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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE PSICOLOGIA E FONOAUDIOLOGIA
Mestrado em Psicologia da Saúde
SUELY DE SOUZA MORAES
CLÍNICA PSICANALÍTICA: FATORES DE RISCO EM DOENÇA
ARTERIAL CORONÁRIA, REDE SOCIAL DE APOIO
E CRISE EMOCIONAL
São Bernardo do Campo
2005
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SUELY SOUZA MORAES
CLÍNICA PSICANALÍTICA: FATORES DE RISCO EM DOENÇA
ARTERIAL CORONÁRIA, REDE SOCIAL DE APOIO
E CRISE EMOCIONAL
Trabalho de dissertação apresentado como
parte dos requisitos à obtenção do título de
Mestre em Psicologia da Saúde da
Universidade Metodista de São Paulo.
Orientador Profº. Dr. José Tolentino Rosa.
São Bernardo do Campo
2005
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SUELY DE SOUZA MORAES
CLÍNICA PSICANALÍTICA: FATORES DE RISCO EM DOENÇA
ARTERIAL CORONÁRIA, REDE SOCIAL DE APOIO
E CRISE EMOCIONAL
BANCA EXAMINADORA
__________________________________
Presidente Prof. Dr. José Tolentino Rosa
___________________________________
Titular - Profº Dra. Maria Geralda Viana Heleno
___________________________________
Titular Dora Mariela Salcendo Barrientos
__________________________________
Suplente - Profº Dra. Eda Marconi Custódio
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho primeiramente aos meus pais pelo apoio de forma
integral. Por seus abraços, seu carinho e dedicação. Todo o meu amor a vocês,
em todo o tempo!
A minha irmãzinha Suelma incentivadora não somente para este trabalho,
mas de toda uma caminhada. Ainda guardo comigo o impacto da sua palavra
inspirada em Jesus Cristo que me levou a mudança de rumos na vida. Quero que
você guarde sempre a alegria dos amores, cores e sabores.
5
AGRADECIMENTOS
À Professora Elaine toda a minha amizade. Suas palavras carinhosas ainda
ressoam em meus ouvidos. Pela mulher que és, tens o meu respeito e admiração!
À Professora Maria Antonia por sua disponibilidade e indicações desde os
primeiros passos na minha formação em psicologia.
À Professora Maria Geralda, que prontamente me concedeu as primeiras
instruções para o desenvolvimento deste trabalho, ainda em projeto e com suas
orientações me fez ver as possibilidades.
Ao Professor José Tolentino Rosa meu orientador, sempre disponível, amável e
atencioso, nunca medindo esforços para me esclarecer em tudo quanto precisei.
A convivência foi muito agradável, marcada de bom humor. As horas de
supervisão, também foram reuniões em que a sensibilidade e a sabedoria
estiveram sempre em pauta. Aprendi a aprender !
À Beth por seu zelo e doçura.
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EPÍGRAFE
O amor bate na aorta
...“ Meu bem, não chores,
hoje tem filme do Carlito.
O amor bate na porta
O amor bate na aorta
fui abrir e me constipei
Cardíaco e melancólico
o amor ronca a horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos já maduros.”...
Carlos Drumond de Andrade
Rifa-se um coração
...Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece e, mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional. Sendo
louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo...
Clarice Lispector
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Clinica psicanalítica: fatores de risco em doença arterial
coronária, rede social de apoio e crise emocional
RESUMO
O presente trabalho busca descrever tipos de prevenção na doença arterial
coronária e também identificar crises emocionais e fatores de risco relacionando-
os ao estilo de vida. Trata-se de uma interface entre as desordens
psicossomáticas, clínica psicanalítica e psicologia social com enfoque na doença
arterial coronária. O estudo investiga o estilo de vida de homens e mulheres que
possuem pelo menos um fator de risco para a doença arterial coronária. Aponta
níveis de prevenção para melhor controle do risco. E indica possíveis aspectos
psicossociais e emocionais associados a doença arterial coronária. O método
utilizado foi estudo de caso entre oito sujeitos, sendo quatro homens e quatro
mulheres. Considerou-se a faixa etária de quarenta anos para ambos os sexos,
aspectos relativos ao estilo de vida com pelo menos um fator de risco e hábitos
alimentares. Utilizou-se os seguintes instrumentos: questionário sobre estilo de
vida elaborado pela pesquisadora, roteiro para entrevistas não diretivas e a escala
diagnóstica adaptativa operacionalizada EDAO para análise dos resultados.
Verificou-se forte correlação entre os sujeitos e a análise fatorial revelou que
pertenciam ao mesmo grupo. Os dados encontrados na pesquisa foram
confirmatórios à revisão de literatura. Os objetivos foram atendidos e as hipóteses
foram confirmadas, a saber que os fatores de risco para instalação da doença
arterial coronária apresentam correlação com os conflitos emocionais, em que as
situações de crise emocional representam risco para instalação e evolução da
doença arterial coronária. Tais fatores de risco diminuem com a mudança de estilo
de vida e hábitos alimentares, entretanto a hipótese que se refere a mudança de
estilo de vida por resolução de conflitos emocionais não foi confirmada pois o
tempo de estudo não nos permite tal afirmação. Portanto, sugere-se um estudo
longitudinal com a inserção de psicoterapia e atendimento por equipe
multiprofissional para verificar-se a hipótese de que a resolução de conflitos pode
ou não influenciar positivamente a prevenção da doença. Embora este estudo
8
tenha considerado que a clínica psicanalítica pode favorecer a redução de fatores
de risco para a doença arterial coronária, nenhuma intervenção foi realizada,
apenas, foram dadas informações gerais sobre os níveis de atenção e prevenção
da doença arterial coronária.
Descritores: Doença arterial coronária, psicossomática, prevenção, estilo de vida e
apoio.
9
PSYCHOANALYTICAL CLINIC: RISK FACTORS ON CORONARY
ARTERIAL DISEASE SOCIAL SUPPORT NETWORK AND
EMOTIONAL CRISIS
ABSTRACT
The present work aims to describe types of preventive intervention on coronary
arterial disease, and to identify emotional crisis and risk factors by relating them to
lifestyle. It was realized that a preventive framework to coronary arterial disease
includes interfaces among psychosomatic disorders, clinical psychoanalysis and
social psychology. The used method was study of in case he/she enters eight
subjects, being four men and four women. He/she was considered the forty year-
old age group for both sexes, relative aspects to the lifestyle with at least a risk
factor and alimentary habits. It was used the following instruments: questionnaire
on lifestyle elaborated by the researcher, itinerary for interviews no directing and
the scale diagnóstica adaptativa operacionalizada - EDAO for analysis of the
results. Strong correlation was verified between the subjects and the factorial
analysis revealed that you/they belonged to the same group. The data found in the
research were confirms to the literature revision. The objectives were assisted and
the hypotheses were confirmed, to know that the risk factors for installation of the
coronary arterial disease present correlation with the emotional conflicts, in that the
situations of emotional crisis represent risk for installation and evolution of the
coronary arterial disease. Such risk factors decrease with the lifestyle change and
alimentary habits, however the hypothesis that refers the lifestyle change for
resolution of emotional conflicts was not confirmed because the time of study
doesn't allow us such statement. Therefore, he/she suggests himself a longitudinal
study with the psychotherapy insert and service for team multidisciplinar to verify
the hypothesis that the resolution of conflicts can or not to influence the prevention
10
of the disease positively. Although this study has considered that the clinic
psychoanalitical can favor the reduction of risk factors for the coronary arterial
disease, no intervention was accomplished, just, general information were given
about the levels of attention and prevention of the coronary arterial disease.
Index-terms: Disease Arterial Coronary, psychosomatic, prevention, lifestyle; social
support network.
11
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 13
1.1 CARACTERIZAÇÃO DA DOENÇA ARTERIAL CORONÁRIA 15
1.1.1 Conceito e Estatística
15
1.1.2 Estudos Sócio-culturais Relacionados às Doenças Não Transmissíveis
16
1.1.3 Aspectos Sócio-culturais da Doença Arterial Coronária
17
1.1.4 Princípios e Diretrizes do Sistema Único de Saúde SUS e epidemiologia
18
1.1.5 Estilos de Vida Predisponentes a Instalação da Doença Arterial Coronária
22
1.1.6 Fatores de Risco na Doença Arterial Coronária
23
1.1.6.1 Fumo
24
1.1.6.2 Má Alimentação
25
1.1.6.3 Sedentarismo
25
1.1.6.4 Ignomínia Social
26
1.1.6.5 Diabetes
27
1.1.6.6 Aterosclerose
27
1.1.6.7 Hipertensão Arterial
28
1.2
REDE SOCIAL DE APOIO E PREVENÇÃO DA DOENÇA ARTERIAL
CORONÁRIA
28
1.2.1 Prevenção Primária, Secundária e Terciária da Doença Arterial Coronária
29
1.2.2 Níveis de Atenção
30
1.2.3 A Rede Social e o Apoio em Cardiologia
31
1.3
PROBLEMAS E HIPOTESES PSICOLÓGICAS SOBRE DOENÇA
ARTERIAL CORONÁRIA
32
1.3.1 Estudos Psicanalíticos Sobre a Doença Arterial Coronária
32
1.3.2 Possíveis Traços de Personalidade e Estados Emocionais Associados à Doe
nça
Arterial Coronária
33
1.3.3 Aspectos Psicossomáticos da Doença Arterial Coronária
34
1.4 OBJETIVOS 37
1.4.1 Objetivo Geral
37
1.4.2 Objetivos Específicos
37
2. MÉTODO 37
2.1 MÉTODO, MATERIAL E CASUÍSTICO. 37
2.1.1 Participantes e Local
38
2.1.2 Instrumentos Psicológicos
38
2.1.3 Procedimento
38
2.1.4 Ética da Pesquisa e Tratamento de Dados
39
2.1.5 Delineamento
39
3. RESULTADOS 39
3.1 ANÁLISE QUANTITATIVA E QUALITATIVA 40
3.1.1 Quadro I Respostas do Questionário
42
3.1.2 Quadro 2 Respostas das Escolhas Alimentares
43
12
3.1.3 Análise das Respostas do Questionário
44
3.1.3.1 As Questões permitem Descrever os Sujeitos
45
3.1.5 Descrição dos Casos
47
3.1.6 Principais Tendências dos Resultados da EDAO
Operacionalizada
48
4. DISCUSSÃO 49
4.1 Considerações Finais 50
5. CONCLUSÃO 52
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 53
7. ANEXOS 58
7.1 Formulário do Questionário 58
7.2 Roteiro da Entrevista Psicológica 58
7.3 Quadros 62
7.3.1 Resultados do Questionário
63
7.3.2 Hábitos Alimentares
64
7.3.3 Registro de Adequação EDAO
65
7.3.4 Relato da Entrevista S102 e S108
66
7.4 Questionários Preenchidos 69
13
1 INTRODUÇÃO
Podemos identificar muitas expressões emocionais que estimulam
manifestações cardíacas, tais como: a elevação da freqüência cardíaca, elevação
da pressão arterial, aumento do débito cardíaco, do consumo de oxigênio, da
glicose e do colesterol. Estas manifestações podem contribuir para o
desenvolvimento de fatores de risco relacionados às doenças, especialmente as
crônicas.
A escolha somática pelo coração ocorre devido a representações
simbólicas do mesmo. Há, portanto, uma correlação entre as situações
ansiogênicas e as alterações químicas no organismo na repercussão
cardiovascular. Naturalmente, a escolha somática pelo coração é também
resultante da percepção do estresse, ou seja, há um filtro pessoal, uma avaliação
da situação de crise que é variável de indivíduo para indivíduo (MELLO FILHO,
1992).
Os aspectos psicossomáticos em cardiologia, segundo Mello Filho (1992)
sinalizam que o organismo está sujeito às influências externas, aumentando ou
diminuindo a resistência conforme as circunstâncias. Quanto mais duradoura e
intensa a ação dos agentes externos, maior será a ação ou repercussão no
organismo. Entretanto, o organismo não responde apenas ao mundo externo,
também ao mundo interno. Os métodos de enfrentamento que o indivíduo utilizar
poderão ser significativos ou não para o sistema cardiovascular, quanto maior a
crise mais significativa à sobrecarga no sistema vascular. Nas situações de crise,
as expressões do conflito emocional poderão resultar em autopunição.
Os estudos de Soczka & Nunes (1993) apontam que a rede de apoio social
possibilita ações na prevenção das coronariopatias, através de informações
individuais ou coletivas, para minimizar os efeitos da ignomínia social.
A comunidade terapêutica pode ser estabelecida através de grupos
religiosos ou societários, entre tantas redes. É um ambiente coletivo em que se
pode atuar na prevenção da doença, levando o individuo a expor os temores,
esperanças e anseios.
14
A revisão de literatura entre sessenta e seis artigos no período de 2000 a
2004, feita pela pesquisadora possibilitou eleger percentuais de risco em relação
aos vários fatores. Esta revisão apontou que fatores de risco associados
contribuem para desenvolvimento e evolução do quadro da doença.
Com base nestes dados foi desenvolvido um questionário sobre estilo de
vida e um quadro de escolhas alimentares, instrumentos utilizados na pesquisa. O
questionário alcançou noventa e sete por cento de validade entre os sujeitos.
A pesquisa favoreceu a obtenção de dados que foram considerados
confirmatórios para os objetivos e três das quatro hipóteses estabelecidas, a
saber; o objetivo geral; identificação de fatores de risco mais comuns à doença
arterial coronária no grupo participante da pesquisa e a relação entre conflitos
emocionais e instalação dos fatores de risco para doença arterial coronária.
Objetivos específicos: caracterização dos sujeitos, descrição das possíveis ações
preventivas na doença arterial coronária, com enfoque psicanalítico, identificação
das situações de crise emocional, de acordo com a clínica psicanalítica em
associação de fatores de risco para a doença e a relação entre fatores de risco e
doença arterial coronária. As hipóteses levantadas foram: 1) Os fatores
comportamentais de risco apresentam correlação com conflitos emocionais 2) As
situações de crise emocional podem ser um fator interno de risco para instalação e
evolução da mudança doença arterial coronária 3) Os fatores de risco para
instalação da doença diminuem se ocorrer mudança de hábitos alimentares mais
saudáveis e no estilo de vida 4) Existe mudança no estilo de vida quando os
conflitos emocionais são mais bem administrados.
Na conclusão do trabalho, a pesquisadora apresenta sugestão de um
estudo longitudinal para confirmação da quarta hipótese uma vez que a
confirmação ou não da mesma demanda maior tempo de pesquisa.
15
1.1. Caracterização da Doença Arterial Coronária
A doença arterial coronária é causada pelo depósito de gordura no interior
das artérias que irrigam o músculo do coração e é multifatorial. Os fatores de risco
são classificados em modificáveis e não modificáveis. Os não modificáveis
referem-se à genética (sexo, histórico familiar, idade), enquanto os modificáveis
são tabagismo, sedentarismo, alimentação, ignomínia social, entre outros
(LEONEL , 2002).
A autora relata que hipertensão, LDL elevado (colesterol ruim), obesidade
e diabetes tipo dois podem ser conseqüências de maus hábitos alimentares
associados ao estilo de vida sedentária. As mortes súbitas, por infarto ocorrem
com maior freqüência em homens após os 35 anos, mas nos últimos anos tem se
manifestado também, em mulheres, explicação atribuída à mudança do papel
social das mulheres.
Segundo Leonel (2002) o diagnóstico da doença arterial coronária não é
realizado através de exames comuns, uma vez que os mesmos não detectam as
placas gordurosas que causam obstrução da artéria, eis aí o grande desafio na
prevenção da doença, pois as alternativas atualmente existentes para o
diagnóstico ainda se utilizam de técnicas invasivas.
1.1.1. Conceito e Estatística
Doença arterial coronária é uma afecção das artérias coronárias, em que a
circulação sangüínea é impedida por placas de gordura que causam obstrução
das artérias coronárias, culminando em infarto (LEONEL , 2002).
Segundo a OMS Organização Mundial de Saúde (2005) 80% das mortes
súbitas, em nível mundial são provocadas por doenças do coração, porém apenas
20% dos casos são sinalizados por angina ou dor no peito, que poderiam levar as
pessoas a buscarem tratamento preventivo. Para a OMS, o progresso do
diagnóstico, a prevenção e o tratamento da doença não são suficientes para que a
mesma deixe de assumir a liderança de causa-mortis em nível mundial.
16
A 57ª Assembléia Mundial de Saúde, realizada em maio de 2004 aprovou a
Estratégia Mundial sobre Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde, em
atenção ao informe de saúde de 2002 que indica a mortalidade, a morbidade e
incapacidade atribuídas as principais doenças não transmissíveis. Representam
60% de todas as disfunções e em 47% a carga de morbidade mundial. Prevê
ainda que esses percentuais aumentarão em 73% e 60% respectivamente, antes
de 2020. Tais informações são atribuídas à evolução das tendências demográficas
e aos modos de vida, em particular os relacionados com alimentação pouco
saudável e a falta de atividade física (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE -
OMS, 2004).
As causas de morte, em geral são relacionadas a doenças crônicas, entre elas
as cardiovasculares, cerebrovasculares e diabetes. Entretanto é interessante
destacar que há elevado número de óbitos por agressões e acidentes em
transportes é bastante elevado, o que revela traços do contexto das cidades
brasileiras (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005).
1.1.2. Estudos sócio-culturais relacionados a Doenças Não
Transmissíveis
A Organização Mundial de Saúde - OMS (2004) tem por objetivo informar e
coordenar pesquisas e campanhas internacionais, ajudando as políticas nacionais.
As principais orientações da OMS, entre outras, é fomentar um ambiente familiar e
social que privilegie a saúde com esforços na educação e no status da mulher.
A Organização Pan-americana de Saúde OPAS (2004) deve colaborar na
identificação das potencialidades de integração sanitária, cooperar no campo da
formação dinâmica dos recursos humanos em saúde, entre outros objetivos.
No Brasil, o Ministério da Saúde (2002) ao considerar a política de
descentralização assume os programas em nível nacional e delega as secretarias
estaduais e municípios o desenvolvimento de programas de promoção da saúde
mais específicos, conforme indicadores de saúde dos municípios. Portanto, os
17
indicadores de saúde ou coeficientes de mortalidade são fornecidos pelas
secretarias municipais de saúde.
O contexto social decorrente da globalização e do neoliberalismo pode trazer
ao indivíduo insegurança e auto-agressão e resultar em quadros patológicos.
Estas expressões emocionais estão associadas a aspectos psicossomáticos nas
doenças. Nesta leitura contextual pode-se afirmar que não são poucas as famílias,
primeiro núcleo de apoio, desestruturadas em decorrência de tais dificuldades.
1.1.3 Aspectos sócio-culturais da doença arterial coronária
Mello Filho (1992) afirma que a doença arterial coronária está relacionada ao
universo mutante em que vive a sociedade atual; a exigir atualização, competência
e soluções cada vez mais rápidas. O desemprego e a luta pela sobrevivência no
mercado de trabalho fazem com que homens e mulheres se entreguem a cargas
emocionais excessivas. A doença arterial coronária pode provocar morte cardíaca
súbita e pela maneira insidiosa, alta freqüência na população geral e os aspectos
dramáticos que a cercam, acarretam importantes implicações sócio-econômicas,
fazendo vítimas, indivíduos na fase mais produtiva de vida.
Atualmente as mulheres também são vítimas das coronariopatias, uma vez que
há um número cada vez mais crescente de mortes de mulheres por infarto agudo
do miocárdio, isto se deve a mudança do papel social feminino, nas últimas
décadas (LEONEL, 2002).
A mão-de-obra feminina representa 48% do mercado de trabalho na região
metropolitana de São Paulo, 80% destas com escolaridade superior a dos
homens. 26% sustentam sozinhas as suas casas, contudo os níveis salariais
permanecem muito menores que os dos homens no mesmo cargo. As mulheres
somaram as tarefas domésticas à jornada de trabalho e ainda são a maioria a
ocupar os bancos nas escolas na busca de atualização ou maior capacitação
(FUNDAÇÃO ESTADUAL DE ANÁLISE DE DADOS FEADE, 2002).
18
Segundo Leonel (2002), a mulher recebe uma proteção natural até a
menopausa, devido aos hormônios, entretanto é necessário sinalizar que a cada
ano o número de mulheres tabagistas aumenta e nesta condição aumenta
também a probabilidade em até quatro vezes de infarto para as mulheres.
Se o contexto sócio-econômico, a competição excessiva e a insegurança
podem promover doenças, entre elas as cardiovasculares, por outro lado à busca
por melhoria na qualidade de vida certamente promove a saúde e têm sido objeto
de pesquisa e de mudanças favoráveis nos modos de vida, ou seja, mais que
prevenção de doença, promoção de saúde.
1.1.4
Princípios, Diretrizes do Sistema Único de Saúde e
Epidemiologia
A política de Saúde no Brasil é estabelecida através do Sistema Único de
Saúde - SUS e compreende um processo em construção à longo prazo, à partir
de 1988 com o decreto nº 8080 e 8081 o qual esclarece e determina a
implantação do Sistema Único de Saúde SUS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
“A um conjunto de ações e serviços públicos de saúde, integrados em uma
rede regionalizada e hierarquizada em princípios e diretrizes. Estes são: a
universalidade, equidade, integralidade, descentralização, financiamento e
participação social “ (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Os princípios e diretrizes estabelecidos são assegurar atendimento a
população em geral, priorizar a família e a saúde da mulher, o que pode ser
constatado através dos programas de promoção da saúde desenvolvidos pelo
Ministério da Saúde.
A política de descentralização possibilita indicadores de saúde fornecidos pelos
municípios, assim pode-se ter um quadro mais próximo à realidade das cidades
brasileiras. Se as doenças do coração assumem liderança nas principais cidades
do mundo, no Brasil, esta realidade não é diferente para as capitais ao
19
verificarmos as principais causas de morte, as quais são: doenças
cardiovasculares, câncer, doenças cerebrovasculares, pneumonia e externas. As
causas externas são agressões, acidentes etc (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).
O quadro abaixo apresenta dados relativos as principais causas de morte. Tal
informação é disponibilizada pelo Ministério da Saúde (2002).
Tabela de Número de Óbitos X Causa-mortis
Nº óbitos/
Causa-mortis
Causa-mortis
Nº de
óbitos
Coração 161.462
Câncer 120.493
Externas
(agressões,
acidentes, etc)
118.367
Cerebrovascular 84.688
Pneumonia 29.367
Fonte: (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).
É igualmente importante considerarmos as tabelas sobre o coeficiente de
mortalidade para algumas causas selecionadas por 100.000 habitantes e por meio
dos indicadores municipais de saúde. Observa-se que embora o maior número de
causa-mortis seja por coronariopatias, as causas são variáveis conforme os
municípios. Outro dado importante é que o número de mortes por acidentes,
agressões, etc; as quais são consideradas causa externa ocupa o terceiro lugar
em causa-mortis, revelando o contexto em que vivemos.
Não há um indicador específico para doença arterial coronária, assim para
efeito da estatística, selecionamos na mesma fonte de dados, duas causas; a
primeira, o infarto agudo do miocárdio IAM e a segunda, cerebrovasculares, no
período de 1998 a 2002 (dado mais atual) em algumas capitais brasileiras.
Consideramos o número total de óbitos, o número de habitantes e os coeficientes
20
de mortalidade, para algumas das principais capitais brasileiras, as quais refletem
os maiores centros urbanos, conforme quadro abaixo:
Tabelas sobre causa-mortis X coeficiente de mortalidade
Legenda: número de mortes X 100.000 habitantes
Coeficiente de Mortalidade - Manaus/AM
Causas 1998 1999 2000 2001 2002
IAM 13,2 13,8 11,2 9,9 11,6
Cerebrovasculares
37,9 30,1 34,2 3,5 30,0
Total de óbitos 6840 6861 7018 6759 6730
População 1224361 1255047 1405835 1451958 1488805
Coeficiente de Mortalidade - Fortaleza/CE
Causas 1998 1999 2000 2001 2002
IAM 21,0 21,5 20,4 17,9 16,9
Cerebrovasculares
50,8 53,5 46,6 45,4 46,1
Total de óbitos 11265 11600 10519 10869 12743
População 2055962 2097757 2141401 2183609 2219836
Coeficiente de Mortalidade - Recife/PE
Causas 1998 1999 2000 2001 2002
IAM 68,1 64,8 68,6 67,3 68,2
Cerebrovasculares
79,5 67,6 68,5 70,1 66,6
Total de óbitos 10406 9942 10240 10080 10163
População 1368010 1378089 1422905 1437189 1449136
Coeficiente de Mortalidade - Salvador/BA
Causas 1998 1999 2000 2001 2002
IAM 27,4 22,7 23,0 26,8 25,4
Cerebrovasculares
55,3 52,1 48,4 51,1 49,4
Total de óbitos 13155 13053 12683 13015 13537
População 2274137 2302834 2443107 2485699 2520505
Coeficiente de Mortalidade - Brasília/DF
Causas 1998 1999 2000 2001 2002
IAM 18,1 17,7 18,8 16,9 18,8
Cerebrovasculares
40,1 40,6 36,5 35,1 36,3
Total de óbitos 8406 8544 8572 8760 9066
População 1305468 1360590 1373312 1383454 1395835
21
Coeficiente de Mortalidade - Belo Horizonte/MG
Causas 1998 1999 2000 2001 2002
IAM 28,9 32,4 30,2 29,6 27,2
Cerebrovasculares
59,1 56,9 55,1 54,2 52,0
Total de óbitos 13456 13272 12642 12721 12496
População 2124176 2139125 2238526 2258856 2284469
Coeficiente de Mortalidade - São Paulo/SP
Causas 1998 1999 2000 2001 2002
IAM 63,8 60,2 60,4 57,2 56,0
Cerebrovasculares
60,3 62,2 56,0 54,1 54,5
Total de óbitos 68051 70055 68326 67170 67475
População 9928219 9968485 10434252 10499133 10600059
Coeficiente de Mortalidade - Rio de Janeiro/RJ
Causas 1998 1999 2000 2001 2002
IAM 79,1 70,9 62,7 66,0 67,3
Cerebrovasculares
86,3 82,8 79,7 79,1 80,7
Total de óbitos 51676 49979 48558 49434 50893
População 5584048 5598955 5857904 5897487 5937251
Coeficiente de Mortalidade - Curitiba/PR
Causas 1998 1999 2000 2001 2002
IAM 53,5 51,8 52,5 48,3 46,8
Cerebrovasculares
52,4 54,9 48,6 51,5 51,3
Total de óbitos 9123 9064 9095 8879 9136
População 1550315 1584232 1587315 1620221 1644599
Coeficiente de Mortalidade - Porto Alegre/RS
Causas 1998 1999 2000 2001 2002
IAM 78,0 76,5 75,8 65,8 65,5
Cerebrovasculares
80,8 71,7 71,3 81,3 77,3
Total de óbitos 10249 9962 9859 10005 10236
População 1305869 1314033 1360590 1373312 1383454
Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002
22
Segundo o Ministério da Saúde, no período de janeiro a dezembro de 2002
foram 46.538 mortes por Infarto Agudo do Miocárdio.
O projeto denominado Corações do Brasil desenvolvido com o apoio do
Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais e Municipais da Saúde constata
dados alarmantes e confirmatórios para tantas mortes por doenças
cardiovasculares; cerca de 300 mil por ano. A pesquisa teve a duração de dois
anos e envolveu cerca de 800 profissionais em 77 cidades e seleção de 1239
pessoas. O estudo traça uma incidência dos principais fatores de risco para as
doenças do coração e a doença vascular periférica (SOCIEDADE BRASILEIRA
DE CARDIOLOGIA, 2005).
Para o prognóstico das doenças do coração, o indicador mais usado é o IMC
Índice de Massa Corpórea, entretanto, a adiposidade intra-abdominal deveria ser
exame obrigatório. Trata-se da medida da circunferência abdominal, as medidas
consideradas padrão para a América Latina são homens 90cm e mulheres 80cm.
(INSTITUTO DANTE PAZZANESE, 2005).
Leonel (2002) afirma que não há prognóstico para a doença arterial coronária,
exceto pelo estilo de vida. Trata-se, portanto de uma doença que se instala
conforme os hábitos do indivíduo.
1.1.5. Estilos de vida predisponentes à instalação da doença arterial
coronária
A Organização Pan-americana de Saúde - OPAS (2005) apresenta o
seguinte conceito de estilo de vida:
“É a forma que as pessoas vivem e as escolhas que fazem, a forma
como se relacionam consigo mesmas, com os outros e com a
natureza. As escolhas estão relacionadas com o contexto sócio-
econômico e cultural e hábitos adquiridos nos ambientes familiar,
social e com o conhecimento acumulado” (ORGANIZAÇÃO
PANAMERICANA DE SAÚDE - OPAS, 2005).
23
“O estilo de vida inclui hábitos e comportamentos que foram
adquiridos social ou culturalmente e de modo individual ou grupal”
(ROUQUAYROL, 1999)
Outros órgãos públicos e entidades apresentam o conceito relacionado à
qualidade de vida.
“o estilo de vida inclui o estado mental do indivíduo, o meio ambiente
e o histórico familiar” (FEDERAÇÃO MUNDIAL DE CARDIOLOGIA,
2005).
Segundo a mesma entidade, os sistemas de saúde somados ao estilo de vida
são os fatores responsáveis para que uma pessoa viva acima de 65 anos. E as
emoções negativas, ansiedade, estresse no trabalho, isolamento social são
causas igualmente importantes ao sedentarismo e a hipertensão para as doenças
cardiovasculares.
1.1.6. Fatores de risco na doença arterial coronária
Os fatores de risco são modificáveis e ambientais, psíquicos e físicos. A
literatura aponta o tabagismo, os maus hábitos alimentares que levam a
hipertensão ou hipercolesterolomia, a obesidade, o estresse, a vida sedentária,
além do diabetes do tipo dois, aterosclerose e ignomínia social, como fatores
modificáveis (LEONEL, 2002; SPENCE, 1991; SOCZKA; NUNES, 1993). Alguns
destes fatores associados podem aumentar o risco de infarto, significativamente,
tais fatores estão relacionados aos estilos de vida.
A pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (2005) já
referida anteriormente, revela dados importantes sobre o estilo de vida dos
brasileiros e os fatores de risco para as coronariopatias: 21,6% tem taxas
elevadas de colesterol, 83% são sedentários, 14% tem níveis de triglicérides
acima do considerado normal e 25% são fumantes.
24
Tabela sobre Fatores de Risco Mais Comuns na DAC
Ordem Fatores de Risco % Nº Ocorr.
1 Fumo 42,0 28
2 Má alimentação 35,0 23
3 Sedentarismo 19,0 12,5
4 Ignomínia Social 12,0 09
5 Diabetes Tipo 2 8,0 05
6 Aterosclerose 6,5 04
6 Hipertensão Arterial 6,5 04
Porcentagem de artigos sobre fatores de risco (N=66).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Fumo
alimentação
Sedentarismo
Ignomínia
Social
Diabetes Tipo
2
Aterosclerose
Hipertensão
Arterial
Fonte: (MORAES, 2004)
1.1.6.1 Fumo
Na Conferência Magna para Controle do Tabagismo, realizada em Genebra,
de 2000 a 2003, patrocinada pela OMS e apoiada por outras 170 entidades,
incluindo a Federação Mundial de Cardiologia, afirma-se que a atitude tanto da
Philip Morris, como da British American Tobacco, que é representada no Brasil
pela Souza Cruz, sempre foi de negar os efeitos insalubres do cigarro. Entretanto
o tabagismo é considerado responsável por 25% do número total de mortes e é
indicado como causa para o desenvolvimento de doenças crônicas
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE - OMS, 2005).
25
Na doença arterial coronária o tabagismo representa o maior percentual, pois
causa o entupimento das artérias e na revisão de literatura, em 66 artigos, 28
referiam-se ao tabagismo, o que representa 42%.
O risco aumenta conforme a intensidade e duração do hábito de fumar. Este
risco pode ser minimizado com a interrupção do vício. Parar de fumar significa
ganhar qualidade de vida, pois implica em impacto positivo na prevenção em
todos os níveis (CONSOLI, 2001; TAIRA, 2000; GIL, 2000; FROELICHER, 2000).
1.1.6.2 Má alimentação
Os principais lípides do plasma são colesterol (LDL e HDL) e triglicerídeos
responsáveis pelo transporte da energia dos alimentos e das reservas do
organismo para as células corporais. A elevação do colesterol (LDL), considerado
“mau colesterol” contribui para formação de placa de gordura (ateromas) nas
artérias (OLIVEIRA, 2002).
Estudos com pacientes participantes de programas de reabilitação cardíaca
revelaram mudança favorável nos hábitos alimentares, ou seja, substituição por
polinsaturados, inclusão de vegetais e carnes brancas para redução do colesterol
(HDL) e redução de elementos gordurosos, o que resultou em melhor controle da
doença arterial coronária e inclusão no ambiente de trabalho após cirurgia da
artéria coronária. (TIMLIN, et al 2002; WALLWORK, 1978 CALSSON, 1998)
1.1.6.3 Sedentarismo
O sedentarismo é a ausência de exercícios físicos ou praticá-los somente no
final de semana. Recomenda-se que a boa prática de atividades físicas seja feita
por trinta minutos, pelo menos duas vezes por semana. Esta medida associada a
outras medidas preventivas, têm sido indicadas para prevenção e tratamento de
várias doenças, tanto como medida profilática como na reabilitação cardíaca pós -
operatória e já se pode comprovar, através da literatura os seus efeitos benéficos.
26
A saúde pública também realiza programas de incentivo a mudança de estilo
de vida, deixando o sedentarismo e passando a fazer atividades físicas regulares
(SCHAUER, 1985; ASTRAND, 1988; POWELL, 1994).
1.1.6.4 Ignomínia Social
O homem urbano é vítima da alta densidade populacional em que os vínculos
afetivos são destruídos. A ignomínia social é caracterizada por ausência de
vínculo afetivo e solidão, as quais leva as pessoas a não terem amigos ou alguém
em que possam confiar (SOCZKA; NUNES, 1993). Estes autores escrevem sobre
redes sociais de apoio e sua relação com o infarto do miocárdio. Neste trabalho
testam as hipóteses de que os indivíduos afetados por doenças coronárias graves
apresentam déficits na rede de apoio social com menos ligações afetivas e
funcionais, sejam amigos ou familiares.
Segundo os mesmos autores, os estilos de vida mais solitários, com maiores
dificuldades de comunicação íntima estão relacionados a certas profissões que
podem favorecer distanciamento da família ou de amigos e em geral se
relacionam com posição de comando ou indivíduos submetidos a viagens
constantes.
Portanto, não se trata apenas, de cargas excessivas de trabalho, mas,
principalmente a ausência de vínculos afetivos e suporte.
Segundo (TOOBERT, D.; STRYCKER, L.A.; GLASGOW, R.E., 1998)
concluiram em sua pesquisa sobre tensão, doença do coração e fatores
psicossociais de risco, que há forte correlação entre a doença arterial coronária e
falta de qualidade no apoio social . Os determinantes sociais relacionados são alto
índice de desemprego, a luta pela sobrevivência no mercado de trabalho, as
cargas emocionais excessivas em decorrência de muitas dificuldades de ordem
econômica, social e relacional.
27
1.1.6.5 Diabetes
O diabetes é a ausência de equilíbrio entre a insulina e os altos e baixos níveis
da taxa de glicose no organismo. A glicose é considerada combustível para os
trilhões de células no organismo e é obtida através dos carboidratos que se
transformam após a ingestão, em glicose. O diabetes tipo um manifesta-se de
maneira precoce, enquanto o tipo dois é mais freqüente após os 30 anos e está
relacionado ao histórico familiar e ao estilo de vida (SPENCE, 1991; OLIVEIRA,
2002).
Segundo dados obtidos através do Projeto Corações do Brasil. O qual é
desenvolvido pela Pontifícia Universidade Católica PUC com apoio do Ministério
da Saúde, nove por cento da população pesquisada é diabética, considerando-se
o nível de glicemia em 110mg/dl, porém se considerado o nível de 90mg/dl, como
é admitido nos Estados Unidos, teremos o número de 17% de diabéticos
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005)
1.1.6.6 Aterosclerose
A aterosclerose é caracterizada por depósito nodular de material lipídeo, que
resulta em endurecimento ou estreitamento das artérias coronárias. Estas
alterações se caracterizam de grande importância porque o suprimento de sangue
para o miocárdio é diminuído. Trata-se de uma enfermidade lenta e progressiva
gradualmente, cuja obstrução total da artéria implica em infarto agudo do
miocárdio ( LEONEL, 2002).
Segundo Spence (1991), a avaliação diagnóstica das dislipidemias baseia-se
na anamnese, no exame físico e nas dosagens dos lípedes séricos. Na anamnese
verifica-se a hereditariedade relacionada a dislipidemias, diabetes do tipo dois e
doença arterial coronária precocemente. O exame físico pode ser útil na
identificação do provável tipo de dislipidemia, entretanto não é comum.
Um estudo desenvolvido por Cernea (2003) para a prevenção da doença
arterial coronária. O pesquisador afirma que ainda não se pode determinar a
melhor dieta, entretanto sabe-se que é importante o controle dos níveis de
colesterol e a redução do consumo de carboidratos, tanto para o controle de
diabetes como para a redução do colesterol.
28
1.1.6.7 Hipertensão Arterial
A hipertensão arterial está relacionada aos fatores orgânicos e ambientais, e
em que se pode identificar um núcleo de tensão responsável pela elevação do
nível da pressão na artéria, ocorre quando a pressão sistólica em repouso é
superior a 140 mm/Hg ou quando a pressão diastólica em repouso é superior a 90
mm/Hg ou ambos ( LEONEL,2002).
A Ação Européia em Prevenção Secundária Através de Intervenção para
Reduzir Eventos (2001) apresenta dados de pesquisa realizada em nove países
na Europa e verifica as tendências de estilo de vida adversas entre pacientes de
doença arterial coronária e aponta que há um fracasso coletivo de prática médica
em alcançar melhor controle da hipertensão ou a redução do colesterol.
1.2 Rede Social de Apoio e prevenção da Doença Arterial Coronária
A rede social pode ser definida como a estrutura social, o local, onde o
apoio é praticado. Este apoio, segundo Cohen (1995), tem um efeito amortizador
nos momentos de crise, quando relacionado ao bem estar, supre positivamente os
afetos, o reconhecimento da dignidade, a estabilidade, ajuda a enfrentar
experiências negativas como a doença crônica, que poderiam resultar num
aumento das desordens psicológicas ou físicas.
As redes sociais que proporcionam companhia social, atividade de lazer e
recreação podem reduzir o estresse em situações de crise cumprindo as
necessidades de afeição e contato com outros. A influência parece estar, entre
outros fatores, em que o indivíduo passa a ter novamente um reconhecimento
social e elevação de auto-estima. O resultado deste processo parece ser a
estabilidade do quadro e a redução dos efeitos patogênicos. (COHEN, 1995)
Destaca-se, portanto, que parece viável o desenvolvimento de redes de apoio
social nas comunidades, nas instituições, tais como: unidades de saúde, escolas e
organizações cujo objetivo seja o de promover programas de prevenção e
29
promoção da saúde, com vistas à melhoria na qualidade de vida e que por
conseqüência, possam alterar o estilo de vida.
1.2.1. Prevenção Primária, Secundária e Terciária da Doença Arterial
Coronária
Caplan (1980) apresenta o conceito de prevenção em três fases: prevenção
primária, secundária e terciária. A primária corresponde ao período anterior à
instalação da doença. A secundária, durante o período patogênico e a terciária se
dá quando a doença produziu os efeitos, considerados limitantes. Em cada uma
das fases, são apresentadas medidas preventivas: proteção específica e
promoção da saúde, diagnóstico precoce e tratamento eficaz, e reabilitação.
Os programas de prevenção das doenças coronárias são fonte para os
estudos iniciais de pesquisa a este tema proposto. Tais estudos são citados por
Bennett (1999), sobre intervenções de base populacional e foram promovidos na
Europa e EUA. Tais relatos apontam para as possibilidades de prevenções.
A prevenção da doença implica em condutas que correspondem a
procedimentos e conscientização em diferentes níveis de atenção.
Alguns aspectos relacionados à prevenção específica da doença são
importantes. Trata-se de uma doença que requer mudança de hábitos alimentares,
estilo de vida, sujeição às recomendações médicas. Entretanto, é comum que as
pessoas não estejam sensibilizadas às mudanças de comportamento que
necessitam promover. Esta ausência de sensibilização ou conscientização sobre a
doença pode fazer com que a pessoa não promova os cuidados essenciais em
relação à doença, efetivando a mesma.
A identificação de fatores de risco relacionados à doença coronariana contribui
para a diminuição de ocorrência das mesmas. Entendemos que a atuação dos
profissionais de saúde em equipe multidisciplinar deve antecipar a instalação do
risco, de tal maneira que o indivíduo possa compreender seus conflitos e
desenvolver hábitos ou estilo de vida, saudáveis. Cremos que este é o desafio.
30
1.2.2. Níveis de atenção
Segundo as políticas e diretrizes do Sistema Único de Saúde - SUS (2005) os
programas desenvolvidos pelo ministério da saúde devem alcançar todo o
território nacional, enquanto que os das secretarias estaduais e municipais
assumem características diferentes, conforme a localidade. Esta descentralização
alcança também as empresas e estas implementam programas de promoção da
saúde junto aos empregados.
Nas áreas nacional, estadual e municipal não se identificam programas
específicos ou diretamente ligados ao controle da doença arterial coronária.
Verificam-se programas relacionados ao controle dos fatores de risco,
modificáveis, associados à mesma; tais como: Controle de tabagismo,
sedentarismo, saúde do idoso, programas voltados à prevenção secundária do
diabetes e hipertensão arterial que são os mais comuns. Há ênfase aos
programas que envolvem a saúde da mulher e a família, e campanhas dirigidas
para o combate das doenças crônicas. Destaca-se o Programa Doe vida, doe
órgãos, Farmácia popular etc. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005).
Os níveis de atenção classificam-se em primário, que é o atendimento através
das unidades básicas de saúde, secundário, através do hospital geral e terciário,
que é realizado em hospitais especializados
Rouquayrol (1999) afirma que o nível de atenção primária deve ter por objetivo
a ausência de instalação dos fatores de risco e naturalmente o indivíduo deveria
buscar conhecer os fatores de risco da doença.
A mudança no estilo de vida e nos hábitos alimentares deve assegurar que ao
indivíduo a redução do risco de instalação da doença, portanto, deve deixar o
hábito de fumar, aprender a se alimentar evitando a má nutrição (ingestão de
gordura animal, excesso de sal ou açúcar, alimentos do grupo dos carboidratos
em excesso) e desenvolver a prática de exercícios físicos pelo menos duas vezes
por semana para eliminar os efeitos da vida sedentária (BENNETT, 1997)
A atenção secundária deve manter a doença sob controle com tendência a
minimização de seus efeitos, entretanto neste nível a doença já está instalada,
31
logo, a busca por cuidados médicos e de outros profissionais de saúde parece
essencial, além de submeter-se a exames de sangue, controle de pressão arterial
e outros solicitados, de maneira periódica. Finalmente, a atenção terciária volta-se
aos programas de reabilitação e controle de fatores de risco, evitando a
reincidência. Neste nível, existem os programas de reabilitação em hospitais ou os
programas “home care”, em que o profissional da saúde faz visitas regulares em
domicílio (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2005).
Todos os níveis de atenção parecem importantes ao indivíduo, pois quando há
quebra de preconceitos e informação certamente pode-se influenciar
positivamente a mudança que se fizer necessária. Assim, sabe-se que a
informação em um grupo social inserido numa rede de apoio, como os hospitais
ou unidades básicas de saúde, parece privar de maior credibilidade por parte das
pessoas.
1.2.3. A Rede Social e o Apoio em Cardiologia
Os programas de prevenção em cardiologia estão inseridos em grupos de
apoio que compõe a rede. Trata-se de encontros em locais apropriados que
privilegiam as informações e contatos. A rede social de apoio pode influenciar
positivamente a comunidade, identificando as necessidades em relação à doença
para ter uma atuação de forma mais específica. (SOCZKA,; NUNES, J.M.M.
1993).
Em geral a rede social de apoio conta com uma equipe multiprofissional e
entre estas, algumas se destacam com inúmeros trabalhos publicados ou
pesquisas em andamento (KLONOFF, 1989; GIANNOTTI, 1996).
Kornfeld et al (1982) relata em seu estudo por um período de três anos, que
os pacientes de ponte de safena de artéria coronária, sofriam de ansiedade ou
depressão no pós-operatório. A maioria que passou por psicoterapia teve menos
angina e melhorias significativas na qualidade de vida.
Outros estudos de longo prazo revelam resultados em que pacientes de
reabilitação cardíaca melhoraram significativamente suas reações pessimistas
devido ao aconselhamento psicológico (BEN-ZUR, 2000).
32
Giannotti (1996) conclui em seu trabalho de pesquisa que o tratamento
multidisciplinar para os cardiopatas congênitos é indispensável, pois estes
possuem um “defeito imaginário”, uma espécie de limitação do ser. A doença,
portanto, não é exclusivamente orgânica.
Caplan (1980) argumenta sobre a ação social nas crises, nas formas de
atenuação de circunstancias perigosas e fornecimento de serviços para incentivar
uma integração saudável. Esclarece sobre a meta de um programa de prevenção
primária, que deve identificar as circunstancias que ocorrem em comunidade e
modificá-las para que o impacto da crise seja menos severo.
Um dos fatores favoráveis ao prolongamento da vida, de forma natural, é a
promoção do equilíbrio. Segundo Caplan (1980), em geral as crises incluem
situações de desafio, perda de suprimentos básicos ou ameaça de perda, porém
são inevitáveis em certas fases da vida.
O convívio nos grupos de apoio social, integrantes da rede pode favorecer a
passagem por crises quase inevitáveis em decorrência dos processos da doença
(KORNFELD, et al 1982).
Estas comunidades parecem oferecer um espaço de apoio social, que pode
privilegiar as prevenções: primária, secundária e terciária, através de atendimento.
Allen (1998) afirma que no aspecto relacional espiritual, por exemplo, os
grupos religiosos sinalizam uma influência positiva à saúde dentro de uma ação de
fé salugênica. As pessoas participam de movimentos integradores, tais como:
possibilidade de perdão, por meio do reconhecimento de ser perdoado. Há um
estado de eqüidade diante de Deus como Ser Maior Este efeito promove o alívio
de sentimentos de culpa e expressões emocionais retidas. È um espaço, em que o
indivíduo pode sentir-se fortalecido para um enfrentamento adequado da doença.
Desta forma, entende-se o espaço eclesiástico como uma opção saudável
num contexto que tem favorecido de maneira notável o crescimento de grupos
religiosos.
33
1.3 PROBLEMAS E HIPÓTESES PSICOLÓGICAS SOBRE A DOENÇA
ARTERIAL CORONÁRIA
1.3.1. Estudos Psicanalíticos Sobre a Doença Arterial Coronária
O pensamento kleiniano indica que as relações objetais se unem em torno de
um único objetivo; manter a vida e afastar a morte. Os movimentos da pulsão
agressiva estão presentes no decorrer de toda a existência do indivíduo e estes
orientam os afetos (HINSHELWOOD, 1992).
A teoria freudiana das pulsões desenvolveu-se a partir da descoberta de
impulsos sexuais da infância. As pulsões de morte e de vida se fundem, sendo
que a de morte é compreendida por destrutividade que visa o self. Desta forma, a
saúde implica que as pulsões de vida tenham ascendência sobre as pulsões de
morte. O estado interno de destrutividade é denominado narcisismo negativo.
A reparação é a maneira pela qual as pulsões são traduzidas de forma
sublimada e podem ser defesas maníaca e obsessiva.
HInshelwood (1992) esclarece que as teorias psicanalíticas da ansiedade
surgiram através dos anos e se relacionam de maneira geral aos conflitos.
Segundo o autor, no pensamento kleiniano o conflito interno é dualista.
A investigação psicanalítica propicia a compreensão dos movimentos da
pulsão de morte através do inconsciente, em que a saúde mental é prejudicada
por fantasias inconscientes, a partir do instinto de morte (HINSHELWOOD, 1992)
1.3.2. Possíveis Traços de Personalidade e Estados Emocionais
Associados à Doença Arterial Coronária.
Duprat (1999) realiza uma pesquisa com o objetivo de investigar os níveis de
ansiedade como traço de personalidade e como estado emocional. E os níveis de
raiva, traço e estado em pacientes dislipidemicos, comparando o resultado entre
34
dois grupos; um de pacientes dislipidêmicos portadores de doença arterial
coronária e outro de dilipidêmicos não portadores de doença arterial coronária.
A pesquisadora apresenta a discussão de que a ansiedade como traço de
personalidade pode ser percebida como ameaçadora, devido estar associada à
maior incidência da doença. A raiva-in poderia promover problemas relacionados
com a hipertensão arterial, enquanto a raiva-out tem importância no risco da
doença arterial coronária. Entretanto os resultados da pesquisa não revelam
diferença significante do ponto de vista estatístico dos níveis de ansiedade e raiva
entre os dislipidêmicos com e sem doença arterial coronária, mas sugerem uma
tendência em que os que tinham doença arterial coronária também tinham altos
índices de raiva-in e raiva-out.
Entre os aspectos psicológicos relacionados aos fatores de risco, queremos
destacar o estudo com diabéticos, por Heleno (2001) em que a pesquisadora
correlaciona a qualidade do grau de controle glicêmico com a presença ou não de
organizações patológicas. Os resultados mostraram forte correlação entre a
eficácia adaptativa e o equilíbrio interno do ego com a qualidade de controle
glicêmico.
1.3.3. Aspectos Psicossomáticos da Doença Arterial Coronariana
A década de 70 foi o “grande boom” da psicossomática no Brasil. Em
cardiologia relaciona-se aos aspectos simbólicos do coração e há mecanismos
fisiopatológicos de conexão entre emoção e coração (RIBEIRO, 1998; MELLO
FILHO, 2002).
”A Segunda Revolução da Saúde, teve duas características
essenciais, a)centrar-se sobre a saúde, ao invés da doença e b) que
o comportamento humano era a principal causa de morbilidade e
mortalidade” (RIBEIRO, 1998).
Para Mello Filho (2002) as queixas psicossomáticas dos coronariopatas
estão relacionadas à obtenção de atenção, em que os indivíduos desenvolvem
35
comportamentos de descuido ou não cumprimento das indicações terapêuticas e
passam a beber, fumar, trabalhar excessivamente como substituição da função da
mãe, devido aos conflitos com a figura materna. Os conflitos passam a integrar
um universo interno, em que os afetos são marcadamente negativos. A auto-
cobrança é mais e mais vital, e não encontra resolução adequada levando o
indivíduo à psicossomatização.
Segundo o mesmo autor, diante de situações ameaçadoras em que a carga
emocional é mais intensa, há alteração fisiológica; o sistema cardiovascular é
fundamental na manutenção do equilíbrio homeostático e a auto-preservação é
sempre o objetivo final, entretanto a resposta do organismo dependerá de
características individuais.
Com estas afirmações, Mello Filho nos leva a pensar sobre a resolução dos
conflitos psicológicos nos indivíduos e sobre as mudanças de estilo de vida que
podem privilegiar novos hábitos para a vida saudável.
De acordo com a teoria freudiana, as pulsões tem origem nos impulsos
sexuais da infância. O pensamento kleiniano sobre a pulsão de morte tem sua
origem na teoria freudiana das pulsões, mas para Melanie Klein a pulsão de morte
é mais intensa na posição esquizoparanóide, marcada por destrutividade a qual
pode atingir o self e é atribuída a um objeto. Esta destrutividade baseia-se em uma
forma de introjeção executada com raiva, denominada voracidade. Trata-se da
violência que envolve o morder, cujo estado final sinaliza que não houve
satisfação oral e o objeto introjetado transformou-se em persecutório, um
elemento interno ameaçador. O narcisismo negativo é um estado interno (de
defesa) tomado de total destrutividade do ego. (HINSHELWOOD, 1992).
Melanie Klein (1975) afirma que a voracidade está relacionada com os
bens, posses, dons, vantagens e privilégios. E se o indivíduo se apóia na própria
voracidade têm a sensação de que pode possuir todas as coisas. Trata-se de uma
estrutura protetora, mas que pode ser abalada pelo sentimento de inveja. Se o
indivíduo verifica que uma outra pessoa tem mais posses, então, sente-se
reduzido, roubado e perseguido.
36
“Na posição esquizoparanóide o mundo interno pode acumular cada
vez mais objetos persecutórios, o que dá origem a uma fome cada
vez maior por objetos “bons”, tal fome dá origem a mais fome, a
voracidade. Este estado pode conduzir a um mundo interno
esvaziado. Reparação é a maneira pela qual as pulsões são
traduzidas de forma sublimada e pode ser maníaca ou depressiva. A
reparação é o elemento mais forte dos impulsos construtivos e
criativos” (HINSHELWOOD, 1992).
Os impulsos construtivos da reparação estão ligados à pulsão de vida
oriundos da primeira infância e dos cuidados maternos. Na mente do bebê surgem
os primeiros conflitos entre o amor e ódio, ao perder o objeto desejado o ego lança
mão de defesa e volta-se de forma contrária ao objeto desejado. Tal defesa
transforma-se em culpa, que é carregada de elementos ameaçadores, o que leva
o indivíduo a elaborar fantasias com o propósito de controlar estes objetos maus.
Assim o ego lança mão de outra defesa; a onipotência. (Klein, 1975; 1996).
A autora afirma que a onipotência tem origem em estágios iniciais da primeira
infância e estaria ligada aos temores de destruição onipotente e atividades
(absorver, expelir, aniquilar) envolvidas com mecanismos de defesa primitivos.
Estes mecanismos e atividades têm efeitos profundos e permanentes sobre o ego
e as relações objetais. E as defesas seriam desencadeadas contra a experiência
da separação estabelecendo conflitos que podem tornar-se evidentes em
situações de crise.
De acordo com Simon (1989), o elemento principal na geração da crise é o
fato de o indivíduo estar diante de uma situação nova e vitalmente transformadora.
Classifica-se a crise; por perda ou por aquisição, ambas têm em comum angustia
diante do novo e do desconhecido.
Ao receber um diagnóstico de doença crônica, os indivíduos entram em crise,
seja por desconhecimento das possibilidades de resolução dos conflitos
emocionais ou o desconhecimento do próprio conflito que se torna agravante, pois
resultam em descuido. A busca de resolução de conflitos emocionais parece
primordial para mudança de comportamentos de risco. (MYRTEK ,1987).
37
Nas situações de sobrecarga emocional, desencadeadas por crises, o risco de
o universo pessoal sofrer prejuízos é eminente. A crise por perdas, implica em que
há o risco do indivíduo tentar aliviar os sentimentos de culpa e depressão, através
de auto-agressões. (MELLO FILHO , 2002: SIMON, 1989).
1.4. Objetivos
1.4.1. Objetivo Geral
Identificar os fatores de risco mais comuns à doença arterial coronariana no
grupo participante da pesquisa e relacionar os conflitos emocionais à instalação
dos fatores de risco para doença arterial coronária.
1.4.2 Objetivos Específicos
a) Caracterizar os sujeitos colaboradores da pesquisa.
b) Descrever possíveis ações preventivas na doença arterial coronária, em
um enfoque psicanalítico.
c) Identificar as situações de crise emocional, de acordo com a clinica
psicanalítica, que podem estar associadas a fatores de risco para a
DAC.
d) Relacionar fatores de risco e doença arterial coronária.
2. MÉTODO
2.1. Método, Material e Casuística
O método utilizado foi estudo de caso e consideramos a faixa etária acima
de quarenta anos, pois a revisão bibliográfica aponta maior risco de instalação da
doença nesta faixa etária. Consideramos, também, aspectos relativos ao estilo de
vida e hábitos alimentares, identificando pelo menos um fator de risco. Os fatores
38
de risco são fumo, má alimentação, sedentarismo, hipertensão, diabetes tipo 2,
aterosclerose e determinantes psicossociais.
2.1.1 Participantes e Local
Participantes: Os sujeitos identificados após breve diálogo. Participaram
desta pesquisa oito sujeitos, sendo 04 do sexo masculino e 04 do sexo feminino,
todos acima de 40 anos, com pelo menos um fator de risco para instalação da
DAC doença arterial coronária.
Local: Instalações da Igreja Metodista de São Vicente.
2.1.2. Instrumentos Psicológicos
Os instrumentos utilizados foram; um questionário (Anexo 7.1) elaborado pela
pesquisadora, o qual objetiva buscar o maior número de informações relacionadas
ao estilo de vida dos participantes, bem como investigar hábitos alimentares. Os
quadros um, dois e três (Anexos 7.3.1; 7.3.2; 7.3.3) foram compostos a partir
destes dados.
As entrevistas não diretivas, individuais, realizadas com os participantes,
tiveram por objetivo esclarecer aspectos históricos não mencionados
anteriormente e aspectos psicológicos dos indivíduos (Anexo 7.2).
A escala diagnóstica adaptativa operacionalizada EDAO foi utilizada para
análise dos dados anteriormente obtidos.
2.1.3. Procedimento
O grupo foi convidado a responder individualmente, questões relacionadas ao
estilo de vida e hábitos alimentares. Com estes dados, foram construídos os
quadros. A seguir foram submetidos à entrevista psicológica, individual não
diretiva. Por fim foi procedida à análise através da EDAO - Escala Diagnóstica
Adaptativa Operacionalizada.
As hipóteses levantadas nesta pesquisa, foram 1) Os fatores comportamentais
de risco apresentam correlação com conflitos emocionais. 2) As situações de crise
emocional podem ser um fator interno de risco para instalação e evolução da
39
DAC. 3) Os fatores de risco para instalação da DAC diminuem se ocorrer
mudança para hábitos alimentares mais saudáveis e no estilo de vida. 4) Existe
mudança no estilo de vida quando conflitos emocionais são mais bem
administrados.
2.1.4. Ética da pesquisa ou tratamento dos dados
Os participantes da pesquisa foram selecionados independentemente da
escolaridade, profissão, religião ou nível sócio-econômico. Apenas pela presença
de pelo menos um fator de risco com idade superior a 40 anos. Buscamos um
número igual de homens e mulheres.
Os participantes assinaram o termo de livre consentimento, o qual
esclarece a finalidade da pesquisa e autoriza a divulgação dos dados somente
para a comunidade científica.
2.1.5. Delineamento
Foi realizado estudo de caso, com oito sujeitos adultos, sendo quatro
mulheres e quatro homens, todos acima quarenta anos, com pelo menos um fator
de risco. A análise foi realizada em cinco categorias. O critério de inclusão foi
idade acima de quarenta anos e presença de pelo menos um fator de risco. Os
sujeitos assinaram termo de livre consentimento esclarecido.
3. Resultados
Descrevemos abaixo os critérios de avaliação das respostas do
questionário. Para simplificar, doravante denominamos questão, apenas Q.
Q01 Para sexo feminino, atribuímos 1 e masculino 2
Q02 = Acima de quarenta anos, 2 e abaixo, 1
Q03 = É obeso, 2 e não é obeso 1
Q04 = É fumante, 2 não é 1
40
Q05 =Diagnóstico que indica mudança de dieta, 2, não indica 1; se doença
arterial coronária, 5, se diabetes ou hipertensão, 4.
Q06 = Não aderiu a dieta 2, aderiu 1
Q07 = Hábitos alimentares saudáveis 1, não 2
Q 08 = Tem vida sedentária 2, se não 1
Q09 = Se pratica esportes 1, se não pratica 2
Q10 = Se revela hipertensão 5, se acima do esperado ou abaixo do esperado, 2,
se dentro do esperado, 1
Q11 = Se está sob cuidados médicos do cardiologista, 5, outros médicos 2, não
está sob cuidados médicos 1.
Q12 = Se tem doença que representa fator de risco para DAC, 2, se não
representa, 1
Q13 = Se atribui a causa principal a fator emocional ou orgânico, 2, se ambos, 1.
Q14 = Se está sob cuidados de outros profissionais de saúde, 2 se não 1.
Q15 = Não estando bem emocionalmente, se não procura ninguém, 5, se procura
Familiares ou amigos, 4, se procura líder espiritual, 3, se profissional de
saúde, 3, se psicólogo 1.
Q16 = Se tem dificuldades de conversar sobre a si mesmo/a, 2, se não, 1
Q17 = Situações extremas (crises, perdas constantes, alto stress, depressão, etc
para busca atendimento psicológico 2, se não 1
Q18 = Se acredita que o atendimento psicológico está relacionado à falta de fé, 2,
se não acredita, 1
Q19 = Se acredita que poderá ter doença psicossomática, 1, se não acredita, 2
Q20 = Se acredita que hábitos e estilo de vida podem promover doença, 1, se
não, 2.
Q21 = Se mudou o estilo de vida, 1, se não 2
41
Q22 = Se passou cinco vezes ou mais por situações de crise, 5, se menos,
conforme o número de vezes
Q23 = Sentiu-se rejeitado/a, 2, não 1
Q24 = Sente o carinho das pessoas, 1, não sente, 2
Q25 = Está disposto/a a freqüentar grupo de apoio, 1, não está, 2
Q26 = Participa de grupo de apoio, 1, não participa 2
Atribuiu-se maior valor às respostas que foram ao encontro do objetivo do
estudo. Os valores atribuídos ao quadro três, na página 33, sugerem escolhas
alimentares consideradas saudáveis ou não. Para as boas escolhas, atribuiu-se
valor 1 e para as más escolhas, valor 2. Foi feita análise fatorial para identificar a
correlação entre os sujeitos. Verifica-se que o grupo apresenta forte correlação
entre os sujeitos.
Para a correção da tabela de escolhas alimentares, considerou-se que os
valores variam de 0 a 5. Zero, significa a escolha nunca. O menor valor (1) é
sempre mais próximo da expectativa de saúde, enquanto o maior valor (5) é
oposto a expectativa de saúde, considerando-se o histórico do indivíduo; por
exemplo: Se o indivíduo afirma ingerir sal e é hipertenso = 5, doces para
diabéticos = 5, enquanto verduras, frutas e legumes = 1. Adotamos o mesmo
critério para freqüência, de tal maneira que a soma das duas primeiras colunas
com as duas últimas dará um resultado de 1 a 5. zero = nunca.
42
3.1.1. Quadro 1 Resultados do Questionário
ÍTEM
SITUAÇÃO 101 102 103 104 105 106 107 108
01 Sexo 2 1 1 2 2 1 2 1
02 Idade acima de quarenta anos 2 2 2 2 2 2 2 2
03 IMC indica obesidade 2 2 1 1 1 1 1 2
04 Fumante 1 1 1 1 1 1 2 1
05
Recebeu diagnóstico que seria
necessário dieta
2 2 2 2 1 1 1 2
06 Aderiu à dieta 1 2 2 2 2 1 1 2
07 Tem hábitos alimentares saudáveis 1 2 1 1 2 1 2 2
08 Tem vida sedentária 1 2 1 2 1 1 2 2
09 Pratica esportes 1 2 1 1 1 2 2 2
10 É hipertenso ou diabético 2 2 1 1 2 1 1 4
11 Está sob cuidados médicos 2 2 5 5 2 1 4 1
12
Tem doença que representa fator de
risco
2 2 2 2 2 1 2 2
13
Causa principal orgânica, emocional ou
ambas
1 1 1 2 1 1 1 1
14
Está sob cuidados de profissional da
saúde
1 2 2 2 1 1 1 1
15
Procura alguém se não está bem
emocionalmente
3 4 5 5 5 5 1 5
16
Tem dificuldade de conversar assuntos
íntimos
1 1 2 2 2 2 2 2
17 Procura atendimento psicológico 1 1 2 2 2 1 1 2
18 Atendimento psicológico e fé
1 1 1 1 1 2 2 1
19 Poderá desenvolver doença
psicossomática
1 1 1 2 2 1 1 1
20 Hábitos ou estilos de vida promovem
doença
1 1 1 1 1 1 1 1
21 Mudou o estilo de vida
1 1 1 1 1 1 2 2
22 Passou por situação de crise
5 4 2 1 1 1 2 2
23 Sentiu-se rejeitado/a
1 2 1 1 1 1 2 2
24 Sente as pessoas próximas de você
1 1 1 1 1 1 1 1
25 Está disposto/a a freqüentar grupo de
apoio
1 1 2 1 2 1 2 1
26 Participa de algum grupo de apoio
2 2 2 2 2 2 2 2
Total
39 44 43 45 40 34 42 45
43
3.1.2. Quadro 2 Respostas das Escolhas alimentares
Item
Escala 101 102 103 104 105 106 107 108
1 Abacaxi
3 2 2 3 2 2 2 2
2 Alimentos considerados
ácidos
2 2 2 5 5 2 4 2
3 Alimentos considerados
Carboidratos
3 5 2 2 3 2 2 5
4 Alimentos cozidos
2 2 2 2 4 1 0 5
5 Alimentos crus
2 5 2 2 4 3 3 5
6 Alimentos fritos
2 3 0 0 5 2 2 5
7 Alimentos gordurosos
2 3 0 0 0 2 2 2
8 Arroz 5 5 3 5 3 5 5 1
9 Bolos
2 2 2 2 0 2 0 5
10 Carne branca
2 3 2 2 3 3 3 3
11 Carne vermelha
2 5 2 3 3 5 3 5
12 Chocolate
2 2 2 0 2 2 0 5
13 Doces
3 2 5 2 2 2 0 1
14 Feijão
2 0 3 5 3 2 5 1
15 Frutas
2 4 3 5 3 1 5 4
16 Jiló
2 3 0 4 0 0 1 4
17 Legumes
2 2 2 4 3 2 3 4
18 Macarrão
2 2 2 2 3 2 3 5
19 Ovos
2 3 2 2 2 2 3 2
20 Pão
5 5 3 5 2 5 0 5
21 Quiabo
3 2 3 2 3 3 2 3
22 Salgados
3 2 2 0 0 5 0 5
23 Sorvete
2 2 2 2 2 2 0 2
24 Verduras
2 3 2 2 1 1 3 5
Total
59 69 50 61 58 58 51 86
44
3.1.3 Análise das respostas ao questionário
3.1.3.1 - As questões Permitem Descrever os Sujeitos
Questão 3
Os sujeitos 101,102 e 108 apresentam índice de massa corpórea acima do
esperado. Os sujeitos 103, 104, 105 e 107 estão dentro do esperado. E o sujeito
106 apresenta IMC abaixo do esperado.
Questão 5 e 6
Cinco sujeitos já receberam diagnóstico que necessitasse fazer dieta.
Entretanto quatro aderiram prontamente à dieta. Um deles (102) não conseguiu
permanecer na dieta e os outros três, não receberam dieta.
Questão 7
Quatro sujeitos acreditam ter hábitos alimentares saudáveis, sendo que
dois respondem porque e outros dois não. Outros quatro sujeitos acreditam não
ter hábitos alimentares saudáveis, entre estes apenas um dos sujeitos não
responde porque.
Questão 8 e 9
Quatro sujeitos afirmam ter vida sedentária e outros quatro não. Entretanto,
em relação à prática de esportes, um destes quatro que afirmam ter vida
sedentária disse caminhar diariamente. Dos quatro que afirmam praticar esportes,
dois fazem caminhadas de duas a três vezes por semana, um, ginástica duas
vezes por semana e outro não mencionou nem o tipo de atividade física, nem a
freqüência.
Questão 10
Apenas dois sujeitos não se lembraram à data da última vez que mediram a
pressão arterial, os demais relatam a data e o resultado dentro do esperado.
Destaca-se o sujeito 108 com o resultado de 14X9. Apenas um sujeito não se
lembrou da data ou do resultado (107).
Questão 11
Todos os sujeitos preencheram a data do último exame de sangue, sendo
que dois dos sujeitos lembram-se apenas do mês e do ano. Destacam-se os
sujeitos 103 e 104 que estão sob cuidados de cardiologista e o sujeito 107 sob os
cuidados do neurologista.
45
Questão 12
No grupo, três são diabéticos, três hipertensos, um sujeito não assinalou
qualquer opção e o sujeito 103 relata alergias, labirintite, rinite, artrose e
aterosclerose.
Questão 13
Seis sujeitos acreditam que a causa principal de suas doenças são de
origem orgânica e emocional, enquanto um sujeito não assinalou opção por não
ter doença e um afirma ser somente orgânica.
Questão 14
Dois sujeitos disseram que não estão sob os cuidados de outro profissional
de saúde, um está em psicoterapia e cinco deixaram sem resposta a questão.
Questão 15
Cinco sujeitos assinalaram ninguém para a pergunta a quem procuram
quando não estão bem emocionalmente. Dois afirmaram procurar profissional da
saúde e o sujeito 102 afirma procurar a família, amigos, e profissional da saúde.
Questão 16
Cinco sujeitos afirmam ter dificuldade em conversar assuntos íntimos com
colegas, dois por questões de ética e sigilo e três por falta de confiança. Três
disseram não ter dificuldades ara conversar assuntos íntimos com colegas.
Questão 17
Quatro sujeitos afirmam que as situações que alguém deve procurar um
psicólogo são de depressão ou stress . Outros quatro afirmam que em situações
de dúvida ou dificuldades etc.
Questão 18
Seis sujeitos afirmam que o tratamento psicológico não está reservado as
pessoas que não tem fé, enquanto duas acreditam que sim.
Questão 19
Cinco sujeitos acreditam que poderão desenvolver doença de fundo
emocional e dois, não. Um dos sujeitos não respondeu a questão.
46
Questão 20
Todos os sujeitos afirmam acreditar que hábitos ou estilo de vida podem
promover doença.
Questão 21
Seis sujeitos afirmam ter mudado estilo de vida a partir de recomendação
médica. Mudando seus hábitos alimentares ou praticando atividade física. O que
pode ser significativo devido ao n = 8
Questão 22
Seis sujeitos passaram por situações de crise, destacam-se os sujeitos 101,
102 e 103 que sofreram maior número de situações de crise. As crises relatadas
referem-se a perdas (desemprego, falecimentos, separações, doenças graves).
Um dos sujeitos não respondeu e o sujeito 104 afirma não ter passado por crises.
Questão 23
Seis sujeitos afirmam não se sentirem rejeitados e dois afirmam que sim.
O que pode ser significativo, considerando n = 8
Questão 24
Todos afirmaram sentir o carinho de pessoas próximas num percentual de
50% a 100%; um = 50%; um = 70%; quatro = 90%; um = 99% e um = 100%
Questão 25
Quatro sujeitos afirmam estar dispostos a freqüentar algum grupo social de
apoio e quatro afirmam que não estão dispostos.
Questão 26
Todos afirmam não participar de grupo de apoio.
Preferências alimentares:
Almoço: arroz, feijão, carne e salada
Jantar : quatro sujeitos fazem lanche, dois preferem sopas um sujeito não
come nada a noite e outro alimenta-se com a mesma preferência do almoço.
Destaca-se o sujeito 102 e 108 que se alimentam de pizza no jantar, sendo
diabéticos.
47
3.1.4 - Descrição dos Casos
Caso 101 - 59 anos, sexo masculino, casado, autônomo. Fator de risco não
associado: diabetes tipo 2. Relatou quatro momentos de crise e as mesmas
referem-se a perdas. Faz dieta, porém às vezes, descuida-se, acredita não ter
vida sedentária e disse que pratica esportes duas a três vezes por semana. Não
está sob cuidados médicos, mas faz exames de sangue pelo menos de dois em
dois meses e mede a pressão arterial uma vez por mês. Disse não ter dificuldades
de conversar assuntos íntimos com colegas. Relatou mudança a partir de
recomendação médica deixando de comer doces. No preenchimento da tabela
alimentar demonstrou dificuldade em controlar melhor o consumo de carboidratos.
Caso 102 - 45 anos, sexo feminino, divorciada, assistente social. Fatores de
risco associados: diabetes tipo dois e sedentarismo. Relatou mudanças bruscas
da dinâmica familiar e três crises por perda e uma delas caracteriza o momento
atual, pois encontra-se em processo de separação conjugal. Embora o médico
tenha recomendado dieta, não consegue fazê-la, não pratica esportes ou
atividade física. Faz controle glicêmico regularmente com aparelho doméstico.
Não apresenta dificuldade em falar de assuntos íntimos ou de buscar apoio.
Caso 103 76 anos, sexo, feminino, casada, aposentada, não é fumante.
Fator de risco não associado: DAC. Relataram várias situações de crise,
cirurgias e tratamentos entre estes, tratamento de câncer de mama. Possui duas
pontes de safena, está sob cuidados médicos. A partir das recomendações
médicas mudou o seu estilo de vida e hábitos alimentares. Atualmente faz
ginástica duas vezes por semana.
Caso 104 79 anos, sexo, masculino, casado, aposentado, não é fumante.
Fator de risco não associado: DAC. Não relatou situações de crise. Possui três
pontes de safena e há uma semana sofreu um princípio de avc acidente
vascular cerebral. A partir de recomendação médica mudou o estilo de vida e
passou a caminhar e faz dieta. Demonstrou bons hábitos alimentares.
Caso 105 66 anos, sexo, masculino, casado, aposentado, não é fumante.
Fator de risco não associado: hipertensão arterial. Relatou apenas uma situação
48
de crise por perda, porém o sujeito relata que a transformou em ganho, adotando
para si como desafio. Mudou o estilo de vida a partir de recomendação médica,
reduzindo o sal e adotando atividade física três vezes por semana.
Caso 106 63 anos, sexo feminino, casada, aposentada, não é fumante.
Fator de risco não associado: sedentarismo. Relatou uma única crise por perda.
Não está sob cuidados médicos. Demonstrou ter hábitos alimentares saudáveis.
Caso 107 55 anos, sexo masculino, casado, aposentado, fumante.
Fatores de risco associados: má alimentação, sedentarismo. Relatou duas
situações de crise por perda. Está sob cuidados médicos (neurologista) pois há
uma ano sofreu AVC Acidente Vascular Cerebral. Demonstrou hábitos
alimentares pouco saudáveis.
Caso 108 45 anos, sexo feminino, casada, cabeleireira, é diabética.
Fatores de risco associados: má alimentação, sedentarismo e hipertensão arterial.
Relatou duas situações de crise por perda. Não está sob cuidados médicos.
Embora tenha recebido recomendação médica para prática de atividades físicas,
não o fez. Demonstrou ter hábitos alimentares pouco saudáveis.
3.1. 5 - Principais Tendências dos Resultados
EDAO Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada
A análise da EDAO Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada,
classificou os sujeitos 105 e 106 como pertencentes ao grupo I. Os sujeitos 101,
103, 104, 107 e 108 pertencem ao grupo III. E o sujeito 102 pertence ao grupo II.
Incluímos o relato da entrevista dos S102, devido à análise segundo a
EDAO e o relato da entrevista do S108 pelos resultados quantitativos na tabela
alimentar.
Dois sujeitos tinham eficácia adaptativa. Em outros cinco percebe-se a
busca de equilíbrio interno do ego, em outro caso, crise. Entretanto consideramos
a possibilidade de evolução favorável, uma vez que o sujeito busca o apoio da
família e dos amigos para superação da crise.
49
4. DISCUSSÃO
Os escores encontrados entre os oito sujeitos participantes foram próximos.
Verifica-se forte correlação entre os sujeitos. A análise fatorial revelou que
pertencem ao mesmo grupo, ou seja, podem ser identificados pelo questionário
(r = 0,987), com validade de noventa e sete por cento.
O estudo indicou também que indivíduos com fatores de risco associados
têm menor possibilidade de estabilizar o quadro da doença.
Um dos sujeitos é fumante e mesmo depois de sofrer um acidente vascular
cerebral e estar dependente de remédios não deixou de fumar. Reduziu o número
de cigarros que fuma por dia e argumenta que parar de fumar não lhe trará mais
benefícios. Entretanto a literatura aponta que a interrupção do tabaco promove
melhora significativa na recuperação de pacientes e aumento da sobrevivência
após a cirurgia (CONSOLI, 2001; TAIRA, 2000; GIL, 2000; FROELICHER, 2000).
Quatro dos sujeitos aceitaram as recomendações médicas e mudaram os
hábitos alimentares e passaram a praticar atividade física de maneira regular, três
dos sujeitos apresentaram um índice de massa corpórea, adequado, o que era
inadequado em seu histórico anterior .
A literatura confirma tais dados, a maioria dos programas de reabilitação
cardíaca inclui mudança de hábitos alimentares. A má alimentação é responsável
pela instalação de doenças que representam fatores de risco para a doença
arterial coronária. (SCHAUER, 1985; ASTRAND, 1988; POWELL, 1994).
Outros dois sujeitos, na pesquisa, não mudaram seus hábitos alimentares e
não passaram a praticar atividades físicas. Estes apresentam um índice de massa
corpórea acima do adequado, o que pode também ser confirmado pela literatura
(GREGG ET AL, 2002; HERRINGTON, 2000). Estes dois sujeitos são também
diabéticos e relatam o consumo de carboidratos no jantar, a literatura indica que
dois procedimentos são indispensáveis para melhor controle do colesterol (LDL) e
triglicérides, primeiro a inclusão de gordura vegetal e a redução de consumo de
carboidrato (CERNEA, 2003).
Há ainda no grupo pesquisado dois sujeitos que tem hipertensão, um deles
adotou a dieta e outro não. Este que adotou a dieta, após um gargarejo de água e
sal procurou rapidamente o médico pois os sintomas não cediam, entretanto os
50
dois sujeitos relatam que em situações de ansiedade sentem a alteração da
pressão arterial em seus organismos. Este dado é encontrado de forma
semelhante na literatura (EUROASPIRE, 2001).
Outro dado indicado no estudo foi que os indivíduos buscam isolamento
caracterizando ignomínia social, ou seja, vivenciam as crises sem buscar apoio
social. Estes dados parecem indicar que a ignomínia social assume fator
importante no quadro dos fatores de risco psicossociais, dificultando a
estabilização ou redução do risco. Os estudos dos casos e a revisão da literatura
foram subsídios para a discussão aqui envolvida. E os resultados não são
discordantes da literatura, ao contrário, a maioria dos autores tem opiniões
semelhantes, a literatura afirma existir forte evidência entre o isolamento e a falta
de qualidade no apoio social (TOOBERT, D.; STRYCKER, L.A.; GLASGOW, R.E.,
1998).
A literatura mostra que a ausência de conscientização das pessoas em
relação à própria saúde e conseqüentemente os estilos de vida que desenvolvem
são complicadores na prevenção e tratamento das doenças de alto risco, entre
estas a doença arterial coronária (KORNFELD et al, 1982). Tais aspectos
implicam em fatores desfavoráveis ao prolongamento da vida. E em geral, os
excessos se devem a quebra de equilíbrio e crise emocional. Entretanto, os
programas de prevenção em cardiologia, dentro de um programa de psicologia da
saúde, apontam possibilidades para mudanças favoráveis.
4.1. Considerações Finais
Todos sujeitos relataram que em situações de sobrecarga emocional
sentem alteração em seus organismos, exceto o sujeito 106. Todos afirmam que
hábitos e estilo de vida podem promover alguma doença.
Os sujeitos 103 e 104 enquadram-se como alvo de prevenção terciária,
enquanto os demais se enquadram na prevenção primária. Os sujeitos 102 e 108
destacam-se por apresentarem hábitos alimentares mais inadequados,
principalmente se associados ao grupo de risco que fazem parte; diabetes. Sendo
que o sujeito 108 também é hipertenso.
51
Os sujeitos 101, 102 e 103 destacam-se pelo número de vezes que
passaram por situações de crise. As respostas às questões 15 e 16 são
confirmatórias no fator psicossocial de ignomínia social.
Sugere-se um estudo longitudinal com inserção de psicoterapia para se
verificar a hipótese de que a resolução de conflitos pode influenciar positivamente
a prevenção da doença arterial coronária. Entretanto neste estudo consideramos
apenas que a clínica psicanalítica poderá favorecer a redução de fatores de risco
para a doença arterial coronária. E embora se tenha identificado fatores de risco
associados, não associados e mais agravantes, somente foram dadas
informações gerais sobre os níveis de atenção e prevenção da doença arterial
coronária, portanto, nenhuma intervenção foi realizada.
52
5. Conclusão
Os objetivos foram atendidos e as hipóteses foram confirmadas a saber que
os fatores de risco para instalação de doença arterial coronária apresentam
correlação com conflitos emocionais, exceto uma das hipóteses que se refere a
mudança de estilo de vida por resolução de conflitos não foi confirmada pois o
tempo de estudo não nos permite tal afirmação. Entretanto, pode-se afirmar que
as situações de crise emocional representam risco para instalação e evolução da
doença arterial coronária.
A pesquisa favoreceu a obtenção de dados que foram considerados
confirmatórios para os objetivos e três das quatro hipóteses estabelecidas, a
saber; o objetivo geral; identificação de fatores de risco mais comuns à doença
arterial coronária no grupo participante da pesquisa e a relação entre conflitos
emocionais e instalação dos fatores de risco para doença arterial coronária.
Objetivos específicos: caracterização dos sujeitos, descrição das possíveis ações
preventivas na doença arterial coronária, com enfoque psicanalítico, identificação
das situações de crise emocional, de acordo com a clínica psicanalítica em
associação de fatores de risco para a doença e a relação entre fatores de risco e
doença arterial coronária. As hipóteses levantadas foram: 1) Os fatores
comportamentais de risco apresentam correlação com conflitos emocionais 2) As
situações de crise emocional podem ser um fator interno de risco para instalação e
evolução da mudança doença arterial coronária 3) Os fatores de risco para
instalação da doença diminuem se ocorrer mudança de hábitos alimentares mais
saudáveis e no estilo de vida 4) Existe mudança no estilo de vida quando os
conflitos emocionais são mais bem administrados.
Sugere-se um estudo longitudinal para confirmação da quarta hipótese uma
vez que a confirmação ou não da mesma demanda maior tempo de pesquisa.
53
6. Referências Bibliográficas
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Editora,1998.
ASTRAND, P. O. From exercise physiology to preventive medicine. Ann Clin
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Campo, V.9, nº 16, p.166-212, 2001.
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58
7. Anexos
Anexo 7.1 Formulário do Questionário
Pesquisa
(Este instrumento é parte integrante do trabalho de dissertação de mestrado da
psicóloga e teóloga Suely Moraes e pretende coletar dados para pesquisa na
prevenção de coronariopatia em um grupo de pessoas com doença arterial
coronária ou não.
Instruções: Você está sendo convidado/a a participar de uma pesquisa sobre cuidados e
atenção a saúde. Seu nome e sua identidade serão mantidos em sigilo, mas os demais
dados constantes das respostas ao questionário serão analisados e apresentados em
conjunto para a comunidade científica, na forma de publicação de pesquisas em periódicos.
A sua concordância em participar se efetivará com a entrega do formulário respondido e a
discordância será entendida pela devolução deste instrumento em branco.
01. Assinale o grupo a que pertence Sexo: ( ) Feminino ( )Masculino
02. Nascimento: Local:__________________________Data:____/____/____
03. Escreva abaixo, qual a sua altura e qual o seu peso.
Altura_________peso____________
04. Você é fumante? ( )NÃO ( )SIM.
Quantos cigarros fuma por dia? ________________________________
05. Já recebeu um diagnóstico que necessitasse fazer dieta?
( )SIM ( )NÃO Qual?
PREENCHIM. PESQUISADORA
/ IMC =
59
06. Caso sua resposta tenha sido sim na questão anterior; aderiu imediatamente à
dieta? ( )SIM ( )NÃO Como era a dieta?______________________________
07. Você acredita que tem hábitos alimentares saudáveis?
( )SIM ( )NÃO Por quê?
08. Acredita ter vida sedentária?
( )SIM ( )NÃO
09. Pratica esportes ou atividade física?
( )NÃO ( ) SIM Quantas vezes por semana?______________________
Que tipo de atividade física pratica?________________________________
10. Quando mediu sua pressão arterial pela última vez? ____ /____ /_____
Qual a medida atual? __________________
Você interpreta que:
Está dentro de padrões esperados ( )
Está acima do esperado ( )
Está abaixo do esperado ( )
11. Qual foi a última vez que fez exame de sangue? _____/_____/______
Atualmente está sob tratamento médico?
( )NÃO ( )SIM Qual/Is especialidade/s?__________________
12. Assinale a(s) situação (ões) que você se enquadra ?
60
( )alergias ( )hipertensão arterial ( )diabetes
( )gastrite ( )bronquite-asmatica ( )rinite
( )enxaqueca ( )labirintite ( )artrose
( )aterosclerose ( )Outra (s)
Qual/is?______________________________________________________
13. Caso tenha assinalado uma ou mais situações na última questão, acredita
que a causa principal relacionada à mesma seja :
( ) orgânica ( )emocional ( )ambas
14. Atualmente está sob cuidados de algum/uns outro/s profissional/is de
saúde?
Qual/is?______________________________________________________
15. Quem você procura, quando não está bem emocionalmente?
Ninguém ( )
Família ( )
Um/a líder espiritual ( )
Amigo/a ( )
Psicólogo/a ( )
Profissional da saúde ( )
Qual?__________________________________________________
16. Tem dificuldade de conversar assuntos íntimos com colegas?
( ) SIM DEVIDO A: ( ) falta de confiança
( ) questões de sigilo ou ética
( ) Outros motivos, quais? _________________
____________________________________________________________
( )NÃO
17. Na sua opinião, em quais situações alguém deve procurar atendimento
psicológico?
18. Acredita que o tratamento psicológico é reservado às pessoas que não tem
fé?
( )SIM ( )NÃO
Por que? _____________________________________________________
61
__________________________________________________________________
19. Acredita que em algum momento da vida, poderá desenvolver doença de
fundo emocional (psicossomática), relacionada ao seu estilo de vida?
( )SIM ( )NÃO Por que? ______________________________________
20. Acredita que hábitos ou estilos de vida podem promover alguma doença?
( )SIM ( )NÃO Por que?_______________________________________
__________________________________________________________________
21. Você já mudou de estilo de vida a partir de recomendação médica?
( )NÃO ( )SIM O que fazia e deixou de fazer?_______________
22. Você já passou por situação de crise?
( )separações ( )perda de emprego ( )falecimentos
( )doenças graves ( )acidentes
Se possível, descreva a situação:__________________________________
__________________________________________________________________
23. Sentiu-se, pelo menos uma vez, rejeitado por sua família?
( )SIM ( )NÃO
24. Sente o carinho das pessoas que estão próximas a você?
( )SIM ( )NÃO Estabeleça um percentual. _________________
25. Está disposto/a a freqüentar algum grupo social de apoio com a proposta
de ajudá-lo/a a ter orientações de saúde ou prevenção de doença?
( )SIM ( )NÃO
26. Participa de algum grupo de apoio na área de prevenção da doença ou
promoção de saúde?
62
( )NÃO ( )SIM
Qual?/is_____________________________________________________
Escreva abaixo a sua preferência alimentar, compondo um almoço e um jantar
Almoço:___________________________________________________________
Jantar:____________________________________________________________
63
Anexo 7.2 Roteiro da Entrevista Psicológica
Síntese do relato sobre o histórico da doença diagnóstico a atual
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Relacionamentos familiares
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Relacionamento com amigos
Atividades Sociais
Participação em grupos de prevenção
64
7.3 Quadros
Anexo 7.3.1 Quadro de Respostas do Questionário
ÍTEM
SITUAÇÃO 101 102 103 104 105 106 107 108
01 Sexo
02 Idade acima de quarenta anos
03 IMC indica obesidade
04 Fumante
05
Recebeu diagnóstico que seria
necessário dieta
06 Aderiu a dieta
07 Tem hábitos alimentares saudáveis
08 Tem vida sedentária
09 Pratica esportes
10 É hipertenso ou diabético
11 Está sob cuidados médicos
12
Tem doença que representa fator de
risco
13
Causa principal orgânica, emocional ou
ambas
14
Está sob cuidados de profissional da
saúde
15
Procura alguém se não está bem
emocionalmente
16
Tem dificuldade de conversar assuntos
íntimos
17 Procura atendimento psicológico
18 Atendimento psicológico e fé
19 Poderá desenvolver doença
psicossomática
20 Hábitos ou estilos de vida promovem
doença
21 Mudou o estilo de vida
22 Passou por situação de crise
23 Sentiu-se rejeitado/a
24 Sente as pessoas próximas de você
25 Está disposto/a a freqüentar grupo de
apoio
26 Participa de algum grupo de apoio
Total
65
Anexo 7.3.2 Quadro de Hábitos Alimentares
Escolha a primeira ou a segunda coluna, conforme seu consumo de alimentos; se não
consome escolha a coluna do meio. E combine com as demais colunas conforme a
freqüência. A última coluna será preenchida pela pesquisadora
Veja estes primeiros exemplos e assinale a tabela abaixo.
Item
Escala Muito Pouco Nunca As vezes
Sempre Soma
1 Abacaxi
X X
2 Alimentos considerados
ácidos (limão, tomate,etc)
X X
3 Arroz
X
Item
Escala Muito Pouco Nunca As vezes
Sempre Soma
1 Abacaxi
2 Alimentos considerados
ácidos
3 Alimentos considerados
Carboidratos (pão, macarrão,
biscoito, etc)
4 Alimentos cozidos
5 Alimentos crus
6 Alimentos fritos
7 Alimentos gordurosos
8 Arroz
9 Bolos
10 Carne branca
11 Carne vermelha
12 Chocolate
13 Doces
14 Feijão
15 Frutas
16 Jiló
17 Legumes
18 Macarrão
19 Ovos
20 Pão
21 Quiabo
22 Salgados
23 Sorvete
24 Verduras
Total
66
Anexo 7.3.3 Diagnóstico simples EDAO
Adequação
Setor
Adequado Pouco
Adequado
Pouquíssimo
Adequado
Em Crise
Afetivo-relacional
Produtividade
Sócio-cultural
Orgânico
67
Anexo 7.3.4 Relato das Entrevistas S102 e S108
S102 - 45 anos, sexo feminino, casada, assistente social - Fatores de risco
associados: Diabetes tipo dois, sedentarismo, mudanças bruscas e perdas
que caracterizam crise.
Passou por várias situações de mudanças na dinâmica das relações familiares.
Após exames, a paciente constatou que era estéril, então o casal decidiu adotar
um bebê. Há oito anos recebeu o diagnóstico de diabetes tipo 2, (o avô era
diabético) ignorou a doença e não fez dieta. (S102, está acima do peso).
Recentemente voltou a sentir várias dores e desconfortos. Fez novos exames e
constatou uma hipercolesterolomia. As dificuldades do ambiente doméstico foram
se somando; o relacionamento conjugal, nunca foi bom ou estável, pois no
passado enfrentou situações de infidelidade por parte do marido. No último ano, o
casal soube da existência de uma filha, dele, em decorrência de uma relação
anterior ao casamento. Estas dificuldades fizeram-na, entrar em crise, o que
acredita ter agravado o quadro da doença. Entretanto, admite não seguir as
recomendações médicas, toma os remédios, mas quando melhora, abandona o
tratamento. Relatou um diálogo com o marido em que admite que o seu maior
medo é não viver tempo suficiente para criar sua filha (3anos). Quando perguntei
se ela já pensou em procurar psicoterapia, ela me respondeu que sim, mas não
acredita que é realmente importante e que o tratamento possa trazer as mudanças
que precisa. Admite que perdeu alguns quilos, mas não em função de dieta.
Atualmente diz não ter vontade de fazer nada. Acredita estar entrando em
depressão.
Separou-se do marido, apresenta-se muito frágil emocionalmente e fisicamente
limitada. Cansa-se facilmente e não consegue se alimentar bem. Seu esposo
pediu para que se afastassem por determinado período e após este tempo irão
decidir se permaneceriam ou não juntos. S102 sofreu muito, o que parece ter
agravado o quadro da doença. Ela viajou para casa dos pais em outro estado do
país e iria retomar sua vida na cidade de origem, entretanto não conseguiu e
retornou a São Paulo, ela disse que o período na casa dos pais ajudou-a a ver a
situação de forma mais clara. Não quer se separar, admitiu também que sua vida
profissional está alicerçada aqui e que não tem mais amigos na sua cidade de
origem. Seus amigos e colegas estão em São Paulo; resolveu permanecer
morando com o marido, porém este não aceitou a sua decisão e saiu de casa,
para morar em outro bairro da capital. Alimenta esperanças de refazer a vida
conjugal, atualmente está mais tranqüila e relatou que tem recebido forte apoio
dos amigos.
Conclusão: S102,parece usar de mecanismos de defesa primitivos. Até certo
ponto nega a realidade à sua volta. Entretanto, o contato com os familiares,
parece ter possibilitado realmente uma visão mais adequada, permitindo maior
tranqüilidade. Demonstra muita fé e alta espiritualidade o que a ajuda neste
momento de crise.
68
S108 - 45 anos, sexo feminino, casada, cabeleireira - Fatores de risco
associados: Diabetes tipo dois, sedentarismo e hipertensão.
Mudou-se de São Paulo para o litoral há dez anos. Trabalha com o marido, eles
são proprietários de um salão de beleza. Ela demonstra ser uma pessoa ansiosa;
disse que não suporta esperar não importa a situação. Tem histórico familiar
relacionado ao diabetes e há sete anos recebeu o diagnóstico da doença. Ela
disse que a princípio seguiu as orientações médicas, mas depois não. Atualmente
está acima do peso e adotou para si uma maneira própria de se cuidar que é
comer duas vezes por dia, ou seja, come bem no café da manhã, depois passa o
dia todo sem comer e alimenta-se novamente no jantar em geral com lanches, ou
salgados, ou pizza; disse que assim equilibra o diabetes. (Sua tabela alimentar foi
identificada com a mais inadequada do grupo). Tem dois filhos, um casado o outro
solteiro e uma neta de quatro anos. Afirmou acreditar que o início do diabetes foi
devido a crise pela qual passou quando seu filho fez uma cirurgia e depois a perda
da mãe. Disse que foi um período muito difícil, sentiu-se deprimida, mas que
superou tanto uma situação quanto outra. A cirurgia do filho foi muito bem
sucedida e aos poucos assimilou a perda da mãe. A convivência em família é boa,
exceto com a sogra que parece, segundo S108, querer se ver livre dela o tempo
todo. Revela que já se sentiu rejeitada pela família. Atualmente, a convivência com
a neta em finais de semana, tem sido muito agradável para ela e o marido e
acrescenta que esta troca afetiva tem feito muito bem à saúde de ambos. S108
disse não ter uma religião, mas acredita em Deus e acha que ser honesta e não
fazer o mal a ninguém já é muito bom e que não precisa estar em uma igreja para
ser religiosa.
Conclusão: Parece usar de racionalização como defesa. As perdas parecem ter
realmente estabelecido a crise e a instalação da doença, mas a troca afetiva com
a neta, neste momento parece ser um fator bastante favorável.
69
7.4. Questionários Preenchidos
Livros Grátis
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