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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS GENÉTICOS VEGETAIS
DEPARTAMENTO DE FITOTECNIA
A DINÂMICA DO USO E MANEJO DE VARIEDADES
LOCAIS DE MILHO EM PROPRIEDADES
AGRÍCOLAS FAMILIARES.
GILCIMAR ADRIANO VOGT
FLORIANÓPOLIS
SANTA CATARINA – BRASIL
NOVEMBRO - 2005
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ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS GENÉTICOS VEGETAIS
DEPARTAMENTO DE FITOTECNIA
GILCIMAR ADRIANO VOGT
A DINÂMICA DO USO E MANEJO DE VARIEDADES
LOCAIS DE MILHO EM PROPRIEDADES
AGRÍCOLAS FAMILIARES.
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Recursos Genéticos
Vegetais da Universidade Federal de Santa
Catarina, como requisito para obtenção do
título de Mestre em Recursos Genéticos
Vegetais.
Orientador: Antonio Carlos Alves
FLORIANÓPOLIS
SANTA CATARINA – BRASIL
NOVEMBRO – 2005
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iii
"Nenhum povo prospera se não aprende que há tanta dignidade em cultivar o campo
como em compor um poema".
(Martin Luther King)
A meus pais Osmar e Lindamir Vogt, e
minha esposa Cleonice da Silveira Vogt.
iv
AGRADECIMENTOS
Ao professor orientador Antonio Carlos Alves, pelos incentivos iniciais para início do
Mestrado, ensinamentos, amizade, dedicação e confiança durante a orientação e
elaboração da dissertação;
Aos agricultores pela gentil receptividade em seus lares e pelas ricas informações e
relatos de experiências que muito colaboraram com meu trabalho;
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais,
em especial a Juliana, Walter, Karen, Nodari e Maurício, pela amizade, apoio,
dedicação e contribuições valiosas para a minha formação;
Aos membros da Asso e Sintraf de Anchieta, em especial ao amigo Adriano Canci,
pela concretização do diagnóstico e ajuda no levantamento das informações,
indispensáveis para a construção dessa dissertação;
Aos meus Pais, Osmar e Linda, pelo amor, carinho, apoio, compreensão e incentivo;
Ao grande amor Cleonice, que sempre compartilhou as alegrias e tristezas e em
muitos momentos transmitiu força e incentivo para mais esta conquista;
Aos grandes amigos Arlindo, Ângelo (in memorian), Siminski e Marcelo, pela
contribuição e especialmente pelos momentos de descontração;
Aos amigos da Epagri/Cepaf e demais amigos da Epagri, pelo incentivo, pela
confiança e pelo conhecimento;
A todos que participaram direta ou indiretamente do meu trabalho;
E essencialmente agradeço a Deus e a Nossa Senhora Aparecida pela proteção
dada durante todos os dias, tornando possível à realização de mais esta etapa.
v
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS ................................................................................................vii
LISTA DE FIGURAS..................................................................................................ix
RESUMO.....................................................................................................................x
ABSTRACT................................................................................................................xi
1 APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA ................................................................1
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................5
2.1 Introdução .....................................................................................................5
2.2 Agricultura familiar ........................................................................................8
2.2.1 Agricultura familiar em Santa Catarina ................................................10
2.2.2 Agricultura familiar no Oeste Catarinense ...........................................11
2.2.3 O município de Anchieta......................................................................11
2.3 Importância econômica e sócio-cultural do milho .......................................13
2.4 Sistemas produtivos de milho .....................................................................14
2.5 Cadeia produtiva do milho em Santa Catarina............................................15
2.5.1 Uso de sementes e manejo da semeadura .........................................17
2.5.2 Manejo da adubação e utilização de agrotóxicos ................................18
2.5.3 Utilização de máquinas e equipamentos .............................................18
2.5.4 Assistência técnica ..............................................................................19
2.5.5 Destino atual da produção, uso, comercialização e industrialização ...19
2.5.6 Recomendações técnicas para o cultivo de milho na agricultura familiar
.............................................................................................................20
2.6 Conservação da agrobiodiversidade...........................................................21
2.6.1 Conceito e classificação de variedades locais.....................................23
2.6.2 Uso, manejo e conservação das variedades locais .............................26
2.6.3 Estratégias e ações metodológicas para a conservação das variedades
locais ....................................................................................................28
2.6.3.1 Conservação on farm .......................................................................29
2.6.3.2 Conservação ex situ.........................................................................31
2.6.3.3 Complementaridade entre conservação on farm e ex situ ...............32
2.6.4 Etapas para construção de um projeto de conservação de variedades
locais ....................................................................................................33
3 MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................41
3.1 Metodologia dos levantamentos .................................................................41
3.2 Sistematização das informações ................................................................43
3.3 Análise e interpretação dos dados..............................................................44
4 RESULTADOS ..................................................................................................45
4.1 A produção de milho com variedades locais nos estabelecimentos agrícolas
do município de Anchieta............................................................................45
4.2 Estrutura fundiária dos estabelecimentos agrícolas....................................47
4.3 Distribuição do uso das terras e atividades agrícolas desenvolvidas nos
estabelecimentos ........................................................................................48
4.4 Tendência do uso e cultivo das variedades locais pelos agricultores de
Anchieta ......................................................................................................53
4.5 Diversidade de variedades locais de milho .................................................59
vi
4.6 Caracterização das variedades locais de milho sob a percepção dos
agricultores .................................................................................................63
4.7 Uso e manejo das variedades locais de milho ............................................66
4.7.1 Área de cultivo e manejo do solo.........................................................66
4.7.2 Semeadura ..........................................................................................68
4.7.3 Manejo da adubação e utilização de agrotóxicos para controle de
pragas, doenças e ervas daninhas.......................................................70
4.7.4 Produção de sementes e métodos de seleção, melhoramento e
armazenamento ...................................................................................71
4.7.5 Uso e comercialização da produção ....................................................73
5 DISCUSSÃO......................................................................................................75
5.1 Produção de milho com variedades locais..................................................75
5.2 Aspectos agrários, estrutura fundiária e distribuição das atividades agrícolas
....................................................................................................................76
5.3 Tendência dos agricultores de Anchieta em relação ao cultivo de
variedades locais de milho..........................................................................80
5.4 A diversidade de variedades locais de milho ..............................................83
5.5 Caracterização das variedades locais de milho sob a percepção dos
agricultores. ................................................................................................87
5.6 Uso e manejo das variedades locais de milho ............................................88
5.7 Cadeia produtiva do milho e sistemas de produção com uso de variedades
locais...........................................................................................................94
5.8 Potenciais e preocupações a serem considerados na construção das
estratégias de conservação das variedades locais de milho ......................96
5.9 Proposição de estratégias de conservação das variedades locais de milho...
....................................................................................................................99
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES ...............................................103
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................105
ANEXO 1 Questionário semi-estruturado....................................................112
ANEXO 2 Variedades locais presentes em Anchieta/SC............................114
vii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Potencial do sistema formal (pesquisa formal) para apoiar e
complementar os processos dinâmicos de conservação da
agrobiodiversidade (Wood & Lenné, 1997). ............................................34
Tabela 2. Comunidades, número total de estabelecimentos por comunidade,
número e percentual de estabelecimentos amostrados, e número e
percentual de estabelecimentos em que eram cultivadas variedades
locais de milho no município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005..
.............................................................................................................46
Tabela 3. Estrutura fundiária dos estabelecimentos do município de Anchieta por
classes de área, número de estabelecimentos, percentagem de
estabelecimentos, percentual acumulado, área total e percentual da área
total por classe. Florianópolis, UFSC, 2005. ...........................................47
Tabela 4. Estrutura fundiária dos estabelecimentos em que eram cultivadas e não
eram cultivadas variedades locais de milho por classes de área, número
de estabelecimentos observado e esperado calculado por classe,
percentagem de estabelecimentos por classe, área total por classe e
percentual da área total por classe. Florianópolis, UFSC, 2005..............48
Tabela 5. Distribuição do uso das terras, área média ocupada e percentagem da
área total ocupada pelos estabelecimentos do município de Anchieta-SC
em que eram cultivadas e que não eram cultivadas variedades locais de
milho. Florianópolis, UFSC, 2005............................................................49
Tabela 6. Atividades agrícolas principais desenvolvidas nos estabelecimentos
agrícolas em que eram cultivadas e que não eram cultivadas variedades
locais de milho no município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005..
.............................................................................................................50
Tabela 7. Atividades agrícolas desenvolvidas nos estabelecimentos em que eram
cultivadas e que não eram cultivadas variedades locais de milho no
município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005. ..........................52
Tabela 8 Distribuição por classes de área do número, percentagem e percentual
acumulado de agricultores que relataram que teriam intenção de cultivar
variedades locais de milho em safras futuras no município de Anchieta-
SC. Florianópolis, UFSC, 2005................................................................56
Tabela 9 Número de estabelecimentos amostrados por comunidade, de
agricultores que já cultivaram variedades locais de milho em anos
anteriores, que nunca cultivaram que relataram à intenção de cultivá-las
em safras futuras e número de agricultores que cultivavam variedades
locais de milho na ocasião da entrevista no município de Anchieta-SC.
Florianópolis, UFSC, 2005. .....................................................................57
Tabela 10 Distribuição por classes de anos do número de agricultores que
cultivavam a mesma variedade local no município de Anchieta-SC.
Florianópolis, UFSC, 2005. .....................................................................58
Tabela 11 Tempo médio, máximo e mínimo de cultivo das variedades locais de
milho nas comunidades rurais do município de Anchieta-SC.
Florianópolis, UFSC, 2005. .....................................................................59
Tabela 12 Variedades locais de milho cultivadas nos estabelecimentos agrícolas do
município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005. ..........................60
viii
Tabela 13 Características estimadas pelos agricultores como ciclo, altura e
acamamento, e produtividade média (sacos/ha) nas diferentes
variedades locais de milho cultivadas nos estabelecimentos agrícolas do
município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005. ..........................64
Tabela 14 Características estimadas pelos agricultores como cor de grãos, aptidão
de uso e utilização preferencial das variedades locais de milho cultivadas
nos estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC.
Florianópolis, UFSC, 2005 ......................................................................65
Tabela 15 Distribuição por classes de área média cultivada com variedades locais
de milho no município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005.......66
Tabela 16 Distribuição do número de estabelecimentos em que estavam sendo
cultivadas variedades locais de milho, e área média de cultivo nos
estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC. Florianópolis,
UFSC, 2005............................................................................................67
Tabela 17 Manejo do solo e tipo de tração utilizados para o cultivo de variedades
locais de milho nos estabelecimentos agrícolas do município de
Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005................................................68
Tabela 18 Equipamento e práticas de uniformização das sementes utilizadas pelos
agricultores para a semeadura de variedades locais de milho nos
estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC. Florianópolis,
UFSC, 2005............................................................................................69
Tabela 19 Tipo de adubação utilizada e freqüência de utilização de agrotóxicos no
manejo das variedades locais de milho nos estabelecimentos agrícolas
do município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005. ....................71
Tabela 20 Práticas de isolamento e tipos de isolamento da lavoura empregado,
método de seleção e melhoramento, critérios de seleção de sementes e
armazenamento das sementes de variedades locais de milho nos
estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC. Florianópolis,
UFSC, 2005............................................................................................72
Tabela 21 Destino e uso da produção de milho com variedades locais nos
estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC. Florianópolis,
UFSC, 2005............................................................................................74
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Mapa geopolítico de Santa Catarina mostrando a localização do
município de Anchieta (Adaptado de IBGE, 2005). .................................12
Figura 2. Fluxograma da cadeia produtiva do milho (Adaptado de Pradella & Vieira,
1995). ......................................................................................................16
Figura 3 Benefícios da utilização de variedades locais de milho para o
desenvolvimento sustentável e a segurança alimentar da humanidade
(Adaptado de Sloboda et al., 2005).........................................................27
Figura 4 Comunidades e número de estabelecimentos amostrados por
comunidade no município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005..41
Figura 5 Mapa do município de Anchieta com a localização das comunidades,
número de estabelecimentos amostrados por comunidade e número de
estabelecimentos que cultivam variedades locais de milho. Florianópolis,
UFSC, 2005.............................................................................................45
Figura 6 Distribuição e número de estabelecimentos em que eram cultivadas e
que não eram cultivadas variedades locais de milho e distribuição
secundária da tendência e interesse de cultivo em safras futuras e pela
ocasionalidade de realização de cultivo em safras anteriores no município
de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005. ..........................................53
Figura 7 Distribuição geográfica das variedades locais de milho cultivadas nos
estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC. Florianópolis,
UFSC, 2005.............................................................................................61
Figura 8 Fonte primária das sementes de variedades locais de milho cultivadas
nos estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC.
Florianópolis, UFSC, 2005. .....................................................................62
Figura 9 Épocas de semeadura das variedades locais de milho nos
estabelecimentos do município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC,
2005. .......................................................................................................68
Figura 10 a) Quantidade de sementes por metro linear e b) espaçamento entre
linhas utilizado por ocasião da semeadura de variedades locais de milho
nos estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC.
Florianópolis, UFSC, 2005. .....................................................................70
Figura 11 Fluxograma da cadeia produtiva do milho com uso de variedades locais.
A intensidade da seta está correlacionada a intensidade de utilização dos
elementos da cadeia produtiva. (Linha tracejada intensidade mínima ou
nenhuma; Linha contínua intensidade reduzida, média ou grande, de
acordo com a espessura desta). .............................................................94
x
RESUMO
As mudanças no comportamento humano decorrentes das pressões sociais
ocorridas nas últimas décadas, motivaram alterações significativas nos sistemas
agrícolas, ocasionando problemas que afetam diretamente o desenvolvimento da
agricultura familiar, a perda da agrobiodiversidade e a erosão genética dos cultivos.
Diante desse quadro, intensificaram-se as manifestações ao sistema tecnológico da
Revolução Verde, dando início à mobilização social de incentivo à adoção de
sistemas agrícolas diversificados e fomento ao resgate, uso, manejo e conservação
das variedades locais, com o propósito de reduzir os custos de produção e buscar a
segurança alimentar dos agricultores familiares. Com isso, é de fundamental
importância pesquisar como os agricultores familiares estão estruturados e quais os
fatores que os levam a conservar as variedades locais. Para tanto, o presente
trabalho propôs-se a fazer uma análise do perfil dos agricultores, das ameaças e das
perspectivas da conservação de variedades locais de milho, particularmente no
município de Anchieta/SC. A análise consistiu em um misto de pesquisa qualitativa e
quantitativa, utilizando práticas diagnósticas complementares tais como a aplicação
de questionários semi-estruturados, observação direta e entrevistas com informantes
chaves. A metodologia utilizada teve o propósito de conhecer as opiniões dos
diferentes grupos através da leitura das informações coletadas nos questionários, da
interpretação dos relatos e das evidências observadas e anotadas pelo pesquisador.
O manejo de variedades locais de milho é freqüente entre os agricultores, tendo
grande variabilidade fenotípica. Cada uma das variedades apresentou
características peculiares, tendo denominações próprias dos agricultores e sendo
manejadas em sistemas diversificados. Freqüentemente são cultivadas em
pequenas áreas e utilizadas quase que exclusivamente para o auto-consumo e com
usos diversificados. A estratégia da organização comunitária, mobilização e
sensibilização adotada pelo Sintraf/Anchieta, focados na disseminação e fomento à
produção e resgate de sementes mostrou-se eficiente, sendo cultivadas variedades
locais de milho na maioria das comunidades e em grande parte dos
estabelecimentos agrícolas. O termo “milho crioulo” apresenta-se com denotação
política de busca da soberania alimentar e autonomia na produção de sementes,
sendo utilizada como bandeira e instrumento de luta e mobilização social. O
planejamento de ações participativas e integradas de conservação, on farm e ex situ,
formalizará novos rumos que apontam para a efetiva conservação da diversidade de
variedades locais de milho e para a manutenção do conhecimento local associado
ao cultivo. Entretanto, a sua sustentabilidade ao longo dos anos dependerá de ações
junto aos agricultores mantenedores dos recursos genéticos, vindo a tornar um
movimento de auto-mobilização comunitária e deixando de ser um “novo pacote
tecnológico”.
Palavras-chave: milho, Zea mays, on farm, variedades locais, agricultura familiar, milho
crioulo.
xi
ABSTRACT
Human behavior changes due to social pressures in the last decades have caused
significant alterations in agricultural systems, bringing about problems directly
affecting family agriculture development, loss of agrobiodiversity and genetic crop
erosion. Due to it, public opinion against the Green Revolution technology system
has increased, initiating a proactive social mobilization towards adopting a diversified
agricultural system and stimulating the recovery, use, management, and
conservation of the local variety aiming at reducing production costs and assuring the
feeding of the farmer’s families. Consequently, it is of fundamental importance to
research how farmer’s families are structured and which factors make them keep the
local varieties. Therefore, this present work has the ojective of analyzing farmers’
profile, threats and perspectives of conservation of local maize varieties; particularly
in Anchieta/SC city. The analysis was consisted of a mixed qualitative and
quantitative research, using complementary diagnosis practices such as semi-
structured questionary applications, direct observation, and by interviewing key
information providers. The methodology which was used in this study had the ojective
of finding out the opinions of different groups by absorbing information collected from
questionaries, interpreting statements, and by evidences observed and written by the
researcher. Management of local maize varieties is frequent among farmers, having
a great phenotypic variability. Each variety presented peculiar characteristics, each
having the farmers’ own denominations and been managed in diversified systems. All
varieties are frequently cultivated in small areas and are almost exclusively used for
own consumption and for diversified uses. Effectiveness was noticed due to
community strategy organization, mobilization and sensitivity adopted by
Sintraf/Anchieta. It focused on dissemination, production incentive, and recovery of
seeds. Local maize varieties were cultivated in most of the communities and at
agricultural locations. The term ‘creole’ maize (“milho crioulo”) has a political
denotation of feeding sovereignty search and autonomy of seed production. It was
used as a slogan and instrument of strife, and social mobilization, as well. The action
plan of participative and integrated conservation: on farm and ex situ will formalize
new paths pointing to an effective conservation of local maize varieties and
maintenance of local knowledge associated to the cultivation. Nevertheless, its
sustenance through the years will depend on actions in conjunction with farmers
possessing genetic resources and also becoming a community own mobilization
movement relinquishing being a “new technology package”.
Key Words: maize, Zea mays, on farm, local varieties, family agriculture, ‘crioule’
maize.
1 APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA
A economia do Oeste Catarinense depende basicamente da agropecuária
desenvolvida pelos agricultores familiares. A produção de leite, do milho, dos suínos,
do feijão, do fumo e das aves, além de serem formadores da renda agropecuária
regional, desempenham papel importante na sustentabilidade da agricultura familiar,
tendo amplo alcance social e grande importância econômica.
Entretanto, a agricultura familiar está passando por um momento de crise,
cujos reflexos diretos são a exclusão social e o acentuado êxodo rural. Os altos
custos dos insumos agrícolas, o baixo rendimento produtivo das culturas e os baixos
preços de mercado têm levado os agricultores familiares a uma intensa e constante
descapitalização e conseqüente abandono do campo.
Aliado a esses problemas, a agricultura também tem sido afetada pelo
esgotamento dos recursos naturais. O uso inadequado de tecnologias e ações
voltadas exclusivamente à monocultura, em detrimento aos sistemas diversificados,
estabelecem uma agricultura dependente de insumos externos e insustentável ao
longo dos anos.
Diante desse quadro, no início dos anos 80, intensificam-se as manifestações
e mobilizações contrárias ao sistema tecnológico da Revolução Verde em todo o
Brasil, dando início ao Movimento da Agricultura Alternativa. Junto a este
movimento, surge a chamada Rede Sementes, articulada na Rede de Tecnologias
Alternativas (Rede PTA) e focados no trabalho de produção e pesquisa sobre as
variedades locais de milho em todo Brasil.
Em Santa Catarina, algumas Organizações não-governamentais (Ong´s)
como a Associação de Pequenos Agricultores do Oeste de Santa Catarina (Apaco) e
o Centro Vianei de Educação Popular de Lages incorporam-se a esse movimento
nacional e contribuem para que a autonomia na produção de sementes e a
agroecologia venha difundir-se em todo o Estado.
Além das Ong´s cabe destacar o papel dos movimentos sociais e Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais, bem como de determinadas lideranças regionais e locais.
Tal situação ocorre em Anchieta, quando em 1995, o agricultor, militante de
movimentos sociais e então vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
2
na Agricultura Familiar de Anchieta
1
(Sintraf/Anchieta) Leocir Carpeggiani,
sensibilizado pelo movimento agroecológico, debate sobre a implantação da
proposta de produção própria de sementes. Em 1996, dirigentes sindicais e demais
integrantes do Sintraf/Anchieta decidem sensibilizar e mobilizar os agricultores com
um trabalho focado na agroecologia e na agrobiodiversidade, propondo ações
voltadas ao resgate cultural, mobilização e sensibilização social para recuperação do
dinamismo econômico, social e cultural dos agricultores familiares de Anchieta.
Os trabalhos iniciaram-se a partir de 1996 através da realização de cursos
teóricos e práticos, seminários, excursões, encontros e reuniões. Em 1997, após
longas rodadas de discussão e capacitação, é implantado o Programa Municipal de
Produção Própria de Sementes, dando início às ações voltadas à promoção da
autonomia da produção de sementes, a busca da soberania alimentar e o resgate de
variedades e conhecimentos locais.
O Programa objetivou a implantação de áreas de produção própria de
sementes, sendo organizados os primeiros grupos comunitários, optando-se por
trabalhar com cruzamento entre cultivares híbridos comerciais (Canci, 2002). As
primeiras comunidades rurais de Anchieta que se organizaram foram Santo Inácio,
Medianeira, Prateleira, Primavera, Nossa Senhora da Saúde, Taquarussú, São
Cristóvão, São Dimas, Sete de Setembro, Santa Rita, São João, Linha Unida, São
Domingos e Café Filho, envolvendo cerca de 118 famílias organizados em cerca de
18 grupos e coordenados pelos próprios agricultores.
Esse Programa, reforçado pelo técnico em agropecuária Adriano Canci, e
pelo respaldo e apoio de alguns movimentos sociais, especialmente Movimento das
Mulheres Camponesas (MMC) e Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA),
desperta o interesse pelo resgate de sementes locais de milho. Então,
simultaneamente ao trabalho de produção própria de sementes, ainda em 1997,
foram identificados e resgatadas cinco novas variedades locais (Amarelão, Cunha,
Palha Roxa, Asteca e Mato Grosso palha branca).
Em 1998, foram identificadas e resgatadas mais duas variedades locais
(Branco e Cateto). Com essas sete variedades resgatadas e mais quatro variedades
adquiridas junto ao Centro Vianei de Lages (variedades Pixurum 01, Pixurum 04,
Pixurum 05 e Pixurum 06) foram sendo abandonadas as práticas de cruzamentos
1
Em 1997 o Sindicato dos Trabalhadores Rurais na Agricultura Familiar de Anchieta ainda era
denominado Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anchieta (STR/Anchieta).
3
entre híbridos, priorizando-se trabalhos com as variedades locais. Outras
comunidades aderiram ao Programa, como Linha Gaúcha, São Judas, São Pedro,
Nova Seara, Linha Aparecida e União da Vitória.
Devido à divulgação do trabalho de sensibilização e mobilização comunitária
para a produção própria de sementes, em 1999, através do projeto de Lei nº 466/99
da Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina, Anchieta é reconhecida
como Capital Estadual do Milho Crioulo.
Em 2000 foi realizado a Festa Estadual do Milho Crioulo (Femic), primeira feira
de intercâmbio de sementes e conhecimentos locais, promovida pelo
Sintraf/Anchieta, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Prefeitura
Municipal.
O movimento ganha força e o termo “milho crioulo” vem representar mais do que
apenas o cultivo e manejo de variedades locais de milho, tendo uma denotação
política de busca da soberania alimentar e autonomia na produção de sementes,
sendo utilizada pelos movimentos sociais e pelos agricultores como bandeira e
instrumento de luta e mobilização social.
Então, em 2002, é constituída legalmente a Associação dos Pequenos
Agricultores Produtores de Milho Crioulo Orgânico e Derivados (Asso), com objetivo
de resgatar e multiplicar as sementes crioulas, produzir alimentos organicamente e
organizar a industrialização e comercialização do milho (Canci, 2002).
O trabalho de identificação e resgate de variedades locais, assim como de
produção própria de sementes foi ininterrupto, sendo identificadas até 2001 mais 5
variedades (1999 - Branco 8 carreiras e Mato Grosso palha roxa; em 2000 - Rajado
e Roxo; em 2001 - Língua de Papagaio) (Canci, 2002). Até 2002 já tinham sido
cultivadas cerca de 33 variedades locais de diferentes denominações em cerca de
539 estabelecimentos (Canci & Brassiani, 2004; Canci, 2002).
Concomitante ao trabalho de identificação e resgate de sementes locais, a
partir do segundo e terceiro ano, iniciam-se no município ações de resgate dos
conhecimentos tradicionais e levantando das informações sobre os aspectos
culturais relacionados ao uso e manejo de variedades locais de milho.
Com o estabelecimento desses novos rumos e visando a difusão das ações
realizadas, inicia-se a construção de parcerias, principalmente com a Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC), vislumbrando a possibilidade de ampliar e
divulgar o projeto. Essa parceria surgiu a partir de uma demanda do Sintraf/Anchieta,
4
MPA e Asso para suprir a necessidade de realizar um trabalho para conhecer a
diversidade de espécies e variedades locais presentes no município, identificando as
potencialidades e problemáticas quanto ao uso, manejo e conservação da
agrobiodiversidade.
Durante a realização da I Festa Nacional do Milho Crioulo, realizada em 2002,
em discussões com lideranças do Sintraf/Anchieta, dos movimentos sociais, dos
agricultores e de estudantes e professores da UFSC, nasce a proposta de realização
do diagnóstico da agrobiodiversidade local. Ainda durante essa reunião o Núcleo de
Estudos em Agrobiodiversidade (NEABio) da UFSC expôs o trabalho de pesquisa
similar, realizado em 2001, em 151 estabelecimentos, de 27 municípios, da Região
Oeste Catarinense e Noroeste do Rio Grande do Sul.
A partir de 2002, foram realizados articulações externas, junto a Universidade
Federal de Santa Catarina, Epagri, Embrapa e ONGs, visando a intensificação das
estratégias de uso, manejo e conservação dessas variedades locais.
Diante disso, nasce uma proposta e uma oportunidade de concretização do
projeto de identificação da agrobiodiversidade local pela Asso, com apoio do
NeaBio, do Sintraf/Anchieta e do Fundo de Mini Projetos (FMP-Sul), o qual resultou
na publicação do livro “A diversidade das espécies crioulas em Anchieta/SC”
2
e na
presente dissertação de mestrado.
O propósito deste trabalho foi fazer uma análise do perfil, das ameaças e das
perspectivas da conservação de variedades locais de milho, entender os fatores
sócio-econômicos que determinam o processo de conservação local, e elaborar
propostas metodológicas de conservação das variedades locais.
2
CANCI, A.; VOGT, G.A.; CANCI, I.J. A diversidade das espécies crioulas em Anchieta:
Diagnóstico, resultados de pesquisa e outros apontamentos para a conservação da
agrobiodiversidade. São Miguel do Oeste: Mclee, 2004, 108p.
5
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Introdução
Atualmente, a importância e o papel da agricultura familiar no
desenvolvimento brasileiro é impulsionado pelo debate sobre desenvolvimento
sustentável, geração de emprego e renda, segurança alimentar e desenvolvimento
local (Guanziroli & Cardin, 2000). Os agricultores familiares são elementos-chave
para o abastecimento alimentar do país, contribuindo para a diversificação da oferta
de alimentos, para a valorização das culturas alimentares locais e regionais, para a
geração de emprego e renda, e para promoção de formas socialmente eqüitativas e
ambientalmente sustentáveis de ocupação do espaço rural (Brasil, 2004).
A produção familiar utiliza vários tipos de combinações entre atividades
agrícolas, criação de animais, produção artesanal e outras, formando um sistema de
produção diversificado (Pronaf, 2002). O manejo da diversidade de espécies e da
variabilidade dos cultivos e criações tem sido um elemento importante para a
sustentabilidade dos seus sistemas agrícolas. A diversidade e a variabilidade dos
cultivos vem permitindo aos agricultores, ao longo do tempo, tanto enfrentar limites
quanto aproveitar as potencialidades que o ambiente local oferece (Almeida &
Cordeiro, 2002).
Entretanto, as mudanças sócio-econômicas ocorridas nas últimas décadas,
têm ocasionado alterações significativas nos sistemas produtivos dos pequenos
agricultores, ocasionando vários problemas que afetam diretamente o
desenvolvimento da agricultura familiar.
Os agroecossistemas complexos originais foram substituídos por sistemas
simplificados, monoculturais e especializados, que não levam em consideração as
inter-relações e interfaces entre os diferentes componentes dos sistemas, numa
concepção produtivista após Revolução Verde (Carmo, 2004).
A monocultura e a utilização de cultivares de alta produtividade estabelecem
então uma agricultura de alta tecnologia e grande uniformidade (Machado, 1998 a),
baseado no tripé “sementes melhoradas ou híbridas, fertilizantes e maquinário
moderno”. Esse modelo teve real incidência dentro do público dos agricultores
familiares no Estado de Santa Catarina, onde cerca de 86% dos agricultores
adotaram esse pacote tecnológico (Souza Filho et al., 2004; Specht, 2005).
6
O uso inadequado de tecnologias e ações voltadas exclusivamente à
monocultura em detrimento aos sistemas diversificados de produção estabelece uma
agricultura dependente de insumos externos, sendo economicamente e
ecologicamente insustentável ao longo dos anos.
Os altos custos dos insumos agrícolas, o baixo rendimento produtivo das
culturas e os baixos preços de mercado pago aos agricultores têm levado-os a uma
intensa e constante descapitalização e conseqüente abandono do campo e
inchamento dos centros urbanos (Testa et al., 1996).
A destruição da agricultura familiar acarreta além de problemas sócio-
econômicos e ambientais, a perda da agrobiodiversidade e a erosão genética dos
cultivos. Os agricultores familiares vão sendo expulsos de suas terras e/ou
substituem a diversidade de suas variedades locais por pacotes tecnológicos
modernos (Weid & Soares, 1998). O processo de erosão genética dos cultivos
agrícolas tem proporcionado a perda da diversidade genética, incluindo a perda de
genes individuais e de combinações particulares de genes manifestados em
variedades locais adaptadas, como também a perda dos conhecimentos associados
aos recursos genéticos (FAO, 1996).
Na busca de soluções desses problemas, ainda é possível encontrar alguns
agricultores que mantêm suas variedades locais, obtendo rendimentos satisfatórios
mesmo em condições de produção pouco favoráveis (Cordeiro & Marcatto, 1994).
Esses agricultores resistiram e continuam a cultivar as suas variedades locais
embora o pacote tecnológico da revolução verde continue sendo considerado pela
maioria dos pesquisadores e instituições como opção mais eficiente na produção de
alimentos (Guanziroli et al., 2001).
Entretanto, algumas instituições e movimentos sociais vêm pensando em
alternativas intermediarias (ou apropriadas) para a melhoria dos sistemas produtivos
dos agricultores empobrecidos (Guanziroli et al., 2001). Entre elas estão a utilização
de variedades adaptadas às restrições de cada agroecossistema (seca, inundações,
toxidade de alumínio, baixa fertilidade, etc), a redução dos custos produtivos, a
segurança alimentar e a produção de alimentos de qualidade.
Atualmente, principalmente devido à mobilização dos movimentos sociais e
Organizações não-governamentais um maior contingente de agricultores familiares
têm adotado estratégias de redução de custos e busca de segurança alimentar. Com
isso enfrentam, mesmo que de maneira parcial, as fortes restrições de recursos em
7
geral, tendo como resultado a adoção de sistemas de produção diversificados, que
combinam um conjunto variado de produtos, tanto para o consumo da família, auto-
abastecimento de insumos e matérias-primas de utilização do estabelecimento como
para comercialização (Buainain et al., 2004).
Com o passar do tempo e especialmente graças à evolução da consciência
dos danos ambientais provocados pelas técnicas ditas modernas, foi ficando claro
que essas alternativas ditas intermediárias ou transitórias, representariam na
verdade, opções tecnológicas para a maioria os agricultores (Guanziroli et al., 2001).
A conservação dos recursos genéticos, especialmente a utilização sustentável
e conservação on farm de variedades locais adaptadas, também têm recebido
atenção crescente nos diversos fóruns internacionais e nacionais, como na
assinatura da Convenção da Diversidade Biológica em 1992, na assinatura do Plano
de Ação Global durante a IV Conferência Técnica Internacional para Recursos
Genéticos de Plantas em Leipzig-Alemanha em 1996 e nos resultados logrados
durante a III Conferência das Partes para a Convenção da Diversidade Biológica na
Argentina em 1996 (Vallois, 1998; Maxted et al., 2002; Ministério do Meio Ambiente,
2004).
As comunidades de agricultores familiares e suas práticas agrícolas têm uma
significativa contribuição para a conservação, aumento da biodiversidade e
desenvolvimento de sistemas produtivos agrícolas mais favoráveis ao meio ambiente
(Ministério do Meio Ambiente, 2004).
É possível desenvolver junto a esses agricultores um caminho no qual a
diversidade possa reintegrar ao sistema de produção (Cordeiro & Marcatto, 1994). A
redescoberta de uma determinada espécie de valor para os agricultores pode ser um
começo importante para que a agrobiodiversidade volte a ser valorizada, não
apenas do ponto de vista ecológico, mas como fator de segurança e estabilidade
dos sistemas de produção (Cordeiro & Marcatto, 1994).
Esforços devem ser desprendidos e estratégias devem ser desenhadas para
que as variedades locais ainda existentes sejam efetivamente conservadas (Faiad et
al., 2001). Isso exige um trabalho contínuo e de longo prazo, que implica em
mudanças importantes, tanto na área tecnológica quanto social. São necessárias
estratégias complementares, participativas e integradas que não tornem os recursos
genéticos conservados apenas um cemitério de genes desconhecido em bancos de
8
germoplasma, mas um patrimônio efetivamente real e útil para a segurança
alimentar da humanidade (Kohli, 1999).
2.2 Agricultura familiar
O universo agrário é extremamente complexo em função da grande
diversidade de paisagens e em virtude da existência de diferentes tipos de
agricultores. Os agricultores têm interesses particulares, estratégias próprias de
sobrevivência e de produção, respondendo de maneira diferenciada os desafios e
restrições do dia-a-dia (Guanziroli & Cardin, 2000).
A diferenciação dos agricultores familiares está associada à história das
comunidades, as heranças culturais variadas, à experiência profissional e de vida,
ao acesso e a disponibilidade diferenciada de recursos naturais, capital humano e
social e recusos financeiros (Buainain et al., 2004; Guanziroli & Cardin, 2000; Pronaf,
2002).
O universo da agricultura familiar é heterogêneo e inclui, desde famílias muito
pobres, que detém, em caráter precário, um pedaço de terra que dificilmente pode
servir de base para uma unidade de produção sustentável até famílias com grande
dotação de recursos (terra, capacitação, organização, conhecimento etc) (Souza
Filho et al., 2004).
Para construir tipologias homogênias de agricultores existem diferentes
metodologias, critérios e variáveis. Uma tipologia simples adotada como critério
político do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e
utilizada para o fornecimento de crédito rural, consideram agricultores familiares
“todos aqueles que explorem e dirijam estabelecimentos rurais na condição de
proprietários, posseiros, arrendatários, parceiros, comodatários ou parceleiros,
desenvolvendo atividades agrícolas ou não agrícolas e que, simultaneamente, não
possuam, a qualquer título, área superior a quatro módulos fiscais, que utilizem
predominantemente mão-de-obra da família nas atividades do empreendimento ou
estabelecimento, e que residam no próprio estabelecimento ou em local próximo”.
A agricultura familiar também é definida como um sistema de produção em
que predominam a interação entre a gestão e o trabalho, a direção do processo
produtivo pelos agricultores familiares, com ênfase na diversificação, e a utilização
do trabalho familiar (Pronaf, 2002), podendo ser definida como agricultores que
9
juntamente com sua família, vivem profissionalmente da agricultura (Marques &
Noronha, 1998).
Em geral, os agricultores familiares desenvolvem sistemas complexos de
produção, combinando várias culturas, criações animais e transformações primárias,
tanto para o consumo da família como para comercialização. As atividades agrícolas
mais comuns são, criação de aves e a produção de ovos, presentes em 63% dos
estabelecimentos, o milho em 55%, o feijão em 46%, a produção de leite em 36%
seguidos da pecuária de corte em 28%. Entre os agricultores da região Sul, 48%
praticam a bovinocultura de corte, 62% bovinocultura de leite, 55% suinocultura,
74% avicultura, 71% cultivam milho, 47% feijão, 36% mandioca e 22% soja.
Para caracterizar os estabelecimentos agrícolas familiares quanto à estrutura
fundiária e seus sistemas produtivos foi utilizada uma compilação dos trabalhos do
projeto de Cooperação Fao/Incra, realizados a partir dos dados do Censo
Agropecuário do IBGE (1995/1996) resultantes nas publicações Guanziroli & Cardin
(2000), Guanziroli et al. (2001) e Buainain et al. (2004).
Segundo o Censo Agropecuário de 1995/1996, existem no Brasil
aproximadamente 4,9 milhões de estabelecimentos rurais, ocupando uma área de
354 milhões de ha. Destes, 4,1 milhões são estabelecimentos agrícolas familiares,
ocupando uma área de aproximadamente 108 milhões de ha (Guanziroli & Cardin,
2000). Os agricultores familiares representam, portanto, cerca de 85% do total de
estabelecimentos, ocupando apenas 31% da área total e sendo responsáveis por
cerca de 38% do Valor Bruto de Produção Agropecuário (VBP) nacional.
A região Sul é expressiva em termos de agricultura familiar, sendo
representada por mais de 90% do total de estabelecimentos da região, ocupando
cerca de 44% da área e produzindo 57% do VBP regional e 17% do VBP nacional,
detendo apenas 22% do total nacional de estabelecimentos familiares e ocupando
18% da área total (Guanziroli et al., 2001).
A área média dos estabelecimentos familiares é muito inferior à dos patronais,
apresentando grande variação entre as regiões. No Brasil, a área média dos
estabelecimentos familiares é de 26 ha, enquanto que dos patronais é de 433 ha. Na
Região Sul a área média dos estabelecimentos familiares e patronais fica abaixo da
média nacional, sendo 21 ha para os familiares e 283 ha para os patronais.
10
Quanto à estrutura fundiária, o Brasil apresenta 40% dos estabelecimentos
familiares com área inferior a 5 ha, 30% possuem entre 5 e 20 ha, 17% entre 20 e 50
ha, 8% entre 50 e 100 ha e cerca de 5% áreas maiores que 100 ha.
Na região Sul, 20% dos estabelecimentos familiares possuem menos de 5 ha,
48% entre 5 e 20 ha e 23% possuem entre 20 e 50 ha. Apresenta 91% dos
estabelecimentos menores que 50 ha e 68% inferiores a 20 ha.
2.2.1 Agricultura familiar em Santa Catarina
O Estado de Santa Catarina, de acordo com o levantamento do IBGE (1997)
(Censo Agropecuário 1995/1996), conta com cerca de 203 mil estabelecimentos
agropecuários, que correspondem a aproximadamente 4% do total do Brasil.
Caracteriza-se pelo predomínio da agricultura familiar, e de acordo com os
critérios de classificação do Pronaf, a agricultura familiar catarinense representa um
universo de cerca de 180 mil famílias, envolvendo mais de 90% da população rural
(Pronaf/SC, 2002). Tem uma estrutura fundiária caracterizada pelo predomínio de
pequenas propriedades rurais, com 18% dos estabelecimentos com área inferior a 5
ha, 47% entre 5 e 20 ha, 24% entre 20 e 50 ha, 6% entre 50 e 100 ha e apenas 4%
com áreas maiores que 100 ha. (Silva et al, 2003).
Ocupam apenas 41% da área rural e são responsáveis por mais de 70% da
produção agrícola e pesqueira do Estado, destacando-se na produção de 67% do
feijão, de 70% do milho, de 80% dos suínos e aves, de 83% do leite e 91% da
cebola (Pronaf/SC, 2002; Icepa, 2004; Icepa 2002 a; Icepa 2002 b). Além desses
produtos, os agricultores familiares também são responsáveis por grande parte da
produção de mel, alho, batata, fumo, mandioca, tomate, banana e outros
hortifrutigranjeiros.
O clima, o meio ambiente, os recursos naturais, o povo (sua etnia, seus
costumes, habilidades e tradições) e diversos outros fatores contribuem para que o
Estado apresente uma economia agrícola diversificada. Além disso, cada uma das
microrregiões geográficas apresenta características diferenciadas, tanto em termos
de recursos naturais e humanos, quanto no rol dos produtos agropecuários,
definindo situações microrregionais bastante distintas e diversas (Icepa, 2002 a).
11
2.2.2 Agricultura familiar no Oeste Catarinense
A mesorregião Oeste Catarinense compreende uma área de 25,3 mil km
2
e
conta com uma população total de cerca 1 milhão de habitantes, da qual a
população rural totaliza 414 mil pessoas, compreendendo 37% da população rural
do Estado (Mello & Ferrari, 2003).
Essa região apresenta uma estrutura fundiária com 13% dos
estabelecimentos familiares com áreas inferiores a 5 ha, 57% entre 5 e 20 ha e 24%
entre 20 e 50 ha. Apenas 4% entre 50 e 100 ha e 2% com áreas superiores a 100
ha, apresentando 94% dos estabelecimentos menores que 50 ha e 70% menores
que 20 ha (Silva et al., 2003).
O desenvolvimento econômico do Oeste está diretamente relacionado ao
setor primário, particularmente o agropecuário. Tem sua economia sustentada
basicamente pela atividade agrícola e pela transformação dos seus produtos (Silva
et al, 2003; Testa et al., 1996)
A agricultura do Oeste Catarinense responde por mais de 50% da produção
total do Estado e as atividades primárias ocupam mais de 51% de sua população
economicamente ativa, evidenciando a dependência da agropecuária na economia
regional (Mello & Ferrari, 2003).
A renda regional agropecuária depende basicamente do leite, do milho, dos
suínos, do feijão, do fumo e das aves (Mello & Ferrari, 2003). As atividades
agropecuárias de expressão econômica se concentram na especialização dos
sistemas milho/suínos ou milho/aves, e alguns produtos como soja, feijão, maça e
erva-mate (Silva et al., 2003). Nos últimos anos está havendo também um grande
crescimento na produção de leite, sendo a região Oeste a principal bacia leiteira do
Estado.
2.2.3 O município de Anchieta
O município de Anchieta (SC) está situado na latitude 26º 30’ Sul e longitude
50º 30’ Oeste, na região Sul do Brasil, mesorregião Oeste de Santa Catarina e na
microrregião do Extremo Oeste (Figura 1).
O clima da região é classificado como Cfa de Köppen (mesotérmico úmido com
verão quente definido). A temperatura média anual é de 18
o
C, com ocorrência de
geadas nos meses de inverno (Santa Catarina, 2003). A precipitação anual média na
região é de 2000 mm. Possui uma altitude média de 710m, apresentando um relevo
12
caracterizado por áreas montanhosas, sendo 75% fortemente ondulado e 25% de
relevo plano ou ondulado.
Figura 1 Mapa geopolítico de Santa Catarina mostrando a localização do
município de Anchieta (Adaptado de IBGE, 2005).
O município conta com uma área geográfica de 229 km² e população, no ano
2000, de 7133 habitantes, dos quais cerca de 66% residiam na área rural (Santa
Catarina, 2003). Os estabelecimentos agrícolas apresentam uma área média de 18
ha e estrutura fundiária caracterizada por pequenas propriedades, representado por
95% do total de estabelecimentos com área inferior a 50 ha. Destes, 32% menores
que 10 ha, 39% entre 10 e 20 ha e 24% com áreas maiores que 20 ha e menores
que 50 ha. Apenas 1% dos estabelecimentos possuem áreas entre 100 e 500 ha, e
4% entre 50 e 100 ha (Santa Catarina, 2003).
Apresenta como principais culturas agrícolas, o milho, o fumo e a soja, sendo
cultivadas cerca de 4 mil ha de milho, 600 ha de fumo e 400 ha de soja (Santa
Catarina, 2003). Outras culturas como cana de açúcar, feijão, trigo, mandioca e arroz
são representativas fontes de renda agrícolas para o município. Na pecuária, o
município destaca-se na produção de suínos, aves e bovinocultura de leite e de
corte.
A suinocultura comercial na região Oeste, iniciada na década de 80, envolvia
quase todos os agricultores, porém atualmente esta atividade concentra-se em
13
apenas alguns estabelecimentos (Mello & Ferrari, 2003). O milho sempre foi
cultivado, sendo atualmente a cultura mais cultivada no município em termos de
área. O fumo ainda apresenta grande importância econômica por ser uma renda
com grande densidade econômica. Já a bovinocultura de leite tornou-se ao longo
dos últimos anos uma atividade que envolve muitos agricultores, sendo também uma
das atividades principais (Canci & Brassiani, 2004).
2.3 Importância econômica e sócio-cultural do milho
O milho (Zea mays L.) constitui-se num dos mais importantes cereais
cultivados e consumidos no mundo, em função de seu potencial produtivo,
composição química e valor nutritivo (Fancelli, 2001). Devido a sua multiplicidade de
aplicações na alimentação humana e animal, assume relevante papel econômico
sendo indispensável matéria-prima para rações e concentrados.
Além de importância econômica, a cultura do milho apresenta grande
importância social e cultural, estando dispersa geograficamente em praticamente
todo o território nacional (Machado et al., 1998 b).
A produção mundial de milho está em torno de 600 milhões de t, sendo que a
produção nacional na safra 2002/03 representou cerca de 7% da produção mundial
e 74% da produção do Mercosul, que foi de aproximadamente 65 milhões de t
(Icepa, 2004). Em 2003/04, a safra brasileira apresentou decréscimo, produzindo
cerca de 42 milhões de t, redução de cerca de 6 milhões de t em relação a safra
2002/03.
No caso particular de Santa Catarina, onde a criação de aves e suínos tem
grande importância econômica e social, a oferta estadual de milho é, historicamente,
muito inferior à demanda (Icepa, 2002 a). Na safra 2002/03 foram cultivados 849 mil
ha, com uma produção de 4235 mil t, enquanto que na safra 2003/04 a área
cultivada diminui para 832 mil ha, atingindo uma produção de 3942 mil t (Icepa,
2004).
A relação oferta/demanda catarinense na produção de milho em 2002/2003
apresentou um déficit de 559 mil t e em 2003/04 de 1188 mil t, não atendendo a
necessidade para os complexos agroindustriais de aves e suínos, que consumiram
4250 mil t, sendo o Estado caracterizado como grande importador de milho (Icepa,
2004).
14
Na região Oeste Catarinense a cultura do milho tem grande alcance social
(Testa et al., 2003). Cerca de 80% do total de estabelecimentos cultiva milho, ou
seja, cerca de 80 mil estabelecimentos agrícolas. A produção de milho é a principal
renda para o conjunto de agricultores, mesmo sendo uma atividade que gera uma
renda insuficiente para atender as necessidades básicas da maioria das famílias de
agricultores, em função da pouca disponibilidade de terras e ao relevo acidentado e
pedregoso da maioria dos estabelecimentos.
2.4 Sistemas produtivos de milho
Em face de sua ampla adaptação, o milho está presente, em maior ou menor
escala, em todas as regiões fisiográficas, resultando em uma diversidade marcante
de sistemas de produção entre regiões e até numa mesma região. Este fato
evidencia a existência de grandes variações nas formas de produção, determinados
por condições climáticas, solos e tecnologias diferenciadas (Machado et al., 1998 b).
Os agricultores familiares utilizam-se de sistemas complexos e diversificados,
associando ao sistema produtivo vários outros cultivos formadores da renda agrícola
e/ou de subsistência. De acordo com os trabalhos do projeto de Cooperação
Fao/Incra, realizados a partir dos dados do último Censo Agropecuário do IBGE
(1995/1996) e resultantes nas publicações Guanziroli & Cardin (2000), Guanziroli et
al. (2001) e Buainain et al. (2004), é possível identificar alguns dos sistemas e
subsistemas nos quais o milho está associado a outras culturas. Para Santa
Catarina, os mais representativos são os sistemas de autoconsumo + milho,
autoconsumo + milho + criações, o sistema autoconsumo + milho/feijão + suínos, o
sistema autoconsumo + milho/feijão + leite, o sistema soja/aveia/trigo + milho, o
sistema autoconsumo + fumo, e o sistema milho/feijão + hortaliça.
Os meios de produção de milho em Santa Catarina e especialmente no Oeste
Catarinense são também bastante diversificados. As modalidades que podem ser
consideradas como as mais representativas nas pequenas propriedades, com
predomínio da mão-de-obra familiar, são sistemas que adotam intensamente a
tração animal e tração animal/mecânica (Icepa, 1996).
A tração animal é o sistema utilizado pelos agricultores familiares
descapitalizados, no qual o grau de tecnologia é muito baixo. A fertilização é mínima
ou nenhuma, utilizando apenas algumas vezes adubação de cobertura. O preparo
do solo é feito com tração animal, sendo as demais práticas culturais efetuadas
15
manualmente, empregando quase que exclusivamente mão-de-obra familiar (Icepa,
1996).
O sistema de tração animal/mecânica é bastante representativo. O preparo do
solo pode ser efetuado mecanicamente ou por tração animal. Os tratos culturais são
efetuados com tração animal e equipamentos manuais, predominando o emprego da
mão-de-obra familiar. A colheita é efetuada manualmente e/ou mecanizada,
mediante o aluguel de máquinas. O nível de fertilização é bem maior
comparativamente ao sistema de tração animal, utilizando adubação de base e uréia
em cobertura (Icepa, 1996).
2.5 Cadeia produtiva do milho em Santa Catarina
Devido a grande diversidade de sistemas de produção entre regiões e até
numa mesma região, representada pela variabilidade de relevo, condições climáticas
contrastantes, situação econômica diferenciada, e de acordo com as diferentes
influências culturais, econômicas e políticas, a cadeia produtiva do milho no Estado
de Santa Catarina apresenta grandes variações.
A cadeia produtiva do milho é um conjunto de pequenas cadeias que se
complementam, no sentido que o produto de uma cadeia passa a ser insumo em
outra (Minas Gerais, 1995). Essa complementaridade entre as cadeias, a
diversidade de insumos utilizados no cultivo e manejo do milho, bem como a
diversidade de utilização e destino da produção são apresentados de forma
generalizada na Figura 2, representando os itens mais relevantes na tentativa de
demonstrar os pontos mais importantes para sua caracterização.
16
Figura 2. Fluxograma da cadeia produtiva do milho (Adaptado de Pradella &
Vieira, 1995).
A cadeia produtiva do milho envolve indústrias de suporte que são comuns a
muitos outros produtos agropecuários, fornecendo insumos usuais como herbicidas,
adubos, máquinas e equipamentos. Destacam-se como insumos básicos do milho a
mão-de-obra, a terra, sementes, máquinas e implementos agrícolas, fertilizantes e
agrotóxicos. A importância e a magnitude de utilização desses insumos é
dependente do nível tecnológico do sistema produtivo adotado. A extensão rural, a
pesquisa agropecuária e os agentes financeiros também têm grande importância e
influencia na cadeia produtiva do milho (Pradella & Vieira, 1995).
Após a produção primária dos grãos, geralmente é realizada a
comercialização de forma direta entre os agricultores e cooperativas, grandes
agroindústrias e atacadistas. O milho é vendido na forma de grãos, sendo que
muitos agricultores armazenam em suas propriedades grande parte da produção
para o autoconsumo, principalmente para alimentação animal (Pradella & Vieira,
1995).
17
O setor comercial é responsável pelo beneficiamento dos grãos, dando novo
direcionamento ao milho produzido. A produção é revendida para processamento
por indústrias de rações, agroalimentares, de medicamentos e ou químicas (Pradella
& Vieira, 1995).
Abaixo são apresentadas características generalizadas sobre a fonte de
sementes, a época e densidade de semeadura, o uso de insumos, agrotóxicos,
equipamentos, fertilizantes e corretivos, a assistência técnica recebida e o destino da
produção, comercialização e industrialização do milho.
2.5.1 Uso de sementes e manejo da semeadura
Esse segmento da cadeia produtiva do milho é caracterizado por um grande
número de empresas que atuam no setor, sendo comercializados inúmeros híbridos
e variedades melhoradas (Machado et al, 1998 b). Uma parcela considerável de
agricultores recorrem ao uso de sementes próprias, muitas vezes gerações F2 e F3
de híbridos ou, ainda, populações locais.
No Brasil, em 2002, cerca de 80% das sementes de milho utilizadas para o
cultivo foram sementes fiscalizadas e 20% sementes próprias (Ramalho, 2004).
Entre os agricultores que utilizaram sementes fiscalizadas, aproximadamente 34%
utilizaram híbridos simples, 25% híbridos triplos, 34% híbridos duplos e 7%
variedades melhoradas.
Em função das suas peculiaridades de clima e regiões, Santa Catarina tem na
cultura do milho um longo período entre a semeadura e a colheita. O cultivo é
iniciado no mês de agosto com término na primeira quinzena de janeiro (Pradella &
Vieira, 1995). Na região Oeste Catarinense, também há uma grande flexibilidade
quanto à época de semeadura (Flesch & Vieira, 2004).
A densidade de plantas utilizada é variável entre 50.000 a 60.000 plantas/ha,
com espaçamentos que variam entre 80 e 100 cm (Epagri, 1997). Para os híbridos
modernos, é utilizada uma maior densidade de plantas, utilizando cerca de 70.000
em condições ambientais favoráveis.
Os agricultores que cultivam variedades locais no Oeste Catarinense
normalmente utilizam uma população de plantas de aproximadamente 40000
plantas/ha, adotando um espaçamento médio entre linha de 1 m e uma densidade
de 4 plantas/m linear (Alves et al., 2004 a).
18
2.5.2 Manejo da adubação e utilização de agrotóxicos
Para o manejo da adubação são utilizados preferencialmente fertilizantes
químicos formulados com os nutrientes N-P-K, utilizando-se fórmulas como 4-14-8,
8-28-16, 10-20-20, 4-20-20 e outras. Além destas formulações, utilizadas como
adubação de base ou na semeadura, é significativo o uso de uréia e sulfato de
amônio em adubações de cobertura (Gerage et al.,1999).
Para o cultivo de variedades locais de milho na região Oeste Catarinense são
utilizadas fertilizantes químicos (66%) e orgânicos (31%), sendo utilizada em muitos
estabelecimentos somente a adubação de cobertura com uréia (Alves et al., 2004 a).
Até pouco tempo, o milho era tido como uma das culturas de menor
intensidade de utilização de agrotóxicos, restrita ao emprego de herbicidas pelos
chamados agricultores tecnificados. Essa realidade mudou, detectando-se os usos
cada vez mais intensivos de herbicidas e inseticidas (Machado et al., 1998 b).
Para o manejo de variedades locais de milho são utilizados agrotóxicos,
principalmente herbicidas, sendo utilizado por 13% dos agricultores do Oeste
Catarinense (Alves et al., 2004 a). Quanto ao uso de adubos e corretivos, 77% dos
estabelecimentos da região Sul utiliza adubos e ou corretivos em seus sistemas
produtivos, enquanto que na média nacional apenas 38% (Guanziroli & Cardin,
2000).
2.5.3 Utilização de máquinas e equipamentos
Para o cultivo do milho são utilizados especialmente máquinas e
equipamentos para o preparo do solo, para semeadura, aplicação de agrotóxicos,
adubos e corretivos, para realização de tratos culturais e também para a colheita.
Nas propriedades agrícolas familiares predominam as operações de preparo
do solo, semeadura e tratos culturais com tração animal ou máquinas e
equipamentos alugados. As operações manuais de semeadura com saraquá e
capinas com enxadas também são freqüentes. A colheita na sua grande maioria é
realizada de forma manual (Gerage et al., 1999).
A tração mecânica/animal ou somente tração animal, na região Sul, é utilizada
freqüentemente em 48% e 37% dos estabelecimentos, respectivamente. Apenas
cerca de 14% fazem uso de força manual em todos os trabalhos agrícolas, enquanto
que na média nacional, cerca de 50% dos estabelecimentos familiares utilizam
exclusivamente esse tipo de tração (Guanziroli & Cardin, 2000).
19
2.5.4 Assistência técnica
A assistência técnica e extensão rural (Ater) é um importante fator de
desenvolvimento agrícola e social para os agricultores familiares. Pode ser realizada
tanto por órgãos do governo, como por órgãos não governamentais. Empresas
privadas e cooperativas também fornecem assistência técnica e difusão de
tecnologia, porém com destino bastante comercial (Machado et al.,1998 b).
No Brasil, em média, o acesso dos agricultores familiares à assistência
técnica é de apenas 18%, muito inferior à média da região Sul que é
aproximadamente 47% (Guanziroli & Cardin, 2000).
No cultivo de variedades locais de milho no Oeste Catarinense a assistência
técnica abrange apenas 40% dos agricultores familiares, sendo prestadas
especialmente pelos Sindicatos Regionais, Epagri, Cooperativas, Casa familiares
Rurais e Prefeituras Municipais (Alves et al., 2004 a).
2.5.5 Destino atual da produção, uso, comercialização e industrialização
A grande maioria do milho produzido em Santa Catarina tem destino para a
alimentação animal, na forma de macro componente das rações, tendo um
autoconsumo elevado. Apenas o excedente produtivo é comercializado para
atacadistas, cooperativas, varejistas, grandes agroindústrias e fabricantes de rações,
tendo como destino final quase que exclusivamente para a alimentação animal
(80%) (Pradella & Vieira, 1995).
Outras formas de consumo são o humano, através da farinha, pão e as
massas, e o industrial, como produtos químicos, glicose e óleo, porém, esses
destinos são de pouca expressão. Os derivados do milho popularmente consumidos
pela população, são a farinha, a canjica e o fubá. A palha do milho também pode ser
utilizada para a produção de artesanatos, chapéus e cestos.
A produção de milho com variedades locais no Oeste Catarinense destina-se
quase que exclusivamente ao auto-consumo, sendo que apenas 26% da produção é
destinada a comercialização (Alves et al., 2004 a).
20
2.5.6 Recomendações técnicas para o cultivo de milho na agricultura familiar
Na perspectiva da utilização de tecnologias apropriadas aos agricultores
familiares, o milho variedade, em relação ao milho híbrido, pode representar uma
opção mais interessante para os pequenos proprietários (Sloboda et al., 2005;
Machado et al., 1998 b).
A escolha do período ideal para semeadura é um dos fatores determinantes
do sucesso da lavoura de milho. Semeaduras anteriores ao período recomendado
ou muito tardias podem comprometer a produtividade e o rendimento econômico
esperado devido às baixas temperaturas (Flesch & Massignan, 2000).
Temperaturas baixas na fase inicial podem comprometer o sucesso da
lavoura por causarem falhas na germinação enquanto que no final do ciclo, podem
impedir que se complete o enchimento de grãos (Flesch & Massignan, 2000).
Neste sentido devem ser evitadas as semeaduras fora das épocas
recomendadas pelo zoneamento agro-climático para a cultura de milho para o
Estado de Santa Catarina, que para o município de Anchieta inicia-se em 21 de
agosto e encerra-se em 31 de dezembro para os milho de ciclo tardio (Flesch &
Massignan, 2000).
Em relação às densidades de semeadura, verifica-se que para o cultivo das
variedades são indicadas densidades variando de 40.000 a 50.000 plantas por ha, o
que é coerente com o menor nível de tecnologia dos sistemas de produção
empregados pelos agricultores que usam esse tipo de cultivar. Entre os híbridos, as
densidades recomendadas variam de 40.000 a 80.000 plantas por ha (Cruz et al.,
2004).
Como estratégia de comercialização para a grande maioria dos pequenos
produtores, devido ao pequeno tamanho de suas propriedades e,
conseqüentemente, à pequena escala de suas lavouras, a produção de milho não
deve ser direcionada apenas ao mercado, como matéria-prima ou commodity, por
ser pouco atrativa. Sua produção deve ser direcionada à produção de produtos
típicos (alimentos orgânicos ou alimentos processados, por exemplo), podendo ser
fonte de agregação de valor e de renda (Icepa, 2002 a).
21
2.6 Conservação da agrobiodiversidade
Nos últimos anos vem sendo retomada a discussão sobre a conservação e
utilização sustentável dos recursos genéticos
3
para a alimentação e agricultura. Esse
debate intensificou-se a partir da Convenção da Diversidade Biológica (CDB)
realizada no Rio de Janeiro em 1992, que estabeleceu alguns fundamentos
estratégicos para o manejo, uso e conservação dos recursos genéticos vegetais,
definindo em seus objetivos básicos “a conservação, a utilização sustentável e a
repartição justa e eqüitativa dos benefícios advindos do uso dos recursos genéticos”
(Goedert et al., 2001).
Nesse mesmo encontro, foi recomendada a FAO e aos países participantes a
elaboração de um Plano de Ação Global, o qual foi aprovado em 1996 na IV
Conferência Internacional de Leipzig, na Alemanha (Goedert et al., 2001). No Plano
destacou-se a necessidade de assegurar a conservação dos recursos genéticos
para a alimentação e agricultura, promover seu uso sustentável e a distribuição justa
e eqüitativa dos seus benefícios, assistir os países na priorização de ações e
estratégias de uso e conservação dos recursos genéticos, além de fortalecer os
programas nacionais, regionais e internacionais de conservação de germoplasma
(Goedert et al., 2001; Wood & Lenné, 1997).
Essa preocupação crescente para a conservação dos recursos genéticos é
devido às mudanças sem precedente na relação sociedade, agrobiodiversidade e
meio ambiente decorrentes das mudanças nos sistemas produtivos tradicionais, e o
rápido processo de erosão genética
4
dos cultivos, principalmente devido a
3
Os recursos genéticos são constituídos pela variabilidade genética organizada em um conjunto de
materiais diferentes entre si, denominadas germoplasma. Cada unidade de germoplasma é formada
pelo material genético dos organismos vivos de interesse atual ou potencial. Conseqüentemente o
germoplasma é o elemento dos recursos genéticos que maneja a variabilidade genética inter e
intraespecífica, com fins de utilização para a pesquisa em geral, especialmente para o melhoramento
genético e a biotecnologia (Goedert et al., 2001). Os recursos genéticos compreendem a diversidade
do material genético contido nas variedades primitivas, obsoletas, tradicionais, modernas, parentes
silvestres das espécies alvo, espécies silvestres ou linhas primitivas que podem ser usadas, agora ou
no futuro, para a alimentação e agricultura (Goedert et al., 2001).
4
A erosão genética é a perda da diversidade, incluindo tanto a perda de genes individuais como de
combinações específicas de genes, manifestados em landraces localmente adaptados, que possuem
valor real ou potencial para a agricultura e alimentação (Ferrer & Clausen, 2001; Faleiro, 2004; FAO,
1996). Entre as causas de erosão genética podemos citar a perda do habitat natural das plantas
(desmatamento, destruição dos centros de variabilidade genética, desertificação, aumento da
população, expansão urbana, modernização da agricultura, expansão da fronteira agrícola,
industrialização), distúrbios no habitat (construção de rodovias e outras ações antrópicas), desastres
naturais (seca, enchente, vendavais), substituição de variedades locais ou tradicionais por novas
variedades melhoradas (adoção de germoplasma elite e a transgenia) ou ainda mudanças nas
práticas culturais (Faleiro, 2004; Jaramillo & Baena, 2000; Ferrer & Clausen, 2001).
22
substituição de espécies e variedades locais por cultivos exóticos e melhorados e
em virtude das exigências mercadológicas e industriais disseminadas pela
Revolução Verde (Mulvany & Berger, 2004; Wood e Lenné, 1997; Beretta, 2001).
Neste contexto, a agrobiodiversidade
5
local deve ser considerada uma valiosa
fonte de variabilidade e diversidade genética, apresentando-se como elemento
fundamental para a segurança alimentar da humanidade e constituindo-se em
material essencial para o desenvolvimento de novos cultivares e para a
sustentabilidade da agricultura (Wood e Lenné, 1997).
Os recursos genéticos e a variabilidade genética dos cultivos locais têm sido
ao longo dos anos fundamentais para o progresso agrícola, sendo um dos
elementos básicos na estratégia de melhoramento genético, obtendo junto a esses
materiais fontes de variação genética de características consideradas importantes
para a melhoria da adaptação, do rendimento e da qualidade das espécies
cultivadas (Abatie et al., 2000).
A diversidade de variedades, raças e espécies poderá assegurar uma
produção agrícola contínua, tendo em vista que muitas características invisíveis no
código genético poderiam resultar em características úteis para enfrentar futuros
desafios e adversidades (Mulvany & Berger, 2004). A diversidade genética e a
variabilidade são vitais para a evolução das espécies agrícolas e sua adaptação às
condições locais (Cromwell et al., 2004; Faleiro, 2004; Abatie et al., 1999), sendo
cruciais para a manutenção da capacidade natural de resposta às mudanças
climáticas e a todos os tipos de estresses bióticos e abióticos (Machado, no prelo).
Neste contexto, a preservação da variabilidade genética das plantas é uma
necessidade e um grande desafio para a pesquisa, considerando seu grande
potencial para alimentação, medicina e ornamentação (Faleiro, 2004) e as grandes
dificuldades quanto a segurança alimentar, fome e miséria, problemas ambientais
decorrentes do incremento da população humana (Ministério do Meio Ambiente,
2004).
5
Agrobiodiversidade ou Biodiversidade agrícola inclui todos os componentes da diversidade biológica
com relevância para a agricultura e para a alimentação. Inclui-se a variedade e variabilidade de
plantas, animais e microorganismos, as espécies e os ecossistemas necessários para a realização de
funções essenciais no agroecossistema, suas estruturas e processos (Cromwell et al., 2004).
Agrobiodiversidade é um termo utilizado para se referir à diversidade de seres vivos, de ambientes
terrestres ou aquáticos, cultivados em diferentes estados de domesticação (Ministério do Meio
Ambiente, 2004).
23
As razões para conservar e a escolha da espécie a ser conservada, devem
ser definidos com base em critérios lógicos, científicos e econômicos, como a
necessidade, o valor potencial ou atual, e o uso da espécie a ser conservada, além
de ser factível ao longo do tempo. Como qualquer outro processo estratégico, a
conservação implica em planejamento e tomada de decisões com base em alguma
informação prévia. A conservação requer o estabelecimento de prioridades quanto
ao tipo de material que vai ser conservado, as atividades, ações e estratégias que
serão utilizadas e os recursos disponíveis para a realização das atividades (Jaramillo
& Baena, 2000).
Discute-se então a importância de se preservar estes recursos em médio e
longo prazo, em especial as variedades locais, promovendo a sua valorização e seu
uso como forma de conservação da agrobiodiversidade de espécies de importância
atual ou potencial para a agricultura e para alimentação (Clausen & Ferrer, 1999).
2.6.1 Conceito e classificação de variedades locais
A primeira referência de variedade local como recurso genético ocorreu em
1890, entretanto, apenas 20 anos mais tarde que a definição foi inicialmente
publicada (Zeven, 1998). No período de 1909 a 1952 muitas outras definições e
classificações foram apresentadas. Durante o período de 1953 a 1974, devido ao
período da Segunda Guerra Mundial, não foram publicados artigos sobre variedades
locais. A partir de 1974 muitas novas definições foram apresentadas (Zeven, 1998).
O termo variedade local é muito amplo. Muitos sinônimos têm sido utilizados
no mundo inteiro. Os mais usuais são landrace, variedades crioulas, variedades
tradicionais, variedades primitivas ou variedades dos agricultores (Zeven, 1998).
Assim como apresenta várias denominações, também tem diferentes e
complexas definições e classificações. Teshome (1997) define variedades locais
como populações cultivadas, as quais são distintas geograficamente ou
ecologicamente, diversas em sua composição genética, e adaptadas às condições
agroclimáticas locais. É comum às ambas o fato de serem denominadas,
selecionadas e mantidas pelos agricultores tradicionais, para atender as suas
necessidades sociais, econômicas, culturais e ecológicas (Teshome, 1997).
Louette considera que uma variedade é denominada local quando a semente
tenha sido plantada na região por pelo menos uma geração de agricultores, ou seja,
aproximadamente 30 anos (Louette et al., 1997; Louette, 1999).
24
No mesmo contexto, Brush (1999) considera uma variedade como local
quando esta foi plantada na região há pelo menos uma geração de agricultor, ou
seja, de pai para filho.
As variedades locais são raças locais, cultivadas por pequenos agricultores,
que não sofreram o processo convencional de melhoramento, apresentando
diversidade genética em relação às outras populações, constituindo um reservatório
de genes, o qual podem formar novas variedades melhoradas ou até mesmo
transmitir características desejáveis as variedades comerciais (Silva et al., 2002).
Variedades locais são populações ecológicas ou economicamente distintas
que se diferenciam em sua composição genética interna e entre outras populações,
tendo sido resultantes da seleção local realizada pelos agricultores (Brown, 1978
apud Zeven, 1998). Harlan em 1975 definiu de uma maneira bem simplificada.
Considerando que as variedades locais são produtos da seleção humana para
algumas características como cor, sabor, textura e qualidade de armazenamento
(Harlan, 1975 apud Brush et al. 1981).
Wood & Lenné (1997) consideram que pode haver a integração agrícola de
variedades modernas em sistemas tradicionais, podendo conduzir à “crioulização”
genética de variedades modernas e tradicionais. Durante este processo, variedades
modernas trocam genes com as variedades locais. Valiosas características de
variedades modernas são integradas as características desejáveis das variedades
tradicionais. Assim, considera que variedades locais são mistura de variedades
locais originais combinadas com genes de variedades introduzidas e que as
variedades originais não existem mais (Wood & Lenné, 1997).
Como variedades locais têm uma natureza bastante complexa e ampla, não é
possível dar uma definição única. Zeven (1998), grande estudioso do assunto,
considera que a definição que talvez seja a melhor é a de Mansholt´s, publicada em
1909, que definiu uma variedade local autóctone como uma variedade com alta
capacidade de tolerar estresse biótico e abiótico, resultando em alta estabilidade
produtiva e nível intermediário de produtividade sob condições de baixa tecnologia
agrícola.
Quando a classificação também há muita divergência de opiniões,
principalmente relacionadas ao tempo mínimo de cultivo para tornar-se uma
variedade autóctone ou local. Louette (1997) definiu que uma variedade é
denominada exótica quando há uma recente introdução de sementes ou plantios
25
episódicos na região. Landraces são variedades dos agricultores que não passaram
por programas de melhoramento formais. Também classificou como exóticos
landraces vindos de outras regiões ou cultivares comerciais recentemente
introduzidas e reproduzidas pelos agricultores (Louette et al., 1997; Louette, 1999).
Classificou variedades exóticas em 3 grupos distintos: landraces, gerações
avançadas de variedades melhoradas, e gerações recentes de variedades
melhoradas.
Considera que as raças primitivas de milho são organizadas como meta-
populações, cujas populações e sub-populações podem ser extintas, misturadas
com germoplasma externo, criadas de novo com base em empréstimo de sementes,
tudo sem perder o nome e a maior parte de suas características genéticas e
fenotípicas (Louette, 1999). Estes estudos demonstram que as variedades locais de
milho são dinâmicas e abertas ao mesmo tem que conservam suas características
exclusivas (Louette, 1999).
As variedades locais podem ser classificadas de outras formas. Mayr (1934 e
1937 apud Zeven, 1998) classificou as variedades locais em: autóctone, que é
cultivada por mais de 100 anos numa determinada região; autoctógeno, que é
aquela derivada de um novo genótipo (mutante espontâneo ou cruzamento natural),
originado de uma variedade local autóctone; alóctone, que é aquela variedade
autóctone introduzida em outra região e que se adaptou muito bem às condições
ambientais; aloctógeno, cultivada por longo período numa região não nativa, sendo o
tipo original ainda reconhecido; e variedade local melhorada, que é aquela derivada
do cruzamento com a cultivar.
Zeven (1998) apresentou uma classificação mais simplificada. Denominou
variedade local autóctone aquela cultivada por muito tempo num sistema agrícola
regional, e alóctone, aquela que foi introduzida a partir de outra região.
Para referencia neste trabalho o termo variedades locais foi utilizado
indistintamente em todo o corpo do texto e no título, referenciando-se as variedades
manejadas e reproduzidas tradicionalmente pelos agricultores, podendo ser
tradicionais, locais, landraces ou crioulas. Entretanto, a fim de classificar as
variedades locais manejadas e conservadas pelos agricultores de Anchieta, foram
consideradas variedades tradicionais (autóctones) aquelas que estão presentes na
região há mais de 30 anos, ou seja, pelo menos uma geração. As variedades locais
em adaptação são aquelas presentes com o agricultor entre 10 e 30 anos, ou seja,
26
aquela variedade que através da pressão de seleção natural e de manejo humano,
esta teoricamente se adaptando às condições locais. As variedades exóticas são
consideradas as variedades introduzidas de outras regiões há menos de 10 anos.
Ambas as variedades podem ser variedades dos agricultores que não passaram por
programas formais de melhoramento genético e/ou variedades comerciais
reproduzidas por métodos tradicionais pelos agricultores ao longo dos anos.
2.6.2 Uso, manejo e conservação das variedades locais
A utilização das variedades locais como recurso genético foi discutido pela
primeira vez em Viena em 1890, no “Internationale Land und Forstwirtschaftlicher
(Agricultura e Silvicutura) Congress”. Neste evento, os participantes E. Von
Proskowetz e F. Schindler propuseram à discussão sobre a conservação das
variedades locais, entretanto o assunto nem foi levado em consideração, sendo
apenas discutido 37 anos depois durante o Congresso Agrícola, realizado em Roma
em 1927 e organizado pelo Instituto Internacional Agrícola (Antecessor da FAO)
(Zeven, 1998).
A importância do uso, manejo e conservação das variedades locais é foco de
discussão em diversos fóruns internacionais e nacionais. As razões principais para a
conservação e manejo das variedades locais são: 1) resistência e adaptação dos
cultivos e boa produtividade mesmo em condições climáticas adversas; 2) razões
tradicionais ou peculiaridades, como características organolépticas que agregam
valor para comercialização e; 3) simplesmente porque elas são apreciadas pelas
famílias (Negri, 2003).
Variedades locais são freqüentemente utilizadas e manejadas pelos
agricultores familiares, sendo utilizadas diretamente para a subsistência e sendo
componente fundamental nos seus sistemas de cultivo. Além disso, são matérias-
primas básicas em programas de melhoramento, sendo utilizadas no melhoramento
das variedades modernas, garantindo a produção mundial de alimentos (Wood &
Lenné, 1997).
A conservação das variedades locais além de constituir-se na matéria prima
no processo de melhoramento genético (Ferrer & Clausen, 2001), pode contribuir
para tornar os agroecossitemas mais equilibrados, sendo passíveis da utilização em
sistemas agroecológicos, que adotam como princípio uma agricultura mais limpa e
amigável (Condon et al., 1999; Berretta, 2001; Clausen & Ferrer, 1999).
27
A utilização de práticas de manejo agroecológicos, ou seja, sistemas
integrados com utilização reduzida de insumos, podem proporcionar muitos
benefícios aos agricultores, como a melhoria da renda, diminuição e custos
produtivos e melhoria da saúde (Jarvis et al., 2000).
O uso e conservação de variedades locais é uma das questões importantes
para a humanidade, tanto para a segurança alimentar da população, através de uma
alimentação diversificada e de qualidade como para a sustentabilidade dos
agricultores. As variedades locais apresentam-se como boas opções para utilização
em sistemas alternativos e agroecológicos, proporcionando a melhoria da qualidade
de vida, através da utilização reduzida de agroquímicos, a melhoria da renda
agrícola, através da autonomia da produção de sementes, e a redução dos custos
de produção, através da maior adaptabilidade e variabilidade dos cultivos (Figura 3).
Além disso, as variedades locais são fonte de características desejáveis para
o desenvolvimento de novos cultivares, principalmente para locais com
predominância de estresses hídricos e nutricionais (Machado et al., 2002).
Figura 3 Benefícios da utilização de variedades locais de milho para o
desenvolvimento sustentável e a segurança alimentar da humanidade
(Adaptado de Sloboda et al., 2005).
28
Portanto, é essencial, para nossa sobrevivência, que sejam dedicados
esforços na conservação das variedades locais, de modo a torná-las disponíveis aos
agricultores e que sejam utilizadas como novas opções de cultivo, bem como, sejam
aproveitadas em programas de melhoramento para o desenvolvimento de novos
cultivares (Ministério do Meio Ambiente, 2004).
2.6.3 Estratégias e ações metodológicas para a conservação das variedades
locais
A conservação de germoplasma como atividade científica foi proposta nos
anos 70 como uma medida de prevenção da erosão genética e para uso no
melhoramento da produtividade agrícola (Eira, 2001). Seu principal objetivo é a
conservação da variabilidade genética de espécies vegetais com a máxima
integridade genética e biológica possível.
Essa atividade começou no início do século passado, quando alguns
cientistas interessados em agrobiodiversidade atentaram ao fato da erosão genética
dos cultivos em todo o mundo. Essa ameaça devia-se ao sucesso do modelo
econômico e industrial da Revolução Verde (Clement et al., no prelo).
Considerando essa realidade, a comunidade científica passou a coletar os
recursos genéticos das principais culturas e armazená-las em bancos de
germoplasma. Esse trabalho resultou em um grande acervo mantido até hoje nos
grandes centros internacionais (Mulvany & Berger,2004). Entretanto, uma grande
parte desses acessos tornando-se “cemitérios de genes” mal caracterizados e
avaliados, sendo conseqüentemente pouco utilizados. Conforme aumentavam as
coletas, cada vez mais ficava evidente que seria impossível e inviável coletar e
armazenar todo esse material. Atualmente se reconhece que esta estratégia é
limitada, mesmo que tenha sido importante para prevenir-se da contaminação
genética (Mulvany & Berger, 2004; Clement et al., no prelo).
Então, a partir de 1992, outra estratégia foi formulada pela Convenção sobre
Diversidade Biológica, que consistia em conservar os recursos genéticos usados
pelos agricultores no seu próprio habitat (Clement et al., no prelo)
Atualmente esse tema relacionado ao acesso e uso da biodiversidade
agrícola por parte dos agricultores, comunidades locais e pesquisadores tem sido
foco de debate entre os usuários dos recursos genéticos, governos e entidades não-
governamentais, tais como a Organização Mundial do Comércio (OMC),
29
Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), países signatários da
Convenção da Biodiversidade Biológica (CDB) (Mulvany & Berger, 2004).
Neste contexto, as três formas de conservação, ex situ, in situ e on farm, são
complementares e formam, estrategicamente, a base para implementação dos três
grandes objetivos da Convenção sobre Diversidade Biológica: (i) conservação da
biodiversidade; (ii) promoção do uso sustentável; e (iii) repartição dos seus
benefícios (Ministério do Meio Ambiente, 2004).
2.6.3.1 Conservação on farm
A conservação on farm tem sido definida como o cultivo e o manejo contínuo
da diversidade de uma população em seu agroecossistema, estando em processo
de seleção e melhoramento constante das comunidades locais (Jarvis et al., 2000).
É uma estratégia que apresenta como particularidade o fato de envolver recursos
genéticos cultivados pelas comunidades locais, detentoras de grande diversidade e
de um amplo conhecimento associado (Ministério do Meio Ambiente, 2004).
Os recursos genéticos conservados on farm incluem as populações silvestres
dos cultivos (que oferecem alelos aos cultivos via fluxo gênico natural), suas pragas
e doenças (que pressionam a expressão de combinações novas de alelos e
mutantes resistentes), as ervas daninhas (que pressionam a expressão de
adaptação genética e fenotípica à competição), e os sistemas de conhecimento
tradicional associados (Clement et al., no prelo; Jarvis et al.,2000; Jarvis et al.,
1998).
Portanto, para a manutenção dos sistemas agrícolas, a conservação on farm
aplica o princípio de conservação para todos os três níveis de biodiversidade:
ecossistema, espécie e diversidade genética (intraespecífica), bem como, as várias
interações entre as populações cultivadas (Jarvis et al., 2000).
A adoção do sistema de conservação on farm objetiva a promoção do
desenvolvimento local e global. Entre os benefícios locais incluem-se as
diversificações genéticas dos sistemas produtivos tradicionais e a habilidade dos
sistemas cultivados evoluir através de adaptações locais específicas, resistindo às
mudanças ambientais e econômicas. Os benefícios globais estão relacionados a
uma evolução mais rápida e cumulativa de diversidade útil de plantas cultivadas,
tanto para uso em programas de melhoramento como uso direto do agricultor, e a
30
sustentabilidade do ecossistema e dos sistemas agrícolas (Wood & Lenné, 1997;
Jarvis et al., 2000).
Entre as vantagens da adoção desta estratégia, estão as possibilidades de
manejo conjunto de grande quantidade de espécies em uma mesma área, a
evolução constante e a conservação dinâmica das variedades locais (Jarvis et al.,
2000). Além disso, permite a geração contínua de novos recursos genéticos via
evolução, seleção e melhoramento (Clement et al., no prelo).
Entre as desvantagens da adoção da estratégia on farm podemos relacionar a
dificuldade de identificar o material genético conservado, o menor nível de controle
de fluxo e intercambio de material genético conservado, e a probabilidade de
ocorrência imprevisível de erosão genética (Jarvis et al.,2000). Entretanto, é um
método efetivo de conservação, apesar de serem detectados problemas de erosão
genética. Problemas ocasionados principalmente pelo êxodo rural, mudança de
variedades locais por variedades melhoradas e/ou por mudanças sócio-econômicas
ou culturais (Clausen & Ferrer, 1999).
Entre os objetivos que justificam a criação de um programa de conservação
on farm podemos destacar os seguintes: 1) conservar os processos de evolução e
adaptação das espécies cultivadas em seu ambiente natural (conservação
dinâmica); 2) conservar a diversidade em diferentes níveis (ecossistema, espécies,
variedades e/ou raças); 3) integrar agricultores com os programas nacionais de
recursos genéticos vegetais; 4) promover o desenvolvimento econômico e social dos
agricultores familiares; 5) conservar o ecossistema em prol ao perfeito
funcionamento da vida na terra; e 6) promover o acesso dos agricultores aos
recursos genéticos de plantas cultivadas, dando-lhes empoderamento e controle
sobre seus recursos genéticos (Jarvis et al., 2000).
Portanto, a estratégia de conservação on farm é importante porque não gera
apenas benefícios relacionados à manutenção da diversidade genética, mas
também a sustentabilidade do ecossistema e o bem-estar humano (Jarvis et al.,
2000).
Alguns elementos são paradigmas comuns na promoção da conservação on
farm: 1) a expansão das variedades modernas foi a principal responsável pela perda
global de variedades tradicionais; 2) a conservação ex situ é estática, e a
conservação on farm dinâmica e então preferível; 3) os cruzamentos naturais on
farm entre as plantas cultivadas e seus parentes silvestres resultam das
31
características de uso dos agricultores; e 4) todas as variedades tradicionais são
localmente adaptadas, e então de maior valor para os agricultores que variedades
modernas (Wood & Lenné, 1997).
2.6.3.2 Conservação ex situ
A conservação ex situ envolve a manutenção da variabilidade genética de
interesse em câmaras de conservação de sementes, em cultivo in vitro (conservação
in vitro), em criogenia (caso das sementes recalcitrantes conservadas a –196ºC), em
laboratórios (caso dos microorganismos), e ou no campo (conservação in vivo)
(Jarvis et al., 2000).
Essa estratégia de conservação implica na manutenção de espécies fora de
seu habitat natural. Têm como principais características à preservação dos genes ou
da seqüência gênica de interesse por vários anos, permitindo que em apenas um
local sejam reunidos materiais genéticos de várias procedências, o que facilita o
acesso e o uso em programas de melhoramento genético. A conservação ex situ
garante a proteção da diversidade intraespecífica, especialmente de espécies com
ampla distribuição geográfica, entretanto, o uso desta estratégia implica na
paralisação dos processos evolutivos e na dependência das ações antrópicas
permanentes (Ministério do Meio Ambiente, 2004).
As vantagens da conservação ex situ estão relacionadas à facilidade e
rapidez do acesso dos melhoristas e pesquisadores ao banco de germoplasma, a
identificação rápida dos acessos úteis e promissores, o alto grau de controle e a
menor probabilidade de perdas de material genético (Jarvis et al., 2000). As
desvantagens estão no campo da utilização de um ambiente artificial e controlado,
congelando os processos evolutivos, além desse fator onerar o custo de
manutenção e conservação (Jarvis et al., 2000).
Os programas de conservação ex situ de recursos genéticos abrangem as
etapas de coleta e conservação dos acessos, dando ênfase para utilização dos
recursos genéticos conservados através de uma adequada caracterização,
avaliação, intercâmbio e distribuição dos acessos aos diversos programas de
melhoramento (Malosetti et al., 1999).
Entretanto, atualmente a utilização pelos melhoristas das amostras presentes
nos bancos de germoplasma ex situ é muito baixa (Nass & Paterniani, 2000). A
utilização freqüente é realizada apenas por cerca de 14% dos melhoristas. Os
32
problemas relacionados a essa baixa utilização está associado a falta de informação
e documentação disponível sobre os acessos, a adaptabilidade restrita dos acessos,
a falta de avaliação e pré-melhoramento e a falta de metodologias para utilização e
intercâmbio de conhecimento entre os curadores e melhoristas (Nass & Paterniani,
2000).
Uma estratégia alternativa utilizada para aumentar o uso do germoplasma
conservado é o desenvolvimento de coleções núcleo. Uma coleção núcleo é uma
amostra representativa de uma coleção com o mínimo de redundância. Ela
representa uma alternativa para impulsionar a avaliação do germoplasma
conservado, promovendo seu uso e facilitando seu manejo (Malosetti & Abatie,
1999). Uma coleção nuclear é uma ótima estratégia para permitir maior rapidez na
avaliação do germoplasma, diminuindo custos e permitindo melhor acesso à coleção
de base, permitindo maior disponibilidade desse germoplasma para os programas de
melhoramento, resultando em eficiente utilização (Abatie et al., 1999).
2.6.3.3 Complementaridade entre conservação on farm e ex situ
Por mais de um século, pesquisadores do mundo inteiro vêm coletando e
colecionando variedades cultivadas para uso em programas de seleção e
melhoramento de plantas. Para assegurar a disponibilidade continuada, estas
amostras são armazenadas em bancos de germoplasmas. Porém, recentemente
este sistema de conservação ex situ está recebendo fortes críticas, sendo sugeridos
em diversos fóruns, a promoção da conservação on farm, ou como um sistema
complementar ou como uma alternativa única (Wood & Lenné, 1997).
Cada uma das estratégias, on farm e ex situ, tem suas vantagens e
desvantagens (Jarvis et al.,2000). A conservação on farm oferece apoio à
conservação ex situ, especialmente quando esta falha por razões técnicas,
financeiras ou administrativas. Ela pode oferecer germoplasma de reposição e
atualização das coleções ex situ (Clement et al., no prelo). Assim como também a
conservação ex situ oferece-se como fator de segurança a conservação on farm,
principalmente em casos de perda de material genético ocasionado por desastres
ecológicos e/ou mudanças sócio-econômicas e culturais.
Portanto, o uso de estratégias complementares fornece uma condição ótima
para a conservação, pois cada método apresenta vantagens e desvantagens quanto
33
à integridade, ao acesso e ao uso dos materiais conservados. Por isso, o sistema
mais efetivo incorpora os elementos de ambas estratégias (Jarvis et al.,2000)
As coleções ex situ contém alelos, genótipos e as informações de passaporte
associadas a estes, enquanto que os recursos genéticos conservados on farm são
recursos em equilíbrio dinâmico com o meio sócio-econômico e ecológico (Clement
et al., no prelo).
O método on farm permite a conservação da diversidade em todos os níveis
(ecossistema, espécie e a diversidade dentro da espécie), mantendo os processos
evolucionários (seleção natural, deriva genética, seleção artificial e intercâmbio de
materiais) além de ser facilmente acessado pelas comunidades rurais. Enquanto que
o método de conservação ex situ permite a conservação dos alelos, genótipos e
populações, protegendo-os contra pressões sociais evolucionárias contínuas e
possíveis perdas ou contaminações (Jarvis et al., 2000).
Enquanto que a conservação dos recursos genéticos pelos agricultores
apresenta a agravante de perda de material por meio de alterações ambientais
drásticas ou substituição por cultivares modernos, a conservação ex situ é onerosa e
impede a continuação do processo evolutivo (Silva et al., 2002).
2.6.4 Etapas para construção de um projeto de conservação de variedades
locais
A conservação das variedades locais por longos períodos vem se mantendo
graças ao fomento das organizações sociais e aos agricultores que utilizam e
conservam estes recursos (Gabriel et al., 1999), mesmo de maneira parcial e
informal. A sociedade civil organizada vem promovendo o uso sustentável e,
principalmente a troca e intercambio dos recursos genéticos entre agricultores,
dentro e entre comunidades, sendo os principais responsáveis pela organização,
articulação política e social das comunidades (Ministério do Meio Ambiente, 2004).
O ponto de partida para a conservação das variedades locais deve ser das
próprias atividades dos agricultores. As fases deste sistema dinâmico incluem o
acesso à diversidade, experimentação dos agricultores na escolha das variedades
apropriadas ao seu cultivo, a conservação e uso das variedades. Em cada fase há
um papel complementar importante para o sistema de pesquisa agrícola formal
(Tabela 1). Os pesquisadores devem auxiliar e facilitar no acesso a diversidade, no
entendimento e auxílio na experimentação e na conservação das variedades, além
34
de promover a conservação ex situ das variedades abandonadas e ou raras (Wood
& Lenné, 1997).
A manutenção das variedades locais está fortemente ligada às práticas de
manejo e conhecimento local. O conhecimento local pode ter importantes
implicações para a conservação e o manejo da agrobiodiversidade, podendo
acarretar em mudanças importantes nas estratégias, principalmente no foco das
intervenções (Hanazaki, 2003). Para elaboração de estratégias de conservação, o
conhecimento tradicional deve ser utilizado como forma complementar ao científico,
fornecendo experiências práticas através da vivência nos ecossistemas e
respondendo adaptativamente as mudanças nos agroecossistemas.
Tabela 1 Potencial do sistema formal (pesquisa formal) para apoiar e
complementar os processos dinâmicos de conservação da
agrobiodiversidade (Wood & Lenné, 1997).
Atividades dos agricultores Tópicos do sistema formal
Acesso Experimentação Manejo
Aquisição de variedades +
Caracterização de variedades +
Avaliação da base genética + +
Avaliação e seleção de variedades +
Avaliação de adaptações locais +
Sistema de melhoramento dos cultivos +
Introgressão de cultivos selvagens + + +
Demografia de variedades + + +
Produção e estocagem das sementes +
Transferência de tecnologia +
Para construção de um projeto integrado e participativo de conservação,
várias ações práticas têm se demonstradas eficientes na conservação da
agrobiodiversidade on farm, sendo estas reconhecidas como boas práticas para a
conservação comunitária. As boas práticas baseiam-se na elaboração de um
diagnóstico rápido, a construção ou identificação das redes sociais de sementes, a
sensibilização participativa da comunidade, as feiras de diversidade, a instalação de
unidades de observação e experimentos de avaliação, o registro da biodiversidade
pela comunidade e o melhoramento participativo (Sthapit et al., 2004 a).
O diagnóstico rápido é realizado através da utilização de ferramentas
participativas que são utilizadas com a finalidade de conhecer a diversidade local
cultivada, o conhecimento local associado, os costumes, a cultura alimentar, os
sistemas de manejo, as instituições locais e o nível organizacional da comunidade,
35
sendo uma ferramenta importante para reforçar a capacidade de planejamento de
estratégias de conservação on farm (Sthapit et al., 2004 a). Pois, conhecer os
fatores que contribuem para elevar o valor privado das variedades locais pode
auxiliar o desenho de estratégias que assegurem a conservação dos recursos
genéticos cultivados (Brush & Meng, 1998).
Uma pesquisa realizada na Turquia analisou o valor privado das variedades
locais de trigo em relação às variedades modernas através do uso de ferramentas
participativas, avaliando dados etnobotânicos e econômicos. Muitos agricultores
consideraram como valores das variedades características relacionadas ao
rendimento, risco, qualidade, heterogeneidade ambiental, e questões
mercadológicas, além de características familiares que também afetam no valor
privado dos cultivos (Brush & Meng, 1998).
Para efetivar e desenhar a estratégia de conservação corretamente é
apropriado documentar a forma como as variedades são conservadas, identificando
os motivos que levam esses agricultores usar e manter essas variedades locais
(Jarvis et al., 2000), para isso faz-se necessário um diagnóstico preliminar.
Durante o diagnóstico é importante identificar as redes sociais, ou redes
informais de sementes. Elas constituem um elemento chave na conservação da
diversidade dos cultivos locais. Essas redes estão integradas a identificação da rede
de comunicação rural e a identificação dos agricultores que usam e cultivam as
variedades locais (Sthapit et al., 2004 a). A conservação da agrobiodiversidade
requer que se reconheçam os agricultores que controlam o processo de tomada de
decisão (Sthapit et al., 2004 a). Esses agricultores têm papel importante no fluxo de
materiais genéticos e informação, sendo denominados “agricultores nodais
6
”,
ocupando uma posição mais notória na rede informal de manejo da
agrobiodiversidade (Subedi et al., 2004 a).
Compreendidos os motivos que os agricultores tem para continuar cultivando
essas variedades, a diversidade de variedades locais e as redes sociais de fluxo de
6
Os agricultores nodais geralmente são aqueles que cultivam um maior número de variedades,
incluindo variedades raras e/ou importantes, sendo reconhecidos pela comunidade como agricultores
motivados. São agricultores que buscam constantemente novas variedades, seja dentro ou fora do
município, selecionando-os e testando-os nos diferentes sistemas agrícolas (Subedi et al., 2004)
Esses agricultores se dedicam a buscar nova diversidade, selecioná-la, mantê-la e distribuir aos
demais agricultores além de terem conhecimentos amplos sobre o manejo de sementes e outros
assuntos relacionados ao sistema produtivo do cultivo (Sthapit et al., 2004 b).
36
sementes, então podem ocorrer intervenções que irão apoiar as estratégias e ações
de conservação (Jarvis et al., 2000).
A sensibilização e a mobilização comunitária visa à participação ativa e
efetiva dos agricultores em todas as etapas de planejamento. Podem ser compostas
de reuniões com lideranças, reuniões com a comunidade, jornadas culturais,
competições e gincanas populares, e feiras de alimentos tradicionais (Sthapit et al.,
2004 a).
As feiras de diversidade são métodos participativos e populares que servem
para estabelecer contato entre todos os níveis sociais, sensibilizando os agricultores,
a comunidade, os pesquisadores e as autoridades locais. Elas auxiliam na
identificação dos cultivos locais, principalmente das variedades cultivadas por
poucos agricultores e em pequenas áreas, como também auxilia no intercâmbio de
sementes e conhecimentos locais (Sthapit et al., 2004 a; Sthapit et al., 2004 b).
Após a identificação da diversidade de variedades locais e a sensibilização
inicial podem ser implantadas algumas unidades de observação e avaliação
participativa. Nessas unidades são obtidas informações sobre sistemas de manejo e
identificação de características agro-morfológicas das variedades cultivadas pelos
agricultores. Os agricultores juntamente com os técnicos e pesquisadores observam
e anotam as principais características de cada variedade, divulgando e validando as
descrições dadas pelos agricultores (Sthapit et al., 2004 a). Juntamente a essa
prática podem ser realizadas avaliações em campos experimentais, sob condições
ambientais controladas, com finalidade de comparação (Jarvis et al., 2000).
Os agricultores têm uma capacidade de experimentação. A maioria dos
agricultores testa novas variedades, avaliando as características agronômicas e
culinárias de diversas variedades em pequenos canteiros. Este processo de
experimentação determina se uma variedade nova será mantida em seu sistema ou
então será descartada. O resultado da experimentação é a criação de um sistema de
conservação on farm de variedades dinâmico e aberto, no qual há constante
incorporação de novas variedades e mudanças e trocas freqüentes, de acordo com
as necessidades sócio-econômicas e culturas das famílias (Wood & Lenné, 1997).
A sensibilização é necessária para que haja a distribuição e o intercâmbio de
germoplasma entre as famílias, a fim de garantir sua conservação e distribuição. A
essa distribuição chamamos de dinâmica em mosaico, que é praticada pelos
agricultores e se refere à estratégia de disseminação do germoplasma entre as
37
famílias. As famílias regeneram as variedades e as cultivam em sistemas
tradicionais, estando distribuídas em diferentes condições micro-climáticas, a fim de
reduzir o risco de perder os cultivos em conseqüência da ocorrência de geadas,
granizo, seca ou outras adversidades climáticas ou bióticas (Gabriel et al.,1999).
Um problema fundamental enfrentado por qualquer projeto de conservação on
farm é a identificação e priorização de populações de plantas cultivadas a serem
conservadas. Elas devem representar a máxima diversidade e devem satisfazer os
interesses dos agricultores na região. Para identificação é coerente utilizar-se de
métodos participativos que incorporem as perspectivas dos homens e mulheres
agricultoras e dos pesquisadores (Bellon et al., 2003).
A priorização e definição das variedades que serão conservadas devem ser
realizadas várias reuniões comunitárias, a fim de definir o valor público e privado das
variedades locais (Jarvis et al., 2000). Outra forma de definição pode ser realizada
utilizando-se da metodologia das 4 células (four cells) (Rana et al., no prelo), a qual
avalia comparativamente a diversidade de variedades locais entre os agricultores
comparativamente ao tamanho da área cultivada com cada variedade.
Para plantas cultivadas, a conservação será insustentável ou dificultada caso
o valor privado das variedades locais seja baixo. O valor privado é baixo quando as
variedades modernas tornam-se disponíveis e substiturem adequadamente o papel
que as variedades locais estavam executando (Brush, 1998).
Os agricultores tomam decisões no processo de plantar, de manejar, de
colher, de processar e de armazenar suas colheitas. Estas decisões podem afetar a
diversidade genética das populações de plantas cultivadas. Um agricultor pode
modificar a estrutura genética de uma população através da seleção de plantas com
características agromorfológicas preferidas. Também podem influenciar a
sobrevivência de determinados genótipos, escolhendo a prática de manejo particular
em sua propriedade, e cultivando, por exemplo, uma população em um local com um
microclima específico (solos ácidos, úmidos, distróficos).
Os agricultores tomam decisões quanto ao tamanho da população, a
porcentagem de semente ou germoplasma que vai conservar em seu próprio
estoque, e a porcentagem que vai comprar ou trocar com outras fontes. Cada uma
dessas decisões pode afetar a diversidade genética das variedades, estando ligada
a um complexo jogo de influências ambientais e sócio-econômicas (Jarvis et al.,
1998; Sthapit et al., 2004 b).
38
Os recursos genéticos das culturas são passados de geração a geração
estando sujeitos às diferentes pressões naturais, sociais, econômicas e culturas. Os
fatores ambientais, biológicos e sócio-econômicos influenciam na decisão de um
agricultor na escolha ou na manutenção de alguma variedade local (Jarvis et al.,
1998).
Por isso, o registro da agrobiodiversidade e o monitoramento são de suma
importância para conhecer os riscos associados a conservação das variedades
locais. O registro comunitário é realizado na forma de livro ou por meios eletrônicos,
sendo sistematizados pelos membros da comunidade ou instituições locais. Através
do livro registro podem ser controlados e supervisionados a diversidade local dos
cultivos, podendo ao longo do tempo tornar-se instrumento de planejamento e
sensibilização da comunidade (Sthapit et al., 2004 a).
Para que os recursos genéticos possam ser conservados pelos agricultores,
eles devem ser competitivos em relação às outras opções e contribuir para a
melhoria da renda (Jarvis et al., 1998). Isto pode ocorrer quando o material genético
é melhorado, ou então quando surge uma demanda para o material ou produto
derivado, agregando algum valor através de venda diferenciada. A primeira opção
seria a de realizar melhoramento genético participativo para características como
resistência a doenças, rendimento produtivo, e outras características. Para a
segunda alternativa inclui propiciar valor agregado aos produtos alternativos,
orgânicos, artesanais e ou com selo de procedência (Jarvis et al., 2000).
Quando já se tem identificado e definido as espécies e variedades a serem
conservadas é apropriado agregar valor a essas populações, ou seja, aumentar os
benefícios recebidos pelos agricultores em cultivar e manter essas variedades locais
(Jarvis et al., 2000).
O melhoramento participativo é o processo que permite os agricultores
entender a diversidade local dos cultivos, identificar os potenciais e problemas das
variedades locais e buscar a melhoria dos caracteres preferidos através de seleção
e melhoramento genético (Sthapit et al., 2004 a). É um componente do manejo da
diversidade genética das plantas que, por sua vez, consiste no resgate, avaliação,
caracterização, seleção e conservação das variedades locais (Machado & Machado,
2003; Machado et al., 2002).
O melhoramento e o manejo desempenham importante papel em
comunidades de agricultores familiares onde são comuns os problemas relacionados
39
à baixa fertilidade dos solos e freqüência de estresses nutricionais e hídricos, tendo
forte impacto no desenvolvimento comunitário (Machado & Machado, 2003;
Machado et al., 2002).
Portanto, o reconhecimento da capacidade dos agricultores em selecionar o
que melhor se adapta ao seu ambiente e de melhorar a capacidade de adaptação
dos cultivos locais constituem o alicerce do melhoramento participativo dos cultivos
(Machado & Machado, 2003).
Além disso, é uma estratégia que fortalece os processos de conservação on
farm, incrementando a competição das variedades locais, fortalecendo o sistema
local de sementes, ampliando a diversidade dos cultivos locais e reforçando a
agrobiodiversidade (Sthapit et al., 2004 b).
Os meios comuns de aumentar os benefícios são a partir do melhoramento
genético e através do aumento da demanda dos consumidores por produtos (Jarvis
et al., 2000).
Uma opção ainda muito polêmica de agregar valor e fortalecer a estratégia de
conservação de variedades locais é a conexão dos agricultores com empresas ou
países para que usem as variedades locais (Biocooperação), utilizando métodos
contratuais e de propriedades intelectuais (Brush, 1998)
Outra forma de agregar valor é através da realização de estudos
mercadológicos e identificação de nichos de mercado. Recentes regulamentos da
Comunidade Européia introduziram a possibilidade da atribuição de marcas de
origem e qualidade a produtos típicos locais. Estas marcas podem possibilitar um
apoio importante para a conservação on farm de variedades locais (Piergiovanni &
Laghetti, 1999).
Outro exemplo que pode ser facilmente empregado são projetos contínuos
para analise de mercados para landraces (Gauchan et al., 2005) No Nepal, foi
desenhado um projeto com objetivo de incentivar os agricultores a conservar as
variedades locais, pois, com a exceção de arroz de Basmati tradicional (que é de
qualidade aromática alta), a maioria das variedades locais são comercializadas por
canais informais e em pequena escala. O estudo de mercado possibilitaria a
aproximação dos mercados e poderia melhorar a renda dos agricultores que
cultivam variedades locais de arroz. Basta para isso, avaliar as variedades que tem
potencial para comercialização e consumo (Gauchan et al., 2005).
40
Além de todas estas estratégias e ações, a capacitação constante em
tratamento de limpeza, produção e armazenamento de sementes podem favorecer a
conservação das variedades locais (Jarvis et al., 2000).
Entretanto para assegurar que essas práticas sejam efetivamente úteis para
superar os problemas ambientais, sociais e econômicos dos agricultores familiares,
é crucial a necessidade por sinergia entre os agricultores e a pesquisa agrícola
formal (Wood & Lenné, 1997). Essa etapa é talvez a mais importante para a
sustentabilidade dos projetos de conservação on farm, pois o binômio
conservação/utilização se constitui quase que um corpo medular do trabalho em
recursos genéticos de plantas cultivadas (Berretta, 2001).
41
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Metodologia dos levantamentos
No período de agosto a novembro de 2003 foram caracterizados, através da
aplicação de questionários semi-estruturados (Anexo 1), 223 estabelecimentos
agrícolas em Anchieta, distribuídos em 28 comunidades de todo o município (Figura
4). Esse questionário foi aplicado durante visitas aos agricultores, e era constituído
de questões contendo a identificação e localização da unidade de produção agrícola,
indicadores sócio-culturais, e indicadores técnico-agronômicos.
Figura 4 Comunidades e número de estabelecimentos amostrados por
comunidade no município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005.
Os questionários continham três grupos de questões afins. No primeiro foram
obtidas informações para a caracterização do agricultor e da propriedade agrícola.
As demais informações desse grupo de questões referenciavam-se a caracterização
do estabelecimento, estrutura fundiária, distribuição do uso das terras, atividades
agrícolas e outras informações gerais dos estabelecimentos agrícolas, tanto aqueles
que cultivavam como não cultivavam variedades locais de milho.
O segundo grupo de questões foi inerente à tendência do cultivo de variedades
locais de milho em safras passadas, futuras e/ou presentes, identificando as
42
variedades locais cultivadas e suas principais características. Apenas as questões
referentes à tendência de cultivo de variedade locais foram respondidas por todos os
agricultores amostrados. As questões referentes ao manejo, uso e manutenção de
germoplasma local foram respondidas apenas pelos agricultores que cultivavam
variedades locais de milho. Para fins de identificação dos agricultores que cultivavam
variedades locais de milho, foram consideradas variedades locais as populações
cultivadas, denominadas, selecionadas e mantidas pelos agricultores familiares. O
termo variedades locais foi utilizado indistintamente em todo o corpo do texto e no
título, referenciando-se as variedades manejadas e reproduzidas tradicionalmente
pelos agricultores, podendo ser tradicionais, locais, crioulas ou exóticas.
O manejo das variedades locais de milho foi avaliado quanto à diversidade
fenotípica, a fonte de coleta das sementes, intercâmbio e troca de sementes, área
de cultivo, manejo do solo, semeadura, adubação, controle fitossanitário, produção
de sementes, armazenagem, uso e comercialização da produção e caracterização
das variedades locais sob a percepção dos agricultores.
As informações deste grupo de questões revelaram a fonte de coleta das
sementes, o tempo de cultivo das variedades cultivadas, o ciclo, a altura média das
plantas, a estimativa de produtividade, a coloração dos grãos, a aptidão de uso e a
preferência pelo cultivo de variedades locais de milho.
O último grupo de questões, respondido apenas pelos agricultores que
cultivavam variedades locais de milho, identificou de forma generalizada seu uso e
manejo. Os agricultores foram questionados quanto à finalidade do cultivo das
variedades locais, a utilização na propriedade, a época de plantio, o tipo de preparo
do solo, o uso de máquinas e equipamentos para preparo do solo e semeadura, a
densidade de semeadura, a utilização de adubos e agrotóxicos, os trabalhos de
seleção de melhoramento, a realização de práticas de isolamento e as técnicas
adotadas para armazenamento das sementes.
A escolha dos estabelecimentos foi ao acaso, tendo como estratégia a
distribuição de entrevistadores nas diferentes comunidades, buscando uma amostra
representativa de todos os estabelecimentos do município. Foram entrevistados os
agricultores que estavam no estabelecimento no momento da trajetória do
entrevistador. O corpo técnico de entrevistadores foi composto por Adriano Canci,
Ivan Canci, Vandelino Mior, Paulo Chenet e Leonel Lanzini. Antes do início de cada
entrevista, foram apresentados aos entrevistados os objetivos do trabalho. O guia de
43
entrevista (Anexo 2) foi adaptado e melhorado do trabalho de Alves et al. (2004 a),
tendo em vista que estava devidamente avaliado e validado em entrevistas
preliminares no Oeste Catarinense.
A amostra foi calculada através da fórmula de amostragem aleatória simples
proposta por Barbetta (2001). O tamanho da amostra foi dimensionado de acordo
com as seguintes equações:
2
0
0
1
E
n =
0
0
nN
nN
n
+
=
Onde:
N = tamanho da população.
n = tamanho da amostra.
n
ο
= aproximação para o tamanho da
amostra.
E
ο
² = erro amostral
O erro amostral máximo geral foi de 6%, tendo como tamanho da população
(N), um total de 976 estabelecimentos agropecuários. Estes são dados preliminares
do Levantamento Agropecuário Catarinense e do Escritório Municipal da Epagri de
Anchieta (2005), utilizando como base os dados mais atualizados e realizando-se
223 entrevistas semi-estruturadas.
O erro amostral máximo entre os estabelecimentos que cultivavam variedades
locais de milho foi de 9%, adotando como tamanho da população 539
estabelecimentos (Canci, 2002), também utilizando como base os dados mais
atualizados e realizando-se 96 entrevistas.
3.2 Sistematização das informações
A sistematização e exploração dos dados foram processadas em planilhas
eletrônicas, realizando-se análise exploratória de dados através de estatísticas
descritivas, apresentando os dados em tabelas, histogramas e outros módulos
gráficos.
Foram realizados testes estatísticos não paramétricos de qui-quadrado para
alguns grupos de resultados, a fim de testar hipóteses para identificação de
diferenças estatísticas ao nível de 5% de significância entre os estabelecimentos que
cultivavam variedades locais de milho e os estabelecimentos que não as cultivavam.
As questões abertas estão expressas na forma original de relato dos
agricultores. Em algumas análises o número apresentado na somatória total de
agricultores supera o valor da amostra, tendo em vista que alguns agricultores
44
responderam mais de uma das alternativas, sendo contabilizadas as duas ou mais
respostas no momento da análise.
Para a análise das informações referentes ao uso e manejo das variedades
locais de milho, a amostra foi de apenas 96 agricultores, descartando-se os
estabelecimentos que não cultivavam variedades locais.
A tipologia adotada como “não informantes” ou que “não responderam
correspondem àqueles agricultores que não responderam ou não sabiam responder
as questões, sendo deixadas em branco nos guias de entrevistas.
3.3 Análise e interpretação dos dados
A análise exploratória foi realizada para definir o perfil do agricultor e de sua
propriedade e responder questões fundamentais para a elaboração de políticas de
conservação das variedades locais de milho.
Para melhor discutir os dados e informações coletadas foram utilizadas
metodologias qualitativas complementares como observação direta e entrevistas
abertas com informantes chaves, lideranças e agricultores, a fim de conhecer as
diferentes opiniões e fatos entre os diferentes grupos e auxiliar na leitura e
interpretação das informações quantitativas coletadas nos questionários.
Vale ressaltar que o autor/pesquisador está inserido na região de estudo,
tendo uma relação mais estreita com diferentes atores sociais e informantes chaves,
o que também lhe permitiu fazer algumas considerações e tecer alguns comentários.
Portanto, a análise consistiu em um misto de pesquisa qualitativa e
quantitativa, utilizando-se de metodologias diagnósticas complementares, sendo
muitas vezes o pesquisador o principal responsável pela análise. Em muitos casos,
os relatos são evidências observadas, anotadas e interpretadas pelo próprio
pesquisador.
45
4 RESULTADOS
4.1 A produção de milho com variedades locais nos estabelecimentos agrícolas
do município de Anchieta
No município de Anchieta foram amostrados 223 estabelecimentos agrícolas
distribuídos em 28 comunidades (Figura 5). Destes, em 96 estabelecimentos
agrícolas eram cultivadas e em 127 não eram cultivadas variedades locais de milho,
ou seja, em aproximadamente 43% dos estabelecimentos do município de Anchieta
eram cultivadas uma ou mais variedades locais de milho (Tabela 2).
Figura 5 Mapa do município de Anchieta com a localização das comunidades,
número de estabelecimentos amostrados por comunidade e número de
estabelecimentos que cultivam variedades locais de milho. Florianópolis,
UFSC, 2005.
Na maioria das comunidades, ou seja, em 21 comunidades do município de
Anchieta eram cultivadas variedades locais de milho. As comunidades de São
Domingos, São Roque e Prateleira foram as que apresentam maior número de
estabelecimentos em que eram cultivadas variedades locais de milho, sendo
Santo
Inácio
(9/6)
Nova Seara
(8/3)
São Judas
(7/1)
25 de Maio
(8/4)
União da
Vitória
(4/4)
Aparecida
(4/0)
Prateleira
(23/10)
São Domingos
(16/12)
São Roque
(21/10)
Salete (11/1)
São Pedro
(2/0)
São José
(6/2)
São Geraldo
(5/3)
São Paulo
(12/6)
Saúde (1/1)
Cordilheira
(3/0)
Unida
(6/0)
Vargem
Bonita
(6/4)
7 de Setembro
(8/3)
Primavera
(2/0)
Gaiola
(5/2)
São Dimas (1/0)
Medianeira (14/7)
Taquaruçú
(12/2)
São Luiz
(9/3)
Café Filho
(5/4)
Gaúcha/Xavantes
(7/4)
ANCHIETA
N
São Marcos
(8/4)
46
cultivados em 12, 10 e 10 estabelecimentos respectivamente (Figura 5 e Tabela 2).
No entanto, as comunidades que apresentaram os maiores valores percentuais de
estabelecimentos em que eram cultivadas variedades locais de milho foram União
da Vitória (100%), Nossa Senhora da Saúde (100%), Café Filho (80%) e São
Domingos (75%). Nos estabelecimentos das comunidades Aparecida, Cordilheira,
Primavera, São Pedro, São Dimas e Linha Unida, não eram cultivadas variedades
locais de milho.
Tabela 2. Comunidades, número total de estabelecimentos por comunidade,
número e percentual de estabelecimentos amostrados, e número e
percentual de estabelecimentos em que eram cultivadas variedades
locais de milho no município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005.
Comunidades
amostradas
Total de
estabelecimentos
por comunidade***
Estabelecimentos
amostrados
Estabelecimentos em
que eram cultivadas
variedades locais de
milho
(nº) (nº) (%) (nº) (%)
São Domingos* 19 16 84,2 12 75,0
Prateleira* 80 23 28,8 10 43,5
São Roque 60 21 35,0 10 47,6
Medianeira* 31 14 45,2 7 50,0
São Paulo 61 12 19,7 6 50,0
Santo Inácio* 10 9 90,0 6 66,7
São Marcos 23 8 34,8 4 50,0
25 de maio 28 8 28,6 4 50,0
Gaúcha/ Xavantes** 40 7 18,0 4 57,0
Vargem Bonita 26 6 23,1 4 66,7
Café Filho* 86 5 5,8 4 80,0
União da Vitória** 13 4 30,8 4 100,0
São Luiz 25 9 36,0 3 33,3
7 de setembro* 14 8 57,1 3 37,5
Nova Seara** 21 8 38,1 3 37,5
São Geraldo 14 5 35,7 3 60,0
Taquaruçu* 25 12 48,0 2 16,7
São José 27 6 22,2 2 33,3
Gaiola 22 5 22,7 2 40,0
Salete 80 11 13,8 1 9,1
São Judas** 9 7 77,8 1 14,3
Nª Sra. da Saúde* 34 1 3,0 1 100,0
Unida* 13 6 46,2 0 0,0
Aparecida** 63 4 6,3 0 0,0
Cordilheira 25 3 12,0 0 0,0
Primavera* 22 2 9,1 0 0,0
São Pedro** 22 2 9,1 0 0,0
São Dimas* 26 1 3,8 0 0,0
Total 223 22,8 96 43,0
*Comunidades pioneiras no programa de produção própria de sementes do Sintraf/Anchieta em 1997.
**Comunidades que aderiram ao programa do Sintraf/Anchieta em 1998.
***Dados obtidos junto ao Escritório Municipal da Epagri em Anchieta, 2005.
47
Há alguma evidência de correlação positiva entre agricultores que participaram
no programa de produção própria de sementes de milho do Sintraf/Anchieta e a
porcentagem de estabelecimentos em que eram cultivadas variedades locais de
milho (Tabela 2). Entretanto, há algumas comunidades que foram pioneiras e não
apresentaram agricultores que cultivavam variedades locais de milho, como nas
comunidades Unida, Aparecida, Primavera e São Pedro.
4.2 Estrutura fundiária dos estabelecimentos agrícolas
A estrutura fundiária dos estabelecimentos agrícolas de Anchieta, é
caracterizada pelo predomínio de pequenas propriedades, pois mais que 65% das
propriedades possuem áreas inferiores a 20 hectares, ocupando aproximadamente
45% da área total (Tabela 3). Apenas 5% dos estabelecimentos possuem áreas
superiores a 40 hectares, ocupando uma área de aproximadamente 16% em relação
ao total de estabelecimentos.
Tabela 3. Estrutura fundiária dos estabelecimentos do município de Anchieta por
classes de área, número de estabelecimentos, percentagem de
estabelecimentos, percentual acumulado, área total e percentual da área
total por classe. Florianópolis, UFSC, 2005.
Classes de
área
(ha)
Número de
estabelecimentos
Percentagem de
estabelecimentos
(%)
Percentual
acumulado
(%)
Área
total
ocupada
(ha)
Percentual
da área
total
(%)
Até 5 8 3,6 3,6 24,0 0,6
5 – 10 34 15,3 18,9 240,3 6,3
11 – 15 62 27,8 46,7 754,6 19,8
16 – 20 43 19,3 66,0 691,9 18,2
21 – 30 40 17,9 83,9 977,5 25,6
31 – 40 16 7,2 91,1 526,3 13,8
> 40 11 4,9 96,0 599,2 15,7
Não
responderam
9 4,0 100,0 -- --
Total 223 100,0 -- 3813,8 100,0
A estrutura fundiária dos estabelecimentos em que eram cultivadas
variedades locais de milho (Tabela 4) é constituída por cerca de 73% dos
estabelecimentos agrícolas com áreas inferiores a 20 ha. Entre os estabelecimentos
em que não eram cultivadas variedades locais de milho, cerca de 60% possuem
áreas inferiores a 20 ha. Entretanto, não houve diferenças significativas (χ
2
calculado
48
< χ
2
tabelado) entre a distribuição da estrutura fundiária nos estabelecimentos em
que eram cultivadas e não eram cultivadas variedades locais de milho.
Tabela 4. Estrutura fundiária dos estabelecimentos em que eram cultivadas e não
eram cultivadas variedades locais de milho por classes de área, número
de estabelecimentos observado e esperado calculado por classe,
percentagem de estabelecimentos por classe, área total por classe e
percentual da área total por classe. Florianópolis, UFSC, 2005.
Classes de área Número de
estabelecimentos
Percentagem de
estabelecimentos
Área total
ocupada
Percentual
da área total
(ha) Observado Esperado (%) (ha) (%)
Agricultores que cultivam variedades locais de milho
Até 5 5 3,4 5,2 14,0 0,9
5 – 10 18 14,6 18,8 132,4 8,9
10 – 15 23 26,7 24,0 282,3 19,1
15 – 20 24 18,5 25,0 375,4 25,3
20- 30 14 17,2 14,6 354,7 24,0
30 – 40 6 6,9 6,2 195,3 13,2
Mais que 40 3 4,7 3,1 126,8 8,6
Não informaram 3 3,9 3,1 -- --
Sub Total 96 96 100,00 1480,9 100,00
Agricultores que não cultivam variedades locais de milho
Até 5 3 4,6 2,36 10,0 0,4
5 – 10 16 19,4 12,60 107,9 4,6
10 – 15 39 35,3 30,71 472,3 20,2
15 – 20 19 24,5 14,96 316,5 13,6
20- 30 26 22,8 20,47 622,8 26,7
30 – 40 10 9,1 7,87 331,0 14,2
Mais que 40 8 6,3 6,30 472,4 20,3
Não informaram 6 5,1 4,72 -- --
Sub Total 127 127 100,00 2332,9 100,00
Total 226 226 100,00 3813,8 100,00
χ
2
calculado = 9,07
χ
2
tabelado = 14,07 a 5% de significância
4.3 Distribuição do uso das terras e atividades agrícolas desenvolvidas nos
estabelecimentos
A diversidade de atividades agrícolas e as diferentes combinações dessas
dentro de um estabelecimento agrícola são responsáveis pela manutenção e pela
sobrevivência dos agricultores familiares em suas pequenas propriedades ao longo
dos anos.
A área média das propriedades agrícolas de Anchieta é de aproximadamente
18 ha (Tabela 5). As duas principais atividades, lavoura e pastagens, ocupam uma
área de aproximadamente 13 ha. As lavouras ocupam uma área de cerca de 7 ha e
49
as pastagens 6 ha. Essa distribuição também reflete nos maiores percentuais com
utilização da área com lavouras e pastagens, 38% e 34% respectivamente.
A área média dos estabelecimentos em que eram cultivadas variedades locais
de milho (16 ha) foi um pouco inferior comparando-se com a área média dos
estabelecimentos em que não eram cultivadas variedades locais de milho (19 ha).
A distribuição do uso das terras dos estabelecimentos em que eram
cultivadas variedades locais de milho, apresenta os maiores percentuais com
utilização da área com lavouras e pastagens, ocupando uma área de
aproximadamente 6 ha e 5 ha, respectivamente (Tabela 5). Ocupam 70% da área
média total, ou seja, cerca de 11 ha.
Os estabelecimentos em que não eram cultivadas variedades locais de milho,
apresentam também os maiores percentuais com utilização da área com lavouras
(38%) e pastagens (36%) (Tabela 5). Do total da área média de 19 ha, são
ocupados cerca de 7 ha com lavouras e 7 ha com pastagens. Entretanto, não há
diferenças significativas (χ
2
calculado < χ
2
tabelado) entre a distribuição do uso da
terra entre os estabelecimentos em que eram cultivadas e que não eram cultivadas
variedades locais de milho.
Tabela 5. Distribuição do uso das terras, área média ocupada e percentagem da
área total ocupada pelos estabelecimentos do município de Anchieta-SC
em que eram cultivadas e que não eram cultivadas variedades locais de
milho. Florianópolis, UFSC, 2005.
Distribuição do Uso das
Terras
Estabelecimentos
agrícolas em que
eram cultivadas
variedades locais de
milho
(96)
Estabelecimentos
agrícolas em que
não eram
cultivadas
variedades locais
de milho
(127)
Total de
estabelecimentos
(223)
Área
(ha)
Área total
(%)
Área
(ha)
Área
total (%)
Área
(ha)
Área total
(%)
Lavouras 6,1 38,4 7,3 37,8 6,8 38,2
Reflorestamento 1,0 6,3 0,9 4,7 0,9 5,0
Frutíferas 0,6 3,8 0,5 2,6 0,6 3,4
Pastagens 5,0 31,4 7,0 36,3 6,1 34,3
Matas nativas 2,0 12,6 1,8 9,3 1,9 10,7
Instalações e outros usos 1,2 7,5 1,8 9,3 1,5 8,4
Área média
15,9 100,00 19,3 100,00 17,8 100,00
χ
2
calculado = 1,51
χ
2
tabelado = 11,07 a 5% de significância
50
A distribuição das atividades agrícolas principais desenvolvidas nos
estabelecimentos de Anchieta, ou seja, aquelas atividades fontes principais da renda
agrícola, caracteriza-se por apresentar a produção de grãos, especialmente o milho,
e a bovinocultura como principais fontes de renda agrícola do município (Tabela 6).
A produção de milho apresenta-se como atividade principal de renda em 43% dos
estabelecimentos, enquanto que a bovinocultura de leite vem em segundo lugar com
38% dos estabelecimentos. As atividades agrícolas fumicultura e suinocultura estão
presentes em 28% e 3% dos estabelecimentos, respectivamente.
Alguns estabelecimentos têm outras atividades como fontes principais de
renda (5%), como horticultura, fruticultura, bovinocultura de corte, cana de açúcar e
produção de feijão.
A distribuição das atividades agrícolas principais nos estabelecimentos em
que eram cultivadas variedades locais de milho mostra que a produção de grãos e a
bovinocultura de leite também são as atividades principais nesses estabelecimentos
(Tabela 6). A produção de milho, a bovinocultura de leite, a fumicultura, e a
suinocultura estão presentes em 48%, 37%, 25% e 1% dos estabelecimentos,
respectivamente.
Tabela 6. Atividades agrícolas principais desenvolvidas nos estabelecimentos
agrícolas em que eram cultivadas e que não eram cultivadas variedades
locais de milho no município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005.
Atividades agrícolas
principais
Estabelecimentos
em que eram
cultivadas
variedades locais
de milho
(96)
Estabelecimentos
em que não eram
cultivadas
variedades locais
de milho
(127)
Total de
estabelecimentos
(223)
Número (%) Número (%) Número (%)
Milho 46 47,9 50 39,4 96 43,0
Bovinocultura de leite 35 36,5 49 38,6 84 37,7
Fumicultura 24 25,0 38 29,9 62 27,8
Suinocultura 1 1,0 5 3,9 6 2,7
Outras Atividades: 11 11,5 3 2,4 14 6,3
Frutas 4 4,2 0 0,0 4 1,8
Hortaliças 3 3,1 0 0,0 3 1,3
Feijão 2 2,1 1 0,8 3 1,3
Bovinocultura de corte 1 1,0 2 1,6 3 1,3
Cana de açúcar 1 1,0 0 0,0 1 0,4
Não responderam 6 6,3 6 4,7 12 5,4
Total 123 -- 151 -- 274 --
Atividades/Estabelecimento
1,3 -- 1,2 -- 1,2 --
χ
2
calculado = 10,14
χ
2
tabelado = 11,07 a 5% de significância
51
Nas propriedades agrícolas em que não eram cultivadas variedades locais de
milho, as atividades agrícolas principais são igualmente distribuídas entre a
produção de milho (39%) e a bovinocultura de leite (39%) (Tabela 6). As demais
atividades, como a fumicultura e a suinocultura estão presentes como atividade
agrícola principal em 30% e 4%, respectivamente.
O número médio de atividades agrícolas presentes como atividade principal
de renda em cada estabelecimento é de apenas uma (Tabela 6).
Nos estabelecimentos em que eram cultivadas variedades locais as outras
atividades, como fruticultura, horticultura, bovinocultura de corte, produção de cana
de açúcar e feijão, estão presentes em 11% dos estabelecimentos. Entre os
estabelecimentos em que não eram cultivadas variedades locais de milho, as outras
atividades estão presentes em apenas 2% dos estabelecimentos, e apenas com as
atividades bovinocultura de corte e produção de feijão. Mesmo assim, a distribuição
das atividades principais entre os estabelecimentos agrícolas em que eram
cultivadas variedades locais de milho e os que não eram cultivadas variedades
locais de milho é muito semelhante (χ
2
calculado < χ
2
tabelado) (Tabela 6).
A distribuição de todas as atividades agrícolas formadoras de renda agrícola
(principais e outras atividades) dos estabelecimentos do município de Anchieta
mostrou que a maioria dos estabelecimentos tem como atividade agrícola à
produção de milho, apresentando os maiores valores percentuais e estando
presente em 80% dos estabelecimentos (Tabela 7). A bovinocultura de leite está
presente em 57% e a fumicultura em 41% dos estabelecimentos.
O número médio de atividades agrícolas presentes em cada estabelecimento
é de aproximadamente duas (Tabela 7). Entre os estabelecimentos em que eram
cultivadas variedades locais de milho esse valor é um pouco superior (2,6
atividades) comparativamente aos em que não eram cultivadas variedades locais de
milho (2,2 atividades).
Nos estabelecimentos em que eram cultivadas variedades locais de milho, a
atividade agrícola mais praticada é a produção de milho, presente em 84% dos
estabelecimentos. A bovinocultura de leite está presente como atividade agrícola em
58%, a fumicultura em aproximadamente 37% dos estabelecimentos e a suinocultura
em apenas 1% dos estabelecimentos (Tabela 7). As outras atividades como
produção de feijão, fruticultura, bovinocultura de corte, horticultura, produção de
culturas de subsistência (mandioca e arroz) e outras fontes de renda não agrícolas
52
(aposentadoria e trabalho fora da propriedade) estão presentes em 38% dos
estabelecimentos.
Nos estabelecimentos em que não eram cultivadas variedades locais de
milho, as atividades agrícolas executadas também apresentam como principal
atividade à produção de milho, presente em 77% dos estabelecimentos, a
bovinocultura de leite em 56%, a fumicultura em aproximadamente 45%, e a
suinocultura em 7% (Tabela 7). As outras atividades (produção de feijão, fruticultura,
bovinocultura de corte, produção de soja, piscicultura e produção de erva-mate)
estão presentes em 17% dos estabelecimentos.
A distribuição das atividades agrícolas presentes nos estabelecimentos
agrícolas em que eram cultivadas variedades locais de milho e os que não eram
cultivadas variedades locais de milho é diferente (χ² calculado > χ² tabelado) no que
se refere as outras atividades, a fumicultura e a suinocultura (Tabela 7).
Tabela 7. Atividades agrícolas desenvolvidas nos estabelecimentos em que eram
cultivadas e que não eram cultivadas variedades locais de milho no
município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005.
Atividades agrícolas
principais e secundárias
Estabelecimentos em
que eram cultivadas
variedades locais de
milho
(96)
Estabelecimentos
em que não eram
cultivadas
variedades locais
de milho
(127)
Total de
estabelecimentos
(223)
Número (%) Número (%) Número (%)
Milho 81 84,4 98 77,2 179 80,3
Bovinocultura de leite 56 58,3 71 55,9 127 57,0
Fumicultura 35 36,5 57 44,9 92 41,3
Suinocultura 1 1,0 9 7,1 10 4,5
Outras Atividades: 36 37,5 21 16,5 57 25,6
Feijão 19 19,8 13 10,2 32 14,3
Frutas 4 4,2 2 1,6 6 2,7
Bovinocultura de corte 2 2,1 3 2,4 5 2,2
Hortaliças 3 3,1 0 0,0 3 1,3
Aposentadoria 3 3,1 0 0,0 3 1,3
Trabalho fora 1 1,0 0 0,0 1 0,4
Soja 0 0,0 1 0,8 1 0,4
Peixe 0 0,0 1 0,8 1 0,4
Mandioca 1 1,0 0 0,0 1 0,4
Erva Mate 0 0,0 1 0,8 1 0,4
Arroz 1 1,0 0 0,0 1 0,4
Não responderam 6 6,3 6 4,7 12 5,4
Total 249 -- 283
--
532 --
Atividades/Estabelecimento
2,6 -- 2,2
--
2,3 --
χ
2
calculado = 14,50
χ
2
tabelado = 11,07 a 5% de significância
53
4.4 Tendência do uso e cultivo das variedades locais pelos agricultores de
Anchieta
A tendência do uso de variedades locais de milho pelos agricultores, da
intenção de cultivo em safras futuras, bem como a eventualidade de cultivo em anos
anteriores e a rejeição e resistência ao uso dessas variedades são apresentados na
Figura 6. As justificativas dos agricultores a essas tendências estão apresentadas na
forma original de relato.
Em aproximadamente 57% dos estabelecimentos agrícolas não eram
cultivadas variedades locais de milho (Figura 6). Destes, 42% relataram que teriam
interesse em cultivar variedades locais em safras futuras, e cerca de 58% não
pretendiam fazer uso dessa tecnologia.
Não cultivavam
variedades
locais de
milho
(127)
57,0%
Cultivavam variedades
locais de milho
(96)
43,0%
Já cultivaram e teriam intenção
de cultivar novamente
(39)
30,7%
Nunca cultivaram e não teriam
intenção de cultivar
futuramente
(32)
25,2%
Já cultivaram e não teriam
intenção de cultivar novamente
(41)
32,3%
Nunca cultivaram mas teriam
intenção de cultivar
futuramente
(15)
11,8%
Figura 6 Distribuição e número de estabelecimentos em que eram cultivadas e
que não eram cultivadas variedades locais de milho e distribuição
secundária da tendência e interesse de cultivo em safras futuras e pela
ocasionalidade de realização de cultivo em safras anteriores no
município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005.
Na maioria dos estabelecimentos em que não eram cultivadas variedades
locais, já tinha sido cultivada alguma variedade local de milho em anos anteriores
(63%). Entretanto, em 37% nunca se cultivaram variedades locais de milho (Figura
6). Entre os agricultores que já tinham cultivado variedades locais de milho, 40%
tinham como atividade principal o leite, 34% a produção de milho e 23% o fumo.
Há interesse e resistência quanto à eventualidade e a tendência pelo cultivo
de variedades locais de milho entre os agricultores que não cultivavam variedades
locais de milho (Figura 6). Entre os 127 estabelecimentos em que não eram
cultivadas variedades locais, em aproximadamente 32% já tinham sido cultivadas
54
variedades locais em safras anteriores, entretanto, os agricultores relataram que não
teriam intenção de cultivá-las novamente; em 31% já tinham sido cultivadas e
relataram que tinham interesse em cultivar novamente; em 25% nunca tinham sido
cultivadas e não tinham interesse em cultivá-las futuramente; e em 12% nunca tinha
sido cultivada, entretanto, relataram que tinham interesse em cultivar variedades
locais em safras futuras.
Os agricultores que cultivavam variedades locais de milho, quando
questionados sobre o motivo que os levaram a cultivá-las, justificaram sua tendência
da seguinte maneira:
“Costume antigo”; “Economia”; “As sementes antigas não
necessitam adubos”; “Tenho menos despesas e sei que não
são transgênicas”; “Produz bem”; “Não dependo do mercado e
não corro risco de ficar sem semente”; “É mais saudável”;
“Sempre tivemos tradição”; “Não conseguimos encontrar
sementes boas no mercado”; “É mais barato e produz muito
bem”; “É mais natural”;“Faço porque gosto”; “Por gosto,
tradição”; “É muito caro a selecionada”; “Herança”; “Para
consumo”.
As justificativas dos agricultores que não cultivavam, nunca cultivaram e
relataram que não teriam intenção de cultivar variedades locais de milho em safras
futuras, foram as seguintes:
“Não compensa porque não produz”; “Alguns falam bem,
outros falam mal, e aí?”; “Híbridos são mais vantajosos”; “No
comércio não tem valor, pesa pouco”; “Troca-troca do governo
é barato”; “Mais ruim, mais leve, não rende”; “Acostumamos
com o híbrido”; “Não há motivo, falta interesse”;“Terra fraca,
híbrido rende mais”; “Nunca”.
Os agricultores que não cultivavam, mas que já cultivaram em anos anteriores
e relataram que não teriam interesse de voltar a cultivar em safras futuras,
justificaram-se da seguinte maneira:
“Porque estamos velhos”; “Não produziu como o híbrido”; “Não
tirou semente e depois comprou o híbrido”;“Rende pouco e é
desparelho”;“Falta interesse”;“Não tenho força para
cuidar”;“Mudei de atividade”;“Perdemos a semente”; “Não
conseguimos plantar com plantadeira”; “Produziu só os pés,
não plantei mais”; “Não produziu em minhas terras fracas”;
55
“Não tinha terra mais para plantar”; “Não produziu com a
seca”; “Pega muita área de terra”; “Deu bom, mas não confia,
pouca fé”; “Aquele que compra dá melhor”; “Não produzia
mais”; “Perdeu a semente”; “Depende do troca-troca”; “Veio a
tecnologia do milho híbrido”; “Os agrônomos vieram ensinar
diferente e fomos na conversa”; “Não rendeu e caiu tudo”;
“Não produziu espiga e perdeu tudo, não nasceu”; “Tenho
pouca terra”; “Não tenho mão-de-obra”.
Os agricultores que não cultivavam variedades locais, mas que já tinham
cultivado em safras anteriores e relataram que teriam intenção de voltar a cultivar em
safras futuras, justificaram o abandono do cultivo da seguinte maneira:
“Não tenho tempo”; “Perdeu a semente”; “Não dava mais
direito, pouca produção”;“Não conseguimos
sementes”;“Castiçou muito com o outro”;“Produziu muito bem,
mas o troca-troca é melhor, mais fácil de arrumar
semente”;“Pois diziam que o híbrido era melhor”;“Precisava
produzir mais para vender”;“Muito serviço”;“Saiu da roça”;
“Perdemos a semente”;“Perdeu as sementes”;“Vou fazer
experiência”.
Cerca de 78% dos agricultores que relataram a intenção de cultivar
variedades locais de milho em safras futuras possuíam área média total do
estabelecimento inferior a 20 ha, enquanto que, 45% dos agricultores que relataram
que não tinham interesse de cultivar variedades locais de milho futuramente
possuíam áreas maiores que 20 ha (Tabela 8).
Entre os agricultores que relataram o interesse de cultivar variedades locais
de milho futuramente, 41% possuíam entre 10 e 15 ha, 19% entre 15 e 29, 17%
entre 5 e 10, 17% entre 20 e 30, e nenhum com mais de 40 ha (Tabela 8). Já entre
os agricultores que relataram que não teriam intenção de cultivo, 11% possuíam
áreas maiores que 40 ha, 11% entre 30 e 40, 23% entre 20 e 30, 12% entre 15 e 20,
23% entre 10 e 15, 10% entre 5 e 10 e apenas 3% inferior a 5 ha.
56
Tabela 8 Distribuição por classes de área do número, percentagem e percentual
acumulado de agricultores que relataram que teriam intenção de cultivar
variedades locais de milho em safras futuras no município de Anchieta-
SC. Florianópolis, UFSC, 2005.
Tinham intenção de cultivar
futuramente
Não tinham intenção de cultivar
futuramente
Classes de
área
(ha)
Número de
agricultores
(%)
Percentual
acumulado
(%)
Número de
agricultores
(%)
Percentual
acumulado
(%)
Até 5 1 1,9 1,9 2 2,7 2,7
5 – 10 9 16,7 18,5 7 9,6 12,3
10 – 15 22 40,7 59,3 17 23,3 35,6
15 – 20 10 18,5 77,8 9 12,3 47,9
20- 30 9 16,7 94,4 17 23,3 71,2
30 – 40 2 3,7 98,1 8 11,0 82,2
Mais que 40 0 0,0 98,1 8 11,0 93,2
Não
informaram
1 1,9 100,0 5 6,8 100,0
Total 54 100 -- 73 --
Área média (ha) 14,8 22,8
Alguns agricultores das comunidades Unida (1), São Dimas (1), Primavera (1),
Cordilheira (2) e Aparecida (2), que não cultivavam variedades locais, relataram que
teriam interesse em cultivar variedades locais de milho em safras futuras (Tabela 9).
As maiores ocorrências de agricultores que nunca cultivaram variedades
locais de milho foram nas comunidades Salete (6) e São Roque (5), as quais não
foram pioneiras no programa de produção própria de sementes do Sintraf/Anchieta.
Um grande número de agricultores da comunidade Prateleira (11) já tinha
cultivado variedades locais de milho em safras anteriores. Destes, apenas 3
relataram que teriam a intenção de cultivá-las em safras futuras, mesmo esta
comunidade sendo pioneira do programa de sementes do Sintraf/Anchieta.
57
Tabela 9 Número de estabelecimentos amostrados por comunidade, de
agricultores que já cultivaram variedades locais de milho em anos
anteriores, que nunca cultivaram que relataram à intenção de cultivá-las
em safras futuras e número de agricultores que cultivavam variedades
locais de milho na ocasião da entrevista no município de Anchieta-SC.
Florianópolis, UFSC, 2005.
Comunidades
amostradas
Estabeleci-
mentos
amostrados
Agricultores
que
cultivaram
variedades
locais de
milho em
safras
anteriores
Agricultores
que nunca
cultivaram
variedades
locais de
milho
Agricultores
que
relataram a
intenção de
cultivar em
safras
futuras
Agricultores
que
cultivavam
variedades
locais de
milho na
ocasião da
entrevista
(nº) (nº) (nº) (nº) (nº)
São Domingos 16 3 1 2 12
São Roque 21 6 5 5 10
Prateleira 23 11 2 3 10
Medianeira 14 3 4 5 7
São Paulo 12 3 3 1 6
Santo Inácio 9 3 1 1 6
Vargem Bonita 6 2 0 1 4
União da Vitória 4 0 0 0 4
São Marcos 8 2 2 1 4
Gaúcha/ Xavantes 7 2 1 0 4
Café Filho 5 1 0 0 4
25 de maio 8 4 0 4 4
São Luiz 9 3 3 3 3
São Geraldo 5 1 1 0 3
Nova Seara 8 3 2 3 3
7 de setembro 8 4 1 5 3
Taquaruçu 12 8 2 3 2
São José 6 4 0 3 2
Gaiola 5 1 2 1 2
São Judas 7 3 3 4 1
Salete 11 4 6 2 1
Nª Sra. da Saúde 1 0 0 0 1
Unida 6 2 4 1 0
São Pedro 2 1 1 0 0
São Dimas 1 0 1 1 0
Primavera 2 2 0 1 0
Cordilheira 3 1 2 2 0
Aparecida 4 3 0 2 0
Total de
estabelecimentos
223
80
54
96
O tempo de cultivo das variedades locais de milho foi variável (Tabela 10).
Houve agricultores que cultivavam a mesma variedade local de milho há mais de 20
anos (4), e também àqueles que tinham iniciado o cultivo há apenas 1 ano (20).
58
Em 76% dos estabelecimentos cultivavam-se variedades locais específicas há
menos de 5 anos. Cerca de 4% dos agricultores cultivavam a mesma variedade local
de milho há mais de 20 anos. Destes, apenas 2% cultivavam a mesma variedade há
mais de 30 anos.
Tabela 10 Distribuição por classes de anos do número de agricultores que
cultivavam a mesma variedade local no município de Anchieta-SC.
Florianópolis, UFSC, 2005.
Classes de anos Número de
estabelecimentos
Percentual de
estabelecimentos
(%)
Percentual
acumulado
1 ano 20 15,6 15,6
2 anos 17 13,3 28,9
3 anos 26 20,3 49,2
4 anos 8 6,3 55,5
5 anos 23 18,0 73,4
6 a 10 anos 9 7,0 80,5
11 a 20 anos 7 5,5 85,9
21 a 30 anos 2 1,6 87,5
Mais de 30 anos 2 1,6 89,1
Não informaram 14 10,9 100,0
Total
128 100,0
Tempo médio
5,1 anos
O tempo médio de cultivo das variedades locais nas diferentes comunidades
foi diferenciado (Tabela 11). Nas comunidades Xavantes/Gaúcha, São Marcos, São
José e Medianeira o tempo médio de cultivo foi de 12, 10, 9 e 8 anos,
respectivamente. Nos estabelecimentos das comunidades São Geraldo e 7 de
Setembro eram cultivadas variedades locais de milho há aproximadamente 1 ano.
Em praticamente todas as comunidades destacaram-se agricultores que cultivavam
variedades locais há muito tempo e agricultores que cultivavam há menos de 3 anos,
como nas comunidades Gaúcha/Xavante, Medianeira, São Marcos e São Roque.
Em muitas comunidades eram cultivadas variedades locais de milho antes mesmo
de iniciar o programa de produção própria de sementes do Sintraf/Anchieta, em
1997. Entretanto, alguns agricultores, como da comunidade 7 de Setembro, mesmo
esta sendo pioneira no programa de produção própria de sementes, retornaram a
cultivar variedades locais de milho há menos que 5 anos. Alguns dados médios
foram influenciados pela baixa amostragem e/ou pela alta amplitude.
59
Tabela 11 Tempo médio, máximo e mínimo de cultivo das variedades locais de
milho nas comunidades rurais do município de Anchieta-SC.
Florianópolis, UFSC, 2005.
Comunidades
amostradas
Estabelecimentos que
cultivam variedades
locais de milho
Tempo médio de cultivo
(nº) (anos) (máximo) (mínimo)
São Domingos* 12 3,9 8 1
Prateleira* 10 5,5 20 1
São Roque 10 4,9 30 1
Medianeira* 7 8,4 35 2
São Paulo 6 2,2 5 1
Santo Inácio* 6 3,5 5 2
São Marcos 4 9,5 30 2
25 de maio 4 6,3 10 4
Gaúcha/ Xavantes 4 12,3 42 3
Vargem Bonita 4 3,4 5 1
Café Filho* 4 3,5 5 2
União da Vitória 4 4,5 8 2
São Luiz 3 2,8 4 2
7 de setembro* 3 1,3 2 1
Nova Seara 3 3,0 5 1
São Geraldo 3 1,0 1 1
Taquaruçu* 2 2,3 3 1
São José 2 9,0 11 2
Gaiola 2 3,5 5 2
Salete 1 - - -
São Judas 1 3,0 3 3
Nª Sra. da Saúde* 1 6,0 6 6
* Comunidades pioneiras em 1997 no programa de produção própria de sementes do
Sintraf/Anchieta.
4.5 Diversidade de variedades locais de milho
A magnitude da diversidade de variedades locais de milho cultivadas nos
estabelecimentos agrícolas de Anchieta pode ser expressa pelas diferentes
denominações dadas pelos agricultores ao longo dos anos.
Diante disso, em 2003, ano da realização das entrevistas, estavam sendo
cultivadas no município de Anchieta mais de 22 variedades locais de milho (Tabela
12). As variedades locais Pixurum 05, Amarelão, Mato Grosso, Palha Roxa e Branco
estavam presentes em 71% dos estabelecimentos. Entre as variedades cultivadas, a
Pixurum 05 foi a que teve maior representatividade, sendo cultivada em 32% dos
estabelecimentos.
60
Tabela 12 Variedades locais de milho cultivadas nos estabelecimentos agrícolas do
município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005.
Variedades locais Número de
estabeleci-
mentos
Percentual
de
estabeleci-
mentos
Tempo em cultivo com os agricultores
(anos)
(%) (média) (moda) (máx) (mín)
Pixurum 05 44 32,4 3,2 1,2 e 5 10 1
Amarelão 14 10,3 5,3 5 17 1
Mato Grosso 14 10,3 2,9 3 6 1
Palha Roxa 12 8,8 11,1 3 e 5 30 3
Branco 12 8,8 4,6 2 14 1
Cunha 4 2,9 6,0 6 6 6
Cateto 4 2,9 3,3 3 4 3
Roxo 4 2,9 11,7 2,3 e 30 30 2
Pixurum 04 2 1,5 5 5 5 5
Caiano 2 1,5 9 5 e 13 13 5
Branco 8 Carreiras 2 1,5 9 3 e 15 15 3
Asteca 2 1,5 35 - - -
MPA 13 1 0,7 - - - -
Sabugo Fino 1 0,7 2 - - -
Fundacep 35 1 0,7 2 - - -
Pixurum 01 1 0,7 5 - - -
Pixurum 06 1 0,7 5 - - -
BRS 106 1 0,7 3 - - -
Rosado 1 0,7 42 - - -
BRS 4150 1 0,7 3 - - -
MPA 1 1 0,7 3 - - -
Gurvena 1 0,7 11 - - -
Não sabe o nome
da variedade local
10 7,4 2,4 1 6 1
Total 136 100,0 5,1 3 42 1
As variedades Amarelão, Mato Grosso, Palha Roxa e Branco estavam sendo
cultivadas em 10%, 10%, 9% e 9% dos estabelecimentos, respectivamente. As
outras variedades locais estavam presentes em 29% dos estabelecimentos, sendo
que 7% dos agricultores não sabiam o nome da variedade local cultivada (Tabela
12).
As variedades Rosado, Asteca, Roxo, Palha Roxa e Gurvena estavam sendo
cultivadas pelos mesmos agricultores por um tempo médio superior a 10 anos
(Tabela 12). Eles cultivavam e utilizavam essas variedades locais de milho há muito
tempo, sendo mantidas pelos mesmos agricultores por 42, 35, 12, 11 e 10 anos,
respectivamente. Entretanto, as variedades locais comumente utilizadas (Sabugo
Fino, Pixurum 05, Pixurum 04, BR 106, BRS 4150, Mato Grosso e MPA 1) estavam
há pouco tempo sendo cultivadas pelo mesmo agricultor.
61
A maioria das variedades locais cultivadas poderiam ser consideradas
variedades exógenas ou exóticas, caracterizando-se como introduções recentes de
sementes oriundas de outras regiões e/ou variedades comerciais com introdução
recente e reproduzidas pelos agricultores ao longo do anos através de métodos
tradicionais. Algumas destas ainda mantinham o nome comercial (BR 106, Fundacep
35, BRS 4150). Algumas variedades locais como, Amarelão, Branco, Branco 8
carreiras e Gurvena, estavam sendo cultivadas há mais de 10 anos no mesmo
estabelecimento.
A maior diversidade de variedades locais de milho foram encontradas nos
estabelecimentos agrícolas das comunidades São Roque (9), Prateleira (7),
Gaúcha/Xavantes (7), São Domingos (7), Santo Inácio (6), Medianeira (6) (Figura 7).
As variedades comumente cultivadas, como Pixurum 05, Amarelão, Mato Grosso,
Palha Roxa e Branco apresentaram-se bem distribuídas geograficamente em todo o
município.
Figura 7 Distribuição geográfica das variedades locais de milho cultivadas nos
estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC. Florianópolis,
UFSC, 2005.
62
A fonte primária de sementes de variedades locais de milho cultivadas foi
principalmente o Sintraf/Anchieta, sendo responsável por 46% das sementes
utilizadas nas lavouras do município (Figura 8). Outra forma de distribuição
importante foi o intercâmbio de semente com os vizinhos (21%). A troca de
sementes com os amigos e parentes foi de 11%. Semente oriunda de outros
municípios foi de 5%, e a aquisição em cooperativas foi de apenas 2%. Cerca de 5%
das sementes foram adquiridas durante as festas e feiras municipais.
Não responderam
(13)
9,8%
Outro município
(7)
5,3%
Festas e feiras
(6)
4,5%
Cooperativas
(3)
2,3%
Parentes
(6)
4,5%
Amigos
(9)
6,8%
Vizinhos
(28)
21,2%
Sindicato
(60)
45,5%
Figura 8 Fonte primária das sementes de variedades locais de milho cultivadas
nos estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC.
Florianópolis, UFSC, 2005.
O intercâmbio de sementes de variedades locais de milho é muito praticado
entre os agricultores. A maioria dos agricultores (46%) relatou que costumava trocar
sementes das suas variedades locais de milho com os vizinhos, parentes e ou
amigos. Apenas 27% relataram que não possuiam esse hábito. Um grande número
de agricultores não respondeu esta pergunta (26%).
A presença do intercâmbio de sementes foi maior entre parentes, vizinhos e
amigos para a maioria das variedades freqüentemente cultivadas (Pixurum 5 (20),
Amarelão (9), Palha Roxa (2), Mato Grosso (7) e Branco (7)).
A fonte inicial das sementes das variedades locais comumente utilizadas
pelos agricultores foi variável. Os agricultores relataram que a fonte principal de
sementes do Pixurum 5 foi: 60% do Sintraf/Anchieta, 20% dos vizinhos, 10% dos
amigos, 5% dos parentes e 5% das cooperativas. Para a variedade amarelão, 38%
63
vieram do Sintraf/Anchieta, 31% dos vizinhos, 15% de outros municípios, 8% dos
amigos e 8% das festas e feiras municipais. A fonte do Mato Grosso foi 64% do
Sintraf/Anchieta, 18% dos vizinhos e 18% dos amigos. Nas variedades Palha Roxa e
Branco, a fonte principal deixou de ser o Sintraf/Anchieta. Para a variedade local
Palha Roxa, 57% originou-se das festas e feiras municipais, 29% dos vizinhos e
apenas 14% do Sintraf/Anchieta. Entre a variedade Branco, 45% das sementes teve
origem dos vizinhos, 36% do Sintraf/Anchieta, 9% dos parentes e 9% de outros
municípios.
Na grande maioria dos estabelecimentos era cultivada apenas uma variedade
local de milho (65%). Entretanto, em 30% dos estabelecimentos estavam sendo
cultivadas duas variedades e em 4% dos estabelecimentos três variedades locais de
milho. Em apenas 1% dos estabelecimentos estavam sendo cultivadas
simultaneamente quatro variedades locais.
4.6 Caracterização das variedades locais de milho sob a percepção dos
agricultores
As características como ciclo e altura informados foram muito variáveis nas
diferentes variedades e dentro das variedades com mesma denominação. A
susceptibilidade ao acamamento na maioria das variedades na opinião dos
agricultores foi baixa (Tabela 13). As variedades Roxo e Pixurum 01 apresentaram
acamamento médio/alto e médio, respectivamente. Quanto aos dados estimados de
produtividade, as variedades Roxa e MPA 13 foram as que apresentaram os
menores rendimentos, enquanto que, as variedades Cunha, Mato Grosso, Cateto,
Pixurum 05, Asteca, BRS 4150, BRS 106, MPA 1 e Sabugo fino tiveram
produtividades superiores a 70 sacos/ha.
64
Tabela 13 Características estimadas pelos agricultores como ciclo, altura e
acamamento, e produtividade média (sacos/ha) nas diferentes
variedades locais de milho cultivadas nos estabelecimentos agrícolas do
município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005.
Variedades locais Número de
estabeleci-
mentos
Ciclo Altura Acamamento Produtividade
(sacos/ha)
Pixurum 05 43 Médio Médio Baixo 74,7
Amarelão 15 Tardio Alto Baixo 66,0
Mato Grosso 14 Médio Alto Baixo 78,3
Palha Roxa 13 Tardio Alto Baixo 61,4
Branco 12 Médio/tardio Alto Alto 49,6
Cateto 4 Precoce Médio/alto Baixo 81,7
Cunha 4 Precoce Baixo Baixo 100,0
Roxo 4 Médio Alto Médio/alto 50,0
Branco 8 Carreiras 2 Precoce Médio/alto Baixo -
Caiano 2 Médio/tardio Alto Baixo 60,0
Pixurum 04 2 Médio Médio Baixo 66,7
Asteca 1 Médio Médio/alto Baixo 90,0
BRS 106 1 Tardio Médio/alto Baixo 78,0
BRS 4150 1 Médio Baixo Baixo 90,0
Fundacep 35 1 - - - -
Gurvena 1 Médio Alto Baixo -
MPA 1 1 Médio Médio/alto Baixo 80,0
MPA 13 1 - - - 47,5
Pixurum 01 1 - Baixo Médio -
Pixurum 06 1 - - - -
Rosado 1 Precoce Alto - -
Sabugo Fino 1 Tardio Alto - 70,0
Houve predominância pelo cultivo de variedades com coloração amarela nos
grãos, porém algumas variedades locais apresentaram coloração diferenciada
(Tabela 14). A aptidão de uso foi variável de variedade para variedade e entre as
variedades de mesma denominação, sendo utilizadas para alimentação animal, na
forma de grãos, forragem e silagem, e para consumo humano, na forma de canjica,
farinha e milho verde (Tabela 13 e Tabela 14). Quanto às características relevantes
ou que levaram os agricultores a cultivarem essas variedades, estavam muito
relacionadas ao uso, qualidade, caracteres agronômicos preferenciais e questões
sócio-econômicas e culturais.
65
Tabela 14 Características estimadas pelos agricultores como cor de grãos, aptidão
de uso e utilização preferencial das variedades locais de milho cultivadas
nos estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC.
Florianópolis, UFSC, 2005
Variedades
locais
Cor dos
grãos
Aptidão de uso Características quanto ao
uso preferencial
Amarelão Amarelo Grãos, forragem,
farinha, silagem e
canjica
“Macio para o gado”
“Farinha saborosa”
“Baixo custo de produção”
Asteca diversas
cores
Grãos, farinha e
canjica
“Produz bem” “Caruncha pouco”
“É crioulo”
Branco Branco Grãos, forragem,
farinha, canjica e
milho verde
“Bom de debulhar”
Menor custo de produção”
“Mole”
Branco 8
Carreiras
Branco Grãos e farinha “Sabugo fino” “Rende bem”
BRS 106 Amarelo Grãos e forragem “Produz bem”
BRS 4150 Amarelo Grãos. Forragem,
farinha e canjica
“Milho duro”
Caiano diversas
cores
Grãos “Produz bem”
Cateto diversas
cores
Cunha Amarelo Grãos e farinha
Fundacep 35
Gurvena Amarelo Grãos e forragem “Rende bem” “Boa raiz”
“Gosto, tradição”
Mato Grosso Amarelo Grãos, forragem,
farinha, canjica,
milho verde e
silagem
“Pode plantar vários anos” “Alto” “Não caruncha”
“Milho mole” “Resistência”
“Melhor para milho verde” “Orgânico”
MPA 1 diversas
cores
Grãos “Feito na propriedade (23 variedades)”
MPA 13 Branco Grãos, canjica e
farinha
“Para resgatar a tradição do milho branco”
Palha Roxa amarelo/
roxo
Grãos, forragem,
farinha, canjica, e
silagem
“Bonito” “Não caruncha” “Milho mole”
“Produz melhor que o comprado”
“Mais resistente”
Pixurum 01 Amarelo “Boa semente”
Pixurum 04
Pixurum 05 Amarelo Grãos, forragem,
farinha, canjica, e
silagem
“Baixo custo de produção” “Mais barato”
“Evita a compra de sementes”
“Produz melhor do que o híbrido e sobra mais”
“Rende” “Milho bom para o gado”
“Não caruncha” “Produz sem muito adubo, onde o
pixurum 05 produz o híbrido não produz” “Se
adapta bem na terra” “Produz o mesmo que o
híbrido sem nada de adubo” “Viu na roça do
vizinho e gostou” “Milho vidrado” “Os outros são
muito caros
Pixurum 06 amarelo/
vermelho
Rosado Rajado Silagem “Bem adaptado”
Roxo Roxo Grãos, forragem,
farinha e canjica
“Agüenta mais a seca” “Mais rústica”
“Bonito” “Produz sem adubo”
Sabugo Fino Amarelo Grãos e forragem
66
4.7 Uso e manejo das variedades locais de milho
4.7.1 Área de cultivo e manejo do solo
A área média cultivada com variedades locais de milho foi de 1,3 ha, variando
entre 0,1 ha e 8,0 ha. Cerca de 60% dos agricultores cultivavam no máximo 2 ha
(Tabela 15). Apenas 3% dos estabelecimentos cultivavam áreas maiores que 5 ha.
Tabela 15. Distribuição por classes de área média cultivada com variedades locais
de milho no município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005.
Classes de área
(ha)
Número de
estabelecimentos
Percentagem de
estabelecimentos
(%)
Percentual
acumulado (%)
Até 0,1 7 5,1 5,1
0,2 - 0,3 11 8,1 13,2
0,4 - 0,5 19 14,0 27,2
0,6 - 1,0 28 20,6 47,8
1,1 - 1,5 7 5,1 52,9
1,6 - 2,0 10 7,4 60,3
2,1 - 3,0 6 4,4 64,7
3,1 - 5,0 4 2,9 67,6
Mais que 5,1 4 2,9 70,6
Não responderam 40 29,4 100,0
Total 136 100,0 --
Área média (ha) 1,3
A área média cultivada por variedade variou entre 0,1 e 8,0 ha (Tabela 16),
sendo que a maioria dos agricultores (35%) cultivava entre 0,4 e 1,0 ha.
Considerando os aspectos fundiários regionais e a distribuição do uso da terra,
pode-se considerar que a maioria das variedades locais de milho estavam sendo
cultivadas em grandes áreas (superior a 0,5 ha). As variedades Pixurum 05,
Amarelão, Mato Grosso, Palha Roxa e Branco, além de serem cultivadas em áreas
iguais ou maiores que 0,5 ha, estavam sendo cultivadas por muitos agricultores.
Apenas as variedades Cunha e MPA 13 estavam sendo cultivadas em áreas
menores que 0,5 ha e por poucos agricultores. Para as variedades Gurvena,
Pixurum 01, Pixurum 06 e Fundacep 35, os agricultores entrevistados não
informaram a área média cultivada.
67
Tabela 16 Distribuição do número de estabelecimentos em que estavam sendo
cultivadas variedades locais de milho, e área média de cultivo nos
estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC. Florianópolis,
UFSC, 2005.
Variedades locais Estabeleci-
mentos
Área média de cultivo das
variedades locais de milho
(ha)
(nº) (média) (máx) (mín)
Pixurum 5 44 1,8 6,0 0,1
Amarelão 14 2,1 8,0 0,1
Mato Grosso 14 0,8 2,5 0,1
Palha roxa 12 0,6 1,5 0,1
Branco 12 0,5 1,0 0,1
Cateto 4 1,3 2,5 0,3
Cunha 4 0,4 0,4 0,4
Roxo 4 0,5 0,8 0,3
Branco 8 carreira 2 0,8 0,8 0,8
Caiano 2 0,5 0,5 0,5
Pixurum 04 2 1,1 1,5 0,8
Asteca 2 1,0 1,0 1,0
BRS 106 1 0,5 0,5 0,5
BRS 4150 1 0,5 0,5 0,5
Gurvena 1 - - -
MPA 1 1 0,5 0,5 0,5
MPA 13 1 0,4 0,4 0,4
Pixurum 01 1 - - -
Pixurum 06 1 - - -
Rosado 1 1,0 1,0 1,0
Sabugo fino 1 0,5 0,5 0,3
Fundacep 35 1 - - -
Não sabe o nome da variedade 10 - - -
O manejo do solo preferencialmente utilizado para o cultivo das variedades
locais de milho foi o convencional (aproximadamente 35%) (Tabela 17). O cultivo
mínimo (17%) e o plantio direto (27%).
O tipo de tração utilizado para o preparo do solo foi principalmente a tração
animal (72%), especialmente utilizando-se de bovinos (Tabela 17). A tração
mecânica e manual foram pouco utilizadas na região, ou seja, por apenas 6% e 9%
dos agricultores, respectivamente.
68
Tabela 17 Manejo do solo e tipo de tração utilizados para o cultivo de variedades
locais de milho nos estabelecimentos agrícolas do município de
Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005.
Práticas culturais para o manejo de variedades
locais de milho
Percentagem de
estabelecimentos
(%)
Manejo do Solo
Cultivo convencional 34,6
Cultivo mínimo 17,3
Plantio direto 26,9
Não responderam 21,2
Tipo de tração utilizada no preparo do solo
Tração animal 72,1
Tração mecânica 5,8
Tração manual 8,7
Não responderam 13,5
4.7.2 Semeadura
A época de semeadura das variedades locais de milho estendeu-se dos
meses de agosto a março (Figura 9). Os meses de setembro, outubro e novembro
foram os preferenciais, pois cerca de 56% das semeaduras foram efetuadas nesses
períodos.
17,8
18,2
22,2
15,1
11,6 11,6
4,9
1,3
8,0
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
Ag
osto
Setembro
O
u
tubro
N
o
vem
b
ro
Dezem
b
ro
Ja
n
e
iro
Fe
v
e
r
eiro
M
arço
N
ão
r
espo
n
d
e
ra
m
Meses
Percentagem (%)
Figura 9 Épocas de semeadura das variedades locais de milho nos
estabelecimentos do município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC,
2005.
O tipo de mecanização utilizado para a semeadura das variedades locais de
milho foi prioritariamente tração manual e animal (Tabela 18). Na tração manual foi
utilizado o saraquá (54%), enquanto que na tração animal foi utilizada a plantadeira
animal (33%). A plantadeira de tração mecânica, ou seja, com uso do trator, foi
utilizado por apenas 1% dos agricultores.
69
Para uniformização do tamanho das sementes para a semeadura, foi
comumente utilizado eliminar a base e a ponta da espiga (43%). Cerca de 17% dos
agricultores relataram que escolheram as sementes semelhantes e 5% utilizaram
classificadores de sementes automatizados (Tabela 18). Uma grande percentagem
de agricultores não respondeu sobre o método de uniformização das sementes para
a padronização por ocasião da semeadura (35%).
Tabela 18 Equipamento e práticas de uniformização das sementes utilizadas pelos
agricultores para a semeadura de variedades locais de milho nos
estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC. Florianópolis,
UFSC, 2005.
Práticas culturais para o manejo de variedades
locais de milho
Percentagem de
estabelecimentos
(%)
Tipo de equipamento utilizado para semeadura
Saraquá 53,8
Plantadeira tração animal 32,7
Plantadeira tração mecânica 1,0
Não responderam 12,5
Uniformização das sementes para plantio
Elimina base e ponta da espiga 43,1
Classificadora 5,2
Escolhe espigas semelhantes 17,2
Não responderam 34,5
O número médio de sementes por metro linear utilizado por ocasião da
semeadura foi de 6,5, adotando espaçamento médio entre linhas de 97,5 cm.
Utilizando estimativas de poder germinativo da semente entre 70% e 100%,
calculou-se que as densidades de semeadura normalmente utilizadas nos
estabelecimentos foram entre 45000 e 65000 plantas/ha.
A distribuição do número de sementes por metro linear utilizado pelos
agricultores por ocasião da semeadura das variedades locais de milho foi variável
(Figura 10). A maioria dos agricultores (71%) utilizou entre 5 e 8 sementes. Destes
24% utilizaram 6 sementes/m linear. Um grande percentual de agricultores (31%)
não respondeu qual a quantidade de sementes que utilizou.
A distância entre linhas também foi muito variável, utilizando-se distâncias
entre 70 e 120 cm (Figura 10). Na maioria dos estabelecimentos foram utilizados
espaçamentos entre linhas de 100 cm (25%) e 90 cm (13%). Um grande percentual
70
de agricultores (22%) não respondeu qual o espaçamento entre linhas
freqüentemente utilizado.
Figura 10 a) Quantidade de sementes por metro linear e b) espaçamento entre
linhas utilizado por ocasião da semeadura de variedades locais de milho
nos estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC.
Florianópolis, UFSC, 2005.
4.7.3 Manejo da adubação e utilização de agrotóxicos para controle de pragas,
doenças e ervas daninhas
O manejo da adubação foi variável em função dos diferentes sistemas de
produção e da disponibilidade de fertilizantes químicos e orgânicos em cada
estabelecimento. Para o cultivo de variedades locais, em 26% dos estabelecimentos
foram utilizados fertilizantes químicos isoladamente e/ou complementado com
adubação orgânica, 28% utilizaram somente adubação orgânica e 20% não
utilizaram adubação de base (Tabela 19).
O grande volume de adubação química utilizada foi a adubação de cobertura
com uréia, utilizada em 50% dos cultivos de variedades locais de milho.
Quanto a utilização de agrotóxicos para controle fitossanitário e de ervas
daninhas esta foi feita em 48% dos estabelecimentos (Tabela 19). Em 35% dos
estabelecimentos não foi utilizado nenhum tipo de agrotóxico para o cultivo de
variedades locais de milho. Entre os estabelecimentos que utilizaram agrotóxicos, os
herbicidas foram os mais utilizados (89%), enquanto que inseticidas e fungicidas
foram utilizados em aproximadamente 11% dos estabelecimentos.
Cerca de 18% dos cultivos com variedades locais de milho podem ser
considerados cultivos orgânicos, ou seja, sem a utilização de agrotóxicos para o
1,0
2,1
4,2
16,7
24,0
15,6
14,6
4,2
6,3
31,3
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Não responderam
Número de sementes por metro linear
Percentagem (%)
3,1
6,9
3,8
13,1
5,4
24,6
6,9 6,9
0,8
6,2
22,3
0
5
10
15
20
25
30
70
80
85
9
0
9
5
1
00
1
05
1
10
1
15
120
n
ão
re
sp
on
d
eram
Distância entre linhas (cm)
Percentagem (%)
(a) (b)
71
controle de pragas, doenças e plantas daninhas e sem a utilização de adubos
químicos durante todo o ciclo de cultivo (Tabela 19).
Tabela 19 Tipo de adubação utilizada e freqüência de utilização de agrotóxicos no
manejo das variedades locais de milho nos estabelecimentos agrícolas
do município de Anchieta-SC. Florianópolis, UFSC, 2005.
Práticas culturais para o manejo de variedades locais de milho Percentagem de
estabelecimentos
(%)
Tipo de adubação de base utilizada
Adubação química (NPK) 13,5
Adubação orgânica (Cama de aves e Esterco líquido de
suínos)
28,1
Adubação química e orgânica 12,5
Nenhuma adubação de base 26,0
Não responderam 19,8
Utilização de adubação de cobertura
Uréia 50,0
Nenhuma adubação de cobertura 33,3
Não responderam 17,7
Utilização de agrotóxicos
Não utilizam agrotóxicos 35,4
Herbicidas 44,8
Inseticidas 3,1
Fungicidas 4,2
Não responderam 16,7
Sistema de cultivo orgânico 17,7
A quantidade de uréia utilizada como adubação de cobertura foi em média de
3 sacos/ha, ou seja cerca 63 kg de N/ha. Quanto a adubação de base (NPK) foram
utilizados em média 2 sacos/ha, geralmente da fórmula 9-33-12 e/ou 700 kg/ha de
adubo orgânico (cama de aves).
4.7.4 Produção de sementes e métodos de seleção, melhoramento e
armazenamento
Durante o processo de produção de sementes, para a manutenção da pureza
genética das variedades locais é necessário à realização da prática do isolamento,
temporal ou físico. Alguma prática de isolamento da lavoura foi realizada em 44%
dos estabelecimentos (Tabela 20). Em cerca de 14% dos estabelecimentos foram
realizados cultivos das variedades em épocas diferenciadas (isolamento temporal), e
em 17% foram realizados cultivos em áreas isoladas (isolamento físico). Em 14%
72
dos estabelecimentos foram utilizadas algumas práticas para manutenção da pureza
genética das sementes, entretanto os agricultores não relataram o tipo de isolamento
adotado. Nos estabelecimentos agrícolas em que eram cultivadas variedades locais
de milho, 35% não realizaram isolamento, cultivando as variedades conjuntamente
na mesma área ou na mesma época do cultivo das lavouras para produção de
grãos.
Tabela 20 Práticas de isolamento e tipos de isolamento da lavoura empregado,
método de seleção e melhoramento, critérios de seleção de sementes e
armazenamento das sementes de variedades locais de milho nos
estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC. Florianópolis,
UFSC, 2005.
Práticas culturais para o manejo de
variedades locais de milho
Percentagem de
estabelecimentos
(%)
Prática de isolamento
Não realizam isolamento 35,4
Isolamento temporal 13,5
Tempo superior ou igual a 30 dias 84,6
Isolamento físico 16,7
Isolamento superior ou igual a 400 metros 42,9
Não informação o tipo de isolamento 13,5
Não responderam 20,8
Prática de seleção e melhoramento
Não realizam nenhum trabalho de seleção 40,6
Seleção Massal Estratificada 10,4
Seleção Massal 7,3
Escolhe as melhores espigas 13,6
Outro método não informado 4,1
Não responderam 24,0
Critérios de seleção de sementes
Melhores espigas 50,0
Melhores plantas e espigas 8,3
Melhores plantas 5,2
Nenhum critério 4,2
Não responderam 32,3
Armazenamento das sementes
Litros descartáveis 40,8
Em espiga no paiol 17,5
Bombonas plásticas 10,7
Sacos de ráfia 4,8
Não responderam 26,2
A prática do isolamento temporal ou físico foi realizada por 28 agricultores
(Tabela 20). A grande maioria (19) realizou as práticas adequadas de isolamento,
73
adotando distâncias iguais ou superiores a 400 metros entre o cultivo de variedades
e lavoura para produção de grãos e/ou isolamento temporal superior a 30 dias entre
os cultivos. Entre os 14 que realizaram isolamento temporal, 13 fizeram de forma
correta e apenas 1 de maneira incorreta. Já entre os agricultores que realizaram o
isolamento físico, apenas 6 fizeram de forma correta.
Os critérios de seleção das sementes utilizados por aproximadamente 35%
dos agricultores foi efetuado com base na seleção massal estratificada (50%), na
escolha das melhores espigas (34%) e/ou opção por outro método não informado
(16%) (Tabela 20). Do total de estabelecimentos, 40% não realizaram nenhum
critério de seleção ou melhoramento e 21% não responderam a essa pergunta
quando questionados.
Dos critérios adotados na realização do trabalho de melhoramento e seleção,
48% dos agricultores responderam que apenas selecionam as melhores espigas, 9%
as melhores plantas e melhores espigas, 4% somente as melhores plantas (Tabela
20). Apenas 4% relataram que não têm um critério na hora da seleção das sementes
para o cultivo na safra seguinte. Um grande número de agricultores (34%) não
respondeu este questionamento.
O armazenamento das sementes de variedades locais de milho para a
semeadura da próxima safra foi realizada preferencialmente em litros plásticos
descartáveis (45%) (Tabela 20). Foram utilizados também bombonas plásticas (11%)
e sacos de ráfia e/ou aniagem (5%). A armazenagem das espigas selecionadas
apenas em galpão foi realizada em 18% dos estabelecimentos. Muitos agricultores
(21%) não responderam como armazenam as sementes durante o período de
entressafra.
4.7.5 Uso e comercialização da produção
A produção de milho com variedades locais destinada ao consumo na
propriedade foi de 90% (Tabela 21). Apenas 10% da produção foi comercializada. A
maioria dos agricultores utilizou 100% da produção para consumo no
estabelecimento.
74
Tabela 21 Destino e uso da produção de milho com variedades locais nos
estabelecimentos agrícolas do município de Anchieta-SC. Florianópolis,
UFSC, 2005.
Destino da produção
Venda (%) Consumo (%)
Média 9,98 90,02
Moda 0,00 100,00
Utilização das variedades (%)
Grãos 32,7
Forragem 23,8
Farinha e quirera 19,7
Canjica 8,5
Silagem 5,4
Não responderam 9,9
O uso das variedades locais de milho na cadeia produtiva foi principalmente
na forma de grãos (41%) (Tabela 21). Também foi utilizada para forragem (24%),
farinha de milho (18%), canjica (10%) e silagem (8%).
75
5 DISCUSSÃO
5.1 Produção de milho com variedades locais
Em 2003, cerca de 43% dos estabelecimentos do município de Anchieta
cultivavam variedades locais de milho (Tabela 2), valor superior aos 5% em 1997,
relatado por Canci (2002). Esse aumento é resultado do trabalho de organização,
mobilização e sensibilização comunitária do Sintraf/Anchieta para a produção própria
de sementes e o trabalho de resgate de variedades locais iniciado a partir de 1996.
Isso comprova que os movimentos sociais são realmente os grandes responsáveis
pela mobilização e conseqüente adoção de práticas que visam à segurança
alimentar e a redução dos custos produtivos, conforme citado por Buainain et al.
(2004).
Além disso, em 2003, as variedades locais estavam distribuídas em pelo
menos 21 comunidades do município (Tabela 2 e Figura 5), enquanto que em 1997,
Canci (2002) relata que alguns trabalhos de produção própria de sementes de milho
iniciaram em cerca de 13 comunidades. Esses avanços ocorreram principalmente
nas comunidades São Roque e São Paulo, as quais não foram pioneiras no
Programa de Produção Própria de Sementes (Canci, 2002), entretanto em 2003,
aproximadamente 59% dos estabelecimentos cultivavam variedades locais de milho
(Figura 5).
Entretanto, o número de estabelecimentos em que eram cultivadas
variedades locais de milho em 2003 (43%) comparativamente ao ano de 2001,
relatado por Canci (2002), apresenta-se um pouco inferior (49%). Essa ligeira queda
foi impulsionada talvez pelo crescente êxodo rural e redução no número total de
estabelecimentos agrícolas do Oeste Catarinense (Testa et al.,2003), resultante da
crescente descapitalização dos agricultores familiares ou então devido a perda das
sementes das variedades locais de milho, o abandono do cultivo, e/ou a substituição
das variedades locais por cultivares melhoradas (híbridos). Essa tendência foi
revelada também nas respostas qualitativas dos agricultores que não cultivavam
variedades locais de milho.
O fator de risco de perda de sementes e erosão genética dos cultivos,
ocasionados pelo êxodo rural e/ou substituição de variedades locais devido a
76
mudanças sócio-econômicas ou culturais também foi relatado por Clausen & Ferrer
(1999) em estudo similar na Argentina.
A estratégia de organização comunitária para a produção própria de
sementes utilizada pelo Sintraf/Anchieta, visando à disseminação e o fomento à
produção e resgate de sementes foi eficiente, disseminando a prática de cultivo das
variedades locais em praticamente todas as comunidades rurais de Anchieta e em
grande parte dos estabelecimentos agrícolas (Tabela 2 e Figura 5). Entretanto, a sua
sustentabilidade ao longo dos anos depende de ações integradas junto aos
agricultores mantenedores das variedades locais de milho, vindo a tornar-se um
movimento de auto-mobilização dos agricultores e deixando de ser um “pacote
tecnológico” fomentado pelo Sintraf/Anchieta.
Muitas comunidades mostraram-se potenciais para a construção conjunta de
ações estratégias de conservação on farm de variedades locais de milho, como as
comunidades União da Vitória, Café Filho e São Domingos, onde na maioria dos
estabelecimentos estavam sendo cultivadas variedades locais de milho (Tabela 2 e
Figura 5). A presença da diversidade de variedades locais é um começo importante
para que a agrobiodiversidade seja valorizada como fator de segurança e
estabilidade do sistema de produção (Cordeiro & Marcatto, 1994).
Entretanto, em algumas comunidades como Aparecida, Cordilheira,
Primavera, São Pedro, São Dimas e Linha Unida, a priori, não seria possível
estabelecer estratégias de conservação antes de efetuar uma ação diagnóstica mais
aprofundada, devido a amostragem não detectar a presença de variedades locais de
milho. O mesmo ocorre nas comunidades Camargo, Nossa Senhora da Saúde e São
Cristóvão, nas quais não foram realizadas entrevistas, sendo obrigatória uma ação
diagnóstica para conhecer a diversidade de variedades locais de milho presente nas
propriedades agrícolas destas comunidades.
5.2 Aspectos agrários, estrutura fundiária e distribuição das atividades
agrícolas
No aspecto agrário, a estrutura fundiária dos estabelecimentos agrícolas de
Anchieta é caracterizada pelo predomínio de pequenas propriedades agrícolas
(média de 18 ha) (Tabela 3), pois mais de 65% das propriedades possuem áreas
inferiores a 20 ha e apenas 5% dos estabelecimentos possuem áreas superiores a
77
40 ha, valores inferiores à média nacional (26 ha) e da Região Sul (21 ha) relatado
por Guanziroli & Cardin (2000).
A distribuição da estrutura fundiária é característica de agricultura familiar,
apresentando 65% dos estabelecimentos menores que 20 ha (Tabela 3), igual à
estrutura fundiária dos agricultores familiares do Estado de Santa Catarina (Silva et
al.,2003) e similar à distribuição nacional, que é de 69%, e ao da região Sul, com
68% (Guanziroli & Cardin, 2000).
A economia do Oeste Catarinense depende basicamente da agropecuária
desenvolvida pelos agricultores familiares. As atividades principais formadoras de
renda nessa região são a bovinocultura de leite, o milho, a suinocultura, avicultura, o
feijão e a fumicultura (Mello & Ferrari, 2003). Essas atividades, além de formadoras
da renda agrícola, desempenham papel importantíssimo na sustentabilidade dos
agricultores familiares.
A diversificação de atividades agrícolas nas propriedades agrícolas familiares,
característica utilizada como fator de segurança em casos de frustração de safra ou
anormalidade climática (Buainain et al., 2004; Pronaf, 2002; Almeida & Cordeiro,
2002), é adotada estrategicamente nos estabelecimentos agrícolas de Anchieta
(Tabela 5, Tabela 6 e Tabela 7). Esse sistema possivelmente é adotado em virtude
de serem pequenas propriedades, com predominância de relevo ondulado e forte
ondulado, solos pedregosos, e geralmente com poucas áreas aptas para cultivo de
plantas anuais, característicos da região Oeste Catarinense como relatado por Testa
et al. (1996).
Em Anchieta, os estabelecimentos têm as maiores áreas utilizadas com
lavouras (38%) e pastagens (34%), sendo que destas áreas, 43% e 38% são
utilizadas para a produção de milho e bovinocultura de leite (Tabela 6),
respectivamente.
Essas duas constituem-se nas principais atividades dos estabelecimentos
agrícolas do município. As atividades agrícolas fumicultura e suinocultura estão
presentes em 28% e 3% dos estabelecimentos, respectivamente. Alguns
estabelecimentos têm outras atividades como fontes principais de renda (5%), como
horticultura, fruticultura, bovinocultura de corte, cana de açúcar e produção de feijão.
A produção de milho, a bovinocultura de leite e a fumicultura são as
atividades desenvolvidas nos estabelecimento agrícolas do município (Tabela 6 e
Tabela 7).
78
A distribuição de todas as atividades agrícolas dos estabelecimentos do
município de Anchieta mostrou que a maioria dos estabelecimentos tem como
atividade agrícola à produção de milho, tendo grande alcance social, apresentando
os maiores valores percentuais e estando presente em 80% dos estabelecimentos
(Tabela 7), similar ao relatado por Canci & Brassiani (2004). A bovinocultura de leite
está presente em 57% e a fumicultura em 41% dos estabelecimentos.
O milho está presente na maioria dos estabelecimentos como atividade de
renda (Tabela 7), confirmando sua importância sócio-econômica para o Oeste
Catarinense (Testa et al., 1996; Testa et al., 2003). Ela tem significativa importância
cultural, pois mesmo sendo uma atividade que gera uma renda insuficiente para
atender as necessidades da maioria das famílias, devido à limitada disponibilidade
de áreas aptas ao cultivo, ao baixo preço de comercialização e pequena escala de
produção obtida nestas propriedades, é amplamente cultivada (Mello & Ferrari,
2003).
A bovinocultura de leite tem grande importância como atividade principal de
renda nas propriedades agrícolas de Anchieta, presente em 37% das propriedades
(Tabela 6), sendo uma importante formadora de renda e integrante estratégica na
composição dos sistemas de produção. É considerada uma atividade de grande
importância social e econômica para o Oeste Catarinense, com alta capacidade de
agregar valor, com possibilidade de uso de terras não nobres e que possibilita uma
receita mensal (Mello & Ferrari, 2003).
É pouco expressivo o número de agricultores que tem como fonte de renda
principal a suinocultura (5%) (Tabela 6 e Tabela 7), atividade que era uma fonte de
renda presente na maioria dos estabelecimentos de Anchieta (Canci & Brassiani,
2004). Essa atividade teve seu alcance reduzido devido o processo de
seleção/exclusão de produtores em todo Oeste Catarinense (Mello & Ferrari, 2003).
Portanto, nos estabelecimentos agrícolas de Anchieta o milho ainda é uma
cultura com grande alcance social. O fumo representa ainda grande importância
social e econômica por ser uma cultura rentável e de grande densidade econômica.
A bovinocultura de leite tornou-se uma das principais atividades agrícolas.
Entretanto, a suinocultura, cultura de grande expressão na década de 80, é
praticada apenas em alguns estabelecimentos.
A estrutura fundiária dos estabelecimentos agrícolas em que eram cultivadas
variedades locais de milho, comparada com os outros estabelecimentos, é
79
semelhante, bem como, a distribuição do uso das terras e distribuição das atividades
agrícolas principais, não diferindo significativamente pelo teste não paramétrico do
qui-quadrado (Tabela 4, Tabela 5 e Tabela 6). Esses estabelecimentos
apresentaram diferenças apenas quanto à distribuição de todas as atividades
agrícolas, fontes de renda quanto de subsistência (Tabela 7). Essas diferenças
estão relacionadas às atividades concentradoras de mão-de-obra (fumicultura,
suinocultura) e a diversificação maior dos estabelecimentos em que eram cultivadas
variedades locais de milho, que utilizavam um número maior de culturas de
subsistência e/ou alternativas.
Entre os estabelecimentos em que estavam sendo cultivadas variedades
locais de milho, a estrutura fundiária era constituída por cerca de 73% dos
estabelecimentos agrícolas com áreas inferiores a 20 ha, apresentando uma área
média de 16 ha, um pouco inferior comparando-se com a área média dos
estabelecimentos que não cultivavam variedades locais de milho (19 ha) (Tabela 4).
A distribuição das atividades agrícolas principais nesses estabelecimentos também
está sustentada na produção de grãos e na bovinocultura de leite. A produção de
grãos está presente em 48% desses estabelecimentos, a bovinocultura de leite em
37%, a fumicultura 25% e a suinocultura apenas 1% dos estabelecimentos (Tabela
6).
As outras atividades, como fruticultura, horticultura, bovinocultura de corte,
produção de cana de açúcar e feijão, estão presentes em 11% dos estabelecimentos
em que estavam sendo cultivadas variedades locais de milho (Tabela 6), enquanto
que entre nos outros estabelecimentos as outras atividades representam apenas
2%, demonstrando uma maior diversificação de atividades principais entre os
estabelecimentos em que estavam sendo cultivadas variedades locais de milho.
Nos estabelecimentos em que estavam sendo cultivadas variedades locais de
milho a atividade agrícola mais praticada também é a produção de milho, presente
em 84% desses estabelecimentos (Tabela 7). A bovinocultura de leite está presente
como atividade agrícola em 58%, a fumicultura em aproximadamente 37% e a
suinocultura em apenas 1% dos estabelecimentos. As outras atividades como
produção de feijão, fruticultura, bovinocultura de corte, horticultura, e produção de
outras culturas de subsistência como mandioca e arroz e rendas não agrícolas
(aposentadoria e trabalho fora da propriedade) estão presentes em 38% dos
estabelecimentos.
80
Na distribuição das atividades agrícolas formadoras da renda agrícola houve
diferenças significativas entre os estabelecimentos que cultivam e não cultivam
variedades locais de milho (Tabela 7). Essas diferenças são mais aparentes nas
atividades suinocultura, fumicultura, produção de milho e outras atividades.
A produção de grãos e a execução de outras atividades agrícolas apresentam
valores superiores nos estabelecimentos em que eram cultivadas variedades locais
de milho, enquanto que entre os estabelecimentos que não eram cultivadas
variedades locais são mais representativas as atividades fumicultura e suinocultura.
Essa diferença deve ocorrer provavelmente por essas últimas serem atividades
concentradoras de mão-de-obra (Testa et al., 1996).
O feijão também é uma atividade concentradora de mão-de-obra,
principalmente na ocasião da colheita (Testa et al., 1996), entretanto apresenta
maior freqüência de ocorrência entre os estabelecimentos que estavam sendo
cultivadas variedades locais de milho (Tabela 7). Isso deve em partes a não
coincidência com a cultura de milho, justificada pela pouca coincidência quanto à
área de cultivo, a pequena área cultivada e a diferença entre as épocas de
concentração de mão-de-obra (Testa et al., 1996).
Não foi possível identificar os agricultores que cultivavam variedades locais de
milho apenas através da leitura das atividades agrícolas principais desenvolvidas
nos estabelecimentos. Assim, entre as variáveis analisadas, não houve diferenças
marcantes que pudessem diferenciar, a priori, estabelecimentos em que eram
cultivadas variedades locais de milho daqueles em que não eram cultivadas.
5.3 Tendência dos agricultores de Anchieta em relação ao cultivo de
variedades locais de milho.
Alguns agricultores (54) que não cultivam variedades locais de milho e
relataram que teriam interesse de cultivá-las em safras futuras (Figura 6), mostrando
que o trabalho de fomento do Sintraf/Anchieta continua incentivando os agricultores
para o cultivo de variedades locais de milho. Entretanto, um grande contingente de
agricultores (74) não tinha a intenção de cultivá-las em safras futuras. Os motivos
apresentados foram resistência, mudança de atividade agrícola, experiência anterior
frustrada, perda das sementes ou devido à idade avançada e problemas com
escassez de mão-de-obra.
81
Entre os agricultores que não cultivavam variedades locais de milho, muitos já
tinham cultivado alguma variedade em anos anteriores (80) (Figura 6). Isso confirma
a ocorrência de mudanças sócio-econômicas ou culturais que fazem com que os
agricultores deixem de cultivar variedades locais ao longo do tempo. Há uma
tendência de alternância entre o abandono e o retorno ao cultivo (flutuação),
motivado pela perda das sementes e falta de sementes de variedades locais de
milho no Sintraf/Anchieta ou comércio local.
Houve também alguns agricultores (47) que nunca cultivaram variedades
locais de milho, entretanto, alguns (15) relataram o interesse em cultivá-las
futuramente (Figura 6), indicando que há agricultores que são mais conservadores e
esperam que esta nova tecnologia seja testada e validada por outros agricultores.
Houve também agricultores (32) que relataram alguma resistência quanto ao uso
das variedades locais de milho, não tendo a intenção de cultivá-las mesmo sem
testá-las em sua propriedade.
Os agricultores que cultivavam variedades locais de milho mantinham suas
variedades essencialmente por motivos culturais, econômicos e/ou sociais. Entre os
motivos culturais pode-se destacar a tradição herdada de geração a geração no
manejo e na manutenção das variedades tradicionais. Entre os motivos sócio-
econômicos que levaram os agricultores a cultivar variedades locais, os relatos
indicam a constante busca pela autonomia na produção de sementes, uma menor
dependência de insumos externos, redução de custos produtivos e o consumo de
alimentos saudáveis.
Entre os agricultores que não cultivavam variedades locais de milho,
cultivaram em safras anteriores relataram que tinham intenção de cultivar novamente
(39) os motivos do abandono do cultivo foram a perda das sementes, a
contaminação, o excesso de mão-de-obra e a facilidade da obtenção de sementes
de híbridos e variedades comerciais junto aos programas governamentais.
Entretanto, esses agricultores acenaram com a possibilidade de cultivar em safras
futuras. Esse interesse pode ser principalmente devido ao nicho de mercado
conquistado pelos agricultores que vem cultivando variedades locais de milho, pelo
fomento a comercialização de produtos orgânicos e/ou devido à grande repercussão
nacional das festas estaduais e nacionais do milho crioulo realizadas bianualmente
no município.
82
Os problemas que levaram os agricultores que não cultivavam, já cultivaram e
não tem intenção de cultivar futuramente (41 agricultores) ao abandono e resultante
desinteresse pelo cultivo de variedades locais de milho foram à escassez de mão-
de-obra, a mudança de atividade, a perda de sementes, a substituição por híbridos
e/ou problemas agronômicos das variedades locais cultivadas. Muitos agricultores
abandonaram o cultivo após uma safra frustrada, ocasionada por motivos climáticos,
problemas de manejo inadequado e/ou escolha inadequada da variedade local. O
insucesso de uma safra faz com que estes agricultores criem certa resistência e
generalizem os problemas ocorridos as demais variedades locais.
O abandono das variedades locais e a frustração de safra numa nova
tentativa de cultivos estão bastante ligados à perda do conhecimento local. Muitos
agricultores ao voltarem a cultivar variedades locais tentam fazê-lo com a tecnologia
adaptada ao cultivo de híbridos modernos. Esse aspecto da perda do conhecimento
local ligado ao uso, manejo e conservação da agrobiodiversidade foi bastante
discutido por Hanazaki (2003) e Carmo (2003), que relataram que o conhecimento
local associado ao cultivo de variedades locais não deve ser ignorado, pois os
conhecimentos tradicionais são construções geradas pela prática de anos dos
agricultores e são responsáveis pela resiliência dos sistemas produtivos. O resgate e
a sua valorização têm significativa contribuição para a conservação da
agrobiodiversidade, o aumento da diversidade e o desenvolvimento de sistemas
produtivos sustentáveis.
Os agricultores que nunca cultivaram variedades locais (32) e relataram que
não têm interesse de cultivá-las em safras futuras, justificaram sua resistência
devido à facilidade de obtenção de sementes de híbridos e variedades melhoradas
junto aos programas governamentais, a superioridade produtiva dos híbridos e/ou
relatos de experiências frustradas dos vizinhos e parentes.
A maioria dos agricultores que cultivavam variedades locais de milho iniciou
este cultivo nos últimos anos, comprovando o trabalho de fomento e mobilização
comunitária iniciado a partir de 1997 pelo Sintraf/Anchieta. Isso também faz com que
haja certa flutuação do número de agricultores que cultivam variedades locais de
milho, principalmente porque alguns desses agricultores estão cultivando pelo
primeiro ou segundo ano, ou seja, ainda estão experimentando as variedades locais.
E, caso ocorra alguma frustração de safra, pode motivar estes agricultores
83
abandonarem o cultivo de variedades locais e/ou escolherem outras variedades para
experimentar nas próximas safras. Houve aqueles que iniciaram a cultivá-los há
apenas 1 ano (20). Poucos agricultores (4) cultivavam a mesma variedade local de
milho há mais de 20 anos.
5.4 A diversidade de variedades locais de milho
A diversidade fenotípica de variedades locais de milho cultivadas nos
estabelecimentos agrícolas de Anchieta é muito grande (Tabela 12) e pode ser
expressa pelas diferentes denominações das variedades dadas pelos agricultores ao
longo dos anos, que foi relatada anteriormente por Canci (2002) (Anexo 2).
Em 2003, estavam sendo cultivadas no município de Anchieta mais de 22
variedades locais de milho (Tabela 12). As variedades locais Pixurum 05, Amarelão,
Mato Grosso, Palha Roxa e Branco estavam presentes em 71% dos
estabelecimentos. Entre as variedades cultivadas, a Pixurum 05 foi a que teve maior
representatividade, sendo cultivada em 32% dos estabelecimentos.
As variedades exógenas com denominação Pixurum foram introduzidas a
partir da safra 1998/1999 pelo Sintraf/Anchieta, em substituição aos híbridos nas
áreas de produção comunitária de sementes. O Sintraf/Anchieta também distribui, na
safra agrícola 1999/2000, 400 kg de sementes das variedades Pixurum (Canci,
2002), por serem materiais que apresentaram boa adaptação ao sistema produtivo e
satisfatório rendimento produtivo, especialmente o Pixurum 05 e por isso a variedade
mais cultivada no município (Tabela 1) e no Extremo Oeste Catarinense (Alves et al.,
2004).
As variedades Amarelão, Mato Grosso, Palha Roxa e Branco estavam sendo
cultivadas em 10%, 10%, 9% e 9% dos estabelecimentos, respectivamente. As
outras variedades locais estavam presentes em 29% dos estabelecimentos, sendo
que 7% dos agricultores não sabiam o nome da variedade local cultivada (Tabela
12). As sementes das variedades com denominação desconhecida freqüentemente
foram obtidas em feiras, exposições, visitas a amigos, vizinhos ou parentes sem
tomar nota da denominação, podendo ser gerações Fn de híbridos ou outros
materiais melhorados que vem sendo reproduzidos por métodos tradicionais ao
longo dos anos. Com o passar do tempo essa variedade recebe uma nova
denominação de acordo com as características preferências do agricultor e/ou
84
através de intercâmbio de conhecimento entre agricultores, pela semelhança as
outras variedades.
A variedade denominada Gurvena, apesar de ser cultivada há 11 anos, ainda
não tinha sido relatada em diagnósticos anteriores, demonstrando que há muita
variabilidade “escondida” nas propriedades. Todas as demais variedades citadas
pelos agricultores e sob cultivo nos estabelecimentos são de denominação
conhecida e citada por Canci (2002) e Alves et al. (2004) (Tabela 12, Figura 7 e
Anexo 2).
As variedades Rosado, Asteca, Roxo, Palha Roxa e Gurvena, em 2003,
estavam sendo cultivadas pelos mesmos agricultores por um tempo médio superior
a 10 anos (Tabela 12). Os agricultores vinham utilizando essas variedades locais há
muito tempo, sendo mantidas e utilizadas pelos mesmos agricultores por 42, 35, 12,
11 e 10 anos, respectivamente. Entretanto, variedades locais comumente utilizadas
como Sabugo Fino, Pixurum 05, Pixurum 04, BR 106, BRS 4150, Mato Grosso e
MPA 1 estavam há pouco tempo sendo cultivadas pelo mesmo agricultor.
Algumas variedades como Gurvena, MPA 13, Roxo, Palha Roxa e Asteca
foram mantidas principalmente por motivos culturais, ou seja, por gosto, tradição e
ou beleza. Entretanto, a maioria das variedades locais estava sendo cultivada por
motivos de redução dos custos de produção, adaptação as condições
edafoclimáticas e de manejo locais e/ou características preferenciais de uso na
alimentação humana e animal.
As principais características levadas em conta na escolha das variedades
locais foram o rendimento de grãos, a presença de grãos duros e a adaptabilidade
(Tabela 14). Entretanto, existe uma grande diversidade de caracteres preferências a
cada agricultor, podendo variar conforme o gênero, a idade, o grupo étnico e social
(Jarvis et al., 1998).
Existe uma grande variabilidade de coloração de grãos, aptidão de uso e
características preferenciais a cada agricultor (Tabela 12), sendo fundamentais na
escolha e na decisão final quanto ao uso e manejo das variedades locais. Muitos
são os fatores que influenciam esta decisão, não podendo dar evidência a algum
motivo isolado que leve os agricultores optarem em manter essa ou aquela
variedade. Jarvis et al. (1998) relatam estes fatores podem ser de origem ambiental,
biológico e/ou sócio-econômico, influenciando diretamente na decisão do agricultor
na ocasião da escolha e manutenção de alguma variedade local.
85
A maioria das variedades locais cultivadas em Anchieta pode ser considerada
variedade exógena, caracterizando-se como introduções recentes de sementes
oriundas de outras regiões e/ou variedades comerciais com introdução recente,
sendo reproduzidas pelos agricultores através de métodos tradicionais, muitas vezes
ainda mantendo o nome comercial (BR 106, Fundacep 35, BRS 4150) (Tabela 12).
Também foram detectadas algumas variedades locais em adaptação como,
Amarelão, Branco, Branco 8 carreiras e Gurvena, que estavam há mais de 10 anos
no mesmo estabelecimento.
Apenas as variedades Rosado (42 anos), Asteca (35 anos), Palha Roxa (30
anos) e Roxo (30 anos) (Tabela 12) podem ser consideradas variedades tradicionais
ou autóctones, por estarem por pelo menos 30 anos sendo cultivadas pelo mesmo
agricultor (Louette et al., 1997; Louette, 1999).
Mesmo que muitas variedades tenham a mesma denominação, estas podem
ser muito diferentes. Os agricultores utilizam-se de diferentes características
fenotípicas das plantas para identificar, distinguir e selecionar as variedades locais
(Jarvis et al., 1998). Entre variedades de mesma denominação pode ocorrer grande
heterogeneidade entre as características, como é o caso da variedade Amarelão de
diferentes procedências, que apresentou grande divergência genética para analise
de caracteres morfológicos (Ogliari et al., 2004). Carvalho et al. (2004) também
detectou através de análises laboratoriais com RAPD, grupos distintos de Amarelão
em variedades procedentes do mesmo município. Algumas das variedades podem
apresentar a mesma denominação, porém características muito diferenciadas, ou
então diferentes procedências (oriundas de municípios diferentes), porém grandes
semelhanças. Podem ocorrer também variedades de mesma denominação,
entretanto, com características diferenciadas, como é o caso das variedades Mato
Grosso, que pode apresentar coloração da palha roxa ou branca (Canci, 2002).
As diferenças podem ocorrem em virtude de contaminações e cruzamentos
intervarietais, em virtude do cultivo simultâneo de variedades melhoradas e locais,
medidas incorretas de isolamento (temporal ou físico), tendo em vista que o milho é
uma espécie alógama. Essas diferenças também ocorrem devido a grande
diversidade de sistemas produtivos, diferentes formas de manejo dessa diversidade,
e diferenças acentuadas de condições edafo-climáticas do município de Anchieta
(variações de altitude superiores a 500m) (Santa Catarina, 2003), promovendo
mudanças devido à pressão de seleção.
86
A dissimilaridade ocorre principalmente porque o nome geralmente é dado em
função de alguma característica peculiar ao olhar dos agricultores (Jarvis et al.,
1998), como é o caso das variedades locais de milho Branco, Amarelão, Palha
Roxa, Rosado, Roxo, Cunha, Branco 8 Carreiras e do Sabugo Fino, entre outros.
Essas diferenças também ocorrem devido à diversidade de sistemas de produção e
manejo, tendo em vista que a expressão da característica (fenótipo) é dada pela
ação dos fatores de manejo natural/humano do agroecossistema, de manejo e
seleção da diversidade genética cultivada e da estrutura da população e/ou métodos
de melhoramento empregado (Jarvis et al., 1998).
Entre as comunidades que cultivavam a maior diversidade fenotípica de
variedades locais foram São Roque (9 variedades locais diferentes), Prateleira (7
variedades), Gaúcha/Xavantes (7 variedades), São Domingos (7 variedades), Santo
Inácio (6 variedades), Medianeira (6 variedades) (Figura 7). As variedades
comumente cultivadas, como Pixurum 05, Amarelão, Mato Grosso, Palha Roxa e
Branco estavam bem distribuídas geograficamente em todo o município.
A conservação das variedades locais Pixurum 05, Amarelão, Mato Grosso,
Palha Roxa e Branco, tem aparentemente maiores chances de conservação ao
longo dos anos, devido à existência de duplicatas em várias propriedades e em
diferentes comunidades (Figura 7). Essa dispersão ao longo de várias propriedades
e comunidades (dinâmica em mosaico) é uma estratégia que pode ser adotada com
as demais variedades locais. A dinâmica em mosaico que é praticada pelos
agricultores se refere à estratégia de disseminação do germoplasma entre várias
famílias, estando distribuídas em diferentes condições micro-climáticas a fim de
reduzir o risco de perder os cultivos em conseqüência da ocorrência de geadas,
granizo, seca ou outras adversidades climáticas ou bióticas (Gabriel et al., 1999).
Por outro lado, à baixa duplicabilidade das demais variedades é preocupante,
estando fragilizada a sua conservação ao longo dos anos.
A maioria dos agricultores que cultivavam variedades locais de milho em
Anchieta (46%), tinha como fonte inicial de sementes o Sintraf/Anchieta (Figura 4),
mostrando que uma das estratégias adotadas pelo Sintraf para o fomento do uso e
cultivo dessas variedades é a redistribuição de sementes entre seus sócios. Alguns
agricultores iniciaram seu cultivo com sementes oriundas do intercâmbio entre
vizinhos, amigos, parentes e/ou de outros municípios, mostrando-se esta prática,
uma eficiente estratégia para disseminar e garantir a conservação das variedades
87
locais. As trocas de sementes são realizadas freqüentemente pela maioria dos
agricultores (46%), sendo poucos os agricultores (27%) que não tem o hábito de
intercambiar sementes.
Alguns agricultores adquiriram as sementes em cooperativas e/ou no
comércio local, reafirmando que algumas desses materiais podem ser gerações Fn
de híbridos ou variedades melhoradas.
Cerca de 5% dos agricultores adquiriram as sementes durantes à realização
das festas e feiras municipais, demonstrando que essa prática tem proporcionado a
mobilização e a sensibilização da comunidade, mesmo que lenta. As feiras de
diversidade são métodos participativos e populares que servem para estabelecer
contato entre todos os níveis sociais, sensibilizando os agricultores, a comunidade,
os pesquisadores e as autoridades locais e auxiliando no intercâmbio de sementes e
de conhecimentos locais (Sthapit et al., 2004 a; Sthapit et al., 2004 b).
5.5 Caracterização das variedades locais de milho sob a percepção dos
agricultores.
As variedades locais apresentaram grande variabilidade fenotípica, sendo
possível efetuar seleção e melhoramento em algumas populações. Muitas
características podem ser melhoradas a partir de ações e práticas de melhoramento
genético. A característica porte pode ser melhorada a partir de melhoramento
participativo. Dados de produtividade foram relativamente altos quando comparados
ao sistema de cultivo adotado (baixo nível tecnológico) e a média de produtividade
estadual, mostrando bom potencial produtivo. Os materiais com coloração do grão
branco são os menos produtivos comparativamente aos demais, entretanto, tem
finalidades de uso diferenciadas.
A variedade Pixurum 05 é preferencialmente utilizada pelos agricultores nos
estabelecimentos principalmente por motivos econômicos (Tabela 12 e Tabela 14).
O uso de variedades locais pode possibilitar a redução dos custos produtivos, devido
serem bem adaptadas às condições de manejo de baixa tecnologia. Também
apresenta aptidão de utilização amplo, sendo utilizado como grãos, forragem,
farinha, canjica e silagem. Outro motivo é a boa resistência ao ataque de carunchos
por apresentar grãos duros.
88
Entretanto, algumas variedades como Gurvena, MPA 13, Roxo, Palha Roxa e
Asteca são mantidos principalmente por motivos culturais, ou seja, por gosto,
tradição e ou beleza (Tabela 14).
Para os agricultores que estavam iniciando o cultivo de variedades locais, as
características preferenciais e levadas em conta na escolha das variedades locais
são o rendimento produtivo, a presença de grãos duros e a adaptabilidade.
Existe uma grande variabilidade de coloração de grãos, aptidão de uso e
características preferenciais a cada agricultor, sendo fundamentais na escolha e na
decisão final quanto ao uso e manejo das variedades locais. Muitos são os fatores
que influenciam esta decisão, não podendo dar evidência a algum motivo isolado
que leve os agricultores optarem em manter essa ou aquela variedade. Atualmente
muitos agricultores estão voltados a questão econômica, devido talvez, a situação de
descapitalização que vem enfrentando ao longo dos anos. Isso reforça a
necessidade de uma estratégia de conservação on farm na qual conciliemos
questões referentes ao uso, manejo e conservação das variedades locais, voltados
principalmente a sustentabilidade e a manutenção do homem no campo. Sob essas
condições de descapitalização freqüente, a maioria dos agricultores não conserva as
variedades locais somente por conservar.
5.6 Uso e manejo das variedades locais de milho
Na grande maioria dos estabelecimentos (65%) eram cultivadas apenas uma
variedade local de milho. Entretanto, em 35% dos estabelecimentos estavam sendo
cultivadas duas variedades ou mais.
A área média cultivada com variedades locais de milho foi de 1,3 ha, variando
entre 0,1 ha e 8,0 ha (Tabela 15). Cerca de 60% dos agricultores cultivavam no
máximo 2 ha e apenas 3% dos estabelecimentos cultivavam áreas superiores a 5
ha.
Proporcionalmente a área total da propriedade e a área total cultivada com
lavouras anuais, as áreas de cultivo com variedades locais de milho foram na
maioria grandes, ou seja, maiores que 0,5 ha, utilizando-se de cerca de 25% da área
cultivada com lavouras (Tabela 15). Outros 75% eram utilizados com as culturas do
fumo, feijão e/ou cultivos de híbridos de milho. Entretanto, acredita-se que grande
parte da área de cultivo é explorada com híbridos de milho, tendo em vista que o
fumo e o feijão não ocupam grandes áreas. Outra evidência é que a produção com
89
variedades locais é utilizada quase que exclusivamente para autoconsumo e a
atividade principal formadora da renda agrícola é a produção de milho. Alves et al.
(2004 a) mostraram que cerca de 78% dos agricultores que cultivavam variedades
locais de milho no Oeste Catarinense e utilizavam na mesma propriedade e safra,
híbridos e variedades locais de milho, fato este também confirmado neste trabalho
em entrevista informal com Adriano Canci e alguns agricultores.
Muitos agricultores cultivavam as variedades modernas em condições de alta
tecnologia e variedades locais, em sistemas tradicionais com baixo consumo de
insumos externos como também foi relatado por Wood & Lenné (1997). Além disso,
pequenos agricultores podem usar uma mistura de variedades modernas e locais
sem qualquer distinção agronômica clara entre as duas categorias. No México,
apesar dos agricultores adotarem variedades de alto rendimento em seus cultivos,
eles continuam selecionando as variedades locais para uso particular (Bellon &
Brush, 1994).
As variedades Pixurum 05, Amarelão, Mato Grosso, Palha Roxa e Branco,
além de cultivadas em áreas iguais ou superiores a 0,5 ha, eram também cultivados
por muitos agricultores (Tabela 16). Apenas as variedades Cunha e MPA 13 eram
cultivadas em áreas inferiores a 0,5 ha e por poucos agricultores, devendo utilizar-se
de estratégias e intervenções diferenciadas que garantam a sua conservação de
acordo com a sugestão de Sthapit et al. (2004 a).
O manejo do solo preferencialmente utilizado para o cultivo de variedades
locais de milho foi o convencional (aproximadamente 35%), e plantio direto (27%)
utilizando tração animal (72%) para preparo do solo (Tabela 17), principalmente por
causa do relevo acidentado, da alta declividade e pedregosidade das áreas de
cultivo e também devido ao cultivo em áreas menores (Testa et al., 1996).
A época de semeadura estendeu-se dos meses de agosto a março (Figura 9),
sendo os meses de agosto (18%), setembro (18%), outubro (22%) e novembro
(15%) os preferenciais, semelhante ao utilizado para o cultivo de híbridos e
variedades comerciais, ocorrendo semeaduras tardias após o cultivo do fumo (cultivo
na resteva do fumo) e/ou cultivos antecipados para aproveitamento da mesma área
de cultivo com outras culturas e/ou para safra e safrinha.
Apenas algumas semeaduras (18%) ocorreram fora da época recomendada
pelo zoneamento agro-climático para a cultura de milho no Estado de Santa
Catarina, que para o município de Anchieta inicia-se em 21 de agosto e encerra-se
90
em 31 de dezembro para milhos de ciclo tardio (Flesch & Massignan, 2000). Esses
cultivos tardios realizados nos meses de janeiro, fevereiro e março podem
comprometer a produtividade e o rendimento econômico esperado impedindo que se
complete o enchimento de grãos.
O tipo de mecanização utilizado para a semeadura das variedades locais de
milho foi prioritariamente o de tração manual e animal (Tabela 18) . A tração manual
utilizou o saraquá (54%), enquanto que na tração animal foi utilizada a plantadeira
(33%). A plantadeira de tração mecânica, ou seja, com uso do trator, foi utilizado por
apenas 1% dos agricultores amostrados. Isso ocorre principalmente devido ao relevo
acidentado e a ocorrência de pedregosidade.
O número de sementes por metro linear utilizado por ocasião da semeadura
das variedades locais de milho foi variável (Figura 10). A maioria dos agricultores
(71%) utilizaram 5 a 8 sementes. Destes 24% utilizaram 6 sementes por metro
linear. Alguns agricultores utilizaram um número de sementes por metro linear alto,
ou seja, acima de sete sementes. Esse uso aumentado pode ser resultado da
realização da semeadura antecipada (baixa germinação ocasionado pelas baixas
temperaturas) (Flesch & Massignan, 2000), ou então devido a baixa germinação e
vigor do material armazenado. Uma solução para este problema pode ser a adoção
de um teste de germinação simples, que pode ser realizado na própria horta antes
da semeadura.
A distância entre linhas também foi muito variável (Figura 10), utilizando-se
distâncias de 70 a 120 cm. Isso ocorre principalmente devido a semeadura ser
executada de forma manual ou com utilização de tração animal, além de ser
realizado em áreas irregulares. Na maioria dos estabelecimentos foram utilizados
espaçamentos entre linhas de 100 cm (25%) e 90 cm (13%). O número médio de
sementes por metro linear utilizado na ocasião da semeadura foi de 6,5 e o
espaçamento médio entre linhas foi de 97,5 cm. Comparativamente ao cultivo dos
híbridos, para o cultivo de variedades locais geralmente usam-se densidades de
semeadura menores (Cruz et al., 2004). O número de sementes por metro linear é
reduzido e a distância entre linhas é aumentado em função das variedades locais
terem um porte mais elevado e uma estrutura foliar grande.
A densidade de semeadura (45.000 a 55.000 plantas/ha) foi um pouco
superior ao relatado para o cultivo de variedades locais no Oeste Catarinense
91
(40.000). No entanto, o espaçamento entre linhas adotado (1 m) foi igual ao relatado
por Alves et al. (2004 a).
No sistema de semeadura das variedades locais de milho houve algumas
diferenças quanto ao tipo de mecanização e a densidade de plantio utilizada em
comparação ao adotado para o plantio dos milhos híbridos. Essa diferença ocorreu
principalmente pela diferenciação da área de cultivo (menor e mais irregular), e
porque as variedades locais apresentam um porte de planta avantajado.
Uma grande parcela de agricultores não respondeu as questões referentes ao
número de sementes por metro linear, principalmente devido à utilização do plantio
em covas utilizando-se do saraquá. Outro fator pode ser a falta de controle deste
fator na ocasião da semeadura e a falta de informações de germinação da semente
armazenada.
Muitos agricultores também não responderam a distância entre linhas adotada
na ocasião da semeadura (Figura 10), por não realizar plantio mecanizado. Como
utilizam o saraquá ou a plantadeira tração animal, o controle da distância é feito
visualmente pelo agricultor.
O manejo da adubação foi variável em função dos sistemas de produção e da
disponibilidade de fertilizantes químicos e/ou orgânicos em cada estabelecimento.
Não existe um manejo de adubação controlado para o cultivo de variedades locais
de milho. Freqüentemente foram utilizados adubos excedentes na propriedade e/ou
apenas adubação de cobertura com uréia. Talvez esse baixo controle ocorre em
virtude da produção resultante ser quase que exclusivamente para o consumo, não
gerando renda agrícola para custeio da próxima safra, caracterizando-se por ser um
sistema de cultivo de baixo consumo de insumos externos.
Para o cultivo de variedades locais, em 26% dos estabelecimentos foram
utilizados fertilizantes químicos isoladamente e/ou complementado com adubação
orgânica, 28% utilizaram somente adubação orgânica, 20% não utilizaram adubação
de base (Tabela 19). O grande volume de adubação química utilizada foi a
adubação de cobertura com uréia, utilizada em 50% dos cultivos de variedades
locais de milho, por talvez apresentar resultados visuais logo após a sua aplicação.
A utilização de agrotóxicos foi feita em 48% dos estabelecimentos (Tabela
19). Entre os estabelecimentos que utilizaram agrotóxicos, os herbicidas foram os
mais utilizados (89%), enquanto que inseticidas e fungicidas foram utilizados em
cerca de 11% dos estabelecimentos.
92
Foram utilizados poucos agrotóxicos para o controle fitossanitário das
variedades locais de milho (Tabela 19). Esse baixo uso deve-se talvez pela baixa
incidência de pragas e doenças, devido às variedades apresentar boa adaptação às
condições locais e ao alto custo desses produtos. O agrotóxico utilizado com maior
freqüência foi o herbicida, inicialmente utilizado apenas em sistemas altamente
tecnificados, entretanto, atualmente, o herbicida foi utilizado na grande maioria dos
estabelecimentos em virtude da escassez de mão-de-obra para a realização de
capinas freqüentes, o baixo custo desses produtos e a facilidade da realização da
semeadura quando são utilizados dessecantes (Machado et al., 1998 b).
Cerca de 18% dos cultivos com variedades locais de milho podem ser
considerados cultivo orgânico (Tabela 19), ou seja, sem a utilização de agrotóxicos
para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas e sem a utilização de adubos
químicos durante todo o ciclo de cultivo.
A maioria dos agricultores apresentou autonomia na produção de sementes
de variedades locais, realizando práticas de isolamento e melhoramento objetivando
a manutenção da pureza genética das sementes (Tabela 20). Entretanto é
preocupante que alguns agricultores não realizem a prática de isolamento e/ou
realizam de forma incorreta. Por esses motivos muitos agricultores atualmente
devem não estar cultivando o material genético originalmente cultivado, devendo ser
uma população que vem se intercruzando ao longo dos anos com os materiais
melhorados (híbridos) e até outros materiais locais.
Alguma prática de isolamento da lavoura foi realizada em 44% dos
estabelecimentos (Tabela 20). Em cerca de 14% dos estabelecimentos foram
realizados cultivos das variedades em épocas diferenciadas (isolamento temporal), e
em 17% foram realizados cultivos em áreas isoladas (isolamento físico). Nos
estabelecimentos agrícolas em que eram cultivadas variedades locais de milho, 35%
não realizam isolamento, cultivando as variedades conjuntamente na mesma área
ou na mesma época do cultivo das lavouras para produção de grãos.
Devido ao incentivo e a assistência técnica do Sintraf/Anchieta, da Epagri e
mais recentemente da UFSC alguns agricultores vem realizando práticas de
melhoramento genético simples, buscando melhorar principalmente os caracteres
qualitativos. O trabalho de seleção massal foi realizado em cerca de 18% dos
estabelecimentos, sendo realizado freqüentemente com base apenas nas melhores
espigas (48%), as melhores plantas e melhores espigas (9%), e as melhores plantas
93
(4%) (Tabela 20). A partir de 2004 o NEABio iniciou um trabalho de melhoramento
com famílias de meio-irmaõs, visando aperfeiçoar as técnicas de melhoramento e
seleção utilizados.
O armazenamento das sementes de variedades locais de milho para a
semeadura da próxima safra foi feito preferencialmente em litros plásticos
descartáveis (45% dos estabelecimentos), sendo utilizados também bombonas
plásticas (11%) e sacos de ráfia e aniagem (5%) e/ou armazenagem das espigas em
galpão (18% dos estabelecimentos) (Tabela 20). Semelhante ao praticado em todo
oeste catarinense e apresentado por Alves et al. (2004 a). A utilização de litros
descartáveis e de bombonas plásticas tem se mostrado um dos métodos eficientes
contra o ataque de pragas, vindo a ser adotado por muitos agricultores. A essa
prática podem ser agregados formas de manejo com produtos alternativos
(orgânicos) de controle de caruncho, como a terra diatomácea e outros.
Muitos agricultores (21%) não responderam como armazenam as sementes
durante o período de entressafra. Ocorre que alguns desses agricultores
efetivamente não realizam o armazenamento de sementes na propriedade, vindo a
adquirir sementes principalmente do Sintraf/Anchieta e/ou de cooperativas para o
cultivo da safra seguinte, como foi mostrado na Figura 4.
A produção de grãos com variedades locais de milho foi quase que
exclusivamente para o autoconsumo (90%), utilizados para alimentação animal e
humana (Tabela 21). Apenas o excedente foi comercializado, ou para o moinho
artesanal, para produção de farinha, ou então para o Sintraf/Anchieta, visando à
redistribuição e venda das sementes a outros agricultores.
A principal forma de utilização dessas sementes foi na forma de grãos (33%)
ou forragem para alimentação animal (24%), especialmente dos bovinos de leite
(Tabela 21). O material utilizado para forragem provavelmente foi aquele cuja
semeadura é realizada tardiamente, ou seja, após o cultivo do fumo, sendo muito
arriscado conduzir tais lavouras até a fase final de produção de grãos devido aos
riscos climáticos decorrentes das baixas temperaturas (Flesch e Massignan, 2000).
A produção destinada ao consumo humano foi basicamente na forma de farinhas
e/ou canjica, geralmente empregando reduzida ou nenhuma quantidade de
agrotóxicos ou fertilizantes químicos.
94
5.7 Cadeia produtiva do milho e sistemas de produção com uso de variedades
locais
Traçando um perfil da cadeia produtiva de milho com uso das variedades
locais podem ser detectadas algumas diferenças relevantes comparativamente a
cadeia produtiva com variedades comerciais (Figura 5 e Figura 11).
Figura 11 Fluxograma da cadeia produtiva do milho com uso de variedades
locais. A intensidade da seta está correlacionada a intensidade de
utilização dos elementos da cadeia produtiva. (Linha tracejada
intensidade mínima ou nenhuma; Linha contínua intensidade reduzida,
média ou grande, de acordo com a espessura desta).
A produção de milho, com variedades locais, é voltada quase que
exclusivamente para o autoconsumo na propriedade, principalmente na forma de
grãos, especialmente para a alimentação animal. Algumas variedades são utilizadas
para consumo humano, na forma de farinha, canjica e milho verde.
Indústria de
adubos
Indústria de
agrotóxicos
(herbicidas)
Indústria de
máquinas e
equipamentos
(tração animal
e manual)
Sintraf
(fonte de
sementes)
Terra
Mão de obra
(manejo,
seleção,
melhoramento)
Produção primária de Milho
com variedades locais
Silagem
Alimentação
de animais
Grãos
Consumo na
propriedade
Comercialização
Transporte
Secagem
Armazenamento
Indústria
moageira
Indústria de
rações
Alimentação de
animais
Laticínios,
indústria de
carnes e
derivados
Consumidor Final
Laticínios,
indústria de
carnes e
derivados
Forragem
Consumo
Humano
(Farinha e
canjica)
Sementes
95
Há pouca intensidade de utilização de insumos externos, principalmente de
fertilizantes químicos, agrotóxicos e sementes. As sementes são basicamente de
produção própria, sendo o Sintraf/Anchieta a fonte primária dessas sementes no
primeiro ano de cultivo (Figura 4).
Há um grande dispêndio de uso da mão-de-obra, devido ao cultivo de
variedades locais exigir um maior controle na seleção e melhoramento. A mão-de-
obra também é intensificada devido ao manejo ser executado em sua maioria
manualmente.
Apenas o excedente da produção de grãos de milho é comercializado para
cooperativas, porém sem diferenciação de mercado, sendo destinado quase que
exclusivamente a produção de rações. Alguns agricultores comercializam sementes
de milho junto ao Sintraf/Anchieta, alimentando o fomento e a distribuição de
sementes entre os demais agricultores. Outros comercializam os grãos de forma
diferenciada (produção orgânica) para agroindústria local de produção de farinha de
milho.
Os sistemas de produção de milho utilizando variedades locais em Santa
Catarina e especialmente no Oeste Catarinense são também bastante
diversificados. As modalidades que podem ser consideradas como as mais
representativas são com predomínio da mão-de-obra familiar, incluindo sistemas de
tração manual ou animal e raramente mecânica.
A tração manual e animal é o sistema utilizado pelos agricultores para o
cultivo das variedades locais de milho, utilizando grau de tecnologia muito baixo,
com fertilização mínima ou nenhuma. O preparo do solo é feito com tração animal,
essencialmente com uso de junta de bois, sendo as demais práticas culturais
efetuadas manualmente ou com uso de herbicidas, empregando quase que
exclusivamente mão-de-obra familiar. A utilização de agrotóxico para ocontrole
fitossanitário é mínimo. A colheita é realizada manualmente, realizando a seleção
das melhores espigas para escolha das sementes para plantio nas safras
posteriores. As áreas de cultivos são freqüentemente maiores do que 0,5 ha,
entretanto geralmente com relevo acidentado e com presença de pedras.
Podem ser identificados alguns sistemas e subsistemas nos quais o cultivo de
variedades locais de milho está associado a outras culturas. Entre eles pode-se citar
que os mais representativos foram os sistemas de autoconsumo + milho,
autoconsumo + milho + criações, o sistema autoconsumo + fumo, e o sistema
96
milho/feijão + hortaliça, de acordo com a descrição de sistemas de cultivo sugerida
por Guanziroli & Cardin (2000).
O sistema de autoconsumo é freqüente entre os agricultores familiares
combinando cultivos de subsistência com a produção de milho híbrido para fins
comerciais. O sistema autoconsumo + milho + criações é muito adotado por
agricultores familiares que cultivam o milho usando-o como ração, forragem e os
demais produtos destinados ao autoconsumo da família. As variantes deste sistema
é Sistema Autoconsumo + Milho/Feijão + Suínos com pouca expressão entre os
agricultores que cultivam variedades locais. Uma das alternativas que vem sendo
adotada por muitos agricultores é a introdução da pecuária de leite como atividade
alternativa e ou complementar à suinocultura, dando origem ao sistema milho/feijão
+ suínos + leite. O sistema autoconsumo + milho/feijão + leite (pecuária leiteira) é
mais característico entre os agricultores de Anchieta. Outra variante registrada é o
sistema autoconsumo + milho/feijão + fumo + leite, o qual tem também grande
expressão porque o fumo assegura uma renda mínima ao estabelecimento embora
exerça forte pressão sobre a mão-de-obra familiar.
O sistema autoconsumo + fumo é típico, tratando-se de um sistema muito
exigente em termos de mão-de-obra. Mais da metade da área é destinada às
lavouras, pastagens e instalações, sendo uma parcela do milho cultivado na resteva
do fumo, aproveitando o adubo utilizado nesta cultura.
O sistema milho, feijão + hortaliça em estufa começou a ser adotada
recentementepor poucos agricultores, devido principalmente a demanda das feiras
municipais de hortifrutigranjeiros.
5.8 Potenciais e preocupações a serem considerados na construção das
estratégias de conservação das variedades locais de milho
Há muitos fatores que potencializam a elaboração de um projeto para a
conservação das variedades locais de milho em Anchieta. A partir das estratégias
adotadas pelo Sintraf/Anchieta para o resgate, uso e manejo das variedades locais
de milho poderá ser construído conjuntamente novos rumos metodológicos que
apontem para a conservação efetiva da diversidade de variedades locais e da
manutenção do conhecimento local associado a esse cultivo ao longo das gerações.
97
A diversidade de variedades locais nos estabelecimentos agrícolas, a
motivação de alguns agricultores para o uso e manejo dessa diversidade e o apoio e
fomento dado pelo Sintraf para o resgate e manutenção dessas variedades, fazem
com que esse município seja referenciado como potencial área de conservação dos
recursos genéticos de milho.
Entretanto há alguns pontos preocupantes para que essa conservação seja
efetiva ao longo dos anos. Entre esses pode-se destacar como mais importantes os
seguintes:
Uma grande parcela da diversidade de variedades locais está sendo
manejada por poucos agricultores e em pequenas áreas, apresentando-se
frágeis caso não haja sua disseminação, principalmente devido ao êxodo rural
acelerado, falta de sucessores nas propriedades, idade avançada dos
proprietários e ocorrência de distúrbios climáticos freqüentes na região (seca
e granizo).
A cultura de grãos, especialmente o milho híbrido, é uma cultura presente em
quase todas as propriedades agrícolas, devendo ser tomadas algumas
precauções quanto a realização de práticas adequadas de isolamento das
variedades locais, evitando cruzamentos ao acaso, perdas no rendimento
produtivo e conseqüente substituição das variedades.
Falta de registros das variedades locais e do conhecimento local associado,
por parte dos agricultores que manejam, usam e conservam esses recursos
genéticos.
Falta de controle/registro dos intercâmbios realizados entre os agricultores,
conhecendo o fluxo de disseminação das variedades locais distribuídas, a fim
de resgate em caso de perdas ou frustrações.
Escassez de mão-de-obra, principalmente devido ao êxodo acentuado da
juventude e a inclusão de atividades concentradoras de mão-de-obra como
fumicultura e bovinocultura de leite.
Falta de sucessão familiar nas propriedades agrícolas devido ao êxodo
acentuado da juventude para os centros urbanos.
Descontinuidade do cultivo de variedades locais de milho ao longo das safras
(flutuação) principalmente devido a perda das sementes e mudanças no
sistema produtivo.
98
Incentivo focado em poucas variedades locais mais adaptadas como Pixurum
05, ou seja, muitos agricultores cultivando uma mesma variedade exótica.
Baixa agregação de valor as variedades locais.
Predominância do sistema informal de produção de sementes.
Forte dependência do fomento do Sintraf/Anchieta.
Também há muitos pontos positivos que potencializam a execução de
projetos de conservação da diversidade de variedades locais. Entre eles podem-se
destacar os seguintes:
Agricultores motivados no uso, manejo e conservação de variedades locais.
Diversidade de variedades locais e principalmente presença de variedades
tradicionais e locais.
Presença de uma associação de produtores de milho crioulo orgânico (Asso),
responsável pela motivação, sensibilização, comercialização e agregação de
valor das variedades locais.
Grande incentivo do Sintraf para a continuidade dos trabalhos.
Realização bianual da Festa Nacional do Milho Crioulo, responsável pela
disseminação de sementes e do conhecimento local no manejo e uso de
variedades locais.
Inclusão recente de trabalhos de caracterização e melhoramento participativo
das variedades com a parceria da Universidade Federal de Santa Catarina.
Variedades locais de milho com capacidades específicas de adaptação,
devido à diversidade de sistemas de cultivo e a diversidade de condições
edafo-climáticas do município de Anchieta.
Variedades locais potenciais para o uso em sistemas de reduzido uso de
insumos externos e ou agroecológicos.
Características desejáveis para o melhoramento de variedades comerciais,
como resistência a pragas e doenças e tolerância a déficits hídricos e
nutricionais.
Documentação e sistematização de algumas informações sobre as
variedades e a história do Município em cartilhas e livros.
99
5.9 Proposição de estratégias de conservação das variedades locais de milho
A efetividade e a viabilização da conservação das variedades locais de milho
dar-se-á através de ações interinstitucionais e interdisciplinares, sendo realizada de
forma integrada e participativa.
Cabe propor como estratégia válida, a construção de um projeto de
conservação com a premissa da complementaridade dos métodos on farm e ex situ.
A conciliação destes dois métodos garantiria a minimização dos riscos de erosão
genética das variedades locais e promoveria associações entre os métodos formais
e informais de construção do conhecimento.
A complementaridade dessas duas metodologias objetiva a obtenção de
benefícios locais, regionais e globais, através da promoção da soberania alimentar,
da autonomia e autogestão comunitária e principalmente da segurança alimentar da
humanidade.
Muitas são as estratégias que foram e estão sendo adotadas pelo Sintraf,
como mobilização e sensibilização, identificação e resgate, produção comunitária de
sementes, e feiras de intercâmbio. Basta associar a essas estratégias ações
complementares de conservação que venham a reforçar a conservação on farm.
Devem ser traçadas ações que promovam a conservação ex situ, ou seja, em
bancos de germoplasma, coleções e/ou banco de sementes comunitário, a fim de
garantir que toda essa diversidade de variedades locais de milho não seja perdida e
que também proporcione benefícios públicos.
Em alguns momentos devem ser intensificadas as ações de conservação ex
situ, principalmente para conservação de variedades que estão sendo cultivadas em
pequenas áreas e por poucos agricultores. Em outros casos, ou seja, quando se tem
variedades cultivadas por muitos agricultores em pequenas áreas, somente o arranjo
estratégico de ações para a conservação on farm é capaz de conservar com o
mínimo de risco de perdas de material genético.
Deve também ser dada atenção especial a algumas variedades tradicionais, ou
seja, cultivadas há muitos anos pelos agricultores. Estas podem apresentar
adaptações específicas às condições locais. E, geralmente a estas variedades estão
associadas um amplo conhecimento tradicional e um grande valor cultural.
O primeiro passo para a construção de um projeto de conservação on farm é
a identificação da diversidade, eleição de prioridades e fortalecimento de agricultores
e comunidades no conhecimento do manejo e no processo de tomada de decisões
100
(empoderamento), reforçando a capacidade de desenvolver ações conjuntas de
agregação de valor, melhoramento participativo, conservação em bancos de
sementes, administração e gerenciamento dos recursos genéticos.
Este trabalho pode ser realizado identificando agricultores responsáveis pela
tomada de decisões nas comunidades, mobilizados e responsáveis pelo intercâmbio
de sementes das variedades locais. A identificação desses potenciais agricultores
nodais não é uma tarefa complicada, devido a forte mobilização e sensibilização de
alguns agricultores no manejo e uso da agrobiodiversidade. O diagnóstico e as
entrevistas realizadas por esse trabalho apontaram que os agricultores com esse
potencial são aqueles envolvidos na Associação (Asso), com perfil de agricultores
experimentadores/inovadores e aqueles que cultivam as variedades há mais de 30
anos.
A partir da identificação dos agricultores nodais, o passo seguinte seria a
eleição de variedades a serem conservadas, ou seja, as variedades de interesse dos
agricultores. Essa atividade pode ser implementada através da instalação de
unidades de avaliação e caracterização das variedades locais nas propriedades dos
agricultores. Também nesse momento é necessário planejar as ações que deverão
ser implementadas e o cronograma de execução dessas atividades. Esse
planejamento deverá ser efetuado anualmente, conjuntamente com a avaliação das
atividades já executadas, realizando essas etapas de forma participativa entre os
agricultores, extensionistas e pesquisadores. São propostas ações de eleição e
escolha de algumas variedades a serem conservadas no início do projeto, entretanto
não inviabiliza outras ações que conservem a máxima diversidade de variedades
locais após algum tempo.
Uma estratégia que não deve ser esquecida é a sistematização, registro e
documentação das informações sobre as variedades e dos estabelecimentos. Uma
forma simples de registro é a utilização de livros, no qual o próprio agricultor ou
algum filho faça as anotações necessárias. O pesquisador e/ou extensionista de
confiança das comunidades envolvidas nesse trabalho apenas acompanha e
monitora a sustentabilidade do projeto.
À medida que avançam as estratégias iniciais podem ser replanejadas ações
mais complexas, como melhoramento participativo, banco de sementes e coleções
de germoplasma em câmaras secas.
101
O melhoramento participativo geralmente é direcionado para ambientes
marginais nos quais a produção tem caráter de subsistência ou semi-subsistência
(Machado & Machado, 2003), como é o caso dos agricultores que cultivam
variedades locais em Anchieta. Nesses ambientes os agricultores não têm recursos
para aquisição de sementes novas, fertilizantes e defensivos, necessitando de
variedades adaptadas e tolerantes aos estresses ambientais.
Em todas as etapas, inclusive as mais complexas, devem ser gerenciadas
pelos agricultores. Talvez haja necessidade de iniciar com um número reduzido de
variedades e com ações mais simplificadas.
Em nenhum momento devem ser deixadas de lado no projeto ações que
fortaleçam a agregação de valor, ou seja, promover a sustentabilidade econômica e
a motivação dos agricultores na conservação daquelas variedades locais. Esse fator
é de maior relevância, principalmente porque a maioria dos agricultores não
conserva essas variedades per se, necessitando de retorno econômico, social ou
cultural. Quando forem apresentadas novas variedades que substituam a cultivada
atualmente e lhe proporcione alguma vantagem, este não pensará duas vezes em
substituí-la. Por isso devem ser adotadas estratégias participativas, que agreguem
alto nível de responsabilidade e envolvimento na maioria das ações de conservação.
A estratégia de conservação ex situ é muito importante principalmente para as
variedades locais cultivadas por poucos agricultores e em pequenas áreas, como é o
caso das variedade Cunha e MPA 13 devido a probabilidade maior de perdas de
material genético.
Essa estratégia, por exigir uma maior complexidade e controle formal poderá
ser implantada nas fases iniciais através da elaboração de coletas e identificação por
instituições idôneas, que não utilizem esses materiais e os conhecimentos
associados para benefício próprio. A fiscalização e o gerenciamento devem ser
realizados pelos agricultores detentores da diversidade, devendo ser realizados
contratos de utilização e manuseio dessa diversidade.
Uma estratégia inicial é disponibilizar sob contrato esses materiais genéticos
para caracterização e conservação em câmeras secas com temperatura e umidade
controladas, ou na forma de bancos de germoplasma e/ou coleções. Isso permitiria
uma maior segurança dos materiais em caso de frustrações ou perdas de materiais.
Relatos de perdas de variedades são constantes entre alguns agricultores. As
102
questões qualitativas de tendência do uso e manejo das variedades locais de milho
apontam essas perdas ocasionais.
Esses materiais destinar-se-iam para conservação, caracterização e uso em
programas de melhoramento, visando à melhoria de variedades comerciais,
entretanto, respeitando o direito dos agricultores sob as combinações gênicas
específicas de resistência a pragas e doenças e tolerância a solos ácidos,
fertilização baixa, estresses hídricos e adaptações específicas.
Esses bancos seriam então ao longo do tempo transformados em bancos de
sementes comunitários, controlados quase que exclusivamente pelos agricultores.
A complementaridade da conservação on farm e ex situ, principalmente com a
projeção de coleções nucleares para utilização desses materiais em programas de
melhoramento, poderia propiciar além do desenvolvimento local a promoção do
desenvolvimento sustentável global e a segurança alimentar da humanidade,
através do uso dessa diversidade no melhoramento genético das variedades e
cultivares.
103
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES
Os agricultores de Anchieta cultivam uma grande diversidade de variedades
locais de milho, entretanto muitas destas são variedades exóticas e/ou variedades
locais em adaptação. Cada uma dessas variedades apresenta características
peculiares quanto à coloração do grão e da palha, porte, utilização, produtividade,
origem ou outras características, recebendo denominações próprias dos agricultores.
São manejadas em sistemas de manejo diversificados, ocupando pequenas áreas
de cultivo e utilizando sua produção para uso diversificado na propriedade.
Anchieta é um sítio potencial para a implantação de um projeto de
conservação de variedades locais de milho. Há grande motivação, sensibilização e
mobilização para o uso, manejo e conservação, entretanto é necessária e urgente a
realização de trabalhos para fortalecer a autonomia e o empoderamento dos
agricultores.
O termo “milho crioulo” representa mais do que o cultivo e manejo de
variedades locais de milho, tendo uma denotação política de busca da soberania
alimentar e autonomia na produção de sementes, sendo utilizada pelos movimentos
sociais como bandeira e instrumento de luta e mobilização social.
O Sintraf/Anchieta tem se mostrado eficiente no fomento e mobilização
comunitária para a produção e o manejo de variedades locais, disseminando essa
prática como um novo rumo (modelo) tecnológico apropriado e/ou alternativo aos
agricultores familiares. Entretanto desconhece-se se há atualmente autonomia
suficiente dos agricultores para continuidade dos trabalhos caso haja seu
afastamento.
Por isso, cada estratégia sugere-se que seja discutida com os agricultores
para tornar-se uma rotina do dia-a-dia do agricultor e não algo oneroso e obrigatório.
Quanto aos resultados obtidos através da aplicação do questionário estes
podem ser considerados mais generalizados e preliminares, podendo ser utilizados
como base em ações estratégicas futuras voltadas ao planejamento de um projeto
de conservação das variedades locais. As informações são úteis no embasamento
das questões para um novo diagnóstico rápido participativo e identificação, registro e
priorização dos sítios de conservação, dos agricultores e das variedades locais a
serem escolhidas.
104
O questionário depois de aplicado e analisado mostrou algumas falhas a
serem ressaltadas e consideradas em caso de repetibilidade ou novo diagnóstico. O
questionário semi-estruturado poderia conter mais perguntas direcionadas a
identificação dos agricultores nodais, ou seja, agricultores sensibilizados e
mobilizados quanto ao uso, manejo e conservação das variedades locais de milho.
Também deveria conter mais perguntas abertas, as quais são mais ricas e as quais
fariam reduzir o número de agricultores que não responderam algumas perguntas,
algumas vezes por desconhecer o que estava sendo inquirido ou então devido as
questões não serem adequadas ao sistema de manejo adotado em sua propriedade.
A estratégia pode ser ampliada, entrevistando representantes das Ong´s,
Sindicatos, Universidades, empresas públicas e privadas, a fim de conhecer
realmente toda a dinâmica de influencias e ações executadas no local de estudo.
Estas estratégias poderiam conter outras metodologias diagnósticas, como
caminhadas, mapas de comunidade e propriedade, análises de quatro células, CLIP,
entre outras, o que tornaria muito mais rica as informações.
No entanto, este estudo foi realizado com intuito de ter uma primeira visão da
dinâmica e uso da agrobiodiversidade, devendo ser aprofundado a cada novo
momento de planejamento e nas diferentes ações de conservação.
O planejamento de ações participativas e integradas de conservação, on farm
e ex situ, formalizará novos rumos que apontam para a efetiva conservação da
diversidade de variedades locais de milho e para a manutenção do conhecimento
local associado ao cultivo. Entretanto, a sua sustentabilidade ao longo dos anos
dependerá de ações junto aos agricultores mantenedores dos recursos genéticos,
vindo a tornar um movimento de auto-mobilização comunitária e deixando de ser um
“novo pacote tecnológico”.
105
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111
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Biodiversidade Agrícola: Libro de Consulta. Centro Internacional de la Papa, Los
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112
ANEXO 1 Questionário semi-estruturado
Entrevistador :
Identificação do Agricultor e da Propriedade
Nome do agricultor Localidade
Área total da propriedade ha
Distribuição do uso das terras : área com lavouras ha
área com frutíferas____________________ha
Reflorestamento ha
área com pastagens (potreiro) ha
área com mata nativa ha
Atividade agrícola principal Outras atividades
Identificação do material (milho crioulo cultivado) e principais características
da cultivar
Planta milho crioulo ( ) sim ( ) não
Caso a resposta seja não responda:
Já plantou milho crioulo? ( )Sim ( ) Não Porque parou de plantar ?
Vai plantar na próxima safra? ( )Sim ( )Não Tem interesse em plantar
futuramente ( ) Sim ( )Não.
Caso a resposta seja sim descreva-a(s)
Nome da cultivar
Fonte de coleta de sementes ( ) Vizinho ( ) sindicato ( ) Amigo ( ) Parente ( )
outro município
Costuma trocar sementes com vizinhos, amigos ou parentes? ( ) sim ( ) não
Há quantos anos planta esta variedade ? anos
Ciclo: ( ) precoce ( ) médio ( ) tardio ( )não sabe
Altura média das plantas ( ) baixo ( ) médio ( ) alto ( )não sabe
De cada 100 plantas quantas caem em média : ( )não sabe
Produção de grãos por unidade de área (descriminar)
( )não sabe
Quantidade plantada:
Cor do grão: ( ) branco ( ) amarelo ( ) vermelho ( ) laranja ( ) rajado ( ) roxo ( )
diversas cores
Aptidão do uso dessa cultivar :( ) forragem ( ) silagem de grãos ( ) silagem de planta
inteira ( ) farinha ( ) canjica ( ) grãos
Por que prefere cultivar essa variedade
Cultiva outra variedade: ( ) sim ( ) não Caso sua resposta seja sim complete
descreva suas características nos campos
abaixo
Nome da cultivar
Fonte de coleta de sementes ( ) Vizinho ( ) sindicato ( ) Amigo ( ) Parente ( )
outro município
Costuma trocar sementes com vizinhos, amigos ou parentes? ( ) sim ( ) não
Há quantos anos planta esta variedade ?
anos
113
Quantidade plantada:
Aptidão do uso dessa cultivar :( ) forragem ( ) silagem de grãos ( ) silagem de planta
inteira ( ) farinha ( ) canjica ( ) grãos
Por que prefere cultivar essa variedade
Uso da cultivar e manejo da Lavoura
Finalidade do cultivo : venda % consumo %
Utilização da variedade na propriedade: ( ) família ( ) alimentação animal
Época de plantio do milho crioulo:()ago ()set ()out ()nov ()dez ()jan ()fev ()mar
Tipo de preparo do solo: ( ) convencional ( ) cultivo mínimo ( ) plantio direto
Sistema de plantio: ( ) Orgânico ( ) Convencional
Preparo do Solo: ( ) tração animal ( ) tração mecânica (trator ) ( ) manual
Semeadura: ( )saraquá ( ) plantadeira tração animal ( ) plantadeira tração mecânica
Distância entre fileiras ()70 ()80 ()85 ()90 ()95 ()100 ()105 ()110 ()115 ()120 ()130
Sementes por metro na filera ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( )6 ( )7 ( )8 ( )9 ( )10 sementes
Usa adubação: ( ) orgânica ( ) química ( ) orgânica e química ( ) nenhuma
Adubo química: quantidade______sc/ha Fórmula:_____________
Uréia : ( ) sim ( ) não quantidade_____________sc/ha
Adubo orgânica: quantidade_________ ton Tipo de adubo orgânico______________
Realiza adubação de cobertura com uréia: ( ) sim ( ) não sacos/hectare
Utiliza agrotóxicos para controle de pragas? ( ) sim ( ) não
Utiliza agrotóxicos para controle de doenças? ( ) sim ( ) não
Utiliza agrotóxicos para controle de inços ou ervas daninhas? ( ) sim ( ) não
Realiza algum trabalho de melhoramento e seleção genética para melhorar a
qualidade da cultivar? ( ) sim ( ) não Qual trabalho?
Quando faz o plantio, procura plantar a variedade em áreas isoladas (distantes) de
outras variedade para mantê-la pura? ( ) sim, a metros ( ) não
Quais critérios utiliza para escolher as semente que vai plantar na próxima safra :
( ) nenhum critério ( ) escolhe as melhores plantas da lavoura ( ) paiol
( ) escolhe as melhores espigas da lavoura ( ) outro critério
Depois de selecionadas, que critérios utiliza para selecionar os grãos:
( ) elimina grãos da base da espiga ( ) elimina grãos da ponta da espiga
( ) elimina grãos da ponta e da base da espiga ( ) classificadora ( )escolhe espigas
semelhantes
Como você guarda as sementes para o próximo plantio:
114
ANEXO 2 Variedades locais presentes em Anchieta/SC
As variedades locais de milho cultivadas e conservadas pelos agricultores de
Anchieta e Região apresentam grande variabilidade. A diversidade fenotípica pode
ser sucintamente caracterizada, descrevendo um pouco da origem e característica
de cada variedade local. As informações são resultados de uma compilação de
informações constantes em Canci et al.(2004), Canci & Carpegiani (2000) e Canci
(2002).
•Amarelão 01 – Sementes oriundas de Dionísio Cerqueira/SC há mais de 20 anos.
Características: Planta alta, grãos amarelos com 5% de grão roxo.
•Amarelão 02 – Cultivado em Anchieta há mais de 4 anos, principalmente na
comunidade São Domingos. Características: espiga grande e grãos amarelos.
•Amarelão 03 – Composto oriundo do Rio Grande do Sul há mais de 40 anos.
Características: grãos de cor amarelo pálido.
•Amarelão 04 – Cultivado há vários anos principalmente no assentamento 25 de
maio.
•Palha Roxa 01SC – Cultivado em Anchieta há mais de 20 anos, procedente do Rio
Grande do Sul. Características: grão dentado amarelo arroxeado próximo a coroa,
planta alta e muito utilizado para ornamentação.
•Palha roxa 02 – Cultivado na Linha Prateleira.
•Palha roxa 03 – Cultivado há mais de 15 anos na Linha Medianeira. Características:
Grãos amarelos dentados.
•Cunha 01 – há muitos anos cultivado em Anchieta. Características: grão amarelo,
espigas curtas e em forma de cunha, porte alto.
•Cunha 02 – Cultivado há mais de 100 anos pela mesma família. Características:
planta de porte alto, grão amarelo dentado, espigas mais compridas do que o cunha
01, e grande resistência ao caruncho.
•Asteca – Cultivado há mais de 30 anos. Características: grão amarelo alaranjado
brilhosos, porte alto, baixo acamamento/quebramento, espiga longa.
•Mato Grosso MC – Composto de 4 variedades trazidas do Rio Grande do Sul há
mais de 40 anos.Características: grão amarelo vivo dentado.
•Mato Grosso palha branca (Astequinha) – Cultivado em Anchieta há mais de 10
anos. Características: grão amarelo, espiga pequena, sabugo fino, fácil debulha
manual, utilizado preferencialmente para a alimentação animal.
•Mato grosso Palha Roxa – Características: boa resistencia a doenças, grão amarelo
e roxo, espiga pequena, sabugo fino. Apresenta cerca de 50% das plantas
inteiramente roxas.
115
•Rosado (Rajado) – Cultivado em Anchieta há cerca de 40 anos, composto de 4
variedades oriundas do Rio Grande do Sul. Características: apresenta estrias no
pericarpo dos grãos, grão dentado, porte médio a alto.
•Rajado 08 carreiras – Composto originário do cruzamento de variedades do Sul do
Brasil, sendo cultivado em Anchieta há cerca de 3 anos. Características: Espigas
com 8 carreiras de grãos.
•MPA 01 - Desenvolvido em Anchieta por um agricultor da linha São Roque a partir
de 1999. É produto do cruzamento do Cateto, Amarelão, Mato Grosso palha roxa,
Pixurum 01, Pixurum 04, Pixurum 05, e 18 cultivares melhoradas. Características:
grãos alaranjados, porte médio.
•MPA 02 - É produto do mesmo cruzamento que deu origem ao MPA 01.
Características: grão amarelo e dentado.
•Composto Branco 8 carreiras - Cruzamento de 20 acessos do Branco 08 carreiras
(Tostão), coletados em Anchieta, Rio Grande do Sul e Paraná. Características: grão
branco grande, espigas com oito carreiras.
•Composto Branco Dentado - Cruzamento de 20 acessos de milho branco dentado
de diferentes denominações, oriundas de Anchieta, Rio Grande do Sul e Paraná.
Características: grão branco.
•Pixurum 01 - Variedade desenvolvida pelo MSc. Ivo Macagnan e agricultores da
Região de Lages/SC, resultado do cruzamento de 55 cultivares melhoradas.
Características: grão semi-duro, amarelo alaranjado.
•Pixurum 04 - Variedade desenvolvida pelo MSc. Ivo Macagnan e agricultores da
Região de Lages/SC, resultado da seleção de 216 variedades crioulas do Sul do
Brasil e cruzamento das 20 melhores com uma cultivar melhorada. Características:
grão dentado, amarelo alaranjado.
•Pixurum 05 - Variedade desenvolvida pelo MSc. Ivo Macagnan e agricultores da
Região de Lages/SC, resultante do cruzamento de 36 variedades do Caribe.
Características: grão semi-dentado a duro, amarelo claro com 5% de grão Branco.
•Pixurum 06 - Variedade desenvolvida pelo MSc. Ivo Macagnan, resultante do
cruzamento do Pixurum 01, Pixurum 04 e Pixurum 05. Características: grão duro,
laranja.
•Pixurum 07 - Variedade desenvolvida a partir do ano de 2000, em parceria entre o
MSc. Ivo Macagnan e o Sintraf de Anchieta-SC, resultante da seleção dos grãos
brancos do Pixurum 05. Características: grão duro, branco.
•Sol da Manhã - Desenvolvido através do melhoramento participativo, numa parceria
entre Embrapa e comunidade Sol da Manhã no Rio de Janeiro, sob a coordenação
do Dr. Altair Toledo Machado, pesquisador da Embrapa.
•BRS 4150 - Cultivar da Embrapa para a região Sul do Brasil. Características:
grãos alaranjados.
•BR 106 - Cultivar da Embrapa obtido a partir de três cultivares brasileiros (Maia,
Centralmex e dentado Composto) e uma introdução exótica (Tuxpeño 1).
Características: grão dentado, porte baixo, grão amarelo.
•Fundacep 35 - Cultivar melhorada da Fundacep. Características: porte baixo, grão
dentado amarelo.
116
•Cateto – Cultivado em Anchieta há 8 anos, oriundo de Romelândia/SC.
Características: grãos 95% amarelo e 5% vermelho, alta produção de massa verde e
boa produtividade (não tem semelhança ao original Cateto, bastante conhecido no
Brasil).
•Cateto vermelho - Obtido a partir da segregação dos grãos vermelhos do Cateto.
•Monge João Maria (Zea mays tunicata) - Proveniente da Bolívia e do Paraguai.
Características: possui os grãos envolvidos com uma pequena palha, sendo
cultivado em Anchieta para fins ornamentais. Apresenta grãos duros e vermelhos, a
túnica é branca e raramente roxa.
•Língua de Papagaio - composto obtido por um agricultor com o cruzamento do
Palha Roxa e um Branco. Características: grãos preto-azulados e coloridos, utilizado
para ornamentação.
•Moroti - Cultivado em Anchieta há vários anos. Características: grãos amarelos
opaco, farináceos, utilizados essencialmente para farinha.
•Roxo - Cultivado em Anchieta há mais 3 anos. O Sintraf esta obtendo um composto
desta variedade a partir da segregação dos grãos roxos do Amarelão 01, Palha
Roxa SC, Rosado, Mato Grosso SC, Amarelão 3 e diversas coletas de milho roxo
dentado do sul do Brasil. Características: porte alto, grão roxo.
•Roxo 01 - Cultivado por um agricultor no Assentamento 25 de maio, resultado da
seleção dos grãos roxos da variedade Palha Roxa SC.
•Branco 01 - Cultivado na comunidade Linha Prateleira Características: boa
produtividade, grãos semi-duros.
•Composto Ornamentação – Composto de 50 variedades, obtido para fins de
ornamentação a partir de 2002. Características: grãos de diversas cores.
•Composto 08 variedades – Resultado do cruzamento de 08 variedades.
•Pires: Cultivado desde 2002 em Anchieta e oriundo de Dionísio Cerqueira/SC.
Características: grão amarelo, dentado, planta de porte alto.
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