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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS, LETRAS E CIÊNCIAS EXATAS
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO – SP
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL
CRISTIANE DE PAULA FERREIRA
BIÓLOGA
Comunidades de peixes e integridade biótica do
Córrego da Água Limpa na fase de pré-recuperação de
matas ciliares
Orientadora: Dra. Lílian Casatti
DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS, LETRAS E
CIÊNCIAS EXATAS, UNIVERSIDADE
ESTADUAL PAULISTA, PARA OBTENÇÃO
DO TÍTULO DE MESTRE EM
BIOLOGIA
ANIMAL.
-2006-
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Ficha Catalográfica
Ferreira, Cristiane de Paula.
Comunidades de peixes e integridade biótica do Córrego da Água
Limpa na fase de pré-recuperação de matas ciliares / Cristiane de Paula
Ferreira. - São José de Rio Preto : [s.n.] , 2006
85 f. : il. ; 30 cm.
Orientador: Lilian Casatti
Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de
Biociências, Letras e Ciências Exatas
1. Peixe de água doce - Ecologia. 2. Integridade biótica. 3.
Ecossistemas lóticos. 4. Riachos - Recuperação de áreas degradadas. 5.
Agroecossistemas. 6. Riachos do Alto Rio Paraná. 7. Mata ciliar -
Recuperação. I. Casatti, Lilian. II. Universidade Estadual Paulista,
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. III. Título..
CDU – 574.5
ii
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Data da defesa: 03/03/2006
Banca Examinadora
T
ITULARES:
P
ROFA. DRA. LILIAN CASATTI (ORIENTADORA) ___________________________
UNESP/São José do Rio Preto
– SP
PROF. DR. RICARDO MACEDO CORRÊA E CASTRO _________________________
USP/Ribeirão Preto
– SP
P
ROFA. DRA. SIRLEI TEREZINHA BENNEMANN ___________________________
UEL/Londrina
- PR
S
UPLENTES:
P
ROF. DR. FRANCISCO LANGEANI _____________________________________
UNESP/São José do Rio Preto
– SP
D
R. PEDRO GERHARD _______________________________________________
USP/Esalq-Piracicaba - SP
iii
OFEREÇO OS MÉRITOS DESTE TRABALHO ...
A
OS MEUS PAIS, JORGE E NEREIDE, QUE SEMPRE ME APOIARAM
INCONDICIONALMENTE E AO MEU IRMÃO
, LUCAS, POR EXISTIR NA MINHA VIDA.
V
OCÊS SERÃO, SEMPRE, MEU PORTO SEGURO.
“Todo este universo é um livro em que cada um de nós é uma frase. Nenhum de nós,
por si mesmo, faz mais que um pequeno sentido, ou uma parte de sentido. Só no
conjunto do que se diz se percebe o que cada um verdadeiramente quer dizer.”
F
ERNANDO PESSOA
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha orientadora, Lilian Casatti, por tudo que me ensinou até aqui
sobre ecologia, peixes, riachos e, especialmente, sobre a vida. Tenho certeza que ela
ainda tem muito a me oferecer. Agradeço não só a orientação dentro do laboratório e no
campo, mas toda amizade e confiança. Espero estar correspondendo à altura e poder
continuar desfrutando da sua companhia.
Agradeço também:
à toda equipe do Laboratório de Ictiologia pelo auxílio em todas as etapas do
meu trabalho e pela amizade, especialmente Henrique, Luiz Gustavo, Filipi,
Danuza, Daniel, Juninho, Fernando, Flávio e Fabíola pelo auxílio nos
trabalhos de campo; ao Professor Doutor Francisco Langeani pelas
identificações taxonômicas (e por quase três anos de convívio mais próximo
nos quais me foi transmitido toda base do conhecimento taxonômico dos
peixes de água doce neotropicais);
Alexandre M. Silva pela análise de uso e ocupação do solo da micro-bacia;
Departamento de Zoologia e Botânica e Programa de Pós-Graduação em
Biologia Animal IBILCE-UNESP pelo apoio;
IBAMA pela licença de coleta (001/2003);
4º Batalhão da Policia Ambiental do Estado de São Paulo pelo apoio no
reconhecimento dos pontos de coleta;
meus amigos, pela companhia, conselhos e compreensão;
à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) que
subvencionou o projeto com uma bolsa de mestrado (03/09612-7), dentro do
Programa BIOTA/FAPESP (www.biota.org.br) (01/13340-7, 02/05996-2).
v
CONTEÚDO
Resumo Geral ................................................................................................................. viii
Abstract ....................................................................................….…….....…................ ix
Introdução Geral ............................................................................................................ 1
Área de Estudo ............................................................................................................... 9
Referências Bibliográficas ............................................................................................. 12
Capítulo I. Influência da estrutura do hábitat sobre a ictiofauna de um riacho em micro-bacia
de pastagem no sudeste do Brasil
Resumo .....................................................................................................................
16
Abstract ....................................................................................................................
17
Introdução ................................................................................................................
18
Área de Estudo .........................................................................................................
19
Material e Métodos ..................................................................................................
20
Resultados ................................................................................................................
24
Características do hábitat ......................................................................................
24
Ictiofauna ..............................................................................................................
25
Discussão .................................................................................................................
31
Características do hábitat .....................................................................................
31
Ictiofauna ..............................................................................................................
34
Agradecimentos .......................................................................................................
37
Referências Bibliográficas .......................................................................................
37
Capítulo II. Integridade biótica de um córrego na bacia do Alto Paraná avaliada através da
comunidade de peixes
Abstract.....................................................................................................................
44
Resumo....................................................................................................................
45
Introdução ................................................................................................................
46
Material e Métodos ..................................................................................................
48
Área de estudo ......................................................................................................
48
Coleta de peixes e análise dos conteúdos estomacais...........................................
50
vi
Composição do cenário referência para cada trecho...........................................
51
Pontuação dos atributos ........................................................................................
52
Resultados e Discussão ............................................................................................
55
Análise dos atributos biológicos para cada trecho ................................................
55
Avaliação da integridade biótica ..........................................................................
66
Comparação entre diferentes protocolos de amostragem ............................ 66
Comparação entre as estações do ano ......................................................... 66
Comentários gerais ...............................................................................................
72
Agradecimentos .......................................................................................................
76
Referências Bibliográficas .......................................................................................
77
Conclusões Gerais ........................................................................................................ 86
vii
R
ESUMO GERAL
O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de determinar a estrutura das
comunidades de peixes em quatro trechos ao longo do Córrego da Água Limpa - uma
micro-bacia foco de um plano de recuperação de matas ciliares no noroeste do Estado
de São Paulo - e, a partir desse conjunto de dados, elaborar um índice de integridade
biótica (IBI) local. Para cada trecho de 60 metros de extensão foram realizadas três
amostragens na estação seca (julho, agosto e setembro/2004) e três na chuvosa (janeiro,
fevereiro e março/2005). A análise da qualidade química da água mostrou condições
boas nos quatro trechos, enquanto que a análise da integridade física do hábitat mostrou
condições pobres para os trechos 2 e 3 e regulares para os trechos 1 e 4. Foram
coletadas 27 espécies de peixes, totalizando 1.241 indivíduos e 5,1 kg. A estrutura
quantitativa da ictiofauna demonstrou maior associação com a estrutura do hábitat do
que com a sazonalidade visto que os trechos 1 e 2 foram agrupados separadamente dos
trechos 3 e 4, independentemente do período de amostragem. De acordo com a análise
de correspondência canônica, a elevada abundância de Gymnotus carapo nos trechos 1 e
2 esteve associada principalmente com a abundância de gramíneas nas margens. O
maior volume de hábitat no trecho 3 explicou a abundância de Piabina argentea, e a
predominância de substratos rochosos no trecho 4 explicaram a abundância de
Hypostomus nigromaculatus. As comparações de atributos selecionados foram
realizadas com base em cenários referência, seguindo uma abordagem sítio-específico
em razão das particularidades de cada trecho. Houve pouca influência do esforço de
amostragem e da sazonalidade nos valores finais do IBI. De modo geral, os trechos 1 e 4
apresentaram integridade biótica regular, o trecho 2 foi considerado pobre e o trecho 3,
muito pobre; tais resultados coincidem com aspectos da qualidade física do hábitat.
viii
A
BSTRACT
The present study was conduced aiming to (i) determine the fish communities
structure in four stretches of the Córrego da Água Limpa - a drainage included in a
recovering plan of riparian vegetation in the northwest of the State of São Paulo - and,
using this data set, (ii) to elaborate a local index of biotic integrity (IBI). For each
stretch 60 meters long, three samplings were carried out during the dry season (July,
August and September/2004) and three in the wet season (January, February and
March/2005). Analysis of the chemical water quality showed good conditions in the
four stretches, whereas analysis of the physical habitat integrity showed poor conditions
for the stretches 2 and 3 and regular conditions for the stretches 1 and 4. Twenty-seven
fish species were collected, for a total of 1,241 individuals and 5,1 kg. The quantitative
assemblage structure demonstrated greater association with habitat structure than with
seasonality, because stretches 1 and 2 were grouped separately from stretches 3 and 4,
independently of the sampling period. Canonical correspondence analysis showed that
the higher abundance of Gymnotus carapo in stretches 1 and 2 was explained by the
abundance of riparian vegetation. The highest volume of habitat in stretch 3 explained
the abundance of Piabina argentea, and the predominance of rocky substratum in
stretch 4 explained the abundance of Hypostomus nigromaculatus. Comparisons of
selected attributes were conduced based on reference sites, following a site-specific
approach due to the particularities of each stretch. Sampling effort and seasonality had
little influence on the final values of IBI. In general, stretches 1 and 4 presented regular
biotic integrity; stretch 2 was considered poor and stretch 3, very poor; such results
agree with physical habitat quality.
ix
I
NTRODUÇÃO GERAL
A exploração do noroeste paulista se iniciou no século XIX, em razão do solo
oferecer condições favoráveis para a cafeicultura, pecuária e outras culturas perenes,
transformando a região em alvo da exploração econômica. No primeiro momento da
colonização dessa região houve o desenvolvimento da pecuária pelos criadores
mineiros. Depois disso, já no final do século XIX, após passar pelo Rio de Janeiro e
pelo Vale do Paraíba em São Paulo, o café chegou à região oeste e transformou a
província de São Paulo no maior produtor nacional do gênero, contribuindo para uma
ampla transformação sócio-econômica da região (C
RUZ 2003).
Em 1890, foi criada e nomeada uma comissão para organizar um plano geral de
viação férrea e fluvial no Brasil. O objetivo era colocar em prática o plano do governo
brasileiro de dar à região mato-grossense facilidades de comunicação com outros
Estados do Brasil e viabilizar um projeto de integração nacional. Essas medidas eram
nada menos do que respostas à produção do café, que se concretizaria com a construção
da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (C
RUZ 2003). Diante dessas informações, é
possível concluir que a vegetação nativa não só da região noroeste como de todo interior
do Estado de São Paulo vem sendo explorada e destruída há quase 200 anos, com fins
estritamente comerciais, de tal forma que sua magnitude está refletida na intensidade
dos impactos ambientais atuais, tanto nos ecossistemas terrestres quanto nos aquáticos.
A região noroeste, assim como grande parte do Estado de São Paulo, compõe a
bacia de drenagem do Alto Rio Paraná, que ocupa uma área de aproximadamente 900
mil km
2
, é intensamente povoada e considerada uma das mais impactadas da América
do Sul (C
ASTRO et al. 2005). Além da importância intrínseca do uso da água para fins
de consumo humano, os cursos d´água desta bacia abrigam centenas de espécies da
fauna e da flora aquática, dentre eles os peixes, representados por pelo menos 280
1
espécies conhecidas (FRANCISCO LANGEANI, comunicação pessoal). Várias ações
antropogênicas ao longo de anos têm afetado estas comunidades, tais como construção
de barragens, uso descontrolado de pesticidas e fertilizantes, destruição da vegetação
ripária, assoreamentos e introdução de espécies exóticas (B
ÖLHKE et al. 1978, MENEZES
1996, CASTRO & MENEZES 1998).
Os impactos antrópicos na estrutura dos ecossistemas aquáticos atuam
diretamente sobre a integridade biótica de suas comunidades, sendo refletidos em vários
aspectos da biologia dos organismos. Visto que a integridade biológica (ou biótica) de
uma região é definida como “a capacidade de sustentação e manutenção de uma
comunidade de organismos de forma balanceada, integrada e adaptada, tendo uma
composição de espécies, diversidade e organização funcional comparáveis àquelas dos
ambientes naturais de uma região” (A
NGERMEIER & KARR 1994, ANGERMEIER 1997),
espera-se que sua avaliação envolva não só componentes físicos e químicos, mas
também os componentes biológicos de um dado ambiente. Porém, tradicionalmente os
protocolos de avaliação da qualidade de recursos aquáticos têm sido baseados
principalmente nas concentrações de agentes químicos (A
NGERMEIER & KARR 1986),
excluindo a identificação de efeitos sinergéticos ou subletais de determinados
contaminantes e os efeitos que a degradação de hábitats podem causar aos organismos
aquáticos (K
ARR 1981).
O rio São José dos Dourados é um afluente da margem esquerda do rio Paraná
na região noroeste do Estado de São Paulo, nascendo nas imediações dos municípios de
São José do Rio Preto e Mirassol. O Córrego da Água Limpa é um afluente da porção
superior do rio São José dos Dourados, nasce no município de Neves Paulista e segue
até Monte Aprazível, contribuindo para o fornecimento de água para esta cidade.
Apesar de tal importância, ao longo dos 16 km de seu curso principal, observa-se que as
2
margens estão seriamente erodidas e o leito apresenta vários focos de deposição de
sedimento.
Diante desse panorama pode-se dizer que em pouco tempo o impacto ambiental
sobre a diversidade da biota aquática do Córrego da Água Limpa seja de magnitude tal
que inviabilize a utilização da micro-bacia, tanto para captação de água, como para
manutenção da biota aquática, prejudicando também quaisquer medidas de preservação
e/ou recuperação ecológica. Por estas razões o Ministério Público de Monte Aprazível,
apoiado pela CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, Secretaria de
Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo) e pelo 4º Batalhão da Polícia
Ambiental do Estado de São Paulo, propôs um plano de recuperação das matas ciliares
desta micro-bacia.
O presente estudo teve o objetivo de investigar a estrutura da comunidade de
peixes de quatro trechos (Figs. 1-4) do Córrego da Água Limpa. Os dados produzidos
foram empregados no desenvolvimento de um índice de integridade biótica, passível de
ser utilizado para monitoramento de longo prazo do comportamento de tais
comunidades frente ao plano de recuperação mencionado.
O trabalho aqui apresentado está dividido em dois capítulos, sendo que o
primeiro segue a formatação da Revista Brasileira de Zoologia e o segundo está
formatado de acordo com as normas da revista Biota Neotropica:
Capítulo 1 - Influência da estrutura do hábitat sobre a ictiofauna de um riacho em
uma micro-bacia de pastagem, São Paulo, Brasil
Sabendo que apenas um levantamento ictiofaunístico de um curso d’água é
insuficiente para a realização de medidas de conservação e recuperação ambiental, o
presente estudo teve como objetivo determinar a composição e a estrutura quantitativa
3
da ictiofauna de um córrego localizado em área de pastagem e identificar quais
descritores do hábitat foram mais relevantes na estruturação das ictiocenoses.
Artigo aceito na Revista Brasileira de Zoologia (ISSN 0101-8175)
Capítulo 2 - Integridade biótica de um córrego na bacia do Alto Paraná avaliada
através da comunidade de peixes
O objetivo deste capítulo foi realizar uma avaliação da qualidade ecológica do
Córrego da Água Limpa, através da adaptação de um índice de integridade biótica local,
com base nas características estruturais das ictiocenoses, passível de ser utilizado para
análise em longo prazo das influências do plano de recuperação proposto, recentemente
implementado nesta área.
Artigo submetido à revista Biota Neotropica (ISSN 1676-0603)
4
Figura 1. Vistas gerais do Trecho 1 amostrado no Córrego da Água Limpa. Destaque para a ausência de vegetação ripária e o alto grau de erosão
das margens.
5
Figura 2. Vistas gerais do Trecho 2 amostrado no Córrego da Água Limpa, destacando a grande quantidade de gramíneas parcialmente
submersas junto das margens.
6
Figura
3. Vista geral do Trecho 3 amostrado no Córrego da Água Limpa.
7
Figura 4. Vistas gerais do Trecho 4 amostrado no Córrego da Água Limpa, onde existe substrato rochoso e forte correnteza.
8
Á
REA DE ESTUDO
A bacia do rio São José dos Dourados e mais alguns tributários compõem a
Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos São José dos Dourados (UGRHI-
SJD), composto por 41 municípios e uma área não inundada de 6.439,2 km
2
(IPT 2000)
(Fig. 5). Geologicamente a UGRHI - SJD é formado por rochas ígneas basálticas da
Formação Serra Geral, rochas sedimentares da Bacia Bauru e sedimentos quaternários
associados à rede de drenagem (IPT 2000).
Antes da chegada dos portugueses no Brasil, a região era coberta por Floresta
Estacional Semidecidual e Savana. Atualmente a UGRHI - SJD apresenta 22.310 ha de
vegetação natural remanescente, o que corresponde a 3,3% de sua área total (SMA/IF
2005). A vegetação remanescente está dispersa em 1.825 fragmentos, dos quais 75%
possuem até 10 ha, sendo que a vegetação predominante em quase 50% do total de
fragmentos (884) é Vegetação Secundária da Floresta Estacional Semidecidual
(SMA/IF 2005). Dentre os 41 municípios que compõem a UGRHI – SJD, o município
com maior área de vegetação natural remanescente é Monte Aprazível (1.675 ha, 3,6%
da superfície), porém com fragmentos bastante dispersos; dentre os municípios com
fragmentos de tamanho significativo, Neves Paulista se destaca com 1.312 ha (6% de
sua área total) (SMA/IF 2005).
O Córrego da Água Limpa e seus afluentes constituem a micro-bacia do Córrego
da Água Limpa, inserida na sub-bacia do Alto São José dos Dourados, ocupando uma
área total de 7.384 ha. Geomorfologicamente a micro-bacia do Córrego da Água Limpa
está inserido na Formação São José do Rio Preto, pertencente ao Grupo Bauru (IPT
2000), apresentando 100% de solo do tipo Argissolo e 60% da área caracterizada como
muito susceptível à erosão (Fig. 6) (A
LEXANDRE M. SILVA dados não publicados). Com
relação à cobertura vegetal do solo, 64% da área da micro-bacia são utilizados para
9
pastagem e apenas 8,5% possui vegetação natural remanescente (Fig. 7) (ALEXANDRE
M. SILVA dados não publicados). Além disso, 66% da área de preservação permanente
(APP) da micro-bacia, ou seja, 30 metros em cada margem (largura preconizada pelo
Código Florestal Brasileiro para os cursos d’água de até 10 metros de largura (B
RASIL
1989)), apresentam a cobertura vegetal natural substituída por pastagens e apenas 12%
das APPs cobertas por vegetação natural remanescente (Fig. 8) (ALEXANDRE M. SILVA
dados não publicados).
Imagem e Interpretação por: Alexandre M.da Silva – UNESP/Sorocaba
Córrego da Água Limpa
Figura 5. Mapa de uso do solo da Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos - São José
dos Dourados e área de localização do Córrego da Água Limpa (sub-bacia do Alto São José dos
Dourados).
10
classe
1
6
% área
29.7
20.3
37.7
43.3
50.5
58.6
Classes de
susceptibilidade
1
2
3
4
5
6
Figura 6. Imagem produzida por sensoriamento remoto da micro-bacia do Córrego da Água
Limpa, indicando a susceptibilidade do solo à erosão. Os pontos no mapa se referem aos trechos
1 a 4, respectivamente de baixo para cima.
classe % área
pastagem 63.9
cult. perenes 10.6
veget. nat. rem. 8.5
cana 6.0
reflorestamento 0.1
água 0.3
cult. temporias 0.3
solo exposto 4.0
área urbana 6.3
Figura 7. Imagem da micro-bacia do Córrego da Água Limpa, mostrando os tipos de ocupação
do solo. Os pontos no mapa se referem aos trechos 1 a 4, respectivamente de baixo para cima.
11
classe % área
pastagem 65.5
cult. perenes 9.2
veget. nat. rem. 12.1
cana 6.6
reflorestamento 0.1
água 1.4
cult. temporias 0.1
solo exposto 3.7
área urbana 1.2
Figura 8. Tipos de uso do solo nas áreas de preservação permanente (30 metros) da micro-bacia
do Córrego da Água Limpa. Os pontos no mapa se referem aos trechos 1 a 4, respectivamente
de baixo para cima.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A
NGERMEIER, P.L. 1997. Conceptual roles of biological integrity and diversity. Pp. 49-
65 In: J. E. Williams, C. A. Wood & M. P. Dombeck (Eds.), Watershed
restoration: principles and practices. American Fisheries Society, Bethesda,
Maryland.
A
NGERMEIER, P.L. & J.R. KARR 1986. Applying and index of biotic integrity based on
stream-fish communities: considerations in sampling and interpretation. North
American Journal of Fisheries Management, Bethesda, 6: 418-429.
ANGERMEIER, P.L. & J.R. KARR 1994. Biological integrity versus biological diversity
as policy directives. BioScience,
Washington D.C., 44: 690-697.
12
BÖHLKE, J.; S.H. WEITZMANN & N.A. MENEZES. 1978. Estado atual da Sistemática de
peixes de água doce da América do Sul. Acta Amazônica, Manaus, 8(4): 657-
677.
B
RASIL, 1989. Lei nº 7.803, de 18 de Julho de 1989. Dispõe sobre as alterações da Lei
4.771, que instituiu o Código Florestal Brasileiro. Brasília.
CASTRO, R.M.C. & N.A. MENEZES 1998. Estudo diagnóstico da diversidade de peixes
do Estado de São Paulo. Pp. 1-13, In: R. M.C. Castro (Ed.), Biodiversidade do
Estado de São Paulo, Brasil: Síntese do conhecimento ao final do século XX, 6:
vertebrados. São Paulo, FAPESP, 71 p.
C
ASTRO, R.M.C.; L. CASATTI; H.F. SANTOS; R.P. VARI; A.L.A. MELO; L.S.F.
M
ARTINS; T.X. ABREU; R.C. BENINE; F.Z. GIBRAN; A.C. RIBEIRO; F.A.
B
OCKMANN; M. CARVALHO; G.Z.P. PELIÇÃO; K.M. FERREIRA; R. STOPIGLIA & A.
A
KAMA 2005. Structure and composition of the stream ichthyofauna of four
tributary rivers of thr upper Paraná basin, Brazil. Ichthyological Exploration of
Freshwaters, München, 16(3): 193-214.
C
RUZ, L.O. 2003. Os índios Kaingang de Vanuíre: relações interétnicas e
identidade. Monografia de conclusão de curso, Universidade Estadual Paulista,
Marília.
IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do estado de São Paulo) 2000. Diagnóstico da
situação atual dos Recursos Hídricos e estabelecimento de diretrizes técnicas
para a elaboração do plano da Bacia Hidrográfica do São José dos Dourados.
Relatório nº 40675. Fundo Estadual de Recursos Hídricos, São Paulo.
K
ARR, J.R. 1981. Assessment of biotic integrity using fish communities. Fisheries,
Bethesda, 6(6): 21-27.
13
MENEZES, N.A. 1996. Methods for assessing freshwater fish diversity. Pp. 289-295 In:
C. E. de M. Bicudo & N. A. Menezes (Eds.), Biodiversity in Brazil, CNPq, São
Paulo, 326 p.
SMA/IF (S
ECRETARIA DO MEIO AMBIENTE / INSTITUTO FLORESTAL). 2005. Inventário
florestal da vegetação natural do Estado de São Paulo. Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo, São Paulo, 200 p.
14
CAPÍTULO I
I
NFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DO HÁBITAT SOBRE A ICTIOFAUNA DE UM
RIACHO EM MICRO
-BACIA DE PASTAGEM NO SUDESTE DO BRASIL
(Artigo aceito na Revista Brasileira de Zoologia)
15
RESUMO
Este trabalho foi desenvolvido em quatro trechos de um riacho em área de
pastagem no noroeste do Estado de São Paulo, com o objetivo de examinar a
composição e estrutura quantitativa da ictiofauna e investigar sua relação com as
características do hábitat. Os peixes foram coletados nos três meses centrais das
estações seca e chuvosa através de uma passagem de pesca elétrica por mês. A análise
da qualidade química da água mostrou condições boas nos quatro trechos, enquanto que
a análise da integridade física do hábitat mostrou condições pobres para os trechos 2 e 3
e regulares para os trechos 1 e 4. Foram coletadas 27 espécies de peixes, totalizando
1.241 indivíduos e 5,1 kg. A estrutura quantitativa da ictiofauna demonstrou maior
associação com a estrutura do hábitat do que com a sazonalidade visto que os trechos 1
e 2 foram agrupados separadamente dos trechos 3 e 4, independentemente do período de
amostragem. De acordo com a análise de correspondência canônica, a elevada
abundância de Gymnotus carapo Linnaeus, 1758 nos trechos 1 e 2 esteve associada
principalmente com a abundância de gramíneas nas margens. O maior volume de
hábitat no trecho 3 explicou a abundância de Piabina argentea Reinhardt, 1867, e a
predominância de substratos rochosos no trecho 4 explicaram a abundância de
Hypostomus nigromaculatus (Schubart, 1964).
PALAVRAS-CHAVE. Meso-hábitats, agroecossistema, Alto Rio Paraná, assoreamento
16
ABSTRACT
Habitat structure and stream fishes in a pasture basin, São Paulo, Brazil
Four stream stretches (sites 1-4) in a pasture area of the northwestern São Paulo
state were studied, aiming to examine the composition and quantitative structure of the
ichthyofauna and investigate its relation with habitat features. Fishes were collected
during the three most representative months of the dry and wet seasons by one
electrofishing pass in each month. Chemical water quality analysis showed good
conditions in all sites, whereas physical habitat integrity analysis showed poor
conditions to the sites 2 and 3 and fair to the sites 1 and 4. Twenty seven fish species
were collected for a total of 1241 specimens and 5,1 kg. The quantitative structure of
the ichthyofauna revealed closer association with habitat structure than to seasonality
because sites 1 and 2 were split from sites 3 and 4, independently of the season.
According to the canonical correspondence analysis, the higher abundance of Gymnotus
carapo Linnaeus, 1758 in the sites 1 and 2 was associated to bank grass, the abundance
of Piabina argentea Reinhardt, 1867 in the site 3 was explained by the habitat volume,
and the abundance of Hypostomus nigromaculatus (Schubart, 1964) in the site 4 was
related to the rocky substrate predominance.
KEY-WORDS. Mesohabitat, agroecosystem, upper Rio Paraná, siltation
17
Dentre os fatores que criticamente afetam a qualidade de ambientes lóticos
(ALLAN & FLECKER 1993) para a ictiofauna, destaca-se a perda e transformação do
hábitat interno que geralmente está associada à supressão da vegetação ripária. Como
conseqüências ocorrem aumento da incidência de luz, indisponibilização de
determinados itens alimentares (p. ex., frutos, sementes e insetos alóctones) e
assoreamento dos cursos d’água (J
OLY et al. 2001). A conversão de florestas nativas em
pastagens é tida como um impacto relativamente menos perturbador ao ambiente
aquático do ponto de vista químico, uma vez que pastagens não sofrem nenhum tipo de
adubação ou aplicações de pesticidas. No entanto, com relação ao carregamento de
partículas, alguns autores (Y
ANKEY et al. 1991 apud WOHL & CARLINE 1996)
consideram que pastagens são mais prejudiciais aos ambientes aquáticos que áreas
cultivadas, pois contribuem significativamente para o assoreamento dos cursos d’água.
Acredita-se, no entanto, que isso seja real apenas para culturas perenes, mas não para
culturas anuais, nas quais o solo é revolvido constantemente e se torna facilmente
lavável pela chuva.
Em bacias hidrográficas de pequena escala é comum o registro de focos de
assoreamento e enriquecimento nutricional dos corpos d’água pela entrada de fósforo e
nitrogênio causados pela presença do gado (N
EILL et al. 2001). A modificação no
funcionamento do sistema lótico, que passa de oligotrófico para eutrófico, pode levar ao
aumento da diversidade de espécies de peixes (P. Gerhard, dados não publicados), nem
sempre indicando aumento na integridade biótica desses sistemas, visto que as espécies
que colonizam tais ambientes geralmente são aquelas mais tolerantes e oportunistas.
Embora exista uma série de estudos procurando explicar relações entre
elementos da paisagem e uso do solo com a ictiofauna em micro-bacias de regiões de
clima temperado (W
ARD 1989, ROTH et al. 1996, FITZGERALD et al. 1998 , LAMMERT &
18
ALLAN 1999), na região Neotropical esse tema ainda é pouco explorado. Mesmo nas
áreas relativamente mais estudadas, os elementos disponíveis para se investigar tais
correlações são insuficientes e esparsos, o que é agravado pelo fato de que cerca de 26%
da ictiofauna estimada para a região Neotropical ainda não estar descrita (R
EIS et al.
2003). Além do conhecimento taxonômico, o conhecimento da estrutura quantitativa e
as relações da ictiofauna com o ambiente também são fundamentais para subsidiar
estratégias de conservação e recuperação ambiental. No presente estudo foi determinada
a composição e a estrutura quantitativa da ictiofauna de um riacho em área de pastagem
no sudeste do Brasil e quais características do hábitat foram as mais relevantes na
estruturação das ictiocenoses.
ÁREA DE ESTUDO
O riacho estudado é o Córrego da Água Limpa, um afluente da margem
esquerda do Rio São José dos Dourados, uma das principais bacias de drenagem da
região noroeste do estado de São Paulo (Fig. 1). Dentro do seu curso de
aproximadamente 16 km até o reservatório de água que serve como fonte de
abastecimento para a cidade de Monte Aprazível, foram selecionados quatro trechos
eqüidistantes (T1 – T4), de hierarquia fluvial crescente no gradiente longitudinal. É
importante ressaltar que à jusante da cidade de Monte Aprazível está instalada uma
indústria de beneficiamento de couro, sendo o cromo um dos principais resíduos que
pode ser retido pelo solo, representando um problema ambiental crítico (S
URITA et al.
2003).
A micro-bacia estudada insere-se na Formação São José do Rio Preto,
pertencente ao Grupo Bauru (IPT 2000). Sua área total é de 7.384 ha, dos quais 64% são
utilizados para pastagem (A. M. Silva,
UNESP Sorocaba, comunicação pessoal).
19
Quanto à susceptibilidade à erosão (VIEIRA 1988), 59% da área da micro-bacia é
considerada muito susceptível (A. M. Silva, UNESP Sorocaba, comunicação pessoal).
O clima da região é tropical quente (N
IMER 1989), com duas estações bem definidas,
uma chuvosa e quente, de outubro a março, e outra seca e menos quente, de abril a
setembro (B
ARCHA & ARID 1971). A localização e os descritores fisiográficos de cada
trecho são apresentados na Tabela I.
MATERIAL E MÉTODOS
Para cada trecho de 60 metros de extensão foi realizada amostragem em três
viagens à campo no período seco (julho, agosto e setembro/2004) e no período chuvoso
(janeiro, fevereiro e março/2005), totalizando seis coletas. Em cada coleta foram
mensurados sete descritores físico-químicos da água em cada trecho (T1-T4): oxigênio
dissolvido, condutividade, pH, turbidez, temperatura, com equipamento eletrônico
Horiba®, modelo U-10, além do registro de odores distintos, óleo e/ou espuma na água.
Nitrato, amônia e ortofosfato foram analisados em laboratório especializado, a partir de
amostras de água coletadas no pico das estações seca e chuvosa (agosto/2004 e
fevereiro/2005).
Para a análise física e estrutural do ambiente, a extensão de cada um dos trechos
foi subdividida em seis secções transversais, nas quais cinco descritores estruturais do
hábitat foram avaliados. A correnteza foi avaliada no meio do canal em cada transecto,
com um fluxômetro mecânico General Oceanics®, modelo 2030, por 30 segundos, com
três réplicas. A profundidade foi medida em cinco pontos eqüidistantes em cada
transecto. O tipo de substrato foi avaliado em cinco pontos eqüidistantes em cada
transecto, sendo visualmente categorizado em (1) silte, (2) areia, (3) cascalho, (4)
seixos, (5) rochas, (6) laje. A abundância de vegetação marginal foi avaliada ao longo
20
das margens de cada transecto, sendo categorizada em (1) ausente, (2) presente, (3)
abundante.
Figura 1. Localização da área de estudo no sistema do Alto Rio Paraná e no Estado de São
Paulo, sudeste do Brasil (acima) e os trechos estudados (1 - 4) ao longo do Córrego da Água
Limpa, mostrando sua proximidade com as cidades de Neves Paulista e Monte Aprazível
(abaixo).
21
Tabela I. Coordenadas, altitude, ordem do trecho e descritores fisiográficos de cada trecho do
Córrego da Água Limpa.
Parâmetros Trecho 1 Trecho 2 Trecho 3 Trecho 4
20º51’08,5”S 20º50’00,3”S 20º48’50,4”S 20º48’06,0”S
Coordenadas
49º39’21,7”W 49º40’07,5”W 49º40’41,7”W 49º41’25,2”W
Altitude (m) 500 490 489 470
Ordem do trecho (escala 1:50.000) 1 2 3 4
Vegetação ripária ausente ausente
reduzida (2 m) e
alterada
ausente
Vegetação marginal em contato com a água Poaceae
Typhaceae e
Poaceae
ausente
Poaceae e
Cyperaceae
Meso-hábitats dominantes
poço, corredor e
corredeira
corredor corredor corredeira e poço
Substrato predominante areia e laje areia areia
laje, rocha e
cascalho
Troncos e galhos ausente ausente raro ausente
O volume de hábitat foi obtido através da média de todas as profundidades
multiplicada pela área de cada trecho.
Seguindo protocolo proposto por C
ASATTI et al. (no prelo), cada trecho foi
classificado em quatro categorias de integridade físico-química da água (bom, regular,
pobre e muito pobre) através do SWI (“stream water index”), e de integridade física do
hábitat através do PHI (“physical habitat index”). Cada uma das categorias propostas
indica o desvio em comparação com a condição referência para a região (C
ASATTI et al.
no prelo).
Para a coleta dos peixes, cada trecho foi bloqueado nos limites jusante e
montante e uma passagem de pesca elétrica foi realizada, de acordo com metodologia
modificada a partir de M
AZZONI et al. (2000) e CASTRO et al. (2003). Os indivíduos
capturados foram fixados em solução de formalina a 10% e após 36 horas, em média,
transferidos para solução de etanol a 70%. Espécimes testemunhos foram depositados
na coleção ictiológica (DZSJRP) do Departamento de Zoologia e Botânica,
Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, Brasil.
22
A riqueza de espécies foi estimada com auxílio do programa computacional
EstimateS 7 (COLWELL 2004), através do estimador ICE (Incidence-based Coverage
Estimator), que calcula o fator de correção usando a incidência das espécies raras
(aquelas encontradas em até 10 amostragens, LEE & CHAO 1994), e também através do
estimador ACE (Abundance-based Coverage Estimator), cujo fator de correção utiliza a
abundância das espécies com até 10 indivíduos nas amostras (CHAO et al. 1993).
Como forma de avaliar os dois componentes da diversidade (riqueza e
uniformidade), foram calculadas as curvas do componente dominância da diversidade,
também chamada de curva de importância de espécies (PIANKA 1988), no programa
BioDiversity Pro (MCALEECE et al. 1997). A diversidade beta, calculada como forma de
avaliar a proporção de substituição de espécies ao longo do gradiente longitudinal, foi
obtida através do coeficiente de dissimilaridade de Jaccard (MAGURRAN 1988). Os
testes estatísticos univariados foram processados utilizando o programa de computador
BioEstat 3.0 (AYRES et al. 2003).
A estruturação quantitativa da comunidade foi investigada através da análise de
escalonamento multidimensional não métrica (NMDS), uma técnica de ordenação que
pode ser aplicada a várias situações ecológicas, cujo cálculo é baseado em uma matriz
de dissimilaridade ou de similaridade (C
LARKE & WARWICK 1994). O coeficiente de
similaridade de Bray-Curtis foi aplicado para a matriz de abundância relativa de cada
espécie encontrada em cada trecho a cada amostragem, transformada em [log(x+1)] no
programa estatístico PRIMER (C
LARKE & GORLEY 2001). A NMDS calcula a
distorção, ou stress, entre a matriz de similaridade e a ordenação produzida na
representação gráfica dos eixos. No presente estudo, o valor de stress encontrado situa-
se em torno de 0,1, o que corresponde a uma boa ordenação, garantindo boa
confiabilidade na interpretação dos resultados (C
LARKE & WARWICK 1994).
23
A relação entre os cinco descritores físicos do hábitat e a estrutura quantitativa
da ictiofauna de cada trecho foi avaliada através da análise de correspondência
canônica (CCA), implementada no programa computacional CANOCO 4.5 (T
ER
B
RAAK & SMILAUER 2002). A CCA permite representar simultaneamente a ordenação
espacial de amostras, espécies e variáveis ambientais, que mostram como o ótimo da
comunidade varia de acordo com o ambiente (TER BRAAK & SMILAUER 2002). Nesta
análise a matriz de abundância de espécies foi transformada [ln(Ay+B)], pesagem
diferencial foi atribuída para amostras mas não para espécies. A estabilidade e o
significado da CCA foram avaliados através do teste de Monte Carlo, um teste não
paramétrico que permite a validação da variância encontrada frente à variância
simulada em 5999 permutações.
RESULTADOS
Características do hábitat
Dentre todos os descritores físico-químicos analisados (Tab. II), a variação mais
expressiva entre os períodos seco e chuvoso ocorreu para o oxigênio dissolvido, cuja
concentração foi menor no período chuvoso. A qualidade química da água, avaliada
através do SWI, foi boa em ambos períodos, em todos os trechos amostrados.
Cada trecho apresenta características fisiográficas particulares quanto ao tipo de
fundo, composição de meso-hábitats e variáveis hidráulicas (Tab. I e II). Na primeira
tabela são descritos três tipos de meso-hábitats dominantes: corredeira, poço e corredor.
O meso-hábitat corredor (run, raceway ou glides) é descrito por R
INCÓN (1999) como
possuindo águas relativamente rápidas, mais profundas que as corredeiras, com
gradiente menor e águas não turbulentas. Durante o período chuvoso registrou-se
aumento da profundidade, largura, velocidade da corrente e volume de hábitat (Tab. II).
24
Tabela II. Descritores físico-químicos (valores médios) e quantitativos do hábitat em cada
trecho do Córrego da Água Limpa, amostrados durante as estações seca e chuvosa. * Valor de
uma amostra.
Trecho 1 Trecho 2 Trecho 3 Trecho 4
Descritores
Seca Chuva Seca Chuva Seca Chuva Seca Chuva
Oxigênio dissolvido (mg/l) 8,4 4,2 9,8 5,1 9,1 6,1 9,8 6,1
pH 7,1 6,5 7,0 6,5 7,2 6,7 7,6 7,0
Condutividade (µS/cm)
46,7 61,3 42,3 46,7 62,7 63,3 65,0 71,0
Turbidez (NTU) 2,5 6,7 7,5 27,3 17,0 22,3 8,0 25,3
Temperatura (ºC) 17,8 25,0 19,7 25,8 20,6 26,6 21,5 27,9
Nitrato (mg/l)* 0,53 0,5 1,0 0,8 1,2 0,9 1,0 0,8
Amônia (mg/l)* 0,016 <0,001 0,021 <0,001 0,004 <0,001 0,011 <0,001
Ortofosfato (mg/l)* <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01
Odor normal normal normal normal normal normal normal normal
Óleo/Espuma ausente espuma espuma espuma ausente espuma ausente espuma
Profundidade média (m) 0,3 0,4 0,4 0,5 0,6 0,5 0,3 0,4
Variação largura (m) 0,9-5,6 0,7-6,4 1-3,3 0,5-2,7 2,8-5,3 3,7-5,4 1-3,2 0,9-3,4
Velocidade média da corrente (m/s) 0,3 0,4 0,5 0,6 0,1 0,1 0,7 0,7
Volume Hábitat (m
3
) 51,0 83,9 52,8 66,8 297,0 943,3 38,5 136,1
Os trechos 1 e 4 apresentaram integridade física do hábitat regular, situando-se
entre 75 e 50% da condição referência (C
ASATTI et al. no prelo), principalmente em
razão da alta variabilidade de velocidade e profundidade, da alta diversidade de meso-
hábitats no trecho 1 e do baixo grau de deposição de sedimento no trecho 4. Em
contraste, os trechos 2 e 3 apresentaram integridade física do hábitat pobre, situando-se
entre 50 e 25% da condição referência (C
ASATTI et al. no prelo), principalmente devido
à baixa estabilidade do substrato, provocada pelo elevado grau de sedimento depositado
no fundo.
Ictiofauna
Foram registradas 27 espécies de peixes no Córrego da Água Limpa, das quais
25 no período seco (duas espécies exclusivas desse período) e 25 no período chuvoso
25
(também com duas espécies exclusivas desse período) (Tab. III). As estimativas de
riqueza usando incidência e abundância das espécies raras indicaram que o número de
espécies coletadas ficou próximo ao esperado para o riacho como um todo (Fig. 2). Para
cada trecho em particular, as estimativas de riqueza apontaram que esforços adicionais
de coleta poderiam ser empregados nos trechos 2 , 3 e 4 (Fig. 2).
No total foram coletados 1.241 indivíduos e 5.088,7 g de biomassa, dos quais
563 indivíduos (45,4%) e 2.413,6 g (47,4%) foram coletados no período seco e 678
indivíduos (54,6%) e 2.675,1 g (52,6%) no período chuvoso e tais diferenças foram
consideradas significativas (teste de incidência, p0,001). Analisando a variação em
termos de abundância em cada trecho, observou-se que durante o período chuvoso
houve aumento significativo nos trechos 1 e 2 (p<0,001), redução significativa no
trecho 3 (p=0,01) e redução não significativa no trecho 4 (p=0,92). Quanto à biomassa,
as diferenças entre as estações foram significativas apenas nos trechos 1 e 3 (p<0,001).
O trecho 1 apresentou os maiores valores de diversidade e de equitabilidade,
mostrando baixa dominância, ao contrário dos demais trechos (Tab. III). No trecho 2
registrou-se dominância de Gymnotus carapo Linnaeus, 1758, no trecho 3 de Piabina
argentea Reinhardt, 1867 e Poecilia reticulata Peters, 1859 e no trecho 4 de
Hypostomus nigromaculatus (Schubart, 1964) e H. variipictus (Ihering, 1911) (Tab. III).
A curva de importância de espécies para cada trecho (Fig. 3) demonstrou que o trecho 1
se enquadra no modelo log-normal, de curva menos inclinada, indicando número
relativamente menor de espécies raras e, os demais, no modelo log-series, caracterizado
por um pequeno número de espécies abundantes e muitas espécies raras. No geral, a
diversidade beta aumentou no sentido nascente-foz, sendo que do trecho 1 para o trecho
2, a taxa de substituição de espécies foi de 33%, do trecho 2 para o trecho 3 e do trecho
3 para o trecho 4 esse valor foi superior a 50%.
26
Tabela III. Abundância de cada espécie nas estações seca e chuvosa (com códigos das
espécies entre parênteses) e descritores da ictiofauna de cada trecho do Córrego da Água Limpa.
Trecho 1 Trecho 2 Trecho 3 Trecho 4
Espécies
Seca Chuva Seca Chuva Seca Chuva Seca Chuva
Apareiodon ibitiensis (Apaibi) - - - - - - 1 1
Apareiodon piracicabae (Apapir) - - - - - - 1 -
Aspidoras fuscoguttatus (Aspfus) 11 1 2 6 - - - -
Astyanax altiparanae (Astalt) 13 9 - 2 4 1 3 2
Callichthys callichthys (Calcal) 2 5 2 - - - - -
Characidium gomesi (Chagom) - - - - - - 1 -
Cichlasoma paranaense (Cicpar) - - - 1 - - - -
Corydoras aeneus (Coraen) 4 4 20 15 - - 1 2
Crenicichla britskii (Crebri) 9 11 2 15 3 - 6 7
Cyphocharax vanderi (Cyphvan) 6 - - - - 1 1 -
Eigenmannia virescens (Eigvir) - - 4 2 - 1 - -
Gymnotus carapo (Gymcar) 16 43 55 36 1 1 2 5
Geophagus brasiliensis (Geopbra) - - - - - - 1 2
Hisonotus insperatus (Hisins) - - 8 13 - - - -
Hoplias malabaricus (Hopmal) 1 3 1 - - 1 - -
Hypostomus ancistroides (Hypanc) 6 13 17 67 1 3 2 15
Hypostomus nigromaculatus (Hypnig) 10 5 - - - 2 109 107
Hypostomus variipictus (Hypvar) - - - - - - 37 21
Imparfinis mirini (Impmir) 9 9 4 38 - - - -
Oligosarcus pintoi (Olipin) 5 45 3 12 2 - 5 15
Parodon nasus (Parnas) - - - - 1 - 3 5
Piabina argentea (Piaarg) 30 13 15 8 36 11 33 16
Poecilia reticulata (Poeret) 6 4 - 1 27 23 - 2
Phalloceros caudimaculatus (Phacau) - - 6 2 9 11 - -
Rhamdia quelen (Rhaque) 4 1 1 9 - - - 1
Serrapinnus notomelas (Sernot) - 25 1 1 - - - 2
Synbranchus marmoratus
(Synbra) - - - 1 - - - -
Riqueza 15 15 15 17 9 10 15 15
Abundância 132 191 141 229 84 55 206 203
Biomassa (g) 421.1 729.2 839.6 883.9 119.3 55.2 1033.6 1006.8
Riqueza total 16 19 13 18
Índice de diversidade de Shannon-Wiener 1,1 1,0 0,7 0,7
Diversidade teórica máxima 1,2 1,3 1,1 1,3
Equitabilidade 0,9 0,8 0,6 0,6
27
Figura 2. Riqueza de espécies de peixes observada (OBS) e estimadas através do “Abundance-
based Coverage Estimator” (ACE) e do “Incidence-based Coverage Estimator” (ICE) para as 24
amostras obtidas (seis amostras em cada trecho).
28
Figura 3. Curva de importância de espécies de cada trecho estudado no Córrego da Água
Limpa, sudeste do Brasil.
A estrutura quantitativa da ictiofauna demonstrou maior associação com a
estrutura do hábitat do que com a sazonalidade visto que os trechos 1 e 2 foram
agrupados separadamente dos trechos 3 e 4, independentemente do período de
amostragem (Fig. 4). A CCA mais uma vez reforçou a ordenação produzida na NMDS,
identificando quais os descritores de hábitat e espécies foram particularmente
relacionados a cada trecho (Fig. 5): a abundância da gramíneas nas margens nos trechos
1 e 2 esteve associada principalmente à abundância de G. carapo, o maior volume de
hábitat no trecho 3 explicou a abundância de P. argentea e o substrato rochoso no
trecho 4 explicou a abundância de H. nigromaculatus.
29
Figura 4. Análise da estrutura quantitativa das espécies através do método de escalonamento
multidimensional não métrico com base na abundância relativa das espécies nos trechos (T1-T4)
e nas estações seca (S1-S3) e chuvosa (C1-C3) no Córrego da Água Limpa, sudeste do Brasil.
30
Figura 5. Diagrama de ordenação representando os dois primeiros eixos da análise de
correspondência canônica, mostrando os trechos (Trecho 1 – Trecho 4), espécies (triângulos) e
descritores ambientais (setas). Veja Tabela III para códigos das espécies. Eixos 1 e 2 foram
significativos (Teste de Monte Carlo) para trechos e espécies (p = 0,0002).
DISCUSSÃO
Características do hábitat
O solo dessa micro-bacia é utilizado predominantemente para pastagens,
estendendo-se adentro da área de proteção permanente, cuja largura preconizada pelo
Código Florestal Brasileiro é de 30 metros em cada margem nos cursos d’água de até 10
metros de largura (B
RASIL 1989). A ausência de cobertura vegetal e o solo
predominantemente arenoso podem ser citados como fatores determinantes no processo
de assoreamento desta micro-bacia, principalmente porque uma expressiva fração da
31
micro-bacia possui potencial erosivo muito alto. Solos bastante arenosos - como o da
micro-bacia estudada (veja IPT 2000) - e em superfícies desprovidas de cobertura
vegetal são altamente suscetíveis à erosão por escoamento superficial (C
UNHA &
G
UERRA 1998). Dessa forma, o tipo de cobertura do solo é particularmente importante
na prevenção de erosão, pois sob condições naturais toda a formação vegetal (copas das
árvores, sub-bosque e serapilheira) atua de forma a amortecer a energia da água vinda
da chuva (S
ILVA et al. 2003).
Não foram encontrados dados históricos com relação a fisiografia e hidráulica da
micro-bacia do Córrego da Água Limpa, tornando difícil investigar o grau de
assoreamento desse riacho. Entretanto, a julgar pela instabilidade do sedimento,
observada principalmente nas porções mais lênticas e pelo grau de erosão nas margens,
acredita-se que o carregamento de sedimento nesse curso d’água deva ser de magnitude
expressiva, o que reforça ainda mais a importância de projetos de restauração das áreas
ripárias da micro-bacia.
Os menores valores de oxigênio dissolvido na água no período chuvoso (veja
Tab. II) são explicados pela variação climática sazonal na região
e foram registrados por
BRANCO & NECCHI JR. (1997), em estudo realizado em três diferentes bacias de
drenagem na mesma região. A solubilidade do oxigênio na água está diretamente ligada
à variação da temperatura, de modo que quanto maior a temperatura, maior a taxa de
desprendimento desse gás para a atmosfera. Da mesma forma, o metabolismo dos
organismos aquáticos aumenta em função do aumento da temperatura
(ALLAN 1995).
O riacho estudado se enquadra no padrão para a bacia do rio São José dos
Dourados, onde a maior parte dos cursos d’água é desprovida de vegetação ripária
(C
ASATTI et al. no prelo). Com a supressão da vegetação ripária e conseqüente aumento
da incidência de luz no substrato, a produtividade primária autóctone pode ser
32
incrementada (PUSEY & ARTHINGTON 2003). Ao substituir a base alóctone pela
autóctone como fonte energética para a biota aquática, é provável que determinadas
espécies sejam excluídas e outras favorecidas. Contudo, na condição de ausência de
vegetação ripária, acreditamos que a intensificação do carregamento de partículas leves
(areia e silte) para o leito dos riachos dificulte o estabelecimento de organismos
fotossintetizantes dependentes de substratos consolidados e estruturalmente mais
complexos. Assim, tanto a produção alóctone quanto autóctone ficam comprometidas
em condições de ausência de vegetação ripária em áreas especialmente propensas à
erosão do solo, tal como a micro-bacia enfocada neste estudo.
A despeito dos menores valores de oxigênio dissolvido no período chuvoso e
elevados valores de amônia no período seco, todos os trechos foram considerados bons
com relação às características físico-químicas da água, sem variação evidente entre as
estações. Dessa forma, pode-se dizer que não há comprometimento evidente na
qualidade da água do córrego estudado para a ictiofauna.
Apesar da ausência de vegetação ripária, os trechos 1 e 4 foram considerados
regulares quanto à integridade física, principalmente por apresentarem boa diversidade
de hábitats. Em contraste, os trechos 2 e 3, considerados pobres quanto à integridade
física, foram caracterizados pela baixa diversidade de hábitats e pela expressiva
sedimentação e instabilidade do substrato, que estão dentre os mais importantes
impactos associados à perda de diversidade e integridade das comunidades de peixes
(K
ARR & SCHLOSSER 1978), sendo muitas vezes mais expressivos do que a perda de
qualidade química da água em áreas agrícolas (W
ICHERT & RAPPORT 1998, CASATTI et
al. no prelo).
33
Ictiofauna
Segundo o conceito de contínuo fluvial (V
ANNOTE et al. 1980), é esperado um
aumento gradual na riqueza de espécies ao longo do gradiente longitudinal. Na região
tropical, estudos feitos em alguns riachos relativamente íntegros demonstraram a adição
de espécies no sentido montante-jusante, acompanhando o incremento da complexidade
física e estrutural dos ambientes (G
ARUTTI 1988, CASATTI 2005, BRAGA & ANDRADE
2005). Segundo N
AIMAN et al. (1988), no entanto, é difícil aplicar o conceito de
contínuo fluvial em sistemas onde existem, naturalmente, zonas bem definidas ou em
sistemas que passaram por alterações antropogênicas. No Córrego da Água Limpa, o
padrão de incremento longitudinal de espécies não foi detectado. Os altos valores de
diversidade beta ao longo do gradiente longitudinal indicam que esse riacho segue, ao
invés do padrão típico, uma estruturação por zonas, determinada principalmente pela
substituição de espécies (M
ATTHEWS 1998).
Alguns resultados do presente estudo refletem a influência da fisiografia do
hábitat na estruturação das ictiofaunas. No trecho 3 seria esperado maior riqueza de
espécies como resposta ao maior volume de hábitat. Contudo, o volume de hábitat
isoladamente nem sempre é capaz de predizer a riqueza de espécies, como já observado
por A
NGERMEIER & SCHLOSSER (1989) em riachos de regiões tropicais e temperadas.
Por outro lado, o trecho em questão, apesar de volumoso, possui substrato arenoso,
correnteza fraca, conferindo uma situação de baixa complexidade estrutural, o que
provavelmente explica a menor riqueza aqui encontrada.
Durante o período chuvoso, registrou-se maior abundância e biomassa geral
(Tab. III), corroborando estudos prévios realizados na região Neotropical (G
ARUTTI
1988, M
AZZONI & LOBÓN-CERVIÁ 2000, CASATTI 2005). Tal incremento é geralmente
explicado pela intensificação do período reprodutivo e/ou recrutamento de indivíduos de
34
áreas adjacentes (LOWE-MCCONNELL 1987) e também pode refletir maior preferência
dos peixes por áreas mais volumosas que lhes proporcionam refúgios contra aves e
mamíferos predadores (A
NGERMEIER & KARR 1983). É interessante apontar, contudo,
que no trecho 3 o número de indivíduos coletados foi menor no período chuvoso do que
no seco e tal diferença parece associada à diminuição da eficiência da amostragem com
pesca elétrica, pois as condições hidráulicas do ambiente frente a maiores vazões podem
afetar a área de ação do campo elétrico, facilitando o escape dos peixes (Z
ALEWSKI &
C
OWX 1990), especialmente em águas mais turvas.
O riacho estudado localiza-se em uma região de relevo relativamente suave,
onde acidentes geográficos (p. ex., quedas d’água e cachoeiras) não atuam como
agentes isoladores da ictiofauna. Assim, o trânsito das espécies – dadas às limitações
intrínsecas de deslocamento de cada espécie – entre os trechos 1 e 4 provavelmente foi
pouco afetado por questões fisiográficas. Por outro lado, a ausência de um padrão de
adição longitudinal de micro-hábitats e espécies sugere forte relação entre a estrutura
física do hábitat e a estrutura da ictiocenose. De fato, através da NMDS (Fig. 4) ficou
demonstrado que a estrutura da ictiofauna se organiza mais em função do trecho
amostrado do que do período amostral e, através da CCA (Fig. 5), os descritores
ambientais associados a cada trecho foram identificados.
No trecho 1, poços, corredores e corredeiras são eqüitativamente representados,
disponibilizando hábitats para espécies que exploram a coluna d’água (Astyanax
altiparanae Garutti & Bristki, 2000), fundos arenosos (Aspidoras fuscoguttatus Nijssen
& Isbrücker, 1976 e Corydoras aeneus (Gill, 1858)), gramíneas das margens
parcialmente submersa (Crenicichla britskii Kullander, 1982 e G. carapo), poços rasos
marginais (Serrapinnus notomelas (Eigenmann, 1915) e P. reticulata) e substratos
35
rochosos (H. nigromaculatus), sem dominância expressiva de uma ou outra espécie em
particular, com poucas espécies raras e elevada diversidade.
Os demais trechos mostraram-se relativamente mais homogêneos quando
comparados ao trecho 1. O trecho 2 é representado basicamente por um corredor único,
com substrato arenoso e margens repletas de gramíneas parcialmente submersas,
formando um micro-hábitat particularmente explorado por G. carapo, espécie
dominante tanto em abundância quanto em biomassa. O trecho 3 é constituído
predominantemente por um corredor lêntico volumoso, onde P. argentea mostrou-se
freqüente e abundante, e raros poços rasos marginais, explorados por P. reticulata. No
trecho 4 houve predominância de corredeiras de fundos rochosos, exploradas por H.
nigromaculatus.
Em síntese, a substituição da vegetação ripária por pastagens e a expansão da
área de gramíneas nas margens reduz a diversidade de fluxo de água, confinando-o na
região central do canal (P
USEY & ARTHINGTON 2003), além de acarretar mudanças na
estrutura do hábitat interno, na qualidade da água e na estrutura das ictiocenoses. Como
exemplo disso pode-se citar a expressiva abundância de G. carapo no trecho 2,
provavelmente associada à expansão das gramíneas nas margens deste local. Os
resultados apontaram forte influência da estrutura física de cada trecho sobre a estrutura
das ictiocenoses, sendo que as maiores diversidades específicas foram registradas nos
trechos de maior complexidade estrutural.
36
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à equipe do Laboratório de Ictiologia DZSJRP-IBILCE pelo
auxílio no campo; Francisco Langeani pelo auxílio na identificação taxonômica;
Alexandre M. Silva pela análise de uso e ocupação do solo da micro-bacia;
Departamento de Zoologia e Botânica e Programa de Pós-Graduação em Biologia
Animal IBILCE-UNESP pelo apoio; IBAMA pela licença de coleta (001/2003); Mônica
C. Bastos, Francisco Langeani, Denise C. Rossa-Feres, Sirlei T. Bennemann e Ricardo
M.C. Castro pela leitura crítica do manuscrito. Este trabalho foi subvencionado pela
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) dentro do Programa
BIOTA/FAPESP (www.biota.org.br) (01/13340-7, 02/05996-2, 03/09612-7).
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42
CAPÍTULO II
I
NTEGRIDADE BIÓTICA DE UM CÓRREGO NA BACIA DO ALTO PARANÁ
AVALIADA ATRAVÉS DA COMUNIDADE DE PEIXES
(
Artigo submetido à revista Biota Neotropica)
43
ABSTRACT
Stream biotic integrity assessed by fish assemblages in the Upper Rio Paraná
basin
In the present study the ecological quality of the Córrego da Água Limpa, an
important water supply for the Monte Aprazível city in the northwestern portion of the
São Paulo State, was investigated through the development of a local fish index of
biotic integrity (IBI), aiming to establish an analysis protocol to be used in long term
monitoring of the recovering plan recently implemented in that basin. The IBI of four
equidistant sites along the stream was calculated using two different sampling protocols
and during two different seasons. Biological attribute comparisons were carried out
based on the reference scenarios, following a site-specific approach due to the
particularities of each site. Few influence of the sampling protocols and seasonality was
detected in the IBI final values. Sites 1 and 4 showed fair IBI, site 2 was considered
poor and site 3 very poor; such results agree with aspects of the physical habitat quality.
KEY-WORDS: streams, ichthyofauna, IBI, upper Rio Paraná, biomonitoring
44
RESUMO
O presente estudo teve o objetivo de avaliar a qualidade ecológica do Córrego da
Água Limpa, uma importante fonte de abastecimento de água para o município de
Monte Aprazível no noroeste do Estado de São Paulo, através da adaptação de um
índice de integridade biótica (IBI) local utilizando a comunidade de peixes, visando
estabelecer um protocolo para análise em longo prazo das influências de um plano de
recuperação de matas ciliares recentemente implementado naquela bacia. O IBI de
quatro trechos eqüidistantes ao longo do riacho foi calculado para dois protocolos de
amostragem diferentes e em dois períodos do ano. As comparações de atributos
selecionados foram realizadas com base em cenários referência, seguindo uma
abordagem sítio-específico em razão das particularidades de cada trecho. Houve pouca
influência do esforço de amostragem e da sazonalidade nos valores finais do IBI. De
modo geral, os trechos 1 e 4 apresentaram integridade biótica regular, o trecho 2 foi
considerado pobre e o trecho 3, muito pobre; tais resultados coincidem com aspectos da
qualidade física do hábitat.
PALAVRAS-CHAVE: riachos, ictiofauna, IBI, Alto Rio Paraná, biomonitoramento
45
1. Introdução
Os impactos ambientais que as ações antrópicas têm causado aos ambientes
lóticos têm levado à perda de qualidade e dificultado a manutenção da integridade
desses ecossistemas, além de interferir na sustentabilidade de suas comunidades (Karr &
Schlosser 1978, Karr & Dudley 1981, Allan & Flecker 1993, Karr 1999). A investigação
da qualidade de tais ambientes usando apenas descritores físicos e químicos da água
pode resultar em conclusões superestimadas, visto que este conjunto de dados não é
suficiente para identificar as reais condições de saúde desses ambientes (Karr 1993,
Wichert & Rapport 1998). As abordagens mais recentes de avaliação da qualidade da
água têm procurado conciliar informações da biota aquática (em diferentes níveis de
organização) com descritores físicos e químicos da água. Além disso, a estrutura física
do hábitat em ambientes lóticos é um componente importante na avaliação da qualidade
desses ecossistemas, pois influenciam na estrutura e composição das comunidades
biológicas, tais como peixes (Gorman & Karr 1978) e macroinvertebrados bentônicos
(Callisto et al. 2001).
O índice de integridade biológica ou biótica (doravante IBI) foi proposto por
Karr (1981) para investigar o estado de conservação de riachos nos Estados Unidos
utilizando, para isso, atributos observados em comunidades de peixes. Tais atributos
devem representar a ampla diversidade ecológica existente e os diversos níveis de
organização biológica, tendo sempre a característica de compará-los a uma condição de
referência, definida como aquela que possui o mínimo de impacto de origem antrópica
possível (Hughes 1995). Este índice tem sido considerado adequado para identificar a
capacidade do ambiente em suportar e manter uma comunidade de espécies, diversidade
e organização funcional comparáveis àquela do hábitat natural regional (Karr & Dudley
1981).
46
Baseados no trabalho pioneiro de Karr (1981), o IBI utilizando comunidades de
peixes tem sido adaptado para diversas regiões do mundo, tais como América do Norte
(Karr 1981, Angermeier & Karr 1986, Miller et al. 1988), América Central (Lyons et al.
1995), África (Kamdem Toham & Teugels 1999), Europa (Oberdorff & Hughes 1992,
Angermeier & Davideanu 2004), Índia (Ganasan & Hughes 1998), Nova Zelândia (Joy
& Death 2004) e Brasil (Araújo et al. 2003, Bozzetti & Schulz 2004 e Terra 2004).
Adaptações têm sido feitas para incorporar outros elementos da biota aquática, tais
como macroinvertebrados bentônicos (Kerans & Karr 1994, Stribling et al. 1998), algas
(Hill et al. 2000) e anfíbios (Micacchion 2002), como também ambientes marinhos
(Jameson et al. 2001), estuarinos (Weisberg et al. 1997), lacustres (Karr & Dionne 1991)
e terrestres (Kimberling et al. 2001).
Apesar da expansão e aplicação em vários sistemas ecológicos, são escassos
estudos onde o IBI é interpretado em associação com descritores de qualidade química
da água e de integridade física do hábitat ou ainda com aspectos da paisagem e da
história de uso da terra (Oberdorff et al. 2002), com exceção dos trabalhos produzidos
na América do Norte (Roth et al. 1996, Stauffer et al. 2000), Europa (Angermeier &
Davideanu 2004) e Brasil (Araújo et al. 2003, Bozzetti & Schulz 2004 e Terra 2004).
Na região noroeste do Estado de São Paulo restam apenas 3,3 % de vegetação
natural (SMA/IF 2005), dispostos em pequenos fragmentos (a maioria com até 10 ha), o
que a caracteriza como uma das mais degradadas áreas do Estado. Como um todo, a
região possui em torno de 60% do seu solo usado para pastagens (A.M. da Silva & L.A.
Martinelli, dados não publicados). Na bacia do Rio São José dos Dourados, o uso do
solo para pastagens se estende também nas áreas de preservação permanente junto de
cabeceiras e de pequenos riachos com finalidade de abastecimento urbano, como é o
caso do Córrego da Água Limpa no município de Monte Aprazível. Tendo em vista tal
47
importância, foi elaborado um plano de recuperação das matas ciliares da micro-bacia
deste córrego, que contou com a coordenação do Ministério Público de Monte Aprazível
e participação da CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica e Integral) e do 4º
Batalhão da Polícia Ambiental do Estado de São Paulo.
O presente estudo foi elaborado com o objetivo de realizar uma avaliação da
estado de conservação do Córrego da Água Limpa, através da adaptação de um índice
de integridade biótica local empregando características da ictiofauna, passível de ser
utilizado para análises em longo prazo das influências do plano de recuperação
proposto, recentemente implementado nesta área.
2. Material e métodos
2.1. Área de estudo
O riacho estudado é o Córrego da Água Limpa, um afluente da margem
esquerda do Rio São José dos Dourados, uma das principais bacias de drenagem da
região noroeste do Estado de São Paulo Figura 1). Dentro do seu curso de
aproximadamente 16 km até a cidade de Monte Aprazível, foram selecionados quatro
trechos eqüidistantes, de hierarquia fluvial crescente ao longo do gradiente longitudinal.
A micro-bacia do Córrego da Água Limpa possui uma área total de 7.384 ha, dos quais
64% são utilizados para pastagem (A. M. da Silva dados não publicados). Quanto à
susceptibilidade à erosão (Vieira 1988), 59% da área da micro-bacia é considerada
muito susceptível (A. M. da Silva dados não publicados). A descrição detalhada de cada
trecho está apresentada em Ferreira & Casatti (no prelo).
48
Figura 1. Localização da área de estudo no sistema do Alto Rio Paraná e no Estado de São Paulo, sudeste
do Brasil (acima) e os trechos estudados (1 - 4) ao longo do Córrego da Água Limpa, mostrando sua
proximidade com as cidades de Neves Paulista e Monte Aprazível (abaixo).
49
2.2. Coleta de peixes e análise dos conteúdos estomacais
Foram aplicados dois protocolos de amostragem para verificar a influência de
diferentes esforços de coletas e da sazonalidade no cálculo do IBI. Um dos protocolos
(doravante Protocolo 1) foi aplicado em abril de 2004, utilizando-se de duas passagens
de pesca elétrica em 75 metros de extensão em cada trecho, bloqueado nos limites
jusante e montante, de acordo com metodologia modificada a partir de Mazzoni et al.
(2000) e Castro et al. (2003). Em um segundo protocolo (doravante Protocolo 2) foi
aplicada uma passagem de pesca elétrica em 60 metros de extensão em cada trecho, nos
três principais meses dos períodos seco (julho, agosto e setembro de 2004) e chuvoso
(janeiro, fevereiro e março de 2005), totalizando seis amostragens em cada trecho. Em
ambos os protocolos, os indivíduos capturados foram fixados em solução de formalina a
10% e, após 36 horas, em média, transferidos para solução de EtOH a 70%. Espécimes
testemunhos foram depositados na Coleção de Peixes do Departamento de Zoologia e
Botânica (lotes DZSJRP 8038-8312), Universidade Estadual Paulista, São José do Rio
Preto, Brasil.
Todas as espécies coletadas no Córrego da Água Limpa através do Protocolo 2
de amostragem tiveram a dieta analisada com a finalidade de identificar atributos de
natureza trófica. Para cada item alimentar encontrado nos conteúdos gástricos foi
calculada a freqüência de ocorrência (Gelwick & Matthews 1996) e a dominância (Frost
& Went 1940 apud Hynes 1950), esta dada como a porcentagem do número de vezes
em que o item ocupa a maior parte do conteúdo de cada estômago em função do número
total de exemplares analisados. Os grupos tróficos de cada espécie (com mais que cinco
indivíduos coletados) foram determinados a partir da identificação dos itens mais
dominantes e freqüentes; para tal, a dominância (eixo y) de cada item foi plotada em
50
função da freqüência de ocorrência (eixo x), segundo a proposta de Bennemann et al.
(no prelo), que consiste em uma adaptação do método gráfico de Costello (1990).
2.3. Composição do cenário referência para cada trecho
Um cenário referência deveria representar as condições existentes numa época
anterior à ocupação dos continentes pelo homem, o que é praticamente impossível.
Assim, idealmente um cenário referência deve ser determinado com base em condições
observadas em áreas que sofreram o menor impacto antrópico possível (Hughes 1995).
A determinação de tais condições pode ser dada em escala regional ou sítio-específico
(Hughes 1995). No presente estudo, foi adotada a segunda abordagem, visto que cada
trecho possui fisionomias diferenciadas, o que tornaria impraticável aplicar um mesmo
cenário referência para aferir a integridade biótica de todos os trechos.
O IBI para o trecho 1 do Córrego da Água Limpa (1ª ordem) foi calculado com
base em atributos já testados (L. Casatti dados não publicados) contra condições
referência registradas em trechos de riachos localizados no Parque Estadual Morro do
Diabo, previamente estudados (Casatti 2002, 2003, 2005, Casatti et al. 2001). A
determinação de cenários referência para os demais trechos foi prejudicada em razão da
escassez de áreas-referência comparáveis, do longo histórico de degradação da região
(há pelo menos 100 anos, segundo Monbeig
1998) e da falta de conhecimento sobre o
histórico de uso do solo, que dificulta ainda mais a determinação da magnitude dos
danos ocasionados (Harding et al. 1998). Assim, os cenários referência para tais trechos
foram compostos a partir da combinação de informações publicadas, dados da coleção
científica do Departamento de Zoologia de Botânica da UNESP - campus de São José
do Rio Preto, e experiência de campo dos autores.
51
O cenário referência para o trecho 2 foi adaptado a partir do estudo de Castro &
Casatti (1997), no qual foram analisadas características bióticas e abióticas de um riacho
afluente do rio Pardo, que naquela época corria dentro de um dos raros fragmentos
íntegros da região norte do Estado de São Paulo (Tabela 1). Para o trecho 3 foi utilizado
o trabalho de Stopiglia (2001), desenvolvido no Ribeirão Bonito, no município de
Teodoro Sampaio. O trabalho foi realizado em dois trechos, chamados florestado e
desflorestado. Os dados para elaboração do cenário-referência foram aqueles
amostrados no trecho florestado, localizado dentro do parque Estadual Morro do Diabo
(Tabela 1). A elaboração do cenário-referência para o trecho 4 foi baseada em coletas
realizadas por Valdener Garutti no córrego da Barra Funda, município de São José do
Rio Preto, durante o período seco de 1980. Tais informações foram obtidas perante
consulta à Coleção de Peixes do Departamento de Zoologia e Botânica (DZSJRP)
IBILCE/UNESP (Tabela 1).
2.4. Pontuação dos atributos
Após definir o conjunto de atributos que melhor discrimina os riachos-referência
daqueles impactados, para cada atributo foram estabelecidos o escore superior e inferior.
O escore superior representa 75% ou mais da condição encontrada nas referências; o
escore inferior corresponde a 25% ou menos da condição encontrada nas referências
(Schleiger 2000). Ao primeiro caso é dada a nota 5; ao segundo caso, nota 1; condições
intermediárias, ou seja, entre 75 e 25% das encontradas nas referências, recebem nota 3.
Tais valores foram adaptados a partir do estudo de Roth at al. (1999), onde os autores
delimitam os extremos como 50 e 10%. O IBI para cada trecho foi determinado a partir
do cálculo da média dos escores de todos os atributos e classificado em uma das quatro
categorias de integridade biótica (Tabela 2).
52
Tabela 1. Abundância total e relativa de cada espécie registrada no estudo de Castro & Casatti (1997),
utilizado como referência para o trecho 2, e no estudo de Stopiglia (2001), utilizado como referência para
o trecho 3. A referência do trecho 4 foi composta com base em exemplares coletados por Valdener
Garutti, em 1980, depositados da Coleção de Peixes do Departamento de Zoologia e Botânica (DZSJRP)
IBILCE/UNESP.
trecho 2 trecho 3 trecho 4
Espécies
N % N % N %
Aspidoras fuscoguttatus - - - - 30 7,5
Astyanax altiparanae 305 26,8 - - 9 2,3
Astyanax fasciatus 323 28,4 11 7,7 18 4,5
Astyanax paranae
1
96 8,4 - - - -
Astyanax sp. 1 5 0,4 3 2,1 - -
Astyanax sp. 2 - - - - 6 1,5
Bryconamericus stramineus - - 85 59,4 - -
Cetopsorhamdia iheringi - - - - 3 0,8
Characidium fasciatum - - - - 61 15,3
Characidium gomesi 3 0,3 - - - -
Cheirodon stenodon - - - - 2 0,5
Characidium zebra 31 2,7 - - - -
Corydoras difluviatilis
2
3 0,3 - - - -
Crenicichla britskii - - 1 0,7 5 1,3
Eigenmannia virescens 2 0,2 - - 23 5,8
Gymnotus carapo 13 1,1 - - 2 0,5
Hisonotus francirochai 8 0,7 10 7,0 90 22,6
Hisonotus insperatus - - 1 0,7 - -
Hoplias malabaricus 4 0,4 - - - -
Hypostomus ancistroides 37 3,3 12 8,4 - -
Hypostomus nigromaculatus - - 6 4,2 - -
Hypostomus sp. - - - - 10 2,5
Imparfinis mirini 5 0,4 1 0,7 3 0,8
Imparfinis schubarti - - - - 1 0,3
Leporinus striatus - - - - 2 0,5
Moenkhausia sanctaefilomenae - - - - 6 1,5
Oligosarcus pintoi 9 0,8 - - 6 1,5
Phalloceros caudimaculatus 232 20,4 10 7,0 - -
Piabina argentea - - - - 57 14,3
Pimelodella avanhandavae - - - - 46 11,6
Pimelodella sp. 1 0,1 - - - -
Pyrrhulina australis - - - - 7 1,8
53
Rhamdia quelen 48 4,2 2 1,4 1 0,3
Rhamdiopsis sp. 3 0,3 - - - -
Serrapinnus notomelas - - - - 6 1,5
Steindachnerina insculpta - - - - 1 0,3
Synbranchus marmoratus - - - - 3 0,8
Tatia neivai - - 1 0,7 - -
Trichomycterus sp. 9 0,8 - - - -
Abundância total 1.137 100 143 100 398 100
1
espécie mencionada como Corydoras aff. cochui no estudo de Castro & Casatti (1997)
2
espécie mencionada como Astyanax scabripinnis no estudo de Castro & Casatti (1997)
Tabela 2. Descrição das categorias de integridade biótica (adaptadas a partir de Roth et al. 1999).
Categoria Valor numérico Descrição
Bom
4,0-5,0
Comparável aos riachos referência e considerados minimamente
impactados. Em média, os atributos biológicos se enquadram em
mais de 75% da condição referência.
Regular
3,0-3,9
Comparável aos riachos-referência, porém com alguns aspectos da
biologia comprometidos. Em média, os atributos situam-se entre 75
e 50% da condição referência.
Pobre
2,0-2,9
Significativo desvio da condição referência, com muitos aspectos da
integridade biológica distantes da situação minimamente impactada.
Em média, os atributos situam-se entre 50 e 25% da condição
referência.
Muito pobre
0-1,9
Forte desvio da condição referência, com muitos aspectos da
integridade biológica alterados, indicando degradação séria. A
maioria dos atributos biológicos está abaixo de 25% da condição
referência
54
3. Resultados e Discussão
Foram coletadas 22 espécies por meio do Protocolo 1, totalizando 338
indivíduos (Tabela 3). Por meio do Protocolo 2 foram registradas 27 espécies e 1.241
indivíduos, dos quais 563 indivíduos (45,4%) foram coletados no período seco e 678
(54,6%) no período chuvoso (Tabela 3). Os grupos tróficos (Tabela 4) foram
determinados para todas as espécies com pelo menos cinco indivíduos coletados por
meio da aplicação do Protocolo 2 (Figuras 2 a 4). No caso de espécies com menos de
cinco indivíduos coletados, foram mencionados apenas os itens mais abundantes nos
conteúdos gástricos (Tabela 4).
3.1. Análise dos atributos biológicos para cada trecho
Apesar de cada trecho possuir cenários referência distintos, cinco atributos
citados na literatura (Araújo 1998a, b, Araújo et al. 2003, Bozzetti & Schulz 2004,
Terra 2004, L. Casatti dados não publicados) foram aplicados a todos os trechos por
serem importantes para a determinação da integridade biótica de um ambiente lótico,
independente do porte do curso d’água. Os atributos “número de espécies nativas” e
“número de categorias tróficas” foram adaptados a cada trecho, visto que a riqueza e
complexidade trófica tendem a aumentar conforme a hierarquia fluvial (Barreto &
Uieda 1998, Casatti 2005, Braga & Andrade 2005). Os valores para os atributos
“percentual de indivíduos tolerantes”, “percentual de abundância de Poecilia
reticulata” e “percentual de riqueza de Characiformes e Siluriformes” foram os
mesmos atribuídos aos trechos de primeira ordem, visto que refletem padrões gerais
encontrados em riachos de regiões pouco impactadas do Alto Paraná (Bölhke et al.
1978, Lowe-McConnell 1987, Menezes 1996, Castro & Menezes 1998).
55
56
Protocolo 1 Protocolo 2
trecho 1 trecho 2 trecho 3 trecho 4
Espécies
trecho 1 trecho 2 trecho 3 trecho 4
seco chuvoso seco chuvoso seco chuvoso seco chuvoso
Apareiodon ibitiensis - - - - - - - - - - 1 1
Apareiodon piracicabae - - - - - - - - - - 1 -
Aspidoras fuscogutattus 8 - - - 11 1 2 6 - - - -
Astyanax altiparanae 11 - 4 2 13 9 - 2 4 1 3 2
Callichthys callichthys - 2 - - 2 5 2 - - - - -
Characidium gomesi - - - 1 - - - - - - 1 -
Cichlasoma paranaense 1 - - 2 - - - 1 - - - -
Corydoras aeneus 2 10 1 1 4 4 20 15 - - 1 2
Crenicichla britskii 6 5 3 5 9 11 2 15 3 - 6 7
Cyphocharax vanderi 1 - - - 6 - - - - 1 1 -
Eigenmannia virescens - 3 - - - - 4 2 - 1 - -
Gymnotus carapo 12 33 - 2 16 43 55 36 1 1 2 5
Geophagus brasiliensis - - - - - - - - - - 1 2
Hisonotus francirochai - 23 - 1 - - - - - - -
Hisonotus insperatus - 9 - - - - 8 13 - - - -
Hoplias malabaricus - - 1 - 1 3 1 - - 1 - -
Hypostomus nigromaculatus 4 - 2 87 10 5 - - - 2 109 107
Hypostomus ancistroides 8 - - 1 6 13 17 67 1 3 2 15
Hypostomus variipictus 1 - - 19 - - - - - - 37 21
Imparfinis mirini 9 4 - 1 9 9 4 38 - - - -
Oligosarcus pintoi 5 3 - 1 5 45 3 12 2 - 5 15
Parodon nasus 4 - - 1 - - - - 1 - 3 5
Phalloceros caudimaculatus - - - - - - 6 2 9 11 - -
Piabina argentea 9 1 9 7 30 13 15 8 36 11 33 16
Poecilia reticulata - - 7 3 6 4 - 1 27 23 - 2
Rhamdia quelen - 1 1 1 4 1 1 9 - - - 1
Serrapinnus notomelas - - - - - 25 1 1 - - - 2
Synbranchus marmoratus - - - - - - - 1 - - - -
Riqueza de espécies 14 11 8 16 15 15 15 17 9 10 15 15
Abundância 81 94 28 135 132 191 141 229 84 55 206 203
Tabela 3. Abundância das espécies do Córrego da Água Limpa (em cada trecho), coletadas segundo Protocolos 1 e 2 de amostragem (Protocolo 2 inclui amostragens em
períodos seco e chuvoso).
57
Tabela 4. Grupos tróficos das espécies registradas no Córrego da Água Limpa. *No caso de espécies com menos
de cinco exemplares examinados são mencionados os itens predominantes no conteúdo gástrico.
Espécies Grupo Trófico
Apareiodon ibitiensis* Vegetais superiores e larvas de Chironomidae
Apareiodon piracicabae* Vegetais superiores
Aspidoras fuscogutattus Insetívoro aquático generalista
Astyanax altiparanae Herbívoro
Callichthys callichthys Onívoro
Characidium gomesi Insetívoro aquático generalista
Cichlasoma paranaense* Fragmento de insetos aquáticos
Corydoras aeneus Insetívoro aquático generalista
Crenicichla britskii Insetívoro aquático generalista
Cyphocharax vanderi Detritívoro
Eigenmannia virescens Insetívoro aquático generalista
Gymnotus carapo Insetívoro aquático generalista
Geophagus brasiliensis* Fragmentos de insetos aquáticos
Hisonotus francirochai Detritívoro
Hisonotus insperatus Detritívoro
Hoplias malabaricus* Decápodes, hemípteros e peixes
Hypostomus nigromaculatus Detritívoro
Hypostomus ancistroides Detritívoro
Hypostomus variipictus Detritívoro
Imparfinis mirini Insetívoro aquático generalista
Oligosarcus pintoi Insetívoro generalista
Parodon nasus Algívoro
Phalloceros caudimaculatus Onívoro
Piabina argentea Insetívoro aquático generalista
Poecilia reticulata Detritívoro
Rhamdia quelen Insetívoro aquático generalista
Serrapinnus notomelas Algívoro
Synbranchus marmoratus* Fragmentos orgânicos
Todos os atributos considerados consistentes para responder aos impactos antrópicos
impostos ao Córrego da Água Limpa estão descritos na Tabela 5. Os valores dos atributos
dos trechos estudados no Córrego da Água Limpa, baseados no cenário referência adaptado
para cada um deles, e seus respectivos escores estão listados nas Tabelas 6 a 9.
58
larvas
Simuliidae
0
50
100
050100
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
frags.
orgânicos
0
50
100
050
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
100
Aspidoras fuscoguttatus (n=16) Astyanax altiparanae (n=16)
frags.
orgânicos
0
50
100
050100
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
frag.ins.
aquát.
0
50
100
050
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
100
Callichthys callichthys (n=6) Corydoras aeneus (n=16)
frag.ins.
aquát.
0
50
100
050100
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
detritos
0
50
100
050100
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
Crenicichla britski (n=20) Cyphocharax vanderi (n=7)
frag.ins.
aquát.
larvas Trichoptera
0
50
100
050100
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
555
frag.ins.
aquát.
0
50
100
050
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
100
Eigenmannia virescens (n=6) Gymnotus carapo (n=20)
Figura 2. Representação gráfica da dominância (eixo y) em função da freqüência de ocorrência (eixo x) dos itens alimentares
encontrados nos conteúdos gástricos das espécies Aspidoras fuscoguttatus, Astyanax altiparanae, Callichthys callichthys,
Corydoras aeneus, Crenicichla britskii, Cyphocharax vanderi, Eigenmannia virescens e Gymnotus carapo coletadas no Córrego
da Água Limpa. Os números entre parênteses se referem aos indivíduos que continham conteúdo gástrico.
59
detritos
0
50
100
050100
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
detritos
0
50
100
050
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
100
Hisonotus insperatus (n=18) Hypostomus ancistroides (n=14)
detritos
0
50
100
050100
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
detritos
0
50
100
050
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
100
H
ypostomus nigromaculatus (n=17) Hypostomus variipictus (n=20)
frag. ins.
aquát.
0
50
100
050100
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
ninfas
Ephemeroptera
0
50
100
0 50 100
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
Imparfinis mirini (n=20) Oligosarcus pintoi (n=19)
algas
filamentosas
0
50
100
050100
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
detritos
0
50
100
050100
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
Parodon nasus (n=7) Poecilia reticulata (n=20)
Figura 3. Representação gráfica da dominância (eixo y) em função da freqüência de ocorrência (eixo x) dos itens alimentares
encontrados nos conteúdos gástricos das espécies Hisonotus insperatus, Hoplias malabaricus, Hypostomus ancistroides,
H.nigromaculatus, H. variipictus, Imparfinis mirini, Oligosarcus pintoi, Parodon nasus e Poecilia reticulata coletadas no Córrego
da Água Limpa. Os números entre parênteses se referem aos indivíduos que continham conteúdo gástrico.
60
larvas
Diptera
0
50
100
050
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
100
Phalloceros caudimaculatus (n=20)
frag. ins.
aquát.
0
50
100
050
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
100
Piabina argentea (n=20)
frag. ins.
aquát.
0
50
100
050
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
100
Rhamdia quelen (n=13)
algas
filamentosas
0
50
100
050
Freqüência de ocorrência (%)
Dominância (%)
100
Serrapinnus notomelas (n=11)
Figura 4. Representação gráfica da dominância (eixo y) em função da freqüência de ocorrência (eixo x) dos itens alimentares
encontrados nos conteúdos gástricos das espécies, Phalloceros caudimaculatus, Piabina argentea, Rhamdia quelen e Serrapinnus
notomelas coletadas no Córrego da Água Limpa. Os números entre parênteses se referem aos indivíduos que continham conteúdo
gástrico.
Tabela 5. Descrição dos atributos utilizados no cálculo do índice de integridade biótica dos trechos estudados no Córrego da Água Limpa e respectivos trechos onde cada atributo foi utilizado.
*Os valores dos atributos foram adaptados a cada trecho.
trechos
Atributos
Descrição
1 2 3 4
Percentual de espécies Characiformes e Siluriformes
A proporção de espécies pertencentes às ordens Characiformes e Siluriformes em águas continentais conservadas da
região Neotropical é bem conhecida
1
; contudo, em condições degradadas o ambiente pode ser dominado por
espécies mais tolerantes das ordens Perciformes e Cyprinodontiformes
2
.
X X X X
Percentual de abundância de Poecilia reticulata
Além de ser uma espécie exótica, é considerada pioneira por ocupar hábitats bastante impactados
3
. Em riachos
íntegros normalmente tal espécie não ocorre
4
.
X X X X
Percentual de indivíduos tolerantes à hipóxia*
Em ambientes degradados que apresentem baixa concentração de oxigênio dissolvido, espera-se encontrar um maior
número de indivíduos que suportam tais condições, devido a adaptações fisiológicas e/ou comportamentais
5
.
X X X X
Riqueza de espécies nativas*
O número de espécies presente em um ambiente pode diminuir conforme a degradação aumenta. Nesse atributo
foram excluídas as espécies exóticas ou alóctones por indicarem algum grau de interferência antrópica
6
.
X X X X
Número de categorias tróficas*
Em pequenos riachos íntegros geralmente são registradas espécies de peixes com hábitos onívoros, insetívoros ou
perifitívoros. Conforme o grau de interferência antrópica aumenta, o número de categorias alimentares tende a
diminuir em função da oferta de itens alimentares menos variada
7,8
.
X X X X
Riqueza de espécies nectônicas
As espécies com hábito nectônicos
9
(principalmente gêneros Astyanax, Bryconamericus, Moenkhausia e
Hemigrammus em riachos do Sistema do Alto Rio Paraná) são geralmente desfavorecidas em condições de menor
volume de hábitat, especialmente em conseqüência do assoreamento, um dos mais comuns impactos nesse sistema
hidrográfico
4, 5
.
X X
Riqueza de espécies reofílicas
Em riachos de primeira ordem bem conservados é esperado encontrar várias espécies reofílicas, ou seja, espécies
adaptadas a áreas de corredeiras, que geralmente possuem substratos rochosos. Com a degradação, especialmente da
zona ripária, pode ocorrer intensificação do assoreamento e soterramento de tais substratos, comprometendo aspectos
da biologia alimentar e reprodutiva dessas espécies, o que pode se refletir em um menor número de espécies dessa
categoria
10,11
.
X X
61
Continuação da Tabela 5
trechos
Atributos
Descrição
1 2 3 4
Percentual de indivíduos reofílicos
Em riachos de primeira ordem a ocorrência de uma ou outra espécie reofílica pode não demonstrar as reais condições
da saúde do ambiente, visto que pode se tratar de um registro acidental. Em condições pouco impactadas, espera-se
que a abundância desse grupo seja de 6%
4, 11
.
X X
Dominância (Índice de Simpson)
Em ambientes conservados há pouca dominância por uma espécie em particular, mas com a degradação ambiental as
populações das espécies mais sensíveis são eliminadas ou reduzidas a poucos indivíduos, permanecendo em alta
abundância as espécies mais generalistas, o que geralmente ocasiona valores de dominância mais elevados
2
.
X
Percentual de indivíduos que se abrigam na
vegetação marginal
Atributo baseado na principal característica do trecho 2, que é a ocorrência de amplos bancos de gramíneas
(Poaceae) semi-submersas nas margens e representa um micro-hábitat que favorece a ocorrência de Gymnotus
carapo. Tal espécie, embora presente, ocorre em abundâncias relativamente mais baixas em riachos com vegetação
ripária íntegra
16
.
X
Percentual de indivíduos nectônicos
Em riachos com maior volume de hábitat (geralmente ordens maiores que 1) apenas a riqueza de espécies nectônicas
p
ode superestimar o índice de integridade biótica, visto que pode se tratar de registros acidentais e, em tais condições
torna-se importante avaliar se tais espécies também são representadas por populações relativamente numerosas
16
.
X X
Riqueza de espécies reofílicas com hábito alimentar
insetívoro aquático
Em riachos íntegros são geralmente encontradas espécies reofílicas com hábitos alimentares perifitívoros ou
insetívoros; neste último caso alimentando-se principalmente de larvas aquáticas de insetos. Em condições de
degradação, vários grupos de insetos aquáticos são eliminados do ambiente, reduzindo a oferta alimentar para as
espécies de peixes reofílicos e conseqüentemente, sua riqueza
16
.
X
Percentual de indivíduos com hábito insetívoro
generalista
Em riachos íntegros são encontradas espécies de peixes insetívoros que ingerem itens tanto autóctones quanto
alóctones, caracterizando-os como generalistas quanto à origem do alimento. Com o aumento da degradação,
especialmente da zona ripária, as espécies que se alimentam de itens alóctones são geralmente desfavorecidas e
deixam de ocorrer no ambiente
16
.
X
62
Continuação da Tabela 5
trechos
Atributos
Descrição
1 2 3 4
Percentual de indivíduos perifitívoros
Em riachos íntegros de ordens mais elevadas, comparáveis ao trecho 3, o sombreamento ocasionado pela presença da
vegetação ripária seria relativamente restrito, incrementando a produtividade primária, especialmente do perifíton,
utilizado como recurso alimentar por parodontídeos e loricariídeos
16
. Em condições degradadas, o intenso aporte de
sedimento torna o substrato instável, dificultando a fixação de organismos que compõem o perifíton; dessa forma, as
espécies de peixes com tais hábitos deixam de ocorrer no ambiente.
X
Riqueza de espécies da família Curimatidae
Em riachos íntegros de ordens mais elevadas são registradas espécies da família Curimatidae que não possuem
dentes e se alimentam de detritos floculados. No entanto, em riachos muito assoreados com intenso aporte de
sedimento, essas espécies deixam de ocorrer, provavelmente devido à falta de substrato ideal para deposição desses
detritos
12
.
X
Riqueza de espécies de Characiformes -
frugívoros/herbívoros
Em riachos íntegros de ordens mais elevadas, comparáveis aos trechos 3 e 4, são registradas espécies que se
alimentam de frutos e sementes provenientes da vegetação ripária, principalmente Brycon spp. e Leporinus spp.
12,
13,16
. À medida que a degradação se intensifica na zona ripária, tais recursos alimentares deixam de ser oferecidos,
conseqüentemente reduzindo a ocorrência dessas espécies.
X X
Riqueza de espécies piscívoras
Em riachos íntegros de ordens mais elevadas, o maior volume de hábitat permitiria a ocorrência de espécies de
peixes com hábitos alimentares piscívoros, tais como Ascestrorhynchus lacustris
14,15,16
. À medida que a interferência
antrópica aumenta (representada por represamentos, assoreamento, pesca predatória, entre outros) tais espécies
deixam de ocorrer.
X
Riqueza de espécies de Siluriformes
Em riachos íntegros de ordens mais elevadas, comparáveis aos trechos 3 e 4, seria esperado encontrar várias espécies
da ordem Siluriformes
15,16
. Em condições degradadas, especialmente pelo assoreamento, a riqueza de Siluriformes
tende a diminuir, provavelmente em razão de tais espécies terem seus sítios de alimentação e reprodução
prejudicados.
X X
1. Lowe-McConnell 1987; Castro & Menezes 1998, 2. L. Casatti dados não publicados, 3. Schleiger 2000, 4. Casatti et al. no prelo, 5. Karr 1981, 6. Oberdorff & Porcher
1994, 7. Casatti 2002, 8. Castro & Casatti 1997, 9. Lincoln et al. 1995, 10. Harris 1995, 11. Casatti 2005, 12. Garutti, 1988, 13.Ferreira & Casatti no prelo, 14. Terra 2004,
15. Stopiglia 2001, 16. Presente estudo.
63
Tabela 6. Atributos biológicos e pontuações utilizadas no Índice de Integridade Biótica para o trecho 1 do
Córrego da Água Limpa.
Escores
Atributos
5 3 1
Percentual de Characiformes e Siluriformes
x 83 76 x < 83 x < 76
Percentual de abundância de Poecilia reticulata x < 6,3
6,3 x < 9 x 9
Percentual de indivíduos tolerantes à hipóxia x < 12
12 x < 16,3 x 16,3
Riqueza de espécies nativas
x 12 12 < x 4
x < 4
Número de categorias tróficas
x 4
2 < x < 3 x = 1
Riqueza de espécies nectônicas*
x 3
x = 2 x = 1
Riqueza de espécies reofílicas*
x 3
x = 2 x = 1
Percentual de indivíduos reofílicos
x 3 3 < x 1
x < 1
Dominância x < 25
25 x < 35 x 35
* atributo pontuado como zero quando tais espécies não foram registradas
Tabela 7. Atributos biológicos e pontuações utilizadas no Índice de Integridade Biótica para o trecho 2 do
Córrego da Água Limpa.
Escores
Atributos
5 3 1
Percentual de Characiformes e Siluriformes
x 83 76 x < 83 x < 76
Percentual de abundância de Poecilia reticulata
x < 6,3
6,3 x < 9 x 9
Percentual de indivíduos tolerantes à hipoxia
x < 36 50 > x > 36
x 50
Riqueza de espécies nativas
x 14 5 x < 14
x < 5
Número de categorias tróficas
x 5
2 < x < 5
x 2
Riqueza de espécies nectônicas*
x 3
x = 2 x = 1
Percentual de indivíduos que se abrigam na vegetação marginal
x < 2,5
2,5 x < 3,5 X
3,5
Percentual de indivíduos nectônicos
x 48 16 x < 48
x < 16
Riqueza de espécies reofílicas com hábito alimentar insetívoro aquático*
x 3
x = 2 x = 1
Percentual de indivíduos de hábito insetívoro generalista
x 5 2 x < 5
x < 2
* atributo pontuado como zero quando tais espécies não foram registradas
64
Tabela 8. Atributos biológicos e pontuações utilizadas no Índice de Integridade Biótica para o trecho 3 do
Córrego da Água Limpa.
Escores
Atributos
5 3 1
Percentual de Characiformes e Siluriformes x 83 76 x < 83 x < 76
Percentual de abundância de Poecilia reticulata x < 6,3
6,3 x < 9 x 9
Percentual de indivíduos tolerantes à hipóxia x < 36
50 > x 14 x 50
Riqueza de espécies nativas x > 9
3 < x 9 x 3
Número de categorias tróficas
x 4 2 x <4
x < 2
Percentual de indivíduos nectônicos x > 52
17 < x 52 x 17
Percentual de indivíduos perifitívoros
x 9,5
3 < x < 9,5
x 3
Riqueza de espécies da família Curimatidae* x = 3 x = 2 x =1
Riqueza de espécies Characiformes-frugívoros ou herbívoros*
x 3
x = 2 x = 1
Riqueza de espécies piscívoras*
x 3
x = 2 x = 1
Riqueza de espécies de Siluriformes
x 5 2 x < 5 x 2
* atributo pontuado como zero quando tais espécies não foram registradas
Tabela 9. Atributos biológicos e pontuações utilizadas no Índice de Integridade Biótica para o trecho 4 do
Córrego da Água Limpa.
Escores
Atributos
5 3 1
Percentual de Characiformes e Siluriformes x 83 76 x < 83 x < 76
Percentual de abundância de Poecilia reticulata x < 6,3
6,3 x < 9 x 9
Percentual de indivíduos tolerantes à hipóxia x < 36
50 > x 36 x 50
Riqueza de espécies nativas
x 18
6 < x < 18
x 6
Número de categorias tróficas
x 5 2 x <5 x 2
Riqueza de espécies reofílicas
x 5 2 x < 5
x < 2
Percentual de indivíduos reofílicos x > 60
20 < x 60 x 20
Riqueza de espécies de Characiformes frugívoros/herbívoros*
x 3
x = 2 x = 1
Riqueza de espécies de Siluriformes
x 6
2 < x <6
x 2
* atributo pontuado como zero quando tais espécies não foram registradas
65
3.2. Avaliação da integridade biótica
3.2.1. Comparação entre diferentes protocolos de amostragem
O IBI obtido através dos dois protocolos de amostragem foi muito semelhante
para cada trecho (Tabelas 10 a 13). Houve apenas pequenas variações quanto aos
escores de alguns atributos, com pouca influência na nota final. Assim, para riachos de
baixa ordem, é possível obter dados consistentes para análises de integridade biótica da
ictiofauna empregando um menor esforço de coleta (Protocolo 1), onde foram aplicadas
duas passagens de pesca elétrica em 75 metros de extensão em uma única ocasião.
Dentre os estudos realizados com o propósito de adequar IBIs utilizando
atributos da ictiofauna em riachos, há grande variação entre os esforços amostrais
estabelecidos em função da largura e profundidade do riacho. Em geral são
determinados protocolos amostrais capazes de explorar uma amostra representativa de
hábitats presentes no local (p. ex., Karr
1981), podendo variar de duas passagens de
pesca elétrica em 75 metros de extensão (Roth et al. 1999), uma passagem de pesca
elétrica em 93 metros (Schleiger 2000) ou ainda três passagens de pesca elétrica em
100-150 metros (Bozzetti & Schulz 2004). Apesar da pesca elétrica se mostrar um
método eficiente para coletar peixes em riachos de baixa ordem, vários fatores podem
afetar sua eficiência, tais como condutividade, turbidez, flutuações sazonais, velocidade
da corrente e, principalmente, profundidade e largura do canal (Zalewski & Cowx
1990).
3.2.2. Comparação entre os períodos do ano
Foi calculado o IBI entre os períodos do ano, utilizando dados obtidos através do
Protocolo 2 de amostragem. Foi observada menor integridade no trecho 2 no período
66
seco, sendo que para os demais trechos não houve alteração do valor final do IBI
(Tabelas 10 a 13).
Os valores de IBI do Córrego da Água Limpa variaram pouco com relação à
sazonalidade. A única mudança de categoria foi referente ao trecho 2, que passou de
pobre no período seco para regular no período chuvoso e pode ser explicada pelos
maiores escores dos atributos “percentual de indivíduos tolerantes à hipóxia”, “riqueza
de espécies nativas” e “riqueza de espécies nectônicas”. Neste caso, a melhoria na
qualidade desses atributos pode estar ocasionalmente associada ao recrutamento de
espécies de áreas adjacentes devido ao aumento no volume de água. Pouca influência
sazonal no IBI também foi registrada por Bozzetti & Schulz (2004) em riachos do Sul
do Brasil. Em locais com maior grau de poluição química, contudo, Araújo (1998a)
observou maiores valores de IBI no período seco e menores no período chuvoso,
justificando tais resultados pelo maior aporte de material alóctone para dentro dos
trechos estudados, diminuindo a qualidade química da água e influenciando
negativamente no IBI.
67
Tabela 10. Valores de cada atributo, seus respectivos escores, nota final e categoria de IBI obtidos com os dois protocolos de amostragem e em períodos seco e chuvoso no
trecho 1 do Córrego da Água Limpa.
Protocolo 2
Protocolo 1 Protocolo 2
Seco Chuvoso
Atributos
valor obtido escore valor obtido escore valor obtido escore valor obtido escore
Percentual de Characiformes e Siluriformes 78,6 3 81,2 3 80 3 80 3
Percentual de abundância de Poecilia reticulata
0 5 3,1 5 5 5 2 5
Percentual de indivíduos tolerantes à hipóxia 42 1 48 1 40 1 36 1
Riqueza de espécies nativas 14 5 15 5 14 5 14 5
Número de categorias tróficas 5 5 7 5 6 5 7 5
Riqueza de espécies nectônicas 2 3 2 3 2 3 2 3
Riqueza de espécies reofílicas 3 5 1 1 1 1 1 1
Percentual de indivíduos reofílicos 21,4 5 4,6 5 7,6 5 2,6 3
Dominância 10 5 10 5 11 5 14 5
Nota final 4,1 3,7 3,7 3,4
IBI BOM REGULAR REGULAR REGULAR
68
Tabela 11. Valores de cada atributo, seus respectivos escores, nota final e categoria de IBI obtidos com os dois protocolos de amostragem e em períodos seco e chuvoso no
trecho 2 do Córrego da Água Limpa.
Protocolo 2
Protocolo 1 Protocolo 2
Seco Chuvoso
Atributos
valor obtido escore valor obtido escore valor obtido escore valor obtido escore
Percentual de Characiformes e Siluriformes 73 1 58 1 73 1 60 1
Percentual de abundância de Poecilia reticulata
0 5 0,3 5 0 5 0,4 5
Percentual de indivíduos tolerantes à hipóxia 47,8 3 38,5 3 57 1 27 5
Riqueza de espécies nativas 11 3 18 5 11 3 16 5
Número de categorias tróficas 4 3 7 5 6 5 6 5
Riqueza de espécies nectônicas 1 1 2 3 1 1 2 3
Percentual de indivíduos que se abrigam na vegetação marginal 72,4 1 31,9 1 47,5 1 22,3 1
Percentual de indivíduos nectônicos 1,1 1 6,7 1 10,6 1 4,4 1
Riqueza de espécies reofílicas com hábito alimentar insetívoro aquático 0 0 0 0 0 0 0 0
Percentual de indivíduos de hábito insetívoro generalista 3,2 3 4,1 3 2,1 3 5 5
Nota final 2,1 2,7 2,1 3,1
IBI POBRE POBRE POBRE REGULAR
69
Tabela 12. Valores de cada atributo, seus respectivos escores, nota final e categoria de IBI obtidos com os dois protocolos de amostragem e em períodos seco e chuvoso no
trecho 3 do Córrego da Água Limpa.
Protocolo 2
Protocolo 1 Protocolo 2
Seco Chuvoso
Atributos
valor obtido escore valor obtido escore valor obtido escore valor obtido escore
Percentual de Characiformes e Siluriformes 75 1 62 1 67 1 60 1
Percentual de abundância de Poecilia reticulata
25 1 36 1 32,1 1 41,8 1
Percentual de indivíduos tolerantes à hipóxia 42,9 3 41,7 3 40 3 47 3
Riqueza de espécies nativas 7 3 12 5 8 1 9 3
Número de categorias tróficas 4 5 7 5 6 5 5 5
Percentual de indivíduos nectônicos 46,4 3 37,4 3 47,7 3 22 3
Percentual de indivíduos perifitívoros 0 1 0 1 0 1 0 1
Riqueza de espécies da família Curimatidae 0 0 0 0 0 0 0 0
Riqueza de espécies Characiformes-frugívoros/herbívoros 0 0 0 0 0 0 0 0
Riqueza de espécies piscívoras 0 0 0 0 0 0 0 0
Riqueza de espécies Siluriformes 3 3 2 1 1 1 2 1
Nota final 1,8 1,8 1,5 1,6
IBI MUITO POBRE MUITO POBRE MUITO POBRE MUITO POBRE
70
Tabela 13. Valores de cada atributo, seus respectivos escores, nota final e categoria de IBI obtidos com os dois protocolos de amostragem e em períodos seco e chuvoso no
trecho 4 do Córrego da Água Limpa.
Protocolo 2
Protocolo 1 Protocolo 2
Seco Chuvoso
Atributos
valor obtido escore valor obtido escore valor obtido escore valor obtido escore
Percentual de Characiformes e Siluriformes 75 1 78 3 80 3 73,3 1
Percentual de abundância de Poecilia reticulata
2,2 5 0,5 5 0 5 1 5
Percentual de indivíduos tolerantes à hipóxia 7,4 5 4,8 5 3,4 5 6,4 5
Riqueza de espécies nativas 15 3 17 3 15 3 14 3
Número de categorias tróficas 5 5 6 5 6 5 6 5
Riqueza de espécies reofílicas 4 3 6 5 6 5 4 3
Percentual de indivíduos reofílicos 79,9 5 69,9 5 74 5 66 5
Riqueza de espécies Characiformes-frugívoros/herbívoros 0 0 0 0 0 0 0 0
Riqueza de espécies Siluriformes 5 3 5 3 4 3 5 3
Nota final 3,3 3,8 3,8 3,3
IBI REGULAR REGULAR REGULAR REGULAR
71
3. Comentários Gerais
Um resumo dos resultados pode ser visto na Tabela 14. Houve pouca alteração
da integridade biótica perante diferentes esforços de amostragem e entre os períodos
seco e chuvoso. Por tais razões e para que seja possível comparar os quatro trechos do
Córrego da Água Limpa como outros estudos em andamento no noroeste do Estado de
São Paulo (L. Casatti dados não publicados), comparações com condições físico-
químicas e estruturais do hábitat serão conduzidas com o IBI calculado para o Protocolo
1 de amostragem.
Tabela 14. Índice de qualidade química da água (SWI), índice de integridade física do hábitat (PHI) e
índice de integridade biótica (IBI) calculado com diferentes métodos de amostragem e nos dois períodos
do ano para os quatro trechos estudados no Córrego da Água Limpa.
Trechos SWI PHI
IBI
Protocolo 1*
IBI
Protocolo 2**
IBI
Seco**
IBI
Chuvoso**
1
Bom Regular Bom Regular Regular Regular
2
Regular Pobre Pobre Pobre Pobre Regular
3
Bom Pobre Muito pobre Muito Pobre Muito Pobre Muito Pobre
4
Bom Regular Regular Regular Regular Regular
* duas passagens de pesca elétrica em 75 metros de extensão
** uma passagem de pesca elétrica em 60 metros de extensão
Paralelamente ao cálculo do IBI de cada trecho, foram também calculados o
Índice de Qualidade Química para riachos (“Stream Water Index”, SWI) e o Índice
Físico do Hábitat (“Physical Habitat Index” PHI), seguindo propostas e adaptações de
Casatti et al. (2006). Os detalhes das avaliações do SWI e PHI no Córrego da Água
Limpa estão apresentados e discutidos em Ferreira & Casatti (no prelo). O SWI foi
considerado bom para todos os trechos; por outro lado, o PHI foi considerado regular
para os trechos 1 e 4 e pobre para os trechos 2 e 3 (Tabela 14).
72
A integridade da biota aquática pode ser influenciada pela queda na qualidade
química da água (Karr 1993), representada tanto pela lavagem dos solos contendo
defensivos agrícolas e adubos à base de nitrogênio e fósforo (Brodie & Mitchell 2005)
quanto pela descarga de esgoto doméstico. Tais compostos, quando lançados na água,
podem reduzir as concentrações de oxigênio dissolvido que é consumido durante a
decomposição das altas quantidades de compostos orgânicos e conseqüentemente
ocasionar a mortandade de muitas espécies de peixes menos tolerantes a tais condições
(Eklöv et al. 1998). Um outro tipo de impacto ocorre em áreas mais urbanizadas, onde
as indústrias despejam seus efluentes químicos in natura nos rios que correm dentro das
cidades podendo levar ao aparecimento de diversas patologias nos peixes e ao acúmulo
de compostos tóxicos ao longo da cadeia trófica, além de eliminar espécies mais
sensíveis (DelVall et al. 1998, Eklöv et al. 1998). As condições registradas no Córrego
da Água Limpa indicam que a qualidade química da água não influencia diretamente a
integridade biótica local. Contudo, as nascentes desse riacho estão localizadas na
periferia do município de Neves Paulista, e uma medida para garantir que as boas
condições registradas sejam mantidas seria monitorar a descarga de efluentes
domésticos a fim de prevenir o lançamento de esgotos clandestinos.
Mais interligado, no entanto, se mostraram os resultados da integridade física do
hábitat e da integridade biótica de cada trecho. O trecho 1 apresentou integridade física
regular, refletindo principalmente a boa diversidade de meso-hábitats (poços, corredores
e corredeiras). Tal diversidade de hábitats permite a ocorrência de várias espécies com
características biológicas diferenciadas, tais como A. altiparanae e P. argentea, espécies
nectônicas, que ocupam a coluna d’água; A. fuscoguttatus e C. aeneus que forrageiam
no fundo arenoso; G. carapo que utiliza os bancos de gramíneas marginais para abrigo e
forrageio e H. nigromaculatus que ocorre nas corredeiras de substrato rochoso. A alta
73
diversidade de espécies e eqüitabilidade possivelmente estão associadas à maior
heterogeneidade de hábitats disponíveis (Ferreira & Casatti no prelo). Tais
características de estrutura e composição da ictiocenose se refletem no IBI do trecho 1,
que obteve os maiores escores nos atributos “número de espécies nativas”, “número de
espécies de corredeiras”, “percentual de espécies reofílicas”, “percentual de abundância
de P. reticulata” e “dominância”.
No trecho 2 o PHI foi considerado pobre, principalmente por ser um corredor
único, sem diversidade de hábitats e substrato instável, fatores que favoreceram algumas
espécies mais generalistas de hábitos bentônicos em fundo arenoso e, em contraste,
inviabilizaram a ocorrência de espécies reofílicas. Tais fatores também foram refletidos
no IBI; por exemplo, a abundância de gramíneas nas margens, ao longo de todo trecho,
disponibilizam um micro-hábitat que favorece a ocupação de G. carapo, espécie que,
sendo dominante no ambiente (Ferreira & Casatti no prelo), contribui como um atributo
de influência negativa no IBI. A elevada abundância de P. reticulata nesse trecho
também colaborou para a queda no resultado final do IBI, pois além de ser uma espécie
exótica, está geralmente associada a hábitats simplificados, alimenta-se de uma grande
variedade de recursos e possui poucas exigências quanto à disponibilidade de sítios para
reprodução (Reznick & Bryga 1987, Trexler 1988, Oliveira & Bennemann 2004). A
ausência de espécies reofílicas e o baixo percentual de espécies de Characiformes e
Siluriformes notadamente influenciaram o baixo valor do IBI neste trecho.
No trecho 3 foi marcante a baixa riqueza de espécies, quando comparado com a
condição referência e algumas características físicas podem estar diretamente associadas
à baixa integridade biótica encontrada neste trecho. A baixa estabilidade do substrato,
elevada turbidez e profundidade deste local podem inviabilizar o estabelecimento do
perifíton e, conseqüentemente, a ocorrência de espécies de hábitos perifitívoros, como
74
os parodontídeos e loricariídeos. A ausência de vegetação ripária, também inviabiliza a
ocorrência de espécies que se alimentam exclusivamente de material vegetal alóctone,
como frutos e sementes. Em razão da ausência dessas várias categorias de espécies, os
escores dos atributos “número de espécies nativas”, “percentual de indivíduos
perifitívoros”, “número de espécies da família Curimatidae”, “número de espécies de
Characiformes frugívoros ou herbívoros alóctones” e “número de espécies piscívoras”
receberam pontuação muito baixa ou não foram pontuados, influenciando
negativamente a nota final do IBI deste trecho, classificado como muito pobre.
O trecho 4, embora menos heterogêneo do que o trecho 1 em razão da
predominância de corredeiras, também mostrou integridade biótica regular. Tal
resultado se deve principalmente às características físicas do hábitat que disponibilizam
micro-hábitats para diversas espécies de hábitos reofílicos, especialmente Siluriformes,
influenciando positivamente o IBI. Além disso, em razão da forte correnteza, não foram
registrados micro-hábitats que seriam utilizados por espécies tolerantes e por P.
reticulata, contribuindo para que os escores desses atributos fossem altos.
Em síntese, mesmo com algumas limitações de avaliações da qualidade de
sistemas aquáticos através de informações detectadas nas comunidades de peixes,
notamos que os atributos biológicos, ao serem confrontados com as condições
referência, mostraram que a integridade biótica foi especialmente influenciada pela
qualidade estrutural do hábitat. A combinação de ferramentas de análise que incluem
informações físico-químicas, estruturais do hábitat e biológicas, tal como aplicada neste
estudo, permitirá realizar um monitoramento em longo prazo da micro-bacia em
questão, empregando pouco tempo de trabalho no campo, baixo custo e rápida liberação
de resultados.
75
É importante ressaltar que projetos de recuperação de matas ciliares
desenvolvidos em riachos muito impactados, principalmente por assoreamento e
homogeneização estrutural do hábitat, deveriam incluir estratégias de manejo do hábitat
interno, por exemplo a retirada de sedimento de locais muito assoreados, para uma
recuperação mais rápida da biota aquática. O fator que merece atenção é a necessidade
de preservação dos remanescentes florestais da região e, conseqüentemente, dos cursos
d’água que estes abrigam, para que possam ser utilizados como áreas de referência para
futuros estudos que envolvam avaliações do estado de conservação de ambientes
aquáticos.
4. Agradecimentos
Agradecemos à equipe do Laboratório de Ictiologia DZSJRP-IBILCE pelo
auxílio no campo; Francisco Langeani pelo auxílio na identificação taxonômica;
Alexandre M. Silva pela análise de uso e ocupação do solo da micro-bacia;
Departamento de Zoologia e Botânica e Programa de Pós-Graduação em Biologia
Animal IBILCE-UNESP pelo apoio; IBAMA pela licença de coleta (001/2003); 4º
Batalhão da Polícia Ambiental do Estado de São Paulo pelo auxílio na localização e
reconhecimento dos pontos de coleta; Ricardo M. C. Castro e Sirlei T. Bennemann por
valiosas sugestões. Este trabalho foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (FAPESP) dentro do Programa BIOTASP/FAPESP - O Instituto
Virtual da Biodiversidade (www.biota.org.br) - através do Auxílio à Pesquisa
“Avaliação da integridade biótica dos riachos da região noroeste do Estado de São
Paulo, bacia do Alto Paraná, utilizando comunidades de peixes” (FAPESP nº 01/13340-
7). As autoras foram bolsistas da FAPESP (processos nº 02/05996-2, 03/09612-7).
76
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85
C
ONCLUSÕES GERAIS
1. Houve significativa influência da estrutura física do hábitat de cada trecho sobre a
estrutura das ictiocenoses, sendo que os trechos com maior complexidade estrutural
apresentam ictiocenoses com maior diversidade específica e equitabilidade;
2. os valores IBI do Córrego da Água Limpa não foram expressivamente influenciados
pelo esforço de amostragem com pesca elétrica, de forma que duas passagens em 75
metros de extensão representaram um esforço adequado para avaliações dessa natureza
na região em questão;
3. a integridade biótica de cada trecho refletiu mais a qualidade física do hábitat do que
a qualidade química da água;
4. a combinação de ferramentas de análise que inclui informações físico-químicas,
estruturais do hábitat e biológicas, tal como aplicada neste estudo, permitirá realizar um
monitoramento em longo prazo da micro-bacia em questão, empregando pouco tempo
de trabalho no campo, baixo custo e rápida liberação de resultados;
5. os projetos de recuperação de matas ciliares em riachos muito impactados,
principalmente por assoreamento e homogeneização estrutural do hábitat, devem incluir
o manejo do hábitat interno para uma melhor resposta da biota aquática.
86
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