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Uma das grandes preocupações do ser humano, independentemente do
momento histórico, do tipo de cultura e de cidadania existentes, é descobrir a forma de
construir e conquistar a dignidade. Lê-se no livro do Deuteronômio:
Direitos humanos. Um homem recém-casado não irá à guerra nem lhe será
imposto cargo algum. Fique livre em casa durante um ano, para alegrar a mulher
que o desposou. Não tomarás para penhor as duas pedras de um moinho, nem
mesmo a pedra superior, pois seria tomar para penhor a própria subsistência. Se
emprestares alguma coisa ao próximo, não lhe invadirás a casa para garantir-te
algum penhor. Esperarás do lado de fora que o devedor te traga o penhor... Não
explorarás o assalariado pobre e indigente, seja ele um irmão teu, seja um
estrangeiro que mora no país, numa de tuas cidades. Dá-lhe no mesmo dia o
salário, para que o sol não se ponha sobre a dívida, pois ele é pobre e o salário
significa o seu sustento... Não leses o direito do estrangeiro nem do órfão nem
tomes como penhor as roupas da viúva.
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Hoje, ao se falar de direitos humanos, o cidadão da sociedade globalizada entenderá essa expressão como a construção da dignidade,
da cooperação social, da interação e do sentimento de proximidade. Sentimento cidadão para recriar o significado de paz, não como a
ausência de conflito, mas a sabedoria de lidar com ele, sem eliminar o outro. Sentimento esse que vai além da bipolarização – amigo
x inimigo – onde opositores são pessoas que pensam e se manifestam de forma diferente, fruto e construtores de culturas que
apresentam interesses distintos, os quais podem coincidir com os próprios interesses e valores culturais. No microcosmo educacional
as diferenças aparecem no dia-a-dia e as inclusões, precisam ser permanentes e parte da formação para a cidadania plural. Como
afirma Cláudia Werneck, presidente da ONG Escola de Gente, na teoria quase todas as escolas se dizem a favor da inclusão e do
respeito à diversidade, porém isso raramente acontece na prática. “A inclusão tem que ser não apenas para as famílias de deficientes,
mas para que as escolas melhorem seus índices de ética e de aprendizado nas relações interpessoais.
22
”
Em nossa sociedade “comunicacional”, é indispensável aprender a negociar e deliberar acordos que convenham e permitam alianças.
Deliberação social que se aprende, se ensina e se pratica na escola democrática para construir e comprometer-se com “bens comuns”.
A escola cidadã pode desenhar um projeto comum para envolver e criar comunidades que partilhem as necessidades da macro-
sociedade. A escola responde à sociedade e a sociedade à escola porque a subsistência de uma depende da outra. Sem finalidade em
si mesma, a escola adquire o seu sentido na medida em que forma para a sociedade, isto é, para integrá-la ou propiciar a sua
transformação.
21
Deuteronômio 24,5-6.10.14 – Bíblia Sagrada. 33 ed.. Petrópolis: co-edição da Editoras Vozes e Santuário,
1982, p. 222. Mesmo tratando-se de uma lei bastante antiga e correspondente a algumas culturas, chama a
atenção a delicadeza de detalhes em relação ao bem-estar humano, como por exemplo: não invadir a casa; não
explorar o assalariado, o pobre ou indigente; respeitar o estrangeiro e o órfão. Sensibilidade e dignidade.
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WERNECK, Claudia. Portadores de deficiência são barrados em escolas privadas. In: Folha de São Paulo.
São Paulo: caderno cotidiano, p. C9. 6 mar. 2005.
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