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aquilo. Mesmo que não tenha identificação folclórica daquilo, mas tem que conhecer. Até que
ponto. . . Acho que tem que se familiarizar, principalmente esses gêneros que têm influência no
repertório que ele vai fazer.
6-Em que medida a prática do popular interfere em aspectos práticos, como fraseado, articulação,
pedal, agógica, sonoridade?
Eu não tenho experiência própria, porque eu não tenho suficientemente a prática do popular. Eu
tenho alguns alunos que estudam erudito comigo, que têm uma certa prática, não só do popular,
mas também de tocar em igreja. Eu diria que aspectos dos dois lados se interferem mutuamente.
A prática de erudito dá ao músico popular um refinamento maior, com detalhamento grande
quanto a sutilezas refinadas do toque pianístico que teriam relação com agógica, articulação,
refinamento da sonoridade.
Quem vem do popular pro clássico, acho que tem uma intimidade maior com o instrumento, uma
desenvoltura maior na prática de improvisação e tem um balanço rítmico natural, que muitas
vezes o músico erudito, ele olha menor, ele olha nota por nota, ele não consegue sentir a rítmica
maior, ou macro-ritmo, de compasso a compasso. Quem vem do popular tem facilidade nesse
tipo de coisa, tem também uma facilidade de entendimento harmônico, porque lida muito com
cifra. E isso é primordial até pra entender a estrutura de uma obra, de uma sonata, do que seja.
Prática de conjunto também é de grande contribuição. No caso do piano, pelo contrário. O
pianista trabalha muito sozinho. São poucos pianistas, aliás, meus alunos posso dizer que são
poucos que se interessam por fazer música de câmara. Embora a gente todo semestre diga que é
importante, mas alguns realmente gostam muito da situação do solista no piano que cativa muita
gente, que alimenta o ego ou talvez até uma idéia meio romântica. Mas a prática do conjunto, de
tocar com outras pessoas, eu acho que dá inclusive uma precisão rítmica maior. Eu não digo nem
só em música brasileira. Em Bach, em Brahms, em Beethoven quando toca sozinho. Muitas vezes
o intérprete coloca um rubato fora do lugar. Mas nem sabe por que está pondo. Nem percebeu
que está pondo, mas tocando em conjunto se toma consciência maior da rítmica.
7-Como resolver os problemas da rítmica brasileira no que diz respeito à compreensão da
estrutura rítmica para além da barra de compasso e independência das mãos na polirritmia?
Bom, eu diria que antes da libertação da barra de compasso vem uma precisão rítmica absoluta,
porque senão acaba-se até distorcendo um pouco a idéia rítmica. Acho que só a partir de uma
divisão muito exata é que você pode partir pra uma certa libertação da barra de compasso. Eu
acho que aí a libertação da barra de compasso não vem só da métrica, mas eu diria de duas
coisas: desse entendimento métrico maior, do hiper metro e também do fraseado que vai dar idéia
maior e de continuidade da música. Isso não só em música brasileira, como em qualquer música,
qualquer estilo.
8- De que forma você realiza esse trabalho com seus alunos? (para quem for professor)
Eu procuro trabalhar com rítmica desde o início da formação pianística. Existem peças, por
exemplo, algumas peças do Widmer que são peças motoramente simples, desde técnica dos cinco
dedos, mas que já trabalham com assimetrias métricas, mudanças de compasso, polimetrias. Eu
trabalho isso sempre paralelamente a um Ana Madalena, um Álbum pra Juventude de Schumann.
Trabalho essas duas coisas: trabalho a métrica completamente simétrica, uma quadratura perfeita
e também a assimetria e a mudança de compasso, de métrica. Não precisa ter um aluno adiantado
pra começar a trabalhar com coisas com métrica mais elaborada. Eu trabalho isso desde o
começo. Eu acho que uma coisa complementa a outra. Por exemplo, o aluno aprender a tocar um