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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA – PROPGPq
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA – CCT
CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ANÁLISE GEOAMBIENTAL E
ORDENAÇÃO DO TERRITÓRIO NAS REGIÕES SEMI-ÁRIDAS E
LITORÂNEAS
LINHA DE PESQUISA: SOCIEDADE, ESPAÇO E CULTURA
AUTOR: MARCELO SARAIVA GONDIM
TÍTULO: A PRODUÇÃO DO ESPAÇO INTRA-URBANO EM
FORTALEZA: CONFLITOS, CONTRADIÇÕES E
DESIGUALDADES.
Fortaleza
2006
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A PRODUÇÃO DO ESPAÇO INTRA-URBANO EM FORTALEZA:
CONFLITOS, CONTRADIÇÕES E DESIGUALDADES.
AUTOR: MARCELO SARAIVA GONDIM
Orientador: Prof. Dr. José Meneleu Neto
Dissertação apresentada à coordenação do
Curso de Mestrado Acadêmico em Geografia, do
Centro de Ciências e Tecnologia da
Universidade Estadual do Ceará, como requisito
parcial para obtenção do título de mestre
(senso estrito) em Geografia.
Fortaleza
2006
i
FOLHA DE APROVAÇÃO
A PRODUÇÃO DO ESPAÇO INTRA-URBANO EM FORTALEZA:
CONFLITOS, CONTRADIÇÕES E DESIGUALDADES.
AUTOR: MARCELO SARAIVA GONDIM
Dissertação apresentada à coordenação do
Curso de Mestrado Acadêmico em Geografia, do
Centro de Ciências e Tecnologia da
Universidade Estadual do Ceará, como requisito
parcial para obtenção do título de mestre
(senso estrito) em Geografia.
Defesa em: _____ / ______________________ / 2006.
Conceito obtido: ______________________________.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Prof Dr. José Meneleu Neto (Orientador)
Universidade Estadual do Ceará - UECE
_______________________________________________
Prof Dr. Eustógio Wanderley Correia Dantas
Universidade Federal do Ceará – UFC
_______________________________________________
Prof Dr. Daniel Rodrigues de Carvalho Pinheiro
Universidade Estadual do Ceará – UECE
ii
Esta dissertação foi submetida à Coordenação do Curso de Mestrado
Acadêmico em Geografia como parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre (senso estrito) outorgado pela Universidade Estadual do Ceará, e
se encontra à disposição dos interessados na Biblioteca da referida Universidade.
A citação de qualquer trecho desta monografia é permitida, desde que
seja feita de conformidade com as normas da ética científica.
GONDIM, M. S. A produção do espaço intra-urbano em Fortaleza: conflitos
contradições e desigualdades. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Geografia),
Fortaleza, UECE, 2006.
iii
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho,
aos meus pais, pelo constante incentivo à minha formação;
à minha esposa Patrícia, por sua dedicação e compreensão;
ao meu filho Gabriel, porquanto, não entende nada disso.
iv
AGRADECIMENTO
Agradeço, inicialmente, à minha família pela compreensão e apoio
dispensado durante todo o período da pesquisa.
Ao Prof. Dr. Jo Meneleu Neto pela orientação, confiança transmitida
nas conversas e colóquios; enfim, pela profícua amizade e respeito mútuo.
À todos os professores, alunos e funcionários do programa, na pessoa
do coordenador Prof. Dr. Luiz Cruz Lima, pelas amizades e ótimas oportunidades
de discussão para o amadurecimento da pesquisa.
À Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico pela concessão de bolsa de estudo durante o período do curso.
À toda a equipe da Prefeitura Municipal de Fortaleza, em destaque
para a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Infra-estrutura (SEINF)
e Secretaria Municipal de Planejamento e Orçamento (SEPLA), pelo
companheirismo nos momentos difíceis e pelos conhecimentos adquiridos com a
vivência e a prática do Planejamento Urbano.
Ao Laboratório de Geoprocesamento - UECE, na pessoa da ProMsc.
Maria Lúcia Brito, pelo companheirismo, apoio e amizade.
Por fim, desculpando-me de algum eventual esquecimento, agradeço a
todas as pessoas e instituições que estiveram de alguma forma envolvidas nesta
pesquisa.
v
RESUMO
O Município de Fortaleza, nas últimas décadas, vem apresentando uma forte
tendência no aumento da desigualdade social, observada principalmente na distribuição de
renda e em sua materialização espacial: uma crescente estratificação urbana
correspondente a um sistema de estratificação social. Esta pesquisa realiza uma análise
exploratória da estrutura do espaço intra-urbano do Município. Trata-se de um relato
analítico e crítico, tendo como fundamento a desigualdade social, percebida principalmente
pela análise da concentração de renda e da segregação socioespacial. No contexto de
análise do espaço intra-urbano, utilizar-se-á alguns indicadores para perceber a diversidade
de seus elementos e a complexidade de suas relações, bem como ampliar a capacidade de
visualização e de percepção do fenômeno urbano mediante as possibilidades de sua
representação. Neste sentido, é de fundamental importância a representação computacional
de dados e informações do nosso objeto de estudo, tendo em vista sua utilização em um
sistemas de informação geográfica. A hipótese central é de que a desigualdade social, bem
como a segregação espacial, configuram um panorama mais abrangente que chamar-se-á
segregação urbana, se estabelecendo como um produto estrutural da reprodução do sistema
capitalista. Os padrões espaciais desta segregação urbana possuem estreita relação com as
características e efeitos da reestruturação econômica e, conseqüentemente, das políticas
públicas e privadas que atuam no sentido de atribuir novos padrões de uso ao território,
bem como induzir transformações aos padrões consolidados. A pesquisa tem o objetivo
de fornecer uma contribuição metodológica à análise do espaço intra-urbano, que possa ser
capaz de representar sua complexidade, ampliando a capacidade de visualização e
percepção de fenômenos urbanos. Os resultados obtidos convergem no mesmo sentido e,
juntos, formam um poderoso instrumento que pode ser utilizado no planejamento e
desenvolvimento urbano municipal, evidenciando estratégias na elaboração e
direcionamento de políticas públicas.
Palavras-chave: análise espacial; desigualdade socioespacial; estrutura do espaço
intra-urbano.
vi
ABSTRACT
In the last decades Fortaleza has been facing a strong tendency in the raise of social
inequality, observed mainly through the income distribution and its spacial materialization:
a growing urban stratification corresponding to a system of social stratification. This
research makes an exploratory analysis of the intra-urban space structure of the city, It is
an analitical and critical report, based on the social inequality noticed mainly through the
analysis of income concentration and socio-spacial segregation. Within the context of the
intra-urban space analysis we will use some indicators to visualize and perceive the
diversity of its elements and the complexity of its relations as well as broaden the capacity
of perception of the urban phenomenon through the possibilities of its representation. In
this sense, it is extremely important the data computerized representation and information
of our object of study considering its use in geographic information system. Our main
hypotesis is that social inequality as well as spacial segregation make part of a wider
panorama which we will call urban segregation, which works as a structural product of
capitalist system, where spacial patterns of urban segregation have a close relation with the
characteristics and effects of economical restructuration and consequently of public and
private policies, which work in the sense of atributing new patterns of use to the territory ,
as well as induce transformations to the already consolidated patterns. The reasearch has
the objective to give a methodological contribution to intra-urban space analisys, which
can be capable of representing its complexity, broadening the capacity of visualization and
perception of the urban phenomena. The obtained results converge in the same direction,
and together form a powerful instrument that can be used in the urban planning and
development of the city, pointing out strategies in the elaboration and directioning of
public policies.
Key words: spacial analysis; inequality social and spacial; structure of intra-urban
space.
vii
LISTA DE ABREVIATURAS
AE – Áreas de Espalhamento
BDG – Banco de Dados Geográficos
CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MNT – Modelo Numérico de Terreno
MTE – Ministério do Trabalho e Emprego
PIB – Produto Interno Bruto
PMF – Prefeitura Municipal de Fortaleza
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
RAIS – Relação Anual de Informações Sociais
RMF – Região Metropolitana de Fortaleza
SAD 69 – South American Datum 1969 (referencial geodésico da América do Sul)
SEINF – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Infra-estrutura
SER – Secretarias Executivas Regionais do município de Fortaleza
SIDRA – Sistema IBGE de Recuperação de Automática
SIG – Sistemas de informação geográfica
UTM – Projeção Universal Transversal de Mercator
viii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Mapa de Londres com óbitos por cólera, identificados por pontos; e poços de
água representados por cruzes..............................................................................................23
Figura 2 - Arquitetura dos sistemas de informação geográfica (SIG)..................................25
Figura 3 - Modelagem e integração dos dados em SIG: planos de informação...................26
Figura 4 - Características da utilização de um SIG..............................................................28
Figura 5 - Amostras (pontos pretos) obtidas por meio dos centróides dos polígonos (setores
censitários - em vermelho) do bairro Aldeota (linha preta). ............................................... 29
Figura 6 - Grade regular, gerada a partir das amostras da Figura 5 (com informações sobre
a renda média mensal dos chefes de família). Os pontos pretos são as amostras e os sinais
em forma de cruz representam os valores da grade regular após a interpolação................. 29
Figura 7 - Imagem gerada a partir da grade regular da Figura 6..........................................30
Figura 8 - Representação geométrica do tipo polígono: em vermelho, setores censitários
(IBGE); em preto, limite de bairro (PMF)........................................................................... 31
Figura 9 - Mapa de superfície, representando o atributo da renda média mensal dos chefes
de família (valores em salário mínimo - IBGE Censo 2000)...............................................33
Figura 10 - Análise exploratória dos dados - estatísticas das amostras................................35
Figura 11 - Análise exploratória dos dados - gráfico de histograma de freqüência.............35
Figura 12 - Esquema gráfico do semivariograma................................................................ 36
Figura 13 - Gráfico do semivariograma experimental para um determinado conjunto de
amostras................................................................................................................................36
Figura 14 - Mapa coroplético (polígono colorido). Taxa média geométrica de crescimento
anual populacional (1991-2000)...........................................................................................38
Figura 15 - Mapa coroplético com informações agregadas por bairro. Atributo: renda
média mensal dos chefes de família (IBGE, Censo 2000)...................................................39
Figura 16 - Mapa coroplético com informações agregadas por setor censitário. Atributo:
renda média mensal dos chefes de família (IBGE, Censo 2000)......................................... 39
Figura 17 - Diagrama de espalhamento do índice de Moran - esquema conceitual.............43
Figura 18 - Gráfico de espalhamento do índice de Moran para uma determinada variável.43
Figura 19 - Mapa de espalhamento do índice de Moran para uma determinada variável....43
Figura 20 - Fluxograma: etapas do método de análise do espaço intra-urbano................... 48
Figura 21 - Organograma: banco de dados geográficos, categorias e planos de informação
utilizados.............................................................................................................................. 49
Figura 22 - Organograma: categoria e planos de informação.............................................. 50
Figura 23 - Fluxograma: procedimentos da etapa de análise geográfica............................. 52
Figura 24 - Mapa de localização geográfica do Município de Fortaleza............................. 58
Figura 25 - Gráfico de histograma: indicador S01 (1991_bairro e 2000_bairro)................ 62
Figura 26 - Mapa temático - estatístico, indicador S01 (1991_bairro e 2000_bairro)......... 63
Figura 27 - Gráfico de histograma: Indicador S05 (1991_bairro e 2000_bairro)................ 64
Figura 28 - Gráfico de histograma: indicador E01 (bairro_1991 e bairro_2000)................ 65
Figura 29 - Mapa de agrupamento espacial, indicador S05 (1991_bairro e 2000_bairro)...66
Figura 30 - Mapa de agrupamento espacial, indicador E01 (1991_bairro e 2000_bairro).. 66
Figura 31 - Mapa temático - estatístico, indicador S05 (1991_bairro e 2000_bairro)......... 67
Figura 32 - Mapa temático - estatístico, indicador E01 (1991_bairro e 2000_bairro).........67
Figura 33 - Gráfico de espalhamento - índice de Moran: indicador S05 (1991_bairro e
2000_bairro)......................................................................................................................... 69
Figura 34 - Gráfico de espalhamento – índice de Moran: indicador E01 (1991_bairro e
2000_bairro)......................................................................................................................... 69
ix
Figura 35 - Mapa de espalhamento de Moran - autocorrelação espacial: indicadores S05
(1991_bairro e 2000_bairro) e E01 (1991_bairro e 2000_bairro)........................................70
Figura 36 - Gráfico de dispersão: indicadores E01(2000_bairro) e S05(2000_bairro)........72
Figura 37 - Relação entre nível de pobreza e renda per capita para um conjunto selecionado
de países............................................................................................................................... 75
Figura 38 - Gráfico produto interno bruto (PIB - 2000 - R$) por unidades federativas...... 76
Figura 39 - Gráfico relação entre PIB per capita (2000 – R$) e percentual de pobres por
unidades federativas............................................................................................................. 77
Figura 40 - Gráfico: relação de desigualdade entre renda e população (1991-2000)...........78
Figura 41 - Mapa indicador S09-domicílios tipo apartamento (S09_2000_bairro)............. 81
Figura 42 - Mapa indicador E01-renda média mensal dos chefes de família
(E01_2000_bairro)............................................................................................................... 82
Figura 43 - Gráfico de histograma indicador E01 (1991_bairro).........................................83
Figura 44 - Gráfico de histograma indicador E01 (2000_bairro).........................................83
Figura 45 - Mapa de espalhamento de Moran - autocorrelação espacial: indicador E01
(2000_bairro)........................................................................................................................84
Figura 46 - Mapa relação centro - periferia, elaborado com base no mapa da Figura 45....85
Figura 47 - Setor de deslocamento e ocupação predominante das famílias de média e alta
renda – construído com base no mapa da Figura 42............................................................ 86
Figura 48 - Mapa indicador E01-renda média mensal dos chefes de família
(E01_2000_setor)................................................................................................................. 87
Figura 49 - Mapa indicador E01 – pormenor do mapa da Figura 48 - bairros Aldeota,
Meireles e adjacências (E01_2000_setor)............................................................................88
Figura 50 - Perfis de análise espacial - indicador E01 (2000_setor)....................................88
Figura 51 - Gráfico: perfil de análise espacial, indicador E01 (2000_setor): relação
assimétrica............................................................................................................................89
Figura 52 - Gráfico: perfil de análise espacial, indicador E01 (2000_setor): perfis 3, 4 e 5.
..............................................................................................................................................90
Figura 53 - Gráfico: perfil de análise espacial, indicador E01 (2000_setor): perfis 1 e 2... 90
Figura 54 - Mapas: relação de proximidade entre diferentes grupos sociais....................... 91
Figura 55 - Localização de conjuntos habitacionais em Fortaleza e na RMF......................93
Figura 56 - Cidade linear de Soria y Mata........................................................................... 95
Figura 57 - Cidade circular de Howard................................................................................95
Figura 58 - Mapa setores de expansão urbana – construído com base na Figura 47, p. 86. 98
Figura 59 - Vetores de expansão das classes de alta renda (1991-2000)- construído com
base no mapa da Figura 42.................................................................................................101
Figura 60 - Gráfico: grau de desigualdade de renda (coeficiente de Gini)........................ 109
Figura 61 - Gráfico: rendimento médio mensal dos chefes de família por bairro (sal. mín. –
2000)...................................................................................................................................110
Figura 62 - Organograma: relacionamentos dados informações, Indicador E01
(2000_setor)....................................................................................................................... 118
Figura 63 - Divisão territorial dos bairros no Município de Fortaleza (1991-2000)..........119
x
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Visualização de mapas coropléticos de uma mesma variável, utilizando técnicas
distintas: passo igual, quantil e estatístico............................................................................41
Quadro 2 - Coeficientes de correlação espacial, comparação dos indicadores entre si no
período 1991 e 2000.............................................................................................................54
Quadro 3 - Coeficientes de correlação espacial, comparação entre indicadores no período
1991......................................................................................................................................55
Quadro 4 - Coeficientes de correlação espacial, comparação entre indicadores no período
2000......................................................................................................................................55
Quadro 5 - Índice global de associação espacial - autocorrelação espacial......................... 56
Quadro 6 - Indicador S01: valores observados.................................................................... 61
Quadro 7 - Indicadores E01 e S05: valores observados.......................................................64
Quadro 8 - Indicadores urbanos......................................................................................... 114
Quadro 9 - Planos de informação e categorias utilizadas...................................................117
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Oferta de empregos na indústria, comércio, serviços, construção civil e
agropecuária (RMF-2000)....................................................................................................59
Tabela 2 - Municípios integrante da Região Metropolitana de Fortaleza-RMF.................. 59
Tabela 3 - Relação dos vinte bairros com maior e menor renda média dos chefes de
família, no período 1991 e 2000.........................................................................................111
xii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 15
1.1 Subsídios para a pesquisa...............................................................................................17
1.2 Objetivo da pesquisa..................................................................................................... 18
1.2.1 Desenvolver indicadores intra-urbanos.......................................................................19
1.2.2 Projetar banco de dados geográficos...........................................................................19
1.2.3 Aplicar o modelo proposto na análise espacial dos indicadores intra-urbanos...........19
1.3 Organização do relatório dissertativo.............................................................................20
2 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS GEOGRÁFICOS
..............................................................................................................................................22
2.1 Tipos de dados e modelagem em análise espacial......................................................... 23
2.2 Representação computacional de dados geográficos..................................................... 24
2.2.1 Representações geométricas em SIG.......................................................................... 28
2.3 Procedimentos em análise espacial................................................................................ 31
2.3.1 Analise espacial de “superfícies contínuas”................................................................31
2.3.2 Análise espacial de “áreas com valores agregados”....................................................37
3 MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................................. 44
3.1 Produtos cartográficos e base de dados..........................................................................44
3.2 Equipamentos e programas............................................................................................ 44
3.2.1 Programas....................................................................................................................45
3.2.1.1 Poseidon Linux.........................................................................................................45
3.2.1.2 Spring....................................................................................................................... 45
3.2.1.3 Broffice.....................................................................................................................46
3.2.1.4 Gimp.........................................................................................................................46
3.2.1.5 Inkscape....................................................................................................................46
3.2.2 Equipamentos e configuração..................................................................................... 47
3.3 Procedimentos................................................................................................................ 47
3.3.1 Banco de dados geográficos........................................................................................49
3.3.1.1 Estrutura do BDG.....................................................................................................49
3.3.1.2 Relacionamentos...................................................................................................... 50
3.3.2 Etapas de análise......................................................................................................... 50
3.3.3 Indicadores intra-urbanos............................................................................................53
4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO.............................................................57
4.1 Medidas intra-urbanas.................................................................................................... 60
4.1.1 Aspectos demográficos................................................................................................60
4.1.2 Aspectos socioeconômicos..........................................................................................63
4.2 Conclusão....................................................................................................................... 71
5 DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA CONCENTRAÇÃO
DE RENDA..........................................................................................................................74
5.1 A desigualdade estrutural............................................................................................... 74
5.2 Desigualdade e concentração de renda...........................................................................77
5.3 Segregação do espaço intra-urbano................................................................................79
5.3.1 A relação entre centro periferia..............................................................................80
5.3.2 A relação de proximidade entre diferentes grupos sociais.......................................... 91
5.3.3 O estigma do padrão radial-concêntrico......................................................................94
5.4 Conclusão....................................................................................................................... 96
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................99
7 BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................104
xiii
8 ANEXOS.........................................................................................................................109
8.1 Anexo 01...................................................................................................................... 109
8.2 Anexo 02...................................................................................................................... 110
8.3 Anexo 03...................................................................................................................... 111
9 APÊNDICES...................................................................................................................112
9.1 Apêndice 01..................................................................................................................112
9.2 Apêndice 02..................................................................................................................115
9.3 Apêndice 03..................................................................................................................118
9.4 Apêndice 04..................................................................................................................119
xiv
INTRODUÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Ao analisar, mesmo que superficialmente, o desenvolvimento urbano
das últimas décadas em algumas capitais brasileiras, podemos verificar forte
tendência no aumento da desigualdade social, acompanhada de elevados índices
de pobreza, observada principalmente mediante a distribuição de renda e de sua
materialização espacial: uma crescente estratificação urbana correspondente a
um sistema de estratificação social.
Não se trata, porém, de um desenvolvimento urbano excludente
apenas por uma distribuição de renda, apesar de percebida mais facilmente
por meio desta. Acreditamos que outros fatores quando agregados à análise da
renda tenham a capacidade de formar um panorama mais compreensível da
realidade e da segregação urbana, evidenciando uma cidade que exclui parte
significativa de sua população do acesso às condições mínimas de justiça social e
direito à cidade.
Nossa hipótese central é de que a desigualdade social, bem como a
segregação espacial, configuram um panorama mais abrangente que
chamaremos de segregação urbana, estabelecendo-se como um produto
estrutural da reprodução do sistema capitalista. Os padrões espaciais de
segregação urbana possuem estreita relação com as características e efeitos da
reestruturação econômica e, conseqüentemente, das políticas públicas e privadas
que atuam no sentido de atribuir novos padrões de uso ao território, bem como
induzir transformações aos padrões já consolidados.
Harvey (2005, p. 145) indica que, na circulação do capital, ocorre
“necessariamente um esforço permanente da superação de todas as barreiras
espaciais e da 'anulação do espaço pelo tempo' (MARX, 1973: 539)”. Relata,
contudo relata que “esses objetivos apenas podem ser alcançados por meio da
produção de configurações fixas e imóveis (idem).
1
Neste momento, portanto,
podemos verificar a contradição inerente ao processo, pois, para poder realizar-
1
Dentre estes podemos destacar os sistemas de transporte, áreas de expansão urbana, equipamentos públicos e
particulares de lazer, educação, saúde, bancos, dentre outros.
15
INTRODUÇÃO
se, a circulação do capital necessita da organização espacial como condição
necessária para superar o próprio espaço.
Entendemos que, para tentar compreender a segregação urbana e
relacioná-la com a análise do espaço intra-urbano e com sua produção dentro do
contexto do capitalismo é insuficiente a utilização de métodos superficiais e
fragmentados. Harvey (2005, p. 145) reconhece que a tarefa da teoria espacial,
no contexto do capitalismo, consiste em elaborar representações dinâmicas de
como essa contradição se manifesta por meio das transformações histórico-
geográficas.
Neste sentido, é inegável, hoje em dia, a contribuição dos estudos na
área de geoprocessamento, notoriamente os relacionados à aplicação de
modelos espaciais à análise de estruturas urbanas e intra-urbanas, principalmente
com o objetivo de contribuir para: (i) direcionar ações de intervenções urbanas, (ii)
apoiar a gestão urbana integrada e (iii) auxiliar às atividades relacionadas ao
planejamento urbano.
De forma geral, Ramos (2002) aponta a realização de estudos urbanos
na (i) Inglaterra, com trabalhos em visualização, fluxos e dinâmicas urbanas
(BATTY, 1996) e em ambientes intra-urbanos, objetivando entender de que
maneira a morfologia urbana está relacionada aos fenômenos sociais e
econômicos, grupo de pesquisa conhecido por “sintaxe espacial” (HILLIER, 1998);
na (ii) Itália, com trabalhos de representação dos deslocamentos e fluxos internos
cotidianos a partir da construção de campos de atração (GUEZ et al., 2000); na
(iii) França, estudos sobre os impactos dos novos sistemas de transporte no
espaço urbano e regional (CAUVIN, 2000).
O autor também relata o fato de que alguns grupos de pesquisa, aqui
no Brasil, têm se dedicado à aplicação de geoprocessamento em estudos
urbanos, na (i) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, utilização de sistemas
de informação geográfica como ferramenta de apoio ao planejamento urbano
(SABOYA, 2000); na (ii) Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com o
conceito de sintaxe espacial de Hillier (RUFINO et al., 2001); na (iii) Pontifícia
16
INTRODUÇÃO
Universidade Católica de São Paulo, com o mapa da exclusão/inclusão social da
Cidade de São Paulo (SPOSATI, 1996).
1.1 Subsídios para a pesquisa
Dois documentos foram utilizados como fonte de indução da presente
pesquisa, dos quais o primeiro é a AGENDA 21, que é um plano de ação para ser
adotado global, nacional e localmente por organizações, governo e sociedade
civil, tendo como princípio básico orientar para um novo padrão de
desenvolvimento, cujo alicerce é a sinergia com a sustentabilidade. Esse
documento considera, dentre outras questões, estratégias relacionadas à geração
de emprego e renda, diminuição das disparidades regionais de renda, às
mudanças nos padrões de produção e consumo, à construção de cidades
sustentáveis e à adoção de modelos e instrumentos de gestão. No capítulo
quarenta, seção quatro, o documento AGENDA 21 estabelece rios objetivos
que deveriam ser utilizados para promover e/ou acelerar o desenvolvimento
sustentável, dentre os quais podemos destacar: combate à pobreza, dinâmica
demográfica e sustentabilidade, integração entre meio ambiente e
desenvolvimento na tomada de decisões, abordagem integrada do planejamento,
fortalecimento institucional, a ciência para o desenvolvimento sustentável e de
informação para a tomada de decisões (AGENDA 21, Capítulo 40, seção IV).
O segundo é o Estatuto da Cidade, Lei Federal 10.257, de julho de
2001, que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal. De forma
global, estabelece diretrizes gerais da política urbana, no sentido de ordenar o
pleno desenvolvimento das funções sociais, bem como do equilíbrio ambiental
(dentre outras). São diretrizes generalizadas e por este motivo seus instrumentos
não podem ser aplicados da mesma forma em todas as regiões, microrregiões,
bairros, localidades e comunidades. Neste sentido, faz-se necessário um
conhecimento prévio e detalhado das informações que contribuem para a
formação e produção do espaço intra-urbano no município.
Mediante as diretrizes propugnadas por estes dois documentos e os
objetivos que pretendem ser alcançados por intermédio de suas implementações,
podemos verificar que a prática de planejamento urbano na cidade de Fortaleza
17
INTRODUÇÃO
se mostra a reboque das transformações socioespaciais. É fato que o estado
atual de globalização interfere diretamente nas práticas socioespaciais,
promovendo uma aceleração do ritmo de (re)produção social, sobrepujando o
espaço pelo tempo mediante as condições de organização da própria estrutura
intra-urbana do município. Reflete-se, desta forma, na conformação urbana,
produzindo rápidas transformações nas cidades e evidenciando cada vez mais a
defasagem entre realidade e planejamento urbano.
Nesse sentido, para que as transformações urbanas propugnadas pelo
Estatuto da Cidade possam ser viabilizadas no município e que as proposições da
Agenda 21 possam ser concretizadas, torna-se imprescindível a elaboração de
estudos no sentido de viabilizar uma leitura da cidade, considerando sua
complexidade e contemplando em todo o seu território aspectos relacionados à
(re)produção do espaço intra-urbano.
É exatamente nesse sentido que será realizada a pesquisa, pois se
trata de uma análise exploratória da estrutura do espaço intra-urbano do
Município de Fortaleza, no intuito de representar fenômenos e dinâmicas urbanas
que possam revelar as condições de (re)produção do espaço intra-urbano. Trata-
se de um relato analítico e crítico, tendo como fundamento a desigualdade social,
percebida mediante a análise dos indicadores intra-urbanos; e da segregação
espacial, percebida dentro do contexto de análise do espaço intra-urbano.
1.2 Objetivo da pesquisa
O objetivo principal deste ensaio dissertativo é fornecer uma
contribuição metodológica à análise do espaço intra-urbano, que possa ser capaz
de representar sua complexidade, ampliando a capacidade de visualização e
percepção de fenômenos urbanos. Trata-se de um instrumento que possa ser
utilizado no planejamento e desenvolvimento urbano municipal, com as seguintes
características gerais: (i) fidedignidade, pois deve ter validade e crédito pelo fato
de representar a realidade urbana e (ii) flexibilidade, pois deve permitir o inter-
relacionamento dos elementos que o compõem, bem como atualizações de
acordo com a evolução dos dados.
18
INTRODUÇÃO
Para a concretização do nosso objetivo, no entanto, será
imprescindível a realização dos objetivos específicos descrito a seguir:
1.2.1 Desenvolver indicadores intra-urbanos
Os indicadores intra-urbanos surgem como um mecanismo de
sistematizar dados e informações sobre o Município de Fortaleza. Neste sentido,
é necessário levantar e/ou atualizar informações que se mostrem com
potencialidade de realizar análises espaciais, haja vista que um de nossos
caminhos será a representação do fenômeno urbano por meio de mapas.
Justificativa: avaliar a capacidade dos indicadores intra-urbanos de contribuir para
a análise espacial.
1.2.2 Projetar banco de dados geográficos
A importância do banco de dados geográficos reside em sua
característica de permitir o relacionamento entre uma variedade de dados
diferenciados e que possuem, também, diferentes representações geométricas.
As informações geográficas a serem utilizadas (essencialmente dados
socioeconômicos) poderão estar associados a diferentes representações
geométricas (ponto, linha, polígono etc) e deverão ser armazenadas dentro do
mesmo banco de dados. Neste sentido, é necessária a elaboração de um modelo
conceitual, ou seja, um modelo de estrutura de banco de dados que permita o
armazenamento, atualização, recuperação e análise integrada dos dados e
informações. Justificativa: permitir de forma sistematizada a organização dos
dados e informações geográficas, possibilitando o armazenamento, atualização,
recuperação e análise espacial integrada.
1.2.3 Aplicar o modelo proposto na análise espacial dos indicadores
intra-urbanos
Os elementos (mapas, gráficos e tabelas) que virão a fazer parte do
estudo serão produzidos a partir do modelo conceitual do banco de dados
geográficos (BDG), considerando as interdependências e correlações entre os
elementos e fenômenos que, de alguma forma, influenciam na formação,
produção e reprodução do espaço intra-urbano; ou seja, chegaremos à análise da
estrutura do espaço intra-urbano no Município de Fortaleza por intermédio do
19
INTRODUÇÃO
referencial teórico utilizado e das operações de análise espacial disponíveis nos
sistemas de informação geográfica (agrupamentos, transformações, combinações
etc). Justificativa: realizar uma leitura do espaço intra-urbano, considerando
aspectos teórico-conceituais sobre a produção do espaço e analisar a distribuição
espacial dos indicadores urbanos no território.
1.3 Organização do relatório dissertativo
Esta dissertação está organizada em seis capítulos, o primeiro dos
quais é a presente introdução. No capítulo 2 estão os conceitos e fundamentos
necessários à compreensão dos métodos e procedimentos utilizados na pesquisa,
descritos no capítulo 3. Nos capítulos 4 e 5 está a aplicação dos métodos e
procedimentos adotados para a realização das análises espaciais sobre
segregação socioespacial no Município de Fortaleza. O capítulo 6 reservado às
considerações finais acerca do resultado final alcançado com a pesquisa.
No capítulo 2, Considerações teóricas: análise espacial de dados
geográficos, apresentamos os aspectos relativos à representação computacional
dos fenômenos (com ênfase nos aspectos socioeconômicos) a serem utilizados
na análise espacial da estrutura intra-urbana municipal. Mostramos, inicialmente,
considerações à utilização de sistemas de informação geográfica: arquitetura de
funcionamento, modelagem e integração de dados; para posteriormente, abordar
conceitos sobre as abstrações do mundo real e aspectos relevantes de sua
implementação. Na seqüência, demonstramos um conjunto de procedimentos
utilizados em análises espaciais de dados geográficos, no intuito de evidenciar
aspectos e relacionamentos espaciais no fenômeno a ser estudado.
No capítulo 3, Materiais e métodos, estão relacionados os produtos e
base de dados utilizados na pesquisa, bem como equipamentos e programas
necessários. Os procedimentos utilizados no decorrer da pesquisa são compostos
por diversas etapas que se justificam mediante as técnicas adotadas para a
análise espacial. Por fim, temos a caracterização dos indicadores intra-urbanos
que se tornaram ponto de partida para a realização da pesquisa.
20
INTRODUÇÃO
No capítulo 4, Caracterização da área de estudo, elaboramos no
contexto da pesquisa, uma série de relacionamentos entre os indicadores intra-
urbanos na busca por compreender quais os processos socioespaciais mais
significativos que merecem ser alvo de estudo específico do espaço intra-urbano.
No capítulo 5, Desigualdade socioespacial: análise à partir da
concentração de renda, temos o fechamento da análise espacial, onde
verificamos a aplicação de todos os procedimentos adotados com fundamento no
referencial teórico correlato. Nossa intenção é possibilitar a representação das
transformações urbanas ocorridas no período de análise (década compreendida
entre 1991 e 2000), levando em consideração a complexidade do tema.
No capítulo 6, Considerações finais, foi nossa intenção tecer alguns
comentários gerais sobre a pesquisa, uma vez que realizamos conclusões
parciais nos capítulos 4 e 5. Grosso modo, trata-se de um reconhecimento da
pesquisa efetivada como um instrumento que possa ser aplicada ao planejamento
e desenvolvimento urbano municipal, evidenciando estratégias na elaboração e
direcionamento de políticas públicas.
Na seqüência, temos a relação de obras/autores que estearam
empírica e teoricamente a investigação, como também os anexos e apêndices,
cuja leitura serve para facilitar a compreensão das reflexões dispostas no decurso
do relatório da presente pesquisa.
21
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
2 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL
DE DADOS GEOGRÁFICOS
É crescente a necessidade, nas mais diversas áreas do conhecimento,
de se compreender o comportamento espacial de fenômenos, sejam ligados à
área de Saúde, Geologia, Meio Ambiente, Sociologia, Geografia, Planejamento
Urbano, Economia, dentre outras. De forma geral, poderíamos assinalar que o
princípio fundamental da análise espacial de dados geográficos, além de permitir
a distribuição espacial da problemática de cada área por meio da visualização de
mapas, é possibilitar uma série de relacionamentos que tratam de forma explícita
a localização espacial do fenômeno como parte intrínseca da problemática que se
está investigando.
Para um epidemiologista, certamente será importante saber se uma
determinada doença está mais presente em alguma área específica. Qual a
intensidade, ou nível de propagação? Existe associação com alguma possível
fonte de contaminação? Qual? Existe alguma variação no tempo e no espaço?
Quais fatores podem ter contribuído para tal? Enquanto isso, para um geólogo,
qual a concentração de determinado minério em uma região? É possível realizar
mapas a partir das amostras de campo?
Um exemplo clássico e pioneiro em que a relação espacial contribuiu
para a compreensão de determinado fenômeno foi o mapa produzido por John
Snow, na cidade de Londres, em 1854. A cidade estava passando por forte
epidemia de cólera e, para tentar compreender suas origens, relacionou (i) a
localização das residências onde havia ocorrido óbito(s) com a doença em
questão e (ii) a localização dos poços que abasteciam a Cidade. Estudos
posteriores confirmaram a hipótese de que a contaminação estava se dando por
meio dos pontos de abastecimento de água e, portanto, que realmente havia uma
relação espacial entre os dois elementos.
22
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
2.1 Tipos de dados e modelagem em análise espacial
Em análises espaciais, temos três classificações, que podem ser
utilizadas isoladamente ou de forma integrada:
Eventos ou padrões pontuais: são fenômenos que ocorrem de forma
circunstancial, ou seja, fenômenos espaciais que se caracterizam por localizações
pontuais de forma aleatória. Como exemplo: acidentes de trânsito, ocorrências de
focos de incêndio, casos de mortalidade por determinada doença. Têm por
objetivo, por exemplo, investigar se a localização dos eventos possui relações de
agrupamento espacial e se mantém relações com outros eventos, fenômenos,
processos etc.
Superfícies contínuas: estão relacionadas com um conjunto de
amostras de campo que podem estar dispostas regular ou irregularmente no
espaço. Nestes casos, tão importante quanto a localização é a informação que se
Figura 1 - Mapa de Londres com óbitos por cólera, identificados por
pontos; e poços de água representados por cruzes.
Fonte: Druck, 2004, p. 23.
23
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
pretende agregar a esta localização. Como exemplo: levantamentos de espécies
vegetais, equipamentos urbanos (mercados, feiras, bancos, hotéis etc.). Incluem-
se, neste caso, todos os eventos que de alguma forma sejam considerados
características especificas do fenômeno. Tem por objetivo representar as
amostras com os valores representativos do fenômeno estudado, normalmente
em mapas que expressam uma unidade de tendência de superfície (áreas de
influência, por exemplo). Podem ser tanto variáveis naturais (contaminação de
recursos hídricos por alguma bactéria), quanto socioeconômicas (pesquisa
nacional por amostras de domicílios - PNAD).
Áreas com valores agregados: estão relacionadas, normalmente, a
levantamentos populacionais, tais como censos demográficos, cadastramentos de
saúde ou pesquisas sobre trabalho e atividade econômica. Em virtude de se
preservar a privacidade dos indivíduos que colaboram nas pesquisas, os dados
são agregados a unidades territoriais, normalmente denominadas de unidades de
informação, as quais, em essência são delimitadas por polígonos fechados
(setores censitários: IBGE; distritos de saúde: secretarias de saúde; bairros:
prefeituras municipais) e mantêm, sempre que possível, uma homogeneidade
interna. Tem o mesmo objetivo das “superfícies continuas”; o que muda são (i) o
nível de agregação das informações e (ii) o método de obtenção, tratamento e
disponibilização dos dados.
2.2 Representação computacional de dados geográficos
Os sistemas de informação geográfica (SIG) realizam a tarefa de
tratamento computacional dos dados geográficos (armazenar, recuperar,
manipular, analisar...), portanto devem permitir a qualquer elemento do espaço
geográfico a correta representação de sua geometria e de seus atributos
correspondentes, localizados por meio de coordenadas geográficas e
apresentados mediante uma projeção cartográfica adequada.
De forma esquemática (ver Figura 2, p. 25) podemos abordar cinco
componentes dos SIG: (i) interface com o usuário; (ii) entrada e edição de dados;
(iii) funções de processamento gráfico e de imagens; (iv) visualização e plotagem;
e (v) armazenamento e recuperação de dados (banco de dados geográficos).
24
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
Druck et al. (2004, p. 28) ressaltam que cada sistema de informação
geográfica em função de seus objetivos e necessidades, implementam esses
componentes de forma distinta, mas todos os sub-sistemas deverão estar
presentes em um SIG.
Pode-se dizer que a utilização de um SIG divide-se em três etapas
distintas: (i) modelagem do mundo real; (ii) criação do banco de dados
geográfico
2
; e (iii) utilização. A modelagem de dados assume uma importância
muito grande na etapa de definição de qualquer SIG e interfere diretamente no
resultado final do trabalho, ou seja, na manipulação dos dados e apresentação
dos resultados. Câmara et al. (1996, p. 24) relatam que a modelagem de dados
se refere a abstração dos fenômenos do mundo real para criar a organização
lógica do banco de dados. Com efeito, desta forma os dados e informações
geográficas são dispostos em camadas independentes chamadas de planos de
informação, podendo ser agrupadas e visualizadas de acordo com o objetivo (ver
Figura 3, p. 26).
2
Apesar de ser considerada uma etapa no processo de utilização de um SIG, a criação do banco de dados está
condicionada à etapa inicial de modelagem, sendo definida juntamente com esta.
Figura 2 - Arquitetura dos sistemas de informação geográfica (SIG).
Fonte: INPE (2000, p. 8).
25
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
Figura 3 - Modelagem e integração dos dados em SIG: planos de
informação.
Fonte: Gondim (2004, p. 17).
A fase de modelagem do mundo real engloba a modelagem de
processos e de dados e consiste em selecionar fenômenos e entidades
de interesse, abstraindo-os e generalizando-os. Diferentes conjuntos de
fenômenos podem ser escolhidos para descrever distintas visões do
mundo, para uma mesma região, em um dado instante. Um banco de
dados geográfico é um repositório da informação coletada
empiricamente sobre os fenômenos do mundo real. A criação de um
banco de dados geográficos exige várias etapas: coleta dos dados
relativos aos fenômenos de interesse identificados na modelagem;
correção dos dados coletados (devido, por exemplo, a erros introduzidos
pelos dispositivos de coleta); e georeferenciamento dos dados
(associando a cada conjunto de dados informação sobre sua localização
geográfica). Esta fase representa uma grande parcela do custo total do
desenvolvimento de um SIG, que pode ser minimizado por uma
modelagem adequada. A fase de operação refere-se tanto ao uso em si
do SIG, quanto ao desenvolvimento de aplicações específicas por parte
dos usuários a partir dos dados armazenados, reconstruindo visões
(particulares) da realidade. (CÂMARA et al., 1996, p. 24).
Para compreender melhor a representação do mundo real em um
ambiente computacional, recorre-se com bastante freqüência à abordagem
elaborada por Gomes e Velho (1995), que distingue a etapa de modelagem em
quatro áreas:
Universo do mundo real: onde encontram-se os fenômenos a serem
representados. Exemplo: tipo de solo e vegetação, equipamentos urbanos,
aspectos demográficos e sociais, dentre outro.
26
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
Universo conceitual: são as definições formais das entidades a serem
representadas. Pode-se distinguir entre duas grandes classes formais de dados
geográficos: (i) geo-campo, que representa a distribuição espacial de uma
variável possuidora de valores em todos os pontos pertencentes a uma
determinada região; (ii) geo-objeto o elementos possuidores de atributos o
espaciais e poderão estar associados a múltiplas localizações geográficas. As
informações que qualificam o objeto estão necessariamente em tabelas não
espaciais.
Universo de representação: tem a função de associar as diferentes
representações geométricas às entidade formais definidas no universo conceitual.
Distinguem-se em: (i) matricial, presume que o espaço geográfico pode ser
tratado como uma superfície plana composta por colunas e linhas, de forma que
cada célula possui um número de linha, um número de coluna e um valor
correspondente ao valor do atributo estudado (exemplo: imagem de satélite e
modelo numérico de terreno); (ii) vetorial, consideram-se três elementos básicos:
o ponto, a linha e o polígono. O ponto é um par ordenado (X,Y) de coordenadas
cartesianas, a linha é formada por dois ou mais pontos unidos entre si e os
polígonos são formados pela conexão de linhas em que o ponto inicial da primeira
coincide com o ponto final da última (exemplo: divisão territorial-administrativa de
municípios e bairros, recursos hídricos, ferrovias, edificações, dentre outros).
Universo de implementação: é a realização do modelo de dados
mediante as geometrias do universo de representação. Neste momento o sistema
de informações geográficas está apto a realizar as tarefas de análise espacial.
Por fim, Rocha (2000) indica que a utilização de um sistema de
informações geográficas pode ser percebida de forma esquemática na Figura 4
(p. 28), nesta, temos a entrada de dados, representada por: imagens, elementos
cartográficos e dados estatísticos; o processamento de dados por meio dos vários
módulos que compõem os sistemas; o armazenamento em banco de dados
espaciais e em um banco de dados de atributos; e a saída do sistema, que pode
ser por meio de relatórios, dados estatísticos e mapas.
27
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
2.2.1 Representações geométricas em SIG
Dentre as representações geométricas possíveis de se implementar em
um SIG, destacaremos aquelas utilizadas nesta pesquisa.
3
Amostras: consiste em um conjunto de pares ordenados (x,y,z) nos quais
os pares (x,y) indicam a localização geográfica {u=(x,y)} e (z) indica o valor
observado, naquela localização, do fenômeno em estudo. Habitualmente,
estão associadas a levantamentos de campo, mas podem ser geradas a
partir de centróides de polígonos, situação na qual a localização geográfica
{u=(x,y)} é informada pelo centro geométrico do polígono (centróide) e o
valor (z) é indicado mediante a escolha de um dos seus atributos. Estão
relacionadas às “superfícies contínuas” (ver Figura 5, p. 29).
4
3
Para consultar de forma completa as representações geométricas, sugerimos a leitura de Druck et al.(2004).
4
As amostras do exemplo foram geradas a partir do centróide dos polígonos que representam os setores
censitários do IBGE (Censo de 2000). Contêm informação agregada da renda média mensal dos chefes de
família.
Figura 4 - Características da utilização de um SIG.
Fonte: Rocha (2000), in: Gondim (2004, p. 19) – com adaptações.
28
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
Grade regular: é uma matriz (conjunto de pontos dispostos regularmente)
em que cada elemento está associado a um valor numérico, possui
espaçamentos regulares entre os pontos, tanto na direção horizontal
quanto na vertical. Desta forma, não possuem pares ordenados de
localização geográfica. Podem ser elaboradas a partir de geometrias do
tipo “amostras” utilizando-se técnicas de interpolação com propriedades
espaciais. Estão diretamente relacionadas às “superfícies contínuas” (ver
Figura 6, p. 29).
Figura 5 - Amostras (pontos pretos) obtidas por meio dos centróides dos polígonos
(setores censitários - em vermelho) do bairro Aldeota (linha preta).
Figura 6 - Grade regular, gerada a partir das amostras da Figura 5 (com informações sobre a renda
média mensal dos chefes de família). Os pontos pretos são as amostras e os sinais em forma de cruz
representam os valores da grade regular após a interpolação.
29
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
Imagem: pode ser considerada um caso particular de uma “grade regular”,
onde cada elemento conhecido como “pixel” está associado a um valor
numérico, usualmente utilizada para mostrar imagens em uma composição
colorida. Pode ser utilizada, no entanto, para apresentação e visualização
gráfica de uma grade regular (representada através de tons de cinza), onde
os valores numéricos da grade o escalonados, de forma que os maiores
valores serão mostrados em tons de cinza mais claros (tendendo ao
branco), enquanto os menores valores serão exibidos em tons de cinza
mais escuros (tendendo ao preto). Também está relacionada às
“superfícies contínuas” (ver Figura 7, p. 30).
Polígonos: são conjuntos de pares ordenados {(x
1
,y
1
);(x
2
,y
2
);...;(x
n
,y
n
)} de
coordenadas geográficas, de tal forma que o último ponto seja igual ao
primeiro, formando uma poligonal fechada no plano. Na situação mais
simples, cada polígono define um objeto individual; em casos mais
complexos, uma determinada região pode ser formada pelo agrupamento
de vários polígonos. Apesar de tratar elementos bem definidos
territorialmente, é possível transformar os atributos vinculados aos
polígonos em amostras e utilizá-las para se trabalhar com “superfícies
contínuas”. Estão relacionados às “áreas com valores agregados” (ver
Figura 8, p. 31).
Figura 7 - Imagem gerada a partir da grade regular da Figura 6.
30
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
2.3 Procedimentos em análise espacial
O conjunto de procedimentos utilizados em análises espaciais de
dados geográficos tem por objetivo evidenciar os aspectos e relacionamentos
espaciais presentes no fenômeno.
Druck et al. (2004, p. 36-37) ressaltam que os procedimentos iniciais
devem incluir métodos e técnicas de análise exploratória e de visualização dos
dados, em geral, mediados por tabelas, gráficos e mapas. Enfatizam que estes
elementos permitem descrever os aspectos estatísticos e a distribuição espacial
das variáveis, identificar características atípicas e verificar a existência de padrões
na distribuição espacial. “Por meio desses procedimentos é possível estabelecer
hipóteses sobre as observações, de forma a selecionar o modelo inferencial mais
bem suportado pelos dados” (DRUCK et al., 2004, p. 37).
Considerando que os procedimentos adotados em análise espacial
dependem da representação geométrica, destacaremos apenas aqueles
utilizados nesta pesquisa.
2.3.1 Analise espacial de “superfícies contínuas”
Amplamente utilizada nesta dissertação, as técnicas e métodos de
análise espacial por superfícies contínuas são tratadas detalhadamente, na
Figura 8 - Representação geométrica do tipo polígono: em vermelho, setores
censitários (IBGE); em preto, limite de bairro (PMF).
31
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
intenção de abordar o assunto por completo e exaurir todos os prováveis
questionamentos.
5
Ressaltando as características expressas anteriormente, os dados
disponíveis para análise espacial de superfícies o, normalmente, obtidos por
levantamento de campo, que apresentam consistência de metodologia e unidade;
no entanto, de um modo mais abrangente, podem ter origem em: (i) amostras
observadas em eventos e que contenham informações específicas acerca do
fenômeno em estudo; (ii) levantamentos de campo, que podem estar
representados por amostras dispostas regular ou irregularmente; e (iii) áreas com
valores agregados
6
, onde os dados, inicialmente, agrupados em unidades de
informação (polígonos fechados), são transformados em amostras.
Para que se possa efetivamente utilizar as técnicas de análise espacial
de superfícies em sistemas de informação geográfica, é necessário se trabalhar
com procedimentos de interpolação com propriedades espaciais, para, então,
gerar uma representação na forma de grade regular, sendo assim possível
visualizar sua distribuição espacial. No exemplo utilizado da Figura 9 (p. 33), a
representação gráfica do mapa de superfície foi obtido mediante uma seqüência
de etapas, a saber: (i) pontos amostrais, obtidos a partir dos polígonos; (ii) grade
regular, empregando interpolação com propriedades espaciais; e (iii) mapa de
superfície, a partir da grade regular utilizando técnica de fatiamento.
Nesta figura, temos as linhas brancas representando a divisão territorial
dos bairros; as linhas em vermelho são os setores censitários do IBGE (polígono
origem das amostras); os pontos brancos são as amostras (centróides dos
setores censitários); e as áreas coloridas são as superfícies que representam as
faixas da renda média mensal dos chefes de família (atributo utilizado na análise).
5
Foi utilizado o capítulo: “análise espacial de superfícies”, do livro: “Análise espacial de dados geográficos”
de Suzana Druck (DRUCK et al., 2004) como base para construção das explicações.
6
Normalmente relacionadas com levantamentos populacionais e pesquisas que não se pretende identificar os
indivíduos.
32
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
Para gerar superfícies que aproximem o fenômeno estudado de forma
realista, é necessário modelar sua variabilidade espacial. Os modelos
que objetivam criar superfícies com base em procedimentos de
interpolação, de forma geral, representam a variável em estudo como
uma combinação da variabilidade em larga e pequena escala (DRUCK et
al., 2004, p. 79).
Neste sentido podem ser considerados três grandes abordagens,
conforme delineado na seqüência:
Modelos espaciais determinísticos de efeitos locais: cada ponto
interpolado da superfície é estimado, considerando-se apenas a
interpolação dos valores das amostras mais próximas, desprezando-se
qualquer hipótese de variabilidade espacial mais ampla. Utilizam-se
funções como o inverso do quadrado da distância, condições em que se
pressupõem o predomínio das características espaciais com efeitos
somente locais.
Modelos espaciais determinísticos de efeitos globais: pressupõem-se
que, nessa classe de interpoladores, ocorre o predomínio da variação dos
efeitos espaciais em larga escala, considerando-se desprezíveis as
características locais. Trabalham inversamente aos modelos espaciais de
efeitos locais.
Figura 9 - Mapa de superfície, representando o atributo da renda média mensal
dos chefes de família (valores em salário mínimo - IBGE Censo 2000).
33
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
Modelos de efeitos globais e locais (krigeagem): prevêem a utilização de
procedimentos em que as variabilidades locais e globais sejam modeladas
para a realização da interpolação dos pontos na superfície. Os estimadores
de krigeagem, segundo Druck et al. (2004), apresentam propriedades de
não serem tendenciosos e aumentam as possibilidades de uma
representação mais fidedigna do fenômeno.
Neste momento, enfatizaremos o uso da estatística espacial com
efeitos global e local (krigeagem) em razão de sua importância na modelagem
espacial de fenômenos socioeconômicos e sua larga utilização neste documento.
7
O procedimento de interpolação geoestatístico é também chamado de
krigeagem, em homenagem a Daniel Krige, pioneiro em introduzir o uso
de médias veis [...]. O que diferencia a krigeagem de outros métodos
de interpolação é a estimação de uma matriz de co-variância espacial
que determina: os pesos atribuídos às diferentes amostras, o tratamento
da redundância dos dados, a vizinhança a ser considerada no
procedimento inferencial e o erro associado ao valor estimado (DRUCK
et al., 2004, p. 91).
Ainda segundo Druck et al. (2004), a krigeagem prioriza a estimação da
estrutura de dependência espacial e requer que a hipótese de “estacionariedade”
8
seja assumida para que essa estrutura possa ser estimada por meio da (i) co-
variância ou pelo (ii) semivariograma espacial.
As etapas que devem compor estudos utilizando técnicas de
geoestatística do tipo krigeagem, são:
Análise exploratória de dados: realizada, nesta etapa, uma análise das
amostras considerando aspectos estatísticos da distribuição dos valores
observados. Podem ser investigadas, inicialmente, estatísticas do conjunto
de amostras (ver Figura 10, p. 35), por exemplo: número de observações,
valor mínimo, valor máximo, média, mediana, desvio-padrão, variância,
coeficiente de variação, coeficiente de assimetria, coeficiente de curtose,
quartil inferior, mediana, quartil superior. No segundo momento, pode-se
7
Para consultar mais detalhes sobre os três modelos espaciais sugerimos a leitura de Eduardo Camargo,
Suzana Druck e Gilberto Câmara, capítulo de “Análise espacial de superfícies”, do livro “Análise espacial de
dados geográficos” de Suzana Druck (DRUCK et al., 2004) e de um artigo detalhado sobre geoestatística de
Journel (1988).
8
Hipótese de “estacionariedade”: é considerado quando o valor esperado (média) for constante no espaço e
se a co-variância depende do vetor distância relativa (h) entre todos os pares de pontos em toda a região
estudada.
34
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
verificar, por meio de um gráfico de histograma de freqüência (ver Figura
11, p. 35), como é a distribuição da variável ao longo dos valores
observados das amostras.
Análise estrutural (determinação experimental do
semivariograma): é uma ferramenta básica e precede à krigeagem, pois
permite quantificar a variação de um fenômeno no espaço, tanto sua
intensidade, quanto a direção predominante. O gráfico de semivariograma
é construído utilizando-se a localização das amostras
{(x
1
,y
1
);(x
2
,y
2
);...;(x
n
,y
n
)} e os vetores de distância (h) que separam os
pontos (ver Figura 12, p. 36 e Figura 13, p. 36). Os modelos teóricos mais
Figura 10 - Análise exploratória dos dados - estatísticas das amostras.
Figura 11 - Análise exploratória dos dados - gráfico de histograma de freqüência.
35
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
utilizados para ajuste sobre o semivariograma experimental são: esférico,
exponencial, gaussiano e potência.
9
Interpolação estatística da superfície (krigeagem): é utilizada
com o intuito de interpolar valores a partir de pontos amostrais,
considerando aspectos da distribuição espacial (isotropia - anisotropia). O
procedimento é semelhante ao da média móvel ponderada (modelos
espaciais determinísticos de efeitos locais), no entanto, os pesos das
9
Para consultar mais informações sobre método de cálculo do semivariograma, de sua representação gráfica,
da determinação da isotropia/anisotropia e dos modelos mais utilizados para o ajuste do semivariograma, ver
Journel (1988).
Figura 12 - Esquema gráfico do semivariograma.
Fonte: Druck (2004, p. 94).
Figura 13 - Gráfico do semivariograma experimental para um
determinado conjunto de amostras.
36
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
amostras são determinados com base no semivariograma experimental
(gráfico da Figura 13). Dentre os tipos disponíveis de interpolação (simples,
ordinária, universal, co-krigeagem etc.), é largamente utilizada a krigeagem
ordinária, por apresentar estimativas o tendenciosas
10
, e variância
mínima
11
, pois permite que os valores interpolados venham a coincidir com
os valores observados nos pontos amostrais.
2.3.2 Análise espacial de “áreas com valores agregados”
Refere-se à análise espacial de dados cujos atributos estejam
associados a geometrias do tipo polígono. É comum encontrar dados agregados a
uma divisão territorial (político-administrativa) composta por municípios, distritos,
bairros, setores censitários, onde não dispomos da localização exata do evento,
mas sim de um valor por área. Como exemplo, temos a base de informações por
setor censitário disponibilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com informações
agregadas por bairro, das pesquisas realizadas periodicamente da RAIS
12
e
CAGED
13
.
O modo mais comum de apresentação desse tipo de geometria são os
mapas coloridos do tipo coropléticos
14
, onde os polígonos são totalmente
preenchidos de acordo com o valor dos atributos e dispostos em classes
específicas (ver Figura 14, p. 38). Ressaltamos que, mesmo sabendo das
limitações e distorções apresentadas pela utilização de mapas coropléticos
(polígonos coloridos), sua utilização é viável no sentido de obter uma resposta do
SIG mais rápida, como uma versão preliminar da espacialização de determinado
fenômeno (GONDIM, 2004, p. 28).
10
Estimativa não tendenciosa: significa que, em média, a diferença entre valores estimados e observados para
o mesmo ponto deve ser nula (DRUCK et al., 2004, p. 103).
11
Variação mínima: significa a menor variância entre todos os estimadores não tendenciosos (DRUCK et al.,
2004, p. 103).
12
Relação Anual de Informações Sociais.
13
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados.
14
A gramática da língua portuguesa não traz menção ao vocábulo coroplético; mesmo assim, optamos por
utilizá-lo tendo em vista que está presente em diversos trabalhos científicos (acadêmicos e livros) que tratam
do assunto.
37
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
AQUIRAZ
EUZÉBIO
MARACANAÚ
CAUCAIA
OCEANO ATLÂNTICO
OCEANO ATLÂNTICO
N
> 16.0 ~ 20.1]
> 11.5 ~ 16.0]
> 7.0 ~ 11.5]
> 2.48 ~ 7.0]
> -2.0 ~ 2.48]
> -6.5 ~ 2.0]
[-8.2 ~ -6.5]
Taxadia geométrica de crescimento anual
da população
Percentual (%) calculado entre: 1991/2000
Fonte: IBGE - censo demográfico 2000.
Figura 14 - Mapa coroplético (polígono colorido). Taxa média
geométrica de crescimento anual populacional (1991-2000).
Fonte: Gondim (2004, p. 81).
Druck et al. (2004) também analisam a agregação das informações em
áreas, pois a definição das fronteiras dos polígonos afeta o resultado a ser obtido:
as estimativas obtidas dentro de um sistema de unidades de áreas são funções
das diversas maneiras que essas unidades podem ser agrupadas (DRUCK et al.,
2004, p. 160). Na prática, o nível de agregação dos dados interfere diretamente
nos resultados finais, pois podemos ter, como exemplo, uma área (do tipo bairro)
aparentemente homogênea e acreditarmos que seja verídico e na verdade pode
ser, para aquele nível de agregação (ver Figura 15, p. 39); no entanto, analisando
a mesma área através com o mesmo atributo, porém com unidades territoriais
menores (do tipo setor censitário), perceberemos que não é tão homogênea
quanto se apresentava inicialmente (ver Figura 16, p. 39). Na verdade, ambas são
representações legítimas, mas o que se precisa saber é quando utilizarmos uma
ou outra e quais as suas potencialidades e limitações.
38
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
Figura 16 - Mapa coroplético com informações agregadas por setor
censitário. Atributo: renda média mensal dos chefes de família (IBGE,
Censo 2000).
Fonte: Geoprocessamento – SEINF – PMF.
Então, qual seria o tamanho correto das unidades de informação para
se trabalhar com informações socioeconômicas? Temos vários fatores que irão
contribuir na seleção mais adequada das unidades de informação, não podendo
julgá-las como corretas ou incorretas; teremos, na verdade, situações mais
adequadas para a representação por bairro, enquanto, para outras situações,
seria mais adequada a representação por meio dos setores censitários. Dentre os
fatores que poderão influenciar ou até mesmo direcionar a escolha mais
adequada, podemos destacar: (i) disponibilidade dos dados, (ii) escala com a qual
se pretende trabalhar e (iii) possibilidade de estabelecer relacionamentos entre os
dados.
De acordo com Martin (1995, apud RAMOS, 2002, p. 39), todavia,
a excessiva fragmentação do território no modelo de polígonos impõem
limitações na percepção da totalidade do fenômeno. Assim, a
compreensão do território não pode estar restrita a este tipo de
representação, deve-se complementar esta visão com representações
do espaço intra-urbano através de imagens e superfícies.
Figura 15 - Mapa coroplético com informações agregadas por bairro.
Atributo: renda média mensal dos chefes de família (IBGE, Censo 2000).
Fonte: Gondim (2004, p. 68).
AQUIRAZ
EUZÉBIO
MARACAN
CAUCAIA
OCEANO ATLÂNTICO
OCEANO ATLÂNTICO
N
> 3062 ~ 4182]
> 2319 ~ 3062]
> 1576 ~ 2319]
> 833.53 ~ 1576]
> 647 ~ 833.53]
> 462 ~ 647]
> 276 ~ 462]
[225 ~ 276]
Renda média nominal mensal dos chefes de família
Valores expressos em R$
Fonte: IBGE - censo demográfico 2000.
AQUIRAZ
EUZÉBIO
MARACAN
CAUCAIA
OCEANO ATLÂNTICO
OCEANO ATLÂNTICO
N
> 3062 ~ 4182]
> 2319 ~ 3062]
> 1576 ~ 2319]
> 833.53 ~ 1576]
> 647 ~ 833.53]
> 462 ~ 647]
> 276 ~ 462]
[225 ~ 276]
Renda média nominal mensal dos chefes de família
Valores expressos em R$
Fonte: IBGE - censo demográfico 2000.
39
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
Neste sentido, para compreendermos a estrutura do espaço intra-
urbano a partir da análise espacial de áreas, é necessário (i) avançar nos
métodos de representação do fenômeno, não se limitar simplesmente à
visualização em um mapa do tipo polígonos coloridos, (ii) escolher qual o nível de
agregação das unidades territoriais mais adequado para o estudo que se
pretende realizar e (iii) complementar os estudos por intermédio das análises da
representação do espaço intra-urbano por imagens e superfícies.
15
De modo geral, as etapas que devem compor estudos utilizando
técnicas de análise espacial de áreas são:
Análise exploratória: semelhante à análise exploratória da
análise espacial de superfícies, possui os mesmos objetivos, inclusive
podem ser utilizados os mesmos todos e técnicas, inicialmente,
estatística dos valores dos atributos (valor mínimo, valor ximo, média,
mediana, desvio-padrão, dentre outros). No segundo momento, pode-se
verificar por um gráfico de histograma de freqüência como é a distribuição
da variável.
Visualização dos dados: é a maneira mais intuitiva de
espacialização de um determinado fenômeno. Compõe-se, basicamente,
da elaboração de mapas, mediante cortes diferentes, pode induzir a
visualização sob diferentes aspectos. Normalmente, utilizam-se quatro
métodos de corte: intervalos iguais, percentis e desvio-padrão (ver Quadro
1, p. 41), alem, é claro, de cortes específicos determinados pelo usuário.
15
Druck et al. (2004) destacam que grande parte dos usuários se limita a utilizar apenas as funções de
visualização dos SIG, deixando de lado as potencialidades e a diversidade das análises que podem ser
realizadas.
40
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
Passo igual Quantil Desvio padrão (estatístico)
O principal elemento é a
distribuição uniforme dos valores
dos atributos por meio das classes;
ou seja, todas as classes possuem a
mesma variação dos valores dos
atributos, independentemente da
quantidade de polígonos
representados em cada classe.
O principal elemento é a
quantidade de polígonos em cada
classe; ou seja, as classes são
calculadas para que possuam a
mesma quantidade de polígonos,
independentemente dos valores
dos atributos a serem
representados em cada classe.
O principal elemento é caracterizar
as classes, tendo como parâmetro a
média dos valores observados dos
atributos; ou seja, teremos
polígonos representados por
classes abaixo e acima da média.
Quadro 1 - Visualização de mapas coropléticos de uma mesma variável, utilizando técnicas distintas:
passo igual, quantil e estatístico.
Indicadores globais de autocorrelação espacial: o foco da
análise, nesta etapa, é observar o comportamento da associação espacial
das informações geográficas, pois interessa saber como se distribuem
espacialmente, e identificar/caracterizar como os valores dos atributos
estão correlacionados no espaço. Desta forma, utiliza-se a autocorrelação
espacial para identificar o quanto o valor observado de um atributo em uma
determinada região é dependente dos valores dessa mesma variável nas
localizações vizinhas. Um dos indicadores globais de autocorrelação
espacial mais utilizados é o índice global de Moran
16
, que mede a
intensidade da autocorrelação espacial, considerando a área em análise e
os seus vizinhos adjacentes. São utilizados para seu cálculo o valor
apresentado do indicador para cada área (polígono) e o valor médio deste
mesmo indicador para as áreas vizinhas (polígonos vizinhos). De modo
16
A equação que determina o índice de Moran é expressa por:
41
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
geral, o índice de Moran utiliza a hipótese de que sempre haverá
dependência espacial e sua utilização determinará quais indicadores
apresentarão maior ou menor correlação espacial. Especificamente,
podemos dizer que “valores positivos (0 < índice +1) indicam uma
correlação direta e valores negativos (-1 índice < 0), correlação inversa”
(DRUCK et al., 2004, p. 173), estando com baixo índice de associação os
valores mais próximos de zero e com alto índice de associação os valores
mais próximos a 1 e -1.
Diagrama de espalhamento de Moran: “é uma maneira adicional de
visualizar a dependência espacial. O objetivo de sua utilização é comparar
os valores normalizados do atributo numa área com a média dos seus
vizinhos, construindo um gráfico bidimensional de
(valores
normalizados dos atributos) por
WZ
(média dos vizinhos)” (DRUCK et al.,
2004, p. 179). Segundo Anselim (1992), o diagrama de espalhamento de
Moran (ver Figura 17, p. 43) apresenta no eixo das abcissas o valor
normalizado dos atributos e no eixo das ordenadas a média dos vizinhos; é
dividido em quatro quadrantes: AE1 possui valores positivos (atributo
normalizado) e dias positivas (média dos vizinhos); AE2 possui valores
negativos e médias negativas; AE3 possui valores positivos e médias
negativas; e AE4 valores negativos e médias positivas. O gráfico
resultante da utilização do diagrama de espalhamento de Moran demonstra
a qual quadrante pertencem os polígonos em análise, bem como a
dispersão dos pontos (ver Figura 18, p. 43). O diagrama também pode ser
apresentado na forma de um mapa coroplético (ver Figura 19, p. 43),
indicando a qual quadrante os polígonos estão relacionados, bem como o
padrão de associação espacial (correlação espacial) dos polígonos.
=
= =
=
n
i
i
j
n
i
n
j
iij
zz
zzzzw
I
1
2
_
_
1 1
_
Fonte: Druck et al., 2004, p. 172. Na equação apresentada,
n
é o número
de bairros a serem analisados,
i
z
é o valor do indicador no bairro
i
,
_
z
é o valor médio deste mesmo
indicador para os bairros vizinhos ao bairro
i
e
ij
w
são os elementos normalizados de proximidade espacial.
42
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS
GEOGRÁFICOS
Figura 17 - Diagrama de espalhamento do índice de Moran - esquema
conceitual.
Fonte: Gondim (2005).
Eixo das
amostras
observadas
Eixo das
médias locais
AE 1
Alto valor da amostra observada
Alto valor da média local
AE 2
Baixo valor da amostra observada
Baixo valor da média local
AE 3
Alto valor da amostra observada
Baixo valor da média local
AE 4
Baixo valor da amostra observada
Alto valor da média local
Figura 18 - Gráfico de espalhamento do índice de Moran
para uma determinada variável.
Fonte: Gondim (2005).
Figura 19 - Mapa de espalhamento do
índice de Moran para uma determinada
variável.
Fonte: Gondim (2005) – com
modificações.
43
MATERIAIS E MÉTODOS
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Produtos cartográficos e base de dados
PRODUTOS CARTOGRÁFICOS
Tipo Escala Projeção Formato Origem
Mapa das unidades de
informação
17
: setores censitários,
bairros e limite municipal.
1:2.000 UTM
(SAD 69)
Digital SEINF - PMF
BASE DE DADOS
Tipo Período Formato Origem Observação
Censo demográfico 1991 e 2000 Digital IBGE 1991 – bairro
2000 – bairro e setor censitário
Indicadores de
desenvolvimento sustentável
2004 Digital UECE Trabalho final do curso de
especialização em geoprocessamento.
SIDRA - Digital IBGE Acesso on-line
http://www.sidra.ibge.gov.br/
RAIS – CAGED 2003 Digital MTE -
3.2 Equipamentos e programas
Ao iniciarmos os trabalhos, alguns questionamentos surgiram, no
sentido de orientar e determinar qual o caminho que seria adotado para o
desenvolvimento da pesquisa. Estávamos consciente, por tratar-se de uma
pesquisa acadêmica, de que tínhamos o compromisso de buscar soluções que
permitissem (i) o menor custo possível e que (ii) fossem as mais acessíveis à
comunidade acadêmica de maneira geral.
O primeiro questionamento diz respeito à escolha dos programas a
serem utilizados, desde o sistema operacional (base indispensável para os outros
programas), passando pelo programa a ser utilizado na elaboração da análise
espacial, quanto para a formatação do documento, tabelas, gráficos e figuras.
Optamos por utilizar programas de domínio público, na intenção de (i) tornar o
acesso irrestrito às pessoas interessadas em realizar estudos semelhantes (haja
vista que estes programas não necessitam de pagamento de licença para sua
utilização); (ii) democratizar e difundir a utilização destes programas; e (iii)
demonstrar suas potencialidades.
O segundo trata da escolha do equipamento a ser utilizado e, mesmo
sabendo que o desempenho da máquina (configuração) poderia interferir
diretamente no desempenho da realização das atividades, ainda assim, optamos
17
Termo utilizado em planejamento para agregar informações geográficas.
44
MATERIAIS E MÉTODOS
por aproveitar um equipamento do tipo “desktop” (computador pessoal) de baixo
custo, em vez de sofisticadas estações de trabalho.
18
3.2.1 Programas
3.2.1.1 Poseidon Linux
POSEIDON LINUX (GNU/LINUX) é um sistema operacional baseado
no Kurumin Linux, mas que incorpora ferramentas baseadas em software livre
direcionadas para a comunidade acadêmica científica. É um sistema operacional
de domínio público desenvolvido para arquitetura PC-Intel (386-486-Pentium), que
possibilita melhor rendimento do hardware mediante ótimo gerenciamento de
memória.
Versão utilizada: Poseidon Linux 2.0
Disponível em: <http://poseidon.furg.br/index.php>
Nome do arquivo: poseidon2.0.iso
3.2.1.2 Spring
SPRING (Sistema de Processamento de Informações
Georreferenciadas) é um sistema de informação geográfica de segunda geração,
desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para ser
utilizado tanto em estações de trabalho, quanto em computadores pessoais. Tem
por objetivo criar e gerenciar bancos de dados geográficos (pequeno, médio e
grande porte), aprimorar a integração de dados, possibilitar atividades de análise
espacial (estatística espacial e geoestatística), realizar o tratamento de imagens
de sensores orbitais e de aerofotogrametria, dentre outras.
Versão utilizada: Spring-4.1
Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/download>
Nome do arquivo: Spring-4.1-Port.tar.gz
18
Esta escolha viabiliza a utilização de equipamentos que, em sua maioria, são destinados a atividades
simples; isso, quando não são abandonados, julgados incapazes de realizar tarefas complexas, se comparados
a computadores de última geração.
45
MATERIAIS E MÉTODOS
3.2.1.3 Broffice
O BROFFICE é um pacote completo de ferramentas de escritório,
desenvolvido e aperfeiçoado no intuito de disponibilizar uma ferramenta capaz de
realizar as tarefas mais comuns em um escritório. É composto por módulos, a
saber: Writer, editor de textos; Calc, planilha eletrônica; Impress, cria
apresentações; Draw, produz ilustrações, diagramas e desenhos; Math, editor de
fórmulas e equações; e Base, cria e manipula banco de dados.
Versão utilizada: BrOffice.org 2.0.1
Disponível em: <http://www.openoffice.org.br/download>
Nome do arquivo: broffice.org.2.0.1.deb.tar.bz2
3.2.1.4 Gimp
GIMP (GNU Image Manipulation Program) é um editor de imagens de
livre distribuição, bastante utilizado, pois possui todas as ferramentas básicas de
criação, edição, ajustes e efeitos de imagens.
Versão utilizada: GIMP 2.2
Disponível em: <http://www.gimp.org/unix/>
Nome do arquivo: gimp_2.2.10-2_i386.deb
3.2.1.5 Inkscape
Inkscape é um editor vetorial de livre distribuição, bastante utilizado,
pois possui todas as ferramentas básicas de criação, composição e edição de
desenhos vetoriais.
Versão utilizada: Inkscape .41
Disponível em: <http://www.inkscape.org/download.php>
Nome do arquivo: inkscape-0.41.x86.package
46
MATERIAIS E MÉTODOS
3.2.2 Equipamentos e configuração
O computador pessoal utilizado possui as seguintes características:
processador Pentium II 450 Mhz, 265 Mb de memória RAM, 10 Gb de disco rígido
(sistema operacional e programas), 20 Gb de disco rígido (diretório home
arquivos de trabalho), unidade CD-RW de leitura e gravação de CD, monitor
SVGA de 15”, adaptador de rede padrão 10/100, adaptador de vídeo padrão com
6 Mb de memória, teclado e mouse.
Outros equipamentos utilizados: impressora a jato de tinta, com
resolução de 300 pontos/polegada; scanner de mesa, formato A4, com resolução
de 600 pontos/polegada; disco removível (pen drive) de 256 Mb.
3.3 Procedimentos
O desenvolvimento das diversas etapas que compõem o método são
complementares e sucedem uma lógica determinada pelas técnicas e
procedimentos adotados.
O método utilizado pretende, de maneira geral, estabelecer uma leitura
da estrutura intra-urbana do Município de Fortaleza. Realiza, para tanto, uma
aproximação entre os aspectos incisivos e contundentes de uma análise crítica,
com a precisão e objetividade de uma análise quantitativa, pois entendemos que
ambos os elementos são de fundamental importância no processo de pesquisa
em Geografia.
Propomos, inclusive por uma formalidade científica, três etapas bem
distintas, mas que se completam e formam apenas uma unidade, para nos
possibilitar a representação da realidade e, desta forma, traduzir a essência da
estrutura intra-urbana do Município.
O campo instrumental
19
compreende a tradução dos dados obtidos do
mundo real para o universo conceitual do banco de dados geográficos. Os
procedimentos utilizados nesta etapa permitem solucionar problemas
19
Etapa “procedimentos” do fluxograma da Figura 20 (p. 48).
47
Materiais
Procedimentos
Produtos
MATERIAIS E MÉTODOS
relacionados ao armazenamento, recuperação e integração dos dados de fontes,
formatos e períodos diferentes.
Figura 20 - Fluxograma: etapas do método de análise
do espaço intra-urbano.
No campo da representação
20
, encontram-se os produtos que podem
ser gerados a partir do banco de dados geográficos e que deverão fornecer
subsídios empíricos para se atingir a representação da realidade. Esta etapa
representa a possibilidade de se realizar uma análise geográfica sobre o objeto de
estudo. Refere-se à utilização de funções de recuperação, consulta e análise dos
dados alfanuméricos e espaciais. Temos isto por meio das diversas possibilidades
de apresentação dos resultados: mapas temáticos coropléticos, mapas temáticos
de superfície, grade regular e respectiva imagem, bem como gráficos e tabelas.
No campo conceitual
21
, não se utiliza somente variáveis elementares,
mas recorre-se a uma combinação destas com o pensamento geográfico em
busca da explicação da realidade. Estabelecemos, nesta etapa, a conexão entre
(i) o objeto de pesquisa, (ii) o material produzido na etapa de análise geográfica e
(iii) o universo teórico-conceitual. Com a utilização dos resultados produzidos
(mapas, gráficos e tabelas) na etapa de análise geográfica e, evidentemente, por
meio do referencial teórico adotado, é possível chegarmos à análise do espaço
intra-urbano em toda sua complexidade.
20
Etapa “produtos – análise geográfica” do fluxograma da Figura 20(p. 48).
21
Etapa “produtos – análise do espaço intra-urbano” do fluxograma da Figura 20 (p. 48).
48
COLETA DE DADOS
ANÁLISE
GEOGRÁFICA
CONVERSÃO
DE FORMATOS
BANCO DE DADOS
GEOGRÁFICO
(MODELAGEM/CONCEPÇÃO)
PREPARAÇÃO
CORREÇÃO/AJUSTES
-
CONCEPÇÃO
- MODELAGEM
- PROCEDIMENTOS
ANÁLISE
DO ESPAÇO
INTRA-URBANO
MATERIAIS E MÉTODOS
3.3.1 Banco de dados geográficos
A proposta, desta pesquisa, de análise do espaço intra-urbano, não se
finda por si, uma vez que propomos um método de investigação, o qual, antes de
ser certo ou errado, melhor ou pior, possa ser continuamente aprimorado.
Neste contexto, o banco de dados geográficos (BDG) deve (i) estar
preparado para a inclusão de qualquer tipo de dado que se queira anexar às
análises, (ii) ser suficientemente flexível para permitir a elaboração de uma série
histórica e (iii) permitir a análise espacial conjunta e integrada dos diversos tipos
de dados e informações.
Todos os dados coletados devem ser cuidadosamente preparados,
tornando-se indispensável sua manipulação em meio digital, sendo necessário
realizar, desde uma simples conversão de formato de arquivo, até a “digitalização”
de algumas informações geográficas. O cuidado, nesta etapa, é extremamente
importante para que os resultados venham a ser legítimos.
3.3.1.1 Estrutura do BDG
O universo conceitual do BDG utilizado (ver Figura 21, p. 49) permite
que o universo real seja representado por quatro categorias, a saber: temático
(grade regular ou polígono), imagem (grade regular), cadastral (polígono) e
modelo numérico de terreno – MNT (amostra, centróide ou grade regular).
Figura 21 - Organograma: banco de dados geográficos, categorias e
planos de informação utilizados.
49
MATERIAIS E MÉTODOS
Para cada tipo de categoria, teremos vários planos de informação, que
são os locais onde serão armazenados os dados e informações dentro do BDG
(ver Figura 22, p. 50). Os planos de informação devem ser separados de acordo
como os períodos a que correspondem e agrupados consoante o tipo de
informações que representam.
22
Figura 22 - Organograma: categoria e planos de informação.
3.3.1.2 Relacionamentos
A representação do universo do mundo real dentro de um BDG
ocorrerá, exatamente, a partir da diversidade dos relacionamentos traçados entre
os planos de informação do universo conceitual. Desta forma, é comum a
formulação de novos planos de informação a partir de outros.
A possibilidade de representação do mundo real reside, então, na
capacidade de se estabelecer os relacionamentos entre os elementos que se
apresentam de imediato à nossa consciência (podendo ser transformados em
planos de informação) com as mensagens que poderemos obter deles,
normalmente traduzidas por mapas temáticos. Esta possibilidade de originar
várias representações do mundo real a partir de uma variável inicial permite
diversificar as possibilidades da análise espacial, melhorando a qualidade das
mensagens que podemos obter. É, portanto, uma característica essencial e
necessária na análise espacial de dados geográficos.
23
3.3.2 Etapas de análise
Dois pontos-chave na análise das informações obtidas do BDG estão
estreitamente correlacionados, (i) o primeiro refere-se à análise espacial dos
22
Para consultar todas as categorias utilizadas e os respectivos planos de informação, ver Quadro 9,
Apêndice 02, pág. 115.
23
Para consultar os diagramas, identificando os relacionamentos utilizados, ver Figura 62, Apêndice 03, pág.
118.
50
Nome da categoria
Plano de informação 1
Plano de informação 2
Plano de informação 3
Plano de informação “n”
MATERIAIS E MÉTODOS
indicadores intra-urbanos, que, mediante o universo conceitual, é composto por
(gráficos, mapas e tabelas); (ii) o segundo refere-se ao pensamento e ao
conhecimento intelectual-científico (referencial teórico), que se propõe a ampliar a
capacidade de percepção sobre o tema pesquisado.
Como pressuposto e condição para realizar esta etapa, propomos a
utilização de indicadores intra-urbanos por nós desenvolvidos (GONDIM, 2004)
como procedimento metodológico, inclusive como aprimoramento de um
mecanismo de avaliação sistemática do espaço intra-urbano no Município de
Fortaleza.
Neste sentido, adotamos quatro agrupamentos de indicadores,
relacionados de acordo com a natureza dos dados, divididos em ambientais,
econômicos, institucionais e sociais (ver Figura 23, p. 52). Todas as informações
adquiridas, respeitando o universo conceitual do BDG, devem ser caracterizadas
em um desses grupos.
Uma característica da distribuição espacial das informações a ser
observada com bastante cautela é o nível de agregação das unidades de
informação
24
, considerando o fato de que podem alterar o resultado final, como
vimos anteriormente (ver item 2.3.2, p. 37). Trabalharemos, com bastante
freqüência, com as divisões territoriais e administrativas dos setores censitários
25
e por bairros
26
, representando a maioria das análises a serem realizadas nesta
investigação.
24
Unidades de informação: representam espacialmente as divisões político-administrativas instituídas
oficialmente. De forma resumida temos, para o Município de Fortaleza, os setores censitários, que agrupados,
resultam nos bairros, estes, quando juntos resultam nas secretarias executivas regionais (SER), as quais,
agrupadas, resultam no limite do Município de Fortaleza.
25
Definida e delimitada pelo IBGE.
26
Definida e delimitada pela PMF.
51
Materiais
Procedimentos
Produtos
MATERIAIS E MÉTODOS
A análise dos indicadores precede e constitui a base da etapa de
análise geográfica, juntamente com técnicas de agrupamento espacial, estatística
espacial e geoestatística configuram a representação espacial dos indicadores na
base territorial do Município de Fortaleza, estabelecendo um ambiente favorável à
análise integrada (ver Figura 23, p. 52).
Determinamos três etapas a serem seguidas na análise dos
indicadores.
(i) A primeira, agrupamento e análise estatística (item “agrupamento”
da Figura 23, p. 52), permite observar inicialmente aspectos estatísticos (valores
mínimos e máximos, média, mediana, desvio-padrão, gráfico de histograma e
gráfico de dispersão), bem como a espacialização do indicador no território por
meio da elaboração de mapas temáticos coropléticos. Esses, apresentam o bairro
como unidade de informação, onde será atribuída uma cor que preencherá toda a
superfície delimitada pelo bairro, sendo agrupados de acordo com os valores que
representam, ou seja, será um mapa de agrupamento por classes.
(ii) A segunda, agrupamento e correlação espacial (item “estatística
espacial” da Figura 23, p. 52), permite observar o comportamento da associação
espacial das informações geográficas, pois nos interessa saber como se
distribuem espacialmente, se dependência, concentrações ou tendências de
Figura 23 - Fluxograma: procedimentos da etapa de análise
geográfica.
INDICADORES
AMBIENTAIS
INDICADORES
ECONÔMICOS
INDICADORES
INSTITUCIONAIS
INDICADORES
SOCIAIS
ANÁLISE
INDICADORES
DIVISÃO TERRITORIAL:
BAIRROS E SETORES CENSITÁRIOS
AGRUPAMENTO
ESTATÍSTICA ESPACIAL
GEOESTATÍSTICA
52
MATERIAIS E MÉTODOS
determinadas características que possam revelar os elementos estruturais do
espaço intra-urbano. Serão utilizados indicadores globais de associação espacial
(índice global de Moran
27
-
I
) na intenção de identificar e caracterizar como os
valores dos indicadores estão correlacionados no espaço.
(iii) A terceira, geração de superfícies (item “geoestatística” da Figura
23, p. 52), permite ampliar a capacidade de compreensão do fenômeno, pois
possibilita, de uma maneira fácil e eficiente, a visualização do padrão espacial de
forma contínua em todo o território do Município. Serão utilizados interpoladores
com características espaciais (ver item 2.3.2, p. 31), largamente aplicados nesta
pesquisa, dada a necessidade do desenvolvimento de representações
alternativas, ou seja, partir de uma representação de áreas com valores
agregados para superfícies contínuas; mas, sobretudo, em razão da diversidade
de aplicações das técnicas de análise espacial sobre dados socioeconômicos
(MARTIN, 1996, p. 176-184).
3.3.3 Indicadores intra-urbanos
Os indicadores intra-urbanos, bem como a metodologia por nós
desenvolvida (GONDIM, 2004), como já dissemos, tornaram-se o ponto de partida
para a realização da análise do espaço intra-urbano proposta nesta pesquisa.
No trabalho citado, é elaborada uma proposta para o desenvolvimento
de indicadores urbanos, pautados nas discussões e proposições da Agenda 21.
Nossa intenção é incorporar os indicadores desenvolvidos e propor outros,
analisando as potencialidades e limitações dos indicadores de realizarem análises
espaciais e, a partir destas, representarem o universo real.
Tomando em consideração a abrangência exposta pelo tema que
pretendemos investigar, o ideal seria utilizarmos a maior quantidade possível de
indicadores em nossas análises espaciais; no entanto, o tempo exíguo desta
pesquisa não permite que tal situação, mesmo que desejável, seja viabilizada. É
nossa intenção, portanto, selecionar, dentre os indicadores apresentados, aqueles
que possuem as características de melhor atingir os nossos objetivos.
28
27
Para rever detalhes de sua definição, método de cálculo, dentre outras informações, ver item 2.3.2, p. 37.
53
MATERIAIS E MÉTODOS
Evidentemente, poderíamos selecioná-los apenas pela sua afinidade
com o tema em estudo; no entanto, além deste caminho, realizamos um
cruzamento entre os indicadores para selecionarmos aqueles que estão de
alguma forma relacionados. Optamos por utilizar a correlação espacial, pois
permite determinar quanto um determinado atributo está vinculado aos demais,
tanto na semelhança dos dados, quanto na sua localização espacial. Na verdade,
é composto por um gráfico de dispersão, onde se analisa a relação conjunta entre
localização geográfica e os atributos dos indicadores. Seu valor pode variar entre
0 (zero) ausência total de correlação espacial, 1 (um positivo) correlação
espacial direta, e -1 (um negativo) – correlação espacial inversa.
Neste sentido, ao avaliarmos o grau de interdependência dos
indicadores entre os períodos de 1991 e 2000, verificamos que, em sua maioria,
os indicadores econômicos e sociais apresentaram forte propensão a
permanecerem com características semelhantes (cor em destaque no Quadro 2,
p. 54), o ocorrendo grandes variações da tendência dos valores de seus
atributos nas respectivas unidades de informação, porquanto os valores dos
coeficientes de correlação espacial chegam muito próximos a 1 (um positivo).
Uma comparação entre os diferentes indicadores em cada período
revela, na verdade, que poucos são os possuidores de uma forte correlação
espacial; com destaque para o indicador E01 (renda média mensal dos chefes de
família), pois este apresentou, no período 1991 (ver Quadro 3, p. 55), forte
correlação espacial com o indicador S05 (escolaridade dos chefes de família),
28
A relação dos indicadores utilizados, bem como uma breve descrição dos mesmos pode ser consultada no
Quadro 8, p. 114 - Apêndice 01.
Quadro 2 - Coeficientes de correlação espacial, comparação dos indicadores entre si no período 1991 e
2000.
#############################################
2000
A01 A02 A03 E01 E02 E04 E05 E06 S01 S04 S05 S06 S07 S08 S09 S10
1991
A01 0,62
A02 0,75
A03 0,58
E01 0,94
E02 0,78
E04 0,79
E05 0.99
E06 0,82
S01 0,90
S04 0,93
S05 0,96
S06 0,35
S07 0,78
S08 0,90
S09 0,89
S10 0,89
54
MATERIAIS E MÉTODOS
bem como alguma relação com domicílios do tipo apartamento (indicador S09) e
com chefes de família com rendimento médio mensal superior a 20 salários
mínimos (indicador E05).
Em 2000 (ver Quadro 4, p. 55), o mesmo indicador (E01) apresentou
aspecto semelhante de correlação espacial, tendo aumentado um pouco a
correlação com o indicador E05 e substancialmente com o indicador S09.
Este panorama demonstra, inicialmente, a forte relação que o indicador
E01 (renda média mensal dos chefes de família) possui com outros indicadores;
no segundo momento, mas em decorrência desses relacionamentos, possui uma
característica de interdependência para com esses indicadores, pois, da mesma
forma que condiciona determinados aspectos, é condicionado e determinado por
outros.
Outra forma de avaliarmos o grau de correlação espacial dos
indicadores é aplicando índices de autocorrelação espacial. Nesta pesquisa, foi
empregado o índice global de Moran (ver item “Indicadores globais de
Quadro 4 - Coeficientes de correlação espacial, comparação entre indicadores no período 2000.
Quadro 3 - Coeficientes de correlação espacial, comparação entre indicadores no período 1991.
1991
A01 A02 A03 E01 E02 E04 E05 E06 S01 S04 S05 S06 S07 S08 S09 S10
1991
A01 0,78 0,41 0,40 0,33 -0,54 0,29 0,74 0,31 0,81 0,42 -0,07 -0,31 0,40 0,45 -0,43
A02 0,29 0,32 0,19 -0,44 0,24 0,72 0,48 0,82 0,34 -0,09 -0,34 0,51 0,32 -0,29
A03 0,46 0,41 -0,34 0,44 0,32 0,05 0,35 0,43 0,01 -0,06 0,06 0,56 -0,55
E01 0,83 -0,58 0,98 0,62 -0,13 0,48 0,98 0,29 -0,04 0,01 0,77 -0,76
E02 -0,48 0,82 0,42 -0,20 0,32 0,77 0,20 -0,03 -0,02 0,64 -0,63
E04 -0,48 -0,66 0,07 -0,60 -0,59 -0,13 0,11 -0,09 -0,52 0,53
E05 0,50 -0,14 0,36 0,93 0,32 0,02 -0,04 0,73 -0,72
E06 0,32 0,86 0,65 0,02 -0,41 0,44 0,48 -0,48
S01 0,30 -0,11 -0,20 -0,36 0,49 -0,02 0,05
S04 0,52 0,03 -0,43 0,48 0,45 -0,45
S05 0,24 -0,05 0,03 0,77 -0,76
S06 0,01 -0,09 0,23 -0,27
S07 -0,94 -0,16 0,22
S08 0,13 -0,15
S09 -0,99
S10
#############################################
2000
A01 A02 A03 E01 E02 E04 E05 E06 S01 S04 S05 S06 S07 S08 S09 S10
2000
A01 0,52 0,28 0,21 0,22 -0,21 0,16 -0,01 0,08 0,41 0,21 -0,31 -0,07 0,23 0,22 -0,18
A02 0,41 0,22 0,23 -0,45 0,15 -0,26 0,37 0,69 0,22 -0,38 -0,40 0,52 0,24 -0,22
A03 0,48 0,50 -0,46 0,43 -0,54 0,31 0,56 0,51 -0,03 -0,35 0,47 0,59 -0,58
E01 1,00 -0,61 0,98 -0,36 -0,18 0,61 0,97 0,09 -0,11 0,20 0,86 -0,84
E02 -0,61 0,98 -0,36 -0,17 0,62 0,97 0,08 -0,14 0,23 0,88 -0,86
E04 -0,51 0,40 0,00 -0,83 -0,64 0,02 0,36 -0,49 -0,57 0,56
E05 -0,33 -0,19 0,50 0,95 0,12 -0,05 0,11 0,83 -0,81
E06 -0,29 -0,38 -0,39 0,11 0,29 -0,36 -0,40 0,39
S01 0,10 -0,19 -0,27 -0,21 0,50 -0,13 0,16
S04 0,64 -0,15 -0,43 0,61 0,60 -0,58
S05 0,10 -0,14 0,23 0,87 -0,85
S06 -0,04 -0,14 0,09 -0,14
S07 -0,76 -0,22 0,25
S08 0,31 -0,30
S09 -0,99
S10
55
MATERIAIS E MÉTODOS
autocorrelação espacial”, p. 41), o qual utiliza a hipótese de que sempre haverá
dependência espacial e sua utilização determinará quais indicadores
apresentarão maior ou menor correlação espacial.
Para os indicadores utilizados, temos:
Quadro 5 - Índice global de associação espacial - autocorrelação espacial.
Novamente podemos destacar os indicadores E01 e S05, apresentado,
tanto em 1991 quanto em 2000, os maiores valores de autocorrelação espacial
(índice global de Moran), o que direciona nossa escolha por particularizar a
pesquisa nestes indicadores.
Acreditamos, por fim, que a análise espacial da estrutura intra-urbana
do Município de Fortaleza, levando-se em consideração aspectos relacionados ao
tema em foco, possa ser viabilizada com a aplicação do indicador E01 renda
média mensal dos chefes de família, e de outros indicadores que possuem
alguma correlação espacial com este, destacando-se: S05 escolaridade dos
chefes de família, e S09 – domicílios do tipo apartamento.
56
Índice Global de Associação Espacial - I MORAN
Indicador
Períodos
1991 2000
A01 0,465213 0,404479
A02 0,415830 0,304816
A03 0,513681 0,647033
E01 0,599712 0,645048
E02 0,343340 0,660238
E04 0,328577 0,226244
E05 0,473531 0,434777
E06 0,496500 0,425136
S01 0,472763 0,587658
S04 0,401106 0,429268
S05 0,581336 0,667980
S06 0,087378 0,006271
S07 0,614149 0,493271
S08 0,625785 0,636615
S09 0,454279 0,515986
S10 0,486662 0,523030
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A cidade de Fortaleza, na primeira metade do século XIX,
apresentava sinais de inovações socioespaciais. Os caminhos que se delineavam
na economia brasileira para a agricultura e comércio, direcionados
primordialmente para o mercado externo, favoreceram na Capital da Província
uma série de medidas e obras, principalmente de infra-estrutura, necessárias
para dar suporte e prepará-la às novas funções, dentre as quais podemos
destacar: expansão das funções político-administrativas, fortalecimento do
sistema viário (ferroviário e rodoviário), melhoria das condições do porto marítimo,
instalação da alfândega, captação de tributos em benefício da Capital, dentre
outras.
A hegemonia econômica e político-administrativa da cidade de
Fortaleza sobre os outras cidades da região (principalmente Aracati e Camocim,
ver Figura 24, p. 58) “decorreu fundamentalmente da centralização nela de um
volume maior da produção para o mercado externo, favorecida, de uma lado, pelo
próprio desenvolvimento das atividades agrícolas pastoris e, de outro, pela sua
condição de capital.” (LEMENHE, 1991, p. 110).
Atualmente, no contexto estadual, o Município de Fortaleza agrega um
conjunto de relações socioeconômicas que o transforma em um município
centralizador de ações e atenções. Podemos destacar alguns itens (Fortaleza e
Ceará): 30% da população, 0,2% da área territorial, 78% da arrecadação de
tributos, 51% dos equipamentos industriais, 39% do PIB, 70% dos empregos,
55% da frota de veículos e 45% do consumo de energia.
29
29
Percentuais extraídos da Síntese do Plano de Governo do Estado do Ceará – 2003/2006.
57
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Em razão de sua grande importância no Estado do Ceará, Fortaleza
aglutina em torno de si alguns municípios, os quais formam a Região
Metropolitana de Fortaleza-RMF. Se compararmos, entre estes municípios, a
quantidade de empregos ofertados (ver Tabela 1, p. 59), veremos Fortaleza
apresentando índices que reforçam sua condição de centralidade e, certamente,
esse é um dos motivos que justificam uma intensa migração para o Município.
58
Figura 24 - Mapa de localização geográfica do Município de Fortaleza.
Fonte: Atlas BR (INPE), in Gondim, 2004, p. 35 – com adaptações.
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Podemos perceber, a partir da Tabela 2 (p. 59), um crescimento
desproporcional da cidade de Fortaleza, uma vez que apresentara em 2003
aproximadamente 70% da população de toda a RMF, tendo o seu território
apenas 6,21% da Região, configurando-se como o município de maior densidade
populacional desta (aprox. 7.200 hab/km²), apresentando uma densidade
populacional três vezes e meio maior que o município de Maracanaú, segunda
maior densidade populacional da Região (aprox. 1.900 hab/km²).
Tabela 2 - Municípios integrante da Região Metropolitana de Fortaleza-RMF.
Fonte: Síntese do Plano de Governo do Estado do Ceará – 2003/2006.
Apesar de o Município de Fortaleza ser o que mais se destaca dentro
da RMF, certamente não pode ser compreendido apenas pelos índices que
totalizam uma informação para todo o seu território. Possui em seu espaço intra-
Tabela 1 - Oferta de empregos na indústria, comércio, serviços, construção civil e agropecuária (RMF-
2000).
Fonte: Síntese do Plano de Governo do Estado do Ceará – 2003/2006.
59
Municípios
Indústria Comércio Serviços Construção civil Pesca e agropecuária
Empregos % do total Empregos % do total Empregos % do total Empregos % do total Empregos % do total
1.869 1,12% 266 0,21% 4.555 0,90% 256 0,61% 3.878 23,85%
4.630 2,77% 2.511 2,00% 13.226 2,62% 985 2,36% 722 4,44%
1.343 0,80% 83 0,07% 819 0,16% 0 0,00% 65 0,40%
506 0,30% 505 0,40% 9.098 1,81% 187 0,45% 180 1,11%
Fortaleza 122.984 73,60% 116.582 92,96% 443.607 88,03% 38.537 92,31% 5.658 34,80%
130 0,08% 60 0,05% 1.050 0,21% 0 0,00% 217 1,33%
Horizonte 4.891 2,93% 217 0,17% 3.007 0,60% 106 0,25% 1.722 10,59%
394 0,24% 204 0,16% 1.219 0,24% 17 0,04% 0 0,00%
19.785 11,84% 3.542 2,82% 13.850 2,75% 1.188 2,85% 1.448 8,91%
6.251 3,74% 628 0,50% 5.945 1,18% 63 0,15% 1.083 6,66%
2.146 1,28% 460 0,37% 2.510 0,50% 48 0,11% 665 4,09%
Pacatuba 2.000 1,20% 170 0,14% 2.614 0,52% 10 0,02% 504 3,10%
177 0,11% 181 0,14% 2.448 0,49% 352 0,84% 117 0,72%
Total RMF 167.106 100% 125.409 100% 503.948 100% 41.749 100% 16.259 100%
Aquiraz
Caucaia
Chorozinho
Eusébio
Guaiuba
Itaitinga
Maracanaú
Maranguape
Pacajus
São Gonçalo do
Amarante
Municípios
Área Habitantes Densidade
% do total 2003 % do total
482,80 9,55% 67.530 2,10% 139,87
1.195,60 23,65% 286.577 8,90% 239,69
308,30 6,10% 21.006 0,65% 68,13
78,00 1,54% 35.148 1,09% 450,62
Fortaleza 313,94 6,21% 2.282.513 70,89% 7.270,54
271,30 5,37% 22.302 0,69% 82,20
Horizonte 271,30 5,37% 41.872 1,30% 154,34
155,30 3,07% 31.991 0,99% 205,99
98,60 1,95% 191.857 5,96% 1.945,81
654,80 12,95% 92.379 2,87% 141,08
241,90 4,78% 49.960 1,55% 206,53
Pacatuba 138,00 2,73% 58.757 1,82% 425,78
845,80 16,73% 37.710 1,17% 44,59
Total RMF 5.055,64 100% 3.219.602 100% 636,83
km² hab / km²
Aquiraz
Caucaia
Chorozinho
Eusébio
Guaiuba
Itaitinga
Maracanaú
Maranguape
Pacajus
São Gonçalo do
Amarante
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
urbano diferenças e desigualdades tão marcantes quanto as apresentadas
anteriormente.
4.1 Medidas intra-urbanas
Para além das medidas consideradas genéricas, as medidas ou
indicadores intra-urbanos buscam compreender quais os processos
socioespaciais mais significativos que merecem ser alvos de estudos do espaço
intra-urbano (KOGA, 2003, p. 104).
É oportuno e necessário, neste momento, qualificarmos o emprego da
expressão “espaço intra-urbano” e, neste sentido, coadunamos com a explicação
de Villaça (2001), quando este reconhece que a terminologia “espaço intra-
urbano” é uma redundância, pois a definição de “espaço urbano” seria suficiente;
no entanto, reconhece também que tal denominação se faz oportuna, haja vista
que as dicções “espaço urbano”, “estrutura urbana”, dentre outras unidades de
idéia, tornam-se cada vez mais freqüentes em estudos regionais.
Neste sentido, essas medidas e indicadores intra-urbanos, quando
empregados de forma sistêmica, possibilitam, por intermédio de uma
representação da realidade, chegar a ela. Permitem, então, uma “uma leitura das
desigualdades internas dos territórios analisados.” (KOGA, 2003, p.104).
Estas desigualdades, no Município de Fortaleza, apresentam-se de
várias formas e revestidas de muitas contradições. Nossa intenção, no momento,
é criar condições para subsidiar uma análise da desigualdade socioespacial, ou
seja, da segregação intra-urbana no Município.
4.1.1 Aspectos demográficos
Os resultados censitários a partir de 1840, demonstram o rápido
crescimento da população de Fortaleza. Assim, o Município, de acordo
com o recenseamento de 1950, apresentou um acréscimo populacional
de 49.9% em relação à década anterior. Nos decênios seguintes,
1950/1960 e 1960/1970, os índices de crescimento foram,
respectivamente 90,0% e 66,0%. Fortaleza posiciona-se, dessa forma,
entre as capitais do Nordeste que vêm apresentando maiores índices de
crescimento. (SOUZA, 1978, p. 65 Apud SILVA, 1992, p. 29).
O fato de saber que, atualmente, o Município de Fortaleza apresenta
uma das maiores densidades populacionais do Brasil (mais de 70 hab/ha) não se
60
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
mostra como uma informação suficiente para explicar como a população
municipal se distribui no território. Certamente esta distribuição não acontece tão
uniforme quanto demonstra a informação generalizada para todo o Município.
Poderíamos dizer, até intuitivamente, que mais habitantes em determinados
bairros do que em outros. Mas quanto? Onde estão estes bairros?
Analisando os dados estatísticos do indicador S01-densidade média
populacional, temos sinais de uma distribuição pouco uniforme (ver Quadro 6, p.
61). Acompanhando o aumento da média dos valores das amostras nas unidades
de informação (bairros) no período 2000, podemos dizer que há uma tendência de
se aproximar de uma distribuição normal, observada inclusive pela redução do
desvio-padrão. No período 2000, no entanto, o valor da mediana é superior ao
valor da média, demonstrando que, neste último período, mais da metade dos
bairros apresenta densidade populacional superior à média.
Quadro 6 - Indicador S01: valores observados.
Este pode ser um indicativo de mudança de cenário, pois podemos
observar nos gráficos de histograma
30
uma tendência de inversão da distribuição
(ver Figura 25, p. 62), passando em 1991 com uma predominância de bairros com
baixa densidade, para outra, com a maioria dos bairros apresentando alta
densidade média populacional.
30
Os gráficos de histograma apresentados possuem, representada no eixo “X”, a medida do próprio indicador
(S01: densidade populacional em habitantes/hectare) e no eixo “Y” a quantidade de bairros (unidades de
informação) por classes de medida do indicador.
61
itens analisados
S01
1991 2000
valor mínimo 0,44 1,91
valor máximo 370,24 334,10
média 92,32 97,93
mediana 91,36 100,55
desvio padrão 70,12 58,57
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
S01 - 1991 S01 - 2000
Valores expressos em habitantes / hectare (eixo “X”)
Figura 25 - Gráfico de histograma: indicador S01 (1991_bairro e 2000_bairro).
O indicador S01 apresenta forte correlação espacial entre os períodos
de 1991 e 2000 (valor 0,90, ver Quadro 2, p. 54). Mesmo não sendo uma das
maiores, podemos verificar a distribuição espacial dos atributos nas unidades de
informação tendendo a ser semelhantes. Os mapas apresentados na Figura 26
(p. 63)
31
nos indicam os bairros com maiores e menores densidades médias
populacionais. Neste sentido, podemos constatar a mudança de cenário sugerida
pouco (gráfico de histograma), pois houve realmente uma diminuição
considerável de bairros com baixas densidades, ratificando a mudança de padrão
da distribuição.
32
31
O tipo de mapa e legenda utilizados indicam , como ponto de referência, a média dos valores observados
nos indicadores. Desta forma, as cores mais claras indicam proximidade à média, enquanto as mais escuras
mostram distanciamento em relação à média.
32
Para consultar o nome dos bairros (unidades de informação) do Município de Fortaleza, consultar Figura
63 - - Divisão territorial dos bairros no Município de Fortaleza (1991-2000)., p. 119.
62
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
S01_1991_bairro S01_2000_bairro
Média dos valores
observados
Valores ACIMA
da média
Valores ABAIXO
da média
Figura 26 - Mapa temático - estatístico, indicador S01 (1991_bairro e 2000_bairro).
Esta situação pode ser interpretada com preocupação, porquanto
teremos mais habitantes residindo em uma mesma área. Este fato desencadeia,
pelo menos deveria, uma série de atendimentos aos serviços básicos de infra-
estrutura, bem como educação e saúde; mas principalmente, pelo fato desses
serviços básicos não acompanharem a dinâmica do crescimento populacional e
sua ocupação no território municipal, podendo resultar em sérios problemas
sociais e ambientais.
Esta constatação pode ser verificada através da baixa correlação
espacial, tanto em 1991 (ver Quadro 3, p. 55), quanto em 2000 (ver Quadro 4, p.
55), apresentada entre o indicador S01 com os indicadores que representam
aspectos ligados à infra-estrutura: A01-acesso a sistema de abastecimento de
água, A02-acesso a serviço de coleta de lixo e A03-acesso a esgotamento
sanitário.
4.1.2 Aspectos socioeconômicos
Talvez sejam os indicadores relacionados a estes aspectos onde
poderemos encontrar mais facilmente subsídios para perceber as desigualdades
socioespaciais. Tomando-se as correlações espaciais (coeficiente de correlação e
autocorrelação) como apoio, utilizamos os indicadores E01-renda média mensal
> 301.7 ~ 370.2]
> 231.9 ~ 301.7]
> 162.1 ~ 231.9]
> 92.32 ~ 162.1]
> 57.4 ~ 92.32]
> 22.5 ~ 57.4]
[0.4 ~ 22.5]
Valores expressos em
habitantes / hectare
63
> 272.8 ~ 334.0]
> 214.5 ~ 272.8]
> 156.2 ~ 214.5]
> 97.93 ~ 156.2]
> 68.7 ~ 97.93]
> 39.6 ~ 68.7]
> 10.4 ~ 39.6]
[1.9 ~ 10.4]
Valores expressos em
habitantes / hectare
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
dos chefes de família e S05-escolaridade dos chefes de família para realizar esta
análise.
Pelos dados estatísticos, podemos perceber que ambos os
indicadores, tanto em 1991 quanto em 2000, apresentam distribuição bastante
irregular. Apesar de uma sensível melhora da média de suas medidas, percebe-
se também um aumento do desvio-padrão, indicando o uma irregularidade,
mas, fundamentalmente, um aumento da desigualdade na distribuição espacial
por meio das unidades de informação (bairros). Os gráficos de histograma
33
apresentam de forma mais clara esta desigualdade.
S05 – 1991 S05 - 2000
Valores expressos em percentual (eixo “X”)
Figura 27 - Gráfico de histograma: Indicador S05 (1991_bairro e 2000_bairro).
Pelo indicador S05, percebemos a desigual distribuição pelos bairros,
bem como a permanência deste quadro após dez anos, ou seja, pouquíssimos
bairros em uma situação privilegiada, mesmo tendo apresentado um pequeno
acréscimo de bairros com percentual próximo de 50% (ver Figura 27, p. 64).
Pelo desvio-padrão, tínhamos apenas a informação de que a
distribuição dos valores em 1991 e 2000 seria irregular (sendo ainda mais
33
Os gráficos de histograma apresentados possuem, representadas no eixo “X” a medida do próprio indicador
(S05: percentual de chefes de família com 15 anos ou mais de estudo, e E01: rendimento médio mensal dos
chefes de família em salários mínimos); e no eixo “Y” a quantidade de bairros (unidades de informação) por
classes de medida do indicador.
Quadro 7 - Indicadores E01 e S05: valores observados.
1991 2000 1991 2000
valor mínimo 0.87 1.49 0.00 0.18
valor máximo 17.56 27.70 51.43 57.07
média 3.89 5.52 9.17 10.47
mediana 2.59 3.67 3.88 4.79
desvio padrão 3.42 4.94 11.67 12.79
itens analisados
E01
S05
64
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
irregular em 2000); verificamos, no entanto, que além de irregular, é desigual, pois
muitos bairros em situação não desejável (com baixo percentual de anos de
estudo dos chefes de família).
Ocorre de modo semelhante com o indicador E01, pois também
podemos verificar nos gráficos de histograma que, em 1991 e 2000 (ver Figura
28, p. 65), houve aumento das desigualdades, pois várias classes apresentaram
um acréscimo na quantidade de bairros com baixo rendimento dio mensal dos
chefes de família, enquanto pouquíssimos bairros conseguiram ampliar tal
rendimento, aumentando ainda mais a “distância” entre os bairros com maiores e
menores rendimentos de seus chefes de família.
E01 – 1991 E01 - 2000
Valores expressos em salários mínimos (eixo “X”)
Figura 28 - Gráfico de histograma: indicador E01 (bairro_1991 e bairro_2000).
sabemos que os indicadores E01 e S05 se apresentam de forma
similar entre si (igualmente desiguais); no entanto, ainda não percebemos como
os indicadores se distribuem no espaço por meio das unidades territoriais.
Neste sentido, verificamos que há uma tendência nestes dois
indicadores de formarem agrupamentos bem definidos espacialmente. Utilizando-
se a média como “divisor de águas”, podemos observar que este agrupamento
forma duas áreas bem definidas, onde os bairros que apresentam valores acima e
abaixo da média possuem localizações bem demarcadas territorialmente, tanto
para o indicador S05 (ver Figura 29, p. 66), quanto para E01 (ver Figura 30, p.
66).
Notamos que, em ambos os indicadores, as transformações, ao longo
do período analisado, ficam restritas a algumas poucas áreas na “fronteira”
65
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
formada pelas duas grandes áreas (AE1 e AE2), pois, enquanto alguns bairros
passaram a apresentar valores acima da média, outros passaram a apresentar
valores abaixo.
S05 – 1991 S05 - 2000
Bairros com valores da média
Bairros com valores dadia
acima
abaixo
Figura 29 - Mapa de agrupamento espacial, indicador S05 (1991_bairro e 2000_bairro).
E01 – 1991 E01 - 2000
Bairros com valores da média
Bairros com valores da dia
acima
abaixo
Figura 30 - Mapa de agrupamento espacial, indicador E01 (1991_bairro e 2000_bairro).
Estas duas áreas, entretanto, não se apresentam totalmente
homogêneas, haja vista que, analisando os valores dos indicadores agrupados
em classes mais específicas, verificamos uma tendência de agrupamento dos
bairros ao longo de um anel periférico e de um núcleo contíguo ao bairro Centro
(ver Figura 31, p. 67 e Figura 32, p. 67), valores extremos da amostra e extremos
opostos no território. Enquanto um grupo de bairros apresenta os valores mais
66
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
baixos e se localiza em uma área periférica, o outro grupo de bairros, denota os
mais altos e localizam-se em uma área contígua ao Centro.
S05 – 1991 S05 - 2000
Média dos valores
observados
Valores ACIMA
da média
Valores ABAIXO
da média
Figura 31 - Mapa temático - estatístico, indicador S05 (1991_bairro e 2000_bairro).
Os tipos de mapa e legenda utilizados indicam, como ponto de
referência, a média dos valores observados nos indicadores. Com efeito, as cores
mais claras indicam proximidade à média, enquanto as mais escuras apontam
distanciamento em relação à média.
E01 – 1991 E01 - 2000
Média dos valores
observados
Valores ACIMA
da média
Valores ABAIXO
da média
Figura 32 - Mapa temático - estatístico, indicador E01 (1991_bairro e 2000_bairro).
> 44.0 ~ 51.4]
> 32.4 ~ 44.0]
> 20.7 ~ 32.4]
> 9.17 ~ 20.7]
> 6.2 ~ 9.17]
> 3.3 ~ 6.2]
> 0.4 ~ 3.3]
[0.0 ~ 0.4]
Percentual em relação à quantidade
total de chefes de família (%)
> 48.6 ~ 57.0]
> 35.9 ~ 48.6]
> 23.2 ~ 35.9]
> 10.46 ~ 23.2]
> 7.2 ~ 10.46]
> 4.1 ~ 7.2]
> 0.9 ~ 4.1]
[0.1 ~ 0.9]
Percentual em relação à quantidade
total de chefes de família (%)
> 14.1 ~ 17.5]
> 10.7 ~ 14.1]
> 7.3 ~ 10.7]
> 3.89 ~ 7.3]
> 3.0 ~ 3.89]
> 2.1 ~ 3.0]
> 1.3 ~ 2.1]
[0.8 ~ 1.3]
Valores expressos em sal. mín.
> 20.2 ~ 27.6]
> 15.3 ~ 20.2]
> 10.4 ~ 15.3]
> 5.52 ~ 10.4]
> 4.2 ~ 5.52]
> 3.0 ~ 4.2]
> 1.8 ~ 3.0]
[1.4 ~ 1.8]
Valores expressos em sal. mín.
67
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Verificamos que os indicadores E01 e S05 apresentam, tanto entre si,
como ao longo do período analisado, semelhanças verificáveis por meio da
comparação entre os dados geo-estatísticos, principalmente, dos mapas
apresentados. Mais do que um indicativo, essa semelhança demonstra o alto
índice de correlação espacial já verificado anteriormente através do coeficiente de
correlação espacial (ver Quadro 3, p. 55 e Quadro 4, p. 55).
É possível perceber, até o momento, que os indicadores E01 e S05 são
igualmente desiguais e possuem característica de formarem agrupamentos de
bairros com valores similares. De forma contundente, estas condições podem ser
percebidas mais facilmente com a utilização do índice de Moran (
I
), mais
especificamente, com as técnicas de agrupamento e autocorrelação espacial.
O índice global de associação espacial (autocorrelação) dos
indicadores E01 e S05 (ver Quadro 5, p. 56) ratifica os mapas de espacialização
destes indicadores apresentados anteriormente, onde já se verificaram indícios de
um agrupamento espacial consistente por apresentarem os maiores valores
observados.
Ao elaborarmos o diagrama de espalhamento de Moran para os dados
observados (ver Figura 33, p. 69 e Figura 34, p. 69), percebemos que os bairros
(representados pelos pontos no gráfico de dispersão) pertencentes à AE2
apresentam-se mais homogêneos do que nas outras áreas, enquanto
pouquíssimos bairros possuem uma situação privilegiada: apresentando ao
mesmo tempo, altos valores da amostra observada no próprio bairro e nos seus
vizinhos (média local). Villaça (2001) admite que os bairros mais pobres tendem,
de modo geral, a apresentar uma homogeneidade maior do que os mais ricos:
“não existe presença exclusiva das camadas em nenhuma região geral de
nenhuma metrópole brasileira (embora haja presença exclusiva de camadas de
baixa renda em grandes regiões urbanas).” (VILLAÇA, 2001, p. 142).
68
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
S05 – 1991 S05 - 2000
Figura 33 - Gráfico de espalhamento - índice de Moran: indicador S05 (1991_bairro e 2000_bairro).
E01 – 1991 E01 - 2000
Figura 34 - Gráfico de espalhamento – índice de Moran: indicador E01 (1991_bairro e 2000_bairro).
Os diagramas apresentados corroboram todos os dados apresentados,
desde a semelhança nos mapas de espacialização dos indicadores até a relação
entre os índices globais de associação espacial.
É por meio da representação espacial destes gráficos, entretanto, que
poderemos perceber com maior clareza a influência espacial destes indicadores.
O mapa é apresentado nas quatro áreas de espalhamento (de acordo com o item
Diagrama de espalhamento de Moran, p. 42), identificando pela cor os bairros que
pertencem a cada uma delas.
As áreas AE1 e AE2 dos mapas (ver Figura 35, p. 70), bem como dos
gráficos, caracterizam núcleos de agrupamentos espaciais muito bem definidos
mediante a semelhança com seus vizinhos e percebemos que, ao longo do
período analisado, não aconteceram mudanças relevantes que alterassem
substancialmente a espacialização dos indicadores E01 e S05. É notório, porém,
69
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
que quase todas as mudanças realizadas aconteceram em uma região de
“fronteira” entre AE1 e AE2.
S05 – 1991 S05 - 2000
Eixo das
amostras
observadas
Eixo das
médias locais
AE 1
Alto valor da amostra observada
Alto valor da média local
AE 2
Baixo valor da amostra observada
Baixo valor da média local
AE 3
Alto valor da amostra observada
Baixo valor da média local
AE 4
Baixo valor da amostra observada
Alto valor da média local
Eixo das
amostras
observadas
Eixo das
dias locais
AE 1
Alto valor da amostra observada
Alto valor da média local
AE 2
Baixo valor da amostra observada
Baixo valor da média local
AE 3
Alto valor da amostra observada
Baixo valor da média local
AE 4
Baixo valor da amostra observada
Alto valor da média local
E01 – 1991 E01 - 2000
Figura 35 - Mapa de espalhamento de Moran - autocorrelação espacial: indicadores S05 (1991_bairro
e 2000_bairro) e E01 (1991_bairro e 2000_bairro).
Desta forma, acreditamos ser coerente caracterizar as áreas AE3 e
AE4 como regiões que o seguem o mesmo processo de dependência espacial
das demais observadas, configurando áreas com bairros de uma dinâmica
socioespacial que não se assemelha à dos seus bairros vizinhos.
70
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
4.2 Conclusão
Poderíamos continuar a análise com uma dezena de outras relações
estatísticas e agrupamentos espaciais, no entanto, foi possível demonstrar as
potencialidades e limitações da investigação exploratória de dados estatísticos e
geográficos a partir de indicadores. Constatamos que, em estudos urbanos,
quando se complementam as análises da Estatística de teor clássico com
aspectos relacionados à informação espacial, passamos a interpretar os dados de
maneira mais consistente.
Estamos ciente de que, ao trabalharmos com informações agregadas
por bairros, estamos uniformizando todo o seu território por meio, na maioria das
vezes, de medidas como a média (por exemplo). Sabemos que os bairros são
constituídos por áreas de naturezas diferentes e internamente mostram-se tão
heterogêneos quanto menor for a unidade territorial de análise. Teremos que ter,
porém, o cuidado indispensável para reconhecer o alcance e as limitações da
unidade de informação adotada, sob o risco de generalizar as análises, ou de
torná-las por demais fragmentadas. Neste sentido, temos que observar com a
cautela específico a escala em que pretende-se realizar a investigação, pois esta
tem influência direta na definição das unidades de informação a serem utilizadas.
De modo geral, os instrumentos de análise espacial utilizados, tanto o
diagrama quanto o mapa de espalhamento de Moran, propiciam uma análise da
estrutura espacial intra-urbana em dois caminhos distintos: vizinhança e
tendência.
A tendência permite a detecção daqueles bairros mais suscetíveis às
mudanças, aqueles que apresentam uma dinâmica própria e, portanto,
estabelecer critérios diferenciados à aplicação de políticas públicas, da
elaboração de estudos e direcionamento do planejamento que venham promover
o desenvolvimento urbano.
A análise, a partir da vizinhança, permitiu estabelecer o relacionamento
entre o atributo de um bairro com os atributos dos seus vizinhos. O resultado foi o
agrupamento espacial dos bairros com características de similaridade,
71
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
observando os índices de correlação e autocorrelação espacial (índice global de
Moran), com destaque para o elevado índice de correlação espacial apresentado
entre os indicadores E01 e S05.
Acreditamos que esta semelhança não é casual, e sim, que os dois
indicadores realmente estejam vinculados, de tal forma que as mudanças
ocorridas em um provocaria alterações no outro, caracterizando um regime de
dependência espacial entre os indicadores (ver Figura 36, p. 72).
A correlação existente é do tipo linear direta, ou seja, o agrupamento da
nuvem de pontos forma uma linha de tendência que se aproxima de uma
reta, e direta, pois ao aumentarmos a renda média mensal (valor no eixo
X), aumenta o percentual de chefes de família com 15 anos ou mais de
estudo (valor no eixo Y). Podemos afirmar que uma dependência
entre os indicadores, onde a renda do chefe de família está vinculada ao
seu grau de instrução, ou vice-versa. (GONDIM, 2004, p. 93).
Figura 36 - Gráfico de dispersão: indicadores E01(2000_bairro) e S05(2000_bairro).
Fonte: Gondim, 2004, p. 93.
De forma geral, uma evidência fortíssima de que os bairros tendem
a se agrupar por classes distintas e em regiões distintas das cidades,
configurando nítido processo de segregação que promove uma disputa na
localização das moradias. Na verdade, pela análise dos indicadores
apresentados, poderíamos sugerir na estrutura urbana do Município de Fortaleza
a presença de uma macro-segregação, uma área privilegiada com relação à
renda e escolaridade dos chefes de família (por exemplo), enquanto outra
demonstra aspectos de uma periferia urbana com baixo rendimento e
escolaridade dos seus chefes de família. É certo que somente estes dois
72
Chefes de família - 2000 - Fortaleza
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500
E1 - Renda m édia m ensal
S5 - 15 anos ou mais de estudo
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
indicadores não se apresentam suficientes para explicar tal situação
34
, mas
certamente a presença de uma segregação socioespacial na estrutura urbana do
Município de Fortaleza pode ser percebida pela análise dos indicadores intra-
urbanos apresentados, mesmo que de forma inicial e em uma escala com poucos
detalhes.
34
Teríamos que analisar outros indicadores, por exemplo: infra-estrutura de transporte e sistema viário, infra-
estrutura de equipamentos urbanos, acesso à moradia de qualidade, mercado imobiliário, legislação urbana,
dentre outros.
73
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
5 DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A
PARTIR DA CONCENTRAÇÃO DE RENDA
Nosso objetivo, neste momento, é perceber a dimensão da
desigualdade em que estamos inseridos. Neste caminho, será inevitável a
comparação, no sentido de avaliar as condições socioeconômicas, entre nações,
estados, até alcançarmos nossa principal unidade de análise intra-urbana, que é o
bairro.
É verdade que a pobreza, enquanto ausência ou insuficiência de renda
necessária para as famílias satisfazerem suas necessidades básicas, se
apresenta como um dos elementos que mais caracteriza a desigualdade.
É verdade, também, o fato de que a determinação da origem da
pobreza não deve estar associada prioritariamente à escassez, absoluta ou
relativa, de recursos. Vários documentos realizam análises exaustivas sobre o
aspecto de determinar a pobreza no país e conclui-se que “o Brasil não pode ser
considerado um país pobre e que a origem de nossa pobreza não reside na
escassez de recursos, devendo ser investigada prioritariamente a partir da
desigualdade da distribuição de renda ou concentração desta.” (BARROS, 2001,
p. 4).
5.1 A desigualdade estrutural
A partir do Relatório de Desenvolvimento Humano de 1999 do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), é possível
verificarmos que cerca de 64% dos países têm renda per capita inferior à
brasileira e que esta posição corresponde a aproximadamente 77% da população
mundial. O que primeiramente se observa é uma distribuição desigual
confirmando-se, em segundo lugar, a impossibilidade de considerar o Brasil um
país pobre.
Ao compararmos o Brasil com outros países de renda per capita
similar, verificamos que o grau de pobreza no Brasil é significativamente superior.
O gráfico da Figura 37 (p. 75) nos mostra que, enquanto no Brasil a população
74
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
pobre representa cerca de 30% do contingente total, nos países com renda per
capita semelhante à brasileira, esse valor corresponde a menos de 10%.
Analogamente, se compararmos o Brasil com outros países que possuem
percentual de pobres em torno de 30%, veremos que possuem uma renda per
capita bem inferior à apresentada pelo Brasil.
Figura 37 - Relação entre nível de pobreza e renda per capita para um conjunto selecionado de
países.
Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano de 1991 -PNUD (in BARROS, 2001, p. 7).
Se deslocarmos o foco de análise e observarmos dentro do nosso
País, encontraremos uma situação semelhante. Ao compararmos o PIB (2000)
entre as unidades federativas, verificamos que o Estado do Ceará não ocupa uma
posição privilegiada, mas também não é dos piores, pois 15 estados com PIB
inferior ao Ceará e 11 com PIB superior (ver Figura 38, p. 76), razão pela qual não
nos precipitaremos em caracterizá-lo como um Estado pobre.
75
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
Figura 38 - Gráfico produto interno bruto (PIB - 2000 - R$) por unidades
federativas.
Fonte: IBGE: PIB Municípios. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/>.
Ao compararmos, entretanto, o PIB per capita
totalpopulação
PIB
_
das
unidades federativas com o percentual de pobres (pessoas de 10 anos de idade
ou mais com rendimento até 1 salário mínimo), verificamos uma distribuição de
renda extremamente desigual para o Estado do Ceará, posicionando-se não
somente entre os piores, como dos sete estados que apresentam PIB per capita
semelhante, seis registram percentual de pobres inferior ao Estado do Ceará e,
do total de estados, não possui situação mais “delicada” do que três: Piauí,
Maranhão e Paraíba (ver Figura 39, p. 77).
76
PIB 2000
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400
RR
AC
AP
TO
PI
RO
SE
AL
MA
PB
RN
MS
MT
AM
PA
CE
ES
GO
PE
DF
SC
BA
PR
RS
MG
RJ
SP
Milhões
unidades federativas
PIB (R$)
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
Somente a relação do PIB per capita seria suficiente para “arrastar” o
Ceará para uma situação desprivilegiada, fazendo com que somente 5 estados
possuam PIB per capita inferior; no entanto, por fim, o gráfico da Figura 39 (p. 77)
apresenta o Estado do Ceará, como expresso anteriormente, em uma situação
“delicada”.
Figura 39 - Gráfico relação entre PIB per capita (2000 – R$) e percentual de pobres por unidades
federativas.
Fonte: IBGE: PIB Municípios – disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br>e SIDRA (tabela 2030) – disponível
em <http://www.sidra.ibge.gov.br/>.
5.2 Desigualdade e concentração de renda
A desigualdade, em particular da renda (concentração de renda), se
apresenta substancialmente como um dos fatores que mais tem influência sobre
os nossos índices de pobreza.
Esta intensa desigualdade, na sociedade brasileira, pode ser percebida
tanto interna quanto externamente. Se compararmos o gráfico da Figura 37 (p.
75) com o gráfico da Figura 60 (p. 109 - ver Anexo 01), é possível verificar que
vários países, mesmo demonstrando percentual de pobres acima do apresentado
pelo Brasil, ainda assim conseguem atingir um grau de desigualdade de renda
(coeficiente de Gini) inferior ao do Brasil.
77
PIB per capta X pobres
0
5
10
15
20
25
30
35
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Milhares
PIB per capta (R$)
Pessoas de 10 anos de idade ou mais
com rendimento até 1 sal. mín. (%)
Pia
Ceará
Bralia
São Paulo
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
Internamente, analisando a desigualdade intra-urbana da cidade de
Fortaleza, por meio da renda média mensal dos chefes de família agrupados por
bairros
35
e da sua respectiva população, podemos perceber como essa estrutura
da desigualdade consegue se “infiltrar” em outros planos (macroescala
microescala).
Figura 40 - Gráfico: relação de desigualdade entre renda e população (1991-2000).
Fonte: IBGE: censo demográfico, 1991 e 2000.
Verificamos pelo gráfico da Figura 40 (p. 78), tanto em 1991, quanto
em 2000, uma assimetria generalizada da relação renda população na cidade
de Fortaleza. A participação, em 1991, na renda dos chefes de família de apenas
10% dos bairros mais ricos corresponde a aproximadamente duas vezes a
participação dos chefes de família dos 40% dos bairros mais pobres; sendo a
população correspondente aos 10% dos bairros com maior renda, que representa
34, 93% da renda, de apenas 9,05% da população total, enquanto os 44,74% da
população dos 40% dos bairros mais pobres representam apenas 16,71% da
renda média mensal dos chefes de família do Município.
Tal situação se repete no ano de 2000, com uma sutil, mas perceptível
diferença: os 10% dos bairros mais ricos estão cada vez mais ricos e os 40% dos
bairros mais pobres, mais pobres ainda, não somente pela parcela de
35
Do total de bairros do município de Fortaleza (total = 114, tanto em 1991, quanto em 2000), foi realizado
o agrupamento da seguinte forma: 10% dos bairros que apresentaram maior rendimento médio mensal dos
chefes de família, posteriormente os 40% dos bairros que mostram menor rendimento e, por fim, os 50% dos
bairros que exibiram rendimento intermediário.
78
1991 - renda 1991 - popu-
lação
2000 - renda 2000 - popu-
lação
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
34,93%
9,05%
36,98%
8,97%
48,36%
46,21%
49,00%
43,22%
16,71%
44,74%
14,03%
47,81%
Relação entre renda e população (1991-2000)
40% com menor renda
50% seguinte
10% com maior renda
renda e população dos bairros
valores em percentual
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
contribuição da renda média dos chefes de família, que aumentou ainda mais
para os bairros mais ricos (34,93% em 1991 para 36,98% em 2000) e diminuiu
ainda mais para os bairros mais pobres (16,71% em 1991 para 14,03% em 2000);
mas, essencialmente por causa da população que diminuiu nos 10% dos bairros
mais ricos (9,05% em 1991 para 8,97% em 2000) e aumentou nos 40% dos
bairros mais pobres (44,74% em 1991 para 47,81% em 2000)
36
. Este fato
confirma o caráter de desigualdade e, conseqüentemente, de exclusão que a
concentração de renda assume em nossa sociedade, poque após um intervalo de
dez anos, temos menos pessoas com uma renda mais alta e mais pessoas com
uma renda mais baixa.
O que inicialmente poderia se apresentar como uma contradição, na
verdade, revela a essência da desigualdade socioespacial em nossa sociedade: é
exatamente nos bairros que apresentam maior renda média dos chefes de família:
Meireles, Cocó, Guararapes, Aldeota, Dionísio Torres (ver Figura 61 - Anexo 02)
que poderemos perceber onde ocorre a maior proximidade entre classes sociais
distintas, constatando-se que a segregação do espaço intra-urbano constitui-se
como a desigualdade social materializada.
5.3 Segregação do espaço intra-urbano
Não é nosso objetivo, neste momento, estabelecer quais os
fundamentos sociais, econômicos, políticos ou ideológicos que contribuíram para
a formação e manutenção de todo este quadro de desigualdade apresentado.
37
Pretendemos investigar, fundamentalmente, como sucede materialização desta
desigualdade social no espaço intra-urbano do Município de Fortaleza.
Acreditamos que a estratificação social está intimamente vinculada a
estratificação intra-urbana, como exprime Castells: “há uma estratificação urbana
correspondente a um sistema de estratificação social”. A segregação do espaço
urbano
38
, doravante identificada apenas por segregação, seria, em uma primeira
36
Em outra palavras: nos bairros mais ricos, mesmo a população tendo diminuído, o percentual da
apropriação da renda aumentou; enquanto isso, para os bairros mais pobres, apesar do percentual da
população ter aumentado, o percentual sobre a apropriação da renda diminuiu mais ainda.
37
Em virtude do tempo exíguo disponível para a pesquisa e os objetivos propostos, disponibilizamos uma
relação de autores que tratam da temática sobre os fundamentos sociais, econômicos, políticos ou ideológicos
da desigualdade, segregação e, de uma forma geral, sobre a questão urbana. Consultar a bibliografia.
79
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
instância, a tendência à concentração de diferentes classes sociais em regiões
distintas.
Enfatizando esta idéia, Villaça (2001, p. 142) entende que a
“segregação é um processo segundo o qual diferentes classes ou camadas
sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais ou
conjuntos de bairros da metrópole”. Não descarta, contudo, a presença de classes
heterogêneas em uma mesma região ou bairro e que este processo tende a
aumentar o nível de segregação.
Assente, porém, na idéia de que os bairros mais pobres tendem, de um
modo geral, a apresentar uma homogeneidade maior do que os bairros mais
ricos: “não existe presença exclusiva das camadas em nenhuma região geral de
nenhuma metrópole brasileira (embora haja presença exclusiva de camadas de
baixa renda em grandes regiões urbanas)” (VILLAÇA, 2001, p. 142).
5.3.1 A relação entre centro periferia
Na medida em que aumentava o índice de casebres em áreas
consideradas “marginais”, mais crescia a preocupação da sociedade civil
no controle da ideologia alimentada, segunda a qual era imprescindível
afastar a pobreza dos espaços estratégicos disputados na cidade.
(JUCÁ, 2003, p. 54).
39
O espaço intra-urbano do Município de Fortaleza, infelizmente, se torna
cada vez mais segregado, consolidando uma morfologia urbana que evidencia a
existência de “espaços reservados” para diferentes grupos sociais.
Essa estratificação socioespacial produz padrões residenciais
diferenciados. Neste processo, percebemos intensa correlação espacial entre
domicílios do tipo apartamento com regiões de elevada concentração de renda
40
e
38
Usamos a expressão “segregação do espaço urbano” para identificar a sutil diferença entre “segregação
espacial” e “segregação urbana”. Entendemos que “segregação urbana” é diferente pela sua complexidade,
pois aborda aspectos ligados a justiça social e direito à cidade, tendo mais afinidade com o conceito de
exclusão; enquanto isso, a primeira aborda, em um plano principal, aspectos territoriais, principalmente
relacionados com a distribuição espacial das residências. É fato que uma não exclui nem implica
necessariamente a existência da outra. Podemos ter regiões ou espaços urbanos explicitamente segregados,
mas que têm respeitados seus direitos com relação à justiça social e direto à cidade; contudo, não é comum.
39
A citação trata do processo de expansão urbana do Município de Fortaleza no período de 1950.
40
A correlação espacial verificada entre os indicadores que caracterizam de modo mais consistente a
concentração de renda e aspectos relacionados aos domicílios do tipo apartamento não se apresenta, como
caracterizamos anteriormente, como “forte correlação espacial”, mas pode ser considerada “relevante
correlação espacial”. Desta forma, os indicadores E01 (renda média mensal dos chefes de família) e E05
(chefes de família com rendimento médio mensal superior a 20 salários mínimos) apresentam relevante
80
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
sua estreita relação com o padrão de estrutura urbana caracterizado por centro e
periferia.
41
S09_2000_bairro Legenda:
Figura 41 - Mapa indicador S09-domicílios tipo apartamento
(S09_2000_bairro).
OBS.:
Valores expressos em percentual.
Dados originais do IBGE – censo
demográfico 2000.
Informações agregadas por bairro.
Nossa qualificação de “significativa correlação espacial” para a relação
entre E01 e S05 pretende indicar que semelhanças na espacialização destes
indicadores no Município, contudo não se apresentam muito fortes. Observando o
mapa da Figura 41 (p. 81), verificamos que são, Aldeota e Meireles
(principalmente), os bairros que apresentam os maiores percentuais de domicílios
do tipo apartamento, variando entre 60 e 80%; bem como uma tímida expansão
deste percentual para outros bairros, principalmente aqueles localizados ao longo
de um eixo sudeste destes dois bairros.
Ao compararmos os mapas relativos aos indicadores S09 (Figura 41, p.
81) e E01 (Figura 42, p. 82), veremos que as áreas que apresentam maior
percentual de domicílios do tipo apartamento são correlatas àquelas que
registram os maiores rendimentos dos chefes de família, principalmente com
relação às áreas que apresentam rendimento superior a 16 salários mínimos.
correlação espacial com S09 (domicílios do tipo apartamento) na ordem de 0,77 | 0,73, respectivamente, em
1991 e 0,86 | 0,83, respectivamente, em 2000 - (ver Quadro 3, p. 55 e Quadro 4, p. 55).
41
Vários fatores poderiam ser analisados para “justificar” tal situação (padrão de residência diferenciado):
proximidade aos equipamentos urbanos, segurança, áreas de lazer, dentre outros. Mas não podemos nos
afastar do fenômeno materializado e de seu motivo gerador principal: concentração de renda.
81
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
E01_2000_bairro Legenda:
Figura 42 - Mapa indicador E01-renda média mensal dos chefes de
família (E01_2000_bairro).
OBS.:
Valores expressos em salário
mínimo.
Dados originais do IBGE – censo
demográfico 2000.
Informações agregadas por bairro.
Porquanto, vamos examinar o fato “concentração de renda”, pois, como
percebemos, se mostra como um significativo indicador de desigualdade e
segregação. A comparação entre o gráfico da Figura 43 (p. 83) com o da Figura
44 (p. 83) nos permite ver que, no período compreendido entre 1991 e 2000,
passamos a ter uma quantidade maior de bairros com baixa renda, além de um
único bairro ter aumentado a renda média dos seus chefes de família em um fator
consideravelmente superior aos dos outros bairros, “distanciando-se” dos demais.
Em Gondim (2005), podemos verificar, pelo agrupamento dos vinte
bairros com menor e maior renda média dos chefes de família o distanciamento
apresentado pelo bairro Meireles. Tomando-se os vinte bairros com maior
rendimento, os três que estão no topo desta distribuição (apresentando maior
renda média dos seus chefes de família), tanto em 1991 quanto em 2000, são os
mesmos: os bairros Cocó e Guararapes apenas inverteram suas posições, o
bairro Meireles destaca-se inicialmente por apresentar nos dois períodos a maior
renda média de seus chefes de família, mas, principalmente, por ter se
“distanciado” significativamente dos demais no período 2000 (ver Tabela 3, p.
111), aumentando ainda mais as desigualdades socioespaciais e acirrando a
dicotomia entre centro e periferia.
82
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
Figura 43 - Gráfico de histograma indicador E01 (1991_bairro).
Fonte: dados originais do IBGE – censo demográfico 1991.
Figura 44 - Gráfico de histograma indicador E01 (2000_bairro).
Fonte: dados originais do IBGE – censo demográfico 2000.
Continuamos, no Município, tendo bairros pobres, porém em maior
quantidade e prosseguimos tendo bairros ricos, porém mais ricos ainda.
Este isolamento não é característico somente do bairro Meireles, mas
de todos os outros do Município, que possuem uma diferenciação muito grande
entre os valores observados.
A segregação pode ser percebida, inicialmente, por intermédio de uma
macro-segregação. Utilizamos um indicador de autocorrelação espacial (consultar
item 2.3.2 Indicadores globais de autocorrelação espacial, p. 41) que possibilita o
83
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
agrupamento entre polígonos mediante o valor da amostra observada e da média
local de seus vizinhos. Desta forma, relacionamos a renda média dos chefes de
família de cada bairro com a renda média dos chefes de família dos seus bairros
vizinhos; o objetivo é associar espacialmente os bairros em quatro situações
distintas.
E01_2000_bairro Legenda:
Figura 45 - Mapa de espalhamento de Moran - autocorrelação
espacial: indicador E01 (2000_bairro).
Eixo das
amostras
observadas
Eixo das
médias locais
AE 1
Alto valor da amostra observada
Alto valor da média local
AE 2
Baixo valor da amostra observada
Baixo valor da média local
AE 3
Alto valor da amostra observada
Baixo valor da média local
AE 4
Baixo valor da amostra observada
Alto valor da média local
Eixo das
amostras
observadas
Eixo das
médias locais
AE 1
Alto valor da amostra observada
Alto valor da média local
AE 2
Baixo valor da amostra observada
Baixo valor da média local
AE 3
Alto valor da amostra observada
Baixo valor da média local
AE 4
Baixo valor da amostra observada
Alto valor da média local
OBS.:
Dados originais do IBGE – censo
demográfico 2000.
Informações agregadas por bairro.
No mapa da Figura 45 (p. 84), temos que os bairros formam duas
áreas bem distintas, uma apresentando alto valor da renda média dos seus
chefes de família, bem como dos bairros vizinhos (área correspondente a AE1);
enquanto isso, outra apresenta baixa renda média dos chefes de família e os seus
vizinhos também (área correspondente à AE2).
Esta situação permaneceu, praticamente, inalterada entre os períodos
de 1991 e 2000 (ver mapas do indicador E01 na Figura 35, p. 70). Desta forma,
poderíamos afirmar que uma evidência fortíssima de que os bairros tendem a
se agrupar por classes distintas e em regiões distintas da Cidade, configurando
uma nítida segregação que promove uma disputa na localização das moradias,
ressaltando, neste aspecto, uma segregação entre “centro” e “periferia”.
84
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
A segregação entre centro e periferia pode ser considerada uma
segregação por classes. (VILLAÇA, 2001, p. 148).
O mapa da Figura 45 (p. 84) evidencia nítida separação em duas áreas
bem distintas (AE1 e AE2) e outras duas (AE3 e AE4) que podem ser
interpretadas enquanto áreas de exceção e/ou de transição, onde apresentam
uma dinâmica diferenciada das duas iniciais.
Ao realizarmos um rearranjo espacial, com os mesmos dados do
referido mapa, conseguimos ressaltar a relação centro periferia na estrutura
urbana da Cidade: o bairro que apresenta maior renda média dos seus vizinhos é
o Centro, no entanto não é o bairro que apresenta maior renda; enquanto o que
mostra a menor renda média dos vizinhos é o bairro Parque Presidente Vargas,
apresentando ele próprio a menor renda dos chefes de família (ver Figura 46, p.
85). Coincidência, ou não, os bairros localizam-se em extremos opostos do limite
municipal .
Figura 46 - Mapa relação centro - periferia, elaborado com base no mapa da Figura 45.
O fato de o bairro Centro mostrar maior renda média dos seus vizinhos,
mas o apresentar, ele próprio, a maior renda média, pode confirmar a hipótese
de que a classe social de maior poder aquisitivo ainda prefere morar próximo
(para não dizer contíguo) ao Centro, mas não nele.
85
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
E01_2000_bairro Legenda:
Figura 47 - Setor de deslocamento e ocupação predominante das
famílias de média e alta renda – construído com base no mapa da
Figura 42.
OBS.:
Valores expressos em salário
mínimo.
Dados originais do IBGE – censo
demográfico 2000.
Informações agregadas por bairro.
Podemos verificar, ainda, que esta ocupação aconteceu de forma
assimétrica, ou seja, não ocorreu uma expansão das classes de renda dia e
alta e sim um deslocamento apenas em determinada direção, como demonstra o
mapa da Figura 47 (p.86), configurando a instituição de “novos centros” ou
centralidades em detrimento do anterior, desenhando o cenário atual e futuro da
segregação do espaço urbano no Município.
A busca por novos espaços pela burguesia que residia na área central
implicou em alterações marcantes na cidade e na super valorização de
alguns bairros, como a Aldeota, Meireles, Praia de Iracema, Papicu,
Bairro de tima e outros. A Aldeota, é sem dúvida, o bairro mais
valorizado da cidade por ser o preferido da burguesia e da alta classe
média. (SILVA, 1992, p. 50).
Jucá (2003, p. 50-51) aponta, no entanto, que esta ocupação não
ocorreu tão espontânea e natural quanto nos parece. Em determinados
momentos, a ação do próprio poder público (governo municipal) era utilizada com
o objetivo de “limpar” a paisagem, visto que as construções de barro e telha,
muitas vezes sem piso, manchavam a paisagem das residências que estavam
sendo construídas; em outros momentos, atuava uma pressão “natural” do
mercado imobiliário na valorização dos imóveis, fazendo com que várias famílias,
principalmente das praias de Iracema, do Meireles, da Volta da Jurema e do
Mucuripe, procurassem outro local para habitar e, assim, se deslocaram em sua
86
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
maioria para áreas além do porto do Mucuripe. Nos meados dos anos de 1950, a
preocupação maior era a de isolar a pobreza da Cidade, pois esta parecia ser a
melhor opção para salvaguardar a ética e os bons costumes da civilização.
Atualmente, mesmo com a criação de “espaços reservados” às famílias
de mais alta renda instalarem suas residências, não no município de Fortaleza
bairros totalmente homogêneos. Em uma análise utilizando o indicador E01, com
os dados agregados por setor censitário (ver Figura 48 (p.87), verificamos que
esta homogeneidade é mais marcante nos bairros que apresentam as menores
faixas de renda dos chefes de família, sendo mais comum encontrar áreas ou
ilhas com baixos valores em meio àquelas que demonstram média e alta renda.
E01_2000_setor Legenda:
Figura 48 - Mapa indicador E01-renda média mensal dos chefes de
família (E01_2000_setor).
OBS.:
Valores expressos em salário
mínimo.
Dados originais do IBGE – censo
demográfico 2000.
Informações agregadas por setor
censitário.
Em uma análise um pouco mais “aproximada”, nas áreas que registram
as maiores rendas (bairros Aldeota, Meireles e adjacências), verificamos
claramente como se configura esta fragmentação do território (ver Figura 49, p.
88).
87
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
E01_2000_setor Legenda:
Figura 49 - Mapa indicador E01 – pormenor do mapa da Figura 48 -
bairros Aldeota, Meireles e adjacências (E01_2000_setor).
Esta situação pode ser percebida mais facilmente por meio das linhas
de perfil traçadas ao longo dos bairros, tendo por objeto relacionar em um mesmo
gráfico aspectos da renda média dos chefes de família com a sua localização
espacial. As cinco linhas de perfil (ver Figura 50, p. 88) traçadas sobre o mapa do
indicador E01 (2000_setor) possibilitam a comparação entre: (i) a renda dos
chefes de família, (ii) a sua distância em relação ao centro e (iii) as características
peculiares em cada direção.
Figura 50 - Perfis de análise espacial - indicador E01 (2000_setor).
88
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
Podemos perceber, inicialmente, que nenhuma das linhas de perfil
apresenta-se totalmente homogênea (ver gráfico Figura 51, p. 89), no entanto, as
que representam áreas de renda mais baixa (perfis 3, 4 e 5) possuem uma
variação menor, caracterizando a maior homogeneidade nesta região
42
.
Figura 51 - Gráfico: perfil de análise espacial, indicador E01 (2000_setor): relação
assimétrica.
Fonte: IBGE, censo demográfico 2000.
Por demonstrarem características bem peculiares, tratamos
isoladamente os perfis 1 e 2 (nítida característica de renda média e alta) e os
perfis 3, 4 e 5 (nítida característica de baixa renda). Com isso, verificamos mais
facilmente que, nas áreas de baixa renda, as linhas de tendência praticamente
formam linhas horizontais (ver gráfico da Figura 52, p. 90), evidenciando que
nestas áreas a relação de proximidade com o centro pouco influencia na renda.
42
À exceção de uma única área, no perfil 3, à aproximadamente 12.000 metros em relação ao Centro,
caracterizado no mapa da Figura 48 (p.87) como sendo um bairro de renda alta, se compararmos com os
bairros vizinhos.
89
Relão assimétrica: renda versus disncia versus direção
0
5
10
15
20
25
30
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000
Distância em relão ao centro (metros)
Renda dia mensal - chefes
de família (sal. mín.)
Perfil 1 Perfil 2 Perfil 3 Perfil 4 Perfil 5
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
Figura 52 - Gráfico: perfil de análise espacial, indicador E01 (2000_setor): perfis 3, 4 e 5.
Entrementes, nas áreas de renda mais alta (ver gráfico da Figura 53,
p.90), ocorre um ponto de inflexão comum aos dois perfis a aproximadamente
quatro quilômetros do Centro, o que poderia nos indicar a existência de um “ponto
ótimo” escolhido por esta classe social para a instalação de suas residências,
sendo neste mesmo local onde ocorre uma das maiores variações entre alta
renda e baixa renda.
Figura 53 - Gráfico: perfil de análise espacial, indicador E01 (2000_setor): perfis 1 e 2.
90
Linhas de tendência: renda média e alta
0
10
20
30
0 4000 8000 12000 16000
Perfil 1 Perfil 2
Linhas de tendência: renda baixa
0
10
20
30
0 4000 8000 12000 16000
Perfil 3 Perfil 4 Perfil 5
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
5.3.2 A relação de proximidade entre diferentes grupos sociais
Assim surge a Aldeota, que tem suas origens em forma de bairro
organizado no mesmo período em que se registra o surgimento das
primeiras favelas de Fortaleza, [...]. (SILVA, 1992, p. 50).
A cidade de Fortaleza nos passa uma “imagem”, por meio do processo
de segregação, de uma cidade apartada, separada (inclusive ratificada pelo mapa
da Figura 45, p. 84). Não podemos esquecer é de que esta situação ocorre em
vários níveis de análise, ou seja, em abordagens de escalas diferentes e esta
aparente homogeneidade se traduz, na realidade, em uma segregação interna
mais perversa/violenta do que a primeira. Queremos dizer que existe uma
segregação dentro da segregação e assim sucessivamente até chegarmos à
segregação ao nível das relações sociais
43
.
E01_2000_bairro E01_2000_setor
Mapa indicador E01 (2000_bairro) – renda média mensal dos
chefes de família (informações agregadas por bairro)
Mapa indicador E01 (2000_setor) – proximidade entre faixas de
rendimento diferenciados (informações agregadas por setor
censitário)
Os mapas representam uma imagem originada à partir de uma grade regular, apresentam nas cores mais claras (tendendo ao branco)
os maiores valores e nas cores mais escuras (tendendo ao preto) os menores valores.
Figura 54 - Mapas: relação de proximidade entre diferentes grupos sociais.
Fonte: IBGE, censo demográfico 2000.
A relação de proximidade entre diferentes classes ou grupos sociais é
um fenômeno bastante comum nas capitais brasileiras, no entanto, mais comum
nas áreas onde uma predominância das classes de renda média e alta. Pela
comparação entre os mapas da Figura 54 (p. 91), verificamos que a área em
destaque (círculo amarelo), da mesma forma que evidencia os bairros que
43
A análise da segregação do espaço ao nível das relações sociais não será abordada em nossa linha de
raciocínio, podendo, no entanto, ser consultada no livro de Teresa P. do Rio Caldeira: “Cidade de muros –
crimes, segregação e cidadania em São Paulo”.
91
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
possuem maior rendimento médio dos chefes de família (mapa à esquerda),
também evidencia a proximidade entre chefes de família com alta e baixa renda.
Grosso modo, esta tendência nos permite concluir que o padrão
periférico de crescimento (difundido, principalmente, a partir da década de 1970)
como alternativa para resolver o problema do déficit habitacional não foi eficaz e
vários fatores podem ter contribuído para tal situação: a) elevação do preço da
terra; b) precariedade e custo elevado nos sistemas de transportes públicos; e c)
grande quantidade de tempo necessário no percurso da casa para o trabalho ou
para a escola, dentre outros.
Uma dessas opções foi a criação do Distrito Industrial de Fortaleza,
que passou efetivamente a funcionar a partir de 1970. “[...] os estudos técnicos
indicaram o vizinho município de Maranguape, na Região Metropolitana de
Fortaleza, no distrito de Maracanaú, que dista 15 km do centro de Fortaleza e 22
do porto do Mucuripe” (AMORA, 1978, p. 83), como o local ideal para a instalação
do Distrito.
A ausência de infra-estrutura básica, transporte, abastecimento entre
outros, freava até certo ponto a fixação da população no seu entorno. [...]
A maior concentração industrial, entretanto, ainda está localizada na
Zona Oeste da cidade de Fortaleza (área da Av. Francisco Sá), onde se
fixou maior percentual da população urbana [...]. (SILVA, 1992, p. 41)
A melhoria do sistema de transporte (ferroviário e rodoviário) entre o
Centro da capital de Fortaleza e o Distrito Industrial de Maracanaú, bem como a
possibilidade da criação de outro distrito industrial no Município de Caucaia
44
,
provocou a localização de vários conjuntos habitacionais ao longo desta ligação
(ver Figura 55, p. 93), mas atendiam de forma incipiente às condições nimas
de habitabilidade.
44
Município limítrofe oeste com Fortaleza.
92
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
Este modelo fez com que muitos trabalhadores viessem morar em
regiões mais centrais, em virtude do custo elevado, tanto da moradia quanto do
transporte, na maioria das vezes em favelas e áreas irregulares (invasões e
ribeirinhas), as quais apesar de apresentarem condições quase desumanas de
qualidade habitacional, tinham a vantagem de poder usufruir da infra-estrutura
local, transporte coletivo em maior quantidade/qualidade e, na maioria das vezes,
próximos ao emprego ou à oportunidade deste, principalmente na região industrial
ao longo da av. Francisco (quadrante noroeste do Município), bem como junto
à “promissora” região dos bairros da Aldeota, Meireles e adjacências (quadrante
nordeste do Município).
Figura 55 - Localização de conjuntos habitacionais em Fortaleza e na
RMF.
Fonte: Silva, 1992, p. 42.
93
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
Especificamente com respeito à região da Aldeota, Meireles e
adjacências, este fenômeno não contribui em nada para reduzir a segregação
socioespacial. É certo que esta “mistura tende a diminuir os níveis de
concentração de renda da região como um todo (diminuição da macro-
segregação), no entanto, isto é apenas uma falsa sensação. Existe, na verdade, a
segregação, que se constitui, fundamentalmente, pela formação de um apartheid,
interno, percebido através na análise em micro-escala, que se apresenta mais
cruel e perverso do que o outro (macro-escala).
5.3.3 O estigma do padrão radial-concêntrico
A estrutura urbana, mesmo das cidades mais primitivas, utilizava o
espaço como forma de controle social
45
. Esta forma de dominação não é restrita
ao sistema capitalista, mas certamente foi de fundamental importância na
formação de “suas bases”. em plena Revolução Industrial, na Europa, várias
idéias surgem para disciplinar o crescimento urbano. Destacamos duas destas
idéias totalmente divergentes, mas que, de certa forma, se materializaram na
cidade de Fortaleza.
A primeira, conhecida como “cidade linear”, de Arturo Soria y Mata (ver
Figura 56, p. 95), adepto dos preceitos do movimento moderno, acreditara que a
“raiz de todos os males da época residia na forma das cidades” (in: FERRARI,
1991, p. 234). O modelo teórico desenvolvido baseava-se em única rua principal,
bastante larga (aprox. 500 metros) e de comprimento tal qual fosse a
necessidade.
Combatia veemente a cidade circular por: a) especulação imobiliária nos
terrenos centrais, b) congestionamento no centro da cidade, c)
marginalização da população periférica. Seus preceitos eram: a) o
crescimento da cidade acontece linearmente, através do prolongamento
de suas extremidades, b) equilíbrio dos preços da terra, através da oferta
de terrenos na área central ser praticamente ilimitada (FERRARI, 1991,
p. 236).
45
Próximo ao período conhecido como “decadência do Império Romano”, a escravidão e a servidão
passaram a constituir única forma de trabalho produtivo do Império e, contraditoriamente, relegado – o
trabalho – à condição de atividade inferior. Essa massa de trabalhadores vivia em promiscuidade, em prédios
de apartamentos impróprios, sem saneamento adequado e “afastados do cardo e decumanos”; enquanto os
nobres, em residências e palácios de grande luxo e conforto, com colunatas, arcadas e esplendorosos jardins,
em sua maioria próximos às principais vias e espaços públicos, caracterizando a evidência da utilização de
uma ideologia de poder (econômico, cultural,...) para efetivação de um controle socioespacial. (MUNFORD,
1991).
94
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
Figura 56 - Cidade linear de Soria y Mata.
Fonte: Ferrari, 1991, p. 235.
Sua principal contribuição para a estrutura urbana no município de
Fortaleza: adaptação de sua estrutura linear de crescimento (mono-hierárquica)
para uma trama linear hierárquica (poli-hierárquica).
Na segunda, “cidade circular”, idealizada por Ebenezer Howard (ver
Figura 57, p. 95), havia uma praça cívica (circular e central), com ruas
concêntricas à praça e outras radiais, de forma que as atividades ficariam
estabelecidas em trilhas radiais (anéis circulares concêntricos) hierarquicamente
dispostas em relação ao centro. Para evitar a especulação imobiliária, propunha
que a propriedade da terra pertencesse à comunidade ou ao poder público
(FERRARI, 1991, p. 238-239).
Figura 57 - Cidade circular de Howard.
Fonte: Ferrari, 1991, p. 238.
95
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
Sua principal contribuição para a estrutura urbana no município de
Fortaleza: adaptação do seu modelo radial-concêntrico para o esquema de
expansão baseado apenas em radiais, ou setores.
Nesse contexto, a cidade de Fortaleza
46
, passou por um processo de
renovação urbana comandado pelo engenheiro-arquiteto Adolfo Herbester,
inaugurando um processo fundamentado em um modelo europeu de
modernização urbana:
Face ao realinhamento do Brasil nos quadros do capitalismo que então
se mundializava, as principais cidades brasileiras, incluindo Fortaleza,
não escaparam a esse processo de mudanças. [...] de caráter
europeizador, patrocinado por suas elites políticas, econômicas e
intelectuais. (PONTE, 2000, p. 163).
Destaque-se o fato de que essas transformações urbanas eram
justificadas, por uma classe dominante na época, com o intuito de “adaptar” a
Capital cearense para uma “condição de núcleo aglutinador da produção rural
para exportação”
47
.Tais transformações também evidenciam o caráter de controle
social por meio do espaço e fica nítido o desencadeamento da segregação do
espaço urbano no Município, enquanto um produto das transformações sociais,
econômicas, culturais..., à época.
5.4 Conclusão
Tendo como base uma segregação socioespacial crescente, o espaço
foi utilizado estrategicamente como mecanismo de controle social semelhante aos
moldes europeus. Como declarou Villaça (2001, p. 150), a segregação é
necessária à dominação social, econômica e política por meio do espaço.
Era predominante na Europa, naquele momento, a utilização do
modelo radial-concêntrico nos planos de expansão urbana: as radiais favoreciam
o crescimento e a expansão urbana, bem como o acesso ao centro; enquanto os
eixos concêntricos distribuíam as atividades, dentro das possibilidades, o mais
uniformemente possível. As áreas mais próximas ao centro eram ocupadas pelas
classes de mais alta renda e eram providas com a maioria dos serviços públicos e
46
Bem como outras capitais do País.
47
Segundo Sebastião Rogério Ponte, este fato era determinado pela política centralizadora do Segundo
Reinado.
96
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
equipamentos urbanos, enquanto a periferia era ocupada predominantemente
pelos excluídos, subequipada e distante. Desenvolveu-se, desta forma, uma
simbiose entre as classes de mais alta e o centro (como núcleo histórico inicial de
ocupação e formação da cidade), ambos se reforçando, mutuamente, garantindo
suas localizações.
Como ressalta Villaça (2001, p. 153), contudo, a estruturação espacial
básica da metrópole brasileira tende a se realizar segundo setores de círculo,
mais do que segundo círculos concêntricos.
48
A cidade de Fortaleza não estaria fora desta situação e, juntamente
com outras capitais brasileiras, expandiram-se na mesma direção, não formando
uma coroa de círculo e, sim, por meio de um setor de círculo. Este deslocamento
em apenas uma direção permite, ainda hoje, manter o acesso direto desta classe
social ao centro. O fato é que este “acesso” não é suficiente para garantir a
vitalidade do centro
49
, e esta ligação está se tornando cada vez mais fluida,
enfraquecendo o princípio essencial da relação radial-concêntrica. Como
resultado, temos o surgimento de outras centralidades, em detrimento do centro
principal, que é, na maioria das vezes, abandonado e esquecido, inclusive da
memória histórica e cultural.
50
A simbiose que poderia ter existido entre as classes de renda média e
alta, com a efetivação plena da estrutura radial-concêntrica, talvez tivesse
impelido uma expansão urbana mais equilibrada e homogênea. O “deslocamento
do centro principal” acarretou também o deslocamento de investimentoblicos e
privados em uma nova região da Cidade (ignorando as demandas das demais
regiões), acarretando uma concentração de renda nesta área de expansão
contígua ao centro; mas, fora dele, verificamos o “congelamento” do centro
principal e das regiões de mais baixa renda.
48
Outros autores também relatam que este fenômeno decorreu da enorme desigualdade, já existente à época,
e de elevados índices de concentração de renda, bem maiores até do que os verificados nas cidades européias.
Exatamente pelo fato de as classes de mais alta renda serem demasiadamente diminutas (nas capitais
brasileiras), impossibilitou-as de formarem este anel concêntrico ao redor do centro principal.
49
Segundo os preceitos estruturais do modelo radial-concêntrico.
50
Não estamos expressando que o surgimento de novas centralidades é prejudicial; mas sim, quando isto
acontece em detrimento de outros centros já existentes.
97
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL: ANÁLISE A PARTIR DA
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
Por fim, não entendemos que a estrutura radial-concêntrica
51
seria
capaz, por si só, de eliminar o processo de segregação espacial. Acreditamos,
afinal, como expressamos, que não se trata de um problema conjuntural e, sim,
estrutural; mas poderia ter possibilitado uma expansão urbana e uma distribuição
dos investimentos (públicos e privados) mais homogênea, pois a tendência seria o
atendimento às demandas nas mais variadas direções.
51
Perceptível, atualmente, no sistema viário da Capital.
Figura 58 - Mapa setores de expansão urbana – construído com base na Figura 47, p. 86.
Fonte: IBGE – censo demográfico 2000.
98
CONSIDERAÇÕES FINAIS
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados, informações e conclusões apresentados até o momento nos
suscitam interpretações diversas. Inclusive, com o mesmo material, poderíamos
realizar uma dezena de outras análises. Tendo em vista, no entanto, o objetivo da
pesquisa, reduzimos essas possibilidades ao tema em foco, ao mesmo passo em
que abrimos oportunidade à continuidade, por meio de novas pesquisas
acadêmicas.
Temos a ciência de que, antes de desenvolver exaustivamente teorias
acerca dos fundamentos, conceitos, origens e determinantes sobre as condições
de desigualdade e segregação apresentadas ao longo do texto, optamos por
efetivar uma pesquisa com caráter empírico mais evidente, ressaltando aspectos
relacionados à representação do fenômeno urbano focalizado, bem como as
técnicas e métodos relacionados à análise espacial de dados e informações
geográficas.
Compreendemos, contudo, que a cidade de Fortaleza não tem o
“privilégio” de apresentar aspectos de uma segregação urbana tão intensa. As
estruturas urbanas das capitais brasileiras, de modo geral, possuem
características em comum e semelhanças inerentes ao contexto de produção e
reprodução do sistema capitalista, ora hegemônico, sendo submetidas por este às
“transações” que lhe são peculiares. Neste sentido, destacamos o fato do objeto
(físico-natural-social) não indicar mais simplesmente um objeto material qualquer.
Torna-se, na verdade, um elemento capaz de possibilitar a realização do capital.
Nesta transformação e influenciado pelas trocas e fluxos de informações (cultura,
economia,...), a produção do capital submete o Mundo ao mundo da mercadoria,
atribuindo a esta “valor de uso” e “valor de troca”
52
.
O processo de reprodução está associado às condições de vida
da sociedade e determinado por ela. São as condições sociais de
produção que determinam o grau e a medida que se darão a
ampliação e o desenvolvimento de suas relações. (CARLOS,
1996, p. 105).
52
Consultar Harvey (1980).
99
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O espaço intra-urbano, ou simplesmente espaço, reflexo e condição
deste modo de produção (formado como produto social histórico), apresenta-se
materializado na acumulação do trabalho social a partir de uma série de
gerações. Este fato denota que o processo de produzir/reproduzir o espaço é
também um ato de apropriação. Transforma-se também em mercadoria, estando
sujeito às contradições entre “valor de uso” e “valor de troca”. O espaço, neste
sentido, passa a ter preço e o uso se submete ao “valor de troca”.
A generalização do valor de troca no espaço , englobando-o ao mundo
da mercadoria aparece como possibilidade de realização do consumo
produtivo. O espaço, nesta condição, se reproduz enquanto mercadoria
sob a forma de áreas incorporáveis para a construção de prédios [...].
(CARLOS, 2004, p. 95).
Partindo-se desta premissa, temos o espaço intra-urbano do município
de Fortaleza passível de ser moldado e transformado, de tal maneira, tornando-se
suficientemente atraente para atingir os objetivos do mercado. Neste caminho, o
que antes era denominado setor imobiliário, agora mercado imobiliário, se
encarrega desta tarefa. Seu objetivo: auferir cada vez maiores lucros em suas
transações comerciais. Seu público-alvo: as classes de maior poder aquisitivo.
Sua estratégia: persistir na idéia de um “espaço reservado”, à maneira como
comentado anteriormente, atraindo cada vez mais os “ricos” para junto dos “ricos”.
Como resultado dessa estratégia, temos, exatamente como foi
demonstrado ao longo da pesquisa, uma predileção pelas classes de mais alta
renda a ocuparem espaços da Cidade, onde possam permanecer mais próximos
uns dos outros. O que antes condicionou a formulação desta estratégia é agora
condicionado por esta.
Temos, atualmente, como estratégia, não tanto mais do setor
imobiliário, mas, principalmente, da própria sociedade, a procura em instalar suas
residências em locais onde possam, sem constrangimentos ou empecilhos,
usufruir de todas as benesses locais (infra-estrutura, lazer, escolas, hospitais,
shoppings, dentre outros). Este isolamento, traduz-se na estrutura intra-urbana do
município sob a forma de segregação socioespacial, seguida por uma morfologia
urbana com características de fragmentação do território; isto porque, na procura
100
CONSIDERAÇÕES FINAIS
por novas áreas, são encontradas “resistências” de ordem natural, mas também,
e principalmente, de cunho socioeconômico.
53
Ao percebermos o deslocamento pela classe social de mais alta renda
no Município, podemos realizar algumas considerações sobre a sua dinâmica,
haja vista seus prováveis vetores de expansão e/ou deslocamento.
Villaça (2001, p. 133) aponta que em nossas metrópoles uma
tendência das classes de mais alta renda formarem uma única área de
concentração de suas residências: “as forças atuantes sobre a estruturação de
nossas metrópoles produzem uma resultante que tende a fazer com que estas
tenham apenas uma área de grande concentração das camadas de alta renda”.
Relata, também, ser comum a existência de outras áreas a com concentração de
alta renda, mas não comparáveis à primeira.
Figura 59 - Vetores de expansão das classes de alta renda (1991-2000)-
construído com base no mapa da Figura 42.
Contraditoriamente ao que ocorreu com a expansão da área de alta
renda da Aldeota, em direção ao Meireles (litoral da capital), entre as décadas de
1950 e 1970 (JUCÁ, 2003), temos, atualmente, a expansão das áreas de alta
renda da Aldeota e Meireles em direção predominante a sudeste do Município,
não caracterizando uma expansão ao longo do litoral, talvez porque as “forças de
resistência” nessas áreas, como em outras direções, são, por enquanto, maiores
53
São exatamente essas resistências que formam àquelas áreas (ilhas) de baixa renda, praticamente isoladas
em meio às áreas de alta renda.
101
CONSIDERAÇÕES FINAIS
do que na direção da expansão atual (ver indicação dos vetores no mapa da
Figura 59, p. 101).
Na verdade, o que percebemos é um conjunto de intervenções,
inclusive do poder público, no sentido de facilitar a expansão neste eixo, ao longo
da av. Washington Soares, sendo esta própria um dos elementos deste
conjunto.
54
O poder público, ao estimular e incentivar a ocupação e expansão
nesta região, está, na melhor das hipóteses, permitindo que a expansão das
classes de mais alta renda no município de Fortaleza continue acontecendo de
acordo com os anseios desta classe em permanecer isolada.
A nítida expansão das áreas de mais alta renda apenas no setor
indicado (ver Figura 47, p. 86) acarreta um ônus muito grande ao poder blico.
As ações e investimentos voltados a promover a “renovação urbana”, passíveis
de ser compartilhados com o setor imobiliário (iniciativa privada), deverão ficar
restritas por este, predominantemente, no setor indicado, haja vista a “falta de
interesse” em outras áreas, pois, para o mercado, não possuem “valor de troca”
(pelo menos por enquanto!). Portanto, outras áreas da Cidade dependerão única
e exclusivamente do poder público para realizar as tão desejadas políticas
públicas.
Parece-nos, portanto, imperativo, assim como para Harvey (1980), na
tarefa de diminuir as desigualdades socioespaciais, a elaboração de mecanismos
que venham a tratar de forma conjunta os processos sociais e a forma espacial.
Mesmo considerando as mais bem-intencionadas políticas sociais, devemos
desenvolver rigorosa compreensão do sistema urbano, para, então, estarmos
aptos a decidir de maneira mais justa.
Acreditamos, por fim, havermos alcançado os objetivos intentados com
a realização desta pesquisa. As teorias e métodos em Geografia permitiram-nos
compreender a produção do espaço intra-urbano posto num âmbito repleto de
54
Em pesquisa realizada por Fuck Jr. (2002) são destacados alguns equipamentos que foram se instalando ao
longo da av. Washington Soares, implementados à partir da década de 1970: Shopping Center Iguatemi,
Universidade de Fortaleza, Centro de Convenções do Ceará, Fórum Clóvis Beviláqua, dentre outros.
102
CONSIDERAÇÕES FINAIS
conflitos, contradições e desigualdades, percebido pela representação espacial
dos indicadores utilizados. Cremos, também, haver contribuído para o
estabelecimento de um “fazer” acadêmico inovador, pois o método de análise
proposto poderá ser incorporado a outros estudos acadêmicos e, como
ferramenta de apoio, ao planejamento urbano no município de Fortaleza.
103
BIBLIOGRAFIA
7 BIBLIOGRAFIA
Utilizamos “ * ” para identificar a bibliografia que não foi utilizada como referência no texto, mas
recomendamos sua leitura, pois, aborda assuntos correlatos ao entendimento da pesquisa.
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108
ANEXOS
8 ANEXOS
8.1 Anexo 01
Figura 60 - Gráfico: grau de desigualdade de renda (coeficiente de Gini).
Fonte: Banco Mundial (in: BARROS, 2001, p. 13) – com modificações.
109
ANEXOS
8.2 Anexo 02
Rendimento médio mensal dos chefes de família - 2000
0 2.5 5 7.5 10 12.5 15 17.5 20 22.5 25 27.5 30
Parque Presidente Vargas
Curió
Piram
Genibaú
Autran Nunes
Siqueira
Canindezinho
Cristo Redentor
Cais do Porto
Granja Portugal
Bom Jardim
Granja Lisboa
Jangurussu
Floresta
Parque São José
Ancuri
Sabiaguaba
Moura Brasil
Barra do Cea
Pici
Casteo
Parque santa Rosa
Barroso
Paupina
Dias Mado
Quintino Cunha
Jardim Iracema
Jardim das Oliveiras
Passa
Lagoa Redonda
Mondubim
Bom Sucesso
Jardim Guanabara
Aeroporto
Jo XXIII
Pedras
Coaçu
Serrinha
Praia do Futuro 2
Alto da Balança
Vila Velha
Couto Fernandes
Carlito Pamplona
Conjunto Esperança
Manoel Sátiro
Demócrito Rocha
Aerolândia
Dom Lustosa
Vila Pery
Conjunto Cea 1
Henrique Jorge
Álvaro Weyne
Pan Americano
Parque Dois Irmãos
Den
Prefeito José Valter
Antônio Bezerra
Padre Andrade
Conjunto Cea 2
Itaoca
Mata Galinha
Dunas
Alagadiço Novo
Jardim América
Jardim Cearense
Sapiranga / Coité
Messejana
Jóquei Clube
Bela Vista
Monte Castelo
Guaje
Itaperi
Presidente Kennedy
Jacarecanga
Vila Ellery
Bom Futuro
Vicente Pizon
Parangaba
Montese
Rodolfo Teófilo
Edson Queiroz
Farias Brito
Parque Araxá
Vila Uno
Maraponga
Cidade 2000
Cajazeiras
Parque Iracema
Damas
São Jo do Tauape
Amadeu Furtado
Parreão
José Bonifácio
Centro
Benfica
Luciano Cavalcante
Praia do Futuro 1
Parquendia
Joaquim Távora
Cambeba
Alagadiço
Cidade dos Funcionários
Praia de Iracema
Fátima
Parque Manibura
Papicu
Varjota
Salinas
Mucuripe
Dionísio Torres
Aldeota
Guararapes
Cocó
Meireles
bairros
salário m ínim o (R$)
Figura 61 - Gráfico: rendimento médio mensal dos chefes de família por bairro (sal. mín. – 2000).
Fonte: IBGE: censo demográfico, 2000.
110
ANEXOS
8.3 Anexo 03
Tabela 3 - Relação dos vinte bairros com maior e menor renda média dos chefes de
família, no período 1991 e 2000.
Fonte: Gondim, 2005.
111
TEXTO DA DISSERTAÇÃO EM ELABORAÇÃO
ETAPA: RELATÓRIO DE QUALIFICAÇÃO
9 APÊNDICES
9.1 Apêndice 01
Código Setor Nome Descrição sumária Metodologia utilizada Unidade(s) de medida
A01 Água doce Acesso a sistema de
abastecimento de água
Expressa a quantidade de domicílios atendidos
pelo sistema de abastecimento de água do tipo
rede geral
Razão entre domicílios particulares permanentes atendidos
por sistema de abastecimento de água e total de domicílios
Percentual
A02 Resíduo Acesso a serviço de coleta de
lixo
Expressa a quantidade de domicílios atendidos
por coleta de lixo
Razão entre domicílios particulares permanentes atendidos
por sistema de coleta de lixo e total de domicílios
Percentual.
A03 Resíduo Acesso a esgotamento
sanitário
Expressa a quantidade de domicílios atendidos
por esgotamento sanitário do tipo rede geral
Razão entre domicílios particulares permanentes atendidos
por esgotamento sanitário e total de domicílios
Percentual
A04 Solo Cobertura vegetal Expressa a quantidade de área verde. Interpretação de imagem de satélite LandSat, com resolução
de 30 metros. Tendo realizado processo de segmentação,
seguido de classificação.
Área em quilômetro
quadrado (km²); percentual.
A05 Conservação
da natureza
Áreas protegidas por Plano de
Ordenamento
Expressa a quantidade de área verde delimitada
por Plano Diretor e/ou Legislação de Uso e
Ocupação do Solo.
Cálculo da área verde (áreas de preservação e áreas de
proteção) estabelecidas e delimitadas em Lei de Uso e
Ocupação do Solo (LUOS) de acordo com Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano (PDDU.FOR).
Área em quilômetro
quadrado (km²); percentual.
E01 Renda Renda dos chefes de família Expressa a renda média mensal dos chefes de
família
Razão entre a renda media mensal dos chefes de família e
quantidade total de chefes de família
Salário mínimo
Valor absoluto (R$)
E02 Renda Renda distribuída Expressa a relação entre a renda total dos chefes
de família e a população residente
Razão entre o soma da renda mensal dos chefes de família
pela quantidade total de pessoas residentes
Real (R$) / Pessoa;
Sal.Min. / Pessoa.
E04 Renda Chefes de família com
rendimento médio mensal ate
½ salário mínimo
Expressa a quantidade de chefes de família com
rendimento médio mensal ate ½ salário mínimo
Razão entre a quantidade de chefes de família com
rendimento médio mensal ate ½ salário mínimo e a
quantidade total de chefes de família
Percentual
E05 Renda Chefes de família com
rendimento médio mensal
Expressa a quantidade de chefes de família com
rendimento médio mensal superior a 20 sal. mín.
Razão entre a quantidade de chefes de família com
rendimento médio mensal superior a 20 sal. mín. e a
Percentual
112
TEXTO DA DISSERTAÇÃO EM ELABORAÇÃO
ETAPA: RELATÓRIO DE QUALIFICAÇÃO
Código Setor Nome Descrição sumária Metodologia utilizada Unidade(s) de medida
superior a 20 salários mínimos quantidade total de chefes de família
E06 Emprego População em idade ativa
(PIA)
Expressa a quantidade de pessoas consideradas
em idade ativa
Quantidade de pessoas compreendidas na faixa etária entre
10 e 65 anos de idade (10 ≤ PIA ≤ 65).
Percentual.
I01 Saúde Unidades de saúde Expressa a relação entre população residente e a
quantidade de unidades de saúde.
Razão entre população residente por somatório da
quantidade de unidades de saúde.
Valor absoluto;
relativo ( Pe/Us ).
I02 Educação Unidades escolares Expressa a relação entre a população na faixa
etária escolar e a quantidade de unidades
escolares.
Razão da população residente na faixa etária entre 02 e 15
anos de idade por somatório da quantidade de unidades de
ensino municipal.
Valor absoluto;
relativo ( Pe/Ue ).
S01 População Densidade populacional Expressa a quantidade de pessoas residentes em
uma determinada área territorial.
Razão entre pessoas residentes em uma determinada pela
área correspondente.
Habitantes por hectare
Habitantes por quilômetro
quadrado
S02 População Crescimento populacional Expressa a quantidade de pessoas residentes e a
taxa média geométrica decrescimento anual
(ritmo do crescimento populacional).
A taxa média geométrica de crescimento anual da população
é expressa através de duas variáveis referentes à população
residente em dois distintos marcos temporais.
Percentual.
S03 População Densidade inadequada de
moradores por dormitório
Expressa as condições de habitabilidade das
moradias através da proporção da população que
reside em domicílios com elevada densidade de
moradores por dormitório.
Indica a quantidade da população que está submetida a uma
densidade excessiva de moradores por dormitório. O valore
de referência utilizado corresponde ao Déficit Habitacional
no Brasil 2000 (Fundação João Pinheiro).
Percentual
S04 Educação Taxa de alfabetização Expressa a relação entre as pessoas adultas
alfabetizadas (capazes de ler e escrever) e a
população adulta total.
Consideraram-se como pessoas adultas alfabetizadas
aquelas com 15 anos ou mais de idade e capazes de ler e
escrever. É expressa através da relação entre as pessoas
adultas alfabetizadas e a população total da mesma faixa
etária.
Percentual
S05 Educação Escolaridade dos chefes de
família
Expressa a escolaridade dos chefes de família,
através de relação entre a quantidade de chefes
de família com 15 anos ou mais de estudo e o
total de chefes de família
Razão entre a quantidade de chefes de família com 15 anos
ou mais de estudo e quantidade total de chefes de família
Percentual
S06 Moradia Domicílios improvisados Expressa a quantidade de domicílios particulares
improvisados
Razão entre a quantidade de domicílios particulares
improvisados e o total de domicílios
Percentual
S07 Moradia Domicílios próprios Domicílios particulares permanentes, com
condição de ocupação: próprio-quitado
Razão entre a quantidade de domicílios particulares
permanentes, com condição de ocupação: próprio-quitado e
o total de domicílios
Percentual
113
TEXTO DA DISSERTAÇÃO EM ELABORAÇÃO
ETAPA: RELATÓRIO DE QUALIFICAÇÃO
Código Setor Nome Descrição sumária Metodologia utilizada Unidade(s) de medida
S08 Moradia Domicílios alugados Domicílios particulares permanentes, com
condição de ocupação: alugado
Razão entre a quantidade de domicílios particulares
permanentes, com condição de ocupação: alugado e o total
de domicílios
Percentual
S09 Moradia Domicílios tipo apartamento Expressa a quantidade de domicílios com a
tipologia: apartamento
Razão entre a quantidade de domicílios com a tipologia:
apartamento e total de domicílios
Percentual
S10 Moradia Domicílios tipo casa Expressa a quantidade de domicílios com a
tipologia: casa
Razão entre a quantidade de domicílios com a tipologia:
casa e total de domicílios
Percentual
OBS.1: em destaque na cor AMARELO: indicadores urbanos utilizados nesta pesquisa – a serem incorporados na metodologia de Gondim (2004).
OBS.2: em destaque na cor VERDE: indicadores urbanos utilizados nesta pesquisa – aproveitados de Gondim (2004).
OBS.3: em destaque na cor LARANJA: indicadores urbanos não utilizados nesta pesquisa – a serem incorporados na metodologia de Gondim (2004).
OBS.3: sem destaque: indicadores urbanos não utilizados nesta pesquisa – presentes em Gondim (2004).
Quadro 8 - Indicadores urbanos.
Fonte: Gondim, 2004 – com alterações.
114
TEXTO DA DISSERTAÇÃO EM ELABORAÇÃO
ETAPA: RELATÓRIO DE QUALIFICAÇÃO
9.2 Apêndice 02
Modelo Símbolo Categoria (tipo) Categoria (nome) Plano de informação Obs
GEO-
CAMPO
IMAGEM – GRADE
REGULAR
E01_grade E01_2000_bairro_VAL
E01_2000_setor__prox
IMAGEM -
SATÉLITE
Não utilizado.
+
+
+
MNT - AMOSTRA Não utilizado.
+
+
+
MNT - CENTRÓIDE E01_centroide E01_1991_bairro_VAL
E01_2000_bairro_VAL
E01_2000_setor_VAL
S01_centroide S01_1991_bairro_VAL
S01_2000_bairro_VAL
S05_centroide S05_1991_bairro_PER
S05_2000_bairro_PER
S09_centroide S09_1991_bairro_PER
S09_2000_bairro_PER
+ + +
+ + +
+ + +
MNT – GRADE
REGULAR
E01_grade
E01_2000_bairro_VAL
E01_2000_setor_VAL
E01_grade_prox
E01_2000_setor
S09_grade
S09_1991_bairro_PER
S09_2000_bairro_PER
+ + +
+ + +
+ + +
TEMÁTICO –
GRADE REGULAR
TM_E01
E01_2000_bairro_VAL
Fatiamento
E01_2000_setor_VAL
Fatiamento
TM_S09 S09_2000_bairro_PER Fatiamento
TEMÁTICO –
POLÍGONO
TM_E01_1991_bairro_est
E01_1991_bairro_est
TM_E01_2000_bairro_est
E01_2000_bairro_est
TM_S01_1991_bairro_est
S01_1991_bairro_est
TM_S01_2000_bairro_est
S01_2000_bairro_est
TM_S05_1991_bairro_est
TM_S05_1991_bairro_est
TM_S05_2000_bairro_est
TM_S05_2000_bairro_est
TM_MORAN
E01_1991_bairro
E01_2000_bairro
S05_1991_bairro
S05_2000_bairro
115
TEXTO DA DISSERTAÇÃO EM ELABORAÇÃO
ETAPA: RELATÓRIO DE QUALIFICAÇÃO
Modelo Símbolo Categoria (tipo) Categoria (nome) Plano de informação Obs
GEO-
OBJETO
CADASTRAL –
POÍGONO
A01
A02
A03
A01_1991_bairro
A01_2000_bairro
A02_1991_bairro
A02_2000_bairro
A03_1991_bairro
A03_2000_bairro
E01
E01_1991_bairro
E01_2000_bairro
E01_2000_setor
E02
E02_1991_bairro
E02_2000_bairro
E04
E04_1991_bairro
E04_2000_bairro
E05
E05_1991_bairro
E05_2000_bairro
E06
E06_1991_bairro
E06_2000_bairro
E06_2000_setor
S01
S01_1991_bairro
S01_2000_bairro
S01_2000_setor
S04
S04_1991_bairro
S04_2000_bairro
S05
S05_1991_bairro
S05_2000_bairro
S06
S06_1991_bairro
S06_2000_bairro
S07
S07_1991_bairro
S07_2000_bairro
S08
S08_1991_bairro
S08_2000_bairro
S09
S09_1991_bairro
S09_2000_bairro
S10
S10_1991_bairro
S10_2000_bairro
IBGE_1991_bairro
Ibge1991_bairro_pes
Ibge1991_bairro_dom
IBGE_2000_bairro
ibge2000_bairro_dom
ibge2000_bairro_ins
ibge2000_bairro_pes
ibge2000_bairro_res
116
TEXTO DA DISSERTAÇÃO EM ELABORAÇÃO
ETAPA: RELATÓRIO DE QUALIFICAÇÃO
Modelo Símbolo Categoria (tipo) Categoria (nome) Plano de informação Obs
IBGE_2000_setor
ibge2000_setor_dom
ibge2000_setor_ins
ibge2000_setor_pes
ibge2000_setor_res
Quadro 9 - Planos de informação e categorias utilizadas.
117
TEXTO DA DISSERTAÇÃO EM ELABORAÇÃO
ETAPA: RELATÓRIO DE QUALIFICAÇÃO
9.3 Apêndice 03
IBGE_2000_setor
ibge2000_setor_res
E01
E01_2000_setor
Gerado por
Gera
E01_centroide
E01_2000_setor_normal
+
+
+
E01_grade
E01_2000_setor_normal
+ + +
+ + +
+ + +
+ + +
+ + +
+ + +
TM_NORMAL
E01_2000_setor_normal
E01_grade_prox
E01_2000_setor_normal
+ + +
+ + +
+ + +
TM_E01_setor
E01_2000_setor
Gera
Gera
Gera
Gera
Gera
Gera
TM_E01_2000_bairro_est
E01_2000_setor_est
Gera
E01_grade_prox
E01_2000_setor_normal
E01_grade
E01_2000_setor_normal
E01_centroide
E01_2000_setor_V501
+
+
+
E01_grade
E01_2000_setor_V501
+ + +
+ + +
+ + +
Gera
Gera
+ + +
+ + +
+ + +
TM_E01_setor
E01_2000_setor_V501
Gera
Figura 62 - Organograma: relacionamentos dados informações, Indicador E01 (2000_setor).
Fonte: Dados da pesquisa.
118
TEXTO DA DISSERTAÇÃO EM ELABORAÇÃO
ETAPA: RELATÓRIO DE QUALIFICAÇÃO
9.4 Apêndice 04
Figura 63 - Divisão territorial dos bairros no Município de Fortaleza (1991-2000).
Fonte: Dados da pesquisa.
1 Alagadiço
2 Aldeota
3 Álvaro Weyne
4 Amadeu Furtado
5 Moura Brasil
6 Barra do Ceará
7 Benfica
8 Bom futuro
9 Carlito Pamplona
10 Centro
11 Cocó
12 Cristo Redentor
13 Damas
14 Dionísio Torres
15 Farias Brito
16 Fátima
17 Floresta
18 Jacarecanga
19 Jardim América
20 Jardim Guanabara
21 Jardim Iracema
22 Joaquim Távora
23 José Bonifácio
24 Meireles
25 Monte Castelo
26 Mucuripe
27 Papicu
28 Parque Araxá
29 Parquelândia
30 Parreão
31 Pirambú
32 Praia de Iracema
33 Presidente Kennedy
34 Rodolfo Teófilo
35 São João do Tauápe
36 Varjota
37 Vicente Pinzon
38 Vila Ellery
39 Vila Velha
40 Antônio Bezerra
41 Autran Nunes
42 Conjunto Ceará 1
43 Dom Lustosa
44 Genibaú
45 Henrique Jorge
46 João XXIII
47 Padre Andrade
48 Quintino Cunha
49 Alagadiço Novo
50 Ancuri
51 Barroso
52 Cajazeiras
53 Cambeba
54 Cidade dos
Funcionários
55 Coaçu
56 Curió
57 Edson Queiroz
58 Luciano Cavalcante
59 Guajerú
60 Guararapes
61 Jangurussu
62 Jardim das Oliveiras
63 Lagoa Redonda
64 Sapiranga / Coité
65 Messejana
66 Parque Iracema
67 Parque Manibura
68 Paupina
69 Pedras
70 Sabiaguaba
71 Salinas
72 Bom Jardim
73 Bom Sucesso
74 Canindezinho
75 Conjunto Ceará 2
76 Conjunto Esperança
77 Dendê
78 Granja Lisboa
79 Granha Portugal
80 Jardim Cearense
81 Manoel Sátiro
82 Maraponga
83 Mondubim
84 Parque Dois Irmãos
85 Parque Presidente
Vargas
86 Parque São José
87 Parque Santa Rosa
88 Passaré
89 Prefeito José Valter
90 Siqueira
91 Aerolândia
92 Aeroporto
93 Alto da Balança
94 Bela Vista
95 Castelão
96 Couto Fernandes
97 Demócrito Rocha
98 Dias Macêdo
99 Itaoca
100 Itaperi
101 Jóquei Clube
102 Mata Galinha
103 Montese
104 Pan Americano
105 Parangaba
106 Pici
107 Serrinha
108 Vila Pery
109 Vila União
110 Cais do Porto
111 Cidade 2000
112 Dunas
113 Praia do Futuro 1
114 Praia do Futuro 2
AQUIRAZ
EUZÉBIO
MARACAN
CAUCAIA
OCEANO ATLÂNTICO
OCEANO ATLÂNTICO
N
119
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