31
(definições) para a Educação Física. De acordo com Bracht (2004, p.01)
32
, é o conceito de
cultura que melhor expressa a ressignificação mais importante e a desnaturalização do objeto,
que melhor reflete a sua contextualização sócio-histórica.
O aprofundamento da discussão acerca dessa questão permite considerar o ser
humano como um ser mais dinâmico e dotado de individualidade, inserido num
contexto sociocultural igualmente dinâmico e eminentemente simbólico. A visão de
educação física nesse caso, também parece ser ampliada, uma vez que procura
contemplar não só as dimensões física, psicológica e social humanas, mas ver o ser
humano como a totalidade indissociável entre esses aspectos (DAOLIO, 2004, p.66).
O ser, agora cultural não nega, mas abarca os aspectos motor, psicológico e social.
Para Daolio (2004, p.72) a discussão de cultura estaria libertando na Educação Física os
chamados elementos da ordem, a subjetividade, o indivíduo e a história, para permitir sua
transformação em elementos de desordem
33
, a intersubjetividade, a individualidade e a
historicidade. Entretanto, somente a partir do século XX foi possível a compreensão da
cultura para além da perspectiva de uma simples produção material, para que fosse
compreendida também como um processo de significação e todo o ser humano pôde ser visto
como potencialmente capaz de produzir cultura.
A “cultura” é o principal conceito para a educação física
34
, porque todas as
manifestações corporais humanas são geradas na dimensão cultural, desde os
primórdios da evolução até hoje, expressando-se diversificadamente e com
significados próprios no contexto de grupos culturais específicos. O profissional da
Educação Física não atua sobre o corpo ou com o movimento em si, não trabalha
com o esporte em si, não lida com a ginástica em si. Ele trata do ser humano nas
suas manifestações culturais relacionadas ao corpo e ao movimento humanos,
historicamente definidas como jogo, esporte, dança, luta e ginástica [...] Segundo
Daolio (2004, p.9) a Educação Física a partir da revisão do conceito de corpo e
considerando a dimensão cultural simbólica defendida por Geertz, pode ampliar seus
horizontes, abandonando a idéia de área que estuda o movimento humano, o corpo
físico ou o esporte na sua dimensão técnica, para vir a ser uma área que considera o
ser humano eminentemente cultural, contínuo construtor de sua cultura relacionada
aos aspectos corporais. Enfim, não causa mais polêmica afirmar que a Educação
Física lida com conteúdos culturais e, sendo assim, ela pode, de fato, ser considerada
a área que estuda e atua sobre a cultura corporal de movimento (DAOLIO, 2004, p.
2-3, 9).
32
Esta referência foi retirada do texto utilizado pelo autor no congresso organizado pelo CBCE – Colégio
Brasileiro de Ciências do Esporte - realizado em Recife, no mês de Fevereiro de 2004.
33
O autor utiliza este termo como forma de expressar a sua reflexão acerca da contextualização que ele acredita
ser interessante para a Educação Física abarcando questões como a relação intersubjetiva entre alunos e
professor, a cientificidade e o conhecimento na área, a visão de sujeito para além de uma entidade orgânica, a
criticidade como elemento basilar para a área (sem que isso represente uma postura rígida frente a sociedade), a
não aceitabilidade quanto a neutralidade científica, a recusa pelo controle ou domesticação seja do indivíduo, do
tempo, do espaço, da história, do corpo, do movimento, da sociedade, do desenvolvimento individual ou social,
da cognição, da emoção, dos conteúdos escolares, do esporte, etc. Mais detalhes consultar em Daolio (2004, p.
72-73).
34
A dimensão cultural perpassa o universo epistêmico de todas as áreas do conhecimento, mas no caso da
Educação Física a questão é que ela não foi reconhecida enquanto tal por muito tempo.