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O nome do projeto é "Baladaboa". O duplo sentido da palavra (pode ser
entendida como "balada boa" ou "bala da boa" – fazendo referência ao
apelido "bala", dado à droga ecstasy) revela o principal objetivo da
iniciativa: atrair a atenção do usuário da droga para que ele se informe
sobre uso e seus riscos, de forma realista.
O "Baladaboa" é resultado de uma pesquisa desenvolvida no Instituto de
Psicologia da USP (Universidade de São Paulo) que faz parte do
doutorado da psicóloga Stella Pereira de Almeida. "É uma intervenção
mais abrangente que pretende atingir, inclusive, pessoas que não querem
parar de usar a droga", aponta.
Para conhecer melhor o público a que se destina esse projeto e
estabelecer conteúdo e formato mais eficazes, Stella realizou um
levantamento de dados sobre o usuário de ecstasy por meio da internet.
Na página foi disponibilizado um questionário, também divulgado em
diversas mídias e por meio de folhetos. Um computador configurado
como servidor recebia diariamente os dados, sem armazenar informações
que permitissem a identificação do emissor, garantindo o anonimato. No
total, 1.140 pessoas responderam o questionário, entre agosto de 2004 e
fevereiro de 2005.
Perfil
Os dados revelaram que os usuários de ecstasy são predominantemente
jovens (até 25 anos); 54,3% têm nível superior incompleto; 52,6%
possuem emprego fixo; 65,4% provêm da classe A; e, de uma maneira
geral, estão satisfeitos com a sua vida. "É interessante constatar que,
apesar desses dados, os aspectos que indicaram menor satisfação foram o
financeiro, o profissional e o de formação educacional", comenta Stella.
O questionário indicou ainda que 43,6% dos entrevistados foram
considerados dependentes segundo o critério utilizado na pesquisa; para
64,5%, os efeitos positivos da droga interferem na freqüência do uso e
apenas 2,8% declararam que não usam nenhuma outra droga junto com o
ecstasy. Esses números revelam a importância de medidas que
intervenham preventivamente sobre o uso da droga, pois estão associados
a comportamentos de risco.
Redução de Danos
"O objetivo desse estudo não é um tipo de prevenção "tolerância zero". Isso é utópico", revela a psicóloga. "A idéia é sugeri
um projeto de Redução de Danos que diga a verdade sobre a droga e conscientize sobre os riscos", explica. Além da
divulgação de informações consistentes e comprovadas, são propostas modificações no ambiente onde o consumo da droga
costuma ser freqüente, bem como a implantação de uma política pública que não objetive unicamente a erradicação, mas que
comporte ações que garantam meios de uso mais seguros. "Casas noturnas e festas só teriam licença de funcionamento se
disponibilizassem água e área de descanso ventiladas. Essas são medidas importantes para diminuir os riscos de hipertermia
um aumento da temperatura corporal que pode levar à morte", exemplifica Stella.
Para atrair o público a que se destina, o material informativo teria o formato de folhetos com estética atrativa – conhecidos
como flyers – a serem distribuídos em locais onde o consumo geralmente acontece, como casas noturnas, festas e
universidades. "A idéia é que esses flyers possam ser colecionados, apresentando uma alternativa à tradicional e pouco eficaz
cartilha", explica a pesquisadora.
Apesar dos esforços para implementação de um projeto desse tipo e da sua importância, Stella vem enfrentando dificuldades.
"A Redução de Danos ainda é muito polêmica. Ainda é difícil conseguir o aval político necessário para avançar para a fase
dois do meu projeto, que é a intervenção. Não quero que achem que eu faço apologia ao uso da droga. Estou sendo apenas
realista".
"A droga do amor"
O ecstasy, popularmente conhecido como a
"droga do amor", é fortemente psicoativo.
Embora tenha sido sintetizado pela Merck em
1914 com a finalidade de supressor do apetite,
nunca foi usado com essa finalidade.
O uso recreativo surgiu em 1970 nos Estados
Unidos por produzir, entre outros fatores,
maior interesse sexual dos usuários, sensações
de grande capacidade física e mental, além de
extroversão e euforia.
Em 1988, três anos após a proibição da
comercialização da droga, um estudo feito nos
EUA mostrou que 39% dos universitários
tinham feito uso do ecstasy, apontando que seu
uso ilegal já estava disseminado.
As seqüelas
Em longo prazo, o uso do ecstasy pode causar
seqüelas graves, como a degeneração
irreversível dos neurônios. Há uma
propriedade neurotóxica do ecstasy que leva
seus usuários a perturbações mentais ou
comportamentais. Os problemas resultantes
mais comuns são: dificuldade de memória,
tanto verbal como visual; dificuldade de tomar
decisões; impulsividade e perda do
autocontrole; ataques de pânico; recorrências
de paranóia, alucinações, despersonalização; e
depressão profunda.
Fonte: Psicosite