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Universidade de São Paulo
Faculdade de Saúde Pública
Estudo de fatores preditores de gravidade e óbito por
varicela em residentes da Região Metropolitana da
Grande São Paulo (SP), 2003.
Alessandra Cristina Guedes Pellini
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Saúde Pública
para obtenção do título de Mestre em
Saúde Pública.
Área de Concentração: Epidemiologia
Orientador: Prof. Dr. Péricles Alves
Nogueira
São Paulo
2006
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Estudo de fatores preditores de gravidade e óbito por
varicela em residentes da Região Metropolitana da
Grande São Paulo (SP), 2003.
Alessandra Cristina Guedes Pellini
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Saúde Pública
da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Mestre em Saúde
Pública.
Área de Concentração: Epidemiologia
Orientador: Prof. Dr. Péricles Alves
Nogueira
São Paulo
2006
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É expressamente proibida a comercialização deste documento, tanto
na sua forma impressa como eletrônica. Sua reprodução total ou
parcial é permitida exclusivamente para fins acadêmicos e
científicos, desde que na reprodução figure a identificação do autor,
título, instituição e ano da dissertação.
Obrigada...
A Deus, a única razão de tudo;
Aos meus pais, queridos, Cida e Carlos;
Aos meus irmãos, Marcelo, Flávia e Fabiana;
Ao amor da minha vida, meu marido Eduardo;
À minha querida Tia Dilma; um anjo que caiu do céu.
AGRADECIMENTOS
Ao Centro de Vigilância Epidemiológica Prof. Alexandre Vranjac da
Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, pela oportunidade de
formação e disponibilidade das ferramentas necessárias para que esse
trabalho fosse possível.
Ao Professor Péricles Alves Nogueira, por sua pronta disponibilidade e
orientação.
À Dra. Telma Regina M. P. Carvalhanas, e Dra. Maria Stella C. J. O. Sidi,
pela disponibilidade dos dados de varicela da Divisão de Doenças de
Transmissão Respiratória do CVE-SES/SP e apoio a este trabalho.
Ao Professor Eliseu Alves Waldman, por estar sempre disponível e pronto a
contribuir.
Às equipes da Divisão de Doenças de Transmissão Respiratória e Divisão
de Imunização do CVE-SES/SP, pelo auxílio prestado sempre que
necessário e pela permissão para acesso irrestrito aos dados.
À Flávia Helena Ciccone pela grande amizade e apoio em todos os
momentos, em especial no auxílio para a digitação do banco de dados do
projeto.
À Ana cia Frugis Yu, colega de trabalho e amiga que contribuiu com
especial atenção para esse trabalho.
Aos funcionários dos Serviços de Arquivos e Prontuários Médicos que
providenciaram os prontuários para essa pesquisa.
Aos Diretores Técnicos dos Hospitais onde essa pesquisa foi realizada.
Às amigas Flávia Helena Ciccone, Ana Freitas Ribeiro, Sandra Cunha e
Mônica Tilli, pelo apoio incondicional em diversos aspectos de minha vida,
em especial nos campos profissionais e da amizade.
À Vilma Pinheiro Gawryszeski, coordenadora e amiga que sempre apoiou a
realização desse trabalho.
Aos meus colegas do Centro de Vigilância Epidemiológica, em especial do
EPISUS-SP e da DDTR, pelo apoio e compreensão de minha ausência nos
momentos de dedicação a esse trabalho.
A todas as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para a
realização deste trabalho.
“Para ser grande, sê inteiro: nada
“Para ser grande, sê inteiro: nada“Para ser grande, sê inteiro: nada
“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
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Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
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No mínimo que fazes.
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No mínimo que fazes.
Assim como em cada lago a lua toda
Assim como em cada lago a lua todaAssim como em cada lago a lua toda
Assim como em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”
Brilha, porque alta vive.”Brilha, porque alta vive.”
Brilha, porque alta vive.”
(Ricardo Reis - Fernando Pessoa)
RESUMO
Introdução: A varicela é uma doença exantemática benigna da infância,
causada por uma infecção primária pelo vírus Varicela-zoster. No Estado de
São Paulo, no ano de 2003, foram notificados 58.972 casos de varicela
mediante ocorrências de surtos, configurando um ano hiperendêmico para a
doença. De um total de 60 óbitos em todo o Estado, 47 ocorreram em
menores de 4 anos. Mais da metade dos óbitos incidiu em moradores da
Região Metropolitana da Grande o Paulo. Objetivos: Descrever e
caracterizar os indivíduos residentes na Região Metropolitana da Grande
São Paulo que evoluíram para gravidade ou óbito por varicela em 2003 e
estudar os fatores preditores desses eventos. Métodos: Realizou-se um
estudo descritivo das variáveis sociodemográficas, clínicas, antecedentes
pessoais e epidemiológicos dos casos de varicela, além de uma análise
exploratória dos fatores preditores de gravidade e óbito pela doença. A
existência de associação entre as exposições de interesse e gravidade ou
óbito por varicela foi investigada pelas estimativas não ajustadas e ajustadas
do odds ratio, com os respectivos intervalos de confiança de 95%, utilizando-
se a regressão logística não condicional. Resultados: As seguintes
variáveis demonstraram associação independente com gravidade e óbito por
varicela: complicações raras, pulmonares, hemorrágicas e neurológicas.
Cirurgia realizada durante a internação por varicela também foi um fator
preditor de gravidade. A taxa de mortalidade foi 36 vezes maior na faixa
etária de menores de 15 anos em relação à faixa etária de adultos, e 5 vezes
maior na faixa de menores de um ano em comparação à faixa de 1 a 14
anos. Conclusão: O amplo conhecimento da epidemiologia da varicela,
suas complicações e fatores de risco para gravidade e óbito, é de extrema
importância para fundamentar a implementação de estratégias de prevenção
e controle deste agravo nos grupos de maior risco.
Palavras-chave: Varicela, Mortalidade, Fatores de Risco.
ABSTRACT
Introduction: Chickenpox is a benign exanthematous disease of childhood,
whose primary infection is caused by the Varicella-zoster virus. In the State
of São Paulo, in 2003, 58,972 chickenpox cases were notified following
outbreaks, configuring a hyperendemic year for the disease. From a total of
60 deaths in the whole State, 47 happened in children up to 4 years old.
More than half of the deaths occurred in residents of the Greater São Paulo
Metropolitan Area. Objectives: To describe and characterize those
individuals residents in the Greater São Paulo Metropolitan Area who
developed chickenpox severity or death during the year 2003, and to study
the predictive factors of these events. Method: A descriptive study was
performed, analyzing clinical and social-demographic variables, personal and
epidemiological records of the chickenpox cases. Besides, an exploratory
analysis of the predictive factors of severity and death by the disease was
made. Association between exposures of interest and chickenpox severity or
death was investigated by unadjusted and adjusted odds ratio estimation,
with 95% confidence intervals, using unconditional logistic regression.
Results: The following variables keep an independent association with
severity and death for chickenpox: development of rare, pulmonary,
hemorrhagic and neurological complications. The need of surgery during the
chickenpox hospitalization was an independent predictive factor for severity
only. The mortality rate was 36 times greater in the age group from 0 to 14
years old than in the adult age group, and 5 times greater in children up to 1
year old than in the age group ranging from 0 to 14 years old. Conclusion:
The comprehensive knowledge of the chickenpox epidemiology, its
complications and risk factors for severity and death is extremely important to
base the implementation of prevention and control strategies for groups at
greater risk of infection.
Keywords: Chickenpox, Mortality, Risk Factors.
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO 21
1.1 AGENTE ETIOLÓGICO, MODO DE TRANSMISSÃO E
PERÍODO DE INCUBAÇÃO 21
1.2 SUSCETIBILIDADE E IMUNIDADE 22
1.3 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS 22
1.3.1 A Varicela no Mundo 22
1.3.2 A Varicela no Brasil 25
1.4 PATOGENIA 27
1.5 QUADRO CLÍNICO 29
1.6 COMPLICAÇÕES 30
1.7 DIAGNÓSTICO 30
1.8 TRATAMENTO 32
1.9 PROFILAXIA 33
1.9.1 Imunização Ativa Contra a Varicela (Vacinação) 33
1.9.2 Imunização Passiva contra a Varicela (Imunoglobulina
Humana anti-Varicella-zoster – IGHAVZ) 38
1.9.3 Profilaxia com Antivirais 39
2 OBJETIVOS 40
2.1 OBJETIVO GERAL 40
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 40
3 MATERIAIS E MÉTODOS 41
3.1 ÁREA DE ESTUDO 41
3.2 POPULAÇÃO DE ESTUDO 43
3.3 FONTES DE DADOS 43
3.4 DELINEAMENTO DO ESTUDO 44
3.4.1 Definição de Caso 44
3.4.2 Critérios de Inclusão 45
3.4.3 Critérios de Exclusão 45
3.5 ETAPAS DO ESTUDO 46
3.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE ÉTICA EM PESQUISA 53
4 RESULTADOS 54
4.1 CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS 54
4.2 ANTECEDENTES PESSOAIS E FAMILIARES 66
4.3 ANTECEDENTES EPIDEMIOLÓGICOS 72
4.4 ASPECTOS CLÍNICOS 76
4.5 ASPECTOS LABORATORIAIS, ISOLAMENTO E
TRATAMENTO 84
4.6 FATORES PREDITORES DE GRAVIDADE E ÓBITO 91
5 DISCUSSÃO 102
5.1 IDADE, SEXO E RAÇA 103
5.2 OCUPAÇÃO MATERNA, ESCOLARIDADE E
NÚMERO DE FILHOS 106
5.3 ESPAÇO, CLIMA E DENSIDADE DEMOGRÁFICA 107
5.4 PESO, ALTURA, TIPO DE PARTO E TABAGISMO 108
5.5 CONDIÇÕES PRÉVIAS, MEDICAMENTOS DE
USO CRÔNICO, INTERNAÇÕES PRÉVIAS 109
5.6 HISTÓRIA DE CONTATO, EXPOSIÇÕES DE RISCO 111
5.7 VARIAÇÕES TEMPORAIS – A CURVA EPIDÊMICA 114
5.8 A DOENÇA E SUAS COMPLICAÇÕES 115
5.9 LETALIDADE E MORTALIDADE 124
5.10 INTERVALOS ENTRE EVENTOS MÓRBIDOS 126
5.11 DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E PROFILAXIA 127
5.12 LIMITAÇÕES DO ESTUDO 130
6 CONCLUSÃO 131
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 133
ANEXOS
Anexo 1 – Municípios das Direções de Saúde I a V da RMGSP 139
Anexo 2a – Requerimento para a consulta de prontuários nos hospitais 140
Anexo 2b – Relação de pacientes para a pesquisa de prontuários 142
Anexo 3 – Instrumento para a investigação de casos de varicela
internados no ano de 2003 143
Lista de Figuras
Figura 1 -
Mapa das Direções Regionais de Saúde do Estado de São
Paulo. Destaque para as Direções Regionais de Saúde I a V,
componentes da Região Metropolitana da Grande São Paulo.
42
Figura 2 -
Pacientes menores de um ano internados com varicela
segundo idade (em meses), Região Metropolitana da Grande
São Paulo, 2003.
56
Figura 3 -
Pacientes internados com varicela segundo faixa etária,
Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
57
Figura 4 -
Mapa do Município de São Paulo. Distribuição da densidade
de casos hospitalizados de varicela (casos
hospitalizados/km
2
) segundo Distrito Administrativo, município
de São Paulo, 2003.
63
Figura 5 -
Mapa do Município de São Paulo. Distribuição da densidade
demográfica (habitantes/km
2
) segundo Distrito Administrativo,
município de São Paulo, 2003.
64
Figura 6 -
Curva epidêmica dos pacientes internados com varicela,
Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
72
Figura 7 -
Distribuição dos óbitos de varicela segundo mês de
ocorrência, Região Metropolitana da Grande São Paulo,
2003.
73
Lista de Tabelas
Tabela 1 -
Número e proporção dos pacientes internados com varicela
segundo evolução, Região Metropolitana da Grande São
Paulo, 2003
54
Tabela 2 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo sexo, Região Metropolitana da Grande São Paulo,
2003.
55
Tabela 3 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo sexo e evolução, Região Metropolitana da Grande
São Paulo, 2003.
55
Tabela 4 -
Média (desvio padrão), mediana e variação da idade dos
pacientes internados com varicela segundo evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
56
Tabela 5 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo sexo e faixa etária, Região Metropolitana da Grande
São Paulo, 2003.
57
Tabela 6 -
Número de óbitos e coeficientes de mortalidade (C.M.) (por
100.000 habitantes) específicos por varicela, segundo sexo e
faixa etária, Região Metropolitana da Grande São Paulo,
2003.
58
Tabela 7 -
Número de casos, óbitos e letalidade por varicela segundo
sexo e faixa etária, Região Metropolitana da Grande São
Paulo, 2003.
59
Tabela 8 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo faixa etária e evolução, Região Metropolitana da
Grande São Paulo, 2003.
59
Tabela 9 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo raça e evolução, Região Metropolitana da Grande
São Paulo, 2003.
60
Tabela 10 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo ocupação materna e evolução, Região Metropolitana
da Grande São Paulo, 2003.
60
Tabela 11 -
Média (desvio padrão), mediana e variação do número de
filhos das mães dos pacientes internados com varicela
segundo evolução, Região Metropolitana da Grande São
Paulo, 2003.
61
Tabela 12 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo Regional de Saúde de Residência e evolução,
Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
61
Tabela 13 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo município de Residência e evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
62
Tabela 14 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo Direção Regional de Saúde de internação e
evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
65
Tabela 15 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo município de internação e evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
65
Tabela 16 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo Zona de internação no município de São Paulo e
evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
66
Tabela 17
-
Média (desvio padrão), mediana e variação do peso ao
nascer dos pacientes menores de um ano internados com
varicela segundo evolução, Região Metropolitana da Grande
São Paulo, 2003.
67
Tabela 18 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo tipo de parto e evolução, Região Metropolitana da
Grande São Paulo, 2003.
67
Tabela 19 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo tabagismo na família e evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
68
Tabela 20 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo referência de condição de base e evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
68
Tabela 21 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo tipo de condição de base e evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
69
Tabela 22 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo utilização de medicações crônicas e evolução,
Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
69
Tabela 23 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo história de internações prévias e evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
70
Tabela 24 -
Média (desvio padrão), mediana e variação do número de
internações prévias dos pacientes internados com varicela
segundo evolução, Região Metropolitana da Grande São
Paulo, 2003.
70
Tabela 25 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo antecedentes vacinais e evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
71
Tabela 26 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo referência de contato com caso de varicela nos
últimos 30 dias e evolução, Região Metropolitana da Grande
São Paulo, 2003.
73
Tabela 27 -
Média (desvio padrão), mediana e variação do número de
contatos dos pacientes internados com varicela segundo
evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
74
Tabela 28 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo freqüência em locais de ensino e evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
74
Tabela 29 -
Número e proporção de pacientes de 1 a 4 anos internados
com varicela segundo freqüência em creches ou pré-escolas
e evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo,
2003.
75
Tabela 30 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo local provável de transmissão e evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
75
Tabela 31 -
Número e proporção dos sinais e sintomas mais freqüentes
dos pacientes internados com varicela segundo evolução,
Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
76
Tabela 32 -
Média (desvio padrão), mediana e variação de duração da
febre (em dias) dos pacientes internados com varicela
segundo evolução, Região Metropolitana da Grande São
Paulo, 2003.
77
Tabela 33 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo complicações e evolução, Região Metropolitana da
Grande São Paulo, 2003.
77
Tabela 34 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo tipo de complicações de pele ou partes moles e
evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
78
Tabela 35 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo local da complicação de pele ou partes moles e
evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
78
Tabela 36 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo sinais e sintomas respiratórios e evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
79
Tabela 37 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo tipo de comprometimento pulmonar, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
79
Tabela 38 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo tipo de complicações hemorrágicas e evolução,
Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
80
Tabela 39 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo tipo de complicações neurológicas e evolução,
Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
80
Tabela 40 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo tipo de complicações raras e evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
81
Tabela 41 -
Média (desvio padrão), mediana e variação do tempo de
internação total, no pronto-socorro, na enfermaria e na
unidade de terapia intensiva (em dias) dos pacientes
internados com varicela segundo evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
82
Tabela 42 -
Média (desvio padrão), mediana e variação do tempo (em
dias) entre: início dos sintomas e internação, início dos
sintomas e complicações, complicações e internação, início
dos sintomas e internação na UTI e início de complicações e
internação na UTI dos pacientes internados com varicela
segundo evolução, Região Metropolitana da Grande São
Paulo, 2003.
83
Tabela 43 -
Média (desvio padrão), mediana e variação dos resultados de
diversos componentes do hemograma dos pacientes
internados com varicela segundo evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
85
Tabela 44 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo resultados de hemoculturas e culturas de qualquer
sítio, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
86
Tabela 45 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo padrão de radiografia de tórax e evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
86
Tabela 46 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo tipo de isolamento e evolução, Região Metropolitana
da Grande São Paulo, 2003.
87
Tabela 47 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo utilização de medicamentos durante a internação e
evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
88
Tabela 48 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo utilização de medicamentos antes da internação e
evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
88
Tabela 49 -
Número e proporção de pacientes internados com varicela
segundo tipo de medicamentos prescritos na alta e evolução,
Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
89
Tabela 50 -
Média (desvio padrão), mediana e variação do tempo de uso
(em dias) de medicamentos (antibiótico, antitérmico, tópico,
antiviral, drogas vasoativas e outros) durante a internação,
antes da internação e prescritos na alta dos pacientes
internados com varicela segundo evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
90
Tabela 51 -
Distribuição e proporção dos casos graves e não graves de
varicela segundo variáveis sociodemográficas, com os
respectivos odds ratios (OR) não ajustados, intervalos com
95% de confiança (IC95%) e valor de p.
92
Tabela 52 -
Distribuição e proporção dos casos graves e não graves de
varicela segundo variáveis relativas a antecedentes pessoais,
familiares e epidemiológicos, com os respectivos odds ratios
(OR) não ajustados, intervalos com 95% de confiança
(IC95%) e valor de p.
93
Tabela 53 -
Distribuição e proporção dos casos graves e não graves de
varicela segundo variáveis relativas a aspectos clínicos, com
os respectivos odds ratios (OR) não ajustados, intervalos com
95% de confiança (IC95%) e valor de p.
94
Tabela 54 -
Distribuição e proporção dos casos graves e não graves de
varicela segundo variáveis relativas a tratamento e exames
laboratoriais, com os respectivos odds ratios (OR) não
ajustados, intervalos com 95% de confiança (IC95%) e valor
de p.
95
Tabela 55 -
Modelo final de regressão logística para fatores preditores de
gravidade por varicela, com respectivos odds ratios (OR)
ajustados, intervalos de 95% de confiança e valores de p.
96
Tabela 56 -
Distribuição e proporção dos óbitos e não óbitos de varicela
segundo variáveis sociodemográficas, com os respectivos
odds ratios (OR) não ajustados, intervalos com 95% de
confiança (IC95%) e valor de p.
97
Tabela 57 -
Distribuição e proporção dos óbitos e não óbitos de varicela
segundo variáveis relativas a antecedentes pessoais,
familiares e epidemiológicos, com os respectivos odds ratios
(OR) não ajustados, intervalos com 95% de confiança
(IC95%) e valor de p.
98
Tabela 58 -
Distribuição e proporção dos óbitos e não óbitos de varicela
segundo variáveis relativas a aspectos clínicos, com os
respectivos odds ratios (OR) não ajustados, intervalos com
95% de confiança (IC95%) e valor de p.
99
Tabela 59 -
Distribuição e proporção dos óbitos e não óbitos de varicela
segundo variáveis relativas a tratamento e exames
laboratoriais, com os respectivos odds ratios (OR) não
ajustados, intervalos com 95% de confiança (IC95%) e valor
de p.
100
Tabela 60 -
Modelo final de regressão logística para fatores preditores de
óbito por varicela, com respectivos odds ratios (OR)
ajustados, intervalos de 95% de confiança e valores de p.
101
Lista de Abreviaturas
CID 10 Classificação Internacional de Doenças (10ª. revisão)
CIVD Coagulação Intravascular Disseminada
DNA Ácido Desoxirribonucléico
DNC Doença de Notificação Compulsória
DP Desvio Padrão
EIA Enzima-imuno-ensaio
HIV Vírus da Imunodeficiência Humana
IC Intervalo de Confiança
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IgG Imunoglobulina G
IGHAVZ Imunoglobulina Humana anti-Varicella-zoster
IOT Intubação Orotraqueal
LCR Líquido cefalorraquidiano (Líquor)
OR Odds Ratio
PCR Reação em Cadeia de Polimerase
PS Pronto Socorro
RR Risco Relativo
S. aureus Staphylococcus aureus
SGA Streptococcus
β
hemolítico do Grupo A
SNC Sistema Nervoso Central
UTI Unidade de Terapia Intensiva
VVZ Vírus Varicela-zoster
Siglas Utilizadas
CCD Centro de Controle de Doenças
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CRIE Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais
CVE Centro de Vigilância Epidemiológica
DATASUS Departamento de Informação e Informática do SUS
DDTR Divisão de Doenças de Transmissão Respiratória
EMPLASA Empresa Paulistana de Planejamento Metropolitano
DIR Direção Regional de Saúde
ESP Estado de São Paulo
EUA Estados Unidos da América
FDA Food and Drug Administration
MS Ministério da Saúde
PA Pará
PNI Programa Nacional de Imunização
PRO-AIM Programa de Aprimoramento das Informações de
Mortalidade
RJ Rio de Janeiro
RMGSP Região Metropolitana da Grande São Paulo
SEADE Sistema Estadual de Análise de Dados
SES Secretaria de Estado da Saúde
SIH-SUS Sistema de Informações Hospitalares do SUS
SINAN Sistema de Informação de Agravos Notificáveis
SINASC Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos do
Ministério da Saúde
SMS Secretaria Municipal de Saúde
SP São Paulo
STATA Statistical Software for Professionals
SUS Sistema Único de Saúde
21
1 INTRODUÇÃO
Varicela é uma doença exantemática benigna e freqüente na
infância (STOCCO et al., 1990; MANDELL et al., 2000; YU et al., 2000;
WAREHAM e BREUER, 2000; ABARCA et al., 2001; LAW, 2001;
YOSHINORI et al., 2001; DEL PONT et al., 2002; FELDMAN, 2002). Embora
seja uma importante causa de morbidade em todos os grupos etários, a
infecção ocorre primariamente em crianças (CLEMENS et al., 1999; REIS et
al., 2003).
Essa doença assume grande importância em pelo menos duas
situações: quando acomete crianças internadas, pois ocorre nesses casos
uma rápida disseminação pelas enfermarias, e quando incide em pacientes
imunodeprimidos, nos quais o VVZ geralmente determina doença grave ou
até mesmo fatal (CARVALHO, 1995; CARVALHO e MARTINS, 1999).
1.1 AGENTE ETIOLÓGICO, MODO DE TRANSMISSÃO E
PERÍODO DE INCUBAÇÃO.
A Varicela é causada pela infecção primária por um vírus DNA, o
vírus Varicela-zoster (VVZ), pertencente à família Herpetoviridae, cujo único
reservatório é o homem (MANDELL et al., 2000; PICKERING, 2000).
Trata-se de uma doença altamente contagiosa que se dissemina
pelo contato direto pessoa-a-pessoa, através do exantema vesicular ativo ou
de partículas aéreas (aerossóis) de secreções respiratórias transmitidas pelo
ar (WHARTON, 1996; FERRER, 2000; GENTILE et al., 2000; MANDELL et
al., 2000; KLASSEN et al., 2002; CHONG et al., 2004).
O período de transmissão da doença se inicia, por via respiratória,
um a dois dias antes do aparecimento do exantema e se estende enquanto
houver vesículas (STOCCO et al., 1990; WHARTON, 1996; CARVALHO e
MARTINS, 1999; FELDMAN, 2002). O período de incubação médio da
doença é de 14 a 16 dias; mas casos podem ocorrer a partir do 10
º
até o 21
º
22
dia após a exposição. (MANDELL et al., 2000; FELDMAN, 2002; KLASSEN
et al., 2002).
1.2 SUSCETIBILIDADE E IMUNIDADE
cerca de duas décadas, tem se observado que o segundo
caso dentro de uma mesma família com freqüência evolui para uma forma
mais severa que a infecção no caso índice, o que pode ser explicado pela
exposição a uma carga mais intensa do vírus infectante ao contágio
(ABARCA et al., 2001; DEL PONT et al., 2002; MOHSEN e MCKENDRICK,
2002; SES/CVE-SP, 2004). A taxa de ataque em creches e outras situações
de semi-confinamento varia de 10 a 35% (SES/CVE-RJ, 2003).
Usualmente, após um episódio de varicela, ocorre imunidade
duradoura (KLASSEN et al., 2002; SES/CVE-RJ, 2003). Aos 15 anos de
idade, praticamente 90% da população tem evidência sorológica de infecção
prévia pelo VVZ (YU et al., 2000; SEMENOVITCH e LUPI, 2003).
1.3 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS
1.3.1 A Varicela no Mundo
A varicela apresenta distribuição mundial, incidindo, com maior
freqüência, no final do inverno e início da primavera (WHARTON, 1996;
CARVALHO e MARTINS, 1999; MANDELL et al., 2000; PICKERING, 2000;
REIS et al., 2003). Apesar de ter grande amplitude, esse agravo é menos
prevalente em crianças nas regiões de clima equatorial e tropical, o que se
traduz em um maior número de adultos suscetíveis, gerando implicações
epidemiológicas diversas para a doença nestas localidades (OOI et al.,
1992; CLEMENS et al., 1999; BELLESI et al., 2000; YU et al., 2000;
RAWSON et al., 2001; REIS et al., 2003; CHONG et al., 2004).
23
Estudos realizados nos trópicos têm demonstrado que pelo
menos 30% dos adultos dessas áreas permanecem vulneráveis à varicela.
Isso se deve à menor eficiência na disseminação do vírus no calor e em
climas úmidos (CHONG et al., 2004). Um dos fatores que poderia contribuir
para a menor prevalência da infecção pelo VVZ nas regiões tropicais é a
combinação da temperatura com a umidade, levando à inativação do rus e
redução de sua transmissão, conforme demonstrado em um trabalho
realizado na Tailândia, que corrobora uma eventual influência do fator
climático na epidemiologia desta virose (CLEMENS et al., 1999; REIS et al.,
2003). Além disso, a alta densidade demográfica tem sido apontada como
um dos principais fatores que favorecem a transmissão dessa doença (REIS
et al., 2003).
Indivíduos adultos provenientes de regiões de climas tropicais são
considerados de alto risco para a aquisição de varicela quando emigram
para países com alta endemicidade do VVZ, uma vez que o
desenvolvimento de imunidade nas regiões tropicais surge mais tardiamente
do que em regiões de clima temperado (BELLESI et al., 2000; RAWSON et
al., 2001; REIS et al., 2003; WAREHAM e BREUER, 2000).
No entanto, mesmo em localidades de clima temperado, vem se
observando uma tendência de aumento do número de adultos suscetíveis à
doença, o que se deve, possivelmente, à grande quantidade de imigrantes
provenientes de áreas rurais e de países em desenvolvimento (CLEMENS et
al., 1999; WAREHAM e BREUER, 2000; REIS et al., 2003).
Devido ao fato de que as crianças estão sendo matriculadas nas
escolas cada vez mais cedo, a idade média de incidência da varicela vem
diminuindo desde os anos 90 (YU et al., 2000).
Na Inglaterra e País de Gales, o desequilíbrio entre os óbitos por
varicela entre crianças e adultos tem sido consistente desde 1967, mas as
mortes em adultos têm aumentado em número e em proporção. Os adultos
responderam por 88 (48%) dos 183 os óbitos por varicela entre 1967 e 1977;
120 (64%) dos 188 óbitos entre 1978 a 1985 e 269 (81%) dos 332 óbitos
ocorridos entre 1986 a 1997 (RAWSON et al., 2001).
24
No Canadá ocorrem cerca de 350.000 casos de varicela
anualmente, gerando um custo estimado de 122 milhões de dólares.
Crianças respondem por mais de 90% das admissões anuais canadenses
devido à varicela e suas complicações (LAW, 2001).
Diversos estudos de soroprevalência têm contribuído para estimar
a magnitude da varicela em todo o mundo. Além do fato do método
sorológico conferir maior especificidade e sensibilidade para uma definição
mais acurada da circulação viral, o desenvolvimento de modelos
matemáticos com padrões combinados tem permitido o desenho de
estratégias para a prevenção da doença (CLEMENS et al., 1999; YU et al.,
2000).
Estima-se que 3,7 milhões de casos de varicela ocorram nos
EUA, a cada ano (1.498 por 100.000 habitantes); sendo 33% em menores
de 4 anos e 44% na faixa etária de 5 a 9 anos. Estudos epidemiológicos e
sorológicos realizados pelo CDC (Centers for Disease Control and
Prevention) demonstraram que mais de 90% da população dos EUA chega
aos 15 anos com imunidade para a varicela, com a maior taxa de ataque
ocorrendo na idade escolar, sendo que, muito raramente, a doença incide
após os 50 anos de idade (BELLESI et al., 2000; GENTILE et al., 2000).
Num estudo na República Tcheca, onde foram analisadas 3.537
amostras de soro de doze diferentes grupos populacionais entre 1970 e
1985, encontrou-se positividade de anticorpos IgG específicos para VVZ em
33% das crianças aos 4 anos, 90% dos adolescentes aos 14 anos, e 97 a
100% dos indivíduos com 20 anos de idade ou mais (BELLESI et al., 2000).
Em outro estudo, realizado em 16 diferentes áreas no Japão,
utilizando-se 1.347 amostras de soro, observou-se presença de imunidade
específica contra a varicela em cerca de 80% das crianças aos 9 anos, 95%
dos adolescentes e adultos jovens entre 10 e 24 anos, e 100% dos adultos
com 25 anos de idade ou mais (BELLESI et al., 2000).
GENTILE et al. (2000) encontraram uma prevalência global de
IgG para VVZ de 72,4%, em uma amostra de 1.519 pacientes de 1 a 40
anos, provenientes de três ambulatórios de hospitais pediátricos de Buenos
25
Aires e Córdoba. O antecedente de varicela intra-domiciliar foi o único fator
de risco associado significativamente à maior prevalência de varicela (RR =
1,26; p = 0.00001). Não foi encontrada associação significativa com nível
sócio-econômico, confinamento domiciliar e nível de escolaridade materna.
A maior prevalência foi observada em menores de 5 anos (50%) e em
indivíduos que tiveram contato com outro caso de varicela. Entre
adolescentes e adultos, o antecedente de nunca ter adquirido a doença não
determinou suscetibilidade à mesma.
Em Singapura, num estudo soroepidemiológico conduzido entre
1989 e 1990, encontrou-se uma taxa de 42,8% de soropositividade em 500
amostras testadas, sendo que a prevalência de anticorpos da classe IgG
contra o VVZ foi de apenas 21% e 41% entre indivíduos das faixas etárias
de 5 a 14 e 15 a 24 anos de idade, respectivamente. A prevalência de
anticorpos alcançou 86 a 98% somente acima dos 25 anos de idade (OOI et
al., 1992; BELLESI et al., 2000).
Mais de 300.000 casos de herpes zoster incidem anualmente nos
EUA, a maioria em pacientes idosos ou com comprometimento da imunidade
celular natural ou adquirida. A chance de desenvolver zoster aumenta em 8
a 10 vezes após os 60 anos de idade. Esta entidade clínica não será objeto
desse estudo.
1.3.2 A Varicela no Brasil
No Brasil, assim como na maioria dos outros países latino-
americanos, existem somente dados empíricos sobre a epidemiologia da
varicela (CLEMENS et al., 1999). A varicela não é Doença de Notificação
Compulsória (DNC) em nosso país (REIS et al., 2003; SES/CVE-SP, 2003,
2004), exceção feita a casos de surtos decorrentes desse agravo em
hospitais, creches, pré-escolas, escolas e comunidade em geral. Quando da
ocorrência de surtos, deve ser feita a notificação através do Sistema de
26
Informação de Agravos Notificáveis (SINAN), por meio do boletim de
notificação de surtos.
Tal fato dificulta sobremaneira o conhecimento da magnitude
dessa doença, uma vez que os casos notificados através de surtos são,
geralmente, restritos a uma determinada faixa etária (SES/CVE-SP, 2004).
De acordo com estudos prévios, a soroprevalência da varicela nas
diferentes faixas etárias no Brasil segue um padrão similar aos EUA. Com
base em estimativas da prevalência de varicela nos EUA antes do uso
ampliado da vacina, estima-se que o número de casos anuais da doença
fosse de aproximadamente quatro milhões, dos quais 80% incidiam em
crianças menores de 10 anos (PREBLUD e D’ANGELO, 1979). Mantida a
mesma proporção, teríamos, no Estado de São Paulo, por volta de 650 mil
casos anuais.
Em grandes centros urbanos, onde existe maior aglomeração, a
varicela tende a ter prevalência mais alta que nas zonas rurais em crianças
pequenas (YU et al., 2000). Alguns trabalhos demonstram, ainda, que
diferenças sociais podem afetar o contato entre crianças, influenciando a
epidemiologia da varicela (YU et al., 2001).
CLEMENS et al. (1999) realizaram um estudo soroepidemiológico
em 3.879 indivíduos de quatro diferentes regiões do Brasil. A taxa de
soropositividade encontrada em todos os grupos etários foi de 85,4%, sendo
evidenciada uma forte correlação com a idade. A soroprevalência foi menor
no grupo etário de 1 a 5 anos nas regiões Sudeste (44,5%) e Sul (57,8%),
em comparação com a região Norte, onde essa taxa foi de 88,9%.
A infecção pelo VVZ foi, em geral, independente do nível sócio-
econômico; entretanto, nos grupos etários mais jovens (1 a 10 anos), a
soroprevalência foi significativamente menor nas classes alta e média, na
maioria das regiões.
BELLESI et al. (2000) verificaram o perfil imunológico para VVZ
de 525 indivíduos residentes em Belém (PA). Apesar de ter sido encontrada
grande exposição à doença nos primeiros anos de vida, cerca de metade
dos adolescentes e adultos jovens persistia sem imunidade contra a varicela,
27
permanecendo suscetíveis à infecção primária pelo VVZ num período em
que a doença tende a se manifestar de forma mais grave do que na infância.
Situação semelhante vem sendo observada em outras localidades de clima
tropical, como Singapura, Tailândia e Índia, onde mais da metade da
população de adolescentes e adultos jovens de 15 a 34 anos permanece
suscetível à varicela.
YU et al. (2000) realizaram um estudo para avaliar a
soroprevalência do VVZ em uma amostra de 5.343 crianças provenientes de
304 escolas e creches blicas da cidade de São Paulo (SP). Foi
encontrada uma alta soropositividade para varicela na faixa etária de 1 a 3
anos, que subiu lentamente até os 10 anos de idade, onde alcançou a taxa
de 90%, similar àquela encontrada nos países de clima temperado. Assim,
foi demonstrado que, na população de crianças que freqüentam
estabelecimentos públicos de ensino, o contato com o VVZ ocorre logo no
início da infância.
REIS et al. (2003) avaliaram a prevalência de infecção pelo VVZ
em áreas urbanas de diferentes regiões climáticas do Brasil (Salvador,
Fortaleza, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre), analisando 975 amostras de
soro de adultos jovens doadores de sangue. A soroprevalência global de
anticorpos contra o VVZ foi de 94,2%. A menor taxa (88,7%) foi observada
em Fortaleza, e a maior (99,5%), em Curitiba. A soroprevalência nas regiões
de clima tropical (89,4%) foi significativamente inferior àquela nas regiões de
clima temperado (97,3%). Estes achados corroboram com a afirmação de
que o fator climático pode influenciar na epidemiologia dessa doença.
1.4 PATOGENIA
O entendimento da natureza da viremia é essencial para a
compreensão da fisiopatologia da varicela e suas complicações. Humanos
são infectados quando o VVZ entra em contato com a mucosa do trato
respiratório superior ou conjuntiva, gerando uma viremia primária (MANDELL
et al., 2000; SOONG et al., 2000). Aproximadamente de 8 a 10 horas após a
28
infecção, a imunofluorescência pode detectar o VVZ nas células adjacentes
ao foco inicial da infecção. Da mesma forma, a microscopia pode demonstrar
a disseminação radial do processo citopatológico iniciado (MANDELL et al.,
2000).
O vírus se dissemina, então, na corrente sangüínea, em lulas
mononucleares do sangue periférico, ocasionando uma viremia secundária,
de maior magnitude que a primeira. Seqüencialmente, o VVZ é transferido
das células mononucleares do sangue periférico para as células epiteliais,
resultando na infecção da pele e no exantema característico da varicela
(SOONG et al., 2000; YOSHINORI et al., 2001).
Os achados histopatológicos da infecção pelo VVZ são idênticos
tanto na varicela como no herpes zoster, com vesículas envolvendo a
derme. Como a replicação viral progride, as células epiteliais sofrem
alterações degenerativas caracterizadas por células gigantes multinucleadas
e inclusão intranuclear eosinofílica. Sob circunstâncias não usuais, necrose
e hemorragia podem aparecer na porção superior da derme. Como a
vesícula evolui, o fluido nela contido se torna turvo, em conseqüência do
aparecimento de leucócitos polimorfonucleares, degeneração celular e
fibrina. No final do processo, as vesículas podem se romper e liberar o fluido
infeccioso, ou este último segradualmente reabsorvido (MANDELL et al.,
2000).
O VVZ pode, ainda, se disseminar das lulas mononucleares
para o sistema nervoso central (SNC), infectando núcleos nervosos
sensoriais, o que resulta numa infecção latente por toda a vida, sendo essa
permanência característica do grupo herpes vírus (BELLESI et al., 2000;
GILDEN et al., 2000; YOSHINORI et al., 2001).
29
1.5 QUADRO CLÍNICO
A varicela apresenta um quadro clínico típico, com erupções
cutâneas geralmente muito características e sintomas corriqueiros das
infecções virais. Surgem cerca de 250 a 500 lesões generalizadas e
pruriginosas (PICKERING, 2000). Essas lesões tipicamente evoluem de
mácula para pápula, desta para vesícula, e após, pústula e crosta;
finalizando com cicatrizes brandas que desaparecem em uma ou duas
semanas (CARVALHO e MARTINS, 1999; BELLESI et al., 2000; FERRER,
2000; KLASSEN et al., 2002; SES/CVE-SP, 2004). As lesões se
assemelham, no início, a gotas de orvalho; e caso não haja ruptura dentro
de poucas horas, o conteúdo se torna aparentemente purulento (MANDELL
et al., 2000).
O exantema inicialmente acomete o tronco, face e couro
cabeludo, mas logo se distribui centripetamente, envolvendo outras áreas do
corpo. As lesões podem ser também encontradas, mais raramente, na
mucosa da orofaringe e vagina (MANDELL et al., 2000; SES/CVE-SP, 2004).
Após a cura e remissão total do quadro de varicela, o VVZ pode
permanecer em estado latente em nervos cranianos e gânglios das raízes
dorsais. Sua reativação, que em geral ocorre algumas décadas após a
infecção primária, resulta no quadro conhecido como herpes zoster, onde as
lesões vesiculares surgem agrupadas, seguindo a distribuição de um a três
dermátomos sensoriais e causando dor (neuralgia s herpética) de grande
intensidade (GENTILE et al., 2000; PICKERING, 2000; WAREHAM e
BREUER, 2000). Essa reativação ocorre em aproximadamente 15% dos
indivíduos infectados com o VVZ (BELLESI et al., 2000).
30
1.6 COMPLICAÇÕES
Apesar de se tratar, em geral, de uma doença benigna em
crianças sadias, a varicela pode produzir graves complicações, levando a
uma alta morbi-mortalidade, principalmente em neonatos, adultos, indivíduos
imunocomprometidos, com neoplasia ou em uso de corticosteróides
(STOCCO et al., 1990; CLEMENS et al., 1999; BELLESI et al., 2000; YU et
al., 2000; ABARCA et al., 2001; RAWSON et al., 2001; DEL PONT et al.,
2002; KLASSEN et al., 2002; REIS et al., 2003; SES/CVE-SP, 2004; HO e
TAI, 2004). Mesmo as crianças saudáveis estão sujeitas a infecções
bacterianas secundárias, podendo chegar até a um comprometimento
sistêmico intenso. foram discutidos, por vários autores, diversos fatores
associados a complicações por varicela.
1.7 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da varicela geralmente é feito com base nas
características do exantema, isto é, pelo aparecimento de lesões vesiculares
em dias sucessivos e uma história de contato (CARVALHO e MARTINS,
1999; MANDELL et al., 2000; KLASSEN et al., 2002).
Na maior parte dos casos, a característica do rash cutâneo, com
lesões em todos os estágios de desenvolvimento, promove a base para o
diagnóstico clínico da infecção. A presença de dor, prurido e febre baixa
também auxiliam no diagnóstico de varicela. Um exantema vesicular
localizado torna o diagnóstico de herpes zoster altamente provável. Outros
exantemas virais podem, ocasionalmente, ser confundidos com essa doença
(MANDELL et al., 2000).
A confirmação do diagnóstico também é possível com o
isolamento do VVZ em culturas celulares ou por demonstração da
soroconversão ou aumento da titulação sorológica, utilizando-se ensaios
padronizados em amostras de soro de fase aguda e convalescente. O teste
de Tzanck, realizado em material de raspado de lesões vesiculares, pode
31
demonstrar células gigantes multinucleadas; no entanto, a sensibilidade
desse teste é de apenas 60%. Reagentes com anticorpos fluorescentes
também são úteis para testar amostras obtidas de lesões vesiculares
(MANDELL et al., 2000).
Outros estudos mais recentes têm se apoiado na quantificação de
leucócitos mononucleares infectados com VVZ durante a varicela, utilizando
imunofluorescência com anticorpos monoclonais (SOONG et al., 2000;
CHONG et al., 2004). O anticorpo fluorescente para antígeno de membrana
parece ser o todo mais sensível para a detecção do VVZ; no entanto, é
um teste que consome muito tempo de laboratório. Assim, a aglutinação pelo
látex e a enzima-imuno-ensaio (EIA) são alternativas melhores em termos de
custo-benefício. O EIA varia, em sensibilidade, de 86 a 97%; e em
especificidade, de 82 a 99% para a detecção de anticorpos após a infecção
natural (CHONG et al., 2004).
Desde 1977 vem sendo relatado o uso de testes intradérmicos
para a detecção de anticorpos contra o VVZ através da resposta imune
celular, que esta desempenha grande parte da proteção contra a infecção
por este vírus. Alguns investigadores têm avaliado esses testes como
ferramenta diagnóstica e como uma medida da resposta imune ao VVZ em
hospedeiros saudáveis e imunocomprometidos (SOMEKH et al., 2001).
Em laboratórios de pesquisa, a Reação em Cadeia de Polimerase
(PCR) já está sendo utilizada como um instrumento diagnóstico para a
detecção do VVZ em leucócitos mononucleares e polimorfonucleares do
sangue periférico (SOONG et al., 2000). Além disso, a aplicação do PCR em
amostras de líquido cefalorraquidiano (LCR) tem se mostrado útil para
detectar o DNA do VVZ em infecções do SNC (MANDELL et al., 2000).
32
1.8 TRATAMENTO
O tratamento da varicela, em geral, é sintomático. Podem ser
utilizadas desde loções para alívio do prurido e analgésicos para reduzir a
febre e a dor (CARVALHO e MARTINS, 1999; KLASSEN et al., 2002) até
antibióticos, indicados nos casos em que houver infecções bacterianas
secundárias das lesões ou invasivas (CARVALHO e MARTINS, 1999).
Tratamentos mais recentes incluem o uso de imunoglobulina humana anti-
Varicella-zoster (IGHAVZ) e drogas antivirais para moderar ou encurtar o
curso da doença.
O aciclovir, sendo uma droga antiviral, previne a replicação do
VVZ e tem potencial para erradicar esse vírus e aliviar os sintomas da
doença mais rapidamente. Esse antiviral tem mínimos efeitos adversos, uma
vez que é somente absorvido pelas células infectadas. Alguns efeitos
colaterais à administração oral de aciclovir incluem náuseas, vômitos,
diarréia e vertigens (KLASSEN et al., 2002).
Como tratamento específico dos quadros graves de varicela no
imunodeprimido e em neonatos (encefalite, pneumonia, forma disseminada),
a administração precoce do aciclovir inibe a evolução da doença
(CARVALHO e MARTINS, 1999; MANDELL et al., 2000; KLASSEN et al.,
2002). O aciclovir oral não tem sido recomendado para uso de rotina em
crianças saudáveis com varicela; entretanto, deve se considerar seu uso em
indivíduos saudáveis com risco aumentado de manifestar varicela moderada
ou severa, isto é, pacientes maiores de 12 anos de idade, portadores de
distúrbios crônicos ou que recebem cursos reduzidos de corticosteróides.
Alguns especialistas também recomendam o uso desse antiviral para casos
secundários domiciliares, nos quais a doença tende a ser mais severa
(PICKERING, 2000).
SHEPP et al. (1986) compararam, através de um estudo
prospectivo, o uso do aciclovir intravenoso com o antiviral vidarabina para o
tratamento de varicela em pacientes imunocomprometidos, concluindo que o
aciclovir apresenta os melhores resultados nessa categoria de pacientes.
33
O uso adjunto de corticosteróides não tem demonstrado impacto
na diminuição da mortalidade geral por varicela (WAREHAM e BREUER,
2000). Da mesma forma, o uso dessa classe medicamentosa no tratamento
da encefalite por varicela não revelou resultados convincentes. Foi
demonstrada sua eficácia apenas na diminuição da incidência de neurites
por herpes zoster; mas devido à reduzida incidência dessa complicação em
crianças, não se justifica seu emprego rotineiro (CARVALHO e MARTINS,
1999).
1.9 PROFILAXIA
O contato com um caso índice de varicela resulta em maior risco
de desenvolvimento de doença grave e/ou complicações, e deve ser
considerado para intervenções modificadoras da doença (imunização nos
primeiros cinco dias após exposição, imunoglobulina específica ou profilaxia
com aciclovir, lembrando que a imunização é contra-indicada em gestantes,
e o aciclovir não está licenciado para uso na gestação) (MOHSEN e
MCKENDRICK, 2002; SES/CVE-SP, 2003, 2004).
1.9.1 Imunização Ativa contra a Varicela (Vacinação)
A vacina contra a varicela é um produto de vírus vivo atenuado
em células diplóides humanas, derivado da cepa OKA. Foi isolada por
Takahashi, na Universidade de Osaka (Japão), no início da cada de 70
(TAKAHASHI et al., 1974; WHARTON, 1996; BELLESI et al., 2000; FERRER
2000; MANDELL et al., 2000; YU et al., 2000; ARVIN, 2001; VÁZQUEZ et
al., 2001).
Os ensaios clínicos publicados com a utilização de 0,5 ml por via
subcutânea demonstraram alta eficácia, sendo a vacina aprovada para a
comercialização em 1984 (SES/CVE-SP, 2004). Trata-se de uma vacina
segura, protetora, consistente e duradoura contra a primoinfecção pelo VVZ,
e talvez contra a sua reativação, revelando-se recurso efetivo para a
34
prevenção da varicela e de suas complicações (BELLESI et al., 2000;
GERSHON, 2001; VÁZQUEZ et al., 2001).
Nos EUA, antes da introdução da vacina contra a varicela,
ocorriam quatro milhões de casos da doença anualmente (WHARTON,
1996; SEWARD, 2001; CDC, 2003), com cerca de 11.000 hospitalizações e
100 mortes. O maior impacto ocorria em crianças, que representavam mais
de 90% dos casos, 67% das hospitalizações e quase a metade dos óbitos.
Das crianças que faleceram em decorrência da varicela, 90% não tinham
condições subjacentes de alto risco (SEWARD, 2001; CDC, 2003).
Dados sobre complicações e custos da varicela nos EUA
contribuíram para a racionalização da implementação universal da
imunização (JAEGGI et al., 1998). Resultados gerados durante 15 anos de
estudo e seis anos de vigilância após a liberação da vacina nesse país
demonstraram uma proteção de 97% a 100% contra a varicela moderada e
severa e 85% de proteção contra qualquer tipo de manifestação da doença.
Mais de 20 anos de seguimento no Japão e alguns anos nos EUA sugerem
que a resposta imune da vacina seja de longa duração (LAW, 2001;
VÁZQUEZ et al., 2001). A efetividade clínica de 85% indica que a maioria
das crianças adquire imunidade protetora após imunização artificial. Apesar
da varicela se desenvolver em algumas crianças vacinadas quando expostas
ao rus selvagem, a manifestação de sintomas mais leves sugere que essa
suscetibilidade ocorra muito mais devido a deficiências na imunidade
adaptativa do que por falha vacinal primária (ARVIN, 2001).
A vacina foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA)
nos EUA em 1995 (WHARTON, 1996; ARVIN, 2001; VÁZQUEZ et al., 2001).
Atualmente, é recomendada para a imunização de rotina de indivíduos
suscetíveis a partir dos 12 meses de idade (VÁZQUEZ et al., 2001; CDC,
2003). No início de 1999, houve um declínio de cerca de 75% na incidência
da varicela nesse país, o que correspondeu ao aumento da cobertura vacinal
(CDC, 2003).
35
A incidência observada de herpes zoster após a vacinação é 4 a
10 vezes menor que após a doença natural. Estima-se que a vacinação de
rotina poderia prevenir aproximadamente 15% das infecções severas por
Streptococcus
β
hemolítico do Grupo A (SGA) em crianças. Mais de 100
mortes anuais causadas por varicela nos EUA são agora consideradas
preveníveis, e não dúvidas de que a proteção induzida pela vacina é
preferível à doença natural (LAW, 2001).
Estudos realizados em outros países também demonstraram o
poder imunogênico da vacina, com alta soroconversão (97%), mesmo
transcorridos 7 a 10 anos após a vacinação. Da mesma forma, sua eficácia
foi alta, sendo de 90% contra a infecção e 95% contra as formas graves
(DEL PONT et al., 2002; SES/CVE-SP, 2004). Num estudo de
acompanhamento de 20 anos, demonstrou-se que os níveis de anticorpos
foram maiores que os observados nos 10 anos iniciais, o que se explica,
possivelmente, pela exposição posterior ao vírus selvagem (SES/CVE-SP,
2004).
Além dos EUA, a vacina vem sendo difundida pela maioria dos
países desenvolvidos de todo o mundo, e já se encontra licenciada em
alguns países para a imunização de rotina de crianças saudáveis (JAEGGI
et al., 1998; BELLESI et al., 2000; YU et al., 2000). Os países que
incorporaram a vacinação para a prevenção da varicela em seus esquemas
rotineiros utilizaram resultados de estudos epidemiológicos e de custo-
benefício para decidir sua estratégia. Tais estudos permitem estabelecer as
melhores políticas de vacinação, considerando as prioridades locais e o
calendário de vacinação vigente (GENTILE et al., 2000).
No Brasil, a vacina contra a varicela está disponível nos Centros
de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs) desde 1999, estando
indicada para os pacientes suscetíveis à varicela que serão submetidos a
transplante de órgãos sólidos, para bloqueio em hospitais e imunização de
profissionais de saúde (MS/FUNASA, 2001; SES/CVE-SP, 2003, 2004). No
Estado de São Paulo, somente a partir de 2003 esta vacina passou a
36
compor o conjunto de medidas adotadas para o controle de surtos de
varicela em creches (SES/CVE-SP, 2003, 2004).
três vacinas disponíveis, atualmente, no mercado brasileiro,
sendo que uma delas é administrada em dose única para quaisquer idades
acima de 12 meses, e as demais exigem a aplicação de duas doses para
indivíduos com 13 anos ou mais. A possibilidade de um indivíduo vacinado
transmitir o rus vacinal é muito rara, e muito inferior à transmissão da
doença causada pelo vírus selvagem. Deve ser evitada a utilização de
salicilatos em crianças até seis semanas após a vacinação, devido à
associação do uso deste componente com a Síndrome de Reye (SES/CVE-
SP, 2004).
Atualmente, de acordo com as recomendações do Centro de
Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”, as indicações dessa
vacina em todo o Estado de São Paulo estão restritas às seguintes
condições: (1) indivíduos suscetíveis à varicela (profissionais de saúde ou
familiares) em contato domiciliar ou hospitalar com pacientes
imunodeprimidos; (2) indivíduos suscetíveis que serão submetidos a
transplante de órgãos lidos (pelo menos três semanas antes do
procedimento); (3) indivíduos com leucemia linfocítica aguda em remissão
mais de um ano, com linfócitos > 700/mm
3
e contagem de plaquetas >
100.000/mm
3
; (4) indivíduos suscetíveis à doença, imunocompetentes, no
momento da internação em enfermaria onde haja algum caso de varicela; (5)
antes de quimioterapia, em protocolos de pesquisa; (6) HIV (+)
assintomático ou oligossintomático; (7) em casos de surtos, onde a vacina
estará disponível para bloqueio em ambiente hospitalar ou em creches
(SES/CVE-SP 2004).
Dados de vários estudos disponíveis na literatura mostraram que
a história referida pela mãe é suficiente para saber se uma criança maior ou
adolescente teve varicela. Na condição de ausência de história de
adoecimento, recomenda-se a vacinação em qualquer idade,
particularmente em profissionais de saúde. Mulheres que pretendem
engravidar e que não se recordam de ter tido a doença devem ser
37
vacinadas, uma vez que a varicela congênita ou neonatal é uma forma grave
da doença, levando, inclusive, a malformações fetais (SES/CVE-SP 2003).
Nas ocasiões de surtos intra-hospitalares, a vacina contra a
varicela deverá ser administrada até 72 horas após o contato com o caso
índice (vacinação de bloqueio) para indivíduos imunocompetentes
suscetíveis (pacientes, acompanhantes, ou profissionais de saúde). Nesses
casos, deve ser feito o isolamento dos expostos até 21 dias após o contato
com o caso índice (SES/CVE-SP 2004).
Em creches, considerando a maior gravidade da varicela em
crianças que freqüentam esses estabelecimentos, a vacina está indicada a
partir da ocorrência do primeiro caso, no período máximo de a4 semanas
após o último caso. Nestes locais, recomenda-se a vacinação de crianças
suscetíveis de um a cinco anos de idade. As crianças que manifestarem a
doença deverão ficar em casa por sete dias, ou até que todas as lesões
tenham evoluído para crostas (SES/CVE-SP 2004).
A vacina contra a varicela está contra-indicada em indivíduos com
imunodeficiência congênita ou adquirida, indivíduos acometidos por
neoplasia maligna ou em tratamento com corticosteróides em doses
imunossupressoras, gestantes, indivíduos que apresentaram reação
anafilática em dose anterior e crianças menores de um ano, uma vez que
não dados publicados na literatura sobre a segurança e eficácia das
vacinas disponíveis nessa faixa etária (SES/CVE-SP 2004).
Em geral, a tolerância à vacina contra a varicela é muito boa.
Alguns eventos adversos têm sido relatados, a maioria sendo reações
imediatas no local de injeção (10 a 25% dos pacientes), ou uma erupção
cutânea localizada (5%, 2 a 5 vesículas), ocorrendo 10 a 21 dias após a
vacinação e com duração de poucos dias (FERRER 2000; CHONG et al.
2004; SES/CVE-SP 2004). Raramente, poderá ocorrer exantema
generalizado tipo varicela (LAW, 2001).
A possibilidade de imunização ampla contra a varicela poderia
modificar a epidemiologia dessa doença, promovendo uma importante
redução dos casos primários. Ao mesmo tempo, poderia levar a um
38
deslocamento da doença para faixas etárias mais idosas, justamente onde o
risco de complicações é maior (YU et al., 2000).
No Brasil, tendo em vista o maior risco de complicações por
varicela com o aumento da idade, é importante que se considere a
vacinação naqueles migrantes de regiões tropicais para os centros urbanos
das regiões sul e sudeste, que não tenham antecedente de varicela (REIS et
al., 2003). Isto é particularmente importante para profissionais de saúde, e a
vacinação de rotina é o método preferencial para a prevenção da varicela
nas instituições de saúde, onde os surtos, principalmente entre pacientes
imunocomprometidos, podem apresentar conseqüências graves (REIS et al.,
2003; CHONG et al., 2004).
1.9.2 Imunização Passiva contra a Varicela (Imunoglobulina
Humana anti-Varicella-zoster – IGHAVZ)
Estudos estimam uma eficácia protetora de 50 a 75% para a
profilaxia pós-exposição com imunoglobulina específica contra a varicela
(IGHAVZ) quando administrada dentro de 72 horas nos grupos de alto risco
(DEL PONT et al., 2002). Esse imunobiológico tem sido utilizado com
sucesso na atenuação da doença em contatos suscetíveis de casos
primários nos Estados Unidos e Japão, mesmo após o emprego da
imunização ativa primária de rotina. Embora a IGHAVZ possa ser efetiva
mesmo quando administrada 7 a 10 dias após a exposição, não há evidência
de que tenha impacto no tratamento da doença estabelecida (WAREHAM
e BREUER, 2000).
A imunoglobulina humana anti-Varicella-zoster está também
disponível nos CRIEs. É preparada a partir do soro de pacientes que
apresentaram zoster, e contém elevados títulos de anticorpos. Essa
imunoglobulina deverá ser administrada até 96 horas após o contato com o
caso índice. As seguintes indicações são consideradas para o uso de
imunoglobulina em comunicantes de um caso de varicela: (1) pacientes
39
imunocomprometidos; (2) gestantes suscetíveis, devido ao risco de
complicação materna; (3) recém-nascidos de es que apresentaram
varicela nos últimos cinco dias antes e até 48 horas após o parto; (4) recém-
nascidos prematuros com 28 semanas de gestação, cuja mãe não teve
varicela; (5) recém-nascidos menores de 28 semanas de gestação,
independentemente da história materna de varicela (SES/CVE-SP, 2004).
1.9.3 Profilaxia com Antivirais
Alguns estudos indicam o uso do aciclovir por via oral como outra
opção válida para a prevenção da varicela, indicando-se sua administração a
partir do sétimo dia de contato com o caso índice.
DEL PONT et al. (2002), através de um estudo de intervenção
não-controlado realizado entre 1995 e 1996, demonstraram que houve
prevenção ou atenuação da varicela em 84% de 19 pacientes com o uso do
aciclovir via oral, administrado no período pós-exposição da doença. Outros
autores defendem, ainda, que o emprego de profilaxias ou terapia com
antivirais poderia diminuir a morbidade nos casos secundários com
exposição domiciliar (ABARCA et al., 2001).
A varicela é um agravo que vem sofrendo intensas modificações
em seu impacto social. Essa doença apresenta uma considerável carga
econômica, relacionada a custos médicos diretos (visitas a unidades de
saúde, medicações, hospitalizações por complicações da doença) e indiretos
(redução da produtividade dos adultos, que permanecem fora de seu
trabalho durante o curso da doença em suas crianças). A isso se soma um
aumento potencial da mortalidade específica por esse agravo nos anos
hiperendêmicos que, juntamente com a ocorrência de surtos pela doença em
todo o país, gera grandes prejuízos sociais.
40
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Estudar os fatores preditores de gravidade e óbito de indivíduos
internados com diagnóstico de varicela no ano de 2003, residentes na
Região Metropolitana da Grande São Paulo.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
2.2.1 Descrever indivíduos internados por varicela nos hospitais
onde ocorreram óbitos pela doença no ano de 2003, caracterizando-os
segundo os atributos tempo, lugar e pessoa, bem como aspectos
sociodemográficos, clínicos, laboratoriais e epidemiológicos.
2.2.2 Identificar fatores associados à gravidade e ao óbito por
varicela, realizando comparações entre os seguintes grupos:
pacientes que apresentaram quadro leve ou moderado da doença;
pacientes que apresentaram critérios de gravidade pela doença e
sobreviveram;
pacientes que faleceram em decorrência da doença ou suas
complicações.
2.2.3 Oferecer bases técnicas para a implementação de um
sistema de vigilância estadual para a varicela, através da identificação de
grupos de risco passíveis de ações preventivas contra essa doença.
41
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 ÁREA DE ESTUDO
A área escolhida foi a Região Metropolitana da Grande São Paulo
(RMGSP), que reúne 39 municípios do Estado de São Paulo, distribuídos em
cinco Direções Regionais de Saúde (anexo 1). Trata-se da maior metrópole
da América Latina, em intenso processo de conurbação. Esse termo se
refere à extensão da capital São Paulo, formando com seus municípios
contíguos uma mancha urbana contínua, tornando as fronteiras políticas
entre os municípios da região inefetivas (WIKIPÉDIA, 2006).
A população da RMGSP situava-se, em 2003, em torno de 18,6
milhões de habitantes, contando com 8,9% de sua população abaixo dos 5
anos e 26,5% abaixo dos 15 anos de idade (DATASUS, 2005).
Com essa população, a Grande São Paulo continua sendo um
dos três maiores aglomerados urbanos do mundo, ao lado das Regiões
Metropolitanas de Tóquio, com 29 milhões de habitantes, e da Cidade do
México, com 18 milhões de habitantes (EMPLASA, 2006).
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Planejamento
de São Paulo (2006), as taxas de crescimento da população residente na
RMGSP foram de 1,9% nos anos de 1980 a 1991, de 1,3% entre 1991 e
1996 e de 1,9% entre 1996 e 2000.
O índice de alfabetização da RMGSP apresentou, em 2000 uma
média de 83,0%, variando de 78,1% (Franco da Rocha) a 84,3% (São Paulo)
(DATASUS, 2005).
A Grande São Paulo apresenta uma área territorial de 8.051 km
2
,
com 2.139 km
2
de área urbanizada. Segundo a Empresa Paulista de
Planejamento Metropolitano (EMPLASA), vinculada à Secretaria de
Economia e Planejamento do Estado de São Paulo, a RMGSP contou, em
2000, com um Produto Interno Bruto de US$ 99 bilhões, que correspondeu a
16,7% do total brasileiro. A renda per capita chega a atingir US$ 5.545.
42
A Grande São Paulo centraliza o comando do grande capital
privado: concentra as sedes brasileiras dos mais importantes complexos
industriais, comerciais e principalmente financeiros, que controlam as
atividades econômicas privadas no país (EMPLASA, 2006).
Dos 39 municípios da RMGSP, 17 (43,6%) possuem Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) alto (0,800 ou maior), e os demais (56,4%),
possuem IDH médio (entre 0,500 e 0,799). Nenhum município possui IDH
baixo nessa região (WIKIPÉDIA, 2006).
Figura 1 - Mapa das Direções Regionais de Saúde do Estado de São Paulo.
Destaque para as Direções Regionais de Saúde I a V, componentes da Região
Metropolitana da Grande São Paulo.
Fonte: TABWIN / DATASUS / MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006.
43
3.2 POPULAÇÃO DE ESTUDO
A população de estudo foi constituída por indivíduos de ambos os
sexos e quaisquer idades, residentes em qualquer um dos 39 municípios
situados na Região Metropolitana da Grande São Paulo, que foram
internados devido à varicela e/ou suas complicações no ano de 2003.
3.3 FONTES DE DADOS
Foram utilizadas as seguintes fontes de dados para a obtenção
das informações de interesse dos casos de varicela:
i) FUNDAÇÃO SEADE (SP) Fundação Sistema Estadual de Análise de
Dados, para a obtenção de informações das declarações de óbito dos
pacientes;
ii) Direções Regionais de Saúde (DIR) I a V do Estado de São Paulo, para
a complementação das informações referentes aos óbitos;
iii) Bancos de Dados das Divisões de Doenças de Transmissão
Respiratória (DDTR) e Imunização do CVE/SES-SP, também para a
complementação das informações dos óbitos;
iv) Serviços de Arquivos e Prontuários Médicos dos Hospitais onde
ocorreram as internações e óbitos dos pacientes incluídos no estudo,
para a verificação dos prontuários;
v) DATASUS (MS) Departamento de Informação e Informática do SUS,
para a obtenção de dados populacionais utilizados nos lculos dos
coeficientes de mortalidade.
44
3.4 DELINEAMENTO DO ESTUDO
O delineamento foi, inicialmente, de um estudo descritivo,
analisando-se variáveis sócio-demográficas, clínicas e epidemiológicas dos
casos de varicela. A seguir, realizou-se um estudo exploratório de fatores
preditores de gravidade e óbito, comparando-se os seguintes grupos:
pacientes que apresentaram quadro leve ou moderado da doença;
pacientes que apresentaram critérios de gravidade pela doença e
sobreviveram;
pacientes que faleceram em decorrência da doença ou suas
complicações.
3.4.1 Definição de Caso
3.4.1.1 Caso Leve a Moderado de Varicela
Paciente de qualquer idade e sexo internado com diagnóstico
clínico de varicela (códigos B01.0 a B01.9 e P35.8 da Classificação
Internacional de Doenças - CID10) e/ou suas complicações, no período de
01 de janeiro a 31 de dezembro de 2003, sem evolução para gravidade ou
óbito.
3.4.1.2 Caso Grave de Varicela
Paciente de qualquer idade e sexo internado com diagnóstico
clínico de varicela (códigos B01.0 a B01.9 e P35.8 da Classificação
Internacional de Doenças - CID10) e/ou suas complicações, no período de
01 de janeiro a 31 de dezembro de 2003, que evoluiu para gravidade, isto é,
necessitou de suporte de terapia intensiva e/ou ventilação mecânica, sem
que o desfecho final tenha sido o óbito.
45
3.4.1.3 Óbito por Varicela
Paciente de qualquer idade e sexo com diagnóstico clínico de
varicela (códigos B01.0 a B01.9 e P35.8 da Classificação Internacional de
Doenças - CID10) e/ou suas complicações, no período de 01 de janeiro a 31
de dezembro de 2003, em que o desfecho tenha sido o óbito, e em cuja
declaração de óbito tenha sido feita menção à varicela como causa básica
ou associada.
3.4.2 Critérios de Inclusão
Foram incluídos no estudo os casos de varicela internados em
hospitais onde ocorreram óbitos pela doença no ano de 2003, em que o
critério diagnóstico tenha sido clínico, sem necessidade de confirmação
laboratorial.
3.4.3 Critérios de Exclusão
Foram excluídos da seleção todos os indivíduos que
apresentaram um ou mais dos seguintes critérios:
outro motivo para internação, que não uma complicação de varicela ou
condição subjacente que piorasse seu prognóstico;
outra causa explicável para a gravidade ou óbito, independentemente
da presença da varicela ou suas complicações (isto é, a varicela,
embora presente, não foi determinante ou facilitadora do óbito);
residência em municípios não pertencentes à Região Metropolitana da
Grande São Paulo.
46
3.5 ETAPAS DO ESTUDO
Após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética da Faculdade
de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e pela Diretoria do Centro
de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde de São
Paulo (CVE/SES-SP), o estudo foi composto de seis etapas:
3.5.1 Identificação dos atestados ou declarações de óbitos de
pacientes residentes na RMGSP, nos quais havia menção de varicela como
causa básica ou associada no ano de 2003, com base nos dados da
Fundação SEADE (SP) e da DDTR/CVE/SES-SP.
3.5.2 Contato com os setores administrativos dos hospitais
onde ocorreram os óbitos, através de requerimento formal de autorização
para consulta aos prontuários (anexo 2).
3.5.3 Solicitação, aos mesmos hospitais onde ocorreram os
óbitos, da relação dos prontuários de pacientes internados com diagnóstico
de varicela no ano de 2003.
3.5.4 Após obter-se autorização para a consulta dos
prontuários, realizou-se visita aos hospitais para o preenchimento manual de
todas as informações dos pacientes internados com varicela em um
questionário elaborado especificamente para este propósito (anexo 3).
3.5.4.1 Instrumento de Coleta de Dados (Questionário)
Foi utilizado um questionário padronizado (anexo 3), preenchido
com as informações obtidas dos prontuários de pacientes internados, dos
atestados ou declarações de óbito e dos bancos de dados das Divisões de
Doenças de Transmissão Respiratória e Imunização do CVE/SES-SP.
47
3.5.4.2 Variáveis e Natureza da Classificação
As seguintes variáveis foram consideradas para o estudo
descritivo dos casos de varicela:
Sociodemográficas: sexo, idade, raça, ocupação materna, anos de
estudo completos da mãe (para menores de 15 anos), número de filhos
das mães, DIR, município, zona e distrito de residência e internação.
Relativas a antececedentes pessoais e familiares: peso e altura ao
nascer (para menores de um ano), peso e altura atual, tipo de parto,
tabagismo na família, presença e tipo de condições de base, uso
crônico de medicações, internações prévias e antecedentes vacinais.
Relativas a aspectos epidemiológicos: contato com caso(s) de varicela
nos últimos 30 dias, local e mero de contatos, freqüência em
estabelecimentos de ensino, local provável de exposição, tempo entre
a exposição e o aparecimento dos sintomas (período de incubação).
Relativas a aspectos clínicos e evolução: sinais e sintomas, presença e
tipo de complicações, cirurgias, tempo de internação total, no pronto-
socorro, na enfermaria e na UTI, tempo entre o início dos sintomas e a
internação, tempo entre o início dos sintomas e o desenvolvimento de
complicações, tempo entre as complicações e a internação.
Relativas a aspectos laboratoriais, tratamento e isolamento: avaliação
dos componentes do hemograma, agentes etiológicos recuperados em
culturas, padrões radiológicos de tórax; modalidades e tempos de
tratamento antes, durante e após a internação e tipo de isolamento
indicado.
No estudo de fatores preditores de gravidade, a variável
dependente foi categorizada em dois desfechos: (1) caso leve a moderado
com evolução para cura e (2) caso grave, com ou sem evolução para óbito.
No estudo de fatores preditores de óbito, dois desfechos foram
considerados: (1) óbito e (2) não óbito.
48
As variáveis independentes foram tratadas de acordo com os
seguintes níveis de mensuração:
i) Variáveis Qualitativas
Idade: categorizada pelos intervalos: menor de 1 ano; 1 a 4 anos; 5 a 9
anos e 10 a 14 anos; excluídos os adultos com 15 anos ou mais. O
grupo etário de 10 a 14 anos foi a categoria de referência.
Sexo: pertencer ao sexo feminino foi a categoria de referência.
Raça: categorizada em branca, parda e negra, sendo a raça branca a
categoria de referência.
Ocupação da mãe: categorizado em “fora do lar” e “do lar”, sendo esta
última a categoria de referência.
Direção Regional de Saúde de residência: foi categorizada em DIR I
(São Paulo), II (Santo André), III (Mogi das Cruzes) e V (Osasco),
sendo a categoria de referência a DIR I.
Zona de residência no município de São Paulo: foi categorizara em
Zona Leste e outras zonas de residência. A categoria de referência foi
não residir na Zona Leste.
Direção Regional de Saúde de internação: foi categorizada em DIR I
(São Paulo), III (Mogi das Cruzes) e V (Osasco), sendo a categoria de
referência a DIR I.
Zona de internação no município de São Paulo: foi categorizada em
Zona Leste e outras zonas de internação. A categoria de referência foi
não ter sido internado na Zona Leste.
Tipo de Parto: categorizado em parto normal e cesariano, sendo o
parto cesariano a categoria de referência.
Tabagismo na Família: categorizada na forma dicotômica, ou seja, se
existia algum fumante no domicílio do paciente ou não. A ausência de
tabagistas foi a categoria de referência.
49
Presença de condições de base: foram consideradas as neoplasias,
anemias (falciforme e ferropriva), doenças respiratórias crônicas
(rinossinusite, bronquiolite, bronquite, asma, pneumonias e otites de
repetição), doenças neurológicas (encefalopatia crônica, paralisia
cerebral, epilepsia), cardíacas, dermatológicas (atopia), endócrinas e
metabólicas (desnutrição), imunológicas (Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida), gastroenterológicas (diarréias crônicas),
prematuridade, congênitas (malformações) e gestação, dentre outras.
Essa variável foi definida de acordo com informações referentes às
doenças ou condições mencionadas no prontuário médico ou na
declaração de óbito. A categorização foi dicotômica, ou seja, presença
ou ausência da condição, com a categoria de referência sendo a
ausência da mesma.
Uso crônico de medicações: foi considerado o uso crônico de
quaisquer medicações: antiinflamatórios, broncodilatadores,
antibióticos, anticonvulsivantes e neurolépticos, quimioterápicos,
corticosteróides ou outras drogas imunossupressoras, dentre outras. A
variável foi categorizada dicotomicamente, ou seja, utilização crônica
ou não das medicações, com a categoria de referência sendo a não
utilização.
Internações prévias: categorização na forma dicotômica, tomando os
pacientes que não tiveram internações prévias como o grupo de
referência.
Antecedente de vacinação: categorizada em “vacinação em dia” ou
“vacinação atrasada”, sendo que a menção de “vacinação em dia” no
prontuário foi a categoria de referência.
Freqüência a estabelecimentos de ensino: os pacientes que não
freqüentavam creches, pré-escolas ou escolas formaram a categoria de
referência, em relação àqueles que freqüentavam.
Local provável de exposição à varicela no domicílio: a
categorização foi feita dicotomicamente, entre os pacientes que tiveram
50
exposição à varicela no ambiente domiciliar e os que não tiveram. A
ausência de exposição foi a categoria de referência.
Presença de complicações (pele ou partes moles, pulmonares,
hemorrágicas, neurológicas, etc): categorizada na forma dicotômica;
ou seja, se o indivíduo teve ou não cada uma dessas complicações. A
categoria de referência foi a ausência da complicação.
Realização de cirurgia durante a internação: categorizada na forma
dicotômica; ou seja, se o indivíduo realizou ou não cirurgia na
internação. A categoria de referência foi não ter realizado cirurgia.
Tratamento das complicações: categorização na forma dicotômica,
avaliando-se a utilização ou não de diversos tipos de drogas:
antibióticos, sintomáticos tópicos, antivirais e antitérmicos, tomando os
que o tiveram utilização dos medicamentos como a categoria de
referência.
Padrão radiológico: classificado conforme o padrão da radiografia de
tórax em: normal, condensação, intersticial e misto, sendo a categoria
de referência a radiografia normal.
ii) Variáveis Quantitativas Discretas
Anos de estudo da mãe: número de anos de estudo materno.
Filhos vivos: número de filhos vivos das mães dos casos de varicela.
Duração da febre: número de dias de duração da febre.
Número de Cirurgias na internação: número de cirurgias que o
paciente realizou na internação por varicela.
Tempo de internação no pronto-socorro (PS): tempo de
permanência do paciente no pronto-socorro, em dias.
Tempo de internação na enfermaria: tempo de permanência do
paciente na enfermaria, em dias.
Tempo de internação na unidade de terapia intensiva (UTI): tempo
de permanência do paciente na UTI, em dias.
51
Tempo total de internação: duração da internação do paciente, em
dias.
Tempo entre início dos sintomas e internação: tempo decorrente
entre a data de início dos sintomas e a data de internação, em dias.
Tempo entre início de sintomas e complicações: tempo decorrente
entre a data de início dos sintomas e a data da complicação, em dias.
Tempo entre complicações e internação: tempo decorrente entre a
data de início das complicações e a data da internação, em dias.
Tempo entre início dos sintomas e internação na UTI: tempo
decorrente entre a data de início dos sintomas e a data da internação
na UTI, em dias.
Tempo entre início das complicações e internação na UTI: tempo
decorrente entre a data de início das complicações e a data da
internação na UTI, em dias.
Tempo de tratamento: duração da utilização de antibióticos,
medicamentos tópicos, antivirais e antitérmicos, em dias.
iii) Variáveis Quantitativas Contínuas
Peso ao nascer: peso (em gramas) do paciente ao nascimento.
Valor da Hemoglobina: mensuração da hemoglobina (g/dL).
Número de Leucócitos: valor absoluto (células/uL/mm
3
) do número de
leucócitos no sangue periférico.
Número de Bastonetes: valor relativo (%) do número de leucócitos
bastonetes no sangue periférico.
Número de Segmentados: valor relativo (%) do número de leucócitos
segmentados no sangue periférico.
Número de Linfócitos: valor relativo (%) do número de linfócitos no
sangue periférico.
52
Número de Plaquetas: valor absoluto (plaquetas/uL) do número de
plaquetas no sangue periférico.
3.5.5 Preparação do Banco de Dados
O banco de dados foi elaborado de acordo com as informações
obtidas através do preenchimento dos questionários, com as variáveis
codificadas. Foi utilizado o software Epi-Info for Windows, versão 3.2.2
(2005), para a criação do questionário e entrada dos dados.
3.5.6 Análise dos Dados
Inicialmente, foi feita uma análise descritiva das principais
variáveis de interesse dos casos de varicela. Os dados brutos foram
avaliados mediante o cálculo das taxas de mortalidade segundo sexo e faixa
etária, com o objetivo de se identificarem grupos de maior risco para óbito
por varicela na Região Metropolitana da Grande São Paulo.
No estudo exploratório de fatores preditores de gravidade e óbito,
foram considerados todos os casos de varicela com idade entre 0 e 14 anos.
A existência de associação entre e as exposições de interesse e os
desfechos foi verificada por estimativas não ajustadas (análise univariada) e
ajustadas (análise múltipla) do odds ratio, com os respectivos intervalos de
95% de confiança, utilizando-se a regressão logística o condicional. Para
a construção do modelo de regressão logística, empregou-se o método
stepwise forward, considerando-se um nível descritivo de p<0,20 para a
seleção das variáveis componentes do modelo. O teste de ajuste de
Hosmer-Lemeshow
foi utilizado para avaliar o modelo final de regressão
logística.
Os parâmetros médios das variáveis contínuas foram comparados
entre os grupos através da aplicação do teste t-Student, quando
53
consideradas duas amostras independentes, e da Análise de Variância, para
a comparação das médias entre três ou mais grupos independentes.
Para a análise dos dados, os softwares utilizados foram: Epi-Info,
versão 3.2.2 (2005) for Windows e Intercooled Stata, versão 8.0 for
Windows.
3.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE ÉTICA EM PESQUISA
A pesquisa incluiu informações de pacientes que tiveram varicela
no ano de 2003, e evoluíram para cura ou óbito. Foi garantida a privacidade
e a confidencialidade das informações e o anonimato dos sujeitos da
pesquisa, sendo os dados utilizados exclusivamente para os propósitos
deste estudo.
Foram consideradas, em quaisquer circunstâncias, as
recomendações incluídas na resolução nº. 196, de 10 de outubro de 1996,
Conselho Nacional de Saúde para a Pesquisa Científica em Seres
Humanos.
Este projeto foi pré-aprovado pelas Divisões cnicas e Diretoria
do Centro de Vigilância Epidemiológica “Professor Alexandre Vranjac”, da
Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo; Centro de Controle de
Doenças da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e Direção
Regional de Saúde I (São Paulo).
54
4 RESULTADOS
Primeiramente serão apresentados os resultados do estudo
descritivo dos casos de varicela ocorridos em 2003, residentes na Região
Metropolitana da Grande São Paulo e internados em hospitais.
Posteriormente serão discutidos os resultados das estimativas de
associações das variáveis de interesse com óbito e gravidade por varicela. A
partir da identificação dos hospitais onde ocorreram os óbitos, todos os
casos internados com varicela nos mesmos hospitais tornaram-se sujeitos
desse estudo.
Foram analisados 522 casos de varicela. A maior parte dos casos
avaliados (86,4%) apresentou quadro clínico leve ou moderado de varicela,
sendo geralmente internados por complicações da doença. Os 71 (13,6%)
casos restantes apresentaram evolução desfavorável: 42 (8,0%) evoluíram
para óbito e 29 (5,6%) tiveram critérios de gravidade sem evoluir para óbito,
isto é, necessidade de suporte de terapia intensiva, uso de drogas
vasoativas e/ou intubação orotraqueal (tabela 1).
Tabela 1 - Número e proporção dos pacientes internados com varicela segundo
evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
N %
Leve / moderado
451 86,4
Grave sem óbito
29 5,6
Óbito
42 8,0
Total
522 100,0
4.1 CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS
Referente ao gênero, foi encontrada uma freqüência maior de
indivíduos do sexo masculino (54,2%) (tabela 2).
55
Tabela 2 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
sexo, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
Sexo
N
%
Masculino
283
54,2
Feminino
239
45,8
Total
522
100,0
Não houve diferenças consideráveis de evolução entre os sexos,
isto é, uma proporção bastante semelhante de homens e mulheres teve
apresentação leve ou moderada da doença, bem como evolução para
gravidade e óbito (tabela 3).
Tabela 3 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo sexo
e evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
N % N % N %
Leve / Moderado
209 87,4 242 85,5 451 86,4
Grave sem óbito
13 5,4 16 5,7 29 5,6
Óbito
17 7,1 25 8,8 42 8,0
Total
239 100,0 283 100,0 522 100,0
Total
Sexo
Evolução
Feminino Masculino
A idade dos casos variou de 0 a 81 anos, com média de 3,2 anos
e mediana de 1 ano. Nota-se que as crianças de 0 a 14 anos representaram
96,2% dos casos, com idade média de 2 anos e a mediana de 1 ano. As
crianças menores de um ano (24,9% dos casos) tiveram seus parâmetros de
idade avaliados em meses, com média de 7 meses (tabela 4). Observa-se,
pela figura 2, que pelo menos 50% dos menores de um ano apresentaram
mais de 7 meses de idade ao diagnóstico de varicela.
Não se observaram diferenças importantes nas médias de idade
quando comparados os grupos de evolução nas faixas etárias consideradas,
exceto quando confrontadas as médias do grupo total de óbitos (7,2 anos) e
56
do total de casos graves (7,4 anos) com a média de idade dos casos leves
ou moderados (2,6 anos) (tabela 4).
Tabela 4 - Média (desvio padrão), mediana e variação da idade dos pacientes
internados com varicela segundo evolução, Região Metropolitana da Grande São
Paulo, 2003.
Leve / Moderado
Total de Casos (anos)
450 (100,0) 2,6 (4,3) 1,0 0 a 37
Crianças até 14 anos (anos)
439 (97,5) 1,9 (2,1) 1,0 0 a 14
Menores de 1 ano (meses)
111 (24,7) 7,2 (2,9) 8,0 0 a 11
Grave sem Óbito
Total de Casos (anos)
29 (100,0) 7,4 (13,5) 2,0 0 a 50
Crianças até 14 anos (anos)
24 (82,8) 2,1 (3,2) 1,0 0 a 14
Menores de 1 ano (meses)
9 (31,0) 5,4 (2,3) 5,0 2 a 9
Óbito
Total de Casos (anos)
42 (100,0) 7,2 (17,9) 2,0 0 a 81
Crianças até 14 anos (anos)
39 (92,9) 2,4 (2,6) 2,0 0 a 12
Menores de 1 ano (meses)
10 (23,8) 6,9 (3,1) 7,0 0 a 11
Total
Total de Casos (anos)
520 (100,0) 3,2 (7,3) 1,0 0 a 81
Crianças até 14 anos (anos)
502 (96,2) 2,0 (2,2) 1,0 0 a 14
Menores de 1 ano (meses)
130 (24,9) 7,0 (2,9) 8,0 0 a 11
VariaçãoEvolução Nº Casos (%) Média (DP) Mediana
Figura 2 - Pacientes menores de um ano internados com varicela segundo idade
(em meses), Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Idade em meses
Nº de internações
57
Podemos notar que, conforme ilustrado na figura 3, 495 pacientes
(94,8%) possuíam até 10 anos de idade. Predominaram crianças na faixa
etária de 1 a 4 anos, em ambos os sexos (tabela 5). O número de indivíduos
do sexo masculino foi maior em todas as faixas etárias, com exceção da
faixa de 1 a 4 anos, onde houve um ligeiro predomínio do sexo feminino
(tabela 5).
Figura 3 - Pacientes internados com varicela segundo faixa etária, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
240
260
280
300
320
340
< 1 ano 1 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 29 anos 30 e mais
Faixa Etária
Nº de internações
Tabela 5 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo sexo
e faixa etária, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
N % % ac.* N % % ac.* N % % ac.*
< 1 ano
76 26,9 26,9 54 22,7 22,7 130 25,0 25,0
1 a 4 anos
155 54,8 81,6 157 66,0 88,7 312 59,9 84,8
5 a 9 anos
37 13,1 94,7 16 6,7 95,4 53 10,2 95,0
10 a 14 anos
4 1,4 96,1 3 1,3 96,6 7 1,3 96,4
15 a 29 anos
5 1,8 97,9 4 1,7 98,3 9 1,7 98,1
30 e mais
6 2,1 100,0 4 1,7 100,0 10 1,9 100,0
Total
283 100,0
---
238 100,0
---
521 100,0
---
* percentual acumulado
Total
Sexo
Faixa Etária
Masculino Feminino
58
Observou-se que a maior parte dos óbitos (39/42) ocorreu em
menores de 14 anos; apenas três óbitos ocorreram em adultos (tabela 6).
Quando foram calculados os coeficientes de mortalidade específicos por
varicela segundo o sexo, encontramos um coeficiente de 0,28/100.000
habitantes do sexo masculino e 0,18/100.000 habitantes do sexo feminino. O
coeficiente de mortalidade por varicela em ambos os sexos foi de
0,23/100.000 habitantes. Em geral, os coeficientes de mortalidade nas
diferentes faixas etárias foram maiores no sexo masculino, com exceção da
faixa de menores de um ano, onde o coeficiente foi maior no sexo feminino
(3,05). O coeficiente de mortalidade diminuiu na medida em que a faixa
etária aumentou.
Em menores de 1 ano, o coeficiente de mortalidade por varicela
foi de 3,00/100.000; na faixa etária de 1 a 4 anos, de 1,57/100.000. Em
indivíduos de 15 anos ou mais o risco decresceu para 0,02/100.000
habitantes (tabela 6). O risco de morrer por varicela foi expressivamente
maior entre os menores de um ano, com risco relativo crescente sobre as
demais faixas etárias, variando de 2, em relação à faixa de 1 a 4 anos, a
150, relativamente aos pacientes com 15 anos e mais. A taxa de mortalidade
foi 36 vezes maior na faixa etária de menores de 15 anos em relação à faixa
etária de adultos, e 4,7 vezes maior na faixa de menores de um ano em
relação à faixa de 1 a 14 anos.
Tabela 6 - Número de óbitos e coeficientes de mortalidade (C.M.) (por 100.000
habitantes) específicos por varicela, segundo sexo e faixa etária, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
N C. M. População N C. M. População N C. M. População
< 1 ano 5 2,95 169.221 5 3,05 163.701 10 3,00 332.922
1 a 4 anos
12 1,77 679.238 9 1,37 658.872 21 1,57 1.338.110
5 a 9 anos
5 0,62 802.744 2 0,26 782.085 7 0,44 1.584.829
10 a 14 anos 1 0,12 842.354 0 0,00 836.188 1 0,06 1.678.542
15 e mais
2
0,03
6.502.038 1
0,01
7.192.012 3
0,02
13.694.050
Total 25 0,28 8.995.595 17 0,18 9.632.858 42 0,23 18.628.453
Sexo
Masculino Feminino Total
Faixa Etária
59
A letalidade da varicela aumentou nas faixas etárias maiores,
sobretudo a partir da faixa de 5 a 9 anos, e foi ligeiramente maior nos
pacientes do sexo masculino (8,8%) em comparação ao feminino (7,1%)
(tabela 7).
Tabela 7 - Número de casos, óbitos e letalidade por varicela segundo sexo e faixa
etária, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
Óbitos Casos %* Óbitos Casos %* Óbitos Casos %*
< 1 ano
5 76 6,6 5 54 9,3 10 130 7,7
1 a 4 anos
12 155 7,7 9 157 5,7 21 312 6,7
5 a 9 anos
5 37 13,5 2 16 12,5 7 53 13,2
10 a 14 anos
1 4 25,0 0 3 0,0 1 7 14,3
15 e mais
2
11 18,2
1
8 12,5
3
19 15,8
Total
25 283 8,8 17 238 7,1 42 521 8,1
* Letalidade
TotalMasculino
Sexo
Feminino
Faixa
Etária
Com relação à evolução nas diferentes faixas etárias, a proporção
de casos leves a moderados foi maior que 80% nos pacientes com até 9
anos de idade, diminuindo para 71,4% nos pacientes de 10 a 14 anos e
57,9% a partir dos 15 anos de idade (tabela 8). Inversamente, maior
proporção de óbitos foi observada nas faixas etárias maiores, conforme
apontado na tabela 7.
Tabela 8 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo faixa
etária e evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
< 1 ano
111 (85,4)
9 (6,9)
10 (7,7)
130 (100,0)
1 a 4 anos
279 (89,5) 12 (3,8) 21 (6,7)
312 (100,0)
5 a 9 anos
44 (83,0) 2 (3,8) 7 (13,2)
53 (100,0)
10 a 14 anos
5 (71,4) 1 (14,3) 1 (14,3)
7 (100,0)
15 e mais
11 (57,9) 5 (26,3) 3 (15,8)
19 (100,0)
Total
450 (86,4) 29 (5,6) 42 (8,0) 521 (100)
Faixa
Etária
Evolução
60
Com relação à variável raça, esse dado foi ignorado em 50% dos
casos. Os óbitos tiveram um menor percentual de ignorados (11,9%) devido
à presença de um campo para o preenchimento de raça/cor na Declaração
de Óbito. Mais de 70% dos pacientes pertenciam à raça branca, com pouca
variação na proporção de brancos entre as diferentes evoluções. Nota-se
uma maior proporção de negros entre os casos leves a moderados (9,4%) e
graves (9,1%) quando comparados aos óbitos (5,4%) (tabela 9).
Tabela 9 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo raça
e evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
Raça
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
Branca
146 (72,3) 14 (63,6) 27 (73,0) 187 (71,6)
Parda
37 (18,3) 6 (27,3) 8 (21,6) 51 (19,5)
Negra
19 (9,4) 2 (9,1) 2 (5,4) 23 (8,8)
Subtotal
202 (100,0) 22 (100,0) 37 (100,0) 261 (100,0)
Ignorado*
249 (55,2) 7 (24,1) 5 (11,9) 261 (50,0)
Total
451 (100,0) 29 (100,0) 42 (100,0) 522 (100,0)
* percentuais calculados em relação ao total de casos.
Evolução
A ocupação materna foi referida em menos de 30% dos
prontuários (tabela 10). Da mesma forma, os anos de estudo das mães ou
dos responsáveis pelas crianças foram variáveis com menos de 11% de
preenchimento.
Tabela 10 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
ocupação materna e evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
Do Lar 64 (50,4) 4 (44,4) 1 (25,0) 69 (49,3)
Outras
63 (49,6) 5 (55,6) 3 (75,0) 71 (50,7)
Subtotal
127 (100,0) 9 (100,0) 4 (100,0) 140 (100,0)
Ignorado*
324 (71,8) 20 (69,0%) 38 (90,5%) 382 (73,2%)
Total
451 (100,0) 29 (100,0) 42 (100,0) 522 (100,0)
* percentuais calculados em relação ao total de casos.
Ocupação
Materna
Evolução
61
O número de filhos das mães dos casos de varicela foi obtido de
251 casos (48,1%), e variou de 1 a 12 filhos. A média geral do número de
filhos foi de 2,7, e a mediana, de 2,0 filhos. As médias e as medianas do
número de filhos segundo os diferentes desfechos foram bastante
semelhantes (tabela 11).
Tabela 11 - Média (desvio padrão), mediana e variação do número de filhos das
mães dos pacientes internados com varicela segundo evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
Média (DP)
Variação
Total (%)
2,0 3,0 3,0 2,0
2,6 (1,6) 3,3 (2,4) 2,6 (1,1) 2,7 (1,7)
216 (86,0) 20 (8,0) 15 (6,0) 251 (100,0)
Leve /
moderado
Grave sem
óbito
Óbito Total
1 a 121 a 41 a 121 a 12
Evolução
Número
de Filhos
Na presente amostra, 80,3% dos pacientes residia na DIR I (São
Paulo), e 10,9% na DIR III (Mogi das Cruzes) (tabela 12). Alguns pacientes
residentes em municípios adjacentes foram internados em hospitais do
município de São Paulo, muitas vezes transferidos de hospitais menores de
seus municípios de residência.
Tabela 12 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
Regional de Saúde de Residência e evolução, Região Metropolitana da Grande São
Paulo, 2003.
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
São Paulo
370 (82) 21 (72,4) 28 (66,7) 419 (80,3)
Mogi das Cruzes
50 (11,1) 4 (13,8) 3 (7,1) 57 (10,9)
Osasco
23 (5,1) 4 (13,8) 6 (14,3) 33 (6,3)
Santo André
8 (1,8) 0 (0,0) 5 (11,9) 13 (2,5)
Total
451 (100,0) 29 (100,0) 42 (100,0) 522 (100,0)
Regional de
Saúde de
Residência
Evolução
62
A tabela 13 ilustra a distribuição dos pacientes de acordo com o
município de residência.
Tabela 13 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
município de Residência e evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo,
2003.
Leve /
moderado
%
Grave sem
óbito
% Óbito % Total %
São Paulo
370 82,0 21 72,4 28 66,7 419
80,3
Guarulhos
47 10,4 2 6,9 2 4,8 51
9,8
Itapecerica da Serra
4 0,9 1 3,4 2 4,8 7
1,3
Santo André
3 0,7 0 0,0 3 7,1 6
1,1
Osasco
5 1,1 0 0,0 0 0,0 5
1,0
Suzano
3 0,7 2 6,9 0 0,0 5
1,0
Carapicuiba
3 0,7 1 3,4 0 0,0 4
0,8
Embu Guaçu
3 0,7 0 0,0 1 2,4 4
0,8
São Bernardo
3 0,7 0 0,0 1 2,4 4
0,8
Cotia
2 0,4 0 0,0 1 2,4 3
0,6
Taboão da Serra
2 0,4 0 0,0 1 2,4 3
0,6
Barueri
0 0,0 2 6,9 0 0,0 2
0,4
Diadema
2 0,4 0 0,0 0 0,0 2
0,4
Embu
1 0,2 0 0,0 1 2,4 2
0,4
Itapevi
2 0,4 0 0,0 0 0,0 2
0,4
Ferraz de
0 0,0 0 0,0 1 2,4 1
0,2
Juquitiba
1 0,2 0 0,0 0 0,0 1
0,2
Mauá
0 0,0 0 0,0 1 2,4 1
0,2
Total
451 100,0 29 100,0 42 100,0 522 100,0
Municipio de
Residência
Evolução
Entre os casos de varicela residentes no município de São Paulo,
encontramos uma maior densidade de casos de varicela por km
2
nos
Distritos Administrativos localizados nas Zonas Leste, Norte e Centro (figura
4), áreas com grande densidade demográfica (figura 5).
63
Figura 4 - Mapa do Município de São Paulo. Distribuição da densidade de casos
hospitalizados de varicela (casos hospitalizados/km
2
) segundo Distrito
Administrativo, município de São Paulo, 2003.
64
Figura 5 - Mapa do Município de São Paulo. Distribuição da densidade demográfica
(habitantes/km
2
) segundo Distrito Administrativo, município de São Paulo, 2003.
65
A Direção Regional de Saúde da RMGSP com maior número de
internações (88,1%) dessa amostra foi a DIR I (município de São Paulo). A
segunda DIR em número de internações foi Mogi das Cruzes (9,0%), devido
à existência de um hospital de grande porte no município de Guarulhos
(tabelas 14 e 15). Hospitais da DIR IV (Franco da Rocha) não participaram
desse estudo, pois não tiveram óbitos por varicela.
Tabela 14 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
Direção Regional de Saúde de internação e evolução, Região Metropolitana da
Grande São Paulo, 2003.
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
São Paulo
400 (88,7) 27 (93,1) 33 (78,6) 460 (88,1)
Mogi das Cruzes
43 (9,5) 2 (6,9) 2 (4,8) 47 (9,0)
Osasco
8 (1,8) 0 (0,0) 4 (9,5) 12 (2,3)
Santo André
0 (0,0) 0 (0,0) 3 (7,1) 3 (0,6)
Total
451 (100,0) 29 (100,0) 42 (100,0)
522 (100,0)
Regional de
Saúde de
Internação
Evolução
Tabela 15 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
município de internação e evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo,
2003.
Leve /
moderado
%
Grave sem
óbito
% Óbito % Total %
São Paulo
400 88,7 27 93,1 33 78,6 460 88,1
Guarulhos
43 9,5 2 6,9 2 4,8 47 9,0
Itapecerica da Serra
8 1,8 0 0,0 3 7,1 11 2,1
Embu
0 0,0 0 0,0 1 2,4 1 0,2
Mauá
0 0,0 0 0,0 1 2,4 1 0,2
Santo André
0 0,0 0 0,0 1 2,4 1 0,2
São Bernardo
0 0,0 0 0,0 1 2,4 1 0,2
Total
451 100,0 29 100,0 42 100,0 522 100,0
Municipio de
Internação
Evolução
Em relação à Zona de internação no Município de São Paulo, a
maior parte (27,6%) dos casos internou em hospitais da Zona Oeste. Isso se
justifica pela existência de dois grandes hospitais, um universitário e um
hospital de referência em infectologia nessa região. A Zona Leste
apresentou a segunda maior proporção de internações (26,1%) e a maior
proporção de óbitos (54,5%) (tabela 16).
66
Tabela 16 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
Zona de internação no município de São Paulo e evolução, Região Metropolitana
da Grande São Paulo, 2003.
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
Oeste
100 (25,0) 23 (85,2) 4 (12,2) 127 (27,6)
Leste
102 (25,5) 0 (0,0) 18 (54,5) 120 (26,1)
Sul
94 (23,5) 3 (11,1) 6 (18,2) 103 (22,4)
Norte
75 (18,7) 0 (0,0) 4 (12,1) 79 (17,2)
Centro
29 (7,3) 1 (3,7) 1 (3,0) 31 (6,7)
Total
400 (100,0) 27 (100,0) 33 (100,0) 460 (100,0)
Zona de
Internação
(MSP)
Evolução
4.2 ANTECEDENTES PESSOAIS E FAMILIARES
O peso atual foi um dado bastante consistente, presente em 466
casos (89,3%); provavelmente porque a maior parte da amostra foi
composta de crianças, e para o lculo da dosagem das medicações
administradas durante a internação era necessária a avaliação do peso. A
altura atual esteve disponível em apenas 9,0% de toda amostra e, portanto,
excluída das análises. o foi possível avaliar a curva de crescimento das
crianças pela ausência de dados sobre a variável altura em mais de 90%
dos casos.
O peso ao nascer foi um dado disponível para apenas 183
pacientes (35,0%) da amostra total e para 65 (50,0%) dos menores de um
ano. A média de peso ao nascimento foi avaliada nos menores de um ano,
uma vez que somente nesse grupo etário poderia haver alguma influência do
baixo peso ao nascer como condição de base.
O peso ao nascer variou, nos menores de um ano, de 1.375 g a
4.650 g. A média e mediana de peso ao nascer foram menores no grupo de
óbitos quando comparadas às médias e às medianas dos demais grupos
(tabela 17).
67
Tabela 17 - Média (desvio padrão), mediana e variação do peso ao nascer dos
pacientes menores de um ano internados com varicela segundo evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
Média (DP)
Mediana
Variação
Total (%)
Leve /
moderado
Grave sem
óbito
Óbito Total
Peso ao
Nascer
Evolução
52 (80,0) 6 (9,2) 7 (10,8) 65 (100,0)
3235 (671) 3437 (649) 2869 (610) 3214
3260 3275 2950 3200
1375 a 4525 2720 a 4650 2045 a 3500 1375 a 4650
O dado de altura ao nascer esteve disponível em apenas 17,4%
da amostra total e 21,5% dos menores de um ano. Pela alta proporção de
ignorados, essa variável não foi considerada para análise nesse estudo.
O dado sobre o tipo de parto foi ignorado em 54,2% da amostra.
O percentual de antecedentes de cesarianas nos pacientes com essa
informação foi alto em todos os grupos (42,3%), variando de 34,8%, nos
casos graves sem óbito a 43,3% no grupo de leves a moderados (tabela 18).
Tabela 18 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
tipo de parto e evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
Evolução
Tipo de
Parto
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
Normal
115 (56,7) 15 (65,2) 8 (61,5) 138 (57,7)
Cesariana
88 (43,3) 8 (34,8) 5 (38,5) 101 (42,3)
Subtotal
203 (100,0) 23 (100,0) 13 (100,0) 239 (100,0)
Ignorado*
248 ( 55,0) 6 (20,7) 29 (69,0) 283 (54,2)
Total
451 (100,0) 29 (100,0) 42 (100,0) 522 (100,0)
* percentuais calculados em relação ao total de casos de cada grupo.
O tabagismo na família foi uma variável pouco explorada na
anamnese dos casos de varicela, pois em 80,5% da amostra esse dado foi
ignorado. Nos pacientes com informação sobre essa variável, evidenciou-se
uma proporção maior de tabagistas entre familiares de pacientes graves
(75,0%) e óbitos (75,0%) quando comparados com o grupo de casos leves a
moderados (57,0%) (tabela 19).
68
Tabela 19 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
tabagismo na família e evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
Sim
49 (57,0) 6 (75,0) 6 (75,0) 61 (59,8)
Não
37 (43,0) 2 (25,0) 2 (25,0) 41 (40,2)
Subtotal
86 (100,0) 8 (100,0) 8 (100,0) 102 (100,0)
Ignorado*
365 (80,9) 21 (72,4) 34 (80,9) 420 (80,5)
Total
451 (100,0) 29 (100,0) 42 (100,0) 522 (100,0)
* percentuais calculados em relação ao total de casos de cada grupo.
Tabagismo
na Família
Evolução
Dados sobre condições de base foram ignorados em 48,1% dos
casos. Dos 271 casos com informação sobre essa variável, 206 (76,0%)
referiam possuir alguma doença (tabela 20). As comorbidades mais referidas
em todos os grupos foram as afecções do aparelho respiratório (50,0%), tais
como bronquite, bronquiolite, asma e pneumonias de repetição (tabela 21).
Em segundo lugar estiveram as anemias (ferropriva e falciforme), com
prevalência de 14,1% em toda a amostra. Dentre as doenças imunológicas,
três pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida foram
encontrados, porém todos evoluíram como casos leves ou moderados. No
grupo de óbitos foram encontradas prevalências de afecções neurológicas
(31,8%), sangüíneas (27,3%) e cardíacas (18,2%) maiores do que nos
outros grupos. Três gestantes com varicela foram encontradas nesse
estudo, com evolução de doença leve a moderada (tabela 21).
Tabela 20 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
referência de condição de base e evolução, Região Metropolitana da Grande São
Paulo, 2003.
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
Sim
171 (77,4) 13 (54,2) 22 (84,6) 206 (76,0)
Não
50 (22,6) 11 (45,8) 4 (15,4) 65 (24,0)
Subtotal
221 (100,0) 24 (100,0) 26 (100,0) 271 (100,0)
Ignorado*
230 (51,0) 5 (17,2) 16 (38,1) 251 (48,1)
Total
451 (100,0) 29 (100,0) 42 (100,0) 522 (100,0)
* percentuais calculados em relação ao total de casos de cada grupo.
Condição de
Base
Evolução
69
Tabela 21 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
tipo de condição de base e evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo,
2003.
N
%
N
%
N
%
N
%
Respiratória
84 49,1 10 76,9 9 40,9 103 50,0
Sangüínea
22 12,9 1 7,7 6 27,3 29 14,1
Otorrinolaringológica
22 12,9 1 7,7 0 0,0 23 11,2
Gastroenterológica
19 11,1 2 15,4 0 0,0 21 10,2
Prematuridade
17 9,9 2 15,4 2 9,1 21 10,2
Neurológica
11 6,4 2 15,4 7 31,8 20 9,7
Dermatológica
11 6,4 2 15,4 0 0,0 13 6,3
Cardíaca
7 4,1 1 7,7 4 18,2 12 5,8
Genitourinária
9 5,3 0 0,0 2 9,1 11 5,3
Oncológica
6 3,5 0 0,0 1 4,5 7 3,4
Genética
6 3,5 0 0,0 0 0,0 6 2,9
Renal
3 1,8 0 0,0 2 9,1 5 2,4
Endocrinológica
1 0,6 1 7,7 2 9,1 4 1,9
Imunológica
3 1,8 1 7,7 0 0,0 4 1,9
Gestação Atual
3 1,8 0 0,0 0 0,0 3 1,5
Outras
18 10,5 0 0,0 3 13,6 21 10,2
Total
171 100,0 13 100,0 22 100,0 206 100,0
Tipo de
Condição
de Base
Evolução
Leve /
moderado
Grave sem
óbito
Óbito Total
O uso crônico de medicações foi um dado ignorado em 80,1% dos
casos. Dos 104 casos com informação sobre essa variável, 65 (62,5%)
referiram utilizar alguma medicação (tabela 22). A utilização crônica de
medicações foi mais freqüente dentre os óbitos do que nos outros grupos.
Tabela 22 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
utilização de medicações crônicas e evolução, Região Metropolitana da Grande
São Paulo, 2003.
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
Sim
48 (57,8) 6 (66,7) 11 (91,7) 65 (62,5)
Não
35 (42,2) 3 (33,3) 1 (8,3) 39 (37,5)
Subtotal
83 (100,0) 9 (100,0) 12 (100,0) 104 (100,0)
Ignorado*
368 (81,6) 20 (69,0) 30 (71,4) 418 (80,1)
Total
451 (100,0) 29 (100,0) 42 (100,0) 522 (100,0)
* percentuais calculados em relação ao total de casos de cada grupo.
Evolução
Uso de
Medicação
Crônica
70
O número de internações prévias esteve disponível em 56,9% dos
casos. Dos 297 casos onde foi possível obter o dado sobre internação
prévia, 54,2% referiram história de pelo menos uma internação. Uma
proporção maior de internações prévias ocorreu entre os óbitos quando
comparada à proporção de internações em outros grupos de evolução
(tabela 23). Entre os pacientes com histórico de internações prévias, o
número de internações variou de 1 a 12, com média de 1,65 e mediana de
1,0 internações. A média do número de internações entre os óbitos foi pelo
menos 1,5 vezes a média do número de internações entre os demais grupos
(tabela 24).
Tabela 23 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
história de internações prévias e evolução, Região Metropolitana da Grande São
Paulo, 2003.
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
Sim
136 (53,1) 9 (42,9) 16 (80,0) 161 (54,2)
Não
120 (46,9) 12 (57,1) 4 (20,0) 136 (45,8)
Subtotal
256 (100,0) 21 (100,0) 20 (100,0) 297 (100,0)
Ignorado
195 (43,2) 8 (27,6) 22 (52,4) 225 (43,1)
Total
451 (100,0) 29 (100,0) 42 (100,0) 522 (100,0)
* percentuais calculados em relação ao total de casos de cada grupo.
Internações
Prévias
Evolução
Tabela 24 Média (desvio padrão), mediana e variação do número de internações
prévias dos pacientes internados com varicela segundo evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
Média (DP)
Mediana
Variação
Total (%)
1 a 5 1 a 2 1 a 12 1 a 12
Número de
Internações
Prévias
Evolução
Leve /
moderado
Grave sem
óbito
Óbito Total
133 (85,2) 7 (4,5) 16 (10,3) 156 (100)
1,56 (0,92) 1,28 (0,49) 2,63 (2,87) 1,65 (1,28)
1,0 1,0 1,5 1,0
Quanto aos antecedentes vacinais dos casos, 294 (56,3%)
tiveram alguma referência sobre seu estado de vacinação. A maior parte dos
71
casos (72,1%) referia vacinação em dia, porém, sem avaliação da carteira
vacinal. Esta foi conferida e estava em dia em 17,0% dos casos, e atrasada
em 10,9% dos casos (tabela 25).
Não foi possível analisar o antecedente de vacinação específica
contra a varicela, pois esse dado foi encontrado em apenas nove prontuários
(1,7%), dos quais dois pacientes apresentaram referência positiva à
vacinação.
Tabela 25 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
antecedentes vacinais e evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo,
2003.
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
Atrasada
26 (10,1) 5 (23,8) 1 (6,7) 32 (10,9)
Em dia referido
195 (75,6) 11 (52,4) 6 (40,0) 212 (72,1)
Em dia conferido
37 (14,3) 5 (23,8) 8 (53,3) 50 (17,0)
Subtotal
258 (100,0) 21 (100,0) 15 (100,0) 294 (100,0)
Ignorado*
193 (42,8) 8 (27,6) 27 (64,3) 228 (43,7)
Total
451 (100,0) 29 (100,0) 42 (100,0) 522 (100,0)
* percentuais calculados em relação ao total de casos de cada grupo.
Estado da
Carteira
Vacinal
Evolução
72
4.3 ANTECEDENTES EPIDEMIOLÓGICOS
Os casos desse estudo incidiram em todo o ano de 2003;
contudo, observa-se uma tendência de aumento do número de casos a partir
da semana epidemiológica 31, que corresponde à semana de 27 de julho a
02 de agosto de 2003, isto é, meados do inverno. Os casos começam a
decrescer a partir da semana epidemiológica 47 (16 a 22 de novembro), em
meados da primavera (figura 6).
Os óbitos alcançam sua maior ocorrência nos meses de setembro
a novembro de 2003 (figura 7), coincidindo com as semanas
epidemiológicas de maior número de casos de varicela (38 a 48), de 14 de
setembro a 29 de novembro de 2003 (figura 6).
Figura 6 - Curva epidêmica dos pacientes internados com varicela, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
32
34
36
38
40
42
44
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53
Semana Epidemiológica
73
Figura 7 - Distribuição dos óbitos de varicela segundo mês de ocorrência, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
jan/03 fev/03 mar/03 abr/03 mai/03 jun/03 jul/03 ago/03 set/03 out/03 nov/03 dez/03
Mês do Óbito
Nº óbitos
O contato com casos de varicela nos últimos 30 dias foi um dado
referido em apenas 120 casos (23,0%) (tabela 26). O número de contatos foi
disponível em 101 pacientes (19,3%) (tabela 27). Apesar da inconsistência
desse dado, as médias em todos os grupos ficaram próximas de 1,5
contatos, e a mediana, de um contato. Alguns pacientes que freqüentavam
estabelecimentos de ensino referiram até oito contatos. Não foi possível
calcular a média do período de incubação nos grupos, uma vez que não
havia referência sobre a data do contato em 92% dos casos.
Tabela 26 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
referência de contato com caso de varicela nos últimos 30 dias e evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
Sim
92 (20,4) 17 (58,6) 11 (26,2) 120 (23,0)
Ignorado
359 (79,6) 12 (41,4) 31 (73,8) 402 (77,0)
Total
451 (100,0) 29 (100,0) 42 (100,0) 522 (100,0)
Contato com
Varicela
Evolução
74
Tabela 27 - Média (desvio padrão), mediana e variação do número de contatos dos
pacientes internados com varicela segundo evolução, Região Metropolitana da
Grande São Paulo, 2003.
Média (DP)
Mediana
Variação
Total (%)
Número de
Contatos
Evolução
Leve /
moderado
Grave sem
óbito
Óbito Total
1,0 1,0 1,0 1,0
1,59 (1,23) 1,60 (0,74) 1,40 (0,52) 1,57 (1,12)
1 a 8 1 a 3 1 a 2 1 a 8
76 (75,2) 15 (14,8) 10 (10) 101 (100)
Com relação ao histórico de freqüência em locais de ensino, esse
dado foi ignorado em um alto percentual de casos (77,0%). Daqueles
pacientes com informação disponível, 73 (60,8%) freqüentavam creches,
escolas ou pré-escolas. O grupo que apresentou maior proporção de
freqüência em estabelecimentos de ensino foi o de casos leves a moderados
(67,0%), contrastando com 28,6% dos óbitos (tabela 28).
Nos pacientes de 1 a 4 anos, o dado sobre freqüência em locais
de ensino também foi ignorado em uma alta proporção de casos (79,2%).
Dos 65 pacientes com disponibilidade de tal informação, o grupo que
apresentou maior proporção de freqüência em creches ou pré-escolas foi o
de casos graves sem óbito (100%), contrastando com 25,0% dos óbitos
(tabela 29).
Tabela 28 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
freqüência em locais de ensino e evolução, Região Metropolitana da Grande o
Paulo, 2003.
Freqüenta
Estudo
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
Sim
61 (67,0) 8 (53,3) 4 (28,6) 73 (60,8)
Não
30 (33,0) 7 (46,7) 10 (71,4) 47 (39,2)
Subtotal
91 (100,0) 15 (100,0) 14 (100,0) 120 (100,0)
Ignorado*
360 (79,8) 14 (48,3) 28 (66,7) 402 (77,0)
Total
451 (100,0) 29 (100,0) 42 (100,0) 522 (100,0)
* percentuais calculados em relação ao total de casos de cada grupo.
Evolução
75
Tabela 29 - Número e proporção de pacientes de 1 a 4 anos internados com
varicela segundo freqüência em creches ou pré-escolas e evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
Freqüenta
Estudo
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
Sim
43 (78,2) 6 (100,0) 1 (25,0) 50 (76,9)
Não
12 (21,8) 0 (0,0) 3 (75,0) 15 (23,1)
Subtotal
55 (100,0) 6 (100,0) 4 (100,0) 65 (100,0)
Ignorado*
224 (80,3) 6 (50,0) 17 (80,9) 247 (79,2)
Total
279 (100,0) 12 (100,0) 21 (100,0) 312 (100,0)
* percentuais calculados em relação ao total de casos de cada grupo.
Evolução
Quanto ao local provável de transmissão da varicela, também
houve uma alta proporção de dados ignorados (76,6%) (tabela 30). O local
provável de transmissão mais referido foi o domicílio dos pacientes, pois
nesses casos a doença, em geral, era transmitida por irmãos mais velhos
que freqüentavam estabelecimentos de ensino.
Tabela 30 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
local provável de transmissão e evolução, Região Metropolitana da Grande São
Paulo, 2003.
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
Escolar
18 (19,1) 2 (11,8) 1 (8,3) 20 (16,4)
Domicilio
71 (75,6)
14 (82,3) 11 (91,7) 96 (78,7)
Vizinhança
5 (5,3)
0 (0,0) 0 (0,0) 5 (4,1)
Hospital
0 (0,0)
1 (5,9) 0 (0,0) 1 (0,80)
Subtotal
94 (100,0)
17 (100,0) 12 (100,0) 122 (100,0)
Ignorado*
357 (79,2) 12 (41,4) 30 (71,4) 400 (76,6)
Total
451 (100,0)
29 (100,0) 42 (100,0) 522 (100,0)
* percentuais calculados em relação ao total de casos de cada grupo.
Local
Provável de
Transmissão
Evolução
76
4.4 ASPECTOS CLÍNICOS
Serão apresentados dados referentes aos sinais e sintomas mais
freqüentes, bem como sobre o desenvolvimento de complicações, duração
da internação (pronto-socorro, enfermaria e unidade de terapia intensiva -
UTI) e tempos entre: (1) início dos sintomas e internação, (2) início dos
sintomas e o aparecimento de complicações, (3) complicações e internação,
(4) início dos sintomas e gravidade (internação na UTI) e (5) início das
complicações e internação na UTI.
Os sinais e sintomas mais referidos na totalidade dos casos
foram: febre (90,0%), crostas (89,8%) e vesículas (79,3%) (tabela 31). Nos
349 casos com duração da febre conhecida, a média de duração foi de 6,21
dias, e a mediana de 5 dias. A média de duração da febre foi
destacadamente maior nos casos graves sem óbito do que nos demais
grupos (tabela 32), com diferenças estatisticamente significantes (p<0,0001).
Tabela 31 - Número e proporção dos sinais e sintomas mais freqüentes dos
pacientes internados com varicela segundo evolução, Região Metropolitana da
Grande São Paulo, 2003.
N % N % N % N %
Febre
408 90,5 29 100,0 33 78,6 470 90,0
Crostas
414 91,8 29 100,0 26 61,9 469 89,8
Vesículas
365 80,9 24 82,8 25 59,5 414 79,3
Flogose
267 59,2 15 51,7 16 38,1 298 57,1
Pústulas
230 51,0 16 55,2 10 23,8 256 49,0
Pápulas
219 48,6 18 62,1 8 19,0 245 46,9
Prurido
156 34,6 10 34,5 7 16,7 173 33,1
Base eritematosa
151 33,5 16 55,2 2 4,8 169 32,4
Lesão oral
143 31,7 7 24,1 12 28,6 162 31,0
Bolhas
138 30,6 9 31,0 13 31,0 160 30,7
Outros*
309 68,5 27 93,1 22 52,4 358 68,6
Total
451 100,0 29 100,0 42 100,0 522 100,0
* Sintomas inespecíficos: vômitos, hiporexia, alteração da orofaringe, linfadenopatia,
alteração da otoscopia, diarréia, dor abdominal, cefaléia, mal-estar, artralgia e mialgia.
Sinais e
Sintomas
Gerais
Evolução
Leve /
moderado
Grave sem
óbito
Óbito Total
77
Tabela 32 - Média (desvio padrão), mediana e variação de duração da febre (em
dias) dos pacientes internados com varicela segundo evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
Média (DP)
Mediana
Variação
Total (%)
Duração da
Febre (dias)
Evolução
Leve / moderado Grave sem óbito Óbito Total
309 (68,5) 24 (82,8) 16 (38,1) 349 (66,9)
5,80 (3,30) 11,63 (4,49) 5,94 (5,45) 6,21 (3,79)
5,00 11,00 4,00 5,00
1 a 21 1 a 21 1 a 22 1 a 22
Com relação às complicações da varicela, 92,1% dos pacientes
apresentaram algum tipo de complicação. As complicações mais comuns
foram: comprometimento de pele ou partes moles (79,4%), pulmonares
(31,4%), hemorrágicas (13,7%) e neurológicas (8,7%). Outras complicações,
tais como artrite, varicela congênita, hepatite ou miocardite incidiram em
13,3% dos pacientes (tabela 33). Observou-se uma ocorrência maior de
complicações pulmonares entre os óbitos (84,6%) e pacientes graves sem
evolução para óbito (72,4%) do que no grupo de casos leves a moderados
(23,5%). As complicações de pele e partes moles estiveram mais presentes
nos grupos de casos leves a moderados (81,6%) e graves sem óbito (72,4%)
do que no grupo de óbitos (61,5%). Complicações hemorrágicas e
neurológicas também foram maiores nos grupos de gravidade e óbito em
comparação ao grupo de casos leves a moderados.
Tabela 33 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
complicações e evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
N % N % N % N %
Pele / partes moles
337 81,6 21 72,4 24 61,5 382 79,4
Pulmonares
97 23,5 21 72,4 33 84,6 151 31,4
Hemorrágicas
26 6,3 13 44,8 27 69,2 66 13,7
Neurológicas
20 4,8 6 20,7 16 41,0 42 8,7
Raras
20 4,8 14 48,3 30 76,9 64 13,3
Total
413 100,0 29 100,0 39 100,0 481 100,0
Complicações
Evolução
Leve /
moderado
Grave sem
óbito
Óbito Total
78
O tipo de complicação de pele ou partes moles mais referido foi a
secreção purulenta (56,3%), seguida de celulite (41,9%). Infecções
secundárias nas lesões foram encontradas em 38,5% dos pacientes (tabela
34). Entre os casos com informação conhecida sobre o local da complicação
(69,9%), o segmento corpóreo mais acometido foi a cabeça (35,2%),
seguida de múltiplos segmentos (34,8%) e membros inferiores (14,6%). Os
outros segmentos (tórax, pescoço, membros superiores, abdome e dorso)
foram acometidos em menos de 5% dos casos (tabela 35).
Tabela 34 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
tipo de complicações de pele ou partes moles e evolução, Região Metropolitana da
Grande São Paulo, 2003.
N % N % N % N %
Secreção purulenta
192 57,0 17 81,0 6 25,0 215 56,3
Celulite
143 42,4 11 52,4 6 25,0 160 41,9
Infecção secundária
134 39,8 6 28,6 7 29,2 147 38,5
Abscesso
50 14,8 2 9,5 2 8,3 54 14,1
Fasciite necrotizante
2 0,6 1 4,8 0 0,0 3 0,8
Total
337 100,0 21 100,0 24 100,0 382 100,0
óbito
Leve /
moderado
Óbito Total
Evolução
Complicações de
Pele ou Partes Moles
Tabela 35 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
local da complicação de pele ou partes moles e evolução, Região Metropolitana da
Grande São Paulo, 2003.
N % N % N % N %
Cabeça
83 35,6 8 42,1 3 20,0 94 35,2
Múltiplos
77 33,0 8 42,1 8 53,3 93 34,8
Membros Inferiores
36 15,5 2 10,5 1 6,7 39 14,6
Tórax
9 3,9 1 5,3 2 13,3 12 4,5
Pescoço
10 4,3 0 0,0 1 6,7 11 4,1
Membros Superiores
9 3,9 0 0,0 0 0,0 9 3,4
Abdome
6 2,6 0 0,0 0 0,0 6 2,2
Dorso
3 1,3 0 0,0 0 0,0 3 1,1
Subtotal
233 100,0 19 100,0 15 100,0 267 100,0
Ignorado *
104 30,9 2 9,5 9 37,5 115 30,1
Total
337 100,0 21 100,0 24 100,0 382 100,0
Óbito Total
* percentuais calculados em relação ao total de casos com complicações de pele e partes moles de
cada grupo.
Local da Complicação
de Pele ou Partes
Moles
Evolução
Leve /
moderado
Grave sem
óbito
79
Dentre os pacientes que apresentaram complicações pulmonares,
os sintomas respiratórios mais referidos foram tosse (68,9%) e dispnéia
(68,9%). A tosse foi mais presente nos casos leves a moderados (83,5%) do
que nos demais grupos. a dispnéia e a taquipnéia foram sintomas mais
encontrados nos grupos de pacientes graves e óbito (tabela 36). O uso de
ventilação mecânica foi necessário em 38 pacientes (25,2%) com
comprometimento pulmonar. O tipo de comprometimento mais encontrado
foi a pneumonia, em 86,3% dos casos com complicações pulmonares. A
pneumonite foi diagnosticada em 6,8% dos casos, e 3,4% apresentaram
ambas as afecções (tabela 37).
Tabela 36 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
sinais e sintomas respiratórios e evolução, Região Metropolitana da Grande São
Paulo, 2003.
N % N % N % N %
Tosse
81 83,5 12 57,1 11 33,3 104 68,9
Dispnéia
60 61,9 18 85,7 26 78,8 104 68,9
Taquipnéia
39 40,2 19 90,5 23 69,7 81 53,6
Insuficiência respiratória
0 0,0 16 76,2 26 78,8 42 27,8
Total
97 100,0 21 100,0 33 100,0 151 100,0
Total
Sinais e Sintomas
Respiratórios
Evolução
Leve /
moderado
Grave sem
óbito
Óbito
Tabela 37 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
tipo de comprometimento pulmonar, Região Metropolitana da Grande São Paulo,
2003.
N % N % N % N %
Pneumonia
87 92,6 14 66,7 25 80,6 126 86,3
Pneumonite
5 5,3 2 9,5 3 9,7 10 6,8
Pneumonite + Pneumonia
1 1,1 1 4,8 3 9,7 5 3,4
Pneumonia Hospitalar
0 0,0 1 4,8 0 0,0 1 0,7
Outros
1 1,1 3 14,3 0 0,0 4 2,7
Subtotal
94 100,0 21 100,0 31 100,0 146 100,0
Ignorado *
3 3,1 0 0,0 2 6,1 5 3,3
Total
97 100,0 21 100,0 33 100,0 151 100,0
* percentuais calculados em relação ao total de casos com complicações pulmonares de cada grupo.
Leve /
moderado
Tipo de
Comprometimento
Pulmonar
Evolução
TotalÓbito
Grave sem
óbito
80
Dentre as complicações hemorrágicas encontradas em 66
pacientes, a presença de lesões (vesículas ou crostas) hemorrágicas
ocorreu em 47,0% dos casos, com predomínio nos casos leves a moderados
(73,1%). Os achados de hemorragia visceral, sufusões e equimoses e
coagulação intravascular disseminada (CIVD) foram mais encontrados nos
óbitos do que nos demais grupos (tabela 38).
Tabela 38 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
tipo de complicações hemorrágicas e evolução, Região Metropolitana da Grande
São Paulo, 2003.
N % N % N % N %
Lesões hemorrágicas
19 73,1 9 69,2 3 11,1 31 47,0
Hemorragia visceral
2 7,7 1 7,7 10 37,0 13 19,7
Equimoses / sufusões
1 3,8 1 7,7 6 22,2 8 12,1
CIVD
0 0,0 0 0,0 4 14,8 4 6,1
Outras
4 15,4 2 15,4 4 14,8 10 15,2
Total
26 100,0 13 100,0 27 100,0 66 100,0
Complicações
Hemorrágicas
Evolução
TotalÓbito
Grave sem
óbito
Leve /
moderado
O sintoma neurológico mais referido foi a convulsão (54,8%),
predominantemente nos casos leves a moderados (70,0%). A
meningoencefalite foi encontrada em 23,8% dos 42 pacientes com
complicações neurológicas, sendo mais presente nos grupos de óbitos
(37,5%) do que nos demais grupos. A ataxia cerebelar não foi um sintoma
presente no grupo de óbitos (tabela 39).
Tabela 39 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
tipo de complicações neurológicas e evolução, Região Metropolitana da Grande
São Paulo, 2003.
N % N % N % N %
Convulsões
14 70,0 3 50,0 6 37,5 23 54,8
Meningoencefalite
3 15,0 1 16,7 6 37,5 10 23,8
Ataxia
3 15,0 1 16,7 0 0,0 4 9,5
Outras
0 0,0 1 16,7 4 25,0 5 11,9
Total
20 100,0 6 100,0 16 100,0 42 100,0
Grave sem
óbito
Óbito Total
Complicações
Neurológicas
Evolução
Leve /
moderado
81
Outras complicações mais raras, tais como hepatopatia,
miocardite, otite, artrite, glomerulonefrite, varicela congênita ou choque
séptico estiveram presentes em 64 pacientes. O choque séptico foi uma
complicação em 50% dos pacientes, a hepatopatia em 29,7% e a miocardite
em 12,5%. Choque séptico foi predominante no grupo de óbitos (90%);
miocardite e glomerulonefrite tiveram uma freqüência maior no grupo de
casos graves sem evolução para óbito, enquanto hepatopatia, otite e artrite
ou pioartrite foram complicações mais prevalentes nos casos com evolução
leve a moderada (tabela 40).
Apenas um caso de varicela congênita foi encontrado. Esse
paciente faleceu no mesmo dia do nascimento, apresentando quadro de
malformações cardíacas, anasarca, hepatoesplenomegalia, equimoses,
pneumonite e trombose de seios cavernosos.
Tabela 40 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
tipo de complicações raras e evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo,
2003.
N % N % N % N %
Choque Séptico
0 0,0 5 35,7 27 90,0 32 50,0
Hepatopatia
8 40,0 5 35,7 6 20,0 19 29,7
Miocardite
1 5,0 4 28,6 3 10,0 8 12,5
Otite
5 25,0 0 0,0 1 3,3 6 9,4
Artrite / Pioartrite
4 20,0 1 7,1 0 0,0 5 7,8
Glomerulonefrite
2 10,0 2 14,3 0 0,0 4 6,3
Varicela Congênita
0 0,0 0 0,0 1 3,3 1 1,6
Outras
1 5,0 2 14,3 2 6,7 5 7,8
Total
20 100,0 14 100,0 30 100,0 64 100,0
Complicações
Raras
Evolução
Leve /
moderado
Grave sem
óbito
Óbito Total
O tempo de internação dos casos variou de zero a 48 dias. A
duração média de internação dos casos foi de 5,8 dias, e a mediana, de 4
dias. A média de internação no pronto-socorro foi de 1,2 dias, na enfermaria
de 3,8 dias e na unidade de terapia intensiva de 0,8 dias. A média de
internação dos casos leves a moderados foi de 5,1 dias (1,3 dias no pronto-
82
socorro e 3,8 dias na enfermaria). Os casos graves sem óbito tiveram
internação dia de 17,1 dias (0,3 no pronto-socorro, 7,8 na enfermaria e
9,0 na UTI), mais de três vezes a média de internação dos casos leves a
moderados. Os óbitos, por sua vez, tiveram média de internação de 3 dias
(0,3 no pronto-socorro, 0,1 na enfermaria e 2,6 dias na UTI) (tabela 41).
Tabela 41 - Média (desvio padrão), mediana e variação do tempo de internação
total, no pronto-socorro, na enfermaria e na unidade de terapia intensiva (em dias)
dos pacientes internados com varicela segundo evolução, Região Metropolitana da
Grande São Paulo, 2003.
Nº casos (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº casos (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº casos (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº casos (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
0 a 380 a 232 a 38
Pronto Socorro
Enfermaria
Unidade de Terapia Intensiva
0 a 42
432 (95,8)
30 (71,4)
29 (100,0)
Evolução
Leve /
moderado
Grave sem
óbito
Óbito Total
Total de internação
---
0,01,06,0
---
0,8 (3,4)2,6 (5,3)9,0 (8,3)
---
---
0 a 420 a 20 a 25
Duração da Internação (dias)
3,8 (4,1)
3,00,08,03,0
3,8 (4,3)0,1 (0,4)7,8 (5,6)
1,3 (1,7)
375 (83,1)
0 a 90 a 10 a 3
* percentuais calculados em relação ao total de casos de cada grupo.
1,00,00,01,0
0 a 9
434 (83,1)
30 (71,4)
0,3 (0,4)0,3 (0,7)
5,1 (4,0)
4,01,014,0
5,8 (5,5)3,0 (5,2)17,1 (10,5)
29 (100,0)
0 a 480 a 236 a 48
4,0
0 a 42
514 (98,5)35 (83,3)29 (100,0)450 (99,8)
434 (83,1)30 (71,4)28 (96,5)376 (83,4)
1,2 (1,6)
O tempo médio entre o início dos sintomas e a internação dos
casos foi de 5 dias. Essa média foi ligeiramente menor para os casos leves a
moderados (4,8 dias) em comparação aos casos graves (6,9 dias) e óbitos
(5,6 dias). O tempo entre o início dos sintomas e as complicações variou de
0 a 24 dias, com média de 3,9 dias (3,7 nos casos leves a moderados; 4,8
nos casos graves e 4,6 dias nos óbitos). Os pacientes foram internados, em
média, 1,6 dias após o aparecimento das complicações, com pouca variação
83
entre os grupos, exceto para os óbitos, que internaram, em média, até 24
horas após o desenvolvimento das complicações. Os pacientes graves e
óbitos foram internados na UTI, em média, 6,5 dias após o início dos
sintomas; no entanto, o tempo médio a partir do início das complicações até
a internação na UTI foi de 1,6 dias (tabela 42).
Tabela 42 - Média (desvio padrão), mediana e variação do tempo (em dias) entre:
início dos sintomas e internação, início dos sintomas e complicações, complicações
e internação, início dos sintomas e internação na UTI e início de complicações e
internação na UTI dos pacientes internados com varicela segundo evolução, Região
Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
Nº casos (%)
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº casos (%)
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº casos (%)
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº casos (%)
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº casos (%)
Média (DP)
Mediana
Variação
Tempo entre início
dos sintomas e
internação
Tempo entre início
dos sintomas e
complicações
Tempo entre
complicações e
internação
29 (100,0)
0 a 24
427 (94,7)
0 a 16
39 (7,5)
Variações de
Tempo (dias)
TotalÓbito
Grave sem
óbito
Leve /
moderado
493 (94,4)37 (88,1)
Tempo entre início
dos sintomas e
internação na UTI
Evolução
0 a 19
289 (55,4)32 (76,2)27 (93,1)230 (51,0)
0 a 241 a 15
21 (50,0)18 (62,1)---
0 a 160 a 30 a 4
Tempo entre início
das complicações e
internação na UTI
--- 0 a 40 a 30 a 4
---
2,01,02,5---
1,6 (1,1)1,1 (0,9)2,2 (1,1)
---
33 (6,3)17 (40,5)16 (55,2)---
1 a 241 a 243 a 16
---
5,04,06,0---
6,5 (4,7)5,5 (4,7)7,8 (4,4)
1,7 (1,9)
1,01,02,01,0
1,6 (1,8)0,9 (0,8)1,8 (1,1)
4,04,03,0
4,6 (4,2)4,8 (3,3)3,7 (2,6)
32 (76,2)27 (93,1)229 (50,8)
0 a 242 a 150 a 31
5,05,04,0
5,6 (4,3)6,9 (3,7)4,8 (3,6)
288 (55,2)
3,9 (2,9)
3,0
5,0 (3,7)
4,0
0 a 31
84
4.5 ASPECTOS LABORATORIAIS, ISOLAMENTO E
TRATAMENTO
Foram analisados os resultados de alguns exames
complementares, tais como hemograma, bioquímica, culturas de diversos
sítios e padrões radiológicos.
Em relação ao hemograma, encontrou-se diferença
estatisticamente significante nas médias das contagens relativas de
bastonetes (p<0,001), linfócitos típicos (p=0,0120) e contagem absoluta de
plaquetas (p=0,0007), quando comparados os três grupos de evolução. A
média de linfócitos foi maior no grupo de casos leves a moderados (32,1%) e
a média de bastonetes, maior no grupo de óbitos (15,2%). A média de
plaquetas foi menor no grupo de óbitos (177.600/uL). Não se observaram
diferenças significativas entre as médias dos demais componentes avaliados
(tabela 43).
Apenas 41 pacientes (7,9%) tiveram exames de CPK
(Creatinofosfoquinase) ou DHL (Desidrogenase Lática) realizados. Dessa
forma, os parâmetros dessas enzimas musculares não foram analisados.
Foram realizadas 111 culturas de quaisquer sítios, das quais 29
(26,1%) resultaram positivas. O agente mais recuperado em todas as
culturas foi o Staphylococcus aureus, em 9 pacientes (31,0%), que também
foi o mais isolado dentre as 17 hemoculturas positivas (47,1%) (tabela 44).
Realizaram-se exames radiográficos de tórax em 193 pacientes
(36,9%), com 70 (36,3%) resultados normais, 59 (30,6%) com padrão de
condensação pulmonar e 46 (23,8%) com infiltrado intersticial. Alguns
pacientes (14) apresentaram padrão misto, isto é, com componentes
alveolares e intersticiais. Os casos leves apresentaram maior proporção de
radiografias normais (44,1%) do que os demais grupos (graves sem óbito =
16,7% e óbitos = 8,3%). Os padrões intersticial e misto tiveram maior
proporção entre os casos graves e óbitos, e a condensação foi revelada em
proporção semelhante nos três grupos de pacientes (tabela 45).
85
Tabela 43 - Média (desvio padrão), mediana e variação dos resultados de diversos
componentes do hemograma dos pacientes internados com varicela segundo
evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
Nº exames (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº exames (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº exames (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº exames (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº exames (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº exames (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº exames (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº exames (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
* percentuais calculados em relação ao total de casos de cada grupo.
14,0 a 723,0 13,0 a 887,0 20,0 a 417,0 13,0 a 887,0
248,0 201,5 161,5 242,0
267,1 (117,2) 275,6 (225,7) 177,6 (101,6) 259,8 (129,8)
Plaquetas (10
3
/uL)
299 (66,3) 28 (96,5) 32 (76,2) 359 (68,8)
3,0 a 84,0 5,0 a 70,0 3,0 a 82,0 3,0 a 84,0
31,0 24,5 21,0 30,0
32,1 (15,8) 25,7 (14,1) 25,1 (17,4) 31,1 (15,9)
Linfócitos (%)
313 (69,4) 28 (96,5) 31 (73,8) 372 (71,3)
4,0 a 91,0 20,0 a 85,0 10,0 a 85,0 4,0 a 91,0
53,0 56,0 56,0 53,5
52,7 (16,1) 54,1 (15,2) 53,6 (20,5) 52,8 (16,4)
Segmentados (%)
312 (69,2) 28 (96,5) 30 (71,4) 370 (70,9)
0,0 a 52,0 1,0 a 49,0 1,0 a 49,0 0,0 a 52,0
4,0 10,0 11,0 5,0
6,8 (7,4) 12,1 (11,8) 15,2 (2,4) 8,0 (8,7)
Bastonetes (%)
274 (60,7) 27 (93,1) 29 (69,0) 330 (63,2)
3.500 a 43.000 600 a 29.800 1.230 a 600 a 61.000
11.500 14.200 10.500 11.600
12.938 (6.718) 14.197 12.441 12.987 (7.317)
Leucócitos (células/uL/mm
3
)
320 (70,9) 28 (96,5) 33 (78,6) 381 (73,0)
15,7 a 53,1 11,0 a 48,2 17,0 a 50,0 11,0 a 53,1
32,0 31,0 28,7 31,9
32,2 (4,8) 31,7 (8,1) 30,5 (7,4) 32,0 (5,4)
Hematócrito (%)
303 (67,2) 29 (100,0) 32 (76,2) 364 (69,7)
5,2 a 17,1 3,7 a 16,1 5,7 a 16,4 3,7 a 17,1
10,6 10,3 9,5 10,5
10,6 (1,7) 10,9 (2,7) 9,9 (2,5) 10,6 (1,9)
Hemoglobina (g/dL)
320 (70,9) 29 (100,0) 33 (78,6) 382 (73,2)
2,0 a 5,5 2,5 a 5,5 2,3 a 5,8 2,0 a 5,8
4,3 4,1 4,0 4,2
4,3 (0,5) 4,2 (0,6) 4,0 (0,8) 4,3 (0,6)
Hemacias (10
6
/uL/mm)
237 (52,5) 25 (86,2) 28 (66,7) 290 (55,5)
Evolução
Leve /
moderado
Grave sem
óbito
Óbito Total
Exame (unidade)
86
Tabela 44 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
resultados de hemoculturas e culturas de qualquer tio, Região Metropolitana da
Grande São Paulo, 2003.
N % N
%
Staphylococcus aureus
8 47,1 9 31,0
Staphylococcus coagulase-negativo
3 17,6 4 13,8
Staphylococcus epidermidis
2 11,8 3 10,3
Escherichia coli
0 0,0 3 10,3
Streptococcus pyogenes
1 5,9 2 6,9
Alcaligenes sp.
1 5,9 1 3,4
Pseudomonas sp
1 5,9 1 3,4
Staphylococcus simulans
1 5,9 1 3,4
Candida
0 0,0 1 3,4
Enterobacter cloacae
0 0,0 1 3,4
Klebsiella pneumoniae
0 0,0 1 3,4
S. aureus + E. cloacae
0 0,0 1 3,4
Streptococcus pneumoniae
0 0,0 1 3,4
Total
17 100,0 29 100,0
Total de
Culturas
Hemoculturas
Agente Isolado
Tabela 45 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
padrão de radiografia de tórax e evolução, Região Metropolitana da Grande São
Paulo, 2003.
N % N % N % N %
Normal
64 44,1 4 16,7 2 8,3 70 36,3
Condensação
45 31,0 7 29,2 7 29,2 59 30,6
Intersticial
31 21,4 8 33,3 7 29,2 46 23,8
Misto
5 3,4 3 12,5 6 25,0 14 7,3
SARA
0 0,0 0 0,0 2 8,3 2 1,0
Outros
0
0,0
2
8,3
0
0,0
2
1,0
Total
145
100,0
24
100,0
24
100,0
193
100,0
Evolução
Radiografia de
Tórax
Leve /
moderado
Grave sem
óbito
Óbito Total
Referente aos tipos de isolamento preconizados, 195 pacientes
(37,4%) receberam prescrição de “isolamento para varicela”, sem detalhar o
tipo. O isolamento preconizado, que inclui precauções respiratórias e de
contato, foi prescrito para 31% dos pacientes (162). Alguns casos receberam
87
apenas prescrição de isolamento respiratório (9,6%) ou contato (4,0%). Esse
dado foi desconhecido em 15,9% dos pacientes (tabela 46).
Tabela 46 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
tipo de isolamento e evolução, Região Metropolitana da Grande São Paulo, 2003.
N % N % N % N %
Desconhecido
184 40,8 2 6,9 9 21,4 195 37,4
Respiratório + Contato
133 29,5 18 62,1 11 26,2 162 31,0
Respiratório
43 9,5 5 17,2 2 4,8 50 9,6
Contato
18 4,0 0 0,0 3 7,1 21 4,0
Sem Isolamento
10 2,2 1 3,4 0 0,0 11 2,1
Ignorado
63 14,0 3 10,3 17 40,5 83 15,9
Total
451 100,0 29 100,0 42 100,0 522 100,0
Evolução
Tipo de
Isolamento
Óbito Total
Leve /
moderado
Grave sem
óbito
Diversas classes de medicamentos foram utilizadas nos pacientes
internados por varicela: antibióticos para o tratamento das infecções
concorrentes, antitérmicos para o controle do estado febril, sintomáticos
tópicos para o alívio dos sinais e sintomas de pele e partes moles, antivirais
para a redução do tempo de sintomas e das complicações e outros
medicamentos (antihistamínicos, analgésicos, sedativos, antiinflamatórios,
corticoterápicos, antieméticos, protetores gástricos, broncodilatadores,
dentre outros).
As classes mais comumente empregadas estão relacionadas na
tabela 47. Os antibióticos foram a classe de drogas mais administrada em
todos os grupos (92,1% dos pacientes). Os antitérmicos foram a segunda
categoria de medicamentos mais utilizados (79,5%), com exceção dos
óbitos, nos quais houve 54,8% de utilização dessas drogas. Os sintomáticos
tópicos vieram em terceiro lugar, com 66,9% de utilização geral e 71,6% de
uso nos casos leves a moderados. Antivirais e drogas vasoativas tiveram
uma utilização geral baixa (16,9% e 9,2%, respectivamente). O uso de
drogas vasoativas foi maior no grupo de óbitos (78,6%) e menor nos casos
graves sem óbito (48,3%).
88
Tabela 47 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
utilização de medicamentos durante a internação e evolução, Região Metropolitana
da Grande São Paulo, 2003.
N % N % N % N %
Antibiótico
420 93,1 28 96,6 33 78,6 481 92,1
Antitérmicos
368 81,6 24 82,8 23 54,8 415 79,5
Tópico
323 71,6 17 58,6 9 21,4 349 66,9
Antiviral
54 12,0 17 58,6 17 40,5 88 16,9
Drogas vasoativas
1 0,2 14 48,3 33 78,6 48 9,2
Outros medicamentos
345 76,5 29 100,0 33 78,6 407 78,0
Total
451
100,0
29 100,0 42 100,0 522
100,0
Tratamento
durante a
internação
Evolução
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
Uma parcela de 42,5% dos pacientes (222/522) vinha utilizando
medicamentos durante alguns dias antes da internação. A tabela 48
demonstra que mais de uma classe de medicamentos foi utilizada em 45,5%
dos pacientes; 23% utilizaram apenas antitérmicos e 15,3% vinham com
uso de antibióticos de casa.
Tabela 48 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
utilização de medicamentos antes da internação e evolução, Região Metropolitana
da Grande São Paulo, 2003.
N % N % N % N %
Múltiplos
80 43,0 12 63,2 9 52,9 101 45,5
Antitérmico
46 24,7 1 5,3 4 23,5 51 23,0
Antibiótico
30 16,1 3 15,8 1 5,9 34 15,3
Tópico
12 6,5 1 5,3 0 0,0 13 5,9
Antiviral
1 0,5 0 0,0 0 0,0 1 0,5
Outros
17 9,1 2 10,5 3 17,6 22 9,9
Subtotal
186 100,0 19 100,0 17 100,0 222 100,0
Ignorado *
265 58,8 10 34,5 25 59,5 300 57,5
Total 451
100,0
29 100 42
100,0
522
100,0
* percentuais calculados em relação ao total de pacientes de cada grupo.
Medicamentos
utilizados antes
da internação
Evolução
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
89
Os antibióticos também foram as drogas mais prescritas na alta
dos pacientes (tabela 49). Além disso, quando se prescreviam várias classes
de drogas, em geral os antibióticos estiveram presentes. Dessa forma,
observamos que a maioria dos pacientes foi orientada a continuar o
tratamento das complicações infecciosas após a alta, porém, não foi
possível saber se essa recomendação foi seguida.
Tabela 49 - Número e proporção de pacientes internados com varicela segundo
tipo de medicamentos prescritos na alta e evolução, Região Metropolitana da
Grande São Paulo, 2003.
N % N % N % N %
Antibiótico
181 64,4 5 41,7 186 63,5
Vários
74 26,3 5 41,7 79 27,0
Antiviral
7 2,5 0 0,0 7 2,4
Tópico
5 1,8 0 0,0 5 1,7
Antitérmico
3 1,1 0 0,0 3 1,0
Outros
11 3,9 2 16,7 13 4,4
Subtotal
281 100,0 12 100,0
--- ---
293 100,0
Ignorado *
170 37,7 17 58,6
--- ---
229 43,9
Total
451
100,0
29
100,0
--- --- 522
100,0
* percentuais calculados em relação ao total de pacientes de cada grupo.
Medicamentos
prescritos
na alta
Evolução
Leve /
moderado (%)
Grave sem
óbito (%)
Óbito (%) Total (%)
--- ---
--- ---
--- ---
--- ---
--- ---
--- ---
A tabela 50 ilustra os tempos de emprego das diversas classes de
drogas utilizadas antes, durante a internação e após a alta nos diversos
grupos estudados. Notamos que o tempo médio de uso de antibióticos
variou de 1 a 35 dias, com média de 5,3 dias, sendo maior no grupo de
pacientes graves sem evolução para óbito (14,7 dias) quando comparado ao
tempo médio nos outros grupos (leve a moderado = 4,9 e óbito = 3,3 dias).
Todas as demais classes de drogas administradas durante a
internação também foram utilizadas por um tempo médio maior no grupo de
casos graves sem óbito, compatível com o tempo de internação nesse grupo
que foi, em dia, maior do que nos demais grupos. Os pacientes com
evolução leve a moderada iniciaram o tratamento em casa mais
precocemente, e também tiveram medicações prescritas por mais tempo na
90
alta; certamente porque tiveram um tempo de internação menor, não
cumprindo o tempo total de tratamento durante a internação.
Tabela 50 - Média (desvio padrão), mediana e variação do tempo de uso (em dias)
de medicamentos (antibiótico, antitérmico, tópico, antiviral, drogas vasoativas e
outros) durante a internação, antes da internação e prescritos na alta dos pacientes
internados com varicela segundo evolução, Região Metropolitana da Grande São
Paulo, 2003.
Nº casos (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº casos (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº casos (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº casos (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº casos (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº casos (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº casos (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
Nº casos (%)*
Média (DP)
Mediana
Variação
148 (32,8)
33 (78,6) 402 (77,0)
* percentuais calculados em relação ao total de casos de cada grupo.
Medicações prescritas na alta
Medicações antes da internação
68 (15,1) 11 (37,9) 10 (23,8) 89 (17,0)
2,3 (2,7)
1,0 2,0
16 (55,2)
3,0
87 (16,7)
348 (66,7)
6,0
1 a 131 a 20
Antitérmico
7,0
1 a 90
4,0
2,4 (2,1)
2,0
1 a 23
6,2 (4,5)
5,0
27 (93,1)
3,5
1 a 10
1 a 20
10,6 (5,8)
9,0
2,8 (3,9)
1,0
3,8 (3,4)
1 a 21
4,0 (3,7)
3,0
1 a 21
2,4 (1,3)
3,0
1 a 4
3,0
3,5 (2,7)
1,0
3,6 (2,7)
3,0 3,0
Outros medicamentos
---
---
4,0 (3,6)
1 a 14
342 (75,8)
3,0
33 (78,6)13 (44,8)
1,0
--- 2,3 (3,1)
23 (54,8)23 (79,3)365 (80,9)
4,2 (2,9)
3,0
1 a 12
9,0 (4,3)
4,1 (2,5)
---
54 (12,0)
322 (71,4) 17 (58,6) 9 (21,4)
17 (40,5)
Antiviral
7,5 (5,6)3,8 (2,8)
3,0
1 a 21
4,9 (3,3)
4,0
1 a 23
14,7 (7,0)
13,0
Total
Drogas vasoativas
Antibiótico
Medicação
Evolução
5,3 (4,4)
Leve /
moderado
3,3 (4,0)
Grave sem
óbito
2,8 (3,0)
2,6 (2,5)
4,8 (3,9)
411 (78,7)
4,0
47 (9,0)
4,0 (3,1)
1 a 21
1 a 18
Tópico
419 (92,9) 27 (93,1) 33 (78,6)
Óbito
479 (91,8)
1 a 351 a 186 a 35
1,0 4,0
1 a 153 a 18
1 a 231 a 132 a 20
3,8 (4,7)
7,5
3,6 (4,0)
2,0
1,0
1 a 141 a 10
1 a 221 a 181 a 22
156 (29,9)
---
8 (27,6)
7,3 (9,8)7,5 (10,0)
1 a 90---2 a 7
7,0---
---4,4 (1,9)
91
4.6 FATORES PREDITORES DE GRAVIDADE E ÓBITO
Após a descrição das características da amostra estudada,
seguem os resultados do estudo exploratório dos fatores preditores de
gravidade e óbito por varicela. Para essa análise estatística foram
considerados todos os casos de varicela com idades entre 0 e 14 anos.
Foram analisadas as associações das variáveis independentes
com dois desfechos: óbito e gravidade. Para tanto, casos graves foram
comparados com casos não graves, e óbitos com pacientes que
sobreviveram à doença.
De acordo com a análise realizada através do modelo de
regressão logística univariada, as seguintes variáveis demonstraram
associação com gravidade por varicela (tabelas 51 a 54): residir na DIR V -
Osasco (p=0,006), residir na Zona Leste do Município de o Paulo
(p<0,001); maior duração da febre (p<0,001), complicações pulmonares
(p<0,001), neurológicas (p<0,001), hemorrágicas (p<0,001) e raras
(p<0,001), cirurgia na internação por varicela (p<0,001), tempo total de
internação (p<0,001), tempo entre o desenvolvimento de sintomas e
internação (p=0,026), tempo entre o desenvolvimento de sintomas e
complicações (p=0,021), tratamento com antiviral (p<0,001), tempo de
antibiótico (p<0,001), antiviral (p<0,001) e antitérmico (p=0,005); maior
número de bastonetes ao hemograma (p<0,001). Os odds ratios, com os
respectivos intervalos de confiança de 95%, são demonstrados nas tabelas
51 a 54 a seguir.
92
Tabela 51 - Distribuição e proporção dos casos graves e não graves de varicela
segundo variáveis sociodemográficas, com os respectivos
odds ratios
(OR) não
ajustados, intervalos com 95% de confiança (IC
95%
) e valor de
p
.
N
%
N
%
Idade (anos)
10 a 14*
2
3,2
5
1,1
1,00
(Ref)
< 1
19
30,2
111
25,3
0,43
(0,08-2,37)
0,331
1 a 4
33
52,4
279
63,6
0,30
(0,05-1,58)
0,155
5 a 9
9
14,3
44
10,0
0,51
(0,08-3,06)
0,463
Sexo
Feminino*
27
42,9
203
46,2
1,00
(Ref)
Masculino
36
57,1
236
53,8
1,15
(0,67-1,95)
0,614
Raça
Branca*
37
71,2
142
72,8
1,00
(Ref)
Negra
4
7,7
19
9,7
0,81
(0,26-2,52)
0,713
Parda
11
21,2
34
17,4
1,24
(0,57-2,68)
0,582
Ocupação da mãe
Do lar*
5
38,5
64
50,4
1,00
(Ref)
Fora do lar
8
61,5
63
49,6
1,63
(0,50-5,24)
0,416
Anos de estudo maternos** 11 45 0,81 (0,66-1,00) 0,053
Filhos vivos** 34 215 1,12 (0,92-1,35) 0,253
DIR de residência
I (São Paulo)*
44
69,8
361
82,2
1,00
(Ref)
II (Santo André)
3
4,8
6
1,4
4,10
(0,99-16,98)
0,052
III (Mogi das Cruzes)
7
11,1
49
11,2
1,17
(0,50-2,75)
0,715
V (Osasco)
9
14,3
23
5,2
3,21
(1,40-7,37)
0,006
Zona de residência
Outras*
7
35,0
95
77,9
1,00
(Ref)
Leste
13
65,0
27
22,1
6,53
(2,37-18,00)
<0,001
DIR de internação
I (São Paulo)*
53
88,3
389
88,6
1,00
(Ref)
III (Mogi das Cruzes)
4
6,7
42
9,6
0,70
(0,24-2,03)
0,510
V (Osasco)
3
5,0
8
1,8
2,75
(0,71-10,70)
0,144
Zona de internação
Outras*
35
68,6
286
76,3
1,00
(Ref)
Leste
16
31,4
89
23,7
1,49
(0,78-2,81)
0,224
**Variáveis quantitativas
IC (95%)
Valor de
p
Variáveis Sociodemográficas
* categorias de referência
Graves
Variáveis
Não Graves
N=63 N=439
OR
93
Tabela 52 - Distribuição e proporção dos casos graves e não graves de varicela
segundo variáveis relativas a antecedentes pessoais, familiares e epidemiológicos,
com os respectivos
odds ratios
(OR) não ajustados, intervalos com 95% de
confiança (IC
95%
) e valor de
p
.
N
%
N
%
Peso ao nascer (g)**
26 155 1,00 (0,99-1,00) 0,355
Tipo de parto
Cesariano*
12
34,3
88
37,9
1,00
(Ref)
Normal
23
65,7
144
62,1
1,48
(0,70-3,14)
0,307
Tabagismo na família
Não*
4
25,0
37
43,0
1,00
(Ref)
Sim
12
75,0
49
57,0
2,27
(0,67-7,59)
0,185
Condições de base
Não*
15
33,3
49
22,8
1,00
(Ref)
Sim
30
66,7
166
77,2
0,59
(0,29-1,18)
0,138
Medicação crônica
Não*
4
23,5
32
40,0
1,00
(Ref)
Sim
13
76,5
48
60,0
2,17
(0,65-7,24)
0,209
Internações prévias
Não*
14
36,8
117
46,4
1,00
(Ref)
Sim
24
63,2
135
53,6
1,49
(0,73-3,00)
0,270
Vacinação
Em dia*
29
82,9
230
89,8
1,00
(Ref)
Atrasada
6
17,1
26
10,2
1,83
(0,69-4,82)
0,221
Freqüentar ensino
Não*
13
54,2
29
32,2
1,00
Sim
11
45,8
61
67,8
0,40
(0,16-1,00)
0,052
Provável transmissão no
domicílio
Não*
3
12,5
22
24,4
1,00
(Ref)
Sim
21
87,5
68
75,6
2,26
(0,56-10,57)
0,328
**Variáveis quantitativas
* categorias de referência
IC (95%)
Valor de
p
N=63 N=439
Variáveis
Graves Não Graves
OR
Antecedentes Pessoais, Familiares e Epidemiológicos
94
Tabela 53 - Distribuição e proporção dos casos graves e não graves de varicela
segundo variáveis relativas a aspectos clínicos, com os respectivos
odds ratios
(OR) não ajustados, intervalos com 95% de confiança (IC
95%
) e valor de
p
.
N
%
N
%
Duração da febre (dias)
34
315
1,19
(1,10-1,29)
<0,001
Complicações pele e
partes moles
Não*
17
30,4
105
24,1
1,00
(Ref)
Sim
39
69,6
330
75,9
0,73
(0,40-1,34)
0,312
Complicações pulmonares
Não*
14
23,0
301
76,0
1,00
(Ref)
Sim
47
77,0
95
24,0
10,64
(5,61-20,17)
<0,001
Complicações
neurológicas
Não*
37
64,9
399
95,2
1,00
(Ref)
Sim
20
35,1
20
4,8
10,78
(5,33-21,83)
<0,001
Complicações
hemorrágicas
Não*
22
37,9
391
94,0
1,00
(Ref)
Sim
36
62,1
25
6,0
25,59
(13,14-49,86)
<0,001
Complicações raras
Não*
17
30,4
396
95,0
1,00
(Ref)
Sim 39 69,6 21 5,0 43,26 (21,08-88,80) <0,001
Cirurgia na internação
Não*
48
82,8
422
97,7
1,00
(Ref)
Sim
10
17,2
10
2,3
8,79
(3,48-22,19)
<0,001
Número de cirurgias**
10
10
1,64
(0,56- 4,81)
0,367
Tempo internação PS**
51
366
0,32
(0,19-0,55)
<0,001
Tempo internação
enfermaria**
52
365
1,01
(0,94-1,08)
0,780
Tempo total internação**
53
438
1,09
(1,04-1,14)
<0,001
Tempo sintomas e
internação**
58
417
1,07
(1,01-1,14)
0,026
Tempo sintomas e
complicações**
53
227
1,12
(1,02-1,24)
0,021
Tempo complicações e
internação**
53
226
0,84
(0,67-1,05)
0,133
**Variáveis quantitativas
Não Graves
* categorias de referência
Aspectos Clínicos
N=63 N=439
OR IC (95%)
Valor de
p
Variáveis
Graves
95
Tabela 54 - Distribuição e proporção dos casos graves e não graves de varicela
segundo variáveis relativas a tratamento e exames laboratoriais, com os
respectivos
odds ratios
(OR) o ajustados, intervalos com 95% de confiança
(IC
95%
) e valor de
p
.
N
%
N
%
Tratamento antibiótico
Não*
3
5,4
25
5,7
1,00
(Ref)
Sim
53
94,6
412
94,3
1,07
(0,31-3,67)
0,912
Tratamento tópico
Não*
29
55,8
116
26,7
1,00
(Ref)
Sim
23
44,2
319
73,3
0,29
(0,16-0,52)
<0,001
Tratamento antiviral
Não*
28
51,9
387
89,0
1,00
(Ref)
Sim
26
48,1
48
11,0
7,49
(4,06-13,81)
<0,001
Tratamento antitérmico
Não*
15
27,3
79
18,0
1,00
(Ref)
Sim
40
72,7
360
82,0
0,59
(0,31-1,11)
0,102
Tempo de antibiótico**
56
437
1,12
(1,06-1,18)
<0,001
Tempo de tópico**
53
434
1,01
(0,93-1,10)
0,781
Tempo de antiviral**
54
435
1,36
(1,22-1,51)
<0,001
Tempo de antitérmico**
55
436
1,14
(1,04-1,24)
0,005
Hemoglobina**
54
311
0,79
(0,66-0,94)
0,007
Leucócitos**
53 311
1,00
(0,99-1,00)
0,754
Bastonetes**
49
266
1,08
(1,04-1,11)
0,000
Segmentados**
50
303
1,00
(0,98-1,02)
0,883
Linfócitos**
51
304
0,97
(0,95-0,99)
0,013
Plaquetas**
52
291
0,99
(0,99-0,99)
0,030
Raio X
Normal*
6
16,7
59
42,8
1,00
(Ref)
Condensação
13
36,1
45
32,6
2,84
1,00-8,05
0,050
Intersticial
11
30,6
30
21,7
3,60
1,22-10,70
0,021
Misto
6
16,7
4
2,9
14,75
3,23-67,34
0,001
**Variáveis quantitativas
* categorias de referência
IC (95%)
Valor de
p
Tratamento das Complicações e Exames Laboratoriais
Variáveis
Graves
N=63 N=439
Não Graves
OR
Na tabela 55 são apresentados os odds ratios (OR) ajustados
obtidos pelo modelo final de regressão logística múltipla, que pelo teste de
Hosmer-Lemeshow foi considerado adequado (χ
2
= 2,64; p=0,4504). As
96
seguintes variáveis mantiveram associação com gravidade por varicela,
independentemente das demais: complicações raras, complicações
hemorrágicas, complicações neurológicas, complicações pulmonares e
cirurgia na internação por varicela.
Tabela 55 Modelo final de regressão logística para fatores preditores de
gravidade por varicela, com respectivos
odds ratios
(OR) ajustados, intervalos de
95% de confiança e valores de p.
Variável
OR
bruto
OR
ajustado
Intervalo de
confiança de
95%
Valor
de p
Complicações raras
43,26 30,02 (9,61-93,73) <0,001
Complicações hemorrágicas
25,59 18,10 (5,11-64,10) <0,001
Complicações neurológicas
10,78 19,44 (4,88-77,47) <0,001
Complicações pulmonares
10,64 12,74 (4,23-38,37) <0,001
Cirurgia internação
8,79 10,26 (1,71-61,52) 0,01
Com relação aos fatores preditores de óbito por varicela, as
seguintes variáveis demonstraram associação na análise realizada através
do modelo de regressão logística univariada (tabelas 56 a 59): residir na DIR
II - Santo André (p=0,009), residir na zona Leste do Município de o Paulo
(p<0,001), ter sido internado na DIR V Osasco (p=0,022), ter sido
internado na zona Leste do Município de São Paulo (p<0,001), histórico de
internações prévias (p=0,027), complicações pulmonares (p<0,001),
neurológicas (p<0,001), hemorrágicas (p<0,001) e raras (p<0,001), histórico
de cirurgia na internação (p=0,003) e número de cirurgias (p=0,019), tempo
de internação na UTI (p=0,002), tratamento com antivirais (p<0,001), tempo
do tratamento antiviral (p=0,050), maior número de bastonetes no
hemograma (p<0,001), Raio-X com padrão intersticial (p=0,024) ou misto
(p=0,002). Os odds ratios com os respectivos intervalos de confiança de
95% podem ser vistos nas tabelas a seguir.
97
Tabela 56 - Distribuição e proporção dos óbitos e não óbitos de varicela segundo
variáveis sociodemográficas, com os respectivos
odds ratios
(OR) o ajustados,
intervalos com 95% de confiança (IC
95%
) e valor de
p
.
N % N %
Idade (anos)
10 a 14* 1 2,6 6 1,3 1,00 (Ref)
< 1
10
25,6
120
25,9
0,50
(0,05-4,57)
0,539
1 a 4 21 53,8 291 62,9 0,43 (0,05-3,76) 0,448
5 a 9 7 17,9 46 9,9 0,91 (0,09-8,76) 0,937
Sexo
Feminino*
16
41,0
214
46,2
1,00
(Ref)
Masculino 23 59,0 249 53,8 1,24 (0,64-2,40) 0,532
Raça
Branca* 26 74,3 153 72,2 1,00 (Ref)
Negra 2 5,7 21 9,9 0,56 (0,12-2,53) 0,452
Parda 7 20,0 38 17,9 1,08 (0,44-2,68) 0,862
Ocupação da mãe
Do lar* 1 25,0 68 50,0 1,00 (Ref)
Fora do lar 3 75,0 68 50,0 3,00 (0,30-29,56) 0,347
Anos de estudo maternos**
3 53 0,70 (0,47-1,02) 0,067
Filhos vivos**
15 234 0,96 (0,69-1,34) 0,829
DIR de residência
I (São Paulo)* 28 71,8 377 81,4 1,00 (Ref)
II (Santo André) 3 7,7 6 1,3 6,73 (1,60-28,36) 0,009
III (Mogi das Cruzes) 3 7,7 53 11,4 0,76 (0,22-2,59) 0,664
V (Osasco) 5 12,8 27 5,8 2,49 (0,89-6,97) 0,082
Zona de residência
Outras* 2 14,3 100 78,1 1,00
Leste 12 85,7 28 21,9 21,43 (4,53-101,41) <0,001
DIR de internação
I (São Paulo)* 31 86,1 411 88,8 1,00 (Ref)
III (Mogi das Cruzes)
2
5,6
44
9,5
0,60
(0,14-2,60)
0,498
V (Osasco) 3 8,3 8 1,7 4,97 (1,25-19,69) 0,022
Zona de internação
Outras* 13 44,8 308 77,6 1,00 (Ref)
Leste
16
55,2
89
22,4
4,31
(2,00-9,30)
<0,001
**Variáveis quantitativas
* categorias de referência
Variáveis Sociodemográficas
N=39 N=463Variáveis
OR
(IC
95%
)
Valor de p
Não ÓbitoÓbito
98
Tabela 57 - Distribuição e proporção dos óbitos e não óbitos de varicela segundo
variáveis relativas a antecedentes pessoais, familiares e epidemiológicos, com os
respectivos
odds ratios
(OR) o ajustados, intervalos com 95% de confiança
(IC
95%
) e valor de
p
.
N % N %
Peso ao nascer (g)**
12 169 0,99 (0,99-0,99) 0,180
Tipo de parto
Cesariano* 5 38,5 95 42,4 1,00 (Ref)
Normal 8 61,5 129 57,6 1,18 (0,37-3,71) 0,779
Tabagismo na família
Não* 2 25,0 39 41,5 1,00 (Ref)
Sim 6 75,0 55 58,5 2,13 (0,41-11,10) 0,371
Condições de base
Não* 4 17,4 60 25,3 1,00
Sim 19 82,6 177 74,7 1,61 (0,53-4,92) 0,403
Medicação crônica
Não* 1 11,1 35 39,8 1,00 (Ref)
Sim 8 88,9 53 60,2 5,28 (0,63-44,11) 0,124
Internações prévias
Não* 4 20,0 127 47,0 1,00
Sim 16 80,0 143 53,0 3,55 (1,16-10,90) 0,027
Vacinação
Em dia 14 93,3 245 88,8 1,00 (Ref)
Atrasada 1 6,7 31 11,2 0,56 (0,07-4,44) 0,587
Freqüentar ensino
Não* 9 75,0 33 32,4 1,00 (Ref)
Sim 3 25,0 69 67,6 0,16 (0,04-0,63) 0,009
Provável transmissão no
domicílio
Não* 1 10,0 24 23,1 1,00 (Ref)
Sim 9 90,0 80 76,9 2,70 (0,34-123,20) 0,689
**Variáveis quantitativas
* categorias de referência
OR
Variáveis
Não ÓbitoÓbito
N=463N=39
(IC
95%
)
Valor de p
Antecedentes Pessoais, Familiares e Epidemiológicos
99
Tabela 58 - Distribuição e proporção dos óbitos e não óbitos de varicela segundo
variáveis relativas a aspectos clínicos, com os respectivos
odds ratios
(OR) não
ajustados, intervalos com 95% de confiança (IC
95%
) e valor de
p
.
N % N %
Duração da febre (dias) 15 334 1,00 (0,87-1,15) 0,985
Complicações de pele e
partes moles
Não* 10 31,3 112 24,4 1,00 (Ref)
Sim 22 68,8 347 75,6 0,71 (0,33-1,54) 0,388
Complicações pulmonares
Não* 8 21,1 307 73,3 1,00 (Ref)
Sim 30 78,9 112 26,7 10,28 (4,57-23,09) <0,001
Complicações neurológicas
Não* 18 54,5 418 94,4 1,00 (Ref)
Sim 15 45,5 25 5,6 13,93 (6,29-30,86) <0,001
Complicações hemorrágicas
Não* 8 23,5 405 92,0 1,00
Sim 26 76,5 35 8,0 37,61 (15,84-89,26) <0,001
Complicações raras
Não* 4 12,5 409 92,7 1,00 (Ref)
Sim 28 87,5 32 7,3 89,47 (29,55-270,83) <0,001
Cirurgia na internação
Não* 29 85,3 441 96,7 1,00 (Ref)
Sim 5 14,7 15 3,3 5,07 (1,72-14,92) 0,003
Número de cirurgias** 15 15 4,15 (1,26-13,65) 0,019
Tempo internação PS** 28 389 0,33 (0,17-0,67) 0,002
Tempo internação
enfermaria**
28 389 0,25 (0,11-0,58) 0,001
Tempo internação UTI**
29 387 1,13 (1,04-1,22) 0,002
Tempo total internação**
32 462 0,71 (0,59-0,85) <0,001
Tempo sintomas e
internação**
34 441 1,03 (0,94-1,12) 0,525
Tempo sintomas e
complicações**
31 249 1,09 (0,97-1,21) 0,132
Tempo complicações e
internação**
31 248 0,62 (0,42-0,91) 0,014
Tempo sintomas e internação
na UTI**
19 14 0,88 (0,74-1,05) 0,163
Tempo complicações e
internação na UTI**
16 12 0,44 (0,20-0,98) 0,045
**Variáveis quantitativas
* categorias de referência
Aspectos Clínicos
OR
(IC
95%
)
Valor de
pVariáveis
Não ÓbitoÓbito
N=463N=39
100
Tabela 59 - Distribuição e proporção dos óbitos e não óbitos de varicela segundo
variáveis relativas a tratamento e exames laboratoriais, com os respectivos
odds
ratios
(OR) não ajustados, intervalos com 95% de confiança (IC
95%
) e valor de
p
.
N % N %
Tratamento antibiótico
Não* 2 6,3 26 5,6 1,00 (Ref)
Sim 30 93,8 435 94,4 0,90 (0,20-3,96) 0,885
Tratamento tópico
Não*
20
71,4
125
27,2
1,00
(Ref)
Sim 8 28,6 334 72,8 0,15 (0,06-0,35) <0,001
Tratamento antiviral
Não* 16 53,3 399 86,9 1,00 (Ref)
Sim
14
46,7
60
13,1
5,82
(2,70-12,53)
<0,001
Tratamento antitérmico
Não* 10 32,3 84 18,1 1,00 (Ref)
Sim 21 67,7 379 81,9 0,47 (0,21-1,02) 0,058
Tempo de antibiótico**
32 461 0,72 (0,60-0,85) <0,001
Tempo de tópico**
29 458 0,72 (0,57-0,90) 0,004
Tempo de antiviral**
30 459 1,13 (1,00-1,27) 0,050
Tempo de antitérmico**
31 460 0,81 (0,64-1,04) 0,097
Hemoglobina**
30 335 0,73 (0,59-0,91) 0,004
Leucócitos**
30 334 1,00 (0,99-1,00) 0,451
Bastonetes**
26 289 1,08 (1,04-1,11) <0,001
Segmentados**
27 326 0,99 (0,97-1,02) 0,650
Linfócitos**
28 327 0,98 (0,95-1,00) 0,093
Plaquetas**
29 314 0,99 (0,99-0,99) <0,001
Raio X
Normal 2 10,5 63 40,6 1,00 (Ref)
Condensação 6 31,6 52 33,5 3,63 (0,70-18,77) 0,123
Intersticial
7
36,8
34
21,9
6,48
(1,27-32,96)
0,024
Misto 4 21,1 6 3,9 21,00 (3,16-139,38) 0,002
**Variáveis quantitativas
Tratamento das Complicações e Exames Laboratoriais
* categorias de referência
Variáveis
Não ÓbitoÓbito
OR
(IC
95%
)
Valor de p
N=463N=39
Na tabela 60 são apresentados os odds ratios (OR) ajustados
obtidos pelo modelo final de regressão logística múltipla, que pelo teste de
Hosmer-Lemeshow foi considerado adequado (χ
2
= 1,03; p=0,7932). As
seguintes variáveis mantiveram associação com óbito por varicela,
101
independentemente das demais: complicações raras, complicações
hemorrágicas, complicações neurológicas e complicações pulmonares.
Tabela 60 Modelo final de regressão logística para fatores preditores de óbito por
varicela, com respectivos
odds ratios
(OR) ajustados, intervalos de 95% de
confiança e valores de p.
Variável
OR
bruto
OR
ajustado
Intervalo de
confiança de
95%
Valor
de p
Complicações raras
89,47 32,74 (8,48-126,44) <0,001
Complicações hemorrágicas
37,61 5,86 (1,61-21,35) 0,007
Complicações neurológicas
13,93 9,85 (1,96-49,51) 0,006
Complicações pulmonares
10,28 7,87 (1,82-34,03) 0,006
102
5 DISCUSSÃO
Outrora considerada uma doença benigna (STOCCO et al., 1990;
CARVALHO e MARTINS, 1999; YU et al., 2000; ABARCA et al., 2001; DEL
PONT et al., 2002), a varicela foi responsável pela ocorrência de 60 óbitos
no Estado de o Paulo (ESP) no ano de 2003. Esse fato despertou a
atenção dos setores de vigilância epidemiológica de diversos níveis
envolvidos no controle da doença, sobretudo no que se refere aos fatores
preditores de óbito e gravidade. Dessa forma, foi proposta uma análise
desses fatores, que se tornou objeto do presente estudo.
Ainda que a ocorrência de surtos intra-hospitalares de varicela
seja de grande importância em saúde pública, esse fato não foi observado
nesse estudo exploratório de fatores relacionados à gravidade e óbito,
possivelmente porque o delineamento do estudo não propiciou a
sensibilidade necessária para a detecção de surtos. Contudo, sabe-se que
esse é um problema bastante relevante ainda hoje, tornando sempre
pertinente a discussão do assunto (WEBER et al., 1996; KAVALIOTIS et al.,
1998; PELLINI et al., 2005).
No Brasil, a varicela não é Doença de Notificação Compulsória
(SES/CVE-SP, 2003, 2004), exceto na ocorrência de surtos em hospitais,
estabelecimentos de ensino e comunidade em geral, ocasiões em que é
preconizada a notificação através do Sistema de Informação de Agravos
Notificáveis (SINAN), por meio do boletim de notificação de surtos. Uma
limitação decorrente dessa modalidade de notificação é que os casos
notificados através de surtos são, geralmente, restritos a uma determinada
faixa etária; não refletindo, portanto, a magnitude e o risco dessa doença.
No ano de 2003 foram notificados 58.972 casos de varicela no
Estado de São Paulo, 53,0% dos quais (31.760 casos) em menores de
quatro anos. Nessa mesma faixa etária foram constatados 47 (78,3%) óbitos
de um total de 60 (SES/CVE-SP, 2004). Desses, 34 (56,7%) incidiram em
moradores da Região Metropolitana da Grande São Paulo, sendo 22
103
(36,7%) em residentes do Município de São Paulo (SEADE, 2003). Com a
realização desse estudo, foram encontrados 42 óbitos em residentes da
RMGSP, isto é, um incremento de oito óbitos (23,5%) àqueles referidos pela
Fundação SEADE. Da mesma forma, foram identificados 11 casos não
quantificados pela mesma Fundação ou pelo PRO-AIM (Programa de
Aprimoramento das Informações de Mortalidade), com um acréscimo de
50% aos números anteriores.
De acordo com dados do Sistema de Informações Hospitalares do
Sistema Único de Saúde (SIH-SUS/DATASUS, 2006), foram contabilizadas
1.446 internações por varicela em hospitais de todo o Estado de São Paulo
no ano de 2003. Dessas, 386 (26,7%) ocorreram na Grande São Paulo,
sendo 241 (62,4%) no município de São Paulo. Todavia, com a realização
dessa pesquisa, foram identificadas 522 internações por varicela somente
nos hospitais da Grande São Paulo onde ocorreram óbitos pela doença,
denotando a acentuada subestimação dos dados de internação pelo SIH-
SUS.
Esse estudo contempla uma casuística de 522 casos de varicela,
dos quais 86,4% apresentaram quadro clínico leve ou moderado, sendo
geralmente internados por complicações da doença. Verificou-se que 71
casos (13,6%) tiveram evolução desfavorável, proporção esta considerada
alta: 42 (8,0%) evoluíram para óbito e 29 (5,6%) exibiram critérios de
gravidade sem evoluir para óbito, isto é, necessidade de suporte de terapia
intensiva, uso de drogas vasoativas e/ou intubação orotraqueal (tabela 1).
5.1 IDADE, SEXO E RAÇA
Apesar de figurar uma importante causa de morbidade em todos
os grupos etários, a infecção pelo vírus varicela-zoster (VVZ) ocorre
primariamente em crianças (CLEMENS et al., 1999; REIS et al., 2003). Em
países de clima temperado, a varicela acomete, basicamente, crianças em
idade pré-escolar e escolar (WHARTON, 1996; GENTILE et al., 2000;
WAREHAM e BREUER, 2000; DEL PONT et al., 2002; REIS et al., 2003). As
104
maiores taxas de incidência são encontradas nas faixas etárias de 1 a 9
anos, e 90% dos casos ocorrem entre 1 e 14 anos de idade (WHARTON,
1996; BELLESI et al., 2000; MANDELL et al., 2000; ABARCA et al., 2001;
LAW, 2001; KLASSEN et al., 2002; CHONG et al., 2004).
Estima-se que apenas 10% dos adultos jovens de países
desenvolvidos são suscetíveis à varicela (BELLESI et al., 2000; GENTILE et
al., 2000; YU et al., 2000; DEL PONT et al., 2002; REIS et al., 2003). Em
países em desenvolvimento, a prevalência de anticorpos da classe IgG
contra o VVZ pode ser menor do que 50% em adultos até 25 anos (OOI et
al., 1992; BELLESI et al., 2000).
De acordo com alguns estudos realizados no Brasil, a
soroprevalência da varicela em diversas faixas etárias segue um padrão
similar ao dos Estados Unidos (EUA). Em crianças de 1 a 5 anos de idade, a
soroprevalência varia, nas diferentes regiões, de 44,5% a 88,9%; e nos EUA,
está em torno de 65%. Na faixa etária de 6 a 10 anos, encontrou-se
soroprevalência de 86% no Brasil e 82% nos EUA. Em adolescentes e
adultos, essa taxa chega a 95% (CLEMENS et al., 1999).
Nos 522 casos analisados, foi encontrado um grande contingente
de crianças com menos de 10 anos de idade (95%), o que é esperado para
essa doença considerada como própria da infância. Apenas 3,6% dos
pacientes (19 casos) tinham mais do que 14 anos (tabela 5).
Considerando que as crianças estão freqüentando a escola cada
vez mais cedo, a idade média de incidência da varicela vem diminuindo
desde os anos 90 (YU et al., 2000). No presente estudo, a idade dos casos
variou de 0 a 81 anos, com média de 3,2 anos; no entanto, se
considerarmos apenas as crianças a14 anos, que representaram 96,2%
dos casos, a idade média ficou em 2,0 anos (tabela 4).
Não se observaram diferenças importantes nas médias de idade
quando comparados os grupos de evolução nas faixas etárias consideradas,
exceto quando confrontamos as médias do grupo total de óbitos (7,2 anos) e
do total de casos graves (7,4 anos) com a média de idade dos casos leves
ou moderados (2,6 anos). Isso é explicado pelo fato de que a dia é um
105
parâmetro que sofre influência de valores aberrantes, e encontramos mais
adultos nos grupos de casos graves e óbitos. Quando comparamos as
medianas de idade dos três grupos de evolução, notamos que os casos
graves e óbitos possuem duas vezes a mediana de idade dos casos leves a
moderados (tabela 4).
Foi encontrada uma freqüência maior de indivíduos do sexo
masculino (54,2%) nesse estudo (tabela 2). Em ambos os sexos,
predominaram crianças na faixa etária de 1 a 4 anos. O número de
indivíduos do sexo masculino foi maior em todas as faixas etárias, exceto na
faixa de 1 a 4 anos, onde houve um ligeiro predomínio do sexo feminino
(tabela 5).
Não houve diferenças consideráveis de evolução entre os sexos;
isto é, uma proporção bastante semelhante de homens e mulheres teve
apresentação leve ou moderada da doença, bem como evolução para
gravidade ou óbito (tabela 3). Outros autores defendem que a varicela o
apresenta predileção por nenhum sexo. Da mesma forma, a varicela não
parece ter preferência por nenhuma raça específica (MEHTA e
CHARTTEGE, 2005; PAPADOPOULOS e SCHWARTZ, 2005).
Em 50% dos casos onde o dado da variável raça foi disponível, a
raça mais descrita foi a branca (71,6%) (tabela 9). Vale ressaltar que
estamos tratando de um dado bastante subjetivo, condicionado à percepção
exclusiva do indivíduo que realiza o cadastro de admissão hospitalar dos
pacientes. Os óbitos tiveram um menor percentual de raça ignorada (11,9%)
devido à presença de um campo para o preenchimento de raça/cor na
Declaração de Óbito. Não foram encontradas variações significativas nas
evoluções das diferentes raças, isto é, nenhuma raça foi um fator preditor de
gravidade ou óbito no grupo estudado (tabelas 51 e 56).
106
5.2 OCUPAÇÃO MATERNA, ESCOLARIDADE E NÚMERO DE
FILHOS
A epidemiologia da varicela pode ser influenciada pelo
comportamento social. O grau de socialização, como freqüentar creches ou
ficar em casa, é um fator de influencia nas taxas de contato e infecção pela
doença (YU et al., 2001).
Alguns autores não encontraram associação significativa entre a
prevalência de varicela e nível socioeconômico (GENTILE et al., 2000) ou
escolaridade materna (CLEMENS et al., 1999), que também é um indicador
indireto da condição socioeconômica. Na base de dados analisada não foi
encontrado nenhum trabalho que avaliasse a correlação entre níveis
socioeconômicos e complicações da doença.
A variável ocupação materna apresentou um alto índice de dados
ignorados (70%) (tabela 10). Não foram encontradas diferenças de riscos de
gravidade (p=0,416) ou óbito (p=0,347) ao se compararem mães que
trabalhavam fora com mães “do lar” (tabelas 51 e 56). Anos de estudo
materno foi uma variável com menos de 11% de preenchimento, denotando
uma falta de preocupação por parte da equipe de saúde com as condições
socioeconômicas dos pacientes.
As médias e medianas do número de filhos, segundo os
diferentes desfechos, foram bastante semelhantes (tabela 11). Não foram
notadas diferenças estatisticamente significantes nas médias dos três
grupos de evolução (p=0,237). Também não foi encontrada associação de
número de filhos com gravidade (p=0,253) ou óbito (p=0,829) por varicela
(tabelas 51 e 56).
107
5.3 ESPAÇO, CLIMA E DENSIDADE DEMOGRÁFICA
Alguns fatores geográficos como temperatura e umidade podem
interferir na transmissão da varicela. A combinação umidade e temperaturas
mais elevadas parece promover a inativação do VVZ e a redução de sua
transmissão, contribuindo para a menor eficiência na disseminação do vírus
nas regiões tropicais (CLEMENS et al., 1999; REIS et al., 2003; CHONG et
al., 2004).
Apesar de apresentar grande amplitude, com distribuição mundial,
a varicela é menos prevalente em crianças nas regiões de clima equatorial e
tropical, o que se traduz em um maior número de adultos suscetíveis nessas
localidades (OOI et al.,1992; CLEMENS et al., 1999; BELLESI et al., 2000;
YU et al., 2000; RAWSON et al., 2001; REIS et al., 2003; CHONG et al.,
2004).
REIS et al. (2003) avaliaram a prevalência de infecção pelo VVZ
em áreas urbanas de diferentes regiões climáticas do Brasil, encontrando
uma soroprevalência significativamente inferior nas regiões de clima tropical
(89,4%) comparativamente às regiões de clima temperado (97,3%). Esses
achados corroboram com a afirmação de que o fator climático pode
influenciar na epidemiologia dessa doença. O município de São Paulo, onde
residiam cerca de 80% dos pacientes (tabela 13), possui clima subtropical ou
tropical de altitude (WIKIPÉDIA, 2006).
A alta densidade demográfica é um fator que facilita a
disseminação da varicela (REIS et al., 2003). Em grandes centros urbanos,
onde existe maior aglomeração, a infecção tende à maior prevalência em
crianças até 3 anos do que em áreas rurais (YU et al., 2000). Encontramos
uma maior distribuição dos casos de varicela por km
2
em residentes dos
Distritos Administrativos localizados em áreas com alta densidade
demográfica do município de São Paulo (figuras 4 e 5).
A Zona Leste do município de São Paulo está situada no centro
da Região Metropolitana. Segundo dados da prefeitura municipal (2006),
esta é uma área bastante populosa da capital, com cerca de 3,3 milhões de
108
habitantes (33% do total paulistano e 17,8% da população da Região
Metropolitana), e com um IDH médio de 0,478 (baixo).
Os casos internados na Zona Leste do município tiveram um risco
estimado de óbito cerca de 4 vezes maior do que os pacientes internados
em outras regiões de São Paulo (OR=4,31; IC95%=2,00-9,30) (tabela 56).
No entanto, dois hospitais da Zona Oeste receberam casos mais graves da
doença (tabela 16), possivelmente encaminhados de outras instituições, pelo
fato de funcionarem como hospitais de referência para doenças infecciosas.
Vale ressaltar que não foi possível realizar o cálculo dos
coeficientes de incidência, visto que, sendo a varicela um agravo notificável
apenas em situações de surtos, não foi possível obter a totalidade de casos
dessa doença no ano de 2003.
5.4 PESO, ALTURA, TIPO DE PARTO E TABAGISMO
O peso ao nascer foi um dado disponível em apenas 35,0% da
amostra total e 50,0% dos menores de um ano. Essa variável foi avaliada
apenas nos menores de um ano, uma vez que somente nesse grupo etário
poderia atuar como condição predisponente. Observou-se que a média de
peso ao nascer foi menor no grupo de óbitos quando comparada às médias
dos grupos de casos leves a moderados e graves sem óbito (tabela 17),
porém, com diferenças não significantes entre as respectivas médias
(p=0,177 e p=0,125). Essa variável não esteve associada a óbito (p=0,180)
ou gravidade (p=0,355) por varicela (tabelas 52 e 57).
O dado sobre o tipo de parto foi ignorado em 54,2% da amostra.
O histórico de cesarianas nos pacientes que tinham essa informação foi alto
em todos os grupos (42,3%), variando de 34,8%, no grupo com evolução
grave sem óbito a 43,3% no grupo com evolução leve a moderada (tabela
18). De acordo com o Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos
(SINASC) do Ministério da Saúde, as cesáreas representaram, em 2002,
cerca de 40% dos partos realizados no país. Dessa forma, o índice
encontrado de partos cesarianos reflete a realidade brasileira.
109
Quando avaliada a associação de antecedente de parto normal e
os diferentes desfechos, não foram encontradas diferenças estatisticamente
significantes quando comparados os óbitos com não óbitos (OR=1,18;
IC95%=0,37-3,71), e o total de casos graves com os casos não graves
(OR=1,48; IC95%=0,70-3,14) (tabelas 52 e 57).
A associação do tabagismo com pneumonia por varicela foi
avaliada por diversos autores (WAREHAM e BREUER, 2000; MOHSEN e
MCKENDRICK, 2002; HO e TAI, 2004). No presente estudo, o histórico de
tabagismo na família foi obtido em apenas 19,5% dos casos que, em geral,
internaram em hospitais onde o Serviço de Assistência Social tinha como
rotina a entrevista dos familiares. Nos pacientes com informação sobre essa
variável, evidenciou-se uma proporção maior de tabagistas entre familiares
de pacientes graves (75,0%) e óbitos (75,0%) quando comparada à
proporção no grupo de casos leves a moderados (57,0%) (tabela 19).
No teste de associação estatística entre tabagismo e os
desfechos, não foram encontradas diferenças significativas quando
comparados os óbitos com não óbitos (OR=2,13; IC95%=0,41-11,10), e o
total de casos graves com os casos não graves (OR=2,27; IC95%=0,67-
7,59) (tabelas 52 e 57).
5.5 CONDIÇÕES PRÉVIAS, MEDICAMENTOS DE USO
CRÔNICO, INTERNAÇÕES PRÉVIAS
Geralmente, a varicela se apresenta como uma doença benigna
em crianças sadias, mas pode ser complicada e grave, sobretudo em
neonatos, adultos, indivíduos imunocomprometidos, com neoplasia ou em
uso de corticosteróides, levando a uma alta morbimortalidade nesse grupo
(STOCCO et al., 1990; CLEMENS et al., 1999; BELLESI et al., 2000; YU et
al., 2000; ABARCA et al., 2001; RAWSON et al., 2001; DEL PONT et al.,
2002; KLASSEN et al., 2002; REIS et al., 2003; SES/CVE-SP, 2004; HO e
TAI, 2004). Mesmo as crianças saudáveis estão sujeitas a quadros de
110
infecções bacterianas secundárias, podendo chegar até a um
comprometimento sistêmico intenso.
Um grave cenário para a varicela ocorre quando incide em
pacientes imunodeprimidos, nos quais o VVZ geralmente determina doença
grave ou fatal (CARVALHO, 1995; CARVALHO e MARTINS, 1999). Foram
encontrados apenas três pacientes com síndrome da imunodeficiência
adquirida nesse estudo, porém todos evoluíram sem gravidade.
Foram investigadas também as condições de base, uso de
medicamentos e internações prévias apresentados pelos pacientes para
avaliar possíveis associações com os desfechos da doença. Dos 271 casos
com informação sobre doenças de base, 206 (76,0%) referiam possuir
alguma condição prévia (tabela 20). As enfermidades mais referidas em
todos os grupos foram as afecções do aparelho respiratório (50,0%). No
grupo de óbitos encontrou-se maior prevalência de afecções neurológicas
(31,8%), sangüíneas (27,3%) e cardíacas (18,2%) do que nos demais
grupos (tabela 21). Não foram encontradas diferenças estatisticamente
significantes quando o antecedente de doença de base foi comparado nos
grupos de óbitos com não óbitos (OR=1,61; IC95%=0,53-4,92), e graves
com não graves (OR=0,59; IC95%=0,29-1,18) (tabelas 52 e 57).
O uso de antiinflamatórios não-hormonais foi sugerido como
associado ao desenvolvimento de complicações infecciosas graves por
varicela (ABARCA et al., 2001). Dos 104 casos com informação sobre uso
crônico de medicações, 65 (62,5%) referiram utilizar alguma medicação
(tabela 22). A utilização de quaisquer medicações foi mais freqüente dentre
os óbitos (91,7%) do que nos demais grupos (66,7% nos graves sem óbito e
57,8% nos leves a moderados). Quando analisada a associação estatística
entre o uso crônico de medicações e os desfechos, não foram encontradas
diferenças significativas ao se comparar os óbitos com não óbitos (OR=5,28;
IC95%=0,63-44,11), e casos graves com não graves (OR=2,17;
IC95%=0,65-7,24) (tabelas 52 e 57).
Dos 161 casos com histórico de pelo menos uma internação
prévia, deparou-se com uma proporção maior de internações entre os óbitos
111
do que entre os demais grupos de evolução (tabela 23). A média do número
de internações entre os óbitos também foi de 1,6 a 2,0 vezes a média nos
demais grupos (tabela 24). Encontramos um risco estimado de óbito cerca
de três vezes maior entre os pacientes com internações prévias (OR=3,55;
IC95%=1,16-10,90), mas o risco de evolução grave o foi maior entre os
pacientes com internações prévias (OR=1,49; IC95%=0,73-3,00) (tabelas 52
e 57).
5.6 HISTÓRIA DE CONTATO, EXPOSIÇÕES DE RISCO
Por possuir modos distintos de transmissão (direta imediata por
contato com as vesículas ativas, e direta mediata por secreções oronasais),
a eficiência da propagação desse agente é notável, de modo a proporcionar
uma alta taxa de ataque entre suscetíveis (FERRER, 2000; GENTILE et al.,
2000; KLASSEN et al., 2002; MOHSEN e MCKENDRICK, 2002; SES/CVE-
SP, 2004).
GENTILE et al. (2000) encontraram maior soroprevalência do
VVZ em indivíduos que referiram contato com outro(s) caso(s) de varicela.
Nesse estudo, encontrou-se referência positiva de contato com casos de
varicela nos últimos 30 dias em apenas 120 casos (23%) (tabela 26). Não foi
encontrada a negativa desse dado, e sim a ausência de referência do
mesmo no prontuário. Interessantemente, nos pacientes onde se referia
contato com casos da doença, foi também obtido o número de contatos de
101 dos 120 pacientes (84,2%), que descreveram, em média, 1,5 contatos
(tabela 27). Não foi possível avaliar os desfechos segundo essa variável,
pois não havia a negativa do dado.
O período de incubação da doença varia de 10 a 21
dias, com
média de 14 a 16 dias; contudo, pode ser mais curto em indivíduos
imunocomprometidos (MANDELL et al., 2000; FELDMAN, 2002; KLASSEN
et al., 2002; RIBEIRO et al., 2003; SES/CVE-SP, 2004). Não foi possível
112
calcular a média do período de incubação dos pacientes desse estudo, pois
não havia referência sobre a data do contato em 92% dos casos.
O período de transmissibilidade se inicia, por via respiratória, um
a dois dias antes do aparecimento do exantema, se estendendo até que as
vesículas se tornem crostas, com queda de sua contagiosidade com o
passar dos dias (STOCCO et al., 1990; WHARTON, 1996; CARVALHO e
MARTINS, 1999; FELDMAN 2002). Em pessoas com comprometimento da
imunidade, a transmissibilidade pode se estender além dos clássicos sete
dias após o aparecimento das vesículas (MANDELL et al., 2000; FELDMAN,
2002; KLASSEN et al., 2002; RIBEIRO et al., 2003; SES/CVE-SP, 2004).
Não conseguimos obter parâmetros da duração da doença ou do tempo
potencial de transmissão da varicela, pois muitos pacientes podem ter
recebido alta hospitalar ainda com vesículas ativas, e os dados sobre a
suspensão do isolamento hospitalar não eram consistentes.
YU et al. (2000) demonstraram que o contato com o VVZ ocorre
logo no início da infância nas crianças que freqüentam estabelecimentos
públicos de ensino. Diversos trabalhos defendem que em estabelecimentos
de ensino, principalmente em creches, a incidência de varicela é maior do
que nas crianças da população geral. Também já foi demonstrado que,
nesses locais, as manifestações clínicas dos casos secundários são mais
intensas e graves do que no caso índice. Esse fato é decorrente da
replicação do agente, que se torna mais virulento a cada nova infecção.
Ocorre também aumento do inóculo quando o tempo de exposição é
prolongado (BALDACCI e VICO, 2001; SES/CVE-RJ, 2003; SES/CVE-SP,
2003, 2004).
Foi possível obter a informação sobre convivência em
estabelecimentos de ensino de 120 pacientes (33%), sendo 114 crianças
menores de 15 anos, das quais 72 (63,1%) freqüentavam creches, pré-
escolas ou escolas. As crianças com evolução leve a moderada
apresentaram maior freqüência em estabelecimentos de ensino (67,0%),
contrastando com 28,6% dos óbitos (tabela 28).
113
Contrariando o demonstrado, não se observou maior risco de
gravidade (OR=0,40; IC95%=0,16-1,10) ou de óbito por varicela (OR=0,16;
IC95%=0,04-0,63) naquelas crianças que freqüentavam estabelecimentos
de ensino; ao contrário, encontramos mesmo um efeito protetor da
freqüência em tais locais contra o óbito (tabela 57). Todavia, as crianças que
freqüentavam tais estabelecimentos possuíam idade média de 2,8 anos e
mediana de 2,0 anos; significativamente maiores do que as idades média
(1,30 anos) e mediana (0,0 anos) das crianças que não freqüentavam tais
estabelecimentos (p=0,0032), denotando que o verdadeiro fator de proteção
contra o óbito pode ser a maior idade, e não a freqüência a
estabelecimentos de ensino.
O domicílio é um ambiente bastante desfavorável para os
contatos secundários no que se refere à gravidade da varicela. A taxa de
ataque secundário nesse local pode chegar a a 90%, e vários autores
defendem que a gravidade da doença aumenta a cada caso subseqüente no
mesmo domicílio (FERRER, 2000; GENTILE et al., 2000; KLASSEN et al.,
2002; MOHSEN e MCKENDRICK, 2002; SES/CVE-SP, 2004). Observa-se,
geralmente, um número 50% maior de lesões e um comprometimento do
estado geral mais intenso no grupo infectado secundariamente em
comparação aos casos primários, provavelmente em função da exposição a
uma carga mais intensa do vírus no momento do contágio (ABARCA et al.,
2001; DEL PONT et al., 2002; MOHSEN e MCKENDRICK, 2002; SES/CVE-
SP, 2004).
Dos 122 pacientes do estudo nos quais foi possível avaliar o local
provável de exposição à varicela, 96 (78,7%) tiveram o domicílio como local
propício à exposição (tabela 30). Observou-se, nesses pacientes, que em
geral a doença foi transmitida por irmãos mais velhos, os quais
provavelmente freqüentavam instituições de ensino. Dos 12 óbitos com local
provável de exposição conhecido, 11 (91,7%) adquiriram a doença no
ambiente domiciliar, enquanto essa proporção foi de 82,3% para os casos
graves sem óbito e 75,6% para o grupo com apresentação leve a moderada.
Adquirir varicela no domicílio não foi, nesse estudo, um fator de risco isolado
114
para evolução para óbito (OR=2,70; IC95%=0,34-123,2) (p=0,689) ou
gravidade (OR=2,26; IC95%=0,56-10,57) (p=0,328); entretanto, devemos
considerar que a análise dessa variável pode ter sido prejudicada pelo alto
índice de informações ignoradas (76,6%) quanto ao local provável de
exposição encontrado nesse estudo (tabela 30).
5.7 VARIAÇÕES TEMPORAIS – A
CURVA EPIDÊMICA
A varicela segue um padrão sazonal, incidindo, com maior
freqüência, no final do inverno e início da primavera (WHARTON, 1996;
CARVALHO e MARTINS, 1999; MANDELL et al., 2000; PICKERING, 2000;
REIS et al., 2003; SES/CVE-SP, 2004). No Brasil, os surtos de varicela
ocorrem num padrão cíclico, aproximadamente, a cada quatro anos
(SES/CVE-SP, 2003). Na Índia ocorrem epidemias na comunidade a cada 4
ou 5 anos, e em Singapura, a cada três anos (CHONG et al., 2004).
Os casos desse estudo incidiram em todo o ano de 2003 (figura
6); contudo, observa-se uma tendência de aumento do número de casos a
partir da semana epidemiológica 31, que corresponde à semana de 27 de
julho a 02 de agosto de 2003, isto é, meados do inverno. Os casos começam
a decrescer a partir da semana epidemiológica 47 (16 a 22 de novembro),
em meados da primavera. Notamos que o aumento do número de casos
teve início mais precoce do que o esperado para essa doença, que
apresenta aumento clássico de incidência a partir do final do inverno e início
da primavera. A distribuição temporal dos óbitos acompanhou a curva
epidêmica (figura 7).
115
5.8 A DOENÇA E SUAS COMPLICAÇÕES
O quadro clínico típico da varicela é constituído de sintomas
corriqueiros das infecções virais e de erupções cutâneas geralmente bem
características (CARVALHO e MARTINS, 1999; BELLESI et al., 2000;
FERRER, 2000; PICKERING, 2000; KLASSEN et al., 2002; SES/CVE-SP,
2004). Lesões de diversos níveis de evolução podem ocorrer
simultaneamente (MANDELL et al., 2000; SES/CVE-SP, 2004). O exantema
se distribui, inicialmente, sobre o tronco, face e couro cabeludo, se
espalhando centripetamente e envolvendo outras áreas do corpo. As lesões
podem ser também encontradas, mais raramente, na mucosa da orofaringe
e vagina. A presença de dor, prurido e febre baixa também corroboram com
o diagnóstico de varicela (MANDELL et al., 2000).
No presente estudo, a febre foi o sintoma mais comum, descrita
em 90,0% dos casos, seguida de crostas (89,8%) e vesículas (79,3%). O
prurido foi presente em 173 casos (33,1%) e 162 casos (31%) apresentaram
lesões em mucosa oral (tabela 31). Nos 349 casos com duração conhecida
da febre, a média foi de 6,21 dias (tabela 32). Foi observada uma
associação entre gravidade e duração da febre (OR=1,19; IC95%=1,10-1,29;
p<0,001) (tabela 53).
Complicações de varicela podem ocorrer em 5 a 10% de todos os
casos (KLASSEN et al., 2002). Os adultos apresentam um risco 25 vezes
maior do que as crianças para o desenvolvimento de complicações de
varicela (MOHSEN e MCKENDRICK, 2002; CHONG et al., 2004; HO e TAI,
2004).
Dos 522 casos analisados, 92,1% (481) apresentaram algum tipo
de complicação: comprometimento de pele e/ou partes moles (79,4%),
pulmonares (31,4%), hemorrágicas (13,7%) e neurológicas (8,7%). Alguns
pacientes (69) apresentaram tanto complicações de pele ou partes moles
quanto pulmonares. Os dados estão em consonância com aqueles descritos
por STOCCO et al. (1990) no que se refere à incidência de complicações
pulmonares (31,9%); porém, diferem em relação ao achado de infecção
116
bacteriana secundária de pele (28,8%). Essa mesma autora avaliou as
complicações de 117 pacientes internados no Hospital Emílio Ribas (SP) em
1987. Nessa série, as complicações de pele foram mais incidentes entre as
crianças, (48,4%); e entre os adultos, predominaram as complicações
pulmonares (53,8%).
Outras complicações mais raras, tais como artrite, varicela
congênita, hepatite ou miocardite ocorreram em 13,3% dos pacientes (tabela
33).
JAEGGI et al. (1998) estudaram complicações de varicela em 113
crianças hospitalizadas na Suíça, durante 11 anos, encontrando como
complicações mais freqüentes as infecções bacterianas secundárias e o
acometimento do sistema nervoso central (SNC). Essa última acometeu,
principalmente, crianças mais velhas e mais tardiamente no curso da
varicela do que as demais complicações.
Não houve diferenças na incidência de complicações entre
adultos e crianças, com exceção das complicações raras, para as quais os
adultos apresentaram um risco cerca de 5 vezes maior do que as crianças
(OR=5,01; IC95%=1,75-14,10). Quando comparadas crianças menores de
um ano com crianças de 1 a 14 anos, foi encontrado um risco maior de
desenvolvimento de pneumonia no primeiro grupo (OR=2,39; IC95%=1,35 a
4,23).
ABARCA et al. (2001) avaliaram, entre 1997 e 1999, prontuários
de 154 pacientes com varicela, com idade até 17 anos, em centros
pediátricos de Santiago (Chile). A evolução clínica foi desfavorável em 26
crianças (17%), das quais 11 necessitaram de cirurgia e 13 apresentaram
alguma seqüela no momento da alta. As complicações mais freqüentemente
encontradas foram: infecções bacterianas (88%) de pele e partes moles
(63%) e invasivas (25%). Na análise dos fatores de gravidade foi encontrada
associação significativa com antecedente de contato domiciliar com caso de
varicela (p=0,014), trombocitopenia (p=0,017) e bacteremia à internação
(p=0,016). Dois pacientes faleceram nas primeiras 24 horas de
117
hospitalização: um devido a choque tóxico por Streptococcus
β
hemolítico do
grupo A (SGA) e outro com choque séptico por S. aureus.
As infecções bacterianas secundárias de lesões cutâneas, mais
freqüentemente causadas pelo Streptococcus
β
hemolítico do grupo A (S.
pyogenes), assim como a pneumonia viral primária (sobretudo em adultos),
constituem as complicações mais comuns da varicela (JAEGGI et al., 1998;
CARVALHO e MARTINS, 1999; BELLESI et al., 2000; PICKERING, 2000;
KLASSEN et al., 2002; SES/CVE-SP, 2004; HO e TAI, 2004).
As infecções invasivas por SGA têm adquirido, nos últimos anos,
especial relevância em várias regiões do mundo (JAEGGI et al., 1998;
CARVALHO e MARTINS, 1999; BELLESI et al., 2000; ABARCA et al., 2001;
SES/CVE-SP, 2003, 2004); ocasionando, não raras vezes, a síndrome do
choque tóxico ou um quadro necrotizante grave que, quando não fatal, é
mutilante (SES/CVE-SP, 2003).
Na América do Norte, a recente emergência, desde meados da
década de 80, do SGA invasivo, ocorreu paralela a um aumento na
freqüência de complicações das infecções por varicela (JAEGGI et al., 1998;
LAW, 2001).
No Canadá, o risco geral de infecção por SGA, incluindo fasciíte
necrotizante, é extremamente baixo; em torno de dois casos por 100.000
crianças/ano. No entanto, este risco aumenta em 46 a 60 vezes nas duas
primeiras semanas após o início da varicela (LAW, 2001).
Em estudo realizado no Chile, foram realizadas 59 culturas de
pele, com algum patógeno isolado em 41 culturas (70%). Os agentes
isolados com maior freqüência foram Staphylococcus aureus (n=30) e
Streptococcus
β
hemolítico do grupo A (n=14). Foram coletadas 102
hemoculturas, com apenas 7 (6,8%) resultando positivas: 3 com isolamento
de SGA, 3 com S. aureus e uma com outra bactéria (ABARCA et al., 2001).
Nos pacientes desse estudo, foram realizadas 111 culturas de
quaisquer sítios, das quais 29 (26,1%) resultaram positivas. Em consonância
com os trabalhos citados, o agente mais recuperado em todas as culturas foi
118
o Staphylococcus aureus, em 9 pacientes (31,0%), que também foi o mais
encontrado dentre as 17 hemoculturas positivas (47,1%) (tabela 44)
O comprometimento infeccioso da pele ou partes moles incidiu
em 79,4% dos casos desse trabalho. Tais complicações estiveram mais
presentes nos grupos de casos leves a moderados (81,6%) e graves sem
óbito (72,4%) do que no grupo de óbitos (61,5%). Dos 20 adultos da
amostra, 65% apresentaram complicações de pele ou partes moles,
enquanto que 73,5% das crianças foram acometidas dessa complicação.
Quando diferentes faixas etárias foram avaliadas, as
complicações de pele ou de partes moles acometeram 69,2% das crianças
menores de um ano, e 75,0% das crianças entre 1 e 14 anos de idade.
Com relação ao desfecho, ter complicação de pele ou partes
moles não foi considerado um fator de risco para óbito (OR=0,71; IC=0,33-
1,54) ou gravidade (OR=0,73; IC95%=0,40-1,34), ao contrário, foi um fator
protetor para esse último desfecho (tabelas 53 e 58). Essa associação
estatística de “efeito protetor” pode ter ocorrido em função das outras
complicações presentes no restante dos casos terem sido bem mais graves
e determinantes de óbito.
O tipo mais referido de manifestação de pele ou partes moles foi a
secreção purulenta, presente em 56,3% dos casos; seguido de celulite, em
41,9% dos casos (tabela 34). Dos 267 casos com informação conhecida
sobre o local da complicação (55,5%), o segmento corpóreo mais acometido
foi a cabeça (35,2%), seguido de múltiplos segmentos (34,8%) e membros
inferiores (14,6%) (tabela 35).
Em outro estudo, infecções bacterianas de pele e tecido
subcutâneo acometeram 31% das crianças, principalmente aquelas mais
jovens, e estiveram mais associadas a uma maior temperatura corpórea e
maior contagem de linfócitos periféricos, à admissão, do que as outras
complicações JAEGGI et al. (1998).
Não se encontrou diferença nas médias de temperatura corpórea
quando se compararam os pacientes com complicações de pele e partes
moles com aqueles sem essas complicações (p=0,3447). Também não
119
foram encontradas diferenças nas médias de temperatura entre os óbitos e
os pacientes que não faleceram (p=0,7564), bem como entre casos graves e
casos leves a moderados (p=1,00).
A complicação mais grave da varicela em adultos é a pneumonia
(STOCCO et al., 1990; PICKERING, 2000; WAREHAM e BREUER, 2000;
HO e TAI, 2004). Esta tem uma incidência estimada de 0,25 a 10%,
ocorrendo insidiosamente, cerca de 1 a 6 dias após o início do exantema. As
complicações pulmonares foram observadas em 151 (31,4%) dos 481 casos
com complicações.
A taxa de letalidade da varicela complicada com pneumonia varia
de 5 a 23%. Em um estudo realizado na Inglaterra e País de Gales, foi
encontrada letalidade de 42,3% entre adultos com varicela e complicações
de pneumonia (HO e TAI, 2004).
A incidência de complicações pulmonares encontradas nessa
série foi significativamente maior entre os óbitos (84,6%) e casos graves
sem evolução para óbito (72,4%), em comparação com o grupo de casos
leves a moderados (23,5%) (tabela 33). O tipo de comprometimento mais
encontrado foi a pneumonia, em 86,3% dos casos com complicações
pulmonares (tabela 37).
A letalidade em pacientes com complicações pulmonares foi de
21,8%; 14 vezes maior do que a letalidade entre pacientes com outras
complicações (1,5%). As complicações pulmonares incidiram em 45,0% dos
adultos e 28,3% das crianças abaixo de 15 anos; 38,5% das crianças
menores de um ano apresentaram essa complicação. A letalidade entre
adultos com pneumonia foi de 33,3%, e entre crianças, 21,1%.
Em 2001, MOHSEN et al. (2002) realizaram um estudo
prospectivo avaliando os fatores de risco para pneumonia em 38 adultos
com varicela. Pela primeira vez, a história de contato com crianças com
varicela no mesmo domicílio foi relatada como um fator de risco para essa
complicação em adultos (OR=7,8; IC95%=1,8-33,2). Foi encontrada também
uma associação entre “contato reconhecido com qualquer caso de varicela”
e o desenvolvimento de pneumonia (OR=4,8; IC95%=1,0-22,1). A
120
pneumonia pode ter sido a conseqüência do contato com um caso índice e o
recebimento de uma alta dose viral infectante, ocasionando um aumento da
viremia primária nos casos secundários.
No presente estudo, o contato referido com qualquer caso de
varicela não foi um fator de risco para o desenvolvimento de pneumonia
(OR=0,80; IC95%=0,48-1,33), mas o contato domiciliar com caso de varicela
aumentou em duas vezes o risco para o desenvolvimento dessa
complicação (OR=2,00; IC95%=1,17-3,40).
O tabagismo é um importante fator de risco para o
desenvolvimento de pneumonia em adultos com varicela (WAREHAM e
BREUER, 2000; MOHSEN e MCKENDRICK, 2002; HO e TAI, 2004). Em um
estudo de 67 pacientes adultos com varicela, o risco encontrado para o
desenvolvimento de pneumonia foi 15 vezes maior em fumantes do que em
não fumantes (HO e TAI, 2004). Na série descrita por MOHSEN e
MCKENDRICK (2002), o tabagismo também esteve associado com um
aumento da incidência de pneumonia (OR=11,5; IC95%=3,3-40,3).
Contrastando com os autores citados, não foi encontrada associação entre
tabagismo e complicações pulmonares no presente estudo (OR=1,80;
IC95%=0,70-4,70), possivelmente porque o tabagismo na família foi um
dado ignorado em cerca de 80% dos casos. As complicações pulmonares
aumentaram o risco de óbito em 8 vezes (OR=7,87; IC95%=1,82-34,03); e
de gravidade em 12 vezes (OR=12,74; IC95%=4,23-38,37),
independentemente das demais variáveis (tabelas 55 e 60).
Alguns autores identificaram outros fatores como
independentemente associados à pneumonia por varicela: um número de
lesões maior do que 100 (OR=15,9; IC95%=1,9-130,2) (MOHSEN e
MCKENDRICK, 2002) e o uso prévio de corticosteróides (WAREHAM e
BREUER, 2000).
Nos achados de complicações pulmonares do estudo vigente, o
tipo de comprometimento mais encontrado foi a pneumonia bacteriana, em
86,3% dos casos. A pneumonite foi referida em 6,8% dos casos, e 3,4%
apresentaram ambos os tipos de comprometimento (tabela 37). Por
121
complexidades relacionadas à investigação dos agentes etiológicos
pulmonares, os dicos classificavam as complicações pulmonares como
“pneumonia” ou “pneumonite” com base nos achados radiológicos e na
sintomatologia, o que muitas vezes pode não ser suficiente para uma correta
designação dessas entidades clínicas.
As manifestações clínicas pulmonares mais referidas foram tosse
(68,9%) e dispnéia (68,9%). A tosse foi mais presente nos casos leves a
moderados (83,5%) do que nos demais grupos. Já a dispnéia e a taquipnéia
foram sintomas mais observados nos grupos de pacientes graves e óbitos
(tabela 36). A utilização de ventilação mecânica foi necessária em 38
(25,2%) pacientes com comprometimento pulmonar.
Outras complicações mais graves e menos comuns entre
pacientes com varicela incluem distúrbios hemorrágicos, como
trombocitopenia e púrpura (STOCCO et al., 1990; HO e TAI, 2004;
SES/CVE-SP, 2004); acometimento do sistema nervoso central, como
encefalite, ataxia cerebelar aguda, meningite asséptica, mielite transversa,
polineuropatia aguda e Síndrome de Guillain-Barré (STOCCO et al., 1990;
CARVALHO e MARTINS, 1999; BELLESI et al., 2000; GILDEN et al., 2000;
MS/FUNASA, 2000); hepatite, artrite e Síndrome de Reye (JAEGGI et al.,
1998; MANDELL et al., 2000; SES/CVE-SP, 2004). Esta última,
caracterizada por encefalopatia e degeneração gordurosa do fígado, pode
ocorrer após episódios de influenza ou varicela ou uso de salicilatos (BELAY
et al., 1999). Até o início da década de 80, a Síndrome de Reye era
diagnosticada em cerca de 20% dos pacientes com complicações de
varicela, o que diminuiu drasticamente com a divulgação de sua associação
com o uso de salicilatos após episódios de varicela ou influenza (JAEGGI et
al., 1998; BELAY et al., 1999; PICKERING, 2000).
As complicações hemorrágicas e neurológicas também foram
maiores nos grupos de gravidade e óbito em comparação ao grupo de casos
leves a moderados (tabela 33).
Dentre as complicações hemorrágicas, que acometeram 66
pacientes (13,7%), a presença de vesículas ou crostas hemorrágicas foi
122
referida em 47,0% dos casos, com predomínio nos casos leves a moderados
(73,1%). Os achados de hemorragia visceral, sufusões, equimoses e
coagulação intravascular disseminada (CIVD) foram mais encontrados nos
óbitos do que nos demais grupos (tabela 38). Encontramos um risco
independente de mais de 5 vezes de evolução para óbito (OR=5,86;
IC95%=1,61-21,35) e 18 vezes para gravidade (OR=18,10; IC95%=5,11-
64,10) quando do desenvolvimento de complicações hemorrágicas (tabelas
55 e 60).
A meningite asséptica aguda é considerada uma manifestação
incomum da recrudescência pelo VVZ. É usualmente uma complicação
tardia da infecção cutânea em pacientes que apresentam uma falha da
resposta imune celular em controlar a replicação viral na pele, permitindo a
disseminação do vírus no SNC (ECHEVARRÍA et al., 1994; MAHADEEN et
al., 1997; MORIUCHI et al., 1997; GILDEN et al., 2000).
O uso prolongado de baixas doses de corticosteróides pode
causar uma predisposição à mielite e encefalite pelo VVZ, que são
apresentações clínicas relativamente comuns em pacientes
imunossuprimidos (ECHEVARRÍA et al., 1994; GILDEN et al., 2000).
Sintomas neurológicos, incluindo convulsões, acometeram 42 pacientes
(8,7%) do estudo (tabela 33).
O sintoma neurológico mais referido foi a convulsão (54,8%),
predominantemente nos casos leves a moderados (70,0%). Não foi possível
discriminar as convulsões decorrentes de quadros febris daquelas
secundárias a complicações neurológicas da doença com base nos dados
de prontuários. Em outro estudo, convulsões estiveram presentes em 12%
dos pacientes (JAEGGI et al., 1998).
A meningoencefalite foi relatada em 23,8% dos 42 pacientes com
complicações neurológicas, sendo significativamente mais presente no
grupo de óbitos (37,5%) do que nos demais grupos. A ataxia cerebelar foi
encontrada em apenas 4 pacientes, e não esteve presente entre os óbitos
(tabela 39). Num estudo de casos realizado no Chile, as complicações
123
neurológicas foram pouco freqüentes, predominando as meningoencefalites
sobre as cerebelites, classicamente descritas (ABARCA et al., 2001).
O risco estimado de óbito ou gravidade avaliado em função das
complicações neurológicas também foi alto, cerca de 10 vezes maior que o
risco de pacientes sem essas complicações (óbito: OR=9,85; IC95%=1,96-
49,51); gravidade: OR=19,44; IC95%=4,88-77,47) (tabelas 55 e 60).
Outras complicações, tais como choque séptico, hepatopatia,
miocardite, otite, artrite, glomerulonefrite ou varicela congênita estiveram
presentes em 64 pacientes (13,3%) (tabela 40). Miocardite e
glomerulonefrite tiveram uma freqüência maior no grupo de casos graves
sem evolução para óbito, enquanto hepatopatia, otite, artrite ou pioartrite
foram complicações mais prevalentes nos casos com evolução leve a
moderada. O risco de morte e de gravidade relacionado ao conjunto dessas
complicações foi maior do que 30 (OR óbito = 32,74; IC95%=8,48-126,44;
OR gravidade = OR=30,02 (IC95%=9,61-93,73) (tabelas 55 e 60).
Apenas três gestantes com varicela foram encontradas nesse
estudo, apresentando evolução de doença leve a moderada (tabela 21).
Geralmente, a infecção pré-natal não é comum, pois a maioria das mulheres
adquiriu imunidade ao vírus na infância. Contudo, a varicela em gestantes
possibilita a eventual transmissão ao feto e ao recém-nascido (FERRER,
2000; MANDELL et al., 2000; PICKERING, 2000; REIS et al., 2003). A
infecção materna nas primeiras 20 semanas de gestação leva a um risco de
doença congênita de cerca de 3%. Se a doença aparece cinco dias antes
até dois dias após o parto, o neonato desenvolve uma infecção viral
disseminada, com comprometimento multissistêmico (BELLESI et al., 2000;
GENTILE et al., 2000; MANDELL et al., 2000). A apresentação clínica dessa
forma de doença tem sido caracterizada por cicatrizes na pele, hipoplasia de
extremidades, anormalidades oculares e evidência de danos no sistema
nervoso central. A letalidade desse evento tem sido estimada em 30%
(MANDELL et al., 2000; PICKERING, 2000). Apenas um caso de varicela
congênita foi encontrado e faleceu (tabela 40).
124
Vale ressaltar que o óbito é um evento relativamente raro na
varicela, intrinsecamente relacionado às complicações dessa doença. As
complicações pulmonares, neurológicas ou hemorrágicas são graves de per
si; isto é, mesmo surgindo em outro contexto independente da varicela.
5.9 LETALIDADE E MORTALIDADE
A taxa de letalidade em crianças saudáveis é de 2 para cada
100.000 casos (MANDELL et al., 2000). Ainda que a varicela apresente uma
letalidade relativamente baixa em crianças sadias, em recém-nascidos pode
chegar até 30%, e em crianças com comprometimento da imunidade, a
letalidade tem variado de 7 a 20% (GENTILE et al., 2000; CHONG et al.,
2004; HO e TAI, 2004).
Apesar da varicela entre adultos corresponder a apenas 5 a 16%
do total de todos os casos notificados, 27 a 35% dos óbitos ocorrem nesse
grupo (CLEMENS et al., 1999; BELLESI et al., 2000). Na Inglaterra e País de
Gales, entre 1985 e 1997, encontrou-se uma proporção ainda maior de
óbitos entre os adultos, que responderam por 81% das mortes (RAWSON et
al., 2001).
A taxa de letalidade global encontrada foi de 8,0% (42/522), muito
semelhante àquela encontrada por STOCCO et al. (1990), de 8,5%. As
complicações pulmonares com septicemia posterior responderam pela maior
parte dos óbitos encontrados por essa autora.
Da mesma forma, encontramos, entre adultos, uma taxa de
letalidade de 15,8%; e nos menores de 15 anos, de 7,8% (tabela 7);
análogas às taxas de letalidade relatadas no estudo de STOCCO et al.
(1990) para adolescentes ou adultos (15,4%) e crianças (6,6%).
Em uma série de 154 pacientes com varicela internados no Chile
(ABARCA et al., 2001), foi encontrada letalidade geral de 1,2%; e nas
infecções invasivas, de 5,3%. No presente estudo, não foi encontrado
nenhum óbito entre os casos que tiveram como única complicação infecções
125
de pele ou partes moles (114 casos). Nos casos com comprometimento
pulmonar exclusivo, a letalidade foi de 6,45%; mas se considerarmos os
casos com infecção pulmonar com ou sem outras complicações
(neurológicas, de pele ou partes moles ou hemorrágicas), a letalidade
alcançou 21,8%.
O coeficiente de mortalidade específico por varicela se situa em
torno de 25 por 100.000 adultos de 30 a 49 anos; 0,75 por 100.000 crianças
de 1 a 14 anos, e 6,23 por 100.000 crianças menores de 1 ano (CHONG et
al., 2004). Segundo alguns autores, os adolescentes e adultos têm um risco
25 a 30 vezes maior de morrer por varicela em comparação às crianças
saudáveis (GENTILE et al., 2000; CHONG et al., 2004; HO e TAI, 2004). No
Chile, entretanto, a maioria dos óbitos por varicela incide em crianças.
O coeficiente encontrado de mortalidade por varicela foi de
0,23/100.000 habitantes. Nota-se que o coeficiente de mortalidade diminuiu
na medida em que a faixa etária aumentou (tabela 6), denotando um risco
significativamente maior em crianças, conforme encontrado por ABARCA et
al. (2001); mas diferente dos achados de RAWSON et al. (2001), que
denotaram um risco maior de óbito por varicela nos indivíduos com 65 anos
ou mais, e menor na faixa etária de 5 a 14 anos.
O risco de morrer por varicela entre os pacientes desse estudo foi
de 0,79 por 100.000 crianças até 14 anos, contrastando com o risco de
0,02/100.000 em adolescentes e adultos (RR = 36; IC95%=11,15-116,75). O
coeficiente de mortalidade pela doença na faixa etária de 1 a 14 anos foi de
0,63 por 100.000 crianças. O risco de morrer pela doença foi cerca de cinco
vezes maior na faixa etária de menores de 1 ano quando comparada à faixa
de 1 a 14 anos (RR = 4,77; IC95%=2,32-9,78).
Quando os coeficientes de mortalidade específicos por varicela
foram calculados segundo o sexo, encontrou-se um coeficiente de
0,28/100.000 habitantes do sexo masculino e 0,18/100.000 habitantes do
sexo feminino, configurando um risco 50% maior para os homens. Na
Inglaterra e País de Gales, entre 1985 e 1997, os óbitos foram duas vezes
mais comuns em homens (RAWSON et al., 2001).
126
5.10 INTERVALOS ENTRE EVENTOS MÓRBIDOS
O tempo de internação dos casos variou de zero a 48 dias. A
duração média de internação dos casos foi de 5,8 dias (tabela 41); em
outros estudos, a média variou de 4,9 (ABARCA et al., 2001), a 7,1 dias
(JAEGGI et al., 1998). Foram detectados 71 pacientes (13,6%) com
necessidade de tratamento em UTI, semelhante ao descrito no estudo de
ABARCA et al. (2001), no qual 14,2% dos pacientes da série foram
hospitalizados na UTI.
Avaliando-se o tempo médio de internação segundo as
complicações, evidenciou-se uma média de 5,8 dias de internação entre
pacientes com complicações de pele e partes moles; 7,2 dias quando de
complicações pulmonares, 8,3 dias na vigência de complicações
hemorrágicas e 6,5 nos pacientes com comprometimento neurológico.
No estudo de ABARCA et al. (2001), o tempo de hospitalização foi
significativamente maior entre os pacientes com infecções invasivas (9,3
dias) em relação às outras complicações como infecções de pele ou partes
moles (3,5 dias) e neurológicas (3,6 dias).
O tempo entre o início dos sintomas e as complicações variou de
0 a 24 dias, com média de 3,9 dias (3,7 nos casos leves a moderados; 4,8
nos casos graves e 4,6 dias nos óbitos). O tempo entre o início dos sintomas
e o desenvolvimento de complicações de pele e partes moles foi, em média,
de 3,7 dias. Esse tempo foi menor do que no grupo de pacientes sem
complicações de pele ou partes moles (4,9 dias), com diferença significante
(p=0,0125). O intervalo médio entre o início dos sintomas e o
desenvolvimento de complicações pulmonares variou de 0 a 24 dias, com
média de 4,3 dias, o diferindo da média dos pacientes com outras
complicações (4,1 dias; p=0,7390).
Na série de ABARCA et al. (2001), o tempo transcorrido entre o
início da varicela e as complicações foi, em média, de 8,3 dias; variando
segundo o tipo de complicação: 3,6 dias nas infecções bacterianas
127
invasivas, 4,9 dias nas neurológicas e 6,8 dias nas infecções de pele e
partes moles, com todas as diferenças não significativas.
5.11 DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E PROFILAXIA
O diagnóstico da varicela é eminentemente clínico, e se baseia
nas características do exantema, no aparecimento de lesões vesiculares em
dias sucessivos e na história de contato (CARVALHO e MARTINS, 1999;
MANDELL et al., 2000; KLASSEN et al., 2002).
CLEMENS et al. (1999) demonstraram que a história clínica de
varicela apresenta uma alta correlação com a soropositividade ao VVZ, com
um valor preditivo positivo de 95,1%. O diagnóstico dos pacientes do estudo
atual foi feito com base na sintomatologia clínica.
O tratamento da varicela, em geral, é sintomático. Utilizam-se
loções para alívio do prurido e analgésicos para reduzir a febre e a dor
(CARVALHO e MARTINS, 1999; KLASSEN et al., 2002). O uso de
antibióticos se necessário somente para os casos em que houver
infecções bacterianas secundárias das lesões ou invasivas.
Diversas classes de medicamentos foram utilizadas nos pacientes
internados por varicela: antibióticos para o tratamento das infecções
concorrentes, antitérmicos para o controle dos estados febris, sintomáticos
tópicos para o alívio dos sintomas de pele e partes moles, antivirais para a
redução do tempo de sintomas e complicações e outros medicamentos
(antihistamínicos, broncodilatadores, corticoterápicos, antieméticos,
antiinflamatórios, protetores gástricos, analgésicos, sedativos, etc).
Os antibióticos foram a classe de drogas mais administrada em
todos os grupos de pacientes desse estudo (92,1%) (tabela 47). O tempo
médio de uso de antibióticos variou de 1 a 35 dias, com média de 5,3 dias,
sendo maior no grupo de pacientes graves sem evolução para óbito (14,7
dias) quando comparado ao tempo médio nos outros grupos (leve a
moderado=4,9 e óbito=3,3 dias) (tabela 50). A taxa de utilização de
antibióticos foi mais que o dobro daquela encontrada no Canapor LAW
128
(2001), onde cerca de 40% dos pacientes hospitalizados com varicela
necessitam de antibioticoterapia para o tratamento de infecções bacterianas
secundárias.
Os antitérmicos foram a segunda categoria de medicamentos
mais utilizados (79,5%); os picos vieram em terceiro lugar, com 66,9% de
utilização geral.
O antiviral aciclovir previne a replicação do VVZ e tem potencial
para erradicar este vírus, aliviando os sintomas da doença num período mais
curto (KLASSEN et al., 2002) e com mínimos efeitos adversos. Está indicado
para o tratamento específico de quadros graves de varicela no
imunodeprimido e em neonatos com encefalite, pneumonia ou forma
disseminada da doença, devendo, nesses casos ser utilizado precocemente
(CARVALHO e MARTINS, 1999; MANDELL et al., 2000; KLASSEN et al.,
2002). Alguns autores defendem sua administração nos pacientes maiores
de 12 anos com varicela, portadores de distúrbios crônicos, e pacientes em
uso de corticosteróides; e outros, ainda, para casos secundários
domiciliares, nos quais a doença tende a ser mais severa (PICKERING,
2000).
No trabalho de KLASSEN et al. (2002) o aciclovir foi efetivo em
reduzir o número de dias com febre em crianças com varicela quando
administrado dentro de 24 horas após o início do exantema, porém, sem
resultados consistentes no que se refere à redução do tempo e intensidade
do exantema.
Em nosso meio, o aciclovir oral não é recomendado para uso de
rotina em crianças saudáveis com varicela. Os antivirais tiveram uma
utilização geral baixa (16,9%) na amostra desse trabalho. Quando a duração
média da febre foi avaliada de acordo com a utilização do aciclovir,
encontrou-se um tempo de duração maior naqueles pacientes que utilizaram
esse medicamento (7,6 dias) em comparação àqueles que não utilizaram
(5,9 dias), diferença esta estatisticamente significante (p=0,0020),
contrastando com os achados de KLASSEN et al. (2002). No entanto, no
trabalho de KLASSEN, o aciclovir foi utilizado em crianças saudáveis, e em
129
nossa amostra, essa droga foi mais administrada para os pacientes graves
(58,6%) e óbitos (40,5%).
Dessa forma, a importância do aciclovir no tratamento de crianças
saudáveis com varicela permanece controversa, uma vez que este antiviral
confere benefícios bastante modestos para a doença que, em geral, é
benigna nesta população.
O tratamento de pneumonite associada à varicela com aciclovir é
controverso. Uma análise retrospectiva de pacientes tratados com essa
droga demonstrou alguns benefícios; mas não há, ao momento, ensaios
clínicos controlados e randomizados que comprovem a eficácia do
tratamento desta complicação (WAREHAM e BREUER, 2000). Esse dado
não foi avaliado nesse estudo, pelo fato da pneumonite ter sido
diagnosticada em apenas 10 pacientes.
O uso adjunto de corticóides tem demonstrado alguma eficácia na
redução do tempo de permanência hospitalar nos pacientes com varicela,
mas não na diminuição da mortalidade geral por esta doença (WAREHAM e
BREUER, 2000). Corticosteróides não tiveram emprego de rotina em nossos
pacientes, sendo utilizados em apenas 10% dos casos, geralmente
associados a medicamentos broncodilatadores para o tratamento de
comorbidades como bronquite e asma.
O uso de corticosteróides no tratamento da encefalite por varicela
não tem demonstrado resultados convincentes (CARVALHO e MARTINS,
1999). Foi encontrada utilização de corticóides em 7 (18,4%) dos 38
pacientes que apresentaram acometimento neurológico, dos quais 4
evoluíram para óbito.
No Brasil, a vacina contra a varicela está disponível nos Centros
de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs) desde 1999, indicada
para os pacientes suscetíveis à varicela que serão submetidos a transplante
de órgãos sólidos, para bloqueio em hospitais e imunização de profissionais
de saúde (MS/FUNASA, 2001; SES/CVE-SP, 2003, 2004). No Estado de
São Paulo, somente a partir de 2003 esta vacina passou a compor o
conjunto de medidas adotadas para o controle de surtos de varicela em
130
creches (SES/CVE-SP, 2003, 2004). Considerando a maior gravidade da
varicela em crianças que freqüentam estes estabelecimentos, a vacina está
indicada a partir da ocorrência do primeiro caso, no período máximo de até 4
semanas após o último caso. Nesses locais, recomenda-se a vacinação de
crianças suscetíveis de um a cinco anos de idade (SES/CVE-SP, 2004).
Não foi possível avaliar a cobertura vacinal contra a varicela no
presente estudo, pois não tivemos acesso aos cartões de vacinação, e os
dados específicos sobre as vacinas utilizadas não constavam dos
prontuários.
5.12 LIMITAÇÕES DO ESTUDO
É importante ressaltar algumas limitações desse estudo: (1) o
preenchimento incorreto e incompleto de alguns atestados de óbito, o que
tornou difícil a coleta de algumas variáveis; (2) a falta de consistência de
alguns dados de prontuários médicos, principalmente no que se refere aos
antecedentes sociodemográficos, pessoais e epidemiológicos, e em alguns
hospitais, até mesmo a ausência de dados clínicos e procedimentos
realizados, fatos que acabaram por dificultar a classificação de alguns casos
dentro dos critérios propostos; (3) Serviços de Arquivos e Prontuários
Médicos não informatizados, dificultando ou até mesmo impossibilitando o
acesso aos prontuários.
131
6 CONCLUSÃO
Este estudo permitiu a análise de um grande número de variáveis
dos pacientes residentes na Região Metropolitana da Grande São Paulo que
apresentaram varicela em 2003. Em consonância com o objetivo de oferecer
bases técnicas para futuras intervenções voltadas ao controle e prevenção
dessa doença, foi possível traçar um perfil descritivo dos pacientes do
estudo.
O conhecimento do comportamento clínico e epidemiológico da
varicela, com destaque para a detecção de grupos de risco e fatores
preditores de pior prognóstico, deve extrapolar o âmbito da pesquisa e ser
incorporado na rotina do sistema de vigilância epidemiológica.
A coleta rotineira de informações permitiria não apenas uma
detecção mais oportuna dos casos isolados, gerando medidas de controle
mais ágeis, mas também a detecção mais precoce de surtos, tão
comumente ocasionados por esse agravo com alto potencial de
disseminação e múltiplas vias de transmissão, sobretudo nos ambientes
institucionais, hospitalares e de ensino.
Os resultados encontrados confrontam com o mito de uma
doença outrora denominada benigna. Potenciais complicações vinculadas à
alta transmissibilidade da varicela e o pior prognóstico dos casos
secundários corroboram para sua relevância como agravo em saúde pública.
Dessa forma, a melhora da informação sobre essa doença se faz premente.
Com essa pesquisa realizada com base em prontuários,
percebeu-se a falta de consistência e qualidade de dados epidemiológicos e
até mesmo clínicos, com prejuízo para a análise de algumas variáveis já
consagradas, em amplas bases literárias, como determinantes de pior
evolução.
Certamente são necessários mais estudos, com delineamentos
diversos do presente, em especial para a avaliação do impacto do uso em
grande escala da principal medida de controle existente para esse agravo
a vacinação.
132
O atual sistema de vigilância epidemiológica não permite o
conhecimento da magnitude e do risco da varicela. A partir do exposto, fica
evidente a necessidade de um sistema de vigilância dedicado à coleta
sistemática de dados sobre esse agravo, uma vez que as informações
existem e poderiam chegar aos setores de interesse com melhor qualidade e
foco.
Nesse estudo de fatores preditores de gravidade e óbito, as
seguintes variáveis demonstraram associações independentes para os
desfechos de interesse, de acordo com a análise de regressão logística
múltipla:
complicações pulmonares - óbito: OR=7,87 (IC
95%
=1,82-34,03);
gravidade: OR=12,74 (IC
95%
=4,23-38,37; p<0,001);
complicações hemorrágicas - óbito: OR=5,86 (IC
95%
=1,61-21,35);
gravidade: OR=18,10 (IC
95%
=5,11-64,10);
complicações neurológicas - óbito: OR=9,84 (IC
95%
=1,96-49,51);
gravidade: OR=19,44 (IC
95%
=4,88-77,47);
complicações raras - óbito: OR=32,74 (IC
95%
=8,48-126,44); gravidade:
OR=30,02 (IC
95%
=9,61-93,73);
cirurgia na internação - gravidade: OR=10,26 (IC
95%
=1,71-61,52).
Exposições de interesse como o tabagismo, freqüência em
estabelecimentos de ensino, contato domiciliar com caso(s) de varicela e
comorbidades, embora amplamente definidas como fatores de risco para
complicações e óbito por varicela, nesse estudo não se mostraram como
determinantes dos desfechos de interesse.
O amplo conhecimento, em nosso meio, da epidemiologia da
varicela, de suas complicações e dos fatores de risco para o óbito e
gravidade por essa doença, é de extrema importância para fundamentar a
implementação de estratégias de prevenção e controle desse agravo nos
grupos de maior risco, colaborando ainda para uma melhor avaliação dessas
ações.
133
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139
ANEXO 1 RELAÇÃO DE MUNICÍPIOS DAS DIREÇÕES
REGIONAIS DE SAÚDE I A V – REGIÃO METROPOLITANA DA
GRANDE SÃO PAULO.
DIREÇÃO
REGIONAL DE
SAÚDE (DIR)
MUNICÍPIOS CÓDIGO MUNICÍPIOS CÓDIGO
I – CAPITAL São Paulo 3550209
II – SANTO
ANDRÉ
1. Diadema
2. Ma
3. Ribeirão Pires
4. Rio Grande da
Serra
3513801
3529401
3543303
3544103
5. Santo André
6. São Bernardo do
Campo
7. São Caetano do
Sul
3547809
3548708
3548807
III – MOGI DAS
CRUZES
1. Arujá
2. Biritiba Mirim
3. Ferraz de
Vasconcelos
4. Guararema
5. Guarulhos
6. Itaquaquecetuba
3503901
3506607
3515707
3518305
3518800
3523107
7 Mogi das Cruzes
8 Poá
9 Salesópolia
10 Santa Isabel
11 Suzano
3530607
3539806
3545001
3546801
3552502
IV – FRANCO
DA ROCHA
1. Caieiras
2. Cajamar
3. Francisco Morato
3509007
3509205
3516309
4. Franco da Rocha
5. Mairiporã
3516408
3528502
V – OSASCO
1. Barueri
2. Carapicuíba
3. Cotia
4. Embú
5. Embú-Guaçu
6. Itapecerica da
Serra
7. Itapevi
8. Jandira
3505708
3510609
3513009
3515004
3515103
3522208
3522505
3525003
9. Juquitiba
10. Osasco
11. Pirapora do Bom
Jesus
12. Santana do
Parnaíba
13. São Lourenço da
Serra
14. Taboão da Serra
15. Vargem Grande
Paulista
3526209
3534401
3539103
3547304
3549953
3552809
3556453
140
ANEXO 2a - REQUERIMENTO PARA A CONSULTA DE
PRONTUÁRIOS NOS HOSPITAIS
São Paulo, 30 de julho de 2004.
Ilmo Sr. ______________________________________________________
Diretor Técnico (Clínico) do Hospital______________________________
Vimos, por meio desta, solicitar sua colaboração para a
realização de uma pesquisa baseada em prontuários médicos nos Hospitais
do Estado de São Paulo, onde ocorreram óbitos por varicela no ano de
2003. O principal objetivo desta pesquisa é o estudo dos fatores preditores
de óbitos decorrentes de complicações por varicela no referido ano, que se
configurou hiperendêmico para a doença e com uma significativa taxa de
óbitos.
Além de responder à necessidade de conhecimento destas
informações pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, este estudo
também será objeto do mestrado da médica Alessandra Cristina Guedes
Pellini, aluna de pós-graduação da Faculdade de Saúde Pública da USP e
treinanda do EPI-SUS/SP (Programa de Treinamento em Epidemiologia
Aplicada aos Serviços do Sistema Único de Saúde), que fará a pesquisa dos
prontuários nos hospitais. Em anexo, enviamos os seguintes documentos:
1) parecer da Coordenadoria de Controle de Doenças da
Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, favorável à pesquisa;
2) parecer do Comitê de Ética da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo, favorável à pesquisa;
3) parecer do Centro de Vigilância Epidemiológica Professor
Alexandre Vranjac CVE-SES/SP), do Centro de Prevenção e Controle de
Doenças (CCD) e da Diretoria Regional de Saúde (DIR) I, favoráveis à
pesquisa;
4) relação dos prontuários necessários à pesquisa.
141
Quanto à salvaguarda dos dados de cada paciente, será
mantido o mais absoluto sigilo e a privacidade das informações. Os dados
coletados e resultados serão agregados junto àqueles dos demais serviços
de saúde participantes, compondo um quadro estatístico geral.
Solicitamos, assim, a gentileza de disponibilizarem os
prontuários relacionados anexos o mais breve possível.
Colocamos-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos e
agradecemos, desde já, sua atenção.
Atenciosamente,
_________________________________________________
Prof. Dr. Péricles Alves Nogueira
Orientador - Professor Associado do
Departamento de Epidemiologia
FSP/USP
_______
_________________________________________
Dra. Alessandra Cristina Guedes Pellini
Aluna de Mestrado da FSP/USP
142
ANEXO 2b - RELAÇÃO DE PACIENTES PARA A PESQUISA DE
PRONTUÁRIOS
1) Nome: _____________________________________________________
Data de Nascimento: ____/____/____
Data do Óbito: ____/____/____
Número do Atestado de Óbito: ___________
2) Todos os prontuários dos pacientes internados com diagnóstico de
entrada ou saída de varicela, no período de 01/01/2003 a 31/12/2003.
Quando disponíveis os prontuários, solicitamos a gentileza de entrar
em contato com Alessandra Cristina Guedes Pellini, pelos telefones:
Celular: (0xx11) 71820950
Residência: (0xx11) 30236384
Divisão de Doenças de Transmissão Respiratória do Centro de Vigilância
Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”: (0xx11) 30668236 / 30820957
143
ANEXO 3 INSTRUMENTO PARA A INVESTIGAÇÃO DE
CASOS DE VARICELA INTERNADOS NO ANO DE 2003.
Data ____/____/____
CLASSIFICAÇÃO [ ] Leve a Moderado [ ] Grave não óbito [ ] Óbito
1 IDENTIFICAÇÃO
1.1 Número do prontuário__________ Hospital ______________________
1.2 Nome____________________________________________________
1.3 Data de nascimento ____/____/____ Idade____a ____m____d
1.4 Sexo [ ] masculino [ ] feminino
1.5 Raça [ ] branca [ ] parda [ ] negra [ ] outras _____ [ ] ignorado
1.6 Nome da mãe _____________________________________________
1.7 Escolaridade materna ____ anos de estudo Número de filhos ______
1.8 Ocupação materna [ ] do lar [ ] outros _____________ [ ] ignorado
1.9 Município (UF) e DIR de nascimento ___________________________
1.10 Município (UF) e DIR de residência ____________________________
1.11 Endereço completo _________________________________________
_____________________________________________________________
1.12 Distrito administrativo de residência ____________________________
1.13 Município (UF) e DIR de internação ____________________________
2 ANTECEDENTES PESSOAIS E FAMILIARES
2.1 Peso atual ____ kg Estatura atual ____ cm
2.2 Peso ao nascer _____ gramas Estatura ao nascer ____cm
2.3 Tipo de parto [ ] normal [ ] cesariano [ ] ignorado
2.4 Tabagismo na família (paciente/familiares) [ ] sim [ ] não [ ] ignorado
2.5 Doença Base [ ] sim [ ] não [ ] ignorado
2.6 Descrever doença(s) de base _________________________________
2.7 Uso crônico de medicações [ ] sim [ ] não [ ] ignorado
2.8 Descrever medicamentos utilizados ____________________________
2.9 Internações prévias [ ] sim [ ] não [ ] ignorado Nº. internações ___
2.10 Antecedentes vacinais [ ] vacinação em dia (visto cartão) [ ]
vacinação em dia (referido no prontuário) [ ] atrasada [ ] ignorado
2.11 Antecedentes familiares _____________________________________
3 ANTECEDENTES EPIDEMIOLÓGICOS
3.1 Contato com caso de varicela últimos 30d [ ] sim [ ] não [ ] ignorado
3.2 Local do contato [ ] creche [ ] pré-escola [ ] escola [ ] vizinhança
[ ] domicílio [ ] trabalho [ ] hospital [ ] outros___________ [ ]
nenhum [ ] ignorado Número de contatos _____
3.3 Data do contato ____/____/____ Período de incubação _____ dias
3.4 Município (UF) e DIR do contato _______________________________
144
3.5 Freqüenta [ ] creche [ ] pré-escola [ ] escola [ ] nenhum
[ ] outros ________________________________________ [ ] ignorado
3.6 Local provável de exposição à varicela [ ] creche [ ] pré-escola
[ ] escola [ ] vizinhança [ ] domicílio [ ] trabalho [ ] hospital [ ]
outros locais ________________________________________ [ ] ignorado
4 ASPECTOS CLÍNICOS, DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E EVOLUÇÃO
4.1 Hospital de Internação ______________________________________
4.2 Hospital / UBS / PA de encaminhamento ________________________
4.3 Data da internação ____/____/____
4.4 Hipóteses diagnósticas iniciais ________________________________
_____________________________________________________________
4.5 Tempo de internação (dias) total ___ PS ___ Enfermaria ___ UTI ____
4.6 Data dos primeiros sintomas ____/____/____
4.7 Data do exantema ____/____/____ Duração do exantema _____dias
4.8 Data da febre____/____/____ Duração da febre _____dias
4.9 Sinais e sintomas [ ] pápulas [ ] vesículas [ ] úlceras [ ] crostas
[ ] bolhas [ ] stulas [ ] base eritematosa [ ] prurido [ ] sinais
flogísticos [ ] febre_____ º.C [ ] lesão oral [ ] cefaléia [ ] mal-estar [ ]
mialgia [ ] artralgia [ ] náuseas [ ] vômitos [ ] hiporexia [ ]
linfadenopatia (local _________________) [ ] dor abdominal [ ] diarréia
[ ] alteração da orofaringe [ ] alteração da otoscopia [ ] outros________
4.10 Complicações [ ] sim [ ] não [ ] ignorado
4.11 Data da complicação____/____/____
4.12 Complicações de pele/partes moles [ ] sim [ ] não [ ] ignorado
{[ ] infecção secundária [ ] secreção purulenta [ ] abscesso [ ] celulite
[ ] fasciíte necrotizante [ ] outras________________________________}
4.13 Local da complicação de pele/partes moles ______________________
4.14 Complicações pulmonares [ ] sim [ ] não [ ] ignorado {[ ] tosse
[ ] dispnéia [ ] taquipnéia [ ] pneumonite [ ] pneumonia bacteriana [ ]
pneumonia intra-hospitalar [ ] IRpA [ ]VM/IOT [ ] outras______________}
4.15 Complicações hemorrágicas [ ] sim [ ] não [ ] ignorado {[ ]
vesículas hemorrágicas [ ] petéquias [ ] equimoses [ ] sufusões [ ]
hemorragia gengival [ ] hemorragia conjuntival [ ] hemorragia visceral [ ]
plaquetopenia [ ] CIVD [ ] outras_______________________________}
4.16 Complicações neurológicas [ ] sim [ ] o [ ] ignorado {[ ]
convulsões [ ] meningite asséptica [ ] encefalite [ ] meningoencefalite
[ ] ataxia cerebelar aguda [ ] mielite transversa ascendente [ ] síndrome
de Guillain Barré [ ] outras______________________________________}
4.17 Outras complicações [ ] sim [ ] não [ ] ignorado {[ ] Síndrome
de Reye [ ] varicela congênita [ ] varicela em gestante [ ] hepatopatia
[ ] miocardite [ ] artrite/pioartrite [ ] otite [ ] sepse [ ] outras
complicações raras _____________________________________________}
4.18 Seqüelas [ ] sim [ ] não [ ] ignorado (descrever ______________)
145
4.19 Tratamento e duração: descrever drogas utilizadas e tempo.
4.20 Antibióticos [ ] sim [ ] não [ ] ignorado {_____________________
____________________________________________________________}
4.21 Antivirais [ ] sim [ ] não [ ] ignorado {_______________________
____________________________________________________________}
4.22 Antitérmicos [ ] sim [ ] não [ ] ignorado {_____________________
____________________________________________________________}
4.23 Sintomáticos tópicos [ ] sim [ ] não [ ] ignorado {_____________
____________________________________________________________}
4.24 Drogas vasoativas [ ] sim [ ] não [ ] ignorado {________________
____________________________________________________________}
4.25 Tipo de isolamento [ ] contato [ ] respiratório para aerossóis [ ]
sem discriminação do tipo [ ] nenhum [ ] ignorado [ ] outros _________
4.26 Medicamentos prescritos na alta e duração____________________
4.27 Evolução [ ] cura [ ] seqüelas [ ] óbito [ ] ignorado
4.28 Data da saída (alta ou óbito)
____/____/____ L
ocal do óbito___________
4.29 Hipóteses diagnósticas finais _______________________________
5 EXAMES COMPLEMENTARES
EXAMES ADMISSÃO ÚLTIMO
HEMOGRAMA _____/_____/_____ ______/_____/_____
Hcias/Hb/Ht / / / /
Leucócitos (bast/segm) ( / ) ( / )
(LT/LA/baso/eos/mono) ( / / / / ) ( / / / / )
Plaquetas (x. mil)
mil
mil
BIOQUÍMICA _____/_____/_____ ______/_____/_____
Glicose / Amilase / /
BT / BD / BI / TGO / TGP / / / / / / / /
Na / K / U / Crea / / / / / /
CPK / DHL / FA / GGT / / / / / /
PtT / Alb / Glob / / / /
Cl / Ph / Ca / Mg / / / / / /
COAGULOGRAMA _____/_____/_____ ______/_____/_____
TP / AP / TTPA / Fibrinog. / / / / / /
CULTURAS _____/_____/_____ ______/_____/_____
Hemocultura
Cultura de _____________
RX TÓRAX _____/_____/_____ ______/_____/_____
Descrição
LCR _____/_____/_____ ______/_____/_____
Céls (Hcias / PMN / MN) ( / / )
( / / )
Ptn / Glicose / Cl
-
/GRAM / / / / / /
OUTROS _____/_____/_____ ______/_____/_____
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