entre os 12 e 15/16 anos. É então chamado um curandeiro
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, nhanga/nyanga prático
nestas operações e escolhido um local afastado das vistas onde se manda construir
uma ou mais palhotas (casas redondas com um tecto cónico), nas quais
permanecem conforme o tempo que as feridas levarem a cicatrizar.
Cada iniciado é acompanhado de um homem da família (xitsiva) e que será o seu
padrinho, tendo por cargo tratar do afilhado e ensinar-lhe tudo o que saiba e que
contribua para o instruir, como seja a história dos vatshwa e família, os mistérios do
sexo, da caça, da pesca, da guerra, etc. a confirmar, Massasse Vilankulo, meu
informante, comparou este momento como um verdadeiro momento da tropa (serviço
militar obrigatório) dos vatshwa.
Os processos do rito de wukhunjwa , da circuncisão actualmente estão bastante
reformulados em termos de locais de operação usungui, passando para perto das
casas, mas isoladas da curiosidade dos não-iniciados e das mulheres; a tendência
de desaparecerem nos moldes como eram anteriormente, realizados devido à
intensa escolarização feita na escola onde estas práticas não estão previstas no
currículo oficial e o discurso político era de combater os ritos de iniciação veiculados
como uma forma de obscurantismo do povo, pelo menos até 1992, ano do acordo
Geral de Paz.
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O povo tshwa define nyanga de uma forma bastante ampla, englobando várias figuras e funções. Para os tshwa
curandeiro é o médico que cura doenças orgânicas ou resultantes de um estado de possessão; é um indivíduo
dotado de um poder sobrenatural, capaz de manter contacto com o mundo estra-sensorial e estabelecer ligação
entre os mortos e os vivos; é o sacerdote que faz executar e cumprir a vontade dos antepassados; é conselheiro de
toda a comunidade inclusive o chefe do clã, tribo e linhagem; é a pessoa que dirige, oriente e controla a
realização de várias cerimônias e rituais (para aparecimento da chuva, hoje deixou de ser prática, para as
sementeiras e colheitas, para as festas, casamentos, nascimentos e falecimentos); é o mágico que executa os ritos
para a defesa contra os feiticeiros e ditadores de sorte; é o pedagogo que prepara as pessoas para o trabalho. O
curandeiro é o obreiro da psicologia de massas local, um psicólogo por natureza, que está presente em todos os
acontecimentos de maior importância na comunidade. A sua opinião é recebida sem contestação pelos membros
das comunidades tshwa. Segundo os vatshwa este é quem dirige os destinos da sociedade.
O chefe da tribo ou linhagem tshwa é eleito depois de se consultar o adivinho que dá todas as orientações
necessárias e o prepara de modo a que a sua investidura tenha aceitação, seja respeitado e tenha capacidade de
cumprir a sua missão com eficiência.
O curandeiro é tido como um homem experimentado, sério, social; na zona tshwa é tratado como “pai”, (bâba,
em xi-tshwa), todos os seus clientes, “pacientes”, são tratados como sendo “filhos” (vana, em xi-tshwa) da casa.
Além de conhecedor de remédios, o nyanga é portador de um espírito tutelar de um antepassado ou adquirido por
sorte, como acredita o beneficiado.