“pode deixar”, “mãe”, “emprego”. Esses enunciados oferecem as seguintes tonalidades ao discurso
do pai: “pode deixar” reflete um procedimento de permissividade. No entanto, a filha não lhe pediu
para que a mãe cuidasse da criança. Mas a linguagem antecipa respostas, prevê ações futuras, ativa
memórias de um futuro, assim, o pai, antecipadamente, organiza uma resposta a uma futura
pergunta. Em relação à expressão “mãe”, objeto lingüístico complexo em seus usos, nesse
momento, reflete a criação ideológica do grupo social ao qual ele, o pai, pertence. Em seu horizonte
social é dever da mãe/avó cuidar do neto, enquanto a filha trabalha fora. A palavra “mãe”, no
contexto dele, ativa a idéia de “aquela cuida da casa, e conseqüentemente do neto”. No contexto
ideológico do pai, a filha é mãe, mas como é jovem, de outra geração, deve trabalhar fora. Ao
contrário da mãe (avó), que por pertencer à outra criação ideológica, à outra geração, deve cuidar
do neto. Pode-se ressaltar com a explicação do valor da palavra “mãe”, a questão do plurilingüismo
dialogizado. Possivelmente, “mãe”, de acordo com a diretriz volitivo-emocional da filha, também
estabeleça o sentido de “aquela que vai ficar em casa, portanto cabe a ela cuidar o bebê”.“Mãe” é
um objeto lingüístico que refrata incontáveis sentidos e estabelece, como todas as palavras, a sua
reflexão de acordo com a situação em que se encontra. É importante essa reflexão, porque coloca
em evidência o dialogismo bakhtiniano em sua instância máxima – momento em que o discurso se
estabelece, negociado em função do contexto, do interlocutor específico, da autoconsciência etc..
Enfim, permite visualizar mais uma vez a importância dos estudos propostos pelo Círculo de
Bakhtin. A expressão “emprego”, para o centro de valor do pai, tem um valor positivo. Essa
posição reitera o horizonte ideacional do pai, a classe média, onde todos têm de trabalhar para
ajudar no sustento da família, para manter e/ou melhorar as condições de vida, de aquisição de bens
de consumo. Ou seja, o grau de clareza, de consciência, de acabamento formal da atividade mental
é diretamente proporcional ao grau de orientação social dele.
A filha, assim como o filho, também se mantém silenciosa, ou seja, a resposta é de
concordância com a diretriz volitivo-emocional que o pai reflete para o sentido de seu enunciado. O
silêncio da filha pode ser compreendido como uma resposta ativa de aceitação ao discurso do pai,
pois no momento em que se ouve já se estabelecem as relações dialógicas, e conseqüentemente,
resposta. De certa forma, ela entende que deve arcar com as conseqüências de ter tido filho etc..
Deve trabalhar para sustentá-lo, embora sua diretriz volitivo-emocional seja outra, pois, pelo fato de
ainda submeter-se ao pai, cabe a ele a responsabilidade maior em manter as despesas da casa, dela,