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Universidade de Brasília
Instituto de Química
AVALIAÇÃO IN SILICO DE INSERÇÕES COM BORO EM MOLÉCULAS
COM ATIVIDADE FARMACOLÓGICA
Dissertação apresentada ao programa
de pós-graduação do Instituto de
Química da Universidade de Brasília
como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre.
Adão Lincon Bezerra Montel
Orientador: Kleber Carlos Mundim
Brasília, 2006
I
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Dedico este trabalho à minha família,
pelo amor e pela solidariedade
inabaláveis e ao amigo Sergio Britto
(
in memoriam
) vitimado por um câncer
aos 34 anos de idade. Muito obrigado,
querido amigo, pela amizade e pela
lição de vida.
II
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Folha de Aprovação
III
Meus agradecimentos a todos aqueles que contribuíram de diversas formas para a
conclusão deste trabalho
Aos meus pais e à minha irmã, por me apoiar mesmo estando tão distante;
Aos colegas de trabalho Adriana, Alexandre, Afrânio, Aretha, Breno, Carlos Cezar,
Cristiano, Daniel, Edimar, Fernando Rangel, Geraldino, Heibbe, Jocilene, Luciano e
Tarcisio que contribuíram tanto discutindo tópicos importantes durante a elaboração do
trabalho como auxiliando na execução de tarefas importantes;
Aos colegas da Colina, André, Andréia, Arthur, Cláudio, Gustavo, Meire, Meyr, Odilon
e Tiago pelo companheirismo e pela ajuda nos momentos difíceis;
Aos amigos distantes Ariane, Carlos Renato, Edílson, Emanuel, Glauco, Fernanda,
Franciny, Hélida, João Carlos, Joelma, Juliana, Jordana, Mary Anne, Odete, Paulo,
Sezânia, Suelen pela fé e pelo incentivo tão importantes e necessários à superação de
obstáculos;
Aos professores Amarílis Neder, Fernando Coutinho, Maria Lucília, Márcia Murta, Inês
Resck, Elaine Maia e Nilo Makiuchi pela preciosa colaboração e pelos esclarecimentos
oportunos de temas discutidos;
Ao meu orientador, prof.. Dr. Kleber Carlos Mundim, pela disposição, paciência e por
todo o apoio;.
Ao CnPq, à CAPES, ao Laboratório Farmanguinhos, e a UnB, pelo auxílio financeiro e
estrutural na execução do projeto;
A todos aqueles a quem a minha memória injustamente excluiu. Que a minha dívida
de gratidão com todos vocês possa ser saudada pela nossa amizade;
IV
RESUMO
O aumento na incidência de leucemia, problemas cardíacos e da epidemia global de
SIDA, com o surgimento de formas resistentes do VIH, tornaram a busca por novos
medicamentos para o combate a patologias um problema de primeira importância.
Neste trabalho, nos propusemos a investigar possíveis fármacos baseados em
compostos de boro, incluindo medicamentos anti-VIH. O interesse na pesquisa por
compostos de boro farmacologicamente ativos aumentou bastante nos últimos anos
com a aprovação, nos EUA, do primeiro medicamento contendo boro em sua estrutura
tratamento de uma forma de neoplasia. De fato, a forte atividade inibitória destes
compostos sobre enzimas os torna muito promissores na pesquisa farmacológica.
Investigamos dois análogos borilados de um inibidor anti-retroviral conhecido como
nevirapina, que inibe uma enzima fundamental na replicação do VIH-1, formas
modificadas com boro de bases nucléicas e análogos borilados do ácido valpróico e do
ácido salicílico. A metodologia utilizada neste estudo foi o cálculo mecânico-quântico
de propriedades das moléculas propostas e da interação destas moléculas com
aminoácidos conservados da estrutura da enzima replicante do VIH. Os resultados
mostraram o favorecimento desta interação com a adição dos grupos borilados na
molécula da nevirapina nos dois casos investigados. Os resultados sugerem que um
dos compostos propostos pode formar um complexo irreversível enzima-inibidor. Nos
estudos com as moléculas do ADN e do ARN, observamos a formação de um par
covalente entre os pares Watson-Crick acompanhada por mudanças nos padrões de
distribuição do orbital molecular LUMO. As moléculas do ácido valpróico e do ácido
salicílico demonstraram uma alteração na distribuição de orbitais moleculares de
fronteira e no mapa eletrostático (especialmente no caso do ácido valpróico). Nestas
moléculas, a substituição do grupo carboxilado pelo grupo di-hidroxi-borano indica
uma possível atividade farmacológica maior do que dos compostos não modificados.
Em todos os casos, observamos que importantes alterações são introduzidas com a
inserção do boro nestas moléculas evidenciando uma possível atividade
farmacológica.
V
Abstract
The growth of leukemia incidence, cardiac problems and global AIDS epidemic,
with appearing of resistant forms of HIV, stimulated the search of new medications. In
this work, we investigated new active pharmacologic compounds based on boron
including the anti-HIV drugs. The interest in boron compounds with pharmacologic
activity has increased in recent years with the first drug approved by FDA. This drug is
based on boron and used in neoplasm treatment. In fact, the strong inhibitory activity
on enzymes of this compounds makes them promising in pharmacological research.
In our project we investigated two analogues of an antiretroviral named
nevirapine that inhibits an essential enzyme in HIV replication. The new analogues are
boron compounds based on DNA, RNA, valproic acid and salicylic acid. In our
calculations we used quantum mechanical approach to evaluate interactions of these
molecules with the conserved amino acids of replication’s enzyme of HIV as well as
some electronic molecular properties. The results show an increased interaction
between nevirapine modified molecule and amino acid one. The results suggest also
that one of the compounds can form an irreversible complex with HIV’s enzyme.
In the studies with DNA and RNA molecules, we observed a covalent complex
formation between the Watson-Crick pairs accompanied by changes in LUMO orbital
distribution. In the Valproic and salicylic acid molecules we observed changes in the
molecular orbital distribution as well as in the potential map (especially in valproic acid).
The substitution of carboxylic acid by boronic acid indicates an increasing
pharmacological activity. In all analyzed cases, we have seen important modifications
induced by boron introduction that evince a pharmacological potential for these
molecules.
VI
LISTA DE SÍMBOLOS E ACRÔNIMOS......................................................................IX
LISTA DE TABELAS....................................................................................................X
LISTA DE ILUSTRAÇÕES...........................................................................................XI
1. Introdução.................................................................................................................1
1.2 Objetivos Gerais....................................................................................................3
1.3 Fundamentos Teóricos. ........................................................................................4
1.4 Metodologia Geral.................................................................................................7
2 Aspectos Gerais Sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA)....8
2.1. Definição, Aspectos Virológicos e Epidemiológicos........................................8
2.2. O Vírus...................................................................................................................9
2.3. A Terapia Antirretroviral Altamente Ativa.........................................................10
2.4. A Transcriptase Reversa e os Inibidores Não-Nucleosídicos........................11
2.5. A Nevirapina e o Ácido Fenil-Borônico.............................................................12
2.6. Metodologia.........................................................................................................15
2.7. Resultados e Discussão.....................................................................................16
2.7.1 Avaliação dos INNTRs......................................................................................16
2.7.2 Avaliação da Cavidade Ligante dos INNTRs..................................................19
2.8 Avaliação de Compostos de Boro......................................................................23
2.8.1 Cálculos ab-initio..............................................................................................25
2.8.3 Análogos Propostos.........................................................................................32
2.8.4 O Aminoácido Triptofano 229..........................................................................32
2.8.4.1 Resultados .....................................................................................................32
2.8.5 O Análogo dihalelto de Boro............................................................................40
2.8.6 O Aminoácido Tirosina 318..............................................................................44
2.8.6.1 Resultados .....................................................................................................44
3. ADN e ARN quimicamente modificados..............................................................49
3.1 Metodologia..........................................................................................................49
3.2 Resultados e Discussão......................................................................................50
3.3.1 Adenina Timina-Modificada.............................................................................50
3.3.2 Adenina Uracila-Modificada.............................................................................55
3.3.3 Citosina Guanina Modificada...........................................................................59
4. Ácido Valpróico e Ácido Salicílico ......................................................................64
VII
4.1 Metodologia..........................................................................................................64
4.2. Ácido Valpróico...................................................................................................64
4.3.Resultados............................................................................................................65
4.4 Ácido Salicílico.....................................................................................................72
4.5 Resultados.............................................................................................................72
5.Conclusões...............................................................................................................80
6.Perspectivas Futuras...............................................................................................82
7.Bibliografia................................................................................................................85
ANEXO.1.......................................................................................................................90
VIII
Lista de Símbolos e Acrônimos
A - Alanina
ADN - Ácido Desoxirribonucléico
AMBER - Assisted Model Building and Energy Refinement
ARN – Ácido Ribonucléico
Asn – Asparagina
B(OH)
3
– ácido bórico
C – Cisteína
Cis - Cisteína
ChelpG - Charges from Electrostatic Potential Grid
HF – Hartree-Fock
HOMO - Highest Occupied Molecular Orbital
I - Isoleucina
IND - Indol
INNTR – Inibidor Não-Nucleosídico da Transcriptase Reversa
INTR- Inibidor Nucleosídico da Transcriptase Reversa
K - Lisina
L - Leucina
Leu – Leucina
LTR – Long Terminal Repeat
Lys - Lisina
LUMO - Lowest Unoccupied Molecular Orbital
Metil-Indo – Anel Indólico Metilado
N – Asparagina
NVP – Nevirapina
NVPBF2 . Análogo Difluoreto de Boro da Nevirapina
NVPNH
3
+
- Análogo aminado da Nevirapina
NVPB(OH)
2
– Análogo Borilado da Nevirapina
PDB – Protein Data Bank- Banco de Dados de Proteína
PhB(OH)
2
Ácido Fenil Borônico
Phe - Fenil alanina
Pro – Prolina
PyB(OH)
2
– Ácido Piridil Borônico
PM3 Parametric Method III
RHF - Restricted Hartree-Fock - (Hartree-Fock Restrito)
SCF - Self - Consistent Field - (campo auto consistente)
SIDA - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
STO - Slater Type Orbitals - Orbitais Tipo Slater
Trp – Triptofano
Tyr- Tirosina
TR - Transcriptase Reversa
UHF - Unrestricted Hartree-Fock
V – Valina
Val - Valina
VIH - Vírus da Imunodeficiência Humana
Y-Tirosina
IX
Lista de Tabelas
Tabela 1 Energia das estruturas das INNTR estudadas na conformação ativa e na
conformação otimizada...................................................................................................19
Tabela 2 Valores de energia dos pares moleculares calculados por método Hartree-Fock
com diferentes bases.......................................................................................................25
Tabela 3 Valores de momento de dipolo dos pares moleculares calculados pelo método
Hartree-Fock com diferentes bases.................................................................................26
Tabela 4 Valores de cargas atômicas da piridina e do ácido 3-piridil-borônico.........31
Tabela 5
Valores de cargas atômicas da nevirapina.......................................................33
Tabela 6 Valores cargas atômicas da molécula de nevirapina modificada....................34
Tabela 7 Valores de Energia dos Orbitais de Fronteira HOMO e LUMO e da diferença de
energia entre estes orbitais para a nevirapina modificada e a convencional..................36
Tabela 8 Valores de energia de interação da ligação de hidrogênio não
convencional...................................................................................................................38
Tabela 9
Cálculo das cargas atômicas da molécula de nevirapina modificada obtido
pelo método ChelpG.......................................................................................................41
Tabela 10
Valores de Carga Atômica para o análogo.1 calculados pelo método
ChelpG............................................................................................................................44
Tabela 11
Valores de Energia de formação calculados pelos métodos semi-empirícos
AM1 e PM3.....................................................................................................................47
Tabela 12
Valores de Energia dos Orbitais de Fronteira..............................................47
Tabela 13 Valores de carga atômica do aduto covalente da nevirapina modificada com
o fenol............................................................................................................................48
Tabela 14 Valores de Comprimentos de Ligação na Geometria de Partida e Geometria
Otimizada do Aduto.......................................................................................................51
Tabela 15 Valores de Entalpia de Formação do aduto adenina timina-modificada
calculados pelo método AM1 e PM3.............................................................................52
Tabela 16 Valores de cargas atômicas do par Adenina-Timina calculados pelo método
ChelpG antes e depois da modificação.........................................................................53
Tabela 17
Valores de Energia do Orbital de Fronteira HOMO e LUMO e a diferença de
energia entre eles..........................................................................................................55
Tabela 18
Valores de Comprimento de Ligação para o aduto Adenina Timina-
Modificada.....................................................................................................................56
Tabela 19
Valores de Energia do Orbital HOMO e LUMO e valores de diferença de
energia..........................................................................................................................58
Tabela 20
Valores de carga atômica calculada pelo método ChelpG do par adenina
uracila antes e depois da modificação..........................................................................58
X
Tabela 21 Valores de carga sobre os átomos calculados pelo método ChelpG antes e
depois da modificação..................................................................................................60
Tabela 22 Valores de Entalpia para o aduto citosina-guanina.....................................61
Tabela 23 Valores de energia dos orbitais de fronteira HOMO e LUMO e valor da
diferença de energia entre eles.....................................................................................62
Tabela 24 Valores de carga sobre os átomos calculados pelo método ChelpG antes e
depois da modificação...................................................................................................63
Tabela 25
Valores de cargas atômicas para o ácido valpróico e o análogo borilado...66
Tabela 26
Valores de cargas atômicas para o valproato e para o boronato.................69
Tabela 27 Valores de Energia dos Orbitais de Fronteira e de Energia de Formação das
estruturas estudadas.....................................................................................................71
Tabela 28
Valores de energia e momento de dipolo obtido a partir das otimizações
HF/6-31G* das espécies químicas estudadas..............................................................72
Tabela 29 Valores de cargas atômicas calculadas para o ácido salicílico e para o
análogo borilado............................................................................................................73
Tabela 30 Valores das cargas atômicas calculados para o salicilato e o boronato
correspondente..............................................................................................................76
Tabela 31 Valores de Energia dos Orbitais de Fronteira e de Energia de
Formação......................................................................................................................78
Tabela 32 Valores de energia e momento de dipolo do salicilato e do análogo
borilado.........................................................................................................................79
XI
Lista de Ilustrações
Ilustração 1.Fluxograma demonstrando a ordem dos temas abordados.....................4
Ilustração2
Estruturas do AZT e do 3TC..............................................................................10
Ilustração 3 Comparação entre o fluxo da informação genética na seqüência
convencional dos seres vivos e nos retrovírus, como o VIH. O material genético é
transcrito em ADN para depois ser transcrito em ARN e traduzido em
proteínas.......................................................................................................................11
Ilustração 4 Imagem do complexo nevirapina+transcriptase reversa..........................12
Ilustração 5 Estrutura da nevirapina............................................................................13
Ilustração 6 Posições relativas da nevirapina e dos resíduos Tyr318 3 Trp 229 no
mutante Y181C..............................................................................................................17
Ilustração 7 Fórmulas estruturais de alguns INNTRs...................................................18
Ilustração 8 À esquerda, superfície potencial do complexo TR-nevirapina
demonstrando o contato da molécula do fármaco com o solvente (água) externo e, à
direita, aproximação demonstrando as variações de carga na cavidade
ligante.............................................................................................................................20
Ilustração 9 Comparação entre os complexos Nevirapina-RT de diferentes formas
mutantes e da forma selvagem..................................................................................... 21
Ilustração 10 Comparação entre as regiões de interação do anel aromático metilado
da Nevirapina com o resíduo Trp229.............................................................................22
Ilustração 11 Superposição do hipotético análogo borilado e da trimetilamina sobre a
neviparina e o resíduo Trp229 na geometria encontrada no mutante Y181C................23
Ilustração 12 Procedimento para a escolha da geometria de partida. À direita,
superposição do BF
3
e da trimetilamina sobre a geometria de partida..........................24
Ilustração 13 Geometria otimizada do par BF
3
/ Anel triptofano visto por duas
perspectivas diferentes demonstrando a tendência à orientação “face à
face”................................................................................................................................24
Ilustração 14 Geometria otimizada do par ácido borônico-trimetilamina (à esquerda) e
ácido borônico-anel indol (à direita)................................................................................24
Ilustração 15 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido bórico e
trimetilamina observado por duas perspectivas diferentes.............................................26
Ilustração 16 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido bórico e
amônia observado por duas perspectivas diferentes.....................................................26
Ilustração 17 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido bórico e
piridina observado por duas perspectivas diferentes ....................................................27
Ilustração 18 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido bórico e
pirrol observado por duas perspectivas diferentes.........................................................27
Ilustração 19 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido bórico e
indol observado por duas perspectivas diferentes.........................................................27
XII
Ilustração 20 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido bórico e 32-
metil-indol observado por duas perspectivas diferentes.................................................27
Ilustração 21 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido fenil-
borônico e trimetilamina observado por duas perspectivas diferentes..........................28
Ilustração 22 . Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido fenil-
borônico e amônia observado por duas perspectivas diferentes..................................28
Ilustração 23 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido fenil-
borônico e pirinina observado por duas perspectivas diferentes..................................28
Ilustração 24 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido fenil-
borônico e pirrol observado por duas perspectivas diferentes......................................28
Ilustração 25 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido fenil-
borônico e indol observado por duas perspectivas diferentes......................................29
Ilustração 26 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido fenil-
borônico e 2-metil-indol observado por duas perspectivas diferentes..........................29
Ilustração 27 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido 3-piridil-
borônico e trimetilamina observado por duas perspectivas diferentes.........................29
Ilustração 28 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido 3-piridil-
borônico e amônia observado por duas perspectivas diferentes..................................29
Ilustração 29 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido 3-piridil-
borônico e piridina observado por duas perspectivas diferentes..................................29
Ilustração 30 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido 3-piridil-
borônico e pirrol observado por duas perspectivas diferentes......................................30
Ilustração 31 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido 3-piridil-
borônico e indol observado por duas perspectivas diferentes......................................30
Ilustração 32 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido 3-piridil-
borônico e 2-metil-indol observado por duas perspectivas diferentes..........................30
Ilustração33
Fórmula estrutural da piridina e do ácido piridil borônico........................31
Ilustração 34 Fórmulas estruturais dos análogos propostos.......................................32
Ilustração 35 Numeração dos átomos da nevirapina..................................................33
Ilustração 36 Numeração dos átomos do análogo borilado da nevirapina..................34
Ilustração 37
Comparação entre os mapas potenciais dos potenciais eletrostáticos do
análogo.2 (à esquerda) e da nevirapina (à direita)........
.......................................................35
Ilustração 38 Comparação entre os orbitais HOMO do análogo.2 (à esquerda) e da
nevirapina (à direita).......
l.................................................................................................35
Ilustração 39
Comparação entre os orbitais LUMO do análogo.2 (à esquerda) e da nevirapina
(à direita)..........
.................................................................................................................36
Ilustração 40 Resultado da otimização em nível HF/6-31G* do análogo borilado e do
indol...............................................................................................................................36
XIII
Ilustração 41 Comparação entre as formas de ionização de ácidos carboxílicos e
ácidos borônicos em meio aquoso.................................................................................37
Ilustração 42
Mapa do potencial eletrostático da geometria otimizada do análogo e da
cadeia lateral do triptofano 229......................................................................................38
Ilustração 43. Geometria otimizada do ânion boronato do análogo da nevirapina e do
indol................................................................................................................................39
Ilustração 44
Superfície potencial da geometria otimizada da forma aniônica do análogo
borilado e do Trp229.......................................................................................................39
Ilustração 45 Comparação entre o mapa do potencial eletrostático da nevirapina
convencional e da modificada com BF
2
..........................................................................40
Ilustração 46 Comparação entre os orbitais HOMO da nevirapina convencional e da
modificada com BF
2
........................................................................................................40
Ilustração 47 Comparação entre os orbitais LUMO da nevirapina convecional e da
modificada com BF
2
........................................................................................................40
Ilustração 48 Numeração dos átomos do análogo difluorborado da nevirapina...........41
Ilustração 49 Geometria otimizada do análogo modificado da nevirapina e o resíduo
triptofano 229.................................................................................................................42
Ilustração 50 Mapa potencial do análogo difluoreto de boro e do indol........................43
Ilustração 51 Geometria inicial e final da otimização do par fenol/análogo ácido
borônico realizado com cálculo ab-initio pelo método Hartree-Fock em nível 6-31G*...45
Ilustração 52 Geometria otimizada do aduto covalente proposto.................................45
Ilustração 53 Aduto resultante do ácido fenilborônico com a serina.............................46
Ilustração 54 Aduto resultante do ácido fenil-borônico com uma molécula de fenol....46
Ilustração 55 Aduto resultante do ácido piridil borônico com uma molécula de fenol..46
Ilustração 56 Superfície potencial do aduto covalente resultante da tirosina com a
nevirapina modificada demonstrando a densidade de carga negativa sobre os átomos
de boro e oxigênio..........................................................................................................47
Ilustração 57 À esquerda, orbital HOMO do aduto covalente e, à direita, orbital
LUMO.............................................................................................................................47
Ilustração 58 Numeração dos átomos do aduto formado pelo resíduo tirosina com o
análogo borilado da nevirapina......................................................................................48
Ilustração 59 Geometria de partida e geometria otimizada do par timina-modificada e
adenina...........................................................................................................................50
Ilustração 60 Par covalente com os volumes de van der Waals dos átomos
considerados. ................................................................................................................52
Ilustração 61 Numeração dos átomos do aduto Timina-Modificada Adenina..............53
Ilustração 62. Fórmula estrutural do par Watson-Crick Timina Adenina e do par
Modificado.....................................................................................................................54
XIV
Ilustração 63. Mapa potencial do par Watson-crick e do par modificado....................54.
Ilustração 64 Orbital HOMO do par Watson-Crick e do par modificado......................54
Ilustração 65 Orbital LUMO do par Watson-Crick e do par modificado.......................55
Ilustração 66 Volume de van der Waals do aduto.......................................................55
Ilustração 67 Fórmulas estruturais do par Watson-Crick Uracila Adenina e do par
modificado.....................................................................................................................55
Ilustração 68 Comparação entre as superfícies potenciais do par Watson-Crick UA e
do par modificado..........................................................................................................57
Ilustração 69 Comparação entre os orbitais HOMO do par Watson-Crick e do par
modificado.....................................................................................................................57
Ilustração 70 Comparação entre os orbitais LUMO do par Watson-Crick e do par
modificado.....................................................................................................................57
Ilustração 71 Numeração dos átomos do par uracila-modificada adenina..................58
Ilustração 72 Fórmulas estruturais do par Watson Crick citosina guanina e do par
modificado......................................................................................................................59
Ilustração 73 Volume de van der Waals do par covalente
................................................61
Ilustração 74 Comparação entre as superfícies potenciais do par Watson-Crick C-G
convencional e do modificado.................................................................................................61
Ilustração 75 Comparação entre os orbitais HOMO do par Watson-Crick Citosina-
Guanina convencional e do modificado.........................................................................62
Ilustração 76 Comparação entre os orbitais LUMO do par Watson-Crick Citosina-
Guanina convencional e do modificado.........................................................................62
Ilustração 77 Numeração dos átomos do par Citosina e Guanina Modificada.............63
Ilustração 78 Fórmulas estruturais das moléculas do ácido valpróico e do análogo
borilado com seus respectivos íons...............................................................................65
Ilustração 79 Numeração dos átomos do ácido valpróico e do ácido análogo
borilado..........................................................................................................................65
Ilustração 80 Fórmulas estruturais do ácido valpróico e do análogo borilado (ácido
4-heptil-borônico)...........................................................................................................67
Ilustração 81 Mapa potencial do ácido valpróico (à esquerda) e do análogo borilado (à
direita)............................................................................................................................67
Ilustração 82 Distribuição do orbital HOMO do ácido valpróico e do análogo
borilado..........................................................................................................................68
Ilustração 83 Distribuição de orbitais LUMO do ácido valpróico e do análogo
borilado...........................................................................................................................68
Ilustração 84 Numeração dos átomos do valproato e do análogo borilado..................69
XV
Ilustração 85 Fórmulas estruturais do valproato (à esquerda) e do análogo borilado (à
direita)............................................................................................................................70
Ilustração 86 Comparação entre o mapa potencial do valproato (à esquerda) e do
boronato (à direita).........................................................................................................70
Ilustração 87 Comparação entre os orbitais HOMO do valproato e do boronato.........70
Ilustração 88 Comparação entre os orbitais LUMO do valproato e do boronato..........71
Ilustração 89 Numeração dos átomos do ácido salicílico e do análogo borilado..........72
Ilustração 90 Fórmulas estruturais do ácido salicílico (à esquerda) e do análogo
borilado (àcido 2-hidroxi-fenil-borônico, à direita
)................................................................74
Ilustração 91 Comparação entre os mapas dos potenciais eletrostáticos do ácido
salicílico e do análogo borilado.......................................................................................74
Ilustração 92 Comparação entre os orbitais HOMO do ácido salicílico e do análogo
borilado...........................................................................................................................74
Ilustração 93 Comparação entre os orbitais LUMO do ácido salicílico e do análogo
borilado...........................................................................................................................75
Ilustração 94 Numeração dos átomos do salicilato e do análogo borônico (2-hidroxi-
boronato)........................................................................................................................75
Ilustração 95 Fórmulas estruturais do salicilato (à direita) e do análogo borilado (à
esquerda)........................................................................................................................77
Ilustração 96 Comparação entre os mapas dos potenciais eletrostáticos do salicilato e
do análogo boronato.......................................................................................................77
Ilustração 97 Comparação entre o orbital HOMO do salicilato e do boronato..............78
Ilustração 98 Comparação entre o orbital LUMO do salicilato e do boronato..............78
XVI
1.Introdução
A descoberta de novos fármacos e terapias aumentou significativamente a expectativa
e qualidade de vida nas últimas décadas. A pesquisa por novos fármacos, entretanto,
tornou-se muito onerosa. Segundo alguns autores, o custo médio de desenvolvimento de
um novo fármaco em 1987 era de 231 milhões de dólares. Em 2000, este custo já era
avaliado em 802 milhões de dólares.
1
Embora não haja um consenso sobre a causa
desse aumento, assume-se que contribuem para essa elevação as exigências legais para
o licenciamento de um novo fármaco, o aumento no interesse em pesquisa de terapias
para doenças crônicas e degenerativas, as quais exigem uma maior e mais rigorosa
etapa clínica na sua avaliação, e mesmo a necessidade de um número maior de testes
relacionando custo-eficiência dos fármacos em relação aos já disponíveis no mercado.
Diante disto, alternativas para redução de custos na produção de novos
medicamentos têm sido amplamente investigadas. Entre estas alternativas, a avaliação In
Silico de novos medicamentos tem se mostrado promissora. Alguns autores supõem a
possibilidade de redução em até 50% dos custos de desenvolvimento de fármacos com o
uso de estudos In Silico, incluindo a possibilidade de uso de programas de acesso livre.
2
Os procedimentos de avaliação In Silico de fármacos envolvem docking, QSAR, avaliação
por cálculo mecânico quântico, semi-empiríco, ab-initio, etc.
2
Uma das maneiras utilizadas para descoberta de novos fármacos envolve a
modificação de molécula com atividade conhecida pela introdução de novos grupos
químicos. Esses grupos, conhecidos como bioisósteros, são capazes de melhorar
propriedades físico-químicas do medicamento avaliado, como solubilidade, lipofilicidade,
etc.
3
Entre os bioisósteros clássicos encontramos grupos monovalentes como amina,
hidroxila, metila, etc. Também encontramos grupos bivalentes como “metileno”(CH
2
),
átomos de oxigênio e enxofre; trivalentes, como grupos contendo o átomo de fósforo
(P=); tetravalentes, etc. Entre os bioisósteros não-clássicos temos os halogênios,
piridinas, etc.
3
Neste trabalho, propusemos a investigação de novos bioisósteros não-
clássicos contendo o átomo de boro. O átomo de boro apresenta uma série de
propriedades químicas de possível interesse farmacológico, incluindo sua capacidade de
atuar como ácido de Lewis, capacidade de formar ligações covalentes com hidroxilas de
1
aminoácidos,
4,5,6
além da possibilidade de formar ligações de hidrogênio não-
convencionais.
Compostos capazes de se ligar covalentemente a biomoléculas (como proteínas e
ácidos nucléicos) apresentam, em geral, elevada toxicidade. Para se viabilizar a utilização
destes compostos é necessário garantir a especificidade dos mesmos.
3
O ácido
salicílico, por exemplo, (comercialmente conhecido como “aspirina”) inibide a
prostagladina sintetase ligando-se covalentemente a esta enzima. A afinidade preferencial
por seus alvos farmacológicos torna este fármaco viável. Devido à inibição irreversível do
alvo farmacológico (enzima, ADN), as doses necessárias para a utilização desta classe
de fármacos são menores. Há aproximadamente 25 drogas aprovadas recentemente pelo
FDA (Food and Drugs Administration) que são inibidores irreversíveis de enzimas.
7
Os
compostos de boro são candidatos a novos fármacos desta classe já que são capazes de
formar ligações covalentes com certas proteínas
57
. Já há um composto derivado do ácido
borônico aprovado pelo FDA para tratamento de mieloma múltiplo.
8
Sua capacidade de
formação de ligações covalentes com biomoléculas pode ser explorada pelo
favorecimento de sua especificidade para determinado alvo. Avaliamos, neste estudo,
algumas possibilidades de aplicação destas propriedades dos compostos de boro. Devido
à inexistência de parâmetros para o átomo de boro na maioria dos campos de força de
programas de simulação disponíveis (GROMACS, PYMOL, etc.) avaliamos o
comportamento dos compostos estudados por cálculo mecânico-quântico ab-initio.
Nas seções seguintes, apresentaremos uma descrição dos objetivos gerais e da
metodologia geral utilizada. Inicialmente, faremos uma revisão da epidemia atual da
síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA), bem como os avanços na terapia anti-
retroviral. Logo após, apresentaremos os resultados da introdução de um grupo contendo
boro na molécula de nevirapina em relação à interação destas moléculas modificadas
com dois importantes aminoácidos da transcriptase reversa, o triptofano 229 e a tirosina
318, discutindo as possíveis conseqüências destas alterações para as propriedades
farmacológicas destes candidatos a inibidores em potencial. A seguir, vamos demonstrar
as modificações introduzidas pela substituição de átomos de hidrogênio pelo grupo
difluoreto de boro em moléculas de ADN e ARN, relacionando a formação de ligações
químicas com a distribuição de cargas, mapas potenciais e a distribuição de orbitais
moleculares nas estruturas obtidas. Por último, faremos um pequeno estudo sobre
2
análogos borilados do ácido valpróico (e as possibilidades de sua aplicação no combate à
SIDA e a leucemia) e do ácido salicílico (“aspirina”), com suas possíveis atividades anti-
trombose.
Evidentemente, toda avaliação In Silico de um candidato a novo fármaco é uma
proposição baseada em inferências, isto é, na analogia com medicamentos já existentes
nos quais se possam inferir similaridades. O presente estudo, da mesma maneira,
pretende dar suporte a uma investigação experimental futura de uma linha de pesquisa
com análogos borilados. Entendemos que a cooperação entre a predição teórica e a
execução experimental contribui para a otimização das pesquisas na área de química
pela inserção de novos insights sobre os mecanismos de ação de processos químicos.
Este é um importante avanço na metodologia de pesquisa na química moderna que tem
acrescentado aos pesquisadores mais ferramentas nas investigações e avaliações de
resultados nesta ciência.
1.1 Objetivos Gerais
O átomo de boro apresenta características peculiares com potencial de uso
farmacológico. Neste trabalho, investigamos algumas modificações nas moléculas de
ácidos nucléicos, de um fármaco anti-VIH, ácido valpróico e da molécula do ácido
salicílico. A proposta inicial era a realização de um estudo para a avaliação de um
análogo de um fármaco anti-VIH conhecido como nevirapina. A capacidade do átomo de
boro de “aumentar a densidade de carga positiva” sobre moléculas, poderia compensar a
perda de interação da nevirapina com formas mutantes do vírus da imunodeficiência
adquirida. Os resultados iniciais, entretanto, revelaram um conjunto de características
inesperadas dos compostos modificados que nos motivaram a conduzir, paralelamente,
um estudo de modificações nas bases nucleotídicas do ADN e do ARN. Posteriormente,
investigamos uma modificação na molécula do ácido salicílico e do ácido valpróico,
molécula que vem sendo bastante pesquisada devido a recentes descobertas sobre sua
capacidade de ação contra a infecção latente na SIDA e contra a leucemia. O fluxograma
a seguir representa um esquema dos estudos abordados neste trabalho.
3
Avaliação de aplicações
bioquímicas para
compostos de boro
Modificação das bases
do ADN e ARN
Modificação da
Nevirapina
Modificação do
ácido valpróico
Estudo das ligações
químicas entre
análogos borilados.
Avaliação das
interações entre
formas modificadas
da nevirapina e
aminoácidos da TR
do HIV-1
Breve estudo do
potencial farmacólogico
de um análogo borilado
do ácido valpróico e do
ácido salicílico
Conclusões e Perspectivas
Ilustração 99.Fluxograma demonstrando a ordem dos temas abordados
1.2 Fundamentos Teóricos
No início do séc. XX, a introdução por Bohr do modelo quantizado do átomo
permitiu a aplicação do conceito de estados estacionários a átomos e moléculas. A
descrição das propriedades ondulatórias das partículas por de Broglie e o modelo de Bohr
levantaram a possibilidade de estudo de partículas por meio da mecânica ondulatória. Em
1922, Schrödinger postulou uma equação de autovalores para a qual seria possível obter-
se o valor de energia e outras informações do estado estacionário de átomos e
moléculas. A equação de onda de Schrödinger pode ser escrita como:
ˆ
H
E
Ψ
Onde Ĥ é o operador que fornece o valor da energia molecular total, chamado
Hamiltoniano,
é a função de onda dos estados eletrônicos e Ψ
E
representa os valores
4
de energia permitidos dos respectivos estados, ou seja, os estados estacionários, para o
sistema.
9
Uma vez que a distribuição de cargas de qualquer elétron depende da
distribuição de cargas de sua vizinhança, a solução exata desta equação só pode ser
obtida para átomos hidrogenóides, isto é, sistemas com um único elétron. Em 1928,
Hartree propôs um modelo para solucionar problemas de sistemas multi-eletrônicos. O
modelo de Hartree consiste, basicamente, em considerar o movimento do elétron como
resultante de um campo gerado pelos núcleos e pelos outros elétrons. Utiliza-se o
operador de Fock em substituição ao Hamiltoniano. A principal diferença entre os dois
operadores é que no operador de Fock a função de onda
Ψ
não pode ser determinada
diretamente. Um “palpite” inicial para as funções de onda é obtido utilizando-se outros
métodos (como métodos semi-empíricos). Esses orbitais são utilizados para construir o
operador de Fock que gera um novo grupo de orbitais moleculares. O cálculo é repetido
até se chegar a um conjunto auto-consistente de orbitais e a um valor de energia mínimo.
Este método é chamado de método auto-consistente (self-consistent field - SCF) restrito
Hartree-Fock, para sistemas de camada fechada (RHF).
10
Utilizando este método, Slater
produziu um conjunto de funções (orbitais atômicos) conhecidas como STO (Slater-Type
Orbitals). Em 1950, Boys propôs uma simplificação do método pela substituição dos
orbitais de Slater por funções tipo Gaussianas de solução mais fácil. Há algumas
desvantagens associadas a essa substituição. O número de funções tipo gaussianas
necessárias para produzir resultados com a mesma precisão do modelo que utiliza as
funções de Slater é maior (cerca de duas a cinco vezes maior).
11
A base STO-3G, por
exemplo, aproxima o método STO pela combinação linear otimizada de três funções
Gaussianas.
10
Quando participa de uma molécula, os orbitais atômicos podem sofrer
distorções da configuração livre. Para compensar essas mudanças, introduz-se funções
de orbitais para átomos pesados (orbitais d) e para átomos de hidrogênio (orbitais p) que
são conhecidas como funções de polarização, denotadas por um asterisco (*) (ex. STO-
3G* denota orbitais d adicionados a átomos pesados). Quando se trabalha com ânions,
outro problema encontrado é que ânions têm densidade eletrônica estendida quando
comparados com espécies químicas neutras. Para se descrever melhor esta região,
acrescenta-se funções que possuem o valor de máximo distante do núcleo associado
conhecidas como funções difusas e denotadas por um sinal de soma (+). Logo, uma base
5
6-31++G** representa o uso de duas funções difusas e das funções de polarização
(orbitais d e p).
12
As funções de onda Hartree-Fock não permitem obter os valores de carga atômica
diretamente de sua resolução. Para se estimar estes valores, utiliza-se meio indiretos, a
partir da mensuração de outras propriedades físicas. O método mais simples de se utilizar
é a Análise de População de Mulliken. Entretanto, este método é bastante sensível à base
utilizada. O método de ChelpG
13
(Charges from Eletrostatic Potential Grid) é considerado
mais apropriado por ser mais independente da base. Esse método baseia-se nos valores
do potencial eletrostático, propriedade obtida diretamente do cálculo SCF pela equação:
V(r) =
Σ
r - R
A
Z
A
P
µν
ϕ
µ
ϕ
ν
dr'
r - r'
Onde Z
A
é a carga nuclear sobre o átomo A, centrado em R
A
, Pµν é o elemento da
matriz densidade determinado a partir do procedimento Hartree-Fock, e
µ
ϕ ,
ϕ
são as
funções de bases utilizadas
13
. No método ChelpG, basicamente, se atribui a cada átomo
uma carga pontual derivada de uma “grade“ construída com base no potencial
eletrostático. Nos cálculos realizados neste trabalho, utilizamos a carga ChelpG e
optamos, na maioria dos resultados, pela base 6-31G*. Esta base, normalmente, produz
valores razoáveis de energia em moléculas orgânicas e possui um custo computacional
mediano
14
. Em alguns casos utilizamos outras bases (como STO-3G*) para fazermos
uma análise comparativa. Na avaliação da cavidade ligante da nevirapina, as cargas
foram determinadas a partir do campo de força AMBER
12
(Assisted Model Building and
Energy Refinement) do programa PyMol. Este campo de força foi parametrizado com
cargas atômicas obtidas através do método de potencial eletrostático.
12
Os Cálculos de
de entalpia de formação foram realizados com os métodos semiempíricos AM1 (Austin
Model 1) e PM3 (Parametric Model 3). Esses métodos estimam com razoável exatidão os
valores de entalpia de formação para moléculas pequenas. Os cálculos foram realizados
com ambos para uma análise comparativa dos resultados.
15,16
6
Em alguns casos realizamos uma correção com solvente. Para isto, utilizamos o
modelo de Tomasi (IPCM Isodensity Polarized Continuum Model). Neste modelo,
basicamente, a molécula do soluto é tratada como se estivesse em uma cavidade esférica
“mergulhada” no solvente contínuo (na verdade, um “potencial” com propriedades que
simulam o solvente)
12
. O dipolo molecular induz uma mudança na polarização do
solvente que, por sua vez, leva a uma mudança no dipolo molecular até que haja a
estabilização. No IPCM, a cavidade é definida como uma superfície de isodensidade
obtida iterativamente. Escolhemos este modelo para os cálculos deste trabalho devido a
uma melhor convergência para os problemas estudados.
12
1.3 Metodologia Geral
As otimizações de geometria foram realizadas com o programa GAUSSIAN 98,
licença G98RevA.9., utilizando-se o método Hartree-Fock, em diferentes níveis de
cálculo. Os valores de energia total são apresentados em Hartree (em alguns casos) e em
Kcal/mol sendo que consideramos 1 hartree= 627,509 kcal/mol. Os valores de entalpia de
formação foram calculados pelos métodos semi-empíricos AM1 e PM3 e são
apresentados em unidades de kcal/mol. Os valores de cargas sobre os átomos e
momentos de dipolo foram calculados pelo método ChelpG. O volume de van der Waals
(quando demonstrado) das moléculas foi calculado com o programa RASMOL (acesso
livre). As superfícies do potencial eletrostático de proteínas foram construídas com o
programa PyMol (acesso livre) utilizando-se o campo AMBER e as superfícies de
moléculas orgânicas pequenas foram construídas com o programa GaussView. Os mapas
dos potenciais eletrostáticos de moléculas pequenas foram construídos pelo método
Merz-Kollman (MK)
14
. Este método difere do método ChelpG basicamente pela maneira
como os pontos da “grade” são obtidos. No MK os pontos são obtidos a partir de uma
superfície de Conolly com uma densidade de 1 ponto por angstron enquanto que no
método ChelpG os pontos são obtidos de um uma “grade” cúbica regularmente espaçada
com uma densidade de pontos cerca de 10 vezes maior do que no método MK
17
. Os
orbitais de fronteira também são apresentados com a distribuição de cargas MK, para
facilitar a visualização das mudanças ocorridas. Em todos os casos, a escala de cores
7
indica a cor azul para regiões de densidade de carga positivas e a cor vermelha para
regiões com densidade de carga negativa. Em cada seção, as características específicas
de cada cálculo são detalhadas.
2. Aspectos Gerais Sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
(SIDA)
2.1 Definição, Aspectos Virológicos e Epidemiológicos
A definição da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) varia bastante na
literatura. Uma boa definição é dada por Hutchinson: ”A Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida, SIDA (mais conhecida no Brasil pela sigla em inglês, AIDS – Acquired Immune
Deficiency Syndrome), é caracterizada pela progressiva perda de CD4+ auxiliares
(helper)/indutoras(inducer) do subgrupo dos linfócitos T. A perda de células T leva a uma
severa avaria da função imunológica, doenças constitucionais, infecções oportunistas,
complicações neurológicas, (complexo SIDA demência) e neoplasma que raramente
ocorrem em pessoas com a função imune intacta”.
18
O mecanismo de avaria do sistema
imunológico ainda é um tema controverso. Alguns trabalhos sugerem que os mecanismos
de danos ao sistema imunológico, ativação do genoma proviral e de “escape” à resposta
imunológica do hospedeiro pelo vírus são bastante complexos envolvendo inclusive
interações com o sistema complemento.
19
É provável a existência de um co-fator
infeccioso. O próprio descobridor do vírus causador da síndrome, Luc Montagnier,
acredita na possibilidade de que este co-fator seja um micoplasma (“uma bactéria
pequena – de 200-300 nm - que evoluiu para um parasitismo perdendo a capacidade de
síntese de sua parede celular”).
20
O número de pessoas vivendo com o vírus da imunodeficiência humana em 2005
era estimado em 40,7 milhões de pessoas. Neste mesmo ano, cinco milhões de pessoas
morreram em decorrência de problemas relacionados à SIDA. Embora tenha havido
diminuição na taxa de infecção de adultos jovens em alguns países do Caribe e África, a
tendência global ainda era de aumento. De fato, houve crescimento no número de
8
infecções no leste europeu, sudeste asiático sendo que a África sub-saariana continua a
ser a região mais afetada.
21
No Brasil, estima-se que existam cerca 620.000 pessoas
vivendo com o VIH
22
. Autoridades sustentam que o acesso universal à terapia anti-
retroviral pode se tornar inviável dentro dos próximos anos. O custo médio de cada
paciente soropositivo para o governo em 2005 foi de R$ 6.000,00. Com o crescimento da
procura pelo tratamento, o custo total para o Ministério da Saúde pode se tornar proibitivo
dentro dos próximos anos.
23
2.2 O VÍRUS
O Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) foi inicialmente isolado em 1983 de
pacientes com SIDA. Estruturalmente, assemelha-se ao vírus linfotrópico humano tipo II e
tipo III. Pesquisas conduzidas por diversos grupos demonstraram que o VIH é um
membro da subfamília dos lentivírus pertencentes aos retrovírus humanos. Todos estes
vírus codificam uma enzima ADN polimerase ARN dependente – a transcriptase reversa –
que permite a transcrição do ARN viral numa cópia de ADN. Nesta forma, ele pode ser
integrado ao genoma da célula hospedeira e se replicar através do ADN proviral. O
genoma do VIH é composto de nove genes: o gene gag, que codifica proteínas do
capsídeo do “core” viral, o gene pol, que codifica a transcriptase reversa, o gene env, que
codifica proteínas do envelope viral, os genes tat,ver, nef, vif, vpr e vpx, que regulam a o
ciclo de vida viral. O genoma do VIH também possui a Long Terminal Repeat (LTR) uma
seqüência de ARN/ADN com função estrutural e regulatória
24
. Em 1987, Guyader e co-
autores identificaram pacientes de Guiné-Bissau e de outros países do Oeste da África
que demonstravam sintomas da SIDA, mas não apresentavam anticorpos contra o VIH.
Os pesquisadores convencionaram chamar o vírus identificado nestes pacientes de VIH-
2. ‘O alinhamento das seqüências de nucleotídeos do VIH-1 e VIH-2 demonstram que
suas distâncias homológicas variam de
60% para os genes mais conservados gag e pol,
para 30-40% para outros genes virais e LTR’.
25
O VIH apresenta uma ampla variabilidade genética. A análise da distância genética
entre alguns lentivírus primatas sugere que o VIH-1 e o VIH-2 originaram-se dos Vírus da
Imunodeficiência Símia presente em chimpanzés (o VIH-1 parece descender de um
lentivírus primata presente na sub-espécie Pan trogrodytes trolodytes) e em macacos
9
Mangabei (Cercocebus atys) (no qual está presente o provável ancestral lentivírus do
VIH-2).
26
2.3 A Terapia Anti-retroviral Altamente Ativa
A replicação do VIH-1 compreende uma série de etapas, desde a adsorção do
vírus à membrana celular até a maturação das partículas virais, passíveis de intervenção
quimioterapêutica.
27
Entre os medicamentos mais utilizados, os inibidores nucleosídicos
(que inibem de maneira competitiva a síntese de ADN pela TR) e não nucleosídicos (que
inibem de maneira não competitiva) da transcriptase reversa e os inibidores de protease
se tornaram de singular importância na quimioterapia da SIDA. Os inibidores de protease,
como o Indinavir, bloqueiam a atividade das proteases, enzimas que auxiliam na
maturação e reprodução viral bem como ajudam a tornar o vírus infeccioso. Os inibidores
da transcriptase reversa (TR) bloqueiam a enzima necessária ao VIH-1 na conversão do
ARN viral em ADN.
28
Dada a elevada taxa de mutação do VIH-1, que confere a este vírus uma enorme
capacidade de desenvolver resistência durante um tratamento com um inibidor, utiliza-se
um coquetel de inibidores anti-retrovirais, isto é, uma combinação de remédios visando
inviabilizar o desenvolvimento de resistência pelo VIH-1 uma vez que cada fármaco age
em diferentes sítios de uma proteína viral e/ou diferentes proteínas virais. Esta terapia é
conhecida como Terapia Anti-retroviral Altamente Ativa.
29
Um típico “coquetel” é uma
combinação tripla de inibidores de protease com os dois análogos nucleosídicos
inibidores da transcriptase reversa (INTR), o AZT (zidovudina) e o 3TC (lamivudina).
28
O
H
HO
H
NNN
H
H
HN
N
O
O
CH
3
H
+
_
AZT
O
S
HO
N
N
NH
2
O
3TC
Ilustração 100. Estruturas do AZT e do 3TC
10
Embora seja capaz de suprimir o vírus, a suspensão da medicação causa um
retorno na replicação das partículas virais. Além disso, há efeitos colaterais graves
associados à administração da terapia por longos períodos de tempo, como os efeitos
causados pelos INTR que vão desde esteatose hepática (“fígado gorduroso”) a acidemia
láctica (potencialmente fatal), que parecem estar associados a danos nas mitocôndrias os
resultados das pesquisas neste campo sugerem que os inibidores nucleosídicos inibem a
replicação do genoma mitocondrial, afetando a produção das enzimas fundamentais para
fosforilação oxidativa causando alterações na produção de ácido láctico.
30
Alguns
resultados recentes demonstram que algumas drogas (como o ácido valpróico) podem
induzir seletivamente a expressão do genoma proviral latente (isto é, da carga viral
“adormecida” no organismo do paciente) e potencialmente eliminá-la.
31
Esses resultados
levantaram, na comunidade acadêmica, a discussão sobre a possibilidade de se chegar a
uma cura para a SIDA, mas ainda há importantes dúvidas a serem sanadas antes do
desenvolvimento de uma intervenção terapêutica capaz de eliminar o vírus do organismo.
32,33
Estas e outras atividades farmacológicas do ácido valpróico recém-descobertas nos
motivaram a investigar um análogo borilados deste fármaco também.
2.4 A Transcriptase Reversa e os Inibidores Não-Nucleosídicos
O VIH é um retrovírus, o que significa que seu material genético é replicado numa
seqüência inversa à da maioria dos seres vivos. A enzima responsável por esta
capacidade é a transcriptase reversa (TR) que é uma enzima heterodimerica com dois
pontos “isoelétricos” (pH=5,75 e pH=6,25)
34
capaz de replicar o ARN viral convertendo-o
em uma fita dupla de ADN.
ADN
ARN PROTEÍNA
TRANSCRIÇÃO TRADUÇÃO
ADN
ARN PROTEÍNA
TRANSCRIÇÃO
TRADUÇÃO
TRANSCRIÇÃO
REVERSA
ARN
Ilustração 101 Comparação entre o fluxo da informação genética na seqüência convencional
dos seres vivos e nos retrovírus, como o VIH. O material genético é transcrito em ADN para
depois ser transcrito em ARN e traduzido em proteínas.
11
Os Inibidores Não-Nucleosídicos da Transcriptase Reversa (INNTRs) são um
grupo estruturalmente diverso que, ao contrário dos INTRs, inibem de maneira alostérica
a TR, ligando-se a uma cavidade hidrofóbica que dista cerca de 10 Ǻ do sítio ativo da
enzima, na subunidade p66 da TR VIH-1. O mecanismo de inibição parece estar
associado a um reposicionamento de resíduos da cavidade ligante dos INNTRs que
causa uma distorção nos resíduos do sítio ativo da TR.
35
Estudos recentes demonstram
que alteração na dimerização da TR causadas pelos INNTRs também participam do
mecanismo de inibição destes.
36,37
Ilustração 102 Imagem do complexo nevirapina+transcriptase reversa
A elevada especificidade dos INNTRs à TR os torna relativamente pouco tóxicos
aos pacientes
38
(alguns inibidores de protease também possuem elevada especificidade
devido à explorarem algumas diferenças entre as estrutura das proteases do VIH-1 e as
proteases humanas, como sua simetria).
39
A TR apresenta uma flexibilidade muito
elevada o que permite às regiões ligantes sofrerem significativas variações de volume e
dificulta a previsão de atividade de novos INNTRs.
40
2.5 A Nevirapina e o Ácido Fenil-Borônico
Merluzzi e colaboradores
41
investigando a atividade de dipiridodiazepinonas como
antagonistas dos receptores muscarínicos, identificaram um potente inibidor da
transcriptase reversa do VIH-1, a 11-ciclopropil-5,11-11-diidro-4-metil-6H-dipirido[3,2-
12
b:2’,3’-e][1,4]diazepin-6-ona, mais tarde chamada de nevirapina. A nevirapina é
amplamente utilizada na profilaxia da trasmissão materno-infantil do VIH-1.
42
Os testes
com uma nova terapia, utilizando a nevirapina em uma dose simples no combate à
transmissão vertical, demonstraram bons resultados, com um regime de posologia e um
gasto menores.
43
N
N
N
N
OH
Ilustração 103 Estrutura da nevirapina
Alguns pesquisadores têm proposto seu uso na terapia anti-retroviral altamente
ativa em adultos.
44
Costumeiramente, a nevirapina é ministrada em uma única dose
diária de 200mg nos primeiros 14 dias, aumentando-se então para 400mg por dia.
45
Embora tenha uma toxicidade não desprezível (hepatotoxicidade já bem descrita com
possíveis casos fatais),
46
é considerada menos tóxica do que inibidores nucleosídicos da
Transcripstase Reversa como o AZT e 3TC. Um dos maiores problemas associados ao
uso deste medicamento é o desenvolvimento de resistência pelo vírus, o que limita
bastante a aplicação deste fármaco. Há o receio de que o uso de nevirapina na contenção
da transmissão materno-infantil possa causar, a longo prazo, o surgimento de linhagens
resistentes do vírus que inviabilizem a utilização deste fármaco no futuro.
47,48
Há um
enorme grupo de mutações relatadas em pacientes que desenvolveram formas do VIH
resistentes à nevirapina.
40
Essas mutações induzem resistência alterando as taxas de
dissociação (como as mutações L100I e V106A), de associação (como a mutação
K103N), bem como induzindo alterações simultâneas nas taxas de associação ou
dissociação entre a enzima e o inibidor (como as mutações Y181I e Y188L) entre a
enzima e o inibidor.
50
O mecanismo de ação destas mutações ocorre de três maneiras, basicamente:
pela redução da área superficial de contato entre os aminoácidos e o inibidor, pela
modificação na distribuição eletrostática da ligação de hidrogênio envolvida na interação
13
com o inibidor e pela interferência estérica na cavidade ligante do inibidor.
52
A mutação
K103N é a única mutação (clinicamente relevante) capaz de conferir ao vírus resistência
aos INNTRs que não se localiza na cavidade ligante dos mesmos. O mecanismo de ação
desta mutação aparentemente está associado à alteração na interação entre o resíduo
103 e a tirosina 188 que favorece a estabilidade da estrutura da enzima “livre” em relação
à estrutura do complexo enzima-inibidor.
50
Alguns estudos sugerem que a energia de
interação entre a nevirapina e a forma mutante da TR é 3,66 kcal/mol menor do que a
energia de interação da nevirapina com a forma selvagem da TR devido a de interações
de van der Waals.
51
Diante da enorme variedade de mutações capazes de conferir resistência ao vírus
VIH-1, tem-se buscado por regiões conservadas da proteína transcriptase reversa para
alvo de novos fármacos. Um conjunto de resíduos na cavidade ligante dos INNTRs
(Pro225, Phe227, Trp229, Leu234 e Tyr 318) chamou a atenção dos pesquisadores.
Todos estes resíduos são altamente conservados em TR de lentivírus. Os aminoácidos
nas posições 227-235 pertencem à região “primer grip”, responsável pela manutenção da
terminação 3’-primer em uma orientação suscetível ao ataque nucleofílico pela
incorporação de deoxinucleotídeos.
52
Entre estes resíduos, nos chamou a atenção o triptofano da posição 229 (Trp229) e
a tirosina na posição 318 (Tyr 318). Estes aminoácidos possuem uma série de
propriedades que os tornam interessantes como alvos farmacológicos. Além de serem
altamente conservados e importantes na função enzimática, pertencem à cavidade ligante
dos INNTRs (com os quais interagem diretamente) e são aminoácidos aromáticos, ou
seja, passíveis de interação com grupos químicos eletrofílicos.
53
Alguns estudos sobre efeito inibitório de grupos eletrofílicos sobre enzimas
oferecem informações importantes. O ácido fenil-borônico é capaz de inibir colinesterase
humana em concentrações tão baixas quanto 4,0x10
-6
M.
4
Há também estudos
mostrando a atividade inibitória de ácidos
α-amino-borônicos sobre enzimas,
54
inibição
de acetil-colinesterase e quimiotripsina por ácido borônicos.
55,56
De fato, este bioisóstero
apresenta a capacidade de formar complexos ligando-se covalentemente a grupos
hidroxilas.
57,58
Alguns autores sugerem que a inibição ocorra por meio de um aduto
covalente com o átomo de boro tetracoordenado na forma aniônica.
59
A aplicação
farmacológica dos ácidos borônicos vem sendo amplamente investigada, com vários
14
exemplos de possíveis aplicações para tratamento de infecções por fungos,
60
combate à
trombose durante procedimento cirúrgico,
61
anticoagulante,
62
inibidores de proteases,
61
imunossupressores
62
descritos na literatura.
63
Embora os ácidos borônicos sejam
compostos reativos (podem sofrer desboronação oxidativa no organismo pelo citocromo
P450),
64
há trabalhos na literatura recente com a descrição de preparo de formulações
farmacológicas de compostos desta classe para aplicações farmacológicas
65,66
.
O presente trabalho pretende estudar o efeito da substituição de átomos de
hidrogênio dos anéis aromáticos da nevirapina que interagem com os resíduos
aminoácidos conservados Trp 229 e Tyr318 por um grupo dihidroxiborano.
2.6 Metodologia
A escolha da nevirapina como objeto deste estudo deveu-se à riqueza de dados
cristalográficos, químicos e farmacológicos disponíveis. Tendo em vista a meta e a
complexidade do trabalho, optamos por um estudo preliminar em sistemas modelos mais
simples antes do estudo das moléculas propostas propriamente ditas, isto é, inicialmente,
avaliamos, In Silico, as características da interação de compostos de boro com moléculas
aromáticas para, a seguir, avaliar os alvos farmacológicos (os aminoácidos escolhidos).
Os ácidos borônicos possuem particularidades que exigem uma avaliação mais detalhada
neste grupo de compostos. Entre estas características particulares encontramos a
diferença na relação estrutura/atividade (há casos descritos de ácidos borônicos tendo
maior atividade inibitória do que outros ácidos borônicos de pKa menor).
67
A metodologia
é descrita a seguir:
1º. Empregando-se as estruturas cristalográficas de complexos INNTR:TR depositadas no
Protein Data Bank, inicialmente foi conduzido um estudo sobre as principais
características geométricas, eletrônicas e energéticas das interações entre a molécula da
nevirapina e os aminoácidos de interesse presentes no sítio ativo da transcriptase
reversa. Foram comparadas as características do sítio ativo da TR complexada com
INNTRs nas formas selvagem e mutante da enzima.
15
2º. Cálculos mecânico-quânticos ab-initio empregando-se o método Hartree-Fock com
funções de base em nível 6-31G* serão executados para obtenção de parâmetros de
energia, momento de dipolo, de moléculas pequenas de compostos que reproduzam as
características químicas dos fármacos propostos e dos aminoácidos com os quais estes
análogos devem interagir preferencialmente.
3º. A partir deste estudo, sugerimos estruturas de análogos borilados da nevirapina com
potencial atividade inibitória em formas resistente da TR bem como estabelecemos os
sítios importantes de interação entre esses análogos e a proteína TR.
4º. De acordo com o estudo descrito nos itens anteriores para os INNTRs, realizamos
cálculos de otimização de geometria molecular e estabelecemos as características
principais destes compostos e das possíveis interações destes com os aminoácidos Trp
229 e Tyr 318. Também realizamos alguns estudos com cálculos semi-empíricos destes
sistemas.
2.7 Resultados e Discussão
2.7.1 Avaliação dos INNTRs
Os dados do PDB com a estrutura cristalográfica do complexo Nevirapina-
Transcriptase reversa demonstram que a variação no posicionamento em relação aos
resíduos Trp229 e Tyr318 na cavidade ligante de diferentes formas mutantes da TR é
relativamente pequena. De fato, o Trp229 está sempre próximo ao grupo metila ligado a
um dos anéis piridínicos da nevirapina e a Tyr318 nas proximidades do anel piridínico.
(Esquema abaixo).
16
Ilustração 104 Posições relativas da nevirapina e dos resíduos Tyr318 3 Trp 229 no mutante
Y181C, extraído do arquivo 1JLF do PDB.
Inicialmente, avaliamos a variação de energia e conformação entre as formas
“livre” e otimizada dos fármacos. As moléculas mostradas abaixo tiveram suas estruturas
otimizadas por cálculo ab-initio, empregando-se o método Hartree-Fock com funções de
base 6-31G*, utilizando-se o programa GAUSSIAN-98. Os resultados foram comparados
aos obtidos pelo cálculo da energia Single Point das mesmas estruturas, no mesmo nível
de cálculo, isto é HF/6-31G*, na conformação na qual são encontradas quando em
complexo com a Transcriptase Reversa (dados do Protein Data Bank). O Objetivo desta
comparação inicial foi avaliar a diferença de energia causada na de formação do
complexo inibidor-enzima. Os resultados são apresentados na Tabela abaixo:
N
N
N
N
OH
N
O
F
F
F
Cl
O
Nevirapina Efavirenz
17
N
N
O
O
O
O
NO
S
Cl
H
TNK-651 UC-781
S
Cl
Cl
N
N
N
O
O
NH
2
S-1153
N
NN
N
S
NO
F
H
H
PETT-1
N
Cl N
N
S
NO
F
H
H
PETT-2
N
S
O
BM + 21.1326
(BM-21)
Ilustração 105 Fórmulas estruturais de alguns INNTRs
18
INNTR Código
PDB
TR MUTANTE ENERGIA TOTAL
(Hartree)
E
(Hartree)
Geometria
Single Point
Geometria
Otimizada
BM-21
1C0T Tipo Selvagem -1179,3243
7
-1179,352 -0,02774
PETT-1
1DTQ Tipo Selvagem -1459,1393
6
-1459,260 -0,12127
PETT-2
1DTT Tipo Selvagem -1826,3699
7
-1826,43
6
-0,06688
S-1153
1EP4 Tipo Selvagem -2452,98450 -2453,040 -0,05568
Efavirenz
1FKO K103N -1497,0776
5
-1497,31
8
-0,24112
Uc-781
1S1T L100I -1715,3012
3
-1715,355 -0,05407
Uc-781
1S1W V106A -1715,3017
7
-1716,49
6
-1,19433
Neviparina
1S1X V108I -868,7454
8
-868,8270 -0,08247
Neviparina
1S1U L100I -868,7894
3
-868,8270 -0,03852
Nevirapina
1JLF Y188C -868,73860 -868,827
9
-0,08935
Nevirapina
1FKP K103N -868,74580 -868,827
9
-0,08215
Nevirapina
1JLB Y181C -868,72062 -868,827
9
-0,10700
Nevirapina
1VRT Tipo Selvagem -868,7543
3
-868,827
9
-0,07300
Tabela 33 Energia das estruturas das INNTR estudadas na conformação ativa e na
conformação otimizada.
Os valores da tabela1-1 foram calculados pela fórmula E = Energia total
(Otimizada) – Energia Total (single point). Embora haja uma variação significativa de
algumas estruturas, a nevirapina apresenta uma variação pouco pronunciada de energia
devido a sua rigidez molecular.
2.7.2 Avaliação da Cavidade Ligante dos INNTRs
A cavidade ligante dos Inibidores Não-Nucleosídicos da Transcriptase Reversa é
bastante flexível podendo sofrer uma significativa variação de volume. Avaliamos a
cavidade ligante da enzima com respeito ao seu mapa do potencial eletrostático e
volume. A cavidade ligante dos inibidores alostéricos não está presente na enzima livre.
Esta cavidade surge com a formação do complexo da Transcriptase Reversa com o
INNTR. Desta maneira, a conformação desta cavidade dependente da molécula de
INNTR envolvida na formação do complexo. Analisamos, a seguir, alguns exemplos de
cavidade ligante para algumas formas mutantes da Transcriptase Reversa. Em todos os
casos, o resíduo VAL179 foi retirado na imagem para melhor visualização.
19
A molécula da nevirapina mantém contato com o meio exterior (a cavidade ligante
não se “fecha” após a formação do complexo) e com o solvente mesmo após a formação
do complexo. A região onde se localiza o resíduo tirosina 318, na forma “selvagem” da
enzima, possui uma densidade de carga negativa associada. Esta densidade de carga
varia nos mutantes (como no Tyr181Cis). A região interage com a nevirapina
principalmente com o anel piridínico não metilado da molécula. A região do resíduo Trp
229, que interage com o anel piridínico metilado da nevirapina, mantém sempre uma
densidade de carga negativa (mesmo nos mutantes K103N, L1OOI, V108I, Y188C e
Y181C). A cavidade revela-se bastante flexível, tendo seu volume alterado inclusive por
moléculas de água, quando presentes no complexo.
Ilustração 106 À esquerda, superfície potencial do complexo TR-nevirapina demonstrando o contato da
molécula do fármaco com o solvente (água) externo e, à direita, aproximação demonstrando as
variações de carga na cavidade ligante. Os átomos destacados com a cor vermelha são átomos de
oxigênio de moléculas de água presentes na estrutura.
Na ilustração.6, a molécula de água que aparece logo acima do anel piridínico
não metilado da nevirapina penetra cerca de 4 Å na direção do resíduo prolina 221. A
superfície potencial foi construída com cargas do campo de força AMBER do
programa PyMol.A cavidade ligante da enzima mutante Tyr188Cis apresenta-se
bastante diferenciada em relação às demais. A região do resíduo Tyr318 também
sofre uma modificação na distribuição de cargas neste mutante, tornando-se positiva
(nos outros casos essa região possui uma densidade negativa nessa região). Essa
distribuição positiva também é observada na enzima mutante Tyr181Cis. A região de
contato da molécula com o resíduo Trp229, no entanto, mantém a mesma distribuição
em todos os casos.
20
Ilustração 107 Comparação entre os complexos Nevirapina-RT de diferentes formas mutantes e da
forma selvagem. A cor azul indica maior densidade de carga positiva e a vermelha indica maior
densidade de carga negativa. Para melhor visualização, a imagem do mutante Y188C foi obtida
partindo-se da região de interação da molécula do fármaco com a região externa à cavidade. Em todos
os casos o resíduo VAL179 foi retirado para melhoria na visualização.
Embora apareça como uma região de predominância de cargas negativas,
destacado em vermelho, nos mutantes Y188C e Y181C, a região de interação entre o
21
anel piridínico não metilado e o resíduo Tyr 318 apresenta-se com carga positiva
destacada em cor azul.
Ilustração 108 Comparação entre as regiões de interação do anel piridínico metilado da Nevirapina
com o resíduo Trp229. Em todos os casos o resíduo Val179 foi omitido para melhor visualização.
A partir destes resultados, concluímos que o resíduo Trp229 favorece a interação
com espécies químicas que possuem densidade de carga positiva uma vez que, ao
contrário do resíduo Tyr318, o resíduo Trp229 mantém sempre uma distribuição negativa
em todos os mutantes, embora haja uma variação nos valores das cargas. Como é
possível observar nas imagens, há uma significativa variação no volume da cavidade
havendo, inclusive, surgimento de “protuberâncias” que criam novas regiões de interação
entre a molécula do fármaco e da proteína bem como “lacunas”, isto é, regiões onde há
22
perda de interação de regiões com a molécula do fármaco. De fato, essas alterações
afetam substancialmente a cinética de inibição enzimática. Por exemplo, um dos
principais mecanismos de resistência da transcriptase reversa do vírus VIH-1 à nevirapina
são as mutações nos Tyr181Cis e Tyr188Cis que causam uma perda de interação de
empilhamento (stacking) dos anéis aromáticos da tirosina com os anéis aromáticos da
nevirapina.
68
2.8
Avaliação de Compostos de Boro.
Abaixo, apresentamos alguns testes feitos com a interação entre pequenas
moléculas contendo boro e nitrogênio. O átomo de nitrogênio da molécula modelo foi
colocado sobre o átomo de nitrogênio do indol da molécula do Trp229 presente no
mutante Y188C (arquivo 1JLF do PDB). A molécula modelo contendo boro foi posicionada
na mesma distância que o átomo de boro ficaria se fosse inserido na nevirapina um grupo
contendo boro no seu anel piridínico. A seguir são dadas as geometrias de partida de
alguns dos testes.
Ilustração 109 Superposição do hipotético análogo borilados e da trimetilamina sobre a neviparina e o
resíduo Trp229 na geometria encontrada no mutante Y181C.
O análogo borilado foi pré-otimizado, antes da superposição, usando um
método semi-empírico na aproximação PM3. A distância inter-atômica média boro-
nitrogênio foi seguida nos outros testes. A escolha da geometria de partida, portanto,
iniciou-se com a superposição das espécies propostas sobre a geometria hipotética do
análogo. As otimizações foram realizadas por cálculo mecânico-quânticos ab-initio
empregando-se o método Hartree-Fock com funções de base 6-31G*.
23
Ilustração 110 Procedimento para a escolha da geometria de partida. À esquerda, superposição do BF
3
e da trimetilamina sobre a geometria de partida. À direita, geometria de partida obtida para a otimização.
Os resultados indicaram uma tendência das moléculas a uma aproximação
preferencial “face a face”, no caso dos haletos de boro, e perpendicular ao centro do anel
aromático, no caso do ácido borônico.
Ilustração 111 Geometria otimizada do par BF
3
/ Indol visto por duas perspectivas diferentes
demonstrando a tendência à orientação “face a face”.
Testou-se uma série de moléculas com a geometria de partida definida de acordo
com o método descrito acima. Todas as moléculas foram testadas em interação com uma
molécula de trimetilamina, amônia, piridina, pirrol, indol e metil-indol.
Ilustração 112 Geometria otimizada do par ácido borônico-trimetilamina (à esquerda) e ácido borônico-
anel indol (à direita) com as distâncias inter-atômicas mínimas representadas.
24
2.8.1 Cálculos ab-initio
Abaixo são dados os resultados dos testes ab-initio calculados em nível e STO-3G*
e 6-31G*
Moléculas
Boriladas
Moléculas
Nitrogenadas
Energia de Interação
(em kcal/mol)
Distância (em
Angstrons)
HF/STO-3G* HF/6-31G*
Trimetilamina
-7,599522606 -8,684549 2,00342
Amônia
Não Converge -10,053780 2,07504
Pirrol
Não Converge -8,186648 2,03551
Piridina
Não Converge -6,594753 2,03886
Indol
-2,259349755 -6,051417
2,65935
2,70832
Ácido Bórico
[B(OH)
3
]
Metil-indol
Não Converge -6,300368
2,68716
2,62906
Trimetilamina
-8,037712839 -8,512199 2,01243
Amônia
-9,74021022 -9,862278 2,09905
Pirrol
-8,45506989
2,60529
2,60448
Piridina
-1,378586034 -7,324171
2,29138
2,25151
Indol
-2,378513904 -6,051417
2,60529
2,60448
Ácido fenil-
borônico
[Ph-B(OH)
2
]
Metil-indol
Não Converge -6,108867
2,65004
2,70141
Trimetilamina
-8,85730365 -9,105851 1,98908
Amônia
-10,61006458 -10,532530 2,05832
Pirrol
-9,26016507 -10,484650
2,57952
2,57992
Piridina
Não Converge -7,324171
2,26030
2,26162
Indol
-2,71109420 -6,645069
2,62689
2,66790
Ácido
3-piridil-
borônico
[Py-B(OH)
2
]
Metil-indol
Não Converge
-6,740819
2,65172
2,62185
Tabela 34 Valores de energia total dos pares moleculares calculados por método Hartree-
Fock com diferentes bases.
25
Molécula Borilada Molécula
Nitrogenada
Dipolo Total (Debye)
STO-3G* 6-31G*
Trimetilamina 4,7547 5,4069
Amônia Não Converge 6,0750
Pirrol Não Converge 3,8685
Piridina Não Converge 6,0049
Indol 4,2119 5,5142
Ácido Bórico [B(OH)
3
]
Metil-indol Não Converge 4,3315
Trimetilamina 5,1854 4,7250
Amônia 5,7862 5,5750
Pirrol 3,5731 4,1986
Piridina 6,2080 6,7040
Indol 3,5357 4,5215
Ácido fenil-borônico
[Ph-B(OH)
2
]
Metil-indol Não Converge 4,4211
Trimetilamina 7,5629 7,4525
Amônia 8,1325 8,2555
Pirrol 5,7336 6,7656
Piridina Não Converge 9,4393
Indol 5,6587 6,9780
Ácido 3-piridil-borônico
[Py-B(OH)
2
]
Metil-indol Não Converge 6,9066
Tabela 35 Valores de momento de dipolo dos pares moleculares calculados por método
Hartree-Fock com diferentes bases
Ilustração 113 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido bórico e
trimetilamina observado por duas perspectivas diferentes
Ilustração 114. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido bórico e amônia
observado por duas perspectivas diferentes
26
Ilustração 115. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido bórico e piridina
observado por duas perspectivas diferentes
Ilustração 116. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido bórico e pirrol
observado por duas perspectivas diferentes
Ilustração 117. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido bórico e indol
observado por duas perspectivas diferentes
Ilustração 118. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido bórico e 32-metil-
indol observado por duas perspectivas diferentes
27
Ilustração 119. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido fenil-borônico e
trimetilamina observado por duas perspectivas diferentes
Ilustração 120. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido fenil-borônico e
amônia observado por duas perspectivas diferentes
Ilustração 121. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido fenil-borônico e
pirinina observado por duas perspectivas diferentes
Ilustração 122. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido fenil-borônico e
pirrol observado por duas perspectivas diferentes
28
Ilustração 123. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido fenil-borônico e
indol observado por duas perspectivas diferentes
Ilustração 124. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido fenil-borônico e 2-
metil-indol observado por duas perspectivas diferentes
Ilustração 125. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido 3-piridil-borônico
e trimetilamina observado por duas perspectivas diferentes
Ilustração 126 Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido 3-piridil-borônico e
amônia observado por duas perspectivas diferentes
Ilustração 127. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido 3-piridil-borônico
e piridina observado por duas perspectivas diferentes
29
Ilustração 128. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido 3-piridil-borônico
e pirrol observado por duas perspectivas diferentes
Ilustração 129. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido 3-piridil-borônico
e indol observado por duas perspectivas diferentes
Ilustração 130. Direção do vetor momento de dipolo no par molecular ácido 3-piridil-borônico
e 2-metil-indol observado por duas perspectivas diferentes
Observamos uma pequena variação dos valores de acordo com a base utilizada
indicando que a base STO-3G* subestima os valores de energia de interação e momento
de dipolo. Os valores de energia de interação indicam que a interação entre as moléculas
é favorecida. Tanto os valores de energia de interação quanto as distâncias inter-
atômicas estão dentro da faixa de uma ligação de hidrogênio. Os valores do momento de
dipolo bem como a sua direção corroboram esta conclusão, tendo valores relativamente
altos. Os compostos de boro otimizados com a piridina apresentam orientam-se
preferencialmente com os átomos de hidrogênio do grupo di-hidroxi-borano interagindo
com o átomo de nitrogênio. Esse resultado é devido à elevada carga do átomo de
nitrogênio na piridina (
-0,68, ver tabela 4) que favorece esta interação. Os resultados
sugerem que a substituição dos anéis piridínicos da nevirapina podem resultar num
30
aumento da atração eletrostática entre estes e os resíduos aromáticos nitrogenados da
TR.
Calculamos também a alteração na distribuição de cargas no anel piridínico com a
adição do grupo ácido borônico.
N
H
H
HH
H
4
5
11
9
6
1
2
8
7
3
10
N
H
H
HH
B
OH
OH
10
13
12
15
14
4
5
11
9
6
1
2
8
7
3
Ilustração 131 Fórmula estrutural da piridina e do ácido 2-piridil-borônico
Piridina Átomo Carga
ChelpG
Ác. Piridil
borônico
Átomo Carga
ChelpG
1 C 0,476812 1 C 0,478162
2 C -0,459873 2 C -0,451580
3 C 0,242683 3 C 0,218550
4 C -0,469164 4 C -0,450409
5 C 0,483834 5 C 0,456240
6 N -0,682795 6 N -0,691865
7 H 0,013305 7 H 0,014859
8 H 0,158568 8 H 0,150109
9 H 0,063725 9 H 0,074674
10 H 0,161796 10 B 0,855162
11 H 0,011108 11 H 0,035676
- - - 12 O -0,788734
- - - 13 O -0,803791
- - - 14 H 0,446579
- - - 15 H 0,456367
Tabela 36 Valores de cargas atômicas ChelpG da piridina e do ácido 3-piridil borônico.
A adição do grupo borônico ao anel aromático causa uma alteração significativa na
distribuição de cargas entre os átomos. O carbono nº 4 (ao qual se liga o substituinte
boronato) sofre uma leve diminuição na carga negativa enquanto os átomos de carbono
nº 3 e 5 sofrem uma diminuição nos valores de carga positiva. Os átomos de hidrogênio
do ácido borônico apresentam-se com uma carga significativamente positiva.
31
2.8.3 Análogos Propostos
N
N
N
N
HO
B
O
H
O
H
N
N
N
N
HO
B
O
O
H
H
Análogo.1 Análogo.2
Ilustração 132 Fórmulas estruturais dos análogos propostos
Baseando-se nos resultados anteriores e nas posições do resíduo Trp229 e Tyr318
em relação a nevirapina, propusemos os análogos acima (Ilustração.34) como possíveis
candidatos a fármacos mais resilientes na terapia anti-retroviral. Nas próximas seções,
descrevemos as propriedades calculadas em cada um dos análogos na interação com a
Tyr318 (no caso do análogo.1) e Trp 229 (para o análogo 2).
2.8.4 O Aminoácido Triptofano 229
Iniciamos os estudos desta etapa avaliando primeiramente a interação do análogo
2 com o Trp 229. A cadeia lateral do Trp229, o indol, é menos reativo com ácidos
borônicos do que a cadeia lateral do resíduo aminoácido Tyr318 que é um fenol tendo,
portanto, uma hidroxila possivelmente reativa com sistema nucleofílicos como o ácido
borônico. Abaixo, apresentamos os resultados do cálculo ab-initio para este sistema.
2.8.4.1 Resultados
Seguindo as análises, realizamos cálculos ab-initio com o objetivo de se obter e
dados sobre o sistema. Os valores de cargas atômicas obtidas pelo método ChelpG são
dados abaixo:
32
N
N
N
N
H
O
H
H
H
H
H
H
H
H
HH
H
H
H
33
32
31
13
22
30
26
12
7
3
8
23
14
27
1
18
19
5
2
11
6
21
20
4
10
9
16
28
34
15
24
17
29
25
Ilustração 133 Numeração dos átomos da nevirapina
Átomos
(nº/símbolo)
Cargas
ChelpG
Átomos
(nº/símbolo)
Cargas
ChelpG
1 N
-0,531361
18 H
0,104270
2 C
0,225543
19 H
0,104576
3 C
0,627455
20 H
0,111440
4 C
0,823193
21 H
0,101900
5 C
-0,240330
22 C
-0,514728
6 C
-0,257460
23 C
-0,166364
7 N
-0,638790
24 O
-0,654342
8 C
-0,108218
25 C
-0,447786
9 C
-0,518132
26 H
0,064732
10 N
-0,696272
27 H
0,360549
11 H
0,050295
28 H
0,105335
12 C
0,343089
29 H
0,048724
13 C
0,301478
30 H
0,189430
14 N
-0,628472
31 H
0,065895
15 C
0,869032
32 H
0,064595
16 C
0,214185
33 H
0,053355
17 C
0,413707
34 H
0,159477
Tabela 37 Valores de cargas atômicas da nevirapina.
33
N
N
N
N
H
O
H
H
H
B
H
H
H
H
HH
H
H
H
33
32
31
13
22
30
26
12
7
3
8
23
14
27
1
18
19
5
2
11
6
21
20
4
10
9
16
28
34
15
24
17
29
25
O
O
H
H
38
35
36
37
Ilustração 134 Numeração dos átomos do análogo borilado da nevirapina
Átomo
Nº/símbolo
Carga
ChelpG
Átomo
Nº/símbolo
Carga
ChelpG
1N
-0,565578
20N
-0,700017
2C
0,250253
21B
0,921036
3C
-0,214137
22H
0,045784
4C
-0,274422
23H
0,094664
5N
-0,681093
24H
0,094044
6C
0,336658
25H
0,113314
7C
-0,523376
26H
0,104778
8C
0,289766
27H
0,094931
9C
-0,144241
28H
0,071708
10C
0,701423
29H
0,063220
11C
-0,158709
30H
0,038719
12N
-0,619068
31H
0,354831
13C
0,884788
32H
0,048761
14O
-0,662336
33O
-0,781863
15C
-0,526036
34O
-0,830661
16C
0,835332
35H
0,111055
17C
0,202209
36H
0,436305
18C
-0,443298
37H
0,459974
19C
0,412483
38H
0,158799
Tabela 38 Valores cargas atômicas da molécula de nevirapina modificada.
34
A maioria dos átomos de carbono desta molécula apresenta uma carga similar
àquela da nevirapina. O átomo de boro apresenta uma carga bastante positiva (0,921036)
bem como os átomos de hidrogênio ligados a ele (0,436305 e 0,459974). Os átomos de
oxigênio do mesmo grupo apresentam uma carga muito negativa (-0,781863 e -
0,830661). O mapa do potencial eletrostático e o mapa de distribuição dos orbitais HOMO
e LUMO são dados abaixo:
Ilustração 135 Comparação entre os mapas potenciais dos potenciais eletrostáticos do
análogo.2 (à esquerda) e da nevirapina (à direita).
Ilustração 136 Comparação entre os orbitais HOMO do análogo.2 (à esquerda) e da
nevirapina (à direita).
35
Ilustração 137 Comparação entre os orbitais LUMO do análogo.2 (à esquerda) e da
nevirapina (à direita).
Base Energia do Orbital (e.V)
Nevirapina Modificada Nevirapina
HOMO LUMO
Ε
HOMO LUMO
Ε
STO-3G*
-0,235 0,207 0,442 -0,243 0,203 0,446
6-31G*
-0,307 0,101 0,408 -0,312 0,098 0,410
Tabela 39 Valores de Energia dos Orbitais de Fronteira HOMO e LUMO e da diferença de
energia entre estes orbitaias para a nevirapina modifoicada e a convencional
Os valores de energia dos orbitais de fronteira da molécula do análogo 2 da
nevirapina são similares aos da nevirapina convencional. Há uma variação relevante de
acordo com a base utilizada.
A simulação ab-initio do análogo borilado da nevirapina revelou que este segue a
mesma orientação preferencial das moléculas pequenas de ácido borônico simuladas em
relação ao anel indólico do triptofano 229, isto é, o análogo também tende a orientar-se
perpendicularmente ao anel aromático.
Ilustração 138 Resultado da otimização em nível HF/6-31G* do análogo borilado e do indol.
36
A formação desta ligação de hidrogênio não-convencional depende da presença na
forma molecular, isto é, não ionizada, do análogo borilado da nevirapina. Este, por sua
vez, depende dos valores de pKa do ácido e de pH do meio. Como não dispomos da
substância para efetuar a medição de pKa, não podemos calcular este valor com
exatidão. No entanto, podemos estimar este valor aproximadamente tomando como base
outros ácidos borônicos para os quais temos dados disponíveis na literatura. O valor de
pKa do ácido 3-piridil-borônico é 8,1.
74
O valor de pH do meio intracelular de linfócitos
humanos é aproximadamente 7,3 (em solução salina fisiológica a 37ºC).
75
Pela equação
de Henderson-Hasselbalch
76
temos:
pH = pKa + log [base conjugada]/[ácido]
R-COOH
R-COO
+
H
2
O
H
3
O
R-B(OH)
2
+ H
2
O
R-B(OH)
3
+
H
3
O
Ilustração 139 Comparação entre as formas de ionização de ácidos carboxílicos e ácidos
borônicos em meio aquoso.
Substituindo os valores nesta equação encontramos que a razão [base
conjugada]/[ácido] é igual a
0,20417, ou seja, para estas condições, cerca de 79,5% da
quantidade molar total do ácido borônico estarão na forma molecular capaz de formar a
ligação de hidrogênio calculada. Naturalmente, esta é apenas uma estimativa baseada
em análogos, logo este resultado é apenas qualitativo, mas demonstra claramente a
importância da contribuição da energia desta ligação de hidrogênio não convencional na
energia total de interação entre o fármaco e a proteína.
A distribuição de carga sobre os átomos demonstra um aumento na densidade de
carga positiva na região da molécula que interage com o Trp229 (figura abaixo):
37
Ilustração 140 Mapa do potencial eletrostático da geometria otimizada do análogo e da cadeia
lateral do triptofano 229. A cor azul indica a densidade de carga positiva e a cor vermelha
indica a densidade de carga negativa.
A energia de interação calculada pela fórmula E
int
=
E
f
- (ENVP
opt
+ EIND
opt
), onde
E
f
é a energia final da otimização do par molecular descrito acima, ENVP
opt
é a energia da
nevirapina modificada otimizada e EIND
opt
é a energia do indol otimizado, é dada abaixo:
Base Energia de Interação (Kcal/mol)
Nevirapina Modificada Nevirapina Convencional
Fase Gasosa Água Fase Gasosa Água
STO-3G*
-2,715550 1,432917 não converge não converge
6-31G*
-6,652484 6,423632 -1,937496 6,413455
Tabela 40 Valores de energia de interação da ligação de hidrogênio não convencional
Os valores da tabela 1.9.1 demonstram que a ligação de hidrogênio não é
favorável em sistema aquoso. Esse resultado é bem razoável tendo em vista que água,
por ser um solvente polar, também tende a formar ligações de hidrogênio com este
composto o que deve desfavorecer essa ligação em um sistema aquoso puro. É
importante, entretanto, lembrar que, complexado na proteína, este composto estará em
contato com um número limitado de moléculas de água o que altera significativamente
este valor e que este cálculo de correção do efeito do solvente possui severas limitações.
Existe também a interação da forma ionizada deste ácido com o resíduo Trp229.
Neste caso, a interação mais favorecida não é a ligação não convencional, mas a
interação eletrostática com o nitrogênio indólico.
38
Ilustração 141. Geometria otimizada do ânion boronato do análogo da nevirapina e do indol
Evidentemente, o Trp229 presente na TR não possui grau de liberdade suficiente
que permitam este movimento observado na otimização de geometria livre da proteína,
entretanto, este resultado revela o favorecimento da interação do resíduo aminoácido com
o análogo na forma iônica o que corrobora o indício de atividade deste composto.
Ilustração 142. Mapa do potencial eletrostático potencial da geometria otimizada da forma
aniônica do análogo borilado e do Trp229.
O mapa do potencial eletrostático potencial revela a densidade de cargas
negativas sobre os átomos de oxigênio (em vermelho) na região de interação e
positiva sobre os átomos de hidrogênio (em verde). Não calculamos para este caso os
valores de energia de interação devido ao fato de que este movimento efetuado pelo
Trp 229 na otimização de geometria é obviamente inviável no núcleo protéico o que
acarretaria, portanto, um resultado distante do valor real. Consideramos, entretanto,
este resultado, um forte indicativo da atividade desta molécula.
39
2.8.5 O Análogo dihaleto de Boro
Investigamos também a substituição do hidrogênio vicinal a metila pelo grupo
difluoreto de boro (BF
2
). Ao contrário do ácido borônico, o BF
2
não possui átomos
hidrogênio. O caráter ácido deste substituinte deve-se, basicamente, ao orbital “p” vazio
do átomo de boro que confere a esta espécie química a capacidade de atuar como ácido
de Lewis.
Ilustração 143 Comparação entre o mapa do potencial eletrostático da nevirapina
convencional e da modificada com BF
2
Ilustração 144 Comparação entre os orbitais HOMO da nevirapina convencional e da
modificada com BF
2
Ilustração 145 Comparação entre os orbitais LUMO da nevirapina convecional e da modificada
com BF
2
40
Como se pode observar na figura acima, o orbital LUMO da molécula NVPBF2
(análogo difluoreto de boro da nevirapina) concentra-se sobre o anel piridínico metilado e
o grupo borilado. O mapa do potencial eletrostático a densidade de carga negativa sobre
o grupo difloureto de boro.
Ilustração 146 Numeração dos átomos do análogo difluorborilado da nevirapina
Número Átomo Carga Número Átomo carga
1 N -0,537576 19 H 0,098341
2 C 0,249920 20 H 0,114369
3 C 0,748418 21 H 0,104473
4 C 0,807975 22 C -0,710833
5 C -0,219333 23 C -0,242661
6 C -0,267686 24 O -0,654097
7 N -0,740598 25 C -0,451262
8 C -0,182521 26 H 0,082128
9 C -0,512233 27 H 0,363111
10 N -0,700188 28 H 0,110077
11 H 0,044925 29 H 0,045175
12 C 0,451116 30 B 0,967571
13 C 0,381795 31 H 0,120902
14 N -0,638994 32 H 0,070074
15 C 0,875569 33 H 0,048500
16 C 0,210097 34 H 0,163088
17 C 0,429671 35 F -0,389060
18 H 0,094760 36 F -0,335011
Tabela 41 Cálculo das cargas atômicas da molécula de nevirapina modificada obtido pelo
método ChelpG.
41
Os resultados demonstram uma elevada carga positiva sobre o átomo de boro e
carga negativa sobre os átomos de flúor da molécula. Ao contrário dos outros análogos,
neste caso a carga sobre o átomo de carbono ligado ao boro (-0,710833, o átomo, nº 22)
supera a carga do átomo de oxigênio (-0,654097
).
A avaliação da interação deste análogo com o indol revela características bem
distintas do análogo com o grupo –B(OH)
2
. Ao contrário do análogo borilado, a otimização
do análogo substituído com difluoreto de boro leva a uma aproximação diferente entre as
estruturas. A molécula da nevirapina modificada orienta-se preferencialmente pela
aproximação entre o grupo substituinte e o nitrogênio do indol.
Ilustração 147 Geometria otimizada do análogo modificado da nevirapina e do indol. A
otimização foi realizada com cálculo HF/6-31G*.
Este comportamento diferenciado desta molécula (o análogo difluorborado da
nevirapina) em relação ao análogo com o grupo –B(OH)
2
pode ser melhor compreendido
quando analisado a disposição de seu orbital LUMO. Como demonstrado na ilustração27,
o análogo difluorborado apresenta o orbital LUMO bem concentrado no grupo borilado.
Logo, esta região pode ser eletrofílica favorecendo a interação com a nuvem eletrônica
sobre o nitrogênio do indol. Este resultado, entretanto, demonstra apenas uma tendência
no comportamento deste análogo, já que as limitações estéricas da cavidade ligante não
permitem esta liberdade de movimento. Contudo, isto indica a forte tendência do grupo
BF
2
em interagir com este a região com maior densidade de carga negativa na cavidade
hidrofóbica. O mapa do potencial eletrostático das duas moléculas é dado abaixo:
42
Ilustração 148 Mapa do potencial eletrostático do análogo difluoreto de boro e do indol.
Este resultado comparado ao obtido com os ácidos borônicos demonstra o caráter
eletrofílico fílico dos composto de boro. Entretanto, é improvável que esta molécula possa
ter aplicação farmacológica, pois os compostos contendo o grupo difluoreto de boro
apresentam, em geral, toxicidade demasiadamente elevada tornando o seu uso inviável.
4
43
2.8.6 O Aminoácido Tyr318
2.8.6.1 Resultados
N
N
N
N
H
O
B
O
H
O
H
H
HH
H
H
H
H
H
HH
H
H
1
2
34
21
22
23
24
25
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
30
27
28
29
38
26
15
16
17
18
19
20
31
32
34
33
35
36
37
Átomo Carga Átomo Carga
1N
-0,524014
20N
-0,719911
2C
0,252947
21H
0,040238
3C
-0,222131
22H
0,094425
4C
-0,266239
23H
0,095528
5N
-0,647833
24H
0,110822
6C
0,342784
25H
0,102369
7C
-0,518763
26H
0,065666
8C
0,306922
27H
0,062696
9C
-0,160393
28H
0,061816
10C
0,633879
29H
0,053451
11C
-0,101673
30H
0,367894
12N
-0,665476
31H
0,117354
13C
0,902458
32H
0,065318
14O
-0,660464
33B
0,873188
15C
-0,550342
34O
-0,793346
16C
0,832696
35H
0,448770
17C
0,208183
36O
-0,815128
18C
-0,464680
37H
0,458697
19C
0,423129
38H
0,189162
Tabela 42 Valores de Carga Atômica para o análogo.1 calculados pelo método ChelpG
Neste análogo, as cargas são similares às do outro análogo. O átomo de boro
apresenta uma carga levemente menor do que análogo substituído no anel metilado.
44
otimização do par de moléculas formado pelo análogo contendo o grupo –B(OH)
2
da
nevirapina e pelo fenol, revela uma tendência à aproximação entre o átomo de oxigênio
fenólico e os átomos de hidrogênio do grupo –B(OH)
2
.
Ilustração 149 Geometria inicial e final da otimização do par fenol/análogo ácido borônico
realizado com cálculo ab-initio pelo método Hartree-Fock em nível 6-31G*.
Este resultado, no entanto, demonstra somente a tendência de atração entre as
duas espécies químicas. Estudos experimentais demonstram que ácidos borônicos são
capazes de formar uma ligação covalente com grupos hidroxila, tendo o átomo de boro
numa conformação aproximadamente tetraédrica.
59
É possível, portanto, que o par de
moléculas em estudo forme um aduto covalente negativamente carregado como os
resultados experimentais descrevem em sistemas similares. Para avaliar a viabilidade de
ocorrência do processo de formação do complexo, realizamos a otimização do aduto
covalente proposto.
Ilustração 150 Geometria otimizada do aduto covalente proposto
A otimização foi realizada considerando-se uma carga negativa sobre a molécula
(UHF/6-31G*) tomando como padrão dados experimentais disponíveis sobre estruturas
similares.
57
O resultado da otimização revelou que os grupos ligados ao átomo de boro
orientam-se em uma geometria aproximadamente tetraédrica (os valores de ângulo entre
45
as ligações dos átomos oxigênioborooxigênio varia de 109º a 112º e entre as ligações
oxigênioborocarbono varia de 103º a 112º).
Não encontramos na literatura nenhuma referência a um aduto covalente de um
ácido aril-borônico e compostos fenólicos. Para avaliarmos a viabilidade de formação
deste aduto, realizamos a otimização de geometria de um análogo cuja reação já é
descrita na literatura. Otimizamos a estrutura de um análogo da nevirapina contendo o
grupo –B(OH)
2
com uma estrutura serina (reação já descrita experimentalmente) e de
ácidos aril-borônico (fenol e piridina) que possui uma similaridade química com a reação
em discussão.
Ilustração 151 Aduto resultante do ácido fenil-borônico com a serina
Ilustração 152 Aduto resultante do ácido fenil-borônico com uma molécula de fenol
Ilustração 153. Aduto resultante do ácido piridil borônico com uma molécula de fenol
46
Aduto Energia de Formação (kcal/mol)
AM1 PM3
SerOH/PhB(OH)
2
-229.1719433 -239.5477860
PhOH/PhB(OH)
2
-207,4019012 -209,6090851
PhOH/PyB(OH)
2
-201,7231293 -208,5822211
PhOH/NVPB(OH)
2
-116.5880959 -190,5916748
Tabela 43 Valores de Energia de formação calculados pelos métodos semi-empirícos AM1 e
PM3
SerOH/PhB(OH)
2
= aduto resultante da serina com o ácido fenil-borônico
PhOH/PhB(OH)
2
= aduto resultante do fenol com o ácido fenil-borônico
PhOH/PyB(OH)
2
= aduto resultante do fenol com o ácido piridil-borônico
PhOH/NVPB(OH)
2
=aduto resultante do fenol com o análogo borilado da nevirapina
Os valores da Tabela 11 demonstram que o calor de formação do aduto formado
pelo análogo 1 e pelo fenol está dentro de uma faixa comparável à dos outros adutos
sugerindo uma possível viabilidade de formação deste aduto.
Ilustração 154 Superfície potencial do aduto covalente resultante da tirosina com a nevirapina
modificada demonstrando a densidade de carga negativa sobre os átomos de boro e oxigênio.
Ilustração 155 À esquerda, orbital HOMO do aduto covalente resultante da ligação com o
fenol e, à direita, orbital LUMO.
Energia dos Orbitais de Fronteira (em e.V)
BASE HOMO LUMO
E
STO-3G*
-0,073 0,315 0,388
6-31G*
-0,168 0,198 0,366
Tabela 44 Valores de Energia dos Orbitais de Fronteira
47
O mapa do potencial eletrostático potencial revela uma presença preferencial da
carga negativa nos átomos de oxigênio do aduto aniônico formado. O mapa dos orbitais
moleculares revela o orbital HOMO preferencialmente sobre o resíduo tirosina 318. A
distribuição de cargas nos átomos (Tabela 13) demonstra que o átomo de boro mantém
uma carga significativamente positiva também na espécie química aniônica.
N
N
N
N
B
H
O
O
O
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
O
H
H
H
H
H
H
H
H
H
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
45
46
47
48
49
44
50
Ilustração 156 Numeração dos átomos do aduto formado pelo resíduo tirosina com o análogo
borilado da nevirapina
Número Átomo Carga Número Átomo Carga
1 N
-0,549868
26 H
0,055565
2 C
0,296519
27 H
0,178590
3 C
-0,320882
28 H
0,049716
4 C
-0,201727
29 H
0,051188
5 N
-0,661547
30 H
0,061270
6 C
0,322989
31 H
0,356939
7 C
-0,537559
32 H
0,094725
8 C
0,330597
33 B
1,126839
9 C
-0,165390
34 H
0,051925
10 C
0,714562
35 O
-0,893073
11 C
-0,158010
36 O
-0,941939
12 N
-0,667660
37 H
0,367988
13 C
0,898617
38 H
0,422513
14 O
-0,672037
39 C
-0,298228
15 C
-0,479838
40 C
-0,002919
16 C
0,740216
41 C
0,018132
17 C
0,093544
42 C
-0,420363
18 C
-0,353366
43 C
-0,458525
19 C
0,416097
44 C
0,764177
20 N
-0,752848
45 O
-0,876550
21 H
0,027352
46 H
0,074386
22 H
0,106117
47 H
0,071008
23 H
0,102750
48 H
0,160817
24 H
0,085948
49 H
0,177829
25 H
0,089679
50 H
0,177829
Tabela 45 Valores de carga atômica do aduto covalente da nevirapina modificada com o fenol.
48
Tal como nos exemplos anteriores, o átomo de boro possui uma elevada carga
positiva e os átomos de oxigênio ligantes possuem uma elevada carga negativa. Os
resultados, em conjunto, sugerem que há a possibilidade de este análogo borilado da
nevirapina apresentarem a capacidade de inibir a TR através da formação de um
complexo estável INNTR+TR.
3. ADN e ARN Quimicamente Modificados
A compreensão do mecanismo de interação das bases do ADN e do ARN é de
fundamental importância para a compreensão de atividade destes compostos, que estão
envolvidos em uma série de processos de importância tanto biológica (como
carcinogênese, doenças hereditárias, transcrição, tradução, etc.) quanto tecnológica
(como possível nanomaterial). Há abundante descrição na literatura sobre bases
quimicamente modificadas do ADN.
63,64,65
Ácidos nucléicos boro-modificados, entretanto,
têm poucas citações e foram pouco investigados quanto ao seu comportamento químico.
Abaixo, demonstramos alguns estudos ab-initio de modificações químicas, com a
substituição de átomos dos ácidos nucléicos convencionais por átomos de boro. Nosso
principal objetivo com este estudo é a obtenção de informações sobre adutos covalentes
de pares de bases do ADN que possam ser utilizados como nanomaterial.
3.1. Metodologia
Foram realizadas otimizações de geometria com o método Restricted Hartree-
Fock, em nível 6-31G*, de pares Watson-Crick convencionais e quimicamente
modificados. O mapa do potencial eletrostático e a distribuição de orbitais são
apresentados de maneira comparativa entre o análogo e o par Watson-Crick. Os valores
de cargas sobre os átomos foram obtidos pelo método ChelpG a partir da geometria
otimizada. O volume de van der Waals das moléculas também é demonstrado para a
visualização dos efeitos espaciais das alterações.
49
3.2. Resultados e Discussão
Os resultados são discutidos logo após sua apresentação.
3.2.1 Adenina Timina - Modificada
Os resultados da otimização do par Adenina - Timina modificada com o grupo
difluoreto de boro são dados abaixo:
Ilustração 157 Geometria de partida e geometria otimizada do par timina-modificada e
adenina
50
N
N
O
O
B
F
F
H
H
H
H
H
1
2
3
4
5
67
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
24
23
25
26
28
29
30
31
32
N
N
N
H
N
N
H
H
H
H
27
Átomos Distâncias inter-atômicas (em angstrons)
Geometria de partida Geometria Otimizada
H1 – N2 1,52032 0,66517
N2 – C3 1,36998 1,37213
C3 – H4 1,07969 1,07039
C3 – N5 1,30006 1,28025
N5 – C6 1,39481 1,37867
C6 – C7 1,39999 1,40559
C7 – N8 1,33930 1,31604
N8 – H9 1,01000 0,99536
N8 – N10 1,01031 1,00440
C7 – N11 1,34007 1,35179
N11 – C12 1,32996 1,35895
C12 – H13 1,07930 1,06703
C12 – N14 1,32235 1,29196
N14 – C15 1,34994 1,33884
C15 – C6 1,36313 1,36822
C15 – N2 1,36415 1,35445
H16 – N17 1,53032 0,99468
N17 – C18 1,37007 1,37151
C18 – H19 1,08009 1,07349
C18 – C20 1,34031 1,32682
C20 – C21 1,50045 1,50226
C21 – H22 1,09050 1,08463
C21 – H23 1,08986 1,08416
C21 – H24 1,08927 1,08363
C20 – C25 1,43934 1,47338
C25 – O26 1,22963 1,20457
C25 – N27 1,48283 1,39108
N27 – B28 1,09066 1,57712
B28 – F31 1,13961 1,35720
B28 – F32 1,13971 1,35884
N27 – C29 1,36908 1,37848
C29 – O30 1,21983 1,20030
C29 – N17 1,37992 1,36972
B28 – N11 3,02396 1,62947
O26 H10 3,06508 1,98855
O30 H13 4,54006 2,65153
Tabela 46 Valores de Comprimentos de Ligação na Geometria de Partida e Geometria
Otimizada do Aduto
51
A distância entre os átomos de boro e nitrogênio na geometria de partida que
resultou nesta configuração é de 3,02Å. Entre estes átomos se forma uma ligação de
1,63Å de comprimento. A maioria das ligações químicas do aduto formado sofre pequena
variação. A distância final entre o átomo de oxigênio nº 26 e o átomo de hidrogênio nº 10
e a distância entre o átomo de oxigênio nº 30 e o átomo de hidrogênio nº 13 indica a
formação de uma ligação de hidrogênio. A formação da ligação covalente acarretou uma
distorção na conformação do par. Esse efeito pode ser claramente observado quando
acrescentados os volumes de van der Waals dos átomos.(figura abaixo).
Ilustração 158 Par covalente com os volumes de van der Waals dos átomos considerados. A
distorção causada pelo volume dos átomos pode ser observada nitidamente.
Entalpia de Formação em kcal/mol
Método AM1 PM3
-113.2879228 -205,9684838
Tabela 47 Valores de Entalpia de Formação do aduto adenina timina-modificada calculados
pelo método AM1 e PM3.
Os valores de energia de formação sugerem que o par covalente deva ter relativa
estabilidade.
52
N
N
O
O
B
F
F
H
H
H
H
H
N
N
N
H
N
N
H
H
H
H
1
2
3
4
5
67
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
24
23
25
26
28
29
30
31
32
27
Ilustração 159 Numeração dos átomos do aduto Timina-Modificada Adenina
Átom
o
Carga
A-T
Carga do
aduto
Início
Carga do
aduto
Final
Nº Carga
A-T
Carga do
aduto
(inicial)
Carga
Final
1 H 0,393827 0,378852 0,406393 17 N -0,602176 -0,696084 -0,577160
2 N -0,592163 -0,628067 -0,601184 18 C 0,057519 0,206518 0,025039
3 C 0,362517 0,419565 0,388561 19 H 0,172663 0,154507 0,175274
4 H 0,093262 0,075415 0,096890 20 C -0,217412 -0,270163 -0,180453
5 N -0,591725 -0,624001 -0,593229 21 C -0,171921 -0,091150 -0,185328
6 C -0,037923 -0,033132 -0,048585 22 H 0,055280 0,029381 0,052984
7 C 0,723978 0,739261 0,725643 23 H 0,075298 0,074589 0,088400
8 N
-0,941240 -0,964616 -0,900738
24 H 0,075262 0,037354 0,067344
9 H 0,414082 0,413657 0,428522 25 C 0,884986 0,697608 0,776840
10 H 0,456699 0,463200 0,463447 26 O -0,657641 -0,540545 -0,615491
11 N -0,724994 -0,745121 -0,666090 27 N -0,704548 -0,505217 -0,618107
12 C 0,537209 0,555679 0,583160 28 B 0,331339
(H)
0,917681 0,896996
13 H 0,091822 0,073326 0,134020 29 C 0,936242 0,896943 0,878666
14 N -0,775431 -0,801413 -0,766442 30 O -0,663518
-0,633689
15 C 0,648699 0,674739 0,677954 31 F -
-0,338928 -0,395099
16 H 0,370010 0,393513 0,362601 32 F -
-0,329664 -0,412295
-0,668534
Tabela 48 Valores de cargas atômicas do par Adenina-Timina calculados pelo método ChelpG
antes e depois da modificação.
A densidade de carga negativa sobre o nitrogênio da adenina diretamente
envolvido na ligação com o boro, sofre uma diminuição de -0,724994 (no par adenina-
timina convencional) para -0.666901, causada pelo deslocamento de densidade eletrônica
para o átomo de boro. A elevada carga positiva sobre o átomo de boro demonstra o
caráter retirador de elétrons por efeito indutivo dos átomos de flúor. Com exceção destes
grupos, os átomos permanecem todos com uma carga relativamente similar tanto no par
convencional como no covalente, sendo que no par covalente estas densidades de
cargas são levemente mais positivas. Contudo, a diferença entre as cargas da adenina e
53
da timina modificada sofre uma variação significativa com a formação da ligação boro-
nitrogênio, demonstrando uma redistribuição nas cargas dos átomos. Os átomos de flúor,
por exemplo, sofrem uma elevação nos valores de carga negativa enquanto o átomo de
nitrogênio nº8 sofre uma redução da mesma. O átomo de oxigênio nº 26 sofre um
aumento na carga negativa indicando um aumento na interação com o átomo de
hidrogênio nº10. A superfície potencial e o mapa de orbitais HOMO e LUMO do par
adenina timina-modificada também revela características importantes do aduto formado.
(abaixo)
Ilustração 160 Fórmula estrutural do par Watson-Crick Timina Adenina e do par Modificado.
Ilustração 161. Mapa potencial do par Watson-crick e do par modificado.
Ilustração 162 Orbital HOMO do par Watson-Crick e do par modificado.
54
Ilustração 163 Orbital LUMO do par Watson-Crick e do par modificado
HOMO (e.V) LUMO (e.V.)
E (e.V.)
Adenina-Timina
-0,302 0,115 0,417
Adenina-Timina Modificada
-0,332 0,120 0,452
Tabela 49 Valores de Energia do Orbital de Fronteira HOMO e LUMO e a diferença de energia
entre eles
Observe que o aduto formado concentra o orbital HOMO sobre a base adenina.
Essa característica também é observada no par adenina-timina convencional. O mapa do
potencial eletrostático demonstra um aumento na densidade de carga negativa sobre o
conjunto como um todo no par covalente quando comparado ao par convencional.
3.2.2. Adenina Uracila-Modificada
Assim com a timina, a uracila (presente no ARN) também pode sofrer a mesma
modificação com o boro. Neste caso também, observa-se a distorção da geometria com a
formação da ligação covalente
.
Ilustração 164 Volume de van der Waals do aduto
Ilustração 165 Fórmulas estruturais do par Watson-Crick Uracila Adenina e do par modificado
55
N
N
O
O
B
F
F
H
H
H
N
N
N
N
H
N
H
H
H
H
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
Átomos Distâncias inter-atômicas (em angstrons)
Geometria de partida Geometria Otimizada
N1 – C2 1,36947 1,36666
C2 – H3 1,07957 1,07296
C2 – C4 1,33978 1,32617
C4 – H5 1,08941 1,07022
C4 – C6 1,44008 1,46410
C6 – O7 1,22977 1,20334
C6 – N8 1,48222 1,48222
N8 – B9 1,09038 1,57730
B9 – 13F 1,13919 1,35665
B9 – 14F 1,13987 1,35905
N8 – C10 1,37939 1,37780
C10 – O11 1,22038 1,19926
C10 – N1 1,37060 1,34522
N1 – H12 1,01016 1,99485
N15 – C16 1,36996 1,37215
C16 – H17 1,08026 1,07038
C16 – N18 1,29908 1,28025
N18 – C19 1,39354 1,37860
C19 – C20 1,39939 1,40572
C20 – N21 1,34049 1,31571
N21 – H22 1,00969 0,99539
N21 – H23 1,00965 1,00466
C20 – N24 1,34027 1,35201
N24 – C25 1,32975 1,35897
C25 – H26 1,08018 1,06707
C25 – N27 1,32248 1,29188
N27 – C28 1,34949 1,33854
C28 – C19 1,36332 1,36820
C28 – N15 1,36584 1,35440
N15 – H29 1,04812 0,99513
B9 – N24
3,99363 1,62957
O7 H23 4,02790 1,98379
O11 H26 5,51829 2,65910
Tabela 50 Valores de Comprimento de Ligação para o aduto Adenina Timina-Modificada
56
A distância inicial entre o átomo de boro e o átomo de nitrogênio nº24 é de cerca
de 4,0 Å. Com a formação da ligação química, a maior parte dos valores de comprimentos
de ligação sofre uma leve diminuição (com algumas exceções, como os valores de
comprimento de ligação
N18 – C19, N18 – C19, etc. que sofrem um pequeno aumento). Os
valores de distância inter-atômica entre os átomos de oxigênio nº e hidrogênio nº23
(2,68Å) e entre os átomos de oxigênio nº11 e hidrogênio nº26 (2,12Å) indicam a
existência de uma ligação de hidrogênio entre estes átomos.
Abaixo, demonstramos os resultados de superfície potencial e orbitais de fronteiras
da espécie química em questão.
Ilustração 166 Comparação entre as superfícies potenciais do par Watson-Crick UA e do par
modificado.
Ilustração 167 Comparação entre os orbitais HOMO do par Watson-Crick e do par modificado
Ilustração 168 Comparação entre os orbitais LUMO do par Watson-Crick e do par modificado
57
Energia do orbital de Fronteira (e.V.)
HOMO LUMO
E
Adenina-Uracila
-0,302 0,115 0,417
Adenina-Uracila modificada
-0,332 0,114 0,446
Tabela 51 Valores de Energia do Orbital HOMO e LUMO e valores de diferença de energia
Novamente, o orbital HOMO localiza-se na adenina tanto no par convencional
quanto no covalente. O orbital LUMO, entretanto, sofre uma variação observável na
comparação entre o par convencional e o modificado. Enquanto no par convencional está
localizado na uracila, no par modificado, este orbital é observado em toda a molécula do
aduto formado. As mudanças mais significativas observadas no mapa do potencial
eletrostático são o aumento da densidade de carga negativa sobre a adenina e a
diminuição da carga negativa sobre o N18 (ver legenda abaixo) da mesma.
N
N
O
O
B
F
F
H
H
H
N
N
N
N
H
N
H
H
H
H
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
Ilustração 169 Numeração dos átomos do par uracila-modificada adenina
Átomo Carga
A-U
Carga do
aduto
Início
Carga do
aduto
Final
Nº Carga
A-U
Carga do
aduto
(inicial)
Carga
Final
1N -0,621254 -0.592918 -0,565814 16C 0,351734 0,348096 0,370023
2C 0,236062 0,237652 0,172637 17H 0,094905 0,094812 0,101620
3H 0,134649 0,142795 0,141801 18N -0,591084 -0,595001 -0,583192
4C -0,598589 -0,572951 -0,537694 19C -0,016404 -0,057006 -0,057093
5H 0,202327 0,198866 0,188937 20C 0,700791 0,847487 0,742751
6C 1,024507 0,778259 0,908912 21N -0,961062 -1,004116 -0,943236
7O -0,713768
-0,557622 -0,668317 22H 0,417991 0,422217 0,438076
8N -0,698220 -0,375978 -0,614659 23H 0,485520 0,467868 0,490107
9H 0,296464 0,780451 0,846841 (
B
24N -0,698415 -0,855684 -0,652752
10C 0,953780 0,788813 0,872932 25C 0,530339 0,654068 0,582304
11O -0,661570 -0,596739 -0,663230 26H 0,091783 0,048469 0,132662
12H 0,366364 0,377123 0,353550 27N -0,771785 -0,804031 -0,766090
13F
-0,306455 -0,381337 28C 0,632157 0,600455 0,672725
14F
-0,303714 -0,399715 29H 0,389871 0,377583 0,402240
15N -0,577093 -0,542798 -0,584993
Tabela 52 Valores de carga atômica calculada pelo método ChelpG do par adenina uracila
antes e depois da modificação.
58
Há uma diminuição importante (de -0,713768 para -0,668865) na carga do átomo
de oxigênio número 7 da uracila acompanhada por um aumento (de 0,485520 para
0,493473) no átomo de hidrogênio número 23 da adenina que contribui para um
enfraquecimento da ligação de hidrogênio já que a diferença entre as cargas do dois
átomos é diminuída (de 0,228248 para 0,175603). Esses dois átomos formam uma
ligação de hidrogênio que é considerada fundamental para o reconhecimento do par
Watson-Crick. O enfraquecimento desta ligação ocorre pelo deslocamento de densidade
eletrônica do átomo de oxigênio para o grupo borilado.
3.2.3 Citosina Guanina-Modificada
Até agora estamos estudando apenas modificações nas bases pirimidínicas do
ADN. As substituições foram realizadas nas bases pirimidínicas porque nestas se
encontram os átomos de hidrogênio mais próximos do nitrogênio nucleofílico das bases
purínicas. Entretanto, no par citosina-guanina, o átomo de hidrogênio envolvidos nas
ligações hidrogênio mais próximo ao nitrogênio nucleofílico encontra-se na guanina, uma
base purínica das bases purínicas. Isso nos permitiu avaliar o comportamento da
substituição por boro em uma base purínica e observar se há reprodutibilidade dos
resultados anteriores, obtidos nas bases pirimidínicas. Esta comparação é importante
porque as bases pirimidínicas possuem estruturas eletrônicas distintas das bases
purínicas. Demonstramos abaixo o resultado do estudo:
Ilustração 170 Fórmulas estruturais do par Watson Crick citosina guanina e do par modificado
59
N
N
NH
O
H
H
H
H
N
N
N
N
O
NH
H
H
H
B
F
F
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
31
30
Átomos Distâncias Inter-atômicas (em angstrons)
Geometria de Partida Geometria Otimizada
N1 – C2 1,35943 1,34900
C2 – H3 1,08040 1,07265
C2 – C4 1,36073 1,33355
C4 – H5 1,09002 1,07048
C4 – C6 1,43024 1,44254
C6 – N7 1,32038 1,31088
N7 – H8 1,00930 0,99370
N7 – H9 1,01042 0,99844
C6 – N10 1,34947 1,33930
N10 – C11 1,35971 1,38558
C11 – O12 1,23948 1,19117
C11 – N1 1,38858 1,38341
N1 – H13 1,00982 0,99623
N14 – C15 1,38046 1,37762
C15 – N17 1,31006 1,27648
C15 – H16 1,07917 1,07086
N17 – C18 1,39014 1,38388
C18 – C19 1,41995 1,42485
C19 – O20 1,22995 1,20898
C19 – N21 1,39979 1,41626
N21 – B22 1,00024 1,55982
B22 – F30 1,14035 1,36817
B22 – F31 1,13958 1,36444
N21 – C23 1,38105 1,37576
C23 – N24 1,33928 1,34837
N24 – H26 1,00994 0,99405
N24 – H25 1,01012 0,99144
C23 – N27 1,33021 1,30559
N27 – C28 1,35998 1,33882
C28 – C18 1,37031 1,36378
C28 – N14 1,37331 1,35484
N14 – H29 1,00999 0,99376
N10 – B22 3,98228 1,66417
O12 – H25 3,80414 2,72154
H9 – O20 4,06738 2,33292
Tabela 53 Valores de Comprimento de Ligação na Geometria inicial e otimizada do Aduto
60
Ilustração 171 Volume de van der Waals do par covalente.
Assim com nos casos anteriores, o comprimento das ligações químicas sofre uma
leve redução no aduto em relação às espécies não ligadas. A distância entre os átomos
de oxigênio nº12 e de hidrogênio nº25 (de 2,72154Å) demonstra o efeito causado pela
distorção que mantem estes átomos a uma significativa distância. Os valores de entalpia
de formação sofrem uma variação elevada com o método utilizado.
Entalpia de Formação em kcal/mol
Método AM1 PM3
-109,8396778 -204,3392048
Tabela 54 Valores de Entalpia para o aduto citosina-guanina
A distorção observada neste caso é superior ao dos casos anteriores devido à
presença de dois grupos amino (um em cada molécula) que torna o impedimento espacial
presente neste par modificado maior do que nos casos anteriores o que causa a distorção
do par com o deslocamento do grupo difluoreto de boro.
Ilustração 172 Comparação entre as superfícies potenciais do par Watson-Crick C-G
convencional e do modificado
61
Ilustração 173 Comparação entre os orbitais HOMO do par Watson-Crick Citosina-Guanina
convencional e do modificado.
Ilustração 174 Comparação entre os orbitais LUMO do par Watson-Crick Citosina-Guanina
convencional e do modificado.
HOMO LUMO
E
Citosina-Guanina
-0,275 0,077 0,352
Citosina-Guanina
Modificada
-0,275 0,106 0,381
Tabela 55 Valores de energia dos orbitais de fronteira HOMO e LUMO e valor da diferença de
energia entre eles
Tal como nos pares de bases estudados anteriormente, o orbital HOMO localiza-se
preferencialmente na base purínica, neste caso a guanina. O orbital LUMO distribui-se
sobre ambas as moléculas. A distribuição de cargas mantém-se relativamente
homogênea sobre o par sem nenhuma variação pronunciada. Neste par, testamos a
modificação na base purínica. A alteração (a base purínica e não a pirimidínica)
demonstra que, também neste caso, a capacidade do análogo modificado em efetivar a
ligação e a formação do par covalente é mantida. Diferente dos pares Adenina-Timina e
Adenina-Uracila, o par citosina-guanina forma três ligações de hidrogênio o que o torna
mais estável do que os outro dois pares Watson-Crick (que formam apenas duas
62
ligações). A distribuição de cargas revela a densidade de carga negativa sobre os átomos
de boro e flúor.
N
N
B
OH
H
HN
F
F
N
N
N
N
H
H
O
N
H
H
H
H
1
2
3
4
5
6
7
9
10
11
12
13
14
15
16
17
8
22
31
30
19
20
21
23
24
25
26
18
29
27
28
Ilustração 175 Numeração dos átomos do par Citosina e Guanina Modificada
Átom
o
Carga
C-G
Carga do
Aduto
(inicial)
Carga do
Aduto
(Final)
Átomo Carga
C-G
Carga do
Aduto
(inicial)
Carga do
Aduto
(Final)
1 N
-0,717341 -0,756794 -0,732254
17 N
-0,546721 -0,548006 -0,546104
2 C
0,331941 0,367028 0,365684
18 C
-0,069559 -0,091040 -0,068344
3 H
0,127013 0,118388 0,132321
19 C
0,839325 0,675015 0,793275
4 C
-0,747162 -0,774238 -0,711376
20 O
-0,690389 -0,537088 -0,690647
5 H
0,223576 0,214058 0,217326
21 N
-0,996353 -0,749131 -0,876194
6 C
1,286593 1,257969 1,192634
22 H
0,516760 1,271855 1,177385
(B)
7 N
-1,286020 -1,293689 -1,157518
23 C
1,168002 0,973046 1,075464
8 H
0,494051 0,495210 0,480800
24 N
-1,222662 -1,107102 -1,070731
9 H
0,595128 0,590114 0,579115
25 H
0,589084 0,582650 0,521191
10 N
-1,062788 -0,992173 -0,868690
26 H
0,469334 0,412968 0,410114
11 C
1,161564 1,135079 1,112787
27 N
-0,846018 -0,792066 -0,824706
12 O
-0,795807 -0,743067 -0,705249
28 C
0,534517 0,542084 0,502263
13 H
0,392449 0,394778 0,402412
29 H
0,372716 0,384815 0,363814
14 N
-0,503737 -0,514291 -0,481264
30 F
-0,455527 -0,473594
15 C
0,288685 0,305721 0,278254
31 F
-0,463483 -0,490081
16 H
0,093816 0,096917 0,091914
Tabela 56 Valores de carga sobre os átomos calculados pelo método ChelpG antes e depois
da modificação.
O átomo de nitrogênio que participa da ligação com o boro sofre uma redução no
valor da carga negativa bem como outros átomos de nitrogênio próximos (como os
átomos nº 24 e 27) enquanto os átomos de hidrogênio sofrem um aumento no valor de
63
carga positiva. Com exceção destas alterações causadas pela formação da ligação boro-
nitrogênio, as outras variações de carga observadas são relativamente pequenas.
4. Ácido Valpróico e Ácido Salicílico
Os resultados acima demonstram um amplo potencial de aplicação farmacológica
para compostos de boro. Fizemos também uma breve investigação do análogo borônico
do ácido valpróico e do ácido salicílico. Os resultados são apresentados a seguir.
4.1 Metodologia
Realizamos um breve estudo comparativo entre as propriedades do ácido valpróico
e do ácido borônico análogo. Foram calculadas propriedades como energia, distribuição
de cargas, mapa do potencial eletrostático por meio de cálculo mecânico quântico ab-
initio utilizando-se o método Hartree-Fock com as funções de base 6-31G*.
4.2 Ácido Valpróico
Investigações recentes já demonstraram a capacidade do ácido 2-propilpentanóico
(conhecido como ácido valpróico) em reduzir a carga viral latente do HIV-1 em pacientes
soropositivos e em inibir crescimento de tumores por meio da indução da morte celular
programada de células tumorais e do estímulo à diferenciação celular.
31,78
Todas estas
características levaram a um interesse crescente na pesquisa deste fármaco. Um dos
objetivos do trabalho foi a avaliação de um análogo borônico deste fármaco.
Ácido 2-propilpentanóico 2-propilpentanoato
(ácido valpróico) (valproato)
64
Ácido 4-heptil-borônico 4-heptil-boronato
Ilustração 176 Fórmulas estruturais das moléculas do ácido valpróico e do análogo borilado
com seus respectivos íons
De fato, alguns análogos do valproato já têm sido testados com êxito no estímulo a
diferenciação de células cancerosas.
78
4.3 Resultados
Abaixo demonstramos os valores de cargas atômicas e o mapa do potencial
eletrostático para as moléculas estudadas
C
OO
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
18
19
16
17
11
15
22
23
24
25
26
27
H
21
B
OO
HH
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
18
19
20 21
16
17
11
15
22
23
24
25
26
27
Ilustração 177 Numeração dos átomos do ácido valpróico e do ácido análogo borilado.
65
Ácido Valpróico Análogo Borilado
Número Átomo Carga Número Átomo Carga
1 C
-0,156329
1 C
-0,089897
2 C
0,022486
2 C
-0,004644
3 C
-0,064783
3 C
-0,034873
4 C
0,753812
4 B
0,839633
5 C
0,253276
5 C
0,225564
6 C
-0,298122
6 C
-0,308519
7 C
0,298556
7 C
0,286936
8 C
-0,284137
8 C
-0,263050
9 H
0,033613
9 H
-0,003904
10 H
0,040577
10 H
0,027014
11 H
0,008097
11 H
-0,040017
12 H
0,008380
12 H
-0,014412
13 H
0,011531
13 H
-0,019899
14 H
-0,024224
14 H
-0,021330
15 H
-0,042470
15 H
-0,038329
16 H
-0,050197
16 H
-0,052363
17 H
-0,082785
17 H
-0,086138
18 O
-0,633558
18 O
-0,832370
19 O
-0,704417
19 O
-0,823019
20 H
20 H
0,455946
21 H
0,464360
21 H
0,449934
22 H
0,071836
22 H
0,070775
23 H
0,068055
23 H
0,063199
24 H
0,057475
24 H
0,059842
25 H
0,061379
25 H
0,054070
26 H
0,056997
26 H
0,048095
27 H
0,062088
27 H
0,051755
Tabela 57 Valores de cargas atômicas para o ácido valpróico e o análogo borilado
66
De uma maneira geral, a substituição do grupo carboxila pelo grupo di-hidroxi-
borano causa um aumento na densidade de carga positiva sobre a molécula, isto é, as
cargas pontuais sobre os átomos tornam-se mais positivas. Entretanto, o carbono C2
sofre uma diminuição na carga positiva, chegando inclusive a uma inversão de carga, ou
seja, assume uma carga levemente negativa, embora bem pequena. Este resultado
demonstra algumas das propriedades singulares do grupo borilado e precisa ser melhor
investigado. Os átomos de oxigênio bem como muitos dos átomos de hidrogênio sofrem
um aumento na densidade negativa incluindo os átomos de hidrogênio ligados aos
átomos de oxigênio do grupo di-hidroxi-borano.
Ilustração 178 Fórmulas estruturais do ácido valpróico e do análogo borilado (ácido 4-heptil-
borônico).
Ilustração 179 Mapa do potencial eletrostático do ácido valpróico (à esquerda) e do análogo
bocado (à direita). A cor azul indica densidade de carga positiva e a vermelha densidade de
carga negativa
67
Ilustração 180 Distribuição do orbital HOMO do ácido valpróico e do análogo borilado
Ilustração 181 Distribuição de orbitais LUMO do ácido valpróico e do análogo borilado
O mapa do potencial eletrostático demonstra a elevada densidade de carga
positiva sobre os átomos de hidrogênio do análogo em relação ao ácido valpróico
convencional. A distribuição do orbital HOMO mostra uma significativa mudança, sendo
que, na molécula borilada, este orbital se distribui por toda a molécula. Esta variação
afeta de maneira importante à reatividade química deste composto uma vez que implica
numa interação maior com centros positivos presentes em proteínas. O orbital LUMO
mostra variação no seu mapa sobre o átomo de boro (maior do que no átomo de carbono
na posição correspondente do ácido valpróico) o que também indica uma alteração
importante na forma como esta substância interage, pois favorece a interação com
centros negativos.
Para descrever melhor estes compostos analisamos também as formas iônicas
(isto é, o valproato e o boronato) já que em pH fisiológico é provável que estas
substâncias se apresentem nesta forma.
68
C
OO
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
12
13
18
19
16
17
11
15
22
23
24
25
21
14
20
B
HO OH
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
OH
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
12
13
18
19
16
17
11
15
22
23
24
25
21
14
20
26
27
28
29
Ilustração 182 Numeração dos átomos do valproato e do análogo borilado
Valproato Boronato
Número Átomo Carga Número Átomo Carga
1 C
0,042664
1 C
-0,062540
2 C
-0,056790
2 C
-0,025656
3 C
-0,072677
3 C
-0,060663
4 C
0,178557
4 C
0,190935
5 C
-0,226672
5 C
-0,186138
6 C
0,242146
6 C
0,269180
7 C
-0,192873
7 C
-0,243050
8 H
0,004299
8 H
0,021824
9 H
-0,034376
9 H
-0,022490
10 H
-0,034145
10 H
-0,083206
11 H
-0,035786
11 H
-0,046585
12 H
0,017331
12 H
0,012034
13 H
-0,046846
13 H
-0,048723
14 H
-0,043932
14 H
-0,057042
15 H
-0,023440
15 H
-0,027548
16 H
-0,079150
16 H
-0,089407
17 O
-0,840886
17 O
-0,965947
18 O
-0,811415
18 O
-0,949838
19 H
0,041668
19 H
0,024604
20 H
0,034179
20 H
0,024847
21 H
0,022864
21 H
0,004835
22 H
0,012513
22 H
0,023820
23 H
0,033648
23 H
0,034994
24 H
0,010410
24 H
0,016285
25 C
0,858710
25 B
0,997983
26 O
-0,957179
27 H
0,410761
28 H
0,400999
Tabela 58 Valores de cargas atômicas para o valproato e para o boronato.
69
Novamente, de maneira geral, os átomos sofrem um leve aumento na densidade
de carga positiva ou diminuição na carga negativa com algumas exceções (como o átomo
1). Os átomos de oxigênio também sofrem um aumento na carga negativa no análogo
borilado e os átomos de hidrogênio da forma aniônica do composto borilado também
possuem uma carga significativamente positiva o que implica em capacidade de formação
de ligações de hidrogênio.
Ilustração 183 Fórmulas estruturais do valproato (à esquerda) e do análogo borilado (à
direita).
Ilustração 184 Comparação entre o mapa potencial do valproato (à esquerda) e do boronato
(à direita)
Ilustração 185 Comparação entre os orbitais HOMO do valproato e do boronato
70
Ilustração 186 Comparação entre os orbitais LUMO do valproato e do boronato
Molécula Energia dos orbitais de fronteira
(e.V)
Entalpia de Formação
(kcal/mol)
HOMO LUMO
E
PM3
Ácido valpróico
-0,429 0,197 0,626 -124,4328461
Ácido 4-heptil-
borônico
-0,405
0,191
0,596
-195,7517584
Valproato
-0,174 0,346 0,520 -293,8509216
Boronato
-0,178 0,359 0,537 -145,2667999
Tabela 59 Valores de Energia dos Orbitais de Fronteira e de Energia de Formação das
estruturas estudadas
O mapa do potencial eletrostático dos ânions mostra muita similaridade entre estas
duas espécies químicas com uma diferença na distribuição da densidade negativa que,
devido à presença dos átomos de hidrogênio no análogo borilado, gera uma densidade
de carga levemente positiva na extremidade mais negativa da estrutura. O orbital HOMO
apresenta uma visível diferença, tendo uma larga contribuição sobre os átomos de
oxigênio do valproato e uma outra contribuição importante no carbono alfa carboxílico. Já
na molécula do boronato, o orbital HOMO distribui-se entre os átomos de oxigênios sem
ter, entretanto, contribuição importante sobre os átomos de hidrogênio aos quais estes
átomos de oxigênio estão ligados. O orbital LUMO mostra uma grande diferença entre as
duas moléculas. Conquanto na molécula do valproato distribua-se preferencialmente
sobre os átomos de carbono carboxílico e alfa-carboxílico, na molécula do boronato, este
orbital apresenta uma distribuição sobre quase todos os átomos do ânion com uma
importante contribuição sobre os átomos de carbono. O valor de energia do orbital LUMO
71
é maior no boronato do que no carboxilato. Os valores de energia total e momento de
dipolo são dados abaixo
Molécula Energia total
(Hartree)
Dipolo total
(Debye)
Ácido valpróico
-462,0127435 1,8468
Ácido “borovalpróico”
-449,4942735 2,6789
Valproato
-461,4374141 9,4393
Boronato
-524,9482065 3,7447
Tabela 60 Valores de energia e momento de dipolo obtido a partir das otimizações HF/6-31G*
das espécies químicas estudadas.
4.4 Ácido Salicílico
A aspirina (ácido acetil-salicílico) foi sintetizada por Felix Hoffmann em 1897 e
comercializada pela recém-criada Companhia Bayer
79
. Atualmente é largamente utilizada
em terapia anti-plaquetária de doenças cardiovasculares
80
. Alguns estudos recentes,
entretanto, demonstraram o desenvolvimento de resistência à aspirina no tratamento de
alguns pacientes.
81,82
4.5 Resultados
H
H
H
H
O
H
OO
H
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
H
H
H
H
O
H
B
OO
H
H
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
Ilustração 187 Numeração dos átomos do ácido salicílico e do análogo borilado
72
Ácido Salicílico Análogo Borilado
Número Átomo Carga Número Átomo Carga
1 C
0,037851
1 C
0,019947
2 C
-0,228649
2 C
-0,244186
3 C
-0,353789
3 C
-0,459653
4 C
0,551493
4 C
0,550480
5 C
-0,389974
5 C
-0,385928
6 C
0,029897
6 C
0,044244
7 C
0,893320
7 B
0,892976
8 O
-0,587368
8 O
-0,731245
9 O
-0,705413
9 O
-0,747028
10 O
-0,785607
10 O
-0,735263
11 H
0,113927
11 H
0,085564
12 H
0,129441
12 H
0,126085
13 H
0,147954
13 H
0,141326
14 H
0,116209
14 H
0,102179
15 H
0,517804
15 H
0,452672
16 H
0,512905
16 H
0,480753
17
17 H
0,407078
Tabela 61 Valores de cargas atômicas calculadas para o ácido salicílico e para o análogo
borilado.
A substituição da carboxila pelo grupo di-hidroxi-borano causa um efeito bem
heterogêneo nas cargas atômicas dos átomos de carbono. Os átomos de carbono de 1 a
4 sofrem uma leve redução de carga (aumento na densidade negativa) e o átomo de
carbono número 6 sofre uma significativa elevação também na carga positiva. Os átomos
de hidrogênio também sofrem uma redução no valor de carga positiva. Os átomos de
oxigênio ligados ao átomo de boro seguem a tendência das outras espécies boriladas
estudadas sofrendo um aumento no valor de carga negativa. O átomo de oxigênio da
hidroxila, entretanto, sofre uma redução de carga negativa.
73
Ilustração 188 Fórmulas estruturais do ácido salicílico (à esquerda) e do análogo borilado
(àcido 2-hidroxi-fenil-borônico, à direita).
Ilustração 189 Comparação entre os mapas dos potenciais eletrostáticos do ácido salicílico e
do análogo borilado.
Ilustração 190 Comparação entre os orbitais HOMO do ácido salicílico e do análogo borilado.
74
Ilustração 191 Comparação entre os orbitais LUMO do ácido salicílico e do análogo borilado.
O mapa do potencial eletrostático não demonstra nenhuma mudança substancial
quando comparado ao análogo borilado. Há um aumento na densidade de carga positiva
sobre os átomos de hidrogênio das hidroxilas ligadas ao átomo de boro. Isso indica a
formação da ligação de hidrogênio intramolecular que confere a geometria característica
dos átomos de hidrogênio do grupo di-hidroxi-borano. Os orbitais HOMO não sofrem
grande variação também tendo uma leve diminuição sobre um dos átomos de oxigênio
ligado ao boro no análogo borilado em relação ao átomo de oxigênio da carboxila. Os
orbitais LUMO demonstram essencialmente a mesma distribuição em ambas às
moléculas.
Abaixo avaliamos as formas aniônicas correspondentes às espécies químicas
estudadas acima.
OO
O
H
H
H
H
H
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12 13
14
15
B
OO
O
H
H
H
H
H
O
H
H
H
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
Ilustração 192 Numeração dos átomos do íon salicilato e do análogo boronato (2-hidroxi-
boronato)
75
Salicilato 2-hidroxi-boronato
Número Átomo Carga Número Átomo Carga
1 C
-0,064613
1 C
-0,009706
2 C
-0,245388
2 C
-0,259486
3 C
-0,172824
3 C
-0,298198
4 C
0,438667
4 C
0,496857
5 C
-0,395742
5 C
-0,404244
6 C
-0,027680
6 C
-0,052094
7 C
0,919660
7 B
1,076776
8 O
-0,843132
8 O
-0,901883
9 O
-0,802200
9 O
-1,002145
10 O
-0,624152
10 O
-0,734809
11 H
0,118380
11 H
0,065523
12 H
0,095151
12 H
0,091729
13 H
0,117653
13 H
0,109748
14 H
0,076373
14 H
0,075013
15 H
0,409848
15 H
0,444296
16
16 H
0,444296
17
17 H
0,435859
18
18 H
0,381313
19
19 O
-0,903443
Tabela 62 Valores das cargas atômicas calculados para o salicilato e o boronato
correspondente.
Novamente, a substituição afeta de maneira heterogênea a distribuição de cargas
sobre os átomos de carbono. Os átomos 1, 2, 3, 5 e 6 têm uma aumento na carga
negativa enquanto o átomo 4 apresenta um aumento na carga positiva. O átomo de boro
apresenta uma carga positiva significativamente maior do que a carga sobre o átomo de
carbono na posição correspondente do ânion salicilato. Os átomos de oxigênio
apresentam um aumento na carga negativa (incluindo o oxigênio fenólico) e o átomo de
oxigênio excedente na molécula do boronato apresenta uma carga comparável à dos
76
outros átomos de oxigênio presentes. Os átomos de hidrogênio sofrem uma diminuição
na carga positiva, com exceção do hidrogênio fenólico que sofre um aumento nesta
carga. Os átomos de hidrogênio do boronato (ausentes no salicilato) apresentam cargas
tão elevadas quanto à do átomo de hidrogênio fenólico. Tal valor de carga sugere que
esta espécie química poderia formar ligações de hidrogênio mais efetivas com as
proteínas alvo do que o salicilato, tanto pela elevação da carga do hidrogênio fenólico
quanto pela presença de mais átomos de hidrogênio passíveis de participar de tais
interações.
Ilustração 193 Fórmulas estruturais do íon salicilato (à esquerda) e do análogo borilado (à
direita).
Ilustração 194 Comparação entre os mapas do potencial eletrostático do íon salicilato e do
análogo boronato.
77
Ilustração 195 Comparação entre o orbital HOMO do íon salicilato e do análogo boronato.
Ilustração 196 Comparação entre o orbital LUMO do íon salicilato e do análogo boronato.
Molécula Energia dos orbitais de fronteira
(e.V)
Entalpia de Formação
(kcal/mol)
HOMO LUMO PM3
Ácido Salicílico
-0,340 0,092 -103,8406219
Ácido 2-hidroxi-
boronato
-0,324
0,110
-124,5066528
Salicilato
-0,168 0,274 -176,7219391
Boronato
-0,151 0,302 -277,4490356
Tabela 63 Valores de Energia dos Orbitais de Fronteira e de Energia de Formação
78
Molécula Energia total (Hartree) Dipolo total (Debye)
Ácido Salicílico
-493,1726171 6,9996
Ácido 2-hidroxi-boronato
-480,6714882 5,1542
Salicilato
-492,5922399 10,8231
Boronato
-556,1187520 6,3905
Tabela 64 Valores de energia e momento de dipolo do salicilato e do análogo borilado.
O mapa do potencial eletrostático revela uma leve diminuição na densidade de
carga negativa sobre toda a molécula, com a substituição da carboxilato pelo grupo di-
hidroxi-borano, e uma densidade positiva sobre os átomos de hidrogênio. O orbital HOMO
sofre pouca variação com a modificação química introduzida. O orbital LUMO, por sua
vez, apresenta uma redução na sua distribuição sobre o grupo ácido (enquanto este
orbital “cobre” o átomo de carbono carboxílico no salicilato, no boronato, não há uma
distribuição tão efetiva no átomo de boro na posição correspondente e, nos átomos de
hidrogênio do boronato também há uma redução na superfície do orbital LUMO).
Observa-se uma diminuição nos valeres de energia do orbital HOMO e um aumento nos
valores de energia do orbital LUMO das espécies boriladas em relação aos
correspondentes compostos carboxílicos. Essas modificações revelam que a reatividade
deste compostos deva sofrer uma modificação importante.
79
5. Conclusões
O cálculo ab-initio é uma ferramenta importante no estudo de sistemas
moleculares. Embora já seja largamente utilizado para sistemas pequenos (tais como
moléculas diatômicas, anéis aromáticos, etc) sua aplicação em biomoléculas ainda é
relativamente pequena, quando comparada, por exemplo, à técnica de dinâmica
molecular clássica que possui um uso bem mais difundido na pesquisa acadêmica e
industrial. Entretanto, a dinâmica molecular, devido à dependência de parametrização e
desconsideração de importantes efeitos eletrônicos e de interação de orbitais, mostra-se
limitada na avaliação de sistemas moleculares nos quais estes fatores sejam
predominantes no comportamento molecular ou onde um ou mais átomos não possuam
parametrização nos campos de força disponíveis. Uma das limitações mais evidentes dos
métodos de dinâmica molecular, usando campos de forças clássicos, no estudo de
biomoléculas envolve a descrição de comportamentos reativos de moléculas, isto é, de
processos nos quais a quebra e a formação de ligações está presente no mecanismo de
ação bem como nos efeitos de polarização. No presente trabalho, esta limitação fica bem
explícita na avaliação da química do boro. Sendo um elemento pouco estudado nas
pesquisas de química computacional aplicada a biomoléculas, este elemento
praticamente não possui campos de força parametrizados. Entre as dificuldades de
avaliação que encontramos está a reatividade do boro. A capacidade do átomo de boro
de formar adutos covalentes dificulta bastante a predição de comportamento químico de
compostos borilados. Os dados experimentais disponíveis nos permitiram propor a
atividade de compostos borilado sobre biomoléculas. No caso dos análogos de ADN e
ARN, a previsão utilizando o método ab-initio mostrou-se bem adequada, sendo capaz de
reproduzir uma espécie química covalente não descrita na literatura. A modificação do
ADN descrevendo o efeito de formação de adutos covalentes com a substituição de um
átomo de hidrogênio por boro demonstrou um resultado importante cujas implicações
devem ser melhor avaliadas futuramente. Há a possibilidade de o aduto covalente
formado possuir uma banda de condução adequada ao uso na nanotecnologia como
nanocondutores. As alterações no padrão de distribuição e energia do orbital LUMO, por
exemplo, em alguns dos casos estudados, como no caso do par Uracila-Modificada
80
Adenina, são indicativos de alterações nos padrões de condutividade elétrica destas
espécies químicas.
Os valores relativamente baixos obtidos na energia de interação entre pequenas
moléculas boriladas e nitrogenadas sugere uma interação favorável entre estas. Os
resultados da modificação da nevirapina indicaram a formação de uma ligação de
hidrogênio não convencional com o anel aromático. Esta ligação causa um aumento na
interação fármaco-receptor que possivelmente deve aumentar a resiliência deste fármaco
sobre formas resistentes do VIH-1 uma vez que esta interação envolve, basicamente, o
fármaco modificado e o triptofano 229 que é muito conservado neste vírus. Um fato
importante a ser destacado é que o valor de energia desta ligação de hidrogênio estimado
é maior do que a energia perdida na interação da nevirapina com as formas resistentes
do vírus o que vem a ser mais um indício da possível resiliência do fármaco. Os elevados
valores de carga parcial positiva sobre os átomos de hidrogênio que participam desta
ligação reforçam esta conclusão.
A formação da ligação covalente com o resíduo tirosina 318 indica a possibilidade
de este fármaco inativar, isto é, formar um complexo enzima-inibidor irreversível, nas
condições fisiológicas. A formação de um complexo irreversível é um resultado importante
a ser investigado. Inibidores irreversíveis demandam menor quantidade molar para
manter a eficácia da inibição enzimática. Entretanto este resultado baseia-se apenas nos
resultados teóricos devido à indisponibilidade de dados experimentais. Convém ressaltar
ainda que esta molécula, mesmo que não seja capaz de formar o complexo covalente
com a enzima, demonstra (de acordo com os resultados) uma forte interação com o grupo
hidroxila da tirosina, indicando da mesma maneira, possibilidade de uma forte atividade
inibitória.
Os resultados obtidos com a modificação do ácido valpróico, embora sejam
preliminares, demonstram efeitos importantes causados pela substituição. A alteração na
distribuição e energia do orbital LUMO, por exemplo, é um resultante interessante, pois
sugere que poderia haver uma interação mais pronunciada entre a cadeia carbônica
deste fármaco com a proteína. De maneira similar, a modificação do ácido salicílico
revelou importantes alterações na distribuição dos orbitais que são indicativos de uma
atividade diferenciada. Esses dois compostos, por terem baixo custo e grande atividade,
são bons candidatos a objeto de pesquisa
in vitro e in vivo futuramente.
81
Por fim, queremos deixar explícito que todos estes resultados são apenas
indicativos da atividade farmacológica das moléculas propostas porque esta atividade
depende de inúmeros outros fatores não avaliados neste trabalho (tais como lipofilicidade,
toxicidade, meia-vida biológica, etc). Embora tenhamos sido criteriosos com a observação
de limitações possíveis na proposição das modificações, é inviável prever
computacionalmente todos os parâmetros importantes no desenvolvimento de um novo
medicamento. São, contundo, resultados importantes que levantam a possibilidade de
aplicação de fármacos contendo átomos de boro em suas estruturas em patologias que
afetam boa parte da população mundial (SIDA, Leucemia, Doenças Cardiovasculares,
etc.) bem como estimulam novas investigações de análogos de outras moléculas
bioativas.
6. Perspectivas Futuras
Os resultados obtidos neste trabalho apontam para uma ampla possibilidade de
investigações futuras. Deixamos algumas sugestões aqui, tais como:
5 Avaliação In Silico da condutividade elétrica do ADN a ARN modificado. Esta avaliação
será importante em caso de uma investigação de uso deste compostos como
nanocondutores.
5 Síntese e avaliação da atividade farmacológica dos análogos borilados. Nossa
sugestão de síntese é:
82
OH
HO O
OH
Br
Br
2
HgO,CCl
4
OHO
Br
HgO,CCl
4
Br
2
Ref.83
Ref.83
Ref.84
Pr
i
O
B
OPr
i
OPr
i
1.n-BuLi
2.HCl
Ref.84
Pr
i
O
B
OPr
i
OPr
i
1.n-BuLi
2.HCl
B
O
H
O
H
OO
OH
HH
A reação de bromodescarboxilação de Cristol-Firth
83
, em geral, gera bons
rendimentos assim como a síntese do éster do ácido borônico.
84
Tentamos algumas rotas de síntese, dos análogos da nevirapina partindo da
própria nevirapina (através da ortometalação,
85
por exemplo). Não tivemos êxito nestas
tentativas e cremos que a rota mais eficiente para esta síntese seja a seguinte:
83
N
N
O
NClN
H
N
N
O
NClN
Br
H
N
NN
N
O
H
Br
N
NN
N
O
H
B
HO
HO
H
H
Ref.86
Ref.84
Grozinger e coladores
86
também apresentam uma rota de síntese para a
bromação do átomo de carbono para a síntese do análogo 1. Acreditamos que outras
moléculas de ácidos carboxílicos com atividade farmacológica já descrita como o
Oseltamivir (um dos poucos antivirais com atividade descrita contra o vírus influenza
mutante H5N1) devam ser estudadas quanto à possibilidade de uso de seus análogos
borilados.
84
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88
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89
Anexo.1
Cálculo de Efeito de Solvente e Cálculo de G.
Os cálculos ab-initio desconsideram os importantes efeitos de solvatação que
ocorrem na interação de quaisquer moléculas em meio de solvente. Existem modelos
para corrigir este problema. Fizemos algumas investigações com o modelo de
isodensidade de contínuo polarizado de Tomasi (IPCM Isodensity Polarized Continuum
Model). Neste modelo, basicamente, a molécula do soluto é tratada como se estivesse
em uma cavidade esférica “mergulhada” no solvente contínuo (na verdade, um “campo
potencial” com propriedades que simulam o solvente). O dipolo molecular induz uma
mudança na polarização do solvente que, por sua vez, leva a uma mudança no dipolo
molecular até que haja a estabilização. No IPCM, a cavidade é definida como uma
superfície de isodensidade obtida iterativamente.
12
Lamentavelmente, há graves problemas na convergência destes cálculos. Na
verdade, os modelos de solvente disponíveis para o Gaussian98 raramente convergiram
no cálculo de otimização de geometria dos sistemas estudados. Tentamos, como uma
alternativa, calcular o efeito do solvente na energia de interação, calculando em nível 6-
31G*, single point a geometria obtida pela otimização do par isolado. Os resultados,
contudo, mostraram-se insatisfatórios (Tabela abaixo)
Molécula Borilada Molécula Energia de interação(em kcal/mol)
HF/6-31G*(água) HF/6-31G*
(heptano)
Trimetilamina -2,765620 -0,426204
Amônia -10,200786 -7,836314
Pirrol -11,264351 -8,924935
Piridina -0,932541 1,406875
Indol 2,946029 5.285446
Á
cido Bórico [B(OH)
Metil-indol 2,943770 5,283187
Trimetilamina 8,671610 8,671610
Amônia 8,112562 8,112562
Pirrol 11,490255 6,528917
Piridina
Indol 16,010327 16,010327
Ácido fenil-borônico
[Ph-B(OH)
2
]
Metil-indol 15,635265 15,635265
Trimetilamina 2,829250 7,782241
Amônia 4,811049 9,764040
Pirrol 8,379567 13,332558
Piridina 5,611938 10,564930
Indol 8,665209 13,618200
Ácido piridil-borônic
o
[Py-B(OH)
2
]
Metil-indol 10,194762
Tabela.2.1.4 Valores de energia de interação dos pares moleculares calculados em água e em
heptano
90
Os valores de energia de interação com o efeito de solvente em meio aquoso
seguem uma tendência razoável, isto é, dada a elevada polaridade da água, uma
ligação de hidrogênio não convencional deve ser menos favorecida em solvente
aquoso devido à possibilidade de formação de outras ligações de hidrogênio com as
moléculas de água. Entretanto, a manutenção da tendência em solvente orgânico
demonstra a insuficiência do método testado, pois é improvável que uma ligação de
hidrogênio não convencional desfavorecida em água mantenha-se desfavorecida em
um solvente apolar, como o heptano.
O cálculo de variação de energia livre de Gibbs,
G, assim como o de efeito do
solvente, é um cálculo que apresentou uma série de problemas de convergência nos
sistemas estudados também. Além destes problemas, a descrição do cálculo de G
pelo Gaussian98 é limitada. Esta descrição baseia-se essencialmente em valores de
entropia de cada átomo, tabelado a partir de dados experimentais, e em uma correção
térmica, isto é, a variação com a temperatura.
Molécula
Borilada
G
(fase gasosa)
(Hartree)
G (em água)
Trimetilamina -0,0026140 0,00063100
Amônia -0,0054570 -0,00353600
Pirrol -0,0005780 0,00850200
Piridina -0,0001190 0,00622400
Indol 0,0008020 0,01047300
Ácido Bórico
[B(OH)
3
]
Metil-indol 0,0004930
Trimetilamina 0,0028500 0,00126000
Amônia -0,0008280 -0,00300800
Pirrol 0,0049240 0,00576800
Piridina -0,0005950
Indol 0,0054310
Ácido fenil-
borônico
[Ph-B(OH)
2
]
Metil-indol 0,0054170
Trimetilamina -0,0027660 0,00343000
Amônia -0,0064550 -0,00110000
Pirrol -0,0006200 0,00807500
Piridina -0,0061070 0,00851000
Indol -0,0000100
Ácido piridil-
borônico
[Py-B(OH)
2
]
Metil-indol -0,0006743
Tabela 2.1.5 Valores de G das interações entre os pares moleculares
Da mesma maneira que o efeito de solvente, há muitos problemas com
convergência e os resultados não possuem uma boa correlação.
91
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