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FERNANDA CECÍLIA FERREIRA RIBEIRO
Estratégia Internacional da Petrobras: Estudo de Caso da
Aquisição da Perez Companc na Argentina
MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
SÃO PAULO
2006
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2
FERNANDA CECÍLIA FERREIRA RIBEIRO
Estratégia Internacional da Petrobras: Estudo de Caso da
Aquisição da Perez Companc na Argentina
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo como exigência parcial para a obtenção
do título de Mestre em Administração, sob a
orientação do professor Dr. Moacir de Miranda
Oliveira Junior.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
SÃO PAULO
2006
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3
BANCA EXAMINADORA
_______________________________
_______________________________
_______________________________
4
Agradecimentos
Primeiramente gostaria de agradecer a Petrobras pela colaboração no
desenvolvimento deste trabalho. Em especial, agradeço as gerências executivas da Área
de Negócios Internacionais que nos permitiu realizar o estudo de campo.
Agradeço ao meu orientador Professor Dr. Moacir de Miranda Oliveira Jr. pela
atenção e tempo dedicados a este trabalho.
A Professora Dra. Maria Cristina Sanches Amorim e ao Professor Dr. Luciano
Prates Junqueira pelas críticas e sugestões feitas no momento da qualificação.
A CAPES que patrocinou esta pesquisa.
Os amigos que conheci no período de mestrado Felipe Borini, Eduardo Proença,
Eduardo Pozzi e Fernanda de Nadai que se revelaram pessoas incríveis.
Laís Macedo, Cristina Galvão e Claudia Antico que me liberaram várias vezes
do trabalho para eu realizar as atividades do mestrado, principalmente na reta final.
Os meus melhores amigos de sempre, sem os quais minha vida teria muito
pouco sentido, Fabi e Rodrigo, Camila, Chris, Sandrinha e Alex, Lorena e Renato,
Letícia e Gustavo, Lílian Cardia e Rodrigo, Natália, Carla, Tati, Andrea, Bebel,
Marcela, André e Lílian.
Os meus pais Ivany e Antonio.
Isabela pelo incentivo, força e também pela revisão do trabalho.
Fernando, pela revisão do trabalho, pelo apoio incondicional, compreensão e
amor.
5
Resumo
Este trabalho investiga o processo de aquisição de empresas como estratégia de
entrada em mercados internacionais por empresas multinacionais brasileiras. O caso
específico no qual nos concentramos foi a aquisição do grupo Perez Companc na
Argentina pela Petrobras. A partir desse estudo de caso podemos aprofundar o
entendimento da estratégia de internacionalização da Petrobras após a quebra do
monopólio em 1997.
Embora após o processo de privatização a Petrobras tenha se tornado
basicamente uma empresa restrita às atividades da cadeia petrolífera (exploração,
produção, refino e distribuição) e se distanciado da estratégia típica dos grandes players
petrolíferos internacionais, a empresa conseguiu manter-se competitiva, aumentando
seus investimentos e perseguindo metas de internacionalização crescentes. A aquisição
da Perez Companc significou para a Petrobras a montagem de uma sólida base na
Argentina e apoio para a expansão no Cone Sul. Ao adquirir o controle acionário da
Pecom a Petrobras avançou rumo a seu objetivo previsto no plano estratégico 2015 de
tornar-se a empresa de energia líder na América Latina.
Os resultados mostram que, para a Petrobras, a aquisição da Pecom significou o
crescimento e a consolidação da sua estratégia internacional, com retomada de
diversificação de atividades diminuídas no início da década de 1990 e aproveitamento
de sinergias no Cone Sul. Dentre os motivos para a aquisição dois são principais: a crise
argentina como oportunidade para a aquisição e a conveniência do aumento de portfólio
da Petrobras em um país próximo com possibilidades de gerar sinergias com as
atividades da empresa no Brasil. As diferenças de cultura, tanto organizacional quanto
as diferenças de cultura entre Brasil e Argentina, dificultaram a integração entre as duas
empresas. As dificuldades de gestão da Petrobras na subsidiária argentina foram
atribuídas a dois fatores principais: a decisão da Petrobras de manter os funcionários da
empresa, e o fato da empresa não ter planejado um projeto de gestão da mudança logo
após a aquisição.
6
Abstract
This work investigates the process of acquisition of companies as strategy of
entrance in international markets by Brazilian multinational companies. The specific
case in which we concentrate is the acquisition of the group Perez Companc, in
Argentina, by Petrobras. From this case, we can deepen the understanding of Petrobras'
strategy of internationalization after the monopoly brake in 1997.
Although after the privatization process the Petrobras has become basically a
company restricted to the petroliferous chain activities (exploration, production, refining
and distribution) and it kept away from the greatest international petroliferous players'
typical strategy, the company could remain competitive, increasing its investments and
pursuing increasing goals in internationalization. The acquisition of Perez Companc
meant for Petrobras the assembly of a solid base in Argentina and support for
expansion in the South Cone. By acquiring the shareholding control of Pecom,
Petrobras headed to its objective foreseen in the 'strategic plan 2015' to become the
company leader in energy in Latin America.
The results show that, for Petrobras, the acquisition of Pecom meant the growth
and the consolidation of its international strategy, with retaken of activity
diversification, decreased at the beginning of the 1990's, and improvement of synergies
in the South Cone. Amongst the reasons for the acquisition, two of them are the most
important: the Argentinean crisis as a chance for the acquisition and the convenience for
increasing Petrobras' portfolio in a close country with possibilities to generate synergies
with the company's activities in Brazil. The differences of culture, either organizational
or between Brazil and Argentina, had made it difficult to integrate the two companies.
The difficulties of management in the Petrobras Argentinean subsidiary had been
attributed to two main factors: the decision of Petrobras to keep the company's
employees, and the fact that the company has not planned a management project for
changes after the acquisition.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................ 11
Inserção Internacional de Empresas Brasileiras e o Contexto dos Anos 2000 ................................................. 11
Atuação Internacional da Petrobras Após a Quebra do Monopólio.................................................................. 15
Estrutura da Dissertação................................................................................................................................... 17
CAPÍTULO I - REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................... 19
1.1 Visão da Empresa Baseada em Recursos ................................................................................................... 19
1.2 Teorias de Internacionalização ................................................................................................................... 22
1.2.1 Teorias Econômicas de Internacionalização: A Teoria do Paradigma Eclético....................................... 24
1.2.2 Teorias Comportamentais de Internacionalização: A Teoria de Uppsala................................................ 28
1.3 Estratégias de Entrada em Mercados Internacionais .................................................................................. 33
1.4 Estratégias de Aquisições........................................................................................................................... 36
1.4.1 Aquisições em Negócios Internacionais.................................................................................................. 38
1.4.2 Vio Baseada em Recursos e as Estratégias de Aquisões Internacionais.................................................. 40
1.4.3 Motivações Para se Realizar Aquisições Internacionais.......................................................................... 42
1.4.4 Sinergia de Recursos e Aquisições Internacionais .................................................................................. 45
1.4.4.1 Transferência de Conhecimento em Aquisições Internacionais ........................................................... 49
1.4.5 Atributos de Aquisições Internacionais Bem-Sucedidas ......................................................................... 51
CAPÍTULO II - METODOLOGIA.................................................................................................................. 52
2.1 Objetivos de Pesquisa................................................................................................................................. 52
2.2 Metodologia Adotada................................................................................................................................. 53
2.2.1 Coleta dos Dados..................................................................................................................................... 54
2.2.2 Planejamento e Execução do Estudo de Campo...................................................................................... 55
CAPÍTULO III - A INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E A PETROBRAS.......................................................... 57
3.1 Características Estruturais do Setor Petrolífero.......................................................................................... 57
3.1.1 Altos Riscos de Investimentos, Capital Intensivo, Prazos de Maturação Longos e Alto Grau de
Internacionalização................................................................................................................................ 57
3.1.2 Grandes Economias de Escala e Integração Vertical das Empresas........................................................ 61
3.1.3 Competição Imperfeita: Estrutura Industrial de Oligopólio .................................................................... 62
3.1.4 Riscos Sócio-ambientais na Indústria Petrolífera .................................................................................... 63
3.2 Sistema Produtivo Estatal: Características Específicas e Implantação no Brasil ....................................... 64
3.3 Evolução da Indústria Brasileira de Petróleo: a Petrobras.......................................................................... 68
CAPÍTULO IV - A ATUAÇÃO INTERNACIONAL DA PETROBRAS: TRAJETÓRIA INICIAL E
CONSOLIDAÇÃO ESTRATÉGICA NO CONE SUL ............................................................... 74
4.1 Início da Internacionalização: A Criação da Braspetro .............................................................................. 74
4.2 O Surgimento da Área de Negócios Internacionais (ANI)......................................................................... 75
4.3 Atuação Internacional: Trajetória Inicial e Consolidação Estratégica no Cone Sul. .................................. 81
4.4 A Petrobras no Cone Sul ............................................................................................................................ 90
8
CAPÍTULO V - A AQUISIÇÃO DA PEREZ COMPANC............................................................................. 94
5.1 Motivadores Para a Aquisição.................................................................................................................... 94
5.1.1 A Crise Argentina Como Oportunidade .................................................................................................. 95
5.1.2 Aumento do Portfólio da Petrobras ......................................................................................................... 97
5.1.3 Outros Motivadores Importantes........................................................................................................... 106
5.2 A Integração das Empresas Após a Aquisição ......................................................................................... 107
5.2.1 A Decisão de Manter os Funcionários................................................................................................... 108
5.2.2 Dificuldades de Gestão.......................................................................................................................... 109
5.2.3 A Heterogeneidade dos Sistemas de Comunicação das Subsidiárias .................................................... 111
5.2.4 O Papel das Expatriações na Integração e Alcance de Sinergias Entre a Matriz e as Subsidiárias ....... 113
5.2.5 Gestão do Conhecimento na Área Internacional ................................................................................... 117
5.3 Resultados e Indicadores da Atuação Internacional da Petrobras............................................................. 120
5.4. A Petrobras: Teorias de Internacionalização ........................................................................................... 123
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................... 131
BIBLIOGRAFIA............................................................................................................................................ 138
ANEXOS .................................................................................................................................................... 144
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1: A lógica Incremental – Perspectiva de Uppsala............................................................................. 29
Figura 1.2: Fatores na Decisão de um Modo de Entrada.................................................................................. 34
Figura 1.3: O Mapa das Sinergias: Criação de Valor por Meio de Aquisições ................................................ 47
Figura 4.1: Configuração do Sistema Petrobras em 1990. ............................................................................... 75
Figura 4.2: Nova Estrutura Organizacional da Petrobras ................................................................................. 76
Figura 4.3: Estrutura Organizacional da Área Internacional da Petrobras ....................................................... 77
Figura 4.4: Diretrizes Estratégicas da Petrobras (2004-2015).......................................................................... 78
Figura 4.5: Atuação da Petrobras no Mundo.................................................................................................... 80
Figura 4.6: Atuação Internacional da Petrobras – Linha do Tempo.................................................................88
Figura 4.7: Atuação da Petrobras na América do Sul....................................................................................... 91
Figura 5.1: Organização da Petrobras Energía Participaciones S.A................................................................. 97
Figura 5.2: Atuação da Petrobras em E&P na Argentina ............................................................................... 101
Figura 5.3: Oleduto Oldelval – Petrobras Argentina...................................................................................... 103
Figura 5.4: Pólo Petroquímico na Argentina .................................................................................................. 104
Figura 5.5: Empresas do Grupo Petrobras na Argentina - 2003.....................................................................105
Figura 5.6: Configuração Atual da Petrobras na Argentina............................................................................ 105
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1.1: Fluxos Brasileiros de IDE, 1980 – 2004 (Milhões de US$)......................................................... 14
Gráfico 3.1: Preços Internacionais do Petróleo Deflacionados pelo IPC Norte-Americano – 1972/2005........ 60
Gráfico 3.2: Investimento da Petrobras em E&P no Brasil – 1954-2003; US$ bilhões/ano............................. 71
Gráfico 3.3: Investimentos Anuais da Petrobras – 1970/2004 (Em US$ milhões)........................................... 72
Gráfico 3.4: Perfil dos Investimentos da Petrobras em 2004............................................................................ 72
Gráfico 4.1: Investimentos Previstos no Plano de Negócios 2006-2010.......................................................... 78
Gráfico 4.2: Investimentos Previstos para o Cone Sul até 2015....................................................................... 79
Gráfico 4.3: Investimentos Previstos Para Américas, Ásia e Eurásia até 2015................................................ 79
Gráfico 4.4: Investimentos no Exterior Previstos no Plano de Negócios 2006-2010....................................... 80
Gráfico 5.1: Ativos da Pecom Energia Por Unidade de Negócio, 2000........................................................... 98
Gráfico 5.2 Ativos da Pecom Energia Por País, 2000. ..................................................................................... 98
Gráfico 5.3: Vendas Líquidas da Pecom Energia Por Setores, 2000................................................................ 99
Gráfico 5.4: Vendas Líquidas da Pecom Energia Por País, 2000..................................................................... 99
Gráfico 5.5: Reservas Provadas Internacionais de Óleo e Condensado por País............................................ 100
Gráfico 5.6: Número de Empregados do Sistema Petrobras (2001-2005)...................................................... 113
Gráfico 5.7: Produção Internacional de Óleo, LGN, Condensado e Gás Natural de 2001-2005. (mil boed) . 121
Gráfico 5.8: Reservas Provadas Internacionais de Óleo, LGN, Condensado e Gás Natural de 2001-2005.
(Critério SPE - milhões boe) ...................................................................................................... 122
Gráfico 5.9: Lucro Líquido da Petrobras – consolidado, em R$ (2001-2005) ............................................... 122
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1: Diferentes Teorias da Internacionalização das Empresas.......................................................24
Quadro 2.2: Vantagens Ligadas à Multinacionalização e Opções de Localização, Segundo J. H. Dunning.....27
Quadro 2.3: Formas de Entrada em Mercados Internacionais....................................................................34
Quadro 2.4: Opções Organizacionais para Firmas que estão Perseguindo Estratégias Internacionais.......36
Quadro 2.5: Principais Dificuldades Para Obter Sucesso nas Aquisições Internacionais. .........................42
Quadro 2.6: Principais Razões Para uma Aquisição Internacional.............................................................43
Quadro 2.7: Categorias de Fusões e Aquisições.........................................................................................43
Quadro 2.8: Razões Para uma Firma Utilizar Estratégias de Fusões e Aquisições. ...................................44
Quadro 2.9: Atributos de Aquisições bem-sucedidas.................................................................................51
Quadro 3.1: Principais Números da Petrobras - Dados Referentes ao Ano de 2005..................................73
Quadro 4.1: Estratégia Internacional da Petrobras ao Longo das Décadas.................................................81
Quadro 4.2: Principais Atividades Internacionais da Petrobrás..................................................................89
Quadro 5.1: Motivadores Atuais de Internacionalização da Petrobras.......................................................94
Quadro 5.2: Períodos do Envolvimento Internacional da Petrobrás.........................................................123
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.1: Os 20 Maiores Projetos de IDE de Empresas Brasileiras, 2002-2004 (Milhões de US$)........14
Tabela 4.1: Produção por País em 2005 – mil boed ...................................................................................90
Lista de Siglas e Glossário
ANP – Agencia Nacional do Petróleo
BOE – Barril de Óleo Equivalente
BOED – Barris de Petróleo por Dia
CNP – Conselho Nacional do Petróleo
D
ownstream – compreende as atividades de refino, distribuição e comercialização de
derivados de petróleo.
E&P – Exploração e Produção
IBP – Instituto Brasileiro do Petróleo
Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica a Aplicada
Offshore – Exploração de petróleo em água
Onshore – Exploração de petróleo em terra
OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo
Upstream – Atividades de exploração e produção de petróleo bruto e gás natural
11
INTRODUÇÃO
Esta dissertação investiga o processo de aquisição de empresas como estratégia
de entrada em mercados internacionais por empresas multinacionais brasileiras. O caso
específico no qual nos concentramos foi a aquisição do grupo Perez Companc na
Argentina pela Petrobras. A partir desse estudo de caso podemos aprofundar o
entendimento da estratégia de internacionalização da Petrobras após a quebra do
monopólio em 1997.
Inserção Internacional de Empresas Brasileiras e o Contexto dos Anos 2000
Na década de 1990, fatores como a abertura comercial e a privatização das
empresas públicas associados à estabilidade de preços após a implantação do Plano Real
promoveram uma reestruturação industrial no Brasil englobando tanto investidores
nacionais como estrangeiros.
A reestruturação patrimonial nos anos 1990, que foi um dos processos de
mudança mais visíveis, foi caracterizada por uma alteração do perfil dos grupos
industriais brasileiros, com a migração de parte deles para setores commoditizados e o
fortalecimento de atividades que já pertenciam a essa área e a transferência patrimonial
de alguns produtores de bens-de-consumo duráveis e não-duráveis para o capital
estrangeiro (Laplane, Coutinho e Hiratuka, 2003). No que diz respeito à reestruturação
da indústria brasileira, a abertura comercial e o regime macroeconômico induziram
adaptações por parte das empresas, fossem elas de ordem organizacional ou tecnológica.
Diante disso, as grandes empresas de capital nacional passaram a adotar medidas para
enfrentar a concorrência com as firmas estrangeiras. Podemos dizer que as mudanças na
economia do país ao longo da década de 1990 impuseram às empresas uma necessidade
de adotar ajustes referentes a quatro pontos principais (Miranda, 2001:18):
1) concentração seletiva nas áreas de maior competência;
2) redução dos níveis de integração vertical com ampliação do conteúdo
importado de partes e componentes;
3) reorganização e compactação dos processos e layouts das plantas;
4) redução dos níveis hierárquicos das empresas.
12
Esse processo de mudança manifestou-se em tipos de especialização produtiva
diferenciados. As empresas estrangeiras avançaram em produtos de maior valor
agregado, enquanto as grandes empresas nacionais tentaram se inserir em nichos de
mercado nos quais conseguiam ser mais competitivas e voltaram-se para os produtos
intensivos em recursos naturais, de baixo conteúdo tecnológico e de menor valor
agregado. Nessa perspectiva, os setores brasileiros com melhores níveis de
competitividade e que conseguiram se internacionalizar, encontram-se os segmentos
fortemente apoiados em recursos naturais e energia, que se utilizam de produtos e
processos já padronizados em nível mundial e com articulação restrita com a
microeletrônica, tais como: siderurgia, parte da agroindústria, papel e celulose, setor de
energia, além de setores produtores de commodities industriais (Furtado, 2004;
Gonçalves, 1998). Furtado (2004), ressalta que nesses setores a estrutura anterior à
abertura da economia era densa, com fragilidades pontuais. Os setores considerados de
ponta e maiores difusores de progresso técnico apresentam “grande dispersão em termos
competitivos, em torno de uma média geral indiscutivelmente inferior à best practice
internacional...” (Gonçalves, 1998: 15).
As afirmações acima foram corroboradas pela pesquisa da Fundação Dom
Cabral “Pesquisa Global Players – Investigação sobre processos de internacionalização
de empresas no Brasil” que investigou o universo das 1000 maiores empresas nacionais.
Muitas das organizações analisadas nessa pesquisa apoiaram-se em vantagens
competitivas que conseguiram estabelecer no Brasil para conseguirem se
internacionalizar (Goulart, Arruda e Brasil, 1996). A pesquisa da Fundação Dom Cabral
(FDC, 2002) revela ainda que, de forma geral, as operações internacionais das empresas
brasileiras seguem o caminho iniciado com as exportações. A partir de um
envolvimento internacional por meio de exportações, as empresas geralmente fazem uso
de um agente de exportação, da instalação de escritórios de vendas, e só posteriormente
é que montam unidades produtivas.
Na segunda metade da década de 1990 e início dos anos 2000 foi perceptível o
avanço da internacionalização da economia brasileira. Nesse contexto, a
internacionalização produtiva de empresas nacionais assumiu várias dimensões. A mais
aparente foi a patrimonial, isto é, a internacionalização do sistema empresarial. A
internacionalização produtiva, no caso brasileiro, assumiu a forma de processo de
desnacionalização (Laplane, Coutinho e Hiratuka, 2003; Lacerda, 2000) uma vez que a
13
transferência de propriedade de empresas nacionais para estrangeiros ultrapassou em
muito a aquisição de ativos produtivos no exterior, por empresas brasileiras.
É reconhecido que a economia brasileira tem uma baixa relação
exportações\PIB, um baixo coeficiente médio de exportação na indústria e uma alta
concentração das exportações em um número pequeno de firmas e de produtos, em
comparação com os principais países em desenvolvimento (Iglesias e Veiga, 2002). Um
levantamento do BNDES (1995) sobre a internacionalização de grupos privados
brasileiros citado por Iglesias e Veiga (2002) aponta para algumas questões
interessantes relacionadas ao processo de internacionalização das empresas brasileiras e
corrobora os levantamentos feitos na pesquisa da Fundação Dom Cabral:
a) o estabelecimento de subsidiárias no exterior é realizado como complemento
das atividades de exportações dessas empresas;
b) o investimento direto muitas vezes ocorre por meio de compras ou
associações com grupos locais;
c) o processo de internacionalização está sendo realizado em vários setores da
economia, com heterogeneidade da natureza da atividade desenvolvida no
exterior (unidades comerciais e\ou unidades produtivas);
d) as principais razões para enveredar por esse caminho dizem respeito ao
fortalecimento do poder de competição em razão da proximidade do mercado
consumidor, ao abastecimento do mercado regional, inclusive pelo
aproveitamento de oportunidades surgidas pelo processo de integração
regional, e ao desenvolvimento de alianças estratégicas com empresas locais.
Diante desse cenário, podemos dizer que a internacionalização das empresas
brasileiras é essencialmente comercial (Laplane, Coutinho e Hiratuka, 2003). Porém, a
internacionalização produtiva foi trilhada por algumas empresas, de forma incipiente,
desde a década de 1970. De modo geral mais de 1000 empresas brasileiras investiram
no exterior no final dos anos 1990 (UNCTAD, 2004). Entre elas, somente três empresas
(Petrobras, Companhia Vale do Rio Doce e Gerdau) figuram na lista das 50 corporações
transnacionais – não-financeiras classificadas por ativos no exterior – de países em
desenvolvimento (UNCTAD, 2004). Comparativamente, há sete transnacionais
mexicanas e uma argentina.
14
O Gráfico 1.1 mostra os fluxo de Investimento Direto Externo (IDE) de
empresas brasileiras de 1980 a 2004. A Tabela 1.2 mostra os vinte maiores projetos de
IDE de empresas brasileiras no período de 2002 a 2004.
Gráfico 1.1: Fluxos Brasileiros de IDE, 1980 – 2004 (Milhões de US$)
Tabela 1.1: Os 20 Maiores Projetos de IDE de Empresas Brasileiras, 2002-2004
(Milhões de US$).
Nome da empresa Valor do
Investimento
Ano País de
destino
Indústria
1 Petrobrás 1300.0 2003 Venezuela Energia
2 Sondotecnica 1000.0 2003 Portugal Química
3 Petrobrás 600.0 2002 Bolívia Energia
4 Petrobrás 400.0 2002 Bolívia Energia
5 CSN 375.0 2004 Portugal Metalurgia\Mineração
6 Sigma Pharma 358.8 2004 Portugal Farmacêutica
7 Odebrecht 320.0 2004 Equador Energia
8 Petrobrás 285.0 2003 Argentina Energia
9 Petrobrás 200.0 2004 Argentina Energia
10 Mister Sheik 175.0 2002 Argentina Hotelaria\Turismo
11 Petrobrás 60.0 2004 Peru Energia
12 Ambev 50.0 2003 Guatemala Alimentícia
13 Petrobras 50.0 2002 Bolívia Energia
14 Rima Industrial 45.0 2002 Uruguai Metalurgia\Mineração
15 Ambev 40.0 2003 Peru Alimentícia
16 Ambev 40.0 2004 Peru Alimentícia
17 Marítina 40.0 2002 Colômbia Energia
18 CVRD 36.0 2003 Noruega Metalurgia
19 Petrobras 35.0 2003 Argentina Energia
20 Petrobras 34.0 2004 Irã Energia
Fonte: UNCTAD, 2004.
Os principais motivos, em ordem de importância, que impulsionam as grandes
empresas brasileiras a internacionalizar suas atividades são (FDC, 2002):
15
1) busca de economia de escala – marcante para os produtores intermediários e os
produtores de bens finais -; varia de acordo com o porte das empresas;
2) desenvolvimento de competências para atuar em mercados internacionais – mais
necessário quanto menor o porte da empresa;
3) exploração das vantagens de localização no Brasil;
4) saturação do mercado brasileiro, para determinados setores.
A questão dos motivadores para a internacionalização das empresas brasileiras
será retomada na analise do caso.
As pressões competitivas advindas da reestruturação da economia mundial
impuseram a necessidade de uma resposta não só das empresas, mas também dos atores
institucionais dos países em desenvolvimento. Nessa perspectiva, a internacionalização
poderia ser considerada pelos governos como uma estratégia que permite que as grandes
empresas nacionais passem a explorar suas core competences, buscando as possíveis
sinergias entre suas atividades locais e no exterior, e ao mesmo tempo, permite que as
economias nacionais fortaleçam seus setores mais competitivos. (Laplane, Coutinho e
Hiratuka, 2003).
Atuação Internacional da Petrobras Após a Quebra do Monopólio
A atuação da Petrobras, desde sua criação, procurou acompanhar as mudanças
internacionais ocorridas no setor petrolífero. Num primeiro momento houve a
necessidade de internalizar, no Brasil, as atividades de produção e refino, período de
1953 (criação da empresa) até meados dos anos 60. A partir de 1967, seguindo os
passos das empresas internacionais petrolíferas, a Petrobras diversificou os seus
serviços para a petroquímica e passou a prestar serviços no exterior. Com o segundo
choque do petróleo, a estatal intensifica o seu esforço de produção em direção à
plataforma marítima. Na segunda metade dos anos 80, a estratégia da companhia foi
mais defensiva, com base em um baixo nível de investimento (Alveal, 2003).
Na década de 1990, a abertura da indústria de petróleo no Brasil se deu por meio
da privatização de algumas subsidiárias do Sistema Petrobras, sobretudo nos segmentos
da petroquímica e fertilizantes, do investimento direto de capital privado no upstream,
do alinhamento dos preços internos de petróleo e derivados aos preços do mercado
internacional. Com as privatizações o grupo estatal retornou a ser basicamente uma
16
empresa restrita às atividades da cadeia petrolífera, distanciando-se da estratégia típica
dos grandes grupos petrolíferos internacionais, que detêm participações na
petroquímica, na indústria de fertilizantes e na química fina, em particular em
segmentos de atividades de alto valor agregado nessas indústrias (Alveal, 2003). Com a
aprovação da lei 9.478 de 1997 (lei do petróleo) o monopólio da Petrobras foi
flexibilizado.
Após as reformas dos governos Collor e FHC, percebemos na indústria
petrolífera um movimento de ida e volta na década de 90 e início dos anos 2000.
Primeiramente, o movimento de privatizações de subsidiárias, principalmente no setor
petroquímico e de fertilizantes. Após a reestruturação houve a volta da Petrobras para as
atividades da petroquímica e um avanço da internacionalização como forma de se
diversificar o portifólio novamente e manter vantagem competitiva (Schutte, 2004).
O direcionamento internacional da Petrobras ficou claro na revisão de seu
planejamento estratégico até 2015 e estabelece como visão: “A Petrobras será uma
empresa de energia com forte presença internacional e líder na América Latina,
atuando com foco na rentabilidade e responsabilidade social”.
Assim, entendemos que a abertura do mercado brasileiro nos segmentos da
cadeia do petróleo levou a Petrobras, numa estratégia defensiva, a ampliar seus negócios
para além das fronteiras domésticas. Expandir suas atividades para outras frentes e a
internacionalização foi uma alternativa para a empresa continuar crescendo e compensar
maior competição no mercado doméstico.
Outro elemento da estratégia de internacionalização da Petrobras foi aproveitar a
crise econômica na Argentina para crescer no Mercosul (Schutte, 2004): a empresa
realizou uma série de aquisições de empresas locais no final da década de 90 e início
dos anos 2000. As empresas nacionais na Argentina sofreram um duplo impacto de
desvalorização, de 70% da moeda, o que aumentou a carga de endividamento e reduziu
o valor dos ativos em dólar. A Perez Companc (Pecom) possuía um patrimônio
estimado em US$ 2,9 bilhões em março de 2001, cifra que reduziu a US$ 1,3 bilhões
um ano depois. Ao final de julho de 2002, a Petrobras firmou um acordo de compra de
58,6% do capital total da empresa por US$ 1,8 bilhões. A Perez Companc, que hoje faz
parte do grupo Petrobras Energia, é uma empresa integrada que atua na exploração de
17
petróleo e gás, refino, transporte, distribuição de petróleo e derivados, petroquímica e
transmissão e distribuição de eletricidade, possuindo atividades na Bolívia, Equador,
Peru e Venezuela. A aquisição da Perez Companc significou para a Petrobras o
crescimento e consolidação da estratégia internacional, com retomada de diversificação
de atividades diminuídas no início da década de 1990 e aproveitamento de sinergias no
Cone Sul. Após a aquisição, cerca de 80% da receita da área internacional provém do
Cone Sul (Conde, 2005).
Estrutura da Dissertação
O objetivo central desta pesquisa é analisar o processo de aquisição pela
Petrobras do grupo Perez Companc na Argentina. A partir desse estudo de caso
pretendemos aprofundar o entendimento da estratégia de internacionalização da
Petrobras após a quebra do monopólio em 1997.
Para atingir esse objetivo de pesquisa, estruturamos o trabalho em cinco
capítulos, além desta introdução e das considerações finais.
Ao longo do capítulo I são apresentadas as bases teóricas que foram utilizadas
para o desenvolvimento do estudo. Discorremos acerca da literatura da abordagem da
empresa baseada em recursos e sua contribuição para a identificação de quais são as
competências essenciais que irão assegurar resultados para a empresa. A seguir, são
discutidas as questões e teorias sobre o processo da internacionalização da firma. Na
terceira e quarta seções a estratégia de aquisição de empresas no exterior é discutida
relacionando-as com a abordagem da empresa baseada em recursos. As teorias
relacionadas à integração e ao alcance de sinergias após a realização de aquisições
internacionais também são apresentadas no capítulo I.
Os objetivos e a metodologia adotada na pesquisa são discutidos no capítulo II.
No capítulo III expusemos algumas características da indústria petrolífera,
apresentamos um panorama geral do setor no Brasil, assim como, características da
empresa estudada. Discutimos também especificidades do sistema produtivo estatal.
O capítulo IV apresenta o histórico da atuação internacional da Petrobras desde
sua trajetória inicial nos anos 70 e sua consolidação estratégica no Cone Sul nos anos
18
2000. Destacamos que a entrada da Petrobras nos países do Cone Sul dera-se
principalmente no final da década de 1990 e primeira metade dos anos 2000. É também
nessa região, além do Brasil, que a empresa realiza atividades em toda a cadeia
petrolífera, além da petroquímica e energia elétrica. A concentração e diversificação das
atividades nessa região estão de acordo com o plano estratégico da empresa de ser líder
na América Latina.
Discutimos os resultados da pesquisa no capítulo V. O foco do capitulo é a
aquisição pela Petrobras do grupo Perez Companc na Argentina.
19
CAPÍTULO I - REFERENCIAL TEÓRICO
Neste capítulo são apresentados os conceitos que dão sustentação teórica ao
trabalho e que servem de base para a etapa empírica do projeto e para a análise dos
dados levantados. O objetivo deste capítulo é aprofundar a abordagem teórica sobre a
visão da empresa baseada em recursos, das teorias de internacionalização e a sobre a
compreensão da estratégia de aquisições internacionais.
Na primeira seção discutimos a abordagem da empresa baseada em recursos e
sua contribuição para a identificação de quais são as competências essenciais que irão
assegurar resultados para a empresa. A seguir, são discutidas as questões sobre o
processo da internacionalização da firma e a estratégia de aquisição de empresas no
exterior, relacionando-as com a abordagem da empresa baseada em recursos. As teorias
relacionadas à integração e ao alcance de sinergias após a realização de aquisições
internacionais também são apresentadas neste capítulo.
1.1 Visão da Empresa Baseada em Recursos
Ao longo das duas últimas décadas, a literatura sobre estratégia ampliou-se de
forma contínua, tornando-se, em muitos momentos, o tema central do debate nas
Escolas de Administração e no mundo empresarial. Um dos eixos centrais do
desenvolvimento dessa literatura tem como base o trabalho de Michael Porter (1980). O
autor sugere uma metodologia analítica para compreender as indústrias, o famoso
modelo das “cinco forças” (barreiras à entrada, poder de barganha dos compradores,
poder de barganha dos fornecedores, ameaças de produtos e serviços substitutos e
rivalidade entre os competidores existentes) e propõe estratégias genéricas para alcançar
vantagens competitivas, o trade-off custos versus diferenciação. O trabalho de Porter
(1980) é considerado um marco na evolução do pensamento estratégico e desencadeou
uma série de estudos quanto às possíveis formas de posicionamento competitivo.
Apesar das contribuições de Porter, é importante ressaltar que outros estudiosos
também desenvolveram trabalhos que trouxeram novos horizontes para o campo da
administração estratégica, como a chamada “visão da empresa baseada em recursos”
(Wernerfelt (1984); Prahalad e Hamel (1990); Barney (1997)). Essa abordagem propõe
que os recursos internos à empresa são os principais determinantes de sua
20
competitividade, em oposição à abordagem estrutural, na qual o principal determinante
da competitividade da empresa é sua posição na indústria. Assim, a abordagem de
recursos enfatiza “como” uma empresa opta por competir, e não “onde” escolhe
competir.
A discussão de como atingir resultados superiores por meio da utilização de
recursos possui tradição na teoria econômica (Oliveira Jr., 2001). Em economia um
trabalho pioneiro que discute essa questão é o de Penrose (1959). A autora ao estudar o
crescimento individual das firmas, compreende a empresa como um conjunto de
recursos, tanto humanos quanto materiais.
Penrose (1959), também considerou o processo de planejamento como um fator
central no crescimento das firmas. Ela argumentou que os responsáveis pelo
planejamento empresarial criam “imagens” ou modelos mentais da empresa e seu meio
avaliando seus pontos fortes e fracos em termos dos seus recursos, das oportunidades e
limitações do seu meio. Essas imagens surgem da experiência e do conhecimento dentro
da empresa (Nonaka e Takeuchi, 1995).
Antes do desenvolvimento da visão baseada em recursos os estudos sobre
empresas e organização industrial, na maior parte feitos por economistas, tomavam os
recursos das firmas como homogêneos nas suas indústrias. Essas abordagens atribuíam
as vantagens competitivas às barreiras à entrada, a ordem de entrada (vantagem do
primeiro entrante, por exemplo) e aos custos de transações interfirmas. Mas a
abordagem de organização industrial não consegue explicar vários fenômenos. A visão
da firma baseada em recursos foi um importante desenvolvimento na área de
administração estratégica porque provém respostas para explicar porque algumas
organizações têm performances melhores do que as outras.
Abordagens mais atuais na visão da empresa baseada em recursos, como a de
Wernerfelt (1984); Prahalad e Hamel (1990); Barney (1997), entre outros autores,
apresentam uma forma de utilizar recursos como a principal fonte de vantagem
competitiva da empresa por meio do desenvolvimento da “posição em recursos”. A
posição em recursos seria a possibilidade da empresa aplicar recursos para desenvolver
uma posição competitiva mais difícil de ser alcançada pelos concorrentes.
Os exemplos de recursos são inúmeros: capital, maquinário, marca,
conhecimento tecnológico, experiência em certa atividade, mão-de-obra qualificada,
21
bons procedimentos, contratos de negócios, etc (Wernerfelt, 1984). Portanto, os
recursos podem ser tangíveis ou intangíveis. A maior parte dos autores argumentam
que recursos intangíveis normalmente criam vantagens competitivas mais sustentáveis
do que os recursos tangíveis porque os concorrentes têm mais dificuldade de entendê-
los e imitá-los. Grant (1996) explica que a visão baseada em recursos percebe a empresa
como um conjunto único de recursos e capacidades, onde a função básica da
administração é maximizar valor por meio do desenvolvimento ótimo de recursos e
capacidades existentes. O desafio é identificar e desenvolver os recursos que serão
significativos para o desempenho superior da empresa.
A principal contribuição da visão da empresa baseada em recursos para o
desenvolvimento e sustentação da vantagem competitiva na empresa é a percepção da
necessidade de um recurso que seja difícil de imitar, transferir, comprar ou substituir
Wernerfelt (1984), (Barney, 1997). Assim, para atingir a uma posição competitiva mais
difícil de ser alcançada, as empresas precisam encontrar recursos que possam sustentar
uma barreira por meio da “posição em recursos” de forma que nenhuma outra empresa
da indústria possua barreira semelhante (Wernerfelt, 1984). Os recursos estratégicos
que podem criar tais barreiras têm as seguintes características (Barney, 1997):
- É difícil de ser imitado;
- É escasso, raro e não facilmente substituível;
- Possui integração sistêmica com outros recursos da empresa;
- Especializado para firma (difícil de transferir).
Uma ferramenta útil para entender como os recursos da empresa estão
associados ao seu desempenho é o conceito de competências essenciais. Esse conceito
não é novo, vários autores trabalharam o tema, inclusive com outras denominações, mas
o conceito e também a visão baseada em recursos foram difundidos por Prahalad e
Hamel (1990) (Oliveira Jr., 2001). Os autores entendem as competências essenciais
como a aprendizagem coletiva na organização, especialmente relacionada a como
coordenar diversas habilidades de produção e integrar múltiplos fluxos de tecnologias.
Para reconhecer as competências essenciais, é necessário entender por que uma empresa
alcança resultados superiores e quais são as capacidades diferenciais que sustentam tais
resultados (Prahalad e Hamel, 1990). Assim, a vantagem competitiva deve estar baseada
nas competências essenciais da empresa e esta, por sua vez, depende dos recursos e
22
habilidades estratégicas dentro da empresa. Dessa forma, os desafios principais para a
gerencia estão relacionados a “quais” são os recursos estratégicos da empresa e “como”
desenvolvê-los.
De acordo com esse ponto de vista, competências ou capacidades possuem um
caráter dinâmico, pois precisam ser transformados com o objetivo de atender a
mudanças no ambiente competitivo, em um processo ininterrupto. A empresa deve dar
um caráter dinâmico á competência essencial para prevenir uma “rigidez essencial”,
principalmente em ambientes com um alto nível de mudança. A “rigidez essencial”
pode torna-se uma realidade, principalmente, quando comportamentos e ações
gerenciais, que alavancaram o sucesso da empresa no passado, precisam ser
modificadas dada mudanças no ambiente. Assim, as competências essências dinâmicas
requerem aprendizagem organizacional para seu desenvolvimento e atualização. A
aprendizagem ocorre na empresa e na rede da empresa (em nível corporativo) e as
multinacionais possuem uma vantagem sobre as empresas locais, pois suas subsidiárias
operam em diferentes contextos nacionais, enfrentando diferentes ameaças e
oportunidades e, assim, proporcionam a possibilidade de aprendizagem e melhora de
sua vantagem competitiva (Oliveira Jr., 2001). A questão da vantagem das empresas
multinacionais será mais bem discutida nos itens subseqüentes.
1.2 Teorias de Internacionalização
Termos e expressões como “globalização”, “internacionalização das empresas”,
“integração dos mercados” invadiram o discurso político e econômico das últimas
décadas
1
e são utilizados para designar o comportamento e as estratégias dos grandes
grupos empresariais. Nesse mesmo âmbito, muito se tem dito sobre as transformações e
as novas formas de competição entre as empresas advindas da liberalização dos
mercados e revolução tecnológica dos meios de comunicação e transporte. Não
pretendemos retomar aqui tais discussões.
1
Resumidamente, há três abordagens que discutem a questão da globalização – uma vertente que procura negar
o caráter novo do fenômeno, outros autores insistem na idéia de uma nova forma de integração do espaço
mundial, enquanto para outros, a globalização\ mundialização, como ela se apresenta atualmente, não nega os
fenômenos antigos nem as forças sub-jacentes do capitalismo, mas toma modalidades específicas, que são uma
ruptura em relação aos fenômenos e modalidades recentes de funcionamento do sistema internacional. Para um
aprofundamento nessas diferentes abordagens ver Chesnais (1997); Furtado (1999).
23
A intenção de se levantar a questão da globalização dos mercados é ressaltar que
ela reduziu significativamente as proteções monopolistas oferecidas historicamente, tais
como: barreiras institucionais e de comércio, altos custos de transporte e de
comunicação, entre outras coisas. Dessa forma, diminuiu-se muito os rendimentos
obtidos sob protecionismo. Assim, não é por acaso que a liberalização dos mercados e a
hiper-competição da última década tem produzido, entre outras coisas, luta por
propriedade intelectual (patentes), megaempresas e alianças estratégicas mais intensas e
complexas (Harvey, 2003). Neste trabalho estamos interessados nos processos de
internacionalização das empresas, mais especificamente na internacionalização por
meio de aquisições de empresas no exterior.
Entendemos a internacionalização como o processo por meio do qual a empresa
deixa de operar nos limites do mercado nacional de origem e passa a explorar mercados
estrangeiros. Na definição, em função da palavra processo, a tendência é entender a
internacionalização como um fenômeno evolutivo, compondo-se de etapas seqüenciais
determinadas que a empresa deve seguir, como defendido pelo modelo de Uppsala
(Johanson e Vahlne, 1977). Alguns casos podem acontecer dessa forma, mas o
seqüenciamento de etapas de envolvimento externo, desde a simples exportação até a
construção de subsidiárias próprias, não ocorre no caso de algumas empresas, o que
torna necessária a adoção de uma abordagem mais pluralista que, envolva diversas
teorias para o entendimento do fenômeno (Whitelock, 2002). Neste item, o objetivo não
é concluir se uma teoria é mais ou menos adequada para explicar o modo de
internacionalização da empresa. Pelo contrário, buscamos a interação entre modelos
para melhor entender o processo.
As teorias acerca do processo de internacionalização podem ser didaticamente
divididas em dois blocos: os modelos econômicos (teorias da internalização; custos de
transação, paradigma eclético, organização industrial, teoria do ciclo de vida do produto
e teoria das vantagens das nações) e as teorias comportamentais (Escola de Uppsala,
Teoria das Redes, Estratégia de Negócios e as Born Globals). O Quadro 2.1 abaixo
mostra as diferentes teorias e ressalta seus respectivos focos interpretativos. Nesta seção
analisaremos mais detidamente a teoria do paradigma eclético e a teoria de Uppsala.
Acreditamos que estas são as teorias que mais irão contribuir para análise do caso neste
estudo, pois pesquisamos a aquisição da Pecom pelo lado da adquirente (Petrobras) e
não comparamos opiniões dos dirigentes da empresa adquirida em relação à operação da
24
Petrobras. Dessa forma, contemplamos a visão da matriz na decisão da aquisição e no
processo de integração das empresas pós-aquisição e as teorias do paradigma eclético e
de Uppsala são apropriadas para este tipo de análise.
Quadro 2.1: Diferentes Teorias da Internacionalização das Empresas
Teoria Autor Característica Básica Foco interpretativo
Teorias Econômicas
Internalização Buckley &
Casson, 1976;
Rugman, 1981
Custo de transação Empresa
Custos de Transação Williamson, 1975 Custo de transação Empresa
Paradigma Eclético Dunning, 1981,
1988, 1998
Custo de transação Empresa
Organização Industrial Hymer, 1976;
Caves, 1971
Vantagens Comparativas Empresa, setor
Teoria do Ciclo de Vida
do Produto
Vernon, 1966 Vantagem competitiva/
Vantagens comparativas.
Empresa
Teoria das Vantagens
das Nações
Porter, 1990 Vantagens competitivas Empresa, consumidor,
fornecedor,
concorrente.
Teorias Comportamentais
Modelo de Uppsala Johanson &
Valhene, 1977
Conhecimento adquirido
por meio da experiência
Empresa
Born Globals Madsen e Servais,
1995; Knight e
Cavusgil, 1995
Empresas que nascem
globais. Inovações
tecnológicas recentes;
especialização dos
mercados globais.
Empresa e ambiente
Teoria das redes
Industriais
Anderson, Holm
& Forsgren,
2000; Johanson e
Mattson, 1986;
Relacionamento de
negócios. Contesta o
seqüenciamento da
internacionalização do
Modelo de Uppsala
Empresa, consumidor,
fornecedor,
concorrente.
Fonte: A autora.
1.2.1 Teorias Econômicas de Internacionalização: A Teoria do Paradigma
Eclético
A teoria OLI ou paradigma eclético (Dunning, 1980, 1981, 1998), explica que a
atuação no estrangeiro de forma mais comprometida por meio de operações diretas ou
parcerias pode auferir três vantagens.
Primeiro, em virtude da exploração da vantagem da firma (O – Ownership), ou
seja, a empresa ao partir para o exterior pode e deve aproveitar suas vantagens próprias
em sentido estrito e também vantagens ligadas à organização como grupo. As vantagens
próprias estão relacionadas à propriedade de tecnologia, dotações específicas (pessoal,
25
capitais, organização), competências essenciais. As vantagens ligadas à organização
como um grupo podem ser economias de escala e escopo, poder de mercado como
comprador e como vendedor, acesso aos mercados (de fatores de produtos). Também
devemos levar em consideração nas vantagens da firma a multinacionalização anterior,
o conhecimento do mercado mundial, a aprendizagem da gestão internacional e
capacidade de explorar as diferenças entre os países.
Segundo, a empresa se internacionaliza para explorar as vantagens de
localização (L), ou seja, as vantagens específicas que podem auferir de sua atuação no
estrangeiro. Algumas vantagens de localização são abundancia de recursos naturais
(importam nesse caso, a magnitude, o custo e qualidade dos recursos, ou seja a
exploração de vantagens comparativas) e humanos. No caso, essas vantagens estão
relacionadas à conquista de preços de mão-de-obra e matéria-prima mais barata;
menores custos de transporte e comunicação se comparado à atividade exportadora;
maior integração com o mercado, assimilação e adaptação ao mercado estrangeiro
reduzindo a distância física, da língua e da cultura; e, sobretudo a capacidade de
explorar o potencial do mercado superando barreiras tarifárias e não tarifárias.
Finalmente, a empresa decide se internacionalizar para explorar as vantagens de
Internalização (I). Esta vantagem segue o raciocínio das teorias da internalização e
custos de transação. A teoria da internalização tem como principais representantes os
autores Buckley e Casson (1976), Rugman (1980). A premissa básica da teoria é que a
empresa tem a função de internalizar ou integrar as transações que são mais ineficientes
ou mais dispendiosas quando realizados no mercado, que quando realizadas dentro da
estrutura da empresa. Em outras palavras, a empresa se internacionaliza passando do
processo de exportação para outros mais complexos para que os recursos e
conhecimentos compartilhados no exterior sejam de propriedade exclusiva da empresa.
Isso garante que as capacidades e recursos criados no estrangeiro se tornem
competências essenciais (Barney, 1991). Portanto, torna-se mais vantajoso desenvolver
transações dentro da empresa (entre as subsidiárias, entre empresas licenciadas, ou joint
ventures) do que entre diferentes empresas.
Quando falamos de transações nos referimos desde produtos até tecnologia,
passando pelas formas de gestão, e principalmente conhecimento. Sendo que quanto
mais transações baseadas em conhecimento maior a propensão para a internalização,
26
logo maior a probabilidade da empresa adotar formas de atuação mais complexas no
exterior distanciando-se da simples exportação.
A teoria do custo de transação tem como principal referencia Williamson (1975).
Para o entendimento dessa teoria é importante compreender que desde quando a
empresa decide explorar o mercado estrangeiro na sua forma menos complexa, ou seja,
por meio da exportação, ela enfrenta custos, seja associado à busca de informação ou ao
cumprimento de contratos. Estes dois tipos de custos de transação, custo de busca de
informação e de cumprimento de contrato, variam em sentido inverso. Quanto maiores
os custos na busca de informação menores os problemas decorrentes do fechamento de
um contrato e vice-versa.
Quando a empresa decide entrar no mercado de forma mais comprometida, tal
como uma aliança estratégica, subsidiária própria ou adquirida, surgem novos custos –
os chamados custos de internalização. Tais custos estão relacionados à obtenção de
melhor conhecimento do mercado; construção da empresa no exterior; custo de controle
e coordenação das atividades; custos de flexibilidade e reversibilidade dos
investimentos. Quando estes custos de internalização forem maiores que os custos de
transação a empresa decide não se instalar com subsidiárias no mercado e vice versa.
Portanto, a decisão da empresa em incrementar suas formas de internacionalização
perpassa pelo trade-off dos custos de transação e internacionalização.
Assim, as vantagens da internalização (I) do paradigma eclético advêm da
diminuição dos custos de câmbio, da propriedade da informação e redução da incerteza;
do maior controle da oferta e dos mercados e, sobretudo da maior possibilidade de
acordos contratuais e de negócios.
A teoria da internalização mostra-se útil também para entender transferências de
tecnologia e know how. Um dos efeitos da internalização, manter a tecnologia e o know
how da empresa, será realizado mediante as transações internas da própria empresa.
Assim, a vantagem tecnológica que essa companhia detém não irá mais se diluir no
mercado. A internalização realiza a metamorfose de um bem intangível, um
determinado conhecimento, por exemplo, em um elemento patrimonial (Chesnais,
1997).
27
O Quadro 2.2 mostra as principais vantagens da multinacionalização na teoria do
paradigma eclético de Dunning. Observe-se que Dunning não utiliza a expressão
“vantagens dos países”, e que inclui, dentre as vantagens próprias da firma, uma lista de
vantagens ligadas à organização como grupo e a internacionalização anterior.
Quadro 2.2: Vantagens Ligadas à Multinacionalização e Opções de Localização,
Segundo J. H. Dunning
Vantagens específicas da firma Vantagens decorrentes da
internalização
Variáveis que afetam as opções de
localização (positiva ou
negativamente)
A. Vantagens próprias em
sentido estrito. Propriedade
de tecnologia. Dotações
específicas (pessoal, capitais,
organização).
B. Vantagens ligadas à
organização como grupo.
1. Economias de escala e
escopo. Poder de
mercado como
comprador e como
vendedor. Acesso aos
mercados (de fatores de
produtos).
2. Multinacionalização
anterior. Conhecimento
do mercado mundial.
Aprendizagem da gestão
internacional.
Capacidade de explorar
as diferenças entre os
países. Aprendizagem da
gestão de riscos.
Economias de transação na
aquisição dos insumos (inclusive
tecnologia).
Maior proteção da tecnologia.
Acesso às sinergias próprias das
atividades interdependentes.
Controle da validade e das
iniciativas. Possibilidade de evitar
ou de explorar medidas
governamentais (especialmente
fiscais).
Possibilidade de praticar
manipulação dos preços de
transferência, fixação de preços
predatórios etc.
Recursos específicos do país.
Qualidade e preço dos insumos.
Qualidades das infra-estruturas e
externalidades (P&D etc.).
Custos de transportes e
comunicação.
Distância psicológica (língua,
cultura, etc.).
Política comercial (barreiras
tarifárias e não-tarifárias,
contingenciamento).
Ameaças protecionistas.
Política industrial, tecnológica,
social.
Subvenções e incentivos para
atrair empresas
Fonte: Adaptado de Dunning (1988) in Chesnais (1997:86).
Para Dunning (1998), as preferências de IDE assumem que os diferentes tipos de
investimentos em diferentes regiões não dependem somente do tipo de atividade com a
qual a multinacional está comprometida, mas também com os motivos para a realização
dos investimentos e se esses investimentos são completamente novos ou seqüenciais.
Nesta linha são entendidas quatro estratégias que estão ligadas aos motivos que as
empresas têm para se internacionalizar: resource seeking, market-seeking, efficiency-
seeking, strategic asset-seeking. As duas primeiras classificações de estratégias buscam
inserir a subsidiária no mercado local e respondem a um processo inicial de
internacionalização, enquanto as duas últimas são estratégias de ampliação e
solidificação da participação da empresa no exterior, sendo características de empresas
28
que tem uma atuação internacional maior e que procuram por meio de IDE aumentar a
eficiência e as vantagens da firma.
Assim, a matriz pode instalar uma subsidiária com o objetivo principal de
utilizar recursos naturais (resource seeking), ou seja, a busca é explorar as vantagens
comparativas. As vantagens de Localização (L) são as que mais importam nesta decisão.
Por outro lado, se a escolha for determinada pelo acesso a um mercado doméstico
importante (market-seeking), isto significa acesso a canais de distribuição, proximidade
com o mercado local, menores custos com transporte etc.
A estratégia tipo efficiency-seeking procura racionalizar os recursos, aproveitar
as economias de especialização do país, define a produção as diferentes subsidiárias
(quando for o caso) e permite o comércio intrafirma. A strategic asset-seeking tem
objetivos mais amplos, pois enxerga a subsidiária como peça importante na estratégia
regional e global da empresa e procura unir as subsidiárias em redes internacionais para
adquirir vantagens de tecnologia, mercado e capacidade organizacional.
Torna-se necessário pontuar algumas críticas relativas à classificação de teorias
econômicas de internacionalização tendo como objetivo explicar porque também
descrevemos neste trabalho a abordagem comportamental das teorias de
internacionalização. De modo resumido, podemos pontuar quatro limitações
importantes. Primeiro, as teorias econômicas explicam o IDE, mas dão pouca atenção as
formas de internacionalização. Segundo, as teorias de caráter estático, dizem pouco
sobre a aprendizagem organizacional e dos processos de internacionalização, o enfoque
muitas vezes é estritamente econômico, não considerando a função desempenhada pelos
executivos nos processos de internacionalização. Terceiro, elas explicam pouco as
formas de cooperação empresarial. Quarto, as teorias são mais voltadas para as
atividades de manufatura, que serviços.
1.2.2 Teorias Comportamentais de Internacionalização: A Teoria de
Uppsala
Na abordagem comportamental das teorias de internacionalização o modelo de
Uppsala (Johanson e Vahlne, 1977) é o mais estudado. A teoria apresenta o conjunto de
etapas realizadas pelas empresas para se internacionalizarem. O modelo é baseado em
três pressupostos: a falta de conhecimento é o maior obstáculo na internacionalização; o
29
conhecimento adquirido por meio da experiência é considerado o mais importante na
internacionalização; a empresa se internacionaliza investindo os recursos de maneira
gradual. Trata-se de um processo de aprendizagem. Em outras palavras, pressupõe que o
maior obstáculo para o processo de internacionalização é a falta de conhecimento.
Desse modo, o conhecimento adquirido pela empresa decorrente da experiência
em determinado mercado estrangeiro é fator fundamental para os processos de
internacionalização. Assim, a empresa se internacionaliza investindo recursos de
maneira gradual. A firma investe em determinado mercado, adquire conhecimento sobre
este, e então, é maior sua aptidão para investir novamente no mercado, alocar recursos e
assim sucessivamente. Em um primeiro momento a empresa decide começar a exportar,
depois estabelece canais de exportação, em seguida estabelece uma subsidiária de venda
e finalmente uma subsidiária de produção. Com esta seqüência pretende-se que a
empresa obtenha o conhecimento suficiente para reduzir os riscos do investimento
direto externo. Isto permite a construção de um contínuo estratégico dos modos de
entrada no mercado estrangeiro partindo do menor envolvimento para o maior
envolvimento.
Figura 1.1: A lógica Incremental – Perspectiva de Uppsala
Fonte: Johanson e Vahlne, 1977:26.
- Comprometimento com o mercado: é composto por 2 fatores – quantidade de
recursos comprometidos e o grau de comprometimento. Quanto mais
especializados são os recursos para um mercado específico, maior é o grau de
comprometimento.
- Conhecimento sobre o mercado: o comprometimento é baseado em diferentes
tipos de conhecimento: 1) Conhecimento de oportunidades ou problemas são
Conhecimento do
Mercado
Comprometimento
com o Mercado
Decisões de
Comprometimento
Atividades
Correntes
30
importantes para decisões iniciais; 2) Avaliação de alternativas é baseada em
conhecimento sobre partes relevantes do ambiente de mercado e performance
de várias atividades.
- Atividades Correntes: considerando-se as atividades como a fonte primária de
experiência, a melhor maneira de se obter resultados e usar a experiência de
mercado, é contratar gerentes com experiência no mercado estrangeiro; ou
então comprar toda ou parte da firma. Pode-se assumir que, quanto mais
complicado e mais diferenciado o produto é, maior será o comprometimento
total em conseqüência das atividades correntes.
- Decisões de comprometimento: dependem de quais alternativas de decisão são
criadas e de como elas são escolhidas. No aumento de comprometimento há
dois efeitos: um econômico (escalas de produção no país estrangeiro) e um de
incerteza (crescimento de interação e integração com o ambiente de mercado).
Os autores concluem que as decisões de comprometimento são tomadas
gradualmente. Isso pode não ser verdadeiro quando firma tem abundância de
recursos e/ou atua em condições de mercado estáveis e homogêneas; ou possui
muita experiência daquele mercado com condições similares ao seu país de
origem.
Dentre as teorias de internacionalização da firma, a teoria de Uppsala foi a
precursora a tratar as influências da distância cultural na escolha de mercados
internacionais (Johanson e Vahlne, 1990). O Conceito de distância cultural foi
desenvolvido e expandido por outros autores na linha dos teóricos de Uppsala e passou
a ser chamado de distancia psíquica. (Freire e Rocha, 2002). A distancia psíquica é mais
amplo, por incluir, além da distancia cultural, elementos estruturais de cada país como
os modelos gerenciais, os sistemas legais e as diferenças de linguagem. Para os teóricos
de Uppsala a distancia psíquica interfere no processo de escolha de mercados externos,
principalmente quando a empresa se encontra nos estágios iniciais do processo de seu
processo de internacionalização.
No Brasil a pesquisa de Leite (1981) analisou a relação entre a escolha de
mercados de exportações brasileiras e a percepção de semelhanças e diferenças
culturais. A pesquisa foi realizada junto a 153 empresas brasileiras exportadoras de
manufaturados e foram entrevistados 171 executivos dessas empresas. Nesse estudo 03
países se destacaram, entre os 35 pesquisados, como culturalmente próximos ao Brasil:
31
Portugal, Uruguai e Argentina. Em seguida vinham outros países da América Latina
como Venezuela Colômbia, Espanha, México, Paraguai, Bolívia, Peru e Chile. Canadá e
EUA foram percebidos como diferentes do Brasil, enquanto Síria, Hong Kong, Índia,
Japão e Kuwait eram vistos como muito diferentes pelos exportadores brasileiros. O
estudo de Leite corroborou os preceitos do Modelo de Uppsala (Freire e Rocha, 2002).
O modelo traz visão da matriz corporativa sobre as operações estrangeiras. Na
medida em que a matriz reduz sua incerteza sobre as operações estrangeiras, ela pode
aportar maiores investimentos na subsidiária, tanto em termos financeiros, como em
termos estratégicos no que tange à alocação de recursos e capacidades sob
responsabilidade da subsidiária. Portanto, a teoria pode ser relacionada à visão da
empresa baseada em recursos (Barney, 1991; Wernefelt, 1984, 1994) e pressupõe que
uma vantagem competitiva internacionalmente sustentável depende dos ativos tangíveis
e intangíveis específicos da empresa (exemplo conhecimento acumulado). A
Internacionalização pode ser entendida como um processo de acúmulo de conhecimento
por meio de aprendizagem das empresas. Muitas empresas falham ao entrar em
mercados internacionais devido à falta de recursos e competências.
As limitações do modelo de Uppsala residem nos seguintes aspectos: 1) trata-se
de uma visão linear que muitas vezes mostra-se determinista porque não considera a
possibilidade de ‘queimar etapas’ no processo de internacionalização, essencial para
empresas dos países em desenvolvimento e para as empresas da nova economia e era
digital; 2) não considera que a seqüência e velocidade do processo de
internacionalização podem ser afetadas pelos diferentes ambientes de negócios que as
empresas atuam; 3) não aborda o fato de que à medida que a empresa aprende sobre
determinado mercado internacional, ela reduz o grau de incerteza, conseqüentemente
diminui a necessidade de se desenvolver gradualmente no exterior; e por fim, 4) a teoria
trata a internacionalização como um processo de mão única, não abordando o caso da
empresa tomar a decisão de desinvestir no mercado estrangeiro.
No âmbito da Internacionalização os estudos mais recentes apontam que o
gradualismo não é, necessariamente, uma regra. A percepção da matriz não é o único
fator que vai explicar o maior ou menor comprometimento da operação estrangeira. As
redes de relacionamentos nos mercados estrangeiros desempenham importante papel
(Johanson e Mattsson, 1988). Quando se fala de redes de relacionamento, a referência é
32
tanto para as redes externas como para as redes internas. A rede externa é fruto do
relacionamento da subsidiária com os parceiros de negócios tais como fornecedores,
instituições de pesquisa, empresas de propaganda dentre outros (Andersson, Forsgren e
Holm, 2002). A rede interna resulta do relacionamento da subsidiária com as outras
subsidiárias.
Isso explica porque muitas vezes certas empresas não seguem a forma
seqüencial dos modos de entrada. A internacionalização é um fenômeno que não se
restringe ao modo de entrada, mas ao próprio processo de evolução das subsidiárias
(Birkinshaw e Hood, 1998; Rezende, 2003A), onde os relacionamentos estabelecidos
pelas subsidiárias durante sua evolução no mercado internacional são graduais, mas a
seqüência dos modos de entrada é descontínua (Rezende, 2002). Trata-se do processo
evolutivo das subsidiárias dependente tanto das contingências do ambiente competitivo,
da relação entre as subsidiárias, como da experiência passada da empresa em suas
operações no mercado estrangeiro (Rezende, 2003B).
Portanto, além da percepção da matriz, as subsidiárias desempenham papel
decisivo no maior comprometimento da multinacional no país estrangeiro. Quanto
maior a integração da subsidiária na rede externa do país estrangeiro (Andersson,
Forsgren e Holm, 2002) e maior e seu grau de integração com a rede interna
(subsidiárias e matriz) da corporação multinacional (Nohria e Ghoshal, 1997), maior o
comprometimento tanto em termos de recursos, capacidades e competências da
multinacional no país estrangeiro.
Outro ponto que a teoria das redes suplanta as deficiências de Uppsala tange à
distância psíquica. Esta teoria demonstra como a percepção psíquica pode afetar o
processo de seleção dos mercados, em nível de decisão individual. Em outras palavras,
como a decisão de quem está no comando da operação influencia as decisões
estratégicas de internacionalização. A teoria da Escola de Uppsala trabalha com um
nível de agregação muito alto da distância psíquica, em geral omitindo as diferenças
entre regiões e industrias, bem como a percepção do indivíduo.
O processo gradual de internacionalização proposto pelos teóricos de Uppsala,
além de ser contestado pela teoria das redes o é também, pelas evidências empíricas
sobre empresas que já surgem para servir o mercado internacional. O fenômeno das
born globals (Madsen e Servais, 1995; Knight e Cavusgil, 1995), empresas que,
33
praticamente, já nascem voltadas para o exterior, assumindo postura internacional, é
relativamente recente e os estudos não datam mais de uma década.
Há consenso entre os autores no sentido de que as born globals derivam de um
conjunto de fatores. Aqui citaremos três. O primeiro, seria a influência de muitas
inovações tecnológicas recentes, particularmente no campo das telecomunicações e
transportes, além da microeletrônica (Madsen e Servais, 1995; Knight e Cavusgil,
1995). O segundo fator refere-se ao crescente número de pessoas com experiência
internacional em negócios. A existência de cada vez mais pessoas com capacidade para
se comunicar, entender e operar em culturas que não a de sua origem, aumentaria a
possibilidade de se explorar mudanças tecnológicas nos mercados internacionais
(Madsen e Servais, 1995). E finalmente, a crescente especialização dos mercados, e o
conseqüente surgimento de nichos que, devido aos avanços tecnológicos, poderiam ser
explorados por empresas de menor porte.
1.3 Estratégias de Entrada em Mercados Internacionais
A internacionalização, aqui entendida como o processo por meio do qual a
empresa deixa de operar nos limites do mercado nacional de origem e passa a explorar
mercados estrangeiros, pode ser realizada por meio de diferentes modos de atuação no
estrangeiro, desde a simples exportação de produtos, acordos de licenciamento, alianças
estratégicas e até operações estrangeiras mais complexas e com maior
comprometimento de recursos, como aquisições e instalação de subsidiárias próprias no
exterior.
A escolha de um modo de entrada num mercado externo é o resultado de várias
forças conflitantes. A decisão do modo de entrada trata-se de um processo complexo
que envolve trade-offs entre as alternativas de entrada no mercado internacional. Fatores
internos e externos a empresa influenciam na decisão de um modo de entrada. Os
fatores externos são o mercado, a produção, os fatores ambientais tanto do país de
origem como no mercado-alvo. Como a empresa responde aos fatores externos na
escolha de um modo de entrada, depende de seus fatores internos, como seus fatores de
produção e seus recursos (Root, 1994). Os fatores que influenciam a decisão da empresa
sobre o modo de entrada no mercado externo são mostrados na Figura 2.2.
34
Figura 1.2: Fatores na Decisão de um Modo de Entrada
Fonte: Root, 1994:09
O Quadro 2.3 mostra de forma resumida as principais características das
diferentes estratégias que uma empresa pode utilizar para entrar em mercados
internacionais. Cada meio de entrada tem suas vantagens e desvantagens e a escolha do
modo apropriado é crítica para o desempenho da firma nesses mercados (Hitt, Ireland e
Hoskisson, 2002).
Quadro 2.3: Formas de Entrada em Mercados Internacionais
Tipo de Entrada Características
Exportações Custo elevado, pouco controle
Licenciamento Baixo custo, pouco risco, pouco controle, baixos retornos
Alianças Estratégicas e
Joint-Ventures
Custos, recursos e riscos compartilhados; problema de integração, por exemplo
duas culturas corporativas)
Aquisição Rápido acesso a novos mercados, custo elevado, negociações complexas,
problemas em fundir-se com operações domésticas.
Nova subsidiária
totalmente própria
Complexa, muitas vezes custosa, consumidora de tempo, risco elevado, máximo
controle, retornos potenciais acima da média.
Fonte: Hitt, Ireland e Hoskison, 2002:338
A exportação não exige as despesas de estabelecer operações em outros países,
mas os exportadores precisam estabelecer alguns meios para comercializar e distribuir
seus produtos. Em muitos casos, as firmas exportadoras desenvolvem acordos
contratuais com empresas do país anfitrião. As desvantagens de exportar incluem muitas
Fatores
de
Mercado
do País
Fatores
Ambien-
tais
do País
Fatores
de
Produção
do País
Fatores
do País
de
Origem
Decisão do Modo de
Entrada num Mercado
Internacional
Fatores Internos
Fatores de Produção
da Empresa
Recursos da
Empresa/ Fatores de
Comprometimento
Fatores Externos
35
vezes elevados custos de transporte e barreiras tarifárias. O exportador também tem
menos controle sobre a distribuição e comercialização de seus produtos e em muitos
casos precisa pagar um distribuidor, o que conseqüentemente, gera aumento de preços.
Assim pode ser difícil comercializar um produto competitivo por meio de exportações
ou oferecer um produto personalizado.
O licenciamento (licensing), assim como as franquias (franchising), permitem
que uma firma estrangeira compre o direito de manufaturar e/ou vender algum bem ou
serviço em seu país ou num conjunto de países atuando com o nome do licenciador. Ao
licenciador normalmente é pago um royalty correspondente à produção. O licenciado
assume riscos e faz investimentos em instalações para produção, distribuição e
comercialização dos produtos e/ou serviços. Em conseqüência da parceria licenciador-
licenciado, essa é uma forma menos dispendiosa de expansão internacional. As
desvantagens do licenciamento são o baixo controle sobre a manufatura e
comercialização dos produtos em outros países e menores retornos potenciais, pois estes
devem ser compartilhados entre o licenciador e licenciado. Além disso, há a
possibilidade da firma internacional aprender a tecnologia e produzir e vender um
produto similar depois que a licença terminar.
As diferentes formas de alianças estratégicas internacionais permitem que as
empresas compartilhem os riscos e os recursos para entrar em mercados estrangeiros.
Em muitos casos as alianças estratégicas internacionais são feitas entre uma firma do
país anfitrião que conhece as condições competitivas, as normas legais e culturais do
país, o que ajudará a firma entrante a vender um produto competitivo. Cada parceiro
leva conhecimento e/ou recursos à parceria. As empresas muitas vezes entram numa
aliança estratégica internacional para aprender novas competências e adquirir novas
tecnologias de produção ou de gerenciamento. As desvantagens desse tipo de
internacionalização podem incluir incompatibilidade e conflito entre os parceiros e
comportamento oportunista de uma das firmas envolvidas.
As aquisições como estratégia de entrada normalmente proporcionam rápido
acesso a um novo mercado. Dentre as alternativas de entrada, mostradas na tabela 2.1,
as aquisições podem se apresentar como a mais rápida e muitas vezes a maior expansão
internacional inicial. As desvantagens dessa estratégia são que muitas vezes são
dispendiosas e em muitos casos necessitam de financiamento da dívida o que pode gerar
36
custos de longo prazo. As negociações para aquisições internacionais podem ser
extremamente complexas, geralmente mais difíceis do que em aquisições dentro do
mesmo país. E por fim, os problemas para fundir e adequar a nova firma na empresa
adquirente são mais complexos do que no caso de aquisições domésticas. No caso de
aquisições internacionais a empresa que adquire precisa lidar não somente com culturas
corporativas diferentes, mas também com culturas sociais e gerenciais potencialmente
diferentes (Hitt, Ireland e Hoskison, 2002).
O estabelecimento de uma subsidiária totalmente própria (greenfield venture) é
um processo mais complexo e dispendioso, mas tem a vantagem de garantir a firma o
máximo controle sobre seus ativos.
De qualquer forma, as empresas organizam suas operações no exterior de várias
maneiras. Essas operações podem ser de baixo comprometimento como as exportações,
de comprometimento intermediário, como os licenciamentos e alianças ou de alto
comprometimento de recursos como as aquisições e subsidiárias próprias (Barney,
2001).
O Quadro 2.4 mostra as diferentes estratégias internacionais e o grau de controle
que a empresa possui sobre essas operações.
Quadro 2.4: Opções Organizacionais para Firmas que estão Perseguindo Estratégias
Internacionais.
Controle de mercado Controle de mercado
intermediário
Controle Hierárquico
Exportação Licenciamentos
Alianças não simétricas
Alianças simétricas
Joint-Ventures
Fusões
Aquisições
Subsidiária totalmente própria
Fonte: Barney, 2001: 541. Tradução da autora.
1.4 Estratégias de Aquisições
Uma aquisição se dá quando ocorre a compra de uma firma por outra. É uma
estratégia por meio da qual uma firma compra uma participação de controle, ou compra
totalmente outra empresa com a intenção de utilizar uma competência essencial mais
eficiente, tornando a firma adquirida um negócio subsidiário dentro de seu portifólio
(Hitt, Ireland e Hoskison, 2002).
37
Fusões são estratégias por meio das quais duas firmas concordam em integrar
suas operações, ou seja, é um acordo legal
2
entre duas empresas, onde ambas renunciam
autonomia em base de relativa igualdade, porque tem recursos e capacidades que,
juntas, podem criar uma vantagem competitiva mais forte (Hitt, Ireland e Hoskison,
2002). As fusões, normalmente, são transações amigáveis, ao passo que as aquisições
podem envolver takeovers hostis. Um takeover é um tipo de estratégia de aquisição em
que a firma-alvo não solicitou o lance de compra da firma adquirente.
Em base comparativa, as aquisições ocorrem mais comumente do que fusões e
takeovers. As aquisições transnacionais, de acordo com dados da UNCTAD (2004),
foram responsáveis por aproximadamente 76% de todo o investimento direto
estrangeiro (IDE) mundial na década de 90, deixando claro que estes processos
representaram a principal forma de internacionalização dos maiores grupos empresariais
mundiais.
Em termos gerais, a literatura teórica sobre o tema de aquisições pode ser
didaticamente dividida em três vertentes principais: economia industrial, finanças e
administração de empresas.
A partir das duas primeiras linhas de interpretação, emergem estudos empíricos
que procuram avaliar o impacto das aquisições sobre a performance das empresas. Os
estudos realizados sob a abordagem financeira, normalmente, examinam o desempenho
das empresas envolvidas nas operações de aquisições a partir do comportamento do
preço de suas ações. Para avaliar o sucesso ou o fracasso das operações de aquisições,
tais estudos examinam então o comportamento das cotações das ações das empresas
envolvidas nos períodos anterior e posterior à transação, comparando com um grupo de
controle (Iootty, 2002). Já os estudos de economia industrial avaliam o desempenho das
aquisições por meio do exame dos dados contábeis das empresas envolvidas nas
operações, como, por exemplo: lucratividade, rentabilidade e comportamento das
vendas.
Os estudos na área de administração, por outro lado, tem avançado em literatura
teórica e empírica focando nos fatores que podem influenciar a performance da
2
Em tese, todos os resultados de uma fusão e também de uma aquisição, podem ser obtidos sem a celebração
de um acordo formal de compra ou união de ativos, entretanto, dificuldades inerentes a identificação e a
mensuração da extensão de tais acordos entre empresas tornam tais acordos ainda pouco explorados em
pesquisas acadêmicas.
38
empresa. Utilizamos neste trabalho, a abordagem da firma baseada em recursos
(Wernerfelt, 1984; Prahalad e Hamel, 1990; Barney 2002, 1997) para entender as
aquisições internacionais e também os processos pós-aquisições internacionais.
1.4.1 Aquisições em Negócios Internacionais
A corporação multinacional é o meio clássico de internacionalização dos
negócios. A definição de multinacional adotada neste trabalho não abrange as empresas
que apenas buscam fornecedores de suas matérias-primas em outros países ou exportam
seus produtos para mercados internacionais. A empresa multinacional, aqui entendida, é
aquela que possui substancial investimento direto em países estrangeiros e está engajada
na administração ativa de suas operações internacionais (Bartlett e Ghoshal, 1999).
Com essa definição de empresa multinacional, não desconsideramos os estágios
iniciais da internacionalização de uma empresa, mas entendemos que o investimento direto
externo (IDE) apresenta-se como o mais significativo em relação às trocas comerciais e as
alianças estratégicas. Chesnais (1996) considera que a internacionalização é dominada mais
pelo investimento externo do que pelo comércio exterior, pois este molda as estruturas que
predominam na produção e no intercâmbio de bens e serviços dos países.
O IDE mostra-se ainda mais expressivo quando se levam em consideração seus
traços característicos em relação aos do comércio. São quatro, pelo menos, as
características mais importantes (Chesnais, 1996:54). Primeiro, o IDE não se reduz a
uma transação pontual como o intercâmbio de bens e serviços. O comércio exterior tem
uma característica de liquidez imediata, pagamento à vista ou crédito comercial de curto
prazo, o que não ocorre com o IDE. Sua segunda característica é a dimensão
intertemporal. A decisão desse investimento dá origem à produção, comércio,
repatriação de lucros etc. e esses fluxos se estendem, normalmente, por longos períodos
de tempo. A terceira especificidade é provocar transferências patrimoniais, o que
implica na transferência de poder econômico, sem medida comum na simples
exportação. E finalmente, e mais importante, o componente estratégico existente na
decisão de investimento da empresa, seja para acessar tecnologias ou atenuar a ação de
concorrentes locais, entre outros motivos.
39
Chesnais (1996) também aponta para o fato de que a maior parte do IDE
realizados nas décadas de 1980 e 1990 em todo o mundo foram feitos por meio de
aquisições internacionais. Como já ressaltado, as aquisições internacionais foram
responsáveis por cerca de 76% de todo IDE mundial nos anos 90, isso deixa claro que
tais aquisições foram a principal forma de internacionalização dos maiores grupos
empresariais mundiais nessa década. (UNCTAD, 2004).
As aquisições como estratégia de entrada em mercados internacionais normalmente
proporcionam rápido acesso a esse novo mercado, essas operações podem se apresentar
como a mais rápida e muitas vezes a maior expansão internacional inicial. As operações
internacionais de controle hierárquico, como as aquisições ou o estabelecimento de uma
subsidiária totalmente própria no exterior, normalmente torna possível para a empresa criar
várias economias de escopo, tais como (Barney, 2002: 518)
1. ganhar acesso de novos consumidores para produtos já estabelecidos
2. ganhar acesso a fatores de produção de baixo custo
3. desenvolver novas core competences
4. alavancar as core competences existentes de novos modos
5. administração do risco da empresa
Apesar das potenciais vantagens que uma aquisição internacional pode
proporcionar, essas operações envolvem mais riscos do que a aquisição no mercado de
origem da empresa. As negociações para aquisições internacionais muitas vezes são
mais dispendiosas do que as negociações para a compra de empresas locais, geralmente
porque são negociadas em moeda forte, e em muitos casos necessitam de financiamento
da dívida o que pode gerar custos de longo prazo para a empresa (Barney, 2002). A
etapa de negociação também envolve maiores dispêndios, pois para a realização do due
diligence e da negociação a empresa precisa contar com executivos com experiência em
negócios internacionais, entre outros dispêndios como deslocamento de equipes por
longos períodos (Bezerra, 2005).
A realização do negócio para a empresa adquirente é mais complexa, pois envolve,
além das diferenças de cultura organizacional, diferenças culturais entre países, diferenças
de idiomas, entre outras complexidades. As diferenças entre os países requerem da empresa
adquirente um amplo conhecimento do mercado, do ambiente político e legal do país, dos
40
costumes locais para conseguir adaptar produtos ou estratégias de marketing no qual a
empresa alvo está inserida (Hitt, Ireland e Hoskison, 2002). No âmbito organizacional, ao
ingressar em mercados externos via aquisição, o treinamento dos recursos humanos em
gestão internacional torna-se mais crítico, pois de acordo com a teoria de Uppsala, o
processo de aprendizagem que permite a expansão internacional ocorre através das pessoas
que estão a cargo dos negócios no exterior (Rocha, 2002).
A integração e alcance de sinergias no pós-aquisição também são mais difíceis entre
duas empresas de países diferentes. A empresa adquirente precisa, entre outros cuidados, ter
uma política de expatriação e ter equipes de executivos com experiência em gestão
internacional nos processos pós-aquisição. Os estudos sobre aquisições internacionais
revelam que logo após a aquisição ser realizada a relação entre a matriz e a subsidiária se dá
de forma impositiva da matriz para a subsidiária, mas as relações tornam-se mais
horizontais ao longo do tempo, isto é, há uma maior interação e as trocas de conhecimento
acontecem da matriz para a subsidiária e vice-versa (Bresman, Birkinshaw e Nobel, 1999).
1.4.2 Visão Baseada em Recursos e as Estratégias de Aquisições Internacionais
A empresa, entendida como uma unidade gerencial e administrativa dos
recursos, tem como objetivo maximizar seu crescimento (Penrose, 1959). Porém, para
que esse crescimento se realize, a empresa precisa analisar com cuidado duas variáveis:
a definição de um projeto de financiamento adequado às diretrizes de expansão
traçadas; e a existência de mercados que garantam a absorção da sua produção. Sobre o
mercado para absorção da produção, as empresas estarão sempre tentando alargar via
integração vertical ao longo de uma cadeia produtiva, diversificação produtiva e
internacionalização das atividades (Iootty, 2002).
Nesse sentido, na perspectiva dos recursos, existem interdependências
organizacionais em um setor e as organizações não são nem inteiramente autônomas,
nem totalmente dependentes, necessitando negociar umas com as outras. Muitas vezes,
para tentar influenciar o seu ambiente, as organizações realizam alianças, acordos
estratégicos de fusões e aquisições que lhe permitam controlar melhor os recursos
(Motta e Vasconcelos, 2002). Um aspecto importante considerado nessa teoria é a
variável poder, isto é, o grau de controle que uma organização tem de recursos
41
essenciais dos quais depende. Em outras palavras, o grau de dependência da empresa
em relação a outras organizações que possam fornecer esses recursos.
Utilizamos neste trabalho, a abordagem da firma baseada em recursos (Wernerfelt,
1984; Barney 2002, 1997) para entender as aquisições internacionais e também os
processos pós-aquisições. Os estudos das aquisições nesta área usam a perspectiva dos
recursos da firma para entender e testar o impacto dos recursos relacionados na
performance dessas transações. Os recursos relacionados tornam possíveis os retornos
acima da média e a melhora de performance da empresa com uma aquisição. Entretanto,
somente quando as firmas estruturam e executam cuidadosamente processos focados em
realizar uma de combinação desses recursos que seja difícil de ser imitada pelos
concorrentes é que consegue obter retornos acima da média (Zollo, 1999). Barney (1997),
nesse sentido, argumenta ainda que para as aquisições internacionais terem retornos acima
da média elas devem criar uma combinação única de recursos de valor não imitáveis.
Neste trabalho, estamos particularmente preocupados com a relação da visão
baseada em recursos com aquisições internacionais. As aquisições como estratégia
de entrada em mercados internacionais normalmente proporcionam rápido acesso
aos recursos tangíveis e intangíveis da firma adquirida, assim como recursos
específicos do país. Assim, entendemos as empresas têm um incentivo para realizar
aquisições internacionais quando o valor de seus recursos combinados é maior do
que o valor de seus recursos e ativos separadamente. Essa noção de
complementaridade de recursos é uma definição de sinergia e existe enquanto for
válida a inequação (Barney, 1997:487):
VPL (A+B) > VPL (A) + VPL (B)
VPL (A+B) = Valor presente líquido dos ativos combinados das empresas A e B
VPL (A) = Valor presente líquido dos ativos da empresa A isoladamente
VPL (B) = Valor presente líquido dos ativos da empresa B isoladamente
A interpretação da anterior é que uma aquisição apenas é adequada quando o
resultado esperado da combinação de recursos e competências das empresas envolvidas
é superior ao resultado esperado do desempenho isolado da empresa, utilizando
isoladamente seus recursos e competências. Isso é conseqüência de que, apesar das
estratégias de aquisição serem amplamente utilizadas, existem muitas dificuldades
42
associadas ao seu estabelecimento. A interação dos recursos tangíveis e intangíveis
numa aquisição é um processo crítico para o sucesso dessa operação.
“A prática administrativa e os escritos acadêmicos mostram que a fase
de integração pós-aquisição provavelmente é o determinante em
particular mais importante na criação de valor (e, igualmente, de
destruição de valor) para o acionista nas fusões e aquisições” (Hitt,
Ireland e Hoskisson, 2002: 289).
Assim, uma aquisição tem mais possibilidades de ser bem sucedida quando envolve
uma estratégia bem ponderada para escolher o alvo, evita pagar acima do preço de mercado
e cria valor no processo de integração. No Quadro 2.5 mostramos as principais dificuldades
enfrentadas pelas empresas ao realizarem aquisições internacionais.
Quadro 2.5: Principais Dificuldades Para Obter Sucesso nas Aquisições Internacionais.
1. Dificuldades de
integração
A integração inclui fundir duas culturas corporativas distintas, vincular diferentes
sistemas financeiros e de controle, criar relações de trabalho eficientes e resolver
problemas referentes à situação dos executivos da firma recém adquirida. As
diferenças
culturais entre países, diferenças de idiomas, diferenças legais e políticas precisam
ser lavadas em consideração. As diferenças entre países requerem da empresa
adquirente um amplo conhecimento do mercado, do ambiente político e legal, dos
costumes locais para adaptação de produtos ou estratégias de marketing no qual a
empresa alvo está inserida. A fase pós-aquisição é a mais crítica nesse processo.
2.Avaliação
inadequada do alvo
O due deligente numa empresa alvo localizada em outro país é mais dispendioso para a
adquirente, pois envolve viagens internacionais das equipes, contratação de executivos
e advogados com experiência em negociações internacionais etc. O comprador deve
avaliar a situação da empresa sob as óticas operacionais, jurídicas, financeiras,
contábeis, tributárias, as práticas administrativas, diferenças de cultura entre a
adquirente e a firma alvo, etc. Essa avaliação serve de base para a negociação dos
termos finais da operação, a definição do valor da operação e o planejamento das ações
de integração das operações após o fechamento da mesma.
3. Dívida
As negociações para aquisições internacionais muitas vezes são mais dispendiosas,
pois geralmente são feitas em moeda forte, e em muitos casos necessitam de
financiamento da dívida o que pode gerar custos de longo prazo para a empresa.
Níveis elevados de endividamento aumentam a probabilidade de falência, a qual pode
levar a um rebaixamento na classificação de crédito da empresa junto a agencias
credoras. Além disso, uma dívida elevada impede investimentos em atividades e
recursos que contribuem para o sucesso de longo prazo da firma.
4.Incapacidade
para obter sinergia
Gerar sinergia é possível quando os recursos das firmas são complementares de forma
única, essa sinergia é difícil de ser entendida e imitada pelos concorrentes. As empresas
enfrentam diversas despesas quando tentam criar sinergia por meio de aquisições. Os
custos diretos incluem honorários de advogados e encargos de bancos de investimentos
que realizam due diligence para a empresa adquirente. A criação de sinergias no pós-
aquisição de uma empresa no exterior envolve políticas específicas, como planos de
expatriações, interações das equipes etc.
Fonte: A autora com base em Hitt, Ireland e Hoskisson (2002) e Bezzera (2005).
1.4.3 Motivações Para se Realizar Aquisições Internacionais
Na análise dos motivos para realização de uma aquisição é comumente empregada a
obtenção de lucro como condicionante do processo (Nakamura, 2005), mas esse tipo de
43
análise apresenta importantes limitações, uma vez que todas as ações realizadas no âmbito
da empresa têm como finalidade o “lucro”. É importante notar que em muitos processos de
aquisições internacionais, o lucro somente poderá ser alcançado no longo prazo (Iootty,
2002). Nesses casos, a observação das variáveis relacionadas a outros motivos mais
imediatos em relação aos processos de aquisição pode explicar melhor o objeto. O Quadro
2.6 mostra de forma sintética seis motivações para uma empresa realizar aquisições.
Quadro 2.6: Principais Razões Para uma Aquisição Internacional
1. Maior poder de
mercado
Poder de mercado geralmente é derivado do tamanho da firma e de seus recursos
e capacidades para competir no mercado. Uma empresa consegue exercer maior
poder de mercado quando consegue vender seus produtos acima dos níveis
competitivos ou tem custos inferiores aos competidores.
2. Superar barreiras à
entrada
Ao enfrentar as barreiras a mercados internacionais criadas por economias de
escala e por produtos diferenciados, uma firma nova no mercado pode
considerar a aquisição de uma empresa estabelecida no mercado local mais
eficiente do que tentar entrar no mercado com um bem que não é familiar aos
consumidores.
3. Custo e risco de
desenvolvimento de
novos produtos
Em comparação com os processos de desenvolvimento interno de produtos, as
aquisições internacionais fornecem retornos mais previsíveis, do que as outras
formas de internacionalização, pois o desempenho dos produtos da firma alvo
pode ser avaliado antes de se concluir a aquisição.
4. Maior velocidade de
entrada em novos
mercados
Em comparação com o desenvolvimento interno de produtos, as aquisições
resultam em entradas mais rápidas no mercado internacional.
5. Maior diversificação Aquisições são o meio mais freente para se diversificar operações em mercados
internacionais, uma vez que as evidencias sugerem que as aquisições são a maneira
mais rápida e fácil de se modificar o portifólio de negócios de uma empresa.
6. Evitar competição
excessiva
Para reduzir o efeito negativo de uma rivalidade intensa em sua lucratividade, a
empresa pode utilizar aquisições internacionais como um meio de restringir sua
dependência de um único ou poucos produtos ou mercados, isso altera o escopo
competitivo da corporação.
Fonte: A autora com base em Hitt, Ireland e Hoskisson, 2002.
As aquisições, de modo geral, influem diretamente no nível de concentração de
uma indústria. A Federal Trade Commission (FTC), instituição norte-americana
responsável por avaliar as implicações competitivas de fusões e aquisições nos EUA,
desenvolveu uma tipologia com cinco principais categorias para auxiliar a regulação
dessas transações (Barney, 2002). Mostramos essas categorias no Quadro 2.7.
Quadro 2.7: Categorias de Fusões e Aquisições.
Categorias de Fusões e Aquisições da Federal Trade Comission
Vertical A firma adquire seus principais fornecedores ou clientes
Horizontal A firma adquire um competidor
Extensão dos Produtos A firma ganha acesso a produtos complementares por meio de uma aquisição
Extensão dos Mercados A firma ganha acesso a mercados complementares por meio de uma aquisição
Conglomerado Não há relação estratégica entre a firma adquirente e a firma alvo.
Fonte: Barney, 2002:485. Tradução da autora.
44
Com aquisições verticais uma empresa torna-se verticalmente integrada por
meio de aquisições de fornecedores ou distribuidores de seus bens e serviços, ou até
mesmo de seus clientes. Dessa forma, a empresa passa a controlar partes adicionais da
cadeia de valor. A aquisição horizontal é a compra de uma empresa que compete na
mesma indústria, isto é um concorrente direto. Para realizar esse tipo de aquisição a
empresa fica submetida aos órgãos de defesa da concorrência do país. Aquisições
horizontais normalmente aumentam o poder de mercado da firma. E finalmente, as
aquisições relacionadas é a compra de uma empresa numa indústria altamente
relacionada e isto pode significar a extensão dos produtos, isto é, o aumento do portfólio
da empresa, ou a extensão dos mercados em que a empresa atua. Nas aquisições de
conglomerado não há integração vertical, nem horizontal e também não há relação de
produtos ou mercados, esse tipo de aquisição ocorrem raramente devido às dificuldades
de geração de valor e dificuldades de integração (Barney, 2002).
O autor argumenta ainda que as categorias de aquisições definidas pela Federal
Trade Commission são interessantes para entender o fenômeno (Quadro 2.7), mas não
abrangem a complexidade das ligações que podem existir entre a potencial compradora
e a empresa-alvo. Nesse sentido, ele cita outros autores que desenvolveram uma lista
mais completa dos possíveis recursos relacionados da empresa alvo com a adquirente
que motivariam a realização de uma aquisição. Apresentamos algumas dessas
motivações no quadro 2.8:
Quadro 2.8: Razões Para uma Firma Utilizar Estratégias de Fusões e Aquisições.
Para reduzir os custos de produção ou distribuição por meio de
1. Economias de escala
2. Integração vertical
3. Adoção de produção mais eficiente ou tecnologias organizacionais
4. Aumento da utilização de equipes gerenciais com experiências em negociação
5. Redução dos custos de agencia trazendo habilidades ou recursos específicos da aquisição
Motivações financeiras para
1. Evitar custos de falência
2. Aumentar o nível das oportunidades
3. Ganhar outras vantagens relacionadas a impostos e taxas
Ganhar poder de mercado
Eliminar ineficiências gerenciais
Fonte: Barney, 2004:487, citando Jensen, M., C. e Ruback, R., S. (1983). “The Market for corporate
control: The scientific evidence” Journal of Financial Economics, 11, pp. 5-50. Tradução da autora.
Ainda, nessa questão das razões para se realizar uma aquisição, em muitos casos,
apenas o tomador de decisão é capaz de responder quais são os verdadeiros motivos de
45
se realizar uma aquisição. Entretanto, mesmo que se tenha tal informação, é pertinente
lembrar que nem sempre é do interesse desse agente dizer a verdade. Assim, é natural
que motivos que pautem no aumento do poder de mercado, principalmente no exterior,
ou que visam à aquisição de um concorrente direto não sejam revelados pelo agente
(Bezerra, 2005).
As aquisições projetadas para obter um maior poder de mercado requerem a
compra de um competidor, fornecedor, distribuidor ou de um negócio numa indústria
altamente relacionada para permitir o exercício de uma competência essencial e ganhar
vantagem competitiva no mercado principal da firma adquirente. As empresas utilizam
aquisições horizontais, verticais e relacionadas para aumentar seu poder de mercado
(Hitt, Ireland e Hoskison, 2002).
A realização do objetivo de aquisições está amplamente relacionada aos mercados
específicos em que a empresa atua (Pinto Jr e Iootty, 2005). Entretanto, ao possibilitar o
acesso a recursos complementares aos já detidos pela empresa no país de origem, as
aquisições internacionais podem viabilizar a entrada da empresa em novas linhas de
atividades. Do mesmo modo, tais operações podem proporcionar o crescimento de
atividades menos relevantes no portfólio produtivo da empresa. Os resultados geralmente
encontrados pela literatura empírica de Economia Industrial apontam para uma relação
positiva entre aquisições e diversificação produtiva (Pinto Jr e Iootty, 2005).
1.4.4 Sinergia de Recursos e Aquisições Internacionais
Derivada da palavra grega synergos, que quer dizer “trabalhar junto”, as sinergias
podem envolver tanto recursos tangíveis como intangíveis, como por exemplo, capital
humano e seu conhecimento (Hitt, Ireland e Hoskison, 2002). Assim, as empresas têm um
incentivo para realizar fusões ou aquisições quando o valor de seus diferentes recursos
combinados é maior do que o valor de seus recursos e ativos separadamente (Barney, 1997).
Em muitos casos, uma das justificativas-chaves para se realizar uma aquisição é
o potencial de se criar sinergia de recursos. O que pode resultar numa empresa com um
portfólio mais diversificado, no caso de sinergias tangíveis ou numa empresa com maior
acúmulo de conhecimento, no caso das sinergias intangíveis. Para os acionistas, a
existência de sinergia numa aquisição pode gerar ganhos que eles não conseguiriam
46
obter diversificando sozinhos seu portfólio e ganhar acesso ao conhecimento específico
da firma adquirida (Hitt, Ireland e Hoskison, 2002).
A empresa desenvolve vantagem competitiva por meio de uma estratégia de aquisição
somente quando uma transação gera sinergia da combinação e integração dos recursos das
firmas adquirente e adquirida. E estas produzem capacidades e competências essenciais que
não poderiam ser desenvolvidas separadamente. Assim, devido à sua singularidade, as
sinergias são difíceis de ser entendidas e imitadas pelos concorrentes (Barney, 2002).
No entanto, as sinergias também são difíceis de serem criadas (Cullinan, Leroux
e Weddigen, 2004). As firmas enfrentam diversas despesas quando tentam criar sinergia
por meio de aquisições. Os custos diretos incluem honorários de advogados e encargos
de bancos de investimentos que realizam due diligence para a firma adquirente. Tempo
administrativo para avaliar a firma-alvo e depois realizar negociações é um exemplo de
custo indireto, como o é a perda de gerentes-chave e empregados depois de uma
aquisição (Hitt, Ireland e Hoskison, 2002). Nas aquisições internacionais a integração e
alcance de sinergias são mais complexos, pois envolvem duas empresas de países
diferentes. Nas aquisições internacionais a empresa que adquire precisa lidar não
somente com culturas corporativas diferentes, mas também com culturas nacionais
potencialmente diferentes, diferenças de idiomas entre outras complexidades. A
empresa que adquire uma subsidiária em outro país precisa, entre outros cuidados, ter
uma política de expatriação e ter equipes de executivos com experiência em gestão
internacional nos processos pós-aquisições (Rocha, 2002).
É difícil ser realista sobre quais sinergias uma aquisição irá gerar. Os gerentes
envolvidos num processo de aquisição normalmente superestimam o valor das
potenciais sinergias e subestimam as dificuldades para atingi-las. O processo de due
diligence deve desmistificar as impressões e intuições que os executivos têm da empresa
alvo (Cullinan, Leroux e Weddigen, 2004).
O due diligence é um processo crítico por meio do qual a firma adquirente avalia
uma firma-alvo para aquisição. Um processo de due diligence eficiente investiga
centenas de itens em quase todas as áreas da empresa, como financiamento da transação
pretendida, diferenças de cultura entre a firma adquirente e a firma-alvo, conseqüências
da aquisição para ambas as empresas e na indústria, entre muitos outros fatores
47
(Bezerra, 2005). Aquisições efetivas testam sistematicamente a lógica estratégica dos
acordos. Não é possível confiar apenas nas informações fornecidas pelo alvo. É preciso
conduzir o seu próprio campo de análises (Cullinan, Leroux e Weddigen, 2004).
No caso das sinergias, como dissemos acima, o processo de due diligence deve
desmistificar as intuições que os gerentes têm da empresa-alvo. Dessa forma, dentro da
equipe de due diligence é imprescindível haver pessoas preocupadas em distinguir as
sinergias em diferentes áreas da empresa, estimar seus potenciais valores, assim como
estimar o tempo e o investimento em que essas sinergias seriam atingidas. Estas seriam as
chamadas sinergias positivas. Além de verificar as sinergias positivas, a equipe de due
diligence precisa também considerar os potenciais conflitos na integração das operações e
no relacionamento com a rede da empresa adquirida (Cullinan, Leroux e Weddigen, 2004).
Cullinan, Leroux e Weddigen (2004), em seus estudos, afirmam que potenciais
sinergias em uma aquisição são melhores visualizadas numa série de círculos
concêntricos. Os autores chamam esse modelo de análise de “mapa das sinergias”
(Figura 2.3). Este categoriza as sinergias da empresa-alvo em relação a adquirente e
possibilita uma forma de estimar seus valores.
Figura 1.3: O Mapa das Sinergias: Criação de Valor por Meio de Aquisições
Fonte: Cullinan, Leroux e Weddigen, 2004:06.
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48
As sinergias no centro são derivadas de eliminação de funções duplicadas de
atividades e custos, por exemplo, operações de finanças. Essas são as sinergias mais
fáceis e rápidas de serem alcançadas. O segundo círculo mais próximo do centro
representa as economias feitas a partir de corte de custos das operações compartilhadas
como distribuição, vendas e despesas gerais que podem ser diminuídas. Normalmente,
logo após o processo de integração essas sinergias são também facilmente atingidas. No
terceiro círculo temos as economias vindas da racionalização das habilidades
compartilhadas, estas são tipicamente mais difíceis de serem atingidas porque
demandam significativamente o envolvimento do pessoal, transferência de
conhecimentos, regulação etc. Nos dois últimos círculos é que as sinergias são
renovadas, isto é, no quarto circulo começa-se com a venda dos produtos existentes em
novos canais de distribuição e no quinto já há venda de novos produtos gerados após a
aquisição e novos canais de distribuição. Este é o estágio mais difícil de ser alcançado,
pois para que essas sinergias sejam alcançadas é necessária uma integração maior entre
as empresas e as transferências de conhecimento já terão que ser “naturais” nesta fase.
Porém, é a fase que, se for alcançada, é a que gera recursos de maior valor para as
empresas (Cullinan, Leroux e Weddigen, 2004).
Portanto, as sinergias próximas ao centro tendem a ser sinergias econômicas
(cost-saving synergies) que podem ser realizadas rapidamente e tendem a ser bem-
sucedidas. Quanto mais longe do centro, maior será dificuldade de realizar a sinergia, ou
seja, serão mais custosas e levarão mais tempo para serem atingidas, pois requerem um
nível de integração maior entre a firma adquirente e a adquirida. Podemos dizer que em
aquisições internacionais as sinergias mais complexas podem levar ainda mais para
serem alcançadas, pois as barreiras culturais enfrentadas são ainda maiores.
Assumindo o pressuposto de que o sucesso da empresa está baseado na sua
capacidade de criar e transferir conhecimento de forma mais efetiva que seus
competidores, entender os mecanismos pelos quais o conhecimento pode ser criado e
transferido na empresa é ponto de partida para a vantagem competitiva e no caso de
uma aquisição, para o alcance de sinergias de recursos mais longe do centro, isto é,
sinergias que envolvem recursos intangíveis e requerem uma melhor interação entre a
empresa adquirida e a adquirente. Nesse sentido, concordamos com Barney (1997) de
que para as aquisições terem retornos acima da média elas devem criar uma combinação
única de recursos de valor não imitáveis.
49
1.4.4.1 Transferência de Conhecimento em Aquisições Internacionais
Na corporação multinacional, a rede de empresas que se interagem, a
transferência de know-how normalmente requer o estabelecimento de relações de longo
prazo, que pressupõem confiança e um código comum aprendido e compartilhado
pelas empresas envolvidas (Bresman, Birkinshaw e Nobel, 1999). Lyles (2001)
argumenta que a administração de subsidiárias adquiridas no exterior exige alguma
transferência de conhecimento da matriz estrangeira em termos de experiências
gerenciais, atividades tecnológicas e\ou atividades administrativas. A transferência de
conhecimento tácito é altamente dependente de relações sociais e requer interação
extensiva entre aqueles que detêm o conhecimento e os desejosos de internalizá-los
(Lyles, 2001)
3
. Nesse sentido, os expatriados são importantes veículos para a
transferência de conhecimento tácito e também da cultura das empresas em razão de
seus relacionamentos (Lyles, 2001).
A literatura sobre aquisições mostra a importância da transferência de
conhecimento para a criação de valor nas aquisições. Na revisão de literatura sobre
transferência de conhecimento em aquisições internacionais o trabalho de Bresman,
Birkinshaw, Nobel, (1999) é pioneiro. Os autores estudaram especificamente a
transferência de conhecimento após o processo de aquisição internacional, com foco nos
padrões de interação entre a firma adquirente e a unidade adquirida, e o impacto desses
padrões na transferência de conhecimento. Os autores também consideraram a natureza
do conhecimento (tácito e explícito), o tempo transcorrido após a aquisição, o tamanho da
unidade adquirida como fatores adicionais que influenciam a transferência de
conhecimento. A figura 2.4 abaixo mostra as principais variáveis analisadas na pesquisa.
3
Na literatura de Administração há uma distinção básica de dois tipos de conhecimento: o tácito e o explícito
(Polanyi (1966) in Nonaka e Takeuchi, 1995). O conhecimento explícito, ou codificado, refere-se ao
conhecimento que pode ser transmitido em linguagem formal e sistemática, enquanto que o conhecimento
tácito possui uma dimensão individual, o que o torna mais difícil de formalizar. O conhecimento tácito é
pessoal, específico ao contexto e por isso é difícil de ser formulado e comunicado.
50
Figura 2.4: Fatores que facilitam a transferência de conhecimento
Fonte: Bresman, Birkinshaw, Nobel, 1999:445.
A principal contribuição do estudo de Bresman, Birkinshaw, Nobel (1999) é que
os autores mostraram que a comunicação, visitas e reuniões são significativos meios
para a transferência de know-how tecnológico, enquanto que o impacto da articulação de
conhecimento e o tempo transcorrido desde a aquisição variam de acordo com o tipo de
conhecimento que será transferido. Uma importante conclusão desse estudo é que a
transferência de conhecimento em aquisições internacionais é diferente dos processos
em outros tipos de governança, devido ao rápido envolvimento da relação entre as duas
firmas. Nas fases iniciais a transferência se dá de uma forma relativamente hierárquica
ou impositiva (da matriz para a subsidiária), mas conforme o tempo vai passando o
processo se torna mais recíproco, isto é, há uma maior interação e as trocas de
conhecimento acontecem da matriz para a subsidiária e da subsidiária para a matriz.
Nesse sentido, entendemos que os estudos sobre aquisições internacionais de
Bresman, Birkinshaw, Nobel (1999) e de Cullinan, Leroux e Weddigen (2004), embora
distintos, apresentam pontos de vista convergentes. Dessa forma, para atingir sinergias
mais complexas após uma aquisição internacional é necessário levar em consideração as
transferências de conhecimento ocorridas entre as empresas ao longo do tempo.
Quanto mais relacionada, quanto mais diferentes tipos de sinergias houver entre
os recursos da firma adquirida com a adquirente, maior a probabilidade que essa
aquisição seja bem-sucedida (Hitt, Ireland e Hoskison, 2002).
Assim, as aquisições horizontais (por meio das quais a firma adquire um
concorrente) e as aquisições relacionadas tendem a contribuir mais para a
competitividade estratégica do que aquelas por meio das quais uma firma adquire uma
companhia que opera em mercados de produtos que são muito diferentes daqueles em
que ela compete atualmente.
Facilitadores
• Comunicação
• Visitas e reuniões
• Articulação do conhecimento
• Tempo transcorrido
• Tamanho da unidade adquirida
Transferência de conhecimento
• Adquirida para adquirente
• Adquirente para adquirida
51
1.4.5 Atributos de Aquisições Internacionais Bem-Sucedidas
A utilização bem sucedida de uma estratégia de aquisição internacional é outra
maneira pela qual uma empresa pode se diferenciar dos competidores. Ser efetivamente
diferenciado pode beneficiar a firma em termos de que menos competição direta é
experimentada quando isso acontece (Bezerra, 2005). Estudos, citados por Hitt, Ireland e
Hoskisson (2002) ajudaram a esclarecer as diferenças entre estratégias mal-sucedidas e bem-
sucedidas e sugerem que há um padrão de decisões e ações que as firmas podem seguir, o
qual pode melhorar a probabilidade de sucesso da estratégia de aquisição. Os principais
resultados mostram que quando os recursos de uma firma-alvo são complementares aos da
firma adquirente, a aquisição é mais bem sucedida. Isso acontece porque com recursos
complementares, a integração das operações das duas empresas cria sinergia. Nesse sentido,
firmas com recursos relacionados conseguem produzir capacidades e competências essenciais
únicas, melhorando assim sua competitividade estratégica (Barney, 2002).
Portanto, de um modo geral, nas aquisições bem-sucedidas os recursos das
firmas são altamente relacionados. Assim, a firma adquirente mantém seu foco em
negócios centrais e os alavanca com recursos e capacidades complementares da firma
adquirida (Hitt, Ireland e Hoskisson, 2002). O Quadro 2.9 mostra os principais atributos
de aquisições bem-sucedidas.
Quadro 2.9: Atributos de Aquisições bem-sucedidas
1
A firma adquirida possui ativos ou recursos que
são complementares para os negócios centrais
da firma adquirente
Elevada probabilidade de sinergia e vantagem
competitiva ao manter potencialidades
2
Aquisição é amigável Integração mais rápida e mais efetiva: ágios
possivelmente menores
3
A firma adquirente escolhe firmas-alvo e realiza
negociações cuidadosa e deliberadamente
Firmas que possuem as complementaridades mais
fortes são adquiridas e é evitado um pagamento em
demasia
4
A firma adquirente tem folga financeira
(dinheiro ou uma posição de endividamento
favorável)
O financiamento (dívida ou capital social) é mais fácil
e menos custoso para obter
5
A firma incorporada mantém uma posição de
endividamento baixa e moderada
Menor custo de endividamento, menor risco (por
exemplo, de falência) e anulação de trade-offs
associados com um elevado endividamento
6
Tem experiência com mudanças e é flexível e
adaptável
Uma integração mais rápida e mais eficiente facilita a
obtenção de sinergia
7
Ênfase sustentável e consistente em P&D e
inovação
Mantém vantagem competitiva de longo prazo em
mercados
Fonte: Hitt, Ireland e Hoskisson, 2002:298.
Este capítulo apresentou a base teórica que utilizamos para o desenvolvimento do
estudo. O próximo capítulo aborda os objetivos e a metodologia adotada nesta pesquisa.
52
CAPÍTULO II - METODOLOGIA
Este capítulo apresenta a metodologia de pesquisa adotada para este trabalho. A
primeira seção discute os objetivos e apresenta as questões da pesquisa. Na segunda
seção, são apresentadas as características do estudo e seus aspectos metodológicos. A
terceira seção explica como foi realizada a coleta de dados na empresa pesquisada.
2.1 Objetivos de Pesquisa
A construção de um objetivo de pesquisa deve ser baseada no paradigma do
estudo, ou seja, deve utilizar a forma e a linguagem precisas que o caracterizam (no
caso, pesquisa qualitativa) e deve capturar, em uma única sentença ou parágrafo, a sua
essência (Creswell, 1994).
O objetivo central desta pesquisa é analisar o processo de aquisição pela
Petrobras do grupo Perez Companc na Argentina. A partir desse estudo de caso
podemos aprofundar o entendimento da estratégia de internacionalização da Petrobras
após a quebra do monopólio em 1997.
Para analisar o processo de aquisição da Perez Companc pela Petrobras, levamos
em consideração os seguintes tópicos:
1. Fatores motivadores para a aquisição.
2. Plano para a condução do processo pós-fusão.
3. Estratégias para a condução do processo de integração com a subsidiária
adquirida.
4. Principais problemas enfrentados pela empresa no processo pós-aquisição no
exterior dificuldades legais, culturais, problemas de governança, resistência
da empresa adquirida etc.
5. Experiência da Petrobras na atuação internacional.
6. Modificação da estratégia da empresa após a aquisição
A escolha da Petrobras deve-se ao fato dela ser a maior empresa multinacional
não-financeira do Brasil em termos de vendas (UNCTAD, 2004). Entretanto, embora
seja a maior empresa do Brasil e a décima quarta no ranking da indústria mundial do
petróleo segundo os critérios da publicação Petroleum Inteligence Weekly a empresa
enfrenta o desafio da internacionalização para sustentar sua vantagem competitiva na
53
esfera nacional e internacional, isto porque suas atividades estão ligadas a um mercado
oligopolizado e que necessita de altos investimentos para atuar em países onde há
jazidas de petróleo.
2.2 Metodologia Adotada
A primeira e mais importante condição para se decidir entre as várias estratégias
de pesquisa é identificar o tipo de questão nela apresentada (Yin, 1994). Assim,
pesquisas que possuem suas perguntas centrais em como e porque um determinado
fenômeno acontece demandam análises que fazem uso de estudos de casos. Isso porque
tais questões tratam ligações operacionais que necessitam ser traçadas ao longo do
tempo, em vez de serem vistas como meras incidências (Yin, 1994). Nesta pesquisa
pretendemos entender como e porque a Petrobras adquiriu o grupo Perez Companc na
Argentina.
A partir da revisão bibliográfica e da proposta de objetivos desta pesquisa
definimos o estudo de caso como o método mais apropriado. Definimos também a
pesquisa como qualitativa, por possibilitar uma melhor obtenção de informações que
pudessem elucidar o objeto de estudo e serem transformadas em variáveis de pesquisa
ou gerassem hipóteses para serem testadas em trabalhos posteriores mais amplos
(Goode e Hatt, 1979).
A escolha do método de estudo de caso deve-se a dois motivos principais:
O primeiro é que vários autores chamam a atenção para a deficiência de estudos
e estatísticas referentes aos processos de aquisições internacionais (Chesnais, 1996;
Bresman, Birkinshaw, Nobel, 1999). Os trabalhos publicados nas ultimas décadas,
apesar de apresentarem importantes questões e hipóteses sobre os diferentes aspectos
desse fenômeno, provêem poucas respostas baseadas em testes empíricos (Nakamura,
2005). Chesnais (1996) aponta que o caráter insatisfatório dos dados disponíveis sobre
os investimentos internacionais é decorrente do componente estratégico envolvidos
nessas operações. A própria definição de IDE adotada pelo FMI em 1977, e que é
utilizada pela OCDE como norteadora de coleta de dados estatísticos nesse campo
mostram o caráter qualitativo e a dificuldade de mensuração desses fenômenos: o IDE
“designa um investimento que visa a adquirir um interesse duradouro em uma empresa
54
cuja exploração se dá em outro país que não o do investidor, sendo o objetivo deste
último influir efetivamente na gestão da empresa em questão” (Chesnais, 1996:55).
“Para saber se há “interesse duradouro” e “controle da gestão”, seria
preciso empreender levantamentos detalhados junto às companhias,
matrizes e também filiais. Para isso, seria preciso dispor dos meios
materiais, e sobretudo da autoridade política requerida. Com efeito, as
informações necessárias para avaliar corretamente o controle de uma
firma sobre outra atentam ao “sigilo empresarial (...)” (Chesnais,
1997:57)
O segundo motivo que justifica o método de estudo de caso é a dificuldade de
análise das características de um ator produtivo estatal devido a sua “dupla face” de
inserção no Estado e no mercado. A face estatal que orienta esses atores a realizar os
objetivos políticos e macroeconômicos e a face empresarial que os conduz a privilegiar
objetivos de natureza privada, estritamente microeconômicos, exigem um duplo
tratamento do tema. Nesse sentido, um estudo de caso revela-se facilitador, pois a
iniciativa de reunir elementos explicativos oriundos da política e da economia se torna
consistente, quando baseado pelo exame e um caso específico.
Estudos de caso podem envolver um único ou múltiplos casos e diversos níveis
de análise, como por exemplo, a análise da indústria e/ou da empresa, e tipicamente
combinam métodos de coleta de dados, ou seja, uma ampla variedade de instrumentos
de coleta, como arquivos, entrevistas, questionários e observações, estes podem ser de
natureza qualitativa ou quantitativa ou ambas. O estudo de caso nesta pesquisa pode ser
classificado como estudo de caso único incorporado (Yin, 1994). O estudo incorporado
acontece quando dentro de um caso único se dá atenção a uma subunidade ou a várias
subunidades. Nesta pesquisa o objeto de estudo é o processo de aquisição do grupo
Perez Companc na Argentina.
2.2.1 Coleta dos Dados
Primeiramente realizamos uma revisão da teoria sobre internacionalização de
empresas e investimento direto externo. Dentre os modelos de internacionalização
destacamos a Escola de Uppsala e o Paradigma Eclético. Na questão referente às
aquisições internacionais adotamos neste trabalho a perspectiva da “Visão Baseada em
Recursos”. A teoria dos recursos empresariais revela-se apropriada para examinar
processos de aquisições, visto que as firmas usam tais aquisições com a intenção de
55
ganhar acesso aos recursos valiosos de outras empresas (Barney, 2002). Fizemos
também um levantamento teórico sobre as características estruturais do setor petrolífero
e as características do sistema produtivo estatal.
Além da revisão teórica relevante para nosso estudo, levantamos uma série de
dados secundários sobre o setor petrolífero nacional e internacional e sobre a área de
negócios internacionais da Petrobras após 1997. Na coleta destes dados destacamos
como principais fontes: textos especializados sobre a indústria do petróleo, publicados
pelo Grupo de Economia da Energia da UFRJ e Boletim Infopetro. Notícias publicadas
sobre o setor na grande imprensa nacional e internacional. Documentos elaborados pelo
BNDES, ANP e IPEA. Documentos da Petrobras e Petrobras Energia (análises internas,
relatórios anuais, site oficial entre outros). Porém, foi por meio do levantamento de
dados primários sobre a aquisição do grupo Perez Companc pela Petrobras é que a
maior parte de nossa análise foi construída.
2.2.2 Planejamento e Execução do Estudo de Campo
A escolha do caso levou em consideração a relevância da empresa e também a
facilidade de acesso a seus executivos e atividades. Essa consideração é central para se
fazer um estudo de caso em profundidade, pois é necessária a autorização da empresa
para o acesso a seus documentos, realização de entrevistas e visitas. Quando tratamos
sobre esta questão nas reuniões do Grupo de Estudos de Estratégia e Competitividade
Internacional na PUC-SP, foi sugerida a possibilidade de trabalhar com o caso da
Petrobras, que é a maior empresa multinacional brasileira não financeira em termos de
venda (UNCTAD, 2004). A idéia foi colocada porque um dos membros do grupo tinha
relações profissionais com um dos gerentes de estratégia da Petrobras. E já por haver
uma relação pessoal com um membro do grupo poderia haver maior facilidade de
acesso à empresa.
Decidido o caminho, foi feito um contato telefônico com a gerente indicada da
área internacional para explicar o direcionamento da pesquisa e combinar uma reunião
com ela na sede da Petrobras no Rio de Janeiro. Após o contato telefônico enviamos
eletronicamente um sumário da pesquisa a ser realizada com os objetivos, as principais
questões, finalidades e contribuições (Apêndice I). Todas as entrevistas realizadas foram
marcadas por intermédio dessa gerente. Dessa forma, os dados primários foram
56
levantados por meio de entrevistas com gestores da área de negócios internacionais
(ANI) da Petrobras:
1) Gerente subordinada à área de estratégia corporativa internacional (nosso
primeiro contato);
2) Gerente executivo de Suporte Técnico aos Negócios Internacionais;
3) Gerente executivo de Américas, África e Eurásia;
4) Coordenador do Sistema Integrado de Gestão – responsável pala implantação
do PROANI.;
5) Gerente boliviana “impatriada” no Brasil subordinada à área de estratégia
corporativa internacional;
6) Assistente da Gerencia Executiva de Suporte Técnico aos Negócios
Internacionais;
7) Engenheira de produção da área de estratégia corporativa internacional;
8) Economista área de estratégia corporativa internacional.
Todas as entrevistas foram realizadas pessoalmente na sede da empresa no Rio
de Janeiro. As entrevistas não puderam ser gravadas, devido às normas internas da
empresa. Para preservar a fidedignidade das respostas fizemos anotações durante a
entrevista. Quando houve a possibilidade de mais de um pesquisador participar
(mestranda e orientador) pudemos comparar as anotações de ambos.
As entrevistas são uma das fontes de dados mais importantes para os estudos de
caso (YIN, 1994). O roteiro de entrevistas em um estudo de caso que aplica métodos
qualitativos de levantamento de dados deve ser por natureza “aberto” (open-ended
nature) (Yin, 1994), e deve servir para orientar a discussão com os entrevistados,
escolhidos de forma intencional e de acordo com a relevância de suas experiências e
opiniões para a questão pesquisada. Também nesta pesquisa, além da natureza aberta
das questões, as entrevistas foram também do tipo “focada”, na qual os respondentes
foram entrevistados por uma hora ou mais e foi seguido um “certo conjunto de questões
derivado do roteiro do estudo de caso” (Yin, 1994:85) cujo modelo está no Apêndice II
deste trabalho.
57
CAPÍTULO III - A INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E A PETROBRAS
Um dos pontos centrais deste trabalho é abordagem das especificidades do setor
petrolífero para compreender a ação da empresa pesquisada e avaliar as estratégias de
aquisições internacionais. Este capítulo expõe algumas características da indústria
petrolífera. Também apresentamos um panorama geral do setor no Brasil, assim como,
características empresa estudada. Discutimos também especificidades do sistema
produtivo estatal.
3.1 Características Estruturais do Setor Petrolífero
Para Penrose (1968), os preços, as quantidades e a distribuição do investimento e
da renda originados na indústria petrolífera apresentam pouca semelhança com os
processos tradicionalmente analisados na teoria econômica clássica. A indústria
petrolífera se diferencia dos demais setores econômicos, dada a ação de um conjunto de
características como altos riscos de investimentos, grandes economias de escala,
integração vertical etc. Alguns autores defendem que elas acabam por tornar ineficaz o
emprego de soluções de mercado, justificando ações tradicionalmente pouco explicadas
pelas teorias tradicionais. Algumas dessas características trazem forte incentivo ao
emprego da estratégia de aquisição (Iootty, 2002; Nakamura, 2005).
As características básicas da indústria petrolífera são:
1) altos riscos de investimentos, capital intensivo e prazos de maturação longos e
alto grau de internacionalização;
2) grandes economias de escala e integração vertical das empresas;
3) competição imperfeita: estrutura industrial de oligopólio;
4) alvo de atenção contínua da opinião pública pelo seu potencial impacto como
devastadora ambiental e geradora de conflitos políticos.
3.1.1 Altos Riscos de Investimentos, Capital Intensivo, Prazos de Maturação
Longos e Alto Grau de Internacionalização
Podemos dizer que a indústria de petróleo está exposta a riscos de três naturezas:
geológico, político e de preços (Nakamura, 2005).
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Como as demais atividades extrativas minerais, as empresas de petróleo estão
sujeitas ao risco geológico, isto é, ao risco dos investimentos na busca e
desenvolvimento de novas jazidas não serem recompensadas. A decisão de investir na
indústria petrolífera, principalmente exploração e produção, envolve altos custos:
imobilização de grande quantidade de capital em ativos reais de pouca ou nenhuma
liquidez por períodos de tempo relativamente longos. Antes da perfuração de um poço,
que é a etapa que exige a maior parte de investimentos num projeto de E&P,
especialistas estudam as diversas camadas do subsolo que indicam a condição de
acumulação de petróleo e os locais mais prováveis de sua ocorrência, ou seja, não se
trabalha com certeza absoluta, mas com parâmetros relativamente confiáveis quanto à
existência, que posteriormente terá a relação custo/benefício avaliada para a exploração
(Cardoso, 2005).
Outro elemento ligado à intensidade de capital da indústria de petróleo é o peso
do custo de capital. Este afeta todas as empresas, de todas as indústrias, mas em setores
de capital intensivo ganha maior peso. As empresas de petróleo têm uma demanda de
capital que supera muito a própria capacidade de autofinanciamento. O padrão de
financiamento se torna, portanto, um fator de competitividade de extrema relevância
(Alveal, 2003).
O fato de a atividade petrolífera ser capital intensiva gera conseqüência sobre o
tamanho das empresas da indústria, no sentido que apenas as capazes de realizar um
número grande de atividades exploratórias podem, com alguma certeza, se aproximar
dos percentuais médios de sucesso. A indústria de petróleo se foca na exploração de um
recurso escasso e não renovável e cuja distribuição geográfica ocorre de forma
concentrada e desigual. Essa concentração, somada a ação das economias de escala
explicam a necessidade de internacionalização das empresas e o escopo global da
atividade petrolífera. A atuação em sítios com características diversas tende a reduzir o
risco geológico, mas esta estratégia pode trazer uma nova fonte de riscos de natureza
política.
Os riscos políticos decorrem da atuação sob regimes que não provêem uma
estrutura institucional e estável ao longo do tempo. Nessas condições as empresas ficam
vulneráveis as mudanças inesperadas e negativas instituídas por esses governos
(Nakamua, 2005). O caso da nacionalização das reservas de óleo e gás na Bolívia,
59
instituída recentemente pelo presidente Evo Morales, prejudicando assim, os
investimentos da Petrobras e de outras empresas petrolíferas que atuavam no país é um
exemplo dos riscos políticos que as empresas de energia tem que enfrentar.
A terceira fonte de incerteza na indústria de petróleo está relacionada à trajetória
futura dos preços do petróleo. Investimentos realizados hoje somente serão
recompensados no futuro, com base num nível de preços ainda desconhecidos
(Nakamura, 2005). Os exemplos clássicos de incerteza relacionada ao preço são os dois
choques do petróleo, que foram caracterizados por substanciais aumentos no preço do
óleo cru, levados a cabo pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).
Até o início dos anos 60 as grandes majors do petróleo, as chamadas setes irmãs
4
:
Exxon (Antiga Standart Oil), Chevron, Mobil, Texaco, Gulf Oil, British Petroeum e
Shell, controlavam cerca de 90% das reservas de petróleo no mundo por meio do
estabelecimento de contratos de concessão com os países que dispunham de reservas.
Com a criação da OPEP em 1960 e o surgimento progressivo de empresas estatais nos
países da organização, observa-se um processo denominado de desintegração vertical
das majors que dominavam a indústria petrolífera mundial. Até o final da década de
1970 a OPEP exerceu um significativo poder de mercado, permitindo aos países
produtores estabelecer os preços internacionais (Zamith, 2001).
Após os choques da década de 70, o cenário de preços em alta promoveu uma
nova fase de abertura da indústria com o ingresso de novos operadores e aumento da
competição. Assim, a década de 80 houve nos países não pertencentes a OPEP a
implementação de políticas de valorização dos recursos petrolíferos nacionais (Noruega,
Grã-Bretanha, México, Brasil, Colômbia, entre outros; dessa forma, o poder de mercado
dos monopólios estatais da OPEP foi sendo progressivamente reduzido (Pertusier,
2004)).
Atualmente os custos de extração de petróleo são crescentes pela necessidade de
aplicação de tecnologias mais sofisticadas que permitem extração de óleo de áreas de
pouco acessíveis, fora do Oriente Médio, como águas profundas e ultraprofundas do
Brasil, da África Oriental, do Golfo do México e as bacias de mais difícil acesso na
4
Nos últimos anos ocorreram várias mudanças entre as majors do petróleo: em meados dos anos 80, a
Gulf foi incorporada pela Chevron, enquanto, em 1999, a Exxon incorporou a Mobil. E, em 2000, temos a
fusão entre as americanas Chevron e Texaco.
60
Venezuela e Canadá, além de as descobertas mais recentes serem predominantemente
de petróleos pesados (Prates, Costa e Pastoriza, 2005). O cenário internacional sinaliza,
portanto, que os preços do petróleo dificilmente se reverterá no curto prazo. O Gráfico
3.1 mostra essa tendência de preços crescentes. Podemos observar que entre 2003 e
2005 houve uma trajetória fortemente crescente, ficando abaixo apenas dos preços no
segundo choque do petróleo.
Gráfico 3.1: Preços Internacionais do Petróleo Deflacionados pelo IPC Norte-
Americano – 1972/2005.
Fonte: Prates, Costa e Pastoriza, 2005:07.
A estratégia de aquisição pode ajudar a minimizar o risco geológico, tanto ao
promover um caminho rápido para a expansão da firma, quanto por constituir um meio
para viabilizar a estratégia de internacionalização. Os riscos políticos podem ser
influenciados pela estratégia de aquisição, por meio desses mesmos canais. As
aquisições promovem o crescimento da firma e isso pode torná-las mais capazes de
absorver choques políticos. A terceira fonte de riscos, relacionados à trajetória futura de
preços do petróleo, é influenciada pelas aquisições quando essas contribuem para o
estabelecimento de uma estrutura concentrada e integrada verticalmente – condições
muitas vezes necessárias a formação dos acordos de preços (Iootty, 2002).
61
3.1.2 Grandes Economias de Escala e Integração Vertical das Empresas
Os altos níveis de concentração na indústria de petróleo e o tamanho médio das
empresas participantes podem ser explicados pelas importantes economias de escala em
quase todos os elos da cadeia produtiva. A existência de economias de escala refere-se a
plantas industriais (tamanho das unidades e permanente expansão a procura de novas
reservas), mas também à escala empresarial, que determina a capacidade de
alavancagem de recursos e P&D (Alveal, 2003).
Apesar de estarem presentes em quase todo o ciclo produtivo, as economias de
escala se concentram nas atividades de transporte e refino (Clô, 2000; Nakamura, 2005).
O aumento da complexidade tecnológica das plantas de refino contribuiu para melhor
exploração dos recursos, redução dos níveis de poluição e aumento da flexibilidade. Na
atividade de transporte, as possibilidades de ganhos de escala se concentram nos custos
de construção dos navios e nas economias com pessoal e combustível. As economias de
escala presentes no transporte por oleodutos também se concentram nos custos de
produção. Numa empresa integrada verticalmente, a realização de aquisição pode ainda
viabilizar, por meio da equalização dos gargalos em um determinado elo da cadeia, a
obtenção de economias de escala nos elos subseqüentes.
O emprego da estratégia de aquisição pode gerar economias de escala, mas é
importante lembrar que, em geral, a realização de investimento em nova capacidade
gera maior potencial de tais economias. Dessa forma, a aquisição de mais um navio de
transporte ou uma planta de refino não traz, necessariamente, aumento da produtividade.
As principais empresas do setor atuam em toda a cadeia do produto. Penrose
(1968:46) explica as principais vantagens da extensiva integração na indústria do
petróleo. São elas:
1) segurança no fornecimento de óleo, o que permite melhor planejamento;
2) operação mais eficiente das refinarias como resultado de uma oferta
assegurada de óleo;
3) ajustamento mais eficiente e flexível em função de mudanças na demanda de
curto prazo, de certos produtos, em certas áreas;
4) redução do risco de flutuações nos preços que poderiam aumentar os custos,
tanto dos produtores quanto dos consumidores.
62
A integração vertical pode, ainda, reduzir a variância dos riscos ao agregar
atividades cujos lucros não estejam perfeitamente correlacionados ou atuar como
estratégia de defesa. Para Penrose (1968), a integração vertical, na indústria petrolífera,
passou a ser uma necessidade competitiva, ao menos para as firmas lideres (Penrose,
1968). A integração vertical, de certa forma, protege a empresa petrolífera da
volatilidade e incerteza dos mercados intermediários (por meio da substituição de
transações comerciais por transações internas), permitindo à administração planejar o
fluxo de petróleo e derivados do poço até o consumidor final (Alveal, 1994).
3.1.3 Competição Imperfeita: Estrutura Industrial de Oligopólio
O oligopólio mundial é um sistema de rivalidade, delimitado pelas relações de
dependência mútua de mercado, que interligam um pequeno número de grandes grupos
que, numa dada indústria (ou num conjunto de indústrias de tecnologia genérica
comum), chegam a adquirir e conservar a posição de concorrente efetivo no plano
mundial. O oligopólio é um lugar de concorrência acirrada, mas também de colaboração
entre grupos. Estes reconhecem sua mútua dependência de mercado, de modo que as
relações que constituem o oligopólio são, em si mesmas e de forma inerente, um
importante fator de barreira à entrada de outros concorrentes. (Chesnais, 1996).
Formas muito concentradas de produção e de comercialização em escala
internacional não são estruturas novas. Na indústria do petróleo, por exemplo, a elevada
concentração constitui, praticamente desde o nascimento dessa atividade, uma
característica dominante de oferta. A indústria de petróleo é um caso típico de
oligopólio devido ao número limitado de ofertantes, o mercado é dominado por grandes
firmas com elevado poder de mercado, assim como uniformidade do produto. Num
mercado com estrutura oligopolizada, qualquer ação que modifique os preços ou a
quantidade de uma empresa modificará a condição de equilíbrio das demais firmas
(Pertusier, 2004).
Entre o final da segunda guerra e ocorrência dos choques de petróleo, as
estratégias de crescimento horizontal, vertical e de internacionalização, além dos
acordos entre empresas e entre países e empresas, visam claramente o exercício do
poder de mercado, na forma de controle das cotações do petróleo cru (Iootty, 2002). No
setor petrolífero, o exercício “coletivo” do poder de mercado, por parte das majors, se
63
deu de forma sistemática e explicita, entre a década de 50 e o primeiro choque do
petróleo.
A ação dessas três características – economias de escala, incerteza e estrutura
oligopolizada - tornam o emprego dos mecanismos de mercado uma potencial fonte de
instabilidade, possivelmente danosa às empresas envolvidas e à sociedade.
Historicamente, as soluções empregadas pelas empresas do setor têm, em geral,
perpassado pelo estabelecimento de algum grau de cooperação mútua. A rede de
relacionamentos estratégicos das empresas podem adentrar novos mercados e obter
sucesso e performance superior.
Assim, além da internacionalização, uma alternativa estratégica das empresas de
petróleo para diminuir riscos (geológicos, políticos e de preços) a que estão sujeitas é
utilização ampla das estratégias de cooperação. Clô (2000), argumenta que para
diminuir os riscos de operar em grande escala em muitos países, as empresas de
petróleo desenvolveram uma forma de integração horizontal e cooperação entre várias
firmas.
3.1.4 Riscos Sócio-ambientais na Indústria Petrolífera
A preocupação histórica dos governos com o setor do petróleo deve-se não
somente ao fato de se tratar de um setor estratégico, mas também à sua relação com a
indústria militar e o impacto ambiental.
A questão ambiental é relativamente nova, começou a ser discutida nos anos
1980, e refere-se tanto a regras para exploração e o próprio processo produtivo, quanto à
relação com os produtos e matérias-primas para outras indústrias, como a petroquímica,
visando o gerenciamento sustentável dos resíduos (Cardoso, 2005). Assim, apesar de a
reestruturação e a globalização estarem relacionadas à liberalização e a
desregulamentação dos mercados, há um condicionante desse processo que vai na
direção contrária, que é a regulamentação ambiental, cujas normas mínimas estão se
padronizando no mundo inteiro em relação ao grande passivo ambiental gerado pelas
empresas petrolíferas (Schutte, 2004). O setor de petróleo, apesar de trabalhar com
matérias-primas e produtos de origem não-renovável, que são os combustíveis fósseis,
64
pode ter práticas e ações voltadas ao desenvolvimento sustentável, como melhor
utilização de recursos naturais, reaproveitamento dos resíduos e eficiência energética.
A invasão e permanência dos EUA atualmente no Iraque é apenas um dos
exemplos da relação da indústria petrolífera com conflitos políticos e a indústria bélica.
Podemos citar também a guerra Irã-Iraque que perdurou de 1980 a 1988 e a guerra do
Golfo em 1991. O preço do petróleo é sensível às questões políticas do Oriente Médio e
dos outros países ou regiões que possuem jazidas. Com a destituição de Saddan
Hussein, os EUA ganharam uma estratégica base política e militar no Oriente médio,
aumentando sua influencia sobre países como Irã, Arábia Saudita e outros países do
Golfo Pérsico.
3.2 Sistema Produtivo Estatal: Características Específicas e Implantação no
Brasil
As empresas estatais foram criadas para alavancar e fortalecer a acumulação dos
agentes privados nacionais e, por essa via, alargar os espaços de soberania do
capitalismo nacional. O engajamento direto do estado, mais ou menos vigoroso, na
maioria das trajetórias industriais e de industrialização do século XX, operou-se por
força da carência ou da fragilidade do agente estratégico clássico: uma burguesia ou um
empresariado forte (Alveal, 1994).
Até a Crise de 1929, nas principais economias mundiais o Estado assegurava a
operação do mercado, entretanto intervinha pouco. As economias capitalistas nas
décadas seguintes à grande depressão tiveram um amplo crescimento de suas estruturas
estatais. O crescente poder e a elevada autonomia praticada pelas elites empresariais do
Estado surgem como fenômeno geral do capitalismo contemporâneo mesmo em países
com forte tradição liberal, como EUA e Inglaterra.
Uma estrutura de governança estatal é um evento econômico complexo. Nestas
estruturas empresariais os governos são acionistas majoritários ou principais e, por esta
razão, usam um estilo de comando empresarial que reúne objetivos de empresa privada
e objetivos macroeconômicos e macropolíticos (Alveal, 1994, 1999). Nesse sentido,
afirma-se que as empresas estatais têm “dupla face”, na medida em que funcionalmente
combinam objetivos empresariais de lucro, de empresas privadas, inclusive
65
incorporando estratégias de internacionalização, e objetivos macroeconômicos e
políticos de desenvolvimento nacional característicos de órgãos de governo (Alveal,
1994). Essa ‘dupla face’ faz com que, na trajetória de crescimento da empresa, a sua
liderança se transforme num centro processador de decisões, articulando e
intermediando, num complexo processo de negociação, interesses advindos de atores da
esfera estatal, do governo, do setor privado nacional e do setor multinacional (Alveal,
1994; Schutte, 2004).
Essa combinação que substancia a essência das funções-objetivo das estruturas
produtivas estatais de governança, entretanto, requer para seu razoável desempenho de
dois aspectos que estão a depender da relação entre as empresas e seu acionista
majoritário, isto é, os governos. O primeiro aspecto refere-se à definição de parâmetros
macroeconômicos de longo prazo para nortear a execução dos objetivos funcionais das
estatais, em prol de um projeto de desenvolvimento nacional razoavelmente consistente.
O segundo aspecto remete à definição de faixas de autonomia decisória e operacional
para as estatais desempenharem suas funções empresariais com níveis apreciáveis de
eficiência e rentabilidade (Alveal, 1999, 2003).
Nas industrializações mais recentes, como a do Brasil, a centralidade do Estado
empresário ergueu-se como esfera intermediadora para compensar a força política e
econômica dos capitais internacionais e diminuir a fragilidade política e econômica das
burguesias industriais locais. Assim, o Estado empresário no Brasil surgiu do
desenvolvimento industrial nucleado por políticas setoriais de substituição de
importações. Essa modalidade estratégica permitiu enfrentar as restrições de uma
industrialização tardia, em condições de desvantagem em relação à dinâmica mundial
capitalista de internacionalização produtiva. A implementação desse processo requereu
soluções políticas específicas, colocando a ação estatal, especialmente a das estruturas
diretamente produtivas, em posição estratégica para orientar e acomodar a dinâmica
conflitante entre os interesses estatais e privados (Laplane, Coutinho e Hiratuka, 2003).
Assim, a construção do Brasil industrial teve como ator central o próprio Estado.
Na visão de Schutte (2004), para sustentar uma rápida industrialização no Brasil, havia
duas alternativas: atrair o capital estrangeiro ou providenciar a intervenção direta do
Estado. Em outras palavras, a intervenção estatal responde a uma situação de
66
imperfeição estrutural: falta de capital fixo, falta de poupança interna, segmentação do
mercado, condições de incertezas e assimetrias tecnológicas.
Dessa forma, desde o segundo governo Vargas até o governo Geisel, criou-se
um ambiente muito favorável ao alargamento de poder e à expansão das empresas
produtivas estatais. Com o início da industrialização, começou a ser criada uma série de
sociedades de economia mista
5
voltadas a atividades econômicas básicas ou de infra-
estrutura industrial e de serviços, como a Companhia Siderúrgica Nacional (1941), a
Companhia Vale do Rio Doce (1942), a Companhia Nacional de Álcalis (1943), a
Companhia Hidroelétrica do São Francisco (1945), a Petrobras (Lei n.º 2004, de 1953),
Eletrobras (1961), e, numa etapa seguinte, a Telebras (1972) e a Siderbras (1973).
A criação das estatais não significou a negação do capital estrangeiro, pelo
contrário a partir dos anos 50 configurou-se no Brasil um modelo que combinava o
papel do estado desenvolvimentista a uma política de atração de IDE (Schutte, 2004).
Aliás, o funcionamento de várias indústrias no Brasil, inclusive a petroquímica, passou
a funcionar como um modelo tripé com participação do Estado por meio da Petrobras e
BNDE, do capital privado nacional mais a atuação das multinacionais. Com essa
política o Brasil chegou à década de 80 como o país com o maior estoque de IDE no
terceiro mundo. E ao mesmo tempo, com uma forte presença do Estado como regulador
e ator direto, por intermédio de um grande parque de estatais (Schutte, 2004).
Essa lógica perdurou até o início da década de 1980, e representou um longo
processo de industrialização no qual a proteção do mercado doméstico e a realização de
investimentos com o objetivo de internalizar progressivamente a produção de bens
importados foram seus instrumentos principais (Laplane, Coutinho e Hiratuka, 2003). A
indústria brasileira de petróleo, liderada pelo grupo Petrobras, realizou sua trajetória até
o início dos anos 1980, ao abrigo de razoável solidez da relação entre parâmetros
macroeconômicos de longo prazo e exercício, exercendo também relativa autonomia.
Durante mais de três décadas não faltou o apoio dos sucessivos governos à estatal do
petróleo. No entanto, desde a segunda metade da década de 1980, configuraram-se
5
A sociedade de economia mista é entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, criada por lei
para o exercício de atividade de natureza econômica sob forma de sociedade anônima cujas ações com direito a
voto pertençam, em sua maioria, à União ou a entidade de administração indireta (Decreto-lei nº 200,
25/02/1967, artigos 4º e 5º).
67
processos que tornaram hostil o contexto interno e externo das estratégias de expansão
estatal (Alveal, 1999, 2003; Schutte, 2004).
Com o governo Collor, no início da década de 1990, e com o Plano Nacional de
Desestatização (PND) e abertura do mercado, o sistema produtivo estatal brasileiro
passou por uma profunda reestruturação e desestatização
6
. Esse processo foi
implementado de forma mais efetiva no início da década e tornou-se mais incisivo nos
anos de 1996 a 1998, período de maior volume de receitas obtidas das vendas das
empresas estatais brasileiras. A primeira fase do processo de privatização, de 1990 a
1994, esteve concentrada em setores pertencentes à indústria de transformação, tais
como siderurgia e petroquímica. A partir de 1995, o processo se dá principalmente nos
setores de infra-estrutura, como os de telecomunicações e energia (Laplane, Coutinho e
Hiratuka, 2003).
No setor petrolífero, a abertura do mercado não acarretou um processo de
privatização stricto sensu, sendo substituída por uma estratégia implementada por meio
do estímulo ao ingresso de agentes privados e a formação de parcerias entre a estatal e
os agentes privados (Alveal, 2003). Mas esse processo foi conflituoso e suscitou um
intenso debate dentro do governo e com o empresariado nacional ligado ao setor. Desde
1991, diminuiu-se sensivelmente a força do grupo estatal petrolífero com a extinção, no
Plano Collor I, dos braços de mineração e de comércio exterior (Petromisa e Interbras)
e, especialmente, com a privatização dos braços petroquímico e de fertilizantes
(Petroquisa e Petrofétil). A privatização de parte da Petroquisa trouxe um grande
desconforto ao empresariado nacional do setor petroquímico brasileiro. A Petrobras era
tida como a empresa mãe da petroquímica brasileira e além de fornecer as principais
matérias-primas para o setor tinha um papel estratégico no fortalecimento da cadeia
produtiva como um todo e definição de políticas e projetos para o setor (Schutte, 2004).
Após o processo de privatização, a Petrobras voltou a ser, basicamente, uma
empresa restrita às atividades da cadeia petrolífera (exploração, produção, refino e
distribuição) distanciando-se da estratégia típica dos grandes players petrolíferos
internacionais, em particular das super-majors, tais como Exxol-Mobil, Shell, BP-
Amoco-Arco, Elf-Total-Fina, Chevron-Texaco. As grandes multinacionais petrolíferas
6
Sobre a discussão dos prós e contras da abertura do mercado brasileiro e a realização das privatizações ver
Laplane, Coutinho e Hiratuka (2003) e Lacerda, (2000).
68
detêm as matérias-primas para outras indústrias, principalmente para o setor
petroquímico. Assim, essas empresas, além de manterem estruturas extremamente
verticalizadas, possuem portfólio diversificado nas atividades das indústrias
interdependentes da cadeia petrolífera, na busca de inovações e produtos de maior valor
agregado, como, por exemplo, na química fina ou quarta geração de produtos
petroquímicos (Alveal, 2003; Schutte, 2004).
Em relação à atuação do Estado brasileiro no período de reestruturação dos anos
90, havia duas posições bem claras: os que acreditavam no crescimento automático dos
diversos setores após a abertura do mercado e privatização
7
e os críticos desse processo,
que previam estagnação e perda de competitividade das empresas nacionais em relação
as multinacionais. Entendemos que, para o setor petrolífero, nenhuma dessas previsões
se concretizaram. A Petrobras conseguiu manter-se e evitar um processo de privatização
mais amplo, como ocorreu no setor siderúrgico e de mineração, por exemplo (Alveal,
2004).
No caso da indústria petrolífera percebemos um movimento de ida e volta na
década de 90 e início dos anos 2000. Primeiramente o movimento de privatizações de
subsidiárias, principalmente no setor petroquímico e de fertilizantes. Após a
reestruturação e quebra do monopólio houve a volta da Petrobras para as atividades da
petroquímica sem querer liderar como antigamente (Schutte, 2004) e um avanço da
estratégia de internacionalização como forma de diversificar o portfólio novamente e
manter vantagem competitiva.
8
3.3 Evolução da Indústria Brasileira de Petróleo: a Petrobras
Na América Latina, a indústria de petróleo iniciou-se liderada pelo capital
privado e o Estado passou a atuar inicialmente na atividade de exploração e produção de
petróleo por empresas estatais como YPF (Argentina) em 1922; YPB (Bolívia) em
1937; Pemex (México) em 1938; Enap (Chile) em 1946; Ecopetrol (Colômbia) em
7
Para essa discussão, ver Laplane, Coutinho e Hiratuka, 2003; Schutte, 2004.
8
Schutte (2004), argumenta que ao longo da década de 90 surgiu no Brasil um “nacionalismo
pragmático” que acabou estimulando ações para preservar alguns setores estratégicos e apoiar as
empresas nacionais que se mostrassem competitivas, sem, porém, definir um modelo de intervenção e
uma escolha clara dos instrumentos. Durante a década de 90, surgiu a crítica neo-desenvolvimentista, que
refaz a defesa da soberania nacional e da capacidade do país de internalizar seus centros básicos de
decisão. Argumenta-se que uma estrutura econômica equilibrada pressupõe a existência de grandes
grupos nacionais. Para esta discussão ver Schutte (2004) e Mercadante e Tavares, 2001.
69
1951; Petrobras (Brasil) em 1953; CVP (Venezuela) em 1960, entre outras (Alveal,
1999).
Os primeiros anos da década de 1950 representaram para o cenário político
brasileiro uma grande discussão acerca da organização da indústria brasileira de
petróleo com propostas nacionalistas, a favor do monopólio estatal do petróleo, e de
propostas privatistas. A criação da Petrobras teve motivações marcadamente
nacionalistas: desenvolver a produção e o refino interno. A lei nº 2004 de 1953, que foi
um resultado direto do movimento “o Petróleo é nosso”
9
constituiu a Petrobras
sociedade por ações de economia mista e com controle acionário do Governo Federal,
declarando monopólio da União a pesquisa, a lavra, o refino e o transporte marítimo e
por dutos de petróleo de gás e seus derivados, ou seja, todas as atividades da cadeia
petrolífera, com exceção da distribuição.
A elevada legitimidade política de origem da Petrobras viria a ser reforçada
quando da mudança drástica de liderança política do país pós-1964. Assim, o contexto
geral que modula os movimentos de conglomeração, de expansão para a petroquímica e
para a internacionalização das atividades seria dado pela própria decisão da estatal
(Alveal, 1999).
No período de 1975 a 1993, o sistema produtivo estatal brasileiro se move num
ambiente político e econômico hostil. Nesse período, a estratégia das lideranças da
Petrobras assume uma dominante defensivo-dinâmica. “A dimensão defensiva é
detonada face aos objetivos “públicos”, que tendem a diminuir a autonomia do ator”. A
dimensão dinâmica é ofensiva e comporta razoável dose de agressividade para manter a
expansão do sistema (a política de auto-suficiência na produção de petróleo, a expansão
internacional da Petrobras etc.) (Alveal, 1994:146).
A força política adquirida pelas lideranças do sistema produtivo estatal brasileiro
nas suas trajetórias anteriores é testada ao longo da década de 1980 e início dos anos 90.
No caso da Petrobras, suas lideranças conseguem preservar sua autonomia e poder, a
mercê da implementação de uma estratégia de resistência dinâmica, verificando-se
notável expansão interna e internacional das atividades do grupo. Podemos perceber que
a competência exercida pela Petrobras, ao longo da trajetória de crescimento teve sua
9
Sobre o controvertido nascimento da Petrobras ver: Alveal (1994).
70
expressão no fato de ter garantido o abastecimento do mercado interno de petróleo e
derivados, mesmo no período crítico dos choques do petróleo da década de 1970. Foi
esse sucesso que definiu uma estratégia de abertura e reestruturação gradualista da
indústria brasileira de petróleo nos anos 90, em contraste às orientações governamentais
mais radicais implementadas para as restantes indústrias de infra-estrutura (Alveal,
2003).
Com a aprovação da lei 9.478 de 06 de agosto de 1997 (lei do petróleo)
inicia-se um novo período da indústria do petróleo no Brasil. Com essa lei o
monopólio da Petrobras foi flexibilizado. Essa nova lei discorre sobre a política
energética nacional e estabelece as condições para o exercício das atividades
anteriormente abrangidas pelo monopólio, como importação e exportação de
petróleo e gás natural, o refino do petróleo, o processamento do gás natural e o
transporte de derivados.
A partir de 1998, com a criação da ANP (Agência Nacional do Petróleo), órgão
regulador e fiscalizador das atividades econômicas da indústria do petróleo, iniciou-se o
processo de licitações de blocos, nos quais são concedidos blocos e campos de petróleo
para o direito do exercício de atividades de exploração, desenvolvimento e produção de
petróleo e gás natural. O primeiro processo licitatório ficou conhecido como “Bid Zero”
ou “Brasil Round Zero”. Após 1998, com o mercado aberto para a entrada de empresas
estrangeiras, a ANP concluiu mais cinco licitações.
Atualmente, cerca de 85% dos investimentos em E&P no Brasil, são
investimentos da Petrobras. Os investimentos internos em E&P, após a abertura da
indústria tem apresentado contínuo crescimento. O gráfico 3.2 mostra a tendência de
elevação em E&P doméstico da Petrobras no período pós abertura. O pico do período
pós-abertura é, inclusive, superior ao pico registrado logo após o segundo choque do
petróleo, momento em que a estatal deu um grande impulso à produção de petróleo em
larga escala no Brasil, especialmente à produção em off-shore de águas profundas
(Alveal e Canelas, 2004). As estratégias utilizadas pelas empresas nas licitações são as
associações com a Petrobras devido ás barreiras à entrada, como altos riscos geológicos,
incertezas regulatórias, incertezas econômicas e políticas.
71
Gráfico 3.2: Investimento da Petrobras em E&P no Brasil – 1954-2003; US$
bilhões/ano
Fonte: (Alveal e Canelas, 2004).
Ao analisarmos o Gráfico 3.3 podemos perceber a trajetória crescente dos
investimentos realizados pela Petrobras nos últimos 10 anos. O gráfico mostra que esta
é uma fase de maior investimento da história da empresa, atingindo patamares que
não eram vistos desde a década de 1970 e início da de 80, quando a estatal deu o
grande impulso à produção de petróleo em larga escala no Brasil, com a entrada em
produção da Bacia de Campos. Os valores
10
dos investimentos mostram um
crescimento progressivo de 1995, atingindo o pico de US$ 7,4 bilhões em 2004, dos
quais US$ 6,6 bilhões realizados no país. Assim, o fluxo de investimentos no setor
triplicou nos últimos 10 anos. Segundo o planejamento estratégico da empresa
deverão ser investidos, entre 2006 e 2010, US$ 56,4 bilhões, ou seja, cerca de R$
140 bilhões. Há, portanto, uma oportunidade notável para o desenvolvimento do
setor, mas também um grande desafio para torná-lo sustentado (Prates, Costa e
Pastoriza, 2005).
10
Investimentos em dólares constantes deflacionados pelo IPA norte-americano.
72
Gráfico 3.3: Investimentos Anuais da Petrobras – 1970/2004 (Em US$ milhões)
Fonte: Prates, Costa e Pastoriza, 2005:10.
Tradicionalmente, esses investimentos têm se concentrado no seguimento de
exploração e produção, responsável, no período de 1970 a 2005, por aproximadamente
60% do valor total investido pela Petrobras. Essa característica permanece no atual
ciclo, apesar do aumento dos investimentos nas áreas de gás e energia e internacional.
Esse perfil se repete nos investimentos internacionais da Petrobras. Cerca de 80% dos
investimentos feitos no exterior pela empresa são na área de exploração e produção,
como verificaremos no gráfico 3.4 do capítulo IV.
Gráfico 3.4: Perfil dos Investimentos da Petrobras em 2004
Exploração e
Produção
57%Ab a s tecim en to
18%
Gás e Energia
3%
Internacional
11%
Distribuição
6% Outros
5%
Fonte: Relatório Anual, 2005.
73
Em 2005, destacamos o lucro líquido consolidado de R$ 23,7 milhões e o
aumento da produção de petróleo e gás no Brasil, 1,958 mil barris de óleo, equivalente
por dia 11,4% a mais do que em 2004. A empresa realizou investimentos de R$ 25,7
bilhões em 2005, 14% a mais do que em 2004. O Quadro 3.1 mostra alguns números
referentes à atuação da Petrobras em 2005.
Quadro 3.1: Principais Números da Petrobras - Dados Referentes ao Ano de 2005.
RECEITAS LÍQUIDAS (R$ milhões)
R$ 136.605
LUCRO LÍQUIDO (R$ milhões)
R$ 23.725
INVESTIMENTOS (em bilhões de Reais)
R$ 22,9
ACIONISTAS
170.060
EXPLORAÇÃO
64 sondas de perfuração (42 marítimas)
RESERVAS (CRITÉRIO SEC)
11.77 bilhões de barris de óleo e gás equivalente (boe)
POÇOS PRODUTORES
14.061 (1.258 marítimos)
PLATAFORMAS DE PRODUÇÃO
97 (73 fixas; 24 flutuantes)
PRODUÇÃO DIÁRIA
1.847 mil barris por dia - bpd de petróleo e LGN
370 mil barris de gás natural
REFINARIAS
16
RENDIMENTO DAS REFINARIAS
1.839 mil barris por dia
DUTOS
30.343 km
FROTA DE NAVIOS
125 (50 de propriedade da Petrobras)
POSTOS
6.933 Ativos (766 próprios)
FERTILIZANTES
3 Fábricas: 1.852 toneladas métricas de amônia
1.598 toneladas métricas de uréia
Fonte: a autora, com base nos dados da Petrobras (2006). Disponível em www.petrobras.com.br
Um dos pontos centrais deste capítulo foi a abordagem das especificidades da
indústria petrolífera para entender a ação da Petrobras. Como estamos tratando de uma
empresa controlada pelo governo discutimos também especificidades do sistema
produtivo estatal. No último item do capítulo apresentamos um panorama geral do setor
no Brasil e características empresa estudada. Esta visão geral da indústria do petróleo
mundial e brasileira e alguns dados recentes da atuação da Petrobras são subsídios para
entendermos sua atuação internacional após a abertura do mercado em 1997, assim
como as estratégias de aquisições internacionais realizadas no início dos anos 2000.
Estes serão os focos dos capítulos IV e V respectivamente.
74
CAPÍTULO IV - A ATUAÇÃO INTERNACIONAL DA PETROBRAS:
TRAJETÓRIA INICIAL E CONSOLIDAÇÃO
ESTRATÉGICA NO CONE SUL
Neste capítulo traçamos o histórico da atuação internacional da Petrobras desde
sua trajetória inicial nos anos 70, com a criação da Braspetro, até a consolidação
estratégica no Cone Sul. Destacamos que a entrada da Petrobras nos países do Cone Sul
dera-se principalmente no final da década de 1990 e primeira metade da década de
2000. É também nessa região, além do Brasil, que a empresa realiza atividades em toda
a cadeia petrolífera, além da petroquímica e energia elétrica. A concentração e
diversificação das atividades nessa região estão de acordo com o plano estratégico da
empresa de ser líder na América Latina.
Nas duas primeiras seções apresentamos um panorama geral da área internacional,
apontando as mudanças estruturais pelas quais a Petrobras passou após a abertura do mercado
em 1997. Em seguida mostramos as diferentes fases e objetivos da internacionalização da
empresa desde a década de 70. E por fim descrevemos o foco de atuação da empresa no Cone
Sul relacionando essas atividades com as diretrizes estratégicas do Plano 2015.
4.1 Início da Internacionalização: A Criação da Braspetro
Desde 1972 e por cerca de 30 anos, as atividades da Petrobras no exterior
estiveram sob a responsabilidade da subsidiária Braspetro (Petrobras Internacional
S.A.). A Braspetro foi criada para atuar exclusivamente no exterior, onde exercia
atividades relacionadas aos vários segmentos da indústria do petróleo. A Petrobras, por
meio da Braspetro, passou a investir no exterior aproveitando sua experiência na área de
exploração e produção, associando-se a outras companhias petrolíferas para reforçar a
disponibilidade interna de petróleo cru. Nos anos 70 o mercado interno apresentava
altas taxas de crescimento econômico e a demanda por petróleo era crescente naquele
momento. Assim, a principal motivação na época para a criação dessa subsidiária era
buscar no exterior formas de suprimento de petróleo para o Brasil em meio às crises
econômicas mundiais e do preço do petróleo (1973 e 1979).
Em 1976, foram criadas duas subsidiárias: a Petrobras Comércio Internacional S.A
(Interbras) e a Braspetro Oil Services (Brasoil), que eram encarregadas das atividades de
75
comércio de exportação e importação de bens e de serviço e dar maior flexibilidade e
rapidez as ações da Braspetro no exterior. A Interbras, extinta pelo Plano Collor I, em 1990,
surgiu como desdobramento da Braspetro e objetivava promover as exportações brasileiras,
apoiada no fato de a Petrobras ser uma grande importadora de petróleo no mundo.
As atividades da Braspetro estavam concentradas nos segmento upstream
(exploração e produção) e na prestação de serviços de engenharia e de perfuração de
poços de petróleo e em menor medida no downstream (refino, comercialização,
transporte e logística). Suas áreas de atuação concentraram-se, inicialmente, no Oriente
Médio, na África do Norte e na Colômbia.
A abertura de mercados para a obtenção de tecnologia de ponta no segmento
upstream, levou a Braspetro a iniciar suas atividades exploratórias no Mar do Norte
(Noruega e Reino Unido) e no Golfo do México (Estados Unidos). A partir do final da
década de 80, os investimentos da empresa passaram a ser direcionados também para
países da América Latina, em consonância com a estratégia da Petrobras de participar
da política brasileira de integração econômica no continente. Na Figura 4.1
apresentamos a configuração do Sistema Petrobras antes do período de reestruturação.
Figura 4.1: Configuração do Sistema Petrobras em 1990.
Fonte: Alveal, 1994:101.
4.2 O Surgimento da Área de Negócios Internacionais (ANI)
Com as alterações de caráter jurídico na indústria petrolífera brasileira a partir de
1997
11
, a Petrobras ficou autorizada a exercer diretamente, no exterior qualquer uma das
atividades integrantes de suas subsidiárias. Assim, em função do novo direcionamento
11
Emenda Constitucional nº 9, de 9 de novembro de 1995, que redundou na promulgação na Lei do
Petróleo (Lei º 9.478/97)
Petrobras
BR Petroquisa Petrofértil Interbras Petromisa Braspetro
76
estratégico, o modelo de organização e gestão da Petrobras, aprovado em 2000, integrou
as atividades da Braspetro e também os empregados daquela subsidiária. Esses fatos
exigiram a adequação do estatuto social da Petrobras e propiciaram a implementação de
uma nova estrutura societária, mais ajustada ao novo modelo de organização e gestão,
tornando desnecessária a existência institucional da Braspetro.
De acordo com o novo modelo organizacional, a empresa passou a funcionar
com quatro áreas de negócios: exploração e produção, abastecimento, gás e energia e
internacional e duas áreas de apoio: financeira e de serviços. A estrutura incorporou o
conceito de unidades de negócio, já adotado pelas maiores companhias de petróleo e
energia do mundo. Foram criadas 40 áreas vinculadas às unidades de negócios, no lugar
das 20 até então existentes, buscando-se maior horizontalidade. Desde 2000 a nova
estrutura organizacional passou por pequenos ajustes para adequar-se ao plano
estratégico 2015. A Figura 4.2 mostra a nova estrutura organizacional com nosso
destaque para a área internacional.
Figura 4.2: Nova Estrutura Organizacional da Petrobras
Fonte: www.petrobras.com.br
77
Assim, a Petrobras em sua nova estrutura organizacional criou a área de
negócios internacionais (ANI) no ano 2000, como uma das diretorias das áreas de
negócios da companhia, assumindo a gestão dos ativos e atividades fora do Brasil. A
ANI possui cinco gerencias executivas: Estratégia corporativa, suporte técnico aos
negócios internacionais, desenvolvimento de negócios, Cone Sul e por fim a gerencia de
América, África e Eurásia.
Figura 4.3: Estrutura Organizacional da Área Internacional da Petrobras
Fonte: documentos internos cedidos na visita de 09 de Março de 2006.
A reformulação expressa em seu plano estratégico 2010 afirma a necessidade da
Petrobras de consolidar vantagens competitivas no mercado doméstico de petróleo e
derivados, liderar o segmento brasileiro de gás natural, atuar de forma integrada no
mercado de energia elétrica e expandir seletivamente a atuação internacional de forma a
tornar-se líder na América Latina. Dessa forma, o avanço do processo de
internacionalização tornou-se uma das prioridades da empresa. Isto fica claro nas
diretrizes estratégicas da empresa estabelecidas para 2015:
Estratégia
Corporativa
Suporte
Técnico aos
Negócios
Desenvolvim
ento de
negócios
Cone Sul
-Estratégia
-Plan & desenp.
-QSMS
-Rel. Societárias
-RH
- Suporte à
Gestão
-E & P
-Reservas
-Eng. Poço
-Refino
-Petroquímica
-Distribuição
-Mkt
-Eng de
Instalações
-Gás e Energia
-Negociações:
- E&P
- Downstream
- Gás&Energia
-Inteligência de
mercado
Argentina
Bolívia
Uruguai
Paraguai
México
EUA
Colômbia
Angola
Tanzânia
Nigéria
Líbia
Turquia
Irã
G.Equatorial
América,
África e
Eurásia
Diretor
78
Figura 4.4: Diretrizes Estratégicas da Petrobras (2004-2015)
Fonte: Plano Estratégico, 2015.
A empresa mantém em seu plano de negócios 2006-2010 metas agressivas de
crescimento estabelecidas no Plano Estratégico 2015. O plano de negócios, aprovado
pelo conselho de administração, prevê um total de investimentos de US$ 56,4 bilhões,
em média US$ 11,3 bilhões ao ano. O investimento fora do Brasil, previsto no período
2006-2010, é de US$ 7,1 bilhões, 13% do total a ser investido. Isso significará duplicar
o tamanho da área internacional no sistema Petrobras no período. O Gráfico 4.1 mostra
a proporção de investimentos no Brasil e no exterior.
Gráfico 4.1: Investimentos Previstos no Plano de Negócios 2006-2010
13%
87%
Exterior
Brasil
Fonte: Relatório Anual, 2005.
79
Até 2015 a empresa prevê investimentos internacionais de US$ 12,1 bilhões,
sendo que desses US$ 2,8 bilhões serão investidos no Cone Sul. Podemos perceber no
Gráfico 4.2 que 84% do investimento internacional previsto nessa região irá para a
Argentina. Do total do investimento internacional, US$ 5,4 bilhões serão investidos nas
Américas, Ásia e Eurásia. O Gráfico 4.3 mostra que 50% desses investimentos serão
feitos em atividades nos EUA. E finalmente, US$ 3,9 bilhões do total a ser investido no
exterior até 2015 serão destinados a novos negócios (Plano Estratégico 2015).
Gráfico 4.2: Investimentos Previstos para o Cone Sul até 2015.
Fonte: Plano Estratégico 2015. Disponível em www.petrobras.com.br
Gráfico 4.3: Investimentos Previstos Para Américas, Ásia e Eurásia até 2015.
Fonte: Plano Estratégico 2015. Disponível em www.petrobras.com.br
No plano de investimento da Petrobras por segmento de negócio a meta até 2010
define que 80% dos investimentos no exterior serão na área de exploração e produção
seguindo o perfil de investimentos da empresa no mercado interno (Ver gráfico 3.4 do
capítulo III).
80
Gráfico 4.4: Investimentos no Exterior Previstos no Plano de Negócios 2006-2010
80%
9%
4%
3%
2%
2%
E&P
Gás e Energia
Refino e Marketing
Petroquímica
Distribuição
Outros
Fonte: Relatório Anual, 2005.
Atualmente a Petrobras está presente em 21 países e participa de toda a cadeia
de operações da indústria de petróleo, gás natural e recentemente entrou no
fornecimento de eletricidade no Cone Sul, ampliando também sua participação em
empreendimentos na América do Norte, África e Ásia. Associada a 71 companhias de
petróleo, na exploração e produção, a Petrobras é operadora
12
em 17 blocos dos 357 em
que tem participação (Relatório Anual, 2005). A Figura 4.5 mostra a atuação da
Petrobras no mundo.
Figura 4.5: Atuação da Petrobras no Mundo
Fonte: www. petrobras.com.br.
12
O operador tem o controle do poço, planeja e executa todo o processo de exploração. Esse é processo é muito
custoso, por isso é muito comum o estabelecimento de parceiras estratégicas para exploração de um poço.
81
A Petrobras com base no seu direcionamento estratégico selecionou como
primordial sua atuação internacional no Cone Sul (Argentina e Bolívia, principalmente),
América do norte (Golfo do México, principalmente) e África, enfatizada pela
distribuição de suas áreas de negócios no organograma (Figura 4.3). Cerca de 80% da
receita da área de negócios internacional provem do Cone Sul (Conde, 2005). A
empresa planeja até 2010, como efeito do crescimento da área internacional, chegar aos
500 mil barris de óleo equivalente por dia no exterior.
4.3 Atuação Internacional: Trajetória Inicial e Consolidação Estratégica no
Cone Sul.
O Quadro 4.1 mostra os principais objetivos da atuação internacional da
Petrobras ao longo do tempo. Podemos perceber que os objetivos de internacionalização
foram mudando ao longo das décadas. Dessa forma, nos anos 70 quando foi criada a
Braspetro a estratégia era para garantia de petróleo no mercado interno. Na década de
1980, além da garantia de suprimento, inicio-se a internacionalização para a expansão
dos negócios. Mas somente no final da década de 1990, após a Lei do Petróleo, é que
houve uma ação mais estruturada e planejada de atuação em mercados internacionais.
Quadro 4.1: Estratégia Internacional da Petrobras ao Longo das Décadas.
Década de 1970
1972: criação da Braspetro
Garantia de suprimento
Oriente médio, norte da África, Colômbia
Exploração e Produção
Década de 1980
Expansão dos negócios
Oriente Médio, África, EUA, Mar do Norte, Colômbia
Exploração e Produção
Década de 1990
1999: compra das refinarias na Bolívia
Aproveitamento de sinergias (cone sul), direcionamento estratégico
Argentina, Bolívia, Nigéria, EUA, Angola, Colômbia, Reino Unido
Exploração e Produção (E&P), refino e M (R&M), Distribuição, ..... (G&E)
Década de 2000
2001: Eg3
2002: compra do controle da PeCom
2002: incorporação da Braspetro
Crescimento e consolidação/ Readequação da carteira – novos investimentos
Exploração e Produção (E&P), refino e M (R&M), Distribuição, Gás e Energia (G&E)
Fonte: Material da empresa cedido na visita do dia 09 de Março de 2006.
82
Nos anos 1970 após a criação da Braspetro e o primeiro choque do petróleo, o
mercado interno apresentava altas taxas de crescimento econômico e a demanda por
petróleo era crescente naquele momento. No plano interno a estratégia da Petrobras era
iniciar a exploração e produção de petróleo em alto mar e aumentar a capacidade de
refino, terminais e dutos de transporte. A intenção era minimizar a vulnerabilidade do
país, em relação às fontes externas de suprimento. Assim, o objetivo principal da
atuação internacional da Petrobras nesse momento era buscar suprimento de petróleo
para o Brasil devido às crises de preço do petróleo e demandas internas crescentes. As
atividades internacionais nesse período deram-se principalmente no Oriente médio,
norte da África e Colômbia e estavam concentradas na área de exploração e produção.
O primeiro país de atuação da Braspetro foi a Colômbia em 1972, onde adquiriu
50% da Tennecol. Em 1974 iniciou suas atuações na Argélia e na Líbia, com 2 blocos
nas bacias de Sirte e Murzuk e ainda tentou ingressar no Mar do Norte, porém não
conseguiu concretizar sua entrada.
Foi na década de 70 que a empresa fez os primeiros entendimentos com o Iraque.
Em 1976, uma grande descoberta para a companhia aconteceu no Iraque, foi encontrado
o campo gigante de Majnoon com reservas estimadas em 7 bilhões de barris de petróleo.
Em 1978, mais um campo foi descoberto no Iraque, Nhrumr. Este, junto ao campo de
Majnoon, localizados na fronteira com o Irã, constituiu a maior descoberta de petróleo
no mundo nos anos 70, com uma reserva de aproximadamente 30 bilhões de barris de
óleo. Em 1979, a Petrobras assinou no Iraque um acordo com o governo local e
devolveu o campo de Mjnoon, mediante a indenização total de US$ 1,402 bilhões,
passando a atuar apenas como prestadora de assistência técnica naquele país.
Em 1979, a Braspetro iniciou a exploração de petróleo em Angola, através da
aquisição de 17,5 % de participação no bloco 2, onde já haviam ocorrido três
descobertas comerciais: Cuntala, Essungo e Etele, com produção esperada de 15.000
bpd. Ainda em 1979, também são encerradas as atividades na Unidade Colômbia, com
as vendas de seus ativos para a Houston Oil.
Ao final da década de 70 a Braspetro possuía 114 negociações internacionais de
comércio com 17 países.
83
A força política adquirida pelas lideranças da Petrobras é testada ao longo da
década de 1980 e início dos anos 90. Assim, na década de 1980, além da garantia de
suprimento, iniciou-se a internacionalização para a expansão dos negócios. O cenário
econômico era de crise e inflação e a política nacional com o fim da ditadura militar era
marcada por instabilidade e a proposta das reformas neoliberais passou a influenciar
parte do governo. A dinâmica da empresa nesse período é ofensiva para manter a
expansão do sistema (a política de auto-suficiência na produção de petróleo, a expansão
internacional da Petrobras etc.). Algumas das atividades internacionais da década de 70
foram mantidas e expandidas, como Colômbia e África. Houve também expansão para
novos territórios como a América do Norte. Assim como na década anterior a atuação
ficou concentrada em exploração e produção de petróleo.
Em 1980 a Petrobras adquiriu o bloco Zelfana, na Argélia, onde foram perfurados
2 poços sem comercialidade. Devido aos baixos retornos, em 1985 saiu da Argélia.
Também em 1980 foi assinado um contrato de assistência e cooperação técnica com o
governo de Trinidad & Tobago. Na Líbia, onde a Braspetro possuía negócios desde
1974, foram adquiridos 2 blocos em Marzuk.
No ano de 1981 a Brasoil começou a atuar como prestadora de serviços de
perfuração com a aquisição de quatro sondas e a companhia adquiriu uma área onshore
no Yemen do Sul, devolvido em 1987 por não-comercialidade.
Em 1983, devido a concessão do Bloco 4 foram perfurados 10 poços em Angola
sem utilização comercial expressiva. A Petrobras, em 1987 devolveu quase totalmente
do Bloco 4, tendo permanecido em apenas duas áreas para estudos de viabilidade
econômica.
Na China, onde a Petrobras entrou no final dos anos 70, foram firmados cinco
contratos de exploração em 1983, sendo encerradas as atividades em 1986 por
descobertas de pouca rentabilidade. Em 1987 expandiu suas atividades para o território
norte-americano, onde adquiriu participações em 8 blocos no Golfo do México. Em
1988 a Braspetro adquiriu a PAG-O-FLEX, uma companhia fabricante de tubos
flexíveis para instalações offshore na Alemanha tentando quebrar o monopólio da
Coflexip.
84
Em 1985, a Braspetro retornou à Colômbia após a aquisição do Bloco Sogamoso a
Hixcole. Na Unidade Colômbia em 1987 foi adquirido o Bloco Meta com uma pequena
acumulação. Em 1989, foram incorporados ao portfólio da Colômbia os blocos de Caño
de la Hermosa, Corocito, Santa Catalina e Rio Prado.
O início da década de 1990 representou um período de instabilidade para a
Petrobras com privatizações de algumas subsidiárias e indefinições da política industrial
dos governos Collor e FHC. O objetivo principal da internacionalização da empresa
nesse momento era buscar expansão dos negócios de modo a aprofundar a estratégia
ofensiva da década anterior. Mas somente no final da década de 1990, após a Lei do
Petróleo, é que houve uma ação mais estruturada e planejada de atuação em mercados
internacionais. O direcionamento estratégico internacional foi o aproveitamento de
sinergias no Cone Sul, principalmente Argentina e Bolívia. Houve expansão das
atividades na África e América do Norte. Diferente das décadas anteriores houve
também expansão das atividades no exterior para além da exploração e produção de
petróleo. A empresa passou a atuar em refino, distribuição e gás e energia.
Em 1993, foi criada a Unidade de Negócios Argentina com o objetivo de assim
como no Brasil, atuar nas diversas atividades ligadas à cadeia petrolífera,
principalmente exploração e produção. No final da década de 90, dois movimentos
apontaram para uma estratégia de expansão mais efetiva no mercado argentino. O
primeiro ocorreu em julho de 1997, com a constituição da Companhia Mega S.A.
formada pela Petrobras (34%), a Repsol YPF (38%) e a Dow Chemical (28%): o valor
do investimento por parte da Petrobras foi de US$ 715 milhões. O segundo movimento
foi a troca de ativos com a espanhola Repsol YPF que garantiu à Petrobras a
participação inicial de 12% no mercado argentino. A Petrobras ficou com 700 postos de
serviços da marca EG3, além da refinaria de Bahia Blanca.
Em 1995 foi criada a Unidade de Negócios Bolívia. No ano de 1997 se iniciou a
construção do gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol), considerado o mais importante projeto
de integração entre países andinos e do mercosul. No ano de 1999 foi inaugurada a
primeira etapa do Gasbol que ligava Santa Cruz de la Sierra a Campinas. Este foi o
momento crucial do projeto da Petrobras de aumentar a participação do gás natural na
matriz energética do Brasil. Em 1999, a Petrobras associou-se a Perez Companc, na
compra de duas refinarias na Bolívia em Cochabamba e Santa Cruz de la Sierra, com
85
capacidade de refino de 60 mil barris por dia. A Petrobras investiu cerca de US$ 100
milhões na operação, correspondentes a 70% de participação no negócio, criando a
Empresa Boliviana Refinación – EBR. Com a aquisição da Perez Companc em 2002, a
Petrobras possui atualmente o controle total da EBR.
Em 1998 a Petrobras iniciou suas atividades na Nigéria, por meio da aquisição de
uma participação no bloco exploratório OPL 216. Em 1999, a empresa encerrou suas
atividades na Líbia.
Podemos dizer que os anos 2000 significaram um período de readequação para a
Petrobras, após a reestruturação e privatização de atividades ligadas ao petróleo na
década de 90. Os primeiros anos da década foram marcados por uma série de
aquisições, principalmente na Argentina consolidando assim a estratégia da empresa de
aproveitamento de sinergias no Cone Sul. As aquisições significaram crescimento e
estruturação da estratégia internacional, com retomada de diversificação de atividades
diminuídas no início da década de 1990. Com as aquisições as atividades no exterior
tornaram-se ainda mais diversificadas com a exploração e produção de petróleo, refino e
marketing, distribuição e gás e energia. Na Argentina inclusive a Petrobras passou atuar
em geração de energia elétrica.
“... na segunda metade da década de 1990 a Petrobras saiu de uma
situação de oportunismo para uma situação ordenada e estratégica de
atuação internacional. Procura a criação de valor com foco de atuação
no Cone Sul para aproveitar as sinergias de recursos. Na costa oeste
da África e Golfo do México, procura alavancar suas core
competences que é a exploração de petróleo em águas profundas”.
13
A Petrobras e a Repsol-YPF concluíram, em 2001, o processo de troca de ativos.
Por esse acordo, cada empresa transferiu à outra, ativos avaliados em cerca de US$500
milhões. A Petrobras cedeu à Repsol-YPF 30% da REFAP S.A e 10% dos direitos de
concessão para exploração do Campo de Albacora Leste. Cedeu também ativos
compostos de direitos contratuais de fornecimento de 40 mil metros cúbicos/mês de
derivados e os equipamentos existentes em 234 postos de serviços. Em contrapartida, a
Repsol-YPF transferiu à Petrobras 99,5% da empresa de petróleo argentina EG3.
Em 2002, aconteceu a compra do grupo Perez Companc na Argentina,
aumentando consideravelmente os ativos de downstream no exterior e o volume de
13
Gerente Executivo – América, África e Eurásia. Entrevista concedida dia 09 de Março de 2006.
86
reservas provadas da empresa. Com a compra da Pecom a Petrobras passou a ter
atividades também no Equador, Peru e Venezuela. A aquisição da Perez Companc
foi crucial na consolidação da internacionalização da Petrobras. Discutiremos
detidamente essa aquisição no capítulo V. Em 2002, na Colômbia foi descoberto o
campo de Guando, no Bloco Boquerón, uma das maiores reservas em terras
colombianas.
Outra importante aquisição foi a compra da petroleira Santa Fé, filial Argentina
da Devon Energy Corporation, por US$ 89,5 milhões, em outubro de 2002. O negócio
permitiu a incorporação de 84,7 milhões de barris de óleo equivalente em provadas,
referentes a dezembro de 2001, o que representou um custo unitário de US$ 1,06 boe e
permitiu a ampliação da carteira de ativos, na área de exploração e produção, fora do
Brasil.
Em 2003, ao completar 50 anos, a Petrobras anunciou a descoberta de petróleo em
St. Malo, no setor americano do Golfo do México e, na mesma região, também foi
descoberto o poço pioneiro Chinook-3. Nessa região a atuação da Petrobras procura
alavancar uma de suas core competences que é exploração de petróleo em águas
profundas. Assim, para se posicionar, deu continuidade à estratégia de fortalecimento
em quatro frentes: atividades em águas ultraprofundas, busca de depósitos profundos
com grandes reservas de gás em águas rasas e em terra, prospecção no extremo oeste do
Golfo e trabalho exploratório em águas profundas com menor risco.
A aquisição de 50% da refinaria Pasadena no Texas (Houston), um investimento
de aproximadamente US$ 370 milhões, marcou a entrada da empresa no setor de refino
dos EUA. Sobre a atuação da Petrobras nos EUA objetivos são:
“- exportar o excedente da produção de petróleo pesado;
- processar o petróleo pesado em Houston (nesse caso, o entrevistado
se refere ao Petróleo extraído da Bacia de Campos);
- ganhar valor no refino (para vender o óleo pesado no mercado norte-
americano, a lucratividade é baixa. Refinando-o nos EUA, é mais
barato para a Petrobras e o valor agregado é maior”
14
.
O Brasil é um grande produtor de petróleo pesado. O petróleo pesado tem
qualidade inferior e exige maiores custos de refino do que o petróleo leve extraído nas
regiões do Oriente Médio, por isso é cotado no mercado internacional com menores
14
Gerente Executivo – América, África e Eurásia. Entrevista concedida dia 09 de Março de 2006
87
preços. Os principais compradores de petróleo pesado são os EUA, pois possuem mais
refinarias com o perfil tecnológico mais adequado para o refino desse tipo de óleo.
Dessa forma, a aquisição da refinaria no mercado norte-americano tem o objetivo de
agregação de valor ao petróleo pesado exportado.
“É importante ter uma refinaria nos EUA. Hoje, somos um grande
produtor de petróleo pesado, que tende a ter desvalorização em relação
ao leve. (...) Se refinar e vender como derivado no exterior, a margem
de ganho [lucro] aumenta. Isso faz com que a capacidade de investir
no Brasil também aumente."
15
A Petrobras firmou contratos exploratórios em 2004 e no início de 2005, para
atuar como operadora em novas áreas e regiões do mundo: no mar da Tanzânia, no
Leste da África; em águas colombianas do Mar do Caribe; novas frentes no setor
americano do Golfo do México; no setor iraniano do Golfo Pérsico, e na porção
noroeste da costa da Líbia, no Mar Mediterrâneo, ao Norte da África. Também em
2004, foi aberto um escritório de representação na China, onde a área internacional
operacionaliza um acordo estratégico de cooperação no setor petrolífero, firmado com a
estatal Chinesa Sinopec. Além desse acordo, a Petrobras assinou, nas primeiras semanas
de 2005, um memorando de entendimento com a maior das estatais de petróleo
chinesas, a Corporação Nacional de Petróleo da China (CNPC), para identificar e
desenvolver oportunidades de parcerias.
Com relação à América do Sul, a Petrobras iniciou o projeto de consolidação de
sua marca na Argentina e Bolívia, por meio de um maciço programa de marketing e
intensificação de investimentos no Cone Sul, como parte da sua visão e alinhamento
estratégico.
Esse resumo histórico da internacionalização da Petrobras fica mais bem
esclarecido na Figura 4.6, esta mostra a atuação internacional da empresa, desde 1972,
com a criação da Braspetro, até os dias atuais, apresentando os diversos países onde
atuou e atua.
15
José Sérgio Gabrielli - Presidente da Petrobras. Folha de São Paulo - 09/01/2006
88
Figura 4.6: Atuação Internacional da Petrobras – Linha do Tempo
Fonte: Conde, 2005.
Desde a abertura do mercado petrolífero brasileiro em 1997 os investimentos
internacionais ganham a cada ano importância no planejamento estratégico. A empresa
saiu de uma situação de oportunismo para uma situação estruturada e estratégica de
atuação internacional e definiu seu foco de atuação na América do Sul.
89
O Quadro 4.2 mostra o ano de entrada e as principais atividades da Petrobras nos
países. Podemos notar que a entrada da Petrobras nos países do Cone Sul dera-se
principalmente no final da década de 1990 e primeira metade dos anos 2000. É também
nessa região, além do Brasil, que a empresa realiza atividades em toda a cadeia
petrolífera (upstream e dowstream), além da petroquímica e energia elétrica.
Consolidando assim o plano estratégico da empresa de ser líder na América do Sul.
“A Petrobras, com a aquisição da Perez Companc, já é líder na
América Latina... O conceito de líder nos países representa estar
preferencialmente, entre os 3 primeiros nos países em que atua. Por
exemplo, no Brasil e Bolívia somos o 1°, na Argentina somos o 2° e
na Colômbia 3°”. Carrinho, 2004:134.
Nas outras regiões, como África e América do Norte, a atuação da Petrobras está
concentrada em exploração e produção de petróleo, sobretudo em águas profundas. Na Ásia
e Europa a atuação se dá por meio de escritórios de representação e comercialização.
Quadro 4.2: Principais Atividades Internacionais da Petrobrás
País Ano de
Entrada
Atividades
Cone Sul
Argentina 1993 Exploração e produção, refino, transporte por dutos, comercialização,
distribuição, gás e energia, petroquímica, energia elétrica
Bolívia 1995 Exploração e produção, refino, transporte por dutos, comercialização,
distribuição, gás e energia,
Chile 2005 Escritório de representação e comercialização
Colômbia 1972 Exploração e produção
Equador 1996 Exploração e produção
Paraguai 2006 Distribuição
Peru 2002 Exploração e produção
Uruguai 2004 Distribuição de gás natural, transporte por dutos
Venezuela 2002 Exploração e produção
América do Norte
EUA 1987 Exploração e produção
México 2003 Exploração e produção
África
Angola 1979 Exploração e produção
Guiné Equatorial 2005 Exploração
Líbia 1974 Exploração
Nigéria 1998 Exploração
Tanzânia 2004 Exploração
Europa
Inglaterra - Escritório de representação e comercialização
Oriente Médio
Irã 2005 Exploração
Ásia
China 2005 Escritório de representação e comercialização
Cingapura - Escritório de representação e comercialização
Japão - Escritório de representação
Fonte: a autora com base em www.petrobras.com.br
90
Na tabela 4.1 podemos observar a produção por país em barris de óleo por dia
(boed). Percebemos que a produção total da área internacional está 40% concentrada na
Argentina.
Tabela 4.1: Produção por País em 2005 – mil boed
Produção por país em 2005 – mil boed
Argentina 104,1 40%
Bolívia 54,1 21%
Venezuela 47,6 18%
Colômbia 16,6 6%
Peru 14,4 6%
Equador 9,1 4%
Angola 8,3 3%
EUA 4,6 2%
Total
258,7
Fonte: documentos internos cedidos na visita do dia 09 de Março de 2006
4.4 A Petrobras no Cone Sul
A Figura 4.7 apresenta a atuação da Petrobras na América do Sul, mostrando
seu foco de atuação na região, que é atualmente responsável por mais de 245 mil do
total de barris de óleo produzidos pela empresa no exterior. É nessa região também
que se concentram 87% das reservas da empresa fora do Brasil (Relatório Anual,
2005).
A ampliação dos negócios da Petrobras na América do Sul nos últimos anos, em
especial na Argentina, foi decisiva para o crescimento da sua atuação internacional. A
empresa completou em 2003 a aquisição do controle de diversas empresas na região,
transformando-se, assim, no segundo maior grupo empresarial do setor energético
argentino, por meio da sua empresa Petrobras Energia. Com isso, além de aumentar sua
produção, a empresa diversificou seu portifólio no exterior na petroquímica, energia
elétrica, redes de dutos e distribuição de derivados.
91
Figura 4.7: Atuação da Petrobras na América do Sul
Fonte: Relatório Anual, 2005.
A Unidade de Negócios da Argentina foi criada em 1993 com o objetivo de
exercer no país as atividades relativas à indústria do petróleo, com atuação,
primeiramente em exploração e produção.
No segmento de upstream, a empresa iniciou suas atividades na Argentina em
1993, quando vários ativos e negócios foram colocados à disposição no processo da
privatização da companhia estatal Argentina YPF. A Petrobras entrou como sócia no
campo de gás de Aguarague. A estratégia de expansão rumo à Argentina, com foco na
exploração e produção de petróleo, manteve-se durante toda a década de 90, quando
92
dois movimentos apontaram para uma ofensiva mais efetiva com diversificação de
atividades além do upstream.
O primeiro ocorreu em julho de 1997, com a constituição da Companhia Mega
S.A. formada pela Petrobras (34%), a Repsol YPF (38%) e a Dow Chemical (28%) e o
valor do investimento por parte da Petrobras foi de US$ 715 milhões. A empresa é
constituída por uma unidade separadora de gás natural, em Loma La Lata (provícia de
Neuquen), um gasoduto de 600 quilômetros de extensão, uma unidade fracionadora, em
Bahia Blanca (província de Buenos Aires), além de facilidades de tancagem e expedição
de produtos para exportação. A companhia entrou em operação em abril de 2001. Em
2002, foi vendido 1,2 milhões de toneladas de produtos provenientes da separação do
gás natural, representando um faturamento bruto de US$ 245 milhões. No ano de 2003,
até abril, foram vendidas 419.000 toneladas de produtos, gerando um faturamento bruto
de US$ 120 milhões.
O segundo movimento, a troca de ativos com a espanhola Repsol YPF, garantiu
para a Petrobras a participação inicial de 12% no mercado argentino e corroborou ainda
mais a estratégia da empresa, anunciada em 1999, de ter a internacionalização como um
dos pilares de seu crescimento e ser liderança na América do Sul.
A Petrobras e a Repsol-YPF concluíram, em dezembro de 2000, as negociações
relativas aos termos do acordo definitivo para a permuta de ativos. Por esse acordo, cada
empresa transferiu à outra, ativos avaliados em cerca de US$ 500 milhões. A operação
envolveu, pelo lado argentino, uma empresa de distribuição e refino, e, pelo lado
brasileiro, ativos de distribuição, refino e exploração e produção. A Petrobras cedeu à
Repsol-YPF uma participação minoritária de 30% na empresa REFAP S.A, que será a
nova proprietária da refinaria Alberto Pasqualini, e 10% dos direitos de concessão para
exploração do Campo de Albacora Leste. A Petrobras Distribuidora-BR, subsidiária da
Petrobras, cedeu à Repsol YPF ativos compostos de direitos contratuais de fornecimento
de 40 mil metros cúbicos/mês de derivados e os equipamentos existentes em 234 postos
de serviços franqueados da BR, localizados na região Centro, Sul e Sudeste do país. Em
contrapartida, a Repsol-YPF cedeu uma participação acionária no capital social da
empresa EG3, que foi transferida da BR para a Petrobras. A Repsol, portanto, transferiu
à Petrobras 99,5% da empresa de petróleo argentina EG3. Esta empresa é constituída,
fundamentalmente, de uma refinaria com capacidade de processamento de 30.500
93
barris/dia e cerca de 700 postos de serviço, entre próprios e franqueados. Esta operação
é de grande importância estratégica para a Petrobras. Neste sentido, vale ressaltar os
seguintes pontos:
com a troca de ativos a Petrobras adquiriu imediatamente cerca de 12% do
mercado de combustíveis da Argentina, segundo maior mercado e economia
da América do Sul depois do Brasil;
a sinergia e complementaridade dos ativos da Petrobras nas regiões
Sul/Sudeste do Brasil e na Bolívia, com os ativos que estão sendo adquiridos
na Argentina;
a parceria da REFAP permitirá a modernização da refinaria. Os
investimentos serão suportados pelos novos sócios na proporção exata de
suas participações, o que permitirá à refinaria atingir um perfil de derivados
mais nobres e mais voltados para o mercado a que se destinam.
Considerando ainda o caráter integrado da Petrobras, esta operação representou
um grande passo na realização de sua estratégia de internacionalização, focada na
expansão de atividades na América Latina.
Na Argentina, a Petrobras também produz os lubrificantes da linha Lubrax, em
uma fábrica da EG3 localizada em Buenos Aires, que começou a produzir em janeiro de
2002. Até o final do ano de 2003 o óleo Lubrax possuía 7,5% do mercado de
lubrificantes do país. No final deste mesmo ano, a empresa iniciou a produção do
lubrificante marítimo Marbax, com o objetivo de incrementar a relação de produtos para
segmento marítimo.
Neste capítulo recuperamos o histórico da atuação internacional da Petrobras
desde sua trajetória inicial nos anos 70, até sua consolidação estratégica no Cone Sul, no
final da década de 1990 e primeira metade da década de 2000. No próximo capítulo
discutiremos os resultados da pesquisa realizada na área internacional da Petrobras
sobre a aquisição do grupo Perez Companc na Argentina.
94
CAPÍTULO V - A AQUISIÇÃO DA PEREZ COMPANC
Esse capítulo discute os resultados da pesquisa realizada na área internacional da
Petrobras sobre a aquisição do grupo Perez Companc na Argentina. Na primeira seção
discutimos os motivadores para a aquisição da Pecom e também a nova organização da
Petrobras no mercado argentino. Entre os vários motivadores para a aquisição destacamos a
crise Argentina como oportunidade para a Petrobras e o aumento do portfólio da empresa. A
segunda seção trata as ações da Petrobras relacionadas à integração com a Pecom após a
aquisição. Nesta parte são levantadas as questões gerenciais no pós-aquisição. Na terceira
seção apresentamos alguns resultados recentes da Petrobras apontando as principais
modificações na empresa após a aquisição da Pecom. E por fim, na última seção analisaremos
o processo de internacionalização da Petrobras com base nas teorias de internacionalização de
empresas. Nessa seção nos concentramos no período após 1997, quando houve a quebra do
monopólio da empresa no mercado brasileiro e que começou haver uma ação mais
estruturada de estratégia internacional com a realização de IDE por meio de aquisições.
5.1 Motivadores Para a Aquisição
Discutiu-se na parte teórica deste trabalho, que as empresas possuem diversos
motivos para buscar estratégias de aquisições internacionais. Nossa pesquisa e os
estudos mais recentes sobre a área internacional da Petrobras, como a de Carrinho
(2004) e Conde (2005), apontam várias motivações e estratégias para a empresa realizar
investimentos no exterior, entre as quais destacamos:
Quadro 5.1: Motivadores Atuais de Internacionalização da Petrobras
Por que internacionalizar?
- Diversificar o portifólio;
- Reduzir custo de capital;
- Gerar fluxo de caixa em moeda forte;
- Contribuir para o crescimento e rentabilidade da Petrobras.
Internacionalizar também significa...
- Expansão dos valores e práticas da Petrobras;
- Mercado adicional para a indústria brasileira;
- Aumento da influência brasileira.
Estratégias de negócio Internacional:
- Buscar a liderança como empresa integrada de energia na América Latina;
- Expandir a atuação no setor americano do Golfo do México e Oeste da África;
- Ampliar as áreas foco da Petrobras por meio de negócios que contribuam para o crescimento e
diversificação do portfólio;
- Agregar valor à produção de óleo pesado da Petrobras (Ex. óleo da Bacia de Campos);
- Acelerar a monetização das reservas de gás natural;
- Internacionalizar e valorizar a marca Petrobras.
Fonte: Elaboração da autora com base no material da empresa cedido na visita do dia 09 de Março de 2006.
95
Dentre os motivos para a internacionalização, relatados acima, destacamos, no
caso da aquisição da Perez Companc, dois motivadores principais: a crise argentina e a
conveniência do aumento de portfólio da Petrobras em um país próximo, com
possibilidades de gerar sinergias com as atividades da empresa no Brasil. O aumento do
portfólio, conseqüentemente, contribuiu para o crescimento e rentabilidade da Petrobras.
Esses motivadores estão de acordo com planejamento estratégico da empresa de tornar-
se líder do setor na América Latina.
5.1.1 A Crise Argentina Como Oportunidade
Em 2002, com a crise na Argentina, surgiu a facilidade de aquisição de empresas
em função da desvalorização cambial. As empresas nacionais na Argentina sofreram um
duplo impacto de desvalorização, de 70% da moeda, o que aumentou a carga de
endividamento e reduziu o valor dos ativos em dólar (Schutte, 2004). A Perez Companc
faz parte da extensa lista de empresas que tiveram problemas financeiros com a crise
econômica no país. A empresa possuía um patrimônio estimado em US$ 2,9 bilhões em
março de 2001, cifra que reduziu a US$ 1,3 bilhões um ano depois (Schutte, 2004). A
oferta da Perez Companc (na qual a Petrobras já vinha demonstrando interesse havia
quatro anos) se deu em um contexto de vulnerabilidade, notadamente no setor de
energia elétrica, onde as dívidas da empresa eram em dólar e as tarifas eram controladas
em peso pelo governo argentino
16
.
'Foi uma operação em que com pouco dispêndio de capital
conseguimos adquirir ativos de alta qualidade. Crise e oportunidade
são duas faces de uma mesma moeda.
17
Em outubro de 2002, a Petrobras firmou o acordo de compra de 58,6% do
capital total da empresa por US$ 1,03 bilhões. O pagamento da empresa foi US$
689.184.000 à vista e US$ 338.416.000 em notas emitidas pela Petrobras International
Finance Company, subsidiária integral da Petrobras, com juros anuais de 4,75% e
vencimento final em 2007 (Relatório Anual, 2002). A Petrobras também adquiriu
mediante o pagamento à vista de US$ 49.752.178 uma participação de 39,67% das
ações da Petrolera Perez Companc, que junto com os 19,2% de propriedade da Pecom
Energia S.A. garantem o controle acionário dessa subsidiária (Relatório Anual, 2002).
As negociações da aquisição da empresa duraram cerca de seis meses e a Petrobras
16
Gazeta Mercantil, 23/07/2002.
17
Francisco Gros – Presidente da Petrobras de 2/1/2002 a 2/1/2003. Jornal do Brasil - 24/07/2002.
96
contou com a consultoria do banco Goldman Sachs e dos escritórios de advocacia
Clifford Chance, dos Estados Unidos, e Grandona e Martinez de Hoz, da Argentina.
"A aquisição de uma companhia como a Perez Companc é totalmente
coerente com os objetivos estratégicos da Petrobras de consolidar os
processos de internacionalização e diversificação de riscos e permitirá
à companhia estabelecer uma presença importante nas atividades de
exploração e produção na América Latina (...) Nós esperamos que esta
aquisição proporcione sinergias com nossas instalações de refino, rede
de distribuição, áreas de petroquímica e gás no Cone Sul, bem como
suprimento de derivados no Brasil".
18
A Perez Companc entre 1996 e 2000, apresentou crescimento regular de vendas
e balanço positivo. Até 2001, os executivos da empresa projetavam dobrar o seu
faturamento e avanços internacionais, principalmente no Brasil. Em julho de 2001, o
diretor geral da Pecom, Mario Lagrosa, falava em troca de ativos e sociedade com a
Petrobras. Os planos de investimento para a Pecom totalizavam US$ 4 bilhões
19
. A crise
na economia argentina forçou a mudança dos planos da empresa. A desvalorização do
peso e a crise no país abriram espaço para a aquisição da Petrobras. Antes da
desvalorização do peso, a dívida da empresa era bem administrada e se mantinha em
níveis considerados satisfatórios. O braço do grupo que foi adquirida pela Petrobras
acumulava dívidas de US$ 1,997 bilhão em 2002 (Schutte, 2004). Ao anunciar o
acordo, o presidente da Petrobras na época, Francisco Gros, afirmou que a estatal não
assumiria a dívida da Pecom.
“Mesmo em crise, a Pecom mantém um fluxo de caixa de US$ 550
milhões, que lhe permite auto-financiar a dívida - gerar recursos para
pagá-la sem que a Petrobras precise fazer desembolsos (...)
A Perez Companc é uma grande empresa, mas tem 10% do tamanho
da Petrobras. O gasto na compra dela significa somente 15% do fluxo
de caixa da Petrobras num ano. Não estamos comprando uma Shell ou
uma Esso".
20
Em maio de 2003, a Comisión Nacional de Defensa de la Competência,
organismo da Secretaria de la Competência, la Desregulación y la Defensa Del
Consumidor Argentino, aprovou a operação de aquisição pela Petrobras Participações S.
L. uma empresa controlada pela Petrobras, com pequenas exigências que não alteraram
os objetivos estratégicos da Petrobras. Com a aprovação da operação, foram concluídos
18
Francisco Gros – Presidente da Petrobras de 2/1/2002 a 2/1/2003. Folha de São Paulo - 17/10/2002.
19
Gazeta Mercantil, 23/07/2002.
20
Francisco Gros – Presidente da Petrobras de 2/1/2002 a 2/1/2003. Folha de São Paulo - 17/10/2002.
97
os procedimentos legais para a mudança da razão social da Perez Companc S.A. para
Petrobras Energía Participaciones S.A. aprovado pela assembléia dos acionistas de
ambas as empresas (Relatório Anual, 2003). A Figura 5.1 mostra a organização da
Petrobras Energía Participaciones S.A após a aquisição do grupo Perez Companc.
Figura 5.1: Organização da Petrobras Energía Participaciones S.A.
Fonte: http://www2.petrobras.com.br/portal/RelacoesInvestidor.htm. Acesso em 20/07/06.
Portanto, ao final de 2003 a Petrobras possuía na Argentina o controle de seis
empresas: Petrobras Energia (ex Pecom) Petroleira Entre Lomas, EG3, Petrobras
Argentina, Petroleira Santa Fé e Companhia Mega (Ver Figura 5.5). A organização
dessas empresas está passando por reestruturações até o presente. Essas reestruturações
serão esclarecidas nos próximos itens.
5.1.2 Aumento do Portfólio da Petrobras
Antes da aquisição da Petrobras a Perez Companc S. A. era um holding que
controlava a Pecom Energia S. A. a qual se constituía o centro de um grupo de empresas
vinculadas principalmente ao setor energético. O grupo era controlado pela família
Pérez Companc e Fundação Pérez Companc, e possuía ramificações entre setores de
petróleo, gás, energia elétrica, produção e refino de petroquímicos, telecomunicações,
agribusiness e setor financeiro.
Petróleo Brasileiro S.A Outros acionistas
Petrobras Energía
Participaciones S.A.
Petrobras Ener
g
ia S.A.
Petrobras
Energía Peru
S.A.
Petrobras
Energía
Venezuela S.A.
Petrobras
Energía
Ecuador S.A.
Petrobras
Exploração e
Serviços S.A.
Corod
Produccion
Enecor Innova
98
A empresa foi fundada em 1946, pelos irmãos Carlos e Jorge Pérez Companc,
originalmente como uma empresa de navegação (Compañia Navieira Perez Companc).
Em 1960, a Pecom Energia iniciou seus negócios em petróleo e desde o início da década
de 1990 a empresa passou a focar seus negócios fortemente no setor energético.
Os gráficos abaixo mostram os ativos da Pecom Energia antes da aquisição, por
unidade de negócios e por país de atividade. No gráfico 5.1 podemos perceber a
diversificação das atividades da empresa na área de energia, com a predominância da
atividade de E&P seguida da atividade de eletricidade, refino e petroquímica. Na
distribuição dos ativos por país percebemos a concentração das atividades na Argentina
(63%) seguida da Venezuela (21%).
Gráfico 5.1: Ativos da Pecom Energia Por Unidade de Negócio, 2000.
Ativos - Dez. 2000 (5.493 MM de US$) - Por
Unidade de Negócio
50%
17%
18%
8%
7%
E&P
Refino e Petroquímica
Eletricidade
Com. e Transporte de
Hidrocarbonetos
Outro Invesimentos
Fonte: Perez Companc, 2000
Fonte: www.ie.ufrj.br/infopetro/pdfs/perez_companc_resumo.pdf
Gráfico 5.2 Ativos da Pecom Energia Por País, 2000.
Ativos - Dez. 2000 (5.493 MM de US$) - Por País
63%
21%
5%
2%
5%
4%
Argentina
Venezuela
Peru
Equador
Brasil
Bolívia
Fonte: Perez Companc, 2000
Fonte: www.ie.ufrj.br/infopetro/pdfs/perez_companc_resumo.pdf
99
Os gráficos 5.3 e 5.4 apresentam respectivamente as vendas líquidas da Pecom
Energia por setores e por país. As principais vendas por setores estão em E&P, refino e
petroquímica. Já as vendas por país, apresentam-se extremamente concentradas no
mercado Argentino (72%), seguido da Venezuela (12%).
Gráfico 5.3: Vendas Líquidas da Pecom Energia Por Setores, 2000.
V
endas Líquidas - 2000 (Total: US$ 1.546 milhões)
Por Setores
38%
21%
25%
10%
2%
4%
E&P
Refinação
Petroquímica
Eletricidade
Comercialização
Outros Investimentos
Fonte: Perez Com
p
anc
,
2000
Fonte: www.ie.ufrj.br/infopetro/pdfs/perez_companc_resumo.pdf
Gráfico 5.4: Vendas Líquidas da Pecom Energia Por País, 2000.
V
endas Líquidas - 2000 (Total: US$ 1.546 milhões)
Por País
72%
12%
2%
7%
7%
Argentina
Venezuela
Bolívia
Peru
Brasil
Fonte: Perez Companc, 2000
Fonte: www.ie.ufrj.br/infopetro/pdfs/perez_companc_resumo.pdf
Portanto, os ativos comprados da Perez Companc incluem recursos em
exploração e produção, refino, petroquímica, distribuição e comercialização e
eletricidade. Abaixo fizemos uma descrição dos recursos incorporados. Terminamos a
seção com a configuração atual da Petrobras na Argentina.
100
No upstream, a aquisição do Grupo Perez Companc representou para a Petrobras a
incorporação de um volume de reservas de 0,8 bilhão de barris, ao custo unitário de US$
2,04, quatro vezes menos do que o custo estimado no Brasil (Relatório Anual, 2002). O
gráfico 5.5 mostra as reservas provadas da Petrobras após a aquisição da Pecom.
Gráfico 5.5: Reservas Provadas Internacionais de Óleo e Condensado por País
Venezuela
25%
Argentina
18%
Nigéria
25%
Peru
10%
Equador
9%
EUA
2%
Angola
1%
Colômbia
4%
Bolívia
6%
Fonte: Relatório Anual, 2005.
Os ativos da Petrobras Energia abrangem 11 blocos de produção e cinco blocos
exploratórios, localizados na região Austral, e na bacia de Neuquén, na Patagônia,
região centro-oeste do país. Nessa mesma região, a Petroleira Santa Fé, também de
propriedade da Petrobras, tem três blocos em produção e quatro em exploração,
divididos entre Neuquén e Cuyo, próximos à cordilheira dos Andes. A Petrobras
Argentina também tem blocos na bacia neuquina e, mais além, no noroeste da
Argentina. Os campos da região de Neuquén, onde há 1.782 poços ativos respondem
por cerca de 67% da produção de óleo da empresa no país. Os principais campos
produtores desta bacia são 25 de Mayo-Medanito, Jagüel de Los Machos e Puesto
Hernández (Petrobras Energia) e Sierra Chata, grande produtora de gás, operada pela
Petroleira Santa Fé, que pertence a Petrobras.
Na Cuenca Austral há 218 poços que produzem 69% do gás explorado naquelas
bacias. Os ativos mais importantes são Santa Cruz I, com 7.400 km², nos quais há 15
jazimentos (a Petrobras detém 71% do controle) e Santa Cruz II, com 4.459 km2, 100%
da petrolífera brasileira, que é a operadora com a maior produção de óleo nesta bacia –
101
18 mil barris de petróleo /dia – e a segunda, na produção de gás (230 milhões de pés
cúbicos/dia), nos dois ativos onshore, próximos ao Estreito de Magalhães. No total, a
companhia brasileira tem dois mil dos 15 mil poços ativos no país. O grupo brasileiro
ainda tem participação, por meio da Petroleira Santa Fé e da Petrobras Argentina,
respectivamente, nos campos de El Tordillo, localizado na Bacia de San Jorge, e de
Aguaragüe, na bacia Noroeste, próxima à fronteira com a Bolívia, que são operados pela
Tecpetrol.
Após incorporar os recursos da Pecom, a Petrobras possui direitos exploratórios
em 21 blocos e 25 campos petrolíferos em produção, somando-se as concessões na
Argentina, Venezuela, Equador e Peru.
Figura 5.2: Atuação da Petrobras em E&P na Argentina
Fonte: documentos internos da empresa cedidos na visita do dia 09 de Março de 2006.
Com a compra da Pecom a capacidade de refino aumentou significativamente
considerando-se os ativos da Petrobras Energia. A capacidade de refino da Petrobras foi
acrescida cerca de 120 mil barris/dia (documentos da Petrobras cedidos na visita do dia
09 de Março de 2006). Atualmente, a Petrobras opera três refinarias na Argentina:
Ricardo Eliçabe, localizada no pólo petroquímico de Baía Blanca (Província de Buenos
Aires), de propriedade da empresa EG3 (na qual a Petrobras detém 99,5% do capital),
com capacidade de processamento de 31.000 barris diário de petróleo; uma refinaria em
San Lorenzo, localizada na província de Santa Fé, com capacidade de processamento de
102
36.000 bpd, da qual a Petrobras Energia detém 100% do capital; e a Refinaria del
Norte (Refinor), na província de Salta, com capacidade de processamento de 28.500
bpd, na qual a Petrobras Energia é operadora e detém 28,5% do capital (Relatório
Anual, 2005).
No segmento de distribuição, com a aquisição do controle acionário da Perez
Companc, a companhia ampliou sua rede de serviços, com a participação em mais
117 postos que levam as marcas San Lorenzo e Pecom. Com isso, o setor de
distribuição conta hoje com 722 postos no país, já que possuí outros 605
provenientes da aquisição da empresa EG3. Ao final de 2005 a Petrobras Energia,
possuía o controle de 746 estações de serviço, dessas, 436 com a bandeira Petrobras.
Dessa forma, a Petrobras possui aproximadamente 14% do mercado de vendas de
combustível do país.
No segmento gás e energia, a Petrobras participa com 34% do capital da
Companhia Mega. A empresa é constituída por uma unidade separadora de gás natural,
em Loma La Lata (província de Neuquen), um gasoduto de 600 quilômetros de
extensão, uma unidade fracionadora, em Baía Blanca (província de Buenos Aires), além
de facilidades de tancagem e expedição de produtos para exportação. A companhia
entrou em operação em abril de 2001. Em 2005, foram vendidos 495 mil toneladas de
produtos provenientes da separação do gás natural, representando um faturamento bruto
de US$ 220 milhões.
No segmento de transporte, com a aquisição da Pecom, a Petrobras passou a ter
participação de 23,1% no Oleoduto Del Valle S.A (OLDELVAL) que transporta
petróleo bruto da Bacia Neuquina até o oceano Atlântico (Puerto Rosales). A
capacidade do duto é de 265.000 barris/dia e opera atualmente com 95% de sua
capacidade. Os demais sócios são: Repsol-YPF (30%), Chevron São Jorge S.A. (14%),
Pan American Energy Holdings Ltd. (11,9%), Pluspetrol (11,9%), Astra Capsa (7%) e
Tecpetrol S.A. (2,1%). Além deste oleoduto, a Petrobras Energia também é acionista no
oleoduto de Crudos Pesados (OCP), que transporta petróleo bruto pesado para o
Equador. A capacidade é de 450.000 barris por dia. A aquisição da Pecom também
significou 35% da Transportadora de Gás del Sur (TGS), com uma rede de gasodutos de
7,4 mil km de extensão, ligando a região produtora de gás natural da Patagônia com a
Grande Buenos Aires.
103
Figura 5.3: Oleduto Oldelval – Petrobras Argentina
Fonte: documentos internos da empresa cedidos na visita do dia 09 de Março de 2006.
Com a aquisição da Pecom, a Petrobras passou a ter participações na
transmissão e distribuição de eletricidade: na transmissão por meio da Transener
(27,6%), principal empresa argentina nesse segmento, concentrando 95% da rede
de linhas de alta tensão do país; e na distribuição através da Edesur (27,3%), que
distribui energia a 2,1 milhões de consumidores da região central de Buenos Aires.
Passou a ter também participações nas empresas de serviços de eletricidade Enecor
(69,9%) e Yacylec (22,2%). A geração de energia elétrica também foram
incorporados na aquisição por meio da hidrelétrica Pichi Picún Leufú e
participação na hidrelétrica Piedra Del Aguila e da térmica de ciclo combinado
Genelba, que responde por 7% da geração de energia elétrica do país;
Nos demais segmentos, como fertilizantes e petroquímica, a Petrobras também
ampliou sua presença devido à compra da Pecom. A empresa assumiu o controle de um
dos mais modernos complexos de produção de poliestireno na América Latina: a
Innova, situada no Pólo Petroquímico Triunfo, no Rio Grande do Sul, criada em 1997
pela Perez Companc (100% de controle), que investiu mais de US$ 230 milhões neste
empreendimento. A Innova possui 30% do mercado interno de poliestireno e é uma das
maiores empresas petroquímicas de 2ª geração da América Latina. Antes de ser adquirido
pela Petrobras, o grupo argentino ainda comprou 40% de participação na Petroquímica
Cuyo, na província de Mendonza, Argentina. Assim, após a aquisição, as operações
petroquímicas da Petrobras na Argentina são realizadas pelas empresas da Petrobras
Energia no complexo Puerto General San Martin, Zarate e Campana, a subsidria
104
Innova no Brasil e 40% de participação na Petroquímica Cuyo. A figura 5.4 mostra o
pólo petroquímico na Argentina. Francisco Gros na Presidência da Petrobras de
02/01/2002 a 02/01/2003 na época da aquisição da Pecom comentou:
“A compra do grupo argentino vai acabar forçando a Petrobras a
estabelecer uma estratégia para o setor petroquímico, pois os ativos da
Perez Companc no setor são de boa qualidade” (Schutte, 2004:196).
Figura 5.4: Pólo Petroquímico na Argentina
Fonte: documentos internos da empresa cedidos na visita do dia 09 de Março de 2006.
O aumento do portfólio da Petrobras com aquisição do grupo Perez Companc e
de outras empresas no mercado argentino, conseqüentemente contribuíram para o
crescimento dos recursos e aumento da complexidade organizacional da Petrobras na
Argentina. A Figura 5.5 exibe a presença na Petrobras na Argentina após a série de
aquisições da empresa no país.
105
Figura 5.5: Empresas do Grupo Petrobras na Argentina - 2003.
(1) Exploração e produção, refino, petroquímica, distribuição e vendas diretas, gás e energia
(2) Exploração e Produção
(3) Refino, distribuição e vendas diretas
(4) Exploração e Produção
(5) Exploração e Produção
(6) Processamento de Gás
Fonte: Carrinho, 2004:152
A partir de janeiro de 2005 houve a fusão da Petrobras Energia com as empresas
EG3, Petrobras Argentina S.A. e a Petroleira Santa Fé. Com a gestão centralizada
espera-se maior eficiência e ação integrada no mercado argentino. A fusão deu-se
principalmente, nas atividades de exploração e produção (Petrobras, 2006). A figura 5.6
mostra a configuração atual da Petrobras na Argentina.
Figura 5.6: Configuração Atual da Petrobras na Argentina
(1) Exploração e produção, refino, petroquímica, distribuição e vendas diretas, gás e energia
(2) Exploração e Produção
(3) Processamento de Gás
Fonte: A autora com base em www.petrobras.com.br
Empresas do Grupo
Petrobras na Argentina
UN-Argentina
Petrobras
Energia
Participações
Petrobras
Energia
(1)
Petroleira
Entre Lomas
(2)
EG3
(3)
Petrobras
Argentina
(4)
Petroleira
Santa Fé
(5)
Companhia
Mega
(5)
Empresas do Grupo
Petrobras na Argentina -
2005
Petrobras Energía
Participaciones S.A.
Petrolera Entre
Lomas (2)
Petrobras Energía
(1)
Companhia Mega
(3)
106
5.1.3 Outros Motivadores Importantes
Além dos motivadores principais para a aquisição da Pecom, como a crise
econômica argentina e o aumento do Portfólio da Petrobras, citamos outros motivadores
também importantes:
- Diminuição do risco de capital:
O aumento do portfólio da empresa foi relacionado também, em nossas
entrevistas, à necessidade de redução do custo de capital da Petrobras, em nível tal que
o “risco petrobras” fique menor que o risco país
21
. Carrinho (2004) também cita esse
motivador em sua pesquisa sobre a internacionalização da empresa.
“A empresa valorizada, sendo vista pelo mercado como uma empresa
internacional foi outra grande motivação para diversificarmos o
portfólio da companhia, voltando-nos para fora do país, reduzindo a
percepção de risco, diminuindo o custo de capital e aumentando seu
valor - segundo um ex-diretor da área internacional” (Carrinho,
2004:131)
- Valorização da marca Petrobrás:
Com o aumento do portfólio, após a aquisição da Pecom, a Petrobras está
implantando uma série de ações de marketing no mercado argentino, principalmente no
donwstream. O donwstream compreende, além das atividades de refino, a distribuição e
comercialização de derivados de petróleo, ou seja, é o segmento que se relaciona
diretamente com o consumidor. A distribuição de combustíveis (720 postos de serviços,
dos quais mais de 300 atuam com a bandeira Petrobras) proporciona a valorização da
marca e consolida o posicionamento da empresa no mercado argentino (Relatório
Anual, 2005). Devido as atividades de comercialização a propaganda em televisão,
jornais e rádios são mais acentuadas na Argentina do que nos outros países em que a
Petrobras atua. Nos outros países, como o portfólio de atividades concentra-se mais no
upstream, as relações da empresa concentram-se mais com os governos locais, órgãos
reguladores, e atores diretamente relacionados às atividades de E&P (Carrinho, 2004).
Outras ações também ajudam a empresa a consolidar sua marca no mercado
argentino, como ações de responsabilidade social conjugando o seu patrocínio e apoio a
projetos sociais, culturais e esportivos. São alguns exemplos dessas ações: alianças com
21
Gerente Executivo – América, África e Eurásia. Entrevista concedida dia 09 de Março de 2006
107
o governo e ONGs para integrar projetos sociais, campanhas beneficentes,
apresentações e shows de artistas populares da música, patrocínio do time do Racing, no
futebol, entre outros (Relatório Anual, 2005).
- Expansão dos valores e práticas da empresa
A área internacional da Petrobras teve um crescimento acentuado após a
aquisição da Pecom. Com essa aquisição a empresa passou a ter subsidiárias, além de
Argentina, também na Bolívia, Venezuela, Peru e Equador. Além da série de aquisições
no mercado argentino (Grupo Pecom, Petroleira Santa Fé, Eg3), a Petrobras também
adquiriu a refinaria de Pasadena nos EUA, além dos projetos de exploração e produção
mantidos no Golfo do México e África. Nesse novo contexto de atuação internacional,
as gerências executivas da ANI passaram a entender a necessidade de aperfeiçoamento
nos processos de gestão das subsidiárias. Em nossas entrevistas, percebemos o aumento
da preocupação dos executivos em relação ao crescimento da área internacional e as
complexidades gerenciais que esse crescimento implica. Essas preocupações refletiram
no crescimento de programas de gestão do conhecimento na área internacional com
iniciativas de unificar os sistemas de informação das subsidiárias, expatriação de
funcionários e uma série de outras medidas.
A expansão dos valores e práticas da Petrobras na gestão de suas subsidiárias
será mais bem explicada nos itens subseqüentes, onde trataremos os processos de
integração após a aquisição da Pecom pela Petrobras.
5.2 A Integração das Empresas Após a Aquisição
A integração e alcance de sinergias tornam-se mais difíceis entre duas empresas
de países diferentes. A empresa adquirente precisa estar atenta tanto para as questões
organizacionais como para as variáveis específicas daquele país (Hitt, Ireland e
Hoskison, 2002). Dessa forma, as questões organizacionais na integração após uma
aquisição internacional incluem fundir duas culturas corporativas distintas, vincular
diferentes sistemas financeiros e de controle, criar relações de trabalho eficientes,
resolver problemas referentes à situação dos executivos da firma recém adquirida. Nas
questões específicas do país a empresa precisa ter habilidades para atuar com diferenças
de idioma, contextos políticos, econômicos e culturais diferentes do país de origem. A
fase pós-aquisição é a mais crítica no processo de integração. Para lidar com essas
108
potenciais dificuldades no pós-aquisição a empresa precisa, entre outros cuidados, ter
uma política de expatriação e ter equipes de executivos com experiência em gestão
internacional nos processos pós-aquisições. As relações entre as empresas após uma
aquisição internacional irão tornar-se mais naturais conforme o tempo transcorrido após
a operação, pois conforme o tempo vai-se aumentando a comunicação entre a matriz e a
subsidiária por meio de visitas, reuniões ou expatriação de funcionários. Nas fases
iniciais a transferência se dá de uma forma relativamente impositiva (da matriz para a
subsidiária), mas conforme o tempo vai passando o processo se torna mútuo, isto é, há
uma maior interação e as trocas de conhecimento acontecem da matriz para a
subsidiária e da subsidiária para a matriz. (Bresman, Birkinshaw e Nobel, 1999).
Nos subitens abaixo, com bases em nossas entrevistas, discutimos as questões
relativas ao processo de integração da Petrobras com a Pecom. Os principais pontos
levantados nas entrevistas foram a decisão da Petrobras em manter os funcionários da
Pecom, as principais dificuldades de gestão no pós-aquisição, a heterogeneidade dos
sistemas de comunicação das subsidiárias, o papel das expatriações na integração e
alcance de sinergias entre a Petrobras e as subsidiárias e, por fim, o aumento da
preocupação dos gerentes da área internacional com gestão do conhecimento em
relação às atividades no exterior.
5.2.1 A Decisão de Manter os Funcionários
Nas aquisições realizadas nos últimos anos pela Petrobras percebemos, pelas
nossas entrevistas, que foi tomada a decisão de não demitir muitos funcionários das
empresas adquiridas.
“Na maioria das subsidiárias adquiridas pela Petrobras não há
demissões de funcionários significativas, nem mesmo dos cargos
gerenciais. A Petrobras parece acreditar que essa flexibilidade cultural
é importante para manter o conhecimento após aquisições”
22
.
Na Pecom esse “padrão” foi mantido. Após a aquisição a estrutura
organizacional da Pecom anterior à compra foi mantida, com a permanência de toda a
diretoria. O presidente foi substituído por um profissional selecionado no mercado local
e o conselho de administração foi composto por diretores da Petrobras.
22
Gerente Executivo – América, África e Eurásia. Entrevista concedida dia 09 de Março de 2006
109
“As unidades adquiridas no exterior já eram estruturadas, ou seja,
tinham seu próprio modelo de gestão e quando passaram a ser
subsidiárias da Petrobras, o processo de integração não foi simples.
Num primeiro momento a Petrobras decidiu não demitir funcionários
dessas unidades, nem mesmo os cargos de gerência – apenas a
gerência executiva foi dada a um expatriado brasileiro. Essa decisão
trouxe um problema de governança para a Petrobras, principalmente
no caso da Pecom”
23
.
Alguns motivos estão por trás da decisão de manter a diretoria. Sendo a Pecom
uma empresa privada, não possui amarras de regulamentação, possuindo um processo
decisório muito ágil, podendo atuar como ‘modelo’ para a Petrobras. Além disso, o
conhecimento sobre o mercado e o ambiente político, econômico, legal e cultural dos
países em que a Pecom atua e o relacionamento com a esfera política Argentina são
ativos importantes a serem preservados.
“...manter os cargos altos de gerência após as aquisições é mais
conflituoso para a Petrobras, mas é importante para manter o
conhecimento sobre a empresa adquirida. No caso da Pecom, os
gerentes argentinos desafiam a autoridade da Petrobras.”(...) Na
cultura da Argentina “brigar faz parte do trabalho, eles negociam de
maneira agressiva e os brasileiros são diferentes, possuem uma cultura
de consenso (...) as subsidiárias da Bolívia, Colômbia e EUA muitas
vezes os gerentes questionam a Petrobras, mas reconhecem sua
autoridade”.
24
5.2.2 Dificuldades de Gestão
No caso Pecom, logo após a aquisição a Petrobras enfrentou vários problemas de
gestão. Durante as entrevistas percebemos vários motivos relatados para essas dificuldades.
O primeiro deles foi a decisão de manter o quadro de funcionários na empresa
adquirida e o contexto de crise da Argentina.
“A Pecom era um ícone de sucesso na Argentina, bastante agressiva e
com forte lógica de lucro e quando houve a aquisição pela Petrobras,
foi difícil para os funcionários aceitarem”.
25
23
Gerente executivo de Suporte Técnico aos Negócios Internacionais Entrevista concedida dia 06 de
Junho de 2006
24
Gerente boliviana “impatriada” no Brasil subordinada à área de estratégia corporativa internacional.
Entrevista concedia dia 28 de Março de 2006.
25
Coordenador do sistema Integrado de Gestão. Entrevista realizada em 28 de Março de 2006
110
O segundo motivo atribuído à dificuldade de gestão da empresa adquirida, foi a
falta de um projeto de gestão da mudança, uma vez que o quadro de funcionários foi
mantido. Segundo a assistente da gerência executiva da área de suporte técnico aos
negócios internacionais que foi, durante dois anos, responsável pela gerência setorial de
gestão do conhecimento
26
, a decisão da Petrobras de manter o quadro de funcionários na
Pecom não foi concomitante a um projeto de gestão de mudança. Isso foi um dos
principais motivos das dificuldades de integração com a empresa adquirida.
“... havia muitas incertezas da empresa adquirida em compartilhar
seus conhecimentos em diversas áreas (...) Essas incertezas podem ser
explicadas pela diversidade do portfólio de atividades da empresa,
como energia elétrica, entre outros (...) nessa aquisição a Petrobras
não fez uma gestão da mudança, esse foi o ponto crítico da dificuldade
de integração entre a matriz e a subsidiária argentina (...) A integração
foi feita sem muita conversa”.
27
Na visão da entrevistada a Petrobras ainda enfrenta problemas de gestão na
subsidiária argentina por conta de diferenças de cultura organizacional e reafirma que se
a empresa tivesse planejado um projeto de gestão da mudança na Pecom os problemas
de integração teriam sido minimizados.
“A Petrobras possui uma cultura de engenheiros e discutir gestão da
mudança ou gestão do conhecimento muitas vezes não faz sentido
para muitos gerentes”.
28
Em sua opinião está havendo uma mudança de mentalidade em relação à
importância de se ter uma estratégia bem definida de gestão do conhecimento,
principalmente na área internacional, devido ao seu crescimento nos últimos anos.
As diferenças de cultura, tanto organizacional quanto as diferenças de cultura
entre Brasil e Argentina, foram citadas, em vários momentos, como dificultadoras da
integração entre duas empresas. No processo de integração da Petrobras com a Perez
Companc, como já mencionamos, houve muita resistência dos argentinos.
“...havia muita resistência à mudança. (...) Os argentinos tinham uma
visão distorcida do que era a Petrobras, a visão era de empresa estatal
com processos decisórios lentos e difíceis”.
29
26
A Gerência Setorial de GC é responsável pelo mapeamento e pela implantação dos projetos de gestão
de conhecimento, assim como a reestruturação e treinamento do RH da ANI e foi criada em 2000.
27
Assistente da Gerencia Executiva de Suporte Técnico aos Negócios Internacionais. Entrevista realizada
em 06 de junho de 2006.
28
Assistente da Gerencia Executiva de Suporte Técnico aos Negócios Internacionais. Entrevista realizada
em 06 de junho de 2006.
29
Gerente executivo de Suporte Técnico aos Negócios Internacionais. Entrevista realizada em 06 de
junho de 2006.
111
Na percepção do gerente executivo de suporte técnico aos negócios
internacionais, na Petrobras pesa mais no processo decisório a opinião técnica,
independentemente da hierarquia ou idade do funcionário. O entrevistado entende essa
forma de gerência como dificultadora na relação com as subsidiárias internacionais, pois
em vários países em que a Petrobras tem unidades, a hierarquia e a diferença de idade
têm muita importância nas negociações e decisões.
“No caso da Argentina, a hierarquia tem muita relevância, assim como
nos EUA (...) Em muitas empresas não há uma cultura de consenso
como o há na Petrobras, percebemos claramente esse processo na
aquisição da Pecom (...) O problema de governança, após a aquisição
da Pecom, é que nessa subsidiária, o poder é que fazia os projetos
serem aprovados. Antes da aquisição, as subsidiárias da Pecom eram
geridas como corpos independentes. Foi preciso quebrar as estruturas
de poder dentro da Pecom e isso, num primeiro momento após a sua
aquisição, foi difícil pelo fato de se manterem os funcionários antigos,
principalmente os de cargos de gerência (...) Era preciso lembrar o
tempo todo os argentinos de que a Petrobras havia comprado a
empresa e não o contrário”.
30
5.2.3 A Heterogeneidade dos Sistemas de Comunicação das Subsidiárias
Com a aquisição da Perez Companc apresentou-se necessário um projeto para
unificar os sistema de comunicação entre matriz e subsidiárias. Após as aquisições
feitas pela Petrobras na América do Sul, percebeu-se a heterogeneidade de sistemas de
informação. Cada país mandava as informações de uma maneira diferente, por exemplo,
a EG3 tinha uma versão antiga do ERP, a Pecom possuía outro software que não
“conversava” com o software da matriz. Diante dessa heterogeneidade de sistemas
nasceu o PROANI, que é um projeto de integração de processos dentro do Programa de
práticas de gestão integradas na área internacional. O projeto é tido como estratégico na
integração entre as subsidiárias no exterior. Com o PROANI, começou-se a discutir
como melhorar a comunicação entre as subsidiárias e a matriz em relação à tecnologia
da informação. A necessidade de fazer a unificação na Argentina, com aquisição da
Pecom, trouxe a oportunidade de homogeneizar o sistema para todas as subsidiárias da
Petrobras.
Em 2000, no Brasil, foi iniciado o projeto Sinergia, que tinha por objetivo a
implantação do sistema ERP (SAP-R3). O projeto Sinergia foi pensado pela Diretoria
30
Gerente executivo de Suporte Técnico aos Negócios Internacionais. Entrevista concedida dia 06 de
Junho de 2006
112
de Sistema de Gestão e visava somente a implantação do SAP. O PROANI é um projeto
mais amplo, que se iniciou com o desenho dos processos das subsidiárias. O objetivo
final do PROANI é criar um centro de suporte para se ter um modelo de gestão dos
processos implantados.
O entrevistado frisou que o projeto não deve ser taxado como um projeto de
implantação de SAP, mas como uma ferramenta para a empresa superar dificuldade no
gerenciamento das suas novas subsidiárias:
“O PROANI deve ser entendido como um projeto de unificação dos
processos das subsidiárias da Petrobras, independentemente da
ferramenta que se utiliza (...) A Petrobras está crescendo muito e o
braço do exterior tende a se equilibrar com o nacional (...) em 2010, as
coisas vão se unir, as subsidiárias nacionais e internacionais vão falar
a mesma língua e isso será muito válido para a transferência de
conhecimento”.
O PROANI começou a ser implementado de fato em fevereiro de 2005. No
momento da aprovação do projeto, o investimento era de R$ 15 milhões. Hoje o projeto
conta com cerca de 40 milhões. As equipes envolvidas no PROANI são formadas de
forma multidisciplinar a partir da designação do gerente do projeto (o gerente do
PROANI é um argentino que vive no Brasil há 20 anos). O projeto possui hoje 150
pessoas próprias, mais cerca de 100 pessoas contratadas (consultores).
O projeto é composto por três comitês:
1) Comitê de decisão: comitê patrocinador composto pelo diretor internacional e
gerentes executivos e quatro gerentes gerais das subsidiárias internacionais –
faz reuniões bimestrais;
2) Comitê executivo: gerente executivo de TI, gerente executivo de estratégia
corporativa da área internacional e mais dois gerentes do projeto Sinergia;
3) Comitê corporativo: sete gerentes executivos, das áreas corporativas da
Petrobras do Brasil. Este comitê não é decisório.
A primeira dificuldade apontada pelo responsável do PROANI no Brasil foi a
rivalidade política entre Brasil e Argentina e diferenças culturais no nível nacional e
corporativo. Nessa aquisição, a cultura Petrobras foi exportada, principalmente na
questão trabalhista que estimula a estabilidade dos funcionários.
113
“A cultura de estatal da Petrobras entrou em conflito com a cultura de
empresa privada da Pecom. Houve uma resistência muito grande para
a implantação do PROANI na Argentina, pois após a aquisição não
houve demissões significativas, nem mesmo nos níveis gerenciais
mais altos. Isso trouxe dificuldade de negociação para a implantação
do PROANI, por conta da “empáfia e arrogância” da gerência da
Pecom em relação à implantação do projeto da Petrobras.”
31
5.2.4 O Papel das Expatriações na Integração e Alcance de Sinergias Entre
a Matriz e as Subsidiárias
Podemos perceber no Gráfico 5.6 que após as aquisições internacionais da
Petrobras em 2002 o número de funcionários no exterior passou de zero em 2001 para
6.328 empregados em 2002.
Gráfico 5.6: Número de Empregados do Sistema Petrobras (2001-2005)
Fonte: Relatório Anual, 2005:73.
Com esse crescimento internacional, via aquisições, tornou-se necessário
políticas de expatriação de funcionários. Nas expatriações a Petrobras segue as políticas
da indústria, mas, segundo os entrevistados, a empresa é conservadora em recursos
humanos por ser estatal. Assim, há um trade off entre estabilidade e salário um pouco
abaixo do mercado. Na expatriação de um funcionário, seja ele da matriz ou de uma
subsidiária no exterior, a Petrobras dá um “pacote” que depende das condições da
31
Coordenador do sistema Integrado de Gestão Entrevista realizada em 28 de Março de 2006.
114
família e do país para onde irá esse empregado. A área de recursos humanos montou
uma estrutura de expatriação de acordo com a necessidade do funcionário, isto é, a
pessoa é quem decide se levará a família ou se irá sozinho.
Os gerentes executivos, ao serem questionados se a Petrobras possuía um
modelo de gestão internacional, deram respostas muito parecidas e relacionaram
amplamente o papel dos expatriados na construção desse modelo.
“... o modelo de gestão internacional da Petrobras existe, mas não é
imposto. As pessoas são trazidas das subsidiárias internacionais para
entender como é a gestão no Brasil. Aqui as pessoas entendem o
modelo Petrobras, e dão contribuições gerenciais. O gerenciamento de
subsidiárias ainda é um momento de aprendizagem para nós.”
32
Os expatriados são importantes veículos para a transferência de conhecimento
tácito e também da cultura da matriz em razão de seus relacionamentos (Lyles,
2001). Para Nonaka e Takeuchi (1995) a socialização é a experiência compartilhada,
ou seja, a conversão que surge da interação do conhecimento tácito entre indivíduos
por meio da linguagem, mas principalmente por meio da observação, imitação e
prática. A socialização gera o que pode ser chamado de conhecimento
compartilhado, como modelos mentais ou habilidades técnicas compartilhadas.
“... com as expatriações e impatriações, o conhecimento têm mão
dupla, ou seja, vai da matriz para as subsidiárias e das subsidiárias
para a matriz. O intercâmbio é uma forma das pessoas aprenderem os
diferentes valores das unidades, principalmente no caso das
subsidiárias, pois os estrangeiros vem para a matriz e “entendem” a
forma da Petrobras gerenciar e quando voltam para suas unidades de
origem disseminam isso”
33
.
No sentido de maior interação entre empresa adquirente e adquirida, é
importante mencionar os programas recentes da Petrobras de permitir “impatriados”
(funcionários estrangeiros que vêm para a matriz) das subsidiárias assumirem cargos de
gerencia no Brasil. É o caso da gerente boliviana que entrevistamos. Esta foi contratada
na Petrobras Bolívia e trabalhava no departamento de planejamento. Foi um dos
primeiros funcionários expatriados de uma subsidiária a ocupar uma posição de
gerencia no Brasil.
32
Gerente Executivo – América, África e Eurásia. Entrevista concedida dia 09 de Março de 2006
33
Assistente da Gerencia Executiva de Suporte Técnico aos Negócios Internacionais. Entrevista realizada
em 06 de junho de 2006.
115
“... o motivo das expatriações das subsidiárias para o Brasil é fazer
com que as pessoas entendam a cultura gerencial da Petrobras. (...)
Para o Brasil a expatriação é importante porque traz a visão e cultura
da subsidiária. Geralmente essas expatriações duram dois anos (...)
pela minha experiência percebo muito mais a influência da Petrobras
nas subsidiárias do que o contrário”.
34
A assistente da gerência executiva de suporte técnico internacional citou o
exemplo de 02 cargos gerencias ocupados por estrangeiros “impatriados” na matriz e de
11 “impatriados” de diferentes países que atuam na área de suporte técnico internacional
da matriz. A entrevistada citou também uma força tarefa, parceira da gerência de
suporte técnico internacional da matriz com a UN Venezuela, para incentivar o
intercâmbio de técnicos especializados na área de petróleo – funciona como um pool
internacional de recursos humanos com 67 especialistas.
“... as expatriações e “impatriações” são muito importantes para a
transferência do conhecimento, pois é quando as equipes de diversas
unidades podem interagir (...) O recebimento de conhecimento das
subsidiárias para a matriz ainda é um processo em construção, mas
não percebo resistência nesse sentido.
35
O gerente executivo de suporte técnico internacional citou algumas dificuldades
no processo de expatriações, principalmente as de ordem legal, como questões
trabalhistas e sindicais dos outros países.
“... quando se traz funcionários de unidades internacionais para o
Brasil passa-se a lidar com sindicatos internacionais que, em vários
casos, possuem uma outra lógica, diferente da brasileira”
36
.
Citou as expatriações e “impatrições” como uma forma de trazer funcionários
especializados com experiências diferentes das brasileiras. No caso da matriz, devido à
dificuldade da Petrobras de contratar, esses funcionários estrangeiros muitas vezes são
trazidos para suprir a necessidade de pessoas e conhecimentos.
Em relação ao alcance de sinergias com as atividades da subsidiária adquirida,
entendemos que a Petrobras encontra-se num estágio intermediário. De acordo com o
modelo de Cullinan, Leroux e Weddigen (2004), do mapa das sinergias, podemos dizer
34
Gerente boliviana “impatriada” no Brasil subordinada à área de estratégia corporativa internacional.
Entrevista concedia dia 28 de Março de 2006.
35
Assistente da Gerencia Executiva de Suporte Técnico aos Negócios Internacionais. Entrevista realizada
em 06 de junho de 2006.
36
Gerente executivo de Suporte Técnico aos Negócios Internacionais. Entrevista concedida dia 06 de
Junho de 2006.
116
que a Petrobras e Pecom encontram-se no terceiro circulo que diz respeito às
habilidades compartilhadas (Figura 2.3 do capítulo II).
De acordo com os autores as sinergias no centro são derivadas de eliminação de
funções duplicadas de atividades e custos, por exemplo, operações de finanças. Essas
são as sinergias mais fáceis e rápidas de serem alcançadas. O segundo círculo mais
próximo do centro representa as economias feitas a partir de corte de custos das
operações compartilhadas como distribuição, vendas e despesas gerais que podem ser
diminuídas. Normalmente, logo após o processo de integração essas sinergias são
também facilmente atingidas.
Logo após a compra da Perez Companc houve um forte processo de criação de
sinergia no sentido de otimizar os custos para que a Petrobras Energia se tornasse
lucrativa. Os melhores resultados registrados nos nove primeiros meses de 2003, foram
conseguidos apesar de as vendas consolidadas da empresa terem caído de 3,85 bilhões
de pesos para 3,66 bilhões de pesos entre 2002 e 2003, respectivamente. No segundo
trimestre, a situação melhorou quando as vendas atingiram 1,31 bilhão de pesos, ante os
1,28 bilhão de pesos registrados, no terceiro trimestre de 2002, pelo aumento no valor
das vendas de energia elétrica e da área de refino (Carrinho, 2004).
No terceiro círculo do mapa das sinergias temos as economias vindas da
racionalização das habilidades compartilhadas, estas são tipicamente mais difíceis de
serem atingidas porque demandam significativamente o envolvimento do pessoal,
transferência de conhecimentos, regulação etc.
Após o primeiro momento de integração da Petrobras com a Pecom, que foi
relatado nas entrevistas como conflituoso, os entrevistados percebem que houve uma
melhor integração das empresas. Entretanto, pelos relatos percebemos que as relações
ainda estão se construindo, principalmente na transferência de conhecimento das
subsidiárias para a matriz. No caso Pecom, após os primeiros momentos de integração
das empresas, houve o alcance de sinergias em relação, principalmente, as área técnicas
das atividades petroleiras.
“... num primeiro momento, após a aquisição, houve vários choques
de gestão e dificuldade de quebrar as estruturas de poder dentro da
Pecom, mas quando houve intercâmbio das equipes técnicas, essas
dificuldades foram amenizadas (...) Houve identificação das sinergias
117
técnicas e foi possível juntar os times de trabalho, foi preciso
desmistificar a sede da Petrobras e isso é um processo de aprendizado
para nós (...) Na indústria do petróleo o conhecimento técnico é muito
forte. E quando houve essa interação de culturas técnicas é que a
interação de fato começou a ocorrer.”
37
Na transferência desses conhecimentos técnicos, o entrevistado acredita que não
há resistência e o fluxo de conhecimento se dá da matriz para a subsidiária e da
subsidiária para matriz.
“... no caso da Pecom a Petrobras adquiriu competências e
conhecimentos no manejo de campo maduros e geração de energia
elétrica. A Petrobras transferiu conhecimento para e Pecom,
especialmente em refino e processos de E&P. A Petrobras sempre foi
tida como vanguarda em E&P e em refino de óleos pesados.
38
Nesse sentido, nossa pesquisa corrobora os estudos de Bresman, Birkinshaw,
Nobel (1999) de que nas fases iniciais, após uma aquisição internacional, a transferência
de conhecimento e a interação se dão de forma relativamente hierárquica ou impositiva
(da matriz para a subsidiária), mas conforme o tempo vai passando o processo se torna
mais recíproco, isto é, há uma maior interação e as trocas de conhecimento acontecem
da matriz para a subsidiária e da subsidiária para a matriz.
5.2.5 Gestão do Conhecimento na Área Internacional
Oficialmente a gerência setorial de gestão do conhecimento foi criada em 2000 e
é submetida a gerencia executiva de estratégia corporativa internacional (ver Figura 4.3
do capítulo IV). Antes disso havia apenas iniciativas de gestão do conhecimento
isoladas da matriz e das subsidiárias, principalmente na área de E&P, mas com a
abertura do mercado e crescimento da área internacional foi percebida a necessidade de
mapeamento e as vezes até padronização de determinadas práticas para melhor geri-las.
Em nossas entrevistas, percebemos o aumento da preocupação dos executivos em
relação ao crescimento da área internacional nos últimos anos e as complexidades
gerenciais que esse crescimento tem implicado. Podemos dizer que essas preocupações
refletiram no crescimento de programas de gestão do conhecimento na ANI. As
principais ações da gerência de gestão do conhecimento na ANI são vinculadas ao
Programa de Integração do Conhecimento e envolve iniciativas de unificar os sistemas
37
Gerente executivo de Suporte Técnico aos Negócios Internacionais. Entrevista concedida dia 06 de
Junho de 2006
38
Gerente executivo de Suporte Técnico aos Negócios Internacionais. Entrevista concedida dia 06 de
Junho de 2006.
118
de informação das subsidiárias (PROANI), expatriação de funcionários e uma série de
outras medidas.
O Programa de Integração do Conhecimento é um programa com status
consolidado e foi iniciado em 2002 na área internacional da Petrobras. Antes da
implantação desse programa, havia experiências acumuladas de gestão do conhecimento
da área internacional, mas as ações não eram sistematizadas e estavam principalmente
vinculadas á área exploração e produção somente.
Para a implantação desse programa foram relatados vários motivos. O primeiro e
mais crucial foi o crescimento internacional e a necessidade de gerenciar subsidiárias
fora do Brasil. As aquisições internacionais realizadas pela Petrobras na Argentina
(Petroleira Santa Fé, Eg3, Pecom, esta última envolvendo subsidiárias, além da
Argentina, também na Bolívia, Venezuela, Peru e Equador), a aquisição no mercado
norte americano da refinaria de Pasadena, sem contar os projetos de exploração e
produção mantidos no Golfo do México e África, criaram a necessidade de
aprendizagem e aperfeiçoamento na gestão de subsidiárias internacionais e isso inclui o
gerenciamento estratégico dos conhecimentos críticos necessários para a companhia
exercer seus objetivos no exterior.
Nesse sentido, os objetivos de consolidação de programas de gestão do
conhecimento é
“... garantir que os conhecimentos críticos sejam passados para os
novos funcionários no Brasil e identificar e entender os melhores
mecanismos para passar o conhecimento para as unidades
internacionais”. Para garantir que o conhecimento seja passado para as
subsidiárias de forma eficiente é importante ter claro que
características os funcionários têm e por quais treinamentos esses
funcionários passaram. A reestruturação do RH está dentro dos
projetos de gestão do conhecimento (...) para que haja uma
disseminação do conhecimento mais eficiente, é preciso fazê-lo de
uma forma estruturada e o envolvimento do RH nesse processo é
essencial”
39
.
O segundo motivo relatado foi o fato da Petrobras ter ficado quase uma década
sem contratar funcionários.
39
Gerente executivo de Suporte Técnico aos Negócios Internacionais. Entrevista concedida dia 06 de
Junho de 2006.
119
“... o gap de conhecimento dos velhos funcionários que já estão em
fase de aposentadoria e os novos funcionários, a Petrobras ficou 10
anos sem realizar concursos, e agora com a entrada de novos
funcionários, há uma defasagem de conhecimento”
40
.
O terceiro motivo, perda de profissionais técnicos altamente qualificados, é
explicado por Coelho e Souza (2002) num estudo de caso sobre a prática de gestão de
conhecimento na Petrobras. A Petrobras, por ser excelência na exploração de campos
offshore em águas profundas, convive com a perda de profissionais altamente
qualificados para empresas estrangeiras que tem interesse em contratar profissionais
formados, capacitados e com grande experiência em exploração offshore (Coelho e
Souza, 2002:05).
A assistente da gerencia executiva de suporte técnico aos negócios
internacionais quando descreveu o Programa de Integração do Conhecimento na
Petrobras, citou cinco projetos pilotos:
1- Mapeamento dos ativos estratégicos de conhecimento. Esse projeto consiste
no mapeamento e na identificação do conhecimento interno da organização.
O objetivo é estabelecer quais são os conhecimentos críticos necessários em
determinados processos chave e quem são os especialistas que detêm esses
conhecimentos;
2- Formação das comunidades de práticas com foco principal na busca da
transferência das melhores práticas, assim como o reporte das práticas e
técnicas que não deram certo. O objetivo desse projeto seria o
estabelecimento de “metodologias” para facilitar o contato entre as equipes e
entre os especialistas, para a troca de experiências e colaboração para
resolver problemas. Dentro desse projeto a principal prática é a realização
das “tardes técnicas”. Uma vez por mês os funcionários de diferentes áreas
escolhem temas diversos, e são realizados workshops e seminários de lições
aprendidas, onde são relatadas as boas práticas e experiências que não deram
certo. O objetivo é a organização e divulgação das práticas desenvolvidas
pela empresa, tanto as que tiveram sucesso assim como as que não tiveram;
40
Assistente da Gerencia Executiva de Suporte Técnico aos Negócios Internacionais. Entrevista realizada
em 06 de junho de 2006.
120
3- Realização de estudos de casos: serão realizados três estudos de caso
completos de experiências da Petrobras que deverão resultar em material de
treinamento para os profissionais. Para a realização desses estudos estão
juntos o setor de desenvolvimento de sistemas de gestão (DSG) e a
Universidade Petrobras;
4- Ambientação dos novos profissionais – a Petrobras, por ter ficado mais de 10
anos sem realizar concursos, tem um grande número de funcionários em fase
de aposentadoria, há uma grande preocupação por parte da gerencia setorial
de GC em transmitir o conhecimento dos funcionários antigos para os novos;
5- Gestão de competências críticas: mapeamento de competências críticas
baseadas na gestão de processos de cada gerência executiva. Isso acontece
apenas na matriz – ainda não foi disseminado para as subsidiárias.
As práticas de gestão de conhecimento na área internacional serviram de modelo
para implantação de programas de GC em outras áreas da empresa. Em 2005, a
Petrobras iniciou a construção do Programa de Gestão do Conhecimento para o Sistema
Petrobras. O objetivo do programa é aperfeiçoar as competências operacionais,
gerenciais e tecnológicas e garantir a disseminação interna do conhecimento. Durante
2005 foram realizados projetos, espelhados nos projetos da área internacional, nas
práticas de GC (estudos de casos, base de melhores práticas, catálogo de especialistas,
encontro de lições aprendidas, comunidades de práticas) (Relatório Anual, 2005).
5.3 Resultados e Indicadores da Atuação Internacional da Petrobras
Nesta seção apresentaremos alguns resultados recentes da área internacional da
Petrobras. A intenção não é mostrar uma ampla gama de indicadores, mas sim apontar
as principais modificações estratégicas na empresa após a aquisição da Pecom.
Ao adquirir o controle acionário da Pecom a Petrobras avançou rumo a seu
objetivo, previsto no plano estratégico 2015, de tornar-se a empresa de energia líder na
América Latina. O plano prevê o aumento de investimentos no exterior sendo uma das
metas da área internacional obter a produção de 545 mil barris/dia no exterior em 2010.
Com a aquisição da Pecom, a Petrobras passa a produzir aproximadamente 250 mil
barris/dia no exterior. Podemos perceber no gráfico 5.7 o aumento sensível da produção
121
internacional da Petrobras após a aquisição da Pecom, saltando de 58 mil barris de
petróleo e gás por dia para 246 barris por dia.
Em 2003, a produção total de óleo e de gás da Petrobras foi de 2,037 milhões de
barris, com um crescimento de 13% sobre o ano anterior. Sendo esse crescimento de 2%
no Brasil e 323% no exterior, em função da incorporação do grupo Perez Companc
(Carrinho, 2004:123). A produção internacional de petróleo, no entanto, recuou 3% em
relação a 2004 devido ao declínio natural de alguns campos maduros nas unidades de
Angola e da Argentina. A produção de gás obteve um aumento de 2% em decorrência
do aumento da produção na unidade da Bolívia.
Gráfico 5.7: Produção Internacional de Óleo, LGN, Condensado e Gás Natural de 2001-
2005. (mil boed)
Fonte: Relatório Anual, 2005:50.
Após a aquisição da Pecom, as reservas provadas de petróleo e gás da Petrobras
cresceram após a aquisição de 1.123 milhões de boe para 1.904 milhões de boe, dos
quais 72% dessas reservas estão concentradas na América do Sul, sendo 18% na
Argentina (Ver a distribuição das reservas no Gráfico 5.5). O gráfico 5.8 mostra as
reservas provadas da Petrobras após a aquisição da Pecom.
122
Gráfico 5.8: Reservas Provadas Internacionais de Óleo, LGN, Condensado e Gás
Natural de 2001-2005. (Critério SPE - milhões boe)
Fonte: Relatório Anual, 2005:50.
Em 2005, destacamos o lucro líquido consolidado de R$ 23,7 milhões e o
aumento da produção de petróleo e gás no Brasil, 1,958 mil barris de óleo, equivalente
por dia 11,4% a mais do que em 2004. O Gráfico 5.9 mostra o lucro líquido da empresa
de 2001 a 2005.
De 2002 para 2003 o aumento do lucro líquido foi R$ 9.697 bilhões. O resultado
é 120% maior do que o de 2002, quando havia sido de R$ 8,098 bilhões. Entre os
principais motivos para o resultado, estão o nível de preço do petróleo no mercado
internacional, que teve um aumento médio de 16% no barril do tipo Brent (US$ 28,4)
em relação a 2002, o aumento global de 12% na produção de petróleo e gás natural da
companhia. A área internacional da empresa colaborou para a formação do lucro, com
participação de R$ 618 milhões por conta da incorporação da Perez Companc.
Gráfico 5.9: Lucro Líquido da Petrobras – consolidado, em R$ (2001-2005)
Fonte: Relatório Anual, 2005:07.
Em suma, após a aquisição da Perez Companc e conseqüente aumento das
atividades internacionais da Petrobras os resultados foram predominantemente
123
positivos. Podemos perceber pelos gráficos apresentados acima que o aumento da
produção internacional da empresa e também de suas reservas de petróleo fora do Brasil
acarretaram uma menor dependência do mercado doméstico e aumento de receitas em
moeda forte.
5.4. A Petrobras: Teorias de Internacionalização
Nesta seção, para analisar a internacionalização da Petrobras nos concentramos
no período após 1997, quando houve a quebra do monopólio da empresa no mercado
brasileiro. Foi também após 1997 que começou haver uma ação mais estruturada de
estratégia internacional com a realização de IDE por meio de aquisições. O Quadro 5.2
mostra as diferentes etapas pelo qual o envolvimento internacional da Petrobras passou.
Quadro 5.2: Períodos do Envolvimento Internacional da Petrobrás
Período Atuação internacional
1953-1972 Essencialmente doméstica;
1972-1980 Garantia de suprimentos e expansão dos negócios;
1980-1997 Reestruturação, novo posicionamento estratégico maior envolvimento
com o mercado internacional Aproveitamento de sinergias (cone sul);
1998-2006 Internacionalização via IDE – subsidiárias nos EUA, Argentina,
Bolívia, Venezuela, Peru e Equador.
Fonte: a autora
A teoria do paradigma eclético (Dunning, 1980, 1981, 1998) é interessante para
explicar a internacionalização via IDE da Petrobras, pois percebemos claramente as
vantagens (da firma, de localização e de internalização) da empresa como meio de
impulsionar sua atuação internacional.
Nas vantagens da firma, a empresa, ao partir para o exterior, pode e deve
aproveitar suas vantagens próprias em sentido estrito e também vantagens ligadas à
organização como grupo. As vantagens próprias estão relacionadas à propriedade de
tecnologia, recursos humanos, capital, modelos gerenciais, competências essenciais. As
vantagens ligadas à organização como um grupo podem ser economias de escala e
124
escopo, poder de mercado, acesso aos mercados. Também são levados em consideração
nas vantagens da firma, o conhecimento do mercado mundial, a multinacionalização
anterior, a aprendizagem da gestão internacional e capacidade de explorar as diferenças
entre os países.
Na África e Golfo do México a vantagem da Petrobras é aproveitar sua
competência e propriedade de tecnologias em exploração de petróleo em águas
profundas como um diferencial para competir. Isso permite que a empresa detenha uma
vantagem tecnológica criada na sua matriz, mas que pode ser explorada e transferida se
constituindo como uma vantagem das suas operações frente os concorrentes fora do
Brasil.
A atividade petrolífera é uma atividade internacionalizada por natureza, pois, as
empresas precisam atuar onde as reservas de óleo estão. Assim, desde a 1972 a
Petrobras possuía atividades no exterior, sobretudo, em exploração e produção. Nessas
atividades, principalmente nas décadas de 70 e 80, o conhecimento exigido, além do
tecnológico para a operação de exploração, era sobre mercado mundial de petróleo e
localização de jazidas. No final da década de 1990 e início dos anos 2000 com a
intensificação da internacionalização por meio de aquisições é que podemos dizer que
está havendo uma vantagem de aprendizado de gestão internacional mais consolidado.
Podemos dizer que um dos fatores de dificuldades de gestão da Petrobras após a
aquisição da Pecom e das outras subsidiárias adquiridas foi a falta de experiências
anteriores em gestão de subsidiárias.
Nas vantagens de localização, os investimentos diretos da Petrobras no Cone
Sul, sobretudo na Argentina, garantem as sinergias de recursos. Na aquisição da Pecom,
foi levado em consideração o fato da empresa possuir recursos complementares e
atividades desenvolvidas muito parecidas com a da Petrobras no Brasil: exploração e
produção, refino, transporte por dutos, comercialização, distribuição, gás e energia,
petroquímica. A Pecom também possuía o mesmo perfil de investimento da Petrobras
com concentração em exploração e produção, o que criou maiores possibilidades de
criação de sinergias nas atividades técnicas relacionadas a E&P (ver gráficos 3.4 e 5.1).
Assim, uma das vantagens de localização da aquisição da Pecom ocorre com a atuação
integrada da Petrobras com recursos complementares num mercado geograficamente
próximo.
125
Também com a aquisição da Pecom a Petrobras teve acesso às sinergias das
atividades interdependentes da cadeia petrolífera, como a Petroquímica, no mercado
Argentino. Com a aquisição da Pecom a empresa assumiu o controle da Innova, situada
no Pólo Petroquímico Triunfo, no Rio Grande do Sul, criada em 1997 pela Perez
Companc. A Innova possui 30% do mercado interno de poliestireno e é uma das
maiores empresas petroquímicas de 2ª geração. Antes da aquisição o grupo argentino
possuía 40% de participação na Petroquímica Cuyo, na província de Mendonza,
Argentina.
Nas atividades na África e Golfo do México, a vantagem de localização da
Petrobras está relacionada à presença de reservas de petróleo, isto é exploração de
vantagens comparativas, principalmente em águas profundas.
As subsidiárias da Petrobras não exploram vantagens de localização como mão-
de-obra e matérias-primas mais baratas, uma vez que mão-de-obra requerida nas
atividades petrolíferas é específica e de alta-qualificação e as matérias primas da
indústria é o petróleo e o gás natural, que possuem preços regidos internacionalmente.
Uma das razões pela qual a empresa decide se internacionalizar é para explorar
as vantagens de internalização (I). Esta vantagem segue o raciocínio das teorias da
internalização (Buckley e Casson, 1976; Rugman, 1980) e custos de transação
(Williamson, 1975). Com vimos no capítulo III, a integração vertical é uma
característica presente em quase todas as empresas petrolíferas. A volatilidade e
incerteza dos mercados intermediários fazem com que as empresas procurem a
substituição de transações comerciais por transações internas, permitindo à
administração planejar o fluxo de petróleo e derivados do poço até o consumidor final e
também proteger os conhecimentos da empresa envolvidos nessas operações. Assim, em
relação a proximidade do mercado argentino uma vantagem de internalização da
Petrobras em ter adquirido a Pecom são as economias de transação de recursos do Brasil
para a Argentina e vice-versa. Com a aquisição da Pecom, além da vantagem de
presença de recursos complementares, há vantagem de menores custos de transporte e
comunicação por serem mercados geograficamente próximos, pois se comparado à
atividade exportadora, a implantação de uma subsidiária possibilita maior integração,
assimilação e adaptação ao mercado estrangeiro. Como vantagem de internalização de
conhecimentos e tecnologias na aquisição da Pecom, os entrevistados citaram, a
126
internalização de competências e conhecimentos no manejo de campo maduros e
geração de energia elétrica.
Como vantagem do IDE nos EUA, com a aquisição da refinaria de Pasadena no
Texas, destacamos a diminuição de custos de transação, a vantagem vem da exportação
do petróleo pesado produzido na Bacia de Campos para a refinaria nos EUA. Ganha-se
valor no refino, pois os custos de transporte de petróleo cru são menores para a
Petrobras do que exportar derivados de petróleo.
Para Dunning (1998) as preferências de localização dos IDEs assumem que os
diferentes tipos de investimentos em diferentes regiões não dependem do tipo de
atividade com a qual a multinacional está comprometida, mas com os motivos para a
realização dos investimentos e se esses investimentos são completamente novos ou
seqüenciais. Nesta linha são entendidas quatro estratégias que estão ligadas aos motivos
que as empresas têm para se internacionalizar: resource seeking, market-seeking,
efficiency-seeking, strategic asset-seeking.
O objetivo da internacionalização inicial da Petrobras nas décadas de 70 e 80 era
a busca de suprimentos para o mercado brasileiro. Assim, podemos dizer, que o
principal motivo da atuação internacional era resource seeking, isto é, a intenção era
explorar recursos naturais (reservas de petróleo) dos países nos quais a empresa possuía
unidades de exploração e produção.
Na década de 90 a estratégia da Petrobras era tipo efficiency-seeking, isto é, dado
ao período de reestruturação pelo qual passou, procurou racionalizar seus recursos e
começou a explorar sinergias nos mercados da América do Sul. Nos anos 2000, mais
especificamente em 2002 com a aquisição da Pecom, a Petrobras passou a atuar com a
strategic asset-seeking. Essa estratégia tem objetivos mais amplos, pois enxerga a
subsidiária como peça importante na estratégia regional e global da empresa. O objetivo
da Petrobras traçado no plano estratégico 2015 é tornar-se líder na América Latina.
Assim, para a Petrobras a montagem de uma sólida base na Argentina, com a aquisição
da Pecom, serve de apoio para a expansão continental de novos mercados, como
Paraguai, Uruguai e Chile. A proximidade geográfica desses mercados também visou
uma integração logística entre Petrobras e suas subsidiárias no Cone Sul.
127
De acordo com os teóricos de Uppsala (Johanson e Vahlne, 1977), quanto mais a
firma investe em determinado mercado, adquire conhecimento sobre este, e então, é
maior sua aptidão para investir novamente no mercado, alocar recursos e assim
sucessivamente. Em um primeiro momento a empresa decide exportar, em seguida
estabelece uma subsidiária de venda e finalmente uma subsidiária de produção. Com
esta seqüência pretende-se que a empresa obtenha o conhecimento suficiente para
reduzir os riscos do investimento direto externo.
Em relação à teoria de Uppsala, percebemos que a internacionalização da
Petrobras parece não seguir o gradualismo em termos de etapas seqüenciais de entrada
no mercado estrangeiro. Podemos dizer que houve algum gradualismo em relação ao
IDE feito nos EUA, mesmo assim, a teoria de Uppsala parece não explicar
completamente a decisão da aquisição nos EUA, pois questões como distâncias
psíquicas não foram levadas em consideração pela empresa, nessa aquisição.
A Petrobras foi criada nos 50 para atender às necessidades internas de consumo
de petróleo e durante todo seu histórico de internacionalização as atividades
exportadoras foram operações secundárias. Os maiores fluxos de exportações e
importações da Petrobras sempre estiveram ligados à venda de petróleo pesado extraído
na Bacia de Campos e compra de petróleo leve, sobretudo do Oriente Médio. O petróleo
pesado tem qualidade inferior e exige maiores custos de refino do que o petróleo leve,
extraído nas regiões do Oriente Médio. Por isso é cotado no mercado internacional com
menores preços. Ainda hoje as exportações e importações da Petrobras possuem esse
perfil, pois a maior parte das refinarias brasileiras, apesar das adaptações tecnológicas
feitas nas últimas décadas, foram construídas numa época em que o Brasil importava
cerca de 80% do petróleo que consumia. Os principais compradores de petróleo pesado
são os EUA, pois possuem mais refinarias com o perfil tecnológico adequados para o
refino desse tipo de óleo.
Nesse sentido, podemos dizer que a decisão de IDE por meio da aquisição da
refinaria de Pasadena no Texas teve relações com os fluxos de exportação de óleo
pesado da Petrobras para aquele mercado, mas não pode ser explicada somente por esse
fato. Pois, como afirmou um dos entrevistados, a intenção da empresa, com essa
operação, é ganhar valor no refino, pois a lucratividade advinda da venda do óleo
pesado no mercado norte-americano, é baixa.
128
Um fato que questiona o seqüenciamento de etapas de internacionalização é que
observamos vários movimentos de desinvestimento no exterior, tanto em termos de
vendas de ativos, como devolução de campos pouco rentáveis (Ver Figura 4.6). Até
meados da década de 1990, as atividades da Petrobras no exterior se concentravam em
exploração e produção e uma das características dessa atividade é o caráter temporário,
isto é, a empresa investe em operações em determinada reserva até esta se esgotar. O
envolvimento de ricos geológicos e políticos das atividades de E&P também contribuem
para que as empresas petrolíferas façam desinvestimentos, pois um poço perfurado pode
não ter viabilidade econômica ou estar numa região de muito conflito ou guerra que não
compense os investimentos.
O modo descontínuo de internacionalização da Petrobras também pode ser
explicado em parte pelas parcerias internacionais com as grandes petrolíferas em
diversas partes do mundo. O processo de exploração e produção de petróleo é muito
custoso e envolve incertezas de várias naturezas, por isso é muito comum o
estabelecimento de parcerias estratégicas para a exploração de um poço. Essas parcerias
têm caráter temporário, isto é, ficam em vigência até as operações naquele poço se
encerrar (Conde, 2005). Essa característica das parcerias das empresas petrolíferas nas
atividades de exploração e produção consolidou o comportamento da Petrobras de se
comprometer no estrangeiro de forma descontínua. Destacamos também que as
parcerias são um meio para a empresa adquirir conhecimento com as operações
estrangeiras e tecnologias em campos petrolíferos.
“... as alianças/redes consistem em um componente crítico para o
sucesso de seu direcionamento estratégico de internacionalização,
dado que todas as atuações até hoje realizadas envolvem o processo de
alianças”. (Conde, 2005:158).
“ A Petrobras para atuar em diversas regiões precisa de alianças
estratégicas porque é pequena comparada com as outras empresas
internacionais do setor”.
41
A Petrobras também parece não seguir a premissa de Upssala de que a empresa
escolhe países com menor distancia cultural para atuar. De acordo com alguns estudos
brasileiros sobre internacionalização, como o de Leite (1981), a Argentina é
41
Engenheira de produção da área de estratégia corporativa internacional, entrevista realizada em 09 de
Março de 2006.
129
considerado um país culturalmente próximo do Brasil. Entretanto, o motivo de
realização da aquisição da Pecom e das outras empresas no mercado argentino não pode
ser explicado pela “proximidade psíquica”, mas sim pela oportunidade que o negócio
oferecia como: a desvalorização monetária das empresas, dado o momento de crise do
país; a existência de reservas de óleo e gás natural, não só na Argentina, mas também
nos outros países em que a Pecom possuía subsidiárias; as de sinergias das atividades da
Pecom com as atividades da Petrobras no Brasil.
“... a Petrobras vai para os países que oferecem boas oportunidades.
Foi para a Argentina e Bolívia não porque era mais fácil, nem porque
a “distância psíquica” era pequena, mas porque existia uma forte
sinergia dos recursos e potencialidades da empresa nesses países”
42
.
Portanto, em relação à teoria de Upssala observamos na Petrobras muito mais
uma descontinuidade nos modos de entrada, ao estilo de ‘queimar etapas’, aliado a uma
orientação para o mercado petrolífero, isto é, a empresa atua onde há possibilidade de
exploração de reservas, independente se o país é parecido ou não com o Brasil.
A contribuição de Uppsala pode ser em relação ao aprendizado organizacional
pela qual a área internacional tem passado, após a série de aquisições internacionais no
início da década de 2000, dados os relacionamentos estabelecidos com as subsidiárias.
Ao ingressar em mercados externos via aquisição, o treinamento dos recursos humanos
em gestão internacional torna-se mais crítico, pois, de acordo com a teoria de Uppsala, o
processo de aprendizagem, que permite a expansão internacional, ocorre por meio das
pessoas que estão a cargo dos negócios no exterior (Rocha, 2002).
Na percepção dos entrevistados, há um consenso de que o modelo de gestão
internacional da Petrobras ainda está sendo construído e é um momento de
aprendizagem de gestão internacional para a Petrobras. No caso Pecom, após o primeiro
momento de integração entre as empresas, que foi relatado nas entrevistas como
conflituoso, houve o alcance de sinergias em relação nas áreas técnicas das atividades
petrolíferas, mas o modelo de gestão da subsidiária ainda está sendo construído. “... a
ANI ainda não tem um modelo de gestão definido por ser uma área nova; ainda é uma
área em andamento...
43
42
Economista área de estratégia corporativa internacional, entrevista concedida dia 09 de Março de 2006.
43
Assistente da Gerencia Executiva de Suporte Técnico aos Negócios Internacionais, entrevista realizada
em 06 de Junho de 2006.
130
Neste trabalho tratamos apenas a visão da matriz sobre as operações
estrangeiras. Na medida em que a matriz reduz sua incerteza sobre as operações
estrangeiras, ela pode aportar maiores investimentos na subsidiária, tanto em termos
financeiros, como em termos estratégicos no que tange à alocação de recursos e
capacidades sob responsabilidade da subsidiária. Dessa forma, a internacionalização
pode ser entendida como um processo de acúmulo de conhecimento através de
aprendizagem das empresas.
Entendemos que a percepção da matriz não é o único fator que vai explicar o
maior ou menor comprometimento da operação estrangeira. No campo da
internacionalização os estudos mais recentes apontam que o gradualismo não é uma
regra. A teoria das Redes dá subsídios para entender a internacionalização que ocorre de
modo descontínuo, como é o caso da Petrobras.
A teoria das redes supera a limitação de enxergar a internacionalização de modo
progressivo, pois não a entende como um fenômeno que se restringe ao modo de
entrada no mercado, mas ao próprio processo de evolução das subsidiárias, onde os
relacionamentos estabelecidos pelas subsidiárias durante sua evolução no mercado
internacional são graduais, mas a seqüência dos modos de entrada pode ser descontínua.
A teoria das redes poderia ser rica para entendermos os desenvolvimentos internacionais
da Petrobras no Cone Sul. Entretanto, essa abordagem requer pesquisas junto às
subsidiárias, o que não tivemos a oportunidade de fazer no âmbito deste trabalho. Dessa
forma, o escopo de nossa pesquisa foi definido para a investigação da estratégia de
aquisição internacional, suas motivações e os aspectos gerenciais envolvidos no
processo pós-aquisição na visão da matriz.
131
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na atuação do Estado brasileiro no período de reestruturação dos anos 90, havia
duas posições bem claras: os que acreditavam no crescimento automático dos diversos
setores após a abertura do mercado e privatização e os críticos desse processo, que
previam estagnação e perda de competitividade das empresas nacionais em relação as
multinacionais. Entendemos que para o setor petrolífero nenhuma dessas previsões se
concretizou.
Embora após o processo de privatização parcial a Petrobras ter se tornado
basicamente uma empresa restrita às atividades da cadeia petrolífera (exploração,
produção, refino e distribuição) e ter se distanciado da estratégia típica dos grandes
players petrolíferos internacionais, a empresa conseguiu manter-se competitiva,
aumentando seus investimentos e perseguindo metas de internacionalização crescentes.
Com a aprovação da lei 9.478 de 1997 (Lei do Petróleo) inicia-se um novo
período da indústria do petróleo no Brasil. Com essa lei, o monopólio da Petrobras foi
flexibilizado. Após a quebra do monopólio a trajetória dos investimentos realizados pela
Petrobras foi crescente. Os últimos 10 anos representam a fase de maior investimento da
história da empresa, atingindo patamares que não eram vistos desde a década de 1970 e
início da de 80, quando a estatal deu o grande impulso à produção de petróleo em larga
escala no Brasil, com a entrada em produção da Bacia de Campos.
Os objetivos de internacionalização da empresa foram mudando ao longo das
décadas. Nos anos 70, quando foi criada a Braspetro, a estratégia era para garantia de
petróleo no mercado interno. Na década de 1980, além da garantia de suprimento,
iniciou-se a internacionalização para a expansão dos negócios. Mas somente no final da
década de 1990, após a Lei do Petróleo, é que houve uma ação mais estruturada e
planejada de atuação em mercados internacionais. Na década de 2000, a Petrobras
pautou sua atuação internacional pela abertura de novas frentes de negócios em
mercados estratégicos e a consolidação de atividades nos países onde já tem presença
marcante, como a Argentina. Alinhada aos objetivos da visão 2015, entre os quais figura
o de que a companhia tenha forte presença internacional e seja empresa de energia líder
na América Latina, a Petrobras realizou uma série de aquisições no Cone Sul.
132
Ao adquirir o controle acionário da Pecom, a Petrobras avançou rumo a seu
objetivo de tornar-se líder na América Latina. Após a aquisição, cerca de 80% da receita
da área internacional provém do Cone Sul. Neste trabalho, nos detivemos na relação da
visão baseada em recursos com aquisições internacionais. As aquisições como estratégia
de entrada em mercados internacionais normalmente proporcionam rápido acesso aos
recursos tangíveis e intangíveis da firma adquirida, assim como recursos específicos do
país.
Nessa perspectiva a aquisição da Pecom significou, para a Petrobras, o
crescimento e consolidação da estratégia internacional, com retomada de diversificação
de atividades diminuídas no início da década de 1990 e aproveitamento de sinergias no
Cone Sul. Dentre os motivos para a aquisição da Perez Companc dois são principais: a
crise argentina como oportunidade para a aquisição da empresa e a conveniência do
aumento de portfólio da Petrobras em um país próximo, com possibilidades de gerar
sinergias com as atividades da empresa no Brasil.
As diferenças de cultura - tanto organizacional quanto as diferenças de cultura
entre Brasil e Argentina - foram dificultadoras da integração entre as duas empresas. No
processo de integração da Petrobras com a Perez Companc houve muita resistência dos
argentinos. As dificuldades de gestão da Petrobras na subsidiária Argentina foram
atribuídas a dois fatores principais: a decisão da Petrobras de manter os funcionários da
empresa, e ao fato da empresa não ter planejado um projeto de gestão da mudança logo
após a aquisição.
Em relação ao alcance de sinergias com as atividades da subsidiária adquirida,
entendemos que a Petrobras encontra-se num estágio intermediário. De acordo com o
modelo de Cullinan, Leroux e Weddigen (2004), do mapa das sinergias, podemos dizer
que a Petrobras e Pecom encontram-se no terceiro círculo que diz respeito às
habilidades compartilhadas. Após o primeiro momento de integração da Petrobras com
a Pecom, que foi relatado nas entrevistas como conflituoso, houve uma melhor
integração das empresas. No caso Pecom, após os primeiros momentos de integração
das empresas, houve o alcance de sinergias em relação, principalmente, às áreas
técnicas das atividades petroleiras. Nesse sentido, nossa pesquisa corrobora os estudos
de Bresman, Birkinshaw, Nobel (1999) de que, nas fases iniciais após uma aquisição
internacional, a transferência de conhecimento e a interação se dão de forma
133
relativamente hierárquica ou impositiva da matriz para a subsidiária. Conforme o tempo
decorrido da operação de compra, o processo se torna mais recíproco, isto é, há uma
maior interação e as trocas de conhecimento acontecem da matriz para a subsidiária e da
subsidiária para a matriz.
A teoria do paradigma eclético é interessante para explicar a internacionalização
via IDE da Petrobras, pois percebemos claramente as vantagens (da firma, de
localização e de internalização) da empresa como meio de impulsionar sua atuação
internacional. Como vantagem da firma, destacamos: na África e Golfo do México a
vantagem da Petrobras é aproveitar sua competência e propriedade de tecnologias em
exploração de petróleo em águas profundas como um diferencial para competir. No
final da década de 1990 e início dos anos 2000, com a intensificação da
internacionalização por meio de aquisições, é que podemos dizer que está havendo uma
vantagem de aprendizado de gestão internacional mais consolidado. Um dos fatores de
dificuldades de gestão da Petrobras, após a aquisição da Pecom e das outras subsidiárias
adquiridas, foi a falta de experiências anteriores em gestão de subsidiárias
internacionais.
Como vantagens de localização, os investimentos diretos da Petrobras no Cone
Sul, sobretudo na Argentina, destacamos as sinergias de recursos. Na aquisição da
Pecom, foi levado em consideração o fato da empresa possuir recursos complementares
e atividades desenvolvidas muito parecidas com a da Petrobras no Brasil. Nas atividades
na África e Golfo do México, a vantagem de localização da Petrobras está relacionada à
presença de reservas de petróleo, isto é exploração de vantagens comparativas,
principalmente em águas profundas.
Com a aquisição da Pecom, além da vantagem de presença de recursos
complementares, há vantagem de menores custos de transporte e comunicação por
serem mercados geograficamente próximos. Se comparado à atividade exportadora, a
implantação de uma subsidiária possibilita maior integração, assimilação e adaptação ao
mercado estrangeiro. Como vantagem do IDE nos EUA, com a aquisição da refinaria de
Pasadena no Texas, destacamos a diminuição de custos de transação, a vantagem vem
da exportação do petróleo pesado produzido na Bacia de Campos para a refinaria nos
EUA. Ganha-se valor no refino, pois os custos de transporte de petróleo cru são
menores para a Petrobras do que exportar derivados de petróleo.
134
Nos anos 2000, mais especificamente em 2002 com a aquisição da Pecom, a
Petrobras passou a atuar com a strategic asset-seeking. Essa estratégia tem objetivos
mais amplos, pois enxerga a subsidiária como peça importante na estratégia regional e
global da empresa. O objetivo da Petrobras, traçado no plano estratégico 2015, é tornar-
se líder na América Latina. Assim, para a Petrobras a montagem de uma sólida base na
Argentina, com a aquisição da Pecom, serve de apoio para a expansão continental de
novos mercados, como Paraguai, Uruguai e Chile. A proximidade geográfica desses
mercados também visa uma integração logística entre Petrobras e suas subsidiárias no
Cone Sul.
Ao analisarmos o histórico de atuação internacional da Petrobras percebe-se que
seu modelo de internacionalização parece não seguir o gradualismo em termos de etapas
seqüenciais e também não seguir a premissa da empresa procurar países com menor
distancia cultural. Portanto, em relação à teoria de Upssala observamos na Petrobras
muito mais uma descontinuidade nos modos de entrada, ao estilo de ‘queimar etapas’,
aliado a uma orientação para o mercado petrolífero, isto é, a empresa atua onde há
possibilidade de exploração de reservas, independente se o país é parecido ou não com o
Brasil.
Dessa forma, em relação às formas de entrada no mercado internacional, nosso
estudo sobre a Petrobras vai de encontro às conclusões da pesquisa da Fundação Dom
Cabral (FDC, 2002) sobre internacionalização de empresas brasileiras. Esta revela que,
de forma geral, as operações internacionais das empresas brasileiras seguem o caminho
iniciado com as exportações. A partir de um envolvimento internacional por meio de
exportações, as empresas geralmente fazem uso de um agente de exportação, da
instalação de escritórios de vendas, e só posteriormente é que montam unidades
produtivas.
A contribuição de Uppsala pode ser em relação ao aprendizado organizacional
pela qual a área internacional tem passado após a série de aquisições internacionais no
início da década de 2000 dados os relacionamentos estabelecidos com as subsidiárias.
Ao ingressar em mercados externos, via aquisição, o treinamento dos recursos humanos
em gestão internacional torna-se mais crítico, pois de acordo com a teoria de Uppsala, o
processo de aprendizagem que permite a expansão internacional ocorre através das
pessoas que estão a cargo dos negócios no exterior (Rocha, 2002).
135
A análise da internacionalização da Petrobras corrobora também as pesquisas de
Furtado (2004); Gonçalves (1998) e de Goulart, Arruda e Brasil (1996) sobre padrões de
competitividade e internacionalização de empresas brasileiras. Nessa perspectiva, entre
os setores brasileiros com melhores níveis de competitividade e que conseguiram se
internacionalizar, encontram-se os segmentos fortemente apoiados em recursos naturais
e energia. Furtado (2004), ressalta que nesses setores a estrutura anterior à abertura da
economia era densa, com fragilidades pontuais.
Dessa forma, na linha Goulart, Arruda e Brasil (1996), podemos dizer que a
internacionalização da Petrobras teve relações diretas com suas de vantagens
competitivas no mercado doméstico. Desde após o primeiro choque do petróleo, o grupo
Petrobras não é só o primeiro do Brasil e da América Latina; coloca-se entre as trinta
melhores empresas do mundo. Em 1982, atinge posição entre as dez melhores, situando-
se no sétimo lugar no ranking mundial (Alveal, 1994). A Petrobras é líder mundial em
exploração em águas profundas e recebeu em 1992, o prêmio da Offshore Tecnology
Conference (OTC), reconhecimento internacional à tecnologia na produção até dois mil
metros de profundidade. Ainda hoje, a Petrobras mantém a liderança na produção de
petróleo em águas profundas, produzindo a 1.853 metros, no campo de Roncador, na
Bacia de Campos, tendo seu esforço reconhecido pela segunda premiação pela OTC em
2001.
No caso da Petrobras, ter implantado uma estratégia própria de expansão é um
feito de natureza política que faz a diferença dos núcleos diretores da Petrobras.
Entretanto, a liderança exercida pelos núcleos diretivos da estatal deve-se
principalmente desempenho de sua face empresarial (Alveal, 1994). Desse modo,
embora a estratégia da estatal seja orientada por alianças e negociações políticas
específicas, o funcionamento de sua ação é sua dinâmica de desempenho
microeconômico como empresa. Nessa lógica a estatal vincula-se objetivamente à rede
de relações entre empresas, incorporando a mesma lógica de atores privados.
O fato de se estar pesquisando a internacionalização de uma empresa de controle
estatal, que possuiu o monopólio do mercado de petróleo no Brasil por mais de 40 anos,
aponta para uma série de especificidades que não são verdadeiras ou representativas
para empresas brasileiras privadas que estão perseguindo estratégias internacionais. Ao
contrário, algumas conclusões deste trabalho são válidas apenas para o contexto da
136
Petrobras. Isso se explica pela própria natureza do método do estudo de caso, que
tornam impróprias generalizações acerca dos resultados da pesquisa e também pelo fato
de as empresas brasileiras que possuem IDE por meio de aquisições são em sua
totalidade privadas e orientadas para o lucro e não possuem a face estatal que orienta a
Petrobras a realizar objetivos políticos e macroeconômicos.
Em relação às limitações desta pesquisa, destacamos primeiramente o método
escolhido. Uma abordagem de estudos de caso, baseado em pesquisa qualitativa e suas
técnicas de coleta de dados possuem algumas limitações. Nesse tipo de estudo, o
pesquisador fica dependente das interpretações do entrevistado em relação aos fatos e de
sua disposição em compartilhar suas experiências. A coleta de dados por meio de
entrevistas pessoais requer um alto envolvimento do pesquisador no processo de
pesquisa. Dessa forma, para minimizar nossas opiniões pessoais fizemos abundante uso
de citações dos entrevistados, a partir das anotações feitas durante as entrevistas.
Proporcionamos, assim, um maior contato do leitor com os dados coletados.
Uma segunda limitação está associada ao fato de pesquisamos o caso da
aquisição da Pecom apenas pelo lado da adquirente (Petrobras) e não comparamos
opiniões dos dirigentes da empresa adquirida em relação à operação da Petrobras. Essa
decisão também influenciou nosso critério de escolha dos entrevistados. O escopo de
nossa pesquisa foi definido para a investigação da estratégia de aquisição internacional,
suas motivações e os aspectos gerenciais envolvidos no processo pós-aquisição. Por
isso, como critério de escolha dos entrevistados, preferimos membros da alta gerência,
ou seja, pessoas que estavam de alguma forma envolvidos na operação de compra e
gerenciamento da Pecom.
Nesta dissertação contemplamos a visão da matriz corporativa sobre as
operações estrangeiras. Pesquisamos o caso da aquisição da Pecom pelo lado da
adquirente (Petrobras). As pesquisas mais recentes sobre da Internacionalização
apontam que a percepção da matriz não é o único fator que explica o maior ou menor
comprometimento da operação estrangeira. A internacionalização é um fenômeno que
não se restringe ao modo de entrada, mas ao próprio processo de evolução das
subsidiárias, onde os relacionamentos estabelecidos pelas subsidiárias durante sua
evolução no mercado internacional são graduais, mas a seqüência dos modos de entrada
é descontínua.
137
Portanto, além da percepção da matriz, as subsidiárias desempenham papel
decisivo no maior comprometimento da multinacional no país estrangeiro. Quanto
maior a integração da subsidiária na rede externa do país estrangeiro e maior e seu grau
de integração com a rede interna (subsidiárias e matriz) da corporação multinacional
(Nohria e Ghoshal, 1997), maior o comprometimento tanto em termos de recursos,
capacidades e competências da multinacional no país estrangeiro. Isso explica porque
muitas vezes certas empresas não seguem a forma seqüencial dos modos de entrada.
Nesse sentido, nossa sugestão de pesquisa é entender melhor o envolvimento e evolução
das subsidiárias da Petrobras no mercado Argentino.
Em nossas entrevistas, percebemos o aumento da preocupação dos executivos
em relação ao crescimento da área internacional nos últimos anos e as complexidades
gerenciais que esse crescimento tem implicado. Podemos dizer que essas preocupações
refletiram no crescimento de programas de gestão do conhecimento na ANI. Dessa
forma, analisar as estratégias de gestão do conhecimento nas relações da Petrobras com
as subsidiárias é uma segunda sugestão de pesquisa. A literatura sobre aquisições
mostra a importância da transferência de conhecimento para a criação de valor nas
aquisições. Nossa sugestão seguiria a linha do trabalho de Bresman, Birkinshaw, Nobel,
(1999). Os autores estudaram especificamente a transferência de conhecimento após o
processo de aquisição internacional, com foco nos padrões de interação entre a firma
adquirente e a unidade adquirida, e o impacto desses padrões na transferência de
conhecimento.
138
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pdf
144
ANEXOS
145
Apêndice I
Apresentação do Pré-Projeto de Pesquisa aos Entrevistados
Prezado Sr. (a)
Sou mestranda em Administração na PUC-SP. Meu objeto de pesquisa no
Núcleo de Pesquisa em Competitividade e Estratégia Internacional é o processo
internacionalização da Petrobras, assim o Programa de Pós Graduação em
Administração da PUC-SP solicita sua participação na pesquisa Multinacionais
Brasileiras: O Processo de Internacionalização das Empresas Brasileiras, coordenada
pelo professor Dr. Moacir de Miranda Oliveira Jr. Esta pesquisa já está sendo conduzida
em outras empresas multinacionais brasileiras, tais como: O Boticário, CSN, Odebrecht
e Embraer e sua contribuição em muito nos enriquecerá.
Caso seja de sua vontade participar, a entrevista seria realizada de acordo com a
sua disponibilidade. A entrevista leva em média 30 minutos.
Abaixo, mando os tópicos sumarizados que pretendemos discutir. Desde já
assumimos o compromisso de que a pesquisa serve a propósitos estritamente
acadêmicos e que os resultados serão submetidos à apreciação da empresa antes de sua
publicação.
Desde já agradecemos sua atenção
Atenciosamente,
Fernanda Cecília Ferreira Ribeiro
Mestranda em Administração – PUC-SP
e
Moacir de Miranda Oliveira Jr.
Vice-Coordenador do Programa de Pós em Administração - PUC-SP e líder do Núcleo
de Pesquisa em Competitividade e Estratégia Internacional.
146
Briefing da Pesquisa
Multinacionais Brasileiras: O Processo de Internacionalização das Empresas
Brasileiras
A pesquisa consiste em realizar estudos de caso exploratórios com as maiores empresas
multinacionais brasileiras.
O Brasil apresenta tímida participação em investimentos diretos no exterior e
competitividade inferior, quando comparado a outros países em desenvolvimento.
Nestes países, o tema da internacionalização deve assumir um papel cada vez mais
relevante no ambiente de negócios, na medida em que parece haver grande potencial
não realizado por parte de empresas oriundas de importantes economias emergentes
como Índia, China, México, Rússia e Brasil.
O objetivo é descrever e analisar o processo de internacionalização das multinacionais
brasileiras. A pesquisa investiga quais foram os motivos determinantes para a atuação
no exterior e quais as formas de atuação das empresas multinacionais brasileiras em
outros países.
Para a análise do processo de internacionalização serão consideradas as seguintes
questões para as entrevistas:
1. Quais os motivos para a internacionalização de suas operações?
2.
Quais as formas de entrada mercado externo adotadas pela empresa?
3. Quais os principais desafios observados no processo de internacionalização?
4.
Como as ações da empresa para superar os desafios?
5. Qual a contribuição das unidades no exterior para a organização?
147
Apêndice II
Roteiro Específico para Realização das Entrevistas
O roteiro para realização de entrevistas deve servir para orientar a discussão com
os entrevistados, escolhidos de forma intencional e de acordo com a relevância de suas
experiências e opiniões para a questão pesquisada. Dessa forma, as entrevistas
abordaram os seguintes temas.
7. Fatores motivadores para a aquisição;
8. Plano para a condução do processo pós-fusão;
9. Estratégias para a condução do processo de integração com a subsidiária
adquirida;
10. Principais problemas enfrentados pela empresa no processo pós-aquisição no
exterior dificuldades legais, culturais, problemas de governança, resistência
da empresa adquirida, etc;
11. Experiência da Petrobras na atuação internacional;
12. Modificação da estratégia da empresa após a aquisição.
Entrevista sobre o PROANI:
1. Quando surge.
2. Função fundamental.
3. Estrutura por trás.
Entrevista com expatriados no Brasil
1. Por que está aqui?
2. Com que objetivos?
3. Percepção sobre a transferência de conhecimento (tanto matriz-subsidiária
quanto subsidiária-matriz).
4. Estrutura de expatriação que a empresa monta.
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