existam várias esferas inconscientes para ela. Por exemplo, têm momentos, procura
justificar a atitude do pai, no sentido de achar uma razão para a maneira como ele
age.
Meu pai tem uma coisa interessante. Ele tem dois lados: ele adora
mandar, tanto é que ele não tem patrão: são todos subordinados a
ele e ele a ninguém. E isso ele sempre falou: não goste de ser
empregado; se você não puder nunca ser empregado não seja. E
isso ficou muito presente. Se você puder ser o patrão, é a melhor
coisa. E isso é uma coisa de registro mesmo. Tem essa coisa de não
gostar de ser empregado, de ele ter sido chefe dele mesmo [...] e aí
ele tem duas coisas interessantes. Primeiro, que ele acaba sendo o
centro que sabe mais e ele adora ensinar os outros.
Então, ele está sempre como aquele que está ensinando: ele está
ensinando meus irmãos, as estagiárias, a advogada, e o pior é que
tem, porque a qualidade da universidade hoje está cada vez pior.
Isso, pra ele, eu vejo que é alimento de ego, é pré-requisito. Se ele
não está muito bom, ele vai trabalhar e fica melhor. Só que, ao
mesmo tempo, é uma pessoa que não gosta de não ter razão. Está
sempre certo, é ele que tem razão. E isso foi uma coisa, que quando
eu era nova, de ficar no escritório dele e atender telefone, quando a
secretária estava de férias, por alguma razão, a maneira como ele
fazia me incomodava; ele não errava, só os outros; só ele tinha razão
[...] e isso me irritava muito. Esse jeito que ele lidava, pra mim não dá
certo trabalhar com alguém que me tratava daquele jeito. Então, por
outro lado, ele tem um lado super brincalhão, animado, ele brinca
com todo mundo, todo mundo gosta dele, todo mundo acha ele legal,
as pessoas principalmente, porque não convivem todo dia, acham
ele o máximo, porque acham que ele é super. E quando a gente
passa a conviver diariamente a gente sabe que não é bem isso.
O que Fabiana consegue observar é que o pai costuma ser muito
sociável, divertido, simpático com todas as pessoas, desde que o outro saiba como
se relacionar com ele. Se o outro souber compartilhar com ele idéias e posturas, irá
receber muito bem; mas se sentir que há desejo em superá-lo, ele assume uma
postura destrutiva, como a própria Fabiana diz. Ela reconhece esta característica do
pai como algo que dificulta o relacionamento.
Depende de com quem ele se relaciona. Porque é assim, se ele se
relaciona com alguém que chega perto dele com o objetivo ou
admirando ele, ou querendo aprender com ele, ele é o superlegal.
Mas, se alguém chega perto dele com uma atitude ou uma intenção
de querer mostrar que sabe muito ou mais, ele acaba com a pessoa;
ele detona a pessoa, ele deixa no chão. Isso é uma coisa que eu falo
pra ele: pra que você fez isso? Eu sinto como uma coisa destrutiva.
A gente sabe das qualidades que ele tem. Ele nunca fez isso comigo!
Essa postura mostra-se típica do pai, independente de ser com
subordinados ou colegas de trabalho. A regra parece ser sempre a mesma; se