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HUMBERTO FERREIRA CABRAL
RUMO À EMPRESA CIDADÃ: Responsabilidade Social Empresarial na
Cummins Guarulhos SP.
MESTRADO em Serviço Social
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
São Paulo
2006
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11
HUMBERTO FERREIRA CABRAL
RUMO À EMPRESA CIDADÃ: Responsabilidade Social Empresarial na
Cummins Guarulhos SP.
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção de título de
MESTRE em Serviço Social sob a
orientação da Profa. Dra. Maria Lucia
Carvalho da Silva.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
São Paulo
2006
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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos a reprodução total ou
parcial desta dissertação/tese por processos fotocopiadores ou eletrônicos.
Assinatura: ________________________________________________________
São Paulo, ________ de _________________________ de 2006.
13
Banca Examinadora
______________________________________________
______________________________________________
_______________________________________
_
14
“Somente a moralidade das nossas ações
15
pode nos dar a beleza e a dignidade de viver”
Albert Einstein
DEDICATÓRIA
Aos meus amores ELIANA e VICTOR, por tanto amor:
“O amor é uma doação perene de luz e de felicidade,
sem buscar retribuições e compensações”
(C.T.Pastorino, Minutos de Sabedoria)
AGRADECIMENTOS
16
A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a realização
desta dissertação.
A Deus por tanta GENEROSIDADE.
A Professora Maria Lucia Carvalho da Silva, Malú, que com toda
dedicação à pesquisa e à formação acadêmica, caminhou comigo, com AMOR e
COMPETÊNCIA, para realizar todas as tarefas desafiadoras de um estudo
investigativo, e assim, me possibilitar superar meus limites de conhecimento.
A Professora Carmelita Yazbek, pela acolhida e oportunidade que me
propiciou de encontrar um novo caminho em direção profissional.
A Professora Martinelli, pelos seus estímulos aos meus estudos.
A CAPES, pelo apoio financeiro ao curso de Mestrado em Serviço Social.
A Soraia Franco e a todos os colaboradores da empresa Cummins Brasil
Ltda., pela recepção amistosa e contribuição a esta pesquisa.
RESUMO
17
A presente dissertação tem por tema o estudo e a análise do entendimento
e das práticas de responsabilidade social na construção de uma empresa cidadã.
Seu objeto de investigação recaiu sobre a multinacional Cummins Brasil
Ltda., fabricante de motores a diesel, situada em Guarulhos SP, ao ser
reconhecida e premiada como empresa cidadã.
O quadro teórico constituiu-se das referências conceituais inter-
relacionadas com responsabilidade social, cidadania e ética.
A pesquisa é de natureza qualitativa, tendo por procedimentos
metodológicos, principalmente, a realização de entrevistas semi-estruturadas com
seis sujeitos, sendo quatro funcionários e dois integrantes dos projetos sociais,
cuja análise dos dados empíricos enfatiza os conteúdos e significados dos relatos
dos sujeitos.
Os resultados da pesquisa permitiram confirmar a hipótese de que a
responsabilidade social é condição estratégica na construção de relações
participativas internas e externas da empresa, evidenciando que a
responsabilidade social na Cummins é um processo na direção da construção
desta empresa como cidadã.
ABSTRACT
18
The present dissertation has as its theme the study and analysis of the
understanding and the practices of social responsibility for the construction of
corporate citizenship.
Its object of investigation relied upon the multinational Cummins Brasil Ltda.,
a diesel engine manufacturer, located in the city of Guarulhos, in the state of São
Paulo, for having been recognized and awarded as a corporate citizen.
The theoretical scenario is comprised of the conceptual references
interrelated with social responsibility, citizenship and ethics.
The research is of qualitative nature, mainly with methodological
procedures, half-structured interviews accomplished with six individuals, composed
by four employees and two others from social projects, whose analysis of the
empirical data emphasizes the content and meaning of these individuals’ accounts.
The results of the research allowed the confirmation of the hypothesis, that
is, that social responsibility is a strategic condition for the construction of internal
and external participative relations of the company, evidencing that social
responsibility at Cummins is a process towards the construction of this business
organization as a corporate citizen.
19
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................ 10
CAPÍTULO I Uma Aproximação Contextual à Empresa Cidadã............
16
1. No Rastro da Globalização no âmbito empresarial...........................
16
2. No Caminho da Empresa Cidadã......................................................
29
CAPÍTULO II Uma Abordagem Conceitual à Empresa
Cidadã..............
35
1. Em torno da Cidadania e da Ética.....................................................
35
2. A questão da Responsabilidade Social.............................................
42
2.1 Um preâmbulo necessário....................................................
42
2.2 Um breve histórico: origem e referências conceituais..........
45
2.3 A Constituição da Responsabilidade Social na
Empresa Cidadã.........................................................................
62
Face Interna....................................................
62
Face Externa...................................................
74
20
CAPÍTULO III Cummins Guarulhos SP : Caracterização e a
questão da Responsabilidade Social...........................................................
85
1. Origem, perfil, certificação e premiação da Cummins
Guarulhos .............................................................................................
85
2. Constituição da Responsabilidade Social na Cummins....................
96
Face Interna....................................................
98
Face Externa...................................................
109
3. Percepções dos sujeitos da pesquisa sobre Responsabilidade
Social na Cummins................................................................................
111
Responsabilidade Social e
Empresa cidadã..............................................
113
Dinâmica dos projetos sociais.........................
115
Limites e perspectivas da Responsabilidade
Social..............................................................
118
Considerações Finais: Significados da Responsabilidade
Social na
Cummins em direção à empresa cidadã......................................................
122
Referências Bibliográficas............................................................................
126
21
Anexos.............................................................................................................
131
10
INTRODUÇÃO
Na qualidade de economista com prática docente e profissional na área de
Administração, os aspectos sociais das empresas sempre constituíram foco de
minha observação e preocupação quanto ao seu desenvolvimento insuficiente.
Esta questão me levou a buscar entendimentos mais precisos na área do
Serviço Social, daí minha escolha em fazer o Mestrado no Programa de Pós-
Graduação em Serviço Social na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo).
Neste sentido me defini por estudar os “Significados da Responsabilidade
Social na Construção da Empresa Cidadã”.
Os motivos imediatos que me levaram ao estudo do tema da presente
pesquisa, foram assim baseados em atitudes de meu comportamento pessoal e
de dúvidas a respeito do que se compreende ser uma empresa cidadã.
Ocorreram-me então, as seguintes indagações: o que significa uma
empresa cidadã? O que é a Responsabilidade Social Empresarial no contexto da
cidadania? São perguntas que me instigaram. Sentia a necessidade de melhor
entender como uma empresa cidadã, ao adotar uma posição pró-ativa, contribui
para encaminhar soluções aos problemas sociais e participar do desenvolvimento
social.
11
Os estudos sobre responsabilidade social empresarial que consultei, vem
revelando, na atualidade, que as empresas vem adotando a idéia de serem
certificadas como cidadãs, e cada vez mais esse interesse vem aumentando. As
empresas hoje, em geral, possuem cargos qualificados para o desempenho de
recursos sociais com o objetivo de, internamente, desenvolver funcionários
capacitados a melhor interação na empresa e, externamente, atender mais
satisfatoriamente as necessidades dos consumidores, bem como as demandas
sociais da comunidade.
Desta forma, o crescente interesse de estudos e práticas sobre o tema,
evidenciam sua contemporaneidade.
Existem hoje produções bibliográficas relevantes na área de Administração
de Empresas e Serviço Social voltadas a este tema, dando suporte de pesquisa
para que o Administrador e o Assistente Social possam desenvolver projetos de
Responsabilidade Social.
Ao final do século XX, em função dos avanços da tecnologia da informática,
as dimensões de tempo e espaço se transformaram, aproximando
instantaneamente as pessoas, globalizando suas relações.
Em virtude da globalização, esta pesquisa passou a ter uma pergunta
central: Como a responsabilidade social pode contribuir para a construção de uma
empresa cidadã?
12
Foi construída como hipótese que a responsabilidade social é condição
estratégica no desenvolvimento de relações participativas no interior da empresa,
bem como no seu entorno sócio-ambiental.
A partir da definição desses elementos fundamentais da pesquisa, seu
objeto delimitou-se no estudo e análise do entendimento e das práticas de
responsabilidade social na empresa multinacional sediada em Guarulhos (SP)
Cummins Brasil Ltda., fabricante de motores a diesel.
Em decorrência disso, o objetivo geral da pesquisa visa conhecer e analisar
as concepções e práticas de Responsabilidade Social e sua incorporação na
gestão empresarial da Cummins Brasil Ltda., ao ser considerada e reconhecida
como uma empresa cidadã, na perspectiva de cidadania e ética.
O marco teórico teve por referência os conceitos inter-relacionados de
Responsabilidade Social, Cidadania e Ética.
Os levantamentos bibliográficos feitos sobre os conceitos de referência
notadamente em autores contemporâneos, das áreas de Ciências Sociais, Serviço
Social e Administração de Empresas, e a pesquisa documental feita a respeito da
empresa Cummins Brasil Ltda., conduziram-me a uma observação participante e
pesquisa empírica, no ambiente institucional da própria empresa, conhecendo
assim o processo dos trabalhos voltados para as práticas sociais.
13
A pesquisa em foco, de natureza qualitativa, entendida como a que busca
o desvelamento e os significados latentes ou expressos de uma realidade ou de
um fenômeno, teve os seguintes procedimentos metodológicos: para a pesquisa
empírica, foram selecionados seis sujeitos: quatro supervisores (de produção,
marketing, qualidade e social), e duas diretoras, sendo uma da Escola de Ensino
Fundamental da Prefeitura Municipal de Guarulhos, e outra do Núcleo Educacional
da Secretaria de Educação do Governo do Estado de São Paulo, ambas
representantes das parcerias para os projetos sociais da Cummins. Com estes
sujeitos foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com base em um roteiro
com questões abertas.
Duas entrevistas foram gravadas com permissão dos sujeitos. As outras
quatro, foram anotadas por não terem sido permitidas as gravações em fita. Todas
foram transcritas e revisadas pelos sujeitos, tendo sido realizadas nos respectivos
setores de trabalho.
Não foi possível realizar entrevistas com a Direção da empresa porque
alguns diretores estavam fora do Brasil e os outros impossibilitados com
compromissos previamente agendados.
As entrevistas foram precedidas por contactos telefônicos com a
Supervisora de Projetos Sociais e Diversidade, solicitando a permissão para a
realização da pesquisa e agendando as entrevistas com os diferentes sujeitos.
14
Quanto à observação participante, utilizei um caderno de campo para as
anotações que julguei significativas. Realizei também, visitas às instalações da
empresa, bem como aos três projetos sociais, Escola Victor Civita, Escola Bezerra
de Menezes e o Asilo São Vicente de Paulo. Cabe também mencionar os diversos
contactos que mantive com os sujeitos da pesquisa para complementações
necessárias ao estudo.
Para a construção da análise dos dados e informações, à luz do marco
teórico, foram selecionados eixos analíticos, da leitura das transcrições das
entrevistas, enfatizando seus conteúdos e significados.
A estrutura desta dissertação compõe-se de três capítulos que se articulam.
No primeiro capítulo, denominado “Uma aproximação contextual à empresa
cidadã”, são enfatizadas a globalização e suas repercussões para as empresas,
neste início do século XXI.
No segundo capítulo, “Uma abordagem conceitual à empresa cidadã”, são
abordados os conceitos da cidadania e ética, e o valor da responsabilidade social.
No terceiro capítulo, intitulado “Cummins Guarulhos SP: caracterização
e a questão da Responsabilidade Social”, são expostas sua origem, perfil,
certificação e premiação recebidas como empresa cidadã, constituição e
percepções dos sujeitos da pesquisa sobre a dimensão da Responsabilidade
Social.
15
As considerações finais, apresentam significados da Responsabilidade
Social na Cummins, bem como reflexões sobre esta experiência em direção à
empresa cidadã.
16
CAPÍTULO I Uma Aproximação Contextual à Empresa Cidadã
Para se compreender o escopo deste estudo, é indispensável contextualizá-
lo no processo contemporâneo da globalização, que abarca as dimensões:
econômicas, políticas, sociais, culturais e ambientais, embora neste item, seja
priorizado o âmbito empresarial.
1. No Rastro da Globalização no âmbito empresarial
As empresas na contemporaneidade, enfrentam um ambiente de mutação
que é a globalização dos negócios, na perspectiva do neoliberalismo, e da
supremacia do mercado nas relações com o Estado e a sociedade. Para
Muçouçah (1995) (apud Vieira 2002, p.73), “a globalização é normalmente
associada a processos econômicos, como circulação de capitais, a ampliação dos
mercados ou a integração produtiva em escala mundial”
1
.
A administração das empresas não está mais restrita às fronteiras
nacionais. A BMW, uma empresa de origem alemã, fabrica carros na Carolina do
Sul (EUA), o McDonald’s que vende hambúrgueres na China, a Exxon, uma
empresa norte-americana, tem mais de três quartos de suas receitas de vendas
vindos de fora dos Estados Unidos. A General Motors produz automóveis no
Brasil. As peças do carro Crown Victória, da Ford, procedem do mundo todo:
1
Cabe esclarecer que a globalização não se limita aos negócios, mas segundo Anthony Giddens
(1990) (apud Vieira 2002, p.73), “é a intensificação de relações sociais em escala mundial que
ligam localidades distantes de tal maneira, que acontecimentos locais são modelados por eventos
ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa”.
17
México (bancos, pára-brisas, e tanques de combustível), Japão (amortecedores),
Espanha (comandos eletrônicos do motor), Alemanha (freios ABS) e Inglaterra
(peças-chave do eixo).
Podemos observar com esses exemplos, que, sobretudo, nas últimas três
décadas, há uma crescente transnacionalização das relações econômicas. E, para
as empresas serem eficazes nesse mundo sem fronteiras, precisam se inserir nas
diferentes culturas, e nos sistemas sociais.
Nos anos 60
2
, o primeiro ministro do Canadá comparou a proximidade de
seu país aos Estados Unidos a algo como dormir com o elefante branco: “você
sente cada movimento que o animal faz”, disse ele. Depois do ano 2000, pode-se
generalizar essa analogia para o mundo todo. Houve o aumento das taxas de
juros no Japão que afetaram instantaneamente as empresas do mundo todo. Com
a queda do comunismo na Europa oriental e o colapso da União Soviética,
criaram-se oportunidades para as empresas comerciais do mundo inteiro.
As empresas internacionais, como por exemplo, a Siemens, a Remington, a
Singer, vendiam seus produtos em muitos países no século XIX. Em 1920,
algumas empresas como a Fiat, Ford, Unilever e Shell, já haviam se tornado
multinacionais. Mas foi só no início dos anos 60, que se ampliaram as
corporações multinacionais (CMs). Essas empresas que mantém operações
2
Fundamentos de Administração Conceitos Essenciais e Aplicações. ROBBINS, S.R., DECENZO,
D.A. São Paulo, 4 . ed. Prentice Hall, p..26.
18
significativas em dois ou mais países de forma simultânea, iniciaram um rápido
crescimento no comércio internacional. Hoje várias empresas como, a Gillette,
Wall-Mart, Coca-Cola, fazem parte de um número crescente de empresas
baseada nos Estados Unidos que recebem parcelas significativas de suas receitas
anuais de operações no estrangeiro.
O ambiente global se expandiu criando uma organização global ainda mais
genérica, chamada corporação transnacional (CT). Esse tipo de organização
não procura copiar seus sucessos domésticos na administração das operações
estrangeiras, muito pelo contrário, as decisões nas CTs, são tomadas localmente.
São tomadas por funcionários nativos (pessoas nascidas e criadas no próprio
país) que são contratadas para executar as operações.
Os produtos e as estratégias de marketing para cada país, são planejados
com base na cultura local, é o exemplo da Nestlé, uma corporação transnacional.
Ela possui operações em quase todos os países do mundo, sendo a maior
empresa alimentícia do planeta. A Nestlé adapta os seus produtos da empresa
aos múltiplos clientes. A Nestlé procura vender seus produtos de forma adequada
à região, por exemplo, em partes da Europa vendem-se produtos que não estão
disponíveis nos Estados Unidos ou na América Latina.
19
Muitas empresas grandes e bem conhecidas estão se deslocando para
globalizar mais eficazmente suas estruturas administrativas, quebrando arranjos
internos que impõem barreiras geográficas artificiais. São as chamadas
organizações sem fronteiras. É o caso da IBM, que abandonou sua estrutura
organizacional baseada no país e se reorganizou em quatorze grupos. A Ford
fundiu suas operações automobilísticas e fábricas culturalmente distintas na
Europa e na América do Norte para acrescentar uma divisão na América Latina e
no Pacífico Asiático, no futuro.
A mudança para uma administração sem fronteiras internas é uma maneira
de aumentar a eficiência e a eficácia de um mercado global competitivo sem
perder suas raízes.
As repercussões da globalização nas empresas são múltiplas e complexas,
decorrentes do processo de reestruturação produtiva que afetou profundamente o
mundo do trabalho.
As empresas transnacionais detêm as informações relacionadas ao setor
produtivo das empresas, abrangendo comércio, tecnologia e as finanças
internacionais. O comando da economia global encontra-se no mercado financeiro
e atuam nesse mercado as grandes empresas que tomam decisões sobre o
câmbio, taxa de juros, etc. Vale dizer que quanto às pequenas médias e até
grandes empresas nacionais, essas repercussões são diretas no sentido de serem
20
absorvidas ou compradas por empresas multinacionais, ou de ficarem vulneráveis
à terceirização, ou no limite, serem extintas
3
.
Em reunião realizada na França, em junho de 1996, entre os oito países
mais ricos do mundo, emitiu-se um comunicado ressaltando “a criação de
dispositivos mais concretos e eficazes para enfrentar os riscos ligados ao
funcionamento dos mercados financeiros no contexto da globalização”. Tais
medidas tinham a intenção de combater as exportações dos países pobres que
participavam da competitividade no mercado, pois havia abusos da mão-de-obra
barata e exploração de crianças e prisioneiros.
Existem outros aspectos da globalização sobre a economia, tais como:
lavagem internacional de dinheiro, desregulamentação do mercado de câmbio,
comprometendo a integração dos mercados como solução mágica para o
desenvolvimento, trazendo como conseqüências sociais: o desemprego,
disseminação da pobreza, reduções salariais, além de afetar a qualidade de vida e
os problemas relativos à natureza.
Descobrimos que a terra se tornou mundo, de que o globo não é mais uma
figura astronômica, mas sim, um território no qual todos se encontram
3
Ver: RIFKIN, Jeremy. O Fim dos Empregos. O declínio Inevitável dos Níveis dos Empregos e a
Redução da Força Global de Trabalho. São Paulo: Makron Books, 1995. ANTUNES, R. Adeus ao
trabalho? : Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo,
Cortez, 2003.
21
relacionados e atrelados, diferenciados e antagônicos. Essa descoberta nos
surpreende e nos encanta, ao mesmo tempo nos traz um certo temor.
Podemos observar que o globo não é mais um conglomerado de nações,
sociedades nacionais, Estados-nações, que se encontravam situados em suas
relações de interdependência, dependência, colonialismo, imperialismo
multilateralismo, etc. O mundo não é mais voltado só ao indivíduo, tomado
singular e coletivamente como povo, classe, grupo, minoria, maioria, opinião
pública. Ainda que a nação e o indivíduo continuem a existir de forma real,
inquestionavelmente estão todos presentes o tempo todo em todo lugar.
A globalização está presente não somente na realidade e no pensamento,
desafiando grande número de pessoas em todo o mundo. A respeito das vivências
e opiniões de uns e outros, a maioria reconhece que esse fenômeno está presente
pela forma que se desenha o novo mapa geográfico do mundo, na realidade e no
imaginário.
Existem muitas teorias empenhadas em esclarecer as condições e os
significados da globalização. Algumas são tímidas, ao passo que outras bastante
audaciosas, e até algumas vezes desconhecem-se mutuamente, e noutras
acabam influenciando-se. Mas todas abrem perspectivas para o esclarecimento
das configurações e movimentos da sociedade global.
22
O mundo entrou na era do globalismo. Todos estão sendo desafiados pelos
dilemas e horizontes que se abrem com a formação da sociedade global. Porém,
como afirma Vieira (2002, p.84), “ao aprofundar a mercantilização das relações
sociais, a atual reestruturação capitalista, vem abalando a ordem jurídico-política
e as diferentes instituições estatais e civis que a regulavam”.
É uma realidade de certa forma problemática atravessada por movimentos
de integração e fragmentação. Simultaneamente à interdependência e à
acomodação, acabam desenvolvendo-se tensões e antagonismos ao mesmo
tempo. Isto implica em tribos e nações, coletividades e nacionalidades, grupos de
trabalhos e classes sociais, etnias e religiões, sociedade e natureza. São muitas
as diversidades e desigualdades que se desenvolvem com a sociedade global.
Algumas são antigas e outras, recentes, são surpreendentes.
Para compreender os movimentos e as tendências da sociedade global,
deve ser indispensável compreender como as desigualdades e diversidades
atravessam o mundo. Essas desigualdades atribuem-se ao poder das práticas e
saberes da tecnologia, reprimindo a oferta de empregos, libertando os conflitos
sociais, e gerando rapidamente a exclusão social.
Para Octavio Ianni (2001)
4
, os problemas de globalização naturalmente
implicam em um diálogo múltiplo com autores e interlocutores, em diferentes
4
Teorias da Globalização. Octavio Ianni 9ª ed. Rio de Janeiro.2001.
23
enfoques teóricos. Em larga medida, esse diálogo está registrado em suas
citações.
Esse é o vasto cenário em que se formam e recriam correntes de
pensamento de alcance global. Elas podem ser indispensáveis para que se possa
explicar, transformar ou ao menos imaginar o que vai pelo mundo.
Uma empresa é mais afetada pela globalização quando sua administração
decide entrar no mercado global. Para que uma organização se torne global tem
que passar por três estágios:
Resposta passiva Os empresários dão o primeiro passo em direção à
globalização mediante a simples exportação dos produtos para países
estrangeiros.
Entrada pública inicial Aqui os empresários têm um compromisso
público de vender os produtos no exterior ou procurar fazer com que sejam
produzidos em fábricas estrangeiras. Esse estágio transcorre com o envio
de funcionários da empresa em viagens regulares de negócios para fazer
contatos com clientes estrangeiros ou então empregando agentes
estrangeiros e representantes no exterior para sua linha de produção.
Operações internacionais estabelecidas Aqui há um forte
comprometimento dos gerentes em buscar agressivamente os mercados
internacionais. Os gerentes podem licenciar ou fazer franquias para outras
24
empresas e com isso ter o direito de usar o nome, tecnologia ou
especificações dos produtos da organização. Trata-se de um modelo que é
muito utilizado pelas empresas farmacêuticas e pelas redes de fast-food.
também as alianças estratégicas, onde os empreendimentos
envolvem grandes compromissos, uma empresa doméstica e uma empresa
estrangeira compartilham o custo do desenvolvimento de novos produtos ou da
construção de instalações de produção em um país estrangeiro.
Essas parcerias proporcionam um meio rápido e menos caro para que as
empresas possam competir globalmente sem que elas se aventurem por conta
própria. Exemplos dessas alianças incluem a British Airways e American Airlines,
a Nestlé e a General Mills.
Os empresários se lançam num grande comprometimento e assume um
risco maior quando as organizações abrem uma subsidiária estrangeira. Essas
subsidiárias podem ser administradas como CMs, como CTs, ou como
organizações sem fronteiras internas.
O crescimento do capitalismo provocou mudanças globais fazendo do
mundo um lugar menor. As empresas têm novos mercados para conquistar.
Trabalhadores bem treinados e confiáveis em países como a Hungria, Eslováquia,
República Tcheca, e outros acabaram se tornando uma rica fonte de mão-de-obra
de custo baixo para organizações de todos os lugares. Com a implantação de
25
livres mercados na Europa Oriental realça ainda mais, a crescente independência
dos paises, bem como o potencial para que produtos, mão-de-obra e capital se
movimentem facilmente pelas fronteiras nacionais.
Com um mundo sem fronteiras há assim, novos desafios para os
empresários, como por exemplo, administração em países onde há uma cultura
diferente da sua. Neste caso, o desafio implica em reconhecer as diferenças que
possam existir e procurar descobrir os meios de fazer interações eficazes. Desta
maneira conclui-se que uma das primeiras questões que o empresário deve
aprender a lidar é a percepção de estrangeiros.
Antigamente os empresários tinham uma visão muito provinciana para o
mundo dos negócios, uma ótica estreita e viam as coisas exclusivamente com
seus próprios olhos dentro de suas próprias perspectivas. Acreditavam ainda que
suas práticas de negócios eram as melhores do mundo. E não reconheciam que
pessoas de outros países tinham meios diferentes de fazer as coisas, ou que
viviam de modo diferente.
O provincianismo é uma visão etnocêntrica que, não tem êxito em uma
aldeia global e tão pouco é a visão dominante de hoje. Mas a mudança de
percepções dos empresários das multinacionais requer, inicialmente, a
compreensão das diferentes culturas e de seus ambientes.
Cada país possui os seus próprios valores, moral, costumes, sistemas
políticos e econômicos e leis. As abordagens tradicionais para se estudar os
negócios internacionais procuraram avançar em cada uma dessas áreas,
26
argumentando que as abordagens de negócios tradicionais precisam ser
entendidas dentro de seus contextos sociais. É o sucesso organizacional que vem
de uma variedade de práticas administrativas derivadas de um ambiente de
negócios diferentes.
Como exemplo, podemos citar o conceito de status que é percebido de
forma diferente de um país para outro. Na França, o status é o resultado de
fatores importantes para a organização, como tempo de serviço, grau de instrução
e assim por diante. Tal ênfase é chamada de status atribuído. Nos Estados
Unidos, o status é uma função daquilo que os indivíduos atingiram pessoalmente
chamado de status alcançado.
Os empresários precisam entender estas questões sociais (como o status)
que podem afetar as operações em um outro país. Os países também têm leis
diferentes como por exemplo, nos Estados Unidos leis impedem que
empregadores tomem medidas contra funcionários exclusivamente com base na
idade avançada desses. Não existem leis similares em todos os outros países.
Para as empresas o fato é que uma das questões de visão do ambiente
global, partindo de uma perspectiva simples, pode ser uma visão muito estreita e
problemática. Uma abordagem mais apropriada é reconhecer as dimensões
27
culturais de ambiente de um país. Um estudo esclarecedor dessas diferenças em
ambientes culturais foi elaborado por Geert Hofstede
5
.
Para Hofstede, a estrutura da empresa é uma das abordagens mais
amplamente pesquisadas para análise de variações culturais. Ele estudou mais de
116.000 funcionários da IBM em 40 países a respeito de seus valores
relacionados ao trabalho e descobriu que gerentes e funcionários apresentam
variações em cinco dimensões de valor da cultura nacional.
Essas dimensões são listadas e definidas a seguir:
Distância do poder O grau em que as pessoas de um país aceitam que
o poder das instituições e das empresas seja distribuído desigualmente.
Varia de ‘relativamente iguais’ (baixa distância do poder) para
‘extremamente desigual’ (alta distância do poder).
Individualismo versus coletivismo Individualismo é o grau em que as
pessoas de um país preferem agir como indivíduos e não como membros
de grupos. Coletivismo, em oposição, equivale a um grau baixo de
individualismo.
5
Hofstede, G. Cultures consequences: international differences in work related values. Beverly
Hills, CA: Sage Publications, 1980, p. 25-26, e Hofstede, “The cultural relativity of organizational
practices and theories”, Journal of international Business Studies, outono 1983, p. 75-89.
28
Quantidade de vida versus qualidade de vida Quantidade de vida é o
grau em que prevalecem valores como afirmação, aquisição de dinheiro e
bens materiais, e concorrentes. Qualidade de vida, é o grau em que as
pessoas valorizam os relacionamentos, e mostram sensibilidade e
preocupação para com o bem-estar dos outros.
Evitação de incertezas O grau em que as pessoas de um país preferem
as situações estruturadas às não-estruturadas. Nos países com alta
pontuação, na evitação de incertezas, as pessoas apresentam um elevado
nível de ansiedade, que se manifesta em grande nervosismo, stress e
agressividade.
Orientação de longo prazo versus de curto prazo Nas culturas com
orientações de longo prazo, as pessoas olham para o futuro e valorizam a
economia e a persistência. Já uma orientação de curto prazo, valoriza o
passado e o presente, e enfatiza o respeito pelas tradições e o
cumprimento das obrigações sociais.
Mas, o que concluiu o estudo de Hofstede? Eis aqui alguns pontos
interessantes: China e África Ocidental, tiveram uma alta pontuação em distância
do poder; os Estados Unidos e Países Baixos, tiveram uma pontuação baixa. A
maioria dos países asiáticos é mais coletivista do que individualista; os Estados
Unidos tiveram a classificação mais alta no individualismo entre todos os países.
Alemanha e Hong Kong, tiveram uma classificação alta na quantidade de vida;
Rússia e Países Baixos tiveram uma classificação baixa. Na evitação da incerteza,
29
França e Rússia tiveram pontuação alta; Hong Kong e Estados Unidos tiveram
pontuação baixa. China e Hong Kong apresentaram orientação de longo prazo, ao
passo que França e Estados Unidos apresentaram orientação de curto prazo.
A causa disto, é em primeiro lugar, observar que as empresas com menos
níveis hierárquicos, não permitem muitas promoções. Em segundo lugar, as
organizações norte-americanas que moviam os seus melhores e mais inteligentes
na trajetória rápida de um novo emprego a cada doze ou dezoito meses, estão se
perguntando se esta é a melhor forma para pessoa e empregadores descobrirem
se estão sendo bem sucedidos ou fracassando no emprego.
Pelo exposto, a globalização é um fenômeno de imensa abrangência, de
transformações econômicas, sociais, políticas, culturais e ambientais, provocando
um processo de reestruturação capitalista. Esse contexto vem reconfigurando as
empresas em sua missão, relações, ações, etc., tornando-as agentes dinâmicos e
estratégicos do sistema neocapitalista.
2. No Caminho da Empresa Cidadã
Como se sabe, as empresas ao longo do tempo, incorporam mudanças e
procedimentos para se adaptar às novas realidades e garantir a sobrevivência. Na
atualidade, com as transformações advindas da globalização e da reestruturação
produtiva, as empresas vêm revelando uma consciência crescente de assumir um
30
papel mais amplo na sociedade, para além do seu objetivo básico de gerar
riquezas.
Essa consciência é uma resposta à uma crescente demanda da sociedade
por novas ações sociais, e também, por motivos de caráter estratégico de garantir
sua perpetuação no mercado. Essa consciência de mudança da empresa,
continua a valorizar as técnicas já conhecidas de melhoria de gestão
organizacional: qualidade total, reengenharia, produtividade, relação custo-
benefício, etc.
Os avanços das empresas nessa dimensão de gestão organizacional, no
presente, devem incluir relações com a comunidade, concretizadas em programas
sociais. É importante assinalar que os avanços acima mencionados não ocorrem
em empresas que são concebidas somente como negócios, ou seja, que visam o
lucro a qualquer custo, somente se preocupando com os fornecedores e clientes.
Tais avanços começam a se concretizarem em empresas concebidas como
organizações sociais, que além dos clientes e fornecedores, valorizam os
funcionários, o governo, a sociedade e os acionistas.
Essa compreensão tem respaldo no pensamento de José Mindlin ao afirmar
que “a empresa não é um fim em si mesma, mas um instrumento de
31
desenvolvimento social”
6
. A efetivação da empresa como organização social,
varia desde as empresas que tratam os sujeitos delas integrantes de modo
reativo, limitando-se a resolver problemas e conflitos, como a buscar
estrategicamente maximizar as relações com todos, definindo políticas e linhas de
ação em relação a cada um.
A empresa como organização social é alicerce do entendimento do que
vem se reconhecendo como empresa cidadã, nos dias atuais. A empresa cidadã
opera fundamentalmente sob uma concepção estratégica, um compromisso ético,
e respeito aos direitos de todos os seus integrantes. Ela não busca apenas os
resultados financeiros expressos no balanço contábil ou financeiro, mas avalia a
sua contribuição à sociedade através de um balanço social, que procura divulgar
os resultados de sua ação sócio-ambiental, ou seja, os campos de ação
relacionada aos seus funcionários, seu público externo (fornecedores, clientes,
comunidade, etc.) e ao meio ambiente.
Para Kroetz (2000, p.68) (apud Lima 2005, p.116), o balanço social “é
ainda, um instrumento de auxílio na gestão da entidade, contribuindo para a
melhora da estrutura organizacional, da informação e da comunicação, da
produtividade, da eficiência e eficácia, etc.”.
6
MARTINELLI, A.C. (1997, p.81). “Empresa cidadã: uma visão inovadora para uma ação
transformadora”. In: IOSCHPE E.B. (org.). Terceiro Setor desenvolvimento social sustentado.
32
A empresa cidadã tem sempre uma posição pró-ativa de se inserir na
sociedade, buscando contribuir para as soluções de manifestações da nova
questão social, resultante, com a globalização, da reestruturação produtiva.
A empresa cidadã deve ter a clareza de distinguir o que seja uma linha divisória
entre o comercial e o social, ou seja, enquanto realiza práticas comerciais, usa o
marketing, a promoção, a publicidade, e enquanto realiza programas sociais,
voltados ao bem comum, ela mobiliza todos os recursos necessários à sua
concretização, como informações, recursos humanos voluntários, práticas
participativas, etc.
A empresa cidadã, segundo Martinelli (2000, p.86), vem gerando
subprodutos que trazem à empresa, ganhos relevantes. Entre estes, destacam-se:
o valor agregado à imagem da empresa, que significa a atitude favorável
que a sociedade atribui a ela, como reconhecimento de sua atuação na
comunidade;
formação de uma consciência coletiva interna de seus integrantes, de
participação na sociedade e de construção de valores como
solidariedade e atuação em equipe;
a abertura da empresa em parceria com organizações sociais sem fins
lucrativos ou organizações não governamentais para uma soma de
esforços institucionais, na operacionalização de projetos sociais;
nova fonte de motivação e escola de liderança para os funcionários, ou
seja, as pessoas estimuladas em seu papel de cidadãs e engajadas em
programas sociais consistentes, apresentam um diferenciado
33
crescimento pessoal que tem reflexos significativos no crescimento
profissional, familiar e social; e
a mobilização de recursos disponíveis da empresa sem
necessariamente implicar custos adicionais, como por exemplo, horas
de trabalho, voluntariado do funcionário, extraído das suas horas
produtivas, sem acarretar perda de desempenho operacional em seu
setor.
Assim, com Martinelli (2000, p.81), estamos convencidos que no estágio
atual da realidade brasileira, quando se busca um novo padrão de
desenvolvimento que vai além da lógica econômica de crescimento para um
desenvolvimento humano e desenvolvimento sustentável, a empresa cidadã
significa substantivamente “uma visão inovadora para uma ação transformadora”,
no interior da própria empresa e no seu entorno.
A atuação da empresa cidadã assim, amplia e completa seu papel de
agente econômico e a transforma em agente social, por disponibilizar, adaptando,
os mesmos recursos usados no seu processo produtivo com vistas a contribuir
para a transformação da sociedade e a consecução do desenvolvimento humano
e do desenvolvimento sustentável.
Este desenvolvimento, segundo Vieira (2002, p.130-131), “é aquele que
deve atender as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de
atende-las no futuro. Prevê a superação da pobreza e o respeito aos limites
34
ecológicos, aliados ao aumento do crescimento econômico, como condição de
possibilidade para se alcançar uma sustentabilidade global”. (Relatório “Nosso
futuro comum” ONU 1987).
35
CAPÍTULO II Uma Abordagem Conceitual à Empresa Cidadã
O tema cidadania tem raízes históricas desde o mundo clássico, embora os
direitos civis sejam conquistados a partir do século XVIII, seguidos dos direitos
políticos no século XIX, bem como dos direitos sociais no século XX. Nesse limiar
do século XXI estão em emergência os direitos culturais.
Dessa forma, é a partir da segunda metade do século XX que se assiste,
em todo mundo, a uma multiplicação de estudos sobre o tema cidadania, o que
revela a sua importância para a construção da democracia na maioria dos países.
1. Em torno da Cidadania e da Ética
Cidadania e ética constituem conceitos pilares e interdependentes quando
se considera a construção da empresa cidadã. No que diz respeito à cidadania, o
significado do termo é duplo: primeiramente cidadania refere-se à condição dos
que residem na cidade, além de se referir à condição de um indivíduo como
membro de um Estado, ou seja, como portador de direitos e obrigações.
Nesse sentido, a associação entre os dois significados deve-se a uma
transformação fundamental no mundo moderno: a formação dos Estados
centralizados, a qual impõe jurisdição uniforme sobre um território nacional.
36
Foi de um discurso do dramaturgo Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais,
em outubro de 1774, que surgiu o sentido moderno da palavra cidadão, a qual
ganharia maior ressonância nos primeiros meses da Revolução Francesa, com a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Desse modo, o termo Cidadão tornou-se sinônimo de homem livre, portador
de direitos e obrigações, a título individual, assegurados em lei. É na cidade,
portanto, que se formam as forças sociais mais diretamente interessadas na
individualização e na codificação desses direitos: a burguesia e a moderna
economia capitalista.
É da concepção dos direitos da Declaração Francesa (1789) que advém,
em 1948, o conteúdo substantivo da Declaração Universal dos Direitos do Homem
pela ONU (Organização das Nações Unidas), que no artigo 1
o
define: “Todos os
homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.
Nessa visão, “o Estado de Direito, segundo Bobbio (1992), é o Estado de
Cidadãos”. Hoje existe um grande movimento pelo reconhecimento, definição e
garantias internacionais dos direitos humanos, o que garante à cidadania uma
relevância ímpar.
Segundo Vieira (2002, p.22), “o conceito de cidadania, enquanto direito a
ter direitos, tem-se prestado a diversas interpretações. Entre elas, tornou-se
clássica a concepção de T.H. Marshall, quem propôs a noção de cidadania como
37
sendo composta dos direitos civis e políticos direitos de primeira geração e dos
direitos sociais direitos de segunda geração”.
Os direitos civis, conquistados no século XVIII, referem-se aos direitos
individuais de liberdade, de igualdade, de propriedade, de ir e vir, assim como o
direito à vida, à segurança, entre outros. Trata-se de direitos que fundamentam o
liberalismo clássico.
Já os direitos políticos, conquistados no século XIX, referem-se desde à
liberdade de associação e reunião de organização política e sindical à participação
política, eleitoral, entre outras. São considerados direitos individuais, porém
exercidos coletivamente e, assim, incorporados ao liberalismo.
Assim, os direitos sociais e econômicos foram conquistados no século XX e
diz respeito aos direitos ao trabalho, à aposentadoria, ao seguro-desemprego, à
saúde, à educação e a outros direitos.
Ainda no final do século XX, surgiram os chamados “direitos de 3
a
geração”. São os direitos que têm como titular não o indivíduo, mas grupos
humanos, como a nação, coletividades étnicas, ou a própria humanidade. São
exemplos desses direitos: o direito à paz, o direito ao desenvolvimento, o direito
ao meio ambiente, entre outros.
38
Consideramos, portanto, o conceito de cidadania polêmico, uma vez que
contém diferentes visões, algumas até críticas, à proposta de Marshall,
considerada evolucionista e, de certo modo, a-política.
Na contemporaneidade, tem surgido concepção mais democrática sobre
cidadania, sendo que além de sua vinculação ao espaço territorial da nação, teria
um caráter transnacional, como os direitos humanos, no contexto do processo de
globalização.
É nesse contexto que nasce hoje o conceito de cidadão do mundo, de
cidadania planetária que vem sendo construída pela sociedade civil de todos os
países, em contraposição ao poder político do Estado e ao poder econômico do
mercado.
A cidadania cada vez mais vem implicando a relação necessária com a
democracia, representativa/participativa, com uma sociedade pluralista, um Estado
democrático, uma educação e cultura políticas dos indivíduos, grupos e outros
sujeitos coletivos. A cidadania, dessa forma, visa contribuir para a emancipação
humana, que tem a liberdade e a igualdade como princípios fundamentais.
Quanto ao outro pilar para a construção de uma empresa cidadã, a saber, a
ética, trata-se de uma disciplina crítico-normativa que estuda as normas do
comportamento humano, mediante as quais o homem tende a realizar, na prática,
atos identificados com o bem.
39
Lembramos que, etimologicamente, o termo ética é de origem grega
ethos e significa costume, maneira habitual de agir. Sentido semelhante é a
expressão latina mos, moris, da qual vem a palavra moral.
Segundo Arruda (2001, p.42), “a ética é a parte da filosofia que estuda a
moralidade dos atos humanos enquanto livres e ordenados a seu fim último”, ou
seja, considera os atos humanos enquanto bons ou maus. Voltada para a retidão
moral dos atos humanos, esse termo define-se também como uma ciência prática
dirigida à ação ou ao ato de fazer ou ao agir.
A ética costuma ser estudada em dois aspectos: o da moral geral, que
analisa os princípios básicos da moralidade dos atos humanos, e o da moral
social, que aplica tais princípios à vida do homem na sociedade (família, governo,
organizações, economia etc.).
A principal fonte da ética é a realidade humana, na qual se fundamentam os
princípios morais. A questão da ética é na atualidade uma das relações sociais
entre os homens, pois os princípios de moralidade e os valores que orientam a
conduta humana estão sendo cada vez mais desconsiderados e distorcidos.
Verificamos uma necessidade imperiosa de ética no cotidiano da vida das
pessoas, das organizações, do Estado, da sociedade, do mercado. Daí a
preocupação da ética no âmbito empresarial, ganhar prioridade e projeção
crescente.
40
Foi na década de 60, na Alemanha, que se originou a preocupação ética no
âmbito empresarial, ao se elevar o trabalhador à condição de participante dos
conselhos de administração das organizações. Foi nas décadas de 70 e 80, nos
Estados Unidos e na Europa, que passaram a surgir os primeiros estudos da Ética
nos Negócios, a partir de pesquisas acadêmicas nas faculdades de administração
e em programas de M.B.S. (Master of business Administration).
Os anos 90 trouxeram, com uma ampliação do campo da Ética
Empresarial, uma universalização desse conceito, podendo-se ressaltar três
abordagens principais: a semântica, a teoria e a prática. No final dos anos 90,
delinearam-se como temas específicos da Ética Empresarial, como foco de
preocupação internacional, a corrupção, a liderança e as responsabilidades
corporativas.
As empresas vêm contando com a contribuição dos acadêmicos, dos
empresários e das organizações não governamentais para o desenvolvimento da
Ética no início do séc. XXI.
O ensino da ética no Brasil iniciou-se em São Paulo na Escola Superior de
Administração de Negócios. Em 1992, o Ministério da Educação e Cultura
recomendou que todos os cursos de administração, tanto em nível de graduação
como de pós-graduação, incluíssem em seu currículo a disciplina Ética, o que foi
aceito de um modo geral pelas instituições de ensino superior que oferecem o
curso de administração.
41
Vale ressaltar, nesse sentido, que a Fundação Getúlio Vargas tem sido um
pólo de irradiação da Ética Empresarial, no Brasil e no exterior, devido a diversas
iniciativas: ensino, pesquisas, publicações e eventos. No nível internacional, a
partir do ano 2000, os estudos realizados sobre ética vem sendo desenvolvidos a
respeito dos desafios éticos de globalização.
No seio das empresas constitui ainda um debate em aberto, em virtude de
suas vantagens ou desvantagens, a necessidade ou não de implantação de
códigos de ética, embora esses códigos não visem solucionar dilemas éticos da
empresa, mas fornecer diretrizes para que as pessoas descubram formas éticas
de se conduzir.
Os principais tópicos abordados na maioria dos códigos de ética das
empresas são: conflitos de interesse, conduta ilegal, honestidade nas
comunicações dos negócios da empresa, suborno, prosperidade de informação,
assédio profissional, assédio sexual, uso de drogas e álcool, entre outros.
Além dos códigos de ética, as empresas também costumam estabelecer um
comitê de ética formado por integrantes dos diversos departamentos escolhidos
pelos próprios colegas, reconhecidos como pessoas idôneas e responsáveis.
Com esses recursos, a empresa vem buscando integrar a ética à sua
cultura empresarial, embora se reconheça que muito há ainda por avançar no
42
sentido de manter e elevar os padrões morais de comportamento das pessoas, da
instituição e da sociedade como um todo.
2. A questão da Responsabilidade Social
2.1 Um preâmbulo necessário
As empresas são consideradas, presentemente, como sistemas sociais
abertos. Atuam num ambiente dinâmico permeado por inter-relações entre os
vários agentes ou grupos sociais, tais como: os trabalhadores diretos, os clientes,
os fornecedores, os acionistas, as instituições financeiras, o governo, a
comunidade local e o meio ambiente natural.
Segundo Duarte e Dias (1986), a empresa não existe no vácuo, é parte
integrante de um macro-sistema social, sendo seus principais componentes
representados pelo meio ambiente natural, pela sociedade, pela economia, pelas
políticas públicas e pela legislação, ciência e tecnologia, submetida, portanto, a
um intrincado conjunto de relações.
Esse “ambiente” assim considerado traz uma enorme quantidade de
variáveis para os processos decisórios que, por sua vez, precisam estar em
sintonia com as diferentes demandas de acionistas, dirigentes trabalhadores, e
outros grupos e indivíduos com os quais mantêm alguma relação.
43
O ambiente das organizações e suas respectivas interações podem ser
classificados em:
Macro-ambiente Constituído pelas normas gerais de funcionamento da
sociedade e dos mercados pelas suas muitas variáveis econômicas,
sociais, culturais, políticas, tecnológicas etc.
Ambiente interno É aquele que influencia ou é influenciado por ações ou
elementos que têm relação direta com as atividades empresariais, cujos
componentes são:
o Os empregados: responsáveis pelas atividades operacionais da
empresa; a eles interessa a segurança no emprego, a remuneração,
a realização pessoal etc.;
o Os dirigentes: a quem compete a definição de políticas, objetivos,
metas, tomadas de decisão etc.;
o Os acionistas: que financiam o empreendimento e têm grande
interesse na obtenção dos lucros e dividendos, além da preservação
do patrimônio;
Ambiente externo Não influencia diretamente o funcionamento da
organização, mas pode influenciar nas decisões tomadas por seus
dirigentes. Este ambiente é assim composto :
o Os clientes: pode ser uma organização, fabricante, distribuidor ou um
usuário dos produtos e/ ou serviços;
44
o Os fornecedores: responsáveis pelo suprimento das entradas
necessárias para as operações da organização, com os quais ela
mantém relações de dependência;
o Os concorrentes: disputam tanto o mercado de fornecedores quanto
o de clientes; afetam a oferta e a procura, interferindo nas
disponibilidades, preços, qualidade, obtenção de recursos, e no
comportamento do ambiente em geral;
o Os grupos regulamentadores: constituídos por organizações que de
alguma forma controlam ou restringem as operações da empresa;
incluem órgãos governamentais, sindicatos, associações de classe
etc.;
o A mídia: as ações das empresas ganham uma visibilidade cada vez
maior; as informações veiculadas podem influenciar as ações da
empresa;
o O meio ambiente: do meio ambiente a empresa recebe a infra-
estrutura em que se assenta e os elementos físicos essenciais à sua
atividade.
Assim, se no passado os administradores podiam tomar decisões sem se
preocupar muito com a influência e os reflexos do meio ambiente externo, hoje a
complexidade do ambiente de negócios e as rápidas transformações que nele
ocorrem faz com que os administradores considerem, nas suas decisões internas,
as influências oriundas do ambiente externo. (Duarte, 1986)
45
Segundo Aragão (2000), o ambiente de negócios assiste a três revoluções
simultâneas, quais sejam:
De natureza econômica caracterizada pela formação de blocos
econômicos, transferência de riqueza, globalização de mercados;
De natureza tecnológica traduzindo-se em aumento da produtividade,
extensiva a todos os setores;
Administrativa em que novos modelos de gestão buscam garantir a
competitividade;
A concepção tradicional da empresa como instituição apenas econômica, a
qual tem seu esforço orientado para a maximização de lucros e não considera os
aspectos sociais e políticos que influenciam o ambiente de negócios na tomada de
decisão está sendo questionada pela sociedade.
Ao econômico, acrescenta-se o social, já que a empresa moderna
reconhece que as decisões e resultados das suas atividades atingem os agentes
que constituem seu ambiente interno e externo
2.2 Um breve histórico: origem e referências conceituais
Segundo Taylor (1994), já em 1899 o empresário A. Carnigie, fundador do
conglomerado U.S.Stell Corporation, estabelecia uma abordagem para a
46
responsabilidade social nas grandes empresas, que se baseava nos princípios da
caridade e da custódia.
Enquanto o primeiro princípio exigia que os membros mais afortunados da
sociedade ajudassem os desvalidos, tais como os desempregados, os doentes e
os idosos, o segundo afirmava que as empresas e os ricos deveriam zelar pela
riqueza da sociedade.
Essa posição ficou evidenciada no processo Henry Ford versus Dodge. Em
1919, Ford, presidente e acionista majoritário da empresa, contrariou um grupo de
acionistas, ao reverter parte dos dividendos deles em investimentos na
capacidade de produção, aumento dos salários, e constituição de um fundo de
reserva. A Justiça Americana posicionou-se contrária à atitude de Ford, alegando
que as decisões só seriam justificadas na medida em que favorecessem o lucro
aos acionistas.
Em 1953, a Justiça Americana julgou um caso semelhante ao caso Ford.
Nesse caso (P. Smith Manufactoring Company versus Barlow), julgou
favoravelmente à decisão da empresa de doar recursos para a Universidade de
Princeton, em detrimento dos interesses de um grupo de acionistas. Pela decisão,
uma corporação poderia buscar o desenvolvimento social, estabelecendo
precedente para o exercício da filantropia corporativa.
47
A inserção social da empresa continuava a se dar, especialmente pela
atuação social de seus dirigentes na medida em que, no início, o significado da
expressão responsabilidade social referia-se a três aspectos:
A relação entre a ética pública e a ética privada dos administradores;
A relação entre empregador e seus empregados;
A relação entre a empresa e a liderança que mantém em relação à
comunidade.
Na década de 60, a participação norte-americana no conflito do Vietnã foi
cada vez mais contestada, manifestando-se a sociedade, também, contra a
produção e o uso de armamentos bélicos (armas químicas em especial). A
legitimidade desse tipo de empreendimento militar e bélico passou a ser
veementemente questionada.
A partir desse fato, novos aspectos foram sendo incorporados ao
significado de responsabilidade social das empresas, como reflexo de objetivos e
valores sociais, como instrumentos pelos quais a sociedade pode promover seus
objetivos.
Muitas organizações incorporaram uma nova moral empresarial, a qual
denotava que as empresas não teriam mais o direito de produzir e vender aquilo
que desejassem. Contra esse entendimento insurgiram-se os defensores do livre-
mercado, pois para eles, a prática da responsabilidade social reduziria a eficiência
do mercado.
48
Nos anos 70 e 80, as empresas norte-americanas defrontaram-se com um
novo contexto econômico marcado pelo aumento nos custos de energia, pela
necessidade de maiores investimentos para cumprir legislações destinadas a
reduzir a poluição e proteção de consumidores. Para sobreviverem, as empresas
teriam de se voltar ao princípio básico de fazer dinheiro, isto é, maximizar lucros,
abandonando as responsabilidades sociais impróprias àquele principio básico.
De acordo com Friedman (apud Aragão, 2000, p.45):
“Há uma e apenas uma responsabilidade social das empresas:
usar seus recursos e sua energia em atividades destinadas a
aumentar seus lucros, contanto que obedeçam às regras do
jogo e participem de uma competição aberta e livre, sem
enganos ou fraudes”.
O autor considera que os administradores não têm condições de
determinar a urgência relativa dos problemas sociais; e, igualmente, não têm
condições de determinar a quantidade de recursos que deve ser destinada para a
resolução de tais problemas. Administradores que assim procedessem estariam
destinando recursos da corporação para realizar o bem-estar social pela sua visão
pessoal, e, dessa forma, estariam tachando injustamente seus acionistas,
empregados e clientes.
49
Para os defensores dessa concepção, atividades que não visassem o lucro
dos acionistas constituiriam desvirtuamento da finalidade da empresa e grave erro
de seus administradores. Estariam reduzindo o ganho dos acionistas e
repassando o custo de tais atividades para os consumidores.
No Brasil, o reconhecimento da função social das empresas culminou com
a criação da ADCE (Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas) .Na década
de 70, houve a iniciativa do reconhecimento da função social da empresa.
Contudo, a concepção do conceito de responsabilidade social somente ganhou
espaço no final da década de 80, consolidando-se nos últimos anos, de 1990 a
2003.
Dentre os fatores que influenciaram a concepção de responsabilidade
social, destacam-se:
- Reorganização do capital, que muda o cenário econômico, tendo como
pilar a competitividade mundial, regional e local;
- Aumento das condições de pobreza e da degradação ambiental;
- A Campanha Contra a Fome, de Betinho;
- O fortalecimento dos movimentos sociais; As profundas transformações do
mundo contemporâneo, provocando a incerteza e a instabilidade como
fatores ameaçadores à sobrevivência das organizações empresariais, ao
mesmo tempo em que fortalece a valorização do conhecimento e do
progresso;
50
- A insuficiência do papel do Estado, implicando nas graves críticas às
políticas públicas, marcadas pelo assistencialismo, a insuficiência dos
recursos, a privatização dos serviços sociais;
- O crescimento da violência urbana, dentre outros.
Nesse cenário, surgem as entidades empresariais, como: FIDES (Fundação
Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social), Instituto Ethos, GIFE (Grupo
de Institutos, Fundações e Empresas), IBASE (Instituto Brasileiro de Analises
Econômicas), dentre outras, que têm como foco um novo pensar e agir no âmbito
empresarial, o que propicia uma conotação cidadã à arte dos negócios.
Nessa perspectiva, os investimentos sociais privados ganham corpo no
Brasil, cujo olhar centraliza-se na alocação voluntária de recursos privados para
buscar retorno alternativo de inclusão social e influenciar nas políticas públicas,
organizações, universidades. Outro fator de destaque é a necessidade de
sobrevivência das empresas frente ao mercado internacional e ao atendimento
aos seus consumidores.
Conforme exposto, surgem algumas indagações, tais como:
O que é responsabilidade social empresarial?
Quais são os seus vetores? Como o mundo empresarial vai
colaborar para a construção de uma sociedade mais eticamente
responsável?
51
Na busca por essas respostas, o Conselho Empresarial Mundial para o
Desenvolvimento Sustentável, contribuiu, quando, em 1988, afirmou:
“Responsabilidade Social Corporativa é o comprometimento
permanente dos empresários de adotar um comprometimento
ético e contribuir para o desenvolvimento econômico,
simultaneamente, a qualidade de vida de seus empregados e
de seus familiares, da comunidade local e da sociedade como
um todo”.
Essa concepção assume a responsabilidade social como expressão de uma
postura ética comprometida com o resgate da cidadania, assumindo uma posição
de co-responsabilidade, na busca do bem-estar público, em articulação com as
políticas sociais (institutos, fundações, organizações, universidades, comunidades
etc.).
Oded Grajew (2000), empresário e presidente do Instituto Ethos, reafirma
esse conceito no momento em que pondera ser a responsabilidade social
empresarial uma forma filosófica de gestão de empresas, um importante fator de
mudanças nas empresas.
Ainda, segundo o empresário, é por meio da mudança de comportamento
empresarial que podemos promover mudanças sociais que levarão o país a uma
prosperidade econômica.
52
Todavia, ressalta-se que o conceito de responsabilidade social está em
construção e requer mudanças culturais, em que empresas e parceiros busquem
um processo conjunto, sem prejuízo de uns e com os resultados de outros.
A partir dessa reflexão, pode-se responder, com certa precisão, às
indagações postas, pontuando alguns aspectos a serem visualizados na prática da
responsabilidade social, que se preserva o comprometimento com a cidadania e a
ética, tais como:
- Reconhecimento da empresa em relação à importância de seu
investimento social na perspectiva de transformação social;
- Conhecimento da realidade social no seu entorno (regional, nacional e
internacional);
- Explicitação dos princípios e valores que nortearão os caminhos das
iniciativas sociais das empresas;
- Implementação de uma pedagogia social que responda aos aspectos mais
significativos de seus princípios e valores;
- Reconhecimento e valorização do sistema de governança corporativa;
- Definição dos indicadores de efetividade, tornando público o balanço
social.
De acordo com Drucker (1999, p.71),
“Não se pode afirmar que uma empresa tenha como
responsabilidade apenas o desempenho econômico. Mas esta
53
é sua primeira responsabilidade. A empresa que não trabalha
para obter lucro pelo menos igual ao custo do seu capital, é
irresponsável, pois desperdiça recursos da sociedade”.
Para o autor, seria justo e natural que os mesmos grupos de liderança que
foram responsáveis pelo êxito em prover as quantidades para a vida assumissem
agora a responsabilidade de prover também a qualidade de vida. A
responsabilidade social seria então algo a ser incorporado após as necessidades
econômicas estarem razoavelmente satisfeitas.
Kang (apud Gaioto, 2001), aponta essa vertente como predominante tanto
na literatura acadêmica como na não-acadêmica: a responsabilidade social
corporativa seria uma atividade pós-lucro, ou seja, a corporação precisa do lucro
para sobreviver, e a responsabilidade social corporativa torna-se uma ação
meramente instrumental.
Nesse sentido, verifica-se que existem empresas que na prática envolvem-
se nas questões sociais de forma estratégica para melhorar sua reputação junto à
mídia e adquirir vantagens competitivas, ressaltando exclusivamente a
instrumentalização da responsabilidade social corporativa.
Outros questionamentos dizem respeito aos próprios significados
designados à expressão responsabilidade social, uma vez que indicam um
envolvimento empresarial de ordem prática.
54
Para Megginson (1998, p.93):
“Responsabilidade Social representa a obrigação da administração
de estabelecer diretrizes, tomar decisões e seguir rumos de ação que
são importantes em termos de valores e objetivos da sociedade”.
Argumenta ainda, que “há uma grande diferença entre agir legalmente
seguindo a letra da lei e agir com ética e responsabilidade social”. Entretanto,
acredita-se que a maioria dos empresários aceita essa prática, apesar de
estabelecerem como incentivos, cargos, comissões, entre outros, para que ela se
efetive na empresa.
Comportamento socialmente responsável tem sido balizado, em parte,
pelos mecanismos de controle da sociedade civil, por ações fiscalizadoras e,
também, pela imagem da empresa percebida por diferentes públicos.
Na avaliação de Donaire (1995), “a visão tradicional da empresa como
instituição apenas econômica assenta-se dentro de um ambiente previsível e
estável. A moderna percepção da empresa em relação ao seu ambiente é muito
mais abrangente”
Isso significa que as empresas não podem desconsiderar uma série de
fatores que as pressionam a incorporar outros valores em seus procedimentos
administrativos e operacionais. Como exemplo de tais fatores, podemos citar:
55
- Consumidores mais conscientizados dos seus direitos;
- Comunidades das empresas que ganham cada vez mais visibilidade;
- Utilização adequada dos recursos naturais;
- Processos menos poluentes;
- Desmatamento; questões relativas à segurança;
- Qualidade de vida no trabalho.
A maioria das empresas sempre atuou com responsabilidades atreladas à
sua função econômica, procurando cumprir etapas que levassem ao processo de
acumulação do capital. Essa função continha, e ainda contem hoje, obrigações
relacionadas apenas ao desenvolvimento econômico em termos nacionais,
estaduais ou municipais.
O principal fim da empresa sempre foi o de auferir lucro em cada exercício
fiscal, proporcionando, assim, dividendos para os acionistas ou proprietários. Ao
pagar seus impostos em dia, oferecer empregos, desenvolver novas tecnologias e
ofertar bons produtos e serviços, a empresa julga estar cumprindo
satisfatoriamente a sua função de agente econômico.
No entanto, o objetivo maior continua sendo o lucro, pois a empresa precisa
do excedente financeiro para continuar existindo. Assim, no decorrer de vários
ciclos econômicos, independentemente de sua área de atuação, emergiram outras
variáveis que antes não faziam parte dessa regra administrativa.
56
Tais variáveis apresentam especificidades que são, ou não, ligadas ao
papel econômico das empresas. Na produção, por exemplo, muitas utilizavam, e
muitas ainda utilizam, processos que direta ou indiretamente atingem de forma
negativa o espaço ecológico, vindo, assim, prejudicar as reservas ambientais, e na
maioria dos casos provoca danos irreversíveis à biodiversidade.
Muitas organizações empresariais também adotaram práticas abusivas
quanto à utilização de mão-de-obra. Mão-de-obra esta considerada escrava,
principalmente nos países situados na periferia capitalista, uma vez que pagam
salários que podem ser considerados apenas simbólicos, além de empregar
crianças e adolescentes no processo produtivo.
Ao longo dos anos vem-se questionando sobre esses problemas de efeitos
negativos gerados pela atuação de empresas sobre a sociedade e o seu habitat
natural. Observa-se que é evidente que os problemas sociais não se agravaram
somente em função de agentes econômicos sobre a sociedade.
Nesse sentido, verifica-se que a mera incapacidade do Estado,
principalmente em países subdesenvolvidos, tais como o Brasil, em promover
políticas públicas sustentáveis, aliados ao nível insatisfatório de crescimento
econômico, pode ser considerada como uma das principais causas da
desestabilização social que vitima milhares de pessoas no mundo inteiro.
57
Esse cenário de desequilíbrio social e ambiental mostra como as
transformações sistêmicas interferem no desenvolvimento da sociedade e da
própria empresa. Dessa forma, o que acontece de bom ou de ruim é fruto da
intervenção de atores que têm forte poder político e econômico. Um desses atores
é evidentemente a empresa.
Segundo Morgan:
"Ao longo da história, as organizações tem sido associadas a
processos de dominação social nos quais indivíduos ou
grupos encontram formas de impor sua respectiva vontade
sobre os outros. E isto se torna bastante evidente quando se
traça a evolução histórica da empresa moderna, desde as
suas raízes na antigüidade até o seu papel no mundo atual,
passando por diferentes estágios de crescimento e de
desenvolvimento, inclusive como empresa militar e império".
(1996, p.281)
Podemos observar que Morgan resume bem a força evolutiva da
organização empresarial, principalmente quando ela é dotada de um grande poder
político e econômico.
Desse modo, como agente econômico, a empresa interfere de forma direta
na vida de milhares de pessoas, seja pela oferta de postos de trabalho ou pela
comercialização de produtos e serviços.
58
Nessa perspectiva, ela também afeta de maneira negativa a sociedade por
meio da degradação do meio ambiente, e pela prática abusiva de preços e
sonegação de impostos. Promovem impactos que refletem nas transformações
políticas, sociais, econômicas e ambientais de forma global, regional ou local.
É importante mostrar que nessa contextualização alguns pontos que deram
origem ao debate sobre responsabilidade social da empresa surgiram de variáveis
que sempre foram alheias ao universo das organizações empresariais, trazendo,
assim, uma outra face de sua existência, a de agente social.
Essas variáveis são importantes na correção de rota de muitas
organizações que sempre apresentaram uma atuação negativa sobre a sociedade.
Vale lembrar que a postura ética e a boa conduta dos negócios podem fortalecer
estrategicamente a organização, dependendo de como é vista e trabalhada a
questão.
Alguns economistas conservadores afirmam que a empresa perde a sua
identidade original ao se envolver com questões das quais não fazem parte. Um
dos maiores defensores dessa postura é Milton Friedman, que afirma:
"Este ponto de vista mostra uma concepção
fundamentalmente errada do caráter e de natureza de uma
economia livre. Em tal economia, há uma e só uma
59
responsabilidade social do capital - usar os seus recursos e
dedicar-se a atividades destinadas a aumentar seus lucros até
onde permaneça dentro das regras do jogo". (1977, p.116)
Para Ashley, que utiliza uma posição contrária à responsabilidade social e é
contra as idéias de Friedman e Levit:
"Pela perspectiva dos direitos da propriedade, argumenta-se
que a direção corporativa, como agente dos acionistas, não
tem o direito de fazer nada que não atenda a objetivo de
maximização dos lucros, mantidos os limites da lei. Agir
diferente é uma violação das obrigações morais, legais e
institucionais da direção da corporação. Por outro lado, o
ponto central do argumento da perspectiva pela função
institucional está em que outras instituições, tais como:
governo, igreja, sindicato e organizações sem fins lucrativos,
existem para atuar sobre as funções necessárias ao
cumprimento da responsabilidade social corporativa. Gerentes
de grandes corporações não têm a competência técnica, o
tempo ou o mandato para tais atividades, as quais constituem
uma tarifa sobre o lucro dos acionistas, nem foram eleitos
democraticamente para tal, como foram os políticos". (2000,
p.3)
60
Essa posição fechada de Friedman e de Levitt, não consegue, de acordo
com a evolução histórica da própria empresa, manter sustentabilidade frente às
mudanças ocorridas no processo de desestabilização social e ambiental que
ocorre no mundo todo. Para muitas empresas, mesmo em número pequeno, é
fundamental envolver-se com questões alheias à sua natureza econômica,
estendendo-se de sua concepção original e chegando até a circunstâncias de
crises sociais e ambientais que afetam o sistema econômico.
Essa afirmação vem fortalecer a necessidade que temos de repensar sobre
a utilidade da empresa para a sociedade. O conceito de responsabilidade social
expressa compromissos que vão além daqueles já compulsórios para as
empresas, tais como o cumprimento das obrigações trabalhistas, tributárias e
sociais, bem como da legislação ambiental, formas de usos do solo e outros.
Expressa, assim, a adoção e a difusão de valores, condutas e
procedimentos que acabam por induzir e estimular o contínuo aperfeiçoamento
dos processos empresariais, que acabam por resultar em prevenção e melhoria da
qualidade de vida das sociedades.
Esse conceito traz consigo questões que colocam em destaque valores
alheios ao comportamento tradicional de agentes econômicos. Valores
relacionados à ética, ao aspecto social, ao meio ambiente etc., os quais devem
61
caminhar paralelamente na construção de um ambiente sustentável para a
sociedade e para a própria organização empresarial.
Podemos concluir que os valores econômicos não podem ser os únicos
constituintes da relação empresarial com os seus diversos públicos existentes.
Caso isso ocorra, a empresa estará sempre imersa em um sistema restrito
somente aos propósitos de sua função econômica, o que não representa o
verdadeiro sistema aberto e vivo de uma instituição que faz parte da sociedade.
A responsabilidade social, em síntese, significa um comprometimento
voluntário da empresa com seus diversos públicos. Não basta estar em dia com o
aspecto legal. Esse comprometimento deve ir além do simples cumprimento da
legislação. Isso porque a responsabilidade social tem que incorporar valores que
representem um grau de civilidade, servindo de colaboração para o
desenvolvimento social e humano de todos aqueles que direta ou indiretamente
estejam ligados à empresa.
2.3. A Constituição da Responsabilidade Social na Empresa Cidadã
62
Tudo o que se refere à questão da responsabilidade social das empresas,
pelo menos a maioria delas, trata os investimentos da empresa em seu ativo mais
valioso como o capital humano, que diz respeito ao conjunto de trabalhadores ou
organizadores e colaboradores de uma determinada organização, seja ela privada
ou estatal.
Portanto, debater esses assuntos relacionados à responsabilidade social
sem dar a importância ao corpo funcional de uma organização, é algo, no mínimo,
incoerente.
Em suma, pode-se dizer que a verdadeira responsabilidade social começa
“em casa, isto é, no seio da empresa”, por meio da valorização profissional e da
melhoria da qualidade de vida dos funcionários, e, em uma perspectiva mais
ampla, de suas famílias.
Face Interna
O principal diferencial de uma empresa moderna que está em evidência, em
plena era do conhecimento e das novas tecnologias, de comunicação e
informação, é apresentar, em todos os seus setores, um capital humano de melhor
qualidade.
Essa melhor qualidade não significa apenas a capacitação profissional dos
funcionários, mas deve conter também programas e projetos em outras áreas, tais
63
como: saúde, lazer, esporte, cultura, entretenimento, acompanhamento familiar,
atendimento psicológico, entre outros.
Tais projetos necessitam estar ancorados em uma pauta de trabalho, cuja
iniciativa deve ser da empresa. Sem dúvida, muitos desses itens que estão
relacionados às suas áreas são de caráter obrigatório, ou seja, acompanhado de
legislação específica.
A empresa deve, pois, usar a criatividade para valorizar os seus
funcionários e promover ações que vão além da simples obrigatoriedade existente.
Nesse sentido, a empresa está envolvida no que se pode chamar
convencionalmente de responsabilidade social interna, ou seja, a responsabilidade
pelo desenvolvimento integral de seus funcionários, principalmente no que se
refere à qualidade de vida.
Alencastro (1997), resume os principais mecanismos relacionados ao lado
interno da responsabilidade social das empresas. Segundo esse autor, “a maior
parte das organizações, independentemente de seu porte ou tamanho, pode
desenvolver mecanismos que leve à contribuição satisfatória dos funcionários”.
Tais mecanismos podem ser, serviços, instalações, atividades e oportunidades,
como, por exemplo:
- Aconselhamento pessoal de carreira; Desenvolvimento de carreira e da
ocupacionalidade (preparação para o mercado de trabalho);
64
- Atividades culturais e recreativas;
- Educação não relacionada com o trabalho;
- Creche;
- Ambulatório;
- Licença especial para tratar de responsabilidades familiares ou serviços à
comunidade;
- Planos especiais de aposentadoria;
- Segurança fora do trabalho;
- Horários flexíveis;
- Realocação e recolocação;
- Benefícios de aposentadoria, incluindo plano de saúde;
- Programas de conscientização antitabagismo e da prevenção à AIDS;
- Programa de recuperação de drogas e alcoolismo;
- Transporte, refeições e prevenção de doenças profissional.
Todos esses mecanismos que são apontados por Alencastro influenciam
diretamente o desenvolvimento pessoal e profissional do funcionário. A empresa
promove ações que tentam aproximá-la mais de seus colaboradores, procurando
gerar um ambiente de integração, tornando-se benéfico para ambos os lados.
Normalmente, esse ambiente acaba sendo regido pela necessidade de união
de interesses comuns que favoreçam tanto o empregador quanto o empregado,
65
resultando, assim, numa melhor produtividade em todos os setores da empresa,
além do melhor índice de satisfação dos funcionários.
Na maioria dos casos, uma análise sobre responsabilidade social das
empresas deve dar destaque para o bem-estar do funcionário como cidadão de
direito, pois devemos observar que a empresa é a extensão de seu lar e do seu
convívio em comunidade.
Logo, ela precisa atuar de forma direta no seu desenvolvimento pessoal e
profissional, o que causa uma melhoria da produtividade como uma mera
conseqüência.
Segundo Gonçalves:
"Uma visão empresarial mais aberta permitirá que se chegue a
uma situação diversa. Assim, na medida em que se promover
o ajuste entre os recursos de bem-estar e necessidades dos
trabalhadores, dentro das disponibilidades da empresa,
caminhar-se-á para o equacionamento satisfatório dos
problemas gerados pela interdependência indiscutível do
econômico e do social na vida da empresa". (1980, p.52)
Podemos observar, então, que temos uma congruência entre as três
principais realidades da empresa: a econômica, a humana e a social. Essa
66
interdependência que é mencionada por Gonçalves, mostra-nos que a empresa
tem que enxergar os seus funcionários como pessoas de direito e não como
meros instrumentos de produção.
Contraditoriamente, Taylor explicita a visão dos funcionários como
instrumentos de produção ao afirmar que:
"Durante muitos anos, a tendência geral foi a de ignorar
progressivamente a importância do homem como pessoa,
para considerá-lo cada vez mais como uma simples
engrenagem da maquinaria produtora. A era da técnica e da
eficiência se apoiou nesse conceito. Analisou-se por exemplo,
o lugar de trabalho e a disposição das ferramentas e materiais,
não para procurar a comodidade do homem, mas para poupar
tempo e incrementar a produção". (1980, p.14)
A visão de Taylor, para muitas empresas, está ultrapassada, mas para
outras não. As primeiras entendem e visualizam a importância do capital humano.
Logicamente, essa postura está ligada ao planejamento estratégico da empresa,
fazendo com que os resultados tendam a ser mais satisfatórios do ponto de vista
da produtividade e da qualidade.
67
Conseqüentemente, a empresa e os funcionários podem determinar
avanços quantitativos e qualitativos em todas as áreas produtivas, desde que ajam
de forma conjunta.
Para as demais empresas que não têm essa postura, os problemas
oriundos do relacionamento capital versus trabalho são, com toda certeza, mais
constantes e muito mais intensos.
Existe, portanto, a idéia principal de que a legítima responsabilidade social
da empresa começa pela qualidade de vida de seus funcionários.
A empresa, sendo um organismo social, deve cumprir sua vocação
essencial de otimizar os esforços dos trabalhadores e os recursos; não só ser
humana, mas também humanizadora, ou seja, deve também proporcionar o
desenvolvimento de seus funcionários e de todos que dela dependem.
Para muitas empresas, ter um bom relacionamento com o seu capital
humano é fundamental, principalmente quando se refere às incertezas que
constantemente aparecem no cenário global.
Todavia, não se pode afirmar com segurança que uma empresa capitalista
está incorporada por um sentimento unicamente humanista. O que podemos
afirmar, com mais racionalidade, é que há, na verdade, uma maior preocupação
68
ligada ao cenário do fortalecimento da empresa em si, ou seja, uma
responsabilidade com o futuro da organização.
É necessário que o capital humano esteja melhor empregado em todos os
sentidos, a fim de mostrar o quanto a empresa está preparada para enfrentar os
grandes riscos e mudanças que ocorrem na sua área de atuação.
Esse quadro não nos apresenta nenhuma novidade, principalmente quando
está intimamente ligado às estratégias empresariais. Valorizar o corpo funcional
faz parte, sim, deste cenário em que novos valores, novos fatores de produção
acabam sendo imprescindíveis.
Dentro desse ambiente de mudanças, a empresa acaba sofrendo
imposições que levam à mudança do exercício de sua função de agente social.
Dessa forma, quando falamos de responsabilidade social interna, devemos
entender que ela tem que ser planejada e exercida de modo que propicie um bom
desempenho nos seus relacionamentos externos.
Assim, se a empresa realiza um bom trabalho com seus colaboradores
internos, é muito provável que venha realizar um bom trabalho com o seu público
externo, promovendo iniciativas que estão ligadas ao seu papel social. Quando
uma empresa apresenta um desempenho satisfatório do seu papel social, isto
pode levá-la a adquirir ganhos substanciais em termos de imagem institucional.
69
Por outro lado, quando essa estratégia é mal implantada, podem ocorrer
alguns riscos negativos nessa imagem institucional. Por essa razão, é necessário
que a empresa tenha bem claro o que ela espera do relacionamento social com os
seus públicos, para que possa dirigir corretamente suas ações de acordo com
suas estratégias de política social.
Quando nos referimos à prática social das empresas, é evidente que o mais
importante nessa discussão é o que se pode chamar de principio da coerência.
Nesse sentido, não é permitido, do ponto de vista moral e ético, que uma empresa
apresente desequilíbrios na sua função de agente social, ou seja, que tenha um
bom desempenho em relação ao seu capital humano e não tenha um bom
desempenho com a comunidade e com o meio ambiente.
Neste caso, a empresa precisa apresentar um quadro de responsabilidade
social que possa ser compreendido como "quebra-galho" institucional, para que as
ações dessa natureza possam, na maioria dos casos, apresentar objetivos que
amenizem os estragos proporcionados pelos deslizes cometidos pela instituição,
ação esta que não deve ser confundida com uma responsabilidade ou
comprometimento social de fato.
É importante lembrar que isso vale para qualquer posicionamento sobre a
responsabilidade empresarial, pois o que está em jogo é como deve ocorrer o
equacionamento dos problemas sociais e ambientais que afetam a sociedade.
Pode-se até ter agentes econômicos que queiram participar desse processo, no
70
entanto, devem participar como agentes de mudança social e não como
"oportunistas de plantão" (social floating).
Se fizermos uma reflexão a esse respeito, podemos fortalecer a relevância
do ser humano na organização, mostrando que não existe espaço para visões
opes em relação ao capital humano, pelo menos para as empresas próximas de
uma postura menos conservadora, mais ética e de vanguarda. O ser humano deve
ser visto e tratado como uma pessoa de direito, um cidadão, e não como um mero
mecanismo/fator de produção.
Segundo Arruda:
"A empresa tem nas mãos os únicos recursos insubstituíveis
em uma organização - as pessoas. Tudo o que for feito por
elas tem reflexo na sociedade como um todo. Os valores de
uma empresa, quando vividos, chegam não só aos
funcionários, como à sua família, às suas amizades, aos seus
clubes, às associações ou partidos políticos a que estão
filiados". (1999, p.10)
De acordo com esse ponto de vista, podemos observar que Arruda
expressa o quanto a empresa é dependente de seus funcionários para se manter
no mercado. Fato curioso é que durante a história essa importância sempre foi
menosprezada pelas empresas capitalistas.
71
Nesse sentido, a relação capital versus trabalho sempre foi marcada pela
prática exploratória do primeiro sobre o segundo. Muitos casos de uso desumano
da força de trabalho fazem parte da história que envolve essa relação. O homem
era considerado "coisificação", vítima dessa relação de produção, objeto de
trabalho tratado como uma máquina do parque fabril.
Esse fato mostra que a condição de exploração predomina do aspecto
econômico ao aspecto social, explicitando que o interesse maior é o crescimento
da empresa e seu conseqüente enriquecimento por seus proprietários e acionistas
via acúmulo de capital.
Com o surgimento dos sindicatos, houve uma certa resistência a esse
cenário. A partir da movimentação dessas entidades pela realização de greves,
os trabalhadores passaram a reivindicar seus salários, melhores condições de
trabalho e, principalmente, garantias concretas de emprego. Assim, o sindicalismo
passou a desempenhar um importante papel nas conquistas dos trabalhadores.
Como conseqüência das transformações econômicas que ocorreram a
partir da década de 1990, em especial no Brasil, os sindicatos cresceram, mas, se
depararam com situações que enfraqueceram os seus poderes de negociação.
O capital globalizado, por exemplo, trouxe novas tecnologias e novas
demandas de qualificação profissional, ocasionando reestruturações, fusões e
72
aquisições que provocaram a demissão de milhares de trabalhadores da
economia formal.
Esse resultado deixou os sindicatos sem forças, pois os trabalhadores,
ainda empregados, passaram a se preocupar com a manutenção do emprego,
afastando o perigo da realização de greves, principalmente dentro da iniciativa
privada.
Em suma, essa contextualização serve para mostrar que muitas conquistas
obtidas pelos trabalhadores foram frutos da ação direta dos sindicatos e não da
ação espontânea das empresas. A partir dessas conquistas acabou-se por
determinar um ponto de equilíbrio de forças entre as partes, que acabou
resultando em fatores que beneficiaram os dois lados.
É claro que, para o capital humano, o importante é a sua valorização,
atrelada à liberdade dentro da organização. As empresas consideradas modernas
afirmam que estão sintonizadas em relação a esse quadro. Assim, a
responsabilidade social interna, depois dessas transformações econômicas, ganha
mais consistência, pelo menos para as organizações empresariais cientes da
importância do seu capital humano.
Entretanto, é preciso lembrar que muita coisa precisa ser feita e estudada
na relação capital versus trabalho. É preciso fazer uma decodificação dos mitos
dessa relação. Não podemos suportar que o envolvimento entre empregadores e
73
empregados fique restrito somente ao plano econômico. As empresas
consideradas agentes de desenvolvimento socia, precisam aprender a incorporar
em sua cultura organizacional uma visão mais crítica no que se refere ao seu
quadro funcional, indo além do que é estipulado pela legislação trabalhista.
Essa mudança de postura trará benefícios tanto para as empresas quanto
para os funcionários. O trabalho deve realizar-se em condições satisfatórias que
respeitem a dignidade de um ser humano como força de trabalho, observando as
suas condições naturais relativas à duração, ao cansaço, à idade, ao sexo, à
saúde, à segurança e ao ambiente.
Desse modo, entendemos que se a matéria transformada e enobrecida das
oficinas sai de forma satisfatória para os empresários, o trabalhador sai
desgastado e as condições humanas não são garantidas para a manutenção de
seu exercício de trabalho.
Assim, quando falamos em trabalhar o lado interno da responsabilidade
social da empresa, estamos falando em fortalecer a idéia de que as variáveis
econômicas não são as únicas de maior peso estratégico para a empresa. Faz-se
necessário, também, que outros valores façam parte das decisões
organizacionais, não como itens secundários, mas como pontos de grande teor
estratégico para a organização.
74
Dessa forma, pode-se dizer que a empresa tem um ambiente de qualidade,
com desenvolvimento sustentável, marcado pela integração das dimensões
econômica, social e ambiental. Essa situação de tripé fornece uma sustentação no
longo prazo para qualquer organização, desde que seja realmente valorizado em
todas as tomadas de decisão que envolva as suas ações.
Por isso, para que ocorra uma cadeia de desenvolvimento sustentável, as
empresas devem investir na melhoria da qualidade de vida dos funcionários, para
que possa ser reconhecida como uma empresa de negócios sustentáveis. É
preciso que isso se efetive pelo âmbito de sua própria privacidade, ou seja, pela
realização de atividades que promovam o bem-estar do seu público interno.
Essas atividades devem ser conduzidas por iniciativas que ultrapassem as
obrigações legais, procurando mostrar que a empresa está preocupada em
valorizar o seu capital humano. Pode-se assim dizer que dessa forma estará
habilitada a obter um bom desempenho em relação ao seu público externo e
conseqüente aquisição do certificado de empresa cidadã ou selo de qualidade.
Face Externa
No item anterior, apresentamos um dos lados da prática social das
empresas: a responsabilidade social interna, expressa pela ação social endógena,
75
ou seja, os investimentos da empresa para o desenvolvimento pessoal e
profissional de seus funcionários.
Na seqüência, enfocamos a ação social exógena da empresa, ou seja, as
ações e investimentos realizados no relacionamento com o público externo da
organização. Esse envolvimento social com o ambiente externo é denominado
responsabilidade social externa.
Tal responsabilidade implica na a empresa procurar ampliar o seu leque de
investimento social, promovendo a participação em programas, projetos e planos
sociais que podem ser conduzidos diretamente ou não por ela.
Nesse sentido, o número de ações pró-ativas das empresas capitalistas
ainda é muito pequeno, principalmente das que concentram o maior nível de poder
econômico e político, ou seja, as multinacionais e transnacionais. Mas isso não
elimina a importância do papel social nas empresas. Desenvolver
responsabilidade social externa é uma das faces desse papel.
Para uma empresa é importante que suas relações sociais com o público
externo estejam em alta, pois, com isso, satisfaz o intercâmbio comercial,
melhorando, assim, o seu capital interno. É necessário que haja uma troca de
interesses sociais, os quais possam promover o desenvolvimento de formas
políticas que ajudem o progresso social da comunidade e de outros parceiros
institucionais.
76
Segundo Grzybowiski,
“Todos nós inclusive as empresas, mesmo no mundo
globalizado e virtual que estamos metidos, ainda temos laços
concretos com um local e uma comunidade. Globalizamos
nossa percepção e estratégias, mas estamos aqui, vivemos
daqui, comungamos de um mesmo espaço e de uma mesma
cultura. Integrar isto na estratégia empresarial é investir na
comunidade, nas suas necessidades. É reconhecer que a
sorte de todos à nossa volta é a sorte também da empresa.
Investimentos, por pequenos que sejam, revelam o quanto a
empresa se abre para a questão social”. (1999, p.3)
Para se participar de forma ativa no desenvolvimento social de seu público
externo, dentro desse contexto de globalização e virtualização, a empresa deve
entender que este é um ponto estratégico e importante na definição de suas
políticas de relacionamento externo.
Esse processo tem que levar em conta que o progresso de seus públicos-
alvo significa também o progresso da empresa, pois os recursos que ela necessita
para operar são originados no meio externo. Conforme os indicadores Ethos de
Responsabilidade Social Empresarial do ano 2000, a comunidade em que a
empresa está inserida fornece infra-estrutura e o capital social, representado por
77
seus empregados e parceiros, o que contribui para uma melhor viabilização de
seus negócios.
O investimento feito pela empresa por meio de ações que tragam benefícios
à comunidade é visto como uma contrapartida justa, além de reverter em ganhos
para o ambiente interno da própria empresa. A empresa deve respeitar os
costumes culturais e locais, e fazer parte de uma política de desenvolvimento
comunitário, levando a um resultado da compreensão de seu papel de agente de
melhorias sociais.
É necessário que esse ambiente tenha um nível de desenvolvimento
mínimo satisfatório, por meio da garantia de insumos e de capital humano de boa
qualidade. Conforme as idéias de Ioschpe:
“A equação é simples: a empresa busca na comunidade os
recursos de que necessita para operar e tem hoje plena
consciência de que essa comunidade não está aparelhada
para modernização que a empresa significa, se construirá um
ruído intransponível em sua comunicação com o entorno”.
(1997, p.2)
De acordo com o ponto de vista ético, torna-se muito complexo entender
essa dinâmica de relacionamento social da empresa com o seu âmbito externo.
Cabem, então, algumas interrogações. “Será que ela está realmente interessada
78
ou preocupada com a qualidade de vida do seu público externo?”. “ Que garantias
se têm quando o investimento social da empresa é tocado por políticas
estratégicas de negócios?”. Essas perguntas, como inúmeras outras, colocam em
discussão a sustentabilidade da responsabilidade social de agentes econômicos
na sociedade.
Uma coisa certa é que, independente dos questionamentos acerca da
legitimidade da prática social das empresas, ocorre a crescente dívida social e
ambiental que se alarga pelo mundo, o que ocasiona cada vez mais distúrbios e
catástrofes que colocarão em cheque toda a estrutura social e econômica do
planeta, imputando uma pena capital à sociedade, em virtude do descaso e da
irresponsabilidade de modelos socioeconômicos excludentes, decorrentes das
transformações perversas do mundo do trabalho com a globalização.
Para as empresas, esse cenário poderá representar inúmeras turbulências.
O que está em jogo é a sustentabilidade do seu próprio negócio, principalmente no
longo prazo.
Na opinião de Basagotti:
“A empresa, por natureza, antes de qualquer coisa, é um ente
social, um ente que nasce com uma necessidade social para
servir à sociedade; um ente que morre no momento em que
não cumprir esse requisito. É dependente e serviçal da
79
sociedade, desde a origem até o fim, na qual nasce e na qual
serve”. (1999, p.28)
Podemos observar, nesse ponto, o quanto a empresa é importante e útil à
sociedade. Esta deve dar respostas tanto de caráter econômico quanto de caráter
social, visando, assim, assegurar o seu desenvolvimento. A empresa pode
participar dessas idéias sob diversas formas.
Muitas, principalmente as mais capitalizadas e de maior porte, acabam
criando suas próprias instituições, fundações e institutos voltados para as
atividades de cunho social e ambiental.
Outras preferem o velho caminho conhecido como assistencialismo, que
não são mais do que doações de recursos financeiros ou materiais para entidades
sociais. Tanto uma forma como outra de intervenção, fazem parte da estratégia de
organização.
Em determinadas empresas, é mais interessante fornecer ajuda do que
realmente intervir na gestão do projeto social, pois elas alegam que não detém o
conhecimento e a tecnologia necessários para isso.
O que deve ficar claro é que na forma de atuação das empresas o mais
importante é a absorção de variáveis sociais e ecológicas na cultura da
organização.
80
Portando, todos os integrantes da empresa têm que partilhar as
responsabilidades que ultrapassem os sentidos da simples resistência econômica
da organização em que trabalham, propiciando um ambiente interno mais
compensador e facilitador às mudanças sociais que estão ocorrendo no ambiente
externo.
Dessa maneira, as empresas podem traçar melhores planos de
relacionamentos sociais com seus diversos públicos-alvo.
Muitas empresas fazem parcerias bem sucedidas com ONGs, outras,
porém, consideram que `as vezes essas parcerias não justificam os investimentos
realizados, pois as ONGs, produzem mais retórica que prática e são pouco
transparentes em seus relacionamentos.
O IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) realizou, no ano
2000, uma pesquisa na região sudeste com cerca de 450.000 empresas, e
mostrou que 31% dos empresários consideram as organizações da sociedade civil
pouco transparentes em suas ações e contabilidade. Essa pesquisa, contudo,
também identificou que a confiança no trabalho das ONGs desencadeou a ação
social das empresas em nada menos que 60% dos casos.
Podemos observar que os dados da pesquisa acima revelam uma
tendência de estreitamento entre o relacionamento das empresas e as
organizações do chamado terceiro setor. Assim sendo, manter uma postura de
81
afastamento frente ao aumento da complexidade dos problemas sociais e
ambientais, que vêm ocorrendo em larga escala no nosso planeta, não é
recomendável às empresas do terceiro setor. Todos os interesses agora estão
voltados para o da coletividade.
Desse modo, está ocorrendo uma maior aproximação estratégica entre
todos os atores que têm programas, projetos ou planos sociais de relevância para
a sociedade, o que ainda precisa ser mais difundido.
É bom lembrar que infelizmente muitas empresas ainda atuam sob as
idéias do tradicional assistencialismo, pois consideram ser esta a melhor forma de
intervenção e o caminho mais curto para a solução de problemas crônicos que
afetam a comunidade.
Um estudioso como Falconer sabe bem estabelecer relações da filantropia
e da cidadania empresarial, ao afirmar que:
“Cidadania empresarial é um termo que tem sido utilizado para
descrever o papel da responsabilidade social e ambiental das
empresas. Não se trata exclusivamente de filantropia, no
sentido de caridade desinteressada, mas de enlightened self-
interest
7
ou investimento estratégico: um comportamento de
aparência altruísta, como a doação a uma organização sem
7
Esclarecer o próprio interesse. (Dicionário Webster’s, p.100)
82
fins lucrativos, que atende também a interesses (mesmo que
indiretos) da empresa, como a contribuição à formação de
uma imagem institucional positiva ou o fortalecimento de
mercados consumidores futuros. Na defesa de seu próprio
interesse de longo prazo, empresas adotam a prática de
apoiar atividades como projetos de proteção ambiental,
promoção social no campo da educação e saúde, dentre
outros. O envolvimento de empresas se realiza tipicamente
através de doações de recursos, da operação direta de
programas ou através das relações genericamente
denominadas “parceiras” com as organizações da sociedade
civil”. (1999, p.10)
Outros estudiosos ligados ao tema da área social, afirmam que existe uma
tendência de investimentos sociais empresariais chegarem além do exercício da
filantropia. Grajew (2000) afirma que, por exemplo, o conceito de responsabilidade
social está passando por transformações, afastando-se da mera filantropia, que é
a relação socialmente compromissada da empresa com a comunidade, para
abranger todas as relações da empresa, como, por exemplo: funcionários,
clientes, fornecedores, concorrentes, meio ambiente e organizações públicas e
estatais.
De acordo com esse conceito, há um embasamento na forma de gestão
empresarial que é aplicada a princípios e valores e a todas as práticas políticas da
83
empresa. A opinião de Grajew está relacionada ao seu campo de abrangência do
compromisso social da empresa.
Nesse sentido, uma determinada empresa pode adotar ações filantrópicas e
não filantrópicas de forma conjunta. Basta apenas que ela saiba ajustar
constantemente campanhas assistenciais de entidades parceiras e, ao mesmo
tempo, apresente um programa ou projeto nas áreas de educação, esporte,
cultura e lazer para seus funcionários, familiares e comunidade.
A questão da responsabilidade social externa, para as empresas, tem que
ser identificada para além da filantropia, isto é, por um comprometimento mais
amplo em termos de participação social.
É bom lembrar que o número de empresas que agem dessa forma, vem
crescendo significativamente e buscam contribuir para o processo de
desenvolvimento sustentável.
De forma mais ampla, podemos observar que existem três facetas da
responsabilidade social externa das empresas: (a) estar caracterizada pelo
simples ato filantrópico, que são doações de bens materiais ou financeiros; (b)
estar caracterizada pela participação direta de programas, projetos sociais ou não;
(c) estar caracterizada pela junção desses dois tipos de atuação.
84
O tipo escolhido para a prática da responsabilidade social externa vai
depender da política estratégica da própria organização empresarial. Essa política
necessita estar em sintonia com os princípios e valores da empresa, ligando-se à
concepção de social que está presente na cultura da organização.
Portanto, a face externa da empresa constitui um elemento definidor de seu
perfil e de sua capacitação enquanto agente ativo para o efetivo desempenho de
sua responsabilidade social no contexto econômico-social em que se insere.
85
CAPÍTULO III. Cummins Guarulhos SP: Caracterização e a questão da
Responsabilidade Social
Em seqüência às idéias apresentadas no segundo capítulo, esta
investigação se concretiza com a coleta e análise de dados empíricos tendo em
vista o objeto da pesquisa, ou seja, o estudo da responsabilidade social na
empresa multinacional sediada em Guarulhos (SP) denominada Cummins Brasil
Ltda.
1. Origem, Perfil, certificação e premiação da Cummins Guarulhos
A Cummins foi fundada em 1919, por Clessie Cummins e W.G. Irwin, com o
intuito de produzir motores diesel para caminhões e ônibus, que seriam mais
econômicos e resistentes que os motores a gasolina disponíveis na época.
Instalou-se uma pequena fábrica em Columbus, Indiana (EUA), iniciando a
produção de motores estacionários para utilização na agricultura. No início, a
empresa enfrentou diversas dificuldades e atravessou um longo período de
prejuízos. Durante a II Guerra Mundial, porém, quando a Cummins Engine Co.
passou a fornecer motores para o exército norte-americano na Europa, seus
motores ganharam espaço no mercado internacional.
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A Cummins começou a espalhar-se pelo mundo, instalando 80 fábricas de
motores, geradores e componentes e 5 mil pontos de serviços em 197 países.
Hoje, é a maior fabricante independente de motores diesel do mundo, sendo que a
qualidade, a inovação e a alta tecnologia continuam como as principais
características dos produtos, que equipam caminhões, ônibus, barcos, tratores,
colheitadeiras, trens e motores estacionários.
Desde o início dos anos 60, a Cummins dividiu o mundo em seis zonas os
E.U.A. e Canadá, América Latina e América do Sul, o Oriente Médio, os países
comunistas e os “territórios de exportação”, com uma estratégia abrangente
similar.
Durante início dos anos 70, a Cummins negociou com a Ford do Brasil a
possibilidade de produzir motores V no país, como um equipamento novo em nova
linha de caminhões Ford aqui produzidos. Mas, uma combinação de obstáculos,
como a demanda de capital escalonado, inflação galopante e um suprimento
pobre de componentes, tornou o plano inviável.
Seguindo a trajetória de alguns de seus grandes clientes mundiais, entre
eles Komatsu e Ford, a norte-americana Cummins Engine Company se instalou no
Brasil, atraída pelas novas oportunidades de mercado no País. A subsidiária foi
constituída legalmente em 1971, sob a razão social de “Cummins Brasil”.
87
Em 1971, a Cummins comprou a fábrica pertencente à alemã Klockner
Humboldt Deutz em Guarulhos (SP). Esta cidade está localizada a nordeste da
região metropolitana de São Paulo, cuja população atual aproxima-se de
1.200.000 pessoas, sendo um dos 39 municípios que a integra, encontrando-se
posicionado estrategicamente no principal eixo de desenvolvimento do País, São
Paulo / Rio de Janeiro, apenas a 17 Km da capital.
A cidade possui um dos maiores e mais variados parques industriais do
país, com cerca de 2.200 empresas, com destaque para as indústrias
metalúrgicas, plásticas, químicas, farmacêuticas, alimentícias e de vestuário. Os
bairros de Cumbica, Bonsucesso, Itapegica e Taboão abrigam as principais áreas
industriais do município. Destaca-se o Parque Industrial de Cumbica, com cerca
de 700 indústrias, maior que muitas cidades de grande atuação no ramo industrial.
A região abriga ainda um grande número de transportadoras e empresas de
logística, que permitem um melhor escoamento dos produtos fabricados pelas
indústrias locais. Diversas indústrias multinacionais estão estabelecidas no
município, o que assegura um grande intercâmbio de tecnologia internacional,
além da divulgação mundial de produtos fabricados no município.
Em Guarulhos, está localizado o Aeroporto Internacional de São Paulo
André Franco Montoro. Inaugurado em 1985, é considerado o mais importante e
movimentado aeroporto do Brasil. Situado em uma área plana, repleta de verde e
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próxima à Serra da Cantareira, todo o complexo aeroportuário compõe uma
paisagem bonita e agradável de ser apreciada.
A escolha de Guarulhos para sediar a Cummins, considerou
desse modo, todas as condições de localização, estrutura econômica,
viária, mão-de-obra potencial, etc., dessa cidade.
Além dos 2,5 milhões de dólares pagos pela fábrica alemã Klockner
Humboldt Deutz , a Cummins planejava investir outros 7,2 milhões de dólares na
produção de motores industriais “NH”.
Em 1974, iniciou suas atividades industriais em Guarulhos (SP). Com uma
variada gama de motores, a empresa fornece para diversos segmentos do
mercado, entre eles: caminhões de todos os portes, pick-ups, ônibus, aplicações
estacionárias, máquinas de construção, equipamentos agrícolas, máquinas para
mineração e aplicações marítimas.
A fábrica de Guarulhos, com 60 mil m2 de área construída, localizada ao
lado da Rodovia Presidente Dutra, num terreno total de 138 mil m2, tem,
atualmente, capacidade para produzir mais de 70 mil motores por ano. A empresa
possui uma rede de 32 distribuidores na América Latina, sendo três distribuidores
próprios: São Paulo, Buenos Aires e Santiago, além de centenas de pontos-de-
89
venda de peças para assistência técnica nos 22 países cobertos pela fábrica
brasileira.
O ano de 2004 foi um período de comemorações para a Cummins Brasil.
Além dos recordes de produção e das premiações conquistadas, a subsidiária
brasileira da Cummins Engine Co. completou 30 anos de produção de motores,
contando nessa ocasião com 969 funcionários registrados e 476 terceirizados.
A história dos 30 anos da Cummins no Brasil é marcada por constantes
movimentos de inovação e uma permanente evolução tecnológica que resulta em
liderança de mercado.
Durante estes anos, além de trabalhar para desenvolver os melhores
produtos, a empresa tem se empenhado para contribuir com a sociedade. A cada
ano, as ações voltadas ao meio ambiente e à qualidade de vida de seus
funcionários e familiares são intensificadas.
Os projetos desenvolvidos neste sentido vêm sendo estendidos
gradualmente à comunidade ao redor, através de diferentes atividades, como
oficinas e palestras sócio-educativas, e parcerias institucionais, com resultados
promissores. A Cummins é uma empresa multinacional, de porte médio, tendo
como principais indicadores gerenciais, os seguintes, apresentados no quadro a
seguir:
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O RETRATO DA EVOLUÇÃO
Investimento total no país US$ 400 milhões
Exportações no período 1974/2003 US$ 2 bilhões
Motores produzidos 430.000 unidades
Produtos lançados: Série C 1986, Série 6B
1989, Série 4B 1994, ISB
Eletrônico 2000, ISM 2001, Interact 2003
Certificações e prêmios obtidos: ISO 9001, em 1992; QS 09000, em 1997;
ISO 14001, em 2003; Q1 da Ford, em 2002; ABS par
a motores marítimos, em
1987; VIDA 6.3 ‘A’ da VW, desde 2001; ISO TS 16949, EM 2003, E Prêmio NTC
melhor motor diesel pela sexta vez consecutiva em 2004
Faturamento bruto (2003) U$340 milhões e U$ 450 milhões em 2004
Fonte: Suplemento da Revista FROTA & Cia, 2004, p.12
A Cummins Guarulhos (SP), é organizada em quatro diretorias, quais
sejam: Diretoria de RH (Recursos Humanos) e TI (Tecnologia da Informação),
representada pelo Sr. Roberto Torres; Diretoria de Vendas e Engenharia,
representada pelo Sr. Luis A. Pasquotto; Diretoria Administrativa e Financeira,
representada pelo Sr. Tadashi Yamashita; Diretoria de Operações, representada
pelo Sr. Fernando Nogueira; e Controladoria, representada pela Sra. Sônia
Fanhani.
91
A Cummins Brasil acredita no grande poder das empresas na construção
de um mundo melhor e, por isso, investe nas gestões social e ambiental como
metas diretamente relacionadas com o crescimento e o desenvolvimento da
empresa.
Tem como visão: “Melhorar a vida das pessoas, libertando a Força da
Cummins”, e como missão: “Libertar a Força da Cummins, motivando as pessoas
a agirem como proprietárias (ou melhor, a se identificarem com a empresa),
trabalhando em conjunto; excedendo as expectativas dos clientes, sendo sempre
os primeiros no mercado, com os melhores produtos; tornando-nos parceiros dos
nossos clientes para garantir que eles tenham sucesso; e exigindo que tudo o que
fazemos nos leve a um ambiente mais limpo, saudável e seguro”. (Relatório
Social 2004, p.7)
Este compromisso é colocado em prática anualmente pelas ações
originadas do fluxograma geral da empresa que tem entre seus objetivos, mantê-la
como um Great Place to Work (Ótimo lugar para se trabalhar), ou seja,
proporcionar prosperidade a todos que dela participam. Cabe destacar na
Cummins sua filosofia empresarial expressa no chamado Programa de
Diversidade, que tem por fundamento o respeito às pessoas e suas diferenças na
proposição de políticas e práticas sociais da empresa.
O Programa de Diversidade garante que todas as pessoas tenham
oportunidades iguais, independentes de idade, sexo, raça, nacionalidade ou
92
características físicas. Uma das provas da efetividade do programa é o número
crescente de mulheres em todas as áreas da empresa (inclusive produção) e a
presença de portadores de deficiência trabalhando na empresa como funcionários
ou contratados através da ADPD (Associação de Portadores de Deficiências). O
resultado concreto dessa filosofia empresarial, é a parceria saudável entre
funcionários, colaboradores, comunidade e corporação nos programas sociais
internos e externos.
Desde o ano de 2000 que a empresa Cummins é associada da empresa
Gestão e RH que certifica e premia as empresas que desenvolvem ações sociais.
Desde 2004, a Gestão e RH disponibiliza, por meio eletrônico, para seus
associados, a ficha de inscrição, bem como o regulamento para participar da
certificação e premiação RH Cidadão.
Com o objetivo de valorizar e incentivar as empresas que contribuem para o
desenvolvimento social através de políticas claras de responsabilidade social no
país, a revista Gestão e RH lançou o Prêmio Cidadão.
O Prêmio Cidadão visa escolher e destacar trabalhos desenvolvidos por
empresas que venham contribuindo para a sociedade brasileira com
desenvolvimento de programas especiais, em que a organização melhora a
satisfação do seu público interno e externo, ou ainda, contribui para uma vida
associativa mais participativa da empresa.
93
Essas iniciativas serão alvo dessa premiação, destacando os ganhos da
empresa com essa política, mas, sobretudo, a interação entre empresa, seu
público interno e externo e a sociedade em geral. Todas as empresas públicas e
privadas nacionais ou multinacionais estão aptas a participar.
Todas as áreas da responsabilidade social e gestão empresarial fazem
parte desse prêmio: políticas de gestão de pessoas voltadas para qualidade de
vida e bem-estar das pessoas, da saúde ocupacional e/ou comunitária, inclusão
social de jovens, da terceira idade e de portadores de deficiência especial no
mercado de trabalho, auxílio na prevenção de doenças graves, no tratamento do
alcoolismo e das drogas, políticas de educação dentro da empresa e/ou voltadas
para comunidade interna ou externa, preservação do meio ambiente e políticas de
auxílio aos familiares dos colaboradores e/ou outras comunidades na melhoria da
saúde, da educação e do desenvolvimento social.
Em 2004, foram apresentados 42 projetos para concorrerem ao Prêmio RH
Cidadão, sendo dez empresas vencedoras, entre as quais a Cummins, conforme
quadro a seguir:
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EMPRESAS
PROJETOS
ABB Guarulhos (SP)
Criança Futuro Esperança
BANCO VOTORANTIM São Paulo
Projeto Viver
CUMMINS BRASIL Guarulhos (SP)
Cidadania Responsável
EMBRATEL Rio de Janeiro
Portal Voluntários
INTERNATIONAL ENGINES
Canoas (RS)
Embalando para o Futuro
MARCOPOLO Caxias do Sul (RS)
Escola de Formação Profissional
MEDLEY INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
Campinas (SP)
Ação Voluntária
SERASA São Paulo
Empregabilidade de Pessoas com
Deficiência
SHELL Rio de Janeiro
Iniciativa Jovem
ZANINI MÓVEIS Dois Córregos (SP)
Programa Reciclo
Fonte: http://www.rhcidadao.com.br
Além do prêmio RH Cidadão, cuja cópia do certificado encontra-se anexo
na pág.131, a Cummins obteve outras certificações, a saber:
95
Em 2003, a empresa foi certificada pela ISO 14000 e, em 2004, foi
recertificada, graças ao seu foco em melhoria contínua e preocupação em cumprir
os objetivos e metas que determinam seu Sistema de Gestão Ambiental.
Durante o ano de 2004, os principais resultados obtidos a partir do Sistema
de Qualidade foram: Manutenção das Certificações ISO 9001:2000, ISO TS
16949:2002, ISO 14001:1996, VDA 6.3 (Fornecedor nível A VW) e do
reconhecimento Q1 Ford, melhorias nos processos internos através da
metodologia Seis Sigma.
Outro reconhecimento da Cummins, foi dentre 460 empresas, a Cummins
foi eleita entre as 150 melhores companhias para se trabalhar no Brasil. A
conclusão foi de um minucioso levantamento realizado pela Você S.A., um
importante e respeitado ranking, editado anualmente pela Revista Você S.A., que
seleciona empresas que proporcionam condições ideais de trabalho para seus
funcionários.
O Conselho de diversidade foi outro fator apontado como item de
reconhecimento da Cummins. Aceitar diferentes culturas contribuiu para que o
ambiente geral da empresa ganhasse em harmonia. A política competitiva, tanto
em termos salariais de benefícios, e o constante desenvolvimento de produtos
inovadores, foram mencionados durante a pesquisa como fatores de estímulo para
quem atua na empresa.
96
A participação da Cummins e de seus funcionários em ações de
voluntariado também foi destacada, juntamente com a baixa rotatividade na força
de trabalho, o aumento no quadro de funcionários e o bom momento vivido pela
empresa, cujas vendas têm crescido na base de 30% nos anos 2000.
2. Constituição da Responsabilidade Social na Cummins
Desde o início de suas atividades no Brasil, a Cummins passou a
desenvolver programas sociais tanto para seus funcionários, familiares e
parceiros, como para a comunidade em seu entorno, tornando o departamento de
Recursos Humanos, dirigido pelo Sr.Roberto Torres, responsável por essas
atividades.
Nesse departamento há, para os programas de face interna, o supervisor
presidente do Conselho de Diversidade, Sr. Gláucio Soares, e para os programas
de face externa, a supervisora de programas sociais, Sra. Soraia Franco. Na
efetivação de todos os programas da Cummins, há a participação dos funcionários
como voluntários, que recebem orientações para tanto.
Atenta às dificuldades da população interna e externa, além de proporcionar
oportunidades de emprego, a Cummins priorizou o desenvolvimento de trabalhos
voltados às áreas de saúde e educação.
97
O quadro a seguir, demonstra os investimentos da Cummins Brasil na área
de responsabilidade social.
Quadro Indicadores Sociais 2004
1. Base de cálculo
2004 (R$) 2003 (R$)
2. Indicadores Sociais Internos
28.242.950,56
23.519.387,68
3. Indicadores Sociais Externos
97.780,66
80.040,36
4. Indicadores Ambientais
341.991,25
872.106,36
Fonte: Relatório Social 2004 Cummins Guarulhos (SP), p.41.
Estes indicadores evidenciam que de 2003 a 2004, houve aumento da
disponibilidade de recursos tanto para os indicadores internos quanto externos,
com maior ênfase aos indicadores externos.
Quanto aos indicadores ambientais, houve um decréscimo da
disponibilidade de recursos financeiros nesse período, embora possam ainda, ser
considerados significativos. Tal decréscimo ocorreu em virtude de um projeto de
correta utilização da água utilizada por todos na empresa, resultando em
economia expressiva tanto do uso deste recurso natural, quanto dos gastos
despendidos pela empresa.
98
Face Interna
São as seguintes áreas de trabalho social da Cummins com os
funcionários, familiares e parceiros, capacitação profissional, qualidade de vida e
segurança.
No que diz respeito à Capacitação Profissional, destacam-se como
programas ou atividades:
Programação de Iniciação e Desenvolvimento Profissional O
Programa de Estagiários, Trainees e Aprendizes Industriais, segue sendo
aprimorado. Os estudantes encontram na empresa muitas ferramentas
importantes para a sua formação pessoal e profissional. Em 2004, cinco
estagiários foram efetivados, antes mesmo de concluírem a graduação. Em
função do aumento do quadro de funcionários, as vagas de aprendizes do
Senai também cresceram de 18 menores, em 2004, para 33, em 2005.
Treinamentos diversos Em 2004, os investimentos em treinamento
somaram R$ 652.063,00, o que representa um aumento de 15% em
relação ao ano de 2003. Este crescimento ilustra uma preocupação cada
vez maior por parte da Cummins em desenvolver e especializar seus
profissionais. Em média, realizam-se anualmente 144,4 horas de
treinamento, distribuídas entre os seguintes módulos:
99
CPMS (Cummins Performance Management System) Trata-se de uma
ferramenta de Gestão de Recursos Humanos com a finalidade de avaliar e
acompanhar o desenvolvimento dos funcionários mensalistas bem como
subsidiar no planejamento de sucessão, onde são identificados os
potenciais a ocuparem as posições-chave da Estrutura Organizacional da
companhia.
Este módulo baseia-se em três pilares básicos: Planejamento de
Performance, Revisões Trimestrais e Avaliação Final, onde os funcionários são
avaliados e acompanhados de acordo com os planos de trabalhos pré-
estabelecidos e os Valores da Empresa. São eles: Integridade, Entregar
Resultados Superiores, Inovação, Responsabilidade Corporativa, Envolvimento
Global, Diversidade e Liderança. Dentro deste grupo de valores, destacamos
Responsabilidade Corporativa e Diversidade, onde são considerados os
trabalhos sociais patrocinados pela empresa com a participação dos funcionários
voluntários e a preocupação com as minorias e diferenças individuais. Um ponto a
ressaltar é que o processo de avaliação é conduzido pelo superior imediato, pares,
clientes internos e pelo próprio funcionário, que preenche sua auto-avaliação.
Pode ser considerada também neste processo a avaliação do superior imediato
pelos seus subordinados diretos, fechando o ciclo de 360 graus. Ressaltamos que
todo este processo é realizado eletronicamente, onde as informações ficam
armazenadas, permitindo o acesso aos outros subsistemas de Recursos
Humanos, tais como Remuneração, Sucessão e Oportunidades de Carreira
Internacional.
100
Treinamentos de Líderes Horistas Todos os líderes de time da fábrica
participam de um treinamento de três dias, em um hotel na cidade de
Guarulhos, quando recebem informações importantes sobre comunicação,
motivação e relacionamento com funcionários, tendo em vista melhorar o
ambiente de trabalho.
Curso de Eletrônica Digital Realizado em parceria com o Senai, nas
dependências da Cummins, tem 160 horas de duração, podendo ser
considerado um diferencial importante no currículo dos funcionários
participantes.
Outros cursos e treinamentos Seis Sigma, Programa de Idiomas, GD e
T (Geometric Dimension Tolerance), LDS (Leadership Development
System), Filmes motivacionais, CEP (Controle Estatístico de Processo),
CNC, Finanças para não-financeiros, Conscientização ambiental, Coleta
Seletiva, Sistemas da Qualidade, KANBAN, FMEA, MPSP, VPI (Value
Package Introduction), CPMS (Cummins Performance Management
System), COS (Cummins Operating System), Uso eficaz do telefone, Visão
e Missão Overview.
No que diz respeito à Qualidade de Vida, destacam-se como programas ou
atividades:
Assistência Médica Os funcionários da Cummins são beneficiados por
um Seguro Saúde com a Porto Seguro, que dá direito a consultas,
101
internações clínicas e cirúrgicas, além de inúmeros tipos de exames de
laboratório. Em 2004, foram feitas diversas inclusões de profissionais,
clínicas e hospitais de todas as especialidades, para prestar uma
assistência ainda melhor à saúde dos funcionários e familiares. O benefício
é mantido a partir de um investimento mensal de R$220.000,00 por parte
da Cummins.
Alimentação As refeições servidas aos funcionários da Cummins são
cuidadosamente acompanhadas por um dos parceiros da empresa, a
Sodexho, que elabora cardápios variados e de alta qualidade nutricional,
servido em dois restaurantes internos. Todos os anos são feitos novos
investimentos para a melhoria das instalações e da qualidade do serviço,
sempre pensando no bem-estar e na saúde de nossos funcionários. O
custo das refeições é repassado parcialmente aos funcionários, com
percentuais definidos a partir da faixa salarial. Para os estagiários, a
refeição é 100% subsidiada pela empresa.
A Cummins fornece mensalmente uma cesta básica a todos os seus
funcionários, que, além de receberem o benefício em suas residências, ainda
podem optar por um dos dois tipos de cestas disponíveis, adequando o benefício
às necessidades de sua família.
Em 2004, o conteúdo das cestas foi reavaliado e algumas mudanças foram
feitas para melhor satisfazer os funcionários e familiares. O valor da cesta é
102
calculado a partir do percentual de freqüência do funcionário. Se ele obtiver 100%
de presença no mês, a empresa para 70% do custo da cesta básica. Com um
percentual inferior a 100%, o valor subsidiado será de 30%.
PREVCUMMINS Criada em 1987, com o intuito de complementar a
previdência social, possibilitando que o funcionário mantenha seu padrão
de vida após a aposentadoria, foi distribuída parte do Fundo Previdencial,
representando um acréscimo de 8,13% do saldo total da conta dos
participantes. Foi também foi negociada uma redução das taxas de
administração junto aos bancos Itaú, Citibank e Unibanco, cujo resultado foi
uma diminuição de 112%. A PREVCUMMINS fechou o ano de 2004 com
um patrimônio de R$88.240.000,00, apresentando 12,95% de crescimento
em relação a 2003. Desde 1987, a entidade já concedeu 257 benefícios de
aposentadoria com pagamento único. Atualmente, conta com um
contingente de 1.112 participantes ativos, sendo 969 da Patrocinadora
Cummins, além de 51 participantes assistidos com benefício de renda
continuada.
CRECHE CLEMENTINE TANGEMAN Com aproximadamente 26
crianças, a Creche Clementine Tangeman é um exemplo da preocupação
da Cummins com a inclusão da mulher no mercado de trabalho e com a
vida familiar de seus funcionários. Ali, as crianças estão próximas à mãe,
ou até mesmo ao pai, passam o dia aos cuidados de profissionais
altamente qualificados, recebem alimentação balanceada, orientações
103
sobre coleta seletiva e preservação ambiental e aulas de alfabetização,
além de terem um amplo espaço para lazer e recreação. Em 2004, a creche
recebeu novos brinquedos e livros infantis e iniciaram-se também as aulas
de inglês para as crianças a partir de 3 anos.
ADCF (Associação Desportiva Cummins) Consciente de que a prática
de atividades esportivas é importantíssima para a saúde e o bem-estar de
todos, a Cummins mantém sua Associação Desportiva (DCF) que conta
com uma sede social e outra campestre, onde são realizados cursos de
condicionamentos físicos, eventos esportivos, sociais e de lazer.
Plano Odontológico A Cummins implantou, em novembro de 2004, o
novo Plano Odontológico. O Plano, disponibilizado para todos os
funcionários e seus familiares, oferece cobertura em emergências
diagnósticos, dentística, cirurgias, radiologia, endodontia, prevenção
odontopediatria, periodontia e até ortodontia.
Campanha de Vacinação O ambulatório médico da Cummins realiza
anualmente, a Campanha de Vacinação Contra a Gripe, bem como fornece
sachs de Vitamina C e informativos sobre gripe e outras doenças
respiratórias. Os familiares dos colaboradores tomam a vacina contra a
gripe na clínica Immuniza, por um preço reduzido e sem custo de aplicação.
Campanha do Controle do Colesterol Igualmente, realiza a Campanha
de Controle do Colesterol, Triglicérides e Glicemia, bem como são
divulgados cartazes e e-mails com informações úteis sobre dietas redutoras
de colesterol e triglicérides.
104
Vida Saudável São realizados cursos e palestras com especialistas em
saúde pública sobre temas que visam estimular bons hábitos para uma
melhor qualidade de vida, principalmente em relação aos hábitos
alimentares, práticas de atividades físicas, etc.
Programa Portadores de Necessidades Especiais Para integrar os
deficientes ao mercado de trabalho, a Cummins possui portadores de
deficiência, contratados tanto pela Associação pelos Direitos da Pessoa
Deficiente, como pela empresa. Todos recebem salário, cesta básica,
assistência médica, transporte e alimentação na empresa.
Programa Jovem Cidadão Para proporcionar uma oportunidade de
emprego aos jovens carentes do Jardim Cumbica, a Cummins implantou,
em 2004, o Programa Jovem Cidadão. Por meio dele, adolescentes de 16 a
18 anos têm possibilidades de entrar no mercado de trabalho e adquirir
qualificações profissionais, sem prejudicar os seus estudos. Estes jovens
passam meio período na empresa, auxiliando em tarefas administrativas
em geral. Em 2004, foram contratados oito jovens que além de aprenderem
a atender ligações em inglês e espanhol, os jovens são incentivados a criar
o hábito de leitura. Todos os meses os adolescentes lêem e resumem pelo
menos um livro.
Reconhecimento por Senioridade Trabalhar em uma empresa é dedicar
boa parte do seu dia e, conseqüentemente, da sua vida a ela. Por isso, a
Cummins comemora cada ano da empresa completado pelos seus
funcionários. Sendo assim, na data em que se completa 1, 5, 10, 15, 20, 25
105
e 30 anos de empresa o empregado recebe um PIN ou bracelete, com uma
pedra semipreciosa, com cores diferenciadas para identificar o tempo de
senioridade. Além disso, uma vez por ano, a Cummins oferece àqueles que
completam a partir de 10 anos de empresa (considerando os múltiplos de 5)
e seus acompanhantes, um Jantar Especial, com direito a apresentação
musical e entrega de prêmios.
No que diz respeito à Segurança, destacam-se como programas ou
atividades:
O sistema Cummins de Segurança (CSS Cummins Safety System) tem
como meta principal desenvolver práticas de segurança que promovam a melhoria
contínua, prevenção de acidentes e controle dos riscos no ambiente de trabalho.
Na Cummins, é fundamental entender que: Segurança é um meio de vida;
todos os acidentes são evitáveis; a chave do sucesso é a atitude pessoal; e todos
devem ser exemplo em segurança, o tempo todo;.
Nesse sentido, são realizadas muitas ações, focando principalmente os
itens: Gerenciamento de acidentes; Aplicação da Legislação; Análise de Risco
Operacional; Programa Comportamental em Segurança Industrial (Programa
STOP); Medição dos Times pelo Safety Score Card; Higiene industrial; LOTO
(Programa de Controle de Energias Perigosas); Prevenção de quedas;
Gerenciamento dos veículos industriais; Segurança com serviços elétricos;
106
Segurança com trabalho em espaços confinados; Plano de Prevenção e Controle
de Emergências; Proteção de máquinas / Proteção das mãos; Gerenciamento de
serviços terceirizados; Segurança na movimentação de materiais; Serviços a
quente.
As informações relacionadas à segurança e à saúde ocupacional passaram
a ser disponibilizadas na intranet para proporcionar acesso a todos os
funcionários.
Na área de Segurança Industrial, foram realizados vários treinamentos. Entre
eles:
Treinamento STOP (Programa de Segurança Comportamental);
Treinamento PCEP (Programa de Controle de Energias Perigosas);
Treinamento em Cuidados com as Mãos; Mais de 1000 horas de
treinamento para Brigada de Emergência; e Mais de 200 horas de
treinamento em Operação com Talhas, Pontes e Ganchos.
Os Trabalhos em Segurança foram reforçados com vários Fornecedores,
entre eles:
RUD Correntes Industriais Ltda Manutenção dos ganchos; Auxílio na
elaboração do “Plano de Gerenciamento de Ganchos”.
SIPAT (Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho) As
atividades de Prevenção de Acidentes do Trabalho, através de palestras,
gincanas, apresentações teatrais, concursos de desenho, exposições, etc.,
107
abordam a importância dos cuidados com as mãos no dia-a-dia e as
conseqüências do descuido.
Em relação ao relacionamento com clientes, fornecedores e prestadores de
serviços, a Cummins realiza sistematicamente conferências de fornecedores,
tendo em vista aprimorar os aspectos de suas operações a saber: qualidade de
entrega, administração, tecnologia, custos e atitude. Realiza ainda workshop com
fornecedores, para debater idéias sobre redução de custos da produção.
Cabe ainda mencionar os ciclos de seminários chamados tecnofrota com
especialistas para debater temas sobre tecnologia, manutenção preventiva e
soluções para a área de transportes de carga.
No que diz respeito à Integração de funcionários, destacam-se como
programas ou atividades:
Integração de Novos Funcionários O programa de integração de novos
funcionários, considerado muito importante pela Cummins, passou por uma
atualização em 2004. A grade de cursos e os horários foram reformulados
para melhor atender e preparar os recém-contratados, que, a partir da data
de admissão, já são considerados parte essencial dos negócios.
Reuniões de Times Semanalmente, são realizadas reuniões de times,
onde os líderes divulgam o andamento dos trabalhos da área e informam
seus funcionários a respeito dos negócios da companhia e demais
108
acontecimentos internos e externos. Além disso, também ocorrem as
Reuniões Bimestrais, através das quais todos os times são reunidos para
receberem um resumo dos acontecimentos e diretrizes para os meses
seguintes. Para a Cummins, é essencial que todos os funcionários saibam
de tudo o que ocorre na empresa e sintam-se sempre responsáveis pelo
sucesso da companhia onde atuam.
Em 2004, uma novidade nas reuniões bimestrais foi a tradução simultânea
na linguagem de sinais, feita por uma funcionária voluntária da fábrica, em
solidariedade aos amigos surdo-mudos.
PPRL (Programa de Participação nos Lucros e Resultados) O
Programa de Participação nos Lucros e Resultados da Cummins foi
implantado no ano de 1995, com o objetivo de reconhecer a dedicação dos
funcionários, motivando-os a continuar atuando como parceiros da
empresa. Este Programa consiste em uma compensação semestral
variável, que é determinada pelo cumprimento de seis metas pré-
estabelecidas: Qualidade, Produtividade, Entrega, Motor Completo,
Acidente e Absenteísmo (Freqüência).
Para acompanhamento e avaliação do programa, foi constituída uma
Comissão, que é composta por funcionários do escritório e da área fabril. O grupo
tem por finalidade acompanhar mensalmente as metas estabelecidas no
programa, além de colaborar com as áreas responsáveis pelas metas e ajudar na
109
divulgação e entendimento dos resultados junto aos demais funcionários. Para
que todos estejam atualizados quanto ao encaminhamento dos resultados do
programa, também estão disponíveis nas dependências da empresa dois quadros
específicos, atualizados periodicamente com os dados referentes à cada uma das
metas. No ano de 2004, a Cummins distribuiu um total de aproximadamente
R$1.300.000,00 entre seus funcionários, reconhecendo a importância de todos na
conquista das metas e no conseqüente crescimento da empresa.
Face Externa
Atenta às dificuldades da população do município de Guarulhos, além de
proporcionar oportunidades de emprego, a Cummins priorizou o desenvolvimento
de trabalhos voltados às áreas de saúde e educação, bem como a realização de
campanhas assistenciais.
A Escola Cummins Victor Civita, o Núcleo Educacional Bezerra de Menezes
e a Unidade Básica de Saúde Clessie Cummins são exemplos de projetos que a
Cummins desenvolveu nessas áreas em forma de parcerias com a prefeitura
municipal de Guarulhos e o governo do Estado de São Paulo. São suas atividades
principais:
110
ESCOLA CUMMINS VICTOR CIVITA No ano de 2004, toda a pintura e a
manutenção da escola foram refeitas, tendo em vista, melhorar o
desenvolvimento dos 420 alunos. Esses alunos participam de palestras
sobre Meio Ambiente e Coleta Seletiva, realizadas na própria escola e nas
dependências da empresa. A Cummins segue investindo em recursos para
proporcionar um ensino cada vez mais qualificado a estas crianças
carentes, porque acredita que a educação é a base para um mundo melhor.
NÚCLEO EDUCACIONAL BEZERRA DE MENEZES Além de toda a
assistência educacional e cultural que as crianças de 5 a 6 anos têm
acesso no Núcleo Educacional Bezerra de Menezes, em 2004, elas
passaram a ter também, atendimento psicológico semanal, por meio do
Programa de Voluntariado da empresa. A entidade, localizada no Jardim
Cumbica, é assistida pela Cummins desde 1980, e há 14 anos conta com o
apoio de uma psicóloga, contratada pela empresa para auxiliar no preparo
dos pais para o relacionamento com os filhos e professores. Em junho de
2004, porém, duas funcionárias do departamento de Recursos Humanos,
formadas em Psicologia, iniciaram o atendimento psicológico a crianças
com algum tipo de problema de desenvolvimento ou de relacionamento.
Outros voluntários também contribuíram com o Núcleo Educacional Bezerra
de Menezes, em 2004, pintando as paredes externas da escola com
desenhos infantis.
UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA CLESSIE CUMMINS Inaugurada em
1992, esta unidade é considerada um dos melhores postos de saúde da
111
cidade de Guarulhos. No ano de 2004, foram quase 150 mil atendimentos,
entre pediatria, ginecologia, odontologia, enfermagem e outras
especialidades, a Cummins contribui na manutenção predial e realiza
doações de cestas básicas aos funcionários da unidade e colabora com a
divulgação das campanhas de saúde.
Além do desenvolvimento e participação desses projetos sociais, a
Cummins, anualmente, realiza a Campanha de Natal, que distribui brinquedos às
crianças da Escola Victor Civita e do Núcleo Educacional Bezerra de Menezes,
bem como aos filhos dos funcionários. Além disso, anualmente, a Cummins realiza
a Campanha de Inverno doando cobertores a 5 entidades assistenciais de
Guarulhos, assim como, realiza a Campanha de Cestas básicas para entidades
sociais municipais.
Os dados e informações coletados, evidenciaram a diversidade
de programas, projetos e atividades da Cummins na perspectiva da
responsabilidade social empresarial, representando alguns passos
trilhados no caminho da sua construção como empresa cidadã.
112
3. Percepções dos sujeitos da pesquisa sobre Responsabilidade
Social na Cummins
Conforme já relatado, são seis os sujeitos da pesquisa, a saber: quatro
supervisores, funcionários da Cummins e duas diretoras, sendo uma da Escola
Victor Civita e outra do Núcleo Educacional Bezerra de Menezes.
Os entrevistados foram: (A.M.) Supervisor Diesel Recon; (J.M.) Supervisor
dos Sistemas de Qualidade; (L.L.) Supervisora de Marketing; (S.F.) Supervisora
de Projetos Sociais e Diversidades.
Todos os quatro supervisores têm idade entre 40 e 46 anos de idade e
tempo na empresa entre 10 de 20 anos. As demais entrevistadas foram: (G.P.)
Diretora da Escola Victor Civita e (O.M.) Diretora do Núcleo Educacional Bezerra
de Menezes. Ambas com idade entre 40 e 50 anos.
É importante esclarecer que não foi escolhido e, portanto, entrevistado,
nenhum responsável pelos programas sociais internos da Cummins, apenas os
sujeitos dos projetos sociais externos.
Os entrevistados, em geral, entendem que as empresas, na atualidade,
principalmente face à globalização, vêm buscando se formar cada vez mais
agentes sociais, integrantes da sociedade. Suas funções sociais caracterizam sua
responsabilidade social, que se expressa numa nova postura de desenvolvimento
de seus negócios e no relacionamento com o seu meio de atuação.
113
As falas dos sujeitos permitiram identificar três eixos inter-relacionados de
analise a saber: responsabilidade social e empresa cidadã; dinâmica dos projetos
sociais; limites e perspectivas da responsabilidade social na Cummins Brasil Ltda.
Responsabilidade Social e Empresa cidadã
Os depoentes consideram que a responsabilidade social e a empresa
cidadã, como primeiro eixo, embora questões de máxima importância, ainda são
relativamente recentes, passando por discussões conceituais crescentes, diversas
e, até polêmicas. Reconhecem, também, que as empresas para participarem do
processo de desenvolvimento social, devem ter um comportamento ético perante
a sociedade, o que significa transparência nos seus negócios e nos seus
relacionamentos internos e externos. Todas as ações da empresa devem conter
valores ligados à ética e à moral a fim de que possa ser legitimada pela
sociedade.
Desse modo, os entrevistados entendem que a prática da ética é um dever
de responsabilidade social da empresa, em consonância com Srour (2000, p.29-
30), quando destaca que o propósito da ética é “libertar os agentes sociais da
114
prisão do egoísmo que não se importa com os efeitos produzidos sobre os outros.
A ética visa a sabedoria ou ao conhecimento temperado pelo juízo”
8
.
Ilustram essas visões as seguintes falas:
A.M. ressalta: “A empresa não deve só realizar produção de
bens e serviços, de qualidade, mas, contribuir para
transformar a vida das pessoas, sejam trabalhadores ou
membros da sociedade. Ela não deve só oferecer empregos
com ambiente seguro e saudável, mas responsabilizar-se pelo
desenvolvimento integral das pessoas e participar das ações
da comunidade”.
O.M. afirma: Responsabilidade social é desenvolver ou
colaborar com o desenvolvimento de ações e/ou projetos
comunitários, bem como ter uma política interna que se baseia
no relacionamento com os funcionários, fornecedores, clientes
e parceiros, pautados na ética, respeito e cidadania”.
S.F. expõe: “Eu tenho vinte anos de Cummins e desde que
entrei nessa empresa, ouço falar em responsabilidade social e
vejo ações concretas realizadas aqui no Brasil e no mundo,
8
“A ética não é uma etiqueta que a gente põe e tira, é uma luz que a gente projeta para segui-la
com os nossos pés, do modo que pudermos, com acertos e erros, sempre e sem hipocrisia”.
(SOUZA, Herbert de. “Sou um cidadão”, O Estado de S.Paulo, 09/04/1994)
115
que vão de encontro, à responsabilidade social, o que me faz
crer que esta, realmente, está no DNA da empresa”.
J.M. expressa: “Aqui na Cummins a filosofia é cuidar do
entorno para que o entorno cuide da empresa. Eu percebi que
podem faltar dispositivos para a produção, mas não pode faltar
assistência para a comunidade. Eu senti que a Cummins tem
sempre a preocupação de criar vínculos com a comunidade
interna e também externa”.
Essas percepções evidenciam principalmente, em síntese, que a cultura
organizacional das empresas, ao incorporarem a responsabilidade social e a ética,
vão construindo e reconstruindo sua condição de empresa cidadã, contribuindo,
assim, para as mudanças necessárias ao desenvolvimento social. No caso da
Cummins, a responsabilidade social e a empresa cidadã estão se inserindo,
processualmente, em sua cultura organizacional participativa.
Dinâmica dos projetos sociais
Quanto ao segundo
eixo, dinâmica dos projetos sociais, os entrevistados
em sua maioria, considera ser a efetivação da responsabilidade social, em relação
à face interna e externa da empresa, um processo complexo, interdisciplinar e
desafiador, exigindo uma abertura permanente ao diálogo com todos os
116
colaboradores e com a comunidade, no sentido de serem atingidos conjuntamente
os objetivos institucionais e sociais.
A dinâmica dos projetos sociais da Cummins, vem revelando para os
entrevistados, que a motivação, o envolvimento, a participação e a satisfação dos
funcionários e seus familiares, e da comunidade, são princípios básicos no
cotidiano da vida empresarial, tendo em vista, cada vez mais, poder a Cummins se
constituir um agente social que contribua para as transformações sócio-
ambientais, principalmente, no nível local.
Os depoimentos abaixo, explicitam:
S.F. afirma: “Na Cummins, a satisfação dos funcionários é
saber que trabalham numa empresa dentro do sistema
capitalista, na qual o lucro não é destinado somente aos
acionistas e, sim, destinados também, aos investimentos de
projetos sociais, que geram o bem-estar da comunidade
interna e externa”.
Para O.M.: “A responsabilidade social para a Cummins vem
sendo reconhecida pelos certificados e premiações que
recebeu e para a comunidade onde se insere e atua, algumas
melhorias na área da informação, da saúde e da educação.
Dentro da Cummins, há um crescimento dos funcionários,
117
principalmente, sobre informação e formação, para a melhoria
da sua qualidade de vida e de consciência cidadã”.
J.M. declara: “A principal mudança que eu vejo sobre a
responsabilidade social na Cummins, são as mudanças na
forma de relacionamento, dentro e fora da empresa. Isso não
é mensurável, mas quem participa sabe que está mudando”.
Segundo G.P.: “Os vínculos internos e externos que a
Cummins vem construindo dentro da empresa e no seu
entorno, já vem sinalizando a sua inserção na comunidade e o
retorno desta pela diminuição da violência no bairro, por sua
participação nos programas de lazer, cultura, meio ambiente,
etc.”.
A.M. enfatiza: “A responsabilidade social da Cummins
aumenta em cada ano o número de atendimentos no posto de
saúde, e nas campanhas, cresce a adesão dos colaboradores.
Nos participantes desses projetos, é visível a ampliação da
consciência ética, de valorização da vida e da família, e da
comunidade”.
118
O sentido dessas falas, mostra que os investimentos sociais da Cummins
em responsabilidade social, com atendimentos nas áreas de informação,
educação, saúde e assistência social, são respostas positivas parciais, às
necessidades e demandas da comunidade. Essas atividades necessitam, ainda,
serem mais ágeis em sua concretização, em razão da burocracia tanto da
empresa quanto dos órgãos parceiros, bem como precisam ser melhores
divulgadas na empresa, para estimular maior participação dos funcionários
voluntários, nelas.
Os projetos sociais desenvolvidos: Posto de Saúde, Escola Victor Civita e
Núcleo Educacional Bezerra de Menezes, são parcerias da Cummins com órgãos
governamentais, municipal e estadual, estão proporcionando melhores condições
das instalações dos prédios, do funcionamento organizacional, da manutenção e
reposição de equipamentos, da capacitação sobre métodos de ensino, da
formação de lideranças, de formação para a cidadania, de realização de eventos
sócio-educativos e culturais, etc.
Este conjunto de projetos e ações sociais da Cummins, representa os
primeiros passos no compromisso de um processo de cumplicidade social.
Limites e perspectivas da Responsabilidade Social
Quanto ao terceiro eixo, limites e perspectivas da responsabilidade social
na Cummins Brasil Ltda., os entrevistados revelaram particular preocupação com
119
essas questões. Sobre os limites, consideram ser necessário precisar o campo de
atuação social da empresa para concentrar e maximizar esforços e recursos
disponíveis.
Por existirem muitas, constantes e pontuais solicitações de ações sociais
pela comunidade, é indispensável priorizar aquelas que se integram no campo de
atuação social assumido pela empresa. Caso contrário, correm-se riscos de se
fragmentar e de não atingir os objetivos de melhoria e desenvolvimento social.
Outro limite apontado refere-se à necessidade de ampliação orçamentária
para as atividades em curso, além de maior disponibilidade de tempo, de
funcionários e parceiros para a consecução dessas atividades.
Quanto às perspectivas, as visões dos entrevistados, a partir das
possibilidades existentes, refere-se aos projetos sociais futuros da
responsabilidade social na Cummins, além da área da saúde e educação, para a
área de profissionalização de adolescentes e jovens.
Os depoimentos abaixo, ressaltam:
Para O.M.: “Vejo que o futuro das atividades de
responsabilidade social da Cummins, procurando continuar e
aprofundar o envolvimento dos funcionários e parceiros,
prosseguindo, com essas ações que tem grande aceitação
120
interna e externa, buscando novas parcerias com entidades e
organizações não governamentais da comunidade” .
“A conclusão da Escola Profissionalizante em parceria com a
Sociedade Amigos do Bairro, é o projeto do futuro a curto
prazo que vai exigir ainda maior envolvimento de todos os
colaboradores. Poderemos assim, atingir a meta de preparar
adolescentes e jovens que posteriormente, possam de
candidatar a ser funcionários da Cummins, integrando o
programa ‘JOVEM CIDADÃO’, já mencionado”.
G.P. considera que: “Para o futuro, seria importante os
projetos sociais da Cummins terem por foco também o
combate à pobreza, principalmente em uma favela próxima da
Cummins, cooperando com a questão do saneamento para
evitar doenças transmitidas por roedores que invadem os
barracos”.
Para S.F. Ӄ importante conhecer melhor outras necessidades
sociais apresentadas pela comunidade, para definir o apoio da
Cummins”.
Para A.M.: “A Cummins, no futuro, poderá colaborar com
outras entidades assistenciais para, juntamente com a doação
de cestas básicas, cobertores, medicamentos, etc.,
121
proporcionar orientações sócio-educativas que visem a sua
inclusão social”.
Essas perspectivas revelam as intencionalidades, o empenho e as
esperanças para que a responsabilidade social da Cummins possa melhor se
consolidar, ampliar suas ações e se inserir cada vez mais no contexto da
comunidade, contribuindo para que esta seja sempre mais saudável, o que
repercutirá para que a empresa seja também mais saudável.
Desse modo, a Cummins ao procurar se construir como uma empresa
cidadã, estará se posicionando, efetivamente para participar de um processo de
desenvolvimento mais humano, justo e solidário.
Cabe à Cummins ainda, nessa perspectiva, estreitar as suas relações em
rede com outras empresas da comunidade ou mesmo fora desta, bem como com
organizações sem fins lucrativos, para troca de experiências e também, com as
universidades para pesquisas e cursos de aperfeiçoamento, principalmente, na
área de gestão social.
122
CONSIDERAÇÕES FINAIS: SIGNIFICADOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL
NA CUMMINS EM DIREÇÃO À EMPRESA CIDADÃ
Ao concluirmos esse estudo, seu percurso permite, preliminarmente, traçar
e esclarecer algumas considerações. É importante ressaltar as dificuldades
encontradas pelo pesquisador para a realização desta pesquisa por parte de
diversas empresas procuradas que não acataram nossa solicitação por motivos,
de excesso de solicitações semelhantes, por mudanças internas na direção, ou
ainda por não valorizarem estudos sem resultados diretos para a empresa.
Os encontros e a aceitação da Cummins ocorreram, assim, tardiamente em
relação ao tempo disponível pelo pesquisador para a conclusão desta dissertação.
Desse modo, o estudo da responsabilidade social na Cummins, pode ser
considerado de natureza exploratória, a ser aprofundada por outros estudos.
É mister assinalar o quanto a Cummins foi receptiva e aberta, dentro
dessas possibilidades exíguas de tempo ao permitir o acesso e o conhecimento de
sua experiência de responsabilidade social.
Os resultados desse estudo levaram a reafirmar a convicção de que uma
empresa pode, de fato, influenciar as estruturas sociais, econômicas, políticas e
culturais de uma sociedade.
123
Nesse sentido, é cada vez mais necessária uma redefinição do papel da empresa
na sociedade, principalmente, a partir do fenômeno da globalização, que altera
estruturalmente o perfil corporativo e estratégico das empresas.
A redefinição do papel da empresa na sociedade está intimamente ligada à
questão da responsabilidade social empresarial, o que significa construir novos
conceitos, valores e relações, visando sua contribuição ao desenvolvimento social
e a construção da empresa cidadã.
O tema da responsabilidade social no Brasil é ainda recente. Daí a
importância de estudos e pesquisas que contribuam para avanços de
conhecimento crítico nesta área.
A responsabilidade social na Cummins insere-se nesta perspectiva recente,
nos projetos sociais implantados a partir dos anos 2000. No entanto, a Cummins,
ao iniciar suas atividades produtivas em 1974, já em 1980 ensaiava as primeiras
iniciativas de atuação social na comunidade de Guarulhos, principalmente, na área
assistencial.
Pode-se considerar que hoje, a responsabilidade social na Cummins se
insere na sua visão e missão, integrando-se em sua cultura organizacional,
institucionalizada na área de Recursos Humanos, pela Supervisão de Projetos
Sociais e Diversidades.
Este processo de construção da responsabilidade social na Cummins, vem
se fazendo de forma contínua, não sendo um modismo, embora ainda limitado sob
124
alguns aspectos, como por exemplo, a dificuldade dos funcionários de utilizarem
as quatro horas disponibilizadas pela empresa para participarem voluntariamente
dos projetos sociais e, ao mesmo tempo, manterem seu desempenho profissional.
Outro limite constatado, pode ser identificado quanto ao pequeno número
de parcerias que a Cummins faz com ONG’s, órgãos governamentais e outras
empresas privadas para ampliação ou aperfeiçoamento de suas atividades sociais
e comunitárias. Trabalhar mais intensamente em rede, torna-se uma ação
estratégica significativa.
A Cummins valoriza fundamentalmente a ética e a cidadania, “dentro de
casa”, isto é, as atividades e exemplos nessas dimensões devem vir do seio da
empresa. Para a Cummins, a responsabilidade social começa pela qualidade de
vida de seus funcionários, o que significa seu desenvolvimento enquanto
cidadãos. Os resultados da responsabilidade social internamente na empresa,
mostram uma contribuição para a criação de um ambiente favorável à formação
de uma consciência de participação individual e coletiva.
Nas relações da Cummins com a comunidade externa, seus projetos
sociais vêm contribuindo para melhorias nas áreas da saúde, educação,
assistência social e meio ambiente, atingindo crianças, jovens, idosos, mulheres,
famílias, etc., em algumas de suas necessidades básicas.
125
Dessa forma, visam prevenir ou combater situações vividas de pobreza e
exclusão social. Além disso, os resultados dos projetos sociais, apontam para a
construção de um processo de educação e ação comunitária, desenvolvendo as
relações de integração entre a escola, empresa e meio ambiente.
Em síntese, são múltiplos os significados da responsabilidade social em
curso na Cummins. Pode-se reconhecer que a responsabilidade social vem se
constituindo em um processo estratégico de construção da Cummins como
empresa cidadã. Por ser a responsabilidade social uma questão interdisciplinar e
interprofissional, cabe sugerir, à guisa de finalização, a participação do Serviço
Social nesse caminhar da Cummins rumo à empresa cidadã.
A intervenção profissional do Serviço Social, é, fundamentalmente nesse
processo de transformação empresarial, por incluir o estudo da realidade social, o
planejamento, a disfunção da política social e a execução dos projetos e
atividades sociais, sempre em conjunto com as comunidades para que se torne
sujeito do desenvolvimento social.
126
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