Conclusão • 85
A verdade, que não deixamos de procurar, pode estar repleta de possibilidades
que ainda pouco ousamos investigar. Talvez, apenas talvez, não tenhamos ainda nos re-
conhecido como agentes da evolução que toma sua forma apesar dessa nossa desatenção.
E o portal insiste em manter-se preso à mesma desatenção. As ferramentas tecnológicas
não têm em seu cerne, pelo menos até este momento, discernimento para agir sem nosso
aceite ou ação presente para a sua execução, depende de nossa ação o desenvolvimento
de uma interface que funcione como nossa agência. Somos nós os autores dos caminhos
dentro dos quais a tecnologia deve acomodar-se. E, mais importante nesta dissertação,
somos os autores da navegação que pretendemos executar. O tempo nos foi roubado, mas
podemos assumi-lo, tornando-o prisioneiro de nossas ações através da rede, absorvendo
a instantaneidade como característica dos nossos caminhos virtualizados. A notícia se
constrói pelas nossas mãos, jornalistas ou não, dentro do ambiente hipermidiá tico posto
à nossa volta. Como o Neo de Matrix, temos de assumir nossa vocação de co-autores do
mundo transformado em código, afi nal, nosso código pode também ser inserido dentro
dessa rede cada vez mais pós-humana.
“A verdade absoluta, a ser atingida, fragmenta-se em verdades parciais que convêm experi-
mentar. Eis os contornos da estrutura mitológica. Cada território, real ou simbólico, destila, de
alguma maneira, o seu modo de representação e a sua linguagem cujus regio cujus religio. Daí a
babelização potencial constantemente negada com a invocação do espectro da globalização. Em
realidade, existem muitas uniformizações mundiais: econômicas, musicais, consumistas; mas é
preciso que nos questionemos sobre o verdadeiro alcance delas. Talvez devêssemos nos pergun-
tar se a verdadeira efi cácia não se encontra no domínio dos mitos tribais e das suas caracterís-
ticas existenciais. A comunicação em rede, da qual a Internet é a boa ilustração, levaria, nesse
sentido, a repensar, para a pós-modernidade, o “universal concreto” da fi losofi a hegeliana.
Se tomamos por hipótese a existência de um local tribal gerador de pequenas mitologias, qual
seria o seu substrato epistemológico? Empiricamente parece que o Indivíduo, a História e a
Razão cedem, mais ou menos, lugar à fusão efetual encarnada no presente em torno de imagens
de comunhão.
O termo indivíduo, já o disse, parece-me superado, ao menos no sentido estrito. Talvez se
deva falar, quanto à pós-modernidade, em uma persona que desempenha diversos papéis nas
tribos às quais adere. A identidade fragiliza-se. As diferentes identificações, em contraparti-
da, multiplicam-se.”
MAFFESOLI, Michel. “Mediações simbólicas: a imagem como vínculo social”. In: Para na-
vegar no século 21 – tecnologias do imaginário e cibercultura. Francisco Menezes Martins e
Juremir Machado da Silva, orgs. - 3. ed. Porto Alegre: Sulina/Edipucrs, 2003. p. 45-6.