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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CENTRO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA E GEOQUÍMICA
________________________________________________________________
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
ESTUDOS HIDROGEQUÍMICOS E GEOFÍSICOS NA REGIÃO
DA BRAQUIDOBRA DE MONTE ALEGRE-PA
Dissertação apresentada por:
ELEM CRISTINA DOS SANTOS LOPES
BELÉM
2005
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Universidade Federal do Pará
Centro de Geociências
Curso de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica
ESTUDOS HIDROGEQUÍMICOS E GEOFÍSICOS NA
REGIÃO DA BRAQUIDOBRA DE MONTE ALEGRE-PA
TESE APRESENTADA POR
ELEM CRISTINA DOS SANTOS LOPES
Como requisito parcial à obtenção do Grau de Mestre em
Ciências na Área de GEOLOGIA.
Data de Aprovação: 11 / 04 / 2005
Comitê de Tese:
__________________________________________
RAIMUNDO NETUNO NOBRE VILLAS (Orientador)
__________________________________________
ELIENE LOPES DE SOUZA
__________________________________________
RAIMUNDO MARIANO GOMES CASTELO BRANCO
Belém
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i
Aos meus queridos pais João e Graça
e minha irmã Helaine
ii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todas as pessoas que de alguma forma contribuiram para a finalização
deste trabalho, direta ou indiretamente.
A Deus por sua presença constante em minha vida;
Ao FUNTEC-SECTAM pelo apoio financeiro para o desenvolvimento deste trabalho;
Ao CNPq pela concessão da bolsa de estudos;
Ao prof. Netuno pela orientação, paciência e amizade;
Ao prof. Gouvêa pela indispensável co-orientação, principalmente na geofísica;
Ao prof. Antônio Tancredi pela sua atenção, gentileza e disposição em me enviar
trabalhos sobre assuntos relacionados a esta tese;
Aos professores Mário Caputo, Roberto Vizeu, Waterloo Napoleão e Werner
Truckenbrodt por sugestões, que contribuiram para o enriquecimento deste trabalho;
A banca avaliadora da dissertação composta pelos professores Eliene Lopes de Sousa
e Mariano Castelo Branco (UFC) pelas sugestões;
As amigas Gisele dos Anjos e Natalina Cabral sempre dispostas a ajudar nos
momentos em que mais precisei;
A prefeitura de Monte Alegre pelo apoio;
Ao motorista Nilo Taveira por me auxiliar durante a etapa de campo e ao povo
acolhedor da bela Monte Alegre;
Aos técnicos Antônio e Leila Hanna pelo auxílio nos laboratórios, e Afonso Quaresma
pelo auxílio na geofísica de campo;
As amizades que conquistei durante estes dois anos de trabalho: Aderson David (Taxi),
Érica Viana, Fabíola Fernandes e Fhabio Glayson;
A todos os meus amigos sempre presentes desde a graduação por momentos de
discontração, apoio e companheirismo, em espacial Cleyton Carneiro, Maria Carolina e
Poliana Gualberto;
Aos meus queridos amigos de infância Adriano Costa, Edna Sousa, Elton Leno
(machito), César Cursino (tio gordinho) e Josele Redig pelo incentivo constante, dedicação,
apoio, momentos de alegrias, etc;
A minha família pela compreenção durante as minhas constantes ausências na
finalização deste trabalho;
iii
MONTE ALEGRE
Alhures quem sabe haja / Ignoto Robson Crusué
Que sem atinar à ímpar natureza / De teus rios, igarapés
Com certeza tenha levado de ti, brioso monte / Miragem torpe de pranto, puro engano
Isto aqui é só encanto / É puro encanto!
Saborear tua doce fruta / taperebá, muruci ou caju
Bem ali, naquela gruta / também vou fazer seresta
Mesmo sem viola ou orquestra / E paresque narcisando / Em tuas águas - Surubeju.
Ó São Francisco padroeiro / lá na Cidade Alta
Perdoa minha falta / Grande falta de devoção
Mas há no peito meu um coração Sincero,
que adora, que canta, entristece e chora.
Garça andante, contigo esta saudade voa
Deixa-a a toa, bem ali, no Vigilante
Que Açu leva o destino vexado pra bem distante
Que eu quero comer meu peixe assado.
Pisar teu chão de pedras, bela vista de tuas serras
Ererê, Pay-Tuna, Ocidental
Velhas pinturas: maias, incas...
Monte Alegre, mistério mineral.
Jomasibe
iv
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ............................................................................................................i
AGRADECIMENTOS...................................................................................................ii
EPÍGRAFE...................................................................................................................iii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES ..........................................................................................vii
RESUMO......................................................................................................................1
ABSTRACT..................................................................................................................3
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................5
1.1. OBJETIVOS ..........................................................................................................6
2. MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS ..................................................................7
2.1. LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO ....................................................................7
2.2. TRABALHOS DE CAMPO.....................................................................................7
2.2.2. Coleta de amostras ..........................................................................................7
2.2.2. Medidas físico-químicas..................................................................................8
2.2.3. Levantamentos geofísicos ..............................................................................8
2.3. TRABALHOS DE LABORATÓRIO........................................................................9
2.3.1. Análise química ................................................................................................9
2.3.2. Análise isotópica..............................................................................................10
2.3.3. Análise petrográfica.........................................................................................10
2.3.4. Análise difratométrica......................................................................................10
2.3.5. Densidade das rochas .....................................................................................10
2.4. TRATAMENTO DOS DADOS ...............................................................................10
2.4.1. Dados químicos e físico-químicos..................................................................10
2.4.2. Dados isotópicos .............................................................................................11
2.4.3. Geotermometria................................................................................................11
v
2.4.4. Dados geofísicos..............................................................................................11
3. GEOLOGIA DA REGIÃO DA BRAQUIDOBRA DE MONTE ALEGRE...................13
3.1. ESTRATIGRAFIA..................................................................................................13
3.2. ESTRUTURAS ......................................................................................................18
4. APRESENTAÇÃO DOS DADOS.............................................................................20
4.1. DESCRIÇÃO DOS PRINCIPAIS TIPOS LITOLÓGICOS AMOSTRADOS............20
4.1.1. Formação Ererê ................................................................................................20
4.1.2. Formação Barreirinha ......................................................................................20
4.1.3. Formação Curiri................................................................................................21
4.1.4. Formação Oriximiná.........................................................................................21
4.1.5. Formação Faro .................................................................................................22
4.1.6. Formação Monte Alegre...................................................................................23
4.1.7. Formação Itaituba.............................................................................................23
4.1.8. Diques e soleiras de diabásio .........................................................................24
4.1.9. Formação Alter do Chão..................................................................................24
4.2. DENSIDADES DAS ROCHAS ..............................................................................25
4.3. ESTUDOS QUÍMICOS E FÍSICO-QUÍMICOS NAS ÁGUAS.................................26
4.3.1. Características das águas estudadas.............................................................30
4.3.1.1. Águas da Formação Ererê ..............................................................................30
4.3.1.2. Águas da Formação Barreirinha......................................................................30
4.3.1.3. Águas da Formação Oriximiná ........................................................................31
4.3.1.4. Águas da Formação Faro................................................................................32
4.3.1.5. Águas da Formação Itaituba ...........................................................................32
4.3.1.6. Águas da Formação Alter do Chão .................................................................32
vi
4.3.1.7. Águas termominerais.......................................................................................33
4.4. CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA DAS ÁGUAS............................................................33
4.5. EQUILÍBRIO QUÍMICO .........................................................................................34
4.5.1 Diagramas de equilíbrio....................................................................................34
4.6. APLICAÇÃO DE GEOTERMÔMETROS QUÍMICOS............................................35
4.6.1. Geotermômetro da sílica .................................................................................35
4.6.2. Geotermômetro Na-K-Ca .................................................................................38
4.7. COMPOSIÇÃO ISOTÓPICA (dD E d18O) DAS ÁGUAS TERMOMINERAIS .......40
4.8. ESTUDOS GEOFÍSICOS......................................................................................43
4.8.1. Método gravimétrico ........................................................................................43
4.8.1.1. Mapa de anomalias Bouguer...........................................................................44
4.8.2. Resistividade elétrica.......................................................................................46
4.8.2.1. Sondagens Elétricas Verticais (SEV) ..............................................................47
5. DISCUSSÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS.......................................52
5.1. ORIGEM DOS ÍONS EM SOLUÇÃO ....................................................................52
5.1.1. Águas subterrâneas e superficiais .................................................................52
5.1.2. Águas termominerais.......................................................................................54
5.2. AMBIENTE MINERAL ...........................................................................................55
5.3. ORIGEM E MODELO DE CIRCULAÇÃO DAS ÁGUAS TERMOMINERAIS.........55
5.4. MODELO GRAVIMÉTRICO ..................................................................................59
5.5. MODELO GEOELÉTRICO....................................................................................61
6. CONCLUSÕES........................................................................................................63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................65
ANEXO A - Anomalias Bouguer (mgal) calculadas para cada estação gravimétrica em
4 perfis gravimétricos. ..................................................................................................72
vii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo.......................................................6
Figura 2 - Altímetro da marca Thommen e gravímetro LaCoste & Romberg utilizados
nos trabalhos de campo. ..............................................................................................9
Figura 3 - Configuração das linhas de fluxo de corrente e equipotenciais (Braga, 1999).
Eletrodos alinhados em configuração Schlumberger. Pelo ponto 0 passa a seção ao
longo da qual é investigada a resistividade aparente; AB - eletrodos de corrente; MN -
eletrodos de potencial. .................................................................................................9
Figura 4 - Coluna litoestratigráfica da região da braquidobra de Monte Alegre. As
unidades sem cor não afloram na área estudada (baseada em Cunha at al.
1994). ...........................................................................................................................14
Figura 5 - Mapa geológico da região da braquidobra de Monte Alegre com localização
dos pontos de amostragem de água (modificado de Pastana, 1999). .........................16
Figura 6 - Afloramento de siltito da Formação Ererê em forma de lajedos nas margens
do igarapé Urubu..........................................................................................................21
Figura 7 - Afloramento de siltito da Formação Ererê, margem do igarapé da Sulfurosa
(atrás da área da fonte Menino Deus)..........................................................................21
Figura 8 - Afloramento de folhelhos cinza escuros – Formação Barreirinha. ...............21
Figura 9 - Afloramento de siltitos (porção central da foto) intercalados com camadas
mais argilosas – Formação Oriximiná. .........................................................................22
Figura 10 - Afloramento de quartzoarenito com estratificação cruzada de médio porte –
Formação Faro.............................................................................................................23
Figura 11 - Afloramento de dique máfico de diabásio na base da serra do Itauajuri,
intrusivo na Formação Faro..........................................................................................23
Figura 12 - Afloramento de quartzoarenito em forma de lajedo no leito do rio Maecuru –
Formação Ererê. ..........................................................................................................24
Figura 13 - Pedreira de calcário (Formação Itaituba) da vila Mulata............................25
Figura 14 - Geodos (drusas) em calcários da Formação Itaituba.................................25
viii
Figura 15 – Escarpa de falha na Formação Alter do Chão (aprox. 20 m de
altura). ..........................................................................................................................25
Figura 16 - Diagrama de Piper para as águas da braquidobra de Monte Alegre nos
períodos chuvoso - junho/2003 - e seco - outubro/2002 (Lopes 2002) e
novembro/2003). ..........................................................................................................34
Figura 17 - Diagrama -log mSiO2 x T mostrando os campos de estabilidade das fases
minerais no sistema SiO
2
-Al
2
O
3
-H
2
O (compilado de Hannington et al. 1998) para o
período chuvoso e seco (anos de 2001 e 2003). A superfície de saturação da sílica
amorfa foi construída com dados de Fournier (1985)...................................................35
Figura 18 - Digramas de equilíbrio, a 25°C e 1 atm, entre soluções aquosas e minerais
em termos de log[Na
+
]/[H
+
] x log [K
+
]/[H
+
], log [Ca
2+
]/[H
+
] x log [Na
+
]/[H
+
] e log [Ca
2+
]/[H
+
]
x log [K
+
]/[H
+
] para os períodos chuvoso e seco, nos quais estão representadas as
amostras estudadas e as do trabalho de Anjos et al. (2005). Fonte dos dados
termodinâmicos para construção dos diagramas: Faure (1998). .................................37
Figura 19 - Gráfico usado para corrigir a temperatura calculada pelo geotermômetro
Na-K-Ca por conta da presença de Mg em solução. DTMg é o valor que deve ser
subtraído da temperatura calculada. As curvas representam valores de R =
Mg/(Mg+Ca+K) com concentrações expressas em eqüivalentes (segundo Fournier
1981) ............................................................................................................................39
Figura 20 - Diagrama δD x δ18O em que estão correlacionadas as amostras das águas
das fontes termominerais e de poços da região de Monte Alegre junto com amostras
de água pluviais da Ilha do Marajó (Reis et al. 1977). A figura B é ampliação da área
destacada na figura A. .................................................................................................43
Figura 21 - Mapa de anomalias Bouguer para a área da Braquidobra de Monte
Alegre...........................................................................................................................45
Figura 22 - Perfil gravimétrico AA’ de direção NW-SE. ................................................46
Figura 23 - Localização das sondagens elétricas verticais (SEVs) na área da
braquidobra de Monte Alegre.......................................................................................48
Figura 24 - Curvas de eletrorresistividade para as rochas da Formação Ererê, próximo
da fonte Menino Deus. .................................................................................................49
Figura 25 - Curvas de eletrorresistividade para as rochas da Formação Ererê ...........50
ix
Figura 26 - Curvas de eletrorresistividade para as rochas da Formação Barreirinha...50
Figura 27 - Curvas de eletrorresistividade para as rochas da Formação Alter do Chão.
A SEV-4 está localizada no traço da falha que separa as formações Ererê e Alter do
Chão.............................................................................................................................51
Figura 28 - Balanço hídrico climatológico para a região de Monte Alegre, no período de
1961-1991, fonte: www.inmet.gov.br............................................................................56
Figura 29 – Modelo de circulação de águas meteóricas que suprem fontes
termominerais (Castany 1975). ....................................................................................58
Figura 30 - Modelo gravimétrico bi-dimensional para o perfil AA’ (NW-SE). ...............60
Figura 31 - Modelo geológico bi-dimensional para o perfil AA’ (NW-SE). ...................60
TABELAS
Tabela 1 – Valores de densidade das rochas da região da braquidobra de Monte
Alegre...........................................................................................................................26
Tabela 2 - Parâmetros físicos, químicos e localização das amostras de água de poços
rasos coletadas na região da braquidobra de Monte Alegre, no período de junho/2003.
Condutividade (Cond.) em µS/cm, demais parâmetros em mg/L.................................27
Tabela 3 - Parâmetros físicos, químicos e localização das amostras de água coletadas
na região da braquidobra de Monte Alegre, no período de novembro/2003.
Condutividade (Cond.) em µS/cm, demais parâmetros em mg/L.................................29
Tabela 4 - Temperaturas (°C) medidas e calculadas com o geotermômetro da sílica
(equação 1). .................................................................................................................38
Tabela 5 - Temperaturas (°C) medidas e calculadas pelo geotermômetro de Na-K-Ca,
no período chuvoso e seco. .........................................................................................40
Tabela 6 - Resultados das análises isotópicas de δD, δ
18
O e d para a água das fontes
termais e poços na braquidobra de Monte Alegre. As amostras em negrito são deste
trabalho. Aquelas com notação ACT, P e F são de Anjos (2002). ...............................42
RESUMO
A braquidobra de Monte Alegre localiza-se no município homônimo, no
oeste do estado do Pará, sendo uma das mais proeminentes estruturas geológicas
da bacia sedimentar do Amazonas. Em superfície exibe forma elíptica com eixos
maior (NE-SW) e menor (NW-SE) de cerca de 30 e 20 km, respectivammente, e
expõe amplamente boa parte das rochas que compõem a coluna estratigráfica
daquela bacia (formações Ererê, Barreirinha, Curiri, Oriximiná, Faro, Monte Alegre,
Itaituba, Alter do Chão e os diabásios Penatecaua). Na área de exposição da
Formação Ererê ocorrem fontes termominerais com temperaturas variando de 29
a 37°C.
Os objetivos do trabalho foram avaliar a influência das rochas na
composição química das águas da região da braquidobra de Monte Alegre e seu
equílibrio químico; caracterizar isotopicamente e tecer considerações a cerca da
origem e circulação das águas das fontes termominerais; elaborar um modelo
geológico em subsuperfície e identificar/delimitar a anomalia termal a partir de
métodos geofísicos (gravimetria e eletrorresistividade).
O diagrama de Piper mostra uma ampla variação química para as águas
subterrâneas e superficiais, variando no campo das bicarbonatadas a sulfatado-
cálcicas e cloretado-sódicas. As águas termominerais são quimicamente mais
homogêneas e ficam limitadas aos campos das águas bicarbonatadas a cloretado-
sódicas. Esta ampla variação química, reflete a composição das rochas pelas
quais as águas migram e que resultam principalmente das reações de hidrólise e
de oxi-redução, no último caso envolvendo a pirita ou sulfatos de leitos
evaporíticos presentes em profundidade, como é o caso das águas termominerais.
Diagramas de atividade mostram que todas as águas estão em equilíbrio
com caulinita, porém as águas termominerais se aproximam do campo de
estabilidade da muscovita. Algumas amostras de águas superficiais que percolam
os carbonatos da Formação Itaituba aproximam-se do campo de equilíbrio com a
leonhardita. Nota-se que as águas da fonte Menino Deus, coletadas no período de
outubro/2002, equilibram-se com a muscovita e não com a paragonita, apesar de
possuírem razões Na/K > 1. Além disso, a maioria das amostras de água
2
estudadas tem concentração de sílica que as saturam em quartzo e, a FT-27 e as
amostras da fonte Menino Deus, no período seco, estão em equilíbrio com a
pirofilita.
Os dados isotópicos revelam que as águas termominerais de Monte Alegre
são de origem meteórica com valores de
δ
18
O e δD coincidentes com a linha de
água metórica global, ainda que levemente enriquecidas em deutério. Esse
excesso de deutério varia sazonalmente, registrando-se 11,8 a 14,8‰ no período
seco e 4 a 9,5‰ no período chuvoso.
Temperaturas em subsuperfície das águas termominerais foram estimadas
com geotermômetros químicos, registrando-se médias de 71°C (na estação
chuvosa) e de 83°C (na estiagem) utilizando-se o geotermômetro da sílica. A
profundidade de circulação dessas águas foi calculada com base em uma
equação empírica para um gradiente geotérmico de 30°/km, e para as
temperaturas estimadas com o geotermômetrio da sílica, tendo-se obtido valores
médios de 1560 e 1900 m no período chuvoso e seco, respectivamente. Estas
águas meteóricas infiltram-se e retornam à superfície através da trama de
falhas/fraturas existentes na área, sendo os principais condutos as falhas de
direção NE-SW e N-S, que truncam os flancos da braquidobra.
Os levantamentos gravimétricos permitiram inferir a presença de um corpo
de configuração geométrica similar a um lacólito a 1,3 km de profundidade, cuja
maior espessura coincide, aproximadamente, com a área central da braquidobra,
onde está situada a porção mais rasa do lacólito. Foi possível, também,
estabelecer relações de contato entre as camadas sedimentares e o lacólito em
subsuperfície, bem como mapear fraturas e falhas, muitas das quais de traços
visíveis em imagens de radar SRTM.
Os perfis de eletrorresistividade, por outro lado, apenas confirmaram a
diversidade litológica das formações geológicas presentes em profundidade e
mostraram a configuração das falhas que trunca a estrutura.
3
ABSTRACT
The Monte Alegre brachyanticline is located in the central-western Pará and
is one of the most striking structures of the Paleozoic Amazon sedimentary basin.
The dome outcropping surface is elliptical with axes of 30 and 20 km trending NE-
SW and NW-SE, respectively. At the present erosion level, rocks of the Ererê,
Barreirinha, Curiri, Oriximiná, Faro, Monte Alegre, Itaituba and Alter do Chão
formations, as well as the Penatecaua diabase are exposed. Thermal springs with
temperatures from 29 to 37ºC issue out of the Ererê Formation.
The present study focuses on the physico-chemical characterization of
surface and groundwater that occur within the dome and on the interaction with
their mineral environment. In addition, the thermal waters are also characterized
isotopically and their subsurface temperatures estimated with basis on the silica
and Na-Ca-K geothermometers. Gravimetric and resistivity methods were applied
aiming at detecting potential sources that could account for the heating of the
thermal waters.
The Piper diagrams show a wide chemical variation for both the surface and
groundwater which spread over the bicarbonate, calc-sulfate and sodic-chloride
fields. The thermal waters are chemically more homogeneous and fall on the
bicarbonate and sodic-chloride fields. This variability reflects the composition of the
rocks through which the waters migrate, whose components result mainly from
hydrolysis and redox reactions involving pyrite and sulfate minerals.
Most water samples are in equilibrium with kaolinite as deduced from activity
diagrams constructed at 25ºC, 1 atm and at quartz saturation. The thermal water
samples cluster near the boundary kaolinite-sericite, whereas a few samples of
surface waters that drain the Itaituba Formation plot near the line separating the
kaolinite and leonhardite stability fields. The samples of the Menino Deus thermal
spring collected in October/2002 reached equilibrium with sericite but failed to
equilibrate with paragonite despite their Na/K ratios being higher than unity.
Furthermore, most water samples are saturated with quartz. During the dry
season, sample FT-27 and those from the Menino Deus thermal spring presented
higher silica contents causing them to equilibrate with pyrophyllite.
4
Isotopic data show that the Monte Alegre thermal waters have a meteoric
origin with
δ18O and δD values coincident with the global meteoric water line,
although slightly enriched in deuterium. The excess of deuterium varies seasonally,
being recorded values of 11,8-14,8 ‰ in the dry season and 4-9,5 ‰ in the wet
season.
Sub-surface temperatures for the thermal waters estimated with the silica
geothermometer yield mean values of 71°C (wet season) and 83°C (dry season).
Average water circulation depths ranging from 1560 m (wet season) to 1900 m (dry
season) were calculated assuming a geothermal gradient of 30°/km and using the
estimated sub-surface temperatures. After infiltrating into the ground, these
meteoric waters are heated and rise back to the surface through a channel way
network, particularly NE-SW and N-S-trending faults which truncate the
brachyanticline flanks.
Gravimetric surveys allowed to infer the presence of a lacolith-like body at a
depth of about 1.3 km. This body is thicker close to the central portion of the
brachyanticline. Contact relationships between sedimentary units and the lacolith
could also be defined. Likewise, fractures and faults could be mapped at depth
whose traces are visible on SRTM radar images.
Resistivity profiles did not identify any thermal anomaly in the area, but they
confirm the lithological diversity of the geological units as well as faults that may
have served as conduits to the fluids.
5
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo foi desenvolvido na região da braquidobra de Monte
Alegre, a qual está situada na porção noroeste do estado do Pará (Fig. 1), no
flanco norte da bacia paleozóica do Amazonas (Caputo et al., 1972), entre as
coordenadas de 01
o
22’51”N e 02
o
25’35”S e 53
o
41’11”W e 54
o
54’12”W.
A região de Monte Alegre possui clima tropical chuvoso, com duas
estações bem definidas, uma com intensas chuvas e outro período de estiagem,
no qual vários cursos d’água e poços secam. A temperatura média anual é de
28,8°C, variando entre 22,6°C e 35°C. A umidade relativa do ar é, em média, 84%,
a precipitação pluviométrica anual é de 2.100 mm (Inmet, 2005).
Nesta região, a cerca de 15 km a NW da cidade de Monte Alegre, ocorrem
várias fontes termominerais com águas sulfurosas ricas em sais dissolvidos e
temperaturas entre 29° e 37
o
C.
As águas termominerais já foram caracterizadas físico-química e
isotopicamente, e suas temperaturas em subsuperfície estimadas na faixa de 55°-
75°C (Tancredi & Silva, 1977; Lopes, 2002; Anjos, 2002). Estudos preliminares
sobre o comportamento geoquímico dessas águas e sua interação com as rochas
pelas quais percolam também já foram realizados, tendo sido utilizado, porém, um
número reduzido de amostras, o que não permitiu que conclusões mais definitivas
pudessem ser adiantadas (Lopes, 2002). Os dados isotópicos de Anjos (2002)
cobrem somente o período correspondente à estação seca (julho e outubro de
2001), tornando-se necessário estender a amostragem ao período chuvoso a fim
de melhor subsidiar comparações com assinaturas isotópicas de outros campos
geotermais. Apenas um trabalho tratou do equilíbrio químico dessas águas e dos
minerais com os quais elas estavam saturadas (Lopes, 2002). Da mesma forma,
se desconhece a fonte da energia termal responsável pelo aquecimento das
águas termominerais.
Estes tópicos serão abordados e aprofundados neste trabalho numa
tentativa de entender as possíveis relações entre as águas termominerais,
subterrâneas e superficiais, e de consubstanciar interpretações acerca não só das
anomalias termais que elevam a temperatura das águas das fontes termominerais,
6
como também dos principais condutos pelos quais ascendem, na busca da
elaboração de um modelo geológico em subsuperfície.
Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo.
1.1. OBJETIVOS
Os principais objetivos deste trabalho foram:
1. avaliar a influência das rochas na composição química das águas da
região da braquidobra de Monte Alegre;
2. estudar o equilíbrio químico dessas águas;
3. caracterizar isotopicamente as águas das fontes termominerais nos
períodos seco e chuvoso, e verificar a que grau elas eventualmente se
afastam da linha meteórica global e de outras já definidas na região
amazônica;
4. estimar as temperaturas e profundidades que as águas termominerais
alcançam em subsuperfície; e
5. subsidiar, com dados geofísicos (gravimetria e eletrorresistividade), a
elaboração de um modelo geológico em subsuperfície para a área de
ocorrência das fontes termominerais e tentar delimitar a zona de
ocorrência da anomalia térmica.
Pa
Monte
Alegre
Prainha
A
l
e
n
q
u
e
r
Satarém
Convenes
Sede do Municípi
o
Localidade
Estrada
Drenagem
Braquianticlinal
de Monte Alegre
0
Escala
Braquianticlinal de Monte Alegre
Ererê
N
54° 15’W
2
°
0
0
S
I
g
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d
a
C
a
c
h
o
e
i
r
a
R
i
o
A
m
a
z
o
n
a
s
5 Km
Inglês de
Sousa
Três
Bocas
Monte
Alegre
7
2. MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS
2.1. LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO
Foi realizada pesquisa bibliográfica sobre os diversos tópicos tratados nesta
tese, em especial sobre interação fluido-rocha (p. ex. Bowser & Jones 2002),
equilíbrio químico (p. ex. Garrels & Christ, 1965), geotermômetros químicos
(Fournier & Potter II, 1982; Truesdell, 1984), isótopos estáveis de O e H (p. ex.
Taylor, 1979), métodos gravimétricos e de eletrorresistividade (Tripp et al., 1978;
Mabey et al., 1978), bem como acerca da geologia da região da braquidobra de
Monte Alegre (p. ex. Pastana, 1999).
2.2. TRABALHOS DE CAMPO
2.2.1 Coleta de amostras
A primeira campanha de campo foi realizada em junho de 2003 (final do
período chuvoso), quando foram coletadas 34 amostras, sendo 14 amostras de
cursos d’água, seis amostras de fontes termais sulfurosas e 14 amostras de poços
amazonas rasos (até 18 m de profundidade) e tubulares.
A segunda campanha foi efetuada em novembro de 2003 (período seco),
quando foram coletadas 26 amostras, sendo seis amostras de cursos d’água,
cinco de fontes termais sulfurosas e 14 amostras de poços rasos e tubulares,
distribuídos em diversas formações da braquidobra de Monte Alegre.
Todas as amostras de água foram acondicionadas em frascos de polietileno
de 1 L e mantidas sob refrigeração até o momento da análise. Para a análise dos
íons Na
+
, K
+
, Ca
+2
e Mg
+2
foram coletados 200 ml de água de cada local, também
em frascos de polietileno, mantidos sem refrigeração, aos quais foi adicionado
ácido nítrico concentrado (pH <
2). Para a análise de U e Th foi necessário
separar alíquotas de 150 ml de 12 amostras, as quais foram preservadas com
ácido nítrico e mantidas sob refrigeração até o momento da análise, enquanto
para as análises de O e H (
δO
18
e δD) foram separadas alíquotas de 30 ml
mantidas sem refrigeração.
Além de água, foram coletadas 26 amostras de rochas, oriundas das
formações Itaituba (2), Ererê (6), Barreirinha (4), Curiri (2), Oriximiná (4), Monte
8
Alegre (2) e Faro (2), e de corpos máficos (4) para estudos petrográficos, análise
por difração de raios-X e determinação de densidades.
2.2.2. Medidas físico-químicas
Foram medidos in situ o pH, a temperatura, a condutividade elétrica, os
sólidos totais dissolvidos (STD) e a salinidade das amostras de água com a ajuda
de aparelhos portáteis e, algumas horas após a coleta, foi feita a determinação da
alcalinidade. Os valores de HCO
3
-
foram calculados a partir da relação que
considera que 1 ppm de CaCO
3
(alcalinidade) corresponde a 1,22 ppm de HCO
3
-
(Custódio & Llamas, 1976).
2.2.3. Levantamentos geofísicos
Foram executados quatro perfis gravimétricos, nos sentido Monte Alegre -
rio Maecuru (37,7 km), Inglês de Sousa - Santa Helena (8,1 km), serra do Itauajuri
– Três Bocas - Inglês de Sousa – São Diogo (41 km), Três Bocas – Mulata (30
Km) com espaçamento de 0,5 e 2 km entre as medidas, utilizando o gravímetro La
Coste & Romberg (Fig. 2), pertencente ao Departamento de Geofísica da UFPA.
Juntamente com a gravimetria foram feitas medidas altimétricas em todas as
estações gravimétricas.
Foram utilizados três altímetros, dois da marca Pauling, que ficaram na
estação-base gravimétrica e o outro da marca Thommen (Fig. 2), que foi utilizado
nos levantamentos dos perfis gravimétricos. No flanco oeste da braquidobra, onde
as áreas aflorantes das unidades litoestratigráficas formam faixas relativamente
estreitas, o espaçamento entre as medidas foi de 0,5 km, enquanto no centro,
onde aflora amplamente e apenas a Formação Ererê, o espaçamento foi de 2 km.
As 14 sondagens elétricas verticais (SEV) foram executadas com o
resistivímetro da marca Geotest do Departamento de Geofísica da UFPA,
utilizando-se o arranjo Schlumberger simétrico (Fig. 3) com abertura máxima entre
os eletrodos de corrente variando entre 84 e 840 m, o que permitiu uma
profundidade de investigação teórica máxima de cerca de 250m.
9
Figura 2 - Altímetro da marca Thommen e
gravímetro La Coste & Romberg utilizados
nos trabalhos de campo.
Figura 3 - Configuração das linhas de fluxo de corrente
e equipotenciais (Braga, 1999). Eletrodos alinhados em
configuração Schlumberger. Pelo ponto 0 passa a
seção ao longo da qual é investigada a resistividade
aparente; AB - eletrodos de corrente; MN - eletrodos de
potencial.
2.3. TRABALHOS DE LABORATÓRIO
2.3.1. Análise química
As amostras de água foram analisadas nos Laboratórios de Análises
Químicas e de Absorção Atômica do Centro de Geociências da UFPA, utilizando-
se métodos/técnicas diferentes para cada componente, seguindo-se as normas
dos manuais da CETESB (1978 e 1988).
A
M
N
B
0
Nível do Terreno
Eletrodos
Resistivímetro
LINHAS
EQUIPOTENCIAIS
LINHAS DE CORRENTE
10
2.3.2. Análise isotópica
As determinações isotópicas de O e H (
δ
18
O e δD) das águas
termominerais foram feitas no laboratório do Centro de Energia Nuclear na
Agricultura (CENA-USP), em Piracicaba-SP. As análises de U e Th foram
executadas no laboratório da Lakefield Geosol em Belo Horizonte-MG.
2.3.3. Análise petrográfica
Foram confeccionadas 20 lâminas delgadas das amostras de rocha para
estudo petrográfico, o qual foi feito em um microscópio Zeiss de luz polarizada do
Laboratório de Petrografia do Centro de Geociências da UFPA.
2.3.4. Análise difratométrica
Foram submetidas 8 amostras de folhelhos à análise por difração de raios-
X no laboratório do Centro de Geociências, a fim de que sua composição
mineralógica fosse melhor caracterizada.
2.3.5. Densidade das rochas
Foi feita a determinação das densidades em 14 amostras de rochas em
uma balança Jolly do Laboratório de Mineralogia do Centro de Geociências da
UFPA.
2.4. TRATAMENTO DOS DADOS
2.4.1. Dados químicos e físico-químicos
Os dados químicos foram apresentados em diferentes diagramas, com o
auxílio do programa AquaChem da Empresa Waterloo Hydrogeologic. Com base
no diagrama de Piper, as amostras foram classificadas quimicamente e avaliadas
as variações composionais nos períodos chuvoso e seco.
As concentrações medidas dos cátions e ânions foram transformadas em
atividades, após feitos os cálculos termodinâmicos para distribuição das espécies
dissolvidas na água, de acordo com os ensinamentos de Garrels & Christ (1965).
Em seguida, os valores foram usados em diagramas de atividades (Helgeson et
11
al., 1969; Faure, 1998) para determinação dos possíveis minerais que estão em
equilíbrio com as amostras de água.
2.4.2. Dados isotópicos
Os resultados isotópicos foram apresentados em diagramas
correlacionando δD x δ
18
O, nos quais está traçada a linha global de água
meteórica, que foi definida por Craig (1961) pela equação
δD = 8 x δ
18
O + d
na qual “d” representa o excesso de deutério, com valor típico de +10 ‰.
Estes dados serviram para caracterizar isotopicamente as águas das fontes
termominerais de Monte Alegre e para avaliar se houve alguma variação
(deslocamento) em relação à linha global de água meteórica, que pudesse indicar
a contribuição de outras fontes ou interação mais intensa com as rochas.
2.4.3. Geotermometria
Foram utilizados dois geotermômetros químicos empíricos; um tendo por
base a dependência da solubilidade da sílica com a temperatura (Fournier & Potter
II, 1982), e outro fundamentado na troca das bases ou na partição dos álcalis
entre soluções e fases sólidas em função da temperatura (geotermômetro de Na-
K-Ca), cuja equação foi definida por Truesdell (1984).
2.4.4. Dados geofísicos
Aos dados gravimétricos medidos foram aplicadas as correções ar-livre,
Bouguer, latitude, maré e “drift” instrumental, com a ajuda de um programa
computacional escrito em linguagem Basic. Como na região de levantamento não
há nenhuma estação gravimétrica da rede mundial, não foram obtidos valores
absolutos da gravidade.
O perfil AA’, que corta a área na direção NW-SE, foi processado com o
auxílio do programa computacional LMG2D desenvolvido por Silva & Barbosa
(2005). Este programa permite que se elabore um modelo bidimensional com
12
estimativas da distribuição de densidade em subsuperfície. Durante o
processamento computacional foram usados os seguintes vínculos de informação:
(a) eixos para guiar a distribuição de densidade, estabelecidos com base em
informações geológicas; e (b) valores de contrastes de densidade, obtidos a partir
de medidas feitas em amostras de rochas sedimentares paleozóicas com
densidade média de 2,5 g/cm
3
e intrusivas máficas com densidade média de 2,93
g/cm
3
.
13
3. GEOLOGIA DA REGIÃO DA BRAQUIDOBRA DE MONTE ALEGRE
A região da braquidobra de Monte Alegre está inserida no contexto
geológico da bacia do Amazonas, que é uma bacia intracratônica com cerca de
500.000 km
2
, limitada ao norte pelo Escudo das Guianas, ao sul pelo Escudo
Brasil Central, a oeste pelo Arco de Purus e a leste pelo Arco de Gurupá (Caputo
et al., 1972). Segundo Cunha et al. (1994), nos 5.000 m de preenchimento
sedimentar podem ser distinguidas duas seqüências de primeira ordem: uma
paleozóica, cortada por diques e soleiras de diabásio juro-triássicos, e uma meso-
cenozóica (Fig. 4).
3.1. ESTRATIGRAFIA
O embasamento da bacia do Amazonas na região estudada pertence à
província geocronológica Amazônia Central, de idade > 2,3 Ga e é constituída por
rochas graníticas e seqüências metavulcanossedimentares e metassedimentares
(Tassinari & Macambira, 1999).
O estágio inicial de deposição da bacia teve caráter pulsante. As rochas
sedimentares desse estágio estão reunidas no Grupo Trombetas (Ludwig, 1964
1
,
apud Cunha et al., 1994), que é constituído pelas formações Autás-Mirim,
Nhamundá, Pitinga e Manacapuru (Cunha et al., 1994), não aflorantes na área da
braquidobra de Monte Alegre.
Novo ciclo sedimentar ocorreu na bacia, com a deposição dos grupos
Urupadi e Curuá, ambos com ampla ocorrência na área da braquidobra (Fig. 5). O
Grupo Urupadi, do Devoniano, é constituído pelas formações:
Maecuru:
na porção basal, consiste de arenitos brancos a cinza claros, micáceos,
bem estratificados, de granulometria fina a média, enquanto na porção superior
ocorrem arenitos finos, fossilíferos, com intercalações de folhelhos cinza escuros
(Pastana, 1999); esta formação, no entanto, não aflora na área da braquidobra.
1
Ludwig, G. 1964. Divisão Estratigráfico-faciológica do Paleozóico da Bacia Amazônica. Rio de Janeiro, PETROBRÁS.
Série Ciência-Técnica-Petróleo n. 1, 72p.
14
Figura 4 - Coluna litoestratigráfica da região da braquidobra de Monte
Alegre. As unidades em branco não afloram na área estudada
(baseada em Cunha at al., 1994).
Ererê:
constituída fundamentalmente por intercalações de siltitos, arenitos e
folhelhos (Pastana, 1999); os siltitos são cinza-esverdeados, silicificados,
fossilíferos, localmente piritosos; os arenitos são brancos a avermelhados,
micáceos, com granulometria média, enquanto os folhelhos têm coloração cinza-
escura, aspecto sedoso, bem laminados, com marcas de ondas. Esta unidade
exibe nítidos efeitos de recristalização, devido à intensa atividade ígnea juro-
15
triássica na área, provocada pela intrusão de diques e soleiras de diabásio, sendo
a muscovita a fase mais característica desse processo.
Segundo Cunha et al. (1994), o Grupo Curuá, do Devoniano Superior,
reúne as formações:
Barreirinha
: predominantemente constituída por folhelhos negros, bem laminados,
carbonosos, micáceos, piritosos e radioativos, embora também ocorram folhelhos
cinza, físseis, muito micáceos e com interaleitamento de arenito fino (Pastana,
1999). Na porção superior, ocorrem folhelhos de coloração creme, bem laminados
e micáceos.
Curiri
: constituída por folhelhos e siltitos, com leitos subordinados de arenito. Os
folhelhos são de coloração negra a cinza ou esverdeada, às vezes creme,
micáceos, fossilíferos, bem laminados; os siltitos são maciços ou finamente
laminados, em geral cinza ou esverdeados, micáceos e constituídos por quartzo
recristalizado, biotita, mica branca e diminutas palhetas de óxido de ferro.
Oriximiná
: na porção inferior, predominam arenitos finos a médios, brancos a
avermelhados, maciços, micáceos, localmente com intercalações de siltitos e
folhelhos; na parte superior, rochas de granulação mais fina são predominantes,
sendo comuns as intercalações de folhelhos e siltitos.
Faro
: de idade carbonífera inferior, mostra em sua porção basal constituição
essencialmente arenosa, predominando arenitos quartzosos de granulometria fina,
cinza a esverdeados, micáceos e, subordinadamente, arenitos médio a grossos,
ferruginosos; além de arenitos avermelhados, micáceos, finos, friáveis; na porção
superior, predominam rochas de granulometria mais fina, representadas por siltitos
bem laminados, contendo intercalações de folhelhos síticos com estrutura “flaser”.
16
DS c/mb.o
Cl F
JT d
Cl f
Cl f
Cl f
PC no-i
DM e
DM e
DM e
DS c/mb.b
DS c/mb.c
D
S
c
/
m
b
.
o
PC no-i
PC no-i
Tac
Tac
Ta c
Ta c
Cl f
Cl f
Cs m.a
Cs m.a
Qal
Qal
J
T
d
J
T
d
J
T
d
P
A
-
4
2
3
SERRA DE ITAUAJURI
Santa Helena
Ererê
Maxi
MONTE
A
LEGRE
Desterro
São Diogo
Rio
Maecuru
Mulata
54 00´00”
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2
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Igarapé das
Pedras
R
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54 19´09”
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1
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o
Inglês de Souza
LEGENDA
Aluviões
Formação Alter do Co
Formação Itaituba
Formação Faro
Formão Monte Alegre
Formação Oriximiná
Formação Barreirinhas
Formação Curiri
Formação Ererê
Intrusivas Máficas
Falha
Fratura fotointerpretada
Camada com mergulho indicado
Estrutura dômica
Diques máficos
Sede municipal
Localidades
Rodovia estadual
Estradas municipais
Devoniano Médio
Devoniano Superior
Carbonífero Inferior
Carbonífero Superior
PALEOZÓICO
Permo-Carbonífero
Mesozóico
Terciário
CENOZÓICO
Quaternário
Amostra de água de fonte termal
Amostra de água de poços
Amostra de água superficial
0
6,7 13,4Km
Figura 5 - Mapa geológico da região da braquidobra de Monte Alegre com
localização dos pontos de amostragem de água (modificado de Pastana, 1999).
17
Associado a mudanças climáticas significativas, de frio para quente e
árido, novo ciclo deposicional ocorreu (Cunha et al., 1994), estando representado
pelo Grupo Tapajós, que é composto pelas formações:
Monte Alegre
: composta por quartzoarenitos, médios a grossos, localmente
conglomeráticos, friáveis, localmente marcas de ondas, e raras intercalações de
folhelho esverdeado a amarelado, sendo de idade carbonífera superior;
Itaituba
: é constituída por espessos pacotes de arenitos, na porção inferior, com
os quais se intercalam folhelhos, siltitos e, mais raramente, calcários. As rochas
carbonáticas são mais comuns na porção mediana, geralmente na forma de
grandes lentes, de coloração cinza escura, compactada, fossilífera, contendo
intercalações de folhelhos e siltitos. Na porção superior, ocorrem delgadas
intercalações de folhelhos, arenitos, siltitos e, mais raramente, calcários (Pastana,
1999). Esta unidade é de idade permo-carbonífera.
Nova Olinda:
na porção inferior é constituída por siltitos e folhelhos castanhos,
enquanto na porção superior o é essencialmente por evaporitos; na região de
Monte Alegre esta unidade está a uma profundidade de cerca de 420 m
(PETROBRAS, 1969).
O final desse ciclo tectono-sedimentar é caracterizado pela retomada da
sedimentação predominantemente continental, a qual está representada pelos
arenitos e folhelhos avermelhados da Formação Andirá, não aflorante na região da
braquidobra de Monte Alegre.
A bacia foi submetida a forças distensivas de direção E-W, que
antecederam a abertura do Atlântico Norte e Equatorial, propiciando a formação
de fraturas de direção N-S. Por elas ascendeu magma basáltico que deu origem a
um enxame de diques e soleiras de diabásio juro-triássicos. Essa rocha apresenta
coloração cinza a cinza esverdeada, com manchas regulares de coloração
18
esbranquiçada a amarelada. Mostra, também, domínios porfiríticos em que cristais
de plagioclásio (labradorita) com até 3 cm de comprimento se encontram imersos
em uma matriz cristalina, ainda que a textura dominante seja a ofítica
(Pastana,1999).
Sítios deposicionais foram gerados com o relaxamento dos esforços
compressionais, dentro dos quais se formaram rochas do Grupo Javari, que é
constituído pelas formações Alter do Chão e Solimões, sendo que a última não
aflora na área de estudo (Eiras et al., 1994). A Formação Alter do Chão é formada
por um espesso pacote de arenitos intercalados com camadas pelíticas e, em
menor escala, conglomeráticas (Tancredi, 1996).
3.2. ESTRUTURAS
A braquidobra de Monte Alegre é uma das mais proeminentes estruturas da
bacia sedimentar do Amazonas. Tem forma ligeiramente elíptica com eixo maior,
de direção NE-SW, com cerca de 30 km, e eixo menor, de direção NW-SE, com
cerca de 20 km (Tancredi & Silva, 1977). Sua parte central encontra-se arrasada,
constituindo a planície do Ererê. Ao sul, a braquidobra está truncada por uma falha
normal (Tancredi & Silva, 1977), de direção NE-SW, com idade pós-terciária, já
que põe em contato a Formação Alter do Chão com rochas paleozóicas.
Alinhamentos estruturais com direções principais N30
o
E e N30
o
W são
observados em imagens LANDSAT e radar (SRTM) em toda a área dessa
megaestrutura. Muitos desses alinhamentos representam extensos diques
máficos.
De acordo com Montalvão & Oliveira (1975)
2
, apud Tancredi & Silva (1977),
a origem da braquidobra estaria relacionada à manifestação ígnea máfica,
representada pela intrusão de um lacólito, o qual teria causado deflexão e
deformação das camadas paleozóicas, durante o Mesozóico. Montalvão & Oliveira
(1975), apud Tancredi & Silva (1977), descrevem diques máficos cortando e
causando leve metamorfismo térmico nas rochas da região.
2
Montalvão, R. G. M. de & Oliveira, A. S. 1975. Geologia da Braquidobra de Monte Alegre e da Rodovia Monte Alegre-
Prainha. Belém, Projeto RADAMBRASIL, 2p. (Relatório Interno RADAMBRASIL, 54-G)
19
Outra hipótese sobre a origem da braquidobra estaria relacionada a uma
pluma termal (hot spot) (Viana, 2002), que teria provocado a ascensão de magma
basáltico a altas temperaturas (>1000°C). Nessa ascensão, rochas do
embasamento teriam sido assimiladas, tornando o magma mais félsico em
decorrência de que teria formado lacólitos ou lopólitos e soerguido as camadas
sobrejacentes formando a braquidobra.
20
4. APRESENTAÇÃO DOS DADOS
4.1. DESCRIÇÃO DOS PRINCIPAIS TIPOS LITOLÓGICOS AMOSTRADOS
4.1.1. Formação Ererê
Na parte mais central da estrutura, onde ocorrem as fontes
termominerais, aflora a base desta unidade, que é composta predominantemente
por siltitos esbranquiçados com algumas intercalações de folhelhos cremes, os
quais se quebram em blocos na forma de losangos irregulares (Fig. 6). Nas
margens dos igarapés da Sulfurosa (Fig. 7) e Urubu, em direção a oeste, essas
rochas ocorrem na forma de lajedos com estratificação plano paralela e coloração
esbranquiçada a cinza-escura, e mostram-se leve a moderadamente silicificadas e
localmente apresentam cimento carbonático. Petrograficamente distinguem-se
fragmentos líticos e grãos de quartzo e pirita imersos em uma matriz incolor que
localmente chega a representar mais de 50% da rocha e nela sobressaem, de
forma disseminada, diminutas ripas de mica branca (ilita?). Rutilo, apatita, zircão,
plagioclásio e silimanita são as principais fases acessórias.
A oeste aflora a porção superior desta formação, e nela se destacam
folhelhos carbonosos cinza escuros, que apresentam nódulos de pirita. Quando
alterados, mostram coloração esbranquiçada e aspecto cavernoso. Análises
difratométricas revelam composição em que predominam ilita, clorita e caulinita.
Argilo-minerais interestratificados do tipo ilita-esmectita são reportados por Alves &
Rodrigues (1985).
4.1.2. Formação Barreirinha
É composta predominantemente por folhelhos negros, carbonosos e
piritosos. Afloram na forma de pequenos lajedos com média de 2 m de altura (Fig.
8), estando bem expostos na localidade de Inglês de Sousa. Análises
difratométricas revelam uma associação mineralógica composta por ilita, clorita,
caulinita. Nas áreas próximas a diques máficos há ocorrência isolada de pirofilita.
21
Figura 6 - Afloramento de siltito da
Formação Ererê em forma de lajedos
nas margens do igarapé Urubu.
Figura 7 - Afloramento de siltito da
Formação Ererê, margem do igarapé da
Sulfurosa (atrás da área da fonte Menino
Deus)
Figura 8 - Afloramento de folhelhos cinza
escuros – Formação Barreirinha.
4.1.3. Formação Curiri
É constituída por siltitos argilosos, creme-esbranquiçados, bem
compactados, que se tornam mais arenosos em direção ao topo. Na porção
inferior folhelhos negros a cinza-claro são dominantes e, com base em análises
difratométricas, compostos por ilita, clorita, caulinita e pirofilita.
4.1.4. Formação Oriximiná
Esta unidade é bem exposta na estrada Linha Central, junto a soleiras de
diabásios, e na rodovia PA-255 onde os afloramentos mostram altura de cerca de
1 m (Fig. 9). É composta de siltitos bem compactados, com estratificação plano
22
paralela e intercalados com camadas mais argilosas. Têm coloração lilás, mas,
quando alterados, ficam esbranquiçados. Petrograficamente os siltitos mostram-se
finamente laminados, com matriz recristalizada ocupando cerca de 50% do volume
da rocha e na qual estão imersas ripas de mica branca orientadas e manchas de
óxi-hidróxido de ferro. Os grãos são compostos essencialmente por quartzo, além
de quantidades acessórias de pirita, fragmentos líticos e zircão.
Figura 9 - Afloramento de siltitos (porção central
da foto) intercalados com camadas mais argilosas
– Formação Oriximiná.
4.1.5. Formação Faro
Está bem exposta na serra de Itauajuri e é formada por quartzoarenitos
de granulação média e coloração amarelada que apresentam estratificação
cruzada de médio porte (Fig. 10) e corpos máficos intrusivos (Fig. 11). Quando
alterados, adquirem aspecto ferruginoso. Petrograficamente são bem
selecionados, constituídos por grãos subédricos de quartzo e com pouca matriz.
Dentre as fases acessórias ocorrem turmalina, zircão e pirita. Na porção leste, na
subida daquela serra, ocorrem arenitos arcosianos mal selecionados, compostos
por quartzo, plagioclásio e fragmentos líticos, além de turmalina, zircão e opacos
em quantidades subordinadas.
23
Figura 10 - Afloramento de
quartzoarenito com estratificação
cruzada de médio porte – Formação
Faro.
Figura 11 - Afloramento de dique máfico
de diabásio na base da serra do Itauajuri,
intrusivo na Formação Faro.
4.1.6. Formação Monte Alegre
É composta predominantemente por quartzoarenitos médios a grossos,
esbranquiçados, friáveis, com estratificação cruzada e plano paralela, localmente
com intercalações de camadas milimétricas de óxi-hidróxidos de ferro. Ocorrem na
forma de lajedos que estão bem expostos no leito do rio Maecuru (Fig. 12) e ao
longo da PA-255. Petrograficamente são bem selecionados, apresentando
contatos retilíneos e côncavo-convexo entre os grãos. Sua constituição inclui,
além do quartzo, alguns fragmentos líticos.
4.1.7. Formação Itaituba
Na região de Monte Alegre, aflora apenas a fácies carbonática desta
unidade que é composta de calcários cinza-escuros, bem expostos na pedreira da
vila Mulata (Fig. 13). É uma rocha maciça na porção mais inferior, bem
compactada, em que são comuns veios e drusas de calcita formados
provavelmente durante a diagênese (Fig. 14). É constituída quase que
exclusivamente por calcita microespática e por calcita espática nas porções
recristalizadas. Localmente há registro de feições reliquiais peloidais. Há, também,
ocorrência de coquina composta por bioclastos de bivalve preenchidos por calcita
espática, e de intraclastos de composição micrítica com bordas recristalizadas.
24
Figura 12 - Afloramento de quartzoarenito em
forma de lajedo no leito do rio Maecuru –
Formação Ererê.
4.1.8. Diques e soleiras de diabásio
Estas rochas máficas ocorrem em grandes blocos rolados e em corpos
intrusivos nas rochas sedimentares da braquidobra de Monte Alegre. Nas soleiras
domina um diabásio de granulação média, mas com desenvolvimento local de
fenocristais de plagioclásio com até 2 cm de comprimento. Labradorita, augita e
pigeonita são os minerais essenciais, caracterizando uma textura subofítica a
localmente microporfirítica. Os diques também são constituídos de diabásio com a
mesma composição mineralógica, porém apresentam granulação mais fina e
aspecto mais homogêneo.
4.1.9. Formação Alter do Chão
É basicamente composta por arenitos médios a grossos, amarelados e
esbranquiçados, comumente com leitos conglomeráticos intercalados. Estão bem
expostos ao longo da rodovia PA-423 e na cidade de Monte Alegre, exibindo
falésias de 20 m de altura (Fig. 15), que representam planos de falha de direção
N80°E.
25
Figura 13 - Pedreira de calcário
(Formação Itaituba) da vila Mulata.
Figura 14 - Geodos (drusas) em
calcários da Formação Itaituba
Figura 15 – Escarpa de falha na Formação
Alter do Chão (aprox. 20 m de altura).
4.2. DENSIDADES DAS ROCHAS
Foram medidas as densidades de 14 amostras de cinco diferentes
formações (Tabela 1), que foram ulitilizadas na elaboração do modelo gravimétrico
da região da braquidobra. Os valores de densidade média para as rochas
paleozóicas varia entre 2,4 e 2,6 g/cm
3
, bem distintas dos corpos máficos
(diabásio Penatecaua) que apresentam densidade média de 2,93 g/cm
3
.
26
Tabela 1 – Valores de densidade das rochas da região da braquidobra de Monte
Alegre
Formação N° de amostras Densidade média (g/cm
3
)
Ererê 4 2,56
Barreirinha 2 2,4
Curiri 2 2,6
Oriximiná 2 2,6
Diabásio Penatecaua 4 2,93
4.3. ESTUDOS QUÍMICOS E FÍSICO-QUÍMICOS NAS ÁGUAS
Nas tabelas 2 e 3 são apresentados dados físicos, químicos e a
localização das amostras de água que foram coletadas na região da braquidobra
de Monte Alegre. Observam-se grandes diferenças entre as amostras, com
destaque para as águas das fontes termominerais que são mais ricas em sais
dissolvidos e apresentam os mais altos valores de condutividade elétrica. As
águas subterrâneas e superficiais, por sua vez, mostram-se composicionalmente
heterogêneas, refletindo a interação com os tipos litológicos pelos quais percolam.
27
27
Tabela 2 - Parâmetros físicos, químicos e localização das amostras de água de poços rasos coletadas na região da
braquidobra de Monte Alegre, no período de junho/2003. Condutividade (Cond.) em uS/cm, demais parâmetros em
mg/L. (continua). Legenda: FT - fonte termomineral; FPT - poço tubular profundo com água termal; PT - poços rasos e
tubulares; IG - cursos d’água.
(Continua)
Amostras Localização
Profundidade
(m)
Formação pH T(°C) Cond. STD Na
+
K
+
Mg
2+
Ca
2+
Cl
-
SO
4
2-
HCO
3
-
SIO
2
FPT-5
Inglês de Sousa 264 Ererê 6,8 36,5 1340 643 272 1,1 6 2,9 160 16,4 483,1 27,6
FT-2
Banheiro 1 - Ererê 6,7 35 1160 556 231 16 2 20 202 5,6 294 21
FT-3
Banheiro 2 - Ererê 6,8 33,4 1199 580 226 15 2 20 212 6 300 21,5
FT-4A
Banheiro 3 - Ererê 6,9 29,1 1196 577 224 15 2 20 208 4,6 302 21,7
FT-4B
Fonte
Menino Deus
Banheiro 3 - Ererê 6,8 31,5 1202 580 224 15 2 20 84,5 6 274,5 18,8
FT-20
Fonte Desterro - Ererê 6,5 32 620 295 83 10 8 38 66 18 211 22,5
FT-21
Fonte São Manoel - Ererê 6,6 28 641 305 88 9 9 40 72 11,8 223,2 9
FT-27
Fonte Pantanosa - Ererê 7,1 28,8 1062 514 168 12 5 28 158 35 272 44,6
IG-7
Igarapé Suzana - Barreirinha 6,3 27,7 573 270 39 2,5 40 43 17,5 96,3 229,3 0,8
IG-10
Rio Maecuru - Monte Alegre 6 28,7 61,2 28 5 1,7 2 4 3,6 17,6 45,1 1,4
IG-12
Igarapé Jenipá - Alter do Chão 5 26,6 25,5 12 2 0,9 1 5,5 1 17,3 9,76 0,6
IG-13
Igarapé Ipepaqui - Alter do Chão 6,1 27,8 25,5 12 3 1,6 2 9,5 1 12 41,4 1,5
IG-14
Igarapé Mulata - Alter do Chão 6,9 26 324 149 5 2,3 8 64 4,1 30,3 154,9 2,4
IG-17
Igarapé Açu das Pedras - Faro 6,5 26 79,4 38 6 1,4 3 5,5 6,1 33 30,5 0,8
IG-28
Igarapé Cachoeirinha - Ererê 6,1 25 196 94 13 2,1 8 10 8,7 72,3 48,8 11,2
IG-29
Igarapé Urubu - Ererê 5,4 28,8 10 5 0,9 1,1 0,2 0,1 1 19,8 1,22 1,1
IG-31
Igarapé Suzana - Barreirinha 6,5 26 332 158 17 1 17 24 9,2 51,8 137,8 3,7
IG-32
Igarapé Suzana - Oriximiná 7 28,6 536 257 31 1,5 45 47 11,8 80,1 302,5 1,2
IG-33
Igarapé Sulfurosa - Ererê 5 26,5 150 69 8 1,8 7 6 5,1 84,3 2,44 1,7
IG-34
Igarapé MeninoDeus - Ererê 6,4 28 77,6 36 5 1,5 3 3 5,6 32,8 18,3 1,2
IG-35
Igarapé Lagoa Azul - Faro 6,7 28 55,7 25 3 0,3 3 4,5 1 1,5 31,7 1,8
IG-36
Córrego Pedreira de
calcário
- Itaituba 7,1 27,7 295 141 7 1,5 5 69 4,1 19 174,4 2,8
28
28
Tabela 2 (Conclusão).
Amostras Localização
Profundidade
(m)
Formação pH T(°C) Cond. STD Na
+
K
+
Mg
2+
Ca
2+
Cl
-
SO
4
2-
HCO
3
-
SIO
2
PT-1
Airi 30 Alter do Chão 4 31,3 17,8 8 0,4 0,1 0,1 0,2 1 0,1 0 5,2
PT-6 Inglês de Sousa 5 Barreirinha 3,2 29,8 328 154 16 4,7 7 10 25,7 111,4 0 20,8
PT-8
Santa Helena 3,5 Oriximiná 6,6 27,7 796 404 40 0,2 68 73 16 23 480 23
PT-9
Santa Helena 3 Oriximiná 5,6 27,5 174 83 8 0,5 14 6 7,7 9,5 76,8 6,2
PT-11
Santarém Novo 14 Faro 4,9 29,2 278 130 11 1,2 11 19 36 18 20,7 26,1
PT-15
Vila Mulata 6 Alter do Chão 4,5 30 75 34 3 2,3 2 3 7,7 1,5 6,1 13,3
PT-16
Vila Mulata 5 Alter do Chão 4,3 30 54,3 25 3 3 1 0,2 4,1 1 1,22 9,1
PT-18
Próx. Açu das
Pedras
8 Faro 4,3 28,2 342 165 8,8 6,9 6 4 70 9,8 0 23,8
PT-19
Chácara Peniel 4,5 Ererê 4 29,4 23,5 11 2,8 0,2 0,5 0,7 4,1 1,2 1,22 10,7
PT-22
Ererê 18 Ererê 4,3 30 1130 577 159 48 6 28 270 97,6 2,44 10,3
PT-23
Maxirá 7,5 Barreirinha 3,7 29,1 164 78 26 2,3 1 1 30 0,4 0 20,4
PT-30
Linha Central 13 Oriximiná 5,3 27,5 119 56 7 1,4 8 2 9,7 11,5 34,1 14,8
29
29
Tabela 3 - Parâmetros físicos, químicos e localização das amostras de água coletadas na região da braquidobra de
Monte Alegre, no período de novembro/2003. Condutividade (Cond.) em uS/cm, demais parâmetros em mg/L. Legenda:
FT - fonte termomineral; FPT - poço tubular profundo com água termal; PT - poços rasos e tubulares; IG - cursos d’água.
Amostras Localização
Profundidade
(m)
Formação pH T(°C) Cond. STD Na
+
K
+
Mg
2+
Ca
2+
Cl
-
SO
4
2-
HCO
3
-
SIO
2
FPT-5
Inglês de Sousa 265 Ererê 6,7 37,4 1362 658 351 10 7 21 165 7,8 523 7,7
FT-2
Banheiro 1 - Ererê 6,6 35,2 1227 588 301 16 3 21 216 3,9 326,9 31,8
FT-3
Banheiro 2 - Ererê 6.7 34,1 1238 598 290 16 3 22 212 4,2 326,9 30,6
FT-4B
Fonte
menino
Deus
Banheiro 3 - Ererê 6,9 31,4 1241 597 286 17 3 20 208 5,3 319,6 35,7
FT-20
Fonte Desterro - Ererê 6,3 31 723 346 99 10 9 36 68 21 225,3 9,6
FT-21
Fonte Sao Manoel - Ererê 6,4 28 698 314 103 10 9 36 78,3 18,5 236,6 5,7
IG-10
Rio Maecuru - Monte Alegre 6 33 42,6 20 4 1,9 1 3 4,6 12 15,8 3,2
IG-12
Igarapé Jenipá - Alter do Chão 4,6 26,8 35,2 17 2 1,2 2 2 2,5 17 9,7 2,4
IG-13
Igarapé Ipepaqui - Alter do Chão 4,9 27 28,2 13 1 1,5 1 3 2,5 16,4 12,2 4
IG-14
Igarapé da Mulata - Alter do Chão 6,4 26,6 280 137 4 2,1 6 43 7,2 35,8 96,7 6,8
IG-17
Igarapé Açu das Pedras - Faro 5,5 30,3 108,7 51 7 2,6 4 7 8,7 25,1 36,6 2
IG-7
Igarapé Suzana - Barreirinha 6,5 27,3 533 251 40 3 33 42 14,4 55,1 271,8 11,7
PT-1
Airi 30 Alter do Chão 3,5 30,4 15,4 7 0,5 0,1 0,1 0,2 2 8,4 0 2,6
PT-6 Inglês de Sousa 5 Barreirinha 2,8 30 307 144 18 4,9 10 12 26,8 66 0 8,5
PT-8
Santa Helena 3,5 Oriximi 6,3 28,8 829 396 46 0 64 68 18,5 27,1 523 12,8
PT-9
Santa Helena 2 3 Oriximiná 5,3 29,1 196 91 10 0,5 16 7 8,6 13 86,8 4,6
PT-11
Santarém Novo 14 Faro 4,3 33 42,6 20 16 0,8 17 23 42,2 4,5 20,7 12,2
PT-15
Vila Mulata 6 Alter do Chão 4 30,5 89,6 42 4 4 3 4 17 2,5 8,5 2
PT-16
Vila Mulata 5 Alter do Chão 3,6 29,6 65 31 4 3 2 0,1 6,1 2,4 1,2 3
PT-18
Serra Itauajuri 8 Faro 4,3 28,2 286 134 38 3,6 7 7 57,7 20,8 17 10,7
PT-19
Chácara Peniel 4,5 Ererê 3,8 29,9 39,9 19 2,9 0,2 0,6 1,2 6,7 2,7 7,3 2,4
PT-22
Ererê 18 Ererê 2,5 29,6 669 350 64 16 9 11 105 83,6 0 8,7
PT-23
Maxirá 7,5 Barreirinha 4,8 28,9 110,4 52 6 5,8 3 3 11,3 26,6 23,1 12
PT-24
Inglês de Sousa 7 Barreirinha 4,6 30 156,7 74 4 2,8 10 7 6,1 18,5 15,8 4
PT-25
Inglês de Sousa 3 Barreirinha 3,8 30 184,1 86 27 5,1 2 3 35 16,2 2,4 3,5
PT-26
CANP 4 Curiri 4,6 28,3 74,2 35 2 0,6 5 5 3 16,2 30,6 3
30
4.3.1. Características das águas estudadas
4.3.1.1. Águas da Formação Ererê
Neste item serão abordadas apenas as águas subterrâneas e superficiais
que estão diretamente relacionadas com a Formação Ererê. As fontes de águas
termominerais, apesar de brotarem desta formação, percolam outras unidades em
profundidade e serão tratadas à parte no item 4.3.1.2.
As duas amostras de água subterrânea da Formação Ererê apresentam
diferenças significativas na condutividade elétrica e STD. Os maiores valores
destes parâmetros foram observados nos período seco (PT-19) e atipicamente no
período chuvoso (PT-22). Ambas são ácidas, mas nota-se um aumento no pH no
período chuvoso que chega a quase duas unidades para a amostra PT-22.
No período das chuvas, os teores de Cl
-
, Na
+
, Ca
2+
e K
+
da amostra PT-
22 são 2,5 a 3 vezes maiores do que no período seco. Na amostra PT-19
praticamente não há diferenças nas concentrações destes íons nos dois períodos,
embora Ca
+2
e Cl
-
mostrem um leve aumento no período seco.
As quatro amostras de igarapés desta formação são muito afetados pela
sazonalidade, chegando a ficar completamente secos na estiagem. Por esta
razão, só foi possível coletar amostras no período chuvoso, as quais são
levemente ácidas (pH = 5-6,5). STD e a condutividade mostram ampla variação,
registrando-se valores relativamente altos nas amostras IG-28 e IG-33, baixos na
amostra IG-29 e intermediários na amostra IG-34.
As amostras dos igarapés têm composições bem distintas, sobretudo no
que diz respeito às razôes SO
4
2-
/HCO
3
-
as quais variam de 0,07 (IG-33) a 15,8
(IG-29). Quanto aos demais íons, nota-se que é na amostra IG-28 que os valores
são ligeiramente mais elevados, embora não ultrapassem individualmente 13 ppm,
e que as amostras IG-33 e IG-34 são as que guardam as maiores semelhanças.
4.3.1.2. Águas da Formação Barreirinha
As duas amostras de águas subterrâneas desta formação são ácidas (pH
= 3-5) com pequenas variações (0,5 a 1 unidade), as quais foi possível fazer
31
comparações, entre a coleta nas estações chuvosa e seca. A condutividade e o
STD têm também comportamento atípico, já que os maiores valores foram
observados no período chuvoso.
Dentre os solutos, dominam nestas águas o Cl
-
e SO
4
2-
com
comportamento aparentemente ligado ao pH. No período seco, quanto maior a
razão SO
4
2-
/Cl
-
, menor a acidez, dando-se o inverso no período chuvoso se bem
que os dados se refiram a apenas duas amostras. A dissolução dos íons é
influenciada pela variação sazonal, observando-se maiores concentrações na
estiagem, com exceção do Na
+
e Cl
-
(PT-23) e SO
4
2-
(PT-6).
As amostras dos igarapés que drenam a Formação Barreirinha são
levemente ácidas (pH = 6-6,5). Os íons com maiores concentrações são HCO
3
-
,
SO
4
2-
e Ca
2+
. A única amostra coletada em ambas as estações (IG-7) revela,
atipicamente, menores valores de condutividade elétrica, STD, Mg
2-
, Cl
-
e SO
4
2-
na
estiagem.
4.3.1.3. Águas da Formação Oriximiná
Nas amostras de água subterrânea desta unidade o total de sólidos
dissolvidos e a condutividade elétrica variam amplamente (Tab. 2 e 3), sem
variações significativas nas amostras individuais nos períodos seco e chuvoso.
São ácidas (pH = 5,3 a 6,6) e tendem a tornar-se ainda mais ácidas no período
seco.
A amostra PT-8 possui as mais altas quantidades de sais dissolvidos,
sobretudo HCO
3
-
, Ca
2+
, Mg
2+
, Na
+
e SO
4
2-
, os dois últimos alcançando as maiores
concentrações na época das chuvas. As amostras PT-9 e PT-30, bem mais
semelhantes quimicamente, são mais empobrecidas nestes constiutintes.
Significativamente, em nenhuma delas o teor de Cl
-
ultrapassa 19 ppm.
A única amostra de água superficial desta formação é a IG-32 que tem
pH neutro e como principais solutos Mg
2+
, Ca
2+
, HCO
3
-
, SO
4
2-
e Na
+
. Os valores da
condutividade elétrica e STD são cerca de 4,5 vezes mais altos do que os da
amostra PT-30.
32
4.3.1.4. Águas da Formação Faro
As amostras de água subterrânea que percola esta unidade têm
comportamentos bem distintos, ainda que ácidas (pH < 5) independentemente do
período da coleta. São relativamente ricas em sais dissolvidos com valores de
STD e condutividade superiores, respectivamente, a 130 ppm e 270
µS/cm. A
maioria dos íons está mais concentrada no período seco, entretanto K
+
e SO
4
2-
da
amostra PT-11, e Mg
2+
e Cl
-
da amostra PT-18, apresentam maiores
concentrações no período das chuvas.
No único local de coleta de água superficial (IG-17), a amostra
corrrespondente à estiagem tem cerca de quatro vezes mais solutos do que a do
período chuvoso. Nota-se, em particular, que o íon SO
4
2-
é um pouco mais
concentrado nesse período.
4.3.1.5. Águas da Formação Itaituba
Nesta unidade foi coletada uma única amostra (IG-36) no pequeno
igarapé que atravessa a pedreira de calcário da vila Mulata. De caráter básico, ela
possui condutividade elétrica e STD moderadamente elevados devidos sobretudo
aos altos teores de Ca
2+
e HCO
3
-
, e, em segundo plano, o SO
4
2-
.
As amostras do rio Maecuru (IG-10) foram coletadas em um ponto
próximo do contato com a Formação Monte Alegre, após percurso de alguns
quilômetros dentro da Formação Itaituba. A água é levemente ácida, sem variação
no pH com a sazonalidade. Os sais dissolvidos e a condutividade são mais
elevados no período chuvoso, destacando-se, dentre os solutos, o HCO
3
-
e SO
4
2-
.
Os demais constituintes possuem concentrações inferiores a 5 ppm.
4.3.1.6. Águas da Formação Alter do Chão
As águas subterrâneas relacionadas a esta formação são ácidas e
tornam-se ainda mais ácidas no período seco. São águas pobres em sais
dissolvidos (<45 ppm) e com baixa condutividade elétrica. Os principais solutos
são o Cl
-
> HCO
3
-
(amostras PT-15 e PT-16) e SO
4
2-
(amostra PT-1).
33
As águas superficiais mostram maiores concentração de sais e
condutividade elétrica no período de estiagem, exceto a amostra IG-14. Esta
amostra é, por sinal, sempre mais enriquecida em Ca
2+
, HCO
3
-
e SO
4
2-
que as
demais independentemente do período de coleta.
4.3.1.7. Águas termominerais
As fontes termominerais, apesar de brotarem da Formação Ererê, são
alimentadas por águas que certamente percolam outras unidades em
subsuperfície. São as águas que apresentam os maiores valores de STD (300 a
660 ppm) e condutividade elétrica (620 a 1360
µS/cm). O pH é levemente ácido a
quase neutro.
Os principais íons presentes nas águas termominerais são o HCO
3
-
, Na
+
e Cl
-
, com teores médios em geral acima de 65 ppm. Na amostra FPT-5, na
localidade de Inglês de Sousa, a concentração de HCO
3
-
é pelo menos 48% maior
que nas demais amostras de água termomineral. Os outros íons, geralmente,
possuem médias abaixo de 40 ppm.
4.4. CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA DAS ÁGUAS
Utilizando o diagrama de classificação de águas de Piper (Fig. 16), foram
identificados dois tipos de águas termominerais: 1) as bicarbonatadas sódicas,
que são representadas pelas fontes Desterro (FT-20) e São Manoel (FT-21), e
pela água do poço de Inglês de Sousa (FPT-5); e 2) as bicarbonatadas a
cloretado-sódicas, que são as amostras da fonte do Menino Deus (FT-2, 3, 4a e
4b). As águas termominerais coletadas no período chuvoso mostram uma leve
tendência de ocupar o centro do diagrama. As águas subterrâneas apresentam
uma ampla distribuição na porção superior do diagrama tanto no período de chuva
como na estiagem, distribuindo-se pelos campos das águas bicarbonatado-
cálcica, sulfatado-cálcica e cloretado-sódica. As águas superficiais têm o mesmo
comportamento das águas subterrâneas, porém estão mais deslocadas em
direção ao campo sulfatado-cálcico.
34
Figura 16 - Diagrama de Piper para as águas da braquidobra de
Monte Alegre nos períodos chuvoso - junho/2003 - e seco -
outubro/2002 (Lopes, 2002) e novembro/2003).
4.5. EQUILÍBRIO QUÍMICO
A composição das amostras dos diferentes tipos de água estudados está
apresentada nos diagramas binários log [Ca
+2
]/[H
+
]
2
x log [K
+
]/[H
+
], log [Ca
+2
]/[H
+
]
2
x log [Na
+
]/[H
+
]
e log[Na
+
]/[H
+
]
x log [K
+
] /[H
+
], que foram construídos a 25
o
C, bem
próximo da média anual de Monte Alegre, a pressão de 1 atm e com saturação em
quartzo. O íon entre colchetes refere-se a sua atividade em solução aquosa.
4.5.1 Diagramas de equilíbrio
Com base no diagrama log m
SIO2
x T, fica evidente que a maioria das
amostras está saturada em quartzo e em caulinita. Algumas amostras de água
superficial (período chuvoso) estão subsaturadas em quartzo, enquanto as
amostras da fonte Menino Deus (período seco) e a FT-17 (período chuvoso)
chegam a estar em equilíbrio com a pirofilita (Fig. 17).
Nos diagramas de atividade-atividade, a seguir apresentados, as
amostras se distribuem linearmente dirigindo-se para os campos da muscovita ou
da leonhardita. As amostras de água subterrânea tendem a ocupar a parte inferior,
Água termomineral
Água subterrânea
Água Superficial
Verde - outubro/2002
Azul - junho/2003
Vermelho - novembro/200
3
80
80
80
80
80
80
60
60
60
60
60
60
40
40
40
40
40
40
20
20
20
20
20
20
SO
4
2-
Cl
-
HCO
3
-
Na +K
++
Ca
2+
Mg
2+
35
as de água superficial a parte intermediária e as de água termomineral a parte
superior do campo da caulinita, evidenciando o equilíbrio com este mineral. As
amostras da fonte Menino Deus coletadas em outubro/2001 (período seco) por
Anjos et al. (2005) são as únicas que atingem o equilíbrio com a muscovita (Fig.
18 A e B). Estas amostras, bem como as de água superficial IG-14, IG-32 e IG-36
são as que mais se aproximam do campo da leonhardita (Fig. 18 B e C).
Pirofilita
Caullinita
Diásporo
Saturação em
quartzo
Saturação em
sílica amorfa
1
2
3
4
5
20 30 50 100 200 300 °C
-l
o
g
m
Si O2
Água termomineral
Água subterrânea
Água Superficial
Verde - outubro/2002
Azul - junho/2003
Vermelho - novembro/2003
Figura 17 - Diagrama -log m
SiO2
x T mostrando os
campos de estabilidade das fases minerais no sistema
SiO
2
-Al
2
O
3
-H
2
O (compilado de Hannington et al. 1998)
para o período chuvoso e seco (anos de 2001 e 2003). A
superfície de saturação da sílica amorfa foi construída
com dados de Fournier (1985).
4.6. APLICAÇÃO DE GEOTERMÔMETROS QUÍMICOS
4.6.1. Geotermômetro da sílica
O geotermômetro da sílica tem por base a relação linear que existe
empiricamente entre a temperatura e o teor de sílica dissolvida nas águas
geotermais e, dependendo do polimorfo da sílica com o qual a água está em
equilíbrio, há diferentes equações para o cálculo da temperatura.
Como o diagrama Temperatura x log m
SiO2
(Fig. 17) mostra que as águas
termominerais de Monte Alegre estão em equilíbrio com quartzo, tanto no período
36
de chuva como no seco, foi utilizada a equação 1, definida por Truesdell (1984)
para saturação neste mineral e válida para o intervalo entre 0 e 250°C:
T°C= [1309/(5,19 – log SiO2)] – 273,15 (equação 1)
Esta equação foi retrabalhada matematicamente por Verma & Santoyo
(1997) para minimizar os erros nos cálculos da temperatura, tendo sido usadas
amostras com teores de SiO
2
inferiores a 295 ppm e temperaturas entre 20 e
210°C. Foi então obtida a equação abaixo:
T°C= C
1
+ C
2
S + C
3
S
2
+ C
4
logS (equação 2)
na qual C
1
= -44,119, C
2
= 0,24469, C
3
= -1,7414 x 10
-4
e C
4
= 79,305
37
ALBITA
CAULINITA
M
U
S
C
O
V
I
T
A
M
I
C
R
O
C
L
I
N
A
PARAGONITA
Sistema: HCl - H O - Al O - K O - Na O - SiO
2232 2 2
0
2
4
6
8
10
12
14
-2 0
2
468
10
log [Na ]/[H ]
++
LEONHARDITA
CAULINITA
A
L
B
I
T
A
P
A
R
A
G
O
N
I
T
A
Saruração em calcita
log f = -3,5
CO2
Sistema: HCl - H O - Al O - Na O - CaO - SiO
2232 2
14
12
10
8
6
4
2
0
-2
02468
log [K ]/[H ]
++
LEONHARDITA
CAULINITA
M
U
S
C
O
V
I
T
A
M
I
C
R
O
C
L
I
N
A
Saturação em calcita
log f = -3,5
CO2
Sistema: HCl - H O - Al O - K O - CaO - SiO
2232 2
(A)
(B)
(C )
log [Ca ]/[H ]
2
+
+
2
log [Ca
]/[H ]
2
+
+
2
Á
gua termomineral
Água subterrânea
Água Superficial
V
erde - outubro/2002
Azul - junho/2003
V
ermelho - novembro/2003
Figura 18 - Digramas de equilíbrio, a 25°C e 1 atm, entre soluções aquosas
e minerais em termos de log[Na
+
]/[H
+
]
x log [K
+
]/ [H
+
], log[Ca
2+
]/[H
+
]
x log
[Na
+
]/ [H
+
] e log[Ca
2+
]/[H
+
]
x log [K
+
]/ [H
+
]
para os períodos chuvoso e seco,
nos quais estão representadas as amostras estudadas e as do trabalho de
Anjos et al. (2005). Fonte dos dados termodinâmicos para construção dos
diagramas: Faure (1998).
As diferenças de temperatura determinadas pelas duas equações não
ultrapassam 1°C e por isso constam da tabela 4, apenas os valores fornecidos
pela equação 1. Observa-se uma variação de 61 a 97°C no período chuvoso,
enquanto no período seco tem-se uma variação de 28 a 87°C. As fontes Menino
Deus e Pantanosa são as que apresentam as temperaturas mais elevadas (61 a
38
96°C), semelhantes à do poço tubular com água termomineral (FPT-5) que possui
um valor médio de 75
o
C durante o período das chuvas. Não houve coleta de
amostras nas fontes Pantanosa e Menino Deus (Banheiro 4A) no período seco e
problemas analíticos resultaram em determinações não confiáveis da sílica para
as amostras da fonte Desterro (FT-20) e do poço de Inglês de Souza (FPT-5).
Tabela 4 - Temperaturas (°C) medidas e calculadas com o geotermômetro da
sílica (equação 1).
Temperatura Calculada
Amostra
Temperatura
medida
Período Chuvoso Período Seco
FT-2 35 65,3 81,8
FT-3 33,4 66,2 80,6
FT-4B 31,5 61,2 86,7
FT-4A 29,1 66,5 -
FT-20 32 68 38,5
FT-27 28 96,6 -
FPT-5 36,5 75,9 31,2
4.6.2. Geotermômetro Na-K-Ca
O geotermômetro empírico de Na-K-Ca, tem por base os teores totais de
Na, K e Ca presentes nas águas naturais com temperatura entre 4 e 350
o
C
(Fournier & Truesdell, 1973).
Uma forma analítica para o geotermômetro Na-K-Ca foi apresentada por
Truesdell (1984), conforme a equação abaixo, na qual as concentrações de Na, K
e Ca estão expressas em mg/L (ppm):
T
o
C = 1647 / {log (Na/K) + β [log (Ca
½
/Na) + 2,06] +2,47} – 273,15 (equação 3)
Usa-se
β = 4/3 quando T < 100
o
C e a expressão [log (Ca
½
/Na) + 2,06] > 0; β = 1/3
é usado quando T, com
β=4/3, for maior que 100
o
C e esta expressão for negativa.
De acordo com Truesdell (1984), a baixas temperaturas, a solubilidade da
calcita é relativamente alta, de modo que a P
CO2
da solução pode afetar
acentuadamente os resultados obtidos com o geotermômetro. Da mesma forma,
altas concentrações de magnésio, favorecidas pela maior dissolução de silicatos
39
de magnésio a baixas temperaturas, também afetam aqueles resultados e devem
ser feitas correções empíricas no valor deste elemento, utilizando-se o gráfico da
figura 19.
300
200
100
0
100
200 300
Temperatura calcula a partir do geotermômetro Na-K-Ca
° T Mg °C
R
=
5
0
4
0
30
2
5
2
0
1
5
1
0
7
R
=
5
Figura 19 - Gráfico usado para corrigir a
temperatura calculada pelo geotermômetro Na-K-Ca
por conta da presença de Mg em solução.
T
Mg
é o
valor que deve ser subtraído da temperatura
calculada. As curvas representam valores de R =
Mg/(Mg+Ca+K) com concentrações expressas em
eqüivalentes (segundo Fournier, 1981)
As temperaturas em subsuperfície das águas termominerais foram
calculadas utilizando-se a equação proposta por Truesdell (1984), utilizando
β=4/3
que satisfaz os critérios acima estabelecidos. As temperaturas calculadas variam
de 79 a 130°C no período chuvoso e de 109 a 139°C na estiagem (Tab. 5), estas
temperaturas encontram-se bem acima das estimadas pelo geotermômetro da
sílica. As amostras das fontes São Manoel e Desterro são as que apresentam as
menores temperaturas, tanto no período de estiagem como nas chuvas, enquanto
as da fonte Menino Deus são as mais elevadas, as águas do poço tubular e a
amostras FT-27 apresentam temperaturas intermediárias.
40
Tabela 5 - Temperaturas (°C) medidas e calculadas pelo geotermômetro de Na-K-
Ca, no período chuvoso e seco.
Correção para o Mg
Amostras Temperatura
média in situ
Período
chuvoso
Período de
estiagem
Chuvas Estiagem
FT-2 35,1 130,4 132,7 120,4 107,7
FT-3 33,7 129,5 139,4 119,5 103,6
FT-4A 29,1 129,5 - 119,5 -
FT-4B 31,4 129,5 138,6 119,5 103,6
FPT-5 36,9 112,5 115,3 72,5 60,3
FT-20 31,5 83,3 109,6 78,3 69,6
FT-21 28 79,5 109,8 79,5 69,8
FT-27 28 105,4 - 90,4 -
Feitas as correções para o Mg, as temperaturas diminuem de 10 a 35°
para a fonte Menino Deus. Mesmo assim, são temperaturas bem mais elevadas
que as encontradas com o geotermômetro da sílica (61 a 87°C). Por seu turno, as
amostras FT-20, FT-21, FT-27 e FPT-5 apresentam valores equiparáveis aos
calculados com o geotermômetro da sílica.
4.7. COMPOSIÇÃO ISOTÓPICA (
δD E δ
18
O) DAS ÁGUAS TERMOMINERAIS
Nos estudos hidrogeológicos, as razões entre os isótopos pesados e os
leves mais abundantes na molécula de água (
18
O/
16
O e D/H), medidos em relação
ao padrão arbitrário SMOW (Standard Mean Ocean Water), fornecem informações
acerca da origem das águas que recarregam um aqüífero. Indicam, também,
tendo como referência a linha água meteórica global – LAM (Craig, 1961), desvios
que evidenciam processos como mistura de águas, evaporação, influência
marinha, dentre outros.
Sete amostras foram coletadas nas fontes termominerais para análise
isotópica, complementando a coleta feita em estudos anteriores (Anjos, 2002). Os
resultados das análises são apresentados na tabela 6.
Nas fontes termominerais, os valores de
δ
18
O variam entre – 4,6 e – 6,1
‰, e os de
δD entre – 23 e – 35 ‰. A amostra do poço FPT-5 apresenta
composição isotópica que varia de –4,9 a – 5,8 ‰ para
δ
18
O
e –33,8 a 34,6 ‰
41
para
δD. O erro analítico para o oxigênio é de 0,3 ‰ e para o deutério de 2 ‰.
Para o cálculo do excesso de deutério (d) utilizou-se a equação 4.
d =
δD – 8 x δ
18
O (equação 4)
O valor do excesso de deutério (d) fornece informações adicionais sobre
o ciclo da água e está diretamente ligado a processos de não-equilíbrio como a
evaporação sobre a superfície do oceano e a formação de chuva abaixo da base
das nuvens (Gat, 1981; Merlivat & Jouzel, 1984). O valor de d aumenta quando há
aumento de temperatura e diminuição da umidade relativa (Merlivat & Jouzel,
1984).
Na figura 20 estão correlacionados os valores de δD x δ
18
O e nela estão
representadas as amostras da Ilha do Marajó (Reis et al., 1977) e de Monte Alegre
(Anjos, 2002; este trabalho/mês de junho de 2003).
Os dados da ilha do Marajó definem a equação
δD = 7,99 x δ
18
O + 10,29,
que é bem próxima da equação definida por Craig (1961) para a linha de água
meteorica global. Quando as amostras de Monte Alegre são adicionadas, a
equação torna-se
δD = 7,92 x δ
18
O + 10,13, mostrando um leve empobrecimento
no excesso de deutério.
As amostras coletadas no período de junho a julho mostram um
empobrecimento em
δD e δ
18
O e um valor menor de d, enquanto nos meses de
agosto a outubro observa-se o inverso, mostrando uma estreita relação com a
variação sazonal local.
42
Tabela 6 - Resultados das análises isotópicas de
δD, δ
18
O e d para a água das
fontes termais e poços na braquidobra de Monte Alegre. As amostras em negrito
são deste trabalho. Aquelas com notação ACT, P e F são de Anjos (2002).
DATA LOCAL AMOSTRA
δD ‰ δO
18
d (‰)
22/06/1977 S 1° 56’ 27’’/W 54° 08° 10’’ ACT-1 -33 -5,6 11,8
25/06/1977 S 1° 56’ 27’’/W 54° 08° 10’’ ACT-2 -23 -4,3 11,4
23/07/1977 S 1° 56’ 27’’/W 54° 08° 10’’ ACT-3 -29 -5,2 12,6
22/08/1977 S 1° 56’ 27’’/W 54° 08° 10’’ ACT-4 -29 -4,6 7,8
23/09/1977 S 1° 56’ 27’’/W 54° 08° 10’’ ACT-5 -23 -4,5 13
6/10/1977 S 1° 56’ 27’’/W 54° 08° 10’’ ACT-6A -31 -5,4 12,2
6/10/1977 S 1° 56’ 27’’/W 54° 08° 10’’ ACT-6B -35 -5,5 9
15/09/2002 S 1° 56’ 31’’/W 54° 12’ 57’’ P-1 -34,6 -5,84 12,12
15/09/2002 S 2° 00’ 05’’/W 54° 10’ 50’’ P-2 -28,1 -5,07 12,46
15/09/2002 S 1° 52’ 25’’/W 54° 12’ 40’’ P-3 -33,7 -5,88 13,34
15/09/2002 S 1° 43’ 48’’/W 54° 00’ 19’’ P-4 -34,4 -5,61 10,48
15/09/2002 S 1° 58’ 33’’/W 54° 08’ 55’’ F-3 -34,1 -6,12 14,86
15/09/2002 S 1° 56’ 27’’/W 54° 08° 10’’ F-4 -34,1 -5,94 13,42
2/06/2003 S 1° 56’ 27’’/W 54° 08° 10’’ FT-2 -32.3 -5.43 11,14
2/06/2003 S 1° 56’ 27’’/W 54° 08° 10’’ FT-3 -31.8 -5.37 11,16
2/06/2003 S 1° 56’ 27’’/W 54° 08° 10’’ FT-4A -31.0 -5.03 9,24
2/06/2003 S 1° 56’ 27’’/W 54° 08° 10’’ FT-4B -32.0 -5.19 9,52
2/06/2003 S 1° 43’ 48’’/W 54° 00° 19’’ FPT-5 -33.8 -4.99 6,12
2/06/2003 S 1° 58’ 40’’/W 54° 10° 03’’ FT20 -34.1 -4.77 4,06
2/06/2003 S 1° 58’ 45’’/W 54° 10° 11’’ FT-21 -35.0 -5.24 6,92
2/06/2003 S 1° 59’ 28’’/W 54° 09° 17’’ FT-27 -30.2 -4.68 7,24
43
Figura 20 - Diagrama δD x δ
18
O em que estão correlacionadas as amostras
das águas das fontes termominerais e de poços da região de Monte Alegre
junto com amostras de água pluviais da Ilha do Marajó (Reis et al. 1977). A
figura B é ampliação da área destacada na figura A.
4.8. ESTUDOS GEOFÍSICOS
4.8.1. Método gravimétrico
A aplicação do método gravimétrico ao estudo da subsuperfície terrestre
baseia-se no fato de que a distribuição de massas rochosas de diferentes
densidades provoca variações no campo gravitacional normal da Terra (Luiz &
Silva, 1995).
y = 7,9288x + 10,138
R
2
= 0,9582
-45
-40
-35
-30
-25
-20
-6,5 -6 -5,5 -5 -4,5 -4
δD ‰
Reis (1977)
et al.
Anjos (2002)
Esta tese
y = 7,9288x + 10,138
R
= 0,9582
-85
-75
-65
-55
-45
-35
-25
-15
-5
5
15
-11-9-7-5-3-1 1
δ
1
8
O ‰
δD ‰
Reis (1977)
et al.
Anjos (2002)
Esta tese
δ
18
O ‰
(B)
44
Na área de estudo foram executados quatro perfis gravimétricos, cobrindo
os percursos Monte Alegre - rio Maecuru (37,7 km), Inglês de Sousa - Santa
Helena (8,1 km), serra do Itauajuri – Três Bocas - Inglês de Sousa – São Diogo
(41 km), Três Bocas – Mulata (30 Km).
Após as devidas correções de todas as medidas gravimétricas, foram
obtidos os valores da anomalia Bouguer para cada estação (Anexo 1) e elaborado
o mapa correspondente (Fig. 21). Os valores são relativos ao dado obtido em uma
estação de referência (estação do IBGE SAT-PA-044), localizada na antiga
estação de passageiros do aeroporto de Monte Alegre (lat.: 1°59´115”S, long.:
54°04´41”, alt.: 80,15 m). Assim foi feito por não existir na região nenhuma estação
gravimétrica da rede mundial.
4.8.1.1. Mapa de anomalias Bouguer
O mapa de anomalias Bouguer (Fig. 21) foi elaborado com intervalos de 1
mgal entre as linhas de contorno, em função da pequena variação nos valores
obtidos.
O mapa mostra valores negativos em toda a porção norte da área e
próximo da cidade de Monte Alegre e um padrão em que as linhas de contorno se
orientam na direção geral leste-oeste. Existe uma zona de forte gradiente
gravimétrico na porção SE, coincidente com as falhas de direção NE-SW e N-S,
algumas delas reativadas no Meso-cenozóico (Costa, 2002). Foram também
identificadas duas zonas de anomalias positivas: uma, com configuração circular
alongada, na porção central da estrutura da braquidobra, próxima da fonte Menino
Deus, e a outra próxima da cidade de Maxirá, onde as linhas de contorno passam
a ter uma orientação N-S.
O perfil gravimétrico AA´, de direção NW-SE (Fig. 22), foi selecionado por
passar pelas áreas de anomalias positivas e naquelas com fortes inflexões. Ele
mostra um padrão assimétrico com valores a SE entre 0 e –5 mgal e a NW
inferiores a –5 mgal. Entre as posições 2000 e 12000 m os valores crescem
suavemente, contrastando com as posições entre 0 e 2000 m, em que se observa
um forte gradiente, chegando a um valor mínimo de -20 mgal. Destaca-se, ainda,
45
um alto entre 12000 e 14000 m, com as anomalias atingindo valores máximos de
3 mgal.
Figura 21 - Mapa de anomalias Bouguer para a área da Braquidobra de Monte
Alegre.
DS c/mb.o
Cl F
JT d
Cl f
Cl f
Cl f
PC no-i
DM e
DM e
DM e
D
S
c
/
m
b
.
b
D
S
c
/
m
b
.
c
D
S
c
/
m
b
.
o
PC no-i
PC no-i
Tac
Tac
Tac
Tac
C
l
f
Cl f
Cs m.a
Cs m.a
Qal
Qal
J
T
d
J
T
d
J
T
d
54 00´00
o
0
2
0
0
´
0
0
o
I
g
a
r
a
p
é
I
p
e
p
a
q
u
i
Igarapé das
Pedras
R
i
o
M
a
e
c
u
r
u
I
g
a
r
a
p
é
d
a
M
u
l
a
t
a
N
Mulata
LEGENDA
Aluviões
Formação Alter do Chão
Formação Itaituba
Formação Faro
Formação Monte Alegre
Formação Oriximiná
Formação Barreirinhas
Formação Curiri
Formação Ere
Intrusivas Máficas
Devoniano Médio
Devoniano Superior
Carbonífero Inferior
Carbonífero Superior
PALEOZÓICO
Permo-Carbonífero
Mesozóico
Terciário
CENOZÓICO
Quaternário
Qal
Tac
Jtd
PC no-i
Clf
Cs m.a
DM e
DS c/
mb.b
DS c/
mb.c
DS c/
mb.o
Falha
Fratura fotointerpretada
Camada com mergulho indicado
Estrutura dômica
Diques máficos
Sede municipal
Localidades
Rodovia estadual
Estradas municipais
Estações gravimétricas
Isolinhas da Anomalia Bouguer
-
2
0
A
A
´
Seção Gravimétrica
Inglês de Souza
P
A
-
4
2
3
SERRA DE ITAUAJURI
Santa Helena
Ere
Maxirá
MONTE
A
LEGRE
Desterro
São Diogo
Rio
Maecuru
LEGENDA
Aluviões
Formação Alter do Chão
Formação Itaituba
Formação Faro
Formação Monte Alegre
Formação Oriximiná
Formação Barreirinhas
Formação Curiri
Formação Ere
Intrusivas Máficas
0
6,7 13,4Km
Escala
Devoniano Médio
Devoniano Superior
Carbonífero Inferior
Carbonífero Superior
PALEOZÓICO
Permo-Carbonífero
Mesozóico
Terciário
CENOZÓICO
Quaternário
-
2
0
-
1
8
-
1
4
-
1
2
-
1
0
-
6
-
2
0
2
4
-
1
4
-
1
2
-
1
0
-
8
-6
-4
-
2
-14
-12
-10
-8
-6
-
4
-
2
-
4
-
6
-8
-6
-
4
-2
-20
A
A
´
46
Figura 22 - Perfil gravimétrico AA’ de direção NW-SE.
4.8.2. Resistividade elétrica
O método da eletrorresistividade é aplicado para se investigar a
capacidade dos corpos em transmitir corrente elétrica independentemente do
tamanho ou forma. Essa é a propriedade física denominada de resistividade
elétrica, que depende das características elétricas e do estado físico do corpo.
O meio geológico conduz a corrente elétrica sob a influência de fatores
como a porosidade das rochas, textura e das características físico-químicas dos
líquidos presentes nos poros.
Na prática, o subsolo não é um meio homogêneo, por isso a quantidade
medida com o método da eletrorresistividade representa uma espécie de média
ponderada de todas as resistividades verdadeiras, obtidas em dado volume. Essa
quantidade é denominada de resistividade aparente (
ρ
a
).
A resistividade elétrica do meio geológico pode ser obtida injetando-se
corrente em dois pontos e medindo-se a diferença de potencial associada à
passagem da corrente (Fig. 3). Desse modo, a resistividade pode ser calculada
por meio da equação 5 (Luiz & Silva, 1983).
0 4000 8000 12000 16000 20000
Distância (m)
-20
-15
-10
-5
0
5
Anomalia Bouguer (mgal)
A A’
NW SE
47
K
I
V
a
=
ρ
(equação 5)
em que
V é a diferença de potencial,
I
é a corrente elétrica e K é um fator que
depende da posição relativa dos pontos de injeção da corrente e de medida da
diferença de potencial. O valor de de K é calculado pela equação 6 (Luiz & Silva,
1983).
BN
AN
B
M
A
M
K
1111
2
+
=
π
(equação 6)
A profundidade de investigação com o método da eletrorresistividade
depende em parte da distância entre os eletrodos de injeção de corrente. Quanto
mais separados, maior será a profundidade de investigação. Assim, realizando-se
medidas a várias distâncias, é possível conhecer-se a distribuição vertical da
resistividade no subsolo. Uma das técnicas usadas com essa finalidade é a da
sondagem elétrica vertical (SEV). Nessa técnica os eletrodos de corrente são
deslocados simetricamente em relação a um ponto central, abaixo do qual se
considera provir a resistividade aparente medida.
Na área estudada, a separação entre os eletrodos de corrente foi
aumentada mantendo-se uma proporção em relação à distância entre os eletrodos
de medida da diferença de potencial, de tal modo que MN/AB
0,22, proporção
esta que define o arranjo Schlumberger de eletrodos.
4.8.2.1. Sondagens Elétricas Verticais (SEV)
As curvas de eletrorresistividade obtidas nas 14 SEVs executadas em
Monte Alegre (Fig. 23) foram interpretadas com o programa computacional
desenvolvido por Zohdy & Bisdorf (1989). Os resultados mostram a distribuição da
resistividade verdadeira com a profundidade, com base na qual são construídos os
modelos geoelétricos para a subsuperfície da área.
48
Figura 23 - Localização das sondagens elétricas verticais (SEVs) na área da
braquidobra de Monte Alegre.
As curvas de eletrorresistividade para a área próxima da fonte Menino
Deus (Fig. 24) apresentam valores de resistividade nos cinco metros iniciais
inferiores a 50 .m (SEVs 15 e 16), atingindo valor médio de 70 .m a uma
DS c/mb.o
Cl F
JT d
Cl f
Cl f
Cl f
PC no-i
DM e
DM e
DM e
DS c/mb.b
DS c/mb.c
D
S
c
/
m
b
.
o
PC no-i
PC no-i
Tac
Ta c
Ta c
Tac
Cl f
Cl f
Cs m.a
Cs m.a
Qal
Qal
J
T
d
J
T
d
J
T
d
Inglês de Souza
P
A
-
4
2
3
SERRA DE ITAUAJURI
Santa Helena
Ererê
Maxirá
MONTE
A
LEGRE
Desterro
São Diogo
Rio
Maecuru
Mulata
LEGENDA
Aluviões
Formação Alter do Chão
Formação Itaituba
Formação Faro
Formação Monte Alegre
Formação Oriximiná
Formação Barreirinhas
Formação Curiri
Formação Ererê
Intrusivas Máficas
54 00´00”
o
0
2
0
0
´
0
0
o
I
g
a
r
a
p
é
I
p
e
p
a
q
u
i
Igarapé das
Pedras
R
i
o
M
a
e
c
u
r
u
I
g
a
r
a
p
é
d
a
M
u
l
a
t
a
Falha
Fratura fotointerpretada
Camada com mergulho indicado
Estrutura dômica
Diquesficos
Sede municipal
Localidades
Rodovia estadual
Estradas municipais
0
10
20Km
Escala
N
Devoniano Médio
Devoniano Superior
Carbonífero Inferior
Carbonífero Superior
PALEOZÓICO
Permo-Carbonífero
Mesoico
Terciário
CENOZÓICO
Quaternário
S
E
V
-
1
S
E
V
-
2
S
E
V
-
1
0
S
E
V
-
4
S
E
V
-
5
S
E
V
-
6
SEV-7
S
E
V
-
8
S
E
V
1
4
/
3
S
E
V
-
1
1
/
1
5
S
E
V
-
1
3
S
E
V
-
1
2
Sondagem Elétrica Vertical (SEV)
S
E
V
-
1
6
49
profundidade de cerca de 80 m. O padrão da SEV-11 é semelhante, porém os
valores iniciais são de 70 .m e atingem 800 .m a aproximadamente 60 m de
profundidade. Na SEV-3 os valores alcançam 1700 .m no primeiro metro e
diminuem acentuadamente para 20 .m a 8 m de profundidade, voltando a
crescer até permanecer com valores em torno de 100 .m de 90 a 200 m de
profundidade.
10000
R
e
s
i
s
t
i
v
i
d
a
d
e
(
o
h
m
.
m
)
1000
100
10
0,1
1 10 100 1000
(AB/2) ou Profundidade (m)
SEV-11
Curva Digitalizada
Curva Calculada
Curva Interpretadas
1000
R
e
s
i
s
t
i
v
i
d
a
d
e
(
o
h
m
.
m
)
100
10
1
0,1
1
10 100
1000
(AB/2) ou Profundidade (m)
SEV-15
Curva Digitalizada
Curva Calculada
Curva Interpretadas
1000
R
e
s
i
s
t
i
v
i
d
a
d
e
(
o
h
m
.
m
)
100
10
1
0,1
1
10 100
1000
(AB/2) ou Profundidade (m)
SEV-16
Curva Digitalizada
Curva Calculada
Curva Interpretadas
10000
R
e
s
i
s
t
i
v
i
d
a
d
e
(
o
h
m
.
m
)
1000
100
10
0,1
1 10 100 1000
(AB/2) ou Profundidade (m)
SEV-3
Curva Digitalizada
Curva Calculada
Curva Interpretadas
Figura 24 - Curvas de eletrorresistividade para as rochas da Formação Ererê,
próximo da fonte Menino Deus.
As SEVs 1, 2, 12 e 13 (Fig. 25) foram executadas na Formação Ererê e
compõem um perfil em forma de L com direções aproximadas E-W e N-S. As três
primeiras têm comportamento bem semelhante começando com valores de 800 a
1000 .m., caindo para 80 a 50 .m a 30 m de profundidade, e depois subindo a
700 .m a profundidades maiores. A SEV-13 mostra um comportamento diferente,
variando, com suaves oscilações, entre 1000 e 500 .m no intervalo de 1 a 15 m
de profundidade mantendo-se em torno de 500 .m a partir daí.
50
Figura 25 - Curvas de eletrorresistividade para as rochas da Formação Ererê
Os padrões das curvas das SEVs 8 e 10 (Fig. 26), executadas na
Formação Barreirinha, são bem semelhantes, mostrando valores de resistividade
em torno de 1000 .m nos primeiros 4 m que decrescem até atingir 100 e 50 .m,
respectivamente, a 10-20 m de profundidade. O aparelho não registrou diferenças
de potencial a profundidades maiores.
10000
R
e
s
i
s
t
i
v
i
d
a
d
e
(
o
h
m
.
m
)
1000
100
10
0,1 1
10 100 1000
(AB/2) ou Profundidade (m)
SEV-8
Curva Digitalizada
Curva Calculada
Curva Interpretadas
10000
R
e
s
i
s
t
i
v
i
d
a
d
e
(
o
h
m
.
m
)
1000
100
10
0,1
1 10 100 1000
(AB/2) ou Profundidade (m)
SEV-10
Curva Digitalizada
Curva Calculada
Curva Interpretadas
Figura 26 - Curvas de eletrorresistividade para as rochas da Formação
Barreirinha.
As SEVs 5, 6 e 7, executadas na Formação Alter do Chão (Fig. 27),
mostram valores iniciais de resistividade em torno de 1000 .m, que decrescem
continuamente com a profundidade até valores próximos de 10 .m a uma
10000
1000
100
10
0,1 1
10 100 1000
(AB/2) ou Profundidade (m)
R
e
s
i
s
t
i
v
i
d
a
d
e
(
o
h
m
.
m
)
Curva digitalizada
Curva calculada
Camadas interpretadas
SEV-1
10000
1000
100
10
0,1 1
10
100 1000
(AB/2) ou Profundidade (m)
R
e
s
i
s
t
i
v
i
d
a
d
e
(
o
h
m
.
m
)
Curva digitalizada
Curva calculada
Camadas interpretadas
SEV-2
10000
1000
100
10
0,1 1
10 100 1000
(AB/2) ou Profundidade (m)
R
e
s
i
s
t
i
v
i
d
a
d
e
(
o
h
m
.
m
)
Curva digitalizada
Curva calculada
Camadas interpretadas
SEV-12
10000
1000
100
10
0,1 1
10 100 1000
(AB/2) ou Profundidade (m)
R
e
s
i
s
t
i
v
i
d
a
d
e
(
o
h
m
.
m
)
Curva digitalizada
Curva calculada
Camadas interpretadas
SEV-13
51
profundidade de 60-70 m. A SEV 7, de arranjo E-W em relação às outras duas,
registra, entretanto, valores de 30-40 .m naquela mesma profundidade. Por outro
lado, a SEV-4, executada próximo da falha pós-terciária que colocou em contato
as formações Ererê e Alter do Chão, tem um comportamento similar ao da SEV-
13, porém os valores de eletrorresistividade são muito mais elevados, entre 10000
e 45000 .m, de 1 a 80 m de profundidade, caindo para 8000 .m a partir deste
patamar.
10000
R
e
s
i
s
t
i
v
i
d
a
d
e
(
o
h
m
.
m
)
1000
100
10
0,1 1
10 100 1000
(AB/2) ou Profundidade (m)
SEV-5
Cur va Digitalizada
Cur va Calculada
Curva Interpretadas
1000
0
R
e
s
i
s
t
i
v
i
d
a
d
e
(
o
h
m
.
m
)
1000
100
10
0,1 1
10 100 1000
(AB/2) ou Profundidade (m)
SEV-6
Curva Digitalizada
Curva Calculada
Curva Interpretadas
10000
R
e
s
i
s
t
i
v
i
d
a
d
e
(
o
h
m
.
m
)
1000
100
10
0,1 1
10 100 1000
(AB/2) ou Profundidade (m)
SEV-7
Curva Digitalizada
Curva Calculada
Curva Interpretadas
1000000
100000
10000
1000
0,1 1
10
100 1000
R
e
s
i
s
t
i
v
i
d
a
d
e
(
o
h
m
.
m
)
(AB/2) ou Profundidade (m)
Curva digitalizada
Curva calculada
Curva interpretada
SEV-4
Figura 27 - Curvas de eletrorresistividade para as rochas da Formação Alter do
Chão. A SEV-4 está localizada no traço da falha que separa as formações Ererê e
Alter do Chão.
52
5. DISCUSSÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
5.1. ORIGEM DOS ÍONS EM SOLUÇÃO
As águas estão sujeitas a um processo contínuo de transformações
geoquímicas, quando em contato com o meio geológico, que é responsável pelas
suas diferenças composicionais. Essas diferenças dependem da composição
química das rochas e das águas que abastecem os aquíferos, do tempo de
contato água/rocha e de fatores físicos do subsolo (porosidade, velocidade de
fluxo, temperatura, pressão, etc.) (Custodio & Llanas, 1976).
Importante fator que interfere na composição das águas subterrâneas tem
a ver com os gases e partículas atmosféricas que são trazidos pelas águas
pluviais e recarregam os aquíferos rasos. A queima da floresta tropical é fonte de
parte dessas partículas e a proximidade do mar também pode contribuir para
modificar a composição das águas meteóricas (Yamasoe et al., 2000).
Considerando-se que a maioria das amostras de água superficial e
subterrênea de Monte Alegre mostrou pouca variação composicional, as
interpretações se concentraram bem mais nas diferenças que elas apresentam.
Por seu turno, as águas termominerais foram analisadas em maior profundidade, o
que permitiu discutir sua origem e principais condutos pelos quais migram.
5.1.1. Águas subterrâneas e superficiais
No geral, as águas subterrâneas e superficiais mostram valores de STD
inferiores a 160 e 50 ppm, respectivamente, em ambos os períodos de coleta.
Contudo valores mais elecados foram constatados em amostras de água
subterrânea das formações Ererê e Oriximiná (350 a 577 ppm), e de água
superficial das formações Ererê, Barreirinha, Oriximiná, Itaituba e Alter Chão (69 a
270 ppm).
Essas anomalias estão relacionadas com algumas particularidades
composicionais das rochas pelas quais as águas percolam. As amostras PT-22
(Fm Ererê) e PT-06 (Fm. Barreirinha), por exemplo, mostram os mais altos teores
de SO
4
2-
, muito provavelmente porque ambas interagem com folhelhos negros
presentes nestas unidades, cuja pirita se oxida via a reação 1:
53
FeS
2
+ 15/4 O
2
+ 7/2H
2
O Fe(OH)
3
+ 2 SO
4
2-
+ 4H
+
(reação 1)
É possível que o aumento ainda maior dos teores de SO
4
2-
no período chuvoso
seja conseqüência de o nível freático também atingir concentrações de pirita
localizadas a profundidades mais rasas. Entretanto neste período o pH é um
pouco mais elevado, isto é consequência do consumo do H
+
na hidrólose de
outros minerais e alteração dos feldspatos para argilominerais.
Além disso, a amostra PT-22 apresenta teores de Na
+
e Cl
-
mais elevados
do que a PT-06, sendo cerca de quatro e dez vezes respectivamente nos períodos
seco e chuvoso, o que poderia ser explicado pela interferência das águas
termominerais presentes na Formação Ererê. Com a entrada de um maior volume
de água no sistema durante as chuvas, o fluxo tende a ser mais difuso,
favorecendo uma mistura ainda maior das águas de circulação local com as águas
termominerais de circulação mais profunda.
As amostras PT-8 e IG-32 (Fm. Oriximiná) e IG-7 (Fm. Barreirinha) se
destacam pelos expressivos valores de HCO
3
-
, Ca
2+
e Mg
2+
. Estas amostras foram
coletadas próximas a afloramentos de soleiras de diabásio e devem, assim, estar
refletindo a dissolução de minerais primários desta rocha (labradorita
augita/pigeonita). As concentrações relativamente altas de HCO
3
-
são mais difíceis
de serem explicadas, mas elas podem estar ligadas ao CO
2
que fica normalmente
aprisionado durante a solidificação de magma basáltico. Dados sobre a
composição química de basaltos fornecem teores médios de 0,11% de CO
2
(Cox
et al., 1979), suficientes para justificar aquelas concentrações. Semelhantes
observações foram feitas nas águas do sistema aquífero Serra Geral, na bacia
hidrográfica do rio Piquiri, no Paraná (Bitencourt et al., 2003), e na região de
Kauai, Hawaii (Valeton, 1972), as quais estão em íntimo contato com rochas
basálticas.
As amostras IG-36 e IG-14 das formações Itaituba e Alter do Chão,
respectivamente, são influenciadas pela dissolução da calcita da Formação
Itaituba, conforme a reação 2.
CaCO
3
+ H
2
O Ca
2+
+ HCO
3
-
+ OH
-
(reação 2)
54
justificando suas expressivas concentrações de Ca
2+
e HCO
3
-
. Apesar de a
amostra IG-14 ser de um igarapé que drena a Formação Alter do Chão, ele
recebe, não muito distante a montante do ponto de coleta, um pequeno afluente
que escoa pelos calcários da Formação Itaituba.
Em resumo, a composição das águas subterrâneas e superficiais da
região de Monte Alegre é influenciada pelas rochas que elas atravessam. As
águas que estão associadas com rochas siliciclásticas mostram pouca variação
nos seus constituintes, pois são rochas compostas dominantemente por quartzo
e/ou caulinita, minerais com os quais elas estão em equilíbrio. Por seu turno, as
águas associdas com rochas sedimentares químicas são fortemente influenciadas
pela dissolução dos carbonatos e, em alguns casos, pelos evaporitos, enquanto
aquelas que entram em contato com as rochas máficas têm sua composição
controlada pela hidrólise do plagioclásio e piroxênios. Há também os casos em
que o fluxo das águas termominerais, sobretudo no período chuvoso, influencia
significantemente a composição química das águas de circulação local mais rasa.
5.1.2. Águas termominerais
O caráter sódico-cloretado e bicarbonatado-sódico destas águas é
adquirido com a percolação das águas meteóricas em rochas químicas das
formações Itaituba e Nova Olinda, localizadas em profundidade (item 5.3),
favorecida certamente pelas fraturas e falhas paleozóicas que foram reativadas no
Meso-Cenozóico (Costa, 2002), em particular aquelas de direção NE-SW e N-S
que colocaram a Formação Alter do Chão em contato com unidades mais antigas
(p. ex. Ererê) . Estas águas se aquecem em profundidade e, assim, aumentam
sua capacidade de dissolver carbonatos e sais evaporíticos (halita, silvinita,
gipsita, anidrita), incorporando quantidades significativas de HCO
3
-
, Ca
2+
, Na
+
, K
+
,
SO
4
2-
e Cl
-
. O SO
4
2-
não é, entretanto, abundante, pois provavelmente sofre
redução à medida que as águas migram pelas formações Ererê e Barreirinha,
produzindo, de acordo com a reação 3, o gás sulfídrico que a elas empresta um
odor característico. Muito provavelmente essa redução é devida à ação de
55
bactérias anaeróbicas, que são muito comuns em ambientes relativamente ricos
em matéria orgãnica como é o caso daquelas formações.
SO
4
2-
+ C + 4H
2
O H
2
S + HCO
3
-
+ 5OH
-
(reação 3)
Da mesma forma, o íon K
+
está presente em concentrações relativamente
baixas e isto pode ser devido tanto às menores quantidades de silvita nas rochas-
fonte quanto à maior tendência de ele ser adsorvido nos argilo-minerais do que os
demais álcalis (Hem, 1970).
A dissolução de minerais ferro-magnesianos dos corpos de diabásio em
superfície devem também ter contribuído para os elevados teores de Mg
2+
e Ca
2+
dessas águas.
5.2. AMBIENTE MINERAL
As únicas amostras que estão em equilíbrio teórico com a muscovita são
as da fonte Menino Deus (Fig. 18A), que foram estudadas no período de
outubro/2001 por Anjos et al. (2005). O aumento da razão a
K+
/a
H+
deve-se bem
mais ao valor do pH (6,9 a 7,0) do que à concentração do íon K
+
, que é apenas
levemente mais elevada comparativamente à das demais amostras.
As amostras superficiais e subterrâneas que se aproximam do campo da
leonhardita (Fig. 18B e C) são influenciadas pelo pH (6,6 a 7,1) e pela dissolução
de carbonatos da Formação Itaituba (IG-14 e IG-36) e hidrólise de minerais
primários dos diabásios (IG-32 e PT-8), fazendo com que as razões a
Ca2+
/a
2
H+
sejam as mais elevadas.
Apesar dos baixos teores de Ca
2+
, Na
+
e K
+
, as águas superficiais em
geral ocupam um campo próximo ao das águas termominerais (Fig. 18A, B e C)
por conta dos valores de pH que ficam em torno da neutralidade.
5.3. ORIGEM E MODELO DE CIRCULAÇÃO DAS ÁGUAS TERMOMINERAIS
As águas termominerais são de origem meteórica, pois seus valores de
δO
18
e δD coincidem com a linha de água meteórica global. O excesso de deutério
que elas apresentam (4 a 15‰) é reflexo da sazonalidade (Fig. 28) e está
56
relacionado principalmente com variações da temperatura e da umidade do ar
(Merliva & Jouzel, 1979). Durante a evaporação, os isótopos mais leves se
particionam para a fase de vapor e os mais pesados se concentram na fase
líquida. No período chuvoso a umidade relativa do ar e a temperatura em Monte
Alegre variam, respectivamente, entre 80 e 90% e 25 e 30°C (Inmet 2005),
justificando os menores valores do excesso de deutério registrados nas águas
termominerais.
Balao Hídrico Climatológico
200
150
100
50
0
-50
-100
-150
JFMAMJJASOND
FICIT
EXCESSO RETIRADA REPOSIÇÃO
n
m
Figura 28 - Balanço hídrico climatológico para a
região de Monte Alegre, no período de 1961-1991,
fonte: www.inmet.gov.br.
Os valores das temperaturas calculadas com o geotermômetro da sílica
são mais compatíveis com o ambiente mineral de Monte Alegre. O geotermômetro
dos álcalis (Na-Ca-K), por seu turno, é mais apropriado para águas que estejam
em equilíbrio com os feldspatos, o que, como foi visto, não é o caso das águas de
Monte Alegre. Por esta razão, nas considerações feitas a seguir, serão usados os
valores estimados com o geotermômetro da sílica.
As temperaturas calculadas podem estar um pouco superestimadas (1,5
a 39° C) tendo em vista que não se leva em conta os teores de SiO
2
adquiridos
pelas águas meteóricas durante os movimentos descendentes. Com os dados
obtidos neste trabalho não foi, entretanto, possível fazer uma avaliação correta a
respeito desta contribuição. Ademais, trabalhos que utilizam o geotermômetro da
sílica desconsideram essa contribuição.
57
A variação nas temperaturas nos períodos seco (média de 83°C) e
chuvoso (média de 71°C) decorre da diferença no balanço hídrico entre os dois
períodos (Fig. 28), fazendo com que o volume de água que reabastece os
aqüiferos seja mais reduzido na estiagem. As águas meteóricas se infiltram
através das falhas e fraturas, alcançando profundidades de 1100 a 2700 m com
média de 1560 m (período chuvoso) e de 1860 a 2200 m com média de 1900 m
(período seco). Estes valores foram calculados pela equação proposta por Desio
(1965 apud Favara et al. 1998):
G
TaTw
P
=
(equação 7)
na qual P é a profundidade teórica mínima de circulação, T
w
é a temperatura da
água do reservatório (estimadas pelo geotermômetro da sílica), T
a
é temperatura
ambiente e G é o gradiente geotérmico local. Para a área estudada adotou-se uma
temperatura ambiente igual a 25,6°C e um gradiente geotérmico de 30°C/km
(PETROBRAS, 1984).
Além disso, foi observada a existência de trends geotérmicos na bacia do
Amazonas de direção NW-SE, que comumente se deslocam na direção
transversal NE-SW (PETROBRÁS, 1984). Nas regiões onde rochas pelíticas
funcionam como isolantes, o gradiente geotérmico pode ultrapassar 30°C/km.
Esses trends são coincidentes com a direção das falhas que truncam a estrutura
da braquidobra de Monte Alegre, o que sugere que a recarga/aquecimento das
águas termominerais se deu, principalmente, através dessas zonas de falha.
As águas termominerais na superfície possuem temperaturas variando de
28 a 37°C, enquanto que em profundidade elas atingem temperaturas de 83°C.
Esta perda termal pode ser, em parte, conseqüência da mistura com as águas
principalmente do sistema de circulação local durante a subida das águas
termominerais, a exemplo do modelo para o fluxo regional de água subterrânea
proposto por Fetter (1994). Como a vazão das fontes termais é baixa, a
transferência de calor para as rochas pode também contribuir para aquela
diminuição de temperatura no intervalo médio de cerca de 1500 m. Neste sentido,
58
registra-se que, na estiagem de 2002, após o bombeamento de uma cacimba
aberta na fonte Menino Deus para abastecer uma piscina de dimensões médias, a
recuperação do nível d’água levou cerca de 24 horas.
Um modelo de circulação para as fontes de águas termais aqui
apresentado é adaptado de Castany (1975), pelo qual as águas meteóricas se
infiltram favorecidas em muito pela rede de falhas que truncam a braquidobra, se
aquecem em profundidade devido ao gradiente geotérmico, dissolvem minerais
das rochas e ascendem lentamente por condutos até a superfície (Fig. 29).
Figura 29 – Modelo de circulação de águas
meteóricas que suprem fontes termominerais
(Castany, 1975).
Semelhantes modelos de circulação de águas foram propostos para as
fontes termais do oeste da Silícia, Itália (Favara et al., 1998). As águas dessas
fontes são de origem metórica, circulam a 1300-1800 m de profundidade, se
aquecem por conta do gradiente geotérmico e adquirem temperaturas variando de
60 a 90°C.
59
5.4. MODELO GRAVIMÉTRICO
A Figura 26 mostra o mapa Bouguer para a região de Monte Alegre. Nele
os isovalores dos contornos decrescem em direção ao norte, indicando um
aumento na espessura das rochas sedimentares.
Observa-se no mapa, que na parte NW da área investigada o gradiente
gravimétrico é mais forte do que nas partes central e sul. Essa feição comprova a
existência de zona de intensos falhamentos paleozóicos de direção N-S, que
foram reativados no Meso-Cenozóico (Costa, 2002).
O perfil AA´, mostrado na Figura 28, foi interpretado com auxílio de
programa computacional. O modelo resultante do processamento computacional é
mostrado na parte inferior da Figura 30. Ele permite inferir a existência de um
corpo tabular similar a um lacólito, que teria originado a estrutura da braquidobra
que ocorre na área. Além desse corpo, o modelo sugere a presença de falhas que
formam um gráben, colocando em contato as rochas terciárias da Formação Alter
do Chão com rochas paleozóicas da bacia do Amazonas.
O pico da anomalia Bouguer que ocorre no perfil AA’, entre as posições 13
e 14 km, está associado com a porção mais rasa do lacólito, que, de acordo com o
modelo, ocorre a 1,3 km de profundidade, e demarca aproximadadmente o centro
do lacólito.
O modelo mostra, ainda, na sua parte superior, a anomalia Bouguer medida
(representada pelo sinal +) e a anomalia Bouguer calculada (linha cheia) para o
modelo de distribuição de densidade encontrado. Observa-se aqui uma boa
coincidência entre os valores medidos e os calculados, o que sugere que o
modelo obtido é aceitável para explicar a distribuição de densidade na
subsuperfície da área. Tal resultado foi utilizado na representação do modelo
gravimétrico em subsuperfície (Fig. 31).
60
100
80
60
40
20
0
Contraste de
densidade (%)
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+++
+
+
+
++
+
+
+
+
+
++
+
+
+
-20
-10
0
10
010
20 (km)
5
4
3
2
1
0
P
R
O
F
U
N
D
I
D
A
D
E
(
k
m
)
A
N
O
M
A
L
I
A
(
m
g
a
l
)
Medido
Calculado
Eixos de dist ribuição de densidades
(2,93 g/cm)
3
Figura 30 - Modelo gravimétrico bi-dimensional para o perfil AA’ (NW-SE).
Figura 31 - Modelo geológico bi-dimensional para o perfil AA’ (NW-SE).
P
R
O
F
U
N
D
I
D
A
D
E
(
k
m
)
AA´
?
?
?
?
?
?
NW
SE
Formação Oriximiná
Formação Curiri
Formação Faro
Formação Monte Alegre
Formação Itaituba
Formação Alter do Chão
Formação Nova Olinda
Intrusivas Máficas
Formação Barreirinhas
Formação Ererê
Formação Maecuru
Fonte Menino Deus
Falhas/fraturas
1
2
3
4
5
0
5 km
61
5.5. MODELO GEOELÉTRICO
O estudo da eletrorresistividade na região de Monte Alegre não
revelou/delimitou nenhuma anomalia termal porventura existente na área. A
aplicação do método da eletrorresistividade em campos geotermais tem sido bem
sucedida, como por exemplo em Milford, Utah, onde a resistividade diminui com a
profundidade devido, principalmente, à natureza salina das águas das fontes
(Tripp et al., 1978). Em Monte Alegre, os dados obtidos apenas evidenciaram a
variação da resistividade com os litotipos e estruturas em profundidade, bem como
a presença de águas subterrâneas ricas em sais dissolvidos, como será visto a
seguir.
As SEVs no entorno da fonte Menino Deus mostram um nítido aumento
da resistividade com a profundidade, que está relacionado com a fácies silto-
arenosa (material permo-poroso) da Formão Ererê. Nos primeiros metros dessa
região, o horizonte de solo é bem desenvolvido e rico em matéria orgânica,
fazendo com que a resistividade seja baixa.
As SEVs executadas em outros perfis dentro da própria Formação Ererê
possuem comportamento diferente das que estão em torno da fonte Menino Deus
(na porção mais central da braquidobra). Elas são semelhantes às executadas na
Formação Barreirinha, das quais diferem pelo fato de os valores da resistividade
passarem a aumentar a partir dos 30 m de profundidade. Os baixos valores de
resistividade entre a superfície e a profundidade de 30 m podem estar
relacionados com uma zona em que siltitos e folhelhos estão intercalados. Após a
passagem da zona saturada, a resistividade aumenta provavelmente como
resultado da menor porosidade e maior compactação das rochas.
Nas SEVs realizadas na região de Inglês de Sousa sobre a Formação
Barreirinha, observa-se que a resistividade diminui continuamente com a
profundidade, registrando-se valores muito baixos a aproximadamente 10 m, onde
se situa o nível estático da água. Esse comportamento deve ser causado pelas
águas subterrâneas que são ricas em sais dissolvidos. A resistividade torna-se tão
baixa que impede a penetração da corrente elétrica a profundidades maiores.
62
Para as SEVs executadas na Formação Alter do Chão, os valores da
resistividade correspondentes ao solo predominantemente arenoso com cerca de
10-15 m de espessura estão acima de 1000 .m. Os valores então passam a
diminuir gradativamente com a profundidade, mas à altura dos 100 m voltam a
aumentar ao atingirem planos das falhas que mergulham para leste e truncam a
braquidobra. A SEV-4 reflete bem mais a influência da litologia da Formação Ererê
por ter sido realizada muito próxima da zona de falha que a coloca em contato
com a Formação Alter do Chão. Daí a grande semelhança de comportamento com
a SEV-13.
63
6. CONCLUSÕES
As águas da região de Monte Alegre são composicionalmente bem
distintas e foram classificadas de acordo com a predominância de seus íons. As
águas termominerais são as mais homogêneas e foram classificadas em dois
tipos: as bicarbonatado-sódicas, que são representadas pelas fontes Desterro (FT-
20) e São Manoel (FT-21), e pela água do poço de Inglês de Sousa (FPT-5); e 2)
as bicarbonatadas a cloretado-sódicas, que são as amostras da fonte do Menino
Deus e FT-27. As águas subterrâneas apresentam composição variando de
sulfatada a cloretado-sódica, sulfatado-magnesiana, bicarbonatado-cálcica,
bicarbonatado-magnesiana e mista, enquanto as superficiais apresentam os
mesmos padrões das águas subterrâneas, com exceção do primeiro. Estas
variações estão intimamente relacionadas ao tipo litológico pelo qual as águas
percolam.
Com base nos diagramas de atividade-atividade a 25°C, a maioria das
amostras de água estudadas mostra-se em equilíbrio com a caulinita e o quartzo,
notando-se que as águas termominerais da fonte Menino Deus, estudadas no
período de outubro de 2002, estão em equilíbrio com a muscovita, e as amostras
da fonte Menino Deus e a FT-27 estão em equlíbrio com pirofilita na estiagem.
Os dados isotópicos revelaram que as águas termominerais são de
origem meteórica e que apresentam variações significativas no excesso de
deutério relacionadas com a sazonalidade local.
Essas águas meteóricas infiltram-se, principalmente, ao longo das falhas
que truncam a braquidobra, e atingem profundidades entre cerca de 1600 e 1900
m, quando adquirem temperaturas médias estimadas com o geotermômetro da
sílica que variam de 71 (período de chuvas) a 83°C (estiagem). Essas águas são
aquecidades devido ao gradiente geotérmico da área, que é em torno de 30°C/km,
e chegam à superfície com temperaturas de 29 a 37°C. Essa perda é
consequênca de sua lenta ascensão e é provocada pela mistura com águas de
circulação mais rasa e transferência térmica para as rochas.
Aplicando-se o método gravimétrico foi possível identificar um lacólito a
1,3 km de profundidade e estabelecer relações de contato com as rochas
64
sedimentares da bacia do Amazonas. A porção mais rasa do lacólito coincide com
a porção central da braquidobra. Além disso, foi possível identificar um grábem
formado pelas falhas que truncam os flancos desta estrutura, onde estão situados
os principais condutos que permitem a circulação das águas termominerais.
A eletrorresistividade não delimitou/identificou nenhuma anomalia termal
na área, mas foi possível registrar variações litológicas em subsuperfície e mapear
falhas que truncam a braquidobra.
Apesar de as águas termominerais de Monte Alegre não possuírem
temperaturas suficientemente altas para serem aproveitadas industrialmente,
possuem grande potencialidade para fins turísticos e terapêuticos.
65
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ANEXO
72
Anexo A - Anomalias Bouguer (mgal) calculadas para cada estação gravimétrica
em 4 perfis gravimétricos.
Longitude Latitude
Anomalia Bouguer
(mgal)
Longitude Latitude
Anomalia
Bouguer (mgal)
540427 15948 -1,42
540448 15755 -8,7
540455 15943 -1,54
540441 15725 -8,35
540524 15935 -1,24
540430 15711 -8,14
540550 15918 -4,89
540441 15706 -5,36
540608 15855 -6,26
540451 15638 -0,76
540623 15828 -4,71
540455 15613 -1,49
540644 15806 1,56
540527 15530 -1,68
540700 15742 1,54
540544 15435 -5,28
540717 15718 0,73
540552 15335 -8,68
540738 15658 -7,16
540551 15236 -12,71
540803 15639 -1,24
540644 15235 -11,28
540827 15625 -2,68
540744 15333 -11,4
540854 15617 -3,02
540842 15221 -12,31
540919 15602 -4,33
540940 15215 -13,64
540949 15609 -6,5
541020 15255 -13,17
541018 15616 -4,67
541104 15330 -12,67
541047 15626 -4,24
541203 15333 -12,24
541116 15636 -3,23
541224 15335 -12,03
541145 15643 -1,58
541236 15410 -10,87
541215 15644 -3,26
541302 15505 -8,73
541244 15639 -3,9
541252 15602 -4,32
541310 15640 -4,41
541253 15640 -2,44
541336 15627 -5,25
541311 15641 -1,93
541407 15623 -6,11
541351 15722 -2,13
541433 15618 -7,39
541343 15821 0,56
541458 15607 -8,64
541408 15905 2,3
541522 15557 -9,42
541435 15951 3,22
541537 15533 -11,51
541427 20051 4,51
541550 15533 -10,92
541359 20140 6,46
541603 15540 -10,49
541355 20212 5,07
541619 15540 -11,16
541346 20240 2,51
541633 15538 -11,51
541336 20310 2,31
541648 15533 -12,57
541341 20338 2,71
541703 15531 -13,1
541340 20408 2,35
541716 15525 -13,04
541338 20438 1,84
541730 15520 -14,73
541321 20503 2,37
541745 15516 -15,25
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73
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