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A interface da nocia
nos meios impresso e digital
O tratamento da notícia nas primeiras páginas
dos jornais impressos e portais na Internet
WILSON ROBERTO BEKESAS
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Ponticia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título
de MESTRE em Comunicação e Semiótica, sob orientação do Professor
Doutor Nelson Brissac Peixoto.
São Paulo
2006
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À Banca Examinadora
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3
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Professor Doutor Nelson Brissac Peixoto,
por sua amizade, compreensão e ajuda tão fundamentais durante este processo.
À minha mãe, Adeilda Lopes Bekesas,
por tudo, a vida toda.
Ao meu pai, Albino Bekesas,
In Memoriam.
Aos amigos Eduardo Moliterno e Alexandre Prado,
porque amizade não é só uma troca de abraços.
Aos Professores do exame de quali cação,
Doutoras Giselle Beiguelman e Lucrécia D’Alessio Ferrara,
com a compreensão do quão difícil é ter a palavra certa na hora certa,
mesmo que doa aos ouvidos ainda incautos.
Aos Professores e amigos Ana Lúcia Gimenez Ribeiro Lupinacci,
Luiz Fernando Dabul Garcia e Tânia Márcia Cezar
Hoff, ESPM-SP.
Mônica Moura e Nelson Somma Jr, Universidade Anhembi-Morumbi-SP.
À Ana Cristina de Souza Luiz, Josilma Gonçalves Amato,
Maria Helena Barbosa Penteado, Sidney Martins Barboza,
Biblioteca Central – ESPM-SP.
Aos colegas e amigos da ESPM-SP e PUC-SP,
remar é sempre mais fácil quando todos estão no mesmo barco.
À Escola Superior de Propaganda e Marketing-SP,
cuja colaboração e estímulo tornaram possível a realização deste trabalho.
4
para Sara,
[sem você não haveria sentido]
5
ÍNDICE
Agradecimentos ........................................................................................................... 3
Resumo ........................................................................................................................ 6
Abstract ....................................................................................................................... 7
Sumário ....................................................................................................................... 8
Catulo 1 • Introdução ...........................................................................................11
Capítulo 2 • Contextualização .............................................................................. 20
2.1 • O jornal ......................................................................................................... 22
2.2 • A informação digitalizada ............................................................................. 30
2.3 • Aldeia global, Internet e www ...................................................................... 31
2.4 • Portais de informação ................................................................................... 35
2.5 • A semiótica na leitura das capas impressas e virtuais ................................... 38
Catulo 3 • Desenvolvimento ............................................................................. 42
3.1 • Mondrian e a visualidade das capas impressas e virtuais ............................. 42
3.2 • Matriz comparativa ....................................................................................... 50
3.3 • Mediação, interface e interfaces ................................................................... 58
3.4 • A relação homem-máquina ........................................................................... 63
3.5 • Notícia e portal de informações .................................................................... 70
3.6 • Google e integradores de informação ........................................................... 73
3.7 • O tempo subtraído ........................................................................................ 79
Catulo 4 • Conclusão ...........................................................................................84
Bibliogra a ................................................................................................................. 86
6
RESUMO
Pretendeu-se discutir as questões ligadas às características pertinentes aos meios
digital e impresso no seu relacionamento com o trato da notícia nas primeiras páginas de
jornais e portais na Internet.
A notícia é apresentada como objeto tendo como signo a interface dentro dos
meios propostos. Ambos apresentam aproximações, quer no trato das informações pre-
sentes em seus projetos, quer em sua construção. Uma matriz envolvendo os objetos de
pesquisa aqui selecionados é apresentada de maneira a compará-los.
Foram observadas as primeiras páginas dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha
de S. Paulo, e dos portais UOL e Terra.
Serão analisados aspectos ligados à história dos dois meios e suas característi-
cas; processos de mediação e a construção da interface; a relação diagramática entre os
meios; sua espacialidade e visibilidade.
Durante o desenvolvimento desta pesquisa, foram discutidas questões ligadas à
transão do papel do interpretante como leitor, usuário e depois navegante da infor-
mação, o que terminou levando nossa questão de pesquisa até bordas de um processo
em constante evolução: a própria ação humana na construção do conhecimento em suas
extensões tecnogicas. Esperamos ter colaborado para a discussão.
7
ABSTRACT
It was intended to discuss questions about the characteristics of digital and printed
media related to the way of publishing the news on the rst pages of newspapers and web
portals on the Internet.
The news is presented as an object and it has as a sign the interface inside the
media mentioned above. Both present approaches on the treatment of information about
their projects and on their construction. A matrix involving the objects of research selec-
ted here is presented so that it can compare both.
The rst pages of newspapers O Estado de S. Paulo and Folha de S. Paulo and the
web portals UOL and Terra have been taken into account.
Some history aspects of the two media and their characteristics will be analyzed.
Beside that, mediation processes and the construction of the interface, the diagrammatic
relation between the media; their spatiality and visibility.
During the development of this research, it has been discussed questions related to
the transition of the part of the interpreter as a reader, as a user and later as a knowledge
navigator, which has taken our research question to the edges of a process in constant
evolution: the own human being action in the construction of knowledge in technological
extensions. We hope we have collaborated for the discussion.
8
SUMÁRIO
Estrutura do projeto
Comparar e analisar as interfaces dos meios digital e impresso como signos
relacionados ao seu objeto, a notícia. O intepretante será encontrado na migração de
leitor/usrio de notícias para navegante da informação. As capas dos jornais O Es-
tado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, e dos portais na Internet, Terra e UOL, serão
aqui utilizadas como fonte de re exão para a realização da dissertação. Ao comparar
e analisar as semelhanças e diferenças presentes nas capas desses suportes, a pesquisa
pretende identi car qual deles bene cia o trato da notícia na busca da informação e do
seu entendimento.
Capítulos
1 – Introdução ............................................................................................................... 11
A introdução apresenta o projeto de pesquisa demarcando sua dimensão e os limites
propostos dentro da dissertação.
2 – Contextualização..................................................................................................... 20
Apresentação de um breve histórico dos meios em discussão abrindo parte das possi-
bilidades de análise comparativa. É aqui também que é apresentada a base teórica da
pesquisa, a semiótica de Peirce. As capas serão tratadas como imagens integradas e
assim submetidas à análise.
2.1 – O jornal .......................................................................................................... 22
Tem como tema a evolução do meio impresso e a caracterização do jornal como v-
culo da notícia transformada em informação. Apresenta o papel do leitor.
2.2 – A informação digitalizada .............................................................................. 30
As transformações sofridas com o advento da digitalização da informação, da notícia
e o seu acesso. Destaca o impacto da acessibilidade.
9
2.3 – Aldeia global, Internet e www ........................................................................ 31
O advento da “aldeia global” e o desenvolvimento da interface grá ca como mediador
entre a informação/notícia e o usuário. Apresenta o papel do usuário x leitor.
2.4 – Portais de informação .................................................................................... 35
Apresenta o portal de informação e sua importância como provedor do acesso do
us rio à Internet. Destaca características limitadoras de seu projeto grá co e sua
participação na difusão da notícia.
2.5 – A semiótica na leitura das capas impressas e virtuais .................................. 38
Apresenta a Semiótica como alicerce para a análise das capas de jornais e dos portais
apresentadas como imagens assemelhadas a pôsteres.
3 – Desenvolvimento ..................................................................................................... 42
Apresenta a conceituação de interface, mediação e re-mediação. Serão retomadas e
desenvolvidas as características dos objetos propostos.
3.1 – Mondrian e a visualização das capas impressas e virtuais ........................... 42
A obra do artista serve de referência para a aplicação de uma trama fazendo uso das
cores primárias na comparação entre as capas impressas e virtuais.
3.2 – Matriz comparativa ........................................................................................ 50
Apresenta a matriz para comparação e análise envolvendo as capas selecionadas dos
jornais e dos portais.
3.3 – Mediação, interface e interfaces .................................................................... 58
Apresenta o conceito de mediação e de interface como informação cultural mediado-
ra da relação da humanidade com o mundo à sua volta. Discute o uso de metáforas
visuais. Apresenta a interface digital e suas possibilidades técnicas e conceituais sem-
pre em expansão.
3.4 – A relação homem-máquina ............................................................................ 63
Discute aspectos que envolvem usabilidade, ergonomia, cores e conceitos de design
aplicados ao layout das página dos portais.
3.5 – Notícia e portal de informações ..................................................................... 70
Situa a discussão e o relacionamento da notícia dentro das capas dos portais relaciona-
10
das à constrão da interface grá ca, seu signo. Destaca as alternativas apresentadas
através do Google e dos agregadores de informação para o desenvolvimento do nave-
gante da informação.
3.6 – Google e integradores de informação ............................................................ 73
Apresenta a diversidade de soluções encontradas pelos serviços do Google e dos agre-
gadores de informação na perspectiva do navegante.
3.7 – O tempo subtraído .......................................................................................... 79
Apresenta características da contemporaneidade situando o papel do indivíduo dentro
da “modernidade líquida” e sua evolução de leitor, depois usrio, e suas possibilida-
des e limites de transformar-se em navegante da informação.
4 – Conclusão ............................................................................................................... 84
Os elementos da discussão dos capítulos anteriores serão retomados dentro do discur-
so que envolve a interface da notícia. Procura-se situar a discussão da notícia como
objeto da informação e os meios impresso e digital como suas interfaces como signo
entre os meios impresso e virtual. Qual meio “funciona” ou deixa de funcionar tendo
a notícia como interface entre ambos?
4 – Bibliogra a ............................................................................................................. 86
São apresentados os diversos livros e outras fontes utilizadas ao longo do processo de
amadurecimento e constrão da dissertação.
Introdução • 11
1 • INTRODUÇÃO
A interface da notícia nos meios impresso e digital
O tratamento da notícia nas primeiras páginas
dos jornais impressos e portais na Internet
“O caráter mágico das imagens é essencial para a compreensão de suas mensagens. Imagens são
códigos que traduzem eventos em situações, processos em cenas.
FLUSSER, Vilém. Filoso a da caixa preta. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002. p. 8.
Vilém Flusser, em seu Filosofia da Caixa Preta: A Imagem, afirma que as
imagens são mediações entre o homem e o mundo, cabendo às imagens representá-
lo. O homem “existe, mas o mundo não lhe é acessível imediatamente. Ocorre uma
inversão na relação entre homem e imagens ao seu redor; ao invés de servir-se delas
em função do mundo, passa-se a viver o mundo em função do que é ou não represen-
tado por elas.
A página impressa do jornal e a página virtualizada da Internet assumem carac-
terísticas imagéticas. Em suas linhas e cores, a proporção entre imagens fotográ cas das
quais fazem uso e a distribuição dos textos que as acompanham forma um quadro, uma
matriz para o entendimento e a busca pela informação ali apresentada. É ao ritmo e orga-
nização propostos da leitura e do encontro da legibilidade que o navegante da informação
— leitor, no jornal, ou usuário, na Internet — se presta. É no scanning
1
da página que
a descoberta da notícia se fará, não somente como informação diagramada em ritmos
propostos de leitura, de cima para baixo, da esquerda para a direita ou buscando as diago-
nais, mas também como a apreensão e atualização de algo em estado potente, dependente
desse interpretante para realizar-se.
1 Nas palavras de Vilém Flusser: “() dever permitir à sua vista vaguear pela superfície da imagem. Tal
vaguear pela superfície é chamado scanning.”
Introdução • 12
E o que nos revela o scanning?
Apresenta-nos o seu traçado, os caminhos para o entendimento da imagem/página,
aquele mesmo percebido pelo navegante; além disso, entrega-nos a estrutura da imagem
e procura o entendimento do mesmo navegante que dela se apropria.
Máquina e Imaginário, de Arlindo Machado, discute o efeito zapping e a trans-
formação do telespectador em editor, uma outra revelação. O primeiro é um ente estático
à frente da programação da TV, alguém à espera das soluções que o próprio meio lhe
apresenta. O segundo é um editor de sua programação, ertando de canal em canal cons-
truindo o seu repertório de investigações, criando a sua alternativa à oferta massi cadora
apresentada pelos meios.
Quando vislumbramos as páginas dos portais de informação, notamos a mesma
caracterísca de troca e oferta de alternativas. As imagens, os textos, tudo se multiplica
nas possibilidades de leitura como se o zapping zesse parte da própra tela, não mais da
TV, mas, agora, do computador.
A continuidade da leitura existe a partir da descontinuidade do hipertexto que
lhe é característico. Links indiciados por títulos dão o destino do navegante, não há
maior desdobramento, as legendas são curtas, e muitas vezes não estão localizadas nas
imagens que quali cam. As chamadas publicitárias são randômicas, mudam os patro-
cinadores, mudam seus apelos. Há uma mistura de possibilidades, o portal parece não
ter se decidido se presta mais informação ao navegante, se lhe vende algo ou procura
entretê-lo. O simultâneo dá o tom do caminho. Os portais entregam o imediato. Não
têm meria, não podem ser usados como referência senão no instante em que foram
atualizados. Resistem ao momento do pixel iluminado da tela do suporte, coordenado
pelo funcionamento não-humano desse ente que, se estende as dimensões do cérebro
humano, cobra-lhe sua própria compreensão para que possa ser usufruído. “Decifra-
me ou devoro-te, numa recuperação do enigma de uma es nge agora desdobrada nas
possibilidades in nitas do próprio cérebro humano projetado e codi cado em outras
possibilidades, as virtualizadas.
Introdução • 13
A interface se encerra em metáforas visuais
2
que possam transformar as suas
indelicadezas estéticas em informação acesvel ao navegante: “página, “voltar”, “ir”.
Meforas que apresentam o meio e procuram aproximar-se do repertório do navegan-
te, que, envolvido, poderia questionar-se: “Voltar’ e ‘ir’ para onde? Se estou postado
à frente desse aparelho imóvel, quieto e dependente do ‘onde’ por mim determinado?
Que página é essa que não permite que a manuseie? Que poderia ser transportada para
um ambiente a serviço do navegante, mais conforvel, menos sujeito à ergonomia do
usrio frente ao suporte?”
O portal trouxe do jornal o seu aprendizado de leitura, procura reproduzi-lo
em sua verticalidade e diagramação, agora, usabilidade e ergonomia. Apropria-se do
espaço posvel das telas do suporte digital. Exprime-se em 800x600px e quer ul-
trapassar seus limites na programação das linguagens do meio — HTML, DHTML,
PhP etc. A “página” do portal pode ser arrastada e rolada, propondo uma navegabili-
dade pela informação adequada ao navegante postado à sua frente. Seu entendimento
pode ser interrompido por uma mensagem patrocinada — um elemento externo à
própria página interrompendo o navegante e desviando-o do seu caminho de leitura.
Pode perder-se na falta de energia, nas falhas gerais de sistema, no “deu pau” ouvido
em várias situações de navegação.
Mas pode também abrir-se para o navegante apresentando-lhe várias de suas al-
ternativas de apreensão. Se a linguagem codi cada pode ser limitadora, pode igualmente
mostrar-se nas ofertas do código sempre multiplicado.
Se o espaço é o virtual, como pode ser atualizado? A essa pergunta e às possibi-
lidades desse código, as páginas do portal ainda estão fechadas.
Neste momento parece-nos importante deixar claro o que entendemos como vir-
tual. Buscamos nas palavras de Pierre Lévy uma de nição:
Já o virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao possível, estático e já
constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que
2 A idéia de metáfora visual será mais bem apresentada no Capítulo 3. No momento vale mencionar a
metáfora como uma gura de estilo, designada pelo uso de um objeto – palavra, expressão, imagem
— num sentido que não é o seu próprio, baseado numa relação de semelhança e estabelecendo um
novo signi cado. Por exemplo, alguns sites apresentam uma “sala” para conversas (chat).
Introdução • 14
acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que
chama um processo de resolução: a atualização.
LÉVY, Pierre. O que é virtual? São Paulo: Editora 34, 1999. p. 16.
“Mas o que é a virtualização? Não mais o virtual como maneira de ser, mas a virtualização como
dinâmica. A virtualização pode ser de nida como o movimento inverso da atualização. Consis-
te em uma passagem do atual ao virtual, em uma ‘elevação à potência’ da entidade considerada.
A virtualização não é uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto de
possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento do centro de gravidade ontogico
do objeto considerado: em vez de se de nir principalmente por sua atualidade (‘uma solução’), a
entidade passa a encontrar sua consistência essencial num corpo problemático.
LÉVY, Pierre. O que é virtual? São Paulo: Editora 34, 1999. p. 17.
Percebemos que o portal vê-se preso às suas origens ligadas ao jornal impresso,
quando poderia agregar recursos hipermidiáticos de som, imagem, textos e alternativas
de troca de conhecimento entre o navegante/usuário e a informação/notícia tornada dis-
ponível, gerando a partir desse relacionamento um processo de interatividade
3
. É nesse
caminho que encontramos os vários desconhecimentos daquilo que o meio pode ofere-
cer. Presa, repetimos, à sua origem impressa, a primeira página do portal, home page,
trouxe um menu que se assemelha a um índice de cadernos. O hipertexto, matéria prima
do espaço virtual, permite várias leituras descontínuas, oferecendo ao navegante um efei-
to zapping que poderia em muito agregar mais informação à notícia presente na página.
Maiores possibilidades da própria navegação pelos fatos dispostos numa vinculação que
pode ter sua nalidade de nida pelo navegante, e não pelo meio ou pelo próprio portal,
que, dessa maneira, assumiria o papel de um aneur da informação/notícia e deixaria de
lado a sua interpretação de “versãoonline da notícia.
3 Para Derrick de Kerckhove tal processo responde à necessidade humana de projetar suas extensões na
construção do conhecimento:
“Uma boa parte da arte de Nam June Paik no domínio da televisão desde os anos 60, e depois com
redes nos dois sentidos, constituiu um lugar contra a supremacia do aparelho de televisão e a nos per-
mitir responder. No entando, o casamento recente do computador com o vídeo vem de novo modi car
as bases do conhecimento humano. Toda a nossa cultura faz a aprendizagem da interação, isto é, ela
aprende a projetar extensões sensoriais no universo da tecnologia externa por diferentes interfaces
dentre as quais a primeira é o humilde controle remoto.
KERCKHOVE, Derrick de. “O senso comum antigo e novo”. In: PARENTE, André, org. Imagem-
máquina. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. p. 59.
Introdução • 15
Os portais investigados nesse momento, UOL e Terra, têm suas origens ligadas
a empresas comprometidas com o uso da informação. Destaca-se no portal UOL, per-
tencente a um importante grupo da imprensa escrita, a Folha de S. Paulo. O Terra faz
parte de uma empresa transnacional, a Telefonica, ligada à telefonia e comunicação
online, viabilizadora da conexão em rede e do seu acesso.
O meio impresso, por suas próprias características físicas, não pode utilizar o
zapping como possibilidade. Mas bebendo das fontes criadas pela Internet, tem ofer-
tado alternativas de leitura que permitem não o zapping, mas a relação do que se
apresenta na primeira página e seus desdobramentos guardados no interior do jornal,
redistribuindo o espaço da notícia a partir da capa e oferecendo sua continuidade para
além dela. A leitura é entregue numa proposta de circularidade. Sugere-se a busca da
diagonal, valorizada pela diagramação do espaço, e aponta para os seus desdobramen-
tos presentes todos no interior dos cadernos e indiciados pela capa. Muitos cadernos,
para o fechamento de várias leituras feitas a partir da indexação proposta pela capa
ou pela identi cação dos cadernos — turismo, informática, política etc. O navegante
pode construir a sua leitura e montá-la na junção dos cadernos variados, é um editor da
informação que lhe interessa. Em tudo semelhante ao que acontece nos sites de infor-
mação verticalizada da Internet.
As primeiras páginas se abrem para o possível dentro do espaço que ocupam
e sugerem leituras que podem criar a sua própria espacialidade. Na Internet há uma
horizontalidade apresentada em dois momentos de leitura, percebe-se ou navega-se ou
pratica-se o scanning do primeiro scroll e parte-se para o segundo. Não é incomum
abrir-se para as laterais do monitor, busca-se a ampliação do espaço de ocupação da
informação a partir dos limites físicos dos suportes — resolução, dimensões da tela,
LCD e CRT —, procurando ocupar a mente do navegador como se o espaço da infor-
mação pudesse invadi-lo e ultrapassá-lo a partir do suporte.
A página do jornal pode ser sustentada, dobrada, transportada para outros lugares.
Não depende de corrente elétrica, não tem limitações de instalação ou a necessidade de
programas e acesso a meios eletrônicos para atualizar-se. Pode ser tomada inteira pelas
mãos; mostrando-se em sua totalidade física e projetual, a verticalidade é apresentada
como caminho de leitura. Caso que dobrada, oferece uma opção de leitura em dois
Introdução • 16
momentos: a parte de cima e a parte de baixo. À verticalidade, acrescenta-se a diagona-
lidade, em que a proposta de tomada da informação e a busca pela notícia se dão num
movimento de zigue-zague. Uma hierarquia é criada e tem a foto principal e o título em
destaque como suas primeiras ordens, a sugestão de leitura é carregada de intencionali-
dades, aquelas presentes na prática diária do seu projeto e oferecendo o primeiro sentido
de leitura. O espaço que ocupa é o centro das decisões que determinaram sua apreensão
pelo leitor. Pode encerrar-se em si mesma quando tomada em sua exposição pública, de-
pendurada em bancas, aberta ao primeiro contato com o passante desavisado. A primeira
página pode prestar-se aos primeiros socorros àquele que ao menos quer saber do que
estão falando as notícias mostradas por ela. Pode abrir-se para seus diversos conteúdos
abrigados em cadernos espe cos, mas seus dizeres já foram indiciados, o leitor já fora
treinado pelo meio em seus muitos anos de experiência e história. E pode, nalmente,
prestar-se como referência para consulta posterior, ser guardada e manipulada como fon-
te de memória... ou simplesmente como guarda e embrulho de alguma coisa outra que
não seja a própria informação.
Serão visitadas as semelhanças e diferenças presentes nas capas desses supor-
tes e, a partir da sua comparação, identificar qual deles beneficia o trato da informa-
ção na busca da notícia e de seu entendimento, evitando apenas apresentá-la como
um quebra-cabeça iluminado ou impresso, que entrega ao navegante da informação o
seu descobrimento.
É importante destacar alguns dos conceitos expostos e utilizados no desenvolvi-
mento do presente texto. Informação está relacionada ao conhecimento, à comunicação,
à organização de dados brutos que serão lapidados posteriormente para sua utilização.
Notícia é assim, um recorte notadamente de cunho jornalístico que, dependente da in-
formação, será apresentada aos leitores, usuários e, por m, ao navegante da informação,
habilitado, ele mesmo, a desenvolver o que lhe interessa criando, caso queira, seus cami-
nhos em busca do conhecimento, da informação e, claro, das notícias.
Interface relaciona-se à mediação entre meios distintos para a compreensão hu-
mana. É solução tecnológica quando observada a dedicação de vários pesquisadores
para integrar-se ao momento atual de sua utilização, quando discutimos suas aplicações
cada vez mais apuradas como tradutora de universos distintos entre seres humanos e
Introdução • 17
aparatos informacionais. É cultura quando observa-se suas alternativas apresentadas ao
longo do tempo e da evolução das soluções virtualizadas que temos à nossa frente nos
trazendo à mente a possibilidade de transformá-las em agentes do humano num mundo
cada vez mais tecnologicizado e onde percebemos seus limites dentro dos limites da
interface que construímos para interpretá-lo. “Não interagimos com o mundo mas so-
mente com a sua interface
4
”.
Esta Introdução presta o importante papel de apresentar a pesquisa e a tarefa à
qual suas páginas foram dedicadas. A convivência entre os meios impresso e digital e a
emergência deste último mostraram-se sempre como grande motivadoras para este texto.
Nossa atividade pro ssional desenvolvida ao longo do tempo envolveu editoras e portais
na Internet, onde a convivência com ambos os sistemas foi determinante e desempenhou
papel importante nos caminhos propostos para a investigação.
No capítulo 2, Contextualização, serão analisados os aspectos ligados à quali -
cação dos dois meios e teremos uma breve discussão envolvendo sua evolução históri-
ca: a revolução informacional provocada pela invenção dos tipos móveis e a segunda
revolução, a dos pixels e da virtualização, presentes na sociedade em rede. Serão
levantadas as bases de desenvolvimento das linguagens aplicadas aos ambientes im-
pressos e virtuais e o momento do encontro dessas linguagens apontado aqui no sur-
gimento do portal de informação.
A Semiótica fornece os parâmetros para o entendimento da informação na sua re-
lação sígnica com os meios propostos. Ressalte-se a importância dessa análise na pesqui-
sa como forma de compreensão das relações mediadas pelo signo “notícia” transformado
em “objeto, e que, num processo de semiose, é agora mediado pelas interfaces “capas de
jornal” e “capas de portal”, cabendo aos interpretantes transitarem tanto por uma como
pela outra na busca do conhecimento que motivou sua descoberta.
4 Peter Weibel, “El mondo como interfaz” < http://www.elementos.buap.mx/num40/htm/23.htm >
“Los límites del mundo son los límites de nuestra interfaz. No interactuamos con el mundo, sólo con
la interfaz del mundo. El arte electrónico debería ayudarnos a comprender mejor la naturaleza de la
cultura electrónica y los fundamentos de nuestro mundo electrónico.
Introdução • 18
Uma matriz comparativa deve cumprir a tarefa de apresentar o entendimento des-
sas questões, destacando as possibilidades e impossibilidades de discurso dos dois meios
propostos. As capas, agora tratadas como imagens, serão submetidas à investigação. As-
pectos como a ergonomia, espacialidade, legibilidade, diagramação e usabilidade farão
parte da busca do seu entrelaçamento e da sua diferenciação.
No capítulo 3, Desenvolvimento, será identi cado o navegante da informação
assumindo suas características de comportamento, mergulhado que está nesse mar de
informações que o rodeia e já lhe suprimiu as dimensões do espaço e do tempo que o
trouxeram até o presente momento.
É aqui que investigaremos mais profundamente a de nição de interface para en-
tender o funcionamento da mediação proposta em ambos os meios. Procura-se identi car
o diálogo manifesto entre eles e sua proximidade no trato da informação/notícia.
À Conclusão, capítulo 4, caberá responder à questão sugerida desde o primeiro
esboço deste projeto e suas conseqüências: qual o melhor tratamento para a informa-
ção/notícia? Como se dá a sua presença nas capas do jornal impresso ou nos portais da
Internet? E, novamente como conseqüência, a notícia é mais bem recebida ou mais bem
quali cada em algum deles? Os portais de informação da Internet sabem o que fazer
com a notícia? Ou a ela e dela cabem somente as capas impressas?
Os capítulos anteriores e a análise da matriz comparativa formada pelas capas
dos jornais e de portais, destacando suas semelhanças e diferenças, serão fundamen-
tais para chegarmos à conclusão deste projeto e comprovarmos ou não a sua principal
investigação: a notícia como interface entre os meios impresso e digital.
Cabe ainda mais uma ressalva, na verdade, um lembrete. Essa dissertação acom-
panhará, como uma de suas decorrências, a evolução do interpretante da investigação,
no seu papel de leitor dos meios impressos e de usuário dos meios digitais, para o papel
mais rico de navegante da informação, em que toma para si e de maneira decisiva a
ação e o envolvimento com tudo o que se relaciona ao seu mundo, colhendo e quali -
cando os frutos de sua busca pelo conhecimento.
Introdução • 19
Cabe ainda uma observação: para o navegante os caminhos abertos são os da
descoberta do conhecimento, assemelhando-se ao mergulho num labirinto representado
pela teia hipermidiática que o constrói e que pode transformá-lo num agente ativo da sua
viagem. É o navegante, sua bússola e sua mente que vão funcionar como o o que pode
conduzi-lo para a descoberta, agora in nita.
Contextualização • 20
2 • CONTEXTUALIZAÇÃO
“Um objeto em série, que deve conformar a sua própria linguagem às possibilidades recep-
tivas de um público alfabetizado, agora (e graças ao livro, cada vez mais) mais vasto que o
do manuscrito. E não só isso: o livro, criando um público, produz leitores, que, por sua vez,
o condicionarão.
ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Perspectiva, 2001. p. 12.
Em 1452, Johannes Gutenberg apresentava ao mundo a sua prensa de tipos mó-
veis. A relação com a informação se transformava. Antes, os acontecimentos e a própria
realidade eram vistos a partir de poucos olhares, os mesmos que, envolvidos em grande
centralização, concebiam uma sociedade absolutamente hierarquizada e dividida em
castas de acesso e negação do acesso à informação e ao conhecimento. Vale dizer que
a um único olhar, ou uma única interface, aquela representada pelas castas superiores
dessa hierarquia, avaliava a realidade e apontava o que deveria ou não merecer a atenção
do mundo.
A prensa de tipos móveis imprimia uma quebra nessa sociedade, ampliando a sua
visão de um para vários olhares. Dá origem e populariza o livro, um vculo de informa-
ção feito por meio de um processo industrial. Criava à sua margem uma nova classe na
estrutura social em meio à Idade Média: a dos letrados e a dos iletrados. Há um grupo
que domina a “técnica” do alfabeto e outro que ainda não detém esse conhecimento, mas
pode fazê-lo.
Naquele momento a informação chegava à população na forma de decretos, pro-
clamações ou pelos sermões nas igrejas. Nada impedia, no entanto, que circuitos para-
lelos aos o ciais, os boatos e testemunhos, concorressem com as versões regulares dos
acontecimentos. Segundo Umberto Eco, os primeiros impressos do século XVI foram
editados por pequenas tipogra as, a pedido de livreiros ambulantes, para serem vendidos
em feiras e praças. O conteúdo deveria agradar ao leitor que nascia: anedotas ou fatos
políticos, por exemplo. Esse material provia a existência de uma categoria popular de
“literatos” e contribuía para a alfabetização de seu público, tornando-o “letrado.
Contextualização • 21
Foi no cenário de crescimento das cidades, em meados do século XVIII, que a
burguesia em sua luta por espaços fez uso da imprensa como um dos seus exércitos na
linha de frente para a implantação de uma nova ordem. A Igreja e o Estado mobilizaram-
se para conter os impressos considerados desestabilizadores dentro da sua visão localiza-
da nos espaços por ambos ocupados. Foi criado o índex e a censura; ambos constituíram
seus próprios vculos, sempre mais empobrecidos em função mesmo de não ter o que di-
zer à sociedade em transformação, numa tentativa ainda de fechar os olhos da sociedade
para as mudaas que aconteciam à volta de todos, criando cada vez mais possibilidades
de acesso ao mundo e ao conhecimento.
A notícia ganhava tons ideogicos e transformava-se em negócio. O custo de im-
pressão era pequeno, a redação cava a cabo de poucas pessoas, e os leitores pagavam
pelos custos de papel e tinta. Qualquer pessoa poderia, em tese, lançar o seu periódico
desde que contasse com alguns colaboradores contribuindo para seu nanciamento, fos-
sem eles amigos ou correligionários e até mesmo pessoas que tivessem algum motivo
para temer a ação dos impressos.
O adensamento das comunidades, um dos frutos dessas tranformações, teve como
parte de suas conseqüências o desconhecimento delas próprias em relação ao seu entor-
no. O mundo menor tinha na imprensa o papel de “noticiar” — avisar, dar ciência dos
acontecimentos — àqueles que não mais se reconheciam pela proximidade. A invenção
do indivíduo e a sua exclusão do convio social trouxeram a necessidade de saber o que
acontece à sua volta.
O que procuramos destacar aqui foram os movimentos em favor da busca da
autonomia do indivíduo como participante na construção do conhecimento, antes loca-
lizado nas mãos de poucos, e que com os tipos móveis cria um outro movimento, um
tal movimento que serve de inspiração para a ação humana, fazendo do surgimento da
imprensa e da construção da liberdade de publicação de seus tipos um norte que nos
ajudará a discutir o advento e a autoria tornada absolutamente descentralizada nas ações
com as quais convivemos hoje nessa sociedade em rede e a busca de uma interface que
possa assumir o seu papel de signo para a informação/notícia.
Contextualização • 22
2.1 • O jornal
A notícia nasce no jornal. Esse produto de pegar, que permite sua movimentação
acompanhando o leitor para qualquer lugar por ele de nido como apropriado para intei-
rar-se das notícias, assume o papel de trazer os acontecimentos e apresentá-los. E o faz
desde sua capa.
O jornal passa pela leitura tátil antes mesmo da leitura da notícia. É um objeto
industrial, obediente às imposições feitas pelas máquinas impressoras e suas bitolas de
papel. Existe dentro de uma estrutura, uma ordem para a apresentação das notícias. Na
primeira página estão as notícias “quentes” da edição, aquelas capazes de atrair a atenção
do leitor por sua relevância ou curiosidade no dia-a-dia. As notícias não são colocadas
em sua totalidade, são, na verdade, indiciadas nos leads
1
, uma seleção e organização de
elementos identi cados como “chaves” para seu entendimento. São capazes de seduzir o
leitor a continuar sua investigação pelo interior de suas páginas. O produto existe a partir
de uma ordem espe ca, a dos cadernos que observam uma organização determinada
por quem gera o produto, ou seja, a empresa jornalística. Nada garante que o leitor se-
guirá a sugestão de leitura proposta pelo jornal, sua navegação pela informação compete
somente a ele e é determinada por fatores que vão desde os temas que mais lhe interes-
sam até o que está mais visível — melhor localização na página, uso de cores etc. Como
não existe nenhuma forma de encadernação que aprisione suas páginas numa ordem de
leitura, espera-se que o primeiro caderno, aquele que contém a capa, abra o produto, mas
1 Lead: em jornalismo é a primeira parte de uma notícia, tem a função de fornecer ao leitor a informa-
ção básica sobre o tema, a m de prender-lhe o interesse.
Capa da primeira edição do jornal “A Província
de São Paulo” , mais tarde “O Estado de São
Paulo”.
Contextualização • 23
não se pode garantir que o caderno B venha em seguida ao A deixando ao leitor a busca
ou a constrão da seqüência de leitura.
A estrutura proposta a esse produto, repetimos, “de pegar”
guarda um desejo de
expressão e comunicação que é compartilhado com o leitor: seu projeto grá co. É nele
que as possibilidades de apresentação e de uso do produto “jornal” são guardadas e po-
dem transformar as bitolas de papel e máquinas de impressão em informação.
Para a construção do projeto muitas são as in uências e as possibilidades de so-
lução. Aqui cabe uma breve localização: quando citamos ou trabalhamos com projeto
grá co, também chamado de “design g co, falamos da atividade de arranjar imagens,
texto e elementos que podem ser percebidos pelo homem, referimo-nos a uma área de
conhecimento preocupada em comunicar.
“É o caso da pergunta que dá título a este livro. Para responder de um só fôlego, poderia sinteti-
zar no seguinte: design g co se refere à area de conhecimento e à prática pro ssional especí -
cas relativas ao ordenamento estético-formal de elementos textuais e não-textuais que compõem
peças grá cas destinadas à reprodução com objetivo expressamente comunicacional.
VILLAS-BOAS, André. O que é [e o que nunca foi] design gráfico. Rio de Janeiro: 2AB,
2001. p. 7.
É no projeto grá co que notamos as possibilidades abertas pelas experiências vi-
suais vindas de fontes como as vanguardas esticas de meados do século XX. Lembre-
mos que os movimentos de vanguarda, de maneira geral, propõem uma nova forma de
expressão e uma alteração na forma pela qual passa-se a pensar e a perceber a vida e o
mundo de maneira mais coerente com o contemporâneo vislumbrado. Nos projetos dos
jornais destacamos a imporncia dessa contemporaneidade absorvendo as in uências
que estavam à sua volta e encontrando o mesmo momento em que a arte e a poesia con-
creta tiveram o seu desenvolvimento e mostraram possibilidades de expressão diferentes
daquelas praticadas até ali. O plano da visualidade tomou uma con guração fundamental
acentuado pelo abandono do verso linear. O ato de construir uma nova linguagem trouxe
uma experncia de concepção e de formulação dos elementos da poesia que levavam em
consideração aspectos verbo-voco-visuais. Note-se a valorização do branco no exemplo
do poema concreto de Augusto de Campos, de 1953.
Contextualização • 24
Antes de continuarmos, é importante dedicarmos alguns parágrafos ao Movi-
mento Concretista, suas in uências no pensamento e ação dentro dos destinos da arte e
do projeto g co. É também nesse momento que endereçamos o desenvolvimento do
presente texto para o que aconteceu no cenário brasileiro e suas conseqüências em con-
tato com a manifestação e produção da informação/notícia. Estamos no Brasil a partir
de agora.
A década de 1950 foi marcada por grandes mudanças, resultado da arrancada
tecnogica e da alteração nas relações internacionais vindas do pós-guerra. Esses fatos
permitiram a países como o Brasil alcançarem um padrão de modernização industrial. O
Brasil vivia o sonho dos “50 anos em 5”, do governo de Juscelino Kubitschek. Foi o perí-
odo em que a sociedade brasileira adquiriu, em de nitivo, seu lado urbano. A existência
de um setor urbano-industrial moderno aproximava nossas relações e processos sociais
da dinâmica do sistema internacional de desenvolvimento. Diminuíam as disncias e
aumentava a sensibilidade para as conquistas tecnogicas que repercutiam rapidamente
no imaginário urbano e no cotidiano das grandes cidades. Em 1950, o Brasil já tinha
Contextualização • 25
transmissões regulares de TV, já ouvira falar em cibertica e no “cérebro eletrônico,
criado em 1946 na Universidade da Pensilvânia.
Música, literatura, artes plásticas e as artes do século XX — cinema e a foto-
grafia — voltavam-se para o espírito da invenção e recuperavam a radicalidade dos
grandes movimentos de vanguarda do início do século. Em meio a esse cenário de
transformações e discussões profundas, aqui no Brasil, a cidade de São Paulo vivia
o apogeu de seu desenvolvimento, e seus intelectuais pretendiam uma nova poética,
mais cosmopolita, um espelho para esse universo de significados em mutação. Reto-
mava-se o espírito dos modernistas de 1922 e, dentro dele, Oswald de Andrade, com
sua lírica extremamente sintética — “poemas-pílulas” —, foi uma das referências
adotadas pelos concretistas.
Nascia a revista “Noigrandes
2
,
formada por Décio Pignatari, Haroldo de
Campos e Augusto de Campos. As propos-
tas dos criadores do concretismo obede-
ciam aos seguintes princípios:
Abolição do verso tradicional com a
eliminação de preposições, conjunções,
pronomes etc., gerando uma poesia fei-
ta de substantivos e verbos.
Um linguagem necessariamente sinté-
tica e dinâmica, mais próxima da so-
ciedade industrial.
Utilização de paronomásias, neologis-
mos, estrangeirismos
3
; separação de
pre xos e su xos; repetição de certos
2 “Noigrandes” não tem signi cado, é uma palavra que foi retirada de um poema de Ezra Pound.
3 Paronomásia é o emprego de palavras com sonoridade semelhante numa mesma frase. Estrangeiris-
mo é um termo lingüístico presente na fala/escrita de uma determinada língua proveniente de forma
direta de outra língua. Neologismo é um fenômeno lingüístico que consiste na criação de palavra ou
expressão nova, ou na atribuição de novo sentido a uma antiga.
Capa da revista “Noigrandes”.
Contextualização • 26
morfemas; valorização da palavra solta (som, forma visual, carga semântica) que se
fragmenta e recompõe na página.
O poema transforma-se em um objeto visual; a partir do uso de recursos tipográ cos
e do branco da página, ganha simultaneidade, pode ser lido e visto ao mesmo tempo.
A poesia concreta rompia com a linearidade da página, transformando-a num es-
paço fragmentado sujeito à livre investigação do olhar. Atuando como um objeto dinâ-
mico, a palavra concretista incorpora a cor, os estilos de letra e utiliza os espaçamentos e
as entrelinhas como elementos ativos na estrutura do poema. O branco do papel torna-se,
com isso, uma espécie de cenário para o material tipog co des lar seus contrastes, ten-
sões e signi cados. A poesia concreta brasileira inseriu-se num contexto eminentemente
visual do complexo urbano, e estendia sua in uência para outras áreas, tendo o design
como destaque.
Contextualização • 27
O jornal brasileiro percebe a necessidade da mudança e inicia seu processo de
modernização. Mudava-se uma maneira de ver e ler os acontecimentos. Até esse mo-
mento, o projeto g co trabalhava com o volume do texto sem quali cá-lo, obrigando
o leitor a ler toda a notícia para descobrir, apenas em seu nal, qual o assunto tratado.
Novos recursos de redação, como o lead, trouxeram as principais informações de for-
ma sintetizada logo no primeiro parágrafo, facilitando a vida do leitor, permitindo-lhe
escolher qual notícia mereceria a sua atenção.
Destacamos o Jornal do Brasil, JB, responsável por uma revolução nos padrões
editoriais e grá cos daquele momento. Foi nas páginas do Suplemento Dominical
4
do
JB que o “Manifesto” da poesia concreta foi divulgado, tendo como signarios os mes-
mos Décio Pignatari, Ferreira Gullar e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos.
Em 1956, o escultor mineiro Alcar de Castro, concretista ligado ao grupo ca-
rioca Neoconcreto, foi chamado para participar da mais importante reforma grá ca em-
preendida por um jornal brasileiro, demonstrando que a ousadia do JB não se limitaria
ao conteúdo editorial.
Contraste e assimetria foram os principais recursos adotados pelo projeto de
Amílcar, que praticamente rompeu a espinha dorsal que dividia a antiga diagramação
em duas metades simétricas. Utilizou os contrastes entre os elementos verticais e hori-
zontais para orientar o leitor por uma página mais funcional e atraente. A tipogra a foi
padronizada criando unidade visual, diversi cou-se em tamanhos e pesos, facilitando
a hierarquização do conteúdo editorial. A fotogra a, amplamente utilizada, aliou-se às
novas técnicas de edição jornalística, oferecendo ao leitor uma síntese visual da notí-
cia. Inspirado pelo concretismo, Alcar abusou do branco do papel, abrindo maior
espaço entre as colunas e eliminando os os que antes as dividiam, livrou-se de vinhe-
tas, dos tipos de qualidade duvidosa e outros excessos que não pertenciam mais aos
novos tempos.
4 O Suplemento Dominical foi o embrião do Caderno B, um modelo para os cadernos culturais publi-
cados posteriormente.
Contextualização • 28
Diagramar, em sua de nição moderna, é planejar a arquitetura da página levando
em conta tanto o aspecto formal quanto o tecnogico. Ciente dessa tarefa, Amílcar foi à
o cina do JB para melhor entender como esta funcionava. Lá encontrou uma prática anti-
quada, onde a diagramação ainda era feita diretamente na rama tipog ca
5
, sem nenhum
planejamento que otimizasse tempo e material. Um boneco tosco servia ao paginador da
rama, que quase sempre iniciava a distribuição de uma matéria sem saber ao certo que
espaço ela ocuparia.
5 Rama tipográ ca: espécie de matriz feita de uma liga de chumbo onde os jornais eram montados à
medida que os textos eram inseridos.
Contextualização • 29
A reforma, nascida no projeto, encontrou-se com a o cina. Alcar de Castro foi o
introdutor do moderno sistema de diagramação, baseado no cálculo da quantidade de to-
ques das laudas e sua relação matemática com as unidades de medidas tipog cas, onde
o diagramador, após quanti car o texto, esboçava sobre um “espelho” do jornal o layout
da página, determinando os espaços a serem ocupados por títulos, fotos, anúncios etc. O
espelho era posteriormente encaminhado à o cina, servindo de modelo para o paginador
combinar os textos linotipados e os clichês das imagens.
A programação visual inserida na construção do poema concreto e re etida no
projeto do jornal notabilizava os experimentos, em cuja apresentação procurava va-
lorizar tanto a mancha g ca do poema quanto o espaço em branco, retirando-lhe a
identi cação primeira de mero suporte para o texto verbal. O espaço não ocupado pela
produção verbal ganhou importância, destacando-se e compondo o conjunto do texto
de maneira a nivelar-se à matéria jornalística. Passou-se a trabalhar com a perspectiva
de que o suporte da linguagem deixaria de apresentar-se com a quase neutralidade que
anteriormente lhe impunham:
“O impulso do jornal para particularizar a imporncia da paginação tem duplo sentido: iden-
tificar o leitor com as artes e técnicas visuais; valorizar o texto com uma distribuição que
o torne legível e atraente ao mesmo tempo, acentuando uma sensibilidade plástica que deve
contaminar o leitor.
BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica. São Paulo: IBRASA, 1972. p. 116-7.
O experimentalismo da poesia concreta e a própria evolução das técnicas de re-
produção grá cas incentivaram a prática voltada para o estabelecimento de um proje-
to grá co que, preocupado em renovar-se, criou uma nova concepção da apresentação
da informação.
“No Brasil, o movimento concretista dos anos 60 influi decisivamente na embalagem de jor-
nais, revistas e livros com uma diagramação que equilibra grandes massas e grandes claros,
com coordenadas em retângulos, poucos ornamentos, grandes fotos.
BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica. São Paulo: IBRASA, 1972. p. 120.
A página impressa do jornal representou a primeira grande revolução ligada à ex-
pansão, apropriação e difusão da informação numa escala nunca imaginada, a planetária.
Contextualização • 30
Foi por meio da imagem formada pela sua capa que a notícia, em preto-e-branco e muitas
cores, pôde trazer ao leitor um primeiro contato os fatos à sua volta.
2.2 A informação digitalizada
Após esse cenário de mudanças profundas acontecidas nas décadas de 1950 e
1960, que envolveram a própria concepção do vculo e de sua maneira de relacionar-se
com o mundo, coube aos anos 1990 uma outra grande revolução, a informatização das
redações no Brasil, que já acontecia em outros centros urbanos desde os anos 1980. Com
ela, aumentaram as possibilidades de utilizão de recursos grá co-visuais; os jornais se
tornaram cada vez mais parecidos com as revistas e até mesmo com a televisão no uso
das cores e imagens. A informatização trouxe maior integração entre as bases de dados
presentes na estrutura da empresa jornalística e criou as condições técnicas necessárias
para o desenvolvimento dos portais de informação que viriam poucos anos mais tarde.
Esboça-se, visualizando-se as capas, a caracterização de dois tipos de página: uma
mais ordenada, com uma distribuição equilibrada do texto verbal e dos recursos visuais,
e outra mais orgânica, na qual, às vezes, somente um, ou pouco mais de um, elemento
grá co toma conta da página, assemelhando-se a cartazes.
Contextualização • 31
Foi também na década de 1990 que a Internet começou a ganhar as ruas, obri-
gando o jornal a reinventar-se. Reformas g cas cada vez mais constantes mostraram
a tentativa de acompanhar as mudanças que a sociedade, em suas novas alternativas
de consumo, pretendia. Tratado como mais um produto à disposição, o jornal buscou
conformar-se com as regras da padronização trazidas pelos processos de mundialização
que se con guravam. Muitos designers estrangeiros foram trazidos ao Brasil, realizando
reformas grá cas com alternativas mais próximas àquelas de outros centros, o que moti-
vou a seguinte crítica de Amílcar de Castro, feita em
uma entrevista para O Estado de S.
Paulo, em 1998:De um modo geral, acho muito ruins. Gra camente, os jornais piora-
ram muito. Há a intenção de botar muita coisa numa página só, e essa profusão de títulos
e textos, misturados à cor e na distribuição dos assuntos, ca tudo atropelado. Os jornais
de hoje não têm caráter. Você passa pela banca, vê os jornais expostos e, se abstrair o
nome, não consegue distinguir qual é qual”.
A coincidência do depoimento com a emergência dos meios de comunicação em
rede não abre espaço para sua gratuidade ou independência. Não foi o acaso que trouxe
para a capa de jornal a tentativa de espelhar uma tal profusão de informações. A simul-
taneidade dos acontecimentos de forma cada vez mais globalizada, o espelho dessas
alterações através do crescimento da rede informacional com suas ofertas em tempo
real pressionaram as capas e cadernos dos jornais como mais uma maneira de absorver
o dia-a-dia, agora com novas possibilidades e com uma inversão importante: até esse
momento, eram as capas dos jornais que mostravam os acontecimentos numa relação
produtor
meio receptor; agora, produtor receptor.
2.3 Aldeia global, Internet e www
“O objetivo específico a ser alcançado era a capacidade de transmitir por via eletrônica a
sensão mais completa possível da presença humana para cinco pessoas em particular, em
cinco lugares diferentes. Cada uma das cinco pessoas, apartadas no espaço, tinha de acreditar
que as outras quatro estavam fisicamente presentes a seu lado.
NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 118.
Contextualização • 32
Nascida como um projeto da estratégia militar norte-americana, a Internet teve
como idéia inicial criar uma rede que fosse capaz de interligar pontos importantes,
como centros de pesquisa e tecnologia ligados a estratégias de defesa. A idéia de inde-
pendência e de autonomia, compartilhada por institutos de pesquisa acadêmica, guarda
a ironia de ter-se transformado numa alternativa ao pensamento massi cador dos meios
de comunicação dominante na década de 1960, além da própria preocupação de salva-
guardar informações exercendo forte controle sobre elas, presentes na condução dos
assuntos pelas vias militares.
Durante muito tempo restrito a instituições de ensino e pesquisa, a Internet teve,
em 1990, sua chegada ao mercado comercial e o acesso aberto a todos os que tivessem os
meios técnicos para o encontro: modem e linha telenica. A aproximação deu-se a partir
do trabalho de um pesquisador: foi Tim Berners-Lee o responsável pelo desenvolvimento
de uma interface g ca, a World Wide Web (WWW), que facilitava a navegação na web
— antes era preciso conhecer comandos do sistema operacional UNIX para acessá-la. O
fato fez crescer o número de usrios, que ultrapassava um milhão no início da década,
e também criou condições para a utilização comercial da rede.
Mais importante que sua origem histórica, a Internet nasceu como conseqüência
do processo de evolução que vem acompanhando o acesso e o controle das informações
pela sociedade. Lembremos do evento determinante representado pela própria imprensa
viabilizada ainda nos idos das idades Média e Moderna. A Internet faz parte desse pen-
samento em que a própria mídia impressa fora e continua sendo questionada em meio
àquilo que já se chamou de “aldeia global”.
Aldeia? O universo de signi cados continua sua expansão, mas a visão de uma
comunidade integrada e discutindo assuntos de domínio de todos não resiste ao contato
com a realidade marcada por intensas trocas de valores dentro da “modernidade líqui-
da
6
, onde uma revolução constante tem alterado nossas relações com tudo o que acon-
tece à nossa volta.
A rede informacional formada pela intensa troca de dados entre computadores
conectados criou a possibilidade de ler o mundo em tempo real. O mundo diminuiu mais
6 Termo cunhado por Zygmunt Bauman, no seu livro Modernidade líquida.
Contextualização • 33
uma vez de tamanho. A “aldeia” imaginada por Marshall McLuhan assemelha-se mais a
uma “piscina” de informações onde os “leitores” do jornal impresso transformam-se em
“usuários para banhar-se.
O potencial informacional e econômico da Internet tornou-se evidente, começa-
ram os investimentos tanto na tecnologia como na divulgação da rede. A questão princi-
pal é que sites como a Amazon e portais como o UOL ou Terra tenham lucro; é preciso,
além de ampliar o número de usuários, tornar a Internet cada vez mais necessária no
dia-a-dia das pessoas. A memória dos letrados e dos iletrados da Idade Média retornava
agora criando os conectados e não-conectados.
Nascia a comunidade virtual. Uma comunidade que não possui local geográ co
de nido. Cria sua própria espacialidade habitando o ciberespaço, localizado inicialmente
no espaço físico dos computadores e que se espalha pelas redes digitais que cruzam todo
o planeta. Uma comunidade que pode se reunir todos os dias de forma sincrônica ou
assincrônica em busca da troca de idéias, conceitos, aprendizados etc.
“O ciberespaço é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial de com-
putadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital,
mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres huma-
nos que navegam e alimentam esse universo.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. p. 17.
Podem-se descobrir as notícias do outro lado do planeta no momento em que são
divulgadas, assistir a lmes, trocar e ouvir música, conversar em chats, comprar e ven-
der bens ou serviços, en m, enviar e receber informações num processo de exposão,
descoberta, apropriação, re-mediação e outras tantas faces que serão vislumbradas a
partir daqui.
Logo na introdução do seu Os meios de comunicação como extensões do ho-
mem, Marshall McLuhan nos ensinava que toda tecnologia gradualmente cria um
ambiente humano totalmente novo. Os ambientes não são envoltórios passivos, mas
processos ativos.
7
7 MCLUHAN, Marshal. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix,
2002. p. 10.
Contextualização • 34
Em outro momento, McLuhan discute a “extensão tipográ ca”, destacando-a em
sua comparação com a carruagem a motor representada pelo automóvel, por exemplo.
Dessa maneira, parece car mais claro o relacionamento entre as várias extensões huma-
nas e as tecnologias a sua volta.
A tipografia não se adicionou simplesmente à arte da escrita, como o automóvel não se adi-
cionou ao cavalo. A imprensa também teve sua fase da ‘carruagem sem cavalo.
MCLUHAN, Marshal. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cul-
trix, 2002. p. 198.
Nesse caminho, cabe o entendimento da Internet como mais uma extensão do
humano, ousamos a rmar, a do seu cérebro, tendo a palavra escrita e publicada como
a sua referência. Poderíamos a rmar que o meio digital não se adicionou ao meio im-
presso, ou que o portal não se adicionou ao jornal. Ainda segundo McLuhan, nós só
temos consciência do “conteúdo, ou seja, do velho ambiente. Da mesma forma que o
conteúdo” da TV é o cinema, pode-se a rmar que o “conteúdo” da Internet é a mídia
impressa. Ou seja, o que domina a rede mundial de computadores ainda são jornais,
revistas e manuais publicados em meio eletrônico.
A primeira Bíblia baseou-se nos exemplares feitos pelos monges copistas, porque
este era o modelo tido como referência. E era, também, o modelo que existia na cultura
da época. McLuhan nos conta que nas primeiras décadas da imprensa, malcompreen-
dida, não era raro que o comprador de um livro impresso o levasse a um copista para
copiá-lo e ilustrá-lo.
“Toda tecnologia nova cria um ambiente que é logo considerado corrupto e degradante. Todavia,
o novo transforma seu predecessor em forma de arte. Quando o escrever era novo, Platão trans-
formou o velho diálogo oral em forma artística.
MCLUHAN, Marshal. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cul-
trix, 2002. p. 198
O que tem acontecido é que o design dos portais ainda segue não só o layout uti-
lizado pela mídia impressa, mas também os conceitos. Apesar de todas as possibilidades
e recursos técnicos oferecidos pelas novas mídias, a forma de pensar e trabalhar dos
desenvolvedores ainda tem como referência a mídia impressa.
Contextualização • 35
Não é a tecnologia que causa a revolução informacional que vivemos, mas, antes,
uma exigência para que ela própria possa acontecer.
2.4 Portais de informação
“Portal” no dicionário Houaiss signi ca:
Aceões
substantivo masculino
1 entrada principal, ger. ornamentada, de uma igreja,
de um grande edifício etc.; pórtico, portela, portada
2 fachada principal, onde ca tal entrada
3 Derivação: por extensão de sentido.
qualquer porta grande
4 Uso: informal.
ombreira da porta ou portão
5 Rubrica: internet.
site na Internet que oferece grande variedade
de serviços, tais como correio eletrônico, foros de
discussão, dispositivos de busca, informações gerais e
temáticas, páginas de comércio eletrônico e outros
adjetivo de dois gêneros (1839)
Rubrica: anatomia geral.
6 relativo à veia porta
Etimologia
fr. portail (c1165 sob a f. portal) ‘grande painel de madeira
que serve de porta’, (sXIII) ‘fachada principal onde ca a
entrada, esp. em templos; porta grande’; ver port-; f.hist.
sXI portallos, sXI portales, sXIII portal, sXV portaaes
Na Internet brasileira, onde os portais de informação também são, até o momento
em que escrevemos, reponsáveis pelo acesso ao “mundo virtual, diz-se que é a princi-
pal entrada para a web, ou seja, a primeira página que o usrio acessa ao iniciar sua
investigação. É a grande porta que dá passagem para uma série de sites. Chama atenção
a primeira leitura do termo, que nos faz lembrar das catedrais de construção imponente
Contextualização • 36
citadas quando nos detínhamos em localizar o centro da difusão de informações durante
a Idade Média. Parece-nos, não por acaso, que a intenção continua sendo a mesma: apon-
tar, sem sucesso, para a centralização do acesso à informação, algo que não faz sentido
num emaranhado de possibilidades abertas pelo virtual.
O usrio tem a possibilidade de passar por vários portais com grande diversidade
de serviços oferecidos, o que altera a sua própria de nição, uma vez que a análise das
ofertas revela-nos que esses sites, além de porta de entrada, têm o objetivo de fazer com
que os usrios permaneçam em suas dependências o maior tempo posvel.
Muitos tratam de assuntos gerais eo apresentam um público de nido, buscando
oferecer produtos e serviços para o maior número de pessoas possível. Portais para con-
teúdos especí cos procuram atingir um determinado público, observando parâmetros de
segmentação, a idade, etnia, sexo etc. e mesmo interesses em um tema especí co, como
sica, arte, animais etc. Existem ainda os portais que se destinam a efetuar transações
comerciais (livrarias, leilões etc.) e nanceiras (entre empresas ou entre empresas e con-
sumidor nal).
UOL e Terra, tratados aqui, têm um público variado e grande oferta de serviços li-
gados aos grupos econômicos dos quais fazem parte — Folha de S. Paulo e Telefonica. É
um público dependente do acesso proporcionado por ambos, quer por serviços em banda
larga, quer pelo acesso em linha discada.
O “portal dos sonhos” de qualquer usrio, aquele que consiga prender sua aten-
ção e detê-lo o maior tempo possível, deve considerar diversos pontos além do conteúdo
ou do acesso. Uma interface interessante e atraente deve aliar-se à facilidade de uso, usa-
bilidade; de navegação, navegabilidade, e a preocupação com a interatividade, permitin-
do a troca de informação entre usrios em chats e fóruns, e entre o usrio e o próprio
fornecedor da informação, em e-mails e formulários. Observamos que, quando o assunto
é design, há poucas diferenças entre os portais.
A tecnologia tem desenvolvimento constante, e o mesmo ocorre com a maneira
como as pessoas se relacionam com ela. Constata-se, apesar disso, que continua-se a
trabalhar a Internet como se ela fosse uma extensão da mídia impressa. E, notamos, de
maneira diversa daquela, uma extensão que não honra o seu original; quando se imagina
Contextualização • 37
uma revista de variedades ou o caderno de esportes ou cultura de um jornal, a imagem
que nos vem à cabeça é de um produto com mais fotos, imagens trabalhadas, uma dia-
gramação diferenciada. Não se faz um suplemento de cultura com a mesma cara de um
caderno de economia, por exemplo.
No entanto, quando se acessa a página inicial de qualquer portal, o que se vê
são textos divididos em colunas e caixas, como na seção de classi cados de um jornal.
Temos, provavelmente, dois motivos para este tipo de projeto. Primeiro: no início da
utilização da linguagem HTML, a maior parte dos desenvolvedores de sites fazia uso
de tabelas para alinhar textos e organizar o conteúdo visual das páginas. Segundo: com
o surgimento de ferramentas de atualização, o layout da página procurou normatizar-
se e seguiu padrões preestabelecidos, os templates, com seu conteúdo distribuído em
módulos ou colunas.
Até que ponto é realmente necessário o uso de templates rígidas? Antes de se
falar em mudança de design, é preciso mudar a forma de pensar o design na Internet.
Apesar de muitas ações estarem atreladas a relações comerciais, é função do designer
desenvolver alternativas e apresentá-las ao público. Tudo o que é novo causa estranheza
num primeiro momento, mas sem essa ousadia, não há mudança. E sem mudanças, não
teríamos nem mesmo a prensa de Gutenberg, quanto mais a Internet.
Uma das justificativas para o design padronizado é a utilização de ferramen-
tas de atualização, onde existe a necessidade de alteração constante de conteúdo. O
portal perfeito para o usrio é aquele em que se pode encontrar, com facilidade,
informação relevante e sempre atualizada, numa interface ao mesmo tempo simples
e instigante, dentro de um layout agradável e que, ao acessá-lo, tudo funcione per-
feitamente. Independentemente dos interesses e objetivos, é isso o que, em linhas
gerais, todo usuário quer. A diferença é que um layout agradável com uma interface
funcional para alguém que busca informações sobre arte não é o mesmo de outro
que quer resultados dos jogos acontecidos num final de semana. O grande desafio
do projeto gráfico é trasformar-se no ambiente onde pequenos universos, distintos e
funcionais, realizem-se.
Contextualização • 38
2.5 A semiótica na leitura das capas impressas e virtuais
Linguagem, comunicação e mídia são partes imprescindíveis da história do homem e
sua evolução material e cognitiva. Pareceu-nos ser a semiótica de linha peirceana adequada
à investigação de um objeto, a informação/notícia, manifestado na relação clara e dinâmi-
ca de seu signi cado pelo entendimento adquirido através da mente humana projetada ou
estendida nos meios digitais presentes na sociedade em rede. É a semiótica que deslinda os
diversos códigos presentes em nossos atos comunicativos, estejam eles nas capas impressas
dos jornais ou nas capas virtualizadas dos portais de informação da Internet.
A Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou
seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno
como fenômeno de produção e de sentido.
SANTAELLA, Lucia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1993. p. 15.
É importante perceber que tal entendimento/investigação não nos furta da com-
preensão das características espe cas de cada meio/linguagem investigados. Foi ne-
cessário entender do que tratam os meios e o seu funcionamento antes de submetê-los
a análise. Peirce nos mostrou através do artigo “Nova lista de categorias
8
” um sistema,
uma teoria geral aplicável a qualquer signo sujeito a análise porque sensível àquilo que
se manifesta como fenômeno apreensível pela mente humana e dentro da generalização
máxima proposta por ele como: (1) primeiridade, (2) secundidade e (3) terceiridade. A
semiótica nos habilita, então, a penetrar no movimento interno dos meios/linguagens,
dando-nos a possibilidade de empreender os procedimentos e recursos empregados nas
palavras, imagens, diagramas, sons, nas relações entre elas, permitindo sua análise. Na
linguagem visual, por exemplo, as cores, a disposão das linhas, formas, volumes, seu
movimento e dimica.
“O primeiro efeito que um signo está apto a provocar em um intérprete é uma simples qualidade
de sentimento, isto é, um interpretante emocional. Ícones tendem a produzir esse tipo de inter-
pretante com mais intensidade: músicas, poemas, certos lmes trazem qualidades de sentimento
para o primeiro plano. Mas os interpretantes emocionais estão sempre presentes em quaisquer
interpretações, mesmo quando não nos damos conta deles.
8 Sobre uma nova lista de categorias (Proceedings of the American Academy of Arts and Sciences 7
(1868), p. 287-298.)
Disponível em < http://ubista.ubi.pt/~comum/peirce--charles-list-categories.html>
Contextualização • 39
O segundo efeito significado de um signo é o energético, que corresponde a uma ação física
ou mental, quer dizer, o interpretante exige um dispêndio de energia de alguma espécie.
Índices tendem a produzir esse tipo de interpretante com mais intensidade, pois os índices
chamam nossa atenção, dirigem nossa retina mental ou nos movimentam na direção do objeto
que eles indicam.
O terceiro efeito signi cado de um signo é o interpretante lógico, quando o signo é interpretado
através de uma regra interpretativa internalizada pelo intérprete. Sem essas regras interpretati-
vas, osmbolos não poderiam signi car, pois o símbolo está associado ao objeto que representa
atras de um hábito associativo que se processa na mente do intérprete e que leva o símbolo
a signi car o que ele signi ca. Em outras palavras, o símbolo está conectado a seu objeto em
virtude de uma idéia da mente que usa o símbolo, sem o que uma tal conexão não existiria.
Portanto, é no interpretante que se realiza, por meio de um regra associativa, uma associação
de idéias na mente do intérprete, associação esta que estabelece a conexão entre o signo e seu
objeto. Daí Peirce ter repetido várias vezes que o símbolo se consititui como tal apenas atras
do interpretante.
SANTAELLA, Lucia. Semiótica aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002. p. 24.
Quando analisamos as primeiras páginas, temos um movimento de signi cação
que atinge a ambos os meios desde o primeiro efeito que provoca, culminando com o
simbólico caracterizado pela página do portal de informação na Internet.
Vejamos: a qualidade de sentimento es presente sempre, mesmo quando não
nos damos conta dela. O segundo efeito também é claro: a página do jornal requer
esforço físico para que seja tomada e interpretada, é o papel que se desdobra sob os
cuidados do leitor, seus olhos estão sempre em movimento para localizar e entender as
imagens e textos referenciados. O terceiro efeito consagra a página do portal por exce-
ncia, é necessária uma regra de interpretação para que ela exista, envolve-se a lógica
da gramática com a dos pixels em códigos que se mostram numa profusão de “zeros” e
“uns” dentro da imagem que se realiza à frente do usuário. São códigos que preenchem
a primeira página antes mesmo da sua interpretação, fez-se necessária uma interface
que mostrasse os caminhos para que nossa mente pudesse relacionar-se com eles. Tem-
se um aparato, o computador, como instrumento que possibilita o encontro do usuário
com seu destino ligado à Internet. Um emaranhado de símbolos, o simbólico, que é a
própria Internet.
A imagem formada pelas capas envolve todo o conjunto de informações presentes
em sua trama. Algumas cores predominam, outras apenas são pinceladas. O azul é uma
Contextualização • 40
cor fria, o amarelo, uma cor quente, o branco não é cor, o laranja é brilhante, o vermelho
é intenso e forte.
Elas podem encantar, emocionar. A síntese das cores é o branco, que é o fundo
de impressão que suporta os textos do jornal e é a base do portal onde os mesmos textos
podem ser iluminados. As linhas são e cazes, porque sugerem movimento, dando a sen-
sação de suporte. As linhas diagonais, a simetria ou assimetria do projeto a ser seguido,
todas as linhas imaginárias ou não que povoam a imagem têm o poder de transmissão
de um signi cado.
A distribuição de elementos constituintes das imagens das capas — desenhos,
símbolos, a massa de texto — faz com que a página que mais sedutora para o leitor e/ou
usrio. E assim para o navegante.
As imagens produzem sensações. Na imagem das capas predomina a complemen-
taridade, as mensagens são organizadas de maneira que o resultado visual seja capaz de
transmitir informação. O texto, as palavras se relacionam com as imagens, predominan-
do também a complementaridade.
As capas apresentam uma estrutura própria que as determina, fazendo com que
sejam diferentes entre si e de qualquer outro vculo como a TV ou o rádio. A notícia
apresentada pela capa funciona como um núcleo, um ponto de partida para a compre-
ensão do que quer o jornal ou portal. Temos um sistema semiótico que nos ajuda a
entender a informação apresentada como uma equação matemática, onde há equiva-
ncia de grandezas — uma subseqüente à outra —, sendo que a primeira é a fonte da
subseqüente num processo de semiose. Só existe algo expresso em conseqüência da
existência de seu anterior:
Fonte determina Informação
Informação determina Notícia
Notícia determina Gênero
9
9 Gêneros aqui são jornalísticos — notícia, reportagem, entrevista etc. — e gêneros discursivos —título,
legenda etc.
Contextualização • 41
Gênero origina o Objeto (Objeto / Produto / Signo)
10
Na geração dos gêneros é que reside a noção do jornal e do portal de informação
como sistema semiótico.
“Os Objetos — pois um Signo pode ter qualquer número deles — podem ser uma coisa sin-
gular existente e conhecida ou coisa que se acredita ter anteriormente existido ou coisa que
se espera venha existir ou uma coleção dessas coisas ou uma qualidade ou relação ou fato
conhecido cujo Objeto singular pode ser uma coleção ou conjunto de partes ou revestir al-
gum outro modo de ser, tal como, algum ato permitido, cujo ser não impede que sua negação
seja igualmente verdadeira ou algo de natureza geral, desejado, exigido ou invariavelmente
encontrado sob certas circunstâncias comuns (2.232).
apud SANTAELLA, Lucia. A teoria geral dos signos. São Paulo: Pioneira, 2000. p. 34.
Note-se que estamos a rmando que a notícia dentro dos suportes propostos existe
como resultado da atividade jornalística. Nessa estrutura, o trato da informação está cen-
trado no exercício do jornalismo ligado aos meios impressos, o que determina a ação de
um meio, o portal, como conseqüência do outro, o jornal. Vemos no portal de notícias um
objeto que é diferente do seu inspirador, e se a notícia vem de um tratamento jornalístico,
essa herança não deveria vazar suas tintas para as telas dos microcomputadores.
Assim, a notícia é signo da informação num objeto, portal de informação ou jor-
nal, que a determina, e num interpretante — o leitor (primeiridade), usuário (secundida-
de) ou navegante (terceiridade) —, determinado por esta relação.
10 Em branco não sai. Um olhar semiótico sobre o jornal impresso diário. Djalma L. Benettre, tese de
mestrado apresentado na PUC, 2001.
Desenvolvimento • 42
3 • DESENVOLVIMENTO
3.1 Mondrian e a visualidade das capas impressas e virtuais
Os meios/linguagens podem ser analisados em si mesmos, suas propriedades in-
ternas, isto é, em seus aspectos qualitativos e/ou sensoriais. Como exemplo: na lingua-
gem visual observamos as cores, linhas, formas, volumes, movimento, dinâmica etc. É
dessa forma que resolvemos analisar as capas, como imagens isoladas. Lembrando a
Introdução deste projeto, “as imagens são mediações entre o homem e o mundo, cabendo
às imagens representá-lo. Num exercício de abstração resolvemos abrir mão da análise
particular de cada objeto presente nas capas, quais sejam, imagens, textos, elementos
grá cos diversos. Entendemos que a imagem nal representada pelas capas deveria ser
“Composição com superfície grande vermelha, amarelo, preto, cinzento e azul”, óleo
sobre tela, 59,5x59,5cm, Haia, Haags Gemeente Museum.
Desenvolvimento • 43
tomada como um todo que se relaciona com o interpretante de maneira dinâmica e busca
o seu entendimento de maneira geral e orgânica.
Procederemos a uma análise semiótica do quadro “Composição com superfície
grande vermelha, amarelo, preto, cinzento e azul
1
do artista plástico Piet Mondrian
2
,
datado de 1921. Este exercício nos ajuda, por aproximação, a entender a análise proposta
e sua vinculação ao nosso objeto de pesquisa. Repetiremos um exercício que já fora feito
anteriormente quando foi mostrado o relacionamento explícito da poesia concreta com o
desenvolvimento do design grá co.
O quadro revela com intensidade as características do movimento neoplástico, fun-
damentado na economia das formas, linhas horizontais e verticais, construindo um espaço
de equilíbrio assimétrico entre suas formas. As cores primárias revelando e organizando
as dimensões pelas quais a pintura se espalha. Mondrian, introdutor do movimento, pro-
curou desde muito cedo uma solução que pudesse abstrair a realidade da arte. Incomoda-
va-o, mesmo nos momentos de efervescência do Cubismo, a necessidade de prender-se à
realidade para retratá-la. Como participante e fundador da revista De Stijl, pôde trazer das
artes grá cas a organização do espaço que por m foi experimentado nas telas.
“Composição com superfície grande vermelha, amarelo, preto, cinzento e azul”
está inserido num grande momento da genialidade de Mondrian. A economia e o pen-
samento modernizante de sua obra eram tão intensos que nomeava seus quadros como
se fossem peças de uma linha de produção. A pintura como signo representa algo, o que
poderia ser? É um abstrato, não guarda a necessidade de identi car-se a qualquer objeto
fora dos limites dele próprio. Fala à mente encontrando um interpretante que percorra
seus cruzamentos fortes de linhas e cores.
Ao “abrir os olhos do espírito
3
, somos tomados pelo enorme quadrado vermelho
que salta da tela e nos atinge em cheio, os olhos encontram uma trama organizada, num
diagrama valorizado pelo branco numa demarcação do espo que se por um lado apri-
1 Óleo sobre tela, 59,5x59,5cm, Haia, Haags Gemeente Museum. Imagem baixada do sítio acessado em
4/2/2006, às 15h 10min, <http://www.whimsyspeaks.com/images/Mondrian.jpg>
2 Mondrian, 1872–1944, foi um pintor holandês modernista. Participou do movimento artístico Neo-
plasticismo e colaborou como artista grá co com a revista De Stijl.
3 SANTAELLA, Lucia. Semiótica aplicada. São Paulo: Pioneira Thompson, 2002. p. 86.
Desenvolvimento • 44
siona o observador, por outro cria as condições para libertar seu olhar dos índices das
escolas gurativas.
Pois bem, voltando às primeiras impressões, aquelas nascidas da primeiridade, são
as qualidades vibrantes do azul, do vermelho e do amarelo que invadem o interpretante.
A matriz em preto restringe a ação transbordante do vermelho para emoldurá-lo nas
formas do preto que evita entrecortá-lo. Não tem a mesma sorte o amarelo que o acom-
panha; atravessado pela força da linha preta em sua cintura, corta-o pela horizontal como
a dividi-lo em dois momentos de desfrute, o antes e o depois do corte. Outro amarelo se
abre pela diagonal esquerda, está próximo dos limites da tela e se esforça para ultrapas-
-lo, parecendo estender-se para o contato como num abraço que encontraria à direita o
azul intenso, quase preto...
Pequeno aparte: o quadro utilizado foi encontrado pela Internet, sua análise se
deu através da visão da tela iluminada de monitor. É justo declarar que sua interpretação
sofre dos limites impostos pela navegação, sua luminosidade vem da emissão, e não da
re exão da luz; ainda existem todos os problemas decorrentes das diversas possibilidades
de regulagem dos aparatos eletrônicos sem questionarmos, ainda, como a imagem do
quadro foi digitalizada para nosso contato.
Feito o aparte, voltemos para a análise. O azul, preso pelas linhas pretas que o
contornam, mostra sua força, é parte importante do equilíbrio que se mostra assimétrico,
compensa a leveza e alegria do amarelo à esquerda e ainda encontra o limite de contato
de outra área vermelha, menor, mais acanhada, limitada pelo corte abrupto da tela. Ain-
da o azul, existe um halo avermelhado que o acompanha; sabemos que Mondrian não o
teria gerado, as cores deveriam ser todas puras, foi provavelmente a maneira com a qual a
imagem foi trazida para a Internet que fez surgir o halo, lamentável dentro do que conhe-
cemos do seu autor, mas compreenvel dentro das possibilidades que o signo encontrou
quando da sua re-signi cação num meio diferente do seu original.
A trama construída pelas linhas horizontais e verticais tem seu momento de maior
controle quando a percebemos ganhando à força as duas áreas maiores, de um cinza es-
curo, ainda esforçando-se para, ao menos, igualarem-se à trama. Não conseguem. Mos-
tram-se aprisonadas como seus pares azuis, vermelhos e amarelos. Nada escapa à trama,
Desenvolvimento • 45
e mesmo as manchas que conseguiram estão todas presas à determinação dos traços que
as acompanham.
A arte abstrata não representa objetos próprios da realidade exterior; faz uso, na
verdade, das relações formais entre cores, linhas e superfícies para compor a realidade
da obra, de uma maneira liberta da representação e do gurativo. Uma forma de expres-
são que busca o pensamento para seu usufruto, não permitindo através de sua iconici-
dade identi car elementos que se assemelham a outros pela simples observação da tela.
Exige-se mais. O quadro pede por um interpretante em terceiridade que traga para si o
prazer de suas linhas e o deleite de suas cores — seu objeto dinâmico. Aproveita para
apontar a discussão do aproveitamento do espaço grá co por ele antecipado. O ícone
surgiria com o jornal e com a revista, com a mudança na direção do olhar proposto pela
sua plasticidade.
Há que se veri car que os tipos de relações são traçados com o objeto dinâmico
trazido pela pintura: icônicos, indiciais ou simbólicos. Não existe qualquer identi cação
exterior, suas referências pertencem ao universo representado pelas suas formas, pura-
mente icônico. Novamente somos lançados aos projetos grá cos que usam tramas seme-
lhantes para sua realização.
A relação indicial revela-se em seus argumentos internos, da própria composição.
Como já foi dito, estamos falando sobre o dinamismo das “conversas” entre linhas e
cores entre si e com a tela, é uma conversa interna, quase um pensamento mediado pelo
exercício de um equilíbrio que não se conforma com as dimensões da tela porque não
observa sua simetria, é assimétrico. Há ainda que recordar o nome atribuído à tela por
seu autor, “Composição com superfície grande vermelha, amarelo, preto, cinzento e azul
— faz parte de uma seqüência de trabalhos executados por Mondrian durante o seu perío-
do em Paris numa produção onde o artista experimentava os horizontes de sua técnica.
O relacionamento externo à pintura revela mais uma vez o caminho do projeto
grá co como possibilidade. Lembremos novamente que Mondrian fez parte da revista
De Stijl, cuja in uência foi fundamental para o nascimento do movimento neoplástico. O
poder de discernimento de suas experiências plásticas toma outro rumo, projeta-se para
fora do quadro e se espalha por suas pinceladas. Suas obras possuem profunda relação
Desenvolvimento • 46
com a vida metropolitana, sempre permeadas, direta ou indiretamente, pela música e
pela dança, artes temporais pertencentes ao urbano. Mondrian identi cava no ambiente
moderno da Paris da primeira metade do século XX as premissas de sua teoria neo-
plástica procurando o “equilíbrio universal” entre formas e cores.
Voltemos às nossas capas, agora ajudados que fomos pelas idéias e propostas apre-
sentadas por Mondrian.
A superposição das imagens nos ajuda a entender parte das intenções dos projetos
que foram desenvolvidos para as capas do jornal e do portal. O exemplo nos mostra o dia-
grama das páginas e o seu funcionamento, optou-se por atribuir cores básicas — amarelo,
azul, vermelho — a cada parte do diagrama buscando a relação cromática predominante
em suas fotos/g cos originais, as áreas com texto foram padronizadas em gradações de
cinza. A trama de construção da página com suas divisões foi feita em preto.
Desenvolvimento • 47
Desenvolvimento • 48
Numa leitura das imagens como primeiridade, notamos, a partir do modelo apre-
sentado, o equilíbrio assitrico proposto por Mondrian. São formas, traços, massas de
cores que enfatizam a verticalidade da sua distribuição.
A leitura em secundidade nos revela a tensão das formas ganhando seus contra-
pesos em outros elementos cromáticos ao longo das linhas e formas organizadas num
layout quase neoplástico, claro, guardadas as enormes distâncias da originalidade do
autor em relação às propostas de páginas e a atribuição de cores feita aqui.
A página, agora a terceiridade, nos mostra seu sentido de entendimento, quase um
mergulho nas suas cores procurando enfatizar sua ordem de leitura, mas um detalhe é
importante: ao contrário da pintura de Mondrian, onde o diagrama mostra alternativas de
“fuga” da trama formada pelo diagrama, a primeira página do jornal não nos dá a mesma
chance. Prende-se à dimensão do papel e nos amarra ao diagrama.
Como leitores das notícias feitas a partir de sua primeira página, sabemos que a
alternativa vem da continuidade do texto impresso e da indicação “página XX” ou “ca-
derno YY”. O caminho de leitura está traçado e limitado às páginas do jornal.
Desenvolvimento • 49
Repetindo a comparação e fazendo uso da mesma “liberdade” de investigação,
que nos permitiu a referência à obra de Mondrian aplicada às primeiras páginas do
portal, o que notamos? O mesmo modelo de aplicação. A semelhança é tão avassaladora
Desenvolvimento • 50
que, em última instância, poderíamos trocar um diagrama por outro e ninguém notaria
a diferença, não fosse, é claro, a transparência, que nos denuncia a página original da-
quela do modelo.
A coincidência mais marcante, usrios que somos das primeiras páginas do por-
tal e leitores que somos das primeiras páginas do jornal, acontece na ordem de leitura da
notícia. Em ambos temos uma indicação da sua continuidade, no portal temos um link,
uma indexação que nos conduziria à notícia, porque na primeira página temos títulos
de apenas uma linha nos dizendo do que trata a informação. Uma vez mais tem-se a
linearidade da informação como prerrogativa para a sua constrão e mais uma vez o
leitor, agora usrio, não encontra as alternativas, outros links, talvez, para transformar-
se pelas vias do hipertexto em navegante da informação e construtor da sua notícia.
Pode repetir apenas o caminho do zapping buscando uma alternativa conhecida: usar o
seu “controle remoto” no programa navegador e sair à procura de um outro endereço na
rede que melhor o satisfaça.
Preso à trama construída pelo jornal, seu primo-irmão impresso, o portal vê-se
amarrado às linhas-formas-cores-diagramas-soluções-etc., propostas para o universo
seqüencial da notícia bidimensional presa ao papel, e ainda não buscou libertar-se
desse modelo, como as “manchas” amarela e vermelha “escapam” do nosso “Com-
posição com superfície grande vermelha, amarelo, preto, cinzento e azul, nem percebeu
que a trama construída por Mondrian não chega até o limite físico de seu suporte,
encerra-se antes para permitir sua continuidade na mente do interpretante.
3.2 • Matriz comparativa
As capas dos jornais em tudo se parecem. Diferenças ligadas às escolhas de tipolo-
gia ou à apresentação de seus logotipos. Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo fazem
parte das mesmas soluções grá cas que vêm escrevendo os caminhos da grande impren-
sa brasileira desde a década de 1950. Ambos passaram por um sem-número de reformas
grá cas, e nesse momento, estão muito semelhantes. Mantêm entre si diferenças quanto
à sua maneira de trabalhar o volume de informações recebidas e a partir daí transformá-
las em notícias para suas páginas. Nota-se, por exemplo, o tratamento dado aos títulos ao
Desenvolvimento • 51
noticiar o mesmo evento acontecido à véspera. Nosso exemplo já utilizado anteriormente
tem data de sábado, 9 de julho de 2005:
OESP: Assessor do PT é preso com mala de notas e US$ 100 mil
sob a roupa
FSP: “Petista é preso com R$ 437 mil em notas
OESP: Já são mais de 50 mortos em Londres
FSP: “Mortos em Londres chegam a 50”
Ambos os veículos diferenciam-se pela maneira de indiciar seus títulos dando-lhes
os destaques associados ao melhor acompanhamento dos públicos aos quais se destinam.
Nota-se um cuidado maior em explicar as chamadas dos títulos na capa do O Estado de
S. Paulo; uma diferença grande na qualidade da informação pode ser notada no segundo
destaque quando um vculo trata de “mais de 50 mortos, enquanto o outro a rma que
chegam a 50, indicando, talvez, um maior cuidado na tomada da informação antes de
torná-la notícia, ou ainda a diferença no fechamento e publicação de um vculo em re-
lação ao outro. Como a rmamos anteriormente, nada que um passante atento à exibição
das capas deixaria de investigar, habilitado que está a compará-las, e poderia, assim,
construir a sua leitura a partir da simultaneidade proporcionada pela visita.
As fotos destacadas por ambos os jornais estão identi cadas aos fatos relatados,
não há necessidade de buscá-las em outro lugar, estão próximas. Complementam a infor-
mação emprestando-lhes veracidade em suas cores e na maneira pela qual são aplicadas
ao layout simétrico do impresso. Seis colunas de igual tamanho cortadas ao meio pela
divisão proposta na disposão das imagens e títulos de maior imporncia.
A leitura, lembremos, se dá pela diagonal da esquerda para a direita, de cima
para baixo. Os títulos mais importantes localizam-se no alto, são maiores, ocupam o
espaço da página na sua horizontalidade. Dão pistas ao leitor da sua importância e da
necessidade de tê-los logo num primeiro momento de leitura. Determinam o tempo
para sua apreensão na sugestão da dobra da página: a parte de cima e a parte de baixo,
o antes e o depois.
Desenvolvimento • 52
Se as capas dos jornais em tudo se parecem, o que dizer das capas dos portais?
Como mostramos anteriormente ao submetê-las à análise semiótica e emprestar-lhes as
cores de Mondrian, são “igualmente” iguais. A grande diferença se dá pelo simultâneo
das chamadas das suas capas. O tempo do jornal permaneceu congelado no dia anterior
à sua publicação, a notícia pode prestar-se à re exão e à comparação pública.
Nas capas do portal a sua imediaticidade impõe-se como predominante, nem di-
ferenças no uso de tipo e na escolha das suas imagens obedecem a outros critérios, nem
sempre perceptíveis. Todos os recursos g co-visuais estão a serviço da padronização
e agilização do processo depôr no ar,subir,atualizar as notícias da capa, uma
imposição, novamente, do simultâneo dos acontecimentos.
As imagens abaixo foram feitas no mesmo momento, 24 de maio de 2006, às
11h 45min. A intenção foi apresentar os destaques selecionados pelos portais para
serem noticiados.
Desenvolvimento • 53
O primeiro recorte foi feito a partir do portal Terra. O segundo veio do portal
UOL. Notam-se escolhas bem distintas sobre o que merece destaque nas duas capas. Com
exceção dos assuntos ligados à Copa do Mundo, não há coincidência quanto às notícias
veiculadas. A disposição dos títulos em duas linhas no Terra, em uma no UOL não é cir-
cunstancial, a trama dos projetos de ambos pode permitir variações deste tipo desde que
obedientes ao espaço compactado da capa submetida à
lógica que prevê mais notícias em menos tempo.
Desenvolvimento • 54
Passados 30min, tomamos novas imagens dos portais. Agora tratavam da mesma
notícia em seus destaques, resultado da divulgação de uma informação por uma fonte
comum aos dois portais, a pesquisa CNT/Sensus.
Os título principal informa o leitor/usuário sobre o assunto a ser desenvolvido,
mas a notícia não segue além dele. Logo abaixo temos outras notícias e outros assuntos
lançados à percepção, ao exercício de scanning da página numa profusão de temas que
cabe ao usuário/leitor decifrar.
Ao apresentar as diferenças e semelhanças nas capas impressas e virtuais, percebe-
mos a necessidade de construir nossa matriz comparativa situando ao menos num mesmo
dia para identi carmos do que tratavam os seus títulos principais e em qual interface o
leitor, usuário ou nosso navegante da informação poderia servir-se melhor da notícia.
Selecionamos as capas do jornal O Estado de S. Paulo e do portal Terra datados de 26 de
junho de 2005 para serem colocadas lado a lado em nossa análise.
Desenvolvimento • 55
Desenvolvimento • 56
A divisão em quatro seções distintas não se deu ao acaso; enfatizamos, através
dela, a semelhança entre as duas propostas das capas e podemos destacar, lado a lado, o
seu funcionamento e a partir dele seguir para o seu entendimento.
Terra - portal
a exibão da página não acontece
na sua totalidade, 1/2 página
a leitura se dá por um movimento de
scanning da página em busca das
notas ou informações que desper-
tem o interesse
a percepção da informação fica sub-
metida aos espaços ocupados pelas
notícias, fotos, cores e suas possi-
bilidades de gerar espacialidade
— ocupação do espaço virtual “rea-
lizado” pelo usuário
grande quantidade de notas disper-
sas pela página, descontinuidade na
leitura
• homogeneização do layout
sobreposição de informações, ani-
mações, presença do shopping ao
lado da notícia gerando simultanei-
dade de informações com atribui-
ções diferentes
O Estado de S. Paulo - jornal
a página se mostra em sua totalidade
há uma sugestão de percepção da
gina buscando a linha diagonal
como referência
os títulos oferecem o caminho de
leitura com informações que o qua-
lificam
maior riqueza de imagens na capa
• é estático
existe um jogo: cabe ao leitor per-
correr os caminhos sugeridos para a
leitura
textos justificam títulos e sugerem
continuidade de entendimento
uso do branco como “relaxamento
no processo de leitura e valorização
de elementos da página
absorção de alternativas de “toma-
da” da informação vindas da In-
ternet: vários assuntos apontando
alternativas de leitura fora da capa,
como links para continuidade de as-
suntos “menos” importantes que os
destaques dos títulos
a diagramação sugere a navegação
pela página
Desenvolvimento • 57
Ambas colocadas pela vertical, divididas em colunas e blocos de informação, for-
mam a trama da diagramação que ocupa o espaço físico do jornal ou os limites da tela
dos computadores. A identi caçãoO Estado de S. Paulo se destaca. Chama nossa
atenção a disposição do título “Dilma vai desmontar estrutura de Dirceu, forte no con-
traste com o branco da página e bem no início da diagonal de leitura; a foto central des-
taca um outro assunto, e são várias as fotos dispostas no diagrama que fazem “dançar”
para a direita ou esquerda a distribuição das colunas de texto. O diagrama não é uma
prisão para o layout. No alto sob fundo colorido, ainda podemos encontrar as sugestões
para leituras menos comprometidas com os acontecimentos do dia-a-dia, são cadernos
de variedades com o uso de cores mais “leves, “relaxadas, com proposta de indicar
alternativas de leitura.
O portal não apresenta destaques claros. Mostra-se como uma massa de infor-
mação homogeneizada. Ressalta-se o “L” invertido que suporta e procura dar unidade
a todo o conteúdo de informação colocado sob seus cuidados, como se estivesse a en-
volvê-lo e mantê-lo sob o controle do seu layout. O mesmo “L” indica a separação dos
serviços aos assinantes do portal, no topo, e à esquerda suas diversas opções de navega-
ção interna. trêsretrancas, pequenos índices, relacionando notícias como um dos
assuntos tratados na capa: “Notícias, “Mundo” e “Copa das Confederações. Nenhum
destaque de uns em relação aos outros, apenas a sua ordem de apresentação. Na lateral
direita da página duas colunas inteiras de mensagens publicitárias, a imagem das apos-
tas para “Intersena” chama mais nossa atenção que qualquer outro elemento do layout.
Dentro do shopping, há ainda o banner com a mensagem “preço exclusivo” e “últimos
dias!” logo abaixo da área de serviços aos assinantes do portal.
En m, o portal não tem nos mostrado como tratar a notícia no espaço das suas
páginas. Trouxe do jornal, como já mostramos anteriormente, o seu layout, sua diagra-
mação, a construção da trama que suporta suas diversas atividades online… A matriz
com a visão de ambas as páginas postas lado a lado evidencia as semelhanças quanto
à verticalidade, divisão em colunas, organização do próprio espaço que ocupa na tela;
mostra-nos também a grande diferença quanto à direção do olhar sugerido ao leitor:
claro e objetivo da capa do jornal, administrando o “peso” que cada porção da sua com-
posão pode assumir nos títulos, textos e imagens. A página do portal perde-se dentro
Desenvolvimento • 58
da homogeneização que apresenta, não há a proposta de direção para buscar o olhar do
leitor/usrio, causa confusão ao propor a convivência de assuntos diversos, a notícia ao
lado do anúncio. E é esse o principal problema que nos acompanha desde o início dessa
investigação: a interface desenvolvida pelo portal não lhe cai bem porque pertence ao
corpo do jornal. O portal utiliza-se de práticas jornalísticas para a transformação da in-
formaçãobruta” em estado de notícia; ora, seu funcionamento veio do jornal impresso,
mas não consegue entregar ao leitor/usuário a notícia com o mesmo cuidado com que o
impresso faz a mesma entrega.
3.3 Mediação, Interface e Interfaces
“O que HAL e o Knowledge navigator têm em comum é o fato de exibirem uma tal inteligência
que a própria interface física quase desaparece. É nisso que reside o segredo de uma interface:
fa-la desaparecer.
NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 93.
“Muitas pessoas consideram que o termo interface com o usuário refere-se especi camente a
interface grá ca (GUIs), com janelas e menus e ‘mouses. Um exemplo: ‘Dentro em breve, você
não terá que se preocupar com interfaces. Simplesmente, você estará falando com o seu com-
putador’. Como eu a rmo em resposta, um sistema controlado pela voz não precisa ter janelas,
exatamente como o telefone viva-voz, e eles geralmente têm interfaces ruins. A maneira como
você realiza tarefas com produtos — o que você diz e o que ele responde — isto é interface
(RASKIN, 2000)
Apud Anais do 2ª USIHC — 2º Congresso Internacional de Ergonomia e Usabilidade, Design de
Interface e Interação Humano-Computador. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2003.
A matriz comparativa nos deu uma amostra dos problemas apresentados pelas di-
ferenças entre as interfaces impressa e virtual. Vamos nos aprofundar na discussão sobre
a questão da interface procurando compreender melhor a mediação proposta em ambos
os meios.
A revolução dos tipos móveis já foi citada várias vezes nessa dissertação, mas é
importante lembrá-la, mais uma vez, para sit-la não apenas como uma maneira de ex-
plicar o mundo, mas sim como “a” maneira de representá-lo e torná-lo aceito em todas as
Desenvolvimento • 59
suas manifestações desde a sua origem até o momento presente, quando a revolução do
digital, tão complexa para o mundo quanto aquela, tem o seu desenvolvimento.
Até o nascimento dos tipos móveis, as catedrais medievais representavam os centros
geradores da informação, funcionavam como “máquinas signi cantes da vida pública
4
”.
Conferindo à sociedade uma fórmula de convivência e preenchendo-a dos sentidos que lhe
faltavam para o entendimento do mundo, a catedral era o grande signo para onde se en-
caminhavam as discussões sobre a existência e o entendimento da realidade, representava
uma tradução, ou uma interface, dos desígnios divinos apresentados aos seus seguidores.
A arquitetura imponente com o ponto de vista situado acima do alcance do olhar
humano alimentava o imaginário e o destino professado pelo divino e divulgado por
seus representantes, outra vez uma interface para a busca do conhecimento. Colocan-
do-se distante do humano, deixava clara a idéia da elevação e da busca do sublime ali
representado. Numa época em que a alfabetização não ultrapassava os limites das fa-
mílias abastadas ou os do clero e as habitações limitavam-se às dimensões de cabanas,
as elevadas construções religiosas contavam a história do mundo através das imagens
dispostas em suas paredes e principalmente por seus vitrais iluminados. Eram o centro
do mundo em torno do qual todas as manifestações aconteciam, as ruas e os montes
serviam para sua construção e corroboravam para a sua imponência diante de todos os
que se colocavam à sua volta.
Era uma maneira de ver o mundo: hie-
rarquizado, dependente, centralizado.
E o que é a escrita senão uma interface
entre os pensamentos, as idéias humanas e o
exercício da divulgação de um modo de ver e
mostrar a realidade? A revolução dos tipos mó-
veis terminaria rompendo com essa visão do
mundo e da maneira de observá-lo, não mais
segundo a ótica das catedrais elevadas, mas pe-
las páginas distribuídas ao longo das publica-
4 JOHNSON, Steve. Cultura da Interface.
Rio de Janeiro: Zahar, 2001., p. 36..
Vitral da Sé Velha de Coimbra.
< http://pt.wikipedia.org/wiki/Vitral >
(7/2/2006, 7h 22min)
Desenvolvimento • 60
ções, a informação passou a atender às comunidades e por elas ser gerada, o seu centro
mudava de endereço.
Hoje, os tipos não são somente móveis como outrora, são virtualizáveis dentro
dos diagramas codi cados do computador. Ganharam sua independência das matrizes
melicas e das suas ligas de chumbo. São uidos realizando-se em contato com uma
interface que os atualize num exercício de liberdade de circulação que pôs nas mãos dos
usrios as possibilidades do seu manuseio. Uma interface, que é aqui entendida como
uma área, uma superfície, um ponto de contato onde dois objetos qualitativamente dife-
rentes encontrem-se e possam entender-se através da sua ação de tradutor.
Em nosso caso, a interface ainda ganha mais um atributo: é digital.
() Em seu sentido mais simples, a palavra se refere a softwares que dão forma à interação
entre usuário e computador. A interface atua como uma espécie de tradutor, mediando entre as
duas partes, tornando uma sensível para a outra. Em outras palavras, a relação governada pela
interface é uma relação semântica, caracterizada por signi cado e expressão, não por força fí-
sica. Os computadores digitais são ‘máquinas literárias, como os chama o guru do hipertexto
Ted Nelson. Trabalham com sinais e símbolos, embora seja quase impossível compreender essa
linguagem em sua forma mais elementar. Um programa pensa — se pensar é a palavra correta
no caso — através de minúsculos pulsos de eletricidade, que representam um estado ‘ligado’ ou
um estado ‘desligado, um 0 ou um 1. Os seres humanos pensam através de palavras, conceitos,
imagens, sons, associações. Um computador que nada faça am de manipular seqüências de ze-
ros e uns não passa de uma máquina de somar excepcionalmente ine ciente. Para que a mágica
da revolução digital ocorra, um computador deve também representar-se a si mesmo ao usuário,
numa linguagem que este compreenda.
JOHNSON, Steve. Cultura da interface. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 17.
A interface digital pode ser vista, então, como cultura e mensagem porque go-
vernada pela “re-mediação” que de ne a própria ação humana na “pós-modernidade,
ou como preferimos, na “modernidade líquida, onde re-constrói e re-interpreta a rea-
lidade dentro de parâmetros sob seu controle, num processo in nito de aproprião e
re-signi cação.
“Re-mediação” é usada aqui como a releitura de um objeto por um meio diferente
daquele em que originalmente ele foi concebido. Por exemplo, um projeto exibido du-
rante a exposição “Emoção Art. cial 2.0, de autoria da Prof. Dra. Diana Domingues:
Desenvolvimento • 61
“O trabalho explora a fabricação de
identidades sintéticas a partir de uma
base de dados de vinte personalidades
históricas. Um leitor de código de bar-
ras interpreta vários objetos por meio
de um programa elaborado com algo-
ritmos genéticos e os associa às identi-
dades de mitos como Gandhi, Chaplin,
Ayrton Senna e Lennon. As informa-
ções são transformadas em imagens
que, por sua vez, são deformadas com
a técnica morphing de computação
gráfica e projetadas em telões.
5
Outro esclarecimento ne-
cessário. Preferimos aqui a no-
tação “modenidade líquida” utilizada por Zygmunt Bauman
6
, que nos atende com
maior precisão quando qualificamos o período conseqüente ao moderno, apontando
como suas características básicas para esse estágio do capitalismo o poder extraterri-
torial, as comunicações eletrônicas, a instantaneidade, a instabilidade etc.
“[A modernidade clássica] parece ‘pesada’ (contra a ‘leve’ modernidade contemporânea); melhor
ainda, ‘sólida (e não uida, ‘líquida’ ou ‘liquefeita); condensada (contra difusa ou ‘capilar’); e,
nalmente, ‘sistêmica’ (por oposição a ‘em forma de rede’).
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2000 p. 33.
“A modernidade pesada era, a nal, a época de moldar a realidade como na arquitetura ou na
jardinagem; a realidade adequada aos veredictos da razão deveria ser ‘construída’ sob estrito
controle de qualidade e conforme rígidas regras de procedimento, e mais que tudo projetada
antes da construção.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. p. 58.
A evolução e o desenvolvimento do conceito da interface digital deve muito ao
uso de metáforas visuais como forma de aproximar o entendimento humano ao novo
ambiente que lhe foi apresentado, onde uma linguagem estranha para aqueles distan-
5 Texto do site do evento,
<http://www.itaucultural.org.br/emocaoart cial2/portugues/exposicao01a.cfm>
6 Zygmunt Bauman, 81 anos de idade, é sociólogo e professor na Leeds University. Nasceu em uma
família judia polonesa, naturalizou-se inglês. É autor do livro Modernidade líquida entre outros.
“I’mito: Zapping Zone”, 2004. Instalação de Diana
Domingues e Grupo Artecno UCS (Brasil).
Desenvolvimento • 62
tes da sintaxe dos computadores não teria alternativa de uso sem sua tradução. Foi a
metáfora do desktop (o tampo da mesa de trabalho), na década de 1980, que trouxe o
escritório e seus aparatos — latas de lixo, arquivos, blocos de notas — para o mundo
digital através das telas dos computadores Apple-Macintosh. Foram eles os responsáveis
pela “tradução” grá ca de um ambiente no outro. Buscou-se, dessa maneira, tratar o
aprendizado do uso do computador como uma “extensão” da atividade humana mas em
outro ambiente, o simulado.
No ambiente original do Macintosh, o desktop do computador funcionava como uma escriva-
ninha do mundo real.
JOHNSON, Steve. Cultura da interface. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 48.
Essa facilitação do aprendizado da nova ferramenta utilizando-se de objetos
na tela do computador análogos aos que podem ser encontrados fora dela tornou seu
uso mais “amivel”. A interface grá ca encontrou certa resistência à época, julga-
da como mais uma brincadeira e seu uso considerado impossível para as nalidades
socialmente aceitas no dia-a-dia. A interface grá ca continuou sua evolução acompa-
nhada pela evolução tecnogica que tornou posvel a criação dos complexos ambien-
tes de realidade virtual.
A verdadeira mágica dos computadores grá cos deriva do fato de eles não estarem amarrados
ao velho mundo anagico dos objetos. Podem imitar muito desse mundo, é claro, mas são tam-
bém capazes de adotar novas identidades e desempenhar novas tarefas que não têm, absoluta-
mente, equivalente algum no mundo real.
JOHNSON, Steve. Cultura da interface. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 49.
Com a Internet veio a possibilidade da troca entre mundos distantes sicamente,
sejam pessoas ou culturas dispersas. Uma nova dimensão fora criada, mais uma, aquela
que pretendia a ocupação do espaço virtual agora realizado, a partir da participação dos
usrios interessados nos processos de interação proporcionados pelo meio.
A mefora do desktop aproximou os usuários do mundo virtual. A interface nas-
cida com a Internet o fez participante do meio, quase um agente inserido dentro do siste-
ma de informações com o qual é possível construir o seu relacionamento com o mundo.
A gura do agente tem, na verdade, um signi cado maior para as pretensões dos projetos
Desenvolvimento • 63
de interface desde o desktop até aqui, ganhando pouco a pouco maior autonomia dentro
do ambiente virtualizado. Não basta que nos represente, deve agir em nosso nome, man-
tido sob nosso controle.
“Em 1989, a Apple lançou um célebre vídeo intitulado The Knowledge Navigator, que deposita-
va um solícito ator, envergando um smoking, no canto direito superior de um PowerBook. Aqui
começou o estereótipo do agente como um criado digital: o vídeo mostrava o usuário nal — um
professor universirio que investigava a extinção das orestas pluviais — ordenando despreo-
cupadamente a seu pixelado assistente que procurasse registros sobre fome no banco de dados
on-line do campus, como William Powell pedindo mais um marni. A metáfora do mordomo
tinha certo charme aristocrático (o ramo do high tech fervilhou com piadas sobre Jeeves durante
alguns anos), mas a gravata-borboleta era um detalhe secundário, uma distração. O grande lega-
do de The Knowledge Navigator estava no mero fato de o infomordomo ser uma pessoa.
JOHNSON, Steve. Cultura da interface. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 129.
Na evolução dos games de computador, essa vertente de integração com o meio é
evidente. Propõe-se a inserção do usrio dentro do ambiente virtualizado, estimulando a
experiência em que a interface “desaparece” e passa-se a viver as aventuras propostas pela
programação. O próprio corpo humano renasce como signo dentro do jogo, seus movi-
mentos e sua excitação são transpostos para a ação. O usuário age como se fosse o próprio
personagem ao seu serviço; não se trata de um “avatar”, é o sujeito, em primeira pessoa,
transformado pelas ferramentas do meio e transformando o novo mundo ao seu redor.
É essa alternativa, a de imersão no próprio meio e a ação em primeira pessoa,
que imaginamos como das mais interessantes para o funcionamento do portal. Parte-se
aqui do desenvolvimento da interface como parte do próprio leitor/usuário/navegante
da informação construindo o seu caminho no manuseio da rede informacional em que
está “imerso”. Uma virtualização do humano, mais uma informação codi cada mergu-
lhada na interface que a representa como seu agente.
3.4 A relação homem-máquina
Para que uma interface funcione e nos represente no ambiente digital, faz-se ne-
cessária uma boa tradução entre meios com uma proposta clara de interação, uma “con-
versa” entre homem e máquina.
Desenvolvimento • 64
O interesse pelo campo de estudos e a preocupação com a relação homem-má-
quina fez surgir, em meados dos anos de 1980, a HCI — Human-Computer Interaction,
em que assuntos ligados à ergonomia e à usabilidade mereceram crédito como objetos
de estudo ligados ao entendimento e aprimoramento dos aspectos físicos e psicogicos
desse “relacionamento”.
A ergonomia é o estudo cientí co da relação entre o homem e seus meios, métodos e espaço
de trabalho. Seu trabalho é elaborar, mediante a contribuição de diversas disciplinas cien cas
que a compõem, um corpo de conhecimentos que, dentro de uma perspectiva de aplicação, deve
resultar numa melhor adaptação ao homem dos meios tecnológicos e dos ambientes de trabalho
e de vida” — Congresso Internacional de Ergonomia, 1969.
MORAES, Anamaria. In: Formas do design. Rio de Janeiro: 2AB, 1999. p. 175.
A usabilidade é o campo que mais nos interessa. É ele que trabalha com a facili-
dade ou não do acesso à informação. Entende-se que o projeto informacional deve estar
centrado no usrio, buscando sua intuitividade como um dos conceitos para a sua loca-
lização dentro do ambiente virtualizado. Lembrando Nicholas Negroponte, a interface
deve “desaparecer”.
A usabilidade está diretamente ligada ao diálogo com a interface, que deve permi-
tir sua boa utilização gerando satisfação —um ambiente de navegação user friendly—,
relacionado ao nível de conforto que o usuário percebe ao utilizar a interface e qual a sua
aceitação como maneira de alcançar seus objetivos de navegação, em nosso caso, chegar
e entender a notícia apresentada na primeira página.
O problema é que os seres humanos são muito diferentes entre si.
Na Internet, quando colocamos usuários diante de interfaces extremamente ex-
perimentais, percebemos parte dessas diferenças. Aqueles que têm a nidade com o
assunto tratado rapidamente se relacionam com o sistema, enquanto aqueles que vêm
de outras experiências ou que tenham outras preferências acabam passando por di cul-
dades e podem até mesmo desinteressar-se pelo assunto. Foi preciso desenvolver uma
interface mais abrangente e que respeitasse a capacidade de aprendizado do usuário,
envolvendo a técnica para oferecer comodidade e o design para lhe dar prazer durante
sua navegação.
Desenvolvimento • 65
O uso de metáforas visuais é lembrado, novamente, como um conceito aceito na
construção de interfaces digitais. Por exemplo: uma interface baseada na estrutura do
livro, do caderno ou até da televisão pode, além de atrair a atenção de um público espe-
co, ajudar a criar uma identidade visual, que guia o visitante em sua navegação. Uma
metáfora e ciente faz com que o usrio se sinta confortável e estimulado a desbravar as
páginas do site.
No momento em que a Internet encontrou-se com a comunicação de massa, a
metáfora utilizada para aproximá-la do público foi a busca de elementos do cotidiano: o
jornal prestou-se como solução. A mefora do desktop aproximou o humano do com-
putador, a metáfora da página, velha conhecida dos leitores, em muito colaborou para
transformá-lo em usuário para a Internet.
Outros aspectos ligados ao projeto da interface devem levar em consideração a le-
gibilidade e a percepção da página exposta ao usuário. Legibilidade diz respeito às carac-
terísticas lexicais das informações apresentadas na tela que possam di cultar a leitura:
brilho do caractere, contraste letra/fundo, tamanho da fonte, espaçamento entre palavras,
espaçamento entre linhas e parágrafos etc.
O layout da interface deve considerar a maneira como o usrio pode ser in uen-
ciado por ela na busca e entendimento da informação. Devem-se considerar os principais
elementos estruturais da sua composição: o texto (tipogra a), as imagens — incluindo
os ícones — e o próprio espaço da tela com o qual estes elementos se relacionam, ou o
“fundo; a organização da estrutura visual é importante para a interpretação e compre-
ensão da informação.
Os princípios de organização perceptual foram descritos em 1920 pelos psicólogos
da escola gestáltica. Segundo a Gestalt, percebemos um conjunto de elementos como
uma forma completa em que os componentes estão integrados entre si e não podemos de-
compô-los sem destruir o conjunto. É assim que entendemos a primeira página do portal
como uma única imagem, aquela que representa a realidade mostrada pelo mosaico de
diversas notícias. Alguns dos princípios são:
O princípio da proximidade: a tendência de associação entre os elementos mais
próximos entre si dentro do campo visual;
Desenvolvimento • 66
O princípio da similaridade: a associação de elementos que compartilham ca-
racterísticas visuais básicas, como, forma, cor, textura, direção etc.;
O princípio da continuidade: descreve a facilidade em aceitar os contornos con-
tínuos e sem quebra em lugar de guras mais irregulares;
O princípio do fechamento: descreve a tendência humana de completar uma
gura mesmo quando os contornos estão ausentes;
O princípio da gura-fundo: é aquele no qual a atenção visual do observador
alterna entre o branco do triângulo e os círculos pretos entalhados. Ambos po-
dem ser vistos como gura (objeto de interesse) ou como fundo sobre o qual es
apoiada a gura. Esse fenômeno pode ser usado com grande efeito para produzir
identidades grá cas atraentes e layouts e cientes;
O princípio do agrupamento: o princípio de área relata que a menor de duas -
guras sobrepostas tenderá a ser interpretada como gura, enquanto a maior será
interpretada como fundo;
O princípio da simetria: descreve o agrupamento baseado nas propriedades
emergentes da forma, ao invés das características das partes que a constituem.
Desenvolvimento • 67
Toda imagem está diretamente relacionada com o “fundo” que a suporta e que
interfere na forma como é visualizadas; ela pode parecer mais “clara” ou mais “escura,
mais “leve” ou mais “pesada, pode até mesmo criar a ilusão de “profundidade, possi-
bilitando assim os “ambientes virtuais. Os portais analisados mantêm o branco como
sua cor de fundo, destacando e localizando o conteúdo diverso da notícia com cores que
determinam seu espaço de visualização — laranja no Terra e azul no UOL. Existe tam-
bém a preocupação com a transmissão das imagens e cores pela rede e a sua inevitável
alteração que ocorre em cada ponto de recepção, dependentes que são das condições do
monitor usado pelo usrio e das con gurações próprias de seus computadores.
As imagens que compõem a página assumem características distintas dentro de
cada projeto. São, no caso dos portais, imagens usadas para passar uma mensagem de
interesse para o usrio, fazem parte da notícia que se quer divulgar, têm características
próprias, não tendo necessariamente qualquer relação visual com o site considerado, têm
caráter provisório, podendo ser substituídas a qualquer momento como resultado da di-
nâmica de atualização das notícias.
Outras, como banners
7
e pop-ups
8
, cumprem tarefas diferentes, notadamente pu-
blicirias, e, muitas vezes, atravessam sem prévia autorização o caminho de leitura do
usuário. Há também as imagens que carregam em si a responsabilidade operacional do
site: são os ícones criados para a navegação e os elementos que tornam clara a divisão
estrutural da página, como os os de separação entre colunas de texto.
Os ícones são utilizados em interfaces grá cas para proporcionar um guia funcio-
nal e estético; eles representam as principais tarefas. Esses elementos funcionam como
um sistema de signos estritamente relacionados com o projeto e o público a que se des-
tinam. Devem ser signi cativos, coerentes, claros e simples e devem também ter um
pequeno tamanho em relação à interface.
7 Banners são pequenas chamadas animadas ou não, usadas geralmente como uma propaganda que
pode dar acesso a outro “ponto” na rede.
8 Pop-up é uma janela, diferente daquela do site que o usuário está visitando, usada como meio de exi-
bir material publicitário; procura chamar a atenção do usrio.
Desenvolvimento • 68
UOL Fone
Também no caso dos ícones, o uso de metáforas facilita seu reconhecimento e a
associação com suas tarefas mais rapidamente. Como qualquer outro elemento estrutural
da imagem, os ícones devem ser pensados considerando-se a cor, o posicionamento no
espaço e o agrupamento.
O poder de comunicação de uma interface, como de qualquer outra imagem, es
intimamente ligado ao uso das cores. A cor interfere nos sentidos e emoções dos seres
humanos, podendo atrair ou afastar sua atenção.
“Modernamente, o reconhecimento de que a cor é tão-somente uma sensação coloca-a no campo
das especulações psicológicas, possibilitando o aprofundamento do estudo das relações entre es-
mulos e componentes siológicos, para maior conhecimento dos dados sensitivos e perceptivos
e sua in uência nos re exos conscientes e inconscientes de caráter emocional e moral.
PEDROSA, Israel. Da cor à cor inexistente. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial Ltda. /
EDUFF, 2002. p. 100.
É preciso pensar também a “imagem da própria palavra, tratar cada letra com o
mesmo cuidado com que se trata qualquer outra imagem garantirá uma comunicação mais
precisa. É interessante reforçar o signi cado da palavra com a fonte escolhida para contex-
tualizá-la no projeto, escolher a cor certa para cada informação, usar os recursos de clareza
e contraste em relação ao fundo que seriam aplicados a qualquer outra imagem na tela.
O portal apresenta em seu projeto grá co as amarras que seguram a informação
num grid preocupado com o melhor aproveitamento dos processos de produção: as ima-
gens têm formato pré-determinado e não ultrapassam os limites do diagrama formado
para aprisioná-las. A presença das cores enfatiza os mesmos limites agora propostos para
os diversos assuntos que se pretende abordar. Notamos no último projeto apresentado
pelo portal UOL, em março de 2004, parte dessas características.
Desenvolvimento • 69
O Terra faz uso de um projeto mundializado, suas páginas aqui no Brasil ou no
xico têm o mesmo funcionamento e layout.
À esquerda a página visitada em
25/2/2006, 21h 55min, à direita a
página mostrada em 25/3/2005,
arquivada no endereço <http://web.
archive.org/web/200050329093734/
http://www.terra.com.mx/
À esquerda o projeto apresentado em
março de 2004, à direita a página visitada
em 25/2/2006, 21h 05min.
Desenvolvimento • 70
É claro, e vale aqui o destaque, que jornais também observam e mantêm projetos
grá cos que, além de tornar suas páginas adequadas à contemporaneidade, sofrem alte-
rações procurando permanecer sempre no dia-a-dia das sociedades. O que procuramos
destacar é que no caso dos portais, seus projetos têm atendido a processos internos onde
a tecnologia e suas alternativas têm funcionado mais como limitantes do processo cria-
tivo e do desenvolvimento de inferfaces que deveriam atender, além do seu próprio fun-
cionamento, o que leitores e usrios poderiam encontrar quando postados na situação
de navegantes da informação.
3.5 Notícia e portal de informações
“O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
E vou
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não?
Por que não?
Alegria, Alegria, do compositor Caetano Veloso
Com já foi dito em várias oportunidades nessa dissertação, os portais de informa-
ção, em nosso exemplo UOL e Terra, permanecem presos à origem “impressa” do seu
projeto, o jornal de informações. Através de suas capas somos levados a confundi-los, e
cabe a pergunta: o portal é a versão online do jornal impresso e como tal não abre mão
de centralizar o acesso à notícia?
Em A vida digital, publicado em 1995, existe um interessante “encontro” da notí-
cia com suas interfaces e como poderiam apresentar-se numa solução tecnológica para a
tradução/troca entre meios distintos: o humano e o digital. A interface apresentada trans-
Desenvolvimento • 71
forma-se em “agente” cultural e faz do seu usuário o que o autor chamou de “navegante
do conhecimento.
Vemos o navegante da informação como o terceiro num processo evolutivo que o
trouxe do papel de leitor para o de navegante, dono do seu destino na descoberta da in-
formação pintada como notícia pelos detentores dos textos jornalísticos... mas que pode
ser montada segundo a interpretação e livre navegação dos fatos e/ou fontes pelo próprio
navegante exercendo um papel de editor do que lhe interessa...
“Mas há uma outra maneira de se contemplar um jornal: como uma interface com a notícia.
Em vez de fazê-lo ler aquilo que outras pessoar acham que é notícia e julgam digno de ser pu-
blicado, a vida digital vai mudar o modelo econômico da seleção de notícias, atribuindo papel
maior aos interesses de cada leitor e, na verdade, utilizando sobras da sala de edição que não
tinham tanto apelo.
Imagine um futuro no qual seu agente de interface vai poder ler todos os jornais e captar todos
os noticiários de TV e rádio do planeta, construindo a partir daí um sumário personalizado para
você. Esse tipo de jornal terá uma tiragem de apenas uma cópia.
NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 147.
Lembremos que um dos primeiros portais nascidos na Internet, a AOL, já mos-
trava uma tendência centralizadora no acesso e fornecimento da informação ligada ao
conceito de “assinatura, semelhante a jornais ou revistas impressas. Nascida dentro da
evolução da interface grá ca quando as BBSs
9
ganhavam ferramentas mais claras de
contato entre os seus usuários, a AOL trouxe para suas páginas todos os que buscavam
dentro do território virtual norte-americano o melhor acesso aos primeiros serviços
abertos pela nova ferramenta, como num clube
10
. Note-se que as BBSs funcionavam
como clubes de acesso, o conteúdo presente nas páginas apresentava o que a média de
usrios buscava; como numa revista de variedades, a assinatura da AOL permitia ao
usrio o acesso às informações e serviços selecionados pelo portal. Não por acaso, as
primeiras páginas presentes nos serviços de acesso brasileiros, tendo o UOL como um
dos primeiros a apresentá-lo, guardam uma grande semelhança com o layout desenvol-
9 BBS, do inglês bulletin board system, é um sistema de informações dotado de um software, que
permitia a ligação (conexão) via telefone a um sistema através do computador e a interação com ele
fazendo uso de códigos; foi um sistema anterior ao advento da interface g ca www.
10 Segundo Nicholas Negroponte, em A vida digital, “a America Online, um veículo de socializa-
ção, p. 11.
Desenvolvimento • 72
vido pela AOL, lembradas as diferenças na linguagem de programação utilizada pelos
dois serviços. A AOL fazia uso da linguagem proprieria RainMain. Quando o UOL
iniciou suas atividades, a linguagem HTML já ganhava os espaços de programação da
Internet, uma linguagem aberta e de acesso público. Não havia ainda muito com o que
ocupar as páginas recém-nascidas, mas a ligação clara com o jornal já denunciava o
que viria a seguir. Vejamos alguns dos exemplos da evolução do layout e o aumento da
ocupação do espaço virtual das páginas pelas notícias trazidas pelo jornal.
“Mas talvez a verdadeira revolução desencadeada pelo HTML seja a democratização do design
de interface. A tarefa de imaginar a informação não vai mais ser apanágio dos sumo-sacerdotes
da programação; qualquer pessoa moderadamente à vontade com um computador será capaz de
inventar seus próprios espaços-moderação e de partilhá-los com amigos ou colegas.
JOHNSON, Steve. Cultura da interface. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 163.
Lembremos da citação de Paul Virilio antecipando parte da documentação em
rede que ocupa nosso dia-a-dia. Como já disse Foucault, as alternativas de investigação
e portanto controle da sociedade passam pelo “vigiar” e “punir”, tendo a imagem como
sua referência de verdade.
Desenvolvimento • 73
“Em 1967, o juiz de instrução Philippe Chausserie Laprée apresentava aos jurados do tribunal
criminal de Chaen um lme de três minutos reconstituindo o assassinato de um colono norman-
do. Este juiz, que se descreve como um ‘maníaco por instrução’ e faz verdadeiras sinopses dos
casos sob sua responsabilidade colando, em cadernos de estudante, fotos à esquerda e, à direita,
funcionando como diálogos, resumos dos interrogatórios, vai portanto, pela primeira vez na
França, introduzir um ‘documentário judiciário’ ao lado das tradicionais fotos de vítimas e de
locais do crime. Lembremos que o juiz tomou como auxiliares para esta lmagem dois antigos
cinegra stas do exército e não seus funcionários.
VIRILIO, Paul. A máquina de visão. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002. p. 68.
Tal aspecto causa desconforto ao notarmos que nos ambientes hipermidiáticos,
onde as ferramentas de construção do espaço estão à disposição dos seus usuários ga-
nhando estatuto de “geradoras” da verdade que não pertence senão àquele que a criou,
ganha-se o status de gerador de informação… O portal poderia comportar-se como a
referência, um ltro do que “realmente” passa pela realidade externa aos seus códigos,
novamente, informação e notícia, em meio ao labirinto criado em torno dos novos “pro-
dutores” da informação. Todos aqueles que estiverem em conexão podem, virtualmente,
transformar-se em seus produtores, daí a possibilidade de os portais serem os “organiza-
dores” dos diversos conteúdos e da informação que mereceria a quali cação de notícia;
o portal assumiria, en m, a tarefa de “agente de interface” a serviço do nosso navegante
da informação.
3.6 Google e integradores de informação
Uma das maiores revoluções dentro da revolução provocada pela digitalização da
informação vem acontecendo e absorvendo boa parte dos esforços criativos presentes
dentro da estrutura da Internet: o Google. Mais que um serviço de busca, a ferramenta
nascida dentro do universo de códigos que consti e preenche a Internet tem justi -
cado o próprio funcionamento dentro dela. Conhecedora e produtora da linguagem da
informação codi cada, tem criado alternativas, de “tomada” da rede pelos seus usrios
transformados paulatinamente em navegantes da informação. As buscas são semânticas,
suas alternativas desde que autorizadas, permitem sua integração ao sistema criado por
Google e também a outros navegantes mediados pelo mesmo sistema. A notícia, nascida
do esforço de construção realizado por jornalistas, “blogueiros” ou outros navegantes,
Desenvolvimento • 74
Desenvolvimento • 75
pode ser realizada à frente daquele que tem a interface à sua disposão. A conexão gera
a realização.
Nada disso aconteceu a partir das capas do portal. Nenhuma integração à piscina
de informações presentes no meio recebeu do portal a atenção para o desenvolvimento
das alternativas nascidas à sua volta. O portal prende-se a uma busca bibliográ ca por
termos e expressões, não tece relações semânticas e não oferece a riqueza que a troca
de informações pode trazer a seus, ainda, usuários. Parece temer a semiose em que o
signo-notícia realimenta o ciclo da percepção transformando-se em objeto para uma nova
semiose. Teme a evolução do navegante que sai da primeiridade da percepção da inter-
face, passa para a secundidade ao entendê-la como fonte de informação e migra para a
terceiridade ao perceber que a interface faz parte da sua navegação e pode representá-lo
na sua busca do conhecimento.
G o o g l e o f e r e c e a i n d a
a personaliza ção de conte-
údos, engloba a tecnologia
do RSS
11
como num agre-
gador de informações
12
.
Permite a personlização de
suas páginas, libertando o
navegante da continuidade
dos caminhos xados em
páginas, a construção das
notícias faz-se a partir das
intenções dos seus nave-
gantes, que podem gerar e
11 RSS (Rich Site Sumary) é um subconjunto de “dialetos” XML que servem para agregar conteúdo ou
“Web syndication. É usado para (entre outras coisas) sites de notícias e blogs.
< http://pt.wikipedia.org/wiki/RSS > em 16/2/2006, 16h 11min.
12 Agregador de informação é um leitor de feeds, permitindo que você mantenha-se informado e otimi-
ze seu tempo. Geralmente as notícias no formato RSS fornecem um título, resumo da manchete e um
link através do qual podem-se obter maiores informações; dessa forma, utiliza-se o navegador para ler
aquilo que realmente interessa ao usuário.
< http://www.rss cado.com.br/ > em 19/02/2006, 16h17min.
Desenvolvimento • 76
gerir o “seu” portal ideal, um agente, como no Knowlegde Navigator, obediente às suas
vontades de descoberta.
O agregador de informações, a outra ferramenta desenvolvida dentro do ambiente
virtual que mencionamos, compartilha com o Google News o objetivo de proporcionar
acesso a várias fontes diferentes de notícias, deixando sob os cuidados do navegante a
construção do conteúdo a ser tomado. O agregador assemelha-se a um aplicativo de bus-
cas, o usário faz as escolhas das fontes de informação que fazem uso do RSS e as acres-
centa a uma lista para atualização. Quando uma notícia lhe interessa, basta selecionar
o seu título para que um lead da matéria lhe dê maiores informações sobre o que será
desenvolvido ao longo do texto. Ainda interessado o navegante pode habilitar a notícia
para que ocupe toda a área de visualização do agregador. O layout a ser observado é o da
fonte com a qual houve contato.
O Google News e os agregadores servem-se da tecnologia do que cou conhecido
como semantic web, que opera com metadados semânticos dentro da web, isto é, infor-
mações que descrevem o conteúdo, o signi cado e a relação entre todos eles de uma ma-
neira que podem ser reconhecidos e agrupados pelos mecanismos de busca dos diversos
bancos de dados presentes na rede. O RSS faz parte desses metadados.
Numa visita recente ao Brasil, Theodor Nelson, criador da teoria de hipertexto nos
anos 1960, fez o seguinte comenrio numa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo:
“O sr. acaba de lançar um novo projeto chamado Transliterature. Poderia resumir as
idéias por trás dele?
A World Wide Web é uma simulação do papel, uma superfície bidimensional, com muito pou-
cos links, que apontam apenas para fora. Acredito que você deveria ter milhares de links de
vários tipos em uma página, e todo mundo deveria poder usá-los. O documento seria tridimen-
sional, quadridimensional, qüinquedimensional, animado... Você viu Star Wars? Sabe a cena de
abertura, com o texto se movendo na tela? Então, daquele jeito! Matrix você viu? Sabe aquela
chuva” de texto na tela? Poderia ser daquele jeito também. Tudo isso deveria ser possível, e
muito mais.
E a tecnologia que temos hoje permitiria isso?
(Pausa) Vamos conversar sobre a palavra ‘tecnologia. Um sapato é tecnologia, uma frigideira
é tecnologia, um copo dágua é tecnologia. Mas a palavra é usada geralmente para se referir ao
último gadget. Quando você compra um telefone celular novo, é tão complicado navegar através
dos menus... Isso não é tecnologia, é a mente estúpida das pessoas que o desenharam. As câme-
Desenvolvimento • 77
Desenvolvimento • 78
Desenvolvimento • 79
ras de vídeo hoje são fantásticas, você pode fazer lmes com qualidade de cinema nelas. Mas o
problema é lidar com os 300 menus escritos por engenheiros japoneses! O problema não é o quão
maravilhosa a tecnologia pode ser. O problema é a comunicação das idéias. E sejam japoneses,
americanos ou brasileiros, engenheiros não são muito bons para comunicar idéias.
Entrevista feita por Diego Assis para o jornal O Estado de S. Paulo, < http://www.link.estadao.
com.br/index.cfm?id_conteudo=5371 >
E o portal? Quando Nelson a rma que a web deveriater milhares de links de
vários tipos em uma página, e todo mundo deveria poder usá-los, colabora com a nossa
visão do que poderia favorecer os caminhos do navegante. O que temos, na verdade, é
que o portal demora a trazer as “novidades” vindas das alternativas que a tecnologia
apresenta aos seus usrios, incorpora-as após a sua consagração quando boa parte deles
já tomou conhecimento dessas “novidades” através de outras fontes ou alternativas. Lem-
brando da referência ao “cavalo com rodas, temos aqui o mesmo problema: não tem sido
o portal a alternativa digital para onde são projetadas ou desenvolvidas ou experimen-
tadas as ferramentas que apresentam novas possibilidades para a construção da notícia,
sua concepção guarda referência ao “assinante, que, preso aos contratos do acesso, per-
manece limitado às ofertas feitas peloproprietário” do servo, como se nas alternativas
construídas pelo digital fosse possível evitar o mergulho à informação e deixar somente
sua superfície para o contato com o navegante.
3.7 O tempo subtraído
Numa quarta-feira
13
à noite a apresentação era aguardada. Pessoas, deconhecidas
umas das outras, conversavam, tendo como assunto comum o programa e os caminhos
diversos que o regente seguira até aquele momento.
Abertas as portas do Teatro Cultura Artística, todos procuravam por seus lugares
de maneira calma, com o devido tempo para encontrarem o assento previamente identi-
cado. Surgem os músicos atras de uma fenda aberta na pesada cortina escura. Orga-
nizam-se, a nam seus instrumentos, conversam.
13 Apresentação da Bachiana Filarmônica, sob regência de João Carlos Martins, em 24 de maio de 2006,
21h. No programa: Concerto em Dó Menor para dois pianos, BWV 1060, Concerto em Dó Maior para
dois pianos e orquestra, BWV 1061, Suíte Orquestral nº 2 em Si Menor, BWV 1067 e Concerto para
quatro pianos e orquestra em Lá Menor, BWV 1065.
Desenvolvimento • 80
Pausa, surge o regente, João Carlos Martins, um pianista que perdera os movimen-
tos numa das suas mãos e, apaixonado pela música, rearticulou seus conhecimentos para
a prática da regência.
Aplausos da platéia, saudações dos amigos presentes.
Início do programa. Foi uma noite para ouvir Bach e emocionar-se.
Para ouvir música e ouvi-la de maneira a emocionar-se, é preciso tempo para que
as apreensões vindas do dia-a-dia tenham como desaparecer da mente do indivíduo, ao
menos na nossa perspectiva. Um tempo que assume na “modernidade líquida” caracte-
rísticas bem defasadas dessa fruição requerida por Bach.
Aos três tempos – passado, presente e futuro – da ação decisiva, substituem-se sub-repticia-
mente dois tempos, o tempo real e o tempo diferenciado. O futuro tendo desaparecido, por um
lado, na programação dos computadores e, por outro, no falseamento deste tempo pretensamente
real’ que a uma só vez contém uma parte do presente e uma parte do futuro imediato. De fato, a
partir do momento em que se percebe, no radar ou no vídeo, uma máquina ameaçando em ‘tem-
po real, o presente mediatizado pela mesa de controle já conm o futuro da chegada próxima
do projétil sobre seu alvo.
VIRILIO, Paul. A máquina de visão. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002. p. 95.
A compressão/supressão do tempo apontada por Virilio transformou-se paula-
tinamente na forma de vida que a sociedade em rede reconhece. Não nos custa lem-
brar que o computador, como instrumento primeiro de acesso ao mundo codificado,
realiza uma operação sobre o tempo, é uma captura do momento presentificado e o
faz, ou deveria fazer, sob nossa supervisão e solicitação, tranformando-nos em agen-
tes sobre o tempo.
O uso da primeira pessoa não é gratuito. Somos, nós todos, a sociedade na qual
vivemos e que nos faz “pertencer” a todo o mundo, parte do processo de virtualização
e mediação do contato com a realidade. Seres de informação, globalizados por força da
expansão do capitalismo informacional, vemo-nos como pacientes das alterações que o
ambiente do qual fazemos parte sofre instante a instante obrigando-nos a integrarmo-
nos e viver sob suas normas ou a sucumbir nos intervalos de um momento que se realiza
à frente do computador.
Desenvolvimento • 81
Como resultado dessa pós-modernidade/modernidade líquida vivida por todos,
nossa própria identidade passa por questionamentos cada vez mais profundos.
“Em 1994, um pôster espalhado pelas ruas de Berlim brincava com as di culdades que temos,
hoje em dia, para de nir o que é a identidade. ‘Seu Cristo é judeu. Seu carro é japonês. Sua
pizza é italiana. Sua democracia – grega. Seu café – brasileiro. Seus números – árabes. Só o
seu vizinho é um estrangeiro, estava escrito, em tom de pilhéria, mas também de desa o aos
alemães. Com a chegada cada vez mais intensa de migrantes árabes, asiáticos, sul-americanos, a
xenofobia e o racismo cresciam em toda a Europa. Ainda crescem. Mas os europeus – se é que
ainda podemos imaginar um europeu puro – teimam em pensar, muitas vezes, que estrangeiros
são os outros.
CASTELLO, José. Artigo publicado no site No Mínimo
14
Em tom de pilhéria ou não, o fato é que o cartaz reproduz o que temos vivido.
Naquele momento retratava as inseguranças e as adversidades da reintegração das duas
Alemanhas, separadas havia quase cinqüenta anos. Agora, passados mais de dez anos, os
questionamentos relacionados à identidade continuam e ganharam a dimensão da socie-
dade em rede, maior que o próprio planeta físico que conhecemos.
A informação circula à velocidade da luz e coloca a todos questões que impor-
tam às várias comunidades presentes. As notícias apresentadas pelos portais reproduzem
suas fontes vindas de agências de notícias, essas sim preocupadas com acontecimentos
mundiais e com a reprodução em escala dos assuntos por elas levantados. Os portais
terminam publicando online as mesmas informações que vão ocupar as páginas dos
jornais num tempo que não pertence mais às pessoas, mas ao próprio funcionamento
da rede. Apenas como exemplo, valem as anotações feitas a partir do site BlueBus
15
na
quinta-feira, 23/2/2006, relacionadas à publicação de uma mesma notícia/foto nas capas
de diversos jornais e portais:
Os jornalões em uníssono com a mesma foto do presidente 08:26 Nas 3 capas,
da Folha, do Globo e do Estado, ele levanta os braços na direção do mar,
vocês viram na banca? Lembra o Paulo Coelho e suas 3 capas na mesma
semana nas revistas (mas ao menos não era a mesma foto). Seria efeito de
14 <http://nominimo.ibest.com.br/notitia/servlet/newstorm.notitia.presentation.NavigationServlet?publi
cationCode=1&pageCode=31&textCode=19673&date=currentDat > , 27/11/2005.
15 http://www.bluebus.com.br/show.php?p=1&id=67374
Desenvolvimento • 82
1 boa assessoria de imprensa ou da falta de imaginação dos editores? ;- ).
23/02
Julio Hungria
Foram 7 jornais com a mesma foto ou fotos muito parecidas
08:43 A Agência
Estado teria feito 1 alentada venda da celebrada foto da sua capa de ontem
(Lula e o mar), clicada por Célio Jr, a pelo menos 5 jornais — O Globo, Jor-
nal do Brasil, Diário do Comércio, O Estado do Paraná e Folha da Região
— Araçatuba. É possivel que alguns desses, no entanto, tenham utilizado,
como a Folha de S. Paulo, 1 foto praticamente igual, do mesmo momento do
presidente, tirada pelo fotógrafo do Palácio, Ricardo Stuckert — foi a que a
Folha publicou. Permanece a minha dúvida de ontem sobre a falta de ima-
ginação dos editores — escrevi na nota ‘Os jornalões em uníssono com a
mesma foto do presidente. Mas pode haver também alguma coisa truncada
na distribuição das imagens, alguma impropriedade, tanto da parte da AE,
que vende sua capa do dia a terceiros, como da parte da assessoria do Pa-
lácio. Ou não? 24/02
Julio Hungria
Foram 7 jornais com a mesma foto... e os portais na web?
08:45 Leitor — “Ju-
lio,o vou defender os jornais, mas é só reparar nas capas dos principais
portais (Terra, UOL, IG, Globo e MSN) e você vai ver que todos oferecem
a mesma coisa. E não é só a foto. As matérias costumam ser as mesmas,
geralmente vindas das mesmas agências, sem muita apuração, sem muito
cuidado”. 24/02
Jones Rossi
A última das notas é reveladora do que falávamos, “Foram 7 jornais com a mesma
foto… e os portais na web?” Notamos que a informação permaneceu a mesma em suas
múltiplas opções de acesso. A coincidência foi notada por um serviço online que abre
espaço à circulação de idéias e ao questionamento do próprio funcionamento do que é le-
vado ao público. E não foi o portal de informações num serviço que poderia ser prestado
ao seus usrios/assinantes que criou a possibilidade de questionamento. Utilizando as
mesmas fontes, portal e jornal terminam repetindo suas notícias e suas capas. A vincula-
ção é tão grande que nos cabe o questionamento do sentido da manutenção dessas duas
estruturas quando ambas se repetem.
Desenvolvimento • 83
O leitor/usrio não consegue atingir a navegação da notícia com a qual mantém
contato. Resta apenas vasculhar o conteúdo diverso levado ao ar pelo portal e divertir-
se, ou não, com as propostas feitas por ele. Pode também buscar alternativas diferentes
das oferecidas repetindo um movimento que aprendera a executar como telespectador,
o zapping não mais entre canais da TV, agora dos diversos sites à sua frente. Com a
diferença de manter-se, porque ligado à necessidade do acesso, ao portal que o trouxe
para a Internet.
Diante do que vimos, o tempo da fruição da notícia parece pertencer ao meio
impresso: pegar o jornal, folheá-lo e descobrir para onde as notícias podem le-lo faz
parte de um exercício que não saiu das páginas impressas. É motivo de descoberta sim
e que pode levar o navegante a percorrer outros caminhos.
As páginas do portal deveriam abrir-se, pensamos, a dar ciência dos acontecimen-
tos dentro da instantaneidade, como vêm fazendo, mas evitando a tentativa de igualar-se
e manter-se presas ao jornal impresso, criar um projeto próprio liberto da estrutura da
produção jornalística da notícia, do seu design e da sua ligação com centros agenciado-
res da informação. Lembremos que uma das características presentes no mundo digital
diz respeito justamente à ausência de centros, “o centro está em toda parte
16
, inclusive
no envolvimento com a notícia.
16 “O centro está em toda parte, e a circunferência, em parte alguma”, Nicolau de Cusa, Século XIII.
Apud MARTINHO, Cássio. Redes: uma introdução às dinâmicas da conectividade e auto-organiza-
ção. Brasília: WWF Brasil, 2003.
< http://www.wwf.org.br/publicacoes/livro_redes_ea.htm >. Acesso em 31/10/2004.
Conclusão • 84
4 • CONCLUSÃO
“Não surpreende que não mais se escrevam distopias nestes tempos: o mundo pós-fordista, ‘mo-
derno uido, dos indivíduos que escolhem em liberdade, não mais se ocupa do sinistro Grande
Irmão, que puniria os que saíssem da linha. Neste mundo, no entanto, tampouco há espaço para
o benigno e cuidadoso Irmão Mais Velho em quem se podia con ar e buscar apoio para decidir
que coisas eram dignas de ser feitas ou possuídas e com quem se punham em seu caminho; e
assim as utopias da boa sociedade também deixaram de ser escritas. Tudo, por assim dizer, corre
agora por conta do indivíduo. Cabe ao indivíduo descobrir o que é capaz de fazer, esticar essa
capacidade ao máximo e escolher os ns a que essa capacidade poderia melhor servir — isto é,
com a máxima satisfação concebível. Compete ao indivíduo ‘amassar o inesperado para que se
torne um entretenimento’*.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. p. 73-4.
*[Turo-Kimino Lehtonem e Pasi Mäenpää, “Shopping in the East-Central Mall”. In: Pasi Falk e
Colin Campbell, orgs. The shopping experience, Londres: Sabe, 1997, p. 161.]
Parece-nos claro que estamos diante de um dilema, a interface proporcionada pela
imprensa comprovou suas qualidades no trato da informação como parte de suas respon-
sabilidades e vem construindo sua re exão sobre os tempos da rede. Representa, num
dado momento, o tempo congelado no dia anterior aos acontecimentos, permitindo nossa
re exão em relação às notícias que ocuparam o espaço da sua capa. Poderia concentrar-
se nessa re exão, deixando ao portal a necessidade de apresentar o imediato.
O portal, como dissemos em várias ocasiões, ainda não se libertou da vinculação
ao projeto g co e o próprio funcionamento da impressa para entender-se e construir
o seu espaço dentro da rede. Flerta com um layout hierarquizado como se fosse obri-
gado a respeitar as limitações do papel e das tintas. Não vislumbra além dos limites da
página, da qual é herdeiro, o universo de possibilidades proporcionado por um meio
irrequieto e onde, ao contrário da sua origem, o tempo pertence ao momento, isto é,
tudo acontece agora e agora mesmo deve ocupar o espaço das telas, compartilhando
com o usuário/navegador da informação a construção do conhecimento e a dos novos
caminhos que a rede irá absorver. Lembrando Peirce, onde mais o universo está em
expansão senão na mente humana?
Conclusão • 85
A verdade, que não deixamos de procurar, pode estar repleta de possibilidades
que ainda pouco ousamos investigar. Talvez, apenas talvez, não tenhamos ainda nos re-
conhecido como agentes da evolução que toma sua forma apesar dessa nossa desatenção.
E o portal insiste em manter-se preso à mesma desatenção. As ferramentas tecnogicas
não têm em seu cerne, pelo menos até este momento, discernimento para agir sem nosso
aceite ou ação presente para a sua execução, depende de nossa ação o desenvolvimento
de uma interface que funcione como nossa ancia. Somos nós os autores dos caminhos
dentro dos quais a tecnologia deve acomodar-se. E, mais importante nesta dissertação,
somos os autores da navegação que pretendemos executar. O tempo nos foi roubado, mas
podemos assumi-lo, tornando-o prisioneiro de nossas ações através da rede, absorvendo
a instantaneidade como característica dos nossos caminhos virtualizados. A notícia se
constrói pelas nossas mãos, jornalistas ou não, dentro do ambiente hipermidiá tico posto
à nossa volta. Como o Neo de Matrix, temos de assumir nossa vocação de co-autores do
mundo transformado em código, a nal, nosso código pode também ser inserido dentro
dessa rede cada vez mais pós-humana.
A verdade absoluta, a ser atingida, fragmenta-se em verdades parciais que conm experi-
mentar. Eis os contornos da estrutura mitogica. Cada território, real ou simbólico, destila, de
alguma maneira, o seu modo de representação e a sua linguagem cujus regio cujus religio. Daí a
babelização potencial constantemente negada com a invocação do espectro da globalização. Em
realidade, existem muitas uniformizações mundiais: econômicas, musicais, consumistas; mas é
preciso que nos questionemos sobre o verdadeiro alcance delas. Talvez devêssemos nos pergun-
tar se a verdadeira e cácia não se encontra no domínio dos mitos tribais e das suas caracterís-
ticas existenciais. A comunicação em rede, da qual a Internet é a boa ilustração, levaria, nesse
sentido, a repensar, para a pós-modernidade, o “universal concreto” da loso a hegeliana.
Se tomamos por hipótese a existência de um local tribal gerador de pequenas mitologias, qual
seria o seu substrato epistemológico? Empiricamente parece que o Indivíduo, a História e a
Razão cedem, mais ou menos, lugar à fusão efetual encarnada no presente em torno de imagens
de comunhão.
O termo indivíduo, já o disse, parece-me superado, ao menos no sentido estrito. Talvez se
deva falar, quanto à pós-modernidade, em uma persona que desempenha diversos papéis nas
tribos às quais adere. A identidade fragiliza-se. As diferentes identificações, em contraparti-
da, multiplicam-se.
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