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Ariane Di Tullio
A ABORDAGEM PARTICIPATIVA NA CONSTRUÇÃO DE UMA
TRILHA INTERPRETATIVA COMO UMA ESTRATÉGIA DE
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM SÃO JOSÉ DO RIO PARDO SP.
Orientadora: Prof
a
Dr
a
Haydée Torres de Oliveira
São Carlos
2005
Dissertação apresentada à Escola de
Engenharia de São Carlos da
Universidade de São Paulo, como parte
dos requisitos para a obtenção do Título
de Mestre em Ciências da Engenharia
Ambiental.
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Ficha catalográfica preparada pela Seção de Tratamento
da Informação do Serviço de Biblioteca EESC/USP
Di Tullio, Ariane
D617a A abordagem participativa na construção de uma trilha
interpretativa como uma estratégia de educação ambiental
em São José do Rio Pardo-SP / Ariane Di Tullio. –- São
Carlos, 2005.
Dissertação(Mestrado) –- Escola de Engenharia de São
Carlos-Universidade de São Paulo, 2005.
Área: Ciências da Engenharia Ambiental.
Orientadora: Profª. Drª. Haydée Torres de Oliveira.
1. Educação ambiental. 2. Trilha interpretativa.
3. Biodiversidade. 4. São José do Rio Pardo. I. Título.
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Dedico este trabalho a todos os
membros da comunidade de São
José do Rio Pardo, que com a sua
participação, representaram a
alma desta pesquisa, em especial
à Elisa, Alvinho, Eduardo,
Alfredo, Rodrigo P., Rodrigo S.,
Ana Paula, Marísia, Alex, Danilo,
Sandro e Bruno.
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Prof
a
Dr
a
Haydée Torres de Oliveira, pela atenção e amizade a mim dedicadas;
Ao meu pai, Amélio; minha mãe, Leila; e minha irmã, Paula; pelo apoio incondicional em todas as etapas
do trabalho, pela ajuda nas filmagens e gravações e, principalmente, pela companhia nas viagens a São
José do Rio Pardo;
Às companheiras de trabalho: Maria Alice e Gracinha, pela oportunidade de trabalho conjunto.
Ao Sr. José e à D. Edna, pais da Maria Alice, que me acolheram muitas vezes em sua casa durante as
visitas de campo;
A todos os participantes do trabalho, membros da comunidade riopardense;
Ao Sr. Eduardo, administrador da fazenda Tubaca por permitir que o trabalho fosse realizado em sua
propriedade;
À diretora da escola municipal, Hellen Rose, e às coordenadoras pedagógicas, Rosemary, Ana Mara e
Maria José, por abrirem as portas da escola para que eu pudesse realizar este trabalho;
Ao Luis Roberto e ao Sargento Flávio, pelas informações sobre o município de São José do Rio Pardo,
gentilmente cedidas;
Aos colegas do GEPEA, em especial à Carmen, Alessandra, Heloísa, Rosa e Amadeu, pelas diversas
oportunidades de trocar idéias e materiais sobre educação ambiental;
À Edna pela ajuda tão gentilmente oferecida na composição do mapa da trilha;
À Prof
a
Dr
a
Ariadne Clöe pela atenção, pelo empréstimo de material e pelas dicas de como usar a técnica
de grupos focais;
Às sempre amigas Karina, Gizele e Érica;
Aos Professores Doutores Nivaldo Nale e João Alberto da Silva Sé, integrantes da banca de qualificação,
pelas contribuições feitas ao trabalho;
Aos Professores Doutores Nivaldo Nale e Evaldo Gaeta Spíndola, integrantes da banca de defesa, pelas
contribuições feitas ao trabalho;
Aos professores, funcionários e colegas do PPG-SEA pela oportunidade e amizade nesses anos de
convivência;
À amiga Márcia, com quem pude compartilhar tanto os momentos alegres como os difíceis; e
Ao CNPQ pelo apoio financeiro concedido através da bolsa de estudos.
São José do Rio Pardo...
Rio Pardo
Pardo
Par...
Par... de quê? De quem?
Do mistério das tuas águas...
Do serpentear do teu caminho?
Que afeto, que carinho
Guardas escondido na tua correnteza
Que enlaça e fere e passa...
Ah! Pardo
Par...
De quê? De quem?
Por que o encanto do céu azul,
O remanso das montanhas que te beijam?
O doce murmúrio da tua água a bater e a desviar-se das pedras do caminho?...
Por que a tua tranqüilidade
Vai acalmando tantas dores,
Tantas vidas
Divididas?
Ah! Pardo
Par do infinito caminhar
Das muitas vidas
De tantas histórias...
A divina luz
Lançou seus raios
Sobre as tuas águas efervecentes...
E agora?
Todos se encantam contigo
Com tua serenidade macia
E bebendo a tua água...
Tornam-se reféns do teu segredo.
E voltam, e ficam, e amam
E criam filhos
Sob a tua margem hospitaleira.
Pardo... Pardo... Par...
Do que permanece
Do que não morre...
Do que afaga e não fere?
Ah! Rio Rio Rio Rio
Par do Par do Rio
Rio Par rio do
eterno
singular
meu
Par...
descendo...
impulsionando
renovando
lavando
curando
Rio abençoado
Do viver perene
E do estar transitório...
Liliana Magalhães Nogueira Bello (Lila)
RESUMO
DI TULLIO, A. (2005). A abordagem participativa na construção de uma trilha
interpretativa como uma estratégia de educação ambiental em São José do Rio Pardo
SP. Dissertação (Mestrado) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São
Paulo, São Carlos, 2005.
A indagação central que norteou esta investigação, conduzida no município de São José
do Rio Pardo (SP), refere-se à incorporação de abordagens participativas na construção
de estratégias educativas contextualizadas e significativas para a comunidade envolvida,
criando oportunidades para reflexão, ação e disseminação de idéias e práticas
conservacionistas. Assim, esta pesquisa objetivou planejar um processo participativo de
desenvolvimento de uma trilha interpretativa como instrumento de educação ambiental,
e analisar como a aplicação de metodologias participativas contribui para um maior
envolvimento dos participantes nas diversas etapas deste processo. Representantes das
Secretarias Municipais de Educação, de Cultura, de Turismo e de Agricultura, assim
como Organizações Não Governamentais, empresas e estudantes participaram da
pesquisa. Todos envolveram-se, em maior ou menor grau, nas várias etapas de
construção da trilha interpretativa: no diagnóstico prévio e escolha do local e do
público-alvo; na elaboração do roteiro interpretativo; na realização e avaliação das
atividades de visita à trilha por estudantes de ensino fundamental; e na avaliação do
processo como um todo. As técnicas utilizadas para coleta de dados no diagnóstico e na
construção da trilha foram o diagnóstico rural participativo e os grupos focais, já que
com ambas as técnicas é possível lidar com a dimensão interativa de um grupo. A trilha
interpretativa tem sido considerada como uma estratégia educativa capaz de transcender
os aspectos cognitivos da aprendizagem, proporcionando oportunidades de
desenvolvimento dos aspectos afetivos e habilidades dos educandos, podendo, portanto,
ser considerada um instrumento efetivo de educação ambiental. Contudo, ela deve ser
planejada e considerada como parte de um processo mais amplo e, não, apenas como
um evento educativo pontual.A construção da trilha constituiu-se em uma oportunidade
de reflexão individual e coletiva a respeito de temas ambientais relevantes. A
metodologia participativa possibilita lidar com diferentes níveis de convívio em grupo,
como o respeito pelas diferenças, a capacidade de negociação e a tomada de decisões
em conjunto. O interesse inicial pelo tema, as afinidades pessoais e a experiência prévia
de trabalho em grupo por parte de alguns dos participantes facilitaram o envolvimento
em todas as etapas do projeto. Algumas das dificuldades que podem ser encontradas na
continuidade de projetos participativos vão desde a seqüência das atividades - quando a
pesquisadora se afasta do grupo - até mudanças no cenário político nos quais estes
projetos tenham sido iniciados, o que justifica a importância da participação de
representantes também da iniciativa privada e de ONGs. A metodologia participativa,
além de gerar uma autonomia dos integrantes do grupo, proporciona maiores
possibilidades de continuidade do projeto e possibilita novas iniciativas de ações de
conservação e educação ambiental por parte dos envolvidos.
Palavras-chave: educação ambiental, trilha interpretativa, biodiversidade, São José do
Rio Pardo.
ABSTRACT
DI TULLIO, A. (2005). Participatory approach to creating an interpretive trail as a
strategy for environmental education in São José do Rio Pardo SP. M. Sc. Dissertation
– Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2005.
The central issue of this investigation, which was conducted in the city of São José do
Rio Pardo (SP), is the incorporation of participatory approaches to developing
contextualized and significant educational strategies for the community involved, thus
creating opportunities for reflection, action and spread of conservationist ideas and
practices. This research, therefore, aimed to plan a participatory process of developing
an interpretive trail as a tool for environmental education and assess the application of
such methodologies in the engagement of the local participants in the different steps of
this process. Representatives from the Municipal Departments for Education, Culture,
Tourism and Agriculture as well as representatives of Non-Governmental
Organizations, companies and students participated in the research. All of them, to a
greater or lesser extent, took part in the different steps in the process of creating the
interpretive trail: the early diagnosis of the place; the choice of the place and target
public; the creation of the interpretive itinerary; the accomplishment and assessment of
the activities involved in the visit to the trail made by secondary school students; and
the assessment of the process as a whole. Since techniques of participatory rural
appraisal and focus groups can provide an interactive dimension of a group, they were
used for collecting data from the diagnosis and the development of the trail. Interpretive
trail has been shown to be an educational strategy capable of transcending the cognitive
aspects of the learning and providing students with opportunities to develop their
affective aspects and skills. Thus, it can be considered as an effective tool for
environmental education. Nevertheless, it should be first considered as a part of a wider
process rather than a prompt educational event. The process consisted of opportunities
for individual and collective reflection on the relevant environmental themes. The group
life, the respect for differences, and the ability to compromise and make collective
decisions were evolved. The initial interest in the theme, the personal affinities, and the
previous experience some of the participants had in working group facilitated the
engagement, participation and articulation. Some of the difficulties in continuing
participatory projects range from the sequence of activities when the researcher leaves
the group to changes in the political context in which they were initiated. It can
explain the importance of the participation of representatives from the private and
service sectors. The participatory methodology generates the autonomy of the
participants, thus promoting further possibilities for continuing the project and allowing
new initiatives for conservationist actions and environmental education from the
participants.
Keywords: environmental education, interpretive trail, biodiversity, São José do Rio
Pardo.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Localização do município de São José do Rio Pardo no Estado de
São Paulo............................................................................................... 19
FIGURA 2 - Distribuição da cobertura vegetal no município de São José do Rio
Pardo ..................................................................................................... 20
FIGURA 3 - Exemplo do diagrama construído a partir da adaptação das técnicas
de diagrama de Venn e diagrama de Fluxos ......................................... 30
FIGURA 4 - Diagrama representativo dos principais problemas ambientais
encontrados na área rural de São José do Rio Pardo e das relações
entre eles................................................................................................ 46
FIGURA 5 - Diagrama representativo dos principais problemas ambientais
encontrados na área urbana de São José do Rio Pardo e das relações
entre eles................................................................................................ 51
FIGURA 6 - Representação esquemática da trilha da Tubaca e seus pontos
interpretativos....................................................................................... 93
FIGURA 7 - Locais visitados com a finalidade de implantação da trilha
interpretativa ........................................................................................ 165
FIGURA 8 - Fazenda Tubaca: local escolhido para a implantação da trilha
interpretativa ........................................................................................ 167
FIGURA 9 - Primeira reunião realizada com os participantes de São José do Rio
Pardo .................................................................................................... 169
FIGURA 10 Diagramas construídos pelos participantes referentes aos
problemas ambientais locais ................................................................ 169
FIGURA 11 Discussões realizadas durante o curso de formação de monitores
ambientais ............................................................................................ 171
FIGURA 12 Dinâmicas de grupos realizadas durante o curso de formação de
monitores ambientais ........................................................................... 171
FIGURA 13 Visita à trilha da Tubaca com os participantes do curso de
formação de monitores ambientais....................................................... 173
FIGURA 14 Grupos focais e palestra realizados com os estudantes de ensino
fundamental antes da visita à trilha da Tubaca .................................... 175
FIGURA 15 Cenas da visita à trilha da Tubaca pelos estudantes de ensino
fundamental.......................................................................................... 177
FIGURA 16 Estudantes de ensino fundamental em visita à trilha da Tubaca........ 179
FIGURA 17 Atividades realizadas durante a visita dos estudantes à trilha da
Tubaca.................................................................................................. 181
FIGURA 18 Grupos focais realizados com os estudantes após a visita à trilha da
Tubaca.................................................................................................. 183
FIGURA 19 Avaliação da visita à trilha e do processo da pesquisa, conduzida
com os participantes............................................................................. 183
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Evolução da distribuição percentual das classes de uso do solo em
São José do Rio Pardo....................................................................... 21
QUADRO 2 - Temática ambiental veiculada no jornal “A Gazeta do Rio Pardo”
nas décadas de 1950 a 1990.............................................................. 23
QUADRO 3 - Vantagens e desvantagens da técnica de Grupos Focais................... 32
QUADRO 4 - Categoria de envolvimento no projeto e ocupações dos
participantes de São José do Rio Pardo ............................................ 39
QUADRO 5 - Potencialidades ambientais municipais em ordem decrescente de
importância........................................................................................ 43
QUADRO 6- Principais problemas ambientais em ordem decrescente de
importância........................................................................................ 45
QUADRO 7 - Tópico, tema e sub-temas da trilha da Tubaca .................................. 88
QUADRO 8 - Resumo da opinião dos participantes do curso quanto ao seu
conteúdo, metodologias e duração.................................................... 97
QUADRO 9 - Contribuições do curso em nível pessoal........................................... 98
QUADRO 10 - Contribuições do curso em nível profissional ................................. 98
QUADRO 11 - Novas oportunidades possibilitadas pelo curso de acordo com os
participantes ...................................................................................... 99
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1
1.1. A biodiversidade .......................................................................................... 2
1.2. A conservação de fragmentos florestais....................................................... 5
1.3. A pesquisa em educação ambiental.............................................................. 7
1.4. A trilha interpretativa como estratégia de educação ambiental ................... 9
1.4.1. Percepção ambiental............................................................................ 11
1.4.2. Interpretação ambiental....................................................................... 13
1.5. Justificativa .................................................................................................. 15
2. OBJETIVOS ......................................................................................................... 17
2.1. Objetivos Gerais........................................................................................... 17
2.2. Objetivos Específicos................................................................................... 17
3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO................................................. 19
3.1. Aspectos geográficos, físicos e biológicos................................................... 19
3.2. Histórico de ocupação do município ........................................................... 21
3.3. A temática ambiental na imprensa escrita de São José do Rio Pardo.......... 22
3.4. Percepção dos moradores de São José a respeito do Rio Pardo................... 24
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.......................................................... 25
4.1. Diagnóstico da situação ambiental local...................................................... 27
4.1.1. Diagnóstico participativo das potencialidades e dos problemas
ambientais locais x biodiversidade................................................................ 28
4.2. A construção coletiva da trilha interpretativa do meio ................................ 32
4.3. Avaliação da atividade de visita à trilha da Tubaca e do processo da
pesquisa............................................................................................................... 33
4.3.1. Avaliação conduzida com os estudantes............................................. 34
4.3.2. Avaliação conduzida com os participantes locais............................... 35
5. FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DO GRUPO DE PARTICIPANTES NAS
DIVERSAS ETAPAS DO PROJETO...................................................................... 37
6. DIAGNÓSTICO DAS POTENCIALIDADES E DOS PROBLEMAS
AMBIENTAIS LOCAIS........................................................................................... 41
6.1. Biodiversidade: potencialidade e problema!................................................ 56
7. A CONSTRUÇÃO COLETIVA DA TRILHA INTERPRETATIVA DO MEIO 73
7.1. Elaboração.................................................................................................... 73
7.1.1. As expectativas dos participantes em relação ao projeto.................... 74
7.1.2. A escolha do local da trilha................................................................. 77
7.1.2.1. Impactos da construção e do uso de trilhas em áreas naturais 82
7.1.3. Sugestões dos participantes ao roteiro interpretativo.......................... 84
7.1.4. A elaboração do roteiro interpretativo ................................................ 87
7.1.5. Primeira revisão do roteiro interpretativo........................................... 91
7.2. Curso de formação de monitores ambientais............................................... 94
7.2.1. As expectativas dos participantes do curso......................................... 95
7.2.2. Avaliação do curso.............................................................................. 96
7.3. Implementação da trilha............................................................................... 99
7.4. Avaliação da atividade de visita à trilha e do processo participativo .......... 101
7.4.1. Avaliação da atividade de visita à trilha da Tubaca pelos estudantes. 101
7.4.2. Avaliação da atividade de visita à trilha da Tubaca pelos
participantes do processo .............................................................................. 111
7.4.3. Avaliação do processo da pesquisa pelos participantes locais............ 116
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................123
9. RECOMENDAÇÕES .......................................................................................... 127
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 129
APÊNDICE A Proposta de trabalho apresentada à delegada regional da rede
estadual de ensino de São João da Boa Vista SP................................................... 137
APÊNDICE B Roteiro de discussão do grupo focal sobre o tema biodiversidade 138
APÊNDICE C Carta e proposta de trabalho apresentada aos administradores da
Fazenda Fortaleza...................................................................................................... 139
APÊNDICE D Artigo sobre potencial turístico da fazenda Santa Teresa
publicado no jornal Gazeta do Rio Pardo ................................................................. 141
APÊNDICE E Roteiro de questões para a primeira revisão do percurso
interpretativo da trilha da Tubaca com os participantes............................................ 142
APÊNDICE F - Roteiro interpretativo para visita guiada à trilha da Tubaca........... 143
APÊNDICE G Questionário de avaliação do curso de formação de monitores
ambientais ................................................................................................................. 151
APÊNDICE H Roteiro de questões para a avaliação pré-trilha com os estudantes
de ensino fundamental............................................................................................... 153
APÊNDICE I Roteiro de questões para a avaliação pós-trilha com os estudantes
de ensino fundamental............................................................................................... 155
APÊNDICE J - Roteiro de questões para a avaliação da atividade de visita à trilha
com os participantes.................................................................................................. 157
APÊNDICE K Roteiro de questões para a avaliação do processo da pesquisa
com os participantes.................................................................................................. 158
ANEXO A Carta de autorização do projeto elaborada pela delegada regional de
ensino e enviada às escolas da rede estadual ............................................................ 159
ANEXO B – Reportagens sobre o projeto publicadas em jornais locais.................. 160
ANEXO C Indicadores de participação................................................................. 164
ANEXO D Fotos.................................................................................................... 165
1
1. INTRODUÇÃO
A presente pesquisa, desenvolvida no município de São José do Rio Pardo (SP),
está inserida no contexto de um projeto mais amplo: o Biota-Educação
Biodiversidade, Sustentabilidade e Educação Ambiental, elaborado em parceria com
diversas instituições de ensino superior do Estado de São Paulo, tais como: UNICAMP,
ESALQ, UNESP, UFSCar, EESC, entre outras, e cujo objetivo é divulgar às
comunidades, os resultados das pesquisas com o tema biodiversidade, realizadas pelos
pesquisadores do Programa BIOTA-FAPESP.
A integração entre os pesquisadores das diferentes instituições de ensino
envolvidas no projeto só não foi maior devido ao fato deste ainda não ter sido aprovado,
até o momento da conclusão dessa pesquisa, pela agência de fomento, o que limitou a
divulgação dos resultados, tanto no meio acadêmico, quanto às comunidades.
Esta pesquisa consistiu, ainda, em uma experiência de integração com duas outras,
também na área de Educação Ambiental, realizadas na mesma localidade - embora cada
uma delas tenha objetivos, indagações e públicos-alvo específicos.
Um dos trabalhos tinha como foco a educação ambiental na gestão dos recursos
hídricos em pequenas propriedades rurais. Outro buscava verificar a efetividade da
aplicação de uma estratégia de educação ambiental desenvolvida por uma ONG fora de
seu contexto de atuação.
A proposta de integração desta pesquisa com os dois trabalhos acima mencionados
surgiu da necessidade de somar esforços na geração de conhecimentos e no
fortalecimento de ações, visando a conservação da biodiversidade e a gestão dos
recursos hídricos locais e regionais. Essa abordagem foi intencional, e buscou,
principalmente, desenvolver um trabalho no qual as ações resultantes de sua integração
pudessem ser mais efetivas se comparadas às iniciativas individuais e isoladas
favorecendo, de maneira enriquecedora, os diversos públicos atingidos, e aumentando
2
as chances de mobilização comunitária para ações de proteção ambiental desenvolvidas
na região abrangida.
Para isso, o grupo de pesquisadoras utilizou-se de diversas reuniões para o
planejamento de integração de suas pesquisas, diagnósticos de estudos sócio-ambientais
realizados anteriormente na área, levantamento conjunto de áreas prioritárias para
intervenções educativas, além do planejamento de ações educativas integradas,
direcionadas a diferentes grupos, tais como: pequenos e médios proprietários rurais,
comunidade estudantil, comunidade científica, Organizações Não Governamentais, bem
como instituições públicas e privadas.
Assim, a indagação central que norteou a presente investigação refere-se à
incorporação de abordagens participativas na construção de estratégias educativas
contextualizadas e significativas para a comunidade envolvida num projeto de
pesquisa/intervenção em educação ambiental.
Foi proposto, portanto, um processo participativo de construção de uma trilha
interpretativa do meio, entendida como uma estratégia de educação ambiental e
direcionada a um público específico: estudantes da 6ª série do Ensino Fundamental.
Esta construção envolveu um diagnóstico prévio da situação ambiental local, bem como
a elaboração do roteiro interpretativo e a sua implementação com os estudantes. Tanto a
pesquisadora como os participantes realizaram uma avaliação do processo reflexivo e
colaborativo do projeto.
1.1. A biodiversidade
O problema atual da redução do número de espécies e aumento daquelas
ameaçadas de extinção no mundo todo é encarado, por muitos autores, como uma crise
de biodiversidade. Entende-se por biodiversidade a variabilidade de organismos vivos
de todas as origens, compreendendo a totalidade de genes, espécies, ecossistemas e
complexos ecológicos. Dentro de um enfoque sistêmico, pode-se dizer que aí se incluem
também as populações humanas e sua diversidade cultural (SMA, 1997).
Na história do Planeta Terra, muitas foram as extinções em massa, decorrentes de
causas naturais. A mais conhecida delas, no final da era Mesozóica, foi causada por um
choque com um grande meteorito, e exterminou grande parte das espécies animais.
Atualmente, alega-se que esteja acontecendo uma drástica redução de espécies animais
3
e vegetais como conseqüência da degradação ambiental e da destruição de habitats
resultantes da expansão das atividades humanas (WILSON, 1997).
No entanto, esta questão da perda da biodiversidade não é um consenso na
comunidade científica. Alguns pesquisadores acreditam que ela não pode ser
comprovada, já que não se pode quantificar as espécies existente em todo o mundo. Eles
ainda afirmam que mesmo que essa redução esteja ocorrendo, não se pode assegurar se
suas causas são decorrentes de atividades humanas ou naturais (GAYFORD, 2000).
Apesar dessa discordância, parece existir, entre os autores, um consenso de que a
biodiversidade remanescente deve ser, sim, conservada (WILSON, op. cit.; EHRLICH,
1997; MURPHY, 1997; ILTIS, 1997; PLOTKIN, 1997;). Porém, na maioria das vezes,
essa convicção de que é importante conservar, está sustentada no uso que os seres
humanos podem vir a fazer de espécies que ainda hoje são desconhecidas. Dessa forma,
a pesquisa sistemática é considerada essencial para se saber quais espécies estão
presentes (sua amplitude geográfica, suas propriedades biológicas, sua vulnerabilidade
às mudanças ambientais, entre outros aspectos), já que pouquíssimas delas são
conhecidas ou utilizadas. Porém, mais importante do que apenas conhecê-las, é motivar
o uso desse conhecimento.
Nota-se que esses autores apresentam uma visão bastante utilitarista do meio
ambiente, segundo a qual a biodiversidade deve ser conservada para servir como fonte
de riqueza econômica, resolvendo, assim, os problemas ambientais enfrentados na
atualidade. Plotkin (op.cit.) defende que há uma perspectiva para novos produtos
agrícolas e industriais, tais como plantas medicinais, nos trópicos. O autor ainda propõe
que a solução para a fome nos países pobres seja diversificar a cultura com produtos
ainda desconhecidos, retirados das florestas tropicais. O paradoxo consiste em como
preservar a biodiversidade nos trópicos se, ainda segundo o mesmo autor, a demanda
pela cozinha tropical continua a crescer nos Estados Unidos?
A discordância da comunidade científica em relação à questão da biodiversidade
também se manifesta nas questões econômicas, culturais e éticas que permeiam esse
tema. Vale ressaltar que a biodiversidade não deve ser encarada apenas em seus
aspectos naturais. Deve-se levar também em consideração a diversidade social e cultural
das populações humanas que, com o processo atual de globalização, também tendem a
ser homogeneizadas.
A proteção da biodiversidade remanescente precisa ser considerada como
prioridade no planejamento local, regional, nacional e internacional, devendo ser
4
codificada em lei e incorporada na ética e na religião para ser efetiva e duradoura,
porque cada cidadão deve desempenhar um papel fundamental nesse processo e não
apenas os especialistas (ILTIS, 1997).
Neste sentido, a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), assinada por 175
países (entre eles, o Brasil) em 05 de junho de 1992, durante a Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro,
aprovada em 03 de fevereiro de 1994 e promulgada em 16 de março de 1998, tem como
objetivos a serem atingidos pelas partes, a conservação e a utilização sustentável da
diversidade biológica, bem como a repartição justa e eqüitativa dos benefícios gerados a
partir da utilização dos recursos genéticos, através da transferência de tecnologia e
financiamento adequado. Cabe às partes contratantes determinar como implementar a
CDB através de estratégias, planos ou programas que integrem a conservação e a
utilização sustentável da diversidade biológica (MMA, 2000).
Um dos itens previstos na CDB com finalidade de conservar a biodiversidade
remanescente, “in situ”, é a criação de um sistema de áreas protegidas que, no Brasil,
recebe a denominação de Unidades de Conservação (UCs). Porém, pelo fato dessas
unidades estarem isoladas e muitas vezes localizadas em áreas remotas, são
insuficientes para enfrentar a crise atual da biodiversidade. Além disso, são escassas e
as mudanças climáticas podem dificultar sua manutenção (PETERS e DARLING, 1985
citado por EHRLICH, 1997). Assim, os esforços conservacionistas devem ser feitos
também em áreas fora das UCs (CAVALLINI, 2001), em pequenos fragmentos
remanescentes de vegetação nativa.
A importância da conservação da biodiversidade não deve ser considerada apenas
em florestas tropicais, mas também, em áreas de urbanização. Estas, historicamente,
foram as primeiras regiões com grande utilização de espécies selvagens para diversos
fins (alimento, uso de peles, controle de predadores), de derrubadas de árvores e
introdução de outras espécies, que alteram os ciclos ecológicos locais (caçam as
populações nativas, competem com elas e agem como vetores de doenças e parasitas
para as quais essas populações são susceptíveis). A destruição de brejos, a poluição do
ar e da água também são fontes indiretas de perda de biodiversidade em áreas de
urbanização (MURPHY, 1997).
5
1.2. A conservação de fragmentos florestais
A cobertura florestal, que originalmente ocupava a maior parte do território
brasileiro, vem historicamente cedendo espaço para atividades antrópicas, notavelmente
a agricultura, a pecuária e a urbanização. Neste cenário, especialmente nas regiões
sudeste e sul do país, grandes áreas cobertas no passado por florestas nativas vêm se
transformando em paisagens caracterizadas pela fragmentação florestal (SILVA E
MARTINS, 2001).
Esse processo não foi diferente com as matas ciliares. Estas envolvem todos os
tipos de vegetação arbórea vinculada à beira de rios, independentemente de sua área,
região de ocorrência ou composição florística, podendo abranger todo o território
brasileiro. A estrutura e a funcionalidade ecossistêmica das matas ciliares apresentam
similaridades entre as áreas, mas a composição florística pode apresentar variações
inumeráveis e sutis, mesmo em locais de grande proximidade espacial (AB’SABER,
2000).
A primeira legislação que visa a proteger as formações ciliares data de 1965.
Porém, segundo Rodrigues e Nave (2000), a inadequação e incoerência das políticas
públicas brasileiras, associadas ao descaso do poder público com as questões
ambientais, além da quase inexistência de fiscalização, têm resultado na eliminação e
conseqüente fragmentação das florestas ciliares ao longo do tempo.
As matas ciliares podem assumir diferentes funções de acordo com os interesses
dos diversos setores. Para o pecuarista, por exemplo, elas podem representar um
obstáculo ao livre acesso do gado à água; para a produção florestal podem representar
espaços bastante produtivos; em regiões de topografia acidentada, podem proporcionar
as únicas alternativas para o traçado de estradas; para o abastecimento de água ou
geração de energia, representam excelentes locais de armazenamento de água,
objetivando garantia de suprimento continuado. Do ponto de vista ecológico, essas áreas
têm sido consideradas corredores extremamente importantes para o movimento da fauna
ao longo da paisagem, assim como para a dispersão vegetal (LIMA E ZAKIA, 2000).
Apesar da sua inquestionável importância ambiental, as matas ciliares não foram
poupadas pelo processo de fragmentação florestal, cuja principal conseqüência é a perda
da diversidade animal e vegetal (RODRIGUES E NAVE, op.cit.; VIANNA, TABANEZ
e MARTINEZ, 1992).
6
Ao longo dos últimos anos, os conservacionistas têm voltado a atenção
prioritariamente para os grandes fragmentos, representados pelos parques e reservas
protegidas por lei ou para espécies animais ameaçadas de extinção. Muito pouca
atenção tem sido dada para a preservação e o manejo de pequenos fragmentos florestais,
geralmente localizados em propriedades particulares e normalmente pouco amparados
pelas políticas conservacionistas. Estes pequenos fragmentos, em muitos casos,
representam a maior parte dos remanescentes de florestas naturais, e conseqüentemente
os últimos depositários de biodiversidade (VIANNA, TABANEZ e MARTINEZ,
1992).
Embora essa intensa degradação, associada às questões legais e hídricas, tenha
incentivado algumas iniciativas de restauração das florestas ciliares nas últimas décadas,
estas geralmente têm como objetivo a proteção de reservatórios de abastecimento
público, de geração de energia, e de áreas mineradas. Raramente essa restauração está
fundamentada em questões ecológicas, como por exemplo, o restabelecimento de
corredores ecológicos, a proteção de populações e ou comunidades, entre outros.
Mesmo os projetos de restauração voltados para a melhoria da qualidade ambiental ou
paisagística de ambientes antrópicos são poucos, pontuais e isolados (RODRIGUES E
NAVE, 2000).
Neste contexto, torna-se inevitável a adoção de técnicas e medidas visando à
conservação e recuperação dos fragmentos. Estas dependem do estado de degradação,
do tipo e intensidade dos distúrbios e de uma série de características peculiares a cada
fragmento, como tamanho, forma, grau de isolamento, natureza do entorno, entre
outros. Com a finalidade de obtenção de subsídios para o desenvolvimento de
estratégias de conservação e restauração ecológica, é necessário que se faça um
diagnóstico do estado de degradação do fragmento, através de estudos florísticos,
fitossociológicos e inventários de fauna, comparando-os com fragmentos regionais em
melhor estado de conservação (SILVA E MARTINS, 2001).
Os mesmos autores ainda consideram que dentre algumas medidas gerais para
conservação e recuperação de fragmentos florestais degradados sejam inclusos: a
eliminação do fator de degradação; o enriquecimento destes com espécies tardias
localmente extintas; a troca artificial de propágulos entre fragmentos; o aumento no
tamanho destes com plantios de espécies nativas; o controle de lianas, gramíneas e
outras espécies invasoras; além da implantação de corredores ecológicos, ligando os
7
fragmentos e a conscientização da população do entorno para a importância da
conservação.
Dessa forma os autores defendem que as intervenções antrópicas em pequenos
fragmentos florestais são fundamentais para a conservação e restauração destes, sob
pena do processo de empobrecimento da biodiversidade local tornar-se irreversível,
levando à grande extinção de espécies vegetais e animais e, até mesmo, ao
desaparecimento dos próprios fragmentos.
Sendo assim, a implantação de programas de conservação nessas áreas tem sido
um dos maiores desafios de cientistas, gestores públicos, ambientalistas, entre outros; já
que eles devem visar a uma maximização da diversidade biológica e não apenas a
conservação daquela existente (MURPHY, 1997).
Em seu 13
o
artigo, a CDB (MMA, 2000) incentiva o desenvolvimento de
programas educacionais que visam a uma compreensão da importância da conservação
da biodiversidade e das medidas necessárias a esse fim e da utilização sustentável dos
recursos.
Athayde et. al. (2002) defendem que uma das estratégias mais interessantes para a
conservação ambiental é promover a formação de pessoas de comunidades para atuarem
de forma integrada em várias esferas, fornecendo subsídios para que a própria
comunidade possa realizar e sistematizar pesquisas sobre conhecimentos científicos e
tradicionais, atuando no resgate, valorização e divulgação destes.
A Educação Ambiental traduz-se, portanto, em um dos esforços de conservação
da biodiversidade, já que pode propiciar que uma comunidade reflita sobre os
problemas ambientais locais e busque soluções adaptadas ao seu contexto,
multiplicando e disseminando idéias e práticas conservacionistas.
1.3. A pesquisa em educação ambiental
A pesquisa em educação ambiental baseia-se em diversos paradigmas derivados
das correntes da educação. As diferentes abordagens na pesquisa educacional expressam
e são expressas por diferentes ideologias (ROBOTTOM e HART, 1993).
A chamada Educação Ambiental (EA) “sobre o meio ambiente” segue uma linha
positivista da teoria da educação. A premissa implícita nessa forma de educação é que
os problemas ambientais são causados pela falta de conhecimento e que a solução está
na difusão da informação. Essa premissa não pode ser considerada totalmente
8
verdadeira, já que os países mais contaminados são aqueles nos quais a ciência, a
tecnologia e também o sistema educativo estão mais desenvolvidos (MAYER, 1998).
Nessa abordagem, é enfatizada a transmissão de informação sobre os elementos dos
ecossistemas, suas inter-relações e relações destes com os sistemas sócio-econômicos e
culturais. Essa forma de EA costuma se referir a disciplinas como ciências biológicas,
geografia e manejo dos recursos naturais, em termos de conteúdo, conceitos ecológicos
e de desenvolvimento sustentável (ROBOTTOM e HART, 1993). Essa forma de
educação estabelece também uma relação hierárquica de poder, com o educador como
centro, o detentor do conhecimento; e os alunos como periferia, receptores do
conhecimento (SATO e SANTOS, 1998).
Mayer (op.cit.) cita duas razões pelas quais se acredita que só a informação não é
o suficiente para se promover a educação ambiental. A primeira delas é o fato de muitos
pesquisadores contestarem a existência de um conhecimento realmente objetivo que
represente fielmente o mundo real, sem juízo de valores e interesses. Deve-se garantir,
portanto, a pluralidade das informações, ou seja, conhecer diferentes pontos de vista
para, então, tomar as decisões oportunas. A segunda razão é que informação não muda
atitudes. Há necessidade, para isso, de se criar laços estreitos com o meio ambiente.
Dessas considerações nascem as propostas de “educação no meio ambiente”. Essa
abordagem educativa reconhece que as atitudes são guiadas muito mais por emoções e
valores,que por conhecimentos. Portanto, acredita-se que seja necessário propor
experiências que reconstruam a ligação entre o ser humano e o meio ambiente, através
de vínculos emocionais (MAYER, op.cit.).
A proposta dessa forma de educação ambiental é tentar envolver o ser humano
numa busca por significados e conhecimentos sobre o meio ambiente que o enriqueça
tanto como indivíduo quanto como parte de um grupo, refinando continuamente seus
valores ambientais. Nesse caso, o meio ambiente constitui um contexto para o
aprendizado através de atividades interpretativas, que proporcionam uma experiência
direta com o mesmo, desenvolvendo no indivíduo uma empatia com o meio ambiente
(na forma de valor e não de habilidade) através da compreensão e dos sentimentos
(ROBOTTOM e HART, op.cit.).
Baseada na teoria construtivista da educação, essa abordagem é desenhada através
da interpretação, utilizando-se de comparações e contrastes, sendo a compreensão
interpretativa fundamentada na interação (SATO e SANTOS, op.cit.).
9
O desafio da EA atualmente é englobar o todo: dos valores aos comportamentos,
das emoções ao conhecimento, aceitando relações circulares nas quais uns reforçam os
outros (MAYER, 1998).
O presente estudo está bastante relacionado a essas duas visões de EA, já que
procura levantar informações sobre o meio ambiente junto ao grupo e também
proporcionar aos participantes um contato direto com o meio natural. Contudo, procura
ir além, na medida em que se volta para uma terceira corrente: a “educação ambiental
para o meio ambiente”. Nesta, o meio ambiente não deve ser entendido apenas como o
natural, distante e preservado, e sim, o ambiente próximo e quotidiano, aquele no qual
pequenas iniciativas podem fazer muita diferença (MAYER, op.cit.).
Desenvolvida através da teoria crítica da educação, a principal meta dessa corrente
é o desenvolvimento de um compromisso de trabalho (individual e cooperativo) para
um meio ambiente melhor, aplicando os conhecimentos e habilidades adquiridas em
programas de atuação local, e engajando indivíduos e grupos em processos
colaborativos, críticos, de reflexão própria, em situações práticas (ROBOTTOM e
HART, 1993).
O enfoque triplo ou complexo da educação ambiental (MAYER, op.cit.) utilizado
neste trabalho buscou incorporar as três abordagens acima descritas na prática
educativa, por compreender que outras dimensões além da cognitiva, também
apresentam fundamental importância na formação do ser humano.
1.4. A trilha interpretativa como estratégia de educação ambiental
Com a vida moderna, nos grandes centros urbanos, o contato com o meio
ambiente natural é cada vez mais indireto e limitado a ocasiões especiais (TUAN,
1980). A trilha interpretativa constitui-se em um roteiro previamente estabelecido em
um sítio natural e/ou artificial, passando por pontos de interesse que podem estar
devidamente sinalizados por placas explicativas ou que sejam acompanhados de
explicação por parte de um intérprete (CEPA, 2001). Esta estratégia busca despertar nas
pessoas uma relação de intimidade com o meio, proporcionando novas sensações e
experiências através do contato direto com este. As trilhas interpretativas do meio
ambiente têm sido muito difundidas como instrumento de educação ambiental,
10
especialmente em áreas preservadas, tais como as unidades de conservação, que buscam
aliar ao lazer de seus visitantes, uma prática educativa.
Poucos estudos analisam a validade educacional de uma trilha. Um desses estudos
(BRINKER, 1997) considera a trilha ecológica não só como um trajeto a ser percorrido
em determinada área do ambiente, mas também, um efetivo instrumento de ensino de
ciências biológicas, na medida em que contribui para a compreensão dos fenômenos
biológicos e das suas inter-relações. Ela também pode promover atitudes significativas
para o desenvolvimento da visão sistêmica e integrada de ambiente. Considera-se ainda
(CEPA, 2001) que as trilhas interpretativas constituam uma estratégia utilizada para a
promoção de uma maior integração entre o ser humano e o meio natural,
proporcionando um melhor conhecimento do ambiente local, dos seus aspectos
históricos, geomorfológicos, culturais e naturais.
No entanto, percebe-se que, muitas vezes, o programa desenvolvido resume-se a
uma simples difusão de informações técnicas a respeito dos ecossistemas locais. Cabe
questionar, portanto, se a trilha interpretativa pode funcionar como um instrumento
efetivo de educação ambiental, difundindo conceitos relativos ao meio ambiente natural
e sócio-cultural local, criando oportunidade para reflexão e discussão de tópicos
relevantes a esse respeito, sensibilizando os visitantes e desenvolvendo a consciência
crítica destes. Questiona-se também como a trilha interpretativa do meio deve ser
elaborada para que cumpra tal finalidade.
As trilhas como meios de interpretação ambiental não somente visam a
transmissão de conhecimentos, como também propiciam atividades que revelam os
significados e as características do ambiente por meio do uso de elementos originais,
por experiência direta e por meios ilustrativos (TILDEN, 1967). Essa estratégia tem a
finalidade de aumentar a percepção de integração do ser humano com a natureza, de
modo que o visitante deixe de ser um elemento passivo, que apenas recebe informações,
para se transformar num “descobridor” do meio natural (TABANEZ et. al., 1997).
Assim, a pessoa tem a oportunidade de tirar suas próprias conclusões a respeito das
questões ambientais e de buscar respostas às suas inquietações pessoais, tornando-se,
protagonista do seu processo de aprendizagem. Deve-se atentar para o fato de que
somente a presença do visitante na trilha não é suficiente para que haja essa
sensibilização e reflexão. É necessário que sejam criadas condições para que o visitante
perceba os diferentes aspectos do meio ambiente local e os relacione com os demais
(BRINKER, op.cit.). Isso pode ser feito através da adequação da linguagem ao público-
11
alvo específico e do uso de outros sentidos, além da visão, de forma a perceber o
ambiente como um lugar carregado de significados.
Nesse âmbito, as trilhas ecológicas podem funcionar como excelentes
instrumentos de EA, pois oferecem contato direto com o ambiente natural, direcionado
ao aprendizado e sensibilização, além de propiciar oportunidades de reflexão sobre
valores e comportamentos (TABANEZ et al., 1997).
A incorporação dos princípios da percepção e da interpretação ambiental na
elaboração da trilha teve como finalidade transcender a simples difusão de informações
a respeito dos ecossistemas, e para isso acrescentou-se uma dimensão perceptiva e
afetiva ao processo de aprendizagem.
1.4.1. Percepção ambiental
Como já dito anteriormente, a questão ambiental atual é muito ampla e não pode
ser resumida apenas aos aspectos físico-biológicos do meio ambiente. Muitos
indicadores físicos, químicos e biológicos têm sido utilizados para avaliar a qualidade
ambiental. No entanto, um dos melhores e menos utilizados, o próprio ser humano, pode
perceber as diferentes características do ambiente através de sensações agradáveis ou
desagradáveis (CASTELLO, 2001).
A questão básica da percepção do meio ambiente é a tentativa contínua de
entender e explicar as complexas inter-relações entre o ser humano e a natureza. Busca-
se compreender como uma pessoa - seja individualmente, seja como parte de um grupo
cultural - percebe o seu entorno e quais decisões e valores estão implícitos ao serem
tomadas determinadas atitudes e proposições (OLIVEIRA, 2001).
O centro de interesse da percepção ambiental está na descoberta e na revelação do
próprio ser humano, das motivações e dos valores que ditam seus interesses e atitudes.
Sem essa auto-compreensão não se pode esperar por soluções duradouras para os
problemas ambientais que, em sua essência, são problemas humanos (TUAN, 1980). Ou
seja, os valores e interesses que o ser humano carrega desde a antiguidade e que
norteiam suas ações são elementos preponderantes da situação global e devem ser
inclusos nas pesquisas ambientais.
Os estudos de percepção ambiental são alguns dos resultados do processo de se
repensar a relação sujeito-objeto. O foco das pesquisas - que antigamente estava na
explicação e na compreensão do objeto de estudo - dá lugar, atualmente, a uma
12
abordagem humanista, que implica uma maior atenção aos fenômenos que ocorrem com
os sujeitos (inseridos em uma determinada cultura) do que com o objeto externo
(GONÇALVES, 1990).
Entende-se que a vivência dos seres humanos com seu ambiente é desenvolvida
através da percepção. As sensações que lhes são transmitidas através dos estímulos
sensoriais provenientes de seus sistemas de visão, tato, audição, paladar e olfato não
ficam restritas a uma percepção unicamente sensorial. A mente humana não se limita a
receber passivamente os dados sensoriais, mas os organiza e estrutura, dando-lhes
sentidos e significados, através de contribuições ativas do sujeito, como a motivação
(MOORE e GOOLEDGE, 1976, FISKE e TAYLOR, 1991 citado por MATAREZI,
2001), o humor, as necessidades, os conhecimentos prévios, os valores, os julgamentos
e as expectativas. Nesse sentido, diversos estudos defendem que a mente exerce parte
ativa na construção da realidade percebida e, conseqüentemente, na definição da
conduta (DEL RIO, 1996 citado por MATAREZI, op.cit.).
As percepções são extremamente pessoais e, além de diferirem com relação às
características individuais dos órgãos sensoriais - entre os sexos e entre idades distintas
- são influenciadas por experiências e vivências anteriores, aspirações, necessidades,
interesses, desejos e valores, normas, costumes e tradições, senso comum,
conhecimentos adquiridos e até mesmo antecedentes sócio-econômicos de cada
indivíduo (TUAN, 1980).
Dessa forma, os elementos ambientais podem assumir diferentes sentidos segundo
o “modo de olhar”, ou seja, o modo de atribuir significados de cada indivíduo. É
impossível separar o sujeito e o objeto numa paisagem, não apenas porque o objeto
espacial é constituído pelo sujeito, mas, também, porque o sujeito está envolvido pela
paisagem (OLIVEIRA, 2001). A paisagem, então, pode ser considerada intermediária
entre o mundo das coisas e o da subjetividade humana (BARBOSA, 1998; COLLOT,
1990, citado por CABRAL e BUSS, 2001).
Assim, a percepção da paisagem da pessoa que visita uma localidade,
freqüentemente é muito diferente daquela do nativo. No nativo, a abordagem se desloca
da paisagem como “campo de visibilidade” (caracterizada apenas pelas formas e
estrutura visível), para paisagem enquanto “campo de significação” individual e sócio-
cultural (enfocando os significados e valores construídos pelos sujeitos e grupos que a
vivenciam) (CABRAL e BUSS, op. cit.). Enquanto o visitante possui uma percepção
13
essencialmente estética do local, o nativo está imerso naquela realidade, apresentando
fortes laços afetivos com o lugar (TUAN, 1980).
Dessa forma, há possibilidade de se conhecer os valores mais profundos de uma
comunidade, aqueles valores subjetivos que devem ser preservados e difundidos, por
constituírem a essência da própria comunidade. Sensibilizar as pessoas no cenário dos
seus próprios valores é uma forma de fazer com que eles se tornem muito mais que
meros observadores passivos; eles se tornam participantes conscientes de seu papel na
sociedade e capazes de ponderar sobre as melhores decisões a serem tomadas
(CASTELLO, 2001).
Nesse sentido, o estudo da percepção ambiental como ferramenta na compreensão
das intrincadas relações entre o ser humano e o meio ambiente pode trazer contribuições
valiosíssimas para a educação ambiental crítica e transformadora, que visa à reflexão
sobre atitudes e valores vigentes.
1.4.2. Interpretação ambiental
A interpretação ambiental é um enfoque da comunicação que envolve a tradução
da linguagem técnica de uma ciência em idéias que possam ser facilmente
compreendidas pelo público em geral e de forma interessante (HAM, 1992). O grande
desafio do intérprete ambiental é adaptar seus métodos a um público previamente
definido. Ainda segundo o mesmo autor, para alcançar o sucesso em atenção e interesse,
uma interpretação deve ser amena, leve, além de pertinente, ou seja, deve fazer sentido,
ser organizada e conter uma mensagem.
Os seis princípios descritos a seguir resumem a visão de TILDEN (1977) sobre a
interpretação:
1- Para ser bem sucedida, a interpretação deve relacionar aquilo que está sendo
mostrado ou descrito com aspectos da personalidade, das experiências ou até
mesmo dos ideais das pessoas. Essa aproximação do tema a ser interpretado com a
realidade pessoal do visitante tem a finalidade de tornar a visita mais interessante e
agradável e, segundo Ham (op.cit.), deve ser feita através de exemplos, analogias e
comparações.
2- Informação e interpretação não são sinônimos. Embora a informação seja a
base da interpretação, esta vai muito além da mera difusão de informação. Através
14
da interpretação ambiental, as pessoas devem ser estimuladas a pensar e tirar suas
próprias conclusões sobre os assuntos tratados.
3- A interpretação é uma arte que trata os conhecimentos científicos, históricos,
arquitetônicos, entre outros, com imaginação, apelo às emoções e ao bem estar
físico. Isso se deve ao fato de que, na maioria das vezes, as pessoas estão
buscando entretenimento e não instrução.
Assim, o trabalho e os métodos do intérprete são diferentes daqueles
utilizados pelo professor em uma sala de aula. As definições extensas e o uso de
termos técnicos retirados de livros didáticos poderão fazer com que as pessoas
fiquem cansadas e desmotivadas, não se interessando, portanto, pelo tema exposto
(HAM, 1992).
4- O objetivo principal da interpretação é a provocação, ou seja, despertar no
ouvinte o desejo de ampliar seus horizontes de interesses e conhecimentos. Dessa
forma, o visitante poderá construir as suas próprias verdades.
A motivação desse público é a satisfação própria; por isso as pessoas
prestarão atenção ao tema abordado mais facilmente se estiverem interessadas e
não precisarem de muito esforço para entender o que se expõe. Assim sendo, a
interpretação deve possuir um tema bem definido, o que facilita a organização das
idéias em uma seqüência lógica (HAM, op.cit.).
5- O objetivo da interpretação deve ser apresentar um todo ao invés da parte. É
preferível que o visitante saia com uma ou mais idéias inteiras do que com partes
de informação que o deixe com dúvidas a respeito do tema exposto. Através da
interpretação, busca-se proporcionar às pessoas a vivência de experiências
positivas e enriquecedoras com o local visitado.
6- A interpretação direcionada às crianças não deve ser uma adaptação da
apresentação feita para adultos, mas deve seguir uma abordagem
fundamentalmente diferente: a grande curiosidade que possuem deve ser levada
em consideração na elaboração do roteiro interpretativo. O uso dos sentidos como
tato, audição e olfato, além da visão, tem sido recomendado para a observação e
exame do ambiente pelas crianças.
15
Markwell (1996) questiona muitas práticas atuais de interpretação ambiental por
ainda se basearem nos princípios de modelos pedagógicos tradicionais técnico-
científicos, ou seja, aqueles que tendem a enfatizar os aspectos cognitivos da
aprendizagem em prejuízo dos afetivos. Essa posição é apoiada na idéia de que o
domínio dos conhecimentos e técnicas fornece aos indivíduos fundamentos capazes de
sustentar seu compromisso com a conservação. O autor afirma ainda que se a finalidade
do programa interpretativo é o desenvolvimento de um senso ético e responsável de
conservação ambiental por parte dos visitantes, devem ser enfatizados ambos os
aspectos: cognitivo e afetivo da aprendizagem. Isso significa que, para que a
interpretação seja efetiva, ela precisa provocar uma resposta emocional no visitante.
Outra crítica feita aos modelos de interpretação ambiental conhecidos sustenta-se
no fato deles terem sido concebidos com base na realidade vivida por países
desenvolvidos, devendo assim, ser adaptados aos diferentes contextos dos países em
desenvolvimento (HAM, SUTHERLAND e MEGANCK, 1993). No Brasil, por
exemplo, onde a maioria das pessoas não tem o costume, o interesse e/ou as condições
financeiras para visitar Unidades de Conservação em seus momentos de lazer, os
programas interpretativos devem ser desenvolvidos em locais mais próximos e de fácil
acesso às comunidades interessadas. Além dos moradores locais, os programas
interpretativos também podem ser direcionados a grupos de formadores de opinião e/ou
pessoas com influência em âmbito local e/ou regional (pessoas inseridas no poder
público, rede de ensino, entre outros). Os temas a serem desenvolvidos também devem
possuir certa relevância no contexto local.
Ainda segundo o mesmo autor, esses programas interpretativos podem também
assumir funções complementares a programas de ensino formal, de educação de adultos,
de grupos civis organizados, entre outros.
1.5. Justificativa
A conservação da biodiversidade pode ser considerada um tema de grande
relevância em âmbitos nacional, estadual e até mesmo municipal, já que tem sido
encontrada como tema prioritário em documentos oficiais dessas três esferas.
Da mesma forma, a educação e a conscientização pública para a compreensão da
importância da conservação da biodiversidade vêm sendo inclusas como um aspecto
inerente a essa questão.
16
Portanto, as pesquisas com o tema biodiversidade são importantes por oferecerem
subsídios para a implantação de ações educativas centradas neste tema gerador,
especialmente na área escolhida. O município de São José do Rio Pardo carece de
iniciativas direcionadas para a conservação e educação ambiental, embora a população
local tenha demonstrado interesse pelo assunto. Portanto, trata-se uma área propícia
para estudos sobre a referida temática.
17
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivos Gerais
§ Planejar um processo participativo de construção de uma trilha interpretativa
como uma estratégia de educação ambiental;
§ Avaliar a utilização de metodologias participativas no processo de engajamento
de participantes locais na elaboração, implementação, avaliação de uso da trilha
interpretativa e apresentação de propostas para seu uso futuro.
2.2. Objetivos Específicos
§ Levantar os dados disponíveis de biodiversidade (sejam de diversidade genética,
específica, de ecossistemas ou de paisagens e de diversidade sócio-cultural)
através de pesquisa em fontes secundárias e do levantamento da percepção dos
atores locais a respeito desse tema;
§ Planejar a condução do processo participativo de construção e implementação
de uma trilha em uma área definida no município de São José do Rio Pardo
SP;
§ Estabelecer um conjunto de indicadores para a avaliação permanente de todas as
etapas da criação da trilha interpretativa;
§ Construir um instrumento de avaliação de uso da trilha interpretativa por
estudantes de ensino fundamental.
19
3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
3.1. Aspectos geográficos, físicos e biológicos
A pesquisa foi realizada no município de São José do Rio Pardo, localizado na
porção alta da bacia do rio Pardo, no estado de São Paulo (Figura 1), com uma
superfície de 407 km
2
e uma população de cerca de 50.000 habitantes.
Figura 1 Localização do município de São José do Rio Pardo, no Estado de São Paulo.
A bacia hidrográfica do rio Pardo situa-se na região sudeste brasileira, abrangendo
uma pequena área no planalto sul de Minas (o rio Pardo nasce na Serra do Cervo,
município de Itapiúna, MG) e da porção nordeste do estado de São Paulo. O rio Pardo é
o maior afluente do rio Grande pela margem esquerda e, apesar de nascer em Minas
Gerais, 84% do seu curso desenvolve-se no estado de São Paulo (IPT, 2001).
20
Dos 23 municípios pertencentes à bacia do Pardo, 12 estão contidos integramente
na área da bacia e 11 possuem parte de suas áreas em unidades de gerenciamento de
recursos hídricos (UGRHIs) adjacentes. Por outro lado, 7 municípios pertencentes a
outras UGHRIs têm parte de suas águas na UGRHI 4 (bacia hidrográfica do rio Pardo).
Nesta região as águas drenam o Planalto Ocidental Paulista, onde predomina o
sistema de relevo de morros com serras restritas, as serras alongadas e o sistema de
relevo mar de morros, todos associados ao embasamento cristalino.
A vegetação nativa encontrada na região de São José do Rio Pardo é a floresta
tropical subcaducifólia. Atualmente, porém, devido à ação antrópica, predominam as
capoeiras (Figura 2), que representam um estágio arbustivo alto ou florestal baixo na
sucessão secundária para floresta, depois do corte, do fogo ou de outros processos
predatórios. Do ponto de vista fitofisionômico, caracterizam-se como vegetação
secundária, que sucede à derrubada das florestas, constituídas principalmente por
indivíduos lenhosos e por espécies espontâneas, que invadem as áreas devastadas, e que
exibem porte variável, desde arbustivos até arbóreos, com árvores finas e
compactamente dispostas (KRONKA et. al.,1998 citado por IPT, 2001).
Figura 2 - Distribuição da cobertura vegetal no município de São José do Rio Pardo.
Fonte: IPT (2001)
21
Em termos de categorias de uso do solo, na região de São José do Rio Pardo
predominam as pastagens e atividades agrícolas, destacando-se os cultivos de
braquiária, milho, café e cebola (PINO et. al.,1997 citado por IPT, 2001).
Quadro 1 Evolução da distribuição percentual das classes de uso do solo, em São José do Rio Pardo.
Vegetação natural Reflorestamento Pastagens Agrícola Urbana
1980
1985 1997 1980 1985 1997 1980 1985 1997 1980 1985
1997 1997
9,0 8,4 2,67 1,0 1,0 0,0 54 51,6 61,88
36 38 33,16 2,30
Fonte: SMA 1995 citado por IPT, 2001.
A partir do Quadro 1, verifica-se que, nas últimas décadas, a principal alteração
ocorrida no município, com relação ao uso do solo, foi um aumento significativo nas
áreas de pastagens em função da diminuição das áreas de vegetação natural e do
declínio das áreas de atividades agrícolas.
3.2. Histórico de ocupação do município
1
A ocupação da região se deu especialmente a partir da decadência da mineração
no Estado de Minas Gerais. Pecuaristas vindos da região da Mantiqueira chegaram à
região em busca de novas oportunidades nas terras férteis do planalto paulista. Serviu
também de pouso aos tropeiros e bandeirantes que se deslocavam em direção às minas
de ouro de Goiás. Um dos primeiros moradores de São José do Rio Pardo chegou em
1866, vindo de São João Del Rei, Minas Gerais.
O crescimento da vila tomou impulso com a chegada dos imigrantes (italianos,
portugueses, japoneses, austríacos, etc.) que trabalharam tanto nos cafezais como na
instalação do comércio, dos bancos e de pequenas fábricas, além de influenciarem na
vida social e cultural.
O café, vindo do Rio de Janeiro no século XIX, chegou ao Estado de São Paulo
através do Vale do Paraíba, expandindo-se pelo interior do Estado, onde se intensificou
na segunda metade do século XIX. Seu cultivo chegou à região antes dos meios de
transporte, cuja produção se destaca a partir de 1886, atingindo seu apogeu por volta de
1920, após a chegada dos imigrantes. Nesse processo de ocupação, a atividade cafeeira
exerceu grande influência no crescimento demográfico e econômico nas regiões por
1
Fonte: Del Guerra (1999).
22
onde passou no território paulista. Além disso, provocou alterações ambientais - como a
degradação do solo e os processos erosivos instalados após o abandono das áreas - e,
conseqüentemente, impactos nos recursos hídricos.
Destaca-se, também, a instalação das ferrovias como fator de influência ao
desenvolvimento da região, tanto do ponto de vista econômico quanto urbano. A estrada
de ferro instalou-se a serviço dos fazendeiros, acompanhando o progresso das zonas
cafeeiras.
Na Bacia do Pardo, a decadência do café não ocasionou o abandono das terras,
mas sua divisão em pequenas e médias propriedades e a introdução de novas culturas,
como a citricultura, o algodão, a cana de açúcar, a pecuária e, posteriormente, a
instalação da indústria.
A história de São José do Rio Pardo está bastante ligada à história do Brasil,
porque foi o primeiro lugar do país a romper os laços com a monarquia antes da
proclamação da república. Os republicanos locais tomaram a Câmara Municipal,
prenderam seu presidente e assim foi proclamada a República na Vila de São José do
Rio Pardo!
Uma característica importante de São José do Rio Pardo é a produção cultural
única, ao redor do escritor Euclides da Cunha, que viveu na cidade durante a
reconstrução da ponte que leva seu nome e enquanto escrevia sua obra mais conhecida,
“Os Sertões” (1902).
3.3. A temática ambiental na imprensa escrita de São José do Rio Pardo
O Quadro 2 resume os resultados da análise da temática ambiental veiculadas no
principal jornal local de São José do Rio Pardo (Gazeta do Rio Pardo), realizada por
Ferreira (2001).
Verifica-se que na década de 1950, a relação do ser humano com o meio ambiente
era abordada de forma antropocêntrica e utilitarista. A preservação dos ecossistemas era
vista como uma forma de garantir sua utilização como fonte de matériaprima, ou de
lazer e contemplação.
Nas décadas de 1960 e 1970, houve uma grande restrição ao tratamento da
temática ambiental no jornal. Esta voltou a ser veiculada nos anos 1980, tendo seu
ápice, na década de 1990.
23
Foram encontrados artigos relacionados a mortes por afogamento ou suicídio no
rio Pardo, nas décadas de 1960, 1970 e 1980. O rio muitas vezes foi responsabilizado
por tais mortes.
Quadro 2: Temática ambiental veiculada no jornal “A Gazeta do Rio Pardo” nas décadas de 1950 a 1990.
Temas \
Décadas
1950 1960-1990
Solo Desgaste e erosão. Apelo ao respeito à
legislação para que não perdesse a
fertilidade.
Flora Presença de matas ciliares ao longo do rio
Pardo.
Destruição de áreas verdes.
Importância da vegetação com ênfase na sua
utilidade pelos seres humanos.
Campanhas de arborização realizadas pela
prefeitura.
Fauna Caça comum e abusiva, conservação para
perpetuação do esporte.
Água Reforma e ampliação do serviço de
abastecimento.
Necessidade de atuação da população junto
com o poder público para enfrentar a
escassez.
Clima Desequilíbrios climáticos com conseqüências
para as práticas agrícolas.
Desequilíbrios climáticos com conseqüências
para as práticas agrícolas. Alguns discutiam
as causas das enchentes.
Energia Necessidade de aproveitamento de diversas
fontes de energia, tais como hidrelétrica e
solar.
Construção de hidrelétricas em São José do
Rio Pardo não solucionou os problemas
relacionados à crise energética. Anos 1990 -
possibilidade de construção de novas
hidrelétricas, dessa vez, com a discussão dos
seus impactos negativos.
Na década de 1980, começa a se perceber uma admiração do povo riopardense
pelo rio Pardo, não só pela sua utilização, mas também pela sua importância, não mais
vinculada apenas à necessidade de servir aos seres humanos. Também a partir dessa
época, percebe-se um menor contato da população com o rio devido à poluição e à
alteração da ictiofauna.
24
3.4. Percepção dos moradores de São José a respeito do rio Pardo
Um diagnóstico da percepção de alunos de 8
a
série com relação ao rio Pardo,
realizado anteriormente (FERREIRA e OLIVEIRA, 2001), mostra que há uma enorme
deficiência de informação quanto aos aspectos ecológicos, físicos, geográficos, área de
influência e importância histórica do rio Pardo. Observa-se que eles têm uma imagem
negativa do rio Pardo, fato que está estreitamente relacionado aos problemas
enfrentados pela população, que não acredita que serão resolvidos, e/ou não sabe como
fazê-lo.
Aliada a essa falta de informações, Ferreira (2001) detectou ainda, através de
entrevistas com antigos moradores do entorno do rio Pardo, uma percepção de perda da
biodiversidade local ao longo das últimas cinco décadas.
Dessa forma, percebe-se a necessidade de se desenvolver uma estratégia educativa
que conscientize e sensibilize a população, no sentido de refletir sobre a importância da
bacia hidrográfica do rio Pardo na conservação da biodiversidade, na história, na
economia e na cultura local.
25
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A abordagem qualitativa escolhida para este trabalho é a que envolve a obtenção
de dados descritivos, através do contato direto do pesquisador com a situação estudada,
enfatizando mais o processo do que o produto, e se preocupando em retratar a
perspectiva dos participantes (BOGDAN E BIKLEN, 1982 citado por LUDKE E
ANDRÉ, 1986). A finalidade real da pesquisa qualitativa não é quantificar opiniões, e
sim explorar a variedade delas num grupo (GASKELL, 2003).
Ao longo da história da humanidade, os grupos que detinham o poder e o saber
definiam o que deveria ser pesquisado, quando deveria ser pesquisado e para quem
serviriam essas pesquisas, de forma que os grupos pesquisados comportavam-se como
meros objetos da pesquisa feita “sobre” eles e não “com” eles (OLIVEIRA e
OLIVEIRA, 1981). Dessa forma, os resultados dessas pesquisas, muitas vezes sem
aplicação prática, eram inacessíveis às pessoas em geral.
Felizmente, nos últimos anos, os conceitos de neutralidade, objetividade e rigor
científico começaram a ser questionados e entendidos como parte de uma tradição
positivista, não mais tida como única possibilidade para se fazer ciência. Começam a ser
realizados, então, estudos da realidade social com objetivos mais úteis às comunidades
estudadas. O pesquisador passa a assumir uma dupla postura, tanto de observador
crítico, como de participante ativo, desenvolvendo relações horizontais e antiautoritárias
com os participantes da pesquisa (OLIVEIRA E OLIVEIRA, op.cit.).
Gajardo (1986) acredita que na América Latina a pesquisa participante não tenha
uma identidade única, assumindo diferentes alcances e significados derivados das
diversas tradições de pensamento e práticas atribuídas a esse tipo de atividade. A mesma
autora identifica ainda três enfoques que consideram a pesquisa como um processo
aberto à participação de setores populares na criação e no desenvolvimento de
programas de ação social e educacional: a pesquisa ativa, a pesquisa na ação e a
pesquisa participante. Embora em todas elas exista um componente educacional, elas
26
diferem quanto aos grupos de implementação bem como ao tipo de participação que se
espera desses grupos. A pesquisa participante é a única que propõe a participação dos
sujeitos ao longo do processo, ou seja, o tema pode ser proposto tanto pelo grupo como
pelos pesquisadores.
A Educação Ambiental participativa envolve o grupo na identificação de tópicos
de relevância e interesse, reuniões colaborativas, análise dos dados de acordo com o
contexto, e divulgação dos resultados. A geração de conhecimentos é sempre mediada
pela reflexão crítica e a questão metodológica que se coloca é: como assegurar que o
foco das questões de pesquisa seja do interesse dos participantes (ROBOTTOM e
SAUVÉ, 2003).
Dessa forma, no presente trabalho, buscou-se envolver os participantes locais no
maior número possível de fases do processo: no levantamento inicial da biodiversidade,
na elaboração da trilha, na sua implementação, bem como na avaliação do processo e
nas propostas para a sua continuidade.
Entendida por muitos autores como um tipo de pesquisa participativa orientada
em função da resolução de problemas coletivos ou de objetivos de transformação, a
pesquisa-ação supõe uma forma de ação planejada (que mereça investigação para ser
elaborada e conduzida), de caráter social, educacional, técnico ou outro (THIOLLENT,
2000).
A questão metodológica da participação do grupo local, neste trabalho, está em
pensar e construir “com eles” e “para eles” uma ação educativa, que, no caso, constitui-
se na elaboração, implantação e avaliação de uma trilha interpretativa do meio que
funcione como um instrumento de Educação Ambiental. A primeira etapa consiste na
identificação das motivações dos participantes em se envolver no trabalho, das suas
preocupações com relação ao meio ambiente local e das potencialidades do município
em termos de biodiversidade.
Thiollent (op.cit.) acredita que a pesquisa-ação deva enfatizar um de três aspectos:
a resolução de problemas, a tomada de consciência ou a produção de conhecimento.
Note-se que a produção de conhecimento é o objetivo de toda pesquisa científica, e
especificamente desta, caracteriza-se como objetivo teórico. Já o objetivo prático deste
trabalho é tornar mais evidente aos olhos dos interessados a natureza e a complexidade
das questões ambientais consideradas, especialmente no que se refere ao tema
biodiversidade.
27
Definida como um método (ou uma estratégia de pesquisa) a pesquisa-ação lança
mão de diversos métodos ou técnicas em cada fase do processo de investigação (coleta e
interpretação dos dados, organização de ações, registro dos dados, exposição dos
resultados) para lidar com a dimensão coletiva e interativa do grupo (THIOLLENT,
2000).
Os métodos e as técnicas utilizados devem possibilitar a participação dos grupos
envolvidos na descoberta e transformação da sua própria realidade. Assim, o
levantamento de dados e a organização da informação contemplam o uso de técnicas e
instrumentos próprios das ciências sociais, tais como questionários, observação
participante, aplicação de pautas de entrevistas estruturadas ou semi-estruturadas, guias
e diários de campo, e as técnicas mais difundidas são aquelas que permitem registrar as
dimensões qualitativas dos processos sociais e educacionais (GAJARDO, 1986).
O presente trabalho divide-se em duas etapas. A primeira consiste em um
levantamento da diversidade biológica e sócio-cultural local, feito em fontes
secundárias, e em relação à percepção do grupo sobre o tema. A segunda consiste na
intervenção educativa propriamente dita: a elaboração, implementação e avaliação
participativa da trilha interpretativa.
4.1. Diagnóstico da situação ambiental local
O objetivo dessa primeira etapa foi identificar temas ambientais (problemas e
potencialidades) que se mostraram mais relevantes no contexto local, buscando
compreender as relações entre eles. Num segundo momento, buscou-se aprofundar a
discussão em torno do tema “biodiversidade”, considerado um tema relevante, tanto
pela pesquisadora quanto pelos integrantes do grupo envolvido no trabalho. Esse
diagnóstico teve como finalidade subsidiar a intervenção educativa e foi realizado por
meio de análise documental e de um diagnóstico participativo.
Análise Documental
Essa etapa consistiu em um levantamento de dados secundários locais. Poucos
relatórios e documentos resultantes de pesquisas realizadas no local foram encontrados.
Algumas das fontes utilizadas neste trabalho foram: Relatório Zero do Comitê de Bacia
Hidrográfica do Pardo, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), bem como uma dissertação
28
(FERREIRA, 2001) e uma monografia de conclusão de curso (BOZZINI, 1996)
desenvolvidas no local. Alguns desses dados estão localizados no capítulo referente à
caracterização da área de estudo, e outros embasam as discussões feitas nos capítulos
referentes aos resultados da presente pesquisa.
Diagnóstico Participativo
O diagnóstico participativo teve como finalidade identificar os temas ambientais
mais relevantes segundo a percepção dos participantes locais, bem como aprofundar a
discussão em torno do tema biodiversidade. Para tanto, foram utilizadas duas técnicas: o
diagnóstico rural participativo (DRP) e os grupos focais, respectivamente.
4.1.1. Diagnóstico participativo das potencialidades e dos problemas
ambientais locais x biodiversidade
Através desse diagnóstico buscou-se compreender a percepção que a comunidade
possui dos temas ambientais mais relevantes no contexto local, bem como das relações
entre eles. A técnica utilizada para tanto foi o Diagnóstico Rural Participativo (DRP).
Muitos dos problemas e das potencialidades levantadas pelos participantes do processo
foram inclusos no roteiro das atividades da trilha, sendo, portanto, abordados em fases
posteriores do trabalho.
Nota-se que muitos dos projetos de educação ambiental desenvolvidos
atualmente, se não a maioria, lidam apenas com a dimensão de problemas do meio
ambiente. No entanto, a educação ambiental é mais ampla e complexa do que uma
simples ferramenta para a resolução de problemas ambientais e mudança de
comportamento. Neste trabalho, também foram incorporadas ao processo as
potencialidades ambientais como forma de acrescentar outras dimensões, tais como a
estética, a apreciação, o respeito e o envolvimento com relação à questão ambiental
(SAUVÉ, 2003).
Diagnóstico Rural Participativo (DRP)
Os métodos de diagnósticos rurais participativos começaram a se desenvolver na
década de 1970, em torno de uma abordagem conhecida como Diagnóstico Rápido de
Sistemas Rurais (DRSR), que teve suas origens nas Ciências Agrárias, estimulada por
29
uma necessidade de melhorar a compreensão a respeito da realidade vivida pela
população rural, a fim de planejar melhor suas intervenções na área e a formulação de
projetos de desenvolvimento (CONWAY, 1993 citado por FARIA, 2000).
Dessa forma, o DRP recebeu influências de outros métodos utilizados em Ciências
Agrárias, tais como o FSR/E (do inglês, Pesquisa e Extensão em Sistemas Agrícolas),
que incorporou a idéia de incluir a visão do produtor na pesquisa agrícola; a AAE
(Análise de Agroecossistemas), que contribuiu com os diagramas, técnicas e
ferramentas (FARIA, op.cit.), tais como o mapa mental; o diagrama de Venn, o
diagrama de fluxos, a matriz, o calendário sazonal, entre outros; o DRR (Diagnóstico
Rápido Rural), que lança mão de uma gama de ferramentas para avaliar uma situação,
um tópico ou um problema. Através do DRR, a população local participa da geração dos
dados e das discussões acerca dos resultados, porém não é inclusa no processo de
análise de informações (CORWALL et. al., 1993 citado por FARIA, op.cit.).
O DRP traz uma ênfase na participação da população na análise das informações e
planejamento das ações, iniciando um processo de fortalecimento da capacidade de
movimento e articulação da população, de forma que esta possa modificar suas
condições de vida, permitindo-se desenvolver sua própria interpretação sobre a
realidade, seguida de um planejamento e de uma ação coletiva (CHAMBERS, 1994).
O DRP também é considerado por muitos autores um método em construção
(CHAMBERS, 1995; CORWALL et. al., 1993; MEYER, 1997 citado por FARIA,
op.cit.) e, por esse motivo, ainda recebe influências de outras correntes, tais como da
antropologia aplicada e da pesquisa-ão participativa.
Segundo Doyle e Krasny (2003), citando Chambers (1999) e Webbe e Ison
(1994), o DRP pode ser considerado um tipo de pesquisa-ação participativa utilizado
para engajar grupos economicamente ou socialmente marginalizados na identificação de
problemas locais, com a finalidade de promover uma ação.
Muitos pesquisadores têm adaptado os métodos do DRP para uso em comunidades
urbanas de países em desenvolvimento. Em 2000, a Universidade Cornell e a
Cooperativa Cornell de Extensão de Educadores de Nova York iniciaram o programa
“Garden Mosaics”, no qual os educadores da comunidade adaptariam as ferramentas de
pesquisa e as abordagens do DRP para uso em um programa de Educação Ambiental
com comunidades urbanas. Os resultados desse estudo indicam o potencial de uso do
DRP nesses programas, pois as atividades utilizadas envolveram e promoveram
interações positivas entre os públicos pesquisados.
30
No presente trabalho, foi feita uma adaptação das técnicas de diagrama de Venn e
diagrama de Fluxos (FERREIRA NETO, 2004), de forma que pudéssemos, além de
conhecer os principais problemas e potencialidades do município, identificar suas
magnitudes e as relações entre eles (causas e conseqüências), bem como a quem
competiria a solução destes problemas
O diagrama de Venn consiste em identificar e listar os itens a serem analisados,
que neste caso são os problemas e as potencialidades, por ordem de importância,
representando-os por meio de círculos de tamanhos variados. Assim, o problema
considerado mais grave e a potencialidade mais relevante foram representados pelos
círculos de maior tamanho. Da mesma forma, o problema menos grave e a
potencialidade menos relevante foram representados pelos círculos menores. Problemas
e potencialidades de importância intermediária entre esses dois extremos foram
representados por círculos também de tamanhos intermediários. O diagrama de Fluxos
consiste no estabelecimento de relações de causa e conseqüência entre os itens
analisados, por meio da colocação de setas entre eles.
A Figura 3 apresenta um exemplo da adaptação das duas técnicas descritas. As
situações levantadas pelos participantes são representadas por círculos cujos tamanhos
aparecem em ordem decrescente de relevância. As setas representam as relações de
causa e efeito entre eles.
FIGURA 3 Exemplo do diagrama construído a partir da adaptação das
técnicas de diagrama de Venn e diagrama de Fluxos.
31
Os materiais utilizados para a confecção dos diagramas consistiram em cartolinas
recortadas em forma de círculos de diferentes tamanhos e setas, bem como canetas
coloridas. Esse tipo de material facilita a aplicação da técnica, já que permite a
mobilidade necessária para o grupo testar várias combinações, tanto de importância
quanto de inter-relações entre os diversos elementos, antes de chegar a um consenso
sobre o diagrama final.
Os dados geralmente são registrados por um ou dois relatores, que fazem
anotações a respeito dos principais pontos discutidos durante a atividade para posterior
análise. Neste trabalho, as discussões foram registradas em fita cassete e VHS, e
posteriormente transcritas e analisadas.
Após o levantamento dos principais problemas e potencialidades ambientais
locais, foi utilizada a técnica de grupos focais para aprofundar as discussões em um dos
temas considerados relevantes: a biodiversidade.
Grupos Focais
A técnica de grupos focais, também entendida como uma entrevista coletiva,
consiste em uma entrevista semi-estruturada com um grupo de respondentes, buscando a
compreensão das visões de mundo dos entrevistados através da interação, da troca de
idéias e de significados, em que várias percepções são exploradas e desenvolvidas
(GASKELL, 2003). É uma técnica considerada ideal para se explorar experiências,
opiniões, desejos, além de permitir que os participantes gerem suas próprias questões,
conceitos e prioridades. Eles devem ser encorajados a explorar essas questões,
identificar problemas comuns e sugerir potenciais soluções através de experiências
comparadas e compartilhadas (KITINZER e BARBOUR, 1998). Interação é a palavra-
chave de tal técnica; parte-se do pressuposto que as pessoas influenciam umas às outras
com seus comentários, e suas opiniões pessoais podem mudar ao longo do processo
(KRUEGER, 1994).
Arranjados em torno de uma atividade coletiva como assistir a uma fita de vídeo
ou outro recurso áudio-visual, examinar documentos escritos ou apenas discutir alguns
tópicos previamente selecionados, os grupos focais são grupos de discussão
tradicionalmente utilizados para pesquisas de marketing, bem como na antropologia
social, cultural e estudos ligados à saúde. No entanto, esta técnica tem sido adotada e
desenvolvida em várias outras ciências sociais (KITINZER e BARBOUR, op.cit.), de
32
modo a permitir que se aperfeiçoe o planejamento de novos programas e se avalie
aqueles já existentes (KRUEGER, 1994). As vantagens e limitações do uso dos grupos
focais são descritas no Quadro 3.
Muitas sugestões de como planejar, conduzir e até mesmo analisar os dados
provenientes desses grupos de discussão estão disponíveis na literatura, porém é
importante que sejam feitas as adaptações necessárias para a implementação em
diferentes áreas, já que o método se apresenta bastante flexível e os procedimentos, tais
como seleção dos componentes e número de reuniões, dependem muito dos objetivos da
pesquisa (KITINZER e BARBOUR, 1998). Um grupo deve ser pequeno o suficiente
para que todos possam manifestar suas idéias, e grande o bastante para que haja uma
certa diversidade delas, sendo 12 participantes o número máximo ideal para atender tais
premissas (KRUEGER, op.cit.).
Quadro 3: Vantagens e desvantagens da técnica de grupos focais
Vantagens Limitações
captação das dinâmicas de interação das
pessoas no grupo;
flexibilidade;
grande validade;
custo relativamente baixo;
resultados potencialmente rápidos;
potencial de aumentar a qualidade de um
estudo qualitativo.
menor controle por parte do pesquisador
do que nas entrevistas individuais;
dificuldade de análise dos dados;
requer habilidades especiais dos
moderadores;
heterogeneidade dos grupos e dificuldade
em reunir as pessoas.
Fonte: KRUEGER (1994)
É importante que o entrevistador esteja bem preparado e para isso é fundamental a
elaboração de um roteiro que funcione como um referencial flexível para a entrevista. A
forma de registro desses dados é a gravação em fitas cassete para posterior transcrição e
análise (GASKELL, 2003).
4.2. A construção coletiva da trilha interpretativa do meio
A etapa de construção da trilha constitui-se na intervenção educativa propriamente
dita. Seus objetivos foram:
33
§ Implantar uma trilha interpretativa do meio ambiente, que propiciasse a reflexão e a
discussão de conceitos e valores sobre o meio ambiente natural e sócio-cultural
relativos à importância da bacia hidrográfica do rio Pardo na biodiversidade local e
regional;
§ Criar oportunidades de sensibilizar os visitantes e participantes a respeito da
complexidade das questões ambientais locais;
§ Construir coletivamente alternativas de continuidade do projeto, através do
estabelecimento de parcerias com ONGs, escolas, prefeitura municipal, além de
proporcionar a formação de monitores ambientais locais.
Durante o processo de construção da trilha interpretativa, foram utilizadas
diferentes técnicas de interação de grupo e de coleta de dados. Uma delas é a de grupos
focais, utilizada na coleta de dados referentes às expectativas dos participantes e suas
sugestões para o roteiro da trilha. Também foram feitas visitas de campo com a
finalidade de definir o local de implantação da trilha.
4.3. Avaliação da atividade de visita à trilha da Tubaca e do processo da
pesquisa
A avaliação tem como uma de suas funções prestar um serviço aos participantes
envolvidos no processo educativo, ajudando-os a explicitar as interpretações que cada
um elabora sobre a situação a ser analisada (ANADÓN, 2003). A avaliação realizada
neste trabalho é o que a autora chama de avaliação interna, que dá aos participantes uma
consciência da capacidade de cada um e do grupo, podendo contribuir com a mudança
das situações e melhoria das práticas, favorecendo uma reflexão crítica sobre a atuação
de cada participante e colaborando com a formação e co-formação dessas pessoas.
Nesse tipo de avaliação, os resultados são decorrentes da interação entre o observador e
os participantes; estes últimos constituem a fonte principal de dados, com suas
interpretações e significações.
Buscou-se flexibilidade na coleta e na análise dos dados, bem como na discussão
dos resultados obtidos com os participantes, de forma a valorizar sua subjetividade, na
34
tentativa de explicitar os valores, as motivações, as expectativas e as dificuldades, para
contribuir com a compreensão da situação e transformá-la.
Neste trabalho houve dois tipos de avaliação: a do uso da trilha e a do processo da
pesquisa como um todo. A primeira delas foi feita tanto com os usuários da trilha
(estudantes de ensino fundamental), quanto com as pessoas que participaram da
construção desta; já a segunda foi conduzida apenas com esses últimos.
4.3.1. Avaliação conduzida com os estudantes
A avaliação conduzida com os estudantes, com a finalidade de analisar a atividade
de visita à trilha, foi feita através de duas técnicas: a da observação sistemática e a dos
grupos focais, ambas com a finalidade de tentar ir além da avaliação da absorção de
conteúdos por parte dos estudantes.
Fontes (2003) questiona se a mera difusão de informações a respeito do meio
ambiente pode ser considerada uma verdadeira educação ambiental, ou se trata-se de um
ensino de ecologia, já que os educandos assumem uma postura passiva diante do
conhecimento. Segundo Andrade e Loureiro (2003) a avaliação do indivíduo precisa
considerar a capacidade de absorção e articulação dos conhecimentos (cognitivo,
racional), a sensibilidade para atuar de acordo com eles (valores, emocional) e a
capacidade de aplicá-los nas situações cotidianas.
Os valores não podem ser atribuídos exclusivamente aos conteúdos. É necessário
considerá-los num processo contínuo de integração dos conhecimentos na prática diária
(DEPRESBÍTERIS, 2003).
No presente trabalho, a pesquisadora adota o papel tanto de observadora como de
participante, revelando a sua identidade e os objetivos do estudo ao grupo pesquisado,
desde o início do trabalho.
A técnica da observação direta, utilizada nessa fase do processo, consiste em
observar uma situação determinada para posterior estudo. As observações que cada um
faz são muito influenciadas por sua história pessoal e sua bagagem cultural. Portanto,
para que a técnica se torne um instrumento válido e fidedigno de investigação científica,
precisa ser controlada e sistemática, o que implica em planejamento e preparação
rigorosos, além de registro cuidadoso (LUDKE E ANDRÉ, 1986). Utilizada como uma
das formas de avaliação da presente intervenção educativa, possuiu objetivos pré-
definidos avaliados através de alguns indicadores (DEPRESBÍTERIS, op.cit.). As
35
visitas foram registradas em vídeo e posteriormente analisadas. Comportamentos
indicadores de entusiasmo, interesse, integração, cansaço, motivação e iniciativas
próprias foram registrados durante as atividades consideradas. Os meios utilizados para
o registro de possíveis comentários e atitudes, tanto do monitor ambiental quanto dos
alunos, durante a implementação da trilha foram: fitas de vídeo, fotografias e anotações
de campo da própria pesquisadora.
Os resultados dessa observação sistemática estão descritos no item referente à
implementação da trilha, já que representam a percepção que a pesquisadora teve sobre
a atividade. Os resultados dos grupos focais conduzidos com os estudantes serão
apresentados no item referente à avaliação da atividade de visita à trilha.
A aplicação de tal técnica objetivou verificar os ganhos que os alunos obtiveram
após a visita à trilha, em termos cognitivos (de conteúdos), afetivos, de habilidades e de
conscientização. Para tanto, a técnica foi aplicada antes e depois da visita à trilha, com a
finalidade de comparar esses aspectos.
Antes da visita à trilha da Tubaca, a avaliação tinha uma finalidade diagnóstica, ou
seja, verificar o conhecimento prévio dos estudantes a respeito dos temas a serem
discutidos durante a atividade, bem como suas expectativas em relação à mesma. Após
a realização da atividade, foi feita uma avaliação caracterizada na literatura como
formativa, ou seja, com a finalidade de corrigir rumos, além de rever e aperfeiçoar a
estratégia utilizada. Pelos moldes em que foi realizada, essa avaliação também consistiu
em mais um momento de aprendizagem (ANDRADE e LOUREIRO, 2003).
4.3.2. Avaliação conduzida com os participantes locais
A avaliação conduzida com os participantes do processo teve duas finalidades:
avaliar a atividade de visita à trilha pelos estudantes de ensino fundamental e
compreender como essas pessoas perceberam o processo de participação em uma
pesquisa científica. As técnicas utilizadas para tal avaliação foram: a observação
sistemática e os grupos focais.
A primeira foi conduzida durante as reuniões e para isso foram utilizados alguns
indicadores com a finalidade de avaliar a participação das pessoas em todas as fases da
pesquisa.
Os resultados da avaliação da visita à trilha da Tubaca, conduzida com os
estudantes, foram apresentados ao grupo de participantes do processo de construção da
36
estratégia educativa. Andrade e Loureiro (2003) consideram a apresentação dos
resultados aos participantes como um dos elementos mais importantes no
monitoramento e avaliação de projetos, já que possibilita o aprimoramento do processo
e a apropriação dele pelos interessados.
A sistemática da informação produzida foi feita através do uso de técnicas
simples de comunicação, tais como: slides, vídeos, gráficos, quadros, esboços,
cadernetas, entre outros. Essas técnicas de simples manipulação têm a finalidade de
facilitar a fase pedagógica de tomada de contato do grupo com os temas levantados e os
debates sobre eles (GAJARDO, 1986).
A análise da atividade de visita à trilha e do processo de pesquisa, de acordo com
os participantes, foi feita através da técnica de grupos focais.
37
5. FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DO GRUPO DE PARTICIPANTES NAS
DIVERSAS ETAPAS DO PROJETO
A principal finalidade das primeiras visitas a São José do Rio Pardo, além de
identificar possíveis áreas para a implantação da trilha, era também identificar e contatar
pessoas que tivessem interesse e disponibilidade para participar do projeto. A chegada
ao local foi acompanhada por uma pesquisadora da comunidade, o que facilitou o
processo de entrosamento com os moradores locais. Aos poucos foram sendo
identificadas algumas pessoas com o perfil desejado, e elas mesmas traziam para o
grupo outros que, em sua opinião, também se interessariam pela proposta. Normalmente
aqueles que foram indicados possuíam grande afinidade e interesses comuns aos dos
participantes.
Se por um lado essa maneira de organização do grupo facilitou o
desenvolvimento do trabalho - já que a pesquisadora não estava inserida na realidade
municipal - pode também ter excluído do processo pessoas que, embora tivessem menor
proximidade e/ou afinidade com os demais participantes, também poderiam ter interesse
na proposta.
Participaram do processo representantes de diversos setores da comunidade como
secretarias municipais de Educação, Cultura e Turismo; representante da Secretaria
Municipal de Agricultura no comitê da bacia hidrográfica do rio Pardo, representantes
de Organizações Não Governamentais (ONGs), empresas e estudantes.
Também participaram o administrador da fazenda na qual seria implantada a
trilha e a representante da escola municipal envolvida, ambos convidados pelos próprios
participantes para integrarem o grupo.
A proposta de trabalho foi apresentada para a delegada regional de ensino
(Apêndice A), que autorizou o desenvolvimento do trabalho nas escolas da rede
estadual e permitiu que a decisão final de adesão ao projeto fosse de âmbito dos
diretores de cada escola (Anexo A). Dessa forma, a apresentação da proposta e o
38
convite para participação das atividades foram feitos à direção e à coordenação de uma
escola da rede estadual de ensino, mas diante da demora em definir se participariam ou
não do projeto, alguns componentes do grupo decidiram estender o convite aos
representantes de uma escola municipal. Estes compareceram prontamente à primeira
reunião, disponibilizando-se também a participar das atividades propostas, o que de fato
aconteceu.
O processo de construção coletiva da trilha interpretativa apresentou diversos
momentos, caracterizados por uma maior ou menor participação dos envolvidos.
Percebeu-se que a proposta concebida pela equipe de pesquisa era compatível com os
interesses, desejos e necessidades dos participantes, já que todos aqueles com os quais
houve um contato inicial mostraram-se bastante interessados no projeto. Era grande o
interesse dos participantes em construir trilhas no município como forma de fomentar o
turismo de natureza em âmbito regional.
Em todos os encontros informais com os participantes, a proposta de elaborar
uma trilha com finalidade de educação ambiental e que englobasse os temas
“biodiversidade” e “conservação na bacia do Pardo”, era apresentada de forma
resumida. Procurou-se sempre deixar claro que a idéia era trabalhar de forma
cooperativa e colaborativa na elaboração da trilha, de forma que ela pudesse cumprir
com objetivos também propostos por eles.
A primeira etapa de construção coletiva de uma estratégia educativa consistiu em
um diagnóstico da situação ambiental municipal feito em conjunto com os participantes.
A partir de alguns temas levantados nesse diagnóstico foi elaborada a trilha
interpretativa do meio.
O trabalho foi desenvolvido através de reuniões com os participantes locais. As
coletas de dados nas etapas de diagnóstico e de elaboração e avaliação da trilha foram
feitas por meio da aplicação das técnicas de diagnóstico rural participativo e grupos
focais, respectivamente. No total foram realizadas 6 reuniões e 3 visitas à trilha da
Tubaca com os estudantes, além de encontros informais na etapa de formação do grupo,
e visitas de campo na etapa de escolha do local da trilha.
A primeira reunião objetivou apresentar formalmente o projeto - já que a
pesquisadora havia conversado previamente de maneira informal com a maioria dos
presentes - esclarecer possíveis dúvidas, obter sugestões, além de verificar as
expectativas dos possíveis participantes em relação ao projeto, bem como seus
39
interesses, e disponibilidade para atuarem como parceiros em todo o processo de
elaboração da trilha.
Quadro 4: Categoria de envolvimento no projeto e ocupações dos participantes de São José do Rio Pardo.
Comerciante e guia de agência de esportes de
aventura
Diretor Municipal de Infra-estrutura
Secretário de Turismo
Estudante, estagiária da Secretaria de Turismo
Estudante
Diretora Municipal de Fomento ao Turismo
Empresário de agência de esportes de aventura
Biólogo e agricultor
Participantes efetivos
Comerciante, bacharel em direito e estudante de
história
Coordenadora da Escola Municipal Stella Maris
Barbosa Catalano
Representante da ONG Sorria e Escola Estadual
Prof. Tarquínio Olintho
Produtor rural administrador da fazenda Tubaca.
Diretora da Escola Municipal Stella Maris Barbosa
Catalano
Agrônomo - Secretaria Municipal de Agricultura e
Meio Ambiente
Coordenadora da Escola Municipal Stella Maris
Barbosa Catalano
Participantes eventuais
Ex-presidente da ONG Nativerde
Empresário rural/ veterinário
Participantes do curso de formação
de monitores
Estudante
Presidente da ONG Nativerde
Secretária de Turismo
Representante do Colégio Lúmen
Agrônomo - Secretaria Municipal de Agricultura e
Meio Ambiente
Representante da Escola Estadual Euclides da
Cunha
Representante da Escola Estadual Dr. Cândido
Rodrigues
Coordenadora da Escola Municipal Stella Maris
Barbosa Catalano
Participantes da avaliação / propostas
de continuidade do projeto
Representante da Escola Estadual Laudelena O.
Pourrat
O grupo nomeou o projeto de “Arrasta-pé na trilha”. Notas ou reportagens a
respeito do desenvolvimento deste eram freqüentemente publicadas por alguns dos
participantes nos jornais locais, como forma de divulgação das ações na cidade (Anexo
B).
Por fim, um total de 26 pessoas envolveram-se de alguma forma com o projeto,
das quais 9 podem ser consideradas participantes efetivos do processo como um todo, 7
40
foram participantes eventuais (de apenas algumas etapas), 2 pessoas participaram
apenas do curso de formação de monitores oferecido, e 8 pessoas participaram apenas
da avaliação e das propostas para a continuidade do projeto (Quadro 4).
41
6. DIAGNÓSTICO DAS POTENCIALIDADES E DOS PROBLEMAS
AMBIENTAIS LOCAIS
O diagnóstico participativo das potencialidades e dos problemas ambientais de
São José do Rio Pardo, embora tendo sido programado para ser realizado em apenas
uma reunião (29/06/04), estendeu-se por mais um encontro (13/07/04), ambos
realizados na Câmara Municipal de São José do Rio Pardo.
A primeira potencialidade citada pelos participantes foi o rio Pardo, considerado
por todos como um elemento natural muito importante para o município.
“O rio é fundamental na história da cidade”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“ [o rio Pardo] tá no nome da cidade”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
No entanto, após algum debate, o potencial considerado mais relevante foi
definido como sendo a história sócio-ambiental local, pois esta seria mais abrangente
que o item “rio Pardo”, não deixando, no entanto, de envolvê-lo. Ao contrário,
ressaltou-se que o rio Pardo está estreitamente ligado à história sócio-ambiental
municipal, sendo um elemento natural preponderante desta.
“...em função do rio...os fazendeiros vieram pela beleza e a fertilidade do rio...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo..
“Essa biodiversidade que tem aqui é também por causa do rio que tem aqui”.
Representante da ONG Sorria.
Outros aspectos da história sócio-ambiental local ligados ao rio Pardo citados
foram: a Revolução de 32, que teve alguns de seus episódios ocorridos às margens do
rio, e o uso do solo, que reflete o destaque do município na agropecuária regional.
42
Também foram citadas como potenciais ambientais a biodiversidade local, como
resultado da preservação das áreas naturais na região.
Houve um certo mal-entendido nessa primeira reunião: os participantes pensaram
que estávamos levantando os potenciais e problemas da Fazenda Tubaca e mais
especificamente da área onde seria implantada a trilha; então, muitos dos itens
levantados referiam-se especificamente a essa área e não ao município como um todo.
Na segunda reunião esse aspecto foi esclarecido e foi pedido para que os
participantes refizessem a lista dos problemas e potenciais, desta vez, pensando no
município e não apenas na fazenda ou na trilha. Dessa forma poderia-se ampliar o foco
da discussão e inserir no roteiro da trilha temas ambientais, tanto positivos quanto
negativos, do município de São José do Rio Pardo como um todo.
Mesmo após esse esclarecimento, as potencialidades já citadas e sua ordem de
importância foram mantidas, justificadas ainda pela forte presença dos aspectos
histórico-culturais da cidade, e que, de qualquer forma, apresentam o rio Pardo como o
elemento principal.
Uma outra dúvida que surgiu nessa etapa foi em relação ao enfoque que deveria
ser dado a essas potencialidades, ou seja, se seriam potenciais relacionados ao turismo, à
economia, à sociedade, entre outros. Esse questionamento surgiu a partir da dúvida em
acrescentar os itens agricultura e pecuária como potenciais locais. Os participantes
alegaram que se esses dois itens fossem adicionados, deveria-se acrescentar também
como potenciais o comércio, a educação e a saúde - setores nos quais o município
possui um destaque regional.
Na verdade essa dúvida em definir quais desses aspectos poderiam ser
considerados como potencialidades ambientais, demonstra pouca clareza do conceito de
meio ambiente por parte dos envolvidos.
“Eu acho o seguinte: aí se você pode... por a agricultura, o comércio, saúde, educação, é
tudo potencial... na região é uma potência, é tudo centralizado aqui...”
Diretor Municipal de infra-estrutura.
Voltando a pensar nos potenciais com finalidade educativa e turística, já que esta
última era a principal expectativa dos participantes em relação à trilha, estes optaram
por acrescentar como um potencial todos os produtos (com valor agregado) originários
da área rural, tais como: a aguardente, a cebola, os produtos defumados derivados de
carne bovina, entre outros.
43
Por fim, o grupo chegou à conclusão de que todas as potencialidades citadas estão
interligadas. Vários aspectos sócio-culturais do município (a ocupação local, o
euclidianismo, os produtos cultivados, a pesca, entre outros) têm algum tipo de relação
com o rio Pardo. A biodiversidade presente na região também tem, na opinião do grupo,
como fator preponderante, relação com a presença do rio.
“... a gente tem trabalhado, os pontos principais no turismo seria o histórico-cultural que
estaria contemplado aqui pela historia sócio-ambiental, a ponte, o Euclides... tal, daí o rio
Pardo que tá ligado à natureza e a questão da topografia, da geografia, tá entrando nisso
aqui, a variedade de espécies, a biodiversidade... têm a ver com essa localização, né? E
questão da preservação como questão de qualidade de vida ligando tudo isso...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
O quadro 5 resume as potencialidades municipais levantadas pelo grupo, em
ordem de importância. Percebe-se que dentre os itens citados estão elementos naturais
do meio (rio Pardo, áreas naturais conservadas), aspectos históricos, sócio-culturais e
econômicos.
Quadro 5: Potencialidades ambientais municipais em ordem decrescente de importância.
Potencialidades
1 – História Sócio-ambiental
2 - Rio Pardo
3 – Biodiversidade
4 – Conservação das áreas naturais
5 – Produtos originários da área rural
Em relação aos problemas ambientais locais, o fogo foi considerado, em princípio,
como o mais grave, por dois participantes. No entanto, houve discordância e debate.
Outras duas pessoas consideraram como principais problemas, a poluição dos rios e
córregos através do esgoto.
“O fogo é o pior”.
Secretário Municipal de Turismo.
“O problema do fogo é o seguinte: ele pode ser mais grave, mas ... se for analisar, a
participação do indivíduo na poluição do meio ambiente, talvez ... lixo, poluição... [sejam
piores]”.
Representante da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente.
44
“O que eu acho importante seria a poluição por esgoto, principalmente. O lixo vai pro
lixão, o esgoto vai, praticamente pro...[rio]”.
Ex-presidente da ONG Nativerde.
“Pior é o esgoto. Esgoto é um problema sério e muito caro de resolver!”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
O segundo problema citado foi o do lixo, porém, assim como aconteceu com as
potencialidades, esta questão esteve voltada para o local da trilha. Foi discutido que as
pessoas jogam muito lixo na mata, lembrando, inclusive, que o próprio grupo encontrou
bastante lixo nas visitas de reconhecimento de locais para implantação da trilha. Apenas
uma participante referiu-se ao problema do lixo de forma um pouco mais ampla, ou
seja, refletindo a respeito de outros problemas que poderiam derivar dessa questão.
“... uma coisa que eu acho que é importante: o fogo queima e destrói. O lixo você vai lá e
recolhe ...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“O lixo, principalmente para os córregos, [causa] poluição ambiental. Essa poluição leva
a quê? A um prejuízo, a uma ameaça à saúde da população, né? Porque a água de pior
qualidade...”.
Ex-presidente da ONG Nativerde.
Várias outras questões, tais como a retirada de materiais da natureza
(principalmente orquídeas e terra para jardinagem) e a questão dos agrotóxicos, ainda
foram abordadas do ponto de vista da mata e não do município como um todo.
“A questão da retirada de muda na mata, eu acho que isso é uma coisa que acontece
muito em trilha é a retirada de coisas da mata (...) a pessoa vai lá ‘ai que bonitinho’, e
cada um quer levar...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“Eu não vejo muito problema na visita, você pegar alguma semente, uma semente do
chão. O perigo são os caçadores de orquídeas, né? Agora o pessoal que importa
produção pra levar terra do mato para os vasos... quer dizer, ainda se tirar um pouquinho
tudo bem, mas se tirar um montão...”.
Administrador da Fazenda Tubaca.
“Ah, mas também se cada um for retirar um pouquinho...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Depois de muito debate e após esclarecermos as dúvidas a respeito do enfoque que
seria dado aos problemas, enfatizando que eles deveriam abranger todo o município e
não apenas a mata ou a trilha, o grupo chegou a um acordo de que, em termos gerais do
município, o pior problema é a poluição dos rios e córregos por esgoto.
45
“... da mata ou é mais geral? Ah, geral então é... Se for geral é saneamento básico... Nós
não estamos falando do mato mais, né? Saneamento básico, sim. Eu acho até que mais que
o fogo. Eu tava pensando na mata. Eu poria o saneamento básico”.
Secretário Municipal de Turismo.
“É, se for geral é saneamento, se for na mata é fogo”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
O fogo acabou sendo considerado o segundo mais relevante. O lixo foi colocado
logo abaixo do fogo pelo fato de poder ser “tratado”. A erosão também foi considerada
um problema muito importante. O desmatamento ficou em quarto lugar porque,
segundo eles, atualmente são poucas as áreas de mata existentes, e estas estão
protegidas por uma legislação severa.
O Quadro 6 resume os principais problemas e a suas magnitudes no município de
São José do Rio Pardo, de acordo com os participantes. Todos os problemas citados
causam impacto direto em elementos naturais do meio.
Quadro 6: Principais problemas ambientais em ordem decrescente de importância.
Problemas
1- Poluição dos córregos por esgoto
2- Fogo
3 – Lixo / Erosão
4 – Desmatamento (mata ciliar) e retirada de materiais da natureza
5 – Uso de agrotóxicos
6 – Caça e Pesca
Em conseqüência do fato das discussões a respeito da trilha, das sugestões e
dúvidas terem se estendido muito, não houve tempo suficiente para finalizar as técnicas
de diagrama de Venn e diagrama de Fluxos. Assim, no segundo encontro, a proposta era
retomar os problemas e potencialidades levantadas anteriormente, estabelecer prováveis
relações de causa e conseqüência entre elas, bem como discutir a quem competiria
solucionar esses problemas e propor possíveis formas de minimizá-los. Estiveram
presentes, nesse encontro, sete pessoas, que sugeriram que separássemos os problemas
em duas categorias: os mais relevantes na área rural e os mais relevantes na área urbana
do município. Eles justificaram essa decisão pelo fato de que muitos dos problemas
citados na reunião anterior possuem diferentes dimensões quando analisados nesses dois
contextos.
46
“A discussão é do município inteiro? Então é complicado, né? Porque a região urbana é
diferente da rural. Teria que discutir as duas separadas... Na urbana as prioridades são
essas, na rural as prioridades são essas... Não bate ! Que nem fogo, fogo não tem nada a
ver com urbano, mas na rural ... tratamento de esgoto é totalmente urbano, não tem nada a
ver com o rural... são focos diferentes...uma coisa que é prioritária no urbano não é no
rural....”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
Dessa forma, o diagrama construído pelos participantes para os problemas
ambientais da área rural do município pode ser visto na Figura 4.
O fogo foi considerado o problema mais grave na área rural, seguido pelo
desmatamento. A principal justificativa dada é que, em tese, depois de iniciada, a
queimada dificilmente pode ser controlada; ao contrário do desmatamento, que pode ser
interrompido.
“Eu acho que é o fogo porque o fogo você não controla, né?”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“O fogo não controla e depois que queimou, acabou... Não tem mais árvore, não tem mais
nada”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
2
FIGURA 4 Diagrama representativo dos principais problemas ambientais
encontrados na área rural de São José do Rio Pardo e das relações entre eles.
2
Embora identificado como conseqüência da erosão, este item não foi representado em um círculo por
não ter sido considerado um problema relevante no contexto local.
* Retirada de materiais
da natureza
EROSÃO
CAÇA E
PESCA
*
FOGO
DESMATAMENTO
LIXO
AGROTÓXICOS
ASSOREAMENTO DO
RIO
47
De acordo com o que tinha sido dito anteriormente, percebeu-se que os
participantes estavam se referindo às queimadas acidentais. Porém, sabe-se que muitas
vezes essa prática é utilizada para aumentar as áreas cultiváveis, seja destruindo a
vegetação natural, ou mesmo eliminando a cultura anterior. Em ambos os casos, as
queimadas trazem prejuízos ao solo.
Nos anos de 2001 e 2002, o número de autuações por queimadas foi muito grande,
mas, segundo os participantes, esse número tem diminuído nos últimos dois anos
(informação verbal)
3
. Acredita-se que essas queimadas aconteçam acidentalmente ou
por descuido, já que atualmente elas não têm sido utilizadas (ou são utilizadas
raramente) como prática de manejo agrícola no município, embora esta seja uma prática
comum para limpeza de terrenos baldios na área urbana. Esse último comentário
invalida a fala anterior de um dos participantes, de que o fogo seja um problema
existente somente na área urbana municipal.
Em relação à prática do desmatamento para ampliação da área cultivável, tem
ocorrido o processo inverso no município: em locais onde a agricultura era praticada de
forma manual, em razão das dificuldades financeiras enfrentadas pelos pequenos
produtores, muitos deles têm abandonado essas áreas para trabalhar onde o cultivo seja
mecanizado, permitindo que essas áreas comecem a se regenerar naturalmente
(informação verbal)
4
.
No que se refere às queimadas e ao desmatamento, foram citadas como forma de
minimização, a conscientização tanto do produtor, quando de outras pessoas, bem como
a fiscalização e a punição por parte da polícia ambiental.
O desmatamento também é [conscientização]... Porque tem aquele fogo que a pessoa
jogou um cigarro e aquele fogo que é proposital para aumentar o desmatamento, para
aumentar a área cultivável... Um você tem que conscientizar, o outro já é problema de
política...”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“É o caso da cana-de-açúcar...”.
Estudante.
“Quem pôs fogo? Ninguém sabe, até provar que foi você. Agora o desmatamento você pega
a pessoa lá com a mão na massa, né?.... apesar de que agora se você puser fogo em algum
lugar, você tem que fazer o replantio proporcional, se for você ou não, o fazendeiro é
culpado hoje”
Diretor Municipal de infra-estrutura.
3
Informação fornecida pelo Sargento da Polícia Ambiental de São José do Rio Pardo, em março de 2005.
4
Informação fornecida pelo engenheiro agrônomo da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio
Ambiente de São José do Rio Pardo, em março de 2005.
48
A Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, em convênio com outras
instituições tais como a UNESP de Jaboticabal, o sindicato rural, entre outras, está
implantando em São José do Rio Pardo, uma Fundação Municipal de Pesquisa Agrícola,
com o intuito de pesquisar e divulgar aos produtores rurais locais, técnicas mais
sustentáveis de manejo de solo, de irrigação, de plantio (tais como o plantio fora de
época e o plantio na palha), já que a maioria dos pequenos produtores locais não têm
acesso a essas tecnologias (informação verbal/ Secretaria Municipal de Agricultura e
Meio Ambiente).
Houve uma pequena discordância a respeito de qual problema seria considerado o
terceiro mais relevante na área rural: se o uso de agrotóxicos, se o desmatamento ou o
lixo e a erosão. O grupo acabou optando pelo agrotóxico.
“O lixo e o agrotóxico acho que pode ficar mais ou menos junto, viu...”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
“Não acho, acho o agrotóxico bem pior que o lixo”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“...a poluição dos córregos por agrotóxicos na área rural é um problema grave”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“Porque córrego poluído é na zona urbana, na zona rural não tem córrego poluído, tem
uso de agrotóxico, que eu não sei quanto que afeta... se quando chove leva isso aí pros
córregos, se existe matança de peixe...”
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“Eu já ouvi que [matança de peixe acontece]... Mas porque o cara... pulverizou [a
plantação de laranja], choveu durante a noite, desceu, matou todos os peixes...”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
De acordo a Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, existe sim uso
intensivo de agrotóxicos nas culturas temporárias, tais como cebola e demais hortaliças.
Embora não haja dados precisos de quantidade de agrotóxicos e outros suplementos
agrícolas utilizados, estima-se que esse número seja, em média, de 10 a 15 kg por
hectare (cerca de 2200 hectares do município são destinados ao plantio de cebola). A
média de produção de cebola, principal cultura do município, é de 37 toneladas por
hectare, e a média nacional desse produto é de 24 toneladas por hectare. Em 2004,
chegou-se a produzir, em São José do Rio Pardo, 94 toneladas de cebola por hectare,
utilizando uma nova técnica de plantio: o plantio na palha
5
.
5
Segundo informações verbais (Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente), essa técnica
consiste no plantio em uma camada vegetal morta, o que dispensaria o revolvimento do solo e o uso de
implementos agrícolas.
49
A Fundação de Pesquisa Agrícola Municipal também vai passar a receber as
embalagens vazias de agrotóxicos que até então os produtores eram obrigados a entregar
num posto de recebimento em Casa Branca. Isso possibilitará estimar a quantidade de
agrotóxico utilizada nas culturas locais.
Também não existem dados sobre a contaminação de solos, de produtos
comestíveis, bem como de corpos d’água por agrotóxicos. Eventualmente ocorre
mortandade de peixes em açudes em razão do carreamento de produtos tóxicos das
culturas às águas, por meio da chuva (informação verbal/ Secretaria Municipal de
Agricultura e Meio Ambiente).
Além da questão dos agrotóxicos, a caça e a pesca ilegais também foram
identificadas como problemas graves no município.
“A caça aqui também é grande, especialmente em termos de ave. Aqui é rota de tráfico de
aves”.
Representante da ONG Sorria.
“E a caça com redes, né? É uma coisa bem... que tem bastante, bastante, bastante...”
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
“...a gente tá na rede lá fora [ilha das cabritas] e a gente começou ‘o que é isso, que tá
vindo esse monte de canoa?’ ... aí a gente fala ‘tá pescando’ e quer dizer, não é a pesca,
era a caça ... eles estavam procurando capivara, paca....”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
De fato, embora haja indícios de tráfico de animais silvestres em cidades vizinhas
a São José do Rio Pardo, tais como Caconde, Divinolândia e Tapiratiba, a Policia
Ambiental Municipal acredita que essa prática não ocorra em São José do Rio Pardo.
Ocorre, sim, um grande número de apreensões de animais silvestres em cativeiros
domésticos, através de denúncias. Também há casos de comércio de animais silvestres
na cidade. Depois de apreendidos, esses animais são soltos em áreas autorizadas pelo
IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
A pesca também é uma prática comum, mas, na maioria das vezes, os pescadores
possuem autorização deste órgão para realização dessa atividade, e respeitam as normas
de uso de equipamentos permitidos e de tamanho mínimo para captura de peixes
(informação verbal/ Polícia Ambiental Municipal).
Apesar de inicialmente o grupo ter pensado que esse problema não tinha nenhuma
ligação com os demais, a caça e a pesca foram relacionadas ao fogo, ao desmatamento,
ao agrotóxico e, indiretamente, também à erosão.
50
“É, caça e pesca eu acho que ele é ...independente de qualquer outro... É um problema que
acho não tem uma ligação tão direta com o lixo ou o fogo. Independente se tiver lixo e fogo
o pessoal tá caçando e tá pescando...”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
“Não, o fogo tem, né? Quando pega fogo nessas matas aí, o que mata de bicho... Muitos
morrem, né?”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“Eles vão ter que procurar outro habitat... mas aí prejudica a caça. O fogo prejudica a
caça”.
Coordenadora pedagógica.
Além da importância da fauna para o equilíbrio do ecossistema, também foi
ressaltada a sua beleza.
“Porque a manutenção de uma mata ela precisa especialmente dos animais que vivem
nela, se você tem a caça, você tem o desequilíbrio, você provoca o desequilíbrio da mata,
entendeu, é o ecossistema”.
Representante da ONG Sorria.
“É, a fauna é importante, eu acho... lógico, é importante para a mata, com a fauna é mais
bonito ainda do que só mata só de árvores, e um rio só água e não ter peixes, né? É o que
acontece aqui no nosso [rio]...”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
Como forma de minimizar a caça e a pesca, foram citadas a fiscalização e a
punição por parte dos órgãos competentes, no caso, a Polícia Ambiental, bem como a
conscientização da população em geral.
A Polícia Ambiental de São José do Rio Pardo costuma desenvolver, nas escolas
do município, palestras educativas de prevenção ao tráfico de animais silvestres,
juntamente com outras instituições parceiras, tais como a ONG Sorria.
No que se refere à retirada de plantas nativas, especialmente orquídeas, também
considerada um problema relevante na zona rural, foram citadas como forma de
minimização a punição, a fiscalização e a conscientização da comunidade.
A figura 5 representa os principais problemas ambientais encontrados na área
urbana de São José do Rio Pardo e as relações entre eles, na visão dos participantes
locais.
Na área urbana, a questão da poluição dos córregos por esgoto foi considerada a
questão mais grave. Vale destacar que o município ainda não possui um sistema de
tratamento de esgoto; assim, todo o esgoto gerado em São José do Rio Pardo é
despejado no rio Pardo.
51
“Esgoto é assim, disparado, o primeiro...esse não tem nem... ‘hors concours’ .”
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“Tanto é que o rio fica poluído e a gente percebe navegando no rio, da ponte ali do
Euclides pra baixo... Até a usina. Só a cidade, a parte da zona rural é totalmente limpa”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
“Tem, tem, tem... a gente percebe, vamos supor, sem analisar nada, navegando mesmo no
rio, a gente sente o cheiro ... da água. E depois que passa da ponte do Euclides ali, aí a
coisa fica mais feiosa. Antes, até chegar na ilha de S.Pedro ali é uma maravilha”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
FIGURA 5 Diagrama representativo dos principais problemas ambientais
encontrados na área urbana de São José do Rio Pardo e das relações entre eles.
Segundo os participantes, a única maneira de minimizar este tipo de poluição seria
a adoção de um sistema de tratamento do esgoto municipal, que exige uma infra-
estrutura cara, e demanda tempo para ser construída e entrar em funcionamento.
A questão do lixo também foi considerada grave no município.
“Tem que ver também, acho que além da coleta, a gente sempre pensa na parte dela, esse
lixo vai pra algum lugar, né ?”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“Da rua vai para um aterro e agora tem a coleta seletiva que é o projeto Recicla São
José”.
Representante da ONG Sorria.
“Mas tá pequeno ainda...”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
POLUIÇÃO
DOS
CÓRREGOS
(ESGOTO)
LIXO
AGROTÓXI-
COS
CORTE
E PODA DE
ÁRVORES
DESMATAMEN-
TO (mata ciliar)
LOTEA-
MENTOS
52
“Será que o nosso aterro preenche os quesitos ?”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“Aí eu não sei...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“Tecnicamente falando não, mas é o que está autorizado para ser usado... porque não tem
outra solução... porque ele está em topo de morro, que é uma coisa que não pode... nos
últimos vinte anos nunca teve autorização...”.
Representante da ONG Sorria.
O local utilizado para a disposição final de resíduos sólidos do município de São
José do Rio Pardo consiste em um aterro em valas que, segundo a Secretaria Municipal
de Agricultura e Meio Ambiente, possui uma licença prévia da CETESB Companhia
de Tecnologia de Saneamento Ambiental. (informação obtida em caráter informal,
através da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente).
O crescimento da cidade também foi citado como uma das causas do aumento da
produção de lixo no município.
A reciclagem foi citada como uma maneira de minimizar a quantidade de resíduos
que vai para o aterro municipal. Comentou-se a respeito de um projeto da Promotoria
Social, o “Projeto Recicla São José”, que tem envolvido catadores de lixo, associados
em forma de cooperativa, na coleta e separação dos materiais recicláveis para venda.
Até o mês de maio de 2005, poucos bairros tinham sido abrangidos pelo projeto e, além
disso, muitos catadores ainda continuavam na coleta informal. Os participantes disseram
também que a questão da coleta e disposição final dos resíduos é de competência do
poder público, não devendo visar a lucro, já que envolve processos com pouco retorno
financeiro.
“Ah pouquíssimo, aqui de todo o lixo que é produzido por dia, 5 mil kg pode ser
reciclado... São 27 mil kg por dia de lixo ... é porque o pessoal ainda não tem o hábito de
separar... Acredito que 40% no máximo está sendo reciclado... porque eles estão pegando
10 bairros, mais ou menos... é que o problema deles lá ainda é a estrutura, entendeu, não é
a satisfação populacional, o problema deles é a estrutura, é a organização”.
Representante da ONG Sorria.
“Tem gente que tá dentro do projeto e tem gente que tá fora do projeto... Tem muitas
famílias que vivem disso mas estão fora do projeto...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“...quem ficou fora do projeto, muitos deles optaram por estar fora, porque ganham mais
trabalhando por fora ...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
53
Também foram citadas a redução e a reutilização dos resíduos como forma de
minimização do lixo produzido, bem como a conscientização da comunidade com
relação a essa questão, por meio de projetos educativos. Acredita-se que um projeto de
gerenciamento dos resíduos não possa ser desvinculado da sua divulgação para a
comunidade, bem como da sua sensibilização, para que haja mobilização desta.
“Aí é uma questão que talvez fosse interessante da gente trabalhar bastante que é a
questão da educação...de educar para não ter o lixo, pra não se jogar o lixo...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Com relação ao desmatamento na área urbana, os participantes comentaram que
este foi muito grande durante a ocupação do local pelos primeiros habitantes de São
José do Rio Pardo, e que o maior prejuízo foi o da mata ciliar, já que a área urbana do
município se desenvolveu às margens do rio. Hoje, existem, no município, apenas
alguns remanescentes da vegetação nativa.
“Ah, no urbano não tem mais desmatamento de árvore nativa, isso aqui não existe... existe
é desmatamento de árvores de rua, de praça, que é árvore que você planta... Mas nativa
não tem mais nada aqui”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“Seria assim, que nem, você foi na Mata do Carneirinho. Você vê lá, é um bairro nobre...
aquela mata antes era enorme então, assim, foram acabando com a mata pra fazer
loteamento... O desmatamento é o avanço da cidade, da zona urbana na zona rural também
né?”.
Estudante.
Atualmente, na área urbana, o que se verifica é uma arborização inadequada, que
gera um número grande de pedidos de corte e poda de árvores em espaços públicos
municipais, algo que é uma situação bastante comum nas cidades brasileiras.
“... é um plantio inadequado que aí ele acaba gerando o corte também de árvore, mas
não um desmatamento, parece que é um desmatamento mas é outra coisa... Então no
momento, a gente precisa fazer uma adequação ... Existe um sistema de arborização em
São José do Rio Pardo equivocado. Então, tem árvores grandes num lugar inadequado”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“Por exemplo, ontem mesmo eles acabaram de cortar 3 palmeiras imperiais, 4 não sei
bem, em frente ao museu Rio-pardense. Eles foram plantados, assim, o próximo prefeito
vai pôr os fios por baixo da terra e não mais aéreo, aonde foram plantados... O próximo
prefeito não pôs os fios de forma subterrânea. Então os fios continuaram aéreos e as
palmeiras imperiais crescendo. Ontem elas foram liquidadas, porque elas iam sendo
cortadas, cortadas, parecendo um alfinete, ficava só o tronco. Então é uma arborização
equivocada e assim a cidade tem muitos lugares... Com relação à questão da segurança
também muitas praças tiveram retirada de árvores e limpezas maiores em função da
54
argumentação da segurança... é uma arborização equivocada mesmo, acho que teria que
ter um planejamento”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Essa questão do corte e da poda de árvores foi relacionada às alterações
climáticas, à poluição do ar e à poluição sonora.
“É corte e poda... se tem ligação com alguma outra coisa? Tem, com o clima, lógico! Eu
acho que o corte e a poda errado vai influenciar no clima, poluição sonora, poluição de pó,
de ar, a parte térmica também porque a cidade fica uma cidade mais quente, sem
árvore...”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
Como forma de minimizar a questão do corte e da poda de árvores na área urbana,
os participantes propuseram um projeto de arborização urbana, no qual fosse feito um
planejamento dos locais de plantio das espécies a serem utilizadas para tal finalidade, de
forma a diminuir os danos em calçadas e na rede elétrica.
“...que nesse projeto, cada rua tenha a árvore certa para plantar... se você, lá na frente da
tua casa, quiser plantar uma árvore. Você tem que vir no setor de agricultura e perguntar
‘que árvore que é que ta indicada na frente da minha casa? Ah, a sua casa é na Rua tal, na
quadra tal, você tem que plantar lá um’... sei lá... chapéu de praia...”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
No ano de 1968, a cidade foi toda arborizada com sibipiruna (Caesalpinia
peltophoroides) de forma que nos anos 80 e 90 havia um maior número de árvores na
cidade. Atualmente são muitos os pedidos de corte e poda de árvores recebidos pela
Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente. As principais justificativas dos
moradores são, de fato, a “sujeira” provocada pela queda de folhas e o rompimento das
calçadas. As ruas centrais são bastante estreitas e as árvores também não são bem-
vindas na área comercial, pois impedem a visão das placas de publicidade e dos
outdoors. Esses pedidos de corte de árvores são avaliados, e nos casos em que o corte é
permitido, de acordo com uma lei municipal, a árvore é substituída por uma espécie
mais adequada ao local (informação verbal/ Secretaria Municipal de Agricultura e Meio
Ambiente).
Referente à mata ciliar, o maior problema enfrentado pela Secretaria Municipal de
Agricultura e Meio Ambiente é o fato da maioria das propriedades localizadas às
margens do rio Pardo ser privada. As poucas áreas verdes públicas constituem-se, em
sua maioria, em áreas de lazer, como a Ilha de São Pedro e a Erma.
55
A Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente também tem enfrentado
dificuldades em algumas das suas iniciativas de arborização urbana, tais como
depredação e queimadas em um determinado loteamento, no qual foram plantadas 6 mil
mudas de espécies nativas, em março de 2004. Outro caso aconteceu em uma área de
recuperação da Mata do Carneirinho, onde também foram plantadas algumas mudas, o
que gerou reclamações por parte de alguns moradores do local, preocupados com
questões de segurança.
A questão dos agrotóxicos foi considerada a quinta mais relevante na área urbana.
Alegou-se que esses produtos são utilizados, embora em pequena escala, para eliminar
plantas rasteiras e ou arbustivas nas calçadas, quintais e terrenos baldios da cidade.
Comentou-se também que o agrotóxico pode poluir o ar durante sua aplicação.
“Pelo que eu entendi o agrotóxico fica no ar também. O pesado vai pro chão. Tanto que
em lugar, quando eles pulverizam vem aquele cheio... você sente o cheiro de agrotóxico no
ar...”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
Como forma de minimizar todos os problemas ambientais mencionados, os
participantes citaram, principalmente, a conscientização da comunidade. Isso evidencia
a necessidade e a importância em se desenvolver trabalhos de educação ambiental no
local.
O grupo comentou também que, além da minimização dos problemas, é
importante que sejam desenvolvidos projetos de recuperação de áreas que já foram
degradadas.
“Agora eu acho que de todas essas coisas tem de ter uma atitude positiva de recuperação.
Acho que a gente que trabalha, a gente tem que trabalhar com a possibilidade das formas
de recuperação, tem lugar que já teve erosão, tem lugar que já teve...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“Tem que recuperar, o rio, repovoar...”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
Os participantes tiveram maior facilidade em visualizar a questão ambiental como
um problema do que como uma potencialidade, mostrando maior conhecimento e
pontos de vista mais diversos no primeiro caso. Talvez essa maior facilidade em tratar
de problemas ambientais possa ser explicada pela proximidade dessas pessoas com o
tema. Muitos deles, em função dos cargos públicos que exercem, costumam lidar com
esses problemas em suas rotinas de trabalho. Além disso, os problemas listados
56
referiam-se àqueles com impactos diretos no meio natural, enquanto que as
potencialidades incluíram aspectos históricos e culturais, bem como elementos naturais
já transformados ou úteis para os seres humanos.
São José do Rio Pardo possui, de fato, aspectos histórico-culturais bastante
particulares (sendo o euclidianismo o mais acentuado deles) que constituem,
indubitavelmente, potencialidades ambientais locais. De qualquer forma, possíveis
problemas de ordem sócio-econômica existentes no município não foram citados.
6.1. Biodiversidade: potencialidade e problema!
O tema biodiversidade surgiu na etapa anterior apenas como uma potencialidade, e
não como um problema, no município de São José do Rio Pardo. A partir dessa
constatação, buscou-se aprofundar um pouco as discussões em torno desse assunto, com
o objetivo de verificar quais concepções os participantes possuem do termo
biodiversidade, qual a relevância desse tema em processos de educação ambiental, além
de fazer um levantamento sobre quais aspectos da biodiversidade local são conhecidos
como forma de subsídio para a elaboração da trilha. Para isso, foi utilizada a técnica de
grupos focais.
De fato, houve uma certa dificuldade, especialmente nas primeiras reuniões, em
conduzir um grupo focal, principalmente quando essa condução está aliada ao
gerenciamento do equipamento de gravação. É imprescindível que haja uma pessoa
responsável exclusivamente pelo equipamento, para que a pesquisadora, ou facilitadora
do grupo focal, possa concentrar-se unicamente na atividade de condução da discussão
em grupo.
Uma outra dificuldade verificada com o uso de tal técnica foi em relação à
transcrição das discussões em grupo. Esta se apresenta muito mais trabalhosa do que a
transcrição de entrevistas individuais, devido, principalmente, à distância das pessoas do
gravador. Por essa razão, pesquisadores que se utilizam da técnica recomendam o uso
de equipamentos específicos
6
e até mesmo salas com isolamento acústico para a
realização das reuniões.
Pelo fato de não haver equipamentos específicos disponíveis, optou-se pelo uso
de 2 gravadores (um gravador digital e um gravador em fita cassete), que foram
6
Um dos equipamentos recomendados é o microfone omnidirecional, capaz de captar sons provenientes
de todas as direções.
57
posicionados em pontos opostos ao grupo de discussões, além da filmadora - o que
apesar de assegurar uma maior clareza na transcrição dos dados, tornou essa etapa ainda
mais trabalhosa, já que era necessário complementar as transcrições das falas dos
participantes, utilizando-se os três registros. Ainda assim, a compreensão das falas dos
entrevistados apresenta-se praticamente impossível em momentos nos quais várias
pessoas se pronunciam ao mesmo tempo. Estima-se que houve uma perda de 10 a 15 %
de informações em conseqüência dessa dinâmica de discussão em grupo.
Embora tenha sido programado discutir em apenas uma reunião as questões
previstas no roteiro (Apêndice B), isso não ocorreu, sendo necessário, portanto, dois
encontros para tal discussão. Assim, o debate a respeito da questão da biodiversidade
aconteceu efetivamente em dois momentos: na reunião realizada em 13 de julho de
2004 (na qual estavam presentes sete pessoas) em que finalizamos o levantamento de
problemas e potenciais ambientais locais, e iniciamos a discussão sobre a
biodiversidade; e durante o curso de formação de monitores ambientais (no qual
estiveram presentes onze pessoas). Optou-se por finalizar essa discussão no momento
do curso, em razão de algumas questões: primeiro pela dificuldade em reunir todos os
participantes para finalizar essa discussão antes da data prevista para o curso, segundo
porque a maioria dos integrantes do curso seria formada pelas próprias pessoas que já
atuavam em todo o processo de elaboração da trilha; além disso, buscou-se, também,
criar oportunidade para que os futuros monitores da trilha discutissem a respeito do
tema central desta.
Quando questionados a respeito do que compreendiam por “biodiversidade”, após
alguns segundos de silêncio, os participantes presentes na primeira reunião fizeram
referência à diversidade natural, representada por diferentes espécies de seres vivos.
“Ah, são, são os diferentes conteúdos... da natureza, né? Eu acho que é assim, tipos, né?
Animais, plantas, vegetais... Eu não sei muita nomenclatura das coisas porque eu sou
artista, né?”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“Bio é vida, né? Diversidade é vida. Tem vários tipos de... tanto animal, quanto vegetal, é
tudo que...”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
Percebe-se que a concepção de biodiversidade dos participantes aproxima-se da
definição de diversidade biológica, representada por diferentes espécies de seres vivos.
Buscando confirmar essa concepção, já que não havia sido citado nenhum exemplo de
58
diversidade sócio-cultural ou de inter-relação entre a diversidade estritamente biológica
e ações humanas, eles foram questionados a respeito de quais locais a biodiversidade
poderia ser encontrada. Mais uma vez, as respostas apontaram para biodiversidade
como sinônimo de diversidade biológica, já que foram citadas, principalmente, as matas
ou seja, as áreas naturais, como locais passíveis de se encontrar biodiversidade e sendo
esta representada principalmente pela vegetação e fauna.
“Onde a gente pode encontrar biodiversidade? Nas matas... é, mas ... na zona rural, né?
Na zona rural...”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
“Aves, né?”.
Coordenadora pedagógica.
“Muita coisa. Na zona rural vai ter plantas, tucano, ave... é o que mais tem”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
“Vegetação, né?”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
Apenas uma pessoa fez referência à área urbana (construída) como local possível
de se encontrar biodiversidade, mas, mesmo neste caso, foram citados exclusivamente
os aspectos naturais (diversidade biológica) presentes nessa área. Em nenhum momento
foram citados aspectos de diversidade sócio-cultural.
“...mas...você encontra... maior diversidade, acho que na zona rural. Próximo da cidade
você encontra alguns tipos de árvore, plantações, tem alguns animais assim mesmo que são
domésticos, agora na zona rural você encontra muita coisa...”.
Estudante.
A partir dessa visão naturalista de biodiversidade, pode-se supor que a concepção
que os participantes têm sobre meio ambiente também se aproxime da naturalista, ou
seja, daquela que compreende como componentes do meio ambiente apenas os seres
vivos e o meio físico-químico natural (REIGOTA, 1995).
Percebendo que o tema diversidade cultural não surgiu espontaneamente, foi
perguntado o que eles entendiam por esse termo. Uma pessoa disse nunca ter ouvido
falar em diversidade cultural, não sabendo, portanto, o que esse termo significava. Outra
pessoa citou como exemplo a diversidade de culturas agrícolas, municipal e regional.
“Então tem essa, tem a cultura agrícola ... você pega aqui a nossa região, você pega
Divinolândia é a batata, aqui é a cebola ... Aguaí é laranja, e tem cidade, assim, que
justamente pelo tamanho tem vários tipos de cultura, quer dizer, se eu tô falando
besteira...”.
Estudante.
59
A diversidade cultural acabou sendo definida através de exemplos da própria
cidade de São José do Rio Pardo, considerada pelos presentes uma cidade que sofreu
influências culturais muito diversas, o que refletiu nas múltiplas expressões culturais
hoje presentes: a Folia de Reis, o Caiapó, o Sanfoneiro, as festas juninas e até mesmo o
euclidianismo.
“...a fundação da cidade... foi, assim, prioritariamente, os italianos com os mineiros, com
os escravos... Depois... houve também uma influência da cultura japonesa,... sírio-libanês.
Então assim, é um lugar que pela própria origem histórica já tem várias contribuições.
São José, por exemplo, preserva a questão do folclore, bastante diversificado também.
Então, quer dizer, eu entendo que a diversidade cultural é tudo isso, né? Caiapó, Folia de
Reis, sanfoneiro, violeiro, festa junina todo mês, junina, julhina, agostina”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“O próprio Euclides da Cunha que é uma coisa cultural, estritamente cultural, quer dizer,
é um cara veio pra cá e que reconstruiu uma ponte, que ficou amigo dos intelectuais, e
que eles foram cultuando isso ao longo do tempo, transformaram isso numa semana de
estudos que mobiliza em torno de 600 pessoas de fora, fora a própria comunidade...”
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
No segundo encontro, realizado durante o curso de formação de monitores
ambientais, percebeu-se claramente que havia uma pequena modificação na concepção
de meio ambiente por parte dos participantes. Se antes o meio ambiente era
compreendido fundamentalmente em seus aspectos naturais, nesse momento ele já
incorporava a dimensão do ambiente construído, chegando a ser definido por uma das
pessoas como tudo aquilo que cerca o ser humano! Esta última aproxima-se de uma
concepção antropocêntrica de meio ambiente, pois considera o ser humano como o
elemento central do meio, e todos os outros elementos possuem a função principal de
satisfazer os seus desejos e necessidades (REIGOTA, 1995).
Um aspecto bastante interessante a ser destacado é o fato dos participantes do
curso terem citado também, as relações entre os diversos elementos, como sendo
também componentes do meio ambiente.
“... eu acho que meio ambiente é tudo que está a nossa volta, onde que existe vida... no
nosso planeta...eu acho que assim... no começo do curso a gente tava muito ligado à zona
rural, a mata a floresta.... acho que agora mais no final a gente já...acho que ampliou um
pouco mais...”.
Estudante.
“... tem o meio ambiente natural e acho que tem o meio ambiente urbano, né? Meio
ambiente artificial também criado pelo homem, né?. As interações entre os elementos aí é
diferente, né?”.
Empresário rural.
60
“Tudo é meio ambiente, né?”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“É, não deixa de ser... meio ambiente não é só tudo o que está a nossa volta, mas a
interação entre os elementos que compõem esse meio ambiente. Uma coisa interligada na
outra”.
Empresário rural.
Embora na segunda reunião a concepção de meio ambiente já tivesse sido um
pouco modificada quando comparada à reunião anterior, a concepção de biodiversidade
ainda permanecia ligada aos aspectos naturais, mesmo quando identificada em
ambientes construídos / urbanos.
“...[biodiversidade] é todo tipo de vida que faz parte do meio ambiente.... eu acho que
...tem vários tipos de biodiversidade, né? Cada ambiente tem o seu ... nessa praça tem a
biodiversidade dela, na mata tem, lá no rio tem...”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“A biodiversidade, como o Alfredo falou, eu acho que é todo tipo de vida. Aqui tem
biodiversidade”.
Estudante.
“Uma coisa precisa da outra, né?...”.
Comerciante.
“A variedade das espécies, né?”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Um dos participantes declarou que, em sua opinião, não existia biodiversidade no
ambiente urbano. Houve discordância por parte de outras pessoas e conseqüente debate.
Por fim, todos concordaram que embora esteja presente em áreas urbanas/construídas, a
biodiversidade é maior em áreas naturais, ou seja, nas áreas naturais existe maior
riqueza de espécies. Esse consenso, mais uma vez evidencia uma concepção naturalista
da biodiversidade, na qual esta é percebida como sendo composta apenas pelos
elementos naturais do meio ambiente. Se a idéia de biodiversidade dos participantes
incluísse também os aspectos sócio-culturais inerentes às populações humanas, os
centros urbanos também seriam lembrados como locais passíveis de se encontrar
biodiversidade.
“Eu já acho que nesse meio [construído] não existe biodiversidade. Eu acho que não”.
Estudante.
“Você acha que não existe aonde ? no urbano ?”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
61
“Não, existe. Não tô falando que não existe... a cidade foi um local construído. Existe !
Existe plantas... mas... a construção em si... não... O que eu entendo de biodiversidade é
algum tipo de vida mesmo, vida, assim, qualquer tipo...”.
Estudante.
“Existe mais biodiversidade na mata, na natureza, do que ... [na cidade], mas existe...”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
Quando indagados a respeito da relevância do tema biodiversidade em processos
de educação ambiental, os participantes comentaram sobre a importância da educação
para a conservação, e também da conservação de áreas naturais para serem utilizadas
com finalidade educativa. Essa abordagem da educação ambiental é definida por
Sorrentino (1998) como conservacionista. Ao mesmo tempo, percebe-se uma visão de
educação como sinônimo de transmissão de informação, a qual Mayer (1998) chama de
“educação ambiental sobre meio ambiente”.
“Mas acho que é importante você saber que espécie tem aqui, qual é a nossa, qual os tipos,
qual que é essa diversidade, tanto de espécie animal, vegetal, meio cultural, a história,
tudo isso faz parte da educação, o aluno tem que saber. É importante que ele tenha essa
base. Tem que saber o que que tem aqui para ele poder, ele vai preservar, preservar o quê?
Tem que saber quais são as espécies que nós temos para ele poder saber o que ele tem que
preservar, o que que é importante, o que que não é”.
Coordenadora pedagógica.
“Só cuida quem conhece. Quem não conhece não cuida de absolutamente nada”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Uma das participantes comentou a respeito da importância do contato com o
meio natural como forma de dar significado ao aprendizado. Essa abordagem da
educação ambiental é chamada de “educação ambiental no meio ambiente” por Mayer
(op.cit.), e de “educação ao ar livre” por Sorrentino (op.cit.).
“Ah, é relação do cotidiano, no caso, relação da nossa história, né? Quando você
relaciona com algo que está mais perto do aluno, mas fácil a aprendizagem. Constitui-se
aprendizagem com facilidade, né? Porque quando você fala alguma coisa é muito distante.
Se eles vão lá, eles vão ver, vão sentir, vão... Tem que significar. Quando a aprendizagem
tem significado, acontece realmente, não é só uma memorização. Se você der a evolução só
em livro didático, é como uma memorização que daqui a pouco você não lembra mais...
tem significado pra eles quando tem a prática junto”.
Coordenadora pedagógica.
Segundo Oliveira (2004), a concepção de educação ambiental tem como conceito
subjacente o de meio ambiente. Se este é entendido como uma categoria estritamente
biológica/natural, a educação ambiental tende a ser compreendida como ecológica ou
conservacionista (este caso). Se o meio ambiente fosse entendido como uma categoria
62
sociológica mais ampla, a educação ambiental tenderia a incorporar outras dimensões,
tais como social, cultural, econômica, entre outras, além da dimensão ecológica. Além
disso, os conceitos de meio ambiente, educação ambiental e biodiversidade podem se
apresentar pouco claros e controversos, já que são socialmente construídos e
influenciados por ideologias, tendências e interesses diversos.
“Eu acho que a educação ambiental... é todo tipo de informação, assim, que é passado pra
gente a respeito da biodiversidade... da forma de conscientização, de educação, de
preservação, de interação também como você falou, com o homem, como que nós nos
adaptamos ao meio ambiente... educação é tudo isso assim que fala do meio que a gente
vive”.
Estudante.
“...a gente colocou também que é tudo que vai nos ensinar a manter e preservar a questão
da qualidade de vida...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Embora sendo compreendida como informativa, os integrantes consideraram que a
educação ambiental constitui-se num processo longo e complexo, no qual as mudanças
somente são observadas em gerações futuras. Eles também apontaram o fato das
gerações atuais estarem mais conscientes em relação à conservação, já que em gerações
passadas, algumas práticas danosas ao meio ambiente, tais como a caça e a pesca
indiscriminada, eram mais comuns.
“Médio a longo prazo... [educação ambiental] não se faz da noite para o dia não...eu acho
que se faz no ritmo de gerações”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“A geraçãode nossos pais, principalmente do meu pai, assim, era predadora, né? Nossa
geração já deu uma melhorada, a de vocês já... cada vez mais... Cada geração vai
melhorar muito mais...”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“Antigamente quem falava isso [conservação] era taxado de louco, ‘aquele cara lá não
bate bem, só fala abobrinha’...”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
Um dos participantes exemplificou essa situação através de espécies de aves que
são facilmente encontradas atualmente, mas que há pouco tempo atrás não eram vistas.
“É muito comum você ver vários tipos de passarinho que tinha uma época que você não via
mais... Tucano, aquelas pombas do mato, aquela pomba grande que eu não via muito
também. Gralha, você vê muito, maritaca, periquito...”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
63
Com exceção da fala acima descrita, na qual foram exemplificados alguns
representantes da diversidade biológica local, percebeu-se que houve uma certa
dificuldade por parte dos integrantes do grupo, em citar esses exemplos. Talvez isso
possa ser justificado pelo fato de nenhum dos presentes ter alguma formação mínima na
área; ou ainda, pela pouca ocorrência de estudos sistemáticos de levantamento de
diversidade biológica local. Mesmo esses poucos estudos costumam ser de difícil acesso
aos leigos, principalmente pelo fato de sua linguagem ser muito específica
Além disso, devido à perda de contato das pessoas com o meio natural ao longo
dos anos, cada vez mais estas perdem a capacidade e a sensibilidade de perceber os
ciclos naturais, e, conseqüentemente, de identificar possíveis modificações no seu
entorno.
Embora na segunda reunião a educação ambiental ainda tenha sido concebida
como informativa, o grupo considerou o tema “conservação da biodiversidade” bastante
importante para ser debatido nesses processos. Alguns até explicitaram que sentiram
dificuldade em falar sobre esse tema devido à falta de informação e conhecimento sobre
o assunto.
“Se a gente continuar nesse desequilíbrio, nessa falta de discussão sobre o assunto a
gente vai continuar ignorando. Eu acho que a gente precisa estar discutindo, quer dizer,
aqui, todo mundo que tá aqui tem estudo e nós temos dificuldade de estar tratando... Se a
gente não discutir sobre isso aí, como é que a gente vai alterar essa realidade? Se a gente
mesmo que entende não entende...a gente tem uma dificuldade de precisar com exatidão.
A gente identifica que é importante, intui que deve preservar, mas a gente não sabe o
caminho. Então a gente fica todo mundo se enroscando, assim, né?”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
A relação estabelecida pelo grupo entre ser humano e biodiversidade é uma
relação de pertencimento. Em sua concepção, o ser humano faz parte do meio ambiente
e também é parte da biodiversidade, não sendo capaz de sobreviver sem os elementos
naturais do meio.
Apesar de estabelecida essa relação, a diversidade cultural não foi citada
espontaneamente. Percebe-se, então, que a biodiversidade é compreendida, pelos
integrantes do grupo, em um sentido estrito, ou seja, apenas como uma diversidade
inter-específica. Outras dimensões da biodiversidade, como, por exemplo, a diversidade
intra-específica, genética, de ecossistemas, paisagens e populações não foram
consideradas. Também não foi citada a criação de biodiversidade a partir de ações
humanas, tais como a transgenia e outras técnicas de manipulação biológica e genética.
64
“É que a gente acostumou muito ver a biodiversidade a questão de mata... O marketing
que foi feito em cima disso foi muito pra esse sentido... Então talvez a gente tenha mais
dificuldade pra visualizar isso... [biodiversidade] é todo tipo de vida, é a variedade de
vida, variedade de espécies e nós também somos espécies, tem uma série de outras
espécies talvez até não visíveis... Mas que estão aí compondo o todo da cadeia... Que é
uma cadeia... Aliás, fomos os primeiros a estragar tudo”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Analisando o comentário acima, observa-se a idéia de que o ser humano tenha
causado, ao longo dos anos, diversas interferências no meio ambiente, podendo ser
considerado o principal causador dos problemas ambientais atuais (entre eles, a perda de
biodiversidade). Assim, outra relação estabelecida pelo grupo entre o ser humano e a
biodiversidade seria de responsabilidade do primeiro para com as perdas e/ou
perturbações ocorridas no segundo.
Essa responsabilidade pelo desequilíbrio ecológico e pela perda de biodiversidade
ao longo dos anos é atribuída ao ser humano dito civilizado. O grupo acredita que as
comunidades tradicionais e indígenas tenham maior integração e respeito com o meio
onde vivem.
“Isso aí a gente às vezes fala que os caras desmatavam e tal... eles tinham um conceito de
preservação que eles tiram todo o homem daquela comunidade e aí deixa só um
representante que nem os pais do cara lá, deixa só o Zé Colméia lá... Mas quem destruiu
não foi o índio que vivia naquele parque porque a comunidade original de muitos desses
lugares, ela trabalha dentro do próprio ciclo da natureza e de forma equilibrada... Mas a
destruição foi tão grande e a nossa falta de informação é tão grande que de repente os
caras tiraram a pessoa que era de lá que trabalhava de uma forma mais preservada e
desequilibraram também o meio ambiente... Além de desintegrar aquela figura humana
que vivia lá, perdeu a sua função. Só sabia plantar ali, colher, sabe aquele negócio? E
eles perderam todo um processo cultural”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Embora os participantes tivessem dito que o ser humano pode ser responsabilizado
pelos problemas ambientais enfrentados na atualidade, inclusive a perda de
biodiversidade, um dos presentes comentou que esta também pode ter causas naturais:
secas, enchentes, queimadas, vendavais, entre outros.
Ainda segundo o grupo, já que a falta de consciência dos seres humanos justifica
os danos ambientais por eles causados, inclusive a perda de biodiversidade, o papel da
educação ambiental consiste em promover essa conscientização.
65
“Pelo que eu entendi aqui na nossa explicação de biodiversidade com educação
ambiental... Nós fazemos parte da biodiversidade e também foi discutido aqui quem que é o
grande causador desse desequilíbrio, desse desmatamento: somos nós, entendeu. Então,
assim, por isso que é importante a educação ambiental: ela só começa a partir, assim, da
gente... A relação do tema biodiversidade com educação ambiental. Essa educação
ambiental ela só vai começar a partir do momento que a gente tiver consciência que a
gente é o grande causador desse desequilíbrio, desse desmatamento. Então, assim, é a
relação que eu to fazendo, entende, de biodiversidade e educação ambiental...”.
Estudante.
Os integrantes também comentaram que nem todas as pessoas possuem as mesmas
responsabilidades em relação aos problemas atuais, entre eles a perda de biodiversidade.
Mas foi dito que todos ali, em função das atividades que exercem ou dos cargos que
ocupam, possuem a responsabilidade de difundir ideais e práticas conservacionistas.
“... eu acho que ... nós estamos aqui para nos sensibilizar com relação a isso. O único
jeito da gente ficar sensibilizado é ficar discutindo. Porque na verdade não fui eu... [você
ou ele] que foi lá e pôs fogo na mata, fomos lá, passamos a serra elétrica... a gente tem
que tomar uma ação, assumir a responsabilidade de espécie, você entendeu? Não fomos
nós, concretamente, que fomos lá e prejudicamos a natureza. Até pelo contrário: muitos
de nós fala assim ‘olha que absurdo, tá derrubando esgoto no rio, não estamos
preservando, não sei o que’ e, ao mesmo tempo, a gente se põe impotente com relação
historicamente a esses fatos ... A gente tem que sensibilizar porque é um assunto que não
está ainda completamente discutido, temos que discutir isso dentro da nossa realidade
que é São José do Rio Pardo e é por isso que eu acho importante estar fazendo esse
projeto ... A importância da gente estar discutindo aqui é que esse grupo vai ampliar essa
discussão para outros grupos”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Um participante discordou da colocação anterior, argumentando que, de certa
forma, todos nós somos responsáveis pelos danos ambientais, já que fazemos parte de
um sistema econômico essencialmente nocivo ao meio ambiente.
“Acho também que o próprio sistema de produção hoje ele enfrenta muito o interesse
econômico, né? Então, por isso que é tão difícil você... às vezes você tem até consciência,
mas pra você transformar... Na verdade vai ter que transformar pra ser ecologicamente
correto de verdade, né? Tem que transformar todo um processo... o sistema de produção, o
processo de produção... e vai influenciar economicamente também. Porque o sistema
implantado que é muito mais destruidor, digamos assim, é muito mais barato, né?... Do que
o ecologicamente correto”.
Empresário rural.
O grupo também acredita que os valores atuais de felicidade e bem estar estejam
muito ligados aos valores de posse.
“Acho que uma das preocupações é com posse, né?... pra sobreviver, né? Eu vou ter uma
casa mais que a dele, a minha é maior que a dele...”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
66
“Isso que você tá falando... em relação ao nosso país aqui a gente é influenciado pelos
Estados Unidos. Ali é o consumismo... é o descartável. Essa é a filosofia que nós temos. A
Europa já é totalmente diferente porque lá eles já passaram por 2 guerras mundiais. Eles
foram palco da guerra. Eles têm problemas de água... de energia. E é por isso que lá existe
essa... sabe, eles já sentiram na pele o que é faltar... aqui o que a gente absorveu foi a
cultura do consumismo americano, do desperdício, do descartável”.
Estudante.
“... a gente é influenciado, mas é o que eu falei: nós somos um grupo de formadores de
opinião. Então, de repente os supermercados podem voltar a ter aquelas sacolinhas de,
não sei do que, papelão, papel reciclado porque existe essa outra possibilidade, né? Mas
vai depender também da...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“Posso dar um exemplo? Meu pai tem uma distribuidora de água. Todo garrafão de água
vem com lacre e uma tampa. Eu não jogo nada... eu não consigo, eu tenho vergonha de
mim mesmo de pegar o papel, assim,e jogar na rua... E eu andava às vezes na cidade e
via... o rótulo e a tampa. Eu ficava com vergonha porque eu sabia que tava saindo da
minha empresa ... hoje eles [os funcionários] juntam e guardam. No final de três ou quatro
meses a gente vende as tampinhas e eu dou o dinheiro pra eles... Aí eles tão recebendo
dinheiro da tampinha, agora eles não jogam nem no lixo eles não jogam, eles guardam...
Quer dizer, foi um trabalho que não foi fácil. Eles tiveram que ganhar o dinheiro da
tampinha pra não fazer mais isso”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
Apesar de terem dito que o ser humano pode ser responsabilizado pelos problemas
ambientais atuais, nenhum dos participantes soube afirmar se a biodiversidade está
realmente se perdendo. Eles acreditam que a preocupação com a conservação tenha
aumentado muito nas últimas décadas, e que atualmente não é difícil encontrar
iniciativas relativas à conservação nas escolas, em órgãos públicos e até mesmo na
mídia.
“Eu acho que o exército de hoje tá bem maior que antigamente pra defender essa terra,
mas ainda não sei se a gente tá conseguindo... se já chegou próximo do equilíbrio. Mas se
você pegar, uns tempos atrás ninguém discutia isso, ta preocupado com isso, hoje e agora
com essa educação dessa meninada que ta surgindo, dessa geração mais nova, vai
aumentar muito mais porque desde pequenininho tá pondo na cabeça a importância... de
primeiro não existia isso. A gente era da geração de matar passarinho, essas coisas,
detonar... nossos pais eram predadores em potencial, tanto histórico...qualquer tipo de
coisa eles... E agora nós já estamos melhorando muito, nossos filhos vão melhorar mais.
Vai chegar uma hora que vai, vai virar o jogo... não sei se já ta empatando né? Mas ta
chegando perto”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“A gente acha, assim, que a ... ela consegue ser mais lenta, a destruição é mais rápida do
que a possibilidade de conservação. Então eu não sei bem dizer como é que é, tá esse
jogo”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“... eu tenho dúvida, assim, como é que tá essa nossa disputa, entendeu? Se as
monoculturas, a destruição e tudo mais, não está sendo mais rápida do que a preservação
da biodiversidade. Mas, eu acho que é o caminho que a gente tem que caminhar, quer
dizer, cada um de nós fazer a sua parte como cidadão e quanto mais consciente, buscar
67
para interagir em projetos como esse. Acho que isso é o que a gente pode fazer, né?”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“Um exemplo essa quadra aqui era um jardim artístico, com umas árvores centenárias,
que era uma beleza. Na época que destruiu isso aqui, só tinha uma pessoa que defendeu
que era um jornalista e todo mundo achava que era louco, ele era não sei que. Hoje
ninguém destruiria mais isso aqui. Não ia mais conseguir respaldo por aí”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
Mesmo sem saber ao certo se a biodiversidade está se perdendo, os participantes
presentes acreditam que ela deva ser conservada por diversas razões, que vão além do
potencial educativo citado anteriormente. O primeiro argumento utilizado foi o
egoístico/utilitário (HAGVAR, 1994), também chamado de antropocêntrico por
Oksanen (1996), por meio do qual a conservação da biodiversidade é baseada na sua
utilidade potencial de acordo com interesses e desejos humanos. Oksanen (op.cit.)
definiu essas categorias de argumentos com base na maneira como a preservação da
biodiversidade é justificada moralmente em textos de ética ambiental. Embora suas
conclusões não sejam favoráveis a considerar a biodiversidade como um valor
intrínseco, este deve ser atribuído aos seus vários elementos, que devem ser preservados
em benefício de todo o sistema natural.
“Turisticamente e econômico”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“... a sobrevivência, por exemplo, do próprio negócio do... se ele não tiver preocupação
com a qualidade de vida, com a manutenção das matas, da qualidade de vida, tudo mais...
daqui um tempo ele não tem... então é uma opção de trabalho, uma opção de vida, é uma
filosofia”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Outro argumento citado foi o ecológico (HAGVAR, op.cit.), também chamado
de ecocêntrico por Oksanen (op.cit.). Neste, a conservação da biodiversidade é
sustentada na sua função ecológica de manutenção do equilíbrio do sistema.
“Ambiental também... Ué porque quando está preservando tudo que nós falamos aqui, o
desmatamento, se você num... vai acabar perdendo o equilíbrio ecológico, ué. É um
trabalho ambiental num outro sentido, eu acho”.
Coordenadora pedagógica.
“Eu acho que é uma coisa assim, a educação no sentido da formação do ser, sabe como
é que é? Não só educação formal, educação de escola, é a educação do cidadão, como
um ser que interage com o global, entendeu?... Porque não é só essa coisa imediata, não
é só o cara com o Rio Pardo, com aquela arvrinha, com aquela matinha, né? É o ser com
o global. Aquela mata que tem a ver com o Estado, tem a ver com o país, que tem a ver
com o planeta, né? E que aí vai, a gente espera, né? Que vai tornar isso uma consciência
maior, né?”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
68
Um terceiro argumento utilizado pelos participantes foi no campo da ética,
podendo ser considerado como uma aproximação da categoria “ético”, definida por
Hagvar (1994), segundo o qual a biodiversidade deve ser conservada pelo seu valor
intrínseco e pela responsabilidade do ser humano com as futuras gerações.
“... a natureza ensina muito pra gente a questão do respeito também com o outro, né?
Que é uma coisa muito interessante e importante... Quando você aprende a respeitar a
natureza, você aprende a respeitar uma outra coisa, uma outra pessoa, né? Você tem que
fazer aquilo não só por você, né? Você pode até não utilizar aquilo... vai respeitar aquilo
em função de outras pessoas que vão vir e que vão precisar daquilo, que vão se utilizar
daquilo, né?”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“Eu acho que a gente vai preservar pela nossa própria responsabilidade, que a gente
pode também não estar sabendo falar completamente, sobre o que que é biodiversidade,
sobre tudo isso que você está nos perguntando, mas eu acho que a gente como espécie
tem responsabilidade de preservar...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Por fim, o grupo concluiu que a biodiversidade deve ser conservada por todas
essas razões: econômicas, ecológicas e éticas.
“Então, acho que a gente tem essa responsabilidade. Responsabilidade mesmo, de espécie,
sabe. É como eu falei, acho que a gente recebe as coisas... mesmo com a questão da
educação. Você recebe conhecimento você passa a ter a responsabilidade sobre esse
conhecimento que você recebe. Você passa a ter responsabilidade de passar para os
outros. Porque você recebeu.... não é uma coisa pra você guardar dentro de você, é uma
coisa pra você passar pra frente. Então, o conhecimento, a preservação, tudo isso eu acho
que são responsabilidade mesmo”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“... a gente também não conhece São José do Rio Pardo, e essa questão da sua
peculiaridade, né, precisamos saber, para que a gente também exerça essa nossa
responsabilidade de preservação. Pra que é? É pra tudo: é pra nós, pras outras gerações,
é pra preservação da qualidade de vida, é pra preservação do negócio... é pra
preservação, sei lá, dos tataranetos, é de tudo, a nossa própria... Nós não vamos ter água
se a gente continuar desmatando, imaginem! Imagina a gente morrendo de sede...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Com relação ao problema da água, já anteriormente mencionado, foi discutido se
essa preocupação seria mesmo para o futuro. Algumas pessoas comentaram que a falta
d’água em algumas regiões já é um problema atual.
“Essa preocupação é pro futuro, né? Pra nós não vai acontecer isso de falta d’água, mas
se a gente não começar a pensar agora, a próxima geração vai ter. Então, acho que já faz
parte dessa... se a gente pegou uma coisa bem feita, mas temos a obrigação de entregar
bem feito. Se pegou errado, temos a obrigação de consertar pra entregar pra próxima
geração...”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
69
“Na verdade já tem cidade que estão pegando água... não aqui, mas...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“Mas em 10 anos dá pra ficar sem água, se não cuidar”.
Empresário rural.
“São Paulo tem essa preocupação, eu tô falando que São José não tem. São Paulo que se
vire, São José tem água... Pode piorar, mas não vai acabar...”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“Mas é o tal negócio: lá acabou, eles vão vir aqui buscar, ué, eles vão vir aqui buscar.
Esse é o problema: a gente tem, né? A gente não precisa, vamos dizer, São José do Rio
Pardo ta tranqüilo sobre esse assunto. Mas se lá acabar, eles vão ter que ir buscar, né?
Aonde? No lugar mais perto...”.
Produtor rural.
“É o negócio do futuro, vender água”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Os integrantes concordaram que um planejamento adequado das atividades
humanas seja essencial para a conservação do meio ambiente e da biodiversidade.
“Você falou a palavra-chave agora: planejar. Isso é uma coisa que eu acho que também
faz parte da evolução. O homem aprender a planejar. Porque não é que ele não possa
conviver com a natureza que obrigatoriamente ele vai destruir. Não é que a gente aqui na
cidade vai obrigatoriamente ter que destruir. A questão do planejamento, seja na área
que for, tendo planejamento não...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“Você planejando, você cria as regras”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“Por exemplo, nós vamos lá na Fazenda da Tubaca, nós vamos fazer essa trilha. É um
produto turístico... Pode ser outra coisa, mas é um produto turístico. Você vai levar um
grupo na mata da Tubaca que está cercada. Por que ela está cercada? Porque já foi
catalogada... Então, há um planejamento. Alguém fez aquele levantamento ... as árvores
são marcadas. A gente tava morrendo de medo que o Eduardo não fosse autorizar. Ele
falou assim: ‘não, era tudo o que eu queria era um projeto desse tipo, pra que? pra dar
continuidade ao que foi feito’, quer dizer, então tá sendo feito um planejamento. Ele ouviu
o que as meninas expuseram e aceitou que seja feito lá. Quer dizer, ele vai estar abrindo
a fazenda dele, um lugar fechado, pra estar oferecendo pra comunidade o produto.
Ninguém mais vai ter que pular a cerca pra entrar na mata da Tubaca. Vamos poder
passar pela porteira”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
O grupo também discutiu um pouco a respeito da questão da coerência entre o
discurso ambiental e a prática. Este acredita que as pessoas ainda queiram tirar
vantagens das diversas situações e buscam atitudes mais cômodas no seu dia-a-dia,
como forma de não assumir sua parcela de responsabilidade para com as questões
relativas ao meio ambiente.
70
“Eu acho que a gente olha sempre pro lado... sei lá se é negativo ou lado errado...você fala
pra pessoa ‘não joga o lixo no chão, não joga o lixo no chão’ aí você vê lá na Tubaca...
que nem pescar... ah, eu não vou soltar porque o outro não solta... A gente sempre quer
burlar, né? ... ‘ah isso aqui não tá certo... mas todo mundo faz’... É uma coisa natural,
geral, né? A pessoa sempre copia o errado nunca copia o certo”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“Isso ainda é, infelizmente, aquela .... de tirar vantagem, de levar vantagem”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“É uma coisa de disciplina ... é uma postura. É a sua filosofia de vida, quer dizer, você
aceita que você vai... passar a fazer aquilo. Você passa a fazer, independente de está se
preocupando se o outro tá fazendo ou não. Porque a gente tem que ser modelo, achar que
é modelo, né? Então você é modelo, alguém tá vendo, alguém vai aproveitar isso que você
ta fazendo: a sua maneira de falar... a sua maneira de fazer. Porque como é que você vai
ensinar se você não faz, né? ... Agora a coerência do nosso discurso aí é uma coisa
pessoal, é uma coisa que eu acho que cada um de nós tem que buscar... A gente acho que
busca o mais fácil, o mais cômodo”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“Eu acho que o pessoal foge da responsabilidade... porque se eu jogar o papel aqui na
rua... Alguém vai ter que ir lá limpar. Esse papel vai causar alguma coisa. Então, eu acho
que é fugir da responsabilidade. Joga porque tem o cara que vem varrer. Se eu não jogar,
não precisa ninguém varrer. Já vai estar limpo, então eu acho que fugir um pouco dessa
responsabilidade. Uma pessoa vai acampar: ela tem que ser responsável pelo lixo que ela
leva...”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
“Eu vou dar um outro exemplo... Vou voltar pra questão do turismo. O turista vai à
cidade então, e ele acha que ele não tem responsabilidade sobre aquela cidade. Por quê?
‘Cara, eu passo ali um fim de semana, não sou eu que estou destruindo a cidade, não é o
lixo que eu vou deixar... que vai depredar a cidade porque a minha estadia ali é muito
pouca’... ela está acostumada de se isentar dessa responsabilidade porque ela acha que
aquela fração de tempo da vida dela é muito pouca pra ela ter que assumir a
responsabilidade... A gente passa por esses momentos achando que aquilo é muito
insignificante dentro do problema total. Então, a gente se libera dessa
responsabilidade...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
O grupo também fez algumas relações entre os aspectos de diversidade biológica
e cultural presentes na região, mais uma vez ressaltando a importância do rio Pardo,
como elemento natural preponderante da ocupação humana, do uso do solo, da história
e dos costumes locais.
“Desde a origem da cidade, da história da origem da cidade. Os Caiapós... era uma tribo
que existia aqui. A proximidade com Minas, a nossa influência mineira. Produção de café
e não cana-de-açúcar, por exemplo... Tem a estação ferroviária porque tinha a plantação,
fez a ponte porque tinha que vir o café para ir para a estação ferroviária para ir pra
Santos. Depois vieram os italianos porque houve a abolição da escravatura aí, então os
italianos vieram pra produzir. Eles trouxeram toda a cultura italiana”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“O próprio jeito de construção aprendeu com os italianos, né? O barro e o cimento”.
Comerciante.
71
“... a nossa origem, a questão cultural é total a diferença. O fato de ter uma ponte
importante, o fato de ter o rio que corta mesmo a cidade é fundamental. A pesca é
conseqüência de haver o rio no centro da cidade”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
“Normalmente a localização de uma cidade é em função de rio, e tal...”.
Empresário rural.
“Que corta o centro todo não são todas as cidades. Tem proximidade mas como São José
que você olha do Cristo, a cidade ... se esparrama ao longo do rio, né? Ela vai sendo meio
comprida, né? Porque ela vai indo no sentido. Os bairros populares estão indo pra
Mococa, estão avançando as áreas rurais, né? A questão da cidade, do urbano estar
avançando na questão rural”.
Diretora de fomento ao turismo.
Apesar de inicialmente a biodiversidade ter sido considerada um potencial
ambiental local, percebe-se uma contradição por parte dos participantes: se a
biodiversidade é entendida por eles como sinônimo de diversidade biológica, como ela
pode ser potencial, uma vez que foram citados vários problemas ambientais que
influenciariam diretamente sobre ela? Por outro lado, embora citados como
potencialidades ambientais, os aspectos sócio-culturais não foram inclusos na definição
espontânea de biodiversidade.
De fato, o município possui uma diversidade cultural bastante relevante e
particular, e este aspecto não pode ser ignorado em processos de educação ambiental, já
que os problemas ambientais, na maioria das vezes, têm causas comuns aos problemas
humanos.
73
7. A CONSTRUÇÃO COLETIVA DA TRILHA INTERPRETATIVA DO MEIO
O presente capítulo descreve a intervenção educativa em si, ou seja, o processo
de construção coletiva da trilha interpretativa do meio, que compreendeu as seguintes
fases:
§ a escolha do local;
§ a elaboração prévia do roteiro;
§ as revisões do roteiro realizadas com o grupo de participantes de São José do
Rio Pardo, antes e depois das visitas das crianças à trilha;
§ a avaliação da atividade, feita pelas crianças e pelos integrantes do grupo;
§ a avaliação que o grupo fez do processo como um todo.
7.1. Elaboração
A trilha interpretativa do meio foi elaborada juntamente com os participantes, a
partir dos temas considerados relevantes no contexto local.
Alguns dos objetivos da trilha interpretativa do meio foram: possibilitar a reflexão
e a discussão das questões ambientais locais e regionais mais relevantes; valorizar o
conhecimento local, bem como incentivar ações coletivas e individuais de recuperação,
melhoria e/ou conservação das condições ambientais locais.
Percebeu-se logo de início que havia um grande interesse e desejo das pessoas
em participar desse projeto. Assim, as expectativas delas em relação à trilha foram
incorporadas como objetivos desta, além daqueles propostos pela pesquisadora. Os
participantes também tomaram parte da escolha do local da trilha, sugerindo diversas
áreas para a implantação desta.
Eles também fizeram várias sugestões, tanto em relação aos temas e assuntos a
serem abordados na trilha, quanto em relação a assuntos de ordem mais prática, tais
74
como: quais turmas deveriam ser envolvidas no trabalho, duração da atividade, meios de
transporte, entre outros.
Como dito anteriormente, os diversos momentos da construção coletiva da trilha
foram caracterizados por diferentes graus de participação dos envolvidos. A fase de
elaboração do roteiro preliminar da trilha foi a menos participativa do processo todo.
Nela, a pesquisadora, utilizando-se dos temas levantados nos diagnósticos, bem como
das sugestões dadas pelos participantes, elaborou um roteiro que fosse pautado pelos
princípios e diretrizes da percepção e da interpretação ambiental.
A etapa seguinte, que compreendeu o curso de formação de monitores, a
implantação da trilha e a avaliação desta pelos participantes, também foi bastante
participativa, já que todos puderam expor suas idéias e debatê-las entre si, aprimorando,
dessa forma, o roteiro prévio da trilha.
Embora na concepção do projeto, a etapa de elaboração da trilha se iniciasse após
o diagnóstico local, na prática, ambos ocorreram de forma concomitante. Os
participantes deram sugestões ao roteiro da trilha, comparando os problemas municipais
com aqueles passíveis de ocorrer na trilha a partir do uso público, sendo que também
foram elaboradas revisões e adaptações do roteiro pré-estabelecido.
7.1.1. As expectativas dos participantes em relação ao projeto
Durante os primeiros contatos com os participantes locais, e antes mesmo de
termos definido o lugar para a implantação da trilha, percebeu-se que as expectativas de
alguns em relação ao projeto era de construirmos uma trilha que tivesse, além da
finalidade educativa proposta pela pesquisadora, uma finalidade turística. Outra
expectativa, detectada logo nos primeiros encontros, era referente a darmos subsídios a
eles para que pudessem construir outras trilhas no futuro. Essas expectativas foram
confirmadas durante a nossa primeira reunião.
“A minha expectativa é que com isso a gente possa conseguir ter um produto turístico,
também, legal pra São José e uma possibilidade de trabalhar a questão da preservação”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Uma perspectiva bastante importante em um trabalho que tenha a intenção de ser
participativo e que foi identificada logo na primeira reunião, é a perspectiva de troca, de
possibilidade de benefícios oriundos do trabalho, a todos os envolvidos.
75
“...trabalho com Esporte e Aventura e a minha expectativa é a melhor possível para
ajudar vocês e também nos ajudar a fazer esse projeto”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
“...a minha expectativa é poder ajudar vocês a construir esse trabalho e, ao mesmo
tempo, transformar essa trilha num projeto, num produto turístico ... nossa tentativa,
nesse sentido, tem sido constante ... a grande preocupação de todo mundo é falar que o
euclidianismo não é o turismo de São José do Rio Pardo, e na realidade, a nossa
preocupação deve estar voltada para o turismo de aventura, é relacionado com
natureza... mas, tem sido, na minha opinião muito difícil. ... na verdade ninguém tem esse
interesse, a não ser nós e a... [agência de esportes de aventura]”.
Secretário Municipal de Turismo.
Surpreendentemente durante a primeira reunião, um dos participantes com quem
a pesquisadora já havia conversado previamente sobre o projeto, e que na ocasião
mostrou-se bastante interessado, disponibilizando material de consulta para a pesquisa e
sala para as reuniões, revelou-se um tanto reticente ao trabalho de educação ambiental.
Segundo ele, em experiências anteriores, ele pôde observar o caráter pontual e
descontínuo de tais intervenções.
“Em termos de expectativa eu não vejo assim como uma possibilidade de integrar os
diferentes seguimentos uma questão de projeto ambiental onde o turismo rural seria um
dos caminhos porque, na realidade, o que eu sinto aqui é, quando eu estive no Caíque,
dando umas palestras lá, o que eu vejo são atividades pontuais, sem continuidade. Eu vejo
que a questão da educação infantil não tem um programa dinâmico para todas as faixas
etárias... é uma campanha de garrafa pet, ou disso ou daquilo e sem continuidade...”
Engenheiro Agrônomo da Secretaria de Agricultura.
Outro participante também se queixou do caráter pontual e descontínuo das ações
educativas relacionadas ao tema ambiental.
“Esse assunto é tratado pontualmente, não tem uma seqüência.... então as pessoas têm um
conhecimento vago dessas coisas, vem um grupo de dá uma informação, vem outro grupo e
dá outra informação...então a escola precisaria se preocupar em fazer isso de uma maneira
perene”.
Secretário Municipal de Turismo.
A própria concepção do projeto de forma participativa reflete certa preocupação
com essa descontinuidade das ações educativas de cunho ambiental, e já se constitui em
uma tentativa de garantir a sua seqüência quando não houver a presença da
pesquisadora.
Um fato bastante positivo foi o de que todas as dez pessoas convidadas
previamente para a primeira reunião compareceram além do administrador da Fazenda
76
Tubaca (local onde desejávamos implantar a trilha) e da coordenadora da escola
municipal Stella Maris Barbosa Catalano, cujo convite foi feito pelos próprios
integrantes do grupo. Isso mostra a relevância do tema e o interesse dos cidadãos em
conhecer e participar do projeto.
A coordenadora da escola municipal mostrou-se bastante feliz e interessada na
proposta da trilha e, juntamente com a diretora da escola - ambas já tinham participado
de projetos semelhantes - demonstrou interesse em criar oportunidades para os alunos
participarem de atividades educativas relativas à questão ambiental.
“... sou professora da rede municipal... porque eu nem sei do que se trata, né? Daí ele me
adiantou alguma coisa e eu achei que veio de encontro com o que a gente trabalhou com os
alunos na escola né? ... e eu fiquei feliz, né? Eu vim sem saber direito do que se tratava
mas eu acho que eu tô no ambiente certo, que a gente possa fazer um projeto lá porque a
gente tá tentando fazer um projeto desse desde o ano passado, a gente trabalha muito na
busca da preservação...”
Coordenadora pedagógica.
Por fim, o comentário a seguir resume as expectativas dos participantes em
relação ao projeto. A elaboração de uma trilha com finalidades educativa e turística
daria continuidade a um trabalho de conservação já iniciado na Fazenda Tubaca.
“Eu acho que, na verdade, isso o que vocês estão querendo fazer é o coroamento de um
trabalho porque, por exemplo assim, a família ... vem há muito tempo preservando essa
área. Então a gente fala muito de desmatamento ... então a pessoa preservou, conseguiu
um trabalho onde foram catalogadas as espécies, e a mata tá fechada esperando
exatamente o coroamento desse trabalho que é ... isso que vocês estão propondo, é
finalizar tudo isso que já foi feito, a preservação, esse levantamento das espécies e
retornando isso pra comunidade... em forma de conhecimento, de dinâmica que possa
trazer esse conteúdo, essa valorização da mata, de como é que ela foi formada, da
história, de tudo isso que vai estar envolvido com a história das pessoas como cidadãos
riopardenses, né, que vão estar no contexto de um planeta... Enfim, então é todo um
coroamento de um trabalho que vai fazer com que aquilo tenha um sentido verdadeiro e
aumente a referência das pessoas ... quer dizer, as pessoas vão ter um referencial pra se
basear, saber por que preservar, que isso significa, vão contaminar também outras
pessoas porque vão os alunos e as famílias também vão sendo conscientizadas disso, né?
Então, isso é o que a gente precisa porque são poucas as áreas que foram preservadas,
então se não houver um trabalho desse, elas ficam lá e não tem...”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
77
7.1.2. A escolha do local da trilha
Desde a primeira visita a São José do Rio Pardo já se buscava conhecer locais
passíveis de implantação da trilha. Num primeiro momento, essas visitas eram feitas
apenas pelo grupo de pesquisadoras, mas a partir o momento em que foi-se conhecendo
interessados em participar do trabalho, estes foram inclusos no processo de escolha,
sugerindo locais que consideravam apropriados, acompanhando as visitas de
reconhecimento e avaliando as possibilidades de cada um desses locais.
Na área urbana, várias foram as possibilidades sugeridas e avaliadas. Uma delas
seria uma trilha através da qual os usuários tivessem a oportunidade de percorrer os
principais casarões e monumentos ligados à vida e obra de Euclides da Cunha (muitos
dos quais já se configuram como atrativos turísticos da cidade), tais como a ponte sobre
o rio Pardo, construída por ele; a casa onde viveu, quando esteve em São José do Rio
Pardo e que hoje abriga um museu dedicado a ele; e o monumento construído no local
de seu escritório, localizado às margens do rio Pardo.
Essa trilha abordaria principalmente as potencialidades e os problemas definidos
anteriormente pelos participantes para a área urbana, tais como o rio Pardo, enquanto
elemento preponderante da ocupação e dos costumes locais; a biodiversidade urbana,
entendida num sentido mais amplo, incluindo aspectos sócio-culturais; e até mesmo a
poluição do rio e a pouca arborização poderiam ser inclusos, já que poderiam ser
facilmente percebidos pelos visitantes.
Um outro local, ainda na área urbana, que possibilitaria a implantação de uma
trilha interpretativa do meio seria a Mata do Carneirinho (também conhecida como
“Mata da Paixão”) que consiste em um remanescente de vegetação nativa, pertencente
ao município e localizado em uma área de bairros nobres da cidade.
A área desse remanescente é de aproximadamente 20.460 m
2
e é cortada por
uma nascente que desemboca no córrego Macaúbas (afluente do rio Pardo). Ali também
eram despejadas águas pluviais trazidas por duas manilhas, provenientes de bairros
circunvizinhos à mata (BOZZINI, 1996). Nos últimos anos essa canalização foi
desviada para o sistema municipal de coleta de esgoto.
De acordo com o levantamento fitossociológico feito por Bozzini (op.cit.), a
Mata do Carneirinho apresenta um pequeno índice de diversidade quando comparada a
outras áreas, tais como a Mata da Capetinga, no Parque Estadual de Vassununga, em
78
Santa Rita do Passa Quatro; a Mata da Figueira (mata galeria) em Mogi Guaçu; o
Bosque dos Jequitibás, em Campinas; e a Mata São José, em Rio Claro.
O porte das árvores da mata foi definido pelo pesquisador como médio-alto,
porém, ele observou efeitos resultantes da ação antrópica no interior desta. Embora em
muitos locais haja um dossel denso, possibilitando maior retenção de umidade no solo e,
conseqüentemente, grande quantidade de fungos e nutrientes, também foram detectadas
áreas de clareiras, com grande quantidade de plantas pioneiras e de trepadeiras - o que
evidencia que a área já sofria com o efeito de borda, ou seja, uma grande quantidade de
lianas e cipós cresce sobre as árvores próximas à beirada da mata.
A Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, com a finalidade de
aumentar a diversidade de espécies na Mata do Carneirinho, pretende replantar nessa
área algumas espécies nativas da região já não são mais encontradas no local.
Esta área foi descartada para a implantação da trilha em virtude de seu pequeno
grau de conservação e à sua grande ação antrópica. A Mata do Carneirinho necessitaria,
ainda, de algumas melhorias de infra-estrutura, que possibilitariam as visitas de grupos,
já que não existia uma picada aberta, e havia uma grande voçoroca beirando a nascente
ali localizada. Além disso, pelo fato de uma das componentes do grupo de pesquisa já
estar desenvolvendo, há alguns anos, seus trabalhos diretamente ligados ao rio Pardo,
uma das participantes sugeriu que, como forma de manter a integração da presente
pesquisa com as demais, desenvolvêssemos a trilha em um local no qual pudéssemos ter
um contato visual com o rio, condição não atendida pela Mata do Carneirinho.
Embora a possibilidade de desenvolver uma trilha com o tema “biodiversidade
urbana” fosse bastante interessante devido ao seu caráter inovador, também optamos por
desenvolvê-la em uma área natural, em função de se manter a proposta inicial de
integração das três pesquisas, pelo fato das outras participantes terem propostas de
atividades em áreas naturais.
O primeiro local que conhecemos na área rural, a Fazenda Fortaleza, já despertou
bastante atenção por ser um fragmento considerável de mata nativa, com árvores de
grande porte e espécies representativas locais. Pareceu-nos o local ideal para o
desenvolvimento do trabalho. Um dos participantes declarou que a Fazenda Fortaleza
seria mesmo o local ideal para a construção da trilha, já que é uma das áreas mais bem
preservadas do município.
Para que o pedido de autorização junto à Usina Itaiquara fosse formalizado, foi-
nos pedido um ofício da Universidade, juntamente com uma breve explicação das
79
finalidades da pesquisa e dos grupos envolvidos nas visitas (Apêndice C). No entanto,
mesmo depois de encaminhar essa proposta, não obtivemos autorização dos
administradores da fazenda para desenvolver o trabalho no local. Outras áreas foram
então sugeridas pelos participantes de São José do Rio Pardo, e, embora não reunissem
atrativos como fragmentos de matas nativas e outras formações vegetais, também
poderiam ser utilizadas para a implantação da trilha.
Assim, um outro local visitado pelo grupo foi a Fazenda Santa Teresa. Esta é
cortada pelo Rio do Peixe (afluente do Pardo) e, além deste, outros atrativos poderiam
ser incorporados a uma possível trilha interpretativa: a Usina Rio do Peixe (uma
hidrelétrica construída em 1920, localizada na propriedade), áreas de matas nativas,
áreas de pastagens, ruínas de uma antiga fazenda de café, bem como a extração de areia
no leito do rio. O interesse dos proprietários da fazenda em promover a visitação no
local era grande, de forma que já estavam construindo uma infra-estrutura de apoio ao
visitante: um restaurante, um barracão para reuniões e sanitários. Já existem, no local,
trilhas que podem ser percorridas a pé, a cavalo ou de moto. Também já se pratica o
rapel no local.
De fato, a Fazenda Santa Teresa possui um potencial enorme para o
desenvolvimento de um turismo ambiental ou ainda de um turismo de aventura
(Apêndice D). Porém, os locais com maiores possibilidades para uma trilha com
finalidade educativa, passando por áreas de matas conservadas, estão localizados em
morros e/ou áreas de difícil acesso, principalmente para se desenvolver atividades com
grupos de crianças. As trilhas com finalidades educativas não devem exigir grandes
esforços físicos dos visitantes, pois o cansaço é um dos fatores que pode comprometer a
aprendizagem (BRINKER, 1994).
Outras três áreas passíveis de se implantar uma trilha interpretativa do meio,
visitadas pelo grupo foram: a trilha dos carrapatos, a fazenda Tubaca e a área da
cachoeira Santa Helena. Na primeira delas, apesar de já haver interesse prévio por parte
de alguns integrantes do grupo em se implantar uma trilha no local, por ser este o trajeto
do antigo trem que transportava o café produzido na região e pela paisagem privilegiada
do rio Pardo, foi logo descartada pelo pouco potencial educativo, já que é praticamente
constituída por áreas de pastagens e reflorestamento em morros, não apresentando
nenhum trecho de mata preservada e nem mesmo uma trilha definida, além da
possibilidade de infestação dos visitantes por carrapatos.
80
“...[na trilha dos carrapatos] para chegar em alguns pontos a gente foi obrigado a dar
algumas voltas e passa por lugares de difícil acesso, que pra criança não é
aconselhável”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
A área da cachoeira Santa Helena também foi descartada pelo pequeno grau de
conservação da sua mata, representado por indivíduos de pequeno porte, presença de
muitas clareiras e também pela grande quantidade de lixo encontrada às margens da
cachoeira.
A Fazenda Tubaca possui uma área de 2.057 hectares, sendo 25% desse total
coberto por vegetação nativa, caracterizada como Floresta Estacional Semidecidual. A
fazenda também possui áreas de pastagens, criação de gado confinado e áreas de cultivo
de café. A área de mata utilizada para a atividade constitui-se num trecho remanescente
de mata ciliar do rio Pardo, que se apresenta bastante conservado e tem uma grande
diversidade de espécies. Esta área nos pareceu ideal por ser próxima à área urbana - o
que facilitaria o transporte das crianças - com trechos planos, relativamente curtos,
diminuindo as dificuldades da caminhada; ser de fácil acesso para ônibus escolares e,
principalmente, por possuir uma grande quantidade de espécies botânicas já
identificadas por meio de placas.
Por fim, logo na primeira reunião com os participantes, definimos, em conjunto,
que a Fazenda Tubaca seria a área ideal para a implantação da trilha interpretativa do
meio. Vários dos integrantes do grupo, inclusive alguns que estiveram conosco nas
visitas de reconhecimento, apontaram a Fazenda Tubaca como sendo o local ideal para a
implantação da trilha, em prejuízo dos outros locais visitados.
“Sem dúvida nenhuma foi falado ontem que o trecho da sua fazenda seria ..., se o
[administrador da fazenda] tiver de acordo, seria o ideal porque ali já existe uma
identificação de mata, já existe um trabalho, na verdade seria um novo trabalho que iria
dar uma continuidade pra isso...”
Diretora de fomento ao turismo.
“Sem dúvida nenhuma a mata da Tubaca seria melhor mesmo, né.... ela tem acesso dos
dois lados, já tem uma coisa identificada... Da ponte a entrada da mata tem 900m...”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
Até mesmo o administrador da Fazenda Tubaca acredita que o local seja o
melhor para a implantação da trilha devido à presença de trechos de mata conservada.
“Eu acho que saindo da ponte alí da Nestlé [trilha dos carrapatos] tem coisa bonita,
tirando isso, não vejo muito... não tem mata ali, né? Não tem mata nenhuma até chegar
na Tubaca...”
Administrador da Fazenda Tubaca.
81
Ele ainda deixou claro que possui uma grande preocupação com a questão da
conservação das matas nativas em sua fazenda, quando mencionou que está tentando
transformar uma dessas áreas em uma Reserva Particular do Patrimônio Nacional
(RPPN).
“..Sou agricultor aqui de São José do Rio Pardo, resido na fazenda Tubaca ... e eu tô
tentando, pleiteando uma RPPN que é uma reserva do patrimônio natural, dada a
burocracia aqui no Brasil, está se arrastando já por ... 2 anos. Ainda não consegui, mas já
está em Brasília, já foi aprovado por Ribeirão Preto e essa RPPN vai fazer uma área ali de
mata, provavelmente vocês passaram próximo ou dentro, não sei qual foi o caminho da
trilha ... passa a ser um patrimônio interessante pra cidade, para o turismo, seja lá o que
for”.
Administrador da Fazenda Tubaca.
“Essa área [a área da trilha] é a área da possível RPPN. Existe uma dificuldade tão
grande, tão grande que faz com que o proprietário da área quase que não tem interesse
nenhum em RPPN, interesse zero ... Então, independente da RPPN essa mata, eu gostaria
que fosse incluída uma trilha para alguém aproveitar se não, não tem razão nenhuma. Já
botei plaquinhas, quero botar mais ainda...”.
Administrador da Fazenda Tubaca.
Embora autorizando o uso da fazenda para a implantação da trilha e
demonstrando preocupação com a conservação dos remanescentes de mata nativa da
Tubaca, o administrador da fazenda mencionou algumas das suas inquietações em
relação à implantação da trilha. Uma delas dizia respeito a quem seriam os usuários
desta.
“Uma coisa importante é saber quem serão os usuários da trilha, com que veículos que
eles vão na trilha porque a trilha de motocicleta, por exemplo, eu tenho pavor ... e quem
vai a pé, a 200 por hora espantando tudo... Se for uma trilha a pé realmente é uma trilha
interessante ... para observar a natureza, para conhecer a área... Ciclista até é
admissível...”.
Administrador da Fazenda Tubaca.
“... essa seria uma trilha para andar a pé, no máximo de bicicleta ...”.
Administrador da Fazenda Tubaca.
Outra preocupação do administrador da fazenda Tubaca era em relação à infra-
estrutura que teríamos de construir para possibilitar a visitação no local.
“Eu estou querendo saber o que é preparar uma trilha, depois de pronta... o que que é? ...
é botar banco para sentar, botar lixo pra jogar, o que é ?”.
Administrador da Fazenda Tubaca.
Na verdade, essa era uma dúvida de várias pessoas, já que desde os primeiros
contatos com os participantes, utilizávamos a expressão “construir’ ou “implantar uma
82
trilha”. Esse equívoco foi percebido após ter sido explicado que estávamos propondo
elaborar um roteiro de interpretação do meio ambiente referente a um trajeto já existente
por entre a mata e que nenhuma infra-estrutura seria construída no local.
A trilha da Tubaca constitui-se em um percurso linear, correspondente a um trecho
de uma estrada previamente existente e que corta a fazenda o que se constituiu em
mais uma facilidade do local escolhido, já que não precisaríamos abrir uma picada no
local. Nos casos em que para implantar de uma trilha educativa em Áreas de
Preservação Permanente (APP) é necessário supressão da vegetação, deve-se obter uma
autorização junto ao Departamento Estadual de Proteção aos Recursos Naturais
(DEPRN).
Segundo o DEPRN, qualquer atividade que envolva a supressão de vegetação
nativa depende de autorização, seja qual for o tipo da vegetação, em qualquer estágio de
desenvolvimento. Além disso, qualquer intervenção em área de preservação
permanente, sem autorização deste órgão, constitui crime ambiental, já que esta é
protegida nos termos dos artigos 2
o
e 3
o
da Lei Federal nº 4.771/65 (alterados pela Lei
Federal nº 7.803/89)
7
. Dessa forma, para a construção de trilhas em áreas de APPs, além
da autorização do órgão competente, é necessário fazer um planejamento prévio e um
monitoramento das atividades, buscando minimizar os impactos negativos decorrentes
dessa atividade.
7.1.2.1. Impactos da construção e do uso de trilhas em áreas naturais
Os impactos negativos da recreação em áreas naturais podem parecer
insignificantes se comparados àqueles causados por atividades agrícolas e industriais,
testes nucleares, entre outros; porém eles não podem ser menosprezados (MAGRO,
1999). As trilhas provocam vários impactos ambientais, tanto físicos como visuais,
sonoros e de cheiro. Embora constituam-se em um meio de canalizar esses impactos e
de restringi-los a um determinado itinerário, seus efeitos podem se espalhar por até um
metro a partir de cada lado da superfície da trilha propriamente dita (CATALDI, 1994).
A principal ação causadora de impacto em uma trilha é o pisoteamento do solo. O
impacto mecânico do pisoteamento do solo resulta na diminuição dos seus poros e,
conseqüentemente, na diminuição da sua capacidade de retenção de ar e absorção de
7
Informações disponíveis no site: http://www.ambiente.sp.gov.br/deprn/deprn.htm
83
água, alterando, assim, sua capacidade de sustentar a vida vegetal e animal (micro-
fauna) associada. Embora a erosão dependa do tipo de solo, do padrão de drenagem da
área e da declividade do terreno, a alteração e morte da vegetação (que impedem que as
raízes auxiliem na manutenção da estrutura do solo) podem ser citadas como
facilitadores desse processo (CATALDI, 1994).
Ainda segundo a mesma autora, a compactação do solo altera o padrão de
circulação da água na região (diminuição da absorção e conseqüente aumento do
escoamento superficial), aumentando, assim, a erosão.
O pisoteamento constante da superfície da trilha acaba destruindo a vegetação por
choque mecânico direto. Dessa forma, ocorre a substituição de espécies mais sensíveis
por outras mais resistentes ao pisoteio. A erosão expõe as raízes das plantas,
dificultando sua sustentação e facilitando a contaminação destas por pragas. Quando
uma trilha é aberta, também há alteração da luminosidade disponível, o que facilita o
crescimento de plantas tolerantes à luz (MAGRO, 1999).
Embora o impacto das trilhas na fauna ainda não tenha sido sistematicamente
estudado, acredita-se que deva haver um aumento no número de indivíduos de espécies
tolerantes à presença humana e uma diminuição das mais sensíveis. Quando é detectado
um grave distúrbio na fauna em decorrência do uso de trilhas, pode-se recorrer à
alteração no traçado ou ao seu fechamento total, ou ambos apenas em períodos críticos,
como épocas de reprodução. A multiplicação de trilhas pode ainda fragmentar a área
necessária a algumas espécies animais, provocando interferência em suas rotas de
deslocamento, destruição dos seus habitats e abrigos (CATALDI, op.cit.).
Além dos impactos acima citados, a autora ressalta que existem ainda aqueles
decorrentes da contaminação de solos e rios - devido à disposição de lixo além do
desmatamento e agressões ao solo e a fauna, causados pelas queimadas.
Deve-se, portanto, fazer um manejo adequado dessas áreas visando a um mínimo
impacto. Existem, na literatura, vários métodos, tais como: capacidade de carga, limites
de mudanças aceitáveis (LAC), manejo do impacto de visitantes (do inglês VIM),
objetivando auxiliar o manejo de áreas com finalidade recreativa (MAGRO, op.cit.).
As técnicas de mínimo impacto devem ser consideradas tanto na construção como
no uso das trilhas. O planejamento de trilhas deve levar em consideração alguns fatores
como: a variação das condições da região em decorrência das estações do ano, as
informações técnicas (mapas, fotografias, etc.) já existentes sobre a região, a
84
probabilidade de volume de uso futuro e as características de drenagem, solo,
vegetação, habitat, topografia, uso e execução do projeto.
Durante a utilização da trilha deve-se avaliar ao longo do tempo, as alterações ocorridas
nesta, tanto por impactos negativos decorrentes do uso, como por alterações naturais
(estações do ano, etc.).
Alguns dos indicadores de impactos em trilhas propostos por Magro (1999)
incluem o número de árvores danificadas, com inscrições e amarras; a presença ou
ausência de serapilheira; a largura da trilha; a profundidade máxima da trilha; o número
de trilhas não oficias; a presença de lixo, a presença de raízes expostas; a presença de
infra-estrutura; e a invasão de gramíneas, espécies exóticas e cipós.
Dessa forma, alguns procedimentos adotados nas visitas às trilhas que visam ao
mínimo impacto são: caminhar somente no leito da trilha; manter grupos pequenos; não
arrancar galhos, nem escrever nas árvores; não molestar animais encontrados pelo
caminho; não coletar espécimes da flora e da fauna, bem como atributos minerais; não
fazer muito barulho, bem como não jogar lixo no local (CATALDI, 1994).
7.1.3. Sugestões dos participantes ao roteiro interpretativo
Após definido o local da trilha como sendo a área da fazenda Tubaca, os
participantes locais fizeram diversas sugestões ao roteiro interpretativo. Dentre elas,
destacam-se a extensão do trajeto a ser percorrido, levando-se em consideração o acesso
de veículos dos visitantes no início e final do percurso.
“Nessa trilha dos Carrapatos a gente passa em frente ... o antigo leito do trem... mas ela é
a maior, a menor seria essa da Tubaca. Porque ali eu acho que dá pra chegar o ônibus até
a porteira, desce o pessoal, passa na mata e o ônibus vai pegar lá no Dezoito [clube],
então, quer dizer, o pessoal só vai caminhar mesmo dentro da Tubaca. Saindo da ponte até
a porteira da estrada do Dezoito, 2 km e 800 [metros]...”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
“Se for muito longa, pode ser reduzida e o ônibus chegar até a entrada da mata. O ônibus
chega na saída da mata. Então, reduziria 900 m... é que ... a vista do rio nesse trecho é
melhor porque dentro da mata a gente só vê o rio um pedacinho... ”.
Administrador da Fazenda Tubaca.
A idéia de se construir um roteiro interpretativo direcionado aos estudantes da 6ª
série do ensino fundamental partiu da própria escola e das pesquisadoras (pela
experiência prévia com essa faixa etária), pelo fato do tema ambiental (apesar de ser um
tema transversal) estar mais diretamente ligado ao currículo dessa série, o que facilitaria
85
o trabalho dos professores, já que na maioria das vezes, estes não possuem formação
mínima para trabalhar temas transversais em suas disciplinas.
Levando-se em consideração que, a princípio, os visitantes seriam estudantes de
ensino fundamental, o grupo também discutiu a respeito da duração que a visita à trilha
deveria ter e a quais séries ou turmas as atividades seriam direcionadas.
“Eu tenho dúvida...quando a gente trabalha em escola, a primeira coisa que a duração não
pode ultrapassar um período... A criança tem aula de manhã ou a tarde, então ... não pode
ultrapassar um período...”.
Representante da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente.
“Eu acho que de pequeno... que tem que começar a aprender a preservação ... E eu acho
que a gente tem que começar, realmente, como vocês falaram, desde o início, desde... eu
diria até do infantil mesmo. Tá indo, vendo porque eu acho muito bacana trabalhar com os
pequenininhos, sabe... e eles são interessados, eles aprendem mesmo, né?....”.
Coordenadora pedagógica.
“A única coisa que tem é essa história de quinta a oitava (série). A gente fala de quinta a
oitava, de primeira a quarta ... Quando você faz de quinta a oitava, você tem o
inconveniente operacional da continuidade... no primeiro ano é uma beleza, dá certo. No
segundo ano, o que vai acontecer: muitos já passaram por aquilo, então, é melhor você
fixar uma série, ver o conteúdo e aí ele se torna perene naquela série, porque
senão....causa desinteresse, ao passo que se você fixar uma serie, a qual verificar mais
apropriada... vai ter sempre continuidade”.
Representante da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente.
Os participantes também fizeram referência à transversalidade do tema “meio
ambiente” e à importância de se desenvolver um trabalho prévio em conjunto com as
professoras dos alunos que visitariam o local, de forma que os temas desenvolvidos em
sala de aula pudessem ser incorporados durante a visita à trilha, e também as discussões
feitas durante a atividade na trilha pudessem ser ampliadas à sala de aula.
“Eu acho que dentro do possível... seria de encaixar o conteúdo da disciplina da escola
dentro da trilha, você pegar a disciplina de geografia, o que é que tem, como se fosse uma
aula prática, se você pegar o currículo da escola e dar uma olhada no livro da professora e
aí o que você pode encaixar daquilo como se fosse mesmo uma aula prática, dentro da
trilha ... esse conteúdo: Ciências, Geografia, história, um pouquinho de história...”.
Representante da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente.
“Fazer um link entre o que está sendo trabalhado na escola e a mata... Acho que esse é o
caminho mesmo”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Alguns temas também foram sugeridos pelos participantes para serem
incorporados ao roteiro interpretativo da trilha da Tubaca. Um tema bastante
86
interessante sugerido pelo administrador da fazenda foi a Revolução Constitucionalista
de 1932, com vários episódios ocorridos ali mesmo na fazenda.
“Tem uma história curiosa, também... antes de chegar na ponte da Tubaca tem umas
trincheiras da revolução de 32. E aquela ponte é a terceira ponte que ta lá porque a
primeira ponte foi posto fogo na Revolução de 32 para os mineiros não atravessarem,
então, contar um pouco da revolução de 32...”.
Administrador da Fazenda Tubaca.
O grupo ressaltou a importância do resgate histórico como forma de compreensão
e valorização da cultura local.
“O que a gente fazia com o turista... uma unanimidade é o seguinte: tem que contar
história, se não tiver historia, a gente inventa, mas tem que ter... o turista gosta de
história. Isso é fundamental... [Em São José do Rio Pardo] Não precisa nem inventar...”.
Secretário Municipal de Turismo.
A questão da alteração climática, facilmente percebida entre um trecho de
vegetação rasteira e uma área de mata, também foi lembrada como um aspecto
interessante a ser abordado na visita à trilha da Tubaca.
“Variação de clima, talvez, alguma coisa de clima variação de temperatura, assim, dentro
da mata, fora da mata...”.
Representante da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente.
A questão da fauna também foi considerada importante. Embora dificilmente
possam ser vistas espécies de maior porte em uma mata, sua existência pode ser notada
através de sons (especialmente aves) e vestígios, tais como pegadas e fezes. Também é
possível observar uma grande variedade de insetos em uma mata.
“Você acha um objeto daqueles [dejetos de animais como capivara] como nós achamos,
você vai ter certeza [de que existe fauna ali]..”.
Diretora Municipal de fomento ao turismo.
Uma outra questão comentada foi em relação ao caráter educativo voltado
principalmente à conservação, que deveria permear a atividade.
“Eu acho que essas visitas aí não sei como vai ser direcionadas com conhecimento, o
pessoal tem que ir lá... não vai lá por curiosidade, tem que ser lá mais um soldado de
proteção da natureza. Isso é importante”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
87
7.1.4. A elaboração do roteiro interpretativo
A fase de elaboração do roteiro preliminar da trilha foi a menos participativa do
processo. Após o local de implantação da trilha ter sido escolhido, com base nos
elementos levantados durante o diagnóstico e nas sugestões feitas pelos participantes -
buscando sempre o enfoque da interpretação temática e da percepção ambiental -, foi
elaborado um roteiro interpretativo prévio da trilha da Tubaca.
O roteiro elaborado corresponde a uma trilha interpretativa guiada, isto é,
pressupõe a presença um monitor intérprete que, segundo Moraes (2000) é aquele que,
além de conduzir o grupo pelo percurso estabelecido, estimula a sua participação nas
atividades através das sensações, experiências e questionamentos a respeito do tema
proposto. Esse tipo de trilha possui como vantagens a não necessidade de placas ou
folhetos explicativos, a diminuição do risco de destruição ambiental, o esclarecimento
de possíveis dúvidas e uma maior segurança para os visitantes, além de poder também
ser adaptada a diferentes públicos. Alguns aspectos que são considerados como
desvantagens em parques e outras áreas públicas (MORAES, op.cit.), neste caso
(propriedade particular e estudantes de ensino fundamental), constituíam-se em
vantagens, como por exemplo o fato das pessoas terem de seguir o ritmo do grupo e
realizar as visitas em horários pré-determinados através de agendamento.
O roteiro elaborado compreende um percurso de 2900m, divididos em três
trechos: os primeiros 1000m correspondem a vegetação rasteira, os 1000m seguintes
correspondem a um trecho da mata ciliar do rio Pardo e os 900m finais correspondem a
mais um trecho de vegetação rasteira.
A interpretação temática caracteriza-se por se desenvolver de forma organizada
ao redor de um tema principal e no máximo cinco sub-temas. Esse tipo de interpretação
deve ter qualidade de um relato, ou seja, possuir um início, um meio, um fim e uma
moral (HAM, 1992).
Assim, foram identificados um tema principal e quatro sub-temas (Quadro 7) a
serem explorados na trilha da Tubaca. Depois de definidos esses temas, foram
selecionados onze pontos interpretativos referentes apenas aos dois primeiros trechos do
percurso da trilha (vegetação rasteira e fragmento de mata ciliar). A caminhada pelo
último trecho (vegetação rasteira) se faz necessária, já que não há acesso a veículos
como ônibus, imediatamente ao final do fragmento de mata ciliar.
88
Quadro 7 - Tópico, tema e sub-temas da trilha da Tubaca.
TÓPICO: Biodiversidade e Educação Ambiental em São José do Rio Pardo
TEMA: A importância do rio Pardo na conservação da biodiversidade local e regional
SUB-TEMA 1: A importância do rio Pardo na história e cultura local.
SUB-TEMA 2: A importância da vegetação na conservação do rio e a importância do rio na
conservação da vegetação.
SUB-TEMA 3: A importância do solo na conservação da vegetação e a importância da vegetação
na conservação do solo.
SUB-TEMA 4: A importância da fauna na conservação da vegetação e a importância da vegetação
na conservação da fauna.
Após definidos o tema e sub-temas a serem abordados no roteiro, foram
selecionados os pontos interpretativos do trajeto por meio de mais uma visita ao
fragmento de mata ciliar. Do ponto de vista da interpretação temática, é possível
desenvolver várias excursões diferentes em uma mesma área, pois cada tema sugere
diferentes paradas e narrações (HAM, 1992). Assim foi elaborado um roteiro prévio da
trilha da Tubaca, que nesta primeira etapa, foi composto por 11 pontos interpretativos.
Segundo Ham (op.cit.), na elaboração de um roteiro de excursão, primeiro
selecionam-se os pontos interpretativos, em função de um tema pré-definido; em
seguida define-se a conclusão e, por último, a introdução. Ainda segundo o mesmo
autor, geralmente uma excursão deve contemplar quatro partes.
A preparação, que acontece antes do início da caminhada, é a etapa na qual os
guias se apresentam, dão as boas vindas e disponibilizam aos alunos algumas
informações sobre a atividade, tais como: tempo de duração, esforço físico necessário,
dificuldades, além de algumas recomendações de segurança e de mínimo impacto. Esta
etapa foi planejada para acontecer ainda na escola.
A introdução da excursão, planejada para ser feita em um ponto interpretativo
localizado na entrada da fazenda, tem como objetivo principal o de criar interesse pelo
tema, fazendo com que as pessoas queiram participar da excursão. Essa estratégia era
obtida ao mencionar o rio Pardo. Embora nesse ponto o contato com o rio ainda não
fosse visual, essa citação tinha a finalidade de despertar a curiosidade (através do uso do
mistério) sobre o tema. Nesse mesmo ponto ainda era feita uma breve explanação da
atividade a ser desenvolvida e de como ela está organizada, informando também aos
alunos a respeito das atividades da fazenda e curiosidades sobre o nome da mesma. As
89
informações a respeito da segurança, equipamentos, materiais e condutas necessárias
eram reforçadas.
O corpo da excursão consiste na narração feita em cada uma das paradas, que
juntas desenvolvem o tema principal da atividade. Como já dito anteriormente, as
paradas devem ser selecionadas em função do tema. Em cada parada a narração deve ter
quatro passos:
Orientação: focar a atenção do grupo no objeto, cena ou idéia a ser enfatizada na
parada.
Descrição: são explicados os detalhes da cena que deve ser observada. Para isso, é
importante selecionar a informação de acordo com o tema.
Enlace temático: une a descrição ao tema. Revela a razão de fazer aquela parada.
Transição: finaliza a discussão daquele tópico e dá uma idéia do que será visto
mais adiante uso do mistério.
As trincheiras da Revolução Constitucionalista de 1932 constituíam o segundo
ponto interpretativo. Nele a ênfase dada era a histórica, buscando mostrar aos alunos o
local onde fatos históricos importantes, tanto no contexto local quanto nacional,
aconteceram.
Por estarem relativamente distantes dos outros pontos selecionados, esses dois
primeiros eram percorridos de ônibus. Somente a partir do terceiro ponto os visitantes
iniciariam a caminhada.
No terceiro ponto interpretativo, localizado numa ponte que atravessa o rio Pardo,
o enfoque, através de exemplos, era dado à importância do rio para todos os seres vivos,
inclusive para a espécie humana. Também se fazia uma retrospectiva histórica do rio (da
qualidade das suas águas, da quantidade de peixes, da pesca e da natação). Também
conversamos a respeito de algumas maneiras de conservar o rio, já que outros itens
relacionados seriam comentados mais adiante.
Ainda nesse mesmo ponto, passávamos por um bosque de ipês, localizado às
margens do rio. Este bosque foi feito em homenagem ao pai do administrador da
fazenda Tubaca, que faleceu enquanto fiscalizava as obras de reconstrução da ponte
sobre o rio Pardo.
O quarto ponto interpretativo estava localizado à margem do rio Pardo, numa área
desprovida de mata ciliar. Nele buscávamos, além de comentar os efeitos do
crescimento das cidades, da agricultura e da pecuária na mata nativa, mostrar aos alunos
90
a importância deste tipo de mata para a conservação do rio, através das evidências da
falta dela.
Um pouco mais adiante (ponto 5) verificamos um trecho de regeneração de mata
ciliar, podendo compará-lo com o trecho anterior (desprovido de mata) quanto a vários
aspectos, tais como: presença de aves, microclima um pouco mais agradável, entre
outros. Neste trajeto entre os pontos 5 e 6 era muito comum encontrarmos vestígios
(pegadas e fezes) de grandes mamíferos, tais como capivara (Hydrochoeris
hydrochoeris) e anta (Tapirus terrestris), possibilitando assim, que aproveitássemos
esses elementos inesperados durante a atividade.
Na entrada da mata ciliar (ponto 6) pudemos discutir mais uma vez com os alunos
a sua importância para a conservação do rio. Também pudemos chamar a atenção dos
alunos para a diferença em relação ao microclima, os sons dos pássaros e o som do rio.
Um jequitibá-rosa (Cariniana legalis) centenário constituía o próximo ponto
interpretativo (ponto7). Após a dinâmica, através da qual os visitantes formam um
círculo em torno da árvore de forma a abraçá-la (adaptada de CORNELL, 1996) com o
intuito de perceber seu diâmetro, a textura do seu tronco, a presença ou ausência de
líquens e musgos, pudemos observar que esta árvore abriga diversas espécies, tais
como: pássaros, insetos e epífitas. Assim, pudemos estabelecer relações de
interdependência entre os vegetais e os animais.
O oitavo ponto interpretativo localizava-se próximo a uma figueira (Ficus
guaranitica). Foi feita a dinâmica da trilha cega (adaptada de CORNELL, op.cit.)
através da qual, de olhos vendados, os visitantes percorrem um trajeto demarcado com
um barbante, por entre um trecho de mata. Este trajeto une árvores de espessuras e
texturas diferentes, com presença ou ausência de líquens, musgos e raízes. A finalidade
dessa dinâmica é explorar, através do tato, essa variedade de indivíduos presente na
mata e até mesmo a presença da serapilheira através do som das folhas sendo pisadas.
Ao final, todos tiram as vendas e tentam identificar o trajeto que percorreram.
Nesse ponto, era abordada a questão da importância da mata para a conservação
do solo, ou seja, não só a parte aérea das árvores, como também as suas raízes protegem
o solo da erosão e do assoreamento.
No ponto seguinte (ponto 9) pudemos estabelecer relações de interdependência
entre a mata e o solo, visualizando uma árvore morta em processo de decomposição.
Assim, comentamos a respeito da ciclagem de nutrientes na natureza.
91
O penúltimo ponto interpretativo estava localizado em frente a um araticum cagão
(Annona cacans). Além de chamar a atenção para a árvore e explicar o porquê do seu
nome popular, atentávamos para a diversidade de espécies da mata, verificada pelos
alunos através das placas de identificação, mostrando a importância da conservação não
apenas daquelas identificadas, e sim de todas as árvores.
A conclusão, feita na última parada, busca reforçar o tema, de forma clara e
precisa, mostrando pela última vez, a relação entre as paradas realizadas e a mensagem
principal da excursão. Na trilha da Tubaca, esse ponto está localizado no final do trecho
de mata, local onde realizávamos a dinâmica da teia de vida (adaptada de CORNELL,
1996), através da qual os visitantes formam um círculo e o primeiro diz algo que viu e
gostou na trilha. Feito isso ele joga o barbante (segurando sua extremidade) para outra
pessoa, que faz o mesmo, e assim sucessivamente, até que seja formada uma grande teia
de barbante. Para demonstrar como cada elemento é importante, representa-se o dano
em um deles através de um puxão no barbante. Outras pessoas também irão sentir o
impacto desse puxão. Assim, conclui-se que na natureza todos os elementos estão
interligados, ou seja, se um deles sofrer uma ação negativa, outros também serão
prejudicados.
7.1.5. Primeira revisão do roteiro interpretativo
Durante o curso de formação de monitores ambientais, com o roteiro preliminar
pronto, fizemos mais uma visita ao local da trilha para discutir como seria conduzida a
atividade. Para orientar essa revisão no roteiro interpretativo foi utilizado como guia um
roteiro de questões previamente elaborado (Apêndice E). Todos os participantes
presentes atuaram ativamente nas dinâmicas propostas e sugeriram várias alterações no
roteiro da trilha.
A primeira sugestão feita pelo grupo foi a de excluir os dois primeiros pontos
interpretativos: aquele localizado na entrada da fazenda e o outro localizado nas
trincheiras da Revolução Constitucionalista de 1932. De fato, esses eram pontos
relativamente distantes do trecho principal (localizado entre o rio Pardo e a mata ciliar)
e teriam de ser percorridos de ônibus. Os participantes sugeriram que a introdução ao
tema da trilha fosse feita num local mais próximo ao rio Pardo, e as trincheiras
poderiam compor um roteiro histórico mais específico. No caso dos estudantes de
92
ensino fundamental, os aspectos históricos, que seriam abordados no ponto das
trincheiras, poderiam estar contemplados em palestras anteriores às visitas.
O grupo também ponderou que a duração do percurso era um pouco extensa
(cerca de 4h) e esse foi considerado mais um motivo para se eliminar os dois primeiros
pontos.
Os participantes ainda declararam que havia muitas paradas próximas à entrada
da mata ciliar e que uma delas também poderia ser eliminada. Optou-se por eliminar o
ponto da mata ciliar em regeneração, já que os locais com e sem a presença de mata
ciliar são bastante importantes por permitirem um contraste (visual, climático e
auditivo) entre essas duas áreas.
Foi considerado que a trilha cumpre com os objetivos propostos e que nenhum
outro objetivo deveria ser acrescentado para não comprometer o enfoque anteriormente
definido.
Segundo os integrantes do grupo, o tema abordado na trilha está bastante claro
para os visitantes, e esta desperta o interesse, já que é muito rica, havendo um contraste
entre áreas com e sem mata. Além da mata ciliar, é possível observar diversas
borboletas, vestígios de animais de maior porte, entre outros.
Também foi comentado que o trajeto poderia ser percorrido voltando pelo
mesmo caminho. Isso estenderia o percurso em cerca de 1 km, porém, poderia ser mais
agradável em função do conforto térmico do trecho sombreado no interior mata.
O grupo também sugeriu que em várias etapas da trilha fosse feita uma dinâmica
na qual os visitantes permanecessem em silêncio por alguns instantes para perceber os
diferentes sons presentes na natureza, possibilitando, assim, uma comparação entre as
diferentes áreas percorridas no trajeto.
As modificações feitas no roteiro prévio da trilha pelos participantes foram
bastante pertinentes do ponto de vista prático, já que visavam a uma redução do tempo
utilizado para o percurso, de forma que a atividade não se tornasse desestimulante e
cansativa. Porém, em relação aos conteúdos e temas abordados, não houve grandes
acréscimos durante esta etapa.
Assim, o roteiro elaborado buscou incorporar aspectos cognitivos (apresentação
de informações) e oportunidades de aprendizado afetivo, na busca por um maior
envolvimento individual e coletivo dos educandos no processo, através da interação
perceptiva com o meio natural.
93
Considerando que as sensações derivadas da interação dos órgãos dos sentidos
com o meio (odores, sons, imagens, texturas e sabores) são uma via de integração entre
este e o organismo, Seniciato e Cavassan (2003) defendem que metodologias educativas
que exploram esses aspectos favorecem a aprendizagem, pois esta depende tanto do
poder de raciocínio lógico quanto dos elementos subjetivos, como prazer, satisfação,
crenças e motivações dos educandos.
FIGURA 6 - Representação esquemática da trilha da Tubaca e seus pontos interpretativos.
Antes de serem aplicadas com os estudantes, as atividades de interação
perceptiva com o meio e as dinâmicas de grupo também foram vivenciadas pelos
participantes do processo, o que facilitou a sua aplicação posterior e permitiu verificar
94
que o próprio grupo foi favorecido pela maior integração proporcionada por estas
atividades.
O roteiro final da trilha interpretativa da Tubaca encontra-se no Apêndice F. A
representação esquemática da trilha e sua localização em relação à área urbana
municipal, podem ser vistas na Figura 6.
7.2. Curso de formação de monitores ambientais
O curso de formação de monitores ambientais surgiu do interesse e da
necessidade - verificados logo nos primeiros contatos com os interessados em participar
do projeto - de criar oportunidades para debater diversos temas ambientais e de
conhecer algumas técnicas de percepção e interpretação ambiental, bem como aquelas
de condução de grupos em trilhas interpretativas. Tal curso também consistiu em mais
uma alternativa de fornecer subsídios para a continuidade do projeto, formando pessoas
que pudessem atuar como monitores das visitas à trilha da Tubaca, elaborar novos
roteiros interpretativos e conduzir grupos em atividades de educação ambiental por
outras trilhas. Também foram apresentadas e discutidas com os participantes algumas
dinâmicas de grupos e jogos interativos.
Esse curso não teve a intenção de fornecer um modelo pronto de elaboração de
trilhas, mas sim, apresentar e debater alguns princípios de percepção e interpretação
ambiental, que devem ser sempre adaptados aos diferentes contextos (locais, visitantes e
finalidades). O curso apresentou uma maior ênfase às questões interpretativas da
elaboração de uma trilha em detrimento das questões de manejo na construção desta, já
que o roteiro interpretativo da Tubaca foi implantado numa trilha já existente. As
questões referentes à condução de grupos também foram adaptadas ao presente contexto
(finalidade educativa), concluindo-se que para trilhas com finalidade de aventura (com
maiores percursos e graus de dificuldade), itens como equipamentos e segurança devem
melhor analisados.
A duração do curso foi de 16 horas, distribuídas em dois dias de atividades (uma
sexta-feira e um sábado), definidos pelos próprios participantes, em função da sua
adequação aos compromissos pessoais e profissionais. Em princípio os participantes
pensaram em incluir o curso como parte da programação do maior evento cultural local,
95
a Semana Euclidiana
8
, tendo como público-alvo adolescentes que compõem a guarda-
mirim municipal. Porém, optaram por fazer eles mesmos o curso, de forma que
pudessem atuar posteriormente como multiplicadores do que foi discutido com outros
grupos de possíveis monitores ambientais.
De fato, nesse primeiro momento seria mesmo mais interessante que as pessoas
que já estavam envolvidas no processo da pesquisa participassem também do curso de
formação de monitores ambientais. Isto porque, devido às suas formações, vivências e
até mesmo aos cargos que ocupavam, elas possuíam maiores condições de compreender
seus papéis como multiplicadores de idéias e práticas conservacionistas, e de difundir
metodologias participativas e cooperativas, tanto na proposição de atividades
educativas, quanto em projetos de gestão e gerenciamento ambiental em âmbito local.
O curso também consistiu em um momento de elaboração do roteiro da trilha da
Tubaca, já que abrigou a primeira revisão deste pelos participantes.
7.2.1. As expectativas dos participantes do curso
Como forma de verificar quais as expectativas dos participantes do curso com
relação a este, foi aplicada, logo no início das atividades, uma dinâmica através da qual
cada pessoa exibiu um objeto que, de alguma forma, representasse as suas expectativas
com relação ao curso.
A proposta do curso de formação de monitores ambientais estava bastante
coerente com as expectativas dos participantes. Dentre as expectativas, destaca-se a
aquisição de novos conhecimentos sobre meio ambiente, educação ambiental e
condução de grupos em trilhas, além da troca de informações e experiências entre todos
os participantes. Dessa forma e também através de um maior contato e integração com o
meio natural, as expectativas passam pela sensibilização e conscientização pessoal
como pré-requisito para a sensibilização e conscientização também de outros grupos.
A perspectiva de melhora da renda econômica, através da possibilidade de
ampliação da atividade profissional também apareceu como uma expectativa por parte
de alguns participantes. Seguem algumas citações que expressam essas expectativas:
8
A Semana Euclidiana consiste em uma maratona de estudos a respeito da vida e obra de Euclides da
Cunha que acontece na cidade todos os anos no mês de agosto.
96
“..bom, eu espero do curso, assim, aprender várias coisas, tipo assim, educação ambiental,
assim, espero que depois do curso eu possa mudar, assim, a visão, entendeu, em relação à
natureza, cuidar mais. É isso”.
Estudante.
“... meu objeto é aquele ventilador. Eu acho o ventilador ali tá representando primeiro,
assim, a brisa, né, na natureza, aquele ar fresco, mas também pode significar o vento
trazendo novos conhecimentos, clareando nossas idéias”.
Empresário rural.
“... o meu é o galhinho aqui.. pensei numa integração com a natureza e aprender o que a
natureza pode trazer de bom pra gente passar pro pessoal na trilha”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
“... eu não consegui achar nenhum objeto, mas veio na minha mente agora essa luz aqui é
meu objeto, vai clarear mais a cabeça da gente pra vir mais novas idéias”.
Estudante.
“... meu objeto é o caderninho aqui de anotações, que acho que é representar mais, assim,
a troca de informações, né, e assim o conhecimento também que eu espero através da troca
de informações entre o pessoal da equipe de aventura, pessoal de biologia, turismo, todos
ligados à natureza, assim, através desse aprendizado, me conscientizar mais a respeito da
natureza, ecologia”.
Estudante.
“... meu objeto é a página em branco e o lápis. Eu acho que é uma nova etapa que a gente
tá abrindo com a página em branco totalmente disponível para ser escrita. Nós vamos
começar uma nova história a partir de agora. Responsabilidade, hein?”.
Diretora de fomento ao turismo.
7.2.2. Avaliação do Curso
A avaliação do curso de formação de monitores ambientais foi feita através da
aplicação de questionários aos integrantes do grupo. Constituindo-se em questões
apresentadas por escrito (GIL, 1990), a técnica teve por objetivo o conhecimento das
opiniões, interesses e situações vivenciadas pelos participantes do curso. A maioria das
questões presentes no questionário aplicado consistia em questões semi-abertas, ou seja,
aquelas nas quais, embora seja apresentado um conjunto de alternativas para que as
respostas sejam escolhidas, pede-se que elas sejam justificadas e ou explicadas. O
modelo do questionário aplicado encontra-se no Apêndice G. Nenhum dos respondentes
apresentou dúvidas em relação às perguntas.
Todos os nove participantes que responderam ao questionário declararam ter
suas expectativas atingidas pelo curso. Comentou-se que o curso disponibilizou
informações úteis e interessantes a respeito de meio ambiente, de educação ambiental,
da condução de grupos de visitantes em áreas naturais, e da interação dos monitores
com estes grupos. Com relação à trilha da Tubaca propriamente dita, o curso criou
97
oportunidades para a discussão de seus objetivos, tópicos e dinâmicas, proporcionando
novas experiências e possibilitando continuidade e aprofundamento nos temas tratados.
O quadro 8 resume a opinião dos participantes do curso quanto ao seu conteúdo,
metodologias e duração.
Os cinco participantes que consideraram o conteúdo do curso como ótimo
comentaram que este foi bastante abrangente, de grande interesse por parte do grupo,
motivador e passível de ser aplicado no dia-a-dia e em outras trilhas.
Aqueles que responderam que o conteúdo abordado foi bom comentaram que o
curso não possibilitou o aprofundamento em alguns temas, por ser muito rápido, e que
com o desenvolvimento do trabalho e as vivências diárias surgirá necessidade de
abordagem de outros temas não mencionados. Um dos participantes disse que o curso
fortaleceu suas idéias prévias sobre biodiversidade, e outro pôde constatar o quanto o
tema ambiental se faz presente no cotidiano das pessoas.
Quadro 8: Resumo da opinião dos participantes do curso quanto ao seu conteúdo, metodologias e
duração.
Ótimo Bom Regular
Comentários
Conteúdo 5 4
Conteúdos importantes não abordados: aspectos
geográficos, informações específicas sobre
espécies de árvores da trilha e aspectos legais da
utilização de reservas para abertura de trilhas.
Metodologias
7 2
Dinâmicas agradáveis, linguagem acessível e
abertura para que fossem expressas opiniões
diversas.
Duração 2 5 2
Quatro pessoas consideraram a duração do curso
suficiente, outras quatro alegaram que este
poderia ter sido mais longo para abranger outros
conteúdos.
Três dos participantes responderam que alguns assuntos considerados
importantes não foram abordados durante o curso. Entre esses assuntos foram citados:
aspectos geográficos (referentes ao local da trilha), informações específicas e
curiosidades a respeito das espécies de árvores presentes no trajeto da trilha, além de
alguns aspectos legais da utilização de reservas para abertura de trilhas. Cinco pessoas
responderam que nenhum conteúdo importante deixou de ser abordado e uma pessoa
deixou de responder a essa questão.
Em relação às metodologias utilizadas durante o curso, comentou-se que estas
foram bastante dinâmicas e agradáveis, o conteúdo prático e teórico foi bem balanceado,
a linguagem foi acessível e houve abertura para que fossem expressas opiniões diversas.
98
No quesito “duração do curso”, enquanto quatro participantes responderam que
foi suficiente, bem distribuído, não sendo cansativo e nem monótono, outros quatro
alegaram que este poderia ter sido mais longo para abranger outros assuntos.
Quadro 9: Contribuições do curso em nível pessoal
Conhecimento de conceitos e técnicas 4
Conscientização pessoal 3
Maior entrosamento com o grupo 2
Reflexão sobre temas ambientais 1
Relaxamento/ satisfação 1
O quadro 9 resume as contribuições do curso em nível pessoal citadas pelos
participantes. Dentre essas contribuições, foi mencionado: o conhecimento de conceitos
relacionados ao meio ambiente, de técnicas para lidar com grupos; uma maior
conscientização pessoal a respeito das questões ambientais e um maior entrosamento
com os participantes do processo todo.
O quadro 10 resume as contribuições que o curso proporcionou aos participantes
em nível profissional. Foram citadas: a apresentação de informações técnicas mais
específicas e a aquisição de novas vivências e experiências, bem como a possibilidade
de uma nova atuação profissional, por meio do desenvolvimento de um novo produto
turístico numa agência local. Foi dito, ainda, que o curso constituiu-se em um estímulo
para que seja difundido o que foi aprendido e um incentivo para que se possa
aprofundar os estudos em temas que antes não despertariam interesse, tais como o tema
“biodiversidade”.
Quadro 10: Contribuições do curso em nível profissional.
Conhecimento técnico específico 5
Aquisição de vivência / experiência 2
Possibilidade de nova atuação profissional 2
Incentivo para passar adiante o que aprendeu 1
Estímulo para aprofundar os estudos 1
Todos os nove participantes do curso responderam que este possibilitaria novas
oportunidades. Estas estão resumidas no quadro 11. Seis deles citaram o aprimoramento
99
da atividade profissional; outros seis mencionaram a possibilidade de multiplicar o que
foi aprendido. A possibilidade de exercer uma nova atividade profissional foi citada por
cinco participantes. Outras opções apontadas foram: aplicação das técnicas e dinâmicas
na própria vivência e a possibilidade de abertura de trilhas educativas em uma outra
propriedade particular.
Quadro 11: Novas oportunidades possibilitadas pelo curso de acordo com os participantes.
Aprimoramento da atividade profissional 6
Multiplicação do que foi aprendido 6
Nova atividade profissional 5
Outras 2
Ao serem questionados sobre o que mais gostaram no curso, quatro integrantes
afirmaram que foi a possibilidade de conhecer e poder aplicar no seu dia-a-dia as
dinâmicas de grupo vivenciadas. Dois deles responderam que foi da visita à trilha da
Tubaca, outros dois alegaram que gostaram de tudo, e uma pessoa destacou,
principalmente, a oportunidade proporcionada pelo curso.
Em relação aos que não gostaram, um dos integrantes citou o medo que sentiu ao
atravessar a ponte sobre o rio Pardo. Outro indicou o fato de ter que acordar cedo em
um sábado. Quatro dos participantes disseram que não houve nada de que não tivessem
gostado, e três não responderam à questão.
Quanto às sugestões feitas pelos participantes do curso, dois deles
recomendaram que o curso fosse realizado durante a semana; outros dois, que o curso
fosse mais longo, para que houvesse mais tempo para mais atividades. Um dos
integrantes sugeriu uma maior objetividade durante as discussões teóricas e dinâmicas;
outro apontou não misturar aula teórica com a prática no mesmo dia, reservando, assim,
um dia todo para percorrer a trilha. Uma pessoa disse não ter nenhuma sugestão a fazer
e outra não respondeu à questão.
7.3. Implementação da trilha
Nesta etapa a trilha recebeu alguns grupos de visitantes: quatro turmas de alunos
de 6ª série da escola municipal Stella Maris Barbosa Catalano, as quais foram divididas
em três grupos. Apenas um deles foi avaliado sistematicamente. Os participantes
100
envolveram-se ativamente dessa etapa, não só monitorando as visitas das crianças à
trilha, como também fazendo diversas alterações no roteiro interpretativo a partir da
experiência que estavam vivenciando.
Na visita do primeiro grupo, composto por 24 estudantes, optamos por percorrer a
trilha até o final da área de mata e voltarmos pelo mesmo trajeto - o que acrescenta
cerca de 1 km ao percurso original, de 2,8 km. Apesar de estarem bastante
entusiasmadas, percebemos que as crianças ficaram um pouco cansadas ao final da
atividade. Em razão desse cansaço e de um atraso de cerca de 30 minutos do ônibus que
levou o grupo à fazenda, não foi possível fazer todas as paradas planejadas, em função
do horário de retorno à escola.
Assim, na visita do segundo grupo, optamos por retomar o trajeto inicial (só de
ida) da trilha. Nessa mesma visita, dividimos a turma em duas cada qual com 11
alunos. Cada uma delas foi acompanhada por uma professora e por dois monitores. De
fato, essa divisão facilitou o trabalho nas paradas, proporcionou uma maior integração
entre os alunos, além de interesse, motivação, atenção e participação direta na atividade.
Porém, essa dinâmica exige a preparação de mais de um guia, o que ainda não era
possível nessa etapa do trabalho.
Assim, essas duas visitas, embora não tendo sido avaliadas de forma sistemática,
representaram uma etapa bastante importante na construção do roteiro da trilha, já que
diversas alterações puderam ser feitas a partir da experiência direta com os visitantes.
Os monitores (estudantes universitários e guias de atividades de esportes de aventura)
também alegaram que essa etapa proporcionou uma melhor preparação pessoal para a
condução da atividade.
A maioria dos componentes da turma que foi avaliada, efetivamente, ou seja, a
que foi entrevistada antes e depois da atividade, demonstrou um interesse maior no
trabalho, talvez pelo fato de ter participado de uma avaliação prévia em forma de
discussão de grupo (grupo focal) e de ter tido uma palestra antes da visita à trilha.
Porém, por ser a última semana de aula, algumas crianças pareciam encarar a atividade
como um passeio e não como algo educativo. Inclusive, um pequeno grupo não quis
participar das dinâmicas finais.
Em todas as visitas à trilha da Tubaca, as professoras que acompanhavam os
grupos de estudantes não fizeram nenhuma intervenção referente aos conteúdos
trabalhados, tampouco se manifestaram em relação ao comportamento deles.
101
Tanto os participantes quanto as professoras que acompanharam o grupo
apontaram como necessário o desenvolvimento de um trabalho com os professores,
para que estes possam preparar os alunos para a visita, de forma que após a atividade, as
discussões possam ser expandidas à sala de aula, nas diferentes disciplinas.
De fato, esse trabalho de formação dos professores para a atividade fazia parte da
integração deste projeto com os demais projetos do grupo de pesquisa. Porém, essa
integração efetivamente aconteceu até a etapa de elaboração do roteiro da trilha. Nas
etapas seguintes (implantação e avaliação da atividade) as pesquisadoras acabaram
desenvolvendo os trabalhos em escolas diferentes. Ainda assim, uma professora da
escola municipal Stella Maris Barbora Catalano participou das atividades referentes à
formação de professores. Porém, devido à época do ano em que este foi realizado, não
houve tempo hábil para que ela pudesse desenvolver um trabalho com os outros
professores da escola, nem com seus alunos.
Dessa forma, na prática, o único diferencial entre os estudantes que foram
sistematicamente avaliados e os demais, é que os primeiros participaram de um grupo
focal antes da atividade de visita à trilha e também assistiram a uma palestra preparada
por pesquisadores envolvidos com a formação dos professores. Pelos moldes em que foi
feita essa avaliação (grupo focal), ela também pode ser considerada uma preparação
para a visita, na medida em que acaba despertando o interesse pelos temas a serem
tratados.
7.4. Avaliação da atividade de visita à trilha e do processo participativo
7.4.1. Avaliação da atividade de visita à trilha da Tubaca pelos estudantes
Os grupos focais foram realizados com uma classe de 29 alunos da 6ª série do
período da manhã da escola municipal Stella Maris Barbosa Catalano. Essa turma foi
dividida em três grupos (dois grupos de 10 e um grupo de 9 crianças) para a aplicação
da técnica. Esta constituiu-se, além de um método de coleta de dados, em mais um
momento de aprendizado, além da atividade da trilha propriamente dita, já que os
alunos puderam debater suas idéias e opiniões, além de esclarecer possíveis dúvidas.
Enfim, constituiu-se em um momento de reflexão a respeito da atividade.
A avaliação pós-trilha foi um pouco prejudicada pelo fato da atividade ter sido
adiada, devido às chuvas, e devido ao curso de formação de professores que seria dado
102
para implementar seus conhecimentos sobre a trilha Além disso, a visitação e a
avaliação foram realizadas na última semana do ano letivo, em um dia no qual muitos
alunos fariam provas de recuperação; por isso, nem todos os 29 alunos participaram da
avaliação final da trilha.
As dificuldades de compreensão dos diálogos durante as transcrições, de análise
dos dados de uma discussão de grupo, já comentadas no item referente ao diagnóstico
participativo, também estiveram presentes nesse momento do trabalho. Os roteiros de
perguntas dos grupos focais realizados antes e depois da visita à trilha da Tubaca
encontram-se respectivamente nos Apêndices H e I.
Embora em princípio tenham surgido algumas dúvidas e discordâncias que
geraram um certo debate a respeito do tema, os alunos demonstraram ter um
conhecimento prévio do conceito de bacia hidrográfica. Nos três grupos de discussão
surgiu a idéia de que existem possíveis interligações entre os rios, e em um dos grupos,
um aluno definiu a bacia hidrográfica como sendo composta pelo rio principal e seus
afluentes.
“Olha [indicando com o dedo sobre a carteira, o trajeto dos rios], tem o rio principal, aí
tem seus afluentes e ele [o rio principal] deságua no mar”.
Lucas
Uma das turmas afirmou que se um rio for contaminado por agrotóxicos, os rios
da região, de outros estados e até de outros países podem ser prejudicados, desde que
façam parte da mesma bacia. Nos outros dois grupos essa questão também foi bastante
discutida e, embora eles não tenham chegado a um consenso em relação aos outros
estados, afirmaram que os rios de outros países não seriam prejudicados. Após a visita à
trilha, todos concordaram que se o rio Pardo estiver poluído, podem ocorrer prejuízos
para outros rios da bacia. A dúvida a respeito dos prejuízos aos rios de outros estados e
países persistia; porém, para que a dúvida se dirimisse, retomamos o conceito de bacia
hidrográfica e o trajeto do rio Pardo. Finalmente, os alunos concluíram que se o rio
Pardo estiver poluído, poderá, sim, trazer prejuízos para os rios nos quais ele deságua.
Os alunos dos três grupos focais afirmaram que existe uma bacia hidrográfica na
região de São José do Rio Pardo, porém apenas dois grupos a identificaram como a
bacia do rio Pardo. No entanto, na avaliação pós-trilha, todos os alunos identificaram a
bacia hidrográfica local como sendo a bacia do rio Pardo. Tanto antes como depois da
visita à trilha, os alunos foram capazes de identificar diversos sistemas aquáticos da
103
cidade, tais como: o rio Pardo, o rio do Peixe, o rio Fartura, a represa Euclides da
Cunha, a represa Limoeiro e a represa Santa Alice.
Todos os alunos também disseram que peixes, algas, sapos, aves, vegetação ao
lado do rio, ser humano, bois, hortas e solo poderiam ser prejudicados a partir da
contaminação de um rio. Embora alguns desses itens tivessem gerado maiores dúvidas e
discussões, tais como as algas (em um dos grupos foi dito que só existem em águas
marinhas) e os sapos (que poderiam deslocar-se para locais menos poluídos), todos
concordaram, enfim, que a água é essencial a todos os seres vivos.
A respeito do rio Pardo, embora alguns alunos afirmassem que este está bastante
poluído, a maioria assegurou que a qualidade das suas águas é razoável, com alguns
pontos mais ou menos poluídos.
“eu sei que tem alguns pontos que não é poluído e quando vai chegando perto da cidade,
ele polui, fica de outra cor, porque na nascente... porque perto da cidade jogam esgoto,
lixo...”
Talita
“Alguns pontos ele ta preservado, isso é bom, mas quando chega na cidade... ele tá mais ou
menos. Porque quando chega perto da cidade, na beira do rio tem garrafa, plástico...”.
Angélica
“Tá misturando esgoto com o rio Pardo, então...”.
Jéssica
Após a visita à trilha, permaneceu a idéia de que a qualidade das águas do rio
Pardo é razoável, porém nota-se certa preocupação com essa qualidade no futuro.
“Teve um cara aí que me falou... veio dar uma palestra para a gente... ele falou assim...
que não vai ter mais água no rio Pardo... daqui dez anos, né ?”.
Jailson
Em relação ao significado do rio para a cidade, embora todos esses itens tenham
sido apontados, tanto antes quanto depois da visita à trilha, no primeiro momento foram
ressaltados os aspectos utilitaristas do rio, tais como: fonte de água para consumo
humano, higiene pessoal e até mesmo como fonte de lazer e atração turística local para
a prática de esportes de aventura.
“É um ponto turístico porque muita gente vem de longe pra ver, para...”
Rodrigo
104
No segundo momento, foi enfatizada a proximidade do rio Pardo com a cidade e
a sua importância refletida até no nome desta.
Todos os alunos afirmaram que houve uma diminuição do número de peixes no
rio Pardo ao longo dos últimos anos devido, principalmente, à poluição. No entanto,
ainda existem algumas espécies, como a piranha, que segundo eles, havia resistido à
poluição, e tinha sido encontrada no rio pouco tempo antes da nossa reunião notícia
que foi veiculada nos principais meios de comunicação da cidade.
“... sabe onde é a ponte Euclides da Cunha? Ficava cheinho de gente lá pescando... agora
passa lá não fica mais ninguém, não tem mais peixe, de vez em quanto tem alguém...”.
Lucas
Em relação à conservação do rio Pardo, alguns alunos opinaram que nada poderia
ser feito. A maioria, no entanto, contestou, acreditando que “não se pode perder a
esperança”, sugerindo medidas de conservação, tais como: tratar o esgoto, não jogar
lixo em suas margens, e até mesmo a revitalização do rio.
“Eles deviam fazer uma lei que proibisse de jogar lixo no rio... se alguém visse as pessoas
jogarem, denunciava e levava para a prisão”.
Lucas
Uma aluna considerou importante a oportunidade de participar da atividade da
trilha interpretativa para poder transmitir aos outros alunos da escola, as informações e
os conhecimentos adquiridos.
“Também é bom estar na escola, porque por nós sabermos disso as outras classes também
ficariam sabendo”.
Talita
No que diz respeito à mata ciliar, conforme as citações a seguir, os alunos já
tinham idéia de que se tratava da mata que acompanha o percurso do rio. Sabiam
também uma das suas principais funções: a de evitar erosões das margens do rio e o
conseqüentemente assoreamento deste. Apenas um dos grupos não soube informar a
sua importância para o meio ambiente.
“É aquela mata que tem que passa do lado do rio”.
Lucas
105
“A mata ciliar é como se fosse nossos cílios... ele purifica o rio.... não deixa cair poeira
dentro dos nossos olhos... ela é, assim como a mata ciliar do rio, ela segura... para não
cair no rio”
Talita
Do total de alunos, quatro já tinham tido contato prévio com uma uma mata ciliar
antes. Eles disseram que o clima dentro da mata é diferente do da cidade: mais úmido,
fresco e agradável. Todos eles disseram ter gostado de conhecer a mata ciliar e
gostariam de voltar ao local, se tivessem oportunidade. Aqueles que afirmaram nunca
ter visitado uma mata ciliar também gostariam de conhecer.
Após a visita à trilha, todos os alunos responderam que se houvesse um
desmatamento em uma área de mata ciliar, os seres vivos ali presentes morreriam,
inclusive os animais, principalmente, por falta de abrigo e comida.
“Alguns... às vezes não iam encontrar o que comer e iam acabar morrendo...”.
Guilherme
“Eles iam ficar sem abrigo... cada um queria alguma coisa... se você desmatar...”
Talita
Quanto ao rio Pardo, este ficaria mais poluído e sofreria a ação do assoreamento,
se a mata ciliar fosse retirada.
“Acho que... tipo, aqui tem a mata aqui assim.... aqui tá o rio, assim, ó.... [indicando com o
dedo] Aí vamos supor que aqui é um barranco, se cai as árvores, cai a chuva o barranco
faz assim ó.... [som de algo que está caindo]... as vezes tem sujeira lá, tudo... lixo lá...”.
Lucas
Em relação à comparação entre uma mata ciliar e uma plantação de cana, todos os
alunos alegaram que a primeira possui maior diversidade animal e vegetal do que a
segunda. Afirmaram, no entanto, que diferentemente de uma monocultura, a mata ciliar
possui diferentes espécies de vegetais. A partir daí, infere-se que a variedade de animais
também será maior, já que eles se alimentam e buscam abrigo nas diferentes espécies
vegetais. Um aluno comparou o clima de uma mata ciliar com o de uma plantação de
cana e suas conseqüências para os animais.
“É um lugar que não vai ter o clima deles. Porque na cana-de-açúcar o clima... se tiver sol
vai entrar lá dentro da cana de açúcar, então os animais podem ate morrer...”.
Alessandro
106
Após a visita a trilha, os alunos responderam que quando se substitui áreas de
matas nativas por plantação de cana, a diversidade de plantas e animais diminui.
“Vão ter que achar outro lugar para morar [os animais]...”.
Lucas
“Algumas espécies de árvore, por exemplo, é muito difícil ter, se a gente cortar... os
animais também porque se a gente não preservar... eles vão ficar sem... habitat”.
Talita
Tanto antes como depois da visita à trilha, os alunos foram enfáticos ao
responder que não é adequado o cultivo da cana no lugar das matas nativas, mesmo
considerando os usos que o ser humano faz da cana. Apesar disso, não souberam
justificar suas respostas. Alguns disseram que deveriam ser mantidas algumas áreas nas
quais as matas seriam preservadas.
“Devia fazer uma área de preservação onde não pode cortar...”.
Rodrigo.
O lixo foi outro tema abordado na discussão. Quando questionados sobre quais as
características de um local ideal para dispor o lixo municipal, os alunos responderam
que deveria ser longe de rios, matas e da cidade.
“Eu colocaria num lugar assim meio deserto onde ninguém assim pudesse tocar, ninguém
pudesse ir lá ou chegar assim perto do mato, porque pode chover e pode vir pro lado da
gente ou pro lado da mata, então ...”.
Alessandro.
Para alguns estudantes, se o único local disponível para a disposição final do lixo
fosse um terreno afastado da área urbana, porém próximo a uma nascente, seria melhor
procurar um local em outra cidade. Outros citaram a reciclagem como solução para
reduzir a quantidade de resíduo que vai para o aterro, porém nem todos os materiais
podem ser reciclados. Um aluno disse que não faria um aterro, pois este prejudicaria o
lençol freático. A partir daí, foi discutido um pouco a respeito de algumas diferenças
entre aterro sanitário e lixão. Por fim, este aluno concluiu que o aterro sanitário seria a
melhor solução para dispor os resíduos domiciliares de uma cidade.
“Poderia fazer um aterro sanitário, então, para não poluir os lençóis freáticos”.
Jailson
107
Todos os alunos já tinham ouvido falar da fazenda Tubaca, mas apenas quatro
deles já tinham estado no local. Com exceção de um aluno, que afirmou não ter gostado
da visita pelo fato de haver muitos mosquitos, todos os outros gostaram da experiência,
e uma aluna resume o porquê:
“Eu já fui e eu gostei de lá, porque lá assim, na entrada, assim, tem ... árvore dos dois
lados...fica um ar tão fresquinho, tão gostoso, ah, é muito bom...”.
Angélica
Ribeiro (2003) ressalta a importância das sensações experimentadas por
estudantes em atividades que possibilitem o contato direto com o meio natural. Através
das sensações expressas por alunos do ensino fundamental, em desenhos feitos 8 meses
após a realização desse tipo de atividade, a autora chega à conclusão que estes
observaram e aprenderam com os órgãos dos sentidos, como no caso das sensações
oferecidas pela audição (som do rio, pássaros), olfato (cheiro da mata) e tato
(temperatura fora e dentro da mata, diferentes troncos de árvores).
Quando questionados sobre como imaginavam aquele ambiente no passado, em
um dos grupos houve uma discussão se havia mais ou menos árvores no local. Por fim,
todos concordaram que tinha mais árvores. E a justificativa dada para o fato de haver
menos árvores hoje foi a ação do fogo e do desmatamento, em função do crescimento
urbano e das áreas de pastagens.
“Bem melhor... devia ter muito mais árvores, devia ser um lugar bem mais preservado...
porque hoje muita gente desmata.... quase ninguém dá valor...”
Talita
Em relação ao futuro, os alunos responderam que a manutenção dessas áreas
depende de iniciativas de conservação.
“ Se a gente quiser... Vai lá e planta outra no lugar.... porque se cai uma árvore, cai outra,
cai outra e se ninguém se manifesta em plantar uma lá, vai caindo todas e ficar sem...”
Lucas
“Se não cuidar aí já era”.
Jailson
No que concerne às suas expectativas, os alunos disseram que encontrariam, na
Tubaca, animais como pássaros, cobras, borboletas, tatu, tucano; muitas árvores
diferentes, como figueira e ipê; além do rio Pardo. Eles disseram que gostariam de ver
108
rios, flores, animais, macaco e cachoeira, e não gostariam de ver poluição, árvores
cortadas, lixo jogado no chão, cobra, cigarro, bicho barbeiro, pernilongo, mosca,
escorpião, poluição, sujeira, desmatamento, seca, fogo, dengue, sujeira, animais mortos,
mau cheiro e animais maltratados. Apesar de não terem visto muitos dos itens
mencionados durante a avaliação anterior à visita, os estudantes não manifestaram
sentimentos de frustração ou tristeza após a visita.
Segundo os mesmos, o que os alunos mais gostaram na visita à trilha foi a
possibilidade de conhecer diferentes árvores e seus nomes, especialmente o jequitibá e a
figueira (que são os exemplares que mais chamam a atenção por causa de seu porte);
saber que muitos animais vivem naquela área por meio das suas pegadas; e das
brincadeiras, especialmente aquelas nas quais os alunos têm seus olhos vendados. Duas
crianças disseram ter gostado de todas as atividades.
“O que a gente mais gostou? Uma coisa só? Uma só? Uma?... Gostei de tudo!”.
Jailson
O que os alunos menos gostaram foi do cheiro de silo (local onde é armazenado o
capim para alimentar o gado no período de estiagem), num trecho no início da trilha.
Duas meninas alegaram não ter gostado de atravessarem uma área com lama,e a ponte
sobre o rio Pardo, em razão do medo. Essa ponte consiste em uma estrutura de ferro
com o piso de madeira, e apresenta certo movimento quando há passagem de pessoas e
veículos.
As sugestões dadas pelos alunos para melhorar a atividade foram: fazer cavalgada
para não tornar a atividade muito cansativa e reforçar a ponte que atravessa o rio Pardo.
Ribeiro (2003) também nos lembra que mesmo as sensações desagradáveis como
o cheiro do silo e o medo de atravessar a ponte também podem marcar a experiência de
uma forma negativa, podendo fazer com que o aluno não mais queira voltar à trilha.
Porém, todos os alunos responderam que fariam a trilha novamente e levariam consigo
os amigos, familiares, colegas do bairro, enfim, as pessoas de quem eles gostam. A
maioria dos alunos atribuiu nota dez à trilha da Tubaca. Dois alunos atribuíram nota
nove e meio em razão do trecho com lama, e um aluno atribuiu nota nove por causa do
cheiro desagradável de silo no início do percurso.
No que tange ao percurso da trilha propriamente dito, os alunos disseram que sua
extensão estava adequada. Apenas um aluno sentiu-se cansado após a atividade e dois
deles disseram que a trilha poderia ser mais estreita. Um outro afirmou que o trecho de
109
mata também poderia ser mais extenso. O número de paradas também foi considerado
adequado pela maioria (apenas um aluno sugeriu que fossem feitas menos paradas).
Todos elogiaram a atuação dos monitores, enfatizando que foram muito
simpáticos, divertidos e que responderam a todas as suas dúvidas. Os adjetivos
utilizados pelos alunos para descrever o que acharam da trilha foram: excelente, ótima,
boa, legal, cem por cento, e preservada.
Os alunos disseram que aprenderam diversas curiosidades sobre as árvores,
especialmente as que mais chamam a atenção, como a figueira, o jequitibá; e sobre os
animais, identificados pelos seus vestígios. Eles também puderam aprender alguns
conceitos ecológicos através de brincadeiras e tiveram a oportunidade de contar essa
experiência para seus pais, que, segundo eles, aprovaram a iniciativa.
Quando questionados sobre como resumiriam o que aprenderam na trilha, estes
citaram diversos aspectos de conservação da mata e do rio Pardo. Porém, o que ficou
mais nítido foram os aspectos da convivência em grupo e da interação com outras
pessoas.
“...eu aprendi que é bom andar em grupo no meio da mata.... que a gente pode aprender
um com o outro, não é verdade?...a gente aprende não poluir, o que a gente pode fazer
para melhorar o meio ambiente, não é verdade?...a gente aprendeu também a não destruir
a mata ciliar, a não poluir os rios... porque se a gente poluir... e se não tiver mais rio ?”.
Lucas
“Eu aprendi que andar no meio da mata cansa... eu aprendi a conservar a mata... eu
aprendi que para andar em grupo tem que respeitar quem ta comandando se não pode se
perder....eu aprendi a conservar a mata ciliar, eu aprendi mais sobre as árvores...”.
Guilherme
“... eu aprendi a usar a mata com inteligência, eu aprendi algumas coisas sobre meio
ambiente, sobre espécies de árvores. Eu aprendi sobre não jogar lixo, ... eu aprendi tudo
sobre a mata, quase tudo... quase tudo sobre a natureza”. Jailson
“Eu aprendi a conservar o meio ambiente, a cuidar do rio, ao mesmo tempo que agente
estava brincando, a gente aprendeu bastante coisa...”
Alessandro
Por fim, os alunos disseram que recebem informações a respeito do meio
ambiente de São José do Rio Pardo através de jornal, rádio, televisão, revistas, internet,
na escola, na rua, e com outras pessoas: pais, amigos e parentes.
Ainda que os estudantes avaliados já tivessem um conhecimento prévio
considerável a respeito da maioria dos assuntos tratados na visita à trilha da Tubaca,
nota-se acréscimos nesse aspecto, especialmente quanto à conservação dos elementos
naturais do meio, que anteriormente eram encarados apenas como recursos à disposição
110
dos seres humanos. Percebe-se também uma maior preocupação com a dimensão
temporal dessa conservação, ou seja, a preocupação com o futuro e a necessidade
iminente de conservação. Os estudantes ressaltaram a importância da experiência vivida
em contato direto com o meio natural, proporcionada pela atividade e principalmente
pela interação com os colegas e os monitores. Esse é um resultado muito importante, já
que as relações das pessoas em grupos, o diálogo e o respeito ao diverso são alguns
valores muito importantes a serem resgatados em processos de educação ambiental.
Embora a avaliação de pesquisas relacionadas a valores consista em uma tarefa
complicada, já que o tempo necessário para que modificações perceptíveis ou refletidas
em atitudes se estabeleçam, podendo ser observadas e avaliadas, muitas vezes não é
compatível com os prazos estabelecidos por instituições de pesquisa e agências
financiadoras, para as investigações científicas, Wilson (1997) considera a afetividade
como grande motivadora de mudanças de valores e atitudes, já que as lembranças
prazerosas aumentam a probabilidade de retenção de informações, tornando-as parte da
memória de médio ou longo prazo, e propiciando uma ampliação no quadro pessoal de
referências sobre determinado tema ou situação.
A mesma autora avalia ainda que o trabalho com atividades que proporcionem
uma interação perceptiva com o meio e com outras pessoas, além de facilitar a
compreensão e incorporação de informações, através da memorização das experiências
(cognitivas e afetivas) e associações, também proporciona um maior envolvimento dos
educandos com o processo. O fato de aliar o processo cognitivo ao afetivo torna o
processo mais prazeroso, tanto para educandos como para educador. Acredita-se,
portanto, que a influência na formação dos valores dos educandos seja a maior
contribuição desse tipo de atividade.
Sabe-se, porém, que essas atividades de curta duração e/ou eventuais no processo
educacional têm poucas possibilidades de propiciar a construção de objetivos de
natureza tão variada e complexa como aqueles que caracterizam, segundo a literatura, o
processo de educação ambiental. Assim, atividades de visitas às trilhas deveriam ser
consideradas como parte de um processo mais amplo de educação ambiental, na medida
em que suas contribuições deveriam ser exploradas ao máximo. No caso deste trabalho
seria fundamental proporcionar uma formação aos professores desses estudantes, para
que eles pudessem desenvolver outras atividades em momentos anteriores e posteriores
à visita à trilha, dentro e fora da sala de aula, de forma a permitir que essa atividade não
se caracterize como um evento isolado no processo educacional dos alunos.
111
7.4.2. Avaliação da atividade de visita à trilha da Tubaca pelos participantes
do processo
O roteiro de questões utilizado para o grupo focal realizado com a finalidade de
avaliar as visitas dos estudantes à trilha da Tubaca, segundo os participantes do processo
de construção desta, encontra-se no Apêndice J.
Devido às mudanças no cenário político municipal, dois participantes que
ocupavam cargos públicos (o Secretário Municipal de Turismo e a Diretora Municipal
de Fomento ao Turismo) não compareceram a esta reunião, o que representou uma
grande perda na avaliação do processo conduzido. A atual Secretária Municipal de
Turismo compareceu e explicitou claramente a sua intenção em apoiar a continuidade
da atividade.
Todos os participantes presentes gostaram muito do projeto. Eles ressaltaram que
o local escolhido é ideal para esse tipo de atividade, entre outras coisas, devido à sua
proximidade com a área urbana municipal, o que facilita o acesso de visitantes.
“Foi ótimo... O levantamento da trilha, o lugar foi o melhor que a gente achou, perto da
cidade com uma mata privilegiada... já é uma trilha que já tem algumas árvores
identificadas, então quer dizer, já fica mais fácil da gente dizer qual é a árvore ‘essa é a
figueira’. Então eu acho que casou: acho que foi um lugar perfeito, não tem o que falar...”
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
O fato de ter sido feito um levantamento prévio da vegetação local, e por esse
motivo algumas das árvores já estarem identificadas através de placas com seus nomes
populares e científicos, constituiu-se em uma grande facilidade para os participantes
que atuaram como monitores na visita à trilha. Outras facilidades citadas por eles no
desempenho da atividade foram: a extensão da trilha e o sombreamento na maior parte
do percurso.
“É uma trilha onde vai ter um aprendizado ecológico, de preservação. Até o tamanho dela
é excelente. É uma trilha que não cansa. Você não vai andar ali pra fazer caminhada, você
vai lá pra conhecer...”
Diretor Municipal de infra-estrutura.
No que se refere às dificuldades encontradas durante a atividade, dois
participantes mencionaram o transporte dos alunos da escola para a fazenda. O veículo
que fazia esse transporte era cedido pela prefeitura municipal, e sua reserva era
normalmente feita pela coordenadora ou diretora da escola participante. De qualquer
112
forma, a diretora da escola afirmou que não teve nenhuma dificuldade em relação a esse
aspecto.
“O que tenha dificultado? O deslocamento... A maior dificuldade é o deslocamento”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
“É, conseguir o ônibus e levar...”
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
“Pra nós nunca foi dificuldade ...”
Diretora de escola.
Justamente para evitar essa suposta dificuldade, a atual Secretária Municipal de
Turismo propôs que nas próximas etapas do projeto, a reserva do veículo para o
transporte dos estudantes fosse feita através da própria Secretaria Municipal de
Turismo. Essa postura da Secretária Municipal de Turismo pode ser um indicativo do
seu engajamento pessoal na continuidade do projeto, já que, embora não tenha
participado das etapas anteriores do processo, mostrou-se bastante receptiva ao projeto,
se propondo a auxiliar na resolução de pequenas dificuldades encontradas pelo grupo.
“Pra gente seria interessante, pra gente enquanto Prefeitura Municipal, Secretaria de
Turismo, ta fazendo o agendamento e depois tá passando pro pessoal da [agência de
esportes e aventura], justamente por causa do transporte. Com as escolas estaduais,
mesmo particulares é a prefeitura que cede o transporte... Seria interessante que as escolas
interessadas em estar desenvolvendo projeto, selecionasse a turma... entraria em contato
com a Secretaria, estaria agendando, aí a gente faz o requerimento para o setor de
transporte, conseguindo autorização entraria em contato com o pessoal da [agência de
esportes e aventura]... passando pra eles... confirmando a participação deles... e aí vocês
teriam um tempo para tá organizando, tá sensibilizando”.
Secretária Municipal de Turismo.
Outra dificuldade encontrada, principalmente pelos participantes que atuaram
como monitores da trilha, foi a conduta eufórica e dispersiva dos alunos durante a
atividade. Embora durante as visitas à trilha, as professoras acompanhantes tenham
alegado que essa é uma situação comum em sala de aula, ela se constituiu em uma
dificuldade para os monitores pelo fato da maioria deles não possuir experiência prévia
em desenvolver atividades com crianças.
“...Eu achei que eles estavam um pouco dispersos. A hora que eles entram na mata, eles
ficam olhando e um mexe com o outro, joga semente no outro... A gente tem que chamar e
tentar... mas eles prestam atenção. Na hora que eles têm alguma dúvida, a gente esclarece,
e aí todo mundo junto quer saber... Eu achei que o maior problema e só um pouco a
dispersão. Do resto correu tudo bem...”
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
113
Um dos participantes aplicou uma das dinâmicas feitas durante a visita à trilha da
Tubaca com alguns estudantes em sala de aula e percebeu uma dificuldade ainda maior.
“(...) fiz a brincadeira da anta dentro da classe. 70% aderiram, adoraram, brincaram,
acharam o máximo... quinta série, você fazer dentro duma classe é totalmente diferente...
do ambiente lá, né ? Por mais que eles fiquem dispersos, dentro da classe então, você
propor um negocio novo pra eles, tem gente que não tá nem aí, fica fazendo bagunça o dia
inteiro dentro da classe e ... tinha gente tentando empurrar um ao outro, bom, mas dentro
da classe é mais difícil ainda de você trabalhar do que no campo... Eu presenciei”.
Biólogo e agricultor.
Todos os participantes do processo de elaboração da trilha concordam que a
presença de monitores que conduzam os alunos pelo trajeto é fundamental neste tipo de
atividade. Uma professora (que ainda não havia participado das atividades) ponderou a
respeito dessa importância através de uma experiência de saída com os estudantes sem
o auxílio de monitores.
“Eu senti dificuldade quando eu saí sozinha com os meus alunos. Dá um peso, por isso que
quando eu vejo um grupo maior que a gente pode tá junto, ele com rádio, ele com isso, com
aquilo... nossa, dá pra fazer mais vezes... porque quando a gente vai só 1, 2 professores, 30
crianças agitadas... Eu sinto assim o meu coração pulsar o tempo todo... lógico que a gente
vai confiando... mas mesmo assim... os alunos estão muito assim cheios de energia e às
vezes eles querem fazer as próprias regras, então é legal ter um grupo mais inteiro
acompanhando a gente, isoladamente eu não quero mais me arriscar não...”.
Professora.
Os participantes também acreditam que a atividade realizada com o grupo de
alunos que foi sistematicamente avaliado tenha sido mais proveitosa, e atribuem dois
motivos a esse fato: a preparação prévia desses alunos para a atividade através de uma
palestra e uma discussão de grupo (grupo focal), e porque após a realização da atividade
com dois grupos de alunos, os monitores já se sentiam mais familiarizados com o
roteiro da trilha e com a conduta das crianças.
“Eu acredito que a última turma, que teve a palestra, tudo, eles estavam bem mais
enfocados, bem mais preparados no assunto. As primeiras turmas foram mais bagunça,
mais dispersão...”
Agricultor.
“Na primeira nem a gente tava... foi uma experiência nova até pra gente. Acho que a
primeira, a gente não pode ter muita base. Foi mais pra gente aprender a trabalhar com...
no nosso caso aqui, a gente não estava acostumado a trabalhar com criança A gente
trabalha com esporte e aventura é um pessoal já mais velho. Então é diferente”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
114
Dessa forma, a partir das falas dos participantes, fica clara a importância dos
estudantes serem previamente preparados para a visita à trilha, seja por meio de
palestras, dinâmicas, entre outros.
“Eu acho importante essa palestra com as crianças não precisa nem ser uma palestra, o
próprio professor ou alguém da [agência de esportes de aventura]... alguém que vá lá
conversar com eles sobre o passeio, sobre a trilha pra estar sensibilizando ... a gente faz
uma sensibilização com as crianças porque aí eles já vão com um objetivo para a trilha.”.
Secretária Municipal de Turismo.
“Mas é importante estar sensibilizando os alunos antes, justamente para que eles
aproveitem bem esse passeio... Tem que ter um objetivo educacional implícito pra que
realmente a avaliação seja bastante positiva. A experiência é muito importante, mas é uma
oportunidade de enriquecer o conteúdo enfocado”.
Secretária Municipal de Turismo.
Uma das sugestões feitas pelos participantes para a continuidade da atividade foi
a adaptação do roteiro da trilha para visitas com grupos de crianças de faixas etárias
menores. De fato, essa é uma possibilidade bastante interessante e que já havia sido
pensada em nossa primeira reunião. Porém, acreditamos que tal adequação seja uma
proposta para etapas futuras, já que demanda, ente outros fatores, um maior número de
monitores para acompanhá-las.
“Os menores até poderiam estar participando mas aí uma turma menor...”
Diretora de escola.
“Eu acredito que a trilha nem é cansativa. O problema é só realmente tomar conta desse
pessoal menor”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
“A trilha poderia ser um pouquinho mais curta e a quantidade de alunos também. Aí acho
que seria legal”.
Diretora de escola.
Outra sugestão feita pelos participantes foi a de se desenvolver um trabalho com
os professores antes da atividade com os alunos, para que estes pudessem abordar em
sala de aula, antes e depois da atividade, os temas tratados na visita à trilha.
“Mas um passeio deste tem que ser planejado, envolvendo as várias disciplinas; tem o
pessoal de geografia, tem o pessoal de história, de ciências, que pode estar envolvendo,
levantando algumas questões para eles estarem observando. É muito rico e além de tudo lá
é muito bonito. Então, professor de artes, quem quiser fotografar pra depois estar fazendo
um trabalho, uma exposição, fazer alguma pintura da foto, uma escultura, modelagem,
quer dizer: são muitas as atividades que as crianças podem estar fazendo a partir de um
passeio desses; um levantamento dos tipos de árvores, quais são as espécies, os animais, as
folhagens, quer dizer é muito rico; um passeio deste marca pra vida toda. A escola pode a
115
partir de uma trilha desta, trabalhar quase com tudo, inclusive tem conteúdo para todas as
disciplinas, né?”.
Secretária Municipal de Turismo.
“Às vezes o que afasta os professores de estar fazendo esse tipo de atividade é que eles não
estão motivados ainda. Sabe aquela coisa que fica preso naquela coisa antiga, fica meio
restrito a manter o que é... então essa motivação falta, essa coisa deles irem pra
experimentar...”.
Professora.
“...para sensibilizar o professor e por que não desenvolver uma trilha só de professores ?
Fazer um trabalho com os professores primeiro. Porque eu acho que eu não consigo
sensibilizar meu aluno se eu não estiver sensibilizado. A gente vê a resistência dos
professores, quanto à mudança, a sair, porque é trabalhoso... o professor tem
responsabilidade... não é todo professor que assume isso, muitos resistem à mudança,
então eu acho que seria interessante... programar um dia, uma escola, vai um grupo de
professor, acho que seria um trabalho interessante pra tá sensibilizando depois o aluno”.
Coordenadora pedagógica.
Nessa última fala, pudemos detectar uma falta de comunicação entre os
professores e a coordenação da escola participante do projeto, já que foi realizado um
trabalho de formação dos professores por um outro membro do grupo de pesquisa, com
a participação de uma professora da rede municipal de ensino.
Uma outra professora também sugeriu que fossem desenvolvidos outros trabalhos
em conjunto a partir da trilha.
“Ou quando repetir a trilha, levar uma coisa nova para fazer, ou ver um filme, ver uma
música, ou fazer um texto, ou plantar, fazer algum plantio...’nós vamos cuidar dessa
árvore?’, ‘nós vamos vim ver aqui se ela ta indo direitinho?’, ‘nós vamos por a plaquinha
aqui?’. Então que é um compromisso com alguma coisa aquela área”.
Professora.
Por fim, todos os participantes do processo e ainda as pessoas que desejam
participar das próximas etapas do projeto, o consideram bastante importante no sentido
de se criar oportunidades de aprendizado, sensibilização e conscientização de alunos e
professores a respeito de temas ambientais.
“O que eu percebo nesses tipos de projetos e programas fora da sala de aula é nunca mais
esquece essa oportunidade de ter saído, essa vivência, essa coisa que concretizou, que
sentiu, que fez acontecer, não esquece nunca mais, qualquer coisa que se constrói, seja na
massinha modelar, seja em fotografar, no anotar, em pesquisar... é um registro pra sempre.
Então é importante fazer essas coisas. Cansa ? Cansa. É uma responsabilidade? É uma
responsabilidade e a gente tem que assinar termo de responsabilidade pro pai estar ciente
? Tem, porque tudo pode acontecer... mas é necessário... porque a coisa só na teoria e no
papel... cansa...Hoje tem filme, informática, TV... a escola vai ficar nessa mesmice de lousa
e giz?”.
Professora.
116
“Este passeio na mata da Tubaca tem há muito tempo, a gente já viu quando era criança,
só que a gente chegava lá jogava a gente lá, agente ficava olhando e vinha embora”.
Comerciante.
“Eu acho assim: a oportunidade é ímpar, pra fazer uma coisa assim com conhecimento,
com a orientação correta,as crianças vão aprender muito, os professores vão ter
oportunidade de estar fazendo uma atividade extra-curricular muito valiosa, eu acho que a
gente tem que aproveitar mesmo... A questão é a gente dar continuidade a esse projeto de
uma forma bastante planejada, organizada...”.
Secretária Municipal de Turismo.
“Eles vão ser parceiros na preservação... Nosso exército tá aumentando porque cada
criança que vai lá tenho certeza que é um soldado a mais pra começar a jogar desse outro
lado”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
7.4.3. Avaliação do processo da pesquisa pelos participantes locais
Costa-Pinto (2003) apontou duas dimensões atribuídas à participação: uma
interior/subjetiva/individual, e outra coletiva/política, que se permeiam e alternam de
uma forma complexa ao longo do processo. Embora a realização da atividade nos
moldes em que foi planejada e executada já seja um indicador da participação dos
envolvidos, outros indicadores foram propostos (Anexo C) com base naqueles utilizados
por Storey (2003).
Em relação aos indicadores de participação individual, considera-se que todas as
nove pessoas envolvidas mais diretamente com o processo participaram efetivamente
das atividades, fazendo perguntas sobre estas e opinando em diversos momentos.
No que se refere ao grau de interação do grupo, pode-se afirmar que foi
satisfatório, já que a maioria dos participantes interagiu entre si, sendo até mesmo
solidários em alguns momentos. Apenas um integrante, embora presente em todos os
encontros, dificilmente se manifestava nas reuniões, talvez por timidez. Ainda assim,
em conversas informais com a pesquisadora, especialmente na etapa de visita dos
estudantes à trilha, ele expôs sua opinião a respeito do processo, sugerindo formas de
lidar com as dificuldades encontradas e manifestando grande interesse na continuidade
do trabalho e no desenvolvimento de novas trilhas no local, principalmente relacionadas
a temas históricos.
O grupo focal nesta etapa, teve como objetivo compreender como os participantes
perceberam o processo de participação de uma pesquisa científica. O roteiro de questões
utilizado durante a discussão se encontra no Apêndice K.
117
As avaliações participativas podem oferecer excelentes oportunidades para a auto-
aprendizagem de todas as pessoas envolvidas no processo (TILBURY, 2003). Porém, os
participantes encontraram dificuldade em responder às questões relativas ao processo do
trabalho em grupo. De fato, essas questões exigem uma reflexão mais profunda a
respeito do papel de cada indivíduo dentro de um grupo, das dificuldades nas relações
interpessoais, entre outras. É comum tentar ignorar os conflitos e problemas existentes
nessas relações.
A avaliação também pode ter sido prejudicada pela ausência de dois integrantes
cuja contribuição foi fundamental para o desenvolvimento do trabalho, em virtude de
seus papéis de “aglutinadores” dos componentes do grupo. No momento da avaliação
estavam afastados das suas funções iniciais em conseqüência de mudanças no cenário
político municipal.
Todos os participantes presentes afirmaram estar bastante satisfeitos com o
projeto. Suas expectativas citadas anteriormente, que incluíam a elaboração de uma
trilha interpretativa do meio com finalidades educativa e turística visando à conservação
ambiental foram atingidas.
“Esse é o objetivo do que a gente quer formatar aqui. A prefeitura vai dar um apoio para
que as coisas pudessem acontecer, como é o roteiro da pinga... No primeiro roteiro, no
segundo, terceiro nós vamos organizar alguns passeios, mas vai chegar uma hora que a
gente passa isso para uma agência de viagens, e o turista que chegar aqui vai lá e... ‘tenho
esse roteiro, tenho esse passeio, custa tanto e é só agendar’. É assim que ...o turismo vai
começar a ser desenvolvido na cidade. Esse investimento que a gente está fazendo com os
alunos é porque o aluno de hoje vai ser o político de amanhã e ele vai conscientizando, ele
vai sensibilizando o pai, o vizinho, o amigo, para que essas coisas existam aqui em São
José de repente não precisa pensar que tem que ir num acampamento não sei aonde, na
Serra da Mantiqueira para fazer uma trilha... Aqui tem!”.
Secretária Municipal de Turismo.
“Eles vão ser parceiros na preservação... Nosso exército tá aumentando porque cada
criança que vai lá tenho certeza que é um soldado a mais pra começar a jogar desse outro
lado...”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
Os participantes também se consideram aptos a conduzir visitantes pela trilha da
Tubaca, bem como a elaborar roteiros para outras trilhas já existentes no município.
“Foi muito bom tanto é que essa é a única trilha formatada que a gente tem, e nós da
[agência de esportes de aventura] estamos totalmente aptos para qualquer outra classe,
qualquer outra escola que quiser fazer essa experiência gente tá pronto pra desenvolver a
trilha... eu achei maravilhoso, eu curti, como eu falei...”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
118
“Essa aqui é o primeiro passo, a primeira [trilha] formatada, eu acredito que vão ter mais,
claro, existe inúmeras trilhas aqui em São José, a gente conhece bastante, mas é que é
aquela coisa: depende de autorização do proprietário, depende de formatar, depende...
então precisa trabalhar uma e então ‘é isso?’... ‘deu certo?’, vamos começar dessa aqui a
tirar idéias e fazer...porque outras trilhas a gente já conhece, só falta, lógico, colocar
tudo...”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
Os integrantes do grupo avaliam como boa sua participação no processo do
trabalho como um todo. Eles alegam que participaram ativamente da elaboração do
roteiro da trilha, inclusive tendo a oportunidade de avaliar suas sugestões na prática.
“...teve uma trilha que a gente pegou e não continuou, nós achamos melhor voltar... lembra
? Teve uma que nós fomos ate o final da mata em vez da gente andar os 900 metros que
faltava, nós voltamos, depois nós chegamos à conclusão que não compensava... a gente
acaba voltando 1 km de mata, mais 1 km pra chegar no ônibus, na verdade a gente andou 1
km a mais sem ter necessidade e ainda passando por um caminho que a gente já tinha
passado... O legal da trilha é você fazer uma alça, você ir num lugar e chegar por outro,
você ir e voltar pelo mesmo caminho ela já fica mais monótona... Acho que participamos
bastante...”
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
No que tange às facilidades encontradas pelos participantes durante o processo,
podemos citar a experiência prévia da maioria em trabalhos em grupo.
“A gente sempre depende um do outro. O nosso lema já é uma equipe, e a gente prega isso
também. A gente faz um trabalho com empresas, e às vezes o grupo de vendas da empresa
está desunido, então o nosso trabalho é unir. A gente coloca eles dentro de um bote e fala:
“vocês são uma equipe, se um remar fora, a equipe inteira ... Então, quer dizer, a gente
ensina eles a trabalhar em (...) a cooperação entre o grupo é muito importante”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
Um dos integrantes também acredita que o sucesso do trabalho pode ser
vinculado, em parte, ao fato de todos eles, ou pelo menos a maioria deles, possuírem os
mesmos objetivos e interesses - o que facilitou a união e articulação do grupo.
“Acho que não porque acho que a meta de todo mundo era a mesma, mesmo objetivo,
então percebe-se esse ano que toda vez que nós formamos um grupo... esse é o caminho:
um depender do outro”.
Diretor Municipal de infra-estrutura.
De fato, a própria formação do grupo facilitou seu engajamento no trabalho, já
que os envolvidos identificaram-se imediatamente com o tema e com a proposta, não
apresentaram opiniões muito conflitantes e já tinham afinidades pessoais entre si, de
maneira que não encontraram grandes dificuldades em participar do projeto.
119
“E convidar quem gosta de fazer isso porque às vezes a gente faz o convite pra pessoa
errada, na hora errada e aí não anda o projeto, não vai funcionar o projeto se não escolher
as pessoas que gostam desse tipo de trabalho...”.
Professora.
“... tem que ter um engajamento de quem quer fazer... tem que conscientizar que tem que
montar uma equipe e batalhar mesmo porque não é só ‘ah, vamos fazer’... vão ter
empecilhos e é o tal negócio: tem que querer fazer por querer fazer...”.
Biólogo e agricultor.
Em relação aos obstáculos encontrados durante o processo de desenvolvimento
das atividades, a coordenadora da escola participante do trabalho alegou que os
professores tiveram dificuldade em se envolver com o projeto em função da época do
ano em que este foi realizado (final do ano letivo). De qualquer forma, ela acredita que
esta atividade deva ter uma continuidade.
“Acho que o que atrapalhou um pouco foi a época, principalmente as últimas turmas... mas
acho que foi bem válido... alguns alunos já conheciam, a gente já havia feito um trabalho
de coleta de sementes... então, alguns alunos, que acho que tiveram maior facilidade já
tinham consciência do local, alguns era a primeira vez, então acho que por isso que surgiu
essa euforia, mas eles vieram comentando ‘quando que nós vamos voltar?’... Então a gente
percebeu que tem que ter uma continuidade sim... Acredito que acontece a pequenos passos
porque a conscientização acho que ela é lenta, mas a gente não deve desistir a gente tem
que acreditar, principalmente o professor tem que acreditar no trabalho...”.
Coordenadora pedagógica.
Segundo os participantes do projeto, a maior importância deste está na interação
entre os diversos segmentos em uma única atividade, possibilitando um estreitamento
das relações e do diálogo entre eles.
“...porque trabalhar fragmentado não funciona. A [agência] faz um trabalho lindo,
maravilhoso. A escola faz, outro faz, todo mundo faz, todo mundo faz, mas tudo picadinho,
tudo fracionado...Se a gente não se juntar... que nem, pra mim hoje foi uma surpresa estar
aqui nessa roda... porque a gente as vezes fala sozinho, né ? Vocês falam sozinhos. A gente
se sente órfão”.
Professora.
Apesar de terem sido constatados, logo no início do processo, um desejo e uma
necessidade grande dos participantes em fomentar o turismo de natureza através da
implantação de trilhas no município, a presente proposta foi identificada como o motivo
da mobilização do grupo.
120
“Isso aí é um negócio muito novo, que tá acontecendo agora então tem certas nuances né?
Mas não tem um negócio focado pra isso... Se não fosse a [pesquisadora] vir fazer o
mestrado dela, nem existiria isso... Você que deu o enfoque de vir atrás disso porque
senão...”.
Biólogo e agricultor.
A participação dos integrantes nas diversas etapas do processo e, principalmente
suas explanações durante a avaliação deste, sugerem que eles tenham, de fato, se
envolvido com a proposta inicial da pesquisadora.
Dentre os presentes na última reunião, o empresário da agência de esportes e
aventura se destacou, em virtude de uma postura bastante positiva no que tange à
pesquisa. Além de explicar pessoalmente o projeto àqueles que ainda não o conheciam,
esclarecer as dúvidas que surgiam e expor as dificuldades, buscando soluções conjuntas,
ele apresentou uma proposta de continuidade das atividades que vinham sendo
desenvolvidas, e se comprometeu diante de todos os presentes com esta.
“A gente da [agência de esportes de aventura] está à disposição para qualquer escola que
quiser fazer esse trabalho aí de levar... Esse projeto ... a Rastro vai dar continuidade, que é
uma trilha ... durante a semana, durante a aula seria uma aula, né, aí a gente leva...”.
Empresário de uma agência de esportes de aventura.
Como já dito anteriormente, a então Secretária Municipal de Turismo também se
propôs a auxiliar no planejamento e na organização das atividades nas etapas seguintes
do projeto.
“Eu acho assim: A oportunidade é ímpar, pra fazer uma coisa assim com conhecimento,
com a orientação correta, as crianças vão aprender muito, os professores vão ter
oportunidade de estar fazendo uma atividade extra-curricular muito valiosa, eu acho que a
gente tem que aproveitar mesmo... A questão é a gente dar continuidade a esse projeto de
uma forma bastante planejada, organizada...”.
Secretária Municipal de Turismo.
A intenção em dar continuidade às atividades com os estudantes, apresentada pelo
grupo diante do interesse manifestado pelos representantes das escolas presentes, aponta
na direção de uma autonomia do grupo em relação à presença da pesquisadora.
Apesar dessa constatação, durante o processo e no prazo de dois meses após a
última reunião realizada com a presença da pesquisadora, não foi feita nova reunião
entre os participantes para dar prosseguimento ao trabalho, bem como novas visitas à
trilha com grupos de estudantes.
121
Além da continuidade das visitas dos alunos à trilha da Tubaca, os participantes
intentam elaborar roteiros para novas trilhas. Outra proposta é a construção e
transformação de áreas verdes urbanas em locais com finalidade de lazer e recreação
para a comunidade.
“A prefeitura gostaria que o município tivesse várias trilhas. Essa da Tubaca é uma trilha
já conhecida porque o lugar é muito, muito bonito e há alguns anos já vem sido
freqüentado...”.
Secretária Municipal de Turismo.
Os representantes da agência de esportes e aventura presentes afirmaram que
planejam continuar trabalhando com atividades educativas no meio natural, e que uma
das propostas consiste em dar aulas percorrendo um trecho do rio Pardo em botes de
rafting.
“A gente também tá tentando fazer um projeto aí na Rastro, de dar aula em cima do bote
de rafting. Em São Luis do Paraitinga eles já fazem isso. O cara falou que dá muito certo,
vai de dez botes, junta tudo, a professora vai num bote...”.
Comerciante e guia de agência de esportes e aventura.
O representante da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente no
Comitê da Bacia do Pardo sugeriu ao grupo que fosse feita uma proposta ao Comitê
para financiamento do projeto nas próximas etapas.
“Vocês podiam pensar em transformar esse trabalho num projeto... fazemos parte do
comitê de bacia do Pardo, então tem 70% saneamento, 30% para as entidades civis, pra
principalmente pra projeto ambiental. Seria muito bem visto isso... transformar isso num
projeto bem elaborado com planejamento de custo, tudo certinho...”.
Agrônomo.
123
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Geralmente não é possível fazer um planejamento prévio de todas as etapas de um
processo participativo de forma que a reflexão acabe permeando todas as suas fases
como forma de conduzi-lo. É necessário que o pesquisador utilize métodos e técnicas
bastante flexíveis, a fim de permitir uma adaptação às situações inesperadas que
porventura venham a ocorrer no processo.
A formação e atuação do grupo de participantes de São José do Rio Pardo durante
o processo desta pesquisa foram facilitados por vários fatores, dentre eles o fato de uma
das pesquisadoras do grupo ser membro da comunidade local, promovendo um primeiro
contato com alguns interessados no trabalho.
O modo pelo qual o grupo foi formado, ou seja, por meio de convites feitos pelos
próprios participantes àqueles que julgavam ter perfil para esse trabalho, fez com que a
maioria deles tivesse certa proximidade e afinidade entre si, além de interesses comuns
no desenvolvimento do projeto. Porém, embora tenha facilitado sobremaneira o
desenvolvimento da pesquisa, especialmente pelo fato da pesquisadora não estar
inserida na realidade local, essa forma de organização do grupo pode ter excluído outros
interessados no projeto, mas que talvez tivessem pequena proximidade ou afinidade
com tais participantes.
O nível de participação dos integrantes não é constante em todas as etapas do
trabalho, já que está sujeito a várias influências, tais como: objetivos e características do
processo, interesses e motivações dos envolvidos e relações pessoais entre eles.
O interesse inicial do grupo pelo tema foi fundamental para proporcionar seu
engajamento. Sua articulação durante todas as etapas do trabalho, o apoio - tanto
intelectual como logístico - e também a experiência prévia de trabalho em grupo nos
ambientes profissionais de alguns integrantes, foram de extrema importância para o
desenvolvimento da pesquisa.
124
A questão ambiental foi mais facilmente associada aos problemas do que às
potencialidades do meio. A maioria dos problemas identificados referia-se àqueles com
impactos diretos no meio natural. Já as potencialidades incluíram aspectos históricos e
culturais, bem como elementos naturais já transformados ou úteis para os seres
humanos.
A biodiversidade, em princípio encarada como uma potencialidade municipal,
revela-se, nesse contexto, também como um problema, pois muitos dos problemas
municipais citados incidem diretamente sobre ela. Além disso, embora envolvidos em
maior ou menor grau com a questão ambiental em função de seus cargos ou profissões,
os participantes praticamente não conhecem exemplos de biodiversidade local.
A visita a uma trilha interpretativa trouxe aos estudantes de ensino fundamental, a
possibilidade de ampliarem conhecimentos relativos aos conteúdos abordados na
atividade, especialmente no que se refere à conservação da biodiversidade. Porém, o
que ficou mais evidente na avaliação da atividade com estes estudantes foi a percepção
destes em relação à experiência vivida em contato direto com o meio natural e,
principalmente, a interação com os colegas e com os monitores. Esse é um resultado
muito importante, já que as relações das pessoas em grupos, o diálogo e o respeito ao
diverso são alguns valores muito importantes a serem resgatados em processos de
educação ambiental.
Dessa forma, a estratégia “trilha” consiste em uma estratégia educativa que
transcende os aspectos cognitivos da aprendizagem, proporcionando oportunidades de
desenvolvimento de aspectos afetivos e habilidades, podendo assim, ser considerada um
instrumento efetivo de educação ambiental.
Porém, essas atividades de visitas às trilhas por alunos de ensino fundamental (e
eventualmente médio) devem ser planejadas e consideradas como parte de um processo
mais amplo de educação ambiental, e suas contribuições devem ser aproveitadas ao
máximo. No entanto, para que isso ocorra, é fundamental que os professores desses
alunos sejam formados para atuar com tal estratégia educativa. Pelo fato da relação
professor-aluno ser contínua ao longo do ano letivo e, em muitas vezes, ao longo de
várias séries escolares, o educador possui maiores possibilidades de desenvolver outras
atividades relacionadas às visitas à trilha em momentos anteriores e posteriores a estas,
dentro e fora da sala de aula, permitindo que essa atividade não se caracterize como um
evento pontual no processo educacional dos estudantes.
125
Embora os participantes tenham demonstrado grande interesse na continuidade
das atividades, manifestada durante todas as etapas do processo e, principalmente, em
sua avaliação, quando não há a presença da pesquisadora, supõe-se que exista certa
dificuldade na concretização desta intenção.
Outra dificuldade encontrada na continuidade de projetos participativos, quando
envolvem-se esferas públicas, está relacionada às mudanças no cenário político sob o
qual o projeto tenha sido elaborado.
Especialmente neste caso, alguns dos participantes do curso de formação de
monitores ambientais que tinham intenção de multiplicar idéias e práticas
conservacionistas foram afastados de seus cargos junto ao Poder Público, o que pode ter
comprometido sobremaneira a continuidade do projeto e o seu desdobramento em
outras ações. Percebe-se, assim, a importância da participação de representantes
também da esfera privada e do terceiro setor no processo, a fim de promover a
continuidade do trabalho em cenários políticos desfavoráveis.
Em relação ao grupo de participantes do processo de construção da trilha, notam-
se resultados positivos no trabalho. Dentre eles podem ser citados a criação de uma
trilha interpretativa com finalidades educativa e turística, e a possibilidade de formação
de monitores ambientais para atuarem nas visitas. Porém, talvez o maior benefício
proporcionado pelo projeto tenha sido a possibilidade de integrar representantes de
diferentes instituições em um trabalho conjunto com enfoque ambiental, como forma de
incrementar sua capacidade de movimento e articulação, apoiando o fortalecimento de
suas organizações.
Por fim, um processo participativo de construção de uma estratégia educativa
pode ser considerado um processo de educação ambiental, na medida em que permite
uma reflexão, tanto individual quanto coletiva, a respeito de temas ambientais
relevantes; trabalha a convivência em grupo entre pessoas com visões de mundo e
opiniões distintas, de forma a exercitar o respeito pelas diferenças, a capacidade de
negociação e a tomada de decisões em conjunto; além de aumentar as possibilidades de
sua continuidade, gerando autonomia dos participantes e criando oportunidades de
novas iniciativas de ações de conservação e educação ambiental por parte dos
envolvidos.
127
9. RECOMENDAÇÕES
Durante o desenvolvimento deste trabalho notou-se que são raros os relatos de
pesquisas relativas à área ambiental, conduzidas no município. Assim, há necessidade
de se desenvolver estudos diagnósticos do grau de degradação dos fragmentos florestais
locais, com finalidade de subsidiar estratégias de conservação e recuperação ecológica
destes.
Quanto ao fragmento de mata ciliar utilizado na construção da presente trilha e
localizado na fazenda Tubaca, recomenda-se um manejo florestal com a finalidade de
minimizar as perturbações existentes, tais como a presença de clareiras e o efeito de
borda. A iniciativa de transformar esse fragmento em uma categoria de Unidade de
Conservação de uso sustentável (RPPN) é louvável, já que possibilitaria a captação de
recursos financeiros junto ao governo e à iniciativa privada para sua conservação.
Em relação à continuidade da ação educativa iniciada neste trabalho, recomenda-
se envolver os estudantes de outras escolas do município nas atividades de visita à trilha
da Tubaca, bem como formar seus professores de maneira que eles possam aproveitar
ao máximo as contribuições desse tipo de atividade para o desenvolvimento de outras,
dentro e fora da sala de aula. Preparados para tratar de questões relativas ao tema
ambiental, os educadores terão condições, não só de aplicar esses conhecimentos ao
cotidiano escolar, como também de desenvolver novos projetos que ampliem as
discussões a respeito dessa temática com a comunidade do entorno da escola.
Durante a etapa de diagnóstico, muitos temas levantados foram considerados
relevantes no contexto local pelo grupo de participantes e, embora alguns desses temas
tenham sido utilizados na presente intervenção educativa, vários outros merecem ser
tratados em futuros projetos, tanto de pesquisa, quanto educativos e de conservação e/ou
manejo.
Um dos temas que mais chama a atenção no contexto local é a questão dos
resíduos sólidos. Embora já exista um trabalho de coleta seletiva no município, a adesão
128
da comunidade ainda é muito pequena e acredita-se que o principal motivo seja a falta
de uma intervenção educativa associada ao projeto de gerenciamento dos resíduos
implantado. A população precisa ser sensibilizada e conscientizada, não só a respeito de
como proceder na separação dos materiais recicláveis, mas também da importância em
diminuir a geração de resíduos, e/ou reaproveitá-los para outros fins.
O tema biodiversidade, tratado na presente pesquisa/intervenção, merece ser
aprofundado em discussões, ações e pesquisas posteriores devido à sua importância e
complexidade. Também é importante que esses dados sejam divulgados para a
comunidade em geral através de programas educativos centrados neste tema, como
forma de contribuição para o conhecimento e a valorização da conservação desses
aspectos em âmbito local.
Outras trilhas também podem ser criadas, especialmente na área urbana, como
forma de reconhecer, apreciar e conservar a biodiversidade, presente também neste
ambiente.
129
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137
APÊNDICE A Proposta de trabalho apresentada à delegada regional da rede
estadual de ensino de São João da Boa Vista SP.
Definição do estudo:
É um estudo a ser realizado para a conclusão do curso de Pós Graduação - Mestrado, na
área da Educação Ambiental, da Universidade de São Paulo, campus de São Carlos e
caracterizada por uma pesquisa participativa, a qual envolve a comunidade estudantil.
Objetivos do trabalho:
Ø Identificar as contribuições que uma ONG (Organização Não Governamental)
oferece para o planejamento de programas de educação ambiental direcionado à
conservação da biodiversidade e ao desenvolvimento da temática ambiental em salas de
aulas numa perspectiva socioambiental.
Ø Mensurar a eficácia educacional de uma estratégia educativa adotada pela ONG
em estudo, através da aplicação da mesma metodologia em um contexto fora da área de
atuação da Ong avaliada neste estudo.
Ø Implantar e avaliar de uma trilha interpretativa de forma participativa junto à
comunidade estudantil.
Metodologia de Trabalho: Identificar um grupo de 30 professores e 100 alunos para a
realização de uma atividade educativa constituída por: a) planejamento participativo do
tema ambiental abordado, b) preparação de uma palestra participativa, c) realização de
um estudo do meio, d) aplicação de pré e pós-questionários aos participantes.
Período de realização do trabalho: Estima-se que este trabalho irá ocupar não mais
que 03 meses de duração para aplicação das atividades.
Área de desenvolvimento do trabalho: São José do Rio Pardo (SP).
Orientadora: Profa. Dra. Haydée Torres de Oliveira Universidade Federal de São
Carlos
Alunas responsáveis pelo estudo: Ariane Di Tullio e Maria das Graças de Souza.
Maiores Informações: EESC - fone: (16) 3373-8253 UFSCAR – fone: (16) 3351-8757
138
APÊNDICE B Roteiro de discussão do grupo focal sobre o tema biodiversidade.
1. O que vocês entendem por biodiversidade?
2. O que vocês entendem por meio ambiente?
3. O que vocês entendem por educação ambiental?
4. Qual a relevância do tema biodiversidade em processos de Educação
Ambiental?
5. A biodiversidade deve ser conservada? Por quê?
6. Pensando no município de São José do Rio Pardo, onde podemos encontrar
biodiversidade? Que tipo de diversidade é essa?
7. Existe alguma relação entre diversidade biológica e cultural? (exemplos:
alimentação, expressões culturais, religiões, esportes)?
8. Quais aspectos da biodiversidade local são conhecidos?
139
APÊNDICE C Carta e proposta de trabalho apresentada aos administradores da
Fazenda Fortaleza
São Carlos, 08 de junho de 2004.
Ilmo. Sr.
Diretor da Fazenda Fortaleza
São José do Rio Pardo SP
Ass: Roteiro para Atividade de Educação Ambiental na área da Fazenda Fortaleza
Prezado Senhor;
Encaminhamos o roteiro de atividade para a Caminhada Interpretativa na área de
mata da Fazenda Fortaleza, conforme solicitado por Vossa Senhoria na semana passada.
Gostaríamos de informar que o trabalho proposto não inclui em nenhuma etapa a
coleta de material biológico da área (sementes, folhas, insetos, madeira, animais, etc.) e
caso seja necessário, estamos à disposição para apresentar o trabalho proposto à
Diretoria da Fazenda Fortaleza para informar e esclarecer dúvidas que possam surgir em
relação à realização do trabalho.
Por último, gostaríamos ainda de informar que caso haja interesse e/ou
necessidade por parte da Fazenda Fortaleza, um funcionário da mesma pode estar nos
acompanhando durante todas as etapas de realização do trabalho.
Sem mais para o momento, mais uma vez agradecemos a atenção e o apoio, e
nos colocamos ao seu inteiro dispor para quaisquer outras informações que julgar
necessárias.
Atenciosamente,
_____________________________________
Ariane Di Tullio e Maria das Graças de Souza
Alunas do Programa de Pós Graduação - Coordenadoras da atividade educativa
_____________________________________
Profa. Dra. Haydée Torres de Oliveira
Orientadora Científica
140
Caminhada Interpretativa na mata da Fazenda Fortaleza
Roteiro de Atividade
A caminhada interpretativa a ser realizada na área de mata da Fazenda Fortaleza
tem como principal finalidade compartilhar experiências e conhecimentos relacionados
ao meio ambiente com um grupo de estudantes, professores e membros da comunidade
local.
A área da Fazenda Fortaleza que estamos solicitando para a realização da
atividade educativa em planejamento foi escolhida após um trabalho de campo que
incluiu várias visitas de diagnóstico. Tal área se encontra em estado considerável de
conservação e proteção, contendo uma grande diversidade de espécies vegetais e
animais, e constitui para a região um dos fragmentos florestais de grande importância
biológica, cultural e ecológica.
Os procedimentos que estão sendo planejados para a caminhada interpretativa na
trilha (estamos chamando de trilha o percurso realizado na estrada já existente dentro da
área da Fazenda, próxima ao reservatório de água), constarão das seguintes atividades:
1) Definição de alguns pontos estratégicos - dentro da área identificada a ser
utilizada para a caminhada - para observação dos ambientes diversificados, como
espécies vegetais, pontos atrativos (paisagem, por exemplo), facilidade para caminhada
em grupo (usar a estrada antiga já existente), som de pássaros e outros vestígios de
animais.
2) Levantamento de informações para subsidiar a caminhada na trilha, tais como:
materiais sobre o tipo da vegetação característica da região, fauna local, história da área
(Fazenda Fortaleza) e biodiversidade.
3) Visitas de campo com educadores, ambientalistas e professores, através de
caminhadas para a definição do local da trilha (total de área a ser percorrida, tipo de
informação a ser trabalhada durante a atividade, definição dos pontos interpretativos ou
de paradas para a execução das atividades, etc.).
4) Identificação de espécies vegetais do percurso da trilha, utilizando-se do livro
“Árvores Brasileiras Manual de Identificação e Cultivos de Plantas Arbóreas no
Brasil” (Lorenzi, 1990).
5) Definição final do roteiro e das informações a serem trabalhadas de forma que
ajudasse na realização de atividades interativas junto aos estudantes e professores na
observação e na experimentação com o ambiente natural.
6) Realização da caminhada interpretativa junto aos alunos e professores.
Essa atividade será monitorada e levará cerca de três a quatro horas de duração
entre a chegada com o grupo na área, caminhada com explicação sobre o ambiente
visitado (interpretação ambiental), pausa para lanche e retorno.
7) Entrega de uma cópia do material de informação produzido para a atividade
educativa (roteiro interpretativo final) à diretoria da fazenda.
141
APÊNDICE D Artigo sobre potencial turístico da fazenda Santa Teresa
publicado no jornal Gazeta do Rio Pardo
142
APÊNDICE E Roteiro de questões para a primeira revisão do percurso
interpretativo da trilha da Tubaca com os participantes.
1 – Como vocês avaliam o roteiro da trilha proposto? Ele está de acordo com as suas
expectativas?
2 – O roteiro da trilha cumpre com os objetivos propostos?
3 – Que outros objetivos podemos propor? Como adaptá-la para que eles sejam
cumpridos?
4 – O tema abordado na trilha está claro para os visitantes?
5 – A trilha desperta interesse?
6 – As atividades são envolventes?
7 – A duração da trilha está apropriada?
8 – A extensão da trilha está apropriada?
9 – Quais sugestões vocês gostariam de fazer?
143
APÊNDICE F - Roteiro interpretativo para visita guiada à trilha da Tubaca.
* As visitas à trilha da Tubaca devem ser agendadas com o Sr. Eduardo Dias Roxo Nobre pelo
telefone (19)3608-5490.
OBJETIVOS:
Criar oportunidade de sensibilizar os visitantes a respeito da complexidade das
questões ambientais locais;
Possibilitar a reflexão e a discussão das questões ambientais locais e regionais
mais relevantes,
Valorizar o conhecimento local,
Incentivar ações coletivas e individuais de recuperação/ melhoria/ conservação
das condições ambientais locais.
TÓPICO: Biodiversidade e Educação Ambiental em São José do Rio Pardo
TEMA: A importância do rio Pardo na conservação da biodiversidade local e regional
SUB-TEMA 1: A importância do rio Pardo na história e cultura local.
SUB-TEMA 2: A importância da vegetação na conservação do rio e a importância do rio na
conservação da vegetação.
SUB-TEMA 3: A importância do solo na conservação da vegetação e a importância da vegetação
na conservação do solo.
SUB-TEMA 4: A importância da fauna na conservação da vegetação e a importância da vegetação
na conservação da fauna.
PREPARAÇÃO - ESCOLA
§ Apresentar os guias e dar boas vindas;
§ Verificar algumas das expectativas dos visitantes (perguntar se eles já entraram em
uma mata, o que viram, se gostaram, etc.);
§ Enfatizar a experiência de conviver com o ambiente natural e a cultura local
(estímulo ao caráter coletivo, colaborativo e não competitivo da atividade);
§ Informar como será o passeio (local Fazenda Tubaca, distância do percurso
2900m, duração da atividade aproximadamente 2,5h.);
§ Informar a respeito do esforço físico necessário, dificuldades e obstáculos;
§ Informar a respeito da segurança, equipamentos e materiais necessários (verificar
se os visitantes estão devidamente trajados e calçados);
§ Recomendações:
- Não sair da trilha e não se afastar do grupo;
144
- Lembrar que a mata é a casa de muitos animais e que nós
somos os convidados. E como convidados educados, não
devemos jogar lixo, arrancar galhos e flores, fazer muito
barulho, etc.;
- Não comer durante a trilha; ao final, haverá um tempo para
o lanche;
- Aproveitar, observar bem e respeitar o meio ambiente
natural.
§ Permitir que os visitantes tirem suas dúvidas.
“Na natureza, nada se tira senão fotos, nada se deixa senão pegadas e nada se mata senão o tempo”.
INTRODUÇÃO - PONTO 1 ENTRADA DA FAZENDA TUBACA
Dizer que estamos na área da Fazenda Tubaca. Perguntar se os visitantes sabem o
significado do nome da fazenda. Dizer que Tubaca é um pássaro, também chamado de
Tovaca. Falar um pouco sobre a fazenda: ela possui uma área de 2.057 hectares, sendo
25% desse total coberto por vegetação nativa. A fazenda também possui áreas de
pastagens, criação de gado confinado e áreas de cultivo de café. A área de mata
utilizada para a atividade constitui-se num trecho remanescente de mata ciliar do rio
Pardo que se apresenta bastante conservado e tem uma grande diversidade de espécies,
devendo ser conservada.
Recomendações reforçar as informações sobre segurança, equipamentos,
materiais e condutas necessárias.
PONTO 2 RIO PARDO
Perguntar aos alunos que rio é esse. Dizer que é o rio Pardo, aquele mesmo que
passa lá na cidade, na Ilha de São Pedro, embaixo da ponte Euclidiana.
Fazer a dinâmica do rio “limpo x rio sujo” adaptada. De olhos fechados,
perguntar quais são as sensações que mais chamam a atenção (sentir o vento, ouvir o
barulho dos pássaros e do rio...). Repetir a mesma pergunta com os visitantes de olhos
145
abertos. Pedir para que eles fechem os olhos novamente e imaginem que estão no meio
da cidade de São Paulo, às margens do rio Tietê... Só existem prédios, avenidas, carros
correndo... Tudo é cinza, não há nenhum verde... Perguntar o que os estudantes sabem
sobre o rio que corta essa cidade. Quais sons ouviriam? Quais cheiros sentiriam? Pedir
para que comentem as sensações que tiveram.
Informar sobre o rio Pardo: ele nasce na Serra do Cervo, município de Itapiúna
(MG) e deságua no rio Grande, que por sua vez deságua no rio Paraná, este deságua no
rio Paraguai, que deságua no oceano Atlântico). O rio Pardo faz parte da bacia do Pardo,
que banha 23 municípios, dentre eles São José do Rio Pardo. Dizer que com a vida
agitada, as pessoas quase sempre passam pelo rio, mas não prestam atenção nele (os
visitantes percebem que o rio muda de cor durante o ano? Ele fica mais escuro na época
de chuva e mais claro na época de seca).
Perguntar por que eles acham que as pessoas não prestam atenção no rio.
Perguntar a respeito da importância dele. Falar da sua importância para os seres
humanos (história, cultura e economia local). A água também é importante para a
agricultura, pecuária, indústria, uso doméstico (lavar roupa, louça, banho, etc.).
Perguntar se eles acham que as pessoas têm consciência dessa importância da água. Por
que há tanto desperdício?
Perguntar se os visitantes sabem como era o rio há 40 anos e quem deles já
perguntou isso para os avós. Fazer uma breve retrospectiva histórica a respeito do rio
Pardo, em relação à quantidade e cor da sua água, quantidade de espécies de peixes e
costumes da comunidade ribeirinha (a natação). Comparar a situação passada com a
presente e comentar a respeito das atuais ameaças à qualidade das águas do rio Pardo
(poluição por esgoto, agrotóxico, construção de barragens, entre outras).
Dizer que o rio Pardo também é importante para os outros seres vivos. Ele é
essencial para a vida de muitas outras espécies, tanto de animais quanto de plantas e até
mesmo de microorganismos. Todos os seres vivos precisam de água (75% do nosso
corpo é formado por água). Perguntar o que precisa ser feito para conservar o rio Pardo.
Finalizar esse item dizendo que o rio Pardo é muito importante, na história, na
economia e na cultura na região, e também é muito importante para a manutenção do
equilíbrio ecológico e é papel de todos os cidadãos conservá-lo. Pedir para que os
visitantes citem algumas maneiras de conservação do rio e dizer que mais adiante,
outras formas de conservação do rio serão abordadas.
146
PONTO 3 AUSÊNCIA DE MATA CILIAR
Chamar a atenção dos visitantes para os diferentes usos do solo na fazenda que
podem ser vistos desse local (áreas de pastagens, criação de gado, construções, mata
ciliar).
Explicar que antigamente a mata que se vê ao fundo cobria todo o espaço em que
nos encontramos. Porém, o crescimento das cidades, agricultura, pecuária, agrotóxico,
fogo, lixo, entre outros, fez com que as áreas de matas naturais diminuíssem ao longo
dos anos. Esses pequenos trechos que sobraram devem ser conservados, pois
representam uma grande riqueza biológica, cultural e ecológica da nossa região e
abrigam grande biodiversidade.
Perguntar o que é uma mata ciliar e se alguém já esteve em uma. Perguntar
quais as diferenças dela em relação à área em que estamos, e qual a importância
dela para o rio (incluir o aspecto do clima). Dizer que além da poluição do rio
pelo esgoto, já comentada, outra ameaça à conservação do rio é a falta de mata
ciliar, pois quando chove, a água cai com tanta força no solo que o arrasta para o
rio. Esse fenômeno é chamado de assoreamento, e se houver lixo ou agrotóxico
no solo, ele também vai ser arrastado para o rio.
Finalizar ressaltando a importância da mata ciliar para a conservação do rio e
dizer que mais adiante o grupo vai entrar num trecho de mata ciliar para entender
melhor como tudo o que foi dito funciona.
TRAJETO ATÉ A PORTEIRA
É comum encontrar fezes e pegadas de animais, principalmente capivara e anta
nesse trecho.– tirar proveito do inesperado.
Copaíba (pau d’óleo) - Madeira utilizada na indústria. Do tronco, extrai-se o óleo de
copaíba, utilizado para problemas de bronquite, tosse, doenças da pele (urticária). É um
ótimo cicatrizante.
147
PONTO 4 ENTRADA DA MATA CILIAR
Fazer uma pequena retrospectiva sobre a importância de um rio limpo para que os
peixes e os outros seres que dependem do rio possam viver. Dizer que, além disso,
existe algo muito importante para conservar o rio: a mata ciliar. Falar que a partir desse
momento o grupo percorrerá um trajeto dentro da mata. Ouvir os sons (o som dos
pássaros é mais perceptível, enquanto o som do rio é menos perceptível). Perguntar por
que isso acontece. Sentir a temperatura (mais amena do que fora da mata) Perguntar o
porquê.
Informações sobre a mata ciliar: a mata ciliar possui esse nome porque protege o
rio assim como nossos cílios protegem os nossos olhos da poeira. Quando chove, a copa
das árvores é o primeiro obstáculo que as gotas de chuva têm de enfrentar até chegarem
ao solo. Passando pela copa das árvores mais altas, elas também têm de passar pelas
mais baixas, depois pelos arbustos, e por último pelas folhas mortas que estão no chão.
Fazê-los imaginar o que aconteceria se a mata não estivesse ali para proteger o solo...
Finalizar destacando a importância da mata ciliar na conservação do rio (da
erosão e do assoreamento), pedir para que os visitantes prestem atenção às diferentes
espécies de árvores e para procurarem caminhar em silêncio de forma que vejam algum
animal, especialmente as aves que são mais facilmente vistas.
PONTO 5 JEQUITIBÁ
Nesse ponto, faz-se a dinâmica do abraço na árvore. Os visitantes formam um
círculo em torno do Jequitibá abraçando-o. Essa dinâmica tem por finalidade incentivar
a percepção da textura do tronco da árvore, a presença ou ausência de líquens e musgos,
e principalmente chamar a atenção para o diâmetro da árvore.
Informações sobre o Jequitibá: o Jequitibá é uma árvore típica dessa mata. Ela
tem porte alto e crescimento lento. Perguntar qual idade as pessoas acham que ela tem.
Dizer que tem mais de 300 anos. Contar que pelo seu porte, é uma árvore que não dá pra
plantar na calçada em frente de casa. Pedir para que os visitantes observem a copa da
árvore. Perguntar o que eles vêem. Dizer que essa árvore é uma grande “casa”, ela
abriga pássaros, insetos e até algumas plantas que se apóiam nela (epífitas, orquídeas e
bromélias). Outras plantas servem de alimento para os animais, como o jatobá, que será
visto mais adiante. Dizer que as árvores são muito importantes para os animais, afinal
148
eles fazem ninhos nelas, comem seus frutos, se abrigam... E os animais também são
importantes para as árvores, pois eles dispersam as sementes e fazem a polinização das
flores... Alguns animais que podem ser encontrados nessa mata são: anta, capivara,
cotia, cachorro e gato do mato, tatu, tucano, periquitos entre outros.
Concluir dizendo que muitos animais dependem da mata para abrigo, reprodução,
alimentação e as plantas, por sua vez, dependem dos animais (inclusive insetos) para
dispersarem suas sementes e fazer a polinização!
PONTO 6 FIGUEIRA
Neste trecho faz-se a dinâmica da trilha cega: de olhos vendados, os visitantes
percorrem um trajeto demarcado com um barbante, dentro de um trecho de mata. O
barbante cria um trajeto que une árvores de espessuras e texturas diferentes, com
presença ou ausência de liquens, musgos e ainda raízes. A finalidade dessa dinâmica é
explorar através do tato essa variedade de indivíduos presentes na mata, e até mesmo a
presença da serapilheira, através do som das folhas sendo pisadas. Ao final, todos tiram
as vendas e tentam identificar o trajeto que percorreram.
Informações sobre a figueira: a figueira também é uma árvore de grande porte e
pode chegar a 20 metros de altura. Seus frutos são bastante apreciados por morcegos e
outros animais (retomar as relações entre vegetais e animais). Lembrar os visitantes
sobre a importância da mata para conservar o rio e dizer que além da parte aérea das
árvores, suas raízes também o protegem do assoreamento... Pedir para que eles
imaginem um labirinto de raízes (de diferentes comprimentos e espessuras) debaixo de
seus pés. Além das raízes ajudarem a proteger o solo da erosão e do assoreamento, as
folhas que caem no solo formam a serapilheira e o banco de sementes - muito
importantes na formação do solo (nutrientes). Mostrar que o solo embaixo das folhas é
úmido.
Concluir dizendo que a presença da vegetação é muito importante para conservar
o solo e perguntar se eles acham que o solo é importante para a vegetação.
JATOBÁ Madeira utilizada na indústria, fruto é comestível (seres humanos e
animais). Resina usada para fabricar vernizes. A casca e a resina são boas para a tosse.
149
PONTO 7 PAU D’ALHO
Mostrar o Pau d’alho e explicar a razão de ser este o seu nome popular (forte
cheiro de alho).
Chamar a atenção dos visitantes para o fato dessa árvore estar morta e em
processo de decomposição. Explicar que esse processo é muito importante para a
formação do solo. As folhas que caem das árvores formam a camada chamada de
serapilheira, que serve de alimento para insetos, animais de porte maior e
microorganismos, dentre eles os fungos. Estes atuam na decomposição dessa camada,
levando nutrientes para o solo. “A floresta se alimenta dela mesma”.
Finalizar esse comentário enfatizando, mais uma vez, que o solo é muito
importante para a vegetação.
PONTO 8 ARATICUM CAGÃO
Chamar a atenção para o araticum cagão. Explicar o porquê do seu nome: devido
ao fato de seus frutos caírem na medida em que amadurecem. O fruto é parecido com a
fruta do conde. Dizem também que ele é muito gorduroso e costuma dar dor de barriga.
Perguntar se os visitantes perceberam, durante o percurso, que muitas árvores
estão identificadas através de plaquinhas. Comentou-se durante o percurso a finalidade
de muitas espécies. Umas dão madeira boa, outras são medicinais, outras servem de
alimento para nós e/ou para outros animais. E sobre aquelas que não tem plaquetas, das
quais não sabemos a finalidade questioná-los se eles as consideram importantes.
Finalizar comentando a respeito da importância da conservação da biodiversidade para
manter o equilíbrio dos ecossistemas.
PONTO 9 FINAL DO TRECHO DE MATA CILIAR
FINAL DA TRILHA Neste ponto, faz-se a dinâmica da teia da vida, através da qual
os visitantes formam um círculo, e o primeiro diz algo que viu e gostou na trilha. Feito
isso, ele joga o barbante (segurando sua ponta) para outra pessoa, que faz o mesmo, e
assim sucessivamente, até que se forme uma grande teia de barbante. Para demonstrar
como cada elemento é importante, o dano a um desses itens é representado através de
150
um puxão no barbante. Outras pessoas também sentirão o impacto desse puxão,
mostrando que na natureza todos os elementos estão interligados.
CONCLUSÃO Na natureza, todos os elementos estão interligados. Se um deles
sofrer um prejuízo, outros certamente também sofrerão. Assim, a conservação da
biodiversidade é muito importante para a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas.
151
APÊNDICE G Questionário de avaliação do curso de formação de monitores
ambientais
20 e 21 de agosto de 2004 São José do Rio Pardo
1- O curso atingiu suas expectativas?
( ) sim ( ) não ( ) mais ou menos
Comente_______________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2- Quanto ao conteúdo, você avalia o curso como:
( ) insuficiente ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo
Comente_______________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
3- Existem conteúdos que você considera importantes e que não foram abordados no
curso?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4- Quanto às metodologias utilizadas, você avalia o curso como:
( ) insuficiente ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo
Comente_______________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
5- Quanto à duração, você avalia o curso como:
( ) insuficiente ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo
Comente_______________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4 – Quais foram as contribuições que o curso proporcionou a você, em nível:
Pessoal________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Profissional (conhecimentos técnicos)________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
152
5- Este curso traz alguma nova possibilidade para você?
( ) sim ( ) não ( ) depende
Comente_______________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Qual ? ( ) possibilidade de nova atividade profissional
( ) possibilidade de aprimoramento na minha atividade profissional
( ) possibilidade de multiplicar o que aprendi aqui
( ) outras. Quais?____________________________________________
______________________________________________________________________
6 – O que você mais gostou no curso?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
7 - O que você menos gostou no curso?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
8- Sugestões para melhorar o curso:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
153
APÊNDICE H – Roteiro de questões para a avaliação pré trilha com os
estudantes de ensino fundamental.
1- Bacia Hidrográfica é um conjunto de sistemas aquáticos interligados, tanto de
águas subterrâneas como de águas superficiais (córregos, rios, lagos, represas).
Existe uma bacia hidrográfica na região de São José do Rio Pardo? Vocês se
lembram o nome de alguns rios, córregos, lagoas ou represas da cidade? Quais?
2- Vamos supor que um desses rios tenha sido contaminado com produtos
agrotóxicos. Sabendo que esse rio pertence a uma bacia hidrográfica, vocês
diriam que os outros rios da região podem ser prejudicados? E de outros estados
do Brasil? E de outros países? Expliquem.
3- Digam quais alternativas abaixo podem sofrer prejuízos com a contaminação do
rio e expliquem. Peixes? Algas? Sapos? Aves? Vegetação ao lado do rio? Ser
humano? Bois que pastam próximo ao rio? Hortas próximas ao rio? Solo?
4- O que vocês sabem sobre o rio Pardo? O que ele significa para a cidade? Por
quê? Como está a qualidade das suas águas? Tem peixe (muito ou pouco)? As
pessoas nadam nele? O que nós podemos ou devemos fazer em relação a ele?
5- Mata ciliar ou mata galeria é um tipo de formação vegetal que acompanha os
rios. Possui árvores de grande porte e também plantas epífitas (que vivem sobre
outros vegetais ou pedras), além de musgos, porque há uma elevada umidade do
ar e do solo. Vocês poderiam dizer qual é a importância da mata ciliar para o
ambiente?
6- Vocês já estiveram em uma área de mata ciliar antes? Onde? Vocês acham que
estava bem conservada? Tinha animais? Grandes ou pequenos? Como era o
clima dentro dela? Era igual ou diferente de outros ambientes (naturais,
urbanos)? Como foi? O que sentiram? Gostariam de voltar?
7- Vocês já ouviram falar na fazenda Tubaca? O que ouviram falar? Já estiveram
lá? Se sim, como foi? Se não, gostariam de conhecer esse local? Por quê?
8- O que vocês acham que vão ver lá? O que gostariam de ver? O que não
gostariam de ver lá?
9- Tentem imaginar uma plantação de cana e uma mata ciliar e comparem essas
duas áreas quanto à diversidade de animais e vegetais. Em qual delas há maior
variedade (tipos diferentes) de animais e vegetais?
10- A cana é utilizada pelas usinas para a obtenção de açúcar e álcool. Se a
população cresce e o consumo dos produtos derivados da cana também, como
vocês imaginam que poderia haver um crescimento da área plantada com cana e
ao mesmo tempo conservação das matas nativas?
11- O lixo produzido diariamente nas escolas, casas, hospitais, escritórios, etc. é de
responsabilidade da Prefeitura Municipal. Assim, é dever do prefeito colocar o
154
lixo em um local onde cause os mínimos prejuízos para a população e para o
meio ambiente. Imaginem que vocês fossem o prefeito. Que cuidados teriam
para escolher esse local?
155
APÊNDICE I Roteiro de questões para a avaliação póstrilha com os estudantes
de ensino fundamental.
1 - Como vocês resumiriam o que aprendeu na visita à trilha da Tubaca?
2 - O que vocês aprenderam de novo? Vocês tiveram a oportunidade de ensinar algo
que já sabiam antes?
3 - Vocês sabem o nome de alguns rios, córregos, lagos ou represas que estão
próximos a sua cidade? Quais são? Alguns deles fazem parte da bacia hidrográfica
do rio Pardo? Quais?
4 - Durante a visita a trilha da Tubaca, vocês conheceram um trecho da mata ciliar
do rio Pardo. O que aconteceria com os seres vivos dessa área se houvesse um
desmatamento dessa região? E o que aconteceria com o rio Pardo?
5 - Como vocês acham que devia ser esse ambiente no tempo dos nossos pais,
avós, bisavós? O que vocês acham que vai acontecer com esses pequenos trechos de
mata? O que nós podemos ou devemos fazer em relação a eles?
6 - Considerando a utilização que o ser humano faz da cana, seria bom plantar
mais cana no lugar das áreas de matas nativas? Expliquem.
7 - A cana de açúcar é uma planta exótica, ou seja, não é natural do Brasil. O que
acontece com a diversidade de plantas e animais quando se substituem áreas de
matas nativas por plantação de cana?
8 - O que vocês sabem sobre o rio Pardo? O que ele significa para a cidade? Por
quê? Como está a qualidade das suas águas? Tem peixe (muito ou pouco)? As
pessoas nadam nele? O que nós podemos ou devemos fazer em relação a ele?
9 - Aqui em São José ainda não existe tratamento de esgoto, ou seja, todo o esgoto
que sai das nossas casas, hospitais, escolas, etc. (água com fezes, bactérias, resíduos
de detergentes e outros materiais) é despejado no rio Pardo. Sabendo disso,
respondam se isso pode causar prejuízos para os rios da bacia do rio Pardo. E para
outros rios do estado de São Paulo? E de outros estados?
10 - Suponham que cada um de vocês é o prefeito de São José do Rio Pardo e
precisam arrumar um local para colocar todo o lixo que é produzido na cidade. O
único local disponível é um terreno afastado da cidade e próximo a nascente de um
rio. O que vocês fariam?
11 - O que vocês acharam da extensão da trilha? Como vocês se sentiram após o
percurso?
12 O que vocês acharam do número de paradas?
13 - Que palavra (adjetivo) vocês usariam para expressar o que acharam da trilha?
156
14 - O que vocês acharam do guia? Houve oportunidade para que vocês
expressassem suas dúvidas e curiosidades? Elas foram resolvidas? Vocês ainda se
lembram delas? Quais foram?
15 - O que vocês mais gostaram nesta atividade?
16 - O que vocês menos gostaram nesta atividade?
17 - O que vocês sugerem para melhorar esta atividade?
18 Vocês fariam a trilha novamente? Levariam alguém com vocês? Quem?
19 - Dêem uma nota de 0 a 10 para a trilha da Tubaca.
157
APÊNDICE J - Roteiro de questões para a avaliação da atividade de visita à trilha
com os participantes.
1- Como vocês avaliam a visita das crianças a trilha (pontos positivos e
negativos)?
2 – Vocês notaram alguma diferença em relação às turmas piloto e as avaliadas?
3 - O que facilitou e/ou dificultou as visitas?
4 - Como vocês avaliam o trabalho dos monitores ambientais? O que ajudou? O
que dificultou?
5 - Qual sua opinião sobre as dinâmicas realizadas na trilha?
6 - O que pode ser melhorado?
158
APÊNDICE K Roteiro de questões para a avaliação do processo da pesquisa com
os participantes.
1 - As suas expectativas em relação ao projeto foram atingidas?
2 - Como vocês avaliam a sua participação no processo do trabalho como um
todo?
3 - O que dificultou e ou facilitou essa participação?
4 - O trabalho envolveu pessoas com diferentes opiniões? Como foi essa
experiência?
5 - O trabalho provocou alguma mudança no pensamento que vocês tinham
sobre a realidade do município?
6 - Quais os pontos positivos deste trabalho?
7 - Quais os pontos negativos deste trabalho?
8 - O que pode ser melhorado em futuros trabalhos participativos?
9 - Foram retiradas propostas concretas? Vão ser implementadas? Como está
seu andamento?
10 - O trabalho teve algum desdobramento em outros projetos? (de melhora da
qualidade ambiental do município? De educação ambiental? Qual?)
159
ANEXO A Carta de autorização do projeto elaborada pela delegada regional de
ensino e enviada às escolas da rede estadual
160
ANEXO B Reportagens sobre o projeto publicadas em jornais locais.
161
162
163
164
ANEXO C – Indicadores de participação
(STOREY, 2003)
Indicadores do nível de participação individual
Participação N
o
Desinteresse Atenção Rejeição
I II III
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Desinteresse: a pessoa não participa das atividades nem comunica a sua opinião;
Não presta atenção: a pessoa somente conversa com as pessoas ao seu lado;
Rejeição Passiva: a pessoa apresenta negatividade sobre as atividades e o processo em geral;
Participação I: a pessoa participa das atividades;
Participação II: a pessoa faz perguntas sobre as atividades ou sobre os assuntos;
Participação III: a pessoa faz perguntas e coloca suas opiniões sobre as atividades e os assuntos.
Indicadores do grau de interação do grupo
Integração N
o
Solitária Superior Grupinho Rejeição
I II III
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Solitária: a pessoa não interage com as outras e parece não estar com vontade de participar das
atividades;
Superior: a pessoa mostra que é superior às outras do grupo;
Grupinho: pessoas formam um pequeno grupo que exclui outras;
Rejeição Passiva: a pessoa não ajuda as outras;
Integração I: a pessoa possui interesse, mas não se manifesta por timidez ou dificuldade em se
expressar;
Integração II: a pessoa interage com a maioria do grupo;
Integração III: a pessoa interage espontaneamente com todos, chegando a ser solidária.
165
ANEXO D Fotos
Mata do Carneirinho: foto gentilmente cedida pela ONG Nativerde.
FIGURA 7 Locais visitados com a finalidade de implantação da trilha interpretativa.
Vista da Fazenda
Santa Teresa
Vista da Fazenda Fortaleza
167
FIGURA 8 Fazenda Tubaca: local escolhido para a implantação da trilha
interpretativa.
169
FIGURA 9 Primeira reunião realizada com os participantes de São José do Rio Pardo.
FIGURA 10 Diagramas construídos pelos participantes referentes aos problemas
ambientais locais.
171
FIGURA 11 Discussões realizadas durante o curso de formação de monitores
ambientais.
FIGURA 12 Dinâmicas de grupo realizadas durante o curso de formação de monitores
ambientais.
173
FIGURA 13 Visita à trilha da Tubaca com os participantes do curso de formação de
monitores ambientais.
175
FIGURA 14 Grupos focais e palestra, realizados com os estudantes de ensino
fundamental antes da visita à trilha da Tubaca.
177
FIGURA 15 Cenas da visita à trilha da Tubaca pelos estudantes de ensino
fundamental.
179
FIGURA 16 Estudantes de ensino fundamental em visita à trilha da Tubaca.
181
FIGURA 17 Atividades realizadas durante a visita dos estudantes à trilha da Tubaca.
183
FIGURA 18 Grupos focais realizados com os estudantes após a visita à trilha da
Tubaca.
FIGURA 19 Avaliação da visita à trilha e do processo da pesquisa, conduzida com os
participantes.
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