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RODRIGO CONTI VIEIRA DE ALENCAR
A VIVÊNCIA DA AÇÃO EDUCATIVA DO ENFERMEIRO NO
PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA (PSF)
Belo Horizonte
Escola de Enfermagem da UFMG
2006
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RODRIGO CONTI VIEIRA DE ALENCAR
A VIVÊNCIA DA AÇÃO EDUCATIVA DO ENFERMEIRO NO
PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA (PSF)
Dissertação apresentada no Curso de
Mestrado em Enfermagem da Escola de
Enfermagem da Universidade Federal de
Minas Gerais como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em
Enfermagem.
Área de concentração: Enfermagem
Orientadora: Prof. Dra. Marisa Antonini
Ribeiro Bastos
Belo Horizonte
Escola de Enfermagem da UFMG
2006
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Alencar, Rodrigo Conti Vieira de
A368v A vivência da ação educativa do enfermeiro no Programa Saúde
da Família (PSF)/Rodrigo Conti Vieira de Alencar. Belo Horizonte.
2006.
120f.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais.
Escola de Enfermagem.
Área de concentração: Enfermagem
Orientador: Marisa Antonini Ribeiro Bastos
1.Programa Saúde da Família 2.Capacitação em serviços/tendências
3.Prática profissional/tendências 4.Supervisão de enfermagem/tendências
5.Equipe de enfermagem 6.Auxiliares de enfermagem/educação 7.Agente
comunitário de saúde I.Título
NLM: WA 308
CDU: 614.2 :362.17
Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Enfermagem
Curso de Mestrado
Dissertação intitulada A vivência da ação educativa do enfermeiro no Programa
Saúde da Família (PSF), de autoria do mestrando Rodrigo Conti Vieira de
Alencar, analisada e aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes
professores:
__________________________________________________
Profª. Drª. Marisa Antonini Ribeiro Bastos
__________________________________________________
Profª. Drª. Maria Rizoneide Negreiros de Araújo
__________________________________________________
Profª. Drª.Sônia Maria Soares
Belo Horizonte, 7 de junho de 2006.
RESUMO
Trata-se de um estudo qualitativo que teve como objetivo compreender o significado
da ação educativa atribuído pelos enfermeiros do Programa Saúde da Família (PSF)
com os profissionais de enfermagem e os Agentes Comunitários de Saúde (ACSs).
O método utilizado foi a etnografia, fundamentada na proposta teórico-metodológica
de Spradley (1979,1980). O trabalho teve como cenário cultural a unidade
operacional e administrativa Cabana, parte integrante do Distrito Sanitário Oeste de
Belo Horizonte. A coleta de dados foi realizada por meio da observação participante,
entrevista etnográfica e análise documental. Os sujeitos da pesquisa foram 9
enfermeiros que atuavam no Programa há mais de 2 anos. A análise dos dados deu
origem a oito domínios e a seis taxonomias. Os resultados da pesquisa
demonstraram algumas características dos profissionais no PSF, os tipos de
atividades desenvolvidas, e as formas de descrever as ações educativas com os
profissionais e a comunidade. Em relação aos trabalhadores, a prática educacional
dos enfermeiros apresenta uma proximidade com a concepção tradicional e
tecnicista de educação, valorizando o treinamento, as capacitações, a educação
continuada, dentre outros. Para educar é necessário “tirar o trabalhador da linha de
frente”, demonstrando uma ruptura da concepção de educação enquanto princípio
do trabalho, expressão que constituiu o tema deste estudo.
Palavras-chave: Programa Saúde da Família; Enfermagem; Educação Profissional;
Educação Permanente em Saúde.
ABSTRACT
This work is a qualitative study aimed at understanding the meaning of the education
action attributed to nurses and health community agents by the nurses of the Family
Health Program. The method used was the ethnography, based on the theoretical
and methodological proposal of SPRADLEY (1979, 1980). The cultural scenario for
this work was Cabana, operational and administrative unit, which is part of Belo
Horizonte west sanitary district. Data collection was made through participant
observation, ethnographic interviews and documentary analysis. The subjects of the
research were nine nurses that had been working in the program for over two years.
The data analysis identified 8 domains and 6 taxonomies. The results of the research
demonstrated some characteristics of the professionals in the Family Health
Program, the types of activities developed, and the ways to describe the educational
action to the professionals and the community. In relation to the workers, the nurse’s
educational practice is closely related to the traditional and technical conception of
education, emphasizing traineeship, professional development and permanent
education, among other factors. In order to educate, it is necessary “to take the
worker away from his functions”, which implies a disruption in the education
conception as a work principle, expression which constitutes the theme of this study.
Key-words: Family Health Program; Sick-Nursing; Professional Education;
Permanent Education in Health.
Dedico este trabalho à Rosana,
minha esposa, e aos meus pais,
Cilda e Dárcio (in memoriam).
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida e pela oportunidade a que foi me dada.
À prof. Dra. Marisa Antonini Ribeiro Bastos, que desde a graduação me incentivou à
busca contínua do conhecimento. Meu eterno agradecimento pelas orientações,
confiança, e disponibilidade.
À minha esposa Rosana, carinhosamente chamada de Fofinha, pelas abdicações,
compreensão e apoio durante a trajetória de nossa vida e deste árduo caminho.
Aos meus familiares, sobretudo os mais próximos, que com carinho souberam
compreender a minha ausência.
A todos os profissionais do Centro de Saúde Vila Imperial, que me incentivaram a
todo o momento e contribuíram para a realização deste sonho.
Aos informantes que, indubitavelmente, proporcionaram a realização deste estudo.
Aos docentes e trabalhadores da Escola de Enfermagem, que colaboraram para
esta conquista.
Aos colegas de mestrado, com os quais tive a oportunidade de aprender, debater e
conhecer um pouco mais de cada um.
Aos amigos, pelo incentivo durante a realização deste trabalho.
LISTA DE DOMÍNIOS CULTURAIS
Domínio Cultural nº. 1 –
Domínio Cultural nº. 2 –
Domínio Cultural nº. 3 –
Domínio Cultural nº. 4 –
Domínio Cultural nº. 5 –
Domínio Cultural nº. 6 –
Domínio Cultural nº. 7 –
Domínio Cultural nº. 8 –
Características dos profissionais no PSF..........................
Tipos de ações realizadas pelo enfermeiro no PSF com
a comunidade ...................................................................
Formas de descrever a ação educativa realizada pelo
enfermeiro no PSF com a comunidade.............................
Formas de descrever a ação educativa do enfermeiro
com os profissionais no PSF ............................................
Tipos de materiais utilizados para educação dos
profissionais no PSF..........................................................
Tipos de temas desenvolvidos pelo enfermeiro do PSF
com os profissionais..........................................................
Tipos de ações educativas desenvolvidos pelo
enfermeiro do PSF junto aos profissionais........................
Tipos de situações que dificultam as ações educativas
desenvolvidas pelo enfermeiro no PSF.............................
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71
75
76
77
84
LISTA DE TAXONOMIAS
Taxonomia nº. 1 –
Taxonomia nº. 2 –
Taxonomia nº. 3 –
Taxonomia nº. 4 –
Taxonomia nº. 5 –
Taxonomia nº. 6 –
Características dos profissionais no PSF.................................
Tipos de ações realizadas pelo enfermeiro no PSF com a
comunidade..............................................................................
Formas de descrever a ação educativa realizada pelo
enfermeiro no PSF com a comunidade....................................
Formas de descrever a ação educativa do enfermeiro com os
profissionais no PSF...............................................................
Tipos de ações educativas desenvolvidos pelo enfermeiro do
PSF com os profissionais........................................................
Tipos de situações que dificultam as ações educativas
desenvolvidas pelo enfermeiro no PSF....................................
56
61
67
72
78
85
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 –
MAPA 1 –
MAPA 2 –
FIGURA 2 –
O processo cíclico da pesquisa etnográfica.....................................
Mapa da região oeste de Belo Horizonte.........................................
Áreas de abrangência dos centros de saúde do Distrito Sanitário
Oeste..................................................................................................
Ação educativa do enfermeiro no PSF..............................................
37
39
44
95
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 –
TABELA 2 –
Distribuição da população da Grande Cabana por unidades
primárias de atendimento, faixa etária e sexo.....................................
Números de equipes de saúde da família e de profissionais, ACS,
auxiliares e técnicos de enfermagem, distribuídos por Unidade
Básica de Saúde..................................................................................
42
45
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 –
Relações semânticas universais........................................................ 54
14
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..............................................................................
2 OBJETIVO....................................................................................
3 REVISÃO DA LITERATURA........................................................
4 METODOLOGIA...........................................................................
4.1 CENÁRIO DO ESTUDO..............................................................................
4.2 INFORMANTES..........................................................................................
4.3 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS.........................................................
4.4 OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE................................................................
4.5 ENTREVISTAS............................................................................................
4.6 ANÁLISE DOCUMENTAL...........................................................................
4.7 ANÁLISE ETNOGRÁFICA..........................................................................
5 DESCREVENDO OS DOMÍNIOS CULTURAIS...........................
6 O TEMA CULTURAL: COMPREENDENDO A AÇÃO
EDUCATIVA DO ENFERMEIRO NO PSF...................................
7 TRAÇANDO UM CAMINHO.........................................................
REFERÊNCIAS...............................................................................
ANEXOS..........................................................................................
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46
47
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15
ANEXO 1 – AUTORIZAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA NOS
CENTROS DE SAÚDE DA GRANDE CABANA............................
ANEXO 2 – APROVAÇÃO NO COMITÊ DE ÉTICA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE MINAS GERAIS.....................................................
ANEXO 3 – APROVAÇÃO NO COMITÊ DE ÉTICA DA PREFEITURA
MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE.............................................
ANEXO 4 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO..........
ANEXO 5 – REGISTROS DAS OBSERVAÇÕES PARTICIPANTES...............
ANEXO 6 – REGISTRO DAS ENTREVISTAS ETNOGRÁFICAS....................
ANEXO 7 – REGISTROS DOS DOMÍNIOS CULTURAIS................................
ANEXO 8 – REGISTRO DOS DOMÍNIOS HIPOTÉTICOS...............................
ANEXO 9 – REGISTROS DAS TAXONOMIAS................................................
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120
14
1 INTRODUÇÃO
O Programa Saúde da Família (PSF) foi implantado no Brasil a partir de 1994, com
intuito de consolidar e aperfeiçoar as doutrinas e diretrizes do Sistema Único de
Saúde (SUS), principalmente nos serviços de atenção primária (BRASIL, 1996).
Essa estratégia apresenta-se como o eixo norteador dos serviços de atenção básica
e possui como objeto de trabalho a família com todas as características loco
regionais que ela possui (BRASIL, 1996).
Segundo Souza (2000, p. 25),
a estratégia do PSF propõe uma nova dinâmica para a estruturação
dos serviços de saúde, bem como para a sua relação com a
comunidade e entre os diversos níveis de complexidade assistencial.
Assume o compromisso de prestar assistência universal, integral,
equânime, contínua e, acima de tudo, resolutiva à população, na
unidade de saúde e no domicílio, sempre de acordo com as suas
reais necessidades, identificando os fatores de risco aos quais ela
está exposta e neles intervindo de forma apropriada.
O PSF vem para romper com o modelo assistencial clínico, centrado na consulta
médica, na supervalorização da rede hospitalar, na cultura da medicalização, na pré-
consulta e na pós-consulta e, sobretudo no descompromisso e na falta de
humanização nas ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da
saúde dos indivíduos em determinada área de abrangência (ANTUNES; EGRY,
2000).
Nesse contexto, observo que o enfermeiro tem sido um profissional extremamente
importante, junto com a equipe, na construção desse novo modelo de atenção à
saúde, visto que desenvolve suas atividades assistenciais, gerencia e supervisiona
os profissionais da enfermagem e os Agentes Comunitários de Saúde (ACSs), bem
como é referência técnica para alguns setores indispensáveis do centro de saúde,
15
como o setor de imunização e o de curativo, além de conhecer o fluxo interno das
unidades de saúde, dentre outras atividades.
Para Costa, Lima e Oliveira (2000, p.149),
o modelo de assistência do PSF constitui um desafio para o
enfermeiro que, como participante da equipe de saúde, deve levar
em consideração o envolvimento do seu agir com os aspectos
sociais, políticos, econômicos e culturais relevantes para o processo
de transição e consolidação do novo modelo da assistência à saúde.
Convém ressaltar que, antes da implantação do PSF, o enfermeiro teve sua inserção
inicial nesta proposta inovadora de trabalho por intermédio da coordenação do
Programa de Agente Comunitário de Saúde (PACS), sendo que o seu
desenvolvimento possibilitou a inserção da estratégia de saúde da família (BRASIL,
2004 a).
O guia prático do PSF (BRASIL, 2001 a) descreve como atribuições específicas do
enfermeiro as seguintes atividades: realizar cuidados diretos de enfermagem nas
urgências e emergências clínicas; realizar consultas de enfermagem; planejar,
gerenciar, coordenar, executar e avaliar a unidade de saúde da família; executar
ações de assistência integral em todas as fases do ciclo da vida; executar ações de
vigilância epidemiológica e sanitária; realizar as atividades prioritárias de intervenção
na atenção básica; e aliar a atuação clínica à prática de saúde coletiva. Entre as
atividades educativas são preconizadas a supervisão e a coordenação das ações
para a capacitação de auxiliares de enfermagem e dos ACS, bem como a
organização e a coordenação de grupos específicos, como de hipertensos, de
gestantes, de diabéticos, de saúde mental, dentre outros.
A lei do exercício profissional determina, no art. 8º, que cabe ao enfermeiro, como
integrante da equipe de saúde, participar nos programas de treinamento e
aprimoramento de pessoal de saúde, particularmente nos programas de educação
continuada, bem como participar em programas e atividades de educação sanitária,
16
visando à melhoria de saúde do indivíduo, da família e da população em geral
(COREN, 2001).
É importante enfatizar que o art. 19 do Código de Ética em Enfermagem determina a
responsabilidade dos profissionais em enfermagem na promoção do
aperfeiçoamento técnico, científico e cultural do pessoal sob sua orientação e
supervisão (COREN, 2001).
Portanto, tanto nas atribuições do enfermeiro na Equipe de Saúde da Família (ESF)
quanto na lei do exercício profissional e no Código de Ética em Enfermagem, são
enfatizadas a participação desse profissional na elaboração, na implementação e na
avaliação de ações educativas no sentido de capacitar os profissionais sob sua
supervisão e de contribuir para a melhoria da saúde da população.
A capacitação dos profissionais da ESF e o estímulo crescente do usuário na
responsabilidade e construção do autocuidado são requisitos essenciais para a
profunda transformação do SUS, principalmente na assistência básica, pois promove
uma revolução no papel da cidadania, da liberdade e da autonomia desses sujeitos.
Um dos aspectos responsáveis por essa permanente diferenciação individual é o
processo de aprendizagem, pois aprender significa apresentar uma nova faceta da
realidade (BRASIL, 2003a).
A educação, portanto, é um indicador crucial de qualidade, porque representa a
estratégia básica de formação humana, significa “aprender a aprender, saber
pensar, para poder melhor intervir e inovar” (TEDESCO apud DEMO, 1998).
A construção de um processo educativo efetivo voltado para os profissionais da
unidade básica de saúde se traduz na possibilidade de oferecer um serviço de
melhor qualidade, aumento na resolutividade, visão mais abrangente da
necessidade do usuário, programação de ações para a saúde, intervenção efetiva
em relação aos problemas locais, dentre outros.
17
Diante dessa realidade, o Ministério da Saúde, em parceria com os órgãos
formadores, pólo de capacitação do PSF, dentre outros segmentos da sociedade,
criou uma estratégia para o desenvolvimento da ação educativa com os profissionais
de saúde. Essa proposta deve ser exercida por meio da construção de uma
educação permanente sustentada pela concepção de aprendizagem significativa
que promova e produza sentidos, proporcionando a transformação das atividades
profissionais mediante a reflexão crítica sobre as práticas reais dos serviços de
saúde (BRASIL, 2003 b).
A adoção da educação permanente em saúde é a estratégia fundamental para a
reformulação das práticas de gestão, atenção, formação e controle social no setor
(BRASIL, 2003 b).
Nessa proposta de educação, o processo de aprendizagem tem natureza
participativa e apresenta como eixo principal o trabalho cotidiano nos serviços de
saúde. Isso ocorre porque é precisamente no âmbito do trabalho que se consolidam
e se constroem os comportamentos e formas de atuação profissional, individual e
coletiva (ALMEIDA, 1999).
Portanto, é necessário conhecer as condições inerentes ao desenvolvimento das
atividades dos profissionais da equipe de saúde da família, bem como o ambiente de
trabalho onde eles atuam para que seja criado um programa de educação de acordo
com a realidade deles e voltado para os seus anseios.
Apesar das propostas efetivamente explicitadas, durante minha experiência
profissional, seja no âmbito hospitalar ou na atenção básica, observo que as
atividades educativas desenvolvidas pelos enfermeiros com os profissionais sob sua
coordenação são assistemáticas, desorganizadas, fragmentadas, pontuais e
amenizadoras de conflitos, o que dificulta a implantação de ações mais efetivas
relacionadas a essa práxis cotidiana.
18
Após minha inserção no PSF de Belo Horizonte, embora de forma assistemática,
percebi que as atividades educativas desenvolvidas com os profissionais
apresentavam um caráter de treinamento para o serviço e divulgação de
informações fundamentadas em tendências tradicionais de educação.
Diante desse contexto, optei por desenvolver o estudo na região da Grande Cabana,
pois exerço minha atividade profissional há três anos no PSF de um dos centros de
saúde dessa localidade, tendo como inquietação diária a necessidade de
desenvolver um processo educacional voltado para os trabalhadores de ensino
médio, principalmente pela sua exclusão nos processos formais de capacitação e
qualificação na rede de saúde. Acredito, também, que o desenvolvimento da
pesquisa nessa região possibilitará conhecer um pouco mais o processo de trabalho
dos profissionais do programa nas outras unidades de saúde, sobretudo as
atividades desenvolvidas pelos enfermeiros.
Nos levantamentos bibliográficos realizados sobre a temática PSF constatei que
grande parte dos estudos refere-se ao programa, seja sob a ótica do usuário
(CARVALHO, 2000; JESUS, 2002), da família (FONSECA, 2003; RIBEIRO, 2004) e,
principalmente, das análises sobre a sua implementação, implantação, execução e
avaliação (CAZELLI, 2003; SENNA, 2004; GIOVANELLA; ESCOREL; MENDONÇA,
2003, CHIESA; BATISTA, 2004; CEZAR, 2003; GOULART, 2002; SILVA, 2002;
SILVEIRA FILHO et al. 2001; SERRA, 2003), dentre outros.
Outros trabalhos realizados no PSF enfocam a saúde dos indivíduos em todo o seu
ciclo de vida, como a saúde da mulher (BENIGNA; NASCIMENTO; MARTINS, 2004;
RIBEIRO FILHO, 2004; MOURA; RODRIGUES; SILVA, 2003; SOUZA; ANDRADE,
2003; CICONI; VENANCIO; ESCUDER, 2004; SOUZA, 2003); a saúde mental
(SOUZA; FERREIRRA FILHA; SILVA, 2004; FORTES, 2004; BRÊDA; AUGUSTO,
2003; ROSA; LABETE, 2003; GONCALVES, 2002); a saúde da criança (FERREIRA,
et al., 2003; CAMARGOS, 2002); a saúde do adulto (CAMPINAS, 2004; SIQUEIRA
2001); a saúde do idoso (SILVESTRE; COSTA NETO, 2003); dentre outros.
19
Assim, foi identificada uma escassez de trabalhos que focalizam as ações
educativas exercidas pelos enfermeiros com os profissionais que atuam no PSF,
destacando-se o trabalho de Shimizu et al. (2004), que descreve sobre a atuação do
auxiliar de enfermagem no PSF; o estudo de Carrijo, Pontes e Barbosa (2003), que
ressalta a importância da temática no ensino de graduação em enfermagem; o relato
de uma experiência na capacitação dos enfermeiros do PSF no município de São
Paulo descrito por Chiesa, Fracolli e Sousa (2004), e a relação entre a educação
profissional de nível técnico e a estratégia de saúde da família analisada por Torrez,
Barros e Goulart (2000).
Diante dessa realidade e a partir da minha vivência no cotidiano das práticas de
saúde do PSF, surgiram algumas indagações: Quais são as ações educativas
desenvolvidas pelo enfermeiro do PSF? Que concepções pedagógicas sustentam os
processos educativos desenvolvidos nesse programa? Qual o significado da ação
educativa atribuído pelos enfermeiros do PSF?
Tendo em vista essas inquietações, procurei compreender o significado da ação
educativa atribuído pelos enfermeiros no Programa de Saúde da Família, realizada
com os profissionais de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde.
Com este trabalho pretendo contribuir para a reflexão do processo educativo
desenvolvido pelo enfermeiro do PSF alertando para as concepções pedagógicas
que sustentam suas ações. Da mesma forma, ele poderá subsidiar o planejamento
de ações educativas voltadas para os trabalhadores sob sua coordenação,
promovendo uma aproximação entre as práticas educativas exercidas no seu
cotidiano e o que tem sido preconizado pelos documentos oficiais por meio de uma
real articulação entre educação e saúde no âmbito do trabalho.
20
2 OBJETIVO
Compreender o significado da ação educativa atribuído pelos enfermeiros do
Programa Saúde da Família, realizada com os profissionais de enfermagem e
Agentes Comunitários de Saúde.
21
3 REVISÃO DA LITERATURA
A Constituição brasileira de 1988 representou uma conquista bastante importante
para a população brasileira. No seu art. 196, ela determina que a “saúde é um direito
de todos e dever do Estado” e seu acesso deve ser universal e igualitário.
Demonstra também, em seu art. nº. 198, que as ações e serviços públicos integram
uma rede regionalizada e integrada constituindo o Sistema Único de Saúde (SUS),
que deve ser organizado em diretrizes como a descentralização do serviço em cada
esfera de governo, a participação da comunidade e o atendimento integral com
prioridade nas atividades preventivas, sem desmerecer os serviços assistenciais
(BRASIL, 1988).
Após a promulgação da Constituição, o setor da saúde vem protagonizando uma
reformulação no processo democrático brasileiro com o intuito de continuar e
avançar o movimento de reforma sanitária para a concretização do Sistema Único de
Saúde (JAEGER; CECCIM; MACHADO, 2004).
Convém destacar que grande parte dessa reestruturação é decorrente de várias
iniciativas no referido setor, sobretudo na atenção primária, com a implementação e
o acompanhamento do PSF.
A atenção primária é considerada como a porta de entrada do SUS com o intuito de
atender à maioria dos problemas de saúde da população. Para a Canadian Medical
Association (apud STARFIELD, 2002), a atenção primaria é definida como a
avaliação de um paciente no primeiro contato. A oferta dos serviços deve ser
contínua com uma ampla variedade de ações referentes à saúde, incluindo a
abordagem de problemas por meio da prevenção, promoção e recuperação da
saúde, bem como o apoio nas intervenções familiar e comunitária, quando
necessário.
22
Segundo Mendes (1996, p.273), “um nível de atenção primária bem organizada,
constitui uma precondição para o funcionamento de um sistema de saúde eficaz e
eficiente”.
O PSF é uma nova proposta de assistência à saúde no setor primário, cujo início
deu-se em 1991, mediante a implantação do PACS. A partir de 1994, esse programa
é incorporado e ampliado com as primeiras equipes de saúde da família.
Em agosto de 2005 foi realizado um levantamento do número de equipes de saúde
da família no Brasil, o qual foi divulgado pelo site do Ministério da Saúde em
novembro do mesmo ano. Os dados demonstram a magnitude de 23.499 equipes de
saúde da família já introduzidas e com uma cobertura populacional de 76,8 milhões
de pessoas. É importante enfatizar que a meta estabelecida para o ano de 2006 é a
ampliação de até 27 mil equipes em todo o território nacional (BRASIL, 2005 a).
O PSF é uma estratégia destinada a ações de promoção, prevenção, proteção e
recuperação da saúde dos cidadãos, em todas as fases da vida, desde o
nascimento até a velhice. Apresenta como objetivo a reorganização das atividades
assistenciais nas unidades básicas de saúde e propõe a substituição do modelo
tradicional de saúde vigente (BRASIL, 2001 a).
Segundo o Ministério da Saúde (2001 a), essa estratégia é estruturada a partir da
Unidade de Saúde da Família (USF) que deve ser constituída de uma ou mais
equipes multiprofissionais com a responsabilidade de desenvolver ações de saúde
para determinada população.
O programa preconiza que a ESF deve ter como eixos norteadores a vigilância à
saúde centrada na organização social da família, trabalhar com um território definido,
responsabilizando-se pela população adscrita de no máximo 4.500 pessoas e buscar
a integralidade com os setores de referência para a unidade básica de saúde. A
equipe deve ser composta de, no mínimo, um enfermeiro, um auxiliar de
enfermagem, um médico e quatro a seis agentes comunitários por equipe (BRASIL,
23
2001 a). Cabe ressaltar que a Secretária Municipal de Saúde (SMSA) de Belo
Horizonte propõe que a equipe seja composta conforme o preconizado pelo
Ministério da Saúde, porém com o acréscimo de mais um auxiliar de enfermagem
(BELO HORIZONTE, 2001).
Para o enfrentamento dos problemas de saúde, cada equipe deverá conhecer a
realidade das famílias pelas quais é responsável, identificar os agravos referentes à
saúde, levantar as situações de risco das famílias, elaborar, junto com a
comunidade, um planejamento de ações para a promoção a saúde, prestar
assistência integral e contínua, desenvolver ações educativas e intersetoriais.
A estratégia de saúde da família vem melhorando o acesso da população aos
serviços de saúde, principalmente na unidade básica, e tem proporcionado melhoria
considerável na qualidade da assistência, atendimento mais resolutivo e integrado
das equipes de saúde com a comunidade que o assiste, expressando um admirável
grau de satisfação da população e das próprias equipes de saúde (CHAVES, 2002;
TRAD et al. 2002).
A cobertura populacional das equipes de saúde da família nos municípios brasileiros
tem aumentado progressivamente. Entretanto, verifica-se crescimento mais intenso
nos municípios de pequeno porte que possuem uma população inferior a 10 mil
habitantes, e nos municípios de médio porte, que apresenta uma população entre 10
mil a 30 mil habitantes, representando, respectivamente, uma cobertura de 70,9% e
51,5% nas localidades que possuem esse contingente populacional (BRASIL, 2001
b).
Nesse sentido, um dos grandes desafios da estratégia de saúde de família é sua
implantação, consolidação e expansão nos grandes centros urbanos que
apresentam uma população maior de 100 mil habitantes. É nesses municípios que
existem grande concentração da população brasileira e intensa heterogeneidade de
condições socioeconômicas e culturais, demonstrando em um acesso bastante
desigual na utilização dos serviços de saúde (BRASIL, 2002).
24
Diante dessa complexidade, o Ministério da Saúde está investindo no Projeto de
Expansão e Consolidação da Saúde da Família (PROESF), que visa contribuir para
a efetivação da ESF em municípios com população acima de 100 mil habitantes,
elevar a qualificação do processo de trabalho e desempenho nos serviços de saúde,
bem como proporcionar a otimização de resposta mais efetivas para os problemas
de saúde da população brasileira (BRASIL, 2002).
É nesse contexto que se encontra o município de Belo Horizonte, que possui o BH
VIDA – SAÚDE INTEGRAL como diretriz de organização assistencial na cidade. O
eixo ordenador dessa assistência é a linha de produção do cuidado em todos os
níveis de atenção a saúde que o cidadão necessite (BELO HORIZONTE, 2003 a).
Nas unidades básicas de saúde do município, a estratégia de saúde da família é o
eixo norteador para a reorganização da atenção primária, sendo prioritária a
implantação das equipes nas áreas de risco muito elevado, elevado e médio. É
importante enfatizar que 75% da população de Belo Horizonte reside nessas áreas
de risco, demonstrando que a capital mineira possui o maior percentual de cobertura
populacional pelas equipes de saúde da família dos grandes centros urbanos.
Portanto, torna-se necessário o acompanhamento contínuo dos profissionais dessas
equipes, entre eles o ACS (BRASIL, 2005 b).
A cobertura populacional de cada equipe será de acordo com a vulnerabilidade à
saúde dos indivíduos. As áreas de risco muito elevado serão compostas de 2.400 a
2.800 indivíduos; as de risco elevado, de 2.800 a 3.400; e as de risco médio, de
3500 a 4000 (BELO HORIZONTE, 2003 b).
O município de Belo Horizonte possuía 485 equipes de saúde da família em 2003,
tendo contratado um número elevado de profissionais para a implantação e a
consolidação do PSF no município (BELO HORIZONTE, 2003 b). Após a
reorganização e nova classificação de risco dos habitantes no município, a capital
possui atualmente 507 equipes, conforme informação fornecida pela SMSA.
25
Nesse contexto está inserido o profissional enfermeiro que, além de executar suas
atividades individuais e em equipe, supervisiona e coordena os auxiliares de
enfermagem e o ACS. Convém enfatizar que o enfermeiro também é referência para
os auxiliares de enfermagem que não estão inseridos nas equipes de saúde da
família.
Assim, o enfermeiro do PSF é um profissional que se depara a todo o momento com
situações concretas referentes à educação, não só com a comunidade, como
também na capacitação dos profissionais sob sua supervisão.
A ação educativa realizada por esse trabalhador da saúde tem como fundamento
uma concepção de educação de acordo com sua experiência pessoal e laboral.
Entretanto, muitos desses profissionais desconhecem a tendência pedagógica
subjacente a sua prática educativa.
Para que uma prática educativa se concretize é necessária a adoção de concepções
pedagógicas de cunho transformador, emancipadora, libertadora, multicultural,
subjetiva e voltada para as necessidades da sociedade. Dentre as concepções
destacam-se as tendências pedagógicas críticas e as pós-críticas (BRASIL, 2003 c).
As tendências críticas e pós-críticas da educação, também chamadas de
progressistas, partem das realidades sociais e surgem como expressão do
compromisso com as classes populares, deslocando a discussão dos conceitos
pedagógicos e psicológicos e das técnicas de ensino para a questão do poder e da
ideologia na educação (BRASIL, 2003 c).
Na literatura nacional, encontramos diversos tipos de classificações das tendências
pedagógicas, entre elas as de SAVIANI (1985), MIZUKAMI (1986) e BORDENAVE
(1999).
26
Para LIBÂNEO (2003), as tendências pedagógicas podem ser classificadas em dois
grupos: a pedagogia liberal e a pedagogia progressista. A primeira é constituída
pelas pedagogias tradicional, renovada progressivista, renovada não diretiva e
tecnicista. Já a segunda é composta pelas pedagogias libertadora, libertária e crítico-
social.
A pedagogia tradicional é caracterizada por acentuar o ensino humanístico, de
cultura geral, na qual o educando deve alcançar um objetivo pelo esforço próprio. A
aprendizagem ocorre pela transmissão de verdades do educador para o educando,
com estratégias didáticas de exposição, demonstração, memorização e repetição
dos conceitos mais importantes (LIBÂNEO, 2003).
A pedagogia renovada progressivista tem como finalidade de ensino a adequação
das necessidades individuais ao meio social. Essa integração ocorre por intermédio
das experiências, que devem satisfazer, ao mesmo tempo, as exigências da
sociedade e os interesses do educando. A idéia de ensino é aprender fazendo,
valorizando as tentativas experimentais, o estudo do meio natural e social, a
pesquisa, o método de solução de problemas, dentre outros. Assim, aprender torna-
se uma atividade de enormes descobertas e de auto-aprendizagem na qual o
ambiente é o meio estimulador (LIBÂNEO, 2003).
A pedagogia renovada não diretiva apresenta como ênfase a preocupação nos
problemas psicológicos dos educandos, na qual uma boa educação é considerada
bastante semelhante a uma boa terapia. Essa tendência propõe uma educação
centrada no educando, visando formar a sua personalidade por meio da vivência de
experiências significativas. Entretanto, acredita que qualquer intervenção para o
educando é ameaçadora e inibidora da aprendizagem (LIBÂNEO, 2003).
A concepção tecnicista tem o intuito de organizar o processo de aquisição de
habilidades, atitudes e conhecimentos específicos, necessários para a integração do
sistema social global. Seu interesse é produzir indivíduos “competentes” para o
27
mercado de trabalho, ensinando e transmitindo informações precisas, objetivas e
rápidas (LIBÂNEO, 2003).
A tendência progressista libertadora questiona concretamente a realidade das
relações do homem com a natureza e com os outros homens, buscando a sua
transformação. Aprender é um ato de conhecimento da situação vivenciada pelo
educando e só possui sentido se resulta de uma aproximação crítica da realidade. O
diálogo promove uma relação horizontal entre educando e educador que se
posicionam como sujeitos na construção do conhecimento (LIBÂNEO, 2003).
Na pedagogia libertária, o objetivo é que as instituições de ensino exerçam uma
transformação na personalidade dos alunos, promovendo um sentido libertário e
autogestionário. Enfatiza a aprendizagem informal, via grupo, e a negação de toda
forma de repressão visando ao desenvolvimento das pessoas livres (LIBÂNEO,
2003).
A tendência crítico-social dos conteúdos consiste na preparação do educando para o
mundo das contradições, fornecendo-lhe instrumentos, por meio da aquisição de
conteúdos e da socialização, com o intuito de uma participação organizada e ativa
na democracia e na sociedade. O conhecimento nessa abordagem resulta da troca
de experiências e na aquisição de um saber vinculado às realidades sociais.
Aprender é desenvolver a capacidade de interiorizar as informações e trabalhar com
os estímulos do ambiente, com o objetivo de construir uma educação a partir da
situação concreta de vida dos indivíduos (LIBÂNEO, 2003).
Diante desse contexto e apresentando alguns pressupostos consoantes a tendência
crítico-social, o Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação e
outras entidades governamentais, vem desenvolvendo uma política de educação
para o SUS, sendo que as várias instâncias desse seguimento devem cumprir uma
ação de induzir as mudanças tanto no campo da prática de saúde quanto no campo
de formação (JAEGER; CECCIM; MACHADO, 2004).
28
A educação dos profissionais de saúde deve ser priorizada como uma ação
finalística, de políticas de saúde, sob a concepção pedagógica da educação
permanente da saúde. Essa proposta deve ser pactuada de forma concreta nos
conselhos de saúde, instituições de ensino, movimentos sociais, associações de
professores, organizações estudantis, organizações discentes e representações de
trabalhadores (CECCIM, 2005 a).
É importante reforçar a diferença conceitual entre educação continuada e educação
permanente em saúde, visto que alguns autores utilizam esses termos como
sinônimos (MANCIA; CABRAL; KOERICH, 2004).
A educação continuada é compreendida como a utilização do conhecimento teórico
aplicado a uma única e exclusiva profissão com ênfase em temas especializados, no
intuito de promover a atualização técnico-científica. Essa modalidade de ensino é
realizada de maneira esporádica, sustentada pela pedagogia de transmissão, que
desencadeia o processo de acumulação e apropriação do saber, que muitas vezes
não se traduz em mudanças na prestação dos serviços de saúde (MANCIA;
CABRAL; KOERICH, 2004).
A educação permanente em saúde pressupõe as necessidades de conhecimento e
a estruturação de demandas educacionais geradas no cotidiano do trabalho,
indicando os caminhos e pistas para o processo de formação. É uma modalidade
educativa que tem como público-alvo a equipe multiprofissional, com destaque nos
problemas reais de saúde, cujo objetivo é transformar as práticas técnicas e sociais.
Essa atividade educativa deve ser realizada de forma contínua, por meio de uma
metodologia centrada na resolução de problemas, resultando, assim, em uma
profunda mudança no setor saúde (MANCIA; CABRAL; KOERICH, 2004).
Apontando as diferenças entre as duas modalidades, Motta et al. (2001, p. 70)
afirmam:
A educação continuada envolve atividades de ensino após a
graduação (atualização), possui duração definida e utiliza
29
metodologia tradicional, enquanto a educação permanente estrutura-
se a partir de dois elementos: as necessidades do processo de
trabalho e o processo crítico como inclusivo do trabalho.
Segundo Ceccim (2005 a, p. 976), “a educação permanente em saúde constitui
estratégia fundamental às transformações do trabalho no setor, para que venha a
ser um lugar de atuação crítica, reflexiva, propositiva, compromissada e
tecnicamente competente”. É de extrema importância a descentralização e a
disseminação de capacitação pedagógica no setor saúde, compreendido desde a
esfera da formação, gestão, controle social e os serviços de saúde.
Cabe salientar que a articulação entre a formação dos profissionais da área, a
atenção em saúde, a gestão setorial e o exercício do controle social no setor se
constituem o “Quadrilátero da Formação”, uma forma de pensar e providenciar a
Educação Permanente em Saúde no enfrentamento dos problemas concretos de
cada equipe de saúde em seu território geopolítico (CECCIM; FEUERWERKER,
2004; CECCIM, 2005 b).
Essa proposta de Educação Permanente em Saúde representa um importante
avanço nas políticas públicas para a efetivação do SUS, visto que ela supera o
conceito de educação permanente em saúde divulgado e difundido pela
Organização Pan-Americana de Saúde, que reconhece que somente a
“aprendizagem significativa” é capaz de promover a adesão dos profissionais aos
processos de transformação no seu cotidiano (CECCIM, 2005 a).
A educação permanente em saúde, portanto, consiste em uma proposta inovadora e
com finalidade estratégica para a contribuição na transformação dos processos
formativos das práticas pedagógicas e de saúde na organização de serviços. Assim,
o mundo do trabalho deve estar articulado com o sistema de saúde em suas várias
esferas de atenção (BRASIL, 2004 b).
De acordo com o Ministério da Saúde (2004 b), o processo de educação
permanente implementado no SUS deve priorizar as equipes que atuam na atenção
básica, no trabalho de qualificação que envolve a articulação e o diálogo entre os
30
atores e saberes da clínica da saúde coletiva e da gestão de saúde; as equipes de
urgência e emergência; as equipes de atenção e internação domiciliar; as equipes
de reabilitação psicossocial; o pessoal necessário para prestar atenção humanizada
ao parto e ao pré-natal; e as equipes dos hospitais universitários de ensino. Deve-
se, também, enfatizar o desenvolvimento da gestão das ações e dos serviços de
saúde e as ações educativas específicas resultantes de deliberação nacional,
estadual, intergestores, municipal e do respectivo conselho de saúde.
Todos os serviços supracitados devem compor uma rede articulada e integrada,
incorporando a noção de saúde da família, compreendida como uma “cadeia de
cuidado progressivo a saúde” (JAEGER; CECCIM; MACHADO, 2004, p. 89).
Diante desse contexto, a atenção básica possui uma função estratégica na
operacionalização do SUS, principalmente pela sua relação contínua com a
comunidade. Assim, em todas as modalidades de atuação, particularmente na saúde
da família, a atenção básica deve almejar e construir a “atenção integral e de
qualidade, a resolutividade e fortalecimento da autonomia das pessoas no cuidado à
saúde, estabelecendo articulação orgânica com o conjunto da rede de serviços”
(BRASIL, 2004 b, p. 12).
A implantação do processo de educação permanente nos serviços de atenção
primária, sobretudo nas unidades de saúde da família, dessa forma, se traduz na
possibilidade e na necessidade de fortalecer os princípios e diretrizes do SUS.
Para o Ministério da Saúde (2004 b, p. 16),
a efetividade da educação permanente de saúde está intimamente
relacionada à construção e execução na formulação política de
saúde nas áreas estratégicas e prioritárias dentro da organização da
rede de atenção a saúde, em cada território a partir das
necessidades reais de saúde da sua população
.
A gestão da educação permanente em saúde será feita por meio dos Pólos de
Educação Permanente em Saúde, que são como núcleos de articulação entre os
31
serviços, as instituições formadoras, os gestores, os hospitais de ensino, as
instâncias de controle social e representações discentes. Seu papel é propiciar um
amplo debate sobre os problemas, as prioridades e possíveis alternativas de
formação e desenvolvimento dos profissionais de saúde e demais atores sociais
(JAEGER; CECCIM; MACHADO, 2004).
Os pólos são instâncias de articulação interinstitucional e deverão funcionar como
dispositivos do SUS para promover transformações, seja nas práticas de saúde, seja
nas atividades de educação na saúde, funcionando como “rodas para a gestão da
educação permanente em saúde” (BRASIL, 2004 b, p. 11). Em julho de 2005,
existiam no País cerca de 150 pólos de educação permanente espalhados por todo
o Brasil (CECCIM, 2005 a).
Assim, por meio dessas iniciativas e reformulações nos vários segmentos da
sociedade, a educação permanente em saúde propicia a educação aplicada ao
trabalho sem, contudo, prescindir da educação que pensa o trabalho e a produção
do mundo. Nesse sentido, é preciso a interação entre o mundo da vida e do trabalho
(BRASIL, 2004 b).
Dessa forma, a educação permanente em saúde deve ser adotada com um recurso
estratégico para a educação na saúde e da gestão do trabalho. É a efetivação do
encontro entre o mundo da formação e o mundo do trabalho, onde aprender e o
ensinar se incorporam ao cotidiano dessas organizações (BRASIL, 2004 b).
Segundo Pereira (2003, p.1528),
a educação e a saúde são espaços de produção e aplicação de
saberes destinados ao desenvolvimento humano. Há uma interseção
entres dois campos, tanto em qualquer nível da atenção à saúde
quanto na aquisição contínua de conhecimentos pelos profissionais
de saúde. Assim, estes profissionais utilizam, mesmo
inconscientemente, um ciclo permanente de ensinar e aprender.
De acordo com Demo (2000, p.10), a “educação é um processo essencial, formativo,
no sentido reconstrutivo humano, não algo de mero treinamento, ensino, instrução,
32
enquanto esses termos indicam uma influência apenas de fora para dentro e de
cima para baixo”.
O educador é aquele que se exercita continuamente o processo de busca da
sistematização teórico-prática. Nesse sentido, o educador de profissionais deve ter
uma atitude aberta, não dogmática, de aproximação da teoria com a prática, pois a
ação educativa nunca está plenamente dada (BRASIL, 2003 a).
Para Freire (1997, p. 52), ensinar não é transferir conhecimento, mas criar
possibilidades para a sua própria construção. A educação não se resume na
transmissão de conhecimentos, mas sim, em uma profunda e constante interação
entre educador e educando, sendo o diálogo um caminho fundamental para que
ocorra a construção e a troca dos saberes.
Para educar é necessário, portanto, uma diretriz pedagógica com postura
transformadora e que contemple a realidade em que os homens vivem, trabalham,
se relacionam, bem como seus saberes concretos e socialmente significativos.
Assim, o contexto do sujeito que aprende não pode ser visto como um fenômeno
alheio à relação do ensino e da aprendizagem (COLOME; LANDERDAHL; OLIVO,
1999).
Torrez, Barros e Goulart (2000, p. 64) afirmam que,
caberá a Estratégia de Saúde da Família estabelecer novas relações
político-pedagógicas para a formação profissional dos trabalhadores
de nível médio em saúde, inclusive daqueles que nela atuam,
subsidiando a construção coletiva de projetos educacionais a serem
promovidos.
Motta et al. (2001, p. 70) corroboram tal afirmação apontando para a importância de
se conhecer o contexto na qual são propostas e realizadas as ações de saúde:
Ao refletir sobre os problemas do trabalho, identificamos quais são
seus principais determinantes e o que precisamos fazer para
transformá-los. É nesse contexto que podem surgir demandas
33
educativas, se de fato o problema deriva, parcialmente ou
integralmente, de lacunas no conhecimento dos profissionais.
No estudo realizado por Gouveia e Centa (2000), os enfermeiros do PSF solicitaram
maior intercâmbio entre os profissionais de cada esfera de governo, com o objetivo
de promover a troca de experiências e informações.
Na perspectiva de uma ação pedagógica crítica, é necessário mergulhar no mundo
do sujeito, partindo do lugar onde estão e se situam socialmente, para ir criando
outras formas de fazer em saúde. Essa ação tem como referência diferentes
concepções de homem e de sociedade. É na compreensão da realidade que se
verifica a possibilidade do que é possível fazer, a favor de quem e para quê
(BRASIL, 2003 c).
Portanto, para o desenvolvimento de uma ação educativa baseada nas tendências
progressistas, portanto, faz-se necessária a problematização da realidade como
possibilidade de promoção e apropriação significativa do saber acumulado,
desencadeando uma reflexão que possa superar o saber cotidiano dos sujeitos sem,
contudo, ignorar as suas experiências (BRASIL, 2003 c).
É a partir da problematização em cada serviço de saúde que é identificada a
necessidade de capacitação, garantindo a aplicabilidade e a relevância dos
conteúdos e tecnologias indispensáveis para o desenvolvimento de um serviço
humanizado e de qualidade tendo como foco de atenção a resolutividade dos
problemas do usuário no contexto na qual o mesmo está inserido (BRASIL, 2003 b).
A perspectiva problematizadora é uma ação pedagógica e política que parte da
realidade concreta dos indivíduos, considera as exigências de um trabalho em saúde
e em educação comprometido com a maioria dos usuários, com a universalidade,
com a eqüidade e a igualdade do atendimento, atende às necessidades de
assistência de acordo com o perfil epidemiológico brasileiro e busca o exercício
constante do diálogo no intuito de usar o conhecimento e a técnica para vencer os
desafios propostos pelo cotidiano (BRASIL, 2003 c).
34
A tarefa educativa desenvolvida no PSF necessita ser direcionada para o
desenvolvimento de um profissional crítico de sua prática, capaz de elaborar as
mudanças imprescindíveis na sua realidade, e não somente na ênfase e na
aquisição de habilidades técnicas (BEZERRA et al., 2004).
De acordo com Guimarães (2005, p.258),
é de extrema importância para o exercício da ação pedagógica que o
enfermeiro-educador reflita e voluntariamente construa o seu
conceito de educação. Este lhe dará os subsídios para construir o
seu modelo pedagógico e o seu perfil de educador
.
Nesse sentido, a ação educativa desenvolvida pelo enfermeiro do PSF deve
propiciar uma reflexão crítica, problematizadora, ética, estimulando a curiosidade, o
diálogo, a escuta e a construção do conhecimento compartilhado.
35
4 METODOLOGIA
Para compreender a ação educativa do enfermeiro inserido no PSF desenvolvida
junto aos profissionais de enfermagem e ACS, tornou-se necessário a escolha de
uma abordagem metodológica que buscasse com profundidade os significados, as
crenças, os sentimentos, os valores, os hábitos culturais, os costumes, as atitudes,
dentre outras características pertinentes do comportamento humano.
Nessa perspectiva, a abordagem qualitativa confirmou-se como um caminho
bastante propício para o desenvolvimento deste estudo, em razão de alguns
elementos essenciais, tais como: é uma investigação descritiva e indutiva, apresenta
uma visão holística do objeto a ser estudado, o ambiente natural representa uma
fonte inesgotável da coleta direta de dados, o pesquisador é considerado como o
instrumento principal para a obtenção das informações e o cenário estudado
apresenta aspectos indispensáveis para a compreensão do fenômeno estudado
(TRIVIÑOS, 1987; BOGDAN; BIKLEN, 1994).
No intuito de descrever os significados das práticas educativas em saúde, realizados
pelo enfermeiro do PSF, é necessário, em primeiro lugar, considerá-los como um
grupo cultural que compartilha o universo simbólico gerado a partir de suas
interações sociais. Em segundo lugar, um estudo dessa natureza pressupõe a
adoção de um método que viabilize a interpretação e a compreensão das interações
humanas (PEIXOTO, 1996).
É importante enfatizar que o aspecto cultural de um grupo é resultado de uma
construção social, seja pelas atividades individuais, seja pelas atividades coletivas
desenvolvidas em determinado período. O indivíduo contribui para a formação de
uma cultura, e esta, por sua vez, fornece um suporte no qual a existência do sujeito
ganha significado. Essa interação promove a criação de um conjunto de
comportamentos e de atitudes que são transformados e compartilhados por um
grupo social.
36
Para compreender o universo simbólico compartilhado pelos enfermeiros do PSF
com relação à educação, optei pela etnografia, uma vez que o método possibilitou-
me a compreensão da realidade desse grupo cultural. Nessa perspectiva, adotei a
proposta teórico-metodológica de James P. Spradley, em virtude da sua adequação,
pertinência e acessibilidade ao tema de investigação supracitado.
Para Spradley (1979), a etnografia é o trabalho de descrição de uma cultura a partir
da visão de mundo do nativo dessa cultura. Assim, a etnografia busca a
compreensão do significado de ações e dos eventos para os participantes,
significados expressos por meio da linguagem ou, indiretamente, de ações, que
constituem um sistema de significados complexos. Esse sistema de significados
denomina-se cultura.
Melleiro e Gualda (2004, p. 505) relatam que,
a descrição etnográfica moderna é uma metodologia qualitativa que
teve sua origem na antropologia cultural, sendo assim, ela consiste
em assimilar a cultura estudada a um texto codificado que os
indivíduos integram e lêem permanentemente e que o pesquisador
deve interpretar, colocando em evidência o valor dos códigos pelos
atores na sua vida cotidiana.
Para Spradley (1979), a etnografia é a descrição de um sistema de significados
culturais de determinado grupo, com o intuito de entender outro estilo de vida por
meio da ótica do informante. Esse autor considera que, ao estudar as pessoas
nessa perspectiva metodológica, aprende-se muito com elas.
Ao utilizar a etnografia, o pesquisador deve lidar com três aspectos fundamentais da
experiência humana: o que as pessoas fazem (o comportamento cultural), o que elas
sabem (conhecimento cultural) e o que elas constroem e utilizam (os artefatos
culturais). (SPRADLEY, 1980; PEIXOTO, 1996)
Na ótica de Spradley (1980), o conhecimento cultural de um grupo pode ser
classificado em dois níveis: o explícito, no qual o etnógrafo recebe e interpreta os
elementos da comunicação verbal e não verbal sendo a fala a principal forma de
37
expressão; e o conhecimento tácito. Para Goffman (apud GRESTA, 2000) este nível
é denominado de “região interior” ou “bastidores”.
A pesquisa etnográfica é um processo cíclico no qual se inicia com a seleção do
projeto e a definição do local de estudo, que pode variar de uma macroetnografia a
uma microetnografia. Após essa etapa, o etnógrafo começa a fazer perguntas
descritivas, coleta os dados por meio de observações, documentos referentes ao
cenário pesquisado e entrevistas.
Posteriormente, analisa-os e constrói novos questionamentos, que devem ser
respondidos no retorno ao campo. Essa etapa necessita do registro do estudo
etnográfico, que pode gerar novos problemas que devem ser pesquisados. Este
processo de pesquisa pode ser demonstrado pela FIG. 1.
FIGURA 1 – O processo cíclico da pesquisa etnográfica.
Fonte: Adaptado de Spradley (1980, p. 23).
Coleta de dados
etnográficos
Fazendo
registros
etnográficos
Analisando
dados
etnográficos
Fazendo perguntas
etnográficas
38
4.1 CENÁRIO DO ESTUDO
O cenário da pesquisa está situado no Distrito Sanitário Oeste (DISAO) do município
de Belo Horizonte. Essa região, representada pelo MAPA 1, possui uma população
de 268.124 habitantes, sendo constituída de 126.276 homens e 141.848 mulheres,
com uma extensão territorial de 31,27 km
2
e uma densidade demográfica de
8.573.38 habitantes/km
2.
(IBGE, 2000). Possui os seguintes limites geográficos: as
Avenidas do Contorno e Raja Gabaglia, e a BR 040 como limites do Distrito Sanitário
Centro-Sul; o anel Rodoviário, como limite do Distrito Sanitário Barreiro e do
município de Contagem e a linha do trem metropolitano (Metrô), como limite do
Distrito Sanitário Noroeste (BELO HORIZONTE, 2003 c).
A região oeste possui uma rede educacional de 16 escolas municipais, 25 escolas
estaduais, 1 escola federal (CEFET/MG), representada pelos dois campi, 52 escolas
particulares de ensino fundamental e de ensino médio. No setor da área de saúde,
ela conta com 15 unidades básicas de saúde, 1 policlínica, 1 laboratório clínico, 1
unidade de emergência e alguns hospitais, entre eles, o hospital Madre Tereza, o
hospital Santa Terezinha, o hospital Sarah-MG, o hospital Unimed – BH, dentre
outros (BELO HORIZONTE, 2003 c).
É importante salientar que o DISAO foi a primeira regional a implementar o sistema
saúde em rede nas unidades básicas de saúde, tendo iniciado esse processo em
fevereiro de 2002 (BELO HORIZONTE, 2003 d).
39
MAPA 1 – Mapa da região oeste de Belo Horizonte.
Fonte: GEREPI – Oeste.
40
O sistema de saúde em rede representa um avanço na incorporação de recursos
oferecidos pela tecnologia da informática, tendo como objetivo principal a melhoria
da qualidade dos serviços prestados à população. Os módulos do sistema são:
agenda, recepção, registro de atendimento, coleta de material biológico, farmácia,
extrator de relatório a partir do banco de dados gerados e indicadores por equipe
(BELO HORIZONTE, 2003 d).
Atualmente, essa região é dividida em seis unidades operacionais de planejamento:
a unidade administrativa Jardim América, Barroca, Morro das Pedras, Betânia,
Estoril/Buritis/ Pilar Oeste e Cabana, sendo esta a região onde foi desenvolvida a
pesquisa.
A unidade administrativa da Cabana é composta pelos bairros Glalijá (Sul da VULO),
Vila Itaú, Jardinópolis, Madre Gertrudes (Magnesita), Cabana, Vista Alegre, Nova
Cintra, Patrocínio, Nova Gameleira, Gameleira, Sport Clube I, II, III e IV (parte),
Oeste (Nova Gameleira), Nova Gameleira II, Cabana Pai Tomás e Imbaúbas. Essa
área possui trechos de topografia bastante irregulares e é constituída, em grande
parte, por favelas e vilas.
A principais vias de acesso a essa região são a Avenida Amazonas, a Avenida
Teresa Cristina e o anel rodoviário, através de uma extensa e ampla malha
rodoviária de transporte coletivo.
Essa região possuía, em 2000, 18.800 domicílios residenciais, sendo que, desses,
83,8% eram casas, 12,3% apartamentos e 3,9% cômodos. A maioria dessas
residências (99,6%) possuía abastecimento de água tratada, 89,8% tinham rede de
esgoto e 97,9% apresentavam coleta direta do lixo (IBGE, 2000).
O número de habitantes por domicílio é bastante variado, porém havia maior
concentração nas residências que possuíam três, quatro e dois habitantes por
domicílio, representando respectivamente 23,1%, 22,6% e 17,1% (IBGE, 2000).
41
A população total da região da grande cabana era de 70.564 habitantes (IBGE,
2000), distribuídos por sexo, faixa etária e pela respectiva unidade de atendimento
primário, conforme a TAB. 1.
A TAB. 1 demonstra que a maioria da população é do sexo feminino (51,5%), sendo
que as faixas etárias com maiores número de habitantes são a de 20 a 29 anos
(20,1%), 10 a 19 anos (19,3%) e 30 a 39 anos (16,1%) do contingente populacional.
Por meio desses dados, pode-se concluir que há uma concentração populacional
representada pelos adultos jovens.
A maioria da população residente, com idade igual e acima de 5 anos, é
alfabetizada. A taxa de alfabetização para as pessoas do sexo masculino era de
90,24% e as do sexo feminino, de 88,08% (IBGE, 2000).
42
TABELA 1
Distribuição da população da grande cabana por unidades primárias de atendimento, faixa etária e sexo
CENTRO
DE
SAÚDE
FAIXA
ETÁRIA
E SEXO
CABANA CÍCERO ILDEFONSO VILA IMPERIAL VISTA ALEGRE WALDOMIRO LOBO
TOTAL
Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino
0-4 anos 817 836 871 838 421 411 645 655 468 456
6418
5-9 anos 865 856 806 808 420 443 634 648 440 436
6356
10-14 anos 916 934 822 752 406 433 679 583 446 426
6397
15-19 anos 1155 1118 826 878 470 475 653 731 488 466
7260
20-24 anos 1311 1024 925 927 492 481 734 777 510 505
7686
25-29 anos 1007 917 784 755 392 430 673 664 450 436
6508
30-34 anos 856 831 710 748 392 429 636 591 415 402
6010
35-39 anos 753 806 566 639 387 406 488 599 336 358
5338
40-44 anos 659 752 480 542 313 364 468 530 267 281
4656
45-49 anos 494 581 343 410 242 263 339 372 188 226
3458
50-54 anos 369 489 261 352 170 214 232 319 149 209
2764
55-59 anos 343 380 225 284 129 144 182 247 116 175
2225
60-64 anos 219 325 206 243 114 164 170 232 114 177
1970
65-69 anos 152 250 156 183 89 111 126 205 100 128
1500
70-74 anos 104 154 83 119 53 78 108 147 49 89
984
75-79 anos 56 103 41 68 29 55 55 74 34 37
552
80 e mais 50 83 28 78 23 46 27 82 18 53
488
Total 10126 10439 8133 8624 4542 4947 6849 7456 4588 4860 70564
Fonte: IBGE (2000).
43
Essa região possui cinco unidades básicas de saúde: os centros de saúde Cabana,
Cícero Ildefonso, Vila Imperial, Vista Alegre e Waldomiro Lobo.
Todas as áreas de abrangências das respectivas unidades, representadas no MAPA
2, apresentam áreas de risco médio à saúde a áreas de risco muito elevado, sendo
necessária a implantação das Equipes de Saúde da Família (ESF) para o
atendimento dessa população adscrita. Atualmente, existem 22 ESFs nessa região,
sendo que cada uma delas possui a composição mínima de profissionais exigida
pelo Ministério da Saúde, inclusive um enfermeiro.
A pesquisa foi realizada nos centros de saúde Cabana, Cícero Ildefonso e Vista
Alegre, no período de maio a dezembro de 2005, após o consentimento das
gerentes das unidades e da diretora do DISAO, bem como a aprovação nos comitês
de ética da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Prefeitura Municipal
de Belo Horizonte. (Anexos 1, 2 e 3)
Convém enfatizar que os centros de saúde Vila Imperial e Waldomiro Lobo não
participaram da coleta de dados. O primeiro, em virtude de ser o local de trabalho do
pesquisador, o que poderia dificultar a compreensão do tema, principalmente pelo
fato de ser um nativo daquela subcultura. O segundo centro de saúde descrito não
foi utilizado em decorrência da saturação anterior ao processo de coleta de dados.
44
MAPA 2 – Áreas de abrangência dos centros de saúde do Distrito Sanitário Oeste.
Fonte: GEREPI – Oeste.
45
As unidades que participaram da pesquisa possuem, de maneira geral, uma boa e
ampla infra-estrutura, com vários consultórios, sala de recepção de usuários, sala de
curativos, sala de vacina, banheiros para os funcionários e usuários, sala de
odontologia, expurgo, almoxarifado, sala da gerência, sala do administrativo,
farmácia, cozinha, sala de procedimentos, dentre outros. Entre algumas
peculiaridades referentes à área física, o centro de saúde Cícero Ildefonso não
possui uma sala para realização de grupos operativos e o centro de saúde Vista
Alegre possui dois pavimentos.
Os três centros de saúde possuem aproximadamente 67 trabalhadores por unidade.
A TAB. 2 demonstra que os centros de saúde Cabana e Cícero Ildefonso possuem
uma média de 4 ACSs por equipe e que a unidade do Vista Alegre apresenta uma
distribuição de, no mínimo, 5 ACSs por equipe.
TABELA 2
Números de Equipes de Saúde da Família e de profissionais, ACSs, auxiliares e técnicos de
enfermagem, distribuídos por Unidade Básica de Saúde
UNIDADES
EQUIPES E
PROFISSIONAIS
CENTRO DE
SAÚDE
CABANA
CENTRO DE
SAÚDE CÍCERO
ILDEFONSO
CENTRO DE
SAÚDE VISTA
ALEGRE
TOTAL
Nº. de ESF
6
5
5
16
ACSs
25
24
28
77
Auxiliares e técnicos
de enfermagem nas
ESFs
10
9
9
28
Auxiliares e técnicos
de enfermagem no
apoio
3
4
4
11
Fonte: Centros de Saúde Cabana, Cícero Ildefonso e Vista Alegre.
O número de auxiliares e técnicos de enfermagem é equivalente nas três unidades.
Observa-se, também, que quatro equipes de saúde da família (duas equipes no
centro de saúde cabana e uma equipe nas demais unidades) não apresentam o seu
46
quadro de funcionários completo, o qual, conforme a recomendação da SMSA, deve
possuir dois auxiliares por equipe.
4.2 INFORMANTES
Os informantes da pesquisa foram nove enfermeiros do PSF, que estavam
trabalhando em uma das três unidades básicas no período mínimo de seis meses e
que aceitaram participar voluntariamente da pesquisa, de acordo com as normas de
pesquisa em seres humanos (CNS 196/96). Todos os participantes assinaram o
termo de consentimento informado. (Anexo 4)
Convém enfatizar que o número de informantes foi determinado pelo processo de
saturação dos dados. Assim, durante a análise do material empírico, não foram
encontrados novos termos inclusos que apresentassem correlação com o tema
pesquisado.
Havia oito pessoas do sexo feminino e uma do sexo masculino, com idades que
variam entre 29 e 37 anos, atuam no PSF há mais de dois anos, sendo que 78%
deles estão há mais de quatro anos no referido programa. Desses, 55,4 % trabalham
de um ano e meio a dois anos e meio e 44,6% exercem a sua atividade de três anos
e meio a cinco anos e meio nos centros de saúde descritos. Dentre outras
características, dos nove enfermeiros entrevistados, oitos eram concursados, seis
fizeram o curso de especialização em PSF, um estava fazendo o curso no período
da pesquisa e os outros dois não o haviam iniciado.
Um dos enfermeiros foi considerado informante-chave por causa de sua
receptividade, sua disponibilidade e seu conhecimento sobre o tema investigado.
47
4.3 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
As técnicas de coleta de dados usadas no método etnográfico são a observação
participante, a análise documental e a entrevista etnográfica (SPRADLEY, 1979,
1980).
Para Minayo (1999), a entrevista e a observação participante são os dois
componentes fundamentais do trabalho de campo na abordagem qualitativa.
O trabalho de campo iniciou-se com a observação participante e com perguntas
etnográficas por meio das entrevistas. Para Spradley (1979) as perguntas
etnográficas apresentam o propósito de descobrir o sistema de significados culturais
que as pessoas usam. Nessa etapa, esse autor recomenda que se inicie com
questões gerais e descritivas, de modo que os informantes não sejam influenciados
pela cultura do etnógrafo.
4.4 OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
A observação participante foi um importante instrumento de coleta de dados para
compreender a ação educativa do enfermeiro no PSF, pois para decifrar o
conhecimento cultural desses trabalhadores foi necessário vivenciar, aprender e
entender como esses profissionais agem no seu cotidiano e quais as ferramentas
que eles utilizam para a construção desses valores.
As observações do campo foram registradas em um impresso específico que
contempla as anotações de cunho descritivo e reflexivo (Anexo 5). As observações
descritivas referiam-se à minha observação sobre o cenário estudado com todas as
suas características e as reflexivas destacavam meus sentimentos, reflexões e
percepções no momento da observação.
48
De acordo com Spradley (1980), a observação participante não é igual à observação
comum, sendo necessária a sua distinção mediante algumas considerações
relevantes. Uma importante característica da observação participante é o seu
propósito duplo, em que o pesquisador observa os cenários, as atividades, as
pessoas e participa daquela situação social. Esse autor ressalta que o investigador
deve praticar treinamento mental e ter constante vigilância, com o objetivo de captar
as informações que para um observador comum poderiam passar despercebidas.
Para Minayo (1999), um observador científico necessita de colocar-se sob o ponto
de vista do grupo pesquisado com respeito, empatia e inserção.
A observação participante iniciou-se em maio de 2005 no centro de saúde Cabana,
tendo passado pelo centro de saúde Cícero Idelfonso e terminado em dezembro do
respectivo ano no centro de saúde Vista Alegre. Foram observadas as atividades de
14 enfermeiros do PSF dos centros de saúde descritos acima, totalizando 41 dias e
77 horas de observação. É importante salientar que essa atividade foi realizada em
horário compatível com as minhas atividades laborais no centro de saúde Vila
Imperial.
Atualmente, essas unidades possuem um número expressivo de trabalhadores de
saúde, sendo extremamente difícil conhecer e estabelecer um rapport com todos
esses profissionais. A inserção e a compreensão das atividades estabelecidas
nesses serviços foram muito gratificantes, porém bastante penosas, como pode ser
descrito em algumas das anotações de campo. Quando iniciei a pesquisa em um
dos centros de saúde, mesmo me apresentando para a maioria dos profissionais ali
presentes, presenciei um momento inusitado: ao passar pelo corredor de uma das
unidades, observei um dos trabalhadores fechando todas as portas à minha frente,
demonstrando que eu era um ser estranho àquele ambiente.
Outro momento no qual enfrentei dificuldade no processo de observação participante
foi quando eu estava aguardando em uma sala um dos sujeitos da pesquisa. Um
49
dos profissionais de saúde cumprimentou-me e, posteriormente, perguntou-me o que
eu estava fazendo ali. Logo em seguida, apresentei-me e informei-lhe que eu era
pesquisador. Entretanto, nas observações subseqüentes, sempre que eu encontrava
esse profissional ele alertava ao enfermeiro de serviço para que tomasse cuidado
comigo, demonstrando que alguns nativos da cultura em estudo têm receio de que
estejam sendo avaliados. Na verdade, ele não compreendeu minha ação de
pesquisador, mesmo após vários esclarecimentos sobre a minha presença naquele
serviço.
Após as primeiras observações, tornou-se necessário definir qual era o local mais
propício para o desenvolvimento do estudo, em virtude, principalmente, da
complexidade das interações humanas ocorridas nas unidades básicas de saúde.
Spradley (1980) afirma que a observação participante deve ser iniciada em uma
única situação social, e um critério importante para sua escolha é verificar que
freqüência essa atividade se repete. Esse autor retrata que uma situação social
pode ser identificada por três elementos fundamentais: o lugar, os atores e as
atividades.
Seguindo essas orientações, identifiquei que o acolhimento era a melhor situação
social para compreender a ação educativa do enfermeiro em virtude de ser realizado
quase todos os dias e ter a participação diária dos enfermeiros. Cabe enfatizar que
observei outras atividades, tais como o setor de recepção, a consulta de
enfermagem, os grupos operativos, a administração de medicamentos, dentre
outras.
O acolhimento é caracterizado pelos enfermeiros como uma atividade que
existe em qualquer ação do profissional, mas nesse formato que é hoje, muitas
equipes assumem de resolver os problemas da comunidade em um certo horário, de
preferência no horário da comunidade ou e da equipe. Uma preferência dos dois
lados, de manhã. Então, a maioria das equipes atende de manhã o acolhimento.
50
Ao ingressar nas unidades investigadas, foi necessário definir qual a forma de
participação a ser adotada durante a observação, principalmente pelo fato de ser
também um profissional do PSF em outro centro de saúde.
Existem cinco tipos de inserção possíveis do observador no campo: a não-
participação, em que não há envolvimento entre o pesquisador e os sujeitos, bem
como com o cenário cultural; a participação passiva, na qual o pesquisador está
presente no campo, porém assume apenas a postura de mero espectador; a
participação moderada, uma situação de interseção entre observar e participar; a
participação ativa, na qual o investigador participa de algumas atividades dos
sujeitos com o intuito de compreender as regras e padrões culturais presentes no
comportamento do grupo; e a participação completa, em que o pesquisador tem
um alto nível de envolvimento na cultura estudada. No entanto, o autor faz um alerta
de que, após uma inserção prolongada e com participação completa, o investigador
que se propõe a estudar as situações sociais corre o risco potencial de “naturalizar-
se” e de não perceber as atividades que antes lhe pareciam exóticas, não familiares
(SPRADLEY, 1980).
Portanto, optei pela participação passiva e a moderada. Todavia, exercer uma
observação participante em um serviço de saúde sendo um profissional que atua no
mesmo segmento, não é uma situação confortável. O dilema entre ser um
observador passivo e ter uma participação mais ativa nas atividades cotidianas da
unidade era sempre presente, uma vez que deparei com uma escassez de pessoal
em determinados horários e uma grande e complexa demanda de atendimentos a
serem realizados. Nesse caso, iniciei mais precocemente o tipo de participação
moderada, sobretudo pelos problemas éticos, tais como ajudar numa punção venosa
de uma criança, pois a auxiliar de enfermagem estava sozinha para realizar esse
procedimento e fornecer informações durante situações assistenciais no intuito de
facilitar a resolutividade e o atendimento ao usuário.
51
4.5 ENTREVISTAS
A entrevista é a técnica de pesquisa mais usada no processo de trabalho de campo,
uma vez que privilegia a fala dos sujeitos com o intuito de revelar as condições
estruturais, os sistemas de valores, as normas e os símbolos daquele contexto
cultural (MINAYO, 1999).
A entrevista etnográfica é como um “tipo especial de evento da fala” que envolve
dois processos complementares e distintos: estabelecer um rapport e obter
informações. Estabelecer um rapport significa construir um vínculo e uma empatia
entre o investigador e os informantes mantendo uma atitude de respeito,
receptividade e de interação (SPRADLEY, 1979).
A entrevista etnográfica proposta por Spradley (1979) envolve a formulação de três
tipos de questões: as questões descritivas, as estruturais e as de contraste. As
questões descritivas são questionamentos amplos que permitem uma aproximação
do informante e a exploração de seu cenário cultural. Essas questões são a base de
toda entrevista etnográfica e da análise dos relatos, possibilitando a elaboração de
“domínios hipotéticos”. As interrogações estruturais buscam explorar o modo como o
conhecimento cultural do informante está organizado, identificando os domínios
culturais, os termos cobertos e os termos inclusos desses domínios. As perguntas
estruturais têm o objetivo de elaborar as categorias analíticas a partir do próprio
informante e do seu universo cultural. Já as questões de contraste permitem
aprofundar as classificações obtidas das questões estruturais, buscando identificar
os significados empregados pelos informantes para distinguir os objetos e os
eventos do seu mundo (SPRADLEY, 1979).
Convém enfatizar que neste estudo as entrevistas seguiram o método preconizado
por Spradley (1979), iniciando com uma pergunta ampla e descritiva: “Descreva a
sua ação educativa no cotidiano do PSF”. Após a análise dessas informações, foram
construídas e delineadas as questões estruturais.
52
Foram realizadas dez entrevistas em horários, dias e locais combinados com os
informantes. O informante-chave foi entrevistado por duas vezes. As entrevistas
foram gravadas após o preenchimento do termo de consentimento e transcritas na
íntegra.
Peixoto (1996) relata que o registro das entrevistas deve ser feito em impresso
próprio e contendo os seguintes dados: data, horário, local, número da entrevista,
identificação do informante e o registro das observações e reflexões do etnógrafo
durante sua realização. (Anexo 6)
As entrevistas transcorreram sem complicações e interrupções. Entretanto, não foi
fácil realizar as entrevistas nº. 3 e nº. 4, pois nesse período alguns profissionais da
prefeitura estavam em paralisação por reivindicação de melhores salários,
resultando em um número bastante reduzido de funcionários nos centros de saúde.
Nesse momento, enfrentei um dilema em três dimensões: a profissional, a de
pesquisador e a pessoal. Assim, mesmo tendo agendado as entrevistas
previamente, tive dificuldade de sair do meu local de trabalho. Necessitei de melhor
organização e estruturação com as enfermeiras do campo para o desenvolvimento
das entrevistas e, posteriormente, um dos meus familiares necessitou do serviço
público de saúde, não tendo sido atendido nas unidades que ele procurou.
4.6 ANÁLISE DOCUMENTAL
A análise de documentos foi de suma importância para a compreensão do cenário
estudado. Foram utilizados vários documentos da SMSA, mapas do DISAO e das
áreas de abrangência dos centros de saúde, que acrescentaram preciosas
informações para a construção do trabalho.
53
4.7 ANÁLISE ETNOGRÁFICA
Spradley (1979, 1980) propõe quatro etapas para o processo de análise: a análise
de domínio, análise taxonômica, análise componencial e análise temática.
Neste estudo foram realizadas as análises de domínio, taxonômica e temática.
Seguindo as orientações de Peixoto (1996), os registros dessas etapas foram
transcritos em impressos próprios. (Anexos 7, 8, 9)
A análise de domínio busca identificar os domínios culturais que constituem em
categorias de significados culturais que abrangem três elementos: os termos
cobertos, os termos inclusos e as relações semânticas (SPRADLEY, 1979).
Os termos cobertos se referem ao nome dos domínios, os termos inclusos são as
categorias menores que se agregam dentro de uma categoria maior – o domínio – e
as relações semânticas são as ligações entre os termos inclusos e o termo coberto
(SPRADLEY, 1979).
Esse autor refere-se a nove relações semânticas universais que estão presentes em
todas as culturas. Essas relações semânticas refletem como os nativos da cultura
organizam o conhecimento cultural demonstrado no QUADRO 1.
54
QUADRO 1
Relações semânticas universais
1. Inclusão estrita X é um tipo de Y
2. Espacial X é um local de Y, X é uma parte de Y
3. Causa-efeito X é um resultado de Y, X é uma causa de Y
4. Racional X é uma razão para fazer Y
5. Localização da ação X é um local para se fazer y
6. Função X é usado para fazer Y
7. Meio-fim X é um modo de fazer Y
8. Seqüência X é um passo (estágio) de Y
9. Atribuição X é um atributo (característica) de Y
Fonte: Spradley (1980, p. 110)
A análise taxonômica é a busca de uma estrutura interna para os termos inclusos.
Essa análise tem o intuito de estabelecer uma classificação interna para cada
domínio cultural e a sua busca está pautada no princípio da semelhança entre os
termos populares (SPRADLEY, 1979).
Finalmente, a análise temática constituiu-se na última etapa da análise etnográfica.
Seu objetivo é desvendar as relações existentes entre os domínios e como essas
relações expressam a cultura de um grupo (SPRADLEY, 1979).
No processo cíclico da pesquisa etnográfica, após cada transcrição de fita, busquei a
identificação dos termos populares que representavam os significados culturais
sobre a ação educativa dos enfermeiros no PSF. De todo o processo de análise,
surgiram oito domínios e seis taxonomias caracterizadas pelas relações semânticas
de inclusão estrita e meio fim.
55
5 DESCREVENDO OS DOMÍNIOS CULTURAIS
Durante a análise das entrevistas, os informantes descreveram as características
dos ACSs, auxiliares e técnicos de enfermagem e enfermeiros apresentados no
Domínio Cultural nº. 1 e na Taxonomia nº. 1.
Domínio Cultural nº. 1 – Características dos profissionais no PSF
Termos Inclusos
Acho que elas cobram muito
As informações delas são muito poucas
Às vezes não orienta porque não sabe do que é preciso
Dentro dessa nova perspectiva do PSF, ela passa a ter uma autonomia
É um elo que une várias partes, que são a atenção a saúde da criança, do adolescente e do adulto
Ela consegue fazer essa triagem
Elas dão conta de receber mais informações que recebem
Elas fazem muito pouco
Elas não têm informação teórica, embasamento teórico
Elas poderiam fazer mais do que elas fazem
Ele fica muito solto no PSF
Ele se identificou muito com o programa
Ele tem formação generalista
Às vezes a questão do PSF mesmo, passa meio distante dele
Eles não tem embasamento teórico e também na própria prática
Fazem tudo meio mecânico
Fazendo do jeito que acha que é
Já tem uma formação técnica de alguns pontos
Jogam muita responsabilidade em cima do enfermeiro
Não são exclusivos para o PSF
O ACS é o cara novo, todo mundo quer trabalhar com ele
O ACS não é mão de obra da unidade, é extra unidade
O auxiliar fica muito direto no acolhimento
Precisa participar mais nas visitas de rotina da equipe
São pouco aproveitadas
Sem embasamento científico
Sem saber direito o que está fazendo
Tem boa vontade e são abertos a aprendizagem
Tem equipe que o auxiliar ele é muito ativo
Tem muita responsabilidade com os pacientes deles
Tem outra equipe que não, que o auxiliar só marca consulta
Tinham que participar mais
Tudo elas passam para gente, encaminham para gente
Ver a família como um todo
56
Taxonomia nº. 1 – Características dos profissionais no PSF
ACS
São pouco aproveitadas
Elas dão conta de receber mais informações que recebem
As informações delas são muito poucas
Tudo elas passam para gente, encaminham para gente
Elas não têm informação teórica, embasamento teórico
Elas fazem muito pouco
Elas poderiam fazer mais do que elas fazem
Jogam muita responsabilidade em cima do enfermeiro
Acho que elas cobram muito
Tinham que participar mais
Às vezes não orienta porque não sabe do que é preciso
O ACS é o cara novo, todo mundo quer trabalhar com ele
O ACS não é mão de obra da unidade, é extra unidade
Tem boa vontade e são abertos a aprendizagem
Tem muita responsabilidade com os pacientes deles
Auxiliar e técnico de enfermagem
Eles não têm embasamento teórico e também na própria prática
Fazem tudo meio mecânico
Sem embasamento científico
Fazendo do jeito que acha que é
Sem saber direito o que está fazendo
Tem equipe que o auxiliar ele é muito ativo
Tem outra equipe que não, que o auxiliar só marca consulta
Ele fica muito solto no PSF
Às vezes a questão do PSF mesmo, passa meio distante dele
Já tem uma formação técnica de alguns pontos
Dentro dessa nova perspectiva do PSF, ela passa a ter uma autonomia
Não são exclusivos para o PSF
Precisa participar mais nas visitas de rotina da equipe
Ela consegue fazer essa triagem
O auxiliar fica muito direto no acolhimento
Enfermeiro
Ele se identificou muito com o programa
Ele tem formação generalista
É um elo que une várias partes, que são a atenção a saúde da criança, do adolescente e do adulto
Ver a família como um todo
Nos relatos dos enfermeiros, os ACS são descritos como uma nova profissão, nas
unidades básicas de saúde, caracterizados como profissionais que apresentam boa
vontade, responsabilidade com os pacientes e abertura para o processo de
aprendizagem. Entretanto, são referidos como pouco aproveitados, sem informação
teórica e científica, transferindo muitas das suas ações para o profissional
enfermeiro.
57
Assim, o ACS é retratado como uma figura nova na saúde; os auxiliares tinham mais
tempo e agora já tem a questão do ACS, desde o PACS.
A inserção desse trabalhador, com perfil ocupacional bastante diferenciado, que
muitas vezes se aproxima das funções exercidas pelo assistente social, outras pelos
trabalhadores de enfermagem, nos serviços de saúde apresenta uma contradição e
dificuldade no desempenho de suas ações (SILVEIRA, 2001).
Os relatos abaixo revelam essas características desses profissionais.
Eles têm muita responsabilidade com os pacientes deles, com as famílias que são
adscritas, na micro-áreas deles.
As ACS são pouco aproveitadas, sabe. Tem informações básicas que eu acho que
elas podiam ter e passar para população, que elas não têm.
Tudo elas passam para gente, encaminham para gente. Elas têm capacidade, elas
não têm informação teórica, embasamento teórico para fazer isso.
O ACS apresenta como atribuição no PSF a integração entre a equipe de saúde da
família e a comunidade, com o intuito de promover a união entre estes dois
universos culturais distintos, que são o saber científico e o saber popular (Brasil,
2001 a). Portanto, mesmo com uma atribuição específica, as falas acima
demonstram a dificuldade no desempenho do ACS nessa interlocução entre os
serviços de saúde e a população, muitas vezes em decorrência da falta de
embasamento teórico para o desempenho dessa função.
Para Silveira (2001, p.120),
a despeito da incorporação do trabalho do ACS na equipe, que
notadamente hoje ganha outros contornos – a ampla utilização de
mão de obra não qualificada para exercer as mais diversas ações
nesse campo, torna-se um paradoxo para um sistema de saúde que
se propõe a ser resolutivo e com qualidade
.
58
Os auxiliares de enfermagem do PSF vivenciam uma dicotomia no desempenho da
suas ações, uma vez que, se por um lado adquiriram maior autonomia com o
programa, por outro fazem tudo meio mecânico, sem embasamento científico, sem
saber direito o que esta fazendo, ficando muito solto no PSF. Essa situação
enfrentada no cotidiano dos serviços primários de saúde pode ser evidenciada nos
relatos abaixo:
Então, dentro dessa nova lógica, dessa nova perspectiva do PSF, ele passa a ter
uma autonomia, mais qual autonomia que é essa?
A gente percebe que eles não têm esse embasamento teórico e, também, na própria
prática. Acaba fazendo tudo meio mecânico e sem embasamento científico. Fazendo
do jeito que acha que é, sem saber direito o que esta fazendo, o que acontece em
qualquer lugar, não é só aqui não, em qualquer lugar acaba ficando muito
automatizado.
Nesse contexto, a autonomia adquirida pelos auxiliares de enfermagem no programa
pode se transformar em um paradoxo, visto que requer maior competência e
embasamento científico para exercê-la.
Para Shimizu et al. (2004, p. 720), os auxiliares que trabalham no PSF, “sem uma
coordenação direta”, demonstram certo grau de autonomia, porém acabam
assumindo responsabilidades que vão além dos limites de suas atribuições.
O enfermeiro é descrito como um profissional que tem uma identificação com o PSF,
seja pela sua formação generalista, seja pela sua atuação com o indivíduo em todos
os ciclos de vida. Segundo os informantes, o enfermeiro
se identificou muito, pela própria formação que ele tem uma formação generalista. O
enfermeiro trabalha com criança, com adulto, então, eu acho que ele se identificou
muito bem com o Programa Saúde da Família. O enfermeiro procura, pelo menos eu
acho que é intenção nossa, ver a família mesmo como um todo, desde a criancinha
até o idoso.
No estudo realizado por Pereira (2002), os enfermeiros descrevem que a formação
generalista deles os diferencia de outros profissionais, constituindo um dos fatores
que facilitam a sua inserção no PSF. Nessa mesma abordagem, Carrijo, Pontes e
59
Barbosa (2003, p. 158) afirmam que “os enfermeiros sentem-se satisfeitos com a
proposta do PSF, pois, diante dos profissionais que compõem a equipe mínima, o
enfermeiro recebe uma formação generalista”.
De acordo com Costa, Lima e Oliveira (2000, p. 152), o enfermeiro desempenha
importante ação no programa, resgatando a atenção enfermeiro/família com intuito
de contribuir para a melhoria da qualidade de vida do indivíduo em seu ambiente
familiar.
Diante dos relatos dos enfermeiros foram identificados os termos inclusos que
indicam quais os tipos de atividades desempenhadas por esses profissionais no PSF
na comunidade, construindo-se o Domínio Cultural nº. 2 e a Taxonomia nº. 2.
60
Domínio Cultural nº. 2 – Tipos de ações realizadas pelo enfermeiro no PSF com a
comunidade
Termos Inclusos
A gente vai fazendo no boneco e elas vão fazendo nas crianças delas
Acaba sendo uma marcação de consulta
Acolhimento
Acompanhar os pacientes dentro e fora da unidade
Apagar fogo
Aproximar essa mãe dessa criança
Atividades em creches
Avaliar o que as pessoas têm, tão sentindo, o que elas precisam
Busca ativa
Coletar sangue, algumas vezes
Colocar de atestado as crianças que não podem estar na creche
Constatar alguma situação da família
Conversar com as pessoas que chegam
Curativo
Educar a pessoa
Encaminhar para a consulta médica, quando necessário
Entregar e fazer orientações sobre o uso correto da farinha
Esclarecer dúvidas
Faço alguma coisa que eu sinto que elas tão em dúvida
Falar com os pais sobre algum assunto voltado para a saúde da criança
Fazer as atividades junto com as pessoas, uma caminhada
Fazer uma avaliação geral das crianças
Fazer uma avaliação mais rigorosa, depois que acabam as vagas dos médicos
Fazer uma chamada nutricional
Fazer uma dinâmica
Fazer uma parte educativa de orientação
Fazer umas entrevistas com as mães antes e depois da chantala
Fazer visitas domiciliares junto ao ACS ou também junto ao médico
Grupo de anti-stress
Grupo de asma
Grupo de chantala
Grupo de desnutrido
Grupo de gestante
Grupo de planejamento familiar
Grupo de puerpério
Grupos de hipertensos e diabetes
Ir à casa das pessoas quando necessário
Juntar o grupão, dar orientação
Levantar os desnutridos da área
Medicação
Mutirão de preventivo
Oferecer, nem que seja uma kitzinho lá, para as mães trazer
Olhar a pressão de todo mundo
Olhar resultado de exames
Orientação sobre: aleitamento materno exclusivo, banho de sol do RN, o não uso do bico,
mamadeiras, essas coisas, vestuário, imunização
Orientar sobre o exame citopatológico e o câncer de mama
Ouvir e dar uma resolutividade para essa queixa
Palestra
Pedir, pelo menos uma vez ao ano, hemograma, fezes, urina
Pesar todas as crianças de zero a dez anos
Pesar, medir, fornecer orientações muitos rápidas, assim sobre alimentação
61
Pós-consulta
Pré-natal
Puericultura
Questionar o que eles sabem
Receber todo mundo
Reciclagem
Reunir todo o mês
Trabalhar na escola
Trabalhar na rádio comunitária
Trocar receitas
Vacinas
Taxonomia nº. 2 – Tipos de ações realizadas pelo enfermeiro no PSF com a comunidade
Receber todo mundo
Conversar com as pessoas que chegam
Encaminhar para a consulta médica, quando necessário
Avaliar o que as pessoas têm, tão sentindo, o que elas precisam.
Fazer uma avaliação mais rigorosa, depois que acabam as vagas
dos médicos
Acaba sendo uma marcação de consulta
Ouvir e dar uma resolutividade para essa queixa
ACOLHIMENTO
Apagar fogo
Esclarecer dúvidas
MUTIRÃO DE
PREVENTIVO
Orientar sobre o exame citopatológico e o câncer de mama
Medicação
Vacinas
Coletar sangue, algumas vezes.
PROCEDIMENTOS DE
ENFERMAGEM
Curativo Acompanhar os pacientes dentro e fora da
unidade
Educar a pessoa
PASSEIOS
Fazer atividades com as pessoas, uma caminhada
Ir à casa das pessoas quando necessário
Constatar alguma situação da família
VISITAS DOMICILIARES
Fazer visitas domiciliares com o ACS ou também com o médico
BUSCA ATIVA
Puericultura
Preventivo de câncer
CONSULTA DE
ENFERMAGEM
Pré-natal
PÓS-CONSULTA
Fazer uma avaliação geral das crianças
Falar com os pais sobre algum assunto voltado para a saúde da
criança
ATIVIDADES EM
CRECHES
Colocar de atestado as crianças que não podem estar na creche
TRABALHAR NA RÁDIO COMUNITÁRIA
TRABALHAR NA ESCOLA
Trocar receitas
62
Olhar resultado de exames
Olhar a pressão de todo mundo
Fazer uma dinâmica
Fazer uma parte educativa de orientação
Palestra
Reunir todo o mês
Hipertensão e
diabetes
Questionar o que eles sabem
Fazer uma chamada nutricional
Pesar todas as crianças de zero a dez anos
Oferecer, nem que seja uma kitzinho lá, para
as mães trazer
Levantar os desnutridos da área
Juntar o grupão, dar orientação.
Pesar, medir, fornecer orientações muitos
rápidas, assim sobre alimentação
Entregar e fazer orientações sobre o uso
correto da farinha
Desnutrido
(crescer)
Pedir, pelo menos uma vez ao ano,
hemograma, fezes, urina
Aproximar essa mãe dessa criança
A gente vai fazendo no boneco e elas vão
fazendo nas crianças delas
Chantala
Fazer uma entrevista com as mães antes e
depois da chantala
Anti-stress
Planejamento familiar
Asma
Gestante
GRUPOS OPERATIVOS
Puerpério
Orientação sobre: aleitamento materno
exclusivo, banho de sol do RN, o não uso do
bico, mamadeiras, vestuário, imunização.
Entre as diferentes ações desempenhadas pelo enfermeiro no PSF, o Domínio
Cultural nº. 2 e a Taxonomia nº. 2 relacionam aquelas desenvolvidas com a
comunidade. Os informantes destacaram o acolhimento, os grupos operativos, as
visitas domiciliares e as atividades em creche, rádio e escola.
Algumas dessas ações são também descritas em outras localidades, como no
estudo desenvolvido por Marques e Silva (2004) sobre o PSF de Campinas. Essas
autoras verificaram que o enfermeiro desenvolve atividades individuais, como as
consultas de enfermagem, a visita domiciliar, os procedimentos de enfermagem;
atividades coletivas, como a realização de grupos operativos; e atividades
intersetoriais como palestra em escolas e creches.
63
O acolhimento é caracterizado pelos informantes como a recepção do usuário nas
unidades básicas de saúde. Suas ações são caracterizadas como apagar fogo, ouvir
e dar uma resolutividade para essa queixa. Para os informantes, fazer o acolhimento
implica receber todo mundo, conversar com as pessoas que chegam e avaliar o que
elas têm, do que elas estão sentindo, o que elas precisam, e, quando necessário, a
gente encaminha para a consulta médica.
No estudo realizado por Malta et al. (1998 p.128), fica evidente que o acolhimento
requer mudança no processo de trabalho, visto que é necessário o atendimento de
todos os indivíduos que procuram as unidades de saúde, “restabelecendo no
cotidiano o princípio da universalidade, assumindo nos serviços uma postura capaz
de acolher, escutar e dar a resposta mais adequada a cada usuário”. Essa atividade
deve resgatar a responsabilização da saúde desses cidadãos e promover o vínculo
entre os profissionais de saúde e a população.
Durante as observações participantes e as análises das entrevistas, o acolhimento é
realizado e descrito de várias formas, principalmente pela lógica organizacional,
operacional e administrativa da equipe de saúde da família.
Segundo os enfermeiros,
o acolhimento acaba sendo uma marcação de consulta, que a gente discute muito
aqui entre as enfermeiras. Ele só começa depois que as vagas dos médicos foram
preenchidas. Eu acho que, na verdade, a população vem à procura da consulta
médica ainda e a gente acaba acolhendo, fazendo uma avaliação mais rigorosa,
depois que acabam as vagas dos médicos.
Esse relato entra em contradição com o estudo feito por Solla (2005, p. 496) que,
após extensa revisão sobre a conceituação e o propósito do acolhimento, defende
que essa prática é mais do que uma “triagem qualificada ou uma escuta
interessada”. Ela deve ser um conjunto formado por atividades de escuta qualificada,
“identificação de problemas e intervenções resolutivas para seu enfrentamento”. É
necessário ampliar “a capacidade da equipe de saúde em responder às demandas
64
do usuário, reduzindo a centralidade das consulta médica e melhor utilizando o
potencial dos demais profissionais”.
Os grupos operativos realizados pelos enfermeiros no programa são: o de
hipertensão e diabetes, o de desnutrido (crescer), o de chantala, o de anti-stress, o
de planejamento familiar, o de asma, o de gestante e de puerpério.
O grupo operativo consiste em uma técnica de trabalho coletivo com o intuito de
promover um processo de aprendizagem (PICHON-RIVERE, 1998).
Os grupos operativos de hipertensão arterial e diabetes mellitus representam uma
maneira de trabalhar com esse importante contingente populacional presente nas
UBSs. As ações realizadas nesse grupo são descritas como trocar receitas, olhar a
pressão de todo mundo, questionar o que eles sabem e fazer uma parte educativa
de orientação, dentre outras atividades.
A realização do grupo de desnutridos, descrita pelos informantes, revela que a
desnutrição infantil representa, ainda, um importante problema de saúde pública,
sendo necessária a identificação das crianças desnutridas, o fornecimento de
alimentação complementar, orientações sobre alimentação e utilização da farinha,
conforme os seguintes relatos: Pesar todas as crianças de zero a dez anos, levantar
os desnutridos da área, entregar e fazer orientação sobre o uso correto da farinha e
sobre alimentação.
Silva et al. (2003 p. 98) afirmam que um grupo deve ser estruturado a partir da cada
realidade, sendo que cada indivíduo tem uma maneira de agir e de pensar,
direcionando suas ações para um fim em comum.
De acordo com a proposta do PSF, o enfermeiro tem desenvolvido algumas de suas
atividades fora da UBS, como trabalhar em creches, rádio e escolas, promovendo a
integração entre o centro de saúde e outros órgãos da comunidade. Essa
intersetorialidade significa “entrar em articulação com outros setores da sociedade e
65
movimentos sociais” e é um importante requisito para a construção do SUS
(BRASIL, 2001 a).
As atividades que a gente faz como em unidades, por exemplo, em creches, quando
a gente vai falar com os pais sobre algum assunto mais voltado para a saúde da
criança.
Durante um bom tempo a gente fazia o programa na rádio, uma ação educativa
muito interessante com participação das pessoas da comunidade.
Agora mesmo está saindo uma peça sobre DST para trabalhar na escola.
A visita domiciliar descrita pelos informantes é uma das atribuições recomendadas a
todos os profissionais que integram a equipe do PSF, devendo ser realizada a partir
de um planejamento prévio (BRASIL, 2001 a).
Para Araújo et al. (2000, p.118), “o cuidado dispensado à saúde no domicílio
propícia a equipe de saúde da família a inserção no cotidiano do cliente;
identificando demanda e potencialidades da família, em um clima de parceira
terapêutica”.
Entre as ações relatadas pelos os enfermeiros do PSF foram também citadas os
mutirões de preventivo, os procedimentos de enfermagem, os passeios, a busca
ativa e a pós-consulta.
Os enfermeiros identificaram que a prática educativa realizada com a população está
presente no acolhimento, na consulta de enfermagem e nos grupos operativos
(Domínio Cultural nº. 3 e Taxonomia nº. 3).
66
Domínio Cultural nº. 3 – Formas de descrever a ação educativa realizada pelo enfermeiro no
PSF com a comunidade
Termos inclusos
É muito pobre
Ela é muito pequena
Oferece uma informação rápida
Não dá muito para fazer
Não tem muito tempo
Não vê fruto daquilo
Puericultura é um momento de maior parte educativa
Puericultura é 90% de educação e 10% de intervenção medicamentosa
Dá para ter esse retorno nessa questão educativa na puericultura
A parte educativa é orientação do auto exame da mama
Vai abordar na consulta, coisas mais ali práticas e não explica detalhadamente
Quando é a 1ª vez, sempre explico direitinho
Dá para conversar mais com a pessoa
Dá para estar ouvindo melhor essa pessoa
Repercussão maior que o acolhimento
Dá para ver se a pessoa captou daquilo ali
A gente trabalha muito com o que está no protocolo
Nunca fazer como palestra
Não é exclusiva do enfermeiro
A gente tenta colocar educação
É grupo, grupo, grupo
Educação individual não tem repercussão
Educação, disciplina, pressão
Agindo antes do prejuízo
Consegue atingir um maior número de pessoas
É o que mais realiza, é o que dá prazer, mais retorno
Vê que os frutos são muito melhores
Quando ela é interdisciplinar, aí que é mais rico
Não é fácil
Acontece mais nos grupos operativos
Tem que ser elaborada, ter objetivo, ter uma estratégia, um resultado
Considero difícil trabalhar a parte educativa
As orientações, eu acho que são muito poucas nesse grupo
A questão educativa da chantala (que) eu acho interessante
É educação pura nesse grupo
A única coisa que ele oferece é informação e educação, nada além
Reeducação
A gente dá todas as orientações
A parte educativa fica muito por conta do enfermeiro
A gente sempre faz uma parte de educativa de orientação ou uma dinâmica de integração
É uma forma de educação também
Você vai disciplinando a sua comunidade
67
Taxonomia nº. 3 – Formas de descrever a ação educativa realizada pelo enfermeiro no PSF
com a comunidade
No acolhimento
É muito pobre
Ela é muito pequena
Oferece uma informação rápida
Não dá muito para fazer
Não tem muito tempo
Não vê fruto daquilo
Na consulta de enfermagem
Puericultura é um momento de maior parte educativa
Puericultura é 90% de educação e 10% de intervenção medicamentosa
Dá para ter esse retorno nessa questão educativa na puericultura
A parte educativa é orientação do auto exame da mama
Vai abordar na consulta, coisas mais ali práticas e não explica detalhadamente
Quando é a 1ª vez, sempre explico direitinho
Dá para conversar mais com a pessoa
Dá para estar ouvindo melhor essa pessoa
Repercussão maior que o acolhimento
Dá para ver se a pessoa captou daquilo ali
Nos grupos operativos
A gente trabalha muito com o que está no protocolo
Nunca fazer como palestra
Não é exclusiva do enfermeiro
A gente tenta colocar educação
É grupo, grupo, grupo
Educação individual não tem repercussão
Educação, disciplina, pressão
Agindo antes do prejuízo
Consegue atingir um maior número de pessoas
É o que mais realiza, é o que dá prazer, mais retorno
Vê que os frutos são muito melhores
Quando ela é interdisciplinar, aí que é mais rico
Não é fácil
Acontece mais nos grupos operativos
Tem que ser elaborada, ter objetivo, ter uma estratégia, um resultado
Considero difícil trabalhar a parte educativa
Desnutrido (Crescer)
As orientações, eu acho que são muito poucas
nesse grupo
Chantala A questão educativa da chantala (que) eu acho
interessante
É educação pura nesse grupo
A única coisa que ele oferece é informação e
educação, nada além
Anti-stress
Reeducação
A gente dá todas as orientações
Planejamento familiar
A parte educativa fica muito por conta do
enfermeiro
Hipertensão e diabetes
A gente sempre faz uma parte de educativa de
orientação ou uma dinâmica de integração
É uma forma de educação também
Passeio
Você vai disciplinando a sua comunidade
68
Os informantes descrevem que, no acolhimento, a sua prática educativa com os
usuários é muito pobre e muito pequena, uma vez que o enfermeiro oferece uma
informação rápida e não vê fruto daquilo. Revelam que não dá muito para fazer e
não tem muito tempo para desempenhar essa ação no momento do acolhimento.
A consulta de enfermagem é caracterizada como uma atividade que possibilita a
escuta e o diálogo com os indivíduos, proporcionando uma troca de informações.
Relatam também, que a consulta possui uma ação educativa com repercussão maior
que o acolhimento.
Em relação às consultas de enfermagem, a gente tem um tempo maior, programado.
Consultas com horários marcados, já dá para fazer assim legal, de você estar
conversando mais com essa pessoa, ouvindo melhor essa pessoa.
A puericultura é descrita como um tipo de consulta de enfermagem, conforme a
Taxonomia nº. 1. Ela consiste no atendimento da criança, avaliando o seu
crescimento e desenvolvimento no primeiro ano de vida. Apresenta, segundo os
informantes, uma forte ação educacional. É um momento de maior parte educativa, é
90% de educação e 10% intervenção medicamentosa. Dá para ter esse retorno
nessa questão educativa.
A consulta de enfermagem apresenta um conjunto de ações prestadas ao cidadão-
usuário com o intuito de identificar os problemas de saúde – doença, prescrever e
implementar um plano de cuidados que contribuam para a promoção, prevenção,
recuperação e reabilitação do paciente (MACIEL; ARAÚJO, 2003).
Os grupos operativos são relatados pelos informantes como uma atividade
prazerosa, de caráter educativo e que necessita de preparação para a sua
realização.
O que mais realiza o profissional, principalmente eu como enfermeira, o que mais
me realiza é a ação educativa. É a ação educativa que dá mais prazer, mais retorno.
Você consegue atingir um maior número de pessoas, você fala com uma pessoa e
essa pessoa promove, ela multiplica isso para outras n pessoas.
69
Uma ação educativa tem que ser elaborada, tem que ter objetivo. Você tem que ter
uma estratégia, um objetivo, um resultado, avaliar. Depois, vamos ver, nós fizemos
essa ação hoje?
Para Silva et al. (2003, p. 98),
trabalhar com grupos na enfermagem vem se constituindo em uma
prática cada vez mais freqüente e valorizada. Temos percebido que
em um grupo, conseguimos avançar, aprofundar discussões, ampliar
conhecimentos e melhor conduzir o processo de educação em saúde
de modo que as pessoas possam superar suas dificuldades, obtendo
maior autonomia e podendo viver mais harmonicamente com sua
condição em saúde, além de promover um viver mais saudável
.
Os enfermeiros descrevem que ação educativa acontece mais nos grupos operativos
enfatizando que a educação individual não tem repercussão quando comparada ao
acolhimento. Na pesquisa realizada por Bezerra et al. (2004, p. 24), observou-se que
70% dos enfermeiros entrevistados descreveram a efetivação de algum tipo de
atividade educativa juntos aos clientes atendidos no PSF, destacando-se as
palestras e reuniões de grupo.
Convém ressaltar que o grupo operativo não é exclusivo do enfermeiro e quando
possui a presença de outros profissionais se torna em um momento de extrema
riqueza. Quando essa ação educativa é feita com a participação de vários
profissionais, quando é interdisciplinar, aí que é muito mais rico.
De acordo com Torres, Hortale e Schall (2003 p. 1043), a atuação da equipe no
grupo, respeitando a peculiaridade entre as especialidades, proporciona a interação
entre os profissionais onde cada um reforça “as exposições realizadas pelos
colegas, facilitando a compreensão e assimilação dos conteúdos teóricos pelo
indivíduo”.
Entretanto, mesmo que o grupo seja realizado pela equipe, é necessário que essa
atividade proporcione um momento de construção e troca de saberes, uma vez que
se torna de extrema importância a utilização de metodologias que garantam a
participação efetiva do usuário.
70
Ao descrever a realização de grupos operativos, Kohlrausch e Rosa (1999, p. 119)
salientam:
É importante que se encontrem estratégias pedagógicas que faça a
educação em saúde mais do que uma maneira de fazer as pessoas
mudarem de comportamento prejudiciais à saúde ou um momento de
transmissão de conhecimentos, mas que seja um espaço de
negociação em que o educador possa articular e trocar experiências
.
Em um dos grupos operativos desenvolvidos pelos informantes, o planejamento
familiar
está sendo feito por equipe, cada equipe faz o seu. Na minha equipe, é o médico e o
enfermeiro junto. A gente dá todas as orientações e no final já vai direcionando o
que cada pessoa quer. Então, acaba que a parte educativa fica muito por conta do
enfermeiro, e o final por conta do médico.
Embora os informantes relatem que as orientações estejam direcionadas às pessoas
da comunidade, Chiesa e Veríssimo (2001, p. 34) alertam que mesmo que
caracterizada como atividades participativas em grupo, “sua organização prevê
prioritariamente aulas ou palestras, praticamente inexistindo espaço para outras
manifestações que não sejam dúvidas pontuais a serem respondidas pelos
profissionais”.
Durante a análise dos dados, emergiu o Domínio Cultural nº. 4 e a Taxonomia nº. 4,
que descrevem a prática educativa dos enfermeiros com os profissionais do PSF,
dentre eles os auxiliares e técnicos de enfermagem, os ACSs e os enfermeiros.
71
Domínio Cultural nº. 4 – Formas de descrever a ação educativa do enfermeiro com os
profissionais no PSF
Termos Inclusos
A gente acaba fazendo um pouquinho mais
A gente faz pouco treinamento
A gente não faz com tanta freqüência, mas é muito bom quando acontece
A gente percebe algumas falhas, aí a gente chama, prepara, senta o enfermeiro, um ou dois e
prepara o treinamento
A gente percebe que tem uma dúvida
A gente tenta não dar uma resposta muito curta
A relação de aprendizagem em serviço é maior, no sentido que a gente tem trabalhado junto
Assim que se faz a educação para o auxiliar, não existe um horário específico de discussão, é
para o caso clínico em geral
Cada equipe se responsabiliza pelo seu agente comunitário
Cada sexta-feira tem sido um assunto
É pouca coisa que é feito
É uma capacitação com eles nas reuniões de sexta-feira
Eles acabam entrando junto com a gente, nessa parte que vai direcionado para o ACS
Em alguns momentos exige uma resposta, em alguns outros momentos exige um outro
questionamento, para que tenha um conhecimento mais apurado daquele questionamento
Eu acho fraca
Eu acho que a gente deixa a desejar, na questão do auxiliar
Eu sinto que ela está defasada
Fica um vazio muito grande
Gostaria que a ação fosse maior
Há uma troca de conhecimento, talvez até muitas vezes uma necessidade para que a gente tome
alguma decisão
Não é uma discussão profunda
Não são atividades sistematizadas
Não tem nada direcionado para ele
No acolhimento a gente consegue fazer uma discussão de alguns casos clínicos
Pouca atividade educativa interna
Preciso me empenhar mais em relação a isso
São atividades esporádicas
São muito reduzidos, esporádicos
Ser muito restrito
Tem tido investimento na questão de orientação, de educação
Tinha que fazer mais
72
Taxonomia Cultural nº.4 – Formas de descrever a ação educativa do enfermeiro com os
profissionais no PSF
Auxiliar e técnico de enfermagem
Ser muito restrito
São muito reduzidos, esporádicos
Pouca atividade educativa interna
A gente percebe que tem uma dúvida
A gente não faz com tanta freqüência, mas é muito bom quando acontece
Eu acho que a gente deixa a desejar, na questão do auxiliar
No acolhimento a gente consegue fazer uma discussão de alguns casos clínicos
Eles acabam entrando junto com a gente, nessa parte que vai direcionado para o ACS
Não tem nada direcionado para ele
A gente tenta não dar uma resposta muito curta
Assim que se faz a educação para o auxiliar, não existe um horário específico de discussão, é
para o caso clínico em geral
Em alguns momentos exige uma resposta, em alguns outros momentos exige um outro
questionamento, para que tenha um conhecimento mais apurado daquele questionamento
ACS
Tem tido investimento na questão de orientação, de educação
Cada equipe se responsabiliza pelo seu agente comunitário
Não são atividades sistematizadas
São atividades esporádicas
A gente acaba fazendo um pouquinho mais
É pouca coisa que é feito
É uma capacitação com eles nas reuniões de sexta-feira
Cada sexta-feira tem sido um assunto
Não é uma discussão profunda
ACS, auxiliar e técnico de enfermagem
A gente faz pouco treinamento
Eu acho fraca
Fica um vazio muito grande
A gente percebe algumas falhas, aí a gente chama , prepara, senta o enfermeiro, um ou dois e
prepara o treinamento
Gostaria que a ação fosse maior
Eu sinto que ela está defasada
Tinha que fazer mais
Preciso me empenhar mais em relação a isso
Enfermeiro
A relação de aprendizagem em serviço é maior, no sentido que a gente tem trabalhado junto
Há uma troca de conhecimento, talvez até muitas vezes uma necessidade pra que a gente tome
alguma decisão
Os informantes descrevem que a atividade educacional desenvolvida com os
auxiliares e técnicos de enfermagem é muito restrita, reduzida, esporádica e não tem
nada direcionado para ele.
Entretanto, os enfermeiros percebem que em determinados momentos os
profissionais de enfermagem de nível médio apresentam dúvidas durante o exercício
73
de sua atividade. Esses questionamentos promovem um importante momento para o
diálogo e a construção do conhecimento, conforme os relatos abaixo.
A gente percebe que tem uma dúvida.
No acolhimento a gente consegue fazer uma discussão de alguns casos clínicos.
Assim que se faz a educação para o auxiliar, não existe um horário específico de
discussão, é para o caso clínico em geral.
Em alguns momentos exige uma resposta, em alguns outros momentos exige um
outro questionamento, para que tenha um conhecimento mais apurado daquele
questionamento.
Para Stedile (2000, p. 84), é extremamente importante criar ambientes de
“aprendizagem que privilegiem a problematização e a dúvida” para facilitar e
aumentar “a percepção quanto à complexidade dos problemas de saúde, suas
variáveis” e seus determinantes.
A ação educativa realizada com os ACSs é desenvolvida nas equipes, sendo que,
cada equipe se responsabiliza pelo seu agente comunitário. Este profissional tem
recebido um investimento na sua qualificação, sob diversas formas, como
orientação, educação e discussão, principalmente pela sua formação incipiente.
É dentro de cada equipe que a gente procura estar promovendo. Mas não são
atividades sistematizadas. São atividades esporádicas. A gente acaba fazendo um
pouquinho mais, porque a necessidade de formação do agente comunitário ela é
muito maior, pela falta de especificidade da atividade dele. É muito pouca coisa que
é feito.
No estudo realizado por Araújo Júnior e Gomide (2004, p. 148), os ACSs relataram
que “se sentem mais seguros para executar o trabalho”, pois sabem que os
profissionais das equipes de saúde da família os auxiliam na resolução dos
problemas da sua microárea, na aquisição de conhecimentos, nos esclarecimentos
das suas dúvidas e nas orientações sobre a melhor conduta a ser tomada durante a
realização de sua atividade.
74
O Ministério da Saúde, aliado aos Estados e Municípios, assumiu a responsabilidade
em propiciar a qualificação e a formação profissional destes trabalhadores. Esse
processo de formação pretende habilitar quase 183 mil agentes comunitários de
saúde em todo o território nacional (JAEGER; CECCIM; MACHADO, 2004).
A profissionalização do ACS permite-lhe aumentar sua autonomia intelectual e seu
domínio do conhecimento técnico e científico necessários para o desempenho de
suas funções, que apresentam uma singularidade específica da profissão no intuito
de promover a relação intersetorial da saúde, da educação, do meio ambiente e da
ação social (MARQUES; PADILHA, 2004).
Os informantes relatam que sua prática educativa com os trabalhadores, tanto os
profissionais de enfermagem de nível médio como os ACSs, apresentam-se
insuficientes e deficitárias. São descritas como fraca, fica um vazio muito grande e
está defasada. Todavia, expressam a necessidade de se empenharem mais para
concretizarem uma melhor qualificação desses trabalhadores.
Eu gostaria que ação fosse maior. Eu sinto que ela está defasada, porque eu já
planejei algumas vezes de dá o treinamento para os ACS, treinamento para os
auxiliares.
No estudo realizado por Kerber et al. (2005, p. 229), foi também identificado que os
enfermeiros da rede básica demonstraram “preocupação com as atividades de
educação continuada e treinamento” na supervisão dos auxiliares de enfermagem.
Cabe ressaltar que os enfermeiros descrevem que a sua ação educativa com os
seus pares é representada por uma troca de conhecimentos, e que, a relação de
aprendizagem em serviço é maior, no sentido que a gente tem trabalhado junto.
Os recursos materiais necessários para a educação dos profissionais são descritos
no Domínio Cultural nº. 5.
75
Domínio Cultural nº. 5 – Tipos de materiais utilizados para educação dos profissionais no
PSF
Termos inclusos
Cd rom de anatomia
Cd rom de gravidez
Material ilustrativo
Fotos
Data show
Transparência
Cartazes
Questionário
Bonecos
Fantoches
Os materiais usados na educação dos profissionais são variados. São utilizados
desde recursos criados no próprio serviço, como cartazes, até recursos de maior
avanço tecnológico como CD ROM, data show, conforme os seguintes relatos.
É, geralmente a gente usa algum material ilustrativo, eu tenho algumas coisas
assim, por exemplo, CD-ROM de anatomia, de pré-natal, desenvolvimento intra-
uterino, essas coisas a gente coloca no computador, e vai mostrando as fotos e
discutindo isso com eles.
Recursos técnicos, didáticos, isso sempre é tranqüilo. A gente mesmo produz, faz,
ou arruma emprestado em outro lugar e traz para cá. Até fez com data show, com
transparência e tudo. A gente consegue fazer, por causa do computador não ser tão
difícil.
É importante enfatizar que os centros de saúde apresentam computadores na
maioria dos seus ambientes, tais como consultórios, sala da administração, sala da
gerência, dentre outros. Assim, esse equipamento apresenta-se também como um
recurso disponível para o desenvolvimento da ação educativa com os trabalhadores
de saúde.
Para Guimarães (2005, p. 258), a utilização da tecnologia como instrumento
educacional permite ao educador o uso de “uma gama de recursos didático-
pedagógicos, eletrônicos ou não”, no intuito de facilitar a aprendizagem do
educando.
76
Nesse sentido, o enfermeiro deverá buscar, a todo o momento, várias alternativas
para aperfeiçoar as suas estratégias e formas de ensino no desempenho de sua
atividade pedagógica (GUIMARÃES, 2005).
Os temas tratados nas diferentes modalidades de ação educativa são descritos no
Domínio Cultural nº. 6.
Domínio Cultural nº. 6 – Tipos de temas desenvolvidos pelo enfermeiro do PSF com os
profissionais
Termos Inclusos
Dengue
TBC
Nutrição
Entrevista da família
Violência à mulher
DST
Leishmaniose
Insulina
Visita domiciliar
Asma
Tratamento de feridas
Hipertensão
Diabetes
Vacinação
Amamentação
Catapora
Incidência de lombalgia
Dieta
Verminose
Os temas discutidos com os profissionais são bastante diversificados e enfocam as
enfermidades prevalentes nas ações cotidianas do enfermeiro nos serviços de
saúde. Eles podem ser classificados em temas relacionados às doenças crônico-
degenerativas, como a hipertensão e diabetes; às doenças infecciosas e
contagiosas, como a dengue, a leishmaniose, TBC, DST e catapora e à promoção e
prevenção a saúde como nutrição, amamentação e vacinação. Cabe ressaltar a
visita domiciliar e a entrevista da família como temas de fundamental importância
para o desenvolvimento das ações nas equipes de saúde da família.
77
Os temas desenvolvidos com os ACSs são relatados pelos informantes como o que
o ACS precisa lá fora, caracterizando, assim, os conteúdos necessários para a
instrumentalização desse profissional para o desempenho de sua função.
Os enfermeiros classificam os tipos de ações educativas realizadas com os
profissionais do PSF, descritas no Domínio Cultural nº. 7 e na Taxonomia nº. 5.
Domínio Cultural nº. 7 – Tipos de ações educativas desenvolvidos pelo enfermeiro do PSF
com os profissionais
Termos Inclusos
Aula
Capacitações
Conversa rápida
Conversas
Correções
Cursos
Discussão de casos
Discussão nos corredores
Discussão rápida
Educação continuada
Educação continuada no serviço
Orientações
Palestras
Reciclagem
Resposta rápida
Reuniões
Tirar dúvidas
Treinamento
Treinamento final
Treinamento formal
Treinamentozinho
Um formato de educação que desmonta com a proposta tradicional
78
Taxonomia nº. 5 – Tipos de ações educativas desenvolvidos pelo enfermeiro do PSF com os
profissionais
Distantes da concepção de educação
permanente em saúde
Próximas da concepção de educação
permanente em saúde
Treinamento Educação continuada no serviço
Treinamentozinho Discussão de casos
Treinamento formal Reuniões
Treinamento final Conversas
Aulas Correções
Orientações Discussão nos corredores
Reciclagem Conversas rápida
Cursos Discussão rápida
Palestras Tirar dúvidas
Educação continuada Resposta rápida
Capacitações Um formato que desmonta a proposta
tradicional
Os informantes relatam a existência de vários tipos de ações de cunho educacional
desenvolvidas com os profissionais no PSF, podendo ser classificadas conforme a
sua proximidade em relação à concepção de educação permanente em saúde
preconizada pelo Ministério da Saúde.
Dentre as atividades que podem ser classificadas como distantes da concepção de
educação permanente em saúde, destacam-se o treinamento, as capacitações e a
educação continuada.
Durante a análise dos dados, a palavra treinamento esteve presente de forma
marcante em todos os discursos, como treinamento formal, treinamento final e
treinamentozinho.
A gente não consegue estar fazendo este treinamento no serviço.
No Programa Saúde da Família se torna muito a responsabilidade do enfermeiro,
fazer esse treinamento tanto do Agente Comunitário de Saúde quanto do auxiliar.
Tem tido muito pouco trabalho assim, realmente de treinamento mesmo.
79
Mas, o treinamento formal é o que deixa a gente mais preocupado de não conseguir
fazer com uma certa regularidade.
A gente prepara os treinamentos finais assim que são maiores, pega todos os
auxiliares, a gente já fez uma série sobre diabetes, hipertensão, sobre essas
doenças crônicas, todas.
A gente não tem um treinamento específico.
O termo treinamento apresenta vários significados, tais como: é a educação
profissional que adapta o homem para um cargo ou função; processo educacional
de curto prazo aplicado de maneira sistemática e organizado, por meio dos quais as
pessoas aprendem conhecimentos, atitudes e habilidades em função de objetivos
definidos; ato intencional de fornecer meios para possibilitar a aprendizagem;
esforço dirigido no sentido de equipe, com a finalidade de fazer a mesma atingir o
mais economicamente possível os objetivos da empresa, dentre outros
(CHIAVENATO, 1997).
Portanto, o treinamento pode ser compreendido com uma prática executada em um
local específico, com a finalidade de promover a aquisição de conhecimentos
direcionados ao mundo do trabalho para a execução de uma tarefa de forma mais
hábil.
Segundo Merhy (2005, p. 172), a aquisição de certas técnicas de trabalho pode ser
adquirida por meio de treinamentos. No entanto, essa atividade é pontual e pode ser
suprida sem muita dificuldade. O que é necessário é exercer educação em saúde e
trabalho em saúde de forma articulada; para o autor “um produz o outro”.
Os enfermeiros expressam seus sentimentos e as repercussões ocasionadas no
serviço em decorrência da falta do treinamento para eles, para os auxiliares e
técnicos de enfermagem e para o ACS, conforme os relatos a seguir.
A gente precisava de um treinamento mais constante, a gente não tem. Então, tanto
a gente não tem, quanto a gente não repassa, não consegue estar fazendo esse
treinamento no serviço também.
80
A gente sente muito pesado, essa falta de treinamento do auxiliar de enfermagem.
Eles não são treinados pelos enfermeiros, eles são treinados uns pelos outros
mesmo.
Eu acho que a gente esta deixando uma lacuna. A gente não esta conseguindo
resolver esse problema, e eu acho, a gente sente muito frustrante.
Não tem um programa conjunto, coletivo para todos os ACS.
As capacitações são descritas pelos informantes como um momento de
aprendizagem, embora não exista um planejamento dessa atividade e um
conhecimento dos profissionais da equipe para o desenvolvimento dessa ação.
Não tem feito um planejamento certos dessas capacitações.
Para você poder viabilizar essa questão da capacitação em serviço, é saber o que
você tem de recursos humanos.
Para Ceccim (2005 b, p. 165), as “capacitações não se mostram eficazes para
possibilitar a incorporação de novos conceitos e princípios às práticas
estabelecidas”, visto que são descontextualizadas e sustentadas pelas concepções
tradicionais de educação.
A educação continuada também é relatada pelos enfermeiros com uma ocasião de
instrução no serviço. Às vezes, ela é realizada e, em outros momentos, não.
A gente tem feito um trabalho mais de educação. Educação continuada.
A gente não tem conseguido fazer essa educação continuada.
A educação continuada apresenta alguns pressupostos, tais como: o conhecimento
preside e define as práticas, a atualização é direcionada a saberes e profissionais
específicos, os temas e conteúdos são trabalhados sob o formato de cursos
padronizados. Essa atividade educativa é construída de maneira desarticulada,
fragmentada, esgotando-se apenas neste momento (BRASIL, 2004 b).
81
É importante enfatizar que os cursos, as orientações, a reciclagem e as aulas foram
também descritas como um tipo de ação educativa desenvolvida com os
profissionais, mediante uma concepção de educação distante da preconizada pela
educação permanente em saúde.
O termo reciclagem está presente também em outros estudos como uma ação
pedagógica do enfermeiro voltada para o aperfeiçoamento dos profissionais em
saúde (KERBER et al. 2005; MANCIA; CABRAL; KOERICH, 2004).
No entanto, algumas ações educativas que se estabelecem no cotidiano do trabalho
do enfermeiro do PSF guardam relação com a concepção de educação permanente
em saúde, preconizada pelos documentos oficiais do Ministério da Saúde. Sob essa
perspectiva, transformar as práticas de saúde requer dialogar e problematizar com a
equipe no cotidiano dos serviços, construindo uma relação indissociável entre
educação e trabalho.
As ações que se aproximam dessa concepção, segundo os relatos dos informantes,
são: a educação continuada no serviço, as discussões de casos, as reuniões, as
conversas, as correções, a discussão nos corredores, as conversas rápidas, a
resposta rápida e um formato que desmonta a proposta tradicional. Algumas dessas
expressões podem ser verificadas nas seguintes falas:
A gente consegue conversar sobre o assunto, mas não é considerada uma
capacitação, porque ela é um pouco imprevisível, não tem um horário marcado, é
muito dentro da correria do serviço. Acaba que aquele agente de saúde ou aquele
auxiliar de enfermagem, vai captar aquilo que ele conseguiu naquele espaço de
tempo.
A gente está querendo discutir casos mesmos para se ter uma coisa mais próxima
daquilo que ele está fazendo e menos teórica. Então, eu acho que está sendo mais
interessante, eu vejo elas também mais interessadas, discutindo mais com a gente,
acompanhando mais o paciente.
O que funciona mesmo é nas nossas reuniões. A gente tem uma reunião semanal,
então a gente costuma esta trazendo algum tema para ser discutido nessa reunião.
82
Não é educação, é, são correções que a gente vai fazendo e que a gente tenta
ampliar essas correções. Ampliar nesse sentido, [...] a gente tenta chamar o auxiliar,
o ACS e explicar para eles, esse paciente, ele tem um quadro grave ou tem um
problema emocional que esta precisando conversar.
Eu posso classificar que a gente tem criado um formato de educação, se a gente
pode falar assim, porque ela fere vários princípios da educação, ela desmonta a
proposta de educação tradicional.
Dessa forma, os enfermeiros inseridos na atenção primária vêm exercendo suas
funções de coordenação e capacitação dos profissionais sob sua responsabilidade
conforme a lei do exercício profissional (COREN, 2001) e as atribuições específicas
no PSF (BRASIL, 2001 a).
Para Ceccim (2005 b, p. 161), a educação permanente em saúde possui uma
concepção pedagógica para o processo educativo que coloca o dia-a-dia do trabalho
em saúde sob análise. Ela perpassa “pelas relações concretas que operam
realidades e que possibilita construir espaços coletivos para a reflexão e avaliação
de sentido dos atos produzidos no cotidiano”.
Embora o enfermeiro do PSF exerça sua função educacional com os profissionais de
enfermagem e o ACS, fundamentados na proposta de educação permanente em
saúde, essas ações não são valorizadas pelos informantes, que atribuem maior
eficácia àquelas ações sistematizadas, que requerem a retirada dos profissionais do
seu posto de trabalho, como os treinamentos formais:
Eu acho que é muito uma educação continuada, é muito no serviço, porque a gente
infelizmente não tem muito tempo para parar, para fazer uma coisa sistematizada,
mas sempre que aparece uma situação problema, a gente tenta estar resolvendo
dentro da equipe.
Segundo os enfermeiros, a educação que tem proximidade com a concepção de
educação permanente em saúde
surgiu de acordo com a dificuldade, de não ter a possibilidade de fazer uma
educação naqueles formatos. Ela traz a criação, a expectativa de outras
83
oportunidades, que nunca temos. Então, é uma metodologia que resolve, mas ela
não traz, talvez, a satisfação como a metodologia de uma discussão, com um tempo
determinado para aquilo, traria.
Não teve um momento que foi fechado, um treinamento firme, direcionado,
sistematizado com elas, foi uma coisa mais a nível de dentro da sala de curativo.
Portanto, o treinamento é considerado pelos informantes como a principal forma de
educação no cotidiano do PSF, uma vez que as ações que se aproximam da
concepção de educação permanente em saúde são realizadas apenas diante da
falta de oportunidade em programar, implementar e executar os treinamentos.
Assim, as ações educativas valorizadas são sustentadas pelas concepções de
educação tradicional e tecnicista voltadas para a implantação de cursos com o
objetivo de qualificar o trabalhador somente na aquisição de conhecimento e
habilidades destinadas a execução de determinadas tarefas.
Para que essas atividades sejam realizadas em sua plenitude, os enfermeiros
identificaram que é necessário superar os obstáculos descritos no Domínio nº. 8 e
na Taxonomia nº. 6.
84
Domínio Cultural nº. 8 – Tipos de situações que dificultam as ações educativas
desenvolvidas pelo enfermeiro no PSF
TERMOS INCLUSOS
A gente tem uma escala reduzida
A gente tem uma funcionária de licença há 05 meses
A porta é escancarada
A unidade funciona, a gente não pode parar e a gente tem que dar conta das duas coisas, o
treinamento deles e o atendimento ao paciente
Às vezes a gente abre o centro de saúde aqui com 03 auxiliares de enfermagem para fazer coleta
e para colocar o resto para funcionar
Às vezes é impossível, você prepara alguma coisa e não tem como tirar o funcionário dali
Às vezes eu tenho funcionário de férias, de licença, já não é uma escala completa totalmente
Até hoje nossas equipes não estão completas em número de auxiliares
É uma demanda grande
Com os apoios, são onze teoricamente, assim na prática a gente trabalha com sete ou oito
Dentro da nossa rotina, a gente não tem conseguido ampliar muito
É muito difícil tirar o auxiliar da linha de frente
Faltam auxiliares para dar esse treinamento
Infelizmente, não tem muito tempo para parar, fazer uma coisa sistematizada
Não foi complementado o recurso humano dos auxiliares e técnicos de enfermagem para
funcionar o Programa de Saúde da Família
Não se aumentou o recurso humano das equipes, é do posto vamos dizer assim
Não tem como fechar os setores
Não tem como parar simplesmente e discutir com a unidade funcionando
O auxiliar de enfermagem tem uma sobrecarga muito grande
O auxiliar está ficando preso nos setores
O fechamento da unidade
Os auxiliares acham que eles deviam ficar na parte operacional e não educativa
Ter o funcionário ali para poder dar esse treinamento
Tirar o funcionário do setor sem prejudicar o paciente
Um local adequado para estar fazendo esses treinamentos, esses encontros
85
Taxonomia nº. 6 – Tipos de situações que dificultam as ações educativas desenvolvidas
pelo enfermeiro no PSF
Referente à unidade
A porta é escancarada
É uma demanda grande
Não tem como fechar os setores
O fechamento da unidade
Infelizmente, não tem muito tempo para parar, fazer uma coisa sistematizada
Um local adequado para estar fazendo esses treinamentos, esses encontros
A unidade funciona, a gente não pode parar e a gente tem que dar conta das duas coisas, o
treinamento deles e o atendimento ao paciente
Dentro da nossa rotina, a gente não tem conseguido ampliar muito
Referente aos recursos humanos
Não tem como parar simplesmente e discutir com a unidade funcionando
Você preparar alguma coisa e não tem como tirar o funcionário dali
O auxiliar está ficando preso nos setores
Ter o funcionário ali para poder dar esse treinamento
Tirar o funcionário do setor sem prejudicar o paciente
É muito difícil tirar o auxiliar da linha de frente
A gente tem uma escala reduzida
Até hoje nossas equipes não estão completas, em número de auxiliares
Às vezes eu tenho funcionário de férias, de licença, já não é uma escala completa totalmente,
A gente tem uma funcionária de licença há cinco meses
Às vezes a gente abre o centro de saúde aqui com três auxiliares de enfermagem para fazer
coleta e para colocar o resto para funcionar
Com os apoios, são onze teoricamente, assim na prática a gente trabalha com sete ou oito
Não se aumentou o recurso humano das equipes, é do posto vamos dizer assim
Não foi complementado o recurso humano dos auxiliares e técnicos de enfermagem para
funcionar o Programa de Saúde da Família
O auxiliar de enfermagem tem uma sobrecarga muito grande
Os auxiliares acham que eles deviam ficar na parte operacional e não educativa
Faltam auxiliares para dar esse treinamento
As situações que dificultam o desenvolvimento de ações educativas realizadas pelo
enfermeiro no PSF, podem ser classificadas naquelas relacionadas às
características da unidade e aos recursos humanos.
Em relação à unidade, os empecilhos relatados são que o usuário está com a porta
completamente escancarada, infelizmente, não tem muito tempo para parar, fazer
uma coisa sistematizada e não tem como fechar os setores. É importante ressaltar,
também, o aumento da demanda conforme a descrição abaixo.
É uma demanda grande, constante, freqüente, que às vezes a gente não consegue
tirar um tempo maior para poder trabalhar essa questão interna. Ela é muito
86
importante. Então, a gente até chegou a planejar treinamento e não conseguiu
depois executar.
Segundo Marques e Silva (2004, p. 548), uma dificuldade enfrentada pela
enfermagem no PSF é “a sobrecarga de trabalho pela demanda e pela equipe
desfalcada, o que tem gerado desmotivação para a equipe e insatisfação com o
trabalho”.
Outras dificuldades estão relacionadas aos recursos humanos. No entanto, esse
conceito de recursos humanos deve ser reconsiderado, uma vez que os
trabalhadores do setor saúde devem ter um lugar central, finalístico e com políticas
próprias para o setor. Essa situação promove a retirada da condição de “recursos”
para o “estatuto de atores sociais das reformas, do trabalho, das lutas pelo direito à
saúde e do ordenamento de práticas acolhedoras e resolutivas de gestão e de
atenção à saúde” (CECCIM 2005 b, p. 163).
Assim, os obstáculos referentes aos atores sociais são descritos como a gente tem
uma escala reduzida. Até hoje nossas equipes não estão completas em número de
auxiliares; não foi complementado o recurso humano dos auxiliares e técnicos de
enfermagem para funcionar o PSF.
Apesar de as equipes de saúde da família possuírem a composição mínima de
profissionais preconizados pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2001 a), o relato
acima contradiz o estudo elaborado por Girardi e Carvalho (2002). Os autores
afirmam que os auxiliares de enfermagem representavam 52,7% dos vínculos dos
profissionais de saúde em 2000, tendo aumentado os seus postos de trabalho em
relação a 1995 representando 49,1% do setor. Esses autores também enfatizam que
as instituições pertinentes ao âmbito municipal passaram a deter 60% dos empregos
de auxiliares de enfermagem.
Convém ressaltar que das 16 equipes de saúde da família dos centros de saúde que
participaram da pesquisa apenas 4 não possuíam a composição preconizada pela
SMSA, que é de 2 auxiliares por equipe (BELO HORIZONTE, 2001). Portanto, todas
87
as equipes apresentavam em sua composição a existência de um profissional
auxiliar ou técnico de enfermagem.
No estudo realizado por Davim, Torres e Santos (2005 p. 47), a falta de profissionais
é também apontada como uma das barreiras para o desenvolvimento de ações
educativas.
Outra dificuldade descrita pelos informantes em relação ao auxiliar de enfermagem é
que esse profissional tem uma sobrecarga muito grande e está ficando preso nos
setores. Essa situação revela que esse profissional exerce grande parte de suas
atividades dentro das unidades básicas de saúde. Isso reforça o fato de que é
preciso participar mais nas visitas de rotina da equipe, sendo esta uma das suas
características demonstradas no Domínio Cultural nº. 1 e na Taxonomia nº. 1.
Marques e Silva (2004, p 548) constataram que o auxiliar de enfermagem
desenvolvia as mesmas atividades que realizava antes do PSF, “com uma limitação,
principalmente, na freqüência de visitas domiciliares, pela sobrecarga de trabalho
dentro da unidade básica de saúde”.
Os enfermeiros relatam também que tem o problema de fechamento da unidade e
de tirar o auxiliar da linha de frente na busca de executar os treinamentos, conforme
as seguintes falas:
Agora em relação ao auxiliar, tem o problema do fechamento da unidade para isso.
O problema de licença médica, férias, dificilmente a gente consegue juntar todos,
para estar fazendo esse treinamento.
É muito difícil a gente conseguir tirar o auxiliar da linha de frente, e falar: hoje vamos
fechar tal setor, e estar com a equipe completa para gente conseguir desenvolver
mesmo o treinamento.
Esses relatos contradizem a concepção de educação permanente no sentido de
que, para produzir mudanças nas atividades realizadas nos serviços de saúde, é
fundamental que possamos dialogar com as práticas executadas, com as
88
concepções vigentes e problematizá-las nas situações concretas do trabalho de
cada equipe (CECCIM, 2005 b).
Assim, a dificuldade mais evidente nos relatos dos informantes refere-se à retirada
do trabalhador no exercício de sua função para a realização de atividades
educativas sistematizadas, em local específico, fragmentadas e sustentadas por
uma concepção tradicional de ensino com ênfase nas habilidades técnicas. O
treinamento foi o termo que mais se evidenciou na construção dessa qualificação.
No dia-a-dia do PSF, existem circunstâncias em que a única escolha é realizar as
atividades básicas nos centros de saúde para não prejudicar o usuário, conforme a
descrição a seguir:
A gente abre o centro de saúde aqui com três auxiliares de enfermagem, para fazer
coleta e colocar o resto para funcionar. Então, assim com os apoios são onze
teoricamente, assim na prática a gente trabalha com sete ou oito, que tira férias,
licença e tudo.
Essa fala representa que o quantitativo de funcionários lotados nas unidades, às
vezes, não corresponde aos profissionais presentes no cotidiano.
Um dos grandes obstáculos para a efetiva consolidação do PSF é “a falta
quantitativa e qualitativa de profissionais adequadamente preparados para lidar com
as novas atribuições exigidas pelo novo modelo” (CAMPOS; AGUIAR, 2005, p. 40).
89
6 O TEMA CULTURAL: COMPREENDENDO A AÇÃO EDUCATIVA
DO ENFERMEIRO NO PSF
Para compreender a ação educativa do enfermeiro no PSF, foi necessário conhecer
como esse profissional desempenha as suas ações no cotidiano do seu trabalho nas
unidades básicas de saúde da Grande Cabana.
Durante a análise de dados, emergiram algumas características importantes dos
ACSs, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem no PSF. O ACS é descrito
como um novo profissional na unidade básica de saúde, que apresenta boa vontade,
responsabilidade com os pacientes adscritos na sua microárea e abertura para o
processo de aprendizagem. Estes trabalhadores, porém, são pouco aproveitados em
virtude da sua formação incipiente.
O enfermeiro é descrito como um profissional que apresenta uma identificação com
a proposta do PSF, principalmente pela sua formação generalista.
Os profissionais de enfermagem de nível médio possuem uma dicotomia no
exercício de suas atividades no PSF. Se por um lado eles ganharam maior
autonomia com a implementação do programa, por outro eles realizam suas funções
de forma mecânica e sem embasamento científico.
Durante as observações participantes e a análise das entrevistas, ficou evidenciado
que as atividades de caráter educacional desenvolvidas pelos enfermeiros se
concentram em dois campos específicos: a educação em saúde, voltada para a
comunidade, e a educação profissional, direcionada, sobretudo, aos profissionais de
enfermagem de nível médio e ACS.
O enfermeiro desenvolve grande número de atividades direcionadas à comunidade,
que são o acolhimento, o mutirão de preventivo, os procedimentos de enfermagem,
os passeios, as visitas domiciliares, a busca ativa, a consulta de enfermagem, a pós-
90
consulta, atividades em creches, trabalhos na rádio comunitária, trabalhos na escola
e os grupos operativos.
Essas ações evidenciam, em primeiro lugar, a complexidade e as inúmeras
atividades desempenhadas no cotidiano da Unidade de Saúde da Família. Em
segundo lugar, demonstram como esse profissional tem sem empenhado na
construção de novas formas de produzir saúde, promovendo ações de caráter
individual e coletivo, bem como realizando atividades que interligam o centro de
saúde com a família e outros órgãos sociais.
Diante dessa realidade, os enfermeiros relataram que a sua prática educativa com a
população está mais presente na realização de três atividades: o acolhimento, a
consulta de enfermagem e os grupos operativos.
O acolhimento é descrito como a recepção do usuário no centro de saúde em um
horário sistematizado pelas equipes, apesar de ser conceituado também como uma
prática que perpassa toda ação profissional no serviço. Ele é relatado como um
momento de pouca ação educativa em virtude do pouco tempo e do atendimento
rápido que é prestado durante essa ação.
A consulta de enfermagem é considerada uma atividade importante na troca de
conhecimentos, uma vez que apresenta uma parte educativa com o usuário no
momento de sua realização.
Os grupos operativos são descritos como uma das principais maneiras de se realizar
a educação em saúde. Além de ser uma atividade prazerosa, apresenta uma
elaboração prévia, tem a participação de outros profissionais e possui uma função
educativa maior quando comparada ao acolhimento.
A educação profissional desenvolvida pelos enfermeiros no PSF com os técnicos,
auxiliares de enfermagem e ACS foi classificada conforme a sua proximidade da
91
concepção de educação permanente em saúde preconizada pelos documentos
oficiais do Ministério da Saúde.
O treinamento, as orientações, a reciclagem, os cursos, as palestras, a educação
continuada, as capacitações e aulas foram agrupados como um tipo de ação
educativa voltada para o trabalhador, sustentada por concepções tradicionais e
tecnicistas de ensino e distante das tendências pedagógicas recomendadas pelo
Ministério.
O treinamento é predominantemente o termo mais usado nos discursos dos
enfermeiros como o principal mecanismo de ensino desenvolvido com os
profissionais de enfermagem e ACS, no intuito de promover a aquisição de
habilidades e conhecimentos a serem colocados em prática no exercício de suas
funções. Todavia, para que essa ação possa ser concretizada, devem ser
programadas, sistematizadas e executadas em local específico.
Dessa forma, embora ressaltem essa modalidade de educação, muitas vezes ela
não é realizada, visto que demanda a retirada do trabalhador no exercício de suas
funções nos serviços de saúde.
Entretanto, os enfermeiros também exercem no seu cotidiano ações educativas com
os profissionais, com proximidade a concepção de educação permanente em saúde.
São elas: a educação continuada no serviço, a discussão de casos, as reuniões, as
conversas, as correções, as discussões nos corredores, as conversas rápidas, a
discussão rápida, tirar dúvidas e a resposta rápida que tomam um formato que
desmonta a proposta tradicional.
Ao desenvolver essa função educativa com os profissionais de enfermagem de nível
médio e ACS, o enfermeiro possibilita a melhor qualificação destes trabalhadores no
cenário em que eles atuam, proporcionando uma verdadeira integração entre estes
dois eixos norteadores: a educação e a saúde.
92
Apesar do avanço dessas “modalidades” de educação profissional com os
trabalhadores, os enfermeiros menosprezam essas atividades, ressaltando que são
realizadas apenas em virtude da dificuldade em construir e implementar os
treinamentos formais, para os quais é necessário tirar os trabalhadores da linha de
frente.
Assim, esse profissional reforça a necessidade de retirar o funcionário do seu posto
de trabalho, caracterizando-a como a principal dificuldade relacionada aos atores
sociais no desenvolvimento de ações educativas. Contudo, seria mais propício a
realização de uma educação profissional no cotidiano, fazendo junto, encontrando
soluções diante das complexidades estabelecidas no relacionamento humano e
promovendo uma articulação real entre a saúde e a educação, a qual só se faz no
momento, no aqui e no agora.
Os informantes relataram a utilização de alguns recursos materiais para o
desenvolvimento da educação com os profissionais. São usados CD-ROMs de
anatomia, CDs de gravidez, material ilustrativo, fotos, Data Show, transparência,
cartazes, questionários, bonecos e fantoches.
É importante enfatizar que os centros de saúde Cabana, Cícero Ildefonso e Vista
Alegre possuem vários computadores em suas unidades, recurso tecnológico que
representa uma importante ferramenta no auxílio da educação profissional.
Diante desse contexto, a SMSA do Município vem realizando teleconferências que
interligam as unidades básicas de saúde a alguns centros de referência, no intuito
de promover uma educação a distância com determinados profissionais na rede
básica. Esse sistema de capacitação é relevante, pois permite a retomada de alguns
temas importantes no cotidiano do PSF. Entretanto, eles são insuficientes,
direcionados apenas a uma classe profissional, não retratam a realidade local e são
ministrados de forma tradicional, revelando a pouca conexão entre o “educador” e os
“educandos”.
93
Nas práticas de saúde desenvolvidas com os profissionais de enfermagem de nível
médio e ACS, são abordados diversos temas que estão presentes no PSF, entre
eles, dengue, TBC, nutrição, entrevista da família, violência à mulher, DST,
leishmaniose, insulina, visita domiciliar, asma, tratamento de feridas, hipertensão,
diabetes, vacinação, amamentação, catapora, incidência de lombalgia, dieta e
verminose.
Os enfermeiros descrevem outras situações que dificultam a realização de
atividades educativas com os profissionais de enfermagem e os ACSs. Em relação à
unidade, alguns obstáculos são apontados, como o aumento da demanda, a
necessidade de fechar a unidade e a de ficar com a porta escancarada para o
atendimento à população.
A quantidade de auxiliares e técnicos de enfermagem é outro empecilho relatado,
pois o quantitativo desses profissionais é insuficiente para o funcionamento do
programa, uma vez que eles ficavam presos nos setores e apresentaram uma
sobrecarga de trabalho. Cabe ressaltar que durante a realização das atividades no
centro de saúde, o número de profissionais muitas vezes não condiz com os
funcionários lotados na unidade de saúde e que apenas 4 das 16 Equipes de Saúde
da Família não possuem o quadro completo de auxiliares conforme a recomendação
da SMSA.
Diante do exposto, para que o enfermeiro realize a ação educativa é necessário tirar
o trabalhador da linha de frente e, considerando as inúmeras atividades de atores
nas práticas de saúde, as ações educativas se resumem em conversas em serviço.
Assim, da análise dos discursos dos atores sociais das práticas de saúde do PSF
emergiu o tema cultural deste estudo representado pela frase “Realizar educação
demanda tirar o trabalhador da linha de frente”, demonstrada na FIG. 2.
No significado atribuído pelos enfermeiros de ação educativa está subjacente a
concepção tradicional e tecnicista de educação, visto que, para que esta seja
94
exercida, é necessário o afastamento do profissional do trabalho, o fechamento do
setor, aulas expositivas relacionadas a temas selecionados a priori, caracterizadas
por uma ruptura da concepção de educação como princípio do trabalho.
Assim, os enfermeiros vêm executando de forma tímida e crescente uma ação
educativa diferente com os profissionais de enfermagem e o ACS. Essa educação,
embora inicial e sem denominação específica, traz consigo alguns pressupostos de
acordo com a concepção de educação permanente.
Essas atividades, embora não valorizadas e sem uma definição específica, possuem
uma concepção de educação que se realiza enquanto princípio do trabalho,
demonstrando uma maneira de promover a aprendizagem significativa com o
objetivo de transformar as práticas de atenção no SUS.
95
FIGURA 2 – Ação educativa do enfermeiro no PSF.
COM OS
PROFISSIONAIS
DO PSF
COM A
COMUNIDADE
CONCEPÇÃO
TRADICIONAL
E TECNICISTA
DE EDUCAÇÃO
TREINAMENTO, CAPACITAÇÃO, PALESTRAS, CURSOS
TIRAR O TRABALHADOR DA LINHA DE FRENTE
RUPTURA DA CONCEP
Ç
ÃO DA EDUCA
Ç
ÃO COMO UM PRINC
Í
PIO DO TRABALHO
96
7 TRAÇANDO UM CAMINHO
A ação educativa desenvolvida pelo enfermeiro é sustentada por uma concepção de
educação coerente com a sua visão de mundo, com os objetivos que pretende
atingir e com a finalidade que essa ação deve cumprir.
Os enfermeiros que atuam no PSF apresentam dificuldade e limitação no
desenvolvimento de sua ação pedagógica no que se refere à melhoria da
qualificação dos profissionais sob sua coordenação.
Essa situação deve-se a vários fatores, entre eles a formação profissional voltada
para a aquisição de habilidades técnicas, a execução de treinamentos como única
forma de aprimoramento, a falta de capacitação pedagógica com ênfase na
problematização, a descontextualização das atividades educativas ocorridas no dia-
a-dia do trabalho, a falta de interlocução entre o mundo da saúde e da educação,
dentre outros.
A formação profissional do enfermeiro tem sido alvo de investigação nos últimos
anos, em virtude, principalmente, das reformas curriculares ocorridas nos cursos de
graduação em enfermagem.
Para Faustino (1999), existe uma contradição entre o perfil desejado e a formação
do aluno. Amantéa (2000) afirma que para ocorrer uma transformação é necessária
uma ação reflexiva dos docentes, discentes e da instituição formadora. Lâmego
(2000) e Fortes (2001) revelam uma desarticulação entre o ensino e o serviço
durante a realização dos estágios curriculares, dentre outros.
Portanto, mesmo diante dos incansáveis movimentos em razão das mudanças
curriculares dos cursos de graduação em enfermagem, torna-se necessária a
reflexão do ensino na graduação. A formação acadêmica deve promover uma
verdadeira articulação entre a educação e os serviços de saúde, valorizando as
97
relações existentes no cotidiano do trabalho, sobretudo na estratégia de saúde da
família, que se apresenta como um eixo norteador para as transformações no setor
da saúde.
De acordo com Carrijo, Pontes e Barbosa (2003, p. 157),
a problemática que envolve a formação do enfermeiro, para atuar no
PSF, a inadequação dos currículos gera o despreparo dos
profissionais, sendo detectadas as dificuldades com relação ao
trabalho com a comunidade, trabalho em equipe, compreensão das
diretrizes do programa e trabalhar a prevenção.
Convém enfatizar que, embora não tenha sido objeto deste estudo, é preciso
analisar o projeto político-pedagógico do curso de especialização para o PSF, visto
que os informantes apresentam dificuldade no desenvolvimento de uma atividade
educativa direcionada aos trabalhadores de saúde, sustentada pela concepção de
que a educação é um princípio fundamental no dia-a-dia das relações de trabalho.
Diante dessas circunstâncias, o enfermeiro reproduz, na sua prática profissional, a
mesma concepção pedagógica de educação que recebeu durante sua vida
acadêmica, seja na graduação ou na pós-graduação, o que pode ser evidenciado
por meio dos relatos que enfatizam o treinamento formal como a principal maneira
de promover a qualificação dos trabalhadores de enfermagem e ACS.
Para mudar a realidade nos serviços de saúde, torna-se necessária a disseminação
pedagógica sustentada por metodologias progressistas com o intuito de
instrumentalizar os enfermeiros para que exerçam de maneira plena a sua função
educacional com os trabalhadores na complexidade das ações em saúde.
É importante ressaltar que a formação dos profissionais de enfermagem de nível
médio também deve ser reconsiderada. Para Torrez, Barros e Goulart (2000),
mesmo com as reformas educacionais direcionadas às profissões de nível técnico, a
sua essência continua a mesma, ou seja, de criar competências específicas e
98
fundamentadas no interesse exclusivo do mercado de trabalho, sem preocupar-se
com a sua finalidade social.
Esse aspecto é preocupante, pois a maioria (70,4%) das instituições de educação
profissional em saúde está localizada na Região Sudeste. De todos os
estabelecimentos distribuídos no Brasil que oferecem cursos na área da saúde,
80,6% estão vinculados ao setor privado, sendo que as escolas de enfermagem
representam 57,2% do total de cursos oferecidos (LIMA et al., 2003).
Assim, para que ocorra uma reformulação do ensino, seja na formação técnica ou
nos cursos superiores, é fundamental que várias mudanças sejam praticadas nas
ações de saúde com objetivo de formar cidadãos e profissionais vinculados à
proposta do SUS.
Entretanto, é preciso também uma reestruturação na atenção, gestão e controle
social no intuito de promover uma verdadeira transformação em todas as instâncias
vinculadas ao setor saúde.
Nesse sentido, torna-se necessária a reestruturação das políticas públicas de saúde,
como a implementação efetiva da Educação Permanente em Saúde, pois esta
representa um importante avanço na consolidação e na reestruturação do SUS com
ênfase na educação como princípio do trabalho.
A concretização da educação permanente em saúde possibilitará uma verdadeira
integração entre as diversas esferas do setor saúde, proporcionando uma
articulação de vários saberes com o objetivo de qualificar a assistência diante dos
anseios da sociedade.
Diante do exposto, acredito que este trabalho seja apenas um passo na produção do
conhecimento, sendo necessário o desenvolvimento de outros estudos para
desvelar como a educação profissional é estabelecida no cotidiano dos serviços de
saúde, principalmente quando envolve uma equipe interdisciplinar.
99
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112
ANEXOS
ANEXO 1 – AUTORIZAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA NOS
CENTROS DE SAÚDE DA GRANDE CABANA
113
ANEXO 2 – APROVAÇÃO NO COMITÊ DE ÉTICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL
DE MINAS GERAIS
114
ANEXO 3 – APROVAÇÃO NO COMITÊ DE ÉTICA DA PREFEITURA MUNICIPAL
DE BELO HORIZONTE
115
ANEXO 4 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Belo Horizonte, de 2005
Prezado (a) Sr(a),
Sou aluno do curso de Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais
– UFMG e, como requisito para obter o título de Mestre, estou desenvolvendo uma pesquisa
com o objetivo de compreender o significado da ação educativa atribuído pelos enfermeiros
do Programa de Saúde da Família nos centros de saúde da região da Grande Cabana.
É importante enfatizar que as informações obtidas pelas entrevistas serão mantidas em
absoluto sigilo, garantindo o anonimato de cada informante. Todos os relatos serão
utilizados apenas para fins científicos e ficarão sob responsabilidade do pesquisador.
Cabe ressaltar que a sua participação é estritamente voluntária e a qualquer momento você
poderá desistir de participar. O participante terá todo o direito de esclarecer qualquer dúvida
a respeito da pesquisa, sempre que julgar necessário.
Nesse sentido, solicito a sua autorização para entrevistá-lo(a), usando como recurso o
gravador, pois os dados coletados serão analisados sob a perspectiva qualitativa.
Atenciosamente
Rodrigo Conti Vieira de Alencar
Termo de Consentimento Informado
Diante dos esclarecimentos acima, eu _________________________________________,
aceito participar da pesquisa “A vivência da ação educativa do enfermeiro no Programa de
Saúde da Família (PSF)”. Aceito ser entrevistado (a) pelo pesquisador, bem como autorizo a
gravação da entrevista e a utilização das informações para fins científicos.
Belo Horizonte, ___/____/ 2005.
Assinatura do participante:____________________________________________
Nome do pesquisador: Rodrigo Conti Vieira de Alencar
Telefone: (31) 88518939 – 33124914
Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (31) 3499 4592
116
ANEXO 5 – REGISTROS DAS OBSERVAÇÕES PARTICIPANTES
Observação participante nº. Local
Data: ___/____/2005 Duração Página
Anotações descritivas Anotações reflexivas
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
117
ANEXO 6 – REGISTRO DAS ENTREVISTAS ETNOGRÁFICAS
Entrevista nº. Páginas Data ___/___/2005
Informante Duração.........................
Registro Termos
inclusos
Notas
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
118
ANEXO 7 – REGISTROS DOS DOMÍNIOS CULTURAIS
Domínio Cultural nº.______
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Relação Semântica: ___________________________________________________
___________________________________________________________________
Termos inclusos
119
ANEXO 8 – REGISTRO DOS DOMÍNIOS HIPOTÉTICOS
Domínio hipotético nº._______
Termo coberto (Y):_________________________________________
Relação semântica:________________________________________
________________________________________________________
Localização: A, B, C sendo A = número da entrevista
B = número da página
C = número da linha
Nº. Localização Termos inclusos (X) Notas
120
ANEXO 9 – REGISTROS DAS TAXONOMIAS
Taxonomia nº._____
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
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