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vale todas as pessoas que fizeram parte da vida de vocês antes de vocês virem pra Poços. Se a gente pensar
em família, quais as pessoas que fizeram parte da vida de vocês?
M: Essa é fácil: Pai, mãe,e a princípio eu tinha deixado a Glória, que era uma pessoa que trabalhava lá em
casa e ajudou a me criar, mas desde quando eu fui pra uma outra cidade , ela saiu lá em pedaços (risos)...
depois que eu saí , ela saiu lá de casa. Ela me ligava toda semana, pra saber se tava tudo bem e sem ser a
cobrar e eu lá em Belo Horizonte, aí quando eu mudei pro Norte a mesma coisa. E quando eu voltei pra
minha cidade de origem, ela ia todo dia lá na loja, até ela tava trabalhando lá em outra casa, aí quando vê
eu cheguei pra ela e falei “Glória, você quer trabalhar lá em casa? Tudo, eu posso pagar isso. Minha
casa... minha família mudou, eu tenho filhos, esposa. Porque ela teve muito contato com minha namorada
antiga, então a coisa tava meio assim... ah, foi eu falar e no dia seguinte ela tinha pedido demissão e tá lá
(risos) trabalhando até hoje. E agora ela tá aqui, é o braço direito lá em casa... então ela tá criando meus
filhos , ela tem muito carinho com eles... tem hora que eu chamo atenção de alguém lá e ela me xinga: “não,
não pode fazer isso!”
E: Mas na época você teve que deixá-la? Como foi?
M: É que assim, ela é empregada, mas a gente nem trata ela como empregada. Foi ela quem me criou, ela
trabalhava com meus pais muitos anos, e quando eu fui pra Belo Horizonte trabalhar, porque até então
minha família morava em outra cidade...
D: Esse tem história de mudança que não acaba mais... (risos)
M: É verdade,desde que eu me lembre, assim... meu pai é representante comercial, então ele era uma pessoa
que viajava muito, e eu ficava em casa, com os irmãos e com minha mãe, então meu pai era assim, vai e
volta, quando sexta-feira chegava a gente ficava feliz, porque tinha presentes e tal, e hoje em dia eu me vejo
fazendo isso também...como viajo muito, quando volto trago presentes para as crianças, ou a Paula compra
e deixa guardado para eu entregar, então ... eu nasci em B.H. e logo quando eu tinha dois anos de idade
meu pai e minha mãe mudaram pra outra cidade , e eles deixaram as famílias lá em B.H., evidente foram
morar em outra cidade sem parentes... sem primos, sem avós, sem tios, sem nada... então, meio que a gente
foi construindo uma coisa ali que era a gente só... e fomos fazendo amigos .Que eu tenho lembranças, mais
era da minha mãe ... meio que com depressão ... não assim tão forte..., porque ela ficava sozinha ali com os
filhos, não conhecia ninguém ... disso eu tenho até lembrança, e agora penso, o que fez ela sair disso ...
talvez as amizades que ela criou de pessoas no prédio que a gente morava, também foi desenvolver algum
tipo de trabalho , de fazer coisas, minha mãe sempre gostou de fazer pão , ela era muito habilidosa com as
coisas que ela fazia... fazia pijaminha pra gente, costurava ... essas coisas assim... mas por prazer e não
trabalhando em empresa. Bom , então pegando esse gancho, passando um pouco, eu me formei, e depois
que eu me formei, a cidade, para o que eu queria ,não apresentava muita perspectiva de trabalho, e eu
acabei conseguindo uma oportunidade logo depois que eu formei.Fui pra Belo Horizonte, logo no início
morei com uma tia, porque ainda não dava para eu pagar aluguel, mas assim que eu pude , acho que depois
de um ano que eu tava lá, aí eu fui morar sozinho de fato mesmo... aluguei um apartamento, comprei as
coisas e tal e fui morar sozinho. Eu mesmo não senti tanto assim de estar saindo porque pra mim tudo era
uma aventura, eu tava conquistando coisas e tal.Eu lembro que na minha casa muita gente ficou triste.
E: Que pessoas que ficaram triste?
M: Duas sentiram muito ... nossa!!! Três .Meu pai sentiu muito, minha mãe também.E ... eu fiquei uns
quatro em Belo Horizonte,de quatro a cinco anos e ... pra encurtar um pouco esse pedacinho foi... eu tive
uma história desde novinho com a Paula que assim ... um meio que paquerava o outro na nossa cidade de
origem, mas nunca tinha acontecido nada. A gente nunca se encontrava assim... ou ela tava namorando ou
eu ... e tal. E aí um belo dia aconteceu de a gente (risos) .. aí um belo dia eu fui pra nossa cidade e sempre
assim, quando eu saía ela tava com namorado e eu tava lá sozinho ou vice e versa ela tava sozinha e eu tava
com namorada... nunca encontrava .Um belo dia ela saiu e eu encontrei ela ... ela já não estava mais com o
pai da Luiza, que é minha enteada, porque a Paula tinha casado com outra pessoa nesse intervalo... e a
gente acabou se encontrando em um bar eu tocando minha vida e ela tocando a vida dela.E aí nesse dia a
gente ficou conversando, finalmente ela sozinha e eu sozinho.Pronto. Aí nesse dia a gente ficou junto... pra
nunca mais separar mesmo.Aí eu contei isso porque eu morava em Belo Horizonte sozinho e quando eu
comecei a namorar a Paula, ela morava na nossa cidade,ela tinha a vida dela, trabalhando, tinha a filha
dela... ela morava sozinha num apartamento e começou a dar vontade muito grande de a gente ficar junto e
coisa. Só que se ela fosse para Belo Horizonte, a condição de vida que eu tinha, ia dar uma caída, porque ,
tipo assim... era mais despesas, essas coisas.E eu voltar para nossa cidade, também não tinha nada pra
fazer lá,né? E aí eu comecei a procurar emprego, eu tava muito bem onde eu tava, tava bem colocado, tinha
uma vida legal... morava em um apartamento legal... então pra mim tava muito bom, mas ,tinha carro legal..
então pra mim tava muito bom, mas não daria pra gente, aí eu comecei a procurar... achei um anuncio no