RESUMO
Esta pesquisa foi realizada no Centro de Ensino Fundamental Pipiripau II, escola situada na periferia
rural de Planaltina no Distrito Federal. Tendo por objetivo desenvolver um estudo acerca do modo de
inserção desta unidade escolar na realidade em que atua, e compreender a forma como seus docentes
interpretam a realidade da escola do campo, de seus habitantes locais, e das questões emergenciais que
pontuam o cotidiano desta comunidade. A abordagem deste estudo se amparou nas questões
contemporâneas de discussão e construção de um projeto de Educação do Campo. Este projeto se
coloca como uma alternativa ao modelo dominante de desenvolvimento rural, que tem por eixo a
política do agronegócio e suas conseqüências de exclusão social e destruição ambiental, em níveis
nunca antes vistos, porém com uma roupagem de modernidade, mais difícil de se desvelar do que os
antigos sistemas de exploração colonial que traziam mais explícitas as suas intenções.Desta forma, são
muitos os sentidos que se constroem para a atual realidade do campo, povoando o imaginário social:
desde a sua extinção até a sua continuação como espaço marginal necessário para alimentar estas
agroindústrias, hoje também ali instaladas. Diante disto, este estudo compreende que a forma
dicotomizada de se construir sentidos para estes espaços: rural e urbano, se ampara em interpretações
históricas que culminaram na profunda ruptura nas relações entre os humanos e a natureza nas
sociedades capitalistas. Para pesquisar o cotidiano escolar a partir desta discussão, optou-se pela
observação participante, onde outros elementos se somaram com vistas à elucidação destas questões,
considerando também o fato de que a pesquisadora é sujeito participante da realidade em questão.
Diante disto foram utilizados os seguintes instrumentos de pesquisa: diário de campo; os “registros de
memória”: lembranças que marcaram a história (em torno de dez anos) da pesquisadora nesta
comunidade escolar; fotografias e documentos do arquivo escolar. Também foram realizadas
entrevistas semi-estruturadas (pequeno histórico de vida), com quatro docentes os quais, exceto um,
ocupam ou já ocuparam a função de Coordenação Pedagógica no Centro de Ensino, onde também
estes três docentes são recém-formados pelo Programa de Pedagogia para Professores (as) que atuam
em séries iniciais. Além disso, foram utilizados materiais (fotografias, desenhos) produzidos pelos
professores, construídos durante o Curso de Extensão “Espaço e Lugar - O Ambiente como Mundo
Vivido”, e material produzido com os alunos de 5ª a 8ª séries, como os relatos de história de vida em
forma de produção de textos e desenhos. Como resultados desta pesquisa evidenciaram-se as
dificuldades, potencialidades e contradições vividas por esta escola, a partir do momento em que ela
tenta superar seu distanciamento com relação às necessidades e saberes locais, manifestando-se na
ambigüidade de sentidos que sustenta o seu fazer pedagógico. A partir desta problemática, foram
buscadas parcerias objetivando intervenções de caráter educativo, em relação a uma melhor
compreensão da realidade local, onde percebemos a importância da continuação deste trabalho. No
contexto maior deste estudo, os dados indicam que apenas a capacitação formal não abarca a
complexidade requerida para se pensar em uma Educação do Campo. Desta forma, compreendemos a
necessidade da construção de pertencimento destes docentes com o modo de vida dos habitantes e dos
trabalhadores do campo, bem como refletir sobre a natureza das relações sociais subjacentes que
materializam e significam sua ação política e pedagógica. Pensamos que o sentido da Educação do
Campo seria também uma alternativa de reconstrução das relações dicotomizadas que permeiam o
cotidiano desta escola, levando ao desgaste e sofrimento nas relações humanas. No contexto maior
desta pesquisa, foram organizados os eixos temáticos centrais, possibilitando algumas considerações: a
dificuldade do docente em compreender as diferentes problemáticas contemporâneas entre
campo/cidade encontra ressonância nas matrizes históricas das múltiplas interpretações para estes
ambientes diferenciados: ora uma visão romantizada e idealizada da natureza, vista como ente
separado da sociedade humana, ora a hostilização deste espaço tido como rústico e atrasado, segundo a
concepção do capitalismo no campo. A dificuldade da escola em lidar com as “carências culturais e
econômicas” da comunidade local, vista pelos docentes como ponto de estrangulamento no processo
pedagógico escolar, veio à tona, bem como a permanência das relações autoritárias dentro da
instituição educacional do DF. Nesse sentido, as mudanças necessárias para o avanço do Projeto de
Educação do Campo, deverão partir da formação de um perfil de educador do campo, inserido no
contexto maior da luta política por um projeto de vida neste espaço, destoante da proposta da
agricultura capitalista, que ora se impõe.