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João Adolfo Hansen (2000, p. 155), em o O a ficção da literatura em Grande
Sertão: Veredas, lemb
ra
-nos que Diadorim e Hermógenes formam princípios opostos,
em que quando se relacionam na rua e por ela, espacializam-se como lugares
também meios
a partir dos quais o discurso efetua a rememoração. A rua é o vazio,
é o neutro, a significação metafísica, é nonada, é a enunciação do aquém-
língua,
heteróclito sertão .
Citemos alguns fragmentos para situar a expressão no romance:
Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos
homens. Até: nas crianças
eu digo. Pois não é ditado: menino
trem do
diabo ? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento...
Estrumes. ... O diabo na rua, no meio do redemunho... (p. 4).
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Assim, feito no Paredão. Mas a água só é limpa é nas cabeceiras. O mal ou o
bem,
estão é em quem faz; não é no efeito que dão. O senhor ouvindo
seguinte, me entende. O Paredão existe lá. Senhor vá, senhor veja. É um
arraial. Hoje ninguém mora mais. As casas vazias. Tem até sobrado. [...]
Aquele arraial tem um arruado só: é a rua da guerra... O demônio na rua no
meio do redemunho... O senhor não me pergunte nada. Coisas dessas não se
perguntam bem (p. 81
-
82).
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Urubu? Um lugar, um baiano lugar, com as ruas e as igrejas, antiqüíssimo
para morarem famílias de gente. Serve meus pensamentos. Serve, para o
que digo: eu queria ter remorso; por isso, não tenho. Mas o demônio não
existe real. Deus é que deixa se afinar à vontade o instrumento, até que
chegue a hora de se dançar.
Travessia, Deus no meio.Quando foi que eu tive minha culpa? Aqui é Minas;
lá já é a Bahia? Estive nessas vilas, velhas, altas cidades... Sertão é o
sozinho. Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão? Sertão:
é dentro da gente.[...] Tudo o que já foi é o começo do que vai
vir, toda a hora
a gente está num
compito.
Eu penso é assim na paridade. O demônio na
rua... Viver é muito perigoso; e não é não [...] (p. 270 - 273).
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Diadorim a vir
do topo da rua, punhal em mão, avançar
correndo
amouco...
Ai, eles se vinham, cometer. Os trezentos passos. [...] Quando quis
rezar
e só um pensamento, como raio e raio, que em mim. Que o senhor
sabe? Qual: ... o Diabo
n
a rua, no meio do redemunho... O senhor soubesse...
Diadorim
eu queria ver
segurar com os olhos... Escutei o medo claro nos
meus dentes... O Hermógenes: desumano, dronho
nos cabelões da barba...
Diadorim foi nele... Negaceou, com uma quebra de corpo, gambetou... E eles
sanharam e baralharam, terçaram. De supetão...e só...
E eu estando vendo! Trecheio, aquilo rodou, encarniçados, roldão de tal,
dobravam para fora e para dentro, com braços e pernas rodejando, como
quem corre, nas entortações... O diabo na rua, no meio do redemunho...
Sangue. [...] A faca a faca, eles se cortaram até os suspensórios. ... O diabo
na rua, no meio do redemunho...
Assim, ah
mirei e vi
o claro claramente: aí Diadorim cravar e
sangrar
o
Hermógenes... (p. 526
-
527).
Note
-
se que, em contextos diferentes, a rememoração do episódio, na rua, retorna
sempre ao texto, porém, no momento em que a narrativa se presentifica, ou melhor,
no momento em que Riobaldo narra o episódio, em si, a expressão ... o diabo na rua