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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL
Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil
Nº 17
ESTUDO DAS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA DE
EDIFÍCIOS DURANTE A RECUPERAÇÃO
ESTRUTURAL DE PILARES
NEWTON FERNANDO MONTEIRO
UBERLÂNDIA, 17 DE FEVEREIRO DE 2006.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil
Newton Fernando Monteiro
ESTUDO DAS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA DE EDIFÍCIOS
DURANTE A RECUPERAÇÃO ESTRUTURAL DE PILARES
Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia
Civil da Universidade Federal de Uberlândia como
parte dos requisitos para a obtenção do título de
Mestre em Engenharia Civil.
Área de Concentração: Engenharia das Estruturas.
Orientador: Prof. Dr. Turibio José da Silva.
Uberlândia, 17 de fevereiro de 2006.
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FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UFU / Setor de Catalogação e Classificação
M775e
Monteiro, Newton Fernando, 1975-
Estudo das condições de segurança de edifícios durante a recupera-
ção estrutural de pilares / Newton Fernando Monteiro. – Uberlândia,
2006.
195f. : il.
Orientador: Turibio José da Silva.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Uberlândia, Progra-
ma de Pós-Graduação em Engenharia Civil.
Inclui bibliografia.
1. Engenharia de estruturas - Teses. I. Silva, José da. II. Universidade
Federal de Uberlândia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil.
III. Título.
CDU: 624.01
Aos meus pais pelo exemplo de vida e apoio
incondicional em todos os momentos; aos meus
irmãos pela sincera amizade e motivação e a
Daiane por todo carinho e confiança depositados
em mim.
In memorian
Este trabalho é humildemente dedicado ao amigo
Gilmar Rodrigues Braga, que partiu, deixando
lembranças e muitas saudades.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por contemplar-me com a oportunidade de realizar mais este trabalho,
ajudando-me na superação dos muitos obstáculos encontrados.
Agradeço a todos os meus amigos pelo pensamento positivo e paciência durante todo este
período.
Aos meus colegas do curso de Pós-graduação em Engenharia Civil, professores e
funcionários da FECIV que contribuíram de forma direta e indireta para a realização deste
trabalho.
Ao meu orientador e amigo, Prof. Dr. Turibio José da Silva, por sua conduta, dedicação,
paciência e, sobretudo, pela disponibilidade em ofertar amplamente seus conhecimentos.
À CAPES pelo apoio financeiro.
RESUMO
As estruturas se deterioram pela ação das intempéries e de outros fatores, o que requer,
para a manutenção da vida útil, intervenções que poderão variar de um simples reparo
superficial a uma elaborada instalação de reforços. Na avaliação da segurança de estruturas
existentes, as diretrizes utilizadas para projeto tornam-se inapropriadas, uma vez que
muitos dos parâmetros adotados genericamente em projeto, agora podem ser estudados
com uma investigação in loco, o que reduz muito as incertezas relativas às variáveis
envolvidas. Este trabalho tem como objetivo geral a análise da segurança dos pilares de
edifícios residenciais submetidos à recuperação estrutural, abordando ainda alguns
procedimentos para execução do reparo, tendo em vista a segurança. É proposta uma
metodologia para intervenção desses elementos em função do coeficiente de segurança
global encontrado, partindo-se de considerações feitas na avaliação, tanto das resistências
quanto dos esforços atuantes na seção transversal. De acordo com os procedimentos,
realiza-se o estudo dos valores representativos das cargas que ocorrem nos curtos períodos
de tempo referente aos trabalhos de recuperação e os coeficientes parciais de segurança a
serem aplicados a pilares, durante tal processo. Os esforços serão gerados por programas
computacionais comerciais, tendo por parâmetros de entrada, aqueles específicos da
estrutura analisada, em coerência com o momento da intervenção para reparo e segundo
período de referência relativo à execução dos serviços, que é da ordem de poucos meses. A
metodologia apresentada prevê condições normais de ocupação dos apartamentos pelos
inquilinos nos edifícios investigados. Então, leva-se em conta a manutenção de um nível
mínimo de segurança no desenvolvimento dos trabalhos, de acordo com uma probabilidade
de falha ajustada às atuais condições da estrutura e seu desempenho passado. Como
aplicação da técnica proposta, apresenta-se a avaliação da segurança oferecida por pilares,
no pavimento da garagem, em dois edifícios com simulação de recuperação estrutural
devido a um processo de corrosão inicial das armaduras. Espera-se que esta contribuição
fomente uma base para trabalhos futuros que culminem na elaboração de normas para
avaliação e recuperação estrutural.
Palavras chave: Segurança das estruturas existentes, Fatores de segurança, Avaliação
estrutural, Recuperação de estruturas
Monteiro, N. F. Estudo das condições de segurança de edifícios durante a recuperação
estrutural de pilares. 195 p. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia Civil,
Universidade Federal de Uberlândia, 2006.
ABSTRACT
Structures deteriorate under action of environmental hazards and other conditions, what
requiring, for the maintenance of the service life, interventions that can vary from a simple
superficial repair to a elaborated installation of reinforcements. In the structural safety's
evaluation of existing buildings, the guidelines used for project become inappropriate, as
many of the parameters adopted generically in project can be now studied by an
investigation in situ, which reduces significantly the relative uncertainties to the related
variables. The aim of this dissertation is to analyze the safety condition of columns of
residential buildings submitted to the structural repair. Also, it evaluates some procedures,
based on safety, for execution of the repair. A methodology is proposed for intervention of
those elements in terms of the global safety's coefficient, from considerations done in the
evaluation of the resistances and internal forces in the cross section as well. According to
the procedures, the study of the representative values of the loads that act in short periods
of time of the repair work and safety's partial coefficients that will be applied to the
columns, during such a process. Internal forces will be generated by commercial softwares,
where input data are those specific of the analyzed structure, according to the time of the
repair intervention and reference period related to the execution of the services, which
correspond to few months. The presented methodology focus on normal conditions of
occupation of the apartments by the tenants in the investigated buildings. Then, it is taken
into account the maintenance of a minimum level of safety in the development of the
works, according to a probability of failure adjusted to the current conditions of the
structure and the previous response. As an application of the proposed technique, it is
presented the safety's evaluation of columns located in the garage of two buildings. It was
simulated the service of structural repair due to the process of initial reinforcement
corrosion. It is expected that this dissertation contributes to future works culminating in the
elaboration of codes for evaluation and structural repair.
Keywords: Safety of existing structures, Safety factors, Structural assessment, Repair of
structures
Monteiro, N. F. Study of safety conditions of buildings during the structural repair of
columns. 183 pp. MSc Dissertation, College of Civil Engineering, Federal University of
Uberlândia, 2006.
SÍMBOLOS E SIGLAS
SÍMBOLOS
Letras romanas
a Flecha na extremidade livre do pilar padrão
A Área da seção transversal genérica
A
c
Área da seção transversal do concreto
A
s
Área da seção transversal das armaduras
a/c Relação água/cimento
b Largura da seção transversal
Ca(OH)
2
Hidróxido de cálcio
CaCO
3
Carbonato de cálcio
Cl
-
Íon cloreto
CO Monóxido de carbono
CO
2
Dióxido de carbono
C
x
Constantes ou funções determinísticas que relacionam x
i
a S
C
y
Constantes ou funções determinísticas que relacionam y
i
a R
d' Distância do centro das armaduras da 1º camada até a face do concreto
e Excentricidade adicional gerada
e
a
Excentricidade devida à imperfeições locais
e
cc
Excentricidade devido à fluência
“extr” Indica condições de extremo de variáveis ou funções de distribuição
e
0
Excentricidade inicial
e
1
/h Excentricidade relativa de primeira ordem
E Módulo de elasticidade
E
cs
Módulo de deformação secante do concreto
E
ci
Módulo de elasticidade tangente
f( ) Função densidade de probabilidade
f
cm
Resistência à compressão média do concreto
f
cd
Resistência à compressão de cálculo do concreto para projeto
f
cd,aval
Resistência à compressão de cálculo do concreto para avaliação
f
ck
Resistência à compressão característica do concreto
f
ck,est
Resistência característica do concreto estimada dos corpos-de-prova
f
ck,real
Resistência característica do concreto real de testemunhos extraídos
f
c,t
Resistência do concreto à compressão aos “t” dias
f
ctk
Resistência característica do concreto à tração
f
ctm
Resistência média do concreto à tração
f
c,28
Resistência do concreto à compressão aos 28 dias
f
Qi
Densidade de probabilidade da componente intermitente
f
Qqp
Densidade de probabilidade da componente quase permanente
f(x;η,λ) Função de densidade de probabilidade gama com parâmetros η e λ
f
yk
Resistência característica à tração do aço
f
’yd
Resistência ao escoamento de cálculo para o aço
f
ym
Resistência média à tração do aço
f
R
( ) Função densidade de probabilidade das resistências
f
S
( ) Função densidade de probabilidade das ações
Fe
++
Íon ferro
F
G,aval
Carga permanente de avaliação
F
k
Valor característico das solicitações
F(x) Função de distribuição acumulada da variável x
F(x;η,λ) Função de distribuição acumulada gama
F
y
Limite elástico do aço
G Função de estado limite último
h Altura da seção transversal do pilar
H Geometria da barra de aço
h/d Relação altura/diâmetro dos corpos-de-prova
I Momento de inércia da seção transversal
I
c
Momento de inércia da seção de concreto
K
MOD
Coeficiente de modificação da resistência à compressão do concreto
K
MOD,aval
Coeficiente de modificação da resistência do concreto na avaliação
K
MOD1
Coeficiente que considera o ganho de resistência do concreto com o tempo
K
MOD2
Coeficiente de redução da resistência do concreto pelas cargas mantidas
K
MOD3
Coeficiente de redução da resistência devido à dimensões do corpo-de-prova
KOH Hidróxido de potássio
l
e
Comprimento de flambagem
l
viga
Comprimento da viga
l
0
Distância entre as faces internas dos elementos estruturais
m Função de densidade de probabilidade para a variável (R-S)
m
R
Valor médio das resistências
m
S
Valor médio das solicitações
M
A
Momento fletor de 1º ordem em pilares
M
B
Momento fletor de 1º ordem em pilares
M
C
Momento fletor de 1º ordem no meio do pilar em balanço
M
d
Momento solicitante de cálculo
M
d,TOT
Momento total aproximado de cálculo para o pilar padrão
M
eng
Momento de engastamento perfeito
M
i
Momento resistente interno
M
sg
Momentos devidos às combinações quase permanentes
M
1d,A
Momento de primeira ordem
M
1d,Min
Momento mínimo de cálculo do pilar
NaOH Hidróxido de sódio
N
d
Carga normal de cálculo
N
sg
Esforços de compressão devidos às combinações quase permanentes
P Relaciona-se a probabilidades
Pf Probabilidade de falha
pH Potencial hidrogenionte
P
cr
Carga crítica de flambagem
P
RS
Probabilidade relacionada a uma função RS
P
R,extr
Extremo probabilístico das resistências
Ps
,extr
Extremo probabilístico das solicitações
Q
i
Componente intermitente das cargas de utilização
Q
qp
Componente quase permanente das cargas de utilização
R Esforços resistentes
R
aval
Esforços resistentes de avaliação
R
k
Esforços resistentes característicos
r
i
Rigidez do elemento
r
SUP
Rigidez superior do pilar
r
INF
Rigidez
inferior do pilar
r
VIGA
Rigidez da viga
1/r Curvatura na seção crítica
s Desvio-padrão amostral
s
c
Desvio-padrão da resistência à compressão do concreto ensaiado
s
t
Desvio-padrão da resistência à tração do concreto ensaiado
s
x
Desvio-padrão da variável x
s
y
Desvio-padrão da resistência do aço à tração
S Esforços solicitantes
S
aval
Esforços solicitantes de avaliação
S
k
Esforços solicitantes característicos
S
1
Fator topográfico
S
2
Fator devido
à
rugosidade do terreno e dimensões da edificação
S
3
Fator estatístico
S
ajust
Fator de ajustamento de Rosowsky
t Idade do concreto na avaliação
t
0
Idade do concreto no instante inicial considerado
V
0
Velocidade básica do vento de projeto
V
k
Velocidade característica do vento de projeto
V
k,aval
Velocidade característica do vento de avaliação
x, y, z, t Fator aleatório interveniente na segurança estrutural
x
i
Parâmetros aleatórios de influência nas solicitações
X Valor assumido por uma variável aleatória
X
0,05
Valor acumulada em 5% para a variável X
X
0,005
Valor acumulada em 5 para a variável X
X
0,95
Valor acumulada em 95% para a variável X
X
0,995
Valor acumulada em 99,5% para a variável X
y
i
Parâmetro aleatório de influência na resistência dos materiais
Letras gregas
α Fator de influência
α
b
Fator de correção do momento de cálculo
α
G
Fator de influência do coeficiente de ponderação para cargas permanentes
α
G,aval
Fator de influência do coeficiente de ponderação para cargas permanentes
na avaliação
α
R
Fator de influência do coeficiente de ponderação das resistências
α
S
Fator de influência do coeficiente de ponderação das solicitações
α
c,aval
Fator de influência do coeficiente de ponderação do concreto na avaliação
α
s,aval
Fator de influência do coeficiente de ponderação do aço na avaliação
α
x
Fator de influência do coeficiente de ponderação da variável x
β Índice de confiabilidade
β
aval
Índice de confiabilidade na avaliação
a, b Variação das dimensões da seção transversal
l Variação do comprimento
x
Acréscimo infinitesimal na variável x
Fator de contribuição no ajustamento do índice de confiabilidade
1
Fator de inspeção/desempenho
2
Fator de comportamento estrutural
3
Fator da categoria de risco para a falha
µm Valor médio de m
µ Momento fletor reduzido
Φ Função que relaciona β à Pf
γ
Coeficiente
de segurança global
γ
c
Coeficiente de ponderação da resistência do concreto
γ
e
Coeficiente de segurança externo
γ
f
Coeficiente de ponderação das ações
γ
f1
Considera o desvio das ações em relação a seus valores característicos
γ
f2
Fator que leva em conta a combinação das ações
γ
f3
Fator que considera possíveis erros na avaliação dos efeitos das ações
γ
G
Coeficiente de ponderação das ações permanentes de projeto
γ
G,aval
Coeficiente de ponderação das ações permanentes na avaliação
γ
i
Coeficiente de segurança interno
γ
k
Coeficiente característico de segurança
γ
m
Coeficiente de ponderação dos materiais
γ
m1
Fator que considera possíveis reduções na resistência
γ
m2
Fator que considera possíveis reduções na resistência de caráter local
γ
P
Coeficiente de ponderação das forças de protensão
γ
s
Coeficiente de ponderação da resistência do aço de projeto
γ
s,aval
Coeficiente de ponderação da resistência do aço na avaliação
γ
z
Parâmetro para quantificação dos efeitos globais de 2º ordem globais
γ
τ
Coeficiente de ponderação das deformações impostas
γ
aval
Coeficiente de segurança global na avaliação
γ
c,aval
Coeficiente de ponderação do concreto na avaliação
γ
Q
Coeficiente de ponderação das ações variáveis em projeto
γ
Q,aval
Coeficiente de ponderação das ações variáveis na avaliação
γ
W,aval
Coeficiente de ponderação da força de vento na avaliação
γ
0
Coeficiente central de segurança
δ Coeficiente de variação
δ
c
Coeficiente de variação da resistência do concreto de projeto
δ
c,aval
Coeficiente de variação da resistência do concreto na avaliação
δ
D
Coeficiente de variação que depende de modelos de cálculo da estrutura
δ
E
Coeficiente de variação das condições de execução do concreto
δ
Fy
Coeficiente de variação do limite elástico do aço
δ
G
Desvio-padrão do valor das cargas permanentes de projeto
δ
G,aval
Desvio-padrão do valor das cargas permanentes na avaliação
δ
H
Coeficiente de variação da geometria das barras de aço
δ
M
Coeficiente de variação das condições do concreto
δ
R
Coeficiente de variação das resistências
δ
S
Coeficiente de variação das solicitações
δx Coeficiente de variação da variável x
δ
s,aval
Coeficiente de variação da resistência do aço à tração na avaliação
δ
ζ
Coeficiente de variação do erro modelo estrutural
δ Parâmetro geométrico de dimensionamento à flexo-compressão
ζ Erro no modelo de flexão
ξ Fator relativo a uma probabilidade aplicada
σ Tensão na seção transversal
σ
cd
Tensão limite de cálculo para o concreto
σ
m
Desvio-padrão de m
σ
R
Desvio-padrão das resistências
σ
S
Desvio-padrão das solicitações
ψ
0
Fator de combinação das ações variáveis no ELU
ψ
1
Fator de combinação das ações variáveis – combinações freqüentes
ψ
2
Fator de combinação das ações variáveis – combinações quase permanentes
π Número de Pitágoras (3,14)
ε Deformação específica
ε
a
, ε
b
Deformações na direção de a e b da seção transversal respectivamente
ε
c
Deformação no concreto
λ Índice de esbeltez da peça
λ
1
Parâmetro de comparação para o índice de esbeltez
λ
max
Índice de esbeltez máximo para pilares
κ Rigidez aproximada
υ Coeficiente de Poisson
φ Coeficiente de fluência
Γ(η) Função gama
SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ACHE Asociación Científico-Ténica Del Hormigón Estructural
ACI American Concrete Institute
ARI Alta resistência inicial
ASTM American Society for Test and Materials
CAPO Cut an pull-out
CEB Comitê Euro-Internacional Du Betón
CF Combinações freqüentes
CQP Combinações quase permanentes
CR Combinações raras
ddp diferença de potencial
EL Estado limite
ELU Estados limites últimos
EUA Estados Unidos da América
ELS Estados limites de serviço
EUDL Equivalent uniformly distributed load
fdp Função densidade de Probabilidade
FIP Fédération Internationale de la Précontrainte
GPR Ground penetration radar
JCSS Joint Comité on Strucutural Safety
LRFD Load resistance factor design
NBR Norma Brasileira Regulamentada
PVA Acetato de polivinil
RAA Reação álcali-agregado.
SBR Estireno-butadieno
Unidades de medidas
cm centímetro
cm
2
centímetro quadrado
g grama
kg quilograma
kN quilo-Newton
kN/m
2
quilo-Newton por metro quadrado
m metro
m
2
metro quadrado
m
3
metro cúbico
mm milímetro
MPa mega-Pascal
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 2.1 – Processo corrosivo em armaduras do concreto............................................... 15
Figura 2.2 – Extração de testemunhos................................................................................. 18
Figura 2.3 – Ensaio de arrancamento - LOK test................................................................. 19
Figura 2.4 – Limpeza de armaduras. ................................................................................... 26
Figura 2.5 – Estabelecimento de reparos profundos............................................................ 28
Figura 2.6 – Proteção catódica por corrente impressa......................................................... 29
Figura 3.1 – Região D de integração para determinação da Pf. .......................................... 34
Figura 3.2 – Função densidade de probabilidade de m. ...................................................... 35
Figura 3.3 – Nível I. ............................................................................................................ 40
Figura 3.4 – Variável normal reduzida................................................................................ 44
Figura 4.1 – Diagrama tensão-deformação idealizado........................................................ 58
Figura 4.2 – Diagrama tensão-deformação para aços de armaduras passivas..................... 58
Figura 4.3 – Valores de l e l
o.
............................................................................................... 64
Figura 4.4 – Aproximação em apoios extremos.................................................................. 67
Figura 4.5 – Posicionamento dos pilares em planta. ........................................................... 68
Figura 4.6 – Influência do diagrama de momentos fletores de primeira ordem.................. 73
Figura 4.7 – Aspecto do rompimento de pilar pouco esbelto, submetido a compressão
centrada........................................................................................................................ 75
Figura 5.1 – Metodologia para intervenção de reparo em seções. ...................................... 86
Figura 5.2 – Variação temporal da sobrecarga.................................................................... 90
Figura 5.3 – Representação gráfica do índice de confiabilidade....................................... 107
Figura 6.1 – Aspectos do edifício “A”. ............................................................................. 118
Figura 6.2 – Aspecto do edifício “B”. ............................................................................... 123
Figura 6.3 – Tipos de intervenções propostas – vista em planta....................................... 143
Figura 6.4 – Representação esquemática da profundidade de remoção de concreto
deteriorado no pilar.................................................................................................... 143
Figura 6.5 – Representação esquemática da altura de remoção de concreto deteriorado no
pilar............................................................................................................................ 144
INDICE DE TABELAS
Tabela 3.1 – Ações permanentes diretas consideradas separadamente............................... 53
Tabela 3.2 – Ações permanentes diretas agrupadas. ........................................................... 53
Tabela 3.3 – Efeitos de recalques de apoio e de retração dos materiais.............................. 54
Tabela 3.4 – Ações variáveis consideradas separadamente. ............................................... 55
Tabela 3.5 – Ações variáveis consideradas conjuntamente
1)
. ............................................ 55
Tabela 5.1 – Levantamento de cargas de utilização em edifícios. ...................................... 92
Tabela 5.2 – Fatores de ajustamento para velocidades de vento......................................... 94
Tabela 5.3 – Fatores de conversão para as resistências de testemunhos extraídos de
estruturas existentes..................................................................................................... 99
Tabela 5.4 – Influências no coeficiente de variação das resistências em obras de concreto
armado. ...................................................................................................................... 100
Tabela 5.5 – Fatores de contribuição no ajustamento do índice de confiabilidade........... 103
Tabela 5.6 – Variáveis relacionadas com a flutuação da resistência do aço ..................... 110
Tabela 5.7 – Fatores de combinações mínimos propostos para avaliação estrutural. ....... 113
Tabela 6.1 – Informações sobre os pilares da garagem - edifício “A”.............................. 119
Tabela 6.2 – Caracterização geométrica em pilares, vigas e lajes – processamento
estatístico – edifício “A"............................................................................................ 120
Tabela 6.3 – Ensaios de resistência à compressão em testemunhos de pilares. ................ 121
Tabela 6.4 – Resumo dos ensaios de ultra-sonografia em pilares – edifício “A”. ............ 122
Tabela 6.5 – Dados relativos à seção transversal e nº de barras longitudinais dos pilares do
2º subsolo – edifício “B”. .......................................................................................... 124
Tabela 6.6 – Dados do ensaio dos lotes de corpos-de-prova dos pilares do subsolo 2
(garagem) - edifício “B”............................................................................................ 125
Tabela 6.7 – Dados do ensaio dos lotes de barras longitudinais dos pilares do subsolo 2
(garagem) - edifício “B”............................................................................................ 126
Tabela 6.8 – Análise do K
MOD2
- edifício “A”................................................................... 127
Tabela 6.9 – Valores de K
MOD,aval
– edifício “A”............................................................... 128
Tabela 6.10 – Comparação entre os parâmetros de projeto e de avaliação – edifício “A”.
................................................................................................................................... 133
Tabela 6.11 – Análise do K
MOD2
– edifício “B”................................................................. 135
Tabela 6.12 – Valores de K
MOD,aval
– edifício “B”............................................................. 136
Tabela 6.13 – Determinação das dimensões características das peças estruturais de
concreto para avaliação
– edifício “B”. ..................................................................... 137
Tabela 6.14 – Comparação entre os parâmetros de projeto e de avaliação – edifício “B”.
................................................................................................................................... 141
Tabela 6.15 – Esforços de projeto e do modelo computacional (com os parâmetros
normativos de projeto) - edifício “A”........................................................................ 146
Tabela 6.16 – Esforços de projeto e esforços no modelo computacional (com os parâmetros
de projeto) - edifício “B”........................................................................................... 147
Tabela 6.17 – Esforços de avaliação majorados com os coeficientes específicos para a
intervenção. ............................................................................................................... 148
Tabela 6.18 – Carga admissível nas seções de pilares de garagem em função dos dados de
ensaios e levantamentos realizados. .......................................................................... 149
Tabela 6.19 – Determinação da solicitação normal equivalente - edifício “A”. ............... 150
Tabela 6.20 – Tipo de intervenção proposta - edifício “A”............................................... 151
Tabela 6.21 – Esforços de avaliação majorados com os coeficientes específicos para a
intervenção – edifício “B”......................................................................................... 152
Tabela 6.22 – Carga admissível nas seções de pilares de garagem em função dos dados de
ensaios e levantamentos realizados. .......................................................................... 154
Tabela 6.23 – Determinação da solicitação normal equivalente - edifício “B”. ............... 155
Tabela 6.24 – Proposição do tipo de intervenção a se realizar - edifício “B”................... 156
S UMÁRIO
CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 1
1.1 IMPORTÂNCIA DO TEMA ...................................................................................... 1
1.2 OBJETIVOS................................................................................................................ 5
1.2.1 Objetivos gerais.................................................................................................... 5
1.2.2 Objetivos específicos............................................................................................ 5
1.3 APRESENTAÇÃO DO TRABALHO ........................................................................ 6
CAPÍTULO 2 PATOLOGIA, INSPEÇÃO E RECUPERAÇÃO ESTRUTURAL....... 8
2.1 PATOLOGIA .............................................................................................................. 8
2.2 DURABILIDADE DO CONCRETO........................................................................ 10
2.2.1 Critérios da NBR 6118 (ABNT, 2003)............................................................... 11
2.2.2 Mecanismos de deterioração .............................................................................. 12
2.3 INSPEÇÃO EM ESTRUTURAS.............................................................................. 15
2.3.1 Ensaios estruturais.............................................................................................. 16
2.3.2 Ensaios físicos .................................................................................................... 17
2.3.3 Ensaios químicos e eletroquímicos .................................................................... 20
2.4 REPAROS EM ELEMENTOS DE CONCRETO .................................................... 21
2.4.1 Materiais............................................................................................................. 22
2.4.2 Procedimentos usuais no reparo ......................................................................... 25
CAPÍTULO 3 SEGURANÇA NAS ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO.... 30
3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................. 30
3.2 FUNDAMENTOS DA SEGURANÇA ESTRUTURAL.......................................... 31
3.3 PROBABILIDADE DE FALHA E ÍNDICE DE CONFIABILIDADE ................... 33
3.4 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA NAS ESTRUTURAS .................................... 36
3.5 ESTADOS LIMITES (EL) ........................................................................................ 37
3.5.1 Método semi-probabilístico................................................................................ 39
3.6 VALORES CARACTERÍSTICOS ........................................................................... 43
3.6.1 Resistência dos materiais.................................................................................... 43
3.6.2 Ações .................................................................................................................. 46
3.7 COEFICIENTES DE PONDERAÇÃO..................................................................... 47
3.7.1 Coeficientes de ponderação dos materiais.......................................................... 49
3.7.2 Coeficientes de ponderações das ações .............................................................. 51
CAPÍTULO 4 GENERALIDADES SOBRE PILARES USUAIS DE EDIFÍCIOS .... 56
4.1
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 56
4.1.1 Algumas características do concreto armado ..................................................... 57
4.1.2 Comportamento das barras sob compressão....................................................... 59
4.1.3 Efeitos globais e locais de segunda ordem ......................................................... 61
4.1.4 Processo de cálculo de pilares ............................................................................ 68
4.1.5 Formas de ruínas em pilares............................................................................... 72
CAPÍTULO 5 METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO ESTRUTURAL .................. 76
5.1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 76
5.2 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA.......................................................................... 77
5.3 ALGUMAS REGRAS PARA A AVALIAÇÃO ESTRUTURAL ........................... 79
5.4 METODOLOGIA PROPOSTA ................................................................................ 82
5.4.1 Modelagem do comportamento estrutural.......................................................... 87
5.4.2 Quantificação das cargas de avaliação ............................................................... 88
5.4.3 Obtenção da resistência dos materiais................................................................ 95
5.4.4 Índice de confiabilidade para estruturas existentes .......................................... 102
5.4.5 Ajustamento dos coeficientes de ponderação................................................... 104
5.4.6 Fatores de combinação das ações variáveis na avaliação................................. 113
5.4.7 Fator de segurança global para pilares ............................................................. 114
5.4.8 Critério do ELU para a seção existente ............................................................ 115
CAPÍTULO 6 PROGRAMA EXPERIMENTAL, RESULTADOS E DISCUSSÕES
........................................................................................................................................... 117
6.1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 117
6.2 DEFINIÇÃO DOS OBJETOS DE ESTUDO ......................................................... 117
6.2.1 Edifício “A”...................................................................................................... 117
6.2.2 Edifício “B”...................................................................................................... 122
6.3 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA PROPOSTA ............................................... 126
6.3.1 Considerações de avaliação – edifício “A” ...................................................... 126
6.3.2 Considerações de avaliação – edifício “B”....................................................... 133
6.4 RESULTADOS E DISCUSSÕES........................................................................... 142
6.4.1 Observações sobre a modelagem de edifícios existentes ................................. 145
6.4.2 Definição do tipo de intervenção - edifício “A”............................................... 148
6.4.3 Definição do tipo de intervenção - edifício “B”............................................... 151
CAPÍTULO 7 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS..................................... 158
7.1 CONCLUSÕES....................................................................................................... 158
7.2 SUGESTÕES A TRABALHOS FUTUROS .......................................................... 162
7.2.1 Comportamento estrutural................................................................................ 162
7.2.2 Calibração dos coeficientes de ponderação...................................................... 163
7.2.3 Cargas atuantes................................................................................................. 164
7.2.4 Determinação das resistências efetivas............................................................. 164
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................165
ANEXO A..........................................................................................................................174
ANEXO B..........................................................................................................................175
ANEXO C..........................................................................................................................177
APÊNDICE A...................................................................................................................
.182
APÊNDICE B....................................................................................................................184
APÊNDICE C...................................................................................................................
.193
Capítulo 1 Introdução
1
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
1.1 IMPORTÂNCIA DO TEMA
O concreto, produzido a partir da mistura de cimento Portland, agregados, água e
eventuais aditivos, é um dos materiais de construção civil mais conhecido e utilizado do
mundo. Isaia e Gastaldini (2004) apontam que a estimativa do consumo mundial de
concreto para o ano de 2005 era da ordem de 2,4 toneladas por habitante, o que significa
uma produção duas vezes maior que a dos demais materiais de construção juntos.
Empregado desde uma simples calçada ou contrapiso, até complexas estruturas para
plataformas petroleiras ancoradas no oceano, o concreto vem a cada dia surpreendendo
pela sua versatilidade de uso. Tanto que sua importância ultrapassa a barreira da
construção civil, contribuindo também para o desenvolvimento sócio-econômico e cultural
de centenas de nações do mundo.
Por muito tempo, pensou-se que o concreto, combinado com o aço através de técnicas de
cálculo estrutural, tivesse vida eterna. O insucesso de várias estruturas ao longo dos anos
demonstrou a vulnerabilidade do material frente aos diversos ambientes e aos fatores
degradantes a eles associados (HELENE, 1986). Vulnerabilidade esta que se apresenta
mais latente caso a estrutura esteja acometida por uma ou mais falhas, em uma ou mais
etapas básicas do processo construtivo.
A preocupação com a segurança das estruturas motivou muitos estudos que permitiram
acrescentar aos aspectos puramente empíricos inicialmente ligados ao tema, um conjunto
mais amplo de conhecimentos referentes à natureza dos fatores intervenientes que, por sua
vez, criaram as condições para o estabelecimento, em projeto, de níveis adequados de
Capítulo 1 Introdução
2
proteção ante uma possível falha estrutural. Sob esta ótica, a maior parte das variáveis
envolvidas no complexo mecanismo do comportamento estrutural passaram a ser
encaradas como aleatórias e a teoria das probabilidades mostrou-se bastante profícua no
tratamento das questões da segurança.
Por outro lado, as estruturas construídas são perecíveis às intempéries e a extensão de suas
vidas úteis
1
requer intervenções que, a depender do caso, poderão variar, entre um simples
reparo superficial a uma elaborada instalação de reforços, mediante algum material
específico.
A degradação das estruturas de concreto armado motivou estudos que proporcionaram o
desenvolvimento de materiais e técnicas capazes de restaurar o desempenho original para o
qual estas foram projetadas. Não obstante, trabalhos de recuperação estrutural, de diversos
níveis, estão presentes em todo Brasil e representam, hoje, um mercado promissor no
segmento da construção civil.
Para início dos trabalhos especializados de recuperação, surge um aspecto de extrema
relevância que envolve não apenas o sucesso dos serviços a serem realizados, mas, que
poderá comprometer toda a existência futura da edificação - as condições de segurança
apresentadas pelos elementos estruturais deteriorados, notadamente pilares, no momento
da intervenção. Apesar de todo conhecimento disponível no campo da patologia estrutural
e do grande avanço técnico no sentido de prevenção e combate ao problema, a avaliação
dos níveis de segurança disponíveis a uma iminente intervenção, ainda está relegada a
algumas poucas referências bibliográficas estrangeiras, inexistindo qualquer normalização
nacional sobre o assunto. Tudo isso num momento em que é cada vez maior o número de
estruturas, incluindo algumas relativamente novas, em condições precárias e com baixo
índice de desempenho.
1
Por vida útil, a NBR 6118 (ABNT, 2003) especifica o período de tempo durante o qual se matem as
características das estruturas de concreto, desde que atendidas os requisitos de uso e manutenção previstos
pelo projetista e pelo construtor, bem como de execução de reparos necessários decorrentes de danos
acidentais.
Capítulo 1 Introdução
3
A segurança das estruturas é, de certo modo, algo complexo por envolver conceitos
probabilísticos e assim, uma ampla gama de incertezas com relação ao comportamento das
variáveis participantes dos mecanismos de solicitações e resistências. Por isso, torna-se
impraticável o ato de construir sob o signo da mais absoluta segurança, não apenas pelo
aspecto financeiro envolvido, mas também em virtude da impossibilidade de se conhecer e
controlar todas as variáveis envolvidas (FUSCO, 1974; PÁEZ, 1981; SANTOS, 1983). A
segurança estrutural, dessa forma, apresenta-se ligada à chamada probabilidade de falha,
definida como sucesso insólito em que um dia, sob determinadas condições e por
determinados motivos, as solicitações reais as quais a estrutura encontra-se submetida,
venham a superar as resistências de suas infinitas seções (PÁEZ, 1981).
Um estudo que aborde de forma mais realista, os diversos aspectos de importância para o
equacionamento do estado atual da existência de estruturas construídas, sobretudo naqueles
em que o período de recorrência tem caráter relevante para suas valorações, faz-se
necessário para o conhecimento das condições de segurança nos processos de avaliação
preliminar para a recuperação estrutural. Surge então, que as condições de segurança de
pilares em estruturas existentes, bem como o estabelecimento de critérios para uma
intervenção estrutural que respeite uma probabilidade máxima de falha aceitável para as
condições atuais do edifício, são os enfoques principais deste trabalho.
O desenvolvimento de um estudo desta magnitude exige a abordagem de uma série de
assuntos relacionados com os fenômenos envolvidos e que têm suas parcelas de
contribuição na obtenção do resultado final esperado no processo. Portanto, é
imprescindível a construção de um embasamento bibliográfico relativo aos aspectos
envolvidos, o que será realizado nos primeiros capítulos deste trabalho. Foram tratados
aqui, assuntos como patologias do concreto armado capazes de provocar, em seções de
pilares, a necessidade de intervenção para o restabelecimento da qualidade. Nesta linha,
encontram-se dissertadas as técnicas de inspeção mais utilizadas, tanto para a detecção do
problema patológico em si, quanto para o levantamento de parâmetros necessários na
verificação da segurança do edifício. Na continuação deste assunto, foram apresentadas as
técnicas usuais de recuperação e reparos estruturais, como métodos eficazes de suplantar
um problema patológico instalado e reconduzir uma estrutura aos níveis de desempenho
desejados.
Capítulo 1 Introdução
4
O conceito de segurança estrutural, de fundamental importância à questão aqui levantada,
foi aplicado com vistas à determinação das situações críticas à estrutura e que será
adaptado das normas para contemplar a realidade em uma situação de recuperação
estrutural, com todas as considerações pertinentes aos períodos de tempo por ela requerida.
Os estudos relativos à ocorrência das cargas em edifícios, juntamente com a teoria de
dimensionamento de pilares usuais, conforme a NBR 6118 (ABNT, 2003), foram também
incluídos na revisão bibliográfica, uma vez que estes intervêm na ocorrência dos estados de
equilíbrio das estruturas, influindo de uma forma direta nas possibilidades de falha.
A busca de uma metodologia adequada para a avaliação de edifícios existentes,
sobremaneira as considerações necessárias à verificação da segurança disponível por
ocasião da recuperação estrutural, foi proposta dentro dos padrões aceitáveis de
aproximação referentes ao nível I (item 3.5.1.1 , em termos de valores estatisticamente
trabalhados para resistências efetivas e cargas diversas atuantes, de forma a respeitar as
probabilidades de falha coerentes com a existência da estrutura. Os esforços encontrados
nas seções de pilares analisados, com os quais se montaram as equações de estado limite na
definição da segurança efetiva dos elementos, foram obtidos com a utilização de programa
de cálculo estrutural, através de uma modelagem que buscou a reprodução fiel da estrutura
existente.
Na avaliação estrutural, diferentemente do projeto de uma estrutura nova, muitas incertezas
podem ser superadas nas inspeções e atualizações diversas que deverão ser feitas. Isto
promove a obtenção de condições propícias em favor de uma estimativa mais realista da
segurança efetiva da estrutura existente.
Por fim, cabe aqui ressaltar que em nenhum dos bancos de dados consultados foi
encontrado trabalho visando a quantificação da segurança estrutural durante reparo,
embora vários citam a necessidade de realização de um estudo para sua determinação.
Capítulo 1 Introdução
5
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivos gerais
A presente pesquisa tem como objetivo geral a análise da segurança dos pilares de edifícios
residenciais que serão submetidos à recuperação estrutural, bem como abordar os
procedimentos da execução do reparo, tendo em vista a segurança.
1.2.2 Objetivos específicos
De acordo com o objetivo principal foram definidos os seguintes objetivos específicos:
Estabelecer valores representativos das cargas que estarão ocorrendo nos curtos
períodos de tempo referentes aos trabalhos de recuperação estrutural, em detrimento
às cargas de projeto calibradas para longos períodos de retorno e pequenas
probabilidades de ocorrência durante a vida útil do edifício;
Determinar coeficientes de segurança a serem aplicados a pilares por ocasião
da avaliação estrutural, tendo por base as reduções de incertezas relativas às
resistências efetivas e cargas reais atuantes, decorrentes dos trabalhos de inspeções e
ensaios realizados;
Modelagem da estrutura do edifício piloto em programa de cálculo para
determinação dos esforços mais próximos aos atuantes no período de recuperação
estrutural;
Traçar uma metodologia para intervenção na seção dos pilares em função do
coeficiente de segurança global encontrado, a partir das considerações feitas para a
avaliação estrutural.
Capítulo 1 Introdução
6
1.3 APRESENTAÇÃO DO TRABALHO
A dissertação apresentada é constituída de sete capítulos, organizados da seguinte maneira:
Capítulo 1- Introdução: Faz-se uma breve explanação sobre o problema da durabilidade
das estruturas e a necessidade de se conhecer o nível de segurança durante o processo de
recuperação estrutural. Aqui, são expostos os objetivos gerais e específicos, citando a
proposta metodológica a ser utilizada.
Capítulo 2 – Patologia, inspeção e recuperação estrutural: Apresenta-se a importância da
durabilidade das estruturas de concreto armado e algumas exigências da NBR 6118
(ABNT, 2003) sobre o tema. É também explanado rapidamente sobre os mecanismos de
manifestação das principais patologias que afetam as estruturas, sobretudo os pilares. Há
neste capítulo a descrição das principais técnicas de inspeção estrutural, para detecção de
patologias e obtenção dos dados para a avaliação, e também os métodos para uma eventual
intervenção de reparo, caso o problema patológico esteja em estado inicial.
Capítulo 3 – Segurança nas estruturas de concreto armado: Apresentam-se os conceitos
probabilísticos relativos à segurança das estruturas, os conceitos dos estados limites a
serem preservados, descrevendo também a obtenção dos valores característicos para as
ações e resistências dos materiais construtivos empregados.
Capítulo 4 – Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
: São apresentados algumas
características básicas e procedimentos simplificados para o cálculo de pilares usuais de
concreto armado segundo a NBR 6118 (ABNT, 2003).
Capítulo 5 – Metodologia para a avaliação estrutural
: Desenvolve a metodologia para a
avaliação estrutural, com a determinação dos esforços nos pilares com uso de programa de
cálculo. Neste capítulo são realizadas considerações relativas às cargas variáveis extraídas
de distribuição de freqüência acumulada apropriada, resistências derivadas das condições
reais da estrutura, adequando-se ainda coeficientes de ponderação em função de inspeções
e avaliações feitas no edifício.
Capítulo 6 – Programa experimental, resultados e discussões: São apresentados os
resultados e discussões relativas ao processamento de duas estruturas, mediante a
Capítulo 1 Introdução
7
metodologia proposta, permitindo chegar às condições de segurança na qual se realizariam
os serviços de recuperação estrutural de pilares em cada uma delas.
Capítulo 7 – Conclusões e trabalhos futuros: Conclusões e sugestões a trabalhos futuros.
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
8
CAPÍTULO 2
PATOLOGIA, INSPEÇÃO E RECUPERAÇÃO
ESTRUTURAL
2.1 PATOLOGIA
O advento do concreto trouxe, sobretudo para o século XX, uma revolução nas técnicas
construtivas até então conhecidas. Assistiu-se ao emprego massivo do material,
principalmente depois de consolidadas as teorias que permitiram a associação do concreto
com o aço dando, ao primeiro, características estruturais.
Assim, o concreto armado e, posteriormente o protendido, tomaram um espaço nas obras
até então ocupado principalmente pela madeira, pelo aço e pela alvenaria estrutural.
Juntamente com o estabelecimento do novo material e seus métodos de cálculo, surge
também a idéia de que estruturas confeccionadas em concreto estariam mais aptas a
resistirem às ações do tempo, em relação aos demais materiais. O passar dos anos mostrou
a necessidade de se conhecer melhor os agentes agressivos e o comportamento do concreto
frente a variadas situações.
Em virtude de uma série de fatores, as estruturas de concreto poderão apresentar um
desempenho abaixo do esperado em circunstâncias de projeto. Ao contrário do que se
imaginava no início de sua utilização, o concreto não é eterno. Das alterações físicas e
químicas de seus componentes ao longo do tempo ou, da interação destes componentes com
os agentes diversos do meio no qual a estrutura está inserida, observa-se o seu
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
9
envelhecimento natural ou as chamadas manifestações patológicas (SOUZA; RIPPER,
1998).
Tem-se registrado diversos casos de falhas estruturais, com grandes prejuízos humanos e
materiais. Ainda hoje, catástrofes relacionadas a deficiências em uma ou mais etapas do
ciclo vital de uma estrutura (concepção, execução e manutenção) são registradas. Este fato,
juntamente com enormes vultos financeiros despendidos no reparo e reabilitação de
estruturas em todo o mundo (MONTEIRO, 2005), ditaram uma nova fase na utilização do
concreto estrutural, em que a resistência, o desempenho e a durabilidade são tomados como
fatores de igual importância para o sucesso de um edifício (ISAIA, 2005).
O conceito de desempenho relaciona-se ao comportamento da estrutura durante sua vida em
serviço. Um desempenho satisfatório será alcançado caso a estrutura atenda às condições de
segurança com relação aos estados limites para os quais foi dimensionada, sendo dotada de
resistência, estabilidade e rigidez, cumprindo ainda aspectos estéticos, conforto térmico e
acústico, dentre outros. Entretanto, a estrutura poderá, dentro do período convencionado
como vida útil, deixar de atender uma ou mais condições exigidas para seu funcionamento
eficaz, apresentando assim um comportamento insatisfatório.
Os motivos para tal ocorrência são vários e na maioria dos casos, existe uma combinação
de fatores que acabam por acelerar ou ampliar efeitos e conseqüências indesejáveis sobre as
estruturas (ANDRADE; DA COSTA E SILVA, 2005).
A degradação do concreto armado decorre de sua exposição aos chamados agentes
agressivos presentes no meio ambiente em que este se encontra. No atual estágio de
conhecimentos, sabe-se que processos físicos, químicos e biológicos (sem levar em conta
eventos acidentais como choques mecânicos, sismos, furacões, etc.) são os fatores
responsáveis por mecanismos de degradação que causam, de forma precoce, baixos níveis
de desempenho (NEVILLE, 1997).
Manifestações patológicas são ocorrências relacionadas aos mecanismos de falhas e
degradação das estruturas (SOUZA; RIPPER, 1998). Os sintomas mais comuns nas
estruturas de concreto são as fissuras, eflorescências, flechas excessivas, manchas no
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
10
concreto aparente, corrosão de armaduras e ninhos de concretagem (MONTEIRO, 2005).
Na maioria dos casos, as patologias são potencializadas com a utilização de concretos
inadequados a suportar as agressões do meio, principalmente devido à heterogeneidade e
porosidade (VANDERLEI, 1996).
Nos processos de degradação, a água exerce uma função de notória importância (MEHTA;
MONTEIRO, 1994; NEVILLE, 1997). Na realidade a água assume dois papéis, de certa
forma antagônicos, na história de uma estrutura de concreto, que é o de participar das
reações de hidratação do cimento e colaborar para o ganho de resistência da pasta, e o de
atuar da maioria dos processos e reações deletérias, tanto como via de transporte de íons e
substâncias agressivas, como na condição de reagentes na formação de compostos salinos,
ácidos, géis expansivos, entre outros (HELENE, 1993). Assim, uma das formas de
prevenção ou retardamento de um grande número de manifestações patológicas, é o
emprego de uma adequada tecnologia de fabricação e manejo do concreto, com os devidos
cuidados tomados em relação aos fatores de dosagem, as técnicas de lançamento,
adensamento e cura (VANDERLEI, 1996).
É fundamental a prática periódica de manutenção, como forma de garantir um desempenho
satisfatório da estrutura ao longo do tempo, prolongando sua vida útil (ANDRADE; DA
COSTA E SILVA, 2005). Assim, conforme prevê a NBR 6118 (ABNT, 2003), o usuário
assume responsabilidade na garantia da durabilidade da estrutura, em sua última fase – a de
utilização. Não obstante, um sistema de manutenção a custos compensadores deverá ser
idealizado pelos projetistas e viabilizado pelos construtores (SOUZA; RIPPER, 1998), que
deverão fornecer manuais técnicos de utilização e manutenção da edificação, com
premissas básicas de projetos, sobrecargas máximas admissíveis e materiais utilizados nos
elementos construtivos.
2.2 DURABILIDADE DO CONCRETO
O desempenho insatisfatório de estruturas relativamente novas (ANDRADE; DA COSTA
E SILVA, 2005; MEHTA; MONTEIRO, 1994; MONTEIRO, 2005) exigiu pesquisas e
estudos sobre o comportamento do material para o qual, até então, era dada ênfase apenas à
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
11
resistência adotada em projeto. A durabilidade do concreto passa então, da condição de
característica secundária, à condição de critério de recebimento e aceitação de obra,
principalmente ao se analisar os custos e trabalhos despendidos nos processos de
intervenção para reparos e reabilitação estrutural (REIS, 2001).
Preocupações com a vida útil e a durabilidade do concreto estão presentes hoje nas
filosofias das diversas normas de projeto em todo mundo (ARAÚJO, 2003a) e, no Brasil, a
revisão da NBR 6118 (ABNT, 2003) mostrou-se atenta a esta importante questão para
qualidade das estruturas.
O tema durabilidade é bastante amplo e já foi explorado em vários congressos. De forma
geral, o estudo da durabilidade passa pela prevenção das patologias. A abordagem profunda
deste assunto foge ao escopo deste trabalho. Assim sendo, serão apresentados os mais
importantes mecanismos geradores de patologias em pilares que podem ser solucionadas
com a recuperação superficial. Neste marco, a abordagem da NBR 6118 (ABNT, 2003)
para projetos reflete, de forma sucinta, o problema de estruturas existentes.
2.2.1 Critérios da NBR 6118 (ABNT, 2003)
A qualidade na qual devem estar projetadas e executadas as estruturas de concreto, foi
abordada pela NBR 6118 (ABNT, 2003) segundo os três critérios relacionados abaixo:
1) Capacidade resistente: consiste basicamente na segurança à ruptura;
2) Desempenho em serviço: capacidade da estrutura em manter-se em condições
plenas de utilização, não devendo apresentar danos que comprometam em parte ou
totalmente o uso para o qual foi projetada;
3) Durabilidade: capacidade da estrutura em resistir às influências ambientais previstas
e definidas em conjunto pelo autor do projeto estrutural e o contratante, no início
dos trabalhos de elaboração do projeto.
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
12
Estes critérios têm por objetivos a concepção e execução de estruturas que se prestem aos
fins para os quais foram projetadas, estando garantida a conservação das características
definidas em comunhão entre projetista e contratante, ao longo de sua vida útil (ARAÚJO,
2003a).
Este é um importante aspecto abordado pela norma. Além de imputar responsabilidade a
projetistas e construtores pela qualidade e durabilidade das estruturas, aparece também a
figura do contratante, que representa o proprietário, sendo responsável por integrar a fase
de concepção, e responder pela manutenção adequada do edifício.
2.2.2 Mecanismos de deterioração
Conhecimentos acumulados sobre as estruturas, inclusive através de estudos e análises de
falhas ocorridas (SOUZA; RIPPER, 1998), possibilitaram o aprofundamento sobre a
origem de uma grande quantidade de problemas patológicos que acometem as estruturas e
que são responsáveis pela redução da vida útil de projeto, caso não ocorra uma intervenção
eficaz.
Na NBR 6118 (ABNT, 2003) estão relacionados os mecanismos preponderantes no
envelhecimento e deterioração, estabelecendo medidas pertinentes à redução do impacto
provocado por esses mecanismos sobre o concreto armado
2
. Naturalmente, considerando a
complexidade das interações entre o material e o meio (REIS, 2001), existem diversos
outros fatores capazes de produzir degradação e que não são apresentados pela norma.
Todavia, é um consenso entre diversos pesquisadores que, os mecanismos resguardados no
item 6.3 da NBR 6118 (ABNT, 2003), são os responsáveis pela grande maioria das
manifestações patológicas identificadas usualmente nas estruturas.
Estão relacionados abaixo os mecanismos segundo a NBR 6118 (ABNT, 2003).
a) Mecanismos preponderantes de deterioração relativos ao concreto:
2
Estende-se, neste caso, ao concreto protendido.
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
13
1) Lixiviação: por águas puras, carbônicas agressivas ou ácidas que dissolvem e
carreiam os compostos hidratados do concreto.
2) Expansão: por ação de águas e solos que contenham ou estejam contaminados com
sulfato, dando origem a reações expansivas e deletérias com a pasta de cimento
hidratado.
3) Expansão: por ação das reações entre os álcalis do cimento e certos agregados
reativos (RAA).
4) Reações deletérias superficiais de certos agregados decorrentes de transformações
de produtos ferruginosos presentes na sua constituição mineralógica.
b) Mecanismos preponderantes de deterioração relativos à armadura:
1) Despassivação por carbonatação - ação do gás carbônico da atmosfera (CO
2
).
2) Despassivação por cloretos - elevado teor de íon cloro (Cl
-
).
c) Mecanismos de deterioração da estrutura propriamente ditos: são aqueles relacionados às
ações mecânicas, às movimentações de origem térmica, impactos, ações cíclicas, retração,
fluência e relaxação.
Um importante mecanismo que tem levado edifícios relativamente novos a procedimentos
de recuperação estrutural, principalmente em pilares, é a corrosão nas armaduras. O
entendimento das considerações que propiciam o fenômeno e seu efeito deletério sobre o
concreto armado é de interesse a essa pesquisa, uma vez que a segurança nas situações de
correção deste problema é o propósito em estudo.
2.2.2.1 Corrosão das armaduras
Um processo corrosivo de caráter eletroquímico é observado nas armaduras do concreto,
estando este carbonatado e ocorrendo, na região das barras de aço, o livre acesso de água e
oxigênio.
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
14
O pH elevado do concreto, conseguido mediante a formação de algumas bases na
hidratação dos compostos do cimento [Ca(OH)
2
- principalmente, KOH, NaOH], quando
em contato com os óxidos da carepa de laminação da superfície das barras de aço, formam
uma camada fina aderente e protetora para as barras. Este estado de proteção persistirá
desde que o pH desse ambiente se mantenha na ordem de 12,5 (HELENE, 1993).
No entanto, o CO
2
originário do meio externo, penetra o concreto via difusão e converte o
Ca(OH)
2
em CaCO
3
promovendo, assim, a redução do pH na matriz da pasta endurecida.
Esta redução propicia a instabilidade do filme passivante e torna a armadura sujeita à
corrosão.
O avanço da frente de carbonatação é influenciado pelo nível de porosidade do concreto,
tamanho, interligações e o grau de saturação dos poros com água. Em atmosferas ácidas,
urbanas e industriais, o fenômeno da carbonatação é mais intenso (SOUZA; RIPPER,
1998). Em garagens de edifícios, onde a baixa taxa de circulação de ar e o fluxo constante
de veículos liberando monóxido de carbono (CO) da queima de combustíveis fósseis, é
bastante comum o problema de pilares carbonatados e com a corrosão das armaduras
instalada.
A despassivação das armaduras pode ocorrer também mediante ação de íons cloretos
quando estes se apresentam acima de certos limites aconselhados (FIGUEIREDO, 2005).
Os cloretos podem agir pontualmente sobre a armadura e provocar a corrosão em regiões
localizadas (HELENE, 1993).
É necessária ainda a presença de água e oxigênio para que a corrosão possa ocorrer. Dessa
forma, o ferro presente na composição do aço das barras, devido a uma diferença de
potencial (ddp) criada, perde elétrons, passando à solução aquosa sob a forma de Fe
++
e,
convertendo-se posteriormente em óxidos e hidróxidos. Estes compostos são de baixas
resistências e de caráter expansivo (CASCUDO, 1997). O aumento extraordinário do
volume dos compostos formados provoca perda de seção de aço e lascamento no concreto
de cobrimento (HELENE, 1993). Nestas condições, o fenômeno corrosivo continuará
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
15
reduzindo o diâmetro efetivo das armaduras a menos que se estabeleçam condições para a
paralisação do processo.
Figura 2.1 – Processo corrosivo em armaduras do concreto.
Fonte: Cascudo (1997)
2.3 INSPEÇÃO EM ESTRUTURAS
Conforme exposição anterior, as estruturas de concreto armado são concebidas para
suportar as situações advindas de seu uso, em que foram definidas em comunhão entre
projetista e proprietário, sob o encargo das manutenções preventivas que visam viabilizar o
desempenho estrutural condizentes às aspirações de projeto. Todavia, por uma série de
fatores (ANDRADE PERDRIX, 1992; MEHTA; MONTEIRO, 1994; NEVILLE, 1997),
comportamentos anômalos desenvolvidos geram a necessidade de decisões referentes ao
que fazer com relação ao uso futuro de uma estrutura: recuperar, reforçar, limitar o uso ou,
em caso mais extremo, demolir. Logicamente, medidas a serem tomadas em favor do
destino de um edifício acometido por problemas patológicos, são influenciadas pelo
contexto técnico, econômico, político e sócio-ambiental do qual a estrutura faz parte
(MONTEIRO, 2005).
As causas de desempenho insatisfatório são muito vastas e geralmente se inter-relacionam,
o que, em grande parte dos casos, dificulta a identificação de sua fonte geradora
(ANDRADE; DA COSTA E SILVA, 2005; CABRÉ, 1994,). Baseado nestes fatos, o
trabalho de identificação dos problemas instalados em uma estrutura remonta a uma
exaustiva investigação, lançando-se mão de todas as informações disponíveis, relativas ao
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
16
projeto e execução, entre elas os memoriais, plantas, especificações dos materiais, bem
como o histórico do uso e dos programas de manutenção instalados.
Estando estes dados disponíveis ao investigador, tem-se uma economia de tempo referente
ao mapeamento e caracterização da estrutura, o que pode, em alguns casos, fornecer pistas
das possíveis causas dos comportamentos estruturais indesejados. Mas, geralmente tais
informações inexistem ou são apenas parciais, demandando, assim, um levantamento
completo da estrutura para a obtenção desses dados gerais.
A partir do conhecimento profundo da obra em seu conjunto e das respostas desta obra às
ações e solicitações diversas a ela imposta, serão alcançados subsídios para se conhecer os
fenômenos, bem como diagnosticar e reparar os danos a eles atribuídos. Os dados
levantados nesta fase serão utilizados também para a obtenção de parâmetros aleatórios a
partir dos quais serão tecidas as considerações referentes à avaliação das condições de
segurança do edifício. Esta é uma das formas de redução das incertezas que deverão ser
implementadas para que os procedimentos de avaliação apresentem caráter menos
conservador em relação aos procedimentos utilizados em projeto (ALLEN, 1991). Criar
meios de correlacionar os resultados obtidos das inspeções àqueles existentes da época de
execução, é um outro aspecto que deverá ser abordado para tornar confiáveis as
informações sobre a estrutura investigada (MELCHERS, 2001). Tais aspectos serão
abordados posteriormente.
Várias são as técnicas, testes e ensaios objetivando a busca de informações que permitam
elaborar o processo de avaliação de estruturas existentes de concreto armado. De um modo
geral, as principais técnicas podem agrupar-se em: técnicas de ensaios estruturais, de
ensaios físicos e de ensaios químico/físico-químicos. Segue uma revisão breve sobre as
técnicas mais empregadas.
2.3.1 Ensaios estruturais
A prova de carga é regulamentada no Brasil pela NBR 9607 (ABNT, 1986) e consiste em
submeter uma estrutura ou parte dela, à ação de uma sobrecarga, que pode chegar a de
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
17
serviço ou superá-la sem, no entanto, atingir a carga de cálculo. Estando a estrutura
mapeada in loco através de aparelhos elétricos ou mecânicos, tais como extensômetros
ôhmicos, deflectômetros e clinômetros, mede-se durante um processo de carga crescente, as
flechas, deformações unitárias no concreto e nas armaduras de seções críticas e controla-se
a evolução das fissuras (CABRÉ, 1994). Se a estrutura sobreviveu ao ensaio, isso indica
que a mínima resistência da estrutura é maior que o efeito da carga aplicada (VAL e
STEWART, 2002).
Mediante situações de incertezas, pode-se realizar a monitoração da estrutura com emprego
de instrumentação apropriada, seguindo a evolução, no tempo, de flechas e fissuração ou o
processo de deterioração do concreto pelos mecanismos de carbonatação ou corrosão das
armaduras.
Para a fissuração, faz-se necessária à caracterização das fissuras detectadas no que
concerne à movimentação ou atividade. Para isso, tem-se o uso de equipamentos como
extensômetros (strain gages) com diversos princípios de funcionamento. Na medição de
aberturas, utilizam-se fissurômetros e na movimentação das juntas, empregam-se
alongâmetros e as conhecidas bases tri-ortogonal (FIGUEIREDO, 2005). As flechas são
monitoradas através de deflectômetros e micrômetros que medem recalques estruturais a
nível topográfico.
2.3.2 Ensaios físicos
Quando ensaios não destrutivos indicam fissuras internas à estrutura, ou zonas de concreto
com baixas resistências, é indispensável ensaiar testemunhos extraídos diretamente das
regiões comprometidas, com o uso de coroa rotativa de diamante (MEHTA; MONTEIRO,
1994). Da Cunha e Vieira Ângelo (2003) apresentam como prática necessária à obtenção da
resistência à compressão do concreto na avaliação de estrutura em que não se dispõe de
ensaios de corpos-de-prova de controle na época da execução.
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
18
Figura 2.2 – Extração de testemunhos.
A resistência obtida pelo ensaio à compressão de testemunhos é dependente da posição
antes por ele ocupada na estrutura. Além da compressão, os testemunhos permitem
obtenção de outros parâmetros físicos como a densidade, absorção de água e módulo de
elasticidade. No Brasil o ensaio está normalizado pela NBR 7680 (ABNT, 1983).
Entre os métodos de dureza superficial, destaca-se o uso do chamado esclerômetro de
Schmidt, que provoca um impacto padronizado na superfície do concreto, com uso de uma
dada energia e medindo-se a reflexão produzida ante a reação do concreto a carga aplicada
pelo êmbolo metálico do aparato. Esta reflexão registrada em uma escala guia, dá a
estimativa da dureza superficial mediante uma conversão fornecida pelo fabricante do
instrumento. A partir dos valores de dureza superficial, tem-se uma boa noção da
homogeneidade do concreto podendo ainda inferir sobre a resistência à compressão. O
ensaio é normalizado pela NBR 7584 (ABNT, 1995), estando ainda padronizado nos EUA
(Estados Unidos da América) pela ASTM (American Society for Testing and Materials) C
805, conforme cita Mehta e Monteiro (1994).
O método da velocidade do pulso ultra-sônico envolve a medida do tempo de viagem, em
um elemento de concreto com dimensões conhecidas, de um pulso de ondas de ultra-som
que atravessa o elemento em estudo (FIGUEIREDO, 2005). O tempo de percurso entre os
pontos emissor e o receptor é medido eletronicamente, sendo a distância percorrida pelo
pulso dividida pelo tempo. A presença de concretos com baixa densidade ou fendilhado
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
19
aumenta o tempo de viagem, o que resulta em uma velocidade mais baixa do pulso. O ultra-
som vem sendo usado para a avaliação da resistência à compressão de forma comparativa,
detecção de vazios e fissuras e estimação de espessura de camadas que tenham diferentes
velocidades de propagação.
Os testes de arrancamento oferecem uma boa ferramenta para o estudo do ganho de
resistência do concreto nas primeiras idades, porém apresentam a incômoda conseqüência
típica dos ensaios semi-destrutivos (danos à peça ensaiada). Exigem ainda, em alguns
casos, a colocação do pino de aço por ocasião da moldagem da estrutura. O ensaio consiste
em arrancar um parafuso de aço fixo à peça ensaiada, medindo-se, para isso, a força
necessária à extração. Esta é a filosofia do pull-out test (cast in e drilled holeASTM C
900), cujas idéias primeiras surgiram em 1938 na antiga União Soviética (CARINO, 1994).
Existe ainda o LOK test referente ao arrancamento de um parafuso moldado no concreto e o
CAPO test com a abertura de buraco e fixação de parafuso com auxílio de bucha de
expansão.
Figura 2.3 – Ensaio de arrancamento - LOK test.
Fonte: Carino (1994)
Testes de resistência à penetração, normalizados pela ASTM C 803, consistem na cravação
de pino metálico no concreto através de dispositivo acionado por pólvora, sendo o
comprimento externo remanescente do pino, base de dados para a relação com a resistência
à compressão do concreto ensaiado (MEHTA; MONTEIRO, 1994).
Um método usual para detecção de armaduras no concreto baseia-se nas variações que a
presença das barras produz um campo magnético, o que pode ser conseguido pelo uso de
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
20
um aparelho chamado pacômetro. O instrumento possui uma precisão relativa, devendo ser
calibrado mediante armaduras cujos recobrimentos e diâmetros foram medidos através de
observação feita com a retirada da camada superficial em alguns pontos localizados na
estrutura (CABRÉ, 1994).
O uso de emissões radioativas para a inspeção do concreto iniciou-se na década de 1950,
com os chamados raios X e raios gama (CARINO, 1994). A técnica consiste na penetração
de radiação eletromagnética, medindo-se com um sensor
3
, a intensidade de radiação que
atravessou a peça em estudo.
Têm-se usado ondas de radar para a investigação do concreto. A técnica, chamada de
Ground Penetration Radar (GPR), consiste na emissão de pulsos eletromagnéticos de curta
duração, para determinar a resistência do concreto, espessura de peças, espaçamento e
cobertura da armadura e extensão e posição de vazios. Os resultados oferecidos pelo GPR
são de difícil interpretação o que tem feito com que sejam estudados vários caminhos para
simplificar o processo (CARINO, 1994).
Os testes de avaliação da permeabilidade a gases são altamente influenciados pelo teor de
umidade dos poros, pois, em concreto úmido, a difusão é fortemente reduzida. Helene
(1993) e Nepomuceno (2005), citam os trabalhos feitos por Torrent, que propôs associação
de testes de permeabilidade com a resistividade elétrica, classificando a qualidade do
concreto de cobrimento superficial com base nos resultados do coeficiente de
permeabilidade do oxigênio.
2.3.3 Ensaios químicos e eletroquímicos
Os ensaios químicos permitem determinar a constituição química do concreto atendo-se,
para isto, no estudo de seus materiais componentes, sobretudo das informações referentes
ao tipo e conteúdo do cimento utilizado.
3
Para os raios gama, caso o sensor seja um filme fotográfico especial, a técnica é chamada radiografia. Caso
o sensor seja um aparato eletrônico que converte a radiação incidente em pulsos elétricos, a técnica é dita
radiometria.
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
21
Para determinação das porções de cimento no traço do concreto investigado, procede-se à
coleta de material em diferentes locais da estrutura, sobretudo nas regiões de anomalia
instalada, fragmentando-o e submetendo o produto à ação do ácido clorídrico até a
dissolução do cimento. O teor de cimento é definido por gravimetria ou volumetria,
baseando-se na determinação de teores de óxido de cálcio ou anidrido silícico remanescente
no ácido clorídrico. A água combinada pode ser determinada por ensaio de perda ao fogo.
A avaliação da superfície carbonatada pode ser feita aplicando-se, após abertura de furo na
estrutura ou retirada de lascas de concreto, o indicador tipo timolftaleína ou fenolftaleína,
sendo este último o mais difundido (HELENE, 1993). Neste teste, ao se aplicar o indicador
fenolftaleína e ocorrer ausência de cor, é vestígio de concreto carbonatado (pH<10). Se
ocorrer cor avermelhada é sinal de concreto livre de carbonatação (pH>10).
Cascudo (1997) apresenta técnicas eletroquímicas como a técnica da resistividade do
concreto, método do potencial eletroquímico, método da resistência elétrica, ruídos
eletroquímicos, curvas de polarização e impedância eletroquímica, que fornecem
indicativos qualitativos da cinética de processos corrosivos, apesar de ainda não
normalizadas.
2.4 REPAROS EM ELEMENTOS DE CONCRETO
O estudo das manifestações patológicas, bem como a escolha dos materiais e os
procedimentos pertinentes ao reparo dos danos causados às estruturas, é um ramo da
engenharia civil que vem apresentando um grande crescimento nas últimas décadas. O
envelhecimento natural do concreto, assim como os desempenhos insatisfatórios
prematuros, exigiram ações que implementassem meios eficazes para o restabelecimento
das condições plenas de trabalho das estruturas, prolongando a vida útil e obtendo níveis
satisfatórios de desempenho em serviço.
A escolha dos materiais e técnicas de correção deve estar em sintonia com o diagnóstico e
exigências de funcionamento relativas ao edifício, o que requer do engenheiro, um
conhecimento meticuloso de todos os fenômenos que estão ocorrendo. Assim, busca-se
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
22
identificar todas as causas que produzem a anomalia, como forma de indicar e executar
uma alternativa de correção que assegure o cumprimento da vida útil e suas demandas,
atendendo aos prazos e as necessidades de utilização da estrutura após o reparo (REIS,
2001).
Cabe destacar, portanto, a importância da experiência e do conhecimento técnico do
profissional em patologias e sua habilidade em lidar com os produtos e metodologias de
aplicação encontrados no mercado, o que irá permitir obtenção de êxito e eficácia no
sistema de reparo escolhido, levando em consideração os prazos estabelecidos no
cronograma executivo dos serviços.
2.4.1 Materiais
De uma forma geral, Reis (2001) aponta algumas características que devem ser observadas
quanto aos materiais de uso em serviços de reparos: resistência à compressão, à tração e ao
cisalhamento; módulo de elasticidade; base química (mineral, epóxi, acrílica, dentre
outras); resistência a ataques químicos, estabilidade frente às variações de temperatura;
coeficiente de dilatação térmica; resistência à abrasão; aderência ao concreto e/ou aço;
retração; Pot-life (tempo para utilização do material de reparo após o preparo) e Open-time
(tempo no qual o produto é capaz de desenvolver sua função, após a mistura).
Vanderlei (1996) apresentou os materiais de reparo, dividindo-os em seis grupos principais:
os inibidores de corrosão de armadura, os adesivos, os aditivos, os produtos de
recomposição da seção de reparo, os produtos de proteção e produtos de limpeza. O uso de
um ou outro tipo de material, bem como o modo de aplicação, é função do diagnóstico
realizado. Dentre os grupos, os produtos de recomposição de seção de reparo são aqueles
que estão diretamente relacionados com este trabalho.
2.4.1.1 Produtos de recomposição de seção de reparo
Operações de recuperação tornam-se mais econômicas onde argamassas ou concretos,
usinados ou produzidos na obra, possam ser empregados. Mas, em face da necessidade de
elevado desempenho do material de reparo, é fato comum, concretos e argamassas terem
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
23
suas propriedades naturais alteradas pelo uso de aditivos ou terem a resistência mecânica,
aderência, durabilidade e estabilidade dimensional melhoradas com a substituição parcial
ou total do cimento e água de amassamento por certos polímeros (SOUZA; RIPPER, 1998).
Tem-se freqüentemente usado pasta de cimento injetável, com composição básica de
cimento e água, para tamponamento, via injeção, de falhas ou fissuras, bem como fixação
de armaduras de reforço. Em geral, é utilizado um fator água/cimento (a/c) em torno de
0,40, com trabalhabilidade e fluidez beneficiadas pelo uso de plastificantes e retração
compensada com emprego de expansores (MARTIN, 2005).
Argamassas secas, conhecidas como argamassas farofa, é um material obtido pela mistura
de cimento e areia fina, com traço 1:2,5 ou 1:3,0 em peso, com reduzido fator a/c (entre
0,33 a 0,40). Possui baixa retração e fluidez, sendo utilizada para preencher cavidades de
estruturas (SOUZA; RIPPER, 1998).
Para uso enquanto material de reparo, os concretos convencionais exigem, freqüentemente,
medidas que melhorem algumas características naturais. Obtenção de elevadas resistências
iniciais, bem como eliminação de retração por secagem, melhorias na aderência com o
substrato, diminuição da permeabilidade em determinados casos, podem ser necessários
(RINCÓN et al, 2003).
Concretos projetáveis têm como características a densidade e capacidade de aderência
suficiente para promover, pela própria velocidade de transporte, a compactação simultânea
com a aplicação, o que pode ser realizado até mesmo de baixo para cima. Existem dois
tipos considerados na aplicação: a chamada mistura seca, com adição de água no bocal de
saída do equipamento de projeção, após cimento e agregados misturados serem
transportados sem a presença de umidade até aquele local; e a mistura úmida que resulta no
transporte do produto já hidratado (PRUDÊNCIO JR., 2005). O concreto projetado é
indicado na recomposição de seções em processo de restauro.
Argamassas de base mineral são produtos de elevada resistência química, sem retração por
secagem, de pH alcalino, obtida pela mistura de dois componentes, sem a necessidade de
água de amassamento. Apresentam-se nas formas auto-nivelantes e tixotrópicas, sendo
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
24
indicadas a reparos superficiais, preenchimento de pequenas cavidades e nivelamentos.
Dispensam adesivos como ponte de aderência (HELENE, 1992).
Misturando-se os ingredientes sólidos do concreto (cimento e agregados) com resina epóxi,
catalisador e água, obtêm-se argamassas ou concretos modificados com epóxi, com
melhorias significativas nas resistências mecânicas, químicas e capacidade de aderência.
Argamassas com base de resinas orgânicas são aquelas cuja união e resistência do conjunto
passa pelas reações de polimerização e endurecimento dos componentes das resinas, na
ausência de água. São produtos com elevadas resistências mecânicas e químicas, que em
geral são recomendados para uso em pequenos volumes e espessuras, pois além do alto
custo, têm baixo módulo de deformação longitudinal (RINCÓN et al, 2003). Dentre as mais
utilizadas estão:
- Argamassas de base epóxi;
- Argamassas à base de resina poliéster e estervinílica;
- Argamassas de base fenólica;
- Argamassas de base furânica.
Bastante utilizados ainda como material de reparo, devido a fácil aplicação, elevada
resistência mecânica e ausência de retração, são os chamados grautes, que podem ser tanto
de base mineral, quanto de base epóxi. Na base mineral, o material é constituído por
cimentos, agregados miúdos, quartzo e aditivo (superplastificantes e expansores) e água
adicionada em canteiro (BAUER, 2005). Grautes de base epóxi, são fornecidos em dois
componentes misturados em canteiro sem adição de água.
A adição de pozolanas ativas ao concreto, dentre elas microssílica, conforme apontado por
Dal Molin (2005) propicia melhorias em suas propriedades, com desenvolvimento de
maiores resistências à compressão, à tração, aos ataques químicos, menor permeabilidade,
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
25
porosidade e absorção e ainda, conforme Souza e Ripper (1998), maior aderência entre o
concreto novo e o concreto antigo e menor índice de reflexão no concreto projetado.
2.4.2 Procedimentos usuais no reparo
O reparo de estruturas, conforme exposto por Vanderlei (1996) só deve ser iniciado após
completo desenvolvimento de projetos específicos, assim como definições sobre os
métodos, materiais, equipamentos e ferramentas a serem utilizados. Dentre os projetos,
Souza e Ripper (1998) destacam a importância do cálculo estrutural prévio, não só para o
evento de reforço puro e simples no caso de alteração da funcionalidade das estruturas, mas
também no caso de intervenções por danos diversos na estrutura, onde o reforço poderá ser
requerido como uma das etapas dos trabalhos de recuperação.
No caso de se definir pela recuperação sem a necessidade de reforço, ainda sim é válida a
observação de Campanolo at al (1997) apud Reis (2001) em que, para se aplicar de forma
segura qualquer dos métodos e técnicas disponíveis, é necessário entendimento adequado
dos detalhes de utilização e limitações de cada técnica.
2.4.2.1 Preparo de superfícies
A qualidade do reparo depende não só das características químicas, mecânicas e físicas do
material utilizado, como também da eficiência da ligação entre este e o substrato existente.
Assim, é de grande importância que a aplicação dos materiais de reparo seja realizada sobre
uma superfície submetida a rigoroso trabalho de preparo, com delimitação do contorno da
área a ser reparada e com o corte levado até a profundidade desejada.
Para a preparação do substrato pode-se citar a escarificação manual e mecânica, o desbaste
e o corte com a utilização de discos, o escovamento e lixamento manual e a remoção de
detritos. A limpeza da superfície pode ser executada com a aspiração a vácuo, jatos de água
fria ou quente, vapor, soluções ácidas e alcalinas, jato de ar comprimido, solventes e em
certos casos a queima com o uso controlado de maçarico (VANDERLEI, 1996). Jatos de
água e areia são constantemente utilizados nas situações de limpeza das armaduras de
elementos estruturais em processo inicial de corrosão.
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
26
Figura 2.4 – Limpeza de armaduras.
2.4.2.2 Tratamento de fissuras
Depois de identificada a causa da ocorrência e feita à classificação da fissura segundo sua
atividade, pode-se proceder ao reparo usando as técnicas e materiais disponíveis. Para
fissuras ativas, não se pode estabelecer monolitismo da seção, caso não seja paralisada a
fonte geradora. Assim, o tratamento deverá contemplar a aplicação de material flexível e
não resistente, com resina acrílica ou poliuretânica. Fissuras passivas, sem atividade,
deverão ser estabelecidas as condições para que a seção volte a trabalhar, com o
monolitismo requerido ao concreto. Poderá ser empregado para isto, nata de cimento ou
resina epóxi com ou sem carga, a depender do caso.
Em aberturas inferiores a 0,1 mm deve-se empregar injeção de material fluido e com
expansores, a baixa pressão. Em fissuras maiores e pouco profundas, pode-se utilizar o
enchimento por gravidade (SOUZA; RIPPER, 1998). Aberturas profundas requerem o uso
de tubos plásticos para injeção, espaçados de acordo com a largura a se preencher,
tamponando-se o contorno externo da fissura com selante, para evitar a perda do material.
A injeção é feita de baixo para cima, com vedação do tubo de injeção atual, após o material
aflorar no tubo superior adjacente (HELENE, 1992).
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
27
2.4.2.3 Reparos superficiais
Reparos com profundidade inferior a 2,0 cm, são ditos superficiais, e em geral não
ultrapassam a armadura (SOUZA; RIPPER, 1998). Nesse sentido, os reparos mais comuns
são enchimentos de falhas, regularização de lajes, reconstituição de quinas quebradas,
erosão ou desgaste, entre outros. Depois de preparada a superfície, com a retirada do
material contaminado e conveniente assepsia do local, aplica-se o primer de ligação
procedendo-se, em seguida, ao fechamento da cavidade com o acabamento necessário da
superfície de reparo. A cura do primer, tal qual a do material de reparo, deverá ser efetivada
conforme orientação do fabricante.
O primer utilizado pode ser adesivo acrílico puro ou em pasta de cimento e o material para
o fechamento remonta argamassas de base mineral (graute tixotrópico), argamassas
modificadas com polímero, pré-dosadas ou preparadas em obra (base acrílica ou SBR). Para
diminuição de retrações, recomenda-se a aplicação em faixas de 1,0 m de largura, por 1,0
cm de espessura (SOUZA; RIPPER, 1998). E reparos de maior extensão, ditos
generalizados, emprega-se com sucesso a argamassa projetada.
2.4.2.4 Reparos semi-profundos
Reparos com profundidade entre 2,0 e 5,0 cm, que geralmente atingem a armadura, são
ditos semi-profundos. Requerem para isso, freqüentemente, a montagem de formas e
dispositivos para concretagem (cachimbos), com a verificação da necessidade do uso de
escoramentos nas peças. O material mais empregado neste caso é graute mineral, com alta
resistência mecânica. Aqui, valem os procedimentos de preparo e limpeza da região de
reparo e também o procedimento de cura do material.
2.4.2.5 Reparos profundos
São reparos em que as profundidades são superiores a 5,0 cm (SOUZA; RIPPER, 1998).
No reparo, poderá ser utilizado micro-concreto de retração compensada e com alta
resistência. Ainda é possível graute de base mineral, concreto ou argamassa com adesivos
PVA ou acrílico. Poderá ser efetuada a injeção de argamassa fluida com a colocação prévia
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
28
de agregado graúdo na cavidade observando, no entanto, a estanqueidade das formas. Para
o enchimento faz-se necessário o uso de cachimbos e o escoramento deverá ser estudado
mediante o cálculo prévio.
Figura 2.5 – Estabelecimento de reparos profundos.
Fonte: Souza e Ripper (1998)
2.4.2.6 Reparos em processos corrosivos
Reparos em processos corrosivos pressupõem a eliminação das causas da corrosão e
erradicação do processo já instalado. Um método rápido consiste na retirada do concreto
deteriorado, submetendo a armadura a um rigoroso procedimento de limpeza, no qual
poderá se utilizar o jato de areia com posterior eliminação de resíduos pelo jato de água à
alta pressão e secagem com ar comprimido.
Com a garantia de descontaminação da região comprometida pela corrosão, a
reconstituição da seção de concreto é feita a partir de argamassa ou concreto comum, assim
como argamassas tixotrópicas que garantam a aplicação com a mão ou colher de pedreiro.
Para reparos profundos são indicadas argamassas fluidas e grautes minerais com
expansores (CASCUDO, 1997).
Gonçalves et al (2003) citam três procedimentos, dentre os chamados métodos
eletroquímicos de proteção das armaduras, que podem ser estabelecidos no reparo, como
forma de estancar a corrosão:
Capítulo 2 Patologia, inspeção e recuperação estrutural
29
9 Proteção catódica – redução de potenciais das armaduras a valores altamente
negativos, em regiões de imunidade no diagrama de Pourbaix (ANDRADE
PERDRIX, 1992). Isto é conseguido pelo uso do método galvânico com a aplicação
de uma corrente impressa ou pelo método do ânodo de sacrifício.
Figura 2.6 – Proteção catódica por corrente impressa.
Fonte: Cascudo (1997)
9 Extração eletroquímica de cloretos – este método presta-se a eliminar íons Cl
-
, que
são atraídos em direção a um eletrodo externo (carregado positivamente) por ação
de um campo elétrico.
9 Realcalinização – consiste na restauração da alcalinidade do concreto, nas
proximidades das armaduras, de forma que estas se passivem em conseqüência de
hidrólise da água no cátodo e o estabelecimento de um fluxo eletro-osmótico que
desloca íons alcalinos colocados na superfície do concreto.
O controle do processo catódico caracteriza-se pela eliminação do acesso de oxigênio às
armaduras pelo uso de pinturas seladoras ou pela aplicação de revestimentos superficiais. A
selagem nunca é perfeita, o que facilita o acesso de oxigênio, umidade, cloretos e CO
2
,
dando um caráter temporário ao tratamento.
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
30
CAPÍTULO 3
SEGURANÇA NAS ESTRUTURAS DE
CONCRETO ARMADO
3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A tomada de decisão e os riscos daí demandados são uma constante da existência humana.
A incerteza de ocorrências futuras, advindas de escolhas feitas no tempo presente, é
característica inerente das atividades regidas pela aleatoriedade, e que governam uma
grande parte dos acontecimentos diários (PÁEZ, 1981). Eventos que são influenciados por
fatores ou variáveis, cujo comportamento não pode ser descrito através de equações
matemáticas exatas, devem ser tratados tendo-se em mente as noções de possibilidades de
ocorrência ou probabilidades (MEYER, 1981). Tais processos são ditos aleatórios ou
estocásticos.
Apesar do comportamento aleatório não ser passível de descrição da lógica que ocasiona
determinados resultados observados, é possível estimar, baseado em dados estatísticos de
outros acontecimentos semelhantes (PÁEZ, 1981), quais são as chances de, por exemplo,
se chegar a salvo em uma viagem de avião, ou ainda, de ganhar dinheiro ao investir em
determinada empresa na bolsa de valores. Neste caso se recorre ao campo das
probabilidades para se conhecer de que forma se distribuem as variáveis envolvidas em um
determinado evento e quais as chances de que certo resultado venha a ocorrer.
Por outro lado, um evento cujo desenrolar final pode ser equacionado de forma
relativamente precisa, é chamado de determinístico (MEYER, 1981).
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
31
A maioria das variáveis envolvidas no dimensionamento e execução das estruturas de
concreto, como as resistências dos materiais, as solicitações e suas combinações, fases do
processo construtivo como locação da obra, leituras de aparelhos (SANTOS, 1983) etc.,
são governadas pelas leis da incerteza, como seria natural pensar. Assim, no ato da
concepção estrutural, da execução ou da própria utilização do edifício, estão envolvidas
probabilidades de ocorrência de diversos fatores que intervêm diretamente na segurança
das estruturas.
3.2 FUNDAMENTOS DA SEGURANÇA ESTRUTURAL
Uma estrutura é dita segura, quando esta possui condições de suportar, sem atingir algum
estado limite e em condições normais de utilização, as solicitações às quais foram definidas
no momento do cálculo estrutural, para toda sua vida útil (SANTOS, 1983).
Numericamente, a afirmação acima recai em uma expressão que deverá ser atendida:
1
S
R
(3.1)
onde:
R = representa os esforços resistentes.
S = representa os esforços solicitantes
Mas a questão da segurança é bastante complexa e assegurar que a razão entre a resistência
e a solicitação em uma peça, não atinja valor inferior a um, remete à análise das
possibilidades de variação do comportamento da estrutura com relação às flutuações das
variáveis responsáveis pelas solicitações e pelas resistências.
Conforme Fusco (1974), ao se submeter uma estrutura a uma determinada situação
(experiência), o estado assumido por ela será definido através dos valores das variáveis x
i
(i= 1, 2, ..., n) as quais são as grandezas relacionadas aos n atributos presentes na
experiência considerada. A cada estado atingido, admitidos como os possíveis resultados
da experiência, acarretará um tipo de comportamento.
De uma forma geral, dois tipos de comportamentos são de interesse:
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
32
1)
Comportamentos Normais – estados assumidos pela estrutura são julgados
satisfatórios;
2)
Comportamentos Patológicos – correspondente aos chamados estados de ruína.
Segundo Fusco (1974), um estado de ruína é aquele em que a estrutura deixa de ser útil aos
fins para os quais foi projetada. Este poderá ser atingido: a) por ruptura; b) hipostaticidade,
c) flambagem; d) deformações exageradas; e) fissuração além de um limite pré-
estabelecido, etc.
Assim, sendo os fatores que determinam um estado da estrutura, que por sua vez ditam o
comportamento estrutural, em sua grande maioria, variáveis aleatórias, deve-se tratar a
segurança das construções em termos de probabilidades de falhas.
Analisando agora a segurança como algo determinado probabilisticamente, pode-se
agregar alguns valores à expressão (3.1).
Considerando a aleatoriedade das ações, é possível representar de forma simbólica os
esforços delas decorrentes ou elas próprias por (FUSCO, 1974):
);,...,,(
21 Xn
CxxxSS
=
(3.2)
onde:
S = solicitações nas estruturas.
x
1
, x
2
, ..., x
n
são as grandezas aleatórias que proporcionam as solicitações nas estruturas
C
X
= constantes ou funções determinísticas que relacionam x
i
a S
De forma análoga, podemos tomar a resistência como um produto de grandezas aleatórias
representadas pela expressão simbólica:
);,...,,(
21 Yn
CyyyRR
=
(3.3)
onde:
R = representa a resistência.
y
1
, y
2
, ..., y
n
são as grandezas aleatórias que influenciam a capacidade resistente
C
Y
= constante e funções determinísticas que relacionam y
i
à R
Agora, pode-se expressar a segurança estrutural pela relação abaixo:
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
33
1
,,...,,(
;,...,,(
21
21
extr
Xm
Ym
CxxxS
CyyyR
(3.4)
Sendo o índice “extr” apontando que a expressão é válida para uma condição de extremo,
associada a uma dada probabilidade.
A garantia de estruturas seguras passa pela adoção de margens de segurança (FUSCO,
1974) contra diversos estados de ruína. Uma segurança exagerada torna a estrutura anti-
econômica (SANTOS, 1983) e as diversas sociedades não apresentam condições de
assumi-la. Por outro lado, baixas margens de segurança tornam-se um atentado à vida
humana, o que seria suficiente para impugnação por motivos morais junto à opinião
pública (PÁEZ, 1981).
3.3 PROBABILIDADE DE FALHA E ÍNDICE DE
CONFIABILIDADE
Considera-se que um elemento estrutural falha se as resistências (R) forem menores que as
solicitações (S) (MELCHERS, 1987). A probabilidade de falha (Pf) do elemento estrutural
pode ser encontrada por (3.5):
(
)
[
]
0,
=
SRGPP
f
(3.5)
onde:
G
= função de estado limite
Portanto, a probabilidade de falha recai na possibilidade de violação de um estado limite.
Sendo f
R
( ) e f
S
( ) as funções densidade de probabilidade que representam o
comportamento de R e S, tidas aqui como independentes, e representando a expressão (3.5)
pela região hachurada da Figura 3.1, a probabilidade de falha pode ser escrita por:
()()()
sr
rs
SRf
ddsfrfSRPP
∫∫
== 0
(3.6)
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
34
Figura 3.1 – Região D de integração para determinação da Pf.
Fonte: Adaptado de Melchers (1987)
Como a função de distribuição acumulada F
X
(x) pode ser obtida por (3.7):
() ( ) ()
dyyfxXPxF
x
XX
==
(3.7)
Desde que x
y. No caso especial em que R e S são independentes, a expressão (3.6) pode
ser escrita com se segue:
( ) () ()
xSRf
dxfxFSRPP
== 0
(3.8)
Conhecida como integral de convolução, representa o caso em que a resistência R é menor
que algum valor de x, ao passo que f
S
(x) representa a probabilidade de que S possua um
valor entre x e x+
x, quando xÆ0.
Ainda que o conceito de segurança se associe à ruptura ou colapso da estrutura (ALLEN,
1991), todos os estados limites têm uma probabilidade de ocorrência e, sendo assim, o
conceito de segurança abarca também outros fenômenos além da ruptura, tal como flechas,
fissuração e vibrações (ACHE, 2003). A todos esses estados limites estão associados uma
Pf.
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
35
Supondo agora que R e S sejam normalmente distribuídas, pela propriedade da
regeneração da qual desfruta tal distribuição (COROTIS; DOSHI, 1977), sabe-se que a
função de distribuição da variável, conforme expressão (3.9), também será normalmente
distribuída.
SRm
=
(3.9)
Assim a função densidade de probabilidade de m é mostrada na Figura 3.2:
Figura 3.2 – Função densidade de probabilidade de m.
Fonte: Adaptado de Laranja e Brito (2003)
Esta função tenderá a um valor médio µ
M
e a um desvio-padrão de σ
M
. O valor m=0 (ou
R=S) definirá a ruptura e, da relação entre e média e desvio-padrão se obtém:
M
M
σ
µ
β
=
(3.10)
onde:
β = índice de confiabilidade
A utilidade desse parâmetro está diretamente relacionada com a função de distribuição
normal de probabilidade, a qual se assume bem representar o estado limite R-S. Dessa
forma, tem-se como resultado:
(
)
()
)(0
βφ
σ
µ
φ
σ
µ
φ
==<=
=
f
M
M
M
M
PmP
m
(3.11)
onde:
Φ = função que relaciona β e P
f
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
36
Como a probabilidade de falha relaciona-se com as conseqüências (perdas de vidas, bens,
tempo, etc.) da superação de um estado limite, supõe-se que o impacto produzido pelo
colapso de uma estrutura é consideravelmente maior que o produzido por uma flecha
excessiva. Assim, é natural pensar que a um menor impacto seja aceitável uma
probabilidade de falha maior.
O Comitê JCSS (2001) considera os valores do índice de confiabilidade para edifícios
residenciais entre 3,1 e 4,7 (Pf entre 10
-3
a 10
-6
) para estados limites últimos, segundo as
conseqüências de uma falha da estrutura. Para os estados limites de serviço, o índice de
confiabilidade varia entre 1,3 a 2,3 (Pf entre 10
-1
a 10
-2
), de acordo com o custo de
reabilitação da estrutura.
3.4 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA NAS ESTRUTURAS
O primeiro método surgido no intuito de se quantificar a segurança de uma estrutura levava
em consideração as tensões admissíveis dos materiais. Consistindo basicamente na
aplicação de coeficiente de segurança interno γ
i
>1, apresentava a preocupação em fazer
com que as solicitações máximas em uma seção, não superassem a tensão de ruptura do
material minorada pelo coeficiente em referência. No caso do aço, a minoração dava-se
sobre a tensão de escoamento. O método era passível de críticas, principalmente por
ignorar o comportamento dos materiais e não levar em conta a não linearidade física do
concreto e efeitos de segunda ordem.
Assim, por volta de 1930 os conceitos de tensão admissíveis foram substituídos pelos de
cargas admissíveis com o método de cálculo no regime de ruptura. Neste sentido, se
propunha o cálculo do concreto no estádio III, com a verificação dos estados limites,
últimos e de utilização, abordados de forma determinística. Um coeficiente γ
e
>1 aplicado a
uma carga de serviço F conduziria a peça a um estado limite.
O método apresentava falhas, principalmente por não considerar a variabilidade relativa às
cargas e possibilidades de ocorrência simultâneas e não conseguir resolver ainda o
problema da não proporcionalidade muita das vezes encontrada entre carga e esforço
solicitante (SANTOS, 1983). Apesar da resolução do problema da não linearidade física
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
37
dos materiais, o método ainda era incapaz de contemplar as não linearidades geométricas e
com isso ofertava-se uma ilusória sensação de segurança frente ao coeficiente externo γ
e
.
Ao se pensar nos fatores envolvidos nos fenômenos de solicitação e resistência das
estruturas como função de variáveis aleatórias, métodos que não atentem para estas
características produzem resultados ainda distantes, mesmo que sejam considerados
quaisquer fatores determinísticos do processo (SANTOS, 1983).
3.5 ESTADOS LIMITES (EL)
Como foi visto anteriormente, com o avanço da teoria da segurança nas estruturas, em
especial com o desenvolvimento da aplicação da teoria das probabilidades referentes aos
atributos envolvidos nos fenômenos comportamentais da resistência ante as solicitações,
houve a necessidade de proteção contra a ocorrência, no todo, ou em partes das estruturas,
de estados limites.
A NBR 8681 (ABNT, 2003) define no item 3.1 um estado limite como sendo “estados a
partir dos quais a estrutura apresenta desempenho inadequado às finalidades da
construção”. É necessário compreender que o surgimento de um estado limite decorre da
mudança de comportamento da estrutura. Entendendo a estrutura como um sistema
complexo, onde as variáveis nele atuantes são as responsáveis pelos diferentes estados em
que este poderá figurar, a mudança em uma variável levará o sistema a outro estado de
equilíbrio passando, para isso, por diversos e diferentes estados intermediários
(ZEMANSKI, 1978). Pode ocorrer que em um desses estados pelos quais passa a estrutura,
as condições de segurança não sejam mais atendidas, ou mesmo a estrutura passe a ter
desempenho insatisfatório. Neste caso, atingiu-se um estado limite.
O item 4.1 da NBR 8681 (ABNT, 2003) preconiza a existência de dois grupos para os
estados limites: os estados limites últimos e os estados limites de serviço. Segundo ACHE
(1983), estados limites últimos correspondem ao valor máximo da capacidade de suporte
de uma estrutura e o estado limite de utilização, advindo de critérios de utilização normal
ou de durabilidade da edificação.
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
38
Assim sendo, a NBR 8681 (ABNT, 2003), no mesmo item, relaciona as características
apresentadas pelas estruturas quando os estados limites usuais são atingidos. Abaixo
seguem expressas tais características:
a) Estados limites últimos (ELU)
No projeto, usualmente devem ser considerados os estados limites últimos caracterizados
por:
i)
Perda de equilíbrio global ou parcial, admitida a estrutura como corpo
rígido;
ii)
Ruptura ou deformação plástica excessiva dos materiais;
iii)
Transformação da estrutura, no todo ou em parte, em sistema
hipostático;
iv)
Instabilidade por deformação;
v)
Instabilidade dinâmica.
Poderá ainda ser previsto algum estado limite último que não os considerados acima. Dessa
forma, Fusco (1974) o faz, pela consideração do estado limite de ressonância que ocasiona
danos funcionais, nos casos em que a potência da fonte excitadora seja apreciável.
A NBR 6118 (ABNT, 2003) admite o uso do estado limite último para o dimensionamento
das seções dos elementos de concreto nas estruturas e das áreas de armaduras nelas
imersas.
b) Estados limites de serviço (ELS)
No período de vida das estruturas, usualmente são considerados estados limites de
utilização caracterizados por:
i)
Danos ligeiros ou localizados, que comprometam o aspecto estético da
construção ou a durabilidade da estrutura;
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
39
ii)
Deformações excessivas, que afetem a utilização normal da construção
ou seu aspecto estético;
iii)
Vibrações de amplitudes excessivas.
Os estados limites de serviço estão ligados à verificação dos deslocamentos ocorridos nas
estruturas frente às combinações de ações para esses estados, além dos processos
relacionados à abertura de fissuras (NBR 6118:2003).
3.5.1 Método semi-probabilístico
3.5.1.1 Conceitos básicos
A adoção de princípios probabilísticos na determinação da segurança estrutural foi uma
imposição da realidade. Ainda que o atual estágio de conhecimento sobre o assunto, seja
incompleto quanto ao entendimento da natureza dos processos envolvidos nos fenômenos
causadores dos estados das estruturas, as considerações e aproximações probabilísticas do
cálculo da segurança apontam para resultados próximos ao que seria o provável
comportamento real.
Em princípio o método probabilístico pode ser aplicado através de três processos
diferentes, segundo diferentes níveis de rigor conceitual (FUSCO, 1974; PÁEZ, 1981).
O chamado nível I baseia-se na definição de certa forma empírica de resistência
característica e coeficientes normalmente definidos como expressão de uma probabilidade
de ruína não anunciada de um modo quantitativamente explícito (PÁEZ, 1981). Aplica-se
aqui, o método dos valores extremos, dado pela equação (3.12):
);,...,,();,...,,(
,,2,1,,2,1 yextrmextrextrxextrmextrextr
CyyyRCxxxS
=
(3.12)
onde:
x
1,extr
, x
2,extr
, ..., x
m,extr
valores extremos das variáveis aleatórias que influenciam as
solicitações
y
1,extr
, y
2,extr
, ..., y
m,extr
valores extremos das variáveis aleatórias que influenciam a
capacidade resistente
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
40
Assim, a segurança aparece através da probabilidade Px
i,extr
, Py
i,extr
que determinam,
respectivamente, os valores extremos x
i
,
extr
e y
i,extr
, e com eles são calculados os valores
limites das solicitações S e das resistências R.
Figura 3.3 – Nível I.
Fonte: Fusco (1974)
No nível II, supõe-se que as distintas distribuições de probabilidade das sobrecargas e
resistências são conhecidas, segundo dados perfeitamente definidos, ainda que apenas em
forma de um valor médio e uma dispersão e assim admite-se a hipótese suficientemente
aproximada que estas funções correspondem a uma distribuição normal (PÁEZ, 1981). O
nível II é aplicado aos casos não previstos no nível I ou caso em que a importância da obra
requeira um tratamento mais preciso das condições de segurança própria para esta situação.
Emprega-se para isto o chamado processo dos “extremos funcionais” dado pela expressão
(3.13) (FUSCO, 1974):
);,...,,();,...,,(
,2121 ymextrxmextr
CyyyRCxxxS
=
(3.13)
onde:
x
1
, x
2
, ..., x
m
são as grandezas aleatórias que influenciam as solicitações
y
1
, y
2
, ..., y
m
são as grandezas aleatórias que influenciam a capacidade resistente
S
extr
= valor extremo da função referente às solicitações
R
extr
= valor extremo da função referente à resistência
Neste caso, a segurança é dada pelas probabilidades P
S,extr
e P
R,extr
que definem extremos
probabilísticos de S e R.
O chamado nível III trata o problema resistente segundo metodologia probabilística
rigorosa. De uma forma geral:
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
41
[...] as cargas, os pesos próprios com suas variações prováveis, as
resistências com seus defeitos aleatórios de construção e o próprio
cálculo, com suas imprecisões de hipóteses, entram como fontes de
informação cujos dados se processam para concluir na determinação de
uma probabilidade de falha Pf (PÁEZ, 1981, p. 26).
É chamado processo exato, sendo que a probabilidade de ruína é dada por:
1=
extr
S
R
ou
(
)
0
=
extr
SR
(3.14)
onde:
(R/S)
extr
= função de distribuição dos valores de R/S
Neste caso, para o nível III, faz-se estudo para que as funções f(R/S) ou f(R-S) não atinjam
os valores extremos um ou zero, respectivamente.
No emprego do processo exato, define-se o coeficiente central de segurança γ
0
como
sendo:
0
0
=
S
R
γ
(3.15)
onde:
γ
0
= coeficiente central de segurança
Em função do valor médio da distribuição (R/S). O coeficiente de segurança característico
é apresentado como:
K
K
S
R
=
γ
(3.16)
onde:
γ
K
= coeficiente de segurança característico
em função do valor
k
S
R
convencional.
Para evitar trabalhos exaustivos com a natureza complexa da distribuição (R/S), é usual a
consideração isolada das possíveis distribuições de R e de S (FUSCO, 1974). Portanto, a
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
42
segurança estará associada à probabilidade P
RS
de todos os estados em que SR
,
definidos pela expressão:
dXXfXFP
SRRS
)()(
0
=
(3.17)
onde:
F = função de distribuição acumulada
f = função densidade de probabilidade
Este procedimento leva à expressão do coeficiente central de segurança:
0
0
0
S
R
=
γ
(3.18)
onde:
γ
0
= coeficiente central de segurança
R
0
= representa as resistências centrais
S
0
= representa as solicitações centrais
E para o coeficiente característico:
K
K
K
S
R
=
γ
(3.19)
onde:
γ
k
= coeficiente característico de segurança
R
k
= representa as resistências características
S
k
= representa as resistências características
Assim, conforme FUSCO (1974, p. 14):
No método probabilístico de cálculo, a segurança é medida
essencialmente por probabilidades associadas à ocorrência de estados
limites, variando apenas a maneira de considerar essa probabilidade em
função do nível de precisão empregado.
O sistema atualmente utilizado refere-se ao nível I, reservando ao nível II, apenas alguns
casos especiais de importância técnica ou econômica. Apesar do caráter teórico do nível
III, sendo considerado por muitos apenas como base geral de referência para comissões
nacionais de normas, este possui o relevante aspecto da correlação formal entre a
intensidade das cargas e a duração das mesmas (PÁEZ, 1981).
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
43
Em essência, as simplificações do nível I em relação ao nível II consistem em
(MONTOYA et al, 1973a):
9 Atribuir os efeitos das diversas causas de erros somente a dois fatores: as
resistências dos materiais e os valores das ações;
9 Introduzir no cálculo, ao invés das funções de distribuição de ações e resistências,
alguns valores numéricos únicos (associados a um determinado nível de
probabilidade, representada pelos chamados de valores característicos).
9 Ponderar os valores característicos mediante seus coeficientes parciais de segurança
γ, usando um que afete as resistências (γ
m
) e outro as ações ou solicitações (γ
f
), para
abarcar os fatores aleatórios restantes (não considerados diretamente) e reduzir a
probabilidade de falha a limites aceitáveis.
3.6 VALORES CARACTERÍSTICOS
3.6.1 Resistência dos materiais
Um importante conceito dentro da segurança das estruturas refere-se ao estabelecimento
dos valores característicos das resistências dos materiais de construção. Como esta
propriedade de um material é uma variável aleatória, é coerente caracterizá-la por uma
densidade de probabilidade e não por um número exato (SANTOS, 1983). Ensaios
experimentais e experiências acumuladas concluíram que a resistência, tanto do aço,
quanto do concreto, se comportam como uma distribuição normal (COROTIS; DOSHI,
1977; FUSCO, 1976; MELCHERS, 1987; MONTOYA et al, 1973a; RÜSCH, 1980).
Assim, devida à simetria da função densidade de probabilidade (fdp) desse tipo de
distribuição, metade dos valores de ensaio é maior e a outra metade menor que a
resistência média encontrada. Desse modo, torna-se inviável a adoção da média f
cm
como
valor representativo da resistência de um lote ensaiado, tanto para o concreto, quanto para
o aço. Também a adoção do menor valor do ensaio como representativo do fenômeno
resistente apresenta certa incoerência, já que uma parcela muito pequena dos resultados do
ensaio terá esta ordem de grandeza, o que não seria o ideal como representação da
distribuição considerada por ser um procedimento antieconômico.
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
44
Convencionou-se chamar de valor característico para a resistência à compressão ou à
tração, representado respectivamente por f
ck
e f
ctk
, o valor correspondente a um quantil com
probabilidade de 5% de ser superado no sentido desfavorável, ou seja, 95% dos valores
encontrados em um ensaio, serão superiores a eles.
05,0)(
05,0
=
XXP ou 95,0)(
05,0
=
XXP
(3.20)
onde:
P = probabilidade de ocorrência
X
= valor real assumido pela variável aleatória
X
0,05
= valor da variável no quantil de 5%
Considerando a distribuição normal reduzida (Figura 3.4):
Figura 3.4 – Variável normal reduzida.
Fonte: Santos (1983)
Tem-se a seguinte relação:
s
ff
mk
=
ξ
(3.21)
E assim:
.sff
mk
+
=
(3.22)
onde:
f
k
= valor característico atribuído à variável na distribuição de densidades de
probabilidade
f
m
= valor médio da variável aleatória na distribuição
s
= desvio-padrão da variável aleatória
ξ = fator relativo à probabilidade aplicada
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
45
Sabendo-se que:
m
fs .
δ
=
sendo “s” o desvio-padrão e “δ” o coeficiente de variação, pode-
se escrever:
)1(
δξ
+
=
mk
ff
(3.23)
Na tabela de distribuição normal, encontra-se a probabilidade de 5 % que corresponde a
um valor ξ = -1,645, resultando finalmente em:
(
)
sfff
mmk
.645,1645,11
=
=
δ
(3.24)
onde:
f
k
, f
m
, δ e s possuem o mesmos significados já apontados
3.6.1.1 Valores característicos para o concreto
Para o concreto, a resistência característica é dada segundo a metodologia anterior, sendo
que:
a) Resistência à compressão
ccmck
sff .645,1
=
(3.25)
onde:
f
ck
= resistência característica do concreto à compressão, adotada em projeto
f
cm
= resistência média do concreto à compressão na idade de 28 dias
s
c
= desvio-padrão em relação a f
cm
b) Resistência à tração
tctmctk
sff .645,1
=
(3.26)
onde:
f
ctk
= resistência característica do concreto à tração, adotada em projeto
f
ctm
= resistência média do concreto à tração na idade de 28 dias
s
t
= desvio-padrão em relação a f
ctm
3.6.1.2 Valores característicos para o aço
A resistência característica do aço à tração é dada também pelo quantil de probabilidade de
5% a ser ultrapassada no sentido mais desfavorável, ou seja:
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
46
yymyk
sff .645,1
=
(3.27)
onde:
f
yk
= resistência característica do aço à tração, adotada em projeto
f
ym
= resistência média do aço à tração obtida em ensaios
s
y
= desvio-padrão em relação a f
ym
3.6.2 Ações
Apesar das normas serem de domínio público e de fácil acesso, serão apresentados os
pontos importantes para o entendimento deste trabalho. Conforme item 4.2.2 da NBR 8681
(ABNT, 2003), as ações são quantificadas por seus valores representativos, podendo ser:
valores característicos, valores característicos nominais, valores reduzidos de combinação,
valores convencionais excepcionais, valores reduzidos de utilização e valores raros de
utilização.
3.6.2.1 Valores representativos para estados limites últimos
- Valores característicos
Valores característicos das ações permanentes correspondem à variabilidade existente num
conjunto de estruturas análogas. Para as ações que produzam efeitos tanto desfavoráveis
quanto favoráveis sobre uma estrutura, NBR 8681 (ABNT, 2003) prescreve um valor
característico como sendo o médio, referente a um quantil de 50% da distribuição.
- Valores característicos nominais
Ações que não tenham sua variabilidade adequadamente expressada por distribuições de
probabilidade, os valores característicos F
K
são substituídos por valores nominais
convenientemente escolhidos. Em caso de pequena variabilidade, diferindo muito pouco
entre si os valores característicos superior e inferior (ambos próximos à média), adotam-se
como característico os valores médios das respectivas distribuições (NBR 8681:2003).
- Valores reduzidos de combinação
Conforme a NBR 8681 (ABNT, 2003), os valores reduzidos de combinação são
determinados a partir dos valores característicos pela expressão ψ
o
.F
K
e são empregados
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
47
nas condições de segurança relativas à estados limites últimos, quando existem ações
variáveis de diferentes naturezas. Assim, os valores ψ
o
.F
K
levam em conta a baixa
probabilidade de ocorrência simultânea dos valores característicos de duas ou mais ações
variáveis de naturezas diferentes sendo, portanto, valores característicos de distribuição de
extremos correspondentes a um período de tempo igual a uma fração do período de
referência admitido para a determinação do valor característico F
K
.
- Valores convencionais excepcionais
São valores arbitrários para as ações excepcionais, estabelecidos por consenso entre o
proprietário da construção e as autoridades governamentais que nela tenham interesse
(NBR 8681:2003).
3.6.2.2 Valores representativos para os estados limites de utilização
- Valores reduzidos de utilização
Segundo a NBR 8681 (ABNT, 2003) os valores reduzidos de utilização são determinados a
partir dos valores característicos pelas expressões ψ
1
.F
K
e ψ
2
.F
K
, e são empregados na
verificação da segurança em relação a estados limites de utilização decorrentes de ações
que se repetem inúmeras vezes e ações de longa duração respectivamente. Os valores
reduzidos ψ
1
.F
K
são designados por valores freqüentes (utilizados nas combinações
freqüentes – CF) e os valores ψ
2
.F
K
por valores quase-permanentes (utilizados nas
combinações quase-permanentes – CQP) das ações variáveis.
- Valores raros de utilização
Os valores raros de utilização (utilizados nas combinações raras – CR) quantificam as
ações que podem acarretar estados limites de utilização, mesmo que atuem com duração
muito curta sobre a estrutura.
3.7 COEFICIENTES DE PONDERAÇÃO
No método semi-probabilístico de quantificação da segurança foram estabelecidos
coeficientes de segurança de forma empírica (FUSCO, 1974). Todavia, o progresso e o
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
48
aumento do nível de conhecimento com relação ao funcionamento estrutural promoveram
reduções significantes dos coeficientes ao longo dos anos. Mas, conforme visto, a
segurança estrutural não é definida a partir do conceito de coeficiente aplicado, mas sim da
possibilidade de ocorrência de estados limites.
Apesar do conceito de segurança se associar usualmente à ruptura ou colapso de
estruturas, todos os estados limites têm uma probabilidade de ocorrência ou extrapolação.
Dessa forma, o conceito de segurança abarca também outros fenômenos além da ruptura,
tais como flechas, fissuração e vibrações.
A segurança estrutural relativa a determinado estado limite (EL) se avalia diretamente
através da probabilidade de que esse EL seja superado, a qual se denominada probabilidade
de falha Pf (Item 3.3 . O método semi-probabilístico atualmente empregado para o
estabelecimento da segurança estrutural, conforme visto, define distribuições estatísticas
das variáveis aleatórias relativas às resistências e às cargas e estabelece o valor
característico através do quantil de 5% de probabilidade de não serem superados no lado
desfavorável. Mas, existem outras variáveis aleatórias que influenciam na segurança e
cujas distribuições são ainda desconhecidas ou não quantificáveis.
Além do que, considerar todos os parâmetros aleatórios e suas distribuições de
probabilidade diretamente no cálculo estrutural, tornaria o processo bastante complexo.
Assim, para garantir que estes fatores ainda não totalmente conhecidos não conduzam a
estrutura a estados limites, são introduzidos coeficientes de ponderação parciais
(MONTOYA et al, 1973a). Do método probabilístico, tem-se o seguinte coeficiente de
segurança:
0
0
=
S
R
γ
(3.15)
Que é um artifício com o qual pode ser evitado o uso explícito de conceitos probabilísticos
no cálculo estrutural. Portanto, ao invés do uso de quantidades extremas, trabalha-se com
valores relacionados a diferentes quantis das distribuições de probabilidades consideradas.
Neste contexto, tem-se no coeficiente de segurança o produto de um conjunto de fatores
aleatórios. Sendo cada fator a representação de um efeito distinto, a estrutura irá se manter
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
49
em estado normal, enquanto o valor do coeficiente de segurança
0
γ
seja superior ao
produto dos referidos fatores, por exemplo: x, y, z, t... que representam cada um dos
efeitos simultâneos.
tzyx ...
0
>
γ
(3.28)
Assim, a partir da expressão (3.28), podem-se agrupar fatores referentes às solicitações e
os referentes aos materiais, da seguinte forma (MONTOYA et al, 1973a):
fm
γ
γ
γ
.
0
(3.29)
onde:
γ
0
= coeficiente de segurança central
γ
m
= coeficiente de ponderação dos materiais
γ
f
= coeficiente de ponderação das ações
A determinação de cada coeficiente e a relação entre eles é dada a seguir.
3.7.1 Coeficientes de ponderação dos materiais
O coeficiente
m
γ
é usado para redução dos valores das resistências características, para
obtenção de valores relativos a outros quantis da mesma distribuição (FUSCO, 1974;
PÁEZ, 1981). Santos (1983) aponta ser esse coeficiente uma função de dois outros, da
seguinte forma:
),(
21 mmm
FUNÇÃO
γγγ
=
(3.30)
onde:
γ
m
= coeficiente de ponderação dos materiais
γ
m1
= considera possíveis reduções da resistência dos materiais
γ
m2
= considera possíveis reduções da resistência de caráter local, não levadas em
consideração por γ
m1
Todavia, SANTOS (1983) aponta outros fatores de influência sobre a segurança, tratados
por esse coeficiente de ponderação:
1)
Erros teóricos da análise experimental;
2)
Imprecisões de cálculo;
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
50
3)
Imprecisões de execução (geometria).
Para o caso do concreto armado, o coeficiente γ
m
se desdobra em dois outros coeficientes
distintos:
c
γ
Æ Para minoração da resistência do concreto;
s
γ
Æ Para minoração da resistência do aço.
Na realidade, o coeficiente γ
m
é determinado em parte estatisticamente e em parte
empiricamente (SANTOS, 1983) e tem por finalidade transformar os valores
característicos, em outros quantis da mesma distribuição (FERRY-BORGES;
CASTANHETA, 1971). No caso do coeficiente de minoração das resistências dos
materiais, ocorre a transformação de um quantil de 5% de probabilidade de ser
ultrapassado do lado desfavorável, em um quantil de 5‰ de probabilidade de ser
ultrapassado do mesmo lado da curva. Na realidade, trabalha-se com β=3,5 (Pf =2,33x10
-4
)
e um fator de influência α
x
=0,75, tendo-se então (3.31):
x
x
xx
x
m
X
X
δ
δ
δαβ
δ
γ
576,21
645,11
..1
645,11
005,0
05,0
=
==
(3.31)
onde:
γ
m
= coeficiente de ponderação dos materiais
X
0,05
= valor característico relativo ao quantil de 5% de ser excedido pelo lado mais
desfavorável
X
0,005
= valor característico relativo ao quantil de 5 de ser excedido pelo lado mais
desfavorável
δ
x
= coeficiente de variação
Mesmo não havendo nenhum critério estabelecido em normas ou instruções, para as
finalidades de avaliação estrutural, por ocasião de determinação da segurança residual de
estruturas existentes ou para intervenções de reparos ou reforços estruturais, admite-se
mediante criteriosa avaliação da resistência do concreto e confirmação geométrica das
seções, a redução desses coeficientes, uma vez que diversas incertezas existentes no
período de projeto, agora não mais o são (CABRÉ, 1994; TANNER, 1995).
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
51
3.7.2 Coeficientes de ponderações das ações
As ações, por sua vez, recebem também um tratamento no sentido de reduzir a
probabilidade de serem ultrapassadas durante a vida útil em serviço das estruturas (PÁEZ,
1981). O coeficiente que promove tal alteração é representado por γ
f
e agrega em seu valor,
algumas considerações feitas com relação a variabilidade das ações isoladas ou a
variabilidade de possíveis combinações de diferentes ações (FUSCO, 1974). Este
coeficiente abrange também as incertezas referentes às solicitações calculadas a partir de
modelos teóricos de comportamento estrutural. O coeficiente pode ser expresso então pela
função (3.32):
),,(
321 ffff
FUNÇÃO
γγγγ
=
(3.32)
onde:
γ
f
= coeficiente de ponderação das ações
γ
f1
= fator que leva em conta o desvio das ações em relação a seus valores
característicos
γ
f2
= fator que leva em conta a combinação das ações, também chamado de ψ
0
pela
NBR 8681 (ABNT, 2003)
γ
f3
= fator que considera possíveis erros na avaliação dos efeitos das ações, po
r
problemas construtivos ou deficiência no método de cálculo empregado
Em virtude dos diversos tipos de cargas presentes em um projeto estrutural, a NBR 8681
(ABNT, 2003) altera o índice do coeficiente
f
γ
de acordo com a ação considerada, podendo
encontrar diversos símbolos,
G
γ
,
Q
γ
,
P
γ
e
ε
γ
, representando os respectivos coeficientes das
ações permanentes, ações diretas variáveis, protensão e efeitos de deformações impostas,
como serão tratadas posteriormente neste trabalho.
3.7.2.1 Coeficiente de ponderação para os ELS’s
Quando se consideram estados limites de serviços, a NBR 8681 (ABNT, 2003), preconiza
o valor a seguir para a majoração das ações, salvo indicação contrária em norma
específica:
0,1
=
f
γ
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
52
3.7.2.2 Coeficiente de ponderação para as ações permanentes (ELU)
Estes coeficientes, denotados por
G
γ
, majoram os valores representativos das ações
permanentes que provocam efeitos desfavoráveis e minoram os valores representativos das
ações que produzem efeitos favoráveis com relação à segurança (NBR 8681:2003). Nas
combinações últimas, os coeficientes de ponderação das ações permanentes são assim
indicados:
1)
Segundo variabilidade das ações diretas: o método empregado na construção dos
elementos estruturais, elementos construtivos não estruturais e equipamentos fixos
influem na variabilidade das ações permanentes a se adotar em projeto. Em geral,
processos construtivos mais controlados demandam coeficientes menos
conservadores, ao passo que métodos em que o controle é falho exigem
coeficientes maiores para cobrir as incertezas nitidamente mais acentuadas. No
caso da avaliação de estruturas, muitas das incertezas de projeto podem ser
confirmadas na inspeção realizada na obra. Isso gera redução dos coeficientes a
serem empregados no cálculo pela ocasião da avaliação estrutural. Em todo caso,
em projeto a NBR 8681 (ABNT, 2003) admite, para o cálculo, os coeficientes
presentes da Tabela 3.1 a serem utilizados para as ações consideradas
separadamente. A Tabela 3.2 mostra os coeficientes de ponderação a considerar-se
numa combinação, todas essas ações forem agrupadas.
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
53
Tabela 3.1 – Ações permanentes diretas consideradas separadamente.
Efeito
Combinações Tipo de ação
Desfavorável Favoráveis
Peso-próprio de estruturas metálicas 1,25 1,0
Peso-próprio de estruturas pré-moldadas 1,30 1,0
Peso próprio de estruturas moldadas no local 1,35 1,0
Elementos construtivos industrializados.
1)
1,35 1,0
Elementos construtivos industrializados com
adições in loco
1,40 1,0
Normais
Elementos construtivos em geral e
equipamentos.
2)
1,50 1,0
Peso próprio de estruturas metálicas 1,25 1,0
Peso próprio de estruturas pré-moldadas 1,30 1,0
Peso próprio de estruturas moldadas no local 1,35 1,0
Elementos construtivos industrializados.
1)
1,35 1,0
Elementos construtivos industrializados com
adições in loco
1,40 1,0
Especial ou
de construção
Elementos construtivos em geral e
equipamentos.
2)
1,50 1,0
Peso próprio de estruturas metálicas 1,25 1,0
Peso próprio de estruturas pré-moldadas 1,30 1,0
Peso próprio de estruturas moldadas no local 1,35 1,0
Elementos construtivos industrializados.
1)
1,35 1,0
Elementos construtivos industrializados com
adições in loco
1,40 1,0
Excepcional
Elementos construtivos em geral e
equipamentos.
2)
1,50 1,0
1)
Por exemplo: paredes e fachadas pré-moldadas, gesso acartonado
2)
Por exemplo: paredes de alvenaria e seus revestimentos, contrapisos
Fonte: NBR 8681 (ABNT, 2003)
Tabela 3.2 – Ações permanentes diretas agrupadas.
Efeito
Combinações Tipo de ação
Desfavorável Favoráveis
Grandes pontes.
1)
1,30 1,0
Edificações tipo 1 e pontes em geral.
2)
1,35 1,0
Normais
Edificações tipo 2.
3)
1,40 1,0
Grandes pontes.
1)
1,20 1,0
Edificações tipo 1 e pontes em geral.
2)
1,25 1,0
Especial ou
de construção
Edificações tipo 2.
3)
1,30 1,0
Grandes pontes.
1)
1,10 1,0
Edificações tipo 1 e pontes em geral.
2)
1,15 1,0
Excepcional
Edificações tipo 2. 3) 1,20 1,0
1)
Grandes pontes são aquelas em que o peso próprio da estrutura supera 75% da totalidade das
ações
2)
Edificações tipo 1 são aquelas onde as cargas acidentais superam 5 kN/m
2
3)
Edificações tipo 2 são aquelas onde as cargas acidentais não superam 5 kN/m
2
Fonte: NBR 8681 (ABNT, 2003)
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
54
2)
Os efeitos de recalques de apoio e de retração dos materiais: neste caso os valores
indicados na Tabela 3.3:
Tabela 3.3 – Efeitos de recalques de apoio e de retração dos materiais.
Efeitos
Combinação
Desfavoráveis Favoráveis
Normais
ε
γ
= 1,2
ε
γ
= 0
Especiais ou de construção
ε
γ
= 1,2
ε
γ
= 0
Excepcionais
ε
γ
= 0
ε
γ
= 0
Fonte: NBR 8681 (ABNT, 2003)
Os coeficientes apresentados anteriormente se aplicam a situações de cálculo, em que as
incertezas movem a necessidade de resguardar a segurança mediante alargamento da faixa
de valores possíveis de ocorrência das ações permanentes. No entanto, em situações de
avaliação, onde as dimensões estruturais, bem como a definição da ocupação das lajes
pelas cargas de equipamentos e outros elementos fixos, podem ser avaliadas reduzindo
assim as possibilidades de variações, é plausível a utilização de coeficientes menos
conservadores, inclusive para cálculo de escoramento e reforços estruturais de diferentes
técnicas (CABRÉ, 1994; SOUZA; RIPPER, 1998; TANNER, 1995).
3.7.2.3 Coeficientes de ponderação das ações variáveis (ELU)
Coeficientes de ponderação das ações variáveis são aplicados em casos onde estas
provoquem efeitos desfavoráveis nas estruturas. Nas situações em que as ações promovam
efeitos favoráveis, alívio de esforços, elas não deverão constar nas combinações. Os
coeficientes para utilização nos estados limites últimos, são apontados pela NBR 8681
(ABNT, 2003), conforme a Tabela 3.4 para as ações consideradas separadamente e Tabela
3.5 para os casos cujas ações forem consideradas conjuntamente:
Capítulo 3 Segurança nas estruturas de concreto armado
55
Tabela 3.4 – Ações variáveis consideradas separadamente.
Combinações Tipo de ação
Coeficiente de
ponderação
Ações truncadas.
1)
1,2
Efeito de temperatura 1,2
Ação do vento 1,4
Normais
Ações variáveis em geral 1,5
Ações truncadas.
1)
1,1
Efeito de temperatura 1,0
Ação do vento 1,2
Especiais ou de construção
Ações variáveis em geral 1,3
Excepcionais Ações variáveis em geral 1,0
1)
Ações truncadas são consideradas ações variáveis cuja distribuição de máximos é truncada
por um dispositivo físico de modo que o valor dessa ação não pode superar o limite
correspondente. O coeficiente de ponderação mostrado na Tabela 3.4 se aplica a esse valor
limite.
Fonte: NBR 8681 (ABNT, 2003)
Tabela 3.5 – Ações variáveis consideradas conjuntamente
1)
.
Combinações Tipo de ação
Coeficiente de
ponderação
Pontes e edificações tipo 1 1,5
Normais
Edificações tipo 2 1,4
Pontes e edificações tipo 1 1,3
Especiais ou de construção
Edificações tipo 2 1,2
Excepcionais Estruturas em geral 1,0
1)
Quando as ações variáveis forem consideradas conjuntamente, o coeficiente de ponderação
mostrado na Tabela 3.5 se aplica a todas as ações, devendo-se considerar também
conjuntamente as ações permanentes diretas. Nesse caso, permite-se considerar separadamente
as ações indiretas como recalque de apoio e retração dos materiais conforme Tabela 3.3 e o
efeito de temperatura conforme Tabela 3.4.
Fonte: NBR 8681 (ABNT, 2003).
3.7.2.4 Coeficiente de ponderação das ações excepcionais (ELU)
Estados limites últimos
O coeficiente de ponderação γ
f
para ações excepcionais nos ELU deve ser tomado por
valor básico (NBR 8681:2003):
0,1=
f
γ
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
56
CAPÍTULO 4
GENERALIDADES SOBRE PILARES USUAIS
DE EDIFÍCIOS
4.1 INTRODUÇÃO
Os pilares desempenham importante papel na segurança dos edifícios, pois as falhas
ocorridas nestes elementos, freqüentemente no pavimento de garagens, são responsáveis
pela ocorrência de colapsos que podem progredir levando à situações de completa
instabilidade estrutural.
A segurança desses elementos contra eventuais falhas é garantida, dentro da filosofia semi-
probabilística da NBR 6118 (ABNT, 2003) e de outras normas de projetos de diversos
países (ARAÚJO, 2003b; LEONHARDT; MONNIG, 1977; MONTOYA et al, 1973a)
tanto pela introdução de coeficientes de ponderação das ações e das resistências, quanto
pela consideração de imperfeições e excentricidades adicionais que poderão surgir no
decorrer do processo construtivo.
Sobre os pilares podem atuar solicitações de compressão axial ou de flexo-compressão,
sendo esta última o caso mais geral em virtude da continuidade elástica existente entre as
vigas e os pilares (VANDERLEI, 1996). Esta continuidade é responsável pelo fato de as
vigas transmitirem esforços de flexão aos pilares, valendo a idéia de que, nos quadros
formados por diversos pilares, os externos sofram maiores solicitações de flexão que os
internos. Todavia, a NBR 6118 (ABNT, 2003), não admite o dimensionamento de pilares
para cargas centradas, devendo proceder a introdução de excentricidades acidentais na
consideração de cálculo dos chamados pilares intermediários.
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
57
4.1.1 Algumas características do concreto armado
Os pilares de concreto armado constituem peças, geralmente verticais, em que a solicitação
normal é predominante. Suas distintas seções transversais podem estar submetidas à
compressão simples, compressão composta ou flexão composta (MONTOYA et al, 1973a).
Para se dimensionar uma seção de concreto armado submetido à flexão composta, faz-se
necessárias as seguintes hipóteses (NBR 6118:2003):
- Manutenção das seções planas – admite-se que uma seção transversal ao eixo do
elemento estrutural indeformado, inicialmente plana e normal a esse eixo, permaneça nessa
condição após as deformações do elemento.
- Aderência perfeita – considera-se a existência de uma aderência perfeita entre o concreto
e o aço, onde as armaduras vão estar sujeitas às mesmas deformações do concreto que as
envolve.
- Concreto em tração – despreza-se totalmente a resistência à tração do concreto no ELU.
Apesar da resistência dos materiais empregar a teoria da elasticidade, que pressupõe o
comportamento elástico linear para os materiais estruturais, o concreto armado requer uma
análise que difere deste modelo, uma vez que não existe proporcionalidade entre tensões e
deformações (ARAÚJO, 1988). Todavia, na simplificação de certos tipos de análises, é
usual a consideração da linearidade.
Para análise no ELU, a NBR 6118 (ABNT, 2003) admite o emprego do diagrama tensão
deformação idealizado, mostrado na Figura 4.1:
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
58
Figura 4.1 – Diagrama tensão-deformação idealizado.
Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2003)
A NBR 6118 (ABNT, 1980) admitia para o caso do aço um comportamento diferenciado
segundo as categorias A e B, sendo definido, para este último, um limite de escoamento
referente a uma tensão capaz de produzir uma deformação residual de 2‰, por não
apresentar patamar de escoamento definido em seu diagrama tensão-deformação.
Atualmente, a NBR 6118 (ABNT, 2003) utiliza para cálculo nos estados limites de serviço
e último, o diagrama exposto na Figura 4.2:
Figura 4.2 – Diagrama tensão-deformação para aços de armaduras passivas.
Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2003)
O comportamento do material concreto armado não é simples de descrever, sendo o
diagrama tensão deformação não linear e ainda variável para as diversas classes de
concreto (LEONHARDT; MONNIG, 1977). A esse fenômeno dá-se o nome de não-
linearidade física, que, por vezes influem nas tensões desenvolvidas no concreto armado
sob a ação de cargas.
Além disso, o comportamento do concreto em peças submetidas à compressão simples é
bastante distinto do comportamento dos corpos-de-prova usados na determinação da
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
59
resistência do material. Há também a necessidade de se reduzir, para efeito de cálculo, o
valor da resistência do concreto de pilares, em relação àquela dos corpos-de-prova de
controle, em virtude do fenômeno de “cansaço” do material sob a ação de cargas de longa
duração (RÜSCH, 1960). Em Fusco (1995) encontra-se que, para utilização nos estados
limites últimos de solicitações normais, a resistência do concreto à compressão vale
cd
f85,0.
4.1.2 Comportamento das barras sob compressão
Mediante a teoria da elasticidade, o cálculo de pilares envolve dois aspectos: a)
deformação dos materiais – onde aço e concreto, trabalhando solidariamente, são tidos
como um corpo homogêneo; b) consideração da segurança a flambagem – que deve ser
atendida no caso dos chamados pilares esbeltos.
Ao se submeter um elemento de seção retangular “a” x “b” e comprimento “l” a uma carga
de compressão axial, aplicada de modo que a linha de ação da força passe pelo baricentro
das seções transversais das extremidades da barra, estas deverão se mover uma em direção
a outra sem rotação. Isto provoca um encurtamento da barra e um aumento em sua largura
e espessura.
Considerando a teoria de Saint-Vernant na qual, a distribuição de tensões pode ser adotada
como uniforme e independente do modo como se aplica o carregamento e, levando em
conta o limite de proporcionalidade da tensão estabelecido pela lei de Hooke (BEER;
JOHNSTON, 1989), pode-se aplicar as seguintes relações referentes às deformações e
tensões obtidas:
ε
σ
E
=
(4.1)
Onde:
σ = tensão na seção transversal
E = módulo de elasticidade
ε = deformação experimentada
Segue então:
AE
P
E
==
σ
ε
(4.2)
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
60
onde:
P = carga aplicada
A = área da seção transversal
E, como
l
l
=
ε
tem-se:
AE
Pl
l =
(4.3)
onde
l = variação no comprimento da barra
Sabe-se que neste caso, nas faces das barras as quais não sejam as seções transversais de
extremidades, a tensão atuante é nula, o mesmo não ocorrendo com as deformações.
Chamando de “υ” o coeficiente que relaciona a deformação específica longitudinal às
deformações específicas transversais e, considerando isotrópico o material constituinte da
barra, pode-se estabelecer as seguintes relações:
AE
Pa
m
a
.
1
= ou
EA
Pb
m
b
.
1
=
(4.4)
Onde:
a = variação da dimensão “a”
b = variação da dimensão “b”
a e b = dimensões da seção transversal
m
1
= termo de ajustamento das variações nas dimensões da seção transversal a parti
r
das deformações axiais
Sendo os alongamentos específicos transversais dados por:
l
l
ba
EEA
P
mb
b
a
a
νε
σ
νεε
===
=
== .
1
(4.5)
onde
ε
a
= deformação na direção a
ε
b
= deformação na direção b
ν
= coeficiente de Poisson
Um outro aspecto na análise das barras comprimidas está ligado ao fenômeno de
flambagem que pode comprometer a estabilidade da peça, mesmo que a carga aplicada seja
inferior a carga de esgotamento da resistência do material componente da barra. A equação
diferencial que rege o comportamento da linha elástica deformada de uma peça esbelta
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
61
submetida a flambagem, tem a forma dada pela expressão (4.6) (BEER; JOHNSTON,
1989):
0.
2
2
=+ Py
dx
yd
EI
(4.6)
onde:
E = módulo de elasticidade longitudinal ou módulo de Young
I = momento de inércia da seção
P = carga aplicada
Que é a mesma equação que descreve o movimento harmônico simples, exceto pela
variável independente, que agora é a coordenada x e não o tempo (t). A equação acima foi
resolvida pela primeira vez em 1744 por Leonhard Euller e, a partir de sua solução, pode-
se chegar à carga crítica de flambagem:
2
2
l
EI
P
cr
π
=
(4.7)
Onde:
E = módulo de elasticidade longitudinal ou módulo de Young
I = momento de inércia da seção
P = carga aplicada
4.1.3 Efeitos globais e locais de segunda ordem
Sob ação de cargas horizontais e verticais os nós das estruturas deslocam-se
horizontalmente. Assim, em pórticos de vários andares a estabilidade global pode ser
facilmente posta em perigo por esses deslocamentos (LEONHARDT; MONNIG, 1977)
caso a estrutura não ofereça rigidez adequada a resisti-los. Edifícios com grandes alturas e
cargas verticais elevadas são mais suscetíveis à movimentação horizontal (ARAÚJO,
2003b).
Segundo Leonhardt e Monnig (1977) a inclinação dos pilares ao longo de muitos
pavimentos provoca excentricidade crescente da carga total resultante. A este fenômeno
dá-se o nome de efeitos globais de segunda ordem. A ocorrência desse fato torna o cálculo
estrutural mais complexo, além de expor ao risco os pilares de pórticos devido a
deslocabilidade do sistema. O problema é atenuado acrescentando-o nas estruturas
elementos de contraventamento que, devido à elevada rigidez, absorvem a maior parte dos
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
62
esforços horizontais (ARAÚJO, 2003b). Dessa forma, constitui-se a chamada subestrutura
de contraventamento principalmente com paredes estruturais ou pilares paredes das caixas
de escada e caixas de elevadores.
Os demais pilares da estrutura são ditos contraventados e, apesar de apresentarem uma
certa contribuição à rigidez global do edifício, têm a função principal de transmitir cargas
verticais entre pavimentos, finalizando-as nas fundações. Se o contraventamento for
suficiente, os deslocamentos horizontais serão pequenos podendo ser desconsiderados no
cálculo estrutural. Neste caso, diz-se que a estrutura é de pórticos indeslocáveis
(LEONHARDT; MONNIG, 1977).
A NBR 6118 (ABNT, 1980) reconhecia a existência do problema sem, contudo, apresentar
nenhum critério para sua consideração (ARAÚJO, 1988). A atual versão NBR 6118
(ABNT, 2003) aborda a temática da deslocabilidade horizontal classificando como de nós
fixos as estruturas onde os esforços originários dos efeitos de segunda ordem sejam
inferiores a 10% dos efeitos de primeira ordem (esforços em uma estrutura indeslocável).
O item 15.5.3 da NBR 6118 (ABNT, 2003) traz o coeficiente γ
z
que avalia a importância
dos esforços globais de segunda ordem, sendo válido para análises de estruturas reticuladas
de edifícios com mais de 4 pavimentos.
Diferentemente das peças verticais submetidas à flexão simples, que atingem equilíbrio na
configuração indeformada, nas barras comprimidas as deformações têm sensível influência
sobre os esforços solicitantes diminuindo conseqüentemente a capacidade resistente da
peça estrutural (LEONHARDT; MONNIG, 1977). Isto decorre do fato de que nos pilares,
o equilíbrio é garantido na configuração deformada da linha elástica do eixo da peça,
fazendo com que uma barra carregada excentricamente tenha sua excentricidade e
0
aumentada do valor “e” no estado deformado, gerando por sua vez, um acréscimo no
momento fletor solicitante.
Quando um pilar é submetido apenas à força normal (sem cargas transversais ou momentos
externos), o fenômeno da instabilidade do equilíbrio recebe o nome de flambagem
(ARAÚJO, 1988). A carga que desencadeia o processo é a carga de flambagem de Euller.
Para pilares de concreto armado essa situação puramente não ocorre, até porque as diversas
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
63
instruções normativas de projeto em todo o mundo, inclusive a NBR 6118 (ABNT, 2003),
estabelece a obrigatoriedade de se considerar excentricidades acidentais que garantem
segurança relativa às imperfeições construtivas na barra.
As deformações diferidas no tempo apresentadas pelo concreto de idade mais avançada
influenciam o fenômeno de flambagem. Processos de retração e fluência diminuem a
rigidez da peça e com isso, a carga crítica de instabilidade admitida. Procedimentos de
cálculo dos diversos códigos normativos admitem a contribuição da fluência no fenômeno
de flambagem para determinadas configurações no arranjo das barras verticais adotadas na
concepção dos pórticos nas estruturas. A NBR 6118 (ABNT, 2003) torna obrigatória a
consideração da fluência para peças com índice de esbeltez (λ) maior que 90, estando seus
efeitos considerados no processo de cálculo através de uma excentricidade dada por:
+=
1718,2
Sge
Sg
NN
N
a
Sg
Sg
cc
e
N
M
e
ϕ
e
(4.8)
2
.10
e
cci
e
l
IE
N =
onde:
e
a
= excentricidade devida a imperfeições locais
M
Sg
e N
Sg
= esforços solicitantes devido a combinações quase permanentes
ϕ
= coeficiente de fluência
E
ci
= o módulo de deformação tangente inicial do concreto
I
c
= momento de inércia da seção de concreto
l
e
= comprimento de flambagem
O momento interno Mi, que se relaciona à capacidade resistente do pilar, depende do
comprimento da peça e das condições de fixação de seus extremos, além de sua rigidez EI
(MONTOYA et al, 1973a). Ambas as características influenciam o chamado comprimento
de flambagem l
e
, entendido como a distância entre pontos de inflexão da linha deformada
do pilar (LEONHARDT; MONNIG, 1977). Comprimento l
e
, por sua vez, está ligado
diretamente ao índice de esbeltez, um dos parâmetros determinantes à ocorrência dos
chamados efeitos locais de segunda ordem em barras comprimidas. De acordo com o item
15.6 da NBR 6118 (ABNT, 2003):
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
64
[...] em estruturas de nós fixos, o cálculo pode ser realizado considerando
cada elemento comprimido isoladamente como barra vinculada aos
demais elementos estruturais que ali concorrer.
O comprimento equivalente l
e
do pilar, supostamente vinculado em ambas às
extremidades, deve ser o menor dos seguintes valores (NBR 6118:2003):
hll
e
+
=
0
ou
(4.9)
ll
e
=
(4.10)
onde:
l
o
= distância entre as faces internas dos elementos estruturais supostos horizontais, que
vinculam o pilar
h = altura da seção transversal do pilar, medida no plano da estrutura em estudo
l = distância entre os eixos dos elementos estruturais em que o pilar está vinculado
Figura 4.3 – Valores de l e l
o.
Fonte: Araújo (2003b)
Na versão anterior da NBR 6118 (ABNT, 1980), o índice de esbeltez constituía um divisor
de águas na classificação dos pilares em curtos, moderadamente esbeltos e esbeltos,
apresentando para isso , valores limites dos intervalos de λ, nos quais se incluíam cada uma
dessas classes. A importância do estabelecimento desta divisão baseia-se no fato de que,
para cada uma delas, se considerar ou não efeitos de segunda ordem locais no
dimensionamento de pilares, bem como a forma de se abordar estes efeitos, caso eles
devam ser considerados.
Pilares curtos têm a maior probabilidade de que sua ruína seja causada pelo esgotamento
da resistência dos materiais constitutivos da seção transversal, não ocorrendo risco de
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
65
instabilidade por flambagem. Assim, não há necessidade de tratamento de efeitos de
segunda ordem locais. Pilares moderadamente esbeltos, que constituem a maior parte dos
pilares usuais dos edifícios, são afetados pelos efeitos locais de segunda ordem de um
modo tal que estes podem ser considerados por processos aproximados, reduzindo as
complexidades decorrentes do cálculo exato.
Pilares esbeltos têm seu colapso dado por instabilidade mediante flambagem merecendo,
os efeitos motivadores do fenômeno, um tratamento especial por meio da utilização de
processos exatos que envolvam métodos numéricos e uso de programas computacionais
(ARAÚJO, 2003b).
Sabe-se que, além do índice de esbeltez, outros fatores contribuem com a necessidade de se
submeter ou não aos efeitos locais de segunda ordem, o cálculo das peças comprimidas. A
análise da excentricidade relativa de primeira ordem (e
1
/h) e a forma do diagrama de
momento de primeira ordem é de primordial importância para definir limites entre pilares
curtos e moderadamente esbeltos. A NBR 6118 (ABNT, 2003) fixa o índice de esbeltez
dos pilares tal que λ≤200. Nesta versão atual da norma, a excentricidade relativa e
1
/h, a
vinculação dos extremos da barra isolada e a forma do diagrama dos momentos fletores
devido à e
1
, influenciam na decisão de se considerar ou não os efeitos locais de segunda
ordem no cálculo, através da comparação de índice de esbeltez com um valor limite λ
1
dado por:
b
h
e
α
λ
1
1
.5,1225 +
=
(4.11)
estando λ
1
compreendido entre 90
35
1
λ
α
b
O valor de α
b
deve ser obtido conforme o estabelecido a seguir (NBR 6118:2003):
a) Pilares biapoiados sem cargas transversais:
A
B
b
M
M
.40,060,0 +=
α
(4.12)
onde:
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
66
40,00,1
b
α
M
A
e M
B
= momentos fletores de primeira ordem no pilar
b) Pilares biapoiados com cargas transversais significativas ao longo da altura
0,1=
b
α
c) Pilares em balanço
85,0.20,080,0 +=
A
C
b
M
M
α
(4.13)
onde:
85,00,1
b
α
M
A
= momentos fletores de primeira ordem no engaste
M
C
= momento de primeira ordem no meio do pilar em balanço
d) Pilares biapoiados ou em balanço com momentos menores que o momento mínimo
(M
1dmim
):
0,1=
b
α
Os momentos de primeira ordem M
A
e M
B
, que surgem da interação entre as extremidades
dos pilares e as vigas de pavimento, na direção da excentricidade inicial, podem ser
calculados pelas seguintes expressões:
viga
engA
rrr
r
MM
++
=
infsup
sup
(4.14)
viga
engB
rrr
r
MM
++
=
infsup
inf
(4.15)
onde:
M
eng
= momento de engastamento perfeito.
r = rigidez do elemento
O momento de engastamento perfeito pode ser assim obtido:
12
2
viga
eng
Pl
M =
(4.16)
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
67
onde:
P
= carga linearmente distribuída na viga.
l
viga
= comprimento da viga
A rigidez do elemento i no nó considerado é avaliada conforme indicado na Figura 4.4 e é
dada pela expressão (4.17):
i
i
i
l
I
r =
(4.17)
onde:
I
i
= momento de inércia da peça considerada
l
viga
= comprimento da peça
Figura 4.4 – Aproximação em apoios extremos.
Fonte: NBR 6118 (2003)
A NBR 6118 (ABNT, 2003) estabelece que na consideração dos esforços locais de
segunda ordem, o cálculo pode ser feito pelo método geral ou por métodos aproximados,
sendo o método geral obrigatório para λ>140. A norma apresenta quatro diferentes
métodos aproximados, que são: método do pilar padrão com curvatura aproximada,
método do pilar padrão com rigidez κ aproximada, método do pilar padrão acoplado a
diagramas M, N, e 1/r e o método do pilar padrão para pilares de seção retangular
submetidos à flexão composta oblíqua. Os dois primeiros métodos aplicam-se ao cálculo
de pilares com λ
max
90, seção constante e armadura simétrica e constante ao longo do eixo.
Pilares do edifício foco deste trabalho enquadram-se nestas características.
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
68
4.1.4 Processo de cálculo de pilares
Para efeito de projeto, os pilares usuais de edifícios foram freqüentemente classificados
nos seguintes tipos: a) pilares intermediários; b) pilares de extremidade e c) pilares de
canto (FUSCO, 1981). Em uma análise simplificada, essa divisão permite distinguir, para
cada um desses tipos básicos de pilares, uma situação de projeto com solicitação
diferenciada (BASTOS; OLIVEIRA NETO, 2004). A disposição desses elementos em
planta pode ser vista na Figura 4.5:
Figura 4.5 – Posicionamento dos pilares em planta.
Fonte: Araújo (2003b)
Por essa metodologia, bastante útil para o cálculo não informatizado, nos pilares
intermediários ocorreria compressão centrada, mas que, por norma torna-se obrigatória a
introdução de excentricidade acidental, recaindo em uma flexo-compressão reta.
Excentricidade causada pela interrupção da viga deixa os pilares de extremidade em uma
situação natural de flexo-compressão reta, enquanto que os pilares de canto seriam
dimensionados a flexo-compressão oblíqua (FUSCO, 1981).
O advento dos programas de cálculo permitiu uma análise estrutural mais sofisticada, com
modelagem do comportamento via pórtico espacial e determinação de esforços mais
precisos nos diversos elementos existentes. Assim, para o caso de pilares,
independentemente da posição por ele ocupada na edificação, é possível determinar
momentos atuantes nas duas direções principais, eliminando a necessidade de classificá-los
com vistas a simplificação dos processos de dimensionamento.
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
69
O presente trabalho não tem por objetivo apresentar a metodologia completa para o
dimensionamento à flexão composta, até porque o assunto é extenso e suscitam discussões
que fogem do propósito posto aqui. No entanto o assunto é tratado em diversas publicações
(ARAÚJO, 2003b; FUSCO, 1981; LEONHARDT; MONNIG, 1977; MONTOYA et al,
1973a), que auxiliam o entendimento deste fenômeno de solicitação em pilares. São
encontrados ainda tabelas e ábacos (FUSCO, 1981; MONTOYA et al, 1973b), com os
quais pode-se determinar taxas mecânicas de armaduras ω, tendo-se determinado os
seguintes parâmetros:
- Esforço normal reduzido:
cd
d
hb
N
σ
ν
..
=
(4.18)
onde:
N
d
= solicitação normal de cálculo
b = largura da seção
h = altura da seção
σ
cd
= tensão limite de cálculo para o concreto
- Momento fletor reduzido:
cd
d
hb
M
σ
µ
..
2
=
(4.19)
onde:
M
d
= momento solicitante de cálculo
b = largura da seção
h = altura da seção
σ
cd
= tensão limite de cálculo para o concreto
- Parâmetro geométrico:
h
d
'
"
=
δ
(4.20)
onde:
d'
= distância do centro das armaduras da primeira camada até a face do concreto
h = altura da seção
A NBR 6118 (ABNT, 2003) introduziu modificações em algumas das metodologias de
cálculo das estruturas de concreto armado, como também em alguns parâmetros aplicados
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
70
no dimensionamento e verificação das estruturas. Para pilares, a atual versão da norma
introduziu várias modificações como: a) valores das excentricidades acidentais e de
segunda ordem; b) um maior cobrimento de concreto sobre as armaduras; c) alteração da
metodologia na consideração dos efeitos globais e locais de segunda ordem; d) introdução
do momento mínimo que deve ser atendido sempre por ocasião do dimensionamento, entre
outras (BASTOS; OLIVEIRA NETO, 2004).
4.1.4.1 O pilar padrão
Da derivação da equação de Euller, tem-se a definição da carga crítica centrada que leva a
barra à situação de instabilidade (equação (4.7)). No caso de pilares de concreto armado,
tal situação é teórica, pois, sempre existirão excentricidades aplicadas, não ocorrendo a
flambagem propriamente dita. No dimensionamento de elementos comprimidos, a NBR
6118 (ABNT, 2003) permite, para os casos em que λ≤90, a utilização de métodos
aproximados, com instituição do chamado pilar padrão.
Este conceito surge como alternativa à simplificação do método geral e é aplicável a barras
de seção transversal constante, incluindo a armadura, ao longo de todo o seu comprimento
(FUSCO, 1981).
O pilar padrão tem por vinculação um engaste e uma extremidade livre, funcionando
estruturalmente como uma peça em balanço com curvatura capaz de produzir, na parte
livre, uma flecha dada por (4.21):
=
r
l
a
e
1
10
2
(4.21)
onde:
a
= flecha na extremidade livre
l
e
= comprimento de flambagem
r = curvatura da barra
Esta flecha surge da consideração de que a deformação na barra, em virtude de sua não
linearidade geométrica, ocorre segundo um comportamento senoidal. Adota-se ainda uma
expressão para a curvatura crítica (1/r), dado por (4.22):
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
71
hhr
005,0
)5,0(
005,01
+
=
ν
(4.22)
onde:
ν
= esforço normal reduzida – expressão (4.18)
h = altura da seção transversal na direção considerada
O momento total máximo para o pilar com curvatura aproximada deve ser calculado
através da expressão (4.23):
min,1
2
,1,
1
.
10
d
e
dAdbTOTd
M
r
l
NMM
+=
α
(4.23)
Em todo caso, um momento mínimo deverá ser respeitado e seu valor pode ser obtido pela
expressão (4.24):
(
)
hNM
dMind
03,0015,0
,1
+
=
(4.24)
onde:
N
d
= solicitação normal de cálculo
h = altura da seção transversal
Caso λ do pilar 140, deve-se somar, à expressão (4.8), o termo
dcc
Ne . referente à parcela
de fluência.
A NBR 6118 (ABNT, 2003) permite ainda o uso de outros métodos simplificados para o
dimensionamento de pilares curtos e moderadamente esbeltos. Nesta linha de
procedimento pode-se citar a utilização do pilar padrão com rigidez κ (
kapa) aproximada,
onde o momento máximo atuante para o dimensionamento poderá ser obtido com a
resolução da expressão:
min,1,1
,1
,1
.1201
.
dAd
Adb
TOTd
MM
M
M
=
ν
κ
α
(4.25)
sendo o valor da rigidez κ (kapa) aproximada, dada por:
νκ
.
.
.51.32
,
+=
d
TOTd
Nh
M
(4.26)
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
72
onde:
M
1d,min
, M
d,TOT
, α
b
, h e ν possuem o mesmo significado anterior
κ
= aproximação para a rigidez da barra
4.1.5 Formas de ruínas em pilares
Segundo Leonhardt e Monnig (1977), pilares curtos e moderadamente curtos atingem a
ruína pela ruptura do material de suas seções transversais críticas. Pilares moderadamente
esbeltos, por apresentarem maiores excentricidades totais no desenvolvimento, em serviço,
da linha deformada de seu eixo, têm suas capacidades resistentes esgotadas por cargas
inferiores as admitidas por um pilar curto de seção transversal idêntica. Pilares esbeltos
chegam à ruína através de ruptura por perda de estabilidade, sob cargas críticas de
flambagem muito abaixo da carga de ruptura admitida por seus materiais. Neste caso,
efeitos locais de segunda ordem são determinantes.
As barras de aço longitudinais sofrem o mesmo encurtamento
ε do concreto. Com as
deformações lentas sofridas pelo segundo, as tensões no aço aumentam com o tempo,
podendo chegar a valores elevados. Assim, a proteção das barras contra flambagem, por
meio de estribos, é muito importante em pilares submetidos a cargas elevadas
(LEONHARDT; MONNIG, 1977).
Fossem os pilares carregados axialmente ou com muito pouca excentricidade, poderiam ser
executados sem armadura, pois não surgiriam tensões de tração. No entanto, na maioria das
vezes as lajes ou vigas de piso estão ligadas rigidamente aos pilares que, devido ao efeito
de pórtico, recebem também momentos fletores. Este efeito é responsável pelo surgimento
das excentricidades iniciais de primeira ordem (LEONHARDT; MONNIG, 1977). As
imperfeições do eixo de pilares geradas por erros construtivos, os efeitos locais e/ou
globais de segunda ordem em certos casos, bem como as deformações diferidas presentes
no concreto, contribuem para o aumento das solicitações de flexão da barra.
A forma do diagrama de momentos fletores de primeira ordem é um aspecto que deve ser
levado em consideração na análise da sensibilidade de pilares aos efeitos de segunda
ordem e redução de sua capacidade resistente. Um pilar que apresente momentos fletores
iguais nos extremos é muito mais sensível a tais efeitos, em relação a outro pilar onde os
momentos têm sentidos contrários (ARAÚJO, 2003b).
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
73
A Figura 4.6 ilustra três situações distintas que podem ocorrer em pilares. Assim, observa-
se que, no caso “a” o maior deslocamento transversal do eixo ocorre na seção central onde
se dá a ruína. É este o caso mais crítico, em virtude das excentricidades produzidas. Em
“b” o deslocamento máximo ocorre em uma seção mais próxima do extremo “a”. No caso
“c”, o deslocamento da seção central é nulo e, provavelmente, a ruína dar-se-á na seção de
extremidade, sendo desprezível os efeitos de segunda ordem locais.
Figura 4.6 – Influência do diagrama de momentos fletores de primeira ordem.
Fonte: Araújo (2003b)
A capacidade resistente de pilares pouco esbeltos à compressão centrada é dada por:
'
.
ydscdcMODd
fAfAKN +=
(4.27)
onde:
K
MOD
= coeficiente de modificação que leva em conta alguns aspectos que influenciam a
resistência do concreto na estrutura (ver item 5.4.3.1 ) .
A
c
= área de concreto da seção do pilar
f
cd
= resistência de cálculo do concreto
A
s
= área de aço na seção do pilar
f'
yd
= tensão de cálculo no escoamento admitida para as armaduras
Mas, conforme comentado, a condição de compressão centrada raramente irá ocorrer. Na
grande maioria dos casos existirão excentricidades conforme já mencionado. Dessa forma,
deve-se levar em conta, juntamente com as solicitações axiais, os efeitos causados pelos
momentos que estarão presentes, independentemente da locação do pilar em planta. Nas
garagens, surge ainda um agravante representado pelos momentos causados pelas forças do
vento, que dependendo da altura do edifício, introduzirão esforços significativos caso não
se tenha uma subestrutura de contraventamento satisfatória. Assim, a capacidade resistente
de uma seção de pilar, dada pela expressão (4.27), deverá ser suficiente para combater as
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
74
cargas verticais, permanentes e variáveis, e os efeitos dos momentos que eventualmente
solicitam as seções.
O efeito de momentos causados por cargas excêntricas nas seções transversais de peças
comprimidas pode ser considerado de diversas formas, inclusive com a adoção de métodos
simplificados, com a redução da flexão oblíqua em duas flexões normais composta
(Araújo, 2003b).
No entanto, devido às peculiaridades deste trabalho, medir o nível de segurança em que se
operam os serviços de recuperação estrutural de pilares e, julgando apta a utilização de
programas de cálculo como uma etapa básica para se atingir tal objetivo, será proposto,
posteriormente, a utilização da expressão (4.25), convertendo as solicitações atuantes em
uma única solicitação normal equivalente.
Estando o comportamento estrutural dos pilares diretamente governado pelas propriedades
mecânicas do concreto (LIMA JÚNIOR, 2003 apud MACHADO et al, 2004), a utilização
de concreto com maiores resistências em pilares, compromete sua ductilidade e sua ruptura
fica caracterizada por pequenas deformações. Parece que o aumento das taxas de armadura
longitudinal neste caso, só promove efetiva melhora na ductilidade do conjunto, caso seja
garantida a segurança contra a flambagem das barras verticais.
Estudos realizados por Machado et al (2004) com pilares pouco esbeltos, dimensionados
segundo a NBR 6118 (ABNT, 2003) e submetidos à compressão centrada mostraram que,
quando a taxa de armadura longitudinal dos pilares é elevada, o índice de ductilidade do
concreto diminui. Esse fato ocorre, uma vez que a armadura transversal calculada segundo
a NBR 6118 (ABNT, 2003) não impede a flambagem das barras longitudinais no trecho
pós-pico do diagrama força por deformação. A transferência da força das armaduras para o
concreto, no momento da flambagem, ocorre de modo brusco e explica a falta de
ductilidade de pilares com altas taxas de armadura longitudinal.
Segundo Jost (1978) apud Vanderlei (1996):
[...] quando se submete um pilar a uma carga de compressão centrada, em
uma máquina de ensaio, observa-se perfeitamente, se bem que nem
sempre, o aparecimento de algumas fissuras longitudinais, relativamente
Capítulo 4 Generalidades sobre pilares usuais de edifícios
75
finas, de alguns centímetros a alguns decímetros de comprimento, que
anunciam a ruptura do concreto em uma zona de altura limitada, que se
encurta e provoca a flambagem da armadura longitudinal, o que ocorre no
intervalo entre os dois estribos da armadura transversal. A ruptura do
concreto apresenta a mesma aparência da de um corpo-de-prova
prismático não armado, rompido entre os pratos de uma máquina de
ensaio. Há liberação brusca da energia potencial elástica armazenada na
máquina. Por outro lado, um concreto de boa qualidade é quase frágil e
rompe bruscamente. Como os sinais que avisam a proximidade da ruptura
(fissuras longitudinais) não são percebidos muitas vezes, considera-se que
este tipo de ruptura não dá aviso.
Machado et al (2004) demonstraram que o ângulo (α) de inclinação do plano de
cisalhamento, para pilares pouco esbeltos em compressão centrada, varia de 35º a 66º
(Figura 4.7).
Figura 4.7 – Aspecto do rompimento de pilar pouco esbelto, submetido a
compressão centrada.
Fonte: Machado et al (2004)
Quando a esbeltez atinge valores elevados, pequenas excentricidades causam, com
aumento da força, deformações por flexão e, assim, tensões de compressão desiguais até
que o concreto no lado mais solicitado atinge a zona de deformação plástica e rompe
(LEONHARDT; MONNIG, 1977). Aqui a ruptura poderá ocorrer pela deformação plástica
excessiva da armadura (no domínio 2), ou por encurtamento limite do concreto (domínios
3, 4 e 4a) a depender da posição da linha neutra.
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
76
CAPÍTULO 5
METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO
ESTRUTURAL
5.1 INTRODUÇÃO
Este capítulo desenvolve a metodologia para a avaliação de edifícios existentes a partir de
ajustamentos do código de projeto, considerando os dois conceitos básicos da filosofia
semi-probabilística de segurança nas estruturas: a) o formato dos estados limites e b)
aplicação dos fatores parciais de segurança.
Serão feitas aqui as considerações necessárias à obtenção de esforços e resistências nas
seções dos pilares estudados, segundo valores atualizados valendo-se, neste caso, de
inspeções e ensaios feitos
in loco, como forma de redução de incertezas relativas à
estrutura avaliada. A metodologia permite ainda, maior flexibilidade para adoção dos
coeficientes de ponderação a serem utilizados, pois se tem maior conhecimento sobre as
variáveis estocásticas influentes na segurança.
Os esforços de avaliação, provenientes dos parâmetros aleatórios atualizados do edifício,
serão gerados por um programa de cálculo no qual será realizada a modelagem precisa da
estrutura investigada.
Ao fim deste procedimento, ter-se-á a resistência mais próxima a um valor real nas seções
de cada pilar em vias de reparo, bem como os esforços mais prováveis que estarão
ocorrendo no curto período de reabilitação desses elementos estruturais. Tal período, em
geral, é da ordem de um a três meses, a depender da planta do edifício.
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
77
É preciso destacar, no entanto, que o escopo desta pesquisa restringe-se somente à
estimativa da segurança em que serão realizados os serviços de recuperação estrutural de
pilares, pela substituição de concreto deteriorado por um material de reparo (de acordo
com o item 2.4.1.1 ). Para dimensionamento de reforços estruturais, bem como no estudo
da segurança de estruturas pós-reparo, apesar de manterem relação com as diretrizes aqui
definidas, considerações relativas à vida residual e suas implicações sobre algumas
variáveis aleatórias, deverão ser levadas em conta (LARANJA; BRITO, 2003). Nessas
situações devem ser feitas pesquisas sobre as cargas e propriedades dos materiais para
períodos de tempos maiores, ainda que, em muitos dos casos, inferiores à vida útil de
projeto (ELLINGWOOD, 1996).
Na avaliação estrutural são encontradas, em geral, três situações em termos de
documentação existente:
a) Edifícios com registros completos em termos de projetos, memórias de cálculo,
resultados de controle tecnológico de concreto e aço, etc;
b) Somente o projeto de cálculo estrutural;
c) Situação intermediária com documentação parcialmente completa.
Existe ainda o caso extremo onde não se dispõem de nenhum documento, inclusive
projetos estruturais. Todavia, tal situação encontra-se fora do escopo deste trabalho, pois,
neste caso, o especialista envolvido deverá traçar um procedimento específico, com a
realização de uma inspeção bastante minuciosa para suprir a ausência completa de dados
relativos à estrutura.
5.2 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA
O objetivo central do presente trabalho é a determinação dos níveis efetivos de segurança
apresentados pelas seções de pilares de estruturas de concreto existentes, nos casos em que
se faz necessária uma intervenção em regiões afetadas por patologias, principalmente a
corrosão de armaduras, mediante substituição parcial do concreto deteriorado. A pesquisa
restringe-se a análise no período de execução dos serviços, que se reveste de uma
importância não só pelo aspecto econômico envolvido em uma possível falha estrutural,
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
78
mas, sobretudo, porque edifícios avaliados permanecerão em condições normais de
ocupação e serviço, salvo limitações de alguns eventos que poderiam desencadear
ocorrência de cargas transientes de caráter extremo.
A partir dos dados obtidos pode-se saber, por exemplo, a percentagem de concreto que
poderá ser extraída, em relação à seção bruta do pilar, na execução dos serviços diversos
do processo ou, em um caso desfavorável, dimensionar escoramentos para a manutenção
de uma probabilidade de falha a ser definida na avaliação.
As diretrizes de projeto definidas pela NBR 6118 (ABNT, 2003) não se aplicam
diretamente neste caso, por se tratar de uma abordagem típica de avaliação de estruturas.
Val e Stewart (2002) apontam que, em projeto, as incertezas surgem do estabelecimento
prévio de parâmetros de carga e resistência para uma estrutura “genérica” que ainda não se
construiu. Tais incertezas representam a variabilidade encontrada em uma vasta população
de estruturas e que decorrem, principalmente, da qualidade dos materiais, métodos
executivos, mão de obra utilizada, natureza das cargas atuantes no tempo, etc. Tem-se,
então, que as regras de projeto devem ser conservadoras para contemplar situações
variadas.
Na avaliação, é tratada uma estrutura individual existente sendo que esta poderá ser
inspecionada e testada, o que reduz, significativamente, as incertezas que foram
consideradas em projeto (COST 345, 2004; MELCHERS, 2001). Ainda que a inspeção e
os testes introduzam erros e dúvidas com relação aos valores medidos, pelo simples fato de
a estrutura apresentar uma qualidade relativa, tanto nos materiais quanto na execução,
poderá ser esperada uma redução em sua variabilidade se comparada à estrutura
“genérica”, o que deve ser levado em conta na estimativa de sua segurança dentro de um
determinado período.
Além disso, em virtude da recuperação estrutural demandar um período de tempo muito
reduzido em relação à vida útil da edificação residencial (de um a três meses e 50 anos
respectivamente), é possível dizer que os valores prováveis de ocorrência para as cargas
variáveis também experimentarão redução significativa a partir daqueles propostos nos
códigos de projeto. Este fato, por sua vez, será considerado nesta análise de segurança.
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
79
O Brasil não possui normas que estipulem procedimentos para a determinação da
segurança estrutural, tanto no momento da recuperação, quanto posteriormente no uso
futuro das estruturas recuperadas. A questão do reparo estrutural geralmente é tratada de
forma empírica, por meio de critérios desenvolvidos pela experiência acumulada em
empresas especializadas nesta atividade. A carência de um referencial teórico baseado em
princípios probabilísticos, como aqueles adotados pelos códigos de projetos em todo
mundo, é marcante em uma época em que cada vez mais cresce o número de estruturas a se
reabilitar. Tanner (1995) destaca que vários dos engenheiros das novas gerações terão
como ocupação, durante suas vidas profissionais, a avaliação de estruturas existentes.
Além do desenvolvimento de regras e critérios que norteiem a avaliação de edifícios
existentes, faz-se necessário o desenvolvimento de modelos mais precisos para as cargas
atuantes, coeficientes de ponderação coerentes com o estado atual da estrutura, meios
eficazes para incorporação de resultados obtidos das inspeções/testes aos disponíveis, além
do estabelecimento de valores aceitáveis da probabilidade de falha para os trabalhos de
calibração de códigos específicos à avaliação (MELCHERS, 2001). As considerações
feitas na metodologia desta pesquisa procuram suprir informações para a solução dessas
importantes questões levantadas.
5.3 ALGUMAS REGRAS PARA A AVALIAÇÃO ESTRUTURAL
As avaliações estruturais, conforme Ellingwood (1996), são conduzidas em várias
circunstâncias, entre elas: mudança de ocupação de edifícios; preocupações com materiais
ou métodos construtivos defeituosos; descoberta de erros entre o projetado/construído após
a ocupação do edifício; deterioração estrutural advinda do uso normal ou das condições
ambientais; danos estruturais após eventos extremos; reclamações de inquilinos em relação
às condições de utilização. Uma das características que difere a avaliação da segurança de
edifícios já construídos daquela estabelecida em projeto é a possibilidade de redução de
incertezas em relação à variabilidade inerente dos parâmetros envolvidos nos mecanismos
de solicitação/resistência (ACHE, 2003).
A permanência em uso de edifícios existentes por um maior período de vida útil possível,
está amparada em pressões econômicas, ambientais e mesmo de preservação do valor de
patrimônio (ALLEN, 1991; ELLINGWOOD, 1996). Dessa forma, os critérios para a
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
80
avaliação devem ser menos conservadores que aqueles postos em projeto, sob pena de
dispendiosas intervenções para a extensão das condições de utilização segura destas
edificações (LARANJA; BRITO, 2003).
Embora existam trabalhos com vistas à tentativa de estabelecer critérios de aceitação para
estruturas de edifícios já construídos, que em sua maioria operam com ajustamento das
diretrizes dos códigos de projetos (ALLEN, 1991; VAL; STEWART, 2002), observa-se
um maior avanço na pesquisa e aplicação para as estruturas de pontes e outras estruturas
rodoviárias (ACHE, 2003; ALLEN, 1993; COST 345, 2004).
Melchers (2001) apresenta um padrão típico utilizado para o processo de avaliação,
correntemente utilizado:
Inspeção em campo;
Reunião de dados e informações;
Aplicação de esquemas formais de avaliação;
Apresentação de resultados;
Decisão.
Atualmente, esquemas formais de avaliação baseiam-se em critérios disponíveis para
projeto, segundo níveis variados de precisão a serem obtidos. Estes englobam, desde uma
análise mais simplificada e conservadora, até métodos que utilizam técnicas totalmente
probabilísticas que conduzem a resultados bastante refinados na estimativa da segurança
(COST 345, 2004). Melchers (2001) aponta a necessidade de relacionar os resultados
obtidos por estes últimos aos conceitos de risco pessoal, tal como é feito hoje em dia na
indústria e outras atividades afins.
No tocante à segurança, para avaliar os resultados de uma inspeção e julgar se a estrutura é
ou não segura, níveis de confiabilidade devem ser estabelecidos, tal qual foi realizado para
as situações de projeto (ACHE, 2003). Na avaliação, existe uma carência de dados a longo
prazo de estruturas submetidas ao processo, principalmente no caso de reparo ou reforços,
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
81
o que constitui mais uma dificuldade ao estabelecimento do formalismo para um código
normativo. Objetivando uma melhor abordagem da situação atual de edifícios construídos,
faz-se necessária ainda uma busca pela redução do conservadorismo no tratamento de
parâmetros específicos de avaliação. Este fato deverá ser atenuado com o estudo,
desenvolvimento e a fixação de probabilidades de falhas que mantenham coerência com as
condições reais de existência de cada estrutura individualmente avaliada, segundo
resultados gerais encontradas na inspeção (MELCHERS, 2001).
Afora o problema do estabelecimento de uma probabilidade de falha aceitável para a
estrutura existente, em trabalhos de calibração de códigos, é possível aplicá-la ao
tratamento de estruturas investigadas segundo diferentes caminhos (COST 345, 2004):
Nível A – Formato do fator global de segurança e das tensões admissíveis.
Constitui critério conservador, pois, a redução de incertezas não pode ser efetuada.
Nível B – Formato semiprobabilista com fatores parciais de segurança e utilização
do critério dos estados limites. Os fatores parciais são especificados segundo o
atual conhecimento dos parâmetros introdutórios de incertezas. Nível B segue os
princípios dos modernos códigos de projeto.
Nível C – Formato totalmente probabilístico, baseado no índice de confiabilidade e
probabilidade de falha. Apresentam ainda conceitos de estados limites, mas exigem
utilização de métodos numéricos para resolução das complexas formulações
pertinentes. Tal formato é exigido em análises mais complexas onde o nível B é
ainda conservador.
Nível D – Formato que leva em conta considerações de ordem econômica. São
basicamente oriundos dos fatores parciais de segurança (nível B) ou da
probabilidade de falha (nível C), modificados por critérios econômicos.
O foco desta pesquisa equivale aos atuais esforços para estimativa da segurança e da vida
útil de estruturas existentes, submetidas à avaliação. A diferença está, basicamente, no
período de tempo envolvido nesta estimativa. Para os propósitos desta, trabalha-se com um
intervalo de tempo referente aos trabalhos de recuperação de pilares da garagem de
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
82
edifícios submetidos ao reparo, conforme já salientado. Tal intervalo compreende poucos
meses e isto tem impacto, sobretudo, na ocorrência das cargas com significativa variação
temporal (ACHE, 2003).
Portanto, neste estudo, adotar-se-á um formato de estimativa da segurança em consonância
com o nível B, anteriormente citado, fazendo-se a utilização dos critérios de estados limites
e fatores parciais de segurança. Será buscada a atualização dos parâmetros variáveis de
resistência e solicitação no momento da análise, estendendo-se o período de observação
para aquele referente ao reparo estrutural.
Aqui, as cargas com variação temporal serão ajustadas para que os valores nominais
representem aqueles de mais provável ocorrência neste período. Para as resistências, os
ensaios realizados, bem como os dados diversos disponíveis da execução, proverão meios à
redução das incertezas relativas, incluindo atualização dos valores efetivos, sobretudo para
o caso do concreto, a julgar por sua variabilidade no tempo. Por fim, os coeficientes
parciais, base das considerações no nível B, poderão ser ajustados para as necessidades
menos conservadoras da análise de segurança, objeto deste trabalho.
5.4 METODOLOGIA PROPOSTA
Estudos já realizados neste seguimento da engenharia civil apontam para a utilização de
regras e formatos próximos aos adotados pelas normativas atuais de projetos, em vigor na
maioria dos países, tendo por diretrizes básicas: a) manutenção de estados limites e b)
aplicação de fatores parciais de segurança (MELCHERS, 2001; VAL; STEWART, 2002).
Allen (1991) propõe que um critério de avaliação deve ser conduzido segundo situações
mais específicas que o critério de projeto e que o profissional deve considerar
conseqüências de uma falha em determinadas situações em estruturas consideradas críticas.
A avaliação deve incorporar, ainda, toda a informação obtida nas inspeções, incluindo o
desempenho passado da estrutura.
O modelo dos fatores parciais, feitas as considerações peculiares ao tratamento de
estruturas existentes, será a base da análise de segurança aqui proposta. O princípio básico
da metodologia adotada neste trabalho é o ajustamento dos critérios contidos nos padrões
de projeto.
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
83
De um modo geral, para estimativa da segurança, buscou-se confrontar os esforços
(momentos e cargas de compressão) mais prováveis de ocorrência nos pilares do primeiro
nível a partir do solo, normalmente de garagem de edifícios residenciais e as resistências
efetivas de suas seções transversais no momento da intervenção, através de uma equação
de estado limite último (LARANJA; BRITO, 2003).
Para a obtenção dos esforços de avaliação, será utilizada a modelagem estrutural ajustada
por meio do programa de cálculo. A determinação do comportamento de sistemas
estruturais existentes é uma das questões que requer maior empenho de engenheiros e
pesquisadores da área, uma vez que os modelos disponíveis são idealizações próprias para
projeto (MELCHERS, 2001). No entanto, os recursos existentes nos modernos programas
disponíveis no mercado (análise espacial da estrutura, aplicação de efeitos de imperfeições
locais, globais e força do vento, considerações de efeitos de segunda ordem global, etc.),
são capazes de prover uma análise mais sofisticada que aquela despendida na concepção,
principalmente quando se tratar de edifícios com mais de 20 anos. Em pilares de garagem,
os esforços de avaliação obtidos pelo programa, independentes de sua locação em planta,
serão representados por momentos em torno dos dois eixos principais de inércia (X e Y) e
uma carga de compressão.
Inicialmente, por meio de programas realiza-se a modelagem do edifício existente levando
em consideração todos os aspectos definidos em projetos, descrevendo de forma o mais fiel
possível, o comportamento da estrutura em meio computacional. É conveniente que após a
execução do programa nesta fase, os esforços obtidos nas fundações sejam próximos
àqueles de projeto, pois foram com estes esforços que a estrutura foi dimensionada e
executada. Para tal, deve-se realizar ajustes nas vinculações das vigas e lajes visando a
aproximação com os valores fornecidos pelo calculista.
Posteriormente, para uso específico na avaliação, a alimentação do modelo de cálculo será
feita com a realização de diversas considerações sobre os parâmetros de entrada que, não
mais possuindo o caráter genérico de toda uma vasta gama de estruturas, comportam
ponderações específicas a cada caso analisado, em função do nível de detalhamento e
confiança nos dados obtidos das inspeções (LARANJA; BRITO, 2000). Assim, no
tratamento das incertezas relativas às cargas atuantes, a metodologia aqui proposta prevê
atualizações das distribuições acumuladas, permitindo o ajustamento das cargas com a
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
84
busca por valores compatíveis a períodos reduzidos e a utilização de cargas permanentes
medidas diretamente nas estruturas (VAL; STEWART, 2002).
Os fatores parciais de segurança a serem aplicados para a geração de esforços e as
resistências de avaliação nas seções serão ajustados a partir da redução das incertezas
destes parâmetros e da definição de um índice de confiabilidade para a estrutura existente.
Isto será feito tendo-se por base as formulações e simplificações freqüentemente utilizadas
pelos códigos normativos para a determinação dos coeficientes de ponderação de projeto.
Posteriormente, os parâmetros de avaliação relativos às cargas e seus coeficientes de
ponderação, definidos em função do curto período analisado para a recuperação estrutural,
serão fornecidos ao programa que gerará os esforços agora coerentes com as condições
atuais da estrutura, servindo de base para a quantificação da segurança. Comparando-se os
esforços solicitantes assim gerados e os esforços resistentes disponibilizados pela estrutura
no momento da avaliação, pode-se traçar um meio conveniente a se realizar a intervenção.
Dentro de um formato para avaliação baseado no critério de estado limite último e no fator
global de quantificação da segurança, é desejável que se trabalhe com um único coeficiente
que represente o estado da estrutura no momento da intervenção.
Uma forma de se relacionar os esforços atuantes e a resistência da seção no momento da
intervenção, é a própria equação de estado limite último que deverá, por esta ocasião,
relacionar as solicitações e as resistências das seções, visto na expressão (5.1).
1
,
,
avald
aval
d
S
R
(5.1)
onde:
R
d
,
aval
= esforços resistentes de cálculo na seção de pilar avaliado
S
d
,
aval
= esforços solicitantes de cálculo na seção avaliada
Dentro dessas considerações, o coeficiente de segurança global na avaliação seria dado
por:
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
85
avalk
avalk
aval
S
R
,
,
γ
(5.2)
onde:
γ
aval
= coeficiente global de segurança de pilares na avaliação
R
k
,
aval
= esforços resistentes característicos na seção de pilar avaliado
S
k,aval
= esforços solicitantes característicos na seção avaliada
No entanto, os momentos atuantes deverão ser levados em consideração, pois seus efeitos
poderão causar colapso em seções de reparo. Os momentos fletores e as cargas axiais de
compressão atuam em conjunto e podem atingir seus valores máximos simultaneamente.
Para se obter um coeficiente global de segurança que envolva somente esforços normais de
compressão, será necessário transformar as solicitações de avaliação em uma compressão
centrada.
O procedimento para a transformação de uma flexão obliqua composta em uma
compressão centrada será realizado com o auxílio do programa de cálculo empregado.
Tendo-se os esforços de avaliação procede-se ao dimensionamento fictício das armaduras
dos pilares, mantendo-se as seções de concreto, empregando-se, para tal, os parâmetros de
solicitação e resistência dos materiais com o uso dos coeficientes de ponderação reduzidos.
Geralmente todos os pilares dos edifícios são armados simetricamente, em função das
características dos esforços atuantes, principalmente gerados pelo vento. Assim sendo,
considera-se que a flexão obliqua composta gere uma solicitação na seção igual a uma
solicitação normal equivalente obtida pela soma da resistência da seção de concreto e das
armaduras simétricas obtidas no dimensionamento fictício.
Uma vez que a resistência efetiva dos materiais dos pilares foi determinada através dos
procedimentos de inspeção e ensaios realizados, a capacidade resistente da seção ao
esforço normal pode ser determinada através da equação (4.27). Assim utilizando a
equação de estado limite (5.1), uma comparação direta entre a solicitação normal
equivalente e a real capacidade de carga da seção, ambos ponderados pelos coeficientes de
avaliação, poderá ser realizada, o que norteará os trabalhos de recuperação estrutural. Caso
o resultado da divisão exceda a unidade, a seção estará apta a receber a intervenção,
respeitando, contudo, o limite estabelecido pela equação. Caso contrário, dever-se-á prover
os escoramentos necessários, o que não será aqui abordado.
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
86
Em resumo, busca-se com o empregado do programa de cálculo utilizado, a substituição de
dois binários de forças e momentos solicitantes (F
x
e M
x
; F
y
e M
y
) por uma única
solicitação que, sendo igual à resistência das seções dimensionadas, representa a
solicitação normal efetivamente atuante na recuperação. Um esquema da proposta é
apresentado no diagrama da Figura 5.1:
Figura 5.1 – Metodologia para intervenção de reparo em seções.
Em virtude da existência no mercado de vários programas de cálculo, sendo que alguns
podem restringir a alteração dos coeficientes definidos pelas normas, impedindo assim a
possibilidade do uso direto dos coeficientes de avaliação, pode ser necessário determinar
Dados da Ins
p
e
ç
ão
Resistência seccional durante a
intervenção – R
I
Cargas Resistência
Coeficientes
Modelagem da
estrutura
Alterar tipo de
intervenção
γ > γaval
Define tipo de intervenção
Solicitação normal
equivalente - S
aval
Parâmetros de Pro
j
eto
γ
aval
Modelo da estrutura
γ
=
R
I
/ S
aval
γ = γaval
Intervenção c/
escoramento
γ < γaval
Esforços de avaliação
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
87
os valores empregados na avaliação da solicitação e da resistência com os coeficientes já
embutidos, ou seja, valores de cálculo de avaliação. Nestes casos, o valor de gama (
γ)
obtido já estará sendo contemplado com os coeficientes de avaliação, portanto, o gama
(
γ
aval
) de avaliação terá valor 1.
Na seqüência serão feitas todas as considerações relativas à atualização dos parâmetros
necessários à aplicação da metodologia proposta. Isto inclui o estudo das cargas reais
atuantes no período de recuperação, das resistências efetivas dos materiais nas seções
transversais, definição de coeficientes de ponderação, utilização do programa para a
obtenção de esforços na avaliação e aplicação da equação de estado limite último para
detecção das situações críticas em pilares. No próximo capítulo, a metodologia proposta
será praticada em dois edifícios pilotos, o que exigirá a aplicação de cada um dos itens
propostos a seguir.
5.4.1 Modelagem do comportamento estrutural
Comportamento estrutural de sistemas ou mesmo de componentes de concreto armado
existentes é um campo de estudo ainda carente de maior conhecimento, para o refinamento
dos resultados obtidos na avaliação (MELCHERS, 2001). Modelos de análise atualmente
disponíveis para projeto, implementados com o uso de programas de cálculo e outros
recursos computacionais, têm-se mostrado satisfatórios na concepção de estruturas novas,
mas que, para a proposta de avaliação, um tratamento mais sensível é indispensável.
Estruturas com mais de 20 anos de idade foram, no geral, idealizadas sem o uso destas
ferramentas eletrônicas, o que implica a adoção de esquemas estruturais ainda mais
simplificados. Na avaliação estrutural, a modelagem de edifícios antigos em programas
especializados poderá fornecer resultados mais elaborados dos esforços atuantes, ainda que
se devam realizar estudos específicos do comportamento das estruturas que sofreram a
ação do tempo.
Como aspecto fundamental para a aplicação da metodologia aqui proposta, faz-se
imperativa a modelagem da estrutura investigada em um programa de cálculo que disponha
de recursos necessários ao grau de precisão desejada para a análise. O modelo deve,
inicialmente, refletir de forma mais fiel o arranjo estrutural do edifício investigado. Para
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
88
isto, deve-se valer do maior número de dados possíveis, como projetos, memoriais,
detalhes, croquis, assim como as informações atualizadas da obra, via inspeção (VAL;
STEWART, 2002). Ao executar o programa pela primeira vez, utilizando os dados de
projeto, deve-se obter para os esforços nos pilares do térreo, valores próximos àqueles com
os quais estes elementos foram dimensionados (esforços de cálculo).
Os esforços para períodos reduzidos (recuperação) serão obtidos a partir do modelo
computacional construído, aplicando-se os parâmetros de entrada específicos e atualizados
com a realidade observada e medida para o edifício avaliado. O programa comercial a ser
utilizado na aplicação da metodologia deste trabalho (Capítulo 6), realiza considerações de
efeitos que seriam de difícil implementação na época de projeto, principalmente caso as
estruturas estudadas tenham idades superiores há 20 anos. Efeitos como forças de vento,
desaprumo, não linearidade geométricas e estabilidade global com aplicação do parâmetro
normativo
γ
z
, serão utilizados para melhor estimativa dos esforços de avaliação.
5.4.2 Quantificação das cargas de avaliação
A determinação de cargas para a avaliação de uma estrutura existente é tarefa um pouco
mais simples que para o projeto de novas estruturas (COST 345, 2004), em virtude da
possibilidade de atualização de parâmetros e outras informações que interferem nestas
variáveis. O estudo para a modelagem de sobrecargas diversas é, conforme Melchers
(2001), um dos passos mais importantes nos trabalhos de avaliação e necessita ainda ser
intensificado, principalmente para obtenção de um banco de dados específico para as
condições de exposição em que estão submetidas as estruturas no Brasil.
Na seqüência será definido um procedimento geral para obtenção de cargas de avaliação
dos pilares para o intervalo de recuperação estrutural, conforme já informado.
5.4.2.1 Cargas permanentes
Cargas permanentes são aquelas que apresentam pequena variabilidade em torno de uma
média ao longo do tempo (NBR 8681:2003). São representadas basicamente pelos pesos
próprios de elementos estruturais (lajes, vigas, pilares, etc), elementos construtivos não
estruturais (alvenarias, revestimentos, etc) e equipamentos fixos. Melchers (1987) cita que,
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
89
na análise de segurança em nível superior, é usual assumir que esse tipo de carga tenha
distribuição normal, com média igual ao valor nominal e coeficiente de variação entre 5%
e 10%. Ellingwood et al (1980) afirmam que, em geral, a média considerada igual ao valor
nominal apresenta-se subestimada. Tais pesquisadores apontam a necessidade de
acréscimo em 5% no valor nominal para refletir de forma mais realística um verdadeiro
valor médio deste tipo de variável. Val e Stewart (2002) afirmam que os valores das cargas
permanentes, medidos diretamente no edifício, podem ser considerados como tendo um
caráter determinístico.
Por ocasião da avaliação estrutural, as cargas permanentes atuantes podem ser levantadas
com considerável grau de precisão por meio da caracterização geométrica de dimensões
nas seções transversais, espessuras de revestimentos em geral, espessuras de sistemas de
vedação dos compartimentos, etc. Estas variações geométricas, originárias das diferentes
fases de execução, dependem da técnica construtiva, equipamentos e qualidade da mão-de-
obra disponível (DA SILVA, 2002), devendo, no projeto, serem resguardadas pela
majoração de seus valores característicos.
É possível ainda, por meio de técnicas que empreguem princípios químicos ou físicos,
determinarem o peso específico real do concreto e outros materiais responsáveis pela
produção das cargas permanentes. Este procedimento, em conjunto com as dimensões
obtidas nos trabalhos de caracterização geométrica de seções, reduz as incertezas no
tratamento desse tipo de carga em estruturas construídas (CABRÉ, 1994).
Propõe-se neste trabalho que as dimensões dos elementos permanentes de cada edifício em
consideração, serão obtidas por medição no local e comparadas com o disposto no projeto
estrutural, segundo as tolerâncias permitidas pela norma NBR 14931 (ABNT, 2004). Os
dados relativos às dimensões das seções transversais levantados serão processados
estatisticamente e ajustados segundo a distribuição normal. Como valor nominal para
larguras, alturas e comprimentos dos diversos elementos serão adotados aqueles
correspondentes ao quantil de 95%.
Nos exemplos de aplicação desta metodologia, não serão realizados ensaios para a
determinação de pesos específicos dos materiais envolvidos e, assim, tais características
serão adotadas conforme prescreve a NBR 6120 (ABNT, 1980).
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
90
5.4.2.2 Cargas de utilização (cargas acidentais)
As sobrecargas de utilização apresentadas em códigos de projetos incorporam algumas
pressuposições básicas para sua definição. Estas hipóteses relacionam-se a (MELCHERS,
1987):
A variabilidade das sobrecargas é independente no tempo e no espaço;
Sobrecargas discretizadas são definidas por uma sobrecarga equivalente
uniformemente distribuída (
equivalent uniformly distributed load - EUDL),
definindo assim seu efeito no pavimento;
A variabilidade temporal é representada por meio de duas componentes: i) uma
quase-permanente, representada pelo peso dos móveis e pessoas nas diversas
mudanças de ocupação nos edifícios; ii) uma parcela intermitente de sobrecargas
extraordinárias atuantes em curtos períodos.
A atuação das duas componentes encontra-se representada nos diagramas da Figura 5.2
(ELLINGWOOD et al, 1980):
Componente quase-permanente
Componente intermitente
Figura 5.2 – Variação temporal da sobrecarga.
Fonte: Ellingwood et al (1980)
Cargas acidentais de projeto, preconizadas pela NBR 6120 (ABNT, 1980), possuem
período de retorno entre 140 e 200 anos, com baixa probabilidade de ocorrência durante a
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
91
vida útil da estrutura (entre 25% e 35%). A concepção de valores nominais para estas
cargas baseia-se em distribuição de extremo Tipo I e pode resultar da soma das duas
componentes da variabilidade temporal segundo a regra de Turkstra (COROTIS et al,
1981):
Valor máximo quase-permanente na vida útil, somado ao valor máximo
intermitente em uma ocupação;
Valor máximo intermitente na vida útil, somado ao valor quase-permanente em
uma ocupação;
Soma dos valores máximos, na vida útil, de ambas as componentes.
O intervalo de tempo necessário à reabilitação de pilares de edifícios residenciais atacados
por corrosão inicial das armaduras é, geralmente, da ordem de um a dois meses, a depender
do número de peças afetadas existentes na edificação. Isto reduz consideravelmente o
potencial de variação das sobrecargas reduzindo, conseqüentemente, a possibilidade de
ocorrência de cargas extremas (ELLINGWOOD, 1996). Dessa forma, cargas de uso na
avaliação em curtos períodos de referência, ficam restritas basicamente ao peso de móveis
e pessoas sobre as lajes de edifícios (DA SILVA, 1998). Além do que, como parte
integrante da metodologia proposta neste trabalho, são feitas as seguintes ponderações para
que o uso continuado dos edifícios, durante a recuperação, possa ocorrer de forma segura:
Restrição de eventos que possam originar cargas transientes com valores extremos;
Paralisação de qualquer outro tipo de atividade construtiva ou de reformas nas lajes
de edifícios durante a intervenção estrutural.
Na carência de estudos nacionais que forneçam dados das cargas de utilização em
apartamentos, para efeito desta pesquisa, serão adotados aqueles recopilados por Corotis e
Doshi (1977) e de diversos pesquisadores europeus. Da estatística Kolmogorov-Smirnov
eles obtiveram como função de densidade de probabilidade de melhor ajuste do
comportamento das sobrecargas instantâneas na região da curva de distribuição para
valores acumulados superiores a 90%, a distribuição gama. Na Tabela 5.1 são apresentadas
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
92
as informações utilizadas por Corotis e Doshi (1977) nos estudos das distribuições de
freqüências para carregamentos variáveis instantâneos em edifícios.
Tabela 5.1 – Levantamento de cargas de utilização em edifícios.
Estatística Kolmogorov-
Smirnov
Número
de
comparti
mentos
Tipos de
edifícios
Média
kN/m
2
Desvio-
padrão
kN/m
2
Carga
90%
kN/m
2
Carga
99%
kN/m
2
Carga
99,9%
kN/m
2
Nor. LN G.
830 Edifícios
domésticos
0,544 0,193 0,673 1,009 Dados
Insufic.
0,253 0,222 0,213
580 Escritórios 0,602 0,331 0,795 1,964 Dados
Insufic.
0,306 0,205 0,233
40 Laboratórios
hospitalares
0,579 0,26 0,761 1,271 Dados
Insufic.
0,298 0,213 0,239
168 Clinicas de
saúde
0,418 0,222 0,559 1,197 Dados
Insufic.
0,387 0,305 0,322
Observações:
Nor – Carga acumulada prevista pela distribuição Normal;
LN – Carga acumulada prevista pela distribuição Log-Normal;
G – Carga acumulada prevista pela distribuição Gama.
Fonte: Adaptado de Corotis e Doshi (1977)
Em Hahn e Shapiro (1967) encontra-se a formulação da função densidade de probabilidade
(
fdp) gama, conforme equação (5.3):
[]
=
>>
=
valoresoutrosparao
ηωxex
η
ω
ωηxf
xωη
η
0,0,0;
)(Γ
),;(
1
(5.3)
onde:
Г(η) = função gama
η e ω são parâmetros da distribuição gama
Para valores inteiros de η, a função gama recai em uma expressão fatorial da seguinte
forma (MEYER, 1981):
(
)
)!1(
=
Γ
η
η
(5.4)
Dos dados de edifícios residenciais presentes na Tabela 5.1 e, empregando-se as
expressões para ω e η apresentada por Hahn e Shapiro (1967), pode ser obtida a função de
distribuição acumulada para sobrecargas instantâneas
:
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
93
=
X
X
L
dXeXωηxF
0
1518
8
)!18(
15
),;(
(5.5)
O valor esperado para as sobrecargas durante a intervenção estrutural, é aquele
correspondente ao acumulado de 95%, segundo a mesma definição de valor característico
de projeto, porém integrando-se a função de distribuição instantânea dada pela equação
(5.5). Neste caso, é encontrado o valor de:
X = F
G,aval
= 0,875 kN/m
2
Este valor é próximo ao 0,79 kN/m
2
encontrado por Páez (1981) para as sobrecargas em
período de 10 anos. Apesar das instruções normativas de projeto preverem sobrecargas
diferenciadas para cozinhas e áreas de serviços residenciais, estes cômodos, de um modo
geral, apresentam pequenas áreas em plantas. Desta forma, as sobrecargas neles geradas
promovem pequena contribuição à carga total nos pilares. Conclui-se que o modelo de
sobrecarga única representa, de forma satisfatória, aquela instantânea para avaliação
conforme a necessidade desta pesquisa.
Avaliações em que algum intervalo de tempo maior da vida útil da estrutura seja requerido,
será preciso considerar essa influência sobre a ocorrência das cargas variáveis. Isto porque,
uma vez envolvido maior período de retorno, geram-se implicações nos valores nominais
das cargas que, neste caso, serão maiores que 0,875 kN/m
2
, para o mesmo quantil de 95%.
5.4.2.3 Forças devido à ação do vento
As forças atuantes nas edificações devido à ação do vento, por serem também de natureza
estocástica, devem ter valores que obedeçam à função de densidade de probabilidade. A
NBR 6118 (ABNT, 2003) torna obrigatória a consideração da ação dessas forças de origem
ambiental em projeto o que, pela versão anterior da referida norma, nem sempre era
necessário. Todavia, as velocidades básicas do vento estabelecidas pela NBR 6123
(ABNT, 1988), contemplam valores estatisticamente trabalhados para uma probabilidade
de ocorrência de 63% em 50 anos. Neste caso, o fator estatístico (S
3
) reduz ou aumenta
esta probabilidade, segundo o grau de importância relativa da edificação.
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
94
Para obtenção da mesma velocidade, porém com valores característicos relativos a ventos
de curtos períodos de referência, para atender o critério de determinação dos esforços
atuantes durante a fase de intervenção para recuperação estrutural, pode-se estabelecer uma
função de densidade de probabilidade que se ajuste aos dados de observações das
velocidades anemométricas anuais (COST 345, 2004).
Estes dados são obtidos por estações de pesquisa meteorológicas que registram diariamente
as velocidades horárias máximas, sendo mais confiáveis os dados que abarcam mais
extensos períodos de observações (ELLINGWOOD, 1996). Comportamento desse tipo de
variável pode ser aproximado por estatísticas de extremos, tal como distribuição de
extremo Tipo I ou extremo Tipo II a depender do local de análise (COROTIS et al, 1981;
MELCHERS, 1987; RÜSCH, 1980).
Outra maneira de se obter velocidades básicas para reduzidos intervalos, quando não se
dispõe de dados de levantamentos estatísticos, é o emprego de fatores de ajustamento. No
presente trabalho, é proposto o uso dos fatores desenvolvidos por Rosowsky (1995) e que
são capazes de converter ventos de períodos de recorrência de 50 anos a outros períodos,
conforme a finalidade da avaliação.
Na determinação dos fatores de ajuste, Rosowsky (1995) utilizou-se de pesquisas e estudos
realizados em vários aeroportos e que compuseram a base da formulação dos ventos de
projeto dos códigos norte-americanos. A Tabela 5.2 apresenta os valores obtidos pelo
pesquisador para o ajustamento da velocidade básica.
Tabela 5.2 – Fatores de ajustamento para velocidades de vento.
Período considerado
Fator de ajustamento para a
velocidade do vento (S
ajust
)
< 1 ano 0,80
1-5 anos 0,90
5-10 anos 0,95
25 anos Não reduzir
50 anos Não reduzir
100 anos 1,10
Fonte: Adaptado de Rosowsky (1995)
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
95
De posse desses fatores é possível a obtenção da velocidade característica do vento V
k,aval
para a aplicação na avaliação estrutural, através da expressão normativa (NBR 6123:1988),
acrescida do fator S
ajust
, o que torna:
ajustkajustavalK
SVSSSSVV .....
3210,
=
=
(5.6)
onde:
V
k,aval
= velocidade característica do vento de avaliação
V
k
= velocidade característica do vento de projeto
V
0
= velocidade básica do vento de projeto
S
1
= fator topográfico
S
2
= fator ligado a: rugosidade, dimensões e altura da edificação
S
3
= fator estatístico
S
ajust
= fator de ajustamento de Rosowsky
De posse de V
k,aval
, pode-se obter as forças imprimidas nas edificações, por ventos de
períodos de referência reduzidos. O programa de cálculo utilizado nesta pesquisa possui
módulo de trabalho específico que faz a consideração destes efeitos nos pórticos
analisados, bastando para isso habilitar a opção em tela apropriada e indicar os coeficientes
necessários corretamente.
Da Tabela 5.2 e, sabendo-se que os serviços de recuperação são, em geral, da ordem de
poucos meses, pode-se destacar que S
ajust
a ser empregado equivale a 0,80, tomando para
S
3
o valor igual a 1. Isto gera uma valor para a velocidade característica de avaliação
(V
k,aval
) igual a:
80,0.
, kavalK
VV
=
(5.7)
5.4.3 Obtenção da resistência dos materiais
5.4.3.1 Concreto
A determinação da resistência à compressão do concreto e das propriedades a ela
relacionadas é um dos problemas nos quais se deparam os engenheiros de avaliações
quando da necessidade de se mensurar o nível de segurança potencial apresentado pela
estrutura periciada (DA CUNHA; VIEIRA ÂNGELO, 2003). A complexidade do
comportamento deste material em serviço ao longo do tempo decorre, basicamente de dois
fenômenos evidenciados (FUSCO, 1993):
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
96
Ganho de resistência devido à hidratação lenta;
Perda de resistência efetiva devido à ação das cargas de longa duração.
Estes fenômenos, aliados à influência das dimensões dos corpos-de-prova ensaiados sobre
a resistência aparente do concreto, compõem o coeficiente de modificação (K
MOD
) que
deve ser levado em consideração em projeto, para evitar que estruturas entrem em colapso
por esgotamento da capacidade resistente em determinado período de sua existência.
Da Cunha e Vieira Ângelo (2003) em trabalho relativo à busca da resistência à compressão
do concreto em estruturas periciadas, sugerem duas condições para obtenção de tal
propriedade: a) extrapolações baseadas nos dados advindos do controle tecnológico do
concreto ao longo da obra, levando em conta a sua idade e o efeito das cargas mantidas; b)
extração e ensaios de testemunhos caso inexistam resultados de controle tecnológico
considerando, contudo, o efeito da duração das cargas.
a)
Existência do controle tecnológico
Muitas das estruturas que hoje passam por intervenções para reabilitação possuem, na
maior parte dos casos, mais de 20 anos o que, para estimativa da resistência atual do
concreto, exige o emprego de curvas de crescimento coerentes com os cimentos utilizados
na época.
O Código Modelo CEB 1990 apresenta uma expressão para estimativa da evolução da
resistência à compressão com o tempo. Tal expressão encontra-se estabelecida também na
atual versão da NBR 6118 (ABNT, 2003) e pode ser aplicada à resistência estimada (f
ck,est
)
obtida no ensaio de compressão dos corpos-de-prova de controle da época da construção,
quando se deseja obter a resistência ao fim de um dado período de tempo:
==
t
s
f
f
K
c
tc
MOD
28
1exp
28,
,
1
(5.8)
onde:
K
MOD1
= coeficiente de crescimento relativo da resistência à compressão do concreto
(relativo à resistência aos 28 dias)
f
c,t
= resistência à compressão à idade de t dias
f
c,28
= resistência à compressão à idade de 28 dias
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
97
S = coeficiente que depende do tipo de cimento podendo-se fazer a seguinte
correspondência:
S=0,2
para o cimento ARI
S=0,25
para cimento CP I, CP II classe 40
S=0,38
para cimento CP III e CP IV
Da Cunha e Vieira Ângelo (2003) limitam o ganho de resistência em 15% para os casos em
que f
ck,est
<f
ck
ou em 20% quando f
ck,est
f
ck
.
O efeito das cargas de longa duração na perda efetiva de resistência do concreto refere-se à
propagação lenta de fissuras na matriz da pasta endurecida. O fenômeno, que inicialmente
foi estudado por Rüsch (1960) ocorre para esforços solicitantes que provoquem tensões
acima de 70% daquelas necessárias ao rompimento convencional do corpo-de-prova de
controle do mesmo concreto. Para valores abaixo deste limite, o material apresenta
resistência perene, apesar da ocorrência de deformação lenta.
Na avaliação de pilares de estruturas existentes, tendo-se as dimensões das seções
transversais e as cargas atuantes, é possível estimar se as tensões desenvolvidas superaram
o limite de 70%, o que levaria o concreto à redução de resistência por efeito Rüsch. Para
efeitos desta pesquisa, propõe-se que os esforços atuantes sejam aqueles totais obtidos para
o dimensionamento, aplicados de forma fictícia aos 28 dias. Caso o limite acima seja
superado, a redução na resistência pode ser calculada pela equação (5.9), advinda do
Código Modelo CEB 1990. Caso tal limite não seja superado, será assumido K
MOD2, aval
=1.
4
0
,
,
2
).(72ln.12,096,0
0
tt
f
f
K
tc
tc
MOD
==
(5.9)
onde:
K
MOD2
= coeficiente de redução da resistência à compressão do concreto pelo efeito de
carga mantida (relativo à resistência aos 28 dias)
f
c,t
= resistência à compressão do concreto na idade (t+t
0
) sob carga elevada e
constantemente mantida desde a idade t
0
f
c,t0
= resistência à compressão convencional do concreto na idade t
0
no ensaio normal
de compressão axial
Por fim, a influência das dimensões dos corpos-de-prova ensaiados na resistência real do
concreto (FUSCO, 1993) deve ser levada em consideração tanto em projeto quanto em
trabalhos de avaliação estrutural. Rüsch (1980) relata que corpos-de-prova cilíndricos de
15 cm de diâmetro por 30 cm de altura possuem resistência à compressão, em geral, da
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
98
ordem de 5% maior que a do mesmo concreto na estrutura. Assim, torna-se válida a
relação (5.10):
cmxcilindrocprismacestruturac
fff
3015,,,
95,0
=
= ou 95,0
3
=
MOD
K
(5.10)
Em geral quanto menor a relação altura/diâmetro (h/d) dos corpos-de-prova, maior a
resistência aparente encontrada. Diagrama de conversões para outras relações (h/d) pode
ser encontrado em Fusco (1993).
De posse de K
MOD1
, K
MOD2
e K
MOD3
pode-se compor o K
MOD,aval
pela equação (5.11),
enfatizando a importância dos efeitos do comportamento do concreto ao longo do tempo
para a avaliação:
321,
..
MODMODMODavalMOD
KKKK
=
(5.11)
onde:
K
MOD,aval
= coeficiente de modificação da resistência do concreto na avaliação em virtude
da influência da hidratação lenta, efeitos das cargas mantidas e dimensões dos
corpos-de-prova nos ensaios.
K
MOD1
= influência do ganho de resistência do concreto após os 28 dias
K
MOD2
= influência de cargas mantidas
K
MOD3
= influência do efeito dos pratos da prensa no ensaio de compressão axial de
corpos-de-prova
A resistência à compressão a se utilizar neste caso, é dada pela equação (5.12):
avalc
avalMODavalcd
fck
Kf
,
,,
.
γ
=
(5.12)
onde:
f
ck
= resistência característica à compressão do concreto na idade 28 dias
γ
c,aval
= coeficiente de ponderação do concreto específico para avaliação
b)
Inexistência de controle tecnológico
Neste caso, deve-se processar obrigatoriamente à extração e ensaios de testemunhos
retirados diretamente dos pilares em estudo (DA CUNHA; VIEIRA ÂNGELO, 2003). Os
lotes são tomados de acordo com a NBR 7680 (ABNT, 1983) os quais, a depender do
tamanho do espaço amostral adotado, permitem tecer conclusões mais precisas em relação
à resistência do concreto submetido à avaliação. Da Cunha e Vieira Ângelo (2003)
limitam, no entanto, o valor obtido dos testemunhos (f
ck,real
) a 1,15f
ck
.
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
99
O efeito Rüsch deverá ser avaliado atendendo ao mesmo critério da situação “a”,
analisando a superação ou não do limite de 70% da tensão admitida pelo corpo-de-prova
padrão aos 28 dias.
A influência relativa às dimensões dos testemunhos extraídos é bastante acentuada para
esta situação, uma vez que nem sempre se consegue uma relação h/d=2. O diâmetro do
testemunho não deverá ser inferior a três vezes o diâmetro do agregado ou a 10 cm. A
NBR 7680 (1983) apresenta a correção de valor para diversas relações h/d. A Tabela 5.3
dá os valores para o ajustamento:
Tabela 5.3 – Fatores de conversão para as resistências de testemunhos extraídos de
estruturas existentes.
Relação h/d Fator de correção
2,00 1,00
1,75 0,97
1,50 0,93
1,25 0,89
1,00 0,83
0,75 0,70
0,50 0,50
Fonte: NBR 7680 (ABNT, 1983)
Tanto para a situação “a”, quanto para a situação “b”, o fato de a estrutura avaliada sofrer o
fenômeno de corrosão nas armaduras, faz com que existam incertezas com relação à
resistência do concreto avaliado devido à deterioração que se acentua na região das
armaduras (MELCHERS, 2001). As fissuras e desplacamentos, originários do processo
corrosivo, levaram a ACHE (2003) a desconsiderar a camada de cobrimento como parte
integrante da seção resistente de concreto. Tal decisão será respeitada pela metodologia
aqui apresentada.
O coeficiente de variação da resistência do concreto à compressão para situações de
avaliação estrutural pode ser tomado da análise estatística do resultado de rompimentos dos
corpos-de-prova de controle ou, caso não existam, através do processamento dos resultados
de lotes de testemunhos. No entanto, muita das vezes tais lotes possuem reduzido número
de exemplares, o que traz problemas à estimativa adequada do valor do coeficiente de
variação.
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
100
Tendo em vista estes fatos, um procedimento usual consiste na realização de ensaios
esclerométricos ou ultra-sônicos sobre o concreto dos elementos estudados (ACHE, 2003),
válidos fundamentalmente para efeito de comparação mediante as resistências obtidas por
ensaios destrutivos, mas que podem indicar valores próximos ao coeficiente de variação
real do concreto na estrutura.
O objetivo do emprego do ensaio de esclerometria paralelo aos ensaios de compressão
axial de corpos-de-prova é auxiliar no sentido de se obter informações adicionais que
possam diminuir a probabilidade de erros na avaliação de várias propriedades do concreto
(ALCÂNTARA, 2002). A ultra-sonografia, conforme visto, é bastante aconselhável para
estabelecimento das características do concreto, sua homogeneidade e até mesmo
resistência (FIGUEIREDO, 2005).
Outra forma de se estimar o coeficiente de variação, ao se dispor de um certo nível de
confiança em relação às informações obtidas da obra, é a utilização de uma formulação que
possa relacionar os dados existentes e o coeficiente procurado. A normalização Argentina
de projeto, RECOMENDACIÓN CIRSOC 106 (1982), apesar de conservadora para
aspectos relativos à avaliação, traz informações ao “dimensionamento” do coeficiente de
variação segundo a expressão (5.13):
222
DEMc
δδδδ
++=
(5.13)
onde:
δ
c
= coeficiente de variação do concreto
δ
M
= coeficiente que depende de condições próprias do material
δ
E
= coeficiente que depende de condições de execução da estrutura
δ
D
= coeficiente que depende de modelos empregados no cálculo da resistência
Sendo os coeficientes dados pela Tabela 5.4:
Tabela 5.4 – Influências no coeficiente de variação das resistências em obras de
concreto armado.
Elaboração do
Material
δ
M
Condições
pobres
0,20
Condições
razoáveis
0,10
Condições
cuidadosas
0,10
Execução da obra
δ
E
Descuidada
0,25
Média
0,12
Muito cuidadosa
0,10
Dimensionamento de
seções ou elementos
δ
D
Empírico
0,20
Simplificado
0,10
Cuidadoso-exato
0,05
Fonte: RECOMENDACIÓN CIRSOC 106 (1982)
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
101
A ACHE (2003) apresenta para o coeficiente de variação da resistência à compressão do
concreto na avaliação de pontes rodoviárias, um valor médio de 13,5%, obtido com a
consideração de ajuste da resistência segundo uma curva de distribuição normal.
5.4.3.2 Aço
A resistência à tração do aço, a exemplo do que ocorre com a de compressão no concreto, é
uma variável básica no estabelecimento da segurança estrutural apresentando, assim, um
comportamento estocástico. A variabilidade estende-se não apenas às características
internas do material, como também à geometria apresentada pelas barras e, em se tratando
de uma investigação em estruturas existentes afetadas por patologias, principalmente a
corrosão, o estado atual das barras em termos de perda de seção transversal no processo
eletroquímico (ACHE, 2003). A avaliação desse último aspecto poderá ser efetuada por
inspeção visual e medições a partir de instrumentação apropriada, ou com a utilização do
ensaio de detecção magnética, tipo pacometria, o que permitirá adoção de um plano para a
execução de reforço estrutural, mediante restabelecimento de seção, caso necessário.
O controle tecnológico de amostras durante a construção é o meio para se garantir o
emprego de um material com resistência que atenda os valores especificados em projeto.
Os ensaios conforme relatados por Da Silva e Ribeiro (2002), são realizados em corpos-de-
prova obtidos conforme a NBR 7480 (ABNT, 1996) e seus procedimentos para o controle
de recebimento de aço para concreto armado.
Apesar dos métodos rigorosos de produção, o que garante aço com pequena variabilidade
em torno da média em um ensaio à tração, Fusco (1974), afirma sobre a necessidade do
controle tecnológico a ser realizado pela construtora no ato da execução da obra. Os
ensaios realizados em barras para fins de controle deverão contemplar a caracterização do
limite elástico e do diâmetro efetivo, além do limite de resistência e outras importantes
características definidas na NBR 7480 (ABNT, 1996). Do controle estatístico dos
resultados poderão surgir algumas situações que interferem na tomada de decisão quanto à
aceitação ou rejeição do lote analisado (FUSCO, 1976).
Para as finalidades de avaliação estrutural, os resultados obtidos dos ensaios durante a
realização da obra, se disponíveis, poderão ser empregados e isso irá gerar um incremento
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
102
no conteúdo de informações disponíveis, com impacto no nível de confiança dos resultados
obtidos da avaliação. Dos trabalhos experimentais de Da Silva e Ribeiro (2002), a
fdp que
melhor descreve os resultados experimentais dos ensaios de tração do aço é a distribuição
log-normal.
No entanto, a ACHE (2003) desaconselha a consideração de ganho de resistência para o
aço advindo de ensaios, em relação ao valor nominal utilizado no cálculo. Na metodologia
desta pesquisa, não serão utilizados na avaliação, valores para a resistência ao escoamento
provenientes de ensaios, caso estes sejam superiores àqueles de projeto. Contudo,
informações extras sobre o coeficiente de variação da resistência serão empregadas para o
ajustamento dos fatores parciais de minoração do aço na avaliação (
γ
s,aval
).
Não se dispondo de tal controle e mesmo estando as armaduras atacadas demasiadamente
pela corrosão, poder-se-ão realizar extração de testemunhos de barras diretamente da
estrutura e submetê-las aos ensaios corriqueiros na máquina de tração, permitindo assim a
redução do nível de incertezas quanto à distribuição da resistência do material.
Em pilares, por serem elementos de grande responsabilidade estrutural, é desaconselhável
a extração de testemunhos das barras de aço, principalmente as longitudinais. Neste caso é
oportuno, em estruturas com mais de 20 anos, julgar o aço como sendo de classe B com
resistência e coeficientes de ponderação iguais aos de projeto, por motivos de segurança.
5.4.4 Índice de confiabilidade para estruturas existentes
O estabelecimento dos coeficientes de minoração retoma, além da variabilidade assumida
para as ações, uma probabilidade de falha (
Pf) admissível para as estruturas e que
encontra-se implícita nas normas de projeto, sob a forma de um índice de confiabilidade
(β). Projetos de novos edifícios encontram-se respaldados, no Brasil, por um β=3,5
(
Pf=2,33x10
-4
).
Melchers (2001) destaca a necessidade de estabelecimento de uma probabilidade de falha
admissível para os trabalhos de calibração dos futuros códigos de avaliação, que seja
coerente a situação atual da estrutura e seu desempenho apresentado até o momento da
avaliação. Em trabalho relativo à obtenção de coeficientes de ponderação para a avaliação
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
103
de estruturas de pontes e edifícios existentes, Val e Stewart (2002) assumem por
satisfatório a consideração do mesmo β usado em projeto. Consideração semelhante foi
realizada por Tanner (1995) em que o índice de confiabilidade aceitável na avaliação,
proposto em seu trabalho, deveria permanecer próximo ao valor apresentado pela estrutura
quando construída.
Allen (1991) propõe que, pelo fato de estruturas existentes terem apresentado desempenho
satisfatório, ao mesmo tempo em que foram inspecionados de forma rigorosa, os critérios
de avaliação para estas não devam ser tão conservadores quanto no projeto de novos
edifícios. Isto levou o autor a introduzir diferentes níveis de segurança para estruturas
existentes, através de ajustamento feito com a contribuição individual dos fatores dados na
Tabela 5.5.
Tabela 5.5 – Fatores de contribuição no ajustamento do índice de confiabilidade.
Fator de avaliação
i
Inspeção / Desempenho -
1
Sem inspeção nem desenhos de execução
Inspeção para identificação / localização
Desempenho satisfatório
a
ou medição das cargas permanentes
b
Comportamento do sistema estrutural -
2
Falha conduz ao colapso, provável ocorrência de danos pessoais
Situação intermediária
Colapso local, improvável ocorrência de danos pessoais
Categoria de risco para a falha-
3
Muito alta (pós-desastre ou n > 1000)
c
Alta ( n= 100 – 1000)
d
Normal (n= 10 – 99)
d
Baixa (n= 0 – 9)
d
-0.40
0.00
0.25
0.00
0.25
0.50
(b)
0.00
0.00
0.25
d
0.50
d
Observações:
a) Aplicado para fatores de cargas permanentes e variáveis, na idade de 50 anos ou mais, sem
deterioração estrutural;
b) Aplicável somente ao fator de carga permanente;
c) Parâmetro n é determinado como número máximo de pessoas expostas à falha;
d) Reduzir para 0,25 para cargas de ocupação de reunião ou estruturas de madeira.
Fonte: Allen (1991)
Laranja e Brito (2003) observaram que tal procedimento exige apurado bom censo por
parte dos engenheiros estruturais responsáveis pela avaliação, além de envolver critérios
subjetivos como qualidade de inspeção e probabilidade de riscos pessoais. No entanto, o
método permite determinar o índice de confiabilidade na avaliação (β
aval
) a partir do β de
projeto, subtraindo-se alguns termos de redução que variam de uma estrutura a outra
(5.14):
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
104
aval
β
β
=
(5.14)
onde:
= fator para ajustamento do índice de confiabilidade na avaliação
β
= índice de confiabilidade de projeto
β
aval
= índice de confiabilidade na avaliação
Nos casos em que não se dispõem de quaisquer dados ou informações do projeto estrutural
ou os elementos avaliados não permitam a realização de inspeções, testes ou outros
procedimentos já apontados, é conveniente a elevação do índice de confiabilidade, por se
tratar de uma situação crítica (ALLEN, 1991; COST 345, 2004). Em todo caso,
considerações dessa natureza fogem ao escopo deste trabalho, pois a metodologia
pressupõe a existência de informações de projeto ou ensaios de controle tecnológico, bem
como a realização de inspeção em todos os pilares por ocasião da avaliação.
Para avaliação de pilares em estruturas existentes e acometidas por corrosão inicial,
detectadas em uma inspeção rotineira, um índice de confiabilidade poderia ser reduzido, de
acordo com a metodologia proposta por Allen (1991), com o valor de 3,25 (
Pf =5,77x10
-4
).
5.4.5 Ajustamento dos coeficientes de ponderação
As incertezas das cargas e resistências no estágio de projeto são refletidas nos coeficientes
de ponderação (ALLEN, 1991). Conforme Montoya et al (1973a), no estabelecimento da
segurança estrutural, realizada atualmente dentro das considerações simplificadas do nível
I, atribui-se às diversas causas de erros e incertezas a dois fatores sobre os quais se detêm
alguns conhecimentos: resistência dos materiais e valores das ações, ponderando seus
valores característicos mediante coeficientes parciais de segurança, para se ter em conta o
restante dos fatores aleatórios que influenciam o processo sobre os quais, ainda, o
conhecimento é incompleto.
Val e Stewart (2002) apontam para um ajustamento destes coeficientes na avaliação pela
atualização das funções de distribuição das variáveis por eles ponderadas, através de
inspeções e testes no local, com conseqüente redução das incertezas a elas inerentes.
Na análise dos códigos de projeto hoje utilizados, distinguem-se basicamente dois
procedimentos principais na consideração das outras variáveis aleatórias influentes nos
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
105
mecanismos de solicitação e resposta estrutural, além da resistência e das cargas atuantes
(ELLINGWOOD et al, 1982):
a) Regulamentos europeus (
CEB-FIP, Normas Espanholas): recorrem à minoração
da resistência do concreto e aço com coeficientes distintos para cada material e, a
partir daí, calcula-se a resistência das seções. A majoração das ações é feita com
coeficientes parciais, diferentes em função da natureza da ação;
b)
LRFD (Load and Resistence Factor Design): não minora as resistências dos
materiais individualmente, mas se aplica um coeficiente de minoração da resistência
da seção. Este coeficiente varia de acordo com o tipo de solicitação. As ações são
tratadas de maneira similar aos regulamentos europeus, mas os valores dos
coeficientes de majoração variam em relação aos destes regulamentos.
Os procedimentos empregados na obtenção de segurança das estruturas de concreto
armado pelas atuais normas brasileiras de projeto são inspirados nos regulamentos
europeus adaptando-se, contudo, certos parâmetros ás condições econômicas e sociais aqui
existentes. A metodologia de “dimensionamento” dos coeficientes parciais de segurança
ficou estabelecida no congresso realizado pelo
CEB-FIP em 1970, na cidade de Praga
(FUSCO, 1974). Montoya et al (1973a) observaram que, segundo esta metodologia, os
valores dos coeficientes devem derivar-se de considerações probabilísticas efetuadas no
nível II, mas com um dado prévio necessário, a chamada probabilidade de falha. O
desenvolvimento dos coeficientes de ponderação envolve cálculos e considerações bastante
complexas.
Na calibração dos coeficientes parciais de segurança, os aspectos considerados no
problema são hoje tomados, de forma simplificada, do seguinte modo:
a) Os materiais se definem por seus valores representativos característicos (95% de
probabilidade de estes valores serem superados);
b) As ações são definidas por seus valores característicos (5% de probabilidade de
estes valores serem superados);
c) Inclusão de uma
Pf assumida com risco aceitável pela sociedade.
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
106
Uma vez que o objetivo desta seção é o ajustamento de coeficientes de segurança para a
avaliação da situação de reparo de pilares em edifícios residenciais, o desenrolar do
processo matemático para as expressões de determinação de tais coeficientes não serão
aqui demonstrados. A partir de formulações encontradas na literatura, serão realizadas as
considerações pertinentes a este trabalho.
5.4.5.1 Coeficientes de ponderação dos materiais
a) Concreto
A aplicação de coeficientes parciais visa cobrir outros fatores que influenciam na
segurança estrutural, além das solicitações e das resistências. Isto reduz diretamente a
probabilidade de falha estrutural embutida no conceito de valor característico das duas
variáveis principais tomadas no dimensionamento (MONTOYA et al, 1973a). Em termos
de equação de estado limite, isto pode ser descrito por:
fk
m
k
S
R
γ
γ
.=
(5.15)
onde:
γ
m
= coeficiente de ponderação das resistências
γ
f
= coeficiente de ponderação das ações
É possível ajustar os valores de γ
m
e γ
f
de forma que a probabilidade de falha final seja a
desejada. Pelo exposto, formalmente trabalha-se com um método misto que combina
valores probabilistas (as resistências e ações características) com coeficientes parciais
deterministas, mas que na realidade, apresentam um procedimento de determinação
também probabilista.
Considerando R e S como variáveis aleatórias, estas podem ser aproximadas segundo uma
distribuição normal, apesar de que nem sempre esta seja a melhor aproximação. Têm-se
então os valores característicos:
)1(
RRRR
mmR
ξδ
ξ
σ
±
=
±
=
(5.16)
)1(
SSSS
mmS
ξδ
ξ
σ
±
=
±
=
(5.17)
onde:
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
107
m
R
= resistência média dos materiais
m
S
= média das solicitações
σ
R
= desvio-padrão das resistências
σ
S
= desvio-padrão das solicitações
δ
R
= coeficiente de variação das resistências
δ
S
= coeficiente de variação das solicitações
ξ = fator relacionado à probabilidade de ocorrência na distribuição normal
Na ruptura, R=S é representada por uma reta no sistema de coordenadas (R-S) da Figura
5.3. A região à direita (R>S) representa a zona de segurança. Aqui a função m=R-S
também é considerada comportar-se de forma normal.
Figura 5.3 – Representação gráfica do índice de confiabilidade.
Fonte: Adaptado de Lera e Alvarez (1992)
Suprimindo-se aqui a matemática desse desenvolvimento e realizando-se a transformação
das coordenadas para o sistema xy, tem-se:
(
)
R
R
mr
x
σ
=
e
(5.18)
(
)
S
S
ms
y
σ
=
(5.19)
onde:
r e s
= coordenadas do sistema R-S
m
R,
m
S,
σ
R,
σ
S
possuem o mesmo significado anterior
Neste novo sistema xy, a distância entre sua origem à curva que representa o estado limite
(na Figura 5.3 a reta R=S), é a própria probabilidade de falha. Estando as variáveis
normalmente distribuídas, essa distância é igual ao índice de confiabilidade (β). O ponto
P*, que se encontra à menor distância à origem do sistema xy, define um par de valores r*
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
108
e s* que possuem a menor confiabilidade ou maior
Pf. Pode-se então chegar às seguintes
expressões:
(
)
RRRRRR
mmr
δβασβα
==
1
(5.20)
(
)
SSSSSS
mms
δβασβα
==
1
(5.21)
Sendo α
R
e α
S
os fatores de influência dados por:
22
RS
R
R
σσ
σ
α
+
=
(5.22)
22
RS
S
S
σσ
σ
α
+
=
(5.23)
Em geral, α
R
e α
S
estão entre 0,75 e 0,80. Para condições nacionais, tais fatores são da
ordem de 0,75. Val e Stewart (2002) sugerem, no entanto, um α
R
no valor de 0,80 para os
caso de determinação dos coeficientes de ponderação dos materiais na avaliação da
segurança estrutural.
Finalmente, o coeficiente de ponderação para resistências, suscetíveis de ajuste via
distribuição normal, podem ser determinados pela formulação apresentada em (5.24):
(
)
()
RR
R
m
δαβ
δ
γ
..1
.645,11
=
(5.24)
Pela expressão (5.24) o coeficiente parcial realiza a transformação de um quantil
característico de 5%, a outros quantis, definido pelo produto β.
α
R
. Na avaliação, tendo-se
uma probabilidade de falha a ser respeitada, definida pelo índice de confiabilidade (β
aval
) e,
conhecendo-se o coeficiente de variação do concreto investigado (
δ
c,aval
), é possível
estabelecer coeficientes parciais específicos para a situação analisada, por meio da
expressão (5.25):
(
)
()
avalcavalcaval
avalc
avalc
,,
,
,
..1
.645,11
δαβ
δ
γ
=
(5.25)
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
109
Em geral, nas obras correntes os coeficientes de variação para o concreto situam-se no
intervalo:
δ
c
Æ entre 0,09 e 0,38, com um valor de 0,16 para as condições médias
razoáveis de controle em obra.
Na avaliação estrutural, cabe o estabelecimento de coeficientes parciais de segurança
condizentes com os níveis de informações corretas obtidas na inspeção. Este fato pode ser
entendido do ponto de vista de que, com a redução das incertezas sobre os diversos
aspectos relativos às resistências e solicitações na estrutura existente, é possível se chegar
mais próximo aos verdadeiros coeficientes de variação destas variáveis o que,
efetivamente, contribui para a fixação de coeficientes γ apropriados e condizentes com
uma probabilidade de falha limite.
b) Aço
Dos trabalhos realizados por Da Silva e Ribeiro (2002), conclui-se que a distribuição log-
normal pode ajustar de forma satisfatória o comportamento da resistência à tração do aço
no escoamento. No entanto, vários autores (FUSCO, 1976; LARANJA; BRITO, 2003),
apresentam ainda a distribuição normal como alternativa coerente a tal ajustamento.
Adotando-se nesta pesquisa o segundo caso, é suficiente para a calibração dos fatores
parciais de minoração do aço na avaliação empregando-se expressão semelhante à (5.25),
levando a atualização dos dados para este material. Desse modo, procede-se como se segue
(5.26):
(
)
()
avalsavalsaval
avals
avals
,,
,
,
..1
.645,11
δαβ
δ
γ
=
(5.26)
onde:
γ
s,aval
= coeficiente de ponderação da resistência ao escoamento do aço na avaliação
δ
s,aval
= coeficiente de variação da resistência ao escoamento do aço na avaliação
α
s,aval
= fator de influência para o aço na avaliação
β
aval
= índice de confiabilidade na avaliação
O coeficiente de variação para o material, conforme apresentado pela ACHE (2003), é
dado pela seguinte expressão:
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
110
222
ζ
δδδδ
++=
HFys
(5.27)
onde:
δ
s
= coeficiente de variação da resistência do aço
δ
Fy
= coeficiente de variação do limite elástico
δ
H
= coeficiente de variação da geometria da peça
δ
ζ
= coeficiente de variação do erro do modelo a flexão
Em que os parâmetros que compõem o coeficiente de variação possuem valores regulares
apresentados na Tabela 5.6:
Tabela 5.6 – Variáveis relacionadas com a flutuação da resistência do aço
Variável Descrição Distribuição
Coeficiente de
variação (%)
F
y
Limite elástico do o Log-normal 5-10
H Geometria da peça Normal 2
ζ Erro do modelo a flexão Normal 5
Fonte: ACHE (2003)
Para estruturas existentes, Val e Stewart (2002) relataram como satisfatório o emprego de
um fator de influência para a resistência de escoamento do aço da ordem de 0,80.
5.4.5.2 Coeficiente de ponderação das ações
a) Cargas permanentes
Com a redução das incertezas relativas às cargas permanentes atuantes em edifícios,
promovidas pelos procedimentos de medições e levantamentos feitos diretamente nas
seções transversais, comprimentos de peças e caracterização de demais elementos fixos
não estruturais, é plausível adoção de coeficientes menos conservadores para a avaliação
de uma estrutura específica (VAL; STEWART, 2002). Laranja e Brito (2003) apresentam
um expressão contida no CEB (1989) que propõe redução do coeficiente de majoração das
cargas permanentes, mediante medições rigorosas, por meio da expressão (5.28):
1,0
,
=
GavalG
γ
γ
(5.28)
onde:
γ
G,aval
= coeficiente de ponderação das ações permanentes na avaliação
γ
G
= coeficiente de ponderação das ações permanentes em projeto
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
111
Uma redução em 10% no coeficiente de ponderação das ações permanentes foi proposta
por Cabré (1994) em seu trabalho de estudo da vida residual de edifícios existentes.
Traduzindo a informação deste pesquisador para a realidade nacional, nos procedimentos
de avaliação, sob rigorosas condições de inspeção e ensaios, o valor proposto para o
coeficiente de majoração das ações permanentes é da ordem de:
26,14,190,0.90,0
,
=
=
=
x
GavalG
γ
γ
Contudo, seria ainda admissível o uso de um γ
G,aval
com valor próximo a 1,2 para o caso de
estruturas com vida útil residual bastante reduzida, submetida às mesmas condições
rigorosas de caracterização e sem a presença de danos sensíveis (LARANJA; BRITO,
2000).
A ACHE (2003) traz formulação utilizada nos trabalhos de obtenção dos coeficientes de
ponderação para as ações permanentes de projeto, consideradas então, normalmente
distribuídas. Tal informação é transcrita como se segue:
)..(1
GGG
δ
β
α
γ
+
=
(5.29)
onde:
γ
G
= coeficiente de ponderação das ações permanentes
β = índice de confiabilidade adotado
α
G
= fator de influência para ações permanentes
δ
G
= coeficiente de variação das ações permanentes
Para a situação de avaliação, o modelo de calibração proposto será dado pelo emprego de
parâmetros obtidos nas inspeções, diretamente na formulação (5.29). Pode-se obter assim:
)..(1
,,, avalGavalavalGavalG
δ
β
α
γ
+
=
(5.30)
onde:
γ
G,aval
= coeficiente de ponderação das ações permanentes na avaliação
β
G,aval
= índice de confiabilidade para avaliação
α
G,aval
= fator de influência para ações permanentes na avaliação
δ
G,aval
= coeficiente de variação das ações permanentes medidas in loco
Allen (1991) afirma que o coeficiente de variação médio para cargas permanentes, adotado
em projeto é da ordem de 10%. O autor afirma ainda uma redução potencial desse
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
112
parâmetro ao se realizar os procedimentos de medição da estrutura. Neste caso, conforme
aponta Laranja e Brito (2003),
δ
G,aval
poderia ser reduzido para 5%.
Já os fatores de influência (
α
G,aval
), conforme destaca a ACHE (2003), podem ser tomados
segundo os valores de calibração para códigos de projeto. O RILEM (1996) sugere, para tal
situação,
α com valor de 0,70.
b) Ações variáveis
Para cargas variáveis de utilização Allen (1991) demonstrou sua variabilidade inerente, a
partir de um coeficiente de variação no intervalo entre 10% a 30%. Val e Stewart (2002)
em seu trabalho de estabelecimento de coeficientes para avaliação utilizaram um valor de
30% para o parâmetro em questão.
A calibração apresentada pela ACHE (2003) para este tipo de solicitação, baseia-se em
uma distribuição de extremo tipo I, uma vez ser este o ajuste realizado para a vida útil de
projeto (LARANJA; BRITO, 2000). Para reduzidos períodos nos quais, pelos trabalhos de
Corotis e Doshi (1977) a aproximação é feita via distribuição gama, os procedimentos da
ACHE (2003) tornam-se inapropriados.
Neste caso, é proposta aqui uma transformação do quantil de 95%, adotado na definição do
valor característico das cargas, para o quantil de 99,5%, conforme a probabilidade
implícita nas normas de projeto para esse coeficiente de ponderação (FERRY-BORGES;
CASTANHETA, 1971). Para isso, deve-se satisfazer a seguinte relação:
%95,99,5%
X X
avalQ
γ
=
(5.31)
As solicitações de caráter variável, produzidas pelas forças de vento, por terem sua
variabilidade inerente fora do controle e domínio humano, a ACHE (2003) considera
inviável a possibilidade de redução de seu coeficiente de majoração. No caso deste tipo de
ação, pela metodologia aqui proposta, os fatores parciais de segurança na avaliação serão
tomados segundo valores iguais aos estabelecidos em projeto, como forma de resguardar a
segurança mínima.
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
113
5.4.6 Fatores de combinação das ações variáveis na avaliação
Em virtude do acréscimo em conhecimento, adquiridos sobre os carregamentos variáveis
atuantes nas estruturas existentes, advindos do processo de inspeção e das considerações
peculiares de avaliação, o COST 345 (2004) considera necessária à revisão dos fatores de
combinação que, no caso deste trabalho, são de interesse aqueles relativos aos
ELU, ou
seja,
ψ
0
.
Os fatores de combinação são utilizados para contemplar a baixa probabilidade de
ocorrência de duas ou mais cargas variáveis simultâneas com suas intensidades máximas.
Eles possuem valores fixados pelas normas de projeto segundo a vida útil de 50 anos
admitida para as estruturas. Turkstra e Madsen (1980) relataram sobre tendência de
crescimento do valor destes fatores na medida em que se diminuem os períodos de
referência analisados. Assim, na proporção em se aumenta a probabilidade de ocorrência
de cargas variáveis individuais em seus valores plenos aumenta-se, conseqüentemente, a
probabilidade de ocorrência conjunta de duas ou mais cargas simultâneas com valores
individuais elevados.
Allen (1991) estabelece em função do ajustamento no índice de confiabilidade, obtido com
a utilização das informações da Tabela 5.5 para estruturas de diferentes características,
fatores de combinação que são transcritos na Tabela 5.7:
Tabela 5.7 – Fatores de combinações mínimos propostos para avaliação estrutural.
Ajustamento do índice de
confiabilidade
=
1
+
2
+
3
Fator de combinação de
carga (ψ)
-0,4 0,70
0,0 0,70
0,25 0,70
0,5 0,75
0,75 0,75
1,00 0,80
1,25 0,80
Fonte: Adaptado de Allen (1991)
Os fatores de combinação propostos por Allen (1991) foram estabelecidos a partir de uma
vida residual ainda existente para a estrutura, valendo-se assim de uma probabilidade
condizente para a ocorrência simultânea e com intensidades máximas, de cargas variáveis
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
114
independentes, no período de avaliação. Para os propósitos deste trabalho, o período de
referência é mais curto que aqueles trabalhados por Allen (1991), o que aumenta a
probabilidade de ocorrência simultânea de cargas variáveis segundo os valores definidos
para a avaliação. Todavia, os valores da Tabela 5.7 serão assumidos para a quantificação
da segurança de pilares na recuperação estrutural uma vez que, mesmo nesta situação, os
valores característicos das variáveis envolvidas encontram-se cercados por probabilidades
implícitas de ocorrência efetiva.
5.4.7 Fator de segurança global para pilares
De tudo o exposto até então, se deduz que a forma de introduzir a segurança no método
semi-probabilista dos estados limites (nível I), está representada pelos dois coeficientes de
ponderação: a) γ
m
de minoração da resistência dos materiais e b) γ
f
de majoração das ações.
De uma forma simplificada, pode-se admitir que o coeficiente de segurança global seja
medido pelo produto de dois coeficientes parciais mencionados anteriormente. Montoya et
al (1973a) consideram que uma provável falha em pilares devido aos materiais ocorrerá em
virtude do esgotamento resistente do concreto à compressão (deformação 2
). Dessa
forma, a segurança global será estabelecida pela segurança marginal creditada ao concreto
e à ação dominante, que neste caso é representada pelas cargas permanentes. Nesta
situação, a resguarda-se a estrutura ante a ruína por um coeficiente expresso por:
fc
γ
γ
γ
.
=
(5.32)
Dos coeficientes de projeto, preconizados pela NBR 8681 (ABNT, 2003), a segurança
global esperada para pilares em uma estrutura recém construída, utilizam-se a expressão
(5.32), tem a seguinte ordem de valores:
96,140,1.40,1 ==
γ
Valor este em conformidade com a faixa convencional de projeto entre 1,7 a 2,0
(MELCHERS, 1987). Nas condições de avaliação são definidos novos coeficientes de
ponderação em função da obtenção de informões melhoradas sobre as resistências dos
materiais e cargas atuantes e a redução de muitas incertezas relativas aos valores destas
variáveis. Aqui, cumpre-se então o estabelecimento de um novo coeficiente de segurança
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
115
global para os pilares dos edifícios existentes estudados, a partir das considerações que
levam aos novos coeficientes parciais de segurança.
Conclui-se que, para as questões da avaliação de pilares, em condições específicas nas
quais se encontra a estrutura do edifício em análise durante os serviços de recuperação
estrutural, cabe a satisfação do seguinte coeficiente global de segurança, para se concluir
pelo sucesso dos serviços executados dentro de uma probabilidade de falha dada pelo
índice de confiabilidade (β
aval
):
avalGavalCaval ,,
.
γ
γ
γ
=
(5.33)
Utiliza-se o coeficiente ligado às solicitações permanentes por se tratar da ação dominante
na segurança estrutural (COST 345, 2004). O valor acima será útil para a determinação de
um plano geral de atuação na seção do pilar quando se efetuarão ali, os serviços de
recuperação. A partir do coeficiente global acima, pode-se determinar inclusive a
necessidade ou não de escoramento.
5.4.8 Critério do ELU para a seção existente
Conforme visto, a segurança de estruturas de concreto contra o colapso ou ruína passa pelo
atendimento de uma equação de estado limite último. Isto é válido para as situações de
projeto e será adotado para as questões de avaliação de edifícios existentes (ALLEN, 1991;
VAL; STEWART, 2002).
Esta verificação será realizada pela comparação entre a resistência da seção existente,
efetivamente confirmada com dados da inspeção, e uma solicitação normal equivalente,
gerada a partir dos esforços de avaliação, ao se executar o programa de cálculo com os
parâmetros específicos para esta finalidade. As cargas axiais e os momentos, juntamente
com a resistência dos materiais existentes nas seções, ao dar entrada no modelo
computacional, com a utilização de coeficientes de ponderação reduzidos, determinarão
seções transversais onde os esforços resistentes se igualam aos solicitantes, definindo
assim a chamada solicitação normal equivalente de cálculo para avaliação. Isto porque se
convertem forças verticais e momentos em uma única carga axial, que pode ser
determinada pelo uso da expressão (4.25).
Capítulo 5 Metodologia para avaliação estrutural
116
O balanço entre a capacidade de carga da seção para a avaliação (geradas no programas) e
as resistências efetivas das seções de pilares construídos, dará a quantidade de concreto a
ser retira de uma só vez para reparo. Este procedimento limita, dessa forma, o coeficiente
global de segurança dos elementos estudados ao
γ
aval
, durante todo o processo de reparo, o
que é satisfatório para a proposição desta pesquisa.
Apesar das considerações feitas neste trabalho serem para casos iniciais de corrosão das
armaduras, com intervenção realizada apenas no concreto, aço da seção existente poderá,
por sua vez, sofrer a ação de um coeficiente de redução na composição da seção resistente
efetiva. Isto para resguardar uma possível perda localizada de material, afastando o risco
de uma possível flambagem local da armadura longitudinal entre os estribos, com a
retirada do concreto de cobrimento. Os valores de redução da área das armaduras poderão
ser propostos em função do grau de deterioração que acometa a armadura, detectadas na
inspeção.
Definido um tipo de intervenção e, na execução da retirada do concreto deteriorado seja
detectada a existência de algum estribo rompido, faz-se necessária a limitação da efetiva
altura dos trechos de material a serem removidos. Esta altura de remoção para limpeza e
descontaminação das armaduras, que geralmente é da ordem de 1,0 m, poderá até mesmo
inviabilizar, em virtude das condições gerais dos estribos, a realização de uma intervenção
sem escoramento, inclusive podendo ser necessário o alívio de carga, mesmo que o
coeficiente global de segurança seja favorável.
Nos casos identificados pela intervenção com escoramento, este deverá ser precedido de
um estudo da capacidade resistente dos elementos estruturais (vigas) que concorram para o
nó considerado. Este remete às chamadas cargas próximas aos apoios da viga, o que
mobiliza um mecanismo de resistência similar ao dos consolos curtos. Não sendo parte
integrante do escopo aqui desenvolvido, deverá ser abordado em trabalhos futuros.
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
117
CAPÍTULO 6
PROGRAMA EXPERIMENTAL, RESULTADOS
E DISCUSSÕES
6.1 INTRODUÇÃO
O presente capítulo tem por finalidade a aplicação da metodologia desenvolvida
anteriormente, viabilizando a estimativa da segurança efetiva no processo de
recuperação de pilares em edifícios residenciais, acometidos por corrosão inicial das
armaduras. A metodologia também se aplica a outros processos de deterioração que
gerem a necessidade de reparos superficiais, semi-profundos e profundos.
O tratamento foi realizado em dois edifícios reais, chamados genericamente de edifício
“A” e edifício “B”. A escolha dos edifícios visou representar duas situações
comumente encontradas:
Sem memória de cálculo e sem informações de execução;
Com memória de cálculo e com informações de execução.
6.2 DEFINIÇÃO DOS OBJETOS DE ESTUDO
Segue breve descrição dos edifícios em estudo e os dados relativos a eles.
6.2.1 Edifício “A”
O edifício “A” (Figura 6.1) foi calculado para 25 pavimentos e teve sua construção
interrompida na 17º laje no ano de 1995. Em virtude da retomada das obras na data atual,
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
118
foram necessários os trabalhos de avaliação das condições gerais da estrutura existente, o
que propiciou a obtenção dos dados gerais utilizados nesta pesquisa. Dessa forma, para
este caso, foi simulada uma necessidade de intervenção para recuperação dos pilares da
garagem na data presente, supondo que o edifício estivesse acabado e em uso há vários
anos e que os dados aqui utilizados tivessem sido obtidos especialmente para tal finalidade
fictícia.
Figura 6.1 – Aspectos do edifício “A”.
Não se dispunha de dados relativos ao controle tecnológico do concreto ou do aço. Dos
projetos existentes, foram disponibilizados para a pesquisa, somente o arquitetônico e o
estrutural. A seguir estão listadas algumas informações gerais sobre o edifício. Sua planta
pode ser observada no Anexo A.
Número de pavimentos: 25
Área por pavimento (torre): 225 m
2
Número de pilares (torre): 14
Resistência à compressão do concreto dos pilares: 25 MPa (usinado)
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
119
Tipo de cimento: desconhecido
Estrutura concebida com a utilização de programa de cálculo
Alguns dados relativos aos pilares da torre principal são apresentados na Tabela 6.1.
Tabela 6.1 – Informações sobre os pilares da garagem - edifício “A”.
Pilar
Seção
transversal
(cm)
Bitola
(mm)
Nº de
barras
Carga vertical
característica na
fundação – projeto
(kN)
P1 20x120 20,00 34,00 2990,0
P2 30x150 25,00 46,00 7210,0
P3 20x120 20,00 34,00 4620,0
P4 50x80 25,00 32,00 7180,0
P5 72x100 25,00 58,00 13740,0
P6 30x120 20,00 50,00 6590,0
P7 20x120 20,00 44,00 5090,0
P8 20x120 20,00 44,00 5570,0
P9 20x150 20,00 44,00 5810,0
P10 52x52 20,00 32,00 4800,0
P11 30x120 20,00 50,00 6970,0
P12 20x80 16,00 28,00 2390,0
P13 20x193 20,00 48,00 6710,0
P14 30x100 16,00 32,00 4060,0
6.2.1.1 Levantamentos e ensaios realizados
a) Caracterização geométrica de seções
Em uma amostragem dos elementos estruturais foi realizado o que se chama de
caracterização geométrica, com o levantamento de medidas das seções transversais, alturas
e comprimentos, tanto nas lajes, quanto em vigas e pilares. Os resultados processados
estatisticamente foram ajustados via distribuição normal conforme preconiza Laranja e
Brito (2003). Este procedimento visou à obtenção de valores mais representativos da carga
permanente e uma conseqüente redução das incertezas de projeto, conforme já exposto.
Alguns dados e seu processamento são mostrados na Tabela 6.2.
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
120
Tabela 6.2 – Caracterização geométrica em pilares, vigas e lajes – processamento
estatístico – edifício “A".
Elemento Dimensão
Valor de
projeto
(cm)
Média
levantada
(cm)
Desv.
padrão
(cm)
Coef.
variação
%
Caract. de
avaliação
95% (cm)
Base (b) 12 12,4 0,56 4,52 13,32
Viga
Altura (h) 55 54,9 0,53 1,20 55,77
20 20,3 0,29 1,44 20,7
30 30,6 0,32 1,05 31,1
50 50,5 0,33 0,66 51,0
52 52,8 1,03 1,95 54,5
Lado menor
72 72,4 0,29 0,40 72,8
80 80,4 0,66 0,83 81,4
100 100,7 1,21 1,20 102,7
120 119,7 0,65 0,54 120,8
150 149,5 0,61 0,41 150,5
Pilar
Lado maior
193 193,3 0,20 0,1 193,6
10 10,15 0,53 5,3 11,02
12 12,3 0,50 4,06 13,10
Laje Altura
14 14,6 0,45 3,08 15,34
De uma forma geral, o comportamento dimensional dos elementos levantados, bem como
os desvios encontrados, apresentou-se dentro dos limites e tolerâncias permitidos para o
projeto de novas estruturas (NBR 14931:2004).
Allen (1991) afirma que o coeficiente de variação para as cargas permanentes é da ordem
de 10%, a ser tomado quando da realização do projeto. Rigorosos trabalhos de
caracterização geométrica e posterior ajuste para o valor representativo deste tipo de carga
promovem uma redução deste coeficiente que passará a ser da ordem de 5% (LARANJA;
BRITO, 2000).
b) Ensaios de resistência para o concreto e o aço
Em virtude da inexistência de quaisquer registros do controle tecnológico do concreto e do
aço na época da concretagem dos pilares, foi prudente a realização de diversos ensaios para
a investigação de suas condições reais na presente data. Com esta finalidade, foram
extraídos e ensaiados testemunhos, além da utilização de ensaios não destrutivos de ultra-
sonografia e esclerometria. As peças, ensaiadas destrutiva e não destrutivamente,
englobaram, além dos pilares da garagem, vigas, lajes e pilares segundo uma amostragem
nos demais pavimentos.
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
121
A NBR 7680 (ABNT, 1983) preconiza, para a determinação da resistência à compressão, a
extração de no mínimo dez testemunhos quando o diâmetro destes é inferior a 100 mm.
Para as finalidades deste trabalho será admitido como suficiente e confiável uma amostra
composta por sete corpos-de-prova, conforme o procedimento experimental realizado.
Dos ensaios destrutivos pôde-se inferir sobre a resistência à compressão do concreto
existente, ao passo que a ultra-sonografia auxiliou na estimativa do coeficiente de variação
de tal propriedade. Os resultados para pilares são apresentados na Tabela 6.3.
Tabela 6.3 – Ensaios de resistência à compressão em testemunhos de pilares.
Nº do
lote
Nº de
testemunhos
Corpo-de-prova
Resistência
individual (MPa)
f
ck
,
est
(MPa)
1 27,32
2 35,71
3 35,51
4 25,76
5 29,44
6 30,78
1 7
7 26,22
24,66
Uma vez que o número de exemplares da amostra situa-se no intervalo:
206
n
Onde:
n = número de exemplares da amostra
E, aplicando-se o estimador instituído no item 7.2.3.1 da NBR 12655 (ABNT, 1996),
apresentado na equação (6.1), aos resultados mostrados na Tabela 6.3, respeitadas as suas
condições específicas de utilização, obteve-se a resistência característica para a avaliação.
m
m
estck
f
m
fff
f
+
+
+
=
1
...
.2
121
,
(6.1)
Onde:
m=n/2
= despreza-se o valor mais alto de n, se for ímpar
f
1
, f
2
, ...f
n
= valor da resistência dos exemplares, em ordem crescente.
Assim, o valor encontrado para a resistência característica de avaliação foi:
f
ck
,
aval
= f
ck
,
est
= 24,66 MPa
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
122
Este valor de f
ck
,
est
indica que não ocorreram acréscimos em relação f
ck
de projeto com o
passar do tempo. Assim, K
MOD1
adotado para tal situação foi 1,0.
Os resultados da exploração ultra-sônica dos pilares da garagem (subsolo) estão no
Apêndice A. No entanto, um resumo dos valores obtidos em diversos pavimentos é
apresentado na Tabela 6.4.
Tabela 6.4 – Resumo dos ensaios de ultra-sonografia em pilares – edifício “A”.
Elemento Pavimento
Número
de ensaios
Valor
mínimo
(MPa)
Valor
máximo
(MPa)
Desvio-
padrão
(MPa)
Coeficiente
de variação
(%)
Subsolo 30,0 21,3 28,2 1,94 8,0
Térreo 9,0 23,0 27,7 1,52 5,8
1º ao 8º 18,0 20,4 27,5 23,4 10,1
Pilar
ao 15º 21,0 12,7 23,3 2,18 13,2
Do processamento estatístico determinou-se a média e desvio-padrão da resistência à
compressão da amostra, para os pilares da garagem, que valem, respectivamente, 24,1 MPa
e 1,4 MPa. Obteve-se ainda, de posse dos referidos valores o coeficiente de variação da
amostra que conforme já exposto, foi utilizado para considerações relativas ao fator parcial
de ponderação da resistência do concreto na avaliação. O coeficiente de variação da
resistência à compressão foi obtido da ordem de:
δ
c,aval
= 8%
As barras de aço ensaiadas foram extraídas das esperas existentes na última laje concretada
(17º pavimento). Em virtude do desgaste já apresentado e levando em consideração que o
lote ensaiado provavelmente não corresponda ao mesmo lote empregado na armação dos
pilares da garagem, os resultados obtidos não forneceram condições efetivas para
considerações de avaliação. Estes resultados, portanto não foram incorporados ao modelo
de redução de incertezas proposto neste trabalho.
6.2.2 Edifício “B”
Trata-se de um edifício de 10 pavimentos construído na cidade de Uberlândia em 1997
(Figura 6.2). Ele dispõe de toda documentação técnica referente a projetos, memoriais,
diários de obra, notas fiscais de materiais adquiridos e ainda os resultados do controle
tecnológico do concreto e do aço recebidos em obra.
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
123
Figura 6.2 – Aspecto do edifício “B”.
Os ensaios de controle do concreto foram realizados por dois laboratórios especializados
da cidade, um a cargo da construtora e o outro a cargo da concreteira. A seguir estão
dispostas algumas informações sobre o edifício, sendo sua planta apresentada no Anexo A:
Número de pavimentos: 10
Área por pavimento (torre): 320 m
2
Número de pilares (torre): 42
Resistência à compressão do concreto dos pilares da garagem (2º subsolo): 20 MPa
(usinado)
Tipo de cimento: ARI Plus
Estrutura concebida por programa de cálculo
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
124
Tabela 6.5 – Dados relativos à seção transversal e nº de barras longitudinais dos pilares
do 2º subsolo – edifício “B”.
Pilar
Dimensões
da seção
(cm)
Nº de
barras
longit.
Bitola
(mm)
Carga
vertical
característ.
na
fundação –
projeto
(kN)
Pilar
Dimensões
da seção
(cm)
Nº de
barras
longit.
Bitola
(mm)
Carga
vertical
característ.
na
fundação –
projeto
(kN)
1 20x80 16,0 20,0 1840,0 22 20x75 14,0 20,0 1720,0
2 20x90 14,0 20,0 1710,0 23 15x60 14,0 16,0 840,0
3 20x90 14,0 20,0 1810,0 24 15x60 12,0 16,0 750,0
4 20x100 16,0 20,0 2040,0 25 15x60 12,0 16,0 800,0
5 20x100 16,0 20,0 2050,0 26 15x60 12,0 16,0 790,0
6 20x90 14,0 20,0 1810,0 27 15x60 12,0 16,0 740,0
7 20x90 14,0 20,0 1630,0 28 15x60 10,0 16,0 700,0
8 20x80 14,0 20,0 1550,0 29 20x50 10,0 16,0 900,0
9 20x50 10,0 16,0 920,0 30 15x50 8,0 16,0 460,0
10 15x50 8,0 16,0 460,0 31 15x50 8,0 16,0 500,0
11 15x50 8,0 16,0 460,0 32 15x50 8,0 16,0 320,0
12 20x50 10,0 16,0 870,0 33 15x50 8,0 16,0 460,0
13 15x60 14,0 16,0 850,0 34 20x50 10,0 16,0 860,0
14 15x60 14,0 16,0 840,0 35 20x80 16,0 20,0 1890,0
15 15x60 14,0 16,0 860,0 36 20x90 14,0 20,0 1730,0
16 15x60 10,0 16,0 680,0 37 20x90 14,0 20,0 1850,0
17 20x80 14,0 20,0 1430,0 38 20x70 14,0 20,0 1620,0
18 20x80 14,0 20,0 1420,0 39 20x70 14,0 20,0 1510,0
19 20x75 16,0 20,0 1820,0 40 20x90 14,0 20,0 1800,0
20 15x100 14,0 20,0 1300,0 41 20x90 14,0 20,0 1610,0
21 15x100 14,0 20,0 1270,0 42 20x80 12,0 20,0 1560,0
6.2.2.1 Levantamento e ensaios realizados
a) Caracterização geométrica de seções
Uma vez que, a intervenção no edifício é apenas de caráter ilustrativo, dispensaram-se os
trabalhos de levantamento geométrico na caracterização dimensional da estrutura. Porém,
em intervenções reais, a metodologia estabelece levantamentos das dimensões em seções
transversais de vigas, lajes e pilares, como forma de redução de incertezas.
b) Ensaios de resistência para o concreto e o aço
Conforme já mencionado, o edifício “B” dispõe de documentação relativa aos ensaios de
resistência do concreto e aço empregado na estrutura, sobremaneira nos pilares do subsolo
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
125
2 (garagem). Neste caso, recaiu-se na situação “a” do item 5.4.3.1 para o concreto e item
5.4.3.2 para o aço.
Os ensaios disponíveis do concreto utilizado nos pilares do pavimento em estudo (Anexo
B) estavam originalmente distribuídos em dois lotes, num total de quatorze corpos-de-
prova. Para o primeiro lote, que possuía 12 elementos, seria conveniente o emprego do
estimador de resistência do item 7.2.3.1 da NBR 12655 (ABNT, 1996). Já para o segundo
lote, com dois corpos-de-prova, deveria ser procedido a utilização do dispositivo do item
7.2.3.3 da referida norma, para o cálculo de f
ck
,
est
. No entanto, para os fins práticos deste
trabalho, os lotes foram agrupados em apenas um conjunto de amostras, de modo que foi
realizado o tratamento estatístico em um universo formado pelos dois lotes, aplicando
assim o estimador do item 7.2.3.1 (equação (6.1). Os valores individuais do lote único
assumido são expostos na Tabela 6.6.
Tabela 6.6 – Dados do ensaio dos lotes de corpos-de-prova dos pilares do subsolo 2
(garagem) - edifício “B”.
Nº do
lote
Nº de
CP
Nº do
CP
Dimensõe
s do CP
f
ck
projeto
(Mpa)
f
ck
do CP
(Mpa)
f
ck,est
119 15x30 20 25,6
120 15x30 20 26,2
125 15x30 20 24,8
126 15x30 20 24,2
131 15x30 20 23,6
132 15x30 20 24,2
137 15x30 20 24,8
138 15x30 20 25,1
143 15x30 20 26,0
144 15x30 20 24,0
149 15x30 20 24,6
150 15x30 20 25,2
155 15x30 20 26,1
1 14
156 15x30 20 25,6
23,53
A resistência característica estimada das amostras da Tabela 6.6 apresentou o valor de:
f
ck
,
aval
= f
ck
,
est
= 23,53 MPa
Os ensaios efetuados para o aço utilizado nos pilares do subsolo estão mostrados no Anexo
C. Na Tabela 6.7 são apresentados os resultados da resistência à tração das barras de bitola
16,0 mm e 20,0 mm, de interesse a este trabalho. Estas são as bitolas das barras de aço que
compõem a armadura longitudinal dos pilares na região do subsolo 2 (garagem).
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
126
Tabela 6.7 – Dados do ensaio dos lotes de barras longitudinais dos pilares do subsolo 2
(garagem) - edifício “B”.
Nº do lote
Nº de corpos-
de-prova
Bitola
(mm)
Resistência
média (MPa)
Desvio-padrão
(MPa)
Coeficiente de
variação (δ
Fy
) %
1 16 16,0 527,56 13,94 2,65
2 16 20,0 536,19 15,16 2,83
Conforme orientação expressa no COST 345 (2004), ganhos relativos à resistência à tração
do aço, a partir de ensaios realizados em amostras, não deverão ser repassados aos
trabalhos de avaliação utilizando, portanto, os valores característicos típicos de projeto. No
entanto, as informações relativas ao coeficiente de variação foram tomadas no
estabelecimento dos fatores parciais de ponderação deste material.
Com base nos coeficientes de variação do limite de escoamento (
δ
Fy
) para as bitolas de
16,0 mm e 20,0 mm (Tabela 6.7) e, empregando-se os coeficientes relativos à geometria da
peça e ao erro no modelo a flexão (dados da Tabela 5.6), foram obtidos, a partir da
expressão (5.27), os seguintes coeficientes de variação para as barras de aço em estudo:
16 mm Æ δ
S,
aval
= 6,00 %
20 mm Æ δ
S
,aval = 6,10 %
6.3 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA PROPOSTA
Definidos os objetos de estudo, procedeu-se às considerações necessárias à avaliação da
segurança dos pilares existentes. Os passos para a aplicação da metodologia estão
desenvolvidos a seguir.
6.3.1 Considerações de avaliação – edifício “A”
Os dados obtidos das inspeções e ensaios, assim como os estudos das cargas variáveis de
períodos reduzidos, permitiram a obtenção de parâmetros mais apropriados à estrutura em
estudo, segundo suas condições atuais de existência. Baseando-se na metodologia
apresentada no Capítulo 5, as informações a respeito do edifício puderam ser atualizadas e
isso ocorreu da maneira como segue.
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
127
6.3.1.1 Resistência dos materiais
a) Resistência do concreto e coeficiente de modificação (K
MOD,aval
)
Conforme já exposto, a resistência do concreto dos pilares da garagem, a partir dos ensaios
realizados em testemunhos foi de 24,66 MPa, o que não acarretou acréscimos em relação à
resistência à compressão utilizada em projeto. Na realidade, a resistência estimada pelos
ensaios com testemunhos ficou um pouco aquém daquela estabelecida em projeto.
Portanto, tem-se, para a estrutura em questão: K
MOD1
= 1,0.
O coeficiente K
MOD2
, que trata da ocorrência do efeito Rüsch, foi obtido pela análise das
cargas de cálculo considerando, de forma teórica, sua plena aplicação aos 28 dias.
Conforme apresentado, a redução da resistência ocorreu nos casos em que os esforços
solicitantes de cálculo ultrapassaram 70% dos esforços resistentes de cálculo. As
solicitações foram obtidas do modelo no programa de cálculo, com parâmetros de entrada
de projeto e a resistência da seção dos pilares a partir das resistências características
individuais do concreto e aço, minoradas por seus respectivos fatores parciais de cálculo. A
Tabela 6.8 apresenta os resultados das análises.
Tabela 6.8 – Análise do K
MOD2
- edifício “A”.
Pilar
Carga axial de
cálculo
máxima na
modelagem S
d
(kN)
*Carga
admissível de
cálculo da
seção R
d
(kN)
Relação
S
d
/R
d
** K
MOD2
P1 4959,36 7990,41 62% 1,00
P2 11076,38 15870,52 67% 1,00
P3 6468,00 7990,41 79% 0,75
P4 9693,95 12590,64 77% 0,75
P5 19236,00 22740,17 82% 0,75
P6 9226,00 11880,21 75% 0,75
P7 7749,22 11220,77 69% 1,00
P8 7523,45 11220,77 67% 1,00
P9 7835,27 10150,63 78% 0,75
P10 7603,96 8310,88 91% 0,75
P11 10060,79 11880,21 85% 0,75
P12 3808,98 4810,17 78% 0,75
P13 9394,00 12120,83 75% 0,75
P14 6202,42 7590,09 79% 0,75
Observações:
* Obtida pela contribuição da resistência do concreto, considerada igual ao valor do f
ck
,
e a contribuição das barras de aço com tensão correspondente à deformação de 2‰ e
resistência ao escoamento considerada igual à de projeto.
** Ver item 5.4.3.1
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
128
O K
MOD3
adotado para o caso do edifício “A” foi igual a 0,95 uma vez que a relação h/d
dos testemunhos extraídos foi da ordem de 2,0. Assim, têm-se os seguintes K
MOD,aval
,
utilizados para modificar a resistência do concreto do edifício “A” por ocasião da avaliação
de segurança de seus pilares, através da expressão (5.11).
Tabela 6.9 – Valores de K
MOD,aval
– edifício “A”
Pilar K
MOD1
K
MOD2
K
MOD3
K
MOD,aval
P1 1,0 1,00 0,95 0,95
P2 1,0 1,00 0,95 0,95
P3 1,0 0,75 0,95 0,71
P4 1,0 0,75 0,95 0,71
P5 1,0 0,75 0,95 0,71
P6 1,0 0,75 0,95 0,71
P7 1,0 1,00 0,95 0,95
P8 1,0 1,00 0,95 0,95
P9 1,0 0,75 0,95 0,71
P10 1,0 0,75 0,95 0,71
P11 1,0 0,75 0,95 0,71
P12 1,0 0,75 0,95 0,71
P13 1,0 0,75 0,95 0,71
P14 1,0 0,75 0,95 0,71
b) Resistência do aço
Conforme apresentado, na determinação da resistência ao escoamento do aço por ocasião
de avaliação da segurança, não serão computados ganhos em relação à resistência
considerada em projeto. Já nos casos de resultados deficitários, tal informação deve ser
levada em consideração, pois atenta contra a segurança. Para o edifício “A” por não se
haver realizado os ensaios do aço empregado nos pilares da garagem, foi adotado, para
avaliação proposta, a resistência ao escoamento igual àquela de projeto, admitida uma
deformação máxima de 2,0
, ou seja:
f
yk,aval
= 420 MPa
6.3.1.2 Atualização das ações
a) Ações permanentes
Uma vez terem sido realizados os levantamentos para a caracterização geométrica dos
elementos estruturais do edifício em questão, os valores referentes às dimensões das
respectivas seções transversais foram tomados a partir do quantil característico de 95%
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
129
acumulado, conforme dados da Tabela 6.2. Isto ocasionou melhorias em relação ao modelo
de incertezas de projeto.
b) Ações variáveis de utilização
Conforme apresentado no item 5.4.2.2 , as sobrecargas de utilização foram tomadas do
ajustamento dos dados de levantamentos instantâneos, Dessa forma, como parâmetro de
entrada para o cálculo dos esforços de avaliação, foi adotada uma sobrecarga única,
segundo o quantil acumulado de 95%, no ajustamento de dados de levantamento via
distribuição gama e representada pela expressão 5.5 (pág. 93).
Da integração da expressão 5.5 para F
L
(x; η
,
ω)= 0,95 obteve-se o valor para a sobrecarga
instantânea igual a 0,875 kN/m
2
.
c) Ações devidas ao vento
Na determinação das forças devidas ao vento, para o período de avaliação estrutural
especificado, assumiu-se uma velocidade básica da ordem de 80% daquela instituída para o
projeto, com o uso do fator de redução de Rosowsky (1995).
Levando-se em conta que a velocidade básica tomada para projetos na região de
Uberlândia é 34 m/s obteve-se, para avaliação, segundo período de dois a três meses, um
valor igual a 27,2 m/s. Os fatores S
1
, S
2
e S
3
, assim como os coeficientes de arrasto, foram
tomados de acordo com o estabelecido pela NBR 6123 (ABNT, 1988), levando-se em
conta a localização do edifício e suas dimensões.
6.3.1.3 Probabilidade de falha
Para fixação do índice de confiabilidade a se utilizar na avaliação, considerou-se que a
necessidade da suposta intervenção tenha sido estabelecida mediante inspeção completa da
edificação constatando-se, por meio dela, a ocorrência do problema patológico de corrosão
nas armaduras em todos os pilares da garagem, cuja deterioração processando-se em estado
inicial. Admitiu-se ainda que estes pilares possuem responsabilidade tal que a falha conduz
a colapso, colocando em risco um número superior a 100 pessoas. Da Tabela 5.5 e,
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
130
admitindo um β de projeto no valor de 3,5, pela formulação (5.14) determinou-se um β
aval
igual a 3,25.
6.3.1.4 Coeficientes de ponderação
a) Ponderação do concreto
Em função das características específicas do edifício analisado, foi possível determinar
novos coeficientes de ponderação mantendo-se, no entanto, uma probabilidade de falha
admissível, cujo índice de confiabilidade foi estabelecido por β
aval
.
No caso do concreto das seções dos pilares analisados, o coeficiente de ponderação foi
obtido a partir de β
aval
e do coeficiente de variação da resistência, determinado pelos
ensaios de ultra-sonografia (Apêndice A). Tendo-se 3,25 para o índice de confiabilidade,
δ
c,aval
igual a 8% e considerando α
R
igual a 0,80, com a utilização da expressão (5.25),
obteve-se:
γ
C,aval
= 1,10
O que imputou uma redução de 21% em relação àquele estabelecido para projeto de novas
estruturas. Este valor encontra-se próximo ao sugerido por Cabré (1994).
b) Ponderação do aço
Em função da não existência de controle tecnológico na execução e da não realização de
ensaios com testemunhos de barras de aço extraídos de pilares, adotou-se um coeficiente
de ponderação igual ao valor de projeto, ou seja:
γ
S,aval
= 1,15
c) Ponderação das ações permanentes
No caso das ações permanentes, em virtude dos levantamentos e caracterizações
geométricas efetuadas, puderam reduzir-se incertezas de projeto. Dessa forma, conforme
apontou Allen (1991), o coeficiente de variação deste parâmetro ficaria reduzido ao valor
de 5%. Porém, optou-se adotar um valor de 7,5% para
δ
G,aval
de forma a resguardar
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
131
possíveis equívocos para o padrão de amostragem nas medições dos elementos estruturais
do edifício “A”. De posse desse valor, considerando o valor de β
aval
já apontado e
utilizando
α
S
igual a 0,75, na expressão (5.30), obteve-se:
γ
G,aval
= 1,19
Próximo ao 1,20 proposto por Laranja e Brito (2000), embora diferindo do limite de
redução de 10% sugerido por Cabré (1994) para as situações de rigorosa investigação e
medições
in loco.
d) Coeficiente de ponderação das sobrecargas de utilização
Para as sobrecargas de utilização, o procedimento adotado para estabelecimento do fator
parcial retomou o emprego da expressão (5.31), na qual foi requerido a integração da
expressão (5.5) para os dois níveis acumulados 95% e 99,5%, conforme a definição de
coeficiente de majoração (FERRY-BORGES; CASTANHETA, 1971). Dessa forma, da
integração obteve-se:
X
95%
Æ 0,875 kN/m
2
X
99,5%
Æ 1,14 kN/m
2
Ao se aplicar tais valores em (5.31) foi determinado, para o coeficiente de ponderação das
sobrecargas de avaliação.
%95
%5,99
,
X
X
γ
avalQ
=
Æ
875,0
14,1
,
=
avalQ
γ
Obtendo-se como coeficiente de ponderação das cargas acidentais:
γ
Q,aval
= 1,30
e) Coeficiente de ponderação das forças de vento
Para este trabalho, nenhum procedimento foi proposto para a redução do coeficiente
relativo a ponderação das ações devidas ao vento. Isto se deriva do fato de que tais
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
132
fenômenos possuem variabilidade inerente fora do controle e domínio humano o que torna
inviável a redução de incertezas na sua ocorrência (ACHE, 2003). Dessa forma adotou-se:
γ
W,aval
= 1,40
6.3.1.5 Coeficiente global de segurança na avaliação
De posse de todas as considerações anteriores, pôde-se determinar o coeficiente global de
segurança efetivo a ser respeitado por ocasião da intervenção nos pilares, de uma forma
específica às condições do edifício “A”.
Conforme Montoya et al (1973a), a segurança global contra o colapso de pilares relaciona-
se ao produto das margens individuais de segurança auferidas ao concreto (passível de
ruptura por compressão) e à ação dominante que, no caso, é representada pelas cargas
permanentes. Assim, conforme denotado pela expressão (5.33) determinou-se, para o
edifício “A”, segundo as condições e os meios disponíveis para a redução de incertezas de
projeto e, respeitando-se o índice de confiabilidade (β
aval
) já informado, o seguinte valor
para a segurança global durante a recuperação estrutural de pilares:
γ
aval
= 1,31
6.3.1.6 Fator de combinação para ações variáveis
Conforme expresso, em virtude do reduzido período de tempo envolvido na análise da
segurança para recuperação estrutural de pilares, tem-se elevada probabilidade de que as
cargas variáveis independentes, definidas para tal situação, ocorram simultaneamente e
com suas intensidades máximas. Turkstra e Madsen (1980) evidenciaram esta tendência ao
reduzir-se o intervalo de tempo considerado nas simulações de carregamentos.
Uma vez que, o índice de confiabilidade na avaliação exibe uma redução de =0,25, em
relação àquele definido em projeto, a partir da Tabela 5.7 defini-se o seguinte valor para o
fator de combinação para o
ELU:
ψ
0,aval
= 0,70
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
133
6.3.1.7 Resumos dos parâmetros adotados na avaliação
A partir de todas as considerações realizadas para o edifício “A”, tendo-se baseado na
pesquisa teórico-experimental e nas apropriações
in loco, foram estabelecidos os
parâmetros relacionados e os valores de cargas e resistências para a situação de avaliação.
A Tabela 6.10 apresenta um quadro comparativo entre esses valores e aqueles
considerados em projeto.
Tabela 6.10 – Comparação entre os parâmetros de projeto e de avaliação – edifício “A”.
Resistências
(MPa)
Ações
(kN/m
2
)
Coeficientes de ponderação
Utilização Resistências Ações
Situação
Conc Aço
Q/S/
C
A.S.
Vento
(m/s)
Conc Aço Perm sobr vent
γ
K
MOD
Projeto 25,00 420,0 1,50 2,00 34,00 1,40 1,15 1,40 1,40 1,40 1,96 0,85
Avaliação 24,66 420,0 0,875 0,875 27,20 1,10 1,15 1,19 1,30 1,40 1,31
Tabela
6.9
Observações:
Q/S/C – sobrecarga para quarto, sala e cozinha;
A.S. – sobrecargas nas áreas de serviço;
Conc – concreto;
Perm – relacionado às ações permanentes;
Sobr – relacionado às sobrecargas de utilização;
Vent – relacionado às ações devidas ao vento.
6.3.2 Considerações de avaliação – edifício “B”
Para o edifício “B” dispunham-se dos resultados do controle tecnológico do concreto e do
aço da época de execução da obra. Dessa forma, na determinação da resistência do
primeiro material nos dias atuais, foi utilizada a formulação para estimativa de crescimento
da resistência do concreto no decorrer do tempo, de acordo com a NBR 6118 (ABNT,
2003).
Não se realizaram os levantamentos e caracterizações geométricas de elementos
permanentes, por se tratar de uma simulação e também devido à indisponibilidade para
realização de tais medidas no edifício em estudo. Todas as considerações realizadas estão
dispostas como se segue.
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
134
6.3.2.1 Resistência dos materiais
a) Resistência do concreto e coeficiente de modificação (K
MOD,aval
)
Dos ensaios de controle tecnológico realizados quando da execução do edifício “B”,
apresentado na Tabela 6.6, foi obtido o valor estimado para o f
c,28
, por meio da aplicação
do estimador dado no item 7.2.3.1 (NBR 12655:1996) dado pela equação (6.1). O valor
para resistência encontrado aos 28 dias foi de:
f
ck,est
= 23,53 MPa
Para a determinação do ganho de resistência no período que vai desde a concretagem dos
pilares do subsolo 2, em 1997, até os dias atuais, data da suposta intervenção estrutural, foi
tomada a formulação normativa expressa em (5.8). Sendo o cimento empregado nos pilares
do tipo
ARI Plus (S=0,2) e, considerando o período de janeiro de 1997 a dezembro de 2005
(t 3250 dias). Obteve-se para K
MOD1
, a partir de (5.8), o valor de:
K
MOD1
= 1,19
Os resultados dos ensaios de testemunhos extraídos de pilares do edifício “A” mostraram
que o ganho de resistência pode muito baixo após os 28 dias, principalmente se os
elementos concretados não forem submetidos a condições ideais de cura. Assim, cuidados
deverão ser tomados na aplicação da formulação (5.8), pois ela pode não refletir as
características dos cimentos fabricados no Brasil e das condições em que são empregados
os concretos com eles produzidos. Para a aplicação da metodologia a partir dos dados do
edifício “B” será admitida suficiente a formulação em questão. No entanto, para melhoria
do processo proposto, deverão ser realizados estudos da evolução da resistência para as
condições dos cimentos nacionais produzidos, sobretudo nos últimos 10 anos, para
aperfeiçoamento e maior confiabilidade.
Este foi o valor utilizado no estabelecimento da resistência à compressão do concreto, uma
vez que, se encontra dentro do limite de 20% de crescimento proposto por Da Cunha e
Vieira Ângelo (2003) para os caso em que f
ck
,
est
f
ck
.
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
135
Na obtenção do coeficiente de modificação K
MOD2
foi adotado o mesmo critério utilizado
para o edifício “A”, em que as cargas verticais de cálculo obtidas pelo modelo
computacional do edifício foram comparadas às resistências de cálculo do concreto e aço
da seção, observando o limite de 70% da relação R
d
/S
d
. Os resultados foram apresentados
na Tabela 6.11.
Tabela 6.11 – Análise do K
MOD2
– edifício “B”
Pilar
Carga axial
de cálculo
na
modelagem
S
d
(kN)
*Carga
admissível
de cálculo
da seção
R
d
(kN)
R
d
/S
d
(%)
**
K
MOD2
Pilar
Carga axial
de cálculo
na
modelagem
S
d
(kN)
*Carga
admissível
de cálculo
da seção
R
d
(kN)
R
d
/S
d
(%)
**
K
MOD2
1
2481,7 4040,9 61% 1,00
22
2311,7 3680,6 63% 1,00
2 2443,2 4110,4 59% 1,00 23 1421,0 2270,3 63% 1,00
3 2599,9 4110,4 63% 1,00 24 1407,2 2130,2 66% 1,00
4
2923,6 4620,0 63% 1,00
25
1505,3 2130,2 71% 0,75
5 2934,2 4620,0 64% 1,00 26 1504,4 2130,2 71% 0,75
6 2471,4 4110,4 60% 1,00 27 1515,8 2130,2 71% 0,75
7
2179,6 4110,4 53% 1,00
28
1174,8 1990,1 59% 1,00
8 2143,3 3820,8 56% 1,00 29 1566,2 2530,0 62% 1,00
9 1477,6 2130,4 69% 1,00 30 1377,0 1630,6 84% 0,75
10
1348,8 1630,6 82% 0,75
31
1134,2 1630,6 69% 1,00
11 1287,3 1630,6 79% 0,75 32 1133,0 1630,6 69% 1,00
12 1066,3 2130,4 50% 1,00 33 1355,0 1630,6 83% 0,75
13
1543,1 2270,3 68% 1,00
34
1023,6 2530,0 40% 1,00
14 1450,8 2270,3 64% 1,00 35 2517,9 4040,9 62% 1,00
15 1284,5 2270,3 57% 1,00 36 2357,7 4110,4 57% 1,00
16
1151,8 1990,1 58% 1,00
37
2465,5 4110,4 60% 1,00
17 2151,1 3820,8 56% 1,00 38 2166,6 3540,3 61% 1,00
18 2137,5 3820,8 56% 1,00 39 2022,6 3540,3 57% 1,00
19
2467,2 3900,6 63% 1,00
40
2391,9 4110,4 58% 1,00
20 1716,4 3680,6 47% 1,00 41 2045,8 4110,4 50% 1,00
21
1687,9 3680,6 46% 1,00
42
2097,5 3680,6 58% 1,00
Devido ao fato de os ensaios do controle tecnológico terem sido realizados em corpos-de-
prova de dimensões 15x30 cm, para K
MOD3
assumiu-se o valor de 0,95 (FUSCO, 1993).
Desse modo, para a determinação da resistência à compressão efetiva nos pilares do
subsolo 2, foram obtidos os seguintes valores de K
MOD,aval
pela expressão (5.11)
.
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
136
Tabela 6.12 – Valores de K
MOD,aval
– edifício “B”
Pilar K
MOD1
K
MOD2
K
MOD3
K
MOD,aval
Pilar K
MOD1
K
MOD2
K
MOD3
K
MOD,aval
1 1,19 1,00 0,95 1,13 22 1,19 1,00 0,95 1,13
2 1,19 1,00 0,95 1,13 23 1,19 1,00 0,95 1,13
3 1,19 1,00 0,95 1,13 24 1,19 1,00 0,95 0,85
4 1,19 1,00 0,95 1,13 25 1,19 0,75 0,95 0,85
5 1,19 1,00 0,95 1,13 26 1,19 0,75 0,95 0,85
6 1,19 1,00 0,95 1,13 27 1,19 0,75 0,95 0,85
7 1,19 1,00 0,95 1,13 28 1,19 1,00 0,95 1,13
8 1,19 1,00 0,95 1,13 29 1,19 1,00 0,95 1,13
9 1,19 1,00 0,95 0,85 30 1,19 0,75 0,95 0,85
10 1,19 0,75 0,95 0,85 31 1,19 1,00 0,95 1,13
11 1,19 0,75 0,95 0,85 32 1,19 1,00 0,95 1,13
12 1,19 1,00 0,95 1,13 33 1,19 0,75 0,95 0,85
13 1,19 1,00 0,95 1,13 34 1,19 1,00 0,95 1,13
14 1,19 1,00 0,95 1,13 35 1,19 1,00 0,95 1,13
15 1,19 1,00 0,95 1,13 36 1,19 1,00 0,95 1,13
16 1,19 1,00 0,95 1,13 37 1,19 1,00 0,95 1,13
17 1,19 1,00 0,95 1,13 38 1,19 1,00 0,95 1,13
18 1,19 1,00 0,95 1,13 39 1,19 1,00 0,95 1,13
19 1,19 1,00 0,95 1,13 40 1,19 1,00 0,95 1,13
20 1,19 1,00 0,95 1,13 41 1,19 1,00 0,95 1,13
21 1,19 1,00 0,95 1,13 42 1,19 1,00 0,95 1,13
b) Resistência do aço
Os ensaios de resistência ao escoamento na tração em barras de aço, quando seus
resultados apontam valores superiores àqueles utilizados em projeto, não sendo
empregados nas atualizações e considerações sobre esta propriedade na avaliação. Para o
caso específico do edifício “B”, a Tabela 6.7, analisada estatisticamente, aponta para tal
situação. Assim, por questões de garantia da segurança, adotou-se para a avaliação, a
resistência na deformação de 2
, a mesma utilizada em projeto. Neste caso:
f
yk,aval
= 420 MPa
6.3.2.2 Obtenção das ações para avaliação
a) Ações permanentes
Não foram, neste caso, realizadas medições e levantamentos
in loco das dimensões de
elementos permanentes, estruturais ou não. No entanto, tendo-se por base a indicação
encontrada em Ellingwood et al (1980), o valor característico das dimensões de elementos
estruturais foi tomado a partir das dimensões nominais de projeto realizando-se, a partir
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
137
destas, um acréscimo de 5% para ter-se em conta a redução de incertezas (Item 5.4.2.1 .
Nestas condições assumiu-se um coeficiente de variação da ordem de 10% para esta
variável. Com base nos projetos de forma de todos os pavimentos do edifício em questão e,
aplicando o exposto, foram determinadas as dimensões características de avaliação, que
são apresentadas na Tabela 6.13.
Tabela 6.13 – Determinação das dimensões características das peças estruturais de
concreto para avaliação
– edifício “B”.
Elemento Dimensão
Valor nominal
de projeto
(cm)
Valor característico
de avaliação
(acréscimo de 5%)
(cm)
Coef. de
variação
adotado %
10,0 10,5 10%
Base (b)
20,0 21,0 10%
40,0 42,0 10%
Viga
Altura (h)
50,0 52,5 10%
15,0 15,0 10%
Lado menor
20,0 21,0 10%
50,0 52,5 10%
60,0 63,0 10%
70,0 73,5 10%
75,0 78,75 10%
80,0 84,0 10%
90,0 94,5 10%
Pilar
Lado maior
100,0 105,0 10%
7,0 7,35 10%
8,0 8,4 10%
Laje Altura
9,0 9,45 10%
Paredes e demais elementos fixos foram tomados conforme projeto.
b) Ações variáveis de utilização
A sobrecarga de utilização mais compatível com os períodos de recuperação de pilares,
sendo aquela proveniente de levantamentos instantâneos, foi adotada, assim como o caso
do edifício “A”, partindo-se do ajuste feito por Corotis e Doshi (1977), sendo seu valor
único para todas as regiões das lajes, igual a 0,875 kN/m
2
.
c) Ações devidas ao vento
Com relação à velocidade básica do vento, o valor usado na avaliação comportou redução
dada pelo fator de ajustamento de Rosowsky (1995), estabelecido na Tabela 5.2. Assim, a
exemplo do que ocorreu no edifício “A”, a velocidade básica na avaliação da segurança na
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
138
recuperação estrutural de pilares, proposta neste trabalho, possui valor de 27,20 m/s para a
cidade de Uberlândia.
Fatores S
1
, S
2
, e S
3
, além dos coeficientes de arrasto, foram considerados de acordo com as
características do local de implantação e das dimensões da edificação em si, conforme
prescreve a NBR 6123 (ABNT, 1988).
6.3.2.3 Probabilidade de falha
Para esta aplicação foi considerado que o edifício “B” apresentasse as mesmas condições
gerais do edifício “A”, incluindo as características de inspeção e problemas de corrosão nas
armaduras dos pilares do subsolo 2 (garagem) ainda em estágio inicial. Dessa forma,
adotou-se uma probabilidade de falha na avaliação:
β
aval
= 3,25
6.3.2.4 Coeficientes de ponderação
a) Ponderação do concreto
Para o edifício “B”, a fixação dos fatores parciais de segurança, tanto para os materiais,
quanto para as ações, foi realizada em função dos dados existentes e que foram
disponibilizados pela construtora para a realização desta pesquisa. Tais informações
referem-se aos projetos, controle tecnológico do concreto e aço, diários de obra, etc.
Para o coeficiente de ponderação do concreto, a amostragem obtida do rompimento dos
corpos-de-prova não apresentava número suficiente de elementos para a realização das
devidas considerações sobre o coeficiente de variação, que é diretamente ligado à fixação
dos fatores parciais. Conforme Fusco (1976), trata-se das chamadas pequenas amostras e o
que pode ser feito é o estabelecimento de um intervalo de confiança para o desvio-padrão.
No entanto, para as finalidades deste trabalho, adotou-se a formulação para o
“dimensionamento” do coeficiente de variação da resistência à compressão do concreto
utilizado na obra. Isto foi feito com base na formulação (5.13), tendo-se como parâmetros
de entrada, aqueles definidos na Tabela 5.4, aceitando-se que o concreto usinado foi
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
139
fornecido por um empresa honesta, levando-se em conta a idoneidade da construtora e
sabendo-se que a estrutura foi concebida com o uso de programa de cálculo. Da Tabela 5.4
definiu-se então:
δ
M
= 0,10 (condições cuidadosas de preparo do material)
δ
E
= 0,10 (condições cuidadosas de execução)
δ
D
= 0,05 (condições cuidadosas de dimensionamento das seções e elementos
estruturais)
Aplicando-se tais valores na formulação (5.13), obteve-se para o coeficiente de variação da
resistência à compressão do concreto na avaliação (
δ
c,aval
) o valor de 15%.
O ajuste no coeficiente de minoração do concreto foi realizado utilizando-se a expressão
(5.25), com β
aval
=3,25 e α
R
=0,80. Isto levou ao seguinte fator parcial na avaliação:
γ
c,aval
= 1,23
O que significa uma redução de 12% em relação ao usado em projeto, em função da
redução do nível de incertezas na situação de avaliação.
b) Ponderação do aço
A amostragem utilizada nos ensaios de tração do aço foi considerada satisfatória para as
considerações relativas ao coeficiente de variação de sua resistência ao escoamento.
Conforme apontado no Item 6.2.2.1 este parâmetro foi generalizado segundo um valor de
6,1%, tanto para a bitolagem de 16 mm, quanto para a de 20 mm. Finalmente, o fator
parcial de ponderação do aço na avaliação (
γ
s,aval
) para o edifício “B”, foi obtido com
aplicação de
δ
s,aval
=6,1%, juntamente com o β
aval
já definido e α
R
=0,80 na expressão
(5.26), o que gerou:
γ
s,aval
= 1,07
c) Ponderação das ações permanentes
No caso das ações permanentes, apesar de que para o edifício “B” não terem sido
realizados os devidos levantamentos e caracterizações de seus elementos fixos, optou-se
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
140
pela adoção de um coeficiente de variação de 10% e tomando uma distribuição normal
para o comportamento dessas cargas (ALLEN, 1991; LARANJA; BRITO, 2000). No caso
de uma intervenção real, uma redução efetiva nas incertezas desse tipo de solicitação
deveria ser efetuada mediante procedimentos já descritos no Item 5.4.2.1 Para a situação
em questão, adotou-se, além de
δ
G,aval
=10%, um β
aval
=3,25 e α
S
=0,75 que, aplicados juntos
à formulação (5.25), obteve-se:
γ
G,aval
= 1,24
d) Ponderação das ações variáveis de utilização
Para as sobrecargas de utilização, na determinação de um coeficiente parcial para
avaliação, foi empregado o mesmo procedimento usado para o edifício “A”. Sendo os
valores de X
95%
e X
99,5%
os mesmos para os dois edifícios, resultou em um mesmo γ
Q,aval
.
Assim, foi utilizado, para este parâmetro, o valor de 1,30.
e) Ponderação das ações devidas ao vento
Pelos motivos já expostos, as ações devidas ao vento não comportaram reduções no
coeficiente de ponderação para a avaliação. Isto levou a utilização do coeficiente
normativo de projeto, ou seja:
γ
w,aval
= 1,40
6.3.2.5 Coeficiente global de segurança na avaliação
De posse de todo o exposto, pôde-se determinar o coeficiente global de segurança efetivo a
ser respeitado por ocasião da intervenção nos pilares, de forma específica para o edifício
“B”. Neste caso, a menor disponibilidade de informações, principalmente sobre as ações
permanentes e sobre o coeficiente de variação da resistência à compressão do concreto,
fez-se refletir no coeficiente global de segurança, que assumiu um valor suficiente para
cobrir o grau de incertezas ainda existentes.
γ
aval
= 1,53
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
141
Nota-se que o coeficiente de segurança admissível na avaliação do edifício “B” possui um
valor superior ao do edifício “A”. Isto se justifica pela menor redução de incertezas neste
segundo exemplo de aplicação.
6.3.2.6 Fator de combinação para ações variáveis
Semelhante ao considerado para o edifício “A”, em função da redução do índice de
confiabilidade para a avaliação, estabeleceu-se o novo fator de combinação para cargas
variáveis:
ψ
0,aval
= 0,70
6.3.2.7 Resumos dos parâmetros adotados na avaliação
A partir de todas as considerações feitas para o edifício “B”, tendo-se baseado na
pesquisa teórica e dados experimentais do controle tecnológico, foram estabelecidos os
parâmetros relacionados e os valores de cargas e resistências para a situação de avaliação.
A Tabela 6.14 apresenta um quadro comparativo entre esses valores e aqueles normativos
de projeto.
Tabela 6.14 – Comparação entre os parâmetros de projeto e de avaliação – edifício “B”.
Resistências
(MPa)
Ações
(kN/m
2
)
Coeficientes de ponderação
Utilização Resistências Ações
Situação
Conc Aço
Q/S/
C
A.S.
Vento
(m/s)
Conc Aço Perm sobr vent
γ
K
MOD
Projeto 20,00 420,0 1,50 2,00 34,00 1,40 1,15 1,40 1,40 1,40 1,96 0,85
Avaliação 23,53 420,0 0,875 0,875 27,20 1,23 1,07 1,24 1,30 1,40 1,53
Tabela
6.12
Observações:
Q/S/C – sobrecarga para quarto, sala e cozinha;
A.S. – sobrecargas nas áreas de serviço;
Conc – concreto;
Perm – relacionado às ações permanentes;
Sobr – relacionado às sobrecargas de utilização;
Vent – relacionado às ações devidas ao vento.
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
142
6.4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Da modelagem dos dois edifícios estudados em meio computacional e, partindo-se dos
parâmetros definidos especificamente para a ocasião da suposta recuperação estrutural nos
dois casos, realizou-se a geração de esforços comparando-os com as resistências efetivas
oferecidas pelas seções transversais dos pilares no momento da intervenção. Nesta
comparação levaram-se em consideração, tanto as cargas verticais, quanto os momentos
atuantes, balizando-se a análise no coeficiente de segurança global de avaliação definido
para cada um dos edifícios.
Dessa análise, seguiu-se à decisão quanto ao procedimento de recuperação a adotar:
Estabelecimento da quantidade de concreto deteriorado a ser extraída de uma só
vez na seção, mantendo-se uma segurança pré-estabelecida;
Ou escoramento do elemento estrutural caso o coeficiente global não fosse
atendido.
Nos casos em que a resistência da seção do pilar existente propiciou, frente às cargas de
avaliação, a possibilidade de intervenção para a remoção de concreto deteriorado, foi
necessário regulamentar a forma de execução dos serviços. De uma forma geral e mesmo
se o coeficiente global assim o permitisse, foi descartada a possibilidade de corte e retirada
de material de toda a seção. Isto foi adotado em virtude da possibilidade de flambagem
local das barras longitudinais caso estas permanecessem, ao mesmo tempo, sem uma
devida camada de cobrimento, ainda que pouco espessa. Também se descartou a
intervenção sem escoramento quando a folga no coeficiente global de segurança fosse
muito pequena.
Assim, uma orientação geral a ser obedecida nos trabalhos de recuperação, proposta como
uma padronização para análise, é apresentada na Figura 6.3:
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
143
Figura 6.3 – Tipos de intervenções propostas – vista em planta.
Para a extração de parcela de concreto deteriorado que garanta a perfeita assepsia das
armaduras e com ela a garantia de estabilização do processo corrosivo, faz-se necessária a
retirada de material não só da camada de cobrimento, mas também de uma parte mais
profunda do concreto. Foi considerada, então, a necessidade da retirada e escarificação de
uma profundidade de 1,0 cm “por trás” das armaduras longitudinais, o que gerou uma
profundidade final de extração, para os dois casos “A” e “B”, de 5,0 cm em média (1,5 cm
de cobrimento, 0,63 cm do estribo e uma média de 1,6 cm da armadura longitudinal). Um
esquema da extração a ser realizada é mostrado na Figura 6.4.
Figura 6.4 – Representação esquemática da profundidade de remoção de
concreto deteriorado no pilar.
A altura de remoção deverá se estender até os pontos onde ainda existam corrosões nas
barras. Em geral, nas garagens de edifícios, a deterioração se estende até 1,0 m em relação
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
144
ao piso, pois, esta é a altura geralmente despassivada da armadura e com umidade
suficiente para a propagação do processo corrosivo. A Figura 6.5 apresenta um esquema da
altura de extração.
Figura 6.5 – Representação esquemática da altura de remoção de concreto
deteriorado no pilar.
Nos caso em que seja necessária a intervenção que extrapole a altura mostrada na Figura
6.5, tendo que se extrair concreto deteriorado em faixas mais extensas do pilar ou que na
região os estribos estejam rompidos, faz-se conveniente a retirada do material em partes,
fracionando a execução do serviço de modo a respeitar uma altura de máxima de concreto
a se retirar por vez, a qual será função do diâmetro da barra. Este procedimento visa à
proteção das armaduras longitudinais frente à possibilidade de flambagem local,
normalmente contida pelos estribos e pela camada de cobrimento existente sobre a
armadura.
As intervenções sempre são realizadas por empresas especializadas neste tipo de serviço.
As indicações apresentadas na Figura 6.3 não constituem as únicas possibilidades para
execução dos serviços. Uma interação entre consultor e empresa especializada deve ser
realizada o que poderá render como frutos, outros tipos ou esquemas de intervenção.
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
145
Outras considerações ainda poderão ser feitas de acordo com a mão-de-obra e produtos de
reparos disponíveis.
6.4.1 Observações sobre a modelagem de edifícios existentes
A metodologia apresentada neste trabalho preconizou a modelagem da estrutura existente
em programa de cálculo, utilizando procedimentos de análise estrutural mais sofisticados,
para se chegar a esforços mais condizentes com aqueles atuantes no edifício. A partir do
modelo realizado no microcomputador, que deveria inicialmente refletir de uma forma fiel
a estrutura construída, fez-se a entrada dos parâmetros de avaliação, obtendo-se assim os
esforços nos períodos reduzidos de tempo.
Uma inconsistência surgiu na construção de tal modelo uma vez que, em alguns pilares,
tanto no caso “A” quanto no caso “B”, os esforços inicialmente gerados no programa a
partir dos parâmetros normativos de projeto, diferiam em mais que 10% dos esforços com
que os pilares foram dimensionados. Assim, para contemplar as diferenças entre o modelo
estrutural aproximado mediante o programa e as cargas fornecidas no projeto, foram
determinados fatores de ajuste. Estes fatores foram obtidos considerando a relação entre o
valor de projeto e o maior valor do somatório das cargas verticais obtidas pelo programa.
Na fase inicial de modelagem, o procedimento para adoção dos valores das cargas atuantes
basicamente, resumiu-se em:
Esforços gerados pelo modelo computacional foram maiores que os esforços de
cálculo – obtenção de fatores de ajustes iguais a 1,0;
Esforços de projeto maiores que os esforços do modelo – obtenção de fatores de
ajuste maiores que 1,0.
Posteriormente, ao se gerar os esforços de avaliação, estes foram submetidos ao ajuste
proposto, para só então estarem aptos a representarem aos valores reduzidos propostos para
a finalidade deste trabalho.
Tal procedimento foi assumido em favor da segurança, uma vez que não se pôde garantir
qual das situações, modelo para avaliação ou modelo de projeto, refletia de forma mais
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
146
aproximada, o comportamento da estrutura. Estudos relativos à remodelagem de estruturas
existentes deverão ser realizados para um maior aperfeiçoamento da metodologia
apresentada.
Em virtude dos momentos atuantes na fundação não se apresentarem disponíveis nos
projetos, em ambos os casos, foram assumidos como atuantes aqueles gerados na
modelagem estrutural realizada no programa de cálculo para avaliação.
No processamento do modelo computacional de avaliação foram utilizados os recursos: a)
análise estrutural via pórtico espacial; b) efeitos de segunda ordem global e local; c) análise
elástica linear para geração dos esforços; d) efeitos de desaprumo e imperfeições globais;
e) aplicação de força de vento, entre outros.
Os detalhes e considerações na modelagem dos edifícios encontram-se no Apêndice B
. A
Tabela 6.15 e a Tabela 6.16 apresentam os esforços de projeto (de dimensionamento) e os
esforços obtidos no modelo (com os parâmetros normativos de projeto), e os respectivos
fatores de ajuste para as cargas atuantes nos pilares.
Tabela 6.15 – Esforços de projeto e do modelo computacional (com os parâmetros
normativos de projeto) - edifício “A”.
Valores característicos
Resultados obtidos no modelo Projeto
Pilar
Peso
próprio
G1 (kN)
Cargas
permanentes
G2 (kN)
Carga
acidental
Q (kN)
Vento
em X
Vx
(kN)
Vento
em Y
Vy
(kN)
Carga
axial
(kN)
Fator de
ajuste
1 1307,3 1101,1 324,0 810,0 530,0 2990,0 1,00
2 3120,6 2354,5 936,6 1500,0 280,0 7210,0 1,00
3 1656,7 1512,7 476,6 940,0 410,0 4620,0 1,01
4 2604,6 2169,3 763,1 230,0 890,0 7180,0 1,12
5 5393,9 4278,1 1745,1 1220,0 0,0 13740,0 1,09
6 2780,4 1731,4 733,3 880,0 620,0 6590,0 1,08
7 2512,5 1500,0 703,8 360,0 1030,0 5090,0 1,00
8 2537,4 1172,6 666,5 830,0 1020,0 5570,0 1,03
9 2512,5 1500,0 704,8 150,0 1040,0 5810,0 1,01
10 2256,8 2200,4 704,2 270,0 440,0 4800,0 1,00
11 3053 2224,1 927,4 780,0 1260,0 6970,0 1,00
12 935,3 876,6 178,8 730,0 660,0 2390,0 1,00
13 2107,5 1830,9 347,6 1280,0 200,0 6710,0 1,21
14 2209,4 1027,3 523,6 670,0 670,0 4060,0 1,00
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
147
Tabela 6.16 – Esforços de projeto e esforços no modelo computacional (com os
parâmetros de projeto) - edifício “B”.
Valores característicos
Resultados obtidos no modelo Projeto
Pilar
Peso
próprio
G1 (kN)
Cargas
permanentes
G2 (kN)
Carga
acidental
Q (kN)
Vento
em X
Vx
(kN)
Vento
em Y
Vy
(kN)
Carga
axial
(kN)
Fator de
ajuste
1 572,4 599,2 184,5 19,4 188,5 1840,0 1,19
2
720,7 614,7 232,5 94,3 253,2 1710,0 1,00
3 816,1 558,0 290,1 122,0 275,5 1810,0 1,00
4 973,0 541,4 447,3 15,7 180,8 2040,0 1,00
5 916,4 589,2 472,0 11,6 168,9 2050,0 1,00
6 729,9 527,8 296,0 130,9 302,3 1810,0 1,00
7 527,9 422,6 170,6 121,3 197,2 1630,0 1,24
8 329,6 340,8 106,9 9,2 33,2 1550,0 1,91
9 445,3 327,6 146,8 241,4 193,9 920,0 1,00
10 406,4 273,3 130,1 263,5 219,5 460,0 1,00
11 383,4 253,6 130,1 266,3 217,7 460,0 1,00
12 273,2 194,5 80,9 114,7 45,8 870,0 1,31
13 526,3 344,7 228,2 62,7 4,3 850,0 1,00
14 474,2 327,4 224,6 65,3 14,4 840,0 1,00
15 398,3 385,7 120,8 119,7 18,1 860,0 1,00
16 313,6 336,3 92,5 87,3 114,7 680,0 1,00
17 629,9 424,7 395,2 33,1 123,9 1430,0 1,00
18 609,8 438,6 391,9 35,1 123,6 1420,0 1,00
19 747,9 713,3 223,6 64,2 12,5 1820,0 1,04
20 542,8 363,4 182,1 67,3 2,2 1300,0 1,12
21 535,2 338,3 180,7 58,2 2,6 1270,0 1,14
22 635,8 657,2 204,9 62,9 0,7 1720,0 1,10
23 437,6 397,4 124,6 106,7 79,1 840,0 1,00
24 433,8 304,3 237,1 221,0 42,8 750,0 1,00
25 385,7 311,3 244,0 30,7 191,7 800,0 1,00
26 381,1 312,7 243,6 33,5 196,0 790,0 1,00
27 422,1 290,9 232,5 33,5 196,0 740,0 1,00
28 320,0 343,1 99,0 76,4 110,1 700,0 1,00
29 472,6 328,1 154,2 216,4 234,0 900,0 1,00
30 420,4 265,8 139,0 272,7 226,2 460,0 1,00
31 283,1 258,8 182,7 78,4 122,2 500,0 1,00
32 281,5 260,1 181,9 80,0 122,6 520,0 1,00
33 404,3 266,4 140,3 273,6 224,1 460,0 1,00
34 279,8 202,4 83,7 115,7 19,4 860,0 1,26
35 568,6 556,5 171,1 36,7 249,5 1890,0 1,22
36 688,4 556,6 224,8 128,3 306,1 1730,0 1,00
37 694,2 441,4 255,9 123,1 265,6 1850,0 1,12
38 470,5 377,6 196,2 2,3 182,9 1620,0 1,32
39 482,9 424,7 210,8 5,6 188,4 1510,0 1,16
40 703,7 480,3 270,8 121,9 296,7 1800,0 1,03
41 460,9 349,9 139,1 137,6 53,1 1610,0 1,48
42 463,2 513,3 158,9 21,8 172,8 1560,0 1,19
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
148
6.4.2 Definição do tipo de intervenção - edifício “A”
Feitas as considerações necessárias para os esforços atuantes e as resistências efetivas das
seções dos pilares do edifício em estudo e, a partir do modelo computacional de sua
estrutura, introduziram-se no programa os novos parâmetros, possibilitando assim a
obtenção dos esforços de avaliação. De um modo geral, assistiu-se a um aumento nas
cargas permanentes da parcela do peso próprio dos elementos estruturais, em virtude de os
levantamentos no campo apontarem para seções com dimensões maiores em relação às de
projeto. No geral, este aumento foi da ordem de 5%, confirmando as informações de
Ellingwood et al (1980):
¾ No total foram 34987,9 kN com os dados de cálculo e 36770,11 kN obtidos
com as informações de avaliação.
Verificou-se um decréscimo no valor da carga acidental por pilar, da ordem de 40% em
média, o mesmo podendo-se dizer com relação às ações verticais devidas ao vento. No
caso dos momentos, essa redução média foi da ordem de 37% tanto em X, quanto em Y.
A Tabela 6.17 apresenta os valores das cargas verticais e dos momentos de avaliação.
Tabela 6.17 – Esforços de avaliação majorados com os coeficientes específicos para a
intervenção.
Esforços de avaliação - majorados
Pilar
*Permanente+acidental
+vento em X (kN)
**Permanente+acidental+
vento em Y (kN)
Momento
em X (kN.m)
Momento
em Y (kN.m)
P1 3819,4 3593,0 17,4 140,4
P2 8449,7 7441,5 902,1 59,9
P3 4978,6 4531,9 26,7 455,0
P4 7243,3 7878,9 880,3 44,4
P5 15072,8 13968,3 577,8 608,5
P6 6825,0 6607,3 87,5 591,1
P7 5701,3 6298,0 53,2 531,4
P8 5837,6 6012,4 575,1 34,6
P9 5346,4 6119,8 35,3 390,4
P10 6397,4 6552,1 126,6 91,0
P11 7600,2 8044,9 67,8 462,1
P12 2973,2 2909,8 17,6 79,2
P13 7297,2 6238,1 46,2 1059,5
P14 4877,9 4892,1 26,2 155,8
Observações:
* Permanente+acidental+vento em X (majorado) = 1,19G1+ 1,19G2 + 0,7x1,3Q+ 1,4Vx
** Permanente+acidental+vento em Y (majorado) = 1,19G1+ 1,19G2 + 0,7x1,3Q+ 1,4Vy
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
149
Em função dos estudos e ensaios realizados, a resistência oferecida pela seção transversal
dos pilares sofreu, por uma vez, alterações. Isto ocorreu em virtude da determinação da
resistência do concreto presente nos pilares da garagem através dos ensaios com
testemunhos extraídos, estabelecimento de novos coeficientes de ponderação para o
material e das definições sobre a ocorrência do efeito Rüsch.
O aço não influenciou na alteração da resistência das seções transversais dos pilares, uma
vez que não se realizaram ensaios com este material. Neste caso, os parâmetros influentes
na segurança foram tomados conforme valores de projeto.
A Tabela 6.18 mostra os valores das resistências à compressão das seções dos pilares da
garagem consideradas por ocasião de projeto e as resistências obtidas nos ensaios e
procedimentos da avaliação. Estas últimas representam os valores reais para o momento da
intervenção de recuperação.
Tabela 6.18 – Carga admissível nas seções de pilares de garagem em função dos dados
de ensaios e levantamentos realizados.
Dados da seção existente – obtidos nas inspeções e ensaios
Dimensões Áreas
Pilar
a (cm) h (cm)
*Aço
(cm
2
)
**Concreto
(cm
2
)
***f
cd,aval
Carga
admissível
no concreto
(kN)
Carga
admissível
no aço
(kN)
Carga
admissível
total
(kN)
P1 20,7 120,8 101,42 2393,80 212,97 5098,14 3704,11 8802,25
P2 31,1 150,5 214,40 4454,86 212,97 9487,64 7830,38 17318,02
P3 20,7 120,8 101,42 2393,80 159,73 3823,61 3704,11 7527,71
P4 51,0 81,4 149,15 3994,40 159,73 6380,24 5447,22 11827,45
P5 72,8 102,7 270,33 7192,00 159,73 11487,74 9873,08 21360,83
P6 31,1 120,8 149,15 3599,88 159,73 5750,07 5447,22 11197,29
P7 31,1 120,8 131,25 3618,72 212,97 7706,89 4793,55 12500,44
P8 31,1 120,8 131,25 3618,72 212,97 7706,89 4793,55 12500,44
P9 20,7 150,5 131,25 2977,19 159,73 4755,45 4793,55 9549,00
P10 54,5 54,5 95,46 2869,77 159,73 4583,87 3486,22 8070,09
P11 31,1 120,8 149,15 3599,88 159,73 5750,07 5447,22 11197,29
P12 20,7 81,4 53,46 1628,71 159,73 2601,53 1952,28 4553,82
P13 20,7 193,6 143,18 3856,80 159,73 6160,45 5229,33 11389,78
P14 31,1 120,7 61,09 3689,46 159,73 5893,16 2231,18 8124,34
Observações:
*Na contribuição do aço para a resistência da seção, considerou-se o número de barra de acordo com o projeto e
resistência mobilizada do aço segundo uma deformação de 2‰ (420 MPa). Admitiu-se ainda uma redução de 5%
em relação à área efetiva, em virtude de possíveis danos causados pela corrosão.
** A área de concreto menos a área efetiva de aço.
*** A resistência efetiva do concreto é dada por ÆK
MOD,aval
. f
ck,est
/γ
c,aval
A seqüência das atividades efetivou-se pelo dimensionamento dos pilares da garagem com
os parâmetros de avaliação, para determinação da solicitação normal equivalente. Tal
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
150
dimensionamento foi obtido por meio da ferramenta de cálculo, que retornou seções com
as características descritas na Tabela 6.19.
Tabela 6.19 – Determinação da solicitação normal equivalente - edifício “A”.
Resultados do dimensionamento com os dados de avaliação
Aço Concreto
Pilar
Nº de
barras
Bitola
(mm)
Área de
aço (cm
2
)
Parcela de
carga
assumida
pelo aço
(kN)
Área de
concreto
(cm
2
)
f
cd,aval
Parcela de
carga
assumida
pelo concreto
(kN)
Solicitação
normal
equivalente
(kN)
P1 46,0 10,0 36,11 1516,62 2464,45 212,97 5248,61 6765,23
P2 96,0 12,5 117,75 4945,50 4562,80 212,97 9717,52 14663,02
P3 74,0 12,5 90,77 3812,16 2409,79 159,73 3849,15 7661,31
P4 40,0 20,0 125,60 5275,20 4025,80 159,73 6430,39 11705,59
P5 58,0 20,0 182,12 7649,04 7294,44 159,73 11651,38 19300,42
P6 56,0 16,0 112,54 4726,58 3644,34 159,73 5821,09 10547,67
P7 66,0 12,5 80,95 3400,03 3675,93 212,97 7828,72 11228,75
P8 80,0 10,0 62,80 2637,60 3694,08 212,97 7867,38 10504,98
P9 58,0 16,0 116,56 4895,39 2998,79 159,73 4789,96 9685,34
P10 44,0 16,0 88,42 3713,74 2881,83 159,73 4603,13 8316,87
P11 48,0 16,0 96,46 4051,35 3660,42 159,73 5846,77 9898,12
P12 50,0 10,0 39,25 1648,50 1645,73 159,73 2628,72 4277,22
P13 128,0 10,0 100,48 4220,16 3907,04 159,73 6240,70 10460,86
P14 62,0 10,0 48,67 2044,14 3705,10 159,73 5918,14 7962,28
A solicitação normal equivalente, conforme já informado, representa aquela que age na
seção por ocasião da recuperação estrutural, levando-se em conta todas as particularidades
anteriormente estabelecidas. Assim, este artifício foi usado para transformar os esforços
presentes na seção (momentos e cargas verticais), em apenas uma carga axial atuante.
Dessa forma, levou-se a efeito: que as armaduras dos pilares são simétricas em todos os
casos, que a linha neutra não corta a seção e que a mesma esteja trabalhando no domínio 5.
Dessa forma, a comparação direta entre a resistência efetiva da seção, conforme
determinado em campo (Tabela 6.18), e a solicitação normal equivalente (Tabela 6.19),
para cada pilar, refletiu a equação de estado limite último, onde deveria ser preservado o
que prescreve a expressão (5.1). Nestas condições, onde foi excedido a unidade na
aplicação da expressão (5.1), significou a possibilidade de extração de concreto
deteriorado, respeitando os tipos de intervenções propostos. O excedente em carga
determinado foi assim convertido em comprimento de concreto a ser retirado, uma vez
conhecido a espessura da camada e a tensão em que trabalha o material. O resultado da
análise está exposto na Tabela 6.20.
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
151
Tabela 6.20 – Tipo de intervenção proposta - edifício “A”.
Análises – solicitação normal equivalente x resistência efetiva da seção.
Pilar
Solicitação
normal
equivalente -
S
d,aval
(kN)
Carga
admissível
total -
R
d,aval
(kN)
Saldo de
resistência
disponível
(kN)
S
d,,aval
/
R
d,aval
*Comprimento
de concreto a
retirar (cm)
**Tipo de
intervenção
proposta
P1 6765,23 8802,25 2037,02
1,30 191,0 I1
P2 14663,02 17318,02 2655,00
1,18 249,0 I1
P3 7661,31 7527,71 -133,60
0,98 -17,0 I4
P4 11705,59 11827,45 121,86
1,01 15,0 I4
P5 19300,42 21360,83 2060,41
1,11 258,0 I1
P6 10547,67 11197,29 649,62
1,06 81,0 I3
P7 11228,75 12500,44 1271,69
1,11 119,0 I2
P8 10504,98 12500,44 1995,46
1,19 187,0 I1
P9 9685,34 9549,00 -136,34
0,99 -17,0 I4
P10 8316,87 8070,09 -246,78
0,97 -31,0 I4
P11 9898,12 11197,29 1299,16
1,13 163,0 I1
P12 4277,22 4553,82 276,60
1,06 35,0 I3
P13 10460,86 11389,78 928,92
1,09 116,0 I3
P14 7962,28 8124,34 162,06
1,02 20,0 I4
Observações:
* Detalhe do cálculo do comprimento de concreto a retirar vide Apêndice C
**Tipos de intervenção (Figura 6.3):
I1 – intervenção com retirada de concreto em duas laterais – uma lateral maior e uma menor;
I2 – intervenção com retirada de concreto em uma lateral maior;
I3 – intervenção com retirada de concreto em metade de uma lateral maior;
I4 – intervenção com retirada de concreto em metade de uma lateral maior utilizando-se, no entanto,
escoramento apropriado.
Pelos resultados da Tabela 6.20, nota-se que, segundo os tipos de intervenções propostos,
em 36% dos pilares serão efetuadas a intervenção I1, 7% intervenção I2, 21% intervenção
I3 e 36% intervenção I4.
Uma vez que as aplicações da metodologia proposta nesta pesquisa foram simulações, não
foi considerada uma possível perda da camada de cobrimento na resistência das seções de
pilares. Em casos reais de recuperação, a detecção de fissuração ou destacamento da
camada de cobrimento, em virtude da corrosão das armaduras, poderá levar à
desconsideração total ou parcial dessa região do concreto.
6.4.3 Definição do tipo de intervenção - edifício “B”
De posse das considerações específicas de avaliação do edifício “B”, realizou-se o
processamento do modelo computacional, obtendo-se valores para os esforços, conforme
mostrados na Tabela 6.21.
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
152
Tabela 6.21 – Esforços de avaliação majorados com os coeficientes específicos para a
intervenção – edifício “B”.
Esforços de avaliação - majorados
Pilar
*Permanente
+acidental +vento
em X (kN)
**Permanente
+acidental +vento
em Y (kN)
Momento em X
(kN.m)
Momento em Y
(kN.m)
P1 2050,3 2150,9 83,3 13,9
P2 2006,3 2085,5 95,2 5,9
P3 2137,1 2213,6 90,4 6,5
P4 2416,5 2499,1 97,1 16,7
P5 2424,8 2503,5 87,5 16,6
P6 1999,1 2084,5 56,3 7,2
P7 1799,4 1845,5 95,9 5,3
P8 1881,7 1905,9 81,1 5,1
P9 1266,1 1242,3 14,0 9,8
P10 1136,9 1115,0 16,6 4,5
P11 1083,9 1059,7 9,2 5,3
P12 971,1 925,5 15,3 6,0
P13 1383,7 1354,0 30,9 6,4
P14 1291,1 1265,3 35,0 6,3
P15 1203,4 1153,0 37,4 5,0
P16 977,8 991,6 16,7 6,2
P17 1787,6 1833,1 50,2 5,7
P18 1777,7 1822,1 46,0 6,7
P19 2228,0 2200,8 2,9 74,5
P20 1554,7 1518,1 6,8 175,1
P21 1522,4 1490,6 4,1 179,3
P22 2086,1 2051,5 2,5 64,2
P23 1266,6 1253,3 38,9 5,0
P24 1320,9 1231,8 30,8 6,6
P25 1195,4 1276,2 20,2 5,6
P26 1192,3 1273,8 17,1 5,6
P27 1283,7 1198,9 25,0 6,7
P28 995,9 1012,8 14,7 6,0
P29 1297,1 1305,9 14,4 9,8
P30 1158,5 1135,3 16,0 4,5
P31 956,6 978,3 11,6 3,8
P32 956,1 977,2 9,7 3,8
P33 1141,1 1116,4 9,2 5,2
P34 961,6 900,8 16,3 6,0
P35 2023,8 2154,1 78,2 6,9
P36 1897,6 1986,2 94,5 5,6
P37 1993,0 2072,2 90,7 5,9
P38 1737,6 1857,1 39,8 3,5
P39 1633,7 1739,6 34,7 3,4
P40 1918,8 2008,4 52,3 5,7
P41 1853,5 1790,8 108,3 8,3
P42 1714,3 1804,5 21,0 3,3
Observações:
* Permanente+acidental+vento em X (majorado) = 1,23G1+ 1,23G2 + 1,3Q+ 0,7x1,4Vx
** Permanente+acidental+vento em Y (majorado) = 1,23G1+ 1,23G2 + 1,3Q+ 0,7x1,4Vy
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
153
Merecem destaque as alterações ocorridas nas cargas verticais e nos momentos, em virtude
da redução das incertezas e pela utilização de cargas variáveis adaptadas aos curtos
períodos envolvidos na análise. As cargas verticais devidas ao peso próprio
experimentaram um aumento de 5% devido ao que se propôs na metodologia.
A redução em termos da carga acidental em cada pilar foi em média 24%, enquanto a
redução nos momentos foi da ordem de 45%.
A resistência à flexo-compressão oferecida pelos pilares também foi alterada em virtude
dos resultados dos ensaios disponíveis do controle tecnológico do concreto, além de
considerações mais precisas da ocorrência do efeito Rüsch individualmente nos elementos
estruturais analisados. A Tabela 6.22 apresenta a carga admissível na seção existente dos
pilares em função dos novos dados obtidos com o estudo da resistência dos materiais. Foi
considerado, no entanto, as dimensões da seção transversal, conforme aquelas dadas em
projeto. As seções de aço foram submetidas a uma redução de 5% para contemplar
possíveis perdas devido ao fenômeno corrosivo fictício.
Na seqüência, foi realizado o dimensionamento estrutural dos pilares utilizando-se, como
parâmetros de entrada, os específicos da estrutura avaliada. Tal dimensionamento foi
conseguido com o emprego da ferramenta de cálculo. Buscou-se assim, a determinação das
solicitações normais equivalentes. Os resultados desse processo estão presentes na Tabela
6.23.
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
154
Tabela 6.22 – Carga admissível nas seções de pilares de garagem em função dos dados
de ensaios e levantamentos realizados.
Dados da seção existente – obtidos nas inspeções e ensaios
Dimensões Áreas
Pilar
a (cm) h (cm)
*Aço
(cm
2
)
**Concreto
(cm
2
)
***f
cd,aval
Carga
admissível
no concreto
(kN)
Carga
admissível
no aço
(kN)
Carga
admissível
total (kN)
P1 20 80 47,73 1549,76 216,27 3351,6 2004,6 5356,2
P2 20 90 41,76 1756,04 216,27 3797,7 1754,0 5551,7
P3 20 90 41,76 1756,04 216,27 3797,7 1754,0 5551,7
P4 20 100 47,73 1949,76 216,27 4216,7 2004,6 6221,2
P5 20 100 47,73 1949,76 216,27 4216,7 2004,6 6221,2
P6 20 90 41,76 1756,04 216,27 3797,7 1754,0 5551,7
P7 20 90 41,76 1756,04 216,27 3797,7 1754,0 5551,7
P8 20 80 41,76 1556,04 216,27 3365,2 1754,0 5119,2
P9 20 50 19,09 979,90 162,20 1589,4 801,8 2391,2
P10 15 50 15,27 733,92 162,20 1190,4 641,5 1831,9
P11 15 50 15,27 733,92 162,20 1190,4 641,5 1831,9
P12 20 50 19,09 979,90 216,27 2119,2 801,8 2921,0
P13 15 60 26,73 871,87 216,27 1885,5 1122,6 3008,1
P14 15 60 26,73 871,87 216,27 1885,5 1122,6 3008,1
P15 15 60 26,73 871,87 216,27 1885,5 1122,6 3008,1
P16 15 60 19,09 879,90 216,27 1902,9 801,8 2704,8
P17 20 80 41,76 1556,04 216,27 3365,2 1754,0 5119,2
P18 20 80 41,76 1556,04 216,27 3365,2 1754,0 5119,2
P19 20 75 47,73 1449,76 216,27 3135,3 2004,6 5139,9
P20 15 100 41,76 1456,04 216,27 3148,9 1754,0 4902,9
P21 15 100 41,76 1456,04 216,27 3148,9 1754,0 4902,9
P22 20 75 41,76 1456,04 216,27 3148,9 1754,0 4902,9
P23 15 60 26,73 871,87 216,27 1885,5 1122,6 3008,1
P24 15 60 22,91 875,88 162,20 1420,7 962,2 2382,9
P25 15 60 22,91 875,88 162,20 1420,7 962,2 2382,9
P26 15 60 22,91 875,88 162,20 1420,7 962,2 2382,9
P27 15 60 22,91 875,88 162,20 1420,7 962,2 2382,9
P28 15 60 19,09 879,90 216,27 1902,9 801,8 2704,8
P29 20 50 29,83 968,60 216,27 2094,7 1252,9 3347,6
P30 15 50 15,27 733,92 162,20 1190,4 641,5 1831,9
P31 15 50 15,27 733,92 216,27 1587,2 641,5 2228,7
P32 15 50 15,27 733,92 216,27 1587,2 641,5 2228,7
P33 15 50 15,27 733,92 162,20 1190,4 641,5 1831,9
P34 20 50 29,83 968,60 216,27 2094,7 1252,9 3347,6
P35 20 80 47,73 1549,76 216,27 3351,6 2004,6 5356,2
P36 20 90 41,76 1756,04 216,27 3797,7 1754,0 5551,7
P37 20 90 41,76 1756,04 216,27 3797,7 1754,0 5551,7
P38 20 70 41,76 1356,04 216,27 2932,6 1754,0 4686,7
P39 20 70 41,76 1356,04 216,27 2932,6 1754,0 4686,7
P40 20 90 41,76 1756,04 216,27 3797,7 1754,0 5551,7
P41 20 90 41,76 1756,04 216,27 3797,7 1754,0 5551,7
P42 20 80 35,80 1562,32 216,27 3378,8 1503,4 4882,2
Observações:
*Na contribuição do aço para a resistência da seção, considerou-se o número de barra de acordo com o projeto e
resistência mobilizada do aço segundo uma deformação de 2‰ (420 MPa). Admitiu-se ainda uma redução de 5%
em relação à área efetiva, em virtude de possíveis danos causados pela corrosão.
** A área de concreto menos a área efetiva de aço.
*** A resistência efetiva do concreto é dada por ÆK
MOD,aval
. f
ck,est
/γ
c,aval
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
155
Tabela 6.23 – Determinação da solicitação normal equivalente - edifício “B”.
Resultado do dimensionamento com os dados de avaliação
Aço Concreto
Pilar
Nº de
barras
Bitola
(mm)
Área de
aço (cm
2
)
Parcela de
carga
assumida
pelo aço
(kN)
Área de
aço
(cm
2
)
f
cd,aval
Parcela de
carga
assumida
pelo concreto
(kN)
Solicitação
normal
equivalente
(kN)
P1 38,0 10,0 29,83 1252,9 1570,17 216,27 3395,7 4648,6
P2 28,0 10,0 21,98 802,7 1778,02 216,27 3845,2 4648,0
P3 34,0 10,0 26,69 974,8 1773,31 216,27 3835,1 4809,8
P4 12,0 10,0 9,42 344,0 1990,58 216,27 4304,9 4649,0
P5 12,0 10,0 9,42 344,0 1990,58 216,27 4304,9 4649,0
P6 24,0 10,0 18,84 688,1 1781,16 216,27 3852,0 4540,1
P7 20,0 10,0 15,70 573,4 1784,30 216,27 3858,8 4432,2
P8 30,0 10,0 23,55 860,1 1576,45 216,27 3409,3 4269,4
P9 10,0 10,0 7,85 286,7 992,15 162,20 1609,3 1896,0
P10 6,0 10,0 4,71 172,0 745,29 162,20 1208,9 1380,9
P11 6,0 10,0 4,71 172,0 745,29 162,20 1208,9 1380,9
P12 6,0 10,0 4,71 172,0 995,29 216,27 2152,5 2324,5
P13 8,0 10,0 6,28 229,4 893,72 216,27 1932,8 2162,2
P14 8,0 10,0 6,28 229,4 893,72 216,27 1932,8 2162,2
P15 8,0 10,0 6,28 229,4 893,72 216,27 1932,8 2162,2
P16 8,0 10,0 6,28 229,4 893,72 216,27 1932,8 2162,2
P17 10,0 10,0 7,85 286,7 1592,15 216,27 3443,3 3730,0
P18 10,0 10,0 7,85 286,7 1592,15 216,27 3443,3 3730,0
P19 28,0 10,0 21,98 802,7 1478,02 216,27 3196,4 3999,2
P20 12,0 10,0 9,42 344,0 1490,58 216,27 3223,6 3567,6
P21 12,0 10,0 9,42 344,0 1490,58 216,27 3223,6 3567,6
P22 20,0 10,0 15,70 573,4 1484,30 216,27 3210,0 3783,4
P23 8,0 10,0 6,28 229,4 893,72 216,27 1932,8 2162,2
P24 8,0 10,0 6,28 229,4 893,72 162,20 1449,6 1679,0
P25 8,0 10,0 6,28 229,4 893,72 162,20 1449,6 1679,0
P26 8,0 10,0 6,28 229,4 893,72 162,20 1449,6 1679,0
P27 8,0 10,0 6,28 229,4 893,72 162,20 1449,6 1679,0
P28 8,0 10,0 6,28 229,4 893,72 216,27 1932,8 2162,2
P29 10,0 10,0 7,85 286,7 992,15 216,27 2145,7 2432,4
P30 6,0 10,0 4,71 172,0 745,29 162,20 1208,9 1380,9
P31 6,0 10,0 4,71 172,0 745,29 216,27 1611,8 1783,8
P32 6,0 10,0 4,71 172,0 745,29 216,27 1611,8 1783,8
P33 6,0 10,0 4,71 172,0 745,29 162,20 1208,9 1380,9
P34 6,0 10,0 4,71 172,0 995,29 216,27 2152,5 2324,5
P35 38,0 10,0 29,83 1089,4 1570,17 216,27 3395,7 4485,2
P36 24,0 10,0 18,84 688,1 1781,16 216,27 3852,0 4540,1
P37 30,0 10,0 23,55 860,1 1776,45 216,27 3841,8 4701,9
P38 12,0 10,0 9,42 344,0 1390,58 216,27 3007,3 3351,4
P39 8,0 10,0 6,28 229,4 1393,72 216,27 3014,1 3243,5
P40 24,0 10,0 18,84 688,1 1781,16 216,27 3852,0 4540,1
P41 24,0 10,0 18,84 688,1 1781,16 216,27 3852,0 4540,1
P42 18,0 10,0 14,13 516,1 1585,87 216,27 3429,7 3945,7
Por fim, o resultado da comparação entre a resistência efetiva das seções e a solicitação
normal equivalente está mostrado na Tabela 6.24.
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
156
Tabela 6.24 – Proposição do tipo de intervenção a se realizar - edifício “B”.
Análises – solicitação normal equivalente x resistência efetiva da seção
Pilar
Solicitação
normal
equivalente -
S
d,aval
(kN)
Carga
admissível
total -
R
d,aval
(kN)
Saldo de
resistência
disponível
(kN)
S
d,,aval
/
R
d,aval
*Comprimento
de concreto a
retirar (cm)
**Tipo de
intervenção
proposta
P1 4648,6 5356,2 751,7
1,16 70 I3
P2 4648,0 5551,7 951,3
1,20 88 I3
P3 4809,8 5551,7 779,2
1,16 72 I3
P4 4649,0 6221,2 1660,5
1,36 154 I1
P5 4649,0 6221,2 1660,5
1,36 154 I1
P6 4540,1 5551,7 1065,9
1,23 99 I2
P7 4432,2 5551,7 1180,6
1,27 109 I1
P8 4269,4 5119,2 893,9
1,21 83 I2
P9 1896,0 2391,2 515,1
1,27 64 I2
P10 1380,9 1831,9 469,4
1,34 58 I2
P11 1380,9 1831,9 469,4
1,34 58 I2
P12 2324,5 2921,0 629,8
1,27 58 I2
P13 2162,2 3008,1 893,2
1,41 83 I1
P14 2162,2 3008,1 893,2
1,41 83 I1
P15 2162,2 3008,1 893,2
1,41 83 I1
P16 2162,2 2704,8 572,5
1,26 53 I3
P17 3730,0 5119,2 1467,3
1,39 136 I1
P18 3730,0 5119,2 1467,3
1,39 136 I1
P19 3999,2 5139,9 1201,8
1,30 111 I1
P20 3567,6 4902,9 1410,0
1,40 130 I1
P21 3567,6 4902,9 1410,0
1,40 130 I1
P22 3783,4 4902,9 1180,6
1,31 109 I1
P23 2162,2 3008,1 893,2
1,41 83 I1
P24 1679,0 2382,9 732,8
1,44 90 I1
P25 1679,0 2382,9 732,8
1,44 90 I1
P26 1679,0 2382,9 732,8
1,44 90 I1
P27 1679,0 2382,9 732,8
1,44 90 I1
P28 2162,2 2704,8 572,5
1,26 53 I3
P29 2432,4 3347,6 966,2
1,40 89 I1
P30 1380,9 1831,9 469,4
1,34 58 I3
P31 1783,8 2228,7 469,4
1,26 43 I3
P32 1783,8 2228,7 469,4
1,26 43 I3
P33 1380,9 1831,9 469,4
1,34 58 I2
P34 2324,5 3347,6 1080,8
1,46 100 I1
P35 4485,2 5356,2 915,1
1,20 85 I2
P36 4540,1 5551,7 1065,9
1,23 99 I2
P37 4701,9 5551,7 893,9
1,19 83 I3
P38 3351,4 4686,7 1410,0
1,42 130 I1
P39 3243,5 4686,7 1524,6
1,47 141 I1
P40 4540,1 5551,7 1065,9
1,23 99 I2
P41 4540,1 5551,7 1065,9
1,23 99 I2
P42 3945,7 4882,2 987,4
1,25 91 I2
Observações:
* Detalhe do cálculo do comprimento de concreto a retirar vide Apêndice C
**Tipos de intervenção (Figura 6.3):
I1 – intervenção com retirada de concreto em duas laterais – uma lateral maior e uma menor;
I2 – intervenção com retirada de concreto em uma lateral maior;
I3 – intervenção com retirada de concreto em metade de uma lateral maior;
I4 – intervenção com retirada de concreto em metade de uma lateral maior utilizando-se, no entanto,
escoramento apropriado.
Capítulo 6 Programa experimental, resultados e discussões
157
Dos resultados apresentados na Tabela 6.24, observa-se que 50% dos pilares comportam
uma intervenção do tipo I1, 29% comportam a intervenção I2 e 21% a do tipo I3. Não se
detectou assim a necessidade de escoramento para realização da intervenção.
Se realizada uma comparação direta entre os esforços de projeto e a resistência da seção
proposta em projeto, pode-se chegar a resultados diferentes daqueles apresentados na
Tabela 6.24. Isto se dá devido aos coeficientes de ponderação adotados naquela situação,
assim como eventuais problemas de determinação de esforços (modelo estrutural adotado,
ferramenta de cálculo disponível, etc.), dimensionamento das seções e ainda devido às
particularidades dos materiais que só poderão ser detectados na avaliação, após a estrutura
pronta e em uso.
Capítulo 7 Conclusões e trabalhos futuros
158
CAPÍTULO 7
CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS
7.1 CONCLUSÕES
Após análise dos resultados, obtidos a partir dos procedimentos gerais descritos e adotados
para efeitos de avaliação, pode-se ponderar em relação a alguns pontos importantes da
segurança estrutural alcançados neste trabalho.
Primeiramente, conclui-se que a avaliação é uma tarefa árdua e ainda é necessária a
realização de estudos específicos que abranjam as características particulares de uma
estrutura que será submetida a um processo de recuperação estrutural. Atenta-se contra a
segurança ao se realizar qualquer atividade que importe na redução de seção resistente de
um pilar ou outra peça estrutural, sem o devido conhecimento das condições reais, em
termos de esforços solicitantes e esforços resistentes, em que tal elemento esteja
trabalhando. Nesta linha de raciocínio, a obtenção de aspectos relativos à resistência dos
materiais, assim como definição de cargas atuantes no período considerado para a
intervenção, são de grande importância.
Destaca-se a necessidade, por sua vez, da modelagem do edifício que reflita um
comportamento estrutural de forma mais efetiva para estrutura construída e que sirva para
geração dos esforços de avaliação e posterior redimensionamento dos pilares. Dessa forma,
a modelagem possui um papel determinante para a obtenção do esforço normal reduzido
que reflete a intensidade das solicitações durante o curto período de intervenção. A solução
adotada foi a utilização dos programas de cálculo comerciais os quais permitem o
Capítulo 7 Conclusões e trabalhos futuros
159
refinamento da modelagem, assim como, realizam os cálculos para coeficientes de
avaliação.
Outro aspecto abordado é que os esforços gerados em projeto, bem como os procedimentos
de dimensionamento adotados para as seções estruturais de pilares nesta etapa, podem não
refletir a realidade com que as seções construídas estão submetidas no momento da
intervenção. Assim, o coeficiente global de segurança conseguido para cada pilar após o
dimensionamento de projeto, não será o coeficiente global a se considerar por ocasião da
recuperação estrutural, sofrendo alterações em função do nível de conhecimento obtido
com alguns dos procedimentos sugeridos nesta pesquisa. Assiste-se a alterações dos
coeficientes parciais, ações e mesmo das propriedades dos materiais ao se abordar uma
obra já executada. Outros métodos para melhoria das informações e parâmetros de carga e
resistência atuantes nas estruturas poderão ser utilizados, o que concorrem para um refino
cada vez maior da técnica empregada.
A praticidade do método proposto foi posta a prova mediante os dois exemplos de edifícios
existentes. Nos exemplos, alguns dos pilares analisados tiveram a segurança global um
pouco abaixo do
γ
aval
permitido. Entretanto, a priori, isto não significa uma fonte de
problemas com relação à segurança. Esse coeficiente demonstra, para a situação de
avaliação, apenas que a atividade de recuperação deverá ser realizada com cuidados
especiais para não expor em demasia a integridade do elemento. Sendo variáveis aleatórias
os parâmetros responsáveis pela dinâmica da confiabilidade estrutural, conclui-se que
mesmo os valores aqui adotados poderão nunca ocorrer na vida útil residual do edifício, até
porque estes já apresentam margem de segurança superior incorporada, por não ser
possível a definição com exatidão de valores aptos para períodos tão reduzidos quanto os
da recuperação. Este fato deve ser levado ao cliente que, por desconhecer o assunto na
maioria das vezes, poderá formar interpretações equivocadas com relação à instalação de
peças de escoramentos na execução dos serviços.
Para outros casos em que a relação resistência/solicitação (equação de estado limite)
suscitar valores muito baixos, um estudo pormenorizado deverá ser efetuado, no qual
envolva considerações próprias da vida residual, para que se proponha não apenas uma
intervenção para a recuperação do processo corrosivo, mas, sobretudo, uma instalação de
reforços mediante método apropriado.
Capítulo 7 Conclusões e trabalhos futuros
160
Na aplicação da proposta, foram observados valores diferenciados para os parâmetros
aleatórios em relação aos de projeto. Os coeficientes de ponderação para ações e
resistências também foram alterados.
Para as sobrecargas de utilização, foi obtido, em função do período necessário à
intervenção, um valor único de 0,875 kN/m
2
para todos os compartimentos da edificação.
A velocidade característica do vento de avaliação pôde ser reduzida à 80% daquela
admitida em projeto, o que significou uma considerável diminuição dos momentos e cargas
verticais máxima atribuído a esse tipo de solicitação. Para o edifício “A”, as medições e
levantamentos das seções transversais dos elementos estruturais concorreram para um
aumento das cargas permanentes em cerca de 5%. Isto confirmou o que apontavam
Ellingwood et al (1980), ratificando o procedimento adotado para o edifício “B” que, por
não ter sido submetido a um levantamento
in loco de suas cargas permanentes, estas foram
acrescidas em 5%, baseando-se nos citados autores.
O método proposto apresenta-se flexível ao tratar das resistências dos materiais. No caso
de estruturas em que exista o controle tecnológico na época da construção, este poderá ser
usado para a estimativa da resistência no período da recuperação dos pilares. Para o caso
de inexistirem tais controles, procede-se a extração de testemunhos e deles se infere sobre
a resistência disponível. A extração de testemunho não se mostrou pertinente para o caso
das barras de aço.
Os coeficientes de ponderação foram, por sua vez, influenciados por um nível maior de
conhecimento adquirido em relação às duas estruturas analisadas. No edifício “A”, o
coeficiente de ponderação das ações permanentes pode ser reduzido de 1,4 para 1,19. Para
o caso “B”, este coeficiente alterou para 1,24, pois, as incertezas foram maiores para esse
edifício. As cargas acidentais, para ambas as edificações, apresentaram-se passíveis de
serem ponderadas por coeficiente igual a 1,30 e as ações devidas ao vento não
apresentaram redução em relação ao coeficiente de projeto.
Os coeficientes para a resistência dos materiais, em seu refinamento, necessitam de um
conhecimento efetivo desta propriedade. Assim, o maior número e precisão de informação
permitem reduzir a incerteza e com ela o respectivo coeficiente. Em virtude dos ensaios
diversos realizados no concreto componente dos pilares do edifício “A”, uma vez que este
Capítulo 7 Conclusões e trabalhos futuros
161
não dispunha de controle tecnológico da execução, permitiu a adoção de um coeficiente da
ordem 1,10 para este material. Para o caso “B”, esta redução ocorreu, porém, de forma
menos significativa, permanecendo este parâmetro em torno de 1,23 (dados tomados
apenas do controle tecnológico, sem ensaios complementares). As armaduras, sem
resultado de ensaios, foram ponderadas na avaliação pelos coeficientes de projeto.
Estas informações influenciaram o coeficiente global de segurança das peças de concreto
estudadas, o que, por sua vez, influenciou o tipo de intervenção adotada em cada situação.
Em projeto, os pilares são resguardados do colapso por um
γ que varia entre 1,7 a 1,96 a
depender da norma empregada. Para a avaliação, este coeficiente, designado por
γ
aval
passa
a admitir outros valores que serão tanto menores quanto maior o nível de conhecimento
relativo à edificação estudada. Assim, o edifício “A”, submetido a maior número de
ensaios admitiu um
γ
aval
=1,31 a ser respeitado durante uma intervenção, enquanto o
edifício “B”, em virtude de suas condições específicas, requereu um
γ
aval
=1,53, em uma
suposta intervenção.
Apesar dos ensaios efetivados no edifício “A” terem levado a um
γ
aval
reduzido em relação
ao caso “B”, nota-se que uma intervenção no primeiro é mais crítica em relação ao
segundo. Isto talvez se deva ao cálculo estrutural, visto que este edifício é relativamente
alto e área em planta relativamente pequena. Dos 14 pilares existentes na primeira
edificação, 5 deles exigiriam intervenção do tipo I4 para a qual é necessário escoramento.
No entanto 5 pilares poderiam ser recuperados mediante intervenção I1, com a retirada de
concreto em duas faces (uma maior e a outra menor), sem escoramentos, o que agilizaria
um pouco os serviços. Dos quatro pilares restantes, 1 admitiria intervenção I2 e outros 3,
intervenção do tipo I3.
Para o edifício “B”, nota-se maior folga no dimensionamento de seus pilares, tanto que,
mesmo para um
γ
aval
mais elevado, 21 pilares seriam passíveis de intervenção I1, 12
admitiriam intervenção I2 e 9 intervenção I3. Nenhum pilar desse edifício necessitaria de
intervenção com escoramento.
Pelo apresentado, pode-se concluir que o método proposto é consistente, pois, contempla a
maioria dos problemas gerados em uma recuperação estrutural de pilares. O método é
Capítulo 7 Conclusões e trabalhos futuros
162
também prático ao utilizar procedimentos e ferramentas que já são empregadas pelos
profissionais do ramo de cálculo e recuperação estrutural.
Por último, ao utilizar técnicas de confiabilidade estrutural, o método pode ser considerado
inovador dentro desse ramo, o que lhe permitirá evoluir juntamente com os métodos de
cálculo. Assim, esta metodologia preenche uma lacuna gerada pela ausência de
quantificação da segurança durante a execução de reparos estruturais.
7.2 SUGESTÕES A TRABALHOS FUTUROS
Os resultados obtidos com a aplicação da metodologia aqui proposta guardam
considerações e simplificações, necessárias em função da limitação de tempo no qual se
desenvolveu esta pesquisa. Todavia, refinamentos poderão ser efetuados de modo que o
estudo da segurança na recuperação de pilares possa refletir ainda mais a realidade da
estrutura construída. Para tal, muitos estudos ainda são necessários principalmente no que
se refere ao modelo comportamental, calibração de coeficientes parciais de segurança e
definições em relação às cargas reais atuantes e resistências efetivas apresentadas pelas
seções transversais dos pilares em estudo.
Tendo em vista que esta pesquisa limitou-se à estimativa da segurança efetiva durante a
realização da recuperação de estruturas, não abordando o tema do reparo em si, poder-se-
ia sugerir estudos referentes ao tratamento da segurança na vida residual pós-intervenção.
Isto abrangeria cargas, resistência e coeficiente a serem adaptados a outras situações que
não a abordada no presente trabalho.
Considerando estes pontos passíveis de estudo aprofundados, foram sugeridos
melhoramentos no processo e aumento da confiabilidade em trabalhos futuros.
7.2.1 Comportamento estrutural
Estudos experimentais e trabalhos de campo para estabelecimento de modelos de
comportamento geral das estruturas existentes;
Estudos pormenorizados das ligações pontuais entre vigas e pilares em estruturas
existentes, levando em consideração a ação do tempo e das cargas mantidas sobre
Capítulo 7 Conclusões e trabalhos futuros
163
as propriedades do material e suas influências no comportamento estrutural. Neste
caso, poderiam ser utilizadas ferramentas de análise empregando técnicas de
elementos finitos ou outros meios numéricos;
Utilização dos diversos programas de cálculo disponíveis no mercado, para a
obtenção de esforços de avaliação, como forma de introduzir melhoramentos na
modelagem estrutural;
Estudos para determinação da influência da deterioração do concreto e do aço no
comportamento estrutural.
7.2.2 Calibração dos coeficientes de ponderação
Desenvolvimento de métodos probabilísticos para estabelecimento de coeficientes
de ponderação para os materiais e para as ações;
Incorporação de considerações e resultados já obtidos em estruturas recuperadas,
como base para estabelecimento de fatores parciais adequados a edifícios
existentes. Aplicação de experiências acumuladas ao longo dos anos;
Desenvolvimento e aplicação de formas alternativas de “dimensionamento” de
fatores parciais de segurança, tendo em vista a redução do conservadorismo
empregado para as novas estruturas;
Estabelecimento de uma probabilidade de falha mais condizente ao curto período
de recuperação estrutural, de forma a incorporar dados efetivos de inspeções e
modelos apropriados ao tratamento destes dados;
Estabelecer correlação direta entre a probabilidade de falha e o conceito de risco
pessoal;
Estabelecimento de meios mais eficientes para correlacionar os dados de
levantamentos de cargas e resistência a seus respectivos coeficientes parciais.
Capítulo 7 Conclusões e trabalhos futuros
164
7.2.3 Cargas atuantes
Realização de levantamentos de sobrecargas instantâneas de utilização para a
realidade atual de edifícios nacionais;
Utilização de outras funções de densidades de probabilidades para ajustamento dos
dados de pesquisa para os diversos tipos de carga;
Utilização de velocidades básicas para os ventos de curto período a partir de
observações anemométricas das estações de pesquisa instaladas em todo Brasil;
Criação e adaptação de fatores de ajustamento para ventos de curtos períodos de
acordo com as condições nacionais.
7.2.4 Determinação das resistências efetivas
Aplicação de métodos e ensaios diversos com vistas à determinação mais precisa da
resistência do concreto e do aço, como forma de redução das incertezas e refino de
resultados;
Aplicação de meios capazes de melhor incorporar e relacionar os resultados de
ensaios realizados na estrutura existente, àqueles disponíveis do controle
tecnológico da execução como, por exemplo, atualização Baeysiana, entre outros;
Aplicação de outros ensaios não destrutivos ou semi-destrutivos, para refinamento
dos dados.
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ZEMANSKY, M. W.
Calor e termodinâmica. 5º edição. Rio de Janeiro: Editora
Guanabara 2, 1978. 593p.
Anexo A
174
ANEXO A
Croquis das edificações – edifícios “A” e “B”
Planta edifício “A” – sem escala.
Planta edifício “B” – sem escala.
Anexo B
175
ANEXO B
Relatório de controle tecnológico do concreto dos pilares
– edifício “B”
Resultados de ensaios do controle tecnológico do concreto - edifício “B”.
Anexo B
176
Resultados de ensaios do controle tecnológico do concreto - edifício “B”.
Anexo C
177
ANEXO C
Relatório de controle tecnológico do aço – edifício “B”
Resultados de ensaios do controle tecnológico do aço - edifício “B”.
Anexo C
178
Resultados de ensaios do controle tecnológico do aço - edifício “B”.
Anexo C
179
Resultados de ensaios do controle tecnológico do aço - edifício “B
Anexo C
180
Resultados de ensaios do controle tecnológico do aço - edifício “B”.
Anexo C
181
Resultados de ensaios do controle tecnológico do aço - edifício “B”.
Apêndice A
182
APÊNDICE A
Ultrasonografia em pilares da garagem – edifício “A”
Determinação da resistência dos pilares da garagem pelo método ultra-sônico.
Pilares da garagem
Pilar Leitura
Distanciamento
(mm)
Velocidade
(mm/s)
Fator de
correção
Resistência
estimada
(MPa)
46,7 200,0 4,28 5,65 24,2
47,4 200,0 4,22 5,65 23,8
P1
43,6 200,0 4,59 5,65 25,9
40,1 200,0 4,99 5,65 28,2
49,1 200,0 4,07 5,65 23,0
P2
49,1 200,0 4,07 5,65 23,0
53,1 200,0 3,77 5,65 21,3
48,1 200,0 4,16 5,65 23,5
P3
40,1 200,0 4,99 5,65 28,2
48,1 200,0 4,16 5,65 23,5
45,2 200,0 4,42 5,65 25,0
P4
45,7 200,0 4,38 5,65 24,7
42,8 200,0 4,67 5,65 26,4
40,9 200,0 4,89 5,65 27,6
P5
47,6 200,0 4,20 5,65 23,7
48,9 200,0 4,09 5,65 23,1
48,3 200,0 4,14 5,65 23,4
P7
50,1 200,0 3,99 5,65 22,6
40,2 200,0 4,98 5,65 28,1
44,4 200,0 4,50 5,65 25,5
P8
44,3 200,0 4,51 5,65 25,5
44,8 200,0 4,46 5,65 25,2
43,7 200,0 4,58 5,65 25,9
P10
40,2 200,0 4,98 5,65 28,1
44,2 200,0 4,52 5,65 25,6
49,1 200,0 4,07 5,65 23,0
P12
49,1 200,0 4,07 5,65 23,0
47,2 200,0 4,24 5,65 23,9
42,1 200,0 4,75 5,65 26,8
P13
41,8 200,0 4,78 5,65 27,0
Observações:
Média: 24,96 MPa; Desvio Padrão: 1,94 MPa; Coef. Variação: 0,08
Apêndice A
183
Realização do ensaio de ultra-sonografia – edifício “A”.
Apêndice B
184
APÊNDICE B
Modelagem das estruturas dos edifícios em programa de
cálculo
A modelagem estrutural de ambos os edifícios em estudo neste trabalho foi realizada com
auxílio do programa de cálculo estrutural Eberick versão V5, disponibilizado no mercado
pela empresa AltoQi Tecnologia em Informática, e que atende as exigências da NBR 6118
(ABNT, 2003).
Na definição do modelo computacional foram utilizados ainda os dados do projeto
estrutural dos edifícios existentes, realizando-se alguns ajustes para se chegar a um
comportamento estrutural mais próximo do real.
a) Edifício “A”
O edifício “A” é composto de uma estrutura de 27 pavimentos (excluída a garagem), com
14 pilares componentes da torre. A Figura 1 mostra o reticulado de pilares, vigas e lajes
incorporadas a um pavimento tipo e reproduzidas no modelo computacional. Nesta figura,
as linhas representam as vigas que chegam aos respectivos pilares.
Apêndice B
185
Figura 1 – Esquema da distribuição de pilares, vigas e lajes do pavimento tipo –
edifico “A”.
A Figura 2 mostra detalhes de alguns encontros entre pilares e vigas na concepção do
modelo.
Apêndice B
186
Figura 2 – Detalhe de algumas ligações entre vigas e pilares.
Os vínculos apresentados nos pilares P1 e P14, e que também se repetem no P12, em todos
os pavimentos, foram introduzidos para permitir giro em torno da direção X (conforme
figura 1) e transmitir momento em torno de Y. Este procedimento foi necessário para
melhorar as condições de ligação entre os pilares e vigas e fazer com que os esforços no
modelo, ao se executar o programa inicialmente com os parâmetros normativos, se
aproximassem daqueles encontrados em projeto. As demais ligações foram tomadas como
rígidas, transmitindo momento nas duas direções.
Na Figura 3 tem-se uma perspectiva do edifício montado no programa.
Apêndice B
187
Figura 3 – Perspectiva da estrutura – edifício “A”.
Inicialmente foi realizado o cálculo utilizando os dados e parâmetros de projeto para
verificação da conformidade do modelo estrutural adotado e aquele concebido pelo
projetista na época do cálculo estrutural. Utilizaram-se ainda alguns recursos disponíveis
no programa computacional empregado para uma aproximação maior aos esforços reais
atuantes. Entre os recursos, pode-se destacar: a) análise estrutural via pórtico espacial; b)
efeitos de segunda ordem global e local; c) análise elástica linear para geração dos
esforços; d) efeitos de desaprumo e imperfeições globais; e) aplicação de força de vento.
O quadro da Figura 4 mostra a janela de diálogo do programa para processamento de
algumas dessas análises. Nota-se os valores limites adotados para erros e números
máximos de interações na aplicação dos recursos de cálculo.
Apêndice B
188
Figura 4 – Modelo estrutural adotado e recursos para melhoria na obtenção dos
esforços no modelo computacional.
A consideração das ações devidas ao vento é de essencial importância no tratamento de
edifícios com alturas relativamente elevadas. No programa utilizado existe um módulo
específico para a aplicação desse tipo de ação. As direções de incidência do vento na
edificação estão apresentadas na figura 5.
Figura 5 – Direções do vento incidente na estrutura.
Apêndice B
189
Os dados relativos ao projeto de estruturas de concreto, normalizados pela NBR 6123
(ABNT, 1988), foram introduzidos inicialmente segundo a janela apresentada na figura 6.
Os coeficientes de arrasto adotados obedeceram também às prescrições da referida norma.
Figura 6 – Dados gerais da ação do vento considerado em projeto.
Os esforços foram obtidos a partir do modelo de cálculo, dos parâmetros de entrada e
levando-se em conta as demais informações de projeto relativas a dimensões estruturais e
resistência do concreto empregado, mediante uma análise estática linear realizada pelo
programa.
Apêndice B
190
Figura 7 – Processamento da estrutura.
As solicitações atuantes, para efeito do programa e da combinação, tem a seguinte notação:
Peso próprio Æ G1;
Cargas permanentes Æ G2 (elementos fixos não estruturais);
Cargas variáveis de utilização Æ Q;
Forças devidas ao vento Æ V;
Momentos Æ M.
Conforme a incidência do vento, segundo as duas direções principais, foram encontrados
esforços diferentes. Considerando em Y, os esforços críticos causados por V1 e por V2,
assim como em X os causados por V3 e V4 (Figura 5), determinaram-se as seguintes
combinações mais críticas para os esforços nestas duas direções (valores característicos),
segundo o parâmetro normativo para a modelagem:
Apêndice B
191
¾ Vento em X: Carga vertical total no pilar = G1+G2+0,6Q+Vx
¾ Vento em Y: Carga vertical total no pilar = G1+G2+0,6Q+Vy
Para os momentos, a convenção do sentido de atuação deu-se como segue:
Figura 8 – Convenção de momentos em pilares.
b) Edifício “B”
O edifício “B” tem uma estrutura de 10 pavimentos (excluída a garagem), com 42 pilares
componentes da torre. A Figura 9 mostra o reticulado de pilares, vigas e lajes incorporadas
a um pavimento tipo e reproduzidas no modelo computacional.
Figura 9 - Esquema da distribuição de pilares, vigas e lajes do pavimento tipo –
edifico “A”.
Apêndice B
192
O esquema vertical da estrutura é apresentado na Figura 10.
Figura 10 - – Perspectiva da estrutura – edifício “B”.
Obtido o modelo estrutural para o edifício “B” e utilizando os mesmo padrões de entrada
no programa, obtiveram-se para as combinações críticas dos esforços característicos
aqueles mostrados abaixo:
¾ Vento em X: Carga vertical total no pilar = G1+G2+Q+0,6Vx
¾ Vento em Y: Carga vertical total no pilar = G1+G2+Q+0,6Vy
Apêndice C
193
APÊNDICE C
Cálculo da região de concreto a retirar na recuperação
estrutural de pilares
Na determinação do comprimento de concreto a ser extraído em cada pilar para a execução
para assepsia da armadura e execução do reparo, valeu-se do coeficiente global de
segurança, por meio do qual, determinou-se uma resistência excedente da seção em cada
um dos elementos estruturais estudados, em função das tensões nos materiais.
Para este procedimento, devem ser determinadas as solicitações de avaliação e as
resistências de avaliação. Neste caso, é calculada a resistência que excede em cada pilar,
subtraindo a carga atuante obtida do cálculo com os parâmetros de avaliação (S
d,aval
) da
resistência seccional oriunda dos estudos
in loco dos materiais dos pilares (R
d,aval
).
Para permitir que a comparação entre solicitações e resistências sejam realizadas mediante
esforços normais, foi aplicado um artifício de transformação de todas as ações atuantes na
seção, em uma solicitação normal equivalente. Esta solicitação é obtida mediante um
redimensionamento das seções dos pilares, usando o modelo computacional e utilizando-se
os parâmetros de avaliação definidos para cada edifício. Neste redimensionamento, fixam-
se as dimensões da seção do pilares, conforme as medidas tomadas
in loco, considera-se a
resistência do concreto obtida nos ensaios diversos realizados e obtém-se uma nova área de
aço necessária para resistir os esforços de avaliação. Devido ao processo construtivo e em
parte pelas alternâncias das ações, as armaduras dos pilares são dispostas simetricamente
nas duas direções. Estando os parâmetros de solicitação e resistência ponderados por
coeficientes de avaliação, pode-se então considerar que a resistência seccional calculada
com a área de aço obtida e o concreto existente é igual à solicitação normal equivalente de
avaliação, conforme a equação de estado limite último:
Apêndice C
194
avaldavald
SR
,,
=
(1)
onde:
R
d,aval
= resistência de avaliação para a seção dos pilar
S
d,aval
= solicitação normal de avaliação para o pilar
Sendo a resistência fictícia da seção do pilar, para uma carga axial, descrita pela equação
(4.27), aqui transcrita:
'
.
ydscdcMODd
fAfAKR +=
(2)
onde:
K
MOD
= coeficiente de modificação que leva em conta alguns aspectos que influenciam a
resistência do concreto na estrutura (ver item 5.4.3.1 ) .
A
c
= área de concreto da seção do pilar
f
cd
= resistência de cálculo do concreto
A
s
= área de aço na seção do pilar
f'
yd
= tensão de cálculo no escoamento admitida para as armaduras
Desta forma, este artifício transforma a flexo-compressão oblíqua, com a qual são
dimensionadas as seções para os esforços de avaliação, em apenas um esforço normal que
equivale à resistência da seção dimensionada e que é capaz de resistir a todos os momentos
e cargas verticais aplicadas no momento da recuperação estrutural.
Uma vez que nas seções reais dos pilares a área de aço é conhecida e igual à de projeto,
uma possível resistência excedente pode ser considerada, então, apenas pela parcela
relativa ao concreto, que é justamente a que precisa ser extraída nos trabalho de
recuperação por reparos profundos.
A tensão de trabalho do concreto na seção existente no momento do reparo pode ser
determinada pela realização de ensaios e conhecida sua dinâmica ao longo do tempo. Tal
tensão é expressa por f
cd,aval
.
A área da seção de concreto a retirar está ligada diretamente à resistência excedente em
cada seção, se ela realmente existir, e à tensão de trabalho do concreto existente, uma vez
que a área de aço é fixa e geralmente maior que aquela encontrada no redimensionamento
da seção com os dados de avaliação. Levando em consideração que a profundidade de
concreto necessário a ser extraída, para perfeita assepsia da armadura e garantia de
Apêndice C
195
descontaminação, é de 5 cm (Figura 6.4), a área de concreto a se retirar na operação de
reparo é dada por:
xCA 5
=
(3)
onde:
A
= área em cm
2
C
= comprimento em cm
O que leva à obtenção do comprimento de concreto que poderá ser extraído em cada seção,
no momento da recuperação:
avlcd
avaldavld
xf
SR
C
,
,,
5
=
(4)
Este comprimento determinado permite a programação do tipo de intervenção a ser
realizada em razão das dimensões da seção transversal da peça e do excedente de
resistência disponibilizada pela seção, além do coeficiente de segurança global admitido
para o edifício.
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