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GLEIDSON GIORDANO PINTO DE CARVALHO
CAPIM-ELEFANTE EMURCHECIDO OU COM FARELO DE CACAU NA
PRODUÇÃO DE SILAGEM
Tese apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Programa de Pós-
Graduação em Zootecnia, para
obtenção do tulo de Magister
Scientiae.
VIÇOSA
MINAS GERAIS - BRASIL
2006
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GLEIDSON GIORDANO PINTO DE CARVALHO
CAPIM-ELEFANTE EMURCHECIDO OU COM FARELO DE CACAU NA
PRODUÇÃO DE SILAGEM
Tese apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Programa de Pós-
Graduação em Zootecnia, para
obtenção do tulo de Magister
Scientiae.
APROVADA: 28 de abril de 2006.
Prof. Aureliano José Vieira Pires
(Conselheiro)
Prof. Odilon Gomes Pereira
(Conselheiro)
Prof
a
. Cristina Mattos Veloso Prof. José Antônio Obeid
Prof. Rasmo Garcia
(Orientador)
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ii
Aos meus pais adoráveis, Firmino de Carvalho Filho e Eliene Braga de Carvalho,
pelo apoio em meus estudos, pelo amor que me dedicaram e pelos bons exemplos de
vida que contribram para a formação de meu caráter e de meus valores.
Às minhas irmãs, Bruna Mara e Lorendane Milena, pelo amor, pela torcida nesta
minha caminhada e pela alegria que me passam a cada sorriso.
À minha querida e inesquecível Madrinha e avó Maria Conceição, pelo amor, pelo
carinho, pelo grande exemplo de ser humano, que, apesar de já não se encontrar mais
entre nós, se faz presença viva em minha vida e sempre foi torcida fiel a meu favor.
À minha namorada Rosangela, pelo amor, pela atenção e, especialmente, por sua
magnânima paciência e compreeno.
DEDICO
Ao Prof. Aureliano José Vieira Pires, pela amizade e confiança, e por todos os
ensinamentos prestados durante essa caminhada.
OFEREÇO
iii
AGRADECIMENTOS
A Deus, por sempre iluminar meus caminhos.
À Universidade Federal de Viçosa (UFV), em especial ao Departamento de
Zootecnia (DZO), pela oportunidade concedida para realização deste Curso.
À Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), por disponibilizar suas
instalações para a montagem do experimento.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
pela concessão da bolsa de estudo.
Ao Prof. Rasmo Garcia, pela orientação inestimável, pela atenção e disposição,
pela acessibilidade e pelo grande exemplo de conduta profissional.
Ao Prof. Aureliano José Vieira Pires, pela co-orientação e apoio, pela sincera
amizade e pela contribuição ao meu desenvolvimento pessoal e profissional, desde o
ínicio da graduação.
Ao Prof. Odilon Gomes Pereira, pela co-orientação, pela atenção efetiva,
prestada em todos os momentos, e pelas sugestões que muito contribuíram durante a
condução do trabalho.
À querida Prof
a
. Cristina Mattos Veloso, pelo constante apoio, pela amizade e
pelo inestimável papel em minha formação profissional e como indivíduo, através do
exemplo de trabalho, serenidade, ética e constante aprendizado.
Ao Prof. Fabiano Ferreira da Silva, pela amizade e orientação enquanto aluno de
graduação, período indispenvel para o estímulo do meu interesse pela pesquisa.
Ao Prof. Herymá Giovane de Oliveira Silva, pela amizade, pelos ensinamentos e
por transmitir tanta energia positiva em nossas conversas.
iv
Aos amigos Alyson (Merominho), Fabrício (Tanquinho) e Danilo (Pegador),
pelo apoio irrestrito na condução do experimento e pelos momentos de descontração
que, apesar do curto tempo, serão sempre lembrados.
Ao Prof. Robério Rodrigues Silva, pela amizade e pelo exemplo de força de
vontade e perseverança.
Ao amigo Mário Camarão, pelo apoio e pelas papagaiadas.
À amiga Carla Paraíba, pela amizade e carinho e pelo exemplo de consciência,
dedicação e força de vontade.
Ao amigo Francisco Éden, pelo apoio na realização das análises laboratoriais.
A Lorena, pela amizade e pelo apoio nas análises laboratoriais.
Ao companheiro de república, meu peixe, Manoel Mota, pela fraternal amizade,
pelo companheirismo e pelo exemplo de conduta.
Ao colega de república, Aurélio Vaz, que apesar da jovem amizade, muito me
diverte com os seus casos.
Ao companheiro Sebastião Peluzio, pela amizade e pela disposição a todo
momento e a qualquer hora.
Ao Professor Paulo Cecon (UFV), pelo auxílio na execução das análises
estatísticas.
Ao colega de pós-graduação José Augusto, pela amizade, pelo apoio irrestrito e
pelo auxílio na execução das análises estatísticas.
Aos amigos e colegas de curso Cacau, JJ, Mônica, Jucy, Tonucci, Andréia, Juliana
e Ronaldinhos (Edson e Goiano), pela agradável convivência.
Ao funcionário do Laboratório de Forragicultura, Raimundo, pelo apoio sempre
que necessário.
À secretária da pós-graduação, Celeste, pela clareza e precisão nas informações e
por estar sempre bem disposta.
À minha querida tia Lana, pelo apoio e incentivo em meus estudos, pelo carinho e
por estar sempre disposta a ajudar.
À minha querida tia Ennia Débora, pelo exemplo de dedicação e perfeição, pelo
apoio em meus estudos e por ter sempre me impulsionado e mostrado o caminho certo,
mesmo quando tudo parecia perdido.
Ao meu avô Admar Braga, pelo constante incentivo, pelo carinho e pelos
momentos de descontração.
À minha querida tia Suely, pelo carinho e pelo exemplo de bondade.
v
À minha namorada Rosangela, pelo amor, pela paciência e por acreditar que tudo
seria possível.
Ao meu queridinho João Victor, que muito me alegra com seu jeito de ser e que,
apesar de ainda pequenino, já é um grande exemplo de sinceridade, honestidade e
ternura.
Às minhas irmãs Bruna e Lorandane, por tanto amor.
Aos meus pais Firmino e Eliene, que me apoiaram e incentivaram sempre,
obrigado por serem tão maravilhosos.
vi
BIOGRAFIA
GLEIDSON GIORDANO PINTO DE CARVALHO, filho de Firmino de
Carvalho Filho e Eliene Braga de Carvalho, nasceu em 05 de março de 1980, na cidade
de Várzea da Palma - MG.
Concluiu o Curso de Graduação em Zootecnia em dezembro de 2004, na
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Itapetinga - BA.
Em março de 2005, iniciou o Curso de Mestrado em Zootecnia, na Universidade
Federal de Viçosa (UFV), concentrado estudos na área de Forragicultura e Pastagem, e,
em 28 de abril de 2006, defendeu tese de mestrado.
Em dezembro de 2005, foi aprovado em seleção para Cursar o Doutorado em
Zootecnia na Universidade Federal de Viçosa (UFV), com início das aulas previsto para
15 de maio de 2006.
vii
CONTEÚDO
Página
LISTA DE TABELAS................................................................................................... ix
LISTA DE FIGURAS....................................................................................................
xii
RESUMO.......................................................................................................................
xii
ABSTRACT................................................................................................................... xv
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................
1
1.1. LITERATURA CITADA.................................................................................... 3
Catulo 1: Valor Nutritivo e Características Fermentativas da Silagem de Capim-
Elefante Emurchecido ou com Farelo Cacau ................................................................
5
Resumo...........................................................................................................................
5
Abstract..........................................................................................................................
6
Introdução...................................................................................................................... 7
Material e Métodos........................................................................................................ 9
Resultados e Discussão.................................................................................................. 12
Conclusões..................................................................................................................... 23
Literatura Citada............................................................................................................ 24
Capítulo 2: Fracionamento de Carboidratos e Proteínas de Silagem de Capim-
Elefante Emurchecido ou com Farelo de Cacau ...........................................................
27
Resumo.......................................................................................................................... 27
Abstract..........................................................................................................................
28
Introdução...................................................................................................................... 29
Material e Métodos........................................................................................................ 31
viii
Resultados e Discussão.................................................................................................. 34
Conclusões.....................................................................................................................
43
Literatura Citada............................................................................................................ 44
Capítulo 3: Degradação Ruminal de Silagem de Capim-Elefante Emurchecido ou
com Farelo de Cacau......................................................................................................
47
Resumo.......................................................................................................................... 47
Abstract..........................................................................................................................
48
Introdução...................................................................................................................... 49
Material e Métodos........................................................................................................ 51
Resultados e Discussão..................................................................................................
55
Conclusões.....................................................................................................................
64
Literatura Citada............................................................................................................ 65
2. Conclusões Gerais..................................................................................................... 68
ix
LISTA DE TABELAS
Capítulo 1:
Página
Tabela 1 - Teores médios de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO),
proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro
(FDN), fibra em detergente neutro isenta de cinzas e proteína
(FDN
CP
), fibra em detergente ácido (FDA), cinzas, lignina,
celulose, hemicelulose, nitrogênio insolúvel em detergente neutro
(NIDN), nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA),
carboidratos totais (CHO), carboidratos não fibrosos (CNF),
carboidratos solúveis (CHOs), pH e digestibilidade in vitro da
matéria seca (DIVMS) do capim-elefante e do farelo de cacau.........
10
Tabela 2 -
Teores médios de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO),
nitrogênio total (NT), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em
detergente neutro isenta de cinza e proteína (FDN
CP
), fibra em
detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE), celulose (CEL),
hemicelulose (HEM), lignina (LIG), nitrogênio insolúvel em
detergente neutro (NIDN), nitrogênio insolúvel em detergente
ácido (NIDA), cinzas, nutrientes digestíveis totais (NDT) e
digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) das silagens de
capim-elefante emurchecido (EMUR) e não emurchecido com
farelo de cacau....................................................................................
12
Tabela 3 -
Equação de regreso, coeficiente de variação (CV) e coeficiente
de determinação obtidos para os teores de matéria seca (MS),
matéria orgânica (MO), nitrogênio total (NT), fibra em detergente
neutro (FDN), fibra em detergente neutro isenta de cinza e proteína
(FDN
CP
), fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE),
celulose (CEL), hemicelulose (HEM), lignina (LIG), nitrogênio
insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitronio insolúvel em
detergente ácido (NIDA) e cinzas, em função dos níveis de farelo
de cacau no capim-elefante não emurchecido....................................
13
Tabela 4 - Média de pH e dos teores de carboidratos solúveis (CHOs),
nitrogênio amoniacal (N-NH
3
), ácido lático (ALAT), ácido acético
x
(AACET), ácido propiônico (APROP) e ácido butírico (ABUT) das
silagens de capim-elefante emurchecido (EMUR) e não
emurchecido com farelo de cacau...................................................... 19
Tabela 5 -
Equação de regreso, coeficiente de variação (CV) e coeficiente
de determinação obtidos para os valores de pH e teores de
carboidratos solúveis (CHOs), nitrogênio amoniacal (N-NH
3
),
ácido lático (ALAT), ácido acético (AACET), ácido propiônico
(APROP) e ácido butírico (ABUT), em função dos níveis de farelo
de cacau no capim-elefante não emurchecido....................................
20
Capítulo 2:
Tabela 1: Teores médios de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO),
proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro
(FDN), fibra em detergente neutro isenta de cinzas e proteína
(FDN
CP
), fibra em detergente ácido (FDA), cinzas, lignina,
celulose, hemicelulose, nitrogênio insolúvel em detergente neutro
(NIDN), nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA),
carboidratos totais (CHO), carboidratos não fibrosos (CNF),
carboidratos solúveis (CHOs), pH e digestibilidade in vitro da
matéria seca (DIVMS) do capim-elefante e do farelo de cacau.........
32
Tabela 2 -
Teores médios de carboidratos totais (CHO), protna bruta (PB),
carboidratos não fibrosos (A+B1), componentes da parede celular
disponíveis, que correspondem à fração potencialmente degradável
(B2), fração indigestível da parede celular (FDNi), fração
constituída de nitrogênio não protéico (A), fração de rápida e de
intermediária degradação (B1+B2), fração de lenta degradação
(B3) e fração não digestível (C), das silagens de capim-elefante
emurchecido (EMUR) e não emurchecido com farelo de
cacau...................................................................................................
34
Tabela 3 -
Equação de regreso, coeficiente de variação (CV) e coeficiente
de determinação obtidos para os teores de carboidratos não fibrosos
(A+B1), componentes da parede celular disponíveis, que
correspondem à fração potencialmente degradável (B2), fração
indigestível da parede celular (FDNi), fração constituída de
nitrogênio não protéico (A), fração de rápida e de intermediária
degradação (B1+B2), fração de lenta degradação (B3) e fração não
digestível (C), em função dos níveis de farelo de cacau no capim-
elefante não emurchecido...................................................................
36
Capítulo 3:
Tabela 1 -
Teores médios de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO),
proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro
(FDN), fibra em detergente neutro isenta de cinzas e proteína
(FDN
CP
), fibra em detergente ácido (FDA), cinzas, lignina,
celulose, hemicelulose, nitrogênio insolúvel em detergente neutro
(NIDN), nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA),
carboidratos totais (CHO), carboidratos não fibrosos (CNF),
xi
carboidratos solúveis (CHOs), pH e digestibilidade in vitro da
matéria seca (DIVMS) da silagem de milho e do concentrado
fornecidos aos animais durante o ensaio de incubação ruminal.........
52
Tabela 2 -
Teores médios de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO),
proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro
(FDN), fibra em detergente neutro isenta de cinzas e proteína
(FDN
CP
), fibra em detergente ácido (FDA), cinzas, lignina,
celulose, hemicelulose, nitrogênio insolúvel em detergente neutro
(NIDN), nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA),
carboidratos totais (CHO), carboidratos não fibrosos (CNF),
carboidratos solúveis (CHOs), pH e digestibilidade in vitro da
matéria seca (DIVMS) do capim-elefante e do farelo de cacau.........
53
Tabela 3 - Estimativa dos parâmetros de degradadabilidade ruminal da
matéria seca (MS), da protna bruta (PB) e da fibra em detergente
neutro (FDN) das silagens de capim-elefante (CE) incubadas no
men..................................................................................................
56
Tabela 4 -
Degradabilidade potencial (DP) e efetiva (DE) da matéria seca
(MS), da proteína bruta (PB) e da fibra em detergente neutro (FDN)
das silagens de capim-elefante (CE), calculadas para taxas de
passagem de 2, 5 e 8%/h.....................................................................
57
xii
LISTA DE FIGURAS
Capítulo 1:
Página
Figura 1 - Estimativa dos valores de nutrientes digestíveis totais (NDT) e
digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) das silagens em
função de diferentes níveis de farelo de cacau...................................
17
Capítulo 2:
Figura 1: Estimativa dos teores de carboidratos totais (CHO) das silagens em
função de diferentes níveis de farelo de cacau...................................
35
Figura 2 - Estimativa dos teores de proteína bruta (PB) das silagens em
função de diferentes níveis de farelo de cacau................................... 39
Capítulo 3:
Figura 1 - Degradabilidade da matéria seca (MS) de silagens de capim-
elefante (CE) emurchecido ou com farelo de cacau (FC), em função
dos períodos de incubação no rúmen, estimada pela equação: = A
+ B x (1 - e
-ct
)......................................................................................
59
Figura 2 - Degradabilidade da proteína bruta (PB) de silagens de capim-
elefante (CE) emurchecido ou com farelo de cacau (FC), em função
dos períodos de incubação no rúmen, estimada pela equação: = A
+ B x (1 - e
-ct
)......................................................................................
60
Figura 3 - Degradabilidade da fibra em detergente neutro (FDN) de silagens
de capim-elefante (CE) emurchecido ou com farelo de cacau (FC),
em função dos períodos de incubação no rúmen, estimada pela
equação: = B
P
x e
-ct
+ I
P
...................................................................
62
xiii
RESUMO
CARVALHO, Gleidson Giordano Pinto de, M.S. Universidade Federal de Viçosa, abril
de 2006. Capim-elefante emurchecido ou com farelo de cacau na produção de
silagem. Orientador: Rasmo Garcia. Conselheiros: Aureliano José Vieira Pires e
Odilon Gomes Pereira.
Três experimentos foram conduzidos para avaliar a qualidade da silagem de
capim-elefante colhido aos 50 dias de rebrota e submetido ao emurchecimento ao sol
por oito horas ou a adição de 0, 7, 14, 21 e 28% de farelo de cacau (FC) (base da
matéria natural). Foram utilizados silos de PVC com capacidade para 5,3 litros, que
foram abertos 45 dias após o processo de ensilagem. No experimento I, a inclusão do
FC no capim-elefante mostrou-se eficiente em aumentar o teor de MS da silagem. A
adição de 7% de FC permitiu produção de silagem com teor de MS semelhante (P>0,05)
ao do tratamento emurchecido. As silagens com FC apresentaram maiores teores de
nitrogênio total, extrato etéreo, lignina, nitrogênio insolúvel em detergente neutro e
nitrogênio insolúvel em detergente ácido. Por outro lado, reduções nos teores de fibra
em detergente neutro, fibra em detergente ácido, celulose, hemicelulose, cinza,
nutrientes digestíveis totais (NDT) e digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS)
foram detectadas com a adição do FC. O NDT estimado para o tratamento emurchecido
foi superior ao dos demais tratamentos com e sem FC. Embora o FC tenha promovido
redução da DIVMS, a inclusão dos níveis de 7 e 14% proporcionou digestibilidade das
silagens acima de 60%. No tocante às variáveis inerentes às características
fermentativas das silagens, o pH e os carboidratos solúveis reduziram e aumentaram,
respectivamente, de forma linear (P<0,05). O teor de nitrogênio amoniacal aumentou
xiv
linearmente, contudo, não se observou diferença estatística nos teores de ácidos
orgânicos das silagens com FC quando comparados ao tratamento emurchecido. Ao
considerar-se apenas a inclusão do FC, o mesmo provocou aumento linear no teor de
ácido lático. O emurchecimento e o FC podem ser utilizados como alternativas para
aumentar o teor de MS da silagem. No experimento II, foi estudado as frações que
constituem os carboidratos totais (CHO) a proteína bruta (PB) das silagens. O
tratamento emurchecido apresentou teor de CHO semelhante aos tratamentos com 14 e
21% de FC. De toda forma, a análise de regressão detectou redução linear desta fração
para os tratamentos com FC. As frações dos CHO das silagens foram influenciadas
pelas adições de FC, constatando-se maiores teores de A+B1 e FDNi e menores de B2
com a inclusão dos níveis de FC. Para todas as frações de carboidrato e de proteína
estimadas, o tratamento emurchecido apresentou valores semelhantes (P>0,05) ao
tratamento sem emurchecimento. As frações protéicas foram influenciadas pelas adições
de FC, verificando-se redução dos teores das frações A e B1+B2 e aumentos das frações
B3 e C, para os níveis crescentes de farelo. No experimento III, foram avaliados os
parâmetros cinéticos da degradação ruminal da MS, PB e FDN. A inclusão do FC
reduziu o potencial de degradação da MS, tendo sido observados maiores valores nos
tratamentos emurchecido e não emurchecido. Por outro lado, a degradabilidade
potencial da PB e da FDN sofreu pequenas variações, com os valores médios situando-
se próximos de 80 e 46%, respectivamente. Considerando a taxa de passagem de 5%/h,
todos os tratamentos apresentaram elevada degradabilidade efetiva da PB (acima de
55%). Embora as estimativas da degradação ruminal de silagens com FC tenham
apresentado tendência de redução, todas as silagens apresentaram degradabilidade
potencial da MS e da PB acima de 65 e 75%, respectivamente.
xv
ABSTRACT
CARVALHO, Gleidson Giordano Pinto de, M.S. Universidade Federal de Viçosa,
April, 2006. Elephantgrass wilted or with cocoa meal in silage production.
Adviser: Rasmo Garcia. Committee members: Aureliano José Vieira Pires and
Odilon Gomes Pereira.
Three experiments ware conducted to evaluate the silage quality of elephantgrass
harvested at 50 days after cutting and submitted to wilting on sun for eight hours or to
the addition of 0, 7, 14, 21 and 28% (natural base) of cocoa meal (CM). It were used
PVC silos with 5.3 liters capacity, which were opened 45 days after ensilage process. In
experiment I, the CM added to elephantgrass was efficient to increase the silage DM
content. The addition of 7% of CM showed a DM content similar (P>.05) that found for
wilted elephantgrass. Total nitrogen, ether extract, lignin, neutral detergent insoluble
nitrogen and acid detergent insoluble nitrogen contents were lighter with CM in silages
than silages obtained with wilted elephantgrass. The addiction of CM caused reduction
in neutral detergent fiber, acid detergent fiber, cellulose, hemicellulose, ashes, total
digestives nutrients (TDN), and in vitro dry matter digestibility (IVDMD). The
estimated TDN to wilted treatment was greater than the other treatments with or without
CM. Although the CM had provided reduction in the IVDMD, the 7 and 14% levels of
inclusion resulted in highest digestibility of the silages (over 60%). Linear increase for
pH and linear reduction for soluble carbohydrates on silages were observed as a result
of the addition of CM (P<.05). The ammoniacal nitrogen content increased linearly;
however, no statistical difference was observed in organic acids contents of silages with
CM when compared to silages obtained from wilted treatment. There was a linear
xvi
increase of lactic acid with the addition of CM. The wilted treatment and CM can be
used as alternatives to increase DM content of silages. In the experiment II, were
studied the fractions that constitute the total carbohydrates (CHO) and crude protein
(CP). The wilted treatment showed CHO content similar to treatments with 14 and 21%
CM. The regression analysis detected linear reduction of this fraction to treatments with
addition of CM. The silages CHO fractions were influenced by CM additions, observing
highest contents of A+B1 and NDFi and smallest. To all carbohydrate and protein
estimated fractions, the wilted treatment showed similar values (P>.05) to the treatment
without wilting. The protein fractions were influenced by CM additions, verifying
reduction in contents of A and B1+B2 fractions and increasing in B3 and C fractions. In
the experiment III, the DM, CP and NDF rumen degradation kinetic parameters were
evaluated. To DM, the CM inclusion reduced the degradation potential, which showed
highest values to wilted and no wilted treatments. The CP and NDF potential
degradability suffered small variations, with mean values near 80 and 46%,
respectively. Considering the 5%/h passage rate, all the treatments showed high CP
effective degradability (over 55%). Although the rumen degradation estimative silages
with CM showed a reduction tendency, all silages showed potential degradability to DM
and CP over 65 and 75%, respectively.
1
1. INTRODUÇÃO
O capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum. cv. Napier), uma das plantas
forrageiras mais difundidas em nosso meio, por ser perene com alto potencial de
produção e pela sua qualidade intrínseca, apresenta-se como alternativa
economicamente mais atrativa do que o estabelecimento de uma cultura anual para
produção de silagem (Rezende et al., 2002).
Para a produção de silagem, o capim-elefante deve ser colhido com 50 a 60 dias
de desenvolvimento, após um corte de uniformização, quando a planta apresenta melhor
valor nutritivo (Lavezzo, 1985). Entretanto, Vilela (1990) relatou que o momento de
corte adequado seria quando o capim-elefante estivesse com 70 dias de crescimento.
Contudo, verifica-se que o teor de matéria seca (MS) da planta nesta idade é muito
baixo, 15 a 20%, o que não é recomendado para o processo de ensilagem. Tendo em
vista obter silagem de bom valor nutritivo, Faria (1986) relatou que o teor de MS para a
fermentação adequada está entre 30 e 35%, dependendo da espécie a ser utilizada.
Silagens produzidas com forrageiras contendo baixo teor de MS desencadeiam
perdas por efluente e propiciam o desenvolvimento de bactérias do gênero Clostridium,
devido ao excesso de umidade da forragem. O desenvolvimento dessas bactérias produz
fermentações secundárias indesejáveis, havendo a formação de ácido butírico, o que
caracteriza silagens de baixa qualidade, ocorrendo, concomitantemente degradação de
proteína e de ácido lático (McDonald et al, 1991). Um outro fator que afeta a produção
de silagem de boa qualidade é o teor de carboidratos solúveis, pois os capins tropicais,
além de conterem elevado teor de umidade, normalmente são pobres em carboidratos
solúveis, características que reduzem o sucesso da ensilagem. O desenvolvimento de
bactérias desejáveis no interior do silo, sobretudo as láticas, depende essencialmente da
presença de carboidratos solúveis. Com a adequada produção de ácido lático e a rápida
2
redução do potencial hidrogeniônico (pH), são estabelecidas condições necessárias para
inibição da atividade proteolítica das enzimas vegetais e da proliferação das bactérias
indesejáveis (Muck, 1988).
O problema de excesso de umidade da forragem para produção de silagem,
quando a planta tem alto valor nutritivo, tem merecido a atenção de pesquisadores.
Diversos trabalhos têm sido realizados com o propósito de avaliar alternativas ou meios
viáveis que possam beneficiar o processo fermentativo de silagens de capim-elefante,
como a adição de alimentos ricos em carboidratos (Rodrigues et al., 2005), inoculantes
enzimo-bacterianos (Henrique & Bose, 1992), produtos com elevados teores de MS
(Bernardino et al., 2005) e substâncias nitrogenadas (Singh & Pandita, 1984), além da
realização do pré-emurchecimento (Ferrari Júnior & Lavezzo, 2001).
O farelo de cacau (FC) é o subproduto gerado na industrialização das sementes do
cacau, para produção de manteiga ou chocolate (Brasil, 1998). Considerando-se que o
FC representa 10% da produção das amêndoas secas de cacau (IBGE, 2005), estima-se
que a produção brasileira desse subproduto foi de 23.978,6 t em 2005.
Em estudos recentes, foi demonstrado que o FC substitui com sucesso
concentrados de elevado custo, como o milho e o farelo de soja, na alimentação de
ruminantes (Cunha Neto, 2004; Pires et al., 2004; Pires et al., 2005). Além disso, se
adicionado à ensilagem de capim-elefante com alta umidade, ele poderá atuar como
sequestrante de umidade e promover aumento dos teores de MS, uma vez que possui
elevado conteúdo desta fração (90%) (Carvalho et al., 2004).
O experimento foi conduzido para determinar o valor nutritivo, as características
fermentativas, as frações que compõem os carboidratos e proteínas e a degradabilidade
ruminal da silagem de capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum. cv. Napier),
emurchecido ou com diferentes níveis de farelo de cacau.
3
1.1. LITERATURA CITADA
BERNARDINO, F.S.; GARCIA, R.; ROCHA, F.C. et al. Produção e características do
efluente e composição bromatológica da silagem de capim-elefante contendo diferentes
veis de casca de café. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, n.6, p.2185-2291, 2005.
BRASIL. Ministério da Agricultura e Abastecimento. Compêndio Brasileiro de
Alimentação Animal. Brasília: Sindirações/Anfar; CBNA; SDR/MA, 1998. 12p.
CARVALHO, G.G.P. de.; PIRES, A.J.V.; SILVA, F.F. et al. Comportamento ingestivo
de cabras leiteiras alimentadas com farelo de cacau ou torta de dendê. Pesquisa
Agropecuária Brasileira, v.39, n.9, p.919-925, 2004.
CUNHA NETO, P.A. Capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum.) amonizado,
farelo de cacau (Theobroma cacao L.) e torta de dendê (Elaeis guineensis, Jacq) na
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5
Valor Nutritivo e Características Fermentativas de Silagens de Capim-Elefante
Emurchecido ou com Farelo de Cacau
RESUMO: O experimento foi conduzido para avaliar o valor nutritivo e as
características fermentativas da silagem de capim-elefante submetido ao
emurchecimento ou à adição de diferentes níveis de farelo de cacau. O capim-elefante
utilizado foi colhido aos 50 dias de rebrota após o corte de uniformização e submetido
aos seguintes tratamentos na ensilagem: capim-elefante emurchecido ao sol por oito
horas, e capim-elefante sem emurchecimento com veis de 0, 7, 14, 21 e 28% de farelo
de cacau (FC) (% da matéria natural). Foram utilizadas quatro repetições por
tratamento, sendo o material acondicionado em silos de PVC com capacidade para 5,3
litros, que foram abertos após 45 dias. A inclusão do FC no capim-elefante mostrou-se
eficiente em aumentar o teor de MS da silagem. O tratamento com 7% de inclusão de
FC permitiu a produção de silagem com teor de MS semelhante ao do tratamento
emurchecido (P>0,05). As silagens com FC apresentaram maiores teores de NT, EE,
lignina, NIDN e NIDA. Por outro lado, reduções nos teores de FDN, FDA CEL, HEM,
cinzas, NDT e DIVMS foram detectadas com a adição do FC. O NDT estimado para o
tratamento emurchecido foi superior ao dos demais tratamentos com e sem FC. Embora
o FC tenha promovido redução da DIVMS, a inclusão dos níveis de 7 e 14%
proporcionou digestibilidade elevada das silagens (acima de 60%). No tocante às
variáveis inerentes às características fermentativas das silagens, o pH e os CHO
S
reduziu e aumentaram, respectivamente, de forma linear (P<0,05). O teor de N-NH
3
aumentou linearmente, contudo, não se observou diferença estatística nos teores dos
ácidos orgânicos das silagens com FC quando comparados ao tratamento emurchecido.
Ao considerar-se apenas a inclusão do FC, o mesmo provocou um aumento linear no
teor de ALAT. A qualidade fermentativa da silagem de capim-elefante melhorou com a
adição de FC. O emurchecimento e o FC podem ser utilizados como alternativas para
aumentar o teor de MS da silagem e produzir silagens de bom valor nutritivo.
Palavras-chave: ácidos orgânicos, fermentação, forrageira, Pennisetum purpureum,
subproduto, Theobroma cacao
6
Nutritive Value and Fermentation Characteristics of Silage of Elephantgrass
Wilted or with Cocoa Meal
ABSTRACT: The experiment was conducted to evaluate the nutritive value and
fermentation characteristics of silage on the submitted elephantgrass forage to wilting
under the sun light for eight hours. Other treatments involved the same elephantgrass
without exposing to sun light but with addition of 0, 7, 14, 21, and 28% of cocoa meal
(CM) at the ensilage processing. The PVC silos used in the experiment were 5.3 liters in
capacity, and were opened in 45 days. The addition of CM on elephantgrass showed to
be efficient to increase silage DM content. The treatment of 7% addition of CM
produced DM content similar to the wilted treatment (P>.05). The treatments involving
addition of CM presented high total nitrogen, ether extract, lignin, neutral detergent
insoluble nitrogen and acid detergent insoluble nitrogen contents. Reductions in neutral
detergent fiber, acid detergent fiber, cellulose, hemicellulose, ashes, total digestives
nutrients (TDN), and in vitro dry matter digestibility (IVDMD) contents were detected
with the addiction of CM. The estimated TDN to wilted treatment was greater than the
other treatments with or without CM. Although the CM had provided reduction in
IVDMD, the 7 and 14% levels of inclusion resulted in elevated digestibility of the
silages (over 60%). Relative to variables inherent to silages fermentation characteristic,
pH and soluble carbohydrates, they showed linear reduction and increase, respectively
(P<.05). The ammoniacal nitrogen content increased linearly; however, no statistical
difference was observed in organic acids contents of silages with CM when compared to
wilted treatment. Considering only the CM inclusion, it caused a linear increase of lactic
acid content. The wilting and CM can be used as alternatives to increase silage DM
content.
Key words: organic acids, fermentation, roughage, Pennisetum purpureum, by-product,
Theobroma cacao
7
Introdução
A irregularidade das chuvas constitui-se em fator limitante para a produção de
forrageiras, tanto para espécies exóticas como nativas. Todavia, além da adaptação
edafo-climática das espécies, o manejo inadequado pode impedir o melhor
aproveitamento de forrageiras com alto potencial produtivo.
Originário da África, o capim-elefante é uma das forrageiras com maior potencial
para utilização na forma de silagem, principalmente por sua alta produção de matéria
seca (MS) e pelo equilíbrio de nutrientes quando novo, sendo cultivado em todo o Brasil
(Lopes et al., 2000; Queiroz Filho et al., 2000). Entretanto, a presença do alto teor de
umidade no momento ideal para o corte e o baixo teor de carboidratos solúveis na
maioria das gramíneas forrageiras, o fatores que inibem o adequado processo
fermentativo e dificultam a produção de silagens de boa qualidade (Ferrari Júnior &
Lavezzo, 2001).
A conservação de uma determinada forrageira como silagem, envolve um
complexo processo bioquímico e microbiológico, desde a colheita até a sua utilização
na alimentação animal. A forrageira ensilada é conservada por produtos originados da
fermentação anaeróbica e, normalmente, os critérios utilizados para classificação de
silagens abrangem os valores de pH, os ácidos orgânicos e o nitronio amoniacal
(Vilela, 1998).
A ensilagem de forrageiras com baixo teor de MS quase sempre resulta, em
silagem de baixa qualidade, pois, dentre os problemas observados, o evidenciados
grande produção de efluentes, desenvolvimento de bactérias do gênero Clostridium,
com perdas de MS e de valor nutritivo do material. Além disso, o consumo de MS pode
ser reduzido por ocasião do fornecimento de forragens com teor de umidade elevado
(McDonald et al., 1991).
Na tentativa de aumentar o teor de MS e a concentração de carboidratos solúveis
de gramíneas como o capim-elefante no momento da ensilagem, o emurchecimento do
material e o uso de aditivos são técnicas que têm sido recomendadas (Tosi et al., 1995;
Tosi et al., 1999). Todavia, a perda de umidade por exposição ao sol nem sempre é
satisfatória, pois o diâmetro dos colmos do capim-elefante dificulta a migração de água
do interior para a periferia destes (Tosi et al., 1999). O emurchecimento do capim
aumenta o tempo entre o corte e a vedação do silo, resultando em maiores perdas devido
ao processo respiratório e à atividade proteolítica da planta, que resultam na redução
dos substratos fermentáveis e aumento do nitrogênio não protéico (McDonald et al.,
8
1991). Além disso, a adoção desta prática aumenta os gastos com mão-de-obra (Souza
et al., 2003).
Por outro lado, alguns autores (Machado Filho & Mühlbach, 1986; Vilela, 1990)
têm verificado que, deixando o capim-elefante cortado e exposto ao sol por 6 a 12
horas, ocorre aumento no teor de MS, que, embora não permita a obtenção de material
com 30 a 35% de MS, desejável para a ensilagem (Muck, 1988), propicia a obtenção de
silagens de boa qualidade.
Além do emurchecimento, outras alternativas podem ser adotadas para a
ensilagem do capim-elefante quando novo. Tanto o rolão de milho (Andrade, 1995)
quanto o grão de milho triturado têm sido adicionados na ensilagem do capim-elefante,
propiciando silagens com fermentação adequada e nutricionalmente convenientes.
Ferrari Júnior & Lavezzo (2001) avaliaram a qualidade da silagem de capim-
elefante emurchecido e, ou, acrescido de farelo de mandioca. Os autores destacaram que
o processo de emurchecimento pela exposição do capim ao sol aumentou o teor de MS
da forragem, favorecendo o processo de ensilagem e a qualidade, sendo aquele com
12% de farelo de mandioca o mais eficiente.
O farelo de cacau é um subproduto resultante da industrialização da amêndoa do
cacau, para a obtenção da manteiga do cacau e do chocolate, que, também tem sido
utilizado com sucesso na alimentação de ruminantes. Silva et al. (2005) relataram
valores de 86,14 e 13,62%, respectivamente, para os teores de MS e proteína bruta.
Assim, por apresentar elevado conteúdo de MS e propriedades higroscópicas, se
adicionado ao capim-elefante no momento da ensilagem, poderá atuar como aditivo
sequestrante de umidade, promovendo acréscimo no teor de MS, propiciando, portanto,
silagens de bom valor nutritivo e adequadas características fermentativas.
O experimento foi conduzido para determinar o valor nutritivo e as características
fermentativas da silagem de capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum. cv.
Napier) submetido ao emurchecimento ou à adição de diferentes níveis de farelo de
cacau (Theobroma cacao L.).
9
Material e Métodos
Foi utilizado o capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum. cv. Napier),
proveniente de uma capineira estabelecida em um solo classificado do tipo chernossolo
argilúvio, ótico, pico, estruturado hipereutrófico, com textura argilosa, fase floresta
subcaducifólia e relevo ondulado (EMBRAPA, 1999), pertencente à Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB, Itapetinga, BA.
O capim foi submetido a um corte de uniformização, a uma altura média de 10 cm
do solo e após 50 dias de rebrota, o capim foi colhido manualmente, sendo picado em
fragmentos médios de 2 cm em ensiladeira estacionária e submetido aos seguintes
tratamentos para ensilagem:
A – capim-elefante emurchecido ao sol por 8 horas;
B capim-elefante sem emurchecimento;
C – capim-elefante (93%) mais farelo de cacau (7%);
D – capim-elefante (86%) mais farelo de cacau (14%);
E – capim-elefante (79%) mais farelo de cacau (21%);
F – capim-elefante (72%) mais farelo de cacau (28%).
Na obtenção do capim-elefante emurchecido para produção de silagem que
caracterizou o tratamento A, o capim colhido foi espalhado no campo e, após oito horas
de exposição ao sol, picado e ensilado. Já para os tratamentos com adição de farelo de
cacau (FC), logo após o corte do capim e posterior trituração em ensiladeira
estacionária, sem nenhum emurchecimento prévio, o farelo foi imediatamente
adicionado ao capim-elefante, na base da matéria natural (peso/peso) na mistura. A
composição química do capim-elefante emurchecido, sem emurchecimento e do FC
pode ser observada na Tabela 1.
Adotando-se uma compactação de 500 kg/m
3
, o material foi ensilado em silos
experimentais de PVC, cilíndricos, com 0,15 m de diâmetro e 0,3 m de comprimento,
com capacidade para 5,3 litros, que foram vedados com lona plástica, nas duas
extremidades, com auxílio de arame liso galvanizado e fita plástica, sendo armazenados
em galpão coberto, durante 45 dias.
Após este período, os silos foram abertos, procedendo-se então a coleta de
amostras, os quais foram congeladas para posteriores análises. Essas amostras foram
devidamente acondicionadas, e transportadas para o Departamento de Zootecnia da
Universidade Federal de Viçosa, onde, nos Laboratórios de Forragicultura e de Nutrição
Animal, foram processadas e analisadas.
10
Tabela 1 - Teores médios de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína
bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra
em detergente neutro isenta de cinzas e proteína (FDN
CP
), fibra em
detergente ácido (FDA), cinza, lignina, celulose, hemicelulose,
nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio insolúvel
em detergente ácido (NIDA), carboidratos totais (CHO), carboidratos
não fibrosos (CNF), carboidratos solúveis (CHOs), pH e digestibilidade
in vitro da matéria seca (DIVMS) do capim-elefante e do farelo de cacau
Item Capim-elefante
Não emurchecido Emurchecido Farelo de cacau
MS 20,3 27,8 89,8
MO
1
90,4 90,2 92,6
PB
1
8,6 8,5 13,5
EE
1
1,7 1,8 9,9
FDN
1
71,1 68,6 48,5
FDN
CP
1
67,5 65,2 43,6
FDA
1
43,6 41,3 40,0
Cinza
1
9,6 9,8 7,4
Lignina
1
3,3 3,3 17,9
Celulose
1
40,3 37,9 23,1
Hemicelulose
1
27,4 27,3 8,5
NIDN
1
0,21 0,23 1,1
NIDA
1
0,15 0,16 1,0
NIDN
2
15,2 16,9 50,5
NIDA
2
10,8 11,8 47,7
CHO
1
80,1 79,9 69,2
CNF
1
12,6 14,4 25,7
CHOs
1
10,9 10,2 12,2
pH 5,6 5,6 -
DIVMS
1
63,5 64,2 47,0
1
% da MS;
2
% do NT.
Parte das amostras foram descongeladas à temperatura ambiente, acondicionadas
em sacos de papel e levadas à estufa de pré-secagem, por 72 horas à temperatura de
65
o
C. Em seguida, foram moídas em moinho tipo Wiley, em peneira com malha de 1
mm, e submetidas às análises de nitrogênio total (NT), fibra em detergente neutro
(FDN), fibra em detergente neutro isenta de cinza e proteína (FDNcp), fibra em
detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE), carboidratos solúveis (CHOs), celulose,
hemicelulose, lignina, nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio
insolúvel em detergente ácido (NIDA), cinzas e digestibilidade in vitro da matéria seca
(DIVMS), segundo metodologias descritas por Silva & Queiroz (2002) e nutrientes
digestíveis totais (NDT), segundo a metodologia proposta por Weiss et al. (1992), com
11
as modificações sugeridas pelo NRC (2001), representadas pelas equações que se
seguem:
NDT = CNFD + PBD + (AGD x 2,25) + FDND – 7
Sendo:
CNFD = 0,98 {100 – [(FDN – PBFDN)* + PB + EE + Cinzas]} x FAP
PBD = PB [-1,2 x (PBFDA/PB)]
AGD = AG = EE - 1 . Se EE < 1, AG = 0
FDND = 0,75 x [(FDN – PBFDN)* – Lig] x {1 – [Lig/(FDN-PBFDN)*]0,667}
* se a FDN for determinada adicionando sulfito de sódio, não subtrair a PBFDN
Em que:
CNFD = Carboidratos não fibrosos verdadeiramente digestíveis;
PBD = Proteína bruta verdadeiramente digestível;
AGD = Ácidos graxos verdadeiramente digestíveis;
FDND = FDN verdadeiramente digestível;
PBFDN = Protna bruta ligada à FDN;
FAP = Fator de ajuste de processamento, neste caso igual a 1;
PBFDA = Proteína bruta ligada à FDA.
Lig = Lignina
As análises de fibra insolúvel em detergentes neutro (FDN) e ácido (FDA) (Van
Soest et al., 1991) foram feitas em autoclave, conforme Pell & Schofield (1993).
Parte da silagem in natura (50 g) foi triturada com 200 mL de água, em
liquidificador industrial, e filtrada em gaze para extração do meio aquoso, que foi
utilizado imediatamente para análise de nitrogênio amoniacal (N-NH
3
) e pH. O teor de
N-NH
3
, como porcentagem do N-Total, foi dosado imediatamente, utilizando-se óxido
de magnésio e cloreto de cálcio, segundo Cunniff (1995). Já os teores de ácidos lático,
acético, propiônico e butírico foram quantificados em cromatógrafo a gás, segundo
metodologia descrita por Wilson (1971), com modificações de Boin (1975).
O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com seis
tratamentos e quatro repetições. O efeito dos níveis de FC foram interpretados por meio
de análise de variância e regressão e a comparação entre os níveis de farelo e o
emurchecimento foi realizada conforme Dunnett (1955), utilizando o Statistical
Analyses System (SAS, 1999).
12
Resultados e Discussão
A exposição do capim-elefante ao sol por oito horas foi eficiente em reduzir o teor
de umidade da gramínea. A adição de FC também promoveu redução do teor de
umidade, de forma satisfatória (Tabela 2). Entre os tratamentos avaliados, aquele com
7% de adição de FC ao capim-elefante produziu silagem com teor de MS (25,3%)
similar (P>0,05) àquele em que o capim foi apenas emurchecido (24,2%). Com exceção
do tratamento 0% de adição de FC, que proporcionou silagem com teor de MS
(20,07%) inferior ao tratamento emurchecido, os demais tratamentos 14, 21 e 28% de
adição de FC no capim-elefante, permitiram a produção de silagens com teor de MS
superior (P<0,05) ao tratamento emurchecido, sendo os acréscimos, respectivamente, de
4,9, 9,3 e 15,3 unidades percentuais.
Tabela 2 - Teores médios de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), nitrogênio
total (NT), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente neutro
isenta de cinza e proteína (FDN
CP
), fibra em detergente ácido (FDA),
extrato etéreo (EE), celulose (CEL), hemicelulose (HEM), lignina (LIG),
nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio insolúvel
em detergente ácido (NIDA), cinza, nutrientes digestíveis totais (NDT) e
digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) das silagens de capim-
elefante emurchecido (EMUR) e não emurchecido com farelo de cacau
Item Farelo de cacau (% na MN)
EMUR 0 7 14 21 28
CV (%)
2
MS 25,3 20,1
*
24,2 30,3
*
34,5
*
40,7
*
4,8
MO
1
89,6 90,1 90,6 91,2
*
91,8
*
91,8
*
3,6
NT
1
1,3 0,9
*
1,2 1,5 1,6 1,7
*
11,0
FDN
1
71,3 76,5
*
71,4 66,3
*
63,9
*
61,9
*
2,5
FDN
CP
1
67,3 73,0
*
66,2 61,0
*
57,7
*
55,7
*
2,7
FDA
1
45,5 50,5
*
49,5
*
46,4 47,5 47,4 2,9
EE
1
4,4 2,9
*
3,5
*
4,4 4,9 5,5
*
9,3
CEL
1
40,5 45,4
*
41,0 35,4
*
34,3
*
32,8
*
4,5
HEM
1
25,8 26,0 21,9 19,9
*
16,4
*
14,4
*
9,9
LIG
1
3,5 4,1 8,0
*
10,0
*
12,3
*
14,2
*
10,7
NIDN
1
0,22 0,18 0,40
*
0,63
*
0,75
*
0,88
*
10,4
NIDA
1
0,15 0,13 0,36
*
0,42
*
0,49
*
0,55
*
11,5
Cinza
1
10,4 9,9 9,4 8,8
*
8,2
*
8,2
*
6,5
NDT
1
58,6 52,3
*
44,5
*
43,1
*
40,7
*
38,4
*
4,2
DIVMS
1
66,2 66,0 63,0
*
61,3
*
59,5
*
57,8
*
2,9
*
As dias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo
teste de Dunnett.
1
Em % da matéria seca.
2
Coeficiente de variação.
13
A adição de FC propiciou acréscimo linear (P<0,01) no teor de (Tabela 3). Tal
comportamento já era esperado, em decorrência do mais alto teor de MS do FC,
demonstrando este subproduto potencial de uso como aditivo sequestrante de umidade,
em forrageiras ensiladas com baixo teor de matéria seca. Estimado pela equação de
regressão, o vel de FC a ser adicionado ao capim-elefante, aos 50 dias de rebrota, para
produção de silagem com teor de MS de 30%, é de 14,4%. Segundo Muck (1988), o
teor de MS da forrageira ideal para produção de silagem de bom valor nutritivo é de
30%. Entretanto, para o capim-elefante, o estádio vegetativo em que o mesmo apresenta
bom valor nutritivo não coincide com esse teor de MS, necessitando, portanto, de algum
pré-tratamento antes da ensilagem. O nível nimo de FC estimado pela equação de
regressão, a ser adicionado ao capim-elefante, que propicia produção de silagem com
teor de MS (>25%) recomendado por McDonald et al. (1991), é de 7,3%.
Tabela 3 - Equação de regressão, coeficiente de variação (CV) e coeficiente de
determinação obtidos para os teores de matéria seca (MS), matéria
orgânica (MO), nitrogênio total (NT), fibra em detergente neutro
(FDN), fibra em detergente neutro isenta de cinza e proteína (FDN
CP
),
fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE), celulose (CEL),
hemicelulose (HEM), lignina (LIG), nitronio insolúvel em detergente
neutro (NIDN), nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA) e
cinzas, em função dos níveis de farelo de cacau no capim-elefante não
emurchecido
Item Equação de regressão CV(%) r
2
MS
Υ
= 19,632 + 0,73557
**
FC
5,1 0,99
MO
1
Υ
= 90,2076 + 0,0656963
**
FC 4,2 0,95
NT
1
Υ
= 0,946344 + 0,0305999
**
FC 10,2 0,96
FDN
1
Υ
= 75,3390 – 0,52536
**
FC 5,8 0,96
FDN
CP
1
Υ
= 71,3770 – 0,61775
**
FC 7,7 0,95
FDA
1
Υ
= 50,75871 – 0,36545
**
FC + 0,00891
*
FC
2
3,8 0,82
EE
1
Υ
= 2,8960 + 0,09604
**
FC 7,6 0,99
CEL
1
Υ
= 44,1580 – 0,45568
**
FC 4,5 0,92
HEM
1
Υ
= 25,4550 – 0,40957
**
FC 10,8 0,99
LIG
1
Υ
= 4,8120 + 0,34989
**
FC 10,4 0,98
NIDN
1
Υ
= 0,2200 + 0,02475
**
FC 10,1 0,98
NIDA
1
Υ
= 0,1960 + 0,01375
**
FC 10,5 0,90
Cinzas
1
Υ
= 9,7930 – 0,06571
**
FC 6,8 0,95
*
Significativo a 5% de probabilidade, pelo teste F.
**
Significativo a 1% de probabilidade, pelo teste F.
1
% da MS.
14
Para o teor de matéria orgânica (MO), os tratamentos 0 e 7% de adição de FC ao
capim-elefante apresentaram resultados similares ao tratamento emurchecido (P>0,05).
Por outro lado, os tratamentos 14, 21 e 28% de adição de FC foram superiores (P<0,05)
(Tabela 2). A análise de regressão mostrou que a adição de quantidades crescentes de
FC resultou em efeito linear crescente nos teores de MO da silagem. Como o FC
utilizado continha teor de cinzas inferior ao do capim-elefante, duas unidades
percentuais a menos, era esperado que, com a inclusão dos níveis de FC, ocorresse
aumento nos teores de MO da silagem.
No tocante ao teor de nitrogênio total (NT), os tratamentos com 7, 14 e 21% de
adição de FC ao capim-elefante apresentaram resultados similares ao tratamento
emurchecido. Todavia, resultado inferior e superior ao tratamento emurchecido foram
observados, respectivamente, para os tratamentos 0 e 28% de adição de FC.
A adição de FC na ensilagem do capim-elefante aumentou de forma linear os
teores de NT na silagem (Tabela 3). Isto é atribuído ao maior teor de nitronio no FC
em relação ao capim-elefante (Tabela 1).
Ferrari Júnior & Lavezzo (2001) estudaram a adição de farelo de mandioca ao
capim-elefante na produção de silagem e observaram decréscimo linear do teor de NT
com o aumento dos níveis de inclusão. Tal diferença entre os dois experimentos deve-se
ao fato do FC conter maior teor de NT (2,2%) do que o farelo de mandioca (0,3%).
Observa-se que o tratamento não emurchecido e sem adição de FC (0%) não
preservou o teor de NT, pois a forrageira, antes de ser ensilada, apresentava um teor de
1,38% de NT e, após a abertura dos silos, esse valor na silagem reduziu para 0,87%.
Tudo indica que o baixo teor de MS tenha prejudicado a fermentação e, possivelmente,
tenha ocorrido proteólise no interior do silo, reduzindo o teor deste nutriente em tal
tratamento. Por outro lado, este fato não ocorreu com o emurchecimento, uma vez que o
teor de NT foi preservado, sendo observado 1,36 e 1,35%, respectivamente, no capim-
elefante emurchecido e na silagem produzida com este capim.
Para os valores obtidos para a fibra em detergente neutro (FDN) e FDN isenta de
cinza e proteína (FDN
CP
), observou-se comportamento semelhante (Tabela 2). A
silagem produzida sem adição de FC e não emurchecida apresentou maiores teores
destas frações. Contudo, valores inferiores ao tratamento emurchecido foram detectados
nas silagens produzidas com 7, 14, 21 e 28% de FC. A análise de regressão mostrou que
a adição dos níveis de FC ao capim-elefante, para produção de silagem, resultou em
diminuição linear dos teores de FDN e FDN
CP
(Tabela 3). Isto se deve, provavelmente,
15
aos menores teores destes constituintes no FC em relação ao capim-elefante.
Conforme exposto na Tabela 2, o teor de fibra em detergente ácido (FDA) das
silagens produzidas com 0 e 7% de adição de FC foi superior ao do tratamento
emurchecido (P<0,05). No entanto, os tratamentos com 14, 21 e 28% de FC
apresentaram valor similar ao do testemunha (emurchecido). Ao considerar-se apenas os
veis de inclusão de FC no capim-elefante, o teor de FDA das silagens apresentou
comportamento quadrático (P<0,05), estimando-se valor nimo de 47,0% para o vel
de 20,5% de FC. Essa resposta é de dicil explicação, pois o FC possui teor de FDA
(40,1%) semelhante ao do capim-elefante (43,7%); assim, esperava-se pequena redução
ou nenhuma alteração desta fração nas silagens.
A análise estatística dos dados de extrato etéreo (EE) revelou diferenças (P<0,05)
entre o tratamento emurchecido e os com adição de 0, 7 e 28% de FC. Já os tratamentos
com 14 e 21% de adição de FC apresentaram-se semelhantes ao emurchecido. A adição
de FC ao capim-elefante, resultou em aumento linear (P<0,01) no teor de EE das
silagens, provavelmente devido ao maior conteúdo deste constituinte no FC.
O teor de celulose da silagem produzida com 7% de adição de FC ao capim-
elefante, foi similar (P>0,05) ao da silagem produzida com capim-elefante emurchecido.
Entretanto, as silagens produzidas com capim-elefante com 0, 14, 21 e 28% de FC
diferiram significativamente do tratamento testemunha (emurchecido). Quanto a
hemicelulose, as silagens produzidas com 0 e 7% de FC apresentaram resultados
similares ao do tratamento emurchecido. A partir do vel de 14% de adição de FC ao
capim, as silagens apresentaram resultados inferiores ao obtido para a silagem
produzida com capim-elefante emurchecido (Tabela 2).
Tanto o teor de celulose quanto o de hemicelulose das silagens decresceram
linearmente com a inclusão dos níveis de FC no capim-elefante (Tabela 3), com
reduções de 9,6, 22,0, 24,4 e 27,7% para o teor de celulose e de 15,8, 23,5, 36,9 e
44,5% para o de hemicelulose, respectivamente, para os níveis de 7, 14, 21 e 28%, em
relação ao tratamento sem adição de farelo. Tudo indica que o baixo teor destas frações
no FC, 23,1 e 8,5%, respectivamente, tenham sido responsáveis por tal redução.
Para o teor de lignina, apenas a silagem produzida com capim-elefante sem adição
de FC apresentou valor similar ao tratamento emurchecido. Os demais tratamentos (7,
14, 21 e 28% de adição de FC) foram estatisticamente superiores ao tratamento
emurchecido. Os elevados teores de lignina nas silagens produzidas com capim-elefante
contendo FC se devem ao alto valor desta fração no FC (17,92%). Isto explica o
16
aumento linear (P<0,01) dos teores de lignina na silagem em função dos níveis de
inclusão de FC.
No tocante aos teores de nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e
nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA) (Tabela 2), o comportamento foi
semelhante, pois apenas a silagem produzida com capim-elefante com 0% de FC,
apresentou teores destas frações similares ao do tratamento emurchecido. Constataram-
se valores superiores (P<0,05) de NIDN e NIDA nas silagens produzidas com 7, 14, 21
e 28% de FC em relação à silagem produzida com capim emurchecido.
O estudo da regressão revelou efeito linear crescente dos níveis de FC sobre os
teores de NIDN e NIDA das silagens (Tabela 3). Segundo McDonald et al. (1991), o
aquecimento da massa ensilada, por ocasião da fermentão no interior do silo,
contribui para a elevação dos teores de NIDN e NIDA. Contudo, o aumento dos teores
de NIDN e NIDA nas silagens pode ser explicado pelos maiores valores destes no FC
em relação ao capim-elefante no momento da ensilagem, conforme evidenciado na
Tabela 1. Os valores estimados em função dos níveis de FC (0, 7, 14, 21 e 28%) foram,
respectivamente, 0,22; 0,39; 0,56; 0,74 e 0,91% de NIDN e 0,20; 0,29; 0,38; 0,48 e
0,58% de NIDA.
Do ponto de vista nutricional, não é desejável elevação nos teores de NIDA, pois
o nitrogênio retido na FDA é indisponível aos microrganismos ruminais (Van Soest,
1994).
O comportamento linear obtido no presente estudo para os teores de NIDA, em
função dos níveis de FC, assemelha-se ao encontrado por Souza et al. (2003), que
estudaram a adição de níveis crescentes de casca de café na ensilagem de capim-
elefante, e observaram elevação dos teores de NIDA.
O teor de nutrientes digestíveis totais (NDT) das silagens produzidas com capim-
elefante com FC foi inferior (P<0,05) ao do tratamento emurchecido (Tabela 2).
Observou-se redução linear do NDT em função dos níveis de FC (Figura 1), estimando-
se decréscimo de 0,45 unidades percentuais por unidade de FC adicionada. Esse
decréscimo deve-se aos elevados teores de NIDA e lignina presentes no FC, pois na
estimativa do teor de NDT das silagens, obtida pela equação proposta por Weiss et al.
(1992) e adaptada pelo NRC (2001), leva-se em consideração a PB verdadeiramente
digestível, que é calculada a partir da fração de proteína retida na FDA, e a FDN
verdadeiramente digestível, que, dentre outras frações, leva em consideração o teor de
lignina da forragem.
17
= 65,499 -0,28504**FC
r
2
= 0,98
= 50,1100 -0,45104**FC
r
2
= 0,89
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0 7 14 21 28
veis de farelo de cacau (%)
(%)
NDT DIVMS
Figura 1 - Estimativa dos valores de nutrientes digestíveis totais (NDT) e
digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) das silagens em
função de diferentes níveis de farelo de cacau (FC)
** Significativo a 1% de probabilidade, pelo teste F.
Ao estudar a eficácia das equações propostas pelo NRC (2001) para avaliação
energética de alimentos, Rocha Júnior (2002) compilou uma série de valores de NDT,
obtidos na literatura nacional a partir de experimentos in vivo, e os comparou com os
valores preditos pelas equações do NRC (2001). Não observando diferença significativa
entre os valores observados e preditos, o autor sugeriu que as equações são adequadas
para predizer o valor energético dos alimentos nas condições brasileiras. Da mesma
forma, Valadares Filho et al. (2003), ao realizarem uma ampla revisão acerca da
estimativa do valor energético dos alimentos em condições tropicais, verificaram que os
valores de NDT estimados pelas equações do NRC (2001), por meio da composição
química dos alimentos, foram similares aos observados nos experimentos in vivo,
podendo-se afirmar que os valores de NDT observados para as silagens no presente
experimento foram estimados de forma eficaz.
Rocha Júnior et al. (2003), avaliando a estimativa do valor energético de
alimentos e a validação das equações propostas pelo NRC (2001), observaram valor de
NDT predito da silagem de capim-elefante de 50,6%, o que é próximo do valor obtido
de 52,3% para a silagem com 0% de FC, no presente estudo.
Menor estimativa do teor de NDT (44,8%) foi relatada por Rodrigues et al.
18
(2001), que avaliaram o valor nutritivo do capim-elefante (Pennisetum purpureum,
Schum.). Isso pode ser explicado pelo estádio de maturação mais avançado do capim
utilizado pelos autores (75 dias de crescimento) em relação ao utilizado no presente
experimento (50 dias de crescimento).
A digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) observada para a silagem
produzida sem adição de FC (66,0%) foi similar (P>0,05) ao valor obtido para a silagem
testemunha, produzida com capim-elefante emurchecido (66,2%). As silagens
produzidas com capim-elefante contendo FC apresentaram DIVMS inferior à silagem
de capim emurchecido (Tabela 2). Possivelmente, a redução observada na DIVMS das
silagens de capim-elefante com FC seja decorrente da composição do FC, pois o mesmo
apresentou elevado teor de lignina, que é um composto fenólico, o qual é
nutricionalmente indigestível pelos microrganismos ruminais.
A adição de níveis crescentes de FC ocasionou redução linear na DIVMS das
silagens (Figura 1), estimando-se decréscimo de 0,28% para cada unidade de FC
adicionada ao capim-elefante. Estimados pela equação de regreso (Figura 1), os
valores encontrados de DIVMS, para os tratamentos 0, 7, 14, 21 e 28% de adição de FC,
foram, respectivamente, 65,5; 63,5; 61,5; 59,5 e 57,5%. Os resultados encontrados no
presente experimento corroboram os encontrados por Bernardino et al. (2005), que
estudando a adição de níveis de casca de café (0, 10, 20, 30 e 40%) no capim-elefante,
observaram redução linear da DIVMS das silagens. Do mesmo modo, Souza et al.
(2003) também avaliaram o capim-elefante com casca de café (0; 8,7; 17,4; 26,1 e
34,8%) na produção de silagem e registraram decréscimo linear da DIVMS.
A silagem produzida com capim-elefante com 14% de FC apresentou valor de pH
similar (P>0,05) ao da silagem de capim emurchecido (testemunha), observando-se
valores de pH diferentes nos demais níveis de FC em relação ao tratamento
emurchecido (Tabela 4). O tratamento sem FC apresentou valor de pH (4,75) superior
(P<0,05) ao tratamento emurchecido (4,28). Andrade & Melotti (2004) avaliaram o
efeito de alguns tratamentos sobre as características fermentativas da silagem de capim-
elefante e observaram valor de pH, para o tratamento emurchecido, de 4,08, valor este
próximo do obtidos neste trabalho. Por outro lado, os tratamentos 21 e 28% de adição
de FC ao capim-elefante originaram pH inferior ao do tratamento emurchecido. Dentre
os tratamentos estudados, a silagem de capim-elefante emurchecido e às com 14, 21 e
28% apresentaram valor de pH dentro da faixa considerada como ótima (3,8 a 4,2) para
a fermentação adequada (McDonald et al., 1991).
19
Tabela 4 - Média de pH e dos teores de carboidratos solúveis (CHOs), nitrogênio
amoniacal (N-NH
3
), ácido lático (ALAT), ácido acético (AACET), ácido
propiônico (APROP) e ácido butírico (ABUT) das silagens de capim-
elefante emurchecido (EMUR) e não emurchecido com farelo de cacau
Item Farelo de cacau (% na MN)
EMUR 0 7 14 21 28
CV (%)
1
pH 4,28 4,75
*
4,64
*
4,12 3,89
*
3,89
*
3,9
CHOs
2
1,78 1,10
*
2,21
*
3,29
*
3,43
*
4,03
*
6,8
N-NH
3
3
2,59 2,90
*
2,78
*
2,97
*
3,45
*
3,85
*
7,9
ALAT
2
2,49 2,23 2,48 3,14 3,49 3,47 20,2
AACET
2
0,56 0,59 0,47 0,60 0,62 0,63 22,1
APROP
2
0,13 0,15 0,11 0,12 0,10 0,12 25,9
ABUT
2
0,21 0,23 0,16 0,14 0,16 0,16 23,5
*
As dias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo
teste de Dunnett.
1
Coeficiente de variação;
2
% da MS;
3
% do NT.
O pH das silagens foi afetado significativamente pela adição dos níveis de FC ao
capim-elefante, revelando comportamento linear decrescente (Tabela 5). Estimado pela
equação de regressão (Tabela 5), o vel de FC a ser adicionado ao capim-elefante para
produzir silagens com pH dentro da faixa tida como ótima (3,8-4,2) deve ser de 15,5 a
26,9%.
O pH alto é indicativo de maior produção dos ácidos acético e butírico, que são
característicos dos processos de fermentação indesejáveis (Van Soest, 1994). Embora o
valor de pH da silagem não seja considerado isoladamente um bom critério para
avaliação da fermentão (Bernardino et al., 2005), uma vez que seu efeito inibitório
sobre as bactérias depende da velocidade do abaixamento e da umidade do meio, a
adição de níveis de FC superiores a 14%, contribuiu para valores mais baixos de pH das
silagens. Além disso, os teores mais altos de ácido lático nessas silagens (Tabela 4),
pode explicar esses valores mais baixos de pH.
Os teores de carboidratos solúveis (CHO
S
) observados nas silagens produzidas
com capim-elefante com FC diferiram (P<0,05) do tratamento testemunha
(emurchecido). Os CHOs são utilizados durante o processo fermentativo para a rápida
redução do pH e para a produção de ácido lático, assim, a presença dos mesmos na
silagem, é indicativo de presença de açúcar residual. No estudo da análise de regressão,
detectou-se aumento dos teores de CHO
S
em função dos níveis de inclusão de FC ao
capim-elefante (Tabela 5). Como FC apresentou teor de CHOs 10,9% superior ao do
capim-elefante, isto pode ser a possível explicação para os maiores teores de açúcares
20
residual encontrados nas silagens com FC.
Tabela 5 - Equação de regressão, coeficiente de variação (CV) e coeficiente de
determinação obtidos para os valores de pH e teores de carboidratos
solúveis (CHOs), nitrogênio amoniacal (N-NH
3
), ácido lático (ALAT),
ácido acético (AACET), ácido propiônico (APROP) e ácido butírico
(ABUT), em função dos níveis de farelo de cacau no capim-elefante não
emurchecido
Item Equação de regressão CV (%) r
2
pH
Υ
= 4,7475 – 0,03525
**
FC
4,1 0,90
CHOs
Υ
= 1,3810 + 0,10182
**
FC 6,8 0,93
N-NH
3
Υ
= 2,86758 – 0,01741
**
FC + 0,00193
**
FC
2
7,9 0,98
ALAT
Υ
= 2,26150 + 0,05004
**
FC 19,4 0,91
AACET
Υ
= 0,58 31,7 -
APROP
Υ
= 0,12 35,5 -
ABUT
Υ
= 0,17 29,0 -
**
Significativo a 1% de probabilidade, pelo teste F.
Avaliando a adição de farelo de mandioca (0, 2, 4, 8, 12%) na ensilagem de
capim-elefante, Ferrari Júnior & Lavezzo (2001) também observaram elevação dos
teores de CHO
S
com a inclusão dos níveis crescentes de farelo de mandioca. Entretanto,
a partir do menor vel de farelo (2%) adicionado, os autores já detectaram teor de
CHO
S
superior a 12%. Estes valores estão muito acima dos observados neste estudo e,
apesar do teor de CHO
S
do farelo de mandioca não ter sido relatado pelos autores, tudo
leva a crer que, os menores valores obtidos no presente trabalho, se devem ao menor
teor de CHO
S
no farelo de cacau em relação ao resíduo de mandioca utilizado pelos
autores.
Os valores de CHO
S
presentes na silagem são bem inferiores aos observados no
material original (capim-elefante e FC), indicando que boa parte dos CHO
S
foram
utilizados pelas bactérias produtoras de ácido lático, contribuindo, desta forma, para
redução do pH (Tabela 4).
Quanto aos teores de nitrogênio amoniacal (N-NH
3
), as silagens produzidas com
adição de FC ao capim-elefante apresentaram valores superiores (P<0,05) ao obtido
para a silagem de capim-elefante emurchecido. Verificou-se comportamento quadrático
para os teores de N-NH
3
(P<0,01) das silagens em função dos níveis de adição de FC,
estimando-se valor nimo de 2,83 de N-NH
3
para o vel de 4,51% de adição de FC.
Resultados semelhantes para teores de N-NH
3
foram relatados por Neiva et al.
21
(1999), que, ao avaliarem o uso de cana-de-açúcar desidratada como aditivo na
ensilagem de capim-elefante, encontraram teor de 4,5% de N-NH
3
e, por Silva et al.
(1999), que observaram valores de 3,17; 2,99 e 3,28% de N-NH
3
, em silagens de sorgo.
Ferreira et al. (2004) avaliaram níveis de bagaço de caju (0, 12, 24, 36 e 48%) na
ensilagem de capim-elefante e registraram teores de N-NH
3
de 4,0; 3,5 e 3,1%,
respectivamente, para os níveis de 24, 36 e 48% de adição. Os valores obtidos pelos
autores assemelham-se aos encontrados neste experimento para os níveis de 14, 21 e
28% de FC adicionado ao capim-elefante.
Apesar do comportamento quadrático observado, de maneira geral, os teores de
N-NH
3
das silagens foram baixos, estimando-se valor máximo de 3,89% para o vel de
28% de adição de FC. Os valores observados neste trabalho estão dentro da faixa
recomendada por Roth & Undersander (1995), que consideraram uma silagem de boa
qualidade, quando os teores de N-NH
3
em relação ao N-total são menores que 5%.
O teor de ácido lático (ALAT) das silagens com adição de FC foi similar ao da
silagem com capim-elefante emurchecido. Contudo, o estudo de regressão revelou
acréscimo linear nos teores de ALAT das silagens em função dos níveis de FC. Os
teores de ALAT estimados foram, respectivamente, 2,26; 2,61; 2,96; 3,31 e 3,66% para
os níveis de 0, 7, 14, 21 e 28% de FC.
Rodrigues et al. (2005) estudaram níveis de adição de polpa cítrica (0; 2,5; 5,0;
7,5; 10,0; 12,5 e 15,0%) na ensilagem de capim-elefante e observaram que a máxima
produção de ALAT foi obtida com adição 5,8% de polpa. Os valores de ALAT obtidos
pelos autores foram maiores do que os observados neste experimento, contudo, as
silagens produzidas com FC apresentaram teores de ALAT satisfatórios, segundo as
recomendações de Rodriguez et al. (1999). O estádio de maturidade e o tipo de material
a ser ensilado, associados ao teor de MS e à presença de CHO
S
, o alguns fatores que
determinam a extensão da fermentação no interior do silo e a quantidade de ALAT na
silagem. Portanto, essas variações observadas entre os teores de ALAT nos
experimentos realizados com forrageiras tropicais são comuns.
No tocante aos teores de ácido acético (AACET), ácido propiônico (APROP) e
ácido butírico (ABUT), os valores obtidos para as silagens produzidas com FC foram
similares (P>0,05) ao encontrado para a silagem de capim-elefante emurchecido (Tabela
4). A análise de regressão, também não detectou efeito significativo de níveis de FC
sobre essas variáveis (Tabela 5).
De maneira geral, a concentração dos ácidos orgânicos (ALAT, AACET, APROP
22
e ABUT) observada para todos os tratamentos pode ser considerada suficiente para boa
preservação e estabilidade de silagem. Apesar de não ter havido diferença significativa,
houve variação de até 25% nos teores de AACET entre os tratamentos. Contudo, todos
os valores de AACET observados para os tratamentos estão abaixo do vel crítico de
0,8% (Muck, 1988). Níveis de AACET superiores a este indicam alterações
indesejáveis ocorridas durante a fermentação.
Resultados semelhantes aos observados neste experimento para o teor de AACET
foram relatados por Rodrigues et al. (2005), que estudaram a inclusão de polpa cítrica
na ensilagem de capim-elefante. Os autores registraram teor médio de AACET de
0,66%, que é próximo dos 0,63% observados no nível de 28% de FC.
Para o APROP, observaram-se variações de 0,10 a 0,15% e, portanto, estão de
acordo com os valores estabelecidos por Roth & Undersander (1995). Lavezzo et al.
(1990) estudaram o efeito do emurchecimento, formol, ácido fórmico e solução de
“Viher” sobre a qualidade de silagens de capim-elefante, cultivares Mineiro e
Vruckwona, e observaram valor médio de APROP de 0,23%. Pelos valores de pH e N-
NH
3
observados anteriormente, pode-se inferir que as silagens foram bem preservadas,
uma vez que o ALAT predominou nas silagens em detrimento dos valores observados
para o AACET, APROP e ABUT.
Os teores de ABUT dos tratamentos avaliados, além de não significativo, também
não foram elevados (Tabela 4). Ferrari Júnior & Lavezzo (2001), que estudaram a
inclusão de bagaço de mandioca na ensilagem de capim-elefante, revelaram valores
superiores aos obtidos neste trabalho. É possível que o bagaço de mandioca utilizado
pelos autores não tenha sido tão eficiente em reduzir a umidade do capim-elefante como
o FC neste experimento, uma vez que maiores pH e teores de N-NH
3
foram observados
nas silagens produzidas pelos autores.
Os teores de ABUT observados não indicam que houve efetivamente uma
fermentação clostrídica; no entanto, mesmo com os baixos teores, e não tendo
relevância do ponto de vista de qualidade, a presença do ABUT na silagem indica que
fermentações indesejáveis ocorreram.
A literatura revela certa variação entre as concentrações dos ácidos orgânicos nas
silagens de capim-elefante com ou sem uso de aditivos (Ferrari Junior & Lavezzo,
2001; Andrade & Melotti, 2004; Rodrigues et al., 2005). Dentre outros fatores, esta
variação pode ser atribuída ao do material utilizado, à umidade da forragem no
momento da ensilagem e ao teor de CHO
S
.
23
Conclusões
O emurchecimento do capim-elefante pela exposição ao sol reduziu o teor de
umidade da forragem e permitiu a produção de silagem com bom valor nutritivo.
O farelo de cacau pode ser utilizado como aditivo na ensilagem de capim-elefante,
aumentado o teor de matéria seca e favorecendo as características fermentativas da
silagem.
Recomenda-se o nível de adição de, no máximo, 14% de farelo de cacau na
ensilagem de capim-elefante, pois níveis mais elevados reduzem a digestibilidade in
vitro das silagens para menos de 60%.
24
Literatura Citada
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27
Fracionamento de Carboidratos e Proteínas de Silagem de Capim-Elefante
Emurchecido ou com Farelo de Cacau
RESUMO: O experimento foi conduzido para determinar as frações que
compõem os carboidratos e as proteínas da silagem de capim-elefante submetido ao
emurchecimento ou à adição de diferentes níveis de farelo de cacau. O capim-elefante
utilizado foi colhido aos 50 dias de rebrota após o corte de uniformização e submetido
aos seguintes tratamentos: capim-elefante emurchecido ao sol por oito horas, e capim-
elefante sem emurchecimento com níveis de 0, 7, 14, 21 e 28% de farelo de cacau (FC)
(% da matéria natural). O material foi acondicionado em silos de PVC com capacidade
para 5,3 litros, que foram abertos após 45 dias. O tratamento emurchecido apresentou
teor de carboidratos totais (CHO) semelhante ao dos tratamentos com 14 e 21% de FC.
A análise de regressão detectou redução linear desta fração para as silagens com FC. As
frações dos CHO das silagens foram influenciadas pelas adições de FC, constatando-se
maiores teores de A+B1 e FDNi e menores de B2 com a incluo dos níveis de FC. Para
todas as frações de carboidratos e de protnas estimadas, o tratamento emurchecido
apresentou valores semelhantes (P>0,05) ao do tratamento sem emurchecimento. As
frações protéicas foram influenciadas pelas adições de FC, verificando-se redução dos
teores das frações A e B1+B2 e aumentos das frações B3 e C, para os veis crescentes
de FC.
Palavras-chave: conservação de forragens, forrageira, Pennisetum purpureum,
subproduto, Theobroma cacao L
28
Carbohydrate and Protein Fractioning of Silage of Elephantgrass Wilted or with
Cocoa Meal
ABSTRACT: The experiment was conducted to determine the fractions that
compose the carbohydrates and protein of silage on the submitted elephantgrass forage
to wilting under the sun light for eight hours. Other treatments involved the same
elephantgrass without exposing to sun light but with addition of 0, 7, 14, 21, and 28% of
cocoa meal (CM) at the ensilage processing. The PVC silos used in the experiment were
5.3 liters in capacity, and were opened in 45 days. The wilted treatment showed CHO
content similar to treatments with 14 and 21% CM. The regression analysis detected
linear reduction of this fraction to the addition of CM. The silages CHO fractions
altered by CM additions, showing high content of A+B1, and NDFi, and low content of
B2 with the CM addition. To all carbohydrate and protein estimated fractions, the wilted
treatment showed similar values (P>.05) to the treatment without wilting. The addition
of CM influenced the protein fractions, verifying reduction in contents of A and B1+B2
fractions and increase in B3 and C fractions.
Key words: forage conservation, roughage, Pennisetum purpureum, by-product,
Theobroma cacao L
29
Introdução
A baixa produção bovina nos trópicos pode ser atribuída, principalmente, à
nutrição inadequada resultante da sazonalidade, característica da produção forrageira
nestas condições. Em um programa de produção contínua de carne, torna-se essencial
eliminar as fases negativas de desenvolvimento, proporcionando condições ao animal de
desenvolver-se normalmente, durante todo o ano, a fim de que alcancem condições de
abate, peso e, ou, terminação mais precocemente (Euclides et al., 1998). Para isto, faz-
se necessário manter o suprimento de alimento em equilíbrio com os requisitos dos
animais, através da suplementão volumosa, com destaque para os alimentos
conservados, fenos e silagens.
Os requisitos nutricionais dos ruminantes, nos trópicos, são atendidos pela
ingestão dos nutrientes contidos nas diversas partes das gramíneas tropicais, que são
armazenados por intermédio da fixação da energia luminosa, durante a fotossíntese
(Cabral et al., 2004). Entre as forrageiras com potencial para produção de alimentos
conservados, o capim-elefante, tradicionalmente utilizado para corte em capineiras, tem
se destacado como forrageira para ensilagem. Seu uso é indicado principalmente em
razão de suas características de elevada produção de matéria seca e de seu valor
nutritivo (Andrade & Lavezzo, 1998).
Entretanto, no momento em que o capim-elefante exibe melhor valor nutritivo, o
teor de umidade normalmente está elevado, o que se contrapõe aos parâmetros
recomendados e referenciados para produção de silagem de boa qualidade. A ensilagem
de gramíneas com elevado teor de umidade favorece as perdas durante as diferentes
fases do processo (Bernardino et al., 2005) e propicia o desenvolvimento de bactérias do
gênero Clostridium, favorecidas pela alta atividade de água, devido ao excesso de
umidade da forragem. O desenvolvimento dessas bactérias produz fermentações
secundárias indesejáveis, havendo a formação de ácido butírico, o que caracteriza
silagens de baixa qualidade, com degradação de proteína e de ácido lático (McDonald,
1981).
Para tentar solucionar os problemas de perdas e da baixa qualidade do produto
final, silagem, pesquisadores (Ferrari Júnior & Lavezzo, 2001, Bernardino et al., 2005)
têm despendido esforços no sentido de encontrar meios alternativos que possibilitem a
colheita do capim-elefante no seu estádio de melhor valor nutritivo, o que coincide com
o elevado teor de umidade, para produção de silagem de boa qualidade.
30
O farelo de cacau, subproduto do beneficiamento da amêndoa do cacau para a
produção de manteiga de cacau e chocolate, pelas indústrias, tem sido empregado com
sucesso na alimentação de ruminantes, como substituto dos alimentos concentrados
(milho e farelo de soja). Carvalho et al. (2006), Pires et al. (2005) e Silva et al. (2005)
recomendaram, respectivamente, a adição de 12, 15 e 18% de farelo de cacau na dieta
total de ovinos, bovinos e caprinos.
De acordo com Mello & Nörnberg (2004), o suprimento das necessidades
nutricionais dos ruminantes depende, principalmente, do conteúdo de energia e proteína
da dieta. Os nutrientes podem ser utilizados pela microbiota ruminal ou escapar da
fermentação no rúmen, sendo absorvidos nos demais compartimentos do trato
digestório. A fermentação ruminal e a digestão pós-ruminal dependem da concentração
total de carboidratos e proteínas potencialmente digeríveis da dieta.
O Sistema de Carboidrato e Proteína Líquidos de Cornell (CNCPS) foi
desenvolvido para predizer requisitos, utilização de alimentos e excreção de nutrientes
de bovinos leiteiros e de corte em sistemas de produção específicos. Este modelo
integra o conhecimento dos requisitos do animal, que sejam influenciados pelo tipo
getico, tamanho do animal, vel de produção e ambiente, com o conhecimento sobre
composição dos alimentos.
Cabral et al. (2000ab) reportaram a importância de se determinar as frações de
carboidratos e proteínas. Segundo estes autores, o fracionamento de forma acurada
permite a formulação de dietas nutricionalmente adequadas, o que possibilita, portanto,
maximizar a eficiência de utilização da energia e do nitrogênio, tanto pelos
microrganismos, quanto pelo próprio animal. Além disso, permite a redução das perdas
energéticas e nitrogenadas decorrentes da fermentação ruminal (Russell et al., 1992).
A composição química dos alimentos é descrita pelas frações de carboidratos e de
proteínas de cada alimento, que são utilizadas para predizer a produção de proteína
microbiana, a degradação ruminal, o escape de carboidratos e de protnas e, ainda, a
energia e a proteína metabolizáveis. Dessa forma, espera-se predizer com mais exatidão
o desempenho dos animais a partir dos ingredientes da dieta (Russell et al., 1992).
Os valores do banco de dados de alimentos para as frações de carboidratos e de
protnas são baseados em Sniffen et al. (1992), Van Soest (1994) e NRC (2000). Um
banco de dados de alimentos tropicais foi desenvolvido e publicado por Tedeschi et al.
(2002). Com o desenvolvimento deste banco de dados, os autores objetivaram fornecer
aos nutricionistas e produtores de regiões tropicais uma composição de alimentos
31
acurada e atualizada, especialmente, daqueles alimentos necessários para uso do
CNCPS em regiões tropicais; identificar prioridades de pesquisa relacionadas com a
composição e com a análise de alimentos tropicais; e padronizar a descrição das
mesmas.
Segundo Fox et al. (1992), os sistemas atuais de adequação de dietas para
ruminantes necessitam de informações sobre o alimento, no que diz respeito às suas
frações de carboidratos e proteínas, para que se possa estimar com maior exatidão o
desempenho dos animais e maximizar a eficiência de utilização dos nutrientes.
Assim, a caracterização das frações que constituem os carboidratos e proteínas
dos alimentos obtidos nas condições tropicais, será instrumento valioso para formulação
de rações que visem a maximização do crescimento microbiano ruminal e,
consequentemente, a melhor predição do desempenho dos animais.
Dessa forma, objetivou-se, com este experimento, determinar as frações que
compõem os carboidratos e as protnas de silagens de capim-elefante (Pennisetum
purpureum, Schum. cv. Napier) submetido ao emurchecimento ou à adição de
diferentes níveis de farelo de cacau (Theobroma cacao L.).
Material e Métodos
Foi utilizado o capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum. cv. Napier),
proveniente de uma capineira estabelecida em um solo classificado como do tipo
chernossolo argilúvio, ótico, pico, estruturado hipereutrófico, com textura argilosa,
fase floresta subcaducifólia e relevo ondulado (EMBRAPA, 1999), pertencente à
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB, Itapetinga, BA.
O capim foi submetido a um corte de uniformização, a uma altura média de 10 cm
do solo e, após 50 dias de rebrota, o capim foi colhido manualmente, sendo picado em
fragmentos médios de 2 cm em ensiladeira estacionária e submetido aos seguintes
tratamentos para ensilagem:
A – capim-elefante emurchecido ao sol por 8 horas;
B capim-elefante sem emurchecimento;
C – capim-elefante (93%) mais farelo de cacau (7%);
D – capim-elefante (86%) mais farelo de cacau (14%);
E – capim-elefante (79%) mais farelo de cacau (21%);
F – capim-elefante (72%) mais farelo de cacau (28%).
32
No processo de emurchecimento, o capim foi colhido e espalhado no campo e,
após oito horas de exposição ao sol, picado e ensilado. Na incorporação do farelo de
cacau (FC) ao capim-elefante sem emurchecimento, o mesmo foi imediatamente
adicionado logo após o corte do capim e de seu fracionamento em partículas na
ensiladeira, sendo a proporção adicionada em relação à massa verde (peso/peso) da
gramínea. A composição químico-bromatológica do capim-elefante emurchecido, sem
emurchecimento e do FC pode ser observada na Tabela 1.
Tabela 1 - Teores médios de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), protna
bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra
em detergente neutro isenta de cinzas e proteína (FDN
CP
), fibra em
detergente ácido (FDA), cinzas, lignina, celulose, hemicelulose,
nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio insolúvel
em detergente ácido (NIDA), carboidratos totais (CHO), carboidratos
não fibrosos (CNF), carboidratos solúveis (CHOs), pH e digestibilidade
in vitro da matéria seca (DIVMS) do capim-elefante e do farelo de cacau
Item Capim-elefante
Não emurchecido Emurchecido Farelo de cacau
MS 20,3 27,8 89,8
MO
1
90,4 90,2 92,6
PB
1
8,6 8,5 13,5
EE
1
1,7 1,8 9,9
FDN
1
71,1 68,6 48,5
FDN
CP
1
67,5 65,2 43,6
FDA
1
43,6 41,3 40,0
Cinzas
1
9,6 9,8 7,4
Lignina
1
3,3 3,3 17,9
Celulose
1
40,3 37,9 23,1
Hemicelulose
1
27,4 27,3 8,5
NIDN
1
0,21 0,23 1,1
NIDA
1
0,15 0,16 1,0
NIDN
2
15,2 16,9 50,5
NIDA
2
10,8 11,8 47,7
CHO
1
80,1 79,9 69,2
CNF
1
12,6 14,4 25,7
CHOs
1
10,9 10,2 12,2
pH 5,6 5,6 -
DIVMS
1
63,5 64,2 47,0
1
% da MS;
2
% do NT.
Adotando-se uma compactação de 500 kg/m
3
, o material foi ensilado em silos
experimentais de PVC, cilíndricos, com 0,15 m de diâmetro e 0,3 m de comprimento,
com capacidade para 5,3 litros, que foram vedados com lona plástica, nas duas
33
extremidades, com auxílio de arame liso galvanizado e fita plástica, sendo armazenados
em galpão coberto, durante 45 dias.
Após este período, os silos foram abertos, procedendo-se então a coleta de
amostras, as quais foram congeladas para posteriores análises. Essas amostras foram
devidamente acondicionadas, transportadas para o Departamento de Zootecnia da
Universidade Federal de Viçosa, onde, nos Laboratórios de Forragicultura e de Nutrição
Animal, foram processadas e analisadas. Parte das amostras foram descongeladas à
temperatura ambiente, acondicionadas em sacos de papel e levadas à estufa de pré-
secagem, por 72 horas à temperatura de 65
o
C. Em seguida, foram moídas em moinho
tipo Wiley, em peneira com malha de 1 mm.
Os teores de proteína bruta e de compostos nitrogenados insolúveis em detergente
neutro (NIDN) e ácido (NIDA) foram determinados conforme Silva & Queiroz (2002).
A fração B3 da proteína foi obtida pela diferença entre o NIDN e o NIDA, ao passo que
a protna verdadeira solúvel em detergente neutro (frações B1+B2), pela diferença
entre o N insolúvel em TCA, determinado conforme Pereira & Rossi (1994) e o NIDN.
A porcentagem de carboidratos totais (CHO) foi obtida pela equação (Sniffen et
al., 1992): CHO = 100 – (%PB + %EE + %cinzas). Os carboidratos fibrosos (CF) foram
obtidos a partir da FDN corrigida para seu conteúdo de cinzas e proteínas (FDN
CP
); os
carboidratos não-fibrosos (CNF), que correspondem às frações A+B1, pela diferença
entre os CHO e a FDN
CP
(Hall, 2003); e a fração C, pela FDN indigestível após 144
horas de incubação in situ (Cabral et al., 2004). A fração B2, ou seja, a fração
disponível da fibra, foi obtida pela diferença entre a FDN
CP
e a fração C.
O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com seis
tratamentos e quatro repetições. O efeito dos níveis de FC foram interpretados por meio
de análise de variância e regressão e, a comparação entre os níveis de FC e o
emurchecimento, foi realizada conforme Dunnett (1955) a 5% de probabilidade,
utilizando o Statistical Analyses System (SAS, 1999).
34
Resultados e Discussão
Os teores de carboidratos totais (CHO) variaram em função dos tratamentos
(Tabela 2). As silagens produzidas com capim-elefante com 0 e 7% de FC apresentaram
teor de CHO superior (P<0,05) ao da silagem de capim-elefante emurchecido. Por outro
lado, os demais tratamentos com adição de FC (14, 21 e 28%) apresentaram valores de
CHO similares (P>0,05) ao do tratamento emurchecido.
Tabela 2 - Teores médios de carboidratos totais (CHO), proteína bruta (PB),
carboidratos não fibrosos (A+B1), componentes da parede celular
disponíveis, que correspondem à fração potencialmente degradável (B2),
fração indigestível da parede celular (FDNi), fração constitda de
nitrogênio não protéico (A), fração de rápida e de intermediária
degradação (B1+B2), fração de lenta degradação (B3) e fração não
digestível (C), das silagens de capim-elefante emurchecido (EMUR) e
não emurchecido com farelo de cacau
Item Farelo de cacau (% na MN)
EMUR 0 7 14 21 28
CV (%)
CHO (% MS) 76,8 81,8
*
79,6
*
77,8 76,9 75,4 1,2
PB (% MS) 8,4 5,4
*
7,5 9,1 10,0 10,9
*
8,4
Frações de carboidratos (% CHO)
A+B1 12,3 10,7 16,8
*
21,6
*
25,0
*
26,2
*
10,8
B2 55,1 58,6 49,6
*
43,9
*
39,9
*
37,0
*
4,1
FDNi 32,6 30,7 33,6 34,5 35,1 36,8
*
4,7
Frações protéicas (% PB)
A 50,7 47,6 33,4
*
33,0
*
29,4
*
25,8
*
4,6
B1+B2 33,7 29,6 28,3 24,7
*
23,9
*
22,2
*
13,5
B3 5,0 7,5 5,5 13,6
*
15,7
*
20,3
*
17,1
C 10,6 15,3 32,8
*
28,7
*
31,0
*
31,7
*
12,4
*
As dias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo
teste de Dunnett.
CV = Coeficiente de variação.
A análise de regressão mostrou que os níveis de FC na ensilagem provocaram
redução linear no teor de CHO, estimando-se redução de 0,22 percentuais para cada
unidade de FC adicionada, segundo a equação
Υ
= 81,3980 – 0,22168
**
FC (Figura 1).
Como o FC apresentou teores de proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE),
respectivamente, 36 e 83% superiores ao capim-elefante (Tabela 1), possivelmente, a
redução observada no teor de CHO das silagens com FC, tenha ocorrido em função do
elevado teor destas frações, pois, na estimativa do teor de CHO, segundo Sniffen et al.
35
(1992), quanto maiores os teores de PB e EE, menor será o teor de CHO.
y = 81,3980 -0,22168**FC
r
2
= 0,97
0
20
40
60
80
100
0 7 14 21 28
Farelo de cacau (%)
CHO (%)
As frações de carboidratos, A+B1, B2 e C (FDNi) das silagens, e suas respectivas
equações de regressão, são apresentadas nas Tabelas 2 e 3.
A fração A+B1 dos carboidratos não variou entre as silagens de capim-elefante
emurchecido e sem emurchecimento com 0% de adição de FC, pois estas silagens
apresentaram teor similar (P>0,05) de A+B1. Isto pode estar associado ao teor de
FDN
CP
semelhante entre esses tratamentos (Tabela 1). Contudo, os valores observados
para as silagens de capim-elefante com 7, 14, 21 e 28% de FC foram superiores
(P<0,05) ao do tratamento emurchecido. As maiores frações solúveis em detergente
neutro (A+B1) observadas para as silagens com FC ocorreram em função do menor teor
de FDN
CP
observado para o FC em relação ao capim-elefante.
A adição de veis crescentes de FC ao capim-elefante, promoveu acréscimo
linear na fração A+B1 (Tabela 3). Os acréscimos estimados foram de 6,0; 10,9; 14,2 e
15,5 unidades percentuais, respectivamente, para os tratamentos com níveis de 7, 14, 21
e 28% de FC em relação ao 0%. Esse acréscimo, provavelmente ocorreu, em função dos
maiores de teores de carboidratos não fibrosos no FC.
Figura 1 - Estimativa dos teores de carboidratos totais (CHO) das silagens
em função de diferentes níveis de farelo de cacau (FC)
** Significativo a 1% de probabilidade pelo teste F.
36
Tabela 3 - Equação de regressão, coeficiente de variação (CV) e coeficiente de
determinação obtidos para os teores de carboidratos não fibrosos
(A+B1), componentes da parede celular disponíveis, que correspondem
à fração potencialmente degradável (B2), fração indigestível da parede
celular (FDNi), fração constituída de nitrogênio não protéico (A), fração
de rápida e de intermediária degradação (B1+B2), fração de lenta
degradação (B3) e fração não digestível (C), em função dos níveis de
farelo de cacau no capim-elefante não emurchecido
Item Equação de regressão CV (%) r
2
Frações de carboidratos (% CHO)
A+B1
Υ
= 12,24150 + 0,55704
**
FC
11,1 0,94
B2
Υ
= 56,40250 – 0,75586
**
FC 4,0 0,95
FDNi
Υ
= 31,35650 + 0,19875
**
FC 8,6 0,93
Frações protéicas (% PB)
A
Υ
= 43,37150 – 0,68186
**
FC
5,2 0,83
B1+B2
Υ
= 29,55450 – 0,27150
**
FC 15,2 0,96
B3
Υ
= 5,38350 + 0,51086
**
FC 16,5 0,87
C
Υ
= 17,79321 + 1,55651
**
FC – 0,03979
**
FC
2
12,1 0,72
**
Significativo a 1% de probabilidade, pelo teste F.
Os valores de A+B1 (em % dos CHO) obtidos para as silagens de capim-elefante
nos tratamentos sem adição de FC foram próximos da faixa determinada por Malafaia et
al. (1998) para gramíneas (máximo de 11,62%). Contudo, para as silagens com FC, foi
estimado que, a partir do vel de adição de 14%, o teor da fração A+B1 (% CHO) é
superior a 20%, valor este próximo ao encontrado por Malafaia et al. (1998) para
silagem de milho, indicando assim, que a utilização de FC na ensilagem do capim-
elefante foi responsável pelo aumento da fração A+B1.
Ribeiro et al. (2001) fracionaram os carboidratos do feno de capim-tifton 85, de
plantas colhidas aos 28, 35, 42 e 56 dias de rebrota, e observaram para a fração A+B1
(% CHO), respectivamente, valores de 7,8; 5,5; 5,3 e 4,6%. Os valores obtidos pelos
autores foram baixos comparados aos encontrados neste experimento. Embora não
mensurado, é possível que o capim-elefante, no momento em que foi colhido para ser
ensilado, tenha apresentado maior teor de açúcares, ácidos orgânicos, amido e
compostos fibrosos solúveis do que o capim-tifton estudado pelos autores.
Estudando o fracionamento de carboidratos em amostras de extrusa de animais
mantidos em pastagem da Zona da Mata (MG), Vieira et al. (2000) observaram que a
fração A+B1 correspondeu a 15% dos carboidratos totais, na época chuvosa, e 12,5%
37
durante a estação seca. Os valores de A+B1 obtidos pelos autores foram próximos aos
valores encontrados neste estudo para a silagem de capim-elefante não emurchecido
com 0% de FC e silagem de capim emurchecido.
Alimentos com elevada fração A+B1 o considerados boas fontes de energia
para o crescimento de microrganismos que utilizam carboidratos não fibrosos. Contudo,
é necessária a inclusão de fontes protéicas de rápida e média degradação no rúmen,
quando a fração A+B1 compõe a principal fração dos carboidratos da dieta, objetivando
a sincronização entre a liberação de energia e nitrogênio (Valadares Filho, 2000).
Para a fração B2 (% CHO), ou seja, carboidratos fibrosos potencialmente
digestíveis, observou-se que apenas a silagem sem FC foi similar (P>0,05) ao
tratamento emurchecido. Os tratamentos com adição de 7, 14, 21 e 28% de FC
produziram silagens com teor de fração B2 significativamente inferior (P<0,05) ao da
silagem produzida com capim-elefante emurchecido. No estudo de regressão, detectou-
se decréscimo linear nos valores de B2 em função dos níveis de FC (Tabela 3).
Como relatado anteriormente, observou-se redução linear da fração B2 em função
dos níveis de FC na ensilagem. Deste modo, tudo indica que o menor teor de FDN do
FC em relação ao capim-elefante utilizado neste experimento (Tabela 1) tenha sido o
responsável por tal redução.
Balsalobre et al. (2003) avaliaram o capim-tanzânia irrigado no verão, outono e
primavera e relataram valor de B2, respectivamente, de 70,4; 67,5 e 65,1%. Os valores
relatados por estes autores são superiores aos observados neste estudo. Contudo,
Malafaia et al. (1998) destacou que o valor da fração B2 dos alimentos está intimamente
ligado ao teor de FDN, pois dentre vários alimentos estudados pelos autores, ficou
evidenciado que as gramíneas foram os volumosos que apresentaram os maiores valores
da fração B2 e, em decorrência de seus mais altos valores de FDN. Os maiores valores
da fração B2 em relação às frações A+B1 e C (FDNi), tanto para as silagens sem FC
como para as com FC, estão de acordo com os valores relatados por Malafaia & Vieira
(1997) para os capins tifton 85, elefante, braquiarão e braquiária, e silagem de milho e
feno de cost-cross.
Os valores da fração B2 (% CHO) observados neste experimento para as silagens
de capim-elefante sem FC, respectivamente, 55,1 e 58,6% para as silagens de capim
emurchecido e não emurchecido, corroboram com o valor da fração B2 (% CHO), de
51,7%, relatada por Cabral et al. (2004) para a silagem de capim-elefante. Isto se deve
ao fato do capim-elefante utilizado neste trabalho ter apresentado características
38
químicas (Tabela 1) semelhantes às do capim utilizado pelos autores, principalmente no
que concerne aos teores de MS, CHO e FDN.
Por outro lado, valores superiores aos obtidos neste experimento foram
encontrados por Cabral et al. (2000), que fracionaram os carboidratos do capim-elefante
(Pennisetum purpureum, cv. Cameroom) cortado aos 42 e 63 dias e observaram valores
de B2 (% CHO), respectivamente, de 69,3 e 68,5%. No presente trabalho, observou-se
menores valores de B2 em relação aos encontrados pelos autores. Isto se deve ao menor
teor de FDN do capim-elefante utilizado neste experimento, uma vez que, na fração B2,
está contida a porção digestível da parede celular (Sniffen et al., 1992). Embora a
porção contida na fração B2 seja digestível, Russell et al. (1992) evidenciaram que
alimentos com elevado teor desta fração demandam nitronio não protéico para
atender os requisitos de nitrogênio dos microrganismos fermentadores de carboidratos
estruturais.
A fração B2, principal componente observado na silagem de capim-elefante,
independentemente da adição de FC, por apresentar lenta taxa de degradação,
juntamente com a fração C (indigestível), normalmente, afeta o consumo animal pelo
fator enchimento, reduzindo, por conseguinte, o desempenho dos animais (Mertens,
1987).
No tocante à fração C dos carboidratos, representada pela FDNi, nas Tabelas 2 e
3, não se observou diferença (P>0,05) entre os tratamentos com FC e o tratamento
emurchecido; entretanto, o estudo de regressão mostrou efeito (P<0,01) para a FDNi em
função dos níveis de FC adicionados ao capim-elefante.
Como a FDNi compreende a porção da parede celular vegetal que não é digerida
ao longo de sua permanência no trato gastrintestinal (Sniffen et al., 1992), tudo indica
que o acréscimo desta fração em função dos veis de FC tenha ocorrido pelo elevado
teor de lignina presente no FC (17,9%) (Tabela 1), uma vez que, a lignina se constitui
em um polímero fenólico associado aos carboidratos estruturais, celulose e
hemicelulose (Norton, 1982), e é o componente que, reconhecidamente, mais limita a
digestão dos polissacarídeos da parede celular no rúmen (Jung & Deetz, 1993).
Os teores de FDNi obtido para as silagens de capim-elefante emurchecido e não
emurchecido, respectivamente, 32,6 e 30,7%, estão de acordo com os 33,6% observados
para a silagem de capim-elefante avaliada por Cabral et al. (2004). Deste modo, fica
claro que os maiores valores da FDNi observados para os tratamentos com FC
ocorreram em função da adição de FC na ensilagem.
39
A caracterização das frações que constituem os carboidratos dos alimentos obtidos
em condições tropicais, é instrumento valioso para formulação de rações que visem a
maximização do crescimento microbiano ruminal e, consequentemente, a melhor
predição do desempenho dos animais. Embora tenha ocorrido aumento nos valores da
fração C, a fração B2 foi a principal fração das silagens com FC, configurando o FC
como uma alternativa de fonte de carboidratos potencialmente digeríveis.
Para o teor de PB das silagens, os tratamentos com 7, 14 e 21% de adição de FC
foram similares ao tratamento emurchecido. Já os tratamentos 0 e 28% de adição de FC
no capim-elefante, produziram silagens com teores de PB, respectivamente, inferior e
superior (P<0,05) ao tratamento emurchecido (Tabela 2). A adição dos níveis de FC na
ensilagem de capim-elefante provocou acréscimo linear nos teores de PB das silagens.
Estimado pela equação de regressão (Figura 2), observa-se que, para cada unidade de
FC adicionada, houve um acréscimo de 0,19% no teor de PB das silagens. O aumento
observado nos teores de PB, em função dos níveis de FC, deve-se ao maior teor de PB
do FC em relação ao capim-elefante.
y = 5,91450 + 0,19129**FC
r
2
= 0,96
0
4
8
12
16
20
0 7 14 21 28
Farelo de cacau (%)
PB (%)
Figura 2 - Estimativa dos teores de proteína bruta (PB) das silagens em
função de diferentes níveis de farelo de cacau (FC)
** Significativo a 1% de probabilidade pelo teste F.
Souza et al. (2003) estudaram a adição de níveis crescentes de casca de café (0;
8,7; 17,4; 26,1 e 34,8%) na ensilagem de capim-elefante e, assim como no presente
40
experimento, observaram aumento nos teores de PB das silagens. Os autores
verificaram comportamento quadtico, com valor máximo de 9,8% no teor de PB das
silagens com 17,4% de casca de café. Esse valor máximo estimado de PB encontrado
pelos autores pode ser obtido com a adição de 20,3% de FC na ensilagem. Embora
sejam semelhantes os níveis de casca de café e de FC para se obter o mesmo teor de PB,
o comportamento observado para a casca de café divergiu do observado para o FC, pois,
a partir do vel de casca de 17,4%, o teor de PB tende a decrescer, enquanto para o FC
os teores continuam aumentando. Essa diferença no comportamento do teor de PB,
observada entre os experimentos, pode ser explicada pelo menor teor de PB da casca de
café em relão ao capim-elefante utilizado pelos autores. O maior teor de PB do FC em
relação ao capim-elefante utilizado neste trabalho pode ser uma possível explicação
para o comportamento linear crescente observado, pois, como o FC foi adicionado em
veis crescentes, acredita-se que tenha ocorrido efeito de adição. Além disso, a PB do
FC foi 31% maior do que a PB da casca de café utilizada pelos autores.
O fato de que o teor de PB do subproduto a ser utilizado na ensilagem de capim-
elefante interfere no teor de PB da silagem, foi evidenciado por Ferrari Júnior &
Lavezzo (2001), que ao avaliarem níveis crescentes de bagaço de mandioca na
ensilagem de capim-elefante, observaram redução linear nos teores de PB das silagens.
O teor de PB do bagaço utilizado pelos autores foi de 2%, sendo o responsável por tal
redução, já que a inclusão do subproduto implica em menores proporções de capim-
elefante na silagem.
Em relação às frações protéicas (% PB) das silagens (Tabelas 2 e 3), o teor de
nitrogênio não protéico (NNP) ou fração A obtido para as silagens de capim-elefante
emurchecido e não emurchecido foram de, 50,7 e 47,6%, respectivamente, e
estatisticamente similares (P>0,05). Já as silagens produzidas com adição de FC ao
capim-elefante, apresentaram valores de fração A inferiores (P<0,05) ao do tratamento
emurchecido. O teor NNP decresceu linearmente em função dos níveis de FC,
estimando-se redução de 0,68% unidades percentuais para cada unidade de FC
adicionada.
Com a fermentação da massa ensilada boa parte da proteína é convertida em NNP
em decorrência da proteólise. Contudo, os valores encontrados situam-se próximos das
faixas normalmente registrada por outros autores em estudos com silagens de
gramíneas.
Cabral et al. (2004) observaram valor de NNP na silagem de capim-elefante de
41
56,9%, o que é 6,24 e 9,29 unidades percentuais superior aos valores obtidos para as
silagens de capim-elefante emurchecido e não emurchecido no presente trabalho.
Segundo Valadares Filho (2000), em relação à avaliação protéica dos alimentos
para ruminantes, nem todo fracionamento protéico feito pelo CNCPS deveria ser
adotado no Brasil. Apenas devem ser obrigatórias, além da análise de PB, pelo menos a
determinação da fração dos compostos nitrogenados não protéicos, das frações
insolúveis em detergente ácido (NIDA) e em detergente neutro (NIDN), isto é, as
frações A e C e, por diferença (NIDN – NIDA), a fração B3, respectivamente, não
havendo, portanto, necessidade de separar a proteína solúvel (B1) da insolúvel (B2).
Porém, dependendo da finalidade da pesquisa, o fracionamento conforme descrito pelo
CNCPS torna-se necessário, principalmente quando se pretende calcular o escape
ruminal de proteína oriundo de cada uma dessas frações.
As frações B1 e B2 no presente estudo foram consideradas como fração única
(B1+B2). As silagens produzidas com capim-elefante não emurchecido com 0 e 7% de
FC apresentaram valores de B1+B2 e B3 similares (P>0,05), enquanto os demais
tratamentos com adição de FC (14, 21 e 28%) foram diferentes (P<0,05).
A inclusão de FC na ensilagem de capim-elefante provocou redução e aumento
linear (P<0,01), respectivamente, nas frações B1+B2 e B3 (Tabela 3).
Os valores de B1+B2 obtidos para a silagem emurchecida (33,7%) e não
emurchecida sem FC (29,6%) foram superiores aos 22,4% encontrados por Cabral et al.
(2004) para a silagem de capim-elefante. Por outro lado, valores semelhantes aos
obtidos neste trabalho para a fração B1+B2 (% PB) foram relatados por Ribeiro et al.
(2001), para fenos de capim-tifton 85 produzido aos 28, 35, 42 e 56 dias de rebrota,
cujos valores foram 33,9; 35,03; 33,1 e 31,5%, respectivamente.
A frão B3 (% PB) foi relativamente baixa para as silagens de capim-elefante
emurchecido (5,0%) e não emurchecido (7,5%). Como a fração B3 é representada pelas
proteínas de ligação da parede celular que apresentam lenta taxa de degradação, sendo
digeridas principalmente nos intestinos (Cabral et al., 2004), tudo leva a crer que a
adição de FC na ensilagem de capim-elefante aumenta a proteína não degradada no
men, uma vez que maiores valores de B3 e redução acentuada na fração A foram
observadas nas silagens com FC.
A fração C, que corresponde às proteínas associadas à lignina, complexos tanino-
proteína e produtos oriundos da reação de Maillard, é altamente resistente às enzimas
microbianas e indigestível ao longo do trato gastrintestinal (Licitra et al., 1996). Para a
42
fração C, o único tratamento que se assemelhou estatisticamente ao emurchecido foi o
não emurchecido sem FC. As demais silagens com FC foram superiores (P<0,05) à
silagem de capim emurchecido.
O estudo de regressão mostrou comportamento quadrático (P<0,01) para a fração
C em função dos níveis de FC, estimando-se valor máximo de 33,0% para o nível de
19,6% de FC.
Ao se considerar os valores observados em cada tratamento (Tabela 2), fica
evidente os acréscimos nos valores de C das silagens com FC em relação à silagem
emurchecida. Segundo Van Soest (1994), o aumento da fração C de silagens pode
ocorrer devido à formação de produtos da reação de Maillard, em razão do aumento da
temperatura em silagens com elevado teor de umidade. É possível que o aumento da
fração C das silagens com FC, esteja associado ao processo de torrefação da amêndoa
do cacau na indústria do chocolate. Acredita-se que nesta fase possa ter ocorrido reação
de Maillard, haja vista os altos valores de NIDA neste subproduto em relação ao capim-
elefante, resultando assim, em aumento da fração C naquelas silagens contendo FC.
Como a proporção dessas frações de protéicas é responsável pelo maior ou menor
escape de nitrogênio ruminal e pelo atendimento dos requisitos de nitrogênio dos
microrganismos ruminais, fica implícito que alimentos com teores de PB similares, mas
com diferenças nestas frações, resultarão em predições incorretas sobre o desempenho
animal se, na formulação das rações, não for considerada a dinâmica destas frações no
men e nos intestinos (Malafaia, 1997). A utilização de FC na ensilagem de capim-
elefante, embora tenha resultado em acréscimo na fração C, promoveu nas silagens, de
uma maneira geral, valores satisfatórios de frações B1+B2 e B3, que, em um sistema de
alimentação, devem ser consideradas na formulação de rações, constituindo-se,
portanto, em uma alternativa para ruminantes.
43
Conclusões
A fração A+B1 representa menos de 15% dos carboidratos da silagem de capim-
elefante, contudo, valores acima de 20% podem ser obtidos com adição de 14% de
farelo de cacau na ensilagem.
A utilização do farelo de cacau na ensilagem de capim-elefante aumentou a
porção de carboidratos indigestíveis das silagens, entretanto, a fração B2 apresentou-se
como importante fonte de energia.
A adição de farelo de cacau na ensilagem de capim-elefante acarreta redução dos
teores de NNP e fração B1+B2, e acréscimo das frações B3 e C, indicando que, em um
sistema de alimentação de ruminantes, é necessário o fornecimento de uma fonte extra
de nitrogênio solúvel.
De acordo com os valores das frações protéicas B1+B2, B3 e C das silagens de
capim-elefante com farelo de cacau, pode-se inferir que estas silagens constituem-se
fontes alternativas de proteína de lenta degradação no rúmen, mas potencialmente
digerível no intestino delgado.
44
Literatura Citada
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47
Degradação Ruminal de Silagem de Capim-Elefante Emurchecido ou com Farelo
de Cacau
RESUMO: O experimento foi conduzido para avaliar a degradação ruminal da
matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro (FDN) da silagem
de capim-elefante submetido ao emurchecimento ou à adição de diferentes veis de
farelo de cacau, 0, 7, 14, 21 e 28% durante a ensilagem. Amostras de cada silagem
foram incubadas no rúmen de três vacas holandesas por períodos de 0, 6, 12, 24, 48, 72,
96, 120 e 144 horas. Para a MS, a inclusão do FC reduziu o potencial de degradação,
sendo os maiores valores observados nos tratamentos emurchecido e não emurchecido.
Por outro lado, a degradabilidade potencial da PB e da FDN apresentaram pequenas
variações, com os valores médios situando-se próximos de 80 e 46%, respectivamente.
Considerando a taxa de passagem de 5%/h, todos os tratamentos apresentaram elevada
degradabilidade efetiva da PB (acima de 55%). Embora as estimativas da degradação
ruminal das silagens com FC tenham apresentado tendência de redução, todas as
silagens apresentaram degradabilidade potencial da MS e da PB acima de 65 e 75%,
respectivamente. A adição de FC ao capim-elefante pode ser considerada uma
alternativa que oferece rápida e abundante disponibilidade de nutrientes para o sistema
ruminal.
Palavras-chave: degradação in situ, forrageira, incubação ruminal, Pennisetum
purpureum, subproduto, Theobroma cacao L.
48
Rumen Degradation of Silage of Elephantgrass Wilted or with Cocoa Meal
ABSTRACT: The experiment was conducted to evaluate dry matter (DM), crude
protein (CP) and neutral detergent fiber (NDF) rumen degradation of the silages on the
submitted elephantgrass forage to wilted under sun light for eight hours and without
exposing to sun light but with addition of 0, 7, 14, 21, and 28% of cocoa meal (CM) at
the ensilage processing. Samples of each silage were incubated in the rumen of three
Holstein cows for 0, 6, 12, 24, 48, 72, 96, 120 and 144 hours periods. To DM, the CM
inclusion reduced the degradation potential, which showed greater values to wilted and
no wilted treatments. The CP and NDF potential degradability suffered small variations,
with mean values near 80 and 46%, respectively. Considering the passage rate of 5%/h,
all treatments showed high CP effective degradability (over 55%). Although rumen
degradation estimative of silages with CM had showed a reduction tendency, all silages
presented DM and CP potential degradability over 65 and 75%, respectively. The CM
addition to elephantgrass can be considered an alternative that offers a fast and abundant
availability of nutrients to rumen system.
Key words: in situ degradation, roughage, ruminal incubation, Pennisetum purpureum,
by-product, Theobroma cacao L.
49
Introdução
Os problemas decorrentes da sazonalidade de produção de forragem no Brasil
podem ser minimizados pelo armazenamento do alimento na forma de silagem. O uso
de espécies forrageiras para produção de alimentos conservados, visando a alimentação
de bovinos de corte em confinamento ou em períodos estratégicos de escassez de
alimentos, é uma alternativa viável à intensificação do sistema produtivo (Restle et al.,
2003).
Originário da África e com excelente potencial de produção de matéria seca, o
capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum. cv. Napier) é reconhecidamente uma
das gramíneas tropicais de maior potencial produtivo e, desta forma, uma das plantas
forrageiras mais utilizadas para conservação na forma de silagem (Vilela, 1990).
Contudo, ao ser cortado em idade inferior a 90 dias de crescimento, quando a produção
e o valor nutritivo são adequados, o excesso de umidade presente (80% ou mais)
aumenta o risco de fermentões indesejáveis com maior produção de ácidos acético e
butírico, nitrogênio amoniacal, amidas e aminas (McDonald et al., 1991).
O estudo de tratamentos que beneficiem o processo fermentativo das silagens de
capim-elefante tem sido alvo de diversas pesquisas. Tais avaliações envolveram a
adição de fontes de carboidratos (Ferreira et al., 2004; Rodrigues et al., 2005), de
materiais com altos teores de MS (Souza et al., 2003; Bernardino et al., 2005), o
emurchecimento prévio do capim (Ferrari Júnior & Lavezzo, 2001; Andrade & Melotti,
2004), adição de inoculantes bacterianos (Andrade & Melotti, 2003) e o uso de
substâncias nitrogenadas (Vilela & Wilkinson, 1987; Andrade & Melotti, 2004).
O valor nutritivo de um alimento depende, principalmente, do vel de nutrientes
presentes, da quantidade ingerida voluntariamente pelo animal e da digestibilidade e,
ou, da degradabilidade dos nutrientes consumidos. Conseqüentemente, a avaliação
eficiente de um alimento, para fins de predição da resposta animal, baseia-se no
conhecimento das quantidades diárias de proteína e de energia digestíveis que o animal
pode obter desse alimento. Nesse sentido, o conhecimento do valor nutritivo potencial
dos alimentos por meio da degradação ruminal permite o emprego racional dos mesmos,
como alimento único ou como ingredientes de misturas mais complexas (Cabral et al.
2005).
Considerando que os carboidratos são a principal fonte de energia para o
crescimento microbiano e a proteína microbiana a principal fonte de aminoácidos para o
hospedeiro, variações na degradação ruminal da proteína bruta e da fibra em detergente
50
neutro, bem como nas taxas de digestão entre e dentro de alimentos, podem afetar o
suprimento de proteína microbiana ao intestino delgado e, conseqüentemente, o
desempenho animal (Cabral et al., 2000).
Assim, qualquer consideração sobre a utilização de forragens pelos ruminantes
deve basear-se no contexto das complexas interações que ocorrem entre os diversos
componentes da planta e os microrganismos ruminais (Azevedo et al., 2003).
Embora as informações inerentes à composição bromatológica e à ingestão de
alimentos sejam de grande valia, o conhecimento da utilização dos nutrientes pelo
animal, que é obtido por meio de estudos de digestão e de degradabilidade ruminal, é de
fundamental importância para expressar o valor nutricional de um alimento. De acordo
com Chizzotti et al., (2005), o conhecimento dos locais de digestão dos nutrientes é
relevante, pois permite calcular as quantidades aparentemente absorvidas nos diferentes
segmentos do trato digestório.
A degradabilidade das frações fibrosas dos alimentos cresce, quanto maior for a
participação de alimentos volumosos na dieta dos animais (Souza et al., 2000).
Alimentos produzidos sob condições tropicais apresentam composição nutricional
diferente daqueles dos alimentos obtidos em regiões de clima temperado (Van Soest,
1994). Contudo, de todos os nutrientes necessários às exigências nutricionais para
mantença, crescimento e, ou produção de bovinos, a energia oriunda da degradação
ruminal de parede celular constitui a principal contribuição dos volumosos (Ítavo et al.,
2002).
Dentre as técnicas empregadas para avaliar a degradação ruminal, a in situ tem
sido a mais extensivamente utilizada para a estimativa da degradação ruminal dos
alimentos (Nocek, 1988; Valadares Filho et al., 1991). Esta técnica consiste em
determinar o desaparecimento de componentes da amostra de alimentos acondicionados
em sacos de náilon, ou outro material sintético, e incubados no rúmen por períodos
varveis. Embora o estudo in situ não permita que o alimento sofra todos os eventos
digestivos, como mastigação e ruminação, Teixeira (1997) destacou que o extenso uso
desta técnica está ligado à sua rápida e fácil execução, pois requer pequena quantidade
de amostra do alimento teste, e possibilita sua exposição ao contato íntimo com o
ambiente ruminal. Além disso, a determinação do valor nutritivo in situ permite obter
valores mais próximos dos encontrados com ensaio in vivo (Nocek, 1988; Mertens,
1993).
51
Com a estimativa das variáveis da cinética dos nutrientes no trato gastrintestinal, é
possível o fornecimento de rações mais adequadas, visando a máxima eficiência de
síntese de proteína microbiana, bem como a redução das perdas energéticas e
nitrogenadas decorrentes da fermentão ruminal, observando, entre os alimentos, a
sincronização na degradação de nitrogênio e de carboidratos no rúmen.
Objetivou-se, com este experimento, avaliar a degradação ruminal da matéria
seca, da protna bruta e da fibra em detergente neutro da silagem de capim-elefante
(Pennisetum purpureum, Schum. cv. Napier) submetido ao emurchecimento ou à adição
de diferentes níveis de farelo de cacau (Theobroma cacao L.).
Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão em
Gado de Leite do Departamento de Zootecnia, na Universidade Federal de Viçosa,
Viçosa, MG, durante o período de agosto a outubro de 2005.
Foram utilizadas três vacas da raça Holandesa malhada de preto, em lactação,
canuladas no rúmen, com peso médio de 552 kg e produção de leite média de 21,5 kg.
Durante todo o período da incubação ruminal, os animais foram alimentados com uma
dieta básica composta de 60% silagem de milho (Zea mays) e 40% de concentrado, cuja
composição química pode ser observada na Tabela 1.
Para produção das silagens estudadas no ensaio in situ, utilizou-se o capim-
elefante (Pennisetum purpureum, Schum. cv. Napier), proveniente de uma capineira já
estabelecida e localizada em um solo classificado do tipo chernossolo argilúvio, ótico,
pico, estruturado hipereutrófico, com textura argilosa, fase floresta subcaducifólia e
relevo ondulado (EMBRAPA, 1999), pertencente à Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia, UESB, Itapetinga, BA.
O capim-elefante foi submetido a um corte de uniformização e, após 50 dias de
rebrota, foi colhido manualmente a 10 cm do solo, sendo picado em fragmentos de 2 cm
em ensiladeira estacionária e submetido aos seguintes tratamentos para ensilagem:
A – capim-elefante emurchecido ao sol por 8 horas;
B capim-elefante sem emurchecimento;
C – capim-elefante (93%) mais farelo de cacau (7%);
D – capim-elefante (86%) mais farelo de cacau (14%);
E – capim-elefante (79%) mais farelo de cacau (21%);
F – capim-elefante (72%) mais farelo de cacau (28%).
52
Tabela 1 - Teores médios de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína
bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra
em detergente neutro isenta de cinzas e protna (FDN
CP
), fibra em
detergente ácido (FDA), cinzas, lignina, celulose, hemicelulose,
nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio insolúvel
em detergente ácido (NIDA), carboidratos totais (CHO), carboidratos
não fibrosos (CNF), carboidratos solúveis (CHOs), pH e digestibilidade
in vitro da matéria seca (DIVMS) da silagem de milho e do concentrado
fornecidos aos animais durante o ensaio de incubação ruminal
Alimentos
Item
Silagem de milho Concentrado
MS 32,2 89,0
MO
1
96,0 94,9
PB
1
8,0 24,3
EE
1
2,8 6,8
FDN
1
68,6 71,1
FDN
CP
1
69,5 11,2
FDA
1
33,1 8,9
Cinzas
1
4,0 5,1
Lignina
1
7,0 1,8
Celulose
1
26,1 7,1
Hemicelulose
1
39,2 5,0
NIDN
2
28,0 6,7
NIDA
2
23,3 3,6
CHO
1
85,2 63,8
CNF
1
15,7 52,5
CHOs
1
15,9 -
pH 3,9 -
DIVMS
1
66,5 -
1
% da MS;
2
% do N-total.
No processo de emurchecimento, o capim foi colhido e espalhado no campo e,
após oito horas de exposição ao sol, picado e ensilado. Na incorporação do farelo de
cacau (FC) ao capim-elefante sem emurchecimento, o mesmo foi imediatamente
adicionado logo após o corte do capim e o fracionamento das partículas na ensiladeira,
sendo a proporção adicionada em relação à massa verde (peso/peso) da gramínea. A
composição química do capim-elefante emurchecido e não emurchecido, e do FC pode
ser observadas na Tabela 2.
Utilizando quatro repetições por tratamento, o material foi acondicionado em silos
experimentais de PVC, cilíndricos, com 0,15 m de diâmetro e 0,3 m de comprimento,
com capacidade para 5,3 litros, que foram vedados com lona plástica, nas duas
53
extremidades, com auxílio de arame liso galvanizado e fita plástica, sendo armazenados
em galpão coberto, durante 45 dias.
Tabela 2 - Teores médios de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), protna
bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra
em detergente neutro isenta de cinzas e proteína (FDN
CP
), fibra em
detergente ácido (FDA), cinzas, lignina, celulose, hemicelulose,
nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio insolúvel
em detergente ácido (NIDA), carboidratos totais (CHO), carboidratos
não fibrosos (CNF), carboidratos solúveis (CHOs), pH e digestibilidade
in vitro da matéria seca (DIVMS) do capim-elefante e do farelo de cacau
Item Capim-elefante
Não emurchecido Emurchecido Farelo de cacau
MS 20,3 27,8 89,8
MO
1
90,4 90,2 92,6
PB
1
8,6 8,5 13,5
EE
1
1,7 1,8 9,9
FDN
1
71,1 68,6 48,5
FDN
CP
1
67,5 65,2 43,6
FDA
1
43,6 41,3 40,0
Cinzas
1
9,6 9,8 7,4
Lignina
1
3,3 3,3 17,9
Celulose
1
40,3 37,9 23,1
Hemicelulose
1
27,4 27,3 8,5
NIDN
1
0,21 0,23 1,1
NIDA
1
0,15 0,16 1,0
NIDN
2
15,2 16,9 50,5
NIDA
2
10,8 11,8 47,7
CHO
1
80,1 79,9 69,2
CNF
1
12,6 14,4 25,7
CHOs
1
10,9 10,2 12,2
pH 5,6 5,6 -
DIVMS
1
63,5 64,2 47,0
1
% da MS;
2
% do NT.
Após este período, os silos foram abertos, procedendo-se então a coleta de
amostras, os quais foram congeladas para posteriores análises. Essas amostras foram
devidamente acondicionadas e transportadas para o Departamento de Zootecnia da
Universidade Federal de Viçosa, onde, nos Laboratórios de Forragicultura e de Nutrição
Animal, parte delas foram pré-secas em estufa de ventilação forçada, por 72 horas à
temperatura de 65
o
C, sendo, em seguida, moídas em moinho tipo Wiley, com peneira
com malha de 2 mm, segundo recomendações do NRC (2001). Após a moagem,
54
amostras proporcionais de cada repetição e por tratamento individual, foram misturadas
e obtida uma composta de cada tratamento, as quais foi destinada à incubação ruminal.
As amostras de silagens de capim-elefante emurchecido e não emurchecido com
os níveis de FC (0, 7, 14, 21 e 28%) foram acondicionadas em sacos de fibra sintética
do tipo TNT, gramatura 100, com dimensões de 15 x 8 cm, na quantidade de,
aproximadamente, 2,4 g de MS/saco, a fim de manter uma relação próxima a 20 mg de
MS/cm
2
de área superficial do saco (Nocek, 1988). Os períodos de incubação
corresponderam aos tempos de 0, 6, 12, 24, 48, 72, 96, 120 e 144 horas, sendo os sacos
colocados em ordem inversa e em duplicata, para serem retirados todos ao mesmo
tempo, promovendo, dessa forma, lavagem uniforme do material por ocasião da retirada
do rúmen.
Após o período de incubação total de 144 horas, todos os sacos foram retirados do
rúmen, lavados em água corrente até que esta se apresentasse limpa, procedendo-se,
então, à secagem. A determinação da MS foi feita em estufa a 65
o
C por 72 horas. O
resíduo obtido após esta etapa foi utilizado para as análises de PB e FDN, segundo
metodologias descritas por Silva & Queiroz (2002).
Os dados de degradabilidade in situ da MS, PB e FDN foram obtidos pela
diferença de peso, encontrada para cada componente, entre as pesagens efetuadas antes
e após a incubação ruminal, e expressos em porcentagem.
O delineamento experimental utilizado foi o de parcelas subdivididas, em que os
três animais representaram os blocos; as silagens, os tratamentos; e os nove horários de
incubação dos alimentos no men, as subparcelas.
Com o auxílio do SAEG – Sistema para Análises Estatísticas (Ribeiro Jr., 2001),
foram calculadas as taxas de degradação da MS e da PB utilizando-se a equação
proposta por Ørskov & McDonald (1979):
D
t
= A + B x (1 – e
-ct
), em que:
D
t
= fração degradada no tempo t” (%), “A”= fração solúvel (%); B”= fração
insolúvel potencialmente degradável (%); “c”= taxa de degradação da fração B” (h
-1
);
e “t”= tempo (h).
Já a degradabilidade da FDN foi estimada utilizando o modelo de Mertens &
Loften (1980):
R
t
= B x e
-ct
+ I
Após os ajustes da equação de degradação da FDN, procedeu-se a padronização
de frações, segundo a proposição de Waldo et al. (1972), conforme as equações:
55
B
P
= B/(B+I) x 100
I
P
= I/(B+I) x 100, em que:
B
P
= frão potencialmente degradável padronizada (%); I
P
= fração indigestível
padronizada (%); e B, I= como definidas anteriormente.
Os coeficientes não lineares “a”, “be “c”, foram estimados por meio de
procedimentos iterativos de Gauss-Newton. A degradabilidade efetiva (DE) da MS e da
PB no rúmen foi calculada utilizando o modelo:
DE= A + (B x c / c + k), em que:
k corresponde à taxa estimada de passagem das partículas no rúmen.
Para a DE da FDN utilizou-se o modelo:
DE= B
P
x c/(c+k)
Em que B
P
é a fração potencialmente degradável (%) padronizada.
Resultados e Discussão
Os parâmetros de degradação ruminal da MS, da PB e da FDN das silagens estão
apresentados na Tabela 3. Considerando que a frão A representa a porção da planta
que está prontamente disponível para os microrganismos ruminais, tudo leva a crer que
o FC adicionado na ensilagem contribuiu para o acréscimo desta fração nas silagens,
pois o tratamento com 28% de adição de FC foi o que apresentou os maiores valores,
24,8 e 40,5%, respectivamente, para MS e PB.
Para as silagens produzidas com capim-elefante emurchecido e não emurchecido,
observou-se valor de A da MS semelhantes, 23,5 e 21,4%, respectivamente. Valor de A
superior aos encontrados neste trabalho foi relatado por Chizzotti et al. (2005), que
avaliaram a degradabilidade ruminal da silagem de capim-elefante, e reportaram valor
de 29,3% de fração A.
Embora tenham sido observados maiores valores de A para o tratamento com 28%
de FC, a fração insolúvel potencialmente degradável (B), tanto para a MS como para a
PB, foi menor neste tratamento em relão aos demais. No que concerne aos valores da
fração B encontrados para a PB, os menores valores observados para as silagens com
FC possivelmente ocorreram devido ao elevado teor de NIDA do FC (48% do N-total).
Como o NIDA é a fração que representa o nitrogênio indisponível ao sistema ruminal,
os veis de FC aplicados na ensilagem foram os responsáveis pelos menores valores de
B.
56
Tabela 3 - Estimativa dos parâmetros de degradabilidade ruminal da matéria seca
(MS), da proteína bruta (PB) e da fibra em detergente neutro (FDN) das
silagens de capim-elefante (CE) incubadas no rúmen
Silagem Parâmetro r
2
Degradabilidade da MS
A B c
CE emurchecido 23,5 60,1 0,1000 0,97
CE + 0% FC 21,4 59,2 0,1010 0,97
CE + 7% FC 19,4 55,9 0,0880 0,95
CE + 14% FC 19,7 46,6 0,1200 0,99
CE + 21% FC 22,7 45,0 0,0670 0,99
CE + 28% FC 24,8 44,3 0,1280 0,98
Degradabilidade da PB
A B c
CE emurchecido 35,1 48,3 0,0487 0,98
CE + 0% FC 35,2 47,9 0,0477 0,98
CE + 7% FC 36,5 45,9 0,0401 0,98
CE + 14% FC 37,4 43,2 0,0459 0,97
CE + 21% FC 38,5 40,7 0,0462 0,96
CE + 28% FC 40,5 36,7 0,0415 0,97
Degradabilidade da FDN
B
p
I
p
c
CE emurchecido 67,0 33,0 0,0620 0,98
CE + 0% FC 68,0 32,0 0,0600 0,98
CE + 7% FC 60,9 39,1 0,0801 0,97
CE + 14% FC 59,1 40,9 0,1010 0,98
CE + 21% FC 59,8 40,2 0,1030 0,97
CE + 28% FC
55,7 44,3 0,1110 0,99
A = fração solúvel (%); B/B
p
= fração insolúvel potencialmente degradável (%); I
p
= fração
indegradável padronizada (%); c = taxa fracional de degradação (h
-1
) (%/hora); r
2
= coeficiente
de determinação. FC = Farelo de cacau.
A taxa de degradação da fração potencialmente degradável da proteína varia de 2
a 8%/hora (NRC, 1985). Apesar de ter ocorrido variações nas frações A e B, as taxas de
degradação da PB em %/hora, fração c, mantiveram-se constantes, entre 4 e 5%/h. O
mesmo não ocorreu com a MS, que apresentou fração c variando de 6,7 a 12,8%/h.
Chizzotti et al. (2005) avaliaram a degradabilidade ruminal da silagem de capim-
elefante e observaram menor taxa de passagem da MS. Acredita-se que a melhor
qualidade do capim utilizado no presente experimento, que apresentou 3,3% de lignina,
tenha sido um fator que contribuiu para a maior fração c, uma vez que, o capim
utilizado pelos autores, apresentou mais de 10,0% de lignina.
Para a FDN, maiores valores de B
P
foram observados nos tratamentos sem adição
57
de FC, 67 e 68%, respectivamente, para os tratamentos emurchecido e não
emurchecido. Assim, os menores valores de B encontrados para os tratamentos com FC
refletiram nos maiores valores de fração indegradável (I
P
).
A proporção de carboidratos da parede celular e o seu teor de lignina são os
fatores que mais afetam a redução da qualidade das gramíneas tropicais. Van Soest
(1994) afirmou que o teor de FDN das forragens é negativamente correlacionado com o
seu consumo. Deste modo, o maior teor de lignina do FC em relação ao capim-elefante
ensilado foi a possível causa da elevação da I
P
.
As degradabilidades potenciais (DP) e efetivas (DE) da MS, da PB e da FDN são
apresentadas na Tabela 4.
Tabela 4 - Degradabilidade potencial (DP) e efetiva (DE) da matéria seca (MS), da
proteína bruta (PB) e da fibra em detergente neutro (FDN) das silagens
de capim-elefante (CE), calculadas para taxas de passagem de 2, 5 e
8%/h
DE
Taxa de passagem (%/h)
Silagem
DP 2 5 8
MS (%)
CE emurchecido 83,6 73,6 63,6 56,9
CE + 0% FC 80,6 71,5 62,2 55,7
CE + 7% FC 75,3 64,9 55,0 48,6
CE + 14% FC 66,3 59,6 52,6 47,7
CE + 21% FC 67,7 57,4 48,6 43,3
CE + 28% FC 69,1 63,1 56,6 52,0
PB (%)
CE emurchecido 83,4 69,3 58,9 53,4
CE + 0% FC 83,1 68,9 58,6 53,1
CE + 7% FC 82,4 67,1 56,9 51,8
CE + 14% FC 80,6 67,5 58,1 53,2
CE + 21% FC 79,2 66,9 58,1 53,4
CE + 28% FC 77,2 65,3 57,1 53,0
FDN (%)
CE emurchecido 67,0 50,7 37,1 29,3
CE + 0% FC 68,0 51,0 37,1 29,2
CE + 7% FC 60,9 48,7 37,5 30,5
CE + 14% FC 59,1 49,4 39,6 33,0
CE + 21% FC 59,8 50,1 40,2 33,7
CE + 28% FC 55,7 47,2 38,4 32,4
FC = Farelo de cacau.
58
Os maiores valores de DP da MS foram observados nos tratamentos sem adição
de FC (acima de 80%). Contudo, o tratamento com adição de 7% de FC apresentou DP
de 75%, enquanto para os tratamentos com 14, 21 e 28%, observaram-se valores de DP
entre 65 e 70%.
O emurchecimento do capim-elefante ao sol por oito horas não afetou a
degradabilidade ruminal da MS, observando-se valores semelhantes aos obtidos para a
silagem não emurchecida.
Valores semelhantes aos obtidos neste estudo para a DP da MS foram relatados
por Veloso et al. (2006), que observaram valores de 63,6, 81,3 e 87,4%,
respectivamente, para os foolos de guandu, de soja e folhas de mandioca. Os valores
de DP da MS encontrados pelos autores são próximos dos valores obtidos neste
trabalho, nos tratamentos com adição de 14, 21 e 28% de FC.
Resultados inferiores de DP da MS foram observados por Cabral et al. (2005) que
avaliaram a degradação ruminal da silagem de capim-elefante e verificaram valor de
64,9% de DP da MS. A baixa DP da MS relatada pelos autores, comparada com as
obtidas neste trabalho, pode ser atribuída ao capim-elefante mais maduro utilizado pelos
mesmos (120 dias de crescimento), pois as gramíneas tropicais, embora apresentem alta
produtividade, quando comparadas àquelas de clima temperado, acumulam, ao longo do
seu ciclo de crescimento, elevada proporção de parede celular (FDN). Esta fração
apresenta, de modo geral, lenta e incompleta digestão, ocupa muito espaço no trato
gastrintestinal (Mertens, 1996) e é a principal responsável pela variação na digestão dos
alimentos tropicais, além de exercer efeito marcante sobre o consumo de alimentos
(Van Soest, 1994, Mertens, 1996).
Embora os potenciais de degradação da MS das silagens com FC tenham sido
inferiores aos das silagens sem FC, constata-se, na Figura 1, que, até as primeiras seis
horas, os valores de desaparecimento ruminal da MS foram semelhantes. Estimado pela
equação não linear proposta por Ørskov & McDonald (1979), o potencial máximo de
degradação da MS das silagens sem FC foi obtido com 96 horas de incubação.
Entretanto, para os demais tratamentos, esses valores foram variáveis, ocorrendo em
média, com 72 horas de incubação ruminal.
Constatou-se que, após 12 horas de incubação ruminal, os valores de degradação
da MS das silagens são elevados (acima de 40%), entretanto, verificou-se que os valores
apresentaram grande variação, pois as silagens com FC demonstraram, sempre, menores
valores em relação às silagens sem FC (Figura 1). Esta diferença na degradação ruminal
59
da MS das silagens pode constituir-se em um importante fator a influenciar o consumo
animal.
Figura 1 - Degradabilidade da matéria seca (MS) de silagens de capim-elefante (CE)
emurchecido ou com farelo de cacau (FC), em função dos períodos de
incubação no rúmen, estimada pela equação: = A + B x (1 - e
-ct
)
Para a degradabilidade efetiva (DE) da MS, verificou-se a mesma tendência
observada para a DP, ou seja, as silagens sem FC apresentaram maiores valores do que
as com FC. Rodrigues et al. (2004) sugeriram a elevada proporção de carboidratos da
parede celular e o teor de lignina da forragem como possível explicação para a menor
degradabilidade. Deste modo, acredita-se que o elevado teor de lignina do FC (17,9%)
tenha sido o fator responsável pelas menores DE das silagens com FC. Considerando a
taxa de passagem de 5%/hora, excetuando-se o tratamento com 21% de adição de FC,
que apresentou 48,6% de DE, todos os outros tratamentos (emurchecido, 0, 7, 14 e 28%
de FC) apresentaram valores de DE da MS acima de 50%.
No tocante aos valores de DP da PB, excetuando as silagens com 21 e 28% de FC,
que apresentaram valores abaixo de 80%, os valores obtidos para os demais tratamentos
foram superiores a 80%.
60
Cabral et al. (2005) verificaram valor de 70% para a DP da PB da silagem de
capim-elefante cortado com 120 dias de crescimento. Assim, os maiores valores de DP
da PB observados para as silagens do presente trabalho, podem ser explicados pelo
capim-elefante mais tenro, cortado com 50 dias de crescimento.
Como pode ser observado na Figura 2, em todos os tratamentos avaliados, mais de
60% da DP da PB foram alcançadas com 24 horas de incubação ruminal. Contudo, a
partir deste período, observaram-se menores valores para os tratamentos com FC,
especialmente para as silagens de capim-elefante com 21 e 28% de FC.
Figura 2 - Degradabilidade da proteína bruta (PB) de silagens de capim-elefante
(CE) emurchecido ou com farelo de cacau (FC), em função dos períodos
de incubação no rúmen, estimada pela equação: = A + B x (1 - e
-ct
)
O desaparecimento da PB no período de incubação de seis horas revelou valores
superiores a 45%, o que indica haver bom potencial para produção de proteína
microbiana.
Para a DE da PB, não se verificaram grandes variações entre os tratamentos, em
cada taxa de passagem. Para uma taxa de passagem de 5%/hora, Veloso et al. (2006)
verificaram valor de DE da PB de foolos de leucena de 60%, o que se assemelha aos
61
observados neste estudo, para os diferentes tratamentos avaliados.
Resultados semelhantes aos do presente estudo, para a DE da PB da silagem de
capim-elefante, foram verificados por Sarti et al. (2005). Os autores observaram valores
de 66,8, 58,2 e 54,3%, respectivamente, para as taxas de passagem de 2, 5 e 8%/hora.
Para a silagem de capim-elefante com 0% de FC, considerando estas mesmas taxas de
passagem, observaram-se valores de 68,9, 58,6 e 53,1%.
A degradação potencial da FDN dos tratamentos com FC foi menor do que a dos
tratamentos sem adição de FC. Atribui-se tal resultado ao elevado teor de lignina do FC
(17,9%). Assim, como neste estudo, Garleb et al. (1991) sugeriram que os elevados
teores de celulose cristalina e lignina da casca de algodão foram responsáveis pelo lento
desaparecimento da FDN em ensaios in situ.
Sarti et al. (2005) avaliaram a degradabilidade ruminal do capim-elefante e
relataram valor de 60% para a DP da FDN. Este valor de DP observado pelos autores é
inferior aos obtidos para as silagens emurchecida e não emurchecida sem FC, que
apresentaram, respectivamente, 7 e 8 unidades percentuais acima. Como é sabido que,
com o crescimento das plantas, a parede celular se desenvolve, acumulando cada vez
mais lignina, acreditando-se que o estádio de maturidade em que o capim-elefante foi
cortado no presente experimento, aos 50 dias após o corte de uniformização, tenha sido
o fator responsável pelos maiores valores de DP da FDN, já que os autores citados
ensilaram o capim com 70 dias de rebrota.
A curva de desaparecimento da fração FDN (Figura 3) mostra que o
comportamento das silagens de capim-elefante foi diferente em relação à taxa de
desaparecimento da fibra. Até as primeiras 36 horas de incubação ruminal, os valores de
degradação da FDN mantiveram-se próximos (aproximadamente 50%), contudo, a
partir deste tempo, as silagens sem adição de FC apresentaram maiores valores.
62
Figura 3 - Degradabilidade da fibra em detergente neutro (FDN) de silagens de
capim-elefante (CE) emurchecido com farelo de cacau (FC), em função
dos períodos de incubação no rúmen, estimada pela equação: = B
P
x e
-ct
+ I
P
Apesar de o FC ter afetado o potencial de degradação da FDN, constatou-se
maiores taxas de degradação (fração c) para os tratamentos com FC, indicando que,
mesmo com menor potencial de degradação, o tempo de permanência da FDN das
silagens com FC no rúmen é menor do que o das silagens sem adição de FC. Isso, de
certa forma, é um fator positivo, pois mais de 90% do potencial máximo de
desaparecimento da fibra foi alcançado com pouco menos de 24 horas de incubação
ruminal. Contudo, Mertens (1993) relatou que, para alimentos volumosos serem
considerados de boa qualidade, suas taxas de degradação de FDN devem situar-se entre
2 e 6%/hora. Segundo essa classificação, apenas as silagens de capim emurchecido e
não emurchecido poderiam ser consideradas como de boa qualidade, já que as silagens
com FC apresentaram valores diferentes, fora dessa faixa estabelecida (Tabela 3).
Estudando a degradabilidade ruminal de silagens, Molina et al. (2003) verificaram
valores de DP da FDN, no tempo de incubação de 96 horas, de 67,5; 66,0; 60,5 e
63
58,8%, respectivamente, para as silagens de sorgo BR 303, AG 2006, BR 700 e BR 701.
Os valores encontrados, por estes autores, para a DP da FDN são próximos dos valores
observados para as silagens de capim-elefante, 66,8; 67,8; 60,9; 59,1; 59,8 e 55,7%,
respectivamente, para os tratamentos emurchecido e não emurchecido, com os veis de
FC de 0, 7, 14, 21 e 28%, no tempo de incubação de 96 horas.
Já para a DE da FDN, os valores obtidos não variaram, observando-se amplitude
máxima de menos de três unidades percentuais nos valores DE para a taxa de passagem
de 5%/hora. Lopes & Aroeira (1999) avaliaram a degradabilidade do capim-elefante e
verificaram valor de 34% de DE da FDN. Este resultado é inferior aos observados no
presente trabalho para as silagens. Valores de DE do capim-elefante são relatados por
vários autores. No entanto, em sua maioria, esses trabalhos não caracterizam o capim-
elefante quanto à idade.
64
Conclusões
As silagens de capim-elefante emurchecido e não emurchecido sem adição de
farelo de cacau apresentaram o mesmo potencial de degradação e degradabilidade
efetiva da matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro (FDN).
A adição de farelo de cacau ao capim-elefante, no momento da ensilagem,
produziu silagens com menores valores de degradabilidade potencial. Contudo, o
potencial máximo de degradação da MS para as silagens com FC ocorreu, em média,
com 72 horas de incubação ruminal, enquanto, para as silagens sem adição de FC, esse
potencial foi alcançado com 96 horas.
Apesar dos menores potenciais de degradação da fração insolúvel (B) da protna
bruta, as silagens com farelo de cacau destacaram-se por apresentar maiores frações
solúveis de proteína.
Os carboidratos da parede celular (FDN) das silagens de capim-elefante com
farelo de cacau apresentaram rápida fermentação ruminal, sendo que mais de 80% do
potencial máximo de degradação foram atingidos com 24 horas de incubação ruminal.
65
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68
2. Conclusões Gerais
Capítulo 1: O emurchecimento do capim-elefante pela exposição ao sol reduziu o
teor de umidade da forragem e permitiu a produção de silagem com bom valor nutritivo.
O farelo de cacau pode ser utilizado como aditivo na ensilagem de capim-elefante,
aumentado o teor de matéria seca e favorecendo as características fermentativas da
silagem.
Recomenda-se o nível de adição de, no máximo, 14% de farelo de cacau na
ensilagem de capim-elefante, pois níveis mais elevados reduzem a digestibilidade in
vitro das silagens para menos de 60%.
Capítulo 2: Os teores elevados de extrato etéreo e moderados de proteína bruta do
farelo de cacau resultaram em diminuição do teor de carboidratos totais das silagens.
A fração A+B1 representa menos de 15% dos carboidratos da silagem de capim-
elefante, contudo, valores acima de 20% podem ser obtidos com adição de 14% de
farelo de cacau na ensilagem.
A utilização do farelo de cacau na ensilagem de capim-elefante aumentou a
porção de carboidratos indigestíveis das silagens, entretanto, a fração B2 apresentou-se
como importante fonte de energia.
A adição de farelo de cacau na ensilagem de capim-elefante acarreta redução dos
teores de NNP e fração B1+B2, e acréscimo das frações B3 e C, indicando que, em um
sistema de alimentação de ruminantes, é necessário o fornecimento de uma fonte extra
de nitrogênio solúvel.
De acordo com os valores das frações protéicas B1+B2, B3 e C das silagens de
capim-elefante com farelo de cacau, pode-se inferir que estas silagens constituem-se
fontes alternativas de proteína de lenta degradação no rúmen, mas potencialmente
digerível no intestino delgado.
Catulo 3: As silagens de capim-elefante emurchecido e o emurchecido sem
adição de farelo de cacau apresentaram o mesmo potencial de degradação e
degradabilidade efetiva da matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e fibra em detergente
neutro (FDN).
A adição de farelo de cacau ao capim-elefante, no momento da ensilagem,
produziu silagens com menores valores de degradabilidade potencial. Contudo, o
potencial máximo de degradação da MS para as silagens com FC ocorreu, em média,
com 72 horas de incubação ruminal, enquanto, para as silagens sem FC, esse potencial
69
foi alcançado com 96 horas.
Apesar dos menores potenciais de degradação da fração insolúvel (B) da protna
bruta, as silagens com farelo de cacau destacaram-se por apresentar maiores frações
solúveis de proteína.
Os carboidratos da parede celular (FDN) das silagens de capim-elefante com
farelo de cacau apresentaram rápida fermentação ruminal, sendo que mais de 80% do
potencial máximo de degradação foram atingidos com 24 horas de incubação ruminal.
Os valores de fração indigestível aumentaram com a inclusão dos níveis de farelo
de cacau, devendo, portanto, ser observados e considerados em um eventual
balanceamento de dietas para ruminantes.
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