Download PDF
ads:
ADRIANA JULIANO MENDES DE CAMPOS
ABORDAGEM INTERSEMIÓTICA
DA LITERATURA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
desafios e perspectivas
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ADRIANA JULIANO MENDES DE CAMPOS
ABORDAGEM INTERSEMIÓTICA
DA LITERATURA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
desafios e perspectivas
Tese apresentada ao Instituto de Biociências,
Letras e Ciências Exatas da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
como parte dos requisitos exigidos para
obtenção do título de Doutor em Letras, área
de concentração em Teoria da Literatura, sob a
orientação do Prof. Dr. Carlos Daghlian
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
2006
ads:
Campos, Adriana Juliano Mendes de.
Abordagem intersemiótica da literatura na educação básica : desafios e
perspectivas / Adriana Juliano Mendes de Campos. - São Jodo Rio Preto:
[s.n], 2006
243 f.; 30 cm.
Orientador: Carlos Daghlian
Tese (doutorado) Universidade Estadual Paulista, Instituto de
Biociências, Letras e Ciências Exatas
1. Literatura - História e crítica - Teoria, etc. 2. Dialética. 3. Abordagem
interdisciplinar do conhecimento. 4. Interdisciplinaridade. 5. Metodologia. 6.
Intersemiótica. I. Daghlian, Carlos. II. Universidade Estadual Paulista,
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. III. Título.
CDU - 82.09
TERMO DE APROVAÇÃO
ADRIANA JULIANO MENDES DE CAMPOS
ABORDAGEM INTERSEMIÓTICA DA LITERATURA
NA EDUCAÇÃO BÁSICA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Tese aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor com o seguinte
parecer registrado de próprio punho pelos membros titulares
PARECER CONCLUSIVO DA BANCA EXAMINADORA
A tese visa a discutir as bases teóricas e as orientações pedagógicas dos
documentos oficiais que estabelecem as diretrizes para o ensino de Literatura e a apresentar
uma proposta para a compreensão da emergência de temas que se manifestam, numa dada
época, nas diferentes artes. O estudo pretende tornar as relações intersemióticas algo
didaticamente assimilável. O conceito de isotopia, redefinido por ela, permite examinar os
temas que se manifestam, num dado momento, em diversas semióticas.
Tendo em vista o exposto, consideramos aprovada a tese da candidata.
COMISSÃO JULGADORA
Titulares
Presidente e Orientador: Prof. Dr. Carlos Daghlian (UNESP/ IBILCE)
examinador: Prof. Dr. José Luiz Fiorin (FFCHL-USP)
examinador: Profª Drª Elêusis Mirian Camocardi (UNIMAR)
examinador: Prof. Dr. Sérgio Vicente Motta_(UNESP/ IBILCE)
examinador: Profª Drª Susanna Busato Feitosa (UNESP/ IBILCE)
Suplentes
examinador: Prof. Dr. Antonio Manoel dos Santos Silva (UNESP/IBILCE)
examinador: Prof. Dr. Kanavillil Rajagopalan (UNICAMP)
examinador: Profª Drª Edilene Dias Matos (PUC/SP)
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
2006
DADOS CURRICULARES
ADRIANA JULIANO MENDES DE CAMPOS
NASCIMENTO 27.6.1962 – UBERABA/MG
FILIAÇÃO Mozart Mendes dos Santos
Maria Alice Juliano Mendes
FORMAÇÃO
1974/1981 Conclusão do Curso Técnico em Instrumento Musical:
piano- grau- Conservatório Estadual de Música “Renato
Frateschi”- Uberaba- MG
1980/1983 Graduação em Letras
Universidade de Uberaba- MG
1995/1997 Graduação em Pedagogia
Faculdade de Educação, Ciências e Letras Urubupungá- SP
1997/1998 Especialização em Metodologia e Didática do Ensino Superior
Faculdades Integradas de Jales/ Inbrape- Jales- SP
1998/2000 Pós-Graduação em nível de Mestrado, UNESP/ IBILCE-SJRP-
SP
2002/2006 Pós-Graduação em nível de Doutorado, UNESP/IBILCE
SJRP- SP
ATIVIDADES PROFISSIONAIS EXERCIDAS
1986/1992 Professora efetiva de Português na rede pública de SP
1993/1998 Coordenadora Pedagógica na rede pública de SP
1999 Vice-Diretora na rede pública de SP
2000/2004 Assistente Técnico-Pedagógica de Língua Portuguesa na
Diretoria de Ensino –Região de Jales – SP
ATIVIDADES PROFISSIONAIS EM EXERCÍCIO
1996-2005 Professora de Literatura Brasileira e Lingüística na graduação e no
centro de Pós-Graduação do UNIJALES- SP
2004/2005 Afastamento para estudos concedido pela SEE/SP
Programa Bolsa Mestrado junto à DER/Jales- SP
Participação nos Programas de Capacitação EMR e SARESP
2005 Professora do Programa de Formação Continuada Teia do Saber
Metodologia do Ensino de Leitura e Escrita
UNESP – SJRP e UNIJALES – Jales - SP
PUBLICAÇÕES
1. As Secretas causas no conto machadiano Revista Literária do UNIJALES – I COLL/2001
2. O Paralelismo fono-sintático-semântico na leitura de “Construção”-II COLL/2002
3. O Efeito paródico, o lúdico e as projeções do barroco no “Grande Mentecapto”- Revista
Cerrados nº12, ano 15, UnB, 2003.
4. The mediation, their methodological implications and the matter of the environmental
theme. Tradução e publicação em inglês de texto de ARNONI, M.E.B. A mediação, suas
implicações metodológicas e o problema do meio ambiente, no Discursus Journal após
apresentação no Seminário de Educação Ambiental, Portugal, Maio de 2003.
5. O Tribalismo como transfiguração do político. UNIJALES- III COLL/2003
6. Conto ou crônica: paralelas que tangenciam. UNIJALES-IV COLL/2004
7. Didática da ruminação dos significados. UNIJALES- V COLL/2005.
8. Em busca do domínio da linguagem formal. Revista eletrônica UNIJALES- 2006.
PRÊMIO
Todas as meninas se emanciparam. I Prêmio de Literatura Lygia Fagundes Telles
realizado pela SEE/ SP- CRE Mario Covas em 2003, em homenagem aos 80 anos da
autora. Concurso Professor Escritor, com premiação na Academia Paulista de Letras em
2004, publicação da coletânea que contém o ensaio e distribuição, em nível estadual, no
ano de 2005.
Aos professores de Linguagens,
alunos de Letras e educadores em geral,
que trabalham dia- a- dia
acreditando num amanhã mais poético,
numa educação mais articulada
e numa geração mais crítica.
AGRADECIMENTOS
À Secretaria de Estado da Educação de São Paulo que me concedeu, pelo Programa Bolsa
Mestrado, o afastamento parcial de 16 horas semanais para estudos;
À Diretoria de Ensino Região de Jales pelo apoio, credibilidade e estímulo de todos;
Ao Centro Universitário UniJales pelo incentivo e necessidade científica do aprimoramento
docente;
Ao meu orientador ímpar, comendador e Prof. Dr. Carlos Daghlian pela atenção, rigor e
amizade com que me apontou caminhos seguros, permeados por uma orientação inestimável,
com a competência e humildade dos sábios;
Ao prof. Dr. Antonio Manoel dos Santos Silva pela leitura paciente de alguns de meus
trabalhos científicos durante o percurso da pós-graduação e pelas sugestões valiosas por
ocasião do exame de qualificação, atitude digna dos mestres;
À profª Drª Susanna Busato Feitosa pela apreciação apresentada no exame de qualificação,
apontando o caminho de uma produção mais autônoma na tese;
À querida Prof. Drª Maria Eliza Brefere Arnoni, amiga de todas as horas, com quem discuto,
dialeticamente, metodologias educacionais e existenciais;
À prof. Drª Zuleika de Felice Murrie pelo envio eletrônico de sugestão bibliográfica;
Ao prof. Dr. José Luis Vieira pelos questionamentos;
Ao prof. e autor de manuais didáticos José de Nicola pelas informações e diálogo atencioso;
Às bibliotecárias do Ibilce Gislaine e Maria Luiza pelo auxílio na normalização do trabalho;
Ao meu marido Nelson, filhos Neto e Guilherme, minha mãe, Maria Alice, e irmãos Fausto e
Hamilton e demais parentes pelo incentivo e apoio;
Ao meu pai, Mozart Mendes dos Santos (in memorian) pelo exemplo, paixão pelo
conhecimento e pela Literatura, multiplicando o saber desde a fundação do Colégio Frei
Eugênio, em Uberaba- MG, onde construiu uma família de educadores;
A Deus, por me permitir a práxis do que aprendo todos os dias, o que me torna uma pessoa
realizada, idealista, inquieta e em constante busca, na expectativa de dividir o compreendido.
“A literatura assume muitos saberes. Num
romance como Robinson Crusoé, um saber histórico,
geográfico, social (colonial), técnico, botânico, antropológico (
Robinson passa da natureza à cultura). Se, por não sei que
excesso de socialismo ou barbárie, todas as nossas disciplinas
devessem ser expulsas do ensino, exceto uma, é a disciplina
literária que deveria ser salva, pois todas as ciências estão
presentes no monumento literário.
[...]a literatura faz girar os saberes, não fixa, não
fetichiza nenhum deles; ela lhes dá um lugar indireto e esse
indireto é precioso. [...] trabalha nos interstícios da ciência[...]
[...] encena a linguagem em vez de, simplesmente
utilizá-la, [...] engrena o saber no rolamento da reflexividade
infinita: através da escritura, o saber reflete incessantemente
sobre o saber, segundo um discurso que não é mais
epistemológico mas dramático”.
(Fragmento do Discurso da aula inaugural da cadeira
de Semiologia Literária do Colégio de França
pronunciado em 07 de Janeiro de 1977).
Roland Barthes, Aula, 1978
p.18-19.
Sumário
Lista de Abreviaturas
Resumo/ Abstract
Introdução 15
Capítulo I- É discutível o conceito de Literatura?
23
1.1 Seleção do Corpus 24
1.2 Método 32
1.3 O currículo de Língua Portuguesa em debate 42
1.3.1 O Modelo da década de 70 sob a mira dos PCNEM 44
1.3.2 A organização do 1º grau : Os Guias Curriculares 47
1.3.3 Proposta Curricular de LP -1º grau 50
1.3.4 Concepção teórico-metodológica de abordagem da Literatura
na Proposta Curricular de Português 2º grau 53
1.4 O Modelo decorrente da LDBEN 9394/96 67
1.4.1 Perspectiva teórico-metodológica de abordagem da Literatura
nos PCNEM 74
Capítulo II Fruição Compreensiva do código estético:
exigência ética para a escola no século XXI
84
2.1 Concepções teórico-metodológicas nos PCN+ 85
2.2 Orientações Curriculares do Ensino Médio 90
2.2.1 Abordagem da Literatura nas Orientações Curriculares 99
2.2.2 Avaliação do Currículo de Literatura a partir da crítica aos PCNEM 106
2.3 Abordagem da Literatura no manual didático 112
2.4 Recuperação concisa de conceitos e fundamentos da Semiótica à guisa
de elucidação dos docentes da Educação Básica 126
2.4.1 Percepção da interdisciplinaridade enquanto forma de representação
sócio-cultural das diversas semióticas 136
2.4.2 O paradigma intersemiótico como modelo praxiológico de abordagem
da Literatura para o séc. XXI 140
Capítulo III Abordagem Intersemiótica da Literatura:
Questões Teóricas e Aplicadas
148
3.1 Para além do ut pictura poésis 154
3.2 Abordagem intersemiótica: competências e habilidades, objetos
estéticos e elementos de análise 166
3.2.1 Proposição 168
3.2.1.2 Natureza do material
3.2.1.3 Enfoque metodológico: etapas de execução da intersemiose 169
A) Roteiro de análise semiótica da canção 170
B) Roteiro de análise semiótica da pintura 170
C) Roteiro de análise semiótica da literatura 171
D) Roteiro de análise semiótica do filme 172
3.3 Aplicação da proposição metodológica de abordagem intersemiótica 173
A) Interpretação da Semiótica da Canção- “Construção” 173
B) Interpretação da Semiótica da Pintura – tela “Operários” 180
C) Interpretação da Semiótica da Literatura- poema “Tragédia Brasileira” 184
D) Interpretação da Semiótica do Cinema- filme “ Tempos Modernos” 188
3.4 Princípios teórico-metodológicos da proposição de abordagem
intersemiótica da Literatura 191
3.5 Subsídios para mobilização da capacidade de interpretabilidade
do aluno na proposição de abordagem intersemiótica 197
Conclusão 201
Referências bibliográficas 210
Bibliografia consultada 218
Anexos 222
Anexo A- Entrevista inicial realizada com os Professores 222
Anexo B- Entrevista com autor do manual didático 223
Anexo C – Guias Curriculares (1975)- Objetivos Gerais 228
Anexo D- Guias Curriculares (1975) Objetivos Específicos 229
Anexo E- Matriz de Competências e Habilidades ENEM 238
Anexo F- Ficha Diagnóstica do Aluno 240
Anexo G- Quadro dos Gêneros Textuais- Cenpec/2002 241
Anexo H- Adaptação do Quadro das Habilidades para o Ciclo II 242
Autorização para reprodução 244
Gráficos utilizados na apresentação da Defesa
LISTA DE ABREVIATURAS
A seguir, são transcritas as siglas usadas neste trabalho:
ATP – Assistente Técnico-Pedagógico
CEB- Câmara de Educação Básica
CEE- Conselho Estadual de Educação
CEI- Coordenadoria de Ensino do Interior
CFE – Conselho Federal de Educação
CENP- Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Cultura
CNE – Conselho Nacional de Educação
DCNEM – Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio
DE- Delegacia de Ensino
DER- Diretoria de Ensino Região de...
EAD- Educação à Distância
EB- Educação Básica
EF- Ensino Fundamental
EM- Ensino Médio
ENEM- Exame Nacional do Ensino Médio
FDE- Fundação para o Desenvolvimento da Educação
FNDE- Fundação Nacional de Desenvolvimento
FUNDEF- Fundação para o Desenvolvimento do Ensino Fundamental
GC – Guias Curriculares - 1975
HTPC- Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo
LBOND – Literatura Brasileira- das origens aos nossos dias
LD – Livro(s) Didático(s)
LDBEN- Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC- Ministério da Educação e Cultura
OC- Orientações Curriculares do Ensino Médio, 2004
OP- Oficina Pedagógica
OT- Orientação(ões) Técnica(s)
PISA- Programa Internacional de Avaliação de Alunos
PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais
PCN+ - Parâmetros Curriculares Nacionais (Mais)
PCNEF – Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental
PCNEM - Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio
PCLP- Proposta Curricular para o ensino de Língua Portuguesa
PISA- Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
PNLD- Plano Nacional do Livro Didático
PNLEM – Plano Nacional do Livro do Ensino Médio
PUC – Pontifícia Universidade Católica
RES- Resolução
SAEB- Sistema de Avaliação da Educação Básica
SARESP- Sistema de Avaliação do Rendimento das Escolas de São Paulo
SEE/SP- Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
TIC- Tecnologias da Informação e Comunicação
TL- Teoria da Literatura
UE- Unidade(s) Escolar(es)
UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
UNICAMP – Universidade de Capinas
USP – Universidade de São Paulo
Adriana Juliano Mendes de Campos. ABORDAGEM INTERSEMIÓTICA DA LITERATURA
NA EDUCAÇÃO BÁSICA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS. Tese de Doutorado apresentada à
Universidade Estadual Paulista (UNESP), câmpus de São José do Rio Preto, SP, 2006.
RESUMO
Esta tese tem como objetivo refletir sobre resultados educacionais recentes relativos à
formação leitora, observando a adequação das concepções de Literatura expressas nos
documentos oficiais e manuais didáticos do final do século XX. O estudo tem início
problematizando, a partir da LDB/71, a oposição central entre o conhecimento formal, linear e
fragmentado e os desafios para superação deste modelo pela práxis dialética e interdisciplinar.
Analisa o paradigma da transição que a LDBEN/96 estruturou para a esfera escolar, no século
XXI, explicitando pressupostos teóricos da semiótica, implícitos na versão original dos
PCNEM/99 e textos complementares. Confrontando códigos verbais e não-verbais como a
literatura, a pintura, a música e o cinema, propõe uma perspectiva de abordagem
intersemiótica do conteúdo estético, a título de referencial de operacionalização docente para
a Educação Básica. Sistematiza traços específicos, estabelecendo relações de divergência
formal e de isotopia temática, interpretando gêneros de diferentes suportes, ao utilizar
ferramentas e recursos, inclusive tecnológicos, com vistas à dinamização das atividades de
leitura e escrita escolar, em consonância com o paradigma pós-moderno.
Palavras-chave: Dialética; Educação; Interdisciplinaridade; Intersemiótica; Literatura;
Metodologia; Teoria.
Adriana Juliano Mendes de Campos. INTERSEMIOTIC APPROACH TO LITERATURE IN
BASIC EDUCATION: CHALLENGES AND PERSPECTIVES. Doctor’s dissertation presented to
the State University of São Paulo (UNESP), campus of São José do Rio Preto, State of São Paulo,
Brazil, 2006.
ABSTRACT
This dissertation deals with the adequacy of conceptions with regard to the teaching of
Literature outlined in Brazilian public documents, guidelines and handbooks that deal with the
preparation of readers in the field of Basic Education. Based on the “Law of Educational
Policies and Support” (LDB/71), this study problematizes the central opposition between
formal, linear and fragmented knowledge and points to the challenges for overcoming such a
model by means of dialectic and interdisciplinary praxis. The paradigm in the transition that
the “National Law of Educational Policies and Support”(LDBEN/96) established for schools
in the course of the present century is also analyzed in this study as well as the more recent
PCNEM/99 (National Curricular Parameters for High School) guidelines including
complementary texts that argue for the presence of semiotics in the school curriculum.
Confronting verbal and non-verbal codes such as literature, painting, music and cinema, the
document proposes an intersemiotic approach to aesthetic content, as a mark of reference for
the teaching of literature at the secondary school level. It systematizes specific characteristics
and establishes relations of formal divergence and thematic isotopy when interpreting genres
of different types, uses tools and resources, including technological ones, contributing to the
dynamization of school reading and writing activities in accordance with the post-modern
paradigm.
Key-words: Dialectics; Education; Interdisciplinarity; Intersemiotics; Literature;
Methodology; Theory.
INTRODUÇÃO
Existe um longo histórico de pensadores, filósofos, teóricos da literatura e críticos
consagrados que sugeriram diferentes formas de abordagem da arte e da Literatura desde a
Antigüidade grega, tecendo considerações amesmo antagônicas sobre as possibilidades de
apreensão do objeto estético, com o decorrer do tempo. Ora aceitaram que a Literatura abriga
conhecimentos históricos, sociológicos, psicológicos, ora incidiram sobre seu poder de
imanência, oscilando pela análise intra ou extraliterária em seu bojo, fator que explica a
amplitude de concepções na área. Tal heterogeneidade desencadeou a situação atual de
incongruência por que passam os saberes escolares relativos ao componente estético, cujo
foco historicamente recaiu sobre caracteres externos.
Seria redundante descrever o percurso de produção da Teoria da Literatura_ com
bibliografia importada e traduzida, extensa e acessível_ para explicar essa incongruência.
Optamos, então, por observar o movimento das formulações teórico-metodológicas que a
Literatura assumiu na sistematização do currículo da Educação Básica, a partir das linhas que
procuram explicar a evolução das linguagens nas últimas décadas. Direcionamos o viés da
pesquisa pelo conhecimento acadêmico, elegendo como categoria de análise a função estética
que permeia os capítulos, do levantamento de problemas conceituais e desafios à proposição
final de abordagem que a pesquisa apresenta.
Para investigar qual concepção de Literatura fundamentava a abordagem escolar
no Ensino Médio da rede pública do estado de São Paulo, realizamos, em 2002, entrevista
inicial com os professores de Língua Portuguesa vinculados à Coordenadoria de Ensino do
Interior.
16
82% dos pesquisados declararam seguir as orientações dos PCNEM (BRASIL,
1999), razão pela qual eles se constituíram em corpus central de análise e 68% declararam
utilizar manuais didáticos, dado que motivou a seleção de um exemplar representativo dentre
o conjunto adotado. O questionário apontou que 42% dos docentes da região noroeste paulista
buscavam subsídio no manual Literatura Brasileira – das origens aos nossos dias (NICOLA,
1986, 1990, 1999) por ter sido pioneiro no tratamento do conhecimento literário, fator que o
impeliu a representar o segmento editorial. Com o intuito de investigar a concepção de
Literatura que o livro insemina na formação dos leitores adolescentes e que tipo de
metodologia adota, examinamos as três edições com a finalidade de levantar hipóteses a
respeito da opção docente.
O conteúdo e a natureza das alterações apresentadas nas duas versões
complementares dos PCNEM, os PCN+ (BRASIL, 2002) e OCEM (BRASIL, 2004) também
passaram a ser objeto de investigação, visto que evidenciaram o movimento de linhas
divergentes pautando a regulamentação nacional do ensino. Porém, para delimitar a
investigação ao contexto específico do Estado de São Paulo e à região de São José do Rio
Preto, tornou-se necessário examinar os documentos estaduais (SÃO PAULO, 1975, 1977,
1986, 1987, 1992, 1998) que orientaram as concepções de ensino na área, advindos das
últimas reformas, em busca da fundamentação que modelizou a práxis docente.
Por este prisma, contrastando historicamente orientações oficias e não oficiais
dispostas nos referenciais, foi instigante desvendar a razão pela qual o coletivo docente realiza
determinados procedimentos metodológicos e opta pela adoção de certos materiais e recursos
e não por outros subsídios. Tal indagação constituiu questão mais encorpada para verificação
de hipóteses de pesquisa, superando a evidência dos dados quantitativos iniciais coletados na
entrevista.
17
Constatamos que os Guias Curriculares ( SÃO PAULO, 1975, p.16-17) orientaram
genericamente habilidades a partir da 5ª série do Ensino Fundamental: “O aluno deve realizar
operações de leitura das obras literárias de seu nível e interesse, independentemente ou não;
identificar alguns gêneros literários; recriar textos e produzir outros em sua própria
linguagem”. A Proposta Curricular para o ensino de Língua Portuguesa, oriunda da reforma
do grau, reconheceu a singularidade do texto literário e apontou como um dos objetivos da
escola na área de linguagem “desenvolver uma concepção adequada de escrita e de texto e dos
recursos expressivos que permitem interpretar “inclusive” os textos do acervo histórico e
cultural[...]”. Finalizou o item 2.2.4, de subsídios para reflexão curricular com a
recomendação de Ilari
1
: “procuremos dar, antes de mais nada à escrita, à linguagem culta e à
literatura um caráter de vivência”. (SÃO PAULO, 1991, 4 ed. p.48 grifo nosso).
O desafio colocado aos professores de Língua Portuguesa nas últimas três décadas
de transição secular se dividiu em alguns pontos: a) de que forma desenvolver, na escola,
concepção adequada de texto literário e dos recursos expressivos que permitem interpretar o
acervo cultural; b) como dar à literatura o caráter recomendado, diante dos inúmeros
problemas pelos quais passa o público leitor brasileiro, especialmente os adolescentes, que
requerem metodologia apropriada à sua natureza dinâmica e c) como operacionalizar uma
abordagem moderna e mais eficiente da produção estética.
Encorpando os dilemas citados, a Proposta Curricular para o ensino de Português-
grau, versão preliminar (SÃO PAULO, 1987 p.11-12) declara: “a literatura tem sido
ensinada numa perspectiva informativa [...] a crítica a esses procedimentos e os resultados
obtidos não têm se encaminhado para uma real mudança de postura”. Leite
2
advertia, há vinte
anos: “não se deve utilizar os textos literários apenas como pretexto para a identificação de
características de época, de biografia do autor, de determinada escola literária ou para
1
apud SÃO PAULO, 1991, 4 ed. p. 26.
2
apud SÃO PAULO, 1992, p.45.
Cf LEITE, 1983, Invasão da Catedral, p. 65.
18
exercitar o domínio de conceitos e regras gramaticais”. Recomendava: “não basta transmitir
aos alunos os princípios da teoria literária, mas trabalhar com eles para construir
cotidianamente esse saber sobre a literatura, repropondo, de forma problemática, o seu
objeto”.
A referida proposta orientou, quanto à articulação dos conteúdos, no processo de
recepção de textos literários: “os alunos devem atentar para sua organização, para o uso que
se faz da linguagem e para os efeitos produzidos, evidenciando a função dos recursos
expressivos utilizados pelo autor e o ponto de vista em que ele se coloca”. (SÃO PAULO,
1987, p.13 grifo nosso). Recomendou a abordagem comparativa entre os diversos tipos de
texto como rico filão a ser explorado e, por fim, advertiu que se estudassem os textos
literários em sua especificidade, contextualizados em relação à época de produção.
As recomendações se sucederam, bem como a dinâmica de formação docente para
incorporação das tendências multiplicadas no período, porém, até o presente, a maioria dos
profissionais parece manter os velhos procedimentos, por falta de novo paradigma de
abordagem.
Após cerca de uma década da publicação da Proposta paulista de grau, os
PCNEM constatam: “O conceito de texto literário é discutível. Machado de Assis é literatura,
Paulo Coelho não. As explicações não fazem sentido para o aluno, que declara: ‘Drummond é
literato porque vocês afirmam que é, eu não concordo[...] Por que Zé Ramalho não é
literatura? Ambos são poetas, não é verdade?’ (BRASIL, 1999, p.138, 139, grifos nossos). O
documento federal ressalta: “o gostar ou não de determinada obra de arte ou de qualquer autor
exige antes um preparo para o aprender a gostar” [...] “conhecer e analisar as perspectivas
autorizadas seria um começo para a construção das escolhas individuais”( idem, p. 129). No
entanto, permanece o desafio para os professores, divididos entre as declarações dos alunos,
exigências da ação didática e proposições dos documentos oficiais.
19
Na tentativa de complementar as lacunas do texto de 99, os PCN+ (BRASIL,
2002, p.13) criticam a versão pré-universitária do EM destacando que os conteúdos devem ser
assegurados na formação básica. Em virtude da adoção de novos critérios enfatizam: “os
saberes disciplinares não devem se apartar do domínio das linguagens e os saberes práticos
devem se associar aos aspectos gerais e abstratos, tão bem quanto aos éticos e estéticos”.
Porém, a passagem da área de linguagens, dos PCNEM (BRASIL, 1999) para a ênfase nas
competências interativa, gramatical e textual da língua nos PCN+ (BRASIL, 2002) foi
interpretada como incongruência e retrocesso.
Avaliando as iniciativas federais anteriores, as Orientações Curriculares do Ensino
Médio destacam: “Cabe ao ensino de língua aprofundar no EM o processo de apropriação das
diversas formas de textos, mais complexas e, em especial, no que se refere à formação do
leitor literário [...] em mídias diversas, considerando-as práticas letradas que possibilitam
inserção sociocultural do jovem no mundo”. (BRASIL, 2004, p.19)
O documento federal, ainda não oficial até a conclusão deste estudo, critica a
separação da compreensão e produção dos discursos de sua contextualização, a abordagem
quase exclusiva da linguagem verbal (oral ou escrita) dentre as demais linguagens e a
restrição apenas ao estudo da literatura, dentre as várias artes. Em suma, o texto avalia: “não
houve acréscimo em operacionalização e exemplificação nos PCN+”, falha agravada pela
“manutenção da disciplinarização da área” e do currículo do EM, ainda “regido pelos
vestibulares, dividido entre estudos gramaticais, das escolas literárias e prática de produção
dissertativa”. (idem, p.27).
A problemática exposta permite inferir que a práxis literária pouco se alterou no
período sob análise, mantendo-se apenas no plano da reflexão, demandando, deste modo,
novo paradigma para o século XXI. Considerando o quadro, no momento em que os estudos
lingüísticos revitalizaram os conceitos de linguagem, língua e texto, submetendo os gêneros
20
textuais a enfoque discursivo e social, destacamos a necessidade de reorganizar dinâmica e
criteriosamente a disposição teórico-metodológica do componente estético no currículo,
desenvolvendo habilidades de compreensão integrada e global das linguagens e mídias.
Para fixar critérios e fundamentação que supere o caráter arbitrário que o ensino da
literatura assumiu, como se pôde verificar nas declarações dos alunos, evidenciamos o esteio
do tratamento das questões literárias nas contribuições do Formalismo Russo e do
Estruturalismo, traduzidos no Brasil após a década de 60. Estas vertentes lançaram o
arcabouço que sustenta a teoria da literatura como ciência a partir do século XX, liberando-a
da perspectiva informativa e externa, adotada não na escola, mas por parte da própria
crítica literária brasileira.
O conceito de literariedade (JAKOBSON, Praga, 1921)
3
fundamenta a categoria
eleita para analisar as concepções. Com o propósito de redimensionar a amplitude da função
estética, consultamos as fontes que prenunciaram o modelo intersemiótico. Lingüistas e
filósofos da linguagem como Charles Sanders Peirce (séc.XIX), Ferdinand de Saussure, Louis
Hjelmslev e Roman Jakobson lançaram as bases dos estudos lingüísticos integrados aos
literários no século XX. Semioticistas como Barthes (1971), Lotman (1978), Greimas
(1976,1979) e Eco (1990,1991) determinaram os rumos da pesquisa semiótica estética, dando
continuidade ao pensamento da semiótica geral e semiologia.
No esforço de situar a questão e fazer avançar o estado de arte na esfera didática,
recuperamos o conceito de semiótica moderna aplicada às artes, derivado das contribuições de
Jakobson (1970) tendo como hipótese que a linha de estudos estéticos integrados deva tomar
corpo a partir da reorientação do paradigma interdisciplinar.
Recorremos, para tal, às publicações nacionais mais recentes relacionadas à
perspectiva intersemiótica, consultando Pignatari (1987), Oliveira; Santaella (org.) (1987)
3
Cf Eikhenbaum, A Teoria do Método Formal, item II, tradução brasileira, 1971, p. 8.
21
Gonçalves (1987; 1994), Platão; Fiorin (1998) e Oliveira (1999), dentre outros estudiosos que
teorizaram sobre esses princípios, introduzindo a abordagem intersemiótica no Brasil.
À guisa de coerência, partimos da essência desse fundamento, evidenciando
rupturas conceituais e metodológicas necessárias para uma nova abordagem do componente
estético na escola. Pretendemos colaborar, refletindo sobre a possibilidade de alteração da
linearidade do tratamento didático da Literatura, cristalizado pela tradição na ênfase
cronológica e de pretexto informativo, gramatical e classificatório.
Se houve esforço profícuo de elaboração de quadros formais de sistematização da
análise lingüística
4
, relativamente assimilados nas últimas décadas, é necessário redefinir o
estatuto estético da Literatura, comparando-a a outros sistemas sígnicos, conforme intenção
teórica dos estudiosos do séc XX e fundamento suposto mas não explicitado na área de
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, nos PCNEM/99.
Esta pesquisa tem, deste modo, por proposição, comparar a literatura, sistema
semiótico verbal, a outros sistemas não-verbais, enquanto modelo interdisciplinar de
tratamento das novas linguagens. Defendemos os princípios da eficácia estética e a concepção
de literatura enquanto sistema, assentados em Candido (1957) como réplica aos PCNEM
(BRASIL, 1999) quando declaram que o conceito de literatura é discutível. Recorremos,
também, à distinção estabelecida por Moriconi (2002) entre música popular e poesia literária,
para demarcar o lugar e a categoria estética do literário, fixando seus limites e fronteiras.
Pesquisando a orientação que tem subsidiado a esfera didática com teorização
aplicada à prática da leitura e interpretação de textos literários, encontramos em Coelho
(1966) Lajolo (1987, 1989, 1994, 1999, 2001), Zilberman (1985, 1989, 1991), Leite (1983),
Malard (1985) Rocco (1981) e Vieira (1989) o esteio metodológico que moldou o paradigma
4
vide anexo D, dos GC (1975) e anexo H, de Subsídios (2003).
22
do século XX. Partimos dessa produção para sedimentar a proposição teórico-metodológica
que procuramos operacionalizar, a título de contribuição didática para renovação da práxis.
A tese oriunda dessa reflexão será apresentada da seguinte forma: o capítulo 1
discute a concepção de literatura expressa nos Guias, Propostas e Parâmetros Curriculares;
apresenta estatisticamente o questionário aplicado e explicita o método que encaminhou o
estudo. O capítulo 2 analisa os documentos complementares aos PCNEM, bem como a opção
de material didático utilizado, explicitando alterações observadas na fundamentação teórica.
Recupera o conceito de semiótica e o cenário de seu desenvolvimento no século XX.
O capítulo 3 concentra-se, a título de orientação, na proposição metodológica e na
sistematização analítica passo-a-passo, cruzando elementos estéticos dos diversos códigos
com suporte nas tecnologias pós-modernas, buscando entre eles a unidade semiósica, por
meio do levantamento dos topoi - conectores e desencadeadores de isotopias.
A conclusão esclarece que a plurissignificação da literatura recusa uma teoria
específica, determinante da prática. Porém, considerando a faixa etária a que interessa o
resultado desta pesquisa, a perspectiva intersemiótica se revela como expressão da concepção
dialética de ensino que, aceitando a diversidade, incentiva a superação do estado inicial de
isolamento e fragmentação do conhecimento literário, conforme foi abordado até o presente e
o amplia, compara, relaciona a outros códigos estéticos, em busca de unidade, por meio do
tratamento sincrônico das linguagens.
Após delinear o escopo e a estrutura da pesquisa, gostaríamos de evidenciar: a)
preocupação com o ensino, b) especialmente de literatura; c) defesa do componente estético
no currículo; d) a proposição de abordagem intersemiótica, em virtude de considerá-la
adequada e produtiva para a faixa etária da EB e e) preocupação em operacionalizar uma
metodologia de ensino interdisciplinar que utilize, para a escola real com a qual convivemos,
linguagens e ferramentas síncronas consonantes com o dinamismo do jovem.
23
CAPÍTULO I
É DISCUTÍVEL O CONCEITO DE LITERATURA?
Este capítulo apresenta dados que justificam a seleção do corpus de pesquisa bem
como o método de análise das concepções formalizadas nos documentos oficiais que
consolidaram a orientação do ensino da Literatura na Educação Básica nas últimas três
décadas. O objeto central de análise é a problemática relativa à concepção de Literatura
disposta nos PCNEM elaborados pelo MEC (BRASIL, 1999) porém, as versões das Propostas
Curriculares antecedentes, da SEE (SÃO PAULO, 1975, 1977, 1986, 1987, 1992, 1998), têm
seus pressupostos teórico-metodológicos examinados, pois constituíram o referencial estadual
que subsidiou o conjunto docente entrevistado.
Focalizamos o modelo pedagógico que originou os parâmetros, procurando
responder se as orientações neles dispostas foram fruto de consenso da produção acadêmica e
se foram levadas a cabo na escola pública do estado de São Paulo. Diante desse compromisso
destacamos incongruências conceituais e metodológicas, determinantes da necessidade de
renovação e readequação de procedimentos operacionais.
Para examinar a transfiguração da categoria estética eleita para análise até a
acepção que toma na presente proposição, partimos do conceito de literariedade, introduzido
por Jakobson
5
e dos conceitos de eficácia estética bem como da concepção de literatura
enquanto sistema, cunhados por Candido (1957). Recorremos também à distinção
estabelecida por Moriconi (2002) entre música popular e poesia literária, com a finalidade de
demarcar, para fins didáticos, o lugar e especificidade do literário.
5
In Eikhenbaum, tradução brasileira dos formalistas russos de 1971.
24
1.1 SELEÇÃO DO CORPUS
(O filósofo) aprenderá, assim, que o princípio fundamental pelo
qual é necessário começar sob pena de cair cedo ou tarde no idealismo,
afirma a anterioridade da matéria em relação ao espírito, que é preciso
confiar nas ciências e que estas, devidamente interpretadas, ensinam que a
noção de progresso dialético implica, entre outras coisas, a passagem da
quantidade à qualidade.
Chatelet (1972, p. 4)
Para selecionar o corpus da presente pesquisa entrevistamos
6
em 2002, por
amostragem, 5% dos professores de Língua Portuguesa da rede pública, da região noroeste
paulista, vinculados à Coordenadoria de Ensino do Interior, especificamente nas Diretorias de
Ensino de Jales, Fernandópolis, Votuporanga e São José do Rio Preto. O índice tomado como
grupo focal
7
foi de 100% dos docentes do Ensino Médio de Jales, já que tanto a região quanto
este segmento específico vêm apresentando desempenho superior à média do Estado nas
últimas edições do SARESP
8
.
Com o objetivo geral de colaborar para a formação de leitores críticos, didatizando
um método dinâmico de abordagem da Literatura, ao aplicar o questionário inicial,
pretendíamos identificar, por meio da sistematização dos dados coletados, qual concepção
teórico-metodológica fundamentava o trabalho dos professores em sala-de-aula e quais
recursos eles apontavam como mais produtivos.
Apesar do relativo êxito do grupo entrevistado nas últimas avaliações oficiais,
partimos da hipótese de que a formação geral do leitor literário têm sido frágil e conservadora,
limitando a capacidade do jovem a informações genéricas, pontuais e típicas do senso comum.
6
Anexo A - entrevista realizada em 2002 com professores de Língua Portuguesa da rede pública vinculados à
CEI – noroeste paulista.
7
Sg Regina Cândida, especialista da CENP responsável pelo acompanhamento do EM, a pesquisa com
estratégias de verificação por grupos focais mostra tendências adotadas pelo conjunto dos profissionais de
regiões específicas ou do segmento mais amplo, com prioridades e práticas educacionais típicas ou
características. (Saresp/2004- SEE/ SP- informação verbal)
8
A DER- Jales atingiu desempenho superior à média do estado e da CEI no SARESP/2004 na avaliação do EM
do Estado de São Paulo, alcançando o patamar das primeiras colocações.
25
O objetivo específico era verificar se os professores pautavam suas aulas pelas
diretrizes traçadas nos documentos oficiais, se por meio da linguagem da indústria editorial do
livro didático ou se pelo arcabouço teórico desenvolvido pela universidade. O que interessava,
de fato, era investigar a qualidade das respostas e desvendar a razão da opção, por meio das
questões abertas e fechadas do questionário, com possibilidade de levantamento quantitativo e
qualitativo, já que o impresso fornecia espaço para justificativas.
No cômputo geral, 40% dos entrevistados representam a Diretoria de Ensino
região de Jales, doravante (DER/Jales), 8% representam Fernandópolis
9
; 24% representam a
DER/Votuporanga e 23% representam a de São José do Rio Preto (SJRP) e arredores. 5%
representam outras regiões do estado
10
.
A representação da Coordenadoria de Ensino do Interior (CEI) abarcou, nesta
pesquisa, a região de SJRP a Jales, contemplando a área de atuação dos vinte e cinco
municípios vinculados à DER/ Jales, que divisa com o Estado do MS. Os dados que
constituíram ponto de partida para a investigação foram coletados por ocasião de Orientações
Técnicas (OTs) nas Diretorias de Ensino e de cursos realizados pela Secretaria de Estado da
Educação de São Paulo (SEE/ SP). Colaboraram na aplicação dos questionários os Assistentes
Técnico-Pedagógicos (ATPs) de Língua Portuguesa das OPs citadas, função que exercemos
oficialmente de 2000 a 2004, embora viéssemos representando a DER/ Jales em alguns
programas e projetos desde 1994.
Condição determinante da leitura que construímos a respeito dos pressupostos
teórico-metodológicos que perpassam os documentos oficiais, oriundos das últimas reformas
do ensino foi nosso ingresso no magistério público em 1986, fator que possibilitou a
observação dos efeitos das linhas de orientação de subsídio docente no locus da escola e das
9
Baixo índice justificado pela preocupação dos docentes com a finalidade do encaminhamento de suas respostas.
10
Dado que não ocupa o centro da investigação, mas que pode constituir índice significativo em termos de
amplo segmento da rede pública.
26
regiões mais próximas, inclusive, multiplicando-as no processo de formação que as Oficinas
Pedagógicas desempenham.
Do universo selecionado, 82% dos professores declararam seguir as orientações
dos PCNEM (BRASIL,1999) mesmo abordando atividades dos manuais; 68% declararam
seguir apenas manuais em sua prática docente no EM e 32% afirmaram seguir outro
referencial teórico, alguns deles citando apostilas de cursinho como parâmetro.
A pergunta de pesquisa era por que razão determinados recursos se mostram mais
ou menos produtivos e qual o mais produtivo na mediação didática dos adolescentes, segundo
os professores. Em busca da resposta foi necessário investigar que linguagem os referenciais
adotam; que forma de exposição apresentam e, enfim, quais critérios justificam sua seleção,
adoção e preferência como orientação adequada para abordagem escolar da Literatura.
Do total entrevistado e dentre os 68% que adotam LD, 42% dos professores da
região declararam utilizar como ferramenta de trabalho com os estudos literários no EM, na
época, o manual Literatura Brasileira- das origens aos nossos dias, ainda que cientes da
dificuldade de aquisição do livro pelos alunos da rede, visto que este nível de ensino não
contou até 2005 com distribuição gratuita por meio do PNLD
11
.
26% dos docentes declararam pautar suas aulas de Literatura pelo manual citado,
associado a outros, sem adoção
12
; 29% responderam que utilizavam outros manuais e citaram
bibliografia de referência diversa, incluindo autores nacionais como Antonio Candido,
Afrânio Coutinho, Alfredo Bosi, Massaud Moisés e Affonso Romano de Sant’Anna, dentre
outros críticos que lançaram discussões de cunho teórico, transpostas para a esfera
educacional.
11
Plano Nacional do Livro Didático - sistema nacional de distribuição de livros, descentralizado no estado de
São Paulo para o Ensino Fundamental da rede pública, entre 1995-1996, desde a gestão do governador Mário
Covas, por solicitação da então Secretária de Estado da Educação, professora Teresa Roserley Neubauer da
Silva. A partir da descentralização do PNLD no Estado de São Paulo, a CENP passou a coordenar a distribuição
dos livros para as escolas da rede pública, dando às OPs e UEs relativa autonomia de escolha e seleção.
12
A partir de Maio de 2005 teve início no estado de SP o PNLEM, centralizado pelo FNDE/ MEC. O baixo
índice anterior de adoção de MD devia-se à dificuldade de aquisição dos LD por parte dos alunos carentes, o que
a partir de 2006 tomará novo aspecto.
27
Média de 3% dos docentes de Língua Portuguesa da região freqüentavam Pós-
Graduação strictu senso e cerca de 40% freqüentavam latu senso, razão pela qual a
bibliografia acadêmica foi citada como fundamentação teórica sem adoção, da qual os
conceitos têm sido pinçados e didatizados. É possível afirmar, por amostragem, que o
percentual de docentes que utiliza referencial acadêmico adaptado à utilização didática até
2005 vem crescendo gradativamente, porém, cerca de 90% dos profissionais ainda segue o
recorte dos manuais didáticos, permeado por determinações oficiais que demandam décadas a
ser implementadas parcialmente na práxis educativa, a exemplo da PCLP e dos PCNEM.
Poucos profissionais sustentaram pautar-se pelas Práticas Pedagógicas/ SEE (
SÃO PAULO, 1993-1998), subsídios oficiais distribuídos às DEs e UEs para didatizar as
Diretrizes Curriculares específicas para os ciclos. Este indício nos permite levantar a hipótese
de que apenas os documentos oficializados são submetidos a estudo, contando com o trabalho
formativo das OPs e de seus responsáveis, os supervisores de ensino e os ATPs. Os subsídios
não-oficializados permanecem praticamente inexplorados, mesmo sendo regularmente
distribuídos ao acervo das escolas.
Em outras palavras, os Guias Curriculares, as PCLP e os PCNs foram lidos e
estudados, mesmo com a orientação das OPs sem que chegassem a constituir aplicação efetiva
de seus fundamentos ao longo das três décadas sob análise, pois que a mudança de paradigma
requer compreensão teórica e modelos operatórios definidos, lacunas que os documentos
apresentam e que serão explicitadas ao longo da pesquisa.
As dificuldades de formação em serviço, leituras, estudos e debates nas HTPCs
juntamente com capacitações descentralizadas e escassez de recursos midiáticos constituem
capítulo à parte, que foge do escopo de discussão do trabalho, motivo pelo qual, por ora,
focalizaremos as questões fechadas, de ordem relativa direta com a concepção de Literatura
levada a cabo no EM e com algumas orientações para o trabalho com este patrimônio cultural.
28
Entretanto, algumas das respostas às questões abertas da entrevista inicial serão aproveitadas
de forma qualitativa para reflexão e fundamentação da proposição que a tese apresenta.
80% dos professores responderam que os LD passaram por avanço significativo
da década de 80 até o presente e 13% responderam que, na verdade, os manuais não
avançaram, pois os exercícios ainda são classificatórios, de memorização, localização e de
baixa solicitação cognitiva, evidenciando grande incidência de atividades gramaticais simples
e conservadoras, quando o manual é três em um: gramática, literatura e redação.
Os 80% que consideraram avanços significativos nos manuais, citam como
principais critérios que justificam a opção de fundamentação de sua práxis nos LD, recursos
como: a) facilidade de acesso ao material; b) diversidade de textos; c) conteúdos distribuídos
de forma seqüencial e sintonizada com o momento histórico-social sob estudo no capítulo,
além de d) ilustrações, e) design gráfico e f) proposição de análise comparativa _ elementos e
procedimentos estes que reduzem o grau de abstração e auxiliam na difícil tarefa do
profissional de tornar assimilável o conteúdo formal enciclopédico.
Cerca de 1%
13
julgava interessante, na época, o trabalho associativo entre textos
literários ou não com filmes em fitas de vídeo, consultas a softwares e internet, utilizando
diferentes suportes para materialização do conteúdo, porém declararam não encontrar
orientação operacional que subsidiasse sua práxis, desistindo de enfrentar os contratempos
tecnológicos necessários para abordagem mais dinâmica dos conteúdos curriculares.
63,5% dos docentes consideraram os LD indispensáveis para a execução escolar
da atividade leitora; 32,5% julgaram-nos dispensáveis e 4% justificaram com outras respostas,
assumindo como eficiente a rotina de associação de vários manuais, mesmo sem adoção.
13
Saliento que após três anos da coleta dos dados de pesquisa, alguns índices tiveram elevação em virtude de
estudos e orientações realizadas no sentido de atualizar e subsidiar a práxis docente. O baixo índice da resposta
compreende a dificuldade de diferentes ordens na utilização e manuseio das tecnologias da informação e
comunicação, fator que ainda permanece no presente, com menor incidência. Observe-se o modelo tradicional
das salas de aula, com insuficiência de recursos e equipamentos, além da carência de recursos humanos
responsáveis pela montagem, desmontagem, conservação e operacionalização dos aparelhos.
29
Esses 63,5% apontaram fatores decisivos pela opção: a) a linguagem sugestiva, apropriada à
capacidade de aprendizagem do alunado do EM, b) mais sintonizada com os avanços
tecnológicos das mídias; c) as imagens e ilustrações que auxiliam na mediação do trabalho,
além de d) crescente aproveitamento da linguagem visual, importante recurso na
contextualização e caracterização da sociedade das diferentes épocas, possibilitando a visão
global das peculiaridades e referências estéticas.
A disposição gráfica dos MD difere da padronização e nível abstrato da
linguagem utilizada no referencial teórico acadêmico, de natureza formal e hermética,
tornando-se não só um atrativo mas um imperativo na seleção de material que mobilize
diferentes capacidades perceptivas dos jovens. Segundo as justificativas dos entrevistados, os
objetos e fatos referidos são representados e contextualizados nos LD, agregando caráter de
concretização ao assunto estudado, configurando uma forma de exposição que se adequa
melhor ao interesse do adolescente, mal acostumado às abstrações e raciocínios complexos
puros; ou seja, os manuais têm procurado possibilitar maior grau de percepção e atividade
cognitiva múltipla, mediante a ativação dos sentidos, tornando mais assimilável o conteúdo de
aprendizagem.
A opção dos professores pelos MD permite levantar outras duas hipóteses: uma, a
evidência clara da dificuldade de acesso do alunado brasileiro a leituras originais, complexas
e canônicas; e outra, a de que o universo da linguagem gráfica não se mostra mais tão atrativo
e transponível para o aprendiz como fôra para as elites, na era da explosão editorial gráfica.
Além de considerar que a clientela anterior à LDBEN
14
era mais selecionada, os dados nos
permitem inferir que o avanço tecnológico é uma realidade nas práticas sociais e que a escola
precisa se apropriar de tais recursos que, por si, solicitam novas linguagens.
14
1996, In: BRASIL, 1999.
30
Inúmeros fatores sócio-históricos, implicam, metodologicamente, na necessidade
de sistematização de procedimentos e estratégias síncronas que subsidiem a inserção do
alunado no mundo dos códigos que permitem exercer a cidadania, ampliando a assimilação e
transposição das relações essenciais de produção para a capacidade de apropriação da cultura
formal, na dimensão da apreciação estética, função, também, da escola. Se existe dificuldade
na intelecção de textos denotativos, detectada nos sistemas atuais de avaliação externa
15
,
estime-se a dificuldade de compreensão e identificação dos procedimentos realizados por
autores consagrados da literatura, criadores da palavra-arte.
Se os códigos oferecem dificuldade de atribuição de sentido, especialmente a
linguagem literária, que pertence ao sistema modelizante secundário, segundo Lotman (1978),
constituído a partir do sistema lingüístico e sobre ele, requerem habilidades complexas de
interpretação, não de sistemas arbitrários mas também de sistemas motivados de
representação, demandando princípios de abordagem numa nova perspectiva, mais ampla e
menos previsível.
A maioria dos entrevistados afirmou, ainda, que os manuais requerem trabalho
didático complementar e que servem apenas como apoio ou suporte do conhecimento, devido
à sua fragmentação, incompletude e ditadura do recorte do autor, apesar de fundamentais para
divulgação dos textos e por contribuir significativamente para o estudo de língua e literatura,
num país de extremas necessidades como o nosso.
Contrastando com os documentos oficias, investigamos o manual Literatura
Brasileira das origens aos nossos dias como corpus com a finalidade de evidenciar a
concepção de Literatura e os procedimentos metodológicos nele encaminhados. Além de
exame detalhado desde 2002 e de trabalho pessoal com o livro, entrevistamos
16
o autor José
de Nicola, por mídia digital, via endereço eletrônico, após contato presencial em palestra na
15
SAEB, SARESP, ENEM, PISA.
16
anexo B- entrevista com o autor do manual didático Literatura Brasileira das origens aos nossos dias.
Editora Scipione.
31
DER Jales, no ano de 2004, para coletar dele, bem como da equipe de edição e assistência de
arte e ilustrações do livro, informações adicionais.
Estabelecemos, também, em 2004, contato presencial com a professora Drª
Zuleika de Felice Murrie
17
, por ocasião da reunião de orientação para correção das redações
do SARESP, quando nos cedeu, por mídia digital, via correio eletrônico, as OCEM (BRASIL,
2004), crítica aos PCNEM (BRASIL, 1999) área de Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias.
18
Como guia de pesquisa, percorremos a trajetória histórico-evolutiva do
pensamento crítico-literário das principais linhas vinculadas à TL, em suas diversas
modalidades e desdobramentos, pois elas marcaram o percurso acadêmico de abordagem da
literatura, segundo diversos autores, podendo ser agrupadas em diferentes abordagens:
tradicionais (Lingüístico-textual, histórico-biográfica e moral-filosófica); abordagem
formalista; abordagem psicológica, mitológica, arquetípica e exponencial. Possibilitaram tais
abordagens os métodos: sociológico, lingüístico, aristotélico, judicativo, genérico e genético,
dentre outros.
Grandes correntes se perfilaram e se sucederam partindo, especialmente, do
contexto ao texto, exemplo da História Literária e do método sociológico, focalizando
sucessivamente, autor, tema e finalmente o texto enquanto objeto, compreendendo o tipo de
análise denominada extrínseca, que parte de elementos externos para justificar o conteúdo. No
entanto, a partir do formalismo russo, a forma enquanto objeto de análise recebeu tratamento
que alterou algumas concepções. O foco extrínseco submeteu-se ao intrínseco, estimulando o
reconhecimento do procedimento estético realizado pelo autor, sua poiésis.
17
Coordenadora da elaboração do texto dos PCNEM da área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Murrie
foi também integrante da equipe de elaboração da Proposta Curricular para o ensino de Português- grau, da
SEE/ SP (1987), ocasião em que coordenou a discussão da versão preliminar do documento estadual, da qual
participamos, representando a DER/ Jales em 1994.
18
Murrie nos cedeu também sua tese de Doutoramento em Didática, defendida em 2000 na USP, tematizando a
Reforma do Ensino Médio no Brasil, sob a orientação da profª Drª Alice Vieira.
32
O desenvolvimento do pensamento lingüístico-estrutural muito se debruçou sobre
questões da linguagem e da forma enquanto expressão do conteúdo, detendo-se nos estudos
de Narratologia, Poética da prosa e da poesia, Estilística e Semiótica Literária. Estudos
lingüísticos e literários se vincularam. Nas últimas três décadas, a TL se abriu às diversas
correntes do conhecimento constituindo os métodos de abordagem sócio-histórica,
psicanalítica, genética, pragmática, cultural, pós-estruturalista, feminista e colonialista, por
força do contexto globalizado e plural que dominou nosso tempo, entretanto, a prática
pedagógica não assimilou essa expansão de possibilidades.
Se, por um lado, a abordagem extrínseca negou ao texto a evidência de seu valor
estético, a abordagem intrínseca_ formalista; estruturalista_ foi acusada de negar-lhe seu
fundamento histórico. A tarefa que se nos impõe, na transição, é a de equilibrar os extremos,
as oposições e buscar coesão produtiva, a partir da contribuição cultural que esse complexo
teórico nos legou enquanto expressão do pensamento científico- literário. E tal coesão só pode
vir por complementaridade e referenciação a uma e outra forças, destacando princípios
fundantes da teoria, que permaneceram estáveis, mas que no desafio do presente, requerem
superação e redefinição.
Situado o objeto de estudo, justificada a seleção do corpus de pesquisa, eleita a
categoria estética como foco de análise do corpus e relatados os dados iniciais, passamos a
descrever o método direcionador das reflexões e ações propostas neste estudo.
1.2 MÉTODO
Aparece, assim, claramente, o sentido da ligação entre a teoria e
a prática. A teoria é o elemento objetivo da luta prática da humanidade pela
satisfação empírica universal porque é a teoria dessa prática. Não que
perguntar o que torna prática a teoria: se a teoria é realmente análise objetiva
da situação do homem lutando para sair da sujeição natural e abolir a
violência histórica, já se constitui como fator objetivo dessa luta.
Chatelet, 1972, p. 293
33
Em busca de elementos que caracterizassem a práxis concretizada e configurassem
nela a necessidade de superação do arcabouço teórico-conceitual numa proposição que
efetivasse o novo, este trabalho se constituiu em relatório de pesquisa e tese, por meio de
algumas cnicas empíricas, com dados coletados na forma de entrevistas, conforme a
apresentada anteriormente, bem como por intermédio de declarações e depoimentos orais e
escritos de representantes dos diferentes segmentos institucionais de reflexão sobre o ensino
da Literatura. Professores de Língua Portuguesa da rede pública de ensino protagonizaram os
dados, representando o segmento oficial, além de coordenadores de área e membros das
equipes técnicas de elaboração de documentos da SEE/SP e MEC/BR, e, representando o
segmento editorial, o autor do manual didático apontado na entrevista.
A pesquisa bibliográfica teve como fonte primária a referência acadêmica
relacionada à TL, à Crítica Literária, à História da Literatura, às Artes, à Semiótica e à
Lingüística, linhas que possibilitaram a investigação das concepções e procedimentos
estabelecidos nas orientações dos documentos oficiais e não-oficiais bem como os
documentos complementares e críticos que os sucederam, que configuram nossa fonte
secundária. Além desse referencial, as obras didáticas representadas pelo manual Literatura
Brasileira- das origens aos nossos dias, serviram de fonte terciária.
Com a finalidade de verificar a apropriação e transposição didática que redefiniu o
campo das linguagens no século XX, o estudo investigou influências da produção acadêmica
sobre a oficial, sendo conduzido pelo método indutivo, por meio do procedimento histórico-
comparativo. Analisamos, também, recursos e ferramentas de apoio à divulgação do
patrimônio literário, utilizados com a finalidade de observar o movimento de produção das
formulações oficiais e do mercado editorial didático. Durante os quatro anos de estudo,
procuramos identificar contradições entre as linhas teóricas e a práxis, verificando a sintonia e
adequação entre as formulações. Levantamos, então, algumas hipóteses explicativas da
34
inadequação da metodologia aplicada bem como da ausência de critérios definidos de
conceituação do poético, com locus estabelecido na configuração da natureza e nos modos de
produção distintos do conhecimento acadêmico convertido em saber social e escolar.
Em busca de síntese entre esses contrários, o método indutivo, com base na lógica
dialética, propiciou a manutenção das particularidades de cada segmento, comparando : a) a
concepção formal de Literatura e os pressupostos metodológicos de sua análise, segundo
Candido e Jakobson; b) as indicações oficiais organizadas pelas equipes técnicas do sistema
responsável pela orientação e regulamentação da educação em nível estadual e nacional_
expressas pelas Propostas e Parâmetros Curriculares, responsáveis por orientar a concepção
teórico-metodológica que norteia o ensino da literatura, a ser adotada pelo conjunto docente;
c) a abordagem da Literatura segundo um manual didático que assimilou recursos das novas
tecnologias e d) a didática de ensino da literatura enquanto práxis produzida na identidade de
cada região e conjunto profissional.
Foi possível localizar a TL no extremo formal e a práxis, no extremo contrário,
empírico e perceber que a transposição didática supõe a tarefa de relativizar os extremos e
mediá-los. A distinção reconhecida foi entre conhecimento e saber e entre saber objetivo e
saber escolar. Entendemos que o conhecimento enciclopédico é formal e o saber escolar deve
ser dialetizado e particularmente inseminado de estímulos perceptivos, durante o processo de
mediação formativa, o qual, em sua especificidade, requer instrumentação múltipla e
dinamicidade na mobilização das capacidades de interpretação das linguagens, percepções e
experiências, possibilitando ao jovem transformar-se em sujeito e leitor autônomo e, por isso,
protagonista das ações que consolidam sua aprendizagem e formação cultural.
A natureza e finalidade das produções acadêmicas, oficiais e didáticas não se
confundem e têm destinos diferentes, o que não impossibilita a relação harmônica e de
contribuição efetiva da pesquisa acadêmica em prol do desenvolvimento educacional.
35
Ao considerar o método de pesquisa ao qual este estudo se destina e sua clientela,
o alunado da Educação Básica, tomamos como apoio teórico os conceitos formalizados por
Chatelet (1972) e Röd (1977) em relação à lógica e a filosofia dialética moderna. Chatelet
(1972) apresenta um confronto entre Logos e Práxis, evidenciando a contribuição de uma
sobre outra, em estreita relação com a teoria que orienta a prática pedagógica. A superação
dessa dicotomia institui a Práxis, modo peculiar pelo qual o professor deve se valer para
mediar a aprendizagem.
Röd (1977) traça um panorama da filosofia dialética, dando relevância à
metamorfose do pensar. Discute o final ou transformação da dialética na modernidade, de
Kant a Hegel, na primeira parte, e de Marx até o presente, na segunda parte. Segundo o autor,
a dialética é um método segundo o qual o pensamento deve ajustar-se à realidade, pois o
aparato conceitual tanto da filosofia quanto das ciências deve se renovar e corrigir
constantemente. Mas sobretudo, destaca que a dialética tem que ser um método concreto, ou
seja, um método de conhecimento da realidade concreta.
Por isso o método indutivo foi tomado como direcionador da análise dos
conhecimentos de natureza e estrutura diversa e específica que são as linguagens, com a
finalidade de estimular a comparação e o estabelecimento de relações entre as indicações e a
proposição de diálogo entre os sistemas semióticos. existe dialética se existir movimento e
este se concretiza no processo histórico, relativizando diferenças, oposições, conflitos,
problemas teóricos e práticos.
Por este prisma, nosso objeto de estudo_ a concepção de ensino da Literatura _ é
histórico e historicamente situado e dialético porque síntese de determinações teóricas,
oficiais e demandas discentes, que se constituíram em necessidade de mudança de paradigma.
Conseqüentemente o referencial teórico determinante da práxis docente, evidencia que essas
forças precisam se complementar; teoria e prática não podem se dissociar. Além disso,
36
fundamentados nos formalistas russos, aplicamos a esta justificativa metodológica os
conceitos de atualização e automatização, que representaram o desenho das estéticas ao longo
do tempo. A força da oposição, do traço distintivo, revelou-se síntese criadora de novos
estilos, por superação dos já automatizados.
O conhecimento formal, acadêmico e teórico tem por função fundamentar
conceitualmente a práxis que, por sua vez, busca na Teoria da Literatura os princípios que lhe
permitam promover a conversão ontológica dos conceitos em saber. Desta forma
compreendemos a produção acadêmica, formal, com função epistemológica de atualização; a
produção educacional, por sua vez metodológica, fundamenta a mediação, caracterizando-se
por ser dialética. E, por fim, a produção didática, com função ontológica, procura automatizar
e desautomatizar os modelos de abordagem, sucessivamente. A práxis sistematiza a norma,
enquanto formalização do saber e desautomatiza o intelecto, enquanto centro não apenas
receptor, mas produtor do saber. Deste modo configura-se a mediação constante, atribuindo
ao sujeito a capacidade de compreender a Literatura como produção intelectual.
Constatamos que o corpus analisado_ Guias, Propostas, Parâmetros e MD_
passou, continuamente por atualização, enquanto produção acadêmica, oficial ou didática, e,
posteriormente, pelo processo de automatização, enquanto norma e regulamentação a seguir.
Porém, o caráter dialético se configura especialmente no momento da desautomatização do
modelo informativo, cronológico, que pode ser considerado transitório, pois acatou a força
vital de movimento dos processos de evolução que os próprios documentos ilustram.
É necessário possibilitar que a Literatura se torne acessível e democratizada para o
alunado que vive num contexto tão diverso do acadêmico, acentuado por problemas sócio-
econômicos. As questões a considerar são de ordem filosófica, metodológica e social, e, por
que não dizer, políticas. Trata-se de dialetizar o formal, o conhecimento sistemático. Porém,
para que esse movimento se efetive, é necessário, antes, divulgar procedimentos operacionais
37
e um método exeqüível de abordagem, em detrimento de discursos e indicações herméticas. É
necessário, também, desenvolver competências analítico-descritivas do professor mediador, a
fim de que adote perfil profissional ancorado na pesquisa, no reconhecimento e reflexão sobre
os conceitos estruturantes da abordagem que sustenta a práxis. A compreensão da função
epistemológica dos pressupostos teóricos é determinante da práxis fundada nos princípios
metodológicos, com vistas a resultados e alterações no nível ontológico.
Sabendo que na formulação hegeliana, a afirmação do pensamento se como
resultante de lento e problemático trabalho do conceito, o respeito ao movimento
metodológico de ação-reflexão-ação, para acompanhamento e avaliação das produções e
formulações adotadas na práxis educativa literária foi essencial, na busca de superação do
modelo cristalizado ao longo das três décadas analisadas.
Temos como hipótese que o problema da aprendizagem e assimilação do saber
literário não é de conteúdo mas de método pelo qual foi abordado até o presente. Os índices
revelados nos sistemas de avaliação interna e externa
19
denunciam o caráter arbitrário das
práticas executadas. Por isso, o desafio que se nos apresenta é orientar procedimentos que
permitam comparações, por meio do exercício sincrônico de leitura e apropriação de nossa
herança estética, relegada a segundo plano durante a vigência da concepção tecnicista e
instrumental de ensino. Com vistas a alcançar tal finalidade, convém evidenciar a distinção
entre metodologia da pesquisa, metodologia do ensino e metodologia didática.
Entendemos que a lógica formal, específica da esfera científica, deve se distinguir
da lógica dialética e do método comparativo, pedagógicos por excelência. À metodologia
científica cabe a teorização relativa à criação estética, tarefa específica da TL, formal por
natureza; à metodologia do ensino cabe a apresentação dos novos conhecimentos,
transformando-os em saber a ser assimilado, divulgado socialmente, tarefa dos órgãos e
19
Ver histórico dos resultados SARESP/ SAEB/ PISA disponíveis nas Diretorias de Ensino, Unidades Escolares,
mídias digitais e sites institucionais do MEC e SEE/SP.
38
documentos oficias de natureza indicativa e, à metodologia didática, ação do conjunto de
profissionais, categoria definida como práxis, cabe decidir como processar a aula,
desenvolver projetos, quais recursos e materiais usar e como mediar um grupo de jovens de
perfil e representação específica para que se aproprie do conhecimento, mediante esforço de
reflexão e mobilização de suas capacidades intelectuais e perceptivas.
O ato de apropriação do saber literário, que tem existência objetiva, requer
especificidade diversa dos atos de apropriação dos outros conhecimentos e instituições.
Portanto, a metodologia de ensino deve absorver os princípios abstratos da TL, conhecimento
com status científico a ser dialetizado, orientando procedimentos de assimilação e
interpretação do patrimônio literário inserido no patrimônio cultural mais amplo.
Por considerar todos esses fenômenos relacionados entre si_ a criação de linhas e
procedimentos críticos da TL e das ciências afins; a elaboração e divulgação dos documentos
oficiais indicativos e a produção de materiais didáticos_ e uns com os outros, o método ideal
para sustentação da análise dos dados, resultados e proposições as quais a TL possibilita foi o
indutivo, na concepção dialética, visto que seu duplo movimento permitiu passar da
multiplicidade de recursos e posicionamentos para a unidade, discriminando as visões
acadêmica, oficial, editorial e pedagógica sem confundi-las, fator pelo qual, dele nos valemos
para preservar a natureza e grau de formalidade da pesquisa convertendo-a em procedimentos
metodológicos operatórios para a práxis da Literatura na Educação Básica.
Há no movimento dessa produção uma oposição de contrários que evidencia
contradições. Existe uma lógica do movimento na criação e na recepção do saber literário que
requer mudança significativa na forma de abordagem, conforme o paradigma sócio-histórico.
Por este prisma, a escola precisa considerar todo esse complexo no contexto da produção
didática, utilizando instrumentos, ferramentas e linguagens de nossa época plural e dinâmica.
39
Por meio da metodologia científica tomamos os conceitos isolados, porém, a
apropriação deles, expressa nos documentos oficiais e na produção editorial, constituiu objeto
de análise metodológica do ensino de Literatura, que pesquisamos sua aplicação e
circulação. O movimento de intelecção do aprendiz tem sido objeto de estudo do método
didático, que, conforme os dados disponíveis
20
, solicita renovação e ativação permanente, pois
reflete práticas inadequadas e ineficácia dos procedimentos na formação cultural do aluno,
tarefa precípua da escola. Mesmo o corpo das indicações, nos documentos oficiais, têm
evidenciado ausência de critérios definidos para análise da categoria estética.
A literatura nunca foi objeto de sistematização didática como o foram outros
conteúdos analisados em Propostas estaduais e nacionais anteriores, provavelmente pelo
paradoxo de sistematizar uma criação tão avessa à disciplina e à anatomia. Nesse sentido, o
conteúdo deve ser estruturante do método. Por esta razão, é tempo de as instâncias
acadêmicas formularem e divulgarem formas mais dinâmicas de abordagem para a escola,
que, diante do signo estético, o leitor aprendiz deve percorrer dois caminhos: o da
investigação e o da sistematização, descobrindo, mediado pelo professor, por ação da leitura:
as estruturas, suas relações internas e externas próprias, comparadas com outras produções;
funções, regras e procedimentos composicionais de conjunto, que conduzem à exegese da
obra literária, em diálogo com outras produções de época e com o próprio contexto de sua
produção.
A opção pelo encaminhamento próprio do método indutivo, na concepção
dialética, apresenta como procedimento a comparação: a) por meio do levantamento de traços
distintivos formais; b) da percepção da isotopia temática e c) do conector fundamental,
princípios que permitem apreciar composições de modalidades distintas, na perspectiva
sistêmica de consideração do componente estético. Esta forma de abordagem se caracteriza
20
Ver resultados ENEM, PISA, SARESP, SAEB nos relatórios distribuídos em nível estadual, nacional e
plataformas de dados.
40
como modus reflexivo questionador e comparativo e exige o reexame da teoria e a crítica da
prática.
Por ter como fundamento o movimento, a relação entre os sistemas é objeto de
estudo deste modelo dialético, oposto ao modelo positivista, informativo, que analisa os
conhecimentos como se fossem estáticos, recortados, lineares, pontuais, na concepção formal,
fragmentada e conservadora do ensino da literatura. Desta forma, uma questão a ser explicada
é de que forma as mudanças de paradigma sócio-cultural se processaram no final do século
XX, qual sua essência e quais procedimentos a esfera didática deve incorporar das novas
teorias, com a finalidade de reverter os resultados obtidos, especialmente pela faixa etária que
freqüenta a Educação Básica.
Sabendo que a aula o se concretiza sem o trabalho docente que,
necessariamente, se vale do material para mediação na práxis e que sua ação se efetiva por
meio do método didático, além de formação e conhecimento acadêmicos formais, o processo
de ensino requer adequação de recursos e linguagem em nível da compreensão do aluno,
habilidades imperativas da ação que prioriza a apropriação do saber como proposta de
desenvolvimento cognitivo, perceptivo e de formação do indivíduo.
Quanto à histórica polêmica sobre a natureza da pesquisa acadêmica como
produção nova e da atividade da escola como reprodutora do conhecimento produzido,
consideramos que parte do problema da aprendizagem situa-se nesta oposição de contrários,
pois apenas reproduzir o conhecimento formal, legitimado pela academia, tornou-se ineficaz,
sobretudo porque transição teórica e diversidade nas concepções estabelecidas, crítica que
os PCNEM receberam.
O ensino, entendido como mediação, trabalho que se realiza por meio do método
didático e das metodologias de ensino, deve primar pela criação de novas formas de
41
divulgação e apropriação do conhecimento formal e acadêmico existente, socializando o
produto desse conhecimento.
A tarefa do presente estudo se define, então, no limite, enquanto análise das
diferentes produções, buscando a síntese entre os contrários, não se tratando de reducionismo
da pesquisa acadêmica, mas de legitimação da necessidade de intermediação e
operacionalização de formulações sincrônicas, de modo a orientar a transposição didática, que
toma o saber do aluno como prioridade.
Assim considerando, o objeto de estudo Literatura assume caráter determinante do
método que, por seus procedimentos, deve superar o formalismo excessivo e a fragmentação
histórica da abordagem unilateral. Porém, ao considerar que a velocidade das tecnologias
midiáticas contemporâneas exige mais que a dimensão do raciocínio lógico, torna-se
necessário associar diferentes sentidos e capacidades na depreensão dos sistemas múltiplos de
linguagem criados pelo homem. Em conseqüência, os novos paradigmas requerem novas
estruturas e métodos de estudo. Daí a necessidade de o professor se apropriar deles para que
sua mediação continue garantida como condição sine qua non da aprendizagem crítica,
afastando os efeitos alienantes que a manipulação das mídias pode gerar sobre o aprendiz.
Explicitar teórico-metodologicamente os determinantes do sistema literário em
comparação com alguns sistemas e códigos estéticos, orientando a percepção dos elementos e
estruturas próprias de cada uma dessas múltiplas linguagens constitui nossa tese de mudança
de paradigma, pois possibilita a aplicação de pressupostos que representam a transposição
didática, o “concreto pensado”, ao interpretar diferentes sistemas semióticos em relação.
Não meios novos de aprender na metodologia já automatizada. O contexto é
outro, as linguagens são outras, os canais e meios de comunicação são distintos dos da cultura
gráfica tradicional, portanto, é necessário modernizar o sistema e atualizar os métodos, sem
deixar de enfatizar a corrente ético-humanista que volta a permear nosso contexto sócio-
42
histórico. A motivação contemporânea suscitou outro tipo de organização do saber: a
comparação de linguagens mediatizadas, pois o processo de aprendizagem se alterou
conforme o desenvolvimento das tecnologias modernas, partindo de parcialidades e
especificidades concretas em busca da compreensão da totalidade, por superação de etapas
progressivas da disposição de elementos diversos que compõem os sistemas e códigos
culturais. Somente quando se atingem determinantes fundamentais dos diferentes sistemas em
comparação poder-se-á explicitar, na especificidade de cada linguagem, os topoi, por
apreensão de relações.
Para que o alunado se torne sujeito, é necessário possibilitar o exercício das
capacidades por excelência humanas de criação, de raciocínio, de análise, comparação e
potencialização dos sentidos, por meio da associação das percepções sensoriais. As obras de
arte, canções, filmes bem como a palavra com função estética tornam-se, em nossa
proposição, sistemas sígnicos em relação, recursos da metodologia que ativa o raciocínio em
detrimento da memória, a compreensão global em detrimento das lembranças exatas.
Exposto o método central que conduz as reflexões, passamos à análise do corpus.
1.3 O CURRÍCULO DE LÍNGUA PORTUGUESA EM DEBATE
O problema de estudo desta pesquisa foi objeto de acirrado debate, até mesmo
norteando alguns dos parágrafos da última LDBEN e das DCNEM, no que concerne à área de
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, entretanto a polêmica continua acalorada no
momento, diante do esforço nacional de universalização do EM, diante dos resultados obtidos
pelos alunos brasileiros nos diversos tipos de avaliação a que têm sido submetidos e diante
das mudanças do staff político-governamental norteador das sucessivas indicações
43
curriculares. Da reflexão sobre a questão das concepções nasce a discussão do lugar da
Literatura no currículo e nas propostas de ensino, de seu modo de tratamento na escola e da
situação em que se encontra o nível de letramento do alunado brasileiro. Posto o problema e
com o objetivo de formalizar o enfoque central do estudo, passamos a destacar os conceitos
bem como a metodologia de ensino implícitos nos documentos, evidenciando, a partir deles,
nosso ponto de vista e argumento.
O recorte histórico do corpus data de meados da década de 70 até o presente, em
conformidade com a antiga LDB/71, até a vigência da nova LDBEN/96. Para dimensionar tal
reflexão serão necessárias retomadas e projeções com a finalidade de observar os efeitos das
reformas enquanto processo de aprimoramento da política educacional, que pretendeu assumir
caráter científico e sistemático no Estado de São Paulo. Fruto dessa política é o tratamento
que os conteúdos têm recebido no currículo.
O interesse em refletir sobre o disposto nos documentos institucionais se justifica
por sua natureza indicativa e regulamentar da dimensão metodológica do trabalho com nosso
objeto de estudo, a Literatura, historicamente inserida na disciplina de Língua Portuguesa. Por
este prisma, efetuamos um exame das publicações estaduais que antecederam a formulação
federal dos PCNEM e seus textos complementares, bem como pelos manuais didáticos, em
busca de verificação das hipóteses formuladas, para efeito de comparação, síntese, formulação
de pressupostos e encaminhamento da proposição final.
A apresentação do corpus evidencia, portanto, a dependência histórica de seu
surgimento e a decorrência de suas necessidades, conforme a exigência pedagógica que se
configura. E para cumprir o objetivo de análise histórico-dialética, convém situar o modelo
didático da década de 70.
44
1.3.1 O MODELO DA DÉCADA DE 70 SOB A MIRA DOS PCNEM
Segundo os PCNEM, a disciplina de Língua Portuguesa na LDB 5692/71 vinha
subdividida em Língua e Literatura, o que provocou a separação entre gramática, estudos
literários e redação:
Os livros didáticos, em geral, e mesmo os vestibulares,
reproduziram o modelo de divisão. Muitas escolas mantêm professores
especialistas para cada tema e há até mesmo aulas específicas como se
leitura/literatura, estudos gramaticais e produção de texto não tivessem
relação entre si.
(BRASIL, 1999, p. 137)
Imbuídos do espírito de pesquisa que nos motivou a procurar respostas para o
trabalho escolar com a Literatura, em Campos (2000)
21
abordamos as atividades de
compreensão de textos poéticos como formulam os LD e algumas avaliações tradicionais,
demonstrando a fuga da análise do trabalho estético em favor de aspectos externos ao texto,
prática por muito tempo exercitada nas salas de aula. Concluímos que o modelo interpretativo
desta visão compartimentada e linear da literatura decorreu do padrão informativo solicitado
pelos estudos pré-vestibulares que priorizavam a memória em detrimento da análise.
Com o avanço teórico- científico no panorama brasileiro a partir da década de 70,
a textualidade passou a ser unidade básica de estudo, descartando a visão periférica e os
determinantes externos como datas, biografia e traços distintivos de movimentos, outrora
considerados elementos-chave da interpretação, prática ainda realizada até o presente. A
ênfase estrutural passou a priorizar informações teóricas relativas à composição textual como
autor, eu-lírico, narrador, características de personagens, numa compreensão interna, embora
sem desvendar efeitos atingidos pela manipulação de um e outro elementos enquanto recursos
21
Adriana Juliano Mendes de. Capítulo 1- Dissertação de Mestrado- Unesp/ Ibilce, SJRP, 2000.
45
de sentido; ou seja, a interpretação se processava apenas como atividade de localização de
informações, prática ainda permanente em muitas situações didáticas.
Muitas alterações surgiram principalmente devido à influência da Lingüística e dos
estudos do Formalismo russo, cuja abordagem interna passou a ser constitutiva da análise da
expressão, gerando polêmicas contra o próprio excesso de formalismo. De um extremo a
outro, do historicismo ao formalismo, os caminhos interpretativos fizeram com que a
curvatura teórica se dobrasse ao máximo, enrijecendo posições que, atualmente, buscam o
equilíbrio pela complementaridade, na tentativa de abarcar a potencialidade do sentido,
integrando à análise formal a consideração do contexto de produção da obra.
Ao investigar o que mudou na orientação para abordagem escolar da Literatura da
vigência da última LDB para a atual, iniciamos a reflexão problematizando a reforma
curricular do Ensino Médio, relatada nos PCNEM, organizados em áreas de conhecimento,
fruto da LDBEN nº 9394/96, referência legal para a formulação das mudanças propostas.
Na tentativa de superação da fragmentação, propôs-se, na primeira versão dos
parâmetros, que se deslocasse a história da literatura e os conteúdos tradicionais de
nomenclatura gramatical para segundo plano. Literatura integrou-se à área de leitura e o
estudo da gramática passou a ser estratégia para compreensão, interpretação e produção de
textos. A tentativa, conforme se pôde perceber, foi a de passar da concepção diretiva,
classificatória e de memorização, do modelo anterior, à concepção relacional, dialógica no
final do século, compreendendo a linguagem como manifestação indivisível e não apenas
sujeita à anatomia da análise gramatical, em busca do refinamento da expressão e da imitação
do estilo dos autores célebres.
Por este prisma, a abordagem dos conteúdos, por área, resolveria, em tese, a
problemática da classificação de termos e períodos gramaticais e da memorização de datas e
características de estilos de época, tomando a dimensão dos textos como unidade básica de
46
estudo bem como o aprimoramento de competências e habilidades mais amplas, globais e
maiores que as operações de classificação. O objetivo passaria a ser procurar no tecido da
linguagem verbal o material de reflexão, prioritária enquanto instrumento de trabalho, para,
deste modo, por extensão, contextualizá-la em sua dimensão histórica, estabelecida pela
relação de comparação que guarda com o conhecimento de outras línguas e manifestações
literárias. Do modelo diretivo, classificatório, fragmentado, da década de 70 procurou-se
alterar o enfoque para um modelo sócio-interacionista, tomando a comunicação como
princípio básico das ações didáticas.
Na concepção comunicativa, a língua, veículo da linguagem, base dos saberes
passou, teoricamente, a receber tratamento transdisciplinar, já que expressão dos valores
sociais e culturais, devendo subsidiar atividades que assegurassem o compromisso de
promover a ética da identidade, a estética da sensibilidade e a política da igualdade. O aluno
deveria interagir socialmente, resgatando e construindo sentidos; por isso, o texto enquanto
forma e enunciado, passou a ser unidade de estudo de caráter multidisciplinar, objeto de
análise/síntese, por possibilitar a dimensão dialógica, estruturando sistematizações
recorrentes, adesões temáticas ou divergências estruturais e de estilo.
Entretanto, ainda não podemos afirmar que as “novas práticas” se consolidaram. O
passado deverá incorporar o método de trabalho na concepção dialética, cuja ntese
reestruturará uma nova ação e lhe dará sustentação, superando, paulatinamente, o modelo da
década de 70_ cristalizado pelo giz e pela lousa, sem material pedagógico inovador e
adequado_ pela implementação das diretrizes que complementam a tendência midiática e
virtual contemporânea. Os procedimentos cognitivos de memorização e classificação deverão
incorporar o raciocínio comparativo-relacional.
47
1.3.2 A ORGANIZAÇÃO DO 1º GRAU : OS GUIAS CURRICULARES
A SEE/SP elaborou, como conseqüência da LDB 5.692/ 71 os GC
22
propostos
para as matérias do núcleo comum, que serviram como elemento renovador do ensino de
grau. A equipe técnica de Comunicação e Expressão, Língua Portuguesa
23
, com a colaboração
especial do professor Carlos Franchi, introduziu em 1975 procedimentos didáticos
fundamentados em contribuições da Lingüística, explicitando as novas concepções
curriculares e de ensino, constituindo o primeiro passo rumo à estruturação da escola
fundamental de oito anos. O contínuo aprimoramento da política educacional tinha como
requisitos centrais a unidade e a continuidade. Estava nascido o futuro Ensino Fundamental
como hoje o conhecemos.
Teoricamente a proposição sistematizada em conteúdos seriados mostrou
elaboração cuidadosa, de caráter científico, conduzindo gradualmente os conteúdos
curriculares, porém, na prática, as inovações propostas pela Lingüística tiveram eco, a
rigor, a partir da última década, considerando a passagem do século XX para o XXI. A
aplicação e assimilação mais precisa dos preceitos lingüísticos decorreu das orientações e
documentos subseqüentes, bem como do SARESP
24
, que modelizou habilidades específicas
para o uso da língua a partir da matriz nacional do SAEB.
No que concerne ao ensino da Língua, os GC (SÃO PAULO, 1975, p.16-17)
recomendaram quatro eixos centrais: a) expressar-se oralmente; b) ouvir; c) ler (para realizar
alguns objetivos) e d) expressar-se por escrito. Dentre os objetivos de leitura, nas orientações
para estudo da literatura, instruções genéricas de identificação da idéia principal em textos
22
SÃO PAULO, 1975 anexo C quadro de objetivos gerais e atividades propostas para área de Comunicação e
Expressão - ensino de Língua Portuguesa- por Jairo Fernando de Jesus Freitas e Ritta de Cássia Araújo Centola.
23
CERHUPE -Centro de Recursos Humanos e Pesquisas Educacionais “Prof. Laerte Ramos de Carvalho”,
criado em 1973 pelo decreto 2.204, de 22 de Agosto. Teve como diretora Therezinha Fram e como
coordenadora geral Delma Conceição Carchedi. Este centro originou a Coordenadoria hoje denominada CENP.
24
Sistema de Avaliação da Rede Estadual de São Paulo - que, na atualidade, metodologicamente avalia o
processo de ensino e encaminha os resultados por meio das OPs, gerenciando também, decisões educacionais.
48
conotativos e outras habilidades que constam do quadro de sistematização
25
: “o aluno
conseguirá ler, independentemente ou não, obras de literatura, de seu vel e interesse para:
realizar as operações elencadas no item LER[...]; identificar alguns gêneros literários; recriar
um texto e produzir textos de sua própria linguagem”.
O Guia apresenta uma legenda indicando habilidades a enfocar nos textos
literários, a partir da série, com ou sem preocupação de sistematização (idem p.19, grifo
nosso) bem como outras que devem ser adquiridas, observando-se manutenção. Os textos
denotativos constam das habilidades da série em diante e os gêneros literários constam das
séries finais do grau. Para o desenvolvimento da leitura de obras de literatura, a equipe
técnica recomendou, a partir da 3ª série atividades como: a) dramatização; b) expressão
criadora (por exemplo plástica); c) roteiro de leitura do livro lido; d) discussões e debates.
Diante da envergadura de tal sistematização proposta para o grau, era
necessário organizar o grau. Em 1977, a equipe técnica
26
lançou os pressupostos, objetivos
e recomendações para a sistematização dos fatos da língua e da literatura no currículo de
Língua Portuguesa, sugerindo alternativas para introduzir melhorias nesse nível de ensino.
Considerando que a TL teve avanço no Brasil com sua implantação nos
currículos de Letras a partir da década de 70, segundo Lima (2002), era natural que houvesse
interesse da pesquisa acadêmica em colaborar na sistematização de um currículo planejado
27
.
Pode-se constatar, ao longo do tempo, um esforço por parte das universidades e das equipes
técnicas das Secretarias de Educação e das Diretorias de Ensino, bem como da maioria dos
professores da rede em adequar um currículo harmônico e necessário ao público brasileiro,
25
ver Anexo D (objetivos específicos)– quadro de habilidades dos Guias Curriculares “ o verdão ”-1975, p. 231
26
composta pelos professores Ataliba Teixeira de Castilho, Ritta de Cássia Araújo Centola, Rodolfo Ilari e Yara
Frateschi Vieira.
27
Vários professores das universidades brasileiras contribuíram com críticas e sugestões como Antonio Soares
Amora, João Luiz Lafetá, Massaud Moisés e João Alves P. Penha, dentre outros, conforme podemos verificar no
corpo do documento. Portanto, não é nova a preocupação da universidade com o ensino, especialmente nos
últimos trinta anos.
49
por meio de proposições, processos de avaliação e acompanhamento dos resultados, além de
permanentes readaptações frente à modernização de tecnologias e demandas sociais.
As últimas três décadas expressam o movimento de adequação institucional nos
níveis acadêmico, oficial e escolar e readequação de conteúdos, métodos e processos de
orientação da aprendizagem, suscitando nova proposição teórico-metodológica de trabalho. O
Programa de Reforma do Ensino blico do Estado de São Paulo têm instituído projetos que
demandaram da CENP reedição das propostas curriculares dos diversos componentes da
grade do grau, com finalidade de renovação do compromisso político-pedagógico. A
responsabilidade da Secretaria era a determinação do currículo comum à rede e a promoção
do debate sobre a democratização do ensino com qualidade, sendo que a organização dos
processos pedagógicos passou a ser responsabilidade da escola. No sentido de subsidiar a
prática docente, as Propostas Curriculares de e graus, de 1986 e 1987, receberam nova
luz. Tendo completado cerca de 20 anos de discussão e esforço de implementação no
currículo dos agora denominados Ensino Fundamental e Médio, tais iniciativas promoveram
dinamização no tratamento dos conteúdos e abertura para manifestações e expressões da
cultura. O problema continuou sendo a aula nas duas décadas após a LDB/71, ainda no
paradigma informativo, de cunho memorizante.
Após situar a legislação que fundamentou o modelo pedagógico dos primeiros
subsídios, passamos a apresentar os pressupostos presentes nos documentos oficiais que
constituem o corpus de pesquisa, marco teórico dos processos metodológicos sugeridos para o
ensino de Língua e Literatura, que articularam a necessidade da criação de Parâmetros
Curriculares Nacionais, na tentativa de equiparação dos demais estados brasileiros ao ensino
oferecido nas regiões de sistemas educacionais mais político-economicamente desenvolvidos.
50
1.3.3 PROPOSTA CURRICULAR DE LÍNGUA PORTUGUESA - 1º GRAU
Tornar realidade o mandamento constitucional que estabelece a
obrigatoriedade de fixação de parâmetros curriculares nacionais para o
Ensino Fundamental, significa um profundo repensar sobre a pertinência,
relevância e abrangência dos conteúdos até hoje ensinados, à luz daqueles
que acreditam na educação como instrumento de formação de cidadãos
conscientes[...]
Nessa perspectiva, a Secretaria de Estado da Educação vêm, ao
longo dos últimos anos, subsidiando os educadores com a implementação de
documentos promotores de um processo de reflexão e discussão dos saberes
até então trabalhados, dos procedimentos metodológicos selecionados e
materiais didático-pedagógicos disponíveis nas salas de aula. (SÃO PAULO,
1998, 4 ed, p. 11)
A primeira formulação das Propostas Curriculares de grau, dentre as quais a de
Língua Portuguesa, data de Dezembro de 1985. Elaborada para subsídio da ação docente pela
equipe técnica de Comunicação e Expressão da CENP
28
, a PCLP estabeleceu objetivos e
conteúdos mínimos a alcançar ao final de cada série e nível do Ensino Fundamental. A
versão preliminar, numa perspectiva construtivista-interacionista, foi submetida à análise e
discussão de professores das redes estadual e particular e das universidades do Estado de São
Paulo
29
em Julho/ Agosto de 1986, após inúmeros estudos e debates.
Ingressando na rede pública no ano de 1986, porém trabalhando eventualmente
desde 1984, pudemos perceber o caráter revolucionário de tal proposta, que viria a servir de
parâmetro para os docentes de nossa geração. Estudos coletivos, discussões, minicursos,
projetos e orientações técnicas foram desencadeados, ao longo da década passada, a fim de
que os pressupostos fossem conhecidos, assimilados e, gradativamente, aplicados. Documento
de intenção didático-pedagógica, solicitou desafio para execução de princípios, fomentando
produção intensa a posteriori. Apesar de imaturidade científica e pedagógica próprias do
28
A equipe que participou da 1ª, 2ª e 3ª edições difere da equipe que participou da elaboração da 4ª e última
edição (SÃO PAULO, 1998, p. 11,14).
29
USP, UNESP, PUC/SP, UNICAMP.
51
início de carreira, pudemos perceber que aquele debate ocupava a cena principal da política de
ensino na época.
Ao participar da discussão da versão preliminar da Proposta para o grau e da
aplicação da de grau como representante do segmento ao qual se destina a função
pedagógica que desempenhamos na assistência técnico-pedagógica de Língua Portuguesa, foi
possível observar o caráter sistemático e inovador das duas propostas: da de e da de
graus, em consonância com o desenvolvimento do cenário científico no campo das ciências
humanas e das letras no país. Das críticas e sugestões apresentadas decorreu a reformulação
do texto, surgindo em 1987 a 2ª versão, para ser lida por todos os professores da rede paulista.
As equipes técnicas
30
e governos foram mudando, porém a proposta permaneceu,
sendo estudada, requerendo orientações e cursos para aplicação dos fundamentos nela
dispostos. Envolveu, portanto, professores e pesquisadores que, em seus trabalhos
universitários, se dedicaram ao estudo dos problemas da mediação entre as teorias
contemporâneas e o ensino-aprendizagem da interpretação de textos, buscando intercâmbio
entre diferentes experiências.
O documento passou por reformulações de 1987 a 1991, chegando à 4ª edição com
nova equipe
31
. Estimulando a reflexão por parte dos professores de Língua Portuguesa, visava
à mudança de ponto de vista em relação ao ensino da linguagem e da língua cuja grande
contribuição foi tornar clara a distinção entre: a) atividades de linguagem, b) de operação
sobre a linguagem e c) atividades de metalinguagem. Evidenciou a influência das teorias
lingüísticas e de teorias psicopedagógicas da aprendizagem, de linha piagetiana, que fixaram
estágios do pensamento concreto ao abstrato, graduando as atividades dos alunos por
30
Participaram da elaboração das três primeiras edições as professoras: Carmem S.C. Coutinho, Cybele de M.
Amaro, Lydia Bechara, Maria Apparecida Perini, Regina Maria F.E. Ivamoto, Silvia Bruni, Therezinha de
Lisieux Vasnconcelos, Anna Emília S. Soubhia e Maria Silvia O Louzada, conforme nota à p. 14 da 4ª edição.
31
Participaram da elaboração da edição: Harry V. Lopes, Maria A Trindade, Maria S. O Louzada, Regina
Maria F.E. Ivamoto, Silvia Bruni e Zuleika de Felice Murrie, membros da equipe técnica de Língua Portuguesa
da CENP, conforme nota à p. 11 da 4ª edição.
52
complexidade após a série ou 12 anos de idade, fator que influenciou no grau de
sistematização do currículo do EF.
Desta forma, as atividades de linguagem passaram a ser indicadas como conteúdo:
conversas, debates, leituras, incentivando a manifestação oral e a exposição comunicativa do
aprendiz. Contudo, naquela época, professores e comunidade ainda não acreditavam que
conversas e debates desenvolvessem habilidades e consolidassem a aprendizagem de
conteúdos, razão pela qual somente na atualidade estes expedientes têm sido considerados,
apesar da insistência das indicações nas atividades de linguagem e de enunciação como forma
de construção do sujeito histórico e intelectual.
A atividade de operação sobre a linguagem consta de todas as séries, porém,
permaneceu nos moldes da análise morfossintática, com variação na complexidade; e a
metalinguagem, descrição de categorias e classificações, que suscita desenvolvimento do
pensamento abstrato, ficou para as séries finais. Neste sentido, compreender a linguagem
literária e seus efeitos, operar sobre algumas formas, para entendê-las, passou, na concepção
do documento, a ser um processo de construção do sentido e de entendimento do estilo, a
princípio, em exercícios de operação sobre a linguagem, sem preocupação metalingüística.
Teoricamente os objetivos foram bem definidos, porém, a prática permanecia
focalizando a perspectiva histórica, diacrônica e informativa. No que concerne à Literatura, a
proposta de grau reconheceu a singularidade do texto literário e apontou como objetivo da
escola, na área de linguagem, “desenvolver uma concepção adequada de escrita e de texto e
dos recursos expressivos que permitem interpretar “inclusive os textos do acervo histórico e
cultural de sua língua.(SÃO PAULO, 1991 p. 48) Porém, não havia orientações específicas
para o trabalho com o texto literário, apenas seu enquadramento nas atividades de leitura.
53
A equipe técnica finaliza o item 1 citando indicações do professor Ilari
32
:
“procuremos dar antes de mais nada à escrita, à linguagem culta e à literatura um caráter de
vivência”. No entanto, pudemos observar, esporadicamente, na escola, o caráter de
vivência, pois a forma e como sistematizar as atividades foi a dúvida que perseguiu os
docentes durante essas três décadas.
Conseqüentemente, na esteira do projeto para o grau, era necessário solidificar
as concepções e pressupostos embasadores, discutindo, desde 1984, a versão preliminar da
Proposta para o grau, com a expectativa de que lograsse avançar no Estado a discussão
sobre o ensino de Língua Portuguesa e Literatura de forma científica e sistematizada.
1.3.4 CONCEPÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA DE ABORDAGEM DA
LITERATURA NA PROPOSTA CURRICULAR PARA O ENSINO DE
PORTUGUÊS– 2º GRAU
O item 3.4 relativo às atividades de estudo da literatura, na Proposta Curricular
para o grau, tem início com a tentativa de conceituação e caracterização do texto literário.
Com o objetivo de iniciar a reflexão conceitual, o enunciado da citação expõe uma das
polêmicas instauradas não só nos documentos oficiais, mas também no setor acadêmico,
enquanto indício de posições teóricas assumidas por algumas linhas e frentes de pesquisa
nacionais e internacionais ao longo do tempo.
Segundo a Proposta Curricular, alguns conceitos relativos à definição de literatura
requeriam estudo e análise teórico-prática na época, problema não solucionado, conforme
veremos adiante na problematização dos PCNEM:
32
ver SÃO PAULO, 1991, p. 26.
54
Mais recentemente, a literatura tem sido identificada a um determinado tipo de
discurso, de alta valorização social. Significa que o texto literário tem
adquirido “status” que o diferencia dos demais tipos de discurso ou textos
(jornalístico, político, científico, técnico, etc.) em função do valor que a
sociedade lhe atribui. Trata-se de um profundo elo entre a literatura e o
contexto social. (SÃO PAULO, 1987, P. 42)
33
O texto segue apresentando outro pressuposto que demanda dos pesquisadores da
área reflexão e tomada de posição em defesa da categoria do literário
.
A linguagem literária, por sua vez, tem sido objeto de inúmeras
tentativas de definição.[...] Em função da postura que adotamos em relação à
literatura e à linguagem literária, viemos discutindo, no interior desta
proposta, paralelamente, os diversos tipos de discursos ou textos, inclusive o
literário sem dar destaque especial a este ou àquele. Evidentemente, os
que argumentariam em favor do privilégio ao texto literário no grau,
que a escola talvez seja o único espaço da interlocução dos indivíduos com a
literatura. Sem negarmos a veracidade deste fato, lembraríamos, contudo,
que a escola também se constitui, por excelência, no espaço da interação dos
alunos com os demais tipos de texto. (idem, p. 42)
Com o objetivo de tomar posição diante das concepções assumidas e de destacar a
problemática que envolve o eixo central inserimos questões desestabilizadoras, tendo por
finalidade levar à reflexão sobre: a)que critérios utilizar para classificar um texto como
literário; b) se existe uma teoria literária que sustente e explicite o valor das obras ou seu valor
é, de fato, determinado por múltiplos interesses; c) se há uma conjunção de critérios explícitos
que podem partir dos aspectos internos ou d) se cada teoria é passaporte para a atribuição de
valor segundo seus interesses e, ainda, e) se existe algo permanentemente literário; f) no caso
de existir, qual(is) teoria(s) explicita(m) a contribuição estética de cada obra?
A discussão do valor da/na literatura faz parte do debate científico maior e teorizar
sobre essas questões é tarefa formal da TL e não da esfera pedagógica. Ao participar da
discussão da Proposta de grau pudemos observar que tal preocupação já constava da
33
ver item 3.4.1 da Proposta 1992, 2ª versão preliminar, p. 41, 42.
55
problematização do currículo. Os recortes teóricos das publicações de Wellek e Warren
(1971), Massaud Moisés (1970) e Lajolo (1982)
34
fundamentam a Proposta na conceituação e
caracterização da Literatura, porém, quanto aos procedimentos metodológicos, a aproximação
dos discursos por equivalência de valor _ reflexo do desenvolvimento da Lingüística e das
teorias da linguagem, fundadas na instituição do lugar social dos discursos, ao reconhecer sua
função utilitária _ negou à literatura lugar e prioridade epistemológica.
Qualquer discurso, segundo esta visão, tem o mesmo valor social, o que é lógico e
verdadeiro. Entretanto, o critério de homogeneização e de equivalência social não encontra
legitimidade do ponto de vista estético e por isso os contestamos com apoio no arcabouço
consolidado pela Teoria da Literatura, que tem por função reconhecer a especificidade de sua
linguagem -objeto de análise de valor não apenas social, mas cultural. Para que um aluno
valorize a produção cultural de seu país, precisa conhecer textos literários, arte, música,
cinema, dramaturgia, enfim, os expoentes que constituem o sistema de obras e estilos de sua
nação, agindo uns sobre os outros.
A função estética dos textos constitui um dos fundamentos desta tese no sentido de
embasamento teórico-conceitual das esferas pedagógicas na eleição de critérios de definição
do literário e mais, de defesa e dinamização do estético no currículo da EB. A contribuição
que esta elucidação poderá propiciar reflete nossa visão de um dos aspectos do problema da
competência leitora bem como de parte das considerações acerca do domínio do sistema
modelizante secundário na escola: a literatura, historicamente tratada de forma arbitrária e
subestimante, mantendo um padrão de conhecimento típico do senso comum.
Ressaltem-se, com o intuito de provocação, interrogações que configuram
fragilidades dos documentos oficiais no tocante ao encaminhamento teórico-metodológico da
abordagem da Literatura, aspectos que devem ser retomados para consideração dos desafios e
34
Observar notas de rodapé à p. 42 da Proposta indicando fundamentação teórica.
56
limites educacionais postos em debate na conjuntura pós-moderna. Ao longo da argumentação
nossas hipóteses deverão ser explicitadas: Valor é critério? De que forma atribuir valor?
Embasado em métodos subjetivos ou objetivos? Em que consiste o papel da Teoria na
elucidação dos critérios de definição do que é ou não literário?
A título de conceituação de uma das categorias selecionadas para análise,
compreendemos que a Literatura tem o poder de antecipar a problematização social e
psicológica dos indivíduos, equacionando os modos de vida, antes mesmo que façam parte da
realidade, apesar de dela se alimentar. Por isso, a leitura do texto literário não alcança
somente o patamar da informação que os outros textos têm a função de veicular, mas,
sobretudo, tem o poder de colocar em tensão a racionalidade, a capacidade de espanto e
consciência das limitações que nos são impostas, determinando atitude reflexiva, fazendo-nos
prever e antever o futuro, inserindo-nos no contexto por um exercício subjetivo analítico
inigualável, devido à sua força sintética e potencial.
Diante desta propriedade, razões para algumas obras se constituírem em
representações imortais: conservam um ingrediente seminal ao se apresentar como matrizes
que alimentam e renovam a criação da literatura, preservam fontes do patrimônio cultural da
humanidade, constituindo o cânone, pois seu valor estético, acrescido de valor social,
histórico, filosófico, antropológico e ético, configura o zeitgeist
35
da época.
Por este prisma, a leitura decodificadora, procedimento utilizado na abordagem de
textos denotativos, é insuficiente para os textos literários, os quais exigem habilidades
complexas. A fronteira entre os textos informativos e estéticos torna-se evidente, visto que os
estéticos veiculam valores de natureza simbólica, distinta da natureza primária dos textos
informativos. Além disso, o valor de que tratamos se refere ao procedimento estético
reconhecido na constituição do efeito produzido na linguagem: arte por excelência, que não se
35
Zeitgeist. Termo alemão que significa unificação de todas as manifestações de cultura de um tempo, criado por
Hegel em suas reflexões sobre a unidade da arte e o espírito de época, utilizado por Rosenfeld in Texto/Contexto,
p.73.
57
contenta em ser decodificada, mas que requer contemplação, análise que revele sua poiésis,
seu efeito de construção, adiado até o diálogo com o leitor.
Eagleton (1983, p. 11-12), teórico inglês de linha marxista pós-estruturalista e
contemporânea afirma: “valor é um termo transitivo; significa o que é valioso para certas
pessoas, em situações específicas, de acordo com critérios específicos, à luz de determinados
objetivos”, quer sejam políticos, econômicos, culturais ou sociais. Classificar algo como
literário, conforme expõe o autor, é extremamente instável, visto que certas obras conservam
seu valor através dos séculos, à luz de nossos próprios interesses.
Julgando tal acepção inadequada para subsidiar a seleção docente de obras que
devem constituir o currículo da EB, à guisa de réplica da equivalência cultural de discursos
questionamos: se valor é um termo transitivo e instável, por que Machado de Assis ou
Guimarães Rosa ainda são lidos? Por que razão algumas obras de José de Alencar receberam
novas leituras, inclusive na linguagem do cinema? As obras têm valor porque temos interesse
em valorizá-las? Estes textos são valiosos somente para a/na escola, conforme os PCNEM
(BRASIL, 1999, p. 138) relatam a visão dos adolescentes sobre Literatura?
O estudo de textos como a conta de luz, do telefone, o recibo de aluguel, o
contrato, a bula de remédio, o manual de instrução do videogame ou do DVD
36
requerem
habilidades básicas, condição sine qua non para a participação social, entretanto, o
conhecimento de tais formas de representação não pode ter o mesmo valor cultural que os
romances de Alencar, Machado, Guimarães Rosa ou Mário de Andrade ou que os poemas de
Drummond. Se a Literatura ocidental preservou histórias como a Ilíada e a Odisséia, se a
tradição preservou mitos foi porque são representações simbólicas das meditações humanas
que transcendem as relações puramente sócio-econômicas; são patrimônio que compreende a
memória de nossa cultura, nossas raízes.
36
Ver PCNEM (BRASIL, 1999, p.137)
58
Acaso a codificação dos signos encontra equivalência nos documentos e textos
epistolares práticos e na arte? A educação deve tomar como critério de atribuição de valor
apenas o da necessidade? Não seria um critério simplista demais para sustentação do
currículo? Convém, para elucidar a questão, definir critérios de valor_ pragmático ou
estético_ a fim de “neutralizar”, colocar em grau zero ou acentuar a distinção entre gêneros
jornalístico, político, científico, técnico e literário, pois que tal distinção é central e inadiável
para adoção de uma metodologia de ensino.
Posteriormente, com a finalidade de organizar a práxis docente, é necessário
comparar textos que se referem à realidade imediata, do contexto social local ou mais amplo,
evidentemente, pelo critério pragmático, da necessidade, da demanda que o mercado e as
relações sociais exigem num currículo consonante com o contexto e com a produção de novas
formas. Mas, ao mesmo tempo, deve-se operacionalizar sistematicamente um trabalho diante
dos gêneros de dimensão simbólica, expressão do legado humano que constitui as
experiências e visões de mundo do contexto universal, do imaginário e da arte, e da ampla
sociedade das diferentes épocas, sem dúvida, pelo critério estético
37
, que não elimina
objetivos e interesses políticos, econômicos, antropológicos ou filosóficos, antes abriga-os e
lhes hospitalidade, sem deslocar o foco da Literatura para fatores externos e nem reduzir a
cultura ao nível da necessidade.
Este posicionamento é definitivo e central, tanto na leitura quanto nos
procedimentos de compreensão da linguagem utilizada em cada esfera social. É necessário
antes estabelecer os critérios de definição do gênero em termos de função: o texto é
pragmático ou estético? Tem função de informar, registrar, garantir direitos e instruir ou se
destina a representar uma experiência, uma situação, despertar a reflexão, a compreensão
sobre o mundo, sobre a sociedade e a existência, em diferentes tempos que retratam a
37
ver Candido, Formação da Literatura Brasileira, prefácio, p. 7 e Jakobson, In Formalistas russos, método
formal, p. 8.
59
evolução do homem, registrando suas formas de criação, segundo o contexto e as
determinações da época?
Por este prisma, o status atribuído ao texto literário se justifica. Realmente, ao
texto literário não atribuem status, mas antes, estatuto de linguagem privilegiada, que,
segundo estabelece Lajolo
38
, “escapa ao imediatismo e ao estereótipo das situações e usos da
linguagem que configuram a vida cotidiana”. Além do mais, atualmente a televisão, os
jornais, a internet, veículos de informação como o rádio e outras mídias modernas têm se
encarregado de fazer presentes informações instantâneas, atuais, com avaliação crítica e
ponderação sobre suas conseqüências. Portanto, a escola não é mais a única via de acesso à
informação e não se constitui, no século XXI, por excelência, como espaço de interação
com os demais textos.
Jornais da mídia impressa divulgam artigos de opinião e pontos de vista de
colunistas e mesmo o jornal da mídia televisiva veicula entrevistas e debates com sofisticação
no tratamento de informações das diferentes esferas: política, econômica, internacional e até
mesmo científica. Documentários produzem visão crítica, programas e séries orientam ética
ou politicamente o comportamento dos jovens, enfim, revistas, programas de TV e de rádio,
informam, indicam direitos e condutas que constituem a cidadania. que se considerar o
nível econômico da classe majoritária que freqüenta a escola pública, sem acesso à assinatura
de revistas e jornais, bem como sem critério crítico de seleção de programas televisivos
informativos; entretanto, a formação do senso crítico para seleção das informações e incentivo
à leitura além do nível básico e primário da necessidade e da inserção no mundo é e deve ser
responsabilidade da escola, do currículo e da práxis educativa.
A verdade é que os espaços de circulação das notícias, informações e instruções
ampliaram muito, ao passo que a literatura ainda continua a ser um bem inacessível. Se
38
Lajolo apud SÃO APULO, 1992, p.42, nota 3.
60
dificuldade de acesso aos textos pragmáticos, estime-se a dimensão desta dificuldade em
relação à produção estética, que pertence ao domínio da arte. A escola deve se constituir,
portanto, no “espaço privilegiado de cultivo de práticas múltiplas de leitura multimodal”,
conforme adiante orienta Rojo (BRASIL, 2004).
Consideramos, então, que não deve haver equivalência; antes, conhecimento das
especificidades de cada gênero e eficácia na orientação da interpretação das modulações da
linguagem, estabelecendo níveis graduais de profundidade e de complexidade ao longo da
escolarização. Portanto, defendemos que o Ensino Médio privilegie textos de maior densidade
semântico-estilística, transportando o jovem da esfera prática para a simbólica, com o objetivo
de preparar a nova geração não para solicitações mais complexas de acesso à produção
mais formalizada da sociedade, mas também à dimensão antropológica da cultura.
Segundo Zilberman (1989) os fatores históricos registraram que a consolidação do
público leitor, no mundo, no século XVIII, determinou a ampliação considerável do consumo
de textos, surgindo correntes e políticas de popularização do livro e da leitura, com
interferências na produção e difusão das obras, bem como na modernização de sua linguagem,
produto do desenvolvimento tecnológico. Entretanto, percebemos a ocorrência desse processo
tardiamente no Brasil.
Contextualizando nossa realidade quanto à política de popularização da leitura,
podemos afirmar que a consolidação do público leitor ainda está por se realizar, mas que, o
século XX marcou, historicamente, nosso considerável desenvolvimento editorial e a
ampliação do consumo de textos informativos, difundindo significativamente a produção da
imprensa e da publicidade e, característica local, o desenvolvimento das mídias da imagem,
tão presentes no cotidiano brasileiro, por meio do circuito comunicativo da televisão.
Por esta razão, o momento tornou-se especial como nunca para redimensionar o
trabalho com leitura e literatura na escola, após a aplicação de recursos públicos do Estado no
61
PNLD e na atualização do acervo das bibliotecas escolares
39
. Precisamos lançar mão desse
poder da leitura de resgatar os sentidos abalados pela desestabilização das verdades
concebidas até o final do século XX, questionadas pelas demandas da pós-modernidade.
As obras não morrem, representam o contexto em que foram criadas. Segundo os
materialistas históricos, a unidade da arte expressa o espírito de época, tal qual concebeu
Hegel. O que as faz permanecer? O valor ou o prestígio de seu autor?
A sociologia da leitura concluiu que a consideração do tempo de permanência de
determinada obra no horizonte de consumo do presente e sua circulação podiam estar ligadas
à dependência do prestígio do autor. Segundo Zilberman
40
, o critério estatístico do consumo
restringiu a contribuição da sociologia da leitura à Teoria da Literatura, visto que sua ótica
empírica não procurou encontrar sentido e valor na contrapartida estética.
A problemática abordada nos PCNEM em relação às orientações para o ensino da
literatura, revela que a ótica social não encontrou contrapartida na estética, especialmente no
tocante à homogeneização do valor dos textos. Alguns relatos orais de alunos, citados no
próximo item evidenciam a ótica empírica e arbitrária ainda adotada como critério de seleção
de obras literárias e temas do currículo real.
Nosso público, muito sensitivo, atraído pelos apelos da linguagem imagética e
sonora, sem dúvida devido à sua marca heterogênea de constituição e descendência, tem em
seu caráter e formação a paixão pelo movimento, pela diversidade e pelo multicultural. A
educação brasileira ainda não despertou para a importância do aproveitamento das diferentes
linguagens como recurso de ensino, principalmente explorando sons e imagens, procurando,
por meio de sua relação com a linguagem verbal, ampliar o nível de letramento do alunado e
de nosso povo, aspecto considerado na proposição didático-metodológica que apresentaremos
no 3º capítulo, ao comparar diferentes semióticas.
39
Grande parte desse material encontra-se em caráter de museu devido aos entraves aqui discutidos. Obras
valiosas do ponto de vista estético e cultural têm permanecido nas prateleiras sem manuseio e leitura.
40
Cf Zilberman, 1989, p. 16-19.
62
O desenvolvimento mundial das tecnologias pós-modernas coincidiu com o
desenvolvimento de nossa cultura agrária e comercial. Ainda não suficientemente madura na
codificação da linguagem escrita, que requer maior capacidade de abstração, racionalidade e
poder de assimilação do arbitrário, convencional e simbólico, a sociedade brasileira se depara
com as tecnologias da informação e da comunicação. Nosso país, ainda em formação,
comemorando pouco mais de 500 anos de cultura, colonizado, recebendo impregnações
diversas, contando com uma elite governante restrita a procurar benefícios e expansão do
poder, não desenvolveu o espírito democrático, principalmente nos aspectos que se referem à
difusão da educação e da cultura. Não podemos negar que ao povo brasileiro foi
negligenciado o acesso à cultura formal no desenrolar do processo histórico.
A ciência e a educação precisam redefinir os processos que nortearão a vida no
século XXI, a partir dos resultados e da experiência acumulada nos últimos tempos. Se a
Literatura pode desempenhar, no currículo, papel de eixo-gerador de situações didáticas que
resgatem os sentidos, entendemos que a Teoria da Literatura deva elucidar, no presente, os
critérios de reconhecimento dos procedimentos estéticos, buscando e levantando os princípios
que inauguram estilos, a partir da revisão metodológica da leitura, análise e reconhecimento
do processo distintivo de composição das obras.
Neste ponto, é preciso alçar o vôo interdisciplinar e associar conhecimentos
lingüísticos aos estéticos, não descartando a contextualização histórica, necessária para o
entendimento da obra enquanto realização de sua época, dialogando com o presente. Tal
revisão metodológica supõe aproveitar o conhecimento acumulado e aplicá-lo sob novas
bases.
Ao propor a mediação do processo de leitura, simulação de eventos de
representação e comunicação bem como o método comparativo e a atitude crítica, própria do
movimento dialético, que constituem as diretrizes e princípios transformadores das práticas de
63
leitura do texto literário para a compreensão de sua linguagem, acatamos o parecer de Leite
(1983) para quem não basta ‘transmitir aos alunos os princípios da Teoria Literária, mas
trabalhar com eles para construir, quotidianamente, esse saber sobre a literatura, repropondo
de forma problemática o seu objeto’.
41
A prática da leitura e a teorização constituirão atividades
intimamente relacionadas: daquela nascem hipóteses para esta; as hipóteses
teóricas precisam voltar ao trabalho efetivo com o texto para serem
confirmadas ou não. A atividade parcial e, portanto, artificiosa de apresentar
a teoria e depois “aplicá-la” a textos que servem de ilustração para ela, ou do
estudo de um texto para se introduzir a teoria com toda sua complexidade
será evitada, pois é responsável por uma atitude pouco crítica do objeto de
estudo. (SÃO PAULO, 1992, p.45)
Diante do exposto, é necessário repropor, de forma problemática, o objeto
literatura e o estudo de sua linguagem, observando os recursos formais, estilísticos e
lingüísticos, não descuidando de criar situações didáticas inovadoras para que as atividades
sejam protagonizadas pelos alunos e assumam significado real e depois simbólico: primeiro a
fruição, depois a reflexão, na concepção dialética, que supõe etapas de ação/reflexão/ação.
Primeiro o prazer da vivência protagonizada do literário, depois, o estudo metalingüístico
42
.
Foi possível reconhecer que a Proposta paulista de grau respeitou e considerou
em seu bojo alguns dos fundamentos e princípios da Estética da Recepção explicitados no
item 1 da sugestão de trabalho com o texto literário na linha dialógica bakhtiniana, expressa
pela recomendação comparativa. Segundo Jauss e Iser (1979;1994)
43
, “todo texto apresenta
uma estrutura de apelo que deve ser manipulada pelo leitor”, peça essencial da obra, o que
41
Leite, apud SÃO PAULO, 1992, p. 45. Ver Leite, Invasão da Catedral, 1983, p.65.
42
O Secretário de Estado da Educação, Gabriel Chalita, incentivou desde o início de sua gestão, em 2002,
trabalho dinâmico com a Literatura, instituindo: a) Gincana da Cidadania com números de declamação de
poemas; b) Festivais de teatro e dança; c) prêmios de Literatura para o professor e para o aluno, a exemplo dos
prêmios Lygia Fagundes Telles (2003), prêmio Paulo Bonfim (2004) e Olimpíada de LP (2005) nas categorias
Cecília Meireles e Cora Coralina. A arte teve tratamento aberto, com incentivo para apresentações e momento
definido pelas instâncias oficias para expressão das culturas geral e local. O problema continuou sendo a aula.
Nas duas décadas após a LDB/71 o modelo continuou no paradigma informativo.
43
teóricos da estética da recepção, no século XX.
64
notamos nas sugestões apresentadas nas citações. Ainda nessa perspectiva, o conceito de
atualização, na acepção de Jauss, foi introduzido enquanto procedimento que toma uma obra
do passado a ser percebida no horizonte contemporâneo. Segundo o autor, o sujeito da leitura
deve preencher os pontos de indeterminação que o diálogo entre presente e passado solicita.
Zilberman (1989) afirma que a teoria vinculada à recepção se dividiu em três
grandes campos intelectuais: a sociologia da leitura_ já explicitada nos comentários que
mostraram a popularização do livro e expansão do mercado editorial, o estruturalismo tcheco
e o reader-response criticism, que tomou o público como fator ativo do processo literário. A
Literatura foi assentida como forma especial de comunicação; o leitor, como entidade coletiva
a quem o texto se dirigia e a leitura tornou-se o ato resultante dessa troca. A experiência
estética, assim entendida, buscou seu efeito no destinatário.
Desta forma, o desvio obra/autor/leitor foi efetuado e os modos de apreciação
literária teoricamente ganharam novos contornos, porém, a prática de escolarização da leitura
manteve o leitor em atitude de espectador: passivo, receptor de um conteúdo pronto.Um dos
postulados da Proposta Curricular evidencia tal fundamentação, na teoria da Estética da
Recepção, pressupondo a alteração da relação do leitor com o texto:
A dimensão histórica do texto será entendida se o texto for
integrado no tempo, considerando o diálogo que mantém com outros textos
que o precederam ou foram seus contemporâneos e na vinculação desses
textos à realidade sócio-cultural da época. Essa dimensão não pode se
reduzir à história de grandes nomes, dados de sua biografia, títulos das obras
principais, datas de publicação, indicação de fontes e de influências. É
preciso termos em conta que cronologia é uma coisa, história de formas é
outra e, principalmente, a literatura propriamente dita não pode ser contada
como simples fatos que se acoplam numa suposta linha de sucessão. Essa
visão simplista de apresentar a evolução da literatura, em última instância, é
responsável pela idéia de que as variações se reduzem à substituição dos
períodos (os reconhecidos movimentos literários). que se considerar o
processo de idéias que estão em ebulição nos próprios momentos de
transição e trazem no seu bojo os germes das mudanças.
(SÃO PAULO,
1992, p. 46-47)
65
Percebemos, com isso, que o diálogo foi se estabelecendo como atividade
freqüente na interpretação da obra literária. Os caminhos e teorias inauguradas propuseram a
dialética do ir e vir de um tempo a outro, de um texto a outro, de um autor a outro. Formas
alternativas de procedimentos de estudo da literatura foram sugeridas na PCLP, dentre outras,
a leitura comparativa de textos literários e não-literários; de textos literários de épocas
distintas; de textos literários de mesmo gênero, autor ou de autores diferentes; textos de
mesma época e autores diferentes; textos de um mesmo autor produzidos em momentos e
gêneros diferentes.
44
Insistindo na linha comparativa, a Proposta, no item 3.4.2, intitulado “Para que
ensinar”, abre um parêntese reflexivo sobre a indefinição recorrente no currículo do ensino de
literatura, questionando se se deve ensinar somente a Literatura Brasileira ou também outras
literaturas. A equipe técnica defende a necessidade de consideração das demais literaturas de
língua portuguesa, legítimas manifestações culturais do mesmo sistema lingüístico, sugerindo
a abordagem de textos das literaturas de língua portuguesa asiáticas e africanas, porém
restringe a abrangência e especificidade no tratamento desses textos, por considerar que um
curso de grau “não comporta um estudo minucioso e sistemático de todos os aspectos dessa
literatura distribuída por diferentes continentes”. (SÃO PAULO, 1992, p. 42)
O documento incorporou preceitos teóricos do debate contemporâneo, em especial,
da Estética da Recepção e da linha dialógica bakhtiniana, porém a metodologia foi
tardiamente desenvolvida conforme as indicações, tendo reflexo somente na década presente,
não na época de sua produção. Os efeitos de sua implementação se fazem sentir no agora,
quando as solicitações são novas e outras.
Pode-se concluir a análise das indicações com o registro da sugestão para
abordagem da literatura na escola: “A prática da leitura e a teorização constituirão atividades
44
ver Proposta, 1992, p. 42.
66
intimamente relacionadas: daquela nascem hipóteses para esta; as hipóteses teóricas precisam
voltar ao trabalho efetivo com o texto para serem confirmadas ou não.” (idem, p. 45) Neste
movimento integrado pela atuação performática dos jovens, os pressupostos teórico-
metodológicos podem se consolidar em práxis.
Uma proposição dinâmica de estudo da literatura para a EB é tarefa coletiva que se
deve assumir, porém é necessário manter, da presente proposta, a raiz do estudo comparativo,
evidenciada nas indicações de leitura; o movimento de contextualização dos textos e da
teoria com eles relacionada e a construção do saber teórico e histórico da literatura, partindo
de diferentes formas de vivência das obras literárias desde os ciclos iniciais de aprendizagem
aliás, momento ideal de fruição e de escuta.
As Propostas Curriculares de vários Estados, analisadas pela Fundação Carlos
Chagas serviram de base para a criação dos PCN. A área de Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias foi coordenada por Zuleika de Felice Murrie, bem como por Eny Marisa Maya,
ex-coordenadora da CENP, responsável pela elaboração geral dos PCNEM, razão pela qual
constatamos que São Paulo contribuiu com a organização nacional do sistema de ensino, por
meio de seus membros e pesquisadores que ocuparam, ao longo do tempo, funções que
subsidiaram tais iniciativas.
Passamos a analisar as concepções expressas nos PCNEM, área de Linguagens e
Códigos sob a ótica das OCEM (BRASIL, 2004)
45
enquanto representante acadêmica, em
primeira instância, como ATP da OP da DER/Jales e docente da escola pública paulista.
Retomo a problemática relativa à literatura para estimular a reflexão docente sobre novas
metodologias de ensino, evidenciando, embasada nos preceitos teóricos da semiótica, a teoria
estruturante da proposição sugerida nesta tese.
45
OCEM – Orientações Curriculares do Ensino Médio - crítica organizada pelas equipes lideradas pelos
professores Roxane Helena Rodrigues Rojo (LM)( PUC/SP) e Luiz Paulo da Moita Lopes (LE)(UFRJ), Enid
Yatsuda Frederico e Haquira Osakabe ( Literatura) (UNICAMP).
67
1.4 O MODELO DECORRENTE DA LDBEN 9394/96
A elaboração dos PCNEM teve como objetivo divulgar os princípios da reforma
curricular do EM, realizada pelo MEC, durante o período de 1996 a 1998, bem como atualizar
e orientar os docentes para a prática de novas abordagens e metodologias que se pautassem
pelos avanços tecnológicos, culturais e pela produção social. Segundo Berger
46
, “tínhamos um
ensino descontextualizado, compartimentalizado e baseado no acúmulo de informações”.
47
(BRASIL,1999, p. 15)
O Projeto de reforma
48
pressupôs continuidade de estudos, respeitando os
princípios de flexibilidade e terminalidade, próprios do EM. A reorganização em áreas de
conhecimento foi proposta com o objetivo de facilitar o desenvolvimento dos conteúdos na
perspectiva interdisciplinar e de contextualização. As equipes que elaboraram os Parâmetros
Curriculares nos diferentes níveis são distintas, tanto no âmbito do EF
49
quanto no do EM. Era
natural que as concepções teóricas fossem diferentes, pois são provenientes de pontos de vista
e linhas teóricas de distintas pesquisas acadêmicas, principalmente devido à faixa etária da
clientela para a qual estavam sendo metodologicamente organizados em cada ciclo,
respeitando a complexidade dos estudos de Língua e Literatura.
Seria importante referenciar o quadro completo das divergências entre as
concepções estabelecidas nas indicações, porém tal extensão prejudicaria o foco de nossa
análise que converge para o EM. Algumas considerações, entretanto, serão apresentadas com
46
secretário de Educação Média e Tecnológica
47
Se este foi o modelo da década de 70, reestruturado pela reforma do EF a partir de 80, expresso nos GC,
Propostas Curriculares, o novo modelo didático se propôs a partir da LDBEN/96 e foi divulgado pelos PCNEM
que expressam a reforma do EM.
48
Versão elaborada pelo secretário, prof. Ruy Leite Berger Filho e pela coordenadora, profª Eny Marisa Maya.
Os trabalhos foram concluídos em Junho de 1997. A Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de
Educação aprovou, em 1º/06/98, o Parecer nº 15, que rege o Ensino Médio.
49
Os PCNs dividiram o EF em quatro ciclos: 1º ( 1ª e 2ª séries), 2º ciclo (3ª a 4ª séries), 3º ( 5ª e 6ª séries) e 4º(7ª
a séries do EF). A rede estadual de SP dividiu-o em apenas dois: Ciclo I ( a séries) e Ciclo II ( a
séries). O Ensino Médio permanece seriado.
68
a finalidade de justificar a dificuldade de organização de um sistema educacional gigantesco
como o brasileiro, contexto agravado pelas diferenças sociais e econômicas regionais, além
das especificidades inerentes a cada nível de ensino.
Os próprios PCNEF
50
, em seu documento introdutório, admitem ter contado com a
análise realizada pela Fundação Carlos Chagas que apontou dados relevantes das Propostas
Curriculares dos diferentes estados, refletindo o descompasso entre “os objetivos anunciados
e o que é proposto para alcançá-los, entre os pressupostos teóricos e a definição de conteúdos
e aspectos metodológicos”. Com o objetivo de contribuir para dirimir as contradições
encontradas, o texto dos PCNEM afirma ter procurado avançar a integração curricular,
assumindo as especificidades de cada componente, tanto no tocante aos objetivos gerais do
EF e do Médio, quanto na especificidade das áreas, delineando conteúdos apropriados para
sua consecução. No intuito de garantir coerência entre pressupostos teóricos, objetivos e
conteúdos_ questão contraditória nas propostas curriculares dos estados_ passou-se a adotar,
desde as séries iniciais, tratamento didático por área e por ciclo, para superar a segmentação
excessiva, conseqüente do regime seriado de ensino.
Conforme o documento, os conteúdos formulados como decorrência da
experiência educacional acumulada em todo o território nacional, passariam por adaptação às
particularidades de estados e municípios, assim como por adequação do grau de
complexidade, procurando assegurar o desenvolvimento de capacidades de ordem cognitiva,
física, afetiva, de relação interpessoal, inserção social, ética e estética para ampla formação do
alunado, ao longo da escolaridade.
A principal referência legal para a formulação das mudanças propostas nos
PCNEM foi a LDBEN 9394/96, na medida em que estabeleceu os princípios e finalidades da
Educação Nacional, destacando Diretrizes Curriculares específicas do EM e sugerindo um
50
BRASIL, 3 ed. 2001, p. 57.
69
currículo orgânico que integrasse e articulasse conhecimentos de educação tecnológica sica
como instrumento de comunicação, com foco na língua portuguesa, de forma a promover o
desenvolvimento cultural dos alunos
51
priorizando o acesso ao saber e o exercício da
cidadania.
Os PCNEM surgiram em 1999 com linha enunciativa de base bakhtiniana,
instituindo o sujeito como falante, ouvinte e leitor ativo da língua, numa perspectiva
comunicativa e dialógica que estimulou a atenção aos aspectos discursivos da linguagem. Para
focalizar a produção sócio-histórica e cultural da língua, o documento configurou um quadro
de gêneros privilegiados para leitura e escuta na escola, considerando as modalidades oral e
escrita de uso. Instituído o sujeito como produtor e leitor de discursos, inscrito como cidadão
participativo na cultura de seu tempo, o documento sistematizou uma concepção de
abordagem por áreas que englobam os conhecimentos relativos às linguagens e suas
tecnologias, à ciência e à matemática e aos processos sociais do desenvolvimento humano
registrados pela história, geografia e conhecimentos afins.
Estruturada em três eixos: a) eixo da Representação e Comunicação; b) da
Investigação e Compreensão e c) da Contextualização Sociocultural, a proposição esperava
dinamizar a concepção de currículo do EM, numa forma de abordagem integrada. Estimulou o
tratamento interdisciplinar, teoricamente organizado para superação da fragmentação advinda
das indicações da antiga LDB, substituídas pelas concepções construtivistas e sócio-
interacionistas de Piaget e Vigotsky.
A nova LDBEN/96 estabeleceu, também, que o EM, etapa final da EB, tinha por
finalidades, dentre outras, no ensino de cada disciplina
52
: a compreensão dos fundamentos
científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática. Para
cumprir tais finalidades o currículo foi dividido em três grandes áreas: a de Linguagens,
51
cf artigos 26 e 36 da LDBEN 9394/96.
52
Ver PCNEM, 1999, p. 31.
70
Códigos e suas Tecnologias, a área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias e
a de Ciências Humanas e suas Tecnologias.
A organização da base curricular em áreas de conhecimento passou a considerar os
conteúdos parte de um processo global articulado. Conceito, aplicação e solução de problemas
se associaram à revisão dos componentes sócio-culturais, orientados por uma visão
epistemológica que concilia os modos de produção atuais: humanismo e tecnologia, pois
desde a criação dos computadores, na metade do século XX, a relação entre conhecimento e
trabalho se alterou. A educação média tornou-se vulnerável à desigualdade social por várias
razões, pois no cerne de sua estrutura ainda se estabelecem os contrastes entre orientações
profissionalizantes ou acadêmicas e entre objetivos humanistas ou oriundos do mercado.
O paradigma proposto pela reforma sugeriu competências necessárias à inserção
no processo produtivo, desejáveis ao pleno desenvolvimento humano, entretanto, não garantiu
homogeneização de oportunidades e até mesmo previu a redução de espaço para os que
desempenham atividades simbólicas, centradas no conhecimento, alertando, ainda, para o
perigo de permanência de sistemas excludentes nas atividades tradicionais, sobretudo para
indivíduos que não avancem nos estudos, pois o mercado e as atividades industriais e
tecnológicas solicitam mão de obra gradualmente sofisticada.
A dualização da sociedade pautada pelo conhecimento continuou, deste modo, a
constituir risco, a despeito da luta por justiça e igualdade, pois a demanda por rapidez e
flexibilidade, por visão prospectiva e incorporação dos instrumentos tecnológicos modernos,
bem como de precisão produtiva, são tendências apontadas para o século XXI que fazem
reduzir colocações para trabalho não qualificado. Por esta razão, à educação atribuíram triplo
papel na atualidade: econômico, científico e cultural, segundo a última LDBEN, que
regulamentou a reforma, priorizando a formação ética, o desenvolvimento da autonomia
71
intelectual e do pensamento crítico em detrimento da memorização de conteúdos e
metodologias superadas pelo avanço tecnológico, nova fonte de pesquisa e interação.
Quatro eixos fixados pela UNESCO, em Paris, 1994, na reunião de Educação para
o século XXI, estruturam o saber: aprender a aprender; aprender a fazer; aprender a viver;
aprender a ser
53
. É possível perceber a ênfase humanista do documento, que procura conciliar
tal intenção do período marcado pela produção de guerras e desigualdades à incorporação do
avanço tecnológico do presente. Em conseqüência desta polêmica, a reforma do EM, na
década de 90, não no Brasil, mas também em sistemas escolares estrangeiros, solicitou
nova compreensão teórica sobre o papel da escola, movida pelo volume de informações
disponibilizado pelas tecnologias do mundo contemporâneo. Propôs-se, diante do exposto,
para cumprimento das metas estabelecidas, a formação geral em oposição à formação
específica; o desenvolvimento das capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá-las e
selecioná-las; de aprender, criar e formular, em oposição ao exercício de memorização, tão
longamente executado na pedagogia tradicional, de paradigma reprodutor.
A formação geral considerada nas indicações priorizou aquisição de
conhecimentos básicos, preparação científica e capacidade de utilizar diferentes tecnologias
relativas às áreas de atuação. Menos academicismo na prática da formação geral e
desespecialização do ensino profissionalizante determinaram redefinição de objetivos e
conteúdos para o EM, propondo diversidade e preponderância ética na aquisição de
conhecimentos e competências, acompanhadas pela “educação do caráter, abertura cultural e
despertar da responsabilidade social”. (BRASIL, 1999, p.72) É possível observar efeitos dessa
abertura no comportamento dos jovens?
Recentemente, o surgimento de teorias de valorização do afeto, da criatividade e
do ato de aprender sinalizam decorrências dos pressupostos de Piaget e Vigotsky,
53
Ver BRASIL, 1999, p. 79.
72
respectivamente, denunciando que a sociedade da informação demandou da escola integração
das atividades cognitivas e de desenvolvimento das demais dimensões da personalidade.
Tornou-se essencial e urgente renovar conteúdos e metodologias num esforço de adaptação às
tendências sócio-históricas de nossa sociedade ainda agrícola e periférica, diante da macro-
realidade na qual o microcomputador concentrou informações e se impôs sobre o valor da
matéria-prima e da força física; na qual a estrutura tecnológica superou a mecânica, em que a
expressão pós-moderna múltipla superou a padronização e a repetição.
A estética da sensibilidade, tônica do perfil brasileiro, banida da sociedade
industrial, deve, portanto, retornar como eixo de humanização da sociedade tecnológica, com
a solidificação de projetos metodológicos que aceitem a diversidade cultural, o movimento e a
expressão nacionais como marca de nossa identidade plural, artística, musical e dinâmica.
A própria LDBEN 9394/96 revela o esforço de superação das dualidades entre
humanismo e tecnologia, conhecimento dos princípios científicos determinantes da produção
moderna e exercício da cidadania, autonomia intelectual e formação ética. Atitudes coletivas,
abertas à pluralidade e à diversidade devem ser incentivadoras do caráter da identidade
nacional e regional, diante da multiplicidade de expressões e linguagens criadas pelos
indivíduos, desde a fundação da sociedade brasileira.
O foco de interesse deste trabalho situa-se na área de Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias, que explicita, nos Parâmetros, a necessidade de trabalho sistemático e
organizado, por meio de um conjunto de disposições e atitudes que possibilitem ao jovem
compreensão da linguagem e de diferentes modos de ler o mundo, numa perspectiva
transdisciplinar, herança socializadora que propicie o desenvolvimento de estruturas mentais,
emocionais e perceptivas, e, ao mesmo tempo, favoreça a comunicação, a representação e a
compreensão do grau de simbolismo inerente à cultura. Aliás, uma das polêmicas que
diferencia o ensino de Língua do ensino de Literatura é o foco na comunicação. O foco da
73
literatura transcende o nível de comunicação e interlocução próprios da língua; seu estatuto é
cultural, de memória, de patrimônio.
Compreendendo que as linguagens e códigos são dinamicamente situados no
espaço e no tempo, movidos por determinações históricas, sociais, científicas e
antropológicas, a inserção do aluno no mundo letrado e simbólico implica ressaltar a
mobilidade e intercâmbio entre os conteúdos que constituem o conhecimento, fator que
explicitaremos no capítulo da contribuição acadêmica, pois esse objetivo ainda não foi levado
a cabo nas propostas e documentos oficiais devido à complexidade, hermetismo e formalidade
dos textos indicativos, elaborados para os docentes habilitados na concepção seriada,
disciplinar, linear e conservadora.
A tarefa de explicitação desses procedimentos e do conjunto de elementos que
constituem e caracterizam a literatura e as linguagens cabe às teorias da linguagem e, em
especial, à TL, bem como aos pesquisadores e equipes técnicas, que continuam se esforçando
para elevação do nível de qualidade da educação brasileira, respeitando as características
históricas de nosso povo. A práxis escolar deve, portanto, primar pelo exercício da leitura
crítica do mundo como marca transdisciplinar, inter-relacionando linguagens verbais,
icônicas, corporais, sonoras e formais, dentre outras, em sistemas sustentados por diferentes
suportes, buscando a reiteração de traços de sentido entre eles: os topoi.
O texto dos PCNEM sugere, teoricamente, para o trabalho da área, prática de inter-
relação entre disciplinas, por meio do estudo de significados históricos e culturais comuns,
presentes em diferentes linguagens, interseccionados à visão das outras áreas, porém, sem
divulgar princípios e procedimentos de caráter inter e intratextual que permitam observar nos
textos o contexto de sua produção e as escolhas estilísticas que marcam as diferentes estéticas,
razão pela qual, como proposição, ilustraremos o modelo de práxis literária, bem como alguns
procedimentos metodológicos sistematizados no capítulo final, considerando que os PCNEM,
74
ao pressupor formação crítica e construção de categorias de diferenciação, apreciação e
criação não atingiram tais objetivos, retomados nos documentos complementares.
Que causa explica tal desajuste: a formação superior descontextualizada e
obsoleta, formal e assentada em conceitos superados? A emergência da classe
desfavorecida à escola, demandando projetos e propostas mais flexíveis, dinâmicas e
adaptadas a um contexto real e não ideal ? Ou o movimento como categoria dialética que
explica a necessidade de renovação?
1.4.1 PERSPECTIVA TEÓRICO-
METODOLÓGICA DE ABORDAGEM DA
LITERATURA NOS PCNEM
Analisemos as relações entre a teorização acadêmica e os desdobramentos das
principais definições e citações tais quais aparecem nos PCNEM como conceitos que
sustentam a visão apresentada, em relação à qual é preciso tomar posição, apresentando
fundamentação que oriente uma concepção adequada de tratamento da literatura na EB.
Ao indicar o agrupamento das disciplinas e ao focalizar a área de Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias, os PCNEM apresentam situações de sala-de-aula, procurando
justificar, a partir delas, as concepções dos alunos relativas à Literatura. É possível perceber
reflexos da mudança do enfoque histórico, impressionista e subjetivo do texto literário, fruto
do ensino enciclopédico, informativo, que perduraram por longo tempo em direção à
comparação estrutural que a concepção de gêneros, na perspectiva enunciativa, introduziu.
Os relatos evidenciam o raciocínio do aluno que compara Drummond a “Zé”
Ramalho sem distinguir os conceitos básicos de definição estética, evidência reveladora de
que os pressupostos teóricos relativos à Literatura não foram assimilados e não resultaram
positiva e eficientemente em análises e atividades interpretativas consistentes.
75
O conceito de texto literário é discutível. Machado de Assis é
literatura, Paulo Coelho não. Por quê? As explicações não fazem sentido
para o aluno.(BRASIL, 1999, p. 137).
E Drummond? Responderam: ‘Drummond é literato, porque
vocês afirmam que é, eu não concordo. Acho ele um chato. Por que
Ramalho não é literatura? Ambos são poetas, não é verdade?’(idem, p.138).
Deve-se refutar a afirmação de que o conceito de texto literário é discutível, pois
tal aceitação nega o princípio da literariedade e revela ausência de critérios, observação que
será apontada na avaliação de Frederico; Osakabe (BRASIL, 2004). Admitimos que seja
discutível a constituição do cânone literário, porém, tal discussão não sustenta a presente
argumentação e deslocaria a objetividade do enfoque.
Se Machado é cânone e Paulo Coelho não; se o próprio Harold Bloom (1995)
descartou a literatura em série; até que ponto estas obras são literárias ou subliterárias e se
devem ou não fazer parte do currículo da escola, são questões adjuntas e de opção do
professor, em decorrência de seus objetivos; porém a escola deve fazer seleção mais criteriosa
das obras que recomenda, pois constituem o currículo básico de formação do leitor. Deixemos
as escolhas pessoais para além muros, no aconchego de casa. As filas de cinema denunciam o
sucesso das obras em série.
As bibliotecas das escolas devem conter obras de consumo popular, contudo, o
espaço da aula deve privilegiar as obras de efeito estético indiscutível e possibilitar a
compreensão das obras imortais que constituem o patrimônio da cultura enciclopédica pois,
do contrário, não serão sequer conhecidas em outros espaços. Caracterizar-lhes o estilo e
determinar-lhes a singularidade da poiésis requer exame crítico de sua eficácia estética.
A questão de valor, inicialmente discutida no item 1.3.4 da Proposta paulista
deve estar presente na seleção curricular: valor sócio-cultural, antropológico e também
estético, do ponto de vista do discurso literário pois a Literatura congrega a um tempo
todos esses saberes, conforme Barthes (1978).
76
Quanto às comparações estruturais, textos de autores distintos podem ser
semelhantes, já que escritos em versos, com possibilidade rímica, linguagem artística e função
coincidente de expressar emoções, representar simbolicamente ou divertir. Estruturas
análogas podem ser comparadas, porém receber enquadramento diferente; narrativas com
clímax, outras não; gêneros monofacéticos, como o conto e outros plurifacéticos como a
crônica, que apresenta múltiplas vicissitudes do cotidiano, sem a densidade e profundidade
temáticas do conto, marcam a distinção básica que os separa: unidade ou pluralidade de foco,
critério definidor de sua categoria e especificidade narrativa.
Estudos específicos e em profundidade, nesta dimensão, podem não ser adequados
nos níveis fundamental e médio de ensino, mas precisam ser iniciados sem arbitrariedade e
superficialidade, como foram tratados até o presente ou, pior; em alguns casos, nem tratados.
Criar um arcabouço teórico, de utilização da língua e conhecimento da especificidade dos
textos é prática que trará ao aluno leitor proficiência e domínio da Leitura e Escrita, mas que
inicia pelo domínio teórico do professor. Grande parte da publicação editorial tem ignorado os
fatores estéticos e estruturais, intensificando equívocos relacionados aos aspectos de
equivalência entre textos de estruturas semelhantes. Propagados em fontes de divulgação ou
publicados em séries indicadas para a Educação Básica, algumas coletâneas distribuídas às
escolas estampam na capa a classificação de conto ou crônica, sem, de fato, obedecer a
critérios teóricos legítimos.
A comparação estrutural_ tradicionalmente esboçada nos gêneros literários, via
de regra, classificados formalmente como Lírico, Narrativo e Dramático, vem, hoje em franco
estudo, sendo ampliada pelos princípios teóricos bakhtinianos dos gêneros, a princípio
abordados como textuais, indicando distinções estruturais e, recentemente, tomados como
discursivos, considerando delicadezas do sentido e a incidência polifônica_ não constituiu
prática assimilada e assumida.
77
Algumas fragilidades conceituais e metodológicas servirão adiante como hipótese
de discussão da problematização das formulações deste estudo, principalmente porque não há,
em relação à linha diretiva, convergência teórica na fundamentação dos subsídios
complementares que sucedem os PCNEM, segundo avaliação dos pesquisadores contratados
pelo MEC. Rojo (BRASIL, 2004) conclui que a disciplina de Língua Portuguesa manteve o
mesmo tipo de abordagem das proposições anteriores, o que denuncia a necessidade de
revisão metodológica pois chegamos, no século XX, a um momento de transição.
É possível comparar a estrutura textual e até mesmo elementos constituintes do
gênero, entretanto, para responder a alguns questionamentos desencadeados pelos PCNEM,
elucidamos o critério de definição estética que adotamos para distinguir a produção artística
de Drummond da de “Zé Ramalho”, a princípio, estabelecido pelo suporte que materializa e
veicula a obra de cada um deles, tanto quanto a atitude de quem as recebe ou consome,
vinculada à origem e finalidade da criação.
Esses fatores determinam a necessidade de adequação e composição específica das
obras do patrimônio cultural e da memória artística nacional visto que revelam controvérsias
na classificação ou agrupamento e especificidade das obras. Compreendemos que é da alçada
da Teoria da Literatura resolver tais questões de particularidade dos textos literários, que
sua função é caracterizá-los e revelar seus procedimentos.
Por isso aderimos ao ponto de vista de Moriconi (2002) que mantém a fronteira
estabelecida entre o popular e o erudito, demarcando o lugar específico da poesia literária e o
da canção popular. O autor compreende que o poema literário tem como suporte a escrita e
como condição de sobrevivência a leitura e que a situação de espetáculo ou exibição pública é
definitória da performance da música, o que não acontece com o poema. Segundo ele, por ser
performática, a canção tem de ser cantada através de gerações, como condição de
sobrevivência pois seu suporte não é a escrita.
78
A obra de Drummond, assim considerada, compõe o gênero poético erudito, pois
tem como suporte a escrita, enquanto a música de “Zé Ramalho” representa o gênero canção
popular, tendo como suporte a música, gravada em disco ou CD, devendo ser executada ou
cantada para que tenha permanência na memória do ouvinte. O registro apenas da letra,
enquanto escrita, descaracteriza a manifestação da canção enquanto arte, ao contrário do texto
poético, que, na ausência da escrita, perde seu caráter estilístico-formal. Além disso, o poema
requer concentração e leitura solitária, por constituir–se em criação de efeito estético intenso,
potencial e como produto de uma civilização na qual as práticas culturais se baseiam em
atitudes radicalmente individuais, disposição nada típica de nosso país, de costume oralizado
e, portanto, dialógico e interativo.
Apesar de a leitura poética requerer habilidades múltiplas para a apreensão de seu
valor estético, tal prática ainda não atingiu os patamares recomendados para conhecimento do
patrimônio literário nacional e da especificidade dessa linguagem no currículo escolar
brasileiro, a notar pelos resultados das avaliações. em relação à música, em geral e, em
especial, a de “Zé Ramalho”, percebe-se que o elemento intelectual da letra é sugado pelo
performático e que muito do público brasileiro assimila a melodia ou mesmo a letra, sem
observar o significado e refletir sobre seu sentido. A duplicidade verbal/musical fica
resguardada, considerando-se que a letra quando poema pode perder metade de seu valor
estético agregado quando da execução da letra/melodia. uma fronteira entre literatura e
canção, sobretudo entre poesia literária e canção popular, sustentando tal demarcação de
território, em primeira instância, o suporte que as mobiliza.
Para os alunos que não conseguem estabelecer distinção entre a música de “Zé
Ramalho”e a poesia de Drummond, a Teoria da Literatura pode revelar os critérios
específicos da categoria do poético. Um país que não preserva seu patrimônio cultural e
agrega ao caudal do senso comum sua produção e sua memória, perde sua identidade.
79
Drummond e “Zé Ramalho” podem ser reconhecidos com igual isenção, porém,
considerando-se o contexto de sua produção e o suporte que veicula sua obra, critério legítimo
para a distinção de suas poiésis.
A suposta submissão ao critério de gosto dos alunos e a relativa equivalência na
classificação da produção dos dois autores revela ausência de sustentação teórica e caráter
empírico e arbitrário no tratamento da Literatura. Os próprios PCNEM ratificam esta posição
em relação ao estudo da Literatura ou à comparação entre autores e obras:
O gostar ou não de determinada obra de arte ou de um autor exige
antes um preparo para o aprender a gostar. Conhecer e analisar as
perspectivas autorizadas seria um começo para a construção das escolhas
individuais.
[...] A função e a época de um texto teatral impõem uma
organização diferente daquela utilizada em um poema, apesar de haver entre
eles elementos comuns como, por exemplo, ambos serem escritos. Os
poemas escritos em diferentes épocas apresentam especificidades próprias.
Comparar os recursos expressivos intrínsecos a cada manifestação da
linguagem e as razões das escolhas, sempre que isso for possível, permite
aos alunos saber diferenciá-los e inter-relacioná-los.
(BRASIL, 1999,
p.129)
À guisa de responder que não é discutível o conceito de texto literário e de debater
a hipótese levantada nos PCNEM de pautar o trabalho docente pelo critério de gosto dos
alunos, afirmamos que a literatura é essencial no currículo e que sua definição não é discutível
nesta esfera da aprendizagem. Como réplica à PCLP grau quando fez referência ao valor
que a sociedade tem dado ao texto literário, mas que o mesmo não seria privilegiado naquela
proposta, que a escola se constituía num dos principais lugares de interação do aluno
também com os outros textos, os PCNEF respondem por nós quando afirmam que o texto
literário constitui uma forma peculiar de representação e estilo em que predominam a força
criativa da imaginação e a intenção estética, distinguindo dos outros este uso particular da
linguagem, conceito que consideramos indiscutível. Registram, ainda que
80
como representação _ um modo particular de dar forma às
experiências humanas_ , o texto literário não está limitado a critérios de
observação fatual.
[...]Pensar sobre a literatura a partir dessa relativa autonomia
ante outros modos de apreensão e interpretação do real corresponde a dizer
que se está diante de um inusitado tipo de diálogo [...]
[...]Do ponto de vista lingüístico, o texto literário também
apresenta características diferenciadas. Embora, em muitos casos, os
aspectos formais do texto se conformem aos padrões da escrita, sempre a
composição verbal e a seleção dos recursos lingüísticos obedecem à
sensibilidade e a preocupações estéticas. Nesse processo construtivo
original, o texto literário está livre para romper os limites fonológicos,
lexicais, sintáticos e semânticos traçados pela língua: esta se torna matéria-
prima (mais que instrumento de comunicação e expressão) de outro plano
semiótico- na exploração da sonoridade e do ritmo, na criação e
recomposição das palavras, na reinvenção e descoberta de estruturas
sintáticas singulares, na abertura intencional a múltiplas leituras pela
ambigüidade, pela indeterminação e pelo jogo de imagens e figuras.
O tratamento do texto literário oral ou escrito envolve o
exercício de reconhecimento de singularidades e propriedades que matizam
um tipo particular de uso da linguagem.
(BRASIL, 1998, p. 26,27)
A problemática definição de critérios de avaliação da literariedade de um texto
deverá ser ainda orientada, por representar a contribuição acadêmica do referencial
acumulado pela TL que distingue não só teoricamente mas na prática a constituição dos
procedimentos de análise que devem ser divulgados enquanto fonte autorizada de orientação e
consulta, sustentando a visão docente.
No texto das DCNEM Castro afirma: não se trata nem de profissionalizar nem de
deitar água para fazer mais rala a teoria. Trata-se, isso sim, de ensinar melhor a teoria
[...]ancorada na prática. As pontes entre a teoria e a prática têm que ser construídas
cuidadosamente e de forma explícita’.(BRASIL,1999, p. 86).
Admitimos que a escolarização do texto literário provocou o desvio de sua função:
Outra situação de sala de aula pode ser mencionada. Solicitamos que alunos
separassem de um bloco de textos, que iam desde poemas de Pessoa e
Drummond até contas de telefone e cartas de banco, textos literários e não-
literários, de acordo como são definidos. Um dos grupos não fez qualquer
separação. Questionados, os alunos responderam: “Todos são não-literários,
porque servem apenas para fazer exercícios na escola”.(idem p.137)
81
Os alunos não sabem qual é a função do texto literário e, raras vezes a dos demais,
pois, além de pertencer à cultura letrada formal ainda inacessível à classe majoritária, a
abordagem dos textos, em geral, ainda é feita somente na escola e com outras finalidades.
Porém, o letramento das camadas populares precisa ser realizado, em práticas culturais
essenciais para a constituição do repertório
54
.
Contrária à ênfase na nomenclatura gramatical e na disposição cronológica dos
estudos literários, a equipe de elaboração dos PCNEM avalia as práticas tradicionais da antiga
LDB, o currículo e os vestibulares: “O estudo gramatical aparece nos planos curriculares de
Português desde as séries iniciais, sem que os alunos, até as séries finais do Ensino Médio,
dominem a nomenclatura. Estaria a falha nos alunos?”[...] (BRASIL, 1999, p. 137)
É possível perceber que estudar Literatura, na escola, significou, durante muito
tempo senão até o presente, tomar os textos apenas como recorte para pretextos gramaticais e
abordagens históricas, numa visão panorâmica da especificidade da linguagem e dos traços
que lhe permitem funcionar como arte em dado momento; ou seja, sua literariedade passa
despercebida: “Os estudos literários seguem o mesmo caminho. A história da literatura
costuma ser o foco da compreensão do texto; uma história que nem sempre lhe serve de
exemplo[...]”. (idem, p. 137)
Um novo modelo sócio-cultural formatou o estudo de literatura legado ao século
XXI, no Brasil, procurando orientar a compreensão da dimensão intertextual, visão
preconizada na PCLP-2ºgrau: “Toda e qualquer análise gramatical, estilística, textual deve
considerar a dimensão dialógica da linguagem como ponto de partida (idem, p.143).
Contudo, a linguagem referida é somente a verbal, escrita.
54
Dados apresentados em painel por Regina Cândida Ellero Gualtieri, representando a CENP/ SEE-SP por
ocasião de encontro com agentes educacionais das Diretorias de Ensino (2004) destacam o perfil do aluno
avaliado no SARESP. 24,6% dos alunos de a séries do EF responderam ao questionário declarando ler
sempre, ao passo que apenas 18,2% dos alunos do EM declararam realizar a mesma prática. Por quê? Trabalho?
82
A passagem anterior solicita avanço metodológico; professores, palestrantes e
autores de LD demonstraram tal prática textual dialógica, como ressaltavam as disposições
da Proposta paulista, incentivando a adoção de nova postura didática diante dos textos, porém,
calculemos o tempo necessário para compreensão do método e das estratégias sugeridas, a
partir das datas registradas nesta problematização conceitual e metodológica.
Em 2005 a prática dialógica pode ser considerada relativamente implantada, porém
as perspectivas interdisciplinar e de contextualização, adotadas como princípio após a
vigência da nova LDBEN ainda não se efetivaram. As produções científica, oficial e didática
devem se incumbir desta fragilidade já detectada. Dentre as competências e habilidades
previstas para a Língua Portuguesa, as DCNEM e os PCNEM indicaram que, ao final do EM
o aluno deveria:
Considerar a Língua Portuguesa como manifestação simbólica
de experiências humanas manifestas nas formas de sentir, pensar e agir na
vida social [...]
Analisar os recursos expressivos da linguagem verbal,
relacionando textos/contextos, mediante a natureza, função, organização,
estrutura, de acordo com as condições de produção/ recepção (intenção,
época, local, interlocutores participantes da criação e propagação de idéias e
escolhas). (BRASIL, 1999, p.142)
Dentre os fundamentos estéticos, políticos e éticos do novo EM, a padronização e
repetição behavioristas foram procedimentos substituídos pelo estímulo à autonomia e
inventividade. A identidade a ser construída pela estética da sensibilidade deve reconhecer e
valorizar a diversidade, atribuindo significado universal aos conteúdos de aprendizagem do
mundo globalizado. A busca de aprimoramento e a insatisfação com o razoável são tendências
de superação da fragmentação e indício das conquistas acumuladas na luta pela
democratização e socialização da cultura, ainda em processo. Ética e humanismo são
solicitações de um mundo em que a cultura se dispersou e em que tornou-se prioritária a
assimilação de competências básicas para atuação no novo tempo. O conhecimento literário
83
pode dar suporte para o entendimento da existência e da expressão do avanço civilizatório,
por isso, há necessidade de estabelecer critérios para sua compreensão.
À guisa de fechamento do capítulo inicial de problematização, após análise dos
documentos oficiais, especialmente dos PCNEM, a conclusão parcial que se apresenta é que
as determinações oficiais o constituem fruto de consenso da produção acadêmica, enquanto
visão do ensino de Literatura no país e que até o presente tais orientações não foram levadas a
cabo na escola pública do estado de São Paulo, pelo menos no ritmo que se esperava. No
mínimo uma década é necessária para que procedimentos metodológicos se alterem de
maneira relativa, conforme se pôde constatar o ocorrido com a PCLP 2º grau (1987).
Os conceitos de literatura, de texto literário e de linguagem literária estão, por
assim dizer, formalmente definidos pela Teoria Literária e não são discutíveis para fins
didáticos. O valor de que tratamos é estético e, para seleção curricular, deve considerar os
princípios de eficácia estética bem como o do estranhamento, desvio da linguagem factual,
conforme teorizaram os formalistas russos (1921), Candido (1957) e Lajolo (1989). Não deve
ser atribuído segundo critério subjetivo, submetido ao gosto individual pois é possível, a partir
de princípios teóricos objetivos, reconhecer o procedimento artístico ou priom, investigando o
desvio do estereótipo da linguagem comum. Criações eruditas e populares podem ter em
comum a propriedade estética, porém categorias estéticas estabelecidas pela TL e por
distintos sistemas artísticos que explicitaremos no capítulo final e que precisam ser
divulgados na EB, mantendo limites e fronteiras entre singularidades e particularidades de
produções de diferentes gêneros e suportes.
Considerando que as alterações centrais nas orientações, ao longo das últimas
décadas, foram evidenciadas, enfatizamos que o caráter arbitrário, genérico e
descontextualizado com que a literatura foi tratada deve ser substituído por uma perspectiva
semiósica mais complexa enquanto estudo integrado do processo estético.
84
CAPÍTULO II
FRUIÇÃO COMPREENSIVA DO CÓDIGO ESTÉTICO: EXIGÊNCIA
ÉTICA PARA A ESCOLA NO SÉCULO XXI
Neste capítulo são examinadas as concepções de Literatura retomadas nos
documentos complementares aos PCNEM, os PCN+(2002) e as OCEM (2004), com a
finalidade de demonstrar o movimento da produção teórico-metodológica que conduz o
processo educacional. Acreditamos ter destacado no primeiro capítulo algumas
incongruências que geraram a necessidade de renovação e adequação de linhas teóricas de
uma edição para outra. Os documentos complementares abordados neste capítulo procuram
explicitar as perspectivas lançadas pelos PCNEM/99, elucidando conceitos e bases teóricas
não evidenciadas, fragilidades e polêmicas oficias que abordaremos bem como o paradigma
da orientação não-oficial disposto nas três versões do manual didático Literatura Brasileira-
das origens aos nossos dias (1984, 1990, 1999).
Ao submetê-los à análise, procuramos identificar inovações e alterações em suas
proposições, observando se houve sincronia entre o desenvolvimento acadêmico dos estudos
literários e a aplicação didática, considerando o contexto das mídias e comunicações
contemporâneas e ainda investigamos as razões da representatividade didática do referido
manual, na região de São José do Rio Preto, comparado a outros manuais que circulavam na
década de 90.
85
2.1 CONCEPÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS NOS PCN+
Os PCN+ (BRASIL, 2002) se destinaram a prestar orientações educacionais
complementares aos PCNEM. O documento procurou elucidar conceitos e desenvolver
compreensão mais fina dos três eixos de sustentação dos Parâmetros. Na retomada para
explicação mais pormenorizada das intenções do texto original, o eixo da Representação e
Comunicação tornou-se foco central na área, orientando a assimilação dos conceitos de
Linguagem verbal, não-verbal e digital; de signo e símbolo; de denotação e conotação;
gramática; texto; interlocução, significação e dialogismo, estimulando a construção de
competências e habilidades associadas à compreensão dos conceitos do eixo.
O documento dispõe que no segundo eixo: o da Investigação e Compreensão
sejam trabalhados os conceitos de análise e ntese; correlação; identidade; integração;
classificação; informação versus redundância; hipertexto e metalinguagem. E o terceiro eixo,
o da Contextualização Sociocultural, introduz como parâmetro de estudo o desenvolvimento
dos conceitos de cultura, globalização versus localização; arbitrariedade versus motivação dos
signos e símbolos; negociação de sentidos; significado e visão de mundo; desfrute (fruição);
ética; cidadania; conhecimento: dinâmica, construção coletiva e imaginário coletivo.
A orientação insiste na ampliação e articulação de conhecimentos e habilidades
que desenvolvam o potencial crítico do aluno e sua percepção das múltiplas possibilidades de
expressão, enfatizando que conceitos não operam isoladamente, mas integram redes na
construção de competências:
Pressupondo que os estatutos básicos relativos ao funcionamento da
língua portuguesa foram aprendidos ao longo do ensino fundamental, cabe ao
ensino médio oferecer aos estudantes oportunidades de uma compreensão mais
aguçada dos mecanismos que regulam nossa língua, tendo como ponto de apoio
alguns dos produtos mais caros às culturas letradas: textos escritos,
especialmente os literários.(BRASIL, 2002, p.55).
86
Trata-se do aproveitamento satisfatório e prazeroso de obras literárias,
musicais ou artísticas, de modo geral_ bens culturais construídos pelas
diferentes linguagens_ depreendendo delas seu valor estético. Apreender a
representação simbólica das experiências humanas resulta da fruição de bens
culturais. (idem, p. 67. 5)
Foi possível verificar que a questão da seleção textual tomou feição diferenciada
na versão dos PCN+, que orientam a fruição de alguns dos produtos mais caros à cultura
letrada: os textos literários. Conforme podemos observar, fica, ainda, evidente nos PCN+
quando analisamos as citações no corpo deste capítulo, que essa representação simbólica, a
literatura, requer compreensão aguçada de seu valor estético (grifo nosso).
Segundo Lauria (BRASIL, 2002, p. 67), no item1 do eixo de Contextualização
Sociocultural, o conceito de cultura pressupõe o estudo da história da literatura, inserindo no
mesmo eixo, item 5 o Desfrute (Fruição), conceito estruturante referente ao estudo da
Literatura. Orienta metodologicamente que se propicie aos alunos momentos voluntários para
que leiam coletivamente obras literárias, assistam a filmes, leiam poemas de sua autoria fora
do ambiente de sala de aula: no pátio, na sala de vídeo, na biblioteca, no parque. No entanto, o
disposto requer cuidado com a acepção atribuída ao processo de fruição bem como atenção
redobrada quanto ao enunciado: “textos escritos, especialmente os literários como ponto de
apoio à compreensão dos mecanismos que regulam a língua” (grifo nosso).
Ao destacar o trecho, insistimos na reflexão sobre o entendimento da indicação. Se
se criticou enfaticamente a estratégia de utilizar os textos literários com a finalidade de
depreender categorias gramaticais, não se pretende agora tomar os textos literários
simplesmente para compreender os mecanismos que regulam a língua? E a compreensão do
efeito estético? Quais categorias devem ser amplamente divulgadas para orientar a depreensão
dos mecanismos que permitem que no uso particular da língua, ela se torne fenômeno, arte,
obra literária, bem cultural não simplesmente em função pragmática de comunicação?
87
A orientação para desfrute (fruição) pode levar a entender que o estudo da
literatura ficaria livre, sem direcionamento e exigência intelectual, e que a mediação do
professor se reduziria especialmente a estimular momentos externos de vivência, de caráter
empírico, sem teorização que encaminhe a análise e procedimento dialético de ampliação
intelectual e cultural, em direção ao juízo crítico. A classe coletivamente, assiste a filmes e
continua sem critérios e objetivos de leitura, numa recepção por desfrute.
O item 9 destaca o conceito de Imaginário Coletivo. Registra que as diversas
linguagens podem assumir as formas musical, imagética, literária, corporal, expressando o
que a sociedade demanda ou produz (grifo nosso). Orienta a construção progressiva do
conceito de Imaginário Coletivo pelo aluno e conhecimento da produção que compõe este
patrimônio a partir de atitudes de análise e negociação de sentidos nas obras de diferentes
linguagens. Que elementos devem pautar essa apreciação?
O documento admite que as representações revestidas de alta carga expressiva
merecem ser apreciadas do ponto de vista estético, porém, não explicita os procedimentos e
categorias de análise necessárias para o reconhecimento desse valor, dessa singularidade.
O item 3 sugere o trabalho com o conceito de identidade e registra: “espera-se que
o aluno do EM consiga reconhecer e saiba respeitar produtos culturais tão distintos quanto um
soneto árcade ou um romance urbano contemporâneo”.(idem, p.63) Esta citação do
documento complementar reconhece a singularidade das produções e corrige o relato do aluno
que compara as obras de Drummond e Ramalho, exposto nos PCNEM. Entretanto, não
o critério do tempo é definidor da singularidade de cada produção; todo um conjunto de
elementos é distintivo da produção de uma época. Não a produção árcade é diferente da
produção contemporânea e não apenas o distanciamento de dois séculos e meio as faz
diferentes; o que as faz diferentes é a linguagem, o estilo, o substrato. Forma e conteúdo
expressam manifestações de um tempo. O item 4, relativo às competências e habilidades do
88
eixo de Investigação e Compreensão sugere integração e transposição de uma linguagem a
outra, resguardando os elementos próprios do suporte que os caracteriza. (grifo nosso).
Novamente a definição de critérios torna-se inadiável, a fim de possibilitar a atitude
comparativa, relacional. Além disso, os elementos próprios de cada estilo devem ser
explicitados e o item 5 concernente aos procedimentos distintivos, tem a classificação como
conceito estruturante, declarando:
Discriminar categorias é uma tentativa de ordenar os saberes de forma
clara e lógica, visando sua transmissão para outras pessoas, em outros tempos
ou espaços. Sabe-se que toda classificação carrega em si uma tendência à
simplificação e não é capaz de abarcar a complexidade dos fenômenos por
inteiro. Ainda assim, a escola tende a utilizar esse procedimento, pois, por meio
dele, pode-se atingir maior sistematização dos conhecimentos.
(BRASIL,
2002, p. 64)
Aderimos ao ponto de vista da necessidade de discriminação de categorias
estilístico-formais, estruturais e estéticas para graduar a sistematização do conhecimento,
entendendo que o currículo não só do EM mas da EB deva dispor as habilidades por faixas de
complexidade, como os GC de1975.
Ciente de que “toda classificação” carrega em si tendências à simplificação e de
que não abarca a complexidade dos fenômenos por inteiro e de que a concepção dialética se
incompatibiliza com a lógica formal, não procederemos por contradição, embora seja este o
fundamento dialético, mas partiremos da lógica formal que, por natureza, discrimina e
classifica enquanto método de análise, para execução da lógica dialética na práxis.
Entendemos que a escola precisa trabalhar por etapas: de reflexão, categorização e
classificação, posteriores à fruição e vivência e que o processo de aprendizagem não pode
finalizar apenas na fruição. Em nosso ponto de vista, a atividade intelectiva ou reflexiva é
fundamental para o desenvolvimento gradativo de mecanismos cognitivos mais complexos.
Tais atividades pressupõem o movimento, a superação, a tensão dialética entre o prazer e a
89
reflexão, o reconhecimento, princípio que gera a assimilação, a aprendizagem. Numa etapa, o
texto; na outra, o contexto; numa etapa a prática; na outra, a teoria, processo que configura o
movimento metodológico de ação/reflexão/ação.
Posteriormente ao trabalho analítico de reconhecimento e discriminação das
categorias básicas nos diferentes gêneros e linguagens, recomenda-se a ampliação da
abordagem intrínseca em direção aos aspectos extrínsecos, considerados pela crítica literária:
elementos históricos, sociológicos, biográficos, culturais,etc; ou seja, a contextualização.
Os princípios de análise fundamentam o procedimento dialético, constituindo-se
de etapas sucessivas: a) posterior à vivência, procede-se à análise discriminativa, a
classificação formal e estrutural dos elementos identificados; b) posteriormente procede-se à
síntese compreensiva e, c) na terceira etapa, procede-se à ampliação, estabelecendo relações
de contextualização. De dentro para fora, em busca não das relações internas homológicas
mas também de relações externas, interdisciplinares.
O princípio básico deste processo metodológico de construção de habilidades veio
disposto na indicação da Proposta de grau (1986), recorrente em todas as séries do EF,
orientando:
“Observar, comparar e compreender:
a) no que se refere à produção e interpretação de textos:- as diferentes
interpretações do texto segundo as experiências do leitor; a interpretação que
se sustenta no próprio texto; as diferentes maneiras de construir outros textos
a partir dos textos lidos”(SÃO PAULO, 1991, p.68.).
E no EM: - as diferentes maneiras de identificar elementos
constituintes e traços específicos das diferentes linguagens, que constituem
categorias de análise, correlacionando-as. (BRASIL, 2002, p. 46-47).
Ainda analisando o disposto nos PCN+, entendemos que as competências e
habilidades previstas no eixo de Investigação e Compreensão se referem diretamente ao
caráter sistemático como deve se realizar o estudo da literatura no EM, sem o engessamento
das práticas artificiais e classificatórias por si mesmas, mas dinamizadas num processo por
etapas de abordagem, partindo de situações didáticas de protagonismo dos alunos, na
90
recepção das obras ou textos literários e posterior trabalho de compreensão teórica, como
síntese do movimento analítico empreendido na fase anterior.
Investigação e Compreensão não podem se realizar por intuição, impressionismo
ou empirismo. Processos mais refinados têm sido desenvolvidos pela esfera acadêmica e que
devem ser convertidos em linguagem didática para que superem os problemas identificados
nos procedimentos interpretativos gerais e de conhecimento das manifestações culturais e
literárias, especificamente.
O movimento de análise não deve se dar somente por meio de leitura, mas de
múltiplas possibilidades de recepção reflexiva, que desafiem o intelecto a produzir respostas
para o estranhamento produzido em cada obra ou estilo estudado. Assim considerando, as
habilidades de analisar, interpretar e teorizar sobre o objeto, reconhecer nele recursos
expressivos típicos das diferentes linguagens, identificar momentos de tradição e ruptura e
emitir juízos sobre as manifestações culturais, se realizam por meio de sistematização e
critérios definidos científica e metodologicamente.
2.2 ORIENTAÇÕES CURRICULARES DO ENSINO MÉDIO
Ao participar dos processos internos da SEE/SP, que envolvem as Diretorias,
Unidades Escolares e o conjunto de alunos, acompanhando a avaliação da aprendizagem e
institucional das diversas instâncias técnico-operacionais enquanto ATP, tivemos acesso a
dados e pudemos construir um olhar meta-reflexivo sobre o movimento constante de
renovação didático-metodológica que se efetiva na publicação, estudo, execução, avaliação e
retomada das proposições para incorporação de concepções nas práticas pedagógicas. Além
91
disso, participando do Programa Ensino Médio em Rede
55
como mediadora responsável pela
formação de professores coordenadores de UEs da DER/ Jales, pudemos pesquisar, participar
do debate interativo e procurar elementos para consolidação de nossa tese sobre os problemas
relativos à aprendizagem da Literatura e possíveis soluções didáticas. Recebemos, neste
percurso, o documento inédito
56
que retoma o projeto de fixar parâmetros curriculares para os
alunos do EM.
Em versão preliminar, digital, de 2004, Francisco das Chagas Fernandes
57
inicia a
apresentação declarando que a implantação dos PCNEM sugeriu mudanças significativas para
o trabalho pedagógico, mas que tal proposta não se concretizou por não ter conseguido
aprofundar análise consistente que permitisse esclarecer e orientar escolas, bem como
promover o estudo e discussão das possibilidades didático-pedagógicas por ela apresentadas
58
.
O documento OCEM, aberto pela seção intitulada “Subsídios para uma Reflexão
sobre o Ensino Médio”, de autoria da profª Drª Lucia Helena Lodi
59
, afirma que as Diretrizes
legais, como o parecer 15/98
60
, bem como a Resolução nº 3/98
61
não foram suficientes para
sustentar a reforma que, decorridos sete anos, não se efetivou, em razão de fatores políticos,
pedagógicos e operacionais.
Sem que as discussões alcançassem grau consistente de convergência
teórica e metodológica, essas novas orientações não foram internalizadas pelos
educadores e, portanto, não instituíram novas práticas pedagógicas.
No âmbito pedagógico, a divergência conceitual nos meios
especializados da noção de competência defendida em documentos oficiais e a
insuficiente formação dos professores constituíram empecilhos para adoção das
novas orientações, visto o desconhecimento teórico[...]
(BRASIL, 2004, p.7)
55
acompanhado pela fundação Vanzolini e pela PUC/SP previsto para 240 horas de formação em serviço, de
Julho de 2004 a Agosto de 2005.
56
em discussão por meio de cinco seminários regionais e um seminário em nível nacional realizados pelo MEC/
Br, de Outubro a Dezembro de 2004.
57
Secretário de Educação Básica /MEC.
58
Versão digital - Orientações Curriculares do Ensino Médio. (BRASIL, 2004, p.6).
59
Diretora do departamento de políticas de Ensino Médio da Secretaria de Educação Básica/ MEC.
60
O parecer CEB 15/98, aprovado em 01/06/1998 apresenta propostas de regulamentação da base curricular
nacional e de organização do Ensino Médio.
61
A Resolução CEB nº 3, de 26 de Junho de 1998, institui as DCNEM.
92
Aponta, dentre as principais críticas relacionadas às atuais diretrizes e aos
parâmetros curriculares: o currículo tratado como instrumento de controle da educação e
submisso aos princípios de mercado; o discurso híbrido dos PCNEM e DCNEM,
fundamentados em tendências pedagógicas diversas; a ênfase no discurso das competências
fragmentadas em habilidades, além da ausência de referências mais precisas para orientar a
aquisição dessas competências e habilidades
62
.
Tendo em vista que o atual governo federal se propôs a instituir um fórum
curricular permanente abordando questões emergentes da pauta pedagógica nacional,
especialmente a formação de leitores críticos, no momento de crise econômica e de quebra de
paradigmas, a Literatura torna-se alimento necessário ao intelecto e às paixões, refeição
obrigatória para sustentação do imaginário, que não pode ser excluída ou subestimada à custa
de a desilusão técnica anti-humanista contaminar o espírito educacional.
Segundo o texto, o currículo deve se consolidar a partir do aluno-sujeito, que em
cada etapa da vida tem suas singularidades, síntese do desenvolvimento biológico e da
experiência social. Portanto, necessidades e interesses dos alunos se confrontam com os
saberes sistematizados
63
. As dicotomias expostas nos documentos anteriores, entre
conhecimento geral e específico; entre ciência e técnica; entre tecnologia e humanismo ainda
são fragilidades a superar, tendo em vista que expressaram a contradição entre o que deveria
ser conservado e o que precisa ser renovado.
62
A SEE/SP desenvolveu e divulgou, a partir de 1996, o SARESP, sistema de pesquisa de rigoroso padrão
científico, que oferece relatório de análise minuciosa das habilidades não dominadas bem como dos resultados
da rede, orientando a assimilação desta visão por meio de seu modelo de matriz de competências e habilidades.
63
Pesquisando e acompanhando a realização do SARESP desde a sua primeira aplicação em 1996, e também
assumindo a responsabilidade parcial de elaboração do relatório da DER/ Jales, constatamos que, por ter
priorizado disciplinas centrais do currículo, o sistema restringiu o campo de pesquisa à competência leitora,
agrupando conteúdos por abordagem interdisciplinar. As provas têm sido constituídas de textos que englobam
conteúdos das diferentes áreas do currículo, portanto, não são de Língua Portuguesa, mas de capacidade leitora e
interpretativa.
93
O desafio do EM, segundo Lodi, é efetivar a perspectiva interdisciplinar
64
, e, para
isso, sugere enfoques necessários à reorganização curricular: a reinterpretação dos PCNEM e
das DCNEM, priorizando o protagonismo juvenil e a construção coletiva do currículo; a
concepção de avaliação com ênfase no processo e não no resultado; a criação de parâmetros
regionais e locais, em consonância com as diretrizes nacionais e o tratamento do currículo
como política sócio-cultural, além da necessidade de criar estratégias que favoreçam o
desenvolvimento da capacidade crítica dos alunos, em relação aos padrões universais de
conhecimento até hoje instituídos. Por fim, recomenda o trabalho dos gestores e mediadores
educacionais com o conceito de competência enquanto conhecimento necessário à
compreensão e atuação crítica, de ordem ética, social e econômica.
Concretizando as Orientações Curriculares complementares aos PCNEM e aos
PCN+, o MEC contou com análises de pesquisadores das diferentes áreas. O texto de
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias é de autoria da Profª Drª Roxane Helena Rodrigues
Rojo (Língua materna), conforme apresentamos algumas citações, seguido pelo Prof. Dr.
Luiz Paulo da Moita Lopes (Língua estrangeira). Quanto às questões específicas da Literatura,
a profª Drª Enid Yatsuda Frederico e o Prof. Dr Haquira Osakabe
65
, tecem avaliação dos
PCNEM, cujas críticas relativizaremos.
Nossa preocupação se refere aos aspectos da língua materna ligados à recepção e
produção da literatura, portanto, nos limitaremos a analisar apenas as considerações de Rojo,
passando, em seguida, às críticas a respeito da concepção teórico-metodológica encaminhada
nos PCNEM, apontadas pelos especialistas em Literatura.
64
Ainda compreendendo a natureza interdisciplinar do significado, as orientações técnicas e formações em
serviço promovidas em nível central pela SEE/SP e, em nível descentralizado, pelas OPs têm agrupado
profissionais das diferentes áreas em cursos como Práticas de Leitura e Escrita por meio da Rede do Saber e Teia
do Saber, formação que incorporou a parceria com as universidades e instituições de ensino superior bem como
as novas TIC, além de inúmeros outros Programas de formação em serviço para os diferentes profissionais da
educação, na tentativa de acompanhar a tendência pós-moderna e de integrar as diferentes esferas institucionais
com a finalidade de alcançar resultados e qualidade superiores.
65
pesquisadores da UNICAMP (Universidade de Campinas).
94
Rojo (BRASIL, 2004, p.14) afirma que os PCNEM (1999) e, sobretudo os PCN+
(2002) não “referenciam de maneira satisfatória às mudanças de estrutura, organização, gestão
e práticas didáticas” necessárias para a realização dos princípios e diretrizes expostos nos
documentos legais. Aponta como problema duas razões básicas: a) o grau de generalidade e
de hermetismo dos PCNEM_ que exigiram complementação e adequação de linguagem a seus
interlocutores (os professores), por meio dos PCN+ _e b) incoerência entre as visões de
ensino-aprendizagem e de linguagem, língua e discurso presentes nos dois documentos.
Destaca que as línguas, as linguagens contemporâneas e as tecnologias da comunicação são
caracterizadas como artefatos de linguagem multimodal (grifo nosso). Na visão da autora,
assim concebidas, as linguagens podem se integrar interdisciplinarmente, demandando,
principalmente, formas de operacionalização.
Conforme análise da professora
66
, as DCNEM, ao tratar da contextualização do
ensino, fazem referência às noções vigotskyanas de conhecimento e aprendizagem
encaminhando uma visão subliminar de que, no EM, trata-se de reconstruir conceitos
cotidianos, por meio do aprendizado de conhecimentos sistemáticos ou científicos. Destaca,
ainda, que “os verbos empregados sinalizam uma visão passiva da capacidade do jovem, de
compreensão, confronto e aplicação de conhecimentos”[...].(BRASIL, 2004, p.18).
A especialista enfatiza que cabe ao ensino de língua aprofundar o processo de
apropriação das diversas formas de textos, mais complexas e, “em especial no que se refere
aos textos literários (formação do leitor literário)” e aos textos argumentativos, expositivos ou
injuntivos, das diferentes esferas de circulação dos discursos[...] “em mídias diversas,
considerando-as práticas letradas que possibilitam inserção sociocultural do jovem no
mundo”. (idem p.19)
66
Pontifícia Universidade Católica/SP.
95
É importante ressaltar dados sobre os tipos ainda restritos de letramento no Brasil,
especialmente ligados à renda, escolaridade e à atividade das famílias, determinando o tipo de
profissões dos jovens, que representam a primeira geração de muitas famílias a aspirar ao
ensino universitário. Testemunha desse processo de luta pela ampliação do nível de
leiturização, letramento, bem como de escolarização na realidade escolar em que atuamos,
tanto no nível da EB quanto no nível superior, refletir e produzir nossa experiência formativa
e profissional, a título de contribuição docente, nos moveu a estudar e pesquisar.
O texto de Rojo ressalta, tecnicamente, que o PISA
67
tem concepção cognitiva de
leitura como extração e relação entre informações contidas em textos de diferentes gêneros e
linguagens, enquanto que o ENEM e o SAEB têm concepção discursiva de leitura. Ou seja,
segundo a lingüista, os sistemas nacionais de avaliação incorporam descritores ou habilidades
e competências que dizem respeito não somente ao conteúdo e à materialidade lingüística dos
textos [...], mas também à sua situação de enunciação.
68
(BRASIL, 2004, p. 23) Dados do
SAEB (2001) utilizados atestam que 41% dos jovens concluintes do EM brasileiro
apresentam capacidade de leitura inferior ao nível 5
69
enquanto 32,11% encontram-se neste
nível; 20,43% se posicionam no nível 6 e são capazes de identificar recursos discursivos mais
sofisticados; 3, 91% situam-se no nível 7 e apenas 1,44% dos estudantes alcançam o nível 8,
apresentando habilidades de leitura compatíveis com o curso médio concluído.
Medidas urgentes precisam ser tomadas, conforme sugeriram não só os
especialistas leitores dos Parâmetros e das Diretrizes, mas também os técnicos e mediadores,
produtores e executores das propostas curriculares estaduais, bem como adoção de novas
práticas de letramento das quais a pesquisa acadêmica pode se encarregar de contribuir com a
67
sistema internacional que classificou o Brasil em um dos últimos lugares quanto à competência leitora em
relação a outros países.
68
Ver descritores do PISA e SAEB disponíveis no site do MEC/ INEP.
69
32,11% dos adolescentes brasileiros se encontram no nível 5 descrito pelo SAEB, que indica habilidades
como: localizar informações explícitas e implícitas em fragmentos de textos narrativos simples; inferir o sentido
de palavras e expressões em textos narrativos simples, relatos jornalísticos, histórias e poemas; identificar o tema
de textos narrativos, informativos e poéticos, dentre outras. 41% dos jovens, estão abaixo deste nível.
96
criação e divulgação de um corpo teórico aplicável, com a finalidade de que tais habilidades
sejam dominadas.
Conforme Rojo um desencontro de vozes nas indicações dos PCNEM e dos
PCN+ pouco operacionalizando a realização de um currículo situado, flexível e
interdisciplinar como o pretendido nas DCNEM. Coloca-se contrária à repetição das mesmas
competências para várias disciplinas da área, fator que retira das diferentes linguagens a
“possibilidade de manejo multimodal[...]”. (BRASIL, 2004, p.26) A pesquisadora avalia os
documentos como pouco operacionais e de alto grau de generalidade, incompatíveis com a
metodologia didática, que deve primar por clareza e grau de orientação.
Além disso, critica o privilégio das capacidades de compreensão (leitura), em
relação às de produção, no caso do ensino de línguas, enfatizando que os pequenos
acréscimos realizados nos PCN+ referem-se à visão de linguagens e de língua, de texto e de
discurso não coincidente com a anterior. Situa teoricamente os acréscimos como divergentes
da perspectiva enunciativa inicial, de base bakhtiniana, afirmando que o restante do texto dos
referenciais para a área destina-se, numa linguagem bastante hermética e teórica e sem a
preocupação de operacionalização ou de exemplificação, a detalhar esta visão [...](idem, p.
26,27). Em nota de rodapé, Rojo (BRASIL, 2004, nota 15, p. 27)
explica, em relação aos
PCNEM
(BRASIL, 1999, p.125)
que
uma imprecisão grave na definição de linguagem logo no início do texto,
caracterizando sempre como sistemas arbitrários de representação. Ora, nem
todas as linguagens se organizam por signos ou sistemas arbitrários. Muitas
são simbólicas e pelo menos parcialmente motivadas, como é o caso das
imagens e das linguagens das artes plásticas. Este erro é corrigido nos PCN+
(BRASIL, 2002, p.39-40).
A autora, ao analisar o bloco de competências de contextualização sócio-cultural,
critica a separação da compreensão e produção dos discursos de sua contextualização; a
restrição à abordagem da linguagem verbal (oral ou escrita) dentre as outras e à literatura,
97
dentre as artes. Quando analisa a passagem da área de linguagens para a disciplina de Língua
Portuguesa, declara que não houve acréscimo em operacionalização e exemplificação, falha
agravada pela manutenção da disciplinarização da área, mantendo o currículo do EM regido
pelos vestibulares e, ainda, dividido entre estudos gramaticais, das escolas literárias e prática
de produção dissertativa.
Avalia como infeliz o procedimento de acréscimo do adjetivo verbal toda vez que
o substantivo linguagem foi mencionado, pois essa caracterização restringiu o escopo da
disciplina de Língua Portuguesa, isolando duas modalidades de linguagem (oral e escrita) das
demais, reduzindo, também, as tecnologias de informação e comunicação a uma e mais
milenar das linguagens: a escrita. Rojo observa que os PCN+ recorrem a uma diversidade
eclética de teorias impregnadas do senso comum das escolas, ao aplicar conceitos das
Teorias da Comunicação e Textuais, subsidiando as competências básicas- interacional,
gramatical e textual.
Considera que a perspectiva de adoção de competências complementares nos
PCN+ ignorou os construtos enunciativos bakhtinianos que sustentaram os PCNEM. Afirma,
ademais, que os PCN+ (2002) dissonam dos PCNEM (1999) por apresentar operacionalização
das linguagens mantendo abordagem enciclopédica e pouco significativa, permeada por
definição eclética e oscilante dos conceitos estruturantes, o que acentua equívocos conceituais
no que se refere aos gêneros discursivos, que deveriam constituir conceito estruturante da área
e não o são, fazendo alternar uma visão discursiva mal elaborada à tradicional visão estrutural
e gramatical da língua. Os gêneros são tomados com acepção literária, narrativa, descritiva e
textual e não propriamente discursivos. Aliás, segundo a pesquisadora, a manutenção do
conceito de gramática como articulador de outros conceitos da área, no documento de 2002,
reduz a perspectiva assumida no documento de 99. Critica os objetivos instrumentais
indicados de maneira genérica nas orientações de 2002, divorciados da contextualização
98
sócio-cultural, em lato sensu, para fazer conhecer e utilizar eficazmente procedimentos de
análise textual e dominar os componentes estruturais das diversas linguagens e seus possíveis
arranjos, que compreendem o domínio da competência de Investigação e Compreensão.
Termina sua análise explicitando uma linha teórica sobre a linguagem, bem como
sobre a aprendizagem, com o objetivo de situar a fundamentação para o professor. Amplia
estratégias de leitura coincidentes com Kleiman (1989), organizadas em conhecimento
lingüístico, textual e de mundo que, em sua acepção ganham nova carga semântica: nível da
organização textual em neros discursivos, nível sistêmico e nível dos conhecimentos de
mundo e, depois, adentra a teorização sobre a aprendizagem, clamando por consonância dos
processos escolares com os processos contemporâneos de construção do conhecimento,
destacando que aprender equivale a situar-se no mundo. Sua análise aponta que o processo
cognitivo individual se antagoniza com o processo intersubjetivo coletivo, de natureza social;
ou seja, que a prevalência da visão cognitivista do conhecimento não se coaduna com a
perspectiva sócio-interacionista.
Por fim, recomenda, com base na análise dos dois documentos federais anteriores:
a) manutenção e incrementação de bases interdisciplinares relativas aos currículos, bem como
de contextualização sócio-cultural; b) disciplinas de línguas integradas às outras linguagens;
c) tratamento multimodal e multimidiático de textos e discursos; d) reflexão sobre a relação
aprendizado cotidiano/aprendizado sistemático; e) valorização das práticas de leitura como
forma de protagonismo crítico e compreensão dos bens culturais; f) ampliação dos tipos e
patamares de letramento (literário, científico, digital,etc); g) adoção de atitudes, valores e
habilidades, numa perspectiva enunciativa de linguagem. Conclui sugerindo
redimensionamento do papel das práticas de ensino de gramática e de literatura presentes no
currículo tradicional, consolidado [...].
(BRASIL, 2004, p. 40,41)
99
2.2.1 ABORDAGEM DA LITERATURA NAS ORIENTAÇÕES CURRICULARES
Frederico; Osakabe
70
, observando os problemas pelos quais passa o programa de
ensino da Literatura consagrado pela tradição escolar, dirigido a um público tão heterogêneo
como o atual, compreendem como bastante discutível a abordagem bem como algumas
soluções adotadas pelos professores, baseadas no deslocamento de foco do fenômeno literário.
Apontam como problemática a visão cronológica da literatura além da manutenção da
concepção clássica de definição de monumentos e prestígio de antologias que introduziram a
noção de cânone, tanto na escolha docente quanto na seleção realizada pelos manuais
didáticos, escolhas que definiram os parâmetros da boa ou literatura. Segundo eles “já se
podia notar um patente descompasso entre os cânones assumidos pelos materiais didáticos e
as profundas alterações que, desde o princípio do século, vinha sofrendo a literatura mundial,
em geral, e a literatura brasileira, em particular”. (BRASIL, 2004, p. 65)
Os autores reconhecem o avanço das pesquisas lingüísticas, refletido no corpo
teórico dos PCNEM e nas indicações para o trabalho com as línguas, porém não tecem as
mesmas considerações para com a literatura, cujo caráter arbitrário, baseado em
predeterminações e preconceitos suscitou uma espécie de rebeldia ao veto de apreciação
pessoal e livre escolha das obras, exposta nos relatos citados. Segundo os especialistas,
tanto o estudo da Gramática quanto o de Literatura estariam subordinados ao conceito amplo
de linguagem, cujo conhecimento foi incluído nas habilidades da área. Conforme avaliação, a
abordagem de conteúdos de forma tradicional dilui sua particularidade a apenas uma das
múltiplas competências a serem desenvolvidas no ensino de Língua Portuguesa.(idem, p.72)
Para eles, os PCNEM apresentam atitude duplamente problemática em relação ao
ensino da literatura: ou descaracterizam-na completamente, de maneira complacente, ou
70
BRASIL, 2004. Cf versão eletrônica disponível no site do MEC.
100
mantêm os padrões tradicionais, tomando-a como portadora de conteúdos culturais. Destacam
que mesmo os exames vestibulares têm investido mais na verificação da experiência de leitura
do aluno quanto aos textos literários e não propriamente na história da literatura ou nos
elementos contextuais. Declaram ausente uma perspectiva que se harmonize com os objetivos
mais recentes de ensino, visão da qual discordamos por entender que tal perspectiva está
implícita e merece detalhamento. Criticam os PCNEM afirmando: “não normativos,
abandonam os professores na generalidade de suas sugestões. Temendo parecerem
tradicionais[...], alijam a experiência literária para uma vala comum na qual se mesclam
produções literárias e não-literárias[...] Temendo afirmar, não propõem”.(BRASIL, 2004,
p.75) E apresentam seu conceito de texto literário:
O texto literário é elaborado de um modo peculiar que,
normalmente, vai além das elaborações lingüísticas usuais (sintaxe usual,
combinações usuais, frases usuais) e das significações comuns. Isto pelo fato
de que o texto literário, como qualquer realização estética, não se origina
obrigatoriamente de uma necessidade prática_ não constitui uma resposta a
uma solução imediata e, por isso mesmo, se constitui num exercício de
liberdade lingüística como nenhum outro uso o consegue ser. (idem, p. 75)
Os especialistas aceitam que o fato poético ocorre também nas criações de
consumo maior e declaram: ...“retomemos a sempre lembrada e oportuna idéia de que o
fenômeno literário (ou o fato poético) ocorre também nas criações de consumo maior como a
música popular [...]. Advertem que convém não confundir algumas questões: “há que se
distinguir aquilo que consiste o texto literário daquilo que se situa mais no plano do lugar
comum. Mesmo autores como Chico Buarque, Caetano, Djavan [...] nem tudo o que
produzem poderíamos denominar como literário [...]. Afirmam que o mesmo se aplica à
comparação entre Machado e Paulo Coelho. (BRASIL, 2004, p.77)
101
De nossa parte, entendemos que a argumentação de 2004 nas passagens citadas
também não definiu elementos e categorias de análise que explicassem seguramente a
diferença entre canção popular e poesia literária e entre a prosa de ficção de Machado e a
literatura de viagem, de iniciação, de Paulo Coelho, permanecendo na generalidade de que
acusam os PCNEM (1999). Como reconhecer o efeito de estranhamento que indicam como
parâmetro de identificação do literário?
Apreciamos e mesmo submetemos alunos de graduação em Letras à análise de
canções dos autores mencionados, encontrando complexidade e densidade semântico-
estilística nas canções, as quais valorizamos, porém preferimos não agrupá-las no conjunto
poesia, mantendo a distinção registrada por Moriconi (2002) que estabelece o suporte como
um dos elementos definidores do gênero.
Os críticos seguem problematizando alguns relatos dos PCNEM, tópicos os quais
já havíamos identificado como fragilidades do documento, desde a montagem de nosso
projeto de pesquisa em 2001: “Machado de Assis é literatura e Paulo Coelho não”, quando
convocam Guimarães Rosa como exemplo de elaboração lingüística e grau de exigência
interpretativo-estética, colocando, ainda sob medida, nos pratos da balança, de um lado,
Clarice Lispector e, de outro, a Senhora Leandro Dupré (sic). Afirmam, em relação a Paulo
Coelho e, por extensão, à Senhora Dupré que “são pouquíssimos os momentos em que seu
texto atinge o mínimo grau de diferenciação do senso comum, das significações mais usuais e
dos estereótipos” (idem, p.77), avaliação da qual não discordamos, porém, pensamos que a
TL possa orientar critérios metodologicamente definidos e mais claros de apontamento das
divergências que a simples diferenciação do senso comum. Ou melhor, pensamos que
critérios de particularização inequívoca do que seja literário ou não, a literariedade e o
procedimento estético enquanto singularidade da linguagem literária, determinantes que
demostraremos em forma de contribuição para com a esfera pedagógica.
102
A primeira etapa do item 3 da análise, denominada “Algumas Idéiasconclui-se,
ponderando:
[...]não é apenas pelo grau de exigência que se qualifica o melhor
autor ou a melhor obra, trata-se, como dissemos, da particularidade (do trabalho)
de sua elaboração em que se fundem singularidade lingüística e de constituição
de uma nova percepção. No caso de Paulo Coelho, autor facilmente assimilável,
não há nenhum tipo de singularidade, nenhum tipo peculiar de elaboração. Desse
modo, se não é possível ter, de modo absoluto e excludente, critérios para
distinguir aquilo que é ou não literatura, há, pelo menos critérios de avaliação
que nos permitem entender que uma Clarice Lispector é melhor escritora do que
uma Senhora Leandro Dupré
71
(sic) (grifo nosso).
É possível inferir do julgamento uma apreciação preconceituosa e arbitrária em
relação “à Senhora Dupré” e, por extensão, a Paulo Coelho, tal qual acusam os PCNEM. Por
ora, devemos fixar princípios estéticos e recomendar que a escola deixe as paixões fora dos
muros, pois os jovens procurarão por si os fenômenos de venda nas livrarias e nos cinemas_
“os que podem”_ e os que não podem, por fatores econômicos, os procurarão na biblioteca da
escola, que deve oferecê-los. Embarcar na viagem à “Ilha Perdida”, do “Cachorrinho Samba”
(aqui ou na Rússia), ou no Diário de um mago” tem um nome: fruição, deleite individual.
Não podemos negar que essa literatura seja educadora dos leitores em formação.
Entretanto, a literatura como processo e como sistema, conforme orienta Candido,
(1957) e conforme o nível do EM deve se adequar, cabe a nós, educadores, divulgar, pois a
mídia não a focaliza como alvo de consumo, sem dizer que habilidades mais complexas,
oriundas dessas leituras, precisam ser formadas no nível de ensino de transição da infância à
fase adulta. Se a escola não mudar seus métodos, apenas a compreensão superficial e
instantânea do tempo da virtualidade tomará alguns minutos dos jovens, enquanto a
compreensão vertical dos textos literários continuará negligenciada.
Os pesquisadores passam, então, na seqüência da avaliação dos PCNEM, a
adentrar outro domínio das discussões literárias, o do cânone e afirmam: “se não critérios
71
BRASIL, 2004, op cit p.77.
103
absolutos para se distinguir o que é ou não é literatura, mais difícil é afirmar a existência de
critérios absolutos para [...]os melhores ou piores na história literária ou no quadro[...]da
tradição,[...]sobretudo[...]da literatura mais recente”. (BRASIL, 2004, p.78) Superando a linha
problemática do julgamento de valor, extraem duas conseqüências pedagógicas das
considerações que teceram: o modo de condução da experiência literária e a propriedade da
definição do cânone nesse nível de ensino, focalizando os conceitos de permanência e
trnasitoriedade.
... a vida literária dentro da história cultural de um país não erige padrões
eternos e por isso mesmo não define normativamente quadros definitivos de
referência para a posteridade. No entanto, não é possível uma cultura
sobreviver sem tais padrões. Assim, a noção de cânone guarda relação com a
transitoriedade, com a época e sua fugacidade, mas, também, com a
permanência. Por isso, embora nada se possa considerar definitivo em
matéria de excelência estética, dificilmente se poderá considerar como
gratuito o efeito de permanência de obras que mantêm, mesmo com o passar
dos séculos, o vigor do momento de seu aparecimento.(BRASIL, loc cit,
p.78)
Os especialistas insistem que nenhum aluno é completamente alheio à experiência
estético-literária, pois é capaz de reconhecer fenômenos lingüísticos altamente
particularizantes nas mais diferentes funções dos meios de comunicação. Admitem que as
canções de ninar, os contos populares anônimos e a música de consumo fazem parte da
experiência cotidiana, entretanto reiteram que “raros terão sido os momentos de fruição da
literatura escrita [...] pela população, que deixa para um plano secundário o interesse por uma
literatura de pura fruição”.
[...]assim, à escola em geral, e, ao Ensino Médio, em particular,
cabe exercer esse papel que deve ser encarado não como imposição
curricular, mas como disposição de uma chance única, cujo acesso as
exigências da vida cotidiana tendem a vedar. A experiência literária torna-se
assim uma exigência ética da escola. É o momento do exercício de
percepção e de incorporação de um tipo de discurso ou comportamento
lingüísticos que corresponde ao exercício pleno da liberdade
criadora.(BRASIL, loc cit, p. 79).
104
F
inalizam a crítica dos PCNEM (1999) e de seu documento complementar, os
PCN+ (2002), recomendando metodologicamente que a atenção para a novidade e a análise
dos vários modos pelos quais ela se formula constitui momento privilegiado em que o aluno
compreenderá, “mais pela intuição do que pelo intelecto”, o que torna um texto
particularmente expressivo, e literário, conseqüentemente (BRASIL, 2004, p. 80 grifo nosso).
Discordando do ponto de vista apresentado, argumentamos em favor de descartar
procedimentos pautados na intuição ou no impressionismo, que continuem a propagar a
omissão e entendemos que o caráter sistemático dos estudos no EM consiste exatamente na
adoção de critérios de observação, experimentação, identificação, julgamento crítico e
avaliatório da adequação dos procedimentos estéticos utilizados bem como de iniciação na
investigação de processos matemáticos, físicos, químicos, biológicos, lingüísticos e, por
extensão, científicos e culturais, em geral.
Compreendemos que a análise literária não deve se ater rigorosamente a processos
pré-definidos e sistemáticos permanentes, porém para a finalidade à qual se destina este
estudo, a de evitar o caráter empírico, intuitivo, impressionista, de cunho subjetivo ou, mais
grave, a ausência de critérios de orientação dos estudos dos adolescentes, pensamos que seja
eficaz a sistematização operacional em favor do trabalho docente e da atividade intelectual
dos alunos, do exercício dialético de leitura do texto estético, a priori, e, a posteriori,
reconhecimento e identificação da poiésis, procedimento de criação do autor ao manipular
elementos que revelam o valor estético da obra.
Tememos que, para os professores da rede, bem como para os professores de
literatura, em geral, a presente avaliação permaneça na generalidade de que acusou os
PCNEM e na omissão de critérios, mantendo a prática ora no intuicionismo, aproximando
produções populares, que não deixam de ser expressivas, às de eficácia estética reconhecida e
passível de análise científica, motivo pelo qual existem pesquisas em desenvolvimento no
105
país, desde a instituição da TL como disciplina e área de aplicação desses conhecimentos.
Tememos, ainda, que o caráter arbitrário do ensino da Literatura bem como o deslocamento
de foco do fenômeno literário identificados permaneçam como obstáculo insuperável ao
domínio das competências e habilidades requeridas sem a definição clara das categorias de
análise e sem orientação metodológica que encaminhe o desdobramento dos conteúdos.
Para Frederico; Osakabe a demonstração da particularidade do processo literário é
fundamental, pois recusa o lugar comum e as fórmulas repetidas e previsíveis: “não há porque
fugir da visão canônica que se tem da literatura, desde que se assuma que essa visão tem, ao
mesmo tempo, implicações de permanência e transitoriedade. E o que permanece é o que
conta na formação do aluno.[ ] Completam:
abrir mão das eventuais diferenças entre obras
e autores em nome de um equivocado democratismo pedagógico é abrir mão de uma
aproximação com um domínio da linguagem verbal capaz de transformar, pela riqueza de
suas diversidades, o aluno no sujeito com que todos sonhamos.”(BRASIL, 2004, p. 80)
Concordando que o conceito de literatura e de texto literário não seja tão discutível
mas que seja, sim, amplamente discutível, a abordagem do conhecimento literário na escola,
afirmamos anteriormente e reiteramos que, para nós, o problema do conhecimento literário e
da interpretação dos textos em geral não é, propriamente, de complexidade do conteúdo, mas
metodológico. As formas de abordagem cristalizadas pela tradição cronológica, centrada em
critérios externos de apreensão ou compreensão, se chocam frontalmente com a visão
dialógica e as teorias da linguagem atuais, que partem da criação lingüística enquanto efeito
estilístico ou de singularidade em direção à consideração das diferentes linguagens,
privilegiadas a partir do desenvolvimento tecnológico do século XX.
A abordagem externa não deve ser descartada, porém, a interna tornou-se
substrato, expressão anterior ao conteúdo, justificando indagações contextuais e sócio-
culturais do momento que o texto representa. A redução do processo de experiência literária a
106
obras ditas “de fácil assimilação” ou “digeríveis” e a manutenção de critérios externos, como
o vestibular ou os modelos consagrados pela tradição não podem constituir fonte inequívoca
de referência do professor.
A criação de uma antologia da classe, do grupo ou individual, a partir do
levantamento estético do patrimônio nacional, deve ser estimulada para que os alunos
identifiquem nos textos que selecionaram critérios de gosto ou propriamente estéticos que os
fizeram reconhecer nessas obras o caráter literário. Tais expedientes estimulam a experiência
estética. Além dessa forma de protagonismo do leitor, atividades de simulação deverão ser
estimuladas, por meio de projetos em que os alunos declamem, dramatizem e protagonizem os
textos, com caráter de vivência. Deverão, também, demonstrar, a partir da representação
cênica, a investigação e compreensão do fenômeno sócio-cultural nele contextualizado,
características de seu período de surgimento, comparando-o com o presente ou com criações
de épocas e linguagens distintas.
2.2.2 AVALIAÇÃO DO CURRÍCULO DE LITERATURA A PARTIR DA CRÍTICA
AOS PCNEM
Frederico; Osakabe apontam, no que concerne à categoria da Literatura, “certa
inércia científico-pedagógica, de um lado, e, de outro, uma suposta homogeneidade cultural (e
por que não social?) do corpo discente do EM” a manter o currículo tradicional, no qual não
existiam dúvidas tão freqüentes quanto hoje, pois a estrutura escolar anterior era altamente
seletiva e passava por rigorosa filtragem, reafirmando as condições de origem dos alunos.
Segundo os autores, para aqueles alunos da elite, não era necessário indagar: ‘Devemos
ensinar os clássicos?[...] ( BRASIL, 2004, p. 60 grifo nosso). Porém, as demandas atuais do
público do EM, de origem social diversa, com características culturais e lingüísticas muito
107
peculiares são completamente distintas das daquele público suposto pelo antigo currículo.
Conforme os pesquisadores, a democratização do ensino, por decreto não levou em conta
diversos fatores, dentre os quais:
[...]d) constituição, no plano acadêmico, de um conjunto de conhecimentos
suficientemente forte para propor estratégias pedagógicas e formulações
conteudísticas, de modo a proporcionar ao novo público uma formação
equivalente àquela anteriormente dada a um segmento privilegiado.
[...] O resultado automático desse processo foi o rebaixamento de nível e de
exigências de ensino, rebaixamento justificado por uma suspeita
preocupação de adequar o ensino às condições do aluno. (BRASIL, 2004, p.
60, 61).
Os especialistas apresentam duas prováveis justificativas para a nova problemática
do ensino: a primeira, “uma visão demagógica do processo educacional, num regime político
de exceção”_segundo eles, mais explicável_ e a segunda, “uma retórica complacente e
populista que seduziu boa parte dos responsáveis pela educação”(idem p.62). A verdade é que
tais fatores afetam diretamente o ensino da Literatura, resultando em práticas redutivas do
processo de assimilação da experiência literária, deslocamento de seu foco e fuga do contato
direto com o fenômeno literário”. A análise detectou “substituição da literatura ‘difícil’ por
uma literatura mais digerível; redução a um conjunto de informações externas às obras e aos
textos, bem como a substituição dos textos originais por simulacros(idem p.63).
A análise declara que a referida força de inércia que moveu os alunos, atingiu
também a tradição consagrada em modelos definitivos, estabelecidos por concepções muito
antigas, priorizando a visão cronológica da literatura pelo modelo greco-latino que moldou o
aluno a uma realidade ideal. Segundo eles, o antigo domínio dos instrumentos de erudição
para atuação pública, como a retórica e a visão da arte e da literatura, consagrados pela
tradição nas particularidades lingüísticas prestigiadas em antologias, na concepção clássica, se
reduziu ao conhecimento dos procedimentos estilísticos e sujeição aos modelos não estéticos,
as quais facilitaram o acesso do aluno aos textos.
108
Um conjunto de informações a respeito das obras e dos autores ainda se faz
presente nas indicações dos programas de ensino e de vestibulares, em detrimento do
conhecimento analítico das obras que compreendem o patrimônio literário e suas
manifestações. As profundas alterações na produção da literatura do século XX, tanto mundial
quanto nacional, passaram a ser observadas finissecularmente, período que submetemos à
análise e que se mostra imperativo das mudanças a executar na atualidade. Não como
manter as velhas práticas num contexto tão distinto, em todos os sentidos.
Frederico; Osakabe ainda analisando os PCNs, nos diferentes níveis, avaliam os
PCNEF como mais consistentes e propositivos que os PCNEM, principalmente em termos de
Língua Materna
[...]porém, no caso da literatura, coloca-se para o professor uma questão de
base: a que vem a literatura para os alunos em geral, quando se entende que
boa parte deles não terá condições [...]de seguir um curso superior?[...]
Logo, a presença da Literatura no Ensino Médio tende a responder a
desígnios estranhos `a vida de seus maiores interessados[...]
Os responsáveis pelos PCNEM relativos à literatura parecem ter sentido
claramente os efeitos desta constatação. Resta saber se esse documento
propõe orientações (ou parâmetros) que de fato permitam a presença
adequada do ensino da literatura ou se, na falta dessas orientações,
simplesmente a excluam do quadro de preocupações do Ensino Médio. A
impressão que se tem da leitura dos PCNEM é que os seus responsáveis
optaram pela segunda alternativa, mas sem afirmá-lo categoricamente.(
BRASIL, 2004, p. 67).
Declaram que a “inexistência de critérios para se separar o literário do não
literário”, bem como a “arbitrariedade no ensino da Literatura” são predeterminações e
preconceitos encontrados no documento orientador dos estudos no Brasil. Por pertencer à
filiação teórica da literatura objetivamos explicitar pelo menos alguns desses critérios,
assumidos como inexistentes pelos especialistas, principalmente os centrais, inequívocos e
decisivos no tratamento da disciplina. Além de pretender auxiliar com uma modesta
proposição que poderá ser assumida como orientação de procedimentos para implementar o
109
trabalho interdisciplinar, integrando as diversas linguagens, materializadas em textos não
divorciados de seu contexto, é nossa intenção deixar clara a distinção entre a focalização de
aspectos internos e externos às obras, abordagem, intra e interliterária ampliada pela
extraliterária, congregando conhecimentos por meio do levantamento de isotopias que, em
nossa concepção, revelam significados complexos no/do estudo da literatura.
As estratégias de estímulo ao protagonismo juvenil, determinadas pelas novas
concepções pedagógicas, adaptadas às características da faixa etária, elevando o aluno à
categoria de sujeito da aprendizagem, serão recomendadas como práticas ainda não
consolidadas, propiciando, por intermédio da Literatura, a aproximação inter-áreas.
Ao analisar o conjunto de competências a desenvolver no domínio geral das
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, os autores afirmam não haver uma “competência
específica para as manifestações estéticas em geral e, em particular, para a literatura”.
Segundo eles, todo o velho programa de Literatura do colegial vem resumido no capítulo
posterior dos PCNEM (BRASIL, 1999, p.145), na competência relatada a seguir, sucedida de
avaliação:
Recuperar pelo estudo do texto literário, as formas instituídas de
construção do imaginário coletivo, o patrimônio representativo da cultura e
as classificações preservadas e divulgadas, no eixo temporal e espacial.
[...] continuamos no mesmo patamar definido por legislação
anterior a 1961, quando a Lei de Diretrizes e Bases conferiu ao professor
total liberdade de organização de seu programa, liberdade de que os agentes,
professores e autores de livros didáticos, não conseguiram usufruir
(BRASIL, 2004 p.72).
Segundo os analistas, o lugar da literatura no documento autoriza seu
“deslocamento a um plano insignificante nas preocupações pedagógicas” do EM. E os
PCN+
72
, que deveriam especificar as lacunas do documento original, corroboram com o
72
Cf PCN+2002, p. 68, item 9 e p. 69, item 4.
110
mesmo, insistindo no caráter lúdico e prazeroso da fruição literária[...] adereço que distrai
73
(BRASIL, 2004 p.72).
Frederico; Osakabe salientam que a “generalidade própria das DCNEM foi
mantida nos PCNEM, o que não deveria ocorrer, devido à natureza distinta dos dois textos,
por isso não incongruência entre os mesmos. Entretanto, o objetivo primordial dos
Parâmetros, de discussão e particularização das diretrizes não se realizou, mantendo, da
mesma forma, a“omissão de parâmetros” orientadores da prática docente: “É possível a
conclusão de que o ensino da Literatura, tal como se vislumbra nos PCNEM, está
inteiramente fora de sintonia em relação àquilo que tanto as expectativas sociais e escolares
(ENEM) quanto as universitárias vêm formulando”.
(
BRASIL
,
2004, p. 74).
Os analistas consideram que as novas teorias psico-pedagógicas, bem como as do
campo de investigação da Lingüística e da TL, exigiram mudanças educacionais, assentadas
no princípio da liberdade de escolha de conteúdos mais assimiláveis para os que ministram e
para aqueles que os recebem, o que provocou vários equívocos, dentre os quais a intimidação
dos agentes educacionais, que reduziram o nível de exigência, tido como autoritário, em prol
de uma convivência sem conflitos, em detrimento de um processo formador qualitativo.
Concluem: “não há um momento, um gênero ou um autor pelo qual o aluno possa ser iniciado
academicamente em literatura. A única exigência no caso será a da escolha de um material
que ao mesmo tempo que potencialmente provoque empatia por parte do aluno, não repita
experiências já assentadas[...] (BRASIL, 2004, p.80)
À guisa de conclusão da análise dos documentos oficiais que nortearam o trabalho
com a Literatura na escola, ao longo dessas três décadas, consideramos que as mídias
audiovisuais m seqüestrado o tempo e o hábito de leitura dos adolescentes; por isso tornou-
se inadiável solicitar dos sistemas de governo e setores responsáveis pela organização
73
ver PCN+, BRASIL, 2002, item 5, p. 67.
111
educacional a modernização dos suportes de codificação da linguagem e da arte, que se
configura em recursos para a dinamização da práxis como: a) coleções e gravações das
grandes obras literárias narrativas em fitas de vídeo, DVDs ou softwares para acervo da
escola, associadas a b) projeções de obras de arte em filmes ou softwares e músicas, em
coleções de CDs, executadas nas diferentes épocas, bem como c) filmes e gravações de
declamações de poemas sedimentais do cânone nacional, por artistas jovens das redes de TV,
enquanto diferente linguagem ou modalidade que estimulará o estudo da linguagem verbal
escrita; d) CDteca, filmoteca; enfim, recursos das tecnologias da informação e comunicação
que subsidiem proposições teórico- metodológicas nas diferentes linguagens ou semióticas,
em decorrência da imposição sócio-histórica da pós-modernidade.
As instituições oficiais devem se encarregar de encomendar e distribuir tal
material, que muito significará em termos de melhoria da qualidade da aprendizagem. A
percepção dos jovens precisa ser aguçada para ativar a inteligência. E o arsenal de apoio ao
professor, enquanto ferramenta de trabalho não deve se constituir apenas de Parâmetros
teóricos e livros didáticos, mas também de recursos tecnológicos das tendências
contemporâneas, em quantidade suficiente. A mediação do trabalho fica a cargo do professor,
que deverá fazer cumprir o desenvolvimento das competências de representação e
comunicação; de investigação e compreensão e de contextualização sócio-cultural.
Concluída, portanto, a metareflexão sobre as concepções expressas nos
documentos complementares, que estimulam a redefinição do paradigma para o século XXI,
os PCN+(2002) e as OCEM (2004), passamos a analisar se existe sincronia entre o
desenvolvimento dos estudos literários e a produção dos manuais didáticos; os motivos da
escolha dos professores, se existe autonomia ou dependência das proposições dos manuais,
112
por utilitarismo paródico
74
e se foi possível à escola brasileira acompanhar as transformações
do mundo da comunicação, propiciando inovações na abordagem da literatura.
Concordando com Frederico; Osakabe ( BRASIL, 2004) que a única exigência é a
escolha de um material que provoque empatia, passamos a descrever a análise do LD
enquanto recurso concreto de acesso do aluno ao conhecimento teórico, numa formulação
relativamente adequada à sua faixa etária e também de acesso do professor a estímulos mais
convenientes à construção e mediação do saber. Procuramos demonstrar que o professor,
enquanto mediador do processo de construção do conhecimento, deve desencadear : a) etapa
inicial de estímulo, a partir de uma obra selecionada no recorte do livro; b) etapa
intermediária de relação com outros conhecimentos sintetizados no LD (históricos, sociais,
etc.) ou c) etapa de sedimentação e fixação dos conteúdos desenvolvidos durante as aulas, em
casa_ oportunidade que o livro oferece a quem tem dificuldade de manipulação ou de acesso
aos materiais, por falta de habilidades de estudo e pesquisa.
2.3 ABORDAGEM DA LITERATURA NO MANUAL DIDÁTICO
Pergunto: é possível ensinar literatura sem contextualizar a produção
literária? É possível falar de Os Lusíadas sem falar da expansão marítima
portuguesa e do Vasco da Gama, em particular? É possível discutir a Carta
do Caminha sem discutir o olhar dos portugueses sobre a terra nova (visão
do Paraíso, do bom selvagem, do mercado fornecedor de matéria-prima, da
mão-de-obra, etc.)? É possível discutir Naturalismo no século XIX sem
mencionar Darwin, Marx e tantos outros? É possível ler o Drummond das
décadas de 30 e 40 sem discutir o nazi-fascismo?...
José de Nicola
75
74
Cf Lajolo 1994, p.11.
75
Ver entrevista com o autor, questão 10 no anexo B.
113
O manual didático Literatura Brasileira - das origens aos nossos dias
76
representa,
os diversos manuais adotados no Ensino Médio, sendo objeto de verificação da aplicação
prática relacionada às mudanças de abordagem nos estudos literários, no desenrolar de suas
três edições. Sua apresentação e seleção procura responder, por amostragem, de que forma os
livros refletiram a mudança de paradigma sócio-cultural e educacional e, em que medida, esta
mudança foi eficiente, se somente no plano conceitual ou também no plano operacional,
considerando a demanda da sociedade no presente.
Apesar da plena consciência de que o lirismo de um poema de Drummond ou a
excelência narrativa de Machado, ao problematizar a existência, requerem acesso às fontes
originais, é forçoso reconhecer e considerar toda a problemática da leitura e do ensino bem
como as dificuldades reais de acesso do aluno brasileiro e do professor de Educação Básica
aos bens culturais. Permitir e manter a seleção desses conteúdos no currículo exige
articulações que se distanciam das condições ideais e requerem adaptação da realidade
imediata da escola, do concreto ao possível.
A autonomia concedida ao professor desde a legislação anterior a 1961, na
organização de seu programa, tanto de Língua quanto de Literatura, foi parcial e cruel se
procurarmos responder de que forma ele poderia desenvolver técnicas e procedimentos de
leiturização sem textos e sem obras na quantidade necessária ao desenvolvimento real da
práxis. A reprodução mimeográfica, apelo às cópias, bem como a produção de transparências
foi um imperativo didático imposto ao docente que, dentre outras razões, teve e tem suas
práticas avaliadas como fragmentárias, reprodutoras e descontextualizadas.
Os livros didáticos tornaram-se, por isso, ferramentas, os “aliados” do docente na
socialização e democratização do saber oferecido à grande população que teve acesso à
76
autoria do prof. José de Nicola, publicado pela editora Scipione em 1984.
114
escola
77
, pois o nível de formalidade próprio das publicações acadêmicas e indicativas, pela
complexidade de sua organização, se mostrou inadequado para o ensino de crianças e jovens
de qualquer classe social, especialmente da majoritária.
Os entraves da formação e competência docente têm sido amplamente
problematizados, razão pela qual nos furtamos em focalizá-los. Inclusive programas e
recursos têm sido destinados a esta causa
78
. Cuidemos de abordar a questão técnica de
redefinição do currículo bem como das estratégias de estudo da literatura sem apontar
culpados pelo insucesso nas práticas de leitura. As fragilidades existem nas diferentes
instâncias e cada qual deve assumir sua tarefa. O salto a pesquisas mais complexas e
encorpadas deve partir da condição real e, por ora, o que parece ser acessível e real, do ponto
de vista do professor, é o livro didático, não pelo caráter formativo que os MD adquiriram,
com suplementos e encartes destinados ao estudo e orientação docente, mas pelo grau de
acessibilidade do aluno, que o recebe emprestado por um ano ou definitivamente, enquanto
recurso de formação de uma biblioteca inicial
79
.
Se houver necessidade de críticas, critiquem-se as políticas públicas associadas aos
interesses de mercado editorial, pela produção multiplicadamente acelerada na última cada,
regulada pelo PNLD
80
. Interesses à parte, trabalhemos por subsidiar o professor, orientando-
77
Constatem-se os dados de matrícula e ingresso ao EF e EM após a última LDBEN/96 que tornou a Educação Básica
obrigatória. Bibliotecas das melhores universidades não conseguiriam suprir tal demanda. O livro didático passou a ser única
fonte de consulta e de pesquisa da maioria dos alunos brasileiros.
78
Programas de Formação Continuada têm sido disseminados no país desde a década de 90: “Projeto Ipê”, PEC, “Teia do
Saber”.
79
A partir de 2003, o MEC passou a distribuir mini-dicionários e uma mini-coleção denominada Literatura em Minha
Casa” por intermédio das Secretarias Estaduais. A maioria dos estudantes leva a coletânea recebida para casa, porém, se a
escola não operacionalizar meios de aproveitar este material e desencadear o estudo ou manuseio do mini-dicionário, da
mini-gramática e das primeiras coleções, os recursos resultarão perdidos, representarão uma fruição inicial e, posteriormente,
não se pode calcular o destino dos livros. constatações de que folhas de cadernos distribuídos gratuitamente às crianças
nos Programas servem de papel substitutivo da palha na feitura de cigarros caseiros pelos adultos. Quem garantirá que os
livros não tomarão destinos semelhantes, conhecendo as condições da população brasileira?
80
Ressalte-se que no estado de São Paulo, a CENP solicitou a incorporação de módulos “paradidáticos” e,
posteriormente, de módulos ficcionais e não ficcionais ao programa de distribuição escolar dos livros. É
necessário observar o fenômeno de agrupamento das editoras em blocos com predominância internacional
passando a explorar o mercado brasileiro.
115
lhe procedimentos
81
para a realização de uma práxis transformadora, possibilitando o
deslocamento para a novidade, proposto por Frederico e Osakabe nas OCEM/2004.
Situado o contexto da distribuição dos livros didáticos no Estado convém
descrever o movimento sintetizado na disposição do manual Literatura Brasileira, fruto da
consideração dos aspectos abordados nesta colocação do problema e também das mudanças
de concepção do autor, algumas das quais apontam o desenvolvimento teórico da área de
linguagens, evidenciando as relações implícitas entre as publicações institucionais.
O livro apontado por 40% dos professores teve, até o presente, três versões que
apresentaram mudanças significativas, identificadas pelas capas e layout bem como pelo
número de páginas e caracteres gráfico-visuais ampliados gradativamente. Além da visível
forma de exposição, renovada a cada década, o manual assumiu nova configuração, aspecto
associado ao movimento conceitual registrado nos documentos oficiais e didáticos, oriundos
da mudança de pensamento teórico da década de 80 do século XX até o presente. Na
atualidade, há outros manuais interessantes, expondo formas de abordagem instigantes e
modernas, porém o Literatura Brasileira foi pioneiro na relação entre as diferentes
linguagens, segundo dados coligidos e análises efetuadas
82
.
Observa-se que uma série de manuais permaneceram na projeção enfática e
tradicional da cultura gráfica e da linguagem verbal até o princípio do séc. XXI, apresentando,
esporadicamente, ilustrações que servissem de exemplo e contextualização do período estético
tratado, porém, o manual-objeto da presente investigação, apesar de se destinar, a princípio, a
um público que anseia aos estudos posteriores, foi ousado e inovador em seu projeto
pedagógico para o EM. Percebem-se nele resquícios da cultura do vestibular, do
81
A CENP( SEE/SP) instituiu a partir de 2004 o Programa Formativo de EAD “Tecendo Leituras” via mídia
televisiva, com a participação interativa dos ATPs e docentes por meio de videoconferências, orientando
estratégias de leitura dos livros distribuídos, que constituem as bibliotecas das UEs.
82
se não somente no período de quatro anos de pesquisa, também na atuação no magistério ao longo de 20 anos,
selecionando materiais e instrumentos pedagógicos para o ensino de Língua e Literatura, na prática da sala-de-
aula e na função de ATP de Língua Portuguesa.
116
conhecimento informativo e dos exercícios de memorização e treinamento por testagem,
imposições editoriais do mercado, que acata as exigências de demanda múltipla de interesses.
Contudo, pode-se verificar que o livro confronta dialeticamente diversas linguagens, seja a
das artes, seja a das diferentes instâncias do conhecimento tradicionalmente expresso pela
linguagem verbal.
Sua primeira edição foi publicada em fins de 1984. O recorte da 1ª versão
apresenta a visão de literatura e de história da literatura, vigentes na década de 80. Segundo o
autor:
Na época, os manuais mais vendidos eram alguns que vinham da
década de 50/60 e o do Douglas Tufano, da Editora Moderna; todos muito
tradicionais e tratando exclusivamente dos textos literários, sem qualquer
trabalho paralelo.
As duas últimas edições (já no final da década de 90) apresentaram
tratamento mais elaborado na parte gráfica (ganharam cores e papel cuchê) e
um certo refinamento no conteúdo tanto teoricamente quanto na parte
prática e um trabalho mais intenso e sistematizado com as obras de arte
83
.
Os conceitos adotados na versão (1984) partem da visão crítica endossada por
José Veríssimo, retomando uma síntese da concepção grega de Literatura, a rigor, iniciada por
Platão e sistematizada por Aristóteles
84
até o presente, conforme promete o tulo: Literatura
Brasileira: das origens aos nossos dias.
Nicola (1990), ao prefaciar a 2ª versão do manual, explica que passados cinco anos
de seu lançamento, a obra pedia atualização. Afirma não ter havido modificações estruturais,
porém nova apresentação gráfica se fazia necessária, além da ampliação de abordagem e
introdução de novos textos. A primeira alteração importante que caracteriza a segunda versão,
em nosso ponto de vista, é a breve passagem pelas diversas manifestações artísticas como a
pintura e a escultura, logo no primeiro capítulo, intitulado A Arte Literária, buscando unidade
83
2004, entrevista em anexo.
84
filósofo que desenvolvia o método de sistematização científica e que nos legou princípios, categorias e conceitos que
permaneceram relativamente estáveis no conjunto teórico que hoje conhecemos, inseminando novos paradigmas.
117
temática entre diferentes linguagens e formas estéticas, por certo denunciando a intuição e
intenção do autor, que tomou emprestado a Wellek; Warren (1976) o referencial teórico para a
aproximação que buscava realizar, ao afirmar que a literatura é uma dentre as várias formas
de manifestação da arte, como o são a pintura, a arquitetura, a música, a dança e a escultura,
numa concepção mais atual de linguagem (grifo nosso).
A linguagem é o material da literatura, tal como a pedra ou o bronze o são da
escultura, as tintas da pintura, os sons da música. Mas importa ter presente que
a linguagem não é uma matéria meramente inerte como a pedra, mas em si
própria uma criação do homem.
85
Observamos, em consonância com esta fundamentação e buscando o princípio da
intertextualidade, que dois tipos de texto passaram a figurar, correlativamente, no manual: os
literários do período estudado, representativos daquela estética e os literários ou não-literários,
verbais ou não-verbais do mesmo período e/ou de outra época, permitindo o estabelecimento
de relações _ uma das competências solicitadas no rol de habilidades a desenvolver, em
leitura, nas atividades textuais, compromisso com a perspectiva educativa nacional, que o
livro já tentava assumir.
Em função das prioridades
86
de tornar o estudo de Literatura agradável e atual e,
em particular, do compromisso educacional de formar bons leitores, o LBOND sugere
trabalho com diferentes textos e linguagens _ músicas e obras de arte, a princípio,
intensificando o método comparativo na versão, de 1990. A partir da versão, passados
sete anos da segunda reedição, Nicola declara na apresentação, datada de 1997, publicada em
1999, ligeira modificação, com o acréscimo de três novos capítulos, nos quais busca pontos
em comum entre as artes, destacando nelas a possibilidade de recriação da realidade. Publica
pinturas e desenhos de Portinari e Picasso, relacionados aos textos de Cervantes e Drummond,
85
ver NICOLA, 2003, p.11.
86
Cf se pode constatar na entrevista, tal qual na apresentação da própria publicação.
118
além de fotografias e esculturas que explicam o modo de expressão e o material utilizados
enquanto elementos caracterizadores da forma e estilo de cada artista.
O autor afirma partir do princípio de que “a literatura é reflexo de um momento
histórico e que, por esta razão, aborda, em cada estilo de época, os determinantes econômicos,
políticos e sociais, bem como suas relações com a produção artística”. Justifica que, embora
seguindo a ordem cronológica, das origens ao final do culo XX _questão discutida na
Proposta (SÃO PAULO, 1987) _ procura romper a fronteira das datas e da memorização,
devido ao caráter obsoleto da ênfase no conhecimento fragmentado, linear e estanque.
(NICOLA, 2004, anexo B, grifo nosso).
Oportuniza, por meio do recorte textual, conforme também sugerido na
Proposta de grau
87
, o princípio dialógico de relacionamento do passado com o presente, a
literatura com outras manifestações artísticas, o texto literário com a música popular,
principalmente à guisa de contextualização.
Percebe-se que Nicola acata o princípio defendido por Antonio Candido (1957),
também citado na referida Proposta, de que nossa literatura “é galho secundário no jardim
das musas”. Os três capítulos acrescentados referem-se, respectivamente, à arte, à linguagem
poética e às origens da Literatura Brasileira, buscando o diálogo entre literaturas e as raízes de
nossa produção. Portanto, o autor aceita e apresenta os determinantes que influenciaram a
formação de nossa literatura, indicando aos leitores que é necessário e coerente estudar
também a Literatura Portuguesa, nossa matriz cultural.
88
Amplia o capítulo final, das
produções contemporâneas, com um painel sobre as artes plásticas no fim do segundo
milênio.
Cada capítulo, na nova configuração do livro, traz, ao final, sugestão em
filmografia, possibilitando relações com mais uma linguagem, a do cinema, fazendo
87
ver SÃO PAULO, 1992, p. 47.
88
Ver Proposta de Português, 2º grau, 1992, p. 43.
119
chamadas em diferentes cores e destacando, em quadros, a contextualização, por meio de
recortes biográficos, questões teóricas, conceitos e referências, recortes que, na linguagem
tecnológica constituem o hipertexto muitas vezes ignorado pela maioria dos docentes e alunos
que, na faina de concluir programas e projetos agilizam as atividades, desconsiderando a
ampliação de conhecimentos ou indicações de pesquisas e aprofundamento nos conteúdos
abordados, marca da aceleração na busca do conhecimento, observada em nosso século.
Todo o trabalho de articulação sugerido no MD depende da mediação do
professor, que precisa estabelecer relações implícitas entre conteúdos presentes em cada
capítulo e (res)(signi)ficá-los, em contexto. O livro supõe, portanto, um profissional dinâmico
que, para atingir as finalidades propostas, deve implementar o aproveitamento global e coeso
do material, especialmente a potencialidade das diferentes linguagens configuradas.
Assim, o Literatura Brasileira constitui-se num sistema complexo, síntese de
múltiplas determinações: indicativas federais
89
; pedagógicas; de consumo; editoriais e de
fundamentação na cultura formalizada, obedecendo a uma lógica que considera forças opostas
entre estrutura e aspectos externos, em sucessivas alterações. No conjunto dos entraves
enfrentados pelo professor, o livro contém possibilidades mais claras e palpáveis que as
indicações e regulamentações oficiais, do ponto de vista operatório, talvez pela própria
natureza distinta do objetivo das publicações acadêmicas comparadas às didáticas,
considerando o público que as consumirá.
Foi possível verificar nas três versões as alterações de uma edição para outra,
especialmente:
1) a ampliação gradativa do nível de complexidade das proposições apresentadas,
suscitando novas capacidades do leitor, por meio da introdução sistemática de diferentes
linguagens, apesar de a versão apresentar articulação com a Música Popular Brasileira
89
que o autor parece ter acatado imposições do MEC para a publicação de obras didáticas, bem como
naturalmente deve ter conhecido de antemão as indicações e Parâmetros Curriculares.
120
antecedendo os capítulos. A 2ª acentua a ênfase na apresentação de obras de arte visuais e a
versão faz inclusão de anexo a cada capítulo, de referência em filmografia, contextualizada
com o conteúdo estudado na unidade.
Este dado permite inferir que o livro encaminhou sua proposta no sentido de
viabilizar a formação de um leitor proficiente nas diferentes manifestações da linguagem,
trazendo uma contribuição à instrumentalização do trabalho didático na construção de
habilidades, atitudes e conhecimentos para o aprendizado e domínio das tecnologias atuais.
2) É possível verificar que a seleção dos conteúdos contempla a abordagem
cronológica das estéticas literárias, porém percebe-se a intenção do autor de possibilitar, por
meio do corpus o rompimento da linearidade, ao potencializar relações: a) do passado com o
presente, seja através das canções que antecipam capítulos ou da relação de um poema de uma
época dialogando com o de outra; b) do texto literário com o substrato histórico; c) do
conhecimento acerca da literatura com o conhecimento geral: social, político, econômico e
enciclopédico
90
.
3) A seqüência dos conteúdos mantém a organização cronológica dos capítulos,
entretanto procura possibilitar a progressão da aprendizagem lançando mão do hipertexto nas
laterais ou chamadas em diferentes cores e aspectos como descanso visual e atrativo que
aguça a curiosidade do adolescente para fotografias de capas originas de livros e coletâneas
literárias. Caracteres tipográficos diferenciados solicitam do professor mediação e, do aluno,
atenção e pesquisa de dados complementares. Portanto, o manual procura obedecer à
multiplicidade de estratégias de enfoque.
4) O conjunto dos conteúdos e o tratamento didático sugerido demonstram a
necessidade de adaptação da metodologia de ensino ao desenvolvimento tecnológico-
midiático.
90
diálogo potencializado no corpo contextual das estéticas nas diferentes unidades.
121
5) A linguagem procura evidenciar o ponto de vista do autor em relação ao
tratamento da literatura, mantendo o caráter documental, informativo do manual, enquanto
instrumento de pesquisa, de consulta, apresentando não conceitos históricos, verbetes e
definições mas também a prática comparativa de leitura de diferentes gêneros e linguagens.
6) O MD se divide em dois tipos de atividade prática: a) seção intitulada “A
Propósito do Texto”, incorporando a leitura de telas na versão, constituída de questões
abertas, de forma não sistemática em todos os capítulos; b) exercícios, testes objetivos e
questões de vestibulares, em função do público que o livro supõe atender. As atividades
demonstram preocupação com a (re) construção do sentido dos textos, apesar de ainda
apresentar resquícios da memorização estimulada por muito tempo pelo padrão do vestibular,
baseado na informação e não especificamente na construção da textualidade
91
. Observa-se a
tendência a apresentar análises mais completas na versão, que incorporou a seção “Texto
Comentado”, também de forma não sistemática em todos os capítulos.
7) A amplitude do conteúdo proposto supõe o princípio de terminalidade da
Educação Básica, possibilitando trajeto de estudo da Literatura Brasileira, pelos alunos
adolescentes, em volume único.
8) O MD possibilita manejo prático de informações bem como a comparação.
9) É possível perceber quanto ao enfoque teórico-metodológico: a) revisão bem
como renovação de conceitos, de uma versão para outra, em função dos pressupostos
assumidos pelo autor, concernentes à evolução dos estudos literários. Nota-se uma passagem
da concepção histórica, estabelecida pela linha cronológica, para a metodologia comparativa,
estimulada pela Estética da Recepção e, daí em diante, o diálogo sistemático entre as
diferentes artes até a versão; b) possibilidade de desenvolvimento de diversas habilidades e
91
A editora Ática lançou na década de 90, de Platão; Fiorin os manuais Para Entender o Texto e Lições de Texto
que ensinam, a partir de modelos comentados, a (re)construir a textualidade dos textos, em sua maioria,
literários, porém a proposta se mostrou complexa para o EM, tendo esses MD servido ao ensino superior, desde
aquela época. O fato é que as análises descritivas passaram a fazer parte das obras didáticas com grau mais
específico e modelar de orientação.
122
competências em leitura bem como a reflexão sobre as linguagens e propriedades estéticas; c)
consideração da hipótese de aprendizagem por meio de um processo de inter-relação entre a
obra, em sua relação com outras obras, outras manifestações artísticas e com a teoria; d)
potencializa a exploração da relação texto/contexto bem como da relação entre as linguagens
da literatura/ música/ pintura/cinema.
10) Quanto à natureza do material textual, o manual apresenta: a) diversidade de
gêneros literários (lírico, narrativo, dramático) propostos para análise; b) diversidade de
gêneros discursivos (HQ, publicidade, charges, canções, dialogando com textos estéticos); c)
diversidade de contextos; d) diversidade de suportes textuais ( necessidade de explorar livros,
coletâneas, enciclopédias, verbetes de dicionários, CDs, DVDs, filmes em VHS, outros); e)
presença da cultura popular, sobretudo por intermédio da música; f) possibilidade de explorar
a oralidade e as manifestações populares.
11) Quanto à temática, observa-se que o MD possibilita a) diversidade temática
tanto quanto a literatura possibilita; b) diversidade na abordagem dos temas da versão para
a 3ª; c) diversidade de contextos culturais; d) favorecimento da interdisciplinaridade.
12) Verifica-se, quanto à autoria, que a diversidade de autores das diferentes
épocas e regiões brasileiras constrói um panorama da identidade nacional.
As concepções de abordagem da Literatura no manual caracterizam algumas das
alterações nos princípios e métodos dos estudos literários que devem ser aplicados no ensino.
Os conceitos a seguir, foram apresentados na versão (NICOLA, 1986, p. 8-9), a partir da
visão do crítico José Veríssimo, retomando a definição de Literatura, da concepção grega até
o século XX:
Literatura é arte literária. Somente o escrito com o propósito ou a intuição
dessa arte, isto é, com os artifícios de invenção e de composição que a
constituem, é, a meu ver, literatura.(José Veríssimo séc XX).
Literatura é a criação de uma supra-realidade; arte literária é mimese
(imitação); é a arte que imita pela palavra.(Aristóteles, Grécia clássica)
123
A literatura obedece a leis inflexíveis: a da herança, a do meio, a do
momento. (Hypolite Taine, determinista, séc. XIX)
A literatura é arte e pode ser encarada como arte. É a arte pela arte. (
Doutrina da“ arte pela arte”, fins do séc. XIX)
O poeta sente as palavras ou frases como coisas e não como sinais e a sua
obra como um fim e não como um meio; como uma arma de combate. (Jean
Paul Sartre, séc. XX).
A poesia existe nos fatos. ( Oswald de Andrade, séc. XX)
Literatura é linguagem carregada de significado. Grande literatura é
simplesmente a linguagem carregada de significado até o máximo grau
possível.
A literatura não existe no vácuo. Os escritores, como tais, têm uma função
social definida exatamente proporcional à sua competência como escritores.
Essa é a sua principal utilidade. (Ezra Pound, poeta americano do séc. XX)
Segundo o MD, apesar de diferenças e antagonismos presentes na amostragem de
conceitos anteriores, alguns pontos são inegáveis:
a) a literatura é uma manifestação artística;
b) a linguagem é o material da literatura, isto é, o artista literário trabalha
com a palavra;
c) em toda obra literária percebe-se uma ideologia, uma postura do artista
diante da realidade e das aspirações humanas.
(NICOLA, 1986, p. 8).
O autor, ainda na 1ª versão estabelece diferenciação entre a arte literária e a
história da literatura. Toma emprestado a Aurélio Buarque de Holanda as definições,
apontando que “a literatura é a arte de compor ou escrever trabalhos artísticos em prosa ou
verso”, referindo-se à arte literária e, na tentativa de delimitar o objeto de estudo da história
da literatura, cita “o conjunto de trabalhos literários dum país ou duma época”. Ainda de José
Veríssimo é a visão de história da literatura exposta no capítulo inicial: “Obras e não livros,
movimentos e manifestações literárias sérias e conseqüentes, e não modas e rodas literárias,
são, a meu ver, o imediato objeto da história da literatura”.
92
92
Cf NICOLA,1986, p.9.
124
Supomos que as manifestações literárias “sérias” correspondam às que Candido
(1957) denomina sistema, pois configuram uma convenção de época, um zeitgeist. Segundo
Nicola (1986), fundamentado em Veríssimo, cumpre ao historiador da literatura destacar os
movimentos sérios e conseqüentes, relacionando-os a seu momento histórico, econômico,
político e social. Conforme o autor, seria impossível isolar estilos de época de suas referências
históricas, ou seja, o Romantismo não se explica sem a descrição da evolução burguesa e da
revolução Francesa; o Realismo é indissociável das lutas proletárias, das transformações
político-econômicas e sociais do séc. XIX, além da necessária consideração das influências
científicas.
Portanto, o recorte da versão do manual apresenta sua visão de literatura e de
história da literatura. Literatura: arte da palavra; história da literatura: conjunto de estilos
literários desenvolvidos num país, ao longo do tempo. Para alunos do EM é produtivo partir
desta conceituação para distinguir, na verdade, Literatura de História da Literatura.
Após a verificação do conceito de Literatura presente na 1ª versão, as formulações
que surgiram na 2ª, buscam pontos em comum entre as artes, destacando como o principal
deles a possibilidade de recriação da realidade. Nicola busca em Alceu de Amoroso Lima
(1954) a definição que distingue as diversas artes:
A distinção entre literatura e demais artes vai operar-se nos seus elementos
intrínsecos, a matéria e a forma do Verbo.
De que se serve o homem de letras para realizar seu gênio inventivo? Não é,
por natureza, nem do movimento como o dançarino, nem da linha como o
escultor ou o arquiteto, nem do som como o músico, nem da cor como o
pintor. E sim_ da palavra.
A palavra é, pois, o elemento material intrínseco do homem de letras para
realizar sua natureza e alcançar seu objetivo artístico.
93
Apresenta, na 2ª versão, o conceito de Literatura:
A literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade
recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para
93
Cf A Estética Literária e o crítico, apud NICOLA, 1990 p.12 .
125
as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova
realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor
e da experiência de realidade de onde proveio.
[...] São as verdades humanas gerais, que traduzem antes um sentimento de
experiência, uma compreensão e um julgamento das coisas humanas, um
sentido da vida, e que fornecem um retrato vivo e insinuante da vida, o qual
sugere antes que esgota o quadro.
A literatura é, assim, vida, parte da vida, não se admitindo possa haver
conflito entre uma e outra. Através das obras literárias, tomamos contacto
com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares,
porque são as verdades da mesma condição humana.”
94
A terceira e última versão do manual foi prefaciada em 1997 com visível
renovação na disposição gráfica, cores acentuadas e papel de qualidade superior. Se existia
possibilidade de diálogo entre textos, esta foi ampliada pela relação em forma de hipertextos,
movimentando significativamente o olhar do aluno e explorando a atenção sobre os sentidos e
as potencialidades da competência leitora.
A unidade da arte reside no fato de que, não importa se com palavras,
sons melódicos, cores ou massas, o artista cria imagens que exprimem seu
sentimento profundo do mundo. [...] Certo número de atividades humanas _
como a poesia, a pintura, a arquitetura, o teatro, a música, a escultura_ cria
imagens que exprimem um modo de sentir, o qual, por sua vez, se traduz numa
forma correspondente [a obra de arte].
95
Percebemos na versão, republicada em 2003, o conceito produzido por Pedro
Manuel (sic) sobre as manifestações artísticas, introduzindo o primeiro capítulo, após a
exposição de uma obra de arte e de um poema de Ferreira Gullar, conceito este que parece
estar de acordo com a tendência contemporânea de comparação de diversas linguagens, pois
busca a unidade da arte em diferentes formas e modalidades de expressão.
Percebendo que tanto os PCNEM/99 quanto o LBOND procuraram estabelecer
relações entre linguagens e estimular o diálogo entre diferentes produções e entendendo como
necessária a fixação do marco teórico que possibilita este tipo de abordagem, pensamos que
seja necessário recuperar os conceitos que explicitam tal modo de abordagem.
94
Cf Coutinho. Notas de Teoria Literária. 2 ed, 1978 apud NICOLA, 1990, p.11.
95
Pedro Manuel (sic) apud NICOLA, 1999, p.10
126
2.4 RECUPERAÇÃO CONCISA DE CONCEITOS E FUNDAMENTOS
DA SEMIÓTICA À GUISA DE ELUCIDAÇÃO DOS DOCENTES DA EB
No intuito de facilitar a assimilação teórica do fundamento dos PCNEM/99 e dos
pressupostos retomados nos PCN+ (2002) e nas OCEM (2004) pelos professores executores
das diretrizes oficiais, procuramos resgatar as bases teóricas da Semiótica que permitem
superar suas origens rumo a aplicações multidisciplinares, implantando a abordagem
intersemiótica. Neste sentido, os próximos itens, bem como o início do próximo capítulo tem
como objetivo elucidar princípios e transpor desafios que se revelaram como obstáculos à
realização de novas propostas pedagógicas no tratamento da Literatura .
Os tradutores de Hjelmslev (1975) inferiram de sua obra o conceito de semiótica
como linguagem. Se existem várias linguagens, existem várias semióticas, que podem
corresponder tanto na arte como nos conhecimentos naturais_ este o princípio básico pelo
qual nos fundamentamos em nossa acepção.
Conforme Nöth (1995)
96
a semiótica geral foi definida como a ciência ou tratado
dos signos e atualmente é compreendida como a ciência dos processos significativos, tendo
início com os estudos de John Locke
97
. Recuperando a tradição do estudo semiótico, o autor
afirma que Lambert
98
declarou haver homologia entre os signos científicos e as coisas, cujo
grau mais alto era o conceito, esclarecendo, a partir do iluminismo, a correspondência entre
signo e mundo: A iluminação que a semiótica poderia trazer era o “deciframento da alma
humana através da linguagem”.
96
Cf NOTH, 1995 a origem da doutrina do signo coincide com a origem da filosofia. Platão e Aristóteles
efetuaram investigações filosóficas acerca do conhecimento e da compreensão do mundo, das idéias e das coisas,
antecipando conceitos relativos à linguagem, à arte e à Teoria da Literatura. O ancestral mais antigo da semiótica
encontra-se nas pesquisas do médico Galeno de Pérgamo (139-199) que tomava como procedimento de diagnose
das doenças a sintomatologia e os sinais que revelavam pistas para o tratamento.
97
filósofo do séc. XVII que concebeu a existência de uma ciência dos signos e das significações constituída a
partir da lógica, entendida como ciência da linguagem
98
autor do primeiro tratado da teoria geral da semiótica, denominado Semiotik.
127
Sobrevieram do iluminismo alemão e francês as noções de epistemologia,
hermenêutica e estética, configurando o papel dos signos naturais e arbitrários na percepção
do belo. Por essa ocasião, a estética foi definida como a ciência da cognição perceptiva, em
contraposição à lógica, ciência do conhecimento racional.
A semiótica do séc. XIX teve importantes representantes, dentre eles o filósofo
Hegel, que introduziu distinções entre signos e símbolos e o pai da semiótica moderna,
Charles Sanders Peirce, que apresentou uma visão pansemiótica do universo, a partir da qual
o processo de semiose _ interpretação e busca do sentido dos fenômenos, processos e
representações_ nunca mais foi o mesmo.
Umberto Eco (1991)
99
, no final do século XX definiu a semiótica como o estudo
sígnico da cultura, preocupando-se com tudo o que pode ser tomado como signo, substituindo
significativamente outra coisa. Teóricos, pensadores e críticos deram relevo à semiose
introduzindo, também, o conceito de representações, que podem variar em graus de similitude
ou iconicidade, em decorrência de critérios como da necessidade, da arbitrariedade, da
motivação, da sistematicidade ou da autenticidade dos signos.
Peirce (1977) sistematizou diferentes níveis de codificação dos signos, imprimindo
às linguagens o potencial de interpretantes das leis da natureza e da cultura. Desenvolveu
teorização do modelo triádico que considerou instâncias graduais e complementares,
perfazendo um tripé da semiose por meio de três categorias fenomenológicas: a primeiridade-
categoria do sentimento imediato, sem reflexão (da interpretabilidade); a secundidade
estabelecimento de relação com o fenômeno primeiro, anterior, caracterizada como a
categoria da comparação, da ação, do fato e da experiência no tempo e no espaço (do
interpretante dinâmico)_ e a terceiridade, última instância, categoria da mediação, da memória
e representação, que se constitui pela relativização do interpretante final.
99
combinou métodos da teoria da comunicação e da informação, da antropologia cultural e da teoria sígnica de
para definir a semiótica.
128
Segundo “o pai da semiótica moderna”, a interpretação do signo é um processo
dinâmico que produz efeito cognitivo sobre o intérprete e para descrever tal operação
cognitiva, elaborou um quadro sistemático de classificação dos signos, denominado
tricotomias, criando uma visão perspectivista da interpretação. Dentre as principais
tricotomias para tentar explicar as instâncias do sentido e da relação cognitiva do homem com
o universo figuram: 1) os quali-signos; os sin-signos e os legi-signos; 2) os ícones, índices e
símbolos e, na terceira e mais antiga correspondência com a divisão triádica da lógica 3) o
termo, a proposição e o argumento, também entendidos como rema, dicente e argumento.
Cada palavra, segundo o semioticista, é, em primeiro lugar, devido ao
convencionalismo que lhe é inerente, mbolo; entretanto, o próprio Peirce admitiu que o uso
dos signos simbólicos no processo de comunicação implica sempre um uso indicial, que
retrocede ou referencia a um fenômeno ou objeto anterior e outro icônico, imagético. Muito
que estudar ainda para operacionalizar as categorias pierceanas, entretanto reconhecemos
que a iconicidade é especialmente importante na esfera didática, devido ao potencial
representativo analógico e metafórico que corresponde ao processo de similaridade com o
objeto referenciado. Exatamente por considerar o potencial indicial dos signos é que a
abordagem semiótica tem se desenvolvido como forma produtiva e eficiente pois destaca
metodologicamente os passos do processo de investigação do sentido.
Diderot
100
apud Noth (1995), teceu considerações relativas à tridimensionalidade
da linguagem não verbal, refletindo sobre a necessidade de criar alternativas para a
comunicação com os surdos e mudos. Atribuiu argumento de superioridade à comunicação
não-verbal, enfatizando a teoria da mimese, da representação, que fez com que Lessing
101
considerasse o teatro a forma mais estética de todas as artes, por ser mais icônica que a poesia
100
Diderot – enciclopedista (1713-1784) que se preocupava com a aplicação didática dos signos e sistemas de
comunicação. Segundo este, a linearidade temporal dos fonemas na expressão verbal não tem a mesma
propriedade comunicativa da linguagem gestual.
101
Lessing- teórico da semiótica estética que resgatou a comparação estabelecida por Horácio, antes de Cristo,
entre literatura e pintura.
129
e a pintura. O importante é que os sistemas de comunicação e de representação estavam sendo
relativizados, tarefa que se nos impõe no presente.
No século XX, afirma Noth (1996), Saussure inaugurou um filão que tomou a
Semiologia como ciência-mãe, fundamentando conceitos que o levaram a concebê-la como
semiótica da cultura ou antropossemiótica, inclusive mais tarde inserido-a na esfera da
sociologia e da psicologia. Alcançou adeptos importantes como Hjelmslev, Barthes, Greimas,
Metz e outros semioticistas que fizeram avançar alguns de seus princípios, inclusive Umberto
Eco, dedicado à Semiótica da Literatura. Peirce, por sua vez, antecipara toda esta formulação
com seu modelo triádico.
Saussure, desconhecendo a doutrina de Peirce, ficou célebre por seu modelo
fundamentado nas dicotomias significante/ significado; língua/ fala; sincronia/ diacronia;
sintagma/ paradigma. A essência de sua contribuição foi o modelo sígnico, que incorporou o
dogma da arbitrariedade e o princípio da convencionalidade do signo lingüístico, além de seus
conceitos de estrutura e de sistema, que marcaram decisivamente o estruturalismo como
corrente de pensamento científico do século XX.
Grande parte da sistematização e da teorização sobre o conhecimento e a cultura se
assentaram na teoria diádica e dicotômica saussuriana devido à influência estruturalista, cujos
efeitos e modelos permanecem em vigência até o presente. E, como forma de avaliação da
evolução e do movimento como categoria central da dialética, exercitamos a meta-reflexão
sobre o criado, em busca de explicação para as alterações necessárias na práxis docente.
A crise e a sensação de perda de paradigma exige superação do modelo anterior
que por insuficiência e automatização requerem a invenção, a criação, que o processo de
conhecimento não pode se acomodar ao estático e se modelizar na permanência. A ruptura, o
desvio, o estranhamento são sinais de que o novo está a caminho.
130
Foi necessário, embora admitindo as distintas contribuições, contrastar as
representações de Saussure das de Peirce, confrontando arbitrariedade e iconicidade na
linguagem. Segundo Peirce, a linguagem verbal possui baixa iconicidade para representar o
mundo que, por natureza, é multidimensional e multimedial; porém, para ele, a língua escrita
apresenta potencial icônico para a representação de estruturas visuais, pois o representamen
lingüístico sempre referencia a um correlato no mundo não lingüístico, seja acústico ou visual.
Esta análise mostra que Peirce relativizou a linguagem de forma perspectivista, como
demanda o presente enquanto Saussure a definiu como sistema encerrado em suas próprias
categorias.
Jakobson (1970), ao situar o lugar da lingüística dentre as ciências do homem,
afirmou seu lugar central e basilar no quadro da cultura, por considerar que a linguagem
verbal_ um dos sistemas da ciência geral dos signos, conhecida como semiótica _ antecede as
demais atividades deliberadamente semióticas, cujo objetivo é a comunicação de mensagens.
Houve e controvérsias em relação a esta concepção, desde os gregos, estóicos e, num
período mais próximo, entre as investigações de Saussure e os discípulos de Peirce, pai da
semiótica como linguagem universal.
Saussure foi criticado por ter sustentado a natureza arbitrária e puramente artificial
do signo.Tanto a convencionalidade quanto a arbitrariedade enquanto categorias saussurianas
tangenciaram um aspecto ligado ao contexto de uso da linguagem ao explicar a criação dos
signos. A semiótica moderna, divergindo do dogma da arbitrariedade, assumiu um ponto de
vista que defendia a formulação das idéias enquanto potencial determinado pelas leis
universais da cognição e não apenas um diferencial lingüístico entre signos. Além disso, o
modelo saussuriano de sistema arbitrário, desvinculado da realidade, foi superado pelos
funcionalistas, que previram uma abordagem dinâmica da linguagem, relacionada às funções
que a comunicação das mensagens determina.
131
O que se constata é que o modelo dicotômico saussuriano imprimiu marcas e
influências importantes, dentre elas a contribuição de Hjelmslev, que estratificou o mundo
semiótico por meio da introdução de dois planos fundamentais para a análise da linguagem
literária: o Plano de Expressão e o Plano de Conteúdo, fundamentados numa abordagem
formalista determinada por princípios do empirismo dedutivo. O teórico subdividiu ou
estratificou também os dois planos em sub, ou melhor, inter-planos de expressão e de
conteúdo. Tanto sua reflexão sobre a linguagem quanto sobre a conotação foram
fundamentais para a Lingüística e para a Teoria da Literatura modernas.
Segundo o autor, semiótica é uma hierarquia cujos componentes todos admitem
uma análise adicional em classes definidas pela relação mútua”.(HJELMSLEV, 1975:113,
§). A partir deste modelo foi possível perceber que o plano de expressão é conteúdo no texto
literário; não se constitui apenas em veículo de uma mensagem; é, também mensagem, que
ostenta o trabalho artístico de utilização do significante
102
.
Hjelmslev (1975, p.109) atribuiu lugar central à linguagem verbal em relação a
outros sistemas semióticos. “Na prática, a linguagem é uma semiótica na qual todas as outras
semióticas podem ser traduzidas”. Segundo ele “a comunicação verbal é um meio para outros
fins”, o que difere da literatura, que tem um fim em si mesma, distinta da linguagem usual. O
teórico foi criticado por seu formalismo abstrato e extravagância terminológica, porém,
superado o calor do debate e da polêmica das divergências, é possível reconhecer, registrar e
integrar as contribuições de Peirce, Saussure e Hjelmslev, tentando equacionar para nosso
tempo soluções para superação dos problemas de leitura e interpretação, a partir da grandeza
das formulações deste porte.
Hjelmslev (1975) entendeu que a língua tem estrutura autônoma e considerou
objeto de estudo semiótico as relações entre elementos do sistema, concebendo as estruturas
102
Em nosso ponto de vista esse é um critério de definição do literário, ausente nos PCNEM/99.
132
“fato puramente formal e relacional. Antecedendo o paradigma da interdisciplinaridade,
estabeleceu um ponto de vista comum a várias disciplinas, envolvendo literatura, arte, música
e história geral, incluindo a lógica e a matemática, de forma que as ciências se concentrassem
à volta de um grupo de problemas definidos lingüisticamente, tomando a semiologia como
metalinguagem dos sistemas semióticos. No modelo hjelmsleviano, a lingüística é uma
semiologia cujo objeto é uma língua natural. Além da lingüística, também outras
semiologias cujo objeto de estudo são outros fenômenos sígnicos. Os princípios comuns
registrados em sua teoria constituíram a metassemiótica.
Influenciados pelo teórico e dando continuidade a essa linha de pesquisa, Greimas
(1976) definiu a semiótica como teoria da significação e não dos signos em geral e Barthes,
(1976) representante da tese autonomista da literatura, propôs o sistema semiótico como
matéria-prima com finalidade em si mesma. Na tentativa de aplicar os princípios elaborados
pelos lingüistas e filósofos da linguagem à abordagem da literatura, os conceitos
hjelmslevianos de substância, forma e matéria contribuem para a explicitação de nossa
concepção, na perspectiva intersemiótica, tese que esboçaremos. Aproveitando o conceito
hjelmsleviano de substância como essência de uma coisa que permanece a mesma, enquanto
sua forma, muda, supomos que a tradução intersemiótica se realize exatamente neste ponto.
A essência, ou substância do conteúdo denominada tema gerador é, a princípio, a
mesma, variando, na tradução intersemiótica, a matéria, que Hjelmslev distinguiu entre
matéria de conteúdo e de expressão. Portanto, sendo a matéria de conteúdo a mesma, varia a
matéria de expressão. A variação se constituiria em uso de elementos sonoros, plásticos ou
lingüísticos; padrões lingüísticos estariam em alternância com padrões não-lingüísticos.
Hjelmslev (1975) concluiu ser impossível descrever a linguagem com base na
substância, que aqui entendemos como sentido, visto concebê-la como amorfa. Estabeleceu
uma interdependência, denominando-a solidariedade entre a forma de expressão e a forma de
133
conteúdo. Representou a perspectiva sígnica em direção a dois sentidos, para fora, em direção
à substância de expressão, e para dentro, em direção à substância de conteúdo.
Transportemos sua teorização para a esfera da educação. A interdependência entre forma e
conteúdo ou entre forma de expressão e forma de conteúdo se solidifica no conhecimento,
que, no currículo se estratificou em disciplinas, fragmentando o sentido.
Segundo Nöth (1996), Eco, submetendo a cultura à análise, observou, a partir das
considerações de Giambattista Vico que “o código mítico vem sendo substituído pelo código
científico. O homem desvendou o sagrado e passou a experimentar a criação por meio da
ciência”. Segundo o crítico, o resultado tem sido a desumanização acelerada. A cultura,
produto da civilização requer estudo, entendimento, simboliza a busca da verdade.
Neste sentido, o desenvolvimento social e científico codificou toda a descoberta
humana de diversas formas, em diversas linguagens como herança simbólica a compreender e
interpretar. Os múltiplos sistemas criados, historicamente arquivados e registrados, precisam
ser divulgados e conhecidos enquanto patrimônio que representa o desenvolvimento do
intelecto e das paixões que integram nossa dimensão holística. Métodos, técnicas,
procedimentos e didáticas foram implementados; sistemas de avaliação, programas e projetos
representam mecanismos de estudo de formas de tornar o saber um domínio blico,
organizando a dinâmica sócio-cultural. A democratização de oportunidades de acesso à escola
é fruto do avanço cultural e da necessidade de divulgação do conhecimento acumulado.
A idéia de estudar códigos não-verbais em analogia rigorosa com o sistema
lingüístico, conforme Nöth (1996), foi iniciada por Hjelmslev, porém insistentemente
continuada por semioticistas contemporâneos que aplicaram as formulações de Peirce e de
Saussure. As críticas dirigidas ao modelo saussuriano, no final do séc. XX, se referem ao
caráter estático de suas formulações, no que concerne aos sistemas semióticos. O próprio
Jakobson sugeriu a substituição de seu modelo por um estruturalismo mais dinâmico,
134
argumentando que não estrutura sem função. A Escola de Praga, influenciou as correntes
formalista e funcionalista que constituíram a abordagem estruturalista, enfatizando uma
concepção funcional da cultura e da estética. Jakobson definiu o signo estético como
autotélico e auto-referencial e descobriu a relevância da semiótica de Peirce para a lingüística.
Saussure se preocupava com os signos enquanto construção cultural do homem,
pois representou um esforço de compreensão da estrutura da linguagem, mais especificamente
da produção verbal, dos signos convencionais. Peirce apresentou uma visão mais ampla das
representações sígnicas, não restringindo seu foco de interesse apenas à linguagem verbal.
Considerou também os signos da natureza e animais, o que nos possibilita, na atualidade,
perceber todas as áreas do conhecimento propostas nos PCNEM/99 como linguagens:
científicas; antropológicas e sociológicas, como a geografia e a história, fenômenos sígnicos
da manifestação do movimento das populações e, ainda, as linguagens da comunicação.
Em contraponto à mimese literária Juri Lotman (1978) sugeriu a transformação das
estruturas do signo em estruturas do conteúdo, desenvolvendo a teoria da autonomia semiótica
da arte verbal, mantendo o princípio comum da iconicidade; em vez de semantização,
autoreferencialidade, propriedade constituinte da literariedade. Seus apontamentos foram
decisivos também para o entendimento dos limites da língua diante da Literatura. A distinção
dos sistemas modelizante primário e secundário explicitou a especificidade de cada um deles.
Neste sentido, explicar que a língua tem função essencialmente comunicativa, em primeira
instância e a literatura não, pois sua função, além de comunicativa é essencialmente estética,
encontra fundamentação na modelização dos sistemas
103
.
Lotman ampliou à teoria comunicacional funcionalista de Jakobson a
especificidade dos sistemas.
103
Outro critério de distinção entre literário e não-literário, em nosso ponto de vista: a percepção do uso do
sistema modelizante primário ou secundário.
135
A verdade é que o estruturalismo definiu cientificamente sua fundamentação
teórica organizando o conhecimento em sistemas binários, partindo da língua e,
posteriormente, sendo ampliados para todo o campo da cultura. Barthes ampliou o plano de
análise da comunicação ao da moda, das imagens e da fotografia, aplicando os fundamentos
estruturalistas à sua teoria que foi, posteriormente, avaliada como pós-estruturalista.
A partir do modelo lingüístico estruturalista, a teorização sobre a comunicação
visual tornou-se importante filão que tem a imagem, o cinema, a propaganda bem como a
arquitetura como suporte de mensagens definindo uma semiótica da cultura de nossa época.
Este processo deu origem à intersemiótica conforme orienta nossa proposição de trabalho
comparando a literatura com outros sistemas semióticos: a música, a pintura e o cinema.
Observe-se que os sistemas sígnicos eram considerados semióticos desde Platão
e Aristóteles. A filosofia estóica, a escolástica, a lógica e o iluminismo desenvolviam o estudo
dos signos naturais e culturais desde a Antigüidade Clássica até o medievalismo e daí em
diante, da era clássica à moderna e à contemporaneidade. O fio do novelo semiótico se
desenrolou compassadamente até o presente, insistindo na perspectiva intersemiótica como
pesquisa potencial dos sentidos. Roland Barthes pronunciara que objetos, imagens e
comportamentos podem significar. Além disso, a semiose do cosmo e a biogênese tiveram
amplitude considerável a partir dos descobrimentos científicos e das pesquisas tecnológicas
do final do século XX. Biossemiótica, ecossemiótica e linguagem do meio-ambiente se
colocam como possibilidades de conhecimento do planeta e da biosfera. É possível
reconhecer que signos naturais e culturais têm sido investigados ampliando o campo da
ciência, das artes e dos conhecimentos em geral.
136
2.4.1 PERCEPÇÃO DA INTERDISCIPLINARIDADE ENQUANTO FORMA DE
REPRESENTAÇÃO SOCIOCULTURAL DAS DIVERSAS SEMIÓTICAS
Os PCNEM/99, no intuito de implantar o trabalho pedagógico por área
introduziram o conceito de interdisciplinaridade, o qual procuraremos adequar à proposição
da tese que apresentamos.
Compreender a investigação das diversas disciplinas do currículo em suas
ramificações supõe a atividade interpretativa dos processos significativos que ocorrem na
natureza e na cultura. Procurando o elemento de coesão entre as diferentes instâncias que se
projetam na esfera de nosso objeto de pesquisa, encontramos nos PCNEM o pensamento de
alguns teóricos e psicólogos do conhecimento e da aprendizagem a respeito da história das
disciplinas escolares. Um deles foi o estudo desenvolvido por Chervel
104
na França.
O autor concluiu que a “transitoriedade disciplinar” é marca da fragilidade
epistemológica da demarcação rígida das disciplinas nos planos escolares, argumentando
como solução, em favor de certa solidariedade didática. Outro grande nome da pedagogia
moderna foi Piaget
105
, para quem a ação de ultrapassar as fronteiras do observável e não
apenas descrevê-lo constitui a “busca da causalidade”, irredutível à simples constatação,
marca dos procedimentos consolidados na pedagogia tradicional. Na concepção piagetiana, as
estruturas subjacentes do pensamento possibilitam a integração entre as disciplinas; portanto,
buscar as causas e relações entre fenômenos, por análise e dedução, requer, sem dúvida,
atividade operatória superior e mais complexa que as atividades de observação e
reconhecimento.
Não é difícil constatar na prática pedagógica conservadora atividades apenas de
reconhecimento e localização, conforme relatamos em nossa dissertação de mestrado, ao
104
ver PCNEM (BRASIL, 1999, p. 90).
105
ver PCNEM (BRASIL, 1999, p. 89).
137
tratar do encaminhamento das atividades de interpretação de textos poéticos e polissêmicos
nos manuais didáticos. A prática tradicional de memorização ou decodificação resumiu a
semiose apenas à interpretação linear, que diverge da atitude semiótica, investigativa e
relacional, por excelência, congregando linguagens e discursos, nuances do sentido
estabelecidas em diferentes níveis, não apenas no superficial ou semântico, de decodificação,
mas também considerando aspectos da compreensão profunda, da interdisciplinaridade da
rede de conhecimentos acumulados e tecidos ao longo do tempo.
Por este prisma, não a contextualização sócio-cultural proposta nos PCNEM/99
como também os estudos psicológicos, que adotaram o princípio da motivação como fator
propulsor da aprendizagem, além do esforço de integração das ciências, garantiriam, em tese,
a compreensão dos conteúdos do currículo enquanto movimento de inserção na realidade. Tal
inter-relação possibilita intervenção e criação de propostas mais sintonizadas com a vida
atual, prática na qual os modelos mentais devem operar, pois, com a representação entre um
elemento primeiro e um segundo; entre a primeiridade e a secundidade, construindo redes.
Cognição e semiótica, nesta acepção, são chamadas a integrar elementos para um novo
paradigma da interpretação do sentido.
Pesquisando os modelos educacionais e a decorrência de suas formulações,
verificamos como marca da pedagogia do século XX o estudo piagetiano do desenvolvimento
cognitivo. Dando prosseguimento à teorização cognitiva, Vigotsky estabeleceu o sócio-
interacionismo como modelo psico-pedagógico que possibilita algumas interdependências na
aprendizagem dos conteúdos curriculares. Segundo ele, a aprendizagem é um movimento de
antecipação da extensão da capacidade intelectual. E, como decorrência dessa extensão, o
conceito de interdisciplinaridade vem formulado no projeto de reforma que deu origem aos
PCN na seguinte perspectiva:
138
A interdisciplinaridade deve ir além da mera justaposição de
disciplinas e, ao mesmo tempo, evitar a diluição delas em generalidades.
[...] integra as disciplinas a partir da compreensão das múltiplas causas ou
fatores que intervêm sobre a realidade e trabalha todas as linguagens
necessárias para a constituição de conhecimentos, comunicação e
negociação de significados e registro sistemático de resultados.
[...] A interdisciplinaridade pode ser também compreendida se
considerarmos a relação entre o pensamento e a linguagem, descoberta pelos
estudos sócio-interacionistas do desenvolvimento da aprendizagem. Esses
estudos revelam que, nas situações de aprendizagem espontânea, seja
naquelas estruturadas ou escolares, há uma relação sempre presente entre os
conceitos e as palavras( ou linguagens) que os expressam.
[...] Todas as linguagens trabalhadas pela escola, portanto, são, por natureza
‘interdisciplinares’ com as demais do currículo: é pela linguagem verbal
visual, sonora, matemática, corporal ou outra que os conteúdos
curriculares se constituem em conhecimentos, isto é, significados que, ao
serem formalizados por alguma linguagem, tornam-se conscientes de si
mesmos e deliberados. (BRASIL, 1999, p. 90, 91).
Ainda considerando a perspectiva da reforma curricular do Ensino Médio, os
PCNEM afirmam que a interdisciplinaridade se assenta sobre um caráter relacional por
convergência, divergência ou complementaridade, estabelecendo interconexões e passagens
entre os conhecimentos, na prática escolar, não na transversalidade, mas na disposição
mesma do currículo, tarefa que se coloca no presente para pesquisadores e estudiosos.
Lingüistas e antes deles, os semioticistas haviam antecipado a concepção
disposta nos PCNEM sobre bases interdisciplinares de aprendizagem. Segundo eles, a
compreensão é resultado do processo interpretativo que supõe não trabalho cognitivo, mas
também processos perceptivos de associação dos sentidos. Desde o final da década de 60, em
que Jakobson visitou o Brasil e foi traduzido, divulgando a teoria da comunicação e as
funções da linguagem, a relação da lingüística com outras ciências foi evidenciada.
É coerente e produtivo resgatar modos de vida e concepções de época, articulando
determinantes históricos e contextualizando fatos e inovações. Percebemos, assim, expressa
na LDBEN e nos PCNEM a preocupação com a estratificação, fragmentação e
disciplinarização dos conteúdos, porém, essa fragmentação que ocorreu devido ao tratamento
que o currículo recebeu em sua forma de didatização mutilou o sentido. Lingüistas, teóricos
139
da literatura, semioticistas, filósofos da linguagem e muitos outros pensadores têm refletido
sobre a compreensão do universo, da cultura e da linguagem que expressa esses fenômenos.
Por esta razão, buscamos na fonte científica explicações e possíveis contribuições para os
problemas de aprendizagem da literatura identificados nesta pesquisas.
A generalização de procedimentos bem como a automatização de particularidades
dos estilos de época partem do estranhamento, na representação da realidade, intensificando a
eficácia estética da língua, representamen material do objeto simbólico, signo da Literatura.
Nesta perspectiva introduzimos a proposição intersemiótica como recorrência de topos,
sentidos em rede estabelecidos a partir do diálogo entre linguagens
106
.
No código lingüístico que sustenta a Literatura, a essência da matéria sonora é o
fonema, com existência material no grafema organizado em morfemas e lexemas constituintes
da organização textual. Traduzindo, encontraríamos no código imagético global da arte ou da
fotografia a imagem como essência da matéria visual e na figura, traço ou linha, a forma da
matéria visual, no jogo do claro/escuro. Transcodificando para o sistema semiótico musical,
teríamos como essência da matéria o som e como forma da matéria o ritmo, o estilo, o produto
auditivo, que precisa, a título de análise, ser dividido, devido à sua complexidade.
Hjelmslev definiu em sua teoria semiológica, a semiótica conotativa e a estética
glossemática
107
, concebendo signos mais complexos como o conotativo e o metassígnico.
Barthes
108
criou um diagrama do signo conotativo a partir do esquema básico hjelmsleviano.
Outros teóricos deram continuidade à teoria das conotações, dividindo-a em conotadores
estéticos simples e complexos. Mas a síntese importante é que o texto considerado obra de
arte é um plano de expressão estético conotando um conteúdo complexo, pois além de
estético, hospitalidade a múltiplos conhecimentos, conforme destacou Barthes na epígrafe
inicial deste estudo.
106
sentido estreito com a concepção hjelmsleviana de semiótica enquanto linguagem.
107
A glossemática tomou como elemento o signo denotativo.
108
Semioticista e crítico contemporâneo
140
2.4.2 O PARADIGMA INTERSEMIÓTICO COMO MODELO
PRAXIOLÓGICO DE ABORDAGEM DA LITERATURA PARA O SÉC. XXI
Ao buscar ancoragem histórico-cultural e teórica nos itens anteriores, percebemos
que o início do séc. XX, com a influência da vanguarda européia e o dinamismo da sociedade
industrial solicitou modos mais dinâmicos e flexíveis de vida. O modelo diádico mostrou-se
insuficiente, pois o considerou o poder de iconicidade e de indexicabilidade do signo em
sua referência ao mundo, além da predominância de base teórica na língua falada.
A interconexão das pesquisas lingüísticas e literárias possibilitou o intercâmbio de
pressupostos que inovaram os modelos interpretativos.Segundo Noth (1996), Jacques Derrida
criticou a negligência saussuriana para com a língua escrita bem como a ausência de
autonomia semiótica para esta modalidade. Sua filosofia crítica da presença concebeu a
representação como processo de adiamento infinito. Segundo o autor, um signo sempre
carrega vestígios de outros signos. Constrapôs-se, por isso, à presença fenomenológica de
Husserl, que tem caráter de totalidade.
Essas oposições teóricas no final do século XX fixaram um paradigma que tenta
estimular a substituição do caráter de totalidade da semiose, em favor de uma atitude
investigativa que estabelece o dialogismo, as relações, a intertextualidade. Também a crítica
cultural, social e mitológica foi se desvelando por meio da semiótica francesa, nas pesquisas
de Barthes, Greimas e, por fim da semiótica literária italiana de Umberto Eco.
A arrancada definitiva na trajetória de acesso à cultura e ampliação dos horizontes
de leitura em diversos campos do saber teve reflexo, especialmente no Brasil. A indústria
editorial tem dado mostras significativas de expansão, apesar da curta história de fruição,
recepção e consumo da literatura nacional e de universalização da alfabetização no país. A
evolução dos sistemas de difusão da informação e da arte produziu modernas e múltiplas
141
formas de divulgação, suscitando necessidade de alteração profunda nos modelos de ensino e
teorias da aprendizagem, bem como a busca por definição de rumos para os estudos de língua,
literatura e conhecimentos gerais, representativos da cultura do livro.
Diante dos impasses do Pós-Modernismo, a mudança ideológica de paradigma nos
grandes centros e nos países periféricos bem como a evolução global na concepção de
conhecimento multiplicou culturas, seitas, partidos e bens descartáveis, produtos de natureza
globalizante que apagam traços e caracteres de identidade, revelando subcondição econômica
e fragilidade de acesso das camadas majoritárias aos bens culturais. Com a
internacionalização da economia, houve necessidade de compartilhamento dos significados,
inclusive alterando a capacidade de comunicação dos cidadãos, pressionados a utilizar
diversos códigos de linguagem. Esses desafios complexos determinaram mobilização de
competências e inserção crítica no mundo das relações produtivas.
Para tanto, a formação ética, estética e política exige superação da dicotomia entre
o pensar, paradigma positivista preponderantemente cognitivo, que imperou nos currículos até
hoje, e o fazer, dimensão antropológica essencial da perspectiva interacionista atual e mais,
entre o pensar verbalizado e o pensar representado por meio de outras linguagens e códigos.
A estratégia de ação e a ordem da aplicação enquanto processo revelam intenção se não
apenas expressa, sobretudo necessária, de harmonização social.
A modernidade educacional pressionada pela diversidade de culturas e identidades
e pela inclusão, deu margem a uma retórica da leitura e da escrita, da composição textual e de
sua apreensão, que se questiona continuamente, em seus pressupostos políticos, éticos e
estéticos, devendo migrar do plano teórico mais abstrato do pensamento ao aspecto concreto,
além de adequação metodológica frente à realidade. Tais dificuldades são encontradas devido
a um pensamento que se quer firmar dialético mas que, ao enunciar o desejo de síntese dos
contrários num terceiro termo totalizador, reconhece a permanente instabilidade dessa relação.
142
Os velhos modelos didáticos, quer por legislação quer por sistematização,
oficializaram a transmissão e absorção do conhecimento dividido em vários compartimentos
intitulados disciplinas, tais como comunicação e expressão, matemática, ciências, geografia,
história, artes, etc, fragmentados artificialmente. A contemporaneidade, por expressar um
mundo de racionamentos, associações e sínteses requereu abordagem integrada, abrigando
termos como multidisciplinaridade, transdisciplinaridade ou interdisciplinaridade. A
terminologia, a princípio, não constitui essência tão importante quanto a acepção oposta entre
a tradição disciplinar e a necessidade atual de abordagem integrada.
A alteração na dinâmica sujeito-objeto tornou-se decisiva para a mudança das
práticas tradicionais em educação. O sujeito, diante do objeto de estudo de qualquer área,
neste caso, a literatura, deve ser ativo e desenvolver a capacidade desalienante de relacionar e
integrar diferentes conhecimentos. O paradigma conceitual, efetivamente, deverá ser
substituído pelo paradigma da ação; a tendência responsiva, substituída pela tendência
autônoma, produtiva, de integração e contextualização, denominada protagonismo,
compreendendo a participação direta dos aprendizes na dinâmica sócio-cultural, em situações
reais que partem do microcosmo da escola e da comunidade em direção ao macrocosmo da
sociedade mais ampla.
A interdisciplinaridade, assim entendida, propõe, para o estabelecimento de
sínteses significativas, reorganização metodológica especial, diferente e mais complexa, não
apenas por meio da integração de conhecimentos produzidos nos vários campos de estudo,
inserindo uma visão global do real, mas, especialmente, por meio da associação dialética entre
dimensões axiais como teoria e prática, reflexão e ação, generalização e especificação, ensino
e avaliação, meios e fins, conteúdo e processo, indivíduo e sociedade. Entendemos que o
componente praxiológico seja o terceiro termo, não totalizador, mas relacional, conector,já
que a antítese não é suficiente, como não o foi na teoria saussuriana diádica ou dicotômica. O
143
terceiro termo relacional se constitui e se concretiza na práxis eixo central dessa pesquisa,
entendido como mediação dialética, domínio da teoria em função da prática.
De que servem os conhecimentos teóricos sem uma prática adequadamente
sistematizada que alcance os objetivos primeiros que justifiquem sua existência ou que
interfiram diretamente na realidade com finalidade precípua de contribuir para com a
evolução? Conforme citamos Chatelet (1972) no capítulo do método, os conhecimentos
teóricos o existem por si e com auto-finalidade. Existem em função de necessidades e
objetivos que devem ser postos em execução por meio do que entendemos por práxis.
Considerando que a base teórica da Semiótica desenvolvida ao longo do tempo
pelos teóricos da linguagem e da literatura, de Platão a Peirce, de Aristóteles a Eco ainda não
tem efetivamente revelado absorção cultural e mudanças metodológicas na aprendizagem, os
conhecimentos, relativamente sedimentados, precisam encontrar formas coesas de execução,
democráticas e socializadoras, consonantes com os modernos sistemas de produção.
A interdisciplinaridade, enquanto relação de reciprocidade, pressupõe atitude
diferente diante do conhecimento: investigativa, estabelecendo relações, tal qual o percurso da
interpretação semiótica. Para Heloisa Luck (1995), trabalhar na concepção interdisciplinar
requer substituição da concepção fragmentária do ser humano para a unitária; atitude não-
preconceituosa onde todo conhecimento é importante; de engajamento, comprometimento
pessoal de curiosidade, de percepção das relações entre os fenômenos, que escapam à obser-
vação comum. Exige novos padrões pedagógicos diante da realidade, a partir da visão crítica
que abranja o todo em vez de se deter nas partes. Portanto, um profissional da Educação que
percebe a relação dialógica entre a teoria e a prática assume postura interdisciplinar;
estabelecendo conexões entre a Pedagogia, a Didática e os conteúdos programáticos
assumidos como um todo orgânico no processo ensino-aprendizagem.
144
No sistema escolar dividido em componentes curriculares, acreditava-se que os
alunos teriam visão mais detalhada de cada um, deixando a critério deles conectar e relacionar
os conteúdos. Porém, a experiência didática mostrou que essa atitude apriorista foi
equivocada sem criar o espaço interdisciplinar e a atitude para tal. Segundo Castro (1997)
109
,
vários motivos impedem a interdisciplinaridade, dentre outros: preocupação excessiva com os
conteúdos específicos, programas extensos, preparo inadequado do professor e falta de
espaço próprio para a troca de idéias.
É possível localizar a antecipação da divisão dos conhecimentos em três áreas( 1)
Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias, 2) Ciências Humanas e suas
Tecnologias e 3) Linguagens, Códigos e suas Tecnologias), como referenciam os PCNEM, a
partir da escolástica, que havia esboçado oficialmente a subdivisão das ciências da seguinte
forma: a philosophia naturalis; a philosophia moralis e a scientia de signis, que interpretamos
como filosofia natural, constituindo as ciências naturais e sua derivação na Biologia, Química,
Física; a filosofia moral, que integra a vida em sociedade, pressupondo os contextos histórico,
geográfico, da produção e os preceitos morais e éticos para viver civilizadamente na polis, e,
por fim, a ciência dos signos, responsável pelas linguagens.
É possível desenvolver, também, uma analogia com a apreensão do conhecimento
em estágios: o natural, da experiência imediata_ de reconhecimento do mundo externo, a
primeiridade, conforme concebeu Peirce; o social, da experiência coletiva, das relações, da
secundidade e, por fim, o estágio cultural, da expansão das linguagens e conhecimentos,
estágio simbólico da terceiridade, no qual teoricamente nos encontramos.
Noth (1995) registra que Aristóteles discutira a teoria dos signos no âmbito da
lógica e da retórica, assim como John Locke (séc.XVII)
110
, que, em sua concepção lógica,
reafirmou a divisão triádica das ciências, referindo-se à ética como praktiké, distinguindo
109
Artigo de Eder Abuso Castro em caderno especial de Educação FolhaPhi Ago/97
110
apud NOTH, 1995, p. 35.
145
apenas duas classes de signos: as idéias e as palavras, demonstrando que as idéias são signos e
as palavras são signos de idéias, concepção que Saussure, no século XX, manteve, da relação
indissociável entre palavras e idéias. Resgatar o sentido de ética e de prática, como
concebidos por Locke, situa-se no âmbito da práxis, que compreende a reflexão para a ação.
Baseando-nos no histórico de Noth (1995) percebemos que a semiótica dos séculos
XVII e XVIII foi profícua, solidarizando-se com as correntes filosóficas do racionalismo
francês, do empirismo britânico e do iluminismo alemão. Após Decartes ter postulado a
prioridade do intelecto sobre a experiência, alijando da teoria dos signos o aspecto referencial,
o objeto externo, a coisa, foi descartada no modelo diádico, pois o signo era concebido apenas
como idéia e o significante como imaterial, provido de auto-referencialidade, crítica que
Saussure recebeu. O Empirismo britânico, assim, concebeu a semiose ilimitada, ao admitir
que os nomes são signos de nossas concepções e não das coisas mesmas.
No esforço de elucidar o marco teórico implícito nos PCNEM bem como no
próprio manual examinado, recuperamos o percurso conceitual de semiótica moderna baseado
em Peirce, Saussure e Hjelmslev, retirado dos dois volumes brasileiros
111
de Winfried Nöth
112
(1995,1996), além da fundamentação em Jakobson (1971), citada no capítulo, com o objetivo
de deslocar o foco da comunicação para o campo da Literatura e assim, subsidiar a esfera
docente com vistas a estabelecer o ponto de coesão que propiciará mudanças de paradigma.
É necessário elevar os patamares de expectativas culturais, superando, num
currículo planejado a esfera pragmática dos saberes cotidianos, necessários nas práticas
produtivas, ampliando, em verticalidade, uma visão que exige capacidades mais sofisticadas
da abstração cognitiva para a dimensão simbólica da cultura e da arte. A práxis deverá se
alterar profundamente a partir das últimas conquistas tecnológicas e pressupostos teóricos que
111
por ocasião de seu curso de semiótica para os doutorandos de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da
PUC/ SP (1994).
112
autor do Handbook of semiotics (Indiana University press, 1990).
146
consideram a necessidade de relações mais dinâmicas, plurais e múltiplas. Deverão ser
disseminadas abordagens mais eficientes e menos informativas, vivenciadas e concretizadas,
bem como projetos interdisciplinares, com a configuração de módulos de aprendizagem
integrados, considerando o percurso perceptivo e de cognição do aluno, para
operacionalização das grades curriculares.
A arte, a literatura, a música e o cinema são linguagens que possibilitarão criar
eixos integradores do conhecimento, conforme a abordagem intersemiótica que passamos a
demonstrar, sem a pretensão de esgotar o assunto ou de estabelecer um modelo fixo. Nosso
intuito é participar da reflexão sobre os problemas atuais, especificamente o da leitura e
escrita, a partir do tratamento da literatura enquanto linguagem em função estética, inserida na
totalidade maior chamada arte, que em sua (des) realização admite singularidades vinculadas
a criações e particularidades da expressão.
Pensamos que conhecer especificidades e particularidades de cada sistema
semiótico, comparando, extraindo traços distintivos e percebendo-os habilita o jovem a
executar procedimentos interpretativos gradualmente mais complexos, em direção ao domínio
da competência expressiva e produtiva que as linguagens, códigos e suas tecnologias
possibilitam. Um dos objetivos da escola, que a área de Linguagens deve primar em divulgar
e executar, é a percepção do potencial que as linguagens atingiram, fazendo uso desses
recursos para propiciar a compreensão da produção sócio-cultural humana agindo na rede de
conhecimentos.
Mesmo tentando acompanhar as inovações do mundo tecnológico e comunicativo
as práticas ainda conservam o paradigma cognitivo- informativo e os manuais continuam a ser
utilizados por grande parte dos professores como referencial, de cuja organização procedem
por dependência e adaptação ao modelo, talvez, até, por utilitarismo paródico. Se o modelo é
inovador, a prática se adeqüa, se o modelo é tradicional, o enfoque mantém a práxis
147
compartimentada e descontextualizada. Percebemos, portanto, nos documentos indicativos
bem como nos MD esforço de transposição das teorias acadêmicas como os pressupostos da
Estética da Recepção, da Semiótica e das Teorias da Linguagem a pautar as inovações na
produção editorial didática, expressando um movimento que opera por superação de modelos
e linhas tradicionais, informativas e lineares, buscando a sincronia, porém, o tempo de
assimilação e aplicação do complexo teórico é mais lento e variável que sua divulgação
formal.
Muitas concepções foram abaladas no século XX em relação ao processo de
ensino, metodologias, avaliação e abordagens. O presente deverá incorporar tendências
adequadas e produtivas, a partir da renovação do paradigma sócio-histórico, o que deverá ter
reflexo a médio prazo no currículo e na integração das áreas. Por este prisma, a metodologia
de ensino deve adequar novas estratégias pois estas constituem ponto de partida para a
autonomia docente e, conseqüentemente, para a ampliação do repertório de conhecimento da
juventude.
148
CAPÍTULO III
ABORDAGEM INTERSEMIÓTICA DA LITERATURA: QUESTÕES TEÓRICAS E
APLICADAS
Após avaliar a organização tradicional das situações didáticas de aprendizagem da
leitura, considerando a problematização relatada no âmbito educacional, apresentamos, neste
capítulo, uma proposição teórico-metodológica, na perspectiva intersemiótica, a título de
contribuição para operacionalização do trabalho praxiológico com os estudos literários na
escola média, em nível da compreensão dos adolescentes e, por extensão, a possibilidade de
tratamento interdisciplinar do conhecimento na Educação Básica, em consonância com a
multiplicação dos sistemas sígnicos, com as inovações científicas, tecnológicas e sócio-
culturais vigentes na atualidade, conforme prenunciaram os PCNEM/99.
Estabelecemos, na passagem do século XX para o XXI, a conexão da semiótica
literária com as demais semióticas estéticas, pesquisando, na teoria que tem como substrato o
interpretante verbal, as possibilidades de isotopia
113
temática e pluriisotopias figurativas, a
partir da pluralidade sígnica dos códigos, localizando um topos estético conector ou
desencadeador de leituras, que parte da abordagem particular de cada sistema semiótico e se
completa na abordagem intersemiótica, integrada e contextual.
Considerando as tradicionais aproximações entre literatura e pintura investigamos
a aplicação dos princípios da semiótica no campo das artes, procurando operacionalizar os
pressupostos dos semioticistas do séc. XX. Fundamentamos, também, nossa proposição nas
contribuições nacionais mais recentes, consultando Pignatari (1987), Oliveira; Santaella (org.)
(1987) Gonçalves (1987, 1994), Platão; Fiorin (1998) e Oliveira (1999).
113
O sentido de isotopia nesta acepção refere-se às relações de convergência semiósica, elementos que reiteram
um topos_ elemento desencadeador de sentido(s) em diferentes modalidades de expressão semiótica.
149
Com a intenção de contribuir para tornar as relações intersemióticas algo
didaticamente assimilável apresentamos uma proposição teórico-metodológica com vistas à
aplicação dos procedimentos de abordagem dos sistemas estéticos em comparação, expondo
os elementos centrais passíveis de análise em cada semiótica, procurando aplicar um conjunto
de habilidades relacionadas ao domínio das artes, mediadas pelas diferentes linguagens.
O sentido de semiótica que imprimiremos à presente proposição é prático,
destinado aos fins didáticos: semiótica aplicada à literatura, à pintura, à música e ao cinema.
Sem a pretensão de esgotar o assunto, detemo-nos especificamente na operacionalização de
procedimentos comparativos entre a Literatura e outras artes, constituindo o elo motivador da
compreensão e busca dos sentidos culturais e estéticos pelos jovens.
Assim considerando, não a internet servirá como ferramenta síncrona que
possibilita atualizar diferentes linguagens a um tempo mas também os sistemas de
comunicação das diferentes mídias serão utilizados para tornar presente a possibilidade de
contemplação analítica e de fruição compreensiva dos sentidos que se interseccionam nos
diferentes sistemas sígnicos.
As artes do espaço (pintura e cinema) e do tempo (literatura e música) se
entrecruzam num projeto de ampliação da capacidade de interpretabilidade das manifestações
da arte enquanto representação ou extensão da realidade, a partir do estabelecimento de
relações entre elementos constituintes, em busca do ponto energético de cada sistema, dos
topos/topoi em que eles se questionam em nossa redefinição.
A presente proposição busca orientar o processo de depreensão de isotopias
temáticas ou pluriisotopias entre elementos de sistemas de códigos estéticos distintos.
Pretendemos explicar a possibilidade de interdisciplinaridade, latente nos PCNEM/99, para a
área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, prática que toma aspecto concreto por meio
da semiótica, resgatando vínculos entre conhecimentos. Os códigos, nesta perspectiva,
150
oferecem possibilidade de correspondência e inter-relação pela mediação sígnica. E, além da
mediação sígnica, evidenciamos a importância da mediação didática do professor, na práxis
cotidiana.
O novo paradigma requer necessidade de alteração da abordagem epistemológica,
centrada na cognição, para uma abordagem ontológica, associando percepção e intelecto,
atribuindo ao jovem papel de sujeito ativo, crítico, de protagonista, não apenas receptor, mas
emissor de sentidos.
A torre de babel, simbolizada pela rede do saber tecido na Web, tem a
possibilidade de veicular todos os códigos a um tempo: lingüísticos, matemáticos,
científicos, biogenéticos, antropológicos, psicanalíticos e históricos, derivados do
conhecimento integrado no campo semiótico da cultura, conforme definiram semioticistas
contemporâneos como Umberto Eco, filósofos e psicanalistas como Lacan, Foucault e
Derrida.
A proposição de integração dos conhecimentos estéticos por meio da abordagem
intersemiótica pretende exemplificar e sistematizar parâmetros para a área de LCT,
divulgando princípios que materializam relações entre sistemas sígnicos constituintes da
cultura. Os quadros de sistematização, que tiveram como base os Guias Curriculares de 1975
servirão de referência para o desenvolvimento de projetos interdisciplinares com a Literatura.
Entretanto, não devem ser tomados como receita ou Guias fechados de acompanhamento para
realização da “aula” e concretização do ensino, mas devem servir como ponto de partida para
a reflexão sobre a potencialidade sígnica e para o diálogo da estética com a história, com a
sociedade e o conhecimento.
A semiótica tem se mostrado uma teoria que abriga os fragmentos dispersos do
conhecimento. Buscar correspondências interdisciplinares nos fragmentos dispersos que
compõem o sentido plural e amplo que o desenvolvimento sócio-cultural possibilitou passa a
151
ser uma competência nesta proposição, mediante a qual pretendemos sistematizar elementos
formais, potencializando a capacidade de leitura por meio das percepções visuais, auditivas e
intelectuais, a partir da categoria estética, operacionalizando sua complexa natureza
paradigmática.
Não intencionamos levantar aproximações ou divergências entre poesia e pintura
procurando um poema que corresponda à imagem de uma obra de arte com mensagem
pictórica semelhante. O objetivo primordial da proposição é operacionalizar instrumentos para
análise comparativa de sistemas semióticos distintos, mobilizando capacidades de ampliação
da competência compreensiva e de interpretabilidade do jovem. Procuraremos evidenciar os
elementos de organização dos diferentes sistemas, por meio da relação dialética entre a
singularidade de cada sistema semiótico e a generalidade, tomando a particularidade como
movimento que estabelece a relação entre eles. A literatura contém a imagem; a poesia
contém a musicalidade; a música popular, em primeira instância, se mostra enquanto
produção híbrida, abrigando a linguagem verbal harmonizada ao ritmo e à melodia e, enfim,
as artes, em geral, contêm em si mesmas o fenômeno comum da representação estética,
desrealização simbólica, indicial ou icônica.
As relações possíveis bem como a reflexão estética em torno das correspondências
entre forma verbal e forma visual das várias linguagens tornaram-se evidentes e devem ser
estabelecidas como metodologia da leitura e de depreensão de singularidades, em direção à
particularidade de cada sistema. A perspectiva intersemiótica pretende possibilitar a visão por
mecanismos próprios de cada linguagem, comparando-os e particularizando seus atributos.
O modelo descodifica o sistema Literatura por meio do trabalho intersemiótico do
signo estético comparado, procurando, por meio da tradução intersemiótica, manifestar
verbalmente o não verbal. A intersecção entre os signos deverá partir da concepção estrutural,
em direção à relativização do sentido. As estruturas e categorias explicitadas nos quadros
152
servirão de base para que os docentes possam dinamizar o processo metodológico, tendo
como ferramentas de análise categorias e elementos subsidiários da práxis.
Entender o currículo escolar, torná-lo real e assimilável, conhecer a Literatura, a
arte, a música significa criar projetos e dinamizá-los de tal forma que, por meio de
vivências
114
e representações nas diferentes linguagens, os jovens possam perceber tanto o
procedimento estético que subjaz às expressões dramática, musical, plástica, visual e
lingüística quanto compreender, analisar e assimilar o arcabouço teórico-conceitual.
A práxis do estudante é, em primeira instância, de natureza performática, de
vivência, de representação, de simulação, de atuação em festivais de canções populares e
execução ou audição de músicas eruditas e instrumentais, saraus de declamação e sessões de
fruição compartilhada da cultura estética: poemas, narrativas, dramatizações, reprodução de
obras de arte. Porém, a segunda fase do projeto de ampliação do repertório cultural dos jovens
requer a meta-reflexão compreensiva sobre o processo vivenciado. Metodologicamente, o
segundo passo é a análise do primeiro; e o terceiro, a teorização, o registro, é a assimilação
dos conceitos e aplicação dos fundamentos percebidos anteriormente, na fase performática.
O professor, enquanto mediador, dialetiza o formal e o aluno adolescente, sujeito,
protagonista do saber, caráter real e de concretude ao saber. No segundo ato, de análise,
pesquisa e observação, formaliza o dialético, plural. Assim, a concepção dialética de
ação/reflexão/ação se realiza na práxis, que não deve ser entendida como improviso, mas
constituída de etapas cientificamente organizadas de vivência dos conteúdos: a) Vivência
Dinâmica, performativa, se realiza por meio da leitura e da produção sócio interativa, oral, de
comunicação e divulgação; etapa que nos PCNEM corresponde ao eixo de Representação e
Comunicação.
114
Sugestão de Ilari nos GC ( SÃO PAULO, 1975).
153
b) Vivência Perceptiva, analítica, reflexiva- etapa de sistematização, de integração dos
elementos perceptivos, em favor de uma operação cognitiva de interpretabilidade; etapa que
nos PCNEM corresponde ao eixo de Investigação e Compreensão.
c)Vivência Formal, de síntese- caráter de registro das percepções dos sentidos e cognitivas,
realização sistemática dedutiva, etapa que nos PCNEM corresponde ao eixo de
Contextualização Sociocultural.
As sínteses de cada etapa constituirão a base para a construção de novas hipóteses
inter-relacionais. A manipulação dos recursos tecnológicos, o domínio dos procedimentos de
participação na rede de sentidos é, também, fundamental para a formação do leitor, que deve
articular competências de análise de diferentes sistemas, procurando integrar primeiro o
sentido e, posteriormente, os próprios sistemas enquanto representações da cultura e do
currículo.
No movimento de construção da cultura e do pensamento do século XX,
percebemos emergir a instituição do sujeito de enunciação como categoria de produção da
linguagem, coletiva, coercitiva e ideológica. Assim devem se posicionar alunos e professores:
como sujeitos da construção do conhecimento cujos papéis são relativizados, projetando no
outro a extensão da coletividade, no macro-contexto em que vivemos, no qual o sentido da
produção desenvolvida tem caráter ético, estético, político e sócio-cultural.
154
3.1 PARA ALÉM DO ÜT PICTURA POÉSIS
Conforme demonstra este relatório de pesquisa, a apresentação da proposição
intersemiótica de abordagem da Literatura é decorrente de nossa vontade pedagógica de
operacionalizar uma prática adequada à faixa etária da Educação Básica e também da reflexão
sobre os desafios enfrentados pelo professor na passagem para o novo século. A avaliação das
equipes técnicas configurou o grau de letramento dos jovens bem como a problemática do
nosso tempo e a opção docente pelo material didático serviu de parâmetro para problematizar
o cotidiano do professor que, na mediação da prática pedagógica, é responsável pelos modos
de ensinar bem como pela ênfase nos conteúdos.
Fundamentar uma nova abordagem da produção estética requer superação dos
desafios e, ao mesmo tempo, subversão, abertura para perspectivas mais amplas, estabelecidas
na ambivalência das linguagens, nos pontos em que elas se tensionam ou tangenciam. É
necessário registrar, então, que Aristóteles, em sua Poética, se preocupava com as relações
entre as artes. Várias especulações foram feitas ao longo do tempo a que Lessing
reintroduziu, no século XVI, o debate horaciano sobre o tema. Daí em diante, muito se
produziu para estabelecer fronteiras entre a Literatura e a Pintura, muito se pesquisou sobre a
especificidade de cada uma das artes a fim de estabelecer critérios de distinção entre seus
procedimentos, porém, a perspectiva que apresentamos é sistêmica e considera o elemento
singular em relação potencial com outras formas de representação estética.
Considerando que o conteúdo do texto literário não é somente estético, seu status
simbólico modifica radicalmente seu conceito e modo de tratamento, diferente dos textos da
linguagem cotidiana. Foi Jakobson que, tecendo o fio do conhecimento científico anterior,
formulou nova compreensão das divergências entre mensagens verbais ou não. O
funcionalista, em 1969, ao fundar a Associação Internacional de Semiótica, propôs a
155
unificação dos termos semiologia e semiótica, reunindo, sob a mesma denominação, os
princípios da semiologia saussuriana e da moderna semiótica geral pierceana.
A semiótica funcionalista se contrapôs ao paradigma estruturalista de Saussure e
de Hjelmslev, ao entender que a abordagem estrutural relaciona um elemento semiótico ao
texto ou sistema, enquanto a abordagem funcionalista relacionaria o elemento, em sua função,
ao contexto comunicativo. Entretanto, no cômputo geral do século XX muito se deve às
contribuições de Saussure e de Peirce. A Saussure se atribui as pesquisas em estrutura e
sistematicidade semiótica. Em relação à heurística, sua teoria da Lingüística como padrão
geral da semiologia constituiu tradição estruturalista-semiológica influente, não encontrando
precedentes na tradição filosófica da semiótica pierceana.
Na verdade, os próprios formalistas russos se interessaram pelo estudo das funções
da arte e da literatura no contexto comunicativo.Dentre seus temas de abordagem figura a
distinção entre linguagem artística e linguagem prática, cuja discussão nos levou, no primeiro
capítulo, a distinguir valor estético e pragmático sabendo que Jakobson argumentara em favor
de uma explicação funcionalista para as divergências entre os textos pragmáticos e os
estéticos.
Nöth (1996) afirma que a tradição funcionalista da semiótica encontra
fundamentação teórica no estruturalismo de Praga, que, por sua vez, tem raízes no formalismo
russo. No desenvolvimento desta semiótica funcionalista, a obra de Roman Jakobson
desempenhou um papel unificador. Segundo o autor:
A semiótica funcionalista se definiu parcialmente em oposição à
tradição estruturalista do paradigma semiótico de Saussure e Hjelmslev,
paradigma este, por ele criticado devido à sua abordagem estática dos
sistemas semióticos.
(NOTH, 1996, p. 94)
156
Seguindo a acepção da linguagem como constituinte da cultura, funcionando como
subestrutura, base e meio universal, Jakobson
115
, fundador da abordagem funcionalista da
linguagem, sugeriu a investigação paralela das artes verbal, musical, figurativa, coreográfica,
teatral e fílmica, na metade do século XX: “quanto ao estudo comparativo da poesia e outras
artes, trabalhos de equipe entre lingüistas e especialistas nestes campos acham-se na ordem do
dia”. O lingüista afirmou:
em geral todos os sistemas de signos independentes, em sua estrutura, da
linguagem e também exeqüíveis fora de contato com meios verbais, devem
ser submetidos à análise comparativa com vista especial às suas
convergências e divergências com qualquer estrutura semiótica dada e a
linguagem.
(JAKOBSON, 1970, p.19)
Segundo Koch
116
, Jakobson foi um espírito de síntese. Trazia em si o germe da
interdisciplinaridade em seus estudos e pesquisas que circulavam da teoria da informação e da
comunicação à matemática, à neurolingüística, à biologia até a física. Opôs-se à natureza
antinômica das dicotomias estruturalistas, tentando superá-las por meio de princípios como o
de pertinência, binarismo e análise de traço distintivo; eixos de seleção e combinação;
dicotomia entre metáfora/metonímia e oposição entre similaridade/contigüidade. Seu modelo
funcional da linguagem foi reconhecido e embasa muitos dilemas entre a análise literária e a
linguagem pragmática. Sua teoria da autonomia poética recebeu críticas por ser esteticista e
negligenciar a dimensão social do poético, assim como foram acusados os formalistas, de
separatismo da arte, ao que o teórico argumentou em favor da função estética.
Com base na divisão triádica dos signos em índices, ícones e símbolos conforme
estabeleceu Peirce, Jakobson (1970) afirma que deve haver discriminação criteriosa entre a
produção de signos meramente corporal e a instrumental; entre estruturas semióticas puras e
115
Ver Lingüística, Poética, Cinema, Roman Jakobson no Brasil,1970, p. 20
116
Koch apud Nöth, 1996.
157
aplicadas; semiose visual e auditiva, espacial ou temporal; relação entre remetente e
destinatário, especificamente na comunicação intrapessoal, interpessoal ou pluripessoal.
A investigação da semiose da língua, segundo o autor, tem por extensão a semiose
das artes, a começar pela literatura, que tem como substrato a língua, requerendo do
interpretante, compreendido por nós como o aluno do Ensino Médio, a competência de
apreender as inter-relações entre os sistemas semióticos.
A linguagem é o tipo mais explícito de comportamento comunicativo,
possibilitando relações com outros meios de comunicação ligados ao intercurso verbal.
Enquanto a Lingüística se restringe à comunicação de mensagens verbais, as demais
disciplinas semióticas utilizam outros códigos, o que levou Lévi Strauss a integrar o conjunto
da ciência da comunicação ao das ciências sociais. A influência de Jakobson sobre Levi
Strauss foi decisiva para o desenvolvimento do estruturalismo.
Jakobson (1971) desde as pesquisas formalistas, estabeleceu a função nítida da
linguagem em cada manifestação específica, apresentando as seis funções que possibilitaram
avanços posteriores nos estudos de linguagem, permitindo até mesmo um paralelo com a
teoria bakthiniana dos gêneros discursivos, que evidencia funções, origem, situações e esferas
que solicitam tipos específicos de produção lingüística.
O mesmo Jakobson funcionalista introduziu uma perspectiva comunicativa
moderna à tradução intersemiótica. Com a publicação de Lingüística, Poética e Cinema
(1970), ele retoma, no panorama atual, a polêmica lançada antes de Cristo, na esfera da arte,
por Horácio.
Percebemos que houve avanço na teoria da linguagem: do modelo estruturalista,
estático, passou-se a considerar toda estrutura dinâmica, constituída de elementos funcionais
que alteram o sistema de acordo com seus fins. Saussure considerava a semiologia
158
indispensável à interpretação da linguagem e de todos os outros sistemas de signos em inter-
relação.
A partir daí vão tomando consistência teorias comparativas da linguagem verbal
com outros sistemas semióticos, substitutos da linguagem falada. Tornou-se essencial definir
traços específicos da linguagem verbal e, posteriormente, de cada linguagem, em especial,
como forma de representação verbalizável, projeto modelar da práxis literária, em nossa
concepção.
O sentido da interpretação diante de qualquer manifestação de linguagem, seja
pictórica, musical, corporal, ou fílmica, se constitui pela exegese verbal, principalmente na
escola, instituição que privilegiamos para análise da abordagem da literatura. A iconicidade
literária concebida pela teoria clássica era exofórica, pois entendia como externa, mimética a
relação entre signo e mundo. O iluminismo de Lessing seguiu este mesmo modelo estético,
porém, deveremos buscar a iconicidade endofórica em primeira instância.
Se o sistema lingüístico é constituído por elementos relativamente estáveis, os
demais sistemas semióticos como a pintura, a música e o cinema têm, também, seus
categorias passíveis de análise e observação, constituindo uma constância.
Gonçalves (1994) aborda em Laokoon Revisitado relações homológicas entre texto
e imagem, resgatando desde a Arte Poética de Horácio o ut pictura poésis que, a partir da
releitura do alemão Lessing (1766) e do americano Irving Babitt (1911) estabelecem o fio do
debate sobre os limites entre a pintura e a poesia.
Nova concepção surge com Joseph Frank que retoma esse debate em 1945
potencializando os signos. João Alexandre Barbosa, ao prefaciar a citada obra de Gonçalves
(1994) afirma que pintores e poetas “percebem aspectos da realidade que, transformados por
suas linguagens ou transformando suas linguagens, se traduzem em textos e imagens cujos
159
dispersos resíduos, fragmentos de uma expressividade, são recuperados pela leitura
comparativa”.
Tal possibilidade também fôra observada tradicionalmente entre música e poesia,
que caminharam juntas até que no Renascimento, momento em que a melodia se apartou da
letra. Contudo o termo poesia “lírica” guarda resquícios dessa tradição que concebia a poesia
sendo recitada ao som da lira.
A verdade é que o conjunto que compõe o corpus da literatura assumiu novas
versões: a versão cinematográfica, teatral ou televisiva e a versão tecnológica dos softwares e
da internet. Comparar esses sistemas tornou-se necessário e possível. Por esta razão, a busca
de invariantes possibilita analisar o fenômeno semiótico como sistema; um sistema, porém,
dinâmico, submetido à liberdade criativa, constituído de elementos formais relativamente
fixos que integram a natureza dos códigos de cada semiótica.
Procuraremos explicitar na proposição de abordagem intersemiótica os elementos
constituintes de cada sistema e suas possíveis relações.
Sabendo que Eco (1971b) defendeu um estruturalismo metodológico constituído
de modelos e procedimentos operacionais renováveis, na medida das evidências que
exigissem explicações, entendemos que diante da realidade na qual vivemos, que pede
renovação e se mostra marcada pelo signo da modernidade tecnológica, com a presença de
multilinguagens, não como permanecer no porto seguro dos modelos consagrados pelo
pensamento verbal, unilateral.
Tornou-se necessário ampliar o domínio perceptivo visual e auditivo interpretando
códigos não verbais e estabelecendo suas conexões com a escrita e a oralidade.
O professor, na mediação da práxis enquanto embasamento teórico para a ação,
deve analisar comparativamente os sistemas artísticos e de utilização de mídias como
concretização das obras. A tecnologia tornou possível atualizar a um tempo a literatura, a
160
pintura, a música e o filme no mesmo suporte. Não nos interessa explicitamente analisar a
linguagem da mídia, mas as linguagens que ela suporta e atualiza.
Percebemos que houve consenso entre lingüistas, antropólogos e estudiosos das
ciências sociais reconhecendo os avanços por que passaram os sistemas de comunicação ao
longo do tempo, sobretudo no século XX. Nossa sociedade hoje é caracterizada como uma
rede altamente intrincada de conexões cujos entendimentos entre os membros se reafirmam
cotidianamente como sujeitos históricos pela natureza comunicativa.
Retomando o apontamento de Jakobson (1970), da necessidade de discriminação
criteriosa entre a produção de signos meramente corporal e instrumental; entre estruturas
semióticas puras e aplicadas; semiose visual e auditiva, espacial ou temporal, pontuamos que
a área de ciências da natureza, matemática e suas tecnologias compreende, na maioria das
vezes, análise de estruturas puras, enquanto que as aplicadas se relacionam à produção
científica sistematizada pelo homem, como os fenômenos de fertilização artificial, transgenia
e elaboração química.
Refletindo sobre a área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias,
compreendemos sua produção como manifestação da cultura, pois possibilita a expressão dos
fenômenos sócio-históricos e a criação dos fenômenos estéticos, modelizando sistemas
primários, que têm como função a comunicação usual e sistemas secundários, que têm como
função a expressão estética da sensibilidade criadora.
Percebemos, com base na teorização jakobsoniana que a música requer
instrumento externo ao homem, enquanto que a língua se processa por meio do instrumento
natural, que é o aparelho fonador. A produção de signos, portanto, pode ser corporal, quando
se utiliza a cognição, a priori, os sons da fala ou a dança, ou pode ser instrumental, quando
utilizamos instrumentos artificiais para produção dos sons musicais. O entendimento do corpo
como instrumento de produção de signos e de sentido é um espetáculo que a juventude precisa
161
dimensionar. A escola deve potencializar a capacidade sensitiva, modelizando procedimentos
operacionais de semiose (interpretação dos processos significativos) auditiva, visual, verbal e
verbi-visual e, evidentemente, cognitiva, relativizando estruturas espaciais, como é o caso da
pintura e também temporais, como é o caso da língua e da música.
A representação sintagmática não na escrita mas também nas pautas musicais
evidencia a atualização de estruturas temporais enquanto que a representação pictórica é
paradigmática, total, evidenciando a atualização de estruturas espaciais, que se mostram num
todo imediato. A imposição da seqüência auditiva ativa a observação parcial, contínua e
progressiva como a fala e a música, enquanto que a exposição visual ativa a observação
global. Evidentemente, a codificação do escrito é linear e sintagmática por excelência, guarda
relação com o movimento dedutivo, em busca da razão semântica, ao contrário da codificação
do visual, total, que não apresenta partes, mas um todo, uma síntese que requer exame
analítico progressivo.
O movimento interpretativo nas diferentes semióticas é, portanto, oposto. O código
verbal, por sua natureza extensiva, requer síntese, ao passo que o código visual, por sua
natureza intensiva, requer análise. Porém, não se pode negar que a imagem simule um tempo
e que a palavra simule uma imagem.
É possível distinguir mais de um signo auditivo, ao mesmo tempo, na
harmonização da música, pela consonância de instrumentos melódicos sincrônicos, porém, o
ouvido não treinado não consegue operacionalizar a distinção imediata. Estimular essa
capacidade perceptiva pode contribuir no sentido de aguçar a concentração e atenção do
adolescente para a percepção seletiva. Quanto à visão, esta propriedade dos sentidos, tem
caráter espacial, síncrono, recebendo os signos em sua totalidade, sendo passível de apreensão
global dos fenômenos complexos, porém, a educação do olhar deve aprimorar a
interpretabilidade focalizando cenas, detendo-se em episódios ou elementos, de modo
162
profundo, vertical. A sincronicidade é inerente ao ato de observação, entretanto, a capacidade
de análise exige decomposição, fragmentação dos elementos para compreensão de sua
estrutura e de seu procedimento de codificação.
Uma verdadeira teia dialógica não da cultura, mas de correntes e vertentes
teóricas passou a ser tecida na pós-modernidade, quando temos oportunidade de ver outro país
no instante em que as tragédias acontecem; em que a superação da velocidade propagada
pelas vanguardas possibilitou o instantâneo, a sincronicidade. Não é adequado, então,
continuar limitando a capacidade perceptiva somente ao sistema da escrita. O estabelecimento
de relações se tornou imprescindível.
Considerando a Literatura um signo produzido sobre o sistema modelizante
primário, a língua, a interpretação literária enquanto semiose, não tem um interpretante final
único, como a linguagem cotidiana, uma verdade absoluta mas, aceita validades
interpretativas que devem ser estimuladas, conforme teorizou Barthes
117
.
Partindo da problematização dos resultados em Leitura e Escrita alcançados pelos
alunos, não paulistas mas brasileiros,
118
é consenso tanto para os órgãos federais quanto
estaduais e municipais que novas políticas de ensino e novas formas de abordagem dos
conteúdos configuram uma urgência no cenário da Educação.
Os Guias Curriculares SEE/SP (1975) sistematizaram conteúdos básicos
progressivos para o EF; a PCLP-1º grau- SEE/SP (1986) introduziu, na mesma linha,
fundamentação para o trabalho na perspectiva lingüística, em detrimento do estudo
descontextualizado de Gramática, graduando em níveis as atividades interpretativas, de
operação sobre a linguagem e metalingüísticas, respectivamente, do mais simples ao mais
complexo; do concreto ao abstrato, numa concepção espiral de currículo. Leitura, análise
117
Ver Crítica e Verdade (1970).
118
cf dados SAEB.
163
lingüística e produção escrita passaram a ser etapas de execução metodológica do estudo
descritivo do funcionamento da linguagem verbal, focalizando a língua materna.
A PCLP- grau SEE/SP (1987, item 3.4.3, ) focalizou a sistematização da
Literatura como conteúdo curricular de Língua Portuguesa, introduzindo os princípios da
Estética da Recepção e do dialogismo bakhtiniano aplicado ao estudo da linguagem,
assimilados na dimensão da intertextualidade. Passado e presente, autores de mesma época e
de época distinta, obras literárias e não-literárias foram submetidos à análise comparativa
evocando do leitor as conexões implícitas, o preenchimento dos vazios interpretativos,
temporais ou de estilo, tornando concreta a possibilidade latente de percepção de fontes e
influências das estéticas anteriores nas obras atuais, ou mesmo oposição evidenciada na
relação dialógica.
O acesso à escolarização foi uma imposição no país após a LDBEN/ 96. O
contingente de jovens e adultos que chegou à escola com defasagem idade/série foi alto. Os
desafios atribuídos ao professor bem como às equipes técnicas não foram só de acolhimento a
esta população heterogênea que reivindicou o direito de escolarização e cidadania, mas
também os desafios do domínio teórico-metodológico do paradigma que elegeu a abordagem
lingüístico-comparativa que atribui ao leitor papel atuante.
Os PCNs surgiram neste contexto, apresentando as particularidades anunciadas no
capítulo. O PCNEF (1998) evidenciando abordagem textual dos gêneros e os PCNEM (
1999) fundamentação enunciativa, na perspectiva implícita da intersemiótica, de um currículo
em rede. A focalização dos gêneros tomou acepção discursiva e a Literatura integrou as
atividades de leitura.
Os desafios de execução de uma proposta dinâmica e significativa de estudo tanto
da linguagem quanto da literatura se juntaram aos desafios educacionais da transição
finissecular e da transição de paradigma educacional e sócio-histórico. A perspectiva sígnica
164
de estudo foi contemplada na proposição dos PCNEM a partir da concepção das Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias, em consonância com o desenvolvimento social. O século que
privilegiou a comunicação desenvolveu tecnologias que alteraram de maneira profunda a
recepção dos artefatos culturais e os modos de interação humana.
Desta maneira, novas linguagens foram estabelecendo intercâmbio com as
existentes, ampliando as possibilidades de fruição, contemplação e conhecimento da produção
cultural. Assim foi que o cinema e a música se popularizaram num ritmo acelerado. O
desenvolvimento de novas mídias, sobretudo a mídia digital possibilitou a simultaneidade
idealizada pelo homem moderno. Esses recursos em Educação têm papel fundamental na
dinamização da metodologia de ensino. O domínio teórico reclama aparato tecnológico para
execução prática. A possibilidade de inovação didática aberta pelos PCNEM, porém não
operacionalizada, se concretiza metodologicamente na proposição que modelizaremos. Foi
necessário explicitar o marco teórico que autoriza esta adaptação para fins didáticos.
Para que exista literatura é preciso que haja uma língua. E o que diferencia o uso
particular da língua, em sentido literário, do uso coletivo próprio da comunicação diária, da
interação natural do homem com seu semelhante é a função estética, o priom. O sistema
modelizante secundário, alvo da presente proposição se servirá de outras semióticas
incorporadas pelas mídias tecnológicas contemporâneas para potencializar o efeito da
Literatura.
O grupo Opoyaz (Sociedade de Petrogrado para o estudo da Linguagem Poética)
desenvolveu estudo detido sobre os procedimentos da arte, distinguindo as características da
linguagem cotidiana do estranhamento produzido na utilização do signo estético, no século
XX. Para este grupo, que partiu das especulações formalistas, o signo passa da concepção
instrumental arbitrária, saussuriana à concepção motivada, enquanto desvio de seu significado
usual, provocando novo sentido no contexto de seu uso particular e intencional.
165
A pós-modernidade desenvolveu, além do avanço considerável das mídias, a
performance em mega-eventos que resgatam a popularidade da arte. Percebemos que os
aglomerados coletivos que buscavam, no passado, as histórias, os mitos, se reúnem para
consumir, no presente, a música jovem, eclética, que aceita a identidade sertaneja, o rock
internacional, o pop e a balada. As característica locais têm gerado ritmos, danças e diversões
que utilizam circuitos de projeção sonora e visual síncrona. Filmes e DVDs performatizam
grandes narrativas tradicionais heróicas, novelas televisivas dramatizam enredos de romances
que seduzem os espectadores que se deixam encantar pelos sentidos. Trilhas sonoras e cenas
românticas ou picantes cativam o leitor que se não cultivava práticas de leitura solitária,
agora se rendeu ao poder das mídias contemporâneas que o hipnotizam, deixando-o sem ação.
Esta propriedade de inovação dos recursos tecnológicos precisa estar a serviço da
educação, na formação do jovem. Por este prisma, a abordagem intersemiótica se mostra
como perspectiva. O chamado ao raciocínio, à atenção e concentração mediante o apelo à
percepção sensorial e lógica pode estabelecer novas bases e eixos de sustentação de uma
proposta metodológica adequada para formação do jovem.
Com o propósito de estabelecer relações entre diferentes semióticas
apresentaremos critérios de descrição estética, a fim de que esta teoria tão antiga, porém
retomada por Peirce (sécXIX), assumida com caráter semiológico por Saussure (séc.XX) com
centralidade na linguagem verbal, seja realinhada e sirva à esfera escolar de maneira prática
com um corpo teórico renovado no terreno científico, após a metade do século XX.
A partir dos recursos aplicativos que a proposição de abordagem intersemiótica
possibilita, estabeleceremos um quadro de competências e habilidades
119
de apreciação
estética e, posteriormente, definiremos categorias e elementos distintivos dos diferentes
sistemas sígnicos.
119
elaboração a partir dos modelos SAEB e SARESP no anexo F.
166
3.2 ABORDAGEM INTERSEMIÓTICA - COMPETÊNCIAS E HABILIDADES,
OBJETOS ESTÉTICOS E ELEMENTOS DE ANÁLISE
Competência :
Compreender a produção estética enquanto instrumento de aprendizagem,
relacionando obras da cultura formal e da popular a outras áreas, procurando estabelecer
pontes entre a estrutura intrínseca e o contexto histórico, social e cultural e tornando o
conhecimento um processo que integra percepção, reconhecimento e cognição.
Habilidades 01
Identificar, analisar e comparar aspectos das produções estéticas.
02
Reconhecer os elementos específicos de cada semiótica.
03
Associar qualidades sensoriais e intelectuais como interpretantes dos
códigos estéticos.
04
Perceber a intersecção formal e semiósica dos sistemas sígnicos.
05
Articular os conteúdos de aprendizagem de maneira significativa,
estabelecendo pontos convergentes e divergentes entre códigos verbais
e não-verbais.
06
Associar os textos estéticos ao seu contexto de produção, resgatando a
história da obra, do autor e do período de sua manifestação.
07
Integrar interpretação interna e externa e produzir críticas verbais orais
e escritas da comparação entre as diferentes linguagens.
08
Relacionar os códigos estéticos com os veículos de comunicação: rádio,
televisão, livros, jornais, revistas, cinema, publicidade e informática.
09
Conhecer e manipular instrumentos e mídias que possibilitem a
articulação dos diferentes códigos, linguagens e suas tecnologias.
10
Tornar reais e concretas as situações de fruição e análise, articulando o
conhecimento estético aos conhecimentos sociais e científicos, numa
perspectiva dinâmica e de protagonismo.
11
Divulgar as produções que integram o patrimônio cultural de um
período por meio da explicitação de elementos do complexo de
convenções do estilo de época.
12
Convocar Literatura, pintura, música e cinema, enfim a arte de uma
época para resgatar o contexto cultural que integrou o surgimento de
manifestações estéticas.
13
Identificar formas tradicionais presentes no cenário contemporâneo,
relacionando-as ao contexto de desenvolvimento tecnológico e
econômico com suas novas exigências.
14
Contextualizar, por meio dos filmes, os modos de vida nos diferentes
períodos históricos, identificando as transformações ocorridas nas
produções estéticas, a partir dos modelos econômicos.
15
Perceber a arte como modo de expressão da experiência humana nos
diferentes contextos, explicitando os códigos de época e suas
decorrências sócio-culturais.
16
Valorizar a Literatura, a música, a pintura e o cinema como fenômenos
estéticos construídos culturalmente, que explicitam as perspectivas,
experiências e valores sociais das diferentes épocas.
167
17
Compreender os processos de criação e divulgação cultural no século
XXI, estabelecendo intercâmbio entre produção estética e tecnológica.
18
Produzir trabalhos estéticos para possibilitar a manifestação auto-
expressiva bem como a capacidade de interpretabilidade e de produção
de sentidos do jovem.
19
Transcodificar a experiência estética revelando as isotopias
20
Concluir as análises pela transcodificação verbal escrita.
OBJETOS ESTÉTICOS DE CONHECIMENTO
a) Poema/ Prosa (obra literária) (semiótica verbal)
b) Pintura/ Ilustração/ Desenho/ Objetos industriais (semiótica visual)
c) Música (instrumental/ vocal/ MPB) (semiótica verbi-vocal)
d) Filme (vídeo/cinema) ( semiótica verbi-visual)
CATEGORIAS DE ANÁLISE DA ABORDAGEM INTERSEMIÓTICA
TRAÇOS DISTINTIVOS
Obra literária Obra de Arte
( Pintura)
Música
Filme
Elementos Intrínsecos
Rima
Métrica
Ritmo
Estruturas poéticas
Tempo/Espaço
Narração
Técnicas narrativas
Personagens
Focalização
Código retórico
Descrição
Efeito estético
Estranhamento
Imagens
Ponto de Vista
Perspectiva
Clima
Elementos Extrínsecos
Contextualização
Elementos Intrínsecos
Cor
Linha
Ponto
Plano
Luz
Sombra
Contraste
Volume
Espaço
Configuração/Forma
Simetria
Composição
Movimento
Ritmo
Clima
Imagens
Textura
Variedade/Unidade
Dinâmica
Ponto de vista
Perspectiva
Elementos Extrínsecos
Contextualização
Elementos Intrínsecos
Ritmo
Cadência
Movimento
Tempo
Voz
Tonalidade
Harmonia
Instrumentos
Efeitos
Emoções que evoca
Imagens
Clima
Dinâmica
Ponto de Vista
Perspectiva
Elementos Extrínsecos
Contextualização
Elementos Intrínsecos
Cenografia
Indumentária
Iluminação
Sonoplastia
Encenação
Arquitetura cênica
Figurino
Adereços
Maquiagem
Imagens
Ponto de Vista
Tempo/Espaço
Clima
Dinâmica
Perspectiva
Elementos Extrínsecos
Contextualização
168
3.2.1 PROPOSIÇÃO
Para operacionalizar a proposição de abordagem intersemiótica, selecionamos as
seguintes produções estéticas nas diferentes semióticas:
1- A canção popular “Construção”, de Chico Buarque de Holanda, 1971.
2- A tela “Operários” de Tarsila do Amaral, 1933.
3- O poema “Tragédia Brasileira ”, de Manuel Bandeira, 1933
4- O filme “Tempos Modernos ”, de Charles Chaplin, 1936
À guisa de investigar nas diferentes semióticas a reiteração dos topos/topoi de uma
época numa nova acepção de isotopia, levantamos traços distintivos nas diferentes formas de
representação, procurando estabelecer uma série de capacidades não apreendidas
espontaneamente, mas que requerem especificação de critérios e exposição da metodologia,
partindo, como base, da isotopia semiológica segundo Greimas
120
.
3.2.1.2) Natureza do material
a) Tipologia dentro do gênero (Estético)
Canção- semiótica áudio-verbal
Poema – semiótica verbal
Pintura – semiótica visual
Filme – semiótica audio-verbi-visual
A seleção procurou possibilitar a diversidade de gênero/tipo; diversidade de
contextos sociais de uso (TV, rádio, literatura, artes plásticas, cinema) bem como diversidade
do contexto cultural nacional e internacional.
b) Suportes originais
Canção – disco ou CD (Compact Disc) (natureza auditiva)
Poema – livro (natureza verbal)
Filme DVD (Digital Video Disc) ou VHS (Video Home System) (natureza visual com
fundo auditivo, imagem em movimento)
Obra de arte em pintura – tela (natureza visual, imagem sem movimento)
120
Cf Greimas, 1976, p. 128.
169
c) Temática
Segundo Platão; Fiorin (1998) os textos admitem vários planos de leitura, porém o
leitor não lhes pode atribuir sentido livremente; deve buscar elementos que possibilitem novos
planos de significação. A presente proposição, superando o modelo verbal, orienta a projeção
do plano de um sistema semiótico no outro, por meio da busca de um conector semiósico,
revelando traços de unidade. Na acepção que assumimos, com diversas modalidades de
representação, é necessário determinar não um desencadeador de leituras mas
relacionadores_ as palavras, sons ou traços que desencadeiam um plano de leitura
intersemiótica, não evidente na superficialidade compositiva das obras.
d) autoria
A diversidade no material selecionado para análise intersemiótica procurou retratar
a Era da Industrialização e do trabalho automatizado. Os diferentes autores foram
inegavelmente representantes de sua época e de seu gênero . Chico B. de Holanda na MPB de
nossa época, Tarsila do Amaral, nome decisivo na pintura de nosso século; Manuel Bandeira,
poeta expressivo do Modernismo brasileiro e o filme de Charles Chaplin, sátira norte-
americana ao avanço industrial.
3.2.1.3 ENFOQUE METODOLÓGICO: etapas de execução da intersemiose
A seleção possibilita orientação para a construção de conceitos e regras de
operacionalização investigativa da semiótica, contribuindo para o desenvolvimento das
habilidades de:
a) observação;
b) análise
c) comparação e estabelecimento de relações entre as diferentes semióticas;
d) generalização (estabelecimento de regras gerais de funcionamento do
fenômeno estético) a partir do levantamento de traços que permitem formar um
topos;
e) particularização (explicitação de elementos específicos de cada semiótica) no
estabelecimento do topos);
f) e) assimilação do procedimento comparativo
170
A) ROTEIRO DE ANÁLISE SEMIÓTICA DA CANÇÃO
1- Ouvir e cantar a canção “Construção”, da Música Popular Brasileira, de autoria de
Chico Buarque de Holanda (1971), ativando a percepção auditiva;
2- Proceder análise detida dos aspectos sonoros;
3- Identificar o ritmo, os instrumentos musicais bem como os efeitos produzidos a partir
da execução da canção;
4- Perceber a utilização de determinados instrumentos associados à mensagem expressa;
5- Perceber mudanças e alterações de ritmo e os efeitos alcançados;
6- Contextualizar o tipo de música à história da música brasileira;
7- Contextualizar a canção em seu período histórico;
8- Contextualizar a canção na produção do autor;
9- Contextualizar o autor no cenário nacional;
10- Deter-se nos aspectos lingüísticos semântico-discursivos; semiósicos
11- Pesquisar os efeitos semântico-discursivos como conseqüência do arranjo estético;
12- Explicitar o procedimento de composição da obra, por meio da investigação da
correlação forma/conteúdo;
13- Observar o plano de expressão como conteúdo estético que revela a poiésis do autor;
14- Desvendar a construção lingüística paralelística;
15- Desvendar a construção verbal/musical paralelística, identificando os instrumentos e
sons que, articulados às palavras, produzem o sentido intencional de festa, quando
enuncia a palavra sábado; ou de tragicidade quando enuncia o vocábulo “morte
atrapalhando o tráfego”;
16- Transcodificar para a linguagem dramática reproduzindo as cenas ao vivo.
B) ROTEIRO DE ANÁLISE SEMIÓTICA DA PINTURA
1- Contemplar réplicas da pintura em tela “Operários”, de Tarsila do Amaral (1933)
(reprodução em papel, transparência, cartaz, software ou internet);
2- Proceder à análise detida dos aspectos pictóricos;
3- Identificar os elementos específicos desta semiótica: cor, luz/sombra, ponto, linha,
plano, simetria;
4- Perceber a utilização de determinados traços e linhas associados à expressão estética;
171
5- Perceber mudanças e alterações de cores, linhas, fundo, sombra/ convenção do plano
de simetria, observando os efeitos projetados;
6- Contextualizar o tipo de imagem ao contexto histórico-social;
7- Contextualizar a tela em seu período histórico;
8- Contextualizar a tela na produção da autora;
9- Contextualizar a autora no cenário nacional;
10- Deter-se nos aspectos formais;
11- Pesquisar os efeitos da disposição imagética como conseqüência do arranjo estético;
12- Explicitar o procedimento de composição da obra, por meio da investigação da
correlação forma/conteúdo;
13- Observar o plano de expressão como conteúdo estético;
14- Desvendar o efeito da construção visual;
15- Desvendar a construção visual buscando pontos em comum com a canção
“Construção”;
16- Transcodificar para a linguagem dramática (re)produzindo as cenas ao vivo;
17- Montar um retrato vivo da cena, por meio do movimento dos corpos dos jovens
alunos;
18- Identificar o topos da inversão que ocorre tanto na canção quanto na tela (o efeito da
mensagem é oposto à própria construção) pois retrata a desconstrução do sujeito
devido à exploração do trabalho- isotopia, reiteração do traço semiósico nos diferentes
sistemas.
C) ROTEIRO DE ANÁLISE SEMIÓTICA DA LITERATURA
1- Leitura do poema Tragédia Brasileira, de Manuel Bandeira;
2- Leitura literal;
3- Leitura contextual;
4- Localização dos termos relacionadores de leitura;abordagem interna;
5- Localização dos termos desencadeadores de leitura; abordagem externa;
6- Consideração das partes do poema que encaminham a coerência com o título;
7- Reconhecimento da insuficiência da leitura literal para abarcar a intencionalidade do
poema;
8- Retomada dos elementos que encaminham a leitura contextual (pistas, datas, marcas
lingüísticas);
172
9- Investigação dos aspectos históricos, políticos, econômicos, sociais que ocorreram na
época da produção do poema (interdisciplinaridade);
10- Investigação dos aspectos estéticos (estilo de Bandeira [ prosa ou poesia]; linguagem),
poiésis do autor;
11- Comparação com o estilo de época da produção do poema;
12- Investigação dos aspectos (do Modernismo) que o poeta atualizou na produção do
poema;
13- Identificação do topos, relacionando ao título “ Tragédia Brasileira”;
14- Comparação com o topos da canção de Chico Buarque;
15- Localização do topos da tragédia pessoal;
16- Comparação com o topos da tela de Tarsila do Amaral;
17- Localização do topos da tragédia dos operários (coletiva);
18- Interpretação da Tragédia Brasileira;
19- Reconhecimento dos topoi de plurissignificação da palavra tragédia;
20- Contextualização da realidade brasileira.
D) ROTEIRO DE ANÁLISE SEMIÓTICA DO FILME
1- Fruição do filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin;
2- Leitura do primeiro episódio – da industrialização;
3- Interpretação do efeito da automatização na era da industrialização;
4- Observação do figurino, cenário e relação com a coerência do topos temático;
5- Observação da maquiagem, dos efeitos de iluminação e arquitetura cênica;
6- Identificação do topos da tragédia na vida do personagem no filme;
7- Comparação com a tragédia do operariado no início do século;
8- Investigação dos aspectos históricos, políticos, econômicos, sociais que ocorreram na
época da produção do filme (interdisciplinaridade);
9- Identificação do topos da desconstrução do sujeito nas diferentes semióticas;
10- Comparação do contexto norte-americano com o contexto brasileiro;
11- Identificação das convergências e divergências;
12- Tratamento do conceito de globalização versus localização, ao comparar o contexto
norte-americano ao brasileiro;
13- Compreender o filme como fenômeno social construído culturalmente;
14- Explicitar perspectivas e valores explícitos em relação à época;
173
15- Explicitar perspectivas e valores implícitos em relação à época;
16- Investigar os aspectos estéticos do estilo de Charles Chaplin;
17- Ampliar a pesquisa sobre o cinema na época;
18- Pesquisar sobre o cinema brasileiro na época (1936);
19- Pesquisar sobre o cinema brasileiro no presente;
20- Produzir uma interpretação global de todas as semióticas (intersemiose) identificando
os topoi e codificando-os na linguagem verbal;
3.3 APLICAÇÃO DA PROPOSIÇÃO METODOLÓGICA DE ABORDAGEM
INTERSEMIÓTICA
A) 1- INTERPRETAÇÃO DA SEMIÓTICA DA CANÇÃO
O Paralelismo Fono-Sintático-Semântico
em “Construção” de Chico Buarque de Holanda
121
Construção
122
-Chico Buarque de Holanda
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
121
Análise parcial de nossa autoria, publicada no III COLL (Conferências Lingüísticas e Literárias) da UniJales,
2002; sofreu pequenas alterações nesta aplicação.
122
A distribuição dos versos da canção é variável conforme as fontes de pesquisa. Mantivemos a disposição
apresentada por BOLLE (1980, p. 28) na coleção Literatura Comentada, Chico B. de Hollanda (sic).
174
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
A presente análise tem a intenção de mostrar à luz da Teoria dos Conjuntos, filha
do formalismo russo, do ponto de vista da produção estética, o procedimento adotado pelo
autor na criação da letra da canção e, por outro lado, tem por escopo observar a experiência
estética do leitor/ouvinte, que se processa em momentos sucessivos: a audição, a leitura
compreensiva, a retrospectiva e a leitura histórica. Pretendemos realizar a análise de cada
semiótica em particular, e, posteriormente, a exegese intersemiótica, mediante a tradução
verbal.
A proposta metodológica de Jauss (1994) considera três fases operatórias no
processo de recepção de textos ou de qualquer obra que demande atividade interpretativa: o
horizonte progressivo da experiência estética; o horizonte retrospectivo da compreensão
interpretativa e o horizonte da leitura reconstrutiva. O horizonte da compreensão
175
interpretativa só tem início após a conclusão da primeira fase da leitura, pois, ao final desta, o
leitor passa a reconhecer a forma do texto. Após essa compreensão, é preciso voltar ao menos
duas vezes para perceber outros detalhes nos diferentes níveis. Segundo a Estética da
Recepção, baseada na Hermenêutica e na metodologia de Gadamer, é necessário procurar
gradativamente aspectos de sentido que ainda ficaram em aberto na coerência de conjunto
significativo do texto.
Ao ler Construção” procuraremos demonstrar o processo de construção do
sentido, na obstinação da forma, pela qual a criação se torna atividade flutuante, descrevendo
o percurso das diferentes etapas de leitura. A percepção estética do processo de significação
da canção vai descrevendo círculos, numa espiral que capta o sentido em expressão potencial,
insólita e surpreendente. Esta foi a sensação que tivemos ao perceber o arranjo estético
traçado por Buarque na cadeia de sentido criada.
Acompanhando a música e a leitura do texto, simultaneamente, percebemos a
execução em três etapas. Na primeira vez, a letra se desenvolve naturalmente, ao longo das
estrofes. Na segunda, percebemos variações de distribuição: o primeiro verso termina com a
palavra final do segundo; o segundo com a de outros subsequentes, perfazendo deslizamentos
na estrofe, com permutas e substituições por vocábulos novos. Na terceira vez, as alterações
são mais radicais, a queda é mais abrupta e a variação entre as palavras é mais acentuada.
Considerando o percurso do sentido, na perspectiva greimasiana, o tema da queda
é visível nos níveis de construção da letra, revelando a isotopia em forma de paralelismo. Este
arranjo foi a artimanha fundamental da criação do texto, espaço de contemplação e percepção
da forma, requerendo do leitor operação prática, que, essencialmente, leva ao conteúdo. A
consciência estrutural permite (re)construir a consciência semiósica.
No nível fônico, percebemos a disposição regular final das proparoxítonas em
todos os versos da canção, expediente que torna perceptível, então, que a primeira queda
176
situa-se neste plano, a partir da seleção intencional dos vocábulos, sinalizando a queda
gradativa da tônica para a subtônica e para a átona final primeiro nível da isotopia com as
demais semióticas que serão analisadas e, também, primeiro traço da coerência interna dos
diversos níveis em relação de paralelismo.
No plano sintático, observamos a mesma vertigem no nível da frase, que declina
do primeiro verso para o segundo, causando um desequilíbrio no conjunto das estrofes, com
inversões e interpolações de uma para outra. A alteração parte do 1
º
verso da 1
ª
estrofe para o
2
º
da 2
ª
execução do conjunto; e, posteriormente, os versos são organizados em permuta,
alternando posições. A transposição do real para o imaginário, no plano formal, se processa,
por assim dizer, no desequilíbrio, marca explícita do procedimento de construção da letra.
A simulação ou representação formal da vertigem é intencional, artimanha da
composição estética.Vemos os signos se moverem no campo da significação ao procurar, em
perspectiva, o sentido. um chamado do texto para a percepção de sua forte dinâmica
estrutural. A afinidade e dessemelhança das combinações gera o procedimento criativo.
O nível semântico narra a construção de um prédio em oposição à desconstrução
do sujeito que, primeiro se multiplica e se divide, na construção da família, sendo, porém,
massacrado pelo cotidiano. Torna-se autômato, sente-se máquina e se desespiritualiza até o
final da canção, como objeto: um pacote flácido, tímido e bêbado.
Na terceira etapa de leitura, percebemos a verticalidade simbólica na lei da
gravidade, mediante a aproximação vertiginosa do solo, numa intensidade dramaticamente
acentuada, formalmente sintetizada na estrofe final, que resume versos de diferentes estâncias,
numa velocidade incontrolável e finaliza tragicamente, sem espaço para o sonho, para a
liberdade, evidente nos pontos axiais céu /chão.
uma forte dinâmica da relação vertical sujeito/objeto(operários/construção) e
do eixo vida/morte. A relação é analógica; a forma se parece com o conteúdo como se ela
177
fosse, em suma, produzida por ele. Nisto percebemos a estreita aproximação
significante/significado. O movimento da forma transborda em poder de conteúdo. A
desumanização do sujeito é o topos marcante que se configura em todas as semióticas postas
em comparação, conforme veremos no processo significativo de intersemiose.
O sujeito ama como se fosse a última vez, como se fosse o último homem, como
se fosse máquina. Beija sua mulher como se fosse a última, como se fosse a única, como se
fosse lógico. Na terceira vez não mais filhos, não mais rua e não sobe mais a
construção. Apenas ergue quatro paredes flácidas, que na primeira vez eram sólidas e, na
segunda, mágicas. Seu único instrumento de participação, de repúdio, é a própria morte.
Percebemos que o texto parte da dimensão real para a do imaginário, do espaço
humano para o de coisa, num privilégio maciço de semelhança com o objeto, na relação
solitária do sujeito estereotipado que senta para descansar como se fosse sábado, príncipe,
como se fosse pássaro; flutua no ar como se fosse pássaro, sábado, príncipe; outro
deslizamento no nível morfossintático.Vive a construção não como alicerce mas como
abandono de si mesmo, como se construísse sua própria sepultura.
O paralelismo fono-sintático-semântico_ topos interno_ fica evidente nos três
percursos da letra. A isotopia se revela no deslocamento gradativo de um verso para outro, de
uma estrofe para outra, do sujeito para objeto. O dio e a desumanização são a causa da
tragédia configurada na canção-poema narrativo-dramática. O primeiro nível dispõe o
significado em extensão, os demais em perspectiva, em cadeia, num arranjo de partes móveis,
substitutivas, cuja combinação não escapa a novos sentidos.
A percepção desse arranjo de elementos descontínuos, deslizantes e móveis
constitui o próprio espetáculo da recepção, que nos permite o espetáculo enquanto música,
sistema sígnico auditivo e enquanto texto literário, sistema sígnico verbal.
178
Destacamos que esta eficácia estética o autoriza a se configurar e registrar-se na
categoria de poema, pois revela também procedimento estético na disposição do signo verbal.
A imaginação formal implica atenção aguda à variação de elementos recorrentes que tecem
um exercício de estrutura. no desvelamento do percurso de sentido duas operações típicas:
arranjo e desmontagem, decomposição e recomposição.
A leitura reconstrutiva procura as perguntas para as quais o texto foi uma resposta
na época. Isto significa interpretá-lo enquanto resposta para expectativas formais e de sentido,
decorrentes de seu posicionamento diante do mundo, exercício de abordagem extrínseca.
Segundo Bolle (1980), o lançamento do disco “Construção” foi em 1971, década
ainda controlada pela censura do governo Médici, com crítica social intensa na obra de Chico,
que passou por inúmeros confrontos advindos da política repressiva. Articulando a
“linguagem da fresta”, com a voz na espreita, aborda temas de jornal e de relevância político-
econômica no Brasil, que lhe rendem homenagens como a do Sindicato dos Trabalhadores da
Construção Civil, em Belo Horizonte: uma pá de prata num tijolo de jacarandá, que os
pedreiros lhe ofertaram “com os olhos embotados de cimento e lágrima”, estabelecendo sua
consagração como artista popular.
Foi nosso propósito, com esta análise parcial, situar o efeito condicionado pela
canção Construção, que transmite orientações prévias, mas que em seu horizonte implícito
enfatiza duas espécies de concretização: a de cunho auditivo e a de cunho literário; e, por isso,
de cunho intersemiótico, pois para realização de seu sentido, capta forças da semiótica
auditiva, materializadas no efeito estético da linguagem verbal, sistematicamente distribuídas
nos conjuntos semiósicos intraliterário e extraliterário, originários da experiência existencial.
Produtor da canção e leitor, sob uma ótica comum, definida por uma imaginação
movediça, na sucessão articulada de certo número de operações mentais, constróem o objeto
artístico, de modo a evidenciar as regras de seu funcionamento, num simulacro dirigido do
179
sentido estático ao dinâmico. O artista potencializou o sentido em níveis; é necessário que o
leitor o decomponha para recompô-lo e percebê-lo esteticamente. Recompõe-se o objeto para
fazer aparecer algumas funções.
Desmontar a canção Construção e recompô-la possibilita encontrar nela
fragmentos móveis cuja situação diferencial gera novos sentidos, o que a torna polissêmica e
de efeito estético indiscutível, permitindo que a mudança de elementos desvele a mudança de
conjunto, inclusive permitindo que da condição de canção o texto passe a ser considerado
poema, devido ao seu efeito por ordem da escrita e da disposição gráfica deslizante nos versos
e estrofes. A primeira desmontagem produz o primeiro estado disperso, porém, as unidades,
que não são distribuídas de modo aleatório, ao serem redistribuídas, compõem um conjunto
inusitado na submissão aos constrangimentos regulares.
Na percepção estética, o que está em jogo é a apreensão da técnica, o combate ao
acaso; por isso, a recorrência das unidades têm valor insólito. Pela retomada e associações o
poema aparece (re) construído, dotado de sentido. Perceber na ordem formal a delicadeza do
sentido é decifrar a arte, aprender suas regras, por meio do olhar indagador, investigativo e
curioso. Ao submeter a canção à semiose, sua linguagem-objeto de natureza sonora,
subordinada à investigação, revela a consciência artesanal da fabricação estética na substância
escrita. A originalidade da variação formal é o próprio fundamento da Literatura, seu
procedimento. A partir desta crítica, a canção Construção” é ponto de partida para
localização do topos, ou seja, das isotopias entendidas como conjunto de topoi que
interconectam semióticas verbais e não-verbais, definindo o estilo de um tempo. A primeira
delas será com a tela “Operários”, de Tarsila do Amaral, que passamos a demonstrar.
180
B) INTERPRETAÇÃO DA SEMIÓTICA DA PINTURA
Esta análise parcial tem por objetivo formalizar a leitura comparativa com a
semiótica da canção, estabelecendo relações de convergência, por meio da isotopia temática, e
de divergência, por meio da identificação dos traços formais específicos de cada semiótica.
Busca concretizar a proposta de abordagem intersemiótica da literatura, partindo de diferentes
sistemas de representação, com a finalidade de ativar a percepção dos adolescentes e jovens
que freqüentam a Educação Básica e que não têm manifestado habilidades satisfatórias em
leitura, especialmente na interpretação do texto estético.
123
Após ouvir a canção Construção (1971) e interpretá-la, reconhecendo o
procedimento formal, sugerimos a contemplação da tela Operários, de Tarsila do Amaral,
produzida em 1933, buscando pontos que permitam comparações entre os dois sistemas de
linguagem.
Partindo do vocábulo operários, é possível visualizar que a tela simula uma
construção não com tijolos, mas com pessoas figurativizadas na imagem que retrata um
aglomerado humano em progressão crescente, em analogia com uma construção ascendente,
como o prédio que o operário da canção construía, erguendo paredes, a princípio, sólidas e
123
Imagem capturada no site www.google.imagens, cf referência.
181
depois, mágicas. No caleidoscópio hermenêutico, nossa memória capta, por inversão, a
imagem da construção na tela de Tarsila e a imagem mental do operário, na canção de Chico,
numa projeção prismática, espelhada. Por meio da percepção das imagens deslocadas de seu
topos, e(x)tendemos
124
o sentido por ação cognitiva, do raciocínio lógico-comparativo.
No plano inferior, o quadro se compõe de rostos dispostos lado a lado, em posição
frontal para o observador, à semelhança do assentamento de tijolos de uma parede, que se
avolumam sistematicamente, em diagonal, ocupando cerca de 3/4 do espaço da tela, deixando
entrever apenas seis torres cilíndricas representando as chaminés de uma fábrica, em segundo
plano e, ao fundo, prédios que retratam o avanço da civilização no período.
As formas circulares são aparentemente idênticas, evidenciando apenas a distinção
de cores características da diversidade racial brasileira e da imigração ocorrida no país no
início do século, alterando nossa paisagem. Os rostos são isentos de intenção, revelando um
anonimato ilustrativo da padronização do homem que serviu de mão-de-obra nas fábricas e
indústrias em desenvolvimento tanto no Brasil quanto no mundo. Representam uma classe: o
operariado, coerente com o título da tela. Os elementos se ordenam geometricamente,
revelando influências cubistas na composição estética do painel, que expõe, em primeiro
plano a dimensão (des)humana, deixando entrever no pano de fundo o progresso econômico
que dominou o espaço e controlou o tempo do sujeito.
No eixo de combinação, as fisionomias reiteram um rculo de cavidade côncava
inferior, traço repetido no formato curvilíneo das cabeças, olhos e bocas, que descrevem um
arco disfórico nas fisionomias constantes, tediosas e ausentes de expectativa. As chaminés são
cinza, assim como a fumaça, denunciando ausência de alegria, mas movimento de produção;
os prédios são brancos e a porção de céu azul apresenta-se apenas no quarto plano, distante da
perspectiva de organização assimétrica da imagem. É possível observar o paralelismo das
124
Com o sentido de extensão. O sentido de construção se estende à tela e o de operário se estende à canção, por
inversão, relação que exige extensão do sentido de uma obra à outra, em co-projeção.
182
formas e linhas nas fileiras humanas, nas torres das chaminés e nas janelas dos prédios.
uma regularidade expressa na composição, porém, no eixo de seleção, a irregularidade se
manifesta no empilhamento dos operários, sugerindo a massificação do trabalho.
Nádia Batella Gotlib
125
afirmou que não figuras humanas anônimas estão
presentes na cena; também rostos famosos como o de Mário de Andrade e Oswald de
Andrade compõem a imagem surreal, levitando suspensos no cenário do desenvolvimento.
Intelectuais e multidão denunciam aspectos sócio-históricos que a tela possibilita identificar, a
partir da abordagem interna, formal, expressa por linhas, cores, formas, pontos, planos e
perspectivas.
Quanto à abordagem externa, pesquisando o contexto histórico brasileiro de
produção, percebemos que o ano de 1933 foi marcado pela nova assembléia constituinte no
governo Vargas, que estabeleceu direitos aos cidadãos em leis trabalhistas, fixando horas de
trabalho e salário mínimo. A imagem registra o crescimento das metrópoles brasileiras,
especialmente São Paulo e o período registrou, no cenário mundial, os efeitos da primeira
guerra mundial bem como a industrialização, além da consolidação do Modernismo como
estética revolucionária, que problematizou nossa identidade antropofagicamente.
Os efeitos decorrentes da intencionalidade da pintora revelam um tom de denúncia
e oposição ao sistema capitalista, que explora a mão de obra do trabalhador. A regularidade
denuncia a ausência de liberdade, representada pela pirâmide que ilustra o sistema econômico
em cuja base é possível localizar imagem similar à figura do grito, tela produzida pelo
norueguês Munch, em 1893, porém, um grito contido, silenciado pelo poder capitalista, que
desumaniza o sujeito e o transforma em objeto de manipulação, sem vontade própria e sem
desejos, que se revelam apenas no plano simbólico, como o desejo do operário de
“Construção” que o sublima na dimensão do imaginário.
125
Cf.
site
revistaescola.abril.com.br
183
A percepção estética do processo pictórico de significação descreve linhas em
paralelo, captando o sentido em sua expressão potencial. A sensação que temos ao contemplar
a tela é de multiplicação acelerada, de progressão geométrica, perfazendo uma concentração,
um aglomerado que acentua o tema da desumanização. O procedimento formal realizado por
Tarsila se por inversão, assim como Buarque codificou esteticamente o sentido em
Construção. Em Operários, o aspecto visível não é a queda, mas o crescimento vertiginoso da
população, da cidade, da produção, ao contrário da figura humana, que permanece imóvel,
estática, massificada, revelando a degradação do sonho, da fantasia, negação da edificação
pelo trabalho. Sujeito e objeto são dispostos paralelamente, revelando isotopia com a canção,
onde operário e construção se manifestam por oposição.
A artimanha fundamental da criação da tela é perceptível na forma que, por
oposição, leva ao conteúdo. A consciência estrutural revelada passo a passo, tanto na
regularidade e paralelismo das formas quanto na montagem global do conjunto permite
interpretar a mensagem pictórica pela observação da seleção intencional das linhas, da
perspectiva, das cores, tonalidades e profundidade.
O primeiro nível da isotopia com a canção situa-se, então, no título da obra:
Operários. A primeira possibilidade de reiteração do traço semântico da canção se encontra
neste elemento conector. O signo da “Construção” se evidencia no primeiro plano da
imagem, de uma parede humana, compondo um desenho mágico, os olhos embotados
Outros níveis são desencadeados, gradativamente, a partir de elementos
visualizados no quadro, entretanto o desequilíbrio é marca explícita do procedimento de
construção assimétrica da imagem.Vemos as linhas denunciando o sentido em perspectiva, ao
estabelecer o campo da significação. um chamado da imagem para a percepção de sua
forte assimetria, como na canção.
184
O paralelismo e a dessemelhança das combinações gera o procedimento criativo.
A percepção do arranjo de elementos constitui o espetáculo da recepção do quadro, conforme
as leis específicas das artes visuais. Esta imaginação formal implica uma atenção específica
para com os elementos recorrentes que tecem um exercício de estrutura semiósica.
Com esta segunda análise parcial, procuramos situar o efeito condicionado pela
tela Operários, que possibilita orientações prévias, mas que em seu horizonte implícito
enfatiza duas espécies de concretização: a de cunho visual e a de cunho social, por meio dos
elementos relacionadores e desencadeadores de leitura. Artista e apreciador, sob uma ótica
comum, realizam operações mentais em sucessão articulada.
Com o objetivo de relacionar a mensagem da tela à da canção, num simulacro
dirigido do sentido estético ao social foi possível localizar o topos que possibilita estabelecer
a relação de isotopia entre a semiótica verbal e a não-verbal, numa intersecção entre as duas
linguagens: a da pintura e da música. A imagem visual dos operários recupera a imagem
mental da construção e as duas se entrecruzam, se interseccionam, permitindo o levantamento
de elementos convergentes e divergentes.
Passamos agora a estabelecer mais uma conexão: com a semiótica literária. O
poema “Tragédia Brasileira”, de Manuel Bandeira, neste simulacro, amplia e e(x)tende o
topos temático selecionado, formalizando a leitura comparativa entre a semiótica da canção,
da pintura e da literatura, no confronto das linguagens.
C) INTERPRETAÇÃO DA SEMIÓTICA DA LITERATURA

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa — prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança
empenhada e os dentes em petição de miséria.
185
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico,
dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso:
mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos,
Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez
no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a
com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
1933( Estrela da Manhã)
O poema Tragédia Brasileira, de Manuel Bandeira, foi publicado também em
1933, como a tela Operários, de Tarsila. É um poema em prosa que narra o drama passional
de Misael e Maria Elvira; ele funcionário da Fazenda e ela prostituída na Lapa. Conhecem-se
e Misael “tira” Maria Elvira da vida ( v, estrofe), arruma-lhe os dentes, monta-lhe casa e
tudo quanto ela necessita. Entretanto, logo que Maria Elvira se viu bonita arranjou
namorado. Este é o conflito que abala o cenário de equilíbrio narrado.
O expediente utilizado por Misael toda vez que Maria Elvira arranjava namorado
era mudar de casa, solução que, por sinal, se revela inútil. Os amantes mudaram dezoito
vezes. Viveram assim três anos até que, por fim, na rua da Constituição, Misael, privado de
sentidos, matou-a com seis tiros (5ª estrofe). Percebemos que a organização do poema se
em ritmo ternário: soco, tiro, facada; médico, dentista, manicura; dezoito lugares declarados.
O poema narra, aparentemente um drama passional. Na experiência da leitura
inicial, de superfície, chegamos a tomar partido, aderindo ao programa narrativo de
manipulação exercido por Misael, reconhecendo nele atributos humanitários, ao recolher
Maria Elvira e oportunizar-lhe condições dignas de pessoa; porém, percebemos elementos
desencadeadores de uma segunda leitura: a oposição namorado/amante é um deles. Por que
Misael é amante, quais as características de um amante? Sustenta materialmente, assentindo
186
um juízo de valor ético que atribui à relação cunho negativo, de traição, relação “proibida”,
pois que secundária, paralela.
Misael era amante e Maria Elvira arrumava namorados. O sentido da palavra
namorado revela uma ternura ausente na acepção do vocábulo amante, que por sua desinência
revela ação. O mesmo ocorre com a formação do vocábulo prostituída, que por sua sufixação
revela passividade, sujeição, por efeito do particípio. As sucessivas mudanças revelam
tentativa de dominação. O assassinato de Maria Elvira configura uma tragédia final, que
coerência ao título do poema, porém não é possível considerá-la “Tragédia Brasileira” apenas
por ser exemplar, ilustrativa de muitos casos de nossa realidade; o que estaria implícito no
sentido de tragédia? Por que Maria Elvira foi assassinada na rua da Constituição? A estrutura
de apelo do poema solicita explicação dos sentidos incompletos e dispersos.
Pesquisando historicamente, percebe-se que esta foi a época do governo Vargas
referida na interpretação da tela Operários. Maria Elvira representa, então, o povo e Misael,
funcionário da Fazenda, representa o poder, o agente que realiza a ação. Os crimes contra o
povo, ou melhor, os cidadãos são lesados em seus direitos, por meio de decretos,
regulamentações e leis que regem o funcionamento das relações sociais, comerciais, coletivas,
de trabalho, conjugais, registradas na Constituição.
A grande tragédia brasileira ocorreu em 19 de março de 1931 quando foi criada a
Lei de Sindicalização, ou seja, os estatutos dos sindicatos que, a partir daquela medida,
deveriam ser aprovados pelo ministério do Trabalho. Vargas assumia o controle do
movimento operário nos moldes da Carta del Lavoro de Benito Mussolini na Itália,
objetivando, com a política trabalhista favorável aos operários, conquistar o apoio das massas
populares ao governo. Tal política paternalista buscava anular as influências da esquerda,
transformando o operariado num setor sob seu controle, para ser usado pelo jogo do poder.
Essa política ocorreu à mesma época na Argentina, com Juan Domingo Perón e no México,
187
com Lázaro Cárdenas. Em Maio de 1933, Vargas concedeu a realização das eleições para a
Assembléia Constituinte. A nova Constituição entrou em vigor em 16 de julho de 1934. O
Congresso realizou, então, eleições indiretas e Vargas seguiu no poder como presidente
constitucional.
Maria Elvira mantém o topos de paciente durante todo o poema e foi encontrada
em decúbito dorsal, na linguagem policial do mundo do crime, vestida de organdi azul,
simbolizando a pureza das timas, em estreita relação com o manto que cobre a virgem mãe
de Deus. Portanto, o desfecho nos permite realizar inferências, reconhecendo em Maria Elvira
a condição do povo ultrajado, manipulado que, por sujeição, aceita contratos e uma forma de
relação paternalista e controladora que o priva de liberdade e da condição de sujeito,
desumaniza, mantendo a estrutura de poder e de exploração. Maria Elvira, tratada como
objeto, confere ao jogo interpretativo de comparação das diferentes semióticas o topos da
desumanização, que se estabiliza por extensão do significado.
Tragédia Brasileira e(x)tende o significado da canção Construção e da tela
Operários por contingência das tragédias esteticamente configuradas nas semióticas da
canção e da pintura. É possível dimensionar na Literatura a “Tragédia Brasileira” coletiva,
não apenas de Misael e Maria Elvira, mas também por meio da imagem da tela e do operário.
Que protagoniza a canção.A amplitude que alcança o vocábulo tragédia abarca o drama do
sujeito inscrito em Construção, bem como dos sujeitos coletivos representados na tela.
Ao comparar essas diferentes linguagens, é possível inscrevê-las num sistema de
convenções estéticas: o Modernismo, estilo que propagou a liberdade formal, conforme se
pôde verificar tanto no poema de Bandeira, que destaca temas do cotidiano e da impulsão
lírica oriunda do ordinário e comum, quanto na tela de Tarsila, que tematiza os dramas de seu
tempo e de seu povo, nossa identidade. É possível também situar as questões do século XX: a
história, o contexto cultural, social, ético, político e econômico. Essa forma de desrealização
188
em arte compõe o que Candido denomina sistema, no sentido de não serem manifestações
isoladas ou particulares, mas de pertencerem a um complexo que constitui um estilo, um
zeitgeist que redefinimos a partir do levantamento das isotopias.
A eficácia estética tanto do poema quanto da tela ou da canção de Chico
constituem a propriedade de desvio da utilização estereotipada da linguagem. As criações
apresentaram uma singularidade que as dotou de qualidade superior à manifestação
comunicativa usual, se diferenciando por seu priom, seu procedimento estético. A
particularidade de seu efeito estético as inscreve na esfera da arte, que mantém, em comum,
convenções próprias dos períodos, os topoi, tornando-se extensões materiais e simbólicas
destes mesmos períodos.
E(x)tendendo as características locais, nacionais ao espírito global de nosso século,
comparamos uma produção semiótica norte-americana, o filme Tempos Modernos, buscando
elementos que integram a isotopia levantada nas semióticas analisadas. Contemplando a
linguagem do cinema, procuramos sensibilizar a escola para a valorização das mídias
contemporâneas enquanto recurso interdisciplinar.
D) INTERPRETAÇÃO DA SEMIÓTICA DO CINEMA
O filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, focaliza o coditiano dos
trabalhadores da indústria no início do século XX. É uma sátira norte-americana à
automatização. O sujeito, tragado pelas engrenagens é submetido ao poder dos empresários e
do sistema capitalista, adquirindo tiques, retrações nervosas e bloqueios psicológicos,
advindos do estresse da repetição de movimentos no trabalho. A única saída do personagem é
a subversão, a transgressão por meio da simulação de loucura, que, na figura de Charles
Chaplin transborda em arte. Os passos e movimentos de dança são freqüentes nas situações
mais desesperadoras a que o operário é submetido. O sujeito é pacífico, a princípio
189
equilibrado, porém o cotidiano sem horizontes o desajusta, o desumaniza, obrigando-o a
simular um desequilíbrio que lhe permite a fuga da condição de manipulação.
126
127
126
Cf CHAPLIN, imagem Tempos Modernos capturada no site www.google.imagens.
127
Idem.
190
O personagem de Tempos Modernos é um operário da indústria de automatização
que deve acompanhar o ritmo das máquinas na montagem de peças. Recusa- se a perpetuar o
esforço sobre-humano de repetir movimentos o dia todo, todas as semanas e meses, sem
possibilidade de criar, sem liberdade, dominado pelo ritmo imposto pelo administrador
capitalista que, visando ao lucro, submete os operários à aceleração da produção, simulada
pela velocidade das máquinas. Opta por transformar-se, então, em vagabundo. É preso e suas
tragédias pessoais ocorrem em seqüência, revelando uma degradação.
A arquitetura cênica do filme situa o conflito no movimento da máquina de
montagem em que os operários, enfileirados completam o serviço automatizado. O clímax do
enredo configura a sátira quando o personagem é selecionado por uma equipe de vendas para
demonstração da modernidade da máquina de alimentação. Nos poucos minutos de liberdade
de movimento dos braços, o sujeito é impedido de degustar calmamente seu almoço,
recebendo a refeição por intermédio de peças e alavancas auto-motoras que descarregam em
sua boca sopas, líquidos e até um equipamento giratório que lhe possibilita serrar uma espiga
de milho sem movimento da mandíbula, sem mastigação.
Os alimentos são despejados em sua “goela” e posteriormente, a máquina aciona
um dispositivo que funciona como guardanapo, limpando-lhe a boca. O aparelho simula uma
cadeira de dentista, onde os braços são inutilizados e a cabeça é encaixada no sistema que
serve a alimentação, imagem que suscita inferências. O operário, tragado pela engrenagem
128
,
retorna e, por subversão, destrói os sistemas de controle da fábrica, queimando as ignições e
acelerando ao máximo a potência dos motores.
Montado com a técnica do cinema mudo, o filme é em branco e preto porém
composto por episódios em que Charles Chaplin introduziu as primeiras falas e sons nas
cenas. A indumentária é simples: uniformes e modelos típicos do american way of life do
128
cf imagem anterior.
191
início do século, retratando o capitalismo, a expansão econômica, o lucro e o
desenvolvimento. Os adereços e a maquiagem são típicos do estilo que Chaplin criou para
representar o sujeito simples, lírico e poético, que sonha com um mundo de igualdade para
realizar as fantasias de sonhos simples e realizáveis, mas em que a liberdade é condição de
sobrevivência.
É possível reconhecer em Tempos Modernos o topos da desumanização, da
domesticação do sujeito, que, impedido de criar, transformado em mão-de-obra, serviçal,
oferece sua força de trabalho à construção de um sistema que despersonaliza, padroniza, com
a finalidade de manter a hegemonia econômica nas mãos de poucos. Enquanto a massa
trabalhadora desempenha, sem juízo crítico, os serviços que mantêm a desigualdade
econômica, humana e reproduz os sistemas injustos de distribuição de bens, as hierarquias e o
poder se estabelecem, expandido as fronteiras sobre outras nações. Assim, o leitor deve
identificar que a desumanização do sujeito ocorreu por ação dos sistemas econômicos que
multiplicaram a produção de bens e utensílios à custa da dignidade. Fica patente a relação
globalização/localização no processo comparativo dos modos de vida brasileiro e americano.
Como síntese final da relação isotópica é possível analisar o comportamento de
uma geração, de um tempo e de vários espaços, especialmente das grandes metrópoles, que
escondem no anonimato dos sujeitos, seus dramas existenciais e sua fragilidade, submetidos
que estão à realidade e seus processos de organização. Por este prisma, a experiência estética
nas diferentes semióticas permite a compreensão do mundo e das relações de produção, a
contextualização sócio-histórica e a manifestação expressiva nas diferentes linguagens,
possibilitando a interdisciplinaridade.
3.4 PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA PROPOSIÇÃO
DE ABORDAGEM INTERSEMIÓTICA DA LITERATURA
192
A metodologia de abordagem intersemiótica consiste em captar significados
dispersos em múltiplos códigos, verbais e não-verbais: visuais, auditivos, audio-visuais, verbi-
visuais, plásticos, cênicos, estáticos ou em movimento e integrá-los, produzindo o sentido,
que se estabelece por superação de significados parciais e compõe uma síntese ulterior,
integradora. O procedimento é indutivo, parte da análise de fragmentos estilhaçados, em
potencial, que aguardam, em suspenso, seu momento de ativação e realização intersemiótica.
A interpretação se consuma, portanto, pela consolidação de etapas graduais e subseqüentes de
recolher estilhaços de sentido presentes nas diversas semióticas, compondo uma estrutura
semiósica, lógica, que capta signos plurais e realiza uma ação, um movimento de mediação
sígnica que se cumpre na transcodificação verbal.
129
Para efeito educativo, partir de múltiplos estímulos aguça os sentidos e orienta a
captação de elementos distintivos e específicos de cada semiótica, revelando, por meio do
próximo o distante; por meio do presente o ausente. Os campos auditivo, visual e cognitivo
são ativados a um só tempo exigindo sincronia ao mobilizar a capacidade perceptiva de
atualização do sentido adiado, em potencial, nos textos dos diversos gêneros estéticos,
produzindo o conhecimento a partir da mobilização da inteligência interpretante.
Realizar uma ação intersemiótica significa buscar o significado latente no
pretérito, em estado disperso na cultura, neste caso, nas obras de arte que esperam a
participação do leitor, sua realização como co-autor na atualização do sentido, descodificando
os signos por meio da ativação semiósica. Esta é a primeira etapa parcial, de ações de leitura.
A indução interpretativa exige a comparação, o estabelecimento de distinções, a
desarticulação e articulação dos códigos multifacetados, o reconhecimento dos traços
característicos de cada semiótica, identificando o efeito estético das diversas produções a
partir da seleção de um topos.
129
Cf teorizou Jakobson (1970).
193
A primeira leitura é de captação, de observação. A segunda é mais complexa,
exige disciplina de reconhecimento, pelo procedimento comparativo. A terceira é de síntese,
integração das interpretações parciais, dedutiva e, ao mesmo tempo mais complexa, pois além
de Leitura requer Escrita, exige superação da percepção, movimento e ação cognitiva autoral.
A metodologia orienta a análise, comparação e síntese integradora dos processos lógico-
perceptivos reconhecidos. Posteriormente, centraliza o procedimento de transcodificação
verbal que se realiza por meio do registro escrito.
Nos processos escolares, as primeiras execuções devem seguir esta orientação,
diversificando as etapas e os tipos de transcodificação com o tempo, em função dos objetivos
a alcançar. Se houver dificuldade de escrita, de registro verbal, é aconselhável transcodificar
na linguagem da dança, na linguagem visual, por meio do desenho ou de colagens. Porém, o
nível de complexidade das exigências interpretativas e de registro deve ser intensificado para
que gere autonomia e satisfação de manifestar-se em diferentes linguagens.
Entender as expressões e manifestar o pensamento por meio de possibilidades
diversas dinamiza os processos unilaterais e repetitivos que a escola consagrou. Assim, no
novo século será possível confrontar manifestações diversas, dinâmicas e plurais. Buscar as
pistas, sinais, marcas implícitas bem como o desvelamento das categorias de análise
comparativa é o princípio da semiótica, que, por ação de investigação, estimula a elaboração
do raciocínio lógico.
As etapas metodológicas compõem-se dos seguintes passos:
I- LEITURA
1.1- ABORDAGEM INTERNA
A) Observação e fruição de obras estéticas nas diferentes semióticas;
B) Análise de sua expressão e mensagem;
C) Reconhecimento de um topos por ação do diálogo entre as manifestações;
194
D) Comparação dos diferentes procedimentos de codificação estética do topos nas
diferentes semióticas;
E) Identificação dos elementos específicos, recursos, traços e particularidades da
composição;
F) Reconhecimento estético do efeito produzido por ação da poiésis nas diferentes
semióticas; (literariedade e estranhamento no caso da literatura e grau de desvio do
padrão usual, estereotipado da linguagem cotidiana nas semióticas submetidas à
comparação );
G) Estabelecimento das relações intertextuais deduzindo (no sentido de elaborar uma
síntese) um campo de isotopia;
H) Generalização em direção a um sentido global, superior, mais complexo que os
sentidos parciais anteriores;
I) Conclusões estabelecidas após observação e reflexão;
1.2) ABORDAGEM EXTERNA
A) Entender a obra de arte não como reflexo mas como extensão material de determinada
realidade, e por isso sombólica presença codificada que se projeta no interior de nossa
consciência por ação da leitura, recepção e aquisição de conhecimento;
B) Ao revelar a isotopia, recuperar o contexto de produção da obra;
C) Ampliar o repertório e campo de conhecimento partindo para as considerações
externas ao texto, restringindo as informações relacionadas ao topos;
D) Consideração das hipóteses interpretativas internas e anteriores para manutenção da
unidade de sentido ulterior consolidada;
E) Exploração da polifonia, de diferentes pontos de vista que o objeto estético possibilita,
em decorrência do substrato histórico-contextual de sua produção;
F) Reconhecimento das convenções estéticas do nero, do suporte e da esfera de
circulação da obra;
G) Estudo da evolução do gênero literário, musical, pictórico, cinematográfico,
resgatando princípios estruturadores e alterações por efeito da maturidade estética;
H) Integração interdisciplinar e interdiscursiva por meio do levantamento e interpretação
dos topoi.
II – VIVÊNCIA
195
A etapa de vivência pode se dar junto com a leitura de fruição, antes do estudo
sistemático e comparativo das linguagens. É uma etapa criativa de execução, reprodução,
decalque ou produção que estimule a assimilação dos conhecimentos por meio do jogo lúdico
de declamação, interpretação, dramatização, saraus, festivais, enfim, momentos dinâmicos,
coletivos definidos para ampliação do repertório do jovem, especialmente no EF.
Nesta etapa ele não deve ser passivo, precisa ser sujeito, experimentar ludicamente
a arte ativando a ação, a performance, o protagonismo expressivo. A leitura que antecede esta
etapa não precisa, necessariamente, completar todas as fases anteriores, que compõem uma
sistematização lógica do estudo, uma formalização.
Após a vivência fruitiva, é necessário recuperar a ação da leitura inicial e
completar a reflexão sistemática sobre o conteúdo em debate. Desta maneira, o EM torna-se a
etapa adequada de aprofundamento da compreensão vertical do conteúdo estético.
III – ESCRITA
Esta fase é final no processo hermenêutico, pois requer maturidade, repertório e
grau de formalidade mais apurado que as hipóteses interpretativas lançadas nas etapas
anteriores. É o momento de captar forças intelectuais assimiladas nos processos perceptivos e
concentrar a capacidade cognitiva na transcodificação verbal das diferentes semióticas postas
em relação no processo analítico de abordagem.
Esta etapa é a mais árdua e inóspita para o jovem, porém não pode ser dispensada,
pois as habilidades devem ser articuladas em direção ao domínio de uma competência básica:
a proficiência na interpretação das linguagens. O objetivo central da metodologia é ampliar o
nível de proficiência leitora e sistematizar gradualmente a escrita formal, organizada pelos
196
parâmetros lógicos do raciocínio dedutivo, expositivo, que revela maturidade do pensamento,
efeito da aprendizagem.
Elevar o grau de letramento do jovem exige disciplina e não fruição. A fruição
compreensiva deve se realizar em favor da aprendizagem e da ampliação dos patamares do
conhecimento, exige capacidade crítica, domínio das formas de exposição do pensamento,
estabelecimento das relações entre os saberes apreendidos e elaboração de uma síntese
produtiva que finalize o processo de assimilação.
Outras produções podem ser aceitas nesta etapa, tais como paródias, ilustrações,
colagens, dramatizações, aproveitando a possibilidade verbi-visual ou sonora de sua
coexistência no mesmo espaço de aprendizagem, porém, o processo intersemiótico deve se
concluir na rede ainda hegemônica do verbal-escrito, código de base, necessário e deficiente,
conforme registram as avaliações. É função da escola aparelhar os jovens e adolescentes com
as ferramentas que lhes poderão facilitar a inserção cultural na sociedade, não em termos
de leitura, mas também de escrita. Neste sentido, deve haver a sistematização adequada de:
a) Planejamento da produção verbal final, incorporando gradativamente a formalidade
requerida no jogo social em suas diferentes modalidades: oral e escrita;
b) Revisões para sistematização das convenções do texto escrito, crítico-estético.
c) Reelaboração coletiva ou permuta de produções da classe;
d) Leitura oral, em forma de seminários de audiência e recepção das análises escritas;
e) Escutas e sugestões;
f) Correção de expressões e conceitos mobilizados, incorporando inclusive algumas
normas científicas básicas;
g) Montagem de um álbum ou antologia individual e um coletivo, um caderno de análises
intersemióticas da classe (ilustrado, com fotos e filmagem (quando possível), das
diferentes etapas.
h) Exibição do filme para a turma.
197
3.5
SUBSÍDIOS PARA MOBILIZAÇÃO DA CAPACIDADE DE INTERPRETABILIDADE
DO ALUNO NA PROPOSIÇÃO DE ABORDAGEM INTERSEMIÓTICA
130
GÊNERO TEXTOS ( Tipo)
VERBAL
LITERÁRIO 1. NARRATIVO 2. POÉTICO
OBJETIVOS:
Ler, declamar, dramatizar,
adquirir repertório, enredar,
emocionar, divertir
e divulgar o patrimônio cultural
literário nacional e universal
APÓLOGO
CONTOS (de fadas, de
encantamento, de assombração, de
terror, de aventuras, fantásticos,
outros)
FÁBULAS ( originais, releituras e
recriações em prosa e verso)
LENDAS( de heróis, folclóricas,
outras)
MITOS ( narrativas mitológicas,
estudo dos grandes mitos)
ROMANCES (narrativas infanto-
juvenis, romances históricos,
regionalistas, urbanos, de costumes,
de tese, picarescos, outros)
AVENTURA (narrativas de
viagens, de conquistas, outras)
FICÇÃO CIENTÍFICA (filmes
,
narrativas revolucionárias)
NOVELA (romances com estrutura
de novela, novelas literárias,
adaptações, capítulos de novela
televisiva, similares)
CRÔNICA (de base narrativa,
poética, ensaística, histórica,
outras; comparaçoes com crônicas
jornalísticas)
OBRA TEATRAL (leitura, estudo
e freqüência a peças)
FILMES ( projeção em aulas e
sessões organizadas pela escola,
com objetivos definidos e tarefas
agendadas para os alunos)
HISTÓRIA EM QUADRINHOS
( coleções e personagens nacionais
e internacionais;criações em
revistas, jornais, encadernados em
livros recebidos no PNLD,
utilização de softwares, Cdrooms e
recursos tecnológicos)
DESENHOS ANIMADOS
( comparar com HQs)
(POEMAS líricos e em
prosa de diversos estilos e
formas, sem preocupação de
intercâmbio entre gêneros,
mas destacando origens)
VERSOS POPULARES
TROVAS
PARLENDAS
ADIVINHAS
CANCIONEIROS
CANÇÕES POPULARES
ACALANTOS
CORDEL
ACRÓSTICO
POEMAS ( bucólico, piada,
pílula, figurativo, sextina,
terça-rima, épico, epopéia,
heróico, burlesco, outros)
BALADA
ELEGIA
EPITALÂMIO
HAICAI
LIRA
MADRIGAL
NOTURNO
ODE
RONDÓ ( e similares)
SONETO
INFORMATIVO
( FUNÇÃO: INFORMAR)
1. CIENTÍFICO 2. JORNALÍSTICO
130
Ampliação a partir do quadro dos gêneros proposto pelo CENPEC/2002, anexo G.
198
ANTOLOGIA (
elaboração de uma
antologia de poemas e autores
nacionais e da literatura universal)
RELATO DE EXPERIÊNCIA
DE LEITURA,
BIOGRAFIA do poeta ou escritor
RELATO HISTÓRICO que
contextualize o período estético
(desenvolvimento da competência
de Contextualização Sócio-
cultural)
MAPAS (elaborar um mapa do
espaço da história ou organizando o
próprio enredo)
GRÁFICOS (gráficos de leitura da
classe, de determinadas obras, etc)
TABELAS (de rendimento, de
avaliação do desempenho da classe
nas diversas modalidades de
expressão Diário individual de
leitura)
TEORIAS E MÉTODOS DE
ANÁLISE
NOTÍCIAS literárias
REPORTAGENS (sobre
obras ou escritores nacionais
e estrangeiros)
ENTREVISTAS simuladas
(com autores, poetas ou
personagens)
CRÍTICAS LITERÁRIAS
(de novelas, lançamentos em
livros,CDs, DVDs, filmes,
cinema, peças teatrais em
suplementos e cadernos
especiais)
ARGUMENTATIVO
( FUNÇÃO: ARGUMENTAR)
TEXTO OPINATIVO sobre determinado poema, romance, obra
teatral, filme ou autor das diferentes Literaturas
TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO sobre um
estilo, autor ou obra
MONOGRAFIA DE FINAL DE CURSO OU CICLO (EF
série ou série do EM- adequação) sobre um estilo, autor ou
obra.
PERSUASIVO
( FUNÇÃO: CONVENCER)
PROPAGANDA (de romance, de autor, de poema, de poeta)
ANÚNCIO(de peça teatral, de lançamento de livro, de sarau
literário)
CARTAZ (de divulgação de um livro, de uma antologia poética,
análise de cartazes comparando obras literárias)
FOLHETO (de divulgação de notícias, jornal ou resenha de
leituras)
INSTRUCIONAL
( INSTRUIR, ORIENTAR,
PRESCREVER)
RECEITAS (paródias de como ler um livro, um poema, de como
fazer uma biografia, de como construir uma personagem)
REGRAS (Como participar de um seminário, de um debate
literário, de como apresentar-se em público durante um sarau,
obedecendo aos papéis- mestre de cerimônia, apresentador,
personagens, poetas,etc)
BULAS (paródias no estilo de bulas de romances e poemas,
contendo as indicações, os sintomas, os efeitos colaterais ao ler
determinada obra- desenvolvimento da habilidade de
Representação e Comunicação)
INSTRUÇÕES (de leitura, de estudo, de pesquisa de obras
literárias- para desenvolvimento da Habilidade de Investigação
e Compreensão)
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS (Debates sobre poemas,
romances, obras teatrais, seminários, apresentações, saraus, shows)
199
EPISTOLAR/ PRÁTICO
( função: comunicar à distância)
CARTA (para o autor, ao personagem, ao diretor da peça ou do
filme)
BILHETE (de amor, declaração, aviso, verso, trova, brincadeira,
denúncia, chantagem, outros)
CONVITE (para um filme, peça teatral, sarau, exposição)
OFÍCIOS (Requerimento (outros) à Direção, Coordenação da
escola para uso das dependências e Diretoria de Ensino para
lançamento de obra, sarau, festa literária, festa caipira com
declamações, etc)
CONTAS DE LUZ, ÁGUA, TELEFONE, INTERNET,
CELULAR (criação de contas de luz, água, telefone, internet,
celular, torpedos relativos às narrativas e personagens)
GÊNERO TEXTOS ( Tipo)
IMAGENS
NÃO VERBAL
DUAS LINGUAGENS
OBJETIVO:
Ler, observar, perceber
traços e elementos distintivos,
linhas, estilo,cores, impacto,
sensações, efeitos
e comparar entre obras, estilos não
verbais e verbais
(OBSERVAR, COMPARAR,
COMPREENDER
DIFERENTES SEMIÓTICAS
OU LINGUAGENS)
Observar cenário, montagem,
narração, ponto de vista, foco das
câmeras, linguagem, efeitos,
movimentação, dramaticidade,
intencionalidade, estilo
OBRA DE ARTE ( PLÁSTICA)
PINTURA (diferentes estilos-
comparação com obras literárias-
análise por convergência,
divergência ou complementaridade)
TELAS (de autores famosos, locais
e regionais- organizar exposições
com declamações e audição de
músicas instrumentais, populares
em CDs ou ao vivo)
ESCULTURAS (casas, ruas,
praças, cemitérios, livros, revistas)
ILUSTRAÇÕES (de autores
famosos, locais, regionais, de
colegas, de alunos da escola,
exposições)
CARTAZES(famosos, em
diferentes estilos, artísticos,
publicitários, locais, regionais,
nacionais, ampliação e exposição)
DESENHO (exposição de
diferentes estilos, observação,
estudo, comparação)
ESTILOS DE CONSTRUÇÕES (
igrejas, monumentos, pontes,
designs )
CINEMA (ADAPTAÇÃO-
vídeos projetados na sala-
de-aula ou sala-de-vídeo da
escola, com finalidade
educativa e/ou freqüência
ao cinema quando possível)
Projeção de obras:
LITERÁRIAS (adaptações
de narrativas, biografias,
outros)
FICCIONAIS (narrativas
fantásticas, do absurdo,
outras)
HISTÓRICAS
PSICOLÓGICAS
MITOLÓGICAS
DE AVENTURA
DE VIAGENS
CIENTÍFICAS
FICÇÃO CIENTÍFICA
CINEMA MUDO
CINEMA MODERNO
CINEMA PÓS-
MODERNO
200
FOTOGRAFIA
IMAGENS (
artísticas
comparadas a imagens do
cotidiano- levantamento de
efeitos, estilos, etc)
ATUAIS/ ANTIGAS (da família,
estranhos, de cenários, panoramas,
nacionais, mundiais, etc)
COLORIDAS OU EM PRETO E
BRANCO
(confrontar presente/ passado-
levantar traços, caracteres, estilos,
contextualizar- Desenvolvimento
de habilidades na Competência
de Investigação e Compreensão e
Contextualização Sociocultural))
PEÇAS TEATRAIS
(Diferentes modalidades e
espécies tradicionais ou
modernas, incluindo:
tragédia, comédia, drama,
sátira, farsa, tragicomédia,
auto, mistério, milagre,
Ópera, melodrama, outros
)
TEATRO MODERNO
TEATRO PROFISSIONAL
TEATRO AMADOR
TEATRO DE BONECOS
TEATRO DE FANTOCHES
GÊNERO
MUSICAL
Ouvir, perceber e registrar
traços e elementos distintivos,
ritmo, estilo,
impacto, sensações, efeitos
e comparar entre obras,
música instrumental, vocal
e associar à linguagem da dança,
quando possível, mantendo o
figurino da cultura em destaque ou
estudo.
MÚSICA INSTRUMENTAL
ORQUESTRA
SINFONIA
BANDA
MÚSICA DE CÂMARA
INSTRUMENTAL (cordas,
teclas, sopro, percussão, outros)
Audição de vários tipos de música,
ritmos e estilos ocidentais e
orientais
(italianos,espanhóis,sírios,chineses
, japoneses, africanos, outros)
Valsa, Tango, Bolero, Chorinho,
Samba, Marcha, Hino, Barcarola,
outros ritmos.
MÚSICA POPULAR
a) BRASILEIRA ( diversos
estilos nas diferentes
épocas)
SAMBA
BOSSA NOVA
AXÉ
PAGODE
JOVEM GUARDA
ROCK NACIONAL
b) INTERNACIONAL
201
CONCLUSÃO
A sensação de incompletude deve ser natural para os que trilham as veredas do
trabalho científico, sobretudo se contextualizado na esfera simbólica das linguagens que
expressam a condição humana. A consciência de nossas limitações e da necessidade de
alcançar patamares mais elevados de reflexão nos faria escravos do mito do eterno retorno.
Entretanto, não bastasse a razão, as razões práticas nos impelem à conclusão.
Analisando as bases teóricas e orientações pedagógicas dos documentos oficiais
que estabelecem as diretrizes para o ensino da Literatura, procuramos focalizar a emergência
de um trabalho de operacionalização curricular dos princípios estéticos sistematicamente
estáveis, a partir da consolidação da Teoria da Literatura como ciência, no século XX, livre de
interpretações impressionistas e subjetivas. Com o objetivo de propor uma metodologia de
abordagem consonante com o movimento pós-moderno que circunda a dinâmica escolar,
examinamos os PCNEM e seus documentos complementares, bem como os Guias e Propostas
Curriculares produzidos após a cada de setenta, na tentativa de superação do paradigma
teórico, incorporando o procedimento metodológico comparativo da análise estética em
detrimento do padrão informativo, seqüencial e cronológico consolidado pela memorização de
dados absolutos e inquestionáveis, externos às obras de arte.
No modelo pedagógico da década de 70 o trabalho do professor era fazer
reproduzir e assimilar e o do aluno era memorizar e repetir verdades prontas, sem questionar
validades ou estabelecer nculos, relações; sem duvidar, propor, interferir e (res)significar os
conhecimentos e conteúdos estéticos, contextualizando-os e estabelecendo o diálogo com o
presente. Novas competências e habilidades têm sido exigidas tanto na esfera social mais
ampla quanto na esfera educacional, em decorrência das tecnologias e sistemas de
comunicação e produção, determinando comportamentos mais inventivos e flexíveis. Para
202
contextualizar a aprendizagem e conferir ao conhecimento escolar caráter de inserção na
lógica da sociedade contemporânea, os PCNEM/99, expressão da LDBEN 9394/96,
consideraram o domínio das Linguagens, Códigos e suas Tecnologias essencial para o
exercício da cidadania, assumindo que os sistemas tradicionais tornaram-se insuficientes para
propiciar a assimilação da diversidade, dinamismo e pluralidade atuais veiculados nas mídias.
Se o século XXI parece ser o tempo da síntese, nosso presente, por ser o signo da
crise, exige a relativização da cultura por superação do passado, reconhecendo nossa herança
cultural como sustentação do presente e garantia de propostas mais coerentes direcionadas às
próximas gerações. Se ao observar resultados alcançados nas avaliações internas e externas
compreendemos que a simples reprodução do paradigma formal, com seu modus operandi
sustentado na teorização, não foi adequado para socializar com a juventude o conhecimento
produzido, é preciso re-significar os conteúdos, especialmente a exigência ética da
compreensão estética, evidenciando as distinções entre o modo de ser e de produzir da
metodologia científica (acadêmica), da metodologia de ensino (indicações oficiais) e da
metodologia didática (práxis) para que a ação educacional efetivamente se processe.
Pesquisador, técnico e professor, nesta pesquisa, foram representações das
diferentes esferas nas quais o conhecimento circula. A reorganização curricular da cultura
estética na Educação Básica, conforme sugerimos, exige a dialetização da lógica formal para
que o conhecimento da Literatura assuma dimensão de rede, por interconexão entre sistemas
artísticos, assegurando o processo de ação-reflexão-ação, indispensável na mediação do saber.
Após analisar minuciosamente quadros, tabelas, dados, procedimentos
metodológicos, sugestões e recomendações dos documentos oficiais; manuais, textos teóricos
e após participar de projetos e programas de renovação do ensino nas últimas três décadas,
concluímos que as mudanças são lentas e as alterações pequenas, mas consideráveis, quando
se trata de mudança de ponto de vista, de critérios e comportamentos. Na verdade, a
203
implementação das reformas e a execução dos pressupostos conforme são sugeridos,
demandam esforço, mudança de concepção e flexibilização didática.
A interface do locus que ocupamos entre o exercício acadêmico, a orientação
oficial e a práxis didática nos comprimiu a um forçoso ecletismo causando sensação
vertiginosa ao assimilar a proliferação de correntes teóricas desenvolvidas e que sustentam os
documentos analisados. Os PCNEF (1998) e PCNEM (1999) fixaram a linha bakhtiniana dos
gêneros discursivos e da enunciação, deixando implícita a perspectiva intersemiótica, que foi
tacitamente retomada nos documentos complementares, os PCN+ (2002) e OCEM (2004)
procurando superar a hegemonia verbal cristalizada na didática anterior em favor de novos
procedimentos comunicativos e interpretativos. Tal foi o percurso que procuramos percorrer
no texto, buscando raízes conceituais para situar a importância da arte e da Literatura e o
diálogo entre essas expressões, que poderá resultar produtivamente em nova práxis escolar.
Mesmo considerando que o tempo de acomodação seja variável e mais longo que o
tempo da assimilação de teorias, sistemas, processos e metodologias, inúmeras iniciativas
sociais, políticas e econômicas devem dinamizar a reflexão sobre o momento pois tanto a
sedimentação teórica quanto a aplicação de procedimentos mais coesivos para o terceiro
milênio são urgentes visto que passamos do paradigma mitológico ao teocêntrico, deste ao
racional, lógico e enfim, ao paradigma científico, reflexivo e tecnológico. As forças erigidas
pelas descobertas do século XX deverão integralizar a dimensão interdisciplinar, as
multilinguagens se interseccionando signicamente, aceitando as diferenças e incluindo a não-
regularidade, na ambivalência de uma ética plurilateral, erigida sobre preceitos humanitários
de solidariedade e cidadania.
Neste sentido, as representações da evolução arquivadas nas diversas linguagens e
mídias desenvolvidas, ainda não acessíveis a todos, em suas diferentes formas, se mostram
204
disponíveis enquanto possibilidade de conhecimento do passado, documentado pelas
manifestações culturais dentre as quais a literatura e as artes são registro.
A escola deve, então, para o séc. XXI mobilizar a capacidade de interpretabilidade
do jovem para que exerça sua condição de cidadania plena, que não se contenta com o
mínimo, com o básico, mas que, ao contrário, suscita padrões mais elevados de desafios
intelectuais, oriundos dos estímulos das novas linguagens e tecnologias. Ressaltamos que
processos devem vir acompanhados de recursos e subsídios, sejam teóricos, científicos,
tecnológicos, didáticos, metodológicos, sejam econômicos pois demandam compreensão
imediata de situações e ajustes às necessidades.
Ao observar os GC propostos em 1975 verificamos, na práxis, que os objetivos
fixados para o ensino de Língua Portuguesa, sem desprezar a sistematização registrada,
ampliaram o campo das operações lingüística e metalingüística nas PCLP de e graus,
respectivamente (1986,1987), para o fundamento na Estética da recepção dos textos e na
metodologia comparativa. Todavia apenas hoje esse complexo teórico que passou a
determinar o foco de aprendizagem de língua materna tem sido assimilado e parcialmente
executado. Mesmo o currículo das instituições de ensino superior ainda não integrou
estratégias dinâmicas às práticas educativas conforme o contexto atual solicita. O resultado
tem sido a teorização acumulada e uma prática conservadora predominantemente verbal, por
memorização, sem envolvimento do aprendiz, que se mantém apático e indiferente.
Comparando os GC (1975), as PCLP (1986, 1987) e recentes publicações internas,
no âmbito metodológico da SEE/SP com os Parâmetros do MEC/BR (1998, 1999, 2002,
2004), percebemos que as práticas requerem desafio e didatização constante, mediante
diferentes formulações pois a introdução das novas tecnologias trouxe a reforma radical dos
processos de aprendizagem e a necessidade de execução brusca de padrões de conhecimento,
sem tempo de reflexão e ajuste às necessidades locais.
205
A presente pesquisa procurou, assim, contribuir com o corpo teórico da
perspectiva intersemiótica que prescinde de orientação para preencher o vazio operacional e
evitar o perigo da semiose ilimitada na escola, advinda do criticado democratismo
pedagógico. Assentindo como hipótese que o tempo de mudança das práticas cristalizadas
será o da compreensão do potencial das linguagens, nos propusemos a tornar assimiláveis
alguns procedimentos da abordagem intersemiótica, partindo do concreto imaginado nos
PCNEM e Propostas_ menos ideal que as abstrações acadêmicas puras_ para o concreto
sistematizado nos quadros e roteiros de análise dispostos no terceiro capítulo, propositivo.
É preciso, assim, que os professores obtenham autonomia na execução
metodológica e proporcionem leituras múltiplas aos adolescentes, estabelecendo a conexão
entre a produção estética, mediada signicamente, e a habilidade de contextualização das obras
de arte, contemplando a história e inter-relacionando disciplinas, desfragmentando o
conhecimento mediante a busca dos vestígios de significado para (re) compor o sentido global
que se pode depreender da relação entre os diferentes sistemas semióticos.
No esforço de retorno à formulação do problema de pesquisa, apresentaremos as
conclusões obtidas como forma de respostas ainda que parciais e transitórias aos desafios
encontrados. No monitoramento do roteiro de interrogações investigamos se a ausência de
compreensão docente do referencial teórico incidiu negativamente sobre o desempenho dos
alunos. Pela entrevista inicial percebemos que sim, devido à escolha do material que subsidia
90% do conjunto que executa a ação didática.
As profundas alterações conceituais e praxiológicas que os PCN solicitaram, fruto
de contribuições acadêmicas de um complexo conjunto de impregnações científicas
associadas às mudanças sócio-históricas nos perfis e padrões de performance pessoal e
profissional, demandam atuações e compreensões completamente distintas das de três décadas
atrás, num imperativo de foro irretornável. Além disso, a concepção de literatura, deficiente e
206
secundária nos PCNEM o articulou a perspectiva intersemiótica em potencial e manteve o
critério estético negligenciado.
Portanto, a teoria não foi incorporada à prática devido ao grau de formalidade e
hermetismo, não se constituindo em práxis, motivo pelo qual recuperamos, no segundo
capítulo, origens e conceitos da Semiótica, de forma breve e concisa, para elucidação e
superação do modelo verbal. O preceito horaciano do ut pictura poésis foi seqüencialmente
retomado à guisa de discutir desafios e fixar bases teóricas com vistas a operacionalizar a
perspectiva lançada por Jakobson (1970) em Lingüística, Poética e Cinema, buscando
aplicabilidade em sala-de-aula, visto que a consolidação científica da tendência intersemiótica
ainda não alcançou grau de reflexão madura que se efetivasse em práticas.
A segunda questão colocada se relacionava à concepção de Literatura presente nos
documentos oficiais como fenômeno social, histórico ou estético e ainda, se seu conceito é
discutível. Percebemos que as diretrizes das formulações oficiais a registraram como
fenômeno social, ponto do qual não discordamos, porém, segundo nossa concepção, tal
aspecto gerou toda a problemática em torno de sua abordagem que, por ser um fenômeno
estético foi tangenciado historicamente, com lugar secundário no currículo, em favor da
sistematização da língua.
Priorizamos, por isso, no quadro metodológico apresentado como tese o efeito
estético enquanto fundamento da caracterização da singularidade da Literatura, sustentando
seu conceito como indiscutível, apontando competências e habilidades a operacionalizar na
práxis da abordagem intersemiótica, que ressalta o caráter de sistema não apenas arbitrário
mas, sobretudo, motivado da arte. Na problematização conceitual exposta no primeiro
capítulo argumentamos estabelecendo a fronteira entre música popular e poesia literária para
efeito de resposta da TL aos PCNEM/99 quanto à ausência de critérios revelada pelo aluno
que perfila Drummond e “Zé” Ramalho, pautando-se pelo senso comum e gosto individual.
207
Quanto à análise dos documentos não-oficiais, verificamos que a maioria dos LD
conserva disposição seqüencial e diacrônica da literatura, mas o manual Literatura Brasileira,
pioneiro no tratamento comparativo das artes, introduziu o procedimento dialógico, conforme
teorizou a PCLP grau (1987). E quanto à polêmica questão tratada nas OCEM (2004)
acerca do privilégio aos textos literários e simbólicos no EM, defendemos. No tocante à
mediação do processo de leitura, pensamos que as estratégias comparativas e a atitude crítica
próprias do movimento dialético constituem as diretrizes e princípios de abordagem dos
textos estéticos, que devem relativizar os sentidos em suspenso, comparando sistemas
semióticos verbais e não-verbais, para possibilitar a compreensão aguda das linguagens
contemporâneas, não descuidando de contemplar o uso da tecnologia e de seus diferentes
suportes de materialização disponíveis, com suas características e especificidades.
Procuramos demonstrar no recorte histórico de três décadas que não é fácil e nem
simples reconhecer avanços teóricos, compreendê-los, aceitar suas etapas de assimilação e
acomodação, identificar estágios, mediar aspectos quantitativos e qualitativos, pois tal análise
constitui o processo de meta-reflexão pedagógica e, por que não, de análise da evolução da
intelectualidade, da civilização e do ethos. Haja vista a costura dialética que se alinhavou
desde os gregos até a contemporaneidade, no tocante ao paradigma semiótico.
Quanto tempo foi preciso para solidificar nossa relativa democracia? Quanto
tempo levamos para minimizar preconceitos raciais, ainda existentes na cultura do século
XXI? Quanto tempo modelos político-econômicos e religiosos como o capitalismo ou regimes
extremos demandaram para ser implantados e derrubados? Quanto tempo consumimos para
cumprir legislações trabalhistas, para que ideologias e preconceitos contra a mulher, os índios,
judeus, gays e outros grupos fossem abrandados? Décadas ou talvez séculos. Mas avançamos.
Reconhecendo tal avanço, argumentamos que o desenrolar conflituoso ocorreu
também no processo educativo. Semelhantes dificuldades históricas de assimilação,
208
acomodação e de aceitação de novos modelos se projetaram na esfera de socialização dos
conhecimentos e da cultura, especialmente do patrimônio estético. Porém, o germe da
mudança está sempre projetando forças para que a evolução se processe, para que a criação se
renove, num moto contínuo, atestando que a linearidade conservadora não é marca das
transformações dialéticas.
Se as contribuições da Lingüística geraram evidente revolução pedagógica para
que o ensino de Língua passasse a ter novo formato, e continuam efervescendo desde a
década de 70, abalando a práxis cristalizada no modelo gramatical, procuramos, com o
presente trabalho, sistematizar procedimentos didáticos inovadores que orientem o ensino da
literatura, assunto que foi sempre tangenciado. E, no conjunto das alterações interdisciplinares
a iniciar, se inscreve a aplicação da abordagem intersemiótica dos textos literários enquanto
metodologia adequada e produtiva para a Educação Básica.
Entendendo que o conhecimento científico não pode se eximir de propiciar meios
para que o saber estético seja redimensionado, explicitamos categorias e conceitos da Teoria
da Literatura, procurando teorizar sobre a proposição relacional de estudo comparado inter-
artes, concretizando parâmetros de reconhecimento da poiésis, na perspectiva intersemiótica,
mediante a sistematização de critérios e princípios metodológicos de análise de diferentes
sistemas semióticos em relação, como a pintura, o cinema, a música e a Literatura, com a
finalidade de fundamentar a mediação docente.
A compreensão dos eixos norteadores da tese, expostos nos quadros, subsídios e
roteiros constitui o modus reflexivo dialético, que aceita a pluralidade e focaliza as
particularidades, garantindo eficiência didática e domínio conceitual das competências meta-
reflexivas e praxiológicas, com vistas a ações metodológicas, congregando dimensões
inimagináveis de exploração das capacidades perceptiva e compreensiva bem como de
interpretação lógica da produção estética enquanto extensão material e simbólica da arte.
209
A título de adequação da teoria intersemiótica ao contexto escolar da EB,
estabelecemos um termo conector e desencadeador relacional das linguagens, redefinido
como isotopia, conceito de base teórica greimasiana que, em nossa concepção, permite
examinar temas ou topos/topoi que se manifestam e reiteram num dado momento, em diversas
semióticas, constituindo um zeitgeist. Operacionalizamos tal conceito, estabelecendo,
também, relações com as tricotomias formuladas por Peirce, que, em nossa acepção,
localizam a ação de percepção do topos na primeiridade _ competência de representação e
comunicação; a reflexão sobre a relação intersemiótica na secundidade _ momento de
investigação e compreensão, conforme estabeleceram os eixos dos PCNEM e, por fim, na
terceiridade, última instância, se processa a ação de integração do interpretante final,
constituído a partir da exegese verbal dos diferentes sistemas sígnicos contextualizados
socioculturalmente. Este o ponto de coesão que a tese visou a apresentar aos desafios
encontrados pelos professores para mediar as diretrizes indicadas nos mais recentes
documentos oficiais.
Esperamos, com este trabalho agregar ao estudo da Literatura e das artes em geral
caráter de vivência e de fruição compreensiva não só do código estético mas da cultura
acumulada pelas gerações anteriores. Esperamos ainda, que a proposição de abordagem
intersemiótica possa suscitar novas reflexões e dimensão significativa e inovadora à práxis na
Educação Básica, possibilitando resultados satisfatórios e mais amplos, relativos ao saber
estético de uma dada época, sedimentado, vertical e menos pautado pelo nível da necessidade.
E, por fim, não poderíamos deixar de reconhecer a importância dos PCN como
marco de vanguarda educacional para o culo XXI, no Brasil. As críticas recebidas e a
produção complementar justificam tanto o trabalho científico quanto o metodológico que se
tem realizado e a realizar, pois quando se trata de mudança, diferentes perspectivas
evidenciam o erro, mas ampliam e fomentam a possibilidade de acerto.
210
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL. T. Operários. Base de dados google imagens.
226 x 163 pixels - 18k – jpg
Disponível em: <http//:
www.educarede.org.br>
http://www.revistaescola.abril. com.br/ edicoes/
0178/aberto/tarsila.shtm><www.google.imagens.operários.tarsila >-
Operários 1933 de Tarsila
do Amaral.
Acesso em: 20 set. 2005.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Tradução Maria Ermantina G. Pereira. São
Paulo: Martins Fontes, 2000.
____________. (Volochinov) Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Yara
Frateschi Vieira e outros. 4. ed. São Paulo: Editora Hucitec, 1988.
____________. Questões de literatura e de estética. Tradução do russo (equipe) Aurora
Fornoni Bernardini e outros. 4. ed. São Paulo: Ed UNESP, 1998.
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
BARTHES, R. Aula.Tradução Leyla Perrone Moisés. São Paulo: Cultrix, 1978.
___________. Crítica e verdade. Tradução Leyla Perrone Moisés. São Paulo: Perspectiva,
1970.
____________. Elementos de semiologia. Tradução Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix,
1971.
____________ et al. Literatura e semiologia. Tradução Célia Neves Dourado. Petrópolis,
Vozes, 1972.
BLOOM, H. Onone ocidental: os livros e a escola do tempo. Tradução Marcos Santarrita.
Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.
____________. Como e por que ler. Tradução José Roberto O’Shea. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2001.
BOLLE, A. B. M. Chico Buarque de Hollanda. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1980.
Seleção de textos, notas, estudos biográfico, histórico e crítico e exercícios.(Coleção
Literatura Comentada).
BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 37. ed. São Paulo: Cultrix, 1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio ( DCNEM). In: PCNEM. Brasília, MEC/ SEMTEC, 1999.
_______. Lei nº 9394: Lei das diretrizes e bases da educação nacional (LDBEN), de 20 de
Dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. In: PCNEM.
Brasília, MEC/ SEMTEC, 1999.
__________. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação dia e
Tecnológica. FERNANDES, F.C. Apresentação. In: Orientações Curriculares do Ensino
Médio: Brasília: MEC/ SEMTEC, 2004. versão eletrônica.
211
__________. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação dia e
Tecnológica. ROJO, R.H.R.; LOPES, L.P.M. Linguagens, códigos e suas tecnologias In:
Orientações Curriculares do Ensino Médio: Brasília: MEC/ SEMTEC, 2004. versão
eletrônica.
__________. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação dia e
Tecnológica. FREDERICO, E.Y.; OSAKABE, H. Literatura. In: Orientações Curriculares
do Ensino Médio: Brasília: MEC/ SEMTEC, 2004. versão eletrônica.
__________. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação dia e
Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC/ SEMTEC,
1999.
_______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua
portuguesa. Brasília: MEC/ SEF, 1998.
______. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais. Introdução. 3. ed, Brasília, 2001. v. 1.
______. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais, Língua Portuguesa. 3. ed, Brasília, 2001. v. 2
__________. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação dia e
Tecnológica. PCN+ Ensino Médio: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Brasília: MEC/
SEMTEC, 2002.
__________. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CEB
15/98. In: PCNEM. Brasília, MEC/ SEMTEC, 1999.
BRASÍLIA: A Educação no Brasil na década de 90: 1991-2000. Brasília: Inep/ MEC, 2003.
_________: PAS: Programa de Avaliação Seriada desenvolvido pela UNB para o
grau. Artes Plásticas, 1996.
_________: Relatório Nacional SAEB 2001. Brasília: Inep/MEC, 2002.
_________: Relatório Pedagógico ENEM 2002. Brasília: Inep/MEC, 2002.
CAMPOS, A. J.M. de. A Literatura no ensino médio: uma proposta de leitura fenômeno-
semiótica. 2000. 145 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – UNESP/ Ibilce, SJRP, São Paulo,
2000.
CAMPOS, H. de. A operação do texto. São Paulo: Perspectiva, 1976.
CANDIDO, A. Formação da literatura brasileira. São Paulo: Livraria Martins, 1957. 2 v.
CASTRO, E. A Interdisciplinaridade. Folha de S. Paulo. São Paulo, Ago, 1997. Folha Phi.
Caderno especial, encarte Educação.
212
CHAPLIN, C. Tempos Modernos. Base de dados google imagens. Disponível em 1)
Charles
Chaplin em Tempos Modernos 441 x 327 pixels 150k – gif antmes.planetaclix.pt.
2)
20.28 Tempos
Modernos MODERN TIMES 168 x 249 pixels - 8k - jpgdvdlx.com.
Acesso em 20 set. 2005
CHATELET. F. Logos e práxis. Tradução Roland Corbisier. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1972.
COELHO, N. N. O Ensino da Literatura (sugestões metodológicas para o curso secundário
e normal). São Paulo: FTD, 1966.
______________Literatura Infantil: teoria, análise, didática. 6. ed. revista. São Paulo:
Ática, 1993.
COUTINHO, A . A Literatura no Brasil. 4. ed. São Paulo: Global Editora, 1997. 6 v.
EAGLETON, T. Teoria da literatura: uma introdução. Tradução Waltensir Dutra. São
Paulo: Martins Fontes, 1983.
ECO, U. Obra Aberta: forma e indeterminação nas poéticas contemporâneas. Tradução
Giovani Cutolo. 2. ed. São Paulo:Perspectiva, 1971a. Coleção Debates
________. Estrutura Ausente: introdução à pesquisa semiológica. Tradução Pérola de
Carvalho. São Paulo: Perspectiva, 1971b.
_______. O Signo. Tradução Maria de Fátima Amino, São Paulo: Martins Fontes, 1974.
ECO, U. et SEBEOK, T. A. (orgs) O Signo de Três. Dupim, Holmes, Peirce. Tradução
Silvana Garcia. São Paulo: Perspectiva, 1991.
EIKHENBAUM, B. et alii. Teoria da literatura: formalistas russos. Trad. Regina L.
Zilberman e outros. Porto Alegre, Globo, 1970.
ENEM. Base de dados. Disponível em <http://www.mec.gov.br/acs/duvidas/enem.shtm>; <
http://www.inep.gov.br/basica/enem>; <http:// www.educacional.com.br/enem>. Acesso em:
15 set. 2005.
FIORIN, J. L. Elementos de análise do discurso. 3. ed. São Paulo: Contexto,1992.
FREADMAN, R. Repensando a teoria: uma crítica da teoria literária contemporânea.
Tradução Aguinaldo J. Gonçalves, Álvaro Hattnher. São Paulo: Ed UNESP, 1994.
GONÇALVES, A.J. Laokoon revisitado: Relações homológicas entre texto e imagem. São
Paulo: Edusp, 1994.
____________. Transição e permanência: Miro/ João Cabral - da tela ao texto. São Paulo:
Iluminuras, 1989.
GREIMAS, A. J. Dicionário de Semiótica. Tradução Tieko Yamaguchi Miyazaki (et al) São
Paulo: Cultrix, 1979.
213
_____________. Semântica Estrutural. Tradução Haquira Osakabe 2. ed. o Paulo:
Cultrix, 1976.
HJELMSLEV, L. Prolegômenos a uma teoria da linguagem. Tradução José Teixeira
Coelho Netto. São Paulo: Perspectiva, 1975.
JAKOBOSN, R. Lingüística e comunicação. Tradução Izidoro Blikstein e José Paulo Paes.
São Paulo: Cultrix , 1971.
_____________. Lingüística. Poética. Cinema. Roman Jakobson no Brasil. (org. Boris
Schnaiderman e Haroldo de Campos) Tradução Francisco Achar e outros. Coleção Debates.
São Paulo: Perspectiva, 1970.
JAUSS, H. R . A História da literatura como provocação à teoria literária. Tradução
Sérgio Telarolli. São Paulo: Ática, 1994.
_______ et al. A Literatura e o leitor. Coordenação e Tradução Luiz Costa Lima. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1979.
KLEIMAN, A. Texto e Leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 1989.
KRISTEVA, J. Introdução à semanálise. Tradução Lúcia Helena França Ferraz. São Paulo:
Perspectiva, 1971.
____________ et al. A Produtividade dita Texto. In: Literatura e Semiologia. Tradução
Célia Neves Dourado. Petrópolis: Vozes, 1972. v.3. (Coleção Novas Perspectivas em
Comunicação).
LAJOLO, M. Literatura: leitores e leitura. São Paulo: Moderna, 2001.
__________. Do Mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática,1999.
__________. O que é literatura? 10. ed. São Paulo: Brasiliense, 1989.
___________. Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: o que é, como se faz e para
que serve. Artigo publicado na revista de crítica literária latino-americana, ano XX, 40,
1994.
LAJOLO; ZILBERMAN. Literatura infantil brasileira. História e histórias. 3. ed. São
Paulo: Ática, 1987
LEITE, L. C. M. Invasão da catedral: Literatura e ensino em debate. Porto Alegre: Mercado
Aberto, 1983.
LIMA, L.C. Estruturalismo e teoria da literatura: introdução às problemáticas estética e
sistêmica. Petrópolis: Vozes, 1973.
_________. Teoria da literatura em suas fontes: seleção, introdução e revisão técnica. 3.
ed.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. 2 v.
LOTMAN, I. A Estrutura do texto artístico. Tradução Maria do Carmo V. Raposo e
Alberto Raposo. Lisboa: Estampa, 1978.
214
LÜCK, H. Pedagogia interdisciplinar: fundamentos teórico-metodológicos. Petrópolis:
Vozes, 1995.
MAGNANI. M.R.M. Leitura, literatura e escola. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
MALARD, L. Ensino e literatura no 2º grau: problemas e perspectivas. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1985.
MELLO, G. N. de. As Novas Diretrizes para o Ensino Médio. São Paulo,1998. (Coleção
CIEE).
MODERN TIMES. Produção de Paulette Goddard. 1 DVD (120 min). Arquivo da Oficina
Pedagógica da DER/ Jales
MORICONI, I. Como e por que ler a poesia brasileira do séc. XX. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2002.
MURRIE, Z. F. Códigos e linguagens: diretrizes para o Ensino Médio. Brasília:
MEC/SEMTEC, 1996.
____________. (org.). O ensino de português: do primeiro grau à universidade. São Paulo:
Contexto, 1992.
______________. A Reforma do ensino médio (1996-98): textos e contexto: atou uma
ponta do fio de Ariadne ao tornozelo e avançou para a escuridão. Tese (Doutorado em
Educação)- Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2000.
NICOLA, J. de. Literatura brasileira: das origens aos nossos dias. São Paulo: Scipione,
1986.
_____________. Literatura brasileira: das origens aos nossos dias. São Paulo: Scipione,
reedição ampliada e atualizada. São Paulo: Scipione, 1990.
_____________. Literatura brasileira: das origens aos nossos dias. 15. ed, 3. imp. São
Paulo: Scipione, 1999. (edição revista e ampliada).
____________. Literatura brasileira: das origens aos nossos dias. 16. ed, 1. imp. São Paulo:
Scipione, 2004. (atualização dos exames vestibulares e incorporação de questões do ENEM)
NÖTH, W. Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce. São Paulo: Annablume, 1995.
________. A Semiótica no século XX. São Paulo: Annablume, 1996.
OLIVEIRA, A. C.; SANTAELLA, L. (org). Semiótica da literatura.. São Paulo: EDUC,
1987. (Série Cadernos PUC nº 28)
OLIVEIRA, V. S. de. Poesia e pintura: um diálogo em três dimensões. São Paulo: Ed.
UNESP, 1999.
215
ORIENTAÇÕES CURRICULARES DO ENSINO DIO. Mensagem recebida por
[email protected]> em 26 nov. 2004. Base de dados. Disponível em
<portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf01apresentacao> Acesso em: 22 agosto 2005.
PEIRCE, C.S. Semiótica. Tradução José Teixeira Coelho Netto. São Paulo: Perspectiva,
1977.
___________. Escritos Coligidos. Tradução Armando Mora d’Oliveira e Sergio
Pomerangblum. São Paulo: Editora Abril, 1974. Coleção Os Pensadores nº 36.
PIGNATARI, D. Semiótica e literatura. 3. ed. São Paulo: Cultrix, 1987.
PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). Base de dados. Disponível
em:<httpwww.pisa.oecd.org.>;< http://www.inep.gov.br/internacional/pisa>. Acesso em 12
set. 2005.
PLATÃO E FIORIN. Para entender o texto: Leitura e Redação. 3. ed. São Paulo: Ática,
1991.
_____________. Lições de texto. 3. ed. São Paulo: Ática, 1998.
PNLEM ( Plano Nacional do Livro Didático do Ensino Médio). Base de Dados. Disponível
em <http:// www.fnde.gov.br/guiasvirtuais>. Acesso em 20 set. 2005.
POUND, E. ABC da Literatura. Tradução Augusto de Campos e José Paulo Paes. 14. ed.
São Paulo: Cultrix, , 2002.
PROENÇA FILHO. Pós-Modernismo e Literatura.. 2. ed. São Paulo: Ática, 1995. (Série
Princípios).
ROCCO, M. T. Fraga. Literatura /ensino: uma problemática. São Paulo: Ática, 1981.
RÖD, W. La filosofia dialéctica moderna. Tradução Juan Cruz Cruz. Ediciones Universidad
de Navarra, S.A Pamplona, 1977.
SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica). Bases de dados. Disponíveis em
<http://www.mec.gov.br/acs/duvidas/saeb.shtm>;<http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/
saeb/saeb/aspnews04-17htm>. Acesso em: 10 maio 2005.
SANTAELLA, L. Estética: de Platão a Peirce. São Paulo: Experimento, 1994.
______________. O que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1987.
SARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar de São Paulo). Base de dados.
Disponível em <http://www.educacao.sp.gov.br/saresp.edunet /2005. Acesso em 30 nov 2005.
SÃO PAULO ( Estado). Secretaria da Educação. FDE. Avaliação dos Concluintes do
Ensino Médio/97: análise pedagógica. Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio.
São Paulo, 1999.
____________. Secretaria da Educação/CENP. O Currículo na escola média: desafios e
perspectivas. (org.) Luis F.S. Pucci e Regina C. E. Gualtieri. São Paulo:SE/CENP; Brasília:
MEC/SEMTEC/BID, 2004.
216
____________. Secretaria da Educação. Centro de Recursos Humanos e Pesquisas
Educacionais “Prof. Laerte Ramos de Carvalho”. Guias curriculares propostos para as
matérias do núcleo comum do ensino de 1º grau. São Paulo, 1975.
____________. Secretaria da Educação. Lei 5692, de 11 de Agosto de 1971. (LDB) Fixa
diretrizes e bases para o ensino de e 2º graus e dá outras providências. Aumenta a
obrigatoriedade da educação de 4 para 8 anos, integra todos os níveis de ensino e acaba com a
separação entre secundário e técnico, elimina os exames de admissão para o ginásio
fundamental (5ª a 8ª). Extingue a Lei 4024/61.In: Legislação de Ensino de e graus (
Federal). Compilação e organização de Leslie M. J. da S. Rama e outros. São Paulo, 1980.v.1.
____________. Secretaria de Educação. Lei 4024, de 20 de Dezembro de 1961. Fixa as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional. In: Legislação de Ensino de 1º e 2º graus ( Federal).
Compilação e organização de Leslie M.J. da S. Rama e outros. São Paulo, 1980. v.1.
_____________.Secretaria da Educação. CENP. Língua portuguesa: ensino médio. São
Paulo, SE/CENP,1988 (Prática Pedagógica v.1).
______________. Secretaria da Educação. CENP. Prática Pedagógica: língua portuguesa
grau. São Paulo, 1993.
______________. Secretaria da Educação. CENP. Prática Pedagógica: língua portuguesa
grau. São Paulo, 1993.
______________.Secretaria da Educação. CENP. Proposta curricular para o ensino de
Língua Portuguesa. 1º grau, São Paulo, versão preliminar, 1986.
______________. Secretaria da Educação. CENP. Proposta curricular para o ensino de
português - 1º grau. 3. ed.1988.
______________. Secretaria da Educação. CENP. Proposta curricular para o ensino de
português - 1º grau. 4. ed.1991.
_____________. Secretaria da Educação. CENP. Proposta curricular para o ensino de
língua portuguesa. 2º grau, versão preliminar. São Paulo, 1987.
_____________.Secretaria da Educação. CENP. Proposta curricular para o ensino de
língua portuguesa. 2º grau, 3. ed. São Paulo,1992.
_____________.Secretaria da Educação. CENP. Proposta curricular para o ensino de
língua portuguesa. 2º grau, 4. ed. São Paulo, 1998.
_____________. Secretaria da Educação. FDE/ CENP. Relatório SARESP 2000: língua
portuguesa e redação. São Paulo, 2000.
_____________. Secretaria da Educação. FDE/ CENP. Relatório SARESP 2002: língua
portuguesa e redação. São Paulo, 2002.
_____________. Secretaria da Educação. FDE/ CENP. Relatório SARESP 2003: língua
portuguesa e redação. São Paulo, 2003.
_____________. Secretaria da Educação. FDE/ CENP. Relatório SARESP 2004: língua
217
portuguesa e redação. São Paulo, 2004.
_____________. Secretaria da Educação. FDE. SARESP 98: análise pedagógica. língua
portuguesa: redação. V.I e II. São Paulo, 2000.
_____________. Secretaria da Educação. FDE. Sistemas de avaliação educacional. / Hélia
A de F Bitar[et al] Maria C. Conholato, Maria J.A Ferreira, coord. Diretoria de projetos
especiais São Paulo: 1998. (Série Idéias nº 30).
______________.Secretaria da Educação. CENP. O Texto: da teoria à prática: subsídios à
proposta curricular para o ensino de língua portuguesa 1º grau. 2. ed. São Paulo,1991.
SEMIÓTICA. Base de dados. Disponível em <http://www.puc.br/ pos.cos/cepe/semiotica/
semiotica.htm.> Acesso em: 26 set. 2005
TODOROV, T. Estruturalismo e Poética. Tradução José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix,
1971.
____________et al. A Descrição da Significação em Literatura. In: Literatura e
Semiologia.Tradução Célia Neves Dourado. Petrópolis: Vozes, 1972. (Coleção Novas
Perspectivas em Comunicação 3. p. 148-159).
____________ et al. Perspectivas Semiológicas. In: Semiologia e Lingüística. Tradução
Lígia Maria Ponde Vassalo e Moacyr Cirne. Petrópolis: Vozes, 1971. (Coleção Novas
Perspectivas em Comunicação 2, p. 26-36).
VERÍSSIMO, J. História da literatura brasileira. 5. ed. Rio de Janeiro: Livraria José
Olympio Editora, 1969.
VIEIRA, A. O prazer do texto: perspectivas para o ensino de literatura. São Paulo: EPU,
1989.
WELLEK, R; WARREN, A. Teoria da literatura. Tradução Jose Palla e Carmo. Publicações
Europa-América, 1962.
ZILBERMAN, R. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática, 1989.
______________. A Leitura e o ensino da literatura. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1991.
__________ et al. Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1985.
_____________. A literatura infantil na escola. 6. ed. São Paulo: Global Editora, 1987.
_____________; Silva, E.T. Literatura e pedagogia: ponto e contraponto. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1990.
218
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AGUIAR E SILVA, V.M. Teoria da literatura. Coimbra: Almedina, 1968.
ARISTÓTELES. Poética. Tradução Eudoro de Sousa. Lisboa: Guimarães, 1964.
ATHAYDE, T. de. Teoria, crítica e história literária. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos, 1980.
AUERBACH, E. Mimesis. São Paulo: Perspectiva/ Edusp, 1971.
AZEVEDO FILHO et al. Tendências da literatura contemporânea. Rio de Janeiro: Gernaa,
1969.
BARTHES, R. O Grau zero da escritura. Tradução Anne Arnichand e Álvaro Lorencini.
São Paulo: Cultrix, 1971.
____________.O Prazer do texto. Tradução Jaime Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 1996.
BAUDRILLARD, J. A Troca impossível. Tradução Cristina Lacerda e Teresa Dias Carneiro
da Cunha. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
BENSE, M. Pequena Estética. Tradução Jaime Guinsburg e Ingrid Dormien. São Paulo:
Perspectiva, 1971.
BOSI, A. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
BOURDIEU, P. Leitura, leitores, letrados, literatura. In: Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense,
1990.
BRASIL. Ministério da Educação. Catálogo do Programa Nacional do Livro para o
Ensino Médio: PNLEM/ 2006- Língua Portuguesa. MEC/ SEB/ FNDE, Brasília, 2005.
________. Guia de Livros Didáticos- a séries: alfabetização/ Língua Portuguesa.
Programa Nacional do Livro Didático 2004. MEC/ SEF, Brasília, 2003.
________. Guia de Livros Didáticos- a séries- Língua Portuguesa. PNLD 2002.
MEC/ COMDIPE/SEF/FNDE/ CENPEC, Brasília, 2001.
BURKE, K. Teoria da forma Literária. São Paulo: Cultrix, 1969.
CALVINO, I. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
_____________. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Companhia das Letras,
1991.
CAMPOS, H. de. A Arte no horizonte do provável. 4 ed. São Paulo: Perspectiva, 1977.
____________. Metalinguagem & outras metas. São Paulo: Perspectiva, 1992.
CANDIDO, A. O estudo analítico do poema. 3 ed. São Paulo, Humanitas Publicações, 1996.
____________. Literatura e sociedade. São Paulo: Nacional, 1965.
____________. Na sala de aula. Caderno de análise literária. 6 ed. São Paulo: Ática,1998.
219
CARPEAUX, O. M. Presenças. Rio de Janeiro: INL, 1958.
CARRETER, F. L.; LARA, C. de. Manual de explicação de textos (Cursos Médio e
Superior). São Paulo: Centro Universitário, 1962.
CARVALHO, A.L.C. de. Interpretação da poética de Aristóteles. S. J. do Rio Preto:
Editora Rio-pretense, 1998.
CASTAGNINO, R. H. Análise literária. Tradução Luiz Aparecido Caruso. São Paulo:
Mestre Jou, 1968.
COLOMER, T. A Formação do leitor literário: narrativa infantil e juvenil atual.
Tradução Laura Sandroni. São Paulo: Global, 2003
CUMMING, R. Para entender a arte. Tradução Isa Mara Lando. São Paulo: Ática, s/d.
DAICHES, D. Posições da crítica em face da literatura. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1967.
ECO, U. Interpretação e superinterpretação. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
_______.Os Limites da interpretação. Tradução Pérola de Carvalho. São Paulo, Perspectiva,
1990.
_______.Semiótica e filosofia da linguagem. Tradução Mariarosaria Fabris e José Luiz
Fiorin. São Paulo: Ática, 1991. Série Fundamentos.
_______. O Signo. Tradução Maria de Fátima Amino, São Paulo: Martins Fontes, 1974.
ECO, U. et SEBEOK, T. A. (orgs) O Signo de três. Dupim, Holmes, Peirce. Tradução
Silvana Garcia. São Paulo: Perspectiva, 1991.
FARIA. M. A. Parâmetros curriculares e literatura: as personagens que os alunos
realmente gostam. São Paulo: Contexto, 1999.
FIORIN, J. L. Elementos de análise do discurso. 3. ed. São Paulo: Contexto,1992. Série
Repensando a Língua Portuguesa.
FOUCAULT, M. et alii. Estruturalismo e teoria da linguagem. Petrópolis: Vozes, 1971.
FRANCO, M. L. P. B. Ensino Médio: desafios e reflexões. Campinas: Papirus, 1994.
FRIEDRICH, H. Estrutura da lírica moderna. Tradução M.M. Curioni e D.F. da Silva. São
Paulo: Duas Cidades, 1978.
FRYE, N. Anatomia da crítica. Trad. Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo: Cultrix,
1973.
GRAMSCI, A. Literatura e vida nacional. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1978.
GENETTE, G. Discurso da narrativa. Tradução F.C. Martins. Lisboa: Veja, s.d.
GREIMAS, A. J. Dicionário de semiótica. Tradução Tieko Yamaguchi Miyazaki (et al) São
Paulo: Cultrix, 1979.
220
HAUSER, A. História social da arte e da literatura. Tradução Álvaro Cabral. São Paulo:
Martins Fontes, 1998.
HUTCHEON, L. Poética do pós-modernismo: história, teoria, ficção. Tradução Ricardo
Cruz. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
IMBERNÓN, F. (org) A Educação no século XXI: os desafios do futuro imediato.
Tradução Ernani Rosa. Porto Alegre: Artes Médicas Sul: 2000.
JOBIM, J. L. (org). Palavras da crítica. Rio de Janeiro: Imago, 1992.
KATO, M. O Aprendizado da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1985.
LÉVI STRAUSS, C. Olhar, ler, escutar. Tradução Beatriz Perrone Moisés. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.
LIMA, L.C Mímesis: desafio ao pensamento. RJ: Civilização Brasileira, 2000.
_________. Mimesis e modernidade. Rio de Janeiro: Graal, 1980.
_________. Pensando nos Trópicos. Rio de Janeiro: Rocco, 1991.
LOPES, P. E. A Desinvenção do som: leituras dialógicas do tropicalismo. Campinas: Pontes,
1999.
MACHADO. A. M. Contracorrente: conversas sobre leitura e política. o Paulo: Ática,
1999.
NÖTH, W. Panorama da semiótica: de Platão a Peirce. São Paulo: Annablume, 1995.
________. A Semiótica no século XX. São Paulo: Annablume, 1996.
OLIVEIRA, A. C.; SANTAELLA, L. (org). Semiótica da literatura.. São Paulo: EDUC,
1987. (Série Cadernos PUC nº 28)
OLIVEIRA, V. S. de. Poesia e pintura: um diálogo em três dimensões. São Paulo: Ed.
UNESP, 1999.
ORTEGA y GASSET, J. A Desumanização da arte. Tradução Ricardo Araújo. 4 ed. São
Paulo: Cortez, 2003.
PAZ, O. O Arco e a lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
PIGNATARI, D. Contracomunicação. São Paulo: Perspectiva, 1971.
_____________. Informação. Linguagem.Comunicação. São Paulo: Perspectiva, 1976.
PROPP, V. Morfologia do conto. Lisboa : Editorial Vega, 1978.
RAMOS, M.L. Fenomenologia da obra literária. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1968.
ROSENFELD, A. Texto/Contexto. São Paulo: Perspectiva, 1969. (Coleção Debates).
221
SANTOS, J.F. dos. O que é o pós-moderno. 8 ed. São Paulo: Brasiliense, 1990.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. CENP. Escola nas férias: aprendendo
sempre. São Paulo, 2001
______________. Secretaria da Educação. CENP.Escola nas férias: aprendendo sempre.São
Paulo, 2002.
______________. Secretaria da Educação. CENP. Textos em contextos: formando leitores
Ciclo I. s/d
______________. Secretaria da Educação. CENP. Textos em contextos. formando leitores
Ciclo II s/d.
SÃO PAULO (Município). Bibliografia brasileira de literatura infantil e juvenil. Seção de
Bibliografia e Documentação da Biblioteca infanto-juvenil Monteiro Lobato, Secretaria
Municipal de Cultura, 2000. v.8.
SAUSSURE, F. de. Curso de lingüística geral. Tradução A. Chelini, José Paulo Paes e
Isidoro Blikstein. 4. ed. São Paulo: Cultrix, 1972.
SCOTT, M. Lendo nas Entrelinhas.. São Paulo: Cortez, 1983. Cadernos PUC nº 16.
SANTAELLA, L. Estética: de Platão a Peirce. São Paulo: Experimento, 1994.
______________. O que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1987.
SEGRE, C. Os Signos e a Crítica. São Paulo: Perspectiva, 1974.
SEVCENKO, N. Literatura como missão. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985.
SILVA, E. T. da. A Leitura no contexto escolar. FDE São Paulo, 1990. (Série Idéias 5).
__________. Elementos de pedagogia da leitura. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
SODRÉ. M. Best-seller: a literatura de mercado. Série Princípios. 2. ed. São Paulo: Ática,
1988.
STAIGER, E. Conceitos fundamentais da poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.
STRICKLAND, C. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. Trad. Ângela L de
Andrade. RJ: Ediouro, 1999.
TADIÉ. J.Y. A crítica literária no séc. XX. Tradução Wilma F.R. Carvalho. São Paulo:
Bertrand Brasil, 1992.
TATIT, L. Análise semiótica através das letras. SP: Ateliê Editorial, 2001.
TODOROV. T. Os Gêneros do discurso. Tradução Elisa A Kossovitch. São Paulo: Martins
Fontes, 1980.
YLLERA, A. Estilística, poética e semiótica literária. Coimbra: Livraria Almedina, 1979.
222
ANEXOS
ANEXO
A- Entrevista inicial realizada no ano de 2002 com professores de Língua
Portuguesa da EB da rede pública de ensino do noroeste paulista.
PESQUISA
1
NOME:_______________________________________________________________________
CIDADE:_____________________________________________________________________
ENDEREÇO:__________________________________________________________________
TELEFONE: __________________________________________________________________
E-MAIL: _____________________________________________________________________
UNIDADE ESCOLAR EM QUE ATUA (OU):_____________________________________
_____________________________________________________________________________
1) SENDO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA, ATUANTE NO ENSINO MÉDIO, QUE LIVROS
VOCÊ APONTARIA COMO MAIS ADEQUADOS PARA O ENSINO DE LITERATURA BRASILEIRA
desde a década de 70:
a)( ) TUFANO, Douglas. Estudos de Literatura Brasileira. SP: Moderna, 1970.
b)( ) NICOLA, José de. Literatura Brasileira. SP: Scipione, 1984.
c)( ) OUTRO ( citar):__________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
2) USOU OUTRO REFERENCIAL TEÓRICO PARA EMBASAR O ENSINO DA LITERATURA:
A( ) SIM
B( ) NÃO
QUAL?______________________________________________________________________
3) UTILIZA AS ORIENTAÇÕES DOS PCNEM NO ENSINO DA LITERATURA?
A ( ) SIM
B ( ) NÃO
4)ACHA NECESSÁRIA A UTILIZAÇÀO DE LIVRO DIDÁTICO NA AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA
OU DE LITERATURA?
A ( ) DISPENSÁVEL
B ( ) INDISPENSÁVEL
5) VOCÊ ACHA QUE OS LIVROS CUMPREM BEM SUA FUNÇÃO?
A ( ) SIM
B ( ) NÃO
POR QUÊ ____________________________________________________________________________
6) ACHA QUE APRESENTARAM AVANÇO SIGNIFICATIVO DA DÉCADA DE 1970 PARA O SÉCULO
XXI ?
A ( ) SIM
B ( ) NÃO
CITAR OS PRINCIPAIS:______________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
1
Responsável: Profa. Ms. Adriana J. Mendes de Campos, ATP de Língua Portuguesa- DER/ Jales
223
ANEXO B- Entrevista com autor do manual didático
Cara Adriana,
Tentarei responder da mesma forma como converso com os professores nesses encontros que
você já conhece, ou seja, em linguagem informal, em tom coloquial, sem maiores
preocupações acadêmicas. Então, conversemos:
1- Como você descreveria o público a que se destina o manual de sua autoria Literatura
brasileira: das origens aos nossos dias?
Ele foi elaborado tendo como público-alvo o alunado de Ensino Médio. A primeira edição,
publicada em fins de 1984, era mais simples e se destinava ao alunado de E.M. em geral (na
época, os manuais mais vendidos eram alguns que vinham da década de 50/60 e o do Douglas
Tufano, da Editora Moderna; todos muito tradicionais e tratando exclusivamente dos textos
literários, sem qualquer trabalho paralelo). As duas últimas edições (já no final da década de
90) apresentaram tratamento mais elaborado na parte gráfica (ganharam cores e papel cuchê)
e um certo refinamento no conteúdo tanto na parte teórica quanto na parte de exercícios
e um trabalho mais intenso e sistematizado com as obras de arte; em outras palavras, tornou-
se um produto um pouco mais elitizado. Com isso, além do alunado de E.M., passou a atingir,
com mais intensidade, o alunado de faculdades de Letras. Mas o público-alvo, mesmo,
continua sendo o alunado de E.M.
2- Que critério(s) adota para selecionar as obras de arte e os textos que o compõem?
Aqui é preciso distinguir dois tipos de texto: 1. os literários do período estudado: têm de ser
representativos daquela estética; 2. os literários ou não-literários, verbais ou o-verbais, do
mesmo período estudado e/ou de outra época: têm de ser textos que permitam a realização de
um trabalho de intertextualidade.
3- O que o levou a aproximar letras de música, obras de arte e textos literários (e de
épocas distintas), bem como a indicação de filmes ao final dos capítulos?
Diria, inicialmente, que sempre tive duas pretensões: 1. levar o aluno a conhecer, entender e
gostar de Literatura e, em particular, de Literatura Brasileira; 2. formar um bom leitor, ou
seja, um leitor atento, crítico, reflexivo, portanto ativo, interativo (na verdade, tudo o que foi
dito sobre o bom leitor é pleonástico, redundante, já que não existe um ‘bom leitor’ que não
seja crítico, reflexivo, interativo, etc.). Em função dessas duas pretensões, passei a realizar,
em minhas aulas, um trabalho com diferentes textos e linguagens (sempre passei filmes para
meus alunos, tanto de colégios como de cursinhos; projetava slides de obras de arte e tocava
músicas de época; discutia a ‘última’ música de Chico, ou Caetano, ou Gil, ou João Bosco e
Aldir Blanc...). No livro, tentei apenas colocar essas minhas experiências que, ao longo dos
anos, se mostraram produtivas. Digo sempre que não acredito no aluno que sabe ler o
poema barroco; ou ele sabe ‘ler’ um poema, um altar, uma música, uma escultura do Barroco,
ou não sabe nada. Claro que essa ‘leitura’ não precisa ser técnica; aqui sigo as orientações dos
PCNs de E.M. (que aliás, nos colocaram na área de ‘linguagens e códigos’, num plural
perfeitamente empregado):
Apreciar produtos de arte, em suas várias linguagens, desenvolvendo tanto a fruição
quanto a análise estética, conhecendo, analisando, refletindo e compreendendo critérios
culturalmente construídos e embasados em conhecimentos afins, de caráter filosófico,
histórico, sociológico, antropológico, psicológico, semiótico, científico e tecnológico, dentre
outros.
Essa capacidade de apreciação frente a manifestações artísticas do próprio meio sociocultural
dos estudantes, e também as nacionais e internacionais que integram o patrimônio cultural
224
edificado pela humanidade no decorrer de sua história e nos diferentes espaços geográficos,
estabelecem inter-relações entre as linguagens artísticas e os demais conhecimentos da área
Linguagens e Códigos. (...)” (PCNs/EM)
4- Há três versões do manual, da década de 80 até o presente. Que avaliações o levaram
a efetuar alterações no livro? Você pretende modificá-lo ainda mais em virtude do
avanço tecnológico?
Acredito ter respondido a primeira parte da pergunta; quanto a novas modificações, fica
difícil falar neste momento. Explico: como o Governo Federal passará a comprar livros (de
Português - volume único para as três séries - e Matemática) para o Ensino Médio a partir de
2006 (na verdade, houve uma compra agora em 2004 os livros chegarão nas mãos dos
alunos em 2005 apenas nas regiões Norte e Nordeste; em 2005 haverá uma compra para
todo o Brasil os livros devem chegar nas escolas no início de 2006 -), teremos mudanças
significativas no mercado editorial (por exemplo: manuais de Literatura e gramáticas ficarão
apenas com o público de escolas particulares de E.M., que já não é grande em função das
escolas que usam sistemas apostilados; acredita-se que apenas as escolas particulares de elite,
não apostiladas, comprarão esses livros; escolas particulares mais populares costumam
comprar volume único). Talvez as editoras voltem seus olhos, no caso de Português, para o
público das faculdades de Letras. De qualquer forma, hoje, novembro de 2004, as tendências
estão por se definir.
Em tempo: a Gramática que acabo de publicar foi pensada para o público de escolas
particulares de E.M. e faculdades de Letras.
5- O que pensa sobre o cânone literário e a literatura popular?
Adriana, não entendi direito o que você quer com essa pergunta. De qualquer forma, quando
trabalhamos com História da Literatura, a tendência é valorizar o cânone literário
(infelizmente, não é da tradição escolar brasileira trabalhar com textos da literatura popular).
Como vê a relação entre a teorização acadêmica, as determinações oficiais, a política
editorial e a preocupação didática? Há sintonia entre essas esferas? Como devem agir os
professores?
No meu modo de entender, o objetivo maior de todo professor que trabalha com Língua e
Literatura é formar um competente produtor de textos e um leitor, digamos, integral (que, em
última análise, são complementares). Todas as ações (definição de conteúdos e estratégias;
avaliação) dos professores devem ter, como principal meta, atingir aquele objetivo. Eu diria
que sempre tentei atingir esse objetivo em minhas aulas e, mais tarde, tentei com os livros.
Sobre a teorização acadêmica, diria que ela é fundamental e acaba, com maior ou menor
intensidade, impregnando a Educação Básica (principalmente o E.M.); por exemplo, hoje,
quando trabalhamos com textos e linguagens, são evidentes aspectos herdados da recente
teorização acadêmica, seja da área de Lingüística, seja da área de Análise de Discurso, Teoria
da Conversação, etc.
Sobre as determinações oficiais, diríamos que os PCNs/EM não resultaram em mudanças
práticas (os PCNs de Ensino Fundamental tiveram melhor repercussão). Tanto que, neste
exato momento, os PCNs de E.M. estão sendo repensados; talvez tenhamos novidades até o
final de 2005).
Sobre a política editorial, não podemos nos esquecer que vivemos num país que fez opção
pelo modelo capitalista, que as editoras são empresas capitalistas (portanto com finalidade
lucrativa) e que estamos assistindo a uma internacionalização de nossas editoras (vide a
espanhola Santillana, que comprou a Moderna; a espanhola Santa Maria, que está entrando na
área didática; a também espanhola Planeta, que também quer entrar na área didática; vide a
entrada de investidores americanos tanto na Saraiva/Atual como no Grupo Abril, hoje
225
proprietário das editoras Scipione e Ática... talvez em bem pouco tempo não tenhamos uma
grande editora de livros didáticos com capital totalmente nacional... talvez...). No entanto, não
posso me queixar: na Scipione temos (editores e autor) chegado a bons (assim espero)
denominadores comuns, buscando conciliar interesses comerciais com pedagógicos (insisto:
poderíamos fazer uma manual de literatura mais simples, mais barato e, com certeza,
venderíamos mais; a Gramática que acabou de sair é outro bom exemplo: desde o início, não
estava – e não está - no planejamento que seria uma gramática para estourar no mercado... por
suas características, tem um público-alvo mais reduzido).
6- Que princípios teóricos estão mais presentes no Literatura Brasileira?
Acho que a melhor forma de responder é apontando alguns autores responsáveis por minha
formação: do Bosi, principalmente, tentei beber das análises estéticas; com o velho Nelson
Werneck Sodré (História da literatura brasileira seus fundamentos econômicos) aprendi
(assim espero) a pensar o contexto histórico e suas relações com a produção artística; Oscar
Lopes e António José Saraiva foram fundamentais na compreensão do mundo português e,
também, das relações arte/contexto histórico; nessa mesma linha, devo muitíssimo a Arnold
Hauser (literatura e arte) e Georg Lukács. No que diz respeito à pintura, devo muito a dois
críticos italianos: Giulio Carlo Argan e Lionello Venturi.
Finalmente, um caso à parte: se tivesse que dividir os direitos autorais, o grande Antonio
Candido ficaria com o maior quinhão.
7- Acha aceitável a utilização dos princípios da Teoria Literária na Educação Básica,
para auxiliar na interpretação das obras? Que formulações ela deve tomar no ensino de
jovens sem provocar a dissolução de suas bases constitutivas?
Neste ponto, devemos, mais do que nunca, seguir o bom senso: evidentemente, sempre que
falamos de literatura, seguimos os princípios da Teoria Literária (definição do objeto de
estudo, conceituação, definição, poesia e prosa, gêneros literários, etc.), mas tendo em mente
que trabalhamos com alunos que, ao ingressar no E.M., nenhum contato tiveram com esses
princípios (um e outro aluno, que por qualquer motivo tenha tido esse contato, são as
exceções que comprovam a regra); então temos de ter jogo de cintura para não agredir os
princípios da TL, nem agredir os alunos.
No meu livro, você encontrará citações (concisas, objetivas, práticas) de algumas obras
clássicas de TL:
AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel de. Teoria da literatura.
AMORA, Antônio Soares. Teoria da literatura.
AMOROSO LIMA, Alceu. A estética literária e o crítico.
ARISTÓTELES. Poética.
COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária.
KAYSER, Wolfgang. Análise e interpretação da obra literária.
POUND, Ezra. ABC da literatura.
WELLEK, René & WARREN, Austin. Teoria da literatura.
8- O que pensa acerca das dificuldades do alunado brasileiro no que diz respeito à
competência leitora? E em relação à escrita formal? Que sugestões faria para minorar
os problemas relativos a tais aspectos?
Em relação à competência leitora, acredito que o nosso alunado (e a nossa sociedade) paga
um alto preço como conseqüência de um modelo pedagógico (conteudista, descritivista,
centrado na informação pela informação, etc., etc., etc.) que predominou em nossas escolas.
Resultado: num ensino em que se privilegia o significante em detrimento do significado
(desde a alfabetização, ficamos no ba-be-bi-bo-bu, em pseudo-textos; mais tarde a
preocupação volta-se para questões ortográficas corrigir redação era [ou será que ainda
é!!!!] corrigir ortografia e pontuação!!!) temos mais decodificadores do que leitores
226
(considerando a definição mais básica de leitura: ler é atribuir significado), ‘leitores’ passivos,
preguiçosos (é só anotar as perguntas dos alunos ante uma proposta de leitura: Quantas
páginas? A letra é grande? Tem desenho? etc.). As aulas de gramática nunca levaram os
alunos a uma postura de reflexão sobre a linguagem (pelo contrário, sempre foi plena de ‘é a
mesma coisa; é optativo’, como se falar ‘a cidade foi invadida pelos bandidos’ e ‘os bandidos
invadiram a cidade’ fosse a mesma coisa!!!!!! Ou ‘os professores estamos exigindo isso’ e ‘os
professores estão exigindo isso’ fosse optativo!!!!! Como se na frase ‘apenas 10 parcelinhas
de tanto’ esse ‘inhas’ fosse apenas um sufixo diminutivo e não, principalmente, um
argumento de persuasão!!!!!!!! E esse APENAS (assim como ‘aliás’, até’ e outras
palavrinhas carregadas de veneno) normalmente nem é ensinado, que não se enquadra em
nenhuma das dez categorias gramaticais!!!!!!!! Se os alunos deixam a Educação Básica
achando que a diferença entre uma adjetiva explicativa e uma adjetiva restritiva é que uma
vem entre vírgulas e a outra, não, a escola não está formando nem um leitor, nem um produtor
de textos.
Um dado: a grande pedra no meio do caminho da pedagogia brasileira (e não só da brasileira!)
é a questão do analfabetismo funcional, prova da falência de um modelo tradicional de ensino.
No Brasil, fala-se que o índice de AF beira a casa dos 70%.
A saída: os professores devem levar os alunos a ter uma postura reflexiva, crítica em relação
às linguagens.
9- Considera o discurso literário secundário em relação a outros, diante da pressão dos
mercados e das dificuldades sociais do país? Como garantir no currículo a categoria
institucional da interpretação, preservando a arte e a literatura como saberes
necessários ao desenvolvimento humano?
Não me passa pela cabeça a possibilidade de o discurso literário ter uma ‘posição secundária’
em relação a qualquer outro discurso. Se alguém aparecer com a idéia insana de eliminar
‘leitura’, Literatura e Arte do currículo, camisa-de-força nele!
Sobre interpretação: Por acaso, hoje é segunda-feira, dia 29/11; ontem foi o vestibular da
Fuvest. Fundamentalmente, uma prova de interpretação. No jornal Folha de S.Paulo, foram
publicados alguns comentários de professores de cursinhos:
Para os professores, a prova de física foi mais simples do que no ano passado. "Houve poucas
contas. Foi cobrado mais raciocínio", disse o coordenador da área no Etapa, Marcelo Monte
Forte. (ou seja, fazer conta é 'complicado'; raciocinar é 'simples')
O professor do Objetivo Fernando Teixeira disse que as questões de interpretação de texto
foram as que apresentaram maiores dificuldades. "Exigia do candidato um papel de leitor
atento”.
Português, na opinião da coordenadora da área no Etapa, Célia Passoni, foi "até fácil". Para
ela, "se depender de português, a nota de corte vai aumentar".
(uma exceção, para confirmar a regra: o Fernando Teixeira avaliou bem - quer dizer, acho que
avaliou bem que empata com a minha avaliação - ; em compensação, a Célia Passoni acha
'fácil' porque a prova pedia interpretação e não datas e nomes.)
As questões de história "não apresentaram grandes dificuldades", na opinião do coordenador
da área no Etapa, Rogério Forastieri da Silva. "Se o vestibulando lesse os textos com cuidado,
conseguiria a resposta."
(de novo: não pediram datas e nomes e sim avaliaram a competência de leitores dos
vestibulandos; mas o professor acha que ‘ler com cuidado’ não apresenta dificuldades. Eu
conversei com alunos e era opinião unânime: a prova de História foi difícil)
Cito o exame da Fuvest, como poderia citar o da Unicamp ou o Enem, para reforçar a
importância de um trabalho de interpretação, de atitude reflexiva, de raciocínio (por falar
nisso, numa coleção de três volumes para o E.M., recentemente publicada, Ernani Terra e eu
resolvemos colocar, na parte de produção de textos, um capítulo sobre Lógica). Reproduzo os
227
comentários de alguns professores para tornar explícito certo pensamento dominante, ainda,
na escola brasileira.
10- O que pensa a respeito dos PCNEM de Língua Portuguesa e dos PCN+? Concorda
com o agrupamento das disciplinas por áreas de estudo? Qual a sua opinião a respeito
da interdisciplinaridade? Procura aplicar esse princípio no “Literatura Brasileira”? De
que modo?
Em primeiro lugar, duas observações: 1. os PCNs, na verdade, apenas refletem novos
caminhos tanto em relação ao paradigma pedagógico amplo como em relação ao paradigma
de cada disciplina, com suas especificidades (a maior prova disso é que os nossos PCNs
incorporaram caminhos trilhados pela Espanha (por exemplo, os temas transversais), Itália,
Argentina (promoveu uma reforma no E.M. e publicou documentos semelhantes aos nossos
PCNs em 1996; o nosso PCN/EM é de 1999), etc.; 2. no meu entendimento, a grande virtude
dos PCNs foi ter sistematizado a discussão (até então, idéias pipocavam aqui e ali), oferecido
documentos (os tais livrinhos) a que todos os professores (particularmente os da rede pública)
tiveram acesso.
Uma falha grave: não houve uma ampla discussão para se chegar aos documentos finais (na
época, eu participava da diretoria da ABRALE, entidade que reúne autores de livros
educativos, e chegamos a ir a Brasília, discutimos alguns pontos (notadamente nas áreas de
Matemática e Português), pedimos maior participação de autores e professores, mas os
documentos saíram, digamos, dos gabinetes (Matemática é uma exceção, que existe uma
Sociedade Brasileira de Educação Matemática, muito participativa). Resultado: hoje, falar que
um livro didático ‘está de acordo com os PCNs’ é sinônimo de ‘não-adoção’ por parte de
significativa parcela do professorado da rede pública (no PNLD, por exemplo, em que os
professores da rede pública podem escolher o livro didático entre várias opções, a escolha
recai sobre livros mais tradicionais, exatamente aqueles que estão mais distantes das propostas
dos PCNs).
Quanto à interdisciplinaridade (e mais: multidisciplinaridade; transdisciplinaridade), acredito
que sempre esteve presente em todas as boas aulas, em todos os tempos (caso contrário, não
podemos qualificar a aula de ‘boa’). Pergunto: é possível ensinar literatura sem contextualizar
a produção literária? É possível falar de Os Lusíadas sem falar da expansão marítima
portuguesa e do Vasco da Gama, em particular? É possível discutir a Carta do Caminha sem
discutir o olhar dos portugueses sobre a terra nova (visão do Paraíso, do bom selvagem, do
mercado fornecedor de matéria-prima, da mão-de-obra, etc.)? É possível discutir Naturalismo
no século XIX sem mencionar Darwin, Marx e tantos outros? É possível ler o Drummond das
décadas de 30 e 40 sem discutir o nazi-fascismo? ...
Em meus livros procuro estabelecer essas relações, que são interdisciplinares; da mesma
forma, o trabalho com a intertextualidade é fundamental.
Quaisquer outros comentários de sua parte e da equipe de arte e produção serão bem-vindos.
O pessoal da Editoria deve mandar alguns comentários.
Por considerar esclarecedor, envio, em documento anexo, algumas considerações que tenho
publicado em forma de Assessoria Pedagógica para os professores.
Se algum ponto não ficou bem esclarecido ou se você desejar aprofundar uma ou outra coisa,
escreva-me.
Um grande abraço, - José De Nicola
228
ANEXO C - GUIAS CURRICULARES ( 1975) OBJETIVOS GERAIS
LÍNGUA PORTUGUESA
Cultivo de linguagens que ensejem ao aluno o contacto coerente com os seus
semelhantes e a manifestação harmônica de sua personalidade, nos aspectos físico, psíquico, e
espiritual, ressaltando-se a Língua Portuguesa como expressão da Cultura Brasileira. (Res.
8 CFE, art. 3º, letra a).
Objetivo que se descreve:
- desenvolvimento da habilidade de comunicar-se mais precisa e
eficazmente dentro do grupo social;
- ajustamento e participação nos padrões do grupo pela aquisição de
informações e habilidades aceitas por ele através do domínio da
linguagem oral e escrita;
- auto-realização pela satisfação pessoal por eficiência na comunicação, na
integração e na busca de seus valores ideais.
O aluno conseguirá, ao longo e ao final dos 8 anos do curso de 1º grau:
a) conscientizar-se da existência de um substrato para a linguagem aparentado
com o racional, isto é, relação entre o nível operatório e o plano lingüístico;
b) reconhecer sua “competência” lingüística e os modelos que ela lhe oferece a
fim de poder adequá-los às normas gerais ( A língua é um sistema de
estruturas coerentes);
c) usar em seus enunciados todo o sistema de transformações que a língua
oferece, para que obtenha, além de boa aceitabilidade em seus enunciados,
formas novas para expressar-se. Não limites de formas novas, as
possibilidades de transformações são infinitas;
d) compreender em seus múltiplos aspectos o processo da comunicação e
analisa-lo;
e) passar da linguagem oral, predominantemente situada, para a contextual,
principalmente escrita;
f) usar a língua em todas as áreas de estudo, ajustando-a especificamente (
Ciências, Estudos Sociais...);
g) reconhecer, classificar e usar os diferentes tipos de registro;
h) obter entretenimento pessoal;
i) criar formas novas de expressão a partir da atividade crítica;
j) desenvolver critérios para o estabelecimento da escala de valores;
k) obter elementos que lhe possibilitem a compreensão do homem;
l) obter elementos que lhe facultem a melhor compreensão e valorização do
povo e da cultura brasileira;
m) obter elementos que lhe propiciem a compreensão e valorização da cultura de
outros povos, em especial o português.
229
ANEXO D GUIAS CURRICULARES – SEE/SP- 1º GRAU – 1975- CERHUPE
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
O aluno conseguirá: SÉRIES
A)
Expressar-se oralmente
1.
em pensamentos complexos e claros
x x x x x x x x
2.
com seqüência
x x x x x x x x
3.
pronunciando com clareza e correção as palavras
x x x x x x x x
4.
Selecionando e procurando evidenciar as idéias
importantes
x x x x x x x x
5.
com vocabulário adequado
x x x x x x x x
6.
com espontaneidade, segurança, ritmo e
entonação adequados, para transmitir com
expressividade
x x x x x x x x
7.
Observando a concordância verbal e nominal
x x x x x x x x
8.
Observando a regência de nomes e verbos
x x x x x x x x
9.
empregando os elementos constitutivos da oração
para:
x x x X x x x x
9.1
Criar novos tipos de frase, usando de
transformações
x x x X x x x x
9.2
recriar a partir de uma estrutura qualquer
dada
* * x X x x x x
10.
empregando as diferentes estruturas da língua
portuguesa em seus diferentes registros:
x x x X x x x x
a)
A estrutura dos vocábulos
x x x X x x x x
b)
Os elementos constitutivos da oração:
-a estrutura dos diferentes tipos de frase
-a estrutura da oração simples
x x x X x x x x
c)
Os processos de coordenação e
subordinação
-as possibilidades de substituições,
repetições e a organização dos elementos em
esquemas novos ( criatividade)
x x x X x x x x
B)
Ouvir
1.
Reproduzir
x x x X x x x x
2.
Resumir
* x X x x x x
3.
Identificar a seqüência
3.1
Dos fatos
* x x X x x x x
3.2
Das idéias
* x x x
4.
Identificar a idéia principal
4.1
de explicações, palestras, diálogos,
discursos, noticiários, textos denotativos
*
x x x x
4.2
De textos conotativos
*
* x x x
5.
Identificar os participantes do discurso
x x x X x x x x
6.
Detectar características físicas das personagens
x x x X x x x x
7.
Detectar características psicológicas das
personagens
x x x X x x x x
8.
Detectar características do ambiente físico
descrito
x x x X x x x x
230
9.
Determinar e analisar atitudes e reações das
personagens
* * *
x x
10.
Determinar e analisar relações ( de tempo-espaço,
causa-efeito
X x x x x
11.
Delimitar partes
X x x x x
12.
Identificar pormenores
*
x X x x x x
13.
Identificar as funções da linguagem
x x x X x x x x
14.
Distinguir fato de hipótese
x x x
15.
Distinguir opinião de argumento
x x x
16.
Identificar novos tipos de frases geradas por
transformações
x x x X x x x x
17.
Identificar estruturas diversas em diferentes
registros
x x x X x x x x
C)
Ler para:
1.
Reproduzir
x x x X x x x x
2.
Determinar o significado das palavras do texto
com um mínimo de 70% de acerto
x x x X x x x x
3.
Incorporar ao vocabulário ativo as palavras novas
para ele ( vocabulário passivo) e dispor delas (
empregá-las corretamente)
x x x X x x x x
4.
Resumir
* * X x x x x
5.
Identificar seqüência
5.1
Dos fatos
* x x X x x x x
5.2
Das idéias
* * x x x
6.
Identificar a idéia principal:
6.1
Textos denotativos
x x x x x x x x
6.2
Textos conotativos
x x x x x x x
7.
Identificar personagens
x x x x x x x x
8.
Detectar características físicas das personagens
x x x x x x x x
9.
Detectar características psicológicas das
personagens
x x x x x x x x
10.
Detectar características do ambiente físico
descrito
x x x x x x x x
11.
Determinar e analisar atitudes e reações das
personagens
x x x x
12.
Detectar características do tempo
x x x x
13.
Determinar e analisar relações ( de causa-efeito,
tempo-espaço)
x
x x x x
14.
Delimitar partes
* x x x x
15.
Identificar pormenores
x x x x x x x x
16.
Identificar a estrutura dos textos informativo e
narrativo:
a)
levantamento e análise das funções da
linguagem
x x x x x x x
b)
composição do texto
- ordem em que os acontecimentos ter-se-iam
dado
x x x x x x x
- ordem em que os argumentos apresentados
deveriam ser expostos
* x x x
- alteração na ordem exposta dos fatos
x x x x x x
-alteração na ordem exposta dos argumentos
* x x x
231
- valor composicional dessa alteração
* x
17.
Identificar pormenores estilísticos ao nível do seu
conhecimento lingüístico
x x x x x x
18.
Observar, oralmente, fluência, entonação,
pronúncia correta e clara, segurança para
transmitir com expressividade
x x x x x x x
19.
Adquirir, na leitura silenciosa, quando necessária,
rapidez, mantendo a expressividade
x x x
20.
Classificar ( recortes)
x x x x x
21.
Organizar o material coletado
x x x x x
22.
Fazer: - anotações
x x x x
- resumos ( sumários)
x x x x x
- sinóticos
x x x
- fichamentos
x x
23.
Distinguir fato de hipóstese
x x x
24.
Distinguir opinião de argumento
x x x
O aluno conseguirá ler, independentemente ou não,
obras de literatura, de seu nível e interesse para:
1.
realizar operações elencadas no item LER
quando requeridas
x x x x
2.
Identificar alguns gêneros literários
*
x x
3.
Recriar um texto
* * x x x x
4.
produzir textos a partir de sua própria
linguagem
*
x x x x x x x
O aluno conseguirá consultar e/ou utilizar material
informativo para fins de estudo, tais como:
1.
Índices em geral
x x ° ° ° °
2.
glossários e dicionários
* x x ° ° °
3.
fichários, principalmente de bibliotecas
* x x ° °
4.
jornais e revistas
x x x x x x
5.
recursos visuais: gravuras, gráficos, tabelas,
mapas, etc.
* * x x x x x
D)
Expressar-se por escrito
1.
em pensamentos completos e claros
x x x x x x x
2.
com seqüência
x x x x x x
3.
com vocabulário adequado
x x x x x x x
4.
selecionando e procurando evidenciar as idéias
importantes
x x x x x x
5.
com espontaneidade e variedade de expressão
x x x x x x
6.
Observando a concordância nominal e verbal
x x x x x x x
7.
Observando a regência de nomes e verbos
x x x x x x x
8.
Empregando as diferentes estruturas da língua
portuguesa em seus diferentes registros:
a)
a estrutura dos vocábulos
x x x x x x x
b)
os elementos constitutivos da oração
- a estrutura dos diferentes tipos de frase
x x x x x x x
- a estrutura da oração simples
x x x x x x x
c)
os processos de coordenação e subordinação
x x x x x x x
232
- as possibilidades de substituições, repetições e a
organização dos elementos em esquemas novos
( criatividade)
x x x x x x x
Ao registrar suas idéias, o aluno:
1.
Revelará higiene e estética da escrita
evidenciados por:
1.1
Legibilidade
x x x x ° ° ° °
1.2
uniformidade e ritmo no grafar
x x x x ° ° ° °
1.3
Distribuição do material grafado (
espacejamento, margens, parágrafos, etc.)
x x x x ° ° ° °
2.
Conseguirá empregar adequadamente:
2.1 Ponto final
* x x x ° ° ° °
2.2 Ponto de exclamação
* x x x ° ° ° °
2.3 Ponto de interrogação
x x x x ° ° ° °
2.4 Vírgula
2.4.1
Para separar nas datas o nome do
lugar
x x ° ° ° ° ° °
2.4.2
Casos mais usuais
* x x x x x
2.5 ponto e vírgula
* * x x
2.6 Dois pontos
* * x x ° °
2.7 Travessão
* x x ° °
2.8 Dois pontos e travessão em diálogos
* * x x ° ° °
2.9 Reticências
* * x x °
2.10 Aspas
* * x x x °
2.11 Parênteses
* * x x x °
2.12 Fíen
* * x x x °
3.
Revelará automatismos da ortografia oficial de
palavras em que ocorram:
3.1 palavras formadas de sílabas de uma
consoante e uma vogal, sem o o e e no final
x ° ° ° ° ° ° °
3.2 palavras formadas de sílabas de uma
consoante e uma vogal, com o o e e no
final
x ° ° ° ° ° ° °
3.3 Palavras formadas por r simples e duplo
x x ° ° ° ° ° °
3.4 Grupos consonantais:
- de duas letras
* x x x ° ° ° °
- de três letras
* x x x ° ° ° °
3.5 Dígrafos
* x x x ° ° ° °
3.6 H inicial
* * x x ° ° ° °
3.7 M antes de p e b
* x ° ° ° ° ° °
3.8 Finais em ao e am
* * x ° ° ° ° °
3.9 Hiatos e ditongos
* * x x ° ° ° °
3.10 Ch
* * x x ° ° ° °
3.11 X
* * * x x ° ° °
3.12 C e ç, representando o fonema s ( cedo,
peço)
* x x ° ° ° ° °
3.13 S, representando o fonema z ( asa)
* * x x ° ° ° °
3.14 G e j
* * x x x ° ° °
3.15 I e u
* * x ° ° ° ° °
3.16 Sufixo –oso
* * x x ° ° ° °
233
3.17 Sufixo-ção
* * x ° ° ° ° °
3.18 Sufixos eza, izar
* * x x x ° ° °
3.19 Prefixos mais comuns ( por exemplo re, in,
dês, etc.)
* * x x ° ° ° °
3.20 Maiúsculas
* x ° ° ° ° ° °
3.21 Fíen
* * * x x x ° °
4.
Revelará automatismos quanto às transformações
das formas verbais:
4.1 Nominais
* x x x x x x x
4.2 presente do indicativo
* x x x x x x x
4.3 pretérito imperfeito do indicativo
* x x x x x x x
4.4 pretérito perfeito do indicativo
* x x x x x x x
4.5 pretérito mais que perfeito do indicativo
(predominantemente a forma composta)
x x x x x
4.6 futuro do presente do indicativo
* x x x x x x x
4.7 futuro do pretérito do indicativo
* * x x x x x
4.8 presente do subjuntivo
* x x x x x
4.9 pretérito imperfeito do subjuntivo
x x x x x
4.10 futuro do subjuntivo
x x x x x
4.11 Imperativo
* * * *
x x
5.
Revelará automatismos da ortografia de palavras:
5.1 Oxítonas
*
x x x x ° ° °
5.2 Paroxítonas
* * *
x x x x °
5.3 Proparoxítonas
* *
x x x x ° °
LEGENDA
X
Habilidade enfocada com preocupação de sistematização
*
Habilidade enfocada sem preocupação de sistematização
°
Habilidade adquirida, observando-se manutenção
Com relação às atividades, utiliza-se apenas a convenção x porque elas são sempre
realizadas em situação definida.
GUIAS CURRICULARES – SEE/SP- 1º GRAU – 1975- CERHUPE
ATIVIDADES – LINGUAGEM ORAL – OUVIR E FALAR
O aluno conseguirá: SÉRIES
Em situações funcionais
1.
Apresentações
x x x x x x x x
2.
Recados e avisos
x x x x x x x x
3.
Entrevistas
x x x x x x x x
4.
Conversas
x x x x x x x x
5.
Discussões
x x x x x x
6.
Relatórios
x x x x x x
7.
Comentários
x x x x x
8.
Instruções
x x x x x x x x
Em situações recreativas e criadoras
1.
Estórias narradas e/ou lidas
x x x x x x x x
234
2.
Dramatização
x x x x x x x x
3.
Poesia, jogral
x x x x x x x x
4.
Canções populares
x x x x x x x x
5.
Jogos
x x x x x x x x
6.
Recriação e transformação de estórias
partindo da própria linguagem do aluno
x x x x x x x x
Em situação de ampliação e precisão de
vocabulário
1.
Campos associativos
x x x x x x x x
2.
Exercícios com sinônimos e antônimos
(prefixos e sufixos)
x x x x x x x
3.
Comentário de palavras de significação
nova para o aluno
x x x x x x x x
4.
Emprego de palavras conhecidas ou novas em
orações para mostrar nuances de significado
(contexto)
x x x x x x
5.
Substituição de palavras do texto por
sinônimos
(contexto)
x x x x x x
6.
Emprego de palavras em pequenas estórias
narradas
x x x x x x
Em situação de análise do processo de
comunicação e dos aspectos da língua
referentes a ele:
1.
Apresentação de esquema de comunicação,
identificação de elementos de comunicação
x x x x x x x
2.
Pesquisa de outros tipos de código (além da
linguagem)
x x x x x x x
3.
Linguagem humana e linguagem animal (tipos
de comunicação de que os animais são
capazes)
x x x x x x x
4.
Pesquisar as várias funções da linguagem
x x x x x x x x
5.
Pesquisar o papel predominante da função
representativa no processo de comunicação
x x x x x x x x
6.
Exercitar-se na função representativa
x x x x x x x
7.
Exercitar-se nas funções de apelo,
expressiva e poética (mais ligadas ao estilo)
x x
8.
Pesquisar e exercitar outras formas de
linguagem (além da própria_ por exemplo: a
do professor, a de um orador conhecido pelo
aluno...), verificando ou graus de formalidade
nos vários tipos de discurso
x x x x x
9.
Aspectos fônicos da língua
9.1 Exercícios para identificação de
fonemas
x x x x x x x
9.2 Variantes da língua
x x x x x x
9.3 Elementos de comunicação
extralingüísticos
x x x x x
235
10.
Aspectos semânticos ligados à área de
experiência do aluno
10.1 Séries sinonímicas
x x x x x x x
10.2 Denotação e conotação
x x x x x x
11.
Aspectos morfossintáticos:
Entonação
x x x x x x x
Ordem dos vocábulos nas orações
x x x x x x
Associação de vocábulos
x x x x x x x
Concordância
x x x x x x x
Valores funcionais sintático-semânticos dos
elementos constituintes da oração
x x x x x
Em situação de ampliação de esquemas
operatórios
1.
Exercícios para corrigir dificuldades:
1.1
De pronuncia
x x x x x x x x
1.2
De concordância que deve ser
observada pelos alunos
x x x x x x x x
2.
Exercícios estruturais e de transformações
(negativa, passiva, interrogativa, transposição,
supressão, ampliação, transitiva e intransitiva)
x x x x x x x x
LEITURA
Para desenvolvimento de leitura básica:
1.
Leitura silenciosa de textos que possibilitem
estudo ( ver objetivos)
x x x x x x x
2.
Leitura rápida, quando necessária, e/ou
fluente, mantendo a expressividade e a
compreensão
x x x x x x
3.
Leitura oral de textos em prosa e verso para
ser apresentada:
x x x x
3.1
Individualmente
x x x
x
x x x x
3.2
Em forma dialogada
x x x
x
x x x x
3.3
Jogralizada
x x x
x
x x x x
3.4
Dramatizada
x x x
x
x x x x
3.5
Em pequenos grupos
x x x
x
x x x x
4.
Leitura oral de notícias e informações
x x
x
x x x X
5.
Leitura oral de textos desconhecidos
x x x x x x X
Para ampliação e precisão de vocabulário
1.
Estudo de vocabulário por meio de:
1.1
Campos associativos
x x x x x x X
1.2
Exercícios com sinônimos e antônimos
(prefixos e sufixos)
x x x x x x X
1.3
Comentário de palavras novas para o
aluno
x x x x x x x X
1.4
Emprego de palavras conhecidas ou
novas em frases para mostrar nuances
de significado (contexto)
x x x x x x x X
1.5
Substituição de palavras do texto por
sinônimos (contexto)
x x x x x x x
236
1.6
Uso de glossários e dicionários
x x x x x x X
Para desenvolvimento de leitura de obras
de literatura:
1.
Dramatização
x x x x x X
2.
Expressão criadora ( por exemplo plástica)
x x x x x X
3.
Roteiro de leitura para estudo do livro lido
(ver objetivo)
x x x x x X
4.
Discussões, debates
x x x x x X
Para aprendizagem de leitura orientada
para fins de estudo:
1.
Consulta de material informativo
x x x x x X
2.
Leitura de textos informativos (ver objeto
correspondente)
2.1
Anotações
x x x x x X
2.2
Reproduções
x x x x x x X
2.3
Resumos (sumários)
x x x x x X
2.4
Sinóticos
x x x
2.5
Classificações
x x x x x X
LINGUAGEM ESCRITA
Em situações funcionais
1.
Bilhetes
x x x x x x x x
2.
Recados
x x x x x x x x
3.
Cartas
x x x x x x
4.
Anotações Informais
x x x x x x x
5.
Avisos
x x x x x x x x
6.
Anúncios
x x x x x
7.
Notícias
x x x x x
8.
Telegramas
x x x x
9.
Relatórios
x x x x x x
10.
Comentários
x x x x x x
11.
Reproduções
x x x x x x x
12.
Resumos
x x x x x
13.
Instruções
x x x x x x x
14.
Preenchimento de documento padrão, por
exemplo: cheques, depósitos bancários, ficha
de biblioteca
x x x x x x
15.
Respostas a perguntas de roteiros para estudo
de textos
x x x x x x
16.
Requerimentos ofícios
x
Em situações recreativas e criadoras
1.
Estórias inspiradas em:
1.1 Vivências
x x x x x x x
1.2 Assuntos de jornais, revistas, rádio,
televisão, cinema, teatro
x x x x x x x
1.3 Assuntos de outras matérias
x x x x x x
1.4 Outras estórias lidas ou ouvidas
x x x x x x x x
1.5 Textos em prosa e verso
x x x x x x x
1.6 Canções
x x x x x x x
1.7 Exposições
x x x x x x x
1.8 Dramatizações
x x x x x x x
237
2.
Recriação de textos
x x x x x
3.
Transformações em textos partindo de orações
e de períodos
x x x x x
4.
Produção de pequenos textos
x x x x x x x
5.
Composição criadora
5.1 Com estímulos
x x x x x x x x
5.2 Sem estímulos
x x x x x x x x
6.
Composição criadora de:
6.1 Crônicas
x x x
6.2 Editoriais
x x
6.3 Contos
x x
6.4 Novelas
x
6.5 Poemas
x x
Em situações de ortografia
1.
Cópia de trechos para confronto
x x x x x x x
2.
Exercício ortográfico
x x x x x x x x
3.
Divisão silábica
x x x x x x
4.
Ditados de trechos curtos
x x x x x x x x
5.
Jogos
x x x x x x x x
6.
Associação de palavras cognatas, de palavras
com o mesmo começo ou final, etc.
x x x x x x x
7.
Organização de listas de palavras:
x x x x x x x
7.1 Oxítonas
x x x x x x x
7.2 Paroxítonas
x x x x x
7.3 Proparoxítonas
x x x x x x
Em situações de ampliação e precisão de
vocabulário:
1.
Campos associativos
x x x x x x
2.
Exercícios com sinônimos e antônimos (
prefixos e sufixos)
x x x x x x x
3.
Elaboração de oração com palavras
conhecidas ou novas para fixação do
significado
x x x x x x x x
4.
Substituição de palavras do texto por
sinônimos
x x x x x x x
5.
Emprego de palavras na elaboração de
parágrafos
x x x x x x
6.
Derivação de palavras, casos simples
x x x x x x x
7.
Derivação de palavras em geral
x x x
Em situação de ampliação de esquemas
operatórios
1.
Exercícios sintático-semânticos de
transformações de orações
x x x x x x x
2.
Exercícios de concordância entre os vários
elementos da oração
x x x x x x X
Colaborador Especial: Professor Carlos Franchi
238
ANEXO E - MATRIZ DE COMPETÊNCIAS E HABILIDADES ENEM
2
As cinco competências são:
I
Dominar a norma culta da língua portuguesa e fazer uso das linguagens matemática, artística
e científica.
II Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a compreensão de
fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e das
manifestações artísticas.
III Selecionar, organizar, relacionar e interpretar dados e informações, representados de
diferentes formas, para a tomada de decisões e enfrentamento de situações-problema.
IV
Relacionar informações, representadas de diferentes formas, e conhecimentos disponíveis
em situações concretas, para construir argumentação consistente.
V Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaborar propostas de intervenção
solidária na realidade, respeitando-se os valores humanos e considerando-se a diversidade
sociocultural.
PARTE OBJETIVA
Dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens matemática, artística e
científica.
Construir e aplicar conceitos das rias áreas do conhecimento para a compreensão de
fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e das
manifestações artísticas.
Selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações representados de diferentes formas,
para tomar decisões e enfrentar situações-problema.
Relacionar informações, representadas em diferentes formas, e conhecimentos disponíveis em
situações concretas, para construir argumentação consistente.
Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaboração de propostas de intervenção
solidária na realidade, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural.
REDAÇÃO
Demonstrar domínio da norma culta da língua escrita.
Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para
desenvolver o tema dentro dos limites estruturais do texto.
Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de
um ponto de vista.
Demonstrar conhecimento dos mecanismos lingüísticos necessários para a construção da
argumentação.
Elaborar proposta de solução para o problema abordado, mostrando respeito aos valores humanos e
considerando a diversidade sociocultural.
HABILIDADES
Dada a descrição discursiva ou por ilustração de um experimento ou fenômeno, de natureza científica,
tecnológica ou social, identificar variáveis relevantes e selecionar os instrumentos necessários para a realização
ou interpretação do mesmo.
Em um gráfico cartesiano de variável socioeconômica ou técnico-científica, identificar e analisar valores das
variáveis, intervalos de crescimento ou decréscimo e taxas de variação.
2
ENEM Exame Nacional do Ensino Médio Exame aplicado aos alunos concluintes e que freqüentam o
Ensino Médio para medir a qualidade da aprendizagem e do desempenho do aluno, com vistas a coletar dados de
reorganização dos sistemas de ensino e de regulação dos conteúdos curriculares.
239
Dada uma distribuição estatística de variável social, econômica, física, química ou biológica, traduzir e
interpretar as informações disponíveis, ou reorganizá-las, objetivando interpolações ou extrapolações.
Dada uma situação-problema, apresentada em uma linguagem de determinada área de conhecimento, relacioná-
la com sua formulação em outras linguagens ou vice-versa.
A partir de leitura de textos literários consagrados e de informações sobre concepções artísticas,
estabelecer relações entre eles e seu contexto histórico, social, político ou cultural, inferindo as escolhas
dos temas, dos gêneros discursivos e dos recursos expressivos dos autores.
Com base em um texto, analisar as funções da linguagem, identificar marcas de variantes lingüísticas sócio-
cultural, regional. De registro ou de estilo, e explorar as relações entre as linguagens coloquial e formal.
Identificar e caracterizar a conservação e as transformações de energia em diferentes processos de sua geração e
uso social, e comparar diferentes recursos e opções energéticas.
Analisar criticamente, de forma qualitativa e quantitativa, as implicações ambientais, sociais e econômicas dos
processos de utilização dos recursos naturais materiais ou energéticos.
Compreender o significado e a importância da água e de seu ciclo para a manutenção da vida, em sua relação
com condições socio-ambientais, sabendo quantificar variações de temperatura e mudanças de fase em processos
naturais e de intervenção humana.
Utilizar e interpretar diferentes escalas de tempo para situar e descrever transformações na atmosfera, biosfera,
hidrosfera e litosfera, origem e evolução da vida, variações populacionais e modificações no espaço geográfico.
Diante da diversidade da vida, analisar, do ponto de vista biológico, físico ou químico, padrões comuns nas
estruturas e nos processos que garantem a continuidade e a evolução dos seres vivos.
Analisar fatores socieconômicos e ambientais associados ao desenvolvimento, às condições de vida e saúde de
populações humanas, por meio da interpretação de diferentes indicadores.
Compreender o caráter sistêmico do planeta e reconhecer a importância da biodiversidade para preservação da
vida, relacionando condições do meio e intervenção humana.
Diante da diversidade de formas geométricas planas e espaciais, presentes na natureza ou imaginadas,
caracterizá-las por meio de propriedades, relacionar seus elementos, calcular comprimentos, áreas ou volumes, e
utilizar o conhecimento geométrico para leitura, compreensão e ação sobre a realidade.
Reconhecer o caráter aleatório de fenômenos naturais ou não e utilizar em situações-problema processos de
contagem, representação de freqüências relativas, construção de espaços amostrais, distribuição e cálculo de
probabilidades.
Analisar, de forma qualitativa ou quantitativa, situações-problema referentes a perturbações ambientais,
identificando fonte, transporte e destino dos poluentes, reconhecendo suas transformações; prever efeitos nos
ecossistemas e no sistema produtivo e propor formas de intervenção para reduzir e controlar os efeitos da
poluição ambiental.
Na obtenção e produção de materiais e de insumos energéticos, identificar etapas, calcular rendimentos, taxas e
índices, e analisar implicações sociais, econômicas e ambientais.
Valorizar a diversidade dos patrimônios etnoculturais e artísticos, identificando-a em suas manifestações e
representações em diferentes sociedades, épocas e lugares.
Confrontar interpretações diversas de situações ou fatos de natureza histórico-geográfica, tecnico-científica,
artístico-cultural ou do cotidiano, comparando diferentes pontos de vista, identificando os pressupostos de cada
interpretação e analisando a validade dos argumentos utilizados.
Comparar processos de formação socioeconômica, relacionando-os com seu contexto histórico e geográfico.
Dado um conjunto de informações sobre uma realidade histórico-geográfica, contextualizar e ordenar os eventos
registrados, compreendendo a importância dos fatores sociais, econômicos, políticos ou culturais.
240
ANEXO F- FICHA DIAGNÓSTICA DO ALUNO
3
Nome do aluno: _______________________________________
Quadro Diagnóstico das Habilidades
Assinalar com x a coluna correspondente
Habilidade/ Procedimentosde Leitura
Domina
Não
domina
Tipos de
Texto
1- Localizar informações explicitas no texto
2- Inferir uma informação implícita no texto
3- Estabelecer relações entre informações num texto
4- Identificar o tema central do texto
5- Inferir o sentido de uma palavra ou expressão a partir do contexto
imediato
6- Utilizar informações oferecidas por um glossário ou verbete na
compreensão ou interpretação do texto.
7- Relacionar informações do texto com conhecimento do senso comum
Implicações do suporte do gênero, do enunciador ou
compreensão do texto
8-Realizar inferências e antecipações em relação ao conteúdo do texto a
partir de indicadores como o tipo de texto e características gráficas
9- Diferenciar características de diferentes gêneros ( notícias, narrativa
ficcional, propaganda, anúncio, etc.)
Interpretar texto com auxílio de materi
al gráfico diverso ((propagandas, quadrinhos,
ilustrações, fotos)
Coerência e Coesão no processamento do texto
11- Estabelecer relação entre um problema apresentado e a solução
oferecida.
12- Estabelecer relações entre partes de um texto a partir de repetição ou
substituição de um termo.
13- Estabelecer relação entre fato e opinião relativa a esse fato.
14- Estabelecer relações entre partes de um texto a partir de mecanismo de
concordância verbal e nominal.
15- Estabelecer relação lógico-semântica entre dois fatos apresentados
Relações entre Recursos Expressivos e Efeitos de Sentido
16- Identificar o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de
outras notações ( travessão, exclamação, reticências e etc.)
Variação Lingüística
17- Identificar locutor e interlocutor a partir de marcas lingüísticas
presentes no texto
18- Identificar características típicas da fala
19 -Diferenciar em um texto registro formal e informal
3
Ficha elaborada a partir da matriz SAEB e de configurações didáticas do CENPEC.
241
ANEXO G- QUADRO DOS GÊNEROS TEXTUAIS
SUBSÍDIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES DE LEITURA E
PRODUÇÃO DE TEXTOS
GÊNERO TEXTOS
LITERÁRIO
1. NARRATIVO
2. POÉTICO
( função: enredar, emocionar,
divertir)
Contos
Lendas
Romances
Fábulas
Aventura
Ficção Científica
Novela
Crônica
Obra Teatral
História em Quadrinhos
Poemas
Adivinhas
INFORMATIVO
( FUNÇÃO: INFORMAR)
1. CIENTÍFICO 2. JORNALÍSTICO
Relato de Experimento
Biografia
Relato Histórico
Mapas
Gráficos
Tabelas
Notícias
Reportagem
Entrevista
ARGUMENTATIVO
( Função: argumentar)
Opinião
Dissertação
Monografia
PERSUASIVO
( função: convencer)
Propaganda
Anúncio
Cartaz
Folheto
INSTRUCIONAL
( instruir, prescrever)
Receitas
Regras de jogo
Bulas
Instruções de uso de montagem
Orientações Didáticas
EPISTOLAR/ PRÁTICO
( função: comunicar à distância)
Carta
Bilhete
Convite
Ofícios
Contas de luz, água, telefone
Fonte: CENPEC/2002 – Projeto Recuperação de Ciclo
Observação: A maioria dos textos não se encontra numa classificação ¨ pura¨
TEXTOS QUE UTILIZAM LINGUAGEM NÃO-VERBAL
Artes Plásticas: esculturas/ quadros; Fotografia
Expressão Corporal: Movimento corporal; Mímica; Dança
Música: diferentes sons
Números e outros símbolos matemáticos
242
ANEXO H – ADAPTAÇÃO DO QUADRO DAS HABILIDADES PARA O ENSINO
APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA NO CICLO II DO EF
4
HABILIDADES A DESENVOLVER
AVALIAÇÃO
DIAGNÓSTICA
AÇÕES
DIFERENCIADAS
O que o
aluno já
sabe?
O que o
aluno
precisa
aprender
Aluno/class
eOutros
arranjos
LP/outra
s áreas/
Projetos
especiais
LINGUAGEM ORAL: ESCUTA
Escutar textos pertencentes a diferentes gêneros orais
Respeitar as variedades lingüísticas
Respeitar as mudanças de turno na conversa
Demonstrar interesse pelos relatos ou recontos apresentados
Compreender e interpretar textos orais
Empregar, quando necessário, registros escritos para
compreender textos orais
Apresentar notícias e assuntos com clareza e na pontuação
expressiva
Encenar propagandas e textos publicitários destacando as
chamadas para o interlocutor
Ensinar a preparar uma receita culinária
Orientar a montagem de um brinquedo ou objeto artístico (
dobradura, etc) passo a passo
Estabelecer as regras de um jogo ou debate
Contar piadas ou charadas
LINGUAGEM ORAL: PRODUÇÃO DE TEXTOS
Participar de situações que envolvam os usos da linguagem
nas diversas interações do cotidiano escolar
Relatar experiências vividas, respeitando a seqüência
temporal e causal
Recontar histórias conhecidas, apropriando-se das
características do texto modelo
Reproduzir de memória jogos verbais, participando de
brincadeiras tradicionais
Recitar poemas, explorando o plano expressivo da
linguagem oral
Atuar em jogos dramáticos improvisados ou em peças
ensaiadas previamente
Participar em debates, desenvolvendo a capacidade
argumentativa
Expor temas preparados previamente
Apresentar notícias e assuntos com clareza e na pontuação
expressiva
Preparar textos publicitários interessantes
Criar uma receita culinária nova e apresentá-la
Montar as regras de um jogo improvisado a ser praticado
Criar piadas e contá-las
Criar notícias e reportagens para o jornal falado
Entrevistar destaques da copa e personalidades como
encenação no jornal falado
4
Distribuído em 2003 na SEE/ SP; elaborado por Maria José Nóbrega para o Ciclo I do EF, o qual adaptamos
com algumas alterações para o ciclo II do EF na DER/ Jales.
243
HABILIDADES A DESENVOLVER
AVALIAÇÃO
DIAGNÓSTICA
AÇÕES
DIFERENCIADAS
O que o
aluno
sabe?
O que o
aluno
precisa
aprender
Aluno/cla
sseOutros
arranjos
LP/outras
áreas/
Projetos
especiais
LINGUAGEM ESCRITA: LEITURA
Apreciar, através da leitura, diferentes gêneros escritos
Habituar-se a manusear diferentes suportes textuais ( jornais,
revistas, HQ, dicionários, enciclopédias, livros, etc)
Vivenciar diferentes procedimentos de leitura em função de
diferentes objetivos: informar, divertir-se, argumentar, etc.
Fazer antecipações e inferências acerca do assunto do texto,
apoiando-se em elementos do próprio texto ou no conhecimento
prévio
Checar a pertinência das antecipações e inferências, apoiando-se
em elementos do texto
Construir sínteses do texto para compreendê-lo globalmente
Produzir paráfrases do texto para esclarecer problemas locais de
compreensão
Estabelecer relações do texto lido com a experiência vivida ou
com outros textos lidos
Compartilhar as reflexões produzidas durante a leitura, pois nem
sempre escritor e leitor ou diferentes leitores têm as mesmas
crenças e valores
Freqüentar a biblioteca, a sala de leitura ou a biblioteca da
classe, procurando respeitar suas normas
Escolher textos para ler a partir de interesses pessoais
LINGUAGEM ESCRITA: PRODUÇÃO DE TEXTOS
Produzir textos nos diferentes gêneros( coletivos, em duplas ou
individuais)
Transcrever, reproduzir e decalcar modelos
Transcrever textos narrativos para dramáticos e vice-versa
Sintetizar notícias em manchetes e ampliar manchetes para
notícias, mudando o enfoque
ANÁLISE LINGÜÍSTICA
Observar as convenções ortográficas
Utilizar os sinais de pontuação adequadamente
Analisar os critérios de acentuação e normatizar as ocorrências
Observar a paragrafação em função da articulação correta dos
assuntos
Analisar os critérios de concordância e regência
Conhecer os elementos coesivos e aplicá-los gradativamente
Analisar a coerência global do texto e a coerência entre seus
elementos internos
Observar a pertinência da produção em relação à proposta
solicitada
Analisar a estrutura padrão do tipo de texto proposto
Revisar o texto substituindo as marcas de oralidade
Reescrever as produções isolando problemas apresentados
244
AUTORIZAÇÃO PARA REPRODUÇÃO
Autorizo a reprodução deste trabalho
São José do Rio Preto, 16 de Abril de 2006.
ADRIANA JULIANO MENDES DE CAMPOS
PESQUISA INICIAL
PROFESSORES DENGUA PORTUGUESA ENTREVISTADOS EM 2002
JALES
FERNANPOLIS
VOTUPORANGA
O JO R. PRETO
OUTROS
40%
GRUPO FOCAL
8%
23%
24%
5%
ORIENTAÇÕES OFICIAIS E NÃO-OFICIAIS
PCNEM- 1999
UTILIZAM PCNS
NÃO UTILIZAM PCNS
82%
18%
REFERENCIAL TEÓRICO QUE FUNDAMENTAVA A PRÁXIS EM 2002
UTILIZAM PCNS E MANUAIS
NÃO UTILIZAM PCNS
UTILIZAM APENAS MANUAIS
UTILIZAM OUTRO
REFERENCIAL TEÓRICO
82%
PCN, PCLP,
PCN+
32%
18%
68%
CONCEPÇÃO TEÓRICO METODOLÓGICA DE LITERATURA
LBOND SEM ADOÇÃO
LBOND + OUTROS
OUTROS
REFERENCIAL ACADÊMICO
42%
pioneiro no
tratamento
da literatura
3%
29%
26%
POR QUÊ DA OPÇÃO PELOS MANUAIS
LD- AVANÇOS SIGNIFICATIVOS
LD- BAIXA SOLICITAÇÃO
COGNITIVA
NÃO RESPONDERAM
80%
recursos visuais
design gráfico
linguagem sugestiva
proposição comparativa
atividade cognitiva múltipla
13%
7%
NECESSIDADE DO LD COMO FERRAMENTA DE TRABALHO
LD INDISPENSÁVEIS
DISPENSÁVEIS
OUTRAS RESPOSTAS
63,5%
4%
32,5
MODELOS OPERATÓRIOS
DEFINIDOS
TRABALHO COMPARATIVO EM 2002
APENAS SIGNOS VERBAIS
PERMANÊNCIA NA LINHA
INFORMATIVA
SIGNOS VERBAIS E NÃO-VERBAIS
80%
19%
1%
LINGUAGEN
S
PROPOSIÇÃO DE ABORDAGEM INTERSEMIÓTICA
CONTRIBUIÇÃO DITICA PARA RENOVAÇÃO DA PRÁXIS
(EXPRESSÃO DA CONCEPÇÃO DIALÉTICA DE ENSINO)
OBJETOS ESTÉTICOS EM RELAÇÃO
1
2
3
4
LITERATURA
MÚSICA
PINTURA
CINEMA
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo