RESUMO GERAL
A larvicultura de Ucides cordatus em laboratório e posterior liberação de formas
jovens no ambiente natural é uma tecnologia que vem sendo desenvolvida desde
2001 pelo Grupo Integrado de Aqüicultura e Estudos Ambientais – GIA-UFPR com o
objetivo de criar alternativas para a recuperação dos estoques de populações dessa
espécie em áreas costeiras alteradas. Como tal tecnologia é recente, muitos aspectos
desse processo ainda precisam ser melhor conhecidos e compreendidos. Dois desses
aspectos foram estudados na presente dissertação: o canibalismo entre larvas, em
condições de laboratório, e a avaliação da idade tecnicamente mais adequada das
formas jovens no momento da sua liberação no ambiente natural. Para o estudo do
canibalismo foram realizados ensaios sobre a predação entre larvas na fase de
megalopa sob diferentes densidades de cultivo (10, 15 e 25 megalopas/l), e destas
sobre larvas na fase de zoea em diferentes estágios de desenvolvimento (Zoea I, III,
IV, V e VI). No caso do canibalismo de megalopas sobre zoeas, as larvas foram
expostas à presença de megalopas e os tratamentos foram comparados a um grupo
controle, onde só havia zoeas. A mediana das taxas de sobrevivência nos
experimentos de canibalismo entre megalopas foi de 100%, independente da
densidade testada. Quanto ao canibalismo de megalopas sobre zoeas, analisando os
dados de forma agrupada, observou-se uma maior taxa de mortalidade entre as zoeas
expostas às megalopas que entre as zoeas do grupo controle (p < 0,05). Porém,
analisando os dados por estágio de desenvolvimento, observou-se que houve maior
mortalidade das larvas do tratamento com presença de megalopas somente nos
estágios de Zoea IV, V e VI (p < 0,05). Os resultados obtidos indicam que taxas finais
de sobrevivência de larvas U. cordatus, em laboratório, são significativamente
afetadas pelo canibalismo exercido por megalopas sobre larvas na fase de zoea. Foi
evidenciado também que as megalopas exercem este tipo de comportamento
preferencialmente em relação a zoeas em estágios finais de desenvolvimento. Não
houve evidências da existência de canibalismo entre megalopas. O experimento de
assentamento das larvas de U. cordatus, foi realizado em laboratório, onde este
fenômeno foi observado em unidades experimentais compostas por frascos de 300
ml, onde eram colocadas individualmente larvas no estágio de megalopa. Os dados
obtidos revelaram que as formas jovens assentam-se no sedimento de mangue ainda
na fase de megalopa, entre 3 e 10 dias após a sua metamorfose para esta fase.
Durante o assentamento, as larvas constroem tocas, onde ocorre a metamorfose. A
metamorfose para juvenil ocorreu após 12,6 dias (δ = 2,33) da metamorfose para
megalopa. Após a metamorfose para o primeiro estágio juvenil, os animais
apresentaram-se completamente assentados ao fundo, não possuindo mais
capacidade de nadar na coluna de água. Os resultados indicam que, ao contrário de
várias outras espécies de caranguejos, a liberação das formas imaturas de U.
cordatus pode ser feita já no primeiro estágio juvenil, nos trabalhos de repovoamento
desta espécie. O trabalho aqui desenvolvido poderá contribuir tanto para o aumento
da eficiência das larviculturas, como para maior sucesso dos programas de
recuperação populacional do caranguejo-uçá em áreas alteradas.
VII