Além de utilizar personagens do nosso folclore, como a Cuca, o Saci, e o Curupira,
ele se apropriou também de personagens da mitologia grega, como por exemplo, o Minotauro,
e de personagens de obras infantis européias como a dona Carochinha e Peter Pan.
Zilberman (2003, p.147) faz ainda uma outra observação sobre a produção do
renomado escritor:
Da obra criativa e, ao mesmo tempo, respeitadora das peculiaridades do mundo
da criança, não se deve omitir igualmente o ângulo pedagógico: Lobato sempre
teve em mente a formação de seu leitor, visando dotá-lo de uma certa visão do
real e da circunstância local, assim como de uma norma de conduta.
Para a autora, reside aí uma “doutrina nacionalista”, explicitada no livro mais
polêmico de Lobato, O poço do Visconde, onde faz uma defesa do patrimônio nacional contra
investimentos estrangeiros, os quais poderiam pôr em risco a autonomia econômica nacional.
No entanto, mesmo considerando esse fato, Lobato cria uma literatura num cenário
de personagens e sugestão folclóricas, utilizando a ficção como nenhum outro escritor
brasileiro e inicia uma nova maneira de fazer literatura para criança no Brasil.
Devido ao sucesso das obras de Lobato, a literatura infantil passa a ser uma atividade
rentável, e isso leva as editoras a abrirem espaço para outros autores nacionais.
Como afirma Zilberman (2005), “Lobato não estava só”, mas acompanhado, nesse
período, de um rol de outros nomes como Viriato Correia, Érico Veríssimo e Graciliano
Ramos, para citar apenas os mais conhecidos.
Porém, logo após esse ‘período Lobatiano’, somente alguns nomes, considerados por
alguns autores (SANDRONI, 1987; ZILBERMAN 2005) como seguidores de Lobato, se
sobressaíram, entre eles, Jerônimo Monteiro, Maria José Dupré e Francisco Martins.
Algumas décadas depois, com a instalação da política desenvolvimentista do
presidente Juscelino Kubitschek, que levou à construção de Brasília, e a euforia de um país
campeão do mundo por duas vezes no futebol, uma nova realidade social e política se instalou
no Brasil. “A literatura infantil, contudo, não ia bem, faltando-lhe a centelha de imaginação que
animou a escrita dos artistas citados antes.” (ZILBERMAN, 2005, p.45)
Porém a economia tinha sido forçada demais, e o desenvolvimento acelerado
cobrava o preço: inflação, restrição ao crédito, agitação urbana e reivindicações
no campo e na cidade. O governo tinha dificuldade para lidar com isso e
acabou perdendo a credibilidade entre as classes dominantes. A desconfiança
gerou o desejo de mudar governantes, o que é legítimo; mas isso aconteceu da
pior forma possível: o Exército tomou a frente e responsabilizou-se por um
golpe de estado, derrubando o presidente então no poder e colocando outro no
lugar, um general fardado. (ZILBERMAN, 2005, p.45)