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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS
ALEXANDRE CERQUEIRA DA SILVA
ANÁLISE DA VARIAÇÃO ANATÔMICA DA ARTÉRIA HEPÁTICA
NO TRANSPLANTE DE FÍGADO
NITERÓI
2006
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ii
ALEXANDRE CERQUEIRA DA SILVA
ANÁLISE DA VARIAÇÃO ANATÔMICA
DA ARTÉRIA HEPÁTICA
NO TRANSPLANTE DE FÍGADO.
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
graduação em Ciências Médicas da
Universidade Federal Fluminense como
requisito parcial para obtenção do Grau de
Mestre. Área de concentração: Ciências
Médicas – Cirurgia Geral.
Orientador: Prof. Dr. JOSÉ MANOEL GOMES DA SILVA MARTINHO
Co-orientador: Dr. MARCELO ENNE DE OLIVEIRA
Niterói
2006
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iii
Ficha Catalográfica
Silva, Alexandre Cerqueira
Análise da variação anatômica da artéria hepática no transplante de
fígado / Alexandre Cerqueira da Silva. Rio de Janeiro: UFF / Faculdade de
Medicina, 2006.
Xv, 70 p. il.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Fluminense, Faculdade
de Medicina, 2006.
1. Anatomia. 2. Artéria hepática. 3. Transplante hepático. 4. Cirurgia
geral –
Tese. I. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Medicina. II. Título
iv
ALEXANDRE CERQUEIRA DA SILVA
ANÁLISE DA VARIAÇÃO ANATÔMICA
DA ARTÉRIA HEPÁTICA
NO TRANSPLANTE DE FÍGADO
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
graduação em Ciências Médicas da
Universidade Federal Fluminense como
requisito parcial para obtenção do Grau de
Mestre. Área de concentração: Ciências
Médicas – Cirurgia Geral.
Aprovada em de 2006
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof. Dr. Gilberto Perez Cardoso
Presidente da Comissão Examinadora
Universidade Federal Fluminense
Prof. Dr Tarcísio Rivello
Universidade Federal Fluminense
Prof. Dr. José Marcus Raso Eulálio
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Niterói
2006
v
Àquele que nos ensina e nos orienta ao longo da nossa vida.
À minha esposa Angélica, companheira eterna e dedicada, sempre ao
meu lado.
Aos meus filhos Luís, Matheus e Alexandre que me estimulam a cada dia.
À minha mãe Silvia que me mostrou os caminhos e sempre me apoiou.
Ao meu pai Sérgio pelo seu exemplo de perseverança.
Ao meu querido e saudoso avô pelo seu histórico de vida e dedicação.
In memoriun ao Antônio, pela organização e inteligência.
Finalmente, à toda minha família que sempre me ajudou em momentos
difíceis.
vi
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Professor José Manoel da Silva Gomes Martinho,
que nesses anos de convívio me orientou não somente nesta dissertação
mas na vida em si, por meio da valorização de conceitos éticos e
humanitários.
Aos Doutores Marcelo Enne de Oliveira e Lúcio Filgueiras Pacheco
Moreira, amigos inseparáveis que muito me ensinaram e estimularam na
seara do transplante hepático. Exemplos de dedicação e competência em
tudo aquilo que se propõem a fazer.
À Doutora Elizabeth Balbi, pelo convívio diário, que de forma incisiva
participou da minha formação. Exemplo de sabedoria e perseverança.
Aos Doutores Jefferson André da Silva Alves e Rodrigo Costa Amil,
pela amizade sincera, entusiasmo e constante motivação.
Aos anestesistas Rodrigo Diaz, Lúcio Auller e Glauber Gouvêa, que
participaram da criação do Programa de transplante hepático do Hospital
Geral de Bonsucesso. Exemplos de profunda competência na área de
anestesiologia.
vii
Ao Professor Henri Bismuth, Professor Denis Castaing, Professor
René Adam, Professor Daniel Azoulay, Professor Laurent Hannoun.
Professor Jean C. Vaillant e Doutor Dominique Borie, que muito me
ensinaram na área de transplante hepático. Profissionais qualificados e
solidários na comunhão de conhecimentos.
Ao Professor José Marcus, pelo interesse e pelo exemplo na área de
graduação no curso de Medicina da UFRJ.
Aos Professores da Pós-graduação da Universidade Federal
Fluminense, pelos ensinamentos oferecidos.
Aos Professores do Departamento de Cirurgia Geral da Faculdade de
Medicina da Universidade do Rio de Janeiro por tudo que me transmitiram
para minha formação.
Aos colegas do Serviço de Cirurgia Hepatobiliar e transplante hepático
do Hospital Geral de Bonsucesso, pelo ambiente profissional e fraternal no
trabalho.
Ao Doutor Gilvando Dias de Souza Filho, pela motivação e entusiasmo
contagiante em querer aprender sempre.
Aos residentes da Cirurgia Geral do Hospital Geral de Bonsucesso,
pela constante motivação.
viii
“ .... transplantation became a very large miracle, perhaps the least anticipated and
potentially the most important one in the history of medicine.”
Thomas E. Starzl
ix
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..............................................................................01
1.1. Anatomia arterial do andar superior abdome.............................01
1.2. Transplante de Fígado...............................................................09
1.3 Aspectos técnicos do transplante hepático.................................18
2. OBJETIVOS..................................................................................25
3. PACIENTES E MÉTODOS............................................................26
3.1. Técnica cirúrgica na captação do enxerto..................................28
3.2. Técnica cirúrgica no preparo do fígado (back table)..................31
3.3.Estatística....................................................................................32
4. RESULTADOS..............................................................................35
5. DISCUSSÃO................................................................................50
6. CONCLUSÕES............................................................................73
7. REFERÊNCIAS.............................................................................74
8. ANEXOS........................................................................................84
x
Lista de Tabelas
Página
Tabela 1. Aorta abdominal e seus ramos.....................................05
Tabela 2. Classificação de variação arterial por Busuttil............. 26
Tabela 3. Distribuição por sexo dos doadores.............................34
Tabela 4. Distribuição da idade, peso, altura, peso do enxerto
e IMC nos doadores estudados....................................35
Tabela 5. Distribuição por grupo sangüíneo dos doadores..........42
Tabela 6. Distribuição por raça dos doadores..............................42
Tabela 7. Distribuição dos doadores - classificação de Busuttil..43
Tabela 8. Comparação das médias de peso, idade, altura,
IMC e peso do enxerto segundo presença
de trombose................................................................. 45
Tabela 9. P valor referentes a dados dos doadores
e TAH do receptor...................................................... 46
Tabela 10. Correlação da classificação de Busuttil
com presença de trombose arterial..............................47
Tabela 11. Sobrevida de pacientes e do enxerto no Centro
de Transplante Dumont-UCLA- Busuttil.......................58
Tabela 12. Séries com índices de variação arterial hepática.........59
Tabela 13. Séries com incidência de trombose arterial..................60
xi
Lista de Figuras
Página
Figura 1 Descrição do tronco celíaco e seus ramos 06
Figura 2 Classificação quanto variação arterial hepática 08
Figura 3 Lista de espera para transplante hepático-EUA 13
Figura 4 Número de transplantes realizados nos EUA 14
Figura 5 Número de transplantes realizados na Europa 15
Figura 6 Número de transplantes realizados no Brasil 16
Figura 7 Cirurgia de captação de órgãos 18
Figura 8 Back table – preparo do enxerto 19
Figura 9 By-pass veno-venoso 21
Figura 10 Anastomose latero-lateral da veia cava inferior 22
Figura 11 Técnica convencional – transplante hepático 23
Figura 12 Cirurgia de captação–reparo dos vasos abdominais 28
Figura 13 Variação arterial hepática Tipo 3 31
Figura 14 Anastomose arterial no back table 32
xii
Figura 15 Distribuição quanto ao sexo 34
Figura 16 Histograma. Idade dos doadores 36
Figura 17 Histograma. Peso dos doadores 37
Figura 18 Histograma. Altura dos doadores 38
Figura 19 Histograma. Distribuição quanto ao Peso do enxerto 39
Figura 20 Histograma. Distribuição do IMC dos doadores 40
Figura 21 Distribuição por causa mortis nos doadores 41
Figura 22 Reconstrução habitual 50
Figura 23 Reconstrução habitual 51
Figura 24 Reconstrução com a artéria esplênica 53
Figura 25 Reconstrução – Procedimento de Gordon 55
Figura 26 Reconstrução com interposição da AMS 56
Figura 27 Arteriografia com AHD da AMS 65
Figura 28 Variação tipo 2 no split 67
Figura 29 Variação tipo 3 no split 68
xiii
Lista de Abreviaturas
ABTO Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos
AE artéria esplênica
AGD artéria gastro-duodenal
AGE artéria gástrica esquerda
AHC artéria hepática comum
AHD artéria hepática direita
AHP artéria hepática própria
AMS artéria mesentérica superior
TAH Trombose arterial hepática
TC tronco celíaco
UCLA Universidade da Califórnia Los Angeles
UNOS United Network of Organ Sharing ( organização
reponsável pela captação e distribuição de órgãos para
transplantes nos Estados Unidos da América).
UW solução de preservação da Universidade de Winsconsin
VCI Veia cava inferior
xiv
Resumo
Desde 1963, o transplante hepático evoluiu de um procedimento
experimental até se estabelecer, no início da década de 80, como terapia médica
para hepatopatias quando for indicada a substituição do órgão.
O estudo da artéria hepática inicia-se ainda no século XVIII, mas foi nas
últimas três décadas que realmente se deu ênfase ao assunto, em virtude do
transplante hepático e de suas modalidades mais complexas, como no transplante
intervivos e na partição de um fígado para dois receptores.
De março de 2002 a março de 2005, foram avaliados 80 doadores
cadavéricos quanto à forma de apresentação da anatomia arterial hepática. A
anatomia habitual foi encontrada em 67,5% e nas demais foram observadas
variantes, já descritas na literatura. Dos 80 receptores, dois apresentaram
trombose arterial (2,5%). Não houve correlação entre a variação arterial e número
de anastomoses com índice de trombose arterial.
O estudo da vascularização arterial do fígado é útil na cirurgia hepato-bilio-
pancreática, fundamental para prevenir complicações no transplante com enxerto
proveniente de doadores em morte cerebral e crucial quando se realizam
procedimentos mais complexos, como transplante hepático intervivos e
transplante com fígado bipartido.
xv
Abstract
Since 1963, liver transplantation developed from an experimental procedure
until to be implemented in the early 80’s as medical therapy for liver diseases,
when the organ substitution is indicated.
The study of the hepatic artery started at XVIII century, but only at the last
three decades, this subject was really emphasized, because of the realization of
liver transplantation and other more complex modalities of this procedure as living
and split liver transplantation for two recipients.
From March 2002 to March 2005 eighty cadaveric donors were evaluated
according to the types of hepatic artery anatomy.
The habitual anatomy was found in 67,5% with 32,5% being abnormal
already described on literature. From 80 recipients, two have presented arterial
thrombosis ( 2,5%). There was no correlation between arterial variation and the
number of anastomosis with the index of arterial thrombosis.
The study of the arterial vascularization of the liver is useful in hepatic-biliary
pancreatic surgery; it is fundamental to prevent complications at liver
transplantation with graft originating from donors with cerebral death and crucial
when more complex procedures are done as living-donor liver transplantation and
split liver transplantation.
1
1. INTRODUÇÃO
1.1 Anatomia arterial do andar superior do abdome
Para que entendamos melhor a anatomia da artéria hepática, cabe
introduzir conhecimentos sobre a sua origem embriológica e tecer
comentários sobre sua relação com a aorta e com o tronco celíaco.
No período da embriogênese, no curso da 4° semana gestacional,
após a união das aortas dorsais primitivas, o fígado possui três artérias
nutridoras: a artéria hepática direita (AHD), ramo da artéria mesentérica
superior (AMS); artéria hepática comum (AHC), ramo do tronco celíaco (TC)
e a artéria hepática esquerda (AHE), ramo da artéria gástrica esquerda - esta
última ramo do tronco celíaco
1
.
Desta maneira, o fígado, no período fetal, é arterializado por dois
ramos oriundos do TC e outro da AMS. Com a evolução embrionária, ocorre
involução da AHD, ramo da AMS e involução da AHE, ramo da AGE,
permanecendo, na maioria das vezes, a AHC, ramo do TC, como anatomia
arterial mais habitualmente encontrada
2
.
2
Trata-se, em suma, de uma anomalia vascular, por falta de fusão das
artérias esplâncnicas na face anterior da aorta abdominal que se dirige,
isoladamente, para os respectivos lobos hepáticos. Esta seria, portanto, a
explicação embriológica das variações anatômicas encontradas.
O estudo da anatomia arterial abdominal se iniciou em 1756, ainda no
século XVIII, através dos estudos de Haller
3
. Ele foi o primeiro a descrever
com detalhes o tronco celíaco, artéria mesentérica superior, artéria hepática,
seus ramos e variações mais comuns.
Em 1822, Tiedemann publicou suas observações extraídas a partir de
500 dissecções em cadáveres, e notou que a artéria hepática poderia se
originar diretamente da aorta, da artéria mesentérica superior ou ainda da
artéria gástrica esquerda
3
.
Em 1928, Adachi dissecou 252 cadáveres, reportando 6 variações de
tronco celíaco e 28 subgrupos, isto relacionado às possíveis variações
encontradas
3
.
A aorta abdominal se divide em quatro segmentos: ventral, lateral,
dorsal e terminal (Tabela 1). Os ramos ventrais e laterais distribuem-se às
vísceras, enquanto os ramos dorsais irrigam a parede do corpo. Os ramos
terminais irrigam a pelve e os membros inferiores.
3
O primeiro ramo ventral, o TC, costuma ser um tronco com calibre de
7 a 20 mm, com cerca de 1,25 cm de comprimento, saindo da aorta logo
abaixo do hiato diafragmático. O TC divide-se em três ramos principais, em
89% das vezes: AGE, AHC e artéria esplênica (AE) (Figura 01)
4
.
A AGE, menor ramo do TC, corre para cima e para a esquerda, ao
longo da pequena curvatura gástrica, irrigando o cárdia e terço inferior do
esôfago.
A partir dos estudos em duzentos cadáveres, Michels encontrou uma
AHE oriunda da AGE em 23%
5
. Na metade dos casos, esta artéria variante
substituía integralmente uma AHE originária da AHC/TC. Na outra metade,
esta artéria anômala era somente uma acessória.
A AHC, ramo de tamanho intermediário entre a AGE e a AE, é o maior
ramo do TC no período fetal e neonatal. Com finalidade descritiva, a artéria
hepática é subdividida em artéria hepática comum (AHC), que se estende do
TC até a origem da artéria gastroduodenal (AGD), e a artéria hepática própria
(AHP), que se estende da origem da AGD até a bifurcação nos seus ramos
direito e esquerdo.
4
Em relação à artéria hepática, debruçando mais profundamente sobre
sua forma de apresentação, podemos encontrar anatomia dita habitual e as
variações. Na apresentação habitual, a AHC tem sua origem no TC, emite o
ramo chamado gastroduodenal e passa a ser chamada de artéria hepática
própria (AHP). Esta última se bifurca originando a AHD e a AHE.
Em relação às formas variantes, existem diversas apresentações
conforme a origem da AHC, da AHD e da AHE. Na literatura mundial,
existem trabalhos que classificam estas variações ora em 6 tipos principais,
ora em 10 tipos, ou ainda em 12 tipos diferentes, utilizando critérios diversos
5-
7
.
No trabalho clássico de Michels, o mesmo cita ter encontrado 55% dos
casos com anatomia habitual e os restantes 45% com uma ou mais artérias
hepáticas aberrantes
5
.
5
Tabela 1. Ramos da Aorta abdominal
4
.
Ventrais Laterais
Celíaco* Frênicas Inferiores
Mesentérico superior* Supra-renais médias
Mesentérico inferior Renais
Testiculares
Dorsais Terminais
Lombares Ilíacas comuns
Sacral Mediana
* relacionados com vascularização arterial hepática.
6
Figura 01. Tronco celíaco e seus ramos
AGE (artéria gástrica esquerda); AGD (artéria gastro-
duodenal); AGDir. (artéria gástrica direita); AHC (artéria hepática
comum); AGED (aréria gastro-epiplóica direita); AE (artéria
esplênica). AGEE ( artéria gastro-epiplóica esquerda).
7
Essas variações foram bem descritas por Busuttil em seis tipos
principais (Figura 02).
A classificação de Michels divide as variações em dez tipos
diferentes, de acordo com a origem da artéria hepática e se o ramo
complementar (variante) é acessório ou dominante, isto é, se este ramo
anômalo é o responsável ou não pela nutrição arterial de determinado lobo
hepático
8
.
Em seu trabalho com 200 fígados de cadáveres, Michels encontrou
anatomia habitual em 55% dos casos, enquanto no trabalho de Busuttil - com
1000 fígados de doadores cadavéricos - a anatomia habitual alcançou
75.7%
6
.
Busuttil, neste trabalho, propôs uma classificação onde estabelecia
uma divisão em 6 tipos, não diferenciando se o ramo complementar era
acessório ou dominante
6
.
8
Figura 02. Classificação de Busuttil.
AGE (artéria gástrica esquerda); AHC (artéria hepática comum); AHD ( artéria hepática direita);
AHE (artéria hepática esquerda); AE (artéria esplênica); AMS ( artéria mesentérica superior);
AHP ( artéria hepática própria ). AHC da aorta ( Tipo 6 ) não exemplificado.
9
1.2. Transplante Hepático
Em medicina, existem áreas de conhecimento que possuem uma
evolução ao longo do tempo muito bem descrita3. O transplante hepático é
um exemplo, onde podemos descrever os progressos desta terapêutica
desde os seus primórdios até os dias de hoje.
Em 1956, na Universidade da Califórnia, Los Angeles, foi realizado o
primeiro transplante hepático experimental com modelo canino
9
. Experimento
semelhante foi descrito por Thomas Starzl, que, com seu pioneirismo,
culminou na realização, em 1963, do primeiro transplante hepático em
humanos, paciente este com apenas três anos
10
. Nesse ano, foram
realizados três transplantes, porém sem êxito
11
. No ano de 1967, Starzl
realizou o quarto transplante de fígado, quando alcançou sobrevida um
pouco maior que um ano
12
.
Os resultados, até a década de 80, foram desapontadores nos
Estados Unidos, na Inglaterra e na Alemanha, com sobrevida em um ano
próxima a 30%
13-15
.
10
Embora a técnica cirúrgica tivesse sido desenvolvida e padronizada,
ainda faltava um imunossupressor adequado e a preservação do enxerto era
inapropriada, em virtude da eficácia parcial da solução utilizada. Somada a
isto, a monitorização per e pós-operatória eram inferiores às atuais, além da
seleção precária dos receptores quanto à severidade da hepatopatia e
quanto à indicação de transplante em pacientes com tumores primários e
secundários do fígado. Associado a estes fatores, ainda havia um grande
desinteresse - quase cético - na comunidade médica em relação ao
transplante hepático como terapia em si
16
.
No final da década de 70, foi descoberto um novo imunossupressor, a
ciclosporina A, que desencadeou uma nova era em relação aos resultados
nos transplantes de órgãos sólidos
17
.
No início da década de 80, com a introdução clínica deste
imunossupressor, houve uma melhora
significativa dos resultados, tanto da
sobrevida do enxerto, como do receptor
18
.
Na história do transplante hepático, a evolução quanto às condições
de preservação do órgão também foram fatores decisivos para a melhora da
sobrevida do enxerto e do paciente.
11
Dessa forma, a utilização do líquido de preservação desenvolvido pela
Universidade de Wisconsin (UW) garantiu menor injúria de preservação com
tempo maior de isquemia fria do enxerto, período no qual o órgão é
dissecado na fase de preparo do enxerto e armazenado enquanto não
implantado
19,20
.
A solução de preservação tem por princípio conservar as funções
celulares do órgão perfundido, diminuindo a produção de radicais livres,
edema celular e acidose
20
. Jansen e Cols demonstraram, a partir de cultura
celular, que a solução UW continua sendo a primeira escolha, quando
comparada com outras soluções
19
.
Interessante ressaltar, na história evolutiva do transplante de fígado, a
relação das inovações técnicas com casos pediátricos. O primeiro
transplante de fígado foi realizado por Thomas Starzl em 1963 em uma
criança de três anos
11
.
As inovações subseqüentes, como transplante reduzido, fígado
bipartido e transplante intervivos, tiveram como objetivo inicial reduzir o
número de óbitos na lista de espera de receptores pediátricos.
Em 1972, Starzl descreveu o primeiro caso de transplante de fígado
reduzido in situ para uma criança, porém sem sucesso
21,22
.
O primeiro caso
transplante de fígado reduzido, com sucesso foi descrito em 1984 por
Bismuth e Houssin
23
.
12
Em 1988, Raia realizou no Brasil o primeiro transplante hepático
intervivos, porém o paciente foi a óbito no 6° dia de pós-operatório
24
.
Transplante intervivos é o termo utilizado quando um ser humano vivo
pretende, por livre e espontânea vontade, doar parte de seu fígado para um
receptor. Quando o receptor for uma criança, basta, na grande maioria das
vezes, somente o lobo esquerdo; quando o receptor for um adulto, é
necessário que o doador doe seu fígado direito.
O primeiro transplante hepático intervivos com sucesso foi descrito por
Strong
25
.
Ainda no final da década de 80, Pichlmayr descreveu o primeiro
caso de transplante com fígado bipartido ex situ. Esta técnica divide o fígado
em duas partes funcionais, na fase de preparo do enxerto, transplantando-os
num adulto e a outra parte numa criança, ou mesmo em dois adultos de
baixo peso
26,27
.
A mesma técnica, realizada durante a cirurgia de captação no doador
cadavérico (in situ), foi introduzida por Rogiers, com menores taxas de
complicações, sobretudo biliares
28,29
.
Após Conferência de consenso em 1983, realizada nos EUA, o
transplante hepático foi considerado como uma modalidade terapêutica para
pacientes com doença hepática em estágio avançado, deixando de ser
considerado um tratamento experimental
30
.
13
Desde o início da década de 80, vários centros transplantadores foram
criados nos EUA, com aumento do número de procedimentos, mas nunca o
suficiente para suprir a demanda na lista de espera (figuras 3 e 4). Fato
semelhante ocorreu na Europa (figura 5). No Brasil, o número de
transplantes aumentou a partir da década de 90, sendo esse fenômeno mais
evidente nos últimos 5 anos (figura 6).
14
0
2.500
5.000
7.500
10.000
12.500
15.000
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Ano
Número de pacientes na lista de espera
Fígado
Figura 03. Número de pacientes na lista de espera nos
Estados Unidos da América (EUA) entre o
período de 1995 até 2004.
15
164
308
602
924
1199
1713
2201
2690
2953
3063
3440
3651
3933
4082
4185
4516
4750
4989
5188
5331
5671
6169
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
83 85 87 89 91 93 95 97 99 2001 2003
N ° Tx nos EUA Jan de 1983 - Dez de 2004
Figura 04. Número de transplantes (Tx) de fígado nos Estados
Unidos 1983 - 2004. Fonte : UNOS
16
Figura 05. Número de Transplantes de fígado na Europa em 23
países com 126 centros ativos. Total de 57.665
transplantes entre o período de maio de 1968 e dezembro
de 2003. Fonte: Registro Europeu de Transplante
17
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
131
126
935
757
792
615
663
516
563
474
482
437
361
334
Figura 06. Análise evolutiva dos transplantes de fígado no
Brasil entre 1995 e 2004. Fonte: ABTO
5
204
196
8
221
215
278
259
178
177
147
89
45
27
19
6
95 96 97 98 99 2000 2001 2002 2003 2004
Total de Tx Doador Caver Doador Vivo
18
1.3. Aspectos Técnicos do Transplante Hepático
Antes de descrever a técnica do transplante hepático, cabe, neste
momento, tecer alguns comentários sobre todas as fases do procedimento,
para uma perfeita compreensão.
O transplante pode ser dividido em três procedimentos principais:
cirurgia de captação no doador com morte encefálica; preparo do enxerto e a
cirurgia do implante do órgão no receptor.
Na cirurgia de captação do enxerto (figura 07), a técnica utilizada é a
mesma descrita por Starzl, na qual o fígado é perfundido com solução
refrigerada pela veia porta e pela artéria hepática, dando início à isquemia
fria do órgão
12,19
.
O fígado retirado do doador com morte encefálica é removido com a
menor dissecção possível, com intuito de não lesar estruturas
fundamentais
31
.
O enxerto é acondicionado em recipientes em solução UW a
4° C para o transporte ao hospital de destino.
O conhecimento sobre a anatomia arterial é essencial ao cirurgião
responsável pela captação dos órgãos abdominais, em particular quando
ocorre captação simultaneamente de pâncreas
32,33
.
19
Figura 07. Cirurgia de Captação de Órgãos
20
A mesma equipe responsável pela retirada do fígado, no doador
cadavérico, permanece atuante na fase de preparo do enxerto. Nesta fase, o
fígado, resfriado a 4°C, é novamente perfundido com mais um litro da
solução UW. A veia porta, ramos arteriais, via biliar e veia cava retro-hepática
são dissecadas, com exposição completa da anatomia vascular (figura 08).
Figura 08. Preparo do enxerto – Back table
21
Em relação aos tempos cirúrgicos na cirurgia do receptor, podemos
dizer que existem três tempos ou fases. A primeira fase se refere à
hepatectomia.
Após a retirada do fígado, inicia-se a segunda fase chamada de fase
anepática. Nesse tempo cirúrgico, era de costume instalar um by-pass veno-
venoso (figura 09), para garantir adequado retorno venoso ao átrio direito. O
fluxo da veia porta e da veia cava inferior (via cateter na veia femoral)
garantia o retorno venoso para a veia cava superior, via veia axilar, evitando,
dessa forma, uma instabilidade hemodinâmica. Nesta fase é realizada a
anastomose da veia cava inferior (VCI) do doador com a do receptor, de
forma látero-lateral (figura 10), tornando desnecessário o by-pass veno-
venoso e reduzindo assim o número de anastomoses para quatro. Logo em
seguida é realizado a anastomose da veia porta (VP).
A terceira e última fase, denominada de fase da revascularização,
consiste na confecção da anastomose arterial e da via biliar (figura 11).
22
Figura 09. By Pass veno-venoso
23
Figura 10. Anastomose da veia cava látero-lateral
(VCI- veia cava inferior)
24
Figura 11. Técnica convencional com 5 anastomoses.
VCI ( veia cava inferior); AHC ( artéria hepática comum); AGD ( artéria
gastro-duodenal); VP ( veia porta) e CC ( colédoco-colédoco)
25
2. OBJETIVOS
A dissertação tem como objetivos principais:
¾ Estudar a vascularização arterial do fígado dos doadores
cadavéricos e determinar a freqüência da variação arterial.
¾ Comparara a freqüência de variação arterial encontrada no
trabalho com a citada na literatura mundial.
¾ Analisar a correlação entre variação da anatomia arterial
hepática do doador e trombose arterial no período pós-
transplante.
¾ Descrever a importância do conhecimento da anatomia
arterial hepática e sua aplicabilidade em modalidades
avançadas de transplante hepático: intervivos e fígado
bipartido.
26
3. MATERIAIS E MÉTODOS
No período de março de 2002 a março de 2005 foram realizados 83
transplantes de fígados com doadores cadavéricos no Serviço de Cirurgia
Hepatobiliar e Transplante Hepático do Hospital Geral de Bonsucesso.
Desse total, 80 casos foram estudados. Os três casos restantes foram
excluídos pela dificuldade de recuperação de dados na CNCDO do Estado
do Rio de Janeiro.
Em relação ao modelo de estudo, trata-se de um trabalho
observacional-descritivo e retrospectivo.
A população estudada foi a dos doadores em morte encefálica.
Foram analisados, quanto ao sexo, idade, causas mortis, grupo sangüíneo,
peso e estatura do doador, raça, tempo de internação, uso - ou não - de
aminas vasoativas, sódio sérico, peso do enxerto e o tipo de anatomia
arterial hepática encontrada.
Todos os doadores foram considerados em morte encefálica de
acordo com a portaria do CFM n° 1480 de 08 de agosto de 1997 ( anexo,
página 88).
O protocolo de morte encefálica e subseqüente doação são de
responsabilidade da CNCDO do Rio de Janeiro, de acordo com a Lei 9434
de 1997 e Decreto-Lei 10211 de 2001.
27
O protocolo de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética e
Pesquisa, sediado no Hospital Geral de Bonsucesso - Ministério da Saúde,
Rio de Janeiro.
No trabalho foi utilizada a classificação de Busuttil (figura 02, tabela 2).
Tabela 2 Classificação de Busuttil
6
.
Tipo 1
Anatomia Habitual - AHC do TC
Tipo 2
AHC do TC + AHE da AGE
Tipo 3
AHC do TC + AHD da AMS
Tipo 4
AHD da AMS + AHE da AGE
Tipo 5
AHC da AMS
Tipo 6
AHC da Aorta
AGE (artéria gástrica esquerda); AHC (artéria hepática comum); AHD ( artéria hepática direita);
AHE (artéria hepática esquerda); TC ( tronco celíaco); AMS ( artéria mesentérica superior).
28
3.1. Técnica cirúrgica na captação do enxerto
A incisão utilizada para cirurgia foi a xifo-pubiana associada a uma
incisão transversa bilateral, configurando uma incisão em cruz. A técnica
empregada foi a técnica de perfusão rápida do enxerto, onde após
isolamento da aorta (figura 12), da veia cava inferior e de um ramo do
sistema venoso portal, realiza-se a perfusão dos órgãos, com mínima
dissecção das estruturas.
Na aorta, a solução utilizada foi a de Eurocollins (BraunColins-
G3,57s/Mg
R
, Bbraun-Brasil), com cerca de 4 a 6 litros, a 4° C, e no sistema
porta, um litro de solução de perfusão UW, também a 4° C (Vispan
R
, DuPont
Pharma-EUA).
Após a perfusão, já com gelo estéril na cavidade abdominal, inicia-se
a fase da hepatectomia com a menor dissecção possível das estruturas
adjacentes, evitando assim qualquer lesão de vasos anômalos.
Nesta fase, preservou-se a origem da AMS (quando não há captação
de pâncreas em conjunto), com objetivo de preservar a AHD, originária da
AMS. Além disso, dissecou-se com cuidado o pequeno omento na pequena
curvatura gástrica, com a finalidade de preservar uma AHE originária da AGE
(tipo 2).
29
Terminada a cirurgia, o fígado foi armazenado num saco próprio para
transporte com mais um litro de solução UW com gelo estéril.
A mesma técnica descrita foi aplicada em todos os procedimentos
realizados pela equipe cirúrgica responsável pela captação de órgãos.
30
Figura 12. Cirurgia de Captação de órgãos. Isolamento da aorta abdominal.
31
3.2. Técnica cirúrgica no preparo do fígado (back table)
A mesma equipe da captação realizou o preparo do enxerto. Colocou -
se o fígado imerso numa bacia metálica com solução UW, a 4°C, com
medição da temperatura com termômetro dentro do líquido de preservação.
A via biliar foi dissecada junto à cabeça pancreática, com cautela, pois
a AHD, ramo da AMS, quando presente, caminha posteriormente à via biliar
extra-hepática. A veia porta foi individualizada desde a sua origem, isto é,
desde a confluência da veia esplênica e veia mesentérica superior. A veia
cava inferior retro-hepática foi dissecada em toda sua extensão para facilitar
a confecção da anastomose da veia cava do doador na veia cava do
receptor.
Em relação à circulação arterial, o segmento da aorta abdominal foi
individualizado, com os seus ramos TC e AMS esqueletizados. O TC foi
cuidadosamente manipulado com seus ramos principais visualizados: artéria
hepática comum, artéria gástrica esquerda e artéria esplênica.
Se na dissecção é observada a artéria hepática direita anômala,
originária da artéria mesentérica superior (tipo 3), esta última não pode ser
desprezada como ocorre naturalmente quando a anatomia arterial
encontrada é a habitual (tipo 1), pois poderá ser utilizada para a
reconstrução arterial.
32
Na presença da variação tipo 3 e 4 (figura 13), faz-se necessária a
realização de duas anastomoses arteriais. As duas anastomoses podem ser
realizadas ambas na cirurgia do receptor ou, outra alternativa (que, na
verdade, é a primeira escolha do nosso serviço) é realizar uma das
anastomoses na fase do preparo do enxerto. Pode ser realizada a junção da
AHD variante com a artéria esplênica ou ainda junção da AMS com TC
(figura 14).
Após o fim da dissecção, o fígado foi novamente acondicionado em
recipiente adequado com a solução UW a 4° C à espera de ser implantado.
Assim, a anatomia arterial foi avaliada minuciosamente e classificada
de acordo com classificação de Busuttil, já descrita. O procedimento cirúrgico
de preparar o enxerto foi realizado sempre respeitando o mesmo protocolo
em todos os casos.
3.3.Estatística
Após a digitação dos dados, estes foram analisados pelo SPSS
(Statistical Package for the Social Sciences) versão 11. A comparação entre
as médias foi realizada pela ANOVA e a análise de proporções pelo teste de
ƒÓ2. Os Resultados foram considerados estatisticamente significativos
quando o p-valor apresentou probabilidade inferior a 5%(p< 0,05)
34
.
33
Figura 13. Variação arterial Tipo 3.
AGD (artéria gastro-duodenal); AHC (artéria hepática comum);
AHD ( artéria hepática direita); AE (artéria esplênica);
TC (tronco celíaco); AMS ( artéria mesentérica superior).
34
Figura 14. Reconstrução arterial no Back table. Variação Tipo 3.
AHC (artéria hepática comum); AHD ( artéria hepática direita); VP (veia porta);
TC (tronco celíaco); AE (artéria esplênica); AMS ( artéria mesentérica superior);
35
4. RESULTADOS
No período estudado - março de 2002 a março de 2005 - foram
estudados 80 pacientes submetidos a transplantes de fígado, com enxerto
proveniente de um doador em morte cerebral.
Nos 80 casos de transplante de cadáver realizados no nosso serviço,
a sobrevida no primeiro ano foi de 80,3%.
Dentre os 80 doadores, 47 eram do sexo masculino e 33 do sexo
feminino (figura 15, tabela 3). O tempo de internação dos doadores variou de
1 a 26 dias, com média de 4 dias. Dos 80 doadores, 85% (68) faziam uso de
aminas vasoativas.
A média de idade da população estudada foi de 36,6 ± 20,2 anos
sendo a mediana de 37 anos, idade mínima de 1 ano e idade máxima de 74
anos (figura 16).
A média do peso foi de 65,4 ± 19,9 anos, com mediana de 70,0 Kg,
peso mínimo de 7Kg e peso máximo de 83 Kg (figura 17).
A média de altura foi de 1,62 ± 0,23 m, mediana de 1,70 m, altura
mínima de 0,65m e altura máxima de 1,85m (figura 18).
O peso médio do enxerto foi de 1.257,8 ± 416,4 Kg, sendo a mediana
com 1.334 Kg, peso mínimo de 300g e peso máximo de 2.116 Kg (figura 19).
A média do Índice de Massa Corporal (IMC) foi de 23,9 ± 3,9, com
mediana de 24,3, IMC mínimo de 20,6 e IMC máximo de 33,06 (figura 20).
Estes dados estão apresentados na tabela 4.
36
Feminino Masculino
41%
59%
Figura 15. Distribuição por sexo.
Tabela 3. Distribuição dos pacientes segundo sexo
Sexo do Paciente
Frequência %
Válido
%
Acumulado
%
Masculino 47 58,8 59,5 59,5
Feminino 32 40,0 40,5 100,0 Válido
Total 79 98,8 100,0
Ausência
de dados
1 1,3
Total 80 100,0
37
Tabela 4Distribuição da idade, peso, altura, peso do enxerto e IMC
dos pacientes transplantados
Dados Estatísticos
Idade do
Paciente
Peso do
Paciente(Kg)
Altura do
Paciente(m)
Peso do
enxerto (g)
Índice de
Massa
Corporal
Válido
80 77 77 75 77
N
Ausente 0 3 3 5 3
Média
36,60 65,40 1,615584 1257,79 23,9902
Mediana
37,00 70,00 1,70 1334,00 24,30
38
Freqüência
Média = 36,6
D. P.* = 20.1
N** = 80
Figura 16. Histograma – Distribuição da Idade dos doadores
*D.P. – desvio padrão; N** – número de doadores
39
Freqüência
Média = 65,4
D.P.* = 19,8
N** = 77
Figura 17. Histograma – Distribuição do peso dos doadores
*D.P. – desvio padrão; N** – número de doadores
40
Média = 1.62 m
D.P.* = 0,23
N** = 77
Freqüência
Figura 18. Histograma. Distribuição em relação a altura dos pacientes
*D.P. – desvio padrão; N** – número de doadores
41
Freqüência
Média = 1247,8 g
D.P.* = 416,3
N* = 75
Figura 19. Histograma. Distribuição do peso do enxerto.
*D.P. – desvio padrão; N** – número de doadores.
42
Freqüência
Média = 24,0
D.P.* = 3,9
N** = 77
Figura 20. Histograma. Distribuição de acordo com o IMC dos doadores
*D.P. – desvio padrão; N** – número de doadores
43
Em relação à etiologia da morte encefálica dos doadores, 43 foram
relacionados a acidente vascular cerebral; 33 a trauma crânio-encefálico; 3
casos associados a hipóxia e um caso de morte cerebral devido a um tumor
benigno do sistema nervoso central (figura 21).
A distribuição dos doadores, segundo o grupo sangüíneo e raça, estão
representados nas tabelas 5 e 6, respectivamente.
43
33
3
1
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Frequência
AVE TCE Hipóxia Tumor benigno
Etiologias
Distribuição por causa mortis nos doadores
Figura 21. Distribuição por causa mortis nos doadores.
44
Tabela 5Distribuição dos doadores segundo grupo sangüíneo.
Grupo Sangüíneo
Freqüência %
Válido
%
A
cumulado
%
A 23 28,8 28,8 28,8
B 15 18,8 18,8 47,5
AB 3 3,8 3,8 51,3
0 39 48,8 48,8 100,0
Válido
Total 80 100,0 100,0
Tabela 6Distribuição dos doadores segundo raça.
Raça do Paciente
Frequência %
Válido
%
Acumulado
%
Branco 48 60,0 67,6 67,6
Não
Branco
23 28,8 32,4 100,0 Válido
Total 71 88,8 100,0
Dados
ausentes
9 11,3
Total 80 100,0
45
Em relação à classificação de Busuttil (figura 02): 66,3% dos doadores
apresentaram anatomia habitual (tipo 1); 10% com AHE da AGE (tipo 2);
11,3% com AHD da AMS (tipo 3); 10% com a associação do tipo 2 e 3 (tipo
4); o Tipo 5 foi encontrado em 1,3% dos casos avaliados e o tipo 6 (AHC
como ramo direto da aorta) não foi evidenciado no nosso trabalho (tabela
07).
Tabela 7Distribuição dos pacientes segundo classificação de Busuttil.
Classificação de Busuttil
Frequência % Válido % Acumulado %
Normal Tipo 1 53
66,3
67,1
67,1
AHE da AGE Tipo 2 8
10,0
10,1
77,2
AHD da AMS Tipo 3 9
11,3
11,4
88,6
Tipo 2 + 3 Tipo 4 8
10,0
10,1
98,7
AHC da AMS Tipo 5 1
1,3
1,3
100,0
Válido
Total 79 98,8 100,0
Dados
ausentes
1 1,3
Total 80 100,0
46
A incidência de trombose arterial hepática (TAH) nos receptores foi
2,5% (2/80) nos primeiros três meses após o transplante, não considerando
a diferença anatômica arterial encontrada no doador.
Na tabela 8 estão apresentadas as comparações entre as médias de
peso, idade, altura, IMC e peso do enxerto, correlacionando com a presença
de TAH.
Não houve correlação de TAH nos receptores quando analisados em
relação à idade, ao peso, à altura, ao IMC e ao peso do enxerto do doador
(Tabela 9).
Entre os doadores, 11,2% eram baixo-peso (IMC menor que 20);
37,5% eram sobre-peso (IMC maior que 25) e o restante, 51,3%
apresentaram IMC entre 20 e 25.
Correlacionando o tipo arterial com presença de TAH, a incidência no
tipo 1 foi de 1,9% (1/53); no tipo 3 foi 11,1% (1/9) e os tipos 2, 4 e 5 não
apresentaram esta complicação arterial estudada (tabela 10).
Utilizando-se a classificação de Busuttil em relação à trombose
arterial, não encontramos associação estatisticamente significativa entre
trombose e quaisquer dos tipos de variação(p > 0,05).
47
No tipo 3, onde é necessária a realização de duas anastomoses, o p-
valor foi de 0,201 com uma razão de chance (odds ratio) de 6,49 para a
presença de trombose arterial no receptor. No trabalho foi encontrada uma
associação estatisticamente significativa entre o grupo sangüíneo AB e as
complicações vasculares (p < 0,001). Provavelmente um viés, pois, dos 80
doadores, somente três eram do grupo AB e, nos dois casos de trombose
arterial no receptor, os doadores eram do grupo AB.
Tabela 8Comparação das médias de peso, idade, altura, IMC e peso
do enxerto segundo presença de TA.
Dados estatísticos
Presença de
trombose
N° Média Desvio padrão
Sim 2 28,50 33,234
Idade do Paciente
Não 78 36,81 20,047
Sim
2
51,50
47,376 Peso do Paciente
Não 75 65,77 19,218
Sim
2
1,3750
,60104 Altura do Paciente
Não 75 1,6220 ,22048
Sim
1
884,00
703,107 Peso do enxerto (g)
Não 74 1269,59 406,35
Sim
2
23,089
4,4476
Índice de Massa
Corporal
Não 75 24,0143 3,91249
48
Tabela 9. P valor referentes a dados dos doadores e trombose arterial
do receptor.
Teste Simples Independente
P - valor
,569
Idade do Paciente
,319
Peso do Paciente
,138
Altura do Paciente
,195
Peso do enxerto (g)
Índice de Massa Corporal ,743
49
Tabela 10 - Classificação de Busuttil x Presença de trombose arterial
Dados Estatísticos
Presença de
trombose
Não
Sim
Total p-valor
OR*
Freqüência 52 1 53
% com Classif. de
Busuttil
98,1%
1,9%
100,0% 0,09
1,0
Normal
Tipo 1
Freqüência 8 0 8
% com Classif. de
Busuttil
100,0% ,0%
100,0% 0,743
0,01
AHE da AGE
Tipo 2
Freqüência 8 1 9
% com Classif. de
Busuttil
88,9%
11,1%
100,0% 0,201
6,49
AHD da AMS
Tipo 3
Freqüência 8 0 8
% com Classif. de
Busuttil
100,0% ,0%
100,0% 0,743
0,01
Tipo 2 + 3
Tipo 4
Freqüência 1 0 1
% com Classif. de
Busuttil
100,0% ,0%
100,0% 0,907
0,01
Classif.
de
Busuttil
AHC da AMS
Tipo 5
Freqüência 77 2 79
% com Classif. de
Busuttil
97,5%
2,5%
100,0%
Total
* OR – Odds Ratio ( razão de chance)
50
5. DISCUSSÃO
Com os avanços na medicina, com maior suporte no per e pós-
operatórios, a cirurgia hepatobileo-pancreática tornou-se mais freqüente e
com bons resultados. O conhecimento anatômico da artéria hepática durante
a dissecção das estruturas é obrigatório para que se evitem lesões em vasos
nobres e para que se tenha êxito na cirurgia
35-38
.
No transplante hepático, o estudo detalhado da anatomia arterial
hepática torna-se mandatório, sobretudo no transplante ortotópico que
envolve a utilização de enxertos parciais como nas modalidades de fígado
reduzido, bipartido e intervivos.
Cabe nesta fase da discussão citar a importância do conhecimento
arterial hepático em todas as etapas do transplante hepático, isto é, a etapa
da captação de órgãos no doador, seguido do preparo do enxerto e, por
último, na cirurgia do receptor.
Na cirurgia de captação do enxerto hepático é fundamental ter total
domínio da anatomia vascular, sobretudo arterial
39
. Esse preceito ganha
maior significado quando há captação de pâncreas associado, visto que se
torna mandatório avaliar se existe ou não AHD originária da AMS (tipo 3 e
4)
40,41
.
51
Na década de 80, alguns centros não realizavam a captação conjunta
de fígado e pâncreas, se houvesse esta variação presente
42,43
.
Alguns anos mais tarde, começaram a surgir trabalhos que não
descartavam a possibilidade de retirar o fígado e pâncreas, mesmo estando
presente tal anomalia. Em 1992, Shaffer descreveu sucesso na captação de
fígado e pâncreas na presença desta variação. Na verdade, faz-se
necessária a identificação imediata da anomalia na cirurgia de captação, com
reconstrução arterial na fase de preparo
41,44
.
A presença da AHE da AGE acarreta cuidado maior durante o
procedimento de captação, sendo imperiosa a liberão do pequeno omento
próximo da curvatura gástrica, para garantir a preservação deste vaso
anômalo.
Quando presente as variações dos tipos 3 e 4, será necessária a
reconstrução arterial na fase de preparo do enxerto. Outra opção é realizar a
reconstrução arterial na cirurgia do receptor. Nesta última, portanto, serão
confeccionadas duas anastomoses arteriais na cirurgia do receptor.
A anastomose realizada no preparo do enxerto é preferível, pois a
respiração e os batimentos cardíacos estão ausentes, ao contrário quando
optada por reconstruir na cirurgia do receptor.
A figura 22 e 23 ilustram a realização da anastomose dita com habitual, isto
é, o TC do doador na AHC do receptor.
52
Figura 22. Reconstrução habitual.
VB – via biliar; VP – veia porta; AHC – artéria hepática comum; AGE – artéria gástrica
esquerda; TC – tronco celíaco; AE – artéria esplênica; AHP – artéria hepática própria;
VCI – veia cava inferior.
53
Figura 23. Reconstrução habitual.
AGD (artéria gastroduodenal); AE (artéria esplênica);
TC (tronco celíaco); AHC (artéria hepática comum); AGE
(artéria gástrica esquerda); AE ( artéria esplênica); AGD
(artéria Gastro-duodenal).
54
Na literatura existem várias formas de reconstrução arterial, geralmente
utilizadas quando presentes os tipos 3 e 4.
Tsaroucha descreveu sete formas
diferentes de reconstrução
45
.
A reconstrução pode ser feita com a AHD da AMS do doador na
artéria esplênica do doador na fase de preparo (figura 24) e, posteriormente,
anastomose do TC do doador na AHC do receptor.
55
Figura 24. Reconstrução da AHD na AE do doador.
VB (via biliar); VP (veia porta); AHC (artéria hepática comum);
AGE (artéria gástrica esquerda); TC (tronco celíaco); AE (artéria esplênica);
AHP (artéria hepática própria); VCI (veia cava inferior);
AHD (artéria hepática direita).
56
Outra opção é anastomosar o TC do doador na AMS do doador, com
posterior anastomose da AMS do doador na AHC do receptor, denominado
procedimento de Gordon
46
(figura 25). Uma terceira opção é anastomosar a
AHD do doador na AGD do doador e subseqüente anastomose do TC
doador na AHC do receptor. Uma quarta forma é realizar as duas
anastomoses na cirurgia do receptor: AHD da AMS do doador na AHD do
receptor seguida da junção arterial habitual (TC doador na AHC do receptor).
As outras formas de reconstrução são pouco ou quase nunca realizadas,
como a interposição da AMS (figura 26).
57
Figura 25. Procedimento de Gordon – Técnica em “8”.
VB (via biliar); VP (veia porta); AHC (artéria hepática comum); AGE (artéria
gástrica esquerda); TC (tronco celíaco); AE (artéria esplênica); AHP (artéria
hepática própria); VCI (veia cava inferior); AMS (artéria mesentérica superior).
58
Figura 26. Reconstrução com interposição da AMS.
VB (via biliar); AHC (artéria hepática comum); TC (tronco celíaco); AE (artéria
esplênica); AHP (artéria hepática própria); AHD (artéria hepática direita);
AMS (artéria mesentérica superior).
59
O transplante hepático com fígado originário de um doador em morte
encefálica evoluiu bastante nas últimas três décadas, mas a taxa de
mortalidade durante a internação se mantém em torno de 10%
47
.
Isto
significa que 90% dos pacientes obtêm alta após a realização do
procedimento. No centro de transplante de Dumont-UCLA, maior centro de
transplante de fígado em atividade, localizado nos EUA e coordenado por
Busuttil, uma análise de 3200 transplantes em 2662 pacientes em 18 anos foi
realizada
47
. Neste trabalho foram incluídos transplante de cadáver adulto e
pediátrico, como também transplante reduzido, intervivos e com fígado
bipartido.
A sobrevida do paciente no primeiro ano foi de 86% no grupo menor de
18 anos enquanto no grupo com mais de 55 anos foi de 77% (p < 0.001). A
taxa de retransplante ficou em torno de 10%. As sobrevidas do paciente e do
enxerto em 1, 5, 10 e 15 anos estão apresentadas na tabela 11.
Neste trabalho (dividido em duas eras: 1984-1991 e 1992-2001),
Busuttil chama a atenção, na sua análise, para o aumento da taxa de
trombose arterial. Na primeira era, foi de 1.25%, enquanto na segunda foi de
3.8%, com média de 3.1%. No estudo, ele atribuiu o aumento à realização de
procedimentos mais complexos como no transplante com fígado bipartido e
intervivos, com anastomoses entre vasos com calibres menores.
60
Tabela 11. Sobrevida do paciente e enxerto
47
.
Sobrevida 1 ano 5 anos 10 anos 15 anos
Paciente 81% 72% 68% 64%
Enxerto 73% 64% 59% 55%
Na nossa casuística, a taxa de complicação arterial foi de 2,5% (2/80).
A TAH ocorreu em um caso com anatomia habitual (1/54), com incidência de
1,85%; num segundo caso, com anatomia do tipo 3 (1/9), com incidência de
11,1%. Apesar da aparente discrepância, não foi estatisticamente
significativo, com p-valor de 0,201, provavelmente devido à casuística
reduzida e à taxa de trombose arterial abaixo da casuística internacional
47,48
.
A presença da AHD oriunda da AMS, a qual é encontrada nos tipos 3
e 4 da classificação de Busuttil, são descritas em vários periódicos, onde é
enfatizada a importância do conhecimento detalhado da anatomia da artéria
hepática na cirurgia de captação e o método escolhido de reconstrução
arterial, onde ambos são fatores decisivos nos índices de complicações
arteriais (tabela 12)
5,45, 49-51
.
61
Tabela 12. Séries com índices de variações da artéria hepática.
TIPOS I II III IV V
67,5% 10% 11,2% 10% 1,2%
75,7% 9,7% 10,6% 2,3% 1,5%
92,1% 0,27% 7,3% 0,27% 0%
63% 16% 16% 5,0% 0%
65,7% 11,5% 14,9% 7,4% 0,43%
69% 14,3% 8,3% 1,7% 2,3%
55% 18% 18% 4,0% 2,5%
59% 17% 18% 2,0% 3,0%
Séries
HGB
n=80
Busuttil
6
n=1000
Tsaroucha
45
n=369
Settmacher
53
n=148
Gruttadauria
50
n=701
Soin
51
n=527
Michels
5
n=200
Kemeny
52
n=100
Outros
0,%
0,2%
0,06%
0%
0,07%
4,4%
0,5%
1,0%
62
Na literatura, a incidência de TAH para transplantes de fígado inteiro
de cadáver gira em torno de 3%, enquanto no grupo pediátrico essa taxa
sobe para 10%, como no centro americano de Miami
48
. Na tabela 13 estão
apresentadas as incidências de TAH em centros transplantadores.
Tabela 13. Incidência de Trombose arterial hepática -TAH
HGB Busuttil
47
Neuhaus
53
Pittsburgh
48
Azoulay
54
n=80 n=3200 n=837 n=4000 n=1500
2,5% 3,1% 2,7% 3.8% 4,5%
TAH
A anomalia arterial hepática do tipo 3 ou 4 no doador quase sempre
torna necessária a reconstrução arterial, abrangendo duas anastomoses.
Sua presença pode estar ou não associada aos maiores índices de
complicações arteriais no transplante hepático.
Calne relatou estudo com 527 transplantes hepáticos, onde não se
observou diferença estatística da incidência de TAH nos casos com
suprimento arterial normal ou anômalo, com 3,6% (13/366) e 5,6% (9/161)
respectivamente
51
.
63
Por outro lado, quando comparado um grupo com somente uma
anastomose (15/455) e outro com duas anastomoses (7/72), houve aumento
da incidência de complicações arteriais (3,3% versus 10%, com p-valor <
0,02).
Quando comparada a reconstrução habitual (TC do doador na AHC do
receptor) com o implante da artéria do doador na aorta do receptor, existe
também aumento de TAH com p-valor < 0,04 (15/498 versus 2/11). Em
relação à reconstrução habitual e com uso de enxerto vascular, também
houve esse aumento de TAH, com p - valor < 0,0003% (15/498 versus
5/18)
51
.
Para o grupo chefiado por Neuhaus, fatores para o aumento da TAH
são: peso do receptor abaixo de 10 kg; tempo de isquemia fria prolongado;
fluxo insuficiente causado por estenose do tronco celíaco; diâmetro da artéria
menor que 3 mm e presença de anomalia arterial
53
.
A TAH é um evento catastrófico, podendo se apresentar de forma
precoce (considerada até 30 dias pós-transplante) ou mais tardiamente,
quase sempre com manifestações oriundas do processo isquêmico da via
biliar
55
. No grupo do Neuhaus, de 837 transplantes, 23 (2,74%) apresentaram
TAH, sendo 6 casos (23%) de forma precoce. Dos 23 casos, 13 (57%) foram
retransplantados, sendo que 5 destes faleceram
53
.
64
Quando precoce, o paciente evolui com disfunção grave do enxerto e
o único tratamento é a revascularização precoce ou retransplante em caráter
urgente.
No presente estudo, não houve correlação entre a presença de AHD
da AMS e trombose arterial no transplante hepático, como já demonstrado.
Este achado é corroborado pelo grupo de Moreno Gonzalez, onde a
incidência de trombose arterial foi semelhante a nossa encontrada, 2,4%
(17/687)
56
. Neste trabalho, no grupo pediátrico, a taxa de TAH foi de 5,2%
contra 2% nos adultos. Dos 17 casos de TAH, dois ocorreram após
reconstrução arterial na fase de preparo do enxerto (11,7%). A reconstrução
arterial não se mostrou como fator de risco independente para a presença de
TAH.
A mesma observação foi feita por Haberal, onde o número de
anastomoses arteriais não acrescentou risco adicional para TAH
57
.
Na casuística de Sansalone, ele descreve que, em 200 transplantes,
14 pacientes apresentaram anomalia arterial do tipo 3, sendo que 11
necessitaram de reconstrução na fase de preparo do enxerto: 9 casos com
anastomose da AHD com a artéria esplênica e 2 casos entre AHD e AGE
58
.
Sansalone sugere que este procedimento possa adicionar risco de
TAH, embora na casuística dele não tenha havido TAH nos casos onde foi
necessária a reconstrução arterial
58
.
65
Complicações vasculares nos receptores estão relacionadas a fatores
clínicos do receptor anteriores ao transplante, características clínicas e
anatômicas do doador, até fatores relacionados à cirurgia no receptor
(implante do órgão).
Mais especificamente, em relação à trombose arterial, Mazzaferro e
Starzl descreveram que a TAH depende, principalmente, não só de fatores
técnico-cirúrgicos, mas também de outros fatores. Após análise multivariada,
o uso de terapia anticoagulante foi a única que independentemente
influenciou a taxa de trombose arterial (p-valor < 0.01)
59
.
No mesmo trabalho, não houve correlação, estatisticamente
significativa, entre TAH e a presença de anomalia arterial hepática que
necessitasse de reconstrução na fase de preparo do enxerto (nos Tipos 3 e
4)
59
.
Na última década, surgiram novas técnicas de transplantes como
intervivos e com fígado bipartido, ambas, com o interesse de aumentar o
número de transplantes.
Podemos encontrar citações atuais que enfatizam a importância e
aplicabilidade do conhecimento da artéria hepática nos transplantes que
realizam a bipartição do enxerto, como o transplante intervivos
60-64
. e o
transplante com fígado bipartido
65-67
. O intuito é o de aumentar o número de
receptores transplantados, já que existe uma escassez de doadores
cadavéricos.
66
Nessas duas técnicas, os índices de complicações arteriais podem
aumentar de 2 a 3 vezes em comparação aos índices no transplante de
fígado com órgão inteiro no adulto a partir do enxerto de cadáver
58,68,69
.
Portanto, o conhecimento detalhado da anatomia da artéria hepática ganhou
força e importância especiais nestas modalidades de transplantes.
Na verdade, é um conceito antigo resgatado e novamente
supervalorizado devido à relevância do assunto em questão, pois uma
trombose da artéria possui alto índice de letalidade.
Amadeos Marcos, em editorial publicado em 2004, propôs uma
classificação em relação à variação específica da AHD com 3 tipos, tendo
como critério básico o número de anastomoses
62
.
O mesmo autor, numa casuística com 40 transplantes intervivos com
fígado direito para adulto, não apresentou complicação arterial. Neste
trabalho, havia 3 casos de variação do tipo 3 (7,5%) e outros 3 casos (7.5%)
com duas artérias direitas, sendo necessária a realização de duas
anastomoses
60
. Segundo ele, a presença de uma AHD da AMS facilitaria a
cirurgia do doador, assim como também a reconstrução no receptor, visto
que o comprimento (figura 27) e o calibre da artéria seriam maiores.
Nos transplantes intervivos com lobo esquerdo, encontramos na
literatura observação semelhante, pois a presença de AHE da AGE (tipo 2)
foi um fator facilitador com menores índices de trombose arterial
61
.
67
Makuuchi, em 101 transplantes de lobo esquerdo, relatou que, quando
presente a variação do tipo 2 (31 casos), o diâmetro e comprimento do
segmento arterial foram maiores em comparação quando presente anatomia
habitual, ou seja, a AHE sendo oriunda da AHC (p-valor < 0.03 para o calibre
e p-valor de 0.0001 para a extensão do segmento arterial)
61
. Isto porque o
cirurgião responsável pela cirurgia do doador disseca a AHE com sua
liberação até a origem da AGE, conseguindo assim um diâmetro maior do
segmento arterial para anastomose no receptor.
O mesmo raciocínio pode ser utilizado na técnica de transplante
hepático com fígado bipartido. Nesta técnica, faz-se necessário decidir pela
divisão das estruturas do pedículo hepático entre cada receptor. Esta
decisão não é ao acaso, e precisa ser tomada de acordo com a anatomia do
pedículo hepático, sobretudo a arterial
65
.
68
Figura 28. Arteriografia com artéria hepática direita (AHD) da artéria
mesentérica superior (AMS).
69
Na presença da variação do tipo 2 (AHE da AGE) no doador cadáver,
torna-se preferível dividir o segmento arterial, deixando o tronco celíaco com
o lobo esquerdo. Assim, a AHE da AGE e a AHE da AHC permanecem
irrigando o lobo esquerdo e somente uma anastomose será feita no receptor,
com calibre bem maior. Dessa forma, reduz-se a incidência de TAH no grupo
pediátrico, que naturalmente possui uma taxa de TAH mais elevada quando
comparada com a dos adultos (figura 28).
70
Figura 28. Variação tipo 2 – Split liver (fígado bipartido)
71
Quando presente a variação do tipo 3 (AHD da AMS), a divisão do
pedículo arterial para ambos os receptores é facilitada, pois cada receptor
receberá uma artéria mais calibrosa para anastomose: a criança receberá o
lobo esquerdo com o tronco celíaco, contendo a AHE e o adulto receberá o
fígado direito com a AMS contendo a artéria hepática direita, ambos com
diâmetros maiores, o que facilita a confecção das anastomoses (figura 29).
72
Figura 29. Variação tipo 3 – split liver ( fígado bipartido).
AMS–artéria mesentérica superior
73
6. CONCLUSÕES
¾ Variação da anatomia arterial hepática dos doadores cadavéricos foi
encontrada em 32,5% dos casos, sendo do tipo 2 em 10%; tipo 3 em
11,2%; tipo 4 em 10% e o tipo 5 em 1,2%.
¾ A variação da anatomia arterial hepática encontrada no trabalho
corresponde aos dados disponíveis na literatura mundial.
¾ Não houve correlação estatisticamente significativa no trabalho entre a
variação da artéria hepática com trombose arterial pós-transplante.
¾ Do ponto de vista anatômico, a presença de determinada variação se
torna um fator facilitador nas modalidades avançadas de transplante
hepático: intervivos e com fígado bipartido.
74
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PLANILHA
CASOS DATA Tx ID SEXO CAUSA GRUPO PESO Kg ESTATURA
1 4/4/2002 Tx 04 27,00 M AVC O- 60 170,00
2 1/6/2002 Tx 05 50,00 F AVC O+ 80 165,00
3 15/6/2002 Tx 06 69,00 F AVC A+ 70 165,00
4 4/7/2002 Tx 07 6,00 M TCE O+ 18 120,00
5 17/7/2002 Tx 08 19,00 M TCE B+ 70 170,00
6 20/7/2002 Tx 09 23,00 M TCE AB 70 170,00
7 18/8/2002 Tx 10 36,00 M AVC A+ 80 180,00
8 31/8/2002 Tx 11 58,00 F AVC O+ 55 155,00
9 7/11/2002 Tx 12 22,00 M TCE O+ 80 180,00
10 17/11/2002 Tx 13 55,00 M TCE B+ 65 175,00
11 4/12/2002 Tx 14 24,00 M TCE O+ 70 173,00
12 11/12/2002 Tx 15 15,00 M TCE B- 75 180,00
13 28/12/2002 Tx 16 46,00 M AVC A+ 50 170,00
14 2/1/2003 Tx 17 71,00 M AVC A+ 75 170,00
15 10/1/2003 Tx 18 74,00 F AVC O+ 65 165,00
16 21/1/2003 Tx 19 52,00 M AVC O+ 75 165,00
17 27/1/2003 Tx 20 53,00 F AVC A+ 67 165,00
18 25/2/2003 Tx 21 17,00 F Hipóxia A 60 165,00
19 6/3/2003 Tx 22 27,00 M TCE O+ 90 180,00
20 11/3/2003 Tx 23 66,00 F AVC O+ 80 165,00
21 9/5/2003 Tx 24 52,00 M AVC AB 85 180,00
22 19/5/2003 Tx 25 23,00 F TCE/PAF O+ 70 170,00
23 25/5/2003 Tx 26 23,00 M TCE/PAF O+ 80 175,00
24 1/6/2003 Tx 27 53,00 M AVC O+ 70 170,00
25 6/6/2003 Tx 28 27,00 F AVC B+ 90 175,00
26 9/6/2003 Tx 29 17,00 M TCE O+ 70 170,00
27 12/6/2003 Tx 30 23,00 F TCE O+ 55 160,00
28 1/7/2003 Tx 31 1,20 F TCE O+ 9 0,00
29 23/7/2003 Tx 32 44,00 F AVC O+ 85 170,00
30 26/7/2003 Tx 33 41,00 M AVC O+ 80 175,00
31 25/8/2003 Tx 34 6,00 M TCE A+ 18 100,00
32 7/9/2003 Tx 35 39,00 F AVC B+ 62 167,00
33 12/9/2003 Tx 36 31,00 F AVC B+ 65 165,00
34 29/10/2003 Tx 37 51,00 M AVC A+ 90 175,00
35 20/11/2003 Tx 38 51,00 M AVC O+ 75 170,00
36 29/11/2003 Tx 39 1,70 F AVC O+ 10 82,00
37 12/12/2003 Tx 40 29,00 M TCE O+ 75 170,00
38 19/12/2003 Tx 41 46,00 F AVC A+ 56 160,00
39 21/12/2003 Tx 42 30,00 M TCE A+ 80 178,00
40 31/12/2003 Tx 43 27,00 M Craniof. O+ 90 185,00
85
CASOS DATA Tx ID SEXO CAUSA GRUPO PESO Kg Estatura
41 14/1/04 Tx 44 29,00 F TCE A+ 58 163,00
42 17/1/04 Tx 45 45,00 M AVC O+ 80 180,00
43 20/1/04 Tx 46 26,00 M TCE B 70 175,00
44 24/1/04 Tx 47 38,00 M AVC O+ 80 180,00
45 24/2/04 Tx 48 46,00 F AVC A+ 70 165,00
46 10/3/04 Tx 49 44,00 M TCE A 0 0,00
47 13/3/04 Tx 50 38,00 M TCE A- 70 170,00
48 17/3/04 Tx 51 62,00 F AVC B- 60 160,00
49 29/3/04 Tx 52 74,00 F AVC O+ 65 156,00
50 7/4/04 Tx 53 66,00 M AVC O+ 60 170,00
51 18/4/04 Tx 54 58,00 F AVC B 80 170,00
52 24/4/04 Tx 55 58,00 F AVC A+ 65 160,00
53 9/5/04 Tx 56 49,00 M AVC O+ 70 160,00
54 14/5/04 Tx 57 18,00 M AVC B+ 65 175,00
55 27/5/04 Tx 58 54,00 F AVC A+ 90 165,00
56 9/6/04 Tx 59 11,00 M TCE O+ 35 120,00
57 17/6/04 Tx 60 67,00 F AVC O+ 55 160,00
58 20/6/04 Tx 61 16,00 M TCE O+ 75 170,00
59 30/6/04 Tx 62 48,00 M AVC O+ 80 180,00
60 25/7/04 Tx 63 42,00 F AVC O+ 75 165,00
61 5/8/04 Tx 64 73,00 M AVC A+ 80 165,00
62 12/8/04 Tx 65 58,00 F AVC O+ 60 160,00
63 3/9/04 Tx 66 36,00 M AVC O+ 80 175,00
64 17/9/04 Tx 67 52,00 F AVC A+ 65 165,00
65 12/10/04 Tx 68 58,00 M AVC B+ 70 168,00
66 15/10/04 Tx 69 0,50 M Hipóxia B 7 65,00
67 14/11/04 Tx 70 46,00 M TCE A 63 170,00
68 17/11/04 Tx 71 5,00 F Hipóxia AB 18 95,00
69 23/11/04 Tx 72 36,00 F TCE O+ 80 160,00
70 22/12/04 Tx 73 5,00 F TCE O 18 110,00
71 24/12/04 Tx 74 28,00 M TCE B 75 170,00
72 28/12/04 Tx 75 5,00 M TCE A 0 0,00
73 30/12/04 Tx 76 59,00 M AVC A 60 155,00
74 14/1/05 Tx 77 7,00 F TCE B 25 120,00
75 20/1/05 Tx 78 34,00 F AVC B 65 170,00
76 26/1/05 Tx 79 22,00 M TCE A 70 170,00
77 6/2/05 Tx 80 6,00 M TCE O 20 124,00
78 16/2/05 Tx 81 48,00 M TCE O 80 175,00
79 28/2/05 Tx 82 14,00 M TCE O 46 150,00
80 17/3/05 Tx 83 20,00 M TCE A 90 184,00
TOTAL 36,50 33F 43 AVC 39O 65 kg 166cm
47M 33 TCE 23A
3 Hipóxia 15B
1 tumor 3AB
86
Resolução CFM nº 1.480/97
O Conselho Federal de Medicina, no uso das atribuições conferidas pela Lei
nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto nº 44.045, de
19 de julho de 1958 e,
CONSIDERANDO que a Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que
dispõe sobre a retirada de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de
transplante e tratamento, determina em seu artigo 3º que compete ao Conselho
Federal de Medicina definir os critérios para diagnóstico de morte encefálica;
CONSIDERANDO que a parada total e irreversível das funções encefálicas
equivale à morte, conforme critérios já bem estabelecidos pela comunidade
científica mundial;
CONSIDERANDO o ônus psicológico e material causado pelo
prolongamento do uso de recursos extraordinários para o suporte de funções
vegetativas em pacientes com parada total e irreversível da atividade encefálica;
CONSIDERANDO a necessidade de judiciosa indicação para interrupção
do emprego desses recursos;
CONSIDERANDO a necessidade da adoção de critérios para constatar, de
modo indiscutível, a ocorrência de morte;
CONSIDERANDO que ainda não há consenso sobre a aplicabilidade
desses critérios em crianças menores de 7 dias e prematuros,
RESOLVE:
Art. 1º. A morte encefálica será caracterizada através da realização de
exames clínicos e complementares durante intervalos de tempo variáveis, próprios
para determinadas faixas etárias.
Art. 2º. Os dados clínicos e complementares observados quando da
caracterização da morte encefálica deverão ser registrados no "termo de
declaração de morte encefálica" anexo a esta Resolução.
87
Parágrafo único. As instituições hospitalares poderão fazer acréscimos ao
presente termo, que deverão ser aprovados pelos Conselhos Regionais de
Medicina da sua jurisdição, sendo vedada a supressão de qualquer de seus itens.
Art. 3º. A morte encefálica deverá ser conseqüência de processo
irreversível e de causa reconhecida.
Art. 4º. Os parâmetros clínicos a serem observados para constatação de
morte encefálica são: coma aperceptivo com ausência de atividade motora supra-
espinal e apnéia.
Art. 5º. Os intervalos mínimos entre as duas avaliações clínicas necessárias
para a caracterização da morte encefálica serão definidos por faixa etária,
conforme abaixo especificado:
a) de 7 dias a 2 meses incompletos - 48 horas
b) de 2 meses a 1 ano incompleto - 24 horas
c) de 1 ano a 2 anos incompletos - 12 horas
d) acima de 2 anos - 6 horas
Art. 6º. Os exames complementares a serem observados para constatação
da morte encefálica deverão demonstrar de forma inequívoca:
a. ausência de atividade elétrica cerebral ou,
b. ausência de atividade metabólica cerebral ou,
c. ausência de perfusão sangüínea cerebral.
Art. 7º. Os exames complementares serão utilizados por faixa etária,
conforme abaixo especificado:
a. acima de 2 anos – um dos exames citados no Art. 6º,
alíneas "a", "b" e "c";
b. de 1 a 2 anos incompletos: um dos exames citados no
Art. 6º, alíneas "a", "b" e "c". Quando optar-se por
eletroencefalograma, serão necessários 2 exames com intervalo de
12 horas entre um e outro;
88
c. de 2 meses a 1 ano incompleto: 2 eletroencefalogramas
com intervalo de 24 horas entre um e outro;
d. de 7 dias a 2 meses incompletos: 2
eletroencefalogramas com intervalo de 48 horas entre um e outro.
Art. 8º. O Termo de Declaração de Morte Encefálica, devidamente
preenchido e assinado, e os exames complementares utilizados para diagnóstico
da morte encefálica deverão ser arquivados no próprio prontuário do paciente.
Art. 9º. Constatada e documentada a morte encefálica, deverá o Diretor-
Clínico da instituição hospitalar, ou quem for delegado, comunicar tal fato aos
responsáveis legais do paciente, se houver, e à Central de Notificação, Captação
e Distribuição de Órgãos a que estiver vinculada a unidade hospitalar onde o
mesmo se encontrava internado.
Art. 10º. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação e
revoga a Resolução CFM nº 1.346/91.
Brasília, 08 de agosto de 1997.
ANTÔNIO HENRIQUE PEDROSA NETO
Secretário-Geral
89
Dr. Alexandre Cerqueira ,
Per your email below, I'm not sure if anyone got back to you yet, but we
did speak with Dr. Shapiro regarding this and he is fine with you using
this information/images indicated in the email below.
Thank you.
Nickie K. Cappella
Thomas E. Starzl Transplantation Institute
Phone: 412/647-5143, Pager: 412/958-6234
Fax: 412/647-6007
Original Message
From: Alexandre Cerqueira da Silva
Sent: Thursday, July 14, 2005 8:45 AM
To: UPMC Web
Cc: WebMaster
Subject: monography permission copyright
For HealthGate Data Corp.
Dear colleague,
I´m a doctor and I am writing my monography about liver anatomy in liver
transplantation.
The figures that are exposed at your site are good for this purpose.
The figures are:
7.11 ; 7.12 e 7.39
site:STIOrthotopiclivertransplantation/UPMC
3.12; 3.13; 3.14; 3.31 e 3.60
site: STI Multiple organ recovery/UPMC
My purpose is not publicity, publication or others that is described at
the server Copyright notice. The figures received through the service will
be used for my personal, non-commercial use only.
So, if I need a permission to use them, please send me an answer.
Thank your for attention.
Dr. Alexandre Cerqueira.
90
Tese elaborada de acordo com as normas para defesa de dissertação do
Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas-UFF, tendo como base a
publicação editada pela EDUFF/UFF (Abreu, Estela dos Santos; Teixeira, José
Carlos): APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS MONOGRÁFICOS DE
CONCLUSÃO DE CURSO, 7º Edição, 2004; de acordo com a Associação
Brasileira de Normas Técnicas ( NBR 6024,06027 e 6028) e aprovada pelo
Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Geral de Bonsucesso, Rio de Janeiro.
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