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Dona Júlia também sente falta de fotos que registrassem como era a
fábrica.
“Ah mudou, mudou porque existia na minha época dois salões que eles
chamavam, salões de baixo e salões de cima, eu trabalhei nos dois né,
então o meio era vago que entrava caminhão, sabe, você sabe Carla, eu
procurei tanto foto dessa época, mas naquela época a turma não tirava foto,
procurei tanto uma foto do jeito que eu vejo, aqueles caminhões entrar e ir
la pra baixo pra descarregar o material, não achei, fui no arquivo da
prefeitura, a única coisa que eu achei no arquivo são umas três folhas só,
só isso, escrito lá quando que os italianos comprar o prédio e fizeram”
A saudade dos tempos da Matarazzo levou Dona Julia, junto com
outras duas amigas, a organizar o primeiro encontro das ex-funcionárias da
Matarazzo, em janeiro de 2004.
“Sabe surgiu entre eu e mais uma num supermercado. Conversando assim
eu falei, ai gente, eu tenho uma vontade de encontrar as meninas lá, que
trabalhamos junto, tudo, e ela falou, então vamos fazer um chazinho, eu
vou fazer um chazinho na minha casa, eu vou convidar você, convida
mesmo que eu vou sim. E olha Carla isso foi dia 5, dia 6 de janeiro, quando
surgiu essa idéia eu comecei a falar pra uma, falar pra outra, aquela que eu
conversei no supermercado falou com outras e eu comecei a ligar, quando
eu vi tinha mais de trinta, umas trinta e cinco, eu falei nossa, na minha casa,
será que vai caber né? Mas Carla, olha, isso foi dia 6 até 10 janeiro, quando
foi dia 29 de janeiro nós fizemos esse encontro, que foi de 2004, que foi o
primeiro, e você sabe que nós conseguimos mais de 100 meninas, 104
parece que foi. Daí uma ofereceu o salão, lá, também trabalhou no
Matarazzo a dona do salão, e ela ligou pra mim, Julia tô sabendo que você
vai fazer um chá, tem que alugar cadeiras, aqui eu tenho um salão e eu
nem sabia que ela tinha salão, que ela era a dona do salão”.
A emoção do reencontro com as amigas está viva nas lembranças.
“Como foi gostoso, foi muito bom aquele reencontro das meninas, que eu
chamo todas de meninas, todas meninas. Foi lindo, todas gostaram, tem
meninas aí que falam pra mim que moram na mesma cidade, no mesmo
bairro, na Vila Alemã, e não encontravam a outra há trinta anos.E nesse
encontro elas se encontraram. Foi um, eu não sei se você lembra, mas foi
um abraço daqueles”
A realização do encontro das ex-funcionárias pode ser analisado
como uma tentativa de impedir que o passado seja apagado. De acordo com
Jodelet (2002:p31), quando se pensa em desenvolvimento, a temporalidade
é mais “a de um presente voltado para o futuro e, nesse movimento, o futuro