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ESTABILIDADE A LONGO PRAZO DO TESTE PRESSÓRICO DO
FRIO EM ESTUDO POPULACIONAL
MARCELA LIMA SANT’ANNA
Dissertação de Mestrado em Ciências Fisiológicas
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
Vitória, 31 de outubro de 2006
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Estabilidade a Longo Prazo do Teste Pressórico do
Frio em Estudo Populacional
Marcela Lima Sant’Anna
Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas do
Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Fisiológicas.
Aprovada em 31/10/2006 por:
_____________________________________________
Prof. Dr. José Geraldo Mill - Orientador – UFES
______________________________________________
Prof. Dr. Fernando Luiz Herkenhoff Vieira – UFES
______________________________________________
Prof. Dr. Carlos Eduardo Negrão – USP
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
Vitória, 31 de outubro de 2006.
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__________________________________________________________
Sant’Anna, Marcela Lima, 1980
Estabilidade a longo prazo do teste pressórico do frio em estudo populacional.
[Vitória] 2006
xvi, 84 p., 29,7 cm (UFES, M. Sc., Ciências Fisiológicas, 2006)
Dissertação, Universidade Federal do Espírito Santo, PPGCF
I – Fisiologia Cardiovascular
II – PPGCF/CBM/UFES
III - Estabilidade a longo prazo do teste pressórico do frio em estudo populacional.
[Vitória] 2006
...”Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei, eu nada sei...
...cada um de nós compõe a sua história
cada ser em si carrega o dom de ser capaz
de ser feliz”.
(Almir Sater e Renato Teixeira)
Dedico este trabalho aos meus queridos pais,
em especial ao meu marido e a nossa
afilhada Luiza.
AGRADECIMENTOS
A Deus por me proporcionar condições de alcançar tudo que desejo em minha vida;
Ao professor José Geraldo Mill, pesquisador apaixonado, portador de um
conhecimento inesgotável que estimula a todos que o cercam, pela orientação e
oportunidades;
Aos participantes do Projeto MONICA: Fernanda Parmagnani, Pedro Magalhães,
Daniel Pires, Alex, Yara Nascimento, Bárbara Marinho e Sérgio Lamêgo pelo
desempenho na coleta de dados;
Aos colegas de laboratório Enildo Pimentel, Christine Gonçalves, Dra. Cláudia Leite,
Diana Lemos, Marcelo Baldo e Eduardo Dantas, pelos momentos de estudos
compartilhados;
Ao professor Dr. Fernando Luiz Herkenhoff Vieira pelas orientações oportunas;
Ao professor Dr. Antônio Carlos Avanza Júnior pelo apoio e incentivo ao meu
crescimento profissional;
Aos colegas professores de Educação Física do Centro Universitário Vila Velha pelo
apoio e estímulo, em especial aos professores Marcello Pereira Nunes e Miguel
Ângelo Alves dos Santos;
Ao professor Edney Leandro (UVV) pelo auxílio na estatística;
A todos os professores, funcionários e colegas de turma do Programa de Pós-
Graduação em Ciências Fisiológicas por compartilharem seus conhecimentos
fazendo com que meu interesse pela pesquisa científica crescesse ainda mais;
Finalmente, agradeço aos meus familiares e amigos pelo carinho e apoio nos
momentos difíceis em que tive que abdicar de nosso lazer.
SUMÁRIO
Páginas
1. INTRODUÇÃO.........................................................................
1.1 Reatividade pressórica e Hipertensão arterial.......................
1.2 Diagnóstico precoce preditivo da Hipertensão arterial e o
teste pressórico do frio (TPF)...............................................
1.3
Estudos de associação da resposta hiperreativa ao teste de
estresse e desenvolvimento da Hipertensão arterial............
2.OBJETIVOS..............................................................................
2.1 Geral.......................................................................................
2.2 Específico...............................................................................
3. METODOLOGIA......................................................................
3.1 Planejamento da amostra......................................................
3.2 Medida de pressão arterial.....................................................
3.3 Antropometria.........................................................................
3.4 Teste da reatividade pressórica do frio..................................
3.5 Análise estatística..................................................................
4. RESULTADOS.........................................................................
4.1 Características da amostra....................................................
4.2 Alterações da pressão arterial...............................................
4.3 Teste pressórico do frio..........................................................
5. DISCUSSÃO............................................................................
5.1. Características amostrais e associação à HA.......................
5.2. Comportamento da PA a longo prazo...................................
5.3. Respostas ao teste pressórico do frio...................................
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65
6. CONCLUSÃO........................................................................... 71
7. REFERÊNCIAS........................................................................ 73
LISTA DE TABELAS
Página
Tabela 1 – Classificação dos indivíduos de acordo com a pressão arterial
clínica...........................................................................................
Tabela 2 – Estratificação da reatividade pressórica ao frio segundo a
elevação da pressão sistólica e diastólica durante o teste
pressórico do frio.........................................................................
Tabela 3 – Características demográficas e clínicas dos indivíduos
estudados na fase II....................................................................
Tabela 4 – Características antropométricas da amostra nas fases I e II.......
Tabela 5 – Parâmetros bioquímicos nas fases I e II do estudo......................
Tabela 6 – Prevalência de fatores de risco cardiovascular nas fases I e II....
Tabela 7 – Pressão arterial e freqüência cardíaca nas duas fases do
estudo..........................................................................................
Tabela 8 – Prevalência de hipertensão nas fases I e II do estudo.................
Tabela 9 – Variação na classificação da PA da fase I para fase II.................
Tabela 10 – Valores médios de reatividade pressórica..................................
Tabela 11 – Classificação dos indivíduos de acordo com a resposta ao
teste pressórico do frio................................................................
Tabela 12 – Relação de indivíduos normotensos na fase I, com resposta
pressórica ao TPF na fase I e desenvolvimento de hipertensão
na fase II......................................................................................
Tabela 13 – Base para cálculo da razão de chances do indivíduo
normotenso hiperreativo ao TPF desenvolver HA.......................
Tabela 14 – Base para cálculo da razão de chances do indivíduo
normotenso com reatividade moderada ao TPF desenvolver
HA................................................................................................
Tabela 15 – Características dos normotensos normorreativos na fase I
entre o desenvolvimento ou não de hipertensão.........................
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56
Tabela 16 – Características dos normotensos com reatividade moderada
na fase I entre o desenvolvimento ou não de hipertensão na
fase II...........................................................................................
Tabela 17 – Características dos normotensos hiperreativos na fase I com o
desenvolvimento ou não de hipertensão na fase II.....................
Tabela 18 – Comparação das características na fase I dos indivíduos
normotensos e hipertensos da Fase II........................................
Tabela 19 – Relação de indivíduos limítrofes na fase I, com resposta
pressórica ao TPF na fase I e desenvolvimento de hipertensão
na fase II......................................................................................
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57
58
59
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 1 – Correlação da pressão sistólica na fase I com a fase II.............
Figura 2 – Correlação da pressão diastólica na fase I com a fase II...........
Figura 3 – Correlação da reatividade pressórica sistólica nas fases I e II
do estudo.....................................................................................
Figura 4 – Correlação da reatividade pressórica diastólica nas fases I e II
do estudo.....................................................................................
Figura 5 – Correlação entre a variação de PAS entre as fases do estudo
e a reatividade sistólica na fase I (PAS1)..................................
Figura 6 – Correlação entre a variação da PAD e reatividade diastólica
(PAD1) ao TPF na primeira fase...............................................
Figura 7 – Correlação entre as variações pressóricas ao TPF entre as
fases.............................................................................................
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53
53
LISTA DE ABREVIATURAS
ACSM – American College of Sports Medicine
CC – Circunferência da cintura
CQ – Circunferência do quadril
DAC – Doença arterial coronariana
DC – Débito cardíaco
FC – Freqüência cardíaca
HA – Hipertensão Arterial
HMA – Hiperreativo com MAPA anormal
HMN – Hiperreativo com MAPA normal
HDL-c – Colesterol de alta densidade
IMC – Índice de massa corporal
JOINT – Joint National on Prevention, Detection and Treatment of high blood
pressure
LDL-c – Colesterol de baixa densidade
MAPA – Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial
mg/dL – Miligramas por decilitro
mmHg – Milímetros de mercúrio
MONICA – Estudo epidemiológico de Monitoramento de Tendências e Determinantes
de Doenças Cardiovasculares
OMS – Organização Mundial da Saúde
PA – Pressão arterial
PAD – Pressão arterial diastólica
PAM – Pressão arterial média
PAS – Pressão arterial sistólica
RCQ – Relação Cintura/ Quadril
RPV – Resistência vascular periférica
SNC – Sistema Nervoso Central
TG - Triglicerídeos
TPF – Teste pressórico do frio
UFES – Universidade federal do Espírito Santo
VLDL – c – Colesterol de muito baixa densidade
VOP – Velocidade de onda de pulso
WHO – Word Health Organization
PAD – Variação da pressão arterial diastólica
PAS – Variação da pressão arterial sistólica
RESUMO
Introdução: Estudos populacionais longitudinais visando validar métodos preditivos
precoces de desenvolvimento de HA são ainda escassos na literatura e poucos
procuraram demonstrar a estabilidade do teste pressórico do frio (TPF) ao longo do
tempo na população geral ao mesmo tempo em que investigavam seu valor preditivo
de HA. Objetivos: Estudar a estabilidade a longo prazo do TPF e verificar o sua
utilidade em predizer a evolução da pressão arterial ao longo de 5 anos de
acompanhamento. Metodologia: O trabalho foi realizado como um dos subprojetos
do Projeto MONICA-OMS/Vitória - Fase II. A amostra foi composta por 682 indivíduos
que participaram da fase I do estudo desenvolvida em1999-2000 sendo os mesmos
indivíduos reavaliados após 5 anos. Todos os indivíduos foram submetidos a exames
para avaliar o risco cardiovascular pelo algoritmo de Framinghan e foram também
submetidos ao TPF que consistiu em mergulhar a mão esquerda espalmada em água
com gelo, por 2 minutos. A reatividade pressórica foi avaliada através do incremento
da pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) durante o teste. Resultados: A
média de idade foi de 51 ± 10,4 anos, 15,2% eram tabagistas, 49,3% hipertensos, 6%
diabéticos e 20,1% obesos. Houve aumento significativo da pressão arterial em 5
anos e 10,8% dos normotensos da fase I desenvolveram hipertensão arterial
(incidência de 21,6 casos novos/ano/10
3
indivíduos). Os valores médios da
reatividade pressórica se alteraram significativamente na fase II do estudo,
apontando uma fraca correlação entre as respectivas medidas de cada fase. As
variações da PA em 5 anos em função da reatividade pressórica medida no TPF na
fase I do estudo apresentaram uma correlação muito fraca, porém a correlação entre
a variação de PAD em função da variação de PAS encontrou um ótimo coeficiente.
Considerando o risco de desenvolver HÁ dos normorreatores como igual 1, verificou-
se que os indivíduos hiperreativos apresentam um risco igual a 3,0 (IC
95%
= 1,07 –
19,3) e reatores moderados igual a 2,7 (IC
95%
= 1,03 – 7,39). Observou-se que as
médias de PA eram sempre maiores no grupo de indivíduos que ficaram hipertensos,
porém os valores da PA não eram diferentes entre os grupos em relação à
reatividade. Conclusão: O TPF pela sua facilidade de emprego e pela sua boa
reprodutibilidade constitui uma alternativa adicional para prever desenvolvimento de
HA. Os dados indicam que os indivíduos com respostas reativas moderadas e
hiperreativas ao TPF apresentam maior probabilidade de desenvolvimento de HÁ. As
faixas de pressão arterial de repouso são maiores nos que desenvolvem HA em 5
anos do que os que permanecem normotensos, porém são semelhantes entre os
grupos de diferentes reatividades.
Palavras-chave: 1)Teste pressórico do frio; 2) Pressão arterial; 3) Hiperreatividade; 4)
Hipertensão arterial.
ABSTRACT
Background: Longitudinal population-based studies aiming to validate precocious
predictors of arterial hypertension (AH) are still scarce in literature. The cold pressor
test (CPT) has been used for this purpose. However, the long term stability of the
CPT, as well as its value as AH predictor, has been poorly studied in the general
population. Objective: To determine the stability and usefulness of the CPT in the
general population with a 5 year follow up. Methodology: The study was carried out
as part of the MONICA-OMS/Vitória Project - Phase II. The sample was 682
individuals that had attended to the phase I of the project, developed in 1999-2000,
with re-evaluation 5 years later. Participants were submitted to clinical and laboratorial
test to determine the cardiovascular risk according to the Framinghan score.
Moreover they were submitted to the CPT performed by immersion ot the left hand
inside cold water for 2 minutes. Arterial pressure reactivity was determined by the
systolic and diastolic blood pressure (BP) increase in 2 minutes. Results: Mean age
was 51 ± 10.4 years, 15.2% were smokers, 49,3% hypertensives, 6% diabetics and
20,1% obeses. In comparison with the initial data, the averages of BP had increased
presenting a good correlation between the respective measures at phases I and II.
10,8% of the normotensive phase I participants had developed high BP in 5 years
corresponding to an incidence of 21,6 per 10
3
persons-years. The average values of
the pressor reactivity changed significantly from phase I to phase II of the study,
pointing to a poor stability of the actual reactivity values along the follow up period.
The variations of the BP in 5 years in function of the pressor reactivity measured in
the phase I had presented a very weak correlation, however the correlation between
the diastolic BP variation as a function of the systolic BP variation was high.
Considering the risk of developing AH as 1 in the normorreactive individuals, the
normotensive hyperreactors showed an increased risk score (3,0; IC95% = 1,07 -
19,3) as well as normotensive and moderate BP reactors (2,7; IC95% = 1,03 - 7,39) .
It was observed that the average BP was always higher in the group of individuals
developing AH in 5 years. However, the values of the BP were not different between
the groups in relation reactivity. Conclusion: Since the CPT is ease to use its good
reproductibility constitutes an additional alternative to predict HA development. The
data indicate that the individuals with moderate reactive response and hyperreactors
to the CPT present greater probability AH development. The ranges of blood pressure
of rest are higher in those developing AH in the long run compared to those remaining
normotensive. However BP is similar between groups of different reactivity.
Key-words: 1) Cold pressor test; 2) Blood pressure; 3) Hyperreactivity; 4)
Hypertension.
I. INTRODUÇÃO
18
Introdução
A hipertensão arterial (HA) essencial apresenta uma etiologia multifacetada,
sendo difícil a delimitação da exata participação de seus supostos determinantes
(Castiel, 1994). Entretanto, admite-se que os componentes mais importantes
relacionados ao desenvolvimento da HA sejam a predisposição genética de natureza
poligênica, as alterações neurohumorais e as influências ambientais, dentre as quais
estão o estresse psicossocial e a ingestão de sal (Folkow, 1990).
A HA é a principal causa de morte e de incapacidade entre adultos que vivem
hoje em sociedades não primitivas. Apesar de avanços significativos no
reconhecimento e no controle da HA, ela continua a ser o maior fator de risco para as
doenças vasculares que acometem as circulações cerebral, renal e coronariana.
Apesar dos avanços no conhecimento do papel etiopatogênico da HA para o
desenvolvimento destes quadros, grandes desafios ainda persistem, tais como:
1- muitos indivíduos hipertensos permanecem sob risco, pois sua doença
permanece não diagnosticada e não tratada;
2- a principal parcela de indivíduos portadores desta afecção permanece com
o diagnóstico de HA idiopática, primária ou “essencial”; sem o reconhecimento das
causas, a prevenção e o tratamento da doença torna-se mais difícil, quando não
impossível;
3- na maioria dos casos é difícil para os pacientes aderirem à terapia anti-
hipertensiva, pois esta deve ter caráter permanente (Braunwald, 1987), já que a
hipertensão essencial, a rigor, não tem cura.
Considerada como um problema de saúde pública, por sua magnitude, risco e
dificuldades de controle, o enfrentamento da HA requer grande mobilização de
recursos, tanto materiais como humanos, para sua adequada detecção, avaliação,
tratamento e prevenção.
Apesar da pressão arterial (PA) ser uma variável fisiológica facilmente medida,
o diagnóstico de HA nem sempre é fácil, pois a PA é uma variável com distribuição
contínua na população. De acordo com a evolução de conhecimentos deste campo,
os pontos de corte para diagnóstico têm mudado ao longo do tempo e essa mudança
tem sido feita sempre para baixo, o que tem trazido dificuldades para comparar
estatísticas de prevalência e controle da doença em diferentes momentos e em
19
Introdução
diferentes contextos. Atualmente, o diagnóstico de HA é estabelecido para os
indivíduos com pressão arterial sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg e/ou
pressão arterial diastólica (PAD) maior ou igual a 90 mmHg ou a utilização
permanente de medicação anti-hipertensiva (JOINT VI, 1997). Vale ressaltar que a
medida da PA deve ser feita dentro de condições que dificultem o aparecimento de
casos falsos positivos e falsos negativos.
1.1 REATIVIDADE PRESSÓRICA E HIPERTENSÃO ARTERIAL
A pressão arterial é o produto de uma série complexa de fatores que modulam
o débito cardíaco e a resistência vascular periférica. Dentre os fatores estão aqueles
responsáveis pelo controle do calibre dos vasos sanguíneos e do volume contido
dentro e fora do leito vascular. Nenhum destes fatores é totalmente independente,
pois os mesmo interagem entre si determinando ajustes de curto e médio prazo da
PA (Braunwald, 1987). Na maior parte dos indivíduos, alterações (aumentos ou
diminuições) substanciais da PA ocorrem apenas frente a ajustes hemodinâmicos
necessários à manutenção da homeostase. Isso ocorre, por exemplo, na reação geral
de adaptação ao estresse e durante o exercício físico. Em determinado número de
indivíduos a PA tende a se elevar gradualmente com a idade e, a partir de
determinado momento, os valores de pressão passam a se situar sistematicamente
em patamares superiores àqueles considerados como normais, ou seja, o indivíduo
migra de um estado de normotensão para o de hipertensão. A migração de um
estado para outro depende da interação de vários fatores que predispõem à elevação
da PA em indivíduos normotensos, podendo-se citar entre eles a predisposição
genética, o sedentarismo, o estresse, o tabagismo, o envelhecimento, a raça, o
gênero, o peso corporal e fatores nutricionais, como a ingestão de sal (Lindquist et al,
1997).
Quando se começou a estudar as causas da hipertensão, duvidou-se da
participação do sistema nervoso na gênese da doença. Prinzmental & Wilson (1935),
Pickering (1936) e Stead & Kunkel (1939), propuseram que a resistência vascular
manter - se - ia elevada nos hipertensos mesmo na ausência de estímulo nervoso,
20
Introdução
gerando a elevação sustentada da pressão no território arterial. Contudo, essa
hipótese começou a ser questionada nos estudos pioneiros de Widimsky et al. (1957)
e Eich et al. (1962), no qual ambos descreveram que pacientes com diversos
estágios da hipertensão apresentavam, ao invés de uma suposta elevação da
resistência vascular periférica (RVP), elevação do débito cardíaco (DC). Estes
achados foram confirmados por Sannerstedt & Lund-Johansen (1966) que
demonstraram que no início da doença ocorre um estado hemodinâmico ativado
denominado circulação hipercinética, caracterizado pelo aumento de freqüência
cardíaca (FC) e débito cardíaco (DC), permanecendo a RVP relativamente normal.
Julius & Conway (1968) atestaram posteriormente que os hipertensos,
freqüentemente, apresentavam elevação do DC.
A fisiopatologia da HA ainda não está totalmente explicada. Existem autores
que defendem a origem do distúrbio situando-se no sistema nervoso central e/ou
periférico enquanto que outros acreditam ser esta de origem renal. Sabe-se que o
aumento da atividade simpática pode elevar a PA por vários mecanismos, incluindo o
aumento do débito cardíaco (DC) e/ou o aumento direto do tono arteriolar, o que
aumenta a resistência periférica total. Indiretamente, a liberação da renina mediada
pelo estímulo simpático também pode aumentar a resistência arteriolar (Braunwald,
1987).
Somado a isso, a atividade simpática elevada pode interagir com outros
fatores que contribuem para o desenvolvimento da hipertensão. Assim, as
catecolaminas, além de elevarem o tono vascular, são estimuladoras de mecanismos
tróficos nos vasos, determinando a proliferação do músculo liso vascular. Esse efeito
da descarga simpática de longa duração seria importante para a manutenção de
níveis pressóricos elevados a longo prazo (Colombo & Kriegger, 2000). Desta forma,
as transformações hemodinâmicas seriam ocasionadas por ação de um mecanismo
vasoconstritor estimulado por um aumento da sensibilidade -adrenérgica, que
determina elevação da resistência periférica e mascara alguns efeitos da estimulação
dos receptores β-adrenérgicos nos vasos de resistência, podendo, dessa forma,
ocasionar uma redução ou pequenas alterações na FC (Sherwood, 1995; Kelsey,
2000).
21
Introdução
Esses achados vieram reforçar a teoria de Folkow (1982), que postulava que o
aumento da pressão arterial em repouso ou a resposta exagerada da PA em situação
de estresse estariam vinculados ao desenvolvimento da hipertrofia do músculo liso
em vasos sanguíneos de pequeno calibre. Esses apresentariam redução no lúmen,
fato que pode ser demonstrado mesmo nos períodos de relaxamento. Esse processo
seria responsável pelo quadro de hiperreatividade pressórica durantes os testes de
estresses nas fases iniciais da hipertensão. Desta forma indivíduos com
hiperreatividade pressórica apresentariam maior variabilidade da PA que poderia
também ser decorrente da atenuação da sensibilidade barorreflexa, reduzindo a
tensão de parede (lei de Laplace), a qual estaria aumentada pela elevação da
pressão intraluminal. Portanto, o aumento da espessura da parede vascular
constituiria, na verdade, um mecanismo compensatório para reduzir a tensão de
parede de modo similar ao que ocorre no ventrículo esquerdo submetido a
sobrecarga pressórica. (O’Brien & O’Malley, 1983).
A resistência vascular aumentada, mediada por receptores, pode aparecer
tanto por aumento da estimulação simpática dos vasos como pelo aumento da
reatividade vascular aos agentes vasoconstritores e/ou diminuição dos agentes
vasodilatadores. Em condições de intensa atividade simpática, a despolarização
nervosa pré-juncional pode resultar em (a) aumento de liberação exocitótica de
noradrenalina, (b) inibição da recaptação neuronal ou (c) aumento da síntese de
noradrenalina. Esta maior disponibilidade do mediador simpático para interagir com
os receptores
1
-adrenérgicos pós-juncionais poderia explicar a hiperreatividade aos
agonistas
1
-adrenérgicos observada na fase inicial da hipertensão arterial de origem
neurogênica (Tavares, Lima e Vasquez, 1989).
Outros autores (Deveraux & Pickering, 1991; Mancia e cols, 1995) também
mostraram que várias alterações estruturais e funcionais são encontradas em
pacientes hipertensos, sugerindo que as adaptações cardíacas tendem a elevar os
níveis pressóricos e assim estabeleceriam um círculo vicioso entre a elevação da
pressão e alterações estruturais da vasculatura.
Muitos estudos atestam a hipótese de associação entre resposta reativa
exagerada e aumento de risco de desenvolver HA, embora não se saiba se esta
relação é causal ou não. Acredita -se que elevações intermitentes da PA poderiam
22
Introdução
ocasionar mudanças na estrutura vascular (Esler et al, 1975; Folkow, et al, 1982; Flaa
et al, 2006). Estes autores demonstraram que sujeitos hiperreativos apresentam
níveis aumentados de catecolaminas em repouso, sendo esse achado uma possível
explicação para a relação positiva entre a reatividade pressórica e o desenvolvimento
de HA, pois a elevação do tônus simpático constitui fator trófico para hipertrofia
vascular, a qual aumenta não só a resistência vascular e a PA como também a
resposta contrátil vascular aos estímulos vasoconstritores. O aumento da reatividade
pressórica poderia ser também uma medida de disfunção endotelial ou de
incapacidade do endotélio em neutralizar adequadamente as forças vasoconstritoras
induzidas pelo estímulo simpático (Matthews, 2004).
1.2 DIAGNÓSTICO PRECOCE PREDITIVO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL E O
TESTE PRESSÓRICO DO FRIO (TPF)
Diferentes métodos têm sido utilizados para identificar a relação entre
hipertensão e doenças cardiovasculares (Nazzaro et al, 2005). A HA é uma doença
de instalação lenta e de caráter progressivo. Pelo fato de em suas fases iniciais, na
grande maioria dos casos, não provocar sintomas, muitos indivíduos só reconhecem
a presença da doença depois que alterações estruturais e funcionais
cardiovasculares já tenham ocorrido na fase crônica da doença (Braunwald, 1987).
Portanto, a detecção precoce da susceptibilidade do indivíduo normotenso de
desenvolver a hipertensão é de grande importância para prevenção e até mesmo
para o tratamento da doença.
Sabe-se que alguns fatores aumentam a probabilidade do indivíduo
desenvolver a HA, tais como o histórico familiar, a presença de obesidade central, a
raça negra, idade, o alto consumo de sal e álcool, a presença de resistência à
insulina, sedentarismo, o estresse, o baixo consumo de potássio e cálcio, entre
outros fatores. O reconhecimento destes fatores auxilia no diagnóstico precoce e na
aplicação de medidas não farmacológicas de prevenção ou do tratamento mais
adequado quando a condição já está instalada (Sparrenberger et al, 2004; Pereira e
Krieger, 2005).
23
Introdução
Vários tipos de testes laboratoriais já foram desenvolvidos visando determinar
a presença ou não de predisposição ao desenvolvimento de hipertensão. Na
verdade, o diagnóstico precoce de HA transformou-se numa meta mais viável depois
que ficou demonstrado que a manifestação da hiperreatividade pressórica detectada
através de testes clínicos de estresse, mais especificamente em testes de esforço
físico, estava relacionada ao curso evolutivo da pressão arterial no futuro (Herkenhoff
et al., 1994). Desta forma, portadores de hiperreatividade pressórica em testes de
esforço deveriam manter vigilância pressórica mais freqüente aumentando a
probabilidade de diagnóstico precoce da doença.
Os testes laboratoriais de estresse se caracterizam por induzirem
hiperreatividade cardiovascular através de uma situação controlada que geralmente
ativa o sistema nervoso simpático. Dessa forma, eles possibilitam a realização de
estudos que procuram avaliar o comportamento do sistema cardiovascular
(normalmente da PA e FC) frente a estímulos externos que determinam aumento de
atividade no sistema nervoso simpático (Pereira, 2002).
Os testes podem ser divididos em duas categorias principais: 1) os que
envolvem o aspecto emocional do indivíduo; 2) os que promovem estímulos físicos.
A resposta aos testes mentais (teste matemático, vídeo-game e outros) provoca
elevação da pressão sanguínea, taquicardia e uma variedade de alterações
cardiovasculares e humorais que refletem na ativação neurohumoral. Os agentes
estressores físicos (como ocorre no teste pressórico ao frio e outros) promovem
vasoconstrição, elevação da PA e taquicardia induzida por estimulação de noci e
termorreceptores ou ativação de ergorreceptores que desencadeiam a ativação
simpática reflexa (Parati & Mancia, 1987).
O teste pressórico do frio (TPF), segundo alguns estudos, apresenta a
capacidade de predizer o desenvolvimento de HA em indivíduos ainda em fase de
normotensão (Kelsey et al, 2000). Este teste promove vasoconstrição -adrenérgica
e elevação da PA. Apesar de vasoconstrição arteriolar significante e conseqüente
aumento da PA, o teste resulta em pequeno aumento de catecolaminas plasmáticas
e não altera a freqüência cardíaca (Lafleche et al., 1998).
O TPF que é facilmente aplicado em laboratório, consiste em submergir a mão
de um indivíduo até o punho em água gelada por 1 a 2 minutos. Outros métodos de
24
Introdução
exposição ao frio também têm sido empregados, como a exposição ao frio de parte
do abdome, do pé, da face e até mesmo de todo o corpo (Velasco e cols., 1997).
O TPF foi realizado pela primeira vez em 1933 por Hines & Brown e publicado
no American Heart Journal em 1936 (Herkenhoff, 1996).
O estímulo neural ao frio inicia-se na periferia e propaga-se em direção ao
sistema nervoso central (SNC) mediante a sinalização das modificações de
temperatura na pele pelo corpúsculo de Krause (Velasco e col., 1997), No SNC esse
estímulo atinge a área rostro-lateral do tronco cerebral, denominada área pressórica,
pois determina aumento de atividade simpática direcionada para os vasos de
resistência, havendo então aumento da pressão arterial (Menkes et al., 1989).
A situação estressante é captada pelos órgãos do sentido e vai ser analisada
no córtex cerebral. Em seguida, essa informação é passada ao sistema límbico,
controlador das emoções, que mantém estreitas ligações com o sistema nervoso
autônomo, através de conexões com o hipotálamo. Essa estrutura do diencéfalo
possui áreas de controle do sistema simpático e parassimpático, além de poder
controlar o sistema endócrino, através de suas ligações com a hipófise (Tavares,
Lima e Vasquez, 1989).
Embora o TPF seja considerado predominantemente um teste laboratorial
produzindo um estresse físico, Pekerman e colaboradores (1991) relataram que a
reatividade pressórica mais elevada durante o TPF seria também dependente do
grau de percepção de dor. Dada a importância dos componentes afetivos e
emocionais nas respostas cardiovasculares de nocicepção, esse fato indica que o
TPF não é puramente físico. Embora a resposta periférica seja determinada por
mecanismos reflexos, a resposta cardiovascular apresentaria um importante
componente afetivo (Menkes et al., 1989).
1.3 ESTUDOS DE ASSOCIAÇÃO DA RESPOSTA HIPERREATIVA AO TESTE DE
ESTRESSE E DESENVOLVIMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
Estudos populacionais longitudinais que visam validar métodos preditivos
precoces de desenvolvimento de HA são ainda escassos na literatura. Portanto, este
25
Introdução
item tem por objetivo resumir os dados de alguns dos trabalhos que abordaram esta
questão.
Edwards (1960) classificou a hiperreatividade pressórica como um aumento de
mais de 20 mmHg na PA sistólica e/ou 15mmHg na PA diastólica durante o TPF,
afirmando que 95% daqueles que apresentam hipertensão essencial eram
hiperreativos.
Wood et al. (1984) publicaram um estudo de 45 anos de seguimento com
pontos de cortes mais tolerantes para a hiperreatividade. Os participantes residiam
em Minessota - EUA, e no início do estudo eram crianças em idade escolar de 7 a 17
anos. Dos 300 participantes, 142 completaram todos os exames. Todos eram
normotensos no início do estudo. Foram considerados no estágio I de hipertensão os
indivíduos com PA sistólica entre 140 e 159 mmHg ou diastólica entre 90 e 99 mmHg,
e no estágio II de hipertensão PA maior ou igual a 160/100mmHg. A realização do
TPF seguiu o protocolo de Hines, com duração do teste de 1 minuto. A PA era aferida
a cada intervalo de 15 segundos. Para a determinação da reatividade pressórica foi
considerado o maior resultado e deste subtraído a PA basal. Os indivíduos que
apresentaram aumento 25 mmHg na PAS e/ou 20 mmHg na PAD foram
classificados como hiperreativos. Normorreativos foram os que apresentaram
incremento menor. Das crianças incluídas nos exames iniciais, quando a média de
idade era de 11,5 anos, 10% eram hiperreativas, e estas não apresentavam diferença
significativa na média da pressão arterial em relação ao grupo normorreativo. Na
reavaliação de 45 anos, 34% dos indivíduos apresentaram respostas hiperreativas ao
TPF, estando 29% no estágio I e 42% no estágio II de HA, sendo que 68% dos
hiperreativos identificados nos exames iniciais apresentaram elevação significativa da
PA casual ao longo do tempo e destes 31% já estavam sob terapia antihipertensiva.
Dos normorreativos, apenas 11% tiveram uma elevação da PA para o estágio I e 8%
para o estágio II de hipertensão arterial. O risco relativo para desenvolvimento de HA
entre os hiperreativos e normorreativos foi de aproximadamente, 4. O histórico
familiar positivo para hipertensão era significativamente maior nos hiperreativos do
que em normorreativos, e duas vezes mais comum em hipertensos previamente
hiperreativos do que em hipertensos normorreativos.
26
Introdução
Menkes et al. (1989) realizaram um estudo de 20 a 36 anos de seguimento em
910 homens brancos, estudantes de medicina da Johns Hopkins School. A média de
idade dos indivíduos no início do estudo era de 23 ± 2,7 anos, IMC médio de 23 ± 2,5
Kg/m², 59,8% eram tabagistas e 30,1% tinham histórico materno ou paterno de
hipertensão. O TPF também seguiu o protocolo de Hines durante 1 minuto e a PA era
medida com 30 e 60 segundos. As variações de reatividade foram divididas em
quartis, sendo que os dois quartis intermediários não se diferiram no risco de
desenvolvimento de hipertensão. Foi classificada com reatividade baixa a variação da
PAS 6mmHg, como moderada a resposta da PAS entre 7 e 17 mmHg e como alta,
a reatividade 18 mmHg. Como hiperreativo foi considerado o indivíduo que
obtivesse a variação da PAS 20mmHg. Não foi observada associação entre a
resposta a PAD e freqüência cardíaca (FC) ao TPF e hipertensão. O risco relativo
encontrado foi de 1,76 (IC
95%
= 1,12 – 2,76) e a incidência de hipertensão de 11,5.
Esta diferiu entre as faixas etárias de até 45 anos e igual ou maior que 45 anos, e
para os hiperreativos encontrou-se uma incidência de 6,7% e 15,4%,
respectivamente.
Em 1995, através do Adult Hearth Study, que acompanhou por 28 anos a população
de Hiroshima e Nagasaki (Japão), Kasagi et al. publicaram os resultados do TPF de
824 normotensos (PA menor que 140/90 mmHg), com média de idade de 35 ± 10,8
anos. A PA foi medida com esfignomanômetro de mercúrio no repouso e com 30 e 60
segundos de teste (que tinha duração de 1 minuto) e após 1 minuto de recuperação.
Foram classificados como hiperreativos os indivíduos que excedessem no teste 15
mmHg e como hipertensos os com PA estabelecida igual ou acima de 160/95 mmHg.
As médias da PAS e PAD de repouso foram 115,7 mmHg e 68,3 mmHg, e as médias
da resposta sistólica e diastólica foram 12,6 ± 10,1 mmHg e 12,4 ± 8,9 mmHg, não
tendo sido encontrada diferença entre as duas respostas. Do total de participantes
41,6% desenvolveram hipertensão entre o período de 1960 e 1988, sendo a
incidência de 24,6 casos novos/1000 pessoas por ano de seguimento. O estudo
detectou risco relativo de 1,4 (IC
95%
= 1,10 – 1,71) para normotensos hiperreativos
sistólicos em desenvolver HA em relação aos normorreativos. Quando o risco relativo
foi ajustado para a idade, encontrou-se 1,6 para indivíduos com idade maior ou igual
27
Introdução
a 40 anos, sendo que não foi encontrada significância para indivíduos abaixo desta
faixa etária, indicando, portanto, que se o teste pressórico ao frio for realizado em
indivíduos de meia idade, apresentaria maior valor preditivo de hipertensão arterial
futura (Kasagi et al,1995).
O Whitehall Study estudou o comportamento da pressão arterial durante 10
anos em 796 servidores públicos do sexo masculino, utilizando como instrumento um
teste de estresse mental de solução de problemas matemáticos. A média de idade
dos participantes no início do estudo era de 44 anos. A PA foi medida utilizando o
esfignomanômetro digital semi-automático (Copal) no repouso e durante o terceiro,
décimo primeiro, décimo nono e no vigésimo sétimo problemas, quando o total de
problemas a serem resolvidos no teste eram 34. No início do estudo as médias da
PAS e PAD de repouso eram 120,2 ± 13,5 mmHg e 77,4 ± 10,5 mmHg, e as médias
da resposta sistólica e diastólica foram respectivamente 20,2 ± 9,9 mmHg e 7,88 ±
5,8 mmHg. Após 10 anos, as médias da PAS foi 123,4 ± 15,2 mmHg e da PAD 78,3 ±
10,2 mmHg mas as médias de reatividade não foram diferentes e 109 pessoas
passaram a fazer uso de medicação antihipertensiva. Encontrou-se uma razão de
chances igual a 1,04 (IC
95%
= 1,02 – 1,06) de indivíduos normotensos hiperreativos
sistólicos desenvolverem HA (Carroll et al., 2001). Os indivíduos hiperreativos
distólicos não apresentaram significância no cálculo da razão de chances, a exemplo
do que já havia ocorrido no estudo de Kasagi et al. (1995).
O Kuopio Ischemic Heart Disease Risk Factor Study também analisou as
respostas de homens de meia idade (51 ± 6,7anos) ao teste de estresse. A amostra
foi composta de 508 pessoas, selecionadas com base na população da Noruega
tendo sido usado o teste de tolerância ao exercício no cicloergômetro como fator
estressante. O acompanhamento durou 4 anos. No início do estudo todos os
participantes eram normotensos, ou seja, não faziam uso de medicamento e a PA era
menor que 165/95 mmHg. O esfignomanômetro com zero randômico (Hawksley) foi
utilizado para aferir a PA, sendo que as médias da PAS e PAD foram de 122,4 ±
12mmHg e 82,6 ± 7,6 mmHg. O IMC médio dos participantes era 26 Kg/m², 32,9%
eram tabagistas e 39,6% tinham histórico familiar positivo de hipertensão. A resposta
reativa foi estratificada em quartis, sendo para o delta PAS: <10 mmHg (25,6%), 10 a
19mmHg (24,2%), 20 a 29 mmHg (26,2%) e maior ou igual a 30 mmHg (24%); e para
28
Introdução
o delta PAD: <5 mmHg (25,9%), 5 a 9 mmHg (27,9%), 10 a 15 mmHG (22,2%) e > 15
mmHg (24%). Portanto, foram considerados como hiperreativos os indivíduos que
apresentassem as respostas reativas dos últimos quartis. As médias de reatividade
encontradas foram 20,2 ± 14,2 mmHg para a PAS e 9,8 ± 7,7 mmHg para a PAD.
Após os 4 anos de estudo, 15,3% dos normotensos ficaram hipertensos, pois
52% que se encontravam no nível de PA normal alta (PAS entre 140 e 164 mmHg
e/ou PAD entre 90 e 94 mmHg) foram excluídos da amostra. Identificou-se um risco
relativo aumentado de quase 4 vezes dos hiperreativos sistólicos (OR=3,8) e
hiperreativos diastólicos (OR=3,65) para desenvolvimento de HA (Everson et al.,
1995).
O Framingham Heart Study, estudo epidemiológico prospectivo iniciado em
1948 para avaliar os fatores de riscos para doenças cardiovasculares, utilizou o teste
de esforço na esteira (protocolo de Bruce) para determinar a associação da resposta
ao estresse com o risco de desenvolvimento de hipertensão durante 8 anos. A
amostra foi composta de 2310 participantes (homens e mulheres) normotensos com
média de idade de 42 ± 10 anos, IMC médio de 25 Kg/m², sendo 36% tabagistas e
1,4% diabéticos. As médias das PAS/PAD eram 116/75 mmHg. Foram classificados
como hiperreativos os indivíduos que obtiveram respostas da PA e/ou tempo de
duração para normalização da PA na recuperação superiores ou igual ao percentil
95, não tendo sido apresentados estes valores pelo autor. O desenvolvimento de
hipertensão (PA 140/90mmHg ou uso de anithipertensivo) foi observado em 18,8%
dos participantes, tendo os hiperreativos 2 a 4 mais chances que os normorreativos
de desenvolverem HA (Singh et al., 1999).
Herkenhoff (1996) estudou respostas reativas a testes de estresse físicos e
mentais em homens de 35 a 50 anos, normotensos (PA < 140/90 mmHg e sem uso
de antihipertensivos), hiperreativos ao teste ergométrico, funcionários de uma mesma
empresa de Vitória-ES. Foram classificados como hiperreativos os indivíduos que
apresentassem elevação da PAS a valores 220 mmHg e/ou incremento da PAD
15 mmHg no teste ergométrico máximo. Os indivíduos foram submetidos a testes de
esforço dinâmico (ciclo ergômetro), de esforço isométrico (Handgrip), ao TPF, ao
teste aritmético e ao teste de cores e palavras (Stroop color). Um grupo realizou
treinamento aeróbico durante 4 meses e outro não. O treinamento consistia em
29
Introdução
ciclismo ou caminhada com intensidade entre 65 a 90% da FC máxima, duração da
sessão de 20 a 60 minutos e freqüência semanal de 3 a 5 dias. Após a reavaliação
de todos os participantes, compararam-se as respostas pressóricas aos testes de
estresse nos indivíduos hiperreativos com os valores de PA na MAPA
(Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial) normal (HMN) e um outro com
valores da PA na MAPA anormal (HMA), sendo que um subgrupo deste último foi
submetido um programa de treinamento físico aeróbico (Lima e cols., 1998). As
respostas pressóricas em todos os testes de estresse mentais foram mais elevadas
nos indivíduos hiperreativos ao teste ergométrico. Além disso, as respostas
pressóricas ao TPF foram bastante similares as do teste de esforço isométrico. O
programa de treinamento aeróbico foi eficaz na redução da reatividade pressórica
laboratorial e da variabilidade da PA medida na MAPA. Seus efeitos sobre a PA
foram prolongados e ultrapassaram o que seria esperado apenas pelos seus efeitos
orgânicos, sugerindo que o treinamento físico aeróbico apresenta efeitos sobre o
comportamento e hábitos dos indivíduos.
Outro estudo realizado em homens jovens foi apresentado por Markovitz
(1998) com os participantes do CARDIA, um estudo prospectivo multicêntrico, de
história natural de desenvolvimento do risco cardiovascular em adultos jovens
moradores de algumas cidades dos EUA. A amostra abrangeu apenas indivíduos
normotensos, de raça branca e negra, com 18 a 30 anos de idade no início do
estudo. Este trabalho mostrou que a magnitude das respostas da pressão arterial
sistólica (PAS) durante um jogo de “vídeo game” era preditora do aumento dos níveis
de pressão arterial de repouso em 5 anos. Um segundo estudo foi realizado por
Matthews et al. (2004) com estes mesmos indivíduos após 13 anos, com a inclusão
de mulheres na amostra, com o objetivo de analisar a associação entre resposta
pressórica e o desenvolvimento de hipertensão em relação ao gênero sexual e à
etnia racial. Para a medida da PA foi utilizado o esfignomanômetro com zero
randômico (Hawksley). Foram utilizados, além do vídeo game (8 minutos), o teste de
imagem no espelho (star tracing task) durante 3 minutos e o TPF com duração de 45
segundos. Nos dois primeiros testes a PA era medida a cada minuto. No TPF foi
realizada apenas uma medida com esfignomanômetro de mercúrio pela curta
duração do teste. Dos 4202 indivíduos re-convocados para este estudo, tinham idade
30
Introdução
média de 27 anos, 352 (8,4%) ficaram hipertensos (PA 140/90 mmHg ou uso de
antihipertensivos) e apenas 652 completaram todos os testes de estresse. A PA de
repouso era maior em negros e homens do que em brancos e mulheres, sendo a
proporção de negros hipertensos também maiores que a de brancos. Comparados
com os brancos, os negros obtiveram respostas reativas de PAD maiores no vídeo
game e no TPF e menores para PAS no teste de imagem no espelho. Comparados
com as mulheres, os homens tiveram grandes incrementos na PAD no TPF e teste
de imagem no espelho, assim como para a PAS no vídeo game e teste de imagem
no espelho, especialmente nos brancos. Concluiu-se que no teste do vídeo game, a
mudança na PAD foi o mais importante preditor de HA para homens. No TPF as
mudanças na PAS foram mais importantes para as mulheres e brancos.
No presente ano (2006) foi publicado o estudo de Flaa et al., que objetivava
comprovar que a PA de repouso estava relacionada com altos níveis de
catecolaminas plasmáticas, reatividade cardiovascular nos teste de estresse
laboratorial, fatores de risco cardiovascular e adaptação e recuperação do estresse
mental. Foi também investigada a associação destas variáveis com a resistência à
insulina e as taxas de lipídios sanguíneos. Uma amostra de 130 indivíduos foi
selecionada a partir de um total de 4137 homens de 19 anos de idade no alistamento
militar de Oslo – Noruega. Destes, apenas 43 participaram do estudo, tendo estes
sidos separados em 3 grupos de acordo com a pressão arterial média (PAM). No
primeiro percentil (baixo), 15 indivíduos apresentavam a PAM 82 mmHg, no
percentil 50 (intermediário) a PAM encontrava-se entre 83 e 109mmHg em 15
indivíduos e no último percentil (alto), PAM 110 mmHg, com 13 participantes. Um
pequeno catéter foi introduzido na artéria braquial direita para coletas de amostras de
sangue e monitorização da PA intraarterial. Após 30 minutos de repouso os
participantes realizaram o TPF durante 1 minuto, o teste aritmético durante 5 minutos
e por último o estresse ortostático de 2 minutos de duração. Entre os testes havia um
intervalo de 30 minutos. Foram realizadas medidas de PA e catecolaminas
anteriormente aos testes, 2 vezes no TPF, 3 vezes no aritmético, 1 vez no estresse
ortostático e no período de recuperação de cada teste, totalizando 12 amostras para
cada sujeito. Todos os testes de estresse mostraram aumento significante da PA, FC
e catecolaminas nos três grupos, porém apenas o teste aritmético mostrou diferenças
31
Introdução
significativas entre os grupos. Observou-se que a menor faixa da PA estava
associada a um melhor perfil lipoprotéico do que as faixas de PA normal e alta. Os
níveis de epinefrina foram negativamente relacionados aos de HDL. Tanto a
epinefrina quanto a norepinefrina estavam positivamente correlacionadas aos níveis
de frutosamina. Durante o TPF, as taxas de epinefrina correlacionaram-se
positivamente com os níveis de triglicerídeos plasmáticos. Concluiu-se que a
hipertensão e a PA normal alta estão associadas ao aumento da reatividade
cardiovascular e esta à resposta simpato-adrenal ao teste de estresse mental. A
insulina e a glicose foram similares nos 3 grupos, indicando que o hiperinsulinismo,
mais provavelmente, não seja a causa do aumento da atividade simpática aumentada
em homens jovens.
O Projeto MONICA em 2000/2001 estudou a população de Vitória – ES e
detectou uma prevalência de 38,2% de hipertensão nesta população (Molina, 2002).
Neste projeto foram determinados os fatores de risco cardiovascular em amostra
populacional de 1.661 indivíduos situados na faixa etária de 25 a 64 anos. Em todos
os participantes também foi aplicado o teste pressórico do frio (TPF), com imersão da
mão esquerda, durante dois minutos, em água gelada a 4°C. A PA foi medida no
primeiro e segundo minutos com aparelho oscilométrico automático, sendo utilizados
os valores mais elevados para definir o grau de reatividade pressórica dos indivíduos.
Foram classificados como hiperreativos os indivíduos que apresentavam aumento da
pressão sistólica 40 mmHg e/ou aumento da pressão diastólica 25 mmHg
(Pereira, 2002). Observou-se que 33,6% da amostra eram hiperreativos. Os
indivíduos estudados nos anos de 2000/2001 foram re-convocados a serem
estudados cinco anos após, sendo um dos objetivos do trabalho repetir nestes
mesmos indivíduos o TPF, realizado em condições idênticas àquelas usadas
anteriormente.
Apesar de o TPF ter sido utilizado por vários autores como preditor precoce do
desenvolvimento de hipertensão arterial (Edwards, 1960; Wood et al., 1984; Menkes
et al., 1989; Kasagi et al., 1995; Mathews, 2004), poucos estudos procuraram
demonstrar a estabilidade deste teste ao longo do tempo na população geral ao
mesmo tempo em que investigavam seu valor preditivo de hipertensão. Nosso estudo
concentrou -se em analisar 2 (dois) aspectos do TFP nos indivíduos estudados no
32
Introdução
Projeto MONICA em Vitória. Em primeiro lugar determinar o grau de estabilidade
deste teste ao longo de 5 anos de seguimento, ou seja, qual a porcentagem de
indivíduos que mantêm o mesmo nível de classificação em dois testes consecutivos
realizados com a mesma metodologia. Em segundo lugar procurou-se determinar a
capacidade preditiva do TPF em relação ao desenvolvimento de hipertensão arterial
ao longo do estudo.
II. OBJETIVOS
34
Objetivos
2.1. Geral
Estudar a estabilidade a longo prazo do teste pressórico do frio e a evolução
dos níveis de pressão arterial nos indivíduos anteriormente submetidos ao teste.
2.2. Específicos
a) Mensurar a variação da classificação da pressão arterial;
b) Comparar as respostas reativas dos pacientes ao teste pressórico do frio nas fases
I e II do Projeto MONICA – Vitória/ ES;
c) Analisar o comportamento da pressão em pacientes que na fase I eram
normotensos e apresentaram hiperreatividade ao TPF, assim como os
normorreativos;
d) Avaliar a variação de prevalência dos fatores de risco cardiovascular ao longo de 5
anos de seguimento de uma coorte da população geral.
III. METODOLOGIA
36
Metodologia
Este trabalho foi realizado como um dos subprojetos do estudo denominado
“Monitoramento das Tendências de Morbidade de Mortalidade Cardiovascular no
Município de Vitória – Fase II” (Projeto MONICA-OMS/Vitória, Fase II) realizado na
Clínica de Investigação Cardiovascular do Programa de Pós-Graduação em Ciências
da Saúde da UFES.
O Projeto MONICA-WHO foi implantado na Europa, no começo da década de
80, para avaliar as causas da rápida proliferação das doenças crônico-degenerativas
de origem cardiovascular nos países desenvolvidos, visando fornecer subsídios às
autoridades sanitárias de diversos países no desenvolvimento de estratégias que
possibilitassem reduzir a morbi-mortalidade cardiovascular (Richard, 1988). O projeto
foi implantado com a finalidade de levantar, simultaneamente, um mapa
pormenorizado de prevalência de fatores de risco cardiovascular na população alvo e
realizar um acompanhamento contínuo dos principais eventos fatais e não fatais que
acometem o aparelho cardiovascular (infarto agudo do miocárdio e acidente vascular
cerebral) na mesma população alvo. O conhecimento do mapa de risco populacional
seria instrumento valioso na formulação de políticas públicas nessa área de saúde.
3.1. Planejamento da amostra
A amostra foi composta por indivíduos que participaram da fase 1 do Projeto
MONICA-OMS/Vitória, desenvolvido nos anos de 1999 e 2000. O estudo teve como
população alvo todos os habitantes do município de Vitória com idade compreendida
entre 25 e 64 anos a qual, segundo a contagem populacional realizada pelo IBGE no
ano 2000, era de 145 mil indivíduos, sendo 46,0% pertencentes ao sexo masculino e
54,0% ao sexo feminino.
Para a fase I do Projeto MONICA-OMS/Vitória foi selecionada uma amostra
aleatória de 2.268 indivíduos dos quais 1.663 compareceram à Clínica de
Investigação Cardiovascular (CIC) do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Fisiológicas da UFES, para realizar todos os exames necessários à determinação do
risco cardiovascular (Mill e cols., 2005).
37
Metodologia
No ano de 2004, os mesmos indivíduos que participaram na etapa anterior do
projeto foram convidados através de telefone ou carta para reavaliação do risco
cardiovascular na CIC, tendo comparecido para a realização dos exames um total de
682 indivíduos (41,0% da amostra inicial). Estes indivíduos constituem a amostra do
presente estudo. Tentamos levantar por telefone, carta, contato com vizinhos, etc., o
destino dos 981 indivíduos que participaram da etapa I do projeto e não
compareceram para exames na etapa II, tendo sido possível os seguintes achados:
Falecimentos: 11
Moram em outros estados ou países: 32
Recusaram participar da etapa II: 34
Contato telefônico foi feito apenas com parente ou vizinho: 269
Sem contato por telefone, carta ou informações de terceiros: 635
Na CIC os participantes eram submetidos à coleta de sangue, à medida da
PA, à avaliação antropométrica, ao registro do eletrocardiograma de repouso, à
medida da velocidade de onda de pulso (VOP) carotídeo-femoral, ao teste pressórico
do frio e ao teste de 4 segundos. Após a realização destes exames, era agendado o
dia de retorno do indivíduo para realização do ecocardiograma. A coleta de urina de
12 horas era feita na noite anterior (19:00 h – 07:00 h) à realização do
ecocardiograma.
As amostras de sangue, soro, plasma e urina eram previamente processadas
na CIC e encaminhadas para o Laboratório Central do SESI, em Vitória, para
realização do hemograma e dosagens séricas de glicose, uréia, creatinina, ácido
úrico, colesterol total, triglicerídios e as frações HDL-colesterol e VLDL-colesterol. O
LDL-colesterol foi calculado pela fórmula de Friedwald, a qual não foi aplicada
quando o nível de triglicerídios era maior do que 400 mg/dL (Friedwald e cols., 1972).
Todos os exames foram feitos de acordo com as técnicas padronizadas para análises
clínicas e os mesmos kits de dosagem foram usados durante todo o estudo.
38
Metodologia
3.2. Medida de pressão arterial
A medida clínica da pressão arterial foi feita de acordo com a padronização
estabelecida pela Sociedade Brasileira de Hipertensão (2002), isto é, com o indivíduo
sentado há pelo menos cinco minutos e após esvaziamento da bexiga. Os indivíduos
eram instruídos a abster-se do consumo de café ou usar cigarro ou realizar esforço
nos 30 minutos que precediam às medidas. A PA foi medida por duas pessoas
treinadas usando-se esfignomanômetro de coluna de mercúrio e tendo como base as
fases I e V dos sons de Korotkoff para determinação da PA sistólica e diastólica,
respectivamente. O período entre as duas medidas foi de cerca de 30 minutos. A PA
clínica de cada indivíduo foi dada pela média aritmética das duas medidas.
Os indivíduos foram classificados segundo o nível pressórico de acordo com
os valores estabelecidos no Consenso Brasileiro de Hipertensão (2002), para
indivíduos com idade superior a dezoito anos (Tabela 1).
Tabela 1 – Classificação dos indivíduos de acordo com a pressão arterial clínica.
Classificação PAS (mmHg) PAD (mmHg)
Ótima
Normal
Normal alta (limítrofe)
Hipertensão
Estágio 1 (leve)
Estágio 2 (moderada)
Estágio 3 (grave)
Sistólica isolada
<120 < 80
< 130 <85
130-139 85-89
140-159 90-99
160-179 100-109
> 180 >110
140 <90
PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica
3.3. Antropometria
Após a primeira medida da PA os indivíduos realizaram as medidas
antropométricas portando apenas roupas íntimas. Foram obtidos os valores de peso
39
Metodologia
corporal (precisão de 0,1 Kg), estatura (precisão de 0,5 cm), circunferência da cintura
e quadril e a espessura das dobras cutâneas triciptal, sub-escapular, abdominal e
suprailíaca, usando compasso científico (Cescorf) com precisão de 0,1 mm. O índice
de massa corporal (IMC) foi calculado dividindo-se o peso pelo quadrado da estatura
(Kg/m
2
).
3.4. Teste da Reatividade Pressórica do Frio
Antes da realização do teste, com o indivíduo já sentado e no ambiente onde o
teste pressórico ao frio seria realizado, era preenchido o questionário sobre prática de
atividade física. Desse modo aproveitava-se o tempo e produzia-se o relaxamento do
indivíduo a ser avaliado. A temperatura da sala onde foi realizado o TPF era mantida
em cerca de 24°C.
Os indivíduos foram instruídos a se sentarem e manterem ambos os pés no
chão e evitarem movimentos durante o teste. Em seguida, o manguito do aparelho de
pressão (aparelho oscilométrico, Omron Mod HEM 705 CP) era colocado no braço
direito e o participante era orientado sobre a realização do teste. Os indivíduos eram
orientados a submergirem a mão esquerda espalmada, até o nível do punho, em um
recipiente térmico contendo água equilibrada com gelo (4° C), e somente retirá-la
quando fossem autorizados. Os indivíduos não eram informados da duração do teste.
A primeira medida da PA e freqüência cardíaca (FC) era feita logo após as
instruções. Em seguida o indivíduo mergulhava a mão na água e nova medida da PA
e FC era feita aos 2 minutos do teste. O indivíduo era então instruído a retirar a mão
da água e nova medida obtida 1 minutos após.
O estímulo estressante nesse tipo de teste é decorrente tanto da estimulação
de termorrecptores como de nociceptores, desencadeada localmente pela água
gelada sobre a pele (Hines & Brown, 1936). O teste pressórico do frio (TPF) constitui
um procedimento tipicamente passivo, no qual o paciente apenas cumpre as
determinações do experimentador sem possibilidades de solucionar o estímulo
aversivo.
Caso houvesse falha no registro da PA ou se o indivíduo removesse o braço
da água antes do tempo previsto para o término do teste, o teste era integralmente
40
Metodologia
repetido se houvesse concordância do indivíduo. Caso contrário, o resultado do teste
não era registrado.
Para análise de reatividade foram consideradas as três medidas da PA e FC.
Assim, a PA e FC antecipatórias foram medidas após o participante receber as
instruções necessárias para a realização do teste. A medida realizada aos 2 minutos
de imersão na água+gelo foi considerada a medida do TPF. A PA e FC de
recuperação foram obtidas 1 minuto após remoção da mão da água gelada. A
reatividade pressórica ao frio (PA) foi calculada pela diferença entre a medida de 2
minutos e a medida antecipatória.
Os indivíduos foram classificados em relação à reatividade pressórica
seguindo os mesmos critérios da fase I do Projeto MONICA (Pereira, 2002). Como
tanto PAS e PAD seguem uma distribuição normal na população, os indivíduos
situados no primeiro quartil de PAS e PAD foram classificados como portadores de
“reatividade baixa” ou “normorreativos”. Os indivíduos que se situaram no quarto
quartil de PAS ou PAD foram classificados como portadores de “reatividade alta”
ou “hiperreativos”. Os indivíduos do segundo e terceiro quartis (percentil 25 ao
percentil 75) de PAS e/ ou PAD foram classificados como portadores de
“reatividade moderada”. Os valores de pressão correspondentes a estes pontos de
corte estão relacionados na Tabela 2.
Tabela 2 – Estratificação da reatividade pressórica ao frio segundo a elevação da
pressão sistólica e diastólica durante o teste pressórico do frio.
Resposta reativa PAS (mmHg) PAD (mmHg)
Baixa <16 <7
Moderada 16 – 39 7 – 24
Alta 40 25
Dados de Pereira (2002).
41
Metodologia
Não realizaram o teste os indivíduos que recusaram sua execução (n=4).
Foram excluídos das análises os testes com erro de leitura do aparelho (n=21),
quando os indivíduos retiraram a mão da água gelada antes do tempo (n = 59), além
de obesos por ausência de braçadeira adequada no dia o teste (n=2) e uma paciente
deficiente física com hemiparesia.
3.5. Análise Estatística
As variáveis com distribuição contínua são apresentas como média ± desvio
padrão, e as variáveis classificatórias como proporções. As características
demográficas, antropométricas e clínicas dos participantes foram comparadas entre
as fases I (2000) e II (2005) do estudo pelo teste t de Student para amostras
pareadas (variáveis contínuas) e pelo teste do (variáveis classificatórias). O papel
preditor do TPF calculado na fase I do projeto na modificação da pressão arterial de
normotenso na fase I para hipertenso na fase II foi feito pela razão de chances (Odds
ratio) com o respectivo intervalo de confiança de 95% (IC
95
). O grau de correlação foi
calculado pelo coeficiente de Spearman (r) e a reta de regressão, quando apropriado,
foi calculada pelo método dos mínimos quadrados. Os testes estatísticos foram feitos
em Excel ou em SPSS (versão 13.0). Foram consideradas significantes as médias ou
diferenças com P<0.05.
IV. RESULTADOS
43
Resultados
4.1 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA
Dos 1663 indivíduos (46% de homens e 54% de mulheres) participantes do Projeto
Mônica em 2000 (fase I), 682 realizaram a reavaliação em 2004-2005 (fase II), sendo
297(43,5%) homens e 385 (56,5%) mulheres. Dos que participaram da fase II, o TPF
foi realizado em 595 indivíduos, correspondendo a 87,2% dos elegíveis para o teste.
Não conseguimos realizar o teste em 87 indivíduos, sendo 21 por recusa e os demais
por problemas técnicos durante a realização (principalmente erro de leitura do
equipamento automático de medida da pressão arterial). Porém, 570 indivíduos
compõem a amostra do TFP, pois mais 12 indivíduos deixaram de realizar o teste na
fase I.
A tabela 3 apresenta as características demográficas e clínicas dos indivíduos
na fase II do estudo. A média de idade dos participantes foi de 51 ± 10 anos. A
maioria dos participantes apresentava segundo grau completo ou superior incompleto
(31,5%), 22,8% apresentavam o primário completo ou primeiro grau incompleto,
18,1% primeiro grau completo ou segundo incompleto, 17,8% o nível superior
completo, 6,2% o primário incompleto e 3,7% eram analfabetos. A amostra foi
composta por 10% (68) de indivíduos pertencentes à classe socioeconômica A,
32,7% (223) à classe B, 38,6% (263) à classe C, 18,2% à classe D e 0,6% (4) à
classe E. Em relação à raça, obtivemos 37,2% (252) de brancos, 50,8% (344) de
mulatos ou pardos, 5,8% (39) negros, 0,3% (2) índios, 0,4% (3) asiáticos e 5,5% (37)
de outros mestiços. Na amostra havia 15,2% (104) tabagistas, 49,3% (321)
hipertensos, 5,5% (40) diabéticos e 20,1% (135) obesos.
A classificação racial e socioeconômica dos indivíduos foi a mesma levantada
na fase I do projeto. Foi considerado hipertenso o indivíduo que apresentasse PAS
140 mmHg e/ou PAD 90 mmHg ou fazia uso de medicação antihipertensiva,
independentemente do nível pressórico como diabético, aquele com a glicemia de
jejum igual ou maior a 126 mg/dL e obeso o indivíduo que apresentasse IMC 30
Kg/m² (WHO, 1995).
44
Resultados
Tabela 3 – Características demográficas e clínicas dos indivíduos estudados na fase
II.
HOMENS MULHERES TODOS
N
297 (43,5%) 385 (56,5%) 682
IDADE (anos)
51± 10 51 ± 10 51 ± 10
ESCOLARIDADE
Nível superior 58 (19,5%) 63 (16,4%) 121 (17,8%)
2° grau completo 97 (32,7%) 117 (30,5%) 214 (31,5%)
1° grau completo 55 (18,5%) 68 (17,8%) 123 (18,1%)
Primário completo 65 (22%) 90 (23,5%) 155 (22,8%)
Primário incompleto 16 (5,4%) 26 (6,8%) 42 (6,2%)
Analfabeto 6 (2%) 19 (5%) 25 (3,7%)
CLASSE
SÓCIOECONÔMICA
A 36 (12,1%) 32 (8,3%) 68 (10%)
B 101 (34%) 122 (31,7%) 223 (32,7%)
C 110 (37%) 153 (39,7%) 263 (38,6%)
D 49 (16,5%) 75 (19,5%) 124 (18,2%)
E 1 (0,3%) 3 (0,8%) 4 (0,6%)
RAÇA
Brancos 116 (39,3%) 136 (35,6%) 252 (37,2%)
Mulatos ou pardos 148 (50,2%) 196 (51,3%) 344 (50,8%)
Negros 20 (6,8%) 19 (5%) 39 (5,8%)
Índios 0 (0%) 2 (0,5%) 2 (0,3%)
Asiáticos 1 (0,3%) 2 (0,5%) 3 (0,4%)
Outros mestiços 10 (3,4%) 27 (7,1%) 37 (5,5%)
TABAGISTAS
56 (18,9%) 48 (12,5%) 104 (15,2%)
HIPERTENSOS
166 (55,9%) 170 (44,2%) 336 (49,3%)
DIABÉTICOS
12 (4%) 28 (7,3%) 40 (5,5%)
OBESOS
45 (15,6%) 90 (23,7%) 135 (20,2%)
45
Resultados
Para descrever a evolução dos indivíduos nestes cinco anos, comparamos os
dados obtidos na fase I com os da fase II. A tabela 4 mostra algumas características
antropométricas da amostra nas duas fases do estudo. A média de idade dos
indivíduos na fase I era 46 ± 10 e na fase II 51 ± 10 anos, pois esta última ocorreu 5
anos após. Ocorreram pequenos, porém significativos (p<0,05) aumentos do peso
corporal (69,1 ± 13,6; 69,4 ± 13,5 Kg) e do IMC (26,3 ± 4,6; 26,5 ± 4,6 Kg/m²) ao
longo de 5 anos. A estatura média dos indivíduos diminuiu 0,5 ± 0,98 cm (p<0,01). As
circunferências de cintura (87 ± 11,7; 88 ± 12,3 cm) e quadril (98 ± 8,6; 100 ± 8,7 cm)
aumentaram, e a relação cintura/ quadril permaneceu estável ao longo dos 5 anos.
Tabela 4 – Características antropométricas da amostra nas fases I e II.
FASE I FASE II
Idade (anos)
46 ± 10 51 ± 10 **
Peso (Kg)
69,1 ± 13,6 69,4 ± 13,5 *
IMC (Kg/m
2
)
26,26 ± 4,6 26,5 ± 4,6 **
CC (cm)
87 ± 11,7 88 ± 12,3 **
CQ (cm)
98 ± 8,6 100 ± 8,7 **
RCQ
0,87 ± 0,09 0,88 ± 0,30
Os dados são apresentados como média ± desvio padrão. IMC: índice
de massa corporal; CC: circunferência da cintura; CQ: circunferência do
quadril; RCQ: razão cintura quadril.
* P<0,05 e ** P < 0,01 no teste t pareado.
Na tabela 5 são apresentados os dados bioquímicos dos mesmos indivíduos
que participaram das duas fases do estudo. O nível médio da glicemia de jejum
diminuiu (103 ± 26; 96 ± 27 mg/dL; p<0,01), assim como os níveis de colesterol total
(219 ± 48,7; 203 ± 46,1 mg/dL; p<0,01 ) e LDL–colesterol (147 ± 39,3; 125 ± 34,2
mg/dL; p<0,01). Já os níveis de HDL–colesterol (45 ± 11,5; 47 ± 11,7 mg/dL; p<0,01),
46
Resultados
VLDL–colesterol (25,0 ± 15,0; 29,4 ± 14,2 mg/dL; p<0,01 ), triglicerídeos (143,0 ±
171,6; 163 ± 153,7 mg/dL; p<0,01) e ácido úrico (4,52 ± 1,28; 5,20 ± 1,29 mg/dL;
p<0,01) aumentaram significativamente. O nível de creatinina no plasma (1,00 ± 0,02;
1,03 ± 0,25 mg/dL) permaneceu constante.
Tabela 5 – Parâmetros bioquímicos nas fases I e II do estudo.
FASE I FASE II
Glicemia (mg/dL)
103 ± 26 96 ± 27 **
Colesterol total (mg/dL)
219 ± 48,7 203 ± 46,1 **
HDL-colesterol (mg/dL)
45 ± 11,5 47 ± 11,7 **
LDL-colesterol (mg/dL)
147 ± 39,3 125 ± 34,2 **
VLDL-colesterol (mg/dL)
25 ± 15 29,4 ± 14,2 **
TGL-colesterol (mg/dL)
143 ± 171,6 163 ± 153,7 **
Creatinina (mg/dL)
1,00 ± 0,02 1,03 ± 0,25
Acido Úrico (mg/dL)
4,5 ± 1,28 5,2 ± 1,29 **
* P<0,05 e ** P<0,01 (Teste t de Student para dados pareados)
A tabela 6 mostra a freqüência de fatores de risco cardiovascular dos
indivíduos que participaram das fases I do II do projeto. Foram considerados
tabagistas tanto os fumantes regulares, como também os ocasionais (consumo usual
de menos de 1 cigarro por dia) e os indivíduos que pararam de fumar há menos de 6
meses. Foram classificados com sobrepeso os indivíduos que apresentaram IMC
entre 25 e 29,9 Kg/m² e como obeso quando o IMC foi igual ou maior que 30 Kg/m²
(WHO, 1995) e como diabético, os indivíduos com a glicemia de jejum igual ou maior
a 126 mg/dL. Adotou-se como ponto de corte para relacionar ao risco aumentado de
desenvolver doença cardiovascular o nível de colesterol total superior a 200 mg/dL,
HDL-Colesterol menor que 40mg/dL e triglicerídeo maior que 150mg/dL (Sociedade
Brasileira de Cardiologia, 2001).
47
Resultados
Observou-se que o número de fumantes diminuiu de 161 (23,6%) para 104
(15,2%), assim como o número de indivíduos com valores de colesterol superiores a
200 mg/dL de 416 (61,4%) para 352 (52%). A proporção de indivíduos acometidos
por diabetes [41 (6,1%); 40 (5,5%)], sobrepeso [245 (36,6%); 255 (38,1%)],
obesidade [128 (19,1%); 135 (20,1%)], e HDL-c abaixo de 40 mg/dL [216 (32,8%);
202 (30,7%)] permaneceram constantes. Por outro lado, nota-se nítido aumento da
proporção de indivíduos com triglicerídeos com valores superiores a 150 mg/dL.
Tabela 6 – Prevalência de fatores de risco cardiovascular nas fases I e II do estudo.
FASE I FASE II
N
682 682
Tabagismo
23,6% (20,5-26,7%) 15,2% (14,9-15,5%)
Sobrepeso
36,6% (33,0-40,2%) 38,1% (34,5-41,7%)
Obesidade
19,1% (16,2-22,0%) 20,1% (17,1-23,1%)
Diabetes
6,1% (4,3-7,9%) 5,5% (4,2-7,8%)
Colesterol total > 200
61,4% (57,8-65,0%) 52% (48,3-55,7%)
HDL-colesterol < 40
32,8% (29,3-36,3%) 30,7% (27,2-42,0%)
Triglicerídeo > 150
30% (26,6-33,4%) 41% (37,3-44,7%)
As prevalências são fornecidas com os respectivos intervalos de confiança de
95%.
4.2 ALTERAÇÕES DA PRESSÃO ARTERIAL
A média da pressão arterial sistólica (PAS) clínica dos 682 indivíduos na fase I do
projeto era de 127 ± 20 mmHg e na fase II encontramos 130 ± 19 mmHg, havendo
diferença significativa entre estes valores. Havia 113 indivíduos sob uso de
medicação antihipertensiva em 2000, e este número aumentou para 215 em 2005. A
48
Resultados
pressão arterial diastólica (PAD) também sofreu pequeno aumento no período de
seguimento (84 ± 13 mmHg vs 85 ± 12 mmHg; P<0.05), como observado na tabela 7.
Tabela 7 – Pressão arterial e freqüência cardíaca nas duas fases do estudo.
FASE I FASE II
PAS (mmHg)
127 ± 20 130 ± 19 **
PAD (mmHg)
84 ± 13 85 ± 12 *
FC (bpm)
71 ± 12 73 ± 12**
PAS = pressão arterial sistólica, PAD = pressão arterial diastólica e
FC = freqüência cardíaca.
* P<0,05 e ** P<0,01 no teste t para dados pareados.
As figuras 1 e 2 apresentam as correlações entre as pressões sistólica e
diastólica nas fases I e a fase II, tendo sido observado bom grau de correlação em
ambas as medidas (0,67 e 0,62, respectivamente).
Figura 1 - Correlação da pressão
sistólica na fase I com a fase II.
Figura 2 - Correlação da pressão
diastólica na fase I com a fase II.
49
Resultados
A tabela 8 apresenta a classificação dos mesmos indivíduos em normotensos
e hipertensos em cada fase do estudo. Importante ressaltar que foram classificados
como hipertensos os indivíduos com PAS 140 mmHg e/ou PAD 90 mmHg ou
ainda aqueles indivíduos que estavam sob uso de medicação antihipertensiva,
independentemente do nível pressórico. Dos 682 indivíduos, 388 (56,9%) foram
classificados como normotensos na fase I do estudo e 294 (43,1%) como
hipertensos. Na fase II encontramos 346 (50,7%) indivíduos normotensos e 336
(49,3%) hipertensos. Portanto, entre os 388 normotensos da fase I, nada menos do
que 42 (isto é, 10,8%) passaram a ser classificados como hipertensos,
correspondendo a uma incidência de 21,6 casos novos de hipertensão por ano em
cada grupo de 1000 indivíduos.
Tabela 8 – Prevalência de hipertensão nas fases I e II do estudo.
FASE I FASE II
NORMOTENSOS
56,9% (388)
50,7% (346)
HIPERTENSOS
43,1% (294)
(IC
95%
= 39,4-46,8)
49,3% (336)
(IC
95%
= 45,5-53,1)
Em relação à variação na classificação da pressão arterial em “normotensos”
e “hipertensos”, 540 (79,2%) indivíduos permaneceram com a mesma classificação
da fase I (manutenção), 92 (13,5%) variaram suas classificações para cima, ou seja,
passaram da classificação de normotenso para a de hipertenso, e 50 (7,3%) sujeitos
regrediram na estratificação (Tabela 9).
50
Resultados
Tabela 9 - Variação na classificação da PA da fase I para fase II.
Variação da PA Nº de indivíduos
Normotenso - Hipertenso
92 (13,5%)
Manutenção
540 (79,2%)
Hipertenso - Normotenso
50 (7,3%)
4.3 TESTE PRESSÓRICO AO FRIO
Na fase I, 12 pessoas não realizaram o TPF, portanto quando utilizados somente os
dados de reatividade da fase I, totalizamos uma amostra de 670 indivíduos. Na fase
II, 583 indivíduos realizaram o teste, sendo este número o considerado na análise
dos resultados de reatividade entre as duas fases.
De acordo com Pereira (2002), na fase I, os valores médios da reatividade de
PAS e PAD foram, respectivamente, de 28,3 ± 18 mmHg e 16,63 ± 14 mmHg. Esses
valores não se alteraram significativamente na fase II do estudo (tabela 10).
Tabela 10 – Valores médios de reatividade pressórica.
FASE I FASE II
PAS (mmHg)
28,3 ± 18 28,4 ± 21
PAD (mmHg)
16,6 ± 14 16,8 ± 13
FC (bpm)
2 ± 17 3 ± 11
Os dados são apresentados em média ± desvio padrão.
A figura 3 apresenta o gráfico da correlação entre as reatividades da PAS nas
fases I e II. Apesar de regular (r = 0,431), a correlação foi significante (p<0,01).
51
Resultados
Figura 3 – Correlação da reatividade pressórica sistólica nas fases I e II do estudo.
Na figura 4 é demonstrada a correlação entre as reatividades de PAD nas
fases I e II do estudo, tendo sido encontrado um coeficiente de 0,273 (p < 0,001),
denotando correlação fraca entre os dois testes feitos no mesmo indivíduo.
Figura 4 – Correlação da reatividade pressórica diastólica nas fases I e II do estudo.
52
Resultados
A figura 5 mostra a variação da pressão sistólica em 5 anos em função da
reatividade pressórica medida a partir do PAS durante o teste pressórico do frio na
fase I do estudo. O coeficiente encontrado foi 0,253 (p<0,001), sendo, portanto, uma
correlação fraca.
Figura 5 - Correlação entre a variação de PAS entre as fases do estudo e a
reatividade sistólica na fase I (PAS1).
Da mesma forma aconteceu com a correlação entre a variação da pressão
arterial diastólica em função da reatividade diastólica da fase I (PAD1) no TPF,
sendo encontrado um coeficiente de correlação de Pearson igual a 0,296 e o p<
0,001 (Figura 6).
53
Resultados
Figura 6 - Correlação entre a variação da PAD e reatividade diastólica ao TPF na
primeira fase.
A figura 7 apresenta a correlação entre a PAD medida na fase II menos a
PAD medida na fase I em função da PAS medida na fase II menos a PAS da fase I,
tendo sido encontrando um ótimo coeficiente de correlação (r = 0,702; p<0,001).
Figura 7 - Correlação entre as variações pressóricas ao TPF entre as fases.
54
Resultados
Correspondente à classificação da reatividade pressórica ao teste pressórico
do frio, na fase I, 16,1% (94) dos pacientes eram normorreativos, 50,2% (293)
apresentavam reatividade moderada e 33,6% (196) eram hiperreativos. Na fase II,
observamos que 10,3% (60) dos indivíduos classificavam-se como normorreativos,
53,7% (313) como moderados e 36% (210) eram hiperreativos (tabela 11), indicando
uma migração de indivíduos em maior parcela da situação de normorreatividade
para a condição de reatividade moderada e desta, em menor quantidade para a de
hiperreatividade.
Tabela 11 – Classificação dos indivíduos de acordo com a resposta ao teste
pressórico do frio.
FASE I FASE II p
NORMORREATIVO
16,1% (94) 10,3% (60)
REATIVIDADE MODERADA
50,3% (293) 53,7% (313)
HIPERREATIVO
33,6% (196) 36% (210)
p <0,00
(Teste do Chi-quadrado).
Para determinar se a probabilidade de desenvolvimento da HA foi similar
entre os normotensos na fase I em diferentes níveis de reatividade pressórica, foram
separados os indivíduos normotensos da fase I de acordo com suas respostas
pressóricas ao TPF e verificado o aparecimento de hipertensão na fase II.
Observamos que 10,6% dos que eram normorreativos ficaram hipertensos, assim
como 24,5% dos que apresentaram reatividade moderada e 25,8% dos
hiperreativos. Portanto, 23,2% dos normotensos ficaram hipertensos (tabela 12).
55
Resultados
Tabela 12 – Relação de indivíduos normotensos na fase I, com resposta pressórica
ao TPF na fase I e desenvolvimento de hipertensão na fase II.
Classificação da
pressão na fase I
Reatividade na
fase I
Hipertensão na
fase II (n)
Normorreativo
(n=47)
5 (10,6%)
Moderado
(n=204)
50 (24,5%)
Normotensos
(n=383)
Hiperreativo
(n=132)
34 (25,8%)
Para se comparar a probabilidade de indivíduos normotensos ficarem
hipertensos em função da classificação da reatividade pressórica, calculou-se a
razão de chances (Odds ratio) a partir da tabela 13.
Tabela 13 – Base para cálculo da razão de chances do indivíduo normotenso
hiperreativo desenvolver HA.
Fase I PA Fase II
Reatividade Hipertensos Normotensos
Total
Hiperreativos 34 98 132
Normorreativo 5 42 47
Normotensos
Total 39 140 179
56
Resultados
Considerando o risco dos normorreativos desenvolverem hipertensão em 5
anos como sendo igual a 1, verificou-se que o risco dos indivíduos normotensos
hiperreativos se tornarem hipertensos foi igual a 3,0 (IC
95%
= 1,07 – 19,3).
Para identificarmos o risco dos indivíduos normotensos com resposta reativa
moderada ao TPF, utilizamos o mesmo procedimento citado anteriormente. Com
base na tabela 14 o risco relativo foi calculado, encontrando-se o valor de 2,7 (IC
95%
= 1,03 – 7,39).
Tabela 14 - Base para cálculo da razão de chances do indivíduo normotenso com
reatividade moderada ao TPF desenvolver HA.
Fase I PA Fase II
Reatividade Hipertensos Normotensos
Total
Moderado 50 154 204
Normorreativo 5 42 47
Normotensos
Total 55 196 251
A tabela 15 apresenta as características dos normotensos normorreativos na fase I
com ou sem desenvolvimento de hipertensão em 5 anos.
Tabela 15 - Características dos normotensos normorreativos na fase I entre o
desenvolvimento ou não de hipertensão.
NORMORREATIVOS NA FASE I
Características
na Fase I
HIPERTENSOS
FASE II
NORMOTENSOS
FASE II
N
5 42
Idade (anos)
43 ± 15 41 ± 10
Sexo (masc./ fem.)
2 / 3 12/ 30
IMC (Kg/m²)
25,7 ± 5,1 24,6 ± 4
PAS (mmHg)
124 ± 13 114,7 ± 10,7 *
PAD (mmHg)
81,4 ± 6,8 77,2 ± 6,5*
* P< 0,05 no teste t para dados não pareados.
57
Resultados
A tabela 16 mostra as características dos normotensos com reatividade moderada
ao TPF na fase I entre o desenvolvimento ou não de hipertensão na fase II.
Tabela 16 - Características dos normotensos com reatividade moderada na fase I
entre o desenvolvimento ou não de hipertensão na fase II.
REATIVIDADE MODERADA NA FASE I
Características
na Fase I
HIPERTENSOS
FASE II
NORMOTENSOS
FASE II
N
50 154
Idade (anos)
44 ± 8 43 ± 10
Sexo (masc./ fem.)
20 / 30 55 / 99
IMC (Kg/m²)
26,7 ± 4,6 24,5 ± 3,6
PAS (mmHg)
121 ± 9,3 113,9 ± 11 *
PAD (mmHg)
81,5 ± 6,7 75,6 ± 7,5 *
* P< 0,05 no teste t para dados não pareados.
A tabela 17 apresenta às características dos normotensos hiperreativos ao TPF na
fase I entre o desenvolvimento ou não de hipertensão na fase II.
Tabela 17 - Características dos normotensos hiperreativos na fase I entre o
desenvolvimento ou não de hipertensão na fase II.
HIPERREATIVOS NA FASE I
Características
na Fase I
HIPERTENSOS
FASE II
NORMOTENSOS
FASE II
N
34 98
Idade (anos)
49 ± 11 43 ± 10
Sexo (masc./ fem.)
19 / 15 38 / 60
IMC (Kg/m²)
27 ± 4,6 24,3 ± 3,7
PAS (mmHg)
123,5 ± 8,2 111,3 ± 10 *
PAD (mmHg)
81,6 ± 6 73,2 ± 8,5 *
* P< 0,05 no teste t para dados não pareados.
58
Resultados
Na tabela 18 são comparadas as características antropométricas e
bioquímicas dos indivíduos na fase II, divididos em dois grupos de acordo com a
classificação da PA. Os resultados são apresentados com médias ± desvio padrão,
exceto para o N, sexo e tabagismo, quando foram dispostos em número de
indivíduos expostos e proporções. O número de pacientes normotensos (346
(50,7%)) na amostra é maior que o de hipertensos (336 (49,3%)), apesar de o
número deste último ser bastante expressivo, porém de todas as características
comparadas, apenas a proporção de tabagistas não se diferenciou significantemente
entre os dois grupos.
Tabela 18 - Comparação das características dos indivíduos normotensos e
hipertensos na fase II.
NORMOTENSOS HIPERTENSOS
N (682)
346 (50,7%) 336(49,3%) **
Sexo (masc/fem.)
131 (37,9%)/ 215
(62,1%)
166 (49,4%)/ 170
(50,6%) **
Idade (anos)
48 ± 10 54 ± 10 **
Peso (Kg)
65,8 ± 12,3 73,2 ± 13,8 **
IMC (Kg/m²)
25,1 ± 3,9 28 ± 4,8 **
RCQ
0,86 ± 0,4 0,90 ± 0,09*
Tabagismo
55 (15,9%) 49 (14,6%)
Glicemia (mg/dL)
90,8 ± 19 101,5 ± 32,5 **
Colesterol Total
(mg/dL)
198 ± 50,3 208,7 ± 40,7 **
Triglicerídeo (mg/dL)
139,2 ± 166,7 186,4 ± 134,9 **
HDL (mg/dL)
47,5 ± 11 45,3 ± 12,1*
LDL (mg/dL)
122,5 ± 32,8 127,8 ± 35,5 *
VLDL (mg/dL)
26,2 ± 13,2 33,3 ± 14,8 **
Ac. Úrico (mg/dL)
4,9 ± 1,25 5,4 ± 1,28 **
* P<0,05 e ** P<0,01 no teste t para dados não pareados.
59
Para analisar o percentual de pessoas que desenvolveram hipertensão na
fase II em relação aos seus resultados de reatividade da fase I, buscamos os
indivíduos que já apresentavam a PA em seu estágio limítrofe no início do estudo
(tabela 19). Podemos observar que dos 89 participantes que apresentaram PA
normal alta, 46 (51,7%) ficaram hipertensos e a chance de desenvolver esta doença
aumenta de acordo com o aumento da resposta pressórica ao TPF. A associação
dos fatores PA limítrofe e hiperreatividade, indica uma razão de chances de 6,8 (IC
95%
= 1,4 – 32,5), e o indivíduo limítrofe com a reatividade moderada apresenta 2,9
(IC
95%
= 0,70 – 11,8).
Tabela 19 - Relação de indivíduos limítrofes na fase I, com resposta pressórica ao
TPF na fase I e desenvolvimento de hipertensão na fase II.
Classificação da
pressão na fase I
Reatividade na
fase I
Hipertensão na
fase II (n)
Normorreativo
(n=12)
3 (25%)
Moderado
(n=51)
25 (49%)
Normal alta
(n=89)
Hiperreativo
(n=26)
18 (69,2%)
V. DISCUSSÃO
61
Discussão
Este estudo analisou o comportamento da pressão arterial a longo prazo em
relação à reatividade pressórica ao teste do frio, testando a hipótese de que o
desenvolvimento de hipertensão arterial seria maior em indivíduos que apresentam
valores aumentados de reatividade pressórica neste teste de estresse, utilizando-se
os dados coletados na fase I do Projeto MONICA, ocorrido no ano de 2000, e na
fase II, em 2005.
Os achados mais importante do nosso trabalho são a razoável estabilidade da
reatividade pressórica ao TPF em 5 anos e a evidência de que indivíduos
hiperreativos apresentam probabilidade maior de desenvolver hipertensão arterial,
notadamente quando se enquadram na classificação de pressão arterial normal alta,
segundo as diretrizes do VI Joint (1997).
5.1. CARACTERÍSTICAS AMOSTRAIS E ASSOCIAÇÃO À HA.
Na análise da evolução dos indivíduos nos cinco anos, foi observado um
pequeno acréscimo no peso e também uma diminuição em 0,50 cm na estatura,
sendo esta uma alteração normal em indivíduos em processo de envelhecimento, ao
contrário do que se espera com a medida de massa corporal. Estes fatores
contribuíram para a manutenção do valor médio do índice de massa corporal (IMC)
acima de 25 Kg/m², classificando estes indivíduos em um padrão de sobrepeso
(WHO, 1995), associando-se a um risco aumentado de mortalidade geral em
adultos, além ser um fator de risco independente para o desenvolvimento da
hipertensão arterial essencial, demonstrada desde o estudo Framingham (Hubert et
al, 1983).
Issa & Francisco (1996) alegam que depósitos de gordura localizados no
organismo potencializam riscos à saúde, parecendo ser a distribuição da gordura
mais importante que o aumento de peso. A predominância de depósito gorduroso na
região intra-abdominal (visceral), habitualmente encontrado no sexo masculino
(distribuição androgênica), está associada à síndrome de resistência à insulina que,
62
Discussão
por sua vez, induz alterações metabólicas (dislipidemia, diabetes melito) que
favorecem o aparecimento de hipertensão arterial.
A relação cintura/ quadril (RCQ) é um indicador para avaliar adiposidade
abdominal. Essa medida é muito utilizada pela facilidade de obtenção, baixo custo, e
sua associação com doenças cardiovasculares. Porém, deve-se ressaltar que as
circunferências incluem também outros tecidos, além da massa gorda. No nosso
estudo, apesar de não ter apresentado diferença significante em relação à fase I,
esta medida permanece desfavorável, mantendo assim o risco aumentado para
doenças cardiovasculares. As células de gordura abdominal são caracterizadas pela
sua alta taxa de lipólise, fazendo com que os ácidos graxos livre dos adipócitos intra-
abdominais sejam drenados para a circulação portal, expondo o fígado a
concentrações elevadas de lipídios com conseqüente aumento na secreção de
VLDL-c e estimulação da gliconeogênese hepática, podendo ocasionar
hiperinsulinemia, e posteriormente, diabetes e hipertensão arterial (Pitanga, 2004).
Em relação aos parâmetros bioquímicos associados a aumento de risco
cardiovascular, observamos que a glicemia e os níveis séricos de colesterol total e o
LDL-c diminuíram e o HDL-c aumentou, melhorando o quadro de estimativa deste
pacientes, pois sabe-se que o aumento do colesterol plasmático, notadamente do
colesterol de baixa e muito baixa densidade (LDL-c e VLDL-c), respectivamente, são
fatores que aceleram significativamente a progressão da lesão endotelial e da
aterosclerose (Wong e cols., 1991). Ao contrário, a fração HDL-c apresenta um
efetivo papel protetor contra o desenvolvimento da aterosclerose, executando o
transporte reverso do LDL-c na parede vascular (Abbott e cols., 1988; ACSM, 2003).
Os níveis de triglícerídeos aumentaram, porém avaliar o elo entre estes e
doença arterial coronariana (DAC) é complexo. Os TG séricos elevados se
correlacionam positivamente com DAC na análise de única variável, mas na análise
de múltiplas variáveis destinadas a controlar outros fatores de risco (tais como PA,
inatividade física e obesidade), o efeito dos triglicerídeos é reduzido. Seus níveis
elevados estiveram associados também positivamente com níveis mais baixos de
HDL-c, assim como com um pequeno tamanho da partícula de LDL densa, estando
estas duas condições associadas a uma maior risco de aterosclerose. Os
triglicerídeos séricos elevados podem indicar a necessidade de avaliar a presença
63
Discussão
de abuso de álcool, diabetes, uso de esteróides, padrões dietéticos e obesidade
(ACSM, 2003).
Associada à hipertensão, a presença de disfunção renal foi investigada
através da coleta de creatinina sérica, um marcador utilizado na prática clínica com
valores estabelecidos de até 1,5 mg/dL para homens e 1,4 mg/dL para mulheres
(Passos et al, 2003). Na população estudada, seus valores não se modificaram
significativamente entre as fases, permanecendo abaixo dos níveis conhecidos para
a disfunção renal. Já os níveis plasmáticos de ácido úrico aumentaram, porém ainda
apresentam-se abaixo dos níveis indicados para alto risco relativo de
desenvolvimento de hipertensão.
Em relação à freqüência de fatores de risco cardiovascular, o hábito de
tabagismo diminuiu, o que nos leva a entender que a população está mais
preocupada com sua saúde e modificando seus hábitos de vida, uma vez que o
conhecimento sobre os malefícios do cigarro não foi identificado recentemente. O
tabaco contém dentre diversos produtos tóxicos para nosso organismo, a nicotina, o
monóxido de carbono e o alcatrão, sendo os dois primeiros os que têm maior
influência para o sistema cardiovascular em virtude dos riscos de doenças
isquêmicas e da hipertensão arterial decorrentes da absorção destes produtos. A
nicotina atua nos receptores pré-sinápticos, aumentando a liberação de vários
neurotransmissores (noradrenalina, dopamina, serotonina), produzindo uma
excitação comportamental e um aumento da atividade simpática, com reflexos para
o sistema cardiovascular (Magalhães, 1998).
Foi observado neste estudo que as proporções de diabéticos e de indivíduos
com sobrepeso, obesidade e HDL abaixo de 40 mg/dL permaneceram estáveis. O
número de indivíduos com valores de colesterol superiores a 200 mg/dL diminuiu e o
indivíduos com triglicerídios com valores superiores a 150 mg/dL aumentou. Estes
parâmetros são conhecidos com fatores hipertensiogênicos contribuindo, portanto
para o desenvolvimento da HA e outras doenças cardiovasculares.
A diabetes mellitus, síndrome de etiologia múltipla decorrente da falta da
insulina e/ou da incapacidade da insulina de exercer seus efeitos de modo
adequado, por si só já é um fator de risco para a doença cardiovascular, tanto para
homens como em mulheres (Edelman & Henry, 2003). Suas complicações são a
64
Discussão
maior causa de insuficiência renal, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral,
dentre outras, aumentando a freqüência dessas enfermidades em 2 a 7 vezes
(Negrão & Barreto, 2005). Dois em cada três indivíduos com diabetes morrem por
doença cardiovascular. Estudos populacionais de estimativa de risco sugerem que a
maioria dos casos de hipertensão pode ser atribuída diretamente à obesidade, além
de bem documentado o aumento da pressão arterial com o aumento do peso, bem
como a diminuição da PA com a redução da massa gorda (Krauss & Winston, 1998;
ACSM, 2003). Sabe-se que o aumento do IMC associado com a freqüência de HA,
diabetes tipo II, dislipidemia, tabagismo e sedentarismo tornam a questão ainda mais
séria (Beilin, 1999). Segundo Lotufo (2000), o aumento da obesidade no Brasil pode
ser preditivo de um pico futuro de mortalidade cardiovascular.
Apesar do nosso grande viés de retorno, onde acreditamos que os pacientes
que retornaram para a segunda fase de avaliação terem sido aqueles que melhor se
adequaram as orientações realizadas na fase I, como por exemplo, o uso de
medicamento antihipertensivo, a cessação do hábito de fumar, a redução no
consumo de sal para os hipertensos e a prática regular de atividade física; este não
influenciou a análise das modificações dos parâmetros bioquímicos associados ao
risco cardiovascular e da incidência dos fatores de risco, pois as comparações foram
realizadas de forma pareada.
5.2. COMPORTAMENTO DA PA A LONGO PRAZO
Observamos que as médias da pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica
(PAD) dos indivíduos aumentaram, passando para a classificação de pressão
normal alta, assim como o número de pacientes sob uso de medicação
antihipertensiva também se elevou. Porém, a PAS se elevou consideravelmente,
enquanto a PAD apresentou um pequeno incremento, o que ocorre normalmente em
função da idade acompanhada pelo aumento da rigidez das grandes artérias (Liao et
al., 1999).
Ocorre uma forte correlação entre as pressões arteriais sistólicas e diastólicas
medidas entre as fases I e II do estudo, ou seja, os indivíduos que apresentavam
65
Discussão
maiores níveis de pressão, tanto sistólica quanto diastólica, na fase I continuaram
apresentando os maiores níveis na fase II.
Detectou-se um aumento de 10,8% na proporção de indivíduos hipertensos,
aumento corresponde a uma incidência de 21,6 casos novos de hipertensão por ano
em cada grupo de 1000 indivíduos normotensos.
O estudo realizado por Wood et al. (1984) em moradores normotensos de
Minessota – EUA observou uma incidência de 36,6% de hipertensão após o follow-
up de 45 anos. O Adult Health Study, que acompanhou a evolução de doenças
cardiovasculares por 28 anos (1960-1988) na população de Hiroshima e Nagasaki –
Japão detectou o desenvolvimento de hipertensão em 41,6% dos indivíduos, com
uma freqüência de incidência média de 24,6 por 10³ pessoas/ano (Kasagi, et al.,
1995), um número semelhante ao encontrado em nosso estudo. Vale ressaltar que a
média de idade dos participantes era de 35,8 ± 10,8 anos, portanto 16 anos mais
jovens que os participantes do nosso estudo, e que o tempo de intervalo entre as
avaliações foi consideravelmente maior, apesar de ter sido considerado como
hipertenso o indivíduo com PAS maior ou igual a 160 mmHg e/ou PAD maior ou
igual a 95 mmHg, ou utilização de medicação antihipertensiva. O acompanhamento
de 13 anos de norte-americanos normotensos participantes do estudo CARDIA
apontou que 8,4% dos indivíduos, com idade média de 27 anos ficaram hipertensos
(Matthews, 2004).
5.3. RESPOSTAS AO TESTE PRESSÓRICO AO FRIO
Os testes de estresse experimentais, resguardadas suas especificidades e
aplicações diferenciadas, foram propostos inicialmente com o objetivo principal de
diagnosticar precocemente a doença hipertensiva. Seus autores acreditavam que
um período de hiperatividade cardiovascular antecedia o desenvolvimento da HA
estabelecida. Desta forma, a estimulação nervosa através de estímulos estressores
seria capaz de ampliar a hiperreatividade latente e revelar antecipadamente a
tendência ao desenvolvimento da HA (Freire, 2002). Portanto, a utilização clínica
destes testes fundamenta-se na hipótese de que os indivíduos que apresentam
66
Discussão
resposta cardiovascular exagerada ao estresse, também apresentam resposta
hemodinâmica elevada diante dos estímulos estressantes do dia-a-dia, e a
exposição continuada a tais estímulos pode contribuir significativamente no
desencadeamento das doenças cardiovasculares (Pickering & Gerin, 1988).
Em 1960, Edwards já afirmava que o grau de aumento da pressão arterial no
TPF seria um método para o reconhecimento precoce daqueles que teriam maior
probabilidade de desenvolver hipertensão.
A evidência de que o aumento exagerado da PA ao estímulo de imersão de
uma mão na água com gelo prediz o futuro “status” da PA, independente da PA de
repouso medida no início do estudo, é proposta por autores (Edwards, 1960;
Braunwald, 1987; Kasagi et a., 1995; Herkenhoff, 1996; Flaa et al.,2006) que
apontam que o hipertenso apresenta reatividade pressórica aumentada à estímulos
estressores, promovidas por respostas vasoconstritoras reflexas e ocasionadas por
uma maior elevação da resistência vascular periférica nestes indivíduos. Porém,
estudo realizado por Freire (2002) com os mesmos pacientes do presente trabalho,
revelou respostas pressóricas semelhantes em indivíduos normotensos e
hipertensos, sendo o diferencial entre os grupos, a recuperação dos valores basais
de pressão arterial, em que os hipertensos necessitavam de um tempo maior para
se recuperarem.
Os valores médios de reatividade da PAS, PAD e FC ao teste pressórico do
frio (TPF) permaneceram constantes na fase II do nosso estudo, não acompanhando
o avanço da idade dos pacientes. Este resultado também foi encontrado por Carroll
et al. (2001) no Whitehall Study, em “follow-up” de 10 anos de 796 homens de meia-
idade, servidores públicos de Londres – Inglaterra. Este fato pode ter sido
ocasionado talvez pelos indivíduos já conhecerem o teste, pois aqueles indivíduos
que acharam num primeiro momento o teste “desconfortável” poderiam estar
estressados por terem que sentir todo o “desconforto” novamente, além do stress
psicológico causado pelos comentários dos pacientes que saíam da sala do teste na
sala de espera (Freire, 2002) ou pela síndrome do jaleco branco, podendo, portanto,
estes dois intervenientes terem alterado os valores basais para cima, contribuindo
para menores aumentos de pressão.
67
Discussão
Contudo, nas análises de correlação entre as reatividades de PAS nas fases
I e II observou-se uma correlação regular, enquanto para as reatividades de PAD foi
apenas marginal, demonstrando a maior associação da PAS com a hipertensão do
que a PAD, fator que motivou autores como Menkes et al., (1989) a abandonarem os
parâmetros de PAS e reatividade diastólica para calcular o risco de desenvovimento
de HA. As correlações das variações da PA, tanto sistólica (PAS) quanto diastólica
(PAD) entre as fases I e II do estudo e suas respectivas reatividades ao TPF
verificadas na fase I também obtiveram correlação muito fraca, resultado que pode
estar mascarado pelo controle da PA através de medicamentos antihipertensivos
utilizados por alguns pacientes. Porém, encontrou-se uma ótima correlação entre as
variações das reatividades pressóricas sistólica e diastólica entre fases I e II do
estudo. Esse dado indica boa reprodutibilidade do teste e, aparentemente, uma não
dependência da reatividade à pressão arterial passada.
Baseados no conhecimento de que o SNC ao receber um estímulo estressor
produz elevação de cerca de 15 a 25 mmHg na PAS e 10 a 20 mmHg na PAD
(Hines & Brown, 1936; Harlan et al., 1964), Edwards (1960) classificou os indivíduos
que realizavam o TPF em normorreativos e hiperreativos, sendo estes últimos os
que apresentavam uma ascensão de mais de 20/15 de mmHg na PAS e/ou PAD,
respectivamente. Wood et al. (1984) elevando o ponto de corte para 25/20 mmHg.
Menkes et al. (1989) utilizou somente a variação de 20 mmHg da PAS para a
classificação de hiperreatividade, pois não observou associação entre a resposta ao
TPF e HA para PAD e Kasagi et al. (1995) adotou a elevação de 15 mmHg, tanto
para PAS quanto para PAD, alegando não existir diferenças na distribuição das duas
respostas. O nosso estudo classificou como hiperreativo o indivíduo que obtivesse
no TPF um delta de PAS 40 mmHg e/ou de PAD 25 mmHg, baseado na
estratificação em quartis na primeira fase do estudo, e ainda analisou a classificação
intermediária, a de indivíduos com reatividade moderada, quando o delta de PAS
estava entre 16 e 29 mmHg e/ou PAD entre 7 e 25 mmHg. Foram observadas
pequenas modificações nas proporções de indivíduos em relação as suas respostas
ao teste, sendo a de indivíduos com resposta reativa moderada e hiperratividade as
que aumentaram. Acredita-se que se tivessem sido utilizadas como referências os
68
Discussão
critérios de classificação dos demais autores, o número de indivíduos hiperreativos
seria consideravelmente maior em nosso estudo.
Ao calcular a razão de chances do indivíduo normotenso hiperreativo ao TPF
se tornar hipertenso, identificou-se um valor de 3,0 (IC
95%
= 1,07 – 19,3), ou seja,
este apresenta quase três vezes mais chances de desenvolver hipertensão que o
grupo de normotensos normorreativos. Considerando que o risco relativo do
indivíduo normotenso com resposta pressórica reativa moderada ao TPF seja 2,7
(IC
95%
= 1,03 – 7,39), este tem chances semelhantes que a dos hiperreativos para o
mesmo fato. Portanto, tanto faz se a resposta ao teste pressórico ao frio é de
reatividade moderada ou hiperreativa, a chance de desenvolvimento de hipertensão
arterial é a mesma, sendo bem mais elevada do que em indivíduos com reatividade
baixa.
O Adult Health Study detectou a chance de 1,37 (IC
95%
= 1,10 – 1,71) para
hiperreativos sistólicos, e quando ajustado para a idade, encontrou-se 1,62 para
indivíduos com idade maior ou igual a 40 anos, sendo que não foi encontrada
significância para menores desta faixa etária, indicando, portanto, que se o TPF for
realizado em sujeitos de meia idade, terá mais eficiência como preditor de
hipertensão em alguns anos (Kasagi et a.,1995). Para o mesmo grupo, o Whitehall
Study, encontrou uma razão de chances igual a 1,04 (IC
95%
= 1,02 – 1,06) (Carroll et
al., 2001) e em ambos os estudos, os indivíduos hiperreativos distólicos não
apresentaram significância no cálculo da razão de chances. Porém, as respostas
que mais se aproximaram das encontradas neste estudo, são as do trabalho
desenvolvido por Everson et al (1995) em 508 homens adultos acompanhados por 4
anos, onde identificou-se um risco aumentado de 30% (OR=3,8) para hiperreativos
sistólicos e 365% (OR=3,65) para hiperreativos diastólicos. Nosso estudo não
categorizou a hiperreatividade. O Framingham Heart Study detectou de 2 a 4 mais
chances de desenvolvimento de hipertensão.
Detectamos também que indivíduos que já apresentam a pressão arterial
limítrofe e são hiperreativos ao TPF obtêm uma chance consideravelmente maior de
desenvolver HA do que os normotensos (6,8; IC
95%
= 1,4 – 32,5), porém os limítrofes
com reatividade moderada ao TPF mantém as chances desencadeada por este grau
de reatividade.
69
Discussão
Apesar de alguns autores (Matthews, 2004; Flaa, 2006) defenderam testes de
stress psicológicos, tipo vídeo game, aritméticos, stroop color, pelo fato de o TPF ser
um teste de dor térmica e não elicitar a resposta miocárdica mediada -
adrenergicamente, identificado como importante para a hipertensão neurogênica,
nosso estudo demonstrou que o TPF detectou que 25% dos indivíduos de
reatividade moderada à alta ao teste ficaram hipertensos.
Em relação aos 50 (7,3%) participantes hipertensos que retornaram à
classificação de normotensão, acredita-se que estes tenham recebido falsos
diagnósticos na primeira fase do Projeto.
Observou-se que as médias de PAS e PAD, a idade e o IMC eram sempre
maiores no grupo de indivíduos que ficaram hipertensos, apesar de ainda não se
encontrarem na classificação de normal alta, porém os valores da PA não eram
diferentes entre os grupos em relação reatividade, ou seja, os valores de PAS e PAD
eram semelhantes entre normorreativos, indivíduos de reatividade moderada e
hiperreativos ao TPF.
As características antropométricas e bioquímicas dos indivíduos normotensos
e hipertensos na fase II, só não se diferenciaram na proporção de tabagistas.
Ao detectarmos que o indivíduo com reatividade moderada ou hiperreativo ao
teste pressórico ao frio apresenta chances aumentadas de desenvolver HA em
relação ao indivíduo normorreativo, indiferente ao valor da PA de repouso,
questiona-se sobre qual seria o procedimento a ser adotado para prevenir e/ou
melhorar/atenuar a resposta reativa aos testes de stress mental, reduzindo então
suas chances de desenvolvimento da HA.
De acordo com Herkenhoff (1996), o treinamento aeróbico de indivíduos
hiperreativos por 4 meses atenuou as respostas pressóricas no teste ergométrico e
a variabilidade ambulatorial da PA. Seus efeitos sobre a PA foram prolongados e
ultrapassaram o que seria esperado apenas pelos seus efeitos orgânicos, sugerindo
que o treinamento físico aeróbico apresenta efeitos sobre o comportamento
emocional e hábitos dos indivíduos. Porém, este treinamento não foi eficaz para
reduzir a reatividade pressórica ao esforço isométrico, sendo este teste o que mais
se assemelha ao TPF em suas respostas.
70
Discussão
Nosso estudo se difere dos citados previamente em importantes fatores.
Primeiro, a amostra era de base populacional, portanto heterogênea, contendo
indivíduos saudáveis, portadores de patologias, pertencentes a todas as classes
socioeconômicas e etnias diferentes; segundo, a observação, com apenas cinco
anos de acompanhamento, de incidência de hipertensão semelhantes ou maior do
que os estudos de grandes follow-ups.
Outros questionamentos permanecem, como se com um programa de
atividade física aeróbica a longo prazo diminui a reatividade pressórica aos testes
de estresse, já que os trabalhos encontrados aplicaram um treinamento a curto
prazo, e se esta redução também aconteceria após outro tipo de treinamento físico,
como os exercícios resistidos.
VI. CONCLUSÃO
72
Conclusão
O TPF apresenta uma estabilidade razoável em 5 anos e pela sua facilidade de
emprego e boa reprodutibilidade, como demonstrado neste estudo, constitui uma
alternativa adicional para prever desenvolvimento de HA. Portanto, indivíduos que
apresentam reatividade moderada e hiperreatividade a este teste devem prevenir-se,
modificando hábitos de vida como tabagismo, sedentarismo, estresse, alimentação,
entre outros.
Os dados indicam que os indivíduos que obtém respostas reativas moderadas e
hiperreativas ao teste pressórico ao frio (TPF) apresentam maior probabilidade de
desenvolvimento de hipertensão arterial no futuro.
As faixas de pressão arterial de repouso são maiores nos que desenvolvem HA a
longo prazo quando comparados aos que permanecem normotensos, porém são
semelhantes entre os grupos de diferentes reatividades.
Os indivíduos que apresentam pressão arterial normal alta (limítrofe) e são
hiperreativos ao TPF obtém uma razão de chances maior ainda de desenvolver a
HA, mas esse resultado não acontece para o indivíduo limítrofe com a reatividade
moderada, que mantém a chance de acordo com o grau da reatividade.
Com a manutenção ao longo dos 5 anos das proporções de indivíduos diabéticos e
obesos, diminuição dos níveis plasmáticos médios de colesterol total e LDL e menor
número de indivíduos com colesterol < 200mg/dL, contrapondo o aumento da média
da circunferência abdominal e das proporções de indivíduos com os níveis de
triglicerídeos > 150 mg/dL e de hipertensos, podemos supor um desenvolvimento de
síndrome metabólica nestes indivíduos, ou seja, um transtorno complexo causado
por um conjunto de fatores de risco cardiovascular usualmente relacionados à
deposição central de gordura e resistência à insulina, muito associado com a doença
cardiovascular (SBH, 2004). Este dado poderia ter sido esclarecido se a resistência
à insulina dos pacientes tivesse sido medida.
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
74
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