Download PDF
ads:
FABIANA DE FATIMA AUGUSTO
A produção e a compreensão de um texto dissertativo-
argumentativo:
A estrutura Problema-Solução nas redações do SARESP
Mestrado em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
FABIANA DE FATIMA AUGUSTO
A produção e a compreensão de um texto dissertativo-
argumentativo:
A estrutura Problema-Solução nas redações do SARESP
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, em cumprimento à exigência parcial
para obtenção do título de MESTRE EM
LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA
LINGUAGEM, sob a orientação da Professora
Doutora SUMIKO NISHITANI IKEDA.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
2006
ads:
Banca Examinadora
____________________________________
____________________________________
____________________________________
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta
Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
Assinatura: ________________________________ Local e Data: ___________
Se as coisas são inatingíveis... Ora, não é
motivo para não querê-las... que tristes os
caminhos que não fora a presença distante das
estrelas...”.
Mário Quintana
Renda-se como eu me rendi. Mergulhe no que
você não conhece, como eu mergulhei. Pergunte,
sem querer, a resposta, como estou
perguntando. Não se preocupe em ‘entender’.
Viver ultrapassa todo o entendimento.
Clarice Lispector
Dedico este trabalho aos meus pais que
me ensinaram a perseguir meu ideal com
dedicação e coragem. Minhas referências!
AGRADECIMENTOS
Escrever uma dissertação de Mestrado é uma experiência enriquecedora e de
plena superação. Nos modificamos a cada tentativa de buscar respostas às
nossas aflições de ‘pesquisador’. Para aqueles que compartilham conosco desse
momento, parece uma tarefa interminável e enigmática que só se torna realizável
graças a muitas pessoas que participam, direta ou indiretamente, mesmo sem
saber realmente o que e para que nos envolvemos em pesquisa. E é a essas
pessoas que gostaria de agradecer:
Preliminarmente, quero agradecer a Deus pelo dom da vida.
À Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo pela concessão da
Bolsa FUNDESP, sem a qual a realização deste sonho seria impossível.
Aos meus pais Augusto & Val pelos momentos de plenitude e apoio familiar
incondicionais. A vocês, minha eterna gratidão.
Aos meus irmãos Fabio e Adriana Augusto pelo incentivo e pela presença sempre
constante em minha vida. Com vocês exercito a fraternidade.
À alma gêmea de minha’alma Rodrigo Murad pelo apoio e paciência nos
momentos de inquietação e cansaço. Com você exercito o amor...Luz eterna dos
meus amores!
Aos meus tios: Fátima, Edvaldo & Nilzete pelas palavras de incentivo.
À Maria Luiza Alves, minha ‘sempre’ coordenadora pedagógica-amiga. A você,
minhas reais manifestações de admiração, respeito e carinho. Um misto de
austeridade e competência.
Aos Professores Doutores: Orlando Vian Jr. e Ângela Lessa por terem mostrado-
me o ‘gênero aula’ dinâmico e muito proveitoso. A vocês, todo a admiração de
uma fã!
Aos Professores Doutores: Cida Caltabiano e Orlando Vian Jr., pela participação
em minha Banca de Qualificação.
A todos os demais professores do LAEL pela competência e disposição em
compartilhar experiências.
À Maria Lúcia, secretária do LAEL, pelo auxílio e pela presteza.
E, por fim, a todos aqueles que por um lapso não mencionei, mas que
colaboraram para esta pesquisa: abraços fraternos a todos!
Agradecimento especial
À minha Orientadora, Professora Doutora
Sumiko Nishitani Ikeda. Com ela aprendi
muito mais do que teorias lingüísticas;
aprendi a cultivar a generosidade e a
humildade. Sabe ser múltipla em tudo que
faz:amiga-mãe-orientadora.
Muito Obrigada!
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo examinar textos dissertativo-argumentativos
solicitados no Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São
Paulo (SARESP) para verificar de que maneira esse texto é bem sucedido ou não
na sinalização para o leitor dos estágios da estrutura Problema-Solução, de Hoey
(1994). De acordo com Cereja & Magalhães (2003), embora na maior parte dos
exames vestibulares do país se solicite aos candidatos à produção de textos
dissertativos, na verdade, pela natureza polêmica dos temas, quase sempre o que
se espera do candidato é que ele produza um texto argumentativo ou dissertativo-
argumentativo. Segundo Conceição (2000), a produção escrita constitui-se numa
das grandes preocupações dos professores de português. São inúmeros os
diagnósticos detectando os mais variados problemas. Há várias questões
envolvidas nessa situação, uma das quais pode ser o desconhecimento por parte
do aluno do gênero a que pertence a redação que lhe é solicitada. Nesse aspecto,
são extremamente elucidativas as palavras de Bakhtin (1997), quando define
gênero do discurso. Ele afirma que, por mais variadas que sejam, todas as esferas
da atividade humana estão sempre relacionadas com a utilização da língua. Daí
podermos entender a importância dada ao conceito de gênero nas palavras de
Vigner (1988), que diz que reconhecer um gênero é poder regular sua leitura
sobre um sistema de expectativa, inscrevê-la numa trajetória previsível, sendo que
este reconhecimento opera a partir da apreensão de um certo número de sinais.
Sabe-se que produção e compreensão de um texto caminham juntas: são ambas
facetas de uma mesma moeda (Ikeda 1986). Assim, a produção de um texto
fluente e inteligível deve ser um texto ‘amigo-do-leitor’, facilitando-lhe a
compreensão. A metodologia de análise dos textos terá apoio na definição de
gênero, pela Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF), que trata da estrutura
esquemática do texto, noção que ajuda a entender a constituição de um gênero
em estágios (Martin,1992). Na medida em que a LSF não trata especificamente do
gênero dissertativo-argumentativo, fomos buscar subsídios especialmente em
Hoey (1994), cuja proposta de estrutura Problema-Solução parece-nos adequada
e muito esclarecedora para examinar essa questão específica. Complementando
essa proposta, apoiamo-nos também em Vigner (1988).
ABSTRACT
This research aims at looking into dissertative-argumentative texts that are
required by the School Performance Evaluation System of São Paulo State
(SARESP) in order to check in which way this text is useful or not in signaling to
the reader of the training phases of the Problem-Solution structure, by Hoey
(1994). In accordance with Cereja & Magalhães (2003), although most applicants
to the University entrance examinations are asked to produce dissertative texts, in
reality due to the controversial nature of the proposed themes, very often what is
expected from the applicant is that they produce either an argumentative or a
dissertative-argumentative text. According to Conceição (2000), the written
production turns out into one of greatest concerns of Portuguese Teachers. There
are countless diagnoses that detect the most varied kinds of problems. There are
several questions involved in such a situation, one of which could be the complete
unfamiliarity of the student with the genre that the texts they have been asked to
write belongs to. In this aspect the words by Bakhtin (1997) are very clearing when
he defines the genre of discourse. He states that no matter how varied all the fields
of human activity might be they will always be related to the use of language.
Therefore we can undestand the importance that is given to concept of genre in
Vigner’s words (1988), when stating that recognizing a genre is being able to
regulating its reading over a system of expectation, inscribing in a previsible
trajectory considering that this recognition operates as from the aprehension of a
certain number of signs. It is known that the production and understanding of a text
walk side by side: they are both faces of the same coin (Ikeda 1986). Therefore,
the production of a fluent and intelligible text should be a “reader-friendly” text, that
makes the reader’s understanding easier. The methodology of analysing the texts
will be supported by the definition of genre, by the Systemic-Functional Language
(LSF), that deals with the schematic structure of the text; this being the notion that
helps understanding the constitution of a genre in its stages (Martin, 1992). As the
LSF does not deal specifically with the dissertative-argumentative genres, we
searched for subsidies especially in Hoey (1994), whose proposal of a Problem-
Solution structure seems more appropriate to us besides being very clearing for
examining this specific question. As a supplement to this proposal, we supported
ourselves also on Vigner (1988).
SUMÁRIO
Introdução........................................................................................................... 01
1. Capítulo 1- Fundamentação Teórica
1.1.Dissertação e Argumentação................................................................... 05
1.2.Gênero......................................................................................................11
1.3.A proposta Problema-Solução..................................................................18
1.3.1. Problema-Solução: linguagem da vida.............................................20
1.3.2. Vocabulário 3....................................................................................20
1.3.3. A sinalização lexical e o discurso da ‘função sentinela’....................21
1.3.4 A natureza avaliativa do signo lexical................................................22
1.3.5. A sinalização da estrutura Problema-Solução nos discursos reais..22
1.3.6. Situação e Avaliação........................................................................23
1.3.7. A sinalização da Situação................................................................24
1.3.8. A sinalização do Problema...............................................................25
1.3.9. A sinalização da Solução ou Resposta............................................26
1.3.10 .A sinalização da Avaliação.............................................................27
1.4.Coesão e Coerência.................................................................................30
2. Capítulo 2 - Metodologia de Pesquisa
2.1 A escolha da Metodologia....................................................................39
2.2 A coleta de dados................................................................................39
2.3 Procedimentos.....................................................................................41
3. Capítulo 3 -Análise dos dados e discussão dos resultados.........................43
4. Considerações Finais...................................................................................84
Referências Bibliográficas................................................................................86
Anexos
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa nasceu de minha experiência como professora de português do
Ensino Médio da Rede Pública do Estado de São Paulo desde 1993, que me fez
ver, no cotidiano do contato com meus alunos, a dificuldade que uma redação
em especial a de um texto dissertativo-argumentativo representa para o futuro
candidato aos vestibulares universitários. Há muito desejava pesquisar o assunto
e assim, de alguma forma, contribuir para facilitar-lhe esse ensino e diminuir-lhe a
apreensão que cerca essa etapa do exame. Daí a razão da escolha deste tema
para minha dissertação de mestrado.
O principal objetivo do ensino de Língua Portuguesa, em qualquer nível de ensino,
é, segundo Köche (2002), o de proporcionar condições para o desenvolvimento da
linguagem do aluno, da sua discursividade, da sua capacidade de expressão na
linguagem oral e escrita. Através do ensino da Língua Portuguesa, “o aluno deve
ser levado a escrever para equacionar problemas, buscar esclarecimentos,
organizar idéias, dar palpites, reordenar conjuntos de idéias numa linguagem
própria, pessoal, capaz de expressar com clareza e precisão o seu depoimento a
respeito da realidade observada” (Guedes 1994, p.11).
No entanto, muitos são os estudos publicados que denunciam as falhas no ensino
da escrita. Segundo Conceição (2000), a produção escrita constitui-se numa das
grandes preocupações dos professores de português. São inúmeros os
diagnósticos detectando os mais variados problemas. Um desses, que salta aos
olhos ao lermos as redações escolares, é o que se refere à baixa qualidade
discursiva dessas produções textuais, já que, em sua maioria, são pobres de
significados, repetitivas e repletas de estereótipos, o que as torna cansativas e
chatas de serem lidas.
Também, de acordo com diagnósticos elaborados por Pécora (1992), por Costa
Val (1993) e por Guedes (1994), que investigaram textos de alunos com elevado
grau de escolaridade (vestibulandos e iniciantes em cursos de 3º grau), essas
redações apresentaram problemas generalizados, especialmente no aspecto
discursivo, manifestado através do alto índice de reprodução de um discurso
pautado no lugar-comum.
Conceição (2000) lembra que Costa Val (1993) diagnosticou, a partir da análise
dos fatores de textualidade de redações de candidatos ao Curso de Letras da
UFMG, que, embora as redações fossem do tipo certinhas e arrumadinhas,
atestassem que o produtor dominava a língua padrão formal escrita e que sabia
organizar as idéias conforme o modelo canônico de dissertação, as redações
tratavam-se, em sua maioria de maus textos, pobres, simplistas, insípidos, quase
todos iguais, muitos deles eivados de impropriedades (Costa Val 1993, p. 118).
Corroborando o que as pesquisas têm descoberto temos, também, empiricamente
no contato com as produções dos alunos no dia-a-dia, chegado às mesmas
constatações.
Há várias questões envolvidas nessa situação, uma das quais pode ser o
desconhecimento por parte do aluno do gênero a que pertence à redação que lhe
é solicitada. Nesse aspecto, são extremamente elucidativas as palavras de
Bakhtin (1997), quando define gênero do discurso. Ele afirma que, por mais
variadas que sejam, todas as esferas da atividade humana estão sempre
relacionadas com a utilização da língua. Tal utilização efetua-se em forma de
enunciado (orais e escritos), concretos e únicos que emanam dos integrantes de
uma ou de outra esfera da atividade humana. O enunciado reflete as condições
específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu
conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, mas também, por sua construção
composicional. Esses três elementos fundem-se indissoluvelmente no todo do
enunciado, e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de
comunicação. Qualquer enunciado considerado isoladamente é individual, mas
cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de
enunciados, sendo isso denominado gênero do discurso.
Sabe-se que produção e compreensão de um texto caminham juntas: são ambas
facetas de uma mesma moeda (Ikeda, 1986). Assim, a produção de um texto
fluente e inteligível deve ser um texto ‘amigo-do-leitor’, facilitando-lhe a
compreensão, e neste sentido, o texto deverá proporcionar, entre outras coisas, a
possibilidade de esse leitor poder projetar o que virá a seguir, sendo a leitura,
assim, como disse (Goodman, 1964) “um jogo psicolingüístico de adivinhação”.
Daí,podermos entender a importância do conceito de gênero nas palavras de
Vigner (1988), que diz que reconhecer um gênero é poder regular sua leitura
sobre um sistema de expectativa, inscrevê-la numa trajetória previsível, sendo que
este reconhecimento opera a partir da apreensão de um certo número de sinais.
Continuando, o autor diz que ler não é mais essa entrada em espaços
desconhecidos, como uma certa tradição o subentendeu, é mais prosaicamente a
procura de uma confirmação, o acionamento quase automático de protocolos de
leitura já constituídos, em presença de textos já repertoriados e identificáveis pelo
leitor desde a recepção dos primeiros sinais de abertura: título, capa, formato,
tipografia, nome da editora.
Corroborando esses dizeres, diz Grivel (1973) que um texto será legível, por um
lado porque funciona segundo leis e esquemas, de que já dispõe o leitor, pois
cada signo desencadeia uma lembrança e entra no quadro de uma longa
experiência o que lhe permite saber o texto antes de percorrê-lo.
Charolles (1988) diz que, da mesma maneira que um conjunto de palavras não
produz uma frase, um conjunto de frases não produz um texto. Em ambos os
níveis, existem critérios eficientes de boa formação que instituem uma norma
mínima de composição textual. O uso dessa norma conduz a desqualificações
maciças e ingênuas: “este texto não tem pé nem cabeça”, “esta estória não tem
cabimento” muito mais poderosas que as avaliações depreciativas do tipo “mal
escrito”, “mal formulado”, que só dizem respeito aos arranjos de superfície, mas
não bloqueiam fundamentalmente o processo comunicativo.
Segundo Charolles (1988), esse sistema de regras de base constitui a
competência textual dos sujeitos, competência que uma teoria - ou gramática - do
texto se propõe a instituir como modelo. Uma tal gramática (cujo projeto é, em
todos os pontos, comparável ao das gramáticas de frases evocadas acima)
fornece, no interior de um quadro formal e problemático determinado, o conjunto
(em princípio exaustivo) das regras de boa formação textual. Dessas regras
podem-se derivar julgamentos teóricos chamados de coerência abrangendo, se
possível, exatamente o campo das apreciações vernaculares de desqualificação
máxima e “julgamentos de não padronização” correspondendo às depreciações de
superfície.
Esta pesquisa tem como objetivo examinar textos dissertativo-argumentativos
solicitados no Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São
Paulo (SARESP), aos alunos do 1º ano do Ensino Médio de uma escola pública
de São Vicente, no litoral de São Paulo. O intuito é verificar a questão da produção
e compreensão desses textos, através da sinalização ao leitor dos estágios desse
gênero conforme proposta da estrutura Problema-Solução (Hoey, 1994).
Esse objetivo requer a definição das noções envolvidas no termo ‘dissertativo-
argumentativo’, bem como sua caracterização como gênero ou tipo de texto,
segundo a literatura corrente. Para tanto, será examinada a definição de gênero,
pela Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF), que trata da estrutura esquemática do
texto, noção que ajuda a entender a constituição de um gênero em estágios
(Martin, 1992). Na medida em que a LSF não trata especificamente do gênero
dissertativo-argumentativo, fomos buscar subsídios especialmente em Hoey
(1994), cuja proposta de estrutura Problema-Solução parece-nos adequada e
muito esclarecedora para examinar essa questão específica. Complementando
essa proposta, apoiamo-nos também em Vigner (1988), que trata da sinalização
lexical dos estágios genéricos.
As perguntas que esta pesquisa deverá responder são:
(a) Existe sinalização do Problema-Solução nos textos dissertativo-
argumentativos exigidos no exame do SARESP?
(b) A observação da estrutura Problema-Solução facilita a compreensão do texto?
CAPÍTULO 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Iniciamos a apresentação das teorias que servem de apoio a esta pesquisa com o
exame do conceito de dissertação e de argumentação, para verificar como têm
sido tratados na literatura, já que no nosso cotidiano de magistério não temos
verificado consenso a respeito. A seguir, apresentamos a definição de gênero pela
Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF) e sua relação com o conceito de registro e
com a língua, seguida da proposta de análise de Hoey (1994).
1.1. Dissertação e Argumentação
De acordo com Platão & Fiorin (2005), dissertação é o tipo de texto que analisa e
interpreta dados da realidade por meio de conceitos abstratos, ou seja, a
referência ao mundo real se faz através de conceitos amplos, de modelos
genéricos, muitas vezes abstraídos do tempo e do espaço. O discurso dissertativo
mais típico é o discurso da ciência e da filosofia; nele as referências ao mundo
concreto só ocorrem como recursos de argumentação, para ilustrar leis ou teorias
gerais. O objetivo principal da dissertação é a análise e a interpretação das
transformações relatadas.
Convém ressaltar que segundo os mesmos autores, não é correto pensar que
somente a dissertação manifesta um ponto de vista crítico do produtor do texto
sobre o objeto posto em discussão. Com efeito, nesse tipo de discurso, explícita
ou implicitamente, está sempre presente o ponto de vista ou a opinião de quem os
produz. Portanto, na dissertação, o enunciador do texto manifesta explicitamente
sua opinião ou seu julgamento, usando para isso conceitos abstratos.
O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001) nos ensina que argumentação
é a arte, ato ou efeito de argumentar; troca de palavras em controvérsia,disputa ou
discussão. Conjunto de idéias, fatos que constituem os argumentos que levam ao
convencimento ou conclusão de (algo ou alguém). Já a dissertação é o ato ou
efeito de dissertar; exposição, redação. Exposição escrita de assunto relevante
nas áreas científica, artística, doutrinária.
Considerando o ensino de língua, que importância teria o conhecimento dessa
definição? O que nos dizem os estudiosos do assunto sobre a relação escrita e
argumentação? De acordo com Cereja & Magalhães (2003), embora na maior
parte dos exames vestibulares do país se solicite aos candidatos à produção de
textos dissertativos, na verdade, pela natureza polêmica dos temas, quase sempre
o que se espera do candidato é que ele produza um texto argumentativo ou
dissertativo-argumentativo, i.e., um texto em que o autor analise e discuta um
problema da realidade, defenda seu ponto de vista e, às vezes, proponha
soluções.
Ao dissertar, seu texto se torna naturalmente dissertativo-argumentativo se a
linguagem manifestar uma intencionalidade persuasiva. Segundo os autores,
dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele.
Assim, o texto dissertativo pertence ao grupo dos textos expositivos, juntamente
com o texto de apresentação científica, o relatório, o texto didático, o artigo
enciclopédico. Em princípio, o texto dissertativo não está comprometido com a
persuasão e, sim, com a transmissão de conhecimentos.
Continuando, dizem os autores que os textos argumentativos, ao contrário, têm
por finalidade principal persuadir o leitor sobre o ponto de vista do autor a respeito
do assunto em questão. Quando o texto, além de explicar, também persuade o
interlocutor e modifica seu comportamento, temos um texto dissertativo-
argumentativo, i.e., o texto que desenvolve ou explica um assunto e, ao mesmo
tempo, tem uma intencionalidade persuasiva, chamamos texto dissertativo-
argumentativo.
Garcia (1997) aborda os conceitos sobre dissertação e argumentação em
capítulos distintos, a fim de distinguir uma da outra. Para ele, a argumentação é
apenas “momentos” da dissertação. Tanto a dissertação quanto a argumentação
apresentam características próprias. Se a primeira tem como propósito principal
expor ou explanar, explicar ou interpretar idéias, a segunda visa a convencer,
persuadir ou influenciar o leitor ou ouvinte. Na dissertação, expressamos o que
sabemos ou acreditamos saber sobre determinado assunto, externando nossa
opinião a respeito do que é ou nos parece ser. Na argumentação, procuramos
formar a opinião do leitor ou ouvinte, tentando convencê-lo de que a razão está
conosco.
Para o autor, a argumentação informal pouco difere, em essência, da formal: até
sua estrutura e desenvolvimento podem ser, em parte, os mesmos. Mas a formal
exige outros cuidados. A argumentação informal está presente em quase tudo
quanto dizemos ou escrevemos. Quase toda conversa (salvo o caso, aliás,
freqüente, da exposição puramente narrativa ou descritiva) é essencialmente
argumentação. Quando a natureza da declaração implica desenvolvimento de
idéias abstratas, a argumentação assume estrutura mais complexa. Embora seja
mais comum na língua falada (o que talvez justifique a denominação de informal)
dela nos servimos também com muita freqüência na linguagem escrita.
Whitaker Penteado (1964: 242) afirma que na argumentação formal (que envolve
a proposição e sua análise, a formulação dos argumentos (evidências) e a
conclusão) a proposição deve ser clara, definida, inconfundível quanto ao que
afirma ou nega. Além disso, é indispensável que seja argumentável, ou seja, não
pode ser uma verdade universal, indiscutível, incontestável. Não se pode
argumentar com idéias a respeito das quais todos estão de acordo. Argumentar
implica, assim, antes de tudo, divergência de opinião. Isto leva a crer que as
questões técnicas fogem à argumentação, desde que os fatos (experiências,
pesquisas) já tenham provado a verdade da tese, doutrina ou princípio. Fatos não
se discutem. Por outro lado, a proposição deve ser, afirmativa e suficientemente
específica para permitir uma tomada de posição contra ou a favor. Proposições
vagas ou inespecíficas que não permitam tomada de posição só admitem
dissertação, i.e., explanação ou interpretação.
Para Pacheco (1988), dissertar é uma atividade que realizamos todos os dias,
porque o homem critica, avalia, julga, formula sensos de valores, preocupa-se com
acontecimentos que o rodeiam, e quando se preocupa, comenta, defende,
justifica, e, para isso, faz uso da linguagem argumentativa. O ato de argumentar,
orientar X a concluir Y, constitui-se no ato lingüístico fundamental, no qual a
neutralidade não passa de um engano. E esse ato pode representar o ponto de
partida para a modificação do mundo. Para que isso ocorra, é preciso, além de
fazer textos verbais, escrevê-los.
Para Citelli (1994), o texto denominado dissertativo /argumentativo é constituído,
basicamente, de um tema e de um problema. A partir do tema, o escritor delimita o
problema, ou seja, o recorte do tema. Para solucionar o problema, criam-se
hipóteses, elegendo-se a mais eficaz para considerar como tese, a qual, por sua
vez, será defendida com argumentos, construídos de forma a validar ou não a
hipótese eleita, com o intuito de se chegar a uma conclusão. O objetivo da
argumentação é conseguir a adesão do enunciatário à tese que lhe é
apresentada. Sendo assim, a argumentação é desenvolvida em função do seu
interlocutor. O conhecimento do interlocutor é o ponto de partida para a
elaboração da argumentação.
Aceitando o princípio de que estamos todos envolvidos num processo de
persuasão, ou de convencimento, deduz-se que todo emissor, para ser aceito,
precisa reforçar a verdade daquilo que transmite pela linguagem, já que, como já
se disse, não se traduz o real, mas uma configuração lingüística da realidade. Sob
esse aspecto, o uso obrigatório de estratégias discursivas destina-se a garantir a
credibilidade do que é transmitido. Mesmo num texto informativo, em que não se
tem dificuldade de compreender o que está sendo transmitido, é necessário
também que seja aceita a seleção ou a relevância dos fatos, que se acredite nas
informações e que se realizem as ações sugeridas; em suma, que se obedeça aos
comandos implícitos presentes em qualquer texto. Sob a ótica argumentativa ou
retórica, além de informar, a linguagem presta-se a modificar crenças e
comportamentos, pois é um meio político de atuação humana.
Ao fechar as considerações sobre dissertação e argumentação, não deixa de ser
oportuno enfocar a origem da palavra argumentação. Abreu (2002) diz que
argumentar é a arte de convencer e persuadir. Convencer é saber gerenciar
informação, é falar à razão do outro, demonstrando, provando. Etimologicamente,
significa VENCER JUNTO COM O OUTRO (com + vencer) e não CONTRA o
outro. Persuadir é saber gerenciar relação, é falar à emoção do outro. A origem
dessa palavra está ligada à preposição per,por meio de” e a SUADA, deusa
romana da persuasão. Significava “fazer algo por meio do auxílio divino”. Mas em
que convencer diferencia de persuadir? Convencer é construir algo no campo das
idéias. Quando convencemos alguém me, esse alguém passa a pensar como nós.
Persuadir é construir no terreno das emoções, é sensibilizar o outro para agir.
Quando persuadimos alguém, esse alguém realiza algo que desejamos que ele
realize.
Muitas vezes, diz ele, conseguimos convencer as pessoas, mas não conseguimos
persuadi-las. Podemos convencer um filho de que o estudo é importante e, apesar
disso, ele continua negligenciando suas tarefas escolares. Podemos convencer
um fumante de que o cigarro faz mal à saúde, e, apesar disso, ele continuar
fumando. Algumas vezes, uma pessoa já está persuadida a fazer alguma coisa e
precisa apenas ser convencida. Precisa de um “empurrãozinho” racional de sua
própria consciência ou da de outra pessoa, para fazer o que deseja. É o caso de
um amigo que quer comprar um carro de luxo, tem dinheiro para isso, mas hesita
em fazê-lo por achar mera vaidade. Precisamos apenas dar-lhe “uma boa razão”
para que ele facão negócio. Às vezes, uma pessoa pode ser persuadida a fazer
alguma coisa, sem estar convencida. É o caso de alguém que consulta uma
cartomante ou vai a um curandeiro, apesar de, racionalmente, não acreditar em
nada disso.
Argumentar é, em última análise, conclui o autor, a arte de, gerenciando
informação, convencer o outro de alguma coisa no plano das idéias e de,
gerenciando relação, persuadi-lo, no plano das emoções, a fazer alguma coisa
que nós desejamos que ele faça.
Concluindo, no caso dos exames, seja do SARESP, seja dos vestibulares, na
realidade, pela natureza polêmica dos temas solicitados, quase sempre o que se
espera do candidato é que ele produza um texto em que analise e discuta um
problema da realidade, defenda seu ponto de vista e, às vezes, proponha
soluções, ou seja, produza um texto argumentativo ou dissertativo-argumentativo.
Segundo Vigner (1988), o que se pede ao candidato é a resposta a “O que você
pensa de ...?”, para que ele confronte experiências, compare-as, avalie-as, julgue-
as, para transmitir a alguém seus pontos de vista, e fazer com que o interlocutor
mude de opinião.
Para a presente pesquisa, há pontos específicos nos ensinamentos acima
referidos que nos interessam de perto. Um desses pontos relaciona-se com o fato
de que o significado de um texto deriva, sobretudo do reconhecimento do
processo de construção textual, ou da interpretação de recursos estratégicos, que
se realizam quer lingüisticamente, quer por meio de implícitos textuais, ou ainda
por uma troca de informações e de convenções entre os parceiros envolvidos no
ato de comunicação. Torna-se, dessa forma, fundamental a concepção do texto,
na modalidade escrita e ou oral, como resultado de um conjunto de estratégias
utilizadas no processo da discursivização.
O significado de um texto constrói-se, portanto, na integração de dois processos; o
da seleção (eixo paradigmático) e o da combinação (sintagmático), sem a
exigência de uma camisa de força dicotômica, mas com a escolha de alternativas,
limitadas nos níveis frasais e textuais; no primeiro processo operam limitações de
natureza gramatical, relativas à coesão e no segundo, operações relativas à
coerência, em sentido amplo.
Desse modo, no âmbito da compreensão, dá-se o reconhecimento das categorias
da linguagem e da organização sintática e semântica, propriamente dita; e, no
âmbito da interpretação, processa-se o reconhecimento das estratégias textuais
utilizadas. Segundo esse enfoque, não se busca captar apenas o que o texto diz
ou representa em termos de referência ao real, mas o que ele faz, e como faz e
por quê o faz desse modo, já que as formas de apresentação contribuem para a
construção do sentido final. Nesse sentido, passamos a examinar o conceito de
gênero, que pode esclarecer essas questões.
1.2. Gênero
Toledo (2005) diz que pesquisas sobre compreensão em leitura durante as últimas
décadas têm focalizado duas questões: (a) o conhecimento prévio do leitor e (b) a
noção do leitor como um sujeito ativo, cuja bagagem mental é ativada a cada ato
da aprendizagem. Como parte do conhecimento prévio que o leitor possui, foram
identificados três componentes: temático (ou conceitual), lingüístico e formal
(Carrell, 1983; Levine and Reves, 1994). Um esquema formal é em geral
entendido como uma representação do conhecimento que o leitor tem a respeito
das características de textos, especialmente sua estruturação ou seqüência (e.g.,
causa-efeito, problema-solução, etc.) e suas funções (expositivo, descritivo,
argumentativo, etc.).
Além disso, as últimas décadas têm visto um interesse renovado no conceito de
gênero por parte de disciplinas ligadas à língua e aprendizagem, tais como
Educação, Lingüística Aplicada, Pragmática e Ensino de inglês como língua
estrangeira. O conceito de gênero implica a consideração de convenções
socioculturais que existem acerca de textos ou unidades discursivas, e devem ser
levadas em consideração ao se medir a compreensão dos leitores.
Do ponto de vista da perspectiva sistêmico-funcional, o gênero aparece ligado ao
conceito de contexto sem o qual nenhum fenômeno lingüístico pode ser
entendido e de registro. Eggins (1994:9) define três níveis contextuais: registro
(i.e., o contexto imediato de situação de um dado evento lingüístico), gênero, que
se refere ao contexto cultural, e ideologia, o nível contextual mais alto e mais
abstrato refletido nos vários usos da língua. Ela define gênero da seguinte
maneira:
[Um] conceito usado para descrever o impacto do contexto de cultura na língua, na exploração da
estrutura em estágios, passo-a-passo, que as culturas institucionalizam como modos de atingir metas.
(ibid)
O gênero, sendo mais abstrato que o registro, é realizado por este, como um
potencial genérico presente em uma cultura. Uma instância de gênero
compreende vários constituintes, de natureza funcional, apresentando uma
estrutura esquemática uma ‘organização em seqüência passo-a-passo (Martin,
1985). Cada estágio dessa estrutura esquemática está relacionado a certas
feições léxico-gramaticais, tal que uma linha divisória pode ser estabelecida entre
os passos através de uma identificação detalhada das feições relevantes.
Variantes de gênero são os textos nos quais os elementos obrigatórios da
estrutura esquemática, bem como outros, opcionais, são realizados.
As várias abordagens que focalizam o gênero nos anos 80 e início dos 90
examinaram essencialmente a base para a identificação das fases dos textos, com
o desenvolvimento de conceitos tais como o já mencionado de estrutura
esquemática, de Martin (1985), da estrutura genérica potencial, de Hasan (1989)
ou das noções de movimentos e passos, como os usados por Swales (1981,
1990), Salager-Meyer (1990) ou Bittencourt dos Santos (1996).
Segundo Georgakopoulou & Goutsos (2000), a tentativa de entender as
complexidades do discurso e a multiplicidade de fatores envolvidos no uso da
língua deu proeminência à noção de gênero (especialmente dentro da Gramática
Sistêmico-Funcional de Halliday, 1985), e, em menor grau, às noções de tipo-de-
texto, como na literatura continental (Beaugrande e Dressler, 1981), tipo-de-
discurso (Cook, 1989; Fairclough, 1989) e tipo-de-atividade, na análise da
conversa. Apesar da diferença entre seu alcance e ênfase, todos esses conceitos
se desenvolveram para explicar a co-padronização sistemática e bem evidenciada
entre forma, conteúdo, função do discurso e o contexto. Dependendo do enquadre
analítico em que ocorrem, eles têm sido empregados como instrumentos
classificatórios para o analista ou como pontos de entrada na análise de como os
participantes se orientam durante a construção do discurso. Por essa segunda
definição, gênero está de acordo com a observação muito citada de Bakhtin
(1990) de que:
aprendemos a expressar nossa fala em formas genéricas, e, quando ouvimos a fala de
outros, adivinhamos seu gênero desde as primeiras palavras ... desde o início temos a noção
da fala como um todo (956)
De acordo com Bakhtin (1990), é hoje um truísmo de que os limites de um gênero
são determinados não somente pelo conteúdo e pela forma (padrões léxico-
gramaticais, feições de organização, etc.), mas também por critérios socioculturais
e cognitivos, tais como normas, convenções, regras de uso e expectativas
esquemáticas (Paltridge, 1995: 288).
Há, contudo, certas limitações bem conhecidas no conceito de gênero, em
especial no tocante ao fato de que ele desafia uma definição exata. Segundo Biber
(1986), o enquadre descritivo ‘não é suficiente explícito para ser usado em
taxonomias situacionais’ (1994:38). Como resultado, a identificação de gêneros
individuais ou seus sub-gêneros, na prática, não tem base, se não for arbitrária. O
agrupamento de atividades discursivas por gênero tende a multiplicar às centenas
as categorias extremamente detalhadas e fragmentadas, que acabam se fundindo.
Para evitar listas ou categorias de gêneros indefinidos que se multiplicam
constantemente, os analistas reconheceram a necessidade de estabelecer alguns
princípios relacionadores que cruzassem a multiplicidade de sub-grupos e os
organizasse em categorias maiores. Tais tentativas apoiaram-se principalmente na
dimensão contextual do meio, e, assim, identificaram a dicotomia entre oral e
escrita como um princípio maior de organização do discurso (Halliday, 1985;
Hymes, 1996).
A prolífica pesquisa da classificação oral/escrita de gênero trouxe, segundo
autores, uma séria de dúvidas sobre a validade analítica dessa dicotomia. Em
especial, fez surgir um quadro de uma interrelação complexa, na qual certos
traços se cruzavam entre as atividades discursivas orais e escritas, opondo-se a
uma associação nítida de gêneros com conjuntos de traços textuais e contextuais
( Biber, 1986, 1988; Gee, 1990; artigos em Tannen, 1993). Como resultado, está
ficando claro que os discursos falados e escritos devem ser considerados como
maneiras diferentes de usar a língua, chamadas por práticas socioculturais
diferentes, que não podem formar elos unitários e independentes com as práticas
da fala e da escrita, respectivamente (Biber & Finnegan, 1994). Além disso, a
explosão recente do desenvolvimento de tecnologias de informação revolucionou
concepções bem estabelecidas sobre as taxonomias da escrita e da fala. Assim,
textos mediados por computador apresentam traços convencionalmente
associados com o meio tanto da fala quanto da escrita (Herring 1996).
Na tentativa de relacionar o texto argumentativo com a noção de gênero, fomos
consultar alguns autores que discorreram sobre o assunto. Segundo Takazaki
(2004), a argumentação não é um gênero discursivo, mas uma estrutura que pode
adotar a forma de diversos tipos de textos. Podemos encontrar a estrutura
argumentativa como parte de um discurso político, em um ensaio, em uma
monografia, em cartas, editoriais, colunas de opinião, crônicas, resenhas, artigos,
reportagens, e até na própria conversação.
Paltridge (2002), por outro lado, lamenta a pouca atenção que tem sido dada à
relação entre gênero e tipo de texto. Numa primeira leitura, diz ele, pode parecer
que os termos gênero e tipo de texto se refiram ao mesmo aspecto do
conhecimento sobre gênero. De fato, muito freqüentemente estes dois termos são
usados alternadamente. Mas, como ele mesmo reconhece, não há um acordo
universal de que gênero e tipo de texto possam referir-se ao mesmo aspecto de
um texto.
Nesse sentido, Biber (1999) observa que textos dentro de certos gêneros podem
diferir bastante em suas características lingüísticas. Por outro lado, diz ele,
verifica-se que gêneros diferentes podem ser bastante semelhantes
lingüisticamente, como, por exemplo, artigos de jornal e artigos de revistas
populares são freqüentemente quase idênticos na forma.
Pode-se, então, perceber que existe muita controvérsia sobre a noção gênero, o
que não invalida a consideração desse conceito. Pelo contrário, a discussão é
salutar, pois é necessário que esse conceito seja refinado através de pesquisas
que se originem desse exercício.
Vamos a seguir examinar a proposta da Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF),
que considera gênero como parte do contexto social, que organiza as escolhas
léxico-gramaticais que realizamos, quando fazemos uso da língua. Passamos a
expor os pontos da LSF que interessam à nossa pesquisa.
Martin (1992, 1997) define gênero como 'um processo social em estágios
orientado para uma finalidade realizado através do registro' (Martin 1992: 505).
Gêneros são processos sociais porque eles são realizados através da interação
entre falantes ou entre escritores e leitores. Gêneros são orientados para uma
finalidade porque as interações que realizam um gênero orientam-se para uma
meta final. Finalmente, a estrutura em estágios de gêneros refere-se ao número
de passos funcionais interativos necessários para a realização da meta final do
gênero. Esta questão será importante para a proposta de Hoey (1994), de
estrutura de Problema-Solução, como veremos mais tarde.
Martin (1997), detalha sua definição de gênero da seguinte maneira:
Gêneros são como as coisas são feitas, quando a língua é usada para realizá-las, Eles
estão presentes desde a literatura até formas distantes da literatura: poemas,narrativas,
dissertações, conferências, receitas, compromissos sociais, notícias radiofônicas etc. O
termo gênero é usado aqui para envolver cada um dos tipos de atividade realizados
lingüisticamente, em nossa cultura. (p. 250)
No arcabouço de Martin (1997), gênero, registro e língua são interpretados como
sistemas semióticos. Tomados juntos, o gênero e o registro são identificados
como o contexto social. O gênero representa os processos sociais em estágios
orientados para uma meta de uma dada cultura tais como a narrativa, uma
anedota, uma reportagem, um relato, um procedimento, etc., e, por isso, são em
geral rotulados de contexto de cultura.
O registro, por outro lado, refere-se ao contexto de situação (Martin, 1992). Na
LSF, o registro é organizado pelas três variáveis contextuais, campo, relações e
modo. Geralmente, o campo refere-se ao tipo de atividade social e assunto
tratados pelo texto. O campo pode referir-se a disciplinas como lingüística,
psicologia, ciência e educação ou, em termos de planos de ação, emprego e
desemprego. As relações, por outro lado, envolvem as dimensões de status (i.e.,
igual X desigual), contato (envolvido X distante), e afeto (Martin, 1992: 526).
Finalmente, o modo refere-se à organização simbólica de um texto e é, em geral,
organizado pelos padrões de informação temática e informação nova. De acordo
com Martin (1992: 509), o modo intermedia o espaço semiótico entre monólogo e
diálogo e ação e reflexão.
Nesse sentido, julgamos útil para a nossa pesquisa as considerações de Hasan
(1985) sobre gênero, já que ela aborda a questão das escolhas léxico-gramaticais
que cada gênero impõe. Para ela, o gênero é definido pelos elementos
obrigatórios da estrutura esquemática, que se refere a: (i) estrutura genérica
potencial (de um gênero) e (ii) estrutura genérica real (de um texto). Miller (1984)
reforça o conceito de gênero como um meio de ação social, situada em um
contexto sócio-retórico mais amplo e operando não somente como um mecanismo
para atingir metas comunicativas, mas também para esclarecer essas metas.
Para a autora, é importante notar que o gênero e o registro realizam-se através da
língua. A percepção de um gênero específico é dada pelo modo de uso da língua,
ou seja, pelos padrões de realização (palavras, estruturas, sons). A relação dos
elementos da estrutura esquemática com a língua é a seguinte:
1) Fazemos escolhas léxico-gramaticais de acordo com as metas que desejamos
atingir: textos de gêneros diferentes revelam diferentes escolhas léxico-
gramaticais.
2) Se o gênero é formado por etapas funcionalmente diferentes, as diferentes
estruturas esquemáticas apresentarão escolhas léxico-gramaticais diferentes.
Dessa forma, os padrões de realização diferirão através das estruturas
esquemáticas, que constituem os gêneros. Mas, continua a autora, como temos
uma só língua para realizar as várias etapas, não vamos encontrar etapas
utilizando palavras totalmente diferentes entre si. O que há são diferentes
configurações de palavras e estruturas, diferentes agrupamentos de padrões.
Portanto, assim, como membros de uma cultura, temos um conhecimento de
como as pessoas usam a língua para conseguirem diferentes coisas. A teoria do
gênero traz para a consciência esse conhecimento cultural inconsciente,
descrevendo como as pessoas usam a língua para fazer coisas. É aqui que vemos
a importância da noção de gênero em relação à proposta da estrutura Problema-
Solução, de Hoey (1994). Expliquemos. Ao ler um texto dissertativo-
argumentativo, o leitor teria uma determinada expectativa em relação à estrutura
esquemática, portanto, de gênero, para que o texto faça sentido. Como disse
Vigner (1988), reconhecer um gênero é poder regular sua leitura sobre um sistema
de expectativa, inscrevê-la numa trajetória previsível, sendo que este
reconhecimento opera a partir da apreensão de um certo número de sinais.
Nesse sentido, a proposta de Hoey (1994) da estrutura Problema-Solução
parece-nos esclarecedor na questão dos estágios de gênero, marcada que é pelos
significados de perguntas e itens de vocabulário de um tipo particular, como um
meio de garantir a relação entre idéias, e como conseqüência, manter a troca de
informações entre escritor e leitor.
A partir desse paradigma, propomos a divisão da dissertação-argumentação em:
Situação, Problema, Solução e Avaliação. Na Situação e no Problema,
apresentam-se as questões que serão desenvolvidas, orientando o leitor em
relação ao que virá nas demais partes do texto.
Na Solução e na Avaliação, evidenciam-se as respostas às questões
apresentadas, ou seja, nesse momento é que se explicitam as posições do autor
em relação às questões analisadas, podendo ser uma conclusão ou uma
apreciação e não uma simples paráfrase ou um mero resumo das afirmações
anteriores.
A seguir, passamos a expor na íntegra, a proposta de Hoey (1994) a fim de
esclarecermos a estrutura Problema-Solução.
1.3. A proposta Problema-Solução
Hoey (1994) apresenta sua proposta Problema-Solução, iniciando com um
exemplo. Diz ele: Se tomarmos as quatro sentenças listadas no ex.1,
verificaremos que a ordem em que as sentenças aparecem aqui parece mais
natural do que outras:
A função de sentinela
(1) Eu estive na função de sentinela.
Eu vi o inimigo se aproximando.
Eu abri fogo.
Eu venci o ataque inimigo.
Existem vinte e quatro seqüências possíveis, mas é apenas uma que pode ser lida
sem entonação especial e que faz sentido. Mas se a segunda sentença for lida
com entonação parentética, a (2) também faz sentido:
(2) Eu vi o inimigo se aproximando.
(Eu estava na função de sentinela).
Eu abri fogo.
Eu venci o ataque inimigo.
Outras seqüências parecem mais difíceis de serem aceitas:
(3) Eu abri fogo.
Eu estive na função de sentinela.
Eu venci o ataque inimigo.
Eu vi o inimigo se aproximando.
Esses fatos sugerem que podemos dividir as s seqüências em três categorias:
seqüências não marcadas, seqüências marcadas e seqüências incoerentes.
Mas não é apenas a seqüência das sentenças que é importante, também a sua
presença. Nenhuma das quatro sentenças pode ser omitida (a menos que seja
pressuposta) sem ameaçar a clareza do texto. O que isto sugere é que cada uma
das quatro sentenças é essencial para a estrutura, que podemos, inicialmente,
identificar como estrutura Problema-Solução, com os seguintes elementos:
Situação Eu estava de sentinela.
Problema Vi o inimigo se aproximando.
Resposta Abri fogo.
Avaliação Venci o ataque inimigo.
A questão então surge: como pode o escritor/leitor identificar essa estrutura no
discurso? Hoey (1994) considera duas possíveis respostas para a questão, que
podem ser indicadas resumidamente como: (a) projeção dentro do diálogo, e (b) a
identificação dos signos lexicais.
As sentenças do texto artificial podem agora ser projetadas em diálogo.
A: Qual era a situação?
B: Eu estava na função de sentinela.
A: Qual era o problema?
B: Eu vi o inimigo se aproximando.
A: Qual foi a sua solução?
B: Eu abri fogo.
A: Qual foi o resultado?
e
Como foi o sucesso disso?
B: Eu venci o ataque inimigo.
As perguntas acima precisam de algum refinamento. Qual foi o problema? É uma
forma natural de uma pergunta mais precisa: Que aspecto da situação requereu
uma resposta? Como podemos ver, existem razões para definir problema como
um aspecto da situação requerendo uma resposta; estas serão esclarecidas mais
abaixo.
A questão: Qual foi a solução? também requer uma qualificação. Como se
observa, é uma forma natural de uma pergunta menos possível: Qual foi sua
resposta? (para o aspecto da situação requerendo uma resposta?)
Embora seja conveniente na maioria das vezes falar em estrutura Problema-
Solução, é importante informar que a palavra solução contém em si uma avaliação
de uma resposta bem sucedida. Já que se deseja tratar de léxico que descreva
respostas mal sucedidas, vale a pena manter a pergunta mais artificial como
nosso texto mais preciso da existência dessa parte da estrutura ‘Problema-
Solução’.
1.3.1. Problema-solução: linguagem da vida
A projeção do monólogo em forma de diálogo pergunta-e-resposta é um
importante teste da estrutura do discurso. Pode-se afirmar que essa projeção é a
conseqüência da descrição, não da língua, mas da realidade que a língua codifica.
1.3.2. Vocabulário 3
Winter (1977a) mostra que as relações entre orações podem ser assinaladas de
três modos: por subordinação (Vocabulário 1); por conectores sentenciais, que
incluem conjunções (Vocabulário 2); e por itens lexicais (Vocabulário 3). Ele nota
que os itens desses vocabulários podem freqüentemente ser usados para
parafrasear um ao outro. Assim, por exemplo, by, -ing, thus and instrumental
podem ser usados para indicar a relação de seqüência lógica de instrumento, por
exemplo:
(5) By appealing to scientists and technologists to support his party, Mr Wilson won many middle-
class votes in the election.
(6) Mr Wilson appealed to scientists and technologists to support his party. He thus won many
middle-class votes in the election.
(7) Mr Wilson's appeals to scientists and technologists to support his party were instrumental in
winning many middle-class votes in the election.
(Winter 1977a)
A noção do Vocabulário 3 é crucial para entender como o discurso sinaliza o tipo
de estrutura para seu leitor/escritor. Embora, o interesse de Winter (1977a) seja
mostrar a operação da sinalização lexical no nível do parágrafo ou abaixo dele, ele
a mostra em nível mais amplo. É essa extensão da noção do Vocabulário 3 de
cobrir discursos inteiros, que nos possibilita demonstrar os caminhos pelos quais
os discursos sinalizam sua estrutura.
1.3.3. A sinalização lexical e o discurso da ‘função de sentinela’
Podemos ver agora que um dos traços que contribuem para a irrealidade do
exemplo ´Função de sentinela’ como um discurso é a total ausência de sinalização
lexical. O modo mais natural de contar essa estória deveria ter sido o seguinte:
(8) Eu estava na função de sentinela. Eu vi o inimigo se aproximando. Para evitar que chegassem
próximo eu abri fogo. Dessa forma, venci o ataque inimigo.
Nessa versão, a oração final na terceira sentença é um sinal de dois caminhos:
indica que o que a segue é resposta e o que a precede é o problema; isso é
conseguido com o item evitar e a gramática de finalidade, para x. Dessa forma é
também um sinal de dois caminhos, indicando que o segue é Resultado e o que
precede é Resposta. Assim, a Resposta é sinalizada duas vezes nessa versão
antes de começarmos a usar os textos de pergunta.
1.3.4. A natureza avaliativa do signo lexical
Uma representação mais completa da estrutura Problema-Solução seria algo
como:
Situação Avaliação da Situação
Situação Avaliação da Situação como Problema
Situação Avaliação da Situação como Resposta ou Solução
Avaliação
Os itens em itálico representam os elementos estruturais do texto.
Devido à natureza essencialmente avaliativa da estrutura do discurso que suas
partes podem ser sinalizadas por meios puramente avaliativos. Assim por
exemplo, no seguinte exemplo, o problema é sinalizado inicialmente por um
avaliador negativo pobre:
(9) Se thyristors são usados para controlar o motor de um carro elétrico, o veículo se move
suavemente, mas com eficiência pobre a baixas velocidades.
1.3.5. A sinalização da estrutura Problema-Solução nos discursos reais
Hoey (1994) examina então como essa estrutura do discurso opera num discurso
completo.
(10) Balões e Amortecedores de Queda (da Revista Tecnologia. Novo Cientista, 1970)
(I) (a) Helicópteros são muito convenientes para soltar cargas por pára-quedas (b) mas esse
sistema tem seus problemas. (2) De algum modo o impacto da aterrissagem tem de ser amortecido
para proporcionar uma aterrissagem suave. (3) O movimento a ser absorvido depende do peso e
da velocidade com que a carga cai. (4) Infelizmente a maioria dos sistemas normais de queda
arremessa violentamente a carga contra o solo ou as a faz revirar.
(5) (a) Para evitar isso, Bertin, descobridor do aero-trem, inventou um sistema de amortecedor (b)
que assegura uma aterrissagem segura e suave.(6) Ele envolve plataforma na qual o peso é
embarcado, tendo sob ela uma série de ‘balões’ apoiados em amortecedores. (7) Esses são
cilindros alimentados por ar comprimido equipados com uma válvula de altímetro que abre quando
a carga está a seis pés do chão. (8) A plataforma então se torna um flutuador com os balões
reduzindo a desaceleração conforme toca o chão.
(9) Várias tentativas foram realizadas com cargas a 19 a 42 pés por segundo com ventos de 49
pés por segundo. (10) A carga pesava cerca de um e meia tonelada. (11) A baixas altitudes, a
carga pode ser jogada sem o pára-quedas.
Transcrevemos a seguir o texto original, já que muitas das observações de Hoey
(1994) se referem à língua inglesa:
(10’) Balloons and Air Cushion the Fall (from Technology Review. New Scientist, 1970)
(I ) (a) Helicopters are very convenient for dropping freight by parachute (b) but this system has its problems.
(2) Somehow the landing impact has to be cushioned to give a soft landing. (3) The movement to be absorbed
depends on the weight and the speed at which the charge falls. (4) Unfortunately most normal spring systems
bounce the load as it lands, sometimes turning it over.
(5) (a) To avoid this. Bertin, developer of the aerotrain, has come up with an air-cushion system (b) which
assures a safe and soft landing. (6) It comprises a platform on which the freight is loaded with, underneath. a
series of 'balloons' supported by air cushions. (7) These are fed from compressed air cylinders equipped with
an altimeter valve which opens when the load is just over six feet from the ground. (8) The platform then
becomes a hovercraft with the balloons reducing the deceleration as it touches down.
(9) Trials have been carried out with freight-dropping at rates of from 19 feet to 42 feet per second in winds of
49 feet per second. (10) The charge weighed about one and a half tons, but the system can handle up to eight
tons. (11) At low altitudes freight can be dropped without a parachute.
Este texto tem a seguinte estrutura básica:
A primeira metade da sentença (I) (1) (a) Situação
Sentenças (I b)-(4) Problema
Sentenças (5)-(8) (excluindo 5b) Resposta
Sentenças (5b) e (9)-(11) Avaliação
As próximas seções procuram explicar a sinalização dessa estrutura (e então,
justificar essa identificação)
1.3.6. Situação e Avaliação
O exemplo (10) começa com uma pequena oração de Situação que está apoiada
em termos de avaliação, o que significa que a primeira metade da oração (I) (I a) é
um exemplo da possibilidade, isto é, Situação-Avaliação da Situação. Isto pode
ser mostrado pela paráfrase através de duas sentenças separadas:
(11) Helicópteros foram usados para deixar cair a carga por pára-quedas. Eles são muito
convenientes para isto.
onde a primeira oração é Situação e a segunda é Avaliação da Situação. Não é
raro ter um elemento avaliativo dentro da Situação. Outro exemplo da situação
com tal elemento pode ser o seguinte:
(12) Se thiristores forem usados para controlar o motor do carro, o veículo se move suavemente
Onde suavemente avalia positivamente o controle do carro motor, em preparação
para a avaliação negativa próxima mas com pouca eficiência a baixa velocidade.
Como poderemos ver, muito do mesmo contraste das avaliações ´bom’ e ´mau’
está presente no texto principal. A função de um elemento avaliativo ´bom’ dentro
da Situação é colocar o Problema que é um aspecto ´mau’ da Situação dentro
de um contexto mais amplo dos aspectos ´bons’ da Situação (Senão por que
´resolver’ o Problema?)
1.3.7. A sinalização da Situação
A função de (I a) pode ser identificada como Situação do seguinte modo.
(I) (a) Helicópteros são muito convenientes para soltar cargas por pára-quedas
(a) Tempo verbal: Uma razão para tratar a sentença (I a) como Situação é que o
verbo está na forma simples não-passado. O contexto, por sua natureza, não
envolve um momento no tempo, a menos que seja resumo de eventos ou uma
recapitulação. Esperamos a priori, portanto, que a forma do verbo para Situação
seja uma que aponte um período de tempo ao invés de um ponto no tempo.
Quando a Situação é parte ou da narrativa ou a própria recapitulação ou evento
passado, os verbos estão, normalmente, no passado simples.
(b) Sinalização lexical: Uma segunda razão para identificar sentença (I a) como
situação é que a sentença (I b) (i.e. mas esse sistema tem seus próprios
problemas) contém uma referência anafórica (Ia) na frase esse sistema. Sistema é
um item que pode ser usado para sinalizar cada Situação ou Resposta, e neste
caso indica retroativamente que aquela sentença (Ia) é para ser vista como
Situação.
(c) Posição: A posição de (Ia) é a da primeira oração no discurso. A expectativa
em relação à primeira sentença de qualquer discurso é que forneça um contexto
para sentenças subseqüentes. É, claro, possível abortar essa expectativa, e a
posição, por si pode não suportar demasiado peso.
1.3.8. A sinalização do Problema
Sentenças (lb)-(4) podem ser identificadas como o Problema. Vários traços
sinalizam-no como sua função; a maioria deles são suficientes para, por si
mesmos para servir como uma adequada indicação da função das três sentenças
do discurso. Todos são exemplos de sinalização lexical.
(a) 'mas este sistema tem seus problemas ': O primeiro e talvez o mais óbvio sinal
do Problema é a sinalização da oraçãomas este sistema tem seus próprios
problemas. Como uma declaração geral, tal oração será normalmente seguida por
declarações particulares. Na ausência de qualquer evidência para uma leitura
contrária, portanto, sentenças (2)-(4) poderão ser lidas como fornecimento de
particulares para uma declaração geral sobre a existência de Problemas. Às
vezes, a sinalização do item Problema precede mesmo a Situação.
(b) Necessidade: Um segundo sinal do Problema no nosso texto principal é o
verbo na frase tem de na sentença (2). Ele indica uma necessidade.
(c) 'De algum modo': Um terceiro sinal do problema no nosso discurso principal é o
uso de algum modo na sentença (2). O uso do adjunto indefinido de instrumento
de algum modo indica que temos uma relação de Instrumento-Finalidade não
preenchida. De algum modo é o sinal de uma necessidade e de uma Resposta
ausente.
(d) Avaliação negativa: na sentença (4), o item infelizmente indica uma avaliação
negativa em contraste com a positiva da sentença (Ia). Como um é disjunto,
porém, ele não converte a sentença toda em Avaliação, mas permanece como
comentário da informação contida na oração à qual está ligada.
1.3.9. A sinalização da Solução ou Resposta
Sentenças (5)-(8) envolvem nosso próximo elemento funcional principal do texto, o
da Solução (ou Resposta). Algumas das razões para considerar essas sentenças
como Solução também servem para fornecer evidência adicional para tratar as
sentenças (2)-(4) como Problema; o fato de elas estarem sendo tratadas aqui e
não antes não deve obscurecer a questão. Excluímos de nossa análise neste
estágio a oração subordinada na sentença (5); as razões para isto logo tornarão
aparentes.
As principais características que identificam sentença (5)-(8) como resposta são:
(a) Sinalização lexical: A frase para evitar isto sinaliza explicitamente a resposta
para um problema, como já notamos. O verbo frasal desenvolveu é um item do
Vocabulário 3, sinalizando uma Resposta para um problema (normalmente),
embora talvez mais freqüente no jornalismo do que na escrita técnica. É
comumente usado em frases como as come up with a solution, come up with an
answer e come up with an idea. O item lexical mais comum para sinalizar Solução
(ou resposta) é desenvolver.
(b) Forma verbal: A mudança da forma verbal que ocorre na sentença (5) indica o
começo de uma nova unidade funcional. O verbo da sentença (5) é a forma
tradicionalmente conhecida como present perfect, que é, have -ed. Essa forma
verbal é usada para descrever acontecimentos que ou começaram ou
aconteceram totalmente no passado, mas continuam ou têm conseqüências de
interesse no presente. Assim é o tempo verbal natural para a descrição da
Resposta já que as respostas normalmente ocorrem como um tempo definível no
passado e pela sua natureza têm conseqüências no presente. Uma vez, contudo,
que a natureza geral da resposta tenha sido descrita, a forma verbal reverte para o
não-passado simples, porque o método de resposta continua a ser válido durante
o período de tempo estendido além do presente. Isso é totalmente compatível com
a Resposta, que é considerada como fornecedora da Situação Nova. Na
reportagem científica, o padrão de have -ed seguido de não-passado simples é
muito comum na Resposta.
1.3.10. A sinalização da Avaliação
Na análise acima, foi omitida a oração subordinada na sentença (5). Isto porque
sua função é a de Avaliação. O item lexical assegura é usada para expressar
Avaliação; o assegurar nunca é um fato, é apenas uma avaliação. A oração
avaliativa aparece aí porque ela serve para fornecer um incentivo para a leitura.
Ao avaliar a solução de Bertin como bem sucedida, o escritor encoraja o leitor a
descobrir mais a respeito. Isso é bem comum em textos científicos populares,
especialmente os que relatam o trabalho de alguém. Winter (1976) refere-se a isso
como sendo função de previsão.
Como já vimos, a avaliação negativa pode sinalizar um problema. Em tais
circunstâncias, uma estrutura recursiva pode ocorrer em que a Avaliação de uma
resposta é um problema novo, assim:
Situação
Problema
Resposta
Avaliação
(negativo) = Problema
Resposta
Avaliação
(negativo) = Problema
etc.
Sentenças (9) (11) do texto New Scientist combinam com a oração avaliativa na
sentença (5) para formar a Avaliação do discurso. A sentença (10a) não é por si
avaliativa, mas fornece a Base para a oração avaliativa da sentença (5). O que
isso significa é que temos uma relação de oração no nível do parágrafo que
podemos chamar de Base Avaliativa, que por sua vez envolve (parte de) a
avaliação no nível do discurso:
Situação - Problema - Resposta - Avaliação
Base de avaliação
A evidência mais importante para essa análise vem do texto pergunta. Contudo
dois traços estão presentes, que ajudam a sinalizar as funções das sentenças (9)
e (10a).
(1) Há uma mudança na forma verbal não-passado nas sentenças (6), (7) e (8)
para o present perfect na sentença (9) e passado simples na sentença (10a).
Como já foi dito, uma mudança na forma verbal em geral sinaliza uma mudança
na estrutura.
(2) O termo tentativa é um do conjunto que inclui também teste e experimento
usados para indicar a Base para a Avaliação. Esses termos são freqüentemente
colocados com o verbo realizar.
Hoey (1994) conclui que:
(1) Há três tipos de seqüência sentencial: não-marcada, marcada e incoerente.
(2) Cada sentença num texto completo tem uma função na estrutura como um
‘todo’, ou por si, ou como parte de uma unidade mais ampla, e não somente
em relação à sentença precedente.
(3) Todas as funções estruturais podem ser definidas entre si e em relação ao
todo.
(4) Em geral, cada função estrutural está explicitamente sinalizada em termos
lingüísticos.
(5) Algumas orações e sentenças têm como sua função principal o esclarecimento
da estrutura do discurso ao qual pertencem.
(6) Cada função estrutural pode ser isolada por meio de projeção do discurso em
diálogo pergunta-resposta ou por inserção de sinais lexicais apropriados.
(7) Uma estrutura comum do discurso em inglês (embora não somente esta) é a
da Situação-Problema-Solução (ou Resposta) Resultado-Avaliação.
Em termos gerais, Hoey (1994) mostra como a língua inglesa indica para o
leitor/ouvinte as funções das sentenças constituintes de um discurso.
Conforme já vimos, o reconhecimento do gênero e de seus estágios opera a partir
da apreensão de um certo número de sinais (Vigner, 1988), e nesse sentido
julgamos apropriado mencionar neste final da fundamentação teórica as palavras
do autor, que corroboram a proposta de Hoey (1994), bem como esclarecem um
pouco mais a estrutura de uma argumentação. Ele mostra que há duas fases
distintas na elaboração de uma argumentação e que se referem:
(a) aos componentes da argumentação (ao nível da sentença), conforme
mostrados na Fig.1
(b) aos procedimentos de argumentação (ao nível do discurso), conforme
mostrados na Fig.2
Componentes Exemplos
Fórmulas introdutórias comecemos por inicialmente, é
preciso
Transições passemos - voltemos
sublinhado isto
Fórmulas conclusivas logo afinal em suma
Enumeração em primeiro ...- em seguida
aliás
Fórmulas concessivas mas embora
Expressão de reserva pode ser que
Fórmulas de insistência não apenas ... mas, tanto mais
que
Exemplo tal é o caso de, o exemplo...
confirma
Fig. 1 Componentes da argumentação
Estas são, segundo o autor, apenas algumas sugestões. Não se poderia reduzir a
argumentação a um inventário de estruturas léxico-sintáticas.
Procedimentos
Saber justificar
Formular uma hipótese
Saber tomar a defesa de
Relatar, criticando, a fala de um adversário
Fig. 2 Procedimentos da argumentação
Antes de passarmos para a análise de nossos dados, apresentamos algumas
considerações sobre coerência e coesão, que se ligam às noções, em especial, de
gênero e compreensão de texto.
1.4 Coesão e Coerência
A coerência é uma noção vaga na lingüística e ainda não há consenso sobre sua
definição e nem há uma teoria da coerência. Ela é em geral contraposta a outra
noção igualmente fluida, a coesão. Pelo menos é o que sugere o exame de vários
autores que trataram do assunto.
Sabese que a coerência tem a ver com a "boa formação" do texto, mas num
sentido que não tem muito a ver com qualquer idéia assemelhada à noção de
gramaticalidade usada no nível da frase, sendo mais ligada, talvez, a uma boa
formação em termos da interlocução comunicativa. Portanto, a coerência é algo
que se estabelece na interação, na interlocução, numa situação comunicativa
entre dois usuários. Ela é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários,
devendo ser vista, pois, como um princípio de interpretabilidade do texto. A
coerência é profunda, subjacente à superfície textual, não linear, não marcada
explicitamente na estrutura de superfície.
Ao contrário da coerência, a coesão é explicitamente revelada através de marcas
lingüísticas, índices formais na estrutura da seqüência lingüística e superficial do
texto, sendo, portanto, de caráter linear, já que se manifesta na organização
seqüencial do texto. É nitidamente sintática e gramatical, mas pode ser também
semântica.
Exemplos de uso de língua em situação real mostra-nos que a coesão contribui
para estabelecer a coerência, mas não garante sua obtenção. O texto não é
coerente porque as frases que o compõem guardam entre si determinadas
relações, mas estas relações existem precisamente devido à coerência do texto.
Assim, pois, as noções de coerência e coesão têm sido abordadas sob várias
perspectivas, relacionando-as a diferentes conceitos. Vamos examinar algumas
dessas propostas.
Charolles (1988) diz que, da mesma maneira que um conjunto de palavras não
produz uma frase, um conjunto de frases não produz um texto. Em ambos os
níveis, existem critérios eficientes de boa formação que instituem uma norma
mínima de composição textual. O uso dessa norma conduz a desqualificações
maciças e ingênuas: “este texto não tem pé nem cabeça”, “esta estória não tem
cabimento” muito mais poderosas que as avaliações depreciativas do tipo “mal
escrito”, “mal formulado”, que só dizem respeito aos arranjos de superfície, mas
não bloqueiam fundamentalmente o processo comunicativo.
Segundo Charolles (1988), esse sistema de regras de base constitui a
competência textual dos sujeitos, competência que uma teoria - ou gramática - do
texto se propõe a instituir como modelo. Uma tal gramática (cujo projeto é, em
todos os pontos, comparável ao das gramáticas de frases evocadas acima)
fornece, no interior de um quadro formal e problemático determinado, o conjunto
(em princípio exaustivo) das regras de boa formação textual. Dessas regras
podem-se derivar julgamentos teóricos chamados de coerência abrangendo, se
possível, exatamente o campo das apreciações vernaculares de desqualificação
máxima e “julgamentos de não padronização” correspondendo às depreciações de
superfície.
Charolles (1988) enuncia e discute quatro meta-regras de coerência remetendo a
uma apreensão geral, aproximativa e, ainda, pré-teórica da questão. Estas quatro
meta-regras serão chamadas:
? meta-regra de repetição;
? meta-regra de progressão;
? meta-regra de não contradição; e
? meta-regra de relação.
Um certo número de gramáticas de texto, segundo Charolles (1988), estabelecem
uma distinção muito importante entre dois níveis de organização textual, que
qualificam de macroestrutural e microestrutural. Conforme se consideram os
planos seqüencial ou textual, os problemas de coerência colocam-se em termos
mais ou menos diferentes:
num nível local ou microestrutural, a questão incide exclusivamente nas
relações de coerência que se estabelecem, ou não, entre as frases
(sucessivamente ordenadas) da seqüência;
num nível global ou macroestrutural, a questão incide, ao contrário, nas
relações que se estabelecem entre as seqüências consecutivas.
No estado atual das pesquisas, diz o autor, não mais parece possível,
tecnicamente, operar uma partição rigorosa entre as regras de abrangência textual
e as de abrangência discursiva. As gramáticas de texto rompem com as fronteiras
geralmente admitidas entre a semântica e a pragmática, entre o imanente e o
situacional; daí, em nossa opinião, a inutilidade presente de uma distinção coesão-
coerência que alguns propõem, baseando-se, justamente, em uma delimitação
precisa desses dois territórios.
Bednarek (2005) trata da relação entre frames e discurso, em especial, a função
de frames como instigadora de coerência. Ver-se-á que a aplicação de frames por
parte do ouvinte é muito importante para lhe possibilitar a criação da coerência.
Depois de estabelecer uma definição de frame, a autora delineia os vários modos
pelos quais esses frames instigadores de coerência podem agir num discurso.
Ela diz que o ouvinte aplica os frames de discurso estruturas de conhecimento
mentais que captam as feições típicas de uma situação para assegurar a
coerência. Uma vez estabelecida a definição de frame, ela focaliza a relação entre
texto, contexto, conhecimento de mundo e coerência.
Falando em termos amplos, diz a autora, a teoria de frame trata do conhecimento
de mundo. Numa primeira definição, um frame pode ser considerado como uma
estrutura de conhecimento mental que capta feições ‘típicas’ do mundo. Desde a
sua concepção, o conceito de frame tem interessado pesquisadores de vários
campos e tradições (cf. Tannen, 1993a: 3; 1993b: 15). Os pioneiros vieram da
filosofia e da psicologia (cf. Konerding, 1993:8), mas seus conceitos foram
desenvolvidos e reinterpretados por pesquisadores da inteligência artificial
(Minsky, 1975, 1977) e da sociologia (Goffman, 1974, 1981) para nomear apenas
alguns campos e autores.
Por outro lado, assim como acontece com o conceito de frame, a coerência
também é uma noção um tanto vaga na lingüística e não há ainda uma definição
geralmente aceita ou uma teoria da coerência (cf. Bublitz, 1999:1). Bednarek
(2005) não discute a noção em detalhe, restringindo-se a algumas observações
referentes à diferença entre coesão e coerência. A coesão é uma propriedade de
textos e refere-se aos meios lingüísticos para prover ‘textura’ (i.e., liga as
sentenças de um texto), tal como a referência, substituição, elipse, reiteração,
colocação e conjunção, de Halliday & Hasan (1976), os padrões do léxico, de
Hoey (1991), etc. A coerência, por outro lado, é mais bem descrita como conexão
semântica, lógica ou cognitiva que está subjacente ao texto (cf. Beaugrande and
Dressler, 1981: 4; Bussmann, 1996: 80; Thompson and Zhou, 2000: 121). Ao
invés de supor que essas conexões existam independentemente do falante ou do
ouvinte, a coerência é hoje claramente definida em relação à contribuição do
ouvinte: “[...] a coerência somente é mensurável em termos da avaliação do leitor
(Hoey, 1991: 11). Assim, chega-se a uma simples distinção entre coerência e
coesão: a coerência não é uma propriedade inerente ao texto; ela se refere a
relações lógicas de um texto e é estabelecida pelos ouvintes. Em outras palavras,
ela se refere à extensão pela qual os ouvintes julgam que este texto ‘está unido’ e
constitui um todo unificado. A coesão, por outro lado, é uma propriedade inerente
ao texto; ela se refere a mios textuais explícitos pelos quais as conexões lógicas
potenciais são sinalizadas. Em outras palavras, ela se refere ao modo pelo qual as
sentenças ligam-se no texto por meios lexicais e estruturais (cf. Bublitz, 1999).
Assim, a autora supõe que são os ouvintes que estabelecem a coerência, e não
os textos, embora os meios coesivos dos textos exercem um amplo papel
ajudando os ouvintes a estabelecer a coerência. Em geral, operamos por princípio
automático de coerência (cf. Brown and Yule, 1983: 66 ; Bublitz and Lenk, 1999:
156 ), supondo que o texto seja coerente (e que o falante obedeça aos princípios
de cooperação (Grice, 1975) que são tacitamente aceitas na conversa. Daí porque
o esforço que fazemos para criar coerência, apoiando-nos em pistas possíveis.
Agar & Hobbs (1982) adotam a linguagem teórica da inteligência artificial em
trabalhos de planejamento e inferência para trazer à análise do discurso
importantes aspectos de meta, contexto e conhecimento de mundo. Uma noção
central que surge desse trabalho é a da coerência, que, segundo eles, pode ser de
três tipos:
1. Coerência global. O falante tem metas globais que ele está tentando realizar ao
falar. Hobbs & Evans (1979) propuseram o uso de formalismos de planejamento
desenvolvidos na inteligência artificial como uma linguagem de descrição para o
comportamento conversacional. Supõe-se que o falante desenvolva um plano de
conversa ou narrativa para efetivar suas metas, fragmentando-as em sub-metas e
as sub-metas em outras sub-metas, até que as sub-metas possam se diretamente
efetivadas por meios de enunciados únicos. O plano é construído a partir do
conhecimento ou crenças do falante sobre o que causa ou impossibilita o quê, ou
freqüentemente a partir de planos menores pré-estruturados, como quando conta
uma estória que ele costuma contar. Conforme falam, monitoram o que dizem e as
respostas dos ouvintes e quando inferem que seu plano caminha
inadequadamente, modificam ou removem o plano e continuam.
Uma explicação de uma conversa nessa abordagem é uma especificação de
seqüências de planos que os participantes desenvolvem e mudam. Na análise de
cada enunciado, precisamos destacar o plano do falante até o ponto em que
entendemos o papel que o enunciado desempenha. Essa relação do enunciado do
plano geral do falante é que chamamos de coerência global.
2. Coerência local. A um ponto do desenvolvimento do plano textual, as sub-metas
estarão menos relacionadas com coisas que o falante está tentando efetivar no
mundo, mas mais com coisas que ele está tentando efetivar no texto, com o que
está dizendo. Por exemplo, ele pode querer contar um determinado evento, mas
para assim fazer, precisa fornecer certas informações de fundo. Ou algo precisa
ser contado de mais de uma perspectiva, e assim depois de contar um fato, ele
elabora sobre o assunto através de outro ângulo, antes de passar para outro fato.
Hobbs (1978) propôs um pequeno conjunto de relações de coerência, ou
movimentos de continuação de coerência para o enunciado seguinte, que liga não
somente enunciados individuais, mas também segmentos maiores do texto. Ele
mostrou como as relações surgem naturalmente a partir de metas associadas com
a situação no discurso, e definiu-as formalmente em termos de informação que
expressam, ou de inferências que podem ser extraídas delas.
Agar e Hobbs (1982), considerando que esse trabalho é central para o método de
análise por eles desenvolvido, fazem a seguinte elaboração. Dois movimentos de
continuação ou relações de coerência que desempenham um papel da micro-
análise abaixo serve como exemplos: (1) Uma maneira de permanecer coerente é
contar “o que aconteceu a seguir”, e Hobbs (1978) postulou uma continuação ou
relação de “ocasião”, que é mais forte que uma ordenação temporal, mas mais
fraca que uma causalidade. Sua definição formal breve é a seguinte: do evento
afirmado no primeiro segmento, podemos inferir uma mudança cujo estado final é
pressuposto pelo segundo segmento. Aqui a coerência do texto é um reflexo da
coerência no mundo. (2) Um outro modo de permanecer coerente é elaborar o que
foi dito. Isso serve a meta óbvia de enriquecer a compreensão do ouvinte sobre o
que o falante está dizendo. Sua definição é, grosseiramente da afirmação de
cada segmento, pode-se inferir a mesma proposição. Segmento de um texto pode
também ficar em relação paralela com outro: essa relação tem um motivo e uma
definição semelhante às de elaboração. Outras relações de coerência que figuram
na análise que os autores fazem são de contraste e explicação e conseqüência.
Uma explicação mais completa de relações de coerência é dada em Hobbs (1976,
1978). Sua definição formal desempenha um papel formal importante no método
de análise em foco, pois elas são uma função de força na reconstrução do
conjunto de crenças do falante, ou seu mundo cognitivo.
À estrutura que essas relações ou continuações de coerência confere ao texto
chamaremos coerência local. Se a coerência global fornece a visão top-down da
produção da fala estendida, a coerência local dá a visão bottom-up. Os requisitos
da coerência global dizem: “Dadas as metas gerais que tento realizar, o que posso
dizer a seguir que seja adequado?” A coerência local diz: “Dado o que eu acabei
de dizer, o que eu posso dizer que esteja relacionado a isso?’ Na maior parte, o
que se diz a seguir satisfará ambos os requisitos. Às vezes, contudo, temos
exemplos em que um ou o outro parecem perdidos. Por exemplo, já encontramos
casos em que o falante entra numa espécie de “escorregão associativo”,
permanecendo localmente coerente, mas derrapando no plano global. Por outro
lado, freqüentemente encontramos um corte repentino na narração depois que
uma meta narrativa de alto-nível foi satisfeita e é tempo para mover-se para a
seguinte. Aqui, requisitos da coerência local foram sacrificados em prol do plano
geral.
3. Coerência temal. Em todo texto coerente, encontraremos certos trechos do
conteúdo chamemo-los de temas que figuram de maneira importante repetidas
vezes. Agar (1979, 1981) investigou temas que ocorrem explicitamente em dados
etnográficos como paráfrases ou exemplos. O método dos autores permitirá a
identificação de temas de natureza menos explícita, incluindo suposições
subjacentes implícitas recorrentes, o uso de certos instrumentos para
determinadas funções discursivas, estruturas de coerência distintas freqüentes e
estratégias de narrativa de longo termo. Esses temas recorrentes conferem um
terceiro tipo de unidade ao texto, que eles chamam de coerência temal. As
ocorrências de temas repetidas através do texto são chamadas de “linha” de
coerência temal.
A coerência temal reflete uma questão antropológica de longo tempo com o
movimento da análise detalhada do material etnográfico para afirmações mais
amplas do padrão individual e cultural (cf. Spradley, 1979; Agar, 1980, para
recentes discussões metodológicas dessa questão). Ela serve como um ponteiro
de peça específica do texto para propriedades mais gerais do mundo do falante.
Ao mesmo tempo, ela se dirige a um problema no trabalho anterior de Hobbs
(1978) sobre a validação e modificação de suposições iniciais sobre as crenças e
metas do falante (Hobbs, 1978; Hobbs & Evans, 1979). A preocupação simultânea
com três tipos de coerência sintetiza a abordagem da inteligência artificial e da
etnografia de um modo que sugere a resolução do difícil problema da
interpretação do discurso.
Também Cornish (2003) fala em coerência local e global. Diz ela que o discurso
designa o resultado das seqüências de atos enunciativos, ilocucionários e
indexicais hierarquicamente estruturados, mentalmente representados em que os
participantes estão engajados conforme a comunicação se desenrola. Tais
seqüências têm como sua raison d'être a realização de alguma meta
comunicativa, e podem ser vistas como constituídas de unidades menores
caracterizadas pelo fato de que 'microproposições' (Kintsh & van Dijk, 1978) que
elas abrangem são localmente coerentes, isto é, realizam no nível do que Grosz
& Sidner (1986) chamam 'estrutura intencional' (Parisi & Castelfranchi, 1977). Tais
unidades mantêm entre si uma certa relação manifestando um tipo mais global de
coerência.
A autora demonstra, usando dois artigos de jornal, como o leitor cria discurso
baseando-se em várias pistas textuais fornecidas pelo escritor, em termos de um
contexto relevante. A sinalização de certos tipos de anáfora bem como a dêixis
fazem parte dessas pistas. Para tanto, ela define texto, discurso e contexto.
Ainda segundo a autora, texto é a seqüência conectada de sinais verbais e não-
verbais em termos dos quais o discurso é co-construído pelos participantes no ato
da comunicação. Discurso é a seqüência hierarquicamente estruturada, situada de
atos indexicais, enunciativos e ilocucionários realizada na perseguição de uma
meta comunicativa, integrada num dado contexto. Finalmente, o contexto é sujeito
a um processo de construção e revisão conforme o discurso se desenrola. É
através da invocação de um contexto relevante (que é em parte determinado pela
natureza do co-texto em questão, bem como pelo gênero) que o ouvinte/leitor é
capaz de converter a seqüência de pistas textuais em discurso.
O texto age como um reservatório de pistas servindo de instrução para o receptor
de como construir um modelo conceitual da situação evocado pelo produtor, um
modelo que o receptor pretende que seja idêntica ao modelo do produtor.
2. Capítulo 2 - Metodologia de Pesquisa
2.1 A escolha da metodologia
Esta pesquisa insere-se na área de análise do discurso e a metodologia adotada é
um estudo de caso, uma vez que estuda textos escritos numa comunidade
discursiva específica.
De acordo com Nunan (1992:77), o estudo de caso pode ser definido como uma
investigação e análise profunda acerca do que acontece em uma comunidade a
partir de um item de pesquisa. Pelo mesmo caminho, Gillhan (2001:1-2) o
caracteriza como um caso que busca responder perguntas de pesquisa e que
procura uma variedade de tipos de evidências que estão dentro do contexto.
A metodologia utilizada para a análise das redações do SARESP recorre à noção
de gênero, pela LSF, dividindo o texto em estágios da estrutura esquemática de
Martin (1992), classificando-os de acordo com a proposta de estrutura Problema-
Solução, de Hoey (1994). Por outro lado, apoiamo-nos na proposta de
componentes da argumentação, de Vigner (1988).
2.2 A Coleta de Dados
Para esta pesquisa, os dados foram coletados numa escola pública estadual de
São Paulo, em Humaitá, um bairro periférico de São Vicente. O corpus utilizado
para nossa análise é composto de dez redações escritas por alunos do 1º ano do
Ensino Médio, do período vespertino, que foram realizadas durante o Sistema de
Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP), elaborado
pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, em dezembro de 2003.
O SARESP 2003 pode ser considerado pela Coordenadoria de Estudos e Normas
Pedagógicas (CENP), da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, como
um dos grandes exames externos da história do país, pois até então, nenhuma
Rede havia sido avaliada integralmente. Em 2003, a Secretaria de Estado da
Educação estendeu, pela primeira vez o processo sistemático de avaliação a
todos os alunos do Ensino Fundamental e Médio da Rede Estadual Paulista.
Em suas primeiras edições, o SARESP avaliou habilidades cognitivas
desenvolvidas pelos alunos durante o processo de escolarização em séries e
componentes curriculares diversos. Nos últimos anos, porém, o Sistema vem se
centrando na avaliação das habilidades cognitivas de Leitura e Escrita adquiridas
pelos alunos ao longo de todas as séries dos Ensinos Fundamental e Médio. A
seleção e a definição dessas habilidades está fundamentada nas Propostas
Curriculares da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas - CENP/SEE,
nos Parâmetros Curriculares Nacionais (doravante PCNS).
O SARESP utiliza basicamente dois tipos de instrumentos de avaliação para
atingir seus objetivos. O primeiro consiste na aplicação de provas para medir o
desempenho dos alunos em Leitura/Escrita, apresentando um tema para redação
do gênero dissertativo-argumentativo para os alunos do Ensino Médio.
Com os dados colhidos por meio desse sistema de avaliação, a Secretaria de
Estado da Educação busca desenvolver estudos estatísticos e pedagógicos para
subsidiar professores e técnicos no desenvolvimento de ações voltadas ao
aprimoramento do processo de aprendizagem.
Por oportuno, transcrevemos as Instruções do SARESP aos alunos:
Para redigir seu texto, leia atentamente as instruções a seguir.
1. Leia com atenção todos os textos que serão estímulos visuais e verbais para
sua reflexão.
2. Escolha somente um dos temas propostos.
3. Utilize todos os seus conhecimentos para desenvolver o tema escolhido.
4. Dê um título ao seu texto.
5. Escreva um texto dissertativo-argumentativo; não faça desenhos nem redija
narrativas ou poemas.
6. Escreva no mínimo 20 linhas, considerando-se letra de tamanho regular.
7. Faça o rascunho na folha a ele destinada.
8. Desenvolva sua redação a tinta, na folha a ela destinada.
2.3. Procedimentos
Cada redação que deve pertencer ao gênero dissertativo-argumentativo,
segundo requisito do SARESP - será examinada na sua estrutura esquemática,
dividida nos estágios genéricos, segundo a LSF. Como fizemos ver, a LSF não
trata especificamente do gênero dissertativo-argumentativo, e assim fomos buscar
subsídios para sua análise em Hoey (1994), cuja proposta de estrutura Problema-
Solução parece-nos adequada para examinar essa questão.
Essa divisão em partes integrantes da estrutura Problema-Solução servirá para
verificar se: (a) essas partes existem de fato na redação examinada; (b) a ordem
respeitada é determinada pela estrutura. Em caso de (a) e (b) não estarem de
acordo com a estrutura, far-se-á a re-estruturação, quando será examinada a
questão lexical em que nos baseamos para justificar essa re-estruturação.
específica e que foi complementada por Vigner (1988), no que se refere,
especialmente, aos elos intra e inter parágrafos.
Devemos esclarecer que algumas redações são muito confusas em termos
semânticos e que nem sempre foi possível a conexão das suas orações, seguindo
as sugestões de Vigner (1988).
A seguir, será examinada a sinalização lexical, de acordo com Hoey (1994), para
justificarmos a classificação dessas etapas de acordo com a Proposta. Para tanto,
serão obedecidas as seguintes etapas:
(a) verificação da sinalização da Situação;
(b) verificação da sinalização do Problema;
(c) verificação da sinalização da Solução; e
(d) verificação da sinalização da Avaliação.
3. Capítulo 3 - Análise dos dados e discussão dos resultados
Iniciamos a análise das redações do SARESP. Vamos identificar os estágios da
estrutura Problema-Solução, de Hoey (1994), mas ao invés de numerarmos as
sentenças ou parte delas, como faz o autor, preferimos identificar os estágios
diretamente no texto, que será, então, re-escrito logo depois do texto original.
Análise da redação (1)
Desarmamento no Brasil
Pois é agora o Presidente do Brasil começou com uma eleição para vermos e
refletirmos na cabeça de todos brasileiros por meio dessa votação para ver se
conseguirmos abaixar os números de mortes, de assaltos e de furtos em São
Paulo, que aliás é muito mal representado la fora.
É mas por meio dessa votação, todos os brasileiros que se residencia na grande
São Paulo sabe que isso não vai adiantar em nada porque infelismente no nosso
país existe uma máfia de policiais que hoje em dia envolvido com policiais ou seja
de “Parceria” por isso nós brasileiros precisamos sentar e refletir em nossas
mentes, que policiais não ira acabar com o crime em São Paulo e nem com o
roubo, mas isso tudo não é culpa de nós cidadão que sairmos sempre de
madrugada para lutarmos para uma melhoria de vida em nossa família em quanto
isso la em Brasília o nosso Presidente acordando meio dia e sem correr nenhum
risco de vida pois é agora todos nós estamos vendo como nosso país está muito
mal representado isso tudo é culpa de nosso Presidente.
Quadro 1 - redação (1)
(1) Situação: Pois é agora o Presidente do Brasil começou com uma eleição
(2) Solução: para vermos e refletirmos na cabeça de todos brasileiros por meio
dessa votação para ver se conseguirmos abaixar
(3) Problema: os números de mortes, de assaltos e de furtos em São Paulo, que
aliás é muito mal representado lá fora.
(4) Situação: É mas por meio dessa votação,
(5) Problema: todos os brasileiros que têm residência na grande São Paulo sabe
que isso não vai adiantar em nada porque infelizmente no nosso país existe
uma máfia de policiais que hoje em dia está envolvido com policiais, ou seja,
de “Parceria”
(6) Solução: por isso nós brasileiros precisamos sentar e refletir em nossas
mentes,
(7) Problema: que policiais não ira acabar com o crime em São Paulo e nem com
o roubo,
(8) Avaliação: mas isso tudo não é culpa de nós cidadão que sairmos sempre de
madrugada para lutarmos para uma melhoria de vida em nossa família
(9) Problema: enquanto isso lá em Brasília o nosso Presidente acordando meio
dia e sem correr nenhum risco de vida
(10) Avaliação: pois é agora todos nós estamos vendo como nosso país está
muito mal representado e isso tudo é culpa de nosso Presidente.
A análise acima mostra como o produtor desta redação espalha os componentes
da estrutura Problema-Solução no decorrer do texto, o que compromete a
legibilidade do texto. Acreditamos que, se o nosso aluno for conscientizado sobre
essa questão, não só ele terá mais facilidade de estruturar sua redação, mas
também entenderá que assim facilitará a compreensão de sua escrita para o leitor.
A seguir, mostramos como ficará a redação se o autor reunir adequadamente as
partes da estrutura Problema-Solução.
(1) Situação: Pois é agora o Presidente do Brasil começou com uma eleição
(4) Situação: É mas por meio dessa votação,
(3) Problema: os números de mortes, de assaltos e de furtos em São Paulo, que
aliás é muito mal representado lá fora.
(5) Problema: todos os brasileiros que têm residência na grande São Paulo sabe
que isso não vai adiantar em nada porque infelizmente no nosso país existe uma
máfia de policiais que hoje em dia está envolvido com policiais, ou seja, de
“Parceria”
(7) Problema: que policiais não ira acabar com o crime em São Paulo e nem com
o roubo,
(9) Problema: enquanto isso lá em Brasília o nosso Presidente acordando meio
dia e sem correr nenhum risco de vida
(2) Solução: para vermos e refletirmos na cabeça de todos brasileiros por meio
dessa votação para ver se conseguirmos abaixar
(6) Solução: por isso nós brasileiros precisamos sentar e refletir em nossas
mentes,
(8) Avaliação: mas isso tudo não é culpa de nós cidadão que sairmos sempre de
madrugada para lutarmos para uma melhoria de vida em nossa família
(10) Avaliação: pois é agora todos nós estamos vendo como nosso país está
muito mal representado e isso tudo é culpa de nosso Presidente.
Antes de iniciarmos a análise, notemos que o ‘Pois é’ não está de acordo com a
‘fórmula introdutória’ (Vigner 1988) (cf. tabela acima). O autor sugere algo como
comecemos por ou inicialmente, é preciso já que Pois é’, que encabeça a
redação, seria mais adequada como continuação de discurso. De uma maneira
geral, não há sinalização dos componentes da argumentação (Vigner 1988), em
especial no segundo parágrafo, em que o autor mistura todos os estágios da
estrutura Problema-Solução, como veremos a seguir. Esses estágios
apresentados de maneira confusa podem ser vagamente detectados por alguns
sinalizadores, tais como: mas, pois, para. O que a proposta de Hoey (1994) pode
contribuir para melhorar a produção desse aluno é a conscientização das
estruturas das quais ele já tem uma pequena noção.
O texto começa com a apresentação da Situação (1), que deve continuar em (4),
já que como diz Hoey (1994), a (1) está apoiada em termos de avaliação, ou
seja, Situação-Avaliação da Situação em (4). Assim, julgamos que (1) deve ser
seguida por (4), e não por (2), que é parte do Problema. Isto pode ser mostrado
pelas duas sentenças:
(1) Pois é agora o Presidente do Brasil começou com uma eleição. (4) É mas por meio dessa
votação, todos os brasileiros que têm residência na grande São Paulo sabe
Em que a primeira sentença é a Situação e a segunda é a Avaliação da Situação,
já que o mas indica o posicionamento do autor, avaliando a Situação.
A sinalização da Situação
A função de (1a) pode ser identificada como Situação do seguinte modo.
(1a) Pois é agora o Presidente do Brasil começou com uma eleição. (1b) É mas por meio dessa
votação, todos os brasileiros que têm residência na grande São Paulo sabe
(a) Tempo verbal: Em geral, a situação é marcada por verbo em tempo não-
passado simples, segundo Hoey (1994). No caso em pauta, o verbo começar está
no passado, mas o adjunto adverbial agora, coloca a situação no presente. Esse
pretérito do verbo sugere uma linguagem coloquial, assim como em ‘já começou,
lá vem ele de novo’, com referência a uma situação presente. Assim, poder-se-ia
dizer que existe uma linguagem escrita com forte marca de oralidade.
(b) Sinalização lexical: Em (1b), eleição retomada anaforicamente por votação,
que indica uma situação, vista como problemática posteriormente.
(c) Posição: A posição de (1a) e (1b) é a da primeira oração no discurso. A
expectativa em relação à primeira sentença do discurso é, em geral, que forneça
um contexto para sentenças subseqüentes.
A sinalização do Problema
Sentenças (3), (5) (7) e (9) podem ser identificadas como o Problema. Justifica-se
essa identificação através de vários traços que o sinalizam com essa função.
Todos são exemplos de sinalização lexical.
(i) mortes, assaltos, furtos’ é muito mal representado’:
(ii)infelizmente ‘não vai adiantar’ ‘máfia de policiais’;
(iii)não irão acabar com o crime’
(iv)presidente acordando ao meio dia’
Estágios (3), (5), (7) e (9), que se espalham pelo texto, deveriam estar reunidas no
estágio Problema, da estrutura Problema-Solução, pois todas elas evidenciam a
situação caótica da polícia brasileira, que, ao invés de dar combate ao crime,
como pede a profissão, aliam-se a ele, configurando assim o problema destacado
pelo texto. Aumentando a gravidade do Problema, o autor diz que o presidente da
República permanece em segurança acordando ao meio dia.
A julgar pela proposta de Hoey (1994), há aqui uma fragmentação do Problema, o
que interfere na constituição do gênero através de estágios, o que pode interferir
negativamente na compreensão desse texto.
(d) Avaliação negativa: na sentença (ii), o item infelizmente indica uma avaliação
negativa por parte do autor, o que é comum na exposição de um problema. Essa
avaliação negativa chama por uma Resposta, na forma de uma Solução.
A sinalização da Solução
Os estágios (2) e (6) expressam a Solução do Problema. Note-se que elas estão
distantes uma da outra, o que pode concorrer para dificultar a leitura do texto, já
que interfere na ordenação dos estágios do gênero. Justificamos a identificação
desses estágios com a Solução pelos seguintes fatos:
(a) Sinalização lexical: ‘para ver se conseguimos abaixar’ precisamos sentar e
refletir em nossas mentes. Na proposta de Hoey (1994), conseguimos seria um
item do Vocabulário 3, sinalizando uma Resposta (ou Solução) para o Problema.
Assim também refletir, sugere a procura de uma Solução.
(b) Forma verbal: Notemos que os verbos apontam para o futuro, ao mesmo
tempo em que se referem a situações do passado. Assim, para ver se
conseguimos abaixar’, expressa uma situação futura com conseguir, enquanto que
abaixar refere-se a diminuir a criminalidade que já existe.
Há uma avaliação de obrigatoriedade em precisamos, que sugere o dever de todo
brasileiro tentar solucionar o problema.
A sinalização da Avaliação
Notemos o tom direto, não modalizado, das sentenças da Avaliação (8) e (10):
não é culpa de nós cidadão’(sic) isso tudo é culpa de nosso Presidente- nosso
país está muito mal representado. Os verbos estão no presente tempo de
verdades universais concorrendo para expressar a avaliação negativa do autor.
Análise da redação (2)
P.CC
Nossos programas de televisão, nos mostra a cada dia as informações de
violências, no P.CC por exemplo, recentemente a televisão teve uma entrevista
com um dos supostos bandidos, esta intensificou o debate sobre a influência da
televisão na sociedade.
A televisão é muito útil, pois nos traz notícias polêmicas, e todo dia temos notícias
sobre violência, bandidos fugindo da cadeia, ferens sendo mortos, por motivos de
drogas, a prostituição, homens se relacionando com homens, tudo isso dentro da
cadeia, que a televisão passa para nós, fora as injustiças a cada dia crescendo, e
tomando conta do nosso pais, na televisão temos sim as noticias boas mas são
poucas, mas nos cremos e crescemos pensando no melhor.
Quadro 2 redação 2
(1) Problema: Nossos programas de televisão, nos mostra a cada dia as
informações de violências.
(2) Situação: no P.CC por exemplo, recentemente a televisão teve uma entrevista
com um dos supostos bandidos esta intensificou o debate sobre a influência
da televisão na sociedade.
(3) Avaliação: A televisão é muito útil, pois nos traz notícias polêmicas
(4) Problema: e todo dia temos notícias sobre violência, bandidos fugindo da
cadeia, ferens sendo mortos, por motivos de drogas, a prostituição, homens se
relacionando com homens, tudo isso dentro da cadeia.
(5) Situação/Problema*: que a televisão passa para nós fora as injustiças a cada
dia crescendo, e tomando conta do nosso pais.
*Notemos que, aqui, há uma sobreposição de Situação (programas de TV) com o
Problema (violência na TV). Na verdade, nem sempre parece ser possível
distinguir esses dois estágios.
(6) Avaliação: na televisão temos sim as noticias boas mas são poucas, mas nos
cremos e crescemos pensando no melhor.
A estrutura desta redação alterna os componentes da estrutura Problema-Solução
no decorrer do texto, o que compromete a compreensão do texto por parte do
leitor. Também o texto em foco omite o estágio da Solução, limitando-se a
apresentar o problema e avaliando a situação. Não há, portanto, uma proposta de
intervenção para a situação problemática, o que enfraquece a linha argumentativa
do texto, pois se não se apresenta uma solução, isso significa que o autor não tem
argumentos para combater o Problema.
Acreditamos que, se o nosso aluno for conscientizado sobre essa questão, não só
ele terá mais facilidade de estruturar sua redação, mas também entenderá que
assim facilitará a compreensão de sua escrita para o leitor. A seguir, mostramos
como ficará a redação se o autor reunir adequadamente as partes da estrutura
Problema-Solução.
Re-estruturação:
(2) Situação: no P.CC por exemplo, recentemente a televisão teve uma entrevista
com um dos supostos bandidos esta intensificou o debate sobre a influência da
televisão na sociedade.
(5) Situação: que a televisão passa para nós fora as injustiças a cada dia
crescendo, e tomando conta do nosso pais
Para essa re-estruturação ser adequada em termos da estrutura proposta por
Vigner (1988), o produtor do texto deveria iniciar a Situação com algo como: ‘A
televisão apresentou uma entrevista que intensificou o debate sobre a sua
influência na sociedade, já que tem transmitido ...’
(1) Problema: Nossos programas de televisão, nos mostra a cada dia as
informações de violências
(4) Problema: e todo dia temos notícias sobre violência, bandidos fugindo da
cadeia, ferens sendo mortos, por motivos de drogas, a prostituição, homens se
relacionando com homens, tudo isso dentro da cadeia.
Conforme sugestão de Vigner (1988), o Problema poderia ser re-estruturado da
seguinte forma: ‘e todo dia temos notícias sobre violência. Tal é o caso de
bandidos fugindo da cadeia...
Não há proposta de Solução
(3) Avaliação: A televisão é muito útil, pois nos traz notícias polêmicas
(6) Avaliação: na televisão temos sim as noticias boas mas são poucas, mas nos
cremos e crescemos pensando no melhor
Ainda, segundo Vigner (1988), o autor poderia utilizar uma fórmula de insistência
na re-estruturação da Avaliação: ‘Na televisão temos não apenas notícias boas,
embora sejam poucas...’
O texto começa com a apresentação da Situação (2), que deve continuar em (5),
pois ambos os estágios dizem respeito aos programas atualmente apresentados
pela televisão, em virtude dos últimos acontecimentos em São Paulo. Ou seja, (2)
e (5) tratam do mesmo assunto o que justificaria a sua colocação no mesmo
parágrafo, ao invés de espalhá-los pelo texto. Veja como fica se juntarmos esses
estágios:
(2) Situação: no P.CC por exemplo, recentemente a televisão teve uma entrevista com um dos
supostos bandidos esta intensificou o debate sobre a influência da televisão na sociedade.
(5) Situação: que a televisão passa para nós fora as injustiças a cada dia crescendo, e
tomando conta do nosso pais
A sinalização da Situação
A função de (2) pode ser identificada como Situação do seguinte modo.
(2) Situação: no P.CC por exemplo, recentemente a televisão teve uma entrevista com um dos
supostos bandidos esta intensificou o debate sobre a influência da televisão na sociedade.
(5) Situação: que a televisão passa para nós fora as injustiças a cada dia crescendo, e
tomando conta do nosso pais
(a) Tempo verbal: Em geral, a situação é marcada por verbo em tempo não-
passado simples, segundo Hoey (1994). No caso em pauta, o verbo ter está no
presente o que coloca o programa nos dias atuais. O mesmo ocorre em (5), em
que o verbo passar está no presente. Há uma avaliação da situação, nos termos
de Hoey (1994), em esta intensificou o debate posiciona o autor em relação à
situação, referida pela anáfora esta.
(b) Sinalização lexical: Em (2), recentemente, que coloca a questão no presente e,
além disso, a cada dia crescendo que indica uma situação vista como
problemática.
(c) A posição de (2) é a da primeira oração no discurso. A expectativa em relação
à primeira sentença do discurso é, em geral, que forneça um contexto para
estágios subseqüentes. E o estágio (5) dá continuidade à formação desse
contexto.
A sinalização do Problema
(1) Problema: Nossos programas de televisão, nos mostra a cada dia as informações de violências
(4) Problema: e todo dia temos notícias sobre violência, bandidos fugindo da cadeia, ferens sendo
mortos, por motivos de drogas, a prostituição, homens se relacionando com homens, tudo isso
dentro da cadeia.
Estágios (1) e (4) podem ser identificados como o Problema. Justifica-se essa
identificação através de vários traços que o sinalizam com essa função. Todos são
exemplos de sinalização lexical.
(i) ‘violência;
(ii)violência’ ‘bandidos fugindo da cadeia’ ‘ferens (sic) sendo mortos’;
drogas’ ‘prostituição’ ‘cadeia’
Estágios (1) e (4), que se distanciam no texto, deveriam estar reunidos no estágio
Problema, da estrutura Problema-Solução, pois todos eles evidenciam a situação
de divulgação da violência pela televisão brasileira.
A julgar pela proposta de Hoey (1994), há aqui uma fragmentação do Problema, o
que interfere na constituição do gênero através de estágios, o que pode interferir
negativamente na compreensão desse texto.
(d) Avaliação negativa: não há avaliação negativa por parte do autor, o que seria
desejável na exposição de um problema, pois esta chamaria por uma Resposta,
na forma de uma Solução. Talvez esse fato justifique a ausência de proposta de
Solução nesse texto. Pela proposta de Hoey (1994), poder-se-ia caracterizar essa
situação como um agravante, na medida em que o autor da redação não se
posiciona em relação ao Problema.
A sinalização da Solução
Não há proposta de Solução.
A sinalização da Avaliação
(3) Avaliação: A televisão é muito útil, pois nos traz notícias polêmicas
(6) Avaliação: na televisão temos sim as noticias boas mas são poucas, mas nos cremos e
crescemos pensando no melhor
Notemos o tom direto, não modalizado, das sentenças da Avaliação (3) e (6): ‘é
muito útil’ as notícias boas são poucas’. Os verbos estão no presente e as
sentenças no modo declarativo, concorrendo para expressar a avaliação do autor
a respeito da utilidade dos programas de televisão.
Análise da redação (3)
Televisionando o mundo
Desde a criação da televisão, dizem que ela influência os telespectadores a
violência, mas a televisão não influência mas sim a opinião dos governantes, pois
os governantes passam as suas imagens, a televisão não influêcia mas notifica os
problemas do mundo, como guerras, a fome, a miséria, a sede, a falta de moradia.
A televisão em si, não transmite a violência pois não é preciso ver televisão para
matar, roubar, a influência vem das pessoas de má fé que usam a televisão para
transmitir a violência as pessoas que roubam e influenciam as crianças a roubar,
matar, mas como os governantes não têm quem culpar, culpam a televisão sendo
que a culpa é deles próprios pois deveriam colocar policiais nas ruas.
A televisão transmite muitos programas bons, mas tem alguns que abordão o
tema da violência de forma com que o mundo todo tivesse culpa que a violência
está aqui, ali, em cada canto do mundo.
As emissoras deviam passar programas mais divertidos, só passam 4,5
programas sobre a violência isso influência os jovens, de tanto falar da violência
os jovens tentam sair do mundo do crime.
Quadro 3 redação (3)
(1) Situação: Desde a criação da televisão, dizem que ela influência os
telespectadores a violência mas a televisão não influência
(2) Problema: mas sim a opinião dos governantes, pois os governantes passam
as suas imagens,
(3) Situação: a televisão não influêcia mas notifica os problemas do mundo, como
guerras, a fome, a miséria, a sede, a falta de moradia.
(4) Situação: A televisão em si, não transmite a violência
(5) Avaliação: pois não é preciso ver televisão para matar, roubar, a influência
vem das pessoas de má fé que usam a televisão para transmitir a violência as
pessoas que roubam e influenciam as crianças a roubar, matar
(6) Problema: mas como os governantes não têm quem culpar, culpam a
televisão sendo que a culpa é deles próprios pois deveriam colocar policiais nas
ruas.
(7) Avaliação: A televisão transmite muitos programas bons,
(8) Situação: mas tem alguns que abordão o tema da violência de forma com que
o mundo todo tivesse culpa que a violência está aqui, ali, em cada canto do
mundo.
(9) Solução: As emissoras deviam passar programas mais divertidos,
(10) Situação: só passam 4,5 programas sobre a violência
(11) Avaliação*: isso influência os jovens, de tanto falar da violência os jovens
tentam sair do mundo do crime.
*Parece haver uma incoerência envolvida nessa avaliação, pois ‘como poderia o
excesso de violência na TV, influenciar positivamente os jovens, que ainda não
têm estrutura psicológica para avaliar esses programas’.
Num caso assim é difícil a aplicação da proposta de Vigner (1988), no que se
refere à Relação lógica do texto. Este tipo de caso se repete em muitas das
redações examinadas, o que mostra que a argumentação desses textos fica
prejudicada por falta da coerência entre as idéias apresentadas pelo autor.
Re-estruturação:
(1) Situação: Desde a criação da televisão, dizem que ela influência os
telespectadores a violência mas a televisão não influência
(3) Situação: a televisão não influêcia mas notifica os problemas do mundo, como
guerras, a fome, a miséria, a sede, a falta de moradia.
(4) Situação: A televisão em si, não transmite a violência
(8) Situação: mas tem alguns que abordão o tema da violência de forma com que
o mundo todo tivesse culpa que a violência está aqui, ali, em cada canto do
mundo.
(10) Situação: passam 4,5 programas sobre a violência
Na apresentação da Situação (1), (3) e (8), o autor utiliza a fórmula concessiva
mas’, o que segundo Vigner (1988) é um componente da argumentação. O
mesmo ocorre na exposição do Problema (2) e (6).
(2) Problema: mas sim a opinião dos governantes, pois os governantes passam
as suas imagens,
(6) Problema: mas como os governantes não têm quem culpar, culpam a
televisão sendo que a culpa é deles próprios pois deveriam colocar policiais nas
ruas.
(9) Solução: As emissoras deviam passar programas mais divertidos
(11) Avaliação: isso influência os jovens, de tanto falar da violência os jovens
tentam sair do mundo do crime.
(5) Avaliação: pois não é preciso ver televisão para matar, roubar, a influência
vem das pessoas de má fé que usam a televisão para transmitir a violência as
pessoas que roubam e influenciam as crianças a roubar, matar
(7) Avaliação: A televisão transmite muitos programas bons,
A análise acima mostra como o produtor desta redação espalha os componentes
da estrutura Problema-Solução no decorrer do texto, o que compromete a
legibilidade do texto. Acreditamos que, se o nosso aluno for conscientizado sobre
essa questão, não só ele terá mais facilidade de estruturar sua redação, mas
também entenderá que assim facilitará a compreensão de sua escrita para o leitor.
A seguir, mostramos como ficará a redação se o autor reunir adequadamente as
partes da estrutura Problema-Solução.
O texto apresenta a Situação nos estágios (1), (3), (4), (8) e (10) mostrando que a
televisão ‘notifica os problemas’, mas não influi na opinião do telespectador. O
texto apresenta problema de coerência, pois o estágio (8) pode ser considerado
deslocado do restante da situação, já que a notificação da violência que não era
considerada prejudicial, aqui ela surge negativamente avaliada. Esta contradição
resulta em outra no estágio do Problema, como veremos oportunamente.
(1) Situação: Desde a criação da televisão, dizem que ela influência os telespectadores a violência
mas a televisão não influência
(3) Situação: a televisão não influêcia mas notifica os problemas do mundo, como guerras, a fome,
a miséria, a sede, a falta de moradia.
(4) Situação: A televisão em si, não transmite a violência
(8) Situação: mas tem alguns que abordão o tema da violência de forma com que o mundo todo
tivesse culpa que a violência está aqui, ali, em cada canto do mundo.
(10) Situação: só passam 4,5 programas sobre a violência
A sinalização da Situação
A função dos estágios acima referidos como sendo de Situação pode ser
justificada do seguinte modo.
(a) Tempo verbal: Em geral, a situação é marcada por verbo em tempo não-
passado simples, de acordo com Hoey (1994). No caso em pauta, todos os
estágios que compõem a Situação apresentam verbo no presente, tais como:
‘dizem’ ‘influencia’ ‘notifica’ ‘transmite’ ‘abordam’ ‘está aqui’ ‘passam’.
(b) Sinalização lexical: Em ‘Desde a criação da televisão’ há uma situação que se
origina no passado e perdura até a situação presente. Em (3) e (4), o verbo no
presente refere-se à função atual da televisão, isto é, ‘não influencia, mas notifica’
e, finalmente, em (10) ‘só passam 4,5 programas sobre violência’.
(c) A posição de (1) é a da primeira oração no discurso. A expectativa em relação
à primeira sentença do discurso é, em geral, que forneça um contexto para
sentenças subseqüentes.
A sinalização do Problema
(2) Problema: mas sim a opinião dos governantes, pois os governantes passam as suas
imagens,
(6) Problema: mas como os governantes não têm quem culpar, culpam a televisão sendo que a
culpa é deles próprios pois deveriam colocar policiais nas ruas.
(11) Problema: isso influência os jovens, de tanto falar da violência os jovens tentam sair
do mundo do crime.
Estágios (2), (6) e (11) podem ser identificados como o problema. Justifica-se essa
identificação através de vários traços lexicais que o sinalizam com essa função.
(i) ‘mas sim a ‘opinião dos governantes’ ‘passam as suas imagens’
(ii) ‘governantes não têm quem culpar’ culpam a televisão’ ‘policiais nas
ruas’
(iii)’ influência (sic) os jovens’ ‘os jovens tentam sair do mundo do crime’
Estágios (2), (6), e (11), que se espalham pelo texto, deveriam estar reunidos no
estágio Problema, da estrutura Problema-Solução. Há aqui um problema de falta
de coerência, já mencionado no exame da Situação, já que o estágio (11)
apresenta como problemáticos os programas sobre violência, quando em (2) e (6),
o autor não só negava esse fato, mas focalizava os governantes como a real fonte
do Problema.
Pode-se ver que a fragmentação do Problema não só interfere na constituição do
gênero através de estágios, dificultando a compreensão desse texto, mas acaba
acarretando a inclusão de fato contraditório no arcabouço desse Problema.
(d) Avaliação negativa: Em (a), a sentença ‘mas sim a ‘opinião dos governantes’
indica uma avaliação negativa por parte do autor no sentido de negar que a culpa
da violência seja da televisão.
A sinalização da Solução
O estágio (9) expressa a Solução do Problema. Notamos que o autor apresenta
apenas uma Solução, muito embora apresente o Problema nas sentenças (2), (6)
e (11). Justificamos a identificação desse estágio com a Solução pelos seguintes
fatos:
(a) Sinalização lexical: Em (9), ‘ as emissoras deviam passar programas mais
divertidos’ sinaliza a obrigação das emissoras em transmitir programas que
promovam o entretenimento.
(b) Forma verbal: O único verbo ‘deviam’ está modalizado no tempo futuro, que
sugere uma obrigação que as emissoras têm em transmitir programas mais
divertidos.
De acordo com Hoey (1994), notamos uma Avaliação inserida na Solução, fato
que revela a opinião do autor.
A sinalização da Avaliação
Percebemos o tom direto, não modalizado, da sentença da Avaliação (5): ‘não é
preciso ver televisão’. Nas sentenças (5) e (7), os verbos estão no presente : ‘vem’
‘ usam ‘ ‘roubam’ ‘influenciam’ ‘transmite’, fato que concorre para expressar
a avaliação negativa do autor.
Análise da redação (4)
Texto: Diga não a violência nas televisões
Eu penso um seguinte sobre a violência nas televisões e nas ruas não tem jeito de
se acabar com toda essa violência.
Poucos programas de televisão mostram educação, esportes, lazer etc...
Muitas crianças vêem na televisão mortes, acidentes, assaltos e muitas coisas
ruins.
Dá para acabar com essa violência, não porque o brasileiro sempre mostra tudo o
que acontece no Brasil e no mundo todo pelas câmeras de tv. As crianças não são
obrigadas assistir programas de televisão muitos violências. Então vamos acabar
com essa violência sim, vamos mostrar mais programas de televisão esportivos,
culturais e muito mais.
Diga não para a violência nas ruas e nas televisão. Vamos mostrar mais paz no
mundo.
Quadro 4 redação (4)
(1) Avaliação: Eu penso um seguinte sobre a violência nas televisões e nas ruas
não tem jeito de se acabar com toda essa violência
(2) Situação: Poucos programas de televisão mostram educação, esportes, lazer
etc
(3) Problema: Muitas crianças vêem na televisão mortes, acidentes, assaltos e
muitas coisas ruins
(4) Avaliação: Dá para acabar com essa violência, não porque o brasileiro sempre
mostra tudo o que acontece no Brasil e no mundo todo pelas câmeras de tv.
(5) Avaliação: As crianças não são obrigadas assistir programas de televisão
muitos violências.
(6) Solução: Então vamos acabar com essa violência sim, vamos mostrar mais
programas de televisão esportivos, culturais e muito mais.
(7) Solução: Diga não para a violência nas ruas e nas televisão.Vamos mostrar
mais paz no mundo.
A seguir, mostraremos a re-estruturação da redação, com base na estrutura de
Hoey (1994):
Re-estruturação:
(2) Situação: Poucos programas de televisão mostram educação, esportes, lazer
etc
(3) Problema: Muitas crianças vêem na televisão mortes, acidentes, assaltos e
muitas coisas ruins
(6) Solução: Então vamos acabar com essa violência sim, vamos mostrar mais
programas de televisão esportivos, culturais e muito mais.
(7) Solução: Diga não para a violência nas ruas e nas televisão. Vamos mostrar
mais paz no mundo.
(1) Avaliação: Eu penso um seguinte sobre a violência nas televisões e nas ruas
não tem jeito de se acabar com toda essa violência
(4) Avaliação: Dá para acabar com essa violência, não porque o brasileiro sempre
mostra tudo o que acontece no Brasil e no mundo todo pelas câmeras de tv.
(5) Avaliação: As crianças não são obrigadas assistir programas de televisão
muitos violências
De acordo com sugestão de Vigner (1988), a Avaliação poderia ser re-estruturada
da seguinte forma: Inicialmente, penso que a violência não apenas nas televisões,
mas tanto mais que nas ruas...’ o que contribuiria para a coesão do texto.
A sinalização da Situação
A Situação referida pelo autor é de que os programas de TV não são educativos.
A questão aqui é que o autor não diz explicitamente o que realmente a TV tem
mostrado, ou seja, programas sobre violência. Esse fator vem embutido não em
estágio de Situação, mas em outros estágios como no de Problema e Avaliação.
Assim, o estágio (3), que assinalamos como sendo de Problema, também sinaliza
parte da Situação. Nesse sentido, a estrutura de Hoey (1994), poderia esclarecer
a ele a forma em que esses assuntos poderiam ser apresentados, ou seja, de
maneira a permitir ao leitor a percepção das diferentes etapas da argumentação aí
presentes.
Por outro lado, a falta de sinalização, segundo Vigner (1988), pode ser
considerada como sendo decorrente dessa mistura de estágios na produção do
texto.
(a) Tempo verbal: de acordo com Hoey (1994), a Situação é marcada por verbo
em tempo não passado simples, o que ocorre no caso em pauta. Os estágios que
compõem a Situação apresentam verbo no presente, a saber: ‘mostram’ ‘ são’
(b) Sinalização lexical: Em (2), o verbo no presente sinaliza uma situação atual em
que ‘poucos programas de televisão mostram educação’.
A sinalização do Problema
(1) Problema: Eu penso um seguinte sobre a violência nas televisões e nas ruas não tem jeito de
se acabar com toda essa violência
(3) Problema: Muitas crianças vêem na televisão mortes, acidentes, assaltos e muitas coisas ruins
Estágios (1), (3) podem ser identificados como o problema. Justifica-se essa
identificação através de vários traços lexicais que o caracterizam, tais como:
(i) ‘a violência nas televisões e nas ruas não tem jeito’ ‘ de se acabar com toda
essas violência’
(ii) ‘mortes’ ‘ acidentes’ ‘assaltos’ ‘muitas coisas ruins’
(c) Avaliação negativa: em (a), a sentença ‘a violência nas televisões e nas ruas
não tem jeito de se acabar’ mostra o posicionamento do autor que avalia a
situação negativamente.
A sinalização da Solução
(6) Solução: Então vamos acabar com essa violência sim, vamos mostrar mais programas de
televisão esportivos, culturais e muito mais.
(7) Solução: Diga não para a violência nas ruas e nas televisão.Vamos mostrar mais paz no
mundo.
Os estágios (6) e (7) expressam a Solução do Problema. Isso se dá por meio de
sinalizações lexicais, conforme proposta de Hoey (1994).
(i) vamos acabar com essa violência;
(ii) ‘vamos mostrar mais programas de televisão esportivos, culturais e muito
mais.’
(iii) ‘vamos mostrar mais paz no mundo’.
A sinalização da Avaliação
(1) Avaliação: Eu penso um seguinte sobre a violência nas televisões e nas ruas não tem jeito de
se acabar com toda essa violência
(4) Avaliação: Dá para acabar com essa violência, não porque o brasileiro sempre mostra tudo o
que acontece no Brasil e no mundo todo pelas câmeras de tv.
(5) Avaliação: As crianças não são obrigadas assistir programas de televisão muitos violências.
Notemos o tom não modalizado das sentenças da Avaliação (1): ‘não tem jeito de
se acabar com toda essa violência’ e continua em Avaliação (5): ‘as crianças não
são obrigadas’. Os verbos estão no presente: ‘penso’, ‘tem’, ‘dá’, ‘mostra’,
‘acontece’, ‘são’, o que concorre para expressar a avaliação do autor acerca do
problema da violência exibida pela televisão.
Análise da redação (5)
Os programas de televisão
Os donos dos programas de televisão atualmente não estão mas se preocupando
com Bom gosto dos telespectadores e sim com os ponto de aldiencia de cada
emissora.
Atualmente as emissoras de televisão estão passando programa que so falam da
mesma coisa que não tem mais interesse pelo telespectadores como os
programas de pegadinhas desenho que passam constantemente e que são
repetidos diariamente e não interessa mais.
As emissoras so estam se preocupando atualmente com o seu papel na mídia e
não com que as pessoas gostam, os programas de televisão estão precisando de
constituir fatos para transformar notícias em espetáculos e construir mais
programas de bom censo.
Muitas pessoas estão preferindo sair de casa com freqüência porque os
programas de televisão não os segura mais como antigamente quando tinha
alguns programas interresante que valiam apenas nelas, então as emissoras
deveriam tentar em algo novo para atrair mais o telespectadores.
Quadro 5 - redação (5)
(1) Problema: Os donos dos programas de televisão atualmente não estão mas
se preocupando com Bom gosto dos telespectadores e sim com os ponto de
aldiencia de cada emissora.
(2) Problema: Atualmente as emissoras de televisão estão passando programa
que so falam da mesma coisa que não tem mais interesse pelo telespectadores
como os programas de pegadinhas desenho que passam constantemente e
que são repetidos diariamente e não interessa mais.
(3) Situação: As emissoras so estam se preocupando atualmente com o seu
papel na mídia e não com que as pessoas gostam
(4) Solução: os programas de televisão estão precisando de constituir fatos para
tra nsformar notícias em espetáculos e construir mais programas de bom censo.
(5) Situação: Muitas pessoas estão preferindo sair de casa com freqüência
porque os programas de televisão não os segura mais como antigamente
(6) Avaliação: quando tinha alguns programas interresante que valiam apenas
nelas
(7) Solução: então as emissoras deveriam tentar em algo novo para atrair mais o
telespectadores.
Seguindo a proposta de Hoey (1994), teremos:
Re-estruturação:
(3) Situação: As emissoras so estam se preocupando atualmente com o seu
papel na mídia e não com que as pessoas gostam
(5) Situação: Muitas pessoas estão preferindo sair de casa com freqüência
porque os programas de televisão não os segura mais como antigamente
(1) Problema: Os donos dos programas de televisão atualmente não estão mas
se preocupando com Bom gosto dos telespectadores e sim com os ponto de
aldiencia de cada emissora.
(2) Problema: Atualmente as emissoras de televisão estão passando programa
que so falam da mesma coisa que não tem mais interesse pelo telespectadores
como os programas de pegadinhas desenho que passam constantemente e
que são repetidos diariamente e não interessa mais.
(4) Solução: os programas de televisão estão precisando de constituir fatos para
transformar notícias em espetáculos e construir mais programas de bom censo.
(7) Solução: então as emissoras deveriam tentar em algo novo para atrair mais o
telespectadores.
(6) Avaliação: quando tinha alguns programas interresante que valiam apenas
nelas
O exame dos estágios deste texto, bem como da maioria deles, mostra que nem
sempre é possível distinguir a Situação do Problema, pois ao apresentar a
Situação, o autor a descreve como sendo problemática.
A sinalização da Situação
A Situação pode ser identificada da seguinte forma:
(3) Situação: As emissoras so estam se preocupando atualmente com o seu papel na mídia e não
com que as pessoas gostam
(5) Situação: Muitas pessoas estão preferindo sair de casa com freqüência porque os programas
de televisão não os segura mais como antigamente
(a) Tempo verbal: De acordo com Hoey (1994), a Situação é marcada por verbo em
tempo não-passado simples. Em (3) os verbos estar e gostar foram conjugados no
tempo presente o que mostra a situação atual dos programas de televisão. O
mesmo ocorre em (5), e que os verbos estar e segurar também estão no tempo
presente.
(b) Sinalização lexical: Em (3), atualmente, coloca a situação no presente e ‘a
televisão não o segura mais como antigamente’ que indica uma situação encarada
como problemática.
A sinalização do Problema
(1) Problema: Os donos dos programas de televisão atualmente não estão mas se preocupando
com Bom gosto dos telespectadores e sim com os ponto de aldiencia de cada emissora.
(2) Problema: Atualmente as emissoras de televisão estão passando programa que so falam da
mesma coisa que não tem mais interesse pelo telespectadores como os programas de pegadinhas
desenho que passam constantemente e que são repetidos diariamente e não interessa mais.
Os estágios (1) e (2) podem ser identificados como o problema. Justifica-se essa
identificação por meio da sinalização lexical.
(i) ‘os donos dos programas não estão mas se preocupando com Bom gosto dos
telespectadores’;
(ii) ‘ programa que so(sic) falam da mesma coisa não tem mais interesse pelo
telespectadores’;
Aqui a posição do Problema (1) e (2) encontra-se em ordem, ou seja, o autor do
texto deu continuidade na exposição do problema.
(c) Avaliação negativa: o autor avalia o problema negativamente em (1): ‘os donos
do programas não estão mas (sic) se preocupando e sim com os pontos de
aldiência...(sic)’ e continua em (2): ‘falam da mesma coisa e não tem mais
interesse pelos telespectadores’.
A sinalização da Solução
(4) Solução: os programas de televisão estão precisando de constituir fatos para transformar
notícias em espetáculos e construir mais programas de bom censo.
(7) Solução: então as emissoras deveriam tentar em algo novo para atrair mais o telespectadores.
Conforme proposta de Hoey (1994), a sinalização da Solução se dá por meio de
traços identificados como sinais lexicais:
(i) ‘os programas de televisão estão precisando de constituir fatos’‘transformar
notícias em espetáculos’ ‘construir mais programas’;
(ii) ‘as emissoras deveriam tentar em algo novo para atrair mais ...’
A sinalização da Avaliação
(6) Avaliação: quando tinha alguns programas interresante que valiam apenas nelas
O autor do texto utiliza os verbos no tempo passado ‘tinha’ e ‘valiam’ o que vai de
encontro à proposta de Hoey (1994).
Análise da redação (6)
O Brasil precisa mudar
As crianças não deveriam trabalhar, pois elas precisam estudar ser alguém na
vida e sim arranjar um belo trabalho.
A infância é uma fase mais importante da nossas vidas poder brincar o dia todo
fazer muitos amiguinho.
As crianças deveria aproveitar o Maximo possível por que é coisa mais
maravilhosa que Deus deu para nós.
Ser criança,é ter esperança de um mundo melhor para o futuro delas dos filhos
delas também.
Lugar de criança e na escola e não no trabalho trabalhando, de sol a sol, se
machucando com facão, quebrando pedra e outros coisas mais, crianças tem que
brincar muito o lugar delas e na escola no lugar do facão um lápis apredendo a
escrever.
No Brasil deveria ser muito diferente mostrar um Brasil, grande como esse,
mostrar como as crianças são muito, muito feliz na escola
Quadro 6 redação (6)
(1) Avaliação: As crianças não deveriam trabalhar, pois elas precisam estudar ser
alguém na vida e sim arranjar um belo trabalho
(2) Avaliação: A infância é uma fase mais importante da nossas vidas poder
brincar o dia todo fazer muitos amiguinho
(3) Avaliação: As crianças deveria aproveitar o Maximo possível por que é coisa
mais maravilhosa que Deus deu para nós
(4) Avaliação: Ser criança,é ter esperança de um mundo melhor para o futuro
delas dos filhos delas também
(5) Situação/Problema: Lugar de criança e na escola e não no trabalho
trabalhando, de sol a sol, se machucando com facão, quebrando pedra e outros
coisas mais, crianças tem que brincar muito o lugar delas e na escola no lugar do
facão um lápis apredendo a escrever
(6) Solução: No Brasil deveria ser muito diferente mostrar um Brasil, grande como
esse, mostrar como as crianças são muito, muito feliz na escola
Seguindo a estrutura Problema-Solução de Hoey (1994), teremos:
Re-estruturação:
(5) Situação/Problema: Lugar de criança e na escola e não no trabalho
trabalhando, de sol a sol, se machucando com facão, quebrando pedra e outros
coisas mais, crianças tem que brincar muito o lugar delas e na escola no lugar do
facão um lápis apredendo a escrever
(6) Solução: No Brasil deveria ser muito diferente mostrar um Brasil, grande como
esse, mostrar como as crianças são muito, muito feliz na escola
(1) Avaliação: As crianças não deveriam trabalhar, pois elas precisam estudar ser
alguém na vida e sim arranjar um belo trabalho
(2) Avaliação: A infância é uma fase mais importante da nossas vidas poder
brincar o dia todo fazer muitos amiguinho
(3) Avaliação: As crianças deveria aproveitar o Maximo possível por que é coisa
mais maravilhosa que Deus deu para nós.
Antes de iniciarmos a análise de acordo com a proposta de Hoey (1994),
sugerimos o uso de componentes da argumentação, pois segundo Vigner (1988),
o aluno precisa se conscientizar, o mais rápido possível, das vantagens que pode
extrair da combinação desses componentes a fim de enfrentar as mais variadas
situações.
Assim, poderíamos ter algo como:
É preciso lembrar que lugar de criança é na escola e não no trabalho trabalhando,
de sol a sol, se machucando com facão, quebrando pedra e outros coisas mais.
Na realidade, as crianças têm que brincar muito, pois o lugar delas é na escola.’
Notemos a inserção de componentes de argumentação, de acordo com Vigner
(1988), que visa sinalizar a Situação/ Problema e demonstra a refutação de uma
tese para que haja a propositura de uma outra.
Contudo, salientamos que Vigner (1988) não propõe a utilização de fórmulas fixas,
ou seja, espécies de moldes retóricos, uma vez que reconhece que na
argumentação seja possível a tomada de posição do autor por meio da
organização do discurso e do valor semântico de certos termos ou de certas
passagens.
A sinalização da Situação/ Problema
(5) Situação/Problema: Lugar de criança e na escola e não no trabalho trabalhando, de sol a sol,
se machucando com facão, quebrando pedra e outros coisas mais, crianças tem que brincar muito
o lugar delas e na escola no lugar do facão um lápis apredendo a escrever
Como podemos notar, a Situação encontra-se no mesmo estágio do Problema, o
que torna difícil verificarmos a questão que será desenvolvida ao longo da
redação.
(a) Tempo verbal: A situação é marcada em geral, por verbo em tempo não
passado simples, de acordo com Hoey (1994). Aqui, a predominância é de verbos
no gerúndio, o que indica uma situação/problema ainda não finalizado, ou seja,
uma ação em andamento:
(i) trabalhando machucando quebrando apredendo(sic)
Notamos também, a ocorrência de uma Avaliação da Situação/Problema, nos
termos de Hoey (1994), em:
(i) ‘ as crianças tem que brincar muito’ ‘o lugar delas e (sic) na escola’ ‘no lugar
do facão um lápis’.
A sinalização da Solução
(6) Solução: No Brasil deveria ser muito diferente mostrar um Brasil, grande como esse, mostrar
como as crianças são muito, muito feliz na escola
(a) Forma verbal: notemos que o autor da redação utiliza o verbo modalizado
‘deveria’ que sugere uma obrigação.
Além disso, a o autor da redação utiliza também o advérbio ‘muito’ a fim de
intensificar o adjetivo ‘feliz’.
Sinalização da Avaliação
(1) Avaliação: As crianças não deveriam trabalhar, pois elas precisam estudar ser
alguém na vida e sim arranjar um belo trabalho
(2) Avaliação: A infância é uma fase mais importante da nossas vidas poder brincar o dia
todo fazer muitos amiguinho
(3) Avaliação: As crianças deveria aproveitar o Maximo possível por que é coisa mais
maravilhosa que Deus deu para nós
Notemos em (1) que o autor dessa redação utiliza o verbo modalizado na forma
negativa ‘não deveriam’ o que sinaliza uma avaliação negativa em relação ao
trabalho infantil.
Por outro lado, em (2), notamos o tom direto, não-modalizado da sentença de
Avaliação: a infância é uma fase mais importante’.
Entretanto, em (3), sentença volta a apresentar o verbo modalizado ‘deveria’,
demonstrando a obrigação de as crianças aproveitarem a infância.
Análise da redação (7)
Sem título
Eu penso na atualidade dos programas que estão passando na televisão hoje em
dia tem programa que nem crianças pode assistir porque são muito pesados,
principalmente anoite.
Hoje em dia eu paro e penso, para as crianças deve ser muito chato, só de manha
tem desenhos e programas infantis, e atarde tem alguns filmes legais. Anoite é só
novelas eu já não agüento mais, as televisões tinham que mudar um pouco mais
na programações colocar filmes principalmente os de comédia.
A única emisora de televisão que passa programações legais é a SBT e a Record,
eu nunca vi umas emissoras passar filmes tão legais como essas.
A Record passa a programação: filmes, programa, tudo antes de passar.
A SBT, é a mesma coisa a única emisora a passar novelas diariamente é a Globo.
Quadro 7 - redação (7)
(1) Situação: Eu penso na atualidade dos programas que estão passando na
televisão hoje em dia
(2) Problema: tem programa que nem crianças pode assistir porque são muito
pesados, principalmente anoite.
(3) Situação: Hoje em dia eu paro e penso,
(4) Avaliação: para as crianças deve ser muito chato, só de manha tem desenhos
e programas infantis, e atarde tem alguns filmes legais
(5) Problema: Anoite é só novelas eu já não agüento mais
(6) Solução: as televisões tinham que mudar um pouco mais na programações
colocar filmes principalmente os de comédia.
(7) Avaliação: A única emisora de televisão que passa programações legais é a
SBT e a Record, eu nunca vi umas emissoras passar filmes tão legais como
essas
(6) Situação: A Record passa a programação: filmes, programa, tudo antes de
passar.
(7) Situação: A SBT, é a mesma coisa a única emisora a passar novelas
diariamente é a Globo.
Se adotarmos a proposta de Hoey (1994), a redação terá a seguinte re-
estruturação:
Re-estruturação:
(1) Situação: Eu penso na atualidade dos programas que estão passando na
televisão hoje em dia
(3) Situação: Hoje em dia eu paro e penso,
(6) Situação: A Record passa a programação: filmes, programa, tudo antes de
passar.
(7) Situação: A SBT, é a mesma coisa a única emisora a passar novelas diariamente
é a Globo.
(2) Problema: tem programa que nem crianças pode assistir porque são muito
pesados, principalmente anoite.
(5) Problema: Anoite é só novelas eu já não agüento mais
(6) Solução: as televisões tinham que mudar um pouco mais na programações
colocar filmes principalmente os de comédia.
(4) Avaliação: para as crianças deve ser muito chato, só de manha tem desenhos e
programas infantis, e atarde tem alguns filmes legais
(7) Avaliação: A única emisora de televisão que passa programações legais é a SBT
e a Record, eu nunca vi umas emissoras passar filmes tão legais como essas
Sinalização da Situação
A função da Situação pode ser identificada da seguinte maneira:
(1) Situação: Eu penso na atualidade dos programas que estão passando na televisão hoje em dia
(3) Situação: Hoje em dia eu paro e penso,
(6) Situação: A Record passa a programação: filmes, programa, tudo antes de passar.
(7) Situação: A SBT, é a mesma coisa a única emisora a passar novelas diariamente é a Globo.
(a) Tempo verbal : De acordo com Hoey (1994), a Situação é marcada por verbo
em tempo não-passado simples. No caso em questão, o verbo ‘pensar, está no
presente, o que sinaliza a programação televisiva da atualidade. E continua em (3)
com os verbos ‘parar’ e ‘pensar’. O mesmo ocorre em (6) e (7): ‘passar’ e ‘ser’.
(b) Sinalização lexical: Em (1), ‘atualidade’ e ‘ hoje em dia’ colocam a situação no
presente. O mesmo ocorre em (3) e (7): ‘hoje em dia’ e ‘ ‘diariamente’
Sinalização do Problema
(2) Problema: tem programa que nem crianças pode assistir porque são muito pesados,
principalmente anoite.
(5) Problema: Anoite é só novelas eu já não agüento mais
As sentenças (2) e (5) podem ser identificadas como Problema. Isso se justifica
por meio de traços que o sinalizam:
(i)’tem programa que nem criança pode assistir’ ‘porque são muito pesados’
(ii) ‘anoite (sic) é só novelas’ ‘ eu já não agüento mais’
Avaliação negativa: na sentença (ii), ‘eu não agüento mais’ há uma avaliação
negativa por parte do autor da redação, o que é comum na exposição do
problema.
Sinalização da Solução
(6) Solução: as televisões tinham que mudar um pouco mais na programações colocar filmes
principalmente os de comédia.
Podemos identificar a Solução por meio de:
(a) Sinalização lexical: ‘colocar mais filmes principalmente os de comédia’,
demonstra uma proposta de solução por parte do autor do texto.
(b) Forma verbal: Notemos que o verbo ‘ter’ está no pretérito demonstrando que o
fato já aconteceu.
O autor da redação deveria utilizar o verbo no futuro a fim de apontar para uma
situação futura, possível.
Sinalização da Avaliação
(4) Avaliação: para as crianças deve ser muito chato, só de manha tem desenhos e
programas infantis, e atarde tem alguns filmes legais
(7) Avaliação: A única emisora de televisão que passa programações legais é a SBT e a
Record, eu nunca vi umas emissoras passar filmes tão legais como essas
Notemos, pois, o uso de adjetivos em (4) e (7): ‘chato’, ‘legais’, que sinalizam a
avaliação que o autor faz da programação televisiva.
Análise da redação (8)
Título: Programa de televisão
Muitos programas de televisão tem boa qualidade e outros não.
Muitos programas mostram coisas que para aquele horário não adequados por
que tem crianças assistindo.
Programas de qualidade são programas que poçam passar alguma coisa boa para
os seus telespectadores como ensinar alguma coisa Programa de Qualidade são
aqueles que toda a Família pode assistir juntas sem ter medo do que vai ver como
programas humorísticos que fazem as pessoas rir.
Como programas que ensentivam a Educação, programas Escolares. Programas
para crianças onde as crianças poçam participar, Brincar.
Programas de Qualidades são aqueles que não estimulem á violência, que não
estimulem ao uso de drogas.
Programas de Qualidade em si são programas que tragam algo de Bom para
todos os que tejam assistindo.
Quadro 8 - redação (8)
(1) Avaliação: Muitos programas de televisão tem boa qualidade e outros não.
(2) Situação/Problema: Muitos programas mostram coisas que para aquele
horário não adequados por que tem crianças assistindo
(3) Avaliação: Programas de qualidade são programas que poçam passar alguma
coisa boa para os seus telespectadores como ensinar alguma coisa
(4) Avaliação: Programa de Qualidade são aqueles que toda a Família pode
assistir juntas sem ter medo do que vai ver como programas humorísticos que
fazem as pessoas rir.
(5) Solução: Como programas que ensentivam a Educação, programas
Escolares. Programas para crianças onde as crianças poçam participar, Brincar.
(6) Avaliação: Programas de Qualidades são aqueles que não estimulem á
violência, que não estimulem ao uso de drogas
(7) Avaliação: Programas de Qualidade em si são programas que tragam algo de
Bom para todos os que tejam assistindo.
Seguindo a proposta de Hoey (1994), a redação terá a seguinte estrutura:
Re-estruturação:
(2) Situação/Problema: Muitos programas mostram coisas que para aquele
horário não adequados por que tem crianças assistindo
(5) Solução: Como programas que ensentivam a Educação, programas
Escolares. Programas para crianças onde as crianças poçam participar, Brincar.
(1) Avaliação: Muitos programas de televisão tem boa qualidade e outros não.
(3) Avaliação: Programas de qualidade são programas que poçam passar alguma
coisa boa para os seus telespectadores como ensinar alguma coisa
(4) Avaliação: Programa de Qualidade são aqueles que toda a Família pode
assistir juntas sem ter medo do que vai ver como programas humorísticos que
fazem as pessoas rir.
(6) Avaliação: Programas de Qualidades são aqueles que não estimulem á
violência, que não estimulem ao uso de drogas
(7) Avaliação: Programas de Qualidade em si são programas que tragam algo de
Bom para todos os que tejam assistindo.
Como já fizemos ver, aqui também a Situação e o Problema são apresentados
num mesmo estágio, o que dificulta situar o leitor em relação ao virá nas demais
partes do texto.
Sinalização da Situação/Problema
A função de (2) pode ser identificada da seguinte maneira
(2) Situação/Problema: Muitos programas mostram coisas que para aquele horário não
adequados por que tem crianças assistindo
(a) Tempo verbal: A Situação é sinalizada, segundo Hoey (1994), por meio de
verbo em tempo não passado simples. Em (2). Os verbos ‘mostrar, ‘adequar’ e
‘ter’ demonstram uma Situação/ Problema atual.
(b) Sinalização lexical: o pronome ‘ aquele’ orienta o leitor a pensar em fato já dito
anteriormente. Porém, não há retomada do fato, o que pode confundir o leitor.
Sinalização da Solução
(5) Solução: Como programas que ensentivam a Educação, programas Escolares. Programas
para crianças onde as crianças poçam participar, Brincar.
Justificamos a identificação desse estágio como Solução, pelos seguintes fatos:
(a) Sinalização lexical: ‘programas que ensentivam (sic) a Educação’, ‘programas
escolares’, ‘programas para crianças onde as crianças poçam(sic) participar,
Brincar’.
(b) Forma verbal: notemos que os verbos estão no presente o que obriga a uma
Solução naquele momento.
Sinalização da Avaliação
(1) Avaliação: Muitos programas de televisão tem boa qualidade e outros não.
(3) Avaliação: Programas de qualidade são programas que poçam passar alguma coisa boa para
os seus telespectadores como ensinar alguma coisa
(4) Avaliação: Programa de Qualidade são aqueles que toda a Família pode assistir juntas sem ter
medo do que vai ver como programas humorísticos que fazem as pessoas rir.
(6) Avaliação: Programas de Qualidades são aqueles que não estimulem á violência, que não
estimulem ao uso de drogas
(7) Avaliação: Programas de Qualidade em si são programas que tragam algo de Bom para todos
os que tejam assistindo
Notemos o tom direto, não modalizado, das sentenças (1), (3), (4), (6) e (7): ‘ tem
boa qualidade’ ‘são programas’ ‘ programas de qualidade são aqueles’.
Análise da redação (9)
Sem título
Os alimentos geneticamente modificados quer dizer exatamente alimentos
trangenicos. Os alimentos trangenicos prejudica as pessoas de um certo modo
poderá prejudicar o meio ambiente, mas tudo isso não é comprovado.
O Argumento contra trangenicos econômico eles só querem saber de dinheiro
porque com produtos trangenicos eles podem exportar para outras empesas no
exterior, não querendo prejudicar o meio ambiente mas sim levar um bom lucro
investindo nos produtos cientificamente produzidos.
Podemos ficar tranqüilos sobre a saúde da população do Brasil, essa ipótese de
causar doenças nas pessoas é pequena nem certeza eles tem, mas tudo indica
que não irá dar problemas na saúde da população brasileira.
Quadro 9 redação (9)
(1) Situação: Os alimentos geneticamente modificados quer dizer exatamente
alimentos transgenicos.
(2) Problema: Os alimentos transgenicos prejudica as pessoas de um certo modo
poderá prejudicar o meio ambiente,
(3) Avaliação: mas tudo isso não é comprovado
(4) Problema: O Argumento contra transgenicos econômico eles só querem saber
de dinheiro porque com produtos trangenicos eles podem exportar para outras
empesas no exterior, não querendo prejudicar o meio ambientemas sim levar
um bom lucro investindo nos produtos cientificamente produzidos.
Não há proposta de Solução
(5) Avaliação: Podemos ficar tranqüilos sobre a saúde da população do Brasil
essa ipótese de causar doenças nas pessoas é pequena nem certeza eles tem,
mas tudo indica que não irá dar problemas na saúde da população brasileira.
Com base na estrutura de Hoey (1994), teremos:
Re-estruturação:
(1) Situação: Os alimentos geneticamente modificados quer dizer exatamente
alimentos transgenicos.
(2) Problema: Os alimentos transgenicos prejudica as pessoas de um certo modo
poderá prejudicar o meio ambiente,
(4) Problema: O Argumento contra transgenicos econômico eles só querem saber
de dinheiro porque com produtos trangenicos eles podem exportar para outras
empesas no exterior, não querendo prejudicar o meio ambientemas sim levar
um bom lucro investindo nos produtos cientificamente produzidos.
Não há proposta de Solução
(3) Avaliação: mas tudo isso não é comprovado
(5) Avaliação: Podemos ficar tranqüilos sobre a saúde da população do Brasil
essa ipótese de causar doenças nas pessoas é pequena nem certeza eles tem,
mas tudo indica que não irá dar problemas na saúde da população brasileira.
A análise mostra-nos que o autor não propõe Solução neste texto. Ocorre que
esse fato denota na realidade a seguinte questão, ou seja, de que o que seria o
Problema o alimento transgênico e a saúde não é retomado no desenrolar do
texto. Aliás, o autor muda o rumo do desenvolvimento do tema, da influência do
transgênico na saúde para a questão do lucro da empresa que o produz. Nesse
sentido é notável a omissão do título para essa redação, o que pode ter concorrido
para esse desvio de assunto. Uma vez que o Problema não fica devidamente
caracterizado, a Solução também acaba sendo ‘esquecida’.
Análise da redação (10)
Violências
Bom a violência hoje em dia toma conta do mundo nós não podemos sair nem
para comprar pão que já estamos sujeito a morte.
É idosos sendo espancados pelos marginais da rua e os que saiu da cadeia,
idosos que são largados pelos parentes nos assilo e nas casas sozinhos, e
deixam passando fome e doente.
E também a violência e tão grande que até tem filho matando pai e mãe e pai e
mãe matando os filhos de todas as idades e também vem o estupro em crianças,
moças, mulheres, senhoras e até em homens.
Motoristas atropelam crianças quando estão bêbedos ou drogados adolescentes e
adulto e animais.
E também tem a violência entre casais homem que espanca a mulher e os filhos
por causa de ciúmes.
Tem gente que tem a coragem de jogar animas fora como se fosse lixo e tem
gente que pega gato, cachorro e deixa passar fome.
E a violência no nosso pais esta assim hoje em dia.
Quadro 10 redação (10)
(1) Situação: Bom a violência hoje em dia toma conta do mundo
(2) Problema: nós não podemos sair nem para comprar pão que já estamos
sujeito a morte.
É idosos sendo espancados pelos marginais da rua e os que saiu da cadeia,
idosos que são largados pelos parentes nos assilo e nas casas sozinhos, e
deixam passando fome e doente.
(3) Problema: E também a violência e tão grande que até tem filho matando pai e
mãe e pai e mãe matando os filhos de todas as idades e também vem o estupro
em crianças, moças, mulheres, senhoras e até em homens.
Motoristas atropelam crianças quando estão bêbedos ou drogados
adolescentes e adulto e animais.
(4) Problema: E também tem a violência entre casais homem que espanca a
mulher e os filhos por causa de ciúmes. Tem gente que tem a coragem de jogar
animas fora como se fosse lixo e tem gente que pega gato, cachorro e deixa
passar fome
(7) Situação: E a violência no nosso pais esta assim hoje em dia.
Assim, segundo Hoey (1994), teremos:
Re-estruturação:
(1) Situação: Bom a violência hoje em dia toma conta do mundo
(7) Situação: E a violência no nosso pais esta assim hoje em dia.
(2) Problema: nós não podemos sair nem para comprar pão que já estamos
sujeito a morte.
É idosos sendo espancados pelos marginais da rua e os que saiu da cadeia,
idosos que são largados pelos parentes nos assilo e nas casas sozinhos, e
deixam passando fome e doente.
(3) Problema: E também a violência e tão grande que até tem filho matando pai e
mãe e pai e mãe matando os filhos de todas as idades e também vem o estupro
em crianças, moças, mulheres, senhoras e até em homens.
Motoristas atropelam crianças quando estão bêbedos ou drogados
adolescentes e adulto e animais.
(4) Problema: E também tem a violência entre casais homem que espanca a
mulher e os filhos por causa de ciúmes. Tem gente que tem a coragem de jogar
animas fora como se fosse lixo e tem gente que pega gato, cachorro e deixa
passar fome
O autor do deste texto limita-se a expor a Situação e a listar vários problemas,
sem propor solução e nem se posicionar diante da situação. Trata-se a rigor de
uma descrição e não de um texto dissertativo-argumentativo, como requer o
SARESP.
Antes de iniciarmos a análise, notemos que ‘Bom ‘ não está de acordo com a
‘fórmula introdutória’ (Vigner 1988) (veja tabela acima). O autor sugere algo como
comecemos por’ ou ‘inicialmente, é preciso’.
O texto começa com a apresentação da Situação (1), que deve continuar em (5),
já que como diz Hoey (1994), a (1) está apoiada em termos de avaliação, ou
seja, Situação-Avaliação da Situação em (5). Assim, julgamos que (1) deve ser
seguida por (5), e não por (2), que é parte do Problema. Isto pode ser mostrado
pelas duas sentenças:
(1) Bom a violência hoje em dia toma conta do mundo. (5) E também tem a violência entre casais
A sinalização da Situação
A função de (1a) pode ser identificada como Situação do seguinte modo.
(1a) Bom a violência hoje em dia toma conta do mundo (1b) E também a violência é tão grande
que (1c) E também tem a violência entre casais
(a) Tempo verbal: Em geral, a situação é marcada por verbo em tempo não-
passado simples, segundo Hoey (1994). No caso em pauta, o verbo tomar está
no presente.
(b) Sinalização lexical: Em (1b), não houve emprego de anáfora, o que evitaria a
repetição de termos na oração.
(c) A posição de (1a) e (1b) é a da primeira oração no discurso. A expectativa em
relação à primeira sentença do discurso é, em geral, que forneça um contexto
para sentenças subseqüentes.
Além disso, encontramos dentro da Situação uma Avaliação, que segundo Hoey
(1994), não é incomum ter um elemento avaliativo dentro de uma Situação: ‘a
violência é tão grande’.
A sinalização do Problema
Sentenças (2), (4) e (6) podem ser identificadas como o Problema. Justifica-se
essa identificação através de vários traços que o sinalizam com essa função.
Todos são exemplos de sinalização lexical.
(a) ‘não podemos sair nem para comprar pão’; ‘ já estamos sujeito a morte’;
‘idosos sendo espancados pelos marginais da rua’; idosos que são largados
pelos parentes’ ; ‘passando fome e doente’.
(b) ‘tem filho matando pai e mãe’; ‘ pai e mãe matando os filhos de todas as
idades’; ‘estupro em crianças, moças, mulheres, senhoras e até em homens’;
‘motoristas atropelam crianças quando estão bêbedos ou drogados’.
(c) ‘homem que espanca a mulher e os filhos’; ‘jogar animas fora como se fosse
lixo’; ‘gente que pega gato, cachorro e deixa passar fome’.
Sentenças (2), (4), e (6), que se espalham pelo texto, deveriam estar reunidas no
estágio Problema, da estrutura Problema-Solução, pois todas elas evidenciam a
situação caótica da violência brasileira.
A julgar pela proposta de Hoey (1994), há aqui uma fragmentação do Problema, o
que interfere na constituição do gênero através de estágios, o que pode interferir
negativamente na compreensão desse texto.
A sinalização da Solução
O autor não sinalizou a Solução do Problema o que demonstra uma ruptura na
estrutura Problema-Solução, proposta por Hoey (1994).
Agora, com base em nossa análise, passemos às considerações finais da nossa
pesquisa.
4. Capítulo 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
O quadro revelado pela presente pesquisa nos permite afirmar que as redações
do gênero dissertativo-argumentativo produzidas no SARESP não seguem a
estrutura Problema-Solução proposta por Hoey (1994). De modo geral, os
componentes dessa estrutura encontram-se espalhados no decorrer das
redações, o que compromete o princípio da inteligibilidade dos textos. Notamos
que os alunos encontram dificuldades em situar e problematizar suas produções,
fato que prejudica a exposição da tese à qual se propõe. Além disso, por falta de
sinalização lexical, torna-se difícil para o leitor reconhecer a situação, bem como o
problema nas redações. Assim, se o aluno não consegue distinguir a situação e o
problema, encontrará dificuldades para apresentar proposta de solução.
Acreditamos, porém, que se nossos alunos fossem conscientizados acerca dessa
questão, poderia encontrar uma maior facilidade em estruturar sua redação.
Assim, a falta de organização dos estágios genéricos acaba, evidentemente,
dificultando o reconhecimento do gênero o que leva, conseqüentemente, a
prejudicar a compreensão do texto. Sabe-se hoje que grande parte da coerência
textual reside na interação complexa entre contexto lingüístico e conhecimento
(enquadre) não-lingüístico, ou conhecimento de mundo (Bednarek 2005). Em
nosso estudo, verificamos que a desorganização dos estágios genéricos
impossibilita o leitor de trazer para o texto essas estruturas mentais de
conhecimento que captam as feições típicas de uma situação para garantir a
coerência.
Como decorrência desses fatos, fica também difícil verificar a questão da coesão
textual e com isso, evidentemente, o texto perde sua força argumentativa.
Assim, acreditamos que o ponto básico para um texto dissertativo-argumentativo
mais satisfatório será a conscientização do discente da questão do gênero e seus
estágios, ou seja, da percepção do fator primeiro de garantia da coerência para,
em seguida, trabalhar outros fatores que sugerimos devem vir como
conseqüência daquele. Este é um ponto que esperamos averiguar em futuras
pesquisas.
Entendemos que a proposta de Hoey (1994), amparada por Vigner (1988),
serviriam para esclarecer aos alunos a importância de se estruturar e de sinalizar
ao leitor os seus argumentos. Entretanto, nossa pesquisa não busca reduzir a
argumentação a um inventário de estruturas léxico-gramaticais, tampouco a um
‘paradigma ideal’ de como elaborar uma redação dissertativo-argumentativa. Isso
porque estaríamos sendo incoerentes com as noções ora expostas sobre os
gêneros e argumentação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, A. S., 2000. A arte de argumentar: Gerenciando Razão e Emoção. São
Paulo: Vozes.
AGAR, M., 1979. Themes revisited: Some problems in cognitive anthropology.
Discourse Processes, 2.1.(11-32)
AGAR. M. & Jerry R. HOBBS, 1982. Interpreting Discourse: Coherence and the
Analysis of Ethnographic Interviews. Discourse Processes 5 (1-32
BAKHTIN, M., 1997. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes
BEAUGRANDE, Robert, Dressler, Wolfgang, 1981. Introduction to Text
Linguistics. Longman, London.
BEDNAREK, Monika A., 2005. Frames revisited - the coherence-inducing function
of frames. Journal of Pragmatics 37.5 (685-706).
CEREJA, W. R. & MAGALHÃES, T. C., 2003. Português: Linguagens. São Paulo:
Atual
CHAROLLES, M., 1988. Introdução aos problemas da coerência dos textos. In:
D. Coste et al. O texto: Leitura e escrita. São Paulo: Pontes
CITELLI, A., 1995. Linguagem e Persuasão. São Paulo: Ática.
CONCEIÇÃO, R.I.S., 2000. Da redação escolar ao discurso um caminho a
(re)construir. Linguagem e Ensino, 3.2. (109 -133)
CORNISH, F., 2003. The roles of written text and anaphor-type distribution in
the construction of discourse. Text 23.1 (1-26)
COSTA VAL, M. da G., 1993. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes.
Dados relativos ao desempenho do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar
do Estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.educacao.sp.gov.br/>.
Acesso em: 10/05/2006
EGGINS, S., 1994. An Introduction to Systemic Functional Linguistics. Londres:
Pinter.
GARCIA, O. M., 1997. Comunicação em prosa moderna: aprender a escrever,
aprendendo a pensar. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.
GEORGAKOPOULOU, A. & GOUTSOUS, D., 2000. Revisiting discourse
boundaries: The narrative and non-narrative modes. Text 20.1 (63-82)
GRICE, H.P., 1975. Logic and conversation. In: Cole, P., Morgan, J.L. (Eds.),
Syntax and Semantics. Speech Acts, 3. Academic Press: New York (41-58).
GRIVEL, C., 1973. Production de l’intérêt romanesque. Paris & The Haye, Mouton.
GROSZ, B. J. and Sidner, C. L., 1986. Attention, intentions and the structure of
discourse. Computational Linguistics (175-204)
GUEDES, P. C., 1994. Ensinar Português é Ensinar a Escrever Literatura
Brasileira. Porto Alegre: Tese de Doutorado em Letras, Instituto de Letras,
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
GOFFMAN, E., 1974. Frame Analysis. Northeastem University Press: Boston.
GOFFMAN, E., 1981. Forms of Talk. Basil Blackwell: Oxford
HALLIDAY, M. A. K., 1994. Introduction to Functional Grammar. Londres: Edward
Arnold.
HALLIDAY, M.A.K. & R. HASAN, 1994. Language, Context & Text Aspects of
language in a social-semiotic perspective. Oxford: Oxford University Press.
HOBBS, J., 1978. Why is discourse coherent ? SRI Technical Note 176, SRI
International, Menlo Park, CA. To appear in F.Neubauer (ed.) Coherence in natural
language texts.
HOBBS, J. & EVANS, D., 1979. Conversation as planned behavior. SRI Technical
Note 203. SRI International, Menlo Park, CA.
HOEY, Michael, 1991. Pattems of Lexis in Text. Oxford University Press, Oxford.
Konerding, KIaus-Peter, 1993. Frames und Lexikalisches Bedeutungswissen.
Niemeyer, Tübingen. Levinson, Stephen, 1983. Pragmatics. Cambridge University
Press: Cambridge.
HOEY, M., 1994. Signalling in discourse: a functional analysis of a common
discourse pattern in written and spoken English. In: Malcolm Coulthard (ed.), 1994.
Advances in written text analysis. Londres: Routledge
HOUAISS, A. & Villar, M. de Salles, 2001. Dicionário Houaiss da língua
portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva
IKEDA, S. N., 1988. A relação entre Produção e Compreensão. São Paulo:
D.E.L.T.A. 4.2.
KÖCHE, V. S., 2002. O ensino da dissertação no ensino médio: características,
problemas e alternativas de solução. Linguagem & Ensino, 5.2 (11-48).
MARTIN, J.R., 1992. English Text. Amsterdam: Benjamins.
MARTIN, J.R, 1997. Analysing genre: Functional parameters. In: F. Christie and
J.R.Martin (eds.), Genres and Institutions. Londres: Cassell (3-39).
MUNTIGL, P., 2002. Policy, politics, and social control: A systemic funcional
linguistic analysis of EU employment policy. Text 22-3 (393-442)
NUNAN, D., 1992. Research methods in language learning. Cambridge:
Cambridge University Press (74-90).
PACHECO, A.C., 1988. A dissertação: teoria e prática. São Paulo: Atual.
PALTRIDGE, B., 2002. Genre, Text Type, and the English for Academic Purposes
(EAP) Classroom. In: Ann M. Johns (ed.), Genre in the classroom Multiple
Perspectives. Londres: Lawrence Erlbaum Ass. Publ.
PARISI, D. and Castelfranchi, C., 1977. The discourse as a hierarchy of goals.
Signs of Change 1 (31-67).
PAULIUKONIS, M. A. L., 2000. Processos de discursivização: da língua ao
discurso - caracterizações genéricas e específicas do texto argumentativo.
Veredas, 7 (89-96)
PÉCORA, A., 1992. Problemas de redação. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes.
PLATÃO & FIORIN, 2005. Para entender o texto: leitura e redação. 16ª ed. São
Paulo: Ática
SWALES, J., 1990. Genre Analysis. English in academic and research settings. 1
ed. Cambridge: Cambridge University Press.
VAN EEMEREN et al., 1997. Argumentation. In: van Dijk, Teun A., Discourse as
structure and process Discourse studies: A multidisciplinary Introduction. Vol.I.
Londres: Sage Publ.
VENTOLA, E., 1987. The structure of social interaction: a systemic approach to the
semiotics ofo service encounters. Londres: Pinter
VIGNER, G., 1988. Técnicas de aprendizagem da argumentação escrita. In: D.
Coste et al. O texto: Leitura e Escrita. São Paulo: Pontes
VIGNER, G., 1988. Intertextualidade, norma e legibilidade. In: D. Coste et al. O
texto: Leitura e Escrita. São Paulo: Pontes
TANNEN, D., 1993b. What's in a frame? Surface evidence for underlying
expectations. In: Tannen, D. (Ed.), Framing in Discourse. Oxford University Press:
Oxford (14-56).
TANNEN, D., Wallat, Cynthia, 1993. Interactive frames and knowledge schemas in
interaction: examples from a medical examination interview. In: TANNEN, D. (Ed.),
Framing in Discourse. Oxford University Press: Oxford (57-76).
TAKAZAKI, H. H., 2004. Língua Portuguesa. São Paulo: IBEP.
TOLEDO, Piedad Femández, 2005. Genre analysis and reading of English as a
foreign language: Genre schemata beyond text typologies. Journal of Pragmatics
37 (1059 -1079)
WHITAKER PENTEADO, J.R., 1964. A técnica da comunicação humana. São
Paulo: Pioneira.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo