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MARIA DO CARMO GONZALEZ BORGES
A prática educativa e a proposta de formação acadêmica
para as educadoras que trabalham diretamente com crianças em
Creches: um estudo sobre a relação cuidar/educar na cidade de
Santos.
Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade.
PUC/SP
SÃO PAULO
2006
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MARIA DO CARMO GONZALEZ BORGES
A prática educativa e a proposta de formação acadêmica
para as educadoras que trabalham diretamente com crianças em
Creches: um estudo sobre a relação cuidar/educar na cidade de
Santos.
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de MESTRE
em Educação: História, Política, Sociedade,
sob a orientação do Profº Dr. Marcos Cezar
de Freitas.
PUC/SP
SÃO PAULO
2006
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MARIA DO CARMO GONZALEZ BORGES
A prática educativa e a proposta de formação acadêmica
para as educadoras que trabalham diretamente com crianças em
Creches: um estudo sobre a relação cuidar/educar na cidade de
Santos.
4
DEDICATÓRIA
A todas as profissionais-docentes da
infância, que, com sua luta cotidiana,
constituem sua identidade profissional,
consolidando o espaço da educação da
criança pequenininha na sociedade.
Às crianças, que são a razão da minha
pesquisa.
Aos meus pais, Ares e Amélia,
companheiros incansáveis, pelo apoio sólido
em todas as fases da minha vida.
Ao Professor Doutor Marcos Cezar de
Freitas, exemplo de educador dedicado e ser
humano comprometido com outros seres
humanos.
5
AGRADECIMENTOS
Ao Criador, que conhece minhas necessidades e proporciona situações para que
eu as supere.
Ao Professor- Doutor Marcos Cezar de Freitas, pela competência e presteza com
que sempre me orientou.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação: História, Política,
Sociedade, pelas contribuições teóricas, em especial aos professores: José
Geraldo S. Bueno, Odair Sass, Bruno Bontempi Junior, Luciana Maria Giovanni,
Kazumi Munakata, Paula Perin Vicentini.
À Capes, pelo financiamento para a realização desta pesquisa.
Aos colegas do curso, pela partilha de ansiedades, descobertas e alegrias.
Aos sujeitos da pesquisa: as Monitoras de Creche da Rede Municipal de Ensino
de Santos, especialmente da Creche Casa da Criança, pela disponibilidade e
generosidade.
A todos os profissionais do Centro de Capacitação Permanente do Professorado
Santista Prof. Darcy Ribeiro, da Secretaria Municipal de Educação de Santos, que
estiveram ao meu lado, em corpo e espírito, dando suporte para que eu pudesse
estudar despreocupada.
Às minhas amigas-irmãs, Susanna Artonov e Selma M. R. S. de Lara, minhas
grandes incentivadoras e exemplos de educadoras e mulheres dedicadas e
comprometidas.
À amiga, Arimar Martins Campos, por sempre acreditar em mim, me dando ânimo
com sua alegria.
À amiga, Estela Maria de Mello, pelo auxílio nas horas incertas.
A toda minha família, Ares, Amélia, Marcio e Ângela, amigos, padrinhos,
compadres e afilhados, pela compreensão nas horas em que precisei afastar-me
e pela torcida e carinho de sempre.
Enfim, a todos que direta ou indiretamente compartilharam esse tempo tão
importante para o meu crescimento pessoal e profissional.
6
RESUMO
BORGES, Maria do Carmo Gonzalez. 2006. A prática educativa e a proposta de formação
acadêmica para as educadoras que trabalham diretamente com crianças em Creches: um estudo
sobre a relação cuidar/educar na cidade de Santos. Dissertação de Mestrado. Programa de
Estudos Pós-Graduados em Educação: História, Política, Sociedade, da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo.
Esta pesquisa tem por objeto de investigação o cotidiano das profissionais-docentes que atuam
diretamente com crianças pequenininhas nas Creches Públicas Municipais de Santos.
Personagens de uma atividade profissional tradicionalmente desvalorizada, no atual momento,
acabaram de viver a experiência da aquisição de formação em nível superior como resultado do
novo estatuto que a LDB Nº 9394/96 deu à Educação Infantil, mas também como conseqüência da
mobilização da categoria e das ações governamentais que estão a induzir a obtenção de uma
certificação (Bourdieu) com vistas a qualificar aquilo que fazem há anos, baseadas exclusivamente
na experiência adquirida. Tal situação oferece oportunidade para que se verifique o “impacto” da
formação em nível superior nas práticas educativas realizadas no interior da Creche, por meio de
análise dos questionários respondidos, de observação ¨in loco¨ e de entrevista semi-estruturada
com algumas Monitoras de Creche. Uma vez que essa tarefa esteve por muito tempo dissociada
das questões educacionais, o atual momento parece conter em si uma contradição que somente o
exame da questão poderá responder se é possível aliar as práticas educativas destas
profissionais, construídas socialmente, com o curso de Pedagogia oferecido, proporcionando uma
nova compreensão a respeito do cotidiano das Creches. Os resultados da pesquisa revelam que a
academia necessita considerar mais aspectos relacionados à educação da criança até 3 anos de
idade, mas também que esse fato vem sendo apreciado a partir do contato com as próprias
profissionais-docentes.
Palavras-chave: Pedagogia, Creche, Educadores da Infância, Educação Infantil, Concepção de
Infância.
7
ABSTRACT
BORGES, Maria do Carmo Gonzalez, 2006. The educationsal practice and the academic
curriculum proposed for educators who work directly with children in Day-care centers: a study on
the carg/education relationship in the in the city of Santos. Master's Degree Dissertation. Program
f Postgraduate Studies in Education: History, Politics, Society, Pontifícia Universidade Católica de
ão Paulo.
o
S
This research has the objective of investigating the daily life of the professional teachers who
work directly with little children at the Public Municipal Day-care Centers in Santos. They have
been working for years in a discreditcd position; besides that, they have recently been obliged to
an recently been obliged to get an undergraduate degree in Education as a result ofthe ''NEW
LDBEN 9394/96", but also as a consequence of the mobilization of the category and the
governmental actions that have forced them to get a degree in order to qualify for something they
had already been doing for years, based exclusively on their own experience. This situation has
given us an opportunity to verify the impact this university diploma has had on the educational
practices inside the Day-care centers. This was done through questionnaires, "in loco"
observation and semi-structured interviews with some educators. Since their professional practice
had been completely unrelated to the educational matter, the present moment seems to contain in
itself a contradiction that only the evaluation of this research can be able to clarify if it will be
possible to unite the educational practice of these professionals, which were built socially, to the
contents of the Pedagogy course, providing a new understanding regarding the daily lives at the
Day-care centers. The results of this research reveal that not only the academia must consider
more aspects related to the education of three-year-old children, but also that this fact has been
noticed from the contact among the professional educators.
Key-words: Pedagogy; Day-care; Center; Children Educators; Childhood Conception.
8
SUMÁRIO
LISTA DE SIGLAS ...............................................................................................09
LISTA DE TABELAS............................................................................................11
LISTA DE GRÁFICOS..........................................................................................12
LISTA DE ANEXOS..............................................................................................13
LISTA DE APÊNDICES........................................................................................14
INTRODUÇÃO......................................................................................................15
CAPÍTULO 1 - A Educação Infantil no contexto mundial e nacional: tensões e
conquistas....................................................................................28
1.1 - Infância,instituições e seus profissionais:a história de muitas histórias.....28
1.2 - As legislações educacionais e os cursos de formação dos profissionais
da infância: impactos, ambigüidades e perspectivas..................................53
CAPÍTULO 2 - O contexto das Creches santistas e suas profissionais-docentes71
2.1 - Caminhos e descaminhos da implantação das Creches geridas
diretamente pela administração municipal de Santos............................71
2.2 - A configuração das Creches Municipais santistas nos dias atuais............80
2.3 - Os dados coletados a partir do questionário: uma visão mais
aprofundada do segmento Monitor de Creche.........................................88
2.3.1 - Os dados de identificação pessoal e profissional das Monitoras
de Creche....................................................................................90
2.3.2 - A experiência de trabalho e a formação escolar das Monitoras
de Creche....................................................................................97
2.4 - A Creche Casa da Criança: um relato das observações realizadas.......111
2.4.1 - Características gerais da instituição...........................................111
2.4.2 - A organização do ambiente: o espaço o tempo e a
intencionalidade educativa .......................................................113
2.4.3 - A interação adulto -criança e adulto-adulto: inter-relações. .....121
2.5 - A opinião das Monitoras de Creche sobre sua formação acadêmica e a
relação dessa com a prática educativa no trabalho com as crianças
pequenininhas: a escuta do sujeito da pesquisa................................. 124
9
CAPÍTULO 3 - A relação social entre a forma da Creche, a prática educativa das
profissionais-docentes que nela atuam e sua formação acadêmica
..................................................................................................146
3.1 - A forma escolar e a forma da Creche: regularidades e
singularidades.....................................................................................146
3.1.1 - A organização da escola e a organização da Creche:
diferenciando as “formas”.......................................................147
3.2 - Os cursos de Pedagogia e a singularidade do trabalho em Creche:
uma identidade profissional em construção ..........................................159
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................170
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................174
ANEXOS............................................................................................................184
APÊNDICES......................................................................................................199
10
LISTA DE SIGLAS
ADI - Auxiliar de Desenvolvimento Infantil.
ANPEd - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação.
ANFOPE - Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação.
ANPAE - Associação Nacional de Política e Administração da Educação.
AI-5 - Ato Adicional nº 05.
CODESP - Companhia Docas do Estado de São Paulo.
COEDI - Congresso Paulista de Educação Infantil.
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho.
CNE/CP - Conselho Nacional de Educação / Conselho Pleno.
CNE/CES - Conselho Nacional de Educação / Conselho de Ensino Superior.
DEPLAN - Departamento de Planejamento Educacional da Secretaria Municipal
de Educação de Santos.
DEPED - Departamento Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação de
Santos.
CEB - Câmara de Educação Básica.
CEBS -mara de Educação Superior.
CP - Conselho Pleno
DNC - Departamento Nacional da Criança.
D.O.U - Diário Oficial da União.
DSN - Doutrina Brasileira de Segurança Nacional.
DC - Desenvolvimento de Comunidade.
DNCr - Departamento Nacional da Criança.
DEPAC - Departamento de Ação Comunitária.
EJA - Educação de Jovens e Adultos.
EMEI - Escola Municipal de Educação Infantil.
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente.
FUNDEF - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
Valorização do Magistério.
FORUMDIR -
Fórum de Diretores das Universidades Públicas do País.
- Forúm Nacional em Defesa da Formação do Professor.
IPAI - Instituto de Proteção e Assistência à Infância.
INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social.
L.D.B.E.N. - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
L.D.B. - Lei de Diretrizes e Bases.
11
LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social.
MEC - Ministério da Educação e Cultura.
MDB - Movimento Democrático Brasileiro.
OMNI - Serviço Nacional para a Maternidade e Infância.
ONU - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
PMDB - Partido Movimento Democrático Brasileiro.
PMS - Prefeitura Municipal de Santos
PNE - Plano Nacional de Educação.
PROFIC - Programa de Formação Integral da Criança.
PT - Partido Trabalhista.
RCN-EI - Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.
RH - Recursos Humanos.
SEAC - Secretaria de Ação Comunitária.
SEDUC - Secretaria Municipal de Educação de Santos.
TCC - Trabalho de Conclusão de Curso.
UME - Unidade Municipal de Educação.
UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância.
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura.
UNIMONTE - Centro Universitário Monte Serrat.
12
LISTA DE TABELAS
TABELA 01 - Creches Municipais da Secretaria de Educação de Santos...........81
TABELA 02 - Proporção Monitora de Creche-criança e dimensão espaço-
quantidade.....................................................................................85
TABELA 03 - Número de Monitoras por Creche ..................................................86
TABELA 04 - Nível de escolaridade das Monitoras de Creche..........................105
13
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 01 - Porcentagem de questionários respondidos ...............................90
GRÁFICO 02 - Dados de identificação sobre a idade das profissionais ..............92
GRÁFICO 03 - Porcentagem em relação ao estado civil das entrevistadas ........93
GRÁFICO 04 - Local de nascimento das Monitoras de Creche ...........................93
GRÁFICO 05 - Declaração de cor das profissionais-docentes.............................94
GRÁFICO 06 - Tipo de moradia ...........................................................................95
GRÁFICO 07 - Cidade onde moram ....................................................................96
GRÁFICO 08 - Situação funcional das Monitoras de Creche ...............................97
GRÁFICO 09 - Ano de ingresso na PMS..............................................................98
GRÁFICO 10 - Tempo de experiência como Monitora de Creche de PMS..........99
GRÁFICO 11 - Exerceu outro trabalho antes de ser Monitora de Creche?...... ..101
GRÁFICO 12 - Experiência com crianças antes de ser Monitora de Creche......102
GRÁFICO 13 - Como adquiriu sua experiência como Monitora de Creche? .....104
GRÁFICO 14 - Em sua função, do que menos gosta?.......................................108
GRÁFICO 15 - Pretende mudar de cargo? ........................................................110
14
LISTA DE ANEXOS
ANEXO 01 - Organograma Secretaria de Educação.........................................185
ANEXO 02 - Organograma atual da Secretaria de Educação...........................186
ANEXO 03 - O Parqueano.................................................................................187
ANEXO 04 - Quadro de disciplinas do curso de Pedagogia da UNIMONTE.....195
15
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE 01 - Modelo de carta de apresentação e questionário ................. 200
APÊNDICE 02 - Roteiro de observação das práticas educativas das
Monitoras de Creche da Casa da Criança ..........................................204
APÊNDICE 03 - Roteiro para entrevista semi-aberta com as Monitoras de Creche
........................................................................................................ 205
APÊNDICE 04 - Relação de TCCs....................................................................206
16
INTRODUÇÃO
No Brasil, atualmente, a Educação Infantil e a formação dos profissionais-
docentes que atuam nesse segmento estão assumindo uma posição diferenciada
no cenário educacional, resultado de movimentos sociais e das conquistas
políticas de mulheres que conduziram a educação das crianças pequenas, até
seis anos à condição de direito estabelecido.
Diante de um cenário político que de certa forma sintetiza décadas de lutas
femininas, o perfil da profissional-docente
1
que trabalha com a criança pequena
merece ser investigado de perto. Este fato se deve à percepção de uma questão
que vem sendo constatada em várias regiões do país e que diz respeito à grande
diversidade de trajetórias pessoais e profissionais entre as pessoas que
trabalham diretamente com crianças neste nível, cada vez mais considerado
também, um nível de ensino, o que tem mobilizado opiniões favoráveis e
desfavoráveis à “escolarização” do cotidiano de crianças pequenininhas.
Além disso, pode-se afirmar que a utilização da expressão “profissional-
docente de Creche”, ao mesmo tempo que reconhece o significativo caráter
educacional de seu trabalho, considerado um ato docente, também demonstra a
suscetibilidade da “forma da Creche” à “forma da escola”.
As profissionais supramencionadas ingressaram nesse campo de atuação
em momentos históricos variados, incorporando diversas concepções de criança
e funções de Creche que predominavam em contextos sociopolíticos
1
Apesar da regra gramatical exigir que se use o masculino genérico quando houver um ou mais
homens, optou-se por utilizar o gênero feminino nas expressões ou palavras que indicam as
profissionais-docentes de Creche por serem as mesmas a grande maioria e por representarem um
grupo que se constituiu no contexto do movimento feminino de luta pelo direito a Creche.
17
diferenciados.
Após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
nº. 9394/96, que finalmente transferiu a responsabilidade do âmbito da
Assistência Social sobre as crianças pequenas deste nível de ensino para a
esfera da Educação, as mesmas profissionais se vêem seguidamente obrigadas a
cursar o Normal em ensino médio e, conforme a política do município em que
estão, o ensino superior, mais especificamente o curso de Pedagogia, pré-
requisito para continuar exercendo uma função que até recentemente realizavam
estando munidas de um “capital cultural” (Bourdieu, 1998) considerado suficiente
para a tarefa que desempenhavam.
Dissemina-se, de certa forma, o pressuposto de que novas políticas de
formação profissional construirão um novo perfil da “Profissional de Creche”.
Diante do exposto, é possível questionar qual é a influência dessa nova
formação acadêmica na prática educacional da educadora da criança
pequenininha. Para tanto, faz-se necessário levar em consideração a
necessidade de matizar as diversas opiniões que recaem sobre a formação da
profissional-docente de Creche, especialmente as opiniões das Monitoras de
Creche, termo utilizado pela Secretaria de Educação de Santos para designar a
função e objeto desta investigação.
No município de Santos, Estado de São Paulo, palco histórico de muitas
lutas políticas, encontra-se um terreno fértil para tal pesquisa. Mesmo antes da
promulgação da L.D.B.E.N. nº. 9394/96, políticas locais que tinham por objetivo o
atendimento de questões sociais, trouxeram algumas conseqüências ao seu
panorama educacional. Uma delas foi o aumento do número de Creches geridas
18
diretamente pela administração municipal.
A história da implantação de Creches Municipais geridas diretamente pela
Prefeitura de Santos é relativamente recente. Até 1988, havia apenas uma
Creche Municipal, vinculada à Secretaria de Assistência Social. Em 1993, o
número de Creches Municipais foi ampliado para sete. Também nessa época,
essas instituições passaram a ser de responsabilidade da Secretaria Municipal de
Educação. Algumas dessas instituições que atendiam a faixa etária de até seis
anos, e quando a L.D.B.E.N. foi promulgada, passaram a atender exclusivamente
as crianças de até 3 anos de idade. Atualmente, conta-se com 18 unidades
funcionando.
Outra conseqüência provocada pela Lei está relacionada ao oferecimento,
por parte do Poder Público local, da oportunidade das Monitoras de Creche
estatutárias-efetivas, que possuíam apenas o ensino médio, obterem formação
em nível superior, no curso de Pedagogia. Aliás, mais do que uma concessão do
Poder Público, trata-se de uma conquista, já que essa possibilidade vinha sendo
reivindicada há alguns anos pelas referidas profissionais.
As Creches da Rede direta do Município de Santos contam com um corpo
de funcionários formado por Equipe Técnica, que, até 2005, compunha-se de
Diretor e Coordenador Pedagógico, e que, a partir deste ano, teve o reforço de
um Assistente de Direção. Ainda trabalham funcionários da limpeza, do
administrativo, como auxiliares administrativos, e monitoras de creche. O quadro
de monitoras de Creche atualmente compõe-se de um total de 598 monitores
2
,
sendo que, desse número, 50 monitoras foram contratadas após julho de 2005 e
2
Importa ressaltar que, enquanto a instituição Creche esteve subordinada à Assistência Social,
não era considerada um nível de ensino.
19
30 estão cedidas para outros postos de trabalho ou encontram-se prestando
serviço na Secretaria de Educação ou, ainda, estão readaptadas, sem sede em
Creche. Dessa forma, atualmente temos 518 profissionais atuando nas Creches
Municipais como Monitoras de Creche.
Para atender a lei nº. 10.172/2001, que trata do Ensino Fundamental de 9
anos e que recentemente foi incorporada pela L.D.B.E.N., por meio da lei 11.274
de 06 de fevereiro de 2006, o município de Santos promoveu este ano o
remanejamento do grupo de crianças da faixa etária pertencente ao nível Infantil
IV, que foi acomodado ora em Pré-escolas, ora em Creches, conforme a
localização, o espaço físico das instituições e a demanda da clientela da região. O
mesmo aconteceu com as crianças de 6 anos, que ora estão sendo acomodadas
na Pré-escola, ora na escola de Ensino Fundamental.
Em grande parte por esse motivo, mas também com o propósito de
desmistificar o caráter assistencialista da instituição Creche e o caráter
preparatório da Pré-escola, a Secretaria Municipal de Educação propôs a
alteração das nomenclaturas utilizadas nas Unidades de Ensino. Assim, com a
aprovação da medida na Câmara dos Vereadores, todas as Creches Municipais
de Santos, bem como Pré-escolas e escolas de Ensino Fundamental, passarão a
chamar-se Unidades Municipais de Educação (UME). Tal medida já foi aprovada
pela Câmara dos Vereadores da cidade, mas não foi ainda publicada.
Com relação ao trabalho educativo das Monitoras de Creche, essas não
possuem espaço para reflexão coletiva, sendo que os Coordenadores
Pedagógicos aproveitam a hora do sono das crianças para realizar reuniões,
revezando os grupos de estudo, ou seja, enquanto um grupo assiste à reunião, o
outro toma conta das crianças durante o horário do sono. Esse aspecto dificulta o
20
processo de reflexão coletiva e de troca de experiências entre os profissionais.
Muitos profissionais que estudam as questões relacionadas à Creche, entre
eles, Fúlvia Rosemberg e Maria Malta Campos e, ainda, o próprio MEC, no
documento intitulado “Critérios para um Atendimento em Creches que respeite os
Direitos Fundamentais das Crianças” (1997), destacam a importância da
formação em serviço dos profissionais e de condições favoráveis para seu
aperfeiçoamento pessoal, educacional e profissional para o estabelecimento de
uma política de Creche comprometida com o bem-estar e o desenvolvimento da
criança. Aponta-se para a necessidade de encontrar um novo espaço de reflexão
coletiva, que ofereça condições profissionais dignas tanto para as profissionais
como para a segurança das crianças.
Com relação aos registros do trabalho, as monitoras têm por obrigação
preencher documentação relativa à freqüência da criança, acompanhar e executar
o roteiro de planejamento estabelecido pela Secretaria Municipal de Educação,
adaptando-o caso seja necessário, e ainda preencher a ficha individual de
avaliação/observação da criança semestralmente, conjuntamente com a monitora
que trabalha com a mesma criança no período contrário. Tal fato demonstra que a
“forma escolar” tem exercido grande influência na “forma da creche”, dando à
monitora de Creche encargos burocráticos que são comumente dados aos
professores na escola.
Quanto à formação das profissionais docentes que trabalham diretamente
com as crianças pequenas - as “Monitoras de Creche” -, inicialmente apenas
necessitavam gostar de crianças para serem contratadas. Havia a coexistência de
diferentes realidades de formação. Algumas possuíam apenas o antigo primário,
outras concluíram o 1
o
grau, outras o 2
o
grau e outras possuíam o antigo curso de
21
Magistério. Uma pequena minoria possuía certificado do curso de Pedagogia ou
outros cursos universitários.
Atualmente, as profissionais que ingressam para trabalhar na Creche,
diretamente com crianças pequenas, ainda têm como exigência a apresentação
do certificado de conclusão do ensino médio.
A Secretaria de Educação vem oferecendo o curso Normal em nível médio,
cuja duração é de dois anos, para as profissionais contratadas, na única Escola
Municipal de Ensino Profissionalizante. O curso oferece apenas as disciplinas
específicas do Magistério e é oferecido nos períodos matutino, vespertino e
noturno. O referido curso também tem suprido a demanda das profissionais que
trabalham em entidades conveniadas e particulares e que não possuem
condições financeiras para cursar o ensino superior.
Às profissionais estatutárias-efetivas, a Secretaria Municipal de Educação
ofereceu, após movimentos de reivindicação das mesmas, o curso de Pedagogia.
A grande maioria formou-se no final de 2004 e no 1º semestre de 2005.
Contudo, o poder público ainda não exige a formação estabelecida na
LDBEN n. 9394/96, desde o ingresso da profissional na referida rede municipal de
ensino, pois o seu estatuto ainda não foi alterado. Esse fato tem causado
contínuas discussões na rede, pois, por um lado, as monitoras que concluíram o
ensino superior sentem-se desvalorizadas profissional e financeiramente,
ameaçando deixar o cargo assim que possível, prestando concurso para
professor. Por outro, questionam o trabalho das profissionais recrutadas sem a
certificação adequada, afirmando que as mesmas se encontram desqualificadas
para exercer a função de monitora de Creche.
22
O breve relato sobre a formação dessas profissionais permite inferir que
até o presente momento grande parte das que estão atualmente em função foram
recrutadas sem que o critério de formação profissional e da graduação escolar
tivesse pesado mais do que qualquer outro critério. O cuidado com a criança
pequena está predominantemente sob a variação de modelos diferentes de
formação, de concepção de Creche e mesmo de serviços para a infância.
A diversificação nas trajetórias das profissionais recrutadas para trabalhar
nas Creches faz com que essa instituição, a Creche, seja depositária de inúmeras
experiências de aquisição de saberes relacionados ao termo cuidar-e-educar
3
,
que deve tomar a criança pequenininha como ponto de partida para a formulação
das propostas pedagógicas (Kuhlmann Jr., 2003). O que cabe indagar é como tal
diversificação nas experiências concretas de sujeitos concretos interferiu na
aquisição da prática educativa de cada um. E mais especificamente, no caso das
profissionais que se formaram no curso superior, e que serão alvo desta
pesquisa, como os conhecimentos adquiridos no referido curso de Pedagogia
influenciaram no seu hipotético “novo” fazer ou nova “prática educativa”.
Existem informações suficientemente dispostas, porém desorganizadas,
para que se possa indagar sobre os elementos constitutivos dessas práticas,
sobre suas origens e seus processos de cristalização enquanto “conhecimento
prático da profissional de Creche”. Contudo, é necessário ter clareza sobre os
itinerários sociais que transferiram uma espécie de “saber cuidar” da sociedade
para a Creche, ou seja, a criança, a Creche e seus profissionais docentes fazem
3
Em alguns lugares tenta-se substituir o termo educar-e-cuidar, pela expressão inglesa educare,
utilizada por Abbott, Roger e Pugh (Formosinho, 2002), para defender a interligação profunda
entre cuidados e educação, alargando o papel do educador em comparação com o papel dos
professores de outros níveis de ensino. Contudo, Kuhlmann Jr. (2003, p. 60) adverte que adotar
esse termo esvazia seu sentido e repõe a polarização ao invés de manter a unidade. Educar é
23
parte da história social da infância, bem como da história do movimento feminista,
das mobilizações de parte da esquerda e do sindicalismo no Brasil, e nada nesse
processo aconteceu “ao acaso”.
Faz sentido problematizar a formação que a academia tem oferecido aos
educadores da infância, os quais possuem uma prática educativa “própria” não
com o intuito de romantizar um saber acumulado e, em decorrência, proceder à
valorização do prático sobre o teórico. Ocorre que a Creche possui uma “forma”
institucional peculiar que não deve tomar a forma escolar propriamente dita como
seu sucedâneo imediato.
Na opinião de Kuhlmann Jr. (2003, p. 57), já que a Educação Infantil faz
parte da educação básica, mas não é obrigatória, seria errado engessá-la nos
moldes do Ensino Fundamental, num contexto preparatório e propedêutico.
Assim, o que se pretende nesta pesquisa é chamar a atenção para os
aspectos peculiares da “forma da Creche” que devem ser refletidos e
ressignificados nos cursos universitários de formação de educadores da infância,
descartando a tendência que ainda hoje existe de escolarização da Educação
Infantil como se fosse uma instituição preparatória para o Ensino Fundamental ou
simplesmente compensatória de carências e deficiências advindas da família.
Diante do panorama acima exposto, é possível apreender um novo
contexto no qual a Educação Infantil, em especial a Creche, apresenta
significativos desafios para a pesquisa. Um dos pressupostos básicos que
alicerça a pesquisa em andamento é que não é adequado projetar reformas nas
instituições relacionadas à criança pequena sem conhecer qual é a opinião
algo integrado ao cuidar. Daí a importância de se utilizar elos entre as duas palavras: educar-e-
cuidar.
24
daqueles que estão construindo o dia-a-dia das Creches, ou seja, sem saber da
experiência das profissionais que apresentam uma prática considerada, até então,
“adequada” para a função de Monitora de Creche. Há que se ter em conta o que
pensam a respeito do trabalho que realizam.
É igualmente necessário saber se há mesmo, como se supõe com certa
rapidez, complementaridade entre os conteúdos que adquirem no curso de
Pedagogia e as demandas próprias da instituição Creche.
O quadro atual permitiria apresentar a hipótese de que a certificação
obtida, mais do que uma estratégia de aperfeiçoamento, se afiguraria como
convite para deixar a Creche, reafirmando a pouca valorização dada à profissão,
o que a pesquisa empírica colocou em dúvida em alguns momentos. Outra
hipótese diz respeito às diferenças entre a ¨forma escolar¨ e a ¨forma da Creche¨,
que aparentemente estão sendo desconsideradas tanto na reorganização do
trabalho cotidiano quanto e, principalmente, na formação acadêmica da referida
profissional.
As diferenças entre a “forma escolar” e a “forma da Creche” aparentemente
estão sendo desconsideradas tanto na reorganização do trabalho cotidiano
quanto na formação acadêmica da referida profissional.
Considerando que o presente estudo tem por objetivo geral verificar o
impacto da formação em nível superior sobre as práticas das Monitoras de
Creche estatutárias-efetivas, no cotidiano das Creches Municipais, foi adotado um
variado procedimento de pesquisa, mesclando diferentes técnicas de abordagem,
a saber: questionário, que foi distribuído aos 518 monitores de Creche;
observação do cotidiano da instituição baseada na permanência nos locais e na
reconstituição de passos trilhados; organização de entrevistas semi-estruturadas,
25
procurando investigar aspectos da formação acadêmica que estão influenciando a
prática educativa dessas profissionais-docentes de Creche. Pretendeu-se, dessa
forma, averiguar “o quê” e “como” esta formação influenciou e modificou o fazer
das mesmas.
A revisão bibliográfica no processo de pesquisa foi realizada adotando-se o
critério mencionado por Brandão (2002, p. 33), que adverte que, no que toca à
dosagem da leitura teórica, que as teorias são hipóteses para a interpretação da
realidade e que servem de roteiro de explicitação das referências que podem ser
modificadas ou reafirmadas conforme a realidade empiricamente observada.
Quanto ao questionário, aplicado acatou-se o postulado de Goode e Hatt
(1972), segundo o qual cada inquérito deve conter um número restrito de
informações devido ao tempo exíguo de realização, sendo que cada item do
questionário constitui uma hipótese ou uma parte de uma hipótese. Levando-se
em consideração que o questionário não foi o único procedimento desta pesquisa,
tentou-se agrupar as questões em três áreas principais: dados pessoais,
experiência profissional e formação escolar. Iniciando por questões neutras, mas
que têm relação com o tema principal. Obedeceu-se, ainda, a uma seqüência
lógica ao passar de uma pergunta para outra.
Optou-se também pelo trabalho com entrevistas abertas, terminologia
utilizada por André (1995), ou não-estruturadas, terminologia utilizada por
Brandão (2002). Segundo Brandão (2002, p. 39), as entrevistas precisam apoiar-
se em categorias que são como ímãs agregadores de informações, que
assegurarão a consistência dos “dados” e potencializarão a análise e
interpretação dos mesmos. Considerando as peculiaridades da pesquisa que se
apresenta, a indagação organizadora que rege o diálogo com as personagens
26
aqui postas em cena, indagação da qual todas as demais derivam, é a que
interroga sobre a experiência de aprendizado que as Monitoras de Creches
estatutárias-efetivas tiveram no curso superior de Pedagogia e, ao mesmo tempo,
o que consideram sobre a própria prática que realizam cotidianamente nas
Creches Municipais.
Procurou-se, ao pesquisar as práticas dessas profissionais, desvendar as
“artes de fazer” das Monitoras de Creche, estudando os procedimentos e as
astúcias utilizadas por elas na reapropriação do espaço organizado pela
“...economia cultural dominante usando inúmeras e infinitesimais metamorfoses
da lei, segundo seus interesses próprios e suas próprias regras” (Certeau, 1994,
p. 40).
Como foi dito anteriormente, para que se estabeleça a “ponte” entre os
dados coletados nas entrevistas e a prática docente, o procedimento de pesquisa
mais adequado é a observação. A observação participante, como é chamada por
André (1995, p. 28), parte do pressuposto de que o pesquisador tem sempre um
grau de interação com a situação, afetando-a e sendo afetado por ela, mas,
principalmente, buscando novas formas de entender a realidade.
Em relação às protagonistas dessa pesquisa, o primeiro critério de
abordagem foi o do “diálogo aberto” com controle informal para que não ocorresse
evasão do tema. O diálogo entre investigadora e investigadas foi complementado
com questões previamente estruturadas que, mesmo passíveis de modificação
conforme o diálogo demandasse, organizaram a coleta de dados para tratamento
qualitativo e verificação de tendências entre as respostas.
Quanto à seleção do local e das entrevistadas, a partir do retorno das
respostas dos questionários, selecionou-se uma das dezoito Creches Municipais,
27
a Creche Casa da Criança, cujas Monitoras de Creche são em sua maioria
estatutárias-efetivas
4
, formadas, no final de 2004 ou no 1
o
semestre de 2005, no
curso de Pedagogia da entidade que a Prefeitura e a Secretaria de Educação
firmaram convênio.
Acredita-se que, por meio dos procedimentos aqui delineados, a pesquisa
em questão ofereceu dados significativos para a interpretação e compreensão de
uma realidade que vem se configurando não apenas no interior das Creches
santistas, mas em vários locais onde a educação de crianças pequenas tem
ocupado o cenário como nunca antes o fizera.
O trabalho está organizado em quatro partes. No capítulo I, pretenderam-
se resgatar os caminhos e descaminhos históricos da Educação Infantil Brasileira,
explicitando as modificações ocorridas após a L.B.D. nº. 9394/96, tanto no interior
da Creche, como na formação do profissional que nela atua. Esse exame histórico
da institucionalização da educação da criança pequena no contexto mundial e
brasileiro, bem como a análise das inovações trazidas pela L.D.B. nº. 9394/96, no
que tange a esse nível de ensino e ao que se refere à formação dos profissionais
que nela atuam, permitiu obter informações sobre as instituições de Educação
Infantil, no que diz respeito ao plano macroanalítico, constatando, dessa forma, a
ação das políticas públicas sobre o histórico de suas transformações. Contudo,
esse estudo não foi suficiente para iniciar a complexa reflexão sobre a instituição
Creche e seus profissionais. É necessário considerar os aspectos microanalíticos
que dizem respeito às suas práticas e formas, constatando as regularidades, as
singularidades e as diferenças entre a estrutura da escola e da forma da Creche.
4
Essa escolha deveu-se ao fato de a pesquisa investigar o impacto da formação em nível superior
sobre a prática das Monitoras de Creche estatutárias-efetivas.
28
Para trazer à tona esse panorama, o capítulo II buscou proporcionar ao
leitor um mergulho no contexto das Creches santistas, trazendo elementos
resgatados a partir do questionário, da observação e da entrevista semi-
estruturada, para caracterizar as profissionais-docentes que nela atuam. O
capítulo III aprofundou-se no plano microanalítico, diferenciando a forma da
Creche da forma escolar e refletindo sobre questões importantes da formação
acadêmica da profissional da infância.
Após percorrer esse caminho, é possível constatar que a educadora da
infância se depara com uma realidade em construção, na qual os planos macro e
microanalíticos condicionam suas práticas no cotidiano da Creche.
O que se pretende demonstrar com os dados desta pesquisa é a relação
entre as práticas e a formação acadêmica dessas educadoras de crianças
pequenas, ou seja, a relação prática- teoria- prática, tentando averiguar a opinião
que está sendo construída no dia-a-dia das Creches, entre as profissionais-
docentes que apresentam um fazer considerado “adequado” para a função de
monitor de Creche.
Por fim, verificou-se, ainda, como as diferenças entre a forma escolar e a
forma da Creche estão sendo identificadas e levadas em consideração no
trabalho cotidiano e na formação acadêmica da referida profissional.
29
Capítulo I - A Educação Infantil no contexto mundial e
nacional: lutas, tensões e conquistas.
“A história é o exercício de memória realizado
para compreender o presente e para nele ler as
possibilidades do futuro...” (Franco Cambi,
1999)
1.1 Infância, instituições e seus profissionais: a história de muitas
histórias
Ao iniciar os estudos sobre o profissional docente de Creche, deve-se levar
em consideração o que afirma Kulhmann Jr. (1998, p.13) sobre a importância de
se examinar a dimensão histórica para uma melhor compreensão das atuais
questões relacionadas à Educação Infantil, as quais não devem ser pensadas
“sem envolver uma profunda reflexão ancorada tanto na prática educativa quanto
nos resultados das pesquisas na produção teórica”. Não se pode desconsiderar
uma história construída ao longo de mais de um século de existência, com
marcas próprias nas instituições infantis brasileiras e, conseqüentemente, com
marcas nas trajetórias das profissionais docentes que nela atuam.
A apreciação da constituição e consolidação da instituição Creche, aliada
às práticas educativas que ocorrem em seu interior, convida a revisitar a história
da instituição, relacionando-a à história da educação, da Pedagogia, da infância,
da mulher, da família e dos cursos de formação de professores. Todas essas
histórias misturam-se e se configuram em uma nova luta pelo reconhecimento da
relevância de uma educação de qualidade para a criança pequena.
Além do mais, é importante mencionar que esses fatos fazem parte do
30
patrimônio político da militância da esquerda e dos movimentos feministas em
muitas cidades do Brasil e em muitos países do mundo. Manaconda (2001, p.
303) afirma que a expansão da educação de modo geral, por meio de escolas e
de modelos pedagógicos diferenciados, bem como a luta pela emancipação das
classes populares e das mulheres seguem pari passu.
Tal situação não poderia ser diferente quando se descreve a história da
Creche, de seus modelos de cuidado-e-educação e de suas profissionais
docentes. Pode-se dizer que a instituição social Creche, típica instituição pobre
para atender às demandas da pobreza é, ao mesmo tempo, um ganho político.
Essa conquista se consolida no interior das lutas dos movimentos feministas,
sindicais e da esquerda, apesar de muitas vezes ter sido tratada ideologicamente,
como uma dádiva promovida pelos governantes.
Contudo, é importante destacar a diferença da história da Creche em
relação à história da Pré-escola e naturalmente, em relação à história da escola.
Ao examinar a literatura sobre o assunto, constata-se um predomínio visível da
descrição de dados sobre a Pré-escola. Acredita-se que uma das principais
justificativas para essa ocorrência advém do fato de as Creches, até pouco tempo
atrás, não serem consideradas parte da estrutura da área da Educação, sendo
que são raros os relatos preocupados com a educação das crianças pequenas,
menores de 3 anos de idade.
Haddad (1991) mostra que a instituição social que denominamos Creche
surgiu durante o século XIX, nos países norte-americanos e europeus, com o
triunfo da burguesia e a revolução industrial que modificou as condições e
exigências da formação humana. Os ideais burgueses suscitam uma visão
paternalista da educação, ou seja, defendem a educação do povo para evitar
31
desordens sociais.
A Pedagogia, neste contexto histórico, social e econômico, desempenhou
papel político significativo, tendo, segundo Manacorda (2001), a tarefa de
sistematização teórica das diferentes correntes pedagógicas.
Cambi (1999, p. 407) afirma que, no terreno das Pedagogias populares,
encontram-se desde Pedagogias com conteúdos reformistas até as
revolucionárias. A ideologização da Pedagogia é notada em todas as grandes
correntes que têm como bandeira diferentes modelos de formação do homem.
Para os adeptos do positivismo, o papel da educação é conformar o sujeito para o
equilíbrio de uma sociedade. Já, para os socialistas, a Pedagogia deveria ser
entendida como liberação/emancipação, como superação dos limites da história
da formação humana e sua potencialização para todos, numa sociedade sem
divisão de classes e sem trabalho alienado.
Entre as correntes mais técnicas e filosóficas do “fazer Pedagogia”
relacionadas à educação da infância, neste período, Cambi (1999, p.412) destaca
a corrente romântica, que, com Froebel, atingiu o seu ápice. Froebel, criador dos
Jardins-de-infância ou Kindergarten como eram chamados originalmente,
acreditava na função educativa pela arte, que, na infância, é traduzida como jogo,
reforçando a fantasia e desenvolvendo as capacidades cognitivas da criança.
Essa corrente pedagógica tem a influência do romantismo alemão, que produziu
profunda renovação teórica, ligada a uma nova concepção do espírito humano, da
cultura, da história e também de uma reafirmação da relação educativa da escola
e da família como momentos centrais de toda a formação humana.
Entre os socialistas utópicos, a educação é concebida como emancipadora,
igualitária e antiautoritária, sendo Fourier e Owen seus representantes mais
32
originais. Fourier, segundo Cambi (1999, p.480), critica o autoritarismo da família
e o trabalho exclusivamente intelectual para a criança pequena.
Robert Owen pode ser considerado um exemplo do empresário
preocupado com as condições sociais de seus empregados e, por isso, foi
denominado por Marx como teórico burguês progressista. Fundou na Escócia a
“escola infantil” que, segundo Manaconda (2001, p. 280), fazia parte do Instituto
para Formação de Crianças com Bons Hábitos Práticos. Desenvolveu uma escola
renovada, cuja educação estava voltada para o trabalho e integrada com
atividades físicas e lúdico-estéticas.
Na Itália, no século XIX, ocorre a gradativa pedagogização da sociedade,
com a consolidação da família nuclear como instituição educativa primária e
natural, veiculando-se propostas de mudanças de hábitos de criação.
Contudo, antes da criação dos Jardins-de-infância, Cambi (1999, p. 495)
refere-se a uma outra iniciativa para acolhimento de crianças pequenas das
classes populares. São as “salas de custódia”, instituições alternativas para a
guarda dos filhos durante as horas de trabalho da mulher nas fábricas. Nessas
instituições, organizadas por particulares ou pela Igreja para exercerem um papel
de vicariato em relação à família, trabalhavam profissionais com pouca
preparação, que distraíam as crianças com jogos e orações.
Após esta experiência, Lambruschini, influenciado pelas ideais de
Pestalozzi e Froebel, interessou-se na organização de “abrigos infantis”. Outro
Italiano chamado Ferrante Aporti abriu, em 1829, em Cremona, o primeiro “abrigo
infantil”. Denominados Escolas Infantis para pobres, eram abertos à crianças com
idade entre dois anos e meio e seis anos e eram inspirados no método intuitivo de
Pestalozzi e em Girard, no que diz respeito à educação lingüística. Com o objetivo
33
final orientado para formação moral e noções de higiene por meio do método
demonstrativo, eram vistos como alternativa à mendicância das crianças pobres
da cidade.
Para Cambi (1999, p. 464), Mayer ousou, afirmando que os “abrigos
infantis” eram também uma “instituição social” estritamente relacionada a outras
instituições contempladas pela economia social. O estudioso acreditava que, ao
mesmo tempo em que a referida instituição para a educação infantil impunha um
sentido coercitivo para as famílias, tentando eliminar a “corrupção social” e a
indiferença para o trabalho, poderia ser fator de emancipação social das classes
subalternas.
Algum tempo depois, os abrigos mudaram de forma, surgindo os Jardins-
de-infância, que contribuíram significativamente para o avanço da ciência da
prática pedagógica.
Já naquela época, o papel das mulheres empenhadas na educação do
povo conquistou lugar de destaque. Um exemplo é Emily Bliss Gould que, assim
como Aporti, acreditava numa educação para o povo que os mantivesse longe da
fatal armadilha do comunismo (Manacorda, 2001). Ao contrário dos pensamentos
de Gould e em comunhão de idéias com a baronesa Bülow, discípula de Froebel,
Helena Raffalovich Comparetti doou seu patrimônio para a fundação de um
Jardim-de-infância em Veneza, sob a supervisão do pedagogo Adolfo Pick. A
instituição deveria ser paga para as crianças ricas, e gratuita, para as crianças
pobres. Contudo, em 1883, a Prefeitura de Veneza acusa o método de Froebel de
ateu e materialista, afastando Pick da direção e empreendendo modificações na
instituição.
Outra alternativa para os abrigos infantis foi a Casa del Bambini ou Casa
34
das Crianças, proposta na Itália, em 1902, por Maria Montessori. Inicialmente a
Casa das Crianças foi idealizada para a educação de crianças “anormais”
5
, mas
aos poucos percebeu-se que sua Pedagogia poderia ser aplicada a outras
crianças. Tinha por objetivo preparar a criança para um livre crescimento moral e
intelectual, utilizando um material científico especialmente construído e
estimulando o seu crescimento por meio do jogo.
Em contrapartida a Froebel e a Maria Montessori, Agazzi, também na Itália,
elaborou um método pessoal e inovador para a educação da criança pequena.
Agazzi acreditava na continuidade entre o abrigo infantil e o ambiente familiar,
devendo a educadora assumir um papel quase maternal. Seu método colocava a
criança como centro do processo educativo, que deveria ser ativo e colaborativo.
Utilizava materiais não-preordenados, que definia como um conjunto de
“bugigangas sem patente”.
Nos primeiros anos do século XX o desenvolvimento da “escola nova”
destaca-se como um grande e generalizado movimento de defesa da
democratização da educação, que tem em Ferrière um dos seus maiores
defensores.
Na segunda metade do século XX, a Pedagogia, assim como o mundo,
dividiu-se em dois blocos contrapostos determinando a identidade de um
“Terceiro Mundo”. Um dos movimentos, denominado inovador, estava relacionado
à escola ativa e inspirado no norte-americano John Dewey. O outro era o
movimento socialista, inspirado nas teses de Marx. Nos países com regimes
facistas, assiste-se ao reflorescimento da Pedagogia católica e o surgimento da
5
A denominação “anormais” era utilizada na época para se referir a crianças com necessidades
especiais.
35
Pedagogia marxista.
A Psicologia influenciou claramente a Pedagogia Moderna e, por sua vez,
as práticas relacionadas à educação da infância, preconizando teorias de como o
sujeito se desenvolve e como se dá o processo de ensino-aprendizagem. Dentre
os estudiosos e correntes psicológicas mais difundidos (Cambi, 1999), estão Mill,
defendendo as idéias do associacionismo; Thornidike, com a Psicologia
Experimental; Secenov e Pavlov, com a reflexologia russa; Watson com a
concepção antinatista e behaviorista; Weiltheimer e Köhler, com a Gestalt; e
Bruner, com a psicologia cognitiva e o estruturalismo psicopedagógico, em que
defende um ensino voltado para o incentivo à ação, à imaginação e à linguagem
simbólica nos diversos estágios do desenvolvimento infantil.
Piaget e Vygotsky tiveram, e até hoje têm, papel decisivo na influência da
Psicologia sobre a Pedagogia. Piaget, por meio de suas pesquisas, estruturou as
fases do desenvolvimento infantil, e acreditava que a educação deveria adequar-
se ao desenvolvimento da criança. Já Vygotsky, embasado nas concepções
marxistas, defendeu uma abordagem sociocultural e acreditava que o ensino
eficaz é aquele que precede o desenvolvimento infantil, destacando a importância
do papel das interações sociais e do professor na aprendizagem da criança.
Uma experiência da Educação da Infância advinda das práticas de auto-
governo e da experimentação de novos conteúdos e didáticas foi a tipografia
projetada e trabalhada pelo pedagogo Freinet e que, na Itália, foi difundida com o
nome de “cooperação educativa”. O método pedagógico desenvolvido por Freinet
(Cambi, 1999, p. 525) é considerado um modelo mais amadurecido de renovação
da escola. O método Freinet, como é chamado, tem uma ideologia mais
progressista de educação da infância e baseia-se no princípio do trabalho e da
36
cooperação entre as crianças.
A revisão histórica revela que a Itália, desde o século XIX, foi um dos
países da Europa que assumiu posição de destaque nos estudos e iniciativas de
organização de práticas pedagógicas preocupadas com a educação da população
menos favorecida, principalmente no que tange à educação da criança
pequenininha.
Os movimentos feministas e de mulheres trabalhadoras influenciaram o
poder público para que tomasse atitudes com relação a essas crianças. Foram
criadas várias instituições de caridade e modelos de atendimento voltados ao
assistencialismo, filantropismo e à visão médico-sanitarista (Edward, Gandini &
Forman, 1999, p. 30).
Durante o Facismo, as Creches eram ligadas a grandes empresas ou
geridas pelo Opera Nazionale Maternità e Infanzià (ONMI)
6
. Após a Segunda
Guerra Mundial, depois de tantos anos sob a influência do Fascismo, a população
de Reggio Emilia, na Região de Emília Romagna, que tinha forte tradição de
iniciativa local, resolveu estruturar escolas coordenadas por pais. Foi assim que,
em 1945, o educador chamado Loris Malaguzzi encontrou mulheres empenhadas
em construir e operar uma escola para crianças pequenas. Oito meses depois, a
primeira escola estava pronta. Após anos de reivindicação de pais e educadores,
na década de 1970, todas as escolas passaram da administração assistencialista
da OMNI para a administração municipal, o que, segundo Ongari (2003, p.15),
promoveu uma radical transformação dessa estrutura e o papel da educadora
passou a ser concebido cada vez mais como educativo.
6
ONMI era o Serviço Nacional para a Maternidade e Infância, órgão paraestatal que tinha por
objetivo assistir as famílias e cuidar das crianças abandonadas.
37
Uma experiência diferenciada de educação de bebês foi registrada na
Hungria, com início no ano de 1946. O Instituto da Rua Lóczy (Falk, 2004), que
hoje leva o nome de sua líder Emmi Pikler e tinha, inicialmente, o objetivo de
acolher crianças órfãs numa perspectiva médica. Juntamente com a educadora
Maria Reinitz, Pikler rompeu de maneira consciente e radical com as tradições
hospitalares e dos centros do tipo “asilos”, associando-se às idéias de afeto e
valorização da criança, de liberdade de movimentos e ação, constituindo-se esses
princípios a base de seu sistema de educação.
O panorama histórico relacionado às correntes pedagógicas da educação
da infância, exposto anteriormente, contribui para a reflexão em torno da maneira
como os diversos segmentos da sociedade encararam, através dos tempos, e
ainda hoje encaram, a pluralidade de intenções com relação à educação da
criança pequena, colocada em prática nos vários tipos de instituições educativas,
em diversos lugares do mundo, revelando as concepções de infância subjacentes
a cada proposta.
No entanto, pensar em educação da infância deveria significar, antes de
tudo, atender às peculiaridades do ser criança, que varia de acordo com o tempo,
o lugar, as pessoas e a posição socioeconômica que essas ocupam na
sociedade. O caminho da história da infância é marcado por uma não linearidade,
apoiada na escassez de documentação e no excesso de interpretação dos
adultos.
A infância como categoria social, segundo Faria (2002), constituiu-se
somente no final do século XVIII e início do século XIX, juntamente com as
instituições de Educação Infantil que foram criadas especialmente nos locais onde
a industrialização ganhava força neste mesmo período.
38
Segundo Haddad (1991, p.23), a criação da Creche acompanha, ainda, a
organização da família em torno da criança pequena. Essa foi, progressivamente,
ocupando espaço privilegiado na família e a mulher foi assumindo-a, juntamente
com os encargos do lar. A partir da consolidação da família moderna, em
contextos que cada vez mais aproximaram a mulher do mundo do trabalho e da
luta por seus direitos, os papéis e as relações entre os membros da família foram
se reorganizando. A Creche foi, ao mesmo tempo, ocupando o lugar da família,
tentando suprir sua falta e modelando-se à sombra dela. Essa instituição
reproduziu aquilo que se imaginava que a família faria, caso essa não faltasse.
Apesar disso, deve-se pensar que a maioria das instituições, mesmo tendo
sido criadas para liberar a mulher para o trabalho fora de casa, também
contribuíram de alguma maneira para a educação e o desenvolvimento das
crianças, como esclarece Montandon (2001).
É possível afirmar que tais instituições contribuíram decisivamente para a
descoberta e a valorização da infância, trazendo pontos positivos e outros que
precisam ser observados cuidadosamente, como exemplo, a questão do controle
e do disciplinamento da criança de acordo com os valores sociais dominantes e,
muitas vezes, conforme as necessidades postas coercitivamente pelas demandas
da economia.
Ao pesquisar infância, Faria (2002, p. 66) chama a atenção para dois
pontos importantes. O primeiro refere-se à dupla alienação da infância,
relacionada ao binômio atenção/controle que ocorreu em todas as classes sociais.
Por um lado, a criança burguesa, ao mesmo tempo em que era atendida e
considerada, era privatizada pela família, tendo que aprender a comportar-se nos
marcos da burguesia emergente. Por outro lado, a criança da classe popular era
39
obrigada a trabalhar, tendo que aprender a ser operária.
O segundo ponto que merece ser examinado diz respeito à relação
existente entre a história das instituições e a história da mulher operária. Como já
foi dito anteriormente (Haddad, 1991), a tarefa de educar e cuidar da criança, ao
longo do tempo, foi sendo ideologicamente considerada própria do gênero
feminino. Ao sair para trabalhar fora de casa, ao mesmo tempo, ampliando seus
direitos e conhecendo outras esferas de subordinação, como a econômica, por
exemplo, a mulher precisou adaptar-se ao novo cenário, compartilhando a
educação de seu filho com outras pessoas que, em sua maioria, também são
mulheres.
A função de cuidado-e-educação, ao passar a ser exercida na instituição,
na opinião de Rosemberg (2000) e Saparolli (1997), foi vista como uma profissão
que possibilitaria a ascensão social pelo gênero feminino de origem econômica
inferior, pois, apesar da pouca valorização salarial, até bem pouco tempo não
havia a exigência de formação profissional específica. O princípio preconizado
para tal instituição era óbvio: uma escola pobre, com mão-de-obra barata e
desqualificada, para uma criança pobre.
Ao se pensar em criança pequena, principalmente na criança pobre, até os
dias de hoje, procura-se realizar algo irrealizável se considerarmos que a esfera
da cultura é essencialmente o lugar de manifestação da alteridade, ou seja,
busca-se uma forma generalizada para definir a identidade da infância, nos
diversos países, governos, grupos sociais e culturais, organizações e instituições.
Há, ainda, pesquisadores que acreditam no desaparecimento da infância,
como é o caso de Neil Postman. O autor (1999) defende a tese de que a infância,
sendo um produto da cultura, consolidado como referência social a partir do
40
desenvolvimento da prensa de Gutenberg, começou a desaparecer com a
invenção do telégrafo e, mais especificamente da televisão, destruindo a linha
divisória entre infância e idade adulta.
No entanto, se a infância sempre renova a imagem de um segmento
pensado no coletivo, a criança, qualquer uma, é dotada de peculiaridades que
tradicionalmente são pensadas nos moldes propostos por Durkheim (apud Sirota,
2001), ou seja, seres moldáveis direcionados às instituições de sociabilidade
secundária para adquirir auto-controle, subordinando o indivíduo ao social.
Outros pesquisadores, como Qvortrup (apud Sirota, 2001), concordam e,
ao mesmo tempo, discordam de Durkheim, descrevendo as pessoas como
sujeitos submetidos às várias estruturas sociais, sendo, inclusive, a própria
infância uma estrutura social.
Segundo o autor, o ambiente é múltiplo, porque em cada lugar as pessoas
fazem dele uma coisa diferente, ou seja, cada um reflete o ambiente de forma
diferenciada. A infância é compreendida como uma construção social, sendo
considerada “...uma variável de análise sociológica que se deve considerar em
sentido pleno articulando-a às variáveis clássicas como classe social, o gênero,
ou o pertencimento étnico” (Qvortrup, 1994 apud Sirota, 2001, p. 19).
No universo da Educação Infantil, é sempre mais coerente pensar em
“infâncias”. Essa é uma condição para que se reconheçam também na criança
pobre as condições para passar da condição de ator para a de sujeito, saindo do
mecanicismo de muitas de nossas análises e agregando subjetividade na
construção da sua própria identidade.
Ao considerar as pesquisas sobre criança, infância e as instituições que as
41
acolhem, percebe-se que a história da infância e a das instituições Pré-escolares,
Creches, Escolas Maternais e Jardins-de-infância, têm sido resultado da
composição de forças entre interesses jurídico-policiais ou médico-higienistas e
religiosos, além de estarem subordinadas aos dramas das esferas econômica e
social.
No Brasil, a Creche surgiu apenas no século XX e, segundo Rosemberg
(2000), primeiramente não foi pensada para a “produção” de qualquer ser
humano, mas para guardar os filhos recém-libertos de mães escravas.
Os investimentos realizados na educação da criança pobre tinham por
objetivo “melhorar” o país. Rocha (2005, p. 83) cita as obras do Dr. Oscar Clark
que, por meio da “religião da higiene”, sonhava com um “futuro risonho” para o
Brasil. Na verdade, por intermédio do discurso higienista, impunha-se essa
concepção de um futuro feliz, utilizando os valores da classe dominante.
O Instituto de Proteção e Assistência à Infância (IPAI) e a Creche da
Companhia de Fiação e Tecidos Corcovado, primeira Creche para filhos de
operários, foram as primeiras instituições que surgiram no Rio de Janeiro em
1899 (Kulhmann Jr., 1998, p. 82). Um dos objetivos dessas instituições consistia
em atender ao crescente número de crianças desprovidas de cuidado, face à
incorporação de mão-de-obra feminina nos vários processos de industrialização e
urbanização em andamento. O outro objetivo era o de sanar os problemas das
populações menos favorecidas, ou seja, combater a pobreza e a mortalidade
infantil, problemas também decorrentes do processo de industrialização e
urbanização do país. O IPAI foi a entidade assistencial mais importante do
período. Em 1929, possuía 22 filiais em todo o país, sendo que 11 delas tinham
Creches (ibidem 1998, p. 86).
42
Instituições como os Patronatos ou instituições caritativas como a
Associação Feminina Beneficente Instrutiva, dirigida por Anália Franco, no século
XX, ocuparam o cenário dentro do qual a infância pobre era guardada, cuidada
ou até condenada a permanecer enclausurada.
Essas instituições que trataram das crianças das classes populares foram
propagadas, muitas vezes, como modelos de civilização moderna e científica e,
apesar de sempre terem feito parte dos grupos dedicados ao ensino, eram
apresentadas estrategicamente como instituições assistenciais.
Contudo, Kulhmann Jr. adverte que o pensamento educacional, não só no
Brasil, mas em quase todo o mundo, dicotomiza as instituições separando-as em
educativas e assistenciais, como se nas de cunho assistencial não houvesse
nunca intenção educativa. A ausência de intenção educativa não se comprova
historicamente, ainda que seja forçoso reconhecer que, na maior parte das
instituições de acolhimento a crianças pequenas, o que se tinha na prática eram
ações voltadas “não para a emancipação, mas para a subordinação”. (1998, p.
73).
O “assistencialismo” marcou fortemente a história dessas instituições e
adquiriu a condição de ser, com o passar do tempo, uma proposta de educação
configurada numa Pedagogia da submissão. Tal proposta de submissão adquiriu
muitas formas e, muitas vezes, resultou no ato de isolar as crianças de meios
passíveis de “contaminá-las”, como é o caso da rua, o que se somou à baixa
qualidade do atendimento. Deve-se mencionar ainda que a história das
instituições de Educação Infantil se fez acompanhar de pregações moralizantes
que, muitas vezes, se somaram às prescrições voltadas para a preparação ao
ensino profissionalizante.
43
Ao focalizar a legislação brasileira relacionada à oferta de espaços
educativos para a criança pequena, verifica-se que o Estado quase sempre se
desresponsabilizou de tomar as rédeas de uma política efetiva de amparo à
infância. Analisando historicamente a situação geral da infância no Brasil, Freitas
relata:
Não é arriscado dizer que a história social da infância no Brasil é
também a história da retirada gradual da questão social infantil (com
seus corolários educacionais, sanitaristas etc) do universo de
abrangência das questões de Estado. (1997, p.11)
O Estado não se sentia na obrigação de prover inteiramente as Creches,
sendo a sociedade civil e as entidades assistenciais as responsáveis pelo serviço.
Faria (2002) afirma que “a publicização do privado e a privatização do público é
uma característica da política brasileira” (Faria, 2002, p. 83), especialmente no
que tange às políticas públicas direta ou indiretamente relacionadas às crianças.
No âmbito legal relacionado às obrigações das empresas e indústrias,
direitos eram garantidos às mulheres trabalhadoras, desde 1923, com a
obrigatoriedade de instalação de Creches ou Salas de Amamentação próximas ao
local de trabalho ou de convênios com Creches distritais. Regulamentações foram
estabelecidas por meio de portarias e decretos, incluindo a Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT)
7
. Na prática, fica latente o não cumprimento de tais leis,
resultado da ineficiência da fiscalização por parte do poder público e do baixo
custo das multas previstas, o que gerou a proliferação de “Creches fantasmas”
(Campos, Rosemberg & Ferreira, 2001).
Segundo Freitas (1997), em várias fases da história, a infância foi deixada
de lado, ficando a ação pública, voltada à criança, subordinada ao tema do
44
desenvolvimento econômico e, com isso, relegada a questões de cunho
puramente filantrópico e assistencialista, principalmente no que se refere às
Creches.
Essa visão reducionista também pode ser reconhecida em muitas
propostas pedagógicas para a educação da infância que enfatizavam a educação
dada nas instituições, em detrimento daquela dada pelas famílias. Essa última era
vista como incapaz de proporcionar um bom aprendizado para o desenvolvimento
da criança. Para Haddad (1991, p. 25), em muitas Creches, a função não era
somente guardar a criança, mas, sobretudo, aconselhar às mães sobre o cuidado
com os filhos.
Segundo Faria (2002, p. 25), até hoje se pergunta quem deve educar a
criança pequena: a família, o Estado ou a empresa?
Tomando-se por base que o caráter de proteção à infância é fundamental
na ação institucional, a única conclusão a se tirar é a de que a qualidade de
atendimento na Creche sempre foi marcada pela precariedade e o quadro dos
profissionais foi sempre deficitário, despreparado e desprovido de formação
profissional. A “categoria” profissional apresenta-se composta, muitas vezes, por
voluntariado e é sujeita a uma proporção adulto-criança, na maioria das
instituições, reveladora de uma grande insuficiência nos quadros.
No entanto, é preciso estabelecer a diferença existente entre as instituições
criadas para atender crianças das camadas populares nas sociedades industriais,
ou seja, as Creches, e as instituições propostas para as crianças das classes
privilegiadas, os chamados Jardins-de-infância.
7
Decreto nº. 21.417-A, de 1943 que aprovou a CLT e que contém seis artigos (art. 389, 396, 397,
399, 400 e 401) referentes ao direito à amamentação e à Creche para a mulher trabalhadora.
45
Um grande ícone a ser lembrado é o Jardim-de-infância Caetano de
Campos, em São Paulo, criado no nascimento do regime republicano e planejado
como local de observação para os futuros professores, onde aprenderiam a arte
de ensinar. Contudo, nesta instituição-modelo, a grande maioria dos alunos fazia
parte da elite paulista.
As divisões sociais existentes entre as instituições ficaram bem
demarcadas. Por um lado, os Jardins-de-infância destinavam-se aos ricos, por
outro, instituições como o Volkskindergarten, na Alemanha, o Free Kindergartens,
nos Estados Unidos ou as Creches, no Brasil, eram destinadas às classes
populares.
Não se pode deixar de mencionar as instituições Pré-escolares privadas
brasileiras, que também serviam às classes abastadas e utilizavam o termo
pedagógico para atrair clientes e diferenciar sua instituição das Creches e asilos.
As propostas também eram divulgadas como se fossem modeladas pela escola
froebeliana, privilegiando certos aspectos em detrimento de outros considerados
originalmente pelo filósofo, especialmente quando seus criadores tinham contato
com interlocutores norte-americanos.
Ainda relacionada à questão das práticas educativas, Pinazza (2005)
acrescenta que principalmente a educação pré-escolar era vista como etapa
preparatória da escola primária. Desta forma, “...o perigo de condicionar os
objetivos da Educação Infantil aos compromissos formais da instrução, no seu
sentido mais estreito, foi sempre eminente” (Pinazza, 2005, p. 93).
Desta forma, a implantação das primeiras instituições Pré-escolares
assistencialistas, assumidas pelos setores privados, ocorreu entre 1910 e 1920.
Este fato também se intensificou no governo de Getúlio Vargas, na década de
46
1930. Com o objetivo de interferir na problemática social do país, cria-se, com o
Decreto-Lei baixado em 30 de outubro de 1941, o Departamento Nacional da
Criança (DNC), para coordenar as atividades e pesquisas realizadas na área da
infância e da adolescência, que continham uma concepção calcada no aspecto
médico e nos serviços de puericultura (Gomes, 2000, p. 233), tema que já
aparecera nas pautas de Getúlio Vargas, Gustavo Capanema e Lourenço Filho
sucessivas vezes desde 1932 (Souza, 2000, p. 236).
No entanto, nos anos Vargas, em São Paulo, Mário de Andrade implantou
uma proposta de educação para crianças entre três e seis anos das classes
operárias, que não tinha nem a concepção assistencialista e nem a concepção
escolarizante. Os Parques Infantis idealizados por Mário de Andrade, como
equipamento público, segundo Faria (2002, p. 77), continham o objetivo de
incentivar a cultura por meio da ludicidade e tornar a criança participante de um
processo dialético: no parque, ela seria educada pela cidade, e a cidade,
mantendo parques para as crianças, seria disciplinada e racionalizada, tendo a
criança como personagem central nessa trama. Essa iniciativa destoava das
ações promovidas na época que, em sua maioria tinham, a concepção deflagrada
pelo DNC.
As teorias de privação cultural tomam lugar no contexto nacional a partir da
década de 60, apontando a Creche como o local adequado para compensar
deficiências biológicas, psicológicas e culturais da criança.
A lei nº. 5692/71 tratou da educação de crianças com idade inferior a sete
anos em apenas um artigo, especificando que essa deveria ser dada em escola
maternais, Jardins-de-infância e instituições equivalentes, sem mencionar de
quem era a responsabilidade por sua viabilização.
47
Com a falta de diretrizes do poder público para esse nível de ensino, os
anos 70, segundo Rosemberg (1997, p.137), foram marcados pelo infeliz
casamento entre organizações intergovernamentais, em especial a UNICEF
4
e a
UNESCO
5
, e o governo militar no Brasil, no campo da Educação Infantil de
massa. Isso só ocorreu, relata a autora, devido à chamada guerra fria que:
Embasou tanto a ideologia da Doutrina Brasileira de Segurança Nacional
(DSN), quanto as propostas de Desenvolvimento de Comunidade (DC),
bases teóricas que orientaram a criação do Projeto Casulo, primeiro
programa brasileiro de educação infantil de massa, implantado pela
Legião Brasileira de Assistência (LBA) em 1977 (p. 137).
Naquela época, entre 1964 e 1985, orientados pelo lema dos governos
militares - segurança e desenvolvimento - , esses programas eram realizados nos
bolsões de pobreza e, segundo Rosemberg (1997, p. 142), tinham por objetivo
prevenir o expansionismo do ”comunismo internacional”. Além disso, possuíam
um caráter preventivo em detrimento de uma concepção de política social que
respondesse a direitos de cidadania. A justificativa era simples: prevenir o destino
de pobreza que está determinado para as crianças pobres, agindo de forma
integrada nas áreas de saúde, alimentação e educação. Como a concepção de
pobreza adotada pelo UNICEF é semelhante, essa foi a estratégia adequada para
integrar, em nível social e nacional, os probres no processo de desenvolvimento.
O Projeto Casulo, implantado pela LBA, tinha por objetivo principal investir
em um programa de massa, a baixos custos, adotando a estratégia de
participação da comunidade, ajustando-se ao modelo econômico da Doutrina de
Segurança Nacional (DSN) (Rosemberg, 1997, p. 148).
4
A UNICEF, Fundo das Nações Unidas para a Infância, foi criada no dia 11 de dezembro de 1946,
durante a primeira Sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas, com o objetivo inicial de dar
assistência a crianças da Europa, Oriente Médio e China, no período pós-guerra.
48
A UNICEF e a UNESCO lançaram um modelo de Pré-escola de massa, de
cunho assistencialista, tendo sua ação baseada na melhoria da saúde-nutrição da
criança. Esse modelo foi inserido no Brasil com a elaboração do Plano de
Assistência à Infância apresentado pelo Departamento Nacional da Criança
(DNCr). O DNCr foi extinto em 1968, contudo, as orientações do referido plano
nortearam as propostas governamentais brasileiras de Pré-escolas de massa
durante os anos 70 e parte dos 80.
Nesse período, o serviço de DC e os movimentos de participação
comunitária em diversos níveis foram os principais responsáveis pela organização
de estratégias para a integração dos “desintegrados” do processo de
desenvolvimento.
Surgem no país, diversos movimentos sociais populares, como o
movimento feminista e as comunidades eclesiais de base, que passam a
reivindicar Creches para as mulheres trabalhadoras. Um exemplo foi o Movimento
de Luta por Creches, que reivindicou a participação do Estado na criação de
redes públicas de Creches.
Em São Paulo, em 1979, durante o I Congresso da Mulher, o Movimento
de Luta por Creches pede a criação de uma rede de Creches totalmente mantida
pelo Estado, que tivesse a participação da comunidade na orientação e na
escolha de seus funcionários (Haddad, 1991, p. 31). Essas reivindicações deram
início à expansão de uma rede de instituições mantida pelo município, que tinha
cunho compensatório e era ligada ao Bem-Estar Social, sendo que o critério para
a seleção das crianças continuava a ser a renda familiar e não o direito de a
5
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, a UNESCO, foi
fundada em 16 de novembro de 1945, após a Segunda Guerra, para acompanhar o
desenvolvimento mundial.
49
criança estar na Creche.
Contudo, com relação à formação e à contratação dos profissionais para
trabalhar nas Creches, o quadro de pessoal compunha-se prioritariamente de
mulheres. Rosemberg (1989, p. 62) relata que as profissionais eram chamadas
de pajens e não necessitavam ter experiência na função, bastando “ter paciência
e gostar de crianças”.
A designação pajem subsistiu em São Paulo, até 1984, quando foi
substituída por outra denominação: Auxiliar de Desenvolvimento Infantil (ADI).
Segundo Fiorim (1995, p. 11), “esta profissional deveria ter o primeiro grau
completo e freqüentar um curso profissionalizante de ADI”. Contudo, essa
tentativa de profissionalização nem sequer começou, permanecendo apenas o
nome e a exigência do grau de escolaridade.
No âmbito educacional, ainda dentro do Estado de São Paulo, durante o
Governo de Franco Montoro, eleito pelo PMDB, entre 1982 e 1986, criou-se o
Programa de Formação Integral da Criança - PROFIC. Segundo Cunha (1991, p.
203), o PROFIC continha a ideologia conservadora típica dos projetos das
escolas de tempo integral, descrevendo, como justificativa, os problemas
estruturais que as crianças brasileiras enfrentavam e atribuindo à escola a
responsabilidade de desenvolver oportunidades de formação integral dessas.
O PROFIC tinha dois projetos principais: o primeiro, direcionado para a
rede estadual de ensino de 1º grau, e o segundo, para as crianças de 2 a 6 anos.
O Projeto de Formação Integral do pré-escolar estabelecia o regime de tempo
integral para as crianças dessa faixa etária, por meio de convênios com as
prefeituras e entidades privadas.
50
Nessa época, a prefeitura de São Paulo, por meio de sua Secretária de
Educação, Guiomar Namo de Mello, empenhou-se na criação de escolas de
Educação Infantil, e quando isso não era possível, houve a instalação de salas de
Pré-escolas em escolas de 1º grau. Tal proposta, bem como sua idealizadora,
Guiomar Namo de Melo, receberam inúmeras críticas de estudiosos e educadores
da área que não acreditavam no trabalho relacionado à educação da infância
inserido no contexto da “forma escolar”, com função preparadora para o Ensino
Fundamental, pois as configurações de tempo e espaço da Educação Infantil são
bem diferentes das do Ensino Fundamental.
Com relação às denominações outorgadas ao profissional que trabalha
diretamente com crianças pequenas, Machado (apud Silva, 2003, p. 3) encontrou,
em sua pesquisa realizada em 1998, 24 designações diferentes para a função, o
que denuncia a diversidade na composição dessa categoria profissional. Tal
diversidade também é percebida quando se estudam os fatos históricos que
configuram as iniciativas de formação desse profissional.
Nos cursos de formação de professores, que surgiram no Brasil a partir do
século XIX, com as primeiras escolas normais, são escassos os referenciais
sobre a formação das profissionais docentes de Creche. Kishimoto (apud Silva,
2003, p. 36), revela que, em 1882, nos pareceres de Rui Barbosa, a preocupação
era com a preparação de professores para as escolas elementares e para os
Jardins–de-infância.
Os cursos de Pedagogia, surgidos a partir de 1939 e originados dos cursos
pós-normais realizados nas escolas normais, segundo Tanuri (apud Silva, 2003,
p. 60), tinham a dupla função: formavam bacharéis para atuarem como técnicos
de educação e licenciados destinados à docência dos cursos normais. Essa forma
51
de pensar reforçou a dicotomia existente entre aqueles profissionais que pensam,
planejam e avaliam o processo educativo e os outros que apenas executam as
tarefas. Tal concepção foi alvo de crítica por diversos autores: Brzezinski, 1996;
Freitas, 1999; Linares, 1998; Mazzili, 1997, Saviani, 1976 (apud Silva, 2003, p.
58), que condenam a idéia de fragmentação do processo educativo.
Mais tarde, a partir de 1970, iniciou-se uma discussão a respeito da
formação do pedagogo voltada para o ensino nas séries iniciais e na Pré-escola.
No entanto, essa discussão ainda não incluía a reflexão sobre o trabalho com a
criança pequenininha. Afinal, até bem pouco tempo, como já foi citado, para se
trabalhar com este nível de ensino não era preciso formação alguma, apenas
gostar de crianças e ter paciência com elas.
Essas evidências históricas reforçam a necessidade de se refletir sobre a
prática educativa das profissionais-docentes de Creche e sua formação
acadêmica. Além disso, a análise histórica dos cursos de formação de
professores faz-se necessária na medida em que esses, em sua maioria, sempre
desconsideraram que a “forma escolar” não deve ser aplicada à Pré-escola e
agora à Creche.
Mesmo com referência à trajetória dos cursos de formação de professores
das séries iniciais e das Pré-escolas, Belo afirma que a desvalorização e o
desinteresse estiveram presentes “(...) ao longo das décadas, com exceção de
períodos de renovação que pouco duraram, sendo logo calados, voltando–se aos
velhos modelos, embora já houvessem mostrado sua fragilidade” (2003, p. 50).
A idéia de formação de professores das séries iniciais, relata Popkewitz
(apud Bello, 2003, p.22), sempre foi vista por alguns reformadores, legisladores e
administradores como uma função de segunda categoria, que poderia ser
52
desenvolvida por qualquer pessoa. Popkewitz aponta que as políticas de
formação de professores têm oferecido pouca orientação intelectual, reduzindo os
cursos a uma prática fragmentada de aquisição de informações e competências.
A autora (2003, p. 53) remete-se a Viñao Frago (1998) para explicar o que
contribuiu para a desvalorização do Magistério e, conseqüentemente, dos cursos
de formação do profissional docente. Viñao Frago (apud Bello, 1998, p.17) lembra
que uma reforma educacional depende de três perspectivas e com elas se
relaciona: a teoria (as propostas da reforma), a legalidade (as normas que deram
forma legal às propostas) e a prática (ou seja, o real, o que foi feito no sistema
educativo e nas instituições docentes). Ainda há um quarto elemento: a realidade
social, que é externa à escola. Todas essas perspectivas se relacionam e se
influenciam entre si, porém não coincidem. Da teoria para a legalidade, há toda
uma negociação política e sua aplicação no interior da escola passa por um
processo de adaptação e desnaturalização das mesmas. Assim, os efeitos de
uma reforma podem ser distintos dos objetivos previamente almejados. No caso
das reformas realizadas nos cursos de formação de professores, as alegações
dos órgãos oficiais brasileiros, principalmente no que tange à questão da
legislação e dos sistemas implantadores, relacionavam-se à falta de recursos,
primordialmente os financeiros.
Na década de 1990, quando reformas de Estado tentavam diluir questões
sociais nas demandas de mercado, esse cenário sofreu alterações substantivas a
partir da promulgação da última Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
No que diz respeito à Educação Infantil, especialmente à Creche, ganhos políticos
materializaram-se no texto da nova lei.
Com relação aos cursos de formação de professores, mudanças
53
ocorreram, provocando estabelecimento de diretrizes por meio de Resoluções e
Pareceres, que quase sempre ocasionavam dubiedade na sua interpretação.
Houve a necessidade de revisão dos cursos para atender a demanda de
profissionalização dos docentes de Creche.
Contudo, na realidade, os programas e currículos dos cursos de formação
de professores quase sempre desconsideram a importância do trabalho com
crianças pequenininhas, restringindo sua reflexão ao estudo das fases do
desenvolvimento, a aspectos pedagógicos do trabalho Pré-escolar e, ainda, ao
estágio supervisionado que é realizado tanto em instituições que consideram a
importância do trabalho com crianças pequenininhas, como em locais que, muitas
vezes, ainda possuem uma visão assistencialista e profissionais sem a
qualificação exigida pela lei.
Essa é uma preocupação de vários estudiosos e objetivo de estudo de
pesquisadores como Nascimento (2003, p. 103), que faz um alerta em relação à
mudança do perfil desse profissional para o de um professor formado por cursos
como o descrito acima. Corre-se o risco de se escolarizar a Educação Infantil e,
ao mesmo tempo, questiona-se se o curso atual de formação de professores
poderá absorver as especificidades desse nível de ensino.
Tais questionamentos apontam para uma análise do que vem sendo
aprendido nos cursos e o que tem sido aproveitado na prática cotidiana dessas
profissionais de Creche, reflexão que também é objeto desta pesquisa.
A seguir, descreve-se os avanços e conquistas legais, no âmbito da
Educação Infantil, fruto de movimentos populares da sociedade civil,
especialmente no que tange à Creche e à formação de suas profissionais
docentes.
54
1.2. As legislações educacionais e os cursos de formação dos
profissionais da infância: impactos, ambigüidades e perspectivas.
No Brasil, a educação de crianças pequenas e, conseqüentemente, a
formação do profissional docente que atua nesse segmento educacional estão
assumindo uma posição diferenciada, resultado de políticas socioeconômicas que
vêm se consolidando com o pretexto da modernização da sociedade brasileira.
Em meio a um cenário ameaçado pela reconfiguração do Estado, a
sociedade civil conseguiu “arrancar” das esferas executivas, legislativas e
judiciárias compromissos firmados em documentos de grande abrangência e
repercussão como a nova Constituição Brasileira de 1988, o Estatuto da Criança
e do Adolescente, a já mencionada Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, de 1996, o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, de
1998, o Referencial Pedagógico-Curricular para a Formação de professores de
Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental, além de inúmeros
decretos, resoluções e pareceres.
Por ocasião das discussões para a consolidação da nova Constituição, a
expectativa diante da Assembléia Nacional Constituinte atraía a atenção de
grande parte dos agentes políticos (partidos, entidades de classe e pessoas
individuais).
Vários grupos, como representantes de conselhos da condição feminina,
comunidades acadêmicas, movimentos populares, enfim, grupos da sociedade
civil, continuavam reivindicando o direito da criança pequena à educação, ao
55
acesso à educação em Creche e em Pré-escola. Campos, Rosemberg & Ferreira
(2001, p. 17) relatam que a Comissão Nacional Criança e Constituinte, sediada no
MEC, assim como o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, vinculado ao
Ministério da Justiça, constituíram-se em aglutinadores dessa mobilização.
Segundo Cunha (1991, p. 427), havia posições otimistas defendidas por
vários setores progressistas da sociedade, mas também havia posições
pessimistas, que enfatizavam o caráter conservador de uma Assembléia
Constituinte que se confundia com o Congresso eleito, seguindo normas
herdadas pelos governos militares. As pequenas comissões da Assembléia
Constituinte eram formadas por agregações e exigiram grandes articulações e
negociações, o que tornou difícil a redação de um texto final que fosse, ao
mesmo tempo, sintético e coerente.
Haddad (1991) afirma que essa pressão resultou na aprovação dos artigo
7
o
, inciso XXI, e artigo 208, inciso IV, da Constituição da República Federativa
Brasileira em 1988. Ambos defendem os direitos específicos das crianças não
restritos ao âmbito familiar.
A promulgação da Constituição trouxe avanços em relação à inserção da
Creche no universo educacional. A partir daí, outras leis e documentos foram
sendo divulgados. Segundo Marcilio,
Com a Constituição Cidadã de 1988, inseriam-se em nossa sociedade os
Direitos Internacionais da Criança, proclamados pela ONU nos anos de
1950. Com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990 e os
LOAS (1993), o Estado assume enfim sua responsabilidade sobre
assistência à infância e à adolescência desvalidas, e estas tornam-se
sujeitos de Direito, pela primeira vez na História. (1997, p. 76)
Esse fato também desencadeou uma série de encontros e publicações
organizados pelo MEC em parceria com outras entidades, com o objetivo de
56
discutir a situação da Educação Infantil, apresentar dados estatísticos e propor
subsídios para a formação de profissionais. Destacam- se o I Simpósio Nacional
de Educação Infantil, realizado em 1994, cujos Anais foram publicados com o
título Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos
fundamentais das crianças, e ainda o II Simpósio Nacional de Educação Infantil,
organizado em 1996.
Dentre os documentos significativos, estão os intitulados Política Nacional
de Educação Infantil e Por uma Política de formação do profissional Educação
Infantil, ambos publicados em 1994, e o denominado Propostas Pedagógicas e
Currículo para a Educação Infantil, de 1996. Esses documentos, de uma forma ou
de outra, discutem a articulação entre as políticas para a educação da infância e a
política de recursos humanos, explicitando a importância da formação dos
profissionais que trabalham diretamente com as crianças até 6 anos. As referidas
publicações foram denominadas cadernos das carinhas, devido, segundo Silva
(2003, p. 21), aos desenhos de diferentes rostos de crianças em suas capas,
procurando simbolizar a diversidade e necessidade da formulação de uma
Pedagogia da diferença. Os referidos cadernos foram produzidos e publicados
durante a administração de Ângela Barreto junto ao COEDI, período marcado
pela busca da participação de várias entidades ligadas à Educação Infantil, como
ONGs e Universidades. Lanter (1999, p. 154), ao analisar essas diretrizes para
formação do profissional da infância, enfatiza a importância de entendê-las como
uma responsabilidade assumida pelo governo federal, especialmente pelo MEC,
sob pena de passarem a ser meros pareceres, relatórios ou descrições da
realidade, caso as propostas neles contidas não sejam encaminhadas.
A L.D.B.E.N. nº 9.394, promulgada em dezembro de 1996, destaca-se
57
como importante legislação no cenário educacional brasileiro, pois estabelece as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional que devem ser seguidas por todo o
território nacional.
Para alguns grupos, principalmente os conservadores e privatistas, afirma
Brzezinski (2003, p.150), a referida lei foi uma conquista adequada à realidade da
educação brasileira. Para outros grupos, comprometidos com a democratização
da sociedade e com a defesa da universalização da escola pública, a L.D.B.E.N.
tem sido vista com certa descrença, uma vez que alguns de seus
desdobramentos, como resoluções e pareceres sobre a formação e a valorização
dos profissionais do Magistério, tratam do assunto de forma simplista,
evidenciando avanços e retrocessos sobre esta questão.
Para Saviani (2001), a ideologia liberal dominante em nosso país e
expressa em muitos aspectos da nossa L.D.B.E.N. promove justamente um
mascaramento dos objetivos reais por meio dos objetivos proclamados. No
enunciado dos objetivos, por exemplo, ao mencionar a formação do cidadão, a lei
expressa o que a classe dominante quer e entende por cidadão.
Já para Demo (1997, p. 10), a Lei Darcy Ribeiro, como foi chamada em
homenagem ao seu grande articulador, foi o resultado possível frente ao jogo de
forças e interesses políticos vigentes naquele momento, envolvendo muitos
interesses orçamentários tanto públicos como privados.
Saviani (2000, p. 2) refere-se à L.D.B.E.N. como a carta magna da
educação que define as linhas mestras da política educacional de nosso país,
mas que necessita de legislação complementar para ser regulamentada. Nesse
58
contexto, o autor afirma que o PNE
8
foi o instrumento do MEC para viabilizar a
organização da educação nacional,
de acordo com os pressupostos de uma
política social e educacional capitalista, tratadas separadamente da política
econômica e a ela subordinadas. O PNE tem por objetivo
(...) a compressão de gastos públicos, transferência de
responsabilidades (...) para os Estados, Municípios, iniciativa privada e
associações filantrópicas, ficando a União com atribuições de controle,
avaliação, direção e, eventualmente, apoio técnico e financeiro de
caráter subsidiário e complementar (Saviani, 2000, p.82).
A L.D.B.E.N., pela primeira vez, contemplou artigos que norteiam a
organização da Educação Infantil. Assim, as Creches e Pré-escolas foram
inseridas na estrutura organizacional da educação básica, como descreve o
artigo 21, capítulo I, Título V: “(...) - A educação escolar compõe-se de: I -
educação básica, formada pela Educação Infantil, ensino fundamental e ensino
médio...” (MEC, 1996, p. 13).
Mais adiante, no artigo 29, do Título V, Capítulo II, Seção I da referida lei,
está expresso, pela primeira vez, o objetivo geral da Educação Infantil,
destacando o desenvolvimento integral das crianças, sem privilegiar nenhum
aspecto em detrimento de outro, o que deve nortear os planos pedagógicos e
currículos a serem elaborados para essa faixa etária. O artigo 30 estabelece a
diferenciação da faixa etária destinada à Creche e aquela destinada à Educação
Infantil. O artigo 31 trata da questão da avaliação nesse nível de ensino.
Segundo Pereira e Teixeira (2003, p. 91), a inserção da Educação Infantil
na educação básica representa uma mudança conceitual no modelo de educação
assistencialista vigente. No entanto, as “sutilezas” da lei, que utiliza palavras
8
O Plano Nacional de Educação, aprovado em 09/01/2001 (lei 10.172), segundo Saviani (2000), é
uma referência privilegiada para a avaliação da política educacional do governo federal.
59
como “obrigatório e gratuito” para o Ensino Fundamental e “garante o
atendimento” para Educação Infantil, evidencia a dúvida a respeito da intenção
do Governo Federal em investir na Educação Infantil.
Em meio a essas discussões, em 1998 mais um documento oficial é
lançado. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
9
, segundo
Silva (2003), foi introduzido pelo MEC de uma forma arbitária e centralizadora.
Elaborado por uma equipe de professores e pesquisadores contratados e com a
colaboração de pareceristas de algumas Universidades, o Referencial, relata
Cerisara (apud Silva, 2003), é criticado por estes últimos por ter uma tendência de
antecipação da escolarização da criança pequena. No entanto, esse documento
nada menciona a respeito da formação do profissional ou da questão do
atendimento das crianças em termos organizacionais.
Em 1999, paralelamente às discussões pertinentes à legislação, o MEC
divulga outro referencial, desta vez voltado para a formação de professores. O
Referencial Pedagógico-Curricular para a Formação de Professores de Educação
Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental, mais uma vez resultado da
interferência autoritária dos técnicos do MEC (Rocha apud Silva 2003), apresenta
proposta unificada para a formação dos profissionais que atuarão com crianças
até dez anos de idade, sem incorporar as especificidades do cuidar-e-educar
predominantes na Educação Infantil, evidenciando, mais uma vez, uma
concepção escolarizante de educação da criança pequena.
Os debates em torno das sutilezas da lei geraram diversas polêmicas sobre
a questão do investimento na Educação Infantil desde que a lei foi promulgada e,
9
O RCN-EI possui 3 volumes, a saber: Introdutório, Formação pessoal e social e Conhecimento
de Mundo e aponta diretrizes pedagógicas para o trabalho em Creches e Pré-escolas. O referido
60
no momento, teve um desfecho que está expresso na lei nº 10.172/2001, de 9 de
janeiro de 2001, do PNE: a escola de Ensino Fundamental de 9 anos. Mediante a
justificativa (MEC, 2004) de oferecer mais oportunidades de aprendizagem no
período da escolarização obrigatória e assegurar às crianças maior nível de
escolaridade, possibilitando o seu acesso a partir dos 6 anos, o PNE amplia o
Ensino Fundamental para 9 anos. A decisão traz conseqüências significativas
para a Educação Infantil e, principalmente, para o Ensino Fundamental, que se vê
obrigado a absorver uma demanda de alunos, que necessita de infra-estrutura
diferenciada, no que tange às questões de recursos materiais, de mobiliário, de
tempos e espaços, bem como de pessoal.
Mesmo com questões tão sérias e controversas sendo discutidas em
âmbito nacional, há muito percebeu-se que, ao modificar o modelo de
atendimento à infância, as exigências quanto ao profissional docente que trabalha
com a referida faixa etária modificou-se também. Atualmente, a educação da
criança pequena, principalmente no que diz respeito ao nível da Creche, está
deixando de ser encarada como um trabalho que pode ser realizado por um
profissional que apenas necessita gostar de crianças, para tornar-se competência
de profissionais docentes habilitados em nível médio ou superior, conforme
descreve o artigo 62, do título VI da atual L.D.B.E.N., que trata dos profissionais
da educação:
(....) a formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em
nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em
universidades e institutos superiores de educação, admitida, como
formação mínima para o exercício do Magistério na Educação Infantil e
nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, é oferecida em nível
médio, na modalidade Normal (MEC, 1996, p. 25).
documento atualmente está sendo revisto pelo CNE, conforme indicação CNE/CEB nº 3, aprovada
61
O parágrafo 1
o
, do artigo seguinte (artigo 63), que trata da formação de
profissionais em Institutos Superiores de Educação não deixa claro a que nível de
ensino tais institutos estão relacionados, dificultando a articulação entre ensino,
pesquisa e práticas culturais, tão importantes e presentes nas universidades.
Os Institutos Superiores de Educação foram regulamentados pela
Resolução CP, nº. 1, de 30 de setembro de 1999 que, em 19 de fevereiro de
2002, foi alterada pela Resolução CNE/CP nº. 2
10
, que defende o objetivo de
assegurar a especificidade do processo de formação do profissional garantindo,
segundo Bello (2003, p. 81), a criação de um novo locus, a fim de superar o
distanciamento entre os cursos de licenciatura e os cursos de formação de
professores das séries iniciais e de educação infantil.
O Decreto Presidencial nº. 3276, de 06 de dezembro de 1999,
complementando a L.D.B.E.N. e prevendo o deslocamento da formação do
professor do curso de Pedagogia exclusivamente para o curso Normal Superior,
causou grande estranheza no meio educacional e, após pressão da sociedade
civil, foi retificado pelo Decreto n. 3554, de 07 de agosto de 2000, que substituiu o
termo “exclusivamente” pelo termo “preferencialmente”.
Para Brzenzinski, essas ações são resultado da subserviência aos
preceitos neoliberais do Banco Mundial impostos pelo governo Fernando
Henrique Cardoso, que preconizam um “modelo” de formação preocupado com a
qualificação para a adaptação desses profissionais às demandas de mercado. A
autora afirma que o referido decreto n. 3276 de 1999 era, na verdade
em 15 de dezembro de 2005.
10
O Conselho Nacional de Educação é um órgão colegiado integrante da estrutura administrativa
direta do MEC criado em 24 de novembro de 1995. É constituído por duas Câmaras autônomas: a
CEB e a CES, ambas integradas por doze conselheiros cada uma e, quando reunidas, compõem o
CP.
62
...uma manifestação do mundo oficial, de atribuir padrões para o mundo
real ou mundo vivido dos profissionais da Escola Básica sem levar em
conta suas particularidades e originalidades advindas em especial, de
saberes que lhes são próprios (2003, p. 170)
Entre 1999 e 2001, uma série de Pareceres que dispõem sobre as
Diretrizes para a formação de professores do Ensino Fundamental e Educação
Infantil foram sendo produzidos pelo MEC, a saber: CNE/CP nº. 53/ 1999,
CNE/CP nº. 115/ 1999, CNE/CP nº. 970/ 1999, CNE/CP nº. 133/ 2001, CNE/CP
nº. 9/ 2001, CNE/CP nº. 21/ 2001, CNE/CP nº. 27/ 2001, CNE/CP nº. 28/ 2001
(Bello, 2003, p. 94).
Na opinião de Brzezinski (apud Bello, 2003, p. 84), o estabelecimento da
L.D.B.E.N., bem como de algumas das Resoluções e dos Pareceres, entrou em
confronto com posições defendidas a respeito do curso de Pedagogia, a ponto de
entidades educacionais
11
que vinham, ao longo dos anos 1980 e 1990, discutindo
a questão da formação em nível superior posicionarem-se, advertindo que houve
omissão por parte do Ministério da Educação, já que esse curso vem se
afirmando como locus de formação inicial e continuada para os docentes.
Silva ( 2003) destaca, dentre as entidades educacionais acima
mencionadas, a ANFOPE, que teve um papel histórico significativo na defesa do
curso de Pedagogia desde 1970, quando iniciou-se ampla discussão voltada para
a identidade do pedagogo e a formação voltada à educação da maioria da
população. Esse debate estendeu-se pelas décadas de 80 e 90, com ênfase na
formação do educador para a docência nas séries iniciais e Pré-escola.
O campo da formação de professores das séries iniciais e da Educação da
11
ANPEd – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação; ANFOPE –
Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação; ANPAE – Associação
63
Infância ficou oficialmente aberto com a apresentação de mais um Parecer do
CNE/CES de nº. 563/2001, que tratou da consulta sobre a possibilidade dos
licenciados em Pedagogia poderem lecionar nas séries iniciais.
Pesquisadores comentam ainda que o precedente aberto na lei com
relação à possibilidade de formação dos professores de Educação Infantil e séries
iniciais, em nível médio, na sua modalidade Normal, contradiz os estudos
realizados e as demandas políticas e sociais que revelam que, quanto menor a
criança, mais bem preparado deve ser o profissional que irá trabalhar com ela.
Com a urgência da definição de uma identidade para o curso de formação
da profissional-docente da educação que, na L.D.B.E.N. 9394/96, assim como
nos diversos documentos, encontrava-se fragmentada, em dezembro de 2005, foi
publicado um novo parecer do Conselho Nacional, o CNE/CP nº. 5/2005, que
finalmente determinava as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
Graduação em Pedagogia. Esse documento, em seu Artigo 4º, estabelece que:
O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de
professores para exercer funções de Magistério na Educação Infantil e
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio,
na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e
apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos
conhecimentos pedagógicos.
Parágrafo único: As atividades docentes também compreendem
participação na organização e gestão de sistemas e instituições de
ensino, englobando:
I - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação
de tarefas próprias do setor da Educação;
II - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação
de projetos e experiências educativas não-escolares;
III - produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo
educacional, em contextos escolares e não-escolares. (2006)
Meses depois, em março de 2006, o mesmo Conselho publica o reexame
Nacional de Política e Administração da Educação; FORUMDIR – Fórum de diretores das
64
do Parecer aprovado em fevereiro do mesmo ano, retificando apenas o artigo 14
do Projeto de Resolução, que trata da formação para administração,
planejamento, inspeção, supervisão e orientação. No parecer do CNE/CP nº. 3,
de 2006, essa formação poderá ser realizada também em nível de cursos de Pós-
Graduação lato sensu, evidenciando nova ambigüidade. Finalmente, em 16 de
maio de 2006, em Brasília, a Resolução CNE/CP nº. 1/2006 é publicada no
D.O.U, instituindo Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação
em Pedagogia, licenciatura, nos termos explicitados nos Pareceres CNE/CP nº.
5/2005 e 3/2006.
Até o momento, na prática, quase nada mudou. Em muitas regiões do país
e em Santos, os cursos de Pedagogia continuam formando o profissional docente
da Educação Infantil após três anos e, com mais um ano, o profissional habilitado
para exercer cargos de Coordenação, Direção ou Supervisão. Apresenta-se,
ainda, na única Escola Municipal de Ensino Profissionalizante da cidade, o curso
Normal em nível médio.
Brzezinski (2003, p.149) critica a política de formação de profissionais
docentes da educação no país, descrevendo o abismo existente entre os
objetivos proclamados na L.D.B.E.N. e a realidade social e econômica dos
profissionais docentes da educação, seguido do desmantelamento do ensino
superior, com a desvalorização das licenciaturas.
Assim, no campo filosófico, ao considerar que a legislação educacional
brasileira apresenta um discurso enquadrado dentro das propostas neoliberais
(Saviani, 2001) e examinando os estudos de Peréz Goméz sobre a cultura escolar
na sociedade pós-moderna (2001, p.133), pode-se afirmar que as determinações
Universidades Públicas do País; Fórum Nacional em Defesa da Formação do Professor.
65
políticas e econômicas dessas propostas submeteram o sistema educacional às
exigências de mercado, que impõe restrições econômicas e responsabiliza cada
vez mais escolas e docentes a fim de que supram as complexas demandas da
sociedade atual. Para atingir a finalidade desejada, faz-se necessário propagar e
persuadir, utilizando termos valorizados socialmente, como descentralização,
autonomia, democracia, qualidade, entre outros, que justifiquem a privatização e a
desregulação do sistema educativo.
Bello (2003) afirma que tais argumentos têm sido comumente empregados
em decretos, pareceres, resoluções
12
, com o objetivo de fundamentar as
mudanças curriculares nos cursos de formação de professores. Esses
documentos oficiais propõem o estabelecimento de um ¨novo paradigma
curricular da educação¨ relacionado a um padrão de formação holística, tendo a
concepção de competência e a articulação teoria e prática como nucleares nos
cursos de formação de professores.
Os legisladores, relata a autora (ibid, p. 103), definem competência como
“modalidades estruturais da inteligência” que geram ações de desempenho de
qualquer natureza, não podendo ocorrer competência sem desempenho, nem
desempenho sem competência.
Dessa forma, os cursos precisam dar conta de formar um perfil ideal de
12
Os documentos citados pela autora são: a Resolução CNE/CP nº. 1, de 18 de fevereiro de 2002,
do MEC, que institui as diretrizes curriculares para os cursos de formação de professores da
educação básica em nível superior; o Decreto nº. 3.554, de 07 de agosto de 2000, do Congresso
Nacional, que dispõe sobre a formação em nível superior de professores para atuar na educação
básica, dando nova redação ao parágrafo 2
o
do artigo 3
o
do decreto nº. 3.276, de 6 de dezembro
de 1999; o Parecer nº. CNE/CP 009, de 8 de maio de 2001, do MEC, que dispõe as diretrizes
curriculares para a formação de professores da educação básica, curso de licenciatura, graduação
plena; o Parecer nº. CNE/CP nº. 21, de 6 de agosto de 2001, que trata da duração e carga horária
dos cursos de formação de professores da educação básica, em nível superior, curso de
licenciatura, graduação plena; o Parecer nº. CNE/CP 027, de 02 de outubro de 2001, que dá nova
redação ao item 3.6, alínea c, do Parecer CNE/CP 009/2001.
66
professor para atuar em uma escola também idealizada com funções cada vez
mais ampliadas. O futuro professor é convocado a responsabilizar-se
integralmente pelo sucesso da aprendizagem do aluno no desempenho de suas
funções.
Essas concepções e paradigmas revelam as teorias e as tendências
mundialmente difundidas nos cursos de formação de professores.
Ao pesquisar experiências de formação de professores na Argentina,
Portugal, França, Inglaterra, Tailândia e Espanha, Bello (2003) constata que, em
muitos países, tal formação há muito já se realiza no âmbito do ensino superior e
que há o incentivo à produção de pesquisas e à efetivação de ações no intuito de
dirimir os problemas que têm surgido e suprir as necessidades de cada realidade.
No Brasil, no entanto, segundo a autora (ibidem, p.108), o que se
presencia nas reformas educacionais é a ineficiência do cumprimento das
propostas e a convocação dos profissionais para executarem processos
preestabelecidos sob precárias condições de trabalho. Tanto os órgãos oficiais,
como as entidades de classe impõem modelos homogeneizadores, derivados da
cultura da racionalidade técnica e do aligeiramento, desconsiderando a cultura
escolar presente em cada instituição de ensino.
Pérez Gómez (2001) constata que o impacto das questões políticas e
econômicas pode provocar mudanças legais, institucionais e curriculares nos
sistemas educativos sem, no entanto, provocar alterações no processo
educacional, já que alterações na forma, nas rotinas e nas linguagens tornam-se
superficiais.
Marin (apud Freitas, 2005, p.48) revela que, ao examinar estudos
67
anteriores sobre o impacto da formação nas práticas educativas cotidianas,
percebe-se que tanto a formação inicial, como a continuada pouco têm
contribuído para inverter as fragilidades e os quadros de fracasso que marcam o
sistema educacionai brasileiro.
Como foi mencionado anteriormente, muitos educadores brasileiros, Fiorim
(1995), Campos (2002), Kramer (2002), Rosemberg e Viana (1992) e Lanter
(1999), entre outros, apontam a necessidade de formação de profissionais da
infância. Em sua pesquisa, Ferraz (apud Freitas, 2005, p. 112) por exemplo,
afirma que as propostas de formação de profissionais docentes, elaboradas pela
academia, não deixam espaço para a diversidade, impondo uma formação
específica.
Nos estudos sobre a profissionalização do Magistério Pré-escolar,
Alexandre (apud Freitas, 2005, p. 114) aponta a necessidade de se pensar numa
denominação que melhor represente e diferencie o perfil do educador docente de
Creche do perfil do Professor de Pré-escola, garantindo-lhe uma formação que
integre o educar ao cuidar. O relato de Alexandre torna-se muito pertinente à
medida que os estudos das ementas dos cursos de Pedagogia revelam a
carência de conteúdos e, até mesmo de disciplinas, envolvendo a reflexão sobre
a prática docente voltada para a criança de até 3 anos de idade.
Em estudo semelhante realizado por Silva (2003), também encontram-se
evidências de que os cursos de Pedagogia têm dado pouco espaço aos estudos
sobre a criança pequena, sendo que, em sua maioria, essa criança é
mencionada em disciplinas específicas, como Metodologia ou Prática de Ensino,
quase no final dos cursos e quase nunca em disciplinas como Sociologia,
Antropologia e Filosofia.
68
O quadro esboçado acima demonstra as intensas discussões geradas a
partir da L.D.B.E.N., mobilizando muitos educadores brasileiros. A ambigüidade
presente nos cursos de formação de professores, como foi descrito acima, tem
origens históricas, advindas do século XIX, e que se tornaram ao longo do tempo,
objeto de luta de grupos como o Movimento Nacional de Educadores, que
defendem o nível superior como nível mínimo para a formação de profissionais da
educação.
Não se pode negar que a referida lei veio atender a imperiosa necessidade
de novas Diretrizes e Bases para a Educação Nacional, que não foram satisfeitas
e até retrocederam com a implantação da lei nº. 5692/71. No interior desse
debates, grupos de educadores comprometidos almejavam a estipulação de
investimentos financeiros mais contundentes para que o país pudesse melhorar
não só o nível de escolaridade dos cidadãos brasileiros, mas a qualidade do
ensino oferecida. Contudo, no embate de forças políticas e econômicas, mais
uma vez, predominaram os interesses articulados de grupos que defendiam a
iniciativa privada e as demandas do mercado financeiro. Ao se pensar dessa
forma, incorreu-se no erro de deixar de lado algumas das demandas da maioria
da população, principalmente dos mais desprivilegiados socialmente. Exclui-se,
também, a possibilidade de levar em consideração a cultura docente dos que já
trabalham com crianças pequenas e que cotidianamente vem pensado sobre sua
prática educativa no interior da Creche, nas discussões sobre o futuro desse
“campo de trabalho”.
Nesse contexto, a certificação torna-se mais importante do que a boa
qualificação. Tal certificação é almejada pelo estudante (em qualquer nível) com o
objetivo de “rentabilizar” (Bourdieu, 1998) seu lugar no mundo do trabalho e da
69
sociedade, desprezando totalmente os resultados das pesquisas que vêm sendo
realizadas na área de formação de professores que revelam a importância da boa
formação desses profissionais docentes para o atendimento adequado da faixa
etária abrangida pela Educação Infantil. Esse “instrumento de rentabilidade”, ou
seja, o diploma, remete à discussão das relações entre o sistema de ensino e o
aparelho econômico, defendida por Bourdieu (1998) como suporte para
compreender modificações recentes nesse campo decisivo de atuação
profissional.
Mais uma vez, é possível recorrer a Pérez Gómez (2001, p. 196) para
observar que o controle democrático do serviço público e a autonomia relativa do
docente não são termos incompatíveis, e sim aspectos que, por meio de acordos,
discrepâncias, divergências, conflitos, tolerância e conflitos, integram uma
complexa rede de intercâmbios sociais, que atuam no espaço vivo da escola,
reproduzindo ou transformando as vivências culturais dos alunos.
Dessa forma, mesmo com tantas ambigüidades, os cursos de formação de
professores em nível superior, especialmente no que tange à formação do
profissional para o trabalho com crianças pequenas, devem ser encarados como
uma realidade que deve ser mantida e repensada numa perspectiva real de
espaço de reflexão sobre a prática, como é tão propagada nas legislações.
Pérez Gómez (ibid, p. 192), em seus estudos, tem defendido a importância
da utilização e reconstrução permanente de um pensamento prático reflexivo
como garantia da atuação relativamente autônoma e adequada às exigências de
cada situação pedagógica. O objetivo dos cursos de formação deve ser o de
fomentar, por meio das reflexões, a reconstrução do pensamento prático
pedagógico que irá reger os modos do professor de interpretar a realidade e nela
70
interferir. Esse processo de reconstrução pressupõe três fenômenos, a saber:
reconstruir as situações problemáticas em que se encontra a ação, adquirir
consciência de si mesmo como docente e reconstruir os pressupostos sobre o
ensino aceitos como básicos.
Essa forma de pensar a formação assume contornos ainda mais
importantes e contundentes quando se trabalha com pessoas que já estão
envolvidas com o exercício docente e que possuem uma prática experiencial
consolidada pela sua imersão no cotidiano.
Diante desse panorama, é necessário questionar: A incorporação dessa
formação está proporcionando uma nova compreensão a respeito das práticas
educativas levadas a efeito no cotidiano das Creches? A profissional-docente de
Creche “vê” relação entre a sua prática educativa e os saberes propagados pela
universidade? Para os profissionais, o curso de formação de professores absorve
as especificidades das práticas educativas desse nível de ensino ou é apenas
local para obter uma certificação? É possível aliar práticas construídas
socialmente com saberes acadêmicos chancelados?
Cabe, ainda, refletir sobre um questionamento feito por Faria: “Será que a
formação em massa que hoje estamos implantando conseguirá formar uma
educadora-professora de criança pequena?” (Faria, 2003A, p. 13).
No âmbito desta pesquisa, tais questionamentos conduzem a uma
contextualização de como a implantação da Creche se deu na cidade de Santos
e, ainda, a uma outra reflexão, relacionada à “forma institucional” de cada uma
das diferentes instituições: Creche, Pré-escola e a escola. Cada um desses
espaços educativos possui formas diferenciadas de organização no que se refere
ao tempo, ao espaço, ao trabalho escolar e às relações de poder. Pensar sobre
71
essas singularidades poderá auxiliar na reflexão sobre a identidade da
profissional docente de Creche.
72
Capítulo II – O contexto das Creches santistas e suas
profissionais-docentes
“...é preciso reconhecer que as palavras em si
não têm qualquer significado intrínseco; só têm
sentido em relação a outras palavras, a
padrões sociais e a cenários institucionais”
(Popkewits, 1997)
2.1 Caminhos e descaminhos da implantação das Creches geridas
diretamente pela administração municipal em Santos.
A educação escolar municipal em Santos teve início em 1902, com a
Escola do Sexo Feminino do Bairro do Bocaina. Não havia uma Secretaria de
Educação estruturada e os professores que trabalhavam, registrando suas visitas
às escolas, eram chamados de Inspetores da Instrução Municipal, cargo que hoje
pode ser comparado ao de um Secretário de Educação. O decreto nº. 02, de
1952, deu origem ao setor de Educação do município, mas somente em 1959, por
meio da Lei 2.206, de 21 de dezembro, é que as Secretarias Municipais foram
criadas. A Secretaria de Educação foi organizada, conforme organograma (Anexo
01)
13
, modificando leis e implantando um sistema de construção de prédios
escolares para posterior entrega à administração estadual (s.d., p.2).
Várias reformas administrativas ocorreram até que, a partir do ano
passado, após aprovação de nova reforma na Câmara dos Vereadores, a
estrutura administrativa da Secretaria de Educação (Anexo 02) tornou-se mais
13
É difícil precisar a data em que entrou em vigor o referido organograma anexo. Contudo, ao
examinar o número de Parques Infantis e Escolas Pré-Primárias existentes na época e
mencionados no documento, pode-se supor que o mesmo retrata uma realidade vivida no final da
década de 1960 e início de 1970.
73
complexo. Essa passou a contar com três departamentos, que são divididos em
Coordenadorias e que, por sua vez, são subdivididas em Seções. Existe uma
Seção de Educação Infantil que trata especificamente das questões relacionadas
ao trabalho pedagógico com as crianças pequenas. Os membros da Seção,
sempre que possível e quando são chamados pelos engenheiros responsáveis,
interferem na construção, reforma e adaptação dos prédios; pesquisam e
solicitam a compra de livros, materiais e brinquedos; visitam e discutem com os
Coordenadores Pedagógicos subsídios teóricos-práticos; discutem, reformulam e
propõem modificações no plano de curso e em documentos para o registro e
avaliação do processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças. Sempre
que são contratadas novas monitoras de Creche, realizam uma formação inicial
para tais profissionais que, além de estudarem textos que contêm subsídios
teóricos, passam por uma espécie de estágio com monitoras mais antigas, antes
de ingressarem no trabalho.
Retornando à história da educação da infância no contexto da cidade de
Santos, encontra-se relato de Nicanor Miranda que evidenciou o interesse pela
assistência e educação de crianças a partir de 3 anos. Miranda (s.d.) foi um dos
educadores que contribuiu para o registro da história da educação infantil santista.
Por ocasião da Semana da Criança, concedeu uma conferência ao Rotary Clube
e, também, uma entrevista ao jornal “O Diário” de Santos, sobre como deveria ser
a experiência da recreação infantil santista. Mais tarde, o texto foi publicado com
o nome Recreação para a Criança Santista.
Na época, diretor da Divisão de Educação e Recreio do Departamento de
Cultura da municipalidade paulista, Miranda, com o objetivo de trabalhar com a
educação popular e difundir a cultura física da cidade de São Paulo, tinha sob sua
74
responsabilidade a direção dos Parques Infantis, que cuidavam de crianças até 12
anos, bem como do estádio municipal, das piscinas e dos clubes de menores
operários.
Interpelado sobre a recreação infantil em Santos, o autor remete-se à
Constituição de 1934 para lembrar que esse é um serviço que deve ser oferecido
à população trabalhadora pelo município, por meio da aplicação de, no mínimo
10% do montante de impostos arrecadados pelos cofres públicos de cada cidade.
Afirma, ainda (s.d., p. 5), que cada município deve instituir o modelo de recreação
infantil mais adequado à sua realidade, desaconselhando a transposição do
modelo paulista de Parques Infantis para o contexto santista. Miranda aconselha
centros de recreio compostos de duas partes: uma área na praia e outra em
salões próximos. O objetivo desse Centro seria oferecer educação física como
meio para a formação moral e social das crianças, fundamentada na ciência.
Destaca que o trabalho deve ser realizado por professores que deveriam ter em
seu programa atividades como teatro, modelagem, desenho, trabalhos manuais,
música e dança e, ainda, jogos livres, excursões, acampamentos e festas infantis.
Com relação aos recursos financeiros, Nicanor relata a experiência vivida
em São Paulo, demonstrando seu entusiasmo pela proposta e o compromisso
social do Rotary Clube:
(...) Mas dirão muitos, tudo isso é muito bonito, mas irrealizável. O
Município de Santos não dispõe de recursos para instalação
imediatamente de vinte centros de recreio nas suas praias... São Paulo,
cuja Prefeitura arrecada anualmente 150 mil contos de réis não possuía,
há três anos um Parque Infantil seque e, hoje possui sete (...) O que
importa é pois começar. E começar quanto antes...Ninguém melhor do
que o Rotary Clube poderá ventilar, estimular, entusiasmar uma obra
desse valor social (Miranda, s.d., p. 10).
Nesta mesma época, o Rotary Clube criou e manteve durante muitos anos
a Escola de Saúde, que funcionava no palanque de concerto da banda de
75
música, com objetivos recreativo-esportivos.
Em Santos, também foi propagada pela administração municipal a filosofia
e estrutura dos Jardins-de-infância, denominados Parques Infantis. Assim, em 12
de outubro de 1942, para absorver as atividades da Escola de Saúde, dando-lhe
uma nova diretriz pedagógica com professoras treinadas em São Paulo, foi
inaugurado o primeiro Parque Infantil, com o nome de Getúlio Vargas. Mesmo
estando esta instituição instalada em um bairro nobre da cidade, o Gonzaga, não
há dados concretos para afirmar que este estabelecimento em Santos servia
apenas aos filhos das famílias mais abastadas.
Posteriormente, o nome do referido Parque Infantil foi alterado para D.
Leonor Mendes de Barros. No início, a instituição acolhia crianças de 3 a 12 anos,
deixando claro que sua função não era apenas de Jardim-de-infância, pois neste
lugar só se dava assistência à crianças de 3 a 6 anos.
A educadora santista Diva Fialho Duarte que já dirigia a Escola de Saúde,
passou a exercer a função de Inspetora de Parque Infantil. Pode-se dizer que
professora Diva teve importante papel no panorama da Educação Infantil Santista.
A educadora também foi responsável pelo órgão que supervisionava os Parques
Infantis de Santos.
Dez anos após a instalação do primeiro Parque Infantil, publica-se o
primeiro número de O Parqueano (Anexo 03), que segundo a responsável pela
edição do jornal (PMS, 1952, p. 5), representa fielmente o desenvolvimento das
diferentes atividades dos Parques Infantis, com a colaboração de crianças e
professoras. A publicação continha, entre outras seções, a de Esportes, a Social,
Receitas, um artigo divulgando o que é e qual a importância do Parque Infantil
com vocabulário acessível aos pais e comunidade. Chama a atenção a seção
76
denominada Enquete Parqueano, que colheu a opinião de crianças sobre a
instituição. Os relatos foram breves e descreviam um local dedicado â cuidados
de higiene e saúde, bem como de brincadeira e prática de esporte.
Após a instalação desse estabelecimento, foram construídos mais três (3)
Parques Infantis (1997), sendo um (1) instalado em 1947 no populoso bairro do
Macuco, outro em bairro pobre, situado na entrada da cidade, inaugurado em
1954, e outro em frente ao canal 1, que começou a funcionar em 1963.
As unidades funcionavam em regime de meio período, sendo dois (2) ou
três (3) turnos diferenciados dependendo da procura por vagas, ou seja, turno da
manhã, intermediário e da tarde. Ofereciam, além de atividades pedagógicas e
esportivas, merenda escolar e serviços de saúde. Todas as unidades possuíam
diretoria, secretaria, sala de professores, cozinha, instalações sanitárias, pátio
externo e interno, salas de aula, gabinete de dentista, bem como gabinete médico
ou enfermaria.
Até 1951, os Parques Infantis existentes na época eram supervisionados
pelo Departamento de Assistência Escolar Municipal, que fazia parte da
Secretaria de Higiene e Saúde. Após o decreto 471, de 19 de março de 1951,
essas instituições passaram à direção do Departamento de Educação. Em 1955,
a configuração dos Parques Infantis altera-se, passando a funcionar com a
estrutura e a organização de uma Pré-escola, sendo que a freqüência de crianças
acima de 7 anos foi vetada.
As denominações utilizadas para estes estabelecimentos variaram de
acordo com a época. Primeiramente, eram chamados de Parques Infantis; no final
de 1969, os novos prédios inaugurados foram chamados de Escolas Pré-
Primárias e, posteriormente, a partir de 1970 e 1972, passaram a denominar-se
77
Pré-escolas. A alteração para Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI)
aconteceu em 8 de novembro de 1974, por meio do Decreto nº. 5167, assinado
pelo Prefeito Antônio Manoel de Carvalho, sendo que no referido documento não
há nenhuma justificativa para tal alteração.
Durante as décadas de 1960, 1970 e 1980, no que tange ao contexto
político, Santos, por ser uma cidade de tradição oposicionista, tendo nos
sindicatos, principalmente no Sindicato dos Metalúrgicos, grande participação
política, sempre contou com políticos de oposição como Esmeraldo Tarquínio, Del
Bosco do Amaral e Mário Covas, membros do MDB
14
e depois do PMDB.
Capistrano Filho e Cidadini (1982) relatam que, mesmo durante a
Ditadura, Santos, juntamente com Campinas, foram cidades do Estado de São
Paulo com forte tendência de oposição, elegendo Senadores, Deputados e
Vereadores emedebistas em quase todas as eleições realizadas neste período.
Somente em 1972, o MDB perdeu a eleição para a Arena em Santos. Nesta
época, o MDB passava por uma forte crise, por causa das cassações de seus
políticos mais proeminentes e da campanha para anulação do voto.
Em 1968, com a imposição do Ato Adicional nº. 05 (AI-5), Santos passou a
ser município de segurança nacional, por ser uma cidade de Porto, e o prefeito
passou a ser indicado pelo governo federal. Esmeraldo Tarquínio, que concorreu
à prefeitura do município pelo PMDB e venceu, nem chegou a ser empossado.
Em relação à educação, durante o período da ditadura, em 1969, cinco (5)
novos prédios escolares foram instalados e receberam o nome Pré-escola, mas
estruturalmente e fisicamente eram semelhantes à estrutura dos Parques Infantis.
78
Em 1977, época da alteração do nome Pré-escola para EMEI, a Secretaria
de Educação contava com 11 instituições que atendiam crianças com faixa etária
entre 4 e 6 anos.
Nos anos 1980, tanto no âmbito administrativo, como no âmbito
pedagógico, constata-se a incorporação da forma escolar com a vinculação
dessas instituições ao Sistema de Ensino do Estado de São Paulo e com a
homologação de documentos como o Plano de Curso e o Regimento Escolar
comum a todas as unidades, que define questões administrativas como competes
de funcionários, horários de funcionamento, calendário escolar, funcionamento da
associação de pais e mestres, e questões relacionadas ao currículo escolar, como
áreas de estimulação, tipos de avaliação e conceitos a serem atribuídos aos
alunos.
Já a luta pela instituição de Creches na cidade teve contornos diferentes do
histórico da Pré-escola, bem como dos de outras cidades do Estado de São Paulo
e do Brasil, por ser, como já se disse, uma cidade portuária e por isso, durante a
Ditadura, ter sofrido a intervenção do governo federal.
A história da implantação de Creches Municipais geridas diretamente pela
Prefeitura de Santos é relativamente recente. Em 1983, havia apenas uma
Creche gerenciada diretamente pela administração municipal, a Creche Yara
Nascimento Santini, localizada no Bairro do Jardim Castelo, sendo que a
demanda potencial da cidade era de mais de 250 Creches ( PMS, 1994, p. 4).
A partir de 1989, a administração política da Prefeitura foi contemplada,
durante dois mandatos seguidos, pela coordenação de importantes líderes do PT:
14
O MDB – Movimento Democrático Brasileiro, converte-se em PMDB, em 1980, com a reforma dos partidos.
Herdou a máquina partidária do MDB e a forte tradição de oposição, tornando-se um partido de centro
79
primeiramente a professora Telma de Souza e, posteriormente o médico David
Capistrano, que participou das duas gestões. Na primeira gestão, ocupou o cargo
de Secretário de Sáude, contribuindo para a desinstitucionalização dos serviços
de saúde mental, o que fez surgir uma nova mentalidade com relação à inclusão,
atingindo os setores educacionais e sociais. Dessa forma, a gestão do serviço
público voltou-se para a prioridade do atendimento das demandas
socioeducativas, o que provocou o aumento do número de instituições de
atendimento à população mais desfavorecida no município.
Até o início da década de 1990, a Assistência Social, por meio do DEPAC,
era quem geria as Creches santistas. Esse Departamento estava ligado
diretamente ao gabinete do Prefeito, sem uma política clara de trabalho. A cidade,
por sua vez, tinha forte tradição filantrópica, dificultando outras iniciativas. Nessa
época, o cargo exercido pelo profissional que cuidava diretamente das crianças
intitulava-se Monitor de Ação Comunitária. Os mesmos trabalhavam em regime
de 8 horas diárias.
Em abril de 1991, foi criada a SEAC, que cuidava das Creches Municipais.
Já, em 1992, o quadro de Creches aumentou de uma para nove unidades. Os
objetivos destacados, nesta época, pela Secretária de Ação Comunitária, Maria
do Rosário C. de Sales Gomes, eram o de buscar um modelo de atenção
integrado entre assistência social e educação e, ainda, preservar a função social
da Creche, como irradiadora do trabalho de organização de mães, mulheres,
pessoas do bairro, desenvolvendo trabalhos de interesse coletivo, palestras,
oficinas geradoras de renda (PMS, 1992, p. 4).
Em documentos regididos pela SEAC (1991, 1992, 1993), a preocupação
liberal. (Filho e Citadini, 1982).
80
com o aspecto educacional da Creche e com a integração Educação e
Assistência Social era constantemente lembrada. A Creche era apresentada
como um equipamento social e educativo, com dimensões políticas e
pedagógicas, que deveria prestar serviço à família, superando o papel primário de
guarda e complementando o processo educativo da crianças, sem substituir ou
sobrepor o papel familiar.
Alguns destes textos analisados relatam que, mesmo as Creches sendo
geridas pela SEAC, havia uma parceira com a Secretaria de Educação que
proporcionava uma supervisão pedagógica realizada pelos responsáveis da
Seção de Educação Infantil por meio de visitas e reuniões. Tal fato passou
despercebido pelas Monitoras de Creche mais antigas que foram entrevistadas.
Elas afirmam desconhecer que, antes da passagem das Creches para a SEDUC,
havia a visita de profissionais da Educação.
Nesta época, o atendimento de Creche era feito para crianças de até 6
anos de idade. Os responsáveis pelos equipamentos eram Assistentes Sociais ou
Psicólogos.
Em 1993, todas as Creches passaram a ser de responsabilidade da
SEDUC. Alguns relatos de Monitoras de Creche que vivenciaram este momento
demonstraram que não foi uma passagem tranqüila, pois a SEAC não queria se
desfazer dessa vertente de seu trabalho, considerada positiva, e a SEDUC não
sabia muito bem o que fazer com mais essa incumbência.
Já na SEDUC, as profissionais passaram a ser denominadas Monitoras de
Creche e, em 1994, conquistaram, após muitas reivindicações, a alteração da
carga horária de trabalho de 8 para 6 horas. Antes, elas trabalhavam 8 horas
com uma hora de almoço dentro da Creche, sendo que uma profissional entrava
81
às 7h e ficava sozinha com as crianças até às 9h. À tarde, a Monitora que
entrasse mais cedo, saía às 16h e a outra colega ficava com todas as crianças
até a hora da saída, às 18h. Essas passaram a trabalhar das 7 às 13h ou das 12
às 18h.
A promulgação da L.D.B.E.N. em 1996 trouxe conseqüências significativas
ao panorama santista. A primeira delas foi que as instituições que atendiam à
faixa etária de zero a seis anos passaram a atender exclusivamente crianças de
até 3 anos de idade.
As exigências da lei, a visão diferenciada da SEDUC e as reivindicações de
pais, cidadãos, entidades civis e dos profissionais da Creche, conseguiram alterar
alguns aspectos da realidade dessas instituições no município de Santos. A
seguir, descreve-se a conformação atual desses equipamentos.
2.2. A configuração das Creches municipais santistas nos dias atuais
Atualmente a Secretaria de Educação conta com 18 Creches Municipais
sendo que mais uma deve ser inaugurada até o final do 1
o
semestre do corrente
ano. Na época em que foi realizada a primeira fase da pesquisa de campo, ou
seja, o questionário, havia 16 Creches Municipais. Hoje, as Creches Municipais
atendem a quase 2 mil crianças distribuídas, conforme tabela a seguir.
82
Tabela 01 - Creches Municipais da Secretaria de Educação de Santos
Micro Bairros Creches Grupos Total Geral
Região atendidos Sala Aluno
3 Boqueirão, Casa da Criança INF, I,II,III,IV 9 152
Encruzilhada, Macuco
4 Gonzaga, Pompéia, Lydia Federici INF, I,II,III,IV 10 117
José Menino, Marapé Padre Francisco Leite INF, I,II,III,IV 7 136
6 Jabaquara, V. Mathias, Gemma Rebelo INF, I,II,III,IV 5 100
V. Nova, Centro, Paquetá Candinha Ribeiro INF, I,II,III,IV 7 102
7 Valongo, Saboó, Chico de Hilda Rabaça INF, I,II,III 4 50
Paula, Jd São Manoel Maria Luiza S. Ribeiro INF, I,II,III 8 156
Flávio Cipriano Barbosa INF, I,II,III,IV 6 64
9 Areia Branca
A
nízio Bento INF, I,II,III,IV 8 162
José de Sá Porto INF, I,II,III,IV 9 143
Jardim Rádio Clube Yara Santini INF, I,II,III,IV 6 153
Hilda D'Onófrio Papa INF, I,II,III,IV 4 58
Jardim Castelo João Walter S. Smolka INF,III,IV 10 151
Sandra Cristina T. da Gama INF, I,II,III,IV 7 11
10 Jd. Piratininga Vila dos Criadores INF, II,III,IV 1 7
11 Morros Regina Altman INF, II,III,IV 8 150
Laurival Rodrigues INF,II,III,IV 5 89
Luiz Lopes INF,II,III,IV 4 46
Total 118 1945
Fonte: Prefeitura Municipal de Santos, Secretaria de Educação, 2006.
A denominação Creche está sendo alterada para U.M.E – Unidade
Municipal de Educação, conforme projeto que já foi aprovado na Câmara dos
Vereadores e encontra-se nos trâmites finais. Acredita-se que tal fato irá contribuir
para efetivar o caráter educativo da Creche.
Apesar de as Creches Municipais terem sido transferidas para a SEDUC no
início de 1993, oficialmente apenas em dezembro de 2005, por meio da portaria
001/2005 - DEPLAN/SEDUC, as mesmas são legalmente autorizadas a funcionar.
Tal situação vem, de certa forma, incorporar aspectos da “forma escolar” à
83
Creche, com a obrigatoriedade que estas unidades passaram a ter de manter seu
Plano Escolar e Regimento Escolar. Por outro lado, as Creches já seguiam tais
normas e, a partir de sua legalização, puderam oficializar a Associação de Pais e
Mestres de cada uma das Unidades.
A maioria dos prédios das Creches (11) são instalados em sede própria.
quatro Creches (Lydia Feredici, Candinha Ribeiro, Hilda Rabaça e Flavio Cipriano
Barbosa) que funcionam em locais alugados e três (Casa da Criança, Francisco
Leite e Criadores) que estão em locais com os quais foi feito convênio para
cessão das dependências, mas a infra-estrutura e a administração são totalmente
responsabilidade da Prefeitura Municipal.
Em relação ao espaço físico, excetuando a Creche da Vila dos Criadores,
todas as Creches Municipais possuem, em suas dependências, dispositivos de
segurança como grades ou redes, portões baixos e boas condições de higiene e
limpeza. Possuem ainda, com certa diferenciação de tamanho de unidade para
unidade, diretoria, secretaria, refeitório, cozinha, despensa para alimentos, parque
ou play ground, salas, berçário e lactário, área livre e coberta, vestiário e
sanitários adaptados à idade das crianças e depósito para materiais de limpeza. A
grande maioria das unidades tem pelo menos uma sala alternativa que pode ser
uma brinquedoteca ou sala de Tv e vídeo ou sala ambiente com diversos tipos de
materiais.
A arquitetura e a distribuição dos espaços internos variam muito de Creche
para Creche, já que há prédios que foram adaptados e outros construídos.
Contudo, procura-se seguir as normas estabelecidas pela Resolução SS-40 da
84
Secretaria Estadual de Saúde
15
, adaptando ou construindo ambientes adequados
e propícios ao bem-estar das crianças e saúde dos funcionários em geral.
A Secretaria de Educação fornece uniforme a todas as crianças, bem como
materiais, produtos alimentícios, equipamentos e recursos didático-pedagógicos
às Unidades. No entanto, as Creches também promovem festas, bazares e rifas
para arrecadação de fundo para a compra de brinquedos às crianças ou de
materiais não fornecidos pela Secretaria.
Para acompanhar o trabalho pedagógico, conta-se com a supervisão da
SEDUC, por meio dos membros da Seção de Educação Infantil do Departamento
Pedagógico e de uma Supervisora de Ensino designada para cada unidade.
Dentro da Creche há, ainda, o Coordenador Pedagógico, que deve fazer um
trabalho de orientação pedagógica, mesmo sendo escasso o espaço para horário
coletivo de reuniões. Tal fato influencia negativamente no trabalho pedagógico, já
que não se propicia um espaço coletivo para reflexão e atualização da formação.
Cipollone (1998), em sua pesquisa na Itália, em que ressalta a importância da
atualização permanente do educador, demonstra que a atualização é um
instrumento de trabalho do grupo de educadores e só faz sentido se coligada à
ação. A autora revela que esta é
(...) uma atividade que auxilia a função educacional que se realiza
através de pesquisas, documentação, reflexão sobre assuntos
educacionais, produzindo um saber que mais tarde é investido
novamente no projeto de novos assuntos educacionais, na criação de
15
Estes dados seguem o padrão estabelecido pela resolução SS-44, de 30 de janeiro de 1992, da
Secretaria Estadual de Saúde, que aprovou Normas Técnicas para Creches e ou
Estabelecimentos Congêneres. A resolução apóia-se na Constituição Federal, especificamente no
artigo 7
o
, inciso XXV, que trata da assistência gratuita em Creches e Pré-escolas e no artigo 208,
inciso IV, que afirma ser dever do Estado garantir atendimento em Creche e Pré-escola às
crianças de 0 a 6 anos de idade. O documento define Creche e ou instituições congêneres como
“...instituições da Comunidade de caráter social e educativo, que atendem crianças de 0 a 6 anos
e 11 meses ... visando a guarda, a complementação dos cuidados familiares, a formação e
desenvolvimento da criança” (D.O.E., 1992, p. 13). Até a presente data, não há outro documento
que tenha revogado as normas estabelecidas nesta resolução.
85
capacidades de trabalho, na determinação da qualidade de trabalho na
instituição e, portanto, incide também na maneira de operar e de
relacionar-se no interior e exterior da instituição (1998, p. 127)
Com relação à proposta educativa, há um Plano de Curso proposto a partir
dos RCN-EI. O referido plano é considerado uma sugestão, que contém objetivos
a serem trabalhados com as crianças pequenas, tendo em vista o seu nível de
desenvolvimento e aspectos relacionados ao binômio cuidar-e-educar.
Neste ano, foi instituído o portifólio como forma de registro do trabalho
desenvolvido com cada grupo de crianças. Nesse documento, há sugestão de
vários tipos de registro como uma ficha para ser preenchida com observações
feitas pelos pais, um formulário para registro dos projetos realizados no grupo,
uma ficha de apreciação de trabalhos mais significativos, preenchida pela própria
criança, com ajuda da Monitora como escriba. Há também uma ficha de
observação individual de cada criança, que é considerada obrigatória e deverá ser
preenchida pelas profissionais-docentes de cada grupo.
Cabe ressaltar a importância da observação e do registro para essa faixa
etária. Vários pesquisadores, dentre eles, Cipollone (1998) e Foni (1998)
ressaltam que a observação permite confrontar as percepções das situações
observadas, tanto em relação ao trabalho educativo da profissional-docente,
como em relação ao desenvolvimento da criança, buscando superar a impressão
momentânea e subjetiva, para refletir sobre a prática educativa cotidiana.
Apenas uma das unidades tem como proposta pedagógica o trabalho com
sala ambiente em que há o rodízio dos grupos de crianças acompanhado das
profissionais-docentes de Creche, com exceção dos bebês. Há o estabelecimento
de um cronograma de atividades, evitando que mais de um grupo utilize a mesma
86
sala ao mesmo tempo.
Como já foi dito anteriormente, as Creches Municipais contam com um
corpo de funcionários composto de Equipe Técnica que, até 2005, era formado
pelo Diretor e o Coordenador Pedagógico, e a partir de 2006, conta com o
Assistente de Direção. Há, ainda, funcionários da manutenção, da administração
e as Monitoras de Creche.
O número de profissionais e de crianças por unidade varia de acordo com a
capacidade de atendimento de cada Creche, e o padrão estabelecido pela
Secretaria Estadual de Saúde, com relação à proporção Monitora de Creche-
criança, bem como em relação à dimensão espaço-quantidade de crianças,
encontra-se descrito na tabela a seguir, que é adotada pela Prefeitura Municipal
de Santos.
Tabela 02 – Proporção Monitora de Creche- criança e dimensão espaço-
quantidade.
Grupo Faixa etária Proporção
criança-adulto
Número
máximo de
crianças por
sala
Dimensão
espaço- criança
por m²
Infantil I De 3 meses a 12
meses
1 monitora para cada 5
crianças
10 2
Infantil II De 12 meses a 2
anos
1 monitora para cada 8
crianças
16 2
Infantil
III
De 2 anos a 3 anos 1 monitora para cada 13
crianças
26 1,20
Infantil
IV
De 3 anos a 4 anos 1 monitora para cada 15
crianças
25 1,20
Fonte: Prefeitura Municipal de Santos, Secretaria de Educação, 2006.
O quadro de Monitores de Creche é bastante variável. Tomando-se por
base o último quadro de pessoal fornecido pela Secretaria de Educação, em julho
de 2005, e que continua em vigor até a presente data (maio de 2006), já que não
87
houve contratação ou concurso para este segmento, o total de profissionais
docentes é de 598, sendo que, desse número, 50 monitores foram contratados
após julho de 2005 portanto, não responderam o questionário da pesquisa; 17
estão cedidos para outros postos de trabalho, como Secretaria de Educação,
Gabinete, Ouvidoria, Câmara dos Vereadores, outras Secretarias ou Prefeituras
vizinhas ou, ainda, readaptados, sem sede em Creche (Tabela 03). Com previsão
de inauguração de mais uma Creche, haverá demanda de contratação de mais
profissionais para o cargo de Monitor de Creche, mas o mais provável é que o
quadro seja preenchido com Professores de Educação infantil recentemente
concursados.
Tabela 03 - Número de Monitoras por Creche.
CRECHES
Legenda
Atual
Contratado
Estatutário
Cedidos a
outros postos
de trabalho
Total
A
nízio Bento A 42 41 1 1 41
Candina R de Mendonça B 36 10 26 2 34
Casa da Criança C 47 5 42 1 46
Flávio Cipriano Barbosa D 13 11 2 0 13
Gemma Rebello E 33 12 21 1 32
Hilda D’Onorio Papa F 9 7 2 0 9
Hilda Rabaça G 22 9 13 0 22
João Walter S. Smolka H 36 35 1 0 36
Laurival Rodrigues I 29 17 12 1 28
Profª Mª Luiz S. Ribeiro M 47 41 6 1 46
Regina Altman N 31 31 0 1 30
Sandra C. T. da Gama 0 41 41 0 0 41
Yara Nascimento Santini P 29 18 11 2 27
Total 535 357 178 17 518
Fonte: Prefeitura Municipal de Santos, Secretaria de Educação, 2005.
Em relação à formação das profissionais que trabalham diretamente com
88
as crianças pequenas - as Monitoras de Creche -, o quadro histórico, esboçado
anteriormente, é semelhante. As Monitoras de Creche inicialmente apenas
necessitavam gostar de crianças para serem contratadas. Havia a coexistência de
diferentes realidades de formação. Algumas possuíam apenas o antigo primário,
outros concluíram o 1
o
grau, outros o 2
o
grau e algumas haviam cursado o antigo
Magistério. Uma pequena minoria possuía certificado do curso de Pedagogia ou
de outros cursos universitários.
Hoje os profissionais que ingressam para trabalhar na Creche, diretamente
com crianças, devem ter o Ensino Médio concluído. A Secretaria de Educação
vem oferecendo o curso Normal em nível médio para os profissionais contratados,
e, aos profissionais estatutários-efetivos, ofereceu o curso de Pedagogia em uma
instituição da cidade, a UNIMONTE
16
. A grande maioria formou-se no final de
2004 e no 1
o
semestre de 2005. Contudo, o poder público ainda não exige a
formação superior desde o ingresso do profissional para atuar na Rede Municipal
de Ensino.
Assim, pode-se dizer que ainda há uma imensa diversidade de trajetórias
pessoais e profissionais entre as Monitoras de Creche. Elas ingressaram em
diversos momentos históricos, tendo incorporado as diversas funções de Creche
vigentes nestes contextos sóciopolíticos diferenciados.
O breve relato sobre a formação destes profissionais permite inferir que,
até o presente momento, grande parte dos que estão atualmente em função
foram recrutados sob modelos diferentes de formação, de concepção de creche e
serviços para a infância.
16
UNIMONTE, Centro Universitário Monte Serrat, foi a instituição que ofereceu, por meio de
convênio, o curso de Pedagogia às Monitoras de Creche.
89
A diversificação nas trajetórias das profissionais recrutadas para trabalhar
nas Creches faz com que essa instituição seja depositária de inúmeras
experiências de aquisição de saberes relacionados ao binômio cuidar/educar. O
que cabe indagar é como tal diversificação nas experiências concretas de sujeitos
concretos interfere na prática educativa de cada um. E mais especificamente, no
caso das profissionais docentes que se formaram no curso de Pedagogia, e que
são alvo dessa pesquisa, como os conhecimentos adquiridos no referido curso
influenciaram na sua prática educativa atual. Alguns elementos puderam ser
apreendidos a partir do questionário aplicado no segmento Monitora de Creche.
2.3 Os dados coletados a partir do questionário: uma visão mais
aprofundada do grupo de Monitoras de Creche
Com o objetivo de caracterizar o grupo de profissionais docentes que
trabalha diretamente com as crianças nas Creches Municipais de Santos – os 518
Monitores de Creche - utilizou-se um questionário previamente elaborado e
testado, subdividido em três partes gerais: dados de identificação, dados sobre a
experiência de trabalho e dados sobre formação escolar (Apêndice 01). De
acordo com esses itens, foram inseridas questões objetivas e outras dissertativas,
visando a coletar mais informações sobre os grupos de profissionais pesquisados
e buscar uma compreensão de vários aspectos ligados a sua trajetória pessoal
profissional e de formação acadêmica.
O referido instrumento de pesquisa foi distribuído às 16 Creches Municipais
existentes na época, aos Diretores e Coordenadores Pedagógicos, para que eles,
90
por sua vez, o distribuíssem aos 518 Monitores de Creche com o intuito de que
esses respondessem individualmente às questões colocadas, já que não existia
um momento específico no qual o coletivo da Creche estivesse reunido para que
a pesquisadora, pessoalmente, fizesse a intervenção. Foi marcada uma data para
o recolhimento dos questionários. Apesar disso, muitas Creches não conseguiram
entregar a pesquisa na data estipulada, demandando várias visitas às Creches
para conversar com as Monitoras e recolher os documentos.
A carta de apresentação que acompanhou o documento teve o propósito
de explicitar o objetivo da pesquisa e o cuidado com a manutenção do sigilo em
relação ao nome dos pesquisados. Contudo, muitos Monitores, principalmente os
celetistas - contratados, negaram-se a colocar o nome ou a responder às
questões, alegando receio de que as informações contidas no referido
instrumento de pesquisa pudessem ser utilizadas para a não renovação de seu
contrato. Em algumas Creches, a pesquisadora precisou interferir, indo ao local e
explicando detalhes da pesquisa. Em outras instituições, os próprios membros da
Equipe Técnica esforçaram-se para garantir que, pelo menos, 50% dos
questionários fossem respondidos, acreditando na importância da pesquisa em
questão. Acredita-se que esse fato se deve à falta de informação e de prática em
relação aos procedimentos de pesquisa utilizados na academia.
Dos 518 questionários distribuídos, cerca de 43% retornaram, ou seja, 223
questionários foram respondidos, como demonstrado no gráfico 01:
91
Gráfico 01 – Porcentagem de questionários respondidos.
Porcentagem de questionários respondidos
57%
43%
Questionários não
devolvidos
Questionários devolvidos
2.3.1. Os dados de identificação pessoal e profissional das Monitoras
de Creche
Dos profissionais que contribuíram com a pesquisa, apenas três, 1% dos
entrevistados, são Monitores de Creche do sexo masculino. Há confirmação de
que, além deles, não existem mais profissionais do gênero masculino trabalhando
como Monitores de Creche. Esse dado vem confirmar as pesquisas realizadas em
relação à questão de gênero, os quais apontam que, historicamente, a maioria
das profissionais admitidas para trabalhar em Creche são mulheres. Para Haddad
(1991), sendo o cuidado e a educação da criança pequena considerados
historicamente atributos da mulher, o que supostamente revela sua “natureza
feminina”, compreende-se porque o quadro de pessoal compõe-se
prioritariamente de mulheres.
Segundo Rosemberg (2000), o trabalho na Educação Infantil sempre foi
92
uma ocupação eminentemente feminina, diferentemente de outros níveis
educacionais que foram se feminilizando com o passar do tempo. Aos
trabalhadores dessa área foi solicitado que embasassem suas qualificações em
sua capacidade de amar as crianças e no treino de técnicas baseadas no
cuidado.
Para Saparolli (1997), a maioria dos casos em que o homem exerce uma
profissão considerada eminentemente feminina ocorre com a intenção de ocupar
cargos de direção, o que não corresponde à realidade santista, pois o cargo de
Monitor de Creche não oferece chance legal de ascensão a qualquer outro cargo,
podendo apenas ocorrer a migração do profissional para outra secretaria, por
meio de desvio de função.
A faixa etária das entrevistadas é bastante variável, sendo que 30% das
profissionais têm até 30 anos, 29% possuem entre 31 e 40 anos, 28% encontram-
se na faixa etária entre 41 e 50 anos e apenas 9% tem idade superior a 51 anos.
Acredita-se que este fato está diretamente relacionado à situação funcional das
Monitoras de Creche. Pode-se constatar ainda que as profissionais mais novas
são contratadas e as mais velhas, em sua maioria, são estatutárias- efetivas.
93
Gráfico 02 - Dados de identificação sobre a idade das profissionais:
Dados de identificação sobre a idade das
profissionais-docente
10%
20%
14%
15%
19%
12%
9%
1%
18-24 anos
25-30 anos
31-35 anos
36-40 anos
41-45 anos
46-50 anos
51-56 anos
Não informaram
Do total de entrevistadas, 129 têm filhos, ou seja, cerca de 58%. O estado
civil das Monitoras de Creche é diversificado. Também pode-se constatar um
equilíbrio entre casadas e solteiras. A maioria é solteira, cerca de 90 profissionais
(40%), ou casada, cerca de 82 pessoas (37%). Há, ainda, 38 profissionais que
encontram-se separadas ou divorciadas, perfazendo um total de 17% dos
entrevistados, conforme gráfico a seguir:
94
Gráfico 03 – Porcentagem em relação ao estado civil das entrevistadas
Estado Civil
37%
40%
10%
7%
3%
2%
1%
Casada
Solteira
Separada
Divorciada
Outra
Viúva
Não informaram
Com relação à naturalidade, 167 Monitores de Creches, um total de 75%
das pesquisadas, nasceram em municípios da Baixada Santista, conforme o
gráfico abaixo, sendo a maioria natural de Santos, mas havendo pessoas
nascidas em São Vicente, Cubatão e Guarujá. Apenas 12% das profissionais
nasceram em São Paulo ou interior e 10% em outros Estados.
Gráfico 04 - Local de nascimento das Monitoras de Creche
Cidade e Estado de nascimento
7%
10%
3%
75%
5%
Baixada Santista
São Paulo (capital)
Interior de São Paulo
Outros Estados
Não Informaram
95
No item declaração de cor, cujos dados podem ser vistos no gráfico a
seguir, 153 profissionais docentes, cerca de 69%, se autodeclararam brancas,
10% das Monitoras de Creche, descreveram-se como pardas, 12% se
autodeclararam pretas e 2% das pessoas não se encaixaram na cor preta, mas se
identificaram como negras. Algumas profissionais estranharam a denominação
“raça”, protestando ou escrevendo a palavra humana abaixo do item em questão.
Gráfico 05 – Declaração de cor das profissionais-docentes
Cor/raça
1%
5%
20%
69%
4%
1%
Preta
Parda
Branca
Amarela
Negra
Não Informaram
Com relação aos dados de renda, historicamente, no Brasil, a expansão da
Educação Infantil, especialmente no que tange à Creche, tem sido acompanhada
de profunda segregação social e econômica, por meio de um modelo não-formal
de educação, que se apóia nos baixos salários de professoras leigas,
principalmente nas Regiões Norte e Nordeste.
Tal afirmação pode ser comprovada também no contexto santista. A
pesquisa realizada demonstra que a renda familiar de 81% das pesquisadas não
passa de três mil reais, sendo que, desse percentual 38%, 86 Monitoras de
Creche, possuem renda de até dois mil reais; 48, cerca de 22% das profissionais,
96
sobrevivem com uma renda de mil reais e 47, cerca de 21%, recebem até três mil
reais por mês.
Contudo, em relação à moradia, a grande maioria, 154 profissionais (69%)
moram em casa própria e 27% das entrevistadas (60 pessoas) declararam morar
de aluguel.
Gráfico 06 – Tipo de moradia
Tipo de moradia
69%
27%
4%
Própria
Alugada
Não informaram
A grande maioria das profissionais (188), cerca de 85%, moram na cidade
de Santos, mas há profissionais que moram em cidades vizinhas, como São
Vicente (23), Praia Grande (3) e Cubatão (2), conforme demostra o próximo
gráfico:
97
Gráfico 07 – Cidade onde moram
Cidade onde moram
85%
10%
1%
1%
3%
Santos
o Vicente
Praia Grande
Cubatão
Não informaram
Em relação à situação funcional das profissionais docentes de Creche que
responderam ao questionário, 35% são estatutárias, ou seja, 77 pessoas e 145
são contratadas, sendo que a unidade educacional que devolveu o maior número
de questionários respondidos de Monitoras de Creche estatutários que fizeram o
curso de Pedagogia (12) foi a Creche Casa da Criança.
98
Gráfico 08 – Situação funcional das Monitoras de Creche
Situação funcional
35%
65%
Estatutárias
Contratadas
2.3.2. A experiência de trabalho e a formação escolar das Monitoras
de Creche
Das contratadas, 131 profissionais foram admitidas após 1998, cerca de
60%. Tal fato vem denunciar o longo espaço de tempo em que a Prefeitura ficou
sem proporcionar concurso para o cargo, o que não ocorre desde 1996, devido à
discussão que diz respeito a qual cargo seria adequado para ocupar a função de
Monitor de Creche, ou seja, se deveriam ser abertas vagas para o cargo de
Professor de Educação Infantil, sendo que a profissional poderia optar por
trabalhar na Creche ou na Pré-escola ou se seria propícia a criação de outro
cargo específico para Creche como Professor de Creche. Dessa forma,
principalmente a partir de 2003, com a inauguração de várias Creches Municipais,
houve a necessidade de contratação de um grande contingente de pessoal,
99
ultrapassando o número de profissionais estatutárias- efetivas, como se nota no
gráfico abaixo:
Gráfico 09 – Ano de ingresso na Prefeitura Municipal de Santos
Ano de ingresso na PMS
42%
14%
1%
1%
17%
7%
10%
5%
3%
2005-2004
2003-2002
2001-2000
1999-1998
1997-1996
1995-1994
1993-1992
1991-1990
1988-1983
Finalmente, em dezembro de 2005, foi realizado concurso público para o
provimento de cargo de Professor de Educação Infantil. Esses vêm suprindo as
lacunas em relação a profissionais docentes em Creche, com alguns problemas
relativos ao horário de trabalho, pois as Monitoras exercem suas funções por 6
horas-relógio diárias e as professoras que assumem o cargo em Creche
trabalham por 150 hora-aula, havendo uma defasagem de 2 horas-dia no horário.
É importante notar que, com relação à experiência de trabalho, até a data
em que foi realizada a aplicação do questionário
17
, cerca de 63% tinham até cinco
anos de experiência, sendo que 31% tinham até onze meses de experiência como
Monitoras de Creche.
17
O questionário foi o instrumento de coleta de dados utilizado na 1
a
etapa da pesquisa, sendo
aplicado em junho/ julho de 2005.
100
Gráfico 10 – Tempo de experiência como Monitora de Creche na PMS
Tempo de experiência como Monitora de Creche na
PMS
4%
35%
20%
24%
16%
1%
Menos de 3 meses
3m a 11 m
1a a 5a
6a a 10a
11a a 20a
21a a 30a
O fato de a maioria das Monitoras de Creches serem contratadas e terem
menos de 6 anos de experiência trouxe uma realidade semelhante à vivida antes
da promulgação da L.D.B.E.N. Foi necessário investir na formação em serviço
destas profissionais, que ainda foram admitidas tendo apenas o Ensino Médio.
Assim, a equipe da Secretaria de Educação, juntamente com a equipe técnica da
Creche, tem buscado fornecer orientações e estágios com Monitoras mais
experientes, quando estas profissionais são admitidas e, ainda, em cursos e
palestras sempre que possível.
Por outro lado, cerca de 15% de Monitoras de Creche com tempo de
serviço superior a dez anos construíram sua experiência profissional baseada
inicialmente em modelos da área da Assistência Social, constituindo um conjunto
de crenças, valores, hábitos e normas diferenciada das atuais propostas.
Problema semelhante também ocorre em outros países, embora por
motivos diferentes. Segundo Ongari e Molina (2003, p. 92), como na Itália
também não há um único modelo de formação para a educadora docente de
101
Creche, surge a importância da formação continuada como elemento central de
aquisição de competência. Tal fato reflete mais uma vez a importância de se criar
espaços de discussão coletiva e dentro e fora do horário de serviço, com cursos e
reuniões de troca de experiência. As monitoras, em entrevista relevaram que o
curso de Pedagogia criou esse espaço para a discussão dos diversos modelos de
Creche. Esses relatos encontram-se descritos no item sobre a opinião dessas
profissionais.
Os dados sobre a experiência de trabalho das profissionais de Creche,
mostraram aspectos importantes a serem mencionados. A grande maioria delas
cerca de 163, conforme o gráfico 11 a seguir, já tinha trabalhado anteriormente.
As ocupações exercidas variam muito de ramo de atuação, dentre os quais estão
educação, saúde, setor administrativo-financeiro, comércio e até profissões
liberais. As profissões relacionadas à área de educação são dois (2)
coordenadores pedagógicos em outras redes de ensino, 43 professores de
diversos níveis de ensino e atuação, seis (6) inspetores de alunos, 11 monitores,
uma (1) contadora de histórias, uma (1) merendeira e três (3) ajudantes gerais.
Com relação ao campo da saúde um grande número de profissionais exerceu
funções de auxiliares de laboratório, de consultório odontológico, de enfermagem,
acompanhantes terapêutico, contatóloga, técnico de nutrição e agente do INSS.
No setor administrativo financeiro, as ocupações mais freqüentes são bancários,
auxiliares de administrativo, de escritório, de contabilidade e escriturários, analista
de RH, telefonistas, recepcionistas entre outros. No setor do comércio, muitos
profissionais trabalharam como vendedores, balconistas, operadores de
telemarketing garçonetes. Profissões como psicólogo, advogado, administrador
de empresas, empresária também foram indicadas como menos freqüência.
102
Gráfico 11 – Exerceu outro trabalho antes de ser Monitora de Creche?
Exerceu outro trabalho antes de ser Monitora de
Creche?
73%
26%
1%
Sim
Não
Não informaram
Cerca de 57% dos profissionais declarou ter tido experiência com crianças
(gráfico 12), antes de exercerem o cargo de Monitores de Creche. Além daquelas
que anteriormente trabalharam no setor da educação, algumas profissionais,
cerca de 31, apontaram a experiência de ser mãe ou o cuidado com irmãos mais
novos, ou ainda com sobrinhos e afilhados como sendo uma experiência de
trabalho com criança. Outros (23 pessoas), ainda, apontaram como experiência
com criança o trabalho de voluntariado em igrejas, hospitais e Creches–abrigo.
103
Gráfico 12 – Experiência com crianças antes de ser Monitora de Creche?
Experiência com crianças antes de ser Moniotra de
Creche?
57%
42%
1%
Sim
Não
Não informaram
Com relação à pergunta sobre como adquiriu experiência como Monitora
de Creche, sendo facultativo indicar mais de uma alternativa, as respostas com
maior incidência, foram: por meio da prática do dia-a-dia da Creche (199
respostas), da troca de experiências com os colegas (144), da observação dos
demais colegas de trabalho (131), da experiência de ser mãe (98), da leitura de
textos, artigos de revista e de livros (124) e do curso de Pedagogia (93). De
acordo com estas respostas, há elementos para supor que a maioria das
profissionais ainda acredita que a experiência de ser Monitora de Creche se
adquire no dia-a-dia e possivelmente consideram que suas ações não sofrem
muita interferência da assim chamada teoria pedagógica.
A baixa incidência de respostas para o curso de Pedagogia evidencia o
número pequeno de Monitoras que fizeram a referida formação e que
responderam o questionário. No entanto, percebe-se que também há menos
incidência de respostas para o quesito referente à experiência de ser mãe.
As respostas acima foram agrupadas em três grupos distintos, de acordo
104
com a natureza e especificidade. O primeiro grupo trata-se de experiências
adquiridas por meio da formação, que diz respeito ao curso de Pedagogia, a
outros cursos e leituras e ao estágio. Este recebeu 327 das respostas, 33% do
total.
O segundo agrupamento recebeu 474 respostas, ou seja, 48% do total e
relaciona-se às experiências adquiridas no dia-a-dia da Creche como troca de
experiências, prática cotidiana e observação ou conversas com colegas. O
terceiro grupo refere-se à outras experiências adquiridas fora da Creche, que
engloba a experiência de ser mãe ou adquirida em outros trabalhos com crianças
pequenas, que obteve 168 respostas, cerca de 17% do total respondido.
No item denominado outros, que recebeu 2% das respostas, algumas
Monitoras de Creche indicaram, além de contato com outros profissionais como
psicólogos e fonoaudiólogos, o diálogo com os pais procurando conhecer a
realidade da criança, a auto-análise constante de seu trabalho e o contato com as
próprias crianças, como importantes a fim de adquirir experiência e melhorar a
atuação como profissional.
105
Grafico 13 – Como adquiriu sua experiência como Monitora de Creche.
Como adquiriu sua experncia como Monitora de
creche
33%
48%
17%
2%
Formão
Dia-adia
Outras experiências
Outros
Percebe-se que a maioria das respostas dadas, foram encaminhadas para
o segundo grupo (48%), que apoia as experiências adquiridas no dia-a-dia da
Creche, contra 33% que advém das questões relacionadas à formação.
Este fato pode indicar o que Tardif (apud Freitas, 2005, p. 179) tem defendido em
relação ao pouco impacto da formação sobre os profissionais de modo geral e,
neste caso específico sobre os profissionais da Creche. Segundo o autor, não se
pode descartar a história de vida das educadoras e suas aprendizagens
experienciais. Tais experiências construídas de forma direta, pela observação ou
pela imitação ainda são referência para justificar o perfil do profissional docente. A
crença diz que aprende-se a trabalhar, trabalhando.
Contudo, os relatos das Monitoras que realizaram o curso de Pedagogia
não descartam a importância da formação para a prática, no entanto o coloca com
um complemento.
106
Em relação aos conteúdos aprendidos nos cursos de formação, Tardif
(apud Freitas, 2005, p. 179) relata os profissionais filtram e eliminam o que lhes
parece abstrato ou sem relação com a realidade vivida, submetendo o saber a um
processo de validação construído pela prática cotidiana.
Ao estudar os dados relacionados à formação escolar, percebe-se que
apesar da exigência para o cargo ser ensino médio, há profissionais formados em
Psicologia, Direito, Propaganda, Comércio exterior, outros com cursos técnicos
como Magistério. De acordo com os dados da tabela a seguir, cerca 80
profissionais possuem certificado do curso de Pedagogia e 5 fizeram Pós-
graduação na área da Educação.
Tabela 04 – Nível de escolaridade das Monitoras de Creche
Nível de escolaridade Número de
profissionais
%
2
o
grau ou Ensino Médio incompleto 06 3
2
o
grau ou Ensino Médio completo -
Magistério ou Normal em nível Médio 20 8
Outros cursos profissionalizantes em Nível Médio 4 2
Ensino Superior incompleto 17 7
Curso de Pedagogia 26
Outros cursos superiores completos 15 6
Pós-graduação lato sensu 5 2
Não responderam 25
TOTAL
Ao examinar as respostas sobre a preferência das Monitoras de Creche em
relação ao seu trabalho, são descritas como atividades mais interessantes, em
sua maioria, às realizadas especificamente com as crianças. Muitas profissionais
(49) dizem gostar de tudo o que fazem com as crianças, sendo que apenas duas
profissionais relataram gostar de planejar atividades para desenvolver com as
107
crianças e outras duas afirmaram gostar de desenvolver projetos.
As atividades de cuidado como banho, higiene e alimentação são citadas e
aparentemente valorizadas, por cerca de 24 Monitoras de Creche.
Os termos ensinar e brincar são utilizados, em muitos relatos, como
complementares entre si. Contudo, a brincadeira ou ludicidade é mais
mencionada pelas Monitoras, cerca de 34 relatos. Parece haver um consenso que
a criança aprende por meio da brincadeira.
Há depoimentos (17) que relatam levar em consideração o que a criança
pensa ou sente. Comumente, são utilizadas expressões que dizem respeito à
criança e sua ação em relação ao conhecimento ou ao outro, como por exemplo:
interesse, prazer, diálogo, conversa, troca, interação, mediação e autonomia.
O aspecto afetivo também aparece constantemente nos depoimentos (12
vezes) por meio de palavras como amor, carinho, afeto, acolhimento, entre outras.
Em relação às atividades pedagógicas mais interessantes segundo as
Monitoras de Creche, estão: ensinar a criança a falar e cantar (apareceu 42
vezes), ler e contar histórias (apareceu 29 vezes), atividades envolvendo
movimento, dança e expressão corporal (15 vezes), atividades com artes-
plásticas, pintar, desenhar, modelar (10 depoimentos), atividades que explorem o
conhecimento lógico-matemático (2 relatos), estudos do meio (2 depoimentos),
teatro, coordenação motora e identificação de cores e animais (apenas 1
ocorrência de cada uma dessas atividades).
A justificativa utilizada para o trabalho de uma forma ou de outra, muitas
vezes recai sobre a expectativa ou a satisfação de acompanhar e observar o
desenvolvimento da criança (cerca de 49 respostas).
108
Nota-se uma diferenciação no vocabulário escrito, ao se descrever as
tarefas que as Monitoras de Creche entendem como mais interessantes. As
profissionais que concluíram o ensino superior, mais especificamente o curso de
Pedagogia, utilizam termos e descrevem seus interesses de uma forma mais
técnica, intencional e estruturada. Escrevem, por exemplo, “propiciar atividades
que estimulem a autonomia e o gosto pela leitura”; “planejar atividades
pedagógicas”; “desenvolver projetos”; “atuar como mediador entre o
conhecimento e a criança”; “troca dialética de experiências”; entre outros. Ao
passo que as demais profissionais descrevem as atividades em si, como por
exemplo, “identificação de animais e cores”, “contar histórias”, “brincar no parque”,
“montar painel”, “passeios externos”, “dança”, “massinha”, “pintura” etc.
Com relação à função que as Monitoras de Creche menos gostam de
exercer, cerca de 43 profissionais descreveram as tarefas relativas aos cuidados
físicos (trocar fraldas, limpar vômitos, dar remédio, banho, alimentação) como
sendo as mais trabalhosas e menos interessantes. Cerca de 20 profissionais não
gostam dos serviços administrativo-burocráticos, como preenchimento de
caderneta e relatórios sobre as crianças.
Outro ponto que chama bastante a atenção é que alguns profissionais (60
aproximadamente), principalmente, os estatutários-efetivos, queixam-se é o da
falta de reconhecimento e valorização profissional. Alguns afirmam não gostar da
diferenciação feita pela Prefeitura Municipal e Secretaria de Educação entre
monitor e professor. Outros ( 22 depoimentos) revelam a falta de interesse e
reconhecimento dos pais e da sociedade, já que como dizem, esta é a fase do
desenvolvimento infantil mais importante.
Há 21 relatos de profissionais que dizem não haver nada que não gostam,
109
6 que dizem não gostar quando a criança chega doente ou maltratada à Creche.
Cerca de 49 pessoas não opinaram e 2 disseram não gostar de fofocas.
Gráfico 14 – Em sua função o que menos gosta?
Em sua função, o que menos gosta?
19%
8%
29%
10%
3%
1%
8%
22%
Cuidados
Serviços Adm. Burocráticos
Falta de reconhecimento pela SEDUC
Falta de reconhecimento pelos pais e sociedade em geral
Crianças maltratadas ou doentes
Fofocas
Não há
Não opinaram
Com relação à avaliação que os profissionais fazem de seu próprio
trabalho, a grande maioria, 127 relatos, utilizam termos como bom, gratificante,
prazeroso, excelente, ótimo, adoram o que fazem e satisfatório. Alguns relatam
que aprendem (14 depoimentos) muito com as crianças e com isso a qualidade
do seu trabalho melhora a cada dia, mas acreditam precisarem ampliar ainda
mais o seu leque de conhecimento. Doze profissionais relatam que o ofício exige
muita responsabilidade, porque se trabalha com a base do desenvolvimento da
criança, outros três, acreditam que seu trabalho é bom, porque vêem os
resultados dele no desenvolvimento das crianças. Qualidades como paciente,
amorosa, carinhosa, dedicada, comprometida, criativa, competente foram
110
constantemente mencionadas na maioria das respostas.
Apenas duas profissionais apontaram que a junção da teoria à prática
proporcionada pelo curso de Pedagogia, melhorou consideravelmente seu
trabalho.
Certos profissionais (10 depoimentos) mencionaram que há falta de
recursos materiais, o que prejudica o trabalho com as crianças e outros dois
reclamaram maior interação entre todos os funcionários da Creche. Apenas
quatro Monitores de Creche relataram que o trabalho é cansativo.
Dentre os profissionais que concluíram o ensino superior, mais
especificamente o curso de Pedagogia, o que consideraram de mais importante
naquilo que aprenderam foi a fundamentação teórica para o embasamento de sua
prática cotidiana (42 profissionais). Muitos relatos descreveram que a teoria
apresentada no curso confirma o que faziam levando em conta o bom senso.
Dado apontado também nas entrevistas. Outras questões apontadas como
importantes foram o estudo das características do desenvolvimento infantil, aliado
à metodologia de ensino e à didática, a troca de experiência com os colegas, a
ampliação de visão de mundo, a postura frente aos alunos e a oportunidade de
aprimoramento nos estudos que o curso oferece.
Dentre os 218 profissionais que responderam se consideravam a hipótese
de mudar de cargo, a maioria (115) respondeu que não. Muitas destas
mencionaram que gostariam, apenas, de reconhecimento e valorização do cargo
de Monitor de Creche. Cerca de 12 profissionais, 5%, solicitaram a mudança de
nomenclatura de Monitor de Creche para Professor para Professor de Educação
Infantil. Entre os 56% que gostariam de permanecer no cargo, ou seja, 127
Monitoras de Creche, 69 profissionais-docentes possuem o diploma do curso de
111
Pedagogia. Dentre as que gostariam de mudar de cargo (41%), cerca de 91
pessoas gostaria de continuar na área de Educação, passando a exercer função
de Professor em outros níveis de Ensino ou cargos administrativos de chefia,
como Direção, Coordenação ou Orientação.
Gráfico 15 – Pretende mudar de cargo?
Pretende mudar de cargo?
41%
51%
5%
3%
Sim
o
Mudar a nomenclatura
Não informaram
Ao todo, das 79 Monitores de Creche estatutárias-efetivas que
responderam o questionário da pesquisa, 51 concluíram o curso de Pedagogia
oferecido pela Secretaria Municipal de Educação, cerca de 30 % do total de
profissionais que freqüentaram o referido curso, que gira em torno de 168
pessoas.
Dos questionários respondidos, as Creches onde há maior concentração
de profissionais formadas são a Casa de Criança (12), situada na zona leste da
cidade e a Creche José de Sá Porto (9) situada na zona noroeste. A Creche Casa
da Criança foi a escolhida para a realização da observação e da entrevista com
as Monitoras por ser uma Creche antiga, inaugurada ainda na época em que as
112
mesmas estavam sob a responsabilidade da Secretaria de Ação Comunitária e
por haver maior número de profissionais que realizaram o curso de Pedagogia
oferecido pela Secretaria Municipal de Educação.
Após exposição dos dados coletados e verificando a heterogeneidade dos
elementos relatados, pode-se constatar que existem informações suficientemente
dispostas, que necessitam ser organizadas com o propósito de responder à
indagação sobre os processos de transformação dos conhecimentos trabalhados
no curso de Pedagogia e a sua relação entre os elementos constitutivos das
práticas dessas Monitoras de Creche, sobre suas origens e seus processos de
cristalização enquanto “conhecimento prático da profissional-docente da Creche”.
Assim como, é possível e necessário conhecer os itinerários sociais que
transferem o saber cuidar da sociedade para a Creche.
Para tanto, a partir dos dados de observação da Creche Casa da Criança,
organizou-se entrevistas semi-abertas com quatro das Monitoras de Creche. A
seguir, antes de apresentar os dados da entrevista, descreve-se a observação
realizada na referida Unidade Educacional, cujo roteiro encontra-se no Apêndice
02.
2.4. A Creche Casa da Criança: um relato das observações realizadas.
2.4.1. Características gerais da instituição
A Creche Municipal Casa da Criança, brevemente U.M.E Casa da Criança,
foi inaugurada em 1992, resultado de um termo de cooperação realizado entre a
113
Prefeitura Municipal e a Associação Casa da Criança. Com o nome de
Associação Protetora da Infância Desvalida – Asilo de Órfão de Santos, a
entidade foi fundada em 1889, com o objetivo de acolher as crianças órfãs ou
oriundas de famílias muito pobres, sem condições de criar seus filhos. Algumas
destas crianças viviam em regime de semi-internato. Hoje, a instituição atende
370 crianças abrigadas ou diaristas.
Inicialmente, a Creche funcionou apenas no prédio central, com quatro
salas no piso superior. Posteriormente, a unidade foi ampliada. Os dois prédios,
sub-divididos em Unidade I, com dois pavimentos, e Unidade II, com apenas um
andar, localizado nos fundos da referida entidade assistencial, foram construídos
pelo Rotary Club de Santos e destinados, conforme placa instalada na Unidade I,
“...para abrigar os orphams santistas da Revolução de 9 de julho...”. Ao tornar-se
Creche Municipal, a placa em frente indicou ...“Creche: Direito da Criança
assegurado pelo compromisso de todos que lutam para tornar realidade o sonho
de um mundo melhor” (1992).
A edificação fica localizada em região de atividade portuária, ao lado do
prédio da CODESP, com tráfego intenso de caminhões. Em seu entorno, há
poucas casas destinadas à residência, mas existe grande alternativa de
transportes coletivos. Os prédios têm antigas características arquitetônicas.
Apesar de muitas modificações em sua arquitetura, as edificações ainda guardam
as marcas de sua história com salas amplas, algumas portas com pequenas
janelinhas, pisos e escadas de madeira e janelas grandes e altas. A distância
física entre os dois prédios e a quantidade de escadas existentes cria problemas
estruturais no que se refere à comunicação entre as profissionais, à interação
entre as crianças e à distribuição de materiais e alimentos. A comida, por
114
exemplo, é transportada da Unidade I para a Unidade II por funcionários da
limpeza. Entre as profissionais e as crianças do mesmo prédio e andar, no
entanto, parece haver interação e bom relacionamento.
Segundo dados do Plano Pedagógico da Unidade (2005), as famílias
residem, em sua maioria, nos bairros do Embaré, Gonzaga, Boqueirão, Campo
Grande, mas há crianças que vem da Zona Noroeste, cujos pa’is devem trabalhar
em regiões próximas à Unidade de Educação. Os pais, em sua maioria são
nascidos em Santos. A escolaridade média dos responsáveis é até 4
a
série do
Ensino Fundamental, sendo que existem pais que possuem o Ensino Médio. A
profissão dos pais é variada, compreendendo, estivadores, motoristas, vigilantes,
porteiro, operadores, comerciários, eletricistas e cobradores. Entre as mães
prevalecem as profissões de domésticas, faxineiras e balconistas.
A Creche, a princípio, atendia crianças de até 6 anos de idade. Atualmente,
assim como as demais Creches Municipais, atende crianças até 4 anos de idade.
As mães podem optar por deixar seus filhos no período parcial, das 7 às 11h30 ou
das 12h30 às 17h, ou no período integral, das 7 as 17h.
2.4.2 A organização do ambiente: o espaço, o tempo e a
intencionalidade educativa.
Hoje, o espaço físico das Unidades comporta 9 salas, uma cozinha bem
equipada na Unidade I, uma copa na Unidade II, 3 refeitórios (2 na Unidade I e 1
na Unidade II), um lactário, uma pequena lavanderia, banheiros adaptados para
as crianças. Em cada prédio há, ainda, sala de Tv e Vídeo/DVD, ambiente para
115
trabalhos de arte e outro como brinquedos. Na Unidade I, ao entrar pela porta
principal, do lado direito ficam a secretaria, a sala do Infantil I, o refeitório
destinado à crianças do Infantil I e II, a sala da direção e coordenação, o banheiro
para os adultos. Do lado esquerdo há a sala do Infantil II, a escadaria que dá
acesso às salas do pavimento de cima, o banheiro do Infantil II, a cozinha e a
lavanderia. No pavimento superior há outro refeitório, que tem um elevador
mecânico por onde sobe a comida das crianças, quatro salas – duas para o
Infantil III e duas para crianças do Infantil IV, além de banheiros, sala de arte e de
TV e Vídeo/DVD. Na Unidade II, após uma escadaria, há uma sala ampla utilizada
como refeitório e sala de artes, banheiros, três salas – uma para crianças do
Infantil II e duas para crianças do Infantil IV, sala de TV, e Vídeo/DVD.
As barreiras arquitetônicas são diversas, evidenciando a dificuldade de
interação entre as duas unidades e, conseqüentemente, entre os adultos e as
crianças. Além das escadas, em quase todas as salas há mini-portões que
impedem a saída das crianças dos ambientes. Este aspecto pode evidenciar
práticas educativas disciplinares e de contenção dos movimentos. Para Apple e
King (apud Freitas, 2005, p. 129) essa forma encontrada no ambiente da Creche
pode indicar o conhecimento (manifesto e oculto) que implicam em noções de
poder, de recursos econômicos e de controle social.
Na parte externa da Creche, quase não há áreas cobertas, impossibilitando
as crianças de brincarem ou mesmo se locomoverem de uma unidade para outra
em dias de chuva. No espaço entre as unidades, uma horta foi organizada com a
participação das crianças. Há fotos espalhadas pelos murais que retratam os
momentos em que as crianças estão regando ou colhendo os vegetais com
auxílio da Monitora de Creche. Existe, ainda, um parque com casinha de bonecas,
116
cujos horários são divididos com as crianças da Associação, que estudam em
período integral ou em regime de internato na entidade.
As salas destinadas ao trabalho com as crianças são amplas e de arranjos
bem variados, de acordo com a faixa etária e com o trabalho realizado pelos
profissionais-docentes, denunciando a heterogeneidade e não linearidade de
intencionalidades e práticas educativas.
Em algumas salas há a presença de espelhos, que freqüentemente são
“visitados” pelas crianças que gostam de observar-se, sendo uma oportunidade
para o adulto compreender como a criança alcança o conhecimento de si. Molina
(1998, p. 229) estudando a importância da conduta da criança frente ao espelho
afirma que “...a identificação da própria imagem não é comum, e o
reconhecimento (de si) acontece no final de um processo que é paralelo àquele
que a leva a constituir a sua própria identidade”.
Os ambientes internos possuem, em suas paredes, enfeites
industrializados ou confeccionados pelas Monitoras de Creche. Os motivos
geralmente são Mickey, a turma da Mônica e flores de diversas cores e tamanhos.
Não se percebe a presença de móbiles e não há painéis em todas as salas.
Os brinquedos são bem diversificados, constatando-se, nas salas, a
presença de utensílios da vida cotidiana que foram levados para servirem de
apoio à brincadeira, como colheres de pau, tampas de panela, roupas, sapatos,
chapéus entre outros. Dentre os tipos de materiais encontrados em algumas das
salas estão bichos de pelúcia, bonecas, carros de diversos tamanhos, teatrinho
de fantoches, carrinhos de feira, mini-gangoras, mini-tendas, poucos quebra-
cabeças e livros. A forma de acondicionamento dos brinquedos também é bem
variada. Em alguns ambientes estes ficam misturados em caixas de plástico, em
117
outras estão colocados em prateleiras altas, ou ainda, há ambientes em que os
brinquedos ficam disponibilizados em estantes ao nível das crianças. No entanto,
parte dos objetos descritos acima estão deteriorados, havendo a necessidade de
reposição. Isso pode indicar pouca diversidade no brincar em si, pois, em
pesquisa Brougére (2004, p. 263) constata que tanto a disposição lógica dos
materiais, como a presença de materiais completos para os roteiros sugeridos e,
ainda a reserva de um espaço específico para a brincadeira, incita a criança a
construir roteiros de brincadeiras mais ricos e a permanecer mais tempo
brincando.
Em alguns momentos percebe-se o incentivo à brincadeira livre ou de faz-
de-conta, o que lembra Brougére ( op.cit., p. 257) que é muito importante, pois a
criança deve ter liberdade de escolha em relação à brincadeira. Esta é uma
decisão de quem brinca, sem imposições e não produz ao final, um efeito, pois é
praticada pelo prazer em si.
Com relação ao oferecimento de situações lúdicas na Creche, Bondioli
(1998, p. 224) revela que este fato também está relacionado à ideologia
educacional que se tem na instituição. Em uma creche com concepção
assistencial, mesmo havendo espaço para o jogo livre, o adulto não intervém com
propostas e estímulos adequados. Na opinião da autora, um dos aspectos
essenciais para a construção do profissionalismo da educadora de Creche é a
cumplicidade que se cria entre o adulto e criança que brincam juntos, pois isso
permite a este ... “a redescoberta de aspectos de sua infância esquecida” (1998,
p. 227). As Monitoras observam e intervêm nas situações lúdicas, mas esse
envolvimento dos adultos nas brincadeiras poucas vezes foi observado na
Creche.
118
Apenas no refeitório e na sala destinada ao trabalho com arte há mesas
com cadeiras. O tamanho do mobiliário é adequado à faixa etária das crianças.
Os materiais encontrados na sala de artes são tintas, papéis de variados tipos e
tamanhos, revistas, cola, palitos e pincéis. As artes parecem receber tratamento
especial por parte de algumas educadoras que utilizam suportes amplos, tinta de
várias cores, possibilitando a criança pintar livremente, experimentando a textura
e a consistência da tinta e a diversidade de cores. Por outro lado, há a existência
de desenhos mimeografados e atividades de recorte e colagem realizadas com
muita ajuda da Monitora de Creche. Percebe-se, ainda, que algumas profissionais
planejam a atividade antes de trabalhá-la com as crianças, mas outras não o
fazem com antecedência, faltando material e submetendo às crianças a uma
longa espera.
Todas as salas ficam bem próximas aos banheiros e especialmente no
Infantil I e num dos Infantis II, há cubas e trocadores para o banho das crianças.
Os poucos berços existentes ficam num canto dessas salas, sendo utilizados
apenas para uma parte das crianças dormirem. A grande maioria, nesta e nas
demais salas, dorme em colchonetes forrados com lençóis. As crianças também
fazem atividades no chão ou sentadas nos colchonetes, o que possibilita maior
interação entre as mesmas. O chão é revestido de paviflex claro e não há tapetes
de nenhum tipo ou forma. As atividades realizadas, observadas nestas salas
foram brincadeiras livres, dança, ouvir histórias, acompanhar ou cantar músicas,
folhear revistas entre outras. Por esse motivo, há uma grande preocupação com a
limpeza do chão da sala, especialmente na sala dos bebês.
Mesmo na sala do Infantil I há o incentivo para que as crianças participem
de sua organização, solicitando que ajudem a guardar os brinquedos e que
119
prestem atenção ao andar pela sala para não esbarrarem nos colegas. Há, nesse
grupo, mini-gangoras e uma tenda de pano para as crianças entrarem e
brincarem.
Existe uma preocupação com a organização do ambiente, no sentido de
não misturar os pertences das crianças. O material pessoal das crianças é todo
identificado. Como há sempre mais de uma monitora por sala, ao chegar na
Creche, geralmente uma profissional recebe a criança e outra se encarrega de
organizar mochilas, toalhas entre outros materiais nos cabides que tem o nome
das crianças. Na maioria das salas, a não ser nesse espaço, raramente encontra-
se vestígios de elementos escritos.
Com relação à organização do tempo, em seu aspecto macro, a Creche
segue uma calendário estabelecido pela SEDUC, que tem alguns dias letivos a
mais que no calendário estabelecido para a Pré-escola e para o Ensino
Fundamental.
Na constituição do tempo, segundo Barbosa e Horn (2001) não é possível
deixar de considerar as necessidades biológicas, psicológicas, sociais e culturais
das crianças. Na Creche Casa da Criança, observou-se que a rotina obedece a
um esquema comandado, prioritariamente, por situações de alimentação, higiene
e repouso, variando os cuidados de acordo com a faixa etária e com as diferenças
individuais das crianças. Contudo, percebe-se que a maioria das profissionais
considera que todos os momentos, inclusive os de cuidado, são educativos.
Existe um cronograma de horários, que sub-divide o tempo para o uso dos
espaços coletivos, como parque, casa da boneca, sala de artes e refeitório e,
ainda, estipula hor
ários para alimentação, sono, banho e troca.
120
Nas atividades de cuidado, como foi dito anteriormente, percebe-se uma
intenção educativa por parte da maioria das profissionais–docentes, que
proporcionam condições facilitadoras para a conquista de conceitos, habilidades,
conhecimentos e autonomia por parte da criança. Bondioli (1998, p. 216) enfatiza
o valor lúdico dos momentos de higiene, alimentação e sono, que por terem um
alto grau de previsibilidade e dar uma sensação de poder à criança, tranquiliza-a
e possibilita-a a assumir um papel ativo, de controle e de guia da situação.
As Monitoras, sempre que possível, incentivam as crianças as fazerem tais
atividades sozinhas. Barbosa e Horn (2001, p. 70) destacam que todos os
momentos podem tornar-se pedagógicos e de cuidados no trabalho com os
pequenos, dependendo da forma como se pensam e se procedem das ações.
Percebe-se uma preocupação em não deixar a criança esperando
enquanto outros são submetidos à situações de cuidado. Brinquedos ou revistas,
dependendo da faixa etária, são oferecidos às crianças. As profissionais
proporcionam a audição de músicas, cujos estilos variam de acordo com a idade
e com a proposta para o momento. As mesmas também procuram conversar com
as crianças em todos os momentos, estimulando-as a cantar ou brincar.
No período do sono das mesmas, as Monitoras aproveitam para passar os
recados ou intercorrências às colegas do período contrário, que irão trabalhar
com os educandos, e ainda, para escrever bilhetes nas cadernetas ou para
atualizarem seus registros.
É importante ressaltar que a forma de organizar o trabalho, no que se
refere ao tempo e ao espaço, deve possibilitar o envolvimento das crianças em
sua construção, tendo dimensões diferenciadas de acordo com a faixa etária.
Barbosa e Horn relatam que,
121
... com crianças bem pequenas, por exemplo, é fundamental
observarmos sua linguagem, que se manifesta através dos gestos,
olhares, choro...Nas maoires, é possível dialogar e compartilhar
combinações. A idéia central é que as atividades planejadas diariamente
devem contar com a participação ativa das crianças garantindo às
mesmas a construção das noções de tempo e espaço, possibilitando-
lhes a compreensão do modo como as situações sociais são
organizadas e, sobretudo, permitindo ricas e variadas interações sociais.
(2001, p. 68).
Ao examinar as formas de organização do ambiente na Creche Casa da
Criança, bem como as práticas das profissionais-docentes, percebe-se uma
grande diversidade, demonstrando o que Freitas (2005, p.198) chama de
complexidade da dinâmica institucional e heterogeneidade de comportamentos.
Conclui-se que há, em algumas salas, aspectos que denunciam um ambiente
contaminado pela “forma escolar” (Pérez Gómez, 2001). Contudo, nota-se
também, que isso não ocorre em todos os ambientes. Isso depende da
concepção de educação, de criança e de Creche das Monitoras que trabalham
naquele ambiente. Há, ainda, entre uma minoria de profissionais que trabalham
na mesma sala, diferenciações de conduta, percebendo-se que algumas
Monitoras dão preferência à atividades de cuidado e higiene, em detrimento de
outras atividades, havendo dessa forma, uma divisão voluntária de tarefas.
Construir relações significativas significa, segundo Foni (1998), não estar
no centro da atividade ou da atenção das crianças, mas garantir em cada situação
a correspondência entre a experiência vivida pelas crianças e os objetivos
educacionais. Vejamos, a seguir como as relações adulto-criança e adulto-adulto
se constituem na Creche observada.
2.4.3. A interação adulto-criança e adulto- adulto: as inter-relações
122
Na Creche Casa da Criança as relações entre adultos e crianças ocorrem
em um ambiente de afetividade e respeito. A acolhida é feita pelas próprias
Monitoras na sala em que as crianças permanecem na maior parte do tempo. As
mães, em sua maioria, ao chegarem, e se dirigem às salas das crianças,
conversando amistosamente com as profissionais. Algumas crianças chegam ao
local de perua, outras, geralmente as mais pequenas, são entregues às
profissionais dormindo. Estas são colocadas em colchonetes ou berços,
dependendo do arranjo da sala, até acordarem.
De modo geral, parece haver muito respeito entre os pais e as Monitoras.
As informações sobre as crianças são repassadas por meio de comunicado na
caderneta ou de forma informal, por meio de conversa no horário da saída.
Quando há algum problema de saúde, as mães são chamadas imediatamente via
telefone, caso tenham. Bononi (1998) afirma que o tipo de relacionamento entre
pais e Monitoras de Creche está ligado à imagem de Creche e o significado que
se tem da figura da educadora. Essas profissionais-docentes tradicionalmente
são vistas como substitutas da mãe. No entanto, atualmente procura-se fugir
dessa alternativa, “... identificando na educadora uma figura profissional capaz de
relacionar-se com a criança sem “imitar” a mãe e sem refugiar-se na tarefa do
professor, inadequada e insuficiente diante da criança pequena” (p. 161). Tal fato
evidencia-se na Creche Casa da Criança, principalmente com relação ao
comportamento das Monitoras.
Entretanto, algumas profissionais-docentes queixam-se de uma minoria de
pais que preocupam-se apenas com os aspectos de cuidado, higiene e
alimentação ou ainda, há pais que não tratam da saúde das crianças e possuem
123
maus hábitos em relação à educação das mesmas. Esse tipo de conflito, que
freqüentemente torna-se crônico, pode criar um bloqueio na relação entre os
adultos que prejudicará a relação com criança. Segundo Bononi (op. cit. p. 172)
para sair dessa lógica, é necessário abrir um espaço de compreensão recíproca,
de diálogo e de escuta, cuja iniciativa deve partir da instituição e da educadora,
tornando a Creche um espaço capaz de acolher muitas e diversificadas famílias.
A autora (op. cit. 1998) esclarece ainda, que momentos prazerosos de
festa em que os pais participam diretamente são importantes para promover o
envolvimento entre adultos e crianças. Um desses momentos, o café da manhã
preparado para comemorar o Dia das Mães, foi observado na Creche Casa da
Criança. Evidenciou-se o respeito das Monitoras e das mães, bem como a relação
de ambas com as crianças. Na fala de uma das profissionais-docentes às mães,
porta-voz das demais, ressaltou-se a importância de ser mãe e a confiança que
estas precisam depositar diariamente ao entregar seu filho nas mãos de outra
pessoa.
No dia-a-dia, as Monitoras de Creche observam atentamente o
comportamento das crianças e suas necessidades. Geralmente, elas são ouvidas
e atendidas e quando não há possibilidade de atendimento, o adulto oferece
explicações diretas e simples às mesmas, de acordo com a faixa etária. As
crianças parecem sentir-se à vontade e felizes no grupo com os colegas e com os
adultos.
A interação entre as crianças da sala ocorre por meio de estratégias não-
verbais, como o toque, o gesto, a observação, o sorriso, o choro ou a imitação ou,
também, pela comunicação verbal, que ainda é precária. As crianças se
percebem e muitas vezes disputam entre si a atenção do adulto ou de um objeto.
124
Ocorre ainda, interação entre as crianças maiores de outras salas que
estão no mesmo prédio, pois como já foi dito, há dificuldade de locomoção das
mesmas entre as duas unidades. No entanto, os bebês do Infantil I parecem
entrar em contato com outras crianças, especialmente as do Infantil II, apenas no
horário de almoço e janta.
Para Foni (1998, p. 146) a qualidade das interações entre crianças e
adultos ou crianças e crianças dependem das condições ambientais e
organizacionais da Creche, que são variáveis. Assim, o estilo de intervenção dos
adultos, o número de crianças na sala, o tipo e variedade de materiais e as
condições para a brincadeira e as atividades, evidenciam os tipos de interações
que podem ocorrer no interior da instituição.
Como foi dito anteriormente, as Monitoras de Creche têm dificuldade para
se reunirem e planejarem atividades coletivas, visto que não há um horário
específico para isso. As reuniões são geralmente realizadas no horário do sono
das crianças, havendo a necessidade de sempre permanecer uma profissional
para tomar conta das crianças, não sendo possível reunir o coletivo de Monitoras.
Em relatos informais, as profissionais se recentem desse fato, pois acreditam que
esse espaço pode auxiliar na reflexão e na troca de experiências para melhoria da
qualidade do trabalho.
Nesse cenário real e dinâmico, há práticas que levam em consideração as
necessidades da criança e oferecem pequenos desafios a elas. Há situações
provocadas, fruto de planejamento de ações intencionais e de observações do
desenvolvimento infantil. Existe, também, em menor proporção, posturas de
profissionais que evidenciam práticas adultocêntricas, que resultam em longas
esperas por parte das crianças, sem intencionalidade de uma ação educativa.
125
Todos esses aspectos relacionados às contribuições da formação acadêmica
realizada pelas profissionais- docentes pesquisadas serão retomados no capítulo
III, para que possamos refletir sobre a forma singular da instituição Creche, que
em Santos,em breve, será denominada U.M.E.
2.5. A opinião das Monitoras de Creche sobre sua formação
acadêmica e a relação desta com a prática educativa no trabalho com as
crianças pequenininhas: escutar o sujeito da pesquisa.
O objetivo da entrevista do tipo semi-estruturada realizada com quatro
Monitoras da Creche Casa da Criança foi dialogar sobre a trajetória dessas
profissionais-docentes, no que tange à sua experiência anterior, à formação
acadêmica e o que esta influenciou em sua prática profissional. A estratégia
consistiu em problematizar a formação que a Universidade tem oferecido às
educadoras da infância, que possuem uma experiência por já trabalharem na
Creche, que por sua vez, possui uma forma institucional peculiar.
É importante destacar que os três itens a respeito da aquisição da
experiência profissional, a saber: as experiências adquiridas por meio da prática,
aquelas adquiridas por meio da formação e outras adquiridas em outros trabalhos
com crianças pequenas apontados no questionário, bem como as questões
relativas às observações realizadas na Creche, foram utilizados como indicadores
para a elaboração das questões do roteiro de entrevista semi-estruturada que
encontra-se no Apêndice 03.
Das quatro monitoras entrevistadas, duas possuem entre 15 e 18 anos e
126
duas tem mais dez anos de experiência. As duas mais experientes iniciaram suas
atividades como Monitoras no tempo em que a Creche ainda, estava subordinada
à SEAC e relatam como foi o momento da passagem da SEAC para a SEDUC:
Acho que havia até uma rixa neste sentido; um querendo segurar,
porque era o carro chefe da Secretaria de Ação Comunitária e do outro,
a Secretaria de Educação, não tão feliz pelo fato de estar agregando
aquela fatia do bolo para si, mas sendo pressionada a fazer isso,
entendeu?, tendo várias profissionais que ela não tinha o conhecimento
do que faziam, do que eram. Existia estes dois lados, uma querendo o
bolo recheado para ela, e ou outra pegando esse bolo e não sabendo o
que fazer com ele. (Monitora de Creche 1).
Lembro! Nos caímos de pára-quedas na SEDUC. Na época a gente
sentia que não era aceita pela SEDUC, foi uma coisa, que eu sentia na
época (Meio traumática). A gente era reconhecida como babá,
simplesmente, que cuidava de criança. O que passava da ação
comunitária que era assistencialista. Era mais de cuidar mesmo da
criança, embora a gente já tinha intencionalidade educativa, mas era
considerada só assistencialista (Monitora de Creche 3)
No item sobre o percurso de construção da prática profissional evidenciou-
se como principais fontes a sua própria história de vida; o estudo realizados com
os membros da equipe técnica da Creche, que quando pertencia à SEAC eram o
Psicólogo e a Assistente Social e, mais tarde na SEDUC, passaram a ser Diretora
e o Coordenador Pedagógico; a realização de cursos externos fora do horário de
serviço; a troca de experiências entre as próprias Monitoras e a prática construída
no dia-a-dia, caracterizando a heterogeneidade dos saberes docentes (Tardif,
2002). Estes não decorrem apenas dos saberes presentes, mas de saberes
experenciais. Os saberes ligados ao trabalho são temporais e são dominados no
contato com as situações concretas, exigindo numa resolução de problemas, a
aplicação de teorias e técnicas científicas construídas noutros campos.
Nos relatos abaixo percebe-se, ainda, o esforço em buscar subsídios para
um trabalho que será desenvolvido.
...quem passou pelo começo da história das creches em Santos acho
que teve uma experiência única, também, porque ninguém conhecia
nada deste trabalho então foi tudo meio que ao acaso. Não se falava em
127
Educação Infantil de 0 a 6, não se tinha uma prática conhecida
direcionada para esta faixa etária, então a prática do dia-a-dia alicerçava
muitas. A gente fazia cursos internos dentro das unidades, lia muito
sobre tudo que tava sendo feito em outros aspectos, tanto com as
psicólogas das unidades com as Assistentes Sociais e mais tarde com
as pedagogas foi levantando fomos fazendo cursos pagos, até por nós
mesmo, pra poder ter este alicerce esta base (Monitora de Creche 1)
Foi a troca com os monitores, tinha muita monitora que tinha o
Magistério e a gente acabava trocando, como sempre trabalhávamos em
dupla uma sempre passava para outra o conhecimento e os cursos que
a gente ia fazendo e o dia-a-dia, na verdade o que a gente achava que
era melhor pra criança, então a gente ia melhorando com os anos foi
melhorando o atendimento né? Pela nossa procura mesmo, a gente
tinha vontade de melhorar e procurar auxilio fora, foi assim que foi
melhorando o atendimento (Monitora de Creche 3)
Quando eu fui trabalhar não tinha experiência de nada então fui buscar
coisas da minha infância pra poder estar trabalhando com as crianças,
porque eu não tinha noção nem do que era pra fazer ... As reuniões que
a gente tinha no começo com a orientadora pedagógica e com as
coordenadoras. Acho que foi muito importante naquele momento que a
gente não sabia nada que entrou assim de pára-quedas, pra ter uma
noção assim, qual é a evolução de uma criança e sua faixa etária, essa
parte foi muito importante...(Monitora de Creche 2)
Um das entrevistadas, a Monitora de Creche 4, relata que apesar de ter
feito o curso de Magistério e ter trabalhado em escola particular, a experiência na
Creche foi bem diferente, pois a imagem que tinha da instituição era
assistencialista e foi com o auxílio das colegas, e depois lendo a respeito do
trabalho que aprendeu a trabalhar com a criança pequenininha.
... quando eu entrei na Creche pra mim foi um mundo novo, porque eu
tinha uma visão de creche. Daquela coisa assim, até hoje quando a
gente fala: eu trabalho numa Creche, a pessoa pensa na parte
assistencialista... Então, eu entrei com essa visão e assim eu tive sorte
de pegar pessoas, que logo que eu entrei eu fui pra um berçário, entrei
como volante, fui para um berçário e peguei pessoas que já estavam
muito tempo. Elas foram me mostrando outras coisas, a parte afetiva,
que a gente não tem tanto no pré, lógico que a gente trabalha com a
criança, abraça, beija tudo, mas tem aquela coisa do caderno, o livro ..
eu não tinha tanto essa parte do sentar, o contato da coordenação, do
toque, principalmente, no berçário e eu fui pegando com experiências
dos outros e ai fui vendo em alguns livros que eu já tinha, porque você
vai se interessando, né, você vai pegando jeito e por eu ser volante eu
andei por várias salas, foi um ano interessante, porque eu como eu não
tinha experiência nessa parte eu fui pulando um pouquinho em cada
sala. ...(Monitora de Creche 4)
128
Interessante observar que nenhuma delas mencionou o fato de ter obtido
sua experiência a partir de sua atividade como mãe, irmã ou tia, o que pode
demonstrar, como também foi concluído por Ongari e Molina (2003, p.93) em
pesquisa sobre a identidade das educadoras de Creche na Itália, que as mesmas
estão considerando que o seu trabalho tem uma especificidade, com percurso
próprio de formação, não relacionando-se com a experiência como mãe ou
mulher. Há um saber centrado dentro da experiência de Creche, adquirido na
situação e utilizável na prática profissional.
Ao se perguntar sobre o que considera necessário para tornar-se uma boa
profissional-docente de Creche, respostas variadas aparecerem, que vão desde
as simples, antigas e básicas qualidades utilizadas como elementos principais
para recrutar profissionais em certos momentos históricos da Creche, como:
“precisa-se gostar de crianças” , “ter um pouco de amor, carinho” até a questão do
“compromisso com o trabalho”. Mesmo sendo evidenciado pelas entrevistadas a
importância da formação, esta sempre é mencionada em segundo lugar, após às
questões relacionadas ao amor e ao compromisso.
...trabalhar com criança é diferente que trabalhar com papel. Papel você
enfia na gaveta, vira a costa e vai embora e criança não... esse
comprometimento com o trabalho e a coisa mais importante você gostar,
você fazer com amor. Conhecimento é necessário, com certeza, é aquilo
que vai entrar, depois a formação é muito importante, porque às vezes
acaba fazendo umas coisas achando que está certo (Monitora de Creche
3)
...eu já tinha uma formação em Magistério e artes plásticas, mas quando
eu entrei, eu trabalhei com pessoas que não tinham formação nenhuma,
só tinham segundo grau e trabalhavam melhor que eu, porque gostavam
do que faziam. Eu acho que esse é o principal: você gostar de criança,
porque simplesmente não é vir aqui só pra trabalhar, você tem que
gostar, você tem que estar disposto para sentar no chão e brincar, se
precisar de um abraço, dar, esse abraço ... quando eu fui fazer a
Pedagogia eu não achava importante, eu já tinha Magistério, mas,
nossa! contribuiu muito sim. Hoje eu vejo assim que a qualidade da
129
creche melhorou muito depois que o pessoal se formou. (Monitora de
Creche 4)
Ao continuar o relato em que a Monitora de Creche 4 mencionou ter
aprendido muito com as profissionais que não tinham formação acadêmica, ela
compara a intencionalidade do trabalho de quem, atualmente, tem formação
acadêmica e de quem não tem, demonstrando que a formação tem seu lugar na
constituição das práticas cotidianas da profissional-docente...
Então, a gente sente muita diferença, quando você chega numa Creche
que tem muitos contratados sem formação. Então as atividades não têm
um objetivo, não têm um porquê, está fazendo aquilo; você percebe isso,
se você chega e fala assim: você está dando isso porquê? Ah! Porque
eles gostam, é um brinquedo que eles gostam, mas você não tem um
objetivo pra aquilo e foi legal, porque teve pessoas que tavam desde o
primeiro concurso, quando foram fazer a faculdade, e era muito legal,
porque dentro da faculdade, eu achei um espaço muito legal de
conversa, a gente tinha muito isso. Ah! Mas eu dava tal atividade. Ah!
Você dava isso, por causa disso. Então elas foram se descobrindo. A
gente chegou no final do ano todo mundo chegando a essa conclusão,
né que tinha um porquê, porque que você tinha dado aquilo é realmente
se eu fizer desta maneira , vai ser de outra eu acho que a formação faz a
diferença (Monitora de Creche 4)
Outro relato a seguir explicita a complexidade do trabalho dessa
profissional- docente e de sua identidade que é provisória e ainda está sendo
construída, evidenciando, inclusive, a difícil relação com a denominação que é
dada para o cargo: Monitora de Creche.
... não é um fazer, é todo um âmbito, eu acho que engloba várias coisas,
porque aqui, você faz vários papéis: cuida, educa, tem a formação, você
tem um pouco de tudo ... é enriquecedor... você tem que trabalhar isso
diariamente...você tem que estar lidando com estas várias facetas da
Educação Infantil e com este estereotipo de Creche. Creche é uma
palavra antiga que dá sentido de depósito e mudar isso é um trabalho
meio de formiguinha ... Você falar pra mães que não é um depósito e sim
uma unidade de ensino sim, que as crianças vem pra cá elas tem toda
uma rotina e que nós temos este papel, que nós fazemos parte desta
formação é que é complicado. Não tem uma fórmula pra ser boa
monitora. Até porque este termo monitora está até em desuso...
(Monitora de Creche 1)
130
As quatro Monitoras de Creche declararam ter escolhido a profissão por
acaso, pensando apenas no quesito financeiro ou na estabilidade por ser um
emprego público. Ao ingressarem por meio de concurso, não sabiam nem o que
significava ser Monitora de Creche. Foram informadas quando assumiram o
cargo. Contudo, ao longo dos anos, foram “descobrindo” a importância de sua
função e não se conformaram com a situação funcional e de trabalho, que
estavam inseridas. Relatam sentirem satisfação quando lembram das conquistas
em relação à profissão e às condições de trabalho, conseguidas por meio da
união e da luta da classe. Dentre as conquistas estão a mudança da carga
horária, que passou de 8 para 6 horas diárias; o reconhecimento social da Creche
como ambiente educativo, que mesmo depois de terem passado para a SEDUC e
da L.D.B.E.N., é um elemento que vem sendo construído lentamente; e o curso
de Pedagogia. O reconhecimento social e financeiro como Professores da
Educação Infantil, ainda é uma conquista almejada por todas e para qual estão
mobilizadas. Esses fatos demonstram que a construção da identidade profissional
das mesmas está relaciona à questões do âmbito político, econômico, social e
pedagógico.
...acho que foi a profissão que mais conquistou, mas foi a que mais
brigou, quando a gente tem um titulo grátis, você se acomoda um pouco
e isso não poderia acontecer com ninguém, entendeu? Em nenhuma
situação, pra nenhum profissional, desde o pessoal da limpeza tem que
estar estudando sempre até quem tá lá em cima, ...(Monitora de Creche
3)
Ao descreverem a visão que têm de criança, todas as entrevistadas são
unânimes em afirmar que a criança de hoje “não é mais a mesma de
antigamente”, comparando-a a de anos anteriores. Apontam para uma imagem de
131
criança mais “esperta” e menos “ingênua’’, por causa das informações que
recebem rapidamente através dos meios de comunicação, o que lembra os
estudos de Postman (1999), mencionados anteriormente.
Eles questionam. Isso que a gente conversava muito na faculdade que
foi um dos pontos assim porque a gente falava que eles pedem
atividade, eles pedem informação.. eu lembro que a gente tava num ano
até comentei na aula, que eu fui trabalhar o dia dos pais e muitas
crianças não tem pai. E uma professora não tinha pai e eu falei ah! O pai
dela foi pro céu... A criança falou: não tia, ele morreu, eu falei é... Eles
sabem do que você tá falando, não adianta você querer mentir. Eles
pedem atividade.. a criança pede um papel.. um recurso... ela quer saber
o que esta acontecendo e antes eles não eram tão assim. Eles contam o
que acontece em casa, eles querem desenhar, eles querem fazer
jornalzinho. (Monitora de Creche 3)
De modo geral, vêem a criança como um sujeito ativo, questionador,
inserido num contexto que não pode ser esquecido. Estas tem desejo de
conhecimento e solicita atividades. A mesma Monitora do depoimento acima
afirma que o curso de Pedagogia propiciou a reflexão sobre atividades ou
orientações mais condizentes com a faixa etária trabalhada:
... Então é muito legal porque a faculdade deu essa estrutura como
trabalhar isso. Porque às vezes você tem a intenção mais pode estar
trabalhando de uma maneira errada. Não, olha se você for por esse
caminho é mais fácil, a parte de televisão, algumas coisas apropriadas
outras não, acho que direcionou bastante o pessoal (Monitora de Creche
3)
As entrevistadas acreditam que a Creche é um espaço educativo
relacionado ao binômio cuidar-e-educar. Contudo, utilizando vocabulário
enriquecido por fatos históricos, apontam que até bem pouco tempo a criança
que estava em Creche ou que saía da Creche para a Pré-escola era vista como
“coitadinha”, “carente”, “ maltrada” e, até, “sem limites”. Constata-se que as
professoras que recebiam essas crianças na EMEI tinham um certo preconceito.
Isto se deve, segundo seus depoimentos, ao caráter assistencialista embutido em
132
seu trabalho. Esta visão tem mudado, sendo que até o nível sócio-ecônomico das
famílias das crianças que procuram a instituição tem sido outro, bem como os
motivos para tal procura, estão deixando de ser apenas o trabalho das mães.
Entretanto, afirmam que, em alguns casos, com algumas famílias, é necessário
enfatizar o caráter educativo da Creche, pois pensam que as profissionais-
docentes são apenas cuidadoras.
Em relação ao que se espera que a criança aprenda na Creche, nota-se
maior preocupação com a autonomia e independência desta, principalmente
relacionada às questões de higiene e alimentação. No entanto, tais aspectos
surgem tanto relacionados à questões mais específicas do cuidar-e-educar, como
pensando-se na socialibidade para convívio em sociedade. Denota-se, neste
aspectos a utilização de termos mais abrangentes como cooperação, valores e
criticidade.
...você educa a criança, você cuida educando, nós sempre colocamos os
dois trabalhos juntos, o cuidado, como eles passam a maior parte do
tempo dentro de uma Creche, então tem os cuidados, higiene você
acaba ensinando o comer, alimentação, você educa a criança no geral,
a criança aprende...No 1
o
momento, de 0 a 3 anos é obvio que se a
gente for só pela parte pedagógica, a gente, no modo geral, vai trabalhar
essa autonomia, principalmente esta autonomia relacionada com a
independência, desde que ela seja feita de uma maneira que isso
abranja não o individuo único, mas sim em geral, criar a criança pra ela
viver em sociedade... trabalhar a criança no âmbito do seu todo, e não,
claro que respeitar o individualismo de cada um, mas fazer com que ela
trabalhe dentro de um todo... trabalhar a questão da cooperação e aí
entra as virtudes. Assim, de zero a 3, de zero a 6, de zero a 4, que seja,
a educação infantil, é onde a gente tem mais, digamos facilidade, pra tá
incutindo essas virtudes ... estes valores pra criança onde a gente faz
com que elas repartam, sim, que elas conhecem, não é fácil, mas onde
a gente tem mais facilidade de estar incutindo isso dentro da criança,
com a participação dos pais ....(Monitora de Creche 1).
Espero que elas sejam independentes é que elas consigam ser adultos
que venham ter criticidade, elas saberem ver a vida com outros olhos.
(Monitora de Creche 2).
Os aspectos relacionados ao cuidar-e-educar são vistos como
indissociáveis. Todavia as Monitoras acreditam não poder basear seu trabalho
133
apenas nos cuidados de higiene, em detrimento das atividades educativas, como
observa uma das profissionais-docentes:
A gente não pode tolher a criança de fazer as coisas por causa da parte
da higiene. A criança não esta aqui pra sair limpa, a mãe tem essa
noção, a mãe fala que espera que ela saia daqui com o cabelo
penteado... que eu não dê tinta porque ela vai se sujar, eu não estou
nem aí pra isso. Se tiver que dar tinta eu dou... se tiver que rolar no chão
... (Monitora de Creche 2)
Em seu depoimento, a Monitora de Creche 3 revela como trabalha a
relação cuidar-e-educar com os bebês...
Mesmo no berçário deu pra você observar que a gente trabalha: o
guardar o brinquedo a organização, o respeito ao amigo, a dividir é uma
fase difícil eles brigam eles querem a mesma coisa, então a gente
cuidando, a gente ta trabalhando tudo isso a autonomia, o
desenvolvimento geral da criança, na troca da fralda a importância de
você estar olhando pra criança e falando com ele, porque é ali que ele
vai aprender a falar é nesse contato, é fundamental a troca de carinho e
você conversando com o bebê e também estar. Passando os hábitos de
higiene. É o “’cuidar e educar”. (Monitora de Creche 3)
Os depoimentos revelam, ainda, uma expectativa com relação a esses
cuidados por parte dos pais e da sociedade...
O banho dentro da creche não deveria ser obrigatório, para todas as
faixas etárias. Deveria ser pedagógico, que é o que a gente tenta fazer...
trabalhar o banho de um a um, só que a demanda é muita, então acaba
parecendo com um cuidar entendeu, mas o cuidar est
á relacionado, com
com outras faixas etárias, como por exemplo, a professora de Ensino
Fundamental, ela olha se a criança está com piolho. Aqui se faz a
mesma coisa então o cuidar e o educar, eles andam juntos. Só que aqui
parece que aqui é só pra cuidar, entendeu..., na escola este papel
secundário, aqui ele vira principal. Por conta dessa estereotipo que a
creche tem (Monitora de Creche 1)
Com relação à intencionalidade do trabalho, percebe-se que algumas
profissionais-docentes incorporaram a tarefa de planejamento das atividades. Os
depoimentos demonstram que há um planejamento prévio, vindo da Coordenação
Pedagógica, mas que as mesmas adequam as atividades à faixa etária. Essa
proposta vem da Secretaria de Educação e está organizada como sugestão de
134
trabalho, em termos de objetivos e conteúdos. Nos relatos, fala-se também do
trabalho por meio de projetos.
Dentro de um planejamento, nós temos a coordenação que nos passa a
parte do conhecimento prévio que foi adquirido, por exemplo, trabalhar
primeiramente a parte da língua geral. Claro que não vou chegar aqui e
ensinar letras pra minhas crianças, mas eu posso trabalhar, através de
historias.. eu posso trabalhar através de cantigas ...através de livros de
figuras... trabalhar através da imaginação dela com as fantasias. Isso
tudo eu tô trabalhando linguagem geral. No 1° momento essa
independência, essa autonomia e essa linguagem geral de
conhecimento do que está em volta dela, até do espaço físico que ela se
apropria.. é o que nos trabalhamos, então, através de que: projetos de
contos, projetos de ... aqui nos temos um espaço pra horta, através do
projeto sementinha tá! Através de projeto de sucata, que não é que a
gente tem que deixar de ter os brinquedos industrializados, mas a gente
pode aproveitar tudo isso, que é um adicional pra linguagem da criança
...(Monitora de Creche 1)
Há, ainda, outras Monitoras que acabam tendo posturas menos diretivas,
apoiadas nas opiniões das crianças...
...A gente trabalha em cima de uma roda, tira com eles o que eles
gostariam de estar fazendo, e algumas coisas a gente também ...
trabalha em cima dos conteúdos, mas em cima desses conteúdos estar
trabalhando com eles pra eles estarem trazendo o que eles estão
querendo fazer, se eles querem a massinha, historinhas estar tirando
com eles. (Monitora de Creche 2)
Por meio das observações complementadas com os depoimentos das
entrevistadas pode-se perceber, entre a intencionalidade engessada em planos
previamente estabelecidos e a percepção da vontade das crianças, indícios de
uma Pedagogia de projetos, proposta largamente divulgada e incentivada por
pesquisadores do Brasil e da Itália.
Segundo pesquisadores como Malaguzzi (1999, p. 100), em Reggio Emilia
não há um currículo planejado com unidades e subunidades, mas o trabalho
também não é baseado na improvisação e sim, no apoio resultante de uma
educação itinerante de reconhecimento na direção de novos caminhos, que se
135
delineia em uma série de projetos relacionados, alguns de curto e outros de longo
prazo. Nessa experiência, os objetivos são importantes, mas o porquê e como se
chegar até eles é mais importante. Leva-se em consideração que os professores
devem seguir as crianças e não os planos.
Ostetto (2000), a partir de seus estudos e das discussões realizadas com
suas alunas nas aulas de avaliação dos estágios, constata dois elementos
significativos para o planejamento do trabalho com as crianças pequenas. O
primeiro refere-se á postura do educador, que precisa estar disposto a envolve-se
em situações de trocas afetivas e a promover situações de cuidado e educação.
Para a autora (2000, p. 195), planejamento é basicamente uma atitude daquele
que o planeja e o desenvolve. O segundo elemento, é a elaboração de projetos
de trabalho, que estão relacionados ao conceito de situações significativas e tem
como ponto de partida a observação e escuta das crianças. Segundo a autora
“...Tanto para bebês, com para crianças maiores, o projeto seria viável
considerando, entretanto, conteúdos diferenciados, conforme as próprias
características de tais idades”. (p. 195). Os aspectos relatados acima podem ser
constatados no depoimento da Monitora de Creche, a seguir:
Eu tinha uma sala de crianças com dificuldades de mexer com a tinta,
não queriam se sujar, então era uma dificuldade muito grande. Aí, eu e
minha colega de trabalho, conversamos e resolvemos fazer alguma
coisa pra eles sentirem a tinta. Fizemos uma amostra da sala só pra ver
como ia funcionar depois acabou virando um projeto, que foi
apresentado fora. Nós forramos a sala toda com papel pardo e
colocamos potes, cortamos garrafas de coca-cola e colocamos tinta de
várias cores e deixamos as crianças só de calcinha, era verão, e ali a
vontade não tem limitação, não, não pode vai sujar. A gente queria que
eles sentissem a tinta, inclusive, eu tenho essa atividade filmada. Então
você sente que as crianças começam a colocar o dedo ali, sabe,
algumas com um acerta dificuldade, no final da atividade eles se
banhavam na tinta eles se olhavam no espelho, se pintavam. Foi muito
bom! A partir desse projeto, foi muito fácil trabalhar com eles a parte de
artes, sabe sem essa coisa de medo de sujar a mão, a criança não pode
ter medo, ela tem que sentir...Envolvemos as 4 salas e fizemos um dia
com todas as salas..os maiores se preocuparam com os menores, o
cuidado mesmo ajudando e aquela coisa de troca de um pintar o outro
de se olhar no espelho. Nós tivemos cooperação até da moça da
136
limpeza. Sabe quando entrosa todo mundo com a atividade? Isso é
importante! (Monitora de Creche 3).
Denota-se que, a partir do projeto relatado acima, pode-se trabalhar a
integração de crianças de diversas faixas etárias e, até de outras profissionais da
Creche. Outro importante elemento mencionado foi a utilização da arte como
elemento central do trabalho educativo com as crianças. Em Reggio Emilia (Katz,
1999, p 45), as artes visuais são vistas como “linguagem” adicional disponível às
crianças pequenas, não havendo exigência do ensino de técnicas e habilidades
como um foco de instrução em si, mas como uma forma de instrumentalizar a
criança para solucionar problemas. Segundo Leekeenan & Nimno (1999), a arte é
vista como parte integral da aprendizagem cognitiva/simbólica plena da criança,
sendo indissociada do currículo, que é chamado de emergente ou orgânico,
porque é adaptável às idéias que surgem e às explorações das crianças.
Outras formas de linguagem, como a oral e a musical também tem sido
trabalhadas, conforme relatos abaixo:
A monitora que deu inicio ao projeto da caixa mágica foi a Ana Paula,
que trabalha comigo...Ela trouxe essa idéia e faz parte da rotina, porque
não é só a caixa mágica... é a caixa mágica, é o quadro de cortiça...A
gente vai colocando eles (as crianças) dentro da história, eles vão
fazendo parte da história. Semelhante à história do bolo do dia das
mães. Na historia do bolo eles colocam quantos ovos, você trabalha
tudo... você trabalha linguagem, você trabalha matemática, você trabalha
tudo.. até a autonomia deles de tarem pegando os ingredientes pra estar
fazendo tudo dentro de um projeto só....e, ainda, as historinhas de
fantoche, os livros de contos que a gente conta é ... muita coisa
(Monitora de Creche 1)
Sempre gostei da música, acho que era musica é uma coisa fundamental
pra criança, pra nossa vida é né, pra criança também eu acho assim, tem
que saber que tipo de musica usar, quando eles estão mais agitados, eu
gosto de colocar uma musica mais clássica... ou quando é uma hora de
repouso, então, você colocar uma música assim, favorece o sono da
criança... pro desenvolvimento da fala, por exemplo, a música, quando
você canta com eles você está estimulando a fala, a expressão corporal,
eles dançam... e a história com a música, é importante... (Monitora de
Creche 3)
137
Vê-se, ainda, a influência de formações em outras áreas auxiliando no
trabalho com as crianças pequenas. Vejamos o exemplo da Monitora de Creche 4
que utilizou sua formação em artes para trabalhar sensações com as crianças..
Quando a gente fala de artes a gente sempre pensa logo em tinta, pincel
... e dentro dessa formação que eu tive a gente trabalha muito a arte em
outras áreas também, tem muito a parte de sensações...você trabalha
com espuma, esponja, tato.. é complicado você dar uma folha de sulfite
pra uma criança pequena, então você tem que começar com espaço
grande, com papeis na parede, pra depois ir pra mesa... depois a gente
vai pra massinha... a gente trabalha com a massinha comestível, porque
tudo eles querem por na boca. Muita sonoridade... dentro das artes entra
a musica, então a gente começa a por a bandinha, bater palminha, isso
tudo dentro do infantil 1... (Monitora de Creche 4)
Tomando-se por base que a profissional-docente de Creche é uma
organizadora do tempo e do espaço, os depoimentos denunciam uma “rotina” que
levam em consideração primordialmente os elementos de higiene e alimentação e
em segundo plano, os relacionados à atividades livres e dirigidas. Algumas
profissionais descrevem que as atividades de artes, brincadeiras livres e no
parque, leitura de histórias, bem como os projetos são realizados no intervalo das
atividades de café, almoço, banho e troca, escovação e janta.
... a gente se organiza entre as refeições... Toma lanche, faz uma
atividade livre, volta, eles vão jantar e aí, eu dou outra atividade livre ou
dirigida, geralmente, a gente dá 3 atividades por tarde, ... até a hora da
saída e nesse finalzinho a gente costuma deixar livre pra fazer a
brincadeira do faz-de-conta, onde surge muita coisa, né...(Monitora da
Creche 2)
Percebe-se, de modo geral, que o termo rotina é utilizado por todas as
profissionais. Aparentemente, todas as crianças devem realizar as tais atividades
em grupo, mesmo que as necessidades da criança naquele momento, não sejam
exatamente aquelas...
No infantil 1 (bebês), a gente tem uma rotina muito complicada, eles
138
fazem um soninho, a gente já acorda, a gente já se prepara pra ter essa
½ horinha, e montar a rotina desde o infantil 1. Antigamente, a criança
dormia a hora que queria, ah! Ela tá com sono, ela vai dormir, ficava
complicado aquela coisa de 7 dormem, 7 ficam acordados, dificultava o
teu trabalho, a gente estipulou uma rotina. Todo mundo dorme junto,
come junto, o trabalho flui melhor, então a gente tem uma turminha que
vai acordar agora, eles acordam passam pela troca, a gente conseguiu
essa ½ horinha, que seria a hora da atividade dirigida, é complicado
você coloca a atividade dirigida do infantil 1, mas é aonde a gente vai
trabalha essa parte de sonoridade, de movimento, por ex. a gente usa
muito a linha movimento na parte de subir descer. Depois a gente volta
pra parte do cuidado, e antes de ir embora a gente tem um tempinho
livre também...(Monitora de Creche 4)
Com relação à organização do tempo na Creche, Farias e Palhares (2003,
p. 71) propõem a utilização do termo “jornadas” ao invés do termo “rotinas”, pois
acreditam que as primeiras devem ser planejadas e replanejadas a todo
momento, por todos os profissionais que atuam direta ou indiretamente com as
crianças.
Os espaços, de acordo com os depoimentos das entrevistadas, são
organizados de formas bem variadas, levando-se em consideração a faixa etária
das crianças e a percepção das educadoras. Quando realizam atividades de
artes, todas mencionam a sala de artes. Algumas queixaram-se da pouca
diversificação dos ambientes, principalmente os externos que são compartilhados
com a Associação Casa da Criança. As profissionais-docentes dizem que
antigamente podiam utilizar o Parque e a Quadra de esporte a qualquer hora e
que agora esse espaço está restrito à alguns momentos do dia. Queixam-se,
ainda, da falta de quantidade de brinquedos suficiente para toda Creche,
solicitando aos pais que doem esses materiais, sempre que possível. Muitas
educadoras enfatizam a importância de se criar espaço para o lúdico e a
brincadeira de faz-de-conta, como elemento essencial ao desenvolvimento global
da criança pequena.
139
Teve uma época que a gente tinha muito berço dentro da sala e tinha
uma turminha que estava começando a andar e batia muito. Então, a
gente preferiu ficar sem os berços deixar um tanto de berço para os
pequenininhos que, às vezes acontece de ter um bebezinho então, é
importante deixar alguns berços específicos pra eles, mas deixa-se
espaço livre pra trabalhar bem o andar, engatinhar, ...no Infantil 1 é difícil
você sair dali, é difícil, então se a gente fica num lugar pequeno e cheio
de coisa eles ficam irritados... (Monitora de Creche 4)
Os brinquedos são todos doados que a gente pede, a gente faz um
trabalho até com os pais...Eles também trazem a gente corre a traz... a
gente recebe brinquedos da Secretaria, mas vem dois carrinhos pra
uma creche de 150 crianças, não to falando que é aqui ou lá em todos
os lugares, então a gente tem que correr por onde, então tudo que é
trazido, a gente conversa com eles, eles sabem que é deles, mas eles
têm a hora de brinca, a hora de retirar, a hora de colocar eles guardam
pra eles irem dormir, eles guardam pra ... entendeu eles tem que arrumar
aquele cantinho é deles, se eles quebrarem um brinquedo eles vão
deixar de ter. Porque, não tem como repor, entendeu, claro mais se falar
isso, mas Gisela aluno de 1 a 2 como eles vão entender isso, do jeito
deles eles entendem, entendeu quando voce fala olha ta vendo você não
vai ter mais isso pra brincar tem uns que choram tem uns que ... então
eles têm que ter esse cuidado, fica claro que fica a disposição porque a
disposição eles tem todas as regras estabelecidas junto com eles,
regras com 2 anos, mais ...(Monitora de Creche 3)
Ressalta-se que os estudos sobre as peculiaridades da organização do
tempo e do espaço na Creche serão abordados mais detidamente, com os
cuidados que merecem, posteriormente, no Capítulo III.
As Monitoras de Creche, relataram as recordações que têm do curso de
Pedagogia, demonstram a heterogeneidade de situações positivas que foram
geradas. Uma lembrou-se de como o TCC foi significativo para a sua formação,
dizendo: “...o TCC também foi trabalhoso, cansativo, mas enriquecedor”.
(Monitora de Creche 1)
Todas lembraram-se dos trabalhos que aliavam à prática cotidiana e à
teoria, como um complemento da sua formação profissional.
...a gente levou a prática, que tem aqui dentro e juntou com o conteúdo
que faltava pra gente, acho que foi muito importante, um complemento.
(Monitora de Creche 2)
140
Olha! foram coisas muito boas,..porque os professores vinham com a
matéria e acabava não sendo uma coisa cansativa, porque era uma
coisa do dia-a-dia, só que a gente estava aprendendo como trabalhar,
como elaborar na cabeça tudo aquilo que a gente já fazia. Pra mim foi
uma troca maravilhosa... eu aprendi muito eu cresci muito...(Monitora de
Creche 3)
Eu tenho boas recordações, não tenho ruins não, eu acho assim, as
aulas eram muito legais porque a maioria das aulas elas eram muito
práticas...(Monitora de Creche 4)
... claro que a parte teórica dos grandes pensadores, dos grandes
filósofos foi importante, foi muito importante você saber que aquilo que a
gente já fazia era uma coisa que já havia sido comprovada que tinham
um porquê ... e ai, você fecha, porque você sabe que existe, uma causa
e efeito, e aquilo é estudado quando a gente trabalhava, isso enquanto
parte prática... contudo, quando você tinha que dar aula, a parte prática
era muito enriquecedora, era muito gostoso,,, (Monitora de Creche 1)
A Monitora de Creche 3 acredita que a faculdade não teria sido tão
significativa para ela se já não tivesse a prática que tem como profissional. Ela
pondera dizendo...
...eu acho que essa faculdade foi melhor agora do que se eu tivesse feito
com 18/19 anos, eu acho que aprendi muito mais, porque envolveu a
minha prática, o meu conhecimento todo, e fui com aquela sede, aquela
vontade de saber mais, o porquê de tudo aquilo, então eu só tive boas
recordações, só senti dificuldade quando passou pro fundamental, eu
senti porque no fundamental por exemplo, eu não tenho experiência
ainda, ali eu sentia muita saudade quando voltava pra EI, porque era
mais o que eu fazia...(Monitora de Creche 3)
Os depoimentos sobre as disciplinas mais ou menos significativas
envolveram reações afetivas como a empatia com o professor e a apreciação da
matéria antes mesmo do curso em experiências anteriores.
De modo geral, todas apreciaram as disciplinas, estudados no curso, tanto
teóricas como as práticas, que relacionavam-se diretamente à Educação Infantil,
sendo que percebe-se visivelmente a ruptura entre as disciplinas de maior
abrangência, como Sociologia, História, Filosofia e Antropologia e disciplinas mais
específicas como Didática, Fundamentos e Metodologias, assim como o Estágio.
141
Além das disciplinas relacionadas à educação da infância, a disciplina que trata
de assuntos relacionados à Educação de Jovens e Adultos foi bastante elogiada
por duas entrevistadas. A Legislação foi uma disciplina apontada, por uma
profissional-docente, como “importante” e por outra como “chata, mas essencial”.
A parte da Educação Infantil eu achei que era muito importante... da
alfabetização da Educação Infantil a gente tinha muito também... a gente
teve muito de legislação, que é outra coisa importante, que o pessoal
não sabia, né, muitos questionamentos que a gente tinha em relação aos
pais, dúvidas que surgiam que a gente não tinha acesso com a equipe
técnica...Agora o que eu gostei realmente foi a EJA, .... maravilhoso
adorei, fiz estagio todinho no morro da Nova Cintra, participei das aulas,
eu auxiliava a professora, peguei um a professora pro de estágio super
competente...(Monitora de Creche 3)
Na parte de EJA não tinha contato, foi um mundo que eu não conhecia,
tanto que foi estagio na faculdade na parte de EJA, e é muito legal
(Monitora de Creche 4)
Outras disciplinas relacionadas à Metodologia e Didática, bem como
Educação Inclusiva, foram indicadas como matérias que levaram em
consideração o trabalho com a criança de até três anos.
....pra poder estar aplicando mais diretamente a parte de Educação
Infantil, a parte de Letramento, a parte de matemática, história,
geografia, foi enriquecedor, foram coisas a enriquecer...(Monitora de
Creche 1)
...Didática, Metodologia, e a Prática do Estágio Supervisionado (Monitora
de Creche 2)
...a gente teve na parte do estudo de crianças especiais, né! Nos
trabalhos, vamos colocar, assim, geralmente a gente pegava algum caso
da própria unidade pra trabalhar... Então algumas dificuldades com
crianças especiais dentro da sala , que a gente encontrava, a gente
levava dentro dos próprios trabalhos, por exemplo, uma bola adaptada
que a gente já usava, já fazia há um ano. A gente levou pra um trabalho
que tava dando certo ... (Monitora de Creche 4)
Os relatos dos trabalhos realizados para as aulas sempre remetem a
exemplos e conteúdos relacionados à prática cotidiana da Creche...
...acho que mudou tanto a vida da gente quanto a deles em relação a
isso, porque tinham problemas, que eles mesmos falavam: nossa!
142
nunca pensei nisso dessa maneira... e os professores tinham que
acatar, pois a gente fazia dentro do tema dele só que dentro de outra
faixa etária....(Monitora de Creche 4)
... a prática acabava sendo na hora da nossa apresentação de trabalho,
nós tínhamos a teoria, a discussão, sentava em roda, agora na
apresentação dos trabalhos que acabava sendo a pratica, os professores
brincavam que nós éramos muito criativos, porque tinha teatro, a gente
fazia teatro, a gente fazia um pouco de tudo entendeu então dava pra
mostra bem, eles achavam que nós éramos muito ricas nessa
criatividade, acho que o fato de trabalhar nessa faixa etária facilita isso, o
teatro, a brincadeira, a gente participava de tudo as atividades que gente
fazia, por exemplo, tinha que dar uma aula, aí fazia atividades voltadas
para o que a gente fazia aqui na Creche. Então isso acabava sendo a
nossa pratica na faculdade, então juntava teoria com a nossa pratica na
hora de apresentar, era muito rico, foi assim eu sinto saudade...
(Monitora de Creche 3)
Dentre os nomes de pesquisadores ou pesquisas relacionados à educação
da infância, mencionados pelas entrevistadas, surgem Piaget, Vygotsky, Wallon,
Emilia Ferreiro e as pesquisadoras italianas, em Reggio Emilia. Paulo Freire foi o
único autor brasileiro mencionado, mas como um exemplo a ser seguido em
termos de postura como educador. No entanto, não foram mencionados autores
que tratam da infância em campos como a Sociologia, a Antropologia ou a
História.
Com relação às disciplinas que menos gostaram estão a História da
Educação pela falta de empatia com o professor e a Educação Física, cuja
proposta não estava adequada ao trabalho com crianças pequenas: “...os
jogos eram pra crianças do ensino fundamental, jogos assim que não tinham a
preocupação com a Educação Infantil, a gente que levava, por causa da nossa
prática” (Monitora de Creche 1).
Os relatos também demostraram não haver uma única concepção de
criança entre os docentes do curso. Alguns professores, sequer mencionavam
questões relacionadas à infância...
143
...Tinha professor que não tinha essa visão da Educação Infantil. Dava a
matéria mais de uma forma ampla. Só os professores que tinham a
matéria ligada a Educação Infantil é que trabalhavam a Educação
Infantil. Acho que ainda faltam profissionais habilitados para estarem
trabalhando, aí que eu te falo é tudo muito novo.(Monitora de Creche 2)
Ao descreverem as contribuições no curso para prática mencionam ganhos
relacionados à questões de ordem política e de ordem pedagógica. Em relação à
questões políticas relataram a mobilização das profissionais para conquistar o
direito de fazer do curso subsidiado pela SEDUC. Já em relação aos ganhos
intelectuais, relatam...
Fundamentou a nossa prática, porque a gente, que nem eu colocava
muito aquela coisa de brincadeira, mas chega uma hora que a criança
fica meio perdida, tem uma hora que não se encaixa em tudo, a questão
das brincadeiras e tudo no conhecimento do que é a criança , as faixas
etárias, como deve trabalhar com ela, as questões dos limites tudo
(Monitora de Creche 3).
Antes da faculdade você até poderia saber a importância do brincar,
porque você leu em alguma revista, você sabia alguma coisa, então a
partir do momento que você teve uma formação, que você foi fazer uma
TCC a respeito disso , você teve que fazer um estudo, então você foi
estudar causas e conseqüências, no meu TCC, a gente se propôs a
fazer uma brinquedoteca adequada pra uma Creche. Porque a gente
achava muito difícil, a criança entrar, brincar e você fazer uma avaliação
no final, é muito complicado, então a gente sugeria dentro do TCC uma
ficha de avaliação... ai até as professoras daqui disseram: mais uma
ficha pra gente preencher.. eu falei não um documento da professora,
porque é complicado, hoje eu vou brincar com uma sala de 15, eu
reparei que aquela criança X está diferente, ela tá me passando alguma
coisa, eu anoto...(Monitora de Creche 4)
Nas descrições de como se vêem antes e depois do curso de Pedagogia,
todas elencam ganhos para o seu perfil de profissionais. Algumas acreditam que
ao se colocar no lugar de aluno, observando a prática educativa de outras
profissionais ou mesmo vivenciando situações em sala de aula, nos trabalhos
propostos, pelos profissionais da faculdade, faz com que se reflita sobre como as
crianças pensam e, dessa forma, se encontre soluções e estratégias para o
144
trabalho educativo.
Foi muito bom no sentido de estar revendo alguns momentos, as coisas
que eu já tinha visto, porque eu já tinha feito a pós (relacionada a RH)
em 1996 e voltar em 2000, foi muito gratificante, e pra pensar mesmo o
porque eu tava fazendo isso... se era isso mesmo que eu queria... fazer
uma reflexão, que na hora que você tá sentado enquanto aluno, tá do
outro lado, você faz uma reflexão porque você pensa como eles,
dependendo do lado que a gente tiver da moeda a gente pensa de um
jeito... se tiver dirigindo a gente pensa do jeito do motorista, se tiver na
rua, do jeito do pedestre. Então, foi muito bom essa volta a sentar em
uma sala de aula e poder pensar como eles (as crianças). Você fica
como eles... (Monitora de Creche 1)
A Monitora de Creche 3 ressalta que antes da formação, as suas ações
eram realizadas intitutivamente e que hoje acredita estar no caminho certo.
Ressalta a pesquisa como um grande ganho...
Hoje, a gente sabe até como pesquisar, porque antes você ia, pegava
um livro: ah! isso aqui é interessante. Hoje, eu assino a Nova Escola, eu
tenho o habito, eu leio direto, entendeu? Então, eu assino outras
revistas, Educação, eu assino também. Pra quê? Pra mim estar vendo
novas coisas, tendo novas idéias, pra você não parar, não estacionar,
porque é importante isso ... você tá buscando conhecimento de outras
formas... (Monitora de Creche 3)
A Monitora de Creche 2 relaciona aspectos da sua experiência escolar e de
vida com aspectos estudados no curso, relatando o quanto é dificil mudar
posturas, valores e idéias arraigadas que compunham sua identidade antes de
realizar a formação acadêmica. Ela afirma...
Você vai toda tradicional e chega lá e descobre que não é bem assim,
vamos mudar, mas só que você ... é muito difícil mudar, uma coisa que é
incutida em você desde pequenininha que a gente não deve estar
trabalhando assim, então essa coisa do tirar do tradicional e estar
mudando, agente percebe , mas é um processo difícil e devagar.
(Monitora de Creche 2).
Há elementos da forma escolar que encontram-se, ainda, retratados no
cotidiano do trabalho na Creche, mas que com a formação acadêmica foram
145
evidenciados, numa tentativa conflituosa de mudança de postura. A mesma
profissional-docente deu exemplos relacionados à questões de organização de
tempo e espaço, elementos essenciais no trabalho cotidiano da Creche...
Aquela coisa... a fila ... o tradicional ... tudo certinho ...ai de repente você
vê que nem tudo isso é importante você pode trabalhar sem a questão
da fila e você consegue ter um jeito diferente de trabalhar com as
crianças com organização sem precisar ser uma coisa muito certinha
muito vamos sentar .... não precisa ser assim acho que pode ser uma
coisa mais livre sem imposições que deixa a criança mais livre pra ela
mostra mais como ela é ela se desenvolve de uma forma mais ... sem
tanta ... acho que eles fazem assim ... meia general... eu acho que eu
era assim ...de vez em quando eu me policio pra não voltar a ser mais
que eu tenha lá alguma coisa tenho.(Monitora de Creche 2)
As educadoras revelam que a formação acadêmica foi um exercício de
ação- reflexão- ação importante, mas insuficiente, apontando para a necessidade
de formação continuada dentro e fora da Creche...
O curso foi essa ponte entre a teoria e a ação...voltar pra ação de forma
diferenciada, não que não se fazia o correto, mas talvez não tinha a
visão, porque quando você tá fazendo aquilo na tua rotina, no teu dia-a-
dia, aquilo vira uma rotina e você não percebe ... começa a ficar
mecânica. Isso não é só nós, é um medico, é qualquer pessoa que não
recicla...então essa visão, essa volta e muito importante por isso, que a
gente sempre pede pra que tenham cursos de formação, porque é a hora
que você tem como parar e refletir um pouco de suas ações ... então o
professor e que nem medico, eu tinha uma professora de didática na
pós-graduação que ela falava que a diferença do médico e o professor, é
que o médico ele errava na hora e já era punido, se ele erra aparecia o
erro na hora, o professor só vai ter o retorno daqui a anos, né, mais a
importância é a mesma, você ta formando uma pessoa, seja ela um
bebê, seja ela ... esta formando ... cuida de outra forma, não que as
outras profissões não sejam importantes, mas é muito cuidadoso, então
acho que a formação continua do professor ela tinha que ser muito bem
pensada, tinha que ser muito bem .... pra gente não estar vivendo esse
momento que a gente ta vivendo na nossa sociedade...(Monitora de
Creche 1)
...acho que a gente poderia continuar, tinha que ter uma continuação,
sim, porque agora ficou um buraco.. ficou um vazio, sabe porque você ia
pra aula e todos dias você vinha com coisas novas e discutia, você
discutia muito mais sobre tudo, sobre o desenvolvimento, e acho que na
época a gente falava mais entre os profissionais, porque todo mundo
fazia, foi uma coisa única...(Monitora de Creche 3)
[.1] Comentário: odtiri
146
Como se pode observar, a experiência da realização do curso de
Pedagogia não foi apenas um caso de obtenção de certificação como estratégia
de rentabilização de seu diploma no mundo do trabalho. Claro, que todas almejam
ser reconhecidas como professoras de Educação Infantil e obter as ¨regalias¨ do
referido cargo. Para tanto, estão novamente unidas em mobilizações e
reivindicações. Contudo, é nítido o empenho e a satisfação das profissionais-
docentes em ter obtido formação acadêmica. Esta formação trouxe um
sentimento de ¨posse¨ de um conhecimento, que antes, segundo seus relatos, era
apenas prático e que hoje, por suposto, está baseado em teorias educacionais
comprovadas. Tal situação trouxe consequências positivas à identidade das
profissionais em questão, que ainda está sendo construída no seio das
transformações da instituição social Creche.
Ao examinar o contexto da Creche santista e de suas profissionais-
docentes, por meio da tabulação dos questionários respondidos pelas Monitoras
de Creche, da descrição das observações realizadas no interior da instituição e
dos relatos das entrevistas é possível verificar que há elementos singulares da
¨forma da Creche¨, bem como da formação acadêmica do profissional que nela
atua. Estes aspectos vem sendo constituídos e divulgados por meio de estudos
específicos, realizados em muitas partes do mundo, assim como no Brasil e serão
retratados no próximo capítulo.
147
Capítulo III – A relação social entre a forma da Creche, a
prática educativa das profissionais-docentes que nela atua e sua
formação acadêmica
“É na prática que todo projeto, toda idéia, toda
intenção, se faz realidade de uma forma ou de
outra...” (Gimeno Sacristàn, 2001)
3.1. A forma escolar e a forma da Creche: regularidades e
singularidades
A instituição escola possui uma forma peculiar que se reproduz de maneira
regular em instituições semelhantes mesmo que nas situações as mais precárias
e adversas e que não é, ou pelo menos não tem sido, a continuidade imediata da
“forma Creche”.
Pérez Gomés (2001, p.15) afirma que a escola não é um simples
agrupamento de pessoas. Trata-se de uma distribuição geográfica, social, política,
temporal de profissionais e sujeitos, de espaços e tempos, isto é, uma distribuição
cultural típica desta instituição, que compõe uma rede de significados
compartilhados determinados pelos mecanismos de interação e intercâmbios.
Essas manifestações podem ser visíveis, explícitas ou internas, ou não explícitas
e sutis.
Atualmente, estudos que abordam o plano microanalítico também estão
sendo chamados a compor o leque de opções para as investigações sobre a
escolarização numa tentativa de articulação entre os aspectos micro e macro da
escola, potencializando a valorização de elementos intermediários ou
148
mediadores, o que pode ser chamado de mesoabordagem (Lima, 1996, p. 31).
Essa forma de abordar permite estabelecer uma espécie de triangulação
entre os planos macroanalíticos tais como Estado, sistema político e econômico,
bem como, os planos microanalíticos, tais como a sala de aula, os atores e suas
práticas, devolvendo à escola o seu caráter diversificado e complexo.
A Creche, que segundo Haddad (1991) é fenômeno multifacetado, não
pode e nem deve ser analisada por um único prisma. Esta análise demanda
também uma abordagem que acrescente aos estudos sobre os seus
condicionantes históricos, políticos, sociais e econômicos, outros aspectos
diretamente relacionados à estrutura institucional da Educação Infantil sob a
guarda da dialética macro/micro como estratégia de observação.
Para entendimento dos vários aspectos que compõem a organização e a
cultura da Creche faz-se necessário também considerar os aspectos
microanalíticos que dizem respeito às suas práticas e formas, num movimento
análogo ao que fazemos quando pensamos nas práticas e formas escolares.
3.1.1. A organização da escola e a organização da Creche:
diferenciando as “formas”
A organização interna da escola constitui-se de referenciais emanados
tanto da esfera administrativa como da esfera pedagógica, que se inter-
relacionam e se complementam. Segundo Derouet,
...Um estabelecimento de ensino não é apenas uma unidade
pedagógica, é também uma pequena empresa de restauração que pode
servir mais de um milhar de refeições; é também uma pequena empresa
149
de limpeza e de manutenção, se considerarmos que os efetivos em
pessoal auxiliar e administrativo representam, mais ou menos, metade
do número de professores (1996, p.75).
Nessa organização administrativa e pedagógica também se manifestam
questões essenciais como a estruturação do tempo e do espaço, fazendo
florescer uma cultura própria, produzida no seu interior, demarcada por relações
de poder na e da escola. São questões constitutivas de uma cultura própria, que
apesar da semelhança em alguns casos à uma empresa no que tange os
aspectos administrativos, apresenta especificidades que nenhuma outra
instituição possui. Estes e outros aspectos precisam ser levados em consideração
ao se pensar a formação dos profissionais que nela atuam porque a escola é uma
instituição com “cultura própria” e estrutura peculiar (Candido, 1964).
Segundo Pérez Gómez (2001, p.17), a escola não é um amalgama e sim
um espaço ecológico de cruzamento de diferentes culturas. Ela, ao mesmo tempo
em que propicia a mediação reflexiva dos valores e das relações sociais de uma
determinada sociedade, também desenvolve e reproduz sua própria cultura,
gerando um conjunto de significados e comportamentos próprios. A educação
deve ser entendida como portadora de um processo complexo de enculturação,
cuja função da escola é ...
...oferecer ao indivíduo possibilidade de detectar e entender o valor e o
sentido dos influxos explícitos ou latentes, que está recebendo em seu
desenvolvimento como conseqüência de sua participação na complexa
vida cultural de sua comunidade (Pérez Gómez, 2001, p.18).
Assim sendo, ao se pensar na diferenciação da instituição escola em
relação à outras instituições, faz-se necessário ainda descrever como a forma
escolar constituiu-se social e historicamente, e ainda, como essa forma influencia
150
na sociedade como um todo e vice-versa.
A forma escolar, como resultado histórico de um processo de socialização
da infância e da juventude, padronizou os saberes para existirem dentro de uma
determinada organização. A escola é o espaço de tempo que tenta sistematizar e
socializar as informações contidas na sociedade. À essa formatação dos saberes
dá-se o nome de currículo, o qual dialeticamente acaba conformando a
organização de toda a escola.
Vincent (1994) deu um conteúdo bastante particular à idéia de forma
escolar demonstrando que a sociedade moderna se caracteriza por estruturar-se
a partir de um tipo específico de socialização, a socialização escolar.
Ressalta-se que os saberes estão espalhados por toda a sociedade, mas a
escola tem uma forma tão poderosa que quase tudo relacionado a ensino,
aprendizagem, socialização, disciplina, avaliação etc, mesmo quando aparece
noutros lugares na sociedade, funcionam tendo por referência a forma que a
escola dá à organização dos saberes e que predomina sobre outras formas.
Segundo Pérez Gómez (2001, p.150), além do currículo, os rituais e
costumes, as relações existentes, a organização comportamental dos estudantes,
são elementos típicos de uma cultura escolar que tanto condiciona como
pressiona os comportamentos de todos os envolvidos no processo, constituindo-
se outro entendimento da forma escolar.
Ao se pensar na estrutura de funcionamento da Creche, é importante levar
em consideração a advertência de Crepaldi (apud Freitas, 2005, p. 106) sobre o
risco que o processo de integração das mesmas ao Sistema de Ensino pode
incorrer ao se impor à Creche a mesma “forma” da Pré-escola, que por sua vez é
151
influenciada pela “forma escola”.
Pensando no objeto de estudo desta pesquisa, ao se descrever
brevemente a construção conceitual da forma escolar, o que se tem em mente é a
necessidade de se estabelecer um marco conceitual para pensar a forma da
Creche, que não é, enquanto estrutura, um componente institucional projetado até
aqui para ser “uma etapa de escolarização”.
O caminho investigativo a ser percorrido tem a pretensão de afastar o risco
de se pensar na Educação Infantil como parte de um processo que simplesmente,
por força da lei, acrescenta a Creche à escola, como se ambas fossem formas
complementares.
Geralmente, o que se assiste é a ampliação das estratégias de
escolarização até nas instituições destinadas à criança pequena. Esse fato de
que ambas instituições vem sendo pensadas sem grandes distinções de forma e
conteúdo, pode ser notado quando encontram-se os profissionais de Creche
sendo encaminhados para o ensino superior, onde muitos estão estudando a vida
da Creche a partir da Pré-escola.
Partindo do descrito acima, torna-se necessário refletir sobre os elementos
constitutivos da “forma da Creche” em suas particularidades e singularidades.
O espaço e o tempo escolares, por exemplo, são elementos que integram
a estrutura da escola e da sua cultura de maneira decisiva. Ambos se inter-
relacionam, conformando e condicionando a vida social e humana aos processos
educativos existentes no interior da unidade educacional. O espaço escolar
contém a dimensão das classes, pátios, refeitório e banheiros, e abrange ainda, a
questão da ventilação, da iluminação, do mobiliário etc, supostamente adequada
152
à faixa etária e aos objetivos propostos para o trabalho educativo. Mas espaço e
tempo têm significados culturais distintos quando se tem em mente a criança
pequenininha.
Na Creche, segundo Lima, a questão do espaço físico se manifesta como
“pano de fundo”, como “moldura” (apud Faria e Palhares, 2003, p. 70,) para a
constituição de um ambiente envolvente, acolhedor, propício para a manifestação
de diversas formas de expressão, atendendo às diferentes exigências das
atividades programadas, mas dando espaço aos saberes espontâneos das
crianças. Pode-se dizer ainda, que um elemento determinante na relação entre o
espaço e as atividades propostas, é o fator material. Os recursos materiais
oferecidos à criança devem ser variados, atraentes, adequados ao número de
crianças atendidas e precisam estar em boas condições de uso e de higiene para
potencializar os aspectos do imaginário, lúdico, artístico, afetivo e cognitivo da
criança. Está claro que a maioria das Creches não dispõem de tais recursos, mas
da mesma forma que a escola, podemos afirmar que sabemos o que é uma
instalação adequada ainda que não a tenhamos ao alcance de todos.
Para Edwards, Gandini e Forman (1999, p. 157), o ambiente da Creche
deve ser considerado “educador”, devendo ser flexível, atraente e podendo ser
modificado conforme as necessidades das crianças de serem protagonistas de
seu próprio conhecimento. Em muitas Creches, quando a organização interna
com relação à divisão dos espaços muitas vezes é bastante rígida, corre-se o
risco de isolar as crianças em grupos divididos de acordo com a faixa etária.
Contudo, faz-se necessário organizar espaços coletivos, onde crianças e adultos,
trabalhando e brincando juntos, criem um espaço de bem-estar, segurança e
ensino-aprendizado. É importante destacar que, mesmo no interior da Creche, o
153
modo de interagir com o espaço e o tempo é diferenciado de acordo com a faixa
etária.
A experiência do Instituto Lóczy mostra que os espaços físicos na Creche
não precisam constituir- se em locais disciplinadores, de controle e conformação
de corpos infantis (Arroyo, apud Freitas, 2005), mas de desenvolvimento. Szanto
e Tardos (2004, p.46) destacam a seguinte hipótese “...a atividade autônoma,
escolhida e realizada pela criança... é uma necessidade fundamental do ser
humano desde o nascimento”. Fatores como: liberdade de movimentos, objetos
para ocupar os bebês e a segurança são fundamentais para constituição de
espaços educadores, visando a autonomia da criança. Para as autoras (ibidem,
2004), o adulto deve criar possibilidades aos bebês de atuarem, por meio de um
ambiente estimulante, dependendo do estágio de desenvolvimento em que se
encontra.
Assim, para se pensar em espaços diferenciados, faz-se necessário pensar
em atitudes diferenciadas dos educadores. Como relação à integração das
regras de vidas pelas crianças pequeninas, por exemplo, Dehelan, Szredi e
Tardos (2004) destacaram as atitudes dos adultos em Lòczy, que estimulam o
comportamento esperado e criam condições para esse comportamento,
expressando a expectativa do comportamento desejado, não apenas com um
pedido ou recordando uma regra, mas de maneira indireta, por meio de exemplos,
explicações simples, evidenciando alegria e aprovação por um comportamento da
criança e preparando a criança para a comunicação.
Com relação à dimensão do espaço na conceitualização de serviços para a
primeira infância, Moss afirma que,
...espaços onde ensinar e aprender acontecem de um modo dialógico,
154
são espaços para conhecimento, para o saber, não para a transferência
de conhecimento; são locais onde o conhecimento foi produzido e não
simplesmente apresentado ou imposto ao aprendiz. São espaços onde
foram criadas novas hipóteses para a leitura do mundo (2002, p. 244).
Se retomarmos o contraponto em relação à escola podemos lembrar que
faz parte do que se chama tempo escolar, a distribuição diária das atividades, a
duração das aulas e recreios, o período de férias, o número de dias que a criança
precisa freqüentar a escola etc. Viñao Frago (2000, p.100) afirma que a estrutura
de tempo do sistema escolar possui três aspectos importantes: o geral, que
abrange os diferentes níveis de ensino, ciclos e cursos; o anual, que compreende
o calendário escolar, o semanal e o diário, que refere-se ao horário e programa de
aula ou disciplina.
Com relação à estrutura do tempo em nível geral, no Brasil, como já foi
citado anteriormente, a Lei de Diretrizes e Bases (MEC, 1996) faz menção a dois
níveis de ensino: a educação básica, que subdivide-se em Educação Infantil,
Ensino Fundamental e Ensino Médio, e a Educação Superior. Quando se discute
a dimensão anual, tratando-se do número de dias letivos, há uma determinada
forma imposta pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no que tange
à carga horária e ao calendário escolar. O que se constata com relação à
Educação Infantil, é uma diferenciação de tratamento entre a Pré-escola e a
Creche. A primeira, quase em todos os lugares, segue o mesmo calendário que o
Ensino Fundamental, inserindo-se na lógica de planejamento desse nível de
ensino. Já a instituição Creche, em muitos casos, é encarada também como uma
necessidade da mãe trabalhadora e demanda, por isso, um aumento dos dias
letivos para que a criança tenha um abrigo seguro, enquanto a mãe trabalha.
Em muitos municípios como é o caso de Santos, nas férias escolares, as
155
crianças pequenas das mães trabalhadoras são deslocadas de seu ambiente
cotidiano para outra Creche, que é denominada Creche-pólo, o que demonstra
que o trabalho na Creche está a afeito a demandas muito próprias.
Quanto ao aspecto semanal e diário do tempo escolar, Nigito (2004, p. 44),
observa, em contrapartida, uma diferenciação e uma dupla articulação de tempos
na Creche. Temos o tempo que se refere à organização do cotidiano, e o tempo
subjetivo, que diz respeito à vivência temporal da criança. Assim sendo, o tempo
na Creche é uma categoria socialmente construída, que envolve subjetividade
individual e significados culturais e sociais, passíveis de socialização e
aprendizado.
Na maioria das vezes, o tempo na Creche é dividido em função das
atividades permanentes como alimentação, cuidados de higiene, sono, parque,
submetendo as crianças a rotinas rígidas e cansativas, quando muitas dessas
crianças estão sempre esperando por algumas. Há ainda, em muitas Creches, a
exigência do cumprimento de um calendário de datas comemorativas
semelhantes àquelas realizadas em instituições de Ensino Fundamental, que
muitas vezes constituem-se em verdadeiros sinônimos de escolarização da
criança pequena. Em certos momentos, há a necessidade de se considerar o
ritmo da criança, ajustando as diferentes atividades às suas reais necessidades.
Segundo Greenman (apud Edwards, Gandini e Forman 1999, p. 156), “...o espaço
físico inclui o modo como o tempo é estruturado e os papéis que devemos
exercer...”.
Galdabino (2004, p.36), em pesquisa do tipo ecológica, sobre tempos e
espaços no cotidiano infantil, realizada recentemente em Creche da Itália, aponta
para quatro tipos de atividades diferenciadas que ocorrem no dia-a-dia do interior
156
da referida instituição: rotina, transição, poliatividade
18
e atividade específica ou
educativa. A ênfase é dada para as atividades de transição, denominadas de
zonas francas e que também se dividem em quatro tipos: deslocamento físico,
rituais com fim preparatório para atividade sucessiva, trocas verbais, atmosfera,
que corresponde às alterações das características ambientais e relacionais do
contexto em que vivem os sujeitos observados.
Retornando à escola, é possível afirmar com Viñao Frago (2000, p. 99) que
o uso e distribuição do espaço e do tempo escolares têm uma relação estreita
com os objetivos e métodos de ensino. Sendo assim, nem o espaço nem o tempo
escolar são estruturas neutras. Esses determinam um ao outro e ainda os modos
de ensinar e aprender, incutindo determinadas concepções que condicionam o
ensino das diferentes disciplinas, conformando o clima e a cultura das instituições
escolares.
Já na Creche, Galdabino (2004, p. 42) demonstra que uma das conclusões
mais importantes a que chegou em sua pesquisa sobre tempos e espaços na
Creche, é que a visibilidade do tempo no dia-a-dia dessa instituição depende da
ação do educador, que propõe atividades, prepara variadas situações, organiza
espaços e materiais, desenvolvendo a função de mediação entre a criança e o
ambiente educativo. Como corolário indica a necessidade de que os educadores
tomem consciência das escolhas educativas feitas. Nesse contexto, ressalta
Nigito,
...A aquisição de um sentido de tempo compartilhado por parte da
criança pequena e a própria possibilidade de conceituar o tempo são
fortemente influenciadas pelo modo como ele é gerido, mais ou menos
conscientemente, pelos adultos que têm responsabilidades educativa
(2004, p. 44).
18
Poliatividade quer dizer várias atividades realizadas concomitantemente.
157
Vale lembrar que, historicamente, a questão do espaço e do tempo na
Creche está também atrelada aos movimentos higienistas do final do século XIX e
início do século XX. Ao analisar manuais e livros a respeito do assunto, pode-se
notar a importância dada ao espaço e ao tempo no interior dessa instituição. Suas
estruturas de organização do espaço e do tempo são bastante singulares e
fundamentais aos seus objetivos.
Assim sendo, o espaço e o tempo na Creche têm sido tratados como
elementos constitutivos de uma visão assistencialista de proteção à infância. Ao
se incluir a Creche no sistema de ensino, segundo Oliveira (2002, p. 82), uma
nova trajetória de trabalho coletivo deve ser iniciada, sendo necessário elaborar
uma proposta pedagógica desenvolvida por toda a comunidade escolar, aliando
os objetivos pedagógicos à atenção sobre a organização do espaço e do tempo
nessa instituição, sem, no entanto, incorrer no erro de acreditar que a tarefa em
jogo consiste apenas em incorporar a Creche à escola como se faltassem apenas
os conhecimentos pedagógicos necessários para operar uma soma.
Para Faria e Palhares (2003, p. 69), a organização do espaço na Educação
Infantil, especificamente a organização do espaço na Creche, deve contemplar a
diversidade de interesses da sociedade, da família, e principalmente, da criança,
superando os modelos rígidos de escola, casa e de hospital.
Nigito afirma que o ambiente da Creche é uma espécie de...
...lugar de transição, área intermediária entre a casa e o mundo externo.
Aqui os ritmos individuais são lentamente, durante os três anos,
regulados pelos educadores e distribuídos de acordo com ritmos cada
vez mais heterônomos e sociais; o modo em que isso acontece
substancia as primeiras interações, o mundo das relações sociais infantis
e a experiência da realidade no profundo da vivência pessoal (2004, p.
94).
158
Dessa forma, torna-se evidente que o espaço e o tempo na Creche devem
ser pensado de forma diferenciada do espaço e do tempo na escola, e que as
recentes transformações legais relacionadas à Educação Infantil demandam
outras iniciativas para que os espaços destinados à criança pequena possam ser
pensados à luz de suas especificidades.
É necessário um cuidado quase preventivo para evitar que a criança
pequena esteja à mercê de iniciativas que possam acelerar seu processo de
escolarização, bem como, “vigiar” para que o trabalho com crianças pequenas
não seja atingido por avaliações interessadas em verificar coeficientes de
produtividade.
A organização do espaço e do tempo, somada ao binômio cuidar/educar é
proposta pelo Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI),
documento do MEC com orientações didático-pedagógicas para a Educação da
criança de 0 a 6 anos. Com relação ao tempo, o Referencial preconiza atividades
permanentes que propiciem a escolha por parte da criança daquilo que mais lhe
interessa no momento e a seqüência de atividades, o que na linguagem do
documento, constitui-se como trabalho com projetos. O RCNEI propõe a
estruturação de um ambiente de cuidados essenciais (1998, p. 50), oferecendo
proteção, conforto e segurança física à criança, por meio de alimentação e
cuidados de higiene. Sugere, ainda, a criação de espaços propícios para o
brincar, atividade principal da criança dessa faixa etária. É brincando que a
criança, desde bebê, construirá sua cultura lúdica (Brougère, 2002), que por sua
vez está relacionada ao lugar da brincadeira na sociedade em que está inserida.
Considerando que um dos objetivos da Creche é a socialização, será também por
meio da brincadeira que a criança poderá experienciar tal processo.
159
Após o exame das questões referentes à estrutura da escola e à estrutura
da Creche pode-se concluir que ambas não são naturalmente complementares e
nem serão, mesmo que pela força da lei, transformadas automaticamente em
seqüência complementares.
A relação cuidar-e-educar, elemento que precisa necessariamente ser
pensado ao se trabalhar com crianças pequenas, em Loczy (2004), é garantida
entre outras atividades, pelo incentivo à participação da mesma no cuidado de
seu próprio corpo, como na hora de se vestir ou despir-se ou ainda, alimentar-se,
relacionando-se afetivamente com a educadora, tem um papel decisivo no seu
desenvolvimento. Este tipo de atuação está integrada à tarefa de formação de
pessoas e ao objetivo primordial da educação das crianças pequenininhas: o
cuidar-e-educar. Segundo, Hevesi (2004) é importante que a educadora busque
o olhar da criança esperando a sua participação na atividade, sem tratá-la como
se fosse um objeto.
Quando se considera todas essas variáveis acima descritas surge o
questionamento sobre como está se processando a formação acadêmica da
profissional-docente que trabalha com as crianças pequenininhas. Torna-se claro
que não podem e não devem ser utilizados os mesmos parâmetros que
comumente propõe-se para o trabalho educativo com as crianças das séries
iniciais, como o Referencial Pedagógico- Curricular para a Formação de
Professores de Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental,
comentado anteriormente, quer que se realize. Dessa forma, examina-se a seguir,
algumas idéias e experiências de formação em nível superior, a partir do curso de
Pedagogia que foi o escolhido pelo poder público local para a formação das
Monitoras de Creche da cidade de Santos.
160
3.2. Os cursos de Pedagogia e a singularidade do trabalho em Creche:
uma identidade profissional em construção.
Ao analisar as peculiaridades da ¨forma da Creche¨, conclui-se que, para
garantir a concretização dos direitos das crianças pequenininhas a um ambiente
adequado às suas necessidades de educação e cuidado, faz-se necessário
proporcionar às profissionais- docentes um processo de formação acadêmica que
permita reflexões em torno de aspectos teóricos e práticos coerentes e
necessários para atender competentemente a criança.
No que tange à diferenciação na formação do docente que trabalha na
escola em relação à formação do profissional que atua na Creche, percebe-se a
importância de se refletir sobre as especificidades de uma e de outra função para
não se incorrer no erro de acreditar que apenas o preparo pedagógico e didático é
suficiente, tomando a Educação Infantil como continuidade do Ensino
Fundamental.
De modo geral, os modelos oferecidos nos referidos cursos de formação,
ainda têm em mente a forma escolar, pois é a que apresenta uma maior
diversidade de estudos. Entretanto, a reflexão sobre as singularidades da forma
da Creche, com relação à organização do tempo e do espaço, às relações
interpessoais e a questão do binômio cuidar-e-educar, são essenciais para a
construção da identidade da profissional- docente de Creche, que por ter sido
testumunha de uma história de Educação Infantil aliada ora a um tipo de
formação escolarizante, ora a uma visão assistencialista e higienista, precisa de
novos elementos para constituir um novo ponto de vista de seu próprio trabalho.
161
Tema semelhante é analisado por Faria (2002) que defende a idéia de que
a Creche tem um caráter educativo, mas não escolar, ou seja, o modelo da escola
de Ensino Fundamental não deve ser transplantado para as instituições de
Educação Infantil.
Ao se pensar na estreita relação entre a especificidade do papel da escola
e a atuação do professor, remete-se à idéia que Pérez Gomez (2001) estuda
sobre a cultura docente como um...
...conjunto de crenças, valores, hábitos e normas dominantes que
determinam o que este grupo social considera valioso em seu contexto
profissional, assim como os modos politicamente corretos de pensar,
sentir, atuar e se relacionar entre si (Pérez Gómez , 2001, p. 164).
Assim, sendo a cultura docente o elemento central da cultura da escola que
se expressa por meio dos métodos de aprendizagem, da qualidade do ensino,
nas relações interpessoais, nas definições de papéis e funções que se
desempenha, nos modos de gestão, nas decisões, compondo uma estrutura de
poder, torna-se possível indagar se os profissionais que trabalham com crianças
pequenas possuem uma cultura peculiar, relacionada especificamente à forma da
Creche, constituindo uma identidade profissional própria.
Pode-se dizer que, pelo menos de acordo com o que foi observado e
relatado pelas profissionais-docentes da Creche da Casa da Criança, essa
cultura, bem como a sua identidade profissional vem sendo construída, passo a
passo, por meio de mobilizações, estudos, leituras, troca de experiências,
observações das reações das crianças e do trabalho de outros colegas,
procurando, cada vez mais, encontrar soluções para as práticas pedagógicas que
envolvam a relação cuidar-e-educar.
Outrossim, para a constituição de uma cultura que expresse a identidade
162
do profissional da infância, a formação é o elemento central do processo (Silva,
2003). Cipollone (1998, p. 119) defende a importância da formação para esse
profissional, pois provocará a passagem de um trabalho espontâneo para um
trabalho controlado cientificamente.
Sobre a importância da formação para a valorização da profissional,
Rosemberg (apud Silva, 2003) afirma:
O caminho que nos parece mais adequado neste momento para superar
este intrincado jogo de subordinações de classe, raça, gênero e idade
que vem prejudicando as crianças através da Educação Infantil seria o
da formação e qualificação da trabalhadora que lida com a criança. (p.
165)
Dessa forma, considerar a especificidade do trabalho com crianças
pequenas, bem como a especificidade da cultura docente, quando se reflete
sobre a formação do profissional de Creche é tarefa urgente e necessária. No que
tange aos cursos de formação de professores, especificamente sobre o curso de
Pedagogia, que é objeto desse estudo, a preocupação é ainda maior.
Silva (2003) aponta a preocupação existente com a política do MEC que
vem incentivando e desenvolvendo, em parceria com estados e municípios, a
realização de cursos aligeirados, às vezes até na modalidade à distância ou
compactados em aulas de finais de semana ou férias, considerando, ainda, a
possibilidade de aproveitamento da formação e experiências anteriores. A
escassez de tempo para a formação do profissional que poderá atuar desde a
Educação Infantil até as quatro séries iniciais do Ensino Fundamental, lembrando
que, com mais um ano de estudos, o mesmo será considerado apto a ocupar o
cargo de direção de uma escola ou Creche, pode configurar-se muitas vezes, não
como um processo de qualificação e formação, mas apenas de certificação com o
163
intuito de “rentabilizar” (Bourdieu, 1998) seu lugar no mundo do trabalho e da
sociedade, como já foi dito anteriormente.
No documento de avaliação da situação desses cursos, elaborado em 2000
pela ANFOPE (apud Silva) conclui-se que “...a formação ...passa a ser vista
como um negócio lucrativo nas mãos do setor privado e não uma política pública
de responsabilidade do estado e dos poderes públicos” (p. 68).
Por outro lado, a partir do momento em que se oferece um curso superior
à profissionais atuantes na área não é possível jogar fora a experiência de uma
prática educativa impregnada de conteúdos que necessitam ser refletidos, tanto
para se evidenciar fatores positivos, como para se pensar na estrutura da escola
de Ensino Fundamental e na postura escolarizante de educação, que tem sido
simplesmente transferida à Creche. Segundo Kramer (2002, p. 127), “a maioria
das iniciativas de formação trabalha com a idéia de que é preciso (ou melhor,
possível) jogar fora a experiência passada para começar tudo de novo” Para a
autora, a teoria, os estudos, as discussões, interagem com os conhecimentos
vivenciais e com os saberes que vêm da prática.
Contudo, Arelaro (apud Silva, 2003, p. 69) adverte que a ênfase exagerada
no saber prático do profissional- aluno, secundariza a teoria como elemento
fundamental para a construção da prática do profissional.
Diante do exposto, e relacionando a questão da cultura docente à
problemática da forma Creche e, conseqüentemente, à formação do profissional
que nela atua, é possível tecer algumas considerações sobre o curso de formação
superior realizado pelas Monitoras de Creche da Rede Municipal de Ensino de
Santos.
164
O curso foi feito fora do horário de trabalho das profissionais, diariamente,
durante três anos. Ao final, as mesmas obtiveram a certificação de docente das
séries iniciais e de Educação Infantil, sendo que para a obtenção do certificado de
técnico- especialista, as profissionais interessadas tiveram que subsidiar os
estudos com recursos próprios, apesar de terem se mobilizado no intuito de
conseguir verba da SEDUC para garantir a habilitação de forma gratuita.
Ao analisar o quadro de disciplinas do curso de Pedagogia em questão
(Anexo 04), percebe-se alguma preocupação em dedicar disciplinas ao estudo de
aspectos relacionados à Educação da Infância. Segundo a pesquisa realizada por
meio do site
19
da instituição, o curso de Pedagogia tem por objetivo geral a
finalidade de...
... formar profissionais da educação capazes de analisar a realidade
criticamente e intervir na educação de forma ética e humanizadora,
proporcionando-lhes a oportunidade de desenvolverem habilidades e
competências para o enfrentamento de situações inusitadas do cotidiano
escolar”.
Para isso prioriza a liberação da criatividade dos futuros professores, tão
necessária para a superação da experiência acumulada cristalizada pela
rotina, para que possam, no exercício do Magistério, criar caminhos e
soluções para os problemas que afligem a sociedade, contribuindo,
assim, para o pleno exercício da cidadania, sem desigualdades e
exclusões (UNIMONTE, 2006)
Verificando os estudos brasileiros sobre o assunto, encontra-se a pesquisa
de Silva (2003) sobre as ementas de cinco cursos de Pedagogia de
Universidades Públicas brasileiras. A autora (2003, p. 85),com relação às
disciplinas relacionadas à Educação Infantil, observou que existem, de modo
geral, disciplinas que englobam o conjunto de teorias a respeito da educação das
crianças até 6 anos e outras que possibilitam o contato e o conhecimento das
realidades e práticas educativas realizadas nas instituições de Educação Infantil.
165
Isso significa o estabelecimento de um espaço para a reflexão dos temas relativos
à Educação Infantil e as especificidades do cuidar-e-educar crianças pequenas
em creches e Pré-escolas.
Contudo, a fragmentação entre a teoria e a prática é evidenciada (ibidem,
p. 89) ao se constatar que geralmente essas disciplinas são trabalhadas nos
últimos semestres do curso, havendo uma divisão entre as disciplinas de
fundamentação teórica (história, filosofia, psicologia, sociologia) que não
contextualizam os sujeitos do processo educativo e aquelas que tratam da
formação específica, muitas vezes reduzidas à discussão de questões
pragmáticas da prática.
O mesmo vem ocorrendo na experiência vivida em Santos, concluindo-se
que este curso, assim como tantos outros cursos de Pedagogia, ainda estão
passando por uma fase de adaptação e construção de currículos mais adequados
à docência voltada para as crianças pequenininhas. O curso que em seus três
primeiros anos tem uma base para a preparação do docente, oferece disciplinas
de fundamentação teórica geral no 1
o
e 2
o
semestres (Língua Portuguesa,
Sociologia Geral, Psicologia Geral, Filosofia Geral, Didática Geral, Metodologia
Científica, Leitura e Produção de textos, Antropologia, Biologia Educacional,
Psicologia da Educação, Filosofia da Educação, Didática I, Estrutura e
Funcionamento do Ensino) e nos 3
o
e 4
o
semestres oferece disciplinas mais
específicas relacionadas à reflexão sobre a educação da infância, como
Comunicação e Arte, Metodologia da Educação Infantil, Estágio Supervisionado
em Educação Infantil I, Estágio Supervisionado em Educação Infantil II. No 5
o
semestre há uma disciplina, Fundamentos Teóricos e Metodológicos da
19
www.unimonte.br, acessado em 24 de abril de 2006.
166
Alfabetização, relacionada à Alfabetização, que provavelmente faz o elo entre a
Educação Infantil e o Ensino Fundamental.
Silva (2003, p. 171), em sua conclusão, aponta que os cursos dão ênfase
aos estudos sobre aspectos relacionados majoritariamentte à educação Pré-
escolar, sendo que o modelo escolar de ensino fundamental é bastante presente,
seja pela priorização de certos temas, em detrimento de outros, como o binômico
educar-e-cuidar ou organização do tempo e do espaço, imaginação, seja pelo
vocabulário.
Acredita-se que este fato tenha sido amenizado no curso realizado pelas
Monitoras de Creche, devido a experiência prática das alunas, que acabaram
trazendo elementos de seu trabalho para serem reelaborados nas aulas. De certa
forma, como propõe Mantovani e Perani (1999), parece que a prática e os
interesses das profissionais-docentes foram levados em consideração, como
observa-se nos depoimentos abaixo:
...a gente comentava: é uma troca tão grande que a gente tá fazendo,
porque nós íamos com toda a prática, uma bagagem grande que não dá
pra descartar de jeito nenhum, uma coisa que tem que ser aproveitada.
E às vezes a professora dava aqueles trabalhos pra gente, e a gente
enriquecia o conhecimento, levando material. Tudo o que a gente já fazia
aqui. Projetos, a gente tinha muitos projetos, então enriquecia muito o
trabalho dela, ela sempre comentava: diferente a gente dar aula pra uma
pessoa que nunca teve esse contato (é bem diferente), ela falava que
era uma aula muito rica (Monitora de Creche 3)
... claro que a parte teórica dos grandes, pensadores dos grandes
filósofos foi importante, foi muito importante você saber que aquilo que a
gente já fazia era uma coisa que já havia sido comprovada que tinham
um porquê ... e ai você fecha, você dá um fechamento naquele teu
pensamento, porque você sabe que existe uma causa e efeito, e aquilo é
estudado quando a gente trabalhava isso enquanto parte pratica, quando
você tinha que dar aula, quando você tinha que ministrar, a parte pratica
era muito enriquecedora, era muito gostoso, tudo pautado numa parte
teórica (Monitora de Creche1)
167
A visão psicologizante da criança como um vir a ser, também é bastante
usual. A tendência de “olhar” a criança a partir de outras referências como a
antropologia, sociologia e história é, ainda, incipiente. Tal perspectiva
psicologizante da Educação Infantil é percebida na fala de uma das entrevistas
que, ao ser questionada sobre o que a Monitora de Creche deve saber, propõe...
...Precisa entender da faixa etária das crianças, noções sobre
desenvolvimento infantil pra poder estar trabalhando com as crianças e
respeitar as crianças, cada um tem o seu tempo e o seu momento
(Monitora de Creche 2)
A autora (2003) afirma, ainda, que já possível vislumbrar essa nova
proposta, fundamentada na Pedagogia da infância, inserida nos projetos de
pesquisa, ou seja, nos TCCs, o que lembra a importância de se aliar o ensino à
pesquisa.
Esse espaço de pesquisa relacionado aos conteúdos da Pedagogia da
infância, também foi percebido no curso realizado pelas profissionais-docentes
das Creches Municipais santistas. Ao analisar brevemente uma amostra dos
títulos dos TCCs (Apêndice 04) feitos pelas profissionais
20
, percebe-se uma
grande quantidade de pesquisas feitas no contexto da Educação Infantil,
especialmente na Creche. Nos relatos das Monitoras de Creche entrevistadas,
percebe-se que as mesmas reconhecem o TCC como grande contribuição para
seu trabalho educativo e aprimoramento profissional, sendo visto como uma
iniciação à pesquisa:
20
Foram relacionados apenas os TCCs das profissioanais-docentes de Creche que haviam doado
um exemplar a Biblioteca da UNIMONTE, instituição que realizou o Curso de Pedagogia em
questão. A Biblioteca da UNIMONTE tinha, em novembro de 2005, 32 TCCs catalogados, sendo
que 15 são de Monitoras de Creches. Os TCCs, geralmente, foram feitos em grupos de 5
componentes, sendo que alguns foram feitos com menos pessoas ou por apenas uma aluna.
168
...então a maioria dos TCCs foram nessa faixa etária, porque o pessoal
queria entender o que estava acontecendo e mostrar a importância
disso, né.... a importância da brincadeira simbólica, a importância de
uma brinquedoteca adaptada a essa faixa etária, que a gente sentia falta
disso, então foi muito legal! Assim a maioria dos TCCs teve a família em
contato com os professores dessa faixa etária, uma turma trabalhou
conto de fada em berçário, então a gente sempre procurava levar pros
trabalhos a realidade que a gente tinha pra mostrar, porque os próprios
professores (da Universidade) não tinham contato com a nossa
realidade (Monitora de Creche 4)
O TCC também foi trabalhoso, cansativo, mas enriquecedor. Foi o tema
da roda de conversas de qualquer roda, porque a utilização da roda de
conversa dentro da Educação Infantil, qual a importância da utilização
da roda, da roda de cantiga, da roda de conversa qualquer tipo de roda,
entendeu,? E foi muito legal, muito gostoso, você dava conhecimento a
outras pessoas que tem outra experiência e isso te dá uma bagagem
muito maior, sejam eles professores...hoje nos somos muito mais
interessadas em estar lendo em ta tendo conhecimento de estar a
procura de mais informações ...(Monitora de Creche 1)
Ao refletir sobre a experiência dos cursos de formação das educadoras
italianas que trabalham direto com crianças pequenas, Mantovani e Perani (1999)
apontam que a base dessa formação deve conter elementos significativos como a
observação em situação natural e o conhecimento de base, aliando teoria e
prática que irá constituir a formação polivalente da educadora da infância. As
autoras destacam que os cursos têm a proposta de formar “...educadores
polivalentes capazes de atualizar-se, de responder às exigências do território
circundante e de inserir-se na complexa realidade unitária dos serviços sócio-
sanitário-educativos” (1999, p. 95).
As autoras italianas, relatam que a escassez de bibliografia sobre a criança
e a Creche, fato apurado também no Brasil (André, apud Silva, 2003, p. 6), faz
com que a observação assuma papel primordial nesse contexto formativo. É
observando que o educador aprenderá a ser mais sensível e atento aos sinais da
mesma, a identificar problemas que serão a base para fundamentar hipóteses de
169
trabalho e de pesquisa, a conhecer o seu próprio comportamento, tendo um
progressivo autocontrole.
Dentre os momentos teórico-práticos fundamentais propostos (ibid, p. 88)
estão: a formação de base polivalente que compreende os conhecimentos sobre
os modelos de desenvolvimento da criança e os determinantes sócio- ambientais
que interferem negativamente sobre o desenvolvimento da criança, a formação
prática por meio de estágio aprofundado e prolongado e a formação para
pesquisa e atualização sistemática.
Além disso, especificamente, com relação à formação do educadores de
Creche que já atuam na área, as autoras advertem (ibid, p.95) que é preciso levar
em consideração que os mesmos devem gerir o próprio curso, sendo envolvidos
na identificação e na programação dos conteúdos do curso, propondo temas para
serem aprofundados com base em diferentes pontos de vista e trabalhando em
uma metodologia participativa e responsável de grupo, a fim de superar a
transmissão passiva de conhecimentos por parte dos docentes. O estágio
participativo é um importante momento da formação, dando-lhes a oportunidade
de confrontar-se com outras pessoas e outras competências. A colaboração da
comunidade educativa (pais, equipe de trabalho, associações de bairro etc) na
análise e encaminhamento de sugestões para o curso, também se configura em
um aspecto primordial na constituição da formação.
Certamente, ainda há um longo e intrincado percurso a ser trilhado no que
tange à relação social entre a forma da Creche, a prática educativa das
profissionais-docentes que nela atua e sua formação acadêmica, tanto aqui no
Brasil, como em outras partes do mundo. No contexto brasileiro, sabe-se que os
170
obstáculos são maiores por vários motivos, entre eles, os avanços e recuos da
legislação, principalmente no que se refere à formação dos profissionais; a falta
de recursos suficientes para manutenção dos equipamentos, ambientes e
profissionais, a formação proposta de forma aligeirada; a falta de espaço-tempo
para estudo e troca de experiências entre os profissionais entre outras questões.
Contudo, a Creche, por meio das ações e interrelações cotidianas, vem ganhando
espaço na sociedade como um locus de educação e cuidado da criança
pequeninha, que não é um depósito, mas também não é uma escola. Essa
identidade da Creche constitui, também a identidade da profissional- docente que
nela atua.
171
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo pretendeu verificar a influência do curso de Pedagogia nas
práticas educativas das Monitoras de Creche estatutárias-efetivas, no cotidiano
das Creches santistas, geridas diretamente pela Secretaria Municipal de
Educação de Santos. Para tanto, foi adotado um variado procedimento de
pesquisa, mesclando diferentes técnicas de investigação, a saber: questionário,
observação do cotidiano da instituição e organização de entrevistas semi-
estruturadas com algumas profissionais-docentes da Creche Casa da Criança.
Uma das hipóteses apontadas no início, diz respeito ao fato da certificação
obtida com a formação acadêmica ser apenas um convite para a Monitora deixar
a Creche, rentabilizando (Bourdieu) o diploma recebido, no mundo do trabalho e,
dessa forma, evidenciando mais uma vez a pouca atenção dada à profissão. No
entanto, a partir das evidências colhidas na pesquisa, percebe-se que esta
suposição foi apenas parcialmente confirmada, pois as Monitoras de Creche,
tanto em seus depoimentos escritos, como nas entrevistas, em sua maioria,
declararam que não desejam mudar de cargo, mas querem ser reconhecidas
como Professoras de Educação Infantil, obtendo seus direitos salariais, condições
de trabalho e reconhecimento social de sua função.
Pode-se dizer, que essa foi a tática (Certeau) encontrada pelas
profissionais-docentes para que seu trabalho e sua prática cotidiana sejam
reconhecidos pela sociedade. Segundo Certeau (1994, p.47) tática são astúcias
desenvolvidas no interior do sistema legal, no sentido de aproveitar a ¨melhor
ocasião¨ para transformá-la a seu favor. Certeau afirma que...
...essas atividades parecem corresponder às caracterísitcas das
172
astúcias e das surpresas táticas: gestos hábeis do fraco na ordem
estabelecida pelo forte, arte de dar golpes no campo do outro...(Certeau,
1997, p.104)
As profissionais-docentes de Creche revelaram gostar muito da profissão e,
ainda lutam para que essa seja reconhecida pela sociedade e pelo poder público
municipal, reivindicando sua passagem para o cargo de Professor de Educação
Infantil para continuar educando e cuidando de crianças pequenininhas.
Constata-se, ainda, que o fato de terem obtido formação acadêmica trouxe
um sentimento de ¨posse¨ de um saber acadêmico. Segundo as profissionais-
docentes, em seus depoimentos, a formação veio embasar a prática educativa já
realizada na Creche. Tal situação influenciou positivamente a identidade das
referidas profissionais, que ainda está sendo construída no seio das
transformações da Creche.
Outra hipótese discutida, e intrinsecamente relacionada à anterior, diz
respeito às diferenças entre a ¨forma escolar¨ e a ¨forma da Creche¨ que
aparentemente estão sendo desconsideradas tanto na reorganização do trabalho
cotidiano no interior da Unidade Educacional, mas principalmente na formação
acadêmica da referida profissional.
O estudo da dimensão histórica forneceu informações relevantes para o
entendimento dos fatos atuais relacionados à Educação Infantil, bem como à
instituição que acolhe as crianças até 3 anos e às profissionais que nela atua,
demonstrando que a Creche constituiu-se a partir de contornos diferenciados da
Pré-escola e da Escola, e que geralmente esteve interligada aos movimentos
feministas, sindicalistas e de esquerda.
Em Santos, houve alguma diferenciação em relação a outras regiões, pelo
173
fato desta ser uma cidade portuária e ter permanecido sob intervenção do
governo federal durante muitos anos, não podendo eleger seu prefeito de forma
democrática. Só a partir de 1989, como resultado de uma política municipal, que
tinha como prioridade as questões de âmbito social e educacional, a Creche
gerida diretamente pela Prefeitura Municipal de Santos, iniciou um processo de
ampliação e de alargamento de seus horizontes, principalmente, no que tange a
sua relação com o aspecto educacional.
Mesmo antes da promulgação da LDBEN, as Creches foram transferidas
para a Secretaria Municipal de Educação. Contudo, isso não ocorreu de maneira
tranquila. Os conflitos foram e estão sendo contornados a medida que esta vem
se consagrando cada vez mais como uma instituição educativa de grande
importância para a educação e cuidado da criança pequenininha.
As profissionais- docentes de Creche têm defendido seus direitos e vêm
conseguindo obter êxito em antigas reivindicações que tem, também, atingido
positivamente o trabalho educativo com as crianças. Sem dúvida, além de
melhores condições de trabalho com relação à diminuição do número de horas e
reenquadramento do cargo, o que significou melhoria no salário, a conquista do
curso de Pedagogia financiado pela SEDUC, fortaleceu ainda mais para a
categoria, contribuindo para a constituição de sua identidade profissional.
Os cursos de formação de professores em nível superior vêm se
adaptando a nova exigência da lei, procurando inserir disciplinas e conteúdos
adequados à criança pequenininha. No entanto, com já foi estudado
anteriormente, a falta de subídios teóricos e de professores universitários com
experiência direta com Creche, e ainda, a abrangência da faixa etária com que o
futuro professor terá que trabalhar, já que sua formação para o trabalho abarca a
174
Educação Infantil e as séries iniciais do Ensino Fundamental, compromete a sua
formação, tornando-se mais comum iniciar os estudos por aquilo que já é mais
conhecido, ou seja, o Ensino Fundamental. Este fato faz predominar a ¨forma
escolar¨ em detrimento da ¨forma da Pré-escola¨ e, principalmente da ¨forma da
Creche¨. O problema da relação formação acadêmica- especificidade da Creche
tem sido acompanhado por vários autores brasileiros Rosemberg (1992), Kramer
(2002), Campos (2002), Bello (2003), entre eles, Nascimento (2003) que
questiona se o curso de formação de professores como está organizado hoje,
poderá absorver as especificidades desse nível de ensino, advertindo para o
perigo de se escolarizar a Educação Infantil.
Ao averiguar “o que” e “como” esta formação influenciou e modificou o
fazer das profissionais-docentes, é óbvio que o fato relatado acima tem atingido
as práticas educativas realizadas no interior da instituição. Contudo, a
especificidade do binômio cuidar-e-educar e o contato dos professores
universitários com as alunas, que já atuam como profissionais-docentes na
Creche, tem propiciado a reflexão sobre as peculiaridades desse trabalho,
principalmente em relação a organização do tempo e o espaço.
Este fato foi relatado pelas Monitoras de Creche na experiência santista,
evidenciando que essas profissionais não absorveram as informações da
academia de forma passiva, mas que procuraram apropriar-se do saber,
relacionando-se com ele, a partir de suas experiências e de sua relação com o
mundo. Sobre essa questão Charlot ( 2000, p. 63) afirma não existir saber sem
relação com o mundo, sendo que a relação com o mundo implica em relação
consigo mesmo e com os outros.
Outro fator que tem influenciado positivamente os cursos de formação de
175
professores é a realização e divulgação de pesquisas na área. Tardif (2002, p.23)
afirma que reformas têm sido realizadas nos cursos de formação de professores
em muitas partes do mundo, que pretendem...
...uma nova articulação e um novo equilíbrio entre os conhecimentos
produzidos pelas universidades...e os saberes desenvolvidos pelos professores
em suas práticas cotidianas ( Tardif, 2002, p.23).
Percebe-se que em países como Itália ( Mantovanni e Perani, 1999) e
Hungria (FalK, 2004) tais problemas têm sido superados com formações que têm
como fundamento principal, o direcionamento do trabalho para a observação e o
preparo para trabalhar em grupo. Segundo Mantovanni e Perani (1999, p. 87), a
utilização da experiência do grupo como situação de aprendizagem e ainda de
vivências com jogos que permitem ao adulto avaliar-se, recuperando as
lembranças de sua infância, indicando uma formação de base polivalente.
Katz e Goffin ( apud Oliveira-Formosinho, 2002, p. 137) apontam, dentre
os elementos que distinguem os professores das crianças pequenas dos demais
professores, a diversidade de missões e ideologias, as questões que envolvem a
vulnerabilidade da criança, o foco na socialização, o currículo integrado e a
relação com os pais, advertindo que quanto mais nova for a criança, maior será a
responsabilidade da função desse profissional.
Uma última questão apontada na presente pesquisa refere-se à questão da
formação continuada. As Monitoras de Creche entrevistadas relataram a
importância de se continuar estudando de forma sistemática, realizando cursos de
formação. Assim, é necessário garantir um espaço de formação permanente e
coletiva que contribua para a reflexão do trabalho educativo realizado na Creche.
Considerando que a infância não deve ser vista apenas como uma fase
176
biológica, mas sim, como uma construção social, e que as crianças são sujeitos
na construção de sua vida social e da vida daqueles que as rodeiam (Sirota,
2001, 51), há que se garantir um ambiente educativo e de cuidados diferenciados
na Creche, com o que se respeite a criança pequena em suas especificidades,
pois estas possuem uma cultura própria. Para tanto, faz-se necessário maior
investimento na formação acadêmica dos profissionais-docentes, levando em
consideração o trabalho “com” pesquisa, que, como já foi explicitado, contribui
para elevar o número de estudos na área.
Após o exame da literatura especializada e a análise dos dados da
pesquisa percebe-se a presença de muitos profissionais, tanto do lado da
universidade como do lado da Creche, em muitas partes do mundo, inclusive no
Brasil, preocupados em criar condições para que a educação da criança até 3
anos seja reconhecida como um ¨locus¨ com uma configuração própria, não
relacionada à simples preparação para a Pré-escola e nem à continuidade do
papel da mãe em casa, mas que traz o binômio educar-e-cuidar, livre de
preconceitos, como um desafio cotidiano. Enfrentemos, pois, o desafio!
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www.unimonte.br. Acessado em 24 de abril de 2006.
188
ANEXOS
189
ANEXO 01
ORGANOGRAMA – Secretaria de Educação
Colégio Comercial
Municipal
Setor de Expediente
Protocolo e Arquivo
Serviço de
Bibliotecas
Setor de Registro
e Arquivo
Setor de
Estastica
Serviço Técnico
Administrativo
Serviço de
Escolas Municipais
Setor de Orientão
do Ensino Elementar
Divisão
Escolar
Setor de Pesquisa e
Orientação Educacional
Departamento
de Educação
SECRETARIA
DE EDUCAÇÃO
Das Unidades Subordinadas à Secretaria de Educação
Santos, atualmente possui uma rede escolar municipal que atinge a todos
os bairros, constituída por:
11 – Grupos Escolares;
01 - Escola Especializada;
04 – Parques Infantis;
02 – Escolas Pré-Primárias;
04 – Escolas Isoladas;
06 – Cursos Supletivos;
01 – Colégio Comercial Municipal.
190
A
NEXO 02
Organograma atual, Secretaria de Educação de Santos.
Gabinete da
Secretária
SAAF
Seção de Apoio
COSUP
Coordenadoria de
su
A
dministrativo e
p
ervisão
ASSISTENTE
TÉCNICO
SEACON
Seção de Apoio
aos Conselhos
DEPLAN
Departamento de
Plane
DEPED
Departamento
Peda
DEAFIN
Departamento de
j
amento
g
ó
g
ico
Ap
oio Financeiro
SAAF
Seção de Apoio
SAAF
Seção de Apoio
SAAF
Seção de Apoio
A
dministrativo e
A
dministrativo e
A
dministrativo e
COPLANE
Coordenadoria de
Plane
COVID
A
Coordenadoria de
Vida Escolar
COPED
Coordenadoria de
Políticas
COFORM
Coordenadoria de
Forma
COAFI
Coordenadoria
COMARE
Coordenadoria de
Manuten
COMERE
Coordenadoria de
Merenda Escolar
j
amento da
,
ç
ão
A
dministrativa e de
ç
ão e
SEPLANE
Seção de
Plane
SEASE
Seção de Apoio as
Secretarias
SEINF
Seção de
Educa
SEFORM
Seção de
Forma
SECOF
Seção de Controle
Or
SEPATRI
Seção de
Patrimônio
SENUTRI
Seção de Nutrição
ão Infantil
j
amento
ç
ç
ão
ç
amentário e
SEORGE
Seção de
Or
SELNOR
Seção de
Le
SEFEP
Seção de Ensino
Fundamental e
SENUTEC
Seção de Núcleo
Tecnoló
SECONV
Seção de
Contratos e
SEPRED
Seção de
Manuten
SEALM
Seção de
lmoxarifado
g
aniza
ç
ão de
g
isla
ç
ão e
g
ico
ç
ão
A
SECEV
Seção de Central
de va
SEJ
A
Seção de
Educa
SEBIBLI
Seção de
Biblioteconomia e
SRH
Seção de
Recursos
SETRANS
Seção de
Trans
g
as da
ç
ão de
p
ortes
SEPROIE
Seção de Projetos
Es
SEANE
Seção de
SEPROJE
Seção de Projetos
Educacionais
SEEC
Seção de
Elabora
SEMMAL
Seção de
Manuten
p
eciais de
A
tendimento as
ç
ão e
ç
ão de
191
ANEXO 04
QUADRO DAS DISCIPLINAS
- Do Curso de Pedagogia da Unimonte
O eixo de formação do curso de Pedagogia da Unimonte é a preparação do
docente, vinculando aspectos teóricos e práticos.
Disciplinas do 1
O
Ciclo
Língua Portuguesa
Sociologia Geral
Psicologia Geral
Filosofia Geral
Didática Geral
Metodologia Científica
No 2
O
Ciclo as disciplinas voltam-se para as questões educacionais:
Leitura e Produção de textos
Antropologia
Biologia Educacional
Psicologia da Educação
Filosofia da Educação
Didática I
Estrutura e Funcionamento do Ensino
São disciplinas do 3
O
Ciclo
Sociologiada Educação
Psicologiada Educação-Aprendizagem
Didática II
Estágio Supervisionado em Educação Infantil I
História da Educação
Comunicação e Arte
192
São disciplinas do 4° Ciclo
História da Educação Brasileira
Didática III
Pesquisa em Educação
Educação Ambiental
Metodologia de Educação Física
Estágio Supervisionado em Educação Infantil II
Metodologia da Educação Infantil
São disciplinas do 5° Ciclo
Novas Tecnologias de Comunicação e Educação
Fundamentos Teóricos e Metodológicos de Ciências Sociais
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Matemática
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Alfabetização
Organização Curricular
Estágio Supervisionado em Ensino Fundamental I
São disciplinas do 6° Ciclo
Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Língua Portuguesa
Fundamentos teóricos e Metodológicos das Ciências Naturais
Alfabetização de Jovens e Adultos
Educação Inclusiva
Estágio Supervisionado em Ensino Fundamental II
Na Habilitação Administração Escolar, são disciplinas do 7° Ciclo
Planejamento e Projetos Educacionais
Estatística
Estágio Supervisionado em Administração Escolar I
Princípios e Métodos de Administração Escolar
Currículos e Programas.
193
No 8° Ciclo temos as seguintes disciplinas
Economia, Política e Educação
Relações Humanas
Estágio Supervisionado em Administração Escolar II
Legislação de Ensino
Processos de Avaliação
194
APÊNDICES
195
APÊNDICE 01
Modelo de carta de apresentação e questionário aplicado nas Creches Municipais
de Santos
Carta de apresentação
Creche: ________________________________________________________
Caro(a) Monitor(a) de Creche,
Meu nome é Maria do Carmo Gonzalez Borges e, atualmente, estou fazendo Mestrado na
área de Educação. Estudo a relação existente entre o “saber fazer” de vocês, Monitores de
Creche, e a sua formação acadêmica, para analisar como tal formação afeta o trabalho do dia-a-
dia nas Creches.
Meu estudo está direcionado às Creches Municipais de Santos, porque apresentam um
grande contingente de Monitores que se formou no ensino superior, especificamente no curso de
Pedagogia.
Gostaria de poder contar com sua colaboração voluntária no sentido de
responder as questões abaixo.
Garanto que sua identidade e as informações por você apresentadas serão
mantidas em sigilo absoluto e somente utilizadas para o estudo em questão. Não
haverá quebra de sigilo em hipótese alguma e todas as pessoas serão
mencionadas com nomes fictícios.
Espero que os resultados deste trabalho contribuam para o estudo sobre
formação dos profissionais da infância, assim como, para a reflexão sobre o
trabalho educativo nas Creches Santistas.
Agradeço desde já,
Maria do Carmo Gonzalez Borges
196
QUESTIONÁRIO
1. Dados de identificação:
1.1
1.2
1.3
1.4
1.5
Nome: ______________________________________________________
Idade: ___________
Sexo: ( ) feminino ( ) masculino
Cidade e Estado em que nasceu: _______________________________
Estado civil: ( ) solteiro(a) ( ) casado(a) ( ) separado(a) ( ) divorciado(a) ( )
outros: _______
1.6 Tem filhos? ( ) sim Quantos? _______ ( ) não
1.7 Cor/ raça: ( ) preta ( ) parda ( ) branca ( ) amarela ( ) indígena ( ) outra:
______________
1.8 Cidade/Bairro de residência atual: _______________________________
1.9 Mora em local: ( ) próprio ( ) alugado
1.10 Renda familiar (somando as pessoas que moram na sua casa):
( ) até de R$ 1.000,00
( ) entre R$ 1.000,00 e R$ 2.000,00
( ) entre R$ 2.000,00 e R$ 3.000,00
( ) entre R$ 3.000,00 e R$ 4.000,00
( ) acima de R$ 4.000,00
( ) outros: _______________________
2. Dados sobre experiência de trabalho:
2.1 Exerceu algum outro trabalho antes trabalhar como Monitor(a) de Creche na PMS?
( )Sim ( ) Não. Em caso afirmativo, poderia escrever qual (is) era(m) sua (s) função(ões)?
______________________________________________________
2.2 Você tinha alguma experiência com criança antes de ser Monitor(a) de Creche na PMS?
( ) Sim ( ) Não. Em caso afirmativo, poderia escrever como foi sua experiência?
_____________________________________________________________
2.3. Ano de ingresso na PMS: _____________
2.4 Situação funcional atual na PMS: ( ) estatutário(a) ( ) contratado (a)
2.5 Nesses anos que está na PMS, sempre exerceu esse cargo?
( ) Sim ( ) Não. Em caso negativo, poderia escrever qual cargo exerceu? _________
197
2.6 Quanto tempo tem de experiência de trabalho como Monitor(a) de Creche na PMS?
_____________________________________________
2.7. Você considera que adquiriu sua experiência como Monitor(a) de Creche por meio...
(Indique mais de uma alternativa se quiser)
( ) da prática do dia-a-dia da creche.
( ) da observação dos demais colegas de trabalho.
( ) das trocas de experiência realizadas com os colegas em conversas informais.
( ) de estágio que fez antes de ingressar como profissional.
( ) de outros trabalhos que (o) a habilitaram a trabalhar com crianças pequenas.
( ) da experiência de ser mãe e cuidar dos seus filhos.
( ) de cursos.
( ) do curso de Pedagogia.
( ) de leitura de textos, artigos de revista e de livros.
( ) outros_________________________________
2.8. Em sua função, o que mais gosta de fazer? ______________________
2.9. Em sua função, o que menos gosta?_____________________________
2.10. Que avaliação faz do seu trabalho? _____________________________
3. Dados sobre a formação escolar:
3.1. Formação até 2000:
( ) 1
o
grau ou Ensino Fundamental incompleto.
( ) 1
o
grau completo – 1
a
a 8
a
série ou Ensino Fundamental.
( ) 1
o
grau ou Ensino Fundamental supletivo.
( ) 2
o
grau ou Ensino Médio incompleto.
( ) 2
o
grau ou Ensino Médio completo ( Colegial – não profissionalizante)
( ) 2
o
grau ou Ensino Médio – Profissionalizante – Qual? __________________
ou ( ) Magistério.
( ) 2
o
grau ou Ensino Médio supletivo.
( ) 3
o
grau ou Ensino Superior incompleto (antes de 2000)- Qual curso? ______
( ) 3
o
grau ou Ensino Superior completo (antes de 2000) – Qual curso?____________ Período
em que curso: ____________ local: ____________
3.2. Formação atual (2005):
( ) 1
o
grau ou Ensino Fundamental incompleto.
( ) 1
o
grau completo – 1
a
a 8
a
série ou Ensino Fundamental.
( ) 1
o
grau ou Ensino Fundamental supletivo.
( ) 2
o
grau ou Ensino Médio incompleto.
( ) 2
o
grau ou Ensino Médio completo ( Colegial – não profissionalizante)
( ) 2
o
grau ou Ensino Médio– Profissionalizante – Qual? ____________ ou
( ) Magistério.
( ) 2
o
grau ou Ensino Médio supletivo.
( ) 3
o
grau ou Ensino Superior incompleto - Qual curso? __________________
( ) 3
o
grau ou Ensino Superior completo – Qual curso? ____________________ Período em que
curso: ________________________ Local: _________________
3.3 Caso tenha concluído algum curso superior, liste o que considera que aprendeu com a
formação: _______________________________________
_________________________________________________________________
198
3.4 Pensando em sua formação atual, você pretende mudar de cargo?
( )Sim ( ) Não. Em caso afirmativo, qual cargo lhe interessa?
_________________________________________________________________
199
APÊNDICE 02
Roteiro de observação das práticas educativas das Monitoras de
Creche da Casa da Criança.
1. Em relação a Creche:
- Histórico da Creche
- Características arquitetônicas
- Realidade sócio-econômica das famílias
2. Rotina:
- Como é a acolhida das crianças e das famílias (acesso à sala e às educadoras)
- Como é a relação família e professoras;
- Como ocorre a interação entre crianças e adultos nas atividades de cuidado, higiene e
alimentação: percebem que tarefa também é educativa?
- Uso do refeitório: se as crianças se servem? Se escolhem onde e com quem sentar?
- Como é o relacionamento entre os adultos;
3. Outras atividades educativas:
- Se há interação entre crianças e adultos e outras atividades educativas: observar se a criança é
ouvida e atendida, se o adulto se coloca a altura a criança, se o adulto observa a criança e suas
necessidades.
- Qual a forma de comunicação: se há conversa com as crianças, tom de voz, como é o
vocabulário, atenção à necessidade da criança, quando necessário oferece explicações às
crianças, se há apoio do adulto na realização da atividade
- Se há interação entre as crianças (da mesma idade, integração entre idades diferentes, fazem
atividades em conjunto?)
- Como é a organização dos espaços: mobiliário, forma de organização, disposição dos materiais,
acessibilidade e utilização. Se pode ser considerado acolhedor, flexível e atraente.
- Como é a estruturação do tempo: qual é o tempo de espera entre uma atividade e outra; se há
tempo para as crianças interagirem entre si, para brincarem; se todas as crianças fazem as
mesmas coisas o tempo todo.
- Como são as atividades: se há intencionalidade na ação do adulto, se ele acompanha com
interesse e apóia a criança, se contam histórias, que tipos de brinquedos e brincadeiras há, se
participam e\ou observam as brincadeiras.
4. Planejamento das ações:
- Se há intencionalidade nas práticas
- Material: se é preparado com antecedência; se existe em quantidade suficiente etc...
200
APÊNDICE 03
Roteiro para entrevista semi-aberta com as Monitoras de Creche:
1. Como se tornou Monitora de Creche?
2. O que você avalia como importante na sua história para torna-se a profissional que é hoje?
3. O que, em sua opinião, uma boa Monitora de Creche sabe fazer? O que considera necessário
para trabalhar com criança pequena?
4. Onde mais adquiriu experiência no trato com crianças (experiências não escolares)
5. Na sua opinião, quem é a criança hoje?
6. O que é a Creche para você?
7. O que espera que a criança aprenda na Creche?
8. Como escolhe as atividades a serem desenvolvidas com as crianças?
9. Como relaciona as atividades de cuidar e educar em seu trabalho diário?
10. No relacionamento diário com as crianças, quais os aspectos que causam maior satisfação?
11. Como você trabalha artes com as crianças, já que há uma sala específica para isso?
12. Como organiza o tempo com as crianças?
13. Como organiza os espaços da sala?
14. Que recordações têm do curso de Pedagogia?
15. Quais as disciplinas que mais gostava?
16. Quais as disciplinas que menos gostava?
17. Em sua opinião, quais disciplinas que contemplavam a questão da criança até 3 anos?
18. Qual (is) são a(s) concepção(ões) de Educação Infantil que o curso defende?
19. Que contribuições o curso trouxe a sua prática do dia-a-dia?
20. Descreva você antes e depois do curso de Pedagogia.
201
APÊNDICE 04
Trabalhos de conclusão do curso de Pedagogia, realizados pelas Monitoras de Creche.
Título do TCC Comentários
GARCIA, Gley Elis & OLIVEIRA, Luciana
Botelho (2004). Com música a gente
aprende: apreciação do Projeto
Brinquemusicando. UNIMONTE, Santos.
Pesquisa bibliográfica e de campo, iniciando pelo
histórico do ensino da música na Educação Infantil,
tomando por base as idéias sobre arte e educação de
Vygotsky, a fim de analisar a experiência com crianças
de até 3 anos, a partir da formação continuada
denominada Brinquemusicando realizada pela
Secretaria Municipal de Educação de Santos.
FRANÇA, Claudia da; SILVA, Eliene Maria
da; COELHO, Lucia Helena L.; CHAVES,
Marilú Pinheiro (2004). Por uma Docência da
Melhor Qualidade. UNIMONTE, Santos.
Pesquisa bibliográfica que destaca a articulação entre
os conceitos de competência e qualidade,
pretendendo ampliar seus significados nos contextos
de trabalho docente. Segundo as autoras, trabalho
competente é aquele que faz bem, isto é, que é bem
feito pelo professor e que faz bem a ele e aqueles que
estão envolvidos.
FONSECA, Andréa R.; CHAVES, Fátima de
Mª C; DUARTE, Irene da Silva; OLIVEIRA,
Márcia Maria S; FORTES, Maria Guedes
(2004) importância do Ato de Brincar: Um
caminho mediador para o conhecimento.
UNIMONTE, Santos.
Pesquisa bibliográfica sobre a importância do brincar,
utilizando como eixo teórico às idéias de Piaget,
Vygotsky e Wallon, destacando o papel do educador e
das instituições de Educação Infantil no
desenvolvimento das crianças de até 3 anos.
FINEDA, Celia Helena; PEREIRA, Elizete
Meira; NUNES, Vera Lúcia (2004). As novas
tecnologias e a sua influência no processo
ensino-aprendizagem. UNIMONTE, Santos.
Pesquisa bibliográfica e de campo analisa questões
relacionadas à introdução das novas tecnologias na
área educacional, com referencias conceituais nas
idéias Michel Foucalt. Apresenta os resultados do
projeto “Mídia de papelão”, realizado com crianças de
3 anos em Creche da Rede Municipal de Santos.
FARIA, Márcia Lisboa de; GONÇALVES,
Maristela Fernandes de Oliveira;
EVANGELISTA, Cristina (2004) Creche: Um
Espaço Educativo. UNIMONTE, Santos.
Pesquisa bibliográfica e de campo. Procura investigar
a concepção que os pais tem sobre Creche. A
pesquisa foi realizada em uma Creche Municipal de
Santos e outra de Cubatão.
ABDALA, Zaida; CUQUI, Eliana Gonçalves F;
SILVA, Marini Ruas D da; ALMEIDA, Solange
Dias Arantes de. (2004). Perfil do educador
de Educação Infantil na rede municipal de
Santos. UNIMONTE, Santos.
A pesquisa bibliográfica e de campo oferece um
esboço do perfil dos Monitores de Creche da Rede
Municipal de Santos, utilizando o questionário como
instrumento de pesquisa, tentando contribuir para a
construção de sua identidade. Ao descrever a análise
dos dados da pesquisa destaca a importância
dada à
formação e à formação continuada, mas adverte que
ainda não é o suficiente para efetivas as mudanças
necessárias.
BUDHA, Ivete Conceição; SIMOES, Leonida
L. Moura; SILVA, Marjore Alexandrino da;
MAGAN, Susi Tavares dos S. M. (2004).
Creche em Ação: O movimento como
multiplica-dor de Linguagem. UNIMONTE,
Santos.
Pesquisa bibliográfica e de campo, partindo do estudo
sobre o histórico da criança pequena e sua educação,
mostrando a visão de alguns teóricos e propondo a
reflexão sobre as mudanças de postura dos
profissionais para o trabalho com o Movimento
(Educação Física) na Educação Infantil, especialmente
na Creche. Descreve observações e experiências
vivenciadas na Creche, podendo “...somar, hoje, o
conhecimento teórico adquirido com o curso de
Pedagogia” (Budha et al)
ALESTINO, Cândida Mª da Silva; BRANDÃO,
Kátia Cristina Garcia; ASCOMON, Mônica C.;
Estudo sobre a relevância das brincadeiras de roda no
âmbito da Educação Infantil de 2 a 4 anos, relatando
202
PPPIMENTEL, Valéria Cristine G. ;
TEIXEIRA, Vera Lúcia. (2004). A Pedagogia
da Roda: Magia e encanto na Educação
Infantil. UNIMONTE, Santos.
experiência em Creche, com embasamento teórico em
Vygotsky.
CASTANHEIRA, Ana Conceição B; LIMA,
Magali Silvino de; MORAIS, Regina Célia V;
SANTOS, Rosemary Alexandre. (2004).
Organização do espaço: desenvolvimento
caminho para a educação em Creche.
UNIMONTE, Santos.
Pesquisa empírica que procura esclarecer como o
espaço da Creche deve ser organizado a fim de
propiciar à criança o seu desenvolvimento integral.
Contém depoimentos de Monitores de Creche da
Rede Municipal de Educação, originados da
experiência pedagógica que propõe a organização da
sala em “cantos” ( centros de atividades e interesses
múltiplos)
ALVAREZ, Ana Lucia Roventini; MOREIRA,
Denize de Sá; SOUZA, Genuza Mª Trajano
de; PINTO, Maria Angélica Ferreira. (2004)
Semeando Vida: Educação ambiental dos 3
aos 4 anos de idade. UNIMONTE, Santos.
A pesquisa utilizou a Pedagogia Freinet como eixo do
trabalho, apresentando, a partir de reflexões sobre a
educação ecológica e holística, os resultados de um
projeto realizado em uma das Creches Municipais de
Santos.
ALVARES, Cinthia Morgado; DIAS, Márcia;
OLIVEIRA, Márcia H de; LUIGG, Maariza
Amado de; REIS, Marli V (2004). Arte-
educação na Creche: Um novo caminho.
UNIMONTE, Santos.
O trabalho aborda, partindo do histórico da Educação
Infantil, a relação da criança com a arte e o
desenvolvimento da criatividade. Propõe o trabalho
com projetos e vivências, apresentando relatos que
são resultado da observação que foi realizada em
Creche Municipal de Santos.
ARISTIDES, Alessandra; FREIRE, Ana Lúcia
Maltez; SILVA, Paula A Pinto da; TONATO,
Renata Cristina; TEIXEIRA, Tânia Neves
(2005). Criança, Jogos e brincadeira.
UNIMONTE, Santos.
Pesquisa bibliográfica, embasada Piaget e Vygotsky.
Procura entender o brincar como instrumento que
integra e promove o desenvolvimento das crianças.
BARROS, Daniela D S de; SOUZA, Deborah
de C Santos de; MELO, Gisele Maire P;
VASCONCELOS, Maria Rita de Cássia
(2004). Reflexão sobre relações de Gênero e
Educação. UNIMONTE, Santos.
A pesquisa teórica tem por objetivo provocar
mobilizações críticas sobre a questão da relação de
gênero, buscando orientações no sentido de colaborar
para a construção de uma consciência não-sexista.
Por meio de uma retrospectiva histórica, discute a
temática nos dias de hoje, refletindo sobre a questão
dos direitos da mulher e, posteriormente, conduz a
temática para a área de educação.
FERNANDES, Ana Carolina R; ANDRADE,
Lúcia Gil de; SANTOS, Milva Oliveira dos;
SANTOS, Sandra Cristina dos (2004)
Estimulação Psicomotora: Considerações
sobre o desenvolvimento das crianças de 0 a
18 meses: Uma contribuição para os
educadores de Creche. UNIMONTE, Santos.
A partir de um breve histórico sobre a Educação
Infantil e sobre a abordagem psicogenética do
desenvolvimento infantil, embasada em Piaget e
Wallon, aprofundando os estudos relativos à criança
até 3 anos e propondo atividades psicomotoras para o
desenvolvimento global da criança.
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