CAPÍTULO 2 – Letramento no contexto escolar e currículo: considerações sobre documentos, teorias e práticas.
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didática, organização, planejamento, eficiência e objetivos. As teorias críticas se
caracterizam por enfatizar ideologia, reprodução cultural e social, poder, classe social,
capitalismo, relações sociais de produção, conscientização, emancipação e libertação,
currículo oculto, resistência. Já as teorias pós-críticas enfatizam identidade, alteridade,
diferença, subjetividade, significação e discurso, saber-poder, representação, cultura,
gênero, raça, etnia, sexualidade, multiculturalismo (Silva, 1999: 17).
Segundo Silva (1999), as teorias tradicionais se apresentam como neutras e
desinteressadas, tendo os saberes dominantes e as técnicas para o seu ensino definidos
previamente, ocupando-se da transmissão do conhecimento inquestionável. As teorias
críticas e pós-críticas questionam o porquê de se trabalhar determinados conteúdos e não
outros, procurando identificar a ideologia que se oculta em cada escolha. A partir destes
estudos, Padilha (2004) conclui que, diferentemente do caráter prescritivo apresentado
pelos conceitos iniciais de currículo, a amplitude dos conceitos atuais volta-se para a
necessidade de compreendermos o papel do currículo na escola, de nos reconhecermos
como sujeitos históricos e, portanto, construtores do currículo, de formularmos uma
pedagogia que seja culturalmente relevante sem se afastar do conhecimento formal.
Outros pesquisadores como Dayrell (2001) e Candau (2000) se ocupam das
discussões sobre as relações entre o particular e o universal, inerentes à diversidade
cultural que constitui o contexto escolar. Em pesquisa realizada em duas escolas públicas
noturnas de Belo Horizonte, Dayrell (2001) problematiza o modelo homogeneizante da
instituição escolar em que, independente de sexo, idade, origem social e experiências
vivenciadas, todos são considerados igualmente alunos e procuram a escola a partir das
mesmas necessidades. Para este autor, “à homogeneização dos atores como alunos
corresponde a homogeneização da instituição escolar, compreendida como universal”
(Dayrell, 2001: 2). Ele afirma, ainda, que, sob o discurso da democratização da escola e
educação para a cidadania, a perspectiva homogeneizante nega os particularismos das
especificidades culturais em prol de uma cidadania universal. Para o pesquisador, uma
outra forma de compreender os alunos é analisá-los na ótica da diversidade cultural,
considerando o acúmulo de suas experiências vivenciadas em múltiplos espaços, através
das quais elaboram sua própria cultura, atribuem sentido e significado ao mundo.