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diretamente ligado a registrar fatos verossímeis à realidade externa do romance.
Características desse período literário se contrapõem às do Romantismo e desvendam
um perfil diferente de homem: mais preocupado com sua história.
Assim sendo, um período literário é, então, definido por características
comuns encontradas em várias obras de uma determinada época. Isso se faz para
que se possa entender com mais clareza o objetivo de dada manifestação artística.
Neste capítulo, particularidades do Realismo, que se contrapõe ao Romantismo
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,
serão exploradas de forma sistemática, já características do período romântico
aparecerão de forma implícita na análise de Emílio
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, obra que servirá de painel
filosófico para que se construa a contraposição no que diz respeito ao comportamento
da mulher. As duas a serem analisadas: Sofia, do livro V de Emílio ou Da Educação, de
Rousseau, e Capitu, da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis.
do mundo e da vida. Ocupou uma época cultural de maior relevância no Brasil pelas circunstâncias
históricas, nacionais e internacionais, coincidindo com o advento da civilização burguesa, democrática,
industrial e mecânica, e com a penetração da ciência no mundo das idéias e da prática por meio da
biologia. O sistema de idéias e normas que caracterizou essa época exerceu tal influência no Brasil
que a sua marca até hoje ainda se faz notar em muitos espíritos. Daí a importância da época na
expressão literária. (
COUTINHO, 1988, p.179-181)
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Movimento literário que dominou a literatura européia desde o final do século XVII até meados do
século XIX. Caracteriza-se por sua entrega à imaginação e à subjetividade, pela liberdade de
pensamento e de expressão e pela idealização da natureza. O Romantismo nasceu em oposição ao
Classicismo e representa a estética e os anseios da classe burguesa em ascensão. Acredita-se que o
Romantismo tenha tido início na Escócia, Inglaterra e Alemanha, países europeus mais desenvolvidos,
mas foi somente na França, após a revolução de 1789, que o movimento se expandiu. Os autores
românticos encontram sua primeira fonte de inspiração em pensadores europeus como Jean-Jacques
Rousseau e em Goethe. Grande parte dos movimentos libertários e abolicionistas do final do século
XVIII e princípio do século XIX originou-se em conceitos da filosofia romântica. “O culto e a exaltação do
infinito, o fato de não se contentar com menos que a infinidade, constituem características marcantes do
espírito romântico. (...) O próprio positivismo se enquadra nesse espírito. (...) As características
assumidas pelo Romantismo em política, arte e costumes estão intimamente ligados (...) à defesa e
exaltação das instituições humanas fundamentais, nas quais personifica o Princípio infinito: Estado,
Igreja, com tudo o que implicam. Em arte, busca a realização do infinito através de formas grandiosas e
dramáticas, em que os conflitos são levados ao extremo para depois reconciliarem-se e pacificarem-se
de maneira igualmente extremada e definitiva. Nos costumes, o amor romântico busca a unidade
absoluta entre os amantes, sua identificação no infinito; em favor dessa unidade ou identificação
sacrifica o sentido autêntico da relação amorosa e sua possibilidade de constituir a base para uma vida
em comum” (ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi e Ivone Castilho
Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p.860).
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Há de se ter claro que esta obra, também objeto de análise, será tratado como obra filosófica e não
literária, por isso a não conceituação similar a Dom Casmurro.