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Universidade Estadual de Marin
Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CSA
Programa de Pós Graduação em Economia – PME
A Mudança de Paradigma e Seus Impactos Sobre o
Desenvolvimento Industrial de Santa Catarina
Marilei Kroetz
Maringá
2006
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2
Marilei Kroetz
A Mudança de Paradigma e Seus Impactos Sobre o
Desenvolvimento Industrial de Santa Catarina
Dissertação apresentada como requisito parcial para
a obtenção do grau de Mestre em Economia, ao
Programa de Pós-Graduação em Economia da
Universidade Estadual de Maringá.
Área de concentração: Teoria Econômica.
Orintador: Prof. Dr. Jaime Graciano Trintin
Maringá
2006
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3
A Mudança de Paradigma e Seus Impactos Sobre o
Desenvolvimento Industrial de Santa Catarina
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em Economia Área
de Concentração: Teoria Econômica e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-
Graduação em Economia da Universidade Estadual de Maringá, em 22 de agosto de 2006.
_____________________________
Prof. Dr. José Luiz Parré
Coordenador do Curso
Banca Examinadora:
_______________________________
Prof. Dr. Jaime Graciano Trintin – (PME /UEM) Presidente
_______________________________
Prof. Dr. Sílvio Antônio Ferraz Cário – (PPGE/UFSC) Convidado
________________________________
Prof. Dr. Antônio Carlos de Campos – (PME / UEM) Membro
4
AGRADECIMENTOS
Para realizar este trabalho contei com a ajuda e o apoio de muitas pessoas. Agradeço
imensamente a todos aqueles que, de alguma maneira, colaboraram para que o fim dessa
caminhada se tornasse possível. No entanto, existem algumas pessoas a quem devo
agradecimento especial.
Em primeiro lugar, agradeço a minha família que, mesmo geograficamente distante,
despendeu apoio incondicional. Aos meus pais, Cláudio (in memorian) e Maria, por seus
ensinamentos, que foram fundamentais para que eu pudesse chegar até aqui.
Devo gratidão especial ao meu orientador, Professor Jaime Graciano Trintin, pela atenção
dispensada ao meu trabalho, por estar sempre disposto a esclarecer minhas dúvidas, por ter
contribuído infinitamente para que o projeto inicial se transformasse nessa forma final.
Devo, também, um agradecimento especial ao Professor Sílvio Cário, pela amizade, pela
preocupação e pelo incentivo. Sem sua ajuda, parte desse trabalho não teria se realizado.
Agradeço aos demais professores do mestrado, pelos conhecimentos transmitidos.
A secretária, Maria Odila, por sua presteza e esclarecimentos, fundamentais para nossa
convivência com as burocracias do curso.
Aos amigos Alexandre, Juliana, Mirim Murata e aos agregados Genaildo e Paulo Vitor,
pelo companheirismo. Vocês representam o significado literal da palavra amizade. Tê-los
conhecido, foi um dos maiores ganhos da minha passagem por Maringá.
Aos demais colegas de turma, que de maneira ou outra, estiveram junto compartilhando
todos os momentos dessa etapa transposta.
Aos amigos Leandro e Ivoneti, pelo apoio técnico e pela ajuda com os materiais de
pesquisa.
A Claudia, por compartilhar minhas angústias durante a etapa final desse trabalho.
A Carlândia, pelo apoio logístico na minha chegada à Maringá.
Aos colegas Marcos Cardoso e Rimenez, pela confiança depositada no meu trabalho e
pela ajuda para a minha instalação em Rio do Sul.
5
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES........................................................................................................07
LISTA DE TABELAS..................................................................................................................08
RESUMO......................................................................................................................................10
ABSTRACT..................................................................................................................................11
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................12
1.1 Contextualização do tema......................................................................................................12
1.2 Objetivos..................................................................................................................................14
1.2.1 Objetivo geral............................................................................................................15
1.2.2 Objetivos específicos..................................................................................................15
1.3 Metodologia.............................................................................................................................15
1.4 Limitações da pesquisa...........................................................................................................17
1.5 Estrutura dos capítulos..........................................................................................................18
2 A MUDANÇA DE PARADIGMA E SUAS IMPLICAÇÕES SOBRE A DINÂMICA
ECONÔMICA NOS ANOS 90....................................................................................................20
2.1 A Emergência de um Novo Paradigma Econômico e a Reestruturação do Sistema
Produtivo................................................................................................................................21
2.1.1 O padrão de competição dos anos 90........................................................................32
3 A DINÂMICA DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL NO BRASIL.............................37
3.1 A constituição das bases produtivas e o processo de concentração econômica
regional....................................................................................................................................38
3.2 Os principais determinantes da desconcentração industrial regional – 1970-1985..........44
3.3 A problemática do desenvolvimento regional pós 1985......................................................52
4 O DESENVOLVIMENTO DE SANTA CATARINA ATÉ A DÉCADA DE 80.................58
4.1 A constituição das bases produtivas......................................................................................59
4.2 A ampliação e diversificação da estrutura industrial catarinense – do pós-guerra até a
década de 60............................................................................................................................60
4.3 A ação governamental como mecanismo para a continuidade do processo de
acumulação..............................................................................................................................66
4.4 Evolução econômica e desempenho global da indústria catarinense no período 1970 –
6
1985.........................................................................................................................................69
4.4.1 Tamanho dos estabelecimentos e estrutura de emprego...........................................77
4.4.2 A distribuição espacial da indústria..........................................................................79
4.4.3 A inserção externa da indústria catarinense.............................................................81
5 O DESENVOLVIMENTO DE SANTA CATARINA NO CONTEXTO DO NOVO
PARADIGMA TECNO-ECONÔMICO....................................................................................84
5.1 Evolução econômica e desempenho global da indústria.....................................................86
5.1.1 Tamanho dos estabelecimentos e estrutura de emprego...........................................98
5.1.2 A distribuição espacial da indústria........................................................................102
5.1.3 A inserção nos mercados externo e interno da indústria catarinense.....................109
6 CONCLUSÕES........................................................................................................................117
7 REFERÊNCIAS.......................................................................................................................122
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 4.1: Distribuição espacial da indústria catarinense, por mesorregião – 1980.................80
FIGURA 5.1: Distribuição espacial da indústria de Santa Catarina, por mesorregião – 2004.....103
GRÁFICO 4.1: Participação de Santa Catarina no VTI nacional – 1959 a 1985 (em %).............72
GRÁFICO 4.2: Participação no total das exportações brasileiras - total e segundo grau de
processamento -1970-1985.............................................................................................................82
GRÁFICO 5.1. Exportações catarinenses segundo grau de processamento e participação no total
das vendas externas brasileiras – 1991 a 2004 – (em %).............................................................110
GRÁFICO 5.2: Distribuição das vendas da indústria catarinense, por mercados de destino –
1995 a 2004 (em %).....................................................................................................................113
GRÁFICO 5.3: Distribuição das compras da indústria catarinense, por mercados de origem -
1995 a 2004 (em %)......................................................................................................................114
QUADRO 5.1. Distribuição espacial da indústria segundo setores selecionados, por microrregião
de Santa Catarina – 2004..............................................................................................................104
8
LISTA DE TABELAS
TABELA 4.1: Participação por setores no montante de recursos públicos disponibilizados em
Santa Catarina (em %)....................................................................................................................69
TABELA 4.2: Evolução qüinqüenal do PIB brasileiro e catarinense, global (em R$) e por setor
(em %) – 1960 a 1985.....................................................................................................................70
TABELA 4.3: Participação no VTI brasileiro, segundo principais gêneros 1959-1970-1985
(em %)............................................................................................................................................73
TABELA 4.4: Valor da transformação industrial de Santa Catarina, segundo classes e gêneros
1966-1970-1985 (em %).................................................................................................................74
TABELA 4.5: Evolução do número de estabelecimentos, valor de transformação industrial e
pessoal ocupado, segundo tamanho dos estabelecimentos – 1970-1980 (em %)...........................78
TABELA 4.6: Exportações catarinenses segundo grau de processamento e principais mercadorias
- 1970 - 1975 - 1980 - 1984 (em %)...............................................................................................83
TABELA 5.1: Evolução do PIB do Brasil e do estado de Santa Catarina (em R$ e em %), e
setorial para Santa Catarina (em %) – 1986-2002.........................................................................87
TABELA 5.2: Valor da Transformação Industrial Brasil e Santa Catarina, segundo classes e
gêneros da indústria (em %) - 1985, 1995 e 2002..........................................................................88
TABELA 5.3: Participação dos principais grupos no valor de transformação industrial dos
gêneros da indústria dinâmica de Santa Catarina – eletrometal-mecânico - 1996 e 2002
(em %).......................................................................................................................................... .91
9
TABELA 5.4: Participação dos principais grupos no valor de transformação industrial dos
gêneros da indústria dinâmica de Santa Catarina - produtos plásticos, papel e celulose, fabricação
de móveis e fabricação de produtos de minerais não-metálicos - 1996 e 2002 - (em %)..............93
TABELA 5.5: Participação dos principais grupos no valor de transformação industrial dos
gêneros da indústria tradicional de Santa Catarina - têxtil-vestuário e produtos alimentares - 1996
e 2002 - (em %)..............................................................................................................................96
TABELA 5.6: Distribuição do pessoal ocupado na indústria e número de estabelecimentos por
tamanho - Santa Catarina e Brasil - 1990 e 2004 (em %)..............................................................99
TABELA 5.7: Distribuição dos estabelecimentos por tamanho segundo categoria de uso e pessoal
ocupado – Santa Catarina – 1990 e 2004 – (em %)......................................................................100
TABELA 5.8: Composição das exportações catarinenses, por segmentos, 1989, 1996 e 2004
Total (US$ FOB e em %).............................................................................................................111
TABELA 5.9: Total das exportações de Santa Catarina para os principais blocos econômicos e
países - 1989, 1996 e 2004 - (em US$ FOB e em %)...................................................................112
10
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo evidenciar as características da dinâmica industrial de Santa
Catarina, levando em consideração o perfil da constituição de sua estrutura industrial e os
impactos decorrentes do processo de reestruturação que acompanham as grandes mudanças na
economia mundial. O rompimento do padrão de industrialização nacional importou em
significativos ajustes das economias regionais para enquadrarem-se às condições de
competitividade impostas ao mercado brasileiro no âmbito das políticas de abertura comercial e
desregulamentação econômica. Nesse contexto, a estrutura industrial catarinense procurou se
ajustar ao padrão de industrialização nacional modernizando seu parque produtivo, introduzindo
novos métodos organizacionais, gerenciais e produtivos, e elevando sua participação no mercado
externo. Os resultados das estratégias de reestruturação denotam que a atual estrutura do setor
secundário do estado aproximou-se ainda mais das características do padrão da indústria
nacional. Quanto às suas atuais particularidades e estruturas destacam-se: o crescimento da
participação de segmentos dinâmicos na economia do estado, no entanto, sem diminuir a
importância dos setores tradicionais; a existência de um parque industrial amplamente
diversificado, tanto em termos de gêneros quanto em relação ao tamanho das empresas; o
aprofundamento da integração com o mercado nacional e a intensificação da inserção no mercado
internacional.
Palavras-chave: paradigma tecno-econômico, desenvolvimento regional, Santa Catarina,
indústria.
11
ABSTRACT
This work has as objective to evidence Santa Catarina´s industrial dynamics characteristics, taking
into account the constitution profile of its industrial structure, and the decurrent reorganization
process impacts that follow the great changes in the worldwide economy. The disruption of the
national industrialization standard mattered in significant adjustments on the regional economies,
in order to fit in the competitiveness conditions imposed to the Brazilian market in the range of
commercial opening politics and economic deregulation. In this context, the Catarinense industrial
structure tried to adjust itself to the national industrialization standard, modernizing its productive
park, introducing new organizational, managerial and productive methods, increasing its
participation internationally. The reorganization strategies results denote that the current state
secondary sector structure has being coming even closer to the national industry standard
characteristics. As for its current particularities and structures it can be distinguished: the
dynamic segments participation growth in the state economy, however, without decreasing the
traditional sectors importance; the existence of a widely diversified industrial park, as for the size
of the companies as well as in relation to the enterprises size; the integration deepening with the
national market and the insertion intensification within the international market.
Key-words: techno-economic paradigm, regional development, Santa Catarina, industry.
12
1 INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização do tema
A economia capitalista passou por profundas transformações nas duas últimas décadas.
Em termos gerais, os indícios de crise e esgotamento das formas econômicas na década de 70 e o
surgimento de novos elementos e relações nos anos 80 e 90 permitem identificar a transição do
padrão de crescimento firmado no pós-guerra para um novo paradigma. Estes novos elementos e
relações englobam novas tecnologias de produção e produto, formas de organização da produção
e da concorrência, ampliação e aceleração das relações comerciais internacionais, mudanças nas
relações sociais, novas estratégias de hegemonia política, reforma nos Estados nacionais e novas
relações intergovernamentais. Segundo Hobsbawn (1994), estas mudanças geraram fortes
impactos sobre o contexto sócio-econômico-político mundial, forçando as reestruturações dos
setores públicos e privados de todas as nações.
O Brasil, inserido no contexto das relações capitalistas internacionais, sofreu
substancialmente os efeitos da nova configuração das forças econômicas mundiais. A economia
brasileira que até fins da década de 70, tinha se aproximado do padrão internacional em termos de
estrutura produtiva e capacidade tecnológica, encontrou grandes dificuldades para se enquadrar à
nova conjuntura econômica internacional.
Os anos 80 e o início da década de 90 foram marcados pela sobreposição das crises
externa e interna que interrompeu o ciclo de crescimento comandado internamente, seja pela
dinâmica própria do setor industrial, fundamentalmente das indústrias de bens de consumo
duráveis e pesados, seja pelos investimentos governamentais. O rompimento dessa trajetória foi
caracterizado pela instabilidade das variáveis macroeconômicas e pelas políticas de ajustamento
da economia nacional, ao novo cenário externo (SILVA e LAPLANE, 1994).
O cenário de inconstância dos agregados macroeconômicos, juntamente com os custos do
ajustamento externo redundou na crise financeira do setor público com conseqüente quebra do
13
padrão de financiamento, desarticulação e perda da capacidade operacional de diversos órgãos do
governo encarregados pela execução das políticas públicas de desenvolvimento.
A desarticulação política e financeira do Estado, em relação à nova direção do processo de
acumulação, não implicou, apenas, o arrefecimento de sua liderança, mas também a interrupção
do padrão de difusão das economias regionais. Isso, em virtude de o desenvolvimento das
diferentes regiões brasileiras estar fortemente ligado às diretrizes econômicas articuladas e
fomentadas pelo governo federal.
Considerando-se que a dinâmica espacial do mercado brasileiro sempre esteve
estreitamente relacionada ao processo de industrialização, comandado por ações públicas para
montagem de estruturas produtivas relativamente integradas, houve um desaquecimento do
processo de expansão e desconcentração das atividades industriais, à medida que o Estado foi
retraindo sua participação na economia e transpondo em favor de políticas que evidenciavam a
eficiência competitiva.
De acordo com Pacheco (1996), a transição institucional em direção ao paradigma
liderado pelo mercado, priorizando medidas como abertura comercial, privatizações e
desregulamentação dos mercados, favoreceram o rompimento da solidariedade inter-regional. A
característica de interdependência entre as estruturas produtivas regionais foi sendo abandonada,
conforme foi se elevando o grau de exposição ao mercado externo. Na luta pela inserção ao
mercado globalizado, as regiões lançaram mão de estratégias diversas, competindo entre si pelas
oportunidades de novos investimentos.
Dessa maneira, a década de 90 foi marcada por um intenso movimento de reestruturação
dos sistemas econômicos regionais, sobremaneira, os industriais. Dada a incapacidade do
governo central em dar seguimento às políticas de desenvolvimento regional, coube ao setor
privado e aos governos sub-nacionais encontrarem soluções para fazer frente às mudanças
impostas pelo novo paradigma tecno-econômico.
De maneira geral, o processo de reestruturação implicou a intensificação das ações no
sentido de aproximação das estruturas produtivas ao padrão internacional, tanto tecnológico
como organizacional. Essas ações serviram de base para determinadas regiões darem
continuidade ao seu desenvolvimento, embora em ritmo bem menos acelerado. Tendo em vista
que o desenvolvimento regional não se deu de forma homogênea, a tendência de expansão das
forças produtivas regionais seguiu em direção às áreas de maior dinamismo (DINIZ, 2002).
14
Discussões anteriores, referentes à questão regional, já indicavam que alguns espaços
nacionais alcançaram algum tipo de desenvolvimento das estruturas produtivas em meio ao
processo de transformações da economia nacional. No entanto, esse desenvolvimento pode ter se
dado de forma seletiva, sem resultar em mudanças significativas nas estruturas produtivas
existentes e, além disso, sem contribuir efetivamente para intensificar a integração com os
mercados nacional e internacional (GUIMARÃES NETO, 1995; PACHECO, 1996; TRINTIN,
2001).
Estudos recentes apontam que a as regiões Sudeste e Sul foram as que ofereceram as
melhores condições para realizar os ajustes necessários e enquadrarem-se ao novo padrão de
concorrência internacional (DINIZ, 2002). Porém, isso não significa que todos os estados
integrantes dessas duas regiões responderam da mesma maneira, pois, mesmo fazendo parte de
regiões geográficas contíguas, cada qual apresenta formações sócio-econômico-cultural
diferenciadas.
Assim, Santa Catarina, fazendo parte da região Sul, em princípio, aparece como um
espaço que construiu condições favoráveis para dar seqüência ao processo de diferenciação de
sua estrutura produtiva, mesmo sob as condições adversas apresentadas pela economia nacional.
Nesse contexto, sabendo-se que o desenvolvimento industrial catarinense deve ser
entendido por meio de referências e efeitos condicionantes exercidos pela dinâmica mais geral da
economia brasileira, bem como pela influência das mudanças no ambiente econômico
internacional, cabe avaliar até que ponto a estrutura produtiva deste estado diferenciou seu padrão
de inserção nos mercados interno e externo, face às transformações ocorridas no transcurso das
recentes décadas. Também, abre espaço para averiguar as condições criadas pela indústria
catarinense para fazer progressos, mesmo diante das dificuldades impostas pelo desaquecimento
da economia nacional e do esgotamento dos estímulos, vindos das políticas de desenvolvimento
regional.
1.2 Objetivos
15
1.2.1 Objetivo geral
Verificar como as transformações recentes do sistema capitalista impactará o
desenvolvimento industrial de Santa Catarina nos anos 90, no sentido de possibilitar o
entendimento da inserção econômica dessa região à nova dinâmica do mercado brasileiro e do
mercado internacional.
1.2.2 Objetivos específicos
Apresentar a mudança de paradigma tecno-econômico e suas implicações sobre o
processo de acumulação capitalista nas últimas décadas;
Expor a dinâmica do desenvolvimento regional brasileiro no contexto das transformações
do capitalismo;
Demonstrar a trajetória de desenvolvimento industrial do estado de Santa Catarina até a
década de 80;
Analisar as características da indústria catarinense no âmbito da nova configuração
econômica, política e social instauradas nos anos 90.
1.3 Metodologia
O estudo está organizado em quatro capítulos, além deste, e as conclusões. Para alcançar
os propósitos dos capítulos 2 e 3, recorreu-se a livros, capítulos de livros organizados, periódicos
como revistas especializadas em economia, textos para discussão e notas técnicas, que destacam
as mudanças recentes no modo de acumulação do sistema capitalista e descrevem a problemática
16
do desenvolvimento regional brasileiro no contexto das mudanças provocadas pela ascensão do
novo paradigma tecno-econômico.
Para evidenciar a trajetória de desenvolvimento industrial de Santa Catarina, no quarto
capítulo, realizou-se um levantamento bibliográfico de fontes secundárias sobre a formação
econômica do estado, especialmente a industrial. Para demonstrar a evolução econômica do
estado até a década de 80, buscou-se informações contidas nos Censos Industriais feitos pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na base de dados do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA), bem como em referencial secundário para os dados referentes à
inserção catarinense no mercado externo.
No quinto capítulo, para contemplar a análise sobre as mudanças na estrutura produtiva de
Santa Catarina no contexto das transformações ocorridas na década de 90, recorreu-se a
bibliografias que contêm estudos econômicos do estado e base de dados específicas aos objetivos
do capítulo. Para evidenciar a evolução econômica global do estado em relação à nacional,
utilizaram-se informações do IPEA e da Matriz de Contas Regionais calculada pelo IBGE. Em
seguida, para analisar a participação dos segmentos na transformação industrial do estado
consultaram-se as bases de dados do IBGE, mais precisamente o Censo Industrial de 1985 e a
Pesquisa Anual Industrial (PIA) para os demais períodos. Os levantamentos referentes ao número
de estabelecimentos e pessoal ocupados por principais gêneros, basearam-se nos dados
informados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), através da Relação Anual de
Informações Sociais (RAIS). Para averiguar a distribuição espacial da indústria, foram
consideradas as participações relativas dos gêneros, em termos de número de estabelecimentos e
pessoal ocupados, por mesorregião e por microrregião. Os dados foram obtidos através da
RAIS/MTE e em pesquisas realizadas pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC), e
a classificação de área (principal, contígua e não-contígua), baseou-se na metodologia utilizada
pelo Núcleo de Economia Industrial e Tecnologia (NEITEC).
Por fim, no capítulo quinto, ainda, para tratar sobre o intercâmbio comercial da indústria
catarinense, buscaram-se informações sobre exportações e importações na base Aliceweb do
Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio (MDIC), e sobre o destino global das
vendas e compras, consultaram-se dados disponibilizados pela Secretaria Estadual da Fazenda,
por meio da Declaração de Informações Econômico-Fiscais (DIEF). Além disso, resgataram-se
17
alguns elementos das pesquisas da FIESC para avaliar a participação dos diferentes setores
industriais na economia nacional e internacional.
1.4 Limitações da pesquisa
Este trabalho tem por escopo demonstrar as mudanças ocorridas na economia catarinense
nas últimas décadas do século XX e nos primeiros anos do século XXI, fundamentalmente, no
setor industrial, em virtude das transformações mais amplas da economia nacional e mundial.
Tentou-se, assim, encontrar indicadores que tornassem possível essa percepção. No entanto,
foram encontradas algumas dificuldades para a obtenção de informações, tendo em vista que
Santa Catarina apresenta carência de instituições que operam sistematicamente com produção e
disponibilização de dados.
A primeira delas refere-se ao detalhamento sobre as trocas comerciais internas e externas
até a década de 80. A Secretaria Estadual da Fazenda disponibiliza os dados sobre as vendas e
compras da indústria do estado, somente a partir de 1995 e apenas na forma agregada, ou seja, o
total intercambiado dentro do estado, fora do estado e para o exterior, sem desagregar por
segmento nem por localidade de destino ou origem. Para tentar suprir essa deficiência foram
consultados os Censos Industriais e os Anuários Estatísticos do IBGE, porém, não emitem tais
informações. Para as exportações, a pesquisa limitou-se a fontes secundárias, pois a base
Aliceweb do MDIC, apresenta dados somente a partir de 1989. Assim, a pesquisa restringiu-se
aos estudos realizados sobre a estrutura industrial do estado. Ainda sobre as trocas comerciais
internacionais, não foram encontrados registros sobre as importações realizadas pelo estado antes
de 1989.
A segunda reporta-se ao estudo da distribuição espacial da indústria. Para oferecer tal
percepção, no quarto capítulo, valeu-se das informações contidas nos Censos Industriais do
IBGE, destacando-se valor da transformação industrial regional, o número de estabelecimentos e
pessoal ocupado por segmento. Para realizar o comparativo no quinto capítulo, utilizou-se o
18
acervo RAIS do Ministério do Trabalho e Emprego, uma vez que a Pesquisa Industrial Anual
realizada pelo IBGE, após 1985, não contempla dados regionalizados.
1.5 Estrutura dos capítulos
O presente trabalho está estruturado em cinco capítulos, além das conclusões e do
referencial bibliográfico. O primeiro capítulo refere-se à introdução, onde é feita a
contextualização do tema e são apresentados os objetivos do trabalho, a metodologia do estudo,
as limitações da pesquisa e a estrutura dos capítulos.
O segundo capítulo trata sobre a crise do sistema capitalista evidenciada a partir da década
de 70 e suas implicações sobre as mudanças ocorridas no contexto sócio-econômico-político
mundial nas últimas décadas. Através do levantamento bibliográfico, foram evidenciados
diferentes estágios do desenvolvimento econômico mundial, após a Segunda Guerra Mundial.
Fez-se um estudo sobre o amplo crescimento da economia no pós-guerra, sobre as razões que
levaram ao esgotamento do padrão de acumulação existente e o novo arranjo construído pelo
sistema capitalista nos anos 90, para permitir a continuidade à expansão da acumulação do
capital.
No terceiro capítulo, realizou-se um estudo sobre a questão do desenvolvimento regional
brasileiro, sob a ótica do processo de industrialização nacional e seus reflexos sobre o
desenvolvimento regional. Inicialmente, foram apresentados os movimentos de formação das
bases produtivas e de concentração espacial da indústria. Em seguida, demonstrou-se a fase de
aceleração do crescimento econômico nacional e o processo de desconcentração produtiva
regional. Por fim, tratou-se da tendência de desaceleração do movimento de desconcentração
regional, em vista da crise econômica dos anos 80 e do abandono das políticas de
desenvolvimento regional.
No quarto capítulo, evidenciou-se a formação econômica do estado de Santa Catarina. Em
primeiro lugar, considerou-se a constituição das bases produtivas do estado e aspectos relativos à
ampliação e à diversificação da estrutura industrial catarinense. Para tanto, destacaram-se as
19
transformações ocorridas em conseqüência dos arranjos institucionais postos em prática e dos
esforços industrializantes realizados pelos capitais locais. Em seguida, destacou-se a evolução
econômica e o desempenho global da indústria no período de aceleração da economia nacional.
Para fazer essa análise, foram apresentadas as modificações em termos de diversificação da
produção, distribuição espacial das atividades, tamanho e número de estabelecimentos e
crescimento das vendas internacionais.
No quinto capítulo, contemplaram-se as modificações ocorridas na estrutura produtiva
catarinense no contexto do desaquecimento da economia brasileira e do novo paradigma tecno-
econômico. Inicialmente, demonstrou-se a evolução econômica estadual e as mudanças
registradas no setor industrial a partir do processo de reestruturação realizado por todos os
segmentos, destacando-se as mudanças em termos de processos produtivos que contribuíram para
o crescimento das atividades industriais no estado, durante a década de 90. Em seguida, para dar
continuidade à análise do desempenho da indústria estadual frente aos novos desafios impostos à
economia nacional, mostrou-se o comportamento setorial, levando em consideração o tamanho
dos estabelecimentos, a estrutura do emprego, a distribuição espacial da indústria e o padrão de
inserção da economia catarinense nos mercados nacional e internacional.
20
2 A MUDANÇA DE PARADIGMA E SUAS IMPLICAÇÕES SOBRE A DINÂMICA
ECONÔMICA NOS ANOS 90
A crise de acumulação do sistema capitalista evidenciada a partir do início da década de
70, constituiu-se em um fator determinante para a busca de novos meios de produção, capazes de
suprir as necessidades de reprodução ampliada do capital. A análise histórica demonstra que as
transformações ocorridas nas últimas décadas, não representam apenas a emergência de novos
métodos produtivos, mas também significam a expressão da crise do paradigma tecnológico
vigente - “modelo fordista” - excessivamente rígido, associado à grande empresa verticalizada e
ao controle oligopolista dos mercados.
Estas mudanças não ocorreram somente no sistema produtivo. A crise prolonga-se às
instituições governamentais de todas as nações, que se viram forçadas a encontrar novas formas
de organização e gestão para a administração pública. Neste contexto, os Estados foram deixando
de lado os instrumentos protecionistas destinados aos setores produtivos e caminharam em
direção à implementação de políticas de intervenção mínima. Estabelece-se a idéia de que o foco
das ações públicas seria o de remover as rigidezes no funcionamento dos mercados, a fim de
proporcionar melhores condições para a exploração das possibilidades de crescimento das
economias oferecidas pela mudança tecnológica.
No contexto da nova dinâmica tecnológica, surgem elementos que denotam acirramento
da competição entre os diferentes espaços produtivos. Pressionadas pelo aumento da
concorrência internacional e pelo novo modelo de gestão pública, as economias capitalistas
desenvolveram estratégias que resultariam em transformações nas relações econômicas e sociais.
Em vista disso, torna-se importante apresentar a emergência do novo paradigma tecno-
econômico, para facilitar o entendimento das mudanças que ocorreram no sistema produtivo
internacional, bem como de seus reflexos sobre o desenvolvimento dos países, regiões ou
localidades.
21
2.1 A emergência de um novo paradigma econômico e a reestruturação do sistema
produtivo
As condições econômicas pós Segunda Guerra Mundial contribuíram para a consolidação
de uma nova forma de regulação do capitalismo, denominada, por diversos autores, como
fordismo-keynesianismo
1
(DUPAS, 1999). O paradigma tecno-econômico vigente à época,
esteve assentado na produção em massa, especialmente na produção de bens de consumo durável,
de forma padronizada, com estruturas produtivas de grande porte, burocratizadas e integradas
verticalmente. Essas estruturas eram operadas por trabalhadores que realizavam tarefas
fragmentadas e repetitivas e que possuíam baixa qualificação. De maneira sucinta, houve
exploração de métodos produtivos que proporcionaram elevadas escalas de produção e baixo
custo produtivo.
A consolidação do paradigma necessitava de condições que iam além da organização
produtiva e do trabalho imperante. Exigia ajustes político-institucionais para fazer frente às
necessidades de produção, consumo e acumulação. As mudanças institucionais estavam ligadas
essencialmente ao novo papel do Estado. De maneira geral, sua atuação seria no sentido de
estabelecer medidas para assegurar, à maior parte da população, um nível de renda nima,
manter o equilíbrio econômico e as taxas de crescimento no interior de cada Estado-Nação. A
finalidade dessas ações consistia a de favorecer o crescimento baseado na produção em massa e a
expansão do investimento e do comércio internacional (HOBSBAWM, 1994).
De acordo com o mesmo autor, a intervenção estatal na economia foi fundamental para
acelerar o ritmo do crescimento econômico. As medidas adotadas foram além dos instrumentos
convencionais de política monetária e fiscal. Sua atuação estendeu-se através da criação de um
1
O termo fordismo está associado à forma de organização industrial predominante no século XX, a de produção em
massa, inicialmente experimentada por Henry Ford na indústria automobilística americana e, posteriormente,
disseminada para todos os segmentos produtivos industriais do mundo. As inovações de processo produtivo e de
organização do trabalho, quando difundidas no sistema capitalista, se tornaram mecanismos importantes de
sustentação do crescimento de muitas economias mundiais.
Keynesianismo: Modalidade de intervenção do Estado na vida econômica, com a qual não se atinge totalmente a
autonomia da empresa privada, e que prega a adoção, no todo ou em parte, das políticas sugeridas na principal
obra de Keynes, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, 1936. Tais políticas propunham solucionar o
problema do desemprego pela intervenção estatal, desencorajando o entesouramento em proveito das despesas
produtivas, por meio da redução das taxas de juros e do incremento do investimento público.” Sandroni, P.
Novíssimo Dicionário de Economia. SP: Best Seller, 9ª Ed., 2002.
22
conjunto de instrumentos indiretos que incluíam expansão do crédito ao consumidor,
manipulação da taxa de câmbio, modificações no funcionamento do mercado de trabalho,
especialmente no que diz respeito aos mecanismos de garantias trabalhistas que mantivessem o
poder de compra da massa trabalhadora. Exemplos desta natureza são: a generalização do salário
mínimo legal, a universalização do sistema previdenciário e, nos países industrializados, a adoção
do seguro desemprego. Tais políticas almejavam garantir um nível mínimo de consumo, mesmo
em períodos de recessão. Assim, os gastos sociais aumentaram em grande monta, servindo de
base para o surgimento do Estado de Bem-Estar Social propagado após 1950.
O Estado valeu-se da maior liberdade que passou a ter na gestão da política monetária
que, por conseqüência, abriu-lhe enorme espaço de manobra na política fiscal, para estimular a
expansão da economia através do aumento de seus gastos, além do que seus recursos permitiam.
Os tomadores de decisões mantinham-se amparados nos argumentos keynesianos, os quais
difundiam a idéia de que o Estado deveria interferir numa suposta ordem natural da economia
para dinamizar um período de baixo crescimento, para incrementar o consumo através da
expansão dos gastos governamentais e aumentar os investimentos por meio de empréstimos
públicos capazes de absorver recursos ociosos.
Por razões diversas
2
, os decisores, tanto públicos quanto privados, estavam convencidos
de que o liberalismo econômico deveria ceder espaço para uma maior participação do Estado. Na
visão de Hobsbawm (1994), alguns objetivos políticos como, pleno emprego, contenção do
comunismo, modernização de economias atrasadas, ou em declínio, tinham prioridade e
justificavam a presença mais forte do setor público. Paralelo ao reconhecimento da importância
da participação de cada Estado-Nação na reconstrução da economia internacional, foram
promovidos alguns acordos internacionais que reverteram na criação de organismos
multinacionais que assumiram o papel de regular e coordenar as relações políticas, comerciais e
2
Hobsbawm (1994, p. 266-7), aponta quatro razões para a “reforma do capitalismo” ter sido amplamente aceita
pelos governantes: i) o colapso do sistema comercial e financeiro global do entreguerras; ii) perda da hegemonia
política e monetária da Grã-Bretanha, sendo assumido pelo EUA e pelo dólar; iii) a Grande Depressão, que se devera
ao fracasso do livre mercado irrestrito, assim sendo, havia necessidade do mercado ser complementado pelo
planejamento público e administração econômica; e, iv) motivos políticos e sociais demandavam a eliminação do
desemprego em ampla escala.
Hobsbawm, entende que o “capitalismo foi deliberadamente reformado” durante os últimos anos da guerra, em
grande parte pelos decisores políticos dos EUA e Grã-Bretanha. Neste período houve a dissolução do casamento
entre o liberalismo econômico e democracia social e despontou uma mistura de mercados e governos que veio a
coordenar a chamada Era de Ouro.
23
financeiras entre os Estados, como Organizações das Nações Unidas (ONU), Fundo Monetário
Internacional, Banco Internacional para Reconstrução e o Desenvolvimento e o Banco Mundial.
Sob o comando dos Estados Unidos da América (EUA), a política deliberada no período
que sucedeu a Segunda Guerra Mundial, emplacou sucesso impressionante. Os níveis de
crescimento econômico foram superiores a qualquer outro conhecido na história do capitalismo,
permitindo que se definisse esse espaço de tempo como a Era de Ouro (HOBSBAWM, 1994).
Em termos práticos, observou-se livre movimentação comercial e de capitais entre os países, isto
em função do domínio econômico norte-americano e do dólar, que funcionou como estabilizador
por estar ligado a uma quantidade específica de ouro.
Outros fatores que aparecem como de suma importância para a aceleração do processo de
crescimento, foram a Guerra Fria e a bipolaridade entre os Estados Unidos e a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). De um lado, estava os Estados Unidos configurando a
superpotência da esfera capitalista e, do outro, a URSS que representava o grande poder
socialista. Apoiado pelo discurso de impedir o avanço do comunismo e com o fracasso das
políticas adotadas pela ONU em relação aos países derrotados na guerra, os EUA mudou sua
postura em relação aos países perdedores. Respaldado pelos organismos financeiros
internacionais supracitados, favoreceu a reconstrução econômica européia e japonesa e o seu
próprio rearmamento. A reorganização econômica deu-se em meio ao aumento da exportação de
mercadorias norte-americanas para os demais países e ao endividamento financeiro de todo o
mundo (ROSSONI, 1996).
O aumento do fluxo de comércio externo entre os países proporcionou a
internacionalização das empresas americanas, especialmente junto ao mercado europeu,
intensificando a concorrência entre os países capitalistas sob o escudo dos EUA. Em
contraposição ao alastramento das firmas norte-americanas e aproveitando a onda de intenso
crescimento mundial, as economias européias e a japonesa expandiram suas atividades além de
suas fronteiras, inclusive em território americano, assegurando a articulação e modernização de
seus capitais nacionais (ROSSONI, 1996). A consolidação do modelo produtivo industrial norte-
americano representou o exemplo a ser seguido pelas demais economias capitalistas centrais,
transbordando para alguns países da periferia, como Brasil e México.
Rossoni (1996, p. 22), afirma que o novo padrão de desenvolvimento foi resultante da
reestruturação tecnológica, industrial, comercial e financeira do mundo capitalista, mas que, por
24
si só, não foi suficiente. Houve necessidade de um contramovimento da luta de classes para
impor mudanças na forma de gestão econômica, implicando um novo modo de relação entre
capital e trabalho, que passa a reconhecer o poder sindical e contratual da classe operária.
Segundo a autora, “dentro desse novo quadro, o Estado passou a garantir as condições mínimas
para a reprodução da força de trabalho e, numa política articulada com os sindicatos, procurou
compatibilizar a oferta de trabalho aos ritmos e modalidades da acumulação capitalista.” (p.
23). Essa conduta foi fundamental para compatibilizar os níveis salariais e expandir a capacidade
de consumo dos trabalhadores, de acordo com o novo padrão tecnológico e com a produção
industrial em massa.
O pagamento de salários deixou de ser visto apenas como um custo para as empresas e
passou a ser tratado como peça chave para o crescimento da demanda global. Neste sentido,
Hobsbawm (1994), enfatiza que tal concepção estava baseada num acordo tácito ou explícito
entre patrões e organizações trabalhistas, para manter as reivindicações dos trabalhadores
dentro dos limites que não afetassem os lucros(p. 276-7). O autor vai além, ao salientar que o
arranjo entre capital e trabalho era tripartite, entre os empresários e os trabalhadores estava o
governo, presidindo as negociações institucionalizadas. Tratava-se de um pacto aceito por todos.
A contratação coletiva do trabalho era apreciada pelos patrões em virtude da previsibilidade, que
tornava mais fácil o planejamento financeiro das empresas. A mão-de-obra era beneficiada por
aumentos regulares e auxílios extras, bem como pela expansão do Estado previdenciário. O
governo conseguia estabilidade política e condições favoráveis para a gestão macroeconômica
praticada, aquela de ênfase keynesiana:
“E as economias dos países capitalistas industrializados se deram esplendidamente
bem, no nimo porque pela primeira vez (fora dos EUA e talvez da Austrália)
passava a existir uma economia de consumo de massa com base no pleno emprego
e rendas reais em crescimento constante, escorada pela seguridade social, por sua
vez paga pelas crescentes rendas públicas.(Hobsbawm, 1994, p. 277)
Após duas décadas de crescimento acelerado e generalizado, a política da Era de Ouro
começa a dar sinais de desequilíbrio. A amplitude do Estado de Bem-Estar tornou-se um
problema. Os gastos excessivos com o pagamento de seguridade social manutenção da renda,
assistência e educação exigiam um aumento constante da capacidade fiscal do Estado, que por
sua vez foi perdendo fôlego em função da internacionalização das atividades econômicas. O
25
extravasamento das atividades produtivas e financeiras para além das fronteiras de cada Estado-
Nação, retirou dos governos parte dos ganhos fiscais, mas não os ausentou da obrigação de
continuar articulando e financiando a reprodução do capital e da força de trabalho. Daí a
existência de crescentes déficits públicos.
De acordo com Dupas (1999), outra premissa básica da manutenção do equilíbrio
consistia na coordenação entre o crescimento da produção e os ganhos que mantinham os lucros
estáveis. Qualquer indício de queda na produtividade, ou de aumento desconforme nos salários,
resultaria em desestabilização do sistema. Como no pós-guerra havia a necessidade de estimular
o consumo, os salários tinham que subir com rapidez para manter o mercado ativo, sem encolher
os lucros. Entretanto, a constante pressão por aumento salarial, a queda da produtividade da mão-
de-obra em vários países e a diminuição do grande reservatório de trabalhadores, que alimentava
o crescimento industrial, reduziu a margem de rentabilidade de muitas empresas.
Não podendo alterar os custos com pagamento de salários, os empresários aumentaram
seus preços, desencadeando uma espiral inflacionária, uma vez que o aumento nos preços, refletia
em incrementos salariais. A conseqüência final deste fluxo foi o aumento do desemprego, pois
com lucros menores, os empresários passaram a investir menos. Além disso, a diminuição dos
aumentos dos salários reais – para compensar a queda da taxa de lucro comprimia os mercados.
Todavia, por conta do compromisso fordista, a ajuda ao desemprego e aos programas sociais,
seguravam a demanda interna, o que continuava a acelerar a inflação.
Para Dupas (1999), essas transferências sociais mostravam-se muito danosas para a
economia, tanto para os salários, quanto para os lucros. Em busca do restabelecimento das
margens de lucro, as empresas multinacionais fragmentaram seu sistema produtivo pelos
continentes e estabeleceram vínculos de subcontratação com países da periferia que, mais tarde,
vieram a ser industrializados. Desta maneira, o Estado que possuía controle sobre a oferta e a
demanda, perde o domínio sobre os mercados nacionais.
A fase inicial da crise foi marcada pela lentidão do crescimento da produtividade dos
setores industriais, que, então expressavam o padrão tecnológico dominante e impulsionavam o
desenvolvimento econômico (automobilístico, metal-mecânico e petroquímico), assim como pela
morosidade no surgimento de novos produtos que dinamizassem o mercado consumidor
(COSTA, 1994).
26
Neste contexto, estavam evidentes os sinais econômicos de que o período de intenso
crescimento não iria se perpetuar: as crises inflacionária e fiscal limitavam os investimentos
público e privado; a progressiva saturação dos mercados internacionais de bens de consumo
duráveis exigia do sistema produtivo mudanças significativas nos padrões vigentes, para as quais
não foram capazes de dar retornos imediatos, devido ao enfraquecimento da capacidade dinâmica
do progresso técnico; e a reconstrução econômica dos países da Europa Ocidental e do Japão,
apoiada e financiada pelos EUA, possibilitou o ressurgimento de algumas nações como potências
industriais (Alemanha e Japão), reaquecimento da economia dos demais países da Europa
Ocidental e a emergência de novos países industrializados (especialmente Brasil e os chamados
Tigres Asiáticos), mas que, ao fim do processo, resultou em diminuição do poder de influência
dos Estados Unidos sobre o desenvolvimento do mundo capitalista. A conseqüência imediata da
perda da hegemonia norte-americana foi a desestabilização do sistema monetário internacional
com base no padrão dólar-ouro (HOBSBAWM, 1994).
De acordo com Costa (1994), o processo de desaceleração foi alimentado pela forte
elevação do preço do petróleo em 1973-74, implicando redução do ritmo de crescimento de
alguns setores e desestabilizando financeiramente as principais economias industrializadas nos
anos subseqüentes. Sua extensão, no período entre 1979 e 1983, foi provocada pelo segundo
choque nos preços do petróleo e pela elevação das taxas de juros internacionais, resultando em
estagnação da economia mundial e aumento dos custos da produção industrial.
Apesar do desaquecimento da economia mundial ser claro após a primeira crise nos
preços do petróleo, havia a crença de que a recessão seria de curto prazo. Uma das formas de
mostrar que os governantes não acreditavam em colapso do sistema existente, deu-se através da
continuidade das políticas macroeconômicas keynesianas, onde os Estados, mesmo com
problemas em seus balanços de pagamentos, adotaram políticas fiscais e monetárias
expansionistas com o objetivo de fomentar a retomada do crescimento econômico. Esta decisão
abrandou a crise existente, porém os Estados acumularam déficits crescentes em suas contas e se
intensificaram as pressões inflacionárias. Diante das fragilidades existentes, o segundo choque
do petróleo, em 1979, evidenciou os limites desta política.
O período que compreende desde o final da década de 1960 até o início da década de
1980, demonstra um enfraquecimento na ordem econômica e social do regime de acumulação e
modo de produção fordista. A incapacidade do modelo keynesiano de enfrentar a crise com
27
eficácia, em virtude dos elevados déficits públicos derivados das políticas econômicas
expansionistas e de bem-estar social, abriu espaço para a efetivação das críticas que vinham
sendo feitas pelos defensores do liberalismo econômico, agora sob a denominação de neoliberais,
à excessiva intervenção estatal
3
.
Para Anderson (1995), a grande crise do modelo econômico do pós-guerra, combinando
baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação, alertou o mundo capitalista avançado
para as necessidades de mudanças em suas políticas econômicas. A partir daí, ganharam terreno
as idéias neoliberais. Esta corrente de pensamento afirmava que as raízes da crise estavam
concentradas no poder excessivo dos sindicatos e, de forma geral, do movimento operário que
havia corroído as bases de acumulação do capitalismo com as constantes pressões por aumentos
salariais, e reivindicações para que o Estado aumentasse cada vez mais os gastos sociais.
Tais processos diminuíram a lucratividade das empresas e desencadearam a evolução
inflacionária que, pelo seu curso natural, desfechariam numa crise generalizada das economias de
mercado. O tratamento recomendado era evidente: o Estado deveria permanecer forte, porém
teria que mudar sua ênfase de conduta. Suas prioridades seriam enfraquecer o poder dos
sindicatos, controlar o orçamento e interferir o mínimo nas atividades econômicas. O
comprometimento dos governos estaria, em primeiro lugar, com a estabilidade monetária. Para
tanto, seria necessário: empreender disciplina orçamentária, conter os gastos com o bem-estar, e
restaurar uma reserva de trabalhadores desempregados, para diminuir o poder dos sindicatos. Em
segundo lugar, reformas fiscais eram imprescindíveis, para incentivar os agentes econômicos. Os
neoliberais acreditavam que o crescimento retornaria, quando a estabilidade monetária e os
incentivos essenciais houvessem sido restituídos (ANDERSON, 1995).
A ascensão do ideário neoliberal ocorreu a partir de 1979, com a eleição do governo
Thatcher, na Inglaterra, que se constitui no primeiro país de capitalismo avançado, empenhado
em r em prática o novo regime. Um ano depois, em 1980, Reagan chega ao poder nos EUA
com o propósito de instituir a mesma política no seu país. A partir daí, o receituário neoliberal
começou a ganhar força junto às outras nações capitalistas, expandindo-se por quase todos os
países do mundo contemporâneo. A maior preocupação dos gestores públicos passou a ser a
promoção de reformas nas funções e formas dos Estados nacionais.
3
Anderson (1995), afirma que em função do capitalismo avançado ter entrado numa fase de auge sem precedentes
no s-guerra, os avisos neoliberais de que qualquer tipo de regulação do Estado poderia ser prejudicial à economia,
não foram levados a sério.
28
Na concepção de Arienti (2002), as reformas foram orientadas no sentido de reduzir o
tamanho do aparelho estatal, tornando as unidades estatais mais eficientes em termos gerenciais e
microeconômicos. A primeira delas ficou concentrada na questão da crise financeira dos Estados
e nos desequilíbrios macroeconômicos. As recomendações picas foram de restrição
orçamentária e monetária e de abertura comercial, o que reduziu as características keynesianas
das políticas econômicas e de proteção à economia nacional.
A segunda tinha como objetivo, transferir para as empresas privadas a oferta de bens e
serviços realizada pelas empresas estatais. Conjugado com a meta de, no curto prazo, resolver os
problemas financeiros do Estado, estava o objetivo de introduzir uma cultura de rentabilidade
provada na produção de bens públicos e, por conseqüência, de regulação via mercado na esfera
do consumo. Esta orientação deu início ao processo de privatização das empresas estatais e seu
desdobramento resultou em mudanças no aparelho estatal, na direção da criação de mecanismos
de regulação da concorrência das atividades relacionadas ao consumo coletivo.
A terceira caracterizava-se pela tentativa de modernização da administração pública, que
remetia à construção de estratégias voltadas para mudanças na produção de bens e serviços
públicos e sociais que permaneceram sob responsabilidade do Estado. Isto implicava a introdução
de modos de gerenciamento e controle nos moldes das empresas privadas pós-fordismo, visando
à maior eficiência e redução dos custos.
A ênfase da quarta reforma seria realizar alterações substanciais no regime de bem-estar
social. Nesta direção, processaram-se as mudanças nas funções do Estado, dissolvendo, ainda que
parcialmente, o compromisso social do fordismo. O mecanismo utilizado para concretizar tal
modificação constitui-se basicamente no corte dos gastos com assistência social que ultrapassasse
as receitas vindas das contribuições dos trabalhadores. As mudanças levaram à contenção no
crescimento do regime de bem-estar, à redução de privilégios e exageros, e a um controle
financeiro para reduzir as transferências do orçamento do governo.
Portanto, a reforma do Estado passou a ser um projeto amplo que diz respeito às várias
áreas do governo e ao conjunto da sociedade. O Estado deixa de ser o responsável direto pelo
desenvolvimento econômico e social, para fortalecer-se em uma nova função, a de promotor e
regulador desse desenvolvimento. No plano econômico, transforma-se apenas num instrumento
de transferência de renda, coletando os impostos e os destinando aos objetivos clássicos de
29
garantia da ordem interna e da segurança externa, aos objetivos sociais e aos objetivos
econômicos de estabilização e desenvolvimento (BRESSER PERREIRA, 1998).
O Estado não perde sua soberania, de apoio à acumulação e de hegemonia política e
controle social, porém, exerce tais funções num contexto diferente (ARIENTI, 2002). Frente às
mudanças impostas pela nova conjuntura internacional, os Estados realinham suas estratégias
políticas para atender a nova ordenação da dinâmica institucional deslocando o poder, por
exemplo da esfera nacional para a internacional, ou formando redes horizontais de poder
regional e entre governos e organizações da sociedade civil blocos de comércio, como
Comunidade Européia, Nafta e Mercosul.
De acordo com Hobsbawm (1994), a nova posição seguida pelos governos em relação às
políticas macroeconômicas de enxugamento da máquina estatal e de reorganização da estrutura
de poder entre as nações, foi também uma resposta às novas exigências postas pelas empresas
privadas dentro da busca pela sua sobrevivência, no momento de profundas mudanças do
capitalismo. O período de transição pós-fordista é marcado pela manifestação da necessidade de
criação de novos mecanismos de absorção e ampliação do capital disponível. Assim, os grupos
econômicos adotaram outra postura sobre a divisão internacional da produção e do trabalho. Num
primeiro estágio, em função da crescente onda de redução da proteção dos mercados nacionais e
incentivos à entrada de mercadorias e capitais, as empresas encontraram condições favoráveis
para a internacionalização da produção, passando os grupos econômicos a se enfrentarem numa
estrutura oligopolizada mundialmente (CHESNAIS, 1996).
Para Baumann (1995, p. 44-5), a interação entre os agentes de diversos países,
obedecendo à estrutura decisória de uma empresa cada vez menos sujeita às determinações das
políticas nacionais, levou ao encurtamento do ciclo dos produtos, e à transição da competição em
termos de produto para aquela voltada às tecnologias de processo (crescentes custos em pesquisa
e desenvolvimento de produtos, formação de alianças estratégicas entre firmas competidoras,
refinamento da capacidade à maior rapidez de resposta a variações na estrutura de demanda).
Além disso, a ligação entre empresas de diferentes partes do mundo foi acelerada em virtude da
livre circulação do capital. Para o autor, uma das peculiaridades desse comportamento das
grandes corporações internacionais decorre, em boa parte, do aumento da importância dos fluxos
de investimento externo.
30
As estratégias competitivas delineadas, por parte de cada unidade nacional, tendem a
maximizar atributos associados à redução dos custos, como forma de atrair e reter o maior
volume possível de investimento externo. Nesta perspectiva, as economias capitalistas avançadas,
motivadas pela adoção de meios de redução dos custos de produção e pelo acirramento da
concorrência entre países e empresas na captação dos capitais livres, consolidaram tendências à
introdução de inovações tecnológicas, gerenciais e organizacionais que resultaram em mudanças
na base técnica da indústria e conformaram um novo padrão de desenvolvimento industrial
(BAUMANN, 1995).
Os avanços tecnológicos tiveram por meta: reduzir o peso relativo de insumos tradicionais
e do trabalho no valor das mercadorias e melhorar a qualidade dos produtos, através do
desenvolvimento de novos materiais e da modificação no processo de produção; reduzir os custos
do capital e flexibilizar a produção, via adoção de técnicas que reduzissem o tempo de operação e
de necessidade de estoque (Just in Time, Kan ban); acelerar o lançamento de inovações de
produto para criar novos mercados e incentivar o consumo.
A necessidade de conquistar novos mercados instigava as grandes empresas a atuarem em
esfera global que, de maneira direta ou indireta, abria espaços para o desenvolvimento econômico
internacional, em especial nas áreas de comunicações e de informática. Este processo de
reestruturação foi acompanhado por uma reorganização da administração empresarial e pela
intensificação das inovações financeiras
4
.
Os fatores mencionados demonstram que as estratégias de reestruturação industriais
desenhadas na década de 80
5
, estiveram associadas a determinados elementos: i) a
desregulamentação financeira que concedeu ampla mobilidade aos capitais na conquista de
melhores condições para a sua ampliação, movimentando-se para os lugares onde são
encontrados os menores custos e os maiores rendimentos; ii) mudança na forma de inserção
4
A mundialização não diz respeito apenas às atividades dos grupos empresariais e dos fluxos comerciais, inclui
também a globalização financeira, que deve ser pensada como uma fase específica do processo de
internacionalização do capital e de sua valorização à escala do conjunto de regiões do mundo onde recursos ou
mercados. Este aspecto demonstra que ela pode ser seletiva e excludente. Os países que não apresentarem nenhuma
característica atrativa para os capitais disponíveis serão excluídos do sistema globalizado de produção. Chesnais, F.,
A Mundialização do Capital, cap. 01, 1996.
5
Seguindo a tendência apontada pelo Governo e empresas japonesas, após a crise de 1973 e 1975, que estabeleceram
uma parceria para relocalização dos recursos de empresas altamente dependentes de energia e matérias-primas para
setores com elevado potencial de geração e difusão de progresso técnico sobre a indústria como um todo. Costa, C.A.
N., Política Industrial no Brasil 1974 – 1989. Campinas: Unicamp, 1994 (Tese de Doutoramento) – IE/Unicamp.
31
internacional das economias, deixando de ser via exportações e abrindo espaços para atividades
que combinam exportações e suprimentos externos, investimentos estrangeiros diretos e alianças
internacionais; e, iii) passagem do padrão de produção fordista para o novo modelo baseado nas
tecnologias da informação e comunicação que funcionaram como condição permissiva e de
intensificação das atividades econômicas em escala global.
De acordo com Coutinho (1992), a emergência do paradigma tecnológico trouxe consigo
várias tendências no cenário mundial, dentre as quais podem ser citadas: i) o peso crescente do
complexo eletrônico nos mais variados ramos industriais, sobretudo o automobilístico, o
siderúrgico, o de bens de capital e o de bens de consumo duráveis; ii) revolução no
relacionamento entre capital e trabalho, inclusive no que tange à questão da formação
profissional e educacional dos trabalhadores; e, iii) transformação das estruturas e estratégias
empresariais, onde as estruturas industriais oligopolizadas e as estruturas financeiras passaram a
formular estratégias mundiais e não mais locais, e a alinhavar alianças tecnológicas favoráveis
com o objetivo de se manterem competitivas no novo ambiente conformado.
Várias propensões organizacionais evoluíram do processo de reestruturação capitalista e
da transição industrial, mesmo existindo expressões culturais multivariadas. Porém, foram
observadas características comuns entre os diversos sistemas organizacionais como, por exemplo,
a introdução de novas tecnologias que permitiram flexibilidade produtiva, forçando mudanças
nos processos de produção, nos insumos, na composição dos espaços de comércio, na
movimentação dos capitais financeiros e da velocidade de circulação da informação.
Estas características abriram a possibilidade das empresas trabalharem organizadas em
forma de rede podendo produzir em diversos locais do mundo. A organização das empresas no
formato de redes foi facilitada pelas tecnologias da informação e comunicação, que
proporcionaram radical ruptura quanto à extensão dos contatos e de trocas de informações
possíveis entre os atores individuais e coletivos, e permitiram a introdução de modernos métodos
de gerenciamento, possibilitaram a terceirização de inúmeras atividades e a adoção de tecnologias
que integram todas as plantas coordenadas pela empresa principal
6
.
6
A difusão do novo padrão de conhecimento, também denominado de economia informacional, implicou em novas
formas de organização e interação entre as empresas e outras instituições, maior inclinação por parte das firmas para
o estabelecimento de parcerias e cooperação com outras empresas para ocupar espaços não alcançados sozinhos ou
para reduzir as incertezas envolvidas neste novo tipo de organização. Castells (1996).
32
Dessa maneira, a dinâmica econômica adquiriu contornos efetivamente mundiais nos anos
80
7
, expressando uma nova fase do capitalismo. A necessidade de criar novas condições para
absorver o capital disponível, forçou alterações de ordem política, social, comercial, financeira e
tecnológica. As referidas condições foram dadas pela liberalização dos mercados, pelas
privatizações, pelas desregulamentações, pelo desmantelamento de conquistas sociais, sendo
todas somadas a um conjunto de mecanismos de regulação dos Estados e mudanças nos meios
produtivos, proporcionados por alterações na base tecnológica (COUTINHO, 1997; DINIZ,
2000).
As características e a natureza das transformações indicam que a “globalização” não
significa apenas um aumento da internacionalização da produção e da ampliação dos mercados
mas sim uma mudança nas relações de poder, na criação de cadeias de valor baseadas em novas
formas de cooperação e competição e na diminuição das autonomias monetárias nacionais.
Baumann (1995, p. 46-7), descreve tais relações econômicas como “paradoxos da globalização”,
e relaciona algumas contradições desse processo: i) o principal paradoxo está associado à
crescente necessidade de adaptação das políticas nacionais ao modelo produtivo
internacionalizado e a um maior grau de interdependência com outras economias; e, ii) outra
situação intrigante apontada, reporta ao papel do Estado-Nação enquanto negociador das políticas
internacionais, a ele cabe o papel de ajustar os interesses de cada país aos das empresas
transnacionais, uma vez que estas imprimiram sua expansão de forma expressiva como agentes
determinantes do capital internacional.
Fortalecendo tal ponto de vista, Diniz (2000), afirma que, de maneira geral, (...) cresce a
interdependência mas alteram-se as formas de contratação, competição, cooperação e
dependência, bem como as relações entre Estados Nacionais, entre Estado e as empresas
privadas, em um processo simultâneo de homogeneização e diferenciação(p. 2). Considerando
tais fatores, observa o autor, a globalização exerce pressão crescente sobre os governos para que
liberalizem suas políticas relativas às transações internacionais. As decisões de investimentos
externos estão cada vez mais associadas às vantagens comparativas construídas, também
chamadas de condições sistêmicas (criação de infra-estrutura local e de qualificação da força de
trabalho).
7
Processo designado como globalização.
33
2.1.1 O padrão de competição dos anos 90
O novo formato das relações produtivas reflete as mudanças ocorridas na dinâmica social
e econômica das últimas décadas. A passagem para a chamada economia informacional ocorreu
baseada na revolução da microeletrônica (rápida difusão tecnológica e organizacional),
implicando alterações nas estruturas de pesquisa, produção e comercialização entre todas as
regiões do planeta.
No âmbito da nova ordem em ascensão, acreditava-se que se romperiam todas as
barreiras entre países e regiões sejam elas econômicas, políticas, sociais ou culturais, que não
haveria fronteira geográfica, nem lealdade entre localidades e a nenhum Estado-Nação, em
virtude da universalização monetária e dominação tecnológica e econômica das grandes
corporações (LASTRES et al., 1999). A sede dessas empresas seria fixada no país que oferecesse
as vantagens consideradas prioritárias para a firma, criando e mantendo o produto e a tecnologia
do processo nesse espaço. Porém, a difusão das tecnologias da informação e comunicação
(TIC’s) permitiu um novo fenômeno: a possibilidade de articulação entre os espaços locais e o
mercado global sem a interferência direta do nacional, destituindo a idéia de homogeneização dos
espaços econômicos nacionais (DINIZ, 2000).
A transferência das negociações para o local propicia, entre outros elementos, novas
formas de segmentação do mercado de trabalho, aumento da autonomia financeira das
localidades e mudanças nas políticas de promoção do desenvolvimento e do bem-estar
8
. Destarte,
a “globalização” reforça a importância das localidades e não elimina os contextos sociais e
institucionais locais. Segundo Diniz (2000, p. 4), a confluência do nexo global-local estabelece
novas formas de competição e relações: uma associada às técnicas de produção e relações
mercantis, onde o processo de inovação é central; e outra ligada aos fatores intrínsecos ao local,
por exemplo identidade cultural, interação entre os agentes e cultura industrial.
O sucesso econômico de cada país, região ou localidade passa a depender da capacidade
de especialização naquilo que lhes ofereça vantagens comparativas efetivas e dinâmicas. Desta
8
A redução das desigualdades dos espaços para movimentação do capital, das mercadorias e do trabalho e o reforço
das instituições e políticas locais são responsáveis pela criação da forte competição interterritorial, a exemplo da
União Européia ou da “guerra fiscal” no Brasil (Prado e Cavalcanti, 2000).
34
maneira, as tendências recentes sobre o desenvolvimento ressaltam que as vantagens
comparativas entre as nações, deixaram de depender da dotação de fatores e de recursos naturais
e passaram a depender, cada vez mais, de resultados de estratégias privadas e/ou públicas de
investimento no processo de inovação. Além dos atributos já possuídos, a competitividade está
ligada à capacidade de inovar inventar e introduzir produtos e processos diferentes daqueles
existentes e fica condicionada à capacidade dos empresários em promover pesquisa e
desenvolvimento e identificar novos produtos e processos que garantem o sucesso econômico,
bem como à capacidade do local em aprender e garantir um ambiente para que o processo ocorra.
Neste cenário, Lemos (2003, p. 56), evidencia que o conhecimento é a base fundamental
para a criação de competências e crucial para o desenvolvimento. Nessas condições, os processos
de criação e desenvolvimento de capacitações, ou seja, de aprendizagem, tornam-se a melhor
forma para os indivíduos, empresas, regiões e países ficarem aptos para enfrentar as mudanças
em curso, intensificarem a geração de inovações e se capacitarem para a inserção mais positiva.
Para Lemos (2003), as características do atual paradigma baseado fortemente no
conhecimento e com mudanças extremamente rápidas impõem uma maior intensificação do
aprendizado(p. 67). Por esse motivo, é importante que haja uma capacitação adequada através
de aprendizado constante e isso acontece de forma plena, se houver interação para a troca de
informações, conhecimento codificado e tácito e possibilidade de interligação de atividades
complementares entre eles.
Portanto, conforme a autora, o processo de desenvolvimento de conhecimento e inovação
envolve a criação de capacitações científicas, tecnológicas e organizacionais e esforços
consideráveis de aprendizado com experiência própria, no processo de produção (learning-by-
doing); no processo de busca por novas soluções técnicas nas unidades formais e informais de
pesquisa e desenvolvimento (learning-by-searching); na troca de experiências e interação entre
os mais variados agentes que fazem parte do ambiente inovativo centros de pesquisa,
fornecedores de insumos, produtores, usuários (learning-by-interacting); ou mesmo em
processos de imitações de produtos disponibilizados no mercado (learning-by-imitating).
Segundo Lemos (2003), no contexto do novo paradigma, onde a competição não se mais via
preço, o essencial não é apenas ter acesso à informação ou possuir um conjunto de habilidades, é
sim, ter capacidade para adquirir novas habilidades e conhecimentos (learn-to-learn).
35
O processo de inovação é interativo, realizado com a contribuição de variados agentes
econômicos e sociais que possuem diferentes tipos de informações e conhecimentos
9
. Assim,
aqueles que tiverem capacidade de lidar eficazmente com a informação, facilmente difundida
pelo advento das tecnologias da informação e comunicação, serão capazes de melhorar a
produtividade e a competitividade e, conseqüentemente, criarem condições para adentrarem no
mercado global.
No âmbito da discussão sobre o conhecimento como propulsor do desenvolvimento,
reconhece-se que sua geração é resultado de um projeto que envolve tanto atividade formal de
pesquisa e desenvolvimento e ensino, como os fluxos correntes das atividades da empresa e de
sua interação com o ambiente que a cerca. Experiências, habilidades e capacitações incorporadas
nas pessoas e nas organizações transferem-se de uma atividade econômica para outra tendendo a
organizar as condições de contexto específico do país, região, ou mesmo da empresa,
determinando diferentes incentivos, estímulos e restrições às inovações (DOSI, 1982; DOSI, et
al., 1988; TEECE, 1998).
Neste sentido, o debate referente ao desenvolvimento dos países nos anos 90, recai sobre a
necessidade de priorizar os espaços locais, pois neles se encontram procedimentos e informações
que são únicas e não podem ser codificadas. Formatos organizacionais baseados na proximidade
local, ou aglomerações produtivas que se baseiam em redes locais de cooperação, podem
proporcionar força competitiva aos agentes, bem como vantagens comparativas, pois o ambiente
oferece aspectos positivos como aprendizado interativo, proximidade geográfica e cultural, oferta
de qualificações técnicas e organizacionais e conhecimentos tácitos acumulados (CAMPOS,
2003).
Os teóricos da moderna economia capitalista acreditam que, no estágio atual, onde as
atividades econômicas e sociais estão envolvidas num ambiente globalizado e de produção
internacionalizada, os Estados nacionais devem concentrar seus esforços em dinamizar os setores
que apresentam as maiores vantagens competitivas. Assim sendo, as estratégias de
desenvolvimento devem voltar seu foco para a construção de redes locais e regionais,
independentes ou conectadas com as redes globais, com o objetivo de reforçar o sistema
9
Os conhecimentos envolvidos na geração de inovações podem ser tanto codificados como tácitos, públicos ou
privados e vêm se tornando cada vez mais inter-relacionados. A formação do conhecimento advém do processo
interativo inter, intrafirmas e outros agentes econômicos e sociais e se caracteriza pelas relações em nível local,
nacional e regional.
36
produtivo e inovativo dos países, pois a cooperação entre empresas, regiões e países pode
aumentar seu poder de inserção no processo de produção global (PEREZ, 2001).
Lemos (2003), acredita que os sistemas produtivos e inovativos locais são a expressão da
nova configuração das relações produtivas mundiais, pois reúnem num espaço geográfico
concentrado, agentes com considerável estoque de conhecimento tácito e codificado, cuja
interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em inovação, cooperação e
aprendizagem, possibilitando inovações de produtos, processos e formatos organizacionais e
gerando maior competitividade empresarial e capacitação social.
O novo padrão de produção baseado no paradigma da microeletrônica e da telemática
importou à década de 90 uma etapa de experimentação em todas as partes, dentro e fora das
empresas globais nas economias, nos governos e instituições e nos distintos níveis da sociedade
(PEREZ, 2001). O uso da tecnologia como estratégia de desenvolvimento, exigiu maior
importância na geração da capacidade de aproveitar a informação e o conhecimento em áreas da
inovação. Para tal, fez-se necessário o fortalecimento da capacidade de aprendizagem individual
e social para gerar riqueza e aumentar o potencial de desenvolvimento.
37
3 A DINÂMICA DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL NO BRASIL
Perante a necessidade de enquadramento na nova ordem econômica mundial, a economia
nacional passou por um processo de reestruturação bastante acentuado nas últimas décadas. Os
desafios frente às rápidas mudanças impostas pelas grandes transformações políticas, industriais,
tecnológicas, financeiras e organizacionais, resultantes da mudança de paradigma tecno-
econômico, impetraram alterações significativas na maneira como vinha sendo conduzido o
processo de desenvolvimento da economia brasileira.
Os processos de endogeneização e diversificação do sistema produtivo nacional,
consolidados pelo modelo de desenvolvimento substitutivo de importações, perderam o
dinamismo com o início da crise recessiva mundial, ocorrida em fins da década de 70. Os
reflexos negativos da conjuntura externa desfavorável foram sentidos pela redução da capacidade
do setor público, em dar continuidade aos investimentos no setor produtivo, em função do
esgotamento do padrão de financiamento. Este fato ampliou a incerteza do setor privado que, por
sua vez, também diminuiu suas inversões. Face à crise financeira e fiscal do Estado e da
aceleração das taxas inflacionárias, a década de 80 foi marcada por ações de curto prazo que
visavam a cessar o processo inflacionário e gerar saldos positivos na balança comercial para
tentar resolver os problemas da dívida externa.
Entretanto, tais estratégias não foram suficientes para reestruturar o sistema produtivo
existente e igualar a estrutura industrial brasileira à mundial. A mudança efetiva de trajetória das
políticas de desenvolvimento começou a ser desenhada no final da década de 80, quando foram
iniciados os processos de abertura comercial e de desregulamentação do sistema produtivo
estatal. Esses mecanismos foram acelerados na década de 90, momento em que o governo
brasileiro, com o intuito de estimular a concorrência e modernizar a economia, implantou uma
política de abertura comercial e financeira, concomitante à aplicação de uma política de
estabilização baseada em reformas monetária e cambial e promoveu condições para atrair capitais
externos nas formas financeira e produtiva.
As transformações da economia internacional e as opções de política interna resultantes
da crise vivida pelo Estado, refletiram diretamente sobre a dinâmica espacial do mercado
38
brasileiro que, até início da década de 80, vinha sendo sustentado por políticas públicas que
visavam à integração das estruturas regionais, elevando o grau de interdependência e
complementaridade entre os diversos núcleos produtivos. As ações diretas do governo federal
para a promoção do desenvolvimento regional foram sendo deixadas de lado em favor de
processos que não mais se referiam simplesmente à constituição do mercado nacional.
A grande questão, conforme Cano (1997), passou a ser a busca pela eficiência
competitiva, requisito primordial para o maior enquadramento aos fluxos internacionais de
comércio, capitais e produção, segundo as idéias neoliberais e as exigências do padrão de
industrialização flexível. Na tentativa da crescente integração ao mercado externo, foram sendo
adotadas medidas que atendiam os pré-requisitos do novo padrão de competição internacional e,
por conseqüência, privilegiavam os espaços mais dinâmicos da economia nacional. Com isso, o
processo de desconcentração produtiva que vinha ocorrendo de forma acelerada desde a década
de 70, sofre uma inflexão.
O enfraquecimento do Estado, enquanto executor de políticas voltadas para a eqüidade
regional, e a disseminação do ideário neoliberal, trouxeram novamente à tona o debate em torno
da questão regional. Nos anos 90, com a concessão de maior poder aos governos sub-nacionais,
iniciou-se uma acirrada competição inter-regional para atrair novos investimentos, além do que,
as regiões viram-se forçadas a encontrar soluções autônomas para a sobrevivência no mundo
globalizado. Nesse ínterim, foram e estão sendo privilegiadas as regiões que oferecem as
melhores condições de competitividade, especialmente, a Sudeste.
Dentro do contexto de constituição, ampliação e desaceleração do processo de
desconcentração da estrutura produtiva brasileira, as diversas regiões lograram diferentes níveis
de desenvolvimento, apresentando configurações econômicas distintas. Sabendo-se dessas
desigualdades, torna-se interessante estudar o comportamento da economia catarinense no âmbito
desses movimentos amplos, uma vez que já é fato conhecido que o estado se desenvolveu
engajado ao processo de industrialização nacional.
3.1 A constituição das bases produtivas e o processo de concentração econômica regional
39
A problemática do desenvolvimento regional brasileiro está diretamente associada às
condições históricas de constituição da industrialização nacional. Na etapa que compreende o
final do século XIX até os anos 30, as condições para a industrialização são dadas pela
canalização da massa do capital da economia cafeeira para o setor industrial, como meio para
suprir as necessidades criadas pela nova dinâmica do mercado consumidor interno (o aumento da
força de trabalho livre e assalariada exigia maior oferta de bens de consumo não duráveis,
especialmente alimentos e vestuários). A relação efetiva entre capital cafeeiro e capital industrial
direcionada para a reprodução da força de trabalho gerava recursos para a instalação da indústria
de bens de consumo não duráveis, enquanto a indústria garantia a reprodução da força de trabalho
no campo e, ao mesmo tempo, era dependente deste mercado.
A partir do início da década de trinta, a economia nacional começou a trilhar um novo
perfil no padrão de acumulação. A Grande Depressão e a conseqüente crise no setor cafeeiro,
imprimiram mudanças na formação do capital que, até então, estava baseado no setor mercantil
agrário-exportador. Através da participação efetiva do Estado, começaram a se constituir as bases
materiais para a expansão industrial e interligação entre as diversas regiões.
No entanto, devido às limitações na capacidade de importar bens e pelas frágeis bases
técnicas e financeiras endógenas, o capital disponibilizado era insuficiente para a expansão
efetiva da indústria. Segundo Cano (1998), a política de recuperação e as diretrizes seguintes,
possibilitaram que a indústria previamente instalada, tanto em São Paulo, quanto nas demais
regiões, pudesse dar origem ao processo de industrialização. A necessidade de conquista de
novos mercados forçou a ampliação da complementaridade agrícola e industrial inter-regional.
Entretanto, os escassos investimentos feitos neste período concentraram-se nas áreas que
constituíam o núcleo dinâmico da economia nacional, especialmente o estado de São Paulo, pois
naquele espaço já estavam assentadas as bases para a ampliação da acumulação do capital
industrial do país. Nesta fase, os capitais despendidos foram destinados para a criação do
departamento de bens de produção e para a constituição básica da indústria pesada
(OLIVEIRA,1977).
De acordo com Pacheco (1996), a integração do mercado nacional, neste estágio, deu-se
através do aumento das trocas comerciais entre as diversas regiões, intercâmbio esse que foi
possível em razão do aumento dos investimentos estatais no sistema de transportes. Com o
estímulo à industrialização comandado pelo Estado, são intensificadas as trocas comerciais entre
40
as diferentes unidades federativas, mesmo que o investimento maciço tenha se concentrado em
São Paulo, a expansão urbana e industrial daquele estado gerou aumento da demanda por novas
mercadorias, incentivando a elevação de investimentos em todo território nacional. Para Diniz
(2002), tais movimentos constituíram o fundamento para a existência de um processo de
concentração econômica regional e para o estabelecimento de uma divisão inter-regional do
trabalho no Brasil.
Neste contexto, as demais regiões do país, classificadas por Tavares (1998) como
economias periféricas, apresentaram movimentos variados. Aquelas que possuíam maior
articulação comercial com a economia paulista, como a região Sul e os demais estados do
Sudeste, lograram consideráveis avanços. Aquelas que estavam descoladas da região dinâmica
central e não apresentavam em suas bases relações capitalistas de produção mais avançadas,
especialmente o Nordeste e o Norte, não suportaram a concorrência da indústria paulista e foram
sufocadas
10
.
Entre 1945-1955, o crescimento industrial experimentou movimentos distintos de
incentivo à acumulação que, de maneira direta ou indireta, acabaram contribuindo para a
mudança no padrão de acumulação da indústria localizada nas regiões periféricas. O principal
mecanismo utilizado pelo governo foi a proteção ao mercado interno, através de impedimentos
impostos à importação de produtos que possuíam similares nacionais. Nesta fase, o processo de
substituição de importações privilegiou os bens de consumo imediatos (SERRA, 1998).
A dinâmica de integração, vivida até meados da década de 50, comandada pelo
espraiamento da economia paulista em busca de novos mercados para seus produtos e para
compra de insumos variados, proporcionou às áreas periféricas a expansão das atividades pré-
existentes e a diversificação das atividades em ramos de bens intermediários como madeira,
cimento, minerais e produtos químicos. A intensificação das atividades industriais impulsionou a
urbanização que, por seu turno, desencadeou efeitos positivos sobre o setor terciário, construção
civil e sobre o consumo de alimentos. Estes movimentos contribuíram intensamente para reforçar
a expansão agrícola e industrial dos diferentes espaços produtivos brasileiros (CANO, 1998).
10
Segundo Cano (1998, p. 288), a maior disseminação dos efeitos positivos derivados da expansão do pólo
prevaleceram, principalmente, em áreas vazias mais próximas e mais receptivas a um processo de intensificação de
maiores relações capitalistas de produção. Entre estas, podem ser destacadas algumas regiões de São Paulo, o Paraná,
o Triângulo Mineiro e parte do Centro-Oeste, Ou áreas próximas, ocupadas, mas também receptíveis aos
estímulos, como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais. As áreas mais distantes e de
ocupação mais antiga, receberam menos estímulos (Nordeste e Norte). Isto em função da falta de interligação de
transporte e pela falta de maiores relações capitalistas de produção.
41
Uma vez estabelecidas as pré-condições essenciais para um salto definitivo no
estabelecimento de uma economia industrial, o sistema produtivo instalado requeria e dependia
da expansão de outros setores como, bens de consumo duráveis e bens de capital, para dar
continuidade ao processo de diversificação e acumulação do capital. Esse avanço foi registrado
sob o impulso do Plano de Metas do Governo Kubitschek (1956-60), caracterizando-se por uma
intensa diferenciação industrial, num espaço de tempo relativamente curto, e como um processo
diretamente articulado pelo Estado.
A ênfase dada pelo Plano de Metas ao setor industrial foi a de conceder atenção especial
aos setores de bens intermediários, de capital e de consumo durável. Para tal, foram oferecidas
garantias a créditos estrangeiros, concessão de financiamentos nacionais de longo prazo, além da
reserva de mercado. A intenção do governo, ao privilegiar um seleto grupo de indústrias, era a de
atender déficits da demanda interna e complementar e integrar a indústria nacional que estava em
processo de expansão (SERRA, 1998).
As ações voltadas ao desenvolvimento econômico, destacando-se o setor industrial,
concentraram-se em alguns pontos: inversões diretas do governo em infra-estrutura,
especialmente em transporte e energia; ampliação e instalação de setores produtores
intermediários e das indústrias produtoras de bens de capital. Nesse período, instalaram-se, no
país, a indústria automobilística, de construção naval, material elétrico pesado e outras máquinas
e equipamentos. Ao mesmo tempo, expandiram-se, consideravelmente, indústrias básicas como a
siderúrgica, a de materiais não-ferrosos, química pesada, petróleo, papel e celulose (SERRA,
1998).
Esse período foi caracterizado por intenso crescimento econômico e significativas
transformações na estrutura produtiva. Os investimentos feitos pelo Estado no campo da infra-
estrutura básica e a entrada das grandes empresas estrangeiras, especialmente nos setores de bens
de consumo duráveis e bens de capital, impulsionaram a expansão e a modernização das
pequenas e médias empresas constituídas, predominantemente, de capitais nacionais. Conforme
Trintin (2001), as pequenas e médias empresas, grandes responsáveis pelo fornecimento dos bens
de consumo assalariado, foram levadas a reboque dos investimentos das demais. O aumento nos
investimentos elevou a demanda de trabalho, por conseqüência, ampliou a massa salarial
disponível para o consumo, fato que estimulou a produção nos setores leves da indústria.
42
O processo de amplo crescimento industrial foi interrompido entre 1962 e 1966. Dentre as
principais causas apontadas como responsáveis pela redução no ritmo da atividade da indústria
foram: a) o estancamento dos investimentos em setores estratégicos definidos no período
anterior; b) a aceleração do processo inflacionário que diminuiu a demanda por bens de consumo
duráveis, haja vista a deterioração da renda das classes consumidoras desses bens; e, c) o
problema do financiamento interno e externo do setor público (SERRA, 1998).
Para contornar essa situação, o período foi marcado por Planos contendo medidas que
visavam: à recuperação do ritmo de crescimento; à contenção da inflação através do combate à
elevação dos preços; a atenuar os desníveis econômicos regionais e setoriais; a corrigir a
tendência a déficits descontrolados no balanço de pagamentos, por meio de incentivos à
exportação; a revigorar a entrada de capitais estrangeiros para complementar a taxa de
investimentos, via reforma do setor financeiro; e a realizar algumas correções na distribuição das
rendas.
O conjunto de reformas econômicas e o reaparelhamento do Estado ocorrido no período,
por si só, não foram suficientes para garantir a retomada dos investimentos. Tais medidas
agravaram alguns custos de produção e estancaram canais importantes de financiamento dos
investimentos privados, elevando a capacidade ociosa do setor produtivo. Apesar disso, as
medidas relacionadas à eliminação de barreiras à entrada do capital estrangeiro e à mudança na
política cambial, foram de suma importância para a indução do crescimento econômico em etapa
posterior, conhecido como “período do milagre”.
Na etapa que compreende os anos de 1967 a 1973, a economia nacional assistiu à
retomada do crescimento em ritmo acelerado. Os principais fatores responsáveis por este
crescimento foram: a política macroeconômica expansionista; a proteção à indústria interna; os
investimentos do Estado e de empresas públicas na infra-estrutura e nos setores produtivos e de
serviços; os programas de financiamento oficial, com taxas de juros abaixo das de mercado para
as indústrias de transformação e da construção civil; a capacidade ociosa instalada herdada da
fase anterior; a expansão do crédito ao consumidor para dinamizar a demanda reprimida; e da
grande liquidez financeira mundial e prosperidade econômica internacional (MELLO e
BELLUZZO, 1984).
Os movimentos registrados na economia nacional propiciaram mudanças significativas
em termos de participação dos setores no total da produção interna e em termos de estrutura e
43
localização espacial da indústria. De acordo com Trintin (2001, p. 21-2), houve um aumento de
participação relativa dos setores de bens de capital e bens de consumo duráveis, em detrimento
dos grupos de bens de consumo não-duráveis. As indústrias de bens de capital e bens de consumo
duráveis, que participavam com apenas 6,68% do total do valor de transformação industrial
nacional em 1949, elevaram sua participação para cerca de 20,0% em 1970. Enquanto os grupos
de bens de consumo não-duráveis, para os mesmos anos de referência, declinaram sua
participação de em torno de 60,0% para cerca de 40,0% do valor adicionado da indústria.
Segundo Cano (1998), embora o período entre 1955 e 1970 tenha sido marcado pela
concentração industrial em São Paulo, as demais regiões brasileiras também apresentaram
elevadas taxas de crescimento da produção industrial. O bom desempenho das regiões periféricas
deu-se em função da estrutura produtiva complementar ao centro dinâmico que foi se moldando
ao longo do processo de industrialização. Ainda que, em termos concretos, a dinâmica de
acumulação fosse concentradora
11
, integrava os demais mercados nacionais via compra de
insumos básicos para a produção, de bens para consumo final ou de bens intermediários,
proporcionando também o crescimento regional, inclusive o catarinense, como será demonstrado
em capítulo posterior.
Em suma, o fortalecimento da indústria paulista na fase de implantação dos setores de
bens de consumo duráveis e de bens de capital é que proporcionou a maior integração e, ao
mesmo tempo, maior competitividade inter-regional. Conforme Trintin (2001, p. 25), a economia
que se desenvolveu no Sudeste, especialmente em São Paulo, criou mecanismos tanto de
bloqueios, em razão do domínio de mercado, quanto de estímulos, pois propiciou maior grau de
interdependência e complementaridade industrial.
A partir de 1970, as regiões periféricas experimentaram intensa aceleração de
crescimento. Isso porque foram implantados diversos projetos de ampla importância para a
consolidação da matriz industrial brasileira que, por suas características, exigiam maior
articulação do mercado nacional. Além disso, as políticas de desenvolvimento regional
implantadas a partir de meados dos anos 60, promovendo investimentos regionalizados em
indústrias leves e de insumos, favoreceram o processo de desconcentração industrial que se
seguiu até a primeira metade da década de 80.
11
Por volta de 1970, pico da concentração regional no país, o estado de São Paulo, com apenas 2,9% da área
geográfica, participava com 39% do PIB e 58% da produção industrial do país (DINIZ, 2002).
44
3.2 Os principais determinantes da desconcentração industrial regional – 1970-1985
O processo de desconcentração produtiva no plano nacional ganhou força na década de
setenta. Esse impulso esteve baseado em decisões políticas tomadas na própria década, bem como
em determinantes herdados da fase anterior, dentre os quais a literatura destaca três em especial.
Primeiro, o processo de integração do mercado nacional ocorrido até a década de 60, responsável
pela transformação nas estruturas produtivas periféricas. Segundo, a expansão das fronteiras
agrícola e mineral, que serviu de base para um avanço na desconcentração de renda e para a
urbanização das regiões Centro-Oeste e Norte. Terceiro, as políticas de desenvolvimento regional
que, a partir de 1960, criaram incentivos ao capital investido em algumas regiões (Nordeste,
Amazônia e Espírito Santo), juntamente com as políticas de incentivo às exportações (DINIZ e
CROCCO, 1996). Tais medidas, em conjunto, descentralizaram e desconcentraram parte da
produção nacional.
Na concepção de Pacheco (1996), apesar de todas as regiões terem apresentado
crescimento expressivo até a década de 60, foi durante o ciclo expansivo do “milagree em
função das políticas do II PND que a economia nacional realmente apresentou desconcentração
produtiva. Conforme visto na seção anterior, as medidas tomadas entre 1962 e 1967 foram de
suma importância para a acelerada expansão até 1973. Segundo o autor, as próprias medidas
sinalizavam as linhas fundamentais da recuperação: um ciclo de crescimento liderado pela
expansão do setor de bens de consumo duráveis e pela construção civil, apoiado na capacidade
ociosa existente e no endividamento das famílias. Os crescentes aumentos das exportações e do
endividamento externo possibilitavam financiar as importações ascendentes.
No entanto, essa dinâmica de acumulação passou a apresentar problemas, em razão da
incapacidade do setor de bens de consumo duráveis continuar comandando o processo de
crescimento interno. O resultado foi a desaceleração do ritmo de expansão da economia. Em
1973, a economia nacional passava por crise interna, expressa através da queda do PIB, da
retração do crescimento do produto industrial e da aceleração do processo inflacionário. Para
piorar o quadro presente, no final deste mesmo ano, ocorreu o primeiro choque externo
provocado pela alta no preço do petróleo, deixando mais vulnerável a situação dos preços e do
45
balanço de pagamentos, provocando efeitos aceleradores sobre a demanda de importações
(MELLO e BELLUZZO, 1984).
Em meio a este cenário conturbado, o governo viu-se obrigado a traçar um plano no
sentido de promover as modificações estruturais necessárias e contemplar aspectos de ordem
conjuntural que contribuíam para o acirramento da crise de acumulação. Para abranger esse
conjunto de medidas indispensáveis, o governo implantou o II PND. Suas pretensões consistiam
em: substituir aceleradamente as importações no setor de bens de capital e insumos básicos;
consolidar os setores de bens de capital, de insumos básicos e a indústria eletrônica como elo
fundamental da dinâmica de produção; desenvolver grandes projetos de exportação de matérias-
primas e aumentar intensamente a produção interna de petróleo e a capacidade de geração de
energia elétrica; e desenvolver o transporte ferroviário e o sistema de telecomunicações
(CASTRO e SOUZA, 1985). Em suma, pode-se dizer que o objetivo central do Plano era tornar a
produção industrial brasileira integrada e completa, além de procurar evitar problemas futuros de
escassez de energia e de matérias-primas.
A política adotada durante o II PND foi a ampliação e intensificação do sistema de
proteção da economia nacional. Foram dados incentivos fiscais, creditícios e financiamentos
subsidiados para o setor industrial e para o setor exportador. Outrossim, o governo adotou
políticas regulatórias (licenciamento de investimentos, controle de preços e regulação do mercado
de trabalho), incentivou fiscalmente programas e projetos setoriais
12
, regionais ou específicos
para compradores de bens de capital e siderúrgicos (CASTRO e SOUZA, 1985).
Conforme Pacheco (1996), do ponto de vista estrutural o Plano possuía tendência clara de
deslocamento das atividades produtivas do setor de bens de consumo duráveis para os setores da
indústria pesada e agricultura. Além disso, havia uma opção explícita pela desconcentração
industrial, com projetos e programas regionalizados visando ao aproveitamento do potencial
econômico das diversas regiões, alterando o perfil da matriz setorial do investimento e a estrutura
produtiva regional.
A dinâmica do investimento, num primeiro momento, estava assentada no setor de bens
de consumo duráveis e seus desdobramentos no complexo metal-mecânico, depois, em bens
intermediários e bens de capital, por fim, em bens intensivos em recursos naturais, processamento
de produtos da agropecuária e indústria química. Em termos espaciais, as inversões eram mais
12
Especialmente, metais não-ferrosos, fertilizantes, defensivos agrícolas, papel e celulose, e produtos petroquímicos.
46
intensas inicialmente no estado de São Paulo, passando gradativamente para outros estados, em
função das próprias características dos novos setores privilegiados. Em paralelo a esses
movimentos, puxada pela dinâmica cíclica dos investimentos e das políticas regionais, a indústria
de bens de consumo leves, completava seu processo de integração produtiva em âmbito nacional.
Ainda no contexto das estratégias desenvolvidas pelo Estado para o processo de reversão
da crise dos anos 70, é importante salientar o papel das políticas agrícolas implementadas.
Apoiadas nos benefícios advindos da adoção do padrão tecnológico resultante da revolução verde
durante o “milagre econômico”, que haviam propiciado considerável modernização ao setor
agrícola nacional, as ações para esse setor estavam focadas na produção de excedentes
exportáveis. Para tanto, foram criados mecanismos de crédito subsidiado para modernização da
agropecuária e a política de preços mínimos para garantir rentabilidade dos produtos cotados
internacionalmente. A ênfase na geração de exportáveis agrícolas estava associada à necessidade
de gerar saldos positivos na balança comercial para cobrir os déficits no balanço de pagamento.
Essa política foi responsável pelo grande avanço na ocupação de novas áreas cultivadas
acompanhado por substanciais alterações na pauta de produtos ofertados. Em relação à questão
do desenvolvimento regional, houve considerável impacto. Essa expansão favoreceu a
incorporação de 70 milhões de hectares à área total dos estabelecimentos agropecuários entre
1970 e 1980. As áreas de lavoura e pastagens plantadas cresceram 44% e 104%, respectivamente.
Este aumento de área foi acompanhado por ganhos expressivos de produtividade e modernização
agrícola, porém de forma desigual entre as regiões (PACHECO, 1996, p. 64-65).
As regiões mais favorecidas foram a Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde se estruturou uma
forte agricultura exportadora e articulada com o setor industrial fornecedor de máquinas,
equipamentos e insumos agrícolas, bem como com setores transformadores da matéria-prima
originada na agropecuária, favorecendo a consolidação dos complexos agroindustriais no país
(TRINTIN, 2001, p. 31). É neste contexto que se fortaleceram os grandes complexos
agroindustriais catarinenses, segmento de suma importância para o crescimento industrial do
estado, conforme será visto no próximo capítulo.
Desta maneira, foi dada ao setor agropecuário a atenção especial, pois acreditava-se que
o país poderia se firmar como grande fornecedor mundial de alimentos, matérias-primas agrícolas
e produtos agrícolas industrializados. Assentadas nessas orientações e em razão dos incentivos
criados, as exportações brasileiras conseguiram alcançar altas taxas de crescimento,
47
especialmente as de produtos industrializados, que passaram a liderar as exportações do país a
partir de 1978 (TRINTIN, 2001, p. 32).
É fundamental destacar que havia a crença de que a execução dos grandes projetos
regionalizados concretizar-se-ia a partir da conciliação do interesse do capital estrangeiro, do
capital nacional - tanto do grande, quanto do médio e pequeno -, e do capital estatal. Para que tal
fato ocorresse, o Estado assumiria a tarefa de gestor das ações de ingresso do capital estrangeiro e
de seus destinos na economia interna, de acordo com os interesses brasileiros. Havia um
propósito de fortalecimento das empresas nacionais, para que, em futuro próximo, pudessem
competir de maneira igualitária com o capital internacional
13
.
Contudo, essa estratégia não se radicou conforme o planejado. Coube ao Estado o papel
de maior impulsionador do processo de desconcentração e diversificação produtiva através de
suas políticas voltadas para melhoria da infra-estrutura econômica. Os investimentos em
transporte, energia e telecomunicações alargaram e unificaram o mercado brasileiro, facilitando a
localização industrial em novas áreas e regiões. Combinadas às primeiras, estavam as políticas de
investimentos voltadas para as atividades produtivas, especialmente aquelas destinadas à
ampliação da indústria de base e da mineração que desencadearam novos planos de investimentos
nos setores de insumos industriais e bens de capital (DINIZ, 1995).
Conforme Pacheco (1996), apesar do plano não ter completado seu objetivo central que
era o de estabelecer um novo padrão de industrialização para o país, trouxe resultados positivos
para o desenvolvimento regional. A periferia nacional tornou-se receptora de novos
investimentos, devido a sua base de recursos naturais e pelas decisões locacionais políticas do
governo federal. Em termos setoriais, foi observada uma maior concentração espacial dos bens de
capital e produtos metálicos e não-metálicos, enquanto a petroquímica, bens de consumo e
automobilística tiveram uma pulverização maior entre as regiões, principalmente em direção aos
estados do Sul e da Bahia.
É importante ressaltar que os fundamentos dos investimentos destinados a esses estados,
não se limitavam ao interesse econômico. Havia duas razões subjacentes: a preocupação em
buscar equilíbrio entre São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais através da multiplicação de
pólos industriais, e a tentativa de redução do peso político de São Paulo. Por meio de medidas
13
Para maior detalhamento ver, Pacheco (1996, p. 65-70), Trintin (2001, p. 32-34).
48
que priorizavam a desconcentração, o governo procurava atender aos interesses regionais em
troca de apoio político
14
.
Mesmo portando ações consideradas contraditórias pela literatura, o II PND apresentou
resultado de redução dos níveis de concentração, expresso nas mudanças que ocorreram na
estrutura espacial da produção do país. Isso porque o Plano previa implantar projetos como: ferro
e bauxita no Pará; cobre na Bahia; fosfato em Minas Gerais; potássio em Sergipe; petróleo e gás
natural nas plataformas nordestinas e fluminenses; carvão e pirita em Santa Catarina e Rio
Grande do Sul; sal no Nordeste; siderurgia no Maranhão, Espírito Santo e Minas Gerais;
cloroquímica em Alagoas e Sergipe; papel e celulose e cimento no Nordeste e no Espírito Santo;
e diversas hidroelétricas como Itaipu, Paulo Afonso IV, Xingó e Tucuruí
15
.
O processo de desconcentração teve impacto distinto sobre as várias regiões. Em
conseqüência da política econômica, os indicadores apontam o avanço da indústria em
praticamente todas as regiões e nos principais estados brasileiros, inclusive no Rio de Janeiro e
São Paulo que reduziram suas participações relativas no total nacional.
O caso de São Paulo merece atenção especial, pois nesse estado ocorreram dois processos
de desconcentração industrial. Um, inter-regional, onde a região mais industrializada do país
apresentou perda em sua posição relativa, em favor das regiões economicamente mais atrasadas.
Outro, de dimensão intra-estadual, onde a Região Metropolitana de São Paulo perdeu posição
relativa em favor das demais sub-regiões. Em 1970, a Região Metropolitana concentrava 43,4%
do valor de transformação industrial do país e 74% do total de São Paulo; em 1985, tais
indicadores eram 29,4% e 56,6%, respectivamente. Em contrapartida, na mesma época, as sub-
regiões do interior aumentaram suas participações em 7,8% do total produzido pela indústria
nacional (GUIMARÃES NETO, 1995, p. 15-17).
A perda relativa de participação do estado de São Paulo na produção industrial foi sentida
em todos os setores. Segundo Cano (1997, p. 114), as maiores perdas deram-se na produção de
bens de consumo duráveis e bens de capital, que passaram de 75,6% do total nacional em 1970
para 66,5% em 1985. Na produção de bens de consumo não duráveis foi registrada uma queda de
8,5% na participação do produto nacional, e na produção de bens intermediários, a perda foi de
3,8% no nesse período.
14
Ver Trintin (2001, p. 36).
15
Ver Pacheco (1996, p. 73).
49
A diminuição relativa da participação de São Paulo no total da produção industrial
nacional nesses segmentos, representou ganho para as demais regiões. No caso dos bens de
consumo duráveis e de capital, houve deslocamento das atividades para diversos locais: material
elétrico para o Amazonas (Zona Franca de Manaus); material de transportes, autopeças e veículos
pra Minas Gerais; e, mecânica para o Sul. Com relação aos bens de consumo não duráveis, a
transferência ocorreu atrelada a fontes de matérias-primas ou acompanhando a expansão da
fronteira agrícola (ramo alimentar). A redução da participação paulista na produção de bens
intermediários deu-se em função da ampliação dos investimentos na base periférica de recursos
naturais e de outros projetos vinculados ao II PND.
Verificando os movimentos de ampliação na participação das regiões periféricas no total
da transformação industrial do país, entre 1970 e 1985, Diniz (1995, p. 08-10), destaca os
seguintes:
a) A região Norte aumentou sua participação de 0,8 para 3,1% da produção industrial. Esse
crescimento foi possível, em razão dos incentivos fiscais concedidos pela SUDAM e pela
SUFRAMA para a região como um todo e para a Zona Franca de Manaus, o que permitiu
a instalação de indústrias de bens eletrônicos de consumo e outros bens leves. Soma-se
ainda o aproveitamento de recursos naturais e o crescimento urbano da região;
b) A região Nordeste elevou sua parcela de contribuição na produção nacional de 5,7 para
8,4%. O maior ganho foi registrado pela Bahia, que, além dos incentivos fiscais, contou
com a instalação do lo Petroquímico de Camaçari. Por outro lado, os incentivos fiscais
através da Sudene, viabilizaram a implantação de projetos industriais diversos em vários
estados nordestinos;
c) O Centro-Oeste, beneficiou-se pela transferência da capital federal para Brasília, pela
expansão da fronteira agrícola, e do aproveitamento de recursos minerais.
d) Os demais estados da região Sudeste apresentaram comportamento diferenciado. O estado
do Rio de Janeiro perdeu posição relativa no total da produção industrial, embora tenha
apresentado crescimento na indústria extrativa, enquanto Minas Gerais e Espírito Santo
ampliaram suas participações na produção industrial. Minas Gerais garantiu sua parcela
relativa, devido à proximidade com a economia paulista, fornecendo bens intermediários a
essa economia, e graças a sua base de recursos naturais. O Espírito Santo ampliou sua
50
participação, em razão de alguns projetos para produção de bens intermediários ligados ao
comércio exportador;
e) No caso da região Sul, foi constatada a ampliação de participação de 12 para 17% no total
da produção industrial nacional. Os aspectos que impulsionaram o crescimento do Rio
Grande Sul foram: a expansão agrícola e seus efeitos multiplicadores sobre as indústrias
processadoras desses produtos e das agroindústrias; o crescimento da indústria de bens de
capital e duráveis de consumo no eixo Porto Alegre - Caxias do Sul; e, a ampliação da
indústria de couros e calçados. O estado de Santa Catarina beneficiou-se de sua dupla
base industrial. De um lado, a agroindústria do oeste, especializada em aves e suínos
incentivada pelo crescimento do mercado interno e pelas exportações. Do outro, estavam
as indústrias têxteis e eletrometal-mecânicas, instaladas no tradicional eixo Blumenau
Joinville. O estado do Paraná apresentou crescimento na participação nacional através da
diversificação da sua base industrial. Além da expansão das agroindústrias, o estado
recebeu vários projetos estrangeiros , como as indústrias automobilística e de materiais
eletrônicos, atraídos pelos incentivos fiscais.
No que concerne à distribuição espacial do setor agropecuário, a base continuou centrada
no Sudeste e Sul, em função da modernização e expansão dos complexos agroindustriais
vinculados à soja, ao trigo, à laranja e à produção de carnes. Porém, a agropecuária expandiu-se
significativamente em direção ao Centro-Oeste, tanto na pecuária, quanto na produção de grãos e
de cana-de-açúcar. O Nordeste também ampliou sua participação nesse segmento através dos
incentivos à produção de cana-de-açúcar para produção de álcool, e através da agricultura
irrigada (GUIMARÃES NETO, 1995). De maneira geral, esse crescimento esteve baseado na
expansão da fronteira agrícola, e não no aumento da produtividade do setor.
Também na produção mineral, ocorreram significativas alterações regionais. A partir dos
anos 70, a tradicional liderança de Minas Gerais na produção extrativa mineral passou a ser
ameaçada com incorporação de novas áreas, especialmente, no Norte e Centro-Oeste. A
descentralização desse segmento contribuiu para o processo de desconcentração econômica
regional, pois induziu o estabelecimento de um conjunto de atividades a ela relacionadas e
propiciou o crescimento urbano de várias cidades (DINIZ, 1995).
51
Para Guimarães Neto (1995, p. 37), todo esse processo de desconcentração só foi possível
devido a alguns fatores:
a) aumento progressivo dos custos de concentração, com elevação do preço da terra, dos
aluguéis e salários relativos, dos custos de gestão e infra-estrutura, além da pressão
sindical na Região Metropolitana de São Paulo;
b) avanço da infra-estrutura em direção a outros estados e regiões;
c) políticas públicas e dos incentivos fiscais regionais;
d) investimentos diretos das estatais; ampliação das fronteiras agrícola e mineral; e,
e) unificação do mercado nacional, aumentando a concorrência entre as empresas.
A partir do início da migração de capital produtivo em direção às regiões periféricas, a
integração do mercado nacional correspondia a novas oportunidades de investimentos que
encontravam impedimentos nos espaços mais industrializados, de modo especial na Região
Metropolitana de São Paulo. Enquanto a região da Grande São Paulo enfrentava crescentes
elevações dos custos de concentração, as regiões periféricas respondiam positivamente aos
investimentos voltados para a exploração de recursos naturais e a expansão da fronteira agrícola.
Para Diniz e Crocco (1996), a ampliação da infra-estrutura econômica conjugada com o
crescimento da produção agrícola e mineral (impulsionada pelo crescimento industrial e urbano e
pelo potencial exportador), induziu o estabelecimento de um conjunto de atividades correlatas a
elas, especialmente o processamento de insumos agrícolas e minerais e o fornecimento de
insumos industriais e bens de capital, cuja produção, por razões diversas, tendem a se localizarem
junto às fontes de matérias-primas. Este conjunto de tendências levou a distribuição das
atividades industriais para muitas regiões e cidades, que por seu turno, desencadeou o
crescimento do setor de serviços.
Dessa maneira, os autores afirmam que, ao mesmo tempo em que houve um processo de
desconcentração do pólo industrial de São Paulo, surgiram novas aglomerações produtivas nas
demais regiões, especialmente no eixo que engloba as cidades de porte médio dos estados de São
Paulo, Minas Gerais e da região Sul. Isso sugere a possibilidade de reaglomeração industrial na
região Sudeste-Sul do país
16
.
16
É válido lembrar que a referência de nova região industrial articula sub-regiões de Minas Gerais e São Paulo com
os estados sulinos, formando o polígono definido por Belo Horizonte Uberlândia Maringá Londrina Joinville
Blumenau Florianópolis Porto Alegre Caxias do Sul São Jodos Campos Campinas - Belo Horizonte,
52
No conjunto das transformações ocorridas no período, houve um processo de reversão da
concentração espacial da indústria da região Sudeste em direção às demais localidades,
estabelecendo um novo padrão de divisão inter-regional do trabalho. Trintin (2001, p. 42),
conclui que uma das principais características desse processo foi a redução da participação dos
produtos tradicionais (matérias-primas e alimentos) na pauta de produção das regiões periféricas,
em favor da crescente participação dos produtos industrializados.
3.3 A problemática do desenvolvimento regional pós 1985
A economia brasileira na década de 80 foi marcada por crises que provocaram recessão,
desemprego, baixo crescimento e inúmeras tentativas de ajuste macroeconômico. O
comportamento econômico instável fez com que deixasse de existir uma dinâmica cíclica de
acumulação comandada endogenamente, quer pela indústria de bens de consumo duráveis, quer
pelo investimento governamental na consolidação da industrialização. Em nível regional, foi
observada a redução dos níveis de atividades e diminuição na dinâmica de integração inter-
regional.
Com a crise, o Estado, que era o principal responsável pelo aporte de capitais e pela
articulação entre o capital nacional e o estrangeiro, perdeu sua capacidade de realizar gastos e a
capacidade de financiar e articular os distintos capitais. Conseqüentemente, a queda de
investimentos públicos e privados serviu de base para a redução de intensidade dos processos de
transformações que se faziam presentes.
Para ilustrar a inflexão no processo de desconcentração, Cano (1998, p. 318-330), fez uma
análise do desempenho das regiões e dos principais estados, baseada na evolução do PIB setorial
marginalizando, relativamente, a economia do Rio de Janeiro. Em estudo realizado selecionando as aglomerações
industriais relevantes, entendidas como microrregiões homogêneas com mais de 10 mil empregos industriais em
1980, excluindo a Região Metropolitana de São Paulo, indicaram a existência de 76 destas áreas no Brasil, as quais
correspondiam a 84% do emprego industrial e a 89 % do valor da transformação industrial (DINIZ e CROCCO,
1996, p. 88-99).
53
de cada um em relação ao nacional. Considerando o setor de transformação industrial para o
período 1985-1995, destaca os seguintes resultados:
a) A região Norte, entre 1970 e 1985, que havia aumentado de 0,8% para 2,5% sua
participação na indústria nacional, sentiu os efeitos da abertura comercial e da
desregulamentação no primeiro qüinqüênio da década de 90, registrando estagnação nesse
período. Isso, sobretudo, em função da descontinuidade dos investimentos nas áreas de
eletrônica e informática na Zona Franca de Manaus;
b) O Nordeste, cuja participação crescera 2,9% entre 1970 e 1985, perdeu pequena parcela
de participação no produto industrial nacional. As principais razões apontadas para tal
são: retrocesso da indústria pernambucana; crise da indústria química nacional que afetou
o lo petroquímico da Bahia; e, pela contração dos setores têxteis e de confecções em
quase toda a região. Os resultados negativos no Nordeste estão relacionados com a crise
sofrida pela indústria paulista, principal compradora dos insumos da região;
c) O Centro-Oeste, que no primeiro período passara de 0,79 para 1,37%, em razão da
expansão da agroindústria e de sua urbanização, teve pequeno aumento de participação
entre 1985 e 1995 creditado à continuidade do crescimento agroindustrial e aos elevados
incentivos fiscais oferecidos por alguns estados;
d) Minas Gerais e Espírito Santo elevaram suas participações. Em Minas Gerais a expansão
da indústria automobilística atraiu novos investimentos em autopeças, material elétrico e
metalurgia, impulsionando seu crescimento em 0,6% em relação ao período anterior. O
Espírito Santo que crescera substancialmente no primeiro período, foi afetado pelas
políticas neoliberais, tendo pequeno avanço na produção industrial em relação à nacional;
e) O Rio de Janeiro seguiu a tendência de queda de participação, em razão do processo de
perda do potencial econômico que se desencadeou durante todo o processo de
industrialização nacional;
f) O estado de São Paulo, no conjunto das atividades industriais, perdeu participação
relativa, isso em função da crise que afetou a economia nacional. Por ser o centro
produtivo dominante contando com uma estrutura industrial mais completa e complexa,
sofreu maiores impactos recessivos na década de 80. No entanto, vale registrar que o
interior paulista, nos primeiros cinco anos da década de 90, recebeu um fluxo expressivo
de capitais, elevando sua participação no total da transformação industrial do país;
54
g) A região Sul foi a grande ganhadora do processo de desconcentração. Apresentou
crescimento nos dois períodos - passou de 12% em 1970, para 16,7% em 1985 e 18,1%
em 1995 beneficiada pela decisão política federal de ali instalar o terceiro pólo
petroquímico do país, pelo melhor desempenho agroindustrial, de produção de máquinas
agrícolas e tratores, equipamentos em geral, material elétrico e de transporte. Além disso,
apresenta condições propícias para o recebimento de maiores investimentos industriais,
como por exemplo, mão-de-obra qualificada, urbanização, agricultura moderna e
proximidade com o mercado paulista. Apesar de os três estados terem apresentado bom
desempenho, Paraná e Santa Catarina tiveram melhores resultados.
A desaceleração no ritmo do crescimento econômico brasileiro é apontada como a
principal causa do bloqueio ao processo de desconcentração da estrutura produtiva da economia
nacional. Entretanto, Cano (1998, p. 330-331), aponta outros fatores que contribuíram para o
desempenho pouco expressivo das regiões periféricas:
a) o desmantelamento do Estado Nacional e, por conseguinte, de vários órgãos regionais,
determinando a extinção de políticas de desenvolvimento regional, especialmente a
partir do governo Collor;
b) a abertura comercial “irresponsável”, que resultou em efeitos destruidores sobre várias
linhas de produção industrial;
c) o fim dos efeitos provindos dos grandes investimentos do II PND a partir de 1985,
devido à sua maturação;
d) a debilidade fiscal e financeira do governo federal e dos estaduais, reduzindo os
investimentos em infra-estrutura e em energia;
e) a queda dos preços reais de produtos básicos, contendo o crescimento das exportações;
f) a diminuição do ritmo das exportações de manufaturados de indústrias tradicionais e de
tecnologia madura;
g) a concentração dos investimentos de informática, microeletrônica, telecomunicações e
automação no estado de São Paulo, evidenciando a face reconcentradora da
reestruturação produtiva recente;
55
Apesar dos fatores mencionados terem realizado fortes efeitos inibidores à continuidade
do processo de expansão da economia, algumas regiões obtiveram ganhos no período,
especialmente a Sul, conforme descrito anteriormente. Segundo Cano (1998, 331-332), entre as
razões que explicam as manifestações de desconcentração destacam-se:
a) a realização de grandes investimentos petrolíferos de extração e refino;
b) a continuidade da expansão da fronteira agrícola, induzindo novos projetos agroindustriais
regionalizados;
c) a prática de algumas políticas estadualizadas de incentivo combinadas com projetos
privados de novas localizações para suas novas plantas;
d) a expansão urbana periférica, dado à redução do fluxo migratório para São Paulo, gerou
novas oportunidades de investimentos no setor de serviços e nas indústrias leves das
grandes cidades e capitais das demais regiões.
e) a execução de algumas políticas de incentivo ao turismo nacional, notadamente para o
Nordeste, proporcionaram efeitos positivos sobre os setores a ele ligados.
Diante do exposto, o autor conclui que se havia uma tendência reconhecidamente
desconcentradora entre 1970 e 1985, esta não se fez tão evidente para o período 1985-1995.
Ainda que as forças existentes propugnassem alguns movimentos de desconcentração, a partir da
intensificação da política de abertura comercial, parece haver uma conotação “suave” de
reconcentração das atividades produtivas.
Nesse sentido, um consenso entre os autores que tratam a questão regional brasileira,
17
de que a economia nacional passou por um processo de desconcentração econômica e, sobretudo,
industrial. No entanto, a economia paulista continuou sendo o centro de comando econômico do
país, haja vista que no processo de desenvolvimento do país, nesse espaço foi se formando uma
estrutura produtiva que contempla a quase totalidade dos segmentos estratégicos.
Dada esta característica da economia paulista, as demais regiões foram se desenvolvendo
sob os impulsos do centro dinâmico, criando aspectos de estruturas produtivas complementares e,
de certo modo, especializadas. Para Guimarães Neto (1995), a ampliação e consolidação de
espaços voltados para atividades específicas, resultaram em maiores possibilidades de articulação
das regiões com o comércio nacional e internacional. Nesse sentido, Trintin (2001, p. 48),
17
Especialmente, Guimarães Neto (1995), Pacheco (1996), Cano (1998), Trintin (2001), Diniz (1995 e 2002).
56
enfatiza que as inserções regionais ocorreram um tanto quanto especializadas, dado que a essas
regiões restava a possibilidade de se desenvolver especializando-se na produção de
manufaturas voltadas para o mercado nacional, ou produzindo bens ou serviços para atender a
demanda interna à região, porém concorrendo localmente com a produção nacional.
Tendo em vista que, muitas vezes, as articulações das regiões periféricas com a região
dinâmica deram-se através da articulação de suas áreas especializadas, sem grandes efeitos para o
crescimento das estruturas produtivas das áreas circunvizinhas, Guimarães Neto (1995), denota a
existência de desigualdades econômicas e sociais entre regiões e sub-regiões. Tais desigualdades
não se referem apenas a espaços economicamente independentes ou autônomos, e sim a
economias regionais ou sub-regionais amplamente articuladas e integradas ao sistema econômico
nacional e internacional.
Essa discussão torna-se relevante, quando se leva em consideração o fato de que as
transformações recentes da economia nacional esboçam a tendência à reconcentração econômica
rumo às áreas de maior dinamismo. Nessa linha de discussão, Diniz (2002, p. 24), pontua três
fatores contemporâneos que podem estar contribuindo para o aprofundamento das
especializações e, conseqüentes, desigualdades regionais ou sub-regionais: a abertura externa e a
formação de blocos econômicos, especialmente o Mercosul; a mudança na concepção e no papel
do Estado e no processo de privatização; e, as mudanças tecnológicas e a reestruturação
produtiva;
No que se refere à abertura externa, são levados em consideração pelo autor, dois
aspectos: o efeito regional das exportações e o impacto das importações. De maneira sucinta, a
possibilidade de expansão das exportações está diretamente associada à capacidade de
competição dos produtos, no mercado globalizado. Neste caso, as regiões Sudeste e Sul, que
possuem pauta de exportação diversificada e com grande peso de bens industriais, estariam em
vantagem em relação às demais. Também estariam em situação privilegiada em relação ao
Mercosul pela posição geográfica, reforçando a localização nas duas regiões.
O crescimento das importações afetou a maioria das regiões, porém de forma
diferenciada. De maneira análoga, aquelas regiões cuja estrutura produtiva sofre, em maior grau,
a concorrência com os produtos importados foram e continuam sendo mais prejudicadas. O
aprofundamento da abertura externa e dos acordos comerciais intrablocos pode afetar ainda mais
as regiões menos favorecidas do país.
57
A mudança do papel do Estado enquanto executor de políticas de desenvolvimento
regional, deixou as regiões mais atrasadas sem seu principal mecanismo de impulso, piorando a
situação relativa destas. O processo de privatização, que foi apresentado com uma possibilidade
de geração de investimentos privados nas diferentes regiões, ocorreu principalmente nas regiões
mais desenvolvidas. Assim, esses espaços contaram com a modernização e ampliação da oferta
dos bens e serviços privatizados, facilitando a atração de novos investimentos. Para agravar o
quadro, o Governo Federal vem permitindo a chamada “guerra fiscal” entre os estados na atração
de novos investimentos. Novamente, ganham os estados mais desenvolvidos, com melhores
condições locacionais e maior aporte financeiro.
A terceira transformação em curso é o acelerado processo de modernização tecnológica,
visualizado através do esforço público (principalmente) e privado na criação dos chamados
sistemas institucionais e regionais de inovação e, também, pelos resultados no aumento de
produtividade, das mudanças organizacionais e gerenciais das empresas e na emergência de um
conjunto de novas áreas industriais com forte presença de indústrias de alta tecnologia. Esse
processo de modernização tecnológica é facilitado por aquelas regiões que apresentam melhor
base econômica, especialmente da estrutura industrial e da oferta de serviços, da infra-estrutura
de conhecimento (principalmente da rede universitária e instituições públicas e privadas de
pesquisa), e na qualidade dos recursos humanos. Indicadores apontam que as regiões Sudeste e
Sul estão melhores dotadas dessas infra-estruturas.
Esses argumentos reforçam a idéia de que a economia nacional vem passando por um
processo de agravamento das desigualdades regionais, adicionado a um novo fato: nesse novo
cenário existe a possibilidade de criação de novas áreas especializadas em todo território
nacional, que apresentem desenvolvimento sem estarem necessariamente articuladas com a base
produtiva da economia nacional. Isso, decorrente das próprias características do processo de
globalização que a economia nacional se encontra inserida (TRINTIN, 2001).
Considerando esse quadro de profundas transformações no desenvolvimento regional
brasileiro, e levando em consideração as mudanças na economia nacional e internacional, é que
se pretende examinar de que forma a economia catarinense evoluiu e se inseriu no contexto da
descentralização da estrutura produtiva nacional, e, também, os seus novos arranjos frente à
desaceleração do processo de desconcentração regional, dando ênfase para o setor industrial.
58
4 O DESENVOLVIMENTO DE SANTA CATARINA ATÉ A DÉCADA DE 80
Verificamos, no capítulo anterior, que no contexto da estruturação do parque industrial
brasileiro, os estados periféricos que mantiveram forte conexão com o centro dinâmico,
sobretudo, São Paulo, obtiveram melhores condições de deslanchar suas economias. A trajetória
de desenvolvimento percorrida pela indústria catarinense não foge desta condição. Apesar de
contar com algumas características peculiares, a formação do setor secundário deste estado esteve
amplamente articulado com o processo de industrialização nacional, no qual exerceu o papel de
complementar o centro dinâmico exportador, fornecendo alguns bens de consumo para população
assalariada.
Em âmbito interno, o parque industrial foi se formando a partir da transição do capital
mercantil para o industrial. Com o impulso vindo do crescimento da economia central do país,
Santa Catarina encontrou espaço para intensificar a integração com o mercado nacional após
1945. Até a década de 60, houve um movimento de ampliação da base produtiva estadual por
conta da demanda das demais regiões do país. No entanto, essa expansão pôde ser continuada
com a intervenção estatal, garantindo as obras infra-estruturais necessárias para o escoamento da
produção, e fornecendo o crédito para assegurar a ampliação da acumulação do capital industrial.
Contando com fatores endógenos e com o movimento de desconcentração da estrutura
produtiva nacional ocorrido entre 1970 e 1985, fruto das políticas públicas de diversificação do
setor agrícola e de consolidação do setor industrial, esse estado conseguiu construir um parque
industrial amplamente diversificado e tecnologicamente avançado. Em meados dos anos 80, a
indústria catarinense registrava considerável participação na transformação industrial do país,
tanto em segmentos dinâmicos, quanto tradicionais, além de marcar presença no mercado
externo.
A ampliação e diversificação da base produtiva, constituída no contexto de amplo
crescimento da economia nacional e internacional, elevou a importância do setor secundário na
formação da renda do estado de Santa Catarina, conferindo-lhe o status de economia
industrializada.
59
4.1 A constituição das bases produtivas
A ocupação do território catarinense deu-se, sobretudo, a partir da intensificação da
chegada dos imigrantes europeus, que contribuíram para a organização de núcleos econômicos
dispersos por todas as regiões do estado. A vinda dos imigrantes contribuiu para diversificar a
estrutura produtiva, através da implantação de atividades comerciais e artesanais (pequena
produção industrial), e para dar início à acumulação de capital que colaborou para o
estabelecimento do sistema produtivo.
A acumulação lenta e pulverizada de capital serviu de fundamento para a industrialização
catarinense observada no início do século seguinte, e para a integração do sistema produtivo
catarinense à dinâmica do país, exportando os excedentes, em sua grande maioria de origem
agropecuária. De acordo com Matei e Lins (2001, p. 31), nesse processo, Santa Catarina adquiriu
características de economia complementar ao complexo cafeeiro e às atividades industriais que
surgiram nas primeiras décadas do século XX, no eixo Rio-São Paulo.
Em função das características de colonização e da forma de articulação com a economia
nacional, foram se formando núcleos produtivos isolados e diferenciados, com produção
específica a cada localidade e às habilidades dos grupos colonizadores, com pouca interligação de
comércio, produção ou mesmo rodoviária entre as várias regiões catarinenses. Segundo Matei e
Lins (2001, p.32), o sistema econômico do estado desenvolveu uma dinâmica de interconexão
entre as cidades-pólo regionais e outros Estados do país, determinada por um conjunto de fatores
quase sempre amarrados a processos situados naquelas regiões e não propriamente regidos no
âmbito interno.
Conforme Goularti Filho (2002), a maior participação dos produtos catarinenses no
mercado nacional, até 1940, deve ser entendida a partir de alguns pontos específicos: a ampliação
do complexo cafeeiro e seu prolongamento na expansão urbana de São Paulo; a expansão urbana
do Rio; o processo de diversificação econômica ocorrido em São Paulo e no Rio de Janeiro; a
interligação ferroviária e portuária de Santa Catarina com os centros dinâmicos do país; e, a
proximidade com duas cidades importantes em nível regional, Curitiba e Porto Alegre.
De acordo com o autor, dada as estruturas agrário-mercantis e industrial desenhadas no
Brasil, até meados dos anos 40, cujo comando se concentrava em São Paulo e Rio de Janeiro, as
60
demais regiões do país que estavam fora do complexo cafeeiro, logravam algum êxito
econômico, se estivessem assentadas em dois setores: o extrativismo e o alimentar. Como a
indústria originária de Santa Catarina residia no segmento extrativista erva-mate, madeira e
carvão -, no segmento alimentar farinha, açúcar e derivados de suínos e têxtil, o Estado
conseguiu integrar-se ao mercado nacional.
Santa Catarina, ao longo do processo de industrialização brasileiro, foi se firmando como
espaço periférico com forte ligação econômica com São Paulo. O papel que coube à economia
catarinense, dentro do padrão de acumulação nacional, foi o de fornecer bens e insumos para
atender a demanda nacional por produtos básicos - alimentos e vestuário -, e extrativistas
carvão e madeira. Até 1940, Santa Catarina destacava-se no mercado nacional como fornecedora
de bens de consumo leve, principalmente para o Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul. A
partir de 1940, as trocas comerciais catarinenses se intensificaram com São Paulo (CUNHA,
1992; GOULARTI FILHO, 2002).
No âmbito interno, apesar de estarem estabelecidos oscleos produtores tradicionais e
extrativistas, a baixa capacidade de acumulação, a desintegração econômica e a falta de aporte
financeiro, restringiram o crescimento e a diversificação do capital industrial. As mudanças na
estrutura produtiva iniciaram-se somente a partir de 1945, com a ampliação da pequena indústria
metal-mecânica em Joinville, com o surgimento da indústria de papel e celulose no Planalto, e
das cerâmicas, no Sul. Assim, a indústria catarinense que estava calcada em setores tradicionais
(madeireiro, têxtil, ervateiro, carbonífero e alimentício), começou a se deslocar para outra base
produtiva, ajustando-se àquela que estava comandando o processo de acumulação nacional
(GOULARTI FILHO, 2002).
4.2 A ampliação e diversificação da estrutura industrial catarinense do pós-guerra até a
década de 60
Para Santa Catarina, os anos que sucederam a Segunda Guerra Mundial e que se
estenderam até o início da década de 60, são tidos como um período de transição do capital
61
mercantil para o industrial, onde ainda permaneciam elementos assentados no padrão de
crescimento, sustentado pela pequena produção mercantil e, ao mesmo tempo, surgiam traços de
um novo padrão baseado no médio e grande capital industrial, apesar do processo de acumulação
ter-se dado de forma lenta.
Neste período, a economia catarinense sofreu uma ampliação e diversificação da base
produtiva. Segundo Cunha (1992), a diversificação ficou por conta do surgimento de novos
setores, com potencialidades mais dinâmicas, como o de papel, papelão, metal-mecânica,
materiais elétricos, cerâmico, plástico e indústrias ligadas ao setor de transporte. A ampliação
deu-se por diferentes razões: os setores como papel, papelão, móveis e metal-mecânico que
nasceram em período anterior, aumentaram a produção, visto a expansão da indústria nacional; os
setores carbonífero e têxtil ampliaram a capacidade produtiva para atender a demanda interna; e a
agricultura começou a se industrializar, caminhando do complexo agrocomercial para o
complexo agroindustrial.
O capital acumulado, a partir da comercialização dos excedentes das atividades instaladas
em estágios anteriores, começou a ser deslocado para formação de novas indústrias e para a
ampliação daquelas existentes. Os setores tradicionais foram os primeiros a reagir aos
estímulos para o crescimento, vindos da difusão econômica nacional. As indústrias dos ramos
alimentício, têxtil, extrativo mineral e madeireiro tiveram suas expansões facilitadas, pois já
haviam se consolidado em períodos anteriores e possuíam um grau de interligação com as
regiões mais dinâmicas do país (GOULARTI FILHO, 2002).
Nesta fase, os setores tradicionais revelaram forte ampliação e diversificação produtiva
18
.
No ramo madeireiro, a extração concentrou-se, até 1950, nas regiões Serrana e Vale do Rio do
Peixe. Isto foi possível devido à chegada de empresas gaúchas na região. Com o declínio do ciclo
da madeira, as cidades mais importantes das duas regiões, leiam-se Lages e Caçador, passaram a
alterar o foco dos produtos oferecidos. Surgem nas regiões várias atividades ligadas à extração da
madeira como marcenarias, fábricas de caixas, de esquadrias e, principalmente, papel, papelão e
pasta mecânica. Os produtos fabricados eram destinados, especialmente, para a construção civil
nos grandes centros urbanos.
18
As informações contidas nos parágrafos seguintes foram extraídas das seguintes obras: CUNHA, I. J. O salto da
indústria catarinense: um exemplo para o Brasil. Florianópolis: Paralelo 27, 1992; GOULARTI FILHO, A.
Formação econômica de Santa Catarina. Florianópolis: Cidade Futura, 2002
.
62
Além destas atividades, nasceram pequenas oficinas mecânicas para atender as
necessidades do setor madeireiro. É importante ressaltar que na região serrana concentrava-se
forte atividade pecuária, a qual era complementada pela extração de madeira. Essas duas forças
produtivas impulsionaram o crescimento de diversas atividades urbanas, especialmente o
comércio.
No Sul do Estado, o setor de extração de carvão entrou em crise após a Segunda Guerra
Mundial, pois o governo federal retirou a garantia de compra de toda a produção. Com isso, o
setor atravessou trajetória instável até meados dos anos 50, quando foram instituídas novas
políticas nacionais para o carvão. A partir de 1955, com a construção de grandes siderurgias no
país e a instalação de uma usina termoelétrica na região de Criciúma, a produção de carvão foi
revigorada. No entanto, foram constatadas grandes modificações na estrutura de capital das
empresas participantes do setor. As pequenas mineradoras que trabalhavam de forma artesanal
foram incorporadas por grupos de maior porte que atuavam em níveis tecnológicos mais
avançados.
A região Oeste, desde sua colonização, teve sua economia fortemente assentada na
extração de madeira e na produção agrícola para subsistência. A acumulação promovida por estas
atividades transbordou para outros setores, favorecendo o surgimento de inúmeros moinhos e
frigoríficos que absorviam a renda provinda da agricultura de subsistência, do comércio e da
extração de madeira. Nos anos 50 e 60, as grandes agroindústrias absorveram parte dos pequenos
frigoríficos e outros faliram. Os complexos agroindustriais direcionaram sua produção para os
centros nacionais de maior porte, conquistando posto de grandes fornecedores de produtos
alimentícios para o mercado brasileiro. Essa integração deu-se por meio da inovação nos
transportes, novas técnicas de produção, construção de unidades fabris fora do Estado de Santa
Catarina e abertura de centros de distribuição próximos ao mercado consumidor. Desta maneira, a
produção da região sofreu modificação em sua estrutura, saindo de um perfil extrativista e se
especializando no setor agroindustrial.
O ramo têxtil já havia se consolidado, composto por pequenas, médias e grandes empresas
e com produção inserida em todo território nacional. O destaque na indústria têxtil neste período
fica por conta da expansão verticalizada da produção através da ampliação da capacidade
instalada, por meio da introdução de novas máquinas e equipamentos, e alastramento das bases
comerciais, com abertura de novos centros de distribuição, principalmente nas maiores capitais.
63
Nos anos 50, a indústria têxtil do Vale do Itajaí apresentava forte integração vertical,
manufaturando fiação, tecelagem, tinturaria, confecção e vestuário e, inclusive, produzindo as
máquinas e equipamentos utilizados no processo de fabricação. Essa integração deu-se como
resposta da indústria local à falta de insumos no mercado nacional e como forma de enfrentar a
concorrência nacional.
A diversificação da estrutura produtiva estadual ficou por conta de três novos setores que
foram responsáveis, em boa parte, pela mudança do padrão de crescimento em Santa Catarina: o
cerâmico, o papel e pasta mecânica e o metal-mecânico
19
.
O complexo cerâmico, concentrado no Sul do Estado, iniciou as atividades a partir de
pequenas fábricas de louças que tinham o objetivo de abastecer os navios que passavam pelo
litoral catarinense. Após um período produzindo somente louças, as empresas diversificaram a
manufatura para cerâmica (pisos, azulejos e lajotas). Entre 1940 e 1960, foram fundadas, por
iniciativas de empresários locais, algumas das maiores empresas do setor cerâmico do país como
Eliane, Cecrisa, Icisa e Cecasa. As primeiras cerâmicas derivaram da junção de capitais de
pequenos comerciantes da região de Criciúma, Tubarão e Imbituba. No entanto, a consolidação
deste segmento deu-se somente após o governo federal instituir políticas voltadas ao setor
habitacional. A criação do Banco Nacional de Habitação e do Sistema Financeiro Habitacional,
serviu de alavanca para o crescimento do setor.
Os setores de papel, papelão e pasta mecânica surgiram a partir do desdobramento do
capital acumulado na extração de madeira. Até 1960, estas atividades expandiram-se em regiões
de grande oferta de matéria-prima, especialmente nas cidades de Lages, Caçador, Rio do Sul,
Joaçaba e Rio Negrinho. No caso da produção de pasta mecânica, as empresas foram fundadas
por pequenos madeireiros que colonizaram o Planalto Norte e o Oeste catarinense. A acumulação
gerada com a extração e beneficiamento da madeira estendeu-se para pasta mecânica (celulose).
O crescimento deste segmento foi representativo. Em 1959, a produção catarinense encontrava-se
em patamar próximo daquele apresentado pelo Paraná e São Paulo que eram os maiores
produtores de celulose do país. Em estágio inicial, o setor de pasta mecânica foi formado,
sobretudo, por pequenos produtores locais, entretanto, as empresas detinham porte médio. A
19
As informações detalhadas a seguir têm como fonte as seguintes obras: CUNHA, I. J. O salto da indústria
catarinense: um exemplo para o Brasil. Florianópolis: Paralelo 27, 1992; GOULARTI FILHO, A. Formação
econômica de Santa Catarina. Florianópolis: Cidade Futura, 2002
.
64
partir do final dos anos 60, começava a mudar o perfil empresarial do setor com aumento da
participação de grupos de fora do Estado.
O pólo metal-mecânico teve sua formação no Nordeste do Estado, tendo como cidades
expoentes, Joinville e Jaraguá do Sul. O princípio das atividades industriais deu-se a partir da
extração da erva-mate e do sistema colônia-venda. O pequeno comércio local foi estimulado pela
expansão da renda, promovida pelas atividades ervateiras e pela venda dos excedentes produzidos
nas pequenas propriedades da região. Simultaneamente ao processo de acumulação do sistema
colônia-venda, multiplicaram-se pequenas oficinas, funilarias, metalúrgicas e malharias que
atendiam as necessidades advindas da produção e comercialização da erva-mate e dos produtos
agrícolas.
Além disso, outros fatores que impulsionaram a indústria localizada no Nordeste
catarinense foram: a construção de infra-estrutura rodoviária e ferroviária interligando a região ao
Paraná e Sudeste do Brasil; e a existência do porto de São Francisco que facilitava o escoamento
da produção para outras regiões do país.
Desta maneira, a região de Joinville transformou-se no principal centro econômico de
Santa Catarina, produzindo derivados de metais não-ferrosos, motores elétricos, bombas
hidráulicas, materiais elétricos, eletrodomésticos, peças para veículos automotores, carrocerias
para ônibus, máquinas e equipamentos para atender a demanda da indústria têxtil instalada na
região, entre outros.
Além da expansão e diversificação do setor metal-mecânico, o Nordeste presenciou a
fundação de novas empresas no ramo de bens de consumo duráveis, especialmente
eletrodomésticos, e no setor de transporte rodoviário
De acordo com Goularti Filho (2002, p.164), a consolidação do setor metal-mecânico na
região Nordeste foi de suma importância para a mudança no padrão da economia estadual.
Apesar desse núcleo dinâmico ter derivado da pequena produção mercantil, o desempenho do
parque industrial no novo padrão de acumulação deve ser entendido inserido no contexto da
industrialização nacional. As novas indústrias retiraram o foco do comércio local e se voltaram
para atender a demanda nacional. Nesta fase, pequenos empreendimentos transformaram-se em
empresas com marcas de projeção nacional como por exemplo, a Fundição Tupy e a Consul.
Fora do pólo metal-mecânico principal, surgiram algumas iniciativas isoladas de
crescimento neste segmento como Joaçaba, no Oeste, que expandiu a produção metal-mecânica
65
para atender o crescimento da agroindústria, ofertando máquinas e equipamentos para o setor e
ferramentas agrícolas. Na região de Criciúma, as empresas siderúrgicas nasceram para atender as
atividades carbonífera, cerâmica e agrícola. Na microrregião de Blumenau, a maior demanda por
produtos metais-mecânicos vinha dos setores tradicionais, têxtil e alimentício, e para a produção
de bens de consumo duráveis (eletrodomésticos). Também se estabeleceram como áreas
produtoras de materiais metais-mecânicos, as cidades de Rio do Sul e Caçador. A primeira, para
atender a demanda do setor alimentício e madeireiro do Alto Vale do Itajaí, e a segunda, para
satisfazer as necessidades do setor madeireiro e de pasta mecânica.
A partir dessas informações, é possível destacar que, na década de sessenta, a indústria
catarinense estava distribuída por todo o território do estado e era caracterizada por diferentes
pólos produtivos regionais. Essas “especializações” foram se formando em função dos recursos
naturais disponíveis em cada região e em razão do conhecimento e experiência trazidos pelos
imigrantes que as povoaram. De acordo com Cunha (1992), enquanto nos principais centros
industriais do país a inversão de capitais contemplou projetos de grande porte, em ramos
dinâmicos, voltados para a produção de bens intermediários, de capital e de consumo duráveis,
Santa Catarina registrou crescimento do produto industrial, baseada na exploração de vantagens
comparativas, sobretudo, em segmentos de indústrias tradicionais e extrativistas.
Uma segunda característica apontada pelo autor, refere-se ao padrão de acumulação do
capital. A ampliação e diversificação do capital industrial do estado, deu-se, fundamentalmente, a
partir da inversão de capitais de empreendedores locais, ao passo que em outras regiões do país,
houve ampla participação do capital estrangeiro e estatal na formação da base industrial.
Ainda que Santa Catarina tenha seguido trajetória diferenciada da do eixo Rio-São Paulo,
logrou capacidade de inserção no processo de industrialização brasileiro, com recursos
financeiros e empresariais próprios. Isso decorreu, essencialmente, por dois fatores: pelo
engajamento da indústria local à dinâmica nacional, fato que amparou o sistema produtivo
estadual contra os efeitos destrutivos da indústria paulista; e, por ter encontrado nichos de
mercado que tornaram possível o desenvolvimento de linhas de produtos diversos, permitindo a
consolidação de empresas e de investimentos que foram sendo realizados durante os primeiros 60
anos do século XX (CUNHA, 2000).
66
4.3 A ação governamental como mecanismo para a continuidade do processo de
acumulação
A expansão industrial de Santa Catarina sustentou-se, fundamentalmente, em capitais
locais, no entanto, as forças produtivas endógenas por si só, não davam conta de transpor os
obstáculos ao crescimento impostos pela falta de infra-estrutura e de capital financeiro. Para
acompanhar a dinâmica nacional de expansão, na qual se encontrava fortemente engajada, havia a
necessidade do empenho do Estado para desobstruir os gargalos que impediam a aceleração do
processo de acumulação do capital industrial a partir da década de 60.
Na tentativa de eliminar as insuficiências de energia, transporte e da restrição de crédito
20
,
o governo estadual passou a utilizar instrumentos ativos de políticas econômicas que visavam à
redução dos estrangulamentos infra-estruturais básicos. Para tanto, foram implantados sucessivos
Planos de Desenvolvimento para o Estado, sendo que os mais importantes foram: o PLAMEG II
(Plano de Governo II, 1966-1970), o PCD (Plano Catarinense de Desenvolvimento, 1971-1979),
e o PG (Plano de Governo, 1975-1979). De forma geral, todos os planos tiveram, em comum, a
preocupação de construir melhorias em quatro grandes áreas: financeira, transporte, energia e
telecomunicações.
As inversões despendidas para as melhorias no setor de transporte tinham por objetivo
interligar as mesorregiões catarinenses e aumentar a integração do Estado com as demais regiões
do país. Os principais investimentos foram destinados para a ampliação da malha rodoviária
ligando o Estado ao Rio Grande do Sul e Paraná (BR 101, BR 116), e para a integração das
regiões litorâneas ao Oeste e Vale do Rio do Peixe (BR 282, e BR 470). A conclusão dessas vias
facilitou muito o escoamento da produção e o deslocamento das pessoas. No entanto, é
importante salientar que primeiro ocorreu a integração com o Brasil, pela serra (BR 116) e depois
pelo litoral (BR 101) e, somente a partir de 1975, que se efetivou a conexão dos espaços intra-
regionais do Estado (CUNHA, 1992).
20
Cunha (1992, p.40), apresenta um diagnóstico feito pela Federação das Industrias de Santa Catarina (FIESC)
sobre o quadro creditício no Estado ao final da cada de 50, no qual consta que, embora Santa Catarina
representasse 16% da superfície e fosse responsável por 15% da renda gerada na região Sul, recebia apenas 6% dos
financiamentos concedidos pela União para essa região.
67
O sistema de telefonia também recebeu substanciais investimentos para ampliações dos
terminais disponíveis. Até início dos anos 70, o sistema de telefonia do Estado não oferecia
sequer serviços de discagem a longa distância, e não oferecia confiabilidade aos poucos usuários
existentes. Na década de 70, houve um incremento de praticamente 95% dos terminais
disponíveis, bem como avanço tecnológico da rede instalada, permitindo maior disseminação
entre os pólos regionais e cidades do Estado. Segundo Cunha (1992), tais avanços, aliados às
melhorias de transporte rodoviário, resultaram união das diversas “ilhas” em que estava
subdividida a economia catarinense e a integração dos diferentes segmentos do espaço
estadual” (p. 98).
No que se refere à infra-estrutura de energia, os planos de desenvolvimento do Estado
contemplaram, tanto o aumento na geração de energia, como a expansão da rede de transmissão e
distribuição, especialmente para a região Oeste, que apresentava o maior grau de deficiência.
Cabe destacar que os investimentos na construção de novas usinas hidrelétricas e termoelétricas
estavam contidos num plano maior, que visavam a atender os três Estados da região Sul, e que os
recursos disponibilizados, em grande parte, provinham de fontes federais. Essas estratégias
representaram, na década de 70, um crescimento anual médio na ordem de 12% na capacidade de
geração de energia dentro do Estado de Santa Catarina, elevando o consumo per capita de 454
para 721 Kwh por habitante, excedendo em muito as médias dos dois estados vizinhos, Paraná e
Rio Grande do Sul (CUNHA, 1992).
No campo financeiro, a prioridade era capacitar o Estado para financiar projetos de longo
prazo, por meio de agências de fomento e programas de incentivos. Engajadas numa política
federal ampla de criação de bancos estaduais de fomento, foram estabelecidas, no período, três
instituições para atender a demanda por novos investimentos industriais. A criação das agências
de fomento - BDE (Banco de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina, 1962-69, atual
BESC) e BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, 1962, fundado
juntamente com os dois outros Estados da região Sul) -, inaugurou uma nova fase no sistema de
crédito do Estado, que deslocou o eixo de atuação de crédito ao consumidor para crédito ao
investimento de longo prazo
21
(GOULARTI FILHO, 2002).
21
Anteriormente a criação do BDE, Santa Catarina não contava com sistema de crédito de longo prazo, os bancos
sediados no Estado ofertavam apenas linhas de crédito de curto prazo, sobretudo para pequenos produtores agrícolas.
Com a evolução de novas e grandes empresas, havia a necessidade reforçar a oferta de crédito para investimento de
longo prazo.
68
Com a reforma financeira feita pelo governo federal, em 1968, o BDE foi transformado
em banco comercial, passando a se chamar BESC (Banco do Estado de Santa Catarina). Para
compensar a perda deste importante órgão financiador de projetos de longo prazo, o governo
catarinense instituiu outros mecanismos de fomento ao crescimento industrial. Além de implantar
dois programas de incentivos fiscais FUNDESC (Fundo de Desenvolvimento do Estado de
Santa Catarina, 1970-75) e PROCAPE (Programa Especial de Apoio à Capitalização de
Empresas, 1975-82), criou o BADESC (Banco de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina,
1975).
O estabelecimento de novas fontes de recursos institucionais permitiu a viabilização de
grande número de investimentos que normalmente não teriam sido implantados com os antigos
mecanismos de financiamento (autogeração de poupanças, transferências do setor primário e
operações financeiras oferecidas pelo governo federal) (CUNHA, 1992).
Os recursos oferecidos por esses programas e instituições foram destinados, em sua
grande maioria, para atender novos projetos industriais em todos os segmentos de atividades
privadas. Apenas o BRDE teve papel um pouco diferenciado, tendo em vista que, até meados dos
anos 80, o banco possuía forte atuação na esfera pública, liberando recursos para a construção de
infra-estrutura básica nos três Estados da região Sul.
Do volume total de recursos liberados pelos órgãos fomentadores e pelos programas de
apoio, conforme Tabela 4.1, que se segue, o setor que mais captou recursos públicos disponíveis,
desde 1962, foi o de alimentos (complexo agroindustrial), com atração média de 34,52 % do
total, seguido pelo complexo eletro-metal-mecânico, com contratação de 15,92% do montante
oferecido.
Os esforços de investimentos tinham por objetivo a expansão e a modernização do parque
produtivoDe acordo com Goularti Filho (2002), verificando a distribuição dos recursos liberados
pelos programas de incentivos e agências de fomento em Santa Catarina, é possível entender por
que o complexo agroindustrial registrou um crescimento expressivo na composição do PIB do
Estado, por que o complexo eletro-metal-mecânico tornou-se tão dinâmico, por que a indústria
cerâmica consolidou-se como importante fornecedor de insumos para a construção civil nacional
e internacional, por que o Vale do Itajaí firmou-se como o segundo pólo têxtil do Brasil
69
TABELA 4.1: Participação por setores no montante de recursos públicos disponibilizados em
Santa Catarina (em %)
Setores BDE
1962-1969
FUNDESC
1970-1978
PROCAPE
1975-1980
BRDE
1965-1986
BADESC
1975-1999
MÉDIA* Média
Outras
Fontes**
Alimentos 70,0 43,2 20,0 22,4 17,0 34,52 15,27
Eletrometal-
mecânico
9,0 21,1 22,3 17,2 10,0 15,92 14,5
Têxtil-vestuário 15,8 5,5 22,2 17,0 12,1 21,76
Minerais não-
metálicos
2,8 14,4 8,7 13,0 7,78 5,6
Materiais
plásticos
10,5 1,0 2,5 3,2 3,44 3,67
Papel e celulose 14,4 4,1 4,0 4,5 7,13
Fonte: Goularti Filho (2002).
* Média dos recursos captados pelos setores industriais junto às instituições públicas para novos investimentos.
** Média qüinqüenal, (1960 a 1980), de recursos investidos oriundos de fontes privadas.
Segundo Cunha (1992), do total de recursos investidos pelas empresas, considerando
capitais oriundos de outras fontes (reinvestimentos, capitais nacionais e internacionais), os setores
que apresentaram maior distribuição de inversões são: têxtil e vestuário (21,76%); o de produtos
alimentares (15,27%); eletrometal-mecânica (14,5%); papel e celulose (7,13%); e o grupo de
minerais não-metálicos (5,6%).
As medidas tomadas pelo governo estadual, nas décadas de 60 e 70, foram vitais para dar
continuidade ao processo de acumulação do capital industrial catarinense, que necessitava de
melhorias infra-estruturais (energia, telefonia, transporte) e de recursos financeiros para expandir
o campo de atuação. A ação do Estado, criando condições favoráveis à expansão das forças
produtivas originadas em estágios anteriores, foi decisiva para que o capital industrial se firmasse
como comandante do processo de crescimento da economia catarinense, conferindo ao Estado a
condição de território industrializado (CUNHA 1992; GOULARTI FILHO, 2002).
4.4 Evolução econômica e desempenho global da indústria catarinense no período 1970 -
1985
Na década de 70, a economia catarinense presenciou grandes modificações na estrutura de
composição do produto interno. O setor secundário registrou aumento na participação do PIB
70
(Produto Interno Bruto) catarinense em detrimento do setor primário, conforme Tabela 4.2. Em
duas décadas, o segmento industrial dobrou sua participação na economia estadual. Conforme
descrito anteriormente, parte dessa transformação é atribuída às mudanças sócio-econômicas
ocorridas no interior do Estado fruto das intervenções governamentais para a redução dos
estrangulamentos infra-estruturais básicos e na geração de mecanismos de financiamento para
novos investimentos -, e parte é explicada pela aceleração do crescimento industrial e urbano nas
regiões centrais do país.
TABELA 4.2: Evolução qüinqüenal do PIB brasileiro e catarinense, global (em R$) e por setor
(em %) – 1960 a 1985
Ano PIB Global Brasil
Primário
Secundário
Terciário
PIB Global SC
Primário
Secundário
Terciário
(Em R$) (Em %) (Em %) (Em %) (Em R$) (Em %) (Em %) (Em %)
1960
174.233.384,39 18,28 33,19 51,48 3.240.197,77
43,90 19,00 37,10
1965
214.850.752,30 16,50 33,24 54,28 3.427.170,62
41,90 14,30 43,80
1970
317.069.559,88 12,35 38,30 56,22 7.026.264,59
22,00 32,10 45,90
1975
512.282.913,69 11,52 43,27 52,40 12.570.940,73
19,70 36,10 44,20
1980
725.317.785,04 10,89 44,09 52,73 22.975.537,93
15,90 37,60 46,50
1985
772.685.329,09 12,61 47,97 52,89 25.343.516,25
18,20 45,10 36,70
Fonte: IPEA, 2006.
OBS: PIB a preços cosntantes - Anual - R$ de 2000 - deflacionado pelo Deflator
Implícito do PIB nacional
O setor primário que, na década de 60, contribuía, em média, com 40% da renda, decaiu
para 22% em 1970, enquanto o setor industrial passou a representar mais de um terço da renda
estadual. Em 1980, o setor agrícola apresentou nova queda de participação, figurando somente
com 15,9% do produto do Estado. Neste mesmo ano, o setor secundário atingiu o índice de
37,6% do PIB de Santa Catarina. Nesse período, o setor terciário manteve-se praticamente
constante, oscilando entre 40 e 46,5% da renda catarinense.
A queda de participação do produto primário pode ser creditada ao esgotamento da
fronteira agrícola e às limitações da estrutura agrária. As políticas editadas pelo governo federal,
a partir dos anos 60, objetivavam o aumento da produtividade das lavouras plantadas e a
modernização tecnológica, com vistas a tornar o setor agrícola competitivo internacionalmente.
Santa Catarina, em função da estrutura fundiária baseada na pequena propriedade, perdeu espaço
na produção agrícola para outras regiões do país que apresentavam o perfil exigido nessa nova
organização.
71
Não obstante a queda relativa do setor primário na composição da renda catarinense, se
comparada aos índices nacionais, ao longo do período, o mesmo manteve participação relativa
superior àquela apresentada pela economia brasileira. Essa medida de participação ocorreu,
especialmente, impulsionado pelo crescimento do setor agrícola fornecedor de matéria-prima
para o complexo agroindustrial ligado à suinocultura e avicultura (CUNHA, 1992).
Também é possível denotar que a variação na participação relativa do setor secundário,
entre 1960 e 1985, foi superior ao registrado pelo setor industrial ao registrado pelo setor
industrial nacional. Em 1960, o setor industrial catarinense contribuía apenas com 19% na
formação do PIB estadual, enquanto na esfera nacional, esse setor era responsável pela formação
de 33,19% do PIB. Em 1975 e 1985, o setor secundário de Santa Catarina representava 36,10% e
45,10% da composição do PIB, respectivamente. Nesses mesmos anos, a participação do setor
secundário na formação da renda brasileira, foi de 43,27% e 47,97%, respectivamente. Isso
representa uma aceleração na expansão industrial do estado.
Além disso, evolução do PIB de Santa Catarina demonstra que no primeiro qüinqüênio da
década de 80, o estado exibiu indicadores superiores à média brasileira, tanto no setor primário,
quanto no secundário
22
. Segundo pode ser visto no gráfico 4.1, a indústria catarinense, em 10
anos, (1970 a 1980), conquistou 1,3 pontos percentuais na geração do produto industrial
brasileiro, fato que vem corroborar com o argumento de que o setor secundário tornou-se o carro-
chefe do processo de crescimento econômico do estado, especialmente, pela expansão da
indústria de transformação.
Conforme o gráfico, a indústria de transformação, considerando os ramos mais
expressivos do estado, aumentou sua participação no cenário sub-setorial da oferta nacional,
representado um ganho no conjunto da indústria brasileira, visto que saltou de 2,4% em 1959
para 3,9% em 1985.
22
É importante registrar que em 1983, o desempenho da economia catarinense foi fortemente abalado por fatores
não-econômicos (As enchentes, entre outros fatores negativos, destruíram inúmeros estabelecimentos industriais e
comerciais da região do Vale do Itajaí), comprometendo o rendimento da economia para esse período.
72
Fonte: FIBGE. Censos Industriais de Santa Catarina: 1960, 1970, 1975, 1980 e 1985.
GRÁFICO 4.1: Participação de Santa Catarina no VTI nacional – 1959 a 1985 (em %)
Fazendo decomposição do valor da transformação industrial (VTI) por setor de atividade,
os aumentos mais significativos são notados nos gêneros tradicionais têxtil, vestuário,
confecções e calçados, produtos alimentares e fumo-, que elevaram suas participações no produto
nacional de 3,16%, 0,90%, 2,49% e 1,12% em 1959, para 7,83%, 10,55%, 6,33% e 13,67% em
1985, respectivamente, conforme Tabela 4.3. Outros gêneros que obtiveram destaque de
crescimento foram o mobiliário, produtos de matérias plásticas e minerais não-metálicos. Esses
setores aumentaram a participação relativa no produto brasileiro de 1959 a 1985 em 7,27%, 7,0%
e 3,57%, respectivamente.
Nos gêneros industriais dinâmicos os destaques ficaram por conta do crescimento na
participação relativa do setor de mecânica, que em 1985 contribuía com 3,79% do VTI nacional,
e pelos avanços nos setores de material elétrico e de comunicação e material de transporte, que
elevaram suas participações de 0,84% e 0,18% em 1959, para 2,01% e 1,03% em 1985,
sucessivamente.
2,4
2,6
3,3
3,9
3,9
0
1
2
3
4
5
1959 1970 1975
1980
1985
73
TABELA 4.3: Participação no VTI brasileiro, segundo principais gêneros – 1959-1970-1985
(em %)
Classe e Gênero
1959 1970 1985
EXTRATIVA MINERAL 9,66 5,63 1,33
Minerais não-metálicos 1,73 2,24 5,30
Metalúrgica 1,09 1,12 1,80
Mecânica 1,45 2,15 3,79
Material elétrico e de comunicações 0,84 0,60 2,01
Material de transporte 0,18 0,82 1,03
Madeira 17,35 19,91 15,64
Mobiliário 3,01 3,66 10,28
Papel e papelão 4,87 7,35 6,82
Borracha 0,15 0,32 0,36
Couros, peles e similares 1,80 2,29 2,17
Química 0,50 0,55 0,51
Produtos farmacêuticos e medicinais 0,35 0,45 0,60
Perfumaria, sabões e velas 1,48 0,80 0,18
Produtos de matérias plásticas 2,16 8,41 9,16
Têxtil 3,16 5,14 7,83
Vestuário, calçados e artigos de tecidos 0,90 0,94 10,25
Produtos Alimentares 2,49 2,89 6,33
Bebidas 1,45 1,27 1,48
Fumo 1,12 2,05 13,67
Editorial e gráfica 0,75 0,55 1,12
Diversas 3,68 2,44 2,23
INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO 2,40 2,60 3,90
Fonte: FIBGE. Censos Industriais Brasil, 1960, 1970 e 1985.
A partir dos indicadores da participação da indústria de transformação catarinense no VTI
nacional, pode-se delinear algumas características do crescimento do setor secundário no
contexto endógeno. A primeira é a forte concentração da expansão produtiva nos setores
tradicionais, principalmente vestuário. A segunda refere-se à elevação da participação da
categoria de indústrias dinâmicas (eletro-metal-mecânica) na composição do produto do estado.
Essas constatações confirmam-se quando se verifica a evolução da indústria de
transformação de Santa Catarina por gênero (Tabela 4.4). A indústria tradicional, embora tenha
perdido pequena parcela no produto global, manteve presença marcante no VTI do Estado até
1985. O espaço deixado por esta categoria, foi ocupado por algumas indústrias do grupo
dinâmicas, principalmente, metalúrgica, mecânica e materiais plásticos.
Os segmentos da categoria tradicional que mais perderam espaço, no subperíodo 1970-
1985, foram madeira e têxtil (juntas, 18,5% do total). Porém, ocorreu um novo fenômeno na
indústria estadual: a rápida expansão do ramo de vestuário, calçados e artefatos de tecidos, de
74
1,13% em 1970 para 13,08% em 1985, fato que colaborou para a manutenção da elevada
participação dos tradicionais, na composição da transformação industrial catarinense.
TABELA 4.4: Valor da transformação industrial de Santa Catarina, segundo classes e gêneros
1966-1970-1985 (em %)
Fonte: FIBGE – PIA (Pesquisa Industrial Anual) para 1966 e Censos Industriais
do Estado de Santa Catarina para 1970 e 1985.
Segundo Lombardi e Lins (2001), a retração apresentada pela indústria têxtil, é resultado
de um processo de mudança estrutural sofrido pela cadeia ao longo das décadas de 60 e 70. Os
anos 60 foram marcados pela verticalização da cadeia de produção, fase em que a indústria
passou a produzir desde a matéria-prima (algodão) até o produto acabado (vestuário). Essa
estratégia favoreceu a concentração do capital e a conseqüente formação de grandes grupos
empresariais na região do Vale do Itajaí que, na década seguinte, aumentam a participação no
mercado nacional e se expandem para outras regiões do país (Nordeste, Paraná e São Paulo).
Para os autores, em razão da elevada verticalização da cadeia têxtil, ao final dos anos 70,
esta começou a sofrer desdobramentos, pois a estrutura montada estava engessando o crescimento
Classe e Gênero
1966 1970 1985
EXTRATIVA MINERAL 11,17
6,19 3,15
Minerais não-metálicos 4,48
4,63 5,61
Metalúrgica 4,15
4,78 5,41
Mecânica 2,95
5,65 8,61
Material elétrico e de comunicações 2,54
1,18 3,75
Material de transporte 3,1
2,42 1,63
Madeira 19,54
17,96 6,10
Mobiliário 2,37
2,53 3,10
Papel e papelão 3,97
7,11 4,93
Borracha 0,05
0,22 0,18
Couros, peles e similares 0,74
0,54 0,32
Química 0,74
2,00 2,17
Produtos farmacêuticos e medicinais 0,5
0,57 0,25
Perfumaria, sabões e velas 0,69
0,44 0,04
Produtos de matérias plásticas 2,68
5,97 5,06
Têxtil 19,34
18,15 11,48
Vestuário, calçados e artigos de tecidos 1,75
1,13 13,08
Produtos alimentares 15,45
13,93 18,73
Bebidas 1,25
1,01 0,45
Fumo 0,15
1,01 2,56
Editorial e gráfica 0,85
0,68 0,53
Diversas 1,53
1,90 1,48
INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO 88,83
93,81 95,48
75
dos grupos empresariais. Para desconcentrar a quantidade de atividades realizadas por uma única
indústria, houve o desmembramento da cadeia têxtil em três setores: têxtil, de confecções do
vestuário e de artefatos de tecidos. Isto explica o porquê do aumento significativo das indústrias
de confecções e de artefatos de tecidos no VTI do Estado em 1985.
A queda na participação do setor madeireiro dá-se em função do esgotamento do ciclo de
extração da madeira, restrições dos órgãos ambientais e do não reflorestamento paralelo. Essa
retração foi fortemente sentida na dinâmica econômica das regiões onde estava concentrada a
atividade, especialmente, na Serrana. O declínio econômico causado pela perda de participação
do setor madeireiro, foi, parcialmente, recuperado com o afluxo de investimentos feitos por
grandes grupos nacionais e estrangeiros no setor de papel e celulose, que também estava
localizado nos Campos de Lages (CUNHA, 1992)
Ainda na categoria tradicional, o crescimento do gênero de produtos alimentares foi
impulsionado pela modernização do setor agrícola do estado
23
, que teve como expressão maior a
formação dos complexos agroindustriais de carnes, tornando-se a principal força produtiva das
macrorregiões Oeste e Vale do Rio do Peixe. O avanço da indústria alimentícia, que elevou sua
participação no VTI estadual de 13,93% em 1970 para 18,73% em 1985, resultou,
fundamentalmente, da maior agregação de valor aos produtos ofertados por estes complexos
(aumento do grau de processamento e de sofisticação dos produtos) (CUNHA, 1992). Na
categoria de indústrias dinâmicas, o destaque de crescimento ficou por conta dos gêneros
minerais não-metálicos, mecânica, produtos de matérias plásticas e materiais de transportes.
Nenhum dos segmentos apresentou elevação acentuada no índice de participação entre 1966 e
1985. Todos demonstraram crescimento gradual no valor de transformação do produto industrial
do Estado.
A expansão do gênero de minerais não-metálicos ficou por conta, essencialmente, do
crescimento da indústria cerâmica. Nos últimos anos da década de 70, a região Sul de Santa
Catarina, firmou-se como um pólo nacional de cerâmica, formado pelos municípios de Criciúma,
Urussanga, Içara e Tubarão. O crescimento do setor cerâmico foi possível devido ao
crescimento acelerado da construção civil nos anos 70. Ao mesmo tempo em que a indústria
23
Além do aumento da mecanização do setor agrícola do Estado, o complexo agroindustrial propiciou rápido avanço
na adoção de novas tecnologias, introduzindo novos padrões genéticos e de gestão/manejo (sistema de integração)
que estimularam diretamente o desenvolvimento agropecuário e viabilizaram a exploração produtiva de pequenas e
médias propriedades rurais das regiões Oeste e do Vale do Rio do Peixe.
76
cerâmica começava a se consolidar, iniciou-se um processo de concentração e aquisições. Os
grupos catarinenses foram crescendo em nível local e se difundindo em nível nacional, através
da compra de unidades menores (GOULARTI FILHO, 2002).
A ampliação dos setores de mecânica e de materiais de transporte, não pode ser dissociado
do movimento econômico amplo que ocorreu na região Nordeste do estado, especialmente, nas
cidades de Joinville e Jaraguá do Sul. Em razão de a economia regional estar fortemente pautada
nos setores dinâmicos eletrometal-mecânico - houve um crescimento generalizado desses
segmentos entre 1970 e 1985. A partir de 1970, a indústria eletro-metal-mecânica incipiente
recebeu estímulos ao crescimento vindos da expansão da economia nacional, que aumentou a
demanda por máquinas, peças e equipamentos. Num segundo momento, a ampliação na oferta de
infra-estrutura (energia, transporte, reaparelhamento dos portos), facilitou o escoamento da
produção para as demais regiões do país. A ampliação da oferta de crédito, por parte do governo
local, proporcionou novos investimentos para o aumento e modernização das plantas
instaladas. Por fim, a consolidação de alguns grandes grupos (Tupy, Consul, Embraco,Weg e
Busscar), aumentou a dinâmica econômica da região, pois além de serem grandes empregadores,
tornaram-se responsáveis pela emersão de inúmeras pequenas e médias empresas ligadas ao
complexo (GOULARTI FILHO, 2002).
Nessa mesma região, houve crescimento do segmento de materiais plásticos,
fundamentalmente, tubos e conexões de PVC. A indústria de materiais plásticos, voltados para a
construção civil, foi beneficiada de duas formas: primeiro, pelo crescimento do setor habitacional
do país; e, segundo, pela expansão do setor petroquímico em âmbito nacional, na década de 70,
elevando a oferta interna dos insumos necessários para a produção do plástico. Concomitante à
elevação da produção de tubos e conexões, na região Sul do estado, constitui-se um núcleo
produtor de plásticos para usos domésticos e descartáveis (GOULARTI FILHO, 2002).
Os movimentos registrados pelos mais variados segmentos da indústria de transformação
catarinense, ao longo do período de 1966 a 1985, denotam alguns aspectos. O primeiro deles é a
forte associação do seu crescimento aos estímulos recebidos das políticas nacionais de
desenvolvimento regional. Mesmo que o estado não tenha recebido grandes investimentos
diretos, foi amplamente beneficiado pelo crescimento industrial das demais regiões. Um exemplo
disso é o complexo eletrometal-mecânico, que foi amplamente beneficiado pela desconcentração
da indústria paulista.
77
O segundo diz respeito ao reforço da especialização regional do capital industrial. Ao
final da década de 60, a produção industrial do estado indicava a concentração dos gêneros
industriais de acordo com a disponibilidade de insumos e conforme as características dos
colonizadores. Essa especialização só se intensificou com a ampliação produtiva do estado.
Por fim, houve uma grande diversificação da estrutura produtiva, passando o produto
industrial do estado a ser composto pelos mais variados segmentos, porém, com maior
expressividade nos ramos tradicionais e eletrometal-mecânico.
4.4.1 Tamanho dos estabelecimentos e estrutura de emprego
A estrutura industrial catarinense, segundo classificação dos três grupos de tamanho,
apresentou algumas mudanças no decorrer da década de 70, período de grande dinamismo da
economia e do setor industrial catarinense. O padrão de desenvolvimento revelou o crescimento
das médias empresas e dos grandes grupos empresariais, no valor de transformação industrial e
na ocupação de pessoal.
O segmento de médios estabelecimentos ampliou sua participação no total de
estabelecimentos industriais existentes no estado. Conforme pode ser visto na Tabela 4.5, abaixo,
em 1970, existiam 131 empresas. Uma década após, perfaziam um total de 621
empreendimentos. A participação das grandes empresas também aumentou durante esse período,
em 1970, elas representavam 0,3% das empresas existentes no estado, e em 1980, eram 0,7% do
total. É interessante ressaltar a predominância dos pequenos empreendimentos no conjunto da
indústria estadual (95,4% dos estabelecimentos, em 1980)
24
.
Embora, ao longo do período, o maior número de estabelecimentos tenha se concentrado
na categoria pequena empresa, os médios e grandes grupos empresariais, juntos, respondiam por
55,7% do valor de transformação industrial, em 1970, e por 54,9% do pessoal ocupado no setor
24
É importante ressaltar que, apesar da pequena empresa ter grande representatividade para a economia catarinense,
a variação na participação relativa das médias e grande empresas, entre 1970 e 1980, foi de 374% e 144%,
respectivamente. Em termos de pessoal ocupado essa variação foi de 216,8% e 111,8%, consecutivamente. Variações
bem superiores às registradas pelos pequenos estabelecimentos, que foram de 24,7% em número de empresas e
103% em relação à elevação de pessoal ocupado.
78
secundário. Já, no ano de 1980, as médias empresas, juntamente com as grandes, foram
responsáveis por 65,3% do VTI do Estado e por 51,5% do total de pessoas empregadas no
segmento de indústria de transformação de Santa Catarina.
TABELA 4.5: Evolução do número de estabelecimentos, valor de transformação industrial e
pessoal ocupado, segundo tamanho dos estabelecimentos – 1970-1980 (em %)
Tamanho
1970 1980
Empresa Número de % Pessoal % VTI
Número de
% Pessoal % VTI
estab. Ocupado % estab. Ocupado %
Pequena 8.721 98,2
66.087 45,1
44,3
10.881 95,4 134.216 48,5 34,7
Média 131 1,5 26.969 32,4
25,9
621 3,9 85.432 30,9 37,2
Grande 29 0,3 26.989 22,5
29,8
71 0,7 57.165 20,6 28,1
Total 8.881 100 120.045 100 100
11.573 100 276.813 100 100
Fonte: FIBGE. Censos Industriais de Santa Catarina 1970 e 1980.
Nota: Pequena empresa: 01 a 99 empregados; Média empresa 100 a 499 empregados; Grande empresa: 500 ou mais
empregados.
Em 1980, os pequenos empreendimentos eram majoritários nos setores de madeira,
minerais não-metálicos e produtos alimentares. Dos 10.881 estabelecimentos, 3.044 estavam no
setor madeireiro, 1.539 no de minerais não-metálicos e 1.788 no setor alimentício. Os médios
estabelecimentos predominavam nas indústrias mecânica, mobiliário, papel e papelão, têxtil,
vestuário e produtos alimentares. A maior concentração dos grandes estabelecimentos estavam no
complexo têxtil-vestuário (33 empresas), na indústria metalúrgica (07 empresas) e no setor de
minerais não-metálicos (10 empresas)
25
.
O crescimento do número de empreendimentos de médio e grande portes ocorreu por duas
vias. A primeira, pela aquisição de estabelecimentos existentes, do mesmo ramo ou complexo
industrial. Fazem parte deste fenômeno as indústrias têxteis e confecções, cerâmicas e, sobretudo,
as agroindústrias. E a segunda, mediante a implantação de novos projetos e empresas, como é o
caso do complexo eletrometal-mecânico (GOULARTI FILHO, 2002).
No caso das grandes empresas, constatou-se, também, a ocorrência de importantes
iniciativas de integração horizontal, como a sucedida nos grandes frigoríficos de suínos, que
desmembraram as atividades para o abatimento de aves. Além disso, verificou-se a
diversificação dos investimentos em outros ramos. O caso mais notável foi o da aplicação de
capitais do Grupo Hering (ramo têxtil) para a compra da Ceval (à época, grande empresa
25
Informações extraídas do Censo Industrial de 1980 – FIBGE- Dados Gerais das Atividades Industriais, Segundo
Grupos de Pessoal Ocupado e Classes e Gêneros de Indústria.
79
processadora de soja e abatedora de aves e suínos). A integração e a diversificação do parque
produtivo também foram percebidas nas indústrias metalúrgica, de matérias plásticas e mecânica
(CUNHA, 1992).
É importante ressaltar que a expansão das grandes empresas contribuiu para a
consolidação do conhecimento acumulado no contexto dos complexos industriais, e para a
multiplicação dos micros e pequenos empreendimentos, especializados em alguma fase do
processo produtivo, ou em atividades conexas. Aí, reside uma explicação para a existência de um
número altamente expressivo dessas empresas no conjunto da indústria catarinense.
4.4.2 A distribuição espacial da indústria
A tendência à concentração regional da produção foi sendo moldada ao longo do processo
de industrialização do estado em decorrência das características de colonização, ou pela
disponibilidade singular de algum insumo e/ou fator que oferecesse vantagem competitiva de
alguns pontos do espaço em relação aos outros. Os gêneros de indústrias que apresentavam maior
grau de concentração geográfica no território catarinense eram: matérias plásticas, material de
transporte, metalúrgica, mecânica e material elétrico (Joinville e Jaraguá do Sul); vestuário e
têxtil (Blumenau, Brusque e Gaspar); mobiliário (São Bento do Sul e Rio Negrinho); madeira,
papel e celulose (Lages, Curitibanos, Canoinhas e Caçador); e, cerâmica (Criciúma e Tubarão).
De acordo com o exposto na Figura 4.1, a seguir, em 1980 o eixo eletro-metal-mecânico
localizado na região Nordeste era responsável por 52,52% da transformação industrial desses
segmentos no estado e representava 63,37% do produto industrial da região. O eixo têxtil-
vestuário situado no Vale do Itajaí contribuía com 70,21% do total de produtos têxteis, vestuário
e artefatos de tecidos transformados no estado, o que representava 55,65% do produto
manufaturado na região. Na região Sul, estava concentrado o eixo mineral-cerâmico
representado, especialmente, pela extração de carvão mineral e pelas indústrias cerâmicas
voltadas para a construção civil. Juntos, esses dois segmentos, representavam 55,24% do total
produzido pelo estado e 79,72% em relação ao total do produto da região.
80
As indústrias de gêneros alimentícios e de madeira apresentaram uma maior dispersão
entre as mesorregiões, muito embora os complexos agroindustriais encontravam-se concentrados
no Oeste e no Vale do Rio do Peixe. Essas duas grandes regiões eram responsáveis por 44,50%
do total de produtos alimentícios transformados no estado. O eixo florestal apresentava maior
concentração nas regiões Serrana e Planalto Norte. Essas duas regiões, em conjunto, contribuíam
com 55,24% do total do valor de transformação industrial dos gêneros madeira, mobiliário, papel
e papelão.
Fonte do mapa: FIESC, Santa Catarina em Dados, 2004.
Fonte dos dados brutos: FIBGE. Censo Industrial SC, 1980.
FIGURA 4.1: Distribuição espacial da indústria catarinense, por mesorregião - 1980
81
Essa característica de relativa especialização regional do capital trouxe vantagens para a
indústria catarinense, pois contribuiu para o fortalecimento de alguns grupos empresariais.
Parcela do impulso obtido pela indústria do vestuário pode ser creditada ao aproveitamento das
economias de aglomeração – vantagens externas à indústria, troca de experiências entre os
agentes e sinergias geradas entre os elos da cadeia -, assim como, a proximidade geográfica e a
troca de experiência produtiva, auxiliaram para o rápido crescimento da indústria cerâmica no Sul
do estado (CUNHA, 2000).
4.4.3 A inserção externa da indústria catarinense
Auxiliada pela fase de ampla expansão do comércio internacional na primeira metade da
década de 70, e favorecida pelas políticas de estímulos às exportações oferecidas pelo governo
federal, a indústria de Santa Catarina ampliou significativamente a participação no cômputo das
exportações brasileiras de 1,4% em 1970 para 4,3% em 1980 (Gráfico 4.2). O processo de
crescimento na participação nas vendas externas repercutiu diretamente na expansão e
diversificação do produto industrial do estado, pois o mercado externo constituiu-se numa
importante fonte de demanda dos produtos manufaturados.
Isso proporcionou consideráveis modificações do perfil das exportações quanto ao
grau de processamento dos produtos. Em 1970 os semi-maufaturados representavam mais de 2/3
das exportações e em 1984 limitaram-se a 11,4%. A mercadoria mais representativa dessa
categoria em 1970 era madeira serrada 61,6% do total vendido pelo estado. O grupo dos produtos
manufaturados elevou sua participação de 11,8% para 44,5% no mesmo período (CUNHA,
1992).
82
1,4
2,5
4,3 4,3
17,1
29,2
40,6
71,1
18,5
11,1
11,8
52,3
51,7
44,1
7,7
44,5
0
10
20
30
40
50
60
70
80
1970 1975 1980 1984
Anos
%
Part. X SC/BR
sicos
Semi-manuf.
Manufaturados
Fonte dos dados: Cunha, 1992, pg. 167 a 172 e 219 a 223.
Nota: Part. X SC/BR: participação das exportações catarinenses no total brasileiro.
GRÁFICO 4.2: Participação no total das exportações brasileiras - total e segundo grau de
processamento -1970-1985
Cabe destacar que até início da década de 80, a pauta de exportações era composta,
basicamente, por produtos primários e semi-elaborados (2/3 do total). Os produtos de maior
influência no desempenho exportador, em valor de vendas, até 1980, eram: frangos congelados,
farelo de soja/grão, açúcar refinado, têxteis e óleo de soja (Tabela 4.6). A partir de 1984, os
produtos das indústrias dinâmicas começaram a ter maior participação nas vendas externas
catarinenses, como motocompressores, papel Kraft, pisos e azulejos, calçados e óleo de soja.
Contudo, os ramos que mais se evidenciaram foram os de produtos alimentares (22,9%) e têxtil
(13%).
Segundo Cunha (1992), em 1984, 14,8% da produção industrial era destinado ao mercado
externo, e entre os principais mercados de destino estavam os Estados Unidos, o Canadá e alguns
países do Mercado Comum Europeu. O ingresso de Santa Catarina no mercado externo estimulou
o desenvolvimento da produção e também o aperfeiçoamento de inúmeros segmentos industriais
do estado, com efeitos positivos sobre os setores primário e terciário.
83
TABELA 4.6: Exportações catarinenses segundo grau de processamento e principais mercadorias
- 1970 - 1975 - 1980 - 1984 (em %)
Fonte dos dados: Secretaria Estadual de Planejamento, 1986, apud Cunha (1992).
Além do mais, exigiu um grande esforço de capacitação tecnológica, organizacional e
gerencial, o que contribuiu para aumentar a competitividade no próprio mercado interno. A
diversificação da estrutura produtiva colaborou para assegurar a incidência de menores impactos
negativos nas fases recessivas e de maiores avanços nos momentos expansionistas, além do que,
colaborou para a continuidade do processo de crescimento da economia catarinense no primeiro
qüinqüênio da década de 80.
De maneira sucinta, torna-se relevante o fato de que o crescimento econômico de Santa
Catarina, apesar de apresentar algumas características próprias, realizou-se pautado no processo
de desenvolvimento industrial nacional. Em outras palavras, a inserção da economia catarinense
no circuito nacional e internacional concretizou-se, sobremodo, em razão das transformações
ocorridas no conjunto da economia brasileira desde o período do milagre econômico. Contudo,
um aspecto adicional a ser levado em conta, está relacionado à capacidade de resposta da
diversificada estrutura produtiva, distribuída nas diversas regiões do estado.
Produtos 1970 1975 1980 1984
BÁSICOS 17,1 29,2 40,6 44,1
Carnes de aves congeladas - 1,6 12,2 13,6
Fumo em folha 8,9 19,3 8,3 8,1
Farelo de soja/graõs 5,0 5,2 16,2 20,2
Peixes 2,9
Outros 0,3 3,1 3,9 2,2
SEMIMANUFATURADOS 71,1 18,5 7,7 11,4
Óleo de soja bruto - 3,4 5,4 10,1
Madeira serrada 61,6 13,6 1,8
Outros 9,5 1,5 0,5 1,3
MANUFATURADOS 11,8 52,3 51,7 44,5
Açúcar refinado - 15,5 18,4 6,5
Têxtil 1,6 14,9 8,9 13,0
Calçados - - - 3,8
Motocompressores - - - 2,9
Papel Kraft - - - 2,4
Pisos e Azulejos - - - 0,8
Óleo de soja refinado - - - 2,8
Louças e utensílios domésticos - - - 1,4
Outros
10,2 21,9 24,2 10,9
84
5 O DESENVOLVIMENTO DE SANTA CATARINA NO CONTEXTO DO NOVO
PARADIGMA TECNO-ECONÔMICO
No período 1970-85, a economia catarinense vivenciou um estágio de grande dinamismo.
Graças aos arranjos institucionais postos em prática e às fases de crescimento da economia
nacional e internacional, a indústria local logrou excelente desempenho, decorrente da ampliação
e diversificação da base produtiva, tanto em termos de tamanho dos estabelecimentos, quanto em
ramos de atividades.
A nova configuração desenhada pela indústria teve como resultado a inversão de liderança
do setor primário para o secundário. A construção de competências em segmentos da indústria
tradicional, como têxteis e agroindústrias, e a consolidação do grupo de dinâmicas,
fundamentalmente, eletrometal-mecânica e matérias plásticas, foram as grandes razões para o
salto expressivo registrado na economia.
Isso permitiu que o estado ampliasse sua participação, tanto no mercado interno, quanto
no externo. O engajamento às demais regiões do país e do mundo, sobretudo, através da venda de
produtos dos setores dinâmicos, foi de suma importância para que o sistema produtivo
catarinense não sucumbisse diante da crise pela qual atravessava a economia brasileira.
Cabe denotar que, apesar de a economia de Santa Catarina ter encontrado caminhos
alternativos para suavizar os efeitos da crise que se fizeram sentir em todo território nacional, e
de ter conseguido superar a abandono do Estado enquanto articulador e financiador dos projetos
industriais, os sinais de desaquecimento foram sentidos na segunda metade da década de 80.
A intensidade de desaceleração variou de acordo com o grau de engajamento da indústria
no mercado interno e externo. Ao mesmo tempo em que houve ampliação da atividade industrial
em determinadas regiões, em outras, ficavam claras as evidências de declínio do sistema
produtivo, especialmente naquelas que concentraram o capital em atividades extrativas
(CUNHA, 2000).
As duas subdivisões territoriais que mais sentiram os efeitos da retração da economia do
estado, foram a região Sul e a região Campos de Lages, espaços onde estavam concentradas as
85
indústrias de extração mineral
26
e madeireira, respectivamente, seguidas pela região do Vale do
Itajaí, que sentiu as conseqüências da diminuição do ritmo do complexo têxtil-vestuário, porém,
de forma mais branda. Os maiores prejuízos causados nesses espaços constituíram-se na redução
do número de postos de trabalho e no distanciamento do aumento da produtividade e do ritmo de
modernização do sistema econômico estadual.
Em compensação, a região Nordeste consolidou-se como a de maior pujança industrial do
Estado, tendo em vista o excelente desempenho do complexo eletrometal-mecânico. Assim, o
município de Joinville, principalmente, reafirmou sua liderança industrial, sobressaindo-se em
relação às áreas onde a indústria estava presente muito mais tempo, como é o caso do Vale do
Itajaí (MATEI e LINS, 2001).
As fragilidades apresentadas em alguns segmentos, agravaram-se no início da década de
90, em razão da aceleração do processo de abertura econômica e pela própria falta de forças para
realimentar os sistemas econômicos locais, tornando sôfrega a inserção de algumas regiões no
novo modelo de produção que começou a ser instalado no país.
Na passagem para os anos 90, as mudanças de marco regulatório e institucional foram
sentidas na estrutura produtiva do estado, mesmo na região mais dinâmica. A exposição ao
mercado externo provocada pela abertura comercial e a estabilidade dos preços internos, levaram
as empresas, em todos os setores e em intensidades diferentes, a conduzirem mudanças
organizacionais por meio da implantação de novas técnicas de gestão, e mudanças na estrutura
produtiva em direção a estratégias de diferenciação dos produtos e agregação de valor (MATEI e
LINS, 2001)
As empresas procuraram realizar ajustes para se aproximarem do padrão produtivo
internacional, sob pena de perderem os espaços já conquistados nos mercados interno e externo.
Segundo Nicolau (2002), o esforço investido na reestruturação industrial de Santa Catarina,
exprime a busca por respostas mais criativas e flexíveis às tendências da economia mundial e ao
comportamento da economia nacional.
Nessa corrida para o enquadramento à nova ordem econômica, surgiram elementos
constitutivos da nova dinâmica industrializante do país como a disputa pela atração de capitais
externos, a tendência à criação de agrupamentos de empresas de diferentes portes, formando
26
É importante destacar que choque derradeiro para a economia do Sul do Estado foi a retração do setor cerâmico em
1990 e 1991, em função da crise nacional do setor de construção civil.
86
cadeias produtivas locais que se aproximam do conceito de cluster ou de arranjo produtivo local,
e o surgimento de empresas criadoras de tecnologia e prestadoras de serviços tecnológicos.
Os ajustes promovidos na estrutura produtiva e organizacional das empresas foram
importantes para que o complexo industrial do estado mantivesse sua participação no cenário
interno e externo, uma vez que o processo de reestruturação do setor produtivo tornou-se
condição imprescindível para resistir à crise. A ordem ditada ao setor industrial, em meio à
desaceleração do processo de desconcentração econômica do país e da retirada do Estado
enquanto promotor das políticas de desenvolvimento regional, foi a de realizar mudanças para
permanecer competitivo no âmbito da nova configuração produtiva existente.
5.1 Evolução econômica e desempenho global da indústria
A economia catarinense, que no primeiro qüinqüênio da década de 80 exibiu indicadores
de crescimento superiores à média brasileira, conseguiu dar seqüência a essa tendência durante os
anos 90, embora, em ritmo mais lento. No período 1986-2002, o PIB de Santa Catarina evoluiu
de forma constante, ainda que tenha apresentado taxa negativa (-2,98%) em 1998 (Tabela 5.1).
Comparando a trajetória do PIB do estado em relação à brasileira, percebe-se que as taxas de
crescimento das atividades econômicas dessa região estão um pouco acima da média nacional
para o período em análise. Apesar das oscilações, a participação do estado no total do PIB
nacional manteve-se em torno de 3,7%.
A composição setorial indica que o setor industrial tem presença marcante na economia
catarinense, contribuindo com mais de 45% do agregado produtivo, prolongando característica
que se mantém desde o início dos anos 80. Isso, em grande parte, é reflexo da estrutura industrial
diversificada em termos produtivos e regionais, conforme assinalado anteriormente. Chama
atenção, o fato de o segmento de serviços apresentar comportamento de queda no início dos anos
2000, em virtude de que, nas últimas décadas, o estado apresentou crescimento das atividades
ligadas ao turismo. Segundo dados do IBGE, Contas Regionais (2002), a perda de participação do
87
setor terciário na composição do PIB, refere-se à redução da participação da administração
pública nas atividades econômicas do estado a partir de 1999.
TABELA 5.1 - Evolução do PIB do Brasil e de Santa Catarina (em R$ e em %), e participação
relativa setorial para Santa Catarina (em %) – 1986-2002
Fonte dos dados: IPEA, 2006.
Nota: PIB a preços constantes - Anual - R$ de 2000 - Deflacionado pelo Deflator Implícito
Do PIB nacional.
Na indústria de transformação, os gêneros que apresentam bom desempenho são
semelhantes àqueles consolidados no estágio de grande dinamismo da economia nacional.
Conforme se observa na Tabela 5.2, em 2002, em termos de importância no valor da
transformação industrial do estado, destacam-se: a indústria de alimentos com participação em
torno de 20%; a indústria têxtil e do vestuário com cerca de 17%; a indústria mecânica, com
14,11%; e a indústria de móveis e outros produtos da madeira (exceto papel e celulose) com
aproximadamente 11%.
O comportamento dessas atividades fez o estado alcançar importante participação no
Valor da Transformação Industrial brasileiro, 4,8% em 2002, sendo que em 1985, esse percentual
era de 3,9. Nos anos 90, alguns setores apresentaram índices de produção física consideráveis.
Vale destacar o conjunto eletrometal-mecânico, especialmente, os gêneros mecânica e material
elétrico e de comunicações.
BRASIL SANTA CATARINA
ANO
R$ % R$ %
%
Agropecuária
%
Indústria
%
Serviços
1986 807.064 15,5 28.383 23,54 20,32 45,00 34,62
1988 890.404 10,33 31.394 10,25 15,72 48,63 35,65
1990 847.945 -4,77 31.660 1,17 13,83 48,76 37,40
1992 852.036 0,48 32.946 4,06 13,59 47,82 38,53
1994 946.321 11,07 34.633 5,12 16,91 45,38 37,77
1996 1.012.512 6,99 38.288 10,55 13,65 45,71 40,64
1998 1.047.014 3,41 37.146 -2,98 12,85 45,03 42,12
2000 1.101.254 5,18 42.428 14,22 13,77 48,65 37,58
2002 1.137.205 3,26 43.787 3,21 14,30 48,50 37,20
88
TABELA 5.2: Valor da Transformação Industrial Brasil e Santa Catarina, segundo classes e
gêneros da indústria (em %) - 1985, 1995 e 2002
1985 1995 2002
Classes e gêneros de indústria
% Brasil % SC
%
Brasil % SC
%
Brasil % SC
Indústrias extrativas
8,78 4,52 3,46 1,05 6,32 1,48
Indústria de transformação
91,22 95,48 96,54 98,95 93,68 98,52
Produtos minerais
8,78 3,15 3,46 1,05 6,32 1,48
Minerais não-metálicos
3,92 5,61 3,65 5,87 3,90 5,09
Metalúrgica
11,14 5,41 9,85 4,65 10,17 4,11
Mecânica
8,39 8,61 5,79 11,47 6,61 14,11
Material elétrico e material de...
6,90 3,75 6,82 4,82 5,64 5,95
Material de transporte
5,86 1,63 11,69 3,09 9,17 3,77
Madeira
1,44 6,10 0,71 2,77 1,47 6,38
Mobiliário
1,12 3,10 0,88 1,77 1,85 4,43
Papel e papelão
2,68 4,93 4,04 7,76 4,49 6,06
Borracha
1,87 0,18 1,26 0,28 1,12 0,57
Couros e peles e produtos similares
0,55 0,32 0,35 0,09 0,53 0,27
Química
15,80 2,17 15,11 0,80 7,25 1,58
Produtos farmacêuticos e medicinais
1,54 0,25 3,54 0,30 2,60 0,67
Produtos de perfumaria, sabões e velas
0,81 0,04 1,82 0,01 1,40 0,08
Produtos de matérias plásticas
2,04 5,06 2,22 4,89 2,14 4,56
Têxtil
5,43 11,48 3,50 10,45 2,46 8,50
Vestuário, calçados e artefatos de tecidos
4,72 13,08 3,36 12,00 3,11 7,63
Produtos alimentares
10,96 18,73 12,92 24,13 13,22 20,78
Bebidas
1,13 0,45 2,87 0,26 2,91 1,09
Fumo
0,69 2,56 0,81 1,59 0,84 1,64
Editorial e gráfica
1,77 0,53 3,43 0,41 3,22 1,14
Diversas
2,44 1,48 1,94 1,53 9,58 0,11
TOTAL 100 100 100 100 100 100
Fonte: FIBGE, Censo Industrial 1985 e Pesquisa Industrial Anual – PIA - 1995 e 2002
Outras ponderações que merecem atenção ficam por conta da expressiva participação dos
gêneros papel e papelão, produtos de matérias plásticas e minerais não-metálicos, estes últimos,
com ligeira queda no total da transformação industrial do estado. Também é importante apontar a
diminuição de participação de setores tradicionais da indústria catarinense, como produtos
alimentares, têxteis e vestuário, e a substancial redução na parcela de contribuição da indústria
extrativa no VTI catarinense.
Segundo Campos et. al. (2002), a origem das mudanças, no contexto dos principais
setores industriais do estado, esteve centrada na busca por mecanismos que visavam a criar e a
89
reforçar as condições competitivas das empresas para melhorar o desempenho no mercado. A
nova ordem econômica mundial, alicerçada na globalização dos mercados, e no padrão de
produção baseado no paradigma da microeletrônica, conferiu uma nova dinâmica aos atores
locais., que passaram a imprimir esforços no sentido de reforçar o sistema produtivo e inovativo,
para elevarem a capacidade de inserção no processo de produção global, tornando-os mais
próximos ao padrão de concorrência imposto pela globalização dos mercados.
No âmbito interno, diante da ruptura do padrão de intervenção da máquina estatal,
observou-se um processo de desaceleração de desconcentração regional, levando as diferentes
unidades federativas a disputarem entre si por novos investimentos, onde, cada qual, criou
mecanismos diferenciados para atrair os capitais internacionais disponíveis. Essa disputa
regionalizada por capitais, esboça a nova forma encontrada pelos espaços econômicos locais para
garantirem suas articulações e integrações produtivas ao sistema econômico nacional e
internacional. As regiões, ao perderem a referência central que era exercida pelo Estado, até
início da década de 80, mobilizaram-se para dar continuidade ao processo de expansão industrial,
acirrando a competição por espaços comerciais, tanto no mercado interno, quanto no externo.
Nesse contexto, Santa Catarina não fugiu à regra. Embora, alguns estudos apontem que o
estado não apresentou estratégias deliberadas de reconfiguração da indústria e nem políticas
explícitas de indução ao desenvolvimento industrial, houve algumas ações de caráter
generalizado que demonstram a intenção do governo em atrair novos investimentos
27
. Os
principais mecanismos adotados foram: a concessão financeira diferenciada para a aquisição de
ativos fixos e participação de capital social; e estímulo para infra-estrutura
28
. Tais estímulos
tiveram um caráter mais voltado para a retenção das empresas existentes no território
catarinense, do que para a atração de novos investimentos externos.
Seguindo o curso da economia nacional e obedecendo a lógica do capitalismo mundial, as
indústrias de Santa Catarina, direcionaram seus investimentos na busca por novas estratégias de
inserção nos mercados globalizados e de ajustamento à base produtora do novo paradigma
27
Ver Brito e Bonelli (1997) e Bonelli (2001).
28
A concessão financeira efetivou-se, principalmente, através do Programa de Desenvolvimento da Empresa
Catarinense PRODEC-, criado em 1986. Esse programa permanece ativo até os dias atuais, e tem por objetivo
promover o desenvolvimento sócio-econômico catarinense, por intermédio da concessão de financiamentos de
incentivo ao investimento e à operação ou da participação no capital de empresas instaladas em Santa Catarina.
Concede financiamento para até 70% dos investimentos fixos e participação de capital social, com carência de até 10
anos, sem juros, baseando-se no valor do ICMS recolhido pela empresa beneficiária. Os estímulos para infra-
estrutura foram mais tímidos, no entanto, observaram-se avanços nas áreas de transporte e de oferta de energia
(SECRETARIA DE PLANEJAMNETO DO ESTADO, 2006).
90
tecnológico, resultando em reestruturação produtiva, organizacional e administrativa nos mais
variados segmentos industriais do estado.
Dessa maneira, em todos os segmentos são observadas características comuns no decurso
do processo de reestruturação. Num primeiro momento, especialmente, no primeiro qüinqüênio
da década de 90, em função da profunda recessão pela qual passava a economia nacional, as
empresas efetuaram ajustes defensivos, tais como a redução de pessoal, diminuição do grau de
endividamento, e o redirecionamento das linhas de produção. Num segundo momento, aliaram à
primeira estratégia, esforços de modernização das plantas industriais, por meio da introdução de
novas técnicas produtivas e organizacionais, aquisição de novas máquinas e equipamentos, e o
direcionamento da produção para o mercado externo (CAMPOS et al., 2002).
Considerando-se, portanto, as informações relativas à evolução na participação no valor
da transformação industrial, e tendo-se por premissa as características de reestruturação descritas
acima, têm-se diferentes razões para explicar o desenvolvimento recente dos principais setores
industriais catarinenses.
No complexo eletrometal-mecânico, o bom desempenho registrado pelo segmento
mecânica, está associado ao crescimento da fabricação de máquinas e equipamentos, em relação à
década de 80. Conforme pode ser visto na Tabela 5.3, esse grupo manteve elevada participação
no VTI do estado em razão, especialmente, da produção de motores, bombas, compressores,
equipamentos de transmissão (4,38%, em 1996, e 4,58%, em 2002, do total transformado por
esse grupo), e produção de eletrodomésticos (7,11%, em 1996, e 6,31%, em 2002). A
participação relativa desse grupo de indústrias é explicada pelo fato de Santa Catarina comportar
a presença de algumas das maiores empresas do país nesses gêneros como, por exemplo,
Embraco e Multibrás (MACEDO, 2000).
No entanto, esses grandes grupos empresariais, não ficaram à parte do grande desafio
imposto para o segmento de máquinas e equipamentos, no decorrer da década de 90. Na busca
por soluções para a sobrevivência no novo contexto concorrencial, adotaram estratégias que
contemplam reestruturação patrimonial e produtiva, desverticalização da produção,
especialização e terceirização de parte dos processos produtivos, e intensificação do processo de
capacitação tecnológica. (MACEDO, 2000).
91
TABELA 5.3: Participação dos principais grupos no valor de transformação industrial dos
gêneros da indústria dinâmica de Santa Catarina - eletrometal-mecânico - 1996 e 2002 - (em %)
GRUPOS 1996 2002
Metalurgia básica
1,33 1,24
Metalurgia de metais não-ferrosos 0,09 0,49
Fundição 0,81 0,47
Fabricação de produtos de metal - exceto máquinas e equipamentos
2,12 2,87
Fabricação de produtos diversos de metal 1,33 1,73
Fabricação de máquinas e equipamentos
14,98 14,05
Fabricação de motores, bombas, compressores e equipamentos de..... 4,38 4,58
Fabricação de máquinas e equipamentos de uso geral 0,55 1,01
Fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura... 1,14 0,6
Fabricação de máquinas-ferramenta 0,33 0,39
Fabricação de máquinas e equipamentos de uso na extração mineral ... 0,47 0,23
Fabricação de outras máquinas e equipamentos de uso específico 0,98 0,93
Fabricação de eletrodomésticos 7,11 6,31
Fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informática
0,04 0,06
Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos
3,4 4,55
Fabricação de geradores, transformadores e motores elétricos 2,76 3,35
Fabricação e montagem de veículos automotores, reboques e carrocerias
3,88 3,44
Fabricação de cabines, carrocerias e reboques 1,02 0,49
Fabricação de peças e acessórios para veículos automotores 2,69 2,89
Fonte: IBGE – Pesquisa Industrial Anual, 1996 e 2002
Cabe, neste momento, abrir um parêntese para expandir a questão da capacitação
tecnológica. De acordo com Macedo (2000), as empresas desse setor, principalmente, as deres,
realizaram a intensificação tecnológica em dois estágios. No primeiro, por meio de importação de
equipamentos de última geração e apropriaram-se, na medida do possível, de conhecimentos
tecnológicos a partir de práticas de aprendizagem, como o aprender fazendo (learning-by-doing)
e o aprender usando (learning-by-using). No segundo, as empresas optaram pelo esforço interno
para inovações em produtos e processos, aumentando seus investimentos em pesquisa e
desenvolvimento, e elevando o grau de interação com seus fornecedores, clientes e instituições de
pesquisas diversas.
O resultado dessa estratégia foi o ganho de competitividade, dado pela expressiva
elevação da produtividade, pelo acréscimo na oferta de novos produtos e inovações tecnológicas,
bem como pela ampliação da inserção internacional de empresas que já direcionavam produtos
para o exterior, tal como a Embraco (maior fabricante mundial de compressores para
refrigeração) (CAMPOS, et al., 2002).
92
Situação semelhante foi presenciada pela indústria de materiais elétricos, que elevou a
participação de 3,4% do VTI estadual, em 1996, para 4,55%, em 2002, onde a maior
representatividade do segmento fica por conta da fabricação de geradores, transformadores e
motores elétricos (2,76% do VTI do grupo, em 1996, e 3,35%, em 2002). Isso, em parte,
explicado pela presença de uma das maiores fabricantes mundiais de motores elétricos a Weg-,
e, por outro lado, pela considerável especialização que a região Nordeste de Santa Catarina
apresenta nesse setor.
No grupo materiais de transporte, denotou-se um crescimento na fabricação de peças e
acessórios para indústria de veículos, impulsionado pela instalação do complexo automotivo na
região metropolitana de Curitiba. O desempenho do setor não foi mais expressivo, pois a
divisão de fabricação de cabines, carrocerias e reboques, apresentou trajetória instável durante a
década de 90, isso devido às oscilações de demanda a que está sujeito esse setor. A produção
média dessa indústria manteve-se praticamente estagnada no período (OLIVEIRA e NICOLAU,
2002).
Nesses termos, processo de reestruturação dos grandes grupos empresariais exerceu forte
influência na dinâmica econômica local. Entre as principais conseqüências dessas movimentações
estão: o surgimento de inúmeras micro e pequenas empresas, especializadas no fornecimento de
insumos ou em partes do processo produtivo das maiores empresas, conforme pode ser visto em
seção adiante; e a consolidação de um parque industrial moderno e competitivo, tanto no
mercado interno, quanto no externo.
O gênero produtos de matérias plásticas, apesar de um pequeno decréscimo em 2002,
continua tendo expressiva participação do valor da transformação industrial do estado, de acordo
com a Tabela 5.4. Santa Catarina apresenta especialização produtiva em embalagens, acessórios
para a construção civil e descartáveis. A produção de matérias plásticas está concentrada nas
regiões Nordeste e Sul do estado. Na região Nordeste, o maior volume de produção está voltado
para materiais plásticos utilizados pela construção civil. Encontram-se estabelecidas, nessa
região, grandes empresas como a Tigre S.A. Tubos e Conexões, Akros e Cipla. Na região Sul, a
produção é especializada em matérias plásticas descartáveis (responsável por 85% da produção
nacional em 1999) (KLUG, 2001).
93
TABELA 5.4: Participação dos principais grupos no valor de transformação industrial dos
gêneros da indústria dinâmica de Santa Catarina - produtos plásticos, papel e celulose, fabricação
de móveis e fabricação de produtos de minerais não-metálicos - 1996 e 2002 - (em %)
GRUPOS 1996 2002
Fabricação de produtos de plástico
5,42 4,56
Fabricação de celulose, papel e produtos de papel
5,47 6,06
Fabricação de celulose e outras pastas para a fabricação de papel 0,02 0,02
Fabricação de papel, papelão liso, cartolina e cartão 2,7 2,3
Fabricação de embalagens de papel ou papelão 1,19 2,64
Fabricação de artefatos diversos de papel, papelão, cartolina e cartão 1,57 1,11
Fabricação de móveis e indústrias diversas
4,07 4,43
Fabricação de artigos do mobiliário 3,22 3,79
Fabricação de produtos diversos 0,84 0,64
Fabricação de produtos de minerais não-metálicos
5,45 5,09
Fabricação de produtos cerâmicos 4,23 3,47
Fabricação de vidro e de produtos do vidro 0,21 0,09
Fabricação de artefatos de concreto, cimento, fibrocimento, gesso e estuque 0,6 0,79
Fonte: IBGE – Pesquisa Industrial Anual, 1996 e 2002
A manutenção da dinâmica desse setor, durante a década de 90, deu-se em razão do
esforço das empresas em realizar melhorias de qualidade dos produtos; do investimento em
atualização tecnológica; da implantação de novas técnicas organizacionais e gerenciais; da
diferenciação dos produtos, principalmente preocupação com desing, para conquistar novas fatias
do mercado interno; e, da maior interação com fornecedores e clientes (KLUG, 2001).
No segmento de papel e papelão, Santa Catarina é o terceiro maior produtor nacional. Em
termos de representatividade na produção nacional, em 1998, o estado ocupou o primeiro lugar
na produção do papel de embalagem, com 31,8% do total, segundo na produção de papéis para
fins sanitários, com 21,4%, e o terceiro lugar na produção de cartões e cartolinas, com 6,7%
(BRACELPA, 1999, apud CAMPOS et al., 2002). A importância da produção de embalagens de
papel e papelão também é constatada se observada sua participação no VTI do segmento de papel
e papelão do estado (1,19%, em 1996, e, 2,64% em 2002). Outro grupo com significativa
representatividade é o de fabricação de papel, papelão liso, cartolina e cartão (2,7% do VTI do
estado, em 1996, e 2,3%, em 2002) (Tabela 5.4).
A elevada participação desse segmento na economia catarinense deriva, em grande
medida, da disponibilidade abundante de matéria-prima. Segundo Denk (2002), o estado possui a
segunda maior área reflorestada do país, com árvores tipo pínus, que proporciona matéria-prima
94
para a produção de celulose de fibra longa, ideal para a fabricação de papéis mais resistentes, tais
como os de embalagem.
No entanto, somente a proximidade das fontes de matérias-primas não foi suficiente para
assegurar a competitividade das empresas no mercado. Como nos demais segmentos
apresentados, as empresas conduziram processos de reestruturação produtiva, patrimonial e
organizacional. Introduziram elementos que sinalizam absorção das principais mudanças técnicas
no padrão produtivo mundial, como novos processos de gestão, certificação internacional,
melhoramentos em máquinas e equipamentos, automação da produção e produção integrada
(BINOTTO, 2000).
A indústria moveleira do estado, especialmente a concentrada no Planalto Norte, teve os
anos 80 como marco para uma nova e decisiva fase em seu desenvolvimento. Isso, em função da
retração do mercado interno, da necessidade de mudança de matéria-prima (esgotamentos das
madeiras nobres e consolidação do pínus), e do redirecionamento para o mercado internacional.
Nesse ínterim, deslocou a ênfase da produção de móveis coloniais para outros tipos de móveis
residenciais, e conquistou espaço no mercado internacional.
Esse segmento adentrou os anos 90, com a estratégia de consolidação do processo de
internacionalização da produção. Para realizar esta meta, o grande desafio constituiu-se na
reestruturação gerencial, organizacional e produtiva, uma vez que o setor é constituído por ampla
maioria de micro e pequenas empresas. Para tal, as estratégias utilizadas foram: importação de
máquinas e equipamentos para renovar o parque de produção; intensificaram os contatos com os
fornecedores estrangeiros de insumos e equipamentos; elevaram a participação em feiras e
congressos internacionais; introduziram mudanças organizacionais através da implantação de
novas técnicas de gestão da produção (controles computadorizados de gestão, células de
produção, just in time, entre outros) (DENK, 2000). Com isso, o grupo fabricação de produtos
mobiliários elevou sua participação no VTI estadual de 3,22%, em 1996, para 3,79%, em 2002.
Na lista de segmentos que possuem expressiva participação no valor da transformação
industrial estadual, contudo, apresentaram tendência de queda no decorrer do processo de
reestruturação e desaquecimento da economia nacional, estão: produtos minerais não-metálicos,
têxtil e vestuário e produtos alimentícios.
O gênero de minerais não-metálicos é fortemente concentrado no segmento de produtos
cerâmicos, sobremaneira, de revestimentos cerâmicos. De acordo com os dados da Tabela 5.4,
95
apresentada anteriormente, esse grupo, em 1996, contribuía com 4,23% na transformação
industrial do estado. Em 2002, esse percentual caiu para 3,47% do total. Esse segmento, que na
década de 80 havia conquistado excelente espaço no mercado mundial, passou a enfrentar
dificuldades econômicas no início da década de 90, visto o quadro recessivo interno e da maior
exposição da indústria à concorrência interna e externa. Como conseqüência, as empresas
apresentaram queda acentuada no faturamento, redução da capacidade instalada e corte de
pessoal ocupado.
O forte processo de reestruturação impresso por essa indústria, foi direcionado no sentido
de aumentar a especialização em produtos de maior valor agregado. Para tanto, houve
desativação de linhas de produção e abertura de novas, mas modernas, fechamento de plantas
industriais antigas, desverticalização produtiva e aquisição de empresas fora da região. Dentre os
principais procedimentos adotados para elevar a competitividade destacam-se: a introdução de
melhorias nos processos produtivos através da aquisição de máquinas e equipamentos modernos,
elevação dos gastos com pesquisa e desenvolvimento e montagem de infra-estrutura tecnológica,
bem como, mudanças organizacionais, principalmente, novas formas de gestão, melhoramento na
logística de distribuição (GOULARTI FILHO, 2002).
No contexto do processo de reestruturação desse segmento, ocorreu um movimento
paralelo de investimentos, inclusive estrangeiros, em empresas fornecedoras de insumos para o
setor cerâmico, sobretudo, indústrias do setor químico (esmaltes, corantes, etc.). Isso contribuiu
para que o gênero de produtos cerâmicos reduzisse os custos e realizasse melhorias em termos de
produtos oferecidos, pois a proximidade com os fornecedores permitiu maior interação entre os
agentes (CAMPOS et al., 2002).
As indústrias têxteis e de vestuário foram fortemente atingidas pela exposição à
concorrência internacional, especialmente, a chinesa. Conforme Tabela 5.5, os grupos que
apresentaram maior decréscimo na formação do VTI estadual foram: tecelagem, fabricação de
artefatos têxteis e confecção de artigos do vestuário, de 1,17%, 4,93% e 10,93%, em 1996, para
0,67%, 3,46% e 7,23%, em 2002, respectivamente. Esses segmentos passaram por
transformações que alteraram suas condições de concorrência e competitividade em âmbito
mundial. Conforme Lombardi e Lins (2002), as empresas introduziram componentes dinâmicos
de competitividade, tais como incorporação tecnológica (elevando a relação capital trabalho),
busca de parceria e/ou sociedade com outras empresas de destaque nacional, oferta de produtos
96
mais sofisticados, fortalecimento da cooperação interfirmas, maior flexibilidade produtiva e
maior proximidade com o consumidor final.
TABELA 5.5: Participação dos principais grupos no valor de transformação industrial dos
gêneros da indústria tradicional de Santa Catarina - têxtil-vestuário e produtos alimentares - 1996
e 2002 - (em %)
GRUPOS 1996 2002
Fabricação de produtos têxteis
10,57 8,5
Fiação 0,77 0,56
Tecelagem - inclusive fiação e tecelagem 1,17 0,67
Fabricação de artefatos têxteis, incluindo tecelagem 4,93 3,46
Acabamentos em fios, tecidos e artigos têxteis, por terceiros 0,99 0,98
Fabricação de artefatos têxteis a partir de tecidos - exceto vestuário... 2,12 1,9
Fabricação de tecidos e artigos de malha 0,57 0,91
Confecção de artigos do vestuário e acessórios
11,07 7,27
Confecção de artigos do vestuário 10,93 7,23
Fabricação de produtos alimentícios e bebidas
19,65 21,87
Abate e preparação de produtos de carne e de pescado 9,84 11,77
Produção de óleos e gorduras vegetais e animais 2,25 2,75
Moagem, fabricação de produtos amiláceos e de rações balanceadas... 3,1 3,69
Fabricação de outros produtos alimentícios 3,65 2,57
Fabricação de bebidas 0,81 1,09
Fonte: IBGE – Pesquisa Industrial Anual, 1996 e 2002
A retração desses segmentos foi mais sentida pelas grandes empresas que adotaram como
mecanismo de sobrevivência: a redução de custos na produção por meio da desverticalização e
terceirização de partes do processo; a introdução de novos produtos e processos, através do
aprofundamento da especialização produtiva, uso da marca como estratégia de vendas, melhorias
no sistema de logística de distribuição; e, recentemente, redirecionamento de ações para o
mercado externo. Esse conjunto de ações foi acompanhado da elevação do número de falências,
desativação de unidades produtivas dentro e fora do estado, e elevação do número de micro e
pequenas empresas de confecção e facção que realizam parte do processo para as grandes
empresas.
No gênero produtos alimentares, a divisão de maior representatividade está pautada nas
indústrias do complexo agroindustrial responsáveis pelo abate e preparação de produtos de carnes
de aves e suínos (9,84%, em 1996, e 11,77% do VTI estadual, em 2002). Na década de 90, esse
setor foi marcado por forte pressão competitiva, associada à queda nas exportações em função da
97
valorização cambial, e ao crescimento constante da oferta interna. Segundo Nicolau et al. (2002),
a reestruturação das indústrias contemplou, pelo menos, quatro aspectos: mudanças na
composição patrimonial, modificações técnicas nas atividades de produção das matérias-primas,
inovação de produtos, e migração das unidades industriais para outras regiões do país.
Em razão das dificuldades financeiras apresentadas por algumas empresas, houve a venda
do patrimônio para grupos estrangeiros, ou mesmo para outros agentes externos ao estado.
Alguns dos destaques ficam por conta da Perdigão S/A, vendida para um agrupamento de
entidades (Fundos de Pensão, Bancos e Empresas diversas), e a aquisição da Seara/Ceval pelo
grupo Bunge, e, mais recentemente, a venda da Seara para o grupo Cargil (NICOLAU, 2002).
Com relação ao aspecto inovação de produtos, os maiores frigoríficos de abate de aves e
suínos, já vinham diferenciando e agregando valor aos produtos ofertados desde meados da
década de 80, com o objetivo de aumentar a margem de lucro. Esse processo foi aprofundado no
transcorrer dos anos 90, sob a liderança das duas maiores empresas originárias de Santa Catarina
Sadia e Perdigão. A diferenciação de produtos deu-se na direção da produção de pratos semi-
prontos para consumo, à base de massas, queijos e produtos tradicionais, à base de carne,
conferindo às empresas do complexo agroindustrial de carnes, o perfil de empresas de alimentos
e não apenas de frigoríficos (NICOLAU et al., 2001)
Quanto ao deslocamento de unidades industriais de Santa Catarina para outras regiões do
país, sobretudo, para o Centro-Oeste, por força da maior disponibilidade de grãos, incentivos
fiscais e devido a problemas ambientais ligados à produção de suínos, constatou-se o movimento
de implantação de unidades produtivas fora do estado. No entanto, o estado catarinense manteve
praticamente inalterada sua participação na produção total do Brasil, nos anos 90. Além disso,
ampliou sua participação na produção destinada ao mercado externo (NICOLAU et al., 2001)
Nesse processo, a partir dessas informações iniciais, é possível destacar que, no conjunto
de atividades industriais do estado, permaneceram eminentes aqueles setores que haviam se
firmado até 1985, como é o caso das atividades ligadas ao complexo eletrometal-mecânico, papel
e papelão, têxtil e vestuário, fabricação de móveis, produtos alimentares e os de cerâmica de
revestimento. Entretanto, os dados apontam uma tendência de elevação de participação dos
setores mais dinâmicos da economia (eletrometal-mecânico), o que evidencia a expansão de
novos setores, não obstante, a, ainda, relevante participação de setores tradicionais, sobremaneira,
do sistema agroindustrial de carnes e dos segmentos têxteis e de vestuário.
98
Outro setor da classe dinâmica, que passou a a fazer parte das atividades econômicas do
estado de Santa Catarina, foi o de fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de
informática
29
. Embora, ainda, participe de forma mida no VTI estadual (0,04%, em 1996, e
0,06%, em 2002), indícios de diversificação das atividades para os gêneros dinâmicos. Os
demais setores integrantes da estrutura industrial do estado, ainda que não apareçam com tanto
destaque em termos relativos, revelam-se de grande importância nos locais onde predominam
mais intensamente, a exemplo do setor de desdobramento de madeira.
Registram-se, ademais, no bojo da reestruturação dos diferentes segmentos, movimentos
de mudanças em termos de produtos e de processos produtivos, que contribuíram para as
alterações no sistema produtivo em termos de divisão do trabalho, de distribuição espacial da
indústria e de inserção no mercado nacional e internacional, segundo será demonstrado a seguir.
5.1.1 Tamanho dos estabelecimentos e estrutura de emprego
Conforme visto no capítulo anterior, a estrutura industrial de Santa Catarina, no início da
década de 80, era composta por um grande número de micro e pequenos estabelecimentos,
embora os médios e grandes fossem responsáveis por mais da metade dos postos de trabalho
formais do setor. Essa característica prolongou-se durante o processo de reestruturação.
Comparando a distribuição dos estabelecimentos industriais catarinenses, segundo o
tamanho das empresas e o percentual de pessoas ocupadas, em relação à brasileira, verificamos
que o estado apresenta uma concentração semelhante de estabelecimentos de micro e pequeno
porte se comparado ao total do país (Tabela 5.6). Em 2004, representavam 97,02% do total de
empresas industriais existentes no estado e empregavam 45,31% das pessoas ocupadas nesse
setor. De forma análoga, uma participação menor da grande e da média empresa em Santa
Catarina.
29
Nesse grupo, destacam-se, atualmente, no mercado nacional e internacional, particularmente, duas empresas
catarinenses, a Intelbrás S/A e a Dígitro Tecnologia Ltda. Ambas produtoras de centrais telefônicas e de PABX e
desenvolvedoras de soluções personalizadas em telecomunicações (FIESC, 2005).
99
TABELA 5.6: Distribuição do pessoal ocupado na indústria e número de estabelecimentos por
tamanho - Santa Catarina e Brasil - 1990 e 2004 (em %)
Tamanho do Santa Catarina Brasil
estabelecimento
1990 2004 1990 2004
POC Nº Estabel.
POC Nº Estabel.
POC Nº Estabel.
POC Nº Estabel.
Micro
13,24 83,38 20,68 84,89 12,90 81,72 18,32 82,79
Pequeno
19,07 12,26 24,63 12,13 19,03 13,33 25,00 13,71
Médio
27,57 3,49 25,84 2,53 29,25 4,06 27,17 2,95
Grande
40,12 0,87 28,86 0,45 38,83 0,89 29,51 0,55
Total
100,00
100,00 100,00
100,00 100,00
100 100,00
100,00
Fonte dados brutos: Ministério do Trabalho e Emprego - RAIS, 1990 e 2004
Nota 1: Micro estabelecimento industrial: 0 a 19 pessoas ocupadas; Pequeno estabelecimento: 20 a 99 pessoas
ocupadas; Médio estabelecimento: 100 a 499 pessoas ocupadas; Grande estabelecimento: 500 ou mais pessoas
ocupadas.
Nota 2: POC - Pessoal Ocupado; Nº Estabel. – número de estabelecimentos
Observando-se a distribuição dos estabelecimentos segundo categoria de uso (Tabela 5.7),
tem-se uma forte concentração de empresas na categoria de produtos tradicionais, fato que vem
corroborar com a afirmativa de que a economia do estado, ainda está amplamente pautada nessa
classe de produtos. Vale ressaltar que houve um pequeno decréscimo no total de participação no
número de estabelecimentos nos ramos tradicionais entre 1990 e 2004, espaço que foi absorvido
pelas empresas produtoras de bens intermediários e de bens duráveis, principalmente,
metalúrgica, papel e papelão, mecânica, material elétrico e material de transporte.
Outra característica que merece atenção, é a ampliação do número de micros e pequenos
estabelecimentos nos segmentos que compõem os complexos madeireiro, têxtil e vestuário e
eletrometal-mecânico. No caso do complexo madeireiro, essa particularidade é creditada ao
grande número de empresas que formam os ramos de mobiliário, e de fabricação de produtos
diversos da madeira, onde, segundo dados desagregados da RAIS 2004, praticamente 95% dos
estabelecimentos são de micro ou pequeno porte.
Nos outros dois complexos, o crescimento da participação de micros e pequenos
estabelecimentos provém, em grande medida, do movimento de desverticalização das grandes
empresas e terceirização de partes do processo produtivo. Neste entremeio, notou-se uma
elevação na quantidade de empresas especializadas no fornecimento de insumos específicos a
uma indústria ou que complementam parte da produção de um bem (NICOLAU, 2002).
100
TABELA 5.7: Distribuição dos estabelecimentos por tamanho segundo categoria de uso e pessoal
ocupado – Santa Catarina – 1990 e 2004 – (em %)
Categorias de Uso Número de Estabelecimentos
Micro Pequeno dio Grande
1990 2004 1990 2004 1990 2004 1990 2004
Tradicionais 70,35 64,45 68,38 64,88 62,65 62,98 61,76 62,50
Madeira e mobiliário 2.973 4.082 439 568 83 121 5 14
Couros, peles, fumo e similares 450 645 47 94 10 18 3 1
Têxtil, vestuário, artefatos de tecidos 2.098 5.392 282 875 94 151 35 29
Calçados 277 263 35 39 18 12 2 0
Produtos Alimentícios e bebidas 1.113 2.868 176 306 41 59 11 23
Diversas 207 325 33 78 19 32 7 3
Intermediárias 23,58 28,64 21,22 26,05 24,35 27,08 29,41 23,21
Minerais não-metálicos 990 1.566 111 167 24 29 11 4
Metalúrgica 815 2.370 72 251 23 39 7 6
Papel e papelão 358 1.037 76 139 26 39 4 5
Química, prod. Farm.., perfumarias... 223 1.060 55 230 30 62 8 11
Duráveis 6,07 6,90 10,41 9,07 13,00 9,94 8,82 14,29
Mecânica 369 977 112 181 36 34 3 6
Material elétrico e de comunicação 123 231 15 49 9 16 5 6
Material de transporte 122 246 27 44 10 12 1 4
TOTAL (EM %) 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
TOTAL (Nº
ESTABELECIMENTOS) 10.118 21.062 1.480 3021 423 624 102 112
Categorias de Uso Pessoal Ocupado
Micro Pequeno dio Grande
1990 2004 1990 2004 1990 2004 1990 2004
Tradicionais 69,19 63,35 68,38 65,26 61,17 63,29 58,82 62,50
Madeira e mobiliário 30,09
19,05 28,98
19,48 18,27
19,18 3,23
12,39
Couros, peles, fumo e similares 3,80
3,14 3,10
2,75 2,21
2,79 1,66
0,88
Têxtil, vestuário, artefatos de tecidos 17,81
24,72 18,61
28,28 22,85
23,97 30,78
25,66
Calçados 1,82
1,29 2,31
1,29 2,67
1,62 1,70
0
Produtos Alimentícios e bebidas 12,12
12,82 11,62
9,69 8,99
9,43 13,96
20,35
Diversas 2,15
1,35 2,18
2,96 5,26
4,98 5,85
2,65
Intermediárias 24,24
29,37
21,22
25,38
25,07
27,53
26,67
23,21
Minerais não-metálicos 11,00
8,34 7,33
4,96 6,53
4,79 8,56
3,54
Metalúrgica 6,19
10,01 4,75
7,55 4,38
6,02 8,81
5,31
Papel e papelão 4,35
4,99 5,02
4,66 6,00
7,04 2,69
4,42
Química, prod. Farm., perfumarias... 2,21
5,57 3,63
7,90 7,64
9,10 5,87
9,73
Duráveis 6,56
7,28
10,40
9,36
13,91
9,18
14,50
14,29
Mecânica 3,92
4,95 7,39
6,00 8,56
4,79 7,90
5,31
Material elétrico e de comunicação 1,26
1,09 0,99
1,71 2,62
2,58 4,96
5,31
Material de transporte 1,25
1,13 1,78
1,53 2,52
1,62 1,24
3,54
TOTAL
100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte dados brutos: Ministério do Trabalho e Emprego - RAIS, 1990 e 2004
Nota: Micro estabelecimento industrial: 0 a 19 pessoas ocupadas; Pequeno estabelecimento: 20 a 99 pessoas
ocupadas; Médio estabelecimento: 100 a 499 pessoas ocupadas; Grande estabelecimento: 500 ou mais pessoas
ocupadas.
101
Os grandes estabelecimentos marcam grande presença nos segmentos de produtos
alimentícios, fundamentalmente representados pelas empresas do complexo agroindustrial de
carnes, e nos segmentos têxtil e de vestuário. Entretanto, Santa Catarina também comporta
grandes empreendimentos industriais, que ocupam postos de destaque nos mercados nacional e
internacional, nos setores de eletrometal-mecânico e papel e papelão.
Aqui, cabe relatar que, no período de crise e de transformações, essas empresas passaram
por um processo de desnacionalização do capital. A redução do número de estabelecimentos em
alguns setores é decorrente da estratégia de fusões e aquisições estabelecidas pelos grandes
grupos para aumentar a competitividade. De acordo com estudo realizado por Nicolau (2002, p.
29-30), tomando-se as principais empresas dos seis segmentos industriais mais expoentes do
estado em 2001, tinha-se o seguinte quadro: crescimento da participação de capitais externos nos
setores de produtos alimentícios, eletrometal-mecânico e, em menor grau, no setor têxtil e
vestuário; domínio do capital local nos setores de minerais não-metálicos e de plásticos; e, a
preponderância de capitais externos no setor de papel e celulose.
É importante destacar que, apesar dos grandes e médios estabelecimentos representarem
pequena parcela no conjunto da indústria estadual, apenas 2,98% do total em 2004, respondem
por 54,7% dos postos de trabalho formais existentes em 2004. As indústrias tradicionais são as
maiores empregadoras, notadamente, madeira e mobiliário, têxtil e vestuário e produtos
alimentares.
Percebe-se a participação expressiva de todos os tamanhos de empresas na geração de
emprego, especialmente na indústria tradicional e, em menor grau, nas indústrias de bens
intermediários. Em 2004, no total dessas categorias da indústria catarinense, micros e pequenas
empresas responderam, cada uma delas, por cerca de 25,5% do emprego, ao passo que a média e
grande empresa eram responsáveis, respectivamente, por 21% e 28%. Na indústria de duráveis,
predomina a grande empresa, que, em 2004, empregava mais da metade das pessoas ocupadas
nessa categoria, principalmente nos gêneros mecânica e material elétrico.
A partir dessas evidências, pode-se dizer que, embora os micros e pequenos
estabelecimentos sejam predominantes no sistema industrial catarinense, a dinâmica da economia
local é ditada pelas médias e grandes corporações. A parte que cabe aos estabelecimentos de
menor porte é, principalmente, servir de fornecedor de insumos e matérias-primas as empresas de
102
maior porte, especialmente, quando se trata dos gêneros que estão em expansão no estado
(eletrometal-mecânico).
5.1.2 A distribuição espacial da indústria
Uma das características destacada nas análises da economia estadual, ao longo do
processo de formação e consolidação do parque industrial, é a marcante especialização regional
com a presença de estabelecimentos de pequeno e médio porte, a grandes empresas. Essas
especificidades deram-se em razão do aproveitamento de matérias-primas existentes em
determinado espaço, ou em função da própria experiência histórica de colonização nas diferentes
regiões. Vale lembrar que essa homogeneização regional do capital foi benéfica para a economia
catarinense durante o período de expansão econômica nacional, mas, conforme mencionado na
seção inicial, implicou em maior vulnerabilidade de algumas regiões durante a fase recessiva.
No que se refere às especializações regionais, em primeiro plano, permanece a
concentração dos setores produtivos segundo as mesorregiões, evidenciadas no capítulo anterior
na forma de eixos - tais eixos também são denominados de complexos industriais ou pólos
econômicos -, no entanto, surge um novo complexo na região do Litoral, conforme pode ser
visualizado na Figura 5.1, a seguir.
Observa-se a forte presença dos segmentos que fazem parte do complexo eletrometal-
mecânico na região Nordeste, onde localizam-se 999 estabelecimentos, que concentram
aproximadamente 48% dos postos de trabalho nos respectivos gêneros. Na produção têxtil-
vestuarista, a grande incidência espacial ocorre na mesorregião do Vale do Itajaí, que ocupa mais
de 50% da mão-de-obra da região. Configurações parecidas são encontradas nos complexos
Agro-industrial, Florestal e Mineral-cerâmico, sendo que todos têm elevada participação na oferta
de emprego e no número de estabelecimentos em suas respectivas áreas de concentração. O
complexo tecnológico concentra o maior número de empresas na região Litoral, mais
precisamente, na Grande Florianópolis (231 empresas em 2001), porém, também uma
103
expressiva participação de atividades ligadas à fabricação de software nas regiões de Joinville e
Blumenau.
Fonte do Mapa: FIESC, Santa Catarina em Dados, 2004.
Fontes dos dados: Ministério do Trabalho e Emprego - RAIS, 2004; FIESC- Santa Catarina em Dados, 2005 para
as informações do Complexo Tecnológico.
Nota:
Embora tenha sido especificada a região de maior concentração, os dados referem-se ao total do estado.
FIGURA 5.1: Distribuição espacial da indústria de Santa Catarina, por mesorregião - 2004
104
Apesar dessa classificação inicial, apontar características marcantes da economia
catarinense, não é suficiente para demonstrar as mudanças que ocorreram, em termos de
localização da produção, durante a década de 90. Desagregando os dados de emprego e de
número de estabelecimentos segundo os principais setores produtivos do estado e por
microrregião
30
, percebe-se que houve um movimento de diversificação das estruturas industriais
no interior de cada mesorregião. O quadro 5.1 sistematiza tais informações, assinalando, para os
setores selecionados da indústria, as principais áreas de concentração, a presença em áreas
contíguas às principais e também a presença em áreas não contíguas.
SETORES*
PRINCIPAIS ÁREAS DE
CONCENTRAÇÃO
ÁREAS CONTÍGUAS ÀS
DE CONCENTRAÇÃO PRINCIPAL
ÁREAS NÃO CONTÍGUAS ÀS DE
CONC. PRINCIPAL
Eletrometal-
mecânica
Joinville
Blumenau, Rio do Sul, São Bento do
Sul
Joaçaba,Chapecó, Criciúma,
Tubarão
Alimentos
Chapecó, Joaçaba, Concórdia,
São Miguel do Oeste, Xanxe
Rio do Sul, Canoinhas, Campos
de Lages, Araranguá, Criciúma,
Tubarão
Têxtil-vestuário Blumenau
Rio do Sul, Ituporanga, Itajaí,
Joinville
Araranguá, Criciúma, Tubarão,
Chapecó, São Miguel do Oeste
Móveis e madeira
São Bento do Sul (móveis);
Curitibanos e Canoinhas (produtos
de madeira)
Blumenau (movéis); Campos de
Lages, Rio do Sul, Joaçaba (produtos
de madeira)
São Miguel do Oeste, Chapecó
(móveis)
Papel, papelão e
celulose
Campos de Lages, Curitibanos e
Joaçaba
Rio do Sul e Blumenau (celulose)
Minerais
não-metálicos
Criciúma, Tubarão e Araranguá;
Blumenau e Tijucas (cerâmica)
Borracha e
plástico
Joinville, Tubarão, Criciúma
(plástico)
Joaçaba (plástico)
Couro/calçados Tijucas, Araranguá (calçados)
Joaçaba (couro); Chapecó
(calçados)
Informática
Florianópolis, Joinville, Blumenau
(software)
Rio do Sul Tubarão
Fonte dos dados brutos: Ministério do Trabalho e Emprego – RAIS, 2004
* Seleção das atividades mais representativas no estado. Setores segundo divisão CNAE/95. Para averiguar o setor
de informática foi utilizada a subdivisão de classe de atividade econômica segundo classificação CNAE/95.
QUADRO 5.1: Distribuição espacial da indústria segundo setores selecionados, por microrregião
de Santa Catarina – 2004
Esse levantamento chama a atenção para alguns aspectos, entre os quais se destacam:
a) a mesorregião Sul, que na década de 80 tinha sua base produtiva concentrada na
extração do carvão e na indústria cerâmica, diversificou sua estrutura para os
segmentos de matérias plásticas, têxtil-vestuário, alimentos e eletrometal-
30
Segundo classificação da RAIS-MTE as mesorregiões do estado são divididas em microrregiões das seguintes
formas: Oeste: São Miguel do Oeste, Chapecó, Xanxerê, Joaçaba e Concórdia; Planalto Norte: Campos de Lages,
Curitibanos, Canoinhas e São Bento do Sul; Nordeste: Joinville; Vale do Itajaí: Blumenau, Rio do Sul, Ituporanga,
Itajaí e Tijucas; Litoral: Florianópolis e Tabuleiro; Sul: Tubarão, Criciúma e Araranguá.
105
mecânica. Estes setores, em 2004, empregavam 52,81% da mão-de-obra nas
microrregiões de maior concentração, conforme delimitado no quadro acima;
b) A difusão do complexo eletrometal-mecânico para áreas contíguas - Blumenau,
Rio do Sul e São Bento do Sul -, e para o Sul do estado, devido, principalmente,
à ampliação do setor de fabricação de máquinas e equipamentos para servir às
atividades principais das respectivas regiões;
c) A expansão de parte do setor têxtil-vestuário, rumando para diversas
microrregiões do estado. Embora a microrregião de Blumenau concentrasse
próximo de 33% dos postos de trabalho do setor, houve um crescimento
significativo da participação dessas atividades nas microrregiões de Rio do Sul,
Ituporanga, Chapecó, Criciúma e Tubarão;
d) A diversificação das atividades da mesorregião do Vale do Itajaí, a partir do
crescimento das atividades cerâmica e de calçados na microrregião de Tijucas,
bem como de atividades relacionadas à produção de software em Blumenau;
e) O adensamento da cadeia moveleira na microrregião de São Bento do Sul, local
em que se concentra praticamente 40% das pessoas ocupadas na fabricação de
móveis do estado. Neste setor, também é expressiva a participação das
microrregiões de Chapecó e São Miguel do Oeste. Essas localidades, que até a
década de 80, tinham a extração da madeira como a segunda principal atividade
econômica, partem para a agregação de valor ao produto, via fabricação de
móveis;
f) Na mesorregião Oeste, ainda, verificou-se a consolidação dos complexos
agroindustriais de carnes, e o crescimento das atividades ligadas ao complexo
eletrometal-mecânico em Joaçaba e Chapecó. A elevação na participação desses
segmentos dinâmicos nessas duas microrregiões, refere-se ao aumento na
produção de máquina e equipamentos agrícolas, voltados, sobretudo, para
atender o complexo agroindustrial do Oeste. Na microrregião de Joaçaba, ainda,
destaca-se o setor de auto-peças;
g) O crescimento dos setores de base tecnológica, especialmente a produção de
softwares nas regiões de Florianópolis, Blumenau e Joinville; e,
106
h) Por fim, a distribuição espacial das atividades produtivas, denota a forte
concentração de alguns setores em áreas territoriais contíguas, tanto de
empresas de um mesmo setor, como daquelas que exercem atividades
correlatas. Isso, caracteriza o desenvolvimento de aglomerações que se
aproximam do conceito de arranjos produtivos locais.
Com relação ao último item, estudos recentes realizados junto ao Departamento de
Ciências Econômicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), através do NEITEC,
31
revelam que as concentrações industriais em determinados espaços, com prolongamento para
regiões contíguas, implicaram reforço das estruturas produtivas existentes. Nestas áreas,
desenvolveram-se cadeias produtivas locais, combinadas com o aparecimento de instituições,
públicas ou não, que exerceram funções de apoio específicas aos agentes do setor industrial e
instituições prestadoras de serviços tecnológicos às empresas, proporcionando vantagens
competitivas estruturais. Esta forma de agrupamento de empresas de um mesmo setor em
algumas regiões foi classificada como aglomerados setoriais locais ou mais difundidos como
arranjos produtivos locais (APL’s).
Nestes termos, foram identificados sete diferentes tipos aglomerados setoriais locais, no
estado de Santa Catarina: 1) APL de Calçados na microrregião de Tijucas; 2) APL Eltrometal-
mecânico da microrregião de Joinville; 3) APL’s de Informática concentrados nas regiões de
Joinville, Blumenau e da Grande Florianópolis; 4) APL de Móveis na microrregião de São Bento
do Sul; 5) APL’s de Plásticos, um localizado na região de Joinville, ligado à produção de material
para construção civil, e outro na região Sul, voltado para a produção de plásticos descartáveis; 6)
APL Têxtil-Vestuarista na microrregião de Blumenau; e, 7) APL de Cerâmica de Revestimento
na região Sul.
Esses estudos também indicam a existência de outras formas de especialização econômica
em determinadas regiões, caracterizadas por cadeias produtivas regionais. Nesta classificação,
encontram-se as agroindústrias de carnes do Oeste e o setor de papel e papelão concentrado,
fundamentalmente, nas regiões Campos de Lages e Curitibanos.
31
Esses estudos foram publicados em parceria com a Secretaria de Estado do Planejamento em 2005. Ver,
GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Secretaria do Estado do Planejamento. Programa Estratégico
de Desenvolvimento com Base na Inovação. NEITEC/UFSC: Florianópolis, 2005 606p. (mimeo).
107
É importante destacar que a redistribuição espacial e o crescimento de algumas atividades
industriais podem ser entendidos a partir de movimentos mais amplos de reestruturação do
sistema produtivo estadual. Conforme salientado no início deste capítulo, frente ao novo quadro
competitivo instaurado no cenário interno, derivado das políticas de abertura comercial,
macroeconômica e de desregulamentação dos mercados, as empresas catarinenses intensificaram
suas estratégias no sentido de elevarem sua competitividade.
Entre as principais mudanças realizadas durante o processo de reestruturação produtiva
que, de alguma maneira, contribuíram para a diversificação das atividades industriais regionais
estão:
a) O processo de desverticalização produtiva: a adoção de novas técnicas
produtivas e organizacionais intensificou a transferência de etapas dos
processos produtivos para capacidades externas, quer para áreas próximas, quer
para regiões não-contíguas. A desverticalização contribuiu para o adensamento
de algumas cadeias produtivas locais cerâmica, eletrometal-mecânica,
agroindústria de carnes-, elevando o grau de especialização e
complementaridade regional, além disso, no sentido inverso, apenas criou
demanda para empresas instaladas fora da região, como é o caso do complexo
têxtil-vestuarista (CAMPOS, et al., 2002);
b) A diferenciação dos produtos em direção à ampliação do valor agregado: a
oferta de produtos com maior transformação industrial, a partir da implantação
de novas técnicas produtivas e organizacionais, e do uso de novas matérias-
primas, ampliaram a competitividade das empresas catarinenses no mercado
externo e interno, abrindo novos espaços para as indústrias locais
desenvolverem-se, a exemplo do setor moveleiro (DENK, 2000);
c) A ocorrência de mudanças na propriedade de capital de muitas empresas: o
processo de fusão e aquisição serviu de estratégia competitiva, em vários
segmentos industriais do estado. Com isso, muitos deles reforçaram suas
presenças no espaço estadual (papel e celulose, alimentos, eletrometal-
mecânica), ou estabeleceram parcerias para fins de aporte tecnológico ou
fornecimento de insumos específicos (segmento de autopeças, química para
atender indústria cerâmica) (NICOLAU, 2002); e,
108
d) A intensificação do uso de tecnologias: a elevação do grau tecnológico
propiciou o crescimento da indústria de software no estado. Essa indústria, em
Blumenau e Joinville, nasceu aliada às necessidades particulares do setor
industrial, e em Florianópolis, desenvolveu-se associada à proximidade com a
UFSC e com empresas estatais de telecomunicações e energia elétrica. Com o
processo de implantação de novas práticas gerenciais e de elevação do uso de
tecnologia pelas empresas, a indústria de software encontrou espaço para
crescer, desenvolvendo programas integrados de gestão industrial, e programas
de controle e gestão administrativa específicos a cada segmento industrial
(NICOLAU e ALMEIDA, 2005).
O mapeamento da distribuição espacial das atividades industriais catarinenses, em 2004,
vem reforçar o argumento de que o crescimento industrial do estado deu-se a partir da expansão
dos setores dinâmicos, sobretudo, dos segmentos ligados ao complexo eletrometal-mecânico e do
crescimento da atividade de base tecnológica. Ainda que, Santa Catarina não apresente um setor
de fabricação de máquinas e equipamentos de informática de grande expressividade, conforme
ressaltado anteriormente, a produção de softwares está em plena expansão
32
. Isso, deve-se ao fato
desse segmento ter crescido articulado com as demais atividades produtivas do estado, e que,
atualmente, encontra-se presente nos cenários nacional e internacional, através de quatro
empresas, em particular: Teclan Engenharia de Software Ltda,
Dígitro Tecnologia Ltda, Datasul
S/A e Logocenter S/A (FIESC, 2005).
Além disso, a difusão dos segmentos de mecânica, metalúrgica e materiais elétricos para
diferentes microrregiões do estado, demonstra a diversificação dos investimentos regionais em
atividades correlatas à principal, caracterizada pelo reforço das inversões na direção de ampliar o
setor produtivo local, proporcionando um adensamento nas cadeias produtivas regionais. Esse
esforço, em boa medida, é resultado das estratégias adotas pelas empresas para elevar a
competitividade no mercado. A proximidade entre o fornecedor e o produtor intensifica o grau de
entrelaçamento e de cooperação entre as empresas locais, propiciando respostas mais ágeis dos
32
Segundo reportagem da revista Você S/A, “as organizações tecnológicas do estado crescem ao ritmo de 25% ao
ano, ao passo que a média das indústrias tradicionais cresce 6% ao ano” (p. 33)
109
sistemas produtivos regionais às exigências do novo padrão de concorrência imposto pela
globalização.
Além disso, vale ressaltar que o movimento de redistribuição espacial das indústrias
dinâmicas, contribuiu para dinamizar as estruturas produtivas existentes nas diferentes regiões
e para a formação de aglomerados setoriais. Essa diversificação das estruturas industriais, no
âmbito de cada mesorregião, evidencia que o desenvolvimento catarinense, na década de 90,
caracterizou-se pela desconcentração regional das atividades produtivas, e denota o
fortalecimento dos complexos produtivos regionais, o que sinaliza a construção de uma estrutura
industrial capaz de atender grande parcela da demanda local de fatores de produção.
5.1.3 A inserção nos mercados externo e interno da indústria catarinense
Até meados da década de 80, a indústria catarinense participava no mercado externo,
basicamente, exportando produtos básicos e semimanufaturados, que representavam 55,5%
33
do
total vendido pelo estado ao exterior em 1984. Essa tendência modificou-se na segunda metade
dos anos 80, quando houve uma elevação nas vendas de produtos dos setores dinâmicos,
aumentando consideravelmente a participação dos produtos manufaturados.
Ao longo dos anos 90 e nos primeiros anos de 2000, Santa Catarina manteve participação
média de 5% nas exportações nacionais, alternando entre o e o lugar o posto de maior
exportador no ranking dos estados brasileiros. Nesse período, nota-se uma elevada participação
nas vendas externas de produtos básicos, em média 30%, e de produtos manufaturados, em torno
de 65% do total, conforme Gráfico 5.1, abaixo.
33
Dado extraído da Tabela 4.6, pg. 83.
110
0
10
20
30
40
50
60
70
80
1991 1994 1997 2000 2003 2006
Anos
%
Part.
Exportações
SC/BR
Básico (%)
Semimanufatu
rados (%)
Manufaturado
s (%)
Fonte dos dados brutos: MDIC/SECEX. – Base Aliceweb, 2006
Nota: Part. Exportações SC/BR: Percentual de participação de Santa Catarina no total exportado pelo Brasil.
GRÁFICO 5.1: Exportações catarinenses segundo grau de processamento e participação no total
das vendas externas brasileiras – 1991 a 2004 – (em %)
A elevada presença de produtos básicos está associada ao grande volume de carnes de
aves e de suínos exportados pelo estado. Em 1996, esses produtos foram responsáveis por
20,78% do total de produtos básicos enviados ao exterior, e, em 2004, por 24,44%. Já, no caso
dos produtos manufaturados, a forte concentração está na venda de motocompressores, blocos de
cilindros, cabeçotes, cilindros, e demais desdobramentos da mecânica, e em motores e geradores
elétricos, conversores, condutores e outros materiais elétricos, contribuindo, em conjunto, com
15,35% em 1989, 17,29% em 1996, e 21,96% em 2004
34
.
Analisando-se os dados de exportação para os anos de 1989, 1996 e 2004 (Tabela 5.8),
pode-se perceber que ocorreram mudanças no desempenho de alguns setores, entre as quais: o
crescimento na participação dos segmentos mobiliário e de madeira, de 0,89% e 3,08% em 1989,
para 9,09% e 11,74% em 2004, respectivamente; a expressiva queda do segmento vestuário, que
decaiu 13,26 pontos percentuais no total exportado de 1989 para 2004; a elevação continuada das
exportações de produtos alimentícios (15,04% em 1989, 24,75% em 1996, e 28,15% em 2004); e,
34
Dados obtidos na base Aliceweb do Ministério da Indústria e Comércio (MDIC), Exportações Brasileiras – Santa
Catarina – Capítulo da Nomenclatura Comum de Mercadorias.
111
o crescimento dos gêneros que compõem o setor eletrometal-mecânico, amplamente representado
pela venda de produtos da mecânica e material elétrico.
Dentro deste panorama, observa-se a concentração das exportações pelos seis setores
industriais de maior expressão no estado. As oscilações apresentadas refletem, em parte, as
mudanças estratégicas planejadas durante o período de reestruturação, onde os segmentos
procuraram aumentar a competitividade no mercado externo e, em parte, demonstram as
dificuldades encontradas por alguns segmentos que enfrentaram forte concorrência internacional,
em vista da política cambial adotada pelo governo até 1998, a exemplo dos setores têxtil e
vestuário e de cerâmica (NICOLAU, 2005).
TABELA 5.8: Composição das exportações catarinenses, por segmentos, 1989, 1996 e 2004
Total (US$ FOB) e (em %)
Indústria de transformação
1989 1996 2004
Segmentos
US$ (FOB) (%) US$ (FOB) (%) US$ (FOB) (%)
Minerais não-metálicos
71.238.534 4,97 124.501.243 4,72 208.868.529 4,30
Metalúrgica
34.817.319 2,43 47.469.354 1,80 103.223.211 2,13
Mecânica
189.607.437 13,23 352.522.510 13,37 776.941.078 16,01
Material elétrico e material ---
35.166.180 2,45 114.884.690 4,36 318.966.246 6,57
Material de transporte
15.300.858 1,07 62.390.215 2,37 109.425.339 2,25
Madeira
44.128.065 3,08 207.250.740 7,86 569.634.324 11,74
Mobiliário
11.649.484 0,81 178.990.409 6,79 441.084.864 9,09
Papel e papelão
62.601.281 4,37 101.323.885 3,84 164.067.015 3,38
Borracha
165.407 0,01 539.722 0,02 827.323 0,02
Couros e peles e produtos .... 7.457.332 0,52 11.190.074 0,42 20.328.055 0,42
Química
32.243 0,002 8.163.584 0,31 51.691.312 1,07
Produtos farmacêuticos ...
10.182 0,001 920.005 0,03 1.300.586 0,03
Produtos de perfumaria, sabões...
1.529.976 0,11 996.403 0,04 3.357.055 0,07
Produtos de matérias plásticas
3.152.529 0,22 14.632.658 0,55 29.795.703 0,61
Têxtil
28.934.398 2,02 30.497.056 1,16 38.214.002 0,79
Vestuário, calçados e artefatos...
289.269.701 20,18 314.060.420 11,91 335.961.081 6,92
Produtos alimentares
215.581.030 15,04 652.850.590 24,75 1.366.097.201 28,15
Bebidas
417.965 0,03 1.552.941 0,06 710.250 0,01
Fumo
93.527.988 6,52 140.673.823 5,33 133.423.676 2,75
Editorial e gráfica
159.616 0,01 100.241 0,004 2.785.793 0,06
Diversas
328.925.681 22,94 271.797.269 10,31 176.803.787 3,64
TOTAL
1.433.673.206 100,00
2.637.307.832 100,00
4.853.506.430 100,00
Fonte dos dados brutos: MDIC/SECEX – Base Aliceweb, 2006.
Verificando-se os mercados externos compradores dos produtos catarinenses, vê-se uma
significativa participação nas vendas para nações desenvolvidas, especificamente, para os
Estados Unidos e para os países que fazem parte da União Européia, como Alemanha, Reino
112
Unido e Países Baixos (Holanda). Entre os países em desenvolvimento, o maior volume de
vendas registrado é para os demais países que compõem o Mercosul e o Chile (Tabela 5.9).
Na pauta de produtos enviados para esses mercados, estão, essencialmente, os produtos da
indústria agroalimentar de carnes, móveis de madeira, produtos do complexo eletrometal-
mecânico, papel e celulose e produtos cerâmicos. Fato que indicativos de que o processo de
reestruturação impresso pelas empresas pertencentes a esses setores, manteve-as competitivas no
mercado internacional.
TABELA 5.9: Total das exportações de Santa Catarina para os principais blocos econômicos e
países - 1989, 1996 e 2004 - (em US$ FOB e em %)
Destino 1989 1996 2004
US$ FOB % US$ FOB % US$ FOB %
MERCOSUL (Expandido) 73.525.756 5,13 367.142.625 13,92 487.364.371 10,04
Argentina 5.677.668 0,40 187.587.405 7,11 256.601.328 5,29
Chile 26.578.290 1,85 58.896.816 2,23 122.592.188 2,53
Paraguai 27.762.999 1,94 79.565.973 3,02 59.253.232 1,22
Uruguai 13.506.799 0,94 41.092.431 1,56 48.917.623 1,01
NAFTA 362.009.942 25,25 473.841.742 17,97 1.540.682.242 31,74
Estados Unidos 285.852.341 19,94 408.609.180 15,49 1.304.990.669 26,89
UNIÃO EUROPÉIA 566.152.565 39,49 924.551.253 35,06 1.276.276.639 26,30
Alemanha 93.248.553 6,50 262.419.573 9,95 249.991.699 5,15
França 60.907.330 4,25 88.372.247 3,35 159.070.955 3,28
Itália 86.647.304 6,04 68.008.750 2,58 144.679.775 2,98
Países Baixos (Holanda) 66.316.845 4,63 83.104.480 3,15 197.700.654 4,07
Reino Unido 106.739.720 7,45 176.402.045 6,69 201.744.112 4,16
Rússia 10.290.947 0,72 8.718.448 0,33 282.315.268 5,82
ÁSIA (Exclus. Oriente Médio) 153.819.566 10,73 383.430.645 14,54 493.967.665 10,18
China 19.671.749 1,37 55.377.365 2,10 56.214.578 1,16
Japão 47.110.566 3,29 156.074.815 5,92 238.402.726 4,91
Tigres Asiáticos 37.499.752 2,62 130.530.687 4,95 151.669.185 3,12
TOTAL
1.433.673.206 100,00
2.637.307.832 100,00
4.853.506.430 100,00
Países Desenvolvidos
985.467.905 68,74 1.695.986.130 64,31 3.074.827.972 63,35
Países em Desenvolvimento 446.438.129 31,14 939.273.431 35,61 1.777.908.741 36,63
Fonte dos dados brutos: MDIC/SECEX – Base Aliceweb, 2006.
Os anos 90 assistiram a uma tendência de expansão das exportações catarinenses. Isso, em
grande medida, em virtude da diversificação da pauta e do aumento da competitividade dos
principais produtos no mercado externo. No entanto, o mercado interno continua sendo o
principal destino das vendas catarinenses. Conforme demonstrado no capítulo anterior, em 1984,
85,2% do total produzido pela indústria era comercializado internamente. Ainda que os dados
113
disponíveis não informam o percentual das vendas que eram destinadas para dentro do próprio
estado e para as demais unidades da federação, dão uma dimensão da importância que a
integração ao mercado nacional tinha para a economia catarinense.
Segundo os dados disponibilizados pela Secretaria Estadual da Fazenda (SEF/SC), a partir
de 1995, as vendas industriais ampliaram a dependência em relação ao mercado interno, das
quais, a grande parcela refere-se às trocas que ocorrem dentro do próprio estado, em média, 45%,
para o decênio. As exportações giraram em torno de 10% da receita de vendas do estado (Gráfico
5.2).
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006
Anos
%
Para o Estado (%)
Para outros estados
(%)
Para o exterior (%)
Fonte dos dados brutos: Secretaria de Estado da Fazenda – DIEF, 1995-2004
GRÁFICO 5.2: Distribuição das vendas da indústria catarinense, por mercados de destino– 1995
a 2004 (em %)
Nesse contexto, informações sobre o comportamento das vendas dos diferentes gêneros da
indústria, para os anos de 2003 e 2004
35
, dão conta de que uma forte integração ao mercado
nacional através de insumos e produtos acabados dos seis setores mais dinâmicos da indústria
estadual. Nesse sentido, fazem-se interessantes algumas constatações: os setores mecânica e
metalúrgica destinaram, em 2004, 74% e 63% da produção, respectivamente, para os demais
estados brasileiros, situação semelhante dos segmentos de produtos cerâmicos (65%), materiais
plásticos (76%) e têxtil-vestuário (75%); as exceções referem-se aos setores mobiliário, madeira e
produtos alimentícios, que destinaram a maior parte da produção para o mercado externo. Nesses
35
Dados informados pelo Sistema FIESC (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina). Santa Catarina em
Dados, 2003 e 2004, para as empresas indústrias associadas.
114
casos, chama a atenção os elevados percentuais exportados, 82% para o setor mobiliário, 75%
para o setor madeireiro e 51% para o setor de produtos alimentares.
Embora esses dados refiram-se apenas às empresas associadas à Federação das Indústrias
do Estado de Santa Catarina (FIESC), fornecem indícios da importância da indústria catarinense
enquanto fornecedora de matérias-primas e bens de consumo duráveis e não-duráveis para o
mercado nacional.
Em termos gerais, os dados indicam que, para o período considerado, houve um aumento
da comercialização no espaço nacional, seja para os demais estados seja dentro do próprio
território.
Estendendo-se a análise para os dados de origem das compras da indústria catarinense,
entre 1995 e 2004, encontra-se uma concentração ainda maior em termos de transações no espaço
nacional (Gráfico 5.3). A diferença reside no fato da maior parcela das aquisições ser efetuada
dentro do próprio estado, em média, 60% para o período. As compras realizadas no exterior
giraram em torno de 5% ao ano, e as compras das demais unidades da federação, em cerca de
35% do total adquirido em cada ano.
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006
Anos
%
Dentro do Estado
(%)
De outros estados
(%)
Do exterior (%)
Fonte dos dados brutos: Secretaria de Estado da Fazenda – DIEF, 1995-2004
GRÁFICO 5.3: Distribuição das compras da indústria catarinense, por mercados de origem -
1995 a 2004 (em %)
Com relação às compras efetuadas no exterior, é importante destacar algumas
características: a) a maior parte das importações realizadas entre 1989 e 2004, referem-se a bens
de capital e bens intermediários, essencialmente, máquinas e equipamentos destinados à
115
modernização do parque industrial e aos insumos industriais não encontrados no mercado
interno; b) as compras de bens de capital originaram-se, fundamentalmente, dos Estados Unidos e
da União Européia, mais precisamente, da Alemanha, Itália e Reino Unido, enquanto que as
compras de insumos industriais manifestaram uma maior presença dos parceiros comerciais do
Mercosul; c) do total de importações efetuadas pelo estado, em 2004, 41,44% originaram-se de
países desenvolvidos e 58,41% de países em desenvolvimento; d) entre os países em
desenvolvimento, o maior volume de compras foi realizado junto ao Mercosul, 71,62% do total
36
.
Dessa maneira, podemos fazer algumas considerações acerca do intercâmbio comercial da
indústria catarinense. A primeira delas diz respeito à elevação da concentração das vendas no
âmbito interno que, se somadas às proporções de compras no mercado nacional, apontam para
um reforço da interdependência da indústria catarinense em relação às atividades econômicas
nacionais.
A segunda consideração prende-se à elevada proporção das compras e vendas entre as
unidades industriais presentes dentro do próprio estado. As explicações para esse acontecimento
residem em alguns fatos: a) a existência das especializações regionais do capital e das
aglomerações regionais - distinguidas como arranjos produtivos locais-, onde, de maneira
simplificada, interagem em espaço geográfico próximo aos fornecedores de insumos e fabricantes
dos bens finais; b) a ampla diversificação da indústria local, o que contribui para o suprimento
dos bens e insumos utilizados pelas manufaturas estaduais; e, c) embora recente, a política de
desenvolvimento regional adotada pelo atual governo do estado
37
, que incentiva as compras dos
órgãos públicos dentro das próprias subdivisões territoriais criadas, pode estar contribuindo para
o adensamento das cadeias produtivas regionais.
Em resumo, considerando-se a estrutura industrial no seu conjunto e destacando-se os
elementos comuns aos diversos setores em sua trajetória recente de reestruturação, o setor
secundário catarinense trilhou caminho semelhante ao seu congênere nacional, aproximando-se
ainda mais das características da indústria brasileira. Ademais, conservou a característica de
36
Informações obtidas a partir manipulação dos dados de importação de Santa Catarina disponíveis em:
MDIC/SECEX – Sistema Alice.
37
A administração do estado, gestão 2003-2006, sob o comando do Governador Luiz Henrique da Silveira,
subdividiu o território catarinense em 31 Secretarias Regionais de Desenvolvimento, as quais, tem a missão de criar
mecanismos para o desenvolvimento das respectivas regiões. Uma das formas propostas no Plano de
Desenvolvimento Catarinense, é realizar gastos públicos com o objetivo de dinamizar as potencialidades locais,
visando a eqüidade regional do estado. Isso significa, induzir a dinâmica intersetorial regional a partir dos gastos do
Estado (SECRETARIA DE PLANEJAMENTO DO ESTADO DE SANTA CATARINA).
116
diversificação da estrutura produtiva, ampliou a participação de bens da indústria dinâmica,
contudo, sem se afastar da influência de alguns setores tradicionais, manteve a diversidade quanto
ao tamanho das empresas, por fim, construiu importante integração com o mercado internacional
e reforçou sua presença no mercado interno.
117
6 CONCLUSÕES
As transformações contemporâneas do capitalismo, associadas ao processo de
globalização e à intensa mobilidade do capital, impeliram as economias mundiais a realizarem
ajustes para enfrentarem a concorrência que, agora, dá-se de forma global. A economia brasileira,
nesse período de enquadramento, enfrentou a necessidade de elevar a competitividade interna e
externa, e de se aliar ao processo de aceleração do progresso de padronização das técnicas
produtivas, dos métodos organizacionais e das estratégias administrativas, tanto públicas, quanto
privadas.
Diante desse desafio, a dinâmica econômica regional brasileira, foi impulsionada por uma
série de fatores que atuaram de modo a acelerar ou diminuir as taxas de crescimento específicas
dos diversos espaços econômicos internos no país. Até meados dos anos 80, as instalações
industriais produtivas localizadas nos espaços estaduais, eram consideradas como parcelas do
parque produtivo nacional. Com a globalização, elas deixaram de ser qualificadas apenas como
integrantes da economia brasileira, mas, também, passaram a serem avaliadas como potenciais de
exploração da economia mundial.
Nesse contexto, e juntamente com a crise financeira e fiscal do Estado, o padrão de
desenvolvimento regional brasileiro sofre uma inflexão. Em meio ao processo de desaceleração
da desconcentração produtiva nacional, as regiões deixaram de disputar espaço para integrarem-
se e articularem-se ao mercado interno. Introduziram ajustes no sentido de estimular o processo
de modernização tecnológica e organizacional de seus sistemas produtivos, com o objetivo de
elevar a probabilidade de inserção no mercado global.
Neste ínterim, observou-se que a economia catarinense desencadeou modificações em sua
estrutura industrial para acompanhar o movimento amplo de reestruturação ocorrido em âmbito
nacional na década de 90. No entanto, essas iniciativas, neste período, não estavam mais
condicionadas ao processo de desconcentração da economia brasileira, e sim, representaram uma
reação às concorrências externa e interna que se fortaleceram a partir dos anos noventa com a
inserção do país no processo de globalização.
118
As evidências levantadas demonstram que, atualmente, o parque industrial do estado
encontra-se em consonância com o novo modelo de produção nacional e internacional. O
processo de reestruturação efetuado resultou em algumas importantes modificações na estrutura
industrial catarinense.
A primeira delas diz respeito à diversificação das atividades. A diminuição da
participação dos gêneros tradicionais foi acompanhada pela expansão de outros gêneros
consolidados no estado, especialmente mecânica, material elétrico e de comunicações, material
de transporte e mobiliário. Além disso, guardando-se as devidas proporções, expandiu-se o setor
de desenvolvimento de software. Isso denota, uma ampliação na representatividade dos setores
dinâmicos na economia estadual.
A segunda, refere-se à introdução do padrão de industrialização flexível, a partir da
desverticalização de várias cadeias produtivas. Os ajustes organizacionais realizados pelas
grandes empresas abriram possibilidades para a elevação da participação de empresas de menor
porte em todos os segmentos produtivos. Cabe destacar que, esses estabelecimentos de menor
porte, estão, em sua grande maioria, articulados aos grandes conglomeradas industriais do estado,
através da prestação de serviços e como fornecedores de matérias-primas e insumos.
Tais fatores, proporcionaram, também, a terceira modificação no desenvolvimento
industrial catarinense: o adensamento das cadeias produtivas regionais. O deslocamento de
atividades ligadas aos setores dinâmicos, especialmente, do complexo eletrometal-mecânico, para
diversas microrregiões, demonstra a aproximação dos elos das cadeias produtivas fornecedor-
produtor - regionais, oferecendo maior interação entre as atividades produtivas nos espaços
locais.
Por fim, esse conjunto de mudanças na estrutura da indústria também se traduziu em
alterações nas relações comerciais do setor secundário catarinense com os mercados nacional e
internacional. As informações disponíveis revelam que o mercado nacional é o principal destino
das vendas dos produtos manufaturados no estado. Nesse sentido, a indústria catarinense aparece
como importante fornecedora de bens industriais para consumo final (duráveis e não duráveis) e
bens intermediários. Apesar da ampla integração da economia do estado com o mercado nacional,
chama atenção o fato de que cerca de 60% do intercâmbio comercial da indústria é feito dentro
do próprio estado. Isso oferece indicativo de que Santa Catarina construiu internamente uma
estrutura industrial amplamente diversificada capaz de suprir a maior parte das demandas
119
industriais por insumos e bens finais, o que, de certa forma, contraria a dinâmica imposta pelos
grandes grupos industriais, que buscam fornecedores em mercados mais amplos, notadamente no
exterior.
Essa circunstância chama atenção para duas possíveis situações que merecem estudos
mais aprofundados. A primeira, sugere que o processo de desenvolvimento industrial catarinense
intensificou a internalização dos setores fornecedores de insumos e matérias-primas, sejam os
ligados aos segmentos tradicionais, sejam aqueles relacionados aos setores dinâmicos,
implantados mais recentemente. A segunda, está associada à idéia de que a indústria do estado
apenas intensificou a interiorização dos setores mais tradicionais, e que, em função da
representatividade relativa que estes segmentos possuem na estrutura industrial de Santa
Catarina, o resultado desse processo aparece como um maior adensamento das cadeias produtivas
locais.
O importante, no entanto, é que seguindo os passos da indústria nacional, a indústria
catarinense intensificou sua inserção no mercado externo. O crescimento da participação no
mercado internacional deu-se através da diversificação da pauta de produtos. Durante os anos 90,
apresentou aumento nas vendas de produtos manufaturados, principalmente daqueles ligados ao
complexo eletrometal-mecânico. Contudo, setores tradicionais, especialmente o de produtos
alimentares, móveis e madeira, mantêm forte presença nas vendas destinadas ao exterior.
No que concerne às compras externas, observou-se o incremento de bens de capital,
notadamente no primeiro qüinqüênio dos anos 90, quando a indústria estadual acelerou o
processo de modernização do parque produtivo. Nos anos recentes, as importações giraram em
torno de 5% do total comprado pela indústria local, fato que vem colaborar com o argumento de
que a economia catarinense ampliou sua integração com o mercado doméstico, no decorrer do
processo de reestruturação produtiva.
As constatações relativas à dinâmica do processo de industrialização da economia
catarinense nas últimas décadas, apontam que a trajetória desenhada pela indústria estadual
esteve condicionada por movimentos mais amplos da economia nacional. As mudanças dos
últimos anos representam, sobretudo, ajustamentos impostos pelas novas condições de
funcionamento da economia globalizada.
O grande desafio posto a essa estrutura industrial reconfigurada, é dar continuidade ao
processo de crescimento a partir da base construída durante a década de 90. Sabendo-se que o
120
padrão de competição do atual paradigma está fortemente assentado no processo de inovação
constante e que exige mudanças extremamente rápidas, o sistema industrial catarinense necessita
encontrar caminhos para manter-se integrada ao mercado nacional, sem desconectar-se do
mercado internacional.
Segundo as características apresentadas pela indústria local, os caminhos a serem
seguidos passam diretamente pelo fortalecimento das cadeias produtivas regionais. Para que isso
aconteça, é importante que haja incentivo permanente para a inovação tecnológica, como
condição para o sucesso produtivo e comercial.
Essa capacitação científica e tecnológica pode ocorrer através da irradiação de pólos
tecnológicos em todas as regiões, como mecanismo para fomentar a inovação de processos e
produtos, elevando as potencialidades locais. A criação de incubadoras tecnológicas, centros de
pesquisa, parcerias e cooperação entre setor público e privado e de arcabouços institucionais que
induzam o desenvolvimento e o aproveitamento dos recursos regionais, são algumas das formas
de fomentar a formação de redes locais e regionais fortes, interligadas com os sistemas nacionais
e internacionais.
A continuidade no processo de acumulação regional depende, também, de políticas
públicas que atendam as realidades regionais, que em Santa Catarina apresentam aspectos
específicos, com o claro objetivo de fortalecer os sistemas produtivos e inovativos das regiões,
gerando maior competitividade aos produtos oferecidos pela indústria estadual, para aumentar o
poder de inserção no processo de produção global.
Nesse sentido, o estado apresenta algumas iniciativas implementadas pelo governo e por
outros agentes locais (agências de fomento, associações empresariais e organismos não
governamentais) que tem contribuído para a indução do desenvolvimento e reconfiguração das
bases produtivas regionais.
As ações do governo atual, descritas do Plano Catarinense de Desenvolvimento,
concentram-se, basicamente, em duas linhas: uma, via mecanismos tradicionais de incentivo ao
desenvolvimento industrial, que consiste em isenções fiscais (proporcionadas pela Secretaria da
Fazenda do Estado através do PRODEC) e concessão de crédito (por intermédio das agências de
fomento), visando a modernização tecnológica permanente; outra, via desconcentração
administrativa, com o objetivo de descentralizar as medidas de incentivo à indústria e de buscar
uma maior coordenação entre os atores locais (prefeituras, associações empresariais, instituições
121
de ensino, entre outros), no intuito de alavancar as potencialidades de cada região e incentivar a
formação de sistemas inovativos locais.
Esse projeto, conta com o envolvimento direto dos demais atores locais, através da
criação de fóruns de debate permanentes para identificar os problemas regionais e propondo
solução a partir das próprias condições oferecidas pelas respectivas regiões. Essa parceria
interinstitucional visa promover a articulação e potencialização de projetos existentes e a
identificação e implantação de novos projetos e ações voltadas para a dinamização dos setores
produtivos locais. Isso, sinaliza a convergência entre a sociedade e o governo do estado na busca
pela estruturação de mecanismos que possibilitem uma maior coordenação do processo de
desenvolvimento regional e proporcionem transformações tecnológicas freqüentes, capazes de
seguir o curso do avanço tecnológico internacional.
Apesar desses esforços, é possível que algumas regiões continuem especializadas no
fornecimento de bens tradicionais, porém, mesmo nestas, os efeitos da inovação tecnológica
constante serão sentidos. Para tanto, terão que apresentar produção eficiente e produtos adaptados
aos estágios atuais. Por conseguinte, o estímulo à rápida difusão tecnológica, via os setores
dinâmicos que estão crescendo no estado, trará benefícios para a economia como um todo,
produzindo crescimento econômico e gerando melhorias sociais. Enfim, concedendo
sustentabilidade ao padrão de industrialização gestado no estado nos recentes anos.
122
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