instrumentos preestabelecidos para a sua ação, a realizar gestos, pronunciar
palavras, utilizar cores, manipular ervas segundo um receituário fixo e secreto,
conhecido apenas pelos iniciados. O artista era, portanto, oficiante de cultos e
fabricador dos objetos e gestos dos cultos. Seu trabalho nascia de um dom dos
deuses (que deram aos humanos o conhecimento do fogo, dos metais, das
sementes, dos animais, das águas, dos ventos, etc.) e era um dom humano para
os deuses.
Mesmo quando, historicamente, várias sociedades (como a grega, a
romana, a cristã) operam uma divisão social em que os detentores da autoridade
religiosa realizam os cultos, mas já não fabricam os instrumentos, os objetos e os
locais dos cultos, é mantida a relação entre a atividades dos artistas ou artesãos e
a religião. É na qualidade de servidores da autoridade religiosa que estes são
encarregados de tecer os vestuários, fabricar as jóias, produzir os objetos e os
instrumentos, construir os lugares dos cultos, erguer altares, esculpir ou pintar as
figuras dos deuses e de seus representantes, produzir as músicas, realizar as
danças. As grandes obras de arte das sociedades antigas e da sociedade cristã
medieval, assim como da cultura judaica e da cultura islâmica são religiosas.
Templos, catedrais, palácios, cálices, taças, mantos, túnicas, chapéus, colares,
pulseiras, anéis, estátuas, quadros, músicas e instrumentos musicais, gravuras e
ilustrações de manuscritos - tudo isso era encomendado pela autoridade religiosa
e pelos oficiantes dos cultos, que estabeleciam as regras da fabricação,
determinavam os materiais e as formas, as cores, os ritmos, os movimentos, os
sons.
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A expressão por meio da música sempre foi universal, mas, diferentemente
da Babilônia e do Egito, Israel, durante a época nômade (cerca de 2000 a 1000 a.
C.), não possuia músicos ou dançarinos profissionais. Todo mundo praticava
música, cantava, tocava e dançava durante as atividades cotidianas. Depois do
êxodo do Egito e da travessia do Mar Vermelho, Moisés entoou a canção sagrada
para glorificar o Senhor, e todos se juntaram à voz do líder e, Míriam, sua irmã,
liderou as mulheres no coro de resposta. Quando Saul e Davi retornaram da
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CHAUÍ, Marilena. Op. cit., p. 273 e 274.
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