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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: GEOGRAFIA E GESTÃO DO TERRITÓRIO
AS PRAÇAS DE RIBEIRÃO PRETO-SP:
UMA CONTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA AO PLANEJAMENTO E À
GESTÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS
MARCOS ANTÔNIO SILVESTRE GOMES
UBERLÂNDIA
2005
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Milhares de livros grátis para download.
MARCOS ANTÔNIO SILVESTRE GOMES
AS PRAÇAS DE RIBEIRÃO PRETO-SP:
UMA CONTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA AO PLANEJAMENTO E À
GESTÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal
de Uberlândia, como requisito parcial à obtenção do
título de mestre em Geografia.
Área de Concentração: Geografia e Gestão do
Território.
Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Ribeiro Soares.
Uberlândia-MG
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
2005
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FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborado pelo Sistema de Bibliotecas da UFU / Setor de
Catalogação e Classificação - mg / 03-05
G633p
Gomes, Marcos Antônio Silvestre.
As praças de Ribeirão Preto-SP: uma contribuição geográfi-
ca ao planejamento e à gestão dos espaços públicos / Marcos
Antônio Silvestre Gomes. - Uberlândia, 2005.
204f. : il.
Orientador: Beatriz Ribeiro Soares.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Uberlândia,
Programa de Pós-Graduação em Geografia.
Inclui bibliografia.
1. Geografia urbana - Teses. 2. Espaços públicos - Ribeirão
Preto (SP) - Teses. 3. Planejamento urbano - Teses. I. Soares,
Beatriz Ribeiro. II. Universidade Federal de Uberlândia. Progra-
ma de Pós-Graduação em Geografia. III. Título.
CDU: 911.375(043.3)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
Marcos Antônio Silvestre Gomes
As Praças de Ribeirão Preto-SP:
uma contribuição geográfica ao planejamento e à gestão dos espaços públicos
Profa. Dra. Beatriz Ribeiro Soares (Orientadora) - UFU
Profa. Dra. Marlene Teresinha de Muno Colesanti - UFU
Profa. Dra. Margarete Cristiane de Costa Trindade Amorim - UNESP
Data:_____/________de__________
Resultado: _____________________
À minha mãe, Marili;
Sustentáculo da minha família.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por conceder-me força e entusiasmo em meio às adversidades da vida;
À Capes, pelo auxílio financeiro fundamental ao andamento da pesquisa;
À Profa. Beatriz, que mais que orientadora foi sempre a pessoa presente, por aceitar o
desafio deste trabalho e pela confiança depositada;
À Profa. Marlene, pelo apoio que concedeu e pela disposição em ajudar;
À Profa. Margarete, que me auxiliou a caminhar no universo da pesquisa e me fez
interessar pelos espaços livres públicos, ainda nos primeiros anos da graduação;
Ao Prof. Julio, pelas contribuições sugeridas no exame de qualificação;
Ao IG/UFU, de maneira geral, por acreditar na Geografia, embora caminhando para
acertar cada vez mais os seus passos;
Ao Daniel, pela paciência e ajuda, essenciais para a parte do geoprocessamento;
Aos demais amigos, Luciene, Jussara, Pedro, Ricardo, Olinda, Penha e inúmeros
outros que, através do convívio, enriqueceram o período da pós-graduação;
Ao amigo Toni e aos alunos de Geografia do CBM, em especial à Ângela, pelas
fotografias concedidas, e ao André, pela ajuda na formatação do texto;
À Isabel, pela amizade e por ceder seu veículo, muitas vezes, para as atividades de
campo;
Aos órgãos públicos de Ribeirão Preto, em especial, à Secretaria de Planejamento e
Gestão Ambiental, através do ecólogo Perci Guzzo e, à Divisão de Parques e Jardins, através
do agrônomo Hamilton de Oliveira;
Á minha família, sustentáculo de minha vida, pelas diferenças e semelhanças, em
especial, minha mãe Marili e minha irmã Jane, por estarem mais presentes neste ano;
Enfim, a todos aqueles que, de alguma forma, deram sua contribuição à execução
deste trabalho, meu muito obrigado!
As praças públicas sempre estiveram na moda. Ficavam no
coração das antigas cidades gregas e romanas, das cidades
medievais e, mais tarde, das aldeias coloniais, assim como
das metrópoles modernas. São lugares para ver e ser visto,
para comprar e fazer negócios, para passear e fazer política.
As melhores praças são lugares agradáveis durante a maior
parte do ano, amenizando o calor no meio do verão e
evitando o frio no início da primavera e no fim do outono.
Tais lugares são raros e muito apreciados.
Anne Whiston Spirn
RESUMO
A forma como as cidades se desenvolvem e se organizam gera inquietações que se desdobram
com dimensões diferentes em cada um dos ramos da ciência. No âmbito da Geografia, e mais
ainda, no campo do urbano, o presente estudo privilegia o estudo dos espaços livres, em
especial, das praças públicas. Parte-se de uma abordagem histórico-geográfica do que a praça
representa no espaço urbano brasileiro, desde o período colonial até a contemporaneidade,
marcada pela expressividade do privado sobre o público, do individual sobre o coletivo e, do
concreto sobre o “verde”. Nessa perspectiva, as praças são vistas como espaços livres
potenciais para compor o sistema de áreas verdes urbanas e, consequentemente, como área de
lazer importante, principalmente para os grupos de menor poder aquisitivo da sociedade
urbana brasileira. A forma desigual como as praças estão distribuídas ao longo da malha
urbana de várias cidades bem como a diferenciação que ocorre no padrão dos equipamentos e
da cobertura vegetal destas, constituíram a inquietação inicial deste trabalho que teve como
objetivo central analisar as praças públicas da cidade de Ribeirão Preto-SP. Para tanto, foram
necessários realizar pesquisas bibliográficas, consultas e entrevistas em órgãos públicos e,
levantamentos em campo. Dessa forma, propõe-se a utilização do SIG ArcView para compor
um banco de dados sobre as praças e são apontados alguns caminhos que auxiliarão no
planejamento e na gestão desses logradouros que, muitas vezes, encontram-se desprovidos de
atratividade, vegetação e estética condizente com a natureza dos mesmos.
Palavras-chave: Praças públicas, vegetação urbana, lazer, planejamento urbano, Ribeirão
Preto.
ABSTRACT
The way in which cities develop and are organized creates a kind of uneasiness which unfolds
in different dimensions in each of the areas of science. In the area of Geography, and
specifically in the study of urban area, there is an emphasizes on the analyses of open spaces,
especially public squares which is the focal point of the present study. The starting point is a
historical-geographic approach to what the square represents in the Brazilian urban space,
from the colonial to the contemporary period, which is significantly marked by the private
over the public spheres, the individual over the collective, and of concrete over “green”. In
this perspective, the squares are seen as public open spaces which can potentially compose the
urban green area system and consequently become important leisure areas, especially for the
groups which make up the lowest income bracket in the Brazilian urban society. The unequal
way in which the squares are distributed throughout the urban network in various cities, as
well as the differentiation that occurs in the standard of equipment and vegetation in them,
constituted the initial question of this study which had as its central objective to analyze the
public squares of the city of Ribeirão Preto, São Paulo. In order to reach this goal
bibliographic research was undertaken, as well as consultation and interviews in public
institutions and field surveys. As a result of the research carried out we propose that the use of
the SIG ArcView would be useful to compose an archive related to the squares as well as
other means which would help in planning and in managing these squares which often do not
attract the urban population because of a lack of vegetation and esthetic nature.
Key words: public squares, urban vegetation, leisure, urban planning, Ribeirão Preto.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE MAPAS
Introdução
......................................................................................................
16
1 -
As praças públicas no contexto das cidades brasileiras
.................
21
1.1 - Origem e formação das praças no Brasil............................................................. 22
1.2 - O ajardinamento das praças e o incremento de áreas verdes no espaço urbano
brasileiro..............................................................................................................
39
1.3 - A praça como elemento do meio ambiente urbano............................................. 49
1.4 - A importância das áreas verdes nas cidades contemporâneas............................. 56
1.5 - Projetos de praças brasileiras: algumas considerações........................................ 64
2 -
Ribeirão Preto e suas praças: formação, desenvolvimento e
políticas públicas
...........................................................................................
78
2.1 - Ribeirão Preto: história, desenvolvimento e caracterização geográfica.............. 79
2.2 - Formação e evolução das primeiras praças públicas de Ribeirão Preto.............. 86
2.3 - As praças e as primeiras normas municipais de Ribeirão Preto.......................... 109
2.4 - Políticas públicas de áreas verdes e praças em Ribeirão Preto após o Plano
Diretor de 1995....................................................................................................
113
3 -
As praças de Ribeirão Preto no século XXI e o uso do
geoprocessamento no planejamento e gestão dos espaços
públicos
.............................................................................................................
125
3.1 - As praças de Ribeirão Preto: estratégias do poder público................................. 126
3.2 - A criação do banco de dados: o geoprocessamento como ferramenta capaz de
subsidiar estudos urbanos.................................................................................... 134
3.2.1- Ribeirão Preto: metodologia para criação de banco de dados de praças
públicas................................................................................................................
138
3.3 - Análise das praças públicas de uso efetivo em Ribeirão Preto........................... 145
3.3.1- Localização, forma e aspectos de conservação................................................... 145
3.3.2- Equipamentos de infra-estrutura.......................................................................... 150
3.3.3- Vegetação............................................................................................................ 162
Considerações Finais: Apontamentos para uma melhor
performance do planejamento e gestão das praças públicas
................
178
Referências Bibliográficas
.........................................................................
186
Anexo(s)
............................................................................................................
195
LISTA DE FIGURAS
1 - Praça San Marco na cidade de Veneza – Itália.................................................... 23
2 - Praça Mayor na cidade de Madri – Espanha........................................................ 24
3 - Praça Vermelha na cidade de Moscou – Rússia................................................... 24
4 - Praça Municipal de Salvador-BA......................................................................... 27
5 - Vista da Praça XV de Novembro na área central da cidade do R. Janeiro-RJ..... 27
6 - Praça dos Três Poderes junto ao Palácio do Planalto, em Brasília-DF................ 28
7 - Aspecto da Praça de la Concorde em Paris.......................................................... 30
8 - Praça da Sé na cidade de São Paulo-SP............................................................... 32
9 - Praça da República em Belém-PA....................................................................... 33
10 - Praça XV de Novembro de Ribeirão Preto-SP..................................................... 34
11 Praça Nove de Julho, na cidade de Presidente Prudente-SP, em 1952................ 35
12 - Praça Nove de Julho, na cidade de Presidente Prudente-SP, em 2002................ 35
13 - Vista parcial de Aracajú-SE................................................................................. 42
14 - Área verde numa encosta que liga a Cidade Baixa à Cidade Alta em Salvador.. 43
15 - Jardim Botânico do Rio de Janeiro-RJ................................................................ 44
16 - Parque do Ibirapuera em São Paulo-SP................................................................ 46
17 - Praça da República em São Paulo-SP.................................................................. 54
18 - Aspecto da Praça da Vila Líder em Presidente Prudente-SP............................... 59
19 - Aspecto da Praça da Bandeira, na área central de Presidente Prudente-SP......... 60
20 - Desenho eclético clássico da Praça XV de Novembro no centro de Ribeirão
Preto-SP................................................................................................................
66
21 - Aspecto da Praça XV de Novembro em Ribeirão Preto-SP no final do século
XX.........................................................................................................................
67
22 - Desenho eclético romântico da Praça Carlos Gomes em Curitiba-PR................. 68
23 - Aspecto da Praça Carlos Gomes em Curitiba-PR................................................. 69
24- Desenho moderno da Praça Francisco de Azevedo Macedo em Curitiba-PR...... 71
25 - Aspecto da Praça Francisco de Azevedo Macedo, em Curitiba-PR..................... 72
26 - Desenho em estilo contemporâneo da Praça da Ressurreição em São Luís-MA. 75
27 - Praça da Ressurreição em São Luís-MA.............................................................. 75
28 - Largo da antiga Igreja Matriz de Ribeirão Preto em 1897................................... 84
29 - Antiga capela (Primeira Igreja Matriz) em 1898.................................................. 84
30 - Praça XV de Novembro de Ribeirão Preto-SP – 2004......................................... 88
31 - Praça Carlos Gomes na área central de Ribeirão Preto – 2004............................ 89
32 - Bar da Antártica na Praça XV de Novembro REVER......................................... 90
33 - Aspecto da Praça XV de Novembro com ajardinamento, por volta da década
de 1930..................................................................................................................
91
34 - Aspecto da Praça XV de Novembro na década de 1930...................................... 91
35 - Aspecto do Trianon da Praça XV (Sem Data)...................................................... 92
36 - Aspecto da Praça XV de Novembro em 2001...................................................... 93
37 - Lago da fonte luminosa da Praça XV de Novembro em 2004............................. 93
38 - Praça XV de Novembro na década de 1930......................................................... 94
39 - Largo da Igreja Matriz durante festa religiosa em abril de 1904.......................... 95
40 - Praça 13 de Maio no início do século XX, atual Praça da Bandeira.................... 96
41 - Praça da Bandeira em Ribeirão Preto por volta da década de 1910..................... 97
42 - Aspecto da Praça da Bandeira em 2004............................................................... 97
43 - Aspecto da Catedral de Ribeirão Preto – 2004..................................................... 98
44 - Praça Barão do Rio Branco e Câmara Municipal em 1888.................................. 99
45 - Praça Barão do Rio Branco e Paço Municipal – 2004.......................................... 99
46 - Praça Schmidt em Ribeirão Preto em 1927.......................................................... 100
47 - Praça Schmidt em 2004........................................................................................ 101
48 - Praça Sete de Setembro, com coreto ao centro, em 2004..................................... 102
49 - Aspecto da Praça Luiz Vaz de Camões – 2004.................................................... 104
50 - Monumento a Camões quando na sua inauguração, em 1937, na Praça Luiz
Vaz de Camões.....................................................................................................
105
51 - Aspecto da arborização na Praça Luiz Vaz de Camões – 2004............................ 105
52 - Bosque Municipal Fábio Barreto.......................................................................... 107
53 - Vista parcial da cidade de Ribeirão Preto em 1957.............................................. 108
54 - Praça Expedicionário Brasileiro no bairro Castelo Branco I – 2004.................... 128
55 - Praça José Bernardo Silva Filho no bairro Tanquinho – 2004............................. 128
56 - Aspecto de praça não implantada no Jardim Recreio – 2004............................... 129
57 - Praça Chico Mendes no Parque Ribeirão Preto – 2004........................................ 130
58 - Praça Coração de Maria na Vila Tibério – 2004.................................................. 148
59 - Praça Papa João Paulo I no Jardim Paulista – 2004............................................. 149
60 - Praça Armando Lagamba no Quintino II – 2004.................................................. 153
61 - Praça Pompéia VI no Ipiranga – 2004.................................................................. 154
62 - Praça Rômulo Morandini nos Campos Elíseos – 2004........................................ 156
63 - Praça Virgílio Panzeri no Adão do Carmo – 2004............................................... 157
64 - Lago da Praça Sete de Setembro na região central – 2004................................... 157
65 - Praça Santo Antônio com monumento ao Padre Euclides Carneiro – 2004......... 158
66 - Praça das Tecnologias no Conj. Hab. Alexandre Balbo – 2004........................... 160
67 - Praça João Luiz de Campos no Jardim Sumaré – 2004........................................ 165
68 - Praça José Rodrigues da Silva nos Campos Elíseos – 2004................................. 165
69 - Praça Luiz Vaz de Camões na região central – 2004........................................... 166
70 - Praça Camilo Mércio Xavier no Geraldo de Carvalho – 2004............................. 170
71 - Praça Leopoldo Lima no Manoel Pena – 2004..................................................... 170
72 - Praça Armando Lagamba no Quintino II – 2004.................................................. 171
73 - Praça José Gonçalves de Matos no Jardim Palma Travassos – 2004................... 172
74 - Praça Mário de Andrade no Jardim Recreio – 2004............................................. 172
75 - Banco deteriorado na praça Sete de Setembro – 2004......................................... 176
76 - Aspecto de lixeira suja e depredada na Praça Sete de Setembro – 2004.............. 177
LISTA DE QUADROS
1 - Funções da vegetação no espaço urbano.............................................................. 58
2 - Função social das praças no Brasil....................................................................... 76
3 - Formulário aplicado no levantamento da infra-estrutura e vegetação das praças
públicas de Ribeirão Preto-SP..............................................................................
140
4 - Ribeirão Preto: Espécies arbóreas encontradas nas praças públicas – 2004........ 168
5 - Ribeirão Preto: Espécies arbóreas frutíferas encontradas nas praças -
2004......................................................................................................................
169
LISTA DE TABELAS
1 - Ribeirão Preto: Espaços livres públicos denominados por lei (1998-
2004)....................................................................................................................
126
2 - Ribeirão Preto-SP: Banco de dados da infra-estrutura e vegetação existentes
nas praças públicas de uso efetivo – 2004...........................................................
142
3 - Ribeirão Preto: Perfil do imobiliário nas proximidades das praças – 2004......... 146
4 - Ribeirão Preto: Aspecto das praças: limpeza, paisagismo e estado de
conservação – 2004..............................................................................................
147
5 - Ribeirão Preto: Perfil topográfico do terreno das praças – 2004......................... 149
6 - Ribeirão Preto: Forma geométrica das praças – 2004.......................................... 150
7 - Ribeirão Preto: Infra-estrutura das praças públicas – 2004.................................. 151
8 - Equipamentos de infra-estrutura existentes nas praças de Ribeirão Preto-SP e
Maringá-PR..........................................................................................................
161
9 - Ribeirão Preto: Cobertura vegetal das praças públicas – 2004............................ 163
10 - Cobertura vegetal das praças públicas de Ribeirão Preto-SP e Presidente
Prudente-SP..........................................................................................................
174
LISTA DE MAPAS
1 - Ribeirão Preto: Localização do município na mesorregião administrativa no
Estado de São Paulo – IBGE – 2004....................................................................
81
2 - Planta da cidade de Ribeirão Preto em 1890....................................................... 87
3 - Planta do patrimônio da matriz de Ribeirão Preto em 1932................................ 103
4 - Ribeirão Preto-SP: Localização de praças, parques, sistemas de lazer e áreas
verdes – 2004.......................................................................................................
133
5 - Distribuição espacial das praças públicas de uso efetivo da cidade de Ribeirão
Preto-SP - 2004....................................................................................................
144
Praça da Bandeira em Ribeirão Preto. Foto: Ângela R. E. Oliveira
INTRODUÇÃO
17
As praças sempre estiveram presentes na história das cidades. Guardam em seus seios
histórias e acontecimentos da vida pública e privada, mundana e profana; fatos que
caracterizam esses logradouros como espaços livres e públicos de fundamental importância
para a sociabilidade das pessoas que habitaram os centros urbanos mais antigos e as que
habitam as cidades atuais, embora em proporções diferenciadas.
Atribuir à praça a denominação de um espaço público é reconhecê-la como uma
categoria entre os diversos espaços livres urbanos como parques, áreas verdes e áreas de lazer
e, ao mesmo tempo, reafirmá-la como espaço ancestral onde, mesclam-se usos e grupos
sociais diferenciados. No entanto, a praça, na atualidade, assume muito mais função de área
verde e estética no espaço urbano brasileiro do que papel de local de convívio da população.
Notadamente, esse fato pode ser observado com maior clareza nos bairros habitados pelos
grupos de mais alta renda, ao contrário dos bairros populares.
O estudo das praças públicas justifica-se pela presença marcante destas na composição
dos espaços urbanos, levando-se em consideração a sua diversidade, seu uso por parcelas
significativas da população mais carente e o descaso do poder público, em muitos casos, para
com as mesmas, tornando-as locais marginalizados, devido à presença de usuários de drogas,
mendigos, assaltantes e até mesmo pela falta de segurança, principalmente nos horários
noturnos.
Partindo dos pontos argumentados anteriormente e apesar da escassa bibliografia
referente ao tema, o trabalho procurou analisar as praças públicas da cidade de Ribeirão Preto-
SP, quanto à distribuição espacial que assumem na malha urbana e ao conteúdo paisagístico e
de infra-estrutura de lazer que apresentam, bem como as políticas públicas desdobradas em
âmbito municipal, a partir do Plano Diretor de 1995, embora a Lei de Parcelamento, Uso e
Ocupação do Solo, seja de 1977. Nesse intuito, em termos mais específicos, o estudo
privilegiou:
18
Compreender o significado da praça no espaço urbano;
Analisar o espaço público “praça” como espaço potencial para o sistema de áreas
verdes e áreas de lazer urbanas;
Verificar a distribuição das praças no espaço urbano de Ribeirão Preto, bem como
identificar o conteúdo paisagístico e os equipamentos de infra-estrutura presentes nas
mesmas;
Criar banco de dados através do SIG ArcView com informações sobre todas as praças
da cidade;
Identificar as particularidades das políticas públicas adotadas nesta cidade,
concernentes à criação e manutenção de praças;
Propor medidas que auxiliem o planejamento e a gestão das praças públicas.
Acredita-se que o planejamento e a gestão dos espaços públicos, como as praças,
podem ser auxiliados por modernos instrumentos que a tecnologia disponibiliza atualmente
como os Sistemas de Informação Geográfica – SIG. Nessa perspectiva, optou-se por criar um
banco de dados atrelado ao respectivo mapeamento no software ArcView com informações
relativas à cada praça da cidade. Este software permite manipular os dados de maneira fácil,
assim como, gerar informações a partir dos dados preexistentes. Porém, essa etapa só obteve
êxito porque foi precedida de um trabalho empírico que privilegiou o levantamento das
informações de infra-estrutura e cobertura vegetal de cada praça, a fim de fornecer subsídios
para a análise dos referidos espaços públicos e, só dessa forma, auxiliar na gestão dos
mesmos.
De maneira geral, para a execução deste trabalho, foi necessário realizar diversas
etapas metodológicas como:
Levantamentos bibliográficos em livros, anais, jornais, revistas científicas, Internet,
bibliotecas da UFU, USP e UNESP, entre outros.
19
Levantamento de dados e entrevistas junto à Secretaria de Planejamento e Gestão
Ambiental e Divisão de Parques e Jardins (Secretaria de Infra-estrutura de Ribeirão
Preto-SP), a fim de obter informações sobre a atuação do poder público na criação e
manutenção de praças públicas;
Análise das leis municipais e federais que regem o planejamento ambiental urbano;
Pesquisas no Arquivo Histórico Municipal e Câmara Municipal de Ribeirão Preto;
Trabalho de campo por toda a cidade, privilegiando todas as praças, num total de 122;
Interação com o software ArcView, a fim de aprender a manusear e confeccionar
mapas nesse SIG.
É importante enfatizar também que a iniciativa de realizar este estudo partiu da
experiência vivenciada em pesquisas na área, durante a graduação na Unesp de Presidente
Prudente-SP, bem como, do desejo de trabalhar com a cidade de Ribeirão Preto-SP, por nela
residir. Além disso, Ribeirão Preto, apresenta-se como uma cidade que, sob alguns aspectos,
se diferencia das demais, principalmente em termos de distribuição espacial de suas praças e
da qualidade assumida por cada uma dessas praças, qualidade essa assumida pela arborização
e equipamentos presentes nos logradouros.
Após realizadas todas as etapas anteriores e, para responder às inquietações descritas,
o trabalho, que se intitula “As praças de Ribeirão Preto-SP: uma contribuição geográfica ao
planejamento e à gestão dos espaços públicos”, está estruturado em três capítulos que se
desenvolvem da seguinte forma:
O capítulo 1 – As praças públicas no contexto das cidades brasileiras – apresenta uma
discussão teórica quanto ao significado da praça no espaço urbano brasileiro privilegiando o
seu aproveitamento como área verde. Para tanto, é necessário que se compreenda a inserção
da vegetação no espaço urbano mundial e brasileiro, principalmente através da arborização de
ruas, ajardinamento de praças e planejamento de parques. Ressalta-se, também, as correntes
20
predominantes na formulação de projetos de praças no Brasil com respaldo nas funções
desempenhadas pelas praças em diferentes épocas.
O capítulo 2 – Ribeirão Preto e suas praças: formação, desenvolvimento e políticas
públicas – caracteriza a cidade de Ribeirão Preto, com destaque para o surgimento do núcleo
urbano a partir da Praça XV de Novembro, em meados do século XIX. Resgata aspectos
importantes da história das praças centrais e discute as políticas públicas com base nos
Códigos de Postura do século XIX e início do século XX e no Plano Diretor de 1995, em
especial duas das leis que o compõe: a Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo e o
Código do Meio Ambiente. Procura-se, também, conceituar os diversos termos que permeiam
o universo dos espaços livres de uso público e explicitar a situação da problemática “praça”
em outras cidades.
O capítulo 3 – As praças de Ribeirão Preto no século XXI e o uso do
geoprocessamento no planejamento e gestão dos espaços públicos – apresenta uma
caracterização das praças de Ribeirão Preto com base no trabalho de campo efetuado e análise
da atuação do poder público. Através do banco de dados criado no Sistema de Informação
Geográfica ArcView apresenta-se e discute-se o levantamento da infra-estrutura, vegetação,
distribuição espacial e aspectos de conservação das praças de uso efetivo de Ribeirão Preto.
Também é apresentado o mapeamento das respectivas praças, elaborado no software ArcView,
e que se encontra em um CD-ROM anexado no final do trabalho.
Por fim, nas Considerações Finais, procura-se discutir as nuances dos espaços
públicos na atualidade, propor medidas que auxiliem o planejamento e a gestão dos espaços
públicos, como as praças, e apontar as perspectivas das praças no alvorecer das gerações
futuras. Dessa forma, espera-se ter contribuído com este trabalho, não somente para a
melhoria dos espaços públicos de Ribeirão Preto-SP, mas também para o avanço das
discussões que se acirram na dualidade: “urbanização” e “meio ambiente”.
Praça Municipal de Salvador. Foto: Projeto Quapá-FAU/USP
CAPÍTULO 1
AS PRAÇAS PÚBLICAS NO CONTEXTO DAS
CIDADES BRASILEIRAS
22
1.1 – Origem e formação das praças no Brasil
A praça como espaço público constitui, desde os seus primórdios, em um referencial
urbano marcado pela convivência humana. É, portanto, um importante equipamento histórico
e cultural urbano que expressa o surgimento e o desenvolvimento de inúmeras cidades,
especialmente, no Brasil.
Para Segawa (1996, p. 31), “a praça é um espaço ancestral que se confunde com a
própria origem do conceito ocidental de urbano”.
O termo praça implica inúmeras definições, tanto por parte do poder público, quanto
de pesquisadores e técnicos, tendo em vista a amplitude e variedade de idéias dos diversos
estudiosos. No entanto, o fato de constituir um espaço público é um ponto de convergência
entre os que tentam conceituá-la
1
.
Robba e Macedo (2002, p. 17), ao realizar o estudo das praças brasileiras,
consideraram duas premissas básicas ao elaborar um conceito para esses espaços: uso e
acessibilidade. Corrobora-se com esses autores quando conceituam praças como “espaços
livres urbanos destinados ao lazer e ao convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livres
de veículos”.
É importante observar que esse conceito foi elaborado tendo em vista as características
das praças nas cidades contemporâneas, embora não desconsidere o caráter de sociabilidade
que sempre esteve intrínseco às funções da praça. Assim, descarta-se a possibilidade de
enquadrar como praças, canteiros centrais de avenidas, rotatórias, pequenos espaços gramados
1
De acordo com o Diccionario de la lengua espanõla, plaza constitui um “lugar espaçoso dentro do povoado”. Em outro
dicionário espanhol, de Sebastián Covarrubias de 1611 – Tesoro de la lengua castellana – aparece a mesma definição, porém
acrescida do termo “lugar público”. Ainda, uma outra definição é comum em ambos os dicionários quando identificam a
praça como local onde “se vendem os mantimentos e se tem o comércio dos moradores locais com os vizinhos da região, e
onde se celebram as feiras, os mercados e festas públicas” (SEGAWA, 1996, p. 32-33).
23
ou qualquer outro espaço público que não ofereça condições de lazer ou acessibilidade à
população.
A praça, de acordo com Casé (2000, p. 56), é síntese da cultura urbana de uma
comunidade e se constitui num legado pleno de ensinamentos. Logo, exerce a insubstituível
função de aglutinadora do encontro e da convivência.
“A importância de uma cidade, avaliada pela sua dimensão social e humana, é
proporcional aos atributos urbanos de suas praças e aos predicados arquitetônicos das
edificações que a delimitam” (CASÉ, 2000, p. 56).
Como referenciais urbanos de algumas cidades e sociedades que remontam a períodos
históricos, algumas praças guardam no seu bojo a magnitude de um tempo e de um povo.
Observadas como monumentos consagrados, o arquiteto Paulo Casé faz referências à Praça
San Marco, em Veneza (Figura 01), à Praça Mayor, em Madri (Figura 02) e à Praça
Vermelha, em Moscou (Figura 03).
FIGURA 01: Praça San Marco na cidade de Veneza - Itália.
Disponível: http://geocities.yahoo.com.br (Acesso em jul/04)
24
FIGURA 02: Praça Mayor na cidade de Madri - Espanha.
Disponível: www.translucence.com (Acesso em jul/04)
FIGURA 03: Praça Vermelha na cidade de Moscou - Rússia.
Disponível: http://www.grandecomunismo.hpg.com.br (Acesso em jul/04)
25
No Brasil, as praças surgiram no entorno das igrejas constituindo os primeiros espaços
livres públicos urbanos. Assim, atraíam as residências mais luxuosas, os prédios públicos
mais importantes e o principal comércio, além de servir como local de convivência da
comunidade e como elo de ligação entre esta e a paróquia.
Conforme salienta Marx (
1980, p. 50),
Logradouro público por excelência, a praça deve sua existência, sobretudo, aos adros
das nossas igrejas. Se tradicionalmente essa dívida é válida, mais recentemente a
praça tem sido confundida com jardim. A praça como tal, para reunião de gente e
para um sem-número de atividades diferentes, surgiu entre nós, de maneira marcante
e típica, diante de capelas ou igrejas, de conventos ou irmandades religiosas.
Destacava, aqui e ali, na paisagem urbana estes estabelecimentos de prestígio social.
Realçava-lhes os edifícios; acolhia os seus freqüentadores”.
Diferentemente do que ocorreu na América espanhola, o crescimento das cidades
brasileiras ocorreu de forma desordenada, desfavorecendo a implantação de espaços públicos
coletivos como as praças. As cidades colonizadas pela Espanha que se concentravam em áreas
de intensa mineração cresceram de forma dispersa pelo continente. Atraídas pela exploração
das jazidas minerais, essas cidades – rigidamente hierarquizadas – constituíam centro de
administração da coroa.
O plano regular das cidades da América espanhola determinou o traçado das ruas e
praças em linhas retas. Assim, conforme assinala Scarlato (2001, p. 412),
na praça central se estabeleciam os edifícios públicos, a igreja e o quartel. A fixação
das residências nas quadras que se seguiam a essa praça era determinada pela
posição social das pessoas. Os fidalgos, homens ilustres que recebiam da Coroa
Espanhola o direito de exploração das minas, tinham lugares privilegiados no
interior do plano físico da cidade, onde as ruas cruzavam em ângulos retos,
formavam grandes tabuleiros de xadrez.
Ao contrário do que ocorreu com as cidades colonizadas pela Coroa Espanhola, muitas
cidades brasileiras surgiram e se desenvolveram desordenadamente. Esse crescimento
espontâneo e desalinhado constituía o plano dessas cidades que estavam localizadas tanto no
26
litoral, no interior ou ligadas à mineração. Dessa forma, de acordo com SCARLATO (2001, p.
418),
praças e ruas surgiam de forma muito desordenada. O alinhamento das ruas e casas
resultava da iniciativa particular dos seus moradores. Esse fato revela mais uma vez
a menor presença do Estado português em comparação com o espanhol. Após sua
fundação pela coroa ou pelos donatários, as cidades cresciam espontaneamente,
seguindo a orientação das condições físicas do seu sitio. Ruas e praças adaptaram-se
às irregularidades do relevo.
É importante salientar que, embora as cidades no Brasil tivessem origem a partir da
construção da igreja e, conseqüentemente, do adro, a sua expansão não obedecia a um traçado
regular, tanto devido à disposição do sítio urbano quanto à falta de critérios da administração.
Assim, a criação de espaços públicos, como as praças, ficava prejudicada uma vez que as ruas
constituíam verdadeiros corredores desalinhados.
Observa-se, portanto, que as praças, ao longo da história urbana brasileira,
desempenharam papéis diferenciados na sociedade. Ora civicamente, ora militarmente, esses
logradouros se destacavam nas cidades pelas funções que exerciam. Durante muito tempo,
funções como essas deram o significado desses espaços públicos, tidos como o símbolo do
poderio estatal e religioso. Conforme bem destaca Marx (1980, p. 54), “uma igreja, uma
praça; regra geral nas nossas povoações antigas”.
Apesar de raras, mas marcantes, as praças cívicas brasileiras surgiram em pequeno
número e representam símbolos da história política do país. Sempre diante de edifícios
públicos, “são logradouros que transcendem o uso e o significado local, interessando a todos
nós” (MARX, 1980, p. 50). Exemplos importantes no contexto das cidades brasileiras são a
Praça Municipal de Salvador-BA (Figura 04), a Praça XV de Novembro no Rio de Janeiro-RJ
(Figura 05) e a Praça dos Três Poderes em Brasília-DF (Figura 06), exatamente as três cidades
que se tornaram sede, em momentos distintos, do governo federal.
27
FIGURA 04: Praça Municipal de Salvador-BA.
Disponível: http://winweb.redealuno.usp.br/quapa (Acesso em maio/04)
FIGURA 05: Vista da praça XV de Novembro na área central da cidade do Rio de
Janeiro. A praça foi reestruturada de modo a favorecer a circulação de pedestres, uma vez
que dá acesso às embarcações que fazem a travessia da Baía de Guanabara. Fonte: Robba
e Macedo (2002, p. 185)
28
FIGURA 06: Praça dos Três Poderes junto ao Palácio do Planalto, em Brasília-DF.
Disponível: http://winweb.redealuno.usp.br/quapa (Acesso em maio/04)
A função militar praticamente desapareceu das praças brasileiras. Atualmente, salvo
algumas exceções, essa função foi transferida para grandes eixos de circulação, como as
destacadas avenidas, principalmente das grandes aglomerações urbanas. Assim, “no âmbito
estreito das cidades, os logradouros públicos mais amplos eram essenciais para exercícios,
manobras, desfiles ou ações de defesa” (MARX, 1980, p. 54).
As praças medievais foram classificadas por Paul Zucker (1959) em praças de
mercado (destinadas às atividades comerciais), praças no portal da cidade (constituíam áreas
de passagem e distribuição de tráfego), praças como centro da cidade (implantadas em
comunidades novas), adros de igrejas (destinadas às atividades religiosas) e praças agrupadas
(composta por espaços de conexão entre praças de mercado e adros de igrejas) (ROBBA e
MACEDO, 2002, p. 21-22).
Nas praças coloniais brasileiras, ao contrário das praças medievais européias,
realizavam-se todas as atividades no mesmo espaço, inclusive civis e militares. Nesse
contexto, as praças eram denominadas de largo, terreiro e rossio e permitiam a interação dos
29
vários estratos da sociedade, servindo como palco de manifestações de costumes e hábitos da
sociedade colonial (ROBBA e MACEDO, 2002, p. 22).
No fim da Idade Média e do Renascimento, a praça pública constituía um ambiente de
liberdade, franqueza e familiaridade. “Era o ponto de convergência de tudo que não era
oficial, de certa forma gozava de um direito de ‘extraterritorialidade’ no mundo da ordem e da
ideologia oficiais, e o povo aí tinha sempre a última palavra” (SEGAWA, 1996, p. 33-34).
Quanto aos hábitos, costumes e freqüentadores da praça medieval, Rabelais (1532,
1534) apud Segawa (1996, p. 33-34), enfatiza que
a vida na praça pública era permeada pelo universo do riso, do escárnio, da festa,
numa dinâmica distinta da cultura religiosa aristocrática: os gêneros artísticos e
burgueses da praça pública estão freqüentemente tão estreitamente misturados, que
é por vezes difícil traçar um limite preciso entre eles.
Nesse período, as praças públicas eram palcos de procissões solenes onde estavam
presentes trabalhadores de todas as classes, artesãos e negociantes. Toda a multidão achava-se
reunida e expressava, ostentando suas melhores roupas, o significado da cidade enquanto
espaço da coletividade, fruto do trabalho humano em toda a sua diversidade (FERRARA,
1993, p.206).
Na França, a exaltação da realeza constituía uma característica fundamental das praças
do século XVII. Conforme ressalta Segawa (1996, p. 37), as places royales tinham seus
espaços apropriados pelas elites de Paris e estavam ligadas à figura real, expressando
glorificação a Luiz XIII, Luiz XIV e Luiz XV, sucessivamente, em diversas cidades da
França, como Bordeaux e Rennes.
A praça parisiense de La Concorde (Figura 07) foi construída em meados do século
XVIII por intermédio de Luiz XV. Projetada pelo arquiteto Gabriel, entre 1755 e 1775, esta
praça histórica, que tem a forma octogonal, foi palco de grandes acontecimentos como a
execução de Luiz XVI. Com o obelisco ao centro, presente do vice-rei do Egito a Charles X,
30
suas estátuas e sua majestosa amplitude, a Praça da Concórdia, é uma das mais belas de Paris.
As colunas foram restauradas em 1995. Há magníficas perspectivas da triunfal via em direção
ao Arco do Triunfo e à Défense em direção ao Grande Louvre
2
.
FIGURA 07: Aspecto da Praça de La Concorde em Paris (praça seca).
Disponível: http://www.parislumiere.com.br (Acesso em 2002).
Sobre a Itália e a Espanha, Segawa (1996, p. 32-33) argumenta que
as piazzas italianas abrigavam rituais de variada natureza, religiosos ou seculares;
casamentos e funerais, execuções, comemorações, torneios, corridas, encenações
teatrais. Na Espanha, a Plaza mayor medieval situava-se deslocada do centro
urbano, muitas vezes extramuros. (grifo nosso)
Na Europa do século XIX, a imagem urbana é transferida da praça pública para as
ruas, avenidas e bulevares. É o impacto da metropolização, de acordo com Ferrara (1993, p.
213), em cidades como Berlim e Paris. Isto significou a exposição recatada dos habitantes
urbanos que ora se exibiam, ora se ocultavam.
2
Informações retiradas do site: http://www.parislumiere.com.br (Acesso em 2002).
31
A multidão transforma a praça pública através da pujança de uma das maiores
manifestações culturais medievais européias: o carnaval. Conforme Ferrara (1993, p. 210-
211), durante alguns dias o carnaval adentrava à praça e proporcionava ao habitante urbano a
quebra da rotina diária do trabalho. Com o carnaval,
rompe-se a distinção entre ricos e pobres, popular e erudito, particular e público,
para criar um momento em que tudo ocorre ao ar livre, na praça ou na rua [...] cria-
se uma imagem urbana franca e livre de restrições de qualquer norma ou etiqueta,
sua característica sensorial é a sonoridade que produz uma linguagem na qual a
comunicação se faz aos brados e aos palavrões. Nesse momento, a praça é o espaço
livre e público que rompe a barreira da vida privada, das normas familiares, dos
tabus morais e, sobretudo, da hierarquia social: uma festa, não somente popular,
mas um espaço de todos e para todos.
No Brasil, especialmente nos pequenos núcleos urbanos, a imagem urbana permanece
associada à presença do espaço público “praça”. Assim, ainda é bastante comum associar o
centro de uma cidade à presença da principal praça, bem como da igreja católica. Isso remete
a considerar esses dois elementos como referenciais urbanos da área central de uma cidade.
Esse fato pode ser constatado em pequenos, médios e grandes centros urbanos. Logo, a Praça
da Sé, em São Paulo-SP (Figura 08), a Praça da República, em Belém-PA (Figura 09), a Praça
XV de Novembro, em Ribeirão Preto-SP
3
(Figura 10) e a Praça Nove de Julho, em Presidente
Prudente-SP (Figura 11 e 12) constituem referenciais urbanos dessas cidades de portes
diferentes.
A Praça da Sé, na cidade de São Paulo, importante logradouro público de
reconhecimento nacional, manteve, ao longo do século XX, suas tradições, religiosa e
comercial, bem como permaneceu como palco de manifestações populares. Robba e Macedo
(2002, p. 131), observam, em pleno início do século XXI, que
O uso religioso ainda é grande, embora não tão intenso quanto no começo do século
(XX); o comércio informal está centrado nas atividades de vendedores ambulantes e
3
Esta praça será estudada com mais detalhes no próximo capítulo.
32
camelôs; e, atualmente, a praça é ainda ponto de encontro da população migrante,
principalmente da comunidade nordestina, e palco de apresentações culturais
populares diversas.
FIGURA 08: Praça da Sé na cidade de São Paulo - importante referencial urbano conhecido
nacionalmente. Ao fundo, a Catedral da Sé. Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2000).
Adiante, a Praça da República, encravada na área central de Belém. É notória a
presença de vegetação de grande porte, típica da mata tropical. Esse logradouro, de forma
triangular, constitui um dos mais belos projetos de ajardinamento das cidades no Brasil do
início do século XX.
33
FIGURA 09: Praça da República em Belém-PA. Observa-se a densa arborização
constituída principalmente por mangueiras (Mangifera indica). A praça encanta pela
sua magnitude e beleza. Fonte: Brascard Postais (acervo do autor).
Ao enfatizar o papel de centralidade urbana que as praças da matriz
4
exercem,
principalmente nas pequenas cidades interioranas, Marx (1980, p. 56) observa que
as praças da Matriz ou da Sé, que realçam o principal templo da localidade e que,
em geral no interior de mais recente ocupação, constituem o mais importante pólo
urbano, o centro da vida mundana... Atraem, de fato, as mais ricas residências, o
melhor comércio, as atividades de lazer nas aglomerações menores ou mais
conservadoras.
4
Refere-se aqui aos templos católicos presentes no centro das pequenas cidades, denominados de “igreja
matriz”.
34
FIGURA 10: Praça XV de Novembro de Ribeirão Preto-SP.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
As figuras 11 e 12, na página seguinte, mostram, sob o mesmo ângulo, as
transformações ocorridas com a Praça Nove de Julho, em Presidente Prudente, oeste de São
Paulo, ao longo de cinqüenta anos. Nota-se o início do ajardinamento da praça na década de
1950 e a imponência da catedral no centro da cidade, uma vez que o padrão de edificação
ainda era horizontalizado. Em 2002, conforme pode ser observado, a praça se apresenta bem
arborizada e ajardinada, a cidade expande seus limites e a catedral deixa de ser o destaque da
paisagem urbana, tendo em vista a proliferação de edifícios verticalizados de mais de dez
andares. No entanto, a praça ainda continua sendo representativa da centralidade urbana de
Presidente Prudente.
35
FIGURA 11: Praça Nove de Julho, na cidade de Presidente Prudente-SP, em 1952.
Disponível: http:// www.prudensite.com.br (Acesso em Out/02)
FIGURA 12: Praça Nove de Julho, na cidade de Presidente Prudente-
SP, em 2002. Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2002).
36
Nos últimos tempos, as praças públicas perderam, principalmente nos grandes centros
urbanos, a atratividade exercida para a população, tendo em vista a disseminação de novos
padrões de consumo e lazer representados, sobretudo, pelos shopping centers e pela televisão.
Nesse contexto, a substituição da praça como meio de informação da sociedade, pela
televisão, conforme prognosticava o arquiteto francês Paul Virilio
5
, é contrariada pelo
arquiteto brasileiro Paulo Casé (2000, p. 63) quando afirma que a praça não se reduz a um
local para troca de informações. Sua existência se deve, principalmente, ao poder de invocar o
espírito gregário arraigado no inconsciente do homem urbano.
Ferrara (1993, p. 225) observa que a partir da segunda metade do século XX,
a praça, a avenida, a multidão, enquanto expressões públicas da cidade, foram
substituídas pelas versões urbanas íntimas, demarca-se claramente o espaço
individual separando-o do coletivo, e reivindica-se a demonstração sígnica dessa
visão em nome da propriedade, da segurança, da tranqüilidade íntima e da livre
expressão.
Nessa nova imagem urbana colidem o público e o privado, prevalecendo o segundo
sobre o primeiro, na medida em que, agora, os espaços coletivos urbanos – praças,
avenidas, ruas, galerias, lojas, pavilhões – cedem lugar à habitação como espaço
urbano da intimidade, espaço vedado, seguramente protegido por portões, grades,
muros, múltiplos signos de vedação, o mundo da solidão, a casa como lugar onde
nos escondemos.
Com as possibilidades de lazer oferecidas pela tecnologia à sociedade contemporânea,
espaços públicos como as praças se tornam pouco freqüentados, uma vez que as grandes
cidades capitalistas não garantem a segurança da população e se estruturam pela divergência
entre o público e o privado. Deste modo, para que a praça atraia o homem moderno, seduzido
pelo mundo da informação tecnológica e por novas opções de lazer, “ela precisa incorporar a
musicalidade de antigos coretos e resgatar a alegria das festas ancestrais, reinterpretando-as
com equipamentos de lazer ativo que reproduzam a mesma animação, intensidade e vibração
percebidas na televisão” (CASÉ, 2000, p. 63).
5
Citado por Casé (2000).
37
De fato, a praça perdeu, ao longo dos anos, seu poder de ser informativa, mas manteve
seu poder aglutinador conforme destaca Casé (2000). Contudo, não se deve perder de vista,
que a praça continua sendo, por excelência, um importante espaço livre e público, comum a
toda a sociedade, podendo servir como local de lazer e área verde pública. Nessa perspectiva,
a praça aparece como espaço potencial de lazer para a população de baixa renda.
Ao analisar o sentido da praça e da rua no Morro da Conceição na cidade de
Recife/PE, Ferreira (1999, p. 108) ressalta a importância da praça como local da sociabilidade
da comunidade que a freqüenta. Ainda, argumenta que a festa popular, comum àquela
localidade, traz a este espaço público, o rigor dos rituais sagrados e o lúdico da diversão.
O depoimento de um morador da comunidade do Morro da Conceição, na cidade de
Recife-PE, no texto de Ferreira (1999, p. 114), reflete a importância que a praça ainda
representa no imaginário social das pessoas:
A praça é essa área que fica atrás da igreja...a gente precisou lutar muito por essa
área. A comunidade tem uma proposta de urbanização não implementada por causa
de um litígio com a igreja. Legalmente a área é logradouro público e o que falta é a
prefeitura tomar uma posição no sentido de urbanizar, de construir uma quadra com
alambrado, como é a vontade das pessoas. A comunidade discutiu que quer uma
área tanto pra prática de esportes, como para outros fins de lazer. A gente luta por
essa área porque somos uma comunidade em que a maioria das pessoas são de
baixa renda e que necessitam de lazer pras crianças, os adolescentes e até mesmo os
adultos que utilizam a praça e que não têm um padrão de vida que lhe dê condições
de ter lazer fora. Então a praça é fundamental nesse sentido de evitar a tão já grande
violência, evitando que ela se propague aqui no bairro. É lá onde os jovens, as
crianças, podem descarregar um pouco essa tensão urbana dessa vida, esse stress
através do esporte e da brincadeira.
É importante observar que o significado da praça para as comunidades de baixa renda
é algo intrínseco à própria condição de existência das pessoas enquanto cidadãos, pois
necessitam de refúgio do lar, de contato com a vizinhança, de lazer e de ar livre. E a praça é,
senão isso, local da convivência e do lazer, enfim, do cotidiano urbano.
Na concepção de Ferreira (1999, p. 112),
os usos dado à rua e à praça do Morro da Conceição não guardam simples
dimensões frias e funcionalizadas de passagem, circulação e não comunicação, a
38
que esta foi submetida na cidade capitalista (...) Em outras palavras, a praça e a rua
mantêm-se como uma certa continuidade da casa, não obstante às injunções
cotidianas da normatização, das coações e separações impostas pela sociedade
moderna.
Ferrara (1993, p. 225) observa que os espaços da coletividade cederam lugar aos
espaços da vida privada, que culminaram no gradativo esvaziamento de praças e largos, em
função das novas circunstâncias impostas pela sociedade. Dessa forma, para a autora,
a imagem urbana apoiada nos ícones da vida privada acaba por desintegrar aquela
outra imagem que valorizava os espaços coletivos, a rua, a praça, o largo, a
avenida, o uso da cidade se transforma em rotina organizada pela pressa que
automatiza e unifica todos os lugares, perde-se os pontos de referência, as marcas
urbanas, os pontos de encontro.
Nos grandes centros, são encontradas, com facilidade, praças deterioradas e pouco
freqüentadas devido à diversidade de problemas que envolvem tais espaços. Isso constitui
para os planejadores, uma importante questão no que se refere à qualidade da paisagem
urbana e à valorização dos espaços públicos.
Além de algumas funções desempenhadas pelas praças e dos aspectos gerais da sua
inserção nas cidades, tratados acima, outra característica é de fundamental relevância para
compreender a evolução dos espaços públicos nas cidades brasileiras, relacionada às grandes
mudanças nos padrões arquitetônicos e paisagísticos vigentes na Europa. Assim, o incremento
da vegetação no espaço urbano e o ajardinamento dos espaços públicos são tratados, a seguir,
tendo em vista a grande transformação ocorrida nas praças com a presença desse novo
atributo.
39
1.2 – O ajardinamento das praças e o incremento de áreas verdes no espaço
urbano brasileiro
Antes mesmo de expor alguns pontos importantes no que concerne à incorporação da
vegetação ao espaço urbano brasileiro e também europeu e americano, de alguma forma,
convém citar Spirn (1995, p. 45) que, de forma objetiva, resgata, resumidamente, algumas
informações quanto à necessidade de busca milenar que o homem urbano sempre sentiu em
relação à natureza:
Por mais insensíveis que possam ter sido aos processos da natureza, os habitantes
da cidade têm cultivado elementos naturais isolados, procurando incorporá-los ao
seu ambiente físico. Essa busca da natureza tem sido evidenciada, através de
milênios, em jardins, parques e alamedas, subúrbios e propostas utópicas de
cidades-jardins. No século VII a.C., Senaqueribe construiu um parque para os
cidadãos de Nínive; no século XIX, as cidades reservaram grandes porções de
bosques e prados para a educação, saúde e recreação de seus habitantes. Filósofos
da antiga Atenas reuniam seus discípulos em jardins arborizados; os habitantes das
cidades do século XVII passeavam por alamedas margeadas de árvores. Moradores
das cidades medievais européias cuidavam de numerosos jardins dentro dos muros
das cidades, da mesma forma que os jardineiros urbanos cultivam atualmente
pequenos canteiros em coberturas, terraços e terrenos baldios.
Dessa forma, nota-se, que a natureza sempre esteve atrelada ao homem, mesmo no
espaço urbano em seus primórdios; o que nos leva a concluir que, em certos períodos a
aproximação ou o distanciamento entre ambos, se deu em função de contextos históricos
diferenciados.
No Brasil, o crescimento das cidades e as conseqüências geradas pela falta de
planejamento urbano, despertaram a atenção de planejadores e da população no sentido de se
perceber a vegetação como componente necessário ao espaço urbano. Dessa forma, mais
expressivamente, a arborização passou a ser vista, nas cidades, como importante elemento
natural, atuando como reestruturador do espaço urbano, devido aos diversos benefícios que
apresenta.
40
Durante muito tempo e, praticamente, até o século XIX, a vegetação nas cidades
brasileiras não era considerada tão relevante, visto que, a cidade aparecia como uma
expressão oposta ao rural. Havia, portanto, uma valorização do espaço urbano construído,
afastado completamente da imagem rural que compreendia os elementos da natureza. Nesse
contexto, é importante ressaltar que os espaços urbanos não eram tão densamente ocupados,
nem apresentavam de maneira gritante os problemas sociais e ambientais que atualmente se
fazem presente no seu interior. Desta forma, as áreas com predominância de vegetação, como
as praças ajardinadas, surgem ainda no século XVIII e alcançam números mais expressivos no
decorrer do século XIX.
Da mesma forma que na Europa do século XVIII, os jardins, no Brasil colonial,
estavam circunscritos a espaços “fechados” e privados. Enquanto nas cidades européias
apareciam associados a palácios, mosteiros e conventos; no Brasil, os primeiros jardins
encontravam-se em propriedades religiosas ou quintais residenciais. Nesse período, existiam
também hortos e jardins botânicos, mas com finalidade de pesquisa da flora nativa brasileira,
embora esses jardins tivessem também espécies exóticas oriundas de diversos países do
mundo.
A partir do final do século XVIII e início do século XIX surgem os primeiros espaços
ajardinados de uso coletivo nas cidades brasileiras. Posteriormente, por volta da década de
1910, período em que o país apresentava elevado crescimento econômico, com as exportações
da borracha e do café, proliferaram-se, muito mais intensamente, os jardins residenciais.
Nesse momento, houve mudanças significativas na estruturação do espaço urbano brasileiro: a
população cria o hábito da jardinagem, os jardins botânicos são abertos para visitação pública,
as ruas passam a ser arborizadas e as praças começam a ser ajardinadas. Como enfatiza Robba
e Macedo (2002, p. 26), “o sucesso do processo de ajardinamento da cidade é enorme, e
41
algumas das praças coloniais mais antigas e tradicionais recebem vegetação e tratamento de
jardim, perdendo algumas das suas peculiaridades como largo, pátio e terreiro”.
De acordo com Marx (1980, p. 67), no século XIX e no início do século XX, com o
país independente e enriquecido com a cultura cafeeira, apareceram jardins, parques e praças
ajardinadas em maior número e muito bem conservados, especialmente no Estado de São
Paulo. Essa nova concepção de paisagem urbana representou o trato ou o desejo de algo até
então desconhecido nas cidades brasileiras: a prática do paisagismo e, conseqüentemente, a
introdução da arborização nos espaços públicos.
Bem depois da criação dos primeiros jardins públicos, e coincidindo com a sua
difusão pelas povoações de porte menor e interioranas, começaram os cuidados em
arborizar e em ajardinar os logradouros existentes ou os que iam surgindo. As ruas
mais importantes e, especialmente, as praças foram enfeitadas com árvores e
canteiros de plantas ornamentais. E o sucesso dessa transformação foi tal, que logo
se perdeu a noção das peculiaridades diferentes de uma praça e de um jardim.
No Brasil, por volta de 1850, existiam cidades que se destacavam pela quantidade
expressiva do verde no seu interior, como é o caso de Teresina-PI, que apresentava densa
arborização, e Aracaju-SE (Figura 13) - primeira cidade planejada do país - coberta por uma
vegetação com predominância de coqueiros (MEDEIROS, 1975). Todavia, essa vegetação
ainda era nativa e não havia sido planejada. Projetos urbanísticos preocupados com a
incorporação da vegetação no espaço urbano surgem adiante, como foram os casos de Belo
Horizonte-MG e Goiânia-GO.
42
FIGURA 13: Vista parcial de Aracajú. Apesar de planejada, observa-se, na
capital sergipana, a vegetação circunscrita nos quintais, no centro das quadras.
Nas ruas, é notória a insignificância da arborização.
Fonte: Marx (1980, p. 37)
Embora os primeiros jardins públicos voltados para o lazer e integrados como
elementos da paisagem urbana brasileira surjam ainda em fins do século XVIII, coincidindo
com a chegada da família real ao Brasil, vicejaram, em números muito mais expressivos, os
jardins privados, especialmente nos grandes centros urbanos do país, como o Rio de Janeiro.
Nesse contexto, aliou-se espécies nativas e exóticas na jardinagem de ruas e casas, servindo
tanto para enriquecer a paisagem urbana quanto para o conhecimento e valorização da flora
brasileira. Nesse mesmo período, eclodiu nas cidades americanas, um grande número de
espécies vegetais importadas da Europa, que passaram a embelezar principalmente os jardins
botânicos que surgiam nessas cidades. Spirn (1995, p. 42) ressalta que, em Boston, as
43
primeiras espécies exóticas, foram plantadas em 1728, em uma alameda, com a finalidade de
sombreamento.
Assim como nas antigas cidades européias, os primeiros jardins públicos brasileiros
instalaram-se nas bordas das cidades e em terras em condições topográficas que
desfavoreciam o arruamento ou as construções. Da mesma forma, surgem as áreas verdes
urbanas no Brasil, ainda pouco planejadas (Figura 14). Exemplos desses tipos de jardins
apareceram em cidades como Rio de Janeiro, Belém, Olinda, Ouro Preto e São Paulo
(MARX, 1980).
FIGURA 14: Área verde numa encosta que liga a Cidade Baixa à Cidade
Alta em Salvador-BA. Fonte: Marx (1980, p. 21).
Apesar de concomitante à criação de jardins públicos no continente americano, a
Europa viu eclodir passeios públicos e jardins botânicos em inúmeras cidades como Londres,
44
Viena, Madri (1745), Lisboa (1764), Milão (1782) e Paris. Na América, entre os muitos casos,
pode-se citar as cidades do México, Filadélfia, Santiago, Havana, Caracas, Belém, Rio de
Janeiro (Figura 15) e Salvador. Embora criados em momentos distintos, esses jardins
botânicos refletiam o interesse e a busca do reconhecimento da exuberante natureza
americana (SEGAWA, 1996, p. 215).
FIGURA 15: Jardim Botânico do Rio de Janeiro-RJ, com destaque para as
exóticas palmeiras imperiais que se tornaram seu símbolo. Disponível:
http://jp.douze.org (Acesso em jul/04)
45
O Passeio Público do Rio de Janeiro foi, sem dúvida, o primeiro jardim público do
Brasil, criado no final do século XVIII. Assim como ocorreu posteriormente em outras
cidades como Curitiba, Belém, Porto Alegre e São Paulo, o passeio público carioca surgiu da
iniciativa de ocupar áreas desprivilegiadas morfologicamente no espaço urbano, como os
terrenos alagadiços, áreas de várzeas e baixadas. Essas áreas eram aterradas e urbanizadas, a
fim de se transformar em jardins de recreação.
Na tentativa de sistematizar alguns exemplos, Segawa (1996, p. 217), assinala que
O Conde dos Arcos, na Belém do início dos oitocentos, adquiriu terrenos devolutos
em baixadas (no alagadiço da Jussara) que, drenados, tornaram-se área de recreação
e de um pequeno horto botânico. Curitiba, mais para o final desse século, teve as
margens inundadas do rio Belém tratadas para fazer desaparecer ‘um enorme
pântano que era o justo terror da população, que via nele o foco e origem de
inúmeras enfermidades malignas’, para aí criar o seu passeio público. O Campo de
Santana no Rio de Janeiro foi drenado para permitir a confluência de atividades
religiosas, civis, militares e o cotidiano banal. O Campo da Redenção em Porto
Alegre era uma grande várzea, utilizada como potreiro e campo de manobras
militares em épocas secas, e, em meados do século 19, local proposto para a criação
de um jardim botânico e passeio público. (grifo nosso)
Em São Paulo, a criação do jardim botânico e do Parque D. Pedro II constituem outros
exemplos de estratégia de ocupação de baixadas. E ainda, “décadas depois, já nos anos 1950,
o parque do Ibirapuera (Figura 16) nascia também sobre terrenos de pouca qualidade”
(SEGAWA, 1996, p. 218)
46
FIGURA 16: Parque do Ibirapuera em São Paulo-SP.
Disponível: http://www.prodam.sp.gov.br (Acesso em jul/04)
Observa-se, portanto, que a inserção da arborização de forma planejada nas cidades
brasileiras é concomitante à evolução das funções das praças. Estas, que eram constituídas de
imensos espaços, totalmente abertos, sem a presença de vegetação, servindo exclusivamente
como locais de reunião de pessoas, passam agora a ser incrementadas na cidade como um
jardim. Mais agradáveis, estética e funcionalmente, as praças-jardim constituem um marco
fundamental da incrementação e valorização da jardinagem na cidade, principalmente em
locais públicos.
O modelo de praça ajardinada se difundiu rapidamente como padrão de qualidade dos
espaços livres públicos. O novo modelo de cidade pregava um tratamento paisagístico em que
a cidade aparecesse bela, higiênica e sedutora. Para tanto, algumas reformas urbanas foram
implementadas, favorecendo às elites.
O novo processo de produção de projetos para praças, de acordo com Robba e Macedo
(2002, p. 30),
estava diretamente ligado a questões econômicas e políticas: apenas as praças mais
importantes ou de localização mais ‘nobre’ receberam projetos ou foram
47
reformadas, ao passo que nos bairros mais pobres ou distantes ainda eram tratadas
como largos e terreiros, sem projeto ou qualquer cuidado urbanístico.
Com a nova tipologia urbana de praça ajardinada, alteram-se profundamente as
funções da praça na cidade: o mercado é transferido para edifícios comerciais e as atividades
militares para as avenidas. “A praça-jardim deixa de ser – como eram, no período colonial, o
largo, o terreiro e o adro da igreja – o palco da vida mundana e religiosa, civil e militar da
cidade”. Nesse momento, como belo cenário ajardinado, volta-se ao lazer contemplativo, à
convivência da população e ao passeio (ROBBA e MACEDO, 2002, p. 29).
A transferência da população pobre do centro das cidades para a periferia foi um outro
marco desse processo de remodelação das cidades, tanto no Brasil quanto na Europa. Em
Paris, imóveis foram demolidos e a população mais carente desalojada para dar lugar às
avenidas arborizadas e boulevards. No Rio de Janeiro, quando da abertura da Avenida
Central, ocorreu o mesmo processo parisiense (ROBBA e MACEDO, 2002). Era a noção de
salubridade urbana, introduzida pela cultura científica oitocentista, que atribuiu à vegetação,
uma função além do sentido pitoresco ou romântico que a arte impusera sobre a paisagem
natural (SEGAWA, 1996).
Como afirma Robba e Macedo (2002, p. 29), “a praça ajardinada foi palco para o
desfile das elites exportadoras brasileiras na virada do século XIX para o século XX”. Assim,
as atividades festivas se restringiram cada vez mais e passaram a ser enclausuradas na vida
particular, pois o jardim público passou a constituir, a partir do século XVII na Europa, e mais
adiante no Brasil, a grande passarela dessas transformações (SEGAWA, 1996, p. 48).
Para Segawa (1996, p. 49), “da concentração complexa e caótica da praça, buscou-se a
concentração organizada e elegante do jardim[...]. Talvez o jardim como antídoto moderno à
praça medieval. O jardim como antítese da praça”.
48
Nota-se, no caso da Europa e também do Brasil, que, de lugar das festividades, da
espontaneidade, do riso e da liberdade, a praça – agora jardim – passa a ser o lugar do
silêncio, da ordem e da observação.
Em síntese, assim é possível resumir o comportamento social e o cotidiano nos jardins
públicos:
Reunir-se: fazer-se público de sua presença, exibir pompa, ver homens e mulheres
bem-vestidos e bonitos, contar e ouvir as novidades, assistir a apresentações
musicais, mostrar filhas na busca de maridos, homens finos admirando e fazendo a
corte às cortesãs. Os jogos sociais e sexuais – com a tácita concordância entre seus
praticantes – [...], tinha um palco magnífico nos jardins públicos (SEGAWA, 1996,
p. 46).
Nesse contexto, é importante ressaltar que a roupa constituía um símbolo de hierarquia
social, uma vez que os trajes da moda eram tidos como um consumo luxuoso e de prestígio
restrito às classes nobres da sociedade. Assim, mesmo as classes em ascensão, constituíam
estratos distintos no seio dessa sociedade, tendo em vista a diferenciação advinda de
estratégias de distinção e rivalidades das classes mais abastadas (nobreza).
Ainda, é possível constatar, através do trecho a seguir, que outros grupos sociais
adentravam o jardim público, embora mais sutilmente, mostrando o seu caráter interclasses:
Nos jardins, encontravam-se também os desgraçados, os sem emprego, os
mendigos. O mendigo é o cisco da cidade. A sua função, com o embotamento das
forças vivas da resistência, é vegetarizar-se. Os mendigos nos jardins chegam ao
fim da desagregação. Os desgraçados, os sem-emprego, apóiam-se na eclosão da
natureza para criar ânimo, para beber esperanças, e, como os doentes do corpo vão
ao campo convalescer, há homens sujos e pálidos nos jardins, sem almoço, sem
pão, sem protetores, que pedem às árvores a cura da própria sorte (SEGAWA,
1996, p. 227).
Os recintos ajardinados de Belém, assim como os do Rio de Janeiro, estavam entre os
mais exuberantes do Brasil. Porém, apesar de todo o empenho das administrações municipais,
em dotar esses espaços de infra-estrutura e vegetação exuberante, parece que pouco se
impediu o crescente esvaziamento dos mesmos.
49
Segawa (1996, p. 212) chama atenção para o fato do esvaziamento dos espaços
públicos ajardinados em algumas cidades brasileiras oitocentistas, especialmente Belém,
talvez pelo saturamento do cotidiano tropical, que impregnava as cidades da “exuberância da
vegetação rica e viridente”. Assim, muitas benfeitorias, como as realizadas em Belém,
figuraram (e figuram) como “testemunhas silenciosas desses episódios esquecidos”.
Por outro lado, Segawa (1996, p. 223) afirma que, no caso dos jardins botânicos, o seu
afastamento dos centros urbanos era um empecilho para que a população os freqüentasse. Em
síntese, afirma que os brasileiros, ao vivenciarem cotidianamente a natureza local,
“indiferentes à sua própria paisagem, sua própria exuberância, acabam por banalizá-la”.
Se a própria exuberância da natureza tropical foi responsável, em certo período de
tempo e sob certas condições, pelo esvaziamento de espaços públicos ajardinados; mais tarde,
com o processo de urbanização brasileira, essa mesma natureza adquire outro significado no
espaço urbano que surge: é o reconhecimento de todas as suas funções que passa a justificar,
ainda mais intensamente, a sua inserção no interior das cidades.
1.3 – A praça como elemento do meio ambiente urbano
É importante ressaltar que o avanço da urbanização no planeta
6
, a partir do século
XIX, conferiu características peculiares aos centros urbanos que passaram a apresentar
mazelas sociais cada vez mais crescentes e problemas ambientais das mais diversas formas.
6
A urbanização como fenômeno mundial é tanto um fato recente quanto crescente; basta notar que por volta de meados do
século XIX, a população urbana representava 1,7% da população total do planeta, atingindo em 1960 (um século depois)
25% e, em 1980, esse número passou para 41,1% (dado das Nações Unidas de 1982), o que corresponde a um universo de 4,4
bilhões de pessoas vivendo em áreas urbanas (Santos, 1981). Em 1995, a população urbana mundial atingiu 46% do total, o
equivalente a um universo de 2,7 milhões de pessoas. De acordo com a ONU, cerca de metade da população do planeta em
2000 era urbana. No Brasil, a intensificação da urbanização se deu de forma mais acentuada a partir da década de 50,
principalmente com o advento da indústria nacional, que serviu como atrativo para o estabelecimento de um grande
contingente populacional nas cidades, em busca de trabalho e melhores condições de vida. De acordo com Santos (1993), a
evolução da população brasileira conta principalmente dos últimos 60 anos. Assim sendo, a taxa de urbanização em 1940 era
de apenas 26,35%, enquanto em 1991, atingia 77,13%. Ainda, no período de 1940 a 1980, a população total do país triplica
(de 41.326.000 para 119.099.000), ao passo que a população urbana multiplica-se por sete vezes (de 10.891.000 para
82.013.000 hab.).
50
De fato, o expressivo crescimento urbano verificado nos últimos séculos, constituiu um marco
fundamental na história da civilização humana, sofrendo as aglomerações urbanas, um intenso
processo, que resultou nas condições atuais das cidades, que se tornaram concentradoras de
grande parte da população mundial.
Essa crescente urbanização da humanidade, conforme destaca Lombardo (1985),
constitui uma preocupação de todos os profissionais e segmentos ligados à questão do meio
ambiente, pois as cidades avançam e apresentam um crescimento rápido e, muitas vezes, sem
planejamento adequado, o que contribui para uma maior deterioração do espaço urbano.
Para se perceber a importância do fenômeno na última década, no contexto nacional,
basta notar que, em 1995, a população brasileira já ultrapassava os 155 milhões de habitantes.
Nesse mesmo ano, a população urbana representava 75,5% do total.
Santos (1998, p. 31) afirma que
o forte movimento de urbanização que se verifica a partir do fim da segunda guerra
mundial é contemporâneo de um forte crescimento demográfico, resultado de uma
natalidade elevada e de uma mortalidade em descenso, cujas causas essenciais são
os progressos sanitários, a melhoria relativa nos padrões de vida e a própria
urbanização.
No ano 2000, a população total do Brasil, segundo o IBGE, atingiu os 169.799.170
habitantes, sendo 137.953.959 o total de pessoas residindo em zonas urbanas, o que representa
81,23% do total de habitantes do país. Somente no Estado de São Paulo, a população urbana
representa, em fins do século XX, 93,41%, correspondendo a uma das mais altas taxas de
urbanização do Brasil.
Especificamente no caso de Ribeirão Preto, como uma das inúmeras cidades de médio
porte do Estado de São Paulo, a população total do município no ano 2000 era de 504.923
moradores, sendo que mais de 97% habitavam a zona urbana (IBGE, censo 2000).
51
É exatamente nesse contexto que se busca abordar alguns aspectos do espaço urbano
no que se refere aos seus atributos ambientais e de lazer, visto que a vida nas cidades tornou-
se objeto de estudo de várias áreas da ciência como Geografia, Sociologia, Ecologia,
Arquitetura, entre outras.
Entre os abusos que ainda ocorrem, principalmente nas grandes cidades brasileiras,
está a eliminação e o descaso que ainda se faz do quadro natural. A este respeito, Marx (1980,
p. 64-65), salienta que
O crescimento das aglomerações urbanas, a supervalorização dos terrenos, os
serviços de atendimento público que se multiplicam é, sobretudo, a imprevidência e
o descaso dos responsáveis pelo governo e pelos planos de ocupação locais têm feito
desaparecer em torno das metrópoles e cidades de todo o tamanho os últimos
vestígios de um quadro natural, que se transforma brutalmente.
Murilo Marx faz essa observação em 1980, mas é importante lembrar que a
preocupação com a questão ambiental em nível global foi despertada basicamente nos anos de
1960, quando ambientalistas de todo o mundo passaram a se preocupar e a questionar os
padrões de desenvolvimento adotados pelos países que se caracterizavam pela forma
predatória de encarar os recursos naturais.
Em sua tese de doutorado, Colesanti (1999) discute as principais conferências
governamentais e não-governamentais que foram realizadas desde a década de 1970, cujo
objetivo era a preocupação com o meio ambiente. Com ênfase no “processo de educação
ambiental”, aborda a importância que assumem as praças e os parques urbanos dentro do
sistema de espaços livres públicos. Nesse contexto, o Parque do Sabiá, como principal espaço
livre e público de Uberlândia-MG, representa para essa cidade, uma área extremamente
significativa no que concerne aos aspectos de conservação dos recursos naturais do cerrado
brasileiro e um ponto de partida para a educação ambiental local.
52
Com o intuito de elencar e discutir questões que se acirravam na dualidade “meio
ambiente” x “desenvolvimento”, as diversas conferências promovidas no âmbito nas Nações
Unidas, ao longo dessas quatro décadas que sucederam os anos 1960, buscaram envolver
países desenvolvidos e subdesenvolvidos, organizações não-governamentais, esfera privada e
sociedade civil na luta constante contra a degradação do espaço global de forma a promover o
“desenvolvimento sustentável
7
”.
Embora tenham sido realizadas em Estocolmo (Suécia), em 1972, a Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano e, mais recentemente, em 2002, em
Johannesburgo (África do Sul), a denominada Rio+10, foi a Rio-92 (Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro) que mais
avançou quanto à aprovação de convenções e declarações de princípios. Entre os resultados
mais importantes desse evento está a Agenda 21, que se constitui em “um plano de ação para
alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável” (BARBIERI, 2003, p. 61).
A Agenda 21 global propôs e estimulou a criação de agendas nacionais e locais,
conforme as peculiaridades e necessidades específicas de cada lugar. Embora o município de
Ribeirão Preto/SP ainda não tenha elaborado a sua agenda, é possível constatar a legitimação
desse documento em algumas prefeituras do Brasil, como é o caso de Blumenau, em Santa
Catarina. Na esfera nacional, a Agenda 21 brasileira só foi concluída quase dez anos depois da
Eco-92.
As obrigações da Agenda 21, em âmbito global, remetem os municípios a desencadear
processos e ações que contribuam para a construção de cidades humanizadas e centradas nos
interesses da coletividade, com garantia de qualidade de vida. É nesse sentido que a criação,
manutenção e preservação dos diversos espaços livres urbanos, como praças e parques, pode
7
Para a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), conhecida como Comissão
Brundtland, “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade das gerações futuras de atenderem as suas próprias necessidades” (BARBIERI, 2003, p. 23).
53
significar um importante passo rumo à promoção da qualidade ambiental e da qualidade de
vida humana.
Um dos princípios básicos da Agenda Blumenau 21 (2000, p. 08) versa sobre o
crescimento urbano humanizado, ou seja, segundo esse princípio, “a cidade deve se
desenvolver tendo como elemento central a humanização dos espaços urbanos, priorizando
praças, parques, calçadas, ciclovias, transporte coletivo, saneamento básico e controle da
poluição”.
No caso da cidade de Curitiba/PR, Menezes (1996, p. 102), ao enfatizar a experiência
da cidade na gestão Jaime Lerner (1971-1974), afirma que, antes da Conferência da ONU em
Estocolmo, em 1972, as preocupações com as questões ambientais urbanas já se faziam
presentes no discurso do governo local. É importante ressaltar que foi a partir da
administração Lerner que a capital paranaense teve a questão ambiental institucionalizada; um
esforço que, ao promover o desenvolvimento urbano atrelado às questões ambientais locais,
promoveu Curitiba como a “capital ecológica”, um discurso que projetou a cidade para além
das fronteiras nacionais. Esse foi o resultado de uma parceria de sucesso entre o poder público
e a sociedade que, apostando na formação de uma cidade humanizada, tornaram possíveis
transformações urbanas nas bases física, cultural e econômica. É inquestionável que entre as
impressões mais marcantes da Curitiba atual estejam a arborização urbana e os projetos de
praças e parques, uma forma eficiente de integrar meio ambiente e urbanização.
Rodrigues (1998, p. 104-106) faz interessante discussão ao distinguir, porém não
dissociar, meio ambiente urbano e meio ambiente natural. Assim, o meio ambiente urbano
pode ser compreendido pelo “conjunto das edificações, com suas características construtivas,
sua história e memória, seus espaços segregados, a infra-estrutura e os equipamentos de
consumo coletivos”; enfim, é representado pelo ambiente construído. Já o meio ambiente
natural, que se apresenta cada vez mais ausente do meio ambiente urbano, pode ser
54
representado pela presença de rios, vegetação, terrenos permeáveis, fauna, etc. A Praça da
República (Figura 17), cercada por imensos edifícios na área central de São Paulo, permite
uma reflexão acerca da questão levantada, uma vez que constitui uma área densamente
arborizada em meio ao espaço verticalizado da metrópole.
FIGURA 17: Praça da República em São Paulo-SP.
Disponível: http://winweb.redealuno.usp.br/quapa
(Acesso em maio/04).
Rodrigues (1998, p. 107-110) analisa a produção do espaço urbano a partir da ênfase
na problemática ambiental. Afirma, de forma bastante precisa, que
O meio ambiente natural tem sido (re)incorporado como demonstrativo de
qualidade de vida que pode ser comprada como o: ‘ar puro’ e/ou a possibilidade de
morar próximo ao ‘verde’, ao sossego, etc. dos loteamentos ‘modernos’ ou ao lazer
dos parques públicos ou de prédios ‘inteligentes’. É também incorporado pela
medida de quantidade de ‘verde’ disponível por habitante...O meio ambiente
urbano mostra, com toda clareza, a diversidade da riqueza e da pobreza, da
produção e (re)produção de objetos, de cultura, de vida quotidiana enfim; ao
mesmo tempo que oculta a natureza física e biológica.
55
Evidentemente, o panorama atual nos revela uma preocupação ambiental bastante
aguçada que permeia todos os segmentos da sociedade, desde o público ao privado, do
individual ao coletivo. A existência de leis e diretrizes ambientais nos diversos níveis da
esfera governamental se torna cada vez mais perceptível à medida que estas se fazem
necessárias.
Se, por um lado, as cidades se expandem e varrem dos remanescentes nativos toda a
vegetação – embora as leis tentem garantir a preservação, – por outro lado, os loteamentos
que surgem são obrigados a destinar áreas para compor os sistemas de áreas verdes urbanas.
Ora, ao lotear uma gleba, em sua maioria, o que se observa é a limpeza total da área, inclusive
a derrubada da vegetação. Portanto, o poder público municipal brasileiro, muitas vezes, age
contraditoriamente, uma vez que obriga a existência nos loteamentos, de uma porcentagem de
área verde, sendo que apenas o terreno será disponibilizado, uma vez que a cobertura arbórea
foi suprimida.
É de fácil constatação o apelo ambiental vivenciado principalmente a partir das
últimas décadas do século XX. A promessa, ou constatação, da elevação do padrão de
qualidade de vida humana devido a uma maior oferta de espaços arborizados e tratados
paisagisticamente levou os agentes imobiliários a oferecerem para os estratos médio e alto da
sociedade, em ritmo cada vez mais acentuado, condomínios e loteamentos dotados de áreas
verdes, áreas de lazer e espaços ajardinados. Algumas vezes, podem ser observados tamm,
empreendimentos com características dessa natureza destinados às classes populares, porém,
com intervenções paisagísticas qualitativamente inferiores. Nesses casos, os agentes
imobiliários entram com a promessa e o poder público com a incumbência da execução, o que
acaba muitas vezes por não ocorrer.
8
8
Sobre os agentes sociais que produzem o espaço urbano, consultar Roberto Lobato Corrêa (O Espaço Urbano,
São Paulo: Princípios, 1979).
56
De qualquer forma, no jogo da especulação imobiliária, cujo Estado é um dos
principais agentes atuantes, uma praça, paisagisticamente tratada e qualitativamente dotada de
equipamentos urbanos necessários à realização da recreação, pode perfeitamente tornar mais
valorizado o seu entorno devido às vantagens que apresenta em termos sociais e ambientais.
Não resta dúvida que uma praça bem cuidada não seja preferível nas imediações da residência
de um cidadão qualquer. Se estiver localizada em um bairro popular desempenhará, na
maioria das vezes, o papel de espaço de convivência e descanso de seus moradores; ao
contrário, se localizada em meio aos grupos de rendas média e alta, provavelmente não
passará de um jardim, cuja função estética será a mais relevante.
Na perspectiva abordada, os espaços livres urbanos – praças, parques, áreas de lazer,
espaços ajardinados, etc. – ou “espaços verdes”, como alguns preferem chamar, tornam-se
elementos importantes na trama urbana devido, principalmente, às funções ambientais que a
vegetação disposta nesses locais pode oferecer às cidades.
1.4 – A importância das áreas verdes nas cidades contemporâneas
Conforme foi verificado acima, a vegetação conquistou aos poucos o espaço urbano
brasileiro, tanto em decorrência da monotonia das cidades quanto em conseqüência das
necessidades ambientais que se faziam presentes, devido à expansão urbana e problemas dela
decorrentes.
Marx (1980, p. 67) resume bem a relação existente entre a arborização e a cidade
brasileira ao longo da evolução da sociedade brasileira quando afirma que
A arborização e o ajardinamento dos espaços públicos principia na segunda metade
do século passado, época em que se difunde como nova exigência pelo mundo. Há
poucas gerações, portanto, que as plantas passaram a ornar e a amenizar nossas ruas
e praças. Além dos jardins comuns, raros e criados apenas nas cidades principais, a
imagem urbana desconhecia árvores e canteiros nas vias e nos largos. De tratamento
57
muito pobre, estes conheciam a sombra dos beirais e de uma ou outra árvore
plantada por trás dos muros de algum terreno particular. O que pode parecer hoje
uma atmosfera árida e causticante ao sol do meio dia era então a expansão clara da
vida não rural e muito menos sertaneja. As matas, os matos, os campos e as roças
ficavam fora do perímetro urbano que guardava o chão limpo batido de terra. As
plantas, as suas flores e frutos, fartos por toda a redondeza só entravam na cidade
para satisfazer a necessidade ou o gosto do dono de alguma propriedade.
No entanto, esta situação apresentada se modifica e ganha outra dimensão, pois são
inúmeros os benefícios da vegetação urbana. Rodrigues; Llardent (1982) apud Scifoni (1994,
p. 40) resumem a importância da vegetação nas cidades contemporâneas, principalmente nos
grandes centros, em função da composição atmosférica, equilíbrio solo-clima e poluição
sonora. Dessa forma, a vegetação age purificando o ar, por fixação de poeiras e materiais
residuais e pela reciclagem de gases através da fotossíntese; regula a umidade e temperatura
do ar; mantém a permeabilidade, fertilidade e umidade do solo e protege-o contra a erosão e;
reduz os níveis de ruído servindo como amortecedor do barulho das cidades. Ao mesmo
tempo, do ponto de vista psicológico e social, influenciam sobre o estado de ânimo dos
indivíduos massificados com o transtorno das grandes cidades além de propiciarem ambiente
agradável para a prática de esportes, exercícios físicos e recreação em geral.
O quadro 01, a seguir, mostra detalhadamente as contribuições da vegetação para a
melhoria do ambiente urbano.
58
QUADRO 01 – Funções da Vegetação no Espaço Urbano
Composição Atmosférica
- Ação purificadora por fixação de poeiras e materiais residuais;
- Ação purificadora por depuração bacteriana e de outros microorganismos;
- Ação purificadora por reciclagem de gases através de mecanismos
fotossintéticos;
- Ação purificadora por fixação de gases tóxicos.
Equilíbrio solo-clima-vegetação
- Luminosidade e temperatura: a vegetação ao filtrar a radiação solar, suaviza
as temperaturas extremas;
- Umidade e temperatura: a vegetação contribui para conservar a umidade do
solo, atenuando sua temperatura;
- Redução na velocidade do vento;
- Mantém as propriedades do solo: permeabilidade e fertilidade;
- Abrigo à fauna existente;
- Influencia no balanço hídrico.
Níveis de Ruído
- Amortecimento dos ruídos de fundo sonoro contínuo e descontínuo de caráter
estridente, ocorrentes nas grandes cidades.
Estético
- Quebra da monotonia da paisagem das cidades, causada pelos grandes
complexos de edificações;
- Valorização visual e ornamental do espaço urbano;
- Caracterização e sinalização de espaços, constituindo-se em um elemento de
interação entre as atividades humanas e o meio ambiente.
Fonte: Lombardo (1990) apud Guzzo (1998, p. 07)
Organização: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2003)
59
Para Hauser (1965, p. 195), o papel das áreas verdes nas zonas urbanas, traduz-se em
“combater a influência malsã do meio, pois convenientemente distribuídas entre os diversos
bairros e bem organizadas, podem preencher eficientemente esse papel”.
Quanto aos efeitos estéticos, o referido autor cita ainda que
a vida em um quadro sem beleza tem uma influência nefasta no equilíbrio psíquico
do homem; árvores verdes e gramados têm um efeito repousante para o espírito e
desenvolvem no homem o gosto pelo belo. As emoções sentidas ante uma bela
paisagem, de linhas bonitas, áreas verdes e água, estão entre as experiências mais
fortes e mais enriquecedoras da personalidade (HAUSER , 1965, p. 195).
Através das figuras 18 e 19, a seguir, é possível observar o contraste entre as
características paisagísticas de duas praças públicas na cidade de Presidente Prudente-SP.
Abaixo, é notória a precariedade dos equipamentos de infra-estrutura e a falta de tratamento
paisagístico da praça que está localizada na periferia pobre da cidade. Na página seguinte, a
paisagem reflete um ambiente repousante, com presença de arbustos, flores, gramados e
árvores de diversos portes; apesar de estar localizada na área central da cidade.
FIGURA 18: Aspecto da Praça da Vila Líder em Presidente Prudente-SP.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2002)
60
FIGURA 19: Aspecto da Praça da Bandeira, na área central de Presidente Prudente.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2002)
É possível observar na bibliografia consultada, que a maioria dos autores aponta para o
descaso e a falta de interesse de muitos órgãos públicos e de parte da própria população, no
sentido de se conhecer a importância da vegetação no espaço urbano. Assim sendo, torna-se
imprescindível que a população conheça e valorize os aspectos climáticos e biológicos que a
vegetação desempenha e não somente perceba a árvore como elemento decorativo na cidade,
podendo pressionar o poder público para que mantenha uma arborização eficiente.
Eckbo (1977, p. 5-6) destaca o alto grau de importância das árvores no meio urbano e
o descaso no trato que estas freqüentemente recebem, quando constata que
nas cidades, especialmente no centro, a vegetação constitui apenas um elemento
decorativo. Se as plantas fossem de plástico, não faria diferença nenhuma, já que
não têm nenhuma função específica[...]A árvore representa um indicador da saúde
urbana, porque é mais sensível e vulnerável que as pessoas. Quando as árvores não
estiverem se dando bem numa cidade, com certeza as pessoas não estarão melhores.
Uma forma humana e sensata de planejamento urbano deveria considerar as árvores
como parâmetro da vida das pessoas na cidade. Varrer as folhas não constitui um
problema sério de limpeza pública, como tantas vezes se tem alegado.
61
Vista por outra dimensão a arborização não é considerada tão relevante no espaço
urbano, pois na concepção de Jacobs (2000, p. 99),
os parques não são os pulmões da cidade [...] São necessários cerca de 12 mil m
2
de
árvores para absorver a quantidade de dióxido de carbono que quatro pessoas geram
ao respirar, cozinhar e aquecer a casa. São as correntes de ar que circulam à nossa
volta, e não os parques, que evitam que as cidades sufoquem.
Ainda que seja assim, vale ressaltar que a vegetação possui outros atributos
indispensáveis à vida humana conforme apresentados no Quadro 01. Embora Jacobs (2000)
tenha efetuado suas observações sobre as cidades americanas, nota-se que sua opinião vai
contra idéias e estudos de vários outros cientistas que visualizaram e comprovaram a
eficiência da arborização no espaço urbano. Spirn (1995, p. 74), ao realizar suas observações
acerca das cidades americanas, principalmente de Boston, afirma que as praças deveriam
constituir-se de amenidades climáticas assim como os parques, embora às vezes não o são. Na
sua concepção, “uma praça nua ao pé de um alto edifício pode ser um dos lugares mais
desconfortáveis numa cidade, podendo mesmo ser um perigo”. A City Hall Plaza, um dos
maiores espaços públicos de Boston, apesar de impressionante cenário arquitetônico, “é um
desastre em matéria de conforto físico”. Como afirma Spirn (1995), tanto no verão quanto no
inverno, a praça é uma “terra de ninguém”, à medida que, respectivamente, gera um
insuportável calor e não oferece proteção contra a neve ou a chuva.
Sobre o crescimento das árvores em meio urbanizado, é importante atentar que uma
planta só se desenvolve com perfeito funcionamento dos seus processos fisiológicos se
encontra um ambiente favorável ao seu crescimento. Deste modo, Munoz (1985, pg 11)
afirma que “[...]factores como el clima, la luz, la humedad ambiental, la lluvia, la estructura y
la textura del suelo, el pH, la fertilidad, la actividad de los microorganismos y la acción de
otros seres vegetales y animales interactúan e inciden directamente en el desarrolo de las
plantas”. Logo, a vegetação localizada em áreas densamente verticalizadas tende a sofrer
62
redução de insolação direta, alterar valores microclimáticos e a umidade e circulação de ar, o
que causa danos à comunidade vegetal de parques, praças ou bosques, visto que estes
parâmetros têm influência direta no desenvolvimento de espécies vegetais e na vida animal
associada (SCIFONI, 1994).
A necessidade de uma distribuição mais igualitária de áreas verdes na cidade é
destacada por vários autores, pois a localização destas, na maioria das vezes, está associada à
especulação imobiliária. Assim, os espaços destinados ao lazer, quer sejam parques e praças
públicas, quando bem equipados, tornam as áreas em seu entorno mais valorizadas e,
conseqüentemente, procuradas pela garantia de uma vida mais saudável devido aos diversos
benefícios que esses espaços lhes conferem. É o paradigma ambiental que aparece cada vez
mais presente e reflete a expressividade pela qual a valoração de certos “espaços” no interior
das cidades está ligada à presença dos elementos da natureza.
O uso efetivo das áreas verdes como local de lazer, recreação ou simples
contemplação da natureza é considerado por Scifoni (1994) mais importante que apenas o
acesso visual. Para que isso ocorra, faz-se necessário que essas áreas estejam bem distribuídas
na malha urbana, abrangendo desde o centro até as periferias mais distantes das cidades. No
entanto, Tarnowski e Moura (1991, p. 531) destacam a importância da luta pelo aumento dos
índices de áreas verdes mesmo que estas não sejam distribuídas igualitariamente, nem
acessível a todos os cidadãos. Dessa forma, consideram os parques, bosques e praças como
um sistema reestruturador da cidade e, portanto, indispensável para a melhoria da qualidade
de vida da população.
À medida que se expande, a cidade incorpora, muitas vezes, junto às novas áreas,
fragmentos de vegetação e vida animal, de certa forma. Também, os novos espaços surgidos
irão contribuir para o aumento da vegetação urbana principalmente com o aumento do plantio
63
de espécies arbóreas exóticas nas ruas. Nesse contexto, pode-se aludir à Rodriguez (1985, p.
42) quando compara a cidade a um bosque em crescimento. Para este autor,
este bosque es una ‘floresta urbana’, constituída por árboles de sombra, árboles
decorativos, árboles frutales, árboles de parques y jardines, árboles de las zonas
verdes de calles y carreteras. El cuidado y manejo de este bosque es una inversión en
el futuro de nuestros árboles. La floresta urbana es un ecosistema que, aunque
artificial, es susceptible de manejo igual que cualquier bosque comercial manejado
para producir madero pero difiere en dos aspectos importantes: los árboles en la
floresta urbana están mucho más dispersos y en ella el bosque se maneja,
primordialmente, por la contribución de los árboles para una vida urbana más
placentera y saludable.
A reivindicação da sociedade por áreas destinadas ao lazer está associada à presença
de vegetação nos espaços destinados a tal. Nesse sentido, não é de se surpreender que as
praças surjam como locais preferidos para a prática do lazer, pois, além de estarem mais
próximas das pessoas pela estratégia de sua localização, propiciam também uma convivência
harmoniosa entre os indivíduos que as freqüentam.
A presença de vegetação em praças públicas torna-se essencial, visto que este
elemento é de extrema importância na composição destes locais, seja pelo contato visual que
propicia à população ou pelas funções biológico-climáticas que desempenha. Mas, de acordo
com Scifoni (1994, p. 44), em relação à finalidade de lazer e recreação que essas áreas
desempenham, “não é só a ausência de vegetação que compromete a função, mas,
principalmente, a inexistência de equipamentos e condições voltadas a este uso”.
Conforme salienta Hoehne (1944, p. 46),
As praças ajardinadas nunca devem faltar numa cidade moderna. A sua proporção
deve estar em relação com a superfície construída. Para cada duas mil casas deveria
existir sempre um parque ou jardim de pelo menos cem metros quadrados; mas é
claro que outros, muito maiores, deverão ser construídos nos pontos em que isto for
possível. Reservando-se o espaço para estas áreas ajardinadas ao se traçar o plano de
uma cidade, o programa não onerará muito a Prefeitura, mas posto em prática, sem
esta preliminar, tornar-se-á dispendioso e irrealizável algumas vezes.
64
Brandão e Lucena (1999, p. 67) mostraram que, em relação ao conforto térmico
verificado em algumas praças do Rio de Janeiro/RJ, como a Mauá, Cruz Vermelha e
Tiradentes, a insuficiência arbórea em espaços abertos dessa natureza favorece situações de
extremo desconforto humano. Esse é, portanto, um fator fundamental que justifica a presença
de árvore nas praças, pois a situação de desconforto térmico é incompatível com a função que
a praça deve desempenhar que é exatamente a de propiciar lazer ao ar livre. Essa função
jamais vai se cumprir nas cidades brasileiras, enquanto integrantes de regiões tropicais, se a
praça não for enxergada como área verde, capaz de cumprir múltiplas funções no espaço
urbano.
Como visto anteriormente, as praças assumiram diversas funções ao longo da história
das civilizações urbanas. Da mesma maneira, suas formas obedeceram aos padrões
arquitetônicos e demandas sociais vigentes em cada época. Os desenhos projetuais e as
distintas características que esses espaços públicos assumiram e assumem no Brasil são
abordados a seguir.
1.5 – Projetos de praças brasileiras: algumas considerações
Os desenhos das praças públicas evoluíram através dos tempos conforme as funções
que as mesmas desempenharam. Diversas correntes surgiram entre os arquitetos e paisagistas
brasileiros no intuito de reestruturar esses espaços sob novas concepções à medida que a
sociedade evoluía em seus hábitos, costumes e valores. Nesse sentido, as linhas de projetos
encontradas com maior freqüência nas praças públicas do Brasil, conforme identificam Robba
e Macedo (2002) em “As Praças Brasileiras”, são a eclética, a moderna e a contemporânea.
O programa das praças do ecletismo era basicamente passear e contemplar a natureza.
Diversos espaços públicos foram ajardinados em várias cidades no início do século XX, sendo
65
bem aceitos pela população e permanecendo como modelo importante de praça pública até o
presente momento.
Os projetos ecléticos dividiram-se basicamente em duas linhas: a clássica e a
romântica. Os projetos românticos são raros e restringiram-se aos parques e jardins de maior
porte. Ao contrário, a linha clássica difundiu-se rapidamente e passou a caracterizar grande
parte dos espaços livres públicos brasileiros.
Robba e Macedo (2002) descrevem os diversos elementos característicos das linhas de
projetos dos espaços livres públicos. Assim, os projetos ecléticos clássicos caracterizam-se
pela presença de elementos como:
Traçados em cruz e variações;
Estar central com ponto focal;
Passeio perimetral;
Canteiros geométricos;
Parterres
9
, Simetria, Eixos;
Grandes quantidades de áreas permeáveis;
Elementos ecléticos pitorescos (coretos, pavilhões, espelhos d’água, estátuas,
monumentos, fontes, bustos);
Vegetação arbustiva e forrações, dispostas como bordadura dos canteiros e caminhos;
Vegetação arbórea plantada ao longo dos caminhos para sombreamento;
Grande utilização de espécies exóticas européias e pequena utilização de espécies
nativas;
Geometrização e simetria no plantio da vegetação;
Gramados; poda topiária
10
.
9
Jardins de formas ornamentais complexas que se utilizam da arte topiária.
66
A seguir, observa-se o projeto eclético clássico da Praça XV de Novembro em
Ribeirão Preto-SP (Figura 20) e, na página seguinte, uma fotografia com suas características
atuais (Figura 21).
FIGURA 20: Desenho eclético clássico da Praça XV de Novembro no centro de Ribeirão Preto-SP.
Disponível: http://winweb.redealuno.usp.br/quapa
(Acesso em maio/04)
10
Arte de conduzir e recortar árvores e arbustos em formas ornamentais e esculturas em plantas. Esta arte
permite criar formas geométricas em determinados tipos de plantas, como murta e magnólia, ou outras formas
arquitetônicas como cortinas, entre outros. A poda requer uma periodicidade que varia de 3 a 4 meses conforme
a espécie.
67
FIGURA 21: Aspecto da Praça XV de Novembro em Ribeirão Preto-SP no final do século XX. Disponível:
http://winweb.redealuno.usp.br/quapa
(Acesso em maio/04).
O estilo eclético romântico (Figuras 22 e 23), de acordo com Robba e Macedo
(2002), apresenta, em geral, os seguintes elementos:
Traçados orgânicos e sinuosos (rompimento com escolas clássicas de composição);
Estares e recantos contemplativos;
Passeios e caminhos que percorrem toda a área;
Lagos serpenteantes;
Equipamentos ecléticos pitorescos (coretos, pavilhões, espelhos d’água, estátuas,
monumentos, fontes, grutas, arcos, templos, malocas, castelos, entre outros);
Grande quantidade de áreas permeáveis;
Criação de cenários naturalistas;
Criação de visuais;
Utilização cênica da vegetação;
Imitação do ambiente natural, naturalismo;
68
Aplicação de forrações, vegetação arbustiva e arbórea mais exuberante, de forma a
criar cenários;
Uso de espécies exóticas européias e de espécies nativas.
FIGURA 22: Desenho eclético romântico da Praça Carlos Gomes em Curitiba-PR.
Disponível: http://winweb.redealuno.usp.br/quapa
(Acesso em maio/04)
69
FIGURA 23: Aspecto da Praça Carlos Gomes em Curitiba-PR.
Disponível: http://winweb.redealuno.usp.br/quapa (Acesso em maio/04).
Há ainda exemplos de praças romântico-clássicas, incorporando traços, ora do
ecletismo clássico, ora do ecletismo romântico. São exemplos, as praças da República, em
Belém-PA, e General Osório, em Curitiba-PR. Nessas praças, Robba e Macedo (2002, p. 82),
salientam que há uma forte presença da tríade eclética: traçado em cruz, estar central e passeio
perimetral; mesclando-se com elementos românticos como pavilhões, lagos serpenteantes,
grutas e cabanas; estes dispostos em seus quadrantes.
A praça moderna, que surge adaptada às novas necessidades de lazer impostas pela
urbanização vivenciada pelo país ao longo do século XX, incorporou um programa misto com
predominância do lazer ativo, atendendo a faixas etárias cada vez mais diversificadas. Nessa
linha, “[...] os projetos são criados para serem usados e para a permanência dos
freqüentadores, ao passo que, na praça eclética, os espaços eram concebidos como trajetos e
caminhos para passar ou passear” (ROBBA e MACEDO, 2002, p. 98).
As praças e jardins ecléticos foram espaços de segregação urbana, já que exigiam
rígidas formas de comportamento de seus ricos e elegantes freqüentadores. Na
70
praça moderna, o uso mais diversificado e abrangente e a necessidade real de
recrear-se ao ar livre dissolveram o costume de ‘trajes finos’ e o ‘comportamento
cortesão’, típicos da Belle Époque e do Ecletismo, democratizando o espaço livre
público, o que ia ao encontro das tendências sociais do século XX (ROBBA e
MACEDO, 2002, p. 98).
O lazer ativo da praça moderna consiste no lazer esportivo e infantil, além do cultural,
que exige equipamentos como anfiteatros e conchas acústicas. Os playgrounds, destinados à
recreação infantil, surgem no Brasil, por volta dos anos 1940, como equipamentos aliados às
atividades de lazer ativo, como a prática de esportes.
Da mesma forma que os playgrounds, as quadras de esportes surgiram inicialmente
nos jardins privados, clubes, escolas e grêmios recreativos, embora tenham sido implantados
nos logradouros públicos, como as praças, a partir da segunda metade do século XX,
especialmente por volta da década de 1970.
Em geral, as características que identificam a praça moderna (Figuras 24 e 25)
ancoram-se nos seguintes princípios, conforme Robba e Macedo (2002):
Setorização das atividades;
Utilização de formas orgânicas, geométricas e mistas para pisos, caminhos, canteiros
e espelhos d’água;
Liberdade na composição formal, respeitando os dogmas modernistas;
Grandes áreas de pisos processados;
Criação de estares e recantos como elementos centrais de projeto;
Circulações estruturadas por seqüências de estares;
Valorização de ícones e signos da cultura nacional e regional;
Vegetação utilizada como elemento tridimensional de configuração de espaços;
Plantio em maciços arbóreos e arbustivos, formando planos verticais;
Plantio de forrações como grandes tapetes;
Larga utilização e valorização da flora nativa e tropical.
71
FIGURA 24: Desenho moderno da Praça Francisco de Azevedo Macedo em Curitiba-PR.
Disponível: http://winweb.redealuno.usp.br/quapa
(Acesso em maio/04)
72
FIGURA 25: Aspecto da Praça Francisco de Azevedo Macedo, em Curitiba-PR.
Disponível: http://winweb.redealuno.usp.br/quapa
(Acesso em maio/04)
O projeto da Praça Francisco de Azevedo Macedo, em Curitiba-PR, conforme pode ser
visto acima, contempla atividades esportivas como futebol e vôlei de praia e recreação infantil
como playgrounds, ocupando toda a área interna da praça. Nas laterais do logradouro foi
implantada vegetação arbórea, de modo a permitir a livre circulação das pessoas no interior da
praça.
Os projetos modernos brasileiros estão diretamente ligados à figura de Roberto Burle
Marx. Este arquiteto, reconhecido internacionalmente, foi responsável pela criação, difusão e
consolidação do paisagismo moderno de praças, jardins e parques em diversas cidades do
Brasil e do mundo. São marcantes as suas atuações em inúmeros projetos nas cidades de
Recife-PE, Rio de Janeiro-RJ e, Brasília-DF. Como característica marcante das obras de Burle
Marx, observa-se a valorização da exuberante flora nativa brasileira e da diversidade regional,
fato que imprimiu caráter nacionalista aos projetos modernos.
73
Inúmeras praças modernas foram projetadas no Brasil por arquitetos influenciados por
Burle Marx. No Triângulo Mineiro, surgiu uma diversidade de praças em estilo moderno,
sobretudo na década de 1960. Conforme afirma Guerra (1998), foi a partir da reforma da
Praça Tubal Vilela, na área central de Uberlândia-MG, em estilo modernista, que surgiram
diversos outros espaços dessa natureza e no mesmo estilo projetados, sobretudo, pelo
arquiteto João Jorge Coury, em várias cidades do Triângulo Mineiro e Sul de Goiás.
A praça contemporânea surge basicamente nos anos 1990 e ainda não apresenta uma
configuração definitiva. “A liberdade de programas, elementos, desenhos, cores e materiais
permite a criação de projetos com variadas linguagens e formas”. Robba e Macedo (2003, p.
146-148), apontam como características dessa corrente:
Revitalizações e restauros da imagem, o velho e o novo uso;
Reconfigurações e mudanças estruturais;
Colagem decorativa e irreverência;
Formalismo gráfico como contraponto à praça ajardinada;
Cenarizações.
Assim, os espaços se adequam às diversas necessidades de uso e permitem:
A introdução do uso comercial e de serviços (utilitarismo);
O direcionamento do uso para a passagem de pedestres e a circulação, com a criação
de esplanadas;
A revalorização da praça seca;
A criação de espaços multifuncionais e adaptáveis, que podem ser utilizados pela
população das mais diversas formas.
74
Na corrente contemporânea, mesclam-se diversos usos que já se fizeram marcantes nas
praças brasileiras. Dessa forma, a contemplação da natureza, a convivência da comunidade, a
prática do lazer ativo e as atividades comerciais reaparecem todos no mesmo espaço; desta
vez, adaptável, “seco” e largo, permitindo a circulação crescente da população e banindo a
vegetação. Cabe ressaltar que esses projetos encontram-se mais voltados às áreas centrais das
grandes cidades, sendo o modelo de praça ajardinada, ainda, o mais marcante nas cidades da
atualidade, por constituir-se em maior número.
O modelo de praça contemporânea se caracteriza principalmente pela ausência de
áreas permeáveis e sem cobertura vegetal, fato que contribui para agravar o problema das
enchentes, nas médias e grandes cidades, que são, em parte, resultantes desse processo.
A Praça da Ressurreição (Figuras 26 e 27), onde são encenados espetáculos ao ar livre
e que exibe cores marcantes em São Luís do Maranhão, ilustra um exemplo de projeto
contemporâneo. Uma característica marcante dessa praça é o pouco uso que se faz da
vegetação e a predominância de concreto em suas estruturas.
75
FIGURA 26: Desenho em estilo contemporâneo da Praça da Ressurreição em São Luís-MA.
Disponível: http://winweb.redealuno.usp.br/quapa
(Acesso em maio/04)
FIGURA 27: Praça da Ressurreição em São Luís-MA
Disponível: http://winweb.redealuno.usp.br/quapa
(Acesso em maio/04)
76
Em Ribeirão Preto, a corrente contemporânea não foi observada em nenhuma de suas
praças. Em geral, encontra-se com mais facilidade praças que apresentam características de
projetos ecléticos e modernos. Novos projetos basicamente não existem e, quando alguns são
elaborados, privilegia-se a corrente moderna, na maioria das vezes, aliando vegetação e
equipamentos esportivos aos espaços públicos. Essa inexistência de projetos se deve, além da
falta de profissionais qualificados para esse fim, à escassez de recursos destinados para a
implantação de praças, conforme alegam os técnicos da Divisão de Parques e Jardins da
cidade.
Em síntese, diante do que foi exposto anteriormente, o Quadro 02 revela as funções
sociais desempenhadas pelas praças públicas no Brasil, ao longo da evolução das suas
cidades, considerando os projetos predominantes em cada período.
QUADRO 02: FUNÇÃO SOCIAL DAS PRAÇAS NO BRASIL
PERÍODOS
COLONIAL ECLÉTICO MODERNO CONTEMPORÂNEO
Convívio social Contemplação Contemplação Contemplação
Uso religioso Passeio Recreação Recreação
Uso militar Convívio social Lazer esportivo Lazer esportivo
Comércio e feiras Cenário Lazer cultural Lazer cultural
Circulação Convívio social Convívio social
Recreação Cenário Comércio
Serviços
Circulação
Cenário
Fonte: Robba, F. e Macedo, S. S. (2002, p. 152)
Org. Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
77
Observa-se, de maneira geral, ao longo da evolução dos espaços livres públicos nas
cidades brasileiras, a permanência de algumas de suas funções, como o convívio social, o
desaparecimento de outras, como o uso religioso e militar, e o surgimento de outras novas
funções como o lazer esportivo e cultural e a contemplação (com o ajardinamento das praças
no período eclético). Tais fatos evidenciam as mudanças ocorridas quanto à forma de
utilização dos espaços públicos brasileiros em face aos diferentes períodos da história urbana
do país, pois em cada momento, tais espaços assumem significados diferenciados, uma vez
que atendem às necessidades da sociedade em curso. Em Ribeirão Preto, conforme será
abordado a seguir, o histórico de suas praças testemunha tais transformações. Esses espaços,
em nível local, revelam a dinâmica de suas funções e sua representatividade para a população,
tendo em vista, as mudanças e permanências que se sucederam ao longo do tempo.
Praça XV de Novembro em Ribeirão Preto. Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Ribeirão Preto.
CAPÍTULO 2
RIBEIRÃO PRETO E SUAS PRAÇAS:
FORMAÇÃO DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS
PÚBLICAS
79
2.1 - Ribeirão Preto: história, desenvolvimento e caracterização geográfica
Ribeirão Preto foi projetada no cenário nacional por ser o grande centro urbano de
uma região próspera economicamente e por ter sido palco da pujança do café no final do
século XIX e início do século XX. Atualmente, sua estrutura econômica ancora-se em uma
produtividade agrícola e industrial forte e diversificada, tanto no município quanto na região.
O desempenho agrícola, calcado na qualidade dos solos, assim como do clima, faz com que
esta se constitua em uma das principais regiões agrícolas do Estado e do país, caracterizando-
se por uma grande produção e por elevados níveis de rendimento das culturas, especialmente
a cana-de-açúcar, a laranja, a soja, a fruticultura em geral, entre outras.
Por constituir sede da 6
a
Região Administrativa e sede de região de governo do
Estado, Ribeirão Preto exerce a função de importante pólo regional, sendo um centro
comercial, educacional, industrial, cultural e médico-hospitalar de excelência no Estado de
São Paulo.
A influência da cidade extrapola os limites da própria região de governo, estendendo-
se para outras regiões de São Paulo, como Franca e São Carlos, assim como de outros Estados
como Minas Gerais. Nesse contexto, a região de Ribeirão Preto apresenta elevado padrão de
vida em relação às demais regiões do país (renda, consumo, longevidade), além de localização
privilegiada, devido à proximidade de importantes centros consumidores, e acesso facilitado
pela qualidade da infra-estrutura de transportes e comunicação, que em sua maioria se
encontram privatizados. No entanto, a cidade de Ribeirão Preto apresenta também problemas
sócio-ambientais (como a distribuição irregular de praças, vegetação e espaços de lazer que
são contemplados neste estudo), típicos das grandes cidades brasileiras, fato que revela
contradições urbanas comuns a qualquer cidade do mundo dito “subdesenvolvido”.
80
Ao analisar a gestão do desenvolvimento econômico de Ribeirão Preto, Vitte (1999, p.
135) afirma que o município “apresenta alguns indicadores socioeconômicos superiores à
grande parte dos municípios brasileiros. No entanto, seus indicadores econômicos são mais
expressivos do que os sociais”.
A cidade de Ribeirão Preto está localizada no nordeste do Estado de São Paulo,
distante cerca de 313km da capital paulista. A área central urbana se encontra a 544m de
altitude e situa-se a 21º10’42’’ de latitude S e 47º48’24’’ de longitude W. Em 2003, segundo
dados da Fundação SEADE
1
, Ribeirão Preto apresentou população de 527.634 habitantes,
sendo que 99,62% desse total habitando a zona urbana.
De acordo com a divisão regional adotada pelo IBGE, que, a partir dos limites
municipais foram estabelecidas unidades político-administrativas e operacionais, o município
de Ribeirão Preto é sede de uma mesorregião que integra, além de sua própria microrregião,
as microrregiões de Barretos, São Joaquim da Barra, Ituverava, Franca, Jaboticabal e Batatais
(MAPA 01).
O município, que tem área de 642 km
2
e apresentou, no ano 2000, densidade
demográfica de 786,62 hab/km
2
, limita-se com Guatapará, Cravinhos, Jardinópolis, Serrana,
Dumont, Sertãozinho e Brodowsqui e, se encontra numa região de planalto, apresentando
relevo plano com pequenos declives e ondulações naturais. O solo característico é originário
da alteração de rochas vulcânicas (Formação Serra Geral) e arenito (Formação Botucatu),
conhecido como “terra roxa” e considerado de boa qualidade para a agricultura. Além disso, o
clima predominante em Ribeirão Preto é o tropical úmido, com verão chuvoso e inverno seco,
cujas temperaturas médias giram em torno de 19ºC no inverno e 25ºC no verão. A
precipitação média anual é de 1.426mm e a umidade relativa do ar apresenta média anual de
71% (BACELLAR E BRIOSCHI, 1999).
1
Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Disponível: http://www.seade.gov.br/perfil/index.html.
Acessado em 18/03/04)
FRANCA
RIBEIRAO PRETO
JABOTICABAL
BATATAIS
BARRETOS
SAO JOAQUIM DA BARRA
ITUVERAVA
-49
-49
-48
-48
-47
-47
-21
-21
-20
-2 0
MAPA 01 - Ribeirão Preto: Localização do munipio na mesorregião administrativa no estado de o Paulo - IBGE - 2004
S
N
EW
Orgs.: GOMES, M. A. S;
SUPERBI, D. H. A.
Fonte: IBGE (2004)
30 0 30 60 Km
Munícipio de Ribeirão Preto
Microrregiões
Legenda
82
De modo geral,
da origem, da trajetória e da orientação das massas de ar que atuam no Nordeste
Paulista, percebe-se claramente a ação de três principais centros de ação da vertente
atlântica da América do Sul: a Tropical Atlântica (Ta), a Polar Atlântica (Pa) e a
Equatorial Continental (Ec) [...] Assim sendo, a principal característica da Alta
Mogiana são a existência de uma estação seca (meses de inverno) e uma estação de
chuvas (meses de verão) bem definidas, alta pluviosidade e temperaturas
moderadas (BACELLAR E BRIOSCHI, 1999, p. 31-32).
As características naturais da região nordeste de São Paulo, com clima favorável à
agricultura, relevo em geral suave e um solo de alta fertilidade atraíram mineiros, fluminenses
e paulistas que, interessados nos lucros da cultura cafeeira, iniciaram a ocupação da região,
intensificada a partir do final do século XVIII.
De acordo com Farias (1995, p. 10), “no passado, as terras do município de Ribeirão
Preto foram cortadas por expedições dos bandeiras, como Anhanguera, que descobriu ouro
em Goiás”. Mas, embora os paulistas da capital cruzassem a região ao se dirigirem para
Goiás, foram os mineiros quem de fato se instalaram primeiro nessas terras
2
. Data de 1792 a
chegada de mineiros à região e de 1875 a penetração de imigrantes do Vale do Paraíba e da
Baixada Fluminense (CIONE, 1992, p. 57).
A primeira vila
3
da região do nordeste paulista foi Franca, criada em 1821. Foi a partir
desta e de São Simão que tiveram origem 44 (quarenta e quatro) municípios, entre os quais
Ribeirão Preto, desmembrado de São Simão em 1871.
A 19 de junho de 1856 foi criado o povoado de São Sebastião do Ribeirão Preto (ainda
pertencente ao município de São Simão), por intermédio de fazendeiros da região, que doaram
2
Não desconsiderando aqui a história das comunidades indígenas, principalmente os caiapós, que habitavam a
região.
3
Bacellar e Brioschi (1999, p. 77) argumentam que o vocábulo ‘vila’ era usado tanto para designar o que hoje
constitui um município, quanto a sua sede. O território da vila era chamado ‘Termo’; seus limites, notadamente
nas fronteiras do povoamento, eram imprecisos. O Termo da vila era dividido em freguesias que constituíam as
circunscrições eclesiásticas que formavam a paróquia.
83
terras para a construção de uma capela em homenagem a São Sebastião, que seria edificada
entre os córregos Retiro e Ribeirão Preto.
Segundo Farias (1995, p. 10),
Coube a Manoel Fernandes do Nascimento, encarregado de zelar pelo patrimônio
do Santo, demarcar o largo da capela (400 por 100 metros), na atual praça XV de
Novembro e traçar as primeiras ruas do povoado. A capela já estava sendo
construída em 1868 vindo a ser a primeira matriz. A paróquia foi criada dois anos
depois. A matriz viria a ser demolida, em 1904, sob protestos da população devota.
A cidade estava crescendo e a igreja se tornara pequena para receber tantos fiéis.
Mais tarde, depois que a Igreja Matriz foi derrubada, surgiu a praça XV.
Assim, a Catedral de São Sebastião (nova matriz de Ribeirão Preto) foi edificada no
largo do cemitério velho
4
e constitui, nas palavras de Cione (1992, p. 74), um dos mais belos
templos católicos do Brasil (Figura 43).
Finalmente em 12 de abril de 1871, através da Lei nº 67, foi criado o município de
Ribeirão Preto, que mais tarde, em 1889, seria elevado à categoria de cidade com a Lei
Provincial nº 88 de 1º de abril. Em 1874, três anos após a criação do município e ano em que
a Câmara Municipal ficou definitivamente constituída, a Vila de São Sebastião de Ribeirão
Preto contava com quatro ruas, seis travessas e dois largos, além de 5.522 pessoas, das quais
857 escravos. Já em 1887, sua população atingia a marca dos 10.420 habitantes (CIONE,
1992).
As figuras 28 e 29 ilustram o primeiro largo da cidade e a antiga capela no final do
século XIX, que simboliza o marco histórico de Ribeirão Preto. É notória a falta de
benfeitorias no extenso largo.
4
Este espaço designado para a nova igreja já recebeu outras denominações como Largo 13 de Maio e Praça da
República.
84
FIGURA 28: Largo da antiga Igreja Matriz de Ribeirão Preto em 1897.
Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Ribeirão Preto.
FIGURA 29: Antiga capela (Primeira Igreja Matriz) em 1898. Lugar
ocupado atualmente pela fonte luminosa da Praça XV de Novembro.
Disponível: www.camararibeiraopreto.sp.gov.br (Acesso em 25/03/04)
As grandes levas de imigrantes que desembarcaram em Ribeirão Preto, em virtude da
expansão da cultura cafeeira, ocorreram, principalmente, entre 1870 e 1890, período em que
foi instalada a Estrada de Ferro Mogiana (1883) e em que a cidade reconheceu uma fase de
grande progresso econômico advindo do surto da produção cafeeira.
85
Sobre a formação da rede urbana paulista, a partir da expansão da cultura cafeeira,
Ohtake (1982, p. 21) afirma que “[...] na década de 1850 foi criado um número de municípios
superior ao total criado nos 50 anos anteriores – era o começo da expansão do café, ao lado da
cultura canavieira já existente, a qual, gradualmente, veio a substituir”.
Não resta dúvida que o café foi a base econômica da região nordeste de São Paulo. “O
progresso econômico-financeiro que Ribeirão Preto obteve está diretamente ligado ao
desenvolvimento agrícola, a partir da segunda metade do século XIX” (FARIAS, 1995, p. 17).
Se, na história do mundo urbano, São Francisco, Denver e Johannesburgo nasceram do
ouro, Kimberley do diamante, Oklahoma City do petróleo e Mourenx do gás natural
(HAROUEL, 1998, p. 103-104), no Brasil, assim como Ouro Preto brotou do ouro, Ribeirão
Preto nasceu do café. A riqueza e sofisticação vivenciadas pela Ribeirão Preto do início do
século XX, ainda se fazem presentes através de marcos urbanos que são verdadeiras
testemunhas do tempo áureo que viveu a cidade. Esses marcos estão materializados na forma
de imponentes casarões, teatros, praças, entre outros, que carregam no seu bojo a riqueza e a
prosperidade auferidas com o “ouro verde”.
Após 1929, com a queda da Bolsa de Nova Iorque, a cidade e a região experimentaram
uma outra dinâmica que iria se configurar num cenário marcado por atividades diversificadas
e, como outrora, ainda próspero. Era a cana-de-açúcar e o setor de serviços que se
desenvolvera.
Conforme ressalta Farias (1995, p. 17),
com a crise mundial, os reis do café ficaram pobres. A revolução de 1930 deu o
golpe de misericórdia. Alguns setores sobreviveram à crise. A população urbana de
Ribeirão Preto começou a crescer. A ressaca da crise abriu os olhos dos pequenos
investidores. O comércio desenvolveu-se. A policultura era a melhor alternativa de
recuperação. Os investimentos no algodão, na cana-de-açúcar, laranja, entre outras
culturas, constituíram-se em alternativas de desenvolvimento.
86
Em decorrência da dinamização da agricultura, outros setores se tornaram importantes
como o da indústria, prestação de serviços e educação. Ainda, com o lançamento do Pró-
Álcool em 1975, expandiu-se a cultura canavieira e a economia regional voltou a ter impulso.
A cana-de-açúcar, que substituiu gradativamente a cultura do café, faz hoje da região de
Ribeirão Preto, uma das maiores produtoras de açúcar e álcool do país, incorporando um alto
índice de modernização agrícola. Assim, Ribeirão Preto desempenha, atualmente, papel
significativo na rede urbana e no setor econômico paulista e brasileiro. Mais do que um
parque agroindustrial, o município tem importante significado regional.
2.2 – Formação e evolução das primeiras praças públicas de Ribeirão Preto
A história da cidade de Ribeirão Preto não pode ser compreendida desvinculada da
história do seu mais importante referencial urbano: a Praça XV de Novembro. Foi a partir da
demarcação desse espaço (antigo Largo da Matriz), em meados do século XIX, que o espaço
urbano de Ribeirão Preto foi estruturado e se expandiu para além dos córregos do Retiro e do
Ribeirão Preto e também da estrada de ferro. O Mapa 02 representa a planta da cidade de
Ribeirão Preto, em 1890, indicando os primeiros arruamentos e a existência de dois largos, o
da Matriz, ao centro, e o 13 de Maio, à esquerda, onde posteriormente seria edificada a
catedral da cidade.
87
MAPA 02: Planta da cidade de Ribeirão Preto em 1890
Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Ribeirão Preto.
Da sua demarcação, em 1856, até 1900, o Largo da Matriz (Figura 24) constituía um
imenso espaço aberto sem nenhum tipo de equipamento ou ajardinamento. Existiam apenas
algumas árvores esparsas, como as figueiras (Figura 30), que se encontram, atualmente, em
frente à Biblioteca Altino Arantes, e sua função era predominantemente religiosa, uma vez
que ali havia sido edificada a capela de São Sebastião e a área constituía o núcleo central
urbano. Nesse período, além do Largo da Matriz e do Largo 13 de Maio, outro largo também
existia, - o das Dores - mas em proporções bem menores que o da Matriz. Mais tarde, nesse
88
espaço, surgiu a Praça Tiradentes
5
, de tamanho pouco significativo, que foi extinta mais
adiante.
FIGURA 30: Praça XV de Novembro de Ribeirão Preto-SP. Ao fundo, no canto
esquerdo, as figueiras centenárias e, no centro, a Biblioteca Altino Arantes. Autor:
Ângela Regina Esteves de Oliveira (2004)
O Largo da Matriz, que inicialmente media 400x100m, se estendendo até a atual Praça
Barão do Rio Branco, foi grilado, em 1891, por vereadores, alegando ser a área muito extensa.
Sob protestos da população, parte da área foi recuperada e nela construído o Teatro Carlos
Gomes, em 1897. Atualmente, após ser ocupada por um longo período (até 2001) pelo
terminal de ônibus urbano, o local devolveu à Praça Carlos Gomes suas funções (Figura 31).
5
A área antes ocupada por essa praça, pela análise do mapa atual, é a que funciona como estacionamento, em
frente ao Consulado Português em Ribeirão Preto, situado à Rua Visconde de Inhaúma, entre a Praça XV de
Novembro e a Avenida Francisco Junqueira.
89
FIGURA 31: Praça Carlos Gomes na área central de Ribeirão Preto.
Autor: Ângela Regina Esteves de Oliveira (2004)
Até 1900, conforme ressalta Valadão (1997, p. 73),
a cidade possuía apenas um jardim público, o Horto Municipal, situado às margens
do Córrego do Retiro, a partir da rua Visconde de Inhaúma. Todo cercado, abria-se
à visitação pública aos domingos, feriados e dias santos. Dada a sua localização,
pode-se supor que fosse área remanescente do antigo rossio
6
.
Ainda no ano de 1900, uma parte do Largo da Matriz recebe seu primeiro tratamento
paisagístico e equipamentos de infra-estrutura. Assim, o recém-criado jardim passa a ser
composto por canteiros de flores e arbustos, chafariz e coreto cercado por um lago de carpas e
circundado por pequenas pontes, além de vários bancos. Todas essas benfeitorias e outras
tantas foram doadas por pessoas ilustres da cidade, que almejavam uma cidade atraente, bem
como seus objetivos políticos (VALADÃO, 1997, p. 74). O jardim, que teve o nome de “Dr.
Loyola”, em homenagem ao prefeito de então, foi inaugurado em 14 de julho de 1901.
6
Área para usufruto comum dos moradores e servia às necessidades de expansão da nova vila.
90
Com a demolição da igreja matriz em 1904, o jardim foi ampliado e, a partir de 1919,
passou por uma reforma completa: construção do bar da Antarctica (Figura 32), novos
contornos nos canteiros, vegetação reformulada e mobiliário novo. Boas eram as impressões
deixadas pela praça aos visitantes e moradores conforme constam em relatos históricos.
Assim, no final da década de 1910, as praças centrais, mas também as da Vila Tibério e do
Barracão (atual bairro Ipiranga), já se encontravam ajardinadas e arborizadas, o que acontecia
com diversas ruas da cidade.
Embora não ocupassem o mesmo local, em 1928 foi demolido o bar da Antarctica e,
em 1930, inaugurava-se o Trianon da Praça XV, que exercia função de bar no térreo e mirante
em sua cobertura (Figuras 32, 33, 34 e 35).
FIGURA 32: Bar da Antártica na Praça XV de
Novembro. Fonte: Arquivo Histórico Municipal de
Ribeirão Preto
91
FIGURA 33: Aspecto da Praça XV de Novembro com ajardinamento, por volta da
década de 1930. Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Ribeirão Preto.
FIGURA 34: Aspecto da Praça XV de Novembro na década de 1930. Ao centro,
observa-se o Trianon, construído no local onde havia o bar da Antártica. Fonte:
Arquivo Histórico Municipal de Ribeirão Preto.
92
FIGURA 35: Aspecto do Trianon da Praça XV (Sem Data).
Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Ribeirão Preto.
Entre 1937 e 1944, essa praça sofre as transformações mais significativas no que tange
à compreensão da sua configuração atual. Espécies arbóreas de diversas regiões brasileiras
foram plantadas por iniciativa do então prefeito Fábio de Sá Barreto. Sobre essas
transformações ocorridas na Praça XV, nesse último período citado, Valadão (1997, p. 92)
afirma que
o traçado dos canteiros foi completamente alterado e o coreto foi substituído pelo
Monumento ao Soldado Constitucionalista da Revolução de 1932. A mudança mais
significativa foi a construção da Fonte Luminosa com luzes nas cores azul,
vermelho e amarelo, inaugurada em 20 de janeiro de 1939, localizada onde
anteriormente se encontrava a velha Matriz e as edificações que funcionaram como
bar da Antarctica...o traçado dos canteiros, a paginação e o próprio piso que hoje
encontramos na praça são intervenção de 1939.
A figura 36 revela aspectos da Praça XV de Novembro de Ribeirão Preto. É possível
observar os bancos em madeira e o detalhe do piso, além do monumento ao Soldado
Constitucionalista, que substituiu o antigo coreto.
93
Na figura 37, o lago da fonte luminosa, inserido ao centro da praça, substituiu a antiga
capela e o bar da Antártica.
FIGURA 36: Aspecto da Praça XV de Novembro em 2001. Observa-se o intenso
ajardinamento. Disponível: http://www.camararibeirao.sp.gov.br (Acesso em
25/03/04).
FIGURA 37: Lago da fonte luminosa da Praça XV de Novembro em 2004.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004).
94
No período em que ocorreu o ajardinamento, pode-se inferir que, a praça XV,
paisagisticamente tratada, conferia, assim como ainda confere, um arranjo espacial
significativo no centro urbano de Ribeirão Preto, pois realçava o que mais tarde foi
denominado de “quarteirão paulista”, compreendendo o Edifício Meira Júnior, o Teatro Pedro
II e o Central Hotel (Figura 38).
FIGURA 38: Praça XV de Novembro na década de 1930, em primeiro plano.
Ao fundo, Edifício Meira Junior (à esquerda), Teatro Pedro II (ao centro) e
Central Hotel (à direita, atualmente denominado Hotel Palace).
Disponível: http://www.camararibeiraopreto.sp.gov.br (Acesso em março/04).
Cione (1992, p. 397-399) resume o significado da Praça XV de Novembro para
Ribeirão Preto quando faz a seguinte afirmação:
Toda praça tem sua história e a nossa guarda internamente a história da cidade, bem
representada pelos monumentos às nossas glórias e às nossas mais caras tradições,
reunindo-se figuras inesquecíveis e perpetuadas no bronze, para serem
reverenciadas pelas gerações de hoje. A praça acolhe velhinhos para o sol das
manhãs de todos os dias. Nossa praça nos esconde dos invernos. Ela é sempre
primavera. Recebe a meninada, como bando de passarinhos, em suas correrias e
folguedos, velando por eles, rindo com elas, brincando com eles...A praça XV
guarda imensos segredos de namorados, juras de amor trocadas dia e noite, noite e
dia...
95
Em todo caso, as praças mais antigas de Ribeirão Preto, como a XV de Novembro e a
da Bandeira, desempenharam, no final do século XIX, funções que eram comuns em diversas
outras cidades no Brasil. Essas funções eram, em sua maioria de caráter militar, civil e
religioso. Cione (1992, p. 395) salienta que na Catedral situada à Praça da Bandeira “foram
celebradas a maioria das missas do aniversário da cidade, quando não realizadas na Praça XV
(Figura 39) e outras campais”.
FIGURA 39: Largo da Igreja Matriz durante festa religiosa em abril de 1904,
ano em que a capela foi demolida.
Disponível: http://www.camararibeiraopreto.sp.gov.br (Acesso em 25/03/04).
Cione (1992, p. 393) enfatiza as funções cívica e religiosa desempenhadas pela Praça
da Bandeira quando afirma: “Quantos atos religiosos e quantos acontecimentos políticos esta
Praça assistiu a quanta vibração de fé e sentimento cívico”. Esta praça, fundada em 1891, e
que envolve a atual catedral de Ribeirão Preto, foi denominada 13 de Maio (Figura 40) até
96
1941 e ocupou o Cemitério Municipal até 1903, embora o novo cemitério da cidade,
localizado na Avenida Saudade, tivesse sido aberto em 1893.
FIGURA 40: Praça 13 de Maio, atual Praça da Bandeira, por volta da década de 1910.
Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Ribeirão Preto
A figura 41 ilustra a Praça da Bandeira no início do século XX, época em que estava
sendo construída a Catedral de Ribeirão Preto. Adiante, as figuras 42 e 43 permitem verificar
aspectos da praça e da catedral na atualidade.
97
FIGURA 41: Praça da Bandeira em Ribeirão Preto no início do século XX. Observa-se o
início do ajardinamento e a catedral da cidade em fase de construção. Fonte: Arquivo
Histórico Municipal de Ribeirão Preto.
FIGURA 42: Aspecto da Praça da Bandeira em 2004.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes.
98
FIGURA 43: Aspecto da Catedral de Ribeirão Preto, vista da lateral, em 2004.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes.
Ainda, no início do século passado, outras praças já figuravam no traçado urbano de
Ribeirão Preto, constituindo importantes espaços públicos para a comunidade como é o caso
da praça Francisco Schimidt, que está localizada junto à avenida Jerônimo Gonçalves, em
frente ao Córrego Ribeirão Preto e a praça Barão do Rio Branco, que se encontra junto ao
Paço Municipal.
A Praça Barão do Rio Branco sempre esteve atrelada ao palácio municipal, a quem lhe
confere uma estética importante. O palácio foi construído em 1917, embora o ajardinamento
desta praça tenha ocorrido por volta da década de 1880 (Figura 44). As características
assumidas pela praça atualmente, são em parte, fruto de reformas que se sucederam ao longo
das administrações públicas, como a mudança dos bancos de concreto para de madeira, a
construção da fonte elevada, assim como grande parte do seu ajardinamento foi alterado
(Figura 45).
99
FIGURA 44: Praça Barão do Rio Branco e Câmara Municipal em 1888.
Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Ribeirão Preto
FIGURA 45: Praça Barão do Rio Branco e Paço Municipal, ao centro.
Autor: Ângela Regina Esteves de Oliveira (2004).
100
Por volta da segunda década do século XX é implantada a Praça Sete de Setembro e
reformada e ajardinada a Praça Francisco Schmidt (Figura 46 e 47). Esta última constitui a
primeira praça aberta para além do núcleo urbano original. A Estrada de Ferro Mogiana foi a
responsável pela abertura dessa praça e significou a expansão do tecido urbano para além do
córrego do Ribeirão Preto.
Foi justamente a partir da chegada da “Mogiana”, em 1883, que os investimentos em
melhoramentos urbanos foram ampliados, embora restritos ao núcleo original. Esses
melhoramentos atingiram os largos de então, ajardinando-os nas primeiras décadas do século
XX.
FIGURA 46: Praça Schmidt em Ribeirão Preto em 1927. É possível notar o ajardinamento da praça à
direita, a implantação das palmeiras imperiais na avenida Jerônimo Gonçalves ao centro e, um antigo
barracão ao fundo, onde atualmente encontra-se o terminal rodoviário da cidade.
101
Figura 47: Praça Schimidt em 2004.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes.
A Praça Sete de Setembro, oficialmente denominada Aureliano de Gusmão (Figura
48), foi ajardinada por volta dos anos 1925 e 1926 e permaneceu cercada de muro com tela de
arame até a década de 1940, aproximadamente. Constam em relatos que esta praça era
atraente desde seus primórdios, sendo ponto de encontro da população que habitava suas
imediações. Era e ainda continua sendo um espaço amplo e agradável onde as pessoas
adentram em busca de sombra, descanso, passeio e até mesmo para momentos entre casais de
namorados. Constitui um local importante para eventos culturais, como a feira de artesanato,
que ocorre freqüentemente (com destaque para obras de artistas plásticos) e para grupos
musicais de músicas populares, que se apresentam no coreto com regularidade,
principalmente para as pessoas mais idosas.
102
FIGURA 48: Praça Sete de Setembro, com coreto ao centro, em 2004.
Autor: Ângela Regina Esteves de Oliveira.
O Mapa 03 retrata o patrimônio da matriz da cidade de Ribeirão Preto em 1932. Essa
área representa o núcleo original da cidade, atualmente denominada de área central. As praças
que constam indicadas no mapa, embora pouco legíveis, são: Praça XV de Novembro (1), que
estava unificada com a Praça Carlos Gomes, Praça da Bandeira (2), Praça Aureliano de
Gusmão(3), popular Sete de Setembro, Praça Francisco Schmidt (4), Praça Luiz Vaz de
Camões (5) e Praça Tiradentes (6), hoje extinta. A Praça Barão do Rio Branco (7), junto ao
Paço Municipal, também existia, porém não é indicada com o nome no mapa.
103
MAPA 03: Planta do patrimônio da matriz de Ribeirão Preto em 1932
Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Ribeirão Preto.
Org. Marcos Antônio Silvestre Gomes (2005)
104
A Praça Luiz Vaz de Camões (Figura 49 e 50) teve origem a partir da instalação de um
monumento ao poeta português que ostenta seu nome. Embora a solicitação à Câmara
Municipal por parte da Sociedade Portuguesa de Beneficência tivesse ocorrido em 1924, o
monumento só foi inaugurado treze anos depois, em 1937. Este local, que até o ano de 1886
constituía mata virgem, foi ocupado por cafezais até sua indicação para praça pela Câmara
Municipal.
FIGURA 49: Aspecto da Praça Luiz Vaz de Camões.
Observa-se o monumento a Camões, ao centro, e a intensa
arborização. Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes
(2004).
105
FIGURA 50: Monumento a Camões quando na sua
inauguração, em 1937, na Praça Luiz Vaz de Camões. Fonte:
Arquivo Histórico Municipal de Ribeirão Preto
A intensa arborização que se constata atualmente na praça Luiz Vaz de Camões
(Figura 51) é fruto de sua história, pois sua reforma, entre as décadas de 1930 e 1940, por
intermédio do então prefeito Fábio de Sá Barreto, privilegiou o plantio de inúmeras espécies
de árvores oriundas de diversas partes do Brasil e até do exterior. Hoje, adentrar a praça
“Camões” é penetrar em um mundo verdejante onde predomina o silêncio e o canto dos
pássaros que insistem em dar vida à praça, embora esteja localizada em área de pleno
adensamento urbano.
106
FIGURA 51: Aspecto da arborização na Praça Luiz Vaz de Camões.
Autor: Ângela Regina Esteves de Oliveira (2004)
Devido ao fato de constituir uma área de remanescente vegetal, o atual Bosque
Municipal Fábio Barreto (Figura 52) constitui importante área verde urbana e significativo
espaço para o lazer da população de Ribeirão Preto. Apresenta, ainda, a característica de estar
localizado nas imediações da área central da cidade. Esta área, antes conhecida como mata do
morro do Cipó, foi adquirida pela municipalidade em 1907, junto à propriedade a qual fazia
parte, a Chácara Olímpia.
107
FIGURA 52: Bosque Municipal Fábio Barreto. Importante área de remanescente florestal
em Ribeirão Preto. Ao centro, a área central da cidade, com destaque para a Praça XV à
direita e, a Praça Sete de Setembro à esquerda. Disponível:
http://www.ribeiraopreto.sp.gov.br (Acesso em julho/2002).
Cione (1992, p. 433) afirma que “muito antes da aquisição da chácara Olímpia o atual
bosque já era aproveitado como logradouro público. Em 1948 a Câmara Municipal
denominou esse município logradouro público de Bosque Fábio Barreto”. Através da Figura
53 é possível observar a área central de Ribeirão Preto na década de 1950, com destaque para
as praças da Bandeira, à direita e XV de Novembro, à esquerda, ambas no centro da
fotografia. No canto esquerdo, verifica-se uma parte do Bosque Fábio Barreto e os limites da
cidade.
108
FIGURA 53: Vista parcial da cidade de Ribeirão Preto em 1957. Observa-se as
primeiras edificações verticalizadas ao centro e, o uma parte do Bosque Municipal no
canto esquerdo. Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Ribeirão Preto.
Atualmente, adentrar uma praça pública significa gozar de uma profunda liberdade,
onde mesclam-se ricos e pobres, negros e brancos, adultos e crianças, mendigos e ambulantes
e, até mesmo, cães e gatos. Freqüentar os espaços públicos, como as praças, significa ignorar
hábitos e posturas preestabelecidas ou impostas. Porém, desde as primeiras décadas da
formação de Ribeirão Preto até o início da década de 1930, freqüentar os locais públicos
como praças e ruas exigia o cumprimento de regras que eram impostas pela municipalidade
em forma de leis. As primeiras delas, por serem significativas para este trabalho, serão
analisadas a seguir, face à rigorosidade das mesmas.
109
2.3 - As praças e as primeiras normas municipais de Ribeirão Preto
O primeiro conjunto de normas municipais (inclusive regulamentos referentes à
higiene e saneamento urbanos) compreende o Código de Postura, formulado pela Câmara
Municipal da Vila de São Sebastião do Ribeirão Preto, a partir de 1874, sendo revisado em
1900 e 1921, face ao crescimento urbano vivenciado no período. Assim, durante o período
que vigoraram os Códigos de Postura, era de responsabilidade da Câmara Municipal, a
construção, guarda e fiscalização do patrimônio público como arruamentos, largos, praças e
edifícios públicos.
Sanches (2003, p. 213) identificou dois momentos no processo de construção da
legislação urbanística de Ribeirão Preto:
O primeiro, de 1874 a 1891, quando a Câmara Municipal se constitui como única
instituição municipal responsável pelo ordenamento urbano e, o segundo, de 1892 a
1935, quando a Intendência Municipal – poder executivo – juntamente com a
Câmara Municipal – poder legislativo – desenvolvem seus trabalhos como
instituições ligadas à regulação do uso do solo urbano.
Até a formulação do primeiro Código de Posturas, a regulação do uso e ocupação do
solo em Ribeirão Preto era feita através de indicações e de posturas municipais. A cidade
passou a ser administrada por um intendente municipal apenas em 1892. Este, por sua vez, era
responsável pela municipalidade e exercia funções executivas, equivalentes às dos prefeitos
(SANCHES, 2003).
O primeiro Código de Posturas de Ribeirão Preto foi publicado pela Secretaria do
Governo da Província de São Paulo, a 3 de agosto de 1889. Entre outras especificações, no
que se refere ao conteúdo das praças públicas, estabelecia a proibição de:
Construção de degraus para fora do alinhamento das ruas e praças (art. 11);
110
Algazarras por parte de grupos em tumultos em ruas e praças (art. 50);
Circulação de cachorros pelas praças sem licença cedida pela Câmara(art. 46).
O arruador ficava instituído como o funcionário da Câmara encarregado de fazer o
alinhamento e nivelamento das ruas e praças da cidade (art. 150). Ainda, de acordo com a
legislação em vigor, a numeração dos prédios e designação das praças, ruas e travessas da
cidade pertenciam à Câmara (art. 17).
Essa legislação era ainda muito ineficiente, porém já reconhecia a importância de
arborizar os logradouros públicos da cidade e a necessidade de assegurar a implantação de
jardim ou praça nos terrenos designados para tal fim. No artigo 18, consta:
Parágrafo 1 – O espaço ou terreno, que por sua forma se prestar para jardim ou
praça, será aproveitado para esse fim.
Parágrafo 2 – A arborização das ruas e praças é uma necessidade que a Câmara
atenderá na medida os seus recursos.
Em 1902, após reformulado, o Código de Posturas apresentava algumas novidades em
relação ao texto sobre as praças da cidade. Assim, entre as novas exigências, determinava que
as praças e largos deveriam ser, sempre que o terreno permitisse, quadradas, retangulares ou
assumir a forma de outras figuras regulares e simétricas. Os passeios das praças teriam três
metros de largura.
Ficou determinado também que as praças, assim como as ruas e avenidas, teriam
maior elevação na parte central e seriam providas de sargetas.
7
Essas medidas demonstravam
a preocupação em facilitar o escoamento das águas das chuvas evitando que encharcassem o
centro das praças e ruas da cidade.
7
Artigo 12.
111
Quanto aos costumes para quem adentrasse ruas e praças, ficava estabelecido que
aquele que freqüentasse esses logradouros ou outros lugares públicos, sem estar decentemente
vestido, estaria sujeito à multa e prisão temporária por vinte e quatro horas. Face à
rigorosidade de comportamento expressa, era proibido proferir nas ruas e praças, palavras
obscenas ou injuriosas, sob pena de multa.
8
O Código de Posturas de 1921 extinguiu as exigências dos costumes descritos no
Código anterior. No entanto, manteve uma disposição ainda muito severa, a proibição dos
mendigos de esmolar pelas ruas, praças ou qualquer outro lugar público, sob risco de serem
entregues à polícia para os fins legais, ou melhor, para serem enquadrados nas penalidades
constantes em outras leis específicas.
Uma novidade expressa nesse Código (1921) é a preocupação que trazia com a
manutenção das praças e jardins públicos, bem como com a preservação das árvores presentes
nos logradouros públicos. Dizia a lei:
Artigo 183 – Além de multa, indenizará o dano, aquele que:
- danificar árvores de ruas, praças, estradas, dentro ou fora do perímetro urbano;
- danificar os jardins e praças ajardinadas, ou pisar na grama.
Dessa forma, conforme exposto acima, eram severas as exigências impostas à
sociedade e ineficientes as determinações dos Códigos de Posturas quanto à implementação
de espaços livres públicos, como as praças, tendo em vista a inexistência de instrumentos que
regulamentassem de forma específica a constituição desses importantes logradouros.
Conforme Valadão (1997, p. 67), “os Códigos de Posturas Municipais vigoraram em
Ribeirão Preto até 1933, quando da instituição do Código de Obras Saboya, também adotado
nas grandes cidades do país”. Esse código, adotado em Ribeirão Preto pelo Ato Municipal nº
11, de 1933, foi criado em São Paulo, pela Lei nº 3427, de 19 de novembro de 1929, e reunia
8
Artigos 224 e 226.
112
o conjunto de leis que já haviam sido promulgadas e “pouco representava” como novo
instrumento urbanístico. Ao contrário dos Códigos de Posturas, o Código Saboya apresentava
uma diversificação maior da legislação urbana, atendendo melhor às novas exigências da
urbanização (SANCHES, 2003). Como o próprio nome diz (Código de Obras), trata-se muito
mais de um manual técnico do que de normas e padrões de conduta, típicos dos Códigos de
Postura.
De maneira geral, das praças que existem atualmente, pode-se considerar as praças XV
de Novembro, da Bandeira, Francisco Schimidt e Barão do Rio Branco como as pioneiras de
Ribeirão Preto. Estes espaços públicos apresentavam-se bem ajardinados no início do século
XX e estão localizados na área central da cidade, assim como o foram desde que surgiram.
Constituem, em parte, grandes referenciais de embelezamento urbano, face à riqueza da
cultura cafeeira empreendida na região. Atualmente, pelas suas localizações e reconhecimento
histórico, essas praças permanecem atraentes e belas, assim como eram no passado. O que
cabe continuar descortinando nesse trabalho de dissertação é como as praças se espacializam
na Ribeirão Preto do início do século XXI, que conta com mais de uma centena de praças
públicas.
As políticas públicas desdobradas em âmbito municipal e a situação dos espaços livres
públicos como praças, parques e área verdes é o que será analisado a seguir, com base nas
diretrizes que regem o planejamento municipal local, a partir da instituição do Plano Diretor
9
de Ribeirão Preto em 1995, através da Lei Complementar nº 501.
9
De acordo com a Constituição Federal de 1988 (Art. 182, parágrafo único), fica estabelecida a obrigatoriedade
do Plano Diretor para cidades com mais de 20 mil habitantes.
113
2.4 – Políticas Públicas de áreas verdes e praças em Ribeirão Preto após o
Plano Diretor Municipal de 1995
A distribuição irregular de praças e parques urbanos, assim como de áreas de lazer, é
comum a muitas cidades brasileiras e isso se explica pelo descaso do poder público que
historicamente agiu dessa forma, dotando as áreas centrais das cidades de infra-estrutura
urbana (inclusive de lazer) e deixando a “periferia pobre” para o “vir a ser”. Isso condiciona
as cidades para que se desenvolvam de maneira centrífuga, ou seja, a incorporação da
diversidade de infra-estrutura que um bairro necessita é dada do centro para a periferia
urbana, à medida que as cidades vão se expandindo. Esse círculo vicioso, foi observado em
várias cidades e, acredita-se que em inúmeras outras continua ocorrendo.
Na grande São Paulo, Lombardo (1985) observou que, o acesso às áreas verdes da
cidade aparece de forma diferenciada, favorecendo a uma minoria privilegiada socialmente,
enquanto que as outras camadas sociais, principalmente as mais carentes, têm a acessibilidade
aos parques e jardins públicos comprometida. Assim sendo, nos bairros de alto padrão social,
o “verde” nos espaços públicos desempenha função mais ornamental e de valorização do solo,
ao passo que nos bairros de periferia é voltado, entre outros, ao oferecimento do lazer e
recreação.
Segundo matéria publicada no jornal “O Estado de S. Paulo” (27/08/2003), a cidade de
São Paulo perdeu 5.357 hectares de vegetação na década de 1990, o que equivale a 34 vezes o
paulistano Parque do Ibirapuera. O levantamento realizado faz parte do Atlas Ambiental do
Município de São Paulo e reafirma que a cidade é desigual na distribuição do “verde”, pois
em “48% do território há uma carência significativa de vegetação”. Assim, em bairros de
classes mais favorecidas, como o Morumbi, o índice de área verde por habitante atinge
239m
2
, enquanto no Brás – zona central – o índice é quase zero.
114
Na cidade de Uberlândia-MG, a diferenciação das praças públicas da periferia e da
área central em termos de infra-estrutura permanece há décadas. Nas palavras de Colesanti
(1994, p. 82),
o que vemos hoje em Uberlândia são as praças centrais sendo remodeladas, com os
canteiros replantados, inclusive, com paisagismo exótico, enquanto que, as áreas
reservadas para praças nos conjuntos habitacionais, seus espaços públicos
constituem apenas em gramados e montes de terra, ou são ocupados por
equipamentos urbanos como escolas, creches e centros de saúde
Em Presidente Prudente-SP, a distribuição das praças ocorre de maneira irregular no
espaço urbano. “Enquanto alguns bairros dispõem de mais de uma praça, outros são
completamente carentes [...]. A disposição e qualidade dos equipamentos e vegetação
constituem um outro agravante das praças prudentinas, visto que, aparecem de forma
significativa em alguns desses espaços” (GOMES E AMORIM, 2002, p. 26). Cabe ressaltar
que as praças mais equipadas e arborizadas localizam-se em bairros ocupados pela população
de alto poder aquisitivo, enquanto nos bairros populares e de periferia é notória a ausência de
praças e, conseqüentemente de arborização. Em 2002, a cidade dispunha de 56 praças
públicas implantadas, para uma população de 190 mil habitantes.
Problemas de igual dimensão foram identificados nas cidades de Maringá-PR, que
dispunha de 99 praças e cerca de 290 mil habitantes no ano 2000 (ANGELIS, 2000) e, de
Belém-PA que, em 1997, possuía 113 praças (NEVES, 1997) e uma população de 1,28
milhão de habitantes no ano 2000, segundo o IBGE.
Sobre a situação da vegetação e dos espaços públicos na cidade de Buenos Aires,
Natenzon (1995, p. 134) afirma que
el paisaje anterior a la artificialización y construcción del meio, ya no aparece ni
siquiera em grandes extensiones como lãs de Palermo o el Parque Almirante
Brown. Se han agregado espécies vegetales y animales exóticas; se ha parquizado
el suelo; se han disenãdo senderos, lagos y rincones con uma concepción técnica de
jardinería.
115
O aumento demasiado das áreas de concreto, em detrimento da vegetação, constitui
sério agravante das praças da capital argentina, que passa a conviver, por outro lado, com o
problema da violência por parte dos adolescentes, principalmente nos bairros habitados pelas
camadas médias da sociedade, onde esses espaços públicos ainda são freqüentados pela
população idosa.
Nota-se que no caso de Buenos Aires, a violência e o vandalismo em praças públicas,
não se restringe aos bairros periféricos, ocupados pela população de baixa renda, mas também
é uma realidade dos bairros de classe média, que ainda vêem suas praças freqüentadas por
idosos.
Dados sobre “espaços verdes”, do Departamento de Água e Energia Elétrica de São
Paulo (DAEE), mostram que, de um total de 976 praças, do Estado de São Paulo, que ocupam
5,8 milhões de m
2
, 11% não são arborizadas, 31,5% não apresentam plantas rasteiras e
somente 13% dispõem de parque infantil ou tanque de areia. Ainda, 68% dessas praças não
são dotadas de sanitários públicos (NUCCI, 2001, p. 80).
Os dados acima evidenciam que, atualmente, ainda se concebe planejar ou manter um
espaço público, como a praça, sem arborização e/ou equipamentos de lazer como parque
infantil. Desse número significativo de 976 praças pesquisadas, cerca de 100 não são
arborizadas e 300 não apresentam plantas rasteiras, que são importantes para a cobertura do
solo por facilitar a permeabilidade, evidenciando o descaso do poder público em sanar
problemas que futuramente podem trazer conseqüências ainda mais graves que as
encontradas, como é o caso do escoamento da água das chuvas para as galerias pluviais, que é
intensificado devido às poucas áreas de solo permeáveis nas cidades.
É provável que as contradições existentes em relação à disposição de praças, parques e
vegetação no espaço urbano seja a realidade de grande parte das grandes e médias cidades
brasileiras ou até mesmo de outros países, as quais apresentam crescimento urbano rápido e
116
acelerado. Nesse contexto, é importante refletir sobre a problemática dos espaços públicos
vegetados, em uma cidade de médio porte como Ribeirão Preto, visto que, a mesma, ainda
apresenta condições de sanar seus problemas ambientais numa perspectiva mais animadora do
que nos grandes centros, onde as condições do meio físico já alcançam patamares complexos
de degradação.
Antes mesmo de expor a situação da problemática em Ribeirão Preto é preciso refletir
em termos conceituais sobre o universo que abrange o estudo dos espaços livres de uso
público. Assim, a utilização usual de termos como espaços livres, áreas verdes, espaços
abertos, parques e praças, comumente discutidos pelos profissionais ligados ao planejamento
urbano e pelos teóricos das academias, requer certo esclarecimento para possível distinção
entre os mesmos. O que ocorre muitas vezes é uma certa confusão quando na diferenciação
desses diversos espaços que congregam funções e características distintas. Dessa forma,
praças são identificadas como sistemas de lazer, espaços abertos como áreas verdes e assim
por diante. Isso não descarta a possibilidade de uma praça desempenhar funções de área verde
ou mesmo funcionar como um sistema de lazer, pois se a mesma não servisse ao lazer não
poderia ser considerada praça.
De maneira geral, o que se procura deixar claro nesta discussão é que uma praça pode
e deve fazer parte do sistema de áreas verdes urbanas, dadas as características peculiares das
mesmas. O aproveitamento do espaço “praça” para fomentar projetos de paisagismo e
arborização urbana constitui uma prática louvável no planejamento de espaços livres públicos,
principalmente em se tratando de cidades médias e grandes, onde o ambiente bucólico é
sinônimo de estresse para a população residente.
Propostas de conceituação de áreas verdes surgem constantemente, porém com algo
em comum: o consenso de que é (ou deve ser) uma área vegetada com predominância de
espécies arbóreas.
117
Para a prefeitura do município de São Paulo, áreas verdes são as de “propriedade
pública ou particular, delimitada pela prefeitura, com o objetivo de implantar ou preservar
arborização e ajardinamento, visando manter a ecologia e resguardar as condições ambientais
e paisagísticas” (CAVALHEIRO E DEL PICCHIA, 1992, p. 31).
Na Alemanha, a cidade de Hamburgo considera áreas verdes e de recreação pública, as
“áreas que servem à saúde e recreação da população, as quais são mantidas pela Cidade Livre
e Hanseática de Hamburgo e reconhecidas como áreas verdes pelo Senado, através dos órgãos
públicos competentes”. Assim, constituem áreas verdes: parques, jardins, cemitérios,
alamedas, bosques, praças de esporte, etc. (GEISER et al, 1975, Apud CAVALHEIRO E DEL
PICCHIA, 1992, P. 31).
De acordo com Milano (1992), apesar de nem toda área livre poder ser considerada
área verde (porque pode ser espaço impermeabilizado e desprovido de qualquer tipo de
vegetação), toda área verde constitui área livre, mesmo sendo restritas sua natureza e função.
Ainda, na concepção deste autor, são pré-requisitos básicos para a existência de áreas verdes
planejadas e adequadas ao espaço urbano:
Abrangente e claro diagnóstico das características urbanas;
Criatividade técnica e política das soluções propostas;
Vontade e decisão política da administração pública na implementação das mesmas, e;
Claro entendimento das aspirações e conseqüente apoio da sociedade urbana.
Esses pré-requisitos levantados privilegiam desde o diagnóstico da situação urbana
local atual até o papel do poder público e sociedade na promoção de áreas verdes. Cabe ao
poder público, a decisão política quando da necessidade de implementação dessas áreas,
inclusive com corpo técnico gabaritado e à população, o entendimento do que representam as
áreas verdes para a “saúde urbana”.
118
Na tentativa de sistematizar as diversas definições que abrangem o planejamento dos
espaços livres urbanos, Lima et al (1994) apud Guzzo (1998, p. 9) propõe a seguinte
conceituação para os termos abaixo:
Espaço livre: conceito mais abrangente, integrando os demais e contrapondo-se ao
espaço construído, em áreas urbanas. Assim, a Floresta Amazônica não se inclui nessa
categoria, o que ocorre com a Floresta da Tijuca por estar inserida no interior da
cidade do Rio de Janeiro;
Área verde: constitui área onde há o predomínio de vegetação arbórea, englobando
praças, jardins e parques urbanos. Os canteiros centrais de avenidas e os trevos e
rotatórias de vias públicas, que exercem apenas funções estéticas e ecológicas, devem,
também, conceituar-se como área verde. Entretanto, as árvores que acompanham o
leito das vias públicas, não devem ser consideradas como tal, pois as calçadas são
impermeabilizadas;
Parque urbano: constitui área verde e desempenha funções ecológicas, estéticas e de
lazer, entretanto, com uma extensão maior que as praças e jardins públicos;
Praça
10
: é um espaço livre público cuja principal função é o lazer. Pode não ser uma
área verde, quando não tem vegetação e se encontra impermeabilizada;
10
Apesar de concordar com esta definição, o conceito de praça utilizado neste trabalho é o proposto por Robba e
Macedo (2002), apresentado no capítulo anterior. Assim, cabe ressaltar que, entende-se por praça os “espaços
livres urbanos destinados ao lazer e ao convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos”.
119
Arborização urbana: diz respeito aos elementos vegetais, de porte arbóreo, inseridos
na malha urbana. Nesse enfoque, as árvores plantadas em calçadas, fazem parte da
arborização urbana, porém, não integram o sistema de áreas verdes;
Área livre e área aberta: são termos que devem ter sua utilização evitada pela
imprecisão na sua aplicação;
Espaço aberto: traduzido erroneamente e ao pé da letra do termo inglês “open space”.
Deve ser evitada a sua utilização, preferindo-se o uso do termo espaço livre.
A Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto, através da Secretaria Municipal de
Planejamento e Gestão Ambiental, prefere a utilização do termo “espaços livres públicos” ao
de “áreas verdes públicas”, pois considera ser o primeiro mais abrangente por incluir espaços
livres totalmente impermeabilizados ou com ausência de vegetação. Assim, define:
Áreas verdes públicas: espaços com vegetação, em que é comum os estratos herbáceo,
arbustivo e arbóreo. Pertencem ao subsistema do sistema municipal de espaços livres
públicos;
Espaços livres públicos: áreas cujo acesso das pessoas é livre, sem qualquer
impedimento. Destes espaços recomenda-se a diferenciação dos cemitérios, como uma
categoria especial, quando considerados como áreas para o lazer da população, pois
esses possuem serventia restrita com relação a este aspecto.
120
Observa-se, através dessas definições contidas no Plano Diretor de Arborização
Urbana (Relatório nº 01 de 2002), clara distinção entre uma área verde (que deve ter
necessariamente algum tipo de vegetação, e não deixa evidente se deve ser arbóreo) e espaço
livre público (pode ser coberto ou não por algum tipo de vegetação) e pode ser totalmente
impermeabilizado, o que obviamente não pode ocorrer em uma área verde.
O Plano Diretor do município de Ribeirão Preto vigente é o que determina a Lei
Complementar nº 501, de 31 de outubro de 1995. Atualmente, está em discussão, a
reformulação desse plano e um dos instrumentos que o compõe constitui o Código Municipal
de Meio Ambiente, aprovado através da Lei Complementar nº 1616, de 19 de janeiro de 2004.
Porém, é necessário enfatizar que a nova lei de parcelamento, uso e ocupação do solo está em
discussão. Enquanto isso, a lei que está em vigor é a de nº 3346, de 1977, portanto,
promulgada há 27 anos. Essa lei estabelece que os loteamentos deverão reservar o mínimo de
40% da área total para compor os espaços de uso público. Deste total, comporão as áreas
verdes, o mínimo de 15%
11
.
O Código Municipal do Meio Ambiente de Ribeirão Preto, através do Artigo 163,
parágrafo 2º, traz a seguinte conceituação de área verde: “Áreas verdes são espaços livres, de
uso público, com vegetação natural ou com tratamento paisagístico efetivamente implantado,
reservados a cumprir funções de contemplação, repouso e lazer, permitindo-se, ainda, a
instalação de mobiliário urbano de apoio a estas atividades”.
No mesmo Código (Artigo 163, parágrafo 3º), área de lazer é definida como “espaço
livre, de uso público, integrante das Áreas Verdes, destinado aos usos recreativos, na qual
podem ser feitas construções a fins a estes usos”
12
.
11
Artigos 24 e 25.
12
Já que nesse parágrafo e no decorrer do trabalho aparecem dois termos que são alvos de interpretações
variadas, achou-se necessário apresentar a distinção entre “lazer” e “recreação”. Colesanti (1994, p. 70-71), em
sua tese de doutorado sobre o Parque do Sabiá, em Uberlândia-MG, afirma que “Lazer é considerado o tempo
disponível das pessoas após uma jornada de trabalho e recreação compreende uma variedade muito grande de
atividades realizadas neste tempo disponível, desde assistir televisão, ir ao cinema, ao teatro, até praticar os mais
121
O Artigo 163 reconhece as praças públicas como parte do Sistema de Áreas Verdes.
Logo, as praças devem ser tratadas na cidade como espaços compostos de vegetação e não
como espaços “secos”
13
. Assim diz o Código do Meio Ambiente:
Art. 163 – O Sistema de Áreas Verdes compreende toda área de interesse ambiental ou
paisagístico, de domínio público ou privado, cuja preservação ou recuperação venha a
ser justificada pelo SIMA, tendo por objetivo assegurar a qualidade de vida,
abrangendo:
a) Praças, parques urbanos e áreas verdes e de lazer previstas nos projetos de
loteamentos e urbanização;
b) Arborização de vias públicas;
c) Unidades de conservação;
d) Parques lineares;
e) Áreas arborizadas de clubes esportivos sociais, de chácaras urbanas e de
condomínios fechados;
f) Remanescentes de vegetação natural, representativos dos segmentos do ecossistema
regional;
g) Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais protegidas pelo Código
Florestal (Lei Federal nº 4.771/65, modificada pela Lei nº 7.803/89);
h) Outras determinadas pela Secretaria de Planejamento e Gestão Ambiental. (grifo
nosso).
Em conformidade com a legislação federal (Lei 6766/79, alterada pela Lei 9875/99),
todo projeto de loteamento urbano deve destinar uma percentagem de sua área para compor o
sistema de áreas verdes, de acordo com a densidade populacional prevista pelo plano diretor
ou aprovada por lei municipal, para a zona em que se situem. Ainda, cabe às Prefeituras
indicar a localização das áreas verdes
14
(Art. 7º). No caso de Ribeirão Preto, diz a Lei (Art.
155 do Código do Meio Ambiente):
Art. 155 – Nos projetos de loteamentos e demais formas de parcelamento do solo, da área
destinada ao uso público, serão reservados, conforme disposto na Lei de Parcelamento,
Uso e Ocupação do Solo, no mínimo:
I. 35% (trinta e cinco por cento) como Área Verde, nos empreendimentos localizados
na Zona de Urbanização Restrita (ZUR);
variados esportes. O uso do tempo livre para a recreação surge como uma preocupação na sociedade moderna
urbano-industrial, apesar do lazer ser uma necessidade importante para o homem ao longo do tempo, variando
apenas a intensidade, segundo o contexto físico, sócio-econômico e político-social de cada grupo”.
13
As praças secas, discutidas no capítulo anterior e que, portanto, são desprovidas de vegetação e com pouco
equipamento de infra-estrutura urbana, não foram constatadas em Ribeirão Preto.
14
De acordo com o Art. 27 da Lei municipal 3346/77, “A localização da metade (cinqüenta por cento) do total
de áreas verdes nos loteamentos será indicada pela Prefeitura Municipal por meio de diretrizes”.
122
II. 20% (vinte por cento) como Área Verde, nos empreendimentos localizados na Zona
de Urbanização Controlada (ZUC);
III. 20% (vinte por cento) como Área Verde, nos empreendimentos localizados na Zona
de Urbanização Preferencial (ZUP);
O referido artigo (155), regulamenta a porcentagem de 25% na ZUC e ZUP e, 15% na
ZUR, sobre o total de áreas verdes, para compor as áreas de lazer. Assim, se existir no
empreendimento remanescentes de vegetação de interesse ambiental, estes deverão estar,
preferencialmente, incluídos no sistema de áreas verdes.
É importante notar que as áreas verdes não poderão estar localizadas em terrenos com
declividade superior a 15%, excetuam-se os casos em que haja interesse paisagístico no
terreno. As rotatórias só entrarão nos cálculos das áreas verdes quando apresentarem um raio
de dez metros em toda a sua extensão
15
.
De acordo com a lei, é de responsabilidade do empreendedor, o tratamento
paisagístico de áreas verdes e áreas de lazer, bem como a implantação da arborização de ruas.
Dessa forma, no Artigo 152 consta:
Art. 152 – Todos os projetos de loteamento, condomínios, conjuntos habitacionais
de interesse social, distritos industriais e arruamentos deverão incluir o projeto de
arborização urbana e tratamento paisagístico das áreas verdes e de lazer, a ser
submetido à aprovação da Secretaria de Planejamento e Gestão Ambiental.
Parágrafo 1º - Os empreendimentos deverão ser entregues com a arborização de
ruas e avenidas concluídas e áreas verdes e de lazer tratadas paisagisticamente.
Observa-se que são definidos apenas os valores percentuais que devem ser destinados
às áreas verdes nas diversas zonas de urbanização e o limite máximo de 25% (de acordo com
a zona) do total de área destinada às áreas verdes poderão compor áreas de lazer. No entanto,
nada fica estabelecido quanto ao total destinado à criação de praças públicas, ficando a
critério do executivo criá-las à medida que julgar conveniente.
15
Parágrafo 7º do artigo 155 (Código Municipal de Meio Ambiente).
123
De qualquer forma, o novo Código do Meio Ambiente (2004) impõe como
responsabilidade do empreendedor a arborização de ruas e avenidas concluídas e áreas verdes
e de lazer tratadas paisagisticamente, além da manutenção dessa arborização por um prazo de
cinco anos. Resta saber se, na prática, o tratamento paisagístico inclui a arborização efetiva
das áreas desprovidas de vegetação como determina a lei ou apenas a limpeza e plantio de
gramas nessas áreas, pois o que ocorre muitas vezes é o não cumprimento de muitas
exigências do poder público e o resultado são imensos terrenos vazios e abandonados que se
tornam ociosos por um longo período de tempo e às vezes acabam por ser ocupados pela
população desprovida de um lugar de morar, como aconteceu com a área destinada ao Horto
Florestal (atual favela urbanizada Jardim Progresso) e com a área compreendida entre a Rua
Itu e a Rua São Carlos na Vila Mariana (destinada à área verde/lazer, mas ocupada por
construções ilegais).
Em entrevista realizada na Secretaria de Planejamento e Gestão Ambiental, Perci
Guzzo
16
afirmou o que já se fazia evidente: a falta de fiscalização e manutenção dessas áreas
por parte do poder público, em parte, pela escassez de pessoal designado para esta função.
Nas últimas quatro décadas a expansão urbana foi intensa e muitas praças públicas
foram criadas por lei municipal. No entanto, muitas delas não foram efetivamente
implantadas. Da mesma maneira vem acontecendo com os parques urbanos criados
recentemente, que sequer possuem projetos paisagísticos definidos, salvo algumas
exceções (GUZZO, 1999, p. 39).
Guzzo
17
(1999, p. 50-51) constatou que a cidade de Ribeirão Preto contava, no ano de
1998, com um total de 195 espaços livres de uso público, sendo 182 praças, 11 parques e 02
16
Ecólogo e chefe da Divisão de Planejamento e Educação Ambiental, em entrevista concedida em 06/08/2004.
17
O autor supracitado realizou o levantamento quantitativo dos espaços livres públicos de Ribeirão Preto durante
o ano de 1998, sem, no entanto, estabelecer uma análise criteriosa da distribuição desses ao longo da malha
urbana e das condições que se encontravam esses espaços, tanto em termos de infra-estrutura de lazer quanto da
presença de vegetação. Tal análise foi efetuada apenas em dois setores urbanos (subsetor Norte-5 e setor
Central), dados os objetivos de sua pesquisa.
124
cemitérios, ocupando uma área de mais de 2,5 milhões de metros quadrados. Esses espaços
públicos, denominados por lei, representavam 2,3% da área urbanizada do município. Assim,
do total desses espaços, encontravam-se efetivamente implantados 126 praças, 02 parques e
02 cemitérios, somando 130 espaços livres.
Os dados acima revelaram que, 65 grandes áreas, que poderiam estar desempenhando
funções vitais na cidade, encontravam-se vazias naquela ocasião, uma vez que não foram
arborizadas nem receberam equipamentos de infra-estrutura de nenhuma natureza. Cabe
agora, através do levantamento, mapeamento e caracterização das praças públicas, realizados
nesse estudo, atualizar tais dados e realizar uma análise criteriosa do conteúdo dessas praças e
também da distribuição espacial das mesmas.
Praça XV de Novembro de Ribeirão Preto. Foto: Marcos A. S. Gomes
CAPÍTULO 3
AS PRAÇAS DE RIBEIRÃO PRETO NO SÉCULO
XXI E O USO DO GEOPROCESSAMENTO NO
PLANEJAMENTO E GESTÃO DOS
ESPAÇOS PÚBLICOS
126
3.1 – As praças de Ribeirão Preto: estratégias do poder público
Considerando a extensão da área urbana de Ribeirão Preto e o seu número de
habitantes, pode-se afirmar que a cidade dispõe de um número significativo de áreas
destinadas às praças.
Segundo o Departamento de Gestão Ambiental, em 2004 existiam 206 áreas com
denominação de praças em Ribeirão Preto. Deste total, 131 encontravam-se implantadas, 22
semi-implantadas e 53 não implantadas. Isso evidencia que pouco mais de 60% das áreas
destinadas para este fim estavam cumprindo suas funções, ou seja, lazer e área verde. No
entanto, cerca de 40% do total desses espaços, não desempenhavam nenhuma função
importante e estavam submetidos à condição de vazios urbanos.
A tabela 01 sistematiza e permite a comparação entre as informações fornecidas pela
Secretaria de Planejamento e Gestão Ambiental, referentes aos espaços livres de uso público
da cidade de Ribeirão Preto em 1998 e 2004.
Tabela 01: Ribeirão Preto: Espaços livres públicos denominados por lei
(1998-2004)
1
PRAÇAS PARQUES CEMITÉRIOS CONDIÇÃO
1998 2004 1998 2004 1998 2004
Implantados e/ou
Arborizados
126 153 02 06 02 03
Não implantados 56 53 09 09 - -
Total 182 206 11 15 02 03
Fonte: Guzzo (1998); Secretaria de Planejamento e Gestão Ambiental (2004).
Org. Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
1
Os dados apresentados incluem o Distrito de Bonfim Paulista.
127
Conforme se constata na leitura da tabela, houve uma evolução significativa no total
de parques e praças ao longo dos últimos seis anos. Porém, esse total expressivo de cada uma
dessas categorias de espaço público revela contradições quanto à condição de uso, pois,
muitas vezes, esses espaços foram denominados por lei, mas não receberam nenhum tipo de
intervenção no intuito de torná-los acessíveis à prática do lazer, como é o caso de muitas
praças públicas.
O Plano Diretor de Arborização Urbana de Ribeirão Preto (Relatório nº 01, 2002)
considera como efetivamente implantada as “áreas que contenham equipamentos de lazer,
passeio, iluminação, mobiliário, ponto de água, vegetação existente natural e/ou implantada,
gramados ou ajardinamento e tratamento paisagístico, todos com manutenção periódica”
(Figura 54). Nessa categoria, a intervenção deverá ter sido feita pelo poder público local.
Como semi-implantada, o Plano considera as “áreas que apesar de não serem efetivamente
implantadas, contenham algum tipo de infra-estrutura e/ou manutenção (pública ou privada)”.
Nessa categoria enquadram-se os campos de futebol organizados pela população nas áreas
denominadas “praças” ou uma área com vegetação, portanto, sem infra-estrutura, onde exista
a manutenção periódica pela prefeitura (Figura 55). As intervenções nessas áreas podem ser
feitas tanto pelo poder público quanto pela comunidade. Por fim, como não-implantada,
entende-se as áreas que, mesmo contendo vegetação natural, não há infra-estrutura,
equipamentos sociais, implantação de qualquer tipo de vegetação e manutenção periódica da
vegetação já existente (Figura 56). Essas áreas, de forma alguma, oferecem condições de uso
para fim de lazer da população.
128
FIGURA 54: Praça Expedicionário Brasileiro no bairro Castelo Branco I.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
FIGURA 55: Praça José Bernardo Silva Filho no bairro Tanquinho.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
129
FIGURA 56: Aspecto de praça não implantada no Jardim Recreio.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
É condição fundamental para um espaço livre ser considerado “praça”, a real
possibilidade de propiciar lazer ao freqüentador. Nesse sentido, excluiu-se dessa classificação
as rotatórias de vias públicas, em sua maioria. Essas áreas, embora denominadas pelo poder
público, muitas vezes, como praças, não foram consideradas neste estudo, por constituírem
espaços públicos que não apresentam condições de servir como local de lazer para a
população, em parte, devido à falta de infra-estrutura. Muitas dessas rotatórias são dotadas de
beleza paisagística, como é o caso da “Amim Calil”
2
e da denominada “Praça da Bíblia”
3
, mas
seguramente, não são acessíveis ao trânsito de pedestres, exatamente pela localização
estratégica e a função de servirem como cruzamento de vias públicas de intenso fluxo de
veículos. No entanto, há casos em que a rotatória oferece condição de lazer por ter área e
equipamentos suficientes e está livre de grandes fluxos de veículos, como ocorre com a Praça
(rotatória) Chico Mendes no Parque Ribeirão Preto (Figura 57).
2
Esta rotatória encontra-se localizada na confluência das avenidas Costa e Silva e Fábio Barreto, próximo da
área central da cidade.
3
Localiza-se na confluência das avenidas Treze de Maio e Meira Júnior.
130
FIGURA 57: Praça Chico Mendes no Parque Ribeirão Preto.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
Inúmeras rotatórias da cidade, como, por exemplo, as que fazem parte da Avenida
Castelo Branco (porta de entrada da cidade para quem chega de São Paulo) são dotadas de
vegetação arbustiva, palmeiras e gramado. Essa combinação de elementos paisagísticos
naturais é significativa no meio urbano, pela função estética que desempenha, pois a inserção
do “verde” através desse tipo de vegetação, ajuda a realçar o ambiente urbano, repleto de
elementos artificiais, além de combater a influência nefasta que a cidade proporciona a seus
habitantes.
Na cidade de Maringá, localizada no norte paranaense, quase metade de suas praças
está inserida na malha urbana como rotatórias, tendo, portanto, forma circular. Angelis (2000,
p. 56), em sua tese de doutorado, corrobora com esta situação, quando as considera como
praças e não faz nenhum questionamento quanto às funções que estas desempenham ou
deixam de desempenhar. Na concepção deste autor,
As praças de Maringá funcionam, primordialmente, como elemento estruturador da
malha urbana, onde 39,4% são de forma circular, e estão inseridas, espaçadamente,
ao longo das principais avenidas. Essa disposição foi planejada objetivando o fluxo
131
mais rápido do trânsito. O que primeiro se pensou para esses espaços foi tê-los
como elemento coadjuvante do trânsito. Prova disso é que, ao serem projetados,
foram nominados de rotatórias e, só mais tarde, por praças. No entanto, isso não as
invalida enquanto praça.
Em Ribeirão Preto, o Departamento de Gestão Ambiental, que está ligado à Secretaria
de Planejamento e Gestão Ambiental é responsável por avaliar e aprovar os projetos de
paisagismo encaminhados pelos loteamentos referentes à arborização de ruas, avenidas e
áreas verdes. À Divisão de Parques e Jardins, que está atrelada à Secretaria de Infra-estrutura,
cabe a implantação e manutenção de áreas verdes, praças, avenidas e arborização urbana. O
Horto Florestal, por sua vez, está diretamente ligado ao Departamento de Gestão Ambiental.
A Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão Ambiental de Ribeirão Preto dispõe
de um banco de dados sobre as praças, com informações elementares de cada uma delas,
como lei de criação, localização, área e condição de servir como local de lazer para a
população, entre outras (Anexo 01). Esse banco de dados é insuficiente, visto que, não contém
informações da infra-estrutura e da cobertura vegetal de cada praça, condição que não
subsidia o poder público a realizar intervenções em determinadas áreas. Além disso, as 206
áreas, denominadas praças, incluem, áreas que não foram ainda implantados nenhum tipo de
equipamento de infra-estrutura e vegetação, áreas de tamanho muito pequeno que não
desempenham função de lazer e também a maioria das rotatórias das avenidas.
Não existe uma monitoração das praças em Ribeirão Preto. Com isso, não há como
controlar cada um desses espaços e nem saber o que realmente existe em cada um deles.
O mapeamento fornecido pelo Departamento de Gestão Ambiental, embora
generalizado (Mapa 04), serviu de base para que os dados referentes às praças fossem
trabalhados no Sistema de Informação Geográfica ArcView. Esse mapeamento, inicialmente
disponível no programa Autocad, foi transportado para o software ArcView por possibilitar, de
132
forma eficaz, a manipulação dos dados e por permitir a criação de um banco de dados relativo
às praças atrelado ao mapeamento das mesmas.
Conforme pode ser constatado, o mapa apresenta e distingue a localização das praças
implantadas, semi-implantadas e não-implantadas, considerando inclusive rotatórias e outros
espaços que não desempenham função de lazer e estão abandonados, embora apareçam
classificados como implantados. O cruzamento com o Mapa 5, produzido a partir das
constatações em campo, permite entender melhor as questões argumentadas.
Optou-se pelo uso do geoprocessamento porque este constitui uma ferramenta
importante para a organização de informações geográficas e, conseqüentemente, para a
geração de mapas. Nesse intuito, ao fazer uso dessa tecnologia, espera-se estar contribuindo
com mais uma proposta para uma melhor performance do planejamento urbano de espaços
públicos.
MAPA 4
134
3.2 – A criação do banco de dados: o geoprocessamento como ferramenta
capaz de subsidiar estudos urbanos
O uso do geoprocessamento torna-se uma constante nos estudos que englobam as
diversas áreas do conhecimento geográfico. Como modernos instrumentos, softwares
diversificados como o Arcview, Idrisi, Spring, Autocad Map e o Grass auxiliam a
compreensão e interpretação do espaço geográfico, principalmente nas áreas que envolvem o
estudo do ambiente rural e urbano.
De acordo com o conceito adotado pela Fator GIS
4
, geoprocessamento constitui o uso
automatizado de informação que de alguma forma está vinculada a um determinado lugar no
espaço, seja por meio de um simples endereço ou por coordenadas. Vários sistemas fazem
parte do geoprocessamento, dentre os quais, o SIG é o sistema que reúne maior capacidade de
processamento e análise de dados espaciais. A utilização desses sistemas produz informações
que permitem tomar decisões para colocar em prática, ações. Esses sistemas se aplicam a
qualquer tema que manipule dados ou informações vinculadas a um determinado lugar no
espaço e que seus elementos possam ser representados em um mapa, como casas, escolas,
hospitais, praças, etc.
Nesse contexto, os Sistemas de Informações Geográficas constituem instrumentos
capazes de subsidiar satisfatoriamente estudos acerca dos problemas urbanos. Ademais,
conforme aponta Puebla e Gould (1994, p. 233), estes sistemas, em nível municipal, “pueden
jugar un importante papel en el proceso de revisión de los planes generales de urbanismo y
normas subsidiarias, como herramienta para la selección de zonas aptas para distintos usos”.
Ainda, a tecnologia do Sistema de Informações Geográficas na sistematização das
4
Empresa brasileira pioneira no setor de comunicação voltada às geotecnologias. Lançou a Revista “Fator Gis”,
em 1993 e o GisBrasil 94 – primeiro evento no setor – e seu conteúdo está disponvíel no endereço eletrônico
http://www.fatorgis.com.br (Acessado em abril/2003).
135
informações espaciais tem sido crescentemente utilizada no planejamento ambiental,
principalmente aplicado às áreas urbanizadas.
Motta (1999, p. 302) enfatiza que é possível a superposição de mapas, a partir de um
SIG, pois esta tecnologia “permite a compilação e organização de dados, elaborando-se um
mapa final integrando vários temas, compreendendo as diversas características de uma mesma
área geográfica”. Assim, conforme destaca este autor, a técnica de fotografias áreas e a
elaboração de mapas a partir de levantamentos aerofotogramétricos “fornecem informações
detalhadas da área urbana, em escalas ampliadas, as quais são muito úteis na formulação de
políticas de disciplinamento do uso e ocupação do solo”.
Estudo realizado com apoio da Prefeitura Municipal de Jundiaí-SP apresentou
proposta de planejamento ambiental, com o intuito de contribuir para a melhoria de vida da
população e manter um banco de dados cadastrais a serviço dos órgãos públicos. Nesse
trabalho utilizou-se o Sistema de Informações IDRISI e imagens de satélites. A escolha desse
programa foi justificada pelo seu baixo custo e adequação ao estudo proposto. Conforme
destacam Shirozono, Calijuri e Lima (1996, p. 846), após tratadas, o uso das imagens de
satélite “se deu pela evolução de áreas verdes em épocas diferentes, indicando-se desta forma
pontos urbanos que decresceram ou não em quantidades de vegetação, assim como áreas
carentes”. O resultado de tal estudo aponta para a detecção de regiões onde há necessidade de
investimentos na área ambiental e regiões de risco, sendo que sua monitoração poderá se dar
de forma temporal com imagens de satélites ou visitas ao campo.
Habiaga e Madureira (1996) procuraram através da utilização de fotografias aéreas,
conhecer o comportamento dos organismos urbanos na sua relação com o meio ambiente,
dentro da área da bacia de drenagem do Rio Camaquã, que deságua na parte média da Lagoa
dos Patos, no Rio Grande do Sul. Para atingir os propósitos do estudo, e com base em dados
secundários de aspectos sócio-econômicos dos municípios da região, realizou-se um
136
levantamento de campo, com roteiro e questionário definidos sobre aspectos do meio
ambiente: meio físico, meio urbano e meio sócio-econômico.
Para o estudo foram produzidas fotografias aéreas, cobrindo todos os núcleos
urbanizados, previamente selecionados, a uma altura estimada de 1200 pés, aproximadamente
300m. A estimativa do número de fotos necessárias levou em conta a extensão da área a ser
registrada (24.000km2) e as condições possíveis de vôo, em função da autonomia, altitude,
restrições físicas e área de segurança.
Através do trabalho de associação entre levantamento de campo, análise dos dados
sócio-econômicos e a produção de fotografias (num total de 110) foi possível a identificação
dos seguintes elementos das cidades estudadas:
Espaços vazios dentro do limite urbano legal;
Ocupações fora do limite urbano legal;
Identificação de áreas inundáveis;
Ocupação de área de risco;
Tendência de expansão da cidade;
Identificação das áreas de ocupação mais antigas da cidade;
Identificação das áreas mais densificadas; de loteamentos lançados e não ocupados; de
área nativa e reflorestada; das barreiras físicas naturais que limitam o crescimento da
cidade; e das áreas degradadas pela exploração dos recursos naturais (areia, minério,
argila, pedra, madeira, etc.).
Conforme destacam
Habiaga e Madureira (1996, p. 863-864),
137
o levantamento de fotografias aéreas é um recurso eficiente e econômico pela
extensão da área que foi analisada. As prefeituras de municípios pequenos não têm
estrutura assim como carecem dos instrumentos suficientes para o conhecimento de
sua própria realidade urbana, não dispõem de pessoal suficiente para fazer a
permanente atualização das informações cadastrais, resultando o levantamento de
fotografias aéreas um recurso técnico com custo reduzido, rápido no seu
processamento, assim como subsídio muito valioso para determinar as estratégias
de planejamento urbano municipal. A possibilidade de obtenção periódica de
informações permite dispor desta técnica de sensoriamento remoto menos
sofisticada, que possa ser aplicada pelo usuário visando atender aos objetivos
específicos que assegurem a confiabilidade das informações.
A fotografia aérea tem se revelado muito importante ao servir de apoio na
legislação sobre o uso e a ocupação do solo assim como apoio no campo jurídico na
elaboração de pareceres técnicos para fundamentar perícias judiciais na solução de
questões de demarcação de limites de propriedades como na criação de áreas de
proteção ambiental.
O Arcview (desenvolvido pela Environmental Systems Research Institute – ESRI)
constitui um dos softwares de SIG mais utilizados no mundo, pois possibilita capacidades de
produção de mapas e de análise espacial destes. Ainda, permite organizar os dados, utilizando
bases de dados espaciais, responder a questões de índole espacial e alfanumérica de forma
integrada e criar novos dados geográficos a partir dos dados existentes. Este software pode ser
utilizado por técnicos de diferentes especialidades e apresenta a vantagem do usuário poder
acrescentar e retirar botões e menus e criar novas funcionalidades.
Como demonstrado anteriormente, diferentes técnicas do geoprocessamento podem ser
utilizadas na constatação e monitoramento de diversos problemas urbanos. Desta forma,
procura-se contribuir, neste trabalho, para o planejamento urbano, à medida que serão
apresentados os resultados do mapeamento e construção do banco de dados de praças públicas
da cidade de Ribeirão Preto-SP através do software ArcView.
138
3.2.1 – Ribeirão Preto: metodologia para criação de banco de dados de
praças públicas
Para criar um banco de dados eficiente, com as informações necessárias para o efetivo
monitoramento das praças públicas, foi necessário considerar os dados fornecidos pelo poder
público e as informações adquiridas em campo.
A realização do trabalho de campo nas praças se deu através de veículo próprio do
pesquisador, com auxílio do mapa de espaços livres de uso público de Ribeirão Preto, em
escala 1:20.000 e do banco de dados do poder público (Anexo 01), ambos disponibilizados
pela Secretaria de Planejamento e Gestão Ambiental. As praças foram visitadas durante 13
(treze) dias, em um período que compreendeu três meses (março a maio/2004)
5
.
As praças consideradas no trabalho de campo foram as que constavam no banco de
dados da Secretaria de Planejamento e Gestão Ambiental, como implantadas e semi-
implantadas. Dessa forma, foram levantadas e caracterizadas 122
6
praças que cumprem
efetivamente alguma função de lazer, embora muitas vezes de forma precária. Nessas
condições, todas as rotatórias ou pequenas áreas que não corresponderam aos critérios
utilizados para definir “praça”, não foram incluídas neste estudo, assim como as áreas
denominadas “praças”, mas que ainda não foram implantadas. Também, à medida que foram
encontradas praças implantadas, mas que não constavam no banco de dados fornecido pela
secretaria, incorporou-se ao conjunto das praças já conhecidas, porém com nome fictício, por
não terem ainda sido nomeadas por lei municipal. Segundo a Secretaria de Gestão Ambiental,
uma nova atualização do cadastro de praças está sendo realizada, visto que, existem
5
Para a visita de todas as praças foram percorridos cerca de 400Km (considerando o trajeto casa do pesquisador
e bairro ou setor a ser visitado em cada um dos dias de realização do trabalho de campo) e gastas
aproximadamente 50 horas.
6
Exclui-se desse total, as praças do Distrito de Bonfim Paulista, que não foram consideradas no estudo.
139
divergências entre as informações acumuladas, como, por exemplo, a área exata do terreno
que ocupam.
Para o levantamento das características de cada praça, como equipamentos de infra-
estrutura, vegetação e forma geométrica, foi utilizado um formulário definido pelo
pesquisador (Quadro 03). Este formulário procurou privilegiar ao máximo o levantamento de
todos os equipamentos existentes nas praças. Também, sempre que se achou necessário,
fotografou-se a praça. Do total destas, cerca de 50% foram fotografadas.
140
QUADRO 03: FORMULÁRIO APLICADO NO LEVANTAMENTO DA INFRA-ESTRUTURA E
VEGETAÇÃO DAS PRAÇAS PÚBLICAS DE RIBEIRÃO PRETO-SP
Data do levantamento:
Nome da Praça: Nr. da praça:
Localização (Bairro):
Perfil do Imobiliário Próximo
Alto padrão Médio Padrão Médio/Baixo Padrão Baixo Padrão
Verticalizações Ed. Horizontais mistas Residências Comércio Indústria
Topografia do Terreno
Plana Íngreme Muito Ìngreme
Forma Geométrica
Quadrangular Circular Retangular Triangular Outra ____________
Aspecto Geral da Praça
Ótimo Bom Regular Ruim Péssimo
EQUIPAMENTOS EXISTENTES SIM NÃO SUFICIENTE INSUFICIENTE
Iluminação
Calçadas/caminhos
Bancos
Parque Infantil
Sanitários
Estrutura Esportiva
Estrutura para Idosos (jogos, etc.)
Banca de Revista
Lixeiras
Telefone Público
Placa de Identificação
Edificação Institucional (igrejas, etc.)
Quiosque de Alimentação
Ponto de Táxi
Ponto de Ônibus
Estacionamento
Espelho d’água/chafariz/
Palco/coreto
Monumento (estátua, busto, etc.)
VEGETAÇÃO SIM NÃO SUFICIENTE INSUFICIENTE
Árvore de Grande Porte
Árvore de Médio Porte
Árvore de Pequeno Porte
Árvores Frutíferas
Extratos arbustivos (inclusive flores)
Gramado
Observações:
Organização: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004).
141
Da gama de equipamentos listados no Quadro 03, considera-se que todos têm sua
importância em uma praça, embora alguns sejam dispensáveis de acordo com as necessidades
da localidade em que a praça está inserida, como é o caso dos pontos de táxis e
estacionamentos em bairros residenciais, que não necessitem de tais equipamentos. No
entanto, pode-se considerar a iluminação, as calçadas e os bancos, como equipamentos
prioritários de uma praça, uma vez que é a presença desses que confere de imediato a
identificação desse logradouro como uma praça.
Os dados coletados em campo foram organizados em forma de tabela (Tabela 02)
7
no
ArcView e estão atrelados ao mapa de distribuição das praças no espaço urbano de Ribeirão
Preto (Mapa 05) produzido também neste software, permitindo, quando em meio digital, a
visualização instantânea das características de cada praça isoladamente ou do conjunto das
122 praças.
8
O mapa base, utilizado neste trabalho, disponibilizado pelo Departamento de Gestão
Ambiental, inicialmente encontrava-se no programa AutoCad, no formato dwg, onde foram
feitas as correções necessárias. Após convertido para o formato dxf, ainda nesse programa,
exportou-se o traçado da malha urbana de Ribeirão Preto para o ArcView, onde os polígonos
referentes às praças foram digitalizados sobre a respectiva quadrícula da malha urbana onde
estava localizada a praça de interesse.
Dessa forma, dois layers foram criados: praças e malha urbana, onde apenas no
primeiro foram adicionadas informações referentes ao tipo de feição (praça). Posteriormente
foram criados links em algumas dessas feições, a fim de agregar a estas uma fotografia atual.
Por fim, criou-se o layout de impressão, para melhor visualização do mapa (Mapa 05).
7
Esta tabela foi impressa no programa Microsoft Excel, importada em formato dbf do ArcView, por facilitar o
manuseio dos dados e por possibilitar uma melhor qualidade de impressão.
8
Encontra-se anexado, no final deste trabalho, um CD-ROM que permite visualizar o mapeamento e o banco de
dados das praças.
TABELA 03: BANCO DE DADOS DA INFRA-ESTRUTURA E VEGETAÇÃO EXISTENTES NAS PRAÇAS PÚBLICAS DE U
S
PRACA ID BAIRRO AREA PERF_IMOB TOPOGRAFIA FORMA_GEO ASPECTO ILUMI
Abrao Assed 38 Presidente Dutra I 8280,00 BAP/RES PLANA QUADRANGULAR BOM SUF
Acacio Baleiro 119 Alto da Boa Vista 804,75 ALP/EHM PLANA TRIANGULAR REGULAR SUF
Adib Ristun 78 Jardim Interlagos 3651,58 MBP/RES PLANA QUADRANGULAR BOM SUF
Alcides A Sampaio (Macons) 61 Jardim Paulista 750,00 MEP/EHM INGREME TRIANGULAR RUIM INS
Allan Kardec 63 Jardim Macedo 5081,00 MEP/RES M_INGREME QUADRANGULAR BOM SUF
Alzira Junqueira do Val 62 Jardim Paulista 6142,50 MEP/RES INGREME TRIANGULAR BOM SUF
Amali Macarron Salim 51 Jardim Antartica 7500,00 MEP/RES INGREME QUADRANGULAR BOM SUF
Amor Perfeito 54 Jardim Recreio 5586,00 ALP/RES INGREME RETANGULAR BOM SUF
Anacleto Bianchi 47 Sumarezinho 5250,00 MEP/RES PLANA RETANGULAR BOM SUF
Angelo Rossi 85 Jardim America 1350,00 MEP/VER INGREME TRIANGULAR BOM SUF
Antonio Lopes Veludo 109 Jardim Eugenia 7355,62 ALP/RES M_INGREME CIRCULAR BOM SUF
Antonio Paula Romano 92 Jardim Sao Luiz 7114,50 ALP/VER INGREME TRIANGULAR OTIMO SUF
Armado Lopes 13 Vila Morandini 2880,00 MEP/EHM INGREME QUADRANGULAR BOM SUF
Armando Lagamba 1 Quintino Facci II 18621,10 MBP/RES PLANA OUTRA OTIMO SUF
Armindo Paione (Brasilia) 108 Higienopolis 6138,00 ALP/RES PLANA RETANGULAR OTIMO SUF
Arthur Franklin Almeida 70 Iguatemi 1591,00 MEP/RES PLANA RETANGULAR BOM SUF
Augusto Aparecido Mazza 97 Jardim Iraja 9880,00 ALP/RES PLANA RETANGULAR OTIMO SUF
Aureliano Gusmao (7 de Setembro) 114 Centro 16720,00 ALP/VER PLANA RETANGULAR OTIMO SUF
Aurelio Lucilo Pezzutto 81 Jardim Sao Jose 7437,08 MBP/RES PLANA QUADRANGULAR BOM SUF
Avelino Plama 2 Avelino Alves Palma 6300,00 BAP/RES PLANA TRIANGULAR BOM SUF
Bandeiras 112 Centro 16825,00 ALP/VER INGREME RETANGULAR BOM SUF
Barao do Rio Branco 115 Centro 2104,50 ALP/VER PLANA RETANGULAR OTIMO SUF
Boaventura (ficticio) 107 Jardim Sumare 0,00 ALP/RES PLANA TRIANGULAR BOM SUF
Boaventura Fereira de Rossa 106 Jardim Sumare 11397,60 ALP/RES PLANA CIRCULAR BOM SUF
Camilo de Matos 17 Jardim Independencia 3200,00 MBP/RES PLANA RETANGULAR RUIM SUF
Camilo Mercio Xavier 40 Geraldo C Carvalho 9442,08 BAP/RES PLANA RETANGULAR BOM SUF
Carlos Gomes 110 Centro 6000,00 MEP/VER PLANA QUADRANGULAR OTIMO SUF
Cassio Bottura 73 Jardim Novo Mundo 6319,00 MBP/RES INGREME QUADRANGULAR REGULAR SUF
Cezario Josino da Costa 42 Dom Miele 1937,00 MBP/RES INGREME TRIANGULAR REGULAR SUF
Chico Mendes 25 Parque Rib Preto 13677,80 MBP/RES INGREME CIRCULAR REGULAR SUF
Conde Francisco Matarazzo Jr 23 Campos Eliseos 1365,00 MBP/EHM PLANA TRIANGULAR BOM SUF
Coracao de Maria 45 Vila Tiberio 8099,00 MEP/EHM PLANA QUADRANGULAR OTIMO SUF
143
Para simplificar a tabela e não torná-la muito extensa, optou-se por abreviar o nome
dos itens pesquisados, que constam abaixo, na mesma ordem em que aparecem na tabela.
Dessa forma, para melhor compreensão das informações, leia-se:
ID: identificação do logradouro relacionado ao mapa, quando visualizado em meio digital;
BAIRRO: bairro onde a praça está localizada;
ÁREA: área ocupada pela praça;
PERF_IMOB: perfil do imobiliário ao entorno da praça;
TOPOGRAFIA: declividade assumida pelo terreno da praça;
FORMA_GEO: forma geométrica da praça;
ASPECTO: limpeza, conservação e condições de uso que a praça oferece;
ILUMI: iluminação;
CAL_CAM: calçadas (ao entorno da praça) e/ou caminhos calçados (no interior da praça);
BANCOS: bancos;
P_INF: parque infantil;
SANIT: sanitários;
E_ESP: estrutura esportiva;
E_IDO: estrutura para idosos;
B_REV: banca de revista;
LIXEIRAS: lixeiras;
TEL_PUB: telefone público;
PLACA_ID: placa de identificação do logradouro;
ED_INST: edificação institucional (igrejas, postos de saúde, etc.);
QUI_ALI: quiosque fixo de alimentação;
P_TAXI: ponto de táxi;
P_ONIB: ponto de ônibus;
ESTAC: estacionamentos;
ESP_AGUA: espelho d’água ou chafariz;
PAL_COR: palco ou coreto;
MONUMENTO: monumentos (bustos, obras de arte, etc.);
ARV_GP: árvore de grande porte;
ARV_MP: árvore de médio porte;
ARV_PP: árvore de pequeno porte;
ARV_FRUT: árvore frutífera;
ARB_FLOR: extratos arbustivos ou flores;
GRAMADO: gramado;
FOTO: endereço (entrada) para acessar a fotografia da praça, quando em meio digital.
145
O mapa 05 permite visualizar a distribuição espacial das praças públicas de uso efetivo
da cidade de Ribeirão Preto, com destaque para a maior concentração desses logradouros no
eixo centro-sudeste, que compreende exatamente os bairros ocupados pelos grupos de rendas
média e alta. O eixo norte-noroeste, em parte, por envolver bairros de ocupação recente, em
geral, aqueles que se localizam além do anel viário, como Jardim Cândido Portinari e
Ribeirão Verde, são, em sua maioria, desprovidos de praças.
3.3 – Análise das praças públicas de uso efetivo em Ribeirão Preto
3.3.1 – Localização, forma e aspectos de conservação
Em Ribeirão Preto, as praças públicas estão distribuídas por praticamente todos os
bairros da cidade. Apenas os bairros de ocupação mais recente, como já enfatizado, ou
aqueles onde predomina a população de baixo poder aquisitivo, não dispõem, com freqüência,
de tais espaços públicos urbanizados.
Como já é de praxe na sociedade urbana brasileira, a maior parte dos equipamentos
públicos, dentre eles, as praças, concentram-se nos bairros ocupados pela população de rendas
média e alta e os bairros de ocupação mais antiga. Em Ribeirão Preto, constatou-se que pouco
mais de 50% das praças estão localizadas em meio a imóveis de médio a alto padrão (Tabela
03). Evidentemente essa constatação parte da percepção do pesquisador quanto ao perfil dos
imóveis localizados nas imediações das praças. Até que ponto o perfil desses imóveis
corresponde ao perfil de renda da população do bairro é tarefa que requer uma investigação
146
mais aprofundada, até porque Ribeirão Preto é uma cidade onde parcela significativa da
população goza de uma condição de vida razoável, em relação às demais cidades do país.
Tabela 03: Ribeirão Preto: Perfil do imobiliário nas proximidades das praças – 2004
Perfil do imobiliário Praças (%)
Alto padrão 28,6
Médio padrão 27,0
Médio a Baixo padrão 35,2
Baixo padrão 9,0
Total 100
Fonte: Trabalho de campo
Org. Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
Quanto aos aspectos das praças, avaliados pela estética, limpeza, paisagismo e
equipamentos de infra-estrutura, pode-se afirmar que grande parte destas apresenta estado de
conservação satisfatório, embora em certas situações foi constatado total desprezo e falta de
embelezamento em algumas praças.
Para classificar o aspecto de cada praça, considerou-se uma escala de definição que
variou de ótimo a péssimo. Com ótimo aspecto foi considerada a praça que apresentava bom
tratamento paisagístico; combinação entre a área arborizada, os espaços gramados e os
caminhos calçados; diversidade em suas estruturas, permitindo diversos usos; e bom estado de
limpeza e conservação. Dessa forma, classificou-se como de aspecto bom, a praça que atingiu
75% desses critérios; como de aspecto regular, a praça que atingiu 50%; ruim, 25%; e,
péssimo, menos de 10%.
É importante observar que este é um trabalho muito mais de percepção do que de
taxação de porcentagens, visto que, a sensibilidade do pesquisador, não exige tanta
rigorosidade metódica, mas nem por isso deixe de ser representativa.
147
De modo geral, 70% do total de praças, apresenta aspecto bom ou ótimo e 30%
enquadram-se entre regular e péssimo (Tabela 04). Isso evidencia, de certa forma, o número
ineficiente de jardineiros para cuidar desses espaços. Durante todos os dias de campo
constatou-se em poucas praças a presença de jardineiros ou outros funcionários designados
para essa função. Também, aconteceram situações em que os próprios moradores estavam
“carpindo” o mato ou podando a grama.
Tabela 04: Ribeirão Preto: Aspecto das praças: limpeza, paisagismo e estado de
conservação – 2004
Aspecto Praças (%)
Ótimo 19,6
Bom 50,8
Regular 21,3
Ruim 4,9
Péssimo 3,2
Total 100
Fonte: Trabalho de campo
Org. Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
Vale ressaltar que no período em que foi realizado o trabalho de campo (março a
maio), o gramado de algumas praças, assim como de alguns canteiros de avenidas, estava alto,
devido ao período chuvoso que estava cessando nessa época. Esse fato, associado ao
surgimento de ervas daninhas, contribuiu para a deterioração do aspecto de algumas praças,
como é o caso da Praça Coração de Maria (Figura 58). Por outro lado, estava havendo um
esforço por parte da Prefeitura em podar a grama de todas as praças, conforme pôde ser
constatado em campo.
148
FIGURA 58: Praça Coração de Maria na Vila Tibério.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
Embora Ribeirão Preto não esteja espraiada sobre um terreno de relevo muito
acentuado ou abrupto, muitas de suas praças estão assentadas em terrenos íngremes, com
inclinações suaves (36%). Como muito íngreme foi caracterizado o terreno que sofreu
divisões em camadas, sendo que estas, muitas vezes, estão interligadas por escadarias (Figura
51). Nesta categoria constatou-se 5% das praças. Por fim, quase 60% das praças estão
assentadas em terrenos planos, característica que deve ser priorizada para implantação de um
espaço dessa natureza, por favorecer a instalação de infra-estrutura, inclusive esportiva
(Tabela 05). Todas essas praças encontram-se em bairros de ocupação mais antiga, como o
Jardim Paulista e, provavelmente, estão assentadas sobre terrenos com declividade superior a
15%, conforme proíbe a lei.
149
Tabela 05: Ribeirão Preto: Perfil topográfico do terreno das praças – 2004
Perfil topográfico Praças (%)
Plano 59,0
Íngreme 36,0
Muito íngreme 5,0
Total 100
Fonte: Trabalho de campo
Org. Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
A Praça Papa João Paulo I está assentada sobre terreno de alta declividade, sendo,
portanto, necessária a estratificação do mesmo, conforme se pode observar a partir de sua
parte mais elevada(Figura 59).
FIGURA 59: Praça Papa João Paulo I no Jardim Paulista.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
As formas geométricas assumidas pelas praças da cidade, em sua maioria, são ainda
aquelas que constavam como preferenciais no Código de Posturas de 1902, ou seja,
quadradas ou retangulares. Essas duas categorias correspondem a mais de 50% das praças,
150
enquanto a forma triangular representa cerca de 30% e outras formas, inclusive a circular,
corresponde aos outros 15% restantes (Tabela 06). Esse fato evidencia a adequação da maior
parte das praças ao traçado das quadras, bem como ao sistema viário. Como discutido
anteriormente, se as rotatórias designadas praças, em Ribeirão Preto, fossem consideradas
nesse cálculo, o número de áreas com forma circular sofreria um significativo aumento, como
ocorre na cidade de Maringá-PR, onde quase 40% das praças são rotatórias e, portanto,
circulares.
Tabela 06: Ribeirão Preto: Forma geométrica das praças – 2004
Forma geométrica Praças (%)
Circular 3,2
Retangular 25,4
Triangular 29,5
Quadrangular 30,3
Outra 11,4
Total 100
Fonte: Trabalho de campo
Org. Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
3.3.2 – Equipamentos de Infra-estrutura
Uma área designada “praça”, para que cumpra suas funções, deve estar dotada de certa
infra-estrutura, como equipamentos urbanos básicos (iluminação, calçadas, telefone público,
etc.), equipamentos de lazer (bancos, estruturas esportivas, etc.) e cobertura vegetal, sempre
que a área e o projeto permitirem (Tabela 07).
151
Tabela 07: Ribeirão Preto: Infra-estrutura das praças públicas – 2004
Praças (%) Equipamento
Existente Inexistente Suficiente Insuficiente Total (%)
Iluminação - 7,3 84,4 8,1 100
Calçadas/Caminhos - 1,6 91,8 6,5 100
Bancos - 7,3 80,3 12,2 100
Parque Infantil - 86 13,1 0,8 100
Lixeiras - 81,1 15,5 3,2 100
Estrutura Esportiva - 85,2 12,2 2,4 100
Estrutura para Idosos - 94,2 4,0 1,6 100
Sanitários 3,3 96,7 - - 100
Banca de Revistas 18,8 81,2 - - 100
Telefone Público 66,3 33,6 - - 100
Placa de Identificação 27,0 73 - - 100
Edificação Institucional 9,8 90,2 - - 100
Quiosque de
Alimentação
15,5 84,5 - - 100
Ponto de Táxi 13,1 86,9 - - 100
Ponto de Ônibus 46,0 54,0 - - 100
Estacionamento 2,5 97,5 - - 100
Espelho d’água/Chafariz 9,5 90,5 - - 100
Palco/Coreto 15,5 84,5 - - 100
Monumento 16,3 83,7 - - 100
Fonte: Trabalho de campo
Org. Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
Da gama de equipamentos que constam na tabela 8, alguns são indispensáveis a uma
praça cuja função seja a de propiciar lazer aos seus freqüentadores, ao contrário daquelas que
se caracterizam por simples local de passagem. Entre esses equipamentos destacam-se os
bancos, as calçadas e a iluminação, pois sem os mesmos, a mais elementar função que a praça
deve propiciar, que é justamente a contemplação, fica comprometida. Dessa forma, mesmo
152
que às vezes insuficiente, mais de 90% das praças da cidade são iluminadas, quase 100%
possuem calçadas e 93% possuem bancos.
Para a compreensão da tabela 07, duas leituras podem ser feitas já que existem
praticamente dois grupos de informações. Primeiro, há certos equipamentos que, dada a sua
existência e importância na composição das praças, foram classificados como suficientes e
insuficientes naquela respectiva área (linhas que antecedem ao equipamento “sanitário”).
Segundo, outros equipamentos foram apenas mensurados sua existência ou não (linhas que
sucedem o equipamento “sanitário”).
Os equipamentos foram julgados como suficientes ou insuficientes tendo em vista a
quantidade dos mesmos na área correspondente a cada praça e inferências quanto ao uso
efetivo desses equipamentos pela demanda da população que a freqüenta.
De maneira geral, todos os equipamentos listados na tabela acima têm sua importância
no contexto de uma praça que apresente uma área suficiente para alocá-los. Obviamente, o
ideal seria que ao menos algumas praças, na centralidade de alguns bairros de uma grande
cidade como Ribeirão Preto, pudessem dispor de toda essa infra-estrutura levantada,
favorecendo todas as idades, em todos os horários e de diversas formas.
A presença ou ausência de certo equipamento em uma praça, não tem influência sobre
o uso desse logradouro pela população desde que os equipamentos que foram alocados
correspondam às necessidades daquela população, ou seja, é preferível alocar uma estrutura
esportiva em um bairro de classe popular a um bairro de classe mais abastada, onde a
permanência das pessoas nas praças é pequena e os jovens dispõem de outros atrativos para
suas horas vagas, como Internet, clubes particulares, shopping centers, entre outros.
Quando há presença de estruturas esportivas (principalmente quadras) é indispensável
que se construa sanitários nas praças, visto que, esses equipamentos são complementares. Em
153
Ribeirão Preto, 14,6% das praças dispõem de alguma estrutura esportiva, como campos de
futebol, barras para exercícios, etc. e, 3,2%, de sanitários. Mesmo a Praça XV de Novembro,
com sua importância no centro da cidade, não dispunha de sanitários até meados de 2004
9
.
A Praça Armando Lagamba, no bairro Quintino II, com campo de futebol de areia e
quadra coberta, além de outros tipos de jogos, apresenta, de modo geral, uma estrutura
esportiva eficiente (Figura 60).
FIGURA 60: Praça Armando Lagamba no Quintino II.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
Ainda, entre os equipamentos que merecem maior destaque, considerando sua
importância e freqüência, estão as lixeiras, os parques infantis, os equipamentos para idosos e
os telefones públicos.
As lixeiras, que estão presentes em apenas 19% das praças da cidade, são relevantes,
por serem, em grande parte, responsáveis pelo estado de limpeza das praças, independente do
grau de civilidade das pessoas.
9
Os sanitários que estavam fechados há alguns anos, encontram-se em reforma.
154
Já os parques infantis merecem uma maior atenção da Prefeitura, no sentido de serem
implantados, porque as crianças constituem um público potencial das praças nos dias atuais,
principalmente aos finais de tarde. Em Ribeirão Preto, poucas praças dispõem desses
equipamentos (14%) e por isso o poder público deve dar maior atençao a essa questão.
A Praça Pompéia VI (Figura 61) é um exemplo de logradouro onde foram constadas
lixeiras e parque infantil em Ribeirão Preto, além de ter seus equipamentos coloridos, o que
dá vitalidade à praça.
FIGURA 61: Praça Pompéia VI no Ipiranga.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
No outro extremo da faixa etária estão os idosos que aumentam consideravelmente no
Brasil a cada ano. Esse fato, por si só já impõe a necessidade de garantir um espaço dentro da
praça para esse grupo etário. Apesar de serem mais comuns as mesinhas de jogos de xadrez
ou dama é possível implantar outras modalidades de jogos, como cancha de bocha e outras
mais. Além disso, faz-se necessário planejar alguns espaços específicos, com bancos
confortáveis, de forma a favorecer também grupos do sexo feminino.
155
Os telefones públicos (ou orelhões) são importantes em praças que estejam localizadas
em qualquer parte da cidade, mas, sobretudo, nos bairros onde predominam as atividades
comerciais e onde a maior parte da população tenha baixa renda. Dessa forma, além da efetiva
necessidade de uso desse equipamento nesses bairros, também serve como atrativo para a
população, a medida que para ali se desloca por uma necessidade e acaba passando mais
tempo do que o programado, muitas vezes, por encontrar um conhecido. Em Ribeirão Preto
são encontrados telefones públicos em 66,3% das praças, portanto, um número significativo.
Conforme destacado anteriormente, todos os equipamentos levantados têm sua
importância para uma praça, embora muitos deles não sejam essenciais (placa de
identificação), prioritários (sanitários) ou até mesmo necessários (pontos de ônibus e táxi).
Estacionamentos, pontos de ônibus e táxis são mais comuns em praças centrais das cidades ou
até mesmo em bairros comerciais. Ribeirão Preto não foge a essa regra e, esses equipamentos
encontram-se, respectivamente, em 2,4%, 45,9% e 13,1% de suas praças. Constata-se que em
muitos bairros da periferia pobre é comum ter um ponto de ônibus na praça, daí a
disponibilidade significativa desse equipamento.
Bancas de revistas e quiosques de alimentação fixos são equipamentos
complementares e estão atrelados ao fluxo de pessoas às praças, tanto é que na cidade foram
constatadas suas presenças em, respectivamente, 18,8% e 15,5% das praças; em geral, as mais
freqüentadas.
Os palcos ou coretos, assim como, os espelhos d’água ou chafarizes estão mais
presentes nas praças dos bairros mais tradicionais da cidade como Campos Elíseos (Figura
62), Vila Tibério e Vila Virgínia, além de constar também em praças de periferia pobre, como
a Praça Virgílio Panzeri, localizada no bairro Adão do Carmo (Figura 63). Assim, 15,5% das
praças apresentam palco ou coreto, que atualmente não desempenham outra função senão a de
“imponência” ou embelezamento da praça e 9,1% dispõem de espelho d’água ou chafariz,
156
como é o caso da Praça Sete de Setembro, que foi adotada pelo Sr. Wilson Toni
10
, na área
central da cidade, que ganhou um lago recentemente, planejado sem o aval da Divisão de
Parques e Jardins da cidade, idealizado pelo seu responsável (Figura 64).
FIGURA 62: Praça Rômulo Morandini nos Campos Elíseos.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
10
De família tradicional de Ribeirão Preto, este senhor é, hoje, notável apresentador de um programa de
televisão da cidade.
157
FIGURA 63 Praça Virgílio Panzeri no Adão do Carmo.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
FIGURA 64: Lago da Praça Sete de Setembro na região central
.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
158
A presença de monumentos, em forma de bustos, esculturas e obras de arte, em
espaços públicos urbanos, significa o resgate de fragmentos da história de determinada cidade
ou sociedade. Estes equipamentos simbolizam, na maioria dos casos, personalidades que
ajudaram a construir a história da cidade, como pode ser observado em Ribeirão Preto.
Os monumentos, em sua maioria bustos, estão presentes em 16,3% das praças de
Ribeirão Preto e, em geral, estão alocados nas praças centrais e em outras mais antigas como a
Santo Antônio, em frente à igreja que leva o mesmo nome, nos Campos Elíseos (Figura 65).
FIGURA 65: Praça Santo Antônio com monumento ao Padre Euclides
Carneiro, ao centro, Campos Elíseos. Autor: Marcos Antônio Silvestre
Gomes (2004)
Entre as personalidades que fizeram parte da história de Ribeirão Preto e foram
homenageadas com bustos em suas praças estão o coronel Francisco Schimidt (Praça Sete de
Setembro); Abrão Assed (Praça Abrão Assed); João Alves Meira Júnior, Luís Pereira Barreto,
Roberto Simonsen, João Rodrigues Guião, Coronel Joaquim da Cunha Diniz Junqueira e
Joaquim Camilo de Matos (Praça XV de Novembro). Outras praças prestam homenagens à
159
figuras que ultrapassam a memória local como é o caso de Allan Kardec (Praça Allan
Kardec), Luiz Vaz de Camões (Praça Luiz Vaz de Camões), São Sebastião (Praça da
Bandeira) e Barão do Rio Branco (Praça Barão do Rio Branco).
As placas de identificação, apesar de constar em 27% das praças, são importantes para
que a população conheça, de fato, o nome do logradouro, o que muitas vezes não ocorre.
Evidenciou-se que atos de vandalismo foram responsáveis pela falta de identificação de
alguns logradouros que tiveram suas placas em metal roubadas. Um maior envolvimento das
comunidades com a praça do bairro talvez possa inibir tais atos.
Quanto às edificações institucionais encontradas (escola, creche, posto de saúde,
centro comunitário, igrejas, estruturas operacionais dos serviços de água, luz e telefonia, entre
outros) circunscritas às praças de Ribeirão Preto, merece maior destaque os templos católicos,
pela freqüência que aparecem. Como é comum nas cidades brasileiras, quando a igreja não é
circunscrita à praça, se localiza nas imediações de forma a destacar-se na paisagem urbana e
até mesmo a oferecer, através da praça, um espaço em comum para a sociabilidade da
comunidade cristã. Do total, 9,8% das praças apresentam algum tipo de identificação.
A Praça das Tecnologias, no Conjunto Habitacional Alexandre Baldo(Figura 66),
apresenta algumas edificações, que servem de apoio comunitário para a realização de oficinas
junto à população.
160
FIGURA 66: Praça das Tecnologias no Conj. Hab. Alexandre Balbo.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
De maneira geral, a Tabela 08 permite comparar a porcentagem de praças onde
existem equipamentos de infra-estrutura nas cidades de Ribeirão Preto-SP e Maringá-PR,
ambas de destaque expressivo no contexto regional que estão inseridas.
161
Tabela 08: Equipamentos de infra-estrutura existentes nas praças de Ribeirão
Preto-SP e Maringá-PR
Praças (%) Equipamento
Ribeirão Preto-SP Maringá-PR
Iluminação 92,5 66,6
Calçadas/Caminhos 98,3 54,5
Bancos 92,5 42,4
Parque Infantil 13,9 16,2
Lixeiras 18,7 16,2
Estrutura Esportiva 14,6 14,2
Estrutura para Idosos 5,6 10,1
Sanitários 3,2 7,1
Banca de Revistas 18,8 3,0
Telefone Público 66,3 12,1
Placa de Identificação 27,0 46,5
Edificação Institucional 9,8 27,3
Quiosque de Alimentação 15,5 8,1
Ponto de Táxi 13,1 3,0
Ponto de Ônibus 45,9 16,2
Estacionamento 2,4 15,2
Espelho d’água/Chafariz 9,1 4,0
Palco/Coreto 15,5 7,1
Monumento 16,3 11,1
Fonte: Trabalho de campo (2004); ANGELIS (2000)
Org. Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
Observa-se que em Ribeirão Preto-SP há um percentual maior de praças melhor
equipadas do que em Maringá-PR. A maior parte dos equipamentos listados encontra-se em
maior número de praças na cidade paulista. Apenas em alguns equipamentos a cidade
paranaense apresenta percentual maior (parque infantil, estrutura para idosos, sanitários, placa
de identificação, edificação institucional e estacionamentos). Se forem observados os
equipamentos mais comuns e, portanto, prioritários, como iluminação, calçadas e bancos, as
162
praças maringaenses deixam a desejar. Obviamente, cada uma dessas cidades, guarda
especificidades quanto às suas origens, expressividade populacional e forma como trata seus
espaços públicos. Cabe ressaltar que Maringá foi planejada e é conhecida por sua arborização
expressiva e, por isso, espera-se mais das suas praças.
Apesar dos dados disponibilizados sobre a cidade de Maringá-PR serem legítimos, é
preciso que se tenha cautela ao analisá-los, uma vez que praças não-implantadas e rotatórias
de vias públicas, foram contabilizadas no total apresentado, fato que revela a falta de infra-
estrutura para atender à população nesses espaços.
Embora a análise dos equipamentos de infra-estrutura seja essencial para a
caracterização das praças, faz-se necessário analisar também a cobertura vegetal presente
nesses espaços tendo em vista que é justamente a combinação entre esses dois fatores
(vegetação e infra-estrutura) o determinante, em muitos casos, para o sucesso ou o fracasso de
uma praça. Ressalta-se a importância que este trabalho atribui às praças como parte do
sistema de áreas verdes urbanas.
3.3.3 – Vegetação
Como discutido no primeiro capítulo deste trabalho, a vegetação constitui importante
elemento para a composição do espaço urbano devido às diversas funções que desempenha.
Além disso, a vegetação age como elemento reestruturador das cidades, à medida que realça o
“conturbado” ambiente urbano. Nesse sentido, a função estética que desempenha é muito
significativa.
Não é difícil constatar que a vegetação urbana está espacializada por toda a cidade, por
maior que esta seja. Ocupando espaços, ora pequenos, ora extensos, através de quintais,
163
avenidas, ruas, jardins públicos e privados, parques, bosques e praças, a vegetação é elemento
marcante no cenário urbano, especialmente brasileiro.
Da diversidade de espaços “vegetados” citados, não é de se surpreender que as praças
assumam uma importância significativa, pois é exatamente a proximidade da população que
lhe confere sua relevância. Assim, uma praça não deve ser, sempre que for necessário (e
quase sempre é), apenas uma “área de lazer”, mas uma “área verde” dotada de equipamentos
para o lazer das pessoas.
Partindo desses pressupostos, a pesquisa privilegiou o levantamento da cobertura
vegetal de cada praça de Ribeirão Preto com base na percepção do pesquisador quanto aos
aspectos mensuráveis da vegetação, inclusive arbórea. A tabela 09 mostra a cobertura vegetal
das praças, com destaque para o porte da vegetação existente.
Tabela 09: Ribeirão Preto:Cobertura vegetal das praças públicas – 2004
Praças (%) Porte da vegetação
Existente Inexistente Suficiente Insuficiente Total (%)
Árvores de grande porte - 22,9 61,1 15,5 100
Árvores de médio porte - 9,8 81,2 9,0 100
Árvores de pequeno porte - 3,2 91,8 5,0 100
Árvores frutíferas 14,7 85,3 - - 100
Arbustos/Flores - 9,0 75,5 15,5 100
Gramado - 2,5 95,0 2,5 100
Fonte: Trabalho de campo
Org. Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
De maneira geral, registrou-se a existência ou não dos diversos portes da vegetação,
em cada uma das praças de Ribeirão Preto. Com exceção das árvores frutíferas, dada a
existência de cada porte de vegetação nos logradouros julgou-se suficiente ou não a sua
164
quantidade. Esses dados foram mensurados tendo em vista a importância do sombreamento,
fornecido, em especial, pelas espécies arbóreas de grande e médio porte; do embelezamento,
julgado principalmente por meio da presença de arbustos e flores; e da permeabilidade e
proteção do solo, avaliado pela presença de gramas. Dessa forma, considerando o tamanho da
praça e a combinação entre os diversos tipos de vegetação foi que se julgou suficiente ou
insuficiente cada porte da vegetação.
As espécies arbóreas utilizadas na cidade são, em geral, caracterizadas pela altura que
alcançam em média. Assim, são classificadas árvores de porte pequeno ou baixo e árvores de
porte médio e grande ou alto.
Convencionalmente, considera-se como de pequeno porte, as espécies que atingem de
4 a 6 metros de altura; de médio porte, as espécies que alcançam de 8 a 10 metros de altura; e
de grande porte as árvores que se elevam a mais de 10 metros
11
. As copas das árvores de porte
médio e grande variam de 7 a mais de 10 metros de diâmetro e, por isso, são aconselhadas
para utilização em espaços públicos, como as praças, por favorecer o sombreamento.
Do total das 122 praças, 70% são dotadas de espécies arbóreas de grande porte, como
é o caso da Praça João Luiz de Campos (Figura 67), embora em 15% destas, seja insuficiente
a quantidade dessas espécies. Por outro lado, as árvores de médio e pequeno porte apareceram
com mais freqüência, existindo em aproximadamente 90% e 97% das praças,
respectivamente. Nestes casos, praticamente era suficiente a quantidade dessas espécies
encontrada nos logradouros; fato que evidencia a boa cobertura vegetal das praças públicas de
Ribeirão Preto.
11
Orientação do Guia de Planejamento e Manejo da Arborização Urbana da Eletropaulo, 1995.
165
FIGURA 67: Praça João Luiz de Campos no Jardim Sumaré.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
As praças José Rodrigues da Silva e Luiz Vaz de Camões constituem espaços públicos
bem arborizados em Ribeirão Preto, constituindo um diferencial na paisagem urbana (Figuras
68 e 69).
FIGURA 68: Praça José Rodrigues da Silva nos Campos Elíseos.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
166
FIGURA 69: Praça Luiz Vaz de Camões na região central.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
Entre as espécies arbóreas encontradas nas praças de Ribeirão Preto estão a Sibipiruna,
o Pau-ferro, a Sete-copas, o Oiti, o Flamboyant e o Gerivá, que é uma espécie de palmeira.
De acordo com Hamilton de Oliveira Júnior
12
, agrônomo da Divisão de Parques e
Jardins, não existe uma listagem nesse órgão com as espécies mais adequadas e preferíveis
para implantar nas praças. A escolha por espécies vegetais varia de acordo com a
disponibilidade do Horto Florestal. Em algumas situações, quando se faz necessário, são
retiradas mudas de espécies que se encontram plantadas nas praças e transferidas para outros
espaços públicos. Esse é, sem dúvida, um dos graves problemas, a ser superado por esse
órgão.
12
Entrevista concedida em 08/07/2004 na Divisão de Parques e Jardins.
167
Tendo em vista essas deficiências observadas na administração pública, são listadas
no Quadro 04, com base em levantamento realizado por Guzzo (1999) em dois setores
urbanos
13
, as espécies que aparecem com maior freqüência nas praças de Ribeirão Preto.
13
(Central e Subsetor N-5). A cidade de Ribeirão Preto está dividida em cinco setores (Central, Norte, Sul, Leste
e Oeste) e vários Subsetores, com exceção do Setor Central, que não é subdividido (Decreto n. 333, de
26/12/1983).
168
Quadro 04: Ribeirão Preto: Espécies arbóreas encontradas nas praças públicas
– 2004
Espécies de maior freqüência Espécies raras ou nobres
Sibipiruna Sapucaia
Pau-ferro Peroba-rosa
Figueira Jatobazeiro
Ipês Jacarandá da Bahia
Alfeneiro Nogueira de Iguape
Palmeira imperial Pau-mulato
Jacarandá Jequitibá-rosa
Tipuana Paineira
Flamboyant Gameleira
Fícus-Luxemburgo Palmeira-de-leque
Sete-copas Figueira-lerance
Cássia -
Cedro -
Cássia cacho-de-ouro -
Pinheiro -
Leucena -
Melaleuca -
Keheutéria -
Pata-de-vaca -
Calistemon -
Bauhínia -
Jasmim-manga -
Resedá -
Gerivá -
Fonte: Guzzo (1999).
Org. Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004). Embora o levantamento seja de 1999, os dados são válidos
para 2004.
169
As árvores frutíferas foram constatadas em cerca de 15% das praças, sendo que não se
julgou suficiente ou não a quantidade dessas espécies, devido a sua pouca expressão no
conjunto da vegetação. Também, não é prática do poder público plantar espécies dessa
natureza nas praças, uma vez que as mesmas são motivo de controvérsias. Infere-se que as
espécies encontradas, como as que constam no Quadro 05, tenham sido plantadas pela
população, tanto por estarem em fase de crescimento quanto pela disposição que assumem na
praça, evidenciando falta de critérios técnicos, como espaçamentos.
Quadro 05: Espécies arbóreas frutíferas encontradas nas praças
de Ribeirão Preto-SP
Mangueiras
Goiabeiras
Cajueiros
Bananeiras
Pitangueiras
Amendoeiras
Oliveiras
Fonte: Trabalho de campo (2004)
Org. Marcos Antonio Silvestre Gomes (2004)
Embora os estratos arbustivos, as flores e os gramados desempenhem papel secundário
no conjunto da vegetação, também foram mensurados na pesquisa.
Arbustos e flores constavam em 91% das praças e em sua maioria eram suficientes
para o respectivo logradouro. Esse tipo de vegetação é importante pela função estética que
desempenha, conferindo um colorido natural ao arranjo das diversas estruturas das praças, em
diversos meses do ano. Este é o caso das praças Camilo Mércio Xavier e Leopoldo Lima
(Figuras 70 e 71).
170
FIGURA 70: Praça Camilo Mércio Xavier no Geraldo de Carvalho.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
FIGURA 71: Praça Leopoldo Lima no Manoel Pena.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
O gramado também desempenha função relevante em uma praça, pois assegura a
proteção do solo, a infiltração das águas pluviais e permite a prática de atividades ao ar livre e
o banho de sol em dias mais frios. Este tipo de vegetação foi, entre todos os pesquisados, o
que apareceu com maior freqüência nas praças (97,5%), sendo suficiente em 95% dos casos.
171
A Praça Armando Lagamba apresenta um gramado extenso e bem cuidado, sendo uma
área bastante agradável de ser freqüentada (Figura 72).
FIGURA 72: Praça Armando Lagamba no Quintino II.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
Constatou-se em toda a cidade apenas uma praça coberta de areia, Praça José
Gonçalves de Matos (Figura 73) e duas outras cobertas por mato e ervas daninhas, como é
caso da Praça Mário de Andrade, no Jardim Recreio, que apresenta aspecto deplorável,
impossibilitando qualquer tipo de uso, conforme se constata na Figura 74.
172
FIGURA 73: Praça José Gonçalves de Matos no Jardim Palma Travassos.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
FIGURA 74: Praça Mário de Andrade no Jardim Recreio.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
Entre as espécies arbóreas mais indicadas para compor espaços públicos, como as
praças, estão as de médio e grande porte, não podendo ser desprezadas as espécies de pequeno
porte que em alguns locais servirão estrategicamente para deixá-los mais abertos. Dessa
forma, são exatamente as espécies de porte elevado que garantem a maior parte da sombra
173
necessária às praças. Além dessa função, agem eficientemente no conforto térmico e retenção
de poluentes urbanos.
Um estudo da Universidade de Campinas (Unicamp) comprovou que algumas espécies
utilizadas na arborização urbana reduzem bastante os efeitos da radiação solar e oferecem
conforto térmico ao ambiente. Cinco espécies se destacam por atenuar significativamente a
radiação solar: a Sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides) com 88,5% de atenuação, a Chuva-
de-ouro (Cassia fistula) e o Jatobá (Hymenaea courbaril) com 87,2%, a Magnólia (Michelia
champaca) com 82,4%, e o Ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa) com 75,6%. Por outro lado,
mediu-se também a atenuação em áreas verdes de lazer na região central de Campinas-SP e
foi constatado que um bosque antigo atenuou quase totalmente a radiação (99,06%) e uma
praça recém-criada, com vegetação pouco densa, atenuou 88,24% (FIORI, 2001). Algumas
das espécies descritas são encontradas nas praças de Ribeirão Preto, com destaque para a
Sibipiruna (Quadro 04).
Outros componentes vegetais como arbustos, flores e gramados são importantes
principalmente quando somados às árvores. Embora suas funções aparentemente sejam mais
estéticas do que funcionais, têm importância fundamental na cobertura do solo, no
embelezamento das praças e psicologicamente para as pessoas.
A tabela 10 permite comparar a porcentagem de praças que contém vegetação, de
acordo com o porte, nas cidades paulistas de Ribeirão Preto e Presidente Prudente.
174
Tabela 10: Cobertura vegetal das praças públicas de Ribeirão Preto-SP e
Presidente Prudente-SP
Praças (%) Porte da vegetação
Ribeirão Preto (2004) Presidente Prudente (2002)
Árvore de grande porte 77,1 55
Árvore de médio porte 90,2 66
Árvore de pequeno porte 96,8 77
Arbustos/Flores 91 80
Gramado 97,5 95
Fonte: Trabalho de campo (2004); Gomes e Amorim (2002).
Org. Marcos Antonio Silvestre Gomes (2004)
Os dados da tabela 10 revelam que as praças de Ribeirão Preto apresentam uma
cobertura vegetal maior que as de Presidente Prudente. Todos os portes de vegetação foram
constatados em maior número de praças da cidade de Ribeirão Preto, fato que indica uma
preocupação maior do poder público desta cidade em arborizar os espaços públicos. É
importante salientar que os dados apresentados correspondem ao levantamento realizado
somente em praças que foram implantadas em ambas as cidades.
Em relação ao total de áreas verdes urbanas, no qual estão incluídas as praças,
Amorim (2001) afirma que a cidade de Presidente Prudente-SP apresenta número
significativo, embora o aproveitamento seja comprometido, em alguns casos, devido à
localização inadequada dessas áreas, que ocupam fundos de vale e terrenos íngremes. Grande
parte dessas áreas apresenta apenas vegetação rasteira e, em muitos casos, são ignoradas tanto
pelo poder público quanto pela população.
De acordo com Perci Guzzo
14
, nos últimos anos, houve um esforço em arborizar os
espaços públicos de Ribeirão Preto, embora os recursos financeiros e o quadro de pessoal
tenham sido insuficientes. Entre 1997 e 2000, houve a implantação dos Parques Curupira e
14
Ecólogo da Secretaria de Planejamento e Gestão Ambiental.
175
Tom Jobim e, entre 2001 e 2004, ocorreu uma maior regularidade no plantio de mudas em
diversos espaços públicos.
Essa afirmação pode ser comprovada à medida que se verifica muitas espécies em
crescimento nas praças, indicando que foram plantadas há dois, três, quatro ou cinco anos.
Porém, muito ainda pode ser feito, para garantir a efetiva arborização dos espaços públicos de
Ribeirão Preto e assegurar uma melhor qualidade ambiental dos espaços de lazer
denominados “praças”.
O que se verifica em Ribeirão Preto atualmente é um esforço dos órgãos públicos para
melhorar a arborização da cidade, principalmente através do plantio de mudas em fundos de
vale, em terrenos vazios disponibilizados para o sistema de áreas verdes urbanas e praças
públicas, em especial as recém-implantadas.
Além da carência de recursos financeiros e de pessoal para cuidar do sistema de áreas
verdes da cidade, no qual as praças estão incluídas, constata-se que os órgãos públicos ligados
à questão, não conseguem desenvolver um trabalho eficiente, devido à falta de articulação
entre os mesmos. A subdivisão dos distintos órgãos responsáveis pelo planejamento e pela
gestão dos espaços públicos gera conflitos de intervenção, e pode resultar no distanciamento
da população das causas que envolvem o uso desses espaços, inclusive a deterioração, dos
mesmos, por falta de manutenção pública.
A desarticulação da Divisão de Parques e Jardins (ligada à Secretaria de Infra-
estrutura) do Departamento de Gestão Ambiental (ligado à Secretaria de Planejamento e
Gestão Ambiental) constitui uma dificuldade para a promoção de espaços públicos de boa
qualidade em Ribeirão Preto. Um outro agravante é o fato de o Horto Florestal não estar
ligado à Divisão de Parques e Jardins, mas ao Departamento de Gestão Ambiental.
176
Todos os problemas levantados refletem, muitas vezes, na deterioração dos espaços
públicos, que, por não oferecerem atratividade, em especial, limpeza e cuidados com a
estética do logradouro, acabam por sofrerem atos de vandalismo, como pode ser constatado na
Praça Sete de Setembro (Figuras 75 e 76). Como conseqüência desse processo, em muitos
casos, a população que tradicionalmente ocupa as praças vai cedendo lugar a outros grupos
sociais que passam a freqüentá-las como mendigos, marginais e usuários de drogas.
FIGURA 75: Banco deteriorado na praça Sete de Setembro.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
177
FIGURA 76: Aspecto de lixeira suja e depredada na Praça Sete de Setembro.
Autor: Marcos Antônio Silvestre Gomes (2004)
É preciso recriar a praça como um espaço importante para o cotidiano das pessoas, que
por vezes fica restringido aos muros de suas residências. As praças não são hoje espaços
vazios na cidade, são espaços que adquiriram dimensões diferentes daquelas do início do
século XX. Ainda são locais de comércio, de serviços, de encontro e de lazer para a
população, independente do tamanho das cidades. Contudo, para que as praças desempenhem
de fato, com a magnitude de outrora, a função de espaço da convivência em comunidade e o
de área verde, como pretende ser atualmente, é preciso que sejam planejadas e geridas de
forma que contemplem a diversidade de seus usuários e as novas funcionalidades que o
mundo “moderno” lhes impõe e exige.
Praça Luiz Vaz de Camões em Ribeirão Preto. Foto: Ângela R. E. Oliveira
CONSIDERAÇÕES FINAIS
APONTAMENTOS PARA UMA MELHOR
PERFORMANCE DO PLANEJAMENTO E GESTÃO
DAS PRAÇAS PÚBLICAS
179
A necessidade de distribuir de maneira mais igualitária as áreas verdes nas cidades
constitui pré-requisito fundamental quando na implementação das mesmas pelo poder público
que, muitas vezes, impede a valorização de certas parcelas do espaço urbano, bem como
contribui para a desvalorização de outras, em virtude da falta de equipamentos públicos como
as áreas verdes e áreas de lazer tratadas paisagisticamente, existência de leis e normas que
favorecem áreas específicas nas cidades, entre outros. Sucede que a localização das áreas
verdes, na maioria das vezes, está associada à especulação imobiliária; assim, os espaços
destinados ao lazer, como parques e praças públicas, quando bem equipados, tornam, em
muitos casos, as áreas em seu entorno mais valorizadas e, conseqüentemente, procuradas, pela
garantia de uma vida mais saudável devido aos diversos benefícios que esses espaços lhes
oferecem.
A estrutura centro x periferia, em relação à espacialização das praças públicas, que se
perpetua nas cidades brasileiras, não deve ser encarada pelo planejamento urbano como uma
etapa progressiva que se desenvolve de maneira centrífuga, de forma a vir alcançar os bairros
dos arrabaldes “pobres”, em um futuro não definido. Ao contrário, o planejamento e a gestão
dos espaços livres públicos podem ocorrer centripetamente e, mais ainda, simultaneamente e
igualitariamente por toda a cidade, privilegiando o uso e também a estética, julgada quase
sempre fundamental para a centralidade urbana e bairros circunvizinhos.
No cenário urbano atual, palco de inúmeras contradições tanto sociais quanto
ambientais, o lazer se torna elemento vital para o homem “moderno”, visto que, contribui
decisivamente para a melhoria da qualidade de vida. Por isso, o planejamento urbano deve
privilegiar espaços públicos de fácil acessibilidade com o intuito de favorecer todas as
camadas sociais, dotando-os de equipamentos necessários ao desempenho de suas funções,
quer sejam, de lazer.
180
Às secretarias municipais de meio ambiente e planejamento urbano cabe a função de
distribuir regularmente as praças ao longo da malha urbana, sem a preocupação de beneficiar
as camadas da população de maior poder aquisitivo, renegando as camadas populares, como
acontece em Presidente Prudente-SP. Dotar os espaços públicos de lazer de equipamentos de
infra-estrutura urbana e cobertura arbórea suficiente para garantir o conforto térmico da
população que utiliza tal espaço é tarefa essencial, visto que constituem elementos
fundamentais de uma praça.
Em Ribeirão Preto, os bairros habitados pelas camadas mais abastadas não
concentram, necessariamente, as praças de melhor infra-estrutura e cobertura vegetal, mas o
maior número de praças urbanizadas, embora muitas vezes estas sejam dotadas apenas de
equipamentos básicos como bancos, iluminação e calçadas. A periferia pobre carece de praças
e, as que existem, não estão demasiadamente desprovidas de infra-estrutura, mas em muitos
casos, de elementos estéticos que possam embelezá-las.
Há de se considerar que cada praça de uma cidade, guarda singularidades histórico-
culturais para a população que a freqüenta. Nesse processo, criam-se identidades entre o
usuário e o espaço público que irão desencadear no efetivo uso desse espaço por aquela
população. Dessa forma, em qualquer intervenção feita nos equipamentos públicos, cujo uso
seja da população em geral, é importante que se consulte os moradores da localidade. Assim,
garantir-se-á um maior sucesso do empreendimento e, consequentemente, ter-se-á a certeza de
seu bom uso e funcionamento, principalmente quando se trata de algo que faz parte do
cotidiano das pessoas, especialmente aquelas que pertencem aos estratos menos favorecidos
da sociedade, que enxergam na praça, o refúgio da rotina ou até mesmo o prolongamento de
suas casas.
181
No contexto abordado, a problemática tem respaldo em estudo da Universidade
Federal de Pernambuco
1
, que contribuiu para demonstrar que a padronização de praças no
Recife é responsável pela “banalização da paisagem”, pois o uso repetitivo do mesmo tipo de
cerca, banco, luminária, cores e floreiras põe em risco a conservação e sustentabilidade das
praças. Uma vez que a população não se identifica mais com o lugar, gradativamente deixa de
freqüentá-lo e isso leva à deterioração do espaço público. Em suma, o estudo realizado em
doze praças da capital pernambucana constatou que cada uma delas tem uso diferenciado e
origem distinta. Por isso, o planejador deve considerar, principalmente, o aspecto cultural que
cada praça representa, para então efetuar suas intervenções.
Na cidade de Ribeirão Preto não foram constatados padrões repetitivos nas praças.
Apenas nos logradouros centrais há uma repetição do mesmo tipo de luminárias e bancos que
caracterizam o período em que foram implantados, ou seja, o início do século XX, não
desfavorecendo a identificação do usuário com a praça.
A praça pública, como local da convivência em comunidade e do cotidiano urbano,
precisa ser priorizada na cidade para que assuma não somente o seu papel de área de lazer,
mas, sobretudo, de área verde, contribuindo dessa forma como um aparelho importantíssimo
na regulação do clima urbano. Nesse sentido, a presença da vegetação, principalmente através
da arborização em espaços públicos, como as praças, os tornam mais atraentes e mais
adequados à realização do lazer, especialmente nos horários diurnos, possibilitando a
valorização da paisagem urbana, enriquecida substancialmente pela estética dos espaços livres
públicos.
Aliar capacitação técnica e recursos tecnológicos eficientes é tarefa fundamental para a
melhor gestão do espaço urbano, que passa a acumular, cada vez mais, uma diversidade de
informações referentes aos diversos setores que o compõe.
1
“Jornal do Commércio”, Recife/PE, (07/01/2001).
182
Com base nas performances do software ArcView, infere-se que o geoprocessamento
constitui um instrumento importante para o mapeamento e monitoramento dos diversos
espaços públicos urbanos de lazer, como as praças, podendo ser utilizado pelo poder público
de cidades de todos os portes, especialmente as de médio e grande, por acumularem um maior
número de dados. A este SIG podem ser associadas as informações que forem mais
convenientes para a formação do banco de dados do usuário. As fotografias que podem ser
associadas a cada uma das praças, bem como os dados disponíveis, podem ser atualizados
constantemente. Enfim, diversas outras opções esse SIG oferece aos usuários, resultando em
uma gama de possibilidades de tratar a informação geográfica.
Através da utilização do software ArcView, pôde-se constatar a importância e a
viabilidade que os Sistemas de Informações Geográficas oferecem ao trabalhar dados dessa
natureza. Conforme se constatou em Ribeirão Preto, a falta de instrumentos tecnológicos
atualizados e pessoal capacitado para a gestão dos espaços públicos, compromete o
desempenho da equipe do poder público, atuante nos diversos órgãos que,
desarticuladamente, colaboram para criar e recriar os espaços públicos da cidade.
Partindo dessas constatações é que se aconselha a integração da Divisão de Parques e
Jardins e Horto Florestal, que já está submetido, à Secretaria de Planejamento e Gestão
Ambiental. É importante que o poder público reflita, através das instâncias maiores, a
possibilidade e a viabilidade de recriar a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a qual todos
esses órgãos listados, poderiam estar ligados.
Há de se enfatizar que a administração local não deve padecer de uma visão mais
ampla da questão ambiental, que contemple tanto a diversidade de profissionais que refletem
sobre o espaço urbano, quanto a articulação dos órgãos de meio ambiente com outros setores
da “máquina pública”, ligados à educação, à cultura e ao esporte. Importantes, também, são as
183
parcerias que podem ser feitas entre as esferas pública e privada, desde que, não se perca de
vista, a verdadeira dimensão do bem público, a exemplo dos espaços livres.
Uma maneira eficiente de trazer a população às praças é o projeto “Brincando na
Praça”, desenvolvido pela EPTV (Empresa Pioneira de Televisão) e pelo SESI nas cidades da
região de Ribeirão Preto. Assim, a cada domingo o projeto está em uma cidade diferente,
levando diversão, através de equipamentos que são montados, lanches distribuídos e serviços
de apoio comunitário à população, como cabeleireiros, dentistas, enfermeiros, entre outros.
Outra iniciativa interessante è o projeto “Domingo na Praça”, desenvolvido em
Ribeirão Preto, com o apoio da Prefeitura Municipal. Este projeto alcança, a cada domingo,
diferentes bairros, como é o caso da Praça Rômulo Morandini, nos Campos Elíseos. São
distribuídos pipoca e algodão doce para as crianças e são montados equipamentos para
garantir a diversão. Além disso, são apresentados espetáculos com grupos de danças locais e
palhaços. Para completar a festa, um “trenzinho”
2
é disponibilizado para transportar as
crianças pelas ruas do bairro, ao som de músicas infantis.
Projetos como esses são importantes para a comunidade e, conseqüentemente,
contribuem para resgatar a função da praça enquanto espaço da coletividade e da festa. Por
isso, recomenda-se a ampliação dessas iniciativas para todos os bairros da cidade, de forma a
favorecer, principalmente, as camadas de rendas média e baixa. Infelizmente, constata-se, que
nos últimos meses de 2004, não foram vistos anúncios na TV ou nas ruas sobre os projetos,
talvez em função do período eleitoral.
A Praça das Tecnologias
3
, no Conjunto Habitacional Alexandre Balbo, é um exemplo
importante a ser ampliado em diversos bairros da cidade, por permitir a realização de oficinas
culturais para a comunidade. A estrutura projetada permite espetáculos ao ar livre no teatro de
2
Estrutura em forma de trem, com alguns vagões, montada em um veículo, para transportar as crianças.
3
Ver Figura 58.
184
arena e a circulação de pessoas pelos amplos espaços disponibilizados. O excesso de áreas
impermeáveis e a pouca arborização comprometem algumas de suas funções, uma vez que
são poucas as áreas sombreadas e o asfalto tende a manter-se aquecido durante o dia e a noite.
A criação e manutenção de espaços livres permeáveis são ainda mais necessárias para
a drenagem urbana de Ribeirão Preto, uma vez que a cidade é abastecida pelo aqüífero
Guarani, que precisa ser realimentado com as águas das chuvas infiltradas através dessas
áreas.
Uma outra função que algumas praças desempenham atualmente é a de servir como
local para caminhadas matinais e nos finais de tarde, principalmente para a população adulta e
idosa. Para responder à procura, é interessante que as praças, especificamente as que
comportam esse tipo de atividade, sejam dotadas de calçadas perimetrais, que permitam a
caminhada ou o ato de correr. Essa está sendo uma nova tendência que as praças assumem,
por mais uma vez estarem mais próximas da população do que os parques. Dessa forma, esse
constitui mais um argumento que permite reafirmar a praça enquanto espaço potencial para a
melhoria da qualidade de vida urbana.
Na tentativa de um exercício imaginário, a cidade pode ser pensada como uma imensa
casa, onde suas salas corresponderiam às praças. E como apresentar essa casa, se suas salas
não são organizadas, agradáveis e apreciáveis? É preciso arrumar as praças, torná-las lugares
prazerosos para o relaxamento, para apreciar a rua e para o diálogo entre as pessoas. Mas
essas praças, assim como as salas, precisam de assentos confortáveis, de uma paisagem
interessante. Nesse ponto, a sala pode vir acompanhada de um jardim que tornará mais
colorido e interessante o ato de freqüentá-la, não constituindo, portanto, um ambiente repleto
de concreto.
As pessoas buscam as praças para se entreterem, assim como sentam à sala para ver
televisão. Desta vez, não é a televisão que está sendo observada, mas a fluidez das pessoas.
185
São jovens, crianças, adultos e idosos que buscam, cada qual, sua forma de se divertir e as
pessoas preferidas para conversar e rir. A praça pode ser também o lugar do mendigo e do
pipoqueiro, pois esse deve ser o lugar da coletividade, não da individualidade; da agregação,
não da segregação; da multidão, não da elitização ou pauperização. Enfim, a praça é o lugar
de todos. É o ponto de encontro onde a gratuidade prevalece, ao mesmo tempo em que todos
se sentem donos desse espaço. É preciso que as pessoas não deixem de ir à praça, pois se o
distanciamento da comunidade prevalecer, acarretará no seu definitivo esvaziamento. E as
praças não serão mais o lugar da gratuidade, espontaneidade e sociabilidade. Serão como as
salas de cinema, onde se paga para entrar e não é convidativo papear, transitar e, muitas
vezes, ser espontâneo. Serão o lugar do silêncio e da melancolia. Serão o lugar onde
comportará muitas pessoas, mas permanecerá sempre vazio.
Enfim, espera-se ter contribuído, no seio da Geografia, para despertar o interesse e a
reflexão, por parte de todos os cidadãos e profissionais da área, quanto à questão que envolve
o planejamento e a gestão dos espaços livres públicos. Diferentemente de outros profissionais,
como arquitetos, urbanistas, ecólogos e engenheiros, o geógrafo, tem como função, refletir
sobre as dimensões humanas que permitem criar e recriar diferentes “espaços” na cidade,
porém, com uma peculiaridade, a de não distinguir natureza de sociedade, e, mais ainda, a de
privilegiar a função sobre a forma.
Praça Sete de Setembro em Ribeirão Preto. Foto: Marcos A. S. Gomes
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