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Nº: DATA: 06/07/05 SUJEITO: Júlia
CONTEXTO DA PRODUÇÃO: Aplicação de prova pela professora referente ao 2º bimestre. A
pesquisadora não só acompanhou a aplicação da prova como também auxiliou na correção. Os protocolos
selecionados foram apreciados em conjunto pela professora e pesquisadora quanto a análise do algoritmo
registrado pela criança. Ressalte-se que a revelação do esquema deu-se quando da entrega da prova aos
alunos, momento em que a pesquisadora chamou algumas crianças para que lhes falassem de suas
produções.
PRODUÇÃO:
REVELAÇÃO DO ESQUEMA
9 x 5 5 – 10 – 15 – 20 – 25 – 30 – 35 – 40 - 45
INTERPRETAÇÃO/ANÁLISE:
Após a criança ter recebido a prova, fato que não se deu no mesmo dia, a pesquisadora pede que a mesma
explique o que pensou no momento em que resolveu a operação. Antes da explicitação pela criança havia uma
interpretação por parte da pesquisadora, a qual foi compartilhada com a professora, de que a criança pudesse ter
registrado o numeral 12 no quociente como representando a quantidade de grupos com 5 contados pela criança, sem
contudo, ter ficado claro porque também aparecia em 96 – 12. A explicação dada pela criança confirma a análise inicial.
No verso da prova ela registra, fazendo sucessivas adições, o que representa uma contagem por agrupamento de 5 em
5, a quantidade de vezes que contou o numeral 5 até chegar em 95. No momento em que chega ao total 19 e não 12,
diz que contou errado. Embora, durante a prova, a professora tivesse dado papéis para rascunho, a criança diz ter feito
a conta “na cabeça”. Então, peço que faça o registro da operação com o total que de grupos formados. A criança torna
a repetir a mesma estrutura constante na prova. Contudo, deixa claro que tanto o 19 que aparece no quociente e é
repetido na resolução da subtração: 96 - 19, representa a quantidade de grupos que ela encontrou e que, portanto, são
esses grupos que deverão ser subtraídos de 96. Observe que acontece o mesmo no registro da operação na prova
quando o quociente 12 também se repete em 96 – 12. Então, a pesquisadora questiona se o valor que ela encontrou
após a contagem de 5 em 5 é 19 ou 95. A criança responde que é 95. Daí, a pesquisadora pergunta à criança: “Se
você pegou o 95 e dividiu em grupos de 5, descobrindo que pode formar 19 grupos, então você vai subtrair de 95 a
quantidade de grupos ou o total a que você chegou contando 19 vezes o 5?” A criança olha para a operação e
responde que vai retirar o total a que chegou (95). Então, a pesquisadora torna a registra novamente a divisão (96: 5) e
explica para a criança a disposição espacial dos valores encontrados. Desta, maneira, a criança descobriu que o
resultado final dessa divisão foi 1 e não 83. A pesquisadora ainda pergunta para a criança: “Será que 19 vezes o 5, que
foi a quantidade de vezes que você contou o 5, vai dar de fato 95? De que outra maneira você poderia fazer?” A
criança arma uma multiplicação (19x5). Resolve 9x5, usando os dedos. Para cada dedo adiciona 5
(5,10,15,20,25,30,35,40,45); registra as 5 unidades, eleva as 4 dezenas, multiplica 5 x 1, sabendo que este um vale 10
e adiciona as 4 dezenas que resultaram da multiplicação de 9x 5, confirmando o total de 95.
ARTICULAÇÃO TEÓRICA:
A explicação dada pela criança revela alguns princípios da Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud como: a
manifestação de mais de um conceito e os invariantes operatórios.
Além disso, vale destacar que é importante dar voz à criança para que ela possa esclarecer o que está obscuro aos
olhos seja do pesquisador, seja do professor. Tal aspecto é considerado por Muniz de grande importância, visto que
considera a criança como um ser epistêmico e matemático, e, portanto, produtor de conhecimento.
Vale enfatizar também a importância do outro seja seu par ou um adulto na construção do conhecimento. Vigostki traz
relevantes contribuições nesse sentido, ao destacar a importância da presença do outro e o papel da mediação,
sobretudo, o papel do professor como mediador.