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eles somem, não deixam o endereço, outros não têm endereço fixo, então a
criança pode estar indo para a família de apoio. As crianças são encaminhadas
para as famílias de apoio nos finais de semana, exceto quando há algum
evento na Obra. Também depende da família de apoio, se ela quer pegar a
criança todo o final de semana. Quando acontece ser sempre a mesma
criança, nós começamos revesar e a família tem consciência disso, para que
ela não tenha vínculo, porque a família acaba querendo a criança para ela e a
criança não está para ser dela, a criança está provisória aqui. Então, ela não
pode, nós não podemos permitir isso, até porque nós temos famílias que a
maioria, ela tem uma condição financeira estável e a maioria das nossas
famílias não tem. Tem criança que ela se adapta rapidamente, quer depois
que o outro a adote sabe, são bem calculistas. Então nós conversamos com a
criança também. Se ela vai estar indo para a família de apoio, precisa prestar
atenção nas regras da casa, nós fazemos as orientações, olha você está indo
para lá, mas essa família não vai adotar você, porque você tem pai, você tem
mãe, você tem avó. Na casa nós temos a regra permitir se ela quer ir ou não,
porque, às vezes, ela não quer ou se pode ficar em casa, ou qual a família que
ela gosta mais, então tudo isso é avaliado. Porque senão ao invés de ter um
projeto que vai ajudar, ele vai é prejudicar. Vai obrigada? Não, não vai”.
Ainda na entrevista com a mesma coordenadora, ela informou que, além
das visitas dos familiares aos domingos, as famílias mantém contatos com os
filhos no abrigo de diversas maneiras, dentre elas: “às vezes, a criança está
com saudade. Umas falam ‘estou com saudade’ e outras não falam, mas elas
têm a liberdade na minha Casa, de estar pedindo: ‘tia a senhora deixa eu falar
com o meu pai ou com a minha tia’. E eu deixo. A carta ou bilhete, a maioria
tem muita dificuldade para aprender a escrever e a ler, mas já cheguei a
colocar no carro e levar. Se eu percebo e se me pediu, eu faço o possível e o
impossível levo. Porque eu acho que se a criança chegou a pedir já é o
suficiente, só se eu não tiver como ir. Às vezes não dá para ir no dia, mas no
outro dia nós arrumamos uma forma: ou eu vou, ou o educador leva. Nós
fazemos questão de manter isso, porque é importante para eles. Então nós
fazemos assim na minha Casa. Eu nem sei se isso pode, mas eu faço.”