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ADRIANA REIS BRASIL
CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM
SOBREPESO OU OBESIDADE: AVALIAÇÃO DA
REAÇÃO INFLAMATÓRIA ATRAVÉS DA
DOSAGEM DA PROTEÍNA C-REATIVA ULTRA-
SENSÍVEL E
PREVALÊNCIA DE SÍNDROME METABÓLICA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
BELO HORIZONTE
2006
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitora: Profa. Ana Lúcia de Almeida Gazola
Vice-reitor: Prof Marcos Borato Viana
Pró-reitor de Pós-Graduação: Prof. Jaime Arturo Ramirez
Diretor da Faculdade de Medicina: Prof. Geraldo Brasileiro Filho
Vice-diretor da Faculdade de Medicina: Prof Joel Alves Lamounier
Coordenador do Centro de Pós-Graduação: Prof. Francisco José Penna
Chefe do Departamento de Pediatria: Profa. Cleonice de Carvalho Coelho
Mota
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde-
Área de concentração em Saúde da Criança e do Adolescente: Prof.
Francisco José Penna
Sub-Coordenador de Programa de Pós-Graduação em Medicina – Área
de Concentração em Pediatria: Prof Joel Alves Lamounier
Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde- Área
de concentração em Saúde da Criança e do Adolescente
Prof. Francisco José Penna
Prof. Joel Alves Lamounier
Prof. Eduardo Araújo Oliveira
Profa. Ivani Novato Silva
Prof. Marco Antônio Duarte
Prof. Marcos Borato Viana
Prof. Roberto Assis Ferreira
Miguir Terezinha Vieccelli Donoso
(Representante discente)
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ADRIANA REIS BRASIL
Crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade:
avaliação da reação inflamatória através da dosagem da
proteína C-reativa ultra-sensível e prevalência de
síndrome metabólica
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
graduação em Ciências da Saúde, área de
concentração em Saúde da Criança e do
Adolescente, da Faculdade de Medicina
da Universidade Federal de Minas
Gerais, como requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre.
Orientadora: Profa. Rocksane de
Carvalho Norton.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha Mãe, pois
meu Pai plantou a semente, mas foi ela
quem regou.
AGRADECIMENTOS
À Profa. Rocksane de Carvalho Norton, orientadora deste trabalho,
não só pela maneira gentil de conduzir a orientação, mas por todos os outros
momentos que minha trajetória profissional cruzou seu caminho.
Ao Haroldo, meu esposo, pela paciência, incentivo e pelos cálculos
estatísticos.
À Alice, Renato e Caio, meus filhos, por terem entendido a
importância deste trabalho e terem me ajudado em tudo que foi possível.
Ao Dr. Ennio Leão, pelas sugestões preciosas e pela confiança em
mim.
Ao Professores Ana Lúcia Pimenta Starling, Joel Alves Lamounier,
Paulo Pimenta Figueiredo Filho, Ricardo Castanheira Pimenta Figueiredo
e Rosângela Diamante, do Grupo de Nutrição Pediátrica, por terem me
acolhido e me incentivado.
À Dra. Márcia Parizzi, por estar sempre abrindo meus horizontes e
compartilhando suas experiências.
À Profa. Márcia Braz Rosseti, por ter sido meu braço direito e ter me
apoiado nas várias fases deste trabalho.
Ao acadêmico Ricardo, pela imensa ajuda, especialmente na
elaboração do banco de dados.
Às acadêmicas Mariana e Lara, pela ajuda na coleta de dados.
À Viviane Kanufre e Valéria Tassara, do Grupo de Nutrição
Pediátrica, por estarem caminhando junto comigo.
À Profa. Susane Pretti Figueiredo Neves, coordenadora do
Laboratório de Sorologia do HC/UFMG, pelas orientações técnicas e dicas
imprescindíveis.
Aos meus queridos pacientes e suas famílias, espero poder retribuir à
altura. Às crianças e adolescentes que participaram do grupo controle, meu
eterno agradecimento.
NOTA EXPLICATIVA
De acordo com o Regimento do
Programa de Pós-Graduação em Ciências
da Saúde, área de concentração em Saúde
da Criança e do Adolescente, esta
dissertação está sendo apresentada em
um formato composto por Revisão
Bibliográfica e Versões Preliminares de
Artigos Científicos.
LISTA DE ABREVIATURAS
IMC Índice de Massa Corporal
PCR Proteína C-reativa
PCR-US Proteína C-reativa ultra-sensível
SM Síndrome Metabólica
DCV Doença Cardiovascular
HOMA Homeostasis Model Assessment
FNT-α Fator de Necrose Tumoral-α
IL-6 Interleucina–6
SUMÁRIO
1. Revisão de literatura
1.1 Introdução.................................................................2
1.2 Epidemiologia...........................................................4
1.3 Conseqüências da obesidade.....................................6
1.4 Obesidade e síndrome metabólica.............................7
1.5 Obesidade e doença cardiovascular.........................13
1.6 Tecido adiposo e reação inflamatória......................14
1.7 Marcador de inflamação (PCR) e doença
Cardiovascular...................................................................16
1.8 Marcador de inflamação (PCR) e
Obesidade..........................................................................19
1.9 Redução da PCR e risco cardiovascular.................28
1.10 Comentários finais..................................................30
1.11 Referências bibliográficas......................................32
2. Versão preliminar de artigo científico:
Proteína C-reativa em crianças e adolescentes com obesidade,
sobrepeso e sem obesidade ...................................................42
2.1 Resumo...................................................................43
2.2 Abstract...................................................................44
2.3 Introdução...............................................................45
2.4 Casuística e métodos...............................................46
2.5 Resultados...............................................................48
2.6 Discussão................................................................50
2.7 Agradecimentos......................................................52
2.8 Referências bibliográficas......................................53
3. Versão preliminar de artigo científico:
Síndrome metabólica e reação inflamatória em crianças e
adolescentes com obesidade............................................56
3.1 Resumo..................................................................57
3.2 Abstract.................................................................58
3.3 Introdução.............................................................59
3.4 Casuística e métodos.............................................61
3.5 Resultados.............................................................63
3.6 Discussão..............................................................66
3.7 Referências bibliográficas.....................................69
4. Discussão final
Discussão final..................................................................72
5. Anexos
5.1 Anexo 1- Protocolo de pesquisa................................77
5.2 Anexo 2- Protocolo de pesquisa- controles...............79
5.3 Anexo 3- Termo de consentimento...........................80
5.4 Anexo 4- Termo de consentimento-controles...........81
5.5 Anexo 5- Parecer da Câmara Departamental e do
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal de Minas Gerais..................................................82
5.6 Anexo 6- Banco de dados da pesquisa.......................83
Brasil, Adriana Reis.
B823c Crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade [manuscrito] :
avaliação da reação inflamatória através da dosagem da proteína C-reativa
ultra-sensível e prevalência de síndrome metabólica / Adriana Reis Brasil.
– 2006.
88 f., enc. : il., p & b, color., tabs., graf.
Orientador: Profa. Dra. Rocksane de Carvalho Norton.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais,
Faculdade de Medicina.
Área de concentração: Ciência da Saúde: Pediatria.
Linha de pesquisa: Obesidade.
Bibliografia: f. 32-41.
Anexos: f. 76-88.
1. 0besidade nas crianças – Teses. 2. Adolescência – Teses. 3. Diabetes
mellitus – Teses. 4. Sistema cardiovascular – Doenças – Teses. 5. Síndrome
X metabólica – Teses. 6. Inflamação – Teses. 7. Proteína C-reativa – Teses.
I. Norton, Rocksane de Carvalho. II. Universidade Federal de Minas Gerais.
Faculdade de Medicina. III. Título.
NLM: WD 210
REVISÃO DE LITERATURA
1
1. REVISÃO DE LITERATURA
1.1 INTRODUÇÃO
O peso e a composição corporal de um indivíduo dependem de fatores genéticos,
metabólicos, ambientais, comportamentais e socioculturais
1
.
Obesidade é o excesso de gordura corporal, de causa exógena ou endógena, que
pode ser mensurado através de medidas antropométricas, das dobras cutâneas e das
circunferências corporais. Também podem ser utilizados métodos mais complexos
como a tomografia computadorizada, eletrobioimpedância e dual-energy x-ray
absortiometry (DEXA). A definição quantitativa da obesidade requer estabelecimento
de ponto de corte, que separe indivíduos obesos dos não obesos
2
.
Obesidade exógena é o acúmulo exagerado de gordura no organismo em
decorrência de um desequilíbrio entre a quantidade de energia ingerida e o gasto
energético do organismo, por um longo período. A obesidade endógena, ou secundária,
ocorre numa pequena porcentagem dos casos - cerca de 1% - e é decorrente de doenças
hormonais ou genéticas
3
.
A distribuição da gordura corporal difere entre os indivíduos, podendo ser
classificada como andróide (em forma de maçã) e ginecóide (em forma de pêra). Na
forma andróide a gordura que se acumula principalmente no tórax e no abdome,
chamada de gordura visceral, abdominal ou central, está mais relacionada às
complicações metabólicas em adultos e crianças. A forma ginecóide, mais comum nas
mulheres, apresenta a gordura distribuída em forma periférica pelo corpo, no tecido
subcutâneo, com a maior parte da gordura depositada nas nádegas e nas coxas
4
.
2
A prevalência da obesidade atingiu proporções epidêmicas, sendo considerada
grave distúrbio nutricional em todo o mundo. A obesidade tem conseqüências
individuais, mas também na saúde pública. Dados demonstram que os gastos
relacionados à obesidade, em países do ocidente, variam de 2 a 8% dos recursos
destinados à área de saúde. Estes valores representam a maior fração do orçamento para
saúde, comparáveis apenas com os destinados para o tratamento de câncer. O impacto
destes gastos em países em desenvolvimento pode ser ainda maior
5
.
Apesar dos avanços tecnológicos e científicos, as estratégias de prevenção e
tratamento da obesidade não têm apresentado sucesso. Os profissionais da área de saúde
não encaram a obesidade como um sério problema de saúde, iniciando o tratamento
apenas quando já existem co-morbidades. A Organização Mundial de Saúde alerta que
existe uma necessidade urgente de promover treinamento aos profissionais de saúde,
não apenas para melhorar os níveis de conhecimento sobre o manejo da obesidade, mas
também para evitar que esses profissionais tenham atitudes negativas em relação aos
obesos, dificultando ainda mais o tratamento
6
.
3
1.2 EPIDEMIOLOGIA
A obesidade é considerada uma epidemia que atinge todas as faixas etárias da
população. Estudo que descreve a evolução secular da distribuição de gordura em
homens americanos no século XX (1890-2000), revela que a prevalência de obesidade
passou de 3,4% para 35%
7
. No Canadá, as taxas de mortalidade atribuídas à obesidade
migraram de 5,1 em 1985 para 9,3 em 2000
8
. Na Albânia, considerado um país em
desenvolvimento como o Brasil, a prevalência de obesidade da população adulta foi
estimada em 22 % para homens e 30,9% para mulheres
9
. Na América Latina, nos
últimos 15 anos, houve marcante aumento da prevalência da obesidade, principalmente
na população de baixa renda
10
.
Em várias regiões do mundo (Austrália
11
, Espanha
12
, França
13
, Taiwan
14
,
China
15
), o aumento da prevalência do excesso de peso é notado desde a infância. No
Japão, em 10 anos, a média do IMC, por idade, aumentou 0,32Kg/m
2
nos meninos e
0,24Kg/m
2
nas meninas
16
. Como conseqüência, a prevalência da obesidade passou de
6,1% nos meninos e 7,1% nas meninas para 11,1% e 10,2%, respectivamente.
O Brasil vem passando por um processo de transformação do seu panorama
nutricional. Devido às mudanças econômicas, sociais e demográficas do país, ocorreram
modificações no estilo de vida e alimentação dos brasileiros. A urbanização da
população é apontada como um dos principais determinantes das alterações dos padrões
de comportamento alimentar que, juntamente com a redução da atividade física,
ocasionaram mudanças na qualidade de vida das populações. O aumento da prevalência
da obesidade no Brasil é relevante e proporcionalmente mais elevado nas famílias de
baixa renda, podendo coexistir, num mesmo domicílio, indivíduos obesos e desnutridos
4
ou indivíduos obesos com carências nutricionais específicas, como anemia e
hipovitaminose A
17
.
Ainda existem regiões brasileiras onde a desnutrição é um dos principais
problemas de saúde, porém sua ocorrência vem caindo, enquanto a obesidade tem
aumentado. Segundo Monteiro e Conde
18
, a prevalência de desnutrição, em menores de
5 anos, na cidade de São Paulo caiu de 5,5% na década de 70 para 0,6% na década de
90. No mesmo período, a prevalência de obesidade nessa faixa etária passou de 3,2 %
para 3,8%.
Dados recentes da Pesquisa de Orçamentos Familiares (2002-2003) realizada
pelo IBGE revelam que, em adultos, a freqüência do excesso de peso supera em 8 vezes
o déficit de peso em mulheres e em 15 vezes em homens. Nos últimos 30 anos, duplicou
o percentual de homens com excesso de peso e houve um aumento de 50% da
prevalência de obesidade entre as mulheres Em 2003, o excesso de peso afetava 41,1%
dos homens (8,9% obesos) e 40% das mulheres (13,3% obesas)
19
.
O aumento da adiposidade também foi constatado entre homens jovens (17-19
anos), na região nordeste, entre os anos de 1980 e 2000. Houve um aumento de 2,47
vezes na prevalência de sobrepeso e 4,41 vezes de obesidade
20
. Em estudo com amostra
representativa da população das regiões sudeste e nordeste, Abrantes et al
21
encontraram
prevalência de obesidade de 10,3% em meninas e 9,2% em meninos. Entre os
adolescentes, 9,3% do sexo feminino e 7,3% do masculino apresentavam sobrepeso, e
obesidade foi observada em 3,0% e 2,6%, respectivamente.
Em Belo Horizonte, estudo representativo da população escolar (rede pública e
privada), realizado em 1998, encontrou prevalência de excesso de peso (sobrepeso e
obesidade) em 8,5% dos estudantes com idade entre 10 e 18 anos
22
.
5
1.3 CONSEQUÊNCIAS DA OBESIDADE
Na infância, a obesidade deve ser considerada doença nutricional grave devido
aos danos imediatos à saúde e também por suas conseqüências na vida futura, podendo
ameaçar seriamente a saúde do indivíduo
23
. A obesidade na infância está relacionada ao
maior risco de morte prematura na vida adulta, principalmente por doenças
cardiovasculares.
24
. A criança obesa tem maior chance de se tornar um adulto obeso, o
que representa preocupação adicional nesta faixa etária. De acordo com o II National
Health and Nutricion Examination Survey [NHANES II], o risco de uma criança obesa
(IMC acima do percentil 95) com mais de 9 anos, tornar-se um adulto obeso (IMC > 28
kg/m
2
) é de 80% até a idade de 35 anos
25
. Segundo o estudo Bogalusa, 77% das
crianças obesas e apenas 7% das crianças com peso adequado, se tornaram adultos
obesos
26
.
O portador de excesso de peso tem maiores chances de desenvolver doenças
cardiovasculares, diabete, enfermidades osteoarticulares, esteatose hepática, litíase
biliar, enfermidades endócrino-metabólicas, refluxo gastroesofágico, problemas
respiratórios, dermatológicos e emocionais
27 - 28
. A associação entre obesidade, doenças
cardiovasculares e diabete é de interesse especial. Nos Estados Unidos, as complicações
relacionadas ao diabete consomem a maior parcela dos custos do sistema de saúde,
seguidas pelas doenças cardiovasculares
29
.
6
1.4
OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA
A obesidade está associada a algumas características clínico-laboratoriais, que
em conjunto são denominadas síndrome metabólica (SM). De instalação insidiosa, a SM
inicia-se com limitações da ação periférica da insulina, evoluindo para aumento
compensatório de sua produção, diminuição da tolerância à glicose até um quadro de
diabete.
A síndrome metabólica (ou síndrome de resistência à insulina ou síndrome X) é
definida pela Organização Mundial da Saúde
30
como um conjunto de alterações em um
indivíduo que apresenta distúrbio do metabolismo da glicose. Dessas alterações, são
consideradas as principais: hipertensão arterial, dislipidemia aterogênica (aumento do
triglicéride, diminuição do HDL colesterol) e obesidade central. Os critérios adotados
pelo Adult Treatment Panel III – ATP III - (The National Heart, Lung and Blood
Institute)
31
e pela American Association of Clinical Endocrinologists
32
são semelhantes,
porém com algumas modificações (Tabela I). A Sociedade Brasileira de Cardiologia, no
I Consenso Brasileiro sobre Síndrome Metabólica
33
, adotou o critério do ATP III.
Vários estudiosos consideram a obesidade fator de risco e não critério
diagnóstico para a definição da SM, embora a maioria dos portadores da síndrome
apresentem excesso de peso
34
. Indivíduos com SM têm maiores chances de desenvolver
doenças cardiovasculares, por agregar vários fatores de risco. Se não tratadas, as
alterações metabólicas assintomáticas progridem para doenças crônicas, como
hipertensão, doença coronariana e diabete.
29 - 35
.
A resistência à insulina pode ser avaliada através da relação entre glicemia e
insulinemia de jejum, com a utilização do modelo matemático sugerido por Matheus et
al em 1985. O Homeostasis Model Assessment (HOMA) tem demonstrado boa
7
correlação com o clamp test*, considerado padrão ouro para quantificar a resistência à
insulina. Calcula-se o produto da glicemia de jejum (mmol/L) pela insulinemia de jejum
(µUI/ml), dividindo-se o resultado por 22,5
36
. Quanto maior o resultado, maior a
resistência à insulina. Em adultos, resultados acima de 2,77 , segundo Bonora et al
37
ou
acima de 4,00 , segundo Haffner et al
38
, são considerados alterados. Em crianças e
adolescentes, ainda não existe um ponto de corte consensual. Alguns autores sugerem
valores como 2,5
39,
40
, 3,3
41
e 3,8
42
.
*Clamp test: administração intravenosa contínua de glicose e insulina por 3 horas. O
cálculo da sensibilidade à insulina é feito através da medição da quantidade de glicose
necessária para manter os níveis de glicemia normais.
8
TABELA I: Critérios de diagnóstico de síndrome metabólica em adultos.
Organização Mundial da Saúde ATP III AACE
-Diabete, intolerância à glicose
ou resistência à insulina
(HOMA), acrescido de 2 destes
critérios:
-Relação cintura/quadril.>0,90
(homens) ou >0,85 (mulheres)
-Triglicéride 150mg/dL ou
HDL <35mg/dL (homens) ou
<39 mg/dL (mulheres)
-Taxa de excreção urinária de
albumina >20µg/min
-Pressão arterial 140/90mmHg
Presença de pelo menos 3
critérios:
-Circunferência da cintura >102cm
(homens) e >88 cm (mulheres)
-Triglicérides 150mg/dl
-HDL < 40 mg/dL (homens) e
<50mg/dL (mulheres)
-Pressão arterial 130/85mmHg
-Glicemia 110mg/dL
Presença de um dos fatores:
diagnóstico de DCV,
hipertensão, síndrome do
ovário policístico,
esteatohepatite não alcoólica
ou acantosis nigricans;
história familiar de diabetes,
doença cardiovascular ou
hipertensão; história
gestacional de diabetes ou
intolerância à glicose; etnia
não caucasiana; vida
sedentária; IMC>40kg/m
2
(homens) ou >35 (mulheres);
idade > 40 anos.
Acrescido de dois destes
critérios:
-Triglicérides >150mg/dL
-HDL < 40mg/dL (homens)
ou < 50mg/dL (mulheres)
-Pressão arterial
>130/85mmHg
-Glicemia de jejum 110-
125mg/dL ou teste de
tolerância à glicose 140-
200mg/dL
9
A prevalência de SM na população adulta americana é de aproximadamente
25%, dependendo do critério utilizado
43
. Não foram encontrados dados da prevalência
de SM na população brasileira, nas bases de dados MEDLINE E LILACS.
Na faixa etária pediátrica, a definição de síndrome metabólica é ainda mais
difícil. Não há um padrão universal de fácil acesso para caracterizar a obesidade
abdominal em crianças e adolescentes
23
. A medida da circunferência da cintura ou a
relação cintura/quadril variam com a idade, o desenvolvimento puberal e a etnia. Em
vista disso, a maioria dos pesquisadores não utiliza este dado como critério para SM. As
alterações lipídicas também devem ser ajustadas à faixa etária, assim como os níveis de
pressão arterial. O 1st World Congress on the Insulin Resistance Syndrome
34
adverte
para a subestimação da prevalência da síndrome metabólica em crianças, caso sejam
utilizados os mesmos pontos de corte recomendados para adultos. Critérios sugeridos
para a definição de SM em crianças são apresentados na tabela II.
10
Tabela II: Critérios de diagnóstico de síndrome metabólica em crianças.
1st World Congress on the
Insulin Resistance Syndrome
34
Pelo menos 3 dos critérios:
-triglicérides>110mg/dL
-HDL<40mg/dL
-glicemia de jejum>110mg/dlL
-pressão arterial >120/68mm/Hg (meninos) e 116/70mm/Hg
(meninas)
Cook e Dietz
44
(para crianças acima de 10 anos)
Pelo menos 3 dos critérios:
-triglicérides >110mg/dL
-HDL 40mg/dL
-glicemia 110mg/dL
-pressão arterial acima do percentil 90
-circunferência da cintura acima do percentil 90 (para idade e sexo
usando como referência toda a amostra da população)
Weiss et al
45
Pelo menos 3 dos critérios:
-IMC> percentil 97 (ou Z-score 2)*
-triglicérides acima do percentil 95*
-HDL abaixo do percentil 5*
-teste de tolerância à glicose entre 140-200mg/dL
-pressão sistólica ou diastólica acima do percentil 95*
* usando como referência todo o grupo da pesquisa
Silva et al
39
(para crianças acima de 10 anos)
Pelo menos 3 dos critérios:
-IMC acima do percentil 97
-triglicérides >130mg/dL
-HDL 35mg/dL
-resistência à insulina (HOMA) >2,5, glicemia de jejum >110mg/dL
ou glicemia pós-pradial >140mg/dL
-pressão arterial sistólica ou diastólica acima do percentil 95 para
idade e sexo
Invitti et al
40
Pelo menos 3 dos critérios:
-IMC acima do percentil 97*
-triglicérides acima do percentil 95*
-HDL abaixo do percentil 5*
-resistência à insulina (HOMA) >2,5 ou intolerância à glicose ou
diabetes.
-pressão arterial acima do percentil 95*
* usando como referência um grupo controle de crianças sadias
11
A prevalência de SM encontrada por Cook et al
44
, entre adolescentes americanos
(NHANES III 1988-1992) foi de 4%. Utilizando os mesmos critérios, Duncan et al
46
,
(NHANES 1999-2000), encontraram prevalência de 6,4%. A estratificação dos
indivíduos de acordo com os valores do IMC identificou como portadores de SM:
32,1% dos obesos, 7,1% dos indivíduos com sobrepeso e menos de 1% daqueles com
peso adequado. A prevalência de SM encontrada por Weiss et al
45
, em crianças e
adolescentes americanos (4 a 20 anos) com excesso de peso foi de 38,7% nos
moderadamente obesos (Z score do IMC entre 2-2,5) e 49,7% nos intensamente obesos
(Z score do IMC acima de 2,5). Já Invitti el al
40
, estudando crianças e adolescentes
europeus obesos (6-18 anos) e adotando critério modificado para a faixa etária,
encontraram prevalência de SM de 31,6%.
Dados do Brasil (São Paulo) demonstraram que em população de 99
adolescentes (10-19 anos), com história familiar de diabetes tipo II, a prevalência de SM
foi de 6%, não sendo encontrado nenhum caso entre indivíduos com peso adequado ou
sobrepeso. A prevalência de SM foi de 26,1% entre obesos, sendo a resistência à
insulina a principal alteração encontrada
39
.
12
1.5 OBESIDADE E DOENÇA CARDIOVASCULAR
Sabe-se que o excesso de gordura corporal eleva o risco de desenvolvimento de
hipertensão arterial, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral
47, 48
,
dislipidemias e fenômenos trombóticos
49
. O mecanismo fisiopatológico que relaciona a
obesidade e as doenças cardiovasculares ainda não está claro.
As doenças cardiovasculares têm etiologia multifatorial, com componentes
ateroscleróticos, trombóticos e inflamatórios, que se instalam ao longo dos anos. O
conceito de que a aterosclerose é um fenômeno crônico degenerativo do idoso foi
substituído pelo que a considera uma doença inflamatória crônica, subclínica, que se
inicia na infância
50
. A evolução da aterosclerose inclui a ação de macrófagos, monócitos
e citocinas, que lesam o endotélio permitindo a passagem e o acúmulo de lípides nas
artérias. Quando ocorre ruptura da placa aterosclerótica, novamente há o envolvimento
de macrófagos e citocinas, que estimulam a liberação de enzimas proteolíticas, tendo
como conseqüências a disfunção endotelial, a vasoconstrição e a trombose
51
.
O bom funcionamento do aparelho cardiovascular depende de um endotélio
sadio, que permita um equilíbrio entre fatores vasoconstritores e vasodilatadores,
produzidos pela célula endotelial. A disfunção endotelial pode ser caracterizada como
um desequilíbrio de qualquer um dos fatores de manutenção da homeostase vascular,
como a capacidade de vasodilatação, resposta ao óxido nítrico, proliferação de células
musculares e espumosas, coagulação, fibrinólise, trombose e oxidação
52
. A disfunção
endotelial, como conseqüência da inflamação e da resistência à insulina, está implicada
na patogênese e no curso clínico da maioria das doenças cardiovasculares, e está
associada ao risco futuro de eventos cardiovasculares
53,
54
.
13
1.6 TECIDO ADIPOSO E REAÇÃO INFLAMATÓRIA
O diabete e as doenças cardiovasculares têm algumas características comuns,
sugerindo um mesmo mecanismo fisiopatológico para as duas condições.
Recentemente, a hipótese que a inflamação possa ser o “solo comum” tem conquistado
espaço entre os pesquisadores.
O tecido adiposo não é mais considerado tecido de depósito. Sabe-se que ele
secreta substâncias com ação sistêmica. Evidências têm demonstrado a implicação do
tecido adiposo, particularmente da adiposidade visceral, como chave de regulação de
inflamação
55
. O tecido adiposo secreta citocinas pro-inflamatórias, que funcionam como
base molecular para a disfunção dos sistemas implicados no desenvolvimento da
aterosclerose e outras alterações metabólicas
56
. O fator de necrose tumoral-α (FNT-α) e
a interleucina–6 (IL-6) parecem ter papel importante neste processo.
A liberação de FNT-α do tecido adiposo foi demonstrada in vitro, por Kern et al,
em 1995
57
e suas concentrações estão relacionadas ao percentual de gordura corporal
58
.
O FNT-α lesa as células endoteliais, precipitando a apoptose e facilitando a atividade
pro-coagulante e o depósito de fibrina, estando relacionado ao desenvolvimento da
aterosclerose
59
. Parece ter importante efeito no metabolismo lipídico e na regulação do
ganho de peso, além de ser conhecido como importante mediador da resistência à
insulina na obesidade
60,
61
. As concentrações séricas de FNT-α estão relacionadas com
índices de adiposidade e com concentrações de Proteína C-reativa (PCR) tanto em
adultos
62
, quanto em crianças
63
.
Mohamed-Ali et al
64
, em 1997, demonstraram a produção, in vivo, de IL-6 no
tecido subcutâneo humano. Esta produção, bem como suas concentrações no sangue,
14
aumenta à medida que aumenta a adiposidade. Estimou-se que 30% da IL-6 circulante é
originária do tecido adiposo em pessoas sadias. Foi também observado que, in vitro, o
tecido adiposo visceral libera mais IL-6 do que o tecido subcutâneo
65
. A IL-6 pode ser a
chave no desenvolvimento da doença cardiovascular através de diversos mecanismos,
como alterações metabólicas, endoteliais e da coagulação. Ela pode elevar a glicose,
alterar a sensibilidade à insulina, aumentar a liberação de moléculas de adesão pelo
endotélio, aumentar a liberação hepática de fibrinogênio e exercer efeito pro-coagulante
nas plaquetas
66
. A IL-6 estimula a produção hepática de PCR
67, , 68 69
.
A Proteína C-reativa é uma molécula com alta estabilidade, da família das
proteínas Pentraxin, secretada pelo fígado em resposta a uma variedade de citocinas
inflamatórias. Eleva-se rapidamente em resposta ao trauma, inflamação e infecção, tem
meia vida no plasma de 18 a 20 horas. A concentração da PCR vem sendo usada, desde
a década de 70, para diagnóstico e acompanhamento de estados inflamatórios e
infecções
70
. A PCR faz parte do sistema imune inato
51
.
15
1.7 MARCADOR DE INFLAMAÇÃO (PCR) E DOENÇA
CARDIOVASCULAR
Recentemente, estudos epidemiológicos têm documentado que discretas
elevações das concentrações de PCR, mesmo ainda dentro da faixa de referência, podem
prever o aparecimento de doenças cardiovasculares.
Em 1996, Mendell et al
71
, em uma pesquisa com 303 homens de 50-69 anos,
observaram que maiores concentrações de PCR estavam associadas com idade, IMC,
fatores de risco cardiovascular e doença cardiovascular (alteração eletrocardiográfica,
claudicação, angina e infarto). Na pesquisa de Ridker el at
72
(1997), realizada com 1086
homens sadios (40 a 84 anos), os indivíduos com concentrações de PCR no quartil
superior ( 2,11 mg/L) tinham 2 vezes mais chances de apresentar acidente vascular
cerebral e 3 vezes mais chances de ter infarto agudo do miocárdio. Também em 1997,
Koening et al
73
realizaram pesquisa em 936 homens inicialmente sadios (Monitoring
Trends and Determinants in Cardiovascular Disease- MONICA- Augsburg Cohort
Study), e concluíram que elevações de um desvio padrão das concentrações de PCR
aumentavam em 50% o risco de eventos cardiovasculares. Os pacientes com percentis
superiores tiveram 2,6 vezes mais chances de apresentar evento cardiovascular. A
distribuição da PCR foi semelhante a outros estudos, com 55 a 80% dos valores
inferiores a 2,0mg/L. A PCR também teve valor preditivo para doenças
cardiovasculares em mulheres, como confirmado por Ridker et al
74
(1998), em estudo
caso-controle com 366 mulheres pós-menopausa. As pacientes que apresentaram um
evento cardiovascular tinham a média da PCR mais elevada (6,45mg/L) do que as que
não apresentaram (3,75mg/L). As mulheres com níveis mais elevados de PCR (>7,3
mg/L) tiveram risco 5 vezes maior de apresentar evento vascular e 7 vezes maior de
apresentar infarto ou isquemia cerebral.
16
Em um estudo de meta-análise de 7 trabalhos prospectivos, Danesh et al
75
concluiram que indivíduos com concentrações de PCR no terço superior (>2,4mg/L) da
distribuição geral tinham risco 1,7 vezes maior de desenvolver DCV quando
comparados aos indivíduos com concentrações de PCR no terço inferior (<1,0mg/L).
Posteriormente, Danesh et al
76
confirmaram essa associação em estudo envolvendo 507
homens que haviam sofrido infarto agudo do miocárdio. Nessa população, as
concentrações da PCR estavam associadas ao tabagismo, IMC e baixo volume
expiratório final. A razão de chances para doença coronariana foi de 3,46 em homens
com concentrações de PCR no terço superior da distribuição (>2,4mg/L) quando
comparados aos indivíduos com concentrações no terço inferior (<0,9mg/L).
A PCR também foi relacionada ao risco futuro de hipertensão arterial em um
grande estudo prospectivo. Embora atinja milhões de indivíduos em todo o mundo, e
seja considerada fator de risco para as DCV, a etiologia da doença hipertensiva continua
não sendo bem compreendida Os dados do Women’s Health Study
77
demonstram que os
níveis de PCR estão diretamente relacionados ao maior risco de desenvolvimento da
hipertensão, sugerindo que a inflamação pode ter papel no seu desenvolvimento. As
citocinas inflamatórias ocasionariam menor produção de óxido nítrico no endotélio
vascular e maior produção de endotelina, resultando em vasoconstrição
61
.
Em 4 grandes estudos de coorte realizados nos Estados Unidos (The Physicians
Health Study, the Women´s Health Study, the Women´s Health Initiative, and the Air
Force/Texas Coronary Atherosclerosis Prevention Study)
78
, a distribuição das dosagens
da PCR em americanos de meia-idade, independente do sexo e etnia, para os percentis
10, 25, 50, 75 e 90 são: 0,3; 0,6; 1,5; 3,5 e 6,6 mg/L, respectivamente.
Os mecanismos que originam a elevação da PCR em pacientes com risco futuro
de DCV continuam pouco entendidos. Teria a PCR envolvimento direto na etiologia
17
multifatorial da DCV ou seria apenas um marcador de dano endotelial em evolução? A
relação entre os níveis basais de PCR e o risco futuro de eventos cardiovasculares tem
sido consistentemente comprovada em estudos nos Estados Unidos e Europa, e na
maioria das vezes, independente da idade, sexo, tabagismo, níveis de colesterol, pressão
arterial e diabetes. Atualmente, os pontos de corte sugeridos são: níveis de PCR
menores que 1mg/L – baixo risco para DCV; níveis entre 1 e 3mg/L – risco moderado;
níveis acima de 3 mg/L – risco elevado
79
.
18
1.8 MARCADOR DE INFLAMAÇÃO (PCR) E OBESIDADE
Visser et al
80
(1999), realizaram um grande estudo com 16616 pacientes,
controlados para doenças inflamatórias e outros fatores que influenciam os níveis de
PCR (tabagismo, terapia de reposição hormonal), participantes do Thrid National
Health and Nutrition Survey (NHANES III). Observaram que a concentração da PCR
era indetectável (2,1mg/L), pela técnica laboratorial utilizada, na maioria dos
indivíduos. Consideraram como elevada a concentração acima de 2,2mg/L, o que
ocorreu em 21,8% dos homens e em 33,1% das mulheres. Esta elevação estava
diretamente relacionada com o aumento do IMC e com a relação cintura/quadril.
Concluíram, também, que os homens obesos têm 2,13 mais chances de ter elevação da
PCR do que os não obesos, enquanto as mulheres obesas têm 6,21 mais chances do que
as não obesas. A análise foi repetida em indivíduos sadios, não tabagistas, com idade
entre 17 e 39 anos, e a associação da PCR elevada com IMC continuou positiva. Essas
observações, em conjunto com as evidências de outras pesquisas, sugerem que o risco
aumentado de doença cardiovascular em pacientes com excesso de peso pode ser
explicado por um estado de inflamação de baixa intensidade, gerado pela obesidade.
Em 2000, Cook et al
81
realizaram a primeira pesquisa em crianças hígidas (9-11
anos) para avaliar as concentrações de PCR e suas relações com a adiposidade e fatores
de risco cardiovascular. A vantagem da pesquisa nesta faixa etária seria a maior
facilidade de se controlar fatores de confusão, como a doença coronariana e o
tabagismo. A concentração de PCR foi fortemente relacionada ao Índice Ponderal (IP),
sendo 270% maior no quintil superior do IP quando comparado ao quintil inferior. Ela
foi 47% mais elevada em meninas do que nos meninos, possivelmente devido às
variações da composição corporal. Essas crianças haviam sido avaliadas aos 5-7 anos e
19
o IP desta idade está relacionado ao IP da idade atual. Quando foi realizada análise por
regressão, o PCR só se relacionou com a obesidade atual, e não com o IP passado. A
PCR também teve forte relação com o fibrinogênio e foi inversamente relacionada com
o HDL e com a freqüência cardíaca. Outros fatores de risco cardiovascular (colesterol,
triglicérides, glicose, insulina, pressão arterial) não se relacionaram com a PCR ou
foram atenuados após ajuste para a adiposidade. Esses dados sugerem que a presença de
inflamação de baixa intensidade em indivíduos com sobrepeso ou obesidade, desde a
infância, pode colaborar com o desenvolvimento da aterosclerose e da doença
cardiovascular.
Visser et al
82
, em 2001, avaliaram a concentração da PCR em 3512 crianças e
adolescentes (8 a 16 anos) que haviam participado do NHANES III (1988-1994). Foi
observada maior prevalência de PCR elevada (>2,2mg/L) em crianças e adolescentes
com sobrepeso ou obesidade, quando comparados com os de peso normal, situados
abaixo do percentil 85 do IMC. A prevalência de PCR elevada foi de 7,6 % no sexo
masculino e 6,1% no feminino. Nas crianças e adolescentes com IMC > percentil 85,
20,6% do sexo masculino e 18,7% do feminino apresentavam valores de PCR elevados.
O excesso de peso também foi associado à contagem de leucócitos mais elevada,
corroborando com a hipótese de inflamação.
O reconhecimento de que o tecido adiposo é metabolicamente ativo, podendo
gerar estado de inflamação sistêmica, abriu novas perspectivas de pesquisas para
elucidar as relações entre obesidade, resistência à insulina e doença cardiovascular.
Seria a reação inflamatória, gerada pela obesidade, o “solo comum” entre a síndrome
metabólica e a doença cardiovascular? A longo prazo, os distúrbios do metabolismo da
glicose e dos lípides presentes na síndrome metabólica poderiam se associar ao dano
vascular induzido pela inflamação, facilitando a ocorrência de eventos
cardiovasculares?
20
O acúmulo de gordura abdominal, também conhecido como obesidade central,
visceral ou andróide, tem sido reconhecido como fator de risco cardiovascular mais
importante do que a gordura corporal total
83,
84
. A maior produção de citocinas pela
gordura visceral, quando comparada à produção pela gordura periférica, poderia ser
uma explicação para justificar esta relação. As técnicas consideradas mais adequadas
para quantificar a gordura abdominal são a tomografia computadorizada e a ressonância
magnética, que por serem dispendiosas e de difícil acesso, têm sido substituídas pela
medida da circunferência da cintura e sua relação com a circunferência do quadril
85
.
Yudkin et al
86
(1999), em pesquisa com 107 pacientes adultos não diabéticos,
observaram que indivíduos que tinham concentrações de PCR mais elevadas (acima da
média da amostral:1,35mg/L) tinham maior IMC, maior relação cintura-quadril,
apresentavam maiores níveis de pressão arterial, triglicérides, fator de Von Willebrand,
fibronectina, FNT-α e IL-6. Encontraram forte relação entre os componentes da
síndrome metabólica e as provas de reação inflamatória (PCR, IL-6, FNT-α). Festa et al
87
, em estudo com grupo de 1088 indivíduos não diabéticos, também encontraram forte
associação entre concentrações de PCR e medidas de obesidade (IMC e circunferência
da cintura) e sensibilidade à insulina, avaliada pelo clamp test. Houve aumento linear da
concentração da PCR com o aumento do número de desordens metabólicas
(dislipidemia, obesidade central, resistência à insulina, hipertensão).
A associação independente da circunferência abdominal com níveis de PCR foi
demonstrada por Hak et al
88
, sugerindo que o excesso de gordura abdominal pode ser
fator importante para explicar o estado de inflamação na síndrome metabólica. Também
foi demonstrado que os níveis de FNT-α estão elevados em mulheres com obesidade
abdominal, sendo que a maioria delas apresentava algum grau de resistência à insulina
ou intolerância à glicose
89
.
21
Chambers et al
90
compararam dois grupos de pacientes (518 indianos e 507
europeus) quanto aos níveis de PCR e fatores de risco cardiovascular. Em ambos os
grupos, a concentração de PCR estava associada com a idade, tabagismo, IMC, relação
cintura-quadril (RCQ), pressão arterial, glicose, triglicérides e resistência à insulina e
inversamente relacionada com o HDL. As relações mais fortes se deram entre o IMC,
RCQ e resistência à insulina. A PCR estava mais elevada no grupo dos indianos, porém
esta diferença foi abolida quando ajustada pela RCQ e resistência à insulina. Esses
resultados sugerem que a inflamação pode estar contribuindo significativamente para a
elevada mortalidade de indianos por DCV.
Para avaliar a relação entre medidas de gordura corporal e PCR, Tchernof et al
91
examinaram 61 mulheres obesas pós-menopausa. Encontraram associação positiva entre
PCR e peso, IMC, massa de gordura total e gordura abdominal. Não houve correlação
entre PCR e gordura subcutânea. O peso foi o melhor preditor dos níveis de PCR,
explicando 18,1% da variação.
Com a intenção de avaliar a relação entre os componentes da síndrome
metabólica, as concentrações de PCR e o acúmulo de gordura abdominal, Lemiex et al
92
realizaram pesquisa com 159 homens. Encontrou-se relação com significância
estatística entre níveis de PCR e todos os índices de obesidade (IMC, massa de gordura
total, circunferência abdominal, diâmetro sagital, tecido adiposo subcutâneo e visceral).
Apesar da gordura corporal total estar melhor correlacionada com níveis de PCR,
concentrações mais elevadas foram encontradas entre homens que também tinham
maior acúmulo de tecido adiposo na região abdominal.
Brook et al
93
demonstraram que entre jovens adultos obesos, sem outros
problemas de saúde, a relação cintura/quadril é o mais potente fator preditivo de
disfunção vascular endotelial, avaliado pela dilatação mediada pelo fluxo na artéria
22
braquial. Este resultado reforça a noção de que a gordura abdominal é um fator de risco
mais significativo do que a gordura corporal total, sugerindo a existência de uma ligação
direta entre a gordura abdominal e o prejuízo da função vascular, não explicada pelos
outros fatores de risco.
Festa et al
94
, estudaram a relação do fibrinogênio e da PCR com várias medidas
de gordura corporal e sua distribuição (IMC, circunferência da cintura, relação
cintura/quadril, massa livre de gordura, massa de gordura corporal) em 1559 adultos.
Tanto a PCR, quanto o fibrinogênio, associaram-se com todas as medidas de gordura
corporal, mas correlações mais fortes foram encontradas entre PCR e IMC,
circunferência da cintura e massa de gordura corporal. As associações não se
modificaram com a presença de diabetes tipo 2 e foram mais fortes no sexo feminino.
No modelo de regressão linear multivariado a circunferência da cintura explicou 14,5 %
da variação dos níveis de PCR, o IMC 0,4 % e a sensibilidade à insulina 1,7 %.
Em 2004, Yudkin et al
95
realizaram pesquisa com 469 homens (<60 anos) que
haviam sofrido infarto agudo do miocárdio (IAM) e 575 controles sadios, da mesma
faixa etária. Encontrou-se associação entre os componentes da síndrome metabólica
(IMC, triglicérides, insulina) e variáveis inflamatórias (fibrinogênio, PCR e IL-6), nos
dois grupos. Essas observações sugerem que as citocinas, liberadas em parte pelo tecido
adiposo, podem ser parcialmente responsáveis pelas anormalidades metabólicas,
hemodinâmicas e hemostáticas da síndrome metabólica. Dessa forma, a obesidade
poderia aumentar o risco cardiovascular pela indução de estado de inflamação sistêmica,
de baixa intensidade, que resultaria em resistência à insulina e disfunção endotelial.
A inflamação também tem sido implicada no desenvolvimento do diabete tipo 2.
Dois estudos prospectivos (Women's Health Study
96
e The México City Diabetes
Study
97
) observaram que mulheres que desenvolveram diabetes ou síndrome metabólica
23
tinham valores de PCR mais elevados do que as que não desenvolveram. Esta relação
não se repetiu com homens no estudo da Cidade do México.
Ford et al
98
, em 2001, analisando dados de Third National Health and Nutrition
Examination Survey III (1988-1994), de 5305 indivíduos entre 6 e 18 anos, encontraram
em 90% deles concentrações de PCR < 2,1mg/L. A percentagem de participantes que
apresentava PCR>2,1mg/L se elevava, à medida que o IMC se elevava. Não houve
associação com idade, sexo, raça e estadiamento puberal. A concentração de PCR
estava elevada (>2,1mg/L) em:
- 8,67% dos indivíduos com percentil de IMC abaixo de 15
- 5,93% dos indivíduos com percentil de IMC entre 15 e 85
- 12,81% dos indivíduos com percentil de IMC entre 85 e 95
- 27,6% dos indivíduos com percentil do IMC acima de 95.
Em um grupo de 79 crianças sadias (10,5±1,1 anos), Järvisalo et al
99
demonstraram que níveis elevados de PCR estavam diretamente relacionados ao IMC e
aos sinais precoces de aterosclerose e disfunção endotelial, medidos pelo espessamento
da camada íntima-média da carótida e pela dilatação fluxo-mediada da artéria braquial.
Em 2003, analisando dados de uma amostra representativa da população
americana (NHANES de 1999-2000), com idade entre 3 e 17 anos (1479 meninos e
1367 meninas), Ford et al
100
relataram que a concentração de PCR variou de 0,1 mg/L
até 65,2 mg/L (média geométrica: 0,4 mg/L) entre meninos e 0,1 a 46,6 mg/l (média
geométrica: 0,5 mg/L) nas meninas. A PCR se relacionou fortemente com o IMC e de
forma fraca com a homocisteína (meninas) e pressão diastólica (meninos). Neste estudo
o IMC teve o mais forte valor preditivo das concentrações de PCR, independente de
outros fatores de risco cardiovascular.
24
A relação entre excesso de peso, insulina e PCR foi avaliada por Shea et al
101
,
em pesquisa com 491 crianças de 2 a 3 anos. A PCR não se relacionou com as medidas
de obesidade, mas sim com níveis basais de insulina. Esta observação indica que a
reação inflamatória pode gerar hiperisulinemia em fases iniciais da vida, o que poderia
resultar na intolerância à glicose ao longo dos anos.
Em estudo com 439 obesos, com idade entre 4 e 20 anos, Weiss et al
102
estudaram a prevalência da síndrome metabólica em crianças e adolescentes obesos, sua
relação com graus de obesidade e resistência à insulina. Também foram avaliados
marcadores de risco para doença cardiovascular futura e sua relação com obesidade. Os
valores de triglicérides, PCR, interleucina-6, resistência à insulina, intolerância à glicose
e pressão arterial aumentaram significativamente à medida que se agravava a obesidade,
e houve diminuição dos níveis de HDL e adiponectina. Os níveis de PCR foram
significativamente relacionados aos graus de obesidade (p<0,001), mas não com níveis
de insulina. A interleucina-6 também se elevava com o aumento do grau da obesidade,
mas não com o grau de resistência à insulina. Os autores concluíram que, como em
adultos obesos, a resistência à insulina está associada com fatores metabólicos adversos.
Como a PCR não se relacionou significativamente com a resistência à insulina e à
síndrome metabólica, parece que a inflamação de baixa intensidade pode ser um fator
adicional que contribui ao longo do tempo para a instalação da doença cardiovascular
nesses indivíduos.
Em uma segunda parte deste estudo, 77 pacientes foram reavaliados após
21,5±10,5 meses. Dos 34 que inicialmente preenchiam os critérios da síndrome
metabólica, 24 ainda eram considerados como portadores. Os outros 10 pacientes que
não mais preenchiam os critérios eram os que inicialmente tinham um IMC menor,
tinham ganho menos peso e tinham diminuído a resistência à insulina. Estes dados
25
sugerem que o fenótipo da síndrome metabólica persiste no tempo e tende a progredir,
agravando o prognóstico das crianças obesas.
Em uma amostra representativa da população de jovens de 9, 13 e 16 anos, da
província de Quebec (Canadá), Lambert et al
103
encontraram:
- 47% das crianças de 9 anos, 50,7% das de 13 anos e 32% das de 16 anos
tinham concentrações de PCR abaixo do limite de detecção (0,20 mg/L).
- 2% das crianças de 9 anos, 1,1% das de 13 anos e 2,6 % das de 16 anos tinham
concentrações de PCR > 10 mg/L
- 7,7% das crianças de 9 anos, 5,5% das de 13 anos e 12,8 % das de 16 anos
tinham valores de PCR> 3,0 mg/L. De todo o grupo, 8,9% tinham PCR > 3,0 mg/L.
- O percentil 95 da concentração de PCR nos meninos de 9 anos foi 2,73 mg/L
(IC 95% 2,09-4,22mg/L), nos de 13 anos foi de 4,44mg/L (2,96-5,74 mg/L) e nos de 16
anos foi de 3,28mg/L (2,29-5,04 mg/L).
- O percentil 95 da concentração de PCR nas meninas de 9 anos foi 5,02 mg/L
(IC 95% 3,81-6,36 mg/L), nas de 13 anos foi de 2,43mg/L (2,03-3,94 mg/L) e nas de 16
anos foi de 5,29mg/L (4,32-6,33 mg/L).
- As concentrações de PCR foram fortemente associadas ao IMC, mesmo após
ajuste para idade, sexo, etnia, tabagismo e possíveis doenças inflamatórias/infecciosas.
A cada elevação de 1 desvio-padrão do IMC, havia elevação de 56,9% do valor da PCR.
- A PCR foi positivamente associada à insulina de jejum: a cada elevação de 1
DP da insulinemia, havia elevação de 37,1% do valor da PCR. Esta associação foi
atenuada após ajuste pelo IMC.
- Indivíduos com valores de PCR no quartil superior tiveram 1,4 vezes mais
chances de ter pressão sistólica elevada, 1,7 vezes mais chances de ter
26
hipertrigliceridemia e 2,3 vezes mais chances de ter HDL baixo, quando comparados
com os indivíduos com PCR no quartil inferior.
As concentrações de PCR também foram medidas em adolescentes espanhóis
por Wärnberg et al
104
, em trabalho publicado em 2004. Em amostra representativa da
população de adolescentes sadios entre 13 e 18 anos (493), a PCR estava associada ao
sobrepeso e obesidade e estava mais elevada no sexo masculino.
Em estudo com 100 crianças obesas comparadas a 50 não obesas, Iannuzzi et
al
105
demonstraram que, comparadas ao grupo controle, as crianças obesas têm valores
mais elevados de pressão arterial, triglicérides, glicemia, insulinemia, resistência à
insulina (avaliada pelo HOMA) e PCR. A avaliação da aorta abdominal por técnicas de
imagem demonstrou que nos obesos a parede da artéria era mais endurecida que dos
controles. Na análise univariada, não foi encontrada associação entre os parâmetros
mecânicos da aorta e fatores de risco cardiovascular ou com índices de resistência à
insulina. Porém, em meninas obesas com HOMA maior que 3 desvios-padrão (3,7), a
aorta abdominal era mais endurecida do que nas obesas com HOMA menor. O estudo
demonstra que meninas obesas têm alterações mecânicas da aorta abdominal e sugere
que os efeitos da obesidade e resistência à insulina podem ter um considerável impacto
nas mudanças pré-clinicas das artérias e ter importante e precoce papel na fisiopatologia
da doença macrovascular.
27
1.9 REDUÇÃO DA PCR E RISCO CARDIOVASCULAR
Não há evidências de que a queda da PCR reduzirá, necessariamente, o risco de
DCV. Entretanto, várias intervenções reconhecidas por diminuir o risco cardiovascular,
como parar de fumar, perder peso e praticar atividade física, também reduzem os níveis
de PCR. Vários agentes farmacológicos que reduzem o risco vascular também
influenciam a PCR
106,
107
.
Em um grupo de 83 mulheres obesas, que tiveram concentração de PCR
associada ao IMC e à circunferência da cintura, houve diminuição de 26 % do valor da
PCR após dieta com restrição de energia e perda moderada de peso (em 12 semanas),
indicando uma possível redução de risco de aterosclerose
108
.
Gallistl et al
109
demonstraram que a melhora da composição corporal
(diminuição do IMC e da massa de gordura) através de um programa de restrição de
energia combinado com atividade física (3 semanas) está associado com a diminuição
das concentrações de IL-6 em 49 crianças e adolescentes obesos.
Também para avaliar as conseqüências da perda de peso, Ziccardi et al
110
implementaram um programa com 56 mulheres (25-44 anos), sem outros problemas de
saúde. Neste grupo, as concentrações de IL-6 e FNT-α e moléculas de adesão ao
endotélio estavam positivamente relacionadas ao IMC e à relação cintura/quadril. Após
uma perda de peso de pelo menos 10% (12 meses), houve diminuição dos níveis de
glicose, insulina, IL-6, FNT-α e moléculas de adesão. Concluíram que a melhora da
função endotelial, após a perda de peso, está relacionada à queda das concentrações das
citocinas inflamatórias e foi mais acentuada na maior perda de gordura visceral.
28
Os efeitos da perda de peso também foram investigados por Tchernof et al
91
, em
25 mulheres que haviam cumprido um programa de perda de peso, com duração de
13,9±2,6 meses. Houve substancial perda de peso (14,5±6,2kg), mais acentuada na
massa de gordura corporal e melhora significativa do perfil metabólico (queda do
triglicéride e insulina e aumento do HDL). Houve redução das concentrações de PCR
em média 32,3%. Os autores concluíram que a perda de gordura corporal, em mulheres,
está associada à redução proporcional da PCR.
Em trabalho de Reinehr e Andler
111
, 130 crianças obesas foram acompanhadas
por um ano. O programa “Obeldicks” era formado por equipe interdisciplinar, sendo
composta por pediatras, nutricionistas, psicólogos e fisiologistas do exercício. Foram
avaliadas as variações do IMC (pelo escore padronizado) e relacionadas com o perfil de
risco aterogênico (hipertensão, LDL e triglicérides elevados, HDL baixo). Nesta
amostra, uma significante melhora do perfil de risco cardiovascular foi atingida quando
o IMC padronizado teve queda de 0,5, enquanto que uma queda menor que 0,5 não
refletiu em melhora do perfil (exceto por diminuição do LDL). No grupo de pacientes
que não teve redução do IMC padronizado, no período de um ano, houve um
significativo aumento da prevalência da síndrome metabólica. Mesmo num programa
tão abrangente quanto o “Obeldicks”, apenas 28% dos pacientes tiveram perda de peso e
melhora do perfil de risco aterogênico.
29
1.10 COMENTÁRIOS FINAIS
A fisiopatologia da obesidade e suas complicações é complexa e ainda não está
bem definida. Provavelmente há combinação de fatores genéticos, ambientais,
metabólicos, psicológicos e comportamentais. Uma nova maneira de abordar a
obesidade é como doença inflamatória.
O excesso de tecido adiposo, especialmente o visceral, produz grandes
quantidades de citocinas inflamatórias, como a IL-6 e FNT-α, que têm ação sistêmica.
Elas podem lesar o endotélio, causando um desequilíbrio na homeostase vascular,
gerando vasoconstrição e facilitando a adesão de moléculas aterogênicas. As citocinas
também levam a um desarranjo no metabolismo da glicose, através de suas ações na
resistência à insulina. Estas são condições que, ao longo dos anos, propiciam a
instalação das doenças cardiovasculares. Este estado de inflamação sistêmica poderia
ser mensurado pela PCR.
Hoje existe grande preocupação com a crescente prevalência da obesidade em
todo o mundo. A grande chance de uma criança obesa se tornar um adulto obeso, a fraca
adesão ao tratamento, os baixos percentuais de sucesso terapêutico
112
e as recidivas
colocam a obesidade como uma doença crônica de difícil tratamento. A manutenção
desse estado metabólico desfavorável, desde a infância até a vida adulta, pode piorar o
panorama de saúde das próximas gerações. A identificação de situações de risco e a
adoção de medidas profiláticas deve ser compromisso do profissional de saúde que lida
com crianças.
A população brasileira tem característica e hábito próprios, sendo importante
estudar suas particularidades. Por outro lado, a prevalência da obesidade e suas
conseqüências vêm aumentando aqui como no resto do mundo. É de fundamental
30
importância avaliar se as alterações encontradas nas várias pesquisas publicadas no
mundo se aplicam também aos brasileiros.
Este trabalho tem o objetivo de avaliar se a obesidade está relacionada à reação
inflamatória em crianças e adolescentes brasileiros, como já foi observado em outros
países. Também tem o objetivo de avaliar a freqüência de síndrome metabólica em um
grupo de pacientes atendidos em ambulatório de especialidade de um hospital escola.
Trata-se da primeira pesquisa brasileira a avaliar estes aspectos, tornando o estudo
relevante e abrindo novas perspectivas de pesquisa.
31
1.11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1
Ukkola O, Bouchard C. Fatores genéticos e obesidade infantil. Anais Nestlé
2002;62:12-21
2
Cole TJ. Assessment: national and international reference standards. Obesity in
chilhood and adolescence. Nestlé Nutrition Workshop Series 2002;49:1-21.
3
Fonseca JGM, Silva MKS, Félix DS. Obesidade e outros distúrbios alimentares.
Clínica Médica 2001; 1(2):257-8.
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41
VERSÃO PRELIMINAR DE ARTIGO
CIENTÍFICO:
Indicador de inflamação de baixa intensidade em
crianças e adolescentes com e sem obesidade
VERSÃO PRELIMINAR DE ARTIGO CIENTÍFICO:
Indicador de inflamação de baixa intensidade em crianças e
adolescentes com e sem obesidade
2.1 RESUMO
Objetivos: Determinar as concentrações de proteína C-reativa ultra-sensível (PCR-US)
em 245 crianças e adolescentes obesos e não obesos e examinar sua correlação com o
índice de massa corporal (IMC) e variáveis metabólicas.
Métodos: Estudo transversal comparativo de grupos paralelos, sendo um grupo de
crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade (Grupo Obesidade, n=131) e grupo
controle de crianças e adolescentes não obesos (Grupo Controle, n=114). Foram
determinados os valores de PCR-US e avaliada a associação com variáveis clínico-
laboratoriais (IMC, idade, pressão arterial, lípides, glicemia, insulinemia) no grupo
obesidade.
Resultados: As concentrações da PCR-US foram maiores no grupo obesidade que no
grupo controle (p<0,0005) e relacionaram-se com o IMC (p<0,0001) e com as dosagens
de triglicérides(p=0,05). Após ajuste pelo IMC, a relação entre PCR-US e triglicérides
foi atenuada, deixando de ter significância estatística (p=0,10).
Conclusões: Os valores da PCR-US se elevaram, à medida que o IMC se elevou. A
maioria dos indivíduos sem excesso de peso teve concentrações de PCR-US abaixo de
2mg/L. A reação inflamatória, detectada em crianças e adolescentes com excesso de
peso, pode ser um fator inicial responsável pelas co-morbidades associadas à obesidade.
C-reactive protein in overweight / obese and euthrophics children and
adolescents
2.2 ABSTRACT
This study had two objectives: 1) to compare the serum levels of ultra-sensitive C-
reactive protein (CRP-US) in overweight or obese children and adolescents and
eutrophics; 2) to investigate the relationship of these findings with the body mass index
(BMI) and other metabolic variables.
Methods: The two groups compared were composed of 131 overweight or obese
children and adolescents (Obesity group) and a control group of 114 euthrophics. For the
obesity group, the mean values of CRP-US were obtained through nefelometry, and the
correlation with clinical and laboratorial variables (BMI, age, blood pressure, lipids
profile, glicemia and insulinemia) was studied.
Results: Serum levels of CRP-US were significantly higher in the obesity group,
compared to the controls (p<0,0005), and were also related to BMI (p<0,0001) and their
triglyceride levels (p=0,05). After adjustments for BMI, the relationship between CRP-
US and triglycerides was attenuated. However, these results were not statistically
significant (p=0,10).
Conclusions: The increments in CRP-US values were positively correlated with the
BMI, while most the euthrophics had the CRP-US levels below 2mg/L. It is suggested
that the inflammatory reaction, detected in overweight or obese children and adolescents
could be a first sign of the co-morbities related to obesity.
2.3 INTRODUÇÃO
A prevalência da obesidade vem aumentando em todo o mundo, tanto em adultos
quanto em crianças, sendo hoje considerada uma epidemia em países desenvolvidos e
em desenvolvimento
1,2
. A ocorrência da obesidade na vida adulta está relacionada à co-
morbidades e mortalidade aumentada, especialmente por doenças cardiovasculares e
diabete
3,4
. O excesso de peso na infância também está relacionado ao maior risco de
morte prematura na vida adulta
5
. A criança obesa tem grande chance de continuar obesa
na vida adulta, gerando uma preocupação maior com o excesso de gordura corporal
naquela faixa etária
6,7
.
A associação entre obesidade, doença cardiovascular e diabete foi demonstrada
em vários estudos
3,4
, porém sem definição de causalidade. Recentes pesquisas têm
apontado a reação inflamatória como fator comum entre essas doenças
8,9
. O tecido
adiposo secreta substâncias (fator de necrose tumoral -, interleucina-6, adiponectina,
resistina, leptina) que têm ação no endotélio vascular e no metabolismo da glicose e dos
lipídios
10, ,11 12
.
A proteína C-reativa (PCR) é produzida no fígado, em resposta as citocinas
inflamatórias. Sua dosagem vem sendo utilizada, desde a década de 70, para diagnóstico
e acompanhamento de estados inflamatórios e infecções
13
. Recentemente, estudos
epidemiológicos têm documentado que discretas elevações das concentrações de PCR,
mesmo ainda dentro da faixa de referência, podem prever o aparecimento de doenças
cardiovasculares
14, ,15 16
e diabete
17,18
. A PCR também vem sendo consistentemente
relacionada à obesidade, tanto em adultos
19,20
quanto em crianças
21,22
. Esses dados
sugerem que a presença de inflamação de baixa intensidade em indivíduos com
sobrepeso ou obesidade, desde a infância, pode colaborar com o desenvolvimento da
doença cardiovascular e do diabete.
Este estudo busca determinar as concentrações da PCR em crianças e
adolescentes obesos e não obesos e examinar sua correlação com o índice de massa
corporal (IMC) e variáveis metabólicas.
2.4 CASUÍSTICA E MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal comparativo de grupos paralelos, sendo um
grupo de crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade (Grupo Obesidade) e
grupo controle de crianças e adolescentes não obesos (Grupo Controle). A amostra foi
calculada com nível de confiança de 95% e poder estatístico de 80%. Foram incluídos
no Grupo Obesidade 131 crianças e adolescentes encaminhados para avaliação de
sobrepeso (IMC= peso/altura
2
- entre os percentis 85 e 95) ou obesidade (IMC acima do
percentil 95 - referência NCHS-2000
23
) no ano de 2004 e que realizaram a dosagem da
PCR ultra-sensível (PCR-US). O Grupo Controle foi constituído de 114 crianças e
adolescentes com IMC abaixo do percentil 85, que iriam realizar coleta de sangue no
Laboratório Central do HC-UFMG ou voluntários.
O estudo foi realizado no Ambulatório de Doenças Nutricionais do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) e teve aprovação da
Câmara do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG e do Comitê
de Ética em Pesquisa da UFMG. Os pais ou responsáveis e as crianças/adolescentes
foram informados da importância da pesquisa, seus objetivos, segurança na condução
dos exames e garantia de sigilo dos dados, através do termo de esclarecimento e
consentimento.
Foram excluídos do estudo crianças e adolescentes com doenças cardíacas,
renais, reumatológicas, neurológicas, respiratórias, infecciosas, endócrinas e
metabólicas, com obesidade secundária ou que estavam em uso de antiinflamatórios
(hormonais e não hormonais). Também foram excluídos os pacientes que tiveram as
concentrações da PCR-US acima de 10mg/L, por ser um valor sugestivo de inflamação
ou infecção em atividade.
Os pacientes do Grupo Obesidade foram atendidos por pediatra em consulta
individual para obtenção de anamnese, dados antropométricos, exame físico e
estadiamento puberal. Foram classificados como pré-púberes os pacientes no estágio 1
de maturação sexual e púberes os com estágio acima de 2 de Tanner
24
.
Todos os exames foram realizados no Laboratório Central do HC-UFMG. Para
os pacientes do Grupo Obesidade foram solicitadas dosagens de colesterol total e frações
(estearase oxidase - Johnson Vitros 750 XRC), triglicérides (Roche Cobas Mira/ Mira
Plus), glicemia de jejum (oxidase - Johnson Vitros 750 XRC), insulinemia de jejum
(quimioluminescência), TSH (DPC) e PCR-US. As dosagens da PCR-US foram feitas
por nefelometria, com kit doado pelo Laboratório Dade Behring, que detecta níveis
acima de 0,16mg/L. Valores indetectáveis foram considerados como 0,15mg/L. Os
exames foram colhidos após jejum de 12 horas.
Os componentes do Grupo Controle realizaram apenas a dosagem da PCR-US,
não sendo necessário jejum.
Para comparação de médias, os valores da PCR-US e insulinemia foram
transformados em escala logarítmica, por não apresentarem distribuição normal.
Os dados foram analisados com os aplicativos EPI-INFO e Minitab. Foram
feitos os testes qui-quadrado para variáveis categóricas, t-Student para comparação de
médias, análise de correlação de Pearson e regressão linear simples entre variáveis.
2.5 RESULTADOS
A faixa etária das crianças e adolescentes envolvidos no estudo variou de 2,3 a
19 anos e não houve diferença estatística entre os grupos em relação ao sexo e idade. As
concentrações da PCR-US foram maiores no Grupo Obesidade que no Grupo Controle
(quadro 1). No Grupo Controle, 33 (28,9%) tiveram valores de PCR-US abaixo do valor
de detecção (<0,16mg/L) e 104 (91,2%) tiveram valores abaixo de 2mg/L. No Grupo
Obesidade apenas uma (0,8%) criança apresentou valor de PCR-US indetectável e 82
(62,7%) abaixo de 2mg/L (Figura 1).
Em todo o grupo, não houve diferença na concentração média de PCR-US entre
sexos (masculino 0,80mg/L; feminino 0,81mg/L; p=0,92). No Grupo Obesidade, não
houve diferença na concentração média de PCR-US em relação ao estadiamento puberal
(pré-púbere 1,82mg/L; púbere 1,40mg/L; p=0,14).
Quadro 1- Características dos grupos obesidade e controle quanto ao sexo, idade e
média da PCR-US.
Variável
Grupo Obesidade (n=131) Grupo Controle (n=114)
Sexo Masculino 64 (48,9%) 66 (57,9%)*
Sexo Feminino 67 (51,1%) 48 (42,1%)*
Idade (média±DP) 10,3± 3,5 anos 10,21±4,0 anos*
Percentil do IMC (média±DP) 93,2 ± 4,5 39,0 ± 24,9 †
PCR-US (média±DP) 1,43 ± 2,74mg/L 0,42 ± 2,83mg/L †
*sem significância estatística
† p<0,0005
Figura 1 - Freqüência das concentrações de PCR-US nos grupos Controle e Obesidade.
28,9%
26,0%
10,7%
26,7%
7,9%
0,9%
8,8%
53,5%
0,8%
35,9%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Indetectável 1 2 3 >3
PCR (mg/L)
Frequência
Frequência PCR-US Controle
Frequência PCR-US Obesidade
Os pacientes do grupo obesidade apresentaram alterações metabólicas e nas
medidas de pressão arterial, como demonstrado no quadro 2.
Quadro 2 - Características clínico-laboratoriais dos pacientes do Grupo Obesidade.
n média
Normal*
n (%)
Alterado
n (%)
Colesterol total 108 161 ± 26mg/dL 99 (91,7%) 9 (8,3%)
LDL 107 99 ± 24mg/dL 94 (87,9%) 13 (12,1%)
HDL 107 41± 12mg/dL 71 (66,4%) 36 (33,6%)
Triglicéride 109 107 ± 52mg/dL 73 (67,0%) 36 (33,0%)
Glicemia de jejum 105 79± 6,5mg/dL 105 (100,0%) 0
Insulinemia de jejum 106
9,3± 1,9µUI/mL
103 (97,2%) 3 (2,8%)
Pressão diastólica 116 65 ± 10mmHg 104 (89,7%) 12 (10,3%)
Pressão sistólica 116 110 ± 17mmHg 95 (81,9%) 21 (18,1%)
* Valores de referência
25
: colesterol total<200mg/dL; LDL<130mg/dL;
HDL40mg/dL em menores 10 anos e 35mg/dL em maiores 10 anos; triglicéride
<100mg/dL em menores de 10 anos e <130 em maiores de 10 anos. Glicemia
<110mg/dL, insulinemia 27µUI/mL. Pressão arterial: valores percentil 90 p/ idade e
sexo
26
.
Os valores de PCR-US relacionaram-se com o IMC e com as dosagens de
triglicérides, mas não com as outras variáveis, como é mostrado no quadro 3. Após
ajuste pelo IMC, a relação entre PCR-US e triglicérides foi atenuada, deixando de ter
significância estatística (p=0,10).
Quadro 3 - Correlação entre valores de PCR-US e variáveis clínico-laboratoriais.
Variáveis
PCR-US
Correlação (r) Valor de p
IMC 0,29 0,0001
Idade 0,03 0,70
Colesterol total 0,01 0,87
LDL colesterol 0,01 0,9
HDL colesterol 0,08 0,39
Triglicérides 0,18 0,05
Pressão sistólica 0,12 0,19
Pressão diastólica 0,07 0,42
Glicemia 0,04 0,69
Insulinemia 0,12 0,22
2.6 DISCUSSÃO
Desde 1999, quando Visser et al
19
publicaram o primeiro trabalho relacionando
obesidade e PCR, várias outras pesquisas vêm sendo realizadas para elucidar tal
associação
27, ,28 29
. A presença da reação inflamatória na evolução de doenças comuns dos
adultos, como a aterosclerose, diabete e doenças reumatológicas, dificulta a interpretação
dos dados. Não está claro se a elevação da PCR é conseqüência dos danos ou se há
envolvimento direto na fisiopatologia das doenças. Como na infância a prevalência
dessas doenças é baixa, torna-se de grande valor a pesquisa nesta faixa etária.
Neste estudo comparando grupos de crianças e adolescentes, com e sem excesso
de peso, as concentrações de PCR-US foram maiores no grupo com sobrepeso e
obesidade. No grupo controle, a maioria dos indivíduos teve concentrações de PCR-US
abaixo de 2mg/L, em concordância com outros estudos
19-28
. Os valores da PCR-US se
elevaram, à medida que o IMC se elevou. No Grupo Obesidade, 36 (27,5%) pacientes
tiveram concentrações de PCR acima de 3mg/L, valor considerado indicador de risco
cardiovascular na população adulta
30
.
Além da presença da inflamação, crianças e adolescentes com excesso de peso
apresentam outras alterações como hipertensão, elevação dos níveis de triglicérides,
redução dos níveis de HDL colesterol e hiperinsulinemia. A PCR-US não teve relação
estatística com estes fatores de risco em concordância com estudo de Weiss et al
31
.
Outras pesquisas na população pediátrica encontraram associação entre PCR e fatores de
risco cardiovascular, porém esta relação foi atenuada após ajuste pelos índices de
adiposidade
19-21,22
. Pesquisas com indivíduos adultos demonstraram associação entre
PCR e altas concentrações de triglicérides, LDL colesterol e insulina, baixas
concentrações de HDL colesterol e hipertensão
20-27
.
A reação inflamatória pode ser um fator inicial responsável pelas co-morbidades
associadas à obesidade. Grandes quantidades de citocinas inflamatórias, liberadas pelo
tecido adiposo, estimulam a produção hepática de PCR e podem associar-se ao
desenvolvimento de doenças cardiovasculares e de diabete através de diversos
mecanismos: alteração da sensibilidade à insulina, aumento da liberação de moléculas de
adesão pelo endotélio, aumento da liberação hepática de fibrinogênio e efeito pró-
coagulante nas plaquetas
32, , ,33 34 35
.
Torna-se cada vez mais importante a prevenção da obesidade na infância, pois
este estado metabólico/inflamatório desfavorável pode persistir ao longo dos anos,
trazendo graves conseqüências na vida adulta. O tratamento precoce de indivíduos com
excesso de peso pode diminuir a incidência de co-morbidades na vida adulta. A dosagem
da PCR-US pode constituir-se em marcador para identificação dos pacientes com maior
risco de co-morbidades. Como mais de 90% dos indivíduos sem excesso de peso desta
amostra apresentaram concentração de PCR-US menor que 2mg/L, possivelmente
valores mais elevados sejam reflexo de um estado inflamatório em evolução e, portanto,
indicativos da necessidade de acompanhamento e tratamento mais rigorosos da
obesidade. Novas pesquisas são necessárias para demonstração da associação dos
marcadores inflamatórios e as co-morbidades relacionadas à obesidade na infância e
adolescência e para a determinação de um ponto de corte seguro para a predição de
complicações.
2.7 AGRADECIMENTOS
À Dr
a
. Suzane Pretti F. Neves, coordenadora do laboratório de sorologia do HC/UFMG,
pelo apoio e incentivo. À Lourdes Regina C. Furtado, pela realização dos exames. Ao
laboratório Dade Behring, na pessoa do Sr. Leonardo Michetti, pela doação dos Kits para
realização dos exames. Ao Dr. José Euclides F.Ribeiro, do Laboratório Patologia Clínica
São Paulo, pela colaboração na coleta de exames.
2.8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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VERSÃO PRELIMINAR DE ARTIGO
CIENTÍFICO:
Síndrome metabólica e reação inflamatória
em crianças e adolescentes com obesidade
56
3- VERSÃO PRELIMINAR DE ARTIGO
CIENTÍFICO:
Síndrome metabólica e reação inflamatória em crianças e
adolescentes com obesidade
3.1 RESUMO
Objetivos: Demonstrar a freqüência de síndrome metabólica (SM) em crianças e
adolescentes com sobrepeso ou obesidade, descrever as principais características clínico-
laboratoriais e avaliar a associação com a reação inflamatória através da dosagem da
proteína C-reativa ultra-sensível (PCR-US).
Métodos: Estudo transversal, incluindo 107 crianças e adolescentes com
sobrepeso e obesidade atendidos em 2004, que realizaram dosagem de PCR ultra-
sensível (PCR-US). Os pacientes foram divididos em dois grupos, portadores ou não de
SM. Foram comparadas as médias de idade, circunferência da cintura, insulinemia,
resistência à insulina, PCR-US e a freqüência de hipertensão arterial e dislipidemia.
Resultados: Foram classificados como portadores de SM 38,3% dos pacientes.
As principais alterações encontradas neste grupo foram: percentil do IMC acima de 97
(92,7%), hipertrigliceridemia (73,2%), resistência à insulina (70%) e HDL baixo
(60,9%). As médias da insulinemia de jejum, da resistência à insulina (HOMA) e da
circunferência da cintura foram maiores no grupo com SM quando comparadas ao grupo
sem SM. A média da PCR-US no grupo com SM foi superior à do grupo sem SM, porém
sem significância estatística.
Conclusão: A prevalência de SM foi elevada nesta população de crianças e
adolescentes obesos. Nenhum paciente apresentou diabete ou intolerância à glicose,
sendo freqüente a resistência à insulina. A reação inflamatória, mensurada através da
PCR-US, parecer fazer parte do quadro de SM na população pediátrica.
57
Metabolic syndrome and inflammation in obese children and
adolescent
3.2 ABSTRACT
Objectives: 1) to demonstrate the frequency of Metabolic Syndrome (MS) in
overweight and obese children and adolescents; 2) to describe their clinical and
laboratorial characteristics; 3) to evaluate the relationship of these findings with the
inflamatory reaction trough the dosage of serum levels of ultra-sensitive C-reactive
protein (CRP-US).
Methods: It’s a cross-sectional study composed of 107 overweight and obese
children and adolescents. They were all examined in 2004 for the dosage of serum levels
of CRP-US. The patients were divided in 2 groups, according to presence or absence of
metabolic syndrome. The groups were compared in relation to age, waist ratio, levels of
insulinemia, insulin resistance, CRP-US and the occurrence of hypertension and
dislipidemia.
Results: We classified 38,3% of the patients as having MS. The main alterations
found in this group were: body mass index (BMI) percentil above 97 (92,7%),
hipertrigliceridemia (73,2%), insulin resistance (70%) and low high density lipoprotein
cholesterol, HDL-col, (60,9%). The mean levels of fasting insulin levels, insulin
resistance (HOMA) and waist ratio were greater in the MS group when compared to the
group without MS. The mean serum levels of CRP-US in the MS group was greater
than the group without MS, however lacking statistical significance.
Conclusion: The frequency in MS was elevated in this population of obese
children and adolescents studied. No patient had diabetes or glucose intolerance, but
insulin resistance was more frequent. The inflammatory reaction, detected with the CRP-
US levels, seems to be part of the MS in the pediatric population.
58
3.3 INTRODUÇÃO
A obesidade é distúrbio nutricional grave, de evolução crônica e difícil
tratamento. Sua prevalência vem aumentando em várias regiões do mundo,
principalmente nas classes sociais mais baixas
1
. Estima-se que 65% dos americanos
estejam acima do peso ideal
2
. No Brasil, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares
do IBGE, em 2003 o excesso de peso afetava 41,1% dos homens (8,9% obesos) e 40%
das mulheres (13,3% obesas)
3
.
A obesidade está associada a várias complicações e mortalidade aumentada
4,5
. O
indivíduo obeso tem maiores chances de apresentar problemas cardiovasculares, diabete,
dislipidemias, litíase biliar, esteatose hepática, problemas respiratórios, dermatológicos e
ortopédicos, além de distúrbios psicossociais
6,7
.
Alguns indivíduos com excesso de peso podem agrupar sinais e sintomas que são
denominados síndrome metabólica (SM), especialmente caracterizada por resistência à
ação da insulina
8
. Os portadores de SM podem apresentar distúrbio do metabolismo da
glicose (intolerância à glicose ou diabetes), hipertensão arterial, dislipidemia aterogênica
(elevação dos níveis de triglicérides, baixos níveis de HDL colesterol) e obesidade
visceral ou central. Podem também apresentar: esteato-hepatite, síndrome do ovário
policístico, acanthosis nigricans
9
. Este conjunto de alterações clínico-laboratoriais é
responsável por elevada morbi-mortalidade
10
.
Não existe consenso na definição de síndrome metabólica, o que dificulta
estimativas sobre a sua prevalência. Presume-se que acometa 25% da população adulta
americana
11
. Na população brasileira, em investigação nas bases de dados MEDLINE E
LILACS, não foram encontrados dados sobre a prevalência de síndrome metabólica.
59
Na faixa etária pediátrica, a definição de síndrome metabólica é inconsistente. A
obesidade central ou visceral, critério de fácil acesso na população adulta através da
medida da circunferência da cintura, é de difícil definição em crianças e adolescentes
4
.
As medidas da circunferência da cintura ou a relação cintura/quadril variam com a idade,
o desenvolvimento puberal e a etnia. Em vista disso, a maioria dos pesquisadores não
utiliza este dado como critério para definição de SM. As alterações dos níveis séricos de
colesterol e triglicérides e os níveis de pressão arterial também devem ser ajustados à
faixa etária.
12
.
Por constituírem as principais causas de mortalidade em vários países do mundo,
as complicações relacionadas ao aparelho cardiovascular e aos distúrbios da glicose têm
grande relevância
13
. Nos Estados Unidos, os gastos relacionados a essas duas condições
consomem cerca de 7% do orçamento com saúde.
Apesar de vários estudos já terem confirmado a relação entre obesidade, diabete e
doença cardiovascular, a fisiopatologia que relaciona essas condições não está bem
esclarecida. O reconhecimento que o tecido adiposo é metabolicamente ativo, não sendo
mais considerado apenas tecido de depósito abriu novas perspectivas para elucidar esta
questão
14
. Citocinas inflamatórias, como o fator de necrose tumoral -α e a interleucina-6,
são liberados pelo tecido adiposo, especialmente o visceral, estando relacionadas aos
distúrbios da glicose, à lesão do endotélio vascular e à produção hepática de proteína C-
reativa (PCR)
15,16
. O excesso de tecido adiposo pode gerar estado de inflamação
sistêmica, que tem como conseqüências finais diabete e doenças cardiovasculares
(DCV)
17,18
.
A PCR vem sendo utilizada para prever eventos cardiovasculares (infarto,
acidente vascular cerebral), hipertensão e diabete
19, ,20 21
. Suas concentrações estão mais
60
elevadas nos indivíduos com excesso de peso e nos portadores de síndrome
metabólica
22, ,23 24
.
Estudos na população pediátrica podem ajudar a compreender a relação entre
obesidade, inflamação e síndrome metabólica. Como a elevação persistente da PCR pode
ser um sinal precoce do risco futuro de DCV e diabete, a identificação de crianças e
adolescentes em risco pode facilitar a instauração de medidas preventivas. Também
visando à prevenção, é importante conhecer a prevalência da síndrome metabólica na
população pediátrica brasileira.
Este trabalho teve como objetivos demonstrar a prevalência de síndrome
metabólica em crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade, descrever as
principais características encontradas e avaliar a associação com a reação inflamatória
através da dosagem da proteína C-reativa ultra-sensível (PCR-US).
3.4 CASUÍSTICA E MÉTODOS
Trata-se de estudo transversal, envolvendo crianças e adolescentes com
sobrepeso e obesidade atendidos no Ambulatório de Doenças Nutricionais do Hospital
das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG). A amostra,
calculada com nível de confiança de 95% e poder estatístico de 80%, utilizando
prevalência de SM da literatura, constituiu-se de 97 pacientes.
O estudo teve aprovação da Câmara do Departamento de Pediatria da Faculdade
de Medicina da UFMG e do Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG. Os pais ou
responsáveis e as crianças/adolescentes foram informados da importância da pesquisa,
seus objetivos, segurança na condução dos exames e garantia de sigilo dos dados. O
consentimento para inclusão na pesquisa foi obtido pela assinatura do termo de
consentimento esclarecido.
61
Foram incluídos no estudo 107 pacientes que haviam sido encaminhados para
tratamento de obesidade em 2004 e que realizaram os exames solicitados.
Os pacientes foram atendidos por pediatra em consulta individual. Foram
realizados anamnese, exame físico com aferição dos dados antropométricos e avaliação
do desenvolvimento puberal. A circunferência da cintura foi considerada o menor
perímetro entre a última costela e a crista ilíaca
25
.
Todos os exames foram colhidos e realizados no Laboratório Central do HC-
UFMG, após jejum de 12 horas. Foram solicitadas as dosagens de colesterol total e
frações (estearase oxidase - Johnson Vitros 750 XRC), triglicérides (Roche Cobas Mira/
Mira Plus), glicemia de jejum (oxidase - Johnson Vitros 750 XRC), insulinemia de jejum
(quimioluminescência), TSH (DPC) e PCR-US. As dosagens da PCR-US foram feitas
por nefelometria, com kit doado pelo Laboratório Dade Behring, que detecta níveis
acima de 0,16mg/L. Valores indetectáveis foram considerados como 0,15mg/L.
Foram excluídos do estudo crianças e adolescentes obesos e com sobrepeso com
concomitância de doenças cardíacas, renais, reumatológicas, neurológicas, respiratórias,
infecciosas, endócrinas e metabólicas. Foram também excluídos os pacientes em uso de
antiinflamatórios (hormonais e não hormonais) e aqueles que tiveram as concentrações
da PCR-US acima de 10mg/L, por ser um valor sugestivo de inflamação ou infecção em
atividade.
Pacientes com índice da massa corporal (IMC= peso/altura
2
) entre os percentis 85
e 95 foram classificados como sobrepeso e os com IMC acima do percentil 95 como
obesos (NCHS-2000)
26
. Foram considerados pré-púberes os pacientes no estágio 1 de
maturação sexual e púberes os com estágio acima de 2 da classificação puberal de
Tanner
27
. A resistência à insulina foi calculada pelo modelo matemático HOMA, que
utiliza as dosagens de glicose e de insulina em jejum, conforme a fórmula
28
:
62
Glicose de jejum (mmol/L) x insulina de jejum (µUI/ml)
22,5
Para classificação dos pacientes como portadores de síndrome metabólica, optou-
se pelos critérios apresentados no quadro 1, formando-se dois grupos: com e sem
síndrome metabólica.
Quadro 1: critérios para definição de síndrome metabólica*
Presença de pelo menos três dos critérios:
¾ IMC acima do percentil 97
¾ Triglicérides > 100mg/dl (menores 10 anos) e >130mg/dl (maiores 10 anos)
¾ HDL < 40mg/dl (menores 10 anos) e <35mg/dl (maiores 10 anos)
¾ Resistência à insulina (HOMA) >2,5, glicemia de jejum >110mg/dl ou glicemia
pós-pradial >140mg/dl
¾ Pressão arterial sistólica ou diastólica acima do percentil 90 para idade e sexo
28
*Adaptado de Silva et al
29
Por não apresentarem distribuição normal os valores da PCR-US e insulinemia
foram transformados em escala logarítmica para a comparação de médias.
Os dados foram analisados com os aplicativos EPI-INFO e Minitab. Foram feitos
os testes qui-quadrado para variáveis categóricas, t-Student para comparação de médias e
análise de correlação (Pearson) e regressão linear simples entre variáveis.
3.5 RESULTADOS
Dos 107 pacientes do estudo, 41 (38,3%) foram classificados como portadores de
síndrome metabólica. A faixa etária variou de 3,5 a 16,8 anos e não houve diferença
entre os grupos classificados com portadores ou não de SM quanto à média de idade,
sexo e classificação puberal (quadro 1). Nenhum dos 12 pacientes com sobrepeso foi
63
considerado como portador da SM. As principais alterações encontradas no grupo com
SM foram: percentil do IMC acima de 97 (92,7%), hipertrigliceridemia (73,2%),
resistência à insulina (70%) e HDL baixo (60,9%). Nenhum paciente apresentou
hiperglicemia. Três pacientes apresentaram hiperinsulinemia de jejum, sendo que dois
deles apresentavam critérios de SM. Seis pacientes não realizaram todos os exames
solicitados (um paciente sem resultado de triglicéride e HDL e 5 pacientes sem resultado
de insulinemia), porém foi possível classificá-los como portadores ou não de SM com os
outros critérios.
Quadro 1 – Pacientes com sobrepeso ou obesidade: características dos grupos com e
sem síndrome metabólica.
Variável Grupo SM (n=41) Grupo sem SM (n=66)
Idade 10,7± 3,4 anos 10,8 ± 2,6 anos*
Sexo: Masculino 19 (46%) 31 (46,7%)*
Feminino 22 (54%) 35 (53,3%)*
Estádio puberal: Pré-pubere 19 (46,3%) 36 (55,4%)*
Púbere 22 (53,7%) 29 (44,6%)*
× Triglicéride (n=107) 30 (73,2%) 5 (7,6%)‡
× LDL colesterol (n=106) 8(20%) 5 (7,6)*
ØHDL colesterol (n=106) 25 (60,9%) 11 (30,6%)‡
× Pressão arterial sistólica (n=107) 16 (39%) 3 (4,7%)‡
× Pressão arterial diastólica (n=107) 8 (19,5%) 2 (3,1%)†
IMC > percentil 97 (n=107) 38 (92,7%) 33 (50%)‡
Resistência à insulina >2,5 (n=102) 28 (70%) 11 (17,7%)‡
*sem significado estatístico
†p<0,05
‡ p<0,001
As médias da insulinemia de jejum, da resistência à insulina (HOMA) e da
circunferência da cintura foram maiores no grupo com SM quando comparadas às
64
medidas do grupo sem SM. A média da PCR-US no grupo com SM foi superior à do
grupo sem SM, porém sem significância estatística (quadro 2).
Quadro 2 – Pacientes com sobrepeso ou obesidade: comparação das médias de
resistência à insulina, circunferência da cintura, insulinemia e PCR-US dos
grupos com e sem síndrome metabólica.
Variável Grupo com SM Grupo sem SM
Resistência à insulina (HOMA) 2,93 ± 1,31 1,76 ± 1,20 *
Circunferência da cintura (cm) 85,3 ± 12,3 78,8 ± 8,0 †
Insulinemia (µUI/ml) 13,34 ± 1,57 7,49 ± 1,84 *
PCR-US (mg/L) 1,94 ± 2,54 1,37± 2,62 ‡
* p<0,001
† p< 0,005
‡ p= 0,07
As médias das concentrações de PCR-US foram semelhantes entre sexos e
maiores nos pacientes pré-púberes (1,82 ± 2,54 mg/L) do que nos púberes (1,30 ±2,54
mg/L; p= 0,08). A PCR-US associou-se apenas com o IMC, como demonstrado o quadro
3
Quadro 3 – Pacientes com sobrepeso ou obesidade: correlação entre PCR-US e
variáveis clínico-laboratoriais.
Correlação Valor de p
PCR e Idade 0,05 0,59
PCR e IMC
0,19
0,05
PCR e Circunferência Cintura 0,13 0,18
PCR X Colesterol 0,01 0,88
PCR X LDL Colesterol 0,01 0,89
PCR X HDL Colesterol 0,09 0,36
PCR X Triglicéride 0,09 0,36
PCR X Pressão sistólica 0,14 0,13
PCR X Pressão sistólica 0,12 0,21
PCR X Resistência à insulina 0,08 0,40
65
PCR X Insulinemia 0,9 0,32
3.6 DISCUSSÃO
Nesta população de 107 pacientes com sobrepeso ou obesidade, a prevalência de
síndrome metabólica foi de 38,3%. Quando estratificados pelo IMC, a SM foi encontrada
em 10,9% nos indivíduos com score Z abaixo de 2, em 54,3% nos com score Z entre 2 e
2,5 e em 73,3% nos com score Z acima de 2,5.
Silva et al
29
, avaliando adolescentes com história familiar de diabete,
encontraram prevalência de SM de 6% em todo o grupo e de 26,1% entre obesos. Não
existem outros estudos brasileiros com objetivo de avaliar a prevalência de SM na
população pediátrica.
Apesar de não haver uniformidade nos critérios diagnósticos da síndrome
metabólica em crianças e adolescentes, estudos estrangeiros encontraram dados
semelhantes a esta pesquisa. Duncan et al
30
, (NHANES 1999-2000), encontraram
prevalência de 32,1% nos obesos, 7,1% nos indivíduos com sobrepeso e menos de 1%
naqueles com peso adequado. Já Invitti el al
31
, estudando crianças e adolescentes
europeus obesos (6-18 anos) encontraram prevalência de SM de 31,6%. A prevalência de
SM encontrada por Weiss et al
32
, em crianças e adolescentes americanos (4 a 20 anos)
com excesso de peso foi de 38,7% nos moderadamente obesos (Z score do IMC entre 2-
2,5) e 49,7% nos pacientes com obesidade grave (Z score do IMC acima de 2,5).
Nenhuma criança ou adolescente com Z score do IMC menor que 2 foi diagnosticado
como portador de SM.
Nesta pesquisa, nenhum paciente apresentou hiperglicemia (glicemia de
jejum>110mg/dl) e apenas três apresentaram hiperinsulinemia (insulinemia de
66
jejum>27µUI/L). Porém, 70% dos pacientes do grupo com síndrome metabólica tinham
resistência à insulina elevada (HOMA>2,5). Os valores médios da insulinemia e da
resistência à insulina avaliada pelo HOMA foi maior neste grupo do que no grupo sem
SM. Estes dados sugerem que hiperglicemia e diabete são eventos tardios da síndrome
metabólica, ocorrendo principalmente em indivíduos após a adolescência
33,34
.
A obesidade central é uma das características mais freqüentes da síndrome
metabólica na população adulta, estando relacionada ao maior risco cardiovascular
6-9-35
.
Na população pediátrica, não existe valor de referência definido, principalmente por
haver grande modificação da composição corporal na puberdade. Nestes pacientes, não
houve diferença na idade, sexo e estadiamento puberal entre os dois grupos. A média da
circunferência da cintura do grupo com SM (85,3 ± 12,3 cm) foi significativamente
maior do que a do grupo sem SM (78,8 ± 8,0 cm), sugerindo que a gordura visceral está
associada à síndrome metabólica também na criança e no adolescente.
A média da concentração de PCR-US foi elevada em todo o grupo
(1,56±2,61mg/L), como esperado para indivíduos com excesso de peso e teve correlação
com o IMC. A PCR-US não se associou aos outros critérios clínico-laboratoriais, mas
sua média foi maior no grupo com SM do que no grupo sem SM, sem significância
estatística, embora com tendência positiva. Este fato sugere haver relação entre PCR-US
elevada e SM, sendo necessárias novas pesquisas para elucidar a questão.
Os dados nos levam a inferir que o excesso de tecido adiposo libere quantidades
aumentadas de citocinas inflamatórias (fator de necrose tumoral-α e interleucina-6), que
estimulam a produção hepática de PCR e desencadeiam distúrbios no metabolismo da
glicose e dos lípides, conforme demonstrado em outros estudos
15-17-24
.
67
O aumento da prevalência da obesidade e suas conseqüências têm se mostrado
um desafio a ser enfrentado pelas autoridades de saúde. A profilaxia e a identificação de
situações de risco deve ser compromisso de todo profissional que lida com crianças e
adolescentes. A uniformização dos critérios para classificação da síndrome metabólica
na infância pode ser útil para a identificação dos indivíduos com maior risco. A
distribuição da gordura corporal, assim como em adultos, parece estar associada a
complicações
6-36
. A medida da circunferência da cintura, exame de fácil realização e de
baixo custo, poderá se tornar instrumento útil para avaliação da obesidade central ou
visceral quando forem estabelecidos pontos de corte para crianças e adolescentes.
Percentis de IMC acima de 97, hipertrigliceridemia, baixas concentrações de HDL
colesterol e resistência à insulina (HOMA>2,5) representam parâmetros de maior
gravidade da obesidade nesta faixa etária, devendo ser considerados na avaliação de
crianças e adolescentes como forma definir intervenções que possam prevenir danos
futuros.
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71
DISCUSSÃO FINAL
72
4. DISCUSSÃO FINAL
A obesidade e suas conseqüências vêm sendo largamente estudadas, tanto nos
aspectos epidemiológicos, quanto em relação às variações individuais. Vários dados
demonstram que alguns indivíduos obesos têm pior resposta às medidas terapêuticas e pior
evolução clínica, apresentando maior incidência de complicações. O desafio do tratamento
da obesidade é conseguir instituir medidas que previnam o aparecimento de novos casos,
identifiquem indivíduos com maior risco de complicações e tratem as complicações já
estabelecidas. O controle da obesidade requer medidas de saúde coletiva, como a promoção
da alimentação saudável e de práticas de atividades físicas, e a orientação individualizada do
tratamento, através da definição de riscos associados
1
.
Na faixa etária pediátrica é possível instaurar medidas terapêuticas para o tratamento
da obesidade e, ao mesmo tempo, prevenir o aparecimento das complicações e a persistência
da obesidade até a vida adulta. Sendo assim, a identificação de crianças e adolescentes com
maior risco pode ser útil na abordagem da obesidade nesta faixa etária.
A adoção de critérios ou marcadores de risco é prática estabelecida em várias
doenças, como nas doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. Na obesidade,
algumas situações já estão associadas à maior morbi-mortalidade, como a hipertensão e a
dislipidemia. Também a combinação de vários achados no mesmo indivíduo pode piorar o
prognóstico, como é o caso da síndrome metabólica. Alguns marcadores, como a PCR, a IL-
6 e a leptina têm demonstrado a capacidade de prever o aparecimento de complicações
2
.
É importante avaliar se estes critérios ou marcadores têm validade em populações diferentes.
Daí a relevância de se realizar pesquisas na população brasileira.
Neste estudo a reação inflamatória, avaliada através da dosagem da PCR-US, foi
mais intensa no grupo de crianças e adolescentes com excesso de peso, quando comparado
73
ao grupo sem excesso de peso. Esta constatação já havia sido feita em população de vários
outros países, porém não havia sido verificada em crianças brasileiras
3
-
4
-
5
.
Não existe ainda uma definição do ponto de corte da concentração da PCR-US para
estabelecimento de risco para complicações da obesidade. Porém, como os valores
encontrados na pesquisa foram semelhantes aos estudos internacionais, possivelmente o
valor definido em outros trabalhos poderá ser adotado em modelos brasileiros.
Também ainda não há consenso mundial na definição de síndrome metabólica.
Vários artigos vêm sendo publicados ressaltando a necessidade da uniformização dos
critérios, tanto em adultos quanto em crianças. A adoção de critérios de definição será
importante para a realização de estudos de prevalência e comparação entre populações
diferentes. Também do ponto de vista clínico, alguns centros de tratamento de obesidade já
vem direcionando sua abordagem de acordo com a presença ou não de síndrome metabólica.
A prevalência de síndrome metabólica entre as crianças deste estudo (38%) é
preocupante, especialmente naqueles com obesidade grave (escore Z do IMC >2,5), que
atingiu 73% dos indivíduos. Possivelmente estes percentuais não refletem a população como
um todo, pois geralmente são encaminhados para hospital escola casos de difícil tratamento.
Como os portadores de síndrome metabólica têm pior resposta terapêutica, estes pacientes
são encaminhados para centros de referência de tratamento de obesidade.
Ainda existe um amplo campo de pesquisa relacionado à obesidade. A fisiopatologia
das complicações ainda não está bem descrita, o papel de vários mediadores não está
estabelecido, a influência da genética no desenvolvimento da doença pode ser de crucial
importância para a abordagem terapêutica.
Interesse especial existe em relação ao papel da insulina. Inicialmente considerado
um hormônio apenas com função no controle da glicemia, hoje tido como importante em
vários outros processos. São instigantes o seu papel na obesidade e suas complicações. A
74
insulina parece ter ação no endotélio vascular, no controle da pressão arterial e no
metabolismo dos lipídeos
6
.
O estudo da fisiopatologia da obesidade e de suas complicações em busca dos
mecanismos envolvidos no desencadeamento e na manutenção da doença e no
desenvolvimento de complicações contribuirá para a adoção de práticas terapêuticas mais
eficientes e individualizadas, diminuindo assim a sua morbi-mortalidade.
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75
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