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criada no sistema de Delegacia Legal. Porque acaba que ela filtra muito. Porque as
pessoas, muitas vezes, chegam na delegacia desesperadas, nervosas e, muitas vezes,
vem pegar um policial que também, às vezes, fica no plantão, pelo sistema de
trabalho na polícia, que também está nervoso. Então, às vezes, podia ter algum tipo
de atrito. E a atendente está justamente ali pra filtrar isso aí, pra acalmar a pessoa.
Muitas vezes, chegam pessoas, às vezes, que não são boas da cabeça mesmo, pessoas
com problemas mentais é normal em delegacia, e as atendentes têm formação para
isso, têm cursos que tenham a ver com aquele assunto; sabem lidar com aquilo ali,
talvez melhor do que um policial, porque é profissional naquilo ali. Então, sabe
conduzir essa situação melhor, entendeu? Sabe tratar sempre de forma muito
educada, está entendendo como é que é? Muitas vezes, não é caso de polícia. Tudo
bem que, não é função delas dizer se é caso ou não de polícia, porque não é o
conhecimento delas. Mas, muitas vezes, elas ajudam. Elas passam direto para o
policial, já fazem uma pergunta.
Outro policial entrevistado manifesta seus argumentos na mesma direção:
Eu acho que é interessante a figura da atendente, justamente pra filtrar essas
ocorrências, porque nem tudo é ocorrência policial, às vezes, está com problema de
filho peque... criança pequena, a atendente é assistente social, ela sabe como lidar
com aquela situação, está entendendo? Tem mais tato que, às vezes, com polícia. Vai
pegar um polícia antigo, o polícia antigo já é um cara já cansado, trabalhou muito
tempo, já está meio estressado. A profissão de polícia é uma profissão estressante.
Então, é uma pessoa já mais estressada, mais cansada, que, talvez, não tenha uma
paciência que um atendente tem, está entendendo? E é bom essa paciência, porque é
importante esse tratamento, está entendendo?
Com base nesses argumentos, observa-se que entre o atendimento e o registro policial
há um filtro muitas vezes realizado com conhecimento e até estímulo dos policiais
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. De fato,
uma vez o delegado fez questão de me apontar um homem idoso que costumava ir
constantemente à delegacia, segundo o delegado, ele tinha problemas mentais e síndrome de
perseguição, assim suas palavras: “é com isso que a gente lida todo dia”. No entanto, além do
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Reitero o fato de que os filtros sempre foram prática comum nas delegacias de polícia.