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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
CAMPUS DE BOTUCATU
FATORES QUE AFETAM A TAXA DE
CONCEPÇÃO APÓS INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
OU TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES EM VACAS
HOLANDESAS EM LACTAÇÃO
Daniela Garcia Borges Demétrio
Médica Veterinária
BOTUCATU – SÃO PAULO – BRASIL
2006
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
CAMPUS DE BOTUCATU
FATORES QUE AFETAM A TAXA DE
CONCEPÇÃO APÓS INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
OU TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES EM VACAS
HOLANDESAS EM LACTAÇÃO
Daniela Garcia Borges Demétrio
Orientador Prof. Ass. Dr. José Luiz Moraes Vasconcelos
Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de
Botucatu, para a obtenção do título de Mestre em
Medicina Veterinária, Reprodução Animal.
BOTUCATU – SÃO PAULO – BRASIL
2006
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Às pessoas que sempre acreditaram em mim...
Minhas fontes de inspiração Valdemar, meu pai e Clarice, minha mãe
Minha eterna companheira e irmã Sarita
Meu grande amor Júlio César
AGRADECIMENTOS
A Deus por sempre me indicar os melhores caminhos.
Ao meu orientador Professor Ass. Dr. José Luiz Moraes Vasconcelos a orientação, o
incentivo, a confiança e a amizade.
À Professora Titular Clarice Garcia Borges Demétrio, minha mãe, grande mulher, a
ajuda na análise estatística e a imensa paciência.
Ao médico veterinário José Renato Chiari, um amigo, de grande importância na
minha formação, responsável pela idéia inicial do projeto e pela coleta dos embriões.
Ao médico veterinário Carlos Alberto Rodrigues que tornou possível este
experimento, pelo imenso apoio e pela transferência dos embriões.
À Ricarda o imenso apoio e amizade, um grande exemplo de profissional.
Ao proprietário Roberto Jank Júnior e funcionários da Fazenda Santa Rita, com
especial atenção para Beco, Tulina, Toninho e Tonho.
Aos funcionários da Samvet Embriões Jorge, Valter, Rogéria e Michele a grande
colaboração e amizade.
À FMVZ, UNESP Botucatu, especialmente ao Departamento de Reprodução
Animal a oportunidade de realização do curso.
Aos amigos Gabriela, Ocilon, Cristina, Paula, Edmundo, Eduardo, Bia, Carol,
Vanúsia, Valduce, Sérgio, Julião e Débora.
Aos componentes da banca Dr. Roberto Sartori Filho e Prof. Dr. Mário Binelli as
valiosas sugestões.
A todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho.
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES .........................................................................................5
LISTA DE TABELAS ..................................................................................................7
LISTA DE ABREVIATURAS.......................................................................................8
RESUMO.....................................................................................................................9
ABSTRACT...............................................................................................................10
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................11
2. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................13
3. MATERIAL E MÉTODOS......................................................................................17
Local..........................................................................................................................17
Período......................................................................................................................17
Animais .....................................................................................................................17
Manejo reprodutivo....................................................................................................18
Inseminação artificial.................................................................................................19
Superovulação de doadoras e coleta de embriões ...................................................19
Transferência de embriões........................................................................................21
Diagnóstico de gestação e morte embrionária tardia ................................................21
Coleta de dados e amostras......................................................................................22
Análise estatística .....................................................................................................24
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................28
Observação de cio ....................................................................................................28
Avaliação de todas as vacas que manifestaram estro ..............................................28
Avaliação das vacas com presença de CL no dia 7..................................................31
Avaliação das vacas ovuladas com assincronia igual a zero ....................................38
Morte embrionária tardia ...........................................................................................45
5. CONCLUSÃO........................................................................................................49
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................51
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Representação do esquema do manejo reprodutivo e divisão
dos grupos 19
Figura 2: Protocolo para superovulação e coleta de doadoras 20
Figura 3: Representação da assincronia entre receptora e embrião 23
Figura 4: Representação gráfica da cronologia do experimento e coleta
de dados 24
Figura 5: Análise de correlação entre as covariáveis de todas as vacas 26
Figura 6: Representação gráfica da probabilidade de concepção aos
25 dias de todas as vacas em relação à temperatura corporal
no dia 7, fixados os dias em lactação 136 (mediana) e 272 (2
vezes a mediana) 30
Figura 7: Representação gráfica da probabilidade de ovulação em
relação ao número de dias em lactação 32
Figura 8: Representação gráfica da probabilidade de concepção aos
25 dias das vacas ovuladas em relação à temperatura
corporal do dia 7 35
Figura 9: Representação gráfica da probabilidade de concepção aos
25 dias das vacas ovuladas em relação à temperatura
corporal do dia 14 36
Figura 10: Representação gráfica da probabilidade de concepção aos
25 dias das vacas ovuladas com assincronia 0 do grupo IA e
TE em relação à concentração de P4 do dia 7 41
Figura 11: Representação gráfica da probabilidade de concepção aos
25 dias das vacas ovuladas com assincronia 0 do grupo IA e
TE em relação à temperatura corporal do dia 7 43
Figura 12: Representação gráfica da probabilidade de concepção aos
25 dias das vacas ovuladas com assincronia 0 em relação à
produção de leite (LM) 44
Figura 13: Representação gráfica da probabilidade de morte
embrionária tardia em relação à temperatura corporal do dia
7 46
Figura 14: Representação gráfica da probabilidade de morte
embrionária tardia em relação à temperatura corporal do dia
14 (fixada a T7 em 38,5°C ou 39,5°C) 47
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Medidas descritivas das covariáveis quantitativas incluídas
em modelos com todas as vacas (ovuladas ou não) 26
Tabela 2: Medidas descritivas das covariáveis quantitativas incluídas
em modelos somente com as vacas ovuladas 27
Tabela 3: Medidas descritivas das covariáveis quantitativas incluídas
em modelos com as vacas ovuladas com assincronia igual a
zero 27
Tabela 4: Medidas descritivas das covariáveis quantitativas incluídas
em modelos com as vacas gestantes para avaliação da morte
embrionária precoce 27
Tabela 5: Distribuição da manifestação de cio após aplicação de
PGF2 no dia -3 28
Tabela 6: Taxas de concepção observadas na TE em relação à
assincronia entre receptora e embrião 33
Tabela 7: Taxas de concepção observadas na TE em diferentes graus
(I e II) e estágios de desenvolvimento (M ou BL) do embrião 34
Tabela 8: Taxas de concepção observadas aos 25 (P25) e 39 (P39)
dias de todas as vacas e das vacas ovuladas 38
Tabela 9: Concentrações séricas de P4 (dia 7) observadas nos
diferentes assincronias no grupo IA e TE 39
Tabela 10: Concentrações séricas de P4 (dia 14) observadas nos
diferentes assincronias no grupo IA e TE 39
LISTA DE ABREVIATURAS
BE Benzoato de estradiol
CL Corpo lúteo
DEL Dias em lactação
DPBS Solução salina tampão Dulbecco (Dulbecco´s phosphate buffered saline)
FSH Hormônio folículo estimulante
g Grama
GnRH Hormônio liberador de gonadotrofinas
IA Inseminação artificial
IM Intramuscular
IMS Ingestão de matéria seca
kg Quilogramas
LM Produção de leite média durante o experimento
mg Miligramas
MET Morte embrionária tardia
ng Nanogramas
NS Número de serviços anteriores
P7 Progesterona sérica do sétimo dia do ciclo estral
P14 Progesterona sérica do décimo quarto dia do ciclo estral
P4 Progesterona
PGF2 Prostaglandina F2
T7 Temperatura corporal do dia 7
T14 Temperatura corporal do dia 14
TE Transferência de embriões
UI Unidade internacional
FATORES QUE AFETAM A TAXA DE CONCEPÇÃO APÓS INSEMINAÇÃO
ARTIFICIAL OU TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES EM VACAS HOLANDESAS
EM LACTAÇÃO
RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar os fatores que afetam as taxas de
concepção (TC) de vacas Holandesas em lactação que receberam IA ou TE. O
experimento foi conduzido em uma fazenda localizada em Descalvado, SP, Brasil
durante os meses de outubro de 2003 a setembro de 2004. As vacas eram
ordenhadas 3 vezes ao dia e alimentadas com ração total devidamente balanceada.
Vacas ciclando (n=1025) produzindo 33,3±7,2kg de leite por dia com 162±103,7 de
DEL receberam PGF2α e foram divididas aleatoriamente em dois grupos: IA ou TE.
As vacas que apresentaram estro 48 a 96h após aplicação de PGF2α receberam IA
(n=227) 12h após detecção do estro ou TE (n=160) 6 a 8 dias após. Todas as vacas
da TE receberam embriões frescos (grau I ou II) de vacas Holandesas não lactantes
produzidos in vivo. Analisou-se a produção de leite média de -7 a 14 dias após o cio.
A temperatura corporal foi aferida e amostras de sangue foram coletadas para
análise da concentração sérica de P4 por radioimunoensaio. O diagnóstico de
gestação foi realizado aos 25 e 39 dias por ultra-sonografia. Morte embrionária tardia
(MET) foi considerada quando as vacas gestantes no dia 25 estavam vazias no dia
39. As variáveis taxa de ovulação, TC e MET foram analisadas pelo modelo logístico
(GLM) com finalidade de verificar a influência das covariáveis na probabilidade de
sucesso. Os modelos foram ajustados no software R. A taxa de ovulação foi de
84,8% (328/387) e foi afetada negativamente pelo número de dias em lactação
(p=0,05). Não houve diferenças nas TC do grupo TE em relação à qualidade e
estágio do embrião, e assincronia entre doadora e receptora. TC no dia 25, das
vacas ovuladas foi 37,9% (74/195) para IA e 59,4% (79/133) para TE (p<0,01).
Temperatura corporal no dia 7 (T7) influenciou negativamente (p=0,02) a TC nos
dois tratamentos. Para avaliação da P4, foram consideradas somente as vacas com
assincronia zero do grupo IA e TE. Das 191 vacas com assincronia zero, 49,2%
(94/191) estavam gestantes aos 25 dias, sendo 37,5% (39/104) no grupo da IA e
63,2% (55/87; p<0,01) no grupo da TE. Verificou-se que no grupo IA houve
evidência do efeito da P4 do dia 7 (p=0,03), T7 (p=0,09) e produção de leite
(p=0,04). No grupo TE não houve evidência do efeito da P7, nem da LM, mas sim da
T7 (p=0,08). A MET foi 10,8% (8/74) para IA e 21,5% (17/79) para TE (p=0,06).
Houve tendência de aumento da MET quando as temperaturas corporais do dia 7
(p=0,10) foram maiores. A TC no dia 39 das vacas ovuladas foi 33,8% (66/195) para
IA e 46,6% (62/133) para TE (p=0,02), superior, mesmo após a morte embrionária.
Altas temperaturas afetaram TC e MET, independente do tratamento. A produção de
leite afetou a probabilidade de concepção na IA, mas não na TE, ou seja, influenciou
negativamente antes do dia 7. Os resultados obtidos confirmam a importância da P4
no desenvolvimento embrionário antes do dia 7, que as vacas do grupo TE não
foram influenciadas pela P4, provavelmente porque receberam embrião
desenvolvido em condições melhores. A transferência de embriões frescos
produzidos em vacas não lactantes pode ser utilizada para evitar os efeitos
negativos no desenvolvimento embrionário inicial, aumentando as TC de vacas em
lactação.
Palavras chave: transferência de embriões, inseminação artificial, concepção
FACTORS THAT AFFECT CONCEPTION RATE FOLLOWING ARTIFICIAL
INSEMINATION OR EMBRYO TRANSFER IN LACTATING HOLSTEIN COWS
ABSTRACT: Objectives of this study were to evaluate factors that could affect
conception rates (CR) of AI or ET in lactating Holstein cows. The trial was conducted
at a dairy farm in Descalvado, SP, Brazil from October 2003 to September 2004.
Cows were milked 3 times a day and fed with TMR composed by corn silage
balanced to meet nutritional requirements for lactating dairy cows. Cycling cows
(n=1025) producing 33.3±7.2 kg milk/d with 162.0±103.7 DIM received PGF2α
injection and were randomly assigned to received AI or ET. Cows detected in heat
between 48 and 96 h after PGF2α injection (n=387) received AI (n=227) 12 h after
heat detection or ET (n=160) 6 to 8 days later. All cows from ET received in vivo
produced fresh embryos (grade I or II) from non lactating Holstein cows. Milk yield for
each cow was recorded -7 to 14 d after estrus. Body temperature was recorded and
blood samples were collected on days 7 and 14 to analyze serum P4 concentration
by radioimmunoassay. Pregnancy diagnosis was performed by ultrasound on day 25
and 39. Embryonic loss (EL) was considered when cows pregnant on day 25 were
not on day 39. The variables ovulation rate, conception rate and embryonic loss were
analyzed by logistic model (GLM), to evaluate the influence of covariates on
probability of success. The models were adjusted in the public software R. Ovulation
rate was 84.8% (328/387) and was only negatively affected (p=0.05) by days in milk.
There were no differences in probability of CR when stage and grade of embryo and
donor-recipient synchrony were analyzed. CR at day 25 of ovulated cows was 37.9%
(74/195) for AI and 59.4% (79/133) for ET (p<0.01). Body temperature at day 7
affected negatively (p=0.02) CR in both treatments. To evaluate P4, only cows with
synchrony zero (n=191) were used from both groups and 49.2% (94/191) were
pregnant on day 25, 37.5% (39/104) on AI group and 63.2% (55/87; p<0.01) on ET
group. On AI group there was evidence of the effect of P4 of day 7 (p=0.03), body
temperature on day 7 (p=0.09) and milk production (p=0.04) on probability of CR. On
ET group there was only evidence of the effect of body temperature on day 7
(p=0.08) on probability of CR. The EL was 10.8% (8/74) for AI and 21.5% (17/79) for
ET (p=0.06), and high BT tended (p=0.10) to increase EL. The CR at day 39 was
33.8% (66/195) for AI and 46.6% (62/133) for ET (p=0.02), still higher, even after
embryonic loss. BT effects persist after day 7 because influenced CR and EL in both
groups. Milk production affected CR of AI but not ET, suggesting that it affects
embryo before day 7. The results from this study confirms the importance of P4 on
the early embryonic development, since ET conception rates were not influenced by
P4, probably because cows received an embryo developed in adequate conditions.
Transfer of fresh embryos produced from non lactating cows should be used to
bypass negative effects on initial embryo development, increasing conception rates in
lactating cows.
Key words: embryo transfer, artificial insemination, conception
11
1. INTRODUÇÃO
Vacas leiteiras de alta produção apresentam taxas de concepção abaixo
do desejado (Nebel & McGilliard, 1993). A eficiência reprodutiva é um dos fatores
que mais contribui para melhorar o desempenho e a lucratividade dos rebanhos
leiteiros (Grohn & Rajala-Schultz, 2000).
A produção de leite, o estresse térmico e as enfermidades são alguns dos
muitos fatores que podem influenciar a fertilidade (Chebel et al., 2004). A eficiência
reprodutiva de vacas de leite de alta produção vem reduzindo nas últimas décadas e
está associada com o aumento da produção de leite (Lucy, 2001; Washburn et al.,
2002).
O desempenho reprodutivo é afetado por efeitos deletérios do estresse
térmico no oócito, na fecundação e no desenvolvimento embrionário inicial (Hansen
& Arechiga, 1999). Sartori et al. (2002) e Leroy et al. (2005) demonstraram que os
embriões produzidos nas vacas em lactação possuem qualidade inferior aos
produzidos em vacas não lactantes, novilhas ou vacas de corte.
Em vacas leiteiras, a correlação entre produção de leite e ingestão de
matéria seca (IMS) é alta e positiva (0,88) (Harrison et al., 1990). Vacas em lactação
têm o metabolismo aumentado decorrente da alta IMS, o que aumenta a produção
de calor, que quando associado às altas temperaturas ambientais causam
problemas na manutenção dos processos biológicos (Kadzere et al., 2002).
Temperaturas elevadas reduzem a proporção de embriões que continuam o
desenvolvimento (Hansen & Arechiga, 1999).
A relação inversa entre a ingestão de alimento e a concentração
plasmática de progesterona (P4) foi verificada em estudos realizados por Parr et al.
(1993) em ovelhas e Vasconcelos et al. (2003) em vacas. A P4 controla as
mudanças do ambiente uterino e influencia o desenvolvimento embrionário (Mann &
Lamming, 2001). O diálogo entre as células trofoblásticas embrionárias e as células
12
epiteliais do endométrio é crítico para a manutenção do corpo lúleo (CL) e para a
sobrevivência do embrião (Thatcher et al., 2001).
A transferência de embriões (TE) além de multiplicar os indivíduos
geneticamente superiores de um rebanho, pode ser utilizada para minimizar os
efeitos negativos da alta produção de leite e do estresse térmico na qualidade do
oócito e desenvolvimento embrionário inicial. Considerando-se que o embrião é mais
resistente às altas temperaturas em estágios mais avançados de desenvolvimento
(Ealy et al., 1993), a transferência de embriões é uma ferramenta que pode ser
utilizada para evitar os efeitos deletérios iniciais (Putney et al., 1989; Drost et al.,
1999).
A hipótese deste trabalho é que a transferência de embriões frescos
produzidos em vacas não lactantes aumenta a taxa de concepção de vacas
Holandesas em lactação em comparação à inseminação artificial (IA), pois o embrião
não sofre os efeitos deletérios da produção de leite e estresse térmico anteriores ao
dia da inovulação.
O objetivo deste experimento foi avaliar os fatores que podem afetar a
taxa de concepção de vacas Holandesas em lactação que receberam embrião fresco
produzidos em vacas não lactantes, comparadas às vacas em mesmas condições
que foram inseminadas após observação de cio.
13
2. REVISÃO DE LITERATURA
Vacas com maior produção de leite possuem menor eficiência reprodutiva
(Butler, 1998). O aumento do número de serviços por concepção e aumento do
intervalo entre partos são alguns dos sinais da redução da eficiência reprodutiva de
vacas de leite de alta produção de todo o mundo (Lucy, 2001; Washburn et al.,
2002). Lopez-Gatius (2003), num estudo de 10 anos em rebanhos leiteiros da
Espanha, observou que para cada 1000 kg de aumento na produção de leite houve
redução de 6,0% na taxa de concepção.
A produção de leite está altamente relacionada com a ingestão de matéria
seca (Harrison et al., 1990). Vacas em lactação têm o metabolismo aumentado
devido à alta ingestão de matéria seca (IMS), que gera um aumento da produção de
calor, que quando associado às altas temperaturas ambientais causam problemas
na manutenção dos processos biológicos (Kadzere et al., 2002). As vacas de maior
produção têm maiores problemas, pois podem ter dificuldades na dissipação do
calor produzido (Kadzere et al., 2002).
O aumento da temperatura corporal tem efeitos negativos diretos na
função celular (Kadzere et al., 2002). Uma menor eficiência reprodutiva pode ser
exacerbada por condições inadequadas de ambiente, como estresse rmico
(Thatcher et al. 2006). A elevada produção leiteira exerce efeito negativo na
qualidade do oócito e no desenvolvimento embrionário inicial que pode ser
potencializado pelo estresse térmico (Hansen & Arechiga, 1999).
Vacas em lactação quando submetidas à temperatura ambiente e
umidade relativa do ar elevadas apresentam redução da manifestação de cio,
redução das taxas de ovulação e concepção (Hansen & Arechiga, 1999; Washburn
et al., 2002; Lopez et al., 2004; Lopez-Gatius et al., 2005). As novilhas, por serem
menos susceptíveis a essas variações climatológicas, não alteram os índices
reprodutivos no verão. Sartori et al. (2002) observaram que com o aumento da
temperatura ambiente, a temperatura corporal de novilhas (38,7 ± 0,01°C) elevou
menos (p<0,05) que a de vacas em lactação (39,3 ± 0,03°C).
14
O estresse térmico e a alta produção de leite também levam à redução da
taxa de observação de cio (Washburn et al., 2002), provavelmente devido à
diminuição do tempo de manifestação de estro (Lopez et al., 2004). Diferentes tipos
de estresse podem levar à falha da ovulação (Lopez-Gatius et al., 2005), que é uma
das causas de infertilidade em rebanhos leiteiros (Wiltbank et al., 2002). Lopez-
Gatius et al. (2005) observaram falha de ovulação de 3,4% em estações com
temperaturas ambientais até 25°C e de 12,4% quando as temperaturas foram
superiores a isto.
Os períodos próximos à ovulação até o terceiro dia do desenvolvimento
embrionário são muito susceptíveis ao estresse térmico, e temperaturas elevadas
reduzem a proporção de embriões que continuam em desenvolvimento (Ealy et al.,
1993). Os efeitos do estresse térmico reduzem conforme os embriões se tornam
mais desenvolvidos, ou seja, o embrião adquire resistência aos efeitos negativos
com o passar do tempo (Ealy et al., 1993; Hansen & Arechiga, 1999). Ju et al. (2005)
verificaram que oócitos expostos a 42°C durante quatro horas apresentaram
alterações nos componentes responsáveis pela meiose. Apesar de não haver
diferença na taxa de clivagem, houve redução da porcentagem de blastocistos
produzidos. Os embriões produzidos apresentaram menor número de células,
principalmente as trofoblásticas, que são responsáveis pela formação dos anexos
fetais. Efeitos de altas temperaturas no desenvolvimento embrionário após o sétimo
dia também foram relatados por Ryan et al. (1993).
Sartori et al. (2002) recuperaram embriões e oócitos de vacas e novilhas
Holandesas no verão, seis dias após a observação de cio natural e verificaram que a
taxa de fecundação foi maior (p<0,05) em novilhas (100,0%) do que em vacas em
lactação (55,3%), e a qualidade dos embriões também foi superior (p<0,05) em
novilhas (72%) do que em vacas em lactação (33%). Quando compararam vacas
lactantes e não lactantes no inverno, a taxa de fecundação não diferiu, porém a
qualidade embrionária foi superior (p=0,06) em vacas não lactantes (82%) do que
em vacas em lactação (53%). Leroy et al. (2005) observaram que a porcentagem de
embriões grau I coletados de vacas em lactação superovuladas (13,1%) foi inferior a
de novilhas Holandesas (62,5%) ou vacas de corte (55,0%). Esses dados mostram
que a fecundação pode estar sendo comprometida no verão, e que vacas em
lactação possuem embriões de menor qualidade.
15
A produção de leite está altamente relacionada com a ingestão de matéria
seca (Harrison et al., 1990). Existe uma relação inversa entre a IMS e a
concentração plasmática de P4 em ovelhas (Parr et al., 1993) e em vacas
(Vasconcelos et al., 2003). O aumento da IMS leva ao aumento do fluxo sangüíneo
para a veia porta hepática (Sangsritavong et al., 2002). Como o fígado é o local de
maior metabolização de P4 (Parr et al., 1993), estima-se que o aumento da IMS
aumente a taxa de metabolização, devido ao aumento do fluxo sangüíneo para o
fígado. A P4 controla as mudanças do ambiente uterino e influencia o
desenvolvimento embrionário (Mann & Lamming, 2001; Green et al., 2005; Mann et
al., 2006). O diálogo entre as células do trofoblasto embrionário e as células
epiteliais do endométrio é crítico para a manutenção do CL e para a sobrevivência
do embrião (Thatcher et al., 2001), e essa sincronia entre o ambiente uterino e o
embrião é essencial. Stronge et al. (2005) concluíram que a baixa P4 5 a 7 dias após
a IA esassociada à baixa taxa de fertilidade em vacas em lactação. Mann et al.
(2006) observaram que a suplementação de P4 cinco dias após a IA resultou em um
maior desenvolvimento do embrião. Esses achados sugerem que a concentração
sérica de P4 é importante principalmente nos primeiros dias após a inseminação e
talvez seja uns dos fatores que determinam o sucesso ou a falha da gestação de
vacas em lactação.
A transferência de embriões é uma estratégia utilizada para se ultrapassar
os efeitos do estresse térmico ocorridos no oócito e no desenvolvimento embrionário
inicial (Putney et al., 1989; Drost et al., 1994; Ambrose et al., 1999). Putney et al.
(1989) compararam IA e TE no verão. Embriões frescos produzidos em novilhas
foram transferidos em vacas Holandesas em lactação que possuíam CL e
comparadas com todas as vacas inseminadas. Houve aumento da taxa de
concepção na avaliação da gestação aos 45 dias (13,5% IA x 29,2% TE). Neste
trabalho não foi considerada a possível falha de ovulação nas vacas que receberam
IA. Drost et al. (1999) compararam embriões congelados-descongelados produzidos
in vivo ou in vitro a partir de ovários de abatedouro com IA no verão. A avaliação da
taxa de ovulação foi pela presença do CL em vacas que receberam embrião e
medindo a P4 no dia 7 (>1ng/ml) nas vacas inseminadas. Houve um acréscimo da
taxa de concepção em relação a IA quando embriões produzidos in vivo foram
utilizados (35,4% in vivo x 18,8% in vitro x 21,4% IA). Ambrose et al. (1999)
16
compararam embriões produzidos in vitro a partir de ovários de abatedouro frescos
ou congelados-descongelados com IA no verão. As vacas foram sincronizadas com
o protocolo Ovsynch e aquelas que possuíam concentrações séricas de P4
1,5ng/ml no dia 0 e 2,0 ng/ml no dia 7 foram comparadas. Houve um acréscimo da
taxa de concepção em relação a IA quando embriões produzidos in vivo frescos
foram utilizados (17,5% fresco x 6,1% congelado-descongelado x 6,7% IA). Sartori et
al. (2006) não obtiveram diferenças significativas nas taxas de concepção entre IA
(35,6%) e TE (40,3%) durante 365 dias de experimento. Os autores sugerem que
não foi verificada diferença possivelmente porque as temperaturas do ano do estudo
não foram tão elevadas e porque 78,5% dos embriões utilizados eram congelados.
A mortalidade embrionária ocorre, principalmente, nos primeiros dias após
fecundação e durante o processo de placentação (Vanroose et al., 2000; Sartori,
2004). Os fatores que afetam a morte embrionária ainda não estão bem
caracterizados. As causas da mortalidade embrionária podem ser classificadas como
infecciosas ou não infecciosas. Mais de 70% das causas de morte embrionária são
devido a causas não infecciosas, que geralmente são multifatoriais e de difícil
diagnóstico (Christianson, 1992 apud Vanroose et al., 2000). Os índices de morte
embrionária em vacas em lactação variam de 10 a 60,5% (Vasconcelos et al., 1997;
Cartmil et al., 2001; Moreira et al., 2001; Chebel et al., 2003; Chebel et al., 2004;
Sartori, 2004; Sartori et al., 2006). No estudo de Chebel et al. (2004) verificou-se que
a produção de leite, número de serviços anteriores e número da lactação não
afetaram a mortalidade embrionária. Sartori et al. (2006) o obtiveram diferenças
nas taxas de morte embrionária entre IA (18,6%) e TE (26,2%).
O uso da transferência de embriões teoricamente poderia restaurar pelo
menos parte da fertilidade, já que se evitam os efeitos anteriores ocorridos no
desenvolvimento folicular, na fecundação, na ovulação e no desenvolvimento
embrionário inicial.
17
3. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento realizado para atender aos objetivos deste trabalho teve
as características que se seguem.
LOCAL
Foi conduzido na Fazenda Santa Rita, localizada em Descalvado, no
Estado de São Paulo, Brasil, latitude S 254'05", longitude W GR 47°37'26" e
altitude 648m.
PERÍODO
O experimento foi realizado durante os meses de outubro de 2003 a
setembro de 2004.
ANIMAIS
A fazenda Santa Rita possui um rebanho de aproximadamente 1200
vacas da raça Holandesa (HPB) em lactação. As vacas estão separadas em três
barracões tipo “free-stall”, cada um deles dividido em duas partes. Os animais têm
acesso livre à pista de alimentação de um lado, a uma área central com camas de
areia e a um piquete com capim “coast-cross” do outro lado. Os barracões possuem
duas linhas de ventiladores, uma direcionada para a pista de alimentação e outra
para as camas.
18
É fornecida ração total à vontade, balanceada de acordo com requisitos
nutricionais, com 17,4% de proteína bruta e 14,7% de fibra bruta. O fornecimento é
realizado três vezes ao dia, de forma que haja sempre alimento disponível. É
composta basicamente por silagem de milho, capim tipo “coast cross” ou “tifton”
verde (cortado diariamente), farelo de soja, milho, caroço de algodão, minerais e
vitaminas.
Todas as vacas são ordenhadas diariamente, três vezes ao dia num
sistema de ordenha com fosso central, tipo “side-by-side”, com capacidade para 16
vacas de cada lado. A sala de espera é ventilada. Cada vaca está identificada com
um brinco numerado e um colar magnético. A produção de leite de cada ordenha é
registrada através da leitura dos colares e transmitida para um computador (Alpro
Transponder®, De Laval, Brasil).
Para o experimento, foram utilizadas 1025 vacas a partir da segunda
lactação, com 57 a 547 dias em lactação (DEL), 33,1 ± 7,2kg de leite por vaca por
dia, durante 12 meses.
MANEJO REPRODUTIVO
As vacas em lactação do rebanho da Fazenda Santa Rita são manejadas
às sextas-feiras, a cada 14 dias. É utilizada ultra-sonografia para diagnóstico de
gestação precoce (25 a 32 dias) e re-confirmação de prenhez (33 a 39 dias). A
avaliação de regressão uterina em vacas com mais de 30 dias pós parto e indução
de cio com PGF2 de vacas vazias com presença de CL é feita por palpação retal.
Vacas com DEL maior que 55 dias são liberadas para o primeiro serviço.
O presente trabalho consistiu no uso de vacas vazias em um dos dois
manejos mensais. Vacas com CL detectado a partir da palpação retal, receberam
PGF2, 250g D-clorprostenol (Ciosin®, Schering-plough, Brasil) e foram divididas,
neste dia, em dois grupos IA ou TE, aleatoriamente, levando em consideração dias
em lactação.
19
As vacas que apresentaram estro 48 a 96 horas (dias -1 a +1) após a
PGF2, foram inseminadas 12 horas após a observação do cio (grupo IA) ou
receberam um embrião 6, 7 ou 8 dias após o cio (grupo TE; Figura 1).
PGF2α
αα
α
Dia -3
SEXTA
7
SEG
654321
TER
0
SEG
-1
DOM
-2
SAB
TEIAIAIA
Detecção estro
Divisão dos
Grupos
PGF2α
αα
α
Dia -3
SEXTA
7
SEG
654321
TER
0
SEG
-1
DOM
-2
SAB
TEIAIAIA
Detecção estro
PGF2α
αα
α
Dia -3
SEXTA
7
SEG
654321
TER
0
SEG
-1
DOM
-2
SAB
TEIAIAIA
7
SEG
654321
TER
0
SEG
-1
DOM
-2
SAB
TEIAIAIA
Detecção estro
Divisão dos
Grupos
Figura 1: Representação do esquema do manejo reprodutivo e divisão dos grupos
INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
No total, 527 vacas foram alocadas ao grupo da IA. A inseminação era
realizada por dois técnicos, 12 horas após a detecção do estro. O sêmen dos touros
utilizados no experimento foi o daqueles que possuíam as maiores taxas de
concepção no manejo geral da fazenda. Foram utilizados 5 touros diferentes (Cevis,
Thomahawk, Pat, Marshall, Aaron).
SUPEROVULAÇÃO DE DOADORAS E COLETA DE EMBRIÕES
Os embriões foram produzidos na Central de Reprodução Bovina Samvet
Embriões, Fazenda Jacaúna, localizada a 5 km da Fazenda Santa Rita. As doadoras
foram vacas da raça Holandesa, não lactantes e foram programadas para ser
inseminadas no dia do cio das receptoras de assincronia 0 (dia 0); doadoras e
receptoras foram devidamente sincronizadas.
Para sincronização e superovulação das doadoras utilizou-se o protocolo
descrito a seguir. A indução do início de uma nova onda folicular foi realizada
através da aplicação de 2mg de benzoato de estradiol (BE 1mg/ml Index, Brasil)
associada à utilização de um implante vaginal de P4 (CIDR®, 1,9g, Pfizer, Brasil).
20
No quarto dia iniciou-se a aplicação de 350 UI IM de FSH (Pluset®, Calier, Brasil),
diluídas em 20ml de solução fisiológica, divididos em oito aplicações, doses
decrescentes, com 12h de diferença entre elas. No sexto dia do protocolo, realizou-
se a aplicação de uma dose (250µg de D-clorprostenol) de PGF2 (Ciosin®,
Schering-plough, Brasil). No sétimo dia, o implante vaginal de P4 foi removido. A
ovulação foi sincronizada com uma aplicação de 0,50µg de GnRH (Fertagyl®,
Intervet, Brasil) na manhã do oitavo dia to protocolo, seguida de duas inseminações
12 e 24 horas após. Para a inseminação foi usado sêmen de touros com histórico de
boa produção de estruturas viáveis. Foram utilizados 5 touros (Maxie, Thomahawk,
Pat, Marshall, Aaron). As coletas de embriões foram realizadas 6,5 dias após a
primeira inseminação (Figura 2).
DIA
Tarde
Manhã
IA
19:00
1 ml
FSH
2 ml FSH
+ PGF2
3 ml
FSH
4ml
FSH
Coleta
IA
7:00
GnRH
1 ml
FSH
2ml FSH
3ml
FSH
4ml
FSH
2 mg
BE
0 16151413121110987654321
Dispositivo intravaginal de P4 – Remoção manhã dia 7
DIA
Tarde
Manhã
IA
19:00
1 ml
FSH
2 ml FSH
+ PGF2
3 ml
FSH
4ml
FSH
Coleta
IA
7:00
GnRH
1 ml
FSH
2ml FSH
3ml
FSH
4ml
FSH
2 mg
BE
0 16151413121110987654321DIA
Tarde
Manhã
IA
19:00
1 ml
FSH
2 ml FSH
+ PGF2
3 ml
FSH
4ml
FSH
Coleta
IA
7:00
GnRH
1 ml
FSH
2ml FSH
3ml
FSH
4ml
FSH
2 mg
BE
0 16151413121110987654321
Dispositivo intravaginal de P4 – Remoção manhã dia 7
Figura 2: Protocolo para superovulação e coleta de doadoras
As coletas de embriões foram realizadas pelo sistema não cirúrgico de
Sugie desenvolvido em 1972 (Kanagawa et al., 1995), adaptado. Consiste no uso de
um sistema fechado composto por um equipo com três vias que acopla: um litro de
DPBS (Nutricell®, Brasil) para realizar as lavagens do útero, um filtro tipo millipore®
para reter os embriões e um cateter de duas vias que fica fixado no útero para
possibilitar as lavagens. Após anestesia peridural da doadora, fixa-se o cateter no
terço final cranial do corno uterino direito, onde se realizam aproximadamente, 10
lavagens com 50ml de DPBS. Repete-se o mesmo procedimento no outro corno.
O filtro após coleta era dirigido para o laboratório onde se fazia uma
procura sob um estereomicroscópio com aumento de 50 vezes. As estruturas
encontradas eram colocadas em uma solução de manutenção (TQC®, AB
Technology, Nutricell, Brasil) e mantidos em temperatura ambiente. As estruturas
21
inviáveis (não fecundadas e degeneradas) eram desprezadas e os embriões viáveis
eram avaliados. Somente as mórulas e blastocistos classificados como grau I e II
(Wright, 1998) foram utilizados para transferência a fresco neste experimento.
TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES
Um total de 498 vacas foi alocado no grupo TE. A presença de CL foi
avaliada antes da transferência de embriões nas receptoras que apresentaram cio. A
avaliação foi realizada por ultra-som (Aloka SSD 500 V; Aloka Co. Ltda., Tokyo,
Japão) equipado com probe linear retal de 5 MHz. Somente as vacas que possuíam
CL receberam embrião. Após anestesia epidural, os embriões grau I (excelente) ou II
(bom), frescos produzidos das doadoras Holandesas não lactantes foram
transferidos a fresco no terço final do corno uterino ipsilateral ao ovário com CL
presente. A transferência dos embriões foi realizada por um técnico especializado,
pelo método transcervical (não cirúrgico).
DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO E MORTE EMBRIONÁRIA TARDIA
O diagnóstico de gestação foi realizado em duas fases, aos 25 e 39 dias,
por ultra-som equipado com probe linear retal de 5MHz. A presença de líquido no
corno ipsilateral ao CL avaliado no dia 7, consistiu em gestação no 2 dia. No 39º
dia de gestação avaliou-se a presença do feto com batimento cardíaco.
Considerou-se taxa de concepção a razão entre o número de vacas
gestantes no grupo IA ou TE sobre o número total de vacas no grupo IA ou TE.
A presença da gestação no 25° dia e ausência no 39° foi considerada
morte embrionária tardia (MET).
22
COLETA DE DADOS E AMOSTRAS
Com o intuito de responder aos objetivos deste trabalho, foram
mensuradas covariáveis conforme descrito a seguir.
A data do cio serviu para avaliar a influência da estação (EST) na
concepção. Os dados foram divididos em primavera (setembro, outubro e
novembro), verão (dezembro, janeiro e fevereiro), outono (março, abril e maio) e
inverno (junho, julho e agosto).
O valor do DEL e do número de serviços anteriores ao experimento (NS)
serviram para verificar se havia diferenças nas taxas de concepção nas diferentes
fases da lactação.
A taxa de ovulação foi avaliada por ultra-sonografia. As vacas ovuladas
do grupo IA ou TE foram as que apresentaram CL no dia 0, em que se realizou a TE,
ou seja, 6, 7 ou 8 dias após a manifestação do estro.
Iniciou-se a avaliação da média de produção de leite diária sete dias
antes da aplicação de PGF2 até sete dias após a TE (LM). Com o intuito de
verificar se havia algum ponto mais crítico que poderia interferir na concepção
dividiu-se a produção de leite da seguinte forma: L0 (produções diárias médias dos
sete dias antes da aplicação de PGF2), L7 (dia do estro até o dia da TE) e L14
(sete dias após a TE).
A temperatura corporal foi avaliada pela temperatura retal no grupo IA e
TE, no dia da TE (T7) e sete dias após (T14), com o intuito de verificar a influência
da temperatura corporal na concepção. Foram utilizados termômetros de mercúrio,
aferidos mensalmente antes da utilização.
Os touros utilizados para produção dos embriões ou para IA foram
registrados; assim como a qualidade e estágio de desenvolvimento dos embriões
inovulados.
O dia do cio (-1, 0 ou +1) foi anotado para cálculo da assincronia (Figura
3). Os embriões foram transferidos no dia 7, ou seja, assincronia entre o cio da
23
receptora e o embrião foi classificado em +1 (TE 8 dias após o cio), 0 (TE 7 dias
após o cio) e -1 (TE 6 dias após o cio).
PGF2α
αα
α
Dia -3
SEXTA
7
SEG
654321
TER
0
SEG
-1
DOM
-2
SAB
TE
Detecção estro
Assincronia -1 (6 dias)
Assincronia +1 (8 dias)
Assincronia 0 (7 dias)
PGF2α
αα
α
Dia -3
SEXTA
7
SEG
654321
TER
0
SEG
-1
DOM
-2
SAB
TE
Detecção estro
Assincronia -1 (6 dias)
Assincronia +1 (8 dias)
Assincronia 0 (7 dias)
Figura 3: Representação da assincronia entre receptora e embrião
As coletas de sangue foram realizadas no dia 7 (dia da TE; P7) e sete
dias após (P14), para avaliação da concentração sérica de P4. Os tubos sem anti-
coagulante eram depositados em gelo após a coleta do sangue na veia coccígea e
centrifugados a 1200g durante 15 minutos para separação do soro. As amostras de
soro foram armazenadas a -20ºC até realização da análise de P4 por
radioimunoensaio (Coat a Count® - Diagnostic Products Corporation, Los Angeles,
USA). Os coeficientes de variação intraensaio foram 4,15%, 6,30%, 4,79% e 3,78%e
o interensaio foi 15,63% e a sensibilidade foi 0,01ng/ml.
Para realização da análise da concentração sérica de P4, foram
escolhidas somente as vacas que manifestaram estro no dia 0 (a diferença entre a
data do cio e a data da coleta de sangue igual a sete dias), com o intuito de evitar
possíveis diferenças na concentração sérica de P4, pois todas as coletas de sangue
foram realizadas no dia 7, dia da inovulação, e as datas de cio variaram.
A Figura 4 ilustra a cronologia do experimento e a coleta de dados e
amostras.
24
PGF2α
αα
α
Dia -3
SEXTA
39
SEX
25
SEX
14
SEG
7
SEG
1
TER
0
SEG
-1
DOM
-2
SAB
TEIAIAIA
Divisão dos grupos
Prodão de leite
(L0)
DEL
Número de serviços
anteriores (NS)
Detecção estro
Prodão de
leite (L7)
P4
CL
Temperatura
retal (T7)
Prodão de
leite (L14)
P4
Temperatura
retal (T14)
Diagnóstico de
gestação
PGF2α
αα
α
Dia -3
SEXTA
39
SEX
25
SEX
14
SEG
7
SEG
1
TER
0
SEG
-1
DOM
-2
SAB
TEIAIAIA
Divisão dos grupos
Prodão de leite
(L0)
DEL
Número de serviços
anteriores (NS)
Detecção estro
Prodão de
leite (L7)
P4
CL
Temperatura
retal (T7)
Prodão de
leite (L14)
P4
Temperatura
retal (T14)
Diagnóstico de
gestação
Figura 4: Representação gráfica da cronologia do experimento e coleta de dados
ANÁLISE ESTATÍSTICA
As variáveis respostas, concepção aos 25 dias e aos 39 dias (para todas
as vacas ou somente para vacas ovuladas), taxa de ovulação e morte embrionária,
obtidas no experimento descrito, são variáveis binárias, isto é, variáveis cujos
valores observados podem ser representados por 0 ou 1. Em geral, assume-se que
variáveis desse tipo têm distribuição Bernoulli que é um caso particular de modelos
lineares generalizados (Demetrio, 2001). Se é suposto que
i
Y , ni ...,,, 21
=
==
=
,
representa uma das variáveis medidas e que ,~Y
ii
)(Bernouille π sendo
i
π a
probabilidade de sucesso (probabilidade de ovulação, prenhez ou de morte
embrionária), a função de probabilidade de
i
Y é calculada por:
.1,0,)1()(
1
=ππ==
i
y
i
y
ii
yyYP
i
i
i
O modelo linear generalizado permite modelar as probabilidades de
sucesso
i
π
em termos de variáveis explanatórias
i
x (efeitos de tratamentos e
covariáveis) através de x
'g
iii
=π=η )(
, em que
g
é uma função de ligação
adequada e
é o vetor de parâmetros. A função de ligação mais comum para
dados binários é logit, isto é,
)]-/(1ln[)(
iii
g ππ=π
, mas outras escolhas comuns são
25
probito e complemento log-log. Estimados os parâmetros, pode-se estimar a
probabilidade de sucesso através de
)
ˆ
exp(1
)
ˆ
exp(
ˆ
i
i
i
η+
η
=π
(no caso da função logit) que
plotado como função de uma das covariáveis é uma curva sigmóide (ou um
segmento da sigmóide).
Neste trabalho, foi considerado o modelo logístico (ligação logit), e como
covariáveis foram consideradas: tratamento, estação do ano, DEL, número de
serviços anteriores (NS), produção de leite (L0, L7, L14 e LM), temperatura corporal
(T7 e T14), concentração de P4 rica (P7 e P14), touro, qualidade do embrião,
estágio de desenvolvimento do embrião, assincronia (receptora e embrião) e
interações. Para as covariáveis quantitativas foram considerados efeitos lineares e
quadráticos. Entretanto, verificou-se a existência de correlação alta (Figura 5) entre
as covariáveis DEL (DIM) e número de serviços anteriores (NS), e entre as
produções médias diárias de leite L0, L7, L14 e LM, o que indica que se deve usar
no modelo somente uma dentre as correlacionadas. O uso de mais de uma delas no
modelo pode trazer problemas de multicolinearidade e não convergência no
processo de ajuste. Nas Tabelas 1, 2, 3 e 4 o apresentadas algumas medidas
descritivas das covariáveis quantitativas.
A seleção das covariáveis foi feita através da comparação da deviance
(uma generalização da soma de quadrados) referente à covariável testada com o
valor de
2
, pυ
χ
com
υ
graus de liberdade e a um nível de significância 100p%.
Baseia-se na inclusão e exclusão de covariáveis e interações.
Os modelos foram ajustados usando-se o software de domínio público R
(www.r-project.org), (Venables & Ripley, 2002).
26
Figura 5: Análise de correlação linear entre as covariáveis de todas as vacas
(linhas vermelhas que circundam os gráficos indicam correlação alta),
onde DIM é igual DEL, L0
Tabela 1: Medidas descritivas das covariáveis quantitativas incluídas em modelos
com todas as vacas ovuladas ou não (n=387)
Covariável Mínimo
Máximo
Mediana
Média
Dias em lactação (DEL)
57 547 137 165 ± 103
Num. de serviços (NS) 0 10 1,0 1,8 ± 2,2
Produção de leite (L0) 16,7 54,2 33,8 34,2 ± 7,5
Produção de leite (LM)
14,8 53,5 33,0 33,3 ± 7,3
Temperatura retal (T7) 37,0 40,2 38,6 36,6 ± 0,5
Temperatura retal (T14)
37,4 40,0 38,7 38,7 ± 0,4
DIM
0 6 20 50 20 50 0 6 37.5 40.0
100
0 6
IA
L0
20 50
20 50
L7
L14
10 40
20 50
LM
p407
0 6
0 6
p414
T7
37.0 40.0
100
37.5 40.0
20 50 10 40 0 6 37.0 40.0
T14
DIM
0 6 20 50 20 50 0 6 37.5 40.0
100
0 6
IA
L0
20 50
20 50
L7
L14
10 40
20 50
LM
p407
0 6
0 6
p414
T7
37.0 40.0
100
37.5 40.0
20 50 10 40 0 6 37.0 40.0
T14
27
Tabela 2: Medidas descritivas das covariáveis quantitativas incluídas em modelos
somente com as vacas ovuladas (n=328)
Covariável Mínimo
Máximo
Mediana
Média
Dias em lactação (DEL)
57 547 136 162 ± 100
Num. de serviços (NS) 0 10 1,0 1,7 ± 2,0
Produção de leite (L7) 16,1 52,1 32,7 32,9 ± 7,3
Produção de leite (L14)
9,8 55,5 33,2 32,8 ± 7,6
Produção de leite (LM)
15,5 53,3 33,1 33,3 ± 7,1
Temperatura retal (T7) 37,4 40,2 38,6 38,6 ± 0,5
Temperatura retal (T14)
37,4 40,0 38,7 38,7 ± 0,4
Tabela 3: Medidas descritivas das covariáveis quantitativas incluídas em modelos
com as vacas ovuladas com assincronia igual a zero (n=191)
Covariável Mínimo
Máximo
Mediana
Média
Dias em lactação (DEL) 57 547 136 169 ± 111
Produção de leite (LM) 15,5 49,5 32,7 32,7 ± 6,9
Temperatura retal (T7) 37,4 40,0 38,6 38,6 ± 0,5
Temperatura retal (T14) 37,7 40,0 38,7 38,7 ± 0,4
Concentração sérica P4 (P7) 0,51 9,9 1,91 2,33 ± 1,50
Concentração sérica P4 (P14)
0,00 12,13 4,27 4,75 ± 2,45
Tabela 4: Medidas descritivas das covariáveis quantitativas incluídas em modelos
com as vacas gestantes para avaliação da morte embrionária (n= 35)
Covariável Mínimo
Máximo
Mediana
Média
Dias em lactação (DEL)
58 547 132 167 ± 109
Produção de leite (LM)
15,5 53,3 32,7 33,0 ± 7,2
Temperatura retal (T7) 37,5 39,9 38,5 39,9 ± 0,4
Temperatura retal (T14)
37,6 40,0 38,7 40,0 ± 0,4
28
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
OBSERVAÇÃO DE CIO
Foram realizadas 1025 aplicações de PGF2 em vacas com CL presente
(avaliado por palpação retal no dia -3), em que 498 eram do grupo IA e 527 do grupo
TE. A distribuição dos cios observados está na Tabela 5. No total, 37,8% (387/1025)
das vacas foram observadas em estro.
Tabela 5: Distribuição da manifestação de cio após aplicação de PGF2 no dia -3
Dia -1 0 +1
%
25%
(96/387)
57%
(221/387)
18%
(70/387)
Taxas de observação de cio menores do que 50% são comumente
observadas em rebanhos leiteiros e estão associadas à alta produção de leite
(Washburn et al 2002). Lopez et al. (2004) observaram uma diminuição no tempo de
manifestação do estro nas vacas que produziam mais de 39,5 kg de leite por dia e
associaram à redução da concentração de estradiol circulante. A avaliação do CL foi
feita por palpação retal. Isso pode ter afetado a taxa de manifestação de cio, pois
nem todos os corpos lúteos palpáveis são responsivos à PGF2
α
(Momont & Seguin,
1984).
AVALIAÇÃO DE TODAS AS VACAS QUE MANIFESTARAM ESTRO
A análise de todas as vacas que manifestaram estro foi realizada com o
intuito de se comparar adequadamente o que é feito na prática (fazendas de leite
comerciais que utilizam transferência de embriões). Normalmente se compara a
29
concepção das vacas inseminadas (todas as que manifestaram estro) com a
concepção das vacas inovuladas (com presença de CL). Comparou-se aqui a taxa
de concepção entre IA e TE de todas as vacas que manifestaram estro.
Das 387 vacas que manifestaram estro, 39,5% (153/387) estavam
gestantes aos 25 dias, sendo no grupo da IA 32,6% (74/227) e no grupo da TE
49,4% (79/160).
As covariáveis consideradas no ajuste do modelo logístico para a variável
resposta probabilidade de concepção aos 25 dias de gestação foram estação,
tratamento, DEL ou número de serviços (NS), produção de leite (LM ou L7 ou L14),
temperatura corporal (T7 e T14), touro e interações. Apesar de embriões não terem
sido inovulados em vacas sem a presença de CL, consideraram-se todos os animais
na avaliação (IA e TE). Também não foram incluídos no modelo os valores da
concentração de P4, já que os mesmos estão relacionados à taxa de ovulação.
Verificou-se que não houve evidência de efeito da estação e da produção
de leite na taxa de concepção, havendo, porém, evidência do efeito de tratamento
(p=0,0005) e da interação entre DEL e T7 (p=0,03).
As probabilidades de concepção nos dois tratamentos como função da T7
e DEL podem ser estimadas através das equações:
.T7.DEL)01,0DEL.20,0T7.51,033,20exp(1
).T7.DEL01,0DEL.20,0T7.51,033,20exp(
IA concepção de adeProbabilid
+++
++
=
e
.T7.DEL)01,0DEL.20,0T7.51,056,19exp(1
).T7.DEL01,0DEL.20,0T7.51,056,19exp(
TE concepção de adeProbabilid
+++
++
=
,
cuja representação gráfica como função da temperatura corporal do dia 7, em duas
situações diferentes de DEL é mostrada na Figura 6.
Verificou-se que com o aumento da temperatura corporal houve maior
redução da probabilidade de concepção aos 25 dias quanto maior o DEL. Chebel et
al. (2004) também observaram que as taxas de concepção em vacas com maior
DEL foram inferiores.
30
38.5 39.0 39.5 40.0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Temperatura corporal dia 7 (oC)
Probabilidade de concepção 25 dias
Figura 6: Representação gráfica da probabilidade de concepção aos 25 dias de
todas as vacas em relação à temperatura corporal no dia 7, fixados os
dias em lactação 136 (mediana) e 272 (2 vezes a mediana), em que
_____
representa a probabilidade esperada para IA com 136 DEL,
_____
para TE com 136 dias, -----para IA com 272 dias, “-----para TE com
272 dias e “
o
” representam os dados observados para IA e “
o
” para TE
Das 387 vacas que manifestaram estro, 33,1% (128/387) estavam
gestantes aos 39 dias, sendo no grupo da IA 29,1% (66/227) e no grupo da TE
38,8% (62/160). Houve evidência da diferença entre IA e TE (p=0,05), mesmo
considerando que as vacas do grupo TE sem CL não foram inovuladas e estão
incluídas nesta análise, e que houve morte embrionária entre os dias 25 e 39. A
31
única covariável considerada no ajuste do modelo logístico para a variável resposta
probabilidade de concepção aos 39 dias de gestação foi tratamento. As demais
covariáveis não foram incluídas devido à dependência da variável resposta aos
valores de P25 analisados anteriormente, porque vacas vazias que não conceberam
ou que tiveram morte embrionária estariam sendo avaliadas da mesma maneira.
Compararam-se todas as vacas que manifestaram estro e mesmo assim
observou-se a superioridade da TE na probabilidade de concepção aos 25 e 39 dias.
AVALIAÇÃO DAS VACAS COM PRESENÇA DE CL NO DIA 7
A análise das vacas ovuladas, ou seja, com presença de CL no dia 7
(avaliado por ultra-sonografia) foi realizada visando comparar adequadamente as
taxas de concepção entre IA e TE.
Taxa de ovulação
Das 387 vacas que manifestaram estro após a aplicação de PGF2
α
,
84,8% (328/387) possuíam CL no dia 7, sendo no grupo da IA 85,9% (195/227) e no
grupo da TE 83,1% (133/160).
As covariáveis consideradas no ajuste do modelo logístico para a variável
resposta probabilidade de ovulação foram estação, DEL ou número de serviços
anteriores (NS), L0 e interações. Não houve evidência de efeito da estação e da
produção de leite na probabilidade de ovulação, havendo, porém, evidência do efeito
do DEL (p=0,05).
A probabilidade de ovulação como função do número de dias em lactação
pode ser estimada através da equação:
DEL).002,005,2exp(1
)DEL.002,005,2exp(
ovulação de adeProbabilid
++
+
=
,
cuja representação gráfica é mostrada na Figura 7.
32
100 200 300 400 500
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Dias em lactação
Probabilidade de ovulão
Figura 7: Representação gráfica da probabilidade de ovulação em relação ao
número de dias em lactação, em que “------” representa a probabilidade
esperada e “
o
” representam os dados observados
Verificou-se que com o aumento do DEL, houve evidência da redução da
probabilidade de ovulação. A probabilidade de ovulação em uma vaca com DEL=60
é de 87,4%, enquanto que na vaca com DEL=350 é de 79,7%.
poucos trabalhos mostrando fatores que influenciam a taxa de
ovulação. Diferentes formas de estresse podem levar à falha da ovulação, um fator
importante a ser considerado ao se avaliar causas de infertilidade em rebanhos
leiteiros. Lopez-Gatius et al. (2005) não encontraram evidências de efeito da
produção de leite e do número de serviços anteriores na taxa de ovulação, porém
33
verificaram que existe uma chance 3,9 vezes maior da falha da ovulação em
estações quentes em relação a estações frias.
A redução da taxa de ovulação em vacas de maior DEL pode ser um dos
motivos pelo qual vacas se tornam “repeat-breeders”, que vacas com sucessivas
falhas de concepção, poderiam ser decorrentes de falhas de ovulação anteriores.
Esses dados sugerem que parte da falha de concepção, ao analisar todas as vacas
que manifestaram estro, pode ser conseqüência de falhas na ovulação, conforme
dados mostrados na Figura 6, em que se observou a redução da probabilidade de
concepção em vacas com maior DEL.
Na transferência de embriões, prévia avaliação da presença do CL no
momento da inovulação e, portanto, a melhoria da taxa de concepção por não
considerar as vacas não ovuladas no cálculo.
Avaliação da assincronia e da qualidade e estágio do embrião no grupo TE
Para a avaliação dos efeitos do embrião (grau e qualidade) e assincronia
entre receptora e embrião na taxa de concepção foram analisados somente os
dados das vacas inovuladas (grupo TE com CL presente no dia 7).
As covariáveis consideradas no ajuste do modelo logístico para a variável
resposta probabilidade de concepção foram assincronia, grau do embrião, estágio
de desenvolvimento do embrião e interações. Não houve evidência de efeito de grau
e estágio de desenvolvimento do embrião, nem da assincronia entre receptora e
embrião na probabilidade de concepção aos 25 dias de gestação. O fato de não ter
havido diferença na probabilidade de concepção pode ter sido porque foram
utilizados somente embriões de grau I (excelente) ou II (bom), no estágio de mórula
ou blastocisto inicial, transferidos principalmente em receptoras que estavam em
assincronia zero (57%).
Tabela 6: Taxas de concepção observadas na TE em relação à assincronia entre
receptora e embrião
Embrião -1 0 +1
%
45,5%
(10/22)
63,2%
(55/87)
58,3%
(14/24)
34
Tabela 7: Taxas de concepção observadas na TE em diferentes graus (I e II) e
estágios de desenvolvimento (M ou BL) do embrião
Embrião
I
Excelente
II
Bom
TOTAL
Mórula
78,3%
(18/23)
56,4%
(44/78)
61,7%
(62/101)
Blastocisto
33,3%
(4/12)
65,0%
(13/20)
53,1%
(17/32)
TOTAL
62,9%
(22/35)
58,2%
(57/98)
59,4%
(79/133)
Não houve diferença (p>0,10)
Probabilidade de concepção aos 25 dias de gestação
Das 387 vacas que manifestaram estro, 84,8% (328/387) ovularam. Das
328 vacas que ovularam, 46,6% (153/328) estavam gestantes aos 25 dias, sendo no
grupo da IA 37,9% (74/195) e no grupo da TE 59,4% (79/133).
As covariáveis consideradas no ajuste do modelo logístico para a variável
resposta probabilidade de concepção aos 25 dias de gestação para as vacas
ovuladas foram tratamento, estação, DEL ou NS, produção de leite (LM, L7 ou L14),
temperatura corporal (T7 e T14), touro e interações. Não houve evidência de efeito
da estação, da produção de leite, touro e DEL na probabilidade de concepção aos
25 dias, havendo, porém, evidência do efeito de tratamento (p=0,0001) e do efeito
quadrático da temperatura corporal do dia 7 (p=0,02). As probabilidades de
concepção nos dois tratamentos como função da T7 podem ser estimadas através
das equações:
)0,74.T7-T7.08,5735,1095exp(1
)0,74.T7-T7.08,5735,1095exp(
IA concepção de adeProbabilid
2
2
++
+
=
e
)0,74.T7-T7.08,5744,1094exp(1
)0,74.T7-T7.08,5744,1094exp(
TE concepção de adeProbabilid
2
2
++
+
=
,
35
cujas representações gráficas são mostradas nas Figuras 8 e 9.
38.0 38.5 39.0 39.5 40.0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Temperatura corporal T7 (oC)
Probabilidade de concepção 25 dias
Figura 8: Representação gráfica da probabilidade de concepção aos 25 dias das
vacas ovuladas em relação à temperatura corporal do dia 7 (T7), em que
_____
representa a probabilidade esperada para IA em relação a T7,
_____
para TE em relação a T7 e
o
representam os dados observados
de T7 para IA, e “
o
” para TE
36
38.0 38.5 39.0 39.5 40.0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Temperatura corporal T14 (oC)
Probabilidade de concepção 25 dias
Figura 9: Representação gráfica da probabilidade de concepção aos 25 dias das
vacas ovuladas em relação à temperatura corporal do dia 14 (T14), em
que “
_____
” representa a probabilidade esperada para IA em relação a T14,
fixada T7 em 38,6°C,
_____
para TE em relação a T14, fixada T7 em
38,6°C, ----- para IA em relação a T14, fixada T14 em 39,6°C, “-----”
para TE em relação a T14, fixada T14 em 39,6°C, e
o
representam os
dados observados de T14 para IA, e “
o
” para TE
Verificou-se que altas temperaturas corporais no dia 7 reduziram a
probabilidade de concepção aos 25 dias na IA e na TE (Figura 8), porém o mesmo
não ocorreu com a T14 (Figura 9). A temperatura do dia 14 não afetou a
probabilidade de concepção aos 25 dias, independentemente do que ocorreu no dia
7, ou seja, concepção alta devido à T7 baixa não sofreu influência da temperatura do
37
dia 14. Esses dados sugerem que o efeito da temperatura na probabilidade de
concepção ocorre antes do dia 14.
Dados de literatura mostram que períodos próximos à ovulação até o
terceiro dia do desenvolvimento embrionário são muito susceptíveis ao estresse
térmico, e temperaturas elevadas reduzem a proporção de embriões que continuam
em desenvolvimento (Ealy et al., 1993). Os efeitos do estresse térmico reduzem
conforme os embriões se tornam mais desenvolvidos, ou seja, o embrião adquire
resistência aos efeitos negativos com o passar do tempo (Ealy et al., 1993; Hansen
& Arechiga, 1999). Observou-se neste trabalho que a temperatura corporal elevada
pode continuar influenciando negativamente mesmo após o terceiro dia, que foi
detectado efeito da T7. Efeitos da temperatura aferida no dia 14 não foram
detectados. A temperatura alta no dia 7 influenciou negativamente as taxas de
concepção na IA e na TE, de maneira semelhante, porém a concepção da TE se
manteve maior que na IA.
Probabilidade de concepção aos 39 dias de gestação
Das 328 vacas que ovularam, 39,0% (128/328) estavam gestantes aos 39
dias, sendo no grupo da IA 33,8% (66/195) e no grupo da TE 46,6% (62/133).
Houve evidência da diferença entre IA e TE (p=0,02). A covariável
considerada no ajuste do modelo logístico para a variável resposta probabilidade de
concepção aos 39 dias de gestação foi tratamento. As demais covariáveis não foram
incluídas devido à dependência da variável resposta aos valores de P25 analisados
anteriormente, porque vacas vazias que não conceberam ou que tiveram morte
embrionária estariam sendo avaliadas da mesma maneira.
Na Tabela 8 estão representadas as taxas de concepção observadas aos
25 e 39 dias de gestação incluindo todas as vacas que manifestaram estro e as
vacas com presença de CL no dia 7 (ovuladas).
38
Tabela 8: Taxas de concepção observadas aos 25 (P25) e 39 (P39) dias de todas
as vacas e das vacas ovuladas
TODAS AS VACAS QUE
MANIFESTARAM ESTRO
TODAS AS VACAS OVULADAS
Concepção aos
25 dias (%)
Concepção aos
39 dias (%)
Concepção aos
25 dias (%)
Concepção aos
39 dias (%)
IA 32,6 (74/227) 29,1 (66/227) 37,9 (74/195) 33,8 (66/195)
TE 49,4 (79/160) 38,8 (62/160) 59,4 (79/133) 46,6 (62/133)
p 0,0005 0,05 0,0001 0,02
A análise das vacas ovuladas foi realizada visando comparar
adequadamente as taxas de concepção entre IA e TE. Normalmente se compara a
concepção das vacas inseminadas (todas as que manifestaram estro) com a
concepção das vacas inovuladas (com presença de CL). Nesta análise,
comparando-se as vacas ovuladas (grupo IA e TE) verificou-se que a superioridade
da TE em relação a IA, na probabilidade de concepção aos 25 e 39 dias se manteve.
Os dados do presente trabalho mostram que o embrião fresco (de vacas
não lactantes) melhora a concepção de vacas Holandesas em lactação, em relação
à IA. Maiores temperaturas corporais no dia 7 afetaram negativamente tanto a IA
quanto a TE. Como não foi verificada evidência no efeito de DEL na probabilidade
de concepção, a utilização da TE em vacas com DEL baixo, poderia minimizar
problemas futuros de fertilidade, pois vacas se tornariam gestantes mais cedo.
AVALIAÇÃO DAS VACAS OVULADAS COM ASSINCRONIA IGUAL A ZERO
Com o intuito de avaliar as vacas ovuladas em condições semelhantes,
foram analisadas somente as vacas que manifestaram estro no dia 0, ou seja, vacas
com assincronia igual a zero (diferença entre a data do cio e a data da inovulação
39
igual a 7 dias), evitando assim, diferenças na concentração sérica de P4 (diferenças
existentes entre a data do cio e a de coleta, pois todas as coletas de sangue foram
realizadas no dia 7, dia da inovulação, e as datas de cio variaram ±1 dia). As
Tabelas 9 e 10 mostram as diferenças nas concentrações de P4 observadas em
diferentes assincronias na IA e na TE.
Tabela 9: Concentrações ricas de P4 (P7) observadas nas diferentes
assincronias no grupo IA e TE
-1 0 +1
Gestante
Não
Gestante
Gestante
Não
Gestante
Gestante
Não
Gestante
IA 2,19 ± 1,85
1,46 ± 0,73
2,75 ± 1,98
2,03 ± 1,35
3,24 ± 2,26
2,86 ± 1,63
TE 1,70 ± 0,76
2,46 ± 1,14
2,42 ± 1,39
2,33 ± 1,20
2,11 ± 0,97
3,02 ± 1,10
Todas
2,00 ± 1,69
1,82 ± 1,68
2,56 ± 1,59
2,13 ± 1,65
2,78 ± 1,43
2,89 ± 1,70
Geral
1,90 ± 1,59 2,34 ± 1,57 2,84 ± 1,59
Tabela 10: Concentrações séricas de P4 (P14) observadas nas diferentes
assincronias no grupo IA e TE
-1 0 +1
Gestante
Não
Gestante
Gestante
Não
Gestante
Gestante
Não
Gestante
IA 3,10 ± 1,99
4,06 ± 1,87
5,04 ± 2,48
4,64 ± 2,90
5,69 ± 2,88
4,22 ± 2,00
TE 4,33 ± 2,14
6,35 ± 2,53
4,98 ± 2,16
4,22 ± 1,85
5,22 ± 2,60
6,36 ± 1,50
Todas
3,59 ± 2,43
4,89 ± 2,58
5,01 ± 2,32
4,50 ± 2,55
5,50 ± 2,30
4,69 ± 2,38
Geral
4,33 ± 2,47 4,75 ± 2,45 5,04 ± 2,32
Foram utilizadas 191 vacas com assincronia zero nos grupos IA e TE. Das
191 vacas, 49,2% (94/191) estavam gestantes aos 25 dias, sendo 37,5% (39/104)
no grupo da IA e 63,2% (55/87; p<0,01) no grupo da TE. Aos 39 dias 49,2% (94/191)
das vacas estavam gestantes, sendo 31,7% (33/104) no grupo da IA e 51,7% (45/87;
p<0,01) no grupo da TE.
40
As covariáveis consideradas no ajuste dos modelos logísticos para a
variável resposta probabilidade de concepção aos 25 dias de gestação para IA e TE
foram tratamento, estação, produção de leite (LM), DEL ou NS, temperatura corporal
(T7 e T14), concentração de P4 plasmática (P7 e P14), touro e interações.
Verificou-se que no grupo IA houve evidência do efeito da concentração
de P4 do dia 7 (p=0,03), efeito quadrático de temperatura corporal do dia 7 (p=0,09)
e efeito da produção de leite (LM; p=0,04). No grupo TE não houve evidência do
efeito da P7, nem da LM, mas sim do efeito quadrático da T7 (p=0,08). As
probabilidades de concepção nos dois tratamentos como função da concentração de
P4 (P7), temperatura corporal (T7) e produção de leite (LM) podem ser estimadas
através das equações:
0,07.LM)-1,02.T7-T7.6,78P7.36,01507exp(1
0,07.LM)-1,02.T7-T7.6,78P7.36,01507exp(
IA concepção de adeProbabilid
2
2
+++
++
=
e
)1,02.T7-T7.6,781507exp(1
)1,02.T7-T7.6,781507exp(
TE concepção de adeProbabilid
2
2
++
+
=
,
cujas representações gráficas são mostradas nas Figuras 10, 11 e 12.
41
1 2 3 4 5
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Concentração de P4 dia 7 do ciclo estral (ng/ml)
Probabilidade de concepção aos 25 dias
Figura 10: Representação gráfica da probabilidade de concepção aos 25 dias das
vacas ovuladas com assincronia 0 do grupo IA e TE em relação à
concentração de P4 do dia 7, em que
_____
representa a probabilidade
esperada para IA em relação a P7 (com T7 fixada em 38,5°C e LM
fixada em 32,7kg), e
_____
” representa a probabilidade esperada para TE
(com T7 fixada em 38,5°C), e
x
representam os dados observados
para IA, “
o
” para TE
Verificou-se que quanto maior a concentração sérica de P4 no dia 7,
maior a probabilidade de concepção aos 25 dias no grupo IA, enquanto que no
grupo TE, não houve efeito da concentração de P4 no dia 7 na probabilidade de
concepção. Não foi verificada influência da concentração sérica de P14 na
probabilidade de concepção aos 25 dias em nenhum dos grupos. Esses dados
42
sugerem que efeito positivo de maiores concentrações ricas de P4 nos primeiros
dias do desenvolvimento embrionário, que influenciou no dia 7 no grupo IA e o
no grupo TE e não influenciou no dia 14 em ambos os grupos.
A menor concentração de P4 após a IA, pode levar a redução do
desenvolvimento embrionário e da taxa de sobrevivência (Mann & Lamming, 2001;
Green et al., 2005). Estudos de Green et al. (2005) demonstraram que a P4 além de
agir diretamente no desenvolvimento embrionário, também altera o ambiente do
oviduto, agindo de forma indireta no desenvolvimento embrionário inicial. A P4
controla as mudanças do ambiente uterino, além de influenciar o desenvolvimento
embrionário (Mann & Lamming, 2001; Green et al., 2005, Mann et al., 2006). Mann
et al. (2006) estudando suplementação com P4 exógena em duas fases do ciclo
estral, observaram que a inserção do dispositivo intravaginal de P4 (CIDR®) entre os
dias 5 e 9 do ciclo estral promoveu aumento do comprimento do embrião no 16º dia
após a inseminação, em comparação ao grupo controle (sem suplementação de P4)
e ao grupo que foi tratado com o dispositivo intravaginal entre os dias 12 e 16 do
ciclo estral. Os resultados obtidos no presente trabalho confirmam a importância da
P4 no desenvolvimento embrionário ado sétimo dia, que as vacas do grupo TE
não foram influenciadas pela concentração sérica de P4, pois receberam embrião
desenvolvido em condições melhores.
Essas informações são importantes, pois ajudam a entender os
mecanismos envolvidos na menor concepção em vacas com alta produção de leite,
que essas são mantidas em dietas de alta densidade nutricional e apresentam
aumento do fluxo sanguíneo hepático e alta taxa de metabolização de P4
(Sangsritavong et al., 2002; Parr et al., 1993), conseqüentemente baixa
concentração desse hormônio, o que pode estar relacionado à redução da fertilidade
(Lucy 2001; Washburn et al., 2002).
Essas informações permitem sugerir a utilização da transferência de
embriões frescos produzidos em vacas não lactantes como ferramenta para
aumento das taxas de concepção de vacas de alta produção.
43
38.0 38.5 39.0 39.5 40.0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
T7
Probabilidade de concepção aos 25 dias
Figura 11: Representação gráfica da probabilidade de concepção aos 25 dias das
vacas ovuladas com assincronia 0 do grupo IA e TE em relação à
temperatura corporal do dia 7, em que
_____
representa a probabilidade
esperada para IA em relação a T7 (com P7 fixada em 1,91ng/ml e LM
fixada em 32,7kg), e
_____
representa a probabilidade esperada para
TE, e “
x
” representam os dados observados para IA, “
o
” para TE
Novamente verificou-se que maiores temperaturas corporais no dia 7
reduziram a probabilidade de concepção aos 25 dias na IA e na TE; enquanto que a
temperatura corporal avaliada no dia 14 não influenciou. O estresse calórico atua
retardando o desenvolvimento do embrião ou causando sua morte nos primeiros 14
dias (Ryan et al., 1993).
44
20 25 30 35 40 45 50
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Produção de leite (kg)
Probabilidade de concepção aos 25 dias
Figura 12: Representação gráfica da probabilidade de concepção aos 25 dias das
vacas ovuladas com assincronia 0 em relação à produção de leite (LM),
em que “
_____
” representa a probabilidade esperada para IA em relação à
LM (com T7 fixada em 38,C e P7 fixada em 1,91ng/ml), e “
_____
representa a probabilidade esperada para TE (com T7 fixada em
38,5°C), e “
x
” representam os dados observados para IA, “
o
” para TE
Verificou-se que o aumento da produção de leite afeta negativamente a
probabilidade de concepção aos 25 dias na IA, mas não na TE. Esses dados
sugerem que a produção de leite está influenciando negativamente antes do dia 7,
ou seja, no desenvolvimento folicular, fecundação e/ou desenvolvimento inicial do
45
embrião. Sartori et al. (2002) e Leroy et al. (2005) demonstraram que os embriões
produzidos nas vacas em lactação possuem qualidade inferior aos produzidos em
vacas não lactantes, novilhas ou vacas de corte. Novamente a TE pode ultrapassar
esse efeito.
Os dados aqui apresentados mostram que a utilização de TE deve ser
estimulada como ferramenta para aumentar concepção em vacas de leite de alta
produção.
MORTE EMBRIONÁRIA TARDIA
Das 153 vacas gestantes aos 25 dias de gestação, 25 se encontravam
vazias no 39º dia, 10,8% (8/74) na IA e 21,5% (17/79) na TE.
As covariáveis consideradas no ajuste do modelo logístico para a variável
resposta morte embrionária tardia foram tratamento, estação, DEL, produção de leite
(LM), temperatura corporal (T7 e T14) e interações. Não houve evidência de efeito
da estação, da produção de leite e do DEL na probabilidade de MET, havendo,
porém, tendência de efeito de T7 (p=0,10) e do efeito de tratamento (p=0,06).
As probabilidades de MET para os dois tratamentos como função da T7
podem ser estimadas através das equações:
T7).88,023,36exp(1
T7).88,023,36exp(
IA MET de adeProbabilid
++
+
=
e
T7).88,041,35exp(1
T7).88,041,35exp(
TE MET de adeProbabilid
++
+
=
,
cujas representações gráficas são mostradas nas Figuras 13 e 14.
46
38.0 38.5 39.0 39.5 40.0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Temperatura corporal dia 7 (oC)
Probabilidade morte embrionária tardia
Figura 13: Representação gráfica da probabilidade de MET em relação à
temperatura corporal do dia 7 (T7) em que
_____
representa a
probabilidade esperada para IA em relação a T7,
_____
para TE em
relação a T7, e
o
representam os dados observados para IA e
o
para
TE
47
38.0 38.5 39.0 39.5 40.0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Temperatura corporal dia 14 (oC)
Probabilidade morte embrionária tardia
Figura 14: Representação gráfica da probabilidade de MET em relação à
temperatura corporal do dia 14 (fixada a T7 em 38,5°C ou 39,5°C), em
que
_____
representa a probabilidade esperada para IA em relação a
T14, fixada a temperatura em 38,5°C,
_____
para TE, fixada a
temperatura em 38,5°C, e “-----” para IA, fixada a temperatura em
39,5°C, “-----” para TE, fixada a temperatura em 39,5°C e
o
representam os dados observados para IA, “
o
” para TE
Verificou-se que com o aumento da temperatura corporal no dia 7, houve
aumento da MET. A temperatura do dia 14 não afetou a MET, independentemente
do que ocorreu no dia 7, ou seja, MET alta devido à temperatura corporal alta no dia
7 não sofreu influência da temperatura do dia 14. Esses resultados mostram um
efeito residual da temperatura do dia 7 e mostram novamente a influência negativa
48
das altas temperaturas na fase inicial. Os fatores que afetam a MET ainda não estão
bem caracterizados (Chebel et al., 2004). A morte embrionária é uma variável difícil
de ser estudada, devido grande numero de fatores que podem interferir. Mais de
70% das causas de morte embrionária são devido a causas não infecciosas, que
geralmente são multifatoriais e de difícil diagnóstico (Christianson, 1992 apud
Vanroose et al., 2000). Os índices de morte embrionária em vacas em lactação
variam de 10 a 60,5% (Vasconcelos et al., 1997; Cartmil et al., 2001; Moreira et al.,
2001; Chebel et al., 2003; Chebel et al., 2004; Sartori, 2004; Sartori et al., 2006).
Sartori et al. (2006) não obtiveram diferenças significativas nas taxas de
morte embrionária entre IA (18,6%) e TE (26,2%), apesar da diferença numérica.
Possíveis causas da maior morte embrionária no grupo TE continuam indefinidas
neste trabalho.
49
5. CONCLUSÃO
A transferência de embriões frescos produzidos em vacas Holandesas
não lactantes é uma ferramenta importante para aumentar a probabilidade de
concepção de vacas Holandesas em lactação.
Uma das grandes vantagens da TE em relação à IA é que na TE
prévia avaliação da presença do CL no momento da inovulação. A avaliação da taxa
de ovulação pode minimizar o decréscimo da probabilidade de concepção por falhas
de ovulação, fator não avaliado quando se utiliza IA.
Os efeitos negativos da produção de leite e de altas temperaturas
ambientais podem prejudicar o desenvolvimento folicular, a fecundação e o
desenvolvimento embrionário inicial. A grande importância da TE, é que o embrião é
transferido sete dias após o estro, e, portanto sai em vantagem, porque o embrião
produzido de vacas não lactantes não passou por esses efeitos negativos iniciais.
Verificou-se que a produção de leite afeta a probabilidade de concepção na IA, mas
não na TE. Esses dados são interessantes, pois mostram que a produção de leite
está influenciando negativamente antes do dia 7.
Maior probabilidade de concepção na TE foi observada em todas as
situações colocadas no presente trabalho, mostrando que a TE possui vantagens
sobre a IA. Apesar disso, maiores temperaturas corporais avaliadas no dia 7
afetaram negativamente da mesma maneira a IA e a transferência de embriões,
reduzindo a probabilidade de concepção e aumentando a probabilidade de morte
embrionária. A avaliação da temperatura corporal no dia 7 é importante para predizer
a probabilidade de concepção.
Verificou-se que quanto maior a concentração sérica de P4 no dia 7,
maior a probabilidade de concepção no grupo IA, enquanto que no grupo TE, não
houve efeito da concentração de P4 no dia 7 na probabilidade de concepção. Os
resultados obtidos no presente trabalho confirmam a importância da P4 no
desenvolvimento embrionário antes do sétimo dia, que as vacas do grupo TE não
foram influenciadas pela concentração sérica de P4, pois receberam embrião
desenvolvido em condições melhores.
50
Apesar da maior morte embrionária na TE, a probabilidade de concepção
na TE permaneceu superior à IA. Maiores temperaturas corporais significam maior
probabilidade de morte embrionária. Possíveis causas da maior morte embrionária
no grupo TE continuam indefinidas neste trabalho.
Os dados aqui apresentados mostram que a utilização da transferência de
embriões frescos produzidos em vacas não lactantes deve ser estimulada como
ferramenta para aumentar concepção em vacas de leite de alta produção.
51
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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