38
um
comércio de vinténs mais específico de escravos: aguardente, fumo, arruda,
frangos, punhais,
velas, cachimbos e estatuetas de barro.
90
Vendendo sal, fumo, azeite para iluminar, aguardente, toucinho frango, ovos,
peixes frescos, farinha, queijos e hortaliças, as escravas podiam ser vistas entre
tantos becos e travessas na rua da Quitanda, ladeira do Carmo, rua do Cotovelo,
arredores do Juqueri, Ó, Barro Branco, Anhangabaú e Luz.
As negras quitandeiras vendiam iguarias bastante apreciadas e, no
caso dos fregueses mais abastados, as iscas ou saúvas-
fêmeas
torradas. Elas praticavam seu comércio de baixo das pontes do
Carmo do Açu.Libertas geralmente formavam sua própria família; às
vezes, uma família era formada apenas por mulheres e crianças, as
mães viviam da venda de suas quitandas ou de ganho. Na maioria
das vezes as crianças contribuíam para ajudar na renda da família.
Uma mulher negra exercia vários ofícios. Quando escrava,
ocupava
-se do trabalho doméstico ou em oficinas, sem receber
nenhuma instrução. Eram artesãs, faziam flores, rendas, roupas, ou
eram aguadeiras, quitandeiras, amas
-
de
-
leit
e.
91
Priore
relembra:
Mulheres classificadas como mucamas, pajens e também amas -
de
-leite sobretudo aquelas que tinham a função de alimentar crianças
ou de tomar conta delas, como as amas ou as pajens, eram cativas
que valiam mais no comércio de escravos e, juntamente com seus
filhos, podiam gozar eventualmente de melhores condições de
moradia do que senzala ou mesmo dos próprios negros livres.
92
Tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro, a paisagem urbana era mais
composta por mulheres escravizadas do q
ue por hom
ens, em virtude do escravizado
masculino custar mais que o feminino. Na maioria, eram mulheres empobrecidas e
muitas vezes mães solteiras ou herdeiras de poucos escravos que acabavam por
perdê
-los por não terem condições de sustentá-los e vesti-l
os.
O fato do escravo
poder
comprar a própria alforria dificultava a vida dos proprietários mais
empobrecidos. Muitas senhoras mais pobres, por exemplo, acabavam facilitando a
alforria, uma vez que com ela arrecadavam alguns recursos e ainda usufruíam por
algum tempo do trabalho do escravo ou escrava.
90
DIAS, Maria Odi
la S., Cotidiano e poder em São Paulo no século XIX,
p.115.
91
LEITE, Miriam Moreira (org.).
A Condição feminina no Rio de Janeiro no século XIX, p. 71.
92
PRIORE, Mary Del (org).
A história da criança no Brasil
, p.128.