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OLINDA MENDES BORGES
CALDAS NOVAS (GO):
turismo e fragmentação sócio-espacial (1970-2005)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Geografia-Mestrado-, do
Instituto de Geografia da Universidade
Federal de Uberlândia, como requisito parcial
para a obtenção do título de mestre em
Geografia.
Área de concentração: Geografia e Gestão do Território.
Orientadora: Professora Dra. Beatriz Ribeiro Soares
Uberlândia (MG)
2005
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
B732c Borges, Olinda Mendes, 1938-
Caldas Novas (GO) turismo e fragmentação sócio-espacial
(1970-2005) / Olinda Mendes Borges. - 2006.
155 f. : il.
Orientadora: Beatriz Ribeiro Soares.
Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Uberlândia,
Programa de Pós-Graduação em Geografia.
Inclui bibliografia.
1.Geografia urbana Caldas Novas (GO) - Teses. 2. Turismo –
Caldas Novas (GO) - Teses. 3. Geografia - Caldas Novas (GO)
Teses. I. Soares, Beatriz Ribeiro. II. Universidade Federal de Uber-
lândia. Programa de Pós-Graduação em Geografia. III. Título.
CDU:
911.375(817.3)
Elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UFU / Setor de Catalogação e Classificação
mg-11/06
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Dedico este trabalho a meus pais
Lázaro Mendes da Costa e Altina
Mendes Borges (in memorian) que me
ensinaram as primeiras letras.
AGRADEÇO
À minha orientadora, Profª. Drª. Beatriz Ribeiro Soares pelo carinho,
amizade e pelo aporte teórico e prático recebido nesta caminhada.
Em especial à Profª. Drª. Suely Regina Del Grossi pelo incentivo para que
esta dissertação se concretizasse.
À professora Drª. Marlene Teresinha D Muno Colesanti, diretora do
Instituto de Geografia da UFU, pela atenção e receptividade.
Ao Prof. Dr. João Cleps Júnior, coordenador da Pós-Graduação do Instituto
de Geografia da UFU, pelo incentivo no decorrer deste trabalho.
Aos professores do Instituto de Geografia da Universidade Federal de
Uberlândia, Drª Vânia Rúbia Vlach, Drª Beatriz Ribeiro Soares, Dr. Júlio César Ramires, Dr.
Rossevelt José de Oliveira que contribuíram sobremaneira para o meu desempenho
acadêmico.
À Profª. Drª. Geisa Daise Gumiero pela atenção, amizade e o incentivo
nessa trajetória.
Aos meus amigos Rildo, Penha, Leonardo, Luciene, Sandrinha, Nágela,
Núbia, Edivane, Fransualdo, Celso, Celeste, Divino que estiveram presentes nesse meu
caminhar, auxiliando-me a vencer os contratempos.
À minha família, que soube me apoiar em todos os momentos difíceis desta
caminhada. Em especial a minha irmã Olgamina e seu esposo João de Souza Carvalho pelo
aconchego da casa, o abraço amigo nos momentos de incertezas e questionamentos da
realização desta dissertação.
À minha sobrinha Raquel Mendes Carvalho que soube entender e
compreender mais este desafio na minha vida e, não mediu esforços acompanhando-me nas
imeras viagens a Caldas Novas. Contribuiu sobremaneira com seu olhar de arquiteta
experiente e comprometida com as questões urbanas. Além isso, foram noites e mais noites
mal dormidas para vermos os resultados desta pesquisa. Sou-lhe eternamente grata.
Aos meus sobrinhos netos Patrícia, Gabriel, Leonardo, Luciana, Alexandre,
Thiago, Andréa, Isabela, Thaís, Fernanda, Lucas, Bruno, Caroline e Juninho que na
jovialidade de seus pensamentos e ideais deram-me a energia de prosseguir e concretizar este
sonho. Aos pais destes garotos e crianças muito obrigada.
Aos meus sobrinhos Ricardo, Adriana, Eliana e Maria Regina mesmo na
distância estiveram presentes nesta minha trajetória.
À Silvinha, exemplo de dedicação e determinação, prima e irmã de todas as
horas. Sou-lhe profundamente grata.
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo compreender os processos políticos, econômicos e sociais que
influenciam a construção do espo urbano de Caldas Novas (GO). A imagem paradisíaca
impulsiona, na contemporaneidade, o turismo de lazer, com exploração de suas águas termais.
Uma simbologia espacial reforça o discurso político do maior lo turístico de Goiás e
materializa a cidade que cresce a qualquer pro. O turismo, ao mesmo tempo em que abre
postos de trabalho, segrega o lado feioda cidade: os pobres e suas habitações precárias. O
turismo retalha a cidade e deixa-a a merda especulação imobiliária. Preparar a cidade para
o turista ims a Caldas Novas um padrão arquitetônico e urbanístico que acentuou as
diferenças, reforçando as características de uma cidade segregada e fragmentada.
Palavras chave:
cidade, turismo, fragmentação.
ABSTRACT
This work has for objective to understand the political, economical and social processes that
influence the construction of the urban space of Caldas Novas (GO). The paradisiacal image
impels, in the present time, the leisure tourism, with the exploration of is thermal waters. A
symbolic space reinforces the political speech of the largest tourist pole of Goiás and
materializes the city that increases at any price. The tourism, at the same time that open job
vacance, segregate the “uglyside of the city: the poor and their precarious houses. The
tourism slash the city and submit it to speculation. To prepare the city for the tourist imposed
to Caldas Novas architectural and urban pattern that accentuated the differences, reinforcing
the characteristics of a segregated and fragmented city.
Key words
: city, tourism, fragmentation.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
01 – Caminhos das Águas
--------------------------------
--------------------------------
--------
33
02 - Monumento que retrata o descobrimento da lagoa de Pirapitinga, Caldas Novas (GO),
2003
--------------------------------
--------------------------------
---
43
03 – Casa de Martinho Coelho, Caldas Novas (GO), 2004
--------------------------------
---
44
04 – Igreja antiga com duas torres, Caldas Novas (GO)
--------------------------------
-------
48
05 – Ponte sobre o rio Corumbá construída na gestão de Bento de Godoy
-----------------
56
06 – Caldas Novas (GO): naturalidade dos alunos Escola Municipal Felipe Marinho da
Cruz (1ª a 4ª série), 2001
--------------------------------
--------------------------------
-----------
72
07 – Caldas Novas (GO): naturalidade dos alunos Escola Municipal Felipe Marinho da
Cruz (1ª a 4ª série), 2002
--------------------------------
--------------------------------
-----------
72
08 – Primeira casa de banho, Caldas Novas (GO)
--------------------------------
--------------
84
09 – Prédio construído no local da primeira casa de banho, Caldas Novas (GO), 2005
--
85
10 – Ciro Palmerston em visita a Serra de Caldas
--------------------------------
--------------
86
11 – Pousada do Rio Quente, Caldas Novas (GO), 2005
--------------------------------
------
87
12 – Caldas Novas (GO): avaliação da população em relação à emancipação de Rio
Quente, 2004
--------------------------------
--------------------------------
-------------------------
88
13 – Lagoa Quente de Pirapitinga, Caldas Novas (GO), 2004
-------------------------------
90
14 – Praça de entrada do Parque Estadual da Serra de Caldas com escultura siriema do
artista Tolosa, Caldas Novas, (GO), 2005
--------------------------------
-----------------------
14
15 – Marco de entrada do Parque Estadual da Serra de Caldas, Caldas Novas (GO), 2005
--------------------------------
--------------------------------
--------------------------------
-----
92
16 – Carta imagem da microrregião geográfica Meia Ponte (GO), 2005
-------------------
95
17 – Casarão, construção do final do século XIX, Caldas Novas (GO), 2004
-------------
97
18 – Vista parcial da Serra de Caldas e a Pousada do Rio Quente, Caldas Novas (GO),
2004
--------------------------------
--------------------------------
---
98
19 – Caldas Novas (GO): acesso a programas de educação ambiental, 2004
-------------
101
20 – Caldas Novas (GO): acesso a rede de esgoto, 2004
--------------------------------
-----
102
21 – Vista aérea de clubes-hotéis, Caldas Novas (GO), 2005
-------------------------------
105
22 – Origem dos turistas na Feira do Luar, 2004
--------------------------------
--------------
107
23 – Caldas Novas (GO): nível de escolaridade dos entrevistados, 2004
------------------
113
24 – Área central em destaque - Caldas Novas, GO
--------------------------------
----------
117
25 – Dona Hélia descerrando a placa em homenagem a Mestre Orlando (seu pai),
1973
--------------------------------
--------------------------------
--
119
26 – Vista parcial da Praça Mestre Orlando, Caldas Novas (GO), 2005
-------------------
120
27 – Ocupação das calçadas pelos comerciantes, Caldas Novas (GO), 2004
-------------
122
28 – Shopping Tropical, Caldas Novas (GO), 2004
--------------------------------
-----------
123
29 – Vista parcial dos bairros Termal e Turista I (fundo), Caldas Novas (GO), 2004
---
124
30 – Acessos de Caldas Novas a outras localidades, 2005
--------------------------------
---
125
31 – Caldas Novas (GO): aspectos positivos do crescimento da cidade segundo
entrevistados, 2004
--------------------------------
--------------------------------
-----------------
130
32 – Vista parcial da cidade de Caldas Novas (GO): diversas formas de uso e ocupação do
solo urbano, 2005
--------------------------------
--------------------------------
--------------
131
33 – O bairro Turista I e II vistos a partir do bairro Solar das Caldas, Caldas Novas (GO),
2004
--------------------------------
--------------------------------
------------------------------
133
LISTA DE MAPAS
01 – Turismo em Goiás
--------------------------------
--------------------------------
-------------
32
02 – Localização e municípios da microrregião de Meia Ponte
------------------------------
67
03 – Microrregião de Meia Ponte (Goiás): população urbana, 2000
-------------------------
71
04 – Área de expansão urbana de Caldas Novas (GO), 1980-2002
--------------------------
74
05 – Densidade residencial Caldas Novas (GO)
--------------------------------
-------------
109
06 – Zoneamento Urbano – Caldas Novas (GO)
--------------------------------
--------------
111
07 – Caldas Novas (GO): Bairros
--------------------------------
--------------------------------
137
LISTA DE QUADROS
01 – O turismo em Goiás: tipo, características, locais para a prática
------------------------
29
02 – Principais atrativos de Caldas Novas, 2004
--------------------------------
---------------
96
LISTA DE TABELAS
01 – Caldas Novas: produção agrícola, 2000 – 2001
--------------------------------
----------
61
02 – Caldas Novas: efetivo da pecuária, 1998 – 2002
--------------------------------
---------
62
03 – Microrregião geográfica de Meia Ponte: população, 2000
------------------------------
65
04 – Microrregião de Meia Ponte: evolução populacional, 2000-2004
---------------------
68
05 – Microrregião de Meia Ponte: população total e densidade demográfica segundo
estimativas para o ano de 2004
--------------------------------
--------------------------------
----
69
06 – Caldas Novas: bairros com edificações irregulares, 2004 (em %)
--------------------
140
LISTA DE SIGLAS
AGETUR Agência Goiana de Turismo
CTC Caldas Termas Clube
DEMAE Departamento Municipal de Água e Esgoto
DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral
EMBRATUR Empresa Brasileira de Turismo
GOIASTUR Empresa de Turismo de Goiás
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estastica
INGEO Instituto de Genealogia de Goiás
IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano
PDU Plano Diretor Urbano
PEA População Economicamente Ativa
PIB - Produto Interno Bruto
PMCN Prefeitura Municipal de Caldas Novas
PNMT Programa Nacional de Municipalização do Turismo
POLOCENTRO Programa de Desenvolvimento do Cerrado
PRODECER Programa Cooperativo Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento do Cerrado
SEPLAN-GO Secretaria de Planejamento do Estado de Goiás
SESC Serviço Social do Comércio
UNICALDAS Faculdade de Caldas Novas
UNIMONTE Centro Universitário Monte Serrat
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO-------------------------------------------------------
15
1 - O TURISMO E A (RE)PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO
20
1.1 - O turismo e o consumo do espo------------------------
20
1.2 - A produção do espo urbano: algumas considerões
22
1.3 - O turismo e o espo goiano------------------------------
27
2 - DA LAGOA QUENTE DE PIRAPITINGA AO MUNICÍPIO
DE CALDAS NOVAS------------------------------------------------
36
2.1 - Relembrando a história: o fugaz ouro goiano-----------
36
2.2 - A exploração medicinal das águas-----------------------
41
2.3 - Uma ponte muda os rumos da história-------------------
53
3- CALDAS NOVAS: ECONOMIA E SOCIEDADE--------------
58
3.1 - O peso das atividades agropastoris em Caldas Novas--
58
3.2 - A explosão urbana-----------------------------------------
64
3.3 - Desafios da cidade turística sustentável-----------------
75
4- A IMPORTÂNCIA DO TURISMO NA CONFIGURAÇÃO
DO ESPAÇO DE CALDAS NOVAS--------------------------------
84
4.1 - Caldas Novas: turismo e patrimônio-ambiental---------
89
4.2 - Entendendo a organização e as novas formas do
espo caldasnovense--------------------------------------------
105
4.3 - Dinâmica da área central: revitalização ou
requalificação?---------------------------------------------------
114
4.4 - A expansão da malha urbana-----------------------------
130
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS-------------------------------------
143
6 – REFERÊNCIAS---------------------------------------------------
145
ANEXO 01 - Legislação sobre as águas de Caldas Novas--------
152
15
INTRODÃO
Caldas Novas é um dos 21 municípios da Microrregião
Geográfica de Meia Ponte, no Sul de Goiás, distando apenas 170 km de
Goiânia, capital do estado. A cidade tornou-se conhecida por suas águas
termais, que atraem, a essa cidade de 62.744 habitantes
1
, quase um milhão de
pessoas todos os anos.
Desde o descobrimento das águas quentes, em 1777, pessoas
de diversas procedências, acreditando na capacidade curativa das mesmas,
buscam a região de Caldas Novas, muitas ali fixando residência, o que
contribuiu para a divulgação do valor terapêutico dessas águas. Entretanto,
constituiu-se o município apenas em 21 de outubro de 1911 e o primeiro
balnrio público foi construído somente em 1920.
Em meio ao cerrado e cercada por um relevo de formas
arredondadas, Caldas Novas apresenta grandes belezas naturais. Encravado
em uma região rica em jazidas minerais, o município, através de políticas
espaciais, conseguiu transformar seus mananciais hidrotermais em base para a
estruturação de uma cidade para o turismo de lazer.
O município possui atrativos naturais que se localizam tanto
no perímetro urbano como no rural. No Parque Estadual da Serra de Caldas, é
possível caminhar por trilhas, e tomar banho em cachoeiras. A cidade conta
com um complexo hoteleiro muito significativo, constituído por hotéis,
pousadas, apart, flats e outros.
1
Estimativa IBGE (2004).
16
No início deste século XXI, Caldas Novas constitui-se, junto
com o município de Rio Quente, na maior atração turística do estado de
Goiás. A rede conecta-se com grandes centros urbanos do país, como Brasília,
Goiânia, São Paulo e Rio de Janeiro, através de rodovias asfaltadas e de um
aeroporto.
As edificações de Caldas Novas refletem a sua história.
Construções recentes, bairros mais novos e um ritmo de cidade turística
coexistem com outras temporalidades, mais lentas, também permeadas pelo
vai-vem de pessoas e carros, pelos sons de muita música raiz. Há uma
grande heterogeneidade nos modos de vida, nas formas de morar e nos usos do
solo urbano. A paisagem urbana evidencia momentos diversos do processo de
produção espacial, o que possibilita entender sua evolução e a maneira como
foi produzida.
O corre-corredo dia-a-dia, seja para o trabalho, seja para as
compras, compõe e movimenta a vida urbana. Esse cenário resultado das
influências tecnológicas e sociais que ocorreram no passado e que ocorrem no
presente.
Do mundo da aparência, pode-se extrair a essência, que revela
o dinamismo do processo de construção da paisagem. Uma paisagem marcada
pelas relações sociais de produção, pelo trabalho humano, expondo uma época
e um período de desenvolvimento das forças produtivas. Vale lembrar que os
homens, antes de produzirem coisas, produzem relões sociais. Portanto, a
cidade é um espaço de sociabilidade, cuja paisagem mostra a realidade do
momento.
Este trabalho tem por objetivo compreender os processos
17
políticos, econômicos e sociais que influenciaram na construção do espo
urbano de Caldas Novas, criando o imaginário de “paraíso. Busca-se
apreender porque a exploração das águas termais, que se dava desde os
primórdios de sua história, é capaz, na contemporaneidade, de impulsionar as
atividades do turismo de lazer, sustentando-se em formas e simbologias
espaciais que constroem o maior pólo turístico de Goiás.
Considerando que fazer e refazer a cidade é um processo
constante e, para entender tal processo, além do olhar atento ao caminhar pela
cidade, teve-se o cuidado de registrar as falas de moradores, utilizando
questionário semi-estruturado através de entrevistas, aplicados
aleatoriamente, como também, as conversas descontraídas do dia a dia.
Buscou-se através dos levantamentos bibliográficos, entrevistas, pesquisa de
campo, gravações de palestras, o apoio para uma análise do processo de
transformação e crescimento do espaço urbano de Caldas Novas e o turismo
de águas quentes.
No contato com a cidade e seus habitantes, vários
questionamentos foram surgindo, como: Qual o significado do turismo no
processo de produção do espo da cidade? Que fatores políticos e
econômicos, produziram em Caldas Novas, um espaço urbano diversificado e
fragmentado? Que alterações se apresentam no espaço urbano em decorrência
das apropriações com objetivos de exploração das águas quentes?
Para responder a essas questões e atingir os objetivos
propostos, primeiramente, fez-se a leitura teórica-informativa e metodológica,
o que possibilitou a formação de um referencial teórico, necessário para o
desenvolvimento das várias etapas da pesquisa.
18
Na coleta dos dados percebeu-se a riqueza das informações e
deparou-se com pessoas, cujos antepassados participaram e fizeram à história
de Caldas Novas. Foram depoimentos importantes para compreender a
construção e o crescimento da cidade.
Fez-se o levantamento de fontes iconográficas e registrou-se
através de fotografias e mapas elaborados a realidade atual da cidade, as
quais retratam as contradições, os símbolos e signos.
De posse de todos os dados e informações procurou-se mostrar
as transformações políticas, econômicas, sociais e culturais no decorrer de
momentos históricos e geográficos da cidade.
Neste sentido, esta pesquisa divide-se em quatro capítulos. O
primeiro discute a influência do turismo sobre as configurações e
reconfigurações do espaço geográfico. Faz-se uma discussão teórica sobre
turismo e geografia e analisa-se a produção do espo urbano na sociedade
capitalista e a influência do turismo de lazer nas reconfigurações do espaço
goiano.
O segundo capítulo tra o histórico da ocupão de Caldas
Novas. Descreve-se a ocupação do espaço goiano por bandeirantes paulistas à
procura de ouro e de índios para o trabalho escravo e, por fim, analisa-se a
constituição política do município de Caldas Novas.
O terceiro capítulo analisa o crescimento populacional de
Caldas Novas ante o boom do turismo e as novas configurações do espo
urbano neste contexto.
19
O quarto e último capítulo discute as percepções de moradores e turistas
sobre as recentes mudanças ocorridas nesse espo.
Conclui-se que a atividade turística, desencadeada por uma série de
políticas públicas e por ações privadas, tem profundo impacto sobre as formas
assumidas pelo espo urbano, reflexo de relões sociais marcadas pela desigualdade.
20
1 - O TURISMO E A (RE)PRODUÇÃO DO ESPO URBANO
O presente capítulo discute a influência da atividade turística
sobre a produção e reprodução do espaço urbano. Inicialmente, faz-se uma
discussão teórica sobre turismo e geografia. A seguir, analisa-se a produção
do espaço urbano na sociedade capitalista e a influência do turismo nas
reconfigurações do espaço goiano.
1.1 - O turismo e o consumo do espaço
Souza Júnior e Ito
(2005, p. 1) apontam que a origem do termo
pode estar relacionada a denominação tur do hebreu antigo que significa
viagem de descoberta, de exploração, de reconhecimento. Afirmam, porém,
que “um resgate sobre a geohistóriado turismoindicaria que o seu
desenvolvimento é mais antigo do que a origem do próprio termo.
Entretanto, continuam esses autores, a maior difusão do
turismo deu-se “graças ao desenvolvimento tecnológico do século XIX
(máquina a vapor, trem com vagão leito, etc) e século XX (desenvolvimento
dos setores de transporte e comunicação).
Pires (2002, p. 162) afirma que a paisagem é o elemento
essencial para o turismo, de modo que “o turismo pode ser concebido como
uma experiência geográfica”. Por isso, não demorou muito para que a
atividade turística se utilizasse, indiretamente, do aporte descritivo fornecido
pela geografia ao optar pela selão de espaços destinados ao seu
21
desenvolvimento.(SOUZA JÚNIOR; ITO, 2005, p. 1).
A seletividade do espaço é, a um só tempo, sua fragmentação
e reconfiguração.
A prática do turismo demanda infra-estrutura adequada para
atender as exigências impostas pela lógica do mercado
turístico (hotéis, pousadas, aeroportos, vias de acesso,
saneamento básico). [...] Nesse processo, o turismo vai
produzir e reproduzir espaços elitizados para atender as
necessidades das classes que podem comprar o lazer. Assim, o
turismo materializa-se na lógica do capital, uma vez que
transfere valor aos patrimônios natural e cultural dos lugares
(MOREIRA; TREVIZAN, 2005, p. 1).
A expansão da atividade turística demanda a implantão de
infra-estruturas básicas em escala regional; a implantão de equipamentos
hoteleiros e a qualificação e formação de mão-de-obra para trabalhar no setor,
além de um agressivo marketing nacional e internacional, como noticia Merys
(2003, p. 3).
Produzidos pelo mercado, os espaços turísticos atendem aos
interesses do capital e, assim, Cidades inteiras se transformam com o
objetivo precípuo de atrair turistas, o que provoca, de um lado, o
sentimento de estranhamento – para os que vivem nas áreas que num
determinado momento se voltam para atividade turística e, de outro,
transforma tudo em espetáculo(CARLOS, 1996 apud MOREIRA;
TREVIZAN, 2005, p. 1).
O espetáculo é buscado (e alcançado) na quebra das rotinas:
O turismo reside no rompimento da monotonia da vida urbana,
que é construída pela rotina de trabalho e estudo, que são
obrigões diárias. Essa rotina leva ao afastamento da
mesmice, estimulando os sentidos a procurar diversão e
descanso em outros lugares, que não sejam os mesmos do dia a
dia. O que se procura nas férias e feriados, é o contrário da
22
vida de todo dia, ou seja, experiências agradáveis que estão
além do habitual (GONÇALVES; DEL GROSSI, 2003, p. 2).
A atividade turística induz a profundas alterações nos lugares
em que se desenvolve. Isso se deve ao fato de que, nos lugares turísticos, se
confrontam a territorialidade sedentária dos que aí vivem freentemente e a
made dos que por ali só passam.
O turista traz hábitos e costumes, cuja novidade, muitas vezes,
gera uma sensação de invasão do lugar, só compensada pelos benefícios
financeiros oriundos de sua passagem.
Com o turismo, o espaço é reordenado. Dessa forma,
verdadeiras” cidades são construídas única e exclusivamente para o seu
consumo. Para se “embelezar” aos olhos do visitante, a cidade turística exclui
tudo o que é feio: a miséria da maioria de seus habitantes, de forma que o
consumo dos bens e serviços turísticos implica um crescimento da
periferização e da degradação do meio ambiente, elemento, por sua vez,
redutor do consumo do espaço turístico.
O turismo constrói e reconstrói o espaço urbano
2
. É necessário
crescer e desenvolver a qualquer preço, retalhar a cidade para deixá-la à
mercê da especulação imobiliária. A cidade do turista impõe um padrão
arquitetônico e urbanístico, que acentua as diferenças, sua
fragmentão/segregação.
2
Vale lembrar que até formas ruraisda atividade, como o turismo rural ou o de aventura, depende de uma
infra-estrutura sempre ligada ao espo urbano.
23
1.2 - A produção do espaço urbano:
algumas considerões
A organização espacial está em constante mutação, porque a
sociedade também modifica seus hábitos, costumes, desejos, consumo,
imprimindo novas funções às formas geográficas, que se acham impregnadas
de conteúdo social.
Para Carlos (2004),
[...] o homem se apropria do mundo, enquanto apropriação do
espo – tempo determinado, aquele da sua reprodução da
sociedade. Assim se desloca o enfoque da localizão das
atividades, no espaço, para a análise do conteúdo da prática
sócio-espacial, enquanto movimento de produção/apropriação/
reprodução da cidade. (CARLOS, 2004, p. 19).
A forma urbana transforma-se. De sorte que, no início do
terceiro milênio, os mais diversos pontos geográficos do globo estão
conectados pelos fluxos de capitais. A concentrão acentuada do capital
parece homogeneizar o mundo, produzindo uma nova organizão do espaço
mundial.
De fato, nas últimas décadas, a inovão tecnológica tem
tornado os fluxos mais numerosos, possibilitando ao homem a conexão entre
os diversos lugares. Estudando a produção do espaço geográfico, Santos
(2002, p. 62) afirma: os fixos são cada vez mais artificiais e mais fixados ao
solo; os fluxos são cada vez mais diversos, mais amplos, mais numerosos,
mais rápidos.
Neste espaço, a ciência, a tecnologia e a informação vão
definindo novas desigualdades entre regiões e lugares. Em contrapartida, cada
24
lugar procura mostrar suas particularidades im(ex)pressas na produção de um
pensamento sobre a cidade que, por sua vez, espelha a produção social da
mesma.
A cidade, como construção das sociedades humanas, produto
histórico-social, revela-se obra materializada, construída ao longo de
gerações e tecida nas relações do cotidiano. O modo de aproprião do espaço
revela-se em sua história, símbolos, nas obras humanas, na fala dos seus
habitantes e no seu modo de vida.
Dessa forma, não se pode pensar o espaço como mero espelho
externo da sociedade.
Do espo não se pode dizer que seja um produto como
qualquer outro, um objeto ou uma soma de objetos, uma coisa
ou uma coleção de coisas, uma mercadoria ou um conjunto de
mercadorias. Não se pode dizer que seja simplesmente um
instrumento, o mais importante de todos os instrumentos, o
pressuposto de toda produção e de todo intercâmbio. Estaria
essencialmente vinculado com a reprodução das relões
(sociais) de produção (LEFÈBVRE, 1976
apud
CORRÊA,
1995, p. 25-26).
As inter-relações sociais assumem concretamente a forma de
relações espaciais. A maneira como se realiza a vida na cidade revela o uso e
a apropriação do seu espaço.
A compreensão da cidade, pensada na perspectiva da
Geografia, nos coloca diante de sua dimensão espacial a
cidade analisada enquanto realidade material esta por sua
vez, se revela pelo conteúdo das relões sociais que lhe dão
forma (CARLOS, 2004, p.18).
É assim que, gras às ações de grupos representantes do
capital imobiliário e do próprio Estado, emergem novos loteamentos,
condomínios verticais e horizontais, hotéis,
flats
e clubes que modificam a
25
paisagem da cidade. O crescimento da cidade é orientado por critérios sócio-
econômicos segregacionistas.
As relações que se estabelecem entre os homens, as
realizações do passado e do presente estão impressas no espaço, coexistindo
conteúdos que reforçam a idéia de que o cotidiano fornece o significado da
vida presente e futura.
Para Santos (2002, p. 109), é “a sociedade, isto é, o homem,
que anima as formas espaciais, atribuindo-lhes um conteúdo, uma vida. Só a
vida é passível desse processo infinito que vai do passado ao futuro, só ela
tem o poder de tudo transformar amplamente.
Se, no espaço geográfico, estão as obras humanas, estas não se
constituem simples objetos. De acordo com Santos (2002, p. 105) só por sua
presença, os objetos técnicos não têm outro significado senão o paisagístico.
Mas eles aí estão também em disponibilidade, à espera de um conteúdo
social.
Para Soares (1995),
quando observamos a paisagem urbana, sua realidade é, para
s, onipresente e inevitável, por onde quer que olhemos,
percebemos seus edifícios de concreto e vidro, seus
estacionamentos, seus conjuntos habitacionais, suas ruas e
praças, seus
shopping centers
, sinais elétricos entre outros. No
entanto, ela se apresenta para s banalizada, porque é
componente de nosso cotidiano urbano. (SOARES, 1995, p.
12).
Sociedade e espaço não estão dissociados. Considera-se
espaço geográfico como totalidade de inter-relações e nas sociedades
contemporâneas onde à velocidade e a inovação tecnológica transpõem
26
fronteiras, encurtam distâncias, realizam transformações no modo de viver
globalizado. Santos (2002) afirma ainda:
Os movimentos da sociedade, atribuindo novas funções às
formas geográficas, transformam a organizão do espo,
criam novas situões de equilíbrio e ao mesmo tempo novos
pontos de partida para um novo movimento. Por adquirirem
uma vida, sempre renovada pelo movimento social, as formas
tornadas assim formas-conteúdo – podem participar de uma
dialética com a própria sociedade e assim fazer parte da
própria evolução do espo. (SANTOS, 2002, p. 106).
Ao estudar a configuração territorial, Santos (2002) afirma:
A configuração territorial é dada pelo conjunto formado pelos
sistemas naturais existentes em um dado país ou numa dada
área e pelos acréscimos que os homens superimpuseram a esses
sistemas naturais. A configuração territorial não é o espo, já
que sua realidade vem de sua materialidade, enquanto o espo
reúne a materialidade e a vida que a anima. A configurão
territorial, ou configuração geográfica tem, pois, uma
existência social, isto é, sua existência real, somente lhe é
dada pelo fato das relões sociais. (SANTOS, 2002, p. 62).
Os acréscimos, de que fala Santos (2002), transformam o
espaço urbano. Carlos (1992, p. 38) afirma que “a paisagem não só é produto
da história como também reproduz a história, a concepção que o homem tem e
teve do morar, do habitar, do trabalhar, do comer e do beber, enfim do viver.
Como nos lembra Carlos (2001, p. 40), da observação da
paisagem urbana depreendem-se dois elementos fundamentais: o primeiro diz
respeito ao espaço construído, imobilizado nas construções; e o segundo diz
respeito ao movimento da vida.
Assim, os condomínios fechados, o asfalto, canalizações,
pontes e uso diversificado de materiais marcam o espaço rapidamente
transformado pela atividade turística. Os acréscimos imprimem mudanças
substanciais nas relações sócio-espaciais.
27
A atividade turística depende de grandes acréscimos, de modo
que seus impactos se dão em grande escala. A seguir, analisa-se a construção
do estado de Goiás como destino turístico.
1.3 - O turismo e o espaço goiano
Segundo a Empresa Brasileira de Turismo de Goiás
(EMBRATUR, 2000 apud MOREIRA; TREVIZAN, 2005), a atividade
turística no Brasil corresponde a 7% do PIB e já se tornou o terceiro
segmento da pauta de exportações do país. Movimenta outros 52 setores da
economia, gerando um faturamento de US$25,8 bilhões
3
, através das viagens
de 45 milhões de brasileiros e 5,3 milhões de turistas estrangeiros que visitam
o país, além de empregar seis milhões de pessoas no Brasil.
O impacto da atividade turística depende da infra-estrutura
regional.
O sistema turístico e a rede onde este se encontra sitiado é
produto da relação entre os los de atração e os espos
satélites cujos atrativos passam a dar sentido ao espo
turístico confabulando para a criação de espaços hierárquicos
para o desenvolvimento do turismo (BARROS, 1998, p. 18).
Assim, o turismo não privilegia o fixo, mas os roteiros. O turista,
proveniente de qualquer parte do Brasil ou mesmo do estrangeiro, encontra magníficas
atrões em Goiás.
O estado apresenta um grande potencial turístico. Goiás tem
3
O valor do dólar tem variado em 2005 entre 2,30 e 2,50 reais.
28
várias cidades históricas, estâncias hidrominerais, nas quais vários tipos de
turismo podem ser impulsionados.
Caldas Novas é um dos pontos de maior destaque no mercado
consumidor interno de bens turísticos. Ao lado deste, no sopé da Serra de
Caldas, encontra-se o resort Pousada do Rio Quente.
Conforme informações publicadas pela revista Ambiente
Brasil (2005) o estado de Goiás apresenta vários outros destinos turísticos:
Anápolis: a capital econômica e a segunda cidade mais
importante do estado situa-se entre Brasília e Goiânia e
possui grande qualidade de indústrias.
Cachoeira Dourada: além da usina hidrelétrica, há o Canal de
São Simão, atração turística.
Paraúna: a cidade apresenta belos monumentos erigidos pelo
tempo e pelo vento, no dorso da serra Paredão.
Trindade: cidade religiosa, na qual, no primeiro domingo de
julho de cada ano, se realiza a festa em louvor ao Divino
Padre Eterno.
Pirenópolis: destaca-se pela Cavalhada, realizada junto com a
Festa do Espírito Santo, pelo estrondo da Roqueira, pela serra
dos Pirineus, a famosa Pensão do Padre Rosa, além da
arquitetura colonial de suas casas e igrejas. Inserida na Serra
dos Pirineus, a cidade tem belas cachoeiras.
Goiás: essa antiga cidade oferece aos turistas os muros de
pedra feitos pelos escravos, os sobrados coloniais, o Largo do
Chafariz, a Casa da Fundição, o largo da Boa Morte, o Palácio
Conde dos Arcos, a cruz do Anhanera e o Chafariz da
Carioca. A cidade, primeira capital do estado, foi fundada em
1725 por Bartolomeu Bueno da Silva, o filho, com o nome de
Vila Boa.
Araguaia e Bananal: o rio Araguaia é mais piscoso do mundo.
A Ilha do Bananal apresenta lagoas, de águas claras e areal
branco, flora e fauna riquíssimas pela variedade de espécies.
(AMBIENTE BRASIL, 2005).
Constituem-se los ecoturísticos goianos o Parque Nacional
da Chapada dos Veadeiros, o município de Pirenópolis e o Parque Nacional
das Emas. No entorno da Chapada dos Veadeiros, nos municípios de São
29
Domingos e Posse, desenvolve-se a espeleologia.
O Parque das Emas é destino de ecoturistas que, no parque e
em seu entorno, chapadas, cachoeiras e nascentes de rios, em Costa Rica e
Mineiros, e, as pinturas rupestres e os rios de corredeiras rápidas em
Serranópolis. Outros destaques são Parque Estadual Serra de Caldas Novas,
de Terra Ronca e as Reservas Estaduais Biológicas de Paraúna e Lagoa
Grande.
O quadro 1 apresenta os diferentes tipos de turismo que são
impulsionados em Goiás por ações do poder público, em nível local, estadual
e nacional.
Quadro 01 - O turismo em Goiás: tipo, caracterização e locais para a prática.
Tipo de
Turismo
Caracterização Locais para a prática
Lazer
Voltado ao conhecimento de novos locais,
paisagens e contemplação.
Todos os municípios
Eventos
Reúne profissionais para exposições,
lançamentos e/ ou discussões de temas
relevantes.
Goiânia, Rio Quente,
Caldas Novas
Águas
termais
Destina-se às estâncias hidrominerais
visando a saúde ou a recreação.
Caldas Novas, Rio Quente e
Itajá
Desportivo
Atrai público em geral para eventos
esportivos.
Todos os municípios
Religioso
Visitas a igrejas, templos, santuários, etc.
Trindade, Pirenópolis e
Cidade de Goiás
Cultural
Professores, pesquisadores, arqueólogos e
público em geral interessados nos aspectos
culturais da região.
Cidade de Goiás, Pirenópolis,
Corumbá de Goiás, Silvânia,
Serranópolis e Pilar de Goiás.
Ecológico
Contemplação da natureza.
Alto Paraíso, Formosa,
Caiapônia, Goiânia, Cidade de
Goiás, Paraúna, Mineiros,
Serranópolis, Pirenópolis,
Caldas Novas, São Domingos,
Chapadão do Céu.
30
(continuação)
Aventura
Ideal para quem gosta de praticar esportes
radicais.
Paraúna, Alto Paraíso,
Caiapônia, Piranhas, São
Domingos, Mineiros, Posse,
Chapadão do Céu e Formosa.
Gastronômico
Pratos tradicionais da região aguçam o
paladar dos turistas: arroz com pequi,
peixe na telha, entre outros.
Anápolis, Alexânia,
Pirenópolis e Luziânia.
Melhor idade
Atividades e locais turísticos para todos as
idades, aventura ou paisagens tranqüilas.
Caldas Novas,
Rio Quente e Itajá.
Rural
Atividades como: andar a cavalo, ordenhar
vacas, passear de carroça, tomar banho de
cachoeira, etc.
Anápolis, Alexânia,
Corumbá de Goiás e
Cidade de Goiás.
Náutico
Utiliza as vias navegáveis do estado.
Buriti Alegre, São Simão,
Três Ranchos, Britânia,
Uruu, Minaçu, Cachoeira
Dourada.
Pesca
Nos períodos em que não ocorrem a
piracema e o defeso.
Aragarças, Bandeirantes,
Luís Alves, Aruanã e Britânia.
Fonte: AMBIENTE BRASIL, 2005, p. 1. Org.: BORGES, O. M., 2005.
O planejamento do turismo, no estado, as a extinção da
Empresa de Turismo de Goiás (GOIASTUR), em 2000, cabe à Agência Goiana
de Turismo (AGETUR). Os planos estaduais centram-se em quatro roteiros:
Caminho do Ouro -: Cidade de Goiás: Patrimônio
Histórico e Cultural da Humanidade”. Goiás tem
história para contar.
Caminho da Biosfera - A Alma do Cerrado: Chapada
dos Veadeiros - Alto Paraíso, São Jorge e Cavalcante,
Salto do Itiquira e Parque Estadual de Terra Ronca.
Caminho do Sol - Turismo em seu Estado mais
Natural: Araguaia - Aragarças, Aruanã, Bandeirantes e
Luis Alves. Parque Nacional das Emas - Serranópolis.
Caminho das Águas - A Natureza segue seu curso:
Caldas Novas, Rio Quente, Jataí e Cachoeira Dourada.
(AGETUR, 2005, p. 1).
O trabalho da AGETUR centra-se em três municípios: Caldas
Novas, Pirepolis e São João, esta última cidade com importantes fontes de
31
águas sulfurosas. A simples inexistência desta cidade do Caminho das
Águas, por si, aponta para o enorme impacto que o redirecionamento de uma
política pública em turismo pode ter sobre a vida, o tempo e o espaço de um
município (AMBIENTE BRASIL, 2005).
O mapa turístico abaixo, da AGETUR (Mapa 01), mostra os
quatro roteiros turísticos priorizados por Goiás a partir de 2000, dentro de um
espírito empresarial que busca auferir lucros máximos.
32
Mapa 01 – Mapa turístico de Goiás (extrato).
Fonte: AGETUR, 2005, p. 01
.
33
A figura 01 mostra o roteiro turístico do Caminho das Águas.
Figura 01 Caminhos das Águas.
Fonte: AGETUR, 2005, p. 01.
34
Dentro deste Caminho, Caldas Novas tem papel de destaque.
Se, de acordo com Albuquerque (1996, p. 25), há registros de que, no século
XVII, já eram feitas incursões de índios, com trilhas que iam do Rio de
Janeiro até Machu Pichu, a capital dos Incas, no Peru, é certo que a inserção
de Caldas Novas no circuito do turismo capitalistaocorreu, de forma mais
efetiva, na década de 1980.
A partir desse período, Caldas Novas transformou-se
radicalmente, tanto do ponto de vista econômico, quanto sócio-cultural e,
acima de tudo, espacial. Em função do turismo de águas quentes, cresce a
populão e diversificam-se comércio e serviços, ao passo que os promotores
imobiliários expandem o entorno da cidade.
É assim que, na Caldas Novas da atualidade, um grande
espelho d`água forma o lago Corumbá, para o qual vertem os rios
Pirapitinga
4
, Piracanjuba, Peixe e São Bartolomeu. A formão deste lago,
com os 65 km² de área inundada pela construção da Usina Hidrelétrica de
Corumbá, fez surgir muitas dúvidas quanto à possibilidade de resfriamento
das águas termais.
O Lago atinge cinco municípios e é responsável pela
submersão da Ponte São Bento, o principal marco arquitetônicos da
modernidade em Caldas Novas. Um dos netos de seu construtor, Bento de
Godoy, relembra: Tudo aqui era cerrado. Era um homem que estava
adiantado 200 anos em relação àquele período de 1911(Pesquisa de campo,
2004).
4
Pirapitinga: na ngua tupi significa pira = peixe: pitinga = pele branca ou casca branca,
pintado ou salpicado de branco (ELIAS, 1994, p.34).
35
Mas o presente não se opõe ao passado. De fato, a “memória
compartilhada, por definição, ultrapassa sempre os limites do presente, mas
não consegue mergulhar infinitamente no passado(ABREU, 1998, p.12).
Em função dos limites e potencialidades da memória, o
próximo capítulo realiza uma retrospectiva da história de Caldas Novas,
acentuando a importância que o turismo terapêutico tem na vida social e
econômica do município desde o princípio de sua história.
36
2 - DA LAGOA QUENTE DE PIRAPITINGA AO MUNICÍPIO
DE CALDAS NOVAS
O presente capítulo tra o histórico da ocupão de Caldas
Novas. De início, descreve-se a ocupação do espaço goiano por bandeirantes
paulistas à procura de ouro e de índios para o trabalho escravo. Depois, volta-
se à análise histórica do município de Caldas Novas. Finalmente, caracteriza-
se o atual cenário sócio-político-ecomico do município.
2.1 - Relembrando a história:
o fugaz ouro goiano
No século XVIII, caminhos irregulares levam ao interior
brasileiro. Nas terras de Goiás, os exploradores bandeirantes procuram ouro e
índios a serem escravizados. É o início do povoamento do Centro-Oeste.
Sobre este momento, um nome é lembrado, Bartolomeu Bueno
da Silva, o Anhanguera. Percorrendo longínquas terras, Anhanguera adentrou
pelo sertão goiano e fundou em 1726, às margens do Rio Vermelho, o arraial
de Sant`Ana, mais tarde Vila Boa, que viria a ser a capital da futura Capitania
de Goiás(CHAUL, 2002, p. 33).
Olhar para o passado é transitar por caminhos de encontros e
desencontros. O desbravamento do sertão, para escravização dos silvícolas e
descoberta do ouro, pontilhou de arraiais as margens dos rios auríferos.
Nesses arraiais, prospera o comércio e as desconfianças, a cobiça e o medo
das perdas.
37
No abrir caminhos, povoados foram surgindo e demarcando o
território brasileiro. Palacin (1979) faz menção aos descobridores, afirmando:
[...] abrem caminhos e estradas, vasculham rios e montanhas,
desviam correntes, desmatam e limpam regiões inteiras,
recham os índios, e exploram , habitam e povoam uma área
imensa em grande parte hostil pela aridez e pela
insalubridade – que se estende a mais da metade do atual
Estado de Goiás. (PALACIN, 1979, p. 30-31).
A princípio, Goiás fez parte da Capitania de São Paulo, mas,
em 1744, foi criada a Capitania de Goiás. Ainda que a mineração em Goiás
tenha tido uma vida efêmera, Goiás entra na história como as Minas dos
Goyazes(PALACIN, 1979, p. 25).
O governo português adotou medidas com o fim de resguardar
a riqueza aurífera do vasto território brasileiro, deixando a Província de
Goiás muito isolada. Essas medidas e a situação dos primeiros habitantes
daquelas terras goianas são descritas por Alencastro (1863):
Traçada a primeira via de comunicação para Goiás, a mesma
que percorre Bartolomeu Bueno e seus aventureiros, foi
proibida a abertura de novas estradas, e vedado o trânsito por
aquelas que, apesar disto, o povo, para a sua comodidade,
houvesse aberto em diferentes dirões. Os rios, desde logo
trancados à navegão, viam sulcar suas águas pelas montarias
e ubás dos indígenas, que povoavam suas férteis margens.
Muitas indústrias foram proibidas, por se oporem ao
desenvolvimento da mineração, por serem julgadas criminosas
ou cúmplices dos extravios. Apesar disto, a corrente da
imigrão para Goiás foi de ano para ano mais abundante. Um
imenso lençol de ouro se desenrolava às vistas ávidas do
mineiro ambicioso, e suas esperanças eram plenamente
satisfeitas, no princípio, sem quase trabalho e sacrifício.
(ALENCASTRO, 1863, p. 17).
A imagem da riqueza fácil, sem quase trabalho e sacrifício,
acabou moldando o imaginário de um homem goiano indolente e pouco afeito
ao trabalho constante. Esses contrastes marcam a história dos Goyazes e
38
delineiam a ocupão do seu espaço. Os viajantes que passaram por Goiás,
vindos de terras além mar, descreveram, em relatos de viagem, uma natureza
desoladora, ispita e sem vida.
Chaul (2002) comenta que Palacin (1979), para justificar a
decadência de Goiás, recorre às observações dos viajantes europeus. Ao
mostrar que a população, antes urbana, busca no campo os meios de
sobrevivência, Palacin, embora coloque ênfase na colonização e na
escravidão – o que representa uma novidade”, acaba por incorporar a visão
expressa nos relatos daqueles viajantes sobre as causas primeiras da
decadência da sociedade goiana da época, ou seja, os vícios dos homens
(CHAUL, 2002, p. 68).
Assim, a visão sobre a sociedade dos Goyazes, propalada
pelos viajantes europeus, pelos governadores da época e por alguns
historiadores apoiados nos relatos dos mesmos, é de um estado pobre,
desolado e de homens dominados pelo desânimo.
Esse imaginário é reforçado com a queda da atividade
mineradora. De fato, a minerão, iniciada em 1726, declinou após a década
de 1770.
Mas foram poucos anos de grandeza e prosperidade. O meteoro
passou, e à luz fugaz dessa transitória grandeza sucedeu o
quadro mais
contristador
. O deslumbramento, porém,
continuou por muito tempo ainda. No entanto, via-se o
comércio do interior fiscalizado e vexado; a lavoura quase de
todo abandonada; a indústria da criação limitada e interdita; o
fisco insaciável; o monopólio exercido pelo próprio governo,
matando a indústria particular e tornando impossível qualquer
concorrência. Morria-se de fome, mas a mineração não parava.
A minerão era o alvo de todos os desejos, uma como que
febre ou derio de que o povo estava tomado. O proprietário,
o industrialista
, o aventureiro, finalmente todos convergiam
suas vistas, seus esforços, sem capitais, toda a sua atividade
39
em suma, para o mister da mineração. A extensa capitania de
Goiás tornou-se em pouco uma vasta mina, em que
trabalhavam milhares de operários, obrando prodígios de
esforço e de paciência, que ainda hoje fazem pasmar aos que
observam os vestígios dessas longas canalizões,
empreendidas e realizadas somente a poder do braço do
homem. E quantos malogros, e quantas decepções! E, porque o
vasto interior do país era povoado de um sem número de tribos
selvagens, que embargavam-se bandeiras , organizavam-se
custosas expedições para a sua conquista, mas quase sempre à
custa de forçadas derramas, e da contribuição do povo. O real
erário poucas vezes concorria para esses gastos. Para que
mormente se pudesse desentranhar dos solos as suas
preciosidades, varria-se da superfície da terra os seus
legítimos habitantes. Devastadas e destruídas a ferro e fogo as
aldeias, até então pacíficas e tranqüilas, os silvícolas, que
escapavam à fúria dos bandeirantes, iam-se refugiar nas
solies
das florestas, onde supunham poder estar a salvo de
tão estranhos
civilizadores
. Mas embalde, que para esses
aventureiros não havia divisas, nem distância, nem obstáculos
insuperáveis. E os que porventura procuravam na resistência
salvar o direito do seu lar, das suas terras e da sua liberdade
eram todos os anos dizimados pelo ferro
exterminador
dos
cabos da conquista, ou reduzidos ao mais execrável cativeiro
(ALENCASTRO, 1863, p. 18-19).
Algumas razões são colocadas para se entender o decnio da
mineração em Goiás:
[...] as técnicas rudimentares de extração e exploração das
jazidas (ouro de aluvião), a falta de bros para uma
exploração mais intensa das minas, a carência de capitais e
uma administração preocupada apenas com o rendimento do
quinto (CHAUL, 2002, p. 34-35).
Todos os esforços eram canalizados para a explorão do
ouro, tornando os bens de primeira necessidade mais caros. Palacin (1979)
refere-se ao esgotamento das minas e à decadência da minerão a partir de
1778.
A quebra de rendimento das minas fonte de toda a atividade
econômica, arrasta consigo os outros setores a uma ruína
parcial: diminuição da importação e do comércio externo,
menos rendimentos de impostos, diminuição da mão de obra
por estancamento na importação de escravos, estreitamento do
comércio interno, com tendência à formação de zonas de
40
economia fechada e um consumo dirigido à pura subsistência,
esvaziamento dos centros de população, ruralizão,
empobrecimento e isolamento cultural (PALACIN, 1979, p.
133).
Com o declínio da mineração, os campos de pastagens
naturais, principalmente no Sul de Goiás, transformaram-se em fazendas de
gado. Um novo tipo de povoamento estabelecia-se com a pecuária, ocupando
extensas áreas do território goiano.
A historiografia goiana atesta, em todo o conjunto de suas
produções, que foi por meio da pecuária que se procurou
manter ativo o sistema de produção mercantil, abastecendo de
gado os mercados do Centro-Sul e Norte - Nordeste do país.
Da crise da mineração ao início do século XX, o setor agrário
e o erário público teriam sobrevivido das rendas advindas da
pecuária (CHAUL, 2002, p. 92).
As extensas áreas planas, as veredas repletas de buritizais, o
cerrado com suas árvores e arbustos retorcidos e revestidos por uma cortiça
grossa, foram ocupadas pelo gado. A pecuária extensiva ganhou espaço numa
área até então desconhecida, no entanto, dando suporte e mantendo o
comércio com outras regiões.
As fazendas foram marcando a ocupação das terras.
As habitões rurais no Brasil [...] se dividiam em dois tipos:
fazendas e sítios. A distinção se baseava na importância e no
tamanho, mas ambas eram igualmente simples, tanto na
construção como no mobiliário, sem ornamentação alguma nas
paredes lisas. A fazenda tinha na frente uma sala, lugar de
recepção de visitantes, em cuja mesa, com bancos ou
tamboretes, eram servidas as refeições. As janelas, sem vidros,
mantinham-se abertas durante o dia e eram fechadas à noite
com aldravas, espécie de tranca de metal com que se fecham
portas e janelas. Nas fazendas mais importantes, a frente era
ocupada por uma varanda: um espaço coberto por uma
prolongação do telhado, sustentado por colunas de madeira,
como por exemplo o Casarão. A cozinha e os quartos do
interior eram reservados às mulheres, que nunca se mostravam
em público, segregadas num verdadeiro gineceu(parte da
41
habitação grega destinada às mulheres). Os jardins, sempre
situados por trás das casas, são para as mulheres uma fraca
compensação de seu cativeiro (BORGES; PALACIN, 1987
apud
ELIAS, 1994, p. 71-72).
Os autores comentam sobre a planta da casa:
A circulação interna não evita a passagem através dos quartos.
Na história da habitação, não é algo insólito senão que
reproduz o tipo normal-mesmo nas grandes residências e
palácios até a época contemporânea. O gosto pela
privacidade é uma inovação do século XIX, conseência na
habitação do estilo burguês de vida: e individualmente se
traduz então na busca de um espo próprio, isolado,
indevassável (BORGES; PALACIN, 1987
apud
ELIAS, 1994,
p. 71-72).
Com arquitetura colonial, as casas das fazendas iam
pontilhando o espo de Goiás. No sul do estado, em função de suas
características físiogeográficas, dos rios e da proximidade com Minas Gerais
e Mato Grosso, as cidades apresentaram formas diferentes das demais áreas
do estado.
Dessa realidade que, aos poucos, contornava os horizontes de
Goiás, adveio a idéia fixa do gado como redentor da economia
goiana. [...] É preciso ressaltar que, apesar do isolamento de
Goiás, a economia regional, em seu todo, buscava uma
organização no contexto das leis de mercado, inteirando-se e
fazendo parte da lógica e das necessidades da produção
nacional. O gado foi, sem dúvida, a moeda goiana capaz de
estimular, embora relativamente, a economia regional
(CHAUL, 2002, p. 92-96).
Nesse contexto de transição entre uma sociedade mineradora e
outra voltada para a pecuária, surge Caldas Novas.
42
2.2 - A exploração medicinal das águas
Se Caldas Novas entra na história com os exploradores do
século XVIII que chegaram à região das Caldas a procura do ouro, é sabido
que, já no século XVI, é possível encontrar as primeiras informões sobre
suas águas quentes em publicações espanholas.
Registra a história que Bartolomeu Bueno da Silva, o filho de
Anhangüera, em 1722, enquanto tentava achar ouro, descobriu às águas
quentes que jorram na base da Serra de Caldas, na vertente ocidental,
formando um rio de águas transparentes, encachoeirado e de frondosas
árvores que se alinhavam no sopé da serra. Ali, em suas margens fizeram o
assentamento e deram o nome de Caldas Velhas (TEIXEIRA NETO et. al.,
1986) ao local que, atualmente, abriga a Pousada do Rio Quente.
Segundo Elias (1994):
Bartolomeu Bueno da Silva, em 1722, descobriu as fontes
principais de Rio Quente, mas não encontrando grandes
riquezas em ouro seguiu para outros locais para fundar as
primeiras povoões do Estado de Goiás, como o arraial de
Santana, hoje cidade de Goiás. (ELIAS, 1994, p. 40).
Esse local era habitado pelos índios Guaiás, da tribo Tupi,
habitantes da região de Caldas, dizimados por doenças trazidas pelo homem
branco e pela escravidão
5
.
O governo português, ávido por riquezas minerais, procurou
resguardar as águas termais de Caldas Novas para futuras explorões.
5
Elias (1994, p. 40) informa que,“até recentemente existiam em Caldas Novas os últimos
descendentes dessas tribos, conhecidos por pertencerem à família Quirino.
43
Entretanto, em 1777, Martinho Coelho de Siqueira, um bandeirante paulista,
procedente de Santa Luzia, atual Luziânia, chega à região conhecida como
Caldas de Santa Cruz, essa cidade, uma das mais antigas, está localizada a 69
km da atual Caldas Novas.
Os cães de Martinho Coelho de Siqueira se escaldaram nas
águas da Lagoa de Pirapitinga, um lago de cento e oitenta palmos de
comprimento por vinte de largo, cuja temperatura chega à da água fervendo
(CORREA NETTO, 1918, apud TEIXEIRA NETO et. al., 1986, p. 17).
A figura 02 ilustra o descobrimento da lagoa de Pirapitinga. A
cena foi registrada em pintura a óleo de Félix Emílio Taunay. Há notícias de
que, em um catálogo da Exposição de Pintura de 1862, na Escola de Belas
Artes do Rio de Janeiro, o referido pintor faz referências a este
descobrimento.
Figura 02 - Monumento que retrata o descobrimento da
lagoa de Pirapitinga, Caldas Novas (GO), 2003.
Fonte:
GUIMARÃES, S., 2003.
44
As o ocorrido, Martinho Coelho de Siqueira construiu sua
casa, em terras onde atualmente situa-se o Serviço Social do Comércio
(SESC)
6
. A casa permanece no mesmo local e guarda ainda feições de uma
época, embora tenha passado por algumas reformas. No dizer de Albuquerque
(1996) a casa de Martinho Coelho, onde residiu, foi a primeira casa a ser
construída na incipiente Caldas Novas (Figura 03).
Figura 03 - Casa de Martinho Coelho, Caldas Novas (GO),
2004.
Fonte: BORGES, O. M., 2004.
Elias (1994) afirma:
Martinho Coelho de Siqueira é considerado o descobridor
dessas terras, que hoje pertencem ao município de Caldas
Novas. Alguns, como o historiador Oscar Santos, o consideram
também o fundador da cidade, pois ele não apenas a região
descobriu, como também nela se estabeleceu, construindo ali a
primeira morada. (ELIAS, 1994, p. 41).
Esse bandeirante à procura de ouro e de pedras preciosas, ao
encontrar as águas termais da Lagoa de Pirapitinga, viu nelas um potencial
de aproveitamento ecomico e resolveu se fixar na região
(ALBUQUERQUE, 1996, p. 26). Resolveu, por conseguinte, estabelecer-se no
6
Acha-se aberta ao público com exposição e venda de objetos do artesanato local.
45
lugar onde, posteriormente, constituiu-se o município de Caldas Novas, vendo
aí o despertar de uma próspera estância hidrotermal.
Martinho Coelho e seu filho Antônio, proprietários do
garimpo, mandaram construir banheiras de lajes de pedra com bicas de
madeira nas proximidades do córrego das Lavras e resolveram cobrar daqueles
que as utilizassem.
Todavia, outro fator contribuiu para que Martinho Coelho de
Siqueira fixasse residência ali: o ouro era farto às margens do Córrego das
Caldas, na época denominado Córrego das Lavras. As minas de ouro
multiplicavam-se. Apossando-se de uma gleba de terra de cerca de 40km
2
,
tomou posse das terras na margem esquerda do córrego Caldas e toda a terra
da margem direita acima das nascentes.
O bandeirante construiu o Sitio das Caldas e, em seguida,
requereu a sesmaria das terras, legalizando suas propriedades. Durante duas
décadas, Martinho Coelho de Siqueira trabalhou na mineração do ouro, com a
ajuda de escravos e do filho Antônio Coelho de Siqueira até as reservas
auríferas se exaurirem
7
.
Logo a nocia da existência de ouro e do valor medicinal das
águas se espalhou, atraindo centenas de mineiros
8
e de doentes, que
construíram barracos às margens do Córrego das Lavras.
7
Elias (1994, p. 44) comenta que em 1848, após a morte de Antônio Coelho, seus
herdeiros venderam suas propriedades a Domingos José Ribeiro.
8
Há ainda, no espaço urbano de Caldas Novas, as marcas deixadas por aqueles
garimpeiros. No Bairro Bandeirante da atual cidade de Caldas Novas, segundo Elias (1994,
p. 41-42), foi aproveitada uma grande escavação na encosta do morro para a construção
do empreendimento Pousada Termas das Pirâmides, em um local conhecido como lavras
do tenente Coelho, por ser um garimpo de propriedade de Antônio Coelho.
46
Martinho Coelho e seu filho Antônio construíram banheiras de
lajes de pedras com bicas de madeira para facilitar o uso das águas termais
pelos imeros freentadores que buscavam o local, o que reforça a idéia de
que as águas termais já eram vistas como um potencial de aproveitamento
econômico, nos termos de Albuquerque (1996, p. 26), e a base de um turismo
terapêutico.
Cada vez mais, pessoas portadoras de doenças contagiosas, na
procura por banhos medicinais passaram a residir em ranchos ao longo do
Ribeirão das Lavras. Os moradores do povoado procuraram se afastar da
estância, receosos do contágio de alguma doença, o que levou o proprietário a
colocar fogo nos ranchos e a proibir a permanência de doentes no arraial
(TEIXEIRA NETO, et. al., 1986).
Entretanto, a fama das águas quentes espalhou-se ainda mais,
atraindo inclusive o capitão-geral da província de Goiás, o governador
Fernando Delgado de Castilho. Este, para tratar de doença reumática,
deslocou-se de Vila Boa até Caldas Novas, percorrendo cerca de 400 km em
liteira, carregada por escravos, a fim de se tratar. Foi recebido por Antônio
Coelho, que, para ele, mandou construir uma banheira especial.
O governador, tendo sua doença curada , autorizou a
propaganda oficial das águas termais. Em função de seu renome, em 1819, o
naturalista francês August Saint Hilaire, financiado por D. João VI, estuda as
propriedades das águas quentes. É o primeiro estrangeiro a pisar nesta região.
Os relatos de cura pelo uso das águas termais são freqüentes.
Pessoas portadoras de doenças de pele, afecções articulares viram-se curadas
por terem se banhado ou por terem ingerido essas águas.
47
Com isso, o arraial cresce. Caldas Novas já tinha, em 1842,
cerca de 200 habitantes Em 1840, Luiz Gonzaga de Menezes chega à região
das Caldas, tornando-se político influente da Província de Goiás. Adquiriu
terras no local denominado Quilombo, a quinze quilômetros das termas, onde
havia construções de casas, geralmente de sapé, que abrigavam doentes ou
tropeiros que por lá passavam com destino à cidade de Goiás (TEIXEIRA
NETO et. al., 1986).
Gonzaga de Menezes era homem sensível aos destinos daquela
gente. Comovido com sua situação de miséria, ele associa-se a Domingos José
Ribeiro para estimular e convencer os moradores da necessidade de ocuparem
um outro sítio, transferindo o arraial. Domingos José Ribeiro, a pedido de
Luis Gonzaga, doou, então, terras para formar o patrimônio e erigir uma
capela.
No final do século XIX, a estrutura urbana era influenciada
pela doação de glebas de terra para a igreja ou santo, dando início a um
cleo inicial de um povoado. É o que se denominava patrimônio.
Quanto à forma do ato de fundação dos aglomerados era muito
comum, no período colonial, o chamado patrimônio: um
fazendeiro ou um grupo deles, oferecia terra a uma igreja ou
santo, nas quais se iria organizar o núcleo inicial do novo
aglomerado. Os fazendeiros vizinhos poderiam aí ocupar lotes,
mediante o pagamento de
fôro
em dinheiro, destinado às obras
urbanas. Este processo pelo qual surgem localidades de
interesse dos grandes fazendeiros, prossegue até os dias de
hoje, com a diferença que agora são patrimônios leigos, não
ofertados a santos ou igrejas, mas loteados de parte da
propriedade. Os patrimônios de doão a santos foram comuns
até os fins do século passado. (GEIGER, 1963, p. 77).
Em 1849, iniciam-se os trabalhos de demarcação dos terrenos
e da pra para o estabelecimento do Arraial das Caldas Novas, o que foi
48
firmado com a escritura lavrada em 27 de janeiro de 1850 (ELIAS, 1994).
Naquele ano, foi construída por Luis Gonzaga de Menezes a Igreja Matriz
Nossa Senhora do Desterro, que, em 1888, passa a se chamar Nossa Senhora
das Dores, atual padroeira da cidade. A igreja, de arquitetura colonial,
possuía duas torres e reflete um complexo jogo social, marcado por práticas
de caráter hierárquico e segregacionista. (Figura 04).
Figura 04: Igreja antiga, com duas torres, Caldas Novas.
Fonte: ALBUQUERQUE, C., 1996.
Com a transferência dos habitantes do povoado de Quilombo
para o novo local, inicia-se um movimento para a criação do distrito, o que
ocorreu em 1851, pelo Conselho Municipal de Santa Cruz, a quem pertencia
o então povoado de Caldas Novas(TEIXEIRA NETO et. al.,1986, p. 15).
O arraial foi ganhando, assim, novos espaços. A igreja, a casa
paroquial, as ruas e outras edificações imprimiram as marcas de um tempo e
de um espaço construído, as formas e conteúdo de uma época.
Cândido Gonzaga, filho do Coronel Luis Gonzaga, empenhado
por novas conquistas para o distrito de Caldas Novas, consegue desligá-lo da
Comarca de Santa Cruz, transferindo-a para a jurisdição de Vila Bela de
Morrinhos (ELIAS, 1994).
49
Muitas famílias adquiriram propriedades e se estabeleceram na
região, cultivando a terra e desenvolvendo a criação de gado. Fazendeiros de
Minas Gerais e de São Paulo que se estabeleceram nessas paragens tiveram
importante papel na construção e ocupão do espaço urbano de Caldas
Novas.
De fato, embora fosse lugar isolado no interior da Província
Goiana, muitas pessoas dirigiam-se, a cavalo, para lá, para se banharem nas
águas quentes. Albuquerque (1996) comenta que os poderes curativos das
águas termais, propagadas pela Província goiana, atraíram pessoas que
sofriam de lepra e outras doenças cutâneas.
Caldas Novas, em função de seu isolamento dos grandes
centros, desenvolvia uma economia auto-suficiente, com a populão se
organizando para obter os produtos necessários à sobrevivência.
As famílias que viviam na zona rural, tornaram-se auto-
suficientes em alimentação (grãos, frutas, leite, ovos, carnes,
verduras); vestuário (plantavam algodão, fiavam, teciam e
confeccionavam as próprias roupas); energia (lenha, óleo para
as lamparinas); remédios obtidos de plantas e animais locais;
produziam açúcar, aguardente, rapadura, móveis e utensílios
para cozinha. Só dependiam do sal, ferramentas, pregos,
metais e outras coisas que eram impossíveis de serem
produzidos localmente (ALBUQUERQUE, 1998, p. 51).
Em função dessa necessidade de auto-suficiência, as fazendas
espalharam-se pela localidade. Uma delas foi construída por Cândido Gonzaga
de Menezes, entre 1873 e 1878, e retrata a arquitetura colonial da época.
Trata-se da Fazenda do Pedrão, considerada a mais antiga propriedade rural
da região (ELIAS, 1994).
50
Até 1911, o lugarejo foi subordinado a Morrinhos. Mas, já em
1908, sob a liderança do coronel Bento de Godoy, de Orcalino Santos, Juca de
Godoy, Victor Ala, Josino Brettas, Orlando Rodrigues da Cunha e outros,
inicia-se um movimento político que culmina com a emancipação de Caldas
Novas.
Essas lideranças chegaram à pequena vila a partir de 1900. À
medida que os habitantes influentes de Caldas Novas foram construindo a
história do lugar, define-se a organização espacial de uma promissora cidade
turística, o que mostra, como afirma Santos (1972), que o espaço construído
apresenta uma história seletiva.
Em 1911, por ordem de presidente do Estado, Urbano
Gouveia, Bento de Godoy foi nomeado presidente da primeira intendência -
designação que, no princípio do século XX, se dava aos chefes do poder
executivo municipal - instalada em 21 de outubro daquele ano, data em que se
comemora o aniversário de Caldas Novas.
Segundo Elias (1994, p. 46) este [Urbano Gouveia] nomeou
em 21 de setembro do mesmo ano uma Intendência para instalar o recém
criado município. No entanto, comemora-se o aniversário da cidade no dia
21 de outubro, porque nesse dia, instalou-se o município em uma sessão
solene em antigo casarão na Pra da Matriz com os habitantes da cidade.
Com a crião do Município de Caldas Novas, sua sede foi
elevada à categoria de Vila. Durante a administração Bento de Godoy (1911 a
1915), o desenvolvimento de Caldas Novas tomou um novo impulso. Com os
conselheiros municipais, ele empenhou-se na construção da história de Caldas
51
Novas como cidade das águas quentes, não se medindo esforços para dotar o
município de elementos para alcançar o progresso almejado.
O governo da cidade no início do século XX ficou a cargo de
uma Intendência composta por homens influentes e que tinham um projeto de
desenvolvimento para Caldas Novas. Esses homens foram, segundo Elias
(1994, p. 46) Bento de Godoy, como presidente, Aristídes Cícero de
Oliveira, João Pires da Costa, Josino Ferreira Brettas, Modesto Pires do
Oriente, Pedro Branco de Souza e Joaquim Gonzaga de Menezes.
Em 1915, são realizadas as primeiras eleições municipais,
sendo eleito o coronel Orcalino Santos. Através de subscrição popular, é
adquirido um casarão no largo da Matriz para abrigar os poderes executivo e
legislativo
9
.
É interessante pensar que, já naquela época, o poder político
procura envolver a populão nos destinos da cidade, mesmo sendo através de
auxílio financeiro para o estabelecimento desses poderes.
Nesse momento, conforme afirma Elias (1994), a cidade era
marcada por uma arquitetura colonial, casas de pau-a-pique, revestidas com
reboco de areia e esterco, ruas sem nome e uma frágil iluminação com a
utilização de candeias, velas e lamparinas.
Em 1918, o médico Orozimbo Corrêa Neto, a pedido do
senador Olegário Pinto, realizara estudos sobre as águas termais, suas
qualidades terapêuticas, o que resultou na obra “Águas Termais de Caldas
9
Mais tarde este prédio foi demolido e, em seu lugar, em 1960, foi construído o Cine-
Teatro Caldas Novas e, atualmente, abriga o supermercado Super 10.
52
Novas. O livro teve grande repercussão, o que atraiu a
atenção dos grandes centros do país, que, em seus jornais, passaram a tratar
Caldas Novas como um futuro e importante centro turístico (ELIAS, 1994).
Em seu livro, Corrêa Neto (1918) destaca Caldas Novas como:
[...] futura cidade de águas capaz de rivalizar em opulência
com as mais famosas do estrangeiro e repercutir como digna da
cultura de um povo civilizado, Caldas Novas é comparável
àquelas localidades que, no velho mundo, e na América do
Norte, gozam de todos os benefícios de uma administração
vigilante, encarregada de zelar, com amor, pelos tesouros
inigualáveis da natureza (BRASIL, 1982, p. 58).
Esse médico contribuiu com os estudos realizados sobre as
águas quentes. Na pequena cidade goiana, vislumbrou a importância de uma
estação termal. Dizia ele,
É mister que não esquam os poderes públicos goianos a
grandeza da indústria hidromineral e termal que, bem
desenvolvida e sabiamente explorada, constitui um fator
importanssimo da fortuna pública e, em Goiás deve ser um
patriótico programa de governo. O governo goiano teria já
antecipado os votos da posteridade na estima de toda a Não,
se tivesse lembrado de erguer em Caldas Novas uma Estação
Termal modelo para o benefício dos doentes da Pátria
Brasileira (BRASIL, 1982, p. 58).
Este médico comprovou o valor terapêutico das águas termais
de Caldas Novas.
Entre os casos notáveis de curas operadas com o uso das águas
termais de Caldas Novas, nenhum é mais eloqüente do que o
caso de Rodrigues de Queiroz, que deu causa a que ficasse
conhecido um antiíssimo banheiro pelo nome de Poço do
Valeriano. Na minha visita a Caldas Novas tive ocasião de
conversar com esse indivíduo e consegui tirar-lhe a fotografia,
que em projeção luminosa pude apresentar ao público em uma
Conferência realizada sobre Caldas Novas, em Araguari MG.
(BRASIL, 1982, p. 60).
53
Em 1923, na administração de Juca de Godoy, Caldas Novas é
elevada à categoria de cidade. Isso revela a importância que as águas termais
já assumem neste momento (CATELAN, 1991, p. 60).
As porções desse território foram ocupadas de maneira
desigual. O espaço urbano caracteriza-se, desde os primórdios pela
heterogeneidade, tanto nos níveis de vida, quantos nos credos e na cultura.
Imigrantes foram se estabelecendo na pequena vila e a mesma coma a
apresentar “aresde cidade.
A localização dos homens, das atividades e das coisas no
espo explica-se tanto pelas necessidades “externas, aquelas
do modo de produção puro, quanto pelas necessidades
internas, representadas essencialmente pela estrutura de
todas as procuras e a estrutura das classes, isto é, a formação
social propriamente dita (SANTOS, 1979, p. 14).
Se “o uso do espaço remete às profundas marcas que o homem
imprime à natureza(DAMIANI, 1999, p. 49), a administração do Coronel
Bento de Godoy marca-se pela construção da ponte sobre o rio Corumbá, que
dá a Caldas Novas novo impulso para o desenvolvimento.
2.3 - Uma ponte muda os rumos da história
As ferrovias têm papel de destaque no povoamento goiano. De
um lado, propiciaram o acesso dos produtos goianos aos mercados do litoral,
de outro, favoreceram a ocupação meridional de Goiás. Em 1896, a Estrada de
Ferro Mogiana chegou até Araguari (MG) e, em 1913, a transs o rio
Paranaíba e alcançou a cidade de Ipameri (GO).
54
A chegada da ferrovia em Ipameri, em 1913, ligando a
Araguari, Ribeirão Preto, Campinas e São Paulo, permitiu que Goiás escoasse
sua produção pecuária” (ALBUQUERQUE, 1998, p. 51).
O coronel Bento de Godoy, àquela época prefeito de Caldas
Novas, acreditava que a construção de uma ponte sobre o rio Corumbá, não só
abriria os caminhos para o sul de Goiás, mas colocaria Caldas Novas na rota
do desenvolvimento. A construção da ponte era um sonho que modificaria o
destino da região.
A ponte São Bento iniciada em 1918 foi construída pelo
coronel Bento de Godoy, que contratou para esse serviço o armador francês
Joseph Jory e foi supervisionada durante a sua construção por Juca de Godoy
(ELIAS, 1994, p. 73-74). Essa ponte constituiu-se em elo de ligação com
outros estados.
Com chegada da ferrovia a Ipameri, a ponte possibilitou a
abertura de uma estrada de rodagem ligando Caldas Novas àquela cidade. Em
1913, com a posse do governador Olegário Pinto, coma a delinear-se essa
estrada de rodagem:
[Ele] adquiriu duas diligências para serem colocadas numa
linha de Caldas Novas a Ipameri: uma até o rio Corumbá e a
outra, da margem oposta até Ipameri. Finalmente, 1918, o
coronel Bento conseguiu do presidente João Alves de Castro a
concessão para a exploração dos serviços da ponte. Em troca
do pedágio, Bento de Godoy arcou com os duzentos e oitenta
contos de réis que a ponte custou. (SE LIGA NO FUTURO,
2004, p. 17)
José Theófilo de Godoy, mais conhecido como Juca de Godoy,
mineiro de Bagagem, atual município de Estrela do Sul, presenciou o
55
assentamento dos trilhos da ferrovia em Araguari (MG). Sobrinho do coronel
Bento de Godoy, ele foi para Caldas Novas aos 22 anos, em 1906
10
.
Para construir a ponte sobre o Rio Corumbá, Juca de Godoy,
que era engenheiro, se fez presente. Os cálculos preliminares, o
levantamento topográfico, bem como o projeto, foram sugeridos por Juca de
Godoy(SE LIGA NO FUTURO, 2004, p. 19). O engenheiro francês
encarregado da obra confirmou todos os lculos feitos pelo sobrinho do
coronel Bento.
A ponte pênsil São Bento, com 200 metros de extensão foi
inaugurada em 31 de janeiro de 1920. O cimento portland
utilizado, bem como o ferro das estruturas e os cabos de
sustentação, vieram da Inglaterra. Quase todos os operários
vieram de fora, já que não havia mão de obra qualificada na
região. Todo o transporte de material ainda foi feito em carros
de boi. Além disso, o coronel teve que adquirir as terras nas
duas margens do rio, pertencentes ao barqueiro Romano, que
tinha o direito de passagem. Na inauguração da ponte, foram
montados ranchos para o churrasco, com direito a banda de
música e foguetes. A madrinha da ponte foi a filha do coronel
Bento e mulher de José Gumercindo Márquez Otero, Maria
Aparecida. E o coronel ainda reservou uma surpresa para os
convidados. Depois da bênção e inaugurão solene, ele fez
uma pequena boiada de 40 cabeças atravessar livremente a
ponte como demonstração de solidez. Gradualmente, a ponte
foi dotada de todos os recursos possíveis: casa de
administrador, curral, rego d`água e ranchos para tropeiros,
carreiros e boiadeiros. As diligências funcionavam
perfeitamente. Até uma linha telefônica foi instalada na ponte.
Um ano depois era inaugurada a estrada até Ipameri. (SE LIGA
NO FUTURO, 2004, p. 18)
A construção da ponte foi um marco histórico determinante
para o desenvolvimento da região (Figura 05). No lugar dos carros de boi e da
difícil passagem pelo rio, principalmente nos períodos chuvosos, deu-se a
10
Trabalhou como caixeiro da loja de seu tio, fotógrafo amador, operador de máquina de
cinema, farmautico prático, auxiliar de gerente de hotel, poeta. Excelente orador,
cronista, contista e jornalista, ele foi serventuário da Justiça, com tabelionato, prefeito (o
terceiro) e vereador em diversas legislaturas (SE LIGA NO FUTURO, 2004).
56
interligão com outros estados através de uma rodovia e de uma ponte.
Formou-se, desse modo, um corredor de mão dupla que possibilitou o
comércio dos produtos da região. Esses fatos também influenciaram no fluxo
de turistas para Caldas Novas para tratamento de saúde.
Figura 05 - Ponte sobre o rio Corumbá, construída na gestão de Bento
de Godoy
.
Fonte: SE LIGA NO FUTURO, 2004.
Além da participão na construção da ponte, Juca de Godoy
teve presença marcante em vários momentos da história de Caldas Novas.
Segundo Elias (1994, p. 54), ele “fez o levantamento topográfico e a planta da
cidade quando a pequena vila de Caldas Novas, ainda conservava as
características rurais da época” e, na zona rural, dividiu e mapeou todas as
fazendas do município.
Com a atuação de Juca de Godoy, ruas e avenidas se
alargaram, pras foram desenhadas e o aspecto urbanístico da cidade
melhorado.
57
No tempo do arraial, com o movimento de tropas de boiadas e
comitivas, uma barca deslizava sobre as águas do rio Corumbá, entre
Corumbaíba e Caldas Novas. O porto denominado Limoeiro” era já bastante
movimentado. Caldas Novas se expandia, tendo uma população crescente. A
espacialidade do município transformou-se em função da exploração turística
das águas quentes.
No próximo capítulo, analisa-se a produção e reprodução do
espaço urbano de Caldas Novas e a influência do turismo de águas quentes
nesse processo.
58
3 - CALDAS NOVAS:
economia e sociedade
O presente capítulo busca no passado, em especial no século
XX, as bases constitutivas da sociedade caldasnovense atual. Discorre-se
sobre a permanência do rural em um município, cuja população urbana
aumenta em altas e crescentes taxas.
3.1 - O peso das atividades agropastoris em Caldas Novas
Em Goiás, as o desaparecimento do ouro como empresa pré- capitalista,
a maioria dos mineiros que ali permanecem vai dedicar-se a uma agricultura de subsistência e
à criação de gado
.
Goiás entrava no chamado ciclo do gado, com decnio da
dinâmica econômica anterior. Na impossibilidade de importar,
como antes, as mercadorias do litoral, o homem encontrou no
boi e na agricultura familiar a sua subsistência (OLIVEIRA;
DUARTE, 2004, p. 125).
Na década de 1920, a crião de gado emerge como o setor
mais dinâmico da economia, por ser o gado em pé produto de fácil
exportão. Entre 1920-1929, o gado vivo significou quase a metade de todas
as exportações e 27,69% da arrecadão total do Estado (PMCN, 2005).
O cenário permanece o mesmo na década de 1950.
Da populão economicamente ativa, 83,69% estavam
ocupados em 1950 no "setor primário", em sistema de trabalho
rudimentar: 4,17% no "setor secundário", e ainda incipiente: e
12,14% no "setor terciário". A indústria continua sendo de
pouca expressão em Goiás para a formão de riqueza e
oferecimento de empregos: sua participação na renda estadual
59
é quatro vezes menor que a média nacional. A agricultura e a
pecuária, representam, 57% e 40% respectivamente do setor
primário. A agro-pecuária concentra 69% da mão-de-obra
total. A agricultura do Estado se baseia em três produtos
principais: arroz, milho e feijão (INGEO, 2005, p.1).
Na década de 1970, este quadro altera-se radicalmente.
No Estado de Goiás, o desenvolvimento da agropecuária,
principalmente a partir da década de 70, causou significativa
mudança na forma de ocupação territorial de sua área e, em
conseência, na gestão de sua biodiversidade. [...] Segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estastica IBGE
(Censo Agropecuário, 1997) , 2.174,85 mil hectares são
ocupados com lavouras temporárias ou permanentes,
representando 6,36% do estado; as pastagens ocupam
19.404,69 mil hectares ou 56,74% do estado, sendo 15,02% de
pastagens naturais; as matas naturais ocupam 3.774,65 mil
hectares ou 11,04% do estado (OLIVEIRA: DUARTE, 2004, p.
106).
Nesse momento, o modelo do agronegócio adotado, com
ações articuladas em vários pontos de diferentes cadeias de produtos,
contrapõe-se à perpetuão do modelo anterior herdado do período colonial.
São introduzidos, na dinâmica agropastoril, setores a montante e a jusante do
setor agropecuário, orientados por interesses de grupos voltados para o
aumento e a diversificação da produção agropecuária e sua transformão
industrial(OLIVEIRA; DUARTE, 2004, p. 131).
Albuquerque (1998, p. 53) lembra que “o grande estimulador
da ocupação acelerada do cerrado na região Centro Oeste foi a cultura da
soja, que alcançou altos preços no mercado internacional. O cerrado foi
perdendo, dessa forma, as suas características originais, dando lugar às
pastagens e aos cultivos. Máquinas transitam de um lugar para outro,
revolvendo a terra, adubando e irrigando.
A infra-estrutura necessária aos novos investimentos
avolumou-se com os projetos de “integração do território
60
nacional, as os anos 1950, com destaque para a construção
de Brasília (1960) e a construção das rodovias que
direcionaram a mobilidade do capital e do trabalho no
território brasileiro, alterando profundamente as regiões na sua
forma e no seu conteúdo. [...] A partir da década de 1960,
inicia-se um processo de alteração no uso e na forma de
ocupação dos solos no Centro-Oeste, com a implementação das
formas técnicas modernas no cultivo de grãos e na criação de
gado. As tradicionais áreas de Cerrado –extensos chapaes
com topografia plana, até então pouco utilizados, passam a ser
intensamente aproveitados, devido à disponibilidade de
capitais (programas governamentais), de recursos técnicos
(máquinas), de tecnologia (desenvolvimento de pesquisas
cienficas) e do apoio na construção de infra-estrutura pelo
Estado brasileiro, como forma de viabilizar os interesses do
capital privado nacional e transnacional (MENDONÇA;
THOMAZ JÚNIOR, 2004, p. 98-99).
Estas pré-condições permitiram que o projeto Goiás, o
celeiro do Brasilganhasse impulso no início dos anos 1980. Corroboram e
constroem este projeto político megaprogramas de investimento agrícola, o
POLOCENTRO e o PRODECER.
O POLOCENTRO foi instituído em 1975, visando à ocupão
racional do Cerrado, com modernas técnicas agrícolas. Por interveniência
deste Programa, foram implementados eixos rodoviários, redes de energia
elétrica, armans e toda a infra-estrutura necessária ao desenvolvimento do
capital agroindustrial. Incorporou 3 milhões de ha de áreas de cerrado à
produção agropecuária, cerca de 1878 projetos com área média em torno de
630 ha (MENDONÇA; THOMAZ JÚNIOR, 2004), o que concentrou, ainda
mais, terras e rendas em sua área de atuação.
Quanto ao PRODECER, Mendonça e Thomaz Júnior (2004)
assinalam:
Instituído em 1974, objetivava atender a demanda mundial de
alimentos (soja) por meio da agricultura moderna. Previa a
criação de grandes unidades agrícolas de caráter empresarial.
Iniciado em Minas Gerais Iraí de Minas alcança o Centro-
61
Oeste em 1987. Com abrangência mais restrita e seletiva, o
PRODECER selecionou produtores jovens e com alto grau de
escolaridade, visando assegurar o sucesso das inovões
tecnológicas no campo, dando preferência a agricultores
sulistas. Segundo a CAMPO empresa executora do projeto–
houve a incorporação de 350 mil hectares de Cerrados, em 21
projetos de colonização, com 758 produtores assentados. Os
investimentos somaram meio bilhão de dólares, gerando a
produção de 620 miles de toneladas de grãos e receita de
165 miles de lares. (MENDONÇA; THOMAZ JUNIOR,
2004 p. 119).
Seguindo a lógica da produção agrícola de commodities para
exportão, há, em Caldas Novas a preponderância do cultivo da soja e do
milho, como demonstra a tabela 1.
Tabela 01 - Caldas Novas: produção agrícola, 2000 – 2001.
2000 2001Produtos
Área (ha.) Prod. (t)
Área (ha.)
Prod. (t)
1 Arroz irrigado 10 50 10 50
2 Arroz sequeiro 200 320 330 313
3 Coco 0 0 10 160
4 Feijão 3ª safra 0 0 110 264
5 Laranja 230 5658 230 5934
6 Limão 15 150 15 249
7 Manga 54 800 54 1021
8 Melancia 0 0 6 180
9 Milho 1ª safra 4710 30615 5000 32500
10 Milho 2ª safra 0 0 100 100
11 Milho 3ª safra 210 1365 210 1365
12 Soja 8180 24540 9420 23550
13 Sorgo 300 900 110 330
Fonte: IBGE/SEPLAN-GO, 2000.
Em Caldas Novas, a agropecuária exerce relevante papel na
economia local. Os produtos consumidos pela rede hoteleira, pelos
restaurantes e lanchonetes locais advêm, quase em sua totalidade, dos
62
hortigranjeiros do município.
Tabela 02 - Caldas Novas: efetivo da pecuária, 1998 – 2002.
Produtos 1998 1990 2000 2001 2002
Aves (cab.)
31.250
32.040
32.640
34.380
37.380
Bovinos (cab.)
77.830
85.050
83.750
84.610
91.373
Prod. de leite (1.000)
23.435
22.869
22.491
19.655
21.302
Prod. de ovos
(1.000 dz)
57
62
68
74
75
Suínos (cab.)
7.370
8.400
8.175
7.766
8.400
Vacas Leiteiras (cab.)
16.896
16.940
16.660
15.820
17.320
Fonte: IBGE/SEPLAN-GO, 2004.
A tabela 2 aponta o connuo crescimento do efetivo bovino do
município de Caldas Novas no período compreendido entre 1998 e 2002.
O setor de laticínios destaca-se na economia local e, entre
suas empresas, os Laticínios Serina”, instalados em Caldas Novas em 1976 e
pioneiros na região na produção de queijos. Esta empresa ganhou espaço, no
comércio local e também em Brasília e São Paulo, pela qualidade de seus
produtos.
O Projeto Se Liga No Futuro(2004) assinala:
A empresa processa atualmente cerca de dez mil litros de leite
por dia, produzindo cerca de 40 toneladas de derivados de leite
por mês. Além dos queijos outros produtos como a manteiga,
doce de leite, requeijão e o iogurte atendem os mercados
mencionados. [...] em parceria com a Só Soja, a Serina deve
lançar em breve produtos que levam o extrato de soja, com o
objetivo de aumentar seu valor nutricional. (SE LIGA NO
FTURO, 2004, p. 46).
Esta outra indústria, a Só Soja do Brasil, inaugurada no final
de 2003, lançou a soja torrada crocante com sabores, que entrou no gosto e no
paladar dos goianos e têm conquistado os mercados de Minas Gerais, São
63
Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas.
De acordo com Pintaudi (2002, p. 143), “até o século XIX, de
um modo geral, a cidade viveu impregnada pelo campo e suas atividades.
Mas, em Caldas Novas, o campo ainda exerce influência sobre a cidade, seja
pela proximidade ou mesmo porque a população local guarda os vínculos com
a área agrícola.
A grande característica desse mercado consumidor é a sua
demanda por produtos originários do Cerrado. A população
urbanizou-se, mas ainda não esqueceu o gosto dos frutos
nativos, como pequi (
Caryocar brasiliense
), mangaba
(
Hancornia speciosa
), cagaita (
Eugenia dysenterica
), araticum
(
Anona
spp.)
,
ou alimentos como guariroba (
Syagrus
spp.).
Prova disso é a culinária goiana, com seu tradicional frango ou
arroz com pequi, entre outros. Também esse mercado de
produtos nativos pode ser observado nas feiras livres ou nos
mercados municipais, onde se encontram muitos produtos à
venda, como doce de buriti (
Mauritia
spp.), cajuzinho do
campo (
Anacardium
spp.)
,
etc. (OLIVEIRA; DUARTE, 2004,
p. 133).
Vale lembrar que se trata, também, de uma demanda dos
turistas, que, vindos dos grandes centros urbanos, procuram um contato mais
próximo com a natureza. Preferem adquirir produtos do campo, doces caseiros
de frutos do cerrado ou dos quintais das fazendas.
Constata-se, como Castrogiovanni (2001, p. 24), que “o
movimento histórico é que constrói o espaço, que é uma instância da
sociedade, portanto como instância contém e é contida pelas demais
instâncias. Assim, as cidades participam da complexidade que é o espaço
geográfico.
Os fluxos de homens e idéias constroem, no decorrer do
tempo, espaços que retratam os interesses de uma época. Na
64
contemporaneidade, ainda que ganhe impulso a idéia de uma Caldas Novas
diretamente vinculada aos fluxos do turismo mundial, a cidade continua
impregnada de campo, no qual a vida continua a se reproduzir, ainda que de
forma subordinada ao espaço.
3.2 - A explosão urbana
Ao longo do século XX, acentuou-se a importância das
cidades na dinâmica da sociedade. Segundo Santos (1997, p. 53), “a cidade é
um elemento impulsionador do desenvolvimento e aperfeiçoamento das
técnicas. Diga-se, então, que é a cidade lugar de ebulição permanente.
É o que ocorre com Caldas Novas a partir de 1980. O turismo
incrementou outros setores ecomicos. O setor secundário desenvolveu-se
com a indústria alimentícia (padarias, fábricas de doces, salgados, conservas,
massas, biscoitos, laticínios, torrefadoras de café, bebidas cacha, sucos e
licores) e com as manufaturas da confecção, de móveis e produtos de limpeza.
Neste setor, merece destaque a construção civil, com as pequenas empresas
que fabricam tijolos, cerâmicas, concreto, artefatos de cimento
(ALBUQUERQUE, 1998, p. 31).
Em relão ao setor terciário, os principais equipamentos e
serviços são voltados para o turismo: hospedagens (hotéis, pousadas,
acampamentos); serviços de alimentão (restaurantes, bares, lanchonetes) e
de entretenimento (pras, clubes, parques); operadoras e agências de
viagens, transportadoras turísticas, locadora de imóveis, além do comércio
65
para turistas (feiras, artesanato), dos bancos, entre outros.
Com crescimento econômico, há notável aumento da
populão. Em 1991, a população do município de Caldas Novas era de
24.159 habitantes e, no ano de 2000, evolui para 49.660 habitantes (IBGE,
2000), um aumento aproximado de 105,55 % menos de dez anos.
Conforme se observa na tabela 03, em 2000, a população
absoluta do município era de 49.660 habitantes. Deste total, 47.308 pessoas
residiam no espaço urbano, 95% da populão total.
Tabela 03 - Microrregião geográfica de Meia Ponte: populão, 2000.
População Freência (%)
Municípios
Total
Urbana Rural Urbana Rural
Água Limpa 2.200 1.554 646 71,0 29,0
Aloândia 2.128 1.735 393 82,0 18,0
Bom Jesus de Goiás 16.257 14.746 1.511 91,0 9,0
Buriti Alegre 8.718 7.371 1.347 85,0 15,0
Cachoeira Dourada 8.525 3.940 4.585 46,0 54,0
Caldas Novas 49.660 47.308 2.352 95,0 5,0
Cromínia 3.660 2.717 943 74,0 26,0
Goiatuba 31.130 27.806 3.324 89,0 11,0
Inaciolândia 5.239 4.058 1.181 77,0 23,0
Itumbiara 81.430 77.123 4.307 95,0 5,0
Joviânia 6.904 5.978 926 87,0 13,0
Mairipotaba 2.403 1.488 915 62,0 38,0
Marzagão 1.920 1.661 259 87,0 13,0
Morrinhos 36.990 30.929 6.061 84,0 16,0
Panamá 16.556 13.382 3.174 81,0 19,0
Piracanjuba 23.557 16.177 7.380 69,0 31,0
Pontalina 2.776 1.943 833 70,0 30,0
66
(continuação)
Porteirão 2.823 2.436 387 86,0 14,0
Professor Jamil 3.403 2.177 1.226 64,0 36,0
Rio Quente 2.097 1.648 449 79,0 21,0
Vicentinópolis 6.015 4.927 1.088 82,0 18,0
Fonte: IBGE, 2000.
Elaboração: BORGES, O. M., 2005.
A mapa 02 apresenta a localização geográfica e os municípios
constituintes da Microrregião de Meia Ponte.
Caldas Novas é o segundo maior mercado imobiliário de
Goiás, com aproximadamente 3.000 unidades habitacionais construídas e
centenas de outras em construção
(IBGE, 2005).
68
Em 2004, de acordo com o IBGE (2005), a populão local foi
estimada em 62.744 habitantes, o que representa um aumento de mais de
13.000 pessoas (20,9%) em apenas quatro anos (Tabela 04).
Tabela 04 - Microrregião de Meia Ponte: evolução populacional, 2000-2004.
População total Crescimento 2000/2004
MUNICÍPIOS
2000 2004 Absoluto
Relativo (%)
Água Limpa 2.200 2.335 135 5,8
Aloândia 2.128 2.198 70 3,2
Bom Jesus de Goiás 16.257 17.491 1.234 7,0
Buriti Alegre 8.718 8.706 12 0,001
Cachoeira Dourada 8.525 8.537 12 0,14
Caldas Novas 49.660 62.744 13.084 20,9
Cromínia 3.660 3.793 133 3,5
Goiatuba 31.130 31.780 650 2,0
Inaciolândia 5.239 5.384 145 12,7
Itumbiara 81.430 84.947 3.517 4,1
Joviânia 6.904 7.151 247 3,5
Mairipotaba 2.403 2.269 134 0,05
Marzagão 1.920 2.189 269 12,3
Morrinhos 36.990 39.246 2.256 5,8
Panamá 16.556 17.130 574 3,4
Piracanjuba 23.557 24.126 569 2,4
Pontalina 2.776 2.917 141 4,8
Porteirão 2.823 2.934 111 3,9
Professor Jamil 3.403 3.700 297 8,0
Rio Quente 2.097 2.743 650 23,7
Vicentinópolis 6.015 6.415 400 6,2
Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 2000 e 2004.
Elaboração: BORGES, O. M., 2005.
69
Tabela 05 - Microrregião de Meia Ponte: população total e densidade
demográfica segundo estimativas para o ano de 2004
Municípios População
total (2004)
Área total
(km²)
hab./km²
Água Limpa
2.335
453
5,2
Aloândia
2.198
102
21,5
Bom Jesus de Goiás
17.491
1.405
12,4
Buriti Alegre
8.706
897
9,7
Cachoeira Dourada
8.537
521
16,4
Caldas Novas
62.744
1590
39,5
Cromínia
3.793
360
10,3
Goiatuba
31.780
2.475
12,8
Inaciolândia
5.384
688
7,9
Itumbiara
84.947
2.461
34,5
Joviânia
7.151
455
15,7
Mairipotaba
2.269
461
5,0
Marzagão
2.189
228
9,6
Morrinhos
39.246
2.846
13,8
Panamá
17.130
1.428
12,0
Piracanjuba
24.126
2.405
10,0
Pontalina
2.917
438
6,7
Porteirão
2.934
604
4,9
Professor Jamil
3.700
347
10,7
Rio Quente
2.743
257
10,7
Vicentinópolis
6.415
737
8,7
Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 2000; IBGE, estimativa populacional, 2004.
Elaboração: BORGES, O. M., 2005.
Para a microrregião de Meia Ponte, os dados da tabela 3
indicam que, em 2000, o município de Itumbiara contava com uma população
absoluta de 81.430 habitantes, da qual 77.123 residiam no espaço urbano,
95% da populão total. Em 2004, a populão local chegou a 84.947
habitantes, o que representa um aumento de mais de 3.000 pessoas (4,1%)
70
num período de quatro anos.
A análise comparada das tabelas 3, 4 e 5 e mapa 03, prova
que Caldas Novas e Itumbiara são os dois municípios que apresentam maior
concentração populacional, maior população urbana e densidade demográfica
de 39,5 hab/km² e 34,5 hab/km² respectivamente na Microrregião Geográfica
de Meia Ponte.
Em cem (100) entrevistas, realizadas no centro urbano de
Caldas Novas, no período de agosto a outubro de 2004 encontramos 68
moradores provenientes de municípios de Goiás e 32 pessoas de outros
estados brasileiros. Esses dados indicam que Caldas Novas tem-se comportado
como centro receptor de imigrantes.
Os efeitos culturais da migrão não são minimizados pelo
fato de a maior parte dos atuais moradores de Caldas Novas serem do estado,
já que de Goiás apresenta uma grande diversidade de hábitos e costumes
regionais. Na diversidade está intrínseca a perspectiva de uma nova história
de vida, quer individual, quer coletiva.
Pesquisa de campo de 2004 indica a origem dos alunos de 1
a
a
4
a
séries da Escola Municipal Felipe Marinho da Cruz entre os anos 2001 e
2003. Em 2001, 63% das crianças matriculadas nessa escola nasceram em
outros estados brasileiros e apenas 23% delas são de Caldas Novas (Figura
06). No ano seguinte, a percentagem de discentes provindos de outros estados
eleva-se a 65% (Figura 07).
72
Figura 06- Caldas Novas (GO): naturalidade dos alunos -
Escola Municipal Felipe Marinho da Cruz (1ª a 4ª série) - 2001
63%
23%
14%
Outros estados Caldas Novas Outras cidades de Goiás
Fonte: Pesquisa de campo/2004. Org.: BORGES, O. M., 2005.
Figura 07- Caldas Novas (GO): naturalidade dos alunos -
Escola Municipal Felipe Marinho da Cruz (1ª a 4ª série)
2002.
12%
23%
65%
Outros estados Caldas Novas Outras cidades de Goiás
Fonte: Pesquisa de campo/2004.
Org.: BORGES, O. M., 2005.
A explosão demográfica urbana promove o surgimento de
novos bairros. Estes foram incorporados àquele pequeno núcleo de 1911,
quando da crião do município. De acordo com a PMCN (2005), em 2004, a
cidade contava com 148 bairros (pesquisa de campo, 2004-2005).
O mapa 04 representa a evolução da malha urbana de Caldas
73
Novas entre 1980 e 2002. Ela permite verificar que, em 1980, havia um
pequeno núcleo urbano, que se expande, em 2002, até atingir os contrafortes
do Parque Estadual da Serra de Caldas, a oeste; margear o Lago Corumbá, ao
sul e sudeste, e avançar em dirão à Lagoa de Pirapitinga, ao norte.
74
Mapa 04 – Área de expansão urbana de Caldas Novas (GO), 1980 -
2002.
Fonte: COSTA, R., 2005.
75
As transformações provocadas no espaço urbano denotam que,
em Caldas Novas, a demanda é maior que a infra-estrutura existente. Assim,
há um crescimento desordenado da cidade, que compromete suas
possibilidades de absorver os migrantes e os turistas, no médio e longo
prazos.
Coloca-se, nesse cenário, o desafio de se construir uma cidade
sócio-ecomica e ecologicamente sustentável.
3.3 - Desafios da cidade turística sustentável
As inovações tecnológicas amplificaram o poder do humano
sobre a natureza. Conectaram pessoas e locais, mundo afora, mas condenaram
ao isolamento populações e territórios à margem da dinâmica do capitalismo
global.
Se a tecnologia trouxe infindáveis benefícios, conhecimento e
comodidades, faz-se necessário lembrar que os recursos da Mãe Terra são
finitos. É a partir desse reconhecimento que se começa a defender um outro
modelo de desenvolvimento: o sustentável.
O conceito de desenvolvimento sustentável, conforme Gadotti
(2000), foi utilizado pela primeira vez na Assembléia Geral das Nações
Unidas em 1979. Esse conceito indicava que o desenvolvimento poderia ser
um processo integral, incluindo dimensões culturais, éticas, políticas, sociais,
ambientais, e não só econômicas.
Essa concepção vai de encontro ao atual modelo de
76
desenvolvimento, baseado na sociedade de consumo, na qual os valores
sociais são medidos pelo dinheiro.
Gadotti (2000) afirma que o movimento conservacionista
surgiu como tentativa dos países ricos de preservar grandes áreas naturais do
globo intocadas para o seu lazer e contemplação.
Há que se entender que o próprio conceito de desenvolvimento
não é neutro. O uso da expressão países subdesenvolvidos e em
desenvolvimento é carregado de ideologia, pois as metas para o
desenvolvimento são ditadas pelos países chamados desenvolvidos, sem se
ater a que cada povo considera desenvolvimento.
As regras impostas, em muitos casos, trouxeram valores éticos
e ideais políticos que desestruturaram povos e nações. Portanto, pensar em
desenvolvimento sustentável, no contexto da globalização capitalista, é uma
contradição que tem gerado relevantes debates, colocando na pauta do dia a
possibilidade e desejável concilião entre o desenvolvimento, a preservão
do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida.
O trabalho humano transforma a natureza em bens úteis à sua
vida e quanto mais a sociedade se desenvolve, maiores as transformações no
espaço geográfico.
Assim Oliveira (1999), em sua fala na abertura do V
Encontro Nacional de Prática de Ensino, realizado em Belo Horizonte (MG),
ressaltou o quanto deve se considerar e se preocupar com as mudanças, tais
como: as variações ambientais, as transformações e os novos ritmos de
crescimento, o apogeu e as crises de certas atividades do homem.
77
Pensando no turismo, constata-se que, até os anos de 1960,
seus administradores objetivavam ampliar a demanda, tendo suas atenções
concentradas no número de visitantes. A partir desse momento, “comou a
tomar força, no mundo todo, a consciência de preservação do meio ambiente
(PETROCCHI, 1998 apud IZUWA, 2002, p. 56).
É exatamente nesse contexto que deparamos com as grandes
transformações que se verificaram na economia, na política, na
tecnologia e nas ciências que, de certa maneira vieram reforçar
a importância das atividades de lazer nas sociedades pós-
modernas, proporcionando condições para que as viagens se
incorporassem, cada vez mais, na vida dos homens e fazendo
do turismo a atividade que se apresentou a maior expansão na
virada de milênio. Segundo todas as estimativas, a atividade
de turismo continuará crescendo, em taxas elevadas, durante as
próximas décadas contribuindo, assim, para a criação de novos
postos de trabalho e de riqueza (XAVIER, 2002, p. 59).
A populão do planeta Terra, de mais de seis bilhões de
habitantes, distribui-se em uma realidade de extremos, entre riqueza e
pobreza, mesa farta e fome, intelectualidade e analfabetismo. Problemas
sociais, como a desnutrição crônica, o trabalho escravo infantil e a
discriminão, podem ser tratados pela atividade turística.
Observa-se que a maior comunicação entre os indivíduos
aproxima sociedades e culturas, mas reforça as contradições sociais, ao
transformar, brutalmente, o tempo e as formas de vivê-lo.
Enquanto a globalização refere-se às mudanças decorrentes
dos processos produtivos que ao se realizarem, em seu
processo de expansão, derrubam barreiras e fronteiras
nacionais ligando, ao mercado, os lugares do mundo
através de uma nova divisão espacial do trabalho -; o processo
de mundialização se revela e, ganha sentido, enquanto
processo de constituição da sociedade urbana (CARLOS, 2004,
p. 48).
Xavier (2002, p. 60) afirma que, dos países ricos, a prática
78
do turismo expandiu-se pelo planeta, convocando regiões distantes, bem
conservadas, dos países periféricos de todo o mundo a entrarem em seu
cenário.
A mundialização é um processo que se realiza no plano do
lugar. Para Carlos (1996, p.26), o lugar é o mundo do vivido, é onde se
formulam os problemas da produção no sentido amplo, isto é, o modo como é
produzida a existência social dos seres humanos.
Dessa forma, iniciativas das próprias sociedades periféricas
vêm dando ênfase ao reconhecimento dos benefícios e dos riscos que a
atividade turística proporciona.
O marketing do turismo tem por veículo a mídia, que
mostrando, quase somente, viagens e cenários convidativos ao lazer. O Brasil,
com seus contrastes naturais e sociais, possui um rico potencial turístico. No
entanto, o país ainda é um mercado inexpressivo em relão ao turismo
mundial.
Vale lembrar: o turismo impacta 52 segmentos da economia,
empregando desde mão de obra mais qualificada em áreas que se utilizam de
alta tecnologia, até a de menor qualificão no emprego formal e informal
(IBGE, 2005)
.
Albuquerque (1998, p. 27) afirma que “Caldas Novas recebe
todos os meses gente de quase todos os estados brasileiros. Essas pessoas
buscam um espaço para viver e trabalhar.
Segundo dados de pesquisa do IBGE de 1993, publicados em
1995, da população residente no Centro-Oeste 53% não é
79
nascida na região, sendo, pois a região que mais atraiu os
brasileiros na década de 1990 [...] Essa taxa de atração do
Centro-Oeste foi muito maior em Caldas Novas, chegando
próximo a 80% (idem, 1996, p. 49).
Além dos migrantes, a cidade precisa atender a rotatividade
intensa de turistas. Se, como afirma Lemos (1999, p. 238), os espaços
turísticos são produzidos e recriados num ambiente onde deve ser considerado
o turista como um consumidor, a cidade turística é produzida e vendida como
mercadoria.
O turismo vende a imagem do paraíso, incitando a
curiosidade e o desejo de consumo. É permitido arriscar a seguinte
comparação: é o pensamento mágico que governa o consumo, é uma
mentalidade sensível ao miraculoso que rege a vida quotidiana
(BAUDRILLARD, 1995, p. 21).
Para fugir da monotonia do trabalho, da rua, da casa,
consome-se o real por antecipão. Imagens, cores, informações permitem a
viagem virtual antes de torná-la real. É o consumo através da ilusão e dos
sonhos. A população residente recepciona, às vezes planejando e esperando a
alta temporada, para realizar o sonho daqueles que chegam e seus próprios
sonhos, a partir da rentabilidade dos serviços.
Caldas Novas atrai investidores de todo o Brasil para a
hotelaria, a indústria local de móveis, artesanato, jóias, doces e licores
caseiros, inclusive com frutos do cerrado. Os condomínios, flats e aparts,
possuem móveis projetados para atender diversos níveis sociais. Toda a
cidade é reconfigurada para atender o turista.
No entanto, o crescimento da cidade exige do poder blico
80
municipal, e mesmo estadual, um planejamento urbano com objetivos claros,
que saliente onde se pretende chegar com as ações desse poder e, ainda,
destaque a política, ou seja, os caminhos a serem percorridos para a
realização desses objetivos.
Em Caldas Novas, o expressivo crescimento populacional gera
demanda por infra-estrutura, de modo que “o atendimento às necessidades
básicas como o saneamento, saúde, educação, segurança, habitação devem ser
prioridades(ALBUQUERQUE, 1998, p. 26).
É preciso salientar, no PDU, as ações propostas para o
consumo da cidade, a partir de um acordo potico com os vários segmentos
da sociedade. É preciso compreender que a participão cidadã é
imprescindível ao desenvolvimento e à organização da cidade e à conquista de
um espaço para todos.
Mas é preciso lembrar que a população residente deve ser
respeitada nos seus direitos mais básicos. Com 80% de população migrante, a
populão original de Caldas Novas convive com rápidas mudanças de
hábitos, ritmos de consumo e da maneira de organizar o tempo e o trabalho.
De um núcleo inicial, a cidade foi tomando uma forma
espacial, a materialização de tempos diversos. Através dos usos do espaço,
pode-se analisar a relação entre a cidade, forma espacial, e a urbanização
como processo dinâmico. Na análise dessa relão entre forma e processo,
verifica-se que, em Caldas Novas, o crescimento vertiginoso das últimas
décadas provocou uma série de transformações no ambiente urbano.
O município expandiu-se de forma fragmentada sem que
81
houvesse por parte da municipalidade um planejamento adequado para e dos
diversos usos do espo urbano. Acentuou-se a verticalização, dando origem
aos condonios residenciais, que somados aos condomínios horizontais,
fecham a cidade, criando um mundo à parte.
Cada fração da cidade deve ser analisada em suas
especificidades, mas, ao mesmo tempo compreendida em suas
relões com outras frões do mesmo espo urbano, e desses
com outros espos, relões estas estabelecidas por diferentes
atores sociais (SPOSITO, 1999, p. 88).
Um complexo conjunto de usos da terra caracteriza a
organização espacial da cidade que, à medida que cresce, mesmo fracionada,
faz com que suas partes apresentem formas e conteúdos sociais peculiares, e
que cada uma delas mantenham contato com o todo, embora com intensidade
variável.
Vários agentes interferem no uso e na aproprião do espaço
urbano. Conforme Corrêa (1996), há um constante processo de reorganização
espacial,
[...] que se faz via incorporão de novas áreas ao espo
urbano, densificação do uso do solo, deterioração de certas
áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da infra-
estrutura e mudança, coercitiva ou não, do conteúdo social e
econômico de determinadas áreas da cidade. (CORRÊA, 1996,
p 31).
O setor imobiliário transforma as várias esferas da produção
do espaço e da vida em Caldas Novas.O crescimento urbano desconsidera o
futuro. Assim, em uma cidade turística que se aia no bem água termal,
criaram-se loteamentos sem infra-estrutura básica, condomínios sem água
tratada e sem esgoto. É mais preocupante ainda, a existência de loteamentos
82
em locais de recarga do aqüífero, como exemplo o Bairro Itaguaí 2 (pesquisa
de campo, 2005).
A propriedade privada restringe o acesso à terra a alguns
grupos, com a conseqüente segregão dos demais. A diferenciação acentuada
na ocupação do solo e na distribuição dos equipamentos urbanos é facultada,
não só pelo capital, mas também pelo Estado. Este exerce uma ação direta ou
indireta na organização do espaço urbano, interferindo no uso da terra. Além
de possuir uma reserva fundiária para usos diversos no futuro, através de leis
e normas vinculadas ao uso do solo, o próprio Estado, no seu desempenho
como consumidor de espaço, proprietário fundiário e promotor imobiliário,
promove as desigualdades e a segregação sócio-espacial.
O solo urbano, concebido como mercadoria, gera renda
àqueles que a possuem. A presença ou ausência de bens urbanísticos é um
fator a proporcionar variações no seu entorno.
Esse processo implicará, ainda, na diferenciação da qualidade
da mercadoria-habitação, que por ser cara e de construção
lenta, exclui parte considerável da população de seu acesso.
Nos terrenos mais caros e melhor localizados serão construídas
as melhores habitões, porém as mais precárias serão
produzidas em terrenos pouco valorizados, e geralmente
distantes das áreas centrais da cidade. Estrutura-se assim, a
segregão social e espacial: os pobresna periferia e os
ricosnas áreas mais agradáveis da cidade (SOARES, 1998,
p. 92).
Continua a autora:
A diferenciação de apropriação do espo da cidade pelas
classes sociais se deve ao fato do solo urbano se constituir
dentro da economia capitalista, em propriedade privada,
portanto, mercadoria, fazendo com que se torne fonte de renda
para quem o detém, sejam proprietários de terras ou empresas
imobiliárias (idem, ibidem, p. 92).
83
A mercadoria moradia acha-se vinculada à terra, pois cada
novo edifício exige um novo solo, cujo valor baseia-se, em princípio, em sua
localização. E, no caso de cidades turísticas, como Caldas Novas, eleva-se
acentuadamente.
De acordo com o Projeto Se Liga no Futuro (2004), Caldas
Novas é o terceiro parque hoteleiro do país, possuindo 23.052 leitos em seus
93 hotéis, pousadas, pensões, flats e vários condomínios residenciais.
Anualmente, mais de um milhão de pessoas visitam Caldas Novas, de acordo
com dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Turismo (pesquisa de
Campo, 2004).
Nesse contexto, o turismo (re)organiza Caldas Novas, o que se
manifesta no plano do lugar.
O lugar, acima de tudo, não é o particular, perdido do mundo,
é o diferente. Nasce do embate com os outros lugares, como
totalidade, com a totalidade dos lugares, o mundo. Coloca-se
no mundo para ser o lugar. O que rege a existência do lugar,
como do cotidiano, é o desenvolvimento desigual (DAMIANI,
2002, p. 169).
No século XXI, o aumento do mundo da mercadoria, pelo
emprego do saber e da técnica, pretende homogeneizar o espaço e os seus
usos. Entretanto, isso não ocorre posto que a cidade, ao mesmo tempo em que
se fragmenta, se conecta, não apenas pelas relações sociais que se
estabelecem ao nível do lugar, mas pela própria reprodução do capital e do
poder.
O próximo capítulo analisa como capital e poder constroem a
mercadoria chamada Caldas Novas e como a cidade é vista pelos que estão
dentro e pelo que estão fora (do lugar).
84
4 - A IMPORTÂNCIA DO TURISMO NA CONFIGURAÇÃO DO
ESPO DE CALDAS NOVAS
A cidade era assim que a chamávamos não era mais que meia
dúzia de ruas cascalhadas, vermelhas, determinadas por casas
humildes onde habitavam pessoas igualmente humildes, além de uns
poucos e austeros senhores que jamais imaginávamos em mangas de
camisa. Na praça, a única praça, o maior edifício era a igreja,
mutilada em uma das torres, presidindo o largo onde, poucos anos
antes, um jovem prefeito começara a construir o jardim. Aquele
como de urbanização do único logradouro público de convívio e
lazer início inevitável de dezenas de novas famílias e que se
resumia ao quadrado de cimento, postes ornamentais e mudas
crescentes de fícus em cada canto é o cartão-postal que mais
evoca a infância na remota e esquecida Caldas Novas das boas
imagens. O despertar para o turismo nos anos 20 de mim, ou, se
preferirem, a casa do tempo que vai de 1965 a 1975, foi
significativo. Amadureceu o homem, transfigurou a cidadela.
Luiz de Aquino, poeta de Caldas Novas.
A história do turismo em Caldas Novas inicia em 1910, ano
em que o major Victor Ozeda Alla construiu a primeira casa de banho
particular (Figura 08). A casa de madeira possuía duas banheiras com
temperaturas diferentes.
Figura 08 - A primeira casa de banho, Caldas Novas
(GO)
. Fonte: ALBUQUERQUE (1996, p. 29).
85
Em 1920, o farmacêutico Ciro Palmerston, em sociedade com os herdeiros
de Victor Ala, construiu o primeiro balneário público, para atender à procura crescente de
pessoas que vinham tratar da saúde (Figura 09). Os visitantes, chamados de ''aquáticos'' pela
população local, costumavam se instalar em pequenos hotéis e pensões e se deslocavam para
o balnrio para tomar os banhos termais. Esse empreendimento permitiu que Ciro
Palmerston se tornasse político influente no lugar, chegando a prefeito de Caldas Novas entre
1930 e 1931.
Figura 09 Prédio construído no local da primeira casa de
banho, Caldas Novas (GO), 2005.
Fonte: BORGES, O. M., 2005.
Na década de 1960, começa-se a mudar o foco do turismo de
saúde para o de lazer. A partir daí, a infra-estrutura hoteleira cresceu,
tornando-se a principal fonte de oferta de trabalho.
A construção da Pousada do Rio Quente teve início nesse
momento. Em 1962, Ciro Palmerston Guimarães trocou uma fazenda que
possuía no município de Marzagão pelas terras de uma fazenda ao pé da Serra
de Caldas.
86
A figura 10 ilustra a visita de Ciro Palmerston à Serra de
Caldas, época em que comprou as terras do local das fontes, com a finalidade
de construir ali, um balneário, visando à explorão das águas termais.
Figura 10 - Ciro Palmerston em visita a Serra de Caldas.
Fonte:
NOGUEIRA, 2002, p. 2.
Conta-se que à época dessa negociação, motivo de muita
polêmica, por serem as terras do Dr. Ciro de boa cultura e a
outra, no sopé da serra, com minas de águas quentes que não
serviam nem para dar de beber aos animais. Porém, destas
águas não serviriam os animais, porque o ideal do Dr. Ciro,
era construir neste paradisíaco lugar um balnrio
(NOGUEIRA, 2002, p. 11).
No entanto, aquele homem que viveu em uma época em que se
ouvia a cantiga dos carros de boi pelas estradas empoeiradas do interior de
Goiás, vislumbrou um empreendimento do porte do Pousada do Rio Quente
Resorts
, o maior complexo turístico de Goiás.
87
Figura 11 - Pousada do Rio Quente, Caldas Novas
(GO), 2005.
Autor: BORGES, O. M., 2005.
Com a passagem de sua morte, seu ideal continuou vivo e se
realizou, em sua memória, pelos filhos, construindo o grande
empreendimento da Pousada do Rio Quente. A empresa
Pousada do Rio Quente, 1964, liderada pelo Sr. Waldo Xavier,
genro do Dr. Ciro, ganhou um rápido desenvolvimento
(NOGUEIRA, 2002, p. 2).
É tal a forma política que um empreendimento desse porte
detém que Rio Quente, distrito de Caldas Novas, emancipou-se em 11 de maio
de 1988. O município de Rio Quente tem uma população estimada de 2.743
habitantes (IBGE, 2005), predominando a população urbana (79%).
A criação do novo município trouxe uma grande perda de
arrecadação de impostos para Caldas Novas, que tinha a
Pousada do Rio Quente como o seu maior contribuinte. Em
1988, por ocasião da Assembléia Constituinte, a Pousada do
Rio Quente liderou um movimento de emancipação política e
conseguiu desligar-se de Caldas Novas, criando o município
do Rio Quente, que possui uma área pequena, de apenas 280
quilômetros quadrados (ALBUQUERQUE, 1996, p. 50).
88
A Pousada do Rio Quente deixou, na atualidade, de ser um
empreendimento familiar, sendo administra pela Companhia Thermas do Rio
Quente, associação, em partes iguais, do grupo mineiro Algar e do goiano
Gebepar
11
.
O município de Rio Quente receberá, entre 2005 e 2009,
investimentos da ordem de R$ 140 milhões. O Rio Quente Resorts construirá
mais três hotéis, um centro de convenções e eventos, um campo de golfe
profissional e até uma praia, com direito a areia e ondas (UNIMONTE, 2005).
A perda de arrecadão de impostos por Caldas Novas em
função da emancipão de Rio Quente foi apreendida por 34 pessoas que
participaram da entrevista enquanto 14 pessoas acreditam que a emancipão
trouxe vantagens para Caldas Novas e 52 pessoas não souberam opinar
(Figura 12).
Figura 12- Caldas Novas (GO): avaliação da populão em
relão a emancipão de Rio Quente, 2004.
14
34
52
Trouxe vantagens Trouxe prejuízos Não responderam
Fonte: Pesquisa de campo/2004.
Org.: BORGES, O. M., 2005.
11
O lucro bruto da empresa chegou a R$22 milhões em 2004.
89
Esse dado, 52 entrevistados não sabendo responder à questão é,
também, revelador do fluxo recente de migrantes para o município. Fato é que, com a criação
do novo município, o poder municipal e o empresariado de Caldas Novas tiveram que investir
maciçamente na rede hoteleira, na criação de condonios, flats, clubes e aparts sofisticados,
para assegurar a demanda turística ao município.
A atuação do Estado, com a instalação de equipamentos de
consumo coletivos, melhoramentos urbanos diversos, valorizou determinadas
áreas em detrimento de outras, propiciando a valorização fundiária e
imobiliária das primeiras. Percebe-se, na atuão conjunta desses agentes
sociais, que estão em jogo os interesses de um grupo específico. O propósito é
um só: incrementar o turismo de lazer.
4.1 - Caldas Novas:
turismo e patrimônio ambiental
O turismo desperta o fascínio. Em Caldas Novas, os
mananciais de águas quentes fascinam, de modo que é comum os turistas
colocarem a mão no Poço do Ovo, no qual a água borbulha a 5C.
Num mundo globalizado o turismo apresenta-se em inúmeras
modalidades, sob diversas fases evolutivas, que podem ocorrer
sincronicamente num mesmo país, em escalas regionais ou
locais. Expande-se em nível planetário, não poupando nenhum
território – nas zonas glaciais, nas cadeias terciárias, até nas
regiões submarinas – nas cidades; no campo; na praia; nas
montanhas; nas florestas, savanas, campos e desertos; nos
oceanos, lagos, rios, mares e ares (RODRIGUES, 2001, p. 17).
Várias são, portanto, as modalidades de turismo. No século
XXI, o tempo livre transformou-se em tempo de lazer para muitos. Para atrair
90
o turista, há uma manipulão da natureza transfigurada em mercadoria.
Busca-se, em nome da satisfação do consumidor, o máximo lucro.
Os pacotes turísticos são impregnados de signos que os
transfiguram na realização de sonhos. O consumidor compra o futuro. O
consumo, pelo fato de possuir um sentido, é uma atividade de manipulação
sistemática de signos. Para tornar-se objeto de consumo é preciso que o
objeto se torne signo(BAUDRILLARD, 1993, p. 206).
Em Caldas Novas, signos são as águas quentes, produto da
natureza e de consumo. Em torno desse signo, outros foram criados pela
propaganda (Figura 13).
Figura 13 - Lagoa quente de Pirapitinga, Caldas Novas (GO),
2004.
Autor: GUIMARÃES, S., 2004.
A publicidade pode encantar o consumidor, o que a torna, de
acordo com Barbosa (2001, p. 19), uma ferramenta para gerar produção e
criar lucro. Pela propaganda/publicidade, Caldas Novas foi sendo construída,
em um processo permanente.
91
A publicidade constitui no todo um mundo itil, inessencial.
Pura conotação. Não tem qualquer responsabilidade na
produção e na política direta das coisas e, contudo, retorna
integralmente ao sistema dos objetos, não somente porque
trata do consumo, mas porque se torna objeto de consumo
(BAUDRILLARD, 1993, p.174).
E assim, Caldas Novas tem mesclado a uma história de cidade
interiorana, o turismo de águas quentes. Em 1970, é criado o Parque Estadual
da Serra de Caldas Novas (Figura 14).
Um trabalho de ecologistas, no fim da década de 1960 foi
essencial para a decretação do Parque Estadual da Serra de
Caldas Novas, garantindo que uma importante área de captação
de água de chuva que vai alimentar o lençol termal fosse
preservada. A mobilização da população para impedir o
loteamento do Parque e construção de infra-estrutura no alto
da Serra, em 1977, foi essencial para sua preservão
(ALBUQUERQUE, 1998, p. 59).
Figura 14 - Praça de entrada do Parque Estadual
da Serra de Caldas com a escultura siriema, do
artista Tolosa, Caldas Novas (GO), 2005
. Autor:
BORGES, O. M. 2005.
Esse Parque é uma das áreas de recarga do lençol termal e,
desde 1999, está aberto à visitação pública (Figura 15). Ele dista cinco km do
centro da cidade. Partindo da sede administrativa caminha-se pela mata ciliar
92
até chegar na Cascatinha, onde é permitido tomar banho(ALBUQUERQUE,
1998, p. 127).
A trilha do Paredão requer preparo físico para percorrer 700
metros e vislumbrar uma cascata de águas frias e transparentes. Chegando ao
mirante leste da Serra de Caldas, é possível descortinar um cenário de rara
beleza: as encostas da serra, a cidade, o lago Corumbá, o aeroporto, as
fazendas da região. São quase 1500 m de caminhada.
Do mirante leste ao oeste do Parque, são quase oito
quilômetros de distância. Pode-se ver ao longe a sede do município do Rio
Quente, o bairro Esplanada, várias fazendas e, logo abaixo dos próprios pés,
toda a Pousada do Rio Quente” (ALBUQUERQUE, 1998, p. 128).
Figura 15 - Marco de entrada do Parque
Estadual da Serra de Caldas, Caldas Novas
(GO), 2005.
Autor: CARVALHO, R. M. 2005.
93
Albuquerque (1998) descreve uma visita ao Parque:
Penhascos de quase 300 metros de altura, quase na vertical, grandes
erosões, ninhos de pássaros feitos em aberturas da rocha, urubus
planando, bando de papagaios fazendo estardalhaço dão uma
sensação de liberdade e de um contato mais estreito com a natureza.
(ALBUQUERQUE, 1998, p. 129).
Na geomorfologia do município, destacam-se a serra e o
planalto. Com as chuvas de verão as formas mamelonares do relevo,
revestidas pelo cerrado, vestem-se dos vários tons de verde, criando uma
beleza “cênica.
Segundo Almeida (1958, p. 89), a serra de Caldas é
possivelmente o único testemunho isolado no interior da depressão periférica
goiana, e mantém-se graças ao volume e resistência dos quartzitos que a
sustentam. Tem-se a impressão de uma superfície plana, mas o ponto mais
alto chega a 1.043m acima do nível do mar (Figura 16).
A leste observa-se na figura 16 a localização da Serra de
Caldas e o único testemunho de uma estrutura dômica, constituída de
metassedimentos do grupo Paranoá (Palestra, 6/6/2005).
Há o predonio de rochas metamórficas, resistentes e com
densidade de drenagem mais acentuada. O solo apresenta na maior parte das
vezes pouco espesso.
A topografia e a vegetação favorecem à pecuária extensiva.
A sudoeste nas imagens de satélite a colorão mais escura
corresponde à área da bacia sedimentar do Paraná. É representada por rochas
de origem magmática da formação Serra Geral. São rochas basálticas que
94
deram origem a solos de média e alta fertilidade são as terras roxas. A cor
azulada na carta imagem são os pis de irrigão onde se destaca portanto,
os cultivos (Figura 16).
Culturas temporárias
Cobertura savânica
Cobertura florestal
Área urbana
Solo para cultivo / pastagem
Figura 16: Carta-imagem da microregião geográfica de Meia Ponte
Limite interestadual
Limite intermunicipal
Limite da microregião
18°00'S
17°00'S
50°00'W
48°00'W
050km
N
Organização: BORGES, O.M., 2005
Digitalização: CARDOSO, E., 2005
Fonte: Landsat 7/ETM+, 5R4G3B, EMBRAPA.
221/072 e 221/73 - 05/08/2001;
222/072 e 222/73 - 12/08/2001;
articulação compatível com a escala 1:50000
LEGENDA:
MG
BRASIL
MT
TO
BA
MG
MS
GOIÁS
DF
GO
Buriti Alegre
Itumbiara
Panamá
Cachoeira Dourada
Cachoeira Dourada
Inaciolândia
Bom Jesus de Goiás
Bom Jesus de Goiás
Goiatuba
Joviânia
Vicentinópolis
Aloândia
Pontalina
Mairipotaba
Cromínia
Professor Jamil
Professor Jamil
Piracanjuba
Água Limpa
Água Limpa
Marzagão
Rio Quente
Rio Quente
Caldas NovasCaldas Novas
Morrinhos
Porteirão
Serra de
Caldas
96
Os moradores de Caldas Novas, participantes da Oficina
Consolidada do PNMT, enumeraram os atrativos turísticos do município.
Quadro 02 - Principais atrativos turísticos de Caldas Novas, 2004.
Atrativos
Características
Lago do Corumbá
- formado a partir da construção da Usina
Hidrelétrica de Corumbá I
Igreja Matriz
- na Praça Mestre Orlando, construída em
1850, possui colunas de aroeira maciça
Casarão*
- construção pica goiana, em estilo do séc.
XIX
Jardim Japonês - retrata o paisagismo oriental
Balneário Municipal - banheiras destinadas ao uso terapêutico
Parque Estadual da Serra
de Caldas Novas**
- reserva ambiental que guarda a
biodiversidade do cerrado e é área de
recarga do aífero termal
Lagoa de Pirapitinga
- lago de águas quentes, marco histórico de
Caldas Novas
Pra do Cerrado
- onde se localiza a biblioteca municipal e o
teatro de arena
Galeria Ala
- feira de artesanato, confecções, souvenir,
entre outros
Feira do Luar
- feira noturna ao ar livre (produtos do
artesanato goiano, alimentação e confecções
Feira Livre
- comércio de produtos diversos, de
verduras a vestuário
Parques Aquáticos
- infra-estrutura de lazer aquático, com
piscinas, toboáguas, bar molhado, cascatas e
outros
Cachaçaria Vale das Águas
Quentes
- possui demonstrativo do processo de
produção da cachaça em alambique
Festa do Folclore - festas representativas da cultura popular
Rally das Águas Quentes - rallys terrestres e náuticos
Caminhada Ecológica
- caminhadas pelo parque da Serra de
Caldas, em meio ao cerrado
Festa Junina
- festas religiosas celebradas no mês de
junho
97
(Continuação)
Magia do Natal
- ornamentação típica do Natal (Área
central)
Folia de Reis da Bucaina
- festa religiosa celebrada nos meses de
dezembro e janeiro
1ª Casa de Caldas Novas
(Martinho Coelho
Siqueira)
- marco histórico, localizado dentro do
Club-Hotel SESC
Doces caseiros de Caldas
Novas
- doces fabricados artesanalmente, inclusive
com frutos do cerrado
Pesque e Pague
- recanto de entretenimento voltado à
pescaria
Fonte: PNMT - Oficina Consolidada, 2004.
Adaptação: BORGES, O. M., 2005.
* Figura 17
** Figura 18
Figura 17 - Casarão, construção do final do século XIX,
Caldas Novas (GO), 2004.
Autor: BORGES, O. M. , 2004.
98
Figura 18 Vista parcial da Serra de Caldas e Pousada do Rio Quente,
Caldas Novas (GO), 2004.
Autor: Cardoso, E. 2004.
O fenômeno turístico deve ser compreendido, portanto, na sua
complexidade como atividade ecomica, mas, sobretudo,
como atividade sociocultural imbricado no lugar que já existia
anteriormente, produzindo e abrigando duasterritorialidades
distintas [...] a territorialidade sedentária dos que aí vivem
freentemente e a territorialidade made dos que só passam,
mas que não têm menos necessidade de se apropriar mesmo
que fugidiamente, dos territórios que freqüentam. (CRUZ,
2000
apud
MORANDI, 2002, p. 72).
A populão local tem uma identidade com o lugar que vai
além do trabalho e do mundo da mercadoria. As suas relações sociais
acontecem em casa, na rua, no bairro, territórios da vida.
A populão autóctone, com seu jeito goiano de ser, simples,
hospitaleira, uma religiosidade marcante, seu linguajar e suas comidas típicas,
atrai aqueles que vêm à cidade, que muitas vezes retornam com o objetivo de
ali permanecerem. De fato, o turista, ao estabelecer relações sociais com os
moradores da cidade, nas feiras, nos cafés, nos clubes, nos restaurantes, nas
horas dançantes, apropria-se, temporariamente, desses territórios.
99
O turismo, fenômeno, a um só tempo, econômico, social,
cultural, político, ambiental, causa grande impacto socioambiental. Na
produção da cidade, as transformações são visíveis: arruamentos, calçadas,
meio-fios, edificações.
A base, o alicerce do espaço geográfico é a própria rocha, o
chão. A vegetação primitiva é retirada, dando lugar às metamorfoses que
ocorrem, na cidade. Córregos, rios são canalizados; impermeabilizando-se
ruas e avenidas para o deslocamento de veículos, em número cada vez maior;
lugares de “convivênciasão edificados.
A cidade é um invento humano, um centro de consumo de
alimentos, de energia e de matérias primas. Esses elementos consumidos
engendram problemas no espaço urbano.
Os elementos da natureza foram apropriados pelo homem que
os transformou em mercadorias. É o que ocorre em Caldas Novas. Novos
hotéis e clubes foram construídos. Os novos ambientes atraem turistas ávidos
por novidades.
A competência turística de uma localidade é vista atualmente a
partir não somente de seus atrativos e potencialidades, mas,
sobretudo, de sua capacidade de seduzir e, principalmente,
agradar a clientela cada dia mais exigente e sedenta de
novidades (PORTUGUEZ; TEUBNER JÚNIOR, 2001, p. 80).
Poucos se atêm ao fato de que, sob o espaço construído, acha-
se o aqüífero termal. Com o aumento da populão, os problemas ambientais
se avolumam, sendo, geralmente, tratados pontualmente.
O ecossistema urbano é campo de estudos dos modelos de
gestão, tendo em vista a sustentabilidade. Muito se tem falado em
100
desenvolvimento e sustentabilidade, mas é importante lembrar que a
sustentabilidade vai além da preservação dos recursos naturais e da
viabilidade de um desenvolvimento sem agressão ao meio ambiente.
Efetivamente, ela “implica um equilíbrio do ser humano consigo mesmo e, em
conseqüência, com o planeta (e mais ainda com o universo)(GADOTTI,
2000, p. 34).
Os elementos de um ecossistema estão integrados em um
sistema maior, no qual o homem está inserido. Trata-se, como o espaço
geográfico, de “um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas
de ações(SANTOS, 1994).
Se, como afirma Albuquerque (1998, p. 183), durante os
últimos três séculos, a natureza foi encarada como algo que tinha de ser
domado, esse pensamento vem esmaecendo lentamente.
Observando o que ocorre em Caldas Novas, a fragmentão do
seu espaço urbano, sua verticalização, sua carência de infra-estrutura,
equipamentos urbanos, serviços, asfaltamento, os impactos ambientais
devidos à perfuração de poços e às queimadas, pergunta-se: como pensar em
desenvolvimento sustentável se os impactos ambientais ocorrem devido ao
modelo de desenvolvimento capitalista que sempre tratou os recursos da
natureza e os frágeis ecossistemas como inesgotáveisfontes de energia e de
matérias primas?
Com a natureza tratada como fonte de lucros, a cidade
consome matéria e energia e gera resíduos sólidos, líquidos e gasosos e nada
recicla. Normalmente não são exigidos exames médicos para o uso das
piscinas e das duchas quando se sabe que imeras das doenças são
101
veiculadas pelas águas.
Em entrevista à autora, uma moradora do bairro Itanhangá,
afirma que “a cidade ainda não tem uma política ambiental que funcione, e
ainda não é arborizada ecologicamente. Ela gostaria de poder trabalhar o
ano todo e não somente em épocas de feriados ou férias. Acha importante a
coleta seletiva de lixo em todos os bairros, sugere que a escola promova
trabalhos de arborização, coleta seletiva e reciclagem do lixo, para maior
conscientização sobre educação ambiental.
A educação ambiental é apontada pela entrevista como o
caminho para a melhoria do ambiente urbano, enquanto a figura 19 indica que
80 dos entrevistados não tiveram acesso a ões de educação ambiental em
Caldas Novas, reafirmando essa necessidade.
Figura 19- Caldas Novas (GO): acesso a programas de educação
ambiental, 2004
5
80
15
Sim Não Não responderam
Fonte: Pesquisa de campo, 2004.
Org.: BORGES, O. M. (2005).
Em Caldas Novas, há um elevado consumo de água. As
edificações estão muito próximas das fontes termais, o que leva
hidrogeólogos a se preocuparem com os riscos de contaminão do lençol
102
termal.
Outro problema grave na cidade é o do lixo. Coletado nos
bairros e no centro, ele é transportado para um lixão a poucos quilômetros da
cidade. Sabe-se que os transtornos que o lixão provoca são vários, tais como
doenças, mau cheiro, contaminação de cursos d água bem como o lençol
freático, ainda atrai insetos, ratos e urubus, colocando em risco os vôos de
aeronaves. O lixo perigoso que pode contaminar o ambiente, oriundo de
hospitais, farmácias, clínicas veterinárias também não tem tratamento
específico e é jogado junto com o lixo comum que vai para o lixão
(ALBUQUERQUE, 1998, p. 207).
Somente a área central e bairros adjacentes têm rede de
esgoto. Nos bairros mais distantes, existem fossas e o esgoto doméstico de
uma parcela da populão é lançado diretamente nos córregos. Entre os
nossos entrevistados, 23 afirmam morar em residências não servidas por rede
de esgoto (Figura 20).
Figura 20- Caldas Novas (GO): acesso a rede de
esgoto, 2004
74
23
3
Sim Não Não responderam
Fonte: Pesquisa de campo/2004.
Org.: BORGES, O. M. (2005).
103
Existem prédios de apartamentos que não estão ligados à
rede de esgotos e têm várias fossas(ALBUQUERQUE, 1998, p. 208). Há
cerca de 15.000 fossas na cidade, com risco de contaminão do lençol
freático (Palestra em 6/6/2005).
No bairro Parque Real, existem duas lagoas de estabilização,
cujo tratamento do esgoto é feito através de microorganismos. Todo esgoto
chega pela rede coletora ou da limpeza das fossas
12
, a estas lagoas que têm
contato com o córrego Caldas, que, por sua vez, verte suas águas no Rio
Pirapitinga e este no Lago Corumbá (Pesquisa de campo, 2004).
A populão do bairro Parque Real sofre com o mau cheiro e a
presença de insetos e animais.
São toneladas de sacos plásticos, vidros, entulhos, solo
erodido, agrotóxicos, que são jogados ou carreados para os
cursos d água e também para o Lago Corumbá, trazendo
perigos à saúde da populão e dos animais e tornando o
ambiente pouco propício ao lazer e turismo (ALBUQUERQUE,
1998, p.208).
A Lei nº 1.118/03, de 14 de abril de 2003, que estabelece a
política urbana e o PDU de Caldas Novas, no seu artigo 3º menciona:
A cidade de Caldas Novas apresentou nas últimas décadas
crescimento econômico e populacional acima da média do
Estado de Goiás e de inúmeros municípios. Com isto, e sem
um planejamento de investimento em infra-estrutura,
acumularam-se problemas localizados nos serviços prestados à
população, e que tendem a se agravar se não houver uma
decisão de reverter essa situação com investimentos
significativos a esses serviços (PDU, 2003, p. 70).
12
Este trabalho é realizado pelo DEMAE, que, usando caminhões coletores de esgoto
sanitário, o recolhem, descarregando nestas lagoas.
104
No item IV.3, refere-se ao esgoto sanitário e proe:
- Dotar o sistema de tratamento de esgoto de aeradores, de
forma que otimize o atual atendimento;
- Ampliar a rede atual de maneira que atenda a área atualmente
ocupada e, que se estenda também pelo menos na região
abastecida por poços semiprofundos e cisternas;
- Permutar a atual área do Bairro Jardim Prive das Caldas,
Quadras 99 a 108 com as áreas públicas no mesmo loteamento,
para ampliação do sistema das lagoas de estabilização e
tratamento do esgoto sanitário;
- Elaboração de estudos e projetos que viabilizem o sistema de
tratamento de esgotos de toda a área urbana atualmente
loteada, com implantação de acordo com a ocupação;
- Dotar as habitões onde não tenha a rede de coleta de
esgotos da obrigatoriedade de execução por parte dos
moradores, do sistema de caixa séptica e sumidouro;
- Em condomínios verticais e horizontais dotar de sistemas de
tratamentos independentes até que sejam atendidos pelo
sistema público;
- Proceder a atividades de despoluição de córregos onde já é
presente , e estabelecer um processo de prevenção à poluição
da represa do rio Corumbá (PDU, 2003, p.72).
Como a realidade de mercado prevê, através da lógica de
consumo, que os produtos sejam constantemente repostos para que os clientes
possam comprá-los, femeno que, obviamente, é impossível ocorrer com a
natureza(BLANCO, 2005, p. 02), é objeto de preocupação o uso
indiscriminado das águas termais
13
. É o lençol termal que alimenta os poços
que abastecem piscinas e parques aquáticos na cidade.
A seguir, discutem-se os vários agentes sociais que produzem
o espaço urbano de Caldas Novas e suas intervenções previstas, que podem,
ou não, melhorar a vida urbana.
13
Legislação do DNPM, sobre as fontes termais de Caldas Novas, encontra-se em anexo.
105
4.2 - Entendendo a organização e as novas formas do espaço
caldasnovense
Diversos agentes sociais, através do tempo, produzem a
ordenão urbana, a hierarquia de valores, que favorece suas atividades
econômicas, no caso de Caldas Novas, o turismo.
Castrogiovanni (2001, p. 23) afirma que “a ordenão turística
é a busca conveniente dos meios existentes no espaço para o sucesso das
propostas relativas às atividades turísticas.
É, em função dessas ações, que se vê, em Caldas Novas, no
s 1980, a explosão imobiliária: novos hotéis, loteamentos, prédios de
apartamento, flats, casas comerciais, construções individuais iam surgindo a
cada dia, num verdadeiro clima de euforia” (Albuquerque, 1996, p. 47). A
figura 21 ilustra aspectos da paisagem urbana de Caldas Novas que validam as
afirmações anteriores.
Figura 21 - Vista aérea de clubes-hotéis, Caldas
Novas (GO), 2005. Autor: RAMOS, D. S., (2005).
106
Em Caldas Novas, forasteiroscompram lotes, que deixam
vazios ou nos quais constroem pousadas, condomínios verticais ou
horizontais, na busca de turistas e lucros. Barbosa e Paranhos (2003)
afirmam, ainda, que a verticalização em Caldas Novas já chega a 70%. São
construídas casas de segunda residência, utilizadas apenas em períodos de alta
temporada. O rápido crescimento da cidade, nas duas últimas décadas, fez
surgir bairros com infra-estrutura subutilizada e outros, distantes da área
central, sem infra-estrutura.
Trinta e sete dos entrevistados afirmam que a venda de novos
loteamentos na cidade baseia-se em propagandas falsas, apenas 18 concordam
com elas e os restantes não souberam opinar.
Barbosa; Paranhos (2003) discorrem sobre as contradições da
modernidade em Caldas Novas:
A partir dos anos 1990, intensifica-se a verticalização da
cidade, com apartamentos pequenos, predominando o apart-
hotel. [...] O volume de vendas soma em média dois
apartamentos por dia em Caldas Novas, e como já foi
salientado o grande comprador destes apartamentos está em
Brasília. (BARBOSA; PARANHOS, 2003, p. 2).
Esses autores continuam:
Os investimentos em Caldas Novas originam-se de empresários
locais. [...] O lazer em Caldas Novas encontra-se cercado por
esses poucos empresários locais, [...] apresenta uma
característica de um monopólio regional e familiar. O processo
de globalizão dos meios de hospedagem e do turismo, com
grandes cadeias hoteleiras ainda não investiu em Caldas Novas
(BARBOSA; PARANHOS, 2003, p. 3).
A figura 22 reproduz a origem de turistas entrevistados na
Feira do Luar, um dos principais espaços de visitão de Caldas Novas.
107
Figura 22- Caldas Novas (GO): origem dos turistas na Feira do Luar, 2004
0 5 10 15 20 25 30
Distrito Federal
Goiás
Maranhão
Minas Gerais
Rio de Janeiro
Rio Grande do Norte
Santa Catarina
São Paulo
Tocantins
Fonte: Pesquisa de campo, 2004.
Org.: BORGES, O. M., 2005.
Na busca de lucro, entrega-se a cidade ao turista que,
principalmente no período do carnaval e férias escolares, detonacom a
cidade. Não tem respeito algum pelo lugar e com os moradores, como afirma
uma jovem entrevistada pela autora.
A memóriada cidade vai se esvaecendo, posto que “para
permanecer habitante há que ser morador, há que ser aquele que usa, que
delimita territórios de uso(SEABRA, 2004, p.183).
Os conflitos de uso estabelecem-se entre moradores e entre
estes e os gestores do território urbano. Para normatizá-los, o PDU (2003, p.
1) estabelece o zoneamento urbano, procedimento que delimita o solo
municipal em zonas que devem sujeitar-se às normas de controle de uso,
ocupão e densidades populacionais. Tais normas devem ser “compaveis
com a garantia do meio ambiente ecologicamente equilibrado, com o bem
estar da populão e de acordo com a função social da propriedade”.
108
O segundo artigo do PDU divide as zonas de uso residencial
em: a) Zona Residencial com predonio de uso para habitão; b) Zona
Residencial de Baixa Densidade; c) Zona Residencial de Média Densidade e
Zona Residencial de Alta Densidade (Mapa 05).
110
Essa lei municipal também define a zona de uso misto e a zona
de atividade econômica. Na primeira, admite-se, além do uso residencial, usos
especiais e atividades ecomicas. Na segunda zona, predominam atividades
econômicas.
São legalmente estabelecidas pelo PDU as zonas de proteção
(Mapa 06):
I Zona de Proteção Ambiental compreende as zonas de valor
ecológico, paisagístico e recreativo cujos usos devem ser
compatíveis com a sua preservação;
Zona de Proteção Ambiental I: corresponde a zona de proteção
permanente;
Zona de Proteção Ambiental II: corresponde a unidade de
conservação;
Zona de Proteção Ambiental III: corresponde a área
institucional localizada em zona urbana e destinada à pra,
jardim, rótula e canteiro do sistema viário.
II Zona Aeroportuária Toda área adjacente ao Aeroporto.
III Zona de Proteção Hídrica: compreende a zona localizada
sobre a área de recarga do aqüífero termal (PDU, 2003, p. 3).
O PDU, promulgado em 15 de agosto de 2003, objetiva, em
tese, estabelecer a função social da cidade e da propriedade, as diretrizes da
política urbana e as leis específicas para o ordenamento do espo. A ação do
poder público é marcada pelos conflitos de interesses dos diferentes
membros da sociedade de classes, bem como das alianças entre eles. Tende a
privilegiar os interesses daquele segmento ou segmentos de classe dominante
que, a cada momento, estão no poder(CORRÊA, 1995, p. 26).
112
O poder público cria condições de realização e reprodução da
sociedade capitalista, muitas vezes propiciando favorecimentos e exclusão.
Essa regulamentação de usos é tanto mais importante porque o turismo é um
grande consumidor de espaço.
As diferentes formas de uso do solo urbano são resultado do
processo de divisão do trabalho, em que determinados agentes
se apropriam de forma diferenciada da cidade. Assim, quanto
mais intenso for esse processo, tanto maior será a sua
subdivisão em espos singulares, particulares, que podem
servir como suporte às atividades urbanas (SOARES, 1995, p.
98).
Na construção da cidade das águas quentes, os “espaços
singulares, particulares, de que fala Soares, caracterizam-se pela função
turística, ou seja, por uma infra-estrutura programada para promover
acomodão, recreação e lazer.
O conhecimento e o reconhecimento das singularidades devem
traduzir-se em identidades mercadológicas locacionais. A
cidade passa a ser também repensada pela nova necessidade em
oferecer certo produto turístico e vai ganhando novos designs
(CASTROGIOVANNI, 2001, p. 26).
Em Caldas Novas, com a expansão da malha urbana, os
proprietários de terra e os promotores imobiliários procuram maximizar seus
lucros. Até a promulgação do PDU, permitia-se a construção de prédios em
todas as áreas do perímetro urbano e, rapidamente o bioma cerrado deu lugar
à cidade.
De acordo com Barbosa (2004, p. 128), “em agosto de 1997
foi aprovado um novo perímetro urbano para a cidade. Nesse, foi mantida a
delimitão ao norte, a leste e ao sul e a área urbana foi ampliada para
contornar a Represa do Rio Corumbá, recém construída”, o que permitiu a
113
ação dos agentes imobiliários com os loteamentos, condonios horizontais,
clubes e chácaras. Isso está de acordo com “a ideologia básica do turismo
que busca novos ambientes para a reposição da energia física e mental
(ALMEIDA, 2001, p. 184).
À medida que a cidade ganha novas formas, com a construção
civil em alta, foi necessária mão-de-obra barata e desqualificada, que chegava
em caminhões. Muitos vêm porque têm um parente morando aqui, que já
ganhou um lote ou casa da Prefeitura e, por isso , vêm com a expectativa de
conseguir um emprego e algumas benesses oficiais(ALBUQUERQUE, 1998,
p. 27). Assim, surgiram os bairros Parque das Brisas III, Lago das Brisas e
Santa Efigênia, oriundos de lotes doados pelo poder público municipal
(pesquisa de campo, 2004).
A figura 23 indica a escolaridade observados nos cem
moradores de Caldas Novas entrevistados pela autora.
Figura 23- Caldas Novas (GO): nível de escolaridade dos entrevistados,
2004.
41
5
8
7
1
12
14
12
Analfabeto 1º incompleto 1º completo 2º incompleto
2º completo 3º incompleto 3º completo Não responderam
Fonte: Pesquisa de campo/2004.
Org.: BORGES, O. M. (2005).
Se, por um lado, as benesses do poder público induziram a
114
migração da populão de baixa renda, por outro, favorecem os detentores do
capital, que alteram a paisagem urbana da área central, expulsando a
populão residente para a implantação de novos usos comerciais e de
serviços.
No próximo item, aborda-se a renovação da área central,
proposta pelo PDU de Caldas Novas.
4.3 - Dinâmica da área central:
revitalização ou requalificação?
O centro de Caldas Novas apresenta novas atividades em
função do turismo. Antigas residências foram demolidas ou modificadas para
instalão de restaurantes, barzinhos, lojas de souvenirs, farmácias e
comércio em geral. Lugares antes familiares foram abolidos para a produção
de novas formas urbanas, processos que aprofundam a segregação, expulsando
a populão, perdendo-se as referências da identidade cidadão/cidade que
sustenta a memória.
Essas transformões imem um novo tempo para a
morfologia urbana, agora definida pela necessidade de
produção do novo espodos serviços. A vida cotidiana
perde sua força no espo fragmentado pela propriedade
privada nos espaços renovados ou reabilitados que produzem
novas formas para o uso – até sua inexistência total, porque
esse processo é imposto: o cidadão não fala, quando fala, não
é ouvido, e há instrumentos políticos que simulam a
participação da população. A revitalização por sua vez,
também produz a assepsia dos lugares, pois o degradado” é
sempre o que aparece, na paisagem, como o pobre, o sujo, o
feio exigindo sua substituição pelo rico, limpo, bonito:
características que não condizem com a pobreza. O uso do
espo é modificado pela imposição do valor de troca
(CARLOS, 2004, p.112).
115
Tais transformações compõem o cenário urbano neste começo
de século XXI e se manifesta no mercado de emprego, na qualidade de vida,
nas novas formas de aproprião do espaço urbano, na crescente fragmentão
socioeconômica e na segregão urbana. Esses elementos retratam uma
profunda diferenciação e segregação social e econômica entre as diversas
camadas da população, que acaba por ocupar diferentes setores da área urbana
em função de seus novos valores, sendo que a área central é a primeira a ser
renovada.
O centro permite uma coordenação das atividades urbanas. De
acordo com Castells (1983, p. 271), o centro promove uma identificação
simlica e ordenada destas atividades e, daí, a crião das condições
necessárias à comunicação entre os atores.
A revitalização do centro deve, no dizer de Simões Júnior
(1994, p. 17) buscar uma nova vitalidade para essas áreas, tanto do ponto de
vista econômico, quanto funcional, social e ambiental, mas o que,
geralmente ocorre é que os que não podem pagar pela mudança do uso desse
espaço são expulsos para áreas periféricas da cidade.
Uma cidade não é apenas um conjunto funcional, capaz de
gerir sua própria expansão, é também uma “estrutura simbólica”, que permite
a passagem entre sociedade e espo, estabelece uma relão entre natureza e
cultura.
A noção de espo é uma estrutura mental que se constrói ao
longo do desenvolvimento, desde o nascimento da criança até a
formalização de um pensamento através de um processo
complexo e progressivo que implica a mediação constante do
adulto que a cerca (PEREZ, 1999, p. 32).
116
O centro era local de convergência das pessoas para divertir-
se, encontrar com amigos, namorar, ir à igreja matriz. Na contemporaneidade
a área central expandiu-se a partir daquele núcleo original, mas mantêm como
referência a mesma Praça Mestre Orlando e a igreja (Figura 24).
118
Dentre as entrevistas concedidas à autora em 2004, foi ouvida
a D
a.
Hélia Rodrigues da Cunha, residente à Rua Antônio Coelho de Godoy,
em frente à pra Mestre Orlando, comentou:
No entorno da praça da Matriz eram casas ocupadas pelas
famílias proprietárias e construídas de parede e meia. Muitos
faziam parte da mesma família. As festas na igreja atraíam o
pessoal todo. Aos domingos, as moças e rapazes colocavam as
melhores roupas para irem à igreja, à praça. A praça era
conhecida como Pra da Matriz. Era referência para toda
população. As pessoas se reuniam na praça, nas calçadas para
conversar, namorar, contar piadas. Ali na esquina, entre as
ruas Idio Lopes e Antônio Coelho de Godoy era o sobrado
onde funcionava a cadeia pública. Depois foi demolido e
construiu o Cine Teatro Caldas Novas. Hoje é um
supermercado. Onde é o Balnrio Municipal havia uma casa
de banho da família Ozeda Ala. Depois foi construído o
balnrio público pela família Palmerston em sociedade com a
família Victor Ala. Victor Ala era meu avô, pai de minha mãe.
Caldas Novas tinha poucos lugares para hospedar, então as
pessoas chegavam em caravana e acampavam em alguns
lugares da cidade e ficavam meses. Um desses locais era acima
do Balnrio Municipal, onde havia uma árvore, tamboril e os
banhistas ficavam em baixo dessa árvore, na sombra,
esperando a hora dos banhos.
A figura 25 ilustra Dª Hélia descerrando a placa com o nome da Praça
Mestre Orlando, em homenagem a seu pai.
119
Figura 25 - D. Hélia descerrando a placa em
homenagem à Mestre Orlando (seu pai), 1973.
Fonte: Arquivo de RODRIGUES, H. da C., 2005.
Sobre turismo e lazer, na diretriz II, o PDU propõe:
Resgatar o turismo saúde com a instalação do Museu das Águas
Quentes para divulgação das propriedades terapêuticas das águas
quentes.
Restaurar o prédio e equipamentos.
Manter o balneário aberto todos os dias da semana.
Comercializar publicões sobre as águas quentes de Caldas Novas
e região.
Elaborar folhetos explicativos sobre a utilização das águas
quentes.
Em entrevistas na Pra Mestre Orlando, ouviram-se poucas
120
queixas sobre sua aproprião por visitantes que chegam a praticar
vandalismo, usam drogas, impedem o trânsito livre e seguro dos pedestres.
Uma entrevistada afirmou:
Todos os dias, no intervalo do almoço, dirijo-me à praça e,
sentada à sombra das árvores desligo de todos os problemas.
Nunca presenciei nada de ruim que pudesse me afastar desse
lugar. A pra significa para mim paz, energia, tranqüilidade.
Hoje, vejo famílias passearem e até crianças brincando por
aqui.
Um senhor, que “cuidade carros estacionados no entorno da
Pra Mestre Orlando (Figura 26), mostrou-nos como os canteiros estão sendo
cuidados, os banheiros limpos, as árvores podadas. Disse ele:
A Prefeita tirou o carnaval aqui do centro da cidade. Muita
gente achou ruim mesmo. Eu achei muito bom porque a pra
agora já está ficando bonita. O carnaval este ano (2005)
aconteceu nos clubes e lá na Lagoa de Pirapitinga, mesmo
assim, aqui no centro aconteceu problemas.
Figura 26 - Vista parcial da pra Mestre Orlando, Caldas
Novas (GO), 2005.
Autor: CÂNDIDO, M.D.G., 2005.
Outro ponto de referência no centro é o CTC, o primeiro
clube-hotel da cidade com piscinas de águas quentes, que data de 1968. No
local havia uma nascente de água termal, mas a partir do momento que passam
121
a perfurar poços e bombear água para abastecer as piscinas e usos diversos do
próprio clube, a nascente deixa de existir (pesquisa de campo, 2004).
A populão de Caldas Novas vive a expectativa de uma ação
transformadora da nova gestão municipal (2005-2008), no sentido de se
construir uma cidade que acolhe o turista, mas também se pensa como
totalidade.
Seja qual for a tradução espacial numa forma histórica
determinada, podemos reter uma primeira noção fundamental
do centro, enquanto intermediário entre os processos de
produção e de consumo na cidade, ou, mais simplesmente entre
a atividade econômica e a organização social urbanas. O
processo de troca urbana compreende ao mesmo tempo um
sistema de fluxo, isto é, a circulação, e as placas giratórias de
comunicação, isto é, os centros. O centro urbano permutador é,
portanto a organização espacial dos canais de troca entre os
processos de produção e o processo de consumo (no sentido de
organização social) num aglomerado urbano (CASTELLS,
1993, p. 277).
O centro permutador, de que fala Castells (1983), muda, além
da forma, no decorrer de gerões, o seu conteúdo social, sendo o uso do
espaço transformado pela evolução e inovação das técnicas. As práticas do
cotidiano possibilitam a leitura do lugar, reconhecendo os elementos
culturais, sociais e naturais que formam o espaço geográfico.
No centro de Caldas Novas, há avenidas amplas, edificações
de um pavimento e uma verticalização pontual, com edifícios de quatro a
cinco pavimentos. Nesse centro, predomina o comércio. A área central
constitui-se no foco principal não apenas da cidade, mas também de sua
hinterlândia. Nessa área, concentram-se as principais atividades comerciais,
de serviços, da gestão pública e privada, e os terminais de transportes inter-
regionais e intra-urbanos(CORRÊA, 1989, p. 38).
122
O centro de Caldas Novas caracteriza-se pela diversificação
de suas atividades e pela grande circulação de pessoas. Roupas de banho,
ias acham-se penduradas nas marquises, atrapalhando a passagem dos
pedestres. Caldas Novas destaca-se pelas confecções da moda praia. São
biquínis, maiôs, saídas de banho, shorts e camisetas (Figura 27).
Figura 27 - Ocupação das calçadas pelos comerciantes, Caldas
Novas (GO), 2004
. Foto: BORGES, O. M., 2004.
O cheiro dos petiscos é um convite para adentrar nos
restaurantes e barzinhos. O consumo invade toda a vida, de modo que
todas as atividades se encadeiam do mesmo modo combinatório, em que o
canal de satisfações se encontra previamente traçado, hora a hora, em que o
envolvimento é total, inteiramente climatizado, organizado, culturalizado
(BAUDRILLARD, 1995, p. 19).
Para Carlos (2002, p. 176),o espaço do turismo e do lazer são
espaços visuais, preso ao mundo das imagens que impõem à redução e o
simulacro. E que reduzem a aproprião enquanto mercadoria de uso
123
temporáriodefinida pelo tempo de não-trabalho.
Os shopping centers se tornaram um lugar central para uma
parte da sociedade brasileira, afirma Pintaudi (2002, p. 157), e o mesmo
ocorre em Caldas Novas. A cidade de Caldas Novas “conta com vários
shoppings centers, situados no centro da cidade, a maioria de pequeno porte
(ALBUQUERQUE, 1998, p. 31). Destacam-se o Shopping Águas Calientes e o
Tropical (Figura 28).
Figura 28 - Shopping Tropical, Caldas Novas (GO), 2004.
Autor:
BORGES, O. M., 2004.
Vale ressaltar, no entanto, que, em Caldas Novas, ainda é
possível o andar lento e descontraído, prevalece o uso dos espaços abertos em
detrimento dos fechados.
Uma aluna do sexto período de Pedagogia afirma que “a
cidade atualmente ainda “é calma e muito boa para se viver. Não é uma cidade
pica de interior (pacata), mas ao mesmo tempo não tem aquela correria das
grandes cidades(entrevista à autora, 2005).
No entorno imediato desse centro, a verticalização destaca-se,
124
como atestam os bairros Termal, Turista I e parte do Setor Oeste (Figura 29).
Figura 29 – Vista parcial dos bairros Termal e Turista I (fundo), Caldas
Novas (GO), 2004.
Autor: BORGES, O. M., 2004.
A formão e o crescimento da cidade vinculam-se à área
central. A leste dessa área, flui o córrego do Açude e a oeste, o córrego
Caldas. O sul da cidade acha-se conectado com o centro através da Av. Cel.
Bento de Godoy. Esta dá acesso ao trevo sul, com saída para Uberlândia e São
Paulo, pela rodovia GO-139. Esta por sua vez, conecta com a rodovia GO-213
no trevo norte, saída para Goiânia e Brasília.
A figura 30 ilustra as vias de acesso da cidade de Caldas
Novas para outras localidades.
126
Embora se perceba um crescimento veloz, em Caldas Novas,
há eixos que convergem para o centro da cidade e, do ponto de vista
funcional, esse centro atrai atividades diversas.
Concordamos com Pintaudi (2002, p. 144) ao afirmar que “a
atividade comercial pertence à essência do urbano e seu aprofundamento nos
permite um melhor conhecimento desse espo e da vida na cidade”.
A atividade comercial sempre demandou centralidade, o que
também significa dizer acessibilidade. Por sua vez, a
centralidade também significou um tempo determinado. A
determinação do tempo é mais complexa é o tempo do
cotidiano que torna complexo o tempo histórico (a longa
duração) numa rede necessária e difícil de discernir (idem,
2002, p.155-156).
O centro de Caldas Novas representou a concentração das
atividades urbanas, desde as funções comerciais, sociais, de entretenimento,
institucionais e de administrão pública. Todavia, com a expansão da malha
urbana, outras áreas passam a atrair movimento, principalmente, em rao do
turismo de lazer. Porém, a área central continua sendo um importante foco
articulador de acessibilidade e de referência para toda a população. Em
períodos de alta temporada, quando o fluxo de turistas aumenta
consideravelmente e, não havendo uma sinalização adequada para o trânsito
de veículos e pedestres, torna-se, em alguns momentos, inviável movimentar-
se pelo centro.
As discussões em torno da política pública de revitalização de
áreas urbanas centrais ocorrem desde os anos 1980. Em grande parte das
cidades brasileiras, o centro encontra-se em processo de deterioração, causada
pelo aumento explosivo de população e pelo crescimento da malha urbana.
127
No PDU de Caldas Novas, a revitalização do centro é
entendida como parte do processo de revalorização do solo urbano, tendo por
diretrizes:
Construir uma identidade urbana renovada, valorizando
a diversidade cultural, étnica e de bairros, bem como a
cultura do trabalho, que caracterizam o município.
Dotar a cidade de múltiplos centros com qualidade
urbana e espos públicos democráticos, articulados a
propostas econômicas de geração de renda e trabalho.
Criar o paisagismo como elemento constitutivo do
desenvolvimento urbano.
Fomentar a apropriação dos espos públicos pelo
conjunto da população, garantindo as condições para tal
e revertendo a tendência de fragmentação da vida
urbana.
Combater os processos de segregão social e espacial,
de modo a tornar mais igualitário o acesso da população
a terra e aos serviços urbanos.
Aprimorar o sistema de planejamento e gestão da
cidade, democratizando-o e propiciando maior controle
social.
Desenvolver propostas inovadoras de planejamento
urbano integrado nos fóruns regionais. (PDU, 2003, p.
38-39)
As propostas do PDU vêm ao encontro da necessidade de
resgatar parte da história e da cultura do povo caldasnovense. Revitalizar o
centro da cidade seria aumentar a humanização na vida urbana, diminuindo o
excesso de veículos motorizados nas ruas, privilegiando o pedestre e o
convívio.
Os itens que se referem ao centro da cidade de Caldas Novas
afirmam:
Implementar ões de revitalização do centro da cidade,
entendendo como espo de referência da população de Caldas
Novas, integrando-se aos programas de natureza urbanística,
turística, social e cultural.
128
Potencializar a ocupão e diversificar os usos de áreas
urbanas centrais que disponham de infra-estrutura
subutilizada, adequando a legislação de uso e ocupação do
solo e readequando os imóveis aos novos usos requeridos.
(PDU, 2003, p. 39-40)
Há que se liberar o trânsito de pedestres, intervindo nos
espaços de convívio já existentes, ambientando-os adequadamente ao uso
público, seja como passagem ou para permanência.
Quanto ao mobiliário urbano, destacamos a necessidade de
implantação de telefones blicos, lixeiras, bancos, sinalização indicativa
com os principais pontos turísticos da cidade, quiosques padronizados para a
venda de flores, doces regionais, artesanato, policiamento, informações
turísticas e outros, propondo-se um design que favoreça a identidade da
cidade.
Em relão ao transporte urbano, faz-se necessária a
implantação de pontos de ônibus com abrigos, com design próprio, constando
mapas indicativos e legíveis, exibindo, com clareza, o traçado dos
logradouros públicos.
No texto do PDU, que trata do Futuro da Cidade, propõe:
Promover a revitalização do centro da cidade, tornando-a
agradável ao turista, com padronização das calçadas, reforma
da praça central, construção da rua de lazer em torno da Praça
Mestre Orlando, e na rua Major Victor, entre a Av. Orcalino
Santos, e a Rua Antônio Coelho; elaborar um projeto
paisagístico incorporando a área da Prefeitura ao sambódromo,
constituindo uma praça pública, com lâmina dágua, e fontes
luminosas exaltando as águas termais.
Propõe-se ainda:
Desenvolver atividades culturais para maior
129
participação da comunidade e dos turistas.
Revitalizar o tronco do tamboril com menção do poema
da Drª. Wanda Rodrigues como marco dos viajantes.
Construir concha acústica para ter um espo adequado
à realização de eventos culturais.
Construir banheiros públicos para maior comodidade do
público.
Implantar painéis com calendário dos eventos que ali se
realizarão.
Construir quiosques padronizados para comercialização
de sorvetes, pamonhas, água de coco, caldo de cana,
pipoca e algodão doce.
O projeto de requalificão da área central deve contemplar
esses itens, objetivando a melhoria na qualidade do espaço urbano e,
conseqüentemente, da vida de cidadãos e visitantes. Para tanto, é
imprescindível a participão destes na definição das necessidades e
prioridades da cidade. Participar é responsabilizar-se, resgata o respeito pelo
bem público.
Nesse centro, há todo um patrimônio histórico e cultural, que
possibilita o resgate do valor da história, do imaginário da populão e das
raízes da própria cidade. A Pra Mestre Orlando é um marco da emancipão
de Caldas Novas, com sua igreja construída em 1850.
Criar incentivos, como ocorreu no Rio de Janeiro com o
projeto Corredor Cultural, com a isenção do IPTU para comerciantes e
proprietários que recuperassem e / ou mantivessem edificações com valor
histórico, arquitetônico, arstico e cultural, pode viabilizar a execução desse
projeto.
Ao requalificar o centro, a preservação ambiental também
deverá ter uma atenção especial. As pras e as áreas verdes existentes são
130
um cenário da paisagem urbana, merecendo tratamento adequado não só
paisagístico, mas como local de infiltração das águas pluviais. Com isso a
fisionomia local torna-se mais agradável e atrativa, trata-se da melhoria na
qualidade de vida ambiental e humana.
Os investimentos no centro devem estender-se aos bairros,
que, no item a seguir, são caracterizados.
4.4 - A expansão da malha urbana
Sobre o crescimento da cidade de Caldas Novas, a Figura 31
revela que, de 100 habitantes entrevistados, 48 apontaram como aspecto
positivo a geração de empregos; 21 consideram a importância das faculdades,
porque capacitam os jovens da cidade e de municípios vizinhos a exercerem
trabalhos relativos ao turismo e 31 os entrevistados não se manifestaram
(Figura 31).
Figura 31- Caldas Novas (GO): aspectos positivos do crescimento da
cidade segundo entrevistados, 2004.
31
21
48
Geração de empregos Outros Não responderam
Fonte: Pesquisa de campo/2004.
Org.: BORGES, O. M., 2005
131
Em pesquisa de campo, realizada em 2004, constatou-se a
existência de grandes vazios no entorno da cidade, com loteamentos,
arruamentos, mas com ausência de toda e qualquer infra-estrutura básica. Nas
zonas residenciais, deparamos com territórios exclusivos, marcados pela auto-
segregação. Essa forma de uso do espaço reside na aproprião privada de
território, acentuando cada vez mais uma forma exclusiva de morar.
Quanto aos espaços segregados de lazer na cidade de Caldas
Novas, esses se misturam em meio aos espos residenciais. Clubes hotéis e
parques aquáticos coexistem com outras temporalidades. Apresentam imagens
arquitetônicas e equipamentos modernos de animação que contrastam com as
construções horizontais, mais antigas.
Figura 32 - Vista parcial da cidade de Caldas Novas (GO): diversas
formas de uso e ocupação do solo urbano, 2005.
Autor: RAMOS, D. S.,
2005.
132
O uso dos espos de lazer limita-se a uma determinada
parcela da população residente e aos turistas, o que configura a cidade “como
lugar de encontros e de desencontros para onde fluíam migrantes na
expectativa de trabalho(SEABRA, 2001, p. 202).
Essa é uma das realidades de Caldas Novas. Em época de
baixa temporada, isto é, nos períodos entre as férias escolares, ao se observar
com atenção as ruas da cidade, verifica-se que lojas, restaurantes, barzinhos
fecham as portas, dando a entender que a cidade entra em hibernaçãopara
depois “acordar” com o barulho intenso dos carros, dos sons e a animão dos
turistas.
O bairro Turista I e o bairro Termal apresentam intensa
verticalização. São condomínios, clubes hotéis, vias pavimentadas,
iluminação e jardinagem. Nesses bairros, as estruturas se elevam e as cores
tornam-se referenciais (pesquisa de campo, 2004).
Dos 148 bairros da cidade, apenas uma parcela é servida pelo
sistema de esgoto (30%), enquanto 70% têm como destino as fossas, e, com
isso a possibilidade de contaminação do lençol frtico (PALESTRA,
06/06/2005).
O Turista II, atualmente com baixo adensamento de
construções, caracteriza-se como segunda etapa do bairro Turista I, sendo que
já desponta a verticalização do mesmo (Figura 33).
133
Figura 33 - O bairro Turista I e II vistos a partir do bairro Solar das Caldas, Caldas Novas (GO), 2004.
Autor: BORGES, O. M., 2004.
A vila Olegário Pinto é uma das mais antigas da cidade.
Apresenta maior adensamento construtivo, com poucos lotes vagos. Há hotéis,
residências e edifícios de quatro a cinco pavimentos. A entrevistada Izabel
Cristina, maranhense, comentou que há água encanada e rede de esgoto. A
coleta de lixo é feita três vezes por semana e as ruas são asfaltadas. Na Rua
3, nesta Vila, está instalada a Cooperativa dos Produtores de Leite de
Morrinhos junto ao córrego Caldas. Esse bairro limita-se com o Jardim
Paraíso que possui alta densidade de construções, a maioria residências. As
vias são asfaltadas e com iluminação (Pesquisa de campo, 2004).
O bairro Itanhangá I é considerado um dos mais novos da
cidade, com toda infra-estrutura básica.
Um dos lugares procurados pelos
turistas é a Cachaçaria Vale das Águas Quentes, localizada neste bairro. Um
guia acompanha os turistas e explica o processo de fabricação da cachaça que
é produzida na região e envelhecida em barris de madeira nobre. A
proprietária da empresa informou que, na fazenda, faz-se o plantio e o
processamento da cana, a bebida, por sua qualidade, já conquistou o mercado
134
externo. Os licores de sabores variados (pequi, menta, jenipapo, ervas e
outros) podem ser degustados, o que possibilita ao consumidor fazer a sua
escolha. Além do licor de pequi, os vidros de tamanhos e formas diferentes
exibem as conservas do fruto (Pesquisa de campo, 2003).
Uma estudante, entrevistada neste bairro, informou:
Há casas de material de construção, lojas de carros, sacolão,
salão de cabeleireiro, barzinhos. As calçadas têm condições de
trânsito para os pedestres. Existem lotes vagos mas são poucos
e mal cuidados, sujos. É um bairro de classe média. O valor de
um lote é muito alto, de trinta a trinta e cinco mil reais. Meu
bairro foi uma fazenda mas não sei a quem pertenceu (Pesquisa
de campo, 2004).
Outra entrevistada do bairro Itanhangá I escreveu: o lugar é
calmo, com alguns lotes baldios, sem áreas verdes porque os prefeitos doaram
para grandes empresários, sem parques e com uma praça, a dos Maçons com
fontes e sem árvores. Quanto à cidade, ela afirma que teve um crescimento
muito rápido, existindo bairros de crescimento espontâneo e carentes de infra-
estrutura, contrastando com bairros novos com certa infra-estrutura. Sugere
melhorar o transporte coletivo, coleta e tratamento de lixo, o fornecimento
de energia e comunicões, o saneamento básico, implantação de parques e
áreas verdes e pavimentão das ruas(pesquisa de campo, 2004).
Sobre o bairro Bandeirantes, um entrevistado, trabalhando
com vendas de imóveis, deu-nos as seguintes informações:
O bairro localiza-se a oeste da cidade, é um bairro novo com
pouco mais de treze anos. Fazia parte de uma fazenda da
família Sanches, proprietários do Hotel Clube Itatiaia. Vieram
de São Paulo, capital, de descendência espanhola. No início da
década de 1990 foi urbanizado e vendido, no auge da expansão
imobiliária. Na sua maior parte os lotes foram vendidos para
pessoas que residem em outras cidades. Ainda hoje, existem
135
muitos lotes baldios que só servem para as pessoas jogarem
entulhos. De vez em quando a Prefeitura passa o trator para
roçar o mato. Sua infra-estrutura está completa, com asfalto,
água, luz e esgoto. Fica localizado a quinze minutos, à pé, do
centro. Sua característica principal é um bairro residencial.
Há um colégio, o 7 de Setembro. Existe pequeno comércio com
bares, padaria, frutaria e outros. Para o pedestre o tráfego já
se torna mais difícil por falta de calçadas nos lotes vagos. Tem
poucas árvores as que existiam, num ato de falta de
conhecimento das leis de preservão do meio ambiente, o
prefeito podou deixando só o tronco das árvores e alguns
pequenos galhos. É considerado um bairro de classe média-
alta. Os lotes são caros, próprios para investimento, o que é
proporcionado pela especulação imobiliária.
A vila São José, também situada nas proximidades do centro,
originou-se a partir de invasões e as construções apresentam-se precárias
(pesquisa de Campo, 2004). Uma estudante de 18 anos, residente na mesma,
descreveu o bairro da seguinte maneira:
É bem localizado, perto do centro. É servido por água e
esgoto. Há escolas de ensino fundamental e médio. Há um
pequeno comércio: padarias e outros. Há terrenos vagos e as
pessoas depositam o lixo nestes. Há um córrego que divide o
meu bairro com o Itaguaí é o córrego do Açude. O lugar
onde eu moro é muito violento, grande foco de distribuição de
drogas. Gostaria que fosse mais limpo e com policiamento para
melhorar a convivência no lugar.
Outra estudante de 14 anos, residente no Setor São José,
qualificou o bairro como sendo mal cuidado e que precisaria de uma boa
administrão. Sobre a cidade, ela acha que “não é cuidada e deveria
trabalhar noções de política para que os cidadãos saibam votar. Os bairros
Jardim Roma, Jardim dos Turistas, Vila São José, Setor Oeste, localizados no
entorno próximo ao centro apresentam média densidade de construção. Já o
bairro Bandeirantes possui alta densidade construtiva.
136
O mapa 07 ilustra a localização geográfica dos bairros da
cidade. O bairro Portal das Águas Quentes, possui somente uma via asfaltada,
a única com iluminação. Inexiste comércio e não há calçadas para pedestres, a
água vem da cisterna e não há esgoto. É um bairro com baixa densidade de
construções e existem inúmeras quadras invadidas pelo mato. Segundo um
morador entrevistado, o lixo que é coletado no centro da cidade é depositado
em um setor do bairro. Não há infra-estrutura, é tudo muito sujo(Pesquisa
de campo, 2004).
Os bairros Estância Itanhangá II, Setor Itaparica, Setor
Planalto, Residencial Konesuk, Residencial Primavera, Condonio
Residencial Porto Seguro, Jardim Interlago, Sítio Lago Azul, Condonio
Marina de Caldas, Jardim Privé das Caldas, Jardim Hanashiro, Lago das
Brisas e Santa Efigênia apresentam as mesmas características de baixa
densidade de ocupação, abastecimento de água de cisterna e o esgotamento
sanitário através de fossas.
É interessante observar o nome dado aos bairros, que busca a
indução do consciente a lugares aprazíveis. Segundo OGrady (apud
KRIPPENDORF, 2000, p. 41) os pregadores da igreja só podem prometer o
paraíso as a morte, enquanto no turismo ele já é oferecido aqui na terra.
Esse paraíso é prometido até mesmo na denominão dos bairros.
No bairro Jardim Serrano as vias são, em sua maioria, de
terra; uma via asfaltada liga ao Parque Estadual da Serra de Caldas; o nome
das ruas, normalmente, é fixado nas casas junto com a numeração das
mesmas.
138
Sobre a Avenida Andes, uma moradora, a gari Lúcia, informa
que “a água é de cisterna, há energia mas o banho é frio porque a energia é
muito cara. Não há iluminação, as construções são simples e com baixa
densidade de ocupação (pesquisa de campo, 2004).
O bairro Serra Park possui arruamento sem pavimentão e com
o posteamento implantado cercado com alambrado. Não há nenhuma
construção. O bairro Green Gardens apresenta as mesmas características.
Os bairros Itaici II, Itajá,, Estância Itaguaí, Clube dos 20,
Recanto dos Amigos e Itaguaí 2 apresentam média densidade de construção e
o Setor Lagoa Quente, baixíssima densidade construtiva.
A professora de História, residente no bairro Mansões das
Águas Quentes (quadras transformadas em condonio), escreveu sobre o
lugar onde mora:
Ainda não tem asfalto, nem rede de esgoto, água tratada e
precisa de maior atenção do poder público municipal. Gostaria
que tivesse saneamento básico, ruas asfaltadas e posto policial
para dar mais segurança aos moradores. Para diminuir essas
distâncias, o trabalho com projetos ligados a questão do lixo,
lotes baldios, entre outros.
No contato com os entrevistados, com o que eles escreveram
ou falaram, observa-se a reprodução desigual e fragmentada do espaço urbano
de Caldas Novas.
A professora do bairro Mansões Águas Quentes afirmou:
Minha cidade é bessima. Está crescendo num ritmo acelerado
e por isso precisa de muito empenho da administração pública
para cuidar da questão ambiental e dos setores básicos, que
atendem a classe trabalhadora de baixa renda e, por outro lado,
a questão ambiental exige cuidados imediatos, sobretudo no
139
que diz respeito ao lixo e na queima do cerrado, que constitui
o cinturão verde do município. A poluição da rede hidrográfica
também pede socorro e a destruição das matas ciliares pelos
chacareiros das áreas verdes.
O investimento diferenciado do poder público acentua as
diferenças. Os mecanismos de segregão, adotados pelo Estado, acham-se
presentes nas normas de controle do uso e ocupação do solo urbano. Os
diferenciais nas taxas de IPTU deixam transparecer a discriminão,
afetando o preço de terra e dos imóveis e, como conseqüência, incidindo na
segregação social(CORRÊA, 1995, p. 26).
A Prefeitura Municipal de Caldas Novas, em pesquisa de
recadastramento dos imóveis, constatou, de acordo com Barbosa (2004), a
existência de 85.000 lotes no município, dentre eles, com 73% tendo o IPTU
calculado apenas para o terreno. É uma realidade que gera conflitos e traz
conseqüências para toda a sociedade. A evasão das divisas públicas não
permite o retorno em benefícios para essa populão, deixando de ser
aplicado em educação, saúde, moradia infra-estrutura básica e outros.
A tabela 6 reproduz os dados apontados por Barbosa (2004),
mostrando os percentuais de edificações irregulares nos bairros da cidade. Há
bairros com elevados percentuais de edificações irregulares, como o Parque
das Brisas III (84%) e o Lago das Brisas (72%).
140
Tabela 06 - Caldas Novas: bairros segundo percentual de edificões
irregulares, 2004.
Bairros % Bairros %
Itajá 8,33 Parque Real 22,0
Itaguaí 29,08 Portal das Águas Quentes 2,0
Setor São José 6,0 Jardim Paraíso 19,0
Setor Oeste 2,0 Jardim Prive das Caldas 17,0
Olegário Pinto 5,32 Jussara 3,0
Centro 13,89 Bairro Termal 2,19
Bandeirante 8,55 Bairro popular 18,0
Itanhangá 6,25 Buriti Mirim 9,0
Estância Jequitimar 3,0 Caldas do Oeste 14,0
Jardim Belvedere 7,0 Estância dos Buritis 10,0
Jardim Esmeralda 1,0 Jardim dos Buritis 27,0
Jardim França 0,0 Nova Vila 7,0
Jardim Jeriguara 0,0 Vila Moraes 10,0
Jardim Serrano 12,61 Estância Boa Vista 14,0
Parque das Brisas III 84,0 Holliday 7,0
Recanto Passagem do
Lago
0,0 Setor Universitário 5,0
Jardim Roma 14,38 Estância Tamburi 0,0
Residencial Nova
Canaã
9,0 Jardim Tangará 9,0
Village Thermas de
Caldas
0,0 Parque Termas de Caldas 0,0
Jardim Brasília 0,0 Prive de Caldas 0,0
Jardim Vitória 0,0 Recanto das Águas 9,0
Itaici 9,61 Recanto de Caldas 3,0
Jardim Hanashiro 17,76
Residencial Caminho do
Lago
7,0
Jardim dos Turistas 15,0 Residencial Konesuk 7,0
Portal do Lago 1,0
Residencial Lago das
Aroeiras
0,0
Alto da Boa Vista 0,0 Residencial Lago dos Ipês 0,0
Bairro do Turista I 2,0 Residencial Paraíso 3,0
Bairro do turista II 12,0 Residencial Porto Seguro 2,0
141
(Continuação)
Lago das Brisas 72,0 Residencial Primavera 5,0
Lago de Cristal 0,0 San Germain 0,0
Lagoa Quente 1,0 Santa Efigênia 35,0
Loteamento
Anhanguera
15,0 Serrinha 14,0
Mansões das Águas
Quentes
2,0 Setor Aeroporto 7,0
Mansões Recanto da
Serra
3,0 Setor Bela Vista 2,0
Morada Nobre I 0,0 Setor Itaparica 8,0
Morada Nobre II 0,0 Setor Planalto 6,0
Parque das Laranjeiras 1,0 Solar de Caldas Novas 6,0
Parque Jardim Brasil 5,0
Fonte: Barbosa, 2004, p. 147.
Essa realidade não é só de Caldas Novas, ocorre em outras
cidades brasileiras. É fruto das contradições do capitalismo, que influenciam
as estratégias locacionais.
O espaço urbano é fragmentado e articulado, reflexo e
condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas. É assim a
própria sociedade em uma de suas dimensões, aquela mais aparente,
materializada nas formas espaciais(CORRÊA, 1995, p. 9) .
Quaisquer que sejam as formas espaciais, elas se acham
impregnadas de conteúdo social e de memória.
Olhar para as cidades é sempre um prazer especial, por mais
comum que possa ser o panorama urbano. A cidade é uma
construção física e imaginária, compreende um lugar e faz
parte do todo geográfico. O tecido urbano é dinâmico e está
inserido no processo histórico de uma sociedade. O traçado de
uma cidade é uma arte processual e representa uma leitura
temporal. A cada instante há mais do que os olhos podem ver,
do que o olfato pode sentir ou do que os ouvidos podem
escutar (CASTROGIOVANNI, 2001, p. 25).
142
A cidade é uma história em construção. As próximas décadas
poderão ver melhor o momento presente e cuidar para que a cidade retome a
sua característica de local de abrigo e protão.
143
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo permitiu-nos conhecer um pouco da história de Goiás pelas trilhas
dos bandeirantes, por seus historiadores e pelo povo, nas águas quentes.
Na procura do ouro e pedras preciosas e do índio escravo, as águas quentes
foram descobertas. O ouro cedo se esgotou e, na contemporaneidade, se teme o esgotamento
do manancial de águas termais na região das Caldas.
Ao transitarmos pelos meandros da burocracia, deparamos com imeras
dificuldades: obstáculos na obtenção de informões, inexistência de dados, dificuldade de
acesso aos mesmos, imprescindíveis para análise mais apurada sobre a (re) construção do
espo urbano de Caldas Novas.
No decorrer de nossas pesquisas de campo, constatamos que ainda existem
pessoas que têm uma referência com o lugar, à identidade com a terra. Por meio de suas falas,
vemos que o “estranhotrouxe contribuições, mas também transformões acentuadas na
ocupação e uso do solo e na apropriação cultural do mesmo.
A partir dos anos 1980, o espo urbano expandiu-se rapidamente. A
cidade explodiu” ao tornar-se mercadoria nas mãos dos agentes do turismo e da especulação
imobiliária. O espo retalhado acentuou as diferenças socioeconômicas entre os habitantes,
que não têm acesso aos lugares, ou aos não lugaresconstruídos para o turista.
O boom do turismo determinou o rápido crescimento da população e a
expansão da malha urbana. Ao se expandir, a cidade agregou novas áreas ao núcleo central e
passou a receber imeros investimentos. Os clubes hotéis, pousadas, hotéis, a verticalização
e os condonios foram mudando a “cara da cidade.
144
Ao mesmo tempo, a explosão urbana promoveu grandes desmatamentos e
aumentou a pressão sobre os recursos naturais, o que desencadeou imeros problemas
ambientais, que poderá acarretar sua insustentabilidade no curto e médio prazos.
Os agentes promotores da especulação imobiliária criaram o ideário do
Paraíso das Águas Quentes, mas esse não reproduz a realidade urbana. Se existem, nesse
espo, ilhasde prazer, poucos são que delas podem usufruir. Em nossas imeras viagens
e no contato com moradores dos mais diversos estratos sociais, constatamos que o cotidiano
dos habitantes está bem afastado da representação de Caldas Novas. Tudo leva a crer que é
preciso reeducar o olhar dessa comunidade que tem na atividade turística as bases da
sobrevivência.
145
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