendendo a conviver com costumes tão diferentes. Durante tantos anos me ensinado
também. E como teve paciência!
A meus irmãos, Glaiko e Tarik, pela amizade, pelo respeito, pela torcida e, porque
não, pelas dores de cabeça que me causaram algumas vezes! São coisas que fazem a gente
crescer. E lembrem
-
se de que eu torço muito por vocês.
Às minhas famílias, Rahal, Hamam, Dias e Gomes (só sobrenomes, para não ser
injusto). Agradeço aqui pelo conjunto de valores herdado, pela ética e moral que ultrapassam
as crenças e as experiências. E é claro, pela felicidade que me proporcionam diariamente.
À Maria do Carmo Fernandes Martins, uma orientadora e inspiradora, com todos os
superlativos que um professor pode ter. Pela confiança, paciência, respeito, competência,
ética, brilho. Conhecendo você, qualquer um acredita que vale a pena ser um professor. Me
ensinou muito, me inspirou muito mais.
Aos professores do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia,
especialm
ente ao Luis Avelino, à Maria José (Zezé), Rita Gandini, Sinésio Gomide Jr.,
Ederaldo Lopes, Cláudia Cunha, Marília Dela Coleta. Ensino, exemplo, amizade.
À Marineide, por todo o suporte técnico junto à UFU, desde os tempos de graduação.
Sua presença cons
tante sempre foi um conforto e uma alegria.
Aos membros da banca, pela dedicação e pelas valorosas contribuições, que espero
aproveitar da melhor maneira possível.
5
Aos meus professores da Universidade de Brasília, Luiz Pasquali, Mário César, Ana
Magnólia
e, especialmente, à Gardênia Abbad. Em pouco tempo, vocês me facultaram um
crescimento desproporcional pelos caminhos da ciência.
Ao Anselmo, diretor de operações da organização estudada, que proporcionou todo o
apoio necessário à realização deste estudo. Não menos importantes neste quesito, destaco a
participação do coordenador do projeto de atendimento pesquisado e de seus gerentes, que se
desdobraram para facilitar a coleta de dados.
Ao Rondinelli e ao Adams, responsáveis por toda a tecnologia envolvida na coleta de
dados. Uma ajuda preciosa, que evitou incontáveis dias de digitação e sistematização de
bancos de dados. Contem comigo a qualquer hora.
Às estagiárias fundamentais em rias etapas da pesquisa: Andréia, Meline, Gizele,
Samira, Maura, Rafae
la, Lucielle, Micheli e Alina.
Aos colegas do PGPSI que sempre estiveram na torcida e acreditaram em mim. Em
especial, ao Humberto Pinto Júnior, pela parceria de sucesso e presença de espírito; e à amiga,
colega e professora Marta Ajej, por tanta amizade,
confiança, suporte e parcerias realizadas.
Aos amigos Maja Meira e Francisco Coelho, cuja participação assídua em meus
primeiros passos de pós-graduação, nos mais diversos setores, me revelaram todos os lados
desse caminho.
Aos amigos de Campinas que sempre estiveram comigo: Camila Marion, Thaís
Teixeira, Alessandro Furlan, André Biajoli, Adriano Almeida e Tatiane. Aos amigos Gustavo
Canato, Pedro e Janaína Sevá, Ricardo e Rodrigo Duarte, Leandro Romanini e Édio Júnior.
Aos inesquecíveis amigos da vida uberlandense: Juninho, Walter, Niltinho, Déborah e
Fróid, que abriram meus horizontes para além da sala de aula; Érika, Flávio, Ugues, Gustavo,
João Pedro, Marcus Paulo, Daniel e Vinícius, por tudo que aprendemos juntos no curso de
Administração; ao Flávio
, Luciana, Rosana, Vanessa, Carol, Michela, Rosiane e Juliana, pelas
experiências compartilhadas e pela amizade eterna; às grandes amigas Vanessa e Marina, que
6
estão começando, e Alice, Elisane, Janaína, Gesiane, Marjorie e Daniela que ainda virão para
a p
ós, mas que sempre estiveram me apoiando.
À Tatiana Martins de Aquino, que esteve ao meu lado em alguns dos momentos mais
importantes de minha vida; e a toda sua família, que é impar, obrigado pelo carinho e
amizade.
Aos amigos Rogério, Paulinho, Álvaro, Lúcia, Marcela, Renata, Francielly: vocês têm
sido fundamentais.
Às amigas Thaís Zerbini e Daren Tashima: por tudo de indescritível que passamos,
e sempre muito bem. Por mim, vocês são da família.
Lorraine Azevedo e Fernanda Machado: minhas amigas
Yi
n e
Yang
, que me
complementam em vários sentidos, e têm tornado minha vida mais feliz a cada dia. A vocês,
minha sincera gratidão e minha amizade eterna:
.
7
"Uma idéia que não é perigosa não merece ser chamada de idéia."
Oscar Wilde
"Para enxergar claro, bastar mudar a direção do olhar."
Antoine de Saint
-Exupéry
8
RESUMO
DIAS, M. Absenteísmo em contact center - Estudo de caso com preditores micro e macro-
organizacionais
. 2005. 109f. Dissertação (Mestrado). Instituto de Psicologia, Universidade
Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2005.
O objetivo geral deste estudo foi o de investigar a capacidade de explicação do Absenteísmo
no trabalho de operadores de tele-atendimento, através de um conjunto de variáveis micro e
macro
-organizacionais, especificamente, Percepção de Suporte Organizacional, Clima
Organizacional, Comprometimentos Afetivo e Calculativo e os cinco fatores globais de
Pe
rsonalidade aferidos pelo teste de personalidade 16PF. Para investigar estas relações, foi
realizado um estudo de caso em uma grande empresa de tele-atendimento (contact center), de
onde foi retirada uma amostra de 360 participantes, que respondeu a escalas validadas e
consistentes de percepção de Suporte, Clima, Comprometimentos Afetivo e Calculativo e ao
teste de personalidade. Quatro meses após este procedimento, foram recolhidos os dados de
Absenteísmo (total de dias perdidos). Foram, então, realizadas análises descritivas,
correlacionais e de regressão múltipla
stepwise
, tendo a medida de Absenteísmo como
variável dependente; estes procedimentos foram realizados para a amostra completa e,
posteriormente, para dois grupos da mesma amostra, de operadores
receptivos e ativos de tele-
atendimento. Os resultados indicaram, essencialmente, que o Absenteísmo da amostra geral
(7,1%) e dos operadores receptivos (6,8%) é pouco predito pelo modelo, que incluiu apenas a
percepção de Suporte (
-) e o fator de personali
dade Auto
-
controle (+), suposto como correlato
de Conscienciosidade (fator de personalidade do modelo Big Five que tem reconhecido
impacto sobre o desempenho geral). O modelo não explicou, significativamente, a variância
da amostra de operadores ativos. A relação entre a percepção de Suporte e o Absenteísmo é
9
coerente com o modelo e os relatos internacionais; por sua vez, a relação encontrada entre
Auto
-controle e a variável dependente é surpreendente, pois contraria a maior parte da
literatura. Entre os resultados, destaca-se a maior capacidade preditiva da variável macro-
organizacional sobre a única micro-organizacional que permaneceu no modelo, permitindo
inferir que o ambiente tenha maior controle sobre o comportamento contra-producente do que
as variáve
is individuais. Os resultados são discutidos à luz da literatura, destacando o papel da
percepção de suporte organizacional sobre o desempenho dos trabalhadores. As conclusões do
estudo refutam grande parte do modelo proposto, mas são reconhecidas as limitações do
estudo e várias perspectivas para novas pesquisas são oferecidas. Também são levantadas as
contribuições para a organização estudada, bem como para a prática dos profissionais de
recursos humanos.
Palavras
-chave: Absenteísmo, Suporte Organizacion
al, Personalidade no Trabalho.
10
ABSTRACT
DIAS, M. Contact center absenteeism
a case study with micro and macro-level predictors
.
2005. 109p. Dissertation (Masters). Instituto de Psicologia, Universidade Federal de
Uberlândia, Uberlândia, 2005.
The general objective of this study was to investigate the capacity of explanation of
Absenteeism among call center operators, through a set of micro and macro organizational
variables, specifically, Perceived Organizational Support, Organizational Climate, Affec
tive
and Calculative Commitment and the Five Global Factors of Personality (Big Five) surveyed
by the 16PF personality questionnaire. In order to investigate these relationships, a case study
in a great contact center company was carried through, from a sample of 360 participants
answered consistent and validated scales of perception about the measures under investigation
(of Organizational Support, Organizational Climate, Affective and Calculative Commitment
and the personality test). Four months after this procedure, the Absenteeism data (total of lost
days) has been collected. Descriptive and correlate analyses and multiple regression stepwise
have been, then, carried through, considering the measure of Absenteeism as a dependent
variable. These procedures have been carried through for the complete sample and, later, for
two groups of the same sample, of receptive and active call center operators. The results had
indicated, essentially, that Absenteeism in the general sample (7,1%) and among receptive
oper
ators (6,8%) is slightly predicted by the model, including perception of Support (-) and
the personality factor Self-control (+),a correlate of Conscientiousness (a personality factor of
the Big Five model that has a recognized impact on the general performance). The model did
not significantly explain variance in the active operators sample. The relationship between
Perceived Organizational Support and Absenteeism is coherent with the model and
11
international reports; otherwise, the relationship found between Self-control and the
dependent variable is surprising, since it contests most of the literature. Amongst the results,
the major predictive capacity of the macro-organizational variable over the only micro-
organizational variable that remained in the model must be pinpointed. This allows inferring
that the environment has a greater control over the counter-productive behavior than the
individual variable does. The results are discussed based on the literature, detaching the role
of Perceived Organizational Support on the workers behavior. The conclusions of the study
refute great part of the proposed model, but the limitations of the study are recognized and
several perspectives for new research studies are offered. Contributions for the studied
organizati
on are also raised, as well as for practice among human resources professionals.
Keywords: Absenteeism, Perceived Organizational Support, Personality at Work.
12
SUMÁRIO
1.
APRESENTAÇÃO, OBJETIVOS E JUSTIFICATIVA
14
2.
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO COMPORTAMENTO
ORGANIZACIONAL
19
3.
O PROBLEMA DO ABSENTEÍSMO
25
4.
VARIÁVEIS EM ESTUDO
35
4.1.
PERCEPÇÃO DE SUPORTE ORGANIZACIONAL
36
4.2.
CLIMA ORGANIZACIONAL
42
4.3.
COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL
48
4.4.
FATORES DE PERSONALIDADE NO TRABALHO
54
5.
MODELO E HI
PÓTESES
62
6.
MÉTODO
64
6.1.
CARACTERÍSTICAS DA ORGANIZAÇÃO
64
6.2.
PARTICIPANTES
67
6.3.
INSTRUMENTOS
67
6.4.
PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
70
6.5.
PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS
68
7.
RESULTADOS
72
7.1.
AMOSTRA E ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS
72
7.2.
CONFIABILIDADE DOS INSTRUMENTOS
74
7.3.
ESTUDO CORRELACIONAL
75
7.4.
ANÁLISES DE REGRESSÃO LINEAR
STEPWISE
76
7.4.1.
Etapa 1 (amostra geral)
77
7.4.2.
Etapa 2 (amostras parciais)
78
13
8.
DISCUSSÃO
81
9.
CONCLUSÕES E AGENDA DE PESQUISA
91
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
96
ANEXOS
101
14
1.
APRESENTAÇÃO
,
OBJETIVOS E JUSTIFICATIVA
Nas organizações contemporâneas, é crescente o reconhecimento dos profissionais de
Recursos Humanos (RH), que têm sido responsáveis por grandes evoluções nas relações
homem
-
empresa, as quais, notadamente, t
ê
m ev
oluído de uma situação de extrema exploração
do trabalhador, para uma relação de parceria, ou seja, cada vez mais os trabalhadores têm
papel ativo na troca estabelecida entre ambos. Prova disso, temos hoje grande interesse das
empresas em figurar na lista das melhores empresas para se trabalhar: é a empresa se
vendendo ao empregado
, buscando uma relação de troca, parceria.
Não se propõe uma simplificação inconseqüente das relações de trabalho, mas é
inegável o movimento real dos empregadores
para
a atração e retenção de talentos, de mão-
de
-obra de qualidade, capaz de gerar diferencial competitivo. Conseqüentemente, uma
pressão natural para um salto de qualidade da massa trabalhadora, para o desenvolvimento de
pessoal e para a gestão de RH.
O
reconheciment
o do papel estratégico do RH deve-
se
em parte também à adoção
,
pelas empresas, de normas nacionais e internacionais de
qualidade
, que valorizam
amplamente
a qualificação de pessoal, a aprendizagem contínua e a coerência entre discurso
(visão, missão,
marketing social)
e métodos
administrativos
(
FNPQ, 1999
).
É
inegável
, também, a contribuição dos resultados das pesquisas em Comportamento
Organizacional (CO), que facultam aos profissionais de RH e ge
rentes
, muitos dos
conhecimento
s e habilidades necessárias ao ganho de eficiência e eficácia na gestão de
pessoas
. A eficiência se traduz na melhoria das relações de trabalho, que por sua vez tem
promovido
a eficácia (resultados) das pessoas e das organizações.
15
Uma das revelações importantes que o estudo do CO pro
duziu diz respeito exatamente
ao papel fundamental que variáveis do nível macro-organizacional (como Clima e Suporte
Organizacionais) têm sobre o desempenho geral dos indivíduos, num sentido inverso àquele
que as práticas organizacionais ensinam aos gerentes, de que a responsabilidade pelo
desempenho cabe exclusivamente ao funcionário, ou seja, eximindo os gerentes da culpa
pelos fracassos organizacionais.
Neste sentido, desenvolver uma pesquisa como esta, que busca avaliar
comparativamente a influência de dados relacionados aos sujeitos trabalhadores (
natureza
micro
-organizacional) com dados relativos à organização como um todo (
natureza
macro-
organizacional), em relação ao absenteísmo na empresa, é fundamental para, entre outras
coisas,
faculta
r aos pr
ofissionais da área
informações preciosas sobre onde e como atuar.
A importância do estudo do CO para a melhoria das condições e relações de trabalho
em nossa sociedade, bem como a necessidade de se aprofundar os estudos na área, fica ainda
mais clara quan
do
se observam os prejuízos causados pelo desconhecimento de suas nuances
.
O absenteísmo, por exemplo, leva à diminuição da produção e, ao mesmo tempo, aumento de
despesas, como será debatido adiante.
Esta dissertação apresenta um estudo de caso, que teve como objetivo geral a
investigação
da capacidade de explicação do Absenteísmo no trabalho pelo modelo proposto,
que inclui variáveis de grande importância potencial para a predição de
desempenho
, por
exemplo.
Trata
-se, portanto, de uma pesquisa de objetivos explicativos, de acordo com a
tipologia de Borges
-
Andrade
e
Zanelli
(2004).
Como objetivos específicos, pode
-
se destacar
:
- comparação dos pesos relativos das medidas de nível micro-
organizacional
(Fatores de Personalidade e Comprometimento Organizacional Afetivo e
16
Calculativo) em relação às do nível macro-organizacional (Clima e Suporte
Organizacionais) na predição de Absenteísmo no trabalho.
-
investiga
ção
da capacidade de predição de Absenteísmo através do uso, em
seleção de pessoal, das características de personalidade avaliadas pelo teste
de
personalidade
16PF;
- investigação das possíveis diferenças, baseadas no modelo, na explicação do
Absenteísmo entre operadores ativos e receptivos
d
e
contact center
;
-
instrumentaliza
ção
dos profissionais de Recursos Huma
nos
para a atuação
visando
reduzir
o Absenteísmo;
Est
a pesquisa tem justificativa de cunho teórico e aplicado. Primeiro, os resultados
deste estudo podem dar suporte empírico a alguns modelos que têm se sobressaído na
explicação do CO. Em
segundo
lugar,
bu
sca
-se explicar comportamentos por variáveis de
diferentes níveis, determinando a parcela que se deve a cada um, almejando possíveis
interferências sobre sua ocorrência. Além disso, é vital instrumentalizar os profissionais de
recursos humanos,
seja
na tomada de decisão quanto à adoção de instrumentos de seleção
,
seja
na determinação das características
adequadas aos cargos, se houverem.
Todavia, a maior justificativa deste trabalho se pauta na importância da variável
Absenteísmo para a pesquisa em organiz
ações.
Os prejuízos advindos deste comportamento
são enormes, e envolvem muito mais do que aspectos financeiros, pois atingem a produção, o
grupo de trabalho e a própria Rotatividade de pessoal, entre outros. Portanto, entender os
mecanismos geradores do A
bsenteísmo
, e também de que forma é possível atuar para sua
redução, é um problema
de alta relevância para os pesquisadores e profissionais da área.
De implicação bastante prática, esta pesquisa ainda se justifica pela importância
sócio
-
econômica do setor estudado, que é
hoje um dos que mais gera empregos
n
o país
,
at
s apenas
da indústria do entretenimento (cultura, esportes). Somente no município sede da
17
organização
-
caso
, mais de 5% da população economicamente ativa encontra-
se
empregada no
setor. É fundamental o desenvolvimento de estudos específicos para os trabalhadores da área,
pois as características dos cargos estudados são bastante distintivas e ainda não foram bem
elucidadas.
Em busca destes objetivos, foi realizado este estudo,
ora apresentado n
es
ta
dissertação,
que está estruturado em 9 seções: 1. Apresentação, objetivos e justificativa;
2.
Introdução ao
estudo do Comportamento Organizacional; 3
.
O problema do Absente
ísmo;
4
.
Variáveis em
estudo;
5. Modelo e hipóteses; 6
.
Método;
7. Resultados; 8. Discussão; 9. Conclusões e
agenda de pesquisa
.
Na
seção 2 serão introduzidos alguns conceitos que fundamentam a pesquisa em CO,
delimitando seu campo de abrangência e a importância dos estudos na área. Na seção 3, uma
revis
ão
sobre o Absenteísmo, o foco do estudo, busca esclarecer a magnitude do problema e a
complexidade que envolve este comportamento, fato que, ao mesmo tempo, limita o
conhecimento prático e estimula a continuidade das pesquisas. Na seção 4, é revisto o
arcabouço teórico acerca das quatro variáveis independentes em estudo,
Traços
de
Personalidade, Comprometimento Organizacional, Suporte Organizacional e Clima
Organizacional,
onde se procura delinear a evolução do conceito, os limites, as conclusões,
a
importância da variável, a definição e a operacionalização do construto. A seguir, na seção 5
,
apresenta
-se o modelo e as hipóteses que norteiam o estudo. Na seção, o Método
empregado é descrito:
apresenta
-se a organização em estudo, a amostra, os instrumentos
utilizados e os procedimentos de coleta e análise dos dados. Na seção 7, são apresentados os
resultados das análises de dados, de forma objetiva. Posteriormente, na seção 8, estes
resultados são discutidos à luz da literatura apresentada, buscando respostas aos objetivos
deste trabalho
.
Finalmente, na seção 9, serão enunciadas as principais conclusões do estudo,
18
suas contribuições e limitações, a partir das quais é formulada uma agenda de pesquisa, que
objetiva despertar o interesse para novas pesquisas na área.
A seguir, para facilitar a compreensão das variáveis em análise,
uma
revisão aborda
brevemente o campo do CO, buscando situar o leitor com a abordagem teórica.
Na seqüência
,
cada variável será introduzida,
procurando
sempre enfatizar sua importância para a
compreensão dos problem
as que abrangem o comportamento humano nas organizações.
19
2. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO COMPORTAMENTO
ORGANIZACIONAL
A presente revisão busca ser breve, embora suficiente para a justificação e
fundamentação teórica para o desenvolvimento do estudo. A grande quantidade de material
disponível na literatura internacional tem se refletido de formas diferenciadas no
desenvolvimento das pesquisas bibliográficas: por um lado, riqueza de correntes e
opiniões, por outro, esta diversidade pode revelar a falta de resultados consistentes para o
embasamento de pesquisas futu
ras (DIAS, 2002).
O estudo da relação do homem com seu trabalho é, sem dúvida, uma das maiores
preocupações das Ciências Humanas, em função da importância que assume, em nossos dias,
a atividade laborativa. Várias pesquisas sobre o universo do trabalho
têm
sido desenvolvidas
pelos diversos campos do saber, em ciências humanas como a Psicologia, a Antropologia e a
Sociologia, em ciências sociais aplicadas, notadamente na Administração, e até mesmo pelas
ciências exatas (Engenharias). Estes estudos geraram uma gama de conhecimentos variados
relativos ao trabalho e às organizações, mas que, historicamente, não
criaram
uma identidade
própria, e os desenvolvimentos de cada área por vezes foram recebidos com ceticismo e
incredulidade por outros estudiosos.
Contudo
, em meados do século passado, estas ciências passaram por uma expansão
significativa de suas fronteiras, chegando a delimitar novos campos do saber, baseados na
interdisplinaridade, num movimento que culmin
ou
no delineamento do campo do
Comportamento Organizacional (CO), que emerg
iu
durante a década de 60 (notadamente na
Inglaterra), a partir dos estudos de Pugh (1966, 1969 apud SIQUEIRA, 2002), que se
20
dedicavam a compreender as relações entre os homens e seu trabalho, seu comportamento e
suas atitudes no
ambiente organizacional.
Este campo de desenvolvimento multidisciplinar trouxe para o CO uma gama de
definições e divergências teóricas típica das ciências humanas, cujo leque de conflitos pode e
deve ser encarado de forma bastante positiva, através da riqueza de teorias e técnicas
disponíveis, que se complementam mais do que se contrapõe, e fornecem a mobilidade
conceitual necessária a uma ciência que precisa acompanhar o ritmo das mudanças no
contexto organizacional. Por outro lado, é também verdade que esta grande variedade de
formas de se pensar o CO pode, por vezes, resultar em modismos e outras formas viciadas de
produção teórica, nem sempre tão ricas (BORGES
-
ANDRADE; ZANELLI, 2004)
Como salienta Rousseau (1997), as organizações estão mudando (de organ
izações
corporativistas para
organizing
- organizações em processo, movimento), e o CO muda junto,
puxando o desenvolvimento dos conhecimentos da área. Esta reflexão da autora indica algo
mais: a compreensão de que os comportamentos nas organizações são não apenas dinâmicos,
mas verdadeiramente multideterminados, estando relacionados a variáveis de diferentes
níveis, algumas estáveis e relativamente previsíveis, outras muito mais inconsistentes,
dinâmicas.
Isto também é, em si, uma justificativa da opção pelo campo do CO para o estudo do
Absenteísmo, um evento tipicamente multideterminado. O alcance da Psicologia
Organizacional e do Trabalho talvez seja insuficiente para explicar tal comportamento; a
interdisciplinaridade contribui de forma inequívoca para
os estudos organizacionais.
Em busca de definição para o campo, Robbins (1999) trata o CO como campo de
estudo que investiga o impacto que indivíduos, grupos e a estrutura têm sobre o
comportamento dentro das organizações com o propósito de aplicar este conhecimento em
prol do aprimoramento da eficácia de uma organização (ROBBINS, 1999, p.6). Esta
21
definição demonstra o interesse em compreender relações causais dos comportamentos,
assumindo que as causas sejam devidas a pelo menos três fontes: características dos
trabalhadores, a dinâmica dos pequenos grupos e equipes dentro da organização, e também à
estrutura da mesma, que gera parâmetros contextuais às ações de seus membros. Além disso,
é importante ressaltar que o autor determina as implicações sobre os resultados deste
conhecimento: sua aplicabilidade na melhoria dos resultados organizacionais. Portanto, os
estudos da área m, como pressuposto, a aplicação prática de seus resultados nas
organizações; o foco é a organização.
Em outra obra, Wagner III e Hollenbeck (2000) entendem que o CO seja uma
disciplina que busca previsão, explicação, compreensão e modificação do comportamento
humano, num contexto empresarial. Os autores enfatizam a criação de diferencial competitivo
através do domínio (previsão, explicação, compreensão e modificação), pela empresa, do
comportamento de seus membros, uma vez que este diferencial não é igualável pela
concorrência, que pode ter as mesmas tecnologias, processos e sistemas, mas os recursos
humanos são ímpares. Neste sentido, mantém a perspectiva de Robbins (1999), quanto à
finalidade dos estudos em CO, bem
às
variáveis em análise, nos níveis micro, meso e macro-
organizacional.
Mintzberg (1983) defende, ainda, o papel de fatores externos à organização na
determinação de comportamentos, argumentando que, por exemplo, o poder dos sindicatos,
do governo e dos acionistas é capaz de influenciar significativamente as atitudes e
comportamentos dos membros de uma organização. Para Katz e Kahn (1987), os
comportamentos e atitudes dos trabalhadores podem ser explicados pela relação entre valores,
papéis e normas da organização.
Estas
três bases para o comportamento dos trabalhadores
apresentam certa similaridade aos níveis de comportamento de outros autores, como Wagner
III e Hollembeck (2000) e Robbins (1999), associando-se os valores ao nível micro-
22
organizacional ou individual, os papéis ao nível micro-organizacional ou de grupo, e as
normas ao nível macro-organizacional ou da organização, respectivamente. Esta comparação
evidencia certa redundância nestes conceitos, que traduzem uma direção clara para o
entendimento do comportamento nas organizações.
A
definição do campo de CO é fundamental para diferenciá
-
lo do campo da Psicologia
Organizacional e do Trabalho, tal como é definida, por exemplo, por Spector (2003). O autor
entende que este campo busca, por um lado, fazer o uso apropriado dos recursos humanos nas
empresas, em busca da efetividade organizacional, focado em temas como seleção de pessoal
e treinamento (Psicologia Organizacional). O outro lado da Psicologia Organizacional e do
Trabalho
estaria
mais preocupado com o trabalhador, no nível micro, focado em variáveis
como
stress
, atitudes e bem-estar no trabalho (Psicologia do Trabalho). Dados estes
parâmetros, reconhece-se que a Psicologia Organizacional contribui muito mais diretamente
para o estudo do CO.
Seguindo a linha
de
Wagner III e Hollenbeck (2000), definiu-
se
os níveis de análise
como micro-organizacional (indivíduos), meso-organizacional (grupos, equipes de trabalho) e
macro
-organizacional (organizações). É uma proposta bastante interdisciplinar: na análise do
nível micro-organizacional, observam-se basicamente contribuições da Psicologia, ao abordar
aspectos psicossociais dos indivíduos na organização, enquanto o nível
meso
-
organizacional
teria em seu referencial teórico muito da Psicologia Social, Antropologia e Sociologia, e,
finalmente, o nível macro-organizacional buscaria seu referencial entre as Ciências Políticas,
a Sociologia e a Antropologia.
Para os principais autores da área (ROBBINS, 1999; WAGNER III; HOLLENBECK,
2000; BOWDITCH; BUONO, 1992), as principais variáveis do nível micro-
organizacional
seriam: Características Biográficas, Habilidades, Valores e Atitudes, Fatores de
Personalidade, Percepção, Motivação, Satisfação, Estresse, Aprendizagem Individual e
23
Tomada de Decisão Individual. No nível meso-organizacional, as variáveis mais estudadas
seriam Comunicação, Conflitos, Relações Intergrupais, Estrutura de Grupo, Equipes de
Trabalho, Poder e Política, Liderança e Tomada de Decisão Grupal. Finalmente, no nível
macro
-
organizacional, as análises se concentram em pontos da estrutura da organização, como
Cultura, Clima, Estrutura e Dimensionamento da Organização, Dimensionamento e
Tecnologia do Trabalho, Políticas e Práticas de Recursos Humanos (WAGNER III;
HOLLENBECK, 2000; ROBBINS, 1999; SIQUEIRA, 2002). Apesar deste expressivo
número de variáveis apresentado, outras têm ganhado força na literatura de CO, tais como
Criatividade, Suporte Organizacional, Comprometimento Organizacional, Negociação,
Justiça, Humor, Trabalho/Não
-
Trabalho, Contextos Organizacionais.
Fundamentalmente, o estudo de todas estas variáveis justifica-se através de seu
impacto nos resultados (desempenho) dos trabalhadores, que por sua vez implicam o
desempenho organizacional. As medidas de desempenho são observadas de formas variadas,
incluindo a Produtividade, Comportamentos de Cidadania Organizacional,
Comportamentos Contra-Producentes (onde se inclui o Absenteísmo), Qualidade e outra
s
formas de desempenho, de interesse mais ou menos específico das organizações, ramos de
negócio ou mesmo departamentos, como Vendas.
Contudo, estas variáveis tidas como de resultados também são estudadas através de
suas interações, como, por exemplo, as r
elações (geralmente negativas) entre o Absenteísmo e
Produtividade, Qualidade, Relações Interpessoais e Esforços (VISWESVARAN, 2002).
A
análise contígua destes comportamentos (resultados positivos e negativos) é importante pela
provável
existência de caus
as comuns
.
Particularmente, o Absenteísmo é um dos fenômenos mais estudados, e pelas formas
metodologicamente mais variadas possíveis (JOHNS, 2003). Ainda assim, como defende o
autor, muitas questões se fazem presentes, e isso tem instigado mais e mais pesquisadores na
24
busca da compreensão do fenômeno. Neste ponto, é oportuno rever os principais conceitos
relativos ao Absenteísmo, a evolução dos estudos, algumas conclusões e também algumas das
questões que permanecem na pauta de pesquisa, como será feito na
próxima seção.
25
3.
O PROBLEMA DO ABSENTEÍSMO
A variável dependente (resultado) analisada no presente estudo (Absenteísmo) tem
sido considerada como crítica para a avaliação da eficácia dos recursos humanos de uma
organização (ROBBINS, 1999; CHIAVENATO, 1997). mesmo, hoje, uma linha de
pesquisa que trabalha especialmente os chamados comportamentos contraproducentes ,
onde
se incluem variáveis como Absenteísmo, Atrasos e Rotatividade (SPECTOR, 2003;
VISWESVARAM, 2002). Estas pesquisas buscam compreender fatores ligados a diferentes
aspectos da organização, das equipes de trabalho e/ou do próprio trabalhador
(principalmente), que possam estar relacionados a estes comportamentos.
Segundo Robbins (1999), os custos do Absenteísmo seriam um fator preponderante
para o impulso dado às pesquisas de CO que pretendem compreendê-lo, uma vez que este
custo é estimado anualmente (apenas em empresas dos Estados Unidos e Alemanha) em cerca
de 75 bilhões de
dólares
americanos. Os custos se elevam drasticamente porque não se
referem apenas aos salários dos ausentes, mas também à diminuição da produtividade, por
exemplo. Portanto, o interesse em diminuir os índices de Absenteísmo deve ser comum a
todos os profissionais e acadêmicos da área de Recursos Humanos.
Absenteísmo é um conceito complexo, mesmo em termos de definição. Numa
definição simples, porém de grande alcance, pode-se entender o Absenteísmo como o ato de
faltas a um compromisso de trabalho (HARRISON; MARTOCCHIO, 1998, p. 342). Esta
definição, porém, abarca toda e qualquer forma de não comparecimento ao trabalho, ainda
que seja direito do trabalhador, como licença médica ou luto. Magalhães, Duarte e Moura
(1995, apud NASCIMENTO, 2003), compreendem que os períodos programados de ausência,
26
como licença e férias, devem também ser entendidos como Absenteísmo. Da mesma forma,
profissionais de saúde como Sobrinho (2002) incluem ausências por doenças, direitos legais e
outros fatores, ainda que alheios ao controle do trabalhador, na mesma categoria. Estes
autores entendem o Absenteísmo do ponto de vista organizacional, pois um gerente, por
exemplo, tem que lidar com todas as ausências da mesma forma, incluindo em seu
planejamento a
s
ausências previstas ou não.
Por outro lado, Nascimento (2003) trata o Absenteísmo como ausências não
pr
evistas (p. 55), e Chiavenato (1997) entende o conceito como ausências no momento em
que o empregado deveria estar trabalhando normalmente. Assim, o Absenteísmo seria apenas
relacionado a eventos fora do controle da organização, diferentemente das férias, por
exemplo, que são escaladas pela gerência ou determinadas por políticas globais das
organizações
, e assim podem ser tomadas ações que diminuam os prejuízos da efetividade
organizacional, ou seja, prevenção primária, enquanto os eventos não previstos de
ausência de
trabalhadores podem, na melhor das hipóteses, sofrer prevenção secundária (durante o
evento), quando os danos já estão ocorrendo.
Nosso estudo, dentro do campo do CO, tem interesse na predição e controle de todas
as formas de ausências que prejudiquem o funcionamento da organização. Portanto, parece
apropriado estabelecer como Absenteísmo, uma medida que seja compatível com os
interesses de gerentes e administradores, ou seja, levar em conta todas as ausências não
programadas, inclusive aquelas amparadas por questões legais, como dispensa por saúde.
Desta forma, ficam excluídas da medida apenas férias e licenças programadas, como licença
maternidade e paternidade. Operacionalmente, defini
u-
se
Absenteísmo como
número de faltas
não programadas
em dado período
. Esta definição tem a preocupação de abarcar as faltas por
motivos de saúde em função da chamada indústria do atestado (NEVES, 2004), que pode
ser responsável por transformar faltas voluntárias em involuntárias.
27
Avançando na definição do problema, Johns (2003) entende que o Absenteísmo não é
apenas um, mas uma grande variedade de comportamentos, com diversas causas. Este fato se
reflete, por exemplo, na multidisciplinaridade de conhecimentos disponíveis sobre o assunto,
uma vez que esses conhecimentos tradicionalmente não se complementam, sendo
desenvolvidos à parte por cada uma das disciplinas, que vão da Psicologia à Engenharia,
passando por áreas como Administração, Enfermagem, Ergonomia, Direito e Medicina, entre
outras.
As diferentes faces do Absenteísmo são defendidas por vários autores, como Brief
(1998) que, analisando as relações entre atitudes no trabalho e Absenteísmo, acredita que as
fracas correlações encontradas em meta-análises sobre o assunto sejam devidas às várias
formas
de Absenteísmo diferentes em suas causas, embora lhe pareça lógico que, por
exemplo, alguém que não esteja muito satisfeito com seu trabalho esteja menos propenso a ser
assíduo. O autor acredita que a satisfação poderia ser usada como unidade de análise dos
casos de Absenteísmo relacionados a escolhas, ou seja, quando alguém prefere ir a um dado
evento ao invés de ir ao trabalho, voluntariamente. Por este motivo, ele sugere que seja
construída uma tipologia do construto que observe, por exemplo, as formas voluntárias e
involuntárias de ausências do trabalho programado, no nível individual.
Outros autores, como Dalton e Mesch (1991), defendem tipologias para o construto,
ao realizarem a distinção entre Absenteísmo devido a doenças ou devido a outras
circu
nstâncias. Diferentemente da proposição de Brief (1998),
estes
autores encontraram
correlações significativas entre variáveis do nível micro
-
organizacional (satisfação e gênero) e
Absenteísmo devido a doenças (supostamente involuntário) e, por outro lado, ausências por
outras circunstâncias relacionadas a variáveis do nível macro-organizacional (estabilidade do
emprego e políticas organizacionais sobre Absenteísmo).
28
McDonald e Shaver (1981 apud NASCIMENTO, 2003) propõem uma tipologia que
estabelece três categorias de Absenteísmo, baseados em causas intrínsecas (como eficiência
da supervisão, características do cargo e controle), causas extrínsecas (como políticas
organizacionais sobre Absenteísmo, comunicação, condições de trabalho) e causas de
personalidade
(inclusive alcoolismo). Embora várias das variáveis propostas pelos autores
tenham sido efetivamente analisadas em estudos diversos, o modelo ainda carece de suporte
empírico.
Somando
-se à discussão sobre as diferentes formas de Absenteísmo, Steel (200
3)
revisou a linha de pesquisa, focalizando as metodologias utilizadas, e ressaltou a
diferenciação mais aceita entre os tipos de ausências do trabalho: voluntárias ou involuntárias,
de acordo com o tipo de dados coletados, seguindo proposição anterior de
Chadwick
-Jones et
al. (1971 apud
STEEL, 2003
). Nesta proposta, quando o Absenteísmo é medido em função do
tempo total perdido (somatório de dias ou horas, onde pesam mais as ausências prolongadas,
como as doenças), o mesmo é considerado involuntário. Por outro lado, a medida da
freqüência do comportamento (onde são ressaltadas as ausências repetidas) evidencia o
Absenteísmo voluntário.
Baseado nesta distinção metodológica de Absenteísmo voluntário e involuntário, Steel
(2003) comparou os resultados de três
meta
-análises sobre Absenteísmo e Satisfação no
Trabalho, variável que tem sido vista como uma medida correlacionada às ausências
voluntárias. Os resultados indicaram que não suporte empírico para esta distinção entre
Absenteísmo voluntário (freqüência) e involuntário (tempo perdido). Portanto, a hipótese de
Brief (1998), sobre diferentes causas de Absenteísmo e sua relação com Satisfação no
trabalho, demonstra-se insuficiente para explicar a inconsistência de resultados ligando
atitudes ao Absenteísmo.
29
Todavia, as relações entre Absenteísmo e Satisfação no trabalho têm se revelado um
tema central na literatura da área (STEEL, 2003; BRIEF, 1998; HARRISON;
MARTOCCHIO, 1998). De certa forma, pode-se observar que um grande interesse dos
pesquisadores em encontrar uma relação saudável entre a satisfação do trabalhador e a
satisfação da empresa (resultados), ou seja, baixos níveis de Absenteísmo e Rotatividade
somados a bons desempenhos nas tarefas e na produtividade (BRIEF, 1998; SPECTOR,
2003). Por exemplo, Johns (2003) cita três meta-análises, de meados do século passado, que
verificaram o impacto da Satisfação no trabalho sobre Absenteísmo e Desempenho,
encontrando resultados que indicam que a Satisfação no trabalho prediz melhor o
Absenteísmo do que o Desempenho. Por outro lado, três meta-análises mais recentes fazem a
mesma comparação, mas com resultados diferentes, indicando que Desempenho é, no
mínimo, tão bem predito quanto Absenteísmo, através da Satisfação no trabalho (JOHNS,
2003).
Assim como Satisfação no trabalho, outras atitudes relacionadas ao trabalho ou à
organização têm sido estudadas na predição de Absenteísmo, como variáveis que influenciam
o comportamento em médio prazo. Harrison e Martocchio (1998) classificam
(arbitrariamente) as origens do Absenteísmo em curto, médio e longo prazo, avaliando o peso
do fator na predição das ausências em períodos de um a três meses, de quatro meses a um ano,
e acima de um ano, respectivamente. As variáveis de curto prazo se referem principalmente a
probl
emas da tomada de decisão; as de médio prazo são geralmente relacionadas a atitudes e
contexto social; e as de longo prazo incluem personalidade e características demográficas.
A
tabela 2.1. resume as principais variáveis independentes encontradas pelos autores, com
suporte empírico.
Os preditores de médio prazo m sido os mais estudados, teórica ou empiricamente,
sendo que o tempo modal das medidas de Absenteísmo nas pesquisas é de um ano
30
(HARRISON; MARTOCCHIO, 1998). Nestes estudos, o paradigma central é de que o
Absenteísmo pode ser resultante da fuga de situações desagradáveis experimentadas no
trabalho. Assim, a maior parte das teorias e modelos aplicados ao conceito inclui atitudes do
trabalhador e o contexto social, pois estas variáveis são vistas como base relativamente
consistente para a tomada de decisões. A cultura relativa ao Absenteísmo na empresa é um
dos assuntos mais estudados, pois se entende que o trabalhador pode achar normal um certo
número de faltas anuais, por exemplo, uma vez que seus colegas se comportem da mesma
forma e não exista, por parte da empresa, qualquer restrição a esse padrão (SPECTOR, 2003).
As atitudes relativas a este comportamento contraproducente serão tratadas de forma mais
detalhada na seção
3.3 (Comprometimento Org
anizacional).
Tabela 2.1.
Principais preditores de Absenteísmo com suporte empírico (adaptado de
HARRISON; MARTOCCHIO, 1998).
Curto Prazo
(um a três meses)
Médio Prazo
(quatro meses a um ano)
Longo Prazo
(acima de um ano)
Incentivos para comparecer
S
atisfação
Gênero
Gostar de comparecer
Comprometimento
Idade
Pressão social
Envolvimento
Depressão
Stress
físico e mental
Importância das tarefas
Hábito de fumar
Impedimentos
Cultura sobre absenteísmo
Alcoolismo
Amparo de sindicatos
C
onsumo de drogas
Horário flexível
Tomada de decisão
Troca de turno liberada
Exercícios físicos
As pesquisas que usam medidas de médio prazo de Absenteísmo encontram resultados
interessantes também para as práticas organizacionais de Recursos Humanos, que conseguem
di
minuir os níveis de ausência com a adoção de horário flexível e permissões para a troca de
turnos entre os empregados. Outros registros têm sido observados, como a influência de
31
variáveis macro-econômicas (relação inversa entre Absenteísmo e desemprego),
características do trabalho e
stress
relacionado ao trabalho (HARRISON; MARTOCCHIO,
1998).
as variáveis de longo e curto prazo têm sido menos estudadas, pelo alto grau de
complexidade envolvido, por limitações de método (p.ex., pouca variância no curto prazo) ou
ainda pela indisponibilidade relativa de dados (registros organizacionais de Absenteísmo
superiores a um ano). Contudo, no nível proximal (curto prazo), Harrison e Martocchio
(1998) identificaram avanços quanto aos fatores mais apontados pelos sujeitos para justificar
suas ausências: dores, resfriados e gripes, e problemas de saúde de familiares, que têm se
demonstrado suscetíveis a intervenções, como vacinação contra gripes que reduzem em até
43% as ausências relacionadas a este motivo. Os autores também citam pesquisadores que
têm se interessado mais pelos processos de tomada de decisão, como a maximização da
utilidade da escolha; neste caso, a racionalização leva o empregado a escolher o
comportamento, e isto pode ser influenciado por recompensas e punições oferecidas pela
organização, como prêmios para comparecimento integral em dado período (p.ex., um mês).
As influências de longo prazo sobre o Absenteísmo têm sido vistas geralmente em
função de Características de Personalidade (ver seção 3.4), variáveis demográficas e
problemas crônicos de saúde e hábitos individuais. Entre as variáveis demográficas, Harrison
e Martocchio (1998) apontam idade e gênero como as mais investigadas, embora os
resultados não sejam consistentes. Diferentemente dos vários eixos de pesquisa já apontados,
os problemas de saúde e hábitos dos empregados são, basicamente, objeto de estudo de
ciências da saúde, menos interessadas na predição e controle/intervenção sobre o
comportamento, mas focadas em suas causas. Uso de subs
tâncias tóxicas e cigarros, depressão
e sedentarismo tem correlação positiva com o comportamento faltoso (HARRISON;
MARTOCCHIO, 1998).
32
Outras contribuições da extensa revisão proporcionada por Harrison e Martocchio
(1998) sobre o problema do Absenteísmo incluem fenômenos co-existentes (como atrasos e
intenção de deixar o emprego) e derivados deste comportamento (redução de Desempenho e
percepção de Iniqüidade, por exemplo). Sobre aqueles, as pesquisas indicam que ações
efetivas para a redução de um dos comportamentos devem gerar resultados simultâneos no
Absenteísmo. Quanto aos resultados provenientes do Absenteísmo, os efeitos de curto e
médio prazo recaem principalmente sobre os indivíduos e seu ambiente social (curto e médio
prazo): Sobrecarga dos colegas, Cultura de Absenteísmo, diminuição de Desempenho,
Conflitos com supervisores, e outros fatores. Porém, indubitavelmente, são os custos do
Absenteísmo os mais evidentes para a organização, que arca com pagamentos por dias não-
trabalhados, diminuição da produtividade, gastos de seguros, custos com substitutos, entre
outros, destacando o impacto financeiro do problema.
Além destes resultados apresentados, esta discussão abre caminho também para outro
tema complexo, as relações entre Absenteísmo e Desempenho. Em primeiro lugar, é
importante notar que os comportamentos contra-producentes são tidos por vários autores
como dimensões do desempenho geral do trabalhador, conforme enuncia Viswesvaran (2002);
desta forma, pode-se supor que as causas entre eles sejam comuns em alguns casos. Meta-
analiticamente, Viswesvaram (2002) encontrou resultados significativos e substanciais da
correlação entre Absenteísmo e quatro formas de Desempenho: Produtividade (r= -.21) e
Qualidade (r= -.48), avaliadas por registros organizacionais; e Esforço (r= -.54) e
Comportamento Interpessoal (r= -.33), em avaliações feitas por supervisores. Estes dados,
segundo o autor, são fortes indicativos da presença de um fator comum na base dos
desempenhos individuais, como, por exemplo, Integridade (VISWESVARAM, 2002;
VISWESVARAM; ONES, 2000).
33
Finalmente, vale destacar a susceptibilidade deste fenômeno às várias possibilidades
de intervenções testadas na literatura (JOHNS, 2003; HARRISON; MARTOCCHIO, 1998),
brevemente enunciadas
anteriormente
. Portanto, é fundamental ressaltar a importância da
adoção de uma política organizacional que busque valorizar o comparecimento ao trabalho e,
ao mesmo tempo, restringir os reforços ao Absenteísmo. Dadas algumas das dificuldades
encontradas na condução de estudos sobre o problema, outra prerrogativa é a adoção de um
acompanhamento mais refinado da organização sobre seus empregados faltosos.
Quanto à delimitação de métodos apropriados para o delineamento de pesquisa,
poucas áreas oferecem tamanha diversidade de metodologias (JOHNS, 2003; HARRISON;
MARTOCCHIO, 1998), talvez como reflexo do caráter multidisciplinar dos pesquisadores de
Absenteísmo. Johns (2003) busca explorar a riqueza da diversidade metodológica nas
pesquisas sobre o construto, revelando parte da gama e da importância do tema, além dos
avanços diversos provenientes não da teoria, mas do uso das diferentes metodologias. Seus
achados evidenciam a necessidade de estudos que incluam variáveis de diferentes níveis do
comportamento. Segundo o autor, este tipo de estudo pode ajudar significativamente a
compreensão de um fenômeno tão complexo quanto o Absenteísmo.
Buscando atender a estas e outras premissas metodológicas, o presente estudo integra
variáveis independentes que podem ser classificadas em dois níveis do CO, micro (
Traços
de
Personalidade e Comprometimento Afetivo e Calculativo) e macro-organizacionais
(Percepção de Suporte Organizacional e Clima Organizacional). De outra forma, através da
classificação específica elaborada por Harrison e Martocchio (1998) para o Absenteísmo, as
variáveis podem ser divididas em nível distal ou de longo prazo (
Traços
de Personalidade) e
de médio prazo (Percepção de Suporte Organizacional, Clima Organizacional, e
Comprometimento Afetivo e Calculativo). Contudo, o estudo foi realizado em médio prazo,
diminuindo o poder da classificação destes autores sobre as variáveis independentes ou
34
preditoras.
Na próxima seção, serão tratadas estas variáveis independentes, em sua
constituição e também em sua relação conhecida co
m o problema em estudo.
35
4. VARIÁVEIS EM ESTUDO
Diante da multiplicidade de causas e fatores associados ao Absenteísmo, o presente
trabalho buscou investigar algumas variáveis sobre as quais é possível atuar ativamente, ou
mesmo controlar sua ocorrência, dentro do contexto organizacional. Esta decisão exclui
diversas facetas do comportamento observado (Absenteísmo), mas reflete a opção de
investigar seu funcionamento dentro do campo do CO. Neste sentido, as variáveis escolhidas
compreendem dimensões de nível macro e micro-
organiz
acional, que podem interferir sobre o
comportamento de perspectivas mais (Personalidade) ou menos (Clima, Suporte,
Comprometimento) estáveis, considerando, ainda, que sobre aquela é possível exercer
controle através da seleção de pessoal, por exemplo, enquanto as últimas são mais dinâmicas
e podem ser influenciadas pela ação direta dos profissionais de RH ou mesmo pelos gerentes.
Estas variáveis, tidas como independentes neste estudo, são agora explicitadas e
revistas sucintamente, com o objetivo de evidenciar sua relevância para os comportamentos
na organização, tal como propõe a literatura nacional e internacional. A revisão segue a partir
das variáveis macro-organizacionais, (1) Percepção de Suporte Organizacional e (2) Clima
Organizacional, para posteriormente apresentar as variáveis do nível micro-
organizacional,
(3) Comprometimento Organizacional (que inclui os comprometimentos Afetivo e
Calculativo, que serão investigados nesta pesquisa) e (4) Fatores de Personalidade no
Trabalho.
36
4.1. PERCEPÇÃO DE
SUPORTE ORGANIZACIONAL
Percepção de Suporte Organizacional (PSO) pode ser entendida como a medida em
que os empregados percebem que a organização valoriza suas contribuições e se preocupa
com seu bem
-
estar (RHOADES; EISENBERGER, 2002)
Delineada primordialmente por Eisenberger, Huntington, Hutchison e Sowa (1986), a
PSO revela-se hoje como uma das variáveis de maior poder explicativo para muitos dos
comportamentos e desempenhos avaliados pelos pesquisadores da área organizacional
(ABBAD; PILATI; BORGES-
AN
DRADE, 1999; RHOADES; EISENBERGER, 2002;
BISHOP; SCOTT; BURROUGHS, 2000; SHORE; WAYNE, 1993), podendo ser analisada
como variável independente (antecedente), dependente ou mediadora.
A teoria de Suporte Organizacional baseia-se fortemente em conceitos da
Psicologia
Social, especialmente a
norma
de
reciprocidade
, o modelo motivacional de esforço-
resultado
(
performance
-rewards expectancies) e a ideologia da troca (ABBAD et al., 1999;
RHOADES; EISENBERGER, 2002). Fundamentalmente, estas abordagens revelam um
modelo de ação e reação, onde comportamentos e atitudes favoráveis de empregados, por
exemplo, devem se refletir em atitudes positivas de seus empregadores, ou melhor, da
organização, que, todavia, aparece aqui personificada (EISENBERGER et al.,1986) na fi
gura
de seus supervisores e gerentes.
Esta personificação é fundamental para a teoria de PSO, uma vez que os empregados
tendem a atribuir características humanas à organização, quando entendem que as atitudes de
seus superiores são representativas das intenções da própria organização. Desta forma,
os
trabalhadores
também entendem
,
que
,
quando são tratados
de modo favorável ou desfavorável
37
por seus superiores, isto indica que a organização os aprecia ou não (RHOADES;
EISENBERGER, 2002).
Eisenberger et al. (
1986) defendem que a PSO indica a percepção do trabalhador sobre
o tratamento que recebe da organização, em função de seu esforço pessoal no trabalho. Assim,
a teoria indica quais seriam as expectativas dos empregados quando tem boa percepção de
suporte: prontidão organizacional em recompensar aumento dos esforços no trabalho,
suprimento de necessidades cio-emocionais, ajuda para um desempenho eficaz no trabalho
e também para lidar com situações estressantes.
Por outro lado, a organização espera que o empregado tenha maior desempenho, sinta-
se obrigado a cuidar do bem-estar organizacional (comportamentos de cidadania
organizacional), ajude a organização a alcançar seus objetivos, sinta-se afiliado à organização
(satisfação sócio-emocional), desenvolva crenças de que bons desempenhos serão bem
recompensados.
Neste caso, a expectativa de uma boa medida de PSO é de que os dois lados
saiam ganhando, com, por exemplo, maior satisfação no trabalho, melhor humor, maior
comprometimento afetivo e desempenho, redução de rotatividade (RHOADES;
EISENBERGER, 2002).
Através de uma meta-análise, Rhoades e Eisenberger (2002) categorizaram mais de 70
estudos sobre PSO (que utilizam a escala de EISENBERGER et al., 1986), identificando as
principais variáveis independentes e dependentes, reveladas e estudadas na literatura de CO.
Sustentando a teoria de suporte organizacional, tratamentos favoráveis aos empregados por
parte da organização devem manter ou suportar uma boa PSO. Neste sentido, igualdade,
suporte do supervisor, recompensas organizacionais e condições de trabalho têm sido
amplamente pesquisadas no desenvolvimento da PSO.
Assim delineiam-
se
as principais variáveis independentes de PSO: o
tratamento
igualitário,
que inclui a justiça de procedimentos e as políticas organizacionais; o suporte do
38
supervisor
, onde se verifica a personificação da organização; as
recompensas organizacionais
e as condições de trabalho, que incluem reconhecimento, salário, promoções, segurança no
trabalho, autonomia, controle de eventos e condições de stress, investimento em treinamento,
tamanho da organização; e características do empregado, que incluem personalidade, com
tendências disposicionais para experienciar afetos positivos ou negativos no trabalho e
características demográficas (RHOA
DES; EISENBERGER, 2002).
Por outro lado, como conseqüências da PSO, a organização
geralmente
encontra:
maior
comprometimento organizacional (afetivo); melhores afetos relacionados ao trabalho
,
como satisfação no trabalho e humor positivo; envolvimento com
trabalho
, que denota
interesse e identificação pela tarefa/cargo; aumento do desempenho; desenvolvimento da
cidadania organizacional, denotada em comportamentos extra-papel que visam beneficiar a
organização; mais
bem
-
estar psicológico
e menores
reações ps
icossomáticas
; maior desejo de
permanecer
na organização, baixa intenção de abandonar a organização e, finalmente, menor
rotatividade voluntária
(RHOADES; EISENBERGER, 2002).
Além destas situações, a PSO pode ser vista como variável mediadora do
comportam
ento organizacional como sugerem Allen, Shore e Griffeth (2003), que
encontraram o papel mediador do suporte organizacional entre percepções de práticas
suportivas de recursos humanos, como participação em tomadas de decisões, justiça nas
recompensas e opo
r
tunidade de crescimento,
comprometimento organizacional e satisfação no
trabalho.
Alguns estudos podem exemplificar rapidamente o papel da PSO nas medidas de
comportamento organizacional, evidenciando através de dados empíricos seu papel na
dinâmica orga
nizacional corrente.
A apresentação destes estudos não tem apenas o objetivo
de
familiarizar o leitor com relação à literatura da área, mas, principalmente, busca aludir sobre a
força que vem apresentando o construto, seja quanto à sua validade discriminan
te
39
(RHOADES; EISENBERGER, 2002; ABBAD et al., 1999), ou quanto ao papel da variável
PSO no comportamento organizacional, que tem se demonstrado bastante coerente com os
pressupostos teóricos (RHOADES; EISENBERGER, 2002).
No estudo de Allen et al. (2003), os pesquisadores buscaram identificar o papel da
PSO como preditora de rotatividade voluntária. Para tanto, utilizaram-se de instrumentos que
buscaram aferir em um primeiro momento a qualidade das práticas de recursos humanos
como participação em tomada de decisão, justiça nas recompensas e oportunidade de
crescimento, além de intenções de rotatividade; seis meses depois, os investigadores
administraram instrumentos para avaliar a percepção de suporte organizacional, o
comprometimento organizacional e a sati
sf
ação no trabalho. Ao final de um ano levantaram
os dados de rotatividade voluntária. Através de equações estruturais, foi identificado o papel
da PSO como maior preditor de rotatividade voluntária, além de seu altíssimo relacionamento
com comprometiment
o afetivo e satisfação no trabalho.
Shore e Wayne (1993) buscaram investigar as relações entre diferentes formas de
comprometimento, PSO e comportamento de cidadania organizacional, em uma grande
organização multinacional norte-americana. Para tanto, foram aplicados questionários de
PSO, comprometimento afetivo e comprometimento calculativo (quando o empregado
permanece na empresa apenas porque os custos de deixá-la são maiores que os custos de
permanecer) aos empregados, enquanto seus supervisores avaliaram seus comportamentos de
cidadania. Os resultados indicaram correlações positivas entre comprometimento afetivo, PSO
e comportamentos de cidadania, enquanto o comprometimento calculativo teve correlação
negativa com estes comportamentos, ou seja, quanto ma
ior
o
comprometimento calculativo
menos comportamentos de cidadania como altruísmo são encontrados. Além disso, os autores
enfatizam que PSO foi melhor preditor dos comportamentos de cidadania do que o
comportamento afetivo.
40
Bishop et al. (2000) desenvolveram uma análise de diferentes níveis do CO, para
verificar as interdependências entre suporte e comprometimento nos níveis organizacional e
grupal, lançados como preditores de intenções de rotatividade, de comportamentos de
cidadania e de desempenho no trabalho. Foram investigados 65
equipes
pequenas (6
indivíduos) que trabalha
va
m internamente em grande interdependência; essas equipes
responderam a duas versões de questionários de percepção de suporte e de comprometimento,
que ora continham o termo organização , ora continham o termo equipe de trabalho . Além
disso, foram administrados questionários de intenção de rotatividade, enquanto os
facilitadores dos times avaliaram desempenho e comportamentos de cidadania. As análises
foram conduzidas com equações estruturais via LISREL. Relacionamentos diretos foram
encontrados entre PSO e comprometimento organizacional (+), entre percepção de suporte da
equipe e comprometimento com a equipe (+), entre comprometimento organizacional e
intenções de rotatividade (-
),
comprometimento organizacional e de equipe com
comportamentos de cidadania (+), comprometimento de equipe e desempenho no trabalho
(+). Os resultados também revelam os papéis mediadores dos comprometimentos
organizacional e de equipe, entre percepções de suporte e resultados. Este estudo evidencia a
força do construto de suporte, especialmente quanto ao seu relacionamento com
comprometimento.
Eisenberger, Stinglhamber, Vandenberghe, Sucharski e Rhoades (2002) conduziram
uma série de três estudos correlacionando percepção de suporte do supervisor, PSO e
rotatividade. Seus resultados sugerem que a percepção de suporte do supervisor resulta em
PSO, longitudinalmente. Além disso, os autores encontraram dados que revelam uma
completa mediação de PSO entre percepção de suporte do supervisor, rotatividade geral,
rotatividade voluntária e absenteísmo. Estes resultados são consistentes com a teoria de PSO,
41
que sugere que quanto maior a PSO, maior será a obrigação sentida pelo trabalhador com
relação à empresa, além d
o maior comprometimento afetivo, reduzindo a rotatividade.
Todavia, entre os resultados comportamentais investigados nas pesquisas revisadas por
Rhoades e Eisenberger (2002), o Absenteísmo ainda não ocupa lugar de destaque, tendo sido
encontrados poucos estudos relacionando estas duas variáveis, o que desfavorece as possíveis
conclusões acerca destas relações. Os autores entendem que existem correlações negativas
moderadas entre PSO e Absenteísmo, como as encontradas por Eisenberger et al. (1986),
que
inves
tigaram essa relação entre professores, mediada pela ideologia da troca: quanto maior a
aceitação da ideologia da troca entre os sujeitos com maior percepção de Suporte, menor o
número de faltas ao trabalho, em períodos ou dias.
A medida do construto de PS
O tem hoje, no Brasil, duas vertentes distintas: a primeira
baseia
-se no instrumento original de Eisenberger et al. (1986), o SPOS (Survey of Perceived
Organizational Support), e, mais recentemente, o Questionário
de
Percepção de Suporte
Organizacional, de Abbad et al. (1999). O primeiro se refere a um instrumento unifatorial de
36 itens (escala de concordância de 7 pontos
discordo totalmente a concordo totalmente),
que se referem a um padrão de crenças que os empregados desenvolvem sobre as respostas da
organização em relação às suas contribuições, que devem provocar reações favoráveis ou
desfavoráveis
a eles. Este instrumento tem uma forma reduzida original de 17 itens com altas
cargas e outras várias versões ainda menores, apoiadas na alta confiabilidade do instrumento
original. Rhoades e Eisenberger (2002) conduziram análises fatoriais confirmatórias e
exploratórias, que confirmam a alta confiabilidade interna e a unidimensionalidade do SPOS,
inclusive em suas diversas formas reduzidas. Este instrumento foi adaptado para o Brasil por
Siqueira (1995), em sua forma reduzida.
Recentemente, Abbad et al. (1999) desenvolveram um instrumento mais rico em
categorias e com boa qualidade psicométrica, o questionário Percepção de Suporte
42
Organizacional (QPSO), também unifatorial, com 50 itens (escala de concordância de 5
pontos
discordo totalmente
concordo totalmente), com excelente índice de consistência
interna. Como amostra da riqueza de conteúdo, os autores puderam ainda gerar quatro sub-
escalas de PSO, também com altos índices de confiabilidade: a primeira sub-escala é
denominada
gestão de desempenho, a segunda carga de trabalho, a terceira suporte material
,
e um quarto fator denominado práticas organizacionais de ascensão, promoção e salários.
Este instrumento pode oferecer maior precisão na identificação dos principais componentes
do construto, facilitando assim a interpretação dos dados. Estes dois instrumentos (SPOS e
QPSO) foram comparados por Pinto Junior et al. (2004), tendo sido encontrados resultados
significativamente (p< 0,01) diferentes de suporte para amostras pareadas (equivalentes)
,
indicando que os mesmos avaliam construtos diferenciados.
A análise das publicações recentes revela interesse crescente sobre a medida de PSO e
as organizações têm muito a comemorar com a aplicação destes conceitos em sua prática
cotidiana, pois o diagnóstico de PSO parece bastante confiável, possibilitando um parecer
genuíno sobre as condições de trabalho nas organizações e, ta
mbém
, sobre a qualidade das
supervisões.
4
.2. CLIMA ORGANIZACIONAL
Profissionais e pesquisadores ligados ao CO têm se dedicado a compreender as
relações (afetivas e cognitivas) que o trabalhador estabelece com sua organização. Este
interesse tem produzido resultados significativos para aqueles que procuram, especialmente,
aumentar os índices de satisfação e de qualidade de vida no trabalho, certos de que este tipo
43
de relação positiva do trabalhador para com a empresa tende a gerar benefícios mútuos: o
indivíduo deve se sentir melhor e mais realizado, enquanto a empresa receberia maiores e
melhores esforços do trabalhador, gerando lucro.
Na busca deste objetivo, é cada vez mais evidente o papel de uma variável do contexto
macro
-organizacional, que revela a forma como o ambiente organizacional é percebido pelo
empregado, o clima organizacional (MARTINS et al., 2004; BROWN; LEIGH, 1996).
Portanto, clima organizacional revela aqueles significados compartilhados num dado
momento entre os empregados de uma organização,
indica
ndo influências do am
biente
interno de trabalho sobre o comportamento dos trabalhadores.
Este termo, clima organizacional , tem sido utilizado por pesquisadores de CO
muito tempo, embora sua conceituação na comunidade científica ainda careça de precisão,
dada a semelhança ou mesmo confusão verificada na literatura envolvendo variáveis como
clima individual e cultura organizacional. Na década passada, contudo, o estudo de clima
organizacional parece ter ganhado contribuições substanciais, tendo sido pesquisado em
diversas instituições, como escolas, hospitais, organizações financeiras e outras, conforme
atestam Martins et al. (2004), em sua revisão de literatura. Ainda segundo os autores, é
interessante notar que estes estudos utilizaram metodologias tanto quantitativas quant
o
qualitativas de coleta e análise de dados, o que certamente contribui para o aprofundamento
da dimensão do construto.
Com estes avanços, parece hoje haver um consenso entre pesquisadores de que o clima
organizacional seja um conceito relativo às percepçõ
es compartilhadas pelos membros de uma
dada organização quanto ao ambiente da mesma (MARTINS et al., 2004). Note-se que um
ponto fundamental deste conceito está na coexistência de significados, ou seja,
necessariamente, o clima organizacional deve ser percebido pela coletividade dos
trabalhadores, ainda que
de forma
representativa.
44
Embora tenhamos avançado significativamente no conceito de clima organizacional, é
necessário e conveniente analisar algumas das distinções estabelecidas entre esta e outras
vari
áveis do CO, afim de melhor delimitar seu conteúdo, evitando possíveis incoerências
relativas à validade do construto.
Uma primeira distinção teórica refere-se à existência de uma variável conhecida como
clima psicológico, que apresenta várias semelhanças
com
o clima organizacional. Mas,
embora ambas sejam avaliadas num ambiente organizacional, a análise daquela se com
foco
no plano individual, enquanto os pesquisadores desta se preocupam fundamentalmente
com os aspectos macro-organizacionais. Martins et al. (2004) salientam ainda que o clima
psicológico tem um caráter mais afetivo, enquanto o organizacional é tratado de forma
predominantemente cognitiva, fato que os diferencia por completo, ao menos do ponto de
vista psicológico. Schneider e Reichers (1983), por exemplo, distinguem os dois construtos,
reconhecendo clima psicológico como sendo o significado da ligação individual entre o
trabalhador e a empresa, enquanto o clima organizacional se denota nos significados
partilhados entre os trabalhadores e
sobre
aspectos particulares do trabalho.
Um segundo ponto de destaque, entre as confusões teóricas a que o conceito de clima
organizacional está sujeito, é, sem dúvida, uma ingênua superposição do mesmo com um dos
conceitos de maior interesse entre os pesquisadores e profissionais da área, a satisfação no
trabalho. Brief e Weiss (2002), em sua revisão sobre o afeto no ambiente de trabalho, definem
claramente a satisfação no trabalho como sendo um julgamento avaliativo, positivo ou
negativo, que o trabalhador faz sobre seu trabalho ou situação de trabalho (p. 6). Com base
nesta definição, e dado o exposto anteriormente acerca do clima organizacional, fica bastante
clara
a natureza afetiva da satisfação no trabalho, enquanto o clima organizacional é
eminente
mente cognitivo, o que significa dizer, por exemplo, que para se avaliar a satisfação,
devemos avaliar o que o indivíduo gosta ou não gosta em dada situação ou organização; por
45
outro lado, a investigação do clima se dá em termos da percepção que o trabalha
dor tem sobre
esses aspectos
,
inclusive tratando de sua adequação ou não, de sua existência ou não.
Neste ponto surge uma terceira variável correlata ao clima organizacional, que
também se reflete nas atitudes dos funcionários da organização, mas de forma muito mais
profunda do que o clima, a cultura organizacional.
A distinção entre os construtos talvez não seja tão nítida, pois inclusive autores
como Tamayo (1999) que
incluem
o clima como parte da cultura organizacional,
interpretando
-o como um retorno superficial e imediato da cultura. Neste sentido, Schneider
(1985) defende que a cultura seja um construto muito mais profundo do que o clima. Tamayo
(1999) e Martins (2000) entendem que o clima atue nas percepções e interpretações mais
comuns do ambiente, das políticas e das atividades da empresa, enquanto a cultura seria um
determinante dessas mesmas políticas, ambiente e atividades organizacionais, incluindo aí sua
gênese, transmissão e compartilhamento.
Além disso, os pesquisadores do CO utilizam-se de diferentes abordagens
metodológicas para investigar os dois construtos. Freqüentemente, o clima organizacional é
investigado através de questionários fechados ou
surveys
, aplicáveis (após validação) a
quaisquer instituições, uma vez que os dados levantados por estes instrumentos são objetivos,
e tratados quantitativamente para fins de diagnóstico organizacional. os pesquisadores que
buscam avaliar a cultura de uma organização preferem o levantamento de dados qualitativos,
que buscam descrições profundas da mesma, a fim de alcançar exatamente aquilo que lhe é
singular, e que guia o modo de pensar, agir e interpretar os fatos naquela organização.
Segundo Toro (2001), o clima organizacional afeta significativamente os
trabalhadores, seja na motivação, seja na satisfação com o trabalho, regulando sua
produtividade e, por conseqüência, a produtividade da organização inteira. Como o clima age
na percepção das políticas e do ambiente, conseqüentemente influencia substancialmente a
46
formação dos valores e opiniões/juízos, de forma generalizada, acarretando conseqüências
para as ações do grupo de funcionários;
que
são pautadas nas crenças e percepções a respeito
do
trabalho.
Dada a importância que o conceito de clima organizacional vem assumindo nas
pesquisas e nas organizações atuais, é imprescindível que se discuta a questão da medida de
clima, ou seja sua avaliação. Somente através da avaliação é possível avançar de forma mais
concreta, não apenas nas questões relativas aos benefícios que os profissionais de re
cursos
humanos podem alcançar ao dominar esta variável, mas, principalmente, para que possamos
desenvolver com maior clareza e coerência a própria definição e situação do clima no campo
do CO, incluindo suas prováveis correlações com outras variáveis, tais como suporte e
comprometimento organizacional. Os próprios caminhos das intervenções em clima carecem
de medidas válidas e confiáveis, que permitam empenho adequado dos esforços
organizacionais em prol do desenvolvimento do pessoal e da instituição como um todo
(MARTINS et al, 2004).
A profusão de escalas para a avaliação de clima organizacional é uma das dificuldades
encontradas pelo pesquisador e/ou profissional de recursos humanos que procura definições e
certezas quanto ao clima organizacional. Mesm
o com esta variedade de estudos, Martins et al.
(2004) afirmam que prevalecem a confusão teórica e problemas de operacionalização; as
dúvidas começam nos próprios objetivos das pesquisas: avaliar os indivíduos ou a
organização? Isto ocorre porque existem duas formas básicas de se levantar dados sobre o
clima, seja usando dados da organização, como tamanho, estruturas de relacionamento,
normas organizacionais e níveis hierárquicos, seja através de avaliações subjetivas, partindo
de questionários aplicados aos membros da organização, quando se estabelece o indivíduo
como unidade básica de análise.
47
Na maior parte da literatura, como atesta a revisão de Martins et al. (2004), os
pesquisadores procuram obter resultados generalizáveis. Os autores citam, por exempl
o,
Karasick (1973), que elenca algumas dimensões do clima organizacional que deveriam fazer
parte de quaisquer instrumentos generalizáveis de medida, no caso: estrutura das tarefas,
relação entre recompensa e punição, centralização das decisões, ênfases nos resultados e no
treinamento e desenvolvimento, segurança e riscos, abertura e defesa, status, motivação,
reconhecimento e
feedback
, competência e flexibilidade da organização em geral.
Alguns pesquisadores, como Tamayo (1999), por outro lado, entendem que o clima,
como a cultura, seja específico para cada organização, e, portanto, a construção e validação de
uma medida generalizável de clima sejam um objetivo intangível. Contudo, entende-se que a
tentativa de generalização de um instrumento, através de boa amostragem, análises
inferenciais adequadas e bons índices de validade e fidedignidade podem ser realmente úteis
para a consolidação do construto, o que fatalmente permitirá ganhos crescentes nos processos
organizacionais.
A maior parte dos instrumentos disponíveis para este fim é proveniente da literatura
estrangeira, especialmente de língua inglesa, mas nem sempre são encontradas análises
fatoriais que permitam a identificação segura dos aspectos mais consistentes da medida de
clima. Na América do Sul,
uma referência é o instrumento de Toro (2001), a ECO
Escala de
Clima Organizacional, construída com os dados de 18.363 trabalhadores colombianos,
validada fatorialmente com altos índices de fidedignidade (de 0,88 a 0,91); Tamayo (1999),
produziu uma escala com sete fatores validados, a saber: liderança, comprometimento,
segurança no trabalho, ambiente de trabalho, mudanças sem rumo certo, valorização do
empregado e treinamento.
Martins (2000) identificou uma base comum nos instrumentos de clima, compost
a
por liderança, suporte/apoio do chefe ou da organização, relacionamento com colegas, clareza
48
da tarefa e pressão/controle. Com base nestes indicadores,
os
pesquisador
es
desenvolveram e
validaram
uma escala com 63 itens, que responsáveis pela explicação de 34,8% da variância,
apresentando alto índice de fatorabilidade (KMO = 0,96) e resultando numa escala de cinco
fatores: Apoio da Chefia e da Organização, Recompensa, Conforto Físico, Controle/Pressão e
Coesão entre Colegas. Esta escala ainda foi recenteme
nte revalidada por Martins et al. (2004),
satisfazendo todas as exigências psicométricas.
4.3. COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL
Dentro do nível micro-organizacional, poucos conceitos têm adquirido tamanha
importância na literatura científica quanto o Comprometimento Organizacional, que chega a
ser considerado por alguns profissionais e pesquisadores como o Santo Graal para o
gerenciamento de recursos humanos (SWAILES, 2000). De acordo com Rego (2003),
tamanho interesse deve-se a uma causa simples: para fazer frente à nova realidade do
ambiente empresarial, inseguro e turbulento, as empresas lançam mão de pessoas dispostas a
quebrar padrões e ir além do prescrito, vestindo a camisa da empresa e demonstrando
comportamentos de cidadania organizacional.
Co
mo de praxe nas ciências humanas, contudo,
o grande interesse e a importância deste construto ainda não resultaram em assertividade
suficiente para que se estabeleça uma definição capaz de abarcar as questões relativas à teoria
ou mesmo à avaliação do comp
rometimento organizacional.
A primeira grande corrente teórica a repercutir no campo do CO é
resultante
dos
estudos de Mowday, Porter e Steers (1982), que
investigaram
os vínculos entre os
trabalhadores e as organizações, e foram responsáveis pelo desenvolvimento de um
49
instrumento bastante utilizado nas pesquisas internacionais, o OCQ (Organizational
Commitment Questionaire). O OCQ é um instrumento unidimensional de 15 itens que busca
determinar o quanto o empregado quer permanecer associado à organização, o quanto ele está
disposto a oferecer altos esforços pela organização e também o quanto ele acredita nas normas
e valores da mesma. Diversos pesquisadores utilizam-se de uma versão reduzida do
instrumento, com apenas 9 itens, fato que incorre em maior agilidade na operacionalização da
avaliação (MOWDAY et al., 1982).
Este trabalho pioneiro no campo do comprometimento organizacional teve, como
definição, o conceito da força relativa de uma identificação e envolvimento do indivíduo
com uma organização em particular (MOWDAY et al., 1982, p.27). Os autores enfatizam a
diferença entre o comprometimento assim definido e a simples lealdade à organização, uma
vez que o comprometimento implica em ações e atitudes dos trabalhadores no sentido de
contribuir para a empresa e seu bem-estar, ou seja, não se resume o comprometimento ao
campo atitudinal, nele estariam intrínsecas as ações dos associados. Por outro lado, o
comprometimento organizacional deixa de contemplar, por exemplo, o comprometimento
com a carreira ou c
om o sindicato (BASTOS, 1994).
Outra corrente bastante popular de pesquisas relativas a comprometimento é a vertente
de Meyer e Allen (1984), que traz uma distinção conceitual entre o comprometimento afetivo
e o comprometimento calculativo, e, posteriormente, o comprometimento normativo. O
primeiro se caracteriza por ligação, envolvimento e identificação afetiva com a organização; o
segundo se traduz nos custos percebidos pelo empregado no caso de deixar a organização, ou
seja, uma derivação da teoria dos side-bets ou ganhos secundários. Já o comprometimento
normativo (ALLEN; MEYER, 1990), seria um sentimento de dever para com a organização,
que se refletiria numa obrigação em permanecer na organização. Para este modelo de
comprometimento, os autores desenvolveram e validaram três escalas diferentes de medida,
50
que identificam separadamente as diferentes propostas teóricas (
Affective
ACS,
Calculative
CCS e Normative
NCS
Commitment
Scales
).
Mais recentemente, Swailes (2000) propôs uma nova definição de comprometimento,
o comportamental, como uma coincidência entre os objetivos das tarefas e a demonstração
contínua de comportamentos dirigidos à realização de metas e outros resultados positivos que
beneficiem a organização (p. 207). O autor distingue sua obra das anteriores, em virtude de
uma nova postura epistemológica que considera o trabalhador não mais como uma peça da
organização, mas como um profissional em condições de escolher entre as tarefas que irá
realizar. Segundo o autor, esta diferenciação se faz necessária em função das novas relações
de trabalho, que orientam especialmente os mercados europeu e norte americano, bem
diferentes daquelas encontradas quando do desenvolvimento das primeiras escalas relativas ao
comprometimento organizaciona
l.
Evidentemente, o comprometimento organizacional é uma variável que inclui a
situação de troca, psicológica ou não, conforme verificado nos diversos estudos sobre PSO,
ou seja, o empregado se compromete à medida que a organização corresponde às suas
expe
ctativas, desejos e necessidades. A relação entre PSO e Comprometimento é sempre alvo
dos pesquisadores, até porque a PSO é tida como o Comprometimento da empresa para com o
empregado (RHOADES; EISENBERGER, 2002).
As relações entre o Comprometimento e o Ab
senteísmo têm sido estudadas por poucos
pesquisadores (MATHIEU; ZAJAC, 1990; MEYER; HERSCOVITCH, 2001). Autores como
Sagie (1998) têm procurado relacionar, principalmente, Absenteísmo voluntário ao construto,
junto a outras atitudes relacionadas ao trabalho, buscando explicações geralmente no nível
micro
-organizacional. Meyer e Herscovitch (2001) entendem que o Comprometimento é
capaz de predizer Absenteísmo, ainda que as relações sejam baixas a moderadas, e que a
forma afetiva do Comprometimento seja a mai
s importante neste modelo.
51
Neste estudo, a ênfase se em função do arcabouço teórico desenvolvido por Meyer
e Allen (1984, 1990), uma vez que esta corrente tem verificado excelentes resultados nas
pesquisas, tendo produzido resultados significativos para a validade discriminante do
conceito, conforme meta-análise de Meyer, Stanley, Herscovitch e Topolnytsky (2002). Neste
sentido, faz-se necessária a revisão mais aprofundada do quadro teórico que delineia os
conceitos de comprometimento afetivo, calculat
iv
o e normativo, incluindo suas principais
variáveis
independentes e dependentes.
O comprometimento afetivo é, sem dúvida, o que mais desperta interesses dos
pesquisadores e profissionais do campo do CO; prova disso, Meyer et al. (2002), encontraram
144
estudos empregando o questionário ACS, gerando uma base de dados de 47.073 sujeitos
no total. De forma geral, os dados corroboram a estrutura conceitual proposta, baseada no
tripé: crença e aceitação dos valores e objetivos organizacionais, desejo forte de manter o
vínculo com a organização, vontade de despender esforços a favor da organização.
Siqueira (1995) afirma que o comprometimento afetivo depende de três pontos
fundamentais: a identificação do sujeito com a empresa, o que seria a base de sua ligação; o
envolvimento com o papel organizacional, com o cargo, por onde se verifica a força da
ligação afetiva, e; a própria afetividade do trabalhador com relação à empresa, como uma
lealdade, que permite a avaliação do vínculo existente. No modelo teórico, o
comprometimento afetivo encerra características pessoais e experiências do trabalho (suporte
organizacional, por exemplo) como variáveis independentes ou preditoras; por outro lado, as
variáveis dependentes mais estudadas seriam rotatividade e absenteísmo, ambas com relação
negativa, e comportamentos de cidadania, desempenho, saúde e bem-estar do empregado,
estas com relação positiva
com
comprometimento (MEYER et al., 2002).
Na literatura nacional, os trabalhos de Bastos (1994) e Siqueira (1995) têm se
dest
acado no campo do comprometimento organizacional. Esta última é autora da ECOA,
52
Escala de Comprometimento Organizacional Afetivo, um instrumento validado com 18 itens
que descrevem afetos do sujeito para com a organização, sendo a quase totalidade dos iten
s de
conteúdo positivo (15) e apenas 3 itens de conteúdo inverso. Seguindo uma tendência clara na
literatura internacional de desenvolvimento de instrumentos psicométricos, a autora
disponibiliza ainda uma versão reduzida da ECOA, com apenas 5 itens (todos positivos), mas
que, assim como a forma completa, apresenta índices de precisão superiores a 0,90.
Com relação ao comprometimento calculativo, também conhecido como instrumental,
side
-
bets
(ganho secundário) ou de continuação, é interessante notar que sua origem remonta
a Becker (1960 apud MEYER et al, 2002) com sua perspectiva comportamentalista de custo-
benefício, que instituiu o ganho secundário como uma das forças motrizes do
comprometimento organizacional. De acordo com essa linha de raciocínio, a relação de um
sujeito com um objeto, no caso a empresa, pode se manter em virtude dos eventuais prejuízos
que poderiam ocorrer caso a relação cessasse. Portanto, na hipótese ou iminência de perder
algo de valor, como tempo, dinheiro ou esforço caso deixe a empresa, o empregado faz uma
avaliação dos riscos e custos envolvidos nesta ação, e compara com os benefícios decorrentes
de se permanecer na mesma, de forma que, caso os lucros sejam mais interessantes do que os
prejuízos da saída, ele se convence a permane
cer comprometido com a empresa.
Por outro lado, além desta troca econômica (psicossocial), o funcionário percebe que
pode haver uma relação entre o comprometimento despendido de sua parte e os benefícios
recebidos da organização, o que o impele a realizar maiores esforços para permanecer na
empresa, em detrimento dos eventuais riscos da interrupção do contrato; neste ponto, ele está
comprometido com a empresa.
Algumas das críticas ao modelo tratam exatamente de sua validade discriminante, pois
embora haja provas estatísticas em contrário, Swailes (2000), por exemplo, acredita que o
construto se confunde com a intenção de rotatividade, já que opera em função da
53
possibilidade de abandonar a organização. Contudo, o modelo teórico estabelece relações
entre estas variáveis, mas apenas conferindo à intenção de rotatividade a condição de variável
dependente, junto aos comportamentos de rotatividade e absenteísmo (correlação negativa),
além dos comportamentos de cidadania, desempenho, saúde e bem-estar do trabalhador, que
podem apresentar correlações nulas ou negativas. Na condição de independentes do
comprometimento calculativo, encontram-se as características pessoais, as alternativas e os
investimentos empreendidos na organização.
Para efetuar a medida, a literatura brasileira disponibiliza a Escala de
Comprometimento Organizacional Calculativo
ECOC, desenvolvida e validada por Siqueira
(1995), que contém 15 itens que descrevem perdas ou custos relacionados à interrupção das
relações de trabalho com a organização. Estes itens encontram-se distribuídos em quatro
diferentes dimensões, que buscam avaliar as perdas que o trabalhador poderia enfrentar caso
abandonasse a organização: perdas sociais, profissionais, de investimentos feitos na empresa e
de retribuições orga
nizacionais. A análise fatorial da ECOC encontrou índices de precisão que
variaram de 0,71 a 0,78, o que permite seu uso apenas como instrumento de pesquisa,
impossibilitando o diagnóstico. Neste estudo, porém, a medida efetivada por esta escala é
aceita como uma medida global de Comprometimento Calculativo, unifatorial, portanto. Esta
adaptação é possível em virtude do estudo conduzido por Siqueira (2001), que realizou a
análise discriminante de três escalas brasileiras de medida de comprometimento (Afet
iv
o,
Calculativo e Normativo), incluindo todos os itens de Comprometimento Calculativo em um
único fator, com alfa de Cronbach de 0,92.
O terceiro componente do modelo de Allen e Meyer (1990) é o comprometimento
normativo,
que trata da relação entre as atitu
des e seu poder preditivo sobre o comportamento.
Neste sentido, subentende
-
se que o comprometimento normativo baseia
-se em padrões morais
do trabalhador que o impulsionam no compromisso com a empresa. A crença é de que o
54
compromisso existente é uma questão moral, trata-se do que é certo fazer, uma vez que a
empresa espera este compromisso: esta atitude opera contra a dissonância cognitiva que
poderia surgir caso houvesse contradição entre os esforços depreendidos pela organização em
prol do trabalhador e o
seu padrão de comprometimento.
O instrumento ECON
Escala de Comprometimento Organizacional Normativo,
desenvolvido
e validado por Siqueira (2000), é composto de 7 itens acerca das crenças dos
membros organizacionais
sobre
suas obrigações e deveres morais relativos à empresa. Sendo
unifatorial e com alfa de Cronbach (índice de precisão) de 0,86, demonstra-se bastante
confiável para a utilização tanto em pesquisas quanto no diagnóstico organizacional.
4
.4. FATORES DE PERSONALIDADE NO TRABALHO
As relações entre o desempenho no trabalho de forma geral e a personalidade dos
trabalhadores vêm sendo alvo das pesquisas psicológicas pelo menos um século
(BARRICK; MOUNT; JUDGE, 2001; ROBBINS, 1999; WAGNER III; HOLLENBECK,
2000). Barrick et al. dividem as pesquisas em dois períodos distintos, sendo o primeiro até
meados dos anos 80, onde os resultados eram inconclusivos, baseados em inventários de
personalidade muito diversificados e raramente satisfatórios, de modo que não se podia
afirmar que uma ou outra característica de personalidade pudesse ser boa preditora de
comportamento no trabalho, a fim de ser usada principalmente na seleção de pessoal.
Após este período, as pesquisas se concentraram nas medidas relativas ao Big Five
ou Modelo dos
Cinco Fatores
de personalidade (BARRICK; MOUNT, 1991; GOLDBERG,
1992). O modelo propõe, em virtude da análise de uma vasta gama de trabalhos publicados, a
55
definição de cinco fatores gerais de personalidade: Extroversão (dominância, sociabilidade,
ambição), Agradabilidade (cooperatividade, confiabilidade, afabilidade), Estabilidade
Emocional (baixa ansiedade, baixa hostilidade, baixa insegurança pessoal), Conscienciosidade
(empenho para realizações, independência, planejamento) e Abertura à Experiência
(criatividade, fuga dos padrões, imaginatividade). As pesquisas mais recentes, que levam em
consideração este referencial, começam a introduzir vários ganhos na literatura,
especialmente com relação à Conscienciosidade, que tem se mostrado importante preditora de
desemp
enho nas mais variadas ocupações estudadas (BARRICK et al., 2001).
Como ainda boa diversificação de métodos e resultados, diferentes instrumentos
são utilizados pelos pesquisadores para avaliar fatores de personalidade no trabalho, sejam
elementos componentes do Big Five ou apenas correlatos. Cattell, Cattell e Cattell (1957)
construíram e validaram fatorialmente o teste de personalidade 16PF, que apresenta um
construto interessante para a aplicação em contextos organizacionais. O teste foi desenvolvi
do
a partir de todos os adjetivos da língua inglesa que descrevessem o comportamento humano,
que foram transformados em itens e passaram pela validação fatorial, resultando numa escala
de 185 itens, agrupados em 16 fatores primários de personalidade, chamados 16PF (
Sixteen
Personality Factors
).
Estatisticamente, os fatores primários não apresentam grandes índices de precisão, fato
que pesa sobre seu uso diagnóstico, mas ainda permite seu uso em pesquisa. Os 16 fatores
primários são: Expansividade, Inteligê
ncia, Estabilidade Emocional, Afirmação, Preocupação,
Consciência, Desenvoltura, Brandura, Confiança, Imaginação, Requinte, Apreensão, Abertura
a Mudanças, Auto-suficiência, Disciplina, e Tensão. Note-se que o fator B é Inteligência,
aferida através de uma bateria de itens que avaliam raciocínio lógico, através de questões de
múltipla escolha; o fator foi incluído no instrumento, segundo Russell e Karol (2002), porque
o estilo cognitivo é reconhecido na literatura como sendo moderador de muitos traços de
56
pe
rsonalidade. Nos demais fatores, o teste apresenta itens bipolares onde o examinando deve
responder qual das opções lhe agrada mais.
Um ponto forte a favor do 16PF, especialmente para o uso no contexto organizacional
,
é a ausência de itens cujo conteúdo aborde sexualidade, pois isto permite seu uso em exames
de seleção, sem que os examinados sintam-se invadidos pelo conteúdo. Além disso, o teste
apresenta, em determinados fatores, normas diferenciadas para homens e mulheres ou norma
de sexo combinado, per
mitindo equiparar com justiça os sujeitos.
Outra característica importante do teste é a possibilidade de se monitorar respostas
viciadas, através das escalas de Administração da Imagem e ainda de Aquiescência, que
permitem ao examinador controlar a desejab
ilidade social e a tendência a responder sempre de
acordo com a questão formulada.
A quinta versão do instrumento apresenta outra novidade, os fatores de segunda ordem
ou secundários: Extroversão, Ansiedade, Rigidez de Pensamento, Independência e Auto-
Cont
role. Estes fatores parecem ser mais interessantes do ponto de vista da aplicação no
contexto organizacional, como os processos seletivos, por aglutinarem em apenas cinco
dimensões as características básicas dos examinandos, facilitando a leitura dos dados em
ambientes turbulentos e ágeis como o do Recrutamento e Seleção das grandes empresas.
Ainda que sejam correlatos, estes cinco fatores secundários não designam exatamente aqueles
componentes da teoria Big Five , apresentados anteriormente; todavia, apenas a pesquisa
pode possibilitar a confirmação ou não da validade de tal instrumento para uso na análise de
pessoal em contexto organizacional.
Em recente análise dos testes de personalidade disponíveis no mercado brasileiro, com
relação à qualidade do material, qualidade das instruções, qualidade dos itens e da
documentação, Noronha (2002) posiciona o 16PF na segunda colocação geral, sendo que o
mesmo perdeu apenas um ponto entre os doze avaliados. Além disso, o teste foi replicado em
57
2002 numa amostra de 1152 sujeitos brasileiros, o que permitiu sua revalidação (RUSSELL;
KAROL, 2002) e a confecção do manual da Quinta edição, onde constam os cinco fatores
secundários de personalidade a serem utilizados neste estudo. A revisão dos cinco fatores de
segunda ordem, feita a seguir, segue a apresentada no manual do teste, inclusive citações
(RUSSELL; KAROL, 2002).
O primeiro destes fatores é a Extroversão (extrovertido versus introvertido), conceito
que tem origem nos trabalhos de Jung (1971), quando tratou dos Tipos Psicológicos .
Porém, existem registros na literatura de vários estudos anteriores a esta data conduzidos por
Eysenck (1960) e Cattell (1957). Numa das mais comentadas e importantes obras do campo
da Psicologia da Personalidade, Goldberg (1992) descreve os cinco grandes fatores de
personalidade, conhecidos como Big Five , onde incluiu a medida de extroversão. Pode-
se
dizer que a Extroversão revela uma orientação mais social do sujeito, de forma geral.
Segundo a teoria do 16PF, os sujeitos com altos escores no fator extroversão
costumam ter suas atenções voltadas para os outros, e estão sempre buscando novas relações
com terceiros. os sujeitos introvertidos, menos sociáveis, tendem a passar mais tempo
sozinhos, em detrimento da possibilidade de contato com outros. As características da
extroversão incluem expansividade interpessoal, baixa preocupação, desenvoltura,
genuinidade e a necessidade de se afiliar a outras pessoas, chegando mesmo a serem
dependentes do grupo. Fortes relações entre conveniência social e o fator global de
extroversão são verificadas na literatura.
O segundo fator global, a
Ansiedade
(ansioso
versus
impassível), é outro dos fatores
que fazem parte da teoria dos
Big Five
, descritos por Goldberg (1992), e está relacionada ao
es
tado de vigília, cujo antagonismo se evidencia pela expressão lute ou fuja . É importante
ressaltar que a ansiedade pode ser uma condição interna do sujeito, bem como resultante de
fatores externos (situações ansiogênicas), alheios à vontade do indivíduo, como por exemplo,
58
um teste. Neste sentido, entende-se que a mesma pode estar associada a ameaças reais ou
imaginárias ao bem
-
estar do sujeito.
Numa ponta do fator, estariam os indivíduos pouco ansiosos, impassíveis, que tendem
a ser imperturbáveis. Contudo, este tipo de sujeito pode vir a minimizar efeitos negativos das
situações, ou mesmo ser desmotivado para a mudança, uma vez que se sente confortável.
os indivíduos mais ansiosos podem ter tendência ao sofrimento desnecessário, pois
experimentam sensações negativas que podem causar dificuldades em controlar emoções e
reações, o que pode provocar atitudes anti
producentes
. Altos escores no fator Ansiedade
representam baixos percentis nos fatores primários Estabilidade Emocional e Confiança, altos
em Apreensão e Tensão. Parece haver forte relação entre conveniência social e a ansiedade,
pois vários dos fatores primários correlacionados à ansiedade fazem parte da escala de
Administração de Imagem.
Com relação ao terceiro fator global descrito por Cattell, Rigidez de Pensamento
(rígido
versus
perceptivo), podemos descrever os sujeitos com altos escores como sendo
vivazes e alertas, pois tendem a lidar com os problemas de modo despojado e cognitivo. A
rigidez pode também se revelar na presença de quadros de crenças bastante fixos que podem
mesmo se estabelecer de forma imutável nas referências do sujeito, acarretando
inconvenientes, por exemplo, no ambiente de uma empresa de alta tecnologia, onde as
mudanças acontecem em ritmo acelerado e imprevisto. Além disso, os rígidos de pensamento
não são muito abertos a outros pontos de vista (podendo gerar conflitos), nem a pessoas fora
do padrão e novas experiências. Pessoas rígidas de pensamento apresentam baixos escores em
Expansividade, Brandura, Imaginação e Abertu
ra a Novas Experiências.
No pólo contrário da rigidez de pensamento estão os receptivos, pessoas que tendem a
lidar com os problemas de forma educada, refinada ou sensível. Pessoas receptivas não
apresentam tendência a observar com avidez os aspectos práticos ou objetivos de uma
59
situação. Via de regra, são Expansivas, Brandas, Imaginosas e Experimentadoras, em alusão
aos fatores primários.
Karol e Russel (2002) chegam a estereotipar os tipos rígidos como femininos e os
receptivos como masculinos, em alusão
à diferença de padrão entre os gêneros encontrada nos
estudos realizados. Inflexibilidade e a falta de abertura são bastante características da alta
rigidez de pensamento. Outras características comuns podem ser descritas: firmeza e
resolução, teimosia, dificuldade em aceitar novos pontos de vista, (especialmente quando
envolvem subjetividade e emoções). Nos
tipos
receptivos,
encontram
-
se
pessoas que tendem a
agir sempre pautadas em suas emoções, com pouca objetividade, chegando a ignorar questões
práticas
das situações.
O quarto fator de segunda ordem no 16PF é a
Independência
(independente
versus
acomodado), que apresenta dois pólos bastante antagônicos: de um lado, indivíduos que
possuem altos escores no pólo independente, com grande tendência a serem af
irmativos,
desenvoltos, desconfiados e experimentadores. Em oposição a este lado, temos os
acomodados, que geralmente têm tendência a serem pessoas humildes, acanhadas, confiantes
e conservadoras.
A independência é a característica de uma pessoa ativa e bastante auto-
determinada,
que comanda seus próprios pensamentos e ações. Indivíduos independentes parecem gostar de
tentar realizar coisas novas. Um ponto que desperta a relevância deste fator é a tendência dos
independentes de exibirem interesses intelect
uais.
Os sujeitos mais independentes buscam
destaque e imposição social, com tendência a terem opiniões formadas e defenderem-
nas
frente aos outros. Sendo persuasivos e forçosos, estão sempre dispostos a desafiar o
status
quo
. Podem ser pessoas desagradáveis quando os altos resultados em independência são
associados a baixo autocontrole ou introversão, ou ainda falta de sensibilidade de
receptividade.
60
os acomodados não procuram questionar a realidade e os outros, pois se prendem à
agradabilidade e à acomodação mais que à auto-
determinação.
Não procuram seus próprios
caminhos. Seja com relação às suas opiniões ou ao seu comportamento, costumam ser
moldados e guiados pela influência externa, através de normas internalizadas ou mesmo
sugestão e controle direto. Podem ser sujeitos incapazes de agir corretamente em situações
onde seja necessário demonstrar auto
-
expressão, assertividade ou persuasão.
O quinto e último fator de segunda ordem ou global de personalidade do 16PF é o
Autocontrole (controlado
versus
descontrolado). Quanto maior o autocontrole, maior a
capacidade do sujeito de controlar seus impulsos e desejos, possibilitando maior ajustamento
social, pois permite administrar melhor suas relações com objetos ou outras pessoas. Dentre
as características das pessoas controladas, podemos destacar a sobriedade, a
conscienciosidade, a praticidade e o controle emocional; contudo, estas mesmas pessoas
podem desvalorizar características importantes como flexibilidade e espontaneidade. As
características do autocontrole se ligam fortemente a certas normas de rigidez e de convívio
social.
Já os indivíduos descontrolados são mais aptos a seguir seus impulsos, pois são
geralmente despreocupados, evasivos, imaginativos e indisciplinados. Estas características
podem se
r bem exploradas no caso de pessoas empreendedoras, e estão ligadas a pessoas mais
flexíveis. Por conseqüência, têm dificuldade de se limitarem, podem ser desorganizadas,
irrefreáveis ou irresponsáveis, até mesmo inconseqüentes. Este fator é o correlato do fator
Conscienciosidade da teoria
Big Five .
Todas estas características de personalidade, importantes em virtude da possibilidade
de sua utilização em seleção de pessoal, por exemplo, somadas aos conceitos anteriormente
apontados, de Suporte, Clima e Comprometimentos Afetivo e Calculativo, foram explicitadas
nesta seção com o objetivo de sustentar a formulação de hipóteses e modelos teóricos para a
61
predição do comportamento de Absenteísmo, posteriormente convertidos em investigação
empírica desenvolvida em uma organização de contact center, conforme demonstram os
próximos capítulos.
62
5. MODELO E HIPÓTESES
Esta
pesquisa buscou verificar as possíveis correlações existentes entre Percepção de
Suporte Organizacional, Clima Organizacional, Comprometimento Organizacional (Afetivo e
Calculativo), Características de Personalidade (Extroversão, Ansiedade, Rigidez de
Pensamento, Independência e Auto-Controle) com relação aos níveis de Absenteísmo. Estas
possíveis relações podem
ser melhor observadas
no modelo
a
presentado
pela Figura 5.1
:
Figura 5.1- Modelo das relações entre Clima Organizacional, Comprometimento
Organizacional,
Suporte Organizacional e
Características de Personalidade
e
Absenteísmo.
Seguindo os resultados encontrados na literatura nacional e internacional, a hipótese
fundamental deste estudo é de que maiores níveis de Percepção de Suporte Organizacional e
de
Comprometimento Afetivo e Percepção de Clima Organizacional favorável tenham
impacto negativo nos níveis de Absenteísmo no trabalho, enquanto o inverso se espera do
Comprometimento Calculativo.
Clima Organizacional (
-)
Suporte Organizacional (
-)
Comprometimentos:
Afetivo (
-
)
Calculativo (+)
Características
de
Personalidade
Absenteísmo
VIs: longo prazo e
nível micro
VIs: médio prazo e
níveis macro e micro
Variável
Dependente
63
Com relação aos cinco fatores secundários de personalidade (Extroversão, Ansiedade,
Rigidez de Pensamento, Independência e Auto-Controle), a análise será exploratória, uma vez
que a literatura acerca do uso do teste 16PF no
contexto organizacional é escassa, não
permitindo a formulação de hipóteses. Contudo, é possível correlacionar alguns fatores de
segunda ordem do 16PF com seus correlatos teóricos dentre os chamados Big Five
,
especialmente, Neuroticismo e Ansiedade, Auto-controle e Conscienciosidade, Rigidez de
Pensamento e Abertura a Experiências. Assim sendo, pode
-
se esperar que Auto
-
controle tenha
relação inversa com o Absenteísmo, e Ansiedade tenha ligação positiva
com
este construto,
seguindo a
literatura internacional (JUDGE; MARTOCCHIO; THORENSEN, 1997).
64
6. MÉTODO
Dados os objetivos desta pesquisa, foram traçadas propostas metodológicas que
permitissem alcançar os resultados de forma a atender premissas básicas da produção de
conhecimento científico, com valor acadêmico e social (DRENTH, 1984). Este capí
tulo
oferece ao leitor uma descrição detalhada da organização estudada, da amostra, dos
instrumentos utilizados e dos procedimentos de coleta e análise de dados, a fim de facilitar a
crítica e a compreensão do estudo realizado.
Evidentemente, por se tratar
de um estudo de caso, algumas das decisões tomadas pelo
pesquisador são mais circunstanciais do que devidas ao planejamento de pesquisa, como por
exemplo, o período de coleta de dados da variável dependente, Absenteísmo, que foi restrito
ao período em que os registros organizacionais foram disponibilizados. Estas e outras
questões serão tratadas convenientemente na discussão dos resultados.
6.1. CARACTERÍSTICAS DA ORGANIZAÇÃO
A organização estudada é uma empresa de contact center, ou seja, uma empresa
que
presta serviços a outras organizações (empresas contratantes) no relacionamento destas com
seus clientes, de forma terceirizada. Estas empresas são também conhecidas como
call
centers
, uma vez que seu principal produto é o tele-atendimento, onde é feito o
relacionamento dos consumidores com as empresas contratantes, por telefone. Conhecer as
dinâmicas específicas deste ramo de negócio é de suma importância para o desenvolvimento
65
das organizações brasileiras, pois é um mercado em franca expansão, e que emprega grande
quantidade de massa trabalhadora. Atualmente, acredita-se que estejam em atividade no país
mais de 80 mil posições de atendimento (PAs) e cada PA pode gerar até 4 empregos de
atendente.
Os maiores contratantes de contact centers são empresas de telecomunicações e do
setor financeiro, que buscam nestas operadoras a oportunidade de diminuir sua atenção a
procedimentos operacionais, diminuição de custos (especialmente de natureza trabalhista e de
manutenção), baixos riscos operacionais e desimobilização do capital (diminuição do
investimento em bens duráveis, como computadores e prédios). Por outro lado, diversas
empresas receiam terceirizar seu relacionamento, pela exposição de informações sigilosas, por
exemplo.
A organização pesquisada é uma empresa de grande porte, com cerca de 6.000
associados, respondendo por aproximadamente 5% do mercado de
contact center
no Brasil. A
empresa tem sua matriz em uma cidade de médio porte, mas possui uma unidade em uma
cidade de grande porte, ambas na região sudeste. Uma de suas características é o
funcionamento em tempo integral, mas não rotatividade de turnos. Outra característica
diferencial deste tipo de organização é a utilização do sistema de tele-trabalho, pois o
funcionário pode exercer suas atividades em casa; este procedimento tem sido utilizado, por
exemplo, em casos de trabalhadores portadores de necessidades especiais.
Outra questão que diferencia os trabalhadores deste ramo de serviços é o tipo de
controle exercido pela organização, que, por exigências legais e de programas de qualidade
(normas técnicas, inclusive), monitora intensivamente o trabalho dos associados, seja pelos
supervisores, seja por auditores de qualidade, presentes em tempo integral nos diversos
processos. Este procedimento prevê a avaliação constante do respeito ao
script
, o
cumprimento das regras e procedimentos e também a exatidão das informações fornecidas,
66
bem como o desempenho dos operadores como um todo. Mais ainda, este monitoramento
pode ser acompanhado pela empresa cliente, ampliando as formas de controle a que são
submetidos os atendentes.
Entre as principais atividades realizadas pelos tele
-
atendentes, podemos citar o Serviço
de Atendimento ao Consumidor - SAC (atendimento telefônico para reclamações,
esclarecimento de dúvidas, repasse de sugestões, obtenção de informações diversas, ações de
relacionamento e fidelização, suporte pós-venda e outros) e o Televendas Ativo e Receptivo
(ações de contato por telefone, no qual o operador efetua ou recebe a ligação de um clien
te
podendo realizar vendas, divulgar produtos e serviços, campanhas promocionais, ou ainda
ações de retenção de clientes e agendamento de visitas).
Além destas, são exercidas atividades de Cobrança (receber valores atrasados,
recuperar clientes e reduzir a inadimplência); Help Desk (suporte técnico para hardware e
software, reparos básicos, suporte de produtos); Pesquisas (satisfação de clientes, estudo de
opiniões, levantamento de potencial de mercado, qualificação de clientes, e atualização de
banco de d
ados) e outras.
A divisão das equipes por projetos de atendimento (geralmente, um contratante de
muitas PAs) é também característica diferencial desta organização, pois os operadores são
alocados em empresas contratantes, com coordenações e gerências específicas. Esta
particularidade (típica das empresas de terceirização) pode gerar sub-culturas distintas em seu
quadro de pessoal, bem como diferentes padrões de comportamento organizacional. Por
exemplo, os níveis de Absenteísmo e Rotatividade de pessoal podem ser diferentes em cada
projeto.
67
6.2.
PARTICIPANTES
O estudo foi realizado em um único projeto dentro da organização; esta decisão foi
tomada em virtude de negociação realizada com a empresa. Contudo, o projeto é o maior da
empresa em mero de operadores (cerca de 2.500 à época da coleta), divididos em
receptivos (responsáveis por atendimentos diversificados de SAC) e ativos (tele-
vendedores),
o que possibilita uma rica amostra de funcionários. Dentre este universo, foi selecionada
aleatoriamente uma amostra de 360 participantes (cerca de 15% dos trabalhadores do projeto,
ou 6% da organização); este mero de pessoas é necessário para atender às exigências das
análises de regressão
stepwise
(40 sujeitos por variável independente, segundo
TABACHNICK;
FIDELL, 1996)
.
Atendendo às restrições éticas e legais, os operadores foram convidados a participar da
pesquisa, mediante consentimento livre e esclarecido (Anexo F). Todos os participantes têm
idade superior a 18 anos; não restrições de gênero ou estado civil; além disso, a
escolaridade mínima exigida (Ensino Fundamental) pela natureza dos instrumentos de coleta
foi desnecessária, pela característica dos trabalhadores (este nível de escolaridade é exigência
da empresa). A descrição da amostra é sumariz
ada na seção 7.1. (Resultados).
6.3. INSTRUMENTOS
Os instrumentos de coleta de dados utilizados pela equipe executora da pesquisa são
todos validados para a população brasileira com Ensino Fundamental completo, embora os
autores geralmente recomendem a coleta em sujeitos com Ensino Médio completo. São
68
constituídos de questões fechadas, objetivas, às quais os respondentes apenas assinalaram seus
graus de preferência, no caso específico do 16PF, ou de concordância, nos demais
instrumentos.
Além dos instrumentos psicométricos utilizados para coleta dos dados relativos às
variáveis independentes (suporte, clima, comprometimento e personalidade), foram coletados
os dados relativos ao absenteísmo (variável dependente) dos funcionários que responderam a
estes instrumentos, através de registros organizacionais (análise documental). Estes dados
foram coletados diretamente junto ao setor de recursos humanos da empresa, que os
disponibilizou em meio eletrônico para a análise do pesquisador. Os dados relativos ao
Abs
enteísmo foram relatados em número de faltas (em dias) dos atendentes.
Os instrumentos encontram
-
se em anexo, exceto o 16PF, de uso exclusivo do Psicólogo,
cuja reprodução não é autorizada, mas o mesmo se encontra disponível para consulta (de
psicólogos) n
o Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia (cadernos de
questões, folhas de resposta, crivos, manual, sistema informatizado de correção). Os
instrumentos disponíveis para o exame das variáveis envolvidas neste estudo foram
descritos pr
eviamente, durante a revisão de literatura, e encontram
-
se enumerados abaixo:
a) 16PF (Sixteen Personality Factors
),
quinta
edição
(CATTELL; CATTELL;
CATTELL, 2002).
b)
Escala de Comprometimento Organizacional Afetivo (SIQUEIRA, 1995) (ver
Anexo A).
c) Escala de Comprometimento Organizacional Calculativo (SIQUEIRA, 2001) (ver
Anexo B).
d) Escala de Medida de Clima Organizacional (MARTINS et al, 2004) (ver Anexo C).
e) Escala de Percepção de Suporte Organizacional (SIQUEIRA, 1995) (ver Anexo D).
69
f) Termo de consentimento da instituição (Anexo E) e termo de consentimento livre e
esclarecido dos sujeitos (anexo F).
Com exceção do teste 16PF, a consistência interna dos instrumentos foi checada e os
resultados encontram
-
se disponíveis na seção 7.2., Resultados.
6.4. PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
Os procedimentos de coleta de dados foram realizados em duas etapas. Para a primeira
etapa, foram selecionadas dez estagiárias de Psicologia, encarregadas da aplicação do teste
16PF e da atenção aos respondentes d
as escalas. A autorização da empresa foi necessária e
foi
formalizada através de termo de consentimento anexo
(ver Anexo E).
Na primeira fase, a equipe executora realizou o contato com os participantes dentro da
própria empresa, que disponibilizou salas para a aplicação coletiva do teste 16PF
(procedimento permitido pelas normas do teste). Foram explicitados aos sujeitos convidados
os objetivos da pesquisa, as normas éticas às quais a pesquisa está subjugada, a
confidencialidade dos dados, o tratamento de dados a ser utilizado e a disponibilidade dos
resultados. Então, os sujeitos receberam os termos de consentimento livre e esclarecido
(Anexo F). Foi informada a necessidade de identificação das folhas de resposta, pois é esta
informação que permite o cruzam
ento estatístico dos dados.
O primeiro instrumento a ser administrado foi o 16PF, aplicado separadamente das
outras escalas, em virtude do tempo médio de coleta, de aproximadamente 50 minutos. A
correção dos testes foi informatizada (em sistema próprio do teste) e foi conduzida ao término
da aplicação dos mesmos.
70
Em um segundo contato com os sujeitos, imediatamente após o término da aplicação
do 16PF, foram aplicadas as escalas ECOA, ECOC, EMCO e a Escala de Suporte
Organizacional, via computador. Para tanto, as escalas foram adaptadas à linguagem php
, que
permite a criação de páginas de web em contato com planilhas de dados em um servidor.
Assim, os sujeitos puderam responder às questões em computadores reservados, tendo seus
dados enviados através de rede interna (
intranet
) de dados para o servidor. Os dados foram
alinhados aos resultados do teste 16PF em planilha do SPSS 10.0 (Statistical Package for the
Social Sciences
)
.
Os dados de Absenteísmo foram coletados no período de quatro meses consecutivos
ao início da coleta de dados das variáveis independentes (outubro/2004 a janeiro/2005),
caracterizando uma análise de preditores de médio prazo do Absenteísmo, pela indicação de
Harrison e Martocchio (1998). Disponibilizados em dias de ausência, estes dados fo
ram
também alinhados em planilha do SPSS 10.0.
6.5. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS
Os dados foram analisados por meio do SPSS 10.0. Foram submetidos a análises
descritivas e de consistência interna (Alpha de Cronbach). As associações entre as variá
veis
dependentes e independentes foram verificadas por meio do cálculo de correlações
(bivariadas) e de análises de regressão
stepwise
, à luz das quais foram interpretadas
(TABACHNICK; FIDELL, 1996; ABBAD; TORRES, 2002). Neste passo, foram realizadas,
prim
eiramente, as análises de regressão
stepwise
para toda a amostra; em seguida, em virtude
71
dos resultados, foram realizadas novas análises de regressão
stepwise
para testar resultados
diferentes para duas divisões da amostra, ou seja, operadores receptivos e
ativos.
Durante as análises, foram extraídos da amostra geral 5 (cinco) sujeitos identificados
como
outliers
através da análise de
boxplot
dentre as variáveis. Como todos os instrumentos
eram validados para a população brasileira, sua fatorabilidade não foi checada, também em
função dos índices obtidos na análise da consistência interna.
A distribuição não-normal das respostas foi assumida como inerente a este tipo de
estudo, pois, sendo os instrumentos válidos, confiáveis e precisos, aplicados a um único caso
é plausível que haja assimetria, por exemplo. Além disso, outros autores, como Zerbini (2003)
e Tamayo (2002) dispensaram a transformação de resultados, por entenderem que este
procedimento dificulta a interpretação dos resultados e não os altera si
gnificativamente.
Assim, não houve razão para transformação e/ou aumento da amostra.
Os resultados destas análises são descritos no próximo capítulo e, em seguida,
discutidos referenciando
-
se à literatura.
72
7. RESULTADOS
7.1. AMOSTRA E ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS
A amostra geral deste estudo foi composta por 360 participantes, que responderam aos
instrumentos de coleta na própria organização, com apoio da equipe executora. Dentro do
projeto em que estavam alocados, os participantes estavam reunidos sob três gerências
diferentes, ainda que trabalhando para o mesmo cliente; esta subdivisão é devida à natureza da
tarefa (receptivos ou ativos) e também à região do país da clientela atendida (Sul ou Sudeste).
Os
participantes eram em sua maioria do sexo feminino (73%), com idade média
de 24 anos (DP = 5,75), tinham geralmente o Ensino Médio completo (78%), e, ainda,
eram solteiros (74%). Estas características são bastante singulares, evidenciando uma
amostra distante da distribuição normal de trabalhadores (ver Tabela 7.1.1.), ainda que
seja característica reconhecida da área.
Tabela 7.1.1. Descrição da amostra.
Sexo
Amostra
M F
Idade
(média)
Escolaridade
(Ens. Médio)
Estado
civil
(Solteiros)
Meses na org.
(média)
Geral (360)
27%
73%
24
78%
74%
8,35
Ativo (99)
36%
64%
23
81%
70%
6,93
Receptivo (261)
22%
78%
24
78%
76%
8,94
Os resultados apontam também que os operadores trabalhavam, em média (na data da
primeira coleta) há apenas 8 meses na organização (DP = 8,55). Estes dados corroboram a
73
expectativa do pesquisador, uma vez que a empresa tem apenas seis anos, tendo crescido mais
de 30% ao ano, em média.
As variáveis aferidas como independentes ou preditoras do estudo também foram
verificadas. Na amostra, os resultados do teste 16PF demonstram tendência central, como
esperado, para a população geral. Os estenos (resultados padronizados utilizados pelos autores
do teste) de cada fator apontaram aproximadamente 5 ou 6 pontos, em média, em escalas de
um a
dez pontos.
No nível macro-organizacional, os resultados do Clima Organizacional se mostram
levemente favoráveis ao desempenho dos operadores: média 3,53 (DP = 0,48), em escala de 1
a 5 pontos. De forma semelhante, a Percepção de Suporte Organizacional é positiva, embora
moderada: média 5,12 (DP = 1,36), em escala de sete pontos.
Tabela 7.1.2.
Estatísticas descritivas (amostra geral).
Variável
N
Média
DP
Skewness
EP
Kurtosis
EP
Extroversão
355
6,2678
1,68942
-
,502
,128
,265
,254
Ansiedade
355
4,5273
2,21404
,249
,128
-
,563
,254
Rigidez de
pensamento
355
5,5109
1,72607
,068
,128
,533
,254
Independência
355
6,3197
1,69899
-
,397
,128
,189
,254
Autocontrole
355
6,3634
1,85846
-
,244
,128
-
,522
,254
C. Afetivo
355
3,8072
0,74568
-
,700
,128
,324
,25
4
C. Calculativo
355
2,8931
0,75195
,050
,128
-
,473
,254
Suporte
355
5,1230
1,36300
-
,632
,128
-
,388
,254
Clima
355
3,5271
0,48290
-
,436
,128
,598
,254
Assiduidade (4 meses)
328
92,9848
11,9950
-
2,983
,135
9,991
,268
As variáveis Comprometimento Afetivo e Calculativo, referentes ao nível micro-
organizacional e que coexistem nos membros de uma organização, obtiveram dias
significativamente diferentes (p< 0,001; t de Student). Na amostra, o Comprometimento
Afetivo é maior: média 3,80 (DP = 0,75), enquanto o Comprometimento Calculativo obteve:
74
média 2,89 (DP = 0,75). Ambas as formas de comprometimento são avaliadas em escalas de
concordância de cinco pontos.
Estes valores encontrados pelas escalas de Clima, Suporte e Comprometimento
Afetivo e Calculativo, dizem respeito à interpretação da avaliação direta das escalas, não são
comparados a outras organizações, ou mesmo a outras áreas da empresa.
A assiduidade (Absenteísmo invertido, utilizado para os cálculos estatísticos) média
foi de 93% em 4 (q
uatro) meses. Estas características estão condensadas na Tabela 7.1.2.
7.2. CONFIABILIDADE DOS INSTRUMENTOS
A confiabilidade dos instrumentos foi testada (pela consistência interna) através do
alfa de Cronbach, que mostrou resultados bastante positivos, conforme destacado na Tabela
7.2.1..
Tabela 7.2.1.
Confiabilidade dos instrumentos de pesquisa.
Instrumento
Alfa de Cronbach original
Alfa revalidado
ECOA (Siqueira, 2001)
0,92
0,96
ECOC (Siqueira, 2001)
0,92
0,89
EMCO (Martins et al, 2003)
0,90
0
,96
SPOS (Siqueira, 1995)
0,86
0,89
.
Por sua vez, o teste 16PF, declarado teste psicológico sem condições de uso pelo
Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) do Conselho Federal de Psicologia
(CFP, 2004), foi mantido neste estudo, principalmente, em virtude da indisponibilidade de
outros instrumentos correlatos para avaliação de construtos equivalentes aos Cinco
75
Grandes , entre outros motivos de ordem operacional. Cabe ressaltar, ainda, que a restrição
imposta pelo CFP é para o uso em diagnóstico clínico, o que não impede seu uso em
pesquisas.
7.3. ESTUDO CORRELACIONAL
As correlações bivariadas foram analisadas pelo método Pearson. O objetivo deste
estudo foi o de identificar padrões de interação entre as variáveis, que podem, por exe
mplo,
influenciar as técnicas de regressão utilizadas para a análise das relações de predição entre as
mesmas e o Absenteísmo, como no caso de multicolinearidade, ou mesmo dar indícios da
necessidade de se investigar a superposição de construtos.
Os resultados indicaram correlações fracas ou nulas entre os fatores de personalidade
investigados pelo teste 16PF, sendo a maior correlação verificada entre os fatores
Autocontrole e Ansiedade (r = -0,33). Esta correlação é bem próxima daquelas encontradas
entre os fatores Autocontrole e Rigidez de Pensamento (r = 0,29) e entre os fatores
Independência e Extroversão (r = 0,31). Os fatores Independência e Ansiedade não se
correlacionaram significativamente (p > 0,05), enquanto o fator Autocontrole não se
correlacion
ou com os fatores Extroversão e Independência. Além disso, apenas o fator
Autocontrole obteve correlação significativa com uma variável alheia ao teste 16PF, r = -
0,11
com assiduidade (ver Tabela 7.3.1).
Todas as outras variáveis do modelo se correlacionaram significativamente
(Comprometimentos Afetivo e Calculativo, Suporte, Clima e assiduidade; p< 0,01).
Correlações fracas foram encontradas entre a assiduidade e os construtos de Clima, Suporte e
76
Comprometimento. Entre os construtos de Comprometimento Afetivo, Suporte e Clima as
correlações foram relativamente altas, como a correlação entre Clima e Suporte (r = 0,72), que
pode inclusive delinear um caso de superposição de construtos. com o Comprometimento
Calculativo, aqueles construtos demonstraram correlações moderadas, variando entre r = 0,36
e 0,43 (p< 0,01), sendo todas positivas.
Tabela 7.3.1
Correlações bivariadas entre as variáveis do modelo (Pearson).
Extroversão
Ansiedade
Rigidez de
pensamento
Independência
Autocontrole
C. Afetivo
C. Calculativo
Suporte
Clima
Correlação
(Pearson)
-
,16**
Ansiedade
N
350
Correlação
(Pearson)
-
,17**
-
,24**
Rigidez de
pensamento
N
355 350
Correlação
(Pearson)
,31**
-
,05
-
,16**
Independência
N
355 350 355
Correlação
(Pearson)
,02
-
,33**
,29**
,02
Autocontrole
N
355 350 355 355
Correlação
(Pearson)
-
,02
,03
,02
,03
-
,06
C. Afetivo
N
355 350 355 355 355
Correlação
(Pearson)
,03
,00
,03
,06
-
,07
,43**
C. Calculativo
N
355 350 355 355 355 355
Correlação
(Pearson)
,05
,02
-
,04
,04
-
,09
,63**
,36**
Suporte
N
355 350 355 355 355 355
355
Correlação
(Pearson)
,06
-
,03
,00
,06
-
,03
,70**
,38**
,72**
Clima
N
355 350 355 355 355 355
355
355
Correlação
(Pearson)
-
,04
-
,04
-
,00
,04
-
,11*
,18**
,07
,19**
,16**
Assiduidade
N
319 314 319 319 319 319
319
319
319
** Correlação significante a 0.01;
* Correlação significante a 0.05.
77
Dentre os fatores de personalidade, apenas o fator Auto-controle relacionou
-
se
significativamente com a variável dependente, Absenteísmo. Entre os demais construtos
estudados, apenas o Comprometimento Calculativo não se relacionou de forma significativa
com o Absenteísmo; as correlações destes construtos foram positivas com a a
ssiduidade,
portanto negativas para o Absenteísmo, embora tenham sido relativamente pequenas.
7.4. ANÁLISES DE REGRESSÃO LINEAR
STEPWISE
As análises de regressão descritas nesta seção são resultantes de duas etapas do estudo:
na primeira etapa, foi estudada a amostra geral de atendentes, seguindo o modelo hipotetisado
anteriormente. Na segunda etapa, a análise traz os resultados da amostra dividida em
atendentes receptivos e ativos, que buscou identificar possíveis diferenças entre os grupos,
embora tenha sido necessário quebrar alguns dos pressupostos da regressão, como a
proporção de casos por VI. As possíveis diferenças entre operadores receptivos e ativos
devem
-
se ao fato de que estes recebem comissões por produtividade (diretamente influenciada
pela
presença ou ausência no trabalho), enquanto aqueles recebem salários fixos mensais.
7.4.1. Etapa 1 (amostra geral)
Os resultados da análise de regressão
stepwise
indicam dois modelos significativos na
predição de assiduidade na amostra geral: o primeiro modelo (a) inclui apenas a variável
78
Suporte, com 5,7% de explicação da variância da variável dependente assiduidade (p< 0,001);
um segundo modelo (
b
) aumenta o poder de explicação da assiduidade, somando
-
se à equação
da regressão o fator de personalidade denominado Auto-controle (R
2
= 7,1%, p< 0,05) (ver
tabela Tabela 7.4.1.1).
Tabela 7.4.1.1.
Sumário do modelo de regressão da amostra geral.
Modelo
R
R
2
R
2
Ajustado
Erro Padrão
da Estimat.
R
2
Modif.
F Modif.
df1
df2
Sig. F
Modif.
a
,238
,057
,054
11,6676
,057
19,038
1
316
,000
b ,267
,071
,065
11,5959
,015
4,921
1
315
,027
a. Preditores: (Constante), Suporte
b. Preditores: (Constante), Suporte, Auto
-
controle.
Os coeficientes de regressão indicam o peso relativo das variáveis independentes na
predição da assiduidade. No modelo a (ver Tabela 7.4.1.2) , a variável Suporte apresenta um
Beta de 0,238 (p< 0,001), que é parcialmente reduzido no modelo b, onde assume o valor
0,228 (p< 0,001), quando é somado o peso da variável Auto
-
con
trole (B = -
0,121, p< 0,05) ao
modelo.
Tabela 7.4.1.2.
Coeficientes de regressão.
Coeficientes não
-
padronizados
Coeficiente
padronizado
Modelo
B
Erro P.
t
Sig.
a
(Constante)
82,238
2,537
32,409
,000
Suporte
2,098
,481
,238
4,363
,000
b
(Constante)
87,650
3,509
24,979
,000
Suporte
2,010
,479
,228
4,193
,000
Autocontrole
-
,780
,352
-,121
-
2,218
,027
Variável Dependente: Assi
duidade
79
7.4.2. Etapa 2 (amostras parciais)
Assim como nas análises da amostra geral, os resultados da regressão
stepwise
realizados na amostra de atendentes receptivos indicam dois modelos significativos na
predição de assiduidade: o modelo a inclui apenas a variável Suporte, com uma força um
pouco menor (5,2%; p< 0,001) (ver Tabela 7.4.2.1) do que aquela encontrada anteriormente
na explicação da variância da variável dependente; o modelo
b
também é bastante semelhante,
pois aumenta a explicação da assiduidade para 6,9% (p< 0,05) ao associar o fator Auto-
controle no modelo.
Tabela 7.4.2.1.
Sumário do modelo de regressão dos operadores receptivos.
Modelo
R
R
2
R
2
Ajustado
Erro Padrão
da Estimat.
R
2
Modif.
F Modif.
df1
df2
Sig. F
Modif.
a
,227
,052
,048
12,47476
,052
13,039
1
239
,000
b ,263
,069
,061
12,38636
,017
4,424
1
238
,036
a. Preditores: (Constante), Suporte
b. Preditores: (Constante), Suporte, Auto
-
controle
Os coeficientes de regressão do modelo a indicaram que a variável Suporte apresenta
um peso (Beta) de 0,227 (p< 0,001) na predição de assiduidade (ver Tabela 7.4.2.2), que
também será parcialmente reduzido no segundo modelo (b), assumindo o valor 0,223 (p<
0,001). Neste modelo (
b
), o peso da variável Autocontrole
é de
-
0,132 (p< 0,05).
80
Tabela 7.4.2.2.
Coeficientes de regressão para operadores receptivos.
Coeficientes não
-
padronizados
Coeficiente
padronizado
Modelo
B
Erro P.
t
Sig.
a
(Constante)
81,792
2,972
27,521
,000
Suporte
2,177
,603
,227
3,611
,000
b
(Constante)
87,941
4,154
21,171
,000
Suporte
2,130
,599
,223
3,556
,000
Auto
-
controle
-
,917
,436
-,132
-
2,103
,036
Variável Dependente: As
siduidade
Complementando as análises, foram efetuados os cálculos de regressão para amostra
de operadores ativos, apesar do tamanho da amostra neste caso ser insuficiente para garantir a
adequação à análise. Talvez por esta razão, não foram revelados preditores significativos de
assiduidade nesta análise (nenhum modelo foi aceito).
81
8. DISCUSSÃO
Os instrumentos utilizados neste estudo foram investigados em sua confiabilidade,
com exceção do 16PF (com esta amostra não é possível checar adequadamente as qualidades
psicométricas do 16PF, como seria desejável em função de sua situação junto ao CFP). Os
resultados desta investigação foram bastante favoráveis, sendo que, em certos casos, os
índices
Alfa de Cronbach superaram os resultados da própria validação do instrumento. Estes
resultados indicam a consistência psicométrica dos mesmos,
quando aplicados a uma amostra.
Contudo, por si só, estes dados não garantem a exatidão das medidas dos construtos,
pois não são exames de validade discriminante. Uma das formas de se investigar esta validade
é a análise da correlação bivariada encontrada nos resultados descritivos da amostra, como as
altas correlações entre Suporte e Clima (0,72) que podem indicar uma sobreposição de
construtos. Neste caso, os dois instrumentos parecem estar avaliando percepções semelhantes
dos sujeitos quanto ao ambiente organizacional, o que é até mesmo possível, pois o construto
de Clima (MARTINS et al., 2004) envolve o fator Apoio, que inclui facetas bastante similares
àquele conceito, e os dois construtos são de nível macro-organizacional. Portanto, é
necessário ter c
erta precaução ao realizar inferências quanto ao papel destes dois construtos na
dinâmica do CO.
O mesmo se poderia dizer quanto às relações entre os construtos de Clima
Organizacional e de Comprometimento Afetivo, uma vez que a correlação apontada neste
estudo é igualmente alta (0,70). Neste caso, porém, existe uma distinção teórica fundamental,
pois os vetores são inversos: o Clima é percebido como influência do ambiente externo no
comportamento do trabalhador, enquanto o Comprometimento Afetivo denota
a predisposição
interna do mesmo influenciando o comportamento. Todavia, os construtos e instrumentos
82
utilizados neste estudo têm sido investigados por outros pesquisadores (RHOADES;
EISENBERGER, 2002; SIQUEIRA, 1995; MEYER et al., 2002), e a discriminação dos
mesmos parece bem apoiada em evidências empíricas.
Sobre a amostra, como esperado, a não-normalidade é aparente: na assiduidade, por
exemplo, os índices de
Skewness
(-2,983, EP = 0,135) e
Kurtosis
(9,991, EP = 0,268),
demonstram uma distribuição altamente deslocada para a direita e bastante pontiaguda. Estes
dados mal distribuídos provocam a perda de poder explicativo de análises mais profundas,
como a análise de regressão
stepwise
(TABACHNICK; FIDEL, 1996). Todavia, conforme
apontam Abbad e Torres (2002), a análise de regressão tem se mostrado robusta o bastante
para a quebra de pressupostos, como a normalidade da amostra e a multicolinearidade, que
não aconteceu. Além disso, as alternativas metodológicas para atingir a normalidade
estatística seriam
incondizentes com a especificidade do caso analisado.
O objetivo geral do estudo, que buscava identificar o poder de predição do modelo
proposto, envolvendo variáveis de médio e longo prazo (HARRISON; MARTOCCHIO,
1998) e de diferentes níveis do CO (WAGNER III; HOLLENBECK, 2000) sobre o
Absenteísmo dos operadores de tele-atendimento, foi examinado pela regressão
stepwise
, que
revelou pequeno, porém significativo, poder de explicação do fenômeno, apoiando apenas
parcialmente a hipótese fundamental do estudo (>PSO, <Absenteísmo). O modelo assumido
pelo pesquisador é o modelo 2, que soma a PSO e o fator Auto-controle de personalidade na
explicação da variância de Absenteísmo; o modelo explica, assim, 7,1% da variância na
amostra geral. No modelo 1, a variância explicada é um pouco menor (5,7%), apesar de haver
apenas uma variável explicativa (PSO).
Com relação aos valores de , é relevante notar que as variáveis do modelo m
impactos diferentes para a formação do Absenteísmo (notando-se que o valor apresentado
nos
resultados é de assiduidade, ou seja, Absenteísmo invertido). A relação entre PSO e
83
Absenteísmo é inversa ( , ou seja, quanto melhor o suporte, menor será o
Absenteísmo (este dado é corroborado pela leitura das correlações bivariadas entre as
variáveis, na Tabela 7.3.1). De forma diferente, o fator de personalidade Auto-
controle
contribuiu positivamente para o desenvolvimento do Absenteísmo, com
= 0,121, indicando
que os sujeitos com maior nível de Auto-controle, neste estudo, foram mais faltosos, como
também indica a correlação entre as variáveis (ver Tabela 7.3.1.).
Estes resultados são contraditórios. Por um lado, conforme os resultados apontam,
espera
-se que a percepção de suporte influencie negativamente o Absenteísmo
(EISENBERGER ET AL, 1986; RHOADES; EISNEBERGER, 2002), pois o empregado que
sente a preocupação da empresa a seu respeito tende a retribuir com comportamentos
producentes. Neste sentido, a teoria suporta totalmente essa relação preditiva entre suporte e
redução de comportam
entos contra
-
producentes.
Todavia, os resultados encontrados neste estudo com relação à variável Auto-
controle
parecem ser incondizentes com a literatura sobre personalidade e trabalho, lembrando que o
fator Auto-controle seria o correlato (no 16PF) do fator Conscienciosidade da teoria dos
cinco grandes fatores de personalidade. Este fator congrega pontos como disciplina,
conscienciosidade, auto-determinação, sobriedade e controle emocional, fortalecendo as
relações com o meio social (RUSSEL; KAROL, 2002). Portanto, seria presumível que altos
escores neste fator de personalidade se refletissem em menores taxas de Absenteísmo, ou seja,
correlação inversa. Efetivamente, os estudos que relacionam personalidade e desempenho no
trabalho, por exemplo, são praticamente unânimes em anunciar a conscienciosidade como
preditor significativo de desempenho, nas mais diferentes ocupações estudadas (BARRICK;
MOUNT; JUDGE, 2001). Especificamente relacionada ao Absenteísmo, esta variável foi
observada como preditora (negat
iva) por Judge, Martocchio e Thorensen (1997), confirmando
suas hipóteses baseadas exclusivamente no construto teórico deste fator de personalidade.
84
É possível que o 16PF não seja capaz de medir adequadamente o construto, como
descrito em sua teoria, ou mesmo que a abordagem conceitual utilizada neste estudo, que
compara o fator Auto-controle ao construto de conscienciosidade seja equivocada, ou ao
menos incompleta. Contudo, os dados deste estudo também demonstram correlações
significativas entre Auto-
cont
role e Ansiedade (-) e Rigidez de Pensamento (+); estas
características reforçam a perspectiva de que um sujeito com maior Auto-controle, maior
Rigidez de Pensamento e menor Ansiedade esteja mais propenso a cumprir seu papel, de
forma controlada e planejada, sem grandes interferências em seu roteiro habitual, aumentando
a incoerência do peso positivo do Auto
-controle sobre o Absenteísmo. Portanto, ainda que não
possa ser explicado pela evidência científica disponível, o que leva sujeitos sóbrios,
disciplina
dos, emocionalmente controlados e que valorizam as regras sociais a apresentarem
maiores níveis de Absenteísmo, neste caso, pode-se supor que seja resultado da tomada de
decisão dos mesmos, como processo de esquiva. Os indivíduos com maior grau de
Autocont
role podem entrar em choque com os excessivos controles externos, característicos
da organização do trabalho em contact center, e podem então estar utilizando as ausências do
trabalho como uma forma de enfrentamento desta situação, possivelmente em busca d
a
manutenção de seu bem
-
estar.
Este estudo teve, como objetivo secundário, investigar as diferenças entre fatores de
diferentes níveis na construção do Absenteísmo de operadores de tele
-
atendimento. Como não
foi encontrado na literatura modelo equivalente, a discussão será facilitada pela discussão dos
pesos parciais de cada variável inclusa, bem como das VIs excluídas dos modelos
encontrados. Para tanto, foram realizadas análises que permitem inferências sobre os
contrastes entre variáveis de diferentes níveis de CO, e, ao mesmo tempo, de maior ou menor
grau de estabilidade, ou seja, sobre as quais se pode obter maior controle ou possibilidade de
intervenção.
85
Entre os níveis de CO, os resultados das análises de regressão
stepwise
permitem,
apenas, verificar que a percepção de suporte (variável associada ao nível macro-
organizacional) explica consideravelmente mais variância de Absenteísmo do que a única
variável do nível micro-organizacional que permaneceu no modelo, o fator de personalidade
Auto
-
controle,
inclusive com maior grau de significância (p< 0,001 para PSO, p< 0,05 para
Auto
-controle). Além disso, o estudo compreendeu sete variáveis do nível micro-
organizacional (seis foram excluídas do modelo: Extroversão, Ansiedade, Rigidez de
pensamento, Independência e as duas formas de Comprometimento, Afetivo e Calculativo,
das quais apenas as duas formas de comprometimento obtiveram correlações significativas
com a VD), contra apenas duas de nível macro (Clima Organizacional também foi excluído
do modelo hipotetisado, apesar de sua correlação significativa com a VD). Uma estratégia
para melhorar as análises das interações entre as variáveis seria a utilização de modelos de
equação estrutural.
A exclusão de tantas variáveis do modelo pode ter sido facilitada pela violação de
algumas das propriedades estatísticas, como anteriormente enunciado, uma vez que outras
variáveis apresentaram correlações significativas com a variável dependente. Uma sugestão
para melhorar estas propriedades é aumentar o tempo de coleta d
o Absenteísmo ou o tamanho
da amostra (STEEL, 2003). Esta estratégia poderia aumentar a dispersão de dados do
Absenteísmo, favorecendo a análise de regressão. Além disso, com o aumento da amostra
seria possível investigar o impacto de duas variáveis altame
nte distintivas desta amostra sobre
os resultados: a baixa idade média dos sujeitos e também o pouco tempo na organização.
Estas duas últimas variáveis podem ter efeitos diversos na percepção dos fatores macro-
organizacionais, por exemplo, em função da inexperiência (quantas situações podem
evidenciar a preocupação da empresa com o bem-estar de seus funcionários, ou, ainda, em
caso de primeiro emprego, o conforto físico pode ser comparado e valorizado?).
86
Por outro lado, a gama de causas envolvidas na formação do Absenteísmo (JOHNS,
2003; NASCIMENTO; 2003; BRIEF, 1998; HARRISON; MARTOCCHIO, 1998;
HACKETT; BYCIO, 1996) certamente influencia estes resultados, pois não se deve esperar
que um único fator seja responsável por grande explicação da variância do fenômeno, e ainda
é presumível que boa parte da variância seja indescritível por meios estatísticos, atrelada a
fatores muito específicos (falta de eletricidade, assaltos, acidentes de carro, etc.), cuja
avaliação e mensuração seja virtualmente impossível.
Es
tes resultados permitem, no entanto, inferir que elementos do nível organizacional
(supostamente manipuláveis em médio prazo pela organização) têm maior poder sobre a
ocorrência de Absenteísmo do que elementos mais estáveis, porém do nível micro-
organizaci
onal (personalidade). Este achado é condizente com a literatura de Absenteísmo,
que revela o alto poder de diminuição deste fenômeno quando da adoção de programas
organizacionais específicos para este fim (JOHNS, 2003; HARRISON; MARTOCCHIO,
1998), demonstrando que as diferenças individuais são relativamente manipuláveis pela
iniciativa dos gestores e pelas políticas de recursos humanos.
Outra perspectiva de análise destes resultados pode ser feita em função da cultura de
Absenteísmo (SPECTOR, 2003). Este construto poderia ser evidenciado em se contrastando
amostras com diferentes níveis de Absenteísmo médio, cujo valor poderia ser correlacionado
com o Absenteísmo individual. Ainda que não tenhamos dados para efetivar este contraste, o
percentual médio de Absenteísmo (7% em um período de 4 meses) parece bastante elevado,
permitindo inferências, ainda que levianas, sobre a existência de tal cultura, e que parece ser
um tanto quanto permissiva. De qualquer forma, é interessante notar que esta possível
explic
ação, a ser investigada posteriormente, é também de natureza social, como o Suporte,
podendo se manifestar nos grupos ou na organização como um todo, e, caso confirmado seu
87
poder sobre a explicação do fenômeno, estaria se reforçando o poder de fatores exte
rnos,
suscetíveis à atuação da organização, no controle de Absenteísmo.
Quanto à validade do teste de personalidade 16PF para fins de predição do
Absenteísmo, através de seu uso na seleção de pessoal, pouco se pode afirmar, pois os
resultados indicam dados teoricamente contraditórios. Vale ressaltar que não foram
especificamente examinadas neste estudo outras medidas de desempenho (como qualidade e
produtividade) ou mesmo com outras formas de comportamentos contra-producentes (atrasos
e rotatividade). Contudo, a análise das correlações entre as variáveis levantadas na amostra
não apontou qualquer relação entre os cinco fatores globais de personalidade (Extroversão,
Ansiedade, Rigidez de Pensamento, Independência e Auto-controle) e os outros construtos,
espec
ialmente o Comprometimento Afetivo, que é largamente reconhecido como um grande
preditor de desempenho geral (MEYER; HERSCOVITCH, 2001; MATHIEU; ZAJAC,
1990), supondo possíveis relações entre personalidade (traços disposicionais) e afeto.
Portanto, maior número de estudos seriam demandados para a efetiva confirmação da
validade preditiva dos fatores globais de personalidade avaliados pelo 16PF.
Todas as considerações feitas até este ponto ainda são passíveis de uma observação
importante: os resultados se referem a trabalhadores da base operacional da empresa,
conhecidos na literatura internacional como pink collar (geralmente mulheres, empregadas
em atendimento e serviços ao cliente). Destarte, não se deve inferir que não haja diferenças
entre os preditores de comportamento destes trabalhadores e daqueles que ocupam cargos
mais elevados na estrutura organizacional. Esta colocação é fundamentada pela natureza da
tarefa (repetitiva, programada, controlada), que provavelmente exige menos independência do
que t
arefas ligadas à criação, por exemplo.
Com respeito à natureza da tarefa, houve a preocupação de verificar as possíveis
diferenças entre os operadores de tele-atendimento receptivos e ativos, dentro da amostra. Os
88
resultados descritos na seção 6.4.2. são relativos aos operadores receptivos, que perfazem a
maior parte dos sujeitos da amostra geral. Basicamente, os modelos resultantes das análises de
regressão
stepwise
são muito próximos daqueles encontrados na amostra geral. O modelo com
maior poder explicativo da variância do Absenteísmo foi, novamente, composto pelas
variáveis independentes PSO e Auto-controle; estas duas variáveis, em conjunto, explicaram
6,8% da variância do Absenteísmo (contra 7,1% da amostra geral). Não parece haver razão
para a assunçã
o de um modelo diferenciado para esta amostra.
Por sua vez, a amostra de operadores ativos (tele
-
vendedores, basicamente), submetida
aos mesmos procedimentos de análise de dados, não obteve qualquer modelo significativo de
explicação da variância da VD Absenteísmo. Esta situação pode ser derivada diretamente do
número de trabalhadores participantes da amostra de operadores ativos, muito pequeno para o
total de variáveis independentes, o que pode ter provocado um erro falso negativo (ABBAD;
TORRES, 2002).
Os
demais resultados extraídos deste estudo devem ter maior significado para os
gestores e profissionais de recursos humanos da organização avaliada. Em primeiro lugar,
quanto aos procedimentos de seleção de pessoal: o teste 16PF (cuja precisão não é avaliad
a
adequadamente neste estudo) não foi capaz de identificar perfis diferenciados nos operadores
de tele-atendimento, ou seja, caso exista a investigação de características de personalidade
para o processo seletivo, com vistas a identificar e selecionar características específicas de
personalidade consideradas apropriadas para a função, estas não foram encontradas na
amostra (que refletiu a média da população: estenos entre 5 e 6). Resultados semelhantes
foram
encontrados por Guimarães, Dias e Martins (2004), que investigaram a diferenciação
de atitudes relacionadas ao trabalho no desempenho de líderes, analisadas por um inventário
de uso comum entre os profissionais de seleção, e que não foram capazes de predizer
desempenho.
89
Uma segunda perspectiva que pode contribuir para a prática destes profissionais e
gestores é a validade da Percepção de Suporte Organizacional para a predição de
comportamento no trabalho. Como verificado neste estudo, esta variável foi a que obteve
melhor capacidade de explicar o Absenteísmo, superando outras variáveis consideradas
importantes para a compreensão dos comportamentos nas organizações. O desenvolvimento
do Suporte, demonstrando preocupação com o bem-estar dos empregados, e valorizando suas
contribuições, além de favorecer a diminuição do Absenteísmo, deve acarretar outras
conseqüências bastante positivas para a empresa, como demonstram Rhoades e Eisenberger
(2002), incluindo maior Comprometimento Afetivo, Envolvimento com o trabalho, melhor
Desempenho geral, menos
Stress
, maior desejo de permanecer na organização e diminuição
dos comportamentos contra
-
producentes, como um todo.
As análises descritivas anteriormente apresentadas também devem chamar a atenção
dos envolvidos. Os construtos de Suporte, Clima, Comprometimento Afetivo e Calculativo,
foram avaliados por instrumentos validados e consistentes, que permitem aferir com boa
precisão a avaliação dos funcionários sobre aqueles do ambiente, bem como revelam suas
formas de comprometimento. Estas avaliações podem e devem ser usadas para o diagnóstico
organizacional, pois permitem identificar os fatores que merecem atenção das políticas de
gestão de pessoas. Uma informação relevante é referente às altas correlações entre estes
construtos, o que pode demonstrar que a atuação sobre um fator específico deve surtir efeito
em outras variáveis.
O construto de Clima, por exemplo, inclui o fator secundário Recompensas
(MARTINS et al., 2003), ond
e os trabalhadores têm a oportunidade de avaliar a qualidade das
recompensas, sua pertinência e justiça. Como a literatura aponta para a possibilidade de
diminuição do Absenteísmo através de recompensas à assiduidade (HARRISON;
MARTOCCHIO, 1998), pode ser de grande valia a adoção de um programa específico de
90
recompensas pela assiduidade, que deve promover direta e indiretamente a diminuição do
Absenteísmo, pelo reforço do bom comportamento e pela melhoria do Clima e do Suporte
(prontidão em reconhecer os esforços dos trabalhadores), além de promover o
desenvolvimento do Comprometimento Afetivo.
91
8.
CONCLUSÕES E AGENDA DE PESQUISA
O conceito de Absenteísmo, como foi discutido, é abordado por múltiplas e amplas
disciplinas e correntes teóricas, proporcionando formas variadas de compreensão do
fenômeno, que exigem do pesquisador atenção redobrada em sua investigação. Além disso,
devido a suas inúmeras facetas, alguém poderia, ingenuamente, se decepcionar com o
relativamente pequeno poder de explicação do construto quando submetido a análises
criteriosas e exigentes como as realizadas neste estudo
.
Todavia, os modelos analisados neste estudo podem contribuir para o
desenvolvimento teórico do campo e também para a prática dos profissionais de RH e
gestores. Johns (2003) salienta as contribuições para as teorias advindas da diversificação
metodológic
a encontrada na área; contudo o autor revela que a maior parte destes estudos
tende a investigar exclusivamente as causas individuais de Absenteísmo (disposições,
atitudes, histórico pessoal, problemas crônicos de saúde), até porque os estudos oriundos do
campo do CO não são a maioria na área. Neste sentido o autor procura ressaltar a importância
de estudos que buscam cruzar dados de diferentes níveis da organização, como este, para
expandir as fronteiras dos modelos existentes. Os resultados deste estudo s
ão consistentes, por
exemplo, com os estudos na área de transferência de treinamento, que demonstram o maior
poder preditivo de variáveis do nível macro-organizacional sobre os resultados individuais
(TAMAYO, 2002; ABBAD, 1999).
O papel das políticas de recursos humanos e dos gestores deve ser cada vez mais ativo
no controle do Absenteísmo, pois os resultados individuais parecem ser influenciados
significativamente através de incentivos, reconhecimento, preocupação com o bem-estar dos
funcionários, atendimento a suas necessidades para o desempenho adequado. Neste ponto
92
deve
-se ressaltar que, de acordo com a norma de reciprocidade, os empregados têm a
capacidade de descobrir quais são as expectativas da organização sobre eles, a fim de retribuir
prioritariam
ente estas expectativas (EISENBEGER et al., 1986). Portanto, se a organização
valoriza (retribuindo, na figura do superior imediato ou de outros poderosos) a assiduidade
dos empregados, ainda que em detrimento da qualidade de seu desempenho, eles farão o
possível para não faltar, mesmo que não estejam em condições de desempenhar seu papel
adequadamente (presenteísmo).
Entre as contribuições do estudo, pode-se citar também a avaliação das ferramentas
psicométricas, que trazem resultados instigantes, mais do que conclusivos: a diferenciação
entre os construtos de Clima e Suporte, por exemplo, deve ser mais investigada. Estudos de
validade discriminante podem revelar a possível sobreposição de construtos, uma vez que o
conceito de clima parece ser mais abrangente e incluir pontos teoricamente semelhantes ao
conceito de Suporte.
Outra investigação que se delineia é a da validade interna e externa do 16PF, que pode
ser realmente incapaz de avaliar as características de personalidade descritas, ao menos na
populaç
ão brasileira. A adaptação de um teste de personalidade requer cuidados
diferenciados, devido à importância que assume a cultura na formação do indivíduo.
A investigação conduzida procurou evidências que pudessem satisfazer os objetivos
do estudo, que foram parcialmente atingidos. Se, por um lado, o modelo não pôde explicar
grande parte da variância do fenômeno, por outro, foram encontrados resultados que podem
direcionar os esforços de pesquisa para novas hipóteses, que incluam variáveis de diversos
níveis
de comportamento, e, ao mesmo tempo, análises estatísticas mais apuradas, como
aquelas baseadas na teoria multi-nível (KLEIN; KOZLOWSKI, 2000), cujos modelos
permitem inferir as relações entre variáveis de diferentes níveis na explicação de resultados do
nível mais baixo, como o Absenteísmo (nível micro
-
organizacional).
93
O estudo ainda proporciona a oportunidade para se questionar as teorias de
personalidade aplicadas ao trabalho, que buscam identificar características disposicionais
comuns entre sujeitos
de melhor e pior desempenho. Ainda que vários autores defendam o uso
destas características para a seleção de pessoal (JUDGE; MARTOCCHIO; THORENSEN,
1997; BARRICK; MOUNT; JUDGE, 2001), os dados ainda são bastante inconclusivos, como
os deste estudo, que apresenta resultados opostos aos da literatura. Esta situação pode ter sido
causada por erros de medida, mas também pode ser resultante da força relativa do ambiente
organizacional sobre o comportamento de seus membros, como demonstram os estudos
transcultur
ais.
Algumas limitações deste estudo são evidentes. Primeiramente, como estudo de caso,
a generabilidade de seus resultados pode ser contestada; ainda que os procedimentos tenham
procurado minimizar os problemas decorrentes desta realidade, a não-
normalida
de
(estatística) da amostra pode ter afetado seriamente as análises estatísticas. Outro problema do
estudo de caso pode ser decorrente da utilização da máquina organizacional para a coleta de
dados, ao invés de coletar os dados em ambiente neutro , que poderia diminuir os anseios
dos sujeitos e melhorar as medidas. Todavia, como se verificou, a descrição do ambiente
organizacional não passa de moderadamente positiva , que não é um resultado tão
expressivo para a organização.
A adequação do número de sujeitos aos procedimentos estatísticos foi seguida para a
amostra geral, embora várias recomendações tenham sido feitas na literatura para buscar a
normalidade da amostra (STEEL, 2003; ABBAD; TORRES, 2002); o que pode enfraquecer a
qualidade dos resultados apresentados. No caso do estudo com a amostra parcial de
operadores ativos, por exemplo, é possível que a insuficiência da amostra tenha sido
determinante para a ausência de resultados significativos para o modelo. Neste sentido, novos
estudos devem, de ant
emão, delinear sua amostra com maior folga.
94
Uma perspectiva levantada na literatura (sensibilidade do Absenteísmo às
intervenções) foi entendida como derivação do poder do meio organizacional sobre a
variância do fenômeno. Esta perspectiva pode ser comprovada em estudo posterior, de caráter
experimental, que tenha acesso a dados pré e pós-intervenções com recompensas pela
assiduidade. Este tipo de estudo não é comum na literatura nacional, mas é coerente com os
achados teóricos aqui expostos e corroborados pelos resultados deste estudo. Ainda na
perspectiva de se compreender melhor a força da organização para diminuir o Absenteísmo,
especial atenção deve ser dada em novos estudos à cultura do Absenteísmo , discutida na
seção anterior, que pode ter influênci
a severa na predição e controle do fenômeno.
Novos estudos podem buscar evidências empíricas para as possíveis relações entre o
Absenteísmo e a percepção de existência de oportunidades de trabalho fora da empresa, pois
os trabalhadores podem estar utilizando os dias faltosos para buscar novas oportunidades.
Levando
-se em conta características demográficas da população analisada, o
Comprometimento com a Carreira deve ser alvo de pesquisas, pois é possível que os
trabalhadores (geralmente mulheres, com Ensino Médio completo, muito jovens) estejam
também procurando novos desafios, mais condizentes a seus objetivos profissionais (como o
ingresso em curso superior).
A centralidade do trabalho nas esferas de vida (divididas entre trabalho, lazer, família,
religião
e comunidade) também pode influenciar as decisões pessoais em comparecer ou não
ao trabalho, devendo também ser investigada. Da mesma forma, no nível micro-
organizacional, devem ainda ser objeto de pesquisa questões como os valores atribuídos ao
trabalho,
o significado do trabalho (como as relações entre as estratégia macro-
organizacionais e a função do trabalhador), o significado do dinheiro para o trabalhador e a
percepção da justiça organizacional, que podem influenciar os comportamentos contra-
producen
tes como um todo.
95
Além destas questões, alguns estudos poderiam abordar o nível meso-
organizacional,
ou seja, a relação do indivíduo faltoso com o grupo e com a sua liderança, considerando-se a
influência aqui evidenciada do papel do suporte organizacional sobre o Absenteísmo: o
superior personifica a organização.
Deste modo, acredita-se que este estudo trouxe colaborações importantes para o
esclarecimento das relações entre as variáveis focalizadas que, todavia, precisam ser
aprofundadas em estudos futuros, conforme se sugeriu anteriormente. Além disso, os dados
coletados permitem análises complementares que serão conduzidas posteriormente, visando
estudar outras relações entre variáveis que não constituíram os objetivos deste trabalho.
96
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102
ANEXOS
103
ANEXO A
Escala de Comprometimento Organizacional Afetivo (Siqueira, 1995):
Abaixo estão listados vários sentimentos e emoções que alguém poderia ter em relação
à empresa onde trabalho. Gostaríamos de saber o QUANTO VOCÊ SENTE ESTE
SENTIMENTOS E E
MOÇÕES
suas respostas marcando com um x, na tabela após cada frase , aquele número (de
1 a 5) que melhor representa sua resposta.
1
Nada
4
Muito
2
Pouco
5
Extremamente
3
Mais ou menos
Itens
1
2
3
4
5
01
Confiante nela.
0
2
Desgostoso com ela.
03
Empolgado com ela.
04
Fiel a ela.
05
Apegado a ela.
06
Orgulhoso dela.
07
Contente com ela.
08
Responsável por ela
09
Distante dela.
10
Dedicado a ela.
1
1
Entusiasmado com ela.
12
Preocupado com ela.
13
Encantado com ela .
14
Desiludido com ela.
15
Envolvido com ela.
16
Fascinado com ela.
17
Interessado por ela.
18
Animado com ela.
104
ANEX
O B
Escala de Compro
metimento Organizacional Calculativo ( Siqueira, 2001):
As frases abaixo falam de algumas perdas e dificuldades que você teria se pedisse
demissão da empresa onde está trabalhando e fosse trabalhar para outra empresa. Gostaria de
sabe
r o quanto você concorda ou discorda de cada frase.
Dê suas respostas marcando com um x, na tabela após cada frase, aquele número (de 1
a 5) que melhor representa sua resposta.
1
Discordo Totalmente
4
Concordo
2
Discordo
5
Concordo tota
lmente
3
Nem concordo e nem discordo
Itens
1
2
3
4
5
01
-
Eu teria dificuldade para ganhar um salário tão bom quanto o que tenho hoje.
02
Eu jogaria fora todos os esforços que fiz para chegar onde cheguei dentro desta
empresa
03
Eu perd
eria a estabilidade no emprego que tenho hoje nesta empresa (garantias de
não ser demitido)
04
Eu teria dificuldades para conseguir outro cargo que me desse o mesmo prestígio
que tenho com meu cargo atual.
05
Eu demoraria para encontrar em
outra empresa pessoas tão amigas quanto as que
tenho hoje entre meus colegas de trabalho dentro desta empresa.
06
Eu perderia a liberdade que tenho de realizar meu trabalho dentro desta empresa
07
Eu estaria desperdiçando todo o tempo que
já me dediquei a esta empresa.
08
Eu deixaria para trás tudo o que investi nesta empresa.
09
Eu estaria prejudicando minha vida profissional.
10
Eu demoraria para conseguir ser tão respeitado em outra empresa como sou hoje
dentro
desta empresa
11
Eu deixaria de receber vários benefícios que esta empresa oferece a seus
empregados
12
Eu teria mais coisas a perder do que a ganhar com este pedido de demissão.
13
eu perderia o prestígio que tenho hoje por ser
empregado desta empresa.
14
Eu levaria muito tempo para me acostumar com um novo trabalho
15
Eu estaria jogando fora todo o esforço que fiz para aprender as tarefas do meu
cargo atual.
105
ANEXO C
Escala de Medida de Clima Organizac
iona
l (Martins et al,
2004
):
As frases abaixo falam de algumas características da empresa onde você es
trabalhando. Gostaria de saber o quanto você concorda ou discorda de cada frase.
suas respostas marcando com um x, na tabela à frente de cada frase, o número (de
1 a 5) que melhor representa sua resposta, conforme descrito abaixo:
1
Discordo Totalmente
2
Discordo
3
Nem concordo e nem discordo
4
Concordo
5
Concordo totalmente
Itens
1
2
3
4
5
01
-
Meu setor é informado das deci
sões que o envolvem.
02
- Os conflitos que acontecem no meu trabalho são resolvidos pelo próprio grupo.
03
-
O funcionário recebe orientação do supervisor (ou chefe) para executar suas tarefas.
04
-
As tarefas que demoram mais para serem realizadas são orientadas até o fim pelo
chefe.
05
-
Aqui, o chefe ajuda os funcionários com problemas.
06
-
O chefe elogia quando o funcionário faz um bom trabalho.
07
-
As mudanças são acompanhadas pelos supervisores (ou chefes).
08
-
As mudanças nesta Empresa são informadas aos funcionários.
09
-
Nesta Empresa, as dúvidas são esclarecidas.
10
-
Aqui, existe planejamento das tarefas.
11
-
O funcionário pode contar com o apoio do chefe.
12
-
As mudanças nesta Empres
a são planejadas.
13
-
As inovações feitas pelo funcionário no seu trabalho são aceitas pela Empresa.
14
-
Aqui, novas idéias melhoram o desempenho dos funcionários.
15
-
O chefe valoriza a opinião dos funcionários.
16
-
Nesta Empresa,
os funcionários têm participação nas mudanças.
17
-
O chefe tem respeito pelo funcionário.
18
-
O chefe colabora com a produtividade dos funcionários.
19
-
Nesta Empresa, o chefe ajuda o funcionário quando ele precisa.
20
-
A Empresa ac
eita novas formas do funcionário realizar suas tarefas.
21
-
O diálogo é utilizado para resolver os problemas da empresa.
22
-
Os funcionários realizam suas tarefas com satisfação.
23
-
Aqui, o chefe valoriza seus funcionários.
24
-
Qua
ndo os funcionários conseguem desempenhar bem o seu trabalho, eles são
recompensados.
25
-
O que os funcionários ganham depende das tarefas que eles fazem.
106
26
-
Nesta Empresa, o funcionário sabe porque está sendo recompensado.
27
-
Esta Empr
esa se preocupa com a saúde de seus funcionários.
28
-
Esta Empresa valoriza o esforço dos funcionários.
29
-
As recompensas que o funcionário recebe estão dentro das suas expectativas.
30
-
O trabalho bem feito é recompensado.
31
-
O
salário dos funcionários depende da qualidade de suas tarefas.
32
-
A produtividade do empregado tem influência no seu salário.
33
-
A qualidade do trabalho tem influência no salário do empregado.
34
-
Para premiar o funcionário, esta empresa considera a qualidade do que ele produz.
35
-
Os funcionários desta Empresa têm equipamentos necessários para realizar suas
tarefas.
36
-
O ambiente de trabalho atende às necessidades físicas do trabalhador.
37
-
Nesta Empresa, o deficient
e físico pode se movimentar com facilidade.
38
-
O espaço físico no setor de trabalho é suficiente.
39
-
O ambiente físico de trabalho é agradável.
40
-
Nesta Empresa, o local de trabalho é arejado.
41
-
Nesta Empresa, existem equipamen
tos que previnem os perigos do trabalho.
42
-
Existe iluminação adequada no ambiente de trabalho.
43
-
Esta Empresa demonstra preocupação com a segurança no trabalho.
44
-
O setor de trabalho é limpo.
45
-
Os equipamentos de trabalho sã
o adequados para garantir a saúde do empregado no
trabalho.
46
-
Nesta Empresa, a postura física dos empregados é adequada para evitar danos à
saúde.
47
-
O ambiente de trabalho facilita o desempenho das tarefas.
48
-
Aqui, existe controle e
xagerado sobre os funcionários.
49
-
Nesta Empresa, tudo é controlado.
50
-
Esta Empresa exige que as tarefas sejam feitas dentro do prazo previsto.
51
-
A freqüência dos funcionários é controlada com rigor por esta Empresa.
52
-
Aqui, o chefe usa as regras da Empresa para punir os funcionários.
53
-
Os horários dos funcionários são cobrados com rigor.
54
-
Aqui, o chefe pressiona o tempo todo.
55
-
Nesta Empresa, nada é feito sem a autorização do chefe.
56
-
Nesta E
mpresa existe uma fiscalização permanente do chefe.
57
-
As relações entre as pessoas deste setor são de amizade.
58
-
O funcionário que comete um erro é ajudado pelos colegas.
59
-
Aqui, os colegas auxiliam um novo funcionário em suas dific
uldades.
60
-
Aqui nesta Empresa, existe cooperação entre os colegas.
61
-
Nesta Empresa, os funcionários recebem bem um novo colega.
62
-
Existe integração entre colegas e funcionários nesta Empresa.
63
-
Os funcionários se sentem à v
ontade para contar seus problemas pessoais para
alguns colegas.
107
ANEXO D
Escala de Percepção de Su
porte Organizacional (Siqueira,
1995)
:
Abaixo estão listadas varias frases sobre a empresa onde você trabalha
atualmente. Gostaríamos de saber o
QUA
NTO VOCÊ CONCORDA OU
DISCORDA DE CADA UMA DELAS.
Dê suas respostas marcando com um x os números que vem após as frases, buscando
marcar aquele que melhor represente a sua resposta.
1 Discordo totalmente
5
Concordo levemente
2
Discordo moderadame
nte
6
Concordo moderadamente
3 Discordo levemente
7
Concordo totalmente
4
Nem concordo e nem discordo
Itens
1
2
3
4
5
01
Esta empresa ignoraria qualquer reclamação de minha parte.
02
Esta empresa não considera meus interesses q
uando toma decisões que me afetam.
03
É possível obter ajuda desta empresa quando tenho um problema.
04
Esta empresa realmente se preocupa com meu bem estar.
05
Esta empresa estaria disposta a ampliar suas instalações para me ajuda
r a utilizar
minhas melhores habilidades no desempenho do meu trabalho.
06
Esta empresa está pronta a me ajudar quanto eu precisar de um favor especial.
07
Esta empresa preocupa
-
se com minha satisfação geral no trabalho.
08
Esta em
presa preocupa
-
se mais com seus lucros do que comigo
09
Esta empresa tenta fazer com que meu trabalho seja o mais interessante possível.
108
ANEXO
E
Termo de Consentimento da
Instituição
A Empresa
____________________________________
declar
a que concorda em
colaborar com a pesquisa Absenteísmo em contact center
Estudo de caso com preditores
micro e macro-
organizacionais
, coordenada pelo mestrando Maiango Dias, do PGPSI/UFU,
ciente de que não está sujeita a nenhum prejuízo e de que sua identidade será totalmente
preservada. Tal decisão é totalmente voluntária, e não implica em remuneração por nenhuma
das partes.
A Empresa é livre para se recusar a participar deste estudo ou para desistir dele a
qualquer momento.
Nossa decisão em participar ou não desta pesquisa não implicará em nenhuma
discriminação, represália ou conseqüência
que possam denegrir nosso nome.
___________________________________________
Assinatura da Empresa Participante
Data: _______________________
109
ANEXO F
Termo d
e Consentimento
Livre e Esclarecido dos Sujeitos
Eu, ____________________________________, concordo em colaborar com a
pesquisa
Absenteísmo em contact center
Estudo de caso com preditores micro e macro-
organizacionais
, ciente de que não estou sujeito a nenhum prejuízo e de que minha
identidade será preservada. Tal decisão é totalmente voluntária, e não implica em
remuneração.
Sou livre para me recusar a participar deste estudo ou para desistir dele a qualquer
momento, sem que isto me traga qualquer p
rejuízo pessoal ou em meu trabalho.
A minha decisão em participar ou não, desta pesquisa, não implicará em nenhuma
discriminação ou represália por parte dos pesquisadores ou da Empresa onde trabalho.
___________________________________________
Assin
atura do Participante
Data
: ________________
110
FICHA CATALOGR
ÁFICA
Elaborado pelo Sistema de Bibliotecas da UFU
-
Setor de
Catalogação e Classificação
-
mg / 03/05
C198c
Dias, Maiango, 1976
-
Absenteísmo em
contact center
-
Estudo de caso com preditores micro e macro
-
organizacionais
.
Maiango Dias
-
Ube
rlândia, 2005.
109
f. : il.
Orientadora: Maria do Carmo Fernandes Martins.
Dissertação (mestrado)
-
Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós
-
Graduação em Psicologia.
Inclui bibliografia.
1.
Trabalho
Aspectos psicológic
os
Teses. 2. Absenteísmo (trabalho)
Teses. 3.
Comportamento organizacional
Teses. I. Martins, Maria do Carmo Fernandes. II.
Universidade Federal de Uberlândia. Programa de Pós
-
Graduação em Psicologia. III. Título
CDU:
159.9:331.446.4(043.3)
159.944(043.3)
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