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Vale ressaltar que a existência do sujeito depende das possibilidades oferecidas pelas
práticas sociais e pelos acontecimentos históricos que se realizam em cada cultura.
4
Em todas
as práticas há um “poder” que subjuga e submete, mas que, no entanto, não tem um caráter
universalizante, pois só existe enquanto é exercido por uns sobre os outros.
5
Nessa linha,
Larossa (2001, p. 9) salienta que:
Não há um eu real e escondido a ser descoberto. Atrás de um véu, há sempre
outro véu; atrás de uma máscara, outra máscara, atrás de uma pele, outra
pele. O eu que importa é aquele que existe sempre mais além daquele que se
toma habitualmente pelo próprio eu: não está para ser descoberto, mas para
ser inventado; não está para ser realizado; mas para ser conquistado; não está
para ser explorado, mas para ser criado.
Foucault (1995, p. 234-235), por sua vez, destaca que na sociedade ocidental se
desenvolveram oposições como a do “poder dos homens sobre as mulheres, dos pais sobre os
filhos”, transformadas em lutas que questionam o estatuto do indivíduo, pois:
por um lado afirmam o direito de ser diferente e enfatizam tudo aquilo que
torna os indivíduos verdadeiramente individuais. Por outro lado, atacam tudo
aquilo que separa o indivíduo, que quebra a sua relação com os outros,
fragmenta a vida comunitária, força o indivíduo a se voltar para si mesmo e
o liga a sua própria identidade de um modo coercitivo.
Entende-se que o fato de o homem culturalmente ser considerado como o único
detentor da razão, das leis e das riquezas, e ocupar o núcleo central de referência identitária,
faz com que tudo o que não pertença a essa ordem representativa só exista pela diferença.
4
Foucault trabalha com três modos de objetivação que transformam os seres humanos em sujeitos: “o primeiro é
o modo da investigação, que tenta atingir o estatuto de ciência [...]. Ou, ainda, a objetivação do sujeito produtivo,
do sujeito que trabalha, na análise das riquezas e na economia. Ou um terceiro exemplo, a objetivação do simples
fato de estar vivo na história natural ou na biologia. Na segunda parte do meu trabalho, estudei a objetivação do
sujeito naquilo que eu chamarei de ‘práticas divisoras’. O sujeito é dividido no seu interior e em relação aos
outros. Esse processo o objetiva. Exemplos: o louco e o são, o doente e o sadio, os criminosos e os bons
‘meninos’. Finalmente, tentei estudar – trabalho atual – o modelo pelo qual um ser humano torna-se um sujeito.
Por exemplo, eu escolhi o domínio da sexualidade – como os homens aprenderam a se reconhecer como sujeitos
de sexualidade.” (FOUCAULT, 1995, p. 231-232).
5
Para Foucault (1995, p. 243), uma relação de poder é um modo de ação que não age direta e imediatamente
sobre os outros, mas que age sobre sua própria ação. Uma ação sobre a ação, sobre ações eventuais ou atuais,
presentes ou futuras. Uma relação de poder [...] se articula sobre dois elementos que lhe são indispensáveis por
ser exatamente uma relação de poder: que, “o outro” (aquele sobre o qual ela se exerce) seja inteiramente
reconhecido e mantido até o fim como sujeito de ação; e que se abra diante da relação de poder, todo um campo
de respostas, reações, efeitos, invenções possíveis.