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ALESSANDRA RODRIGUES FERREIRA
TUPACIGUARA “LÁ TEM”: Revitalização urbana e
cultura popular
UBERLÂNDIA
2005
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ALESSANDRA RODRIGUES FERREIRA
TUPACIGUARA “LÁ TEM”: Revitalização urbana e
cultura popular
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação, Mestrado em Geografia da Universidade
Federal de Uberlândia, como requisito parcial à obtenção
do título de Mestre em Geografia. Área de concentração:
Análise, Planejamento e Gestão dos Espaços Urbanos e
Rurais, sob a orientação da Profa. Dra. Denise Labrea
Ferreira.
UBERLÂNDIA
2005
ii
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BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
Profa.Dra. TELMA LUZIA PEGORELLI OLIVIERI - UFSCar
________________________________________________________
Profa.Dra. MARLENE T. DE MUNO COLESANTI - UFU
_________________________________________________________
Profa.Dra. DENISE LABREA FERREIRA - UFU (Orientadora)
Data: ___/ __________/ _______
Resultado: ___________________________
iii
Dedico aos amores da minha vida, meus pais, Benedita
Rodrigues Ferreira e Rubens Ferreira de Fátimo, por
serem meu porto seguro e exemplo de vida, juntos
souberam com todo seu amor formar uma família linda.
iv
AGRADECIMENTOS
A minha orientadora Profa.Dra. Denise Labrea Ferreira, por sua orientação e principalmente
por ter acreditado e confiado em meu projeto.
A Profa. Dra. Marlene T. de Muno Colesanti que participou e contribuiu desde a qualificação
até a defesa.
A Profa.Dra. Telma Luzia Pegoreli Olivieri da área de Artes Plásticas, que no primeiro
instante de nossa conversa, se dispôs em ser membro de minha banca, para mim é uma honra.
Ao meu irmão e Prof.Dr. William Rodrigues Ferreira mesmo muito atarefado mas em seus
momentos de descanso fez preciosas leituras do meu texto.
Aos professores do Instituto Profa. Dra. Beatriz Ribeiro Soares, Prof. Dr. David G. Francis
que muito me ajudaram com suas disciplinas.
Professora Cláudia França do Departamento de Artes Plásticas da UFU, que mesmo antes de
eu estar cursando o mestrado esteve sempre ao meu lado apoiando, incentivando e acreditando
no meu potencial, obrigada minha professora e amiga.
Aos Funcionárias da biblioteca Maria Helena e Alaíde.
Ao Wagner que com muita paciência escaneou e organizou todas a figuras da dissertação.
Marlene e meus primos Célio, Inêz e Larissa que me acompanharam em alguns trabalhos de
campo.
Dona Ione que conferiu a ortografia da dissertação com precisão e com sua competência de
sempre.
Aos funcionários da Secretaria Municipal de Cultura de Tupaciguara Rosália, Juliano,
Emiliano, Liliam e Erivelton que carinhosamente me acolheram e com muito profissionalismo
v
e esforço forneceram-me todas as informações necessárias. Ao Marciano, Daniela, Mara e
Ângela que não mediram esforços em me ajudar em Tupaciguara.
Aos funcionários da TV Universitária da Universidade Federal de Uberlândia contribuíram
para a confecção de um vídeo-documentário do programa da rádio de Tupaciguara.
Aos Cantores da rádio Mirandinha e Zé do Trio, Tião mineiro e Paulistinha, Beija Flor e Pena
Verde, Manoel Pandeirista, Paulo Caixa D’água, Antônio Eustáquio, Nani e Nanito,
Cancioneiro e Oriente, Rafael, Wesley, Nenzico e Albino, Gilberto e Verão, Lúcio,
Leoberto, Luis Paulo, Anderson, Thiago, João Batista e Dorival. E aos locutores da rádio
Adriano Ferreira, Ângela Rios, Brasil Pereira, Josafa Moreira e Wilson Dias.
Aos Artesãos da FEMUART que me concederam entrevistas, Maria Euzelia Borges Cardoso
Bostino, Valquiria Dias Parreira, Maria do Carmo Pereira Georjutti, Dalila Aparecida Fedrigo,
Sônia Maria Ferreira Carvalho, Maria Abadia de Oliveira, Elizete Neves Pereira, Aureni
Augusta de Souza Firmino, Elizete Gonçalves de Oliveira, Dalva Amaral Ramos, Eliabe
Ferreira Rodrigues, Vagner Luis Boble, Tereza de Fátima Marques, Abadia Braga Pereira e
Manoel Agmar Lourenço. E os espectadores que também participaram da entrevista, Edi
Ferreira da Silva, Dorcilene Marques de Paula, Divina Maria de Freitas Gonçalves, Marilda
Aparecida Ramos Silva, Professor Jarbas Feldner de Barros, Sandra Aparecida Alves. E a
presidente da FEMUART Lindaura.
Aos Sr. Nenzico, Dona Vita, Horácio, Carlos que a cada entrevista me deixavam emocionada
com suas falas sobre as práticas culturais populares de Tupaciguara.
A minha família: meus pais Rubens e Benedita, meus irmãos William e Michele meu cunhado
Marcelo e Luma.
vi
Eu não conheço um lugar
A melhor maneira de não conhecer um lugar é viajar até ele. De
longe você pode estudar um lugar quanto quiser; de perto você
tem tempo de descobrir quanto ainda falta para conhecer. Quem
viaja para Paris apenas para subir a Torre Eiffel, ver Mona Lisa e
andar de bateau-mouche conhece sua Paris muito melhor do que
quem viaja para conhecer Paris a sério. Se você tem 50 carimbos
em seu passaporte, então são 50 países que você não conheceu.
Mas quem disse que é preciso conhecer a fundo um lugar para
gostar dele? Segundo os psicanalistas, para conhecer a si mesma
uma pessoa precisa de quatro sessões de análise por semana. Não,
eu não quero levar viagem nenhuma para o divã. Até porque a
parte mais divertida de uma viagem são as conclusões apressadas.
Longe de casa nos sentimos verdadeiros antropólogos autodidatas.
Depois de 15 minutos em qualquer lugar elaboramos as mais
complexas teorias sobre a cultura e o comportamento dos nativos.
“Os parisienses não carregam mais baguetes debaixo do braço!”,
concluímos, depois de extensas pesquisas entre as 3 e as 4 da tarde
sentados num café em Saint-Germain.
Uma coisa é certa: os países são mais fáceis de decifrar do que as
cidades. Países são masculinos e, assim como os homens, podem
ser classificados em no máximo quatro ou cinco tipos, estanques e
previsíveis. Você vai a um país agora, e quando voltar daqui a uns
anos ele pode ter enriquecido ou empobrecido, mudado de partido
político ou de profissão, mas continuará fundamentalmente o
mesmo.
Enquanto as cidades são femininas: misteriosas, multifacetadas,
dadas a repentes e fases.
Enquanto os países nos recebem como formulários, funcionários
públicos e cães farejadores, as cidades nos recebem com um
“psiu”!. Algumas se revelam de dia, outras só se entregam à noite.
Ás vezes uma cidade pode parecer feia mas normalmente é você
que não deu tempo para ela se arrumar. Existem cidades que
fazem você virar o pescoço na rua, e outras que mostram a que
vieram entre quatro paredes. Mesmo essas, contudo, dificilmente
se deixam conhecer, digamos, biblicamente. Cidades são criaturas
difíceis, que preferem ficar o tempo todo fazendo charminho.
Voltar a uma cidade é sempre fascinante, porque você nunca sabe
o que pode ter acontecido. Cidades engordam, emagrecem, fazem
plástica, engravidam, mudam o penteado, se apaixonam e até se
divorciam (da população, quando os eleitores resolvem escolher
um mau prefeito). Você pode dar azar e visitar uma cidade em
vii
plena crise de auto-estima ou no auge da TPM tempos depois,
ela pode estar de novo radiante e bem-amada. Vá saber...
Depois de muitas viagens, você pode entender os humores de uma
cidade. Mas conhecer, conhecer mesmo não dá. Nem morando a
vida inteira lá, sem arredar nem nas férias. Mesmo porque, de
fato, a única maneira de conhecer de verdade o lugar em que se
vivi é viajando. Quanto mais lugares a gente não conhece melhor a
gente conhece o nosso.
Ricardo Freire
viii
RESUMO
A requalificação em áreas centrais das cidades brasileiras (aqui, em especial, na cidade
pequena) deve atender não só às questões econômicas, mas, particularmente, às sócioculturais,
preservando as Manifestações Culturais Populares que ainda persistem nesses municípios,
mesmo com a chamada modernidade”, inserindo atividades culturais e todos os cidadãos no
processo revitalização. Nessa visão, acredita-se que é importante que, numa área central a qual
se queira revitalizar, não se percam as raízes histórico-culturais, sua beleza, sua característica
e, especialmente, que não saia do palco o que é mais precioso, as Práticas Culturais
Populares. Pois é nesse momento que as pessoas se encontram, unem-se e reúnem-se para
manifestar-se, divertir-se, comunicar-se, interagir, enfim, viver a cidade e aprender um pouco
sobre ela e a região na qual estão inseridas por meio da cultura com a sociedade. O Plano
Diretor não a devida importância ao aspecto cultural, diante disso, percebeu-se a
necessidade de identificar as Práticas Culturais Populares e propor diretrizes para estas. Visto
que um desejo do município em requalificar a área central, e que a questão do aspecto
cultural deve estar considerada nesse processo de requalificação, este trabalho tem como
objetivo apresentar uma reflexão sobre a importância do aspecto cultural na cidade de
pequeno porte, considerando a cultura imaterial existente no município de Tupaciguara,
abordando a importância e a necessidade do aspecto cultural para os cidadãos que praticam e,
principalmente, que tais aspectos culturais façam parte do conteúdo dos Planos Diretores em
geral e, especificamente, do Plano Diretor de Tupaciguara. Para o desenvolver da pesquisa,
foram realizadas leituras de vários autores, que permitiram a delimitação do arcabouço
teórico, possibilitando entender ainda mais sobre o tema de trabalho. Levando em conta, neste
estudo, a significativa relevância do patrimônio-cultural imaterial e o potencial de diversidade
da Cultura Popular Local, efetuou-se uma investigação documental e bibliográfica a respeito
dos projetos voltados para o aspecto cultural e/ implementados no município estudado. Sendo
que para este item, foi elaborado um trabalho de campo na Secretaria Municipal de Cultura,
com as pessoas envolvidas com as Manifestações Culturais e com a população em geral, a fim
de detectar quais as Práticas Culturais Populares existentes no município o porquê de sua
importância. O patrimônio arquitetônico também foi objeto de pesquisa em que houve a
identificação das edificações que tem relevância histórica e quais passaram pelo processo de
tombamento. Para alcançar os resultados, foram gravadas e transcritas todas as entrevistas
realizadas, as quais estão em anexo. Observou-se que a presença das Práticas Culturais
Populares são importantes porque são: a identidade cultural do município e por que tem
significado fundamental para seus participantes. É mediante as Manifestações Culturais
Populares que as pessoas se socializam. Por essas razões, acredita-se que é necessário
priorizar os aspectos culturais. A cultura imaterial é a herança que, trazida das gerações, está
sendo repassada numa eterna continuidade. É a identidade do nosso povo que ajuda a
construir e enriquecer a história das cidades. Como não preservá-la? Sendo assim, essa
realidade deve constar nos Planos Diretores como prioridade e deve ser considerada nos
projetos de requalificação das áreas urbanas.
Palavra chave: Cultura Popular, Revitalização, Plano Diretor.
ix
ABSTRACT
The re-qualification in urban areas in Brazilians cities especially small one must answer
economic issues and social as well. Protecting the Popular Culture present in this locations is
important even though the modernity” process. In this vision, is believed that it is basic to
preserve the culture and historical roots in areas where we intend to implement a
modernization process. It’s important to keep its beauties, characteristics, and especially the
Popular Manifestations. During the Popular Manifestation People meet ache other, have fun,
communicate, integrate, live and learn about their area or region by the Local Cultural. The
City Director Plan does not provide adequate attention to the cultural aspect. Additionally it is
necessary to identify the local culture and propose directives for them. There is a municipal
desire to re-qualify the down town area the cultural issue must be considered in this process.
This research has the goal to present a reflection about the cultural aspects in small cities.
Here we are considering the Tupaciguara city. We are focused on the importance and needs of
the cultural aspects of the population who lives there and the importance of this aspect to be
insert in the Tupaciguara´s Director Plan. During the research many authors were consulted
that allowed to delimitate the theory. This study created the possibility to have a deep
understanding of the subject of this work. In this study the immaterial cultural assets is taken
in account and the potential and diversity of the Local Culture as well. In Tupaciguara was
done a documental and biographic investigation about its cultural project which will be
implemented. A field job was elaborated at Cultural Municipal Secretary involving ordinary
people from the community. It was important to detect the Local Culture in “loco”, and why it
exists there. To achieve the results, many interviews involving Local People were recorded
and written down, see the document attached. It was noticed that the Local Culture are
important because identify the culture that is part of the city, the meaning of this events to its
members. In these cultural manifestations the ordinary citizens have an opportunity to
socialize. Because of it, it is necessary to preserve the local cultural aspects. The immaterial
culture is an inherence carried by generations and generations. It is the identity of the local
people. It helps to enrich the history of the city. But how to protect it? So that this reality must
be contained in the City Director Plans as priority and be considered in the re-qualifications of
urban areas.
Key word : Popular Culture, Modernization, Director Plans.
x
LISTA DE FIGURAS
01 Localização do Município de Tupaciguara no Triângulo Mineiro.................. 02
02 O congado em Tupaciguara-MG ..................................................................... 30
03 A Folia de Reis em Tupaciguara-MG.............................................................. 31
04 Palco de apresentação das bandas no Carnaval em Tupaciguara-MG............. 33
05 Público no Carnaval de rua em Tupaciguara-MG............................................ 34
06 Apresentação da Escola de Samba em Tupaciguara-MG................................ 34
07 Desfile dos Blocos em Tupaciguara-MG......................................................... 35
08 Apresentação da Catira em Tupaciguara-MG.................................................. 37
09 Público na FEMUART em Tupaciguara-MG.................................................. 39
10 Produtos comercializados na FEMUART de Tupaciguara-MG...................... 41
11 Produtos comercializados na FEMUART de Tupaciguara-MG...................... 41
12 Rádio parte externa tupaciguara-MG............................................................... 42
13 Rádio parte externa tupaciguara-MG............................................................... 43
14 Zé do Trio e Mirandinha.................................................................................. 44
15 Nani e Nanito................................................................................................... 44
16 Grupo de forró tocado com Paulo Caixa D’água, Manoel Pandeirista e
Antônio Eustáquio............................................................................................
45
17 Casa da Cultura Tias Polveiras / Museu Histórico e Arqueológico Chico
Ribeiro Tupaciguara-MG.................................................................................
48
18 Igreja do Rosário Tupaciguara-MG................................................................. 49
19 Cemitério do antigo distrito do Mato Grosso, fazenda Mato Grosso.............. 49
20 Cemitério do antigo distrito do Mato Grosso, fazenda Mato Grosso.............. 50
21 Prédio da Prefeitura Municipal de Tupaciguara-MG....................................... 50
22 Localização das Edificações Históricas de Tupaciguara................................. 52
23 Antiga Policlínica............................................................................................. 53
24 Residência........................................................................................................ 54
25 Colégio Imaculada Conceição.......................................................................... 54
26 Casa Comercial................................................................................................ 55
27 Residência com telhado de esteio..................................................................... 56
28 Fazenda Lajeado............................................................................................... 56
29 Administração Fazendária................................................................................ 57
30 Previdência Social............................................................................................ 57
31 Rádio Tupaciguara-MG.................................................................................... 58
32 Comércio.......................................................................................................... 58
33 Residência........................................................................................................ 59
34 Residência e comércio...................................................................................... 59
35 Residência........................................................................................................ 60
36 Residência que ainda preserva as janelas em madeira..................................... 60
37 Fórum Adolfo Fidélis dos Santos..................................................................... 61
38 Arco do Teles restaurado centro do Rio de Janeiro......................................... 70
39 Museu Universitário de Arte de Uberlândia-MG............................................. 72
40 Visão do conjunto arquitetônico restaurado – Pelourinho............................... 73
41 Projetos de revitalização de áreas centrais nas capitais estaduais brasileiras... 76
xi
LISTA DE SIGLAS
01 ACCA – Associação Cultural de Capoeira Abolição
02 ACP – Associação Comercial do Paraná
03 APC – Áreas de Preservação Cultural
04 ART – Associação Recreativa Tupaciguarense
05 BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento
06 BNH – Banco Nacional de Habitação
06 CAT – Centro de Apoio ao Trabalhador
07 CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano
08 COTESPHAN – Comissão Técnica do Serviço do Patrimônio Artístico e Natural do
Município
09 CURA – Comunidade Urbana para Recuperação Acelerada
10 DME – Departamento Municipal de Eletricidade
11 DMAE – Departamento Municipal de Água e Esgoto
12 FEMUART – Feira Municipal de Artesanato de Tupaciguara
13 GCPI – Gateway Cities Partenrship.Inc
14 HUD – Hud Headquarters
xii
15 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
16 ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
17 IEPHA-MG Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas
Gerais
18 IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
19 IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano
20 IPUF – Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis
21 MRDC – Massachusets Rural Development Council
22 MUNA – Museu Universitário de Arte
23 PAC – Programa de Atuação em Cortiços
24 PDA – Pleasanton Downtown Association
25 RFFSA – Rede Ferroviária Federal S.A
26 SEPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Município
27 UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
28 UNIPAC – Fundação Presidente Antônio Carlos
29 VLT – Veículos Leves sobre Trilhos
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...............................................................................................
01
1
TUPACIGUARA : SEU CONTEXTO CULTURAL...................................
08
1.1 Cultura: Breve Discussão Conceitual...................................................
08
1.1.1 - Lazer e Cultura.............................................................................. 09
1.1.2 - Cultura Popular............................................................................. 12
1.1.3 - Manifestações Culturais Populares............................................... 14
1.2 Identificando o Patrimônio Histórico-Cultural Imaterial em
Tupaciguara.....................................................................................................
28
1.2.1 – A Cultura popular......................................................................... 29
1.2.1.1 – Congado....................................................................... 29
1.2.1.2 - Folia de Reis................................................................. 30
1.2.1.3 – Carnaval....................................................................... 32
1.2.1.4 – Catira........................................................................... 35
1.2.1.5 – Capoeira....................................................................... 37
1.2.1.6 – FEMUART.................................................................. 38
1.2.1.7 – Rádio............................................................................ 42
1.3 Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural Material em
Tupaciguara.....................................................................................................
46
1.3.1 Reconhecendo prédios de valor histórico existentes no
município...........................................................................................................
47
1.3.2 – Edificações que poderiam ser tombados...................................... 51
2
REVITALIZAÇÃO URBANA E A QUESTÃO CULTURAL...................
62
2.1 Revitalização Urbana e Sua Contextualização....................................
62
2.1.1 – Exemplos de revitalização em outros países................................ 66
2.1.2 - A revitalização de áreas urbanas no Brasil.................................... 69
2.1.3 - A Cultura como instrumento básico para revitalização................ 86
xiii
2.2 Revitalização Urbana para Todos.........................................................
88
2.2.1 –Revitalizar para os cidadãos.......................................................... 90
2.2.2 - Revitalização dia e noite............................................................... 92
3
TUPACIGUARA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO NA
VISÃO CULTURAL.......................................................................................
95
3.1 Tupaciguara e seu Plano Diretor..........................................................
95
3.1.1 - O Plano Diretor de Tupaciguara - 1992....................................... 100
3.1.2 – Situação atual: análise da implantação plano diretor.................... 103
3.1.3 - Diretrizes do conteúdo cultural..................................................... 105
3.2 Proposta de Diretrizes Culturais para Tupaciguara..........................
106
3.2.1 - Revitalização práticas culturais populares do município.............. 108
3.2.2 – Manifestação cultural popular local e turismo............................. 112
3.2.3 - Gestão da questão cultural no município...................................... 119
3.2.4 – Calendário cultural do município de Tupaciguara....................... 124
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................
127
REFERÊNCIAS...............................................................................................
132
ANEXOS...........................................................................................................
141
xiv
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
xv
Observando as pesquisas realizadas no meio acadêmico, nas quais sempre se
desenvolvem estudos direcionados para os grandes e médios centros urbanos, verifica-se que
pouco se tem falado sobre as cidades pequenas. No entanto, também, é de fundamental
importância estudá-las, mesmo que os seus problemas apareçam em menor escala e
intensidade. Serão citados alguns problemas para exemplificar, como: a educação e a saúde
precária, o desemprego, a pobreza, a ausência de lazer e o ínfimo acesso a eventos culturais e
eventos culturais populares (que, neste estudo, são o foco de análise). Os eventos culturais são
alguns dos elementos primordiais e essenciais na vida de grande parte da sociedade. Na
realidade, são poucos os cidadãos que podem usufruir de momentos culturais, tais como:
cinemas, teatros, shows, festivais e assim se somando uma gama de outros eventos que
acabam sendo direcionados a determinados grupos sociais, excluindo, dessa forma, a
população de menor renda.
Como foi dito anteriormente e diante da carência de pesquisas voltadas para essa área,
foi que se pensou num estudo priorizando as cidades de pequeno porte, que vêm perdendo sua
população jovem porque ali há uma reduzida oferta de trabalho e de lazer. Sendo este um dos
motivos pelos quais os habitantes migram para as grandes e médias cidades, na expectativa de
suprir essas necessidades, que poderiam ter-lhes sido oferecidas em seus espaços de origem, e,
no que tange à oferta de lazer, poder-se-iam criar instrumentos de incentivo às Práticas
Culturais Populares Locais e Regionais.
Dentro desse contexto, foi que se definiu como área de estudo o município de
Tupaciguara-MG (Figura 01), no Triângulo Mineiro, estado de Minas Gerais, por constituir-se
como cidade local de conteúdo sócio-cultural significativo e porque uma intensão de
desenvolver uma proposta de revitalização de sua área central.
Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre a
importância do aspecto cultural na cidade de pequeno porte, identificando a cultura
imaterial existente no município de Tupaciguara, abordando a importância e a necessidade do
aspecto cultural para os cidadãos que o praticam e, principalmente, que tais aspectos culturais
façam parte não só do texto, mas na condução da melhoria da qualidade de vida urbana, dos
Planos Diretores em geral e, especificamente, do Plano Diretor de Tupaciguara.
xvi
xvii
i
O que se pretende neste estudo é evidenciar que a requalificação em áreas centrais das
cidades brasileiras (aqui, em especial, na cidade pequena) deve atender não às questões
econômicas, mas, particularmente, às questões sócio-culturais, preservando as Manifestações
Culturais Populares que ainda persistem nesses municípios, mesmo com a chamada
modernidade”, inserindo atividades culturais e todos os cidadãos no processo revitalização.
Nessa visão, acredita-se que é importante que, numa área central a qual se queira revitalizar,
não se percam as raízes histórico-culturais, sua beleza, sua característica e, especialmente, que
não saia do palco o que é mais precioso, as Práticas Culturais Populares. Pois é nesse
momento que as pessoas se encontram, unem-se e reúnem-se para manifestar-se, divertir-se,
comunicar-se, interagir-se, enfim, viver a cidade e aprender um pouco sobre ela e a região na
qual estão inseridas por meio da cultura com a sociedade. Precisa-se esclarecer que o trabalho
teve como objetivo apontar a cultura imaterial, em momento algum houve o interesse em
apresentar as artes cênicas, artes plásticas e artes da música, por que o foco é mostrar as
Manifestações Culturais Populares Local.
A não preocupação com os interesses da maioria da população, não respeitando sua
identidade com o “lugar vivido”
1
, nos projetos de estruturação, reestruturação e manutenção
dos espaços públicos tanto de áreas centrais ou não, acarreta impactos negativos na qualidade
de vida de toda a população. O grande problema das inúmeras propostas de intervenção nas
áreas urbanas está no intuito claro e evidente de excluir as camadas populares com a não
inserção de suas culturas imateriais, mediante os diversos mecanismos que os planejadores
podem empreender.
Diante de tal situação, acredita-se que grupos organizados, pertencentes,
principalmente, àqueles de maior poder aquisitivo, contrários ao atendimento das
necessidades de grupos que não pertençam à sua esfera de interesse nos projetos de
requalificação das áreas centrais, devem perceber que a proposta de repensar possibilidades
para que esse espaço público se torne mais humanizado e possua um conteúdo sócio-cultural
significativo e plural, irá beneficiá-los sobremaneira. Por essas formas de intervenções
urbanas, as quais estão sendo realizadas, é que hoje essas áreas revitalizadas estão
despertando, por parte dos pesquisadores, discussões e estudos sobre essas iniciativas, no
1
Lugar é quando se cria um vinculo afetivo, alma, espírito. Palestra da profa.Dra. Luci Marion Caderoni P.
Machado .
62
intuito de refletir como esse processo vem sendo implantado nas áreas centrais das cidades
brasileiras, e também de entender qual o real sentido dessa área revitalizada.
Conforme comentários a respeito de Tupaciguara, ela é apontada e conhecida como a
cidade de “Lá Tinha” (lá tinha isso, lá tinha aquilo), criando-se uma imagem de que havia, em
outros tempos, atividades culturais significativas para a comunidade, como: o cinema, o
teatro, o clube, que eram práticas e eventos para um determinado grupo social e que se
perderam, o que se manteve foi os da população de menor renda. Hoje, percebe-se que as
outras classes também se renderam aos encantos dessas Manifestações Culturais Populares
mantidas na cidade, participando e praticando.
A visão de que “Lá Tinha” é uma visão equivocada, pois sua riqueza cultural é orgulho
para os cidadãos tupaciguarenses, podendo até ser espelho para outras cidades. Isso pôde ser
constatado ao ser desenvolver o estudo sobre a questão cultural. Por essa razão, o título
escolhido para a dissertação, TUPACIGUARA “LÁ TEM”: Revitalização urbana e cultura
popular, faz jus à forte presença de uma identidade cultural ali enraizada e de um significado
singular. Tupaciguara “Lá tinha” não, Tupaciguara “tem” o que é de mais expressivo e
importante para a dinâmica sócio-cultural de uma cidade, a Cultura Popular Local de seu povo
e sua Manifestação Cultural viva e presente em seu cotidiano, mesmo com toda a tecnologia e
a modernidade urbana com que hoje convimemos.
Esta riqueza cultural imaterial é representativa e de muita importância para as pessoas
que a praticam, porém, o interessante é que os praticantes trazem consigo não somente a
vontade de se manifestar, mas, especialmente, de perpetuar e de levar para o cotidiano das
pessoas suas raízes culturais.
Para conhecer um pouco da cidade em pesquisa, KENT (2002:31) fala sobre o aspecto
geográfico do município de Tupaciguara-MG, que está situado ao norte do Triângulo Mineiro
e tem: Monte alegre de Minas a 66 Km de distância, Uberlândia-MG a 67 Km de distância,
Araguari-MG a 64 Km de distância, Araporã-MG a 51 Km de distância, como cidades
vizinhas. A cidade está inserida em um trecho bastante movimentado das estradas BR 452,
MG 223, que passam pelo município e são utilizadas com frequência por todo tipo de
veículos, mas, notadamente, pelo de carga, que transporta alimentos, matéria prima para o
abastecimento de quase todo o território brasileiro, pois liga Goiânia a São Paulo. O mesmo
63
autor (2002:16/17) conta que, na década de 1911, sob a Lei Estadual n
o
556, houve a
determinação para a criação do município da Abadia do Bom Sucesso, desmembrando-se do
antigo Distrito de Paz, do município de Monte alegre. A substituição do nome se deu em 07
de setembro do ano de 1923 pela lei n
o
843, do Congresso Estadual após uma votação, quando
o município denominou-se Tupaciguara, que, em Tupi Guarani, nome indígena, significa
Terra da Mãe de Deus”. Hoje, o município possui 23.123 habitantes, pelos dados do (IBGE,
2000).
A metodologia para o desenvolvimento do estudo estruturou-se em vários autores, o
que permitiu a delimitação do arcabouço teórico, possibilitando-nos entender ainda mais sobre
o tema do trabalho e, considerando a significativa relevância do patrimônio-cultural imaterial
e o potencial de diversidade da Cultura Popular Local, realizou-se uma investigação
documental e bibliográfica a respeito dos projetos voltados para o aspecto cultural e/
implementados no município estudado. Sendo que, para esse item, foram efetuadas várias
entrevistas resultantes de trabalhos de campo, entre eles: na Secretaria Municipal de Cultura,
com as pessoas envolvidas com as Manifestações Culturais, e com a população em geral, a
fim de detectar quais as Práticas Culturais populares existentes no município e qual a sua
importância para a população. O patrimônio arquitetônico também foi objeto de pesquisa pela
qual houve a identificação das edificações que têm relevância histórica e quais passaram pelo
processo de tombamento. Para apresentação com mais riqueza de detalhes, foram gravadas e
transcritas todas as entrevistas, as quais se encontram em anexo.
Realizaram, primeiramente, entrevistas não-diretivas, ou seja, uma conversa informal com os
sujeitos participantes das Manifestações Culturais Popular Local. Outra forma de entender a
importância dessas práticas na vida dos indivíduos ocorreu quando se confeccionou um
questionário como ferramenta de direcionamento do que se queria. Em momento algum,
houve interferência do pesquisador nas respostas. Nas duas formas de entrevistas, procurou-se
deixar os entrevistados à vontade em suas respostas.
Especificamente, dentre as sete Práticas Culturais estudadas e existentes no município,
como: Congada, Folia de Reis, Carnaval, Catira, Capoeira, FEMUART e Rádio, a rádio com o
seu programa A Voz do Coração da Cidade –, permitiu-nos produzir um vídeo-
documentário exibido no ano de 2004 na TV Universitária, no intuito de deixar registrada essa
64
prática que, há mais de cinqüenta anos, está no ar todos os domingos na primeira rádio AM da
cidade.
A dissertação es estruturada em três capítulos: No primeiro capítulo, fizemos uma
breve discussão conceitual sobre lazer, porque este assunto está entrelaçado também à Cultura
Popular. Durante as entrevistas, ouvimos os praticantes falarem muito que, quando estão se
manifestando, é momento de lazer e divertimento. Num segundo momento, explicamos o que
vinha a ser cultura e enfocamos alguns autores que trabalham com esse assunto, para que o
leitor o absorvesse com mais facilidade. Foi necessário apresentar algumas de tantas Práticas
Culturais Populares, manifestadas na região, assim, notamos que estas também são observadas
no território brasileiro. Essa introdução tornou-se importante para que pudéssemos entender
melhor como surgiram e, como ainda estão sendo praticadas as identidades imateriais e como
vêm sendo resistentes ainda hoje.
No segundo capítulo, fizemos uma viagem rumo às revitalizações urbanas, utilizamos,
como referência, Simões Junior, que muito bem informa sobre o caminho da revitalização,
para que pudéssemos entender melhor esse processo. Continuamos a pesquisa, trazendo
exemplos de revitalizações concluídas e outras que estão em andamento. Experiências de
projetos no exterior e no Brasil. Mas é importante frisar que o olhar esteve o tempo todo
voltado criticamente para o ponto de vista cultural e também como se vêm trabalhando a
Cultura Popular Local e os costumes nestes projetos.
No terceiro Capítulo, apresentamos uma análise relativa à organização do espaço
urbano na visão cultural, abordando, no que diz respeito à legislação, aquilo que reflete o
vínculo estabelecido sobre esses dois aspectos que estão intrinsecamente ligados à
organização da sociedade. Discutimos a relevância do Plano Diretor de Tupaciguara e uma
proposta de Diretrizes Culturais, enfatizando o papel das Práticas Culturais para a cidade sob
a ótica de revitalização. Exibimos a importância de trazer o turismo-cultural para a cidade,
para que os turistas, e também os moradores, informem-se sobre a questão cultural e tenham o
conhecimento da cidade, pois o turismo pode ser um instrumento que irá modificar a
economia do município.
Finalmente, acrescentou-se no trabalho. visto que o objetivo é fomentar o aspecto
cultural, a gestão do aspecto cultural no município, que é considerado uma das ferramentas
65
que proporciona o desenvolvimento cultural econômico e social, e pode ser um gerador de
forças na economia local, uma vez que Orienta e contribui para a valorização da cultura local,
e é voltado, também, para trabalhar a continuidade da Prática Cultural Popular Local.
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1 – TUPACIGUARA: SEU CONTEXTO
CULTURAL
1 – TUPACIGUARA: SEU CONTEXTO CULTURAL
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Muito se tem falado em preservação de espaços e edificações históricas, mas se
esquecem das Práticas Culturais Populares que são parte integrantes desses espaços e
merecem outros olhares.
A presença cultural no município de Tupaciguara, é enriquecida pela persistência de
Manifestações Culturais Populares que estão resistindo ao tempo. O fortalecimento e a
continuidade dessas práticas se devem a pessoas que acreditam e se preocupam com a tradição
e a identidade cultural local.
1.1 – Cultura: Breve Discussão Conceitual
O Brasil é um país de grande riqueza no que diz respeito à Cultura Popular;
cotidianamente, verificam-se vários registros de Manifestações Culturais Populares
localizadas em cada canto, de norte a sul do país.
Sabe-se que as Práticas Culturais Populares estão ligadas desde a religião e a crença
em algum Santo, como é o caso, por exemplo, do Congado, da Folia de Reis, da Semana
Santa, da Romaria, da Festa Junina, como de diversão e dança que são: o Carnaval, a Catira, o
Frevo, até a arte dos artesãos e da Culinária. Todas elas e muitas outras aqui não citadas estão
direcionadas ao lazer. Até porque, há algum tempo atrás, geralmente eram as pessoas de baixa
renda que participam dessas Práticas Culturais Populares, hoje esse quadro vem se alterando
consideravelmente, tem aumentado a participação e atraído população de uma renda maior.
É por intermédio das Manifestações Culturais Populares Locais e Regionais que se
constrói toda uma história e identidade de uma sociedade, ou seja, de um povo. É observar
as práticas realizadas nas regiões Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país para
constatar que cada uma dessas regiões tem uma característica ímpar de se manifestar e assim
mostrar a sua identidade.
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Salientada anteriormente a palavra lazer, cabe-nos, então, trazer ao leitor uma discussão
sobre o significado desta para nós, antes de adentrar no texto que tratará, especificamente,
da Cultura, da Cultura Popular e das Práticas Culturais Populares.
1.1.1 – Lazer e cultura
... o lazer não pode mais ser encarado como atividade de sobremesa ou moda
passageira. Merece tratamento sério sobre suas possibilidades e riscos. Nesse
sentido, proponho considerá-lo não como simples fator de amenização ou alegria
para a vida, mas como questão mesmo de sobrevivência humana, ou melhor, de
sobrevivência do humano no homem. (MARCELLINO, 1983, p. 7).
Conforme será salientado, o lazer é uma atividade humana de encontros, de festas, de
criatividade e de criação, permitindo ao homem o desenvolvimento pessoal e social”. Por
essas razões, acreditamos que seja de fundamental importância a inserção do lazer no
cotidiano das pessoas.
Vemos que, hoje, a grande maioria da população está priorizando suas atividades
cotidianas profissionais, para oferecer melhores condições de vida às suas famílias,
dedicando-se apenas a este componente, o componente de obrigação”. É esta a realidade da
sociedade moderna. O homem está marcado pelo trabalho diário e abdicando-se de sua
criatividade. DAMIANI (1997, p. 227) assim discorre sobre o cotidiano humano:
O cotidiano inclui o homem inteiro em seus diferentes momentos: o da vida
privada, o dos lazeres, o do trabalho; exatamente quando cada um desses
momentos se constitui como tal, sustentado por instituições, organizações, poderes,
conhecimentos, é que o tema se torna crucial.
Sem entrar no mérito do trabalho, não estamos aqui querendo romper com nossa
realidade, pois sabemos que é necessário produzir. O que desejamos com este estudo é poder
contribuir para um pensamento amplo da dimensão humana, é entender o homem em sua
totalidade e não somente no modo de produção capitalista no qual sociedade
contemporânea encontra-se inserida.
Nessa perspectiva, entendemos que o lazer é tudo aquilo que prazer e tudo aquilo
que atrai. Nesse parâmetro, o lazer é o momento em que o sujeito rompe com a rotina do
69
modo de produção capitalista. A partir daí, o indivíduo passa a ter o poder da escolha, fazendo
o de que gosta em suas horas disponíveis. Dando asas à imaginação, ao raciocínio, à
contemplação, estabelecendo contato com a cultura, outros costumes, socialmente, como
deseja. Assim, põe em prática o livre arbítrio. DUMAZEDIER (2000, p. 34) acrescenta,
O lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre
vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda
para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação
social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-
se das obrigações profissionais, familiares e sociais.
Por outro lado, o lazer também está ligado à disponibilidade. MARCELLINO (2000,
p. 08) comenta que o lazer, ligado ao aspecto tempo, considera as atividades desenvolvidas no
tempo liberado do trabalho, ou no “tempo livre”, não das obrigações profissionais, mas
também das famílias, sociais e religiosas.
A função de desenvolvimento pode ainda criar novas formas de aprendizagem
(learning) voluntária, a serem praticadas durante toda a vida e contribuir para o
surgimento de condutas inovadoras e criadoras. Suscitará, assim, no indivíduo
libertado de suas obrigações profissionais, comportamentos livremente escolhidos e
que visem ao completo desenvolvimento da personalidade, dentro de um estilo de
vida pessoal e social.
Esta função apresenta-se menos freqüentemente do que a precedente mas tem uma
grande importância para o incremento da cultura popular. (DUMAZEDIER, 2001,
p. 33-34).
Como foi dito anteriormente, além de o lazer ser um conjunto de ocupações que atrai,
prazer e está ligado à disponibilidade das pessoas, consideramos que o lazer também pode
estar associado à participação do sujeito com as Práticas Culturais Populares de sua cidade,
que nesse momento, ele está livre de obrigações cotidianas, pondo em prática a função de seu
desenvolvimento humano pessoal e, então, inserindo-se na vida social da cidade.
A cultura é fator preponderante para a “construção” do indivíduo e da sociedade,
estando intrinsecamente vinculada ao lazer. Para refletir sobre cultura, foram pesquisados
CHAUI e XIMENES a fim de esclarecer tal conceito. CHAUI (1986, p. 11) diz que a cultura,
Vinda do verbo latim colere, cultura era o cultivo e o cuidado com as plantas, os
animais e tudo que se relacionava com a terra; donde, agricultura. Por extensão, era
usada para referir-se ao cuidado com as crianças e sua educação, para o
desenvolvimento de suas qualidades e faculdades naturais; donde, puericultura. O
vocábulo estendia-se, ainda, ao cuidado com os deuses; donde culto. A cultura,...
era o cuidado com a terra para torná-la habitável e agradável aos homens, era
também o cuidado com os deuses, os ancestrais e seus monumentos, ligando-se à
memória e, por ser o cuidado com a educação, referia-se ao cultivo do espírito. Em
latim, cultura animi era o espírito cultivado para a verdade e a beleza, inseparáveis
da Natureza e do Sagrado.
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De acordo com os dizeres da autora, a cultura surge, do domínio humano para cultivar
os valores por ele criados. Sendo cultura a mobilidade, as atividades, a subjetividade em
harmonia com a objetividade. Dessa forma, XIMENEZ (2000, p. 273) completa,
sf.1. Ação ou modo de cultivar.2.Plantação.3.Desenvolvimento
intelectual.4.Antrop. conjunto de experiências e realizações humanas (costumes,
crenças, instituições produções artísticas e intelectuais) que caracterizam uma
sociedade.5.Conjuntode conhecimentos adquiridos numa determinada área de
atividade.6.Conjunto de atitudes e comportamentos que caracterizam
certa mentalidade. Cultura inflacionária.
Diante desse entendimento, enfatiza-se, especificamente no próximo texto, que é
importante a inserção da cultura na vida das pessoas, tendo como referência a Cultura Popular
e suas práticas. Compreende-se que é por meio da cultura que se podem entender os
comportamentos, as experiências e o desenvolvimento social e cultural das pessoas.
WERNECK (2000, p. 67) explica melhor, quando afirma que,
Assim a cultura invoca domínios simbólicos e materiais, e sua análise envolve a
relação entre ambos. Além disso, inclui a busca pela compreensão do
comportamento dos sujeitos e das trocas simbólicas engendradas no cotidiano de
uma comunidade sendo entendida tanto como uma forma de vida englobando
idéias, atitudes, linguagens, estruturas de poder quanto uma complexidade de
“práticas culturais” interligadas dinamicamente religião, ciência, mercado,
trabalho, lazer, dentre outras, Cada um desse elementos concretiza valores,
tornando-os significantes, e o seu conjunto delineia a forma da cultura.
Trata-se, assim, de uma caracterização de um modo de vida de uma sociedade, que tem
significado. É a identidade de um povo, sendo que a mesma autora ressalta, ainda, que:
Cultura significa, portanto, o terreno “instituído” das práticas, das representações,
das línguas e dos costumes de uma dada comunidade, envolvendo também as
formas simbólicas “instituintes” da vida popular cotidiana, que contribuem para a
sua permanente reconstrução. A característica básica dessa complexidade cultural
simbólica é a pluralidade de significados procedentes de diversificadas
manifestações. (WERNECK, 2000, p. 67-68).
Assim, a cultura é a diferenciação de uma determinada civilização: sua maneira de
agir, seu meio comunitário, o modo de vestir, a fala, ou seja, a cultura numa sociedade é
constituída mediante a diversividade desses costumes. A cultura não é um dom gratuito. É o
resultado de uma história, de uma tradição e de um esforço perseverante de criações pelas
quais o espírito humano se manifesta. Nesse sentido, as manifestações são repassadas de
gerações para gerações (voluntariamente) e transmitidas individual ou coletivamente, visando,
sem dúvida nenhuma, à comunicação, a qual exige ampliação de conhecimentos intelectuais
ou populares.
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VAZ e JAQUES (1982) fazem uma análise em relação à cultura. As autoras defendem
que a cultura possui três definições. Primeiro a cultura erudita, a qual se refere apenas às obras
de arte num sentido mais clássico, pertencendo apenas a uma minoria da sociedade, “aquela
que entende de cultura, aos cultos”, “... o conceito “cultura” remete às obras culturais, ou
seja, às obras de arte, principalmente as eruditas”, priorizando apenas a obra de arte, num
caráter estético.
A cultura de massa ou a cultura-mercadoria é feita a para comercialização, o conceito
de cultura visa alargar-se ainda mais, passando a abarcar também a idéia de cultura de massa.
O conceito passa a priorizar, de uma forma cada vez mais explícita, o seu caráter
mercantilista, mercadológico, em suma, econômico, assim, a cultura passa a ser, tudo o que
contribui para a economia da cidade.
Por último, e a mais significante para este estudo, a “Cultura Popular”, “cultura-
alma”, a “cultura democrática”, que nada mais é do que a identidade cultural de uma
determinada comunidade, em que cultura passa a ser tudo aquilo que caracteriza um “modo de
vida de uma sociedade”, seja esta “civilizada” ou “primitiva”, “urbana ou rural”.
Em meio a esse contexto, é assim que também se pode enxergar e conceituar a cultura:
na sua erudição, na massificação e na popularidade, sendo esta última o núcleo da cultura e a
que será tratada a seguir.
1.1.2 - Cultura Popular
Como o próprio nome já mostra, entende-se por cultura popular todas as manifestações
produzidas pelo povo para o próprio povo”; é de domínio público, considerando que essa
criação cultural é feita coletivamente e, quase sempre, anônima. ARANHA (1996, p. 40)
ressalta que a cultura, neste sentido, de maneira geral, consiste na cultura anônima produzida
pelo homem do campo, das cidades do interior ou pela população suburbana das cidades
grandes.
Além de ser anônima e produzida pelo homem, a Cultura Popular é também a
afirmação de uma identidade, seja ela qual for, no âmbito rural, urbano ou dos cidadãos
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menos favorecidos da sociedade, ela está presente na vida de todos, inclusive, da classe
dominante. AYALA e AYALA (1987, p. 51) acrescentam,
Dessa forma, a cultura popular é entendida como produção histórica determinada,
elaborada e consumida pelos grupos subalternos de uma sociedade capitalista, que
se caracteriza pela exploração econômica... A diferença de posições dos diferentes
grupos sociais na estrutura de classes implicam a existência de concepções de
mundo que se contrapõem. A cultura popular tanto veicula os pontos de vista e
interesses das classes subalternas numa perspectiva de crítica à dominação, mais ou
menos consciente, quanto internaliza os pontos de vista e interesses das classes
dominantes, legitimando a desigualdade existente.
Considerando que a Cultura Copular é a afirmação de uma identidade nacional,
regional, urbana ou rural, mesmo num contexto de uma identidade histórica, pode-se
afirmar que ela ainda se mantém viva, porque suas práticas são dinâmicas, porque a
concretude do cotidiano está presente e, principalmente, porque tem significado para as
pessoas participantes, diferente do folclore, que prioriza o passado, as teorias, baseando-se
numa realidade pronta e acabada.
AYALA e AYALA (1987, p. 51-52) contextualizam as Práticas Culturais da seguinte
maneira,
Hoje, a contextualização implica situar a cultura popular enquanto processo
dinâmico e atual no interior de uma sociedade dividida em classes com interesses
antagônicos. Assim, não cabe mais analisar as práticas culturais populares como
sobrevivência do passado no presente, pois, independentemente de suas origens,
mais remotas ou mais recentes, mais próximas ou mais distantes geograficamente,
elas se reproduzem e atuam como parte de um processo histórico e social que lhes
á sentido no presente, que as transforma e faz com que ganhem novos significados.
Sendo a Cultura Popular dinâmica, ela está constantemente em transformação aliás, a
vitalidade da Cultura Popular permite absorver e reelaborar as inúmeras influências de outros
costumes, como, por exemplo, as que resultam do contato do mundo rural com o urbano, ou
do impacto da tecnologia e da cultura de massa. (ARANHA, 1996, p. 40).
A riqueza da Cultura Popular está na sua constante re-elaboração, na transformação
das Práticas Culturais, que se constituem na revitalização de nossa comunidade. As
Manifestações Culturais têm características próprias da “cultura na rua”, geralmente, ocorrem
em espaços públicos e, especialmente, com a participação da comunidade, em sua minoria a
“população de baixa renda”.
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1.1.3 – Manifestações Culturais Populares
É de suma importância apresentar algumas Manifestações Culturais que ainda hoje
persistem na contemporaneidade em nossa região, o Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba em
Minas Gerais, no âmbito religioso ou não. Citaremos e descreveremos sobre cada uma delas
no intuito apenas de contextualização do estudo e não de uma pesquisa aprofundada, que
requer uma bibliografia extensa sobre cada uma delas, baseando-se em autores que muito bem
desenham essas Práticas Culturais Populares, pois elas são constantemente estudas e
analisadas.
As principais e mais significativas manifestações encontradas na região em análise
são: a Congada; a Folia de Reis; o Carnaval; a Semana Santa; a Festa Junina; o Artesanato; a
Culinária; a Catira; a Romaria.
1.1.3.1 – A Congada
No que diz respeito à Congada, foram feitas leituras para esclarecimento do assunto, e
os autores lidos, GIRARDELLI (1981) e LOPEZ, GOMES e PAMPLONA (2001-2004),
caracterizam-na de maneira singular.
A congada é a expressão da cultura popular e tem característica própria, surge no
país ainda no Brasil Colônia, trazida pelos negros africanos na época da escravidão, por meio
da no culto e dos ritos religiosos. Mesmo sendo obrigados pelos seus senhores a se
“cristianizarem” os negros não deixavam de se reunir no mato para cantar e dançar em louvor
a santa protetora para pedir a ela que olhasse por eles e os libertasse da escravidão.
A Congada está relacionada com a festividade religiosa, e tem seu ritual próprio, é
acompanhada de músicas, danças, rezas e figurinos. É realizada nas ruas, cada terno (os
grupos do congado) sai de um determinado local, segue pelas ruas e, finalmente, reúne-se aos
outros na igreja, onde acontece a confraternização. Caracterizam-se por grupos de pessoas,
geralmente, homens, mas as mulheres participam também, cantando e dançando ao som de
vários instrumentos, seguindo seu próprio ritual.
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Os congos são os participantes da congada sendo eles: os marujos (as crianças), o
general ou o comandante (dono do terno), 1º, e capitães (responsáveis pela organização
do terno), o guarda ou o fiscal (zelador dos instrumentos e das crianças na rua), os alferes (os
soldados que puxam as filas), os caixeiros de frente (fazem a evolução na porta da igreja), os
soldados (completam o terno), as meninas (são as “virgens do Rosário”), madrinha do terno
(comanda as meninas), a rainha (que leva a bandeira à frente de cada terno) e o rei, essa é a
formação dos ternos.
Os participantes trajam tênis ou sandálias brancas, calça branca, blusão de cor em
tecido acetinado e enfeitado com fitas coloridas, chapéu de palha e espadas também
enfeitados com fitas coloridas e coroas. A indumentária é produzida pelos próprios
participantes com materiais doados, comprados ou reaproveitados.
O congo é dividido em ternos, cada terno é caracterizado por uma cor. As cores dos
ternos são: verde, branca, rosa, azul, amarelo ouro ou vermelho. As cores são simbologias
particulares de cada terno, há mudança de cores dependendo das regiões do Brasil.
No decurso da festividade, circulando pelas ruas da cidade, os congos cantam ao som
dos instrumentos: viola (duas ou três em cada terno), bumbo (dois), surdo médio, caixa,
pandeiro (dois ou três), reque-reque (de vários tipos), agogô, triângulo, chocalho e apito, que
também são enfeitados com fitas coloridas.
As músicas cantadas estão ligadas, muitas vezes, ao ritual, e o ritmo é um só para
todos os ternos. As letras tratam caracteristicamente de, por exemplo, cantos em louvor aos
santos, cantos dos ternos, cantos de despedidas, cantos de agradecimentos etc., a música é
repetida por diversas vezes. O início e o fim da música são marcados por um apito, e o
responsável pelo apito é, usualmente, o primeiro capitão.
1.1.3.2 – A Folia de Reis
Ainda para VIEIRA (1987), LOPES, GOMES e PAMPLONA (2001-2004), a Folia de
Reis é um ritual, ou seja, um diálogo com Deus e os Santos Reis”, para pedir proteção em
algumas eventualidades da vida.
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É um cortejo com caráter religioso e popular um cortejo com Bandeira com a qual
se desfila), ocorre entre o Natal e o mês de janeiro. Esse cortejo representa a viagem dos três
Reis Magos, Baltazar, Belchior e Gaspar, a Belém, para adorar o Menino Jesus. Como regra,
as folias saem pelas ruas à noite por causa dos Reis Magos, que foram guiados por uma estrela
até Belém. Os participantes cantam, referindo-se ao nascimento de Jesus Cristo.
Além da parte religiosa, os foliões passam pelas casas à noite a fim de arrecadar os
donativos para a festa. Eles saem da casa do festeiro, percorrem outras casas, recolhendo os
donativos e retornam para a casa do festeiro e daí realizam a festa da passagem da coroa para
o festeiro do próximo ano.
Normalmente, a grande maioria dos foliões são homens (como na congada), mas
também participação das mulheres. A presença da mulher é marcada, quando esta faz uma
promessa e o pagamento é de levar a bandeira, sendo muito raro isso ocorrer.
A bandeira tem tamanhos diferenciados, dependendo do grupo de foliões. A média de
altura de sua haste é de um metro, sendo a bandeira de seda ou de cetim, algumas são pintadas
a óleo. São coladas ou costuradas as figuras de São José, do Menino Jesus ou dos Reis Magos
nas bandeiras, a cor é azul-clara e ela está sempre na frente ou no centro do grupo.
Comumente, são doze os componentes, dentre eles, estão: mestre, contra mestre,
alferes ou bandeiro (carrega a bandeira), os foliões (músicos) e o palhaço. O mestre é o dono
da Folia, é o organizador, a primeira voz, é quem puxa o canto. É respeitadíssimo, sua palavra
é uma ordem. O contramestre é o responsável pelo contracanto, a segunda voz, via de regra, é
muito amigo, compadre ou parente do mestre. O bandeiro é quem leva a bandeira, o símbolo
devocional. Vai à frente ou no centro da folia.
Por fim, os palhaços quase sempre representam os soldados de Herodes que
perseguiam o Menino Jesus”, em geral, são duas pessoas, e quem as escolhe é o mestre. Os
palhaços são usados (quando os foliões chegam a uma casa estranha) para perguntar se os
donos da casa recebem a Folia. O curioso é que até o aceite do dono, a bandeira fica coberta,
aguardando do lado de fora, porque, no caso da recusa, ela está protegida da desfeita.
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Os foliões também fazem suas promessas, mas, como foi dito anteriormente, no caso
das mulheres, é uma raridade, e quem faz as promessas são os mestres, os foliões ou as
pessoas visitadas.
Como na Congada, na Folia de Reis, os músicos também tocam instrumentos, os mais
comuns são: a viola, o cavaquinho, a sanfona, a caixa de guerra, o triângulo, o pandeiro e o
bumbo. A função da Folia de Reis é de fazer uma jornada de sete dias com o objetivo de
cumprir o voto feito aos Santos Reis. Seus cantos são referência ao nascimento de Jesus
Cristo.
1.1.3.3 – O Carnaval
A palavra Carnaval deriva-se do latim carnem lavare (obtenção da carne) até porque
a festa, desde o início, é comemorada no período que antecede a quaresma, quando se pratica
a abstinência da carne. Como diversão popular, o carnaval assume as peculiaridades nos
lugares onde ocorre a festa (clubes, salões, ruas).
Tem como marco inicial a criação dos cultos agrários (descoberta da agropecuária), e,
como ponto final, a oficialização das festas a Dionísio, durante o reinado do Pisistrato na
Grécia. Surgindo, então, o carnaval Pagão, que começa quando Pisistrato oficializa o culto a
Dionísio na Grécia, e é quando a Igreja adota oficialmente o carnaval. Após a oficialização,
inicia-se um novo modelo de Carnaval, começa a delinear-se, iniciando-se nas cidades de
Nice, Roma e Veneza quando passa a fazer parte do mundo esse novo modelo de Carnaval
que ainda hoje identifica a festa, com fantasias, desfiles de carros alegóricos e máscaras. Os
Carnavais são reminiscências das festas dionisíacas da Grécia antiga, das bacanais de Roma e
dos bailes de máscaras do Renascimento.
O Carnaval é uma festa popular, realizada três dias antes da quarta-feira de “cinzas”.
LOPES, GOMES e PAMPLONA (2001-2004), FILHO (1979) expõem que: É uma festa de
origem portuguesa, cujo nome era entrudo”, que significa “entrada” (antigo folguedo
carnavalesco no qual os foliões jogavam água uns nos outros). O Carnaval no Brasil surgiu
desta forma: os participantes lançavam, uns aos outros, farinha ou tinta e assim se divertiam.
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Inicialmente, brincava-se o Carnaval em clubes e em teatros, as pessoas iam
fantasiadas, fazendo uso de máscaras e de disfarces. A fantasia era tão importante, que os
diretores dos teatros, dos clubes “advertiam o público que seria vedado o ingresso nos bailes a
quem não se apresentasse fantasiado”. Era um Carnaval no qual se cantava de tudo, marchas,
valsas, marzucas, xotes.
Mais tarde, o Carnaval conquistou outro espaço, o ar livre. Formavam-se blocos, e os
festeiros saiam nas ruas, em carros sem capota, o corso, jogando confete e serpentina nos
espectadores, e o desfile tomava conta das avenidas. Durante três dias, a cidade vivia
momentos de alegria e, na terça-feira, “enterrava-se” o Carnaval.
Hoje, não mudou muita coisa, o Carnaval continua sendo uma festa popular e
praticada nas ruas e nos clubes. Quanto às mudanças, não Carnaval em teatros, as pessoas
brincam como foi falado, na rua (pertencendo ou não a blocos), seguindo os famosos trios
elétricos: brincam dançando e cantando com as bandas contratadas para tocar em praças ou
em palcos montados ao ar livre e nos clubes.
Uma outra mudança é com relação à terça-feira, antes se enterrava” o Carnaval.
Agora, em algumas cidades, as pessoas brincam o Carnaval até o meio dia da quarta-feira de
“cinzas”, em outras, o Carnaval é festejado o mês inteiro, tem-se também o Carnaval fora de
época (em outros meses do ano), a micareta.
Além dos blocos, cujo caráter econômico e perceptível (paga-se para brincar), hoje
as escolas de samba, que disputam e competem todos os anos, trabalhando em cima de um
tema “deixando a diversão de lado”, priorizando essas disputas, no intuito de conquistar as
melhores colocações ou até de ganhar os primeiros lugares. Para tanto, as escolas estão cada
vez mais luxuosas e fazendo espetáculos, mas, afastando-se de suas características populares.
Hoje tem no Carnaval do Brasil, o Trio-elétrico e o Frevo, ambos retratam sem
dúvida alguma, a identidade de dois estados, Bahia-BA, com o trio-elétrico, e Pernambuco-
PE, com o frevo, que são parte do Carnaval e serão ressaltados a seguir.
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a) - Trio-elétrico
O Trio-elétrico é, hoje, um elemento que faz parte do Carnaval brasileiro e também do
exterior, sendo um componente essencial no Carnaval de rua. Uma revolução, que é hoje a
festa popular baiana de muita repercussão mundial, um autêntico palco ambulante.
Esse elemento, que faz a alegria de muitos foliões, foi inventado na década de 1950,
pelo então Dodô (Adolfo Antônio Nascimento) e por Osmar Macedo (ambos músicos), com a
vontade de levar, para as ruas de Salvador-BA, o autêntico efeito que o frevo produzia em
Pernambuco-PE, dar mais alegria à festa de rua. Até aquele ano, o Carnaval em Salvador nada
lembrava a festa popular atual, apenas desfiles de fantasias ao som de marchinhas lentas no
centro e era acompanhado por uma platéia que permanecia na calçada.
O atual Trio-elétrico, que tem uma estrutura de 15 toneladas com 4,0 metros de altura
por 3,5 de largura e 25 metros de comprimento em média, é altamente equipado, alguns até
com computadores, escadas, camarim, elevadores, circuito de som e luz. Eles chegam a
iluminar uma cidade de mil habitantes, levando consigo blocos com 400 a até 3.000 foliões.
Seu início deu-se em cima de um velho Ford, no qual Dodô e Osmar resolveram subir
e sair pelas ruas de Salvador tocando instrumentos. Logo, o Ford foi substituído por uma
camionete com iluminação florescente com vários alto-falantes, estando escrito nas laterais
“O Trio Elétrico”, pois a dupla ganhara mais um componente, Temístocles Aragão.
b) - Frevo
também o Frevo como festa popular, que se deriva de “ferver” e é um ritmo
genuinamente pernambucano e que hoje garante a alegria no Carnaval. Num estado de música
e dança própria, surgiu nas ruas de Recife-PE no final do século XIX e no início do século
XX; o frevo, que é de origem urbana.
Sua música nasceu das marchas e maxixes (carioca) carnavalescos, é uma música mais
rápida, acompanhada por uma dança que tem um estilo livre e de improvisação individual,
passos soltos e acrobáticos. Os passistas levam consigo uma sombrinha como um elemento
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complementar, uma indumentária, um adereço colorido que serve para dar graça e equilíbrio
aos passos do Frevo.
Sua vestimenta não se prende em uma roupa típica única, são vestimentas do dia-a-dia,
sendo que a blusa é curta ou amarrada e justa no corpo como também as calças as roupas
devem ser de cores fortes e estampadas. As mulheres usam shorts curtos ou mini-saias que, ao
dançar, dão mais destaque aos passos.
A origem do passo se deu com a presença de Capoeira nos desfiles das duas mais
famosas bandas de músicas militares do Recife no final do século XIX. O Frevo é a alegria
dos foliões no Carnaval, lembrando que não no Carnaval de Pernambuco mas de território
brasileiro, embora seja identidade única do estado pernambucano.
O Carnaval do estado de Pernambuco é múltiplo, nele se consegue reunir todas as
cores, saberes, tradições, sendo uma das maiores manifestações culturais do povo brasileiro. É
com este caráter de Cultura Popular, que o Carnaval continua sendo uma festa, que leva os
participantes para divertir-se, distrair-se.
1.1.3.4 – A Semana Santa
Para entender melhor essa prática religiosa, BRANDÃO (1989) apresenta o
significado desta manifestação popular. Mais do que um feriado prolongado, a Semana Santa
tem um único sentido a fé, é celebrada nas ruas das cidades (procissões) e na igreja. É uma das
“Práticas Culturais religiosas de todos os tempos”, que, até hoje, com a persistência do povo,
é praticada na sociedade.
É a religiosa, a fé do cristão naprevisão” da morte de Jesus Cristo, aquele que deu
a vida para redimir o pecado do povo. A Semana Santa é celebrada na última semana da
quaresma, que se inicia na quarta-feira de “cinzas” e termina no Domingo de Páscoa.
No entendimento da semana santa, falar-se-á ligeiramente de cada passo da Quaresma:
Domingo de Ramos: júbilo efêmero; Segunda-feira: arrependimento; Terça-feira e Quarta-
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feira: silêncio; Quinta-feira Santa: o sofrimento; Sexta-feira: a paixão de Cristo; Sábado de
Aleluia: o sábado santo; e, por fim, o Domingo da Ressurreição: a Páscoa.
a) – Domingo de Ramos: júbilo efêmero
Apenas o Domingo de Ramos e o Domingo de Páscoa são os dias de alegria e festa. O
Domingo de Ramos é o dia de “júbilo efêmero” (perdão do pecado), porque, em seguida, à
noite, começa o sofrimento de Jesus Cristo e a crucificação, é a exatidão do arrependimento.
No Domingo de Ramos, é celebrada uma missa em que as pessoas levam ramos que serão
benzidos pelo padre e levados para as casas e guardados. Os ramos servirão para a proteção
dos cristãos, o que é simbólico, mas de extrema importância, pois a das pessoas está acima
de tudo.
b) – Segunda – feira: arrependimento
É o dia do arrependimento, em que os cristãos vão à igreja “carregados” de culpa e
arrependimento. Confessam-se e pedem a Deus o perdão de seus pecados, e o padre e Deus
dão a absolvição aos pecadores. O que conta, nesse momento, é a confissão. O público mais
freqüente na segunda-feira são as mulheres.
c) – Terça – feira e Quarta – feira: silêncio
Na terça–feira e na quarta–feira, são celebradas missas comuns. Esses dois dias são a
preparação dos quatro últimos e verdadeiros dias da Semana Santa, da quinta-feira ao
Domingo de Páscoa, e antecedem os dois primeiros dias, o de dor e sofrimento, quinta-feira e
sexta-feira. BRANDÃO (1989, p. 143) refere que “As missas desses dois dias servem para um
breve olhar sobre uma geografia do sentimento...”.
d) – Quinta – feira Santa: o sofrimento
Dia em que Jesus Cristo lava e beija os pés dos apóstolos num símbolo de humildade
(igualando-se aos homens). É o significado da Santa Ceia”, a “Última Ceia antes de sua
morte. É o ritual celebrado pelo vigário nesse dia marcado pelo símbolo da humildade.
e) – Sexta – feira: a paixão de Cristo
É o dia em que Jesus Cristo é crucificado, e morre para a salvação de todos os homens.
Especialmente na Sexta-feira, os cristãos não fazem absolutamente nada, não trabalham,
algumas pessoas “jejuam ao extremo”, é dia de oração, coberto de dor.
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f) – Sábado de Aleluia: o sábado santo
É marcado pela alegria de todos, porque Jesus Cristo está de volta, ressuscitado.
... a manhã de sábado, devolvia a todos à alegria “do Aleluia”. A própria
expressão antiga “romper o aleluia”, como um grito de jubilosa volta aos excessos
permitidos, contido da Quaresma à Sexta-feira, trazida bem essa volta à euforia
generosa da vida e de sua celebração. Jesus Cristo estava outra vez tão vivo quanto
qualquer um...O sábado de aleluia anteceda já, na alegria de todos, o Domingo de
Páscoa. É assim dois dias de glória, família e euforia sucediam três dias de luto e
pesar. (BRANDÃO, 1989, p. 160).
Celebra-se a descida de Jesus à mansão dos mortos é também o dia da espera e da
preparação para a páscoa do senhor. Durante esta cerimônia, acende-se o Círio Pascal, que
simboliza para a Igreja o Cristo ressuscitado, luz da fé de todos os cristãos.
Geralmente ao meio-dia deste sábado, costuma-se “malhar o Judas”, ou seja, bater e
queimar um boneco de pano para representar a tradição de Judas Iscariotes, que vendeu Jesus
Cristo por trinta moedas aos romanos.
g) – Domingo de Ressurreição: a Páscoa
É o dia de convívio com os familiares (como o Natal), com toda a família reunida, é
uma das maiores festas cristãs, é a celebração da ressurreição de Cristo. Depois de Jesus
Cristo ser morto na cruz e sepultado, ele ressurge ao 3º dia e aparece aos discípulos.
É o fim do jejum e dos preceitos de privação do desejo, a mesa está farta, ou seja, uma
ceia farta, as crianças ganham ovos de Páscoa. O ovo é um dos símbolos importantes da
páscoa, porque lembra vida e ressurreição, pois guarda dentro de sua casca uma vida nova que
nascerá.
Esses são os passos da Semana Santa, é uma festa de igreja”, uma “festividade da
igreja”, de que, com muita crença e fé, os cristãos, as pessoas de todas as classes sociais
participam, é chamada de “manifestação religioso-popular”.
1.1.3.5 – A Festa Junina
A Festa Junina origina-se dos países europeus (católicos), é uma festa religiosa (de
reverência aos santos). Teve inicio no século VI em comemoração ao aniversário de São João
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Batista, filho de Santa Isabel, nascido no dia 24 de junho. No século XIII, os portugueses
acrescentaram Santo Antônio (dia 13) e São Pedro (dia 29), homenageando-os.
Uma festa humana do solstício de inverno era um ritual pagão de apelo, pois era o
início das colheitas. É por isso que, além da Festa Junina ter um caráter religioso, também,
resquício da festa da colheita pagã.
A tradição de festejar em junho é porque antecede o nascimento do Menino Jesus.
Depois de Jesus Cristo, São João Batista é o santo mais festejado no Brasil. É um dia
santificado, mas não é preciso ir à igreja, sua vigília é feita ao redor da fogueira. Diferente dos
outros santos, essa festa é realizada na noite do dia 23, véspera do dia destinado ao santo. É
uma festa familiar, marcada pelo tipo de comida e bebida de cada região.
A presença da fogueira é para reverenciar da fertilidade da terra, o fogo, a princípio,
representava proteção contra a falta de chuva e para espantar as pragas agrícolas. Foram
acrescentados à fogueira, ao longo do tempo, outros elementos nas comemorações como:
A quadrilha, trazida pela corte portuguesa no século XIX, primeiramente, era dançada
pela corte e logo se popularizou e alcançou a zona rural. É dançada, geralmente, na noite de
São João Batista.
Os fogos de artifícios são usados para espantar o mau-olhado”. Como símbolo
religioso, os balões coloridos, que enfeitam o céu nas noites da festança, têm a finalidade de
levar pedidos de graça para São João Batista.
Outro elemento é o pau-de-sebo, um tronco de árvore, que tem de quatro a mais metros
de altura e é coberto de sebo de animal. O objetivo é que as pessoas subam e peguem as
prendas colocadas na extremidade do pau-de-sebo.
Esses elementos estão presentes nas festas, e poucas pessoas têm conhecimentos de
seus significados. Vale lembrar que o pau-de-sebo é menos freqüente, depende de cada
regiões do país. A Festa Junina é uma festa popular e tem como objetivo principal oferecer
alegria e descontração para as pessoas.
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1.1.3.6 - O Artesanato
ARAÚJO (1964) relata que o Artesanato é uma arte, uma técnica. É um trabalho
manual autônomo praticado pelos artesãos. O Artesanato tem outra finalidade além da
exposição do trabalho artesanal desenvolvido, a de comercialização e venda desses produtos.
Cada região possui seu artesanato e este movimenta a economia regional.
Ressalta-se que o artesanato é também uma técnica de subsistência para suprir
necessidades. Mesmo o artesão sabendo que sua porcentagem de lucro é mínima e que, muitas
vezes, seu trabalho não é valorizado (pagando pouco pelo que representa essa técnica), o
artesão é fiel à prática, pois se torna uma espécie de “representante” da Cultura Local ou
Regional.
Por essas razões, o Artesanato é uma técnica herdada, continuidade de geração para
geração. Não uma consciência de tradição, a nova geração vem abandonando o Artesanato
para adotar outras atividades mais rendosas para sobreviver.
Cabe ressaltar que, em determinadas regiões, a exploração de mão-de-obra pelo
“intermediário”, que compra os produtos dos artesãos e vende-os conseguindo bom lucro.
Assim os artesãos deixam de vender seu Artesanato diretamente para a população,
enriquecendo o intermediário “patrão” e continuando numa vida precária, “produzindo hoje
para comer amanhã”.
DELLA (1999) aborda que Minas Gerais tem como característica alguns materiais que
se usam para o trabalho artesanal, como, por exemplo:
- O barro: a cerâmica é usada pra a confecção de panelas, potes, cuscuzeiras, moringas
e outras peças.
- Os fios e linhas utilizados para tecelagem, bordados, rendas, cuja matéria prima é o
algodão, a lã e a juta.
- Tecidos e tecelagens com os quais se confeccionam as almofadas, as bonecas e os
tapetes arraiolo.
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- O trançado de palhas e cipós, com os quais se fazem cestas, peneiras, abanos e
balaios.
- Das pedras sabão são feitas peças ornamentais, como as figuras de animais, de
santos, panelas, potes etc.
- Do couro fazem-se arreios, gibãos, cintos entre outros.
- A madeira é usada para a confecção das colheres de pau, santos, pilões, cochos,
gamelas, brinquedos entre outros.
Esses materiais são típicos do Artesanato mineiro e são utilizados por esses artistas
anônimos para confeccionar produtos de decoração, de devoção, como também objetos
utilitários e lúdicos.
1.1.3.7 – A Culinária
Segundo ARAÚJO (1964) e LOPES, GOMES e PAMPLONA (2001-2004), a
Culinária é a identidade de um povo. De acordo com esses autores, acredita-se que a Culinária
é a atuação de uma sociedade, e seu principal objetivo é fomentar lembranças e prazeres
degustativos. Mais que as lembranças, essa prática é a identidade regional e cultural de uma
determinada comunidade.
A culinária é um dos distintivos culturais que particularizam o patrimônio coletivo
de uma sociedade. Os aromas e sabores das antigas cozinhas ainda permanecem
vivos na memória de nossa infância. Não é raro revivermos o tempo, através da
degustação de um prato que é a marca e herança cultural de nosso povo. (LOPES,
GOMES e PAMPLONA, 2001-2004).
ARAÚJO (1964) revela que o estado de Minas Gerais é famoso pelas suas comidas
simples e saborosas, como: o frango caipira com quiabo e angu; a couve à mineira; o arroz
com queijo, feito em panela de barro; o tutu de feijão (amassado o feijão e engrossado com
farinha de mandioca), acompanhado com lingüiça e torresmo.
As quitandas e doçarias: brevidade, pão de queijo, compota de frutas, doce de leite,
mingau de milho verde, a pamonha, canjiquinha, bolo de fubá, curaus de milho verde. A
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Culinária é a arte de cozinhar, é o conjunto de pratos típicos que caracterizam uma região e é
praticada pelas pessoas que ali moram.
1.1.3.8 – A Catira
Esta é uma Prática Cultural Popular, caipira”, formada por grupos de pessoas que
moram em áreas rurais. Em algumas regiões do Brasil, a catira também é conhecida como
Careterê. Não se sabe ao certo se a Catira no Brasil é originária dos africanos ou dos índios,
dizem ser indígena, pois seu nome é da língua tupi e os jesuítas usavam a dança da Catira na
tentativa de facilitar o entrosamento entre os índios e os colonizadores europeus, mesmo
porque, antes da vinda dos colonizadores para o país, os índios brasileiros tinham seus
próprios cultos e danças religiosas. Acredita-se nessa explicação, posto que parece ser a mais
coerente.
A Catira é uma dança genuinamente brasileira e está sempre presente quando
manifestações culturais como a Folia de Reis e a Festa do Divino. É uma dança de sapateado
ao som de palmas e viola. A apresentação é feita com a participação de dois violeiros e dez
dançadores. Antigamente, participavam apenas os homens, hoje existem grupos mistos ou
só de mulheres. É mais praticado em Goiás e em Minas Gerais.
A Catira inicia-se com o “cabeçalho”, saudação dos violeiros, pedindo licença para
cantar e para acompanhá-los na moda, os participantes batem palmas e sapateiam. Nesse
início, os catireiros e os violeiros formam um círculo num contínuo sapateio e palmeado.
Logo que o círculo se completa, o retorno com a mesma coreografia. Voltando aos seus
lugares, os violeiros começam a moda.
É dançada em fileiras sempre acompanhada das violas e dos violeiros, sendo estes os
únicos que cantam e comandam a coreografia, mas, às vezes, sapateiam também. Enquanto os
violeiros cantam, os dançarinos apenas movimentam o corpo sem sair do lugar, no momento
em que a cantoria é interrompida, é que a dança começa ao som da viola. Os catireiros batem
os pés no chão ou assoalho num só sapateado e batem palmas no intervalo de cada estrofe.
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Durante a dança, os catireiros vão trocando de lugar, fazendo coreografias belíssimas,
de grande esforço físico e sempre em sincronia. Finalizam sempre com o “recortado”, letra
marcada pelo caráter de humor. Os catireiros, nesse momento, estão dispostos em duas
fileiras, frente a frente, como durante a apresentação da moda, os catireiros, acompanhados
dos violeiros, trocam de lugar a cada estrofe da moda, até os violeiros chegarem à
extremidade oposta, e assim termina a dança.
A coreografia é fixa, pequenas mudanças, dependendo da região. As temáticas das
músicas, geralmente, estão relacionadas ao trabalho, amores, cotidiano, saudades, lugares etc.
Poucos são os praticantes, mas estes estão dispostos a impedir que a Catira, uma dança
popular tradicionalmente brasileira, venha a cair no esquecimento.
1.1.3.9 – A Romaria
Romaria é a peregrinação a algum local religioso. É o pagamento de promessas. Os
romeiros (as pessoas) fazem suas promessas a um santo devoto e, quando alcançam a graça,
cumprem o voto (indo a a uma determinada cidade onde o santo se encontra, fazendo
suas orações, ou subindo as escadarias da igreja de joelhos, dependendo da promessa quem
de cumprir) em devoção a um santo e em agradecimento à graça recebida.
Cada região tem seu santo de devoção, como, por exemplo: Nossa Senhora Aparecida,
Nossa Senhora da Abadia, Divino Espírito Santo, entre outros. Serão citadas duas cidades
onde acontecem as festas de devoção aos santos.
Na Região do Triângulo Mineiro-MG; na cidade de Romaria, é realizada, no dia 15 de
agosto, a festa de Nossa Senhora da Abadia e, em Goiás, na cidade de Trindade, acontece do
dia 27 de junho a 07 de julho a festa do Divino Espírito Santo. As pessoas pagam suas
promessas durante as festas dos santos nas cidades onde estes se encontram, com o objetivo
de agradecer, rezar e também festar.
A Folia de Reis é de caráter religioso e a Congada, que além de ser uma manifestação
religiosa, é praticada pela comunidade negra, porém as manifestações religiosas das quais
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toda a sociedade, participa, como: a Romaria e a Semana Santa. Como se sabe, a Catira é uma
dança trazida pelas comunidades rurais para a cidade.
As Festas Juninas, a Culinária e o Carnaval são vivenciados por todos os grupos
sociais. Por último, o Artesanato é praticado por aqueles que utilizam trabalho manual, sua
arte, para fins também de comercialização.
No entanto, são Culturas Populares, porque são reconstruídas, re-elaboradas e estão
constantemente em transformação, tanto na vestimenta, nos cantos, quanto nos instrumentos e
nos métodos, sejam quais forem, mas permanecem com o mesmo conteúdo e o mesmo
objetivo.
Desde o descobrimento do Brasil como se o Brasil não existisse antes –,
recebemos influências de várias culturas, que foram por nós incorporadas,
metabolizadas, configurando a diversidade da cultura brasileira expressa nas nossas
singuralidades regionais.
O que mais caracteriza a unidade e a diversidade de um país, senão sua música, seu
teatro, suas formas e cores, sua dança, folclore, poesia? Nessas manifestações,
sempre fruto de um amálgama cultural, é que estão mais fortemente gravados os
sentimentos e pensamento de um povo. (MARTINS, PICOSQUE e GUERRA,
1998, p. 10).
Diante dessas Manifestações Populares apresentadas, é que se acredita que quando se
requalifica, se revitaliza uma área central, é necessário priorizar os aspectos culturais. Não se
pode negar ou simplesmente esquecer a identidade de uma cidade. Quando se trabalha com a
cultura, automaticamente, está se resgatando o valor de uma comunidade.
1.2 - Identificando o Patrimônio Histórico-Cultural Imaterial em Tupaciguara
Partindo do princípio de que o cidadão é compreendido como construtor de sua
identidade cultural e de que esta depende da comunidade em que esteja inserido e de que só há
Manifestação Cultural com a presença dessas pessoas, o próximo caminho a ser evidenciado e
a identificação das Práticas Culturais Populares persistentes no município de Tupaciguara.
As Práticas Culturais Populares Locais encontradas na cidade são importantíssimas
para a manutenção da identidade do povo. São trazidas das gerações anteriores e ainda hoje
são praticadas, mesmo com dificuldade, mas com muita perseverança da comunidade
envolvida.
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Alguns dos participantes das Práticas Culturais Populares praticadas no município são
moradores tanto da área urbana, como da zona rural, que vêm à cidade para participar desses
momentos preciosos e de muito significado, ou seja, o retrato de sua identidade cultural.
1.2.1 – A Cultura popular
A cidade em pesquisa é palco de algumas Práticas Culturais Populares Local que
muito tem a dizer, traduzindo a história e os costumes de um povo.
Exporemos agora as Práticas Culturais, como também os meios de divulgação
presentes na cidade estudada: Congado, Folia de Reis, Carnaval, Catira, Capoeira,
FEMUART e a Rádio de Tupaciguara-MG.
1.2.1.1 – Congado
... Tupaciguara tinha dois ternos de congo. Um comandado pelo “seu” Mongico e
outro pelo “seu” Augusto. (MAMEDE, 1996, p. 49).
O Congado esteve muito presente em Tupaciguara até o final da década de 1970,
sendo extinto por falta de incentivo, pois não havia uma associação, e, então, os congueiros se
enfraqueceram. Outro motivo foi a imigração dos participantes para outras cidades em busca
de emprego e estudo. Segundo senhora Jacira (a caixeira) do grupo de Congado de Canápolis-
MG, a última festa de Congado em Tupaciguara foi em 1978.
Após 25 anos sem a presença dessa manifestação na cidade, grupos de Congados da
região como: Araguari-MG, Canápolis-MG, Centralina-MG, Ituiutaba-MG, Itumbiara-GO e
Uberlândia-MG foram a Tupaciguara a convite da Secretaria de Cultura (incentivando a volta
do Congado), pois se pretendia formar um grupo de Congado no município. A presença
desses “ternos” se deu no dia 23 de novembro de 2003 na Festa da Consciência Negra.
Graças ao Núcleo de Cultura, está sendo reativada essa prática de tamanha importância
e significado para as pessoas. está em formação o primeiro grupo de Congado, o
89
Moçambique (que são os guardiões de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de
Tupaciguara) com 50 integrantes. A primeira apresentação do Congado, que seria em
maio/2004, não aconteceu, mas um grande interesse, nesse sentido, a realização da festa
será nos meses de novembro para não coincidir com outras festas de Congado da região. A
festa ocorrerá na igreja Nossa Senhora do Rosário (figura 02), localizada na parte antiga da
cidade, igreja que já está tombada e é Patrimônio Histórico da Cidade.
Figura 02: O Congado em Tupaciguara-MG, dezembro/2003.
Aurora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
1.2.1.2 – Folia de Reis
bastante tempo que é praticada a Folia de Reis no município, esta tradição é
repassada pelos antigos moradores e, até hoje, esse momento religioso é, ao mesmo tempo,
uma festa, fazendo parte do cotidiano das pessoas tanto da cidade quanto da zona rural.
Freqüentador a mais de quarenta anos, Sr. Nenzico conta que a Folia de Reis em
Tupaciguara é muito antiga. Desde sua infância, já convivia com a Folia, mas foi na década de
1960 que ele realmente começou a participar da manifestação, e todos os anos a cidade recebe
os foliões. “A eu acho que é uma tradição que não podia morrer é uma coisa que vem dos
dos antigo, é um folclore muito bonito se a gente for estudar a fundo mesmo é uma coisa
muito linda e que tinha que ter o apoio das autoridades, é uma coisa que a gente tem que
pesquisar a fundo mesmo e inveis de deixar acabar tem que ajudar pra não acabar.”.
(Depoimento do Sr. Nenzico, realizada no dia 08 de julho de 2004.).
90
Tupaciguara é palco dessa festa normalmente a partir do dia 25 de dezembro, dia em
que se comemora o nascimento de Jesus Cristo, quando saem as Folias nas ruas, e termina no
dia seis de janeiro, dia em que a cidade fica em festa e é tomada por grupos de religiosos que
manifestam sua para as pessoas. cerca de seis a oito Folias que andam pelas ruas.
Porém, segundo sr. Nenzico, a folia sai durante o ano todo também sem uma data certa,
dependendo do voto da pessoa, é a chamada Folia temporana.
Sendo a Folia de Reis uma Cultura Popular Religiosa, os moradores da zona rural
também a recebem em suas casas. Este é o momento em que os participantes estão envolvidos
para um mesmo objetivo, reunindo-se para rezar, festar e levar a tradição adiante. Mesmo com
toda a modernidade, os foliões não deixam cair no esquecimento e nem acabar essa reunião
tão importante. Para manter viva a história da cidade, trazida dos seus antepassados, a Folia de
Reis passa de geração para geração e, persistentemente, ainda está fazendo parte do ambiente
urbano de Tupaciguara, transmitindo fé e alegria para muitos, figura 03.
Figura 03: A Folia de Reis em Tupaciguara-MG.
Acervo: Secretaria Municipal de Cultura de Tupaciguara.
1.2.1.3 – Carnaval
91
...Não havia carnaval de rua,de salão, mas durante as quatro noites dedicadas ao
Rei Momo, a alegria se espalhava envolvendo a todos... (MAMEDE, 1996, p. 93).
Em entrevista com Horácio (Presidente e fundador da Uni-raças), pode-se conhecer a
história do Carnaval de rua porque, até a década de 1980, o Carnaval de Tupaciguara era
realizado na Associação Recreativa Tupaciguarense - ART -, localizada na Rua Bueno
Brandão n
o
22 s/1-2. A festa popular, primeiramente, instalou-se no clube, as pessoas que
podiam tinham ali seu lugar garantido para brincar o Carnaval, formando blocos e divertindo-
se a noite inteira; isso até 1984, quando Horácio, a pedido da prefeitura e realizando um sonho
pessoal,organizou o Carnaval de rua.
Desse modo, aquelas pessoas que não tinham condições de freqüentar o clube
podiam brincar o Carnaval na rua, e assim foi feito. O bloco de Horácio virou uma Escola de
Samba e foi para a rua participar desta festa que, inicialmente, ocorria, se dava em frente a
Associação Recreativa Tupaciguarense – ART -, o clube na Rua Bueno Brandão.
É na Bueno Brandão esquina com a Raul soares, tinha um caminhão, um trio-
elétrico que ficava estacionado no meio da avenida né e o povo ficava dentro da rua
ali é brincando de frente, quase em frente a ART, terminava era subir mais uns
dois metros se tava dentro a ART. que o povo, o povão ia era embora pra casa
porque, reservar mesa na época era caro sempre foi caro, então quem tinha
condições ia clube, quem não tinha ia embora pra casa. (Entrevista realizada com o
Sr. Horácio, presidente e fundador da Uni-raças em 14 de maio de 2004.)
Fazia-se, também, o Carnaval para o povo longe do centro da cidade, num clube
distante “ou então tinha que ir no outro clube que era gratuito mas era muito longe, perigoso
atravessar a rodovia”, diz Horácio.
O primeiro Carnaval de rua de Tupaciguara ocorreu em 1984 com a participação da
Escola de Samba União das Raças, que, até então, se chamava bloco União das Raças, que
animou o Carnaval e apresentou o primeiro desfile da única e atual Escola de Samba. No ano
de 1985, com o sucesso na Rua Bueno Brandão, a festa popular transferiu-se definitivamente
para a praça João de Barros, onde permanece até hoje.
O Carnaval de rua de Tupaciguara vem repercutido na região, no ano de 2004, atraiu
uma média de 50.000 turistas para a cidade durante os cinco dias de festa. Pensando no
turismo, em fazer um Carnaval convidativo e atraente, investiu-se cerca de 250.000,00
(duzentos e cinqüenta mil reais), lembrando que a prefeitura apóia também os blocos, a escola
de samba todos os anos. Para animar ainda mais o carnaval, a prefeitura incentiva a formação
92
de blocos com um valor simbólico de 500,00 (quinhentos reais), como Salvador, onde na
segunda-feira esses blocos desfilam. Neste ano, animaram a festa duas bandas, sendo uma de
Uberlândia (Ya Ya e banda) e uma de São Paulo (Nautiluss), tocando e cantando músicas
baianas, frevo e músicas carnavalescas em geral, fazendo a alegria dos foliões que por ali se
divertiam, em um palco montado no centro da cidade na praça João de Barros, figura 04.
Durante os dias de festa de Carnaval, a cidade muda seu cotidiano, dando espaço e
fornecendo conforto para seus visitantes, e os organizadores esperam poder, a cada ano,
proporcionar melhor infra-estrutura para que o Carnaval de rua de Tupaciguara continue
atraindo mais e mais foliões, figuras 05, 06 e 07.
Figura 04: Palco de apresentação das bandas no Carnaval em
Tupaciguara-MG, fevereiro/2003.
Acervo: Secretaria Municipal de Cultura de Tupaciguara.
93
Figura 05: Público no Carvanal de rua em
Tupaciguara-MG, fevereiro/2003.
Acervo: Secretaria Municipal de Cultura
de Tupaciguara.
Figura 06: Apresentação da Escola de Samba em
Tupaciguara-MG, fevereiro/2003.
Acervo: Secretaria Municipal de Cultura de Tupaciguara.
94
Figura 07: Desfile dos Blocos em Tupaciguara-MG, fevereiro/2003.
Acervo: Secretaria Municipal de Cultura de Tupaciguara.
A Escola de Samba cresceu, está com 680 componentes e tem compositor para criar o
samba enredo. Possui um Núcleo de Cultura Núcleo de Cultura União das Raças de
Tupaciguara. Se antes o Carnaval era praticado nos clubes, privilegiando as elites e quem
podia pagar para brincar, hoje, o quadro é outro, a festa popular tem seu espaço na rua, da qual
pode fazer parte toda população, sem exceção, “...com a vinda do Carnaval de rua, o
Carnaval do clube terminou é agora tem de rua agora, tem de rua, num tem o de clube
fechou, acabou.” (Horácio, presidente e fundador da Uni-raças). Juntamente com os cinco
dias de festa, o desfile, no domingo, da Escola de Samba União das Raças, e os foliões se
divertem também com o desfile dos blocos.
1.2.1.4 – Catira
O que a gente faz é coisa diferente, muita gente não conhece. (Sr. Nenzico da
Catira, 15/04/2004)
A Catira surgiu no município de Tupaciguara-MG no tempo dos boiadeiros, deu-se por
intermédio de um homem, Sr. Nenzico da Catira, como é conhecido na cidade. Diz ele que
desde criança se deslumbrou com aquela dança trazida pelos boiadeiros, que deixavam suas
boiadas num determinado lugar para descansar e adentravam a cidade parando para cantar,
tocar viola e dançar Catira.
95
Comprando sua viola, começou a tocar, relembrando cada toque da Catira, muito
tempo depois dos boiadeiros deixarem de vir a cidade. Sr. Nenzico, maravilhado com aquela
cultura, resolveu tentar organizar um grupo de catireiros, pois, para ele, as modas da Catira
são uma poesia, tendo também composições de sua autoria.
O primeiro grupo de adultos da cidade, originou-se no ano de 1964, sendo composto
somente de homens (como mandava a tradição), mas, com a morte de integrantes e sem poder
substituí-los e com o desejo de que esta prática cultural continuasse, as crianças foram
incentivadas, formando um grupo de catireiros infantil no ano 1975. Esse grupo era
heterogêneo, metade meninos e metade meninas, quebrando a tradição.
Percebendo a facilidade de ensaiar e trabalhar com as meninas, mais tarde, resolveu-se
romper definitivamente com a tradição, mas apenas pelo fato de ser mais fácil lidar com as
meninas, formando um grupo de catireiras, de mulheres que compõem o grupo até os dias de
hoje. Nesse grupo, apenas um menino, pois, como afirma o Sr. Nenzico, “... as meninas
são mais fácil de ensaiar, são mais obedientes”. Hoje, as participantes já estão moças.
No município, existe um grupo de Catira, que se apresenta na cidade quando
convidado para aniversário, na FEMUART (Feira de artesanato), na rádio, em comícios de
políticos, nas escolas, no aniversário da cidade, figura 08. Também levam sua dança para a
região: Uberlândia-MG, Araguari-MG, Caldas Novas-GO, Ituiutaba-MG, entre outras. O
responsável pelo grupo, Sr. Nenzico, teme que, caso ocorra sua falta, seu filho não seja seu
sucessor, mas deseja que sim.
96
Figura 08: Apresentação da Catira em Tupaciguara-MG,
setembro/2004.
Acervo: Secretaria Municipal de Cultura de Tupaciguara.
1.2.1.5 – Capoeira
A Capoeira foi criada pelos escravos aqui no Brasil, os portugueses buscaram escravos
africanos para o país no início da colonização para o trabalho escravo na lavoura, na pecuária,
na mineração e em atividades urbanas. Pode-se dizer que a Capoeira é uma luta-jogo-dança,
uma Manifestação Cultural com característica bastante peculiar, mistura de lutas, de jogos e
de danças. É praticada ao som de alguns instrumentos musicais, berimbau, pandeiro e
atabaque, sendo acompanhados de palmas e cânticos que dão ritmo a dança.
Capoeira é um vocábulo tupi-guarani cujo significado seria um tipo de vegetação e/
um mato rasteiro. Utilizada pelos escravos como modalidade de luta, que precisaram
desenvolver com técnicas de ataque e defesa em virtude da opressão em que viviam durante a
escravidão, também era usada para dançar, relaxar do trabalho forçado, das torturas e das
condições de escravos. Era treinada nas fazendas, provavelmente, em meados do século XVII,
como coreografia e música, que simulavam uma dança inocente aos olhos dos feitores que os
observavam. Assim, os escravos treinavam como se fosse uma simples brincadeira, e esses
gestos transformavam-se em movimentos de ataque e defesa sem que os opressores
percebessem.
97
Na cidade de Tupaciguara, no ano de 1998, teve início a Capoeira, quando o mestre
Chibata ali esteve, e logo um professor de capoeira de Uberlândia foi para a cidade à convite,
e começou a ensinar essa arte. Após a separação dos então professores, cada qual formou seus
grupos, um com nome de associação Cultural de Capoeira-Guerreiros da Capoeira, e o outro
continuou seu trabalho na academia Mãe Capoeira, mas com o mesmo objetivo, levar a
prática da Capoeira para os cidadãos tupaciguarenses.
Carlos, um praticante dessa “luta” vários anos, tinha uma proposta diferente de
fazer um trabalho social levando a Capoeira para outro público, as crianças carentes de
escolas e creches municipais. A partir de 2000, o projeto foi colocado em prática (trabalho
voluntário), na creche Dona Candinha, a primeira entre muitas outras, como também na
creche Maria Olívia, em seguida, sendo levada a bairros mais carentes, desenvolvendo o
trabalho na rua. No bairro Nova Esperança, existe um espaço próprio no CAT- Centro de
apoio ao trabalhador. Faz três anos que o projeto está em prática e tem quarenta alunos entre
crianças e adolescentes. Essa é a primeira etapa do trabalho de divulgação da Capoeira
desenvolvido na cidade, se pensa na segunda, que é de inserir nas escolas o trabalho da
história Capoeira, mostrar a cultura, a dança, o ritual, a origem, que é africana, um trabalho
voltado sobre sua existência e qual o seu papel hoje em dia, por que se pratica Capoeira.
Como se vê, a prática da Capoeira não é muito antiga, mas é muito presente na cidade
de Tupaciguara e conta com uma associação a ACCA- Associação Cultural de Capoeira
Abolição. Apesar de pouco tempo, os praticantes (tanto os professores, estagiários e alunos)
vêm trabalhando para que essa prática cultural permaneça, pois faz parte do cotidiano da
cidade.
1.2.1.6 – FEMUART
Entre os dias 30 de agosto e 07 de setembro, acontece na Praça João de Barros
Ferreira, na cidade de Tupaciguara, a Feira Municipal de Artesanato de Tupaciguara
denominada FEMUART, (ver figura 09) que é uma feira que apresenta artesãos da
comunidade urbana e rural, além dos artesãos de outros municípios e até de outros estados,
como, por exemplo, de Goiás.
98
Figura 09: Público na FEMUART em Tupaciguara-MG, setembro/2004.
Acervo: Secretaria Municipal de Indústria e Comércio de Tupaciguara.
O projeto de criar uma feira de artesanato na cidade deu-se porque o Sr. Samuel
(fundador da FEMUART), incumbido pela prefeitura de levar a Belo Horizonte os trabalhos
dos artesãos locais, entusiasmou-se com a idéia. No início do ano de 1980, foi dado início da
feira de artesanato coordenada pelo Sr. Samuel, que, mesmo não sendo artesão, era
apaixonado por artesanato.
E toda vida ele deu muito apoio e gostou bastante é gostava de artesanato, também
nordestino gosta dessas coisas né, ele era nordestino, eles adora isso ai, e
portanto parou com ele, nas mãos dele quando Deus levou, mas o pessoal
continua é. (Depoimento de Dona Vita esposa do Sr. Samuel fundador da
FEMUART concedida em 14 de mio de 2004)
A FEMUART é um acontecimento de muito significado para a população local e
regional. A praça, nesses dias, torna-se ponto de encontro. A senhora Dorcilene (presidente do
bairro Morada Nova) afirma,
Muito importante, é o encontro de pessoas que vem ce vê, revê amigos pessoas
que ce passa muito tempo sem vê, i ce encontra ai nas barracas, ai tomando um
uma cervejinha, olhando os produtos... dos amigos que as vezes ce faz muito tempo
que você não que mora nas fazenda que vem, que mostrar seu trabalho aqui
na feira. (Depoimento concedido em 30 de agosto de 2003)
A feira tem como objetivo econômico a comercialização dos produtos, mostrando o
artesanato local (e regional) confeccionados pelos artesãos.
Oia é além de ser de você ta colocando seu nome, tá mostrando seu também é assim
uma maneira de você ta ganhando dinheiro então é é um meio, um meio doce
participar da da cidade sabe, então eu acho que é isso que é a FEMUART pra pra
todo mundo aqui Tupaciguara. (Depoimento concedido pela Valquiria Dias
Parreira, artesã, em 30 de agosto de 2003.)
99
O lazer tem um papel fundamental, as pessoas que freqüentam a FEMUART vão
também para passear, divertir-se, encontrar amigos, e não idade determinada para
freqüentar a feira, encontram-se nesse espaço, todos do dias, idosos, jovens, crianças de todas
as classes sociais.
FEMUART pra mim é lazer é também assim igual eu te digo, união das pessoas né,
então um lugar que as pessoas vem, pra se divertir, pra encontrar os amigos, então a
FEMUART é um lugar onde vem crianças, jovens, idosos então uni as pessoa.
(Depoimento concedido pela Sra. Divina Maria de Freitas Carvalho, Vereadora em
30 de agosto de 2003.)
Olha eu acho a FEMUART assim um uma arte de lazer, por a cidade ser pequena
então é um evento que tem na cidade... (Depoimento concedido pela Sra. Sônia
Maria Ferreira Carvalho, artesã em 30 de agosto de 2003).
Incluso ao lazer está o Trem da Alegria e/ a Carreta da Alegria (é uma carreta igual um
trio-elétrico), que todos os anos está na cidade, para que fazer um passeio e alegrar a criançada
e os adultos. Conta a senhora Sandra Aparecida Alves Paula, “Aí acaba o passeio do
trenzinho (riso). A carreta da alegria que é um supérfluo da criançada, que todo mundo
adora e todo ano ele tá aqui, só dez dias ele tá aqui presente.”.
A feira é um grande acontecimento, com apresentação de músicas de diversos estilos,
que vão desde moda de viola até as músicas atuais, apresentação de Catira, Folia de Reis,
grupo de teatro, grupo Uniraças e Capoeira.
Não ele marca exatamente o resgate da cultura né, o resgate de atividades, de
participação de pessoas que até então tinha seu trabalho, que ficava escondido
né. Eu pessoalmente agora antes de vir pra cá, passei numa barraca ali do pessoal da
zona rural, eu tava vendo uma coberta feita naquele tear manual, antigo, né, é a
primeira ali vai ao lado do Samuel, ao lado assim na curva, é um trabalho
feito duma coberta, feita à mão naqueles tear manual. Quer dizer, onde ce isso
hoje né? Roupas feitas de uma artesã, que pega jeans e é que não usa mais corta o
jeans e faz saia pra crianças, todo trabalho com portas, quer dizer, são resgates.
Doces caseiros pois é coisas fantásticas né, então são obras realmente que
chamam a atenção é importante esse resgate culturaL. (Depoimento concedido pelo
Sr. Jarbas Feldner de Barros. Vereador e professor de história. Realizada no dia 30
de agosto de 2003).
Participaram da feira no ano de 2003 cerca de vinte e oito artesãos do município, da
comunidade rural e de quatro de outras cidades, havia uma média de quatorze barracas de
artesanato (às vezes há mais de um artesão em cada barraca) e sete de alimentação. Neste ano,
estiveram na feira cerca de quatorze mil pessoas na feira visitando e comprando. Vale
ressaltar que omero de artesãos altera-se a cada ano, em 2004 (tanto os da cidade como os
de fora), esteve uma média de cinqüenta artesãos de fora, exibindo seus produtos.
100
Os produtos expostos são: bordado, enxoval, biscuit, bijuterias, decoração bonecas de
pano, tecelagem, pintura de tela, trabalho em madeira (feito por presos da cidade), culinária da
zona rural (doces, rapadura) e alimentação em geral, figuras 10 e 11.
Figura 10: Produtos comercializados na FEMUART de
Tupaciguara-MG, setembro/2003.
Acervo: Secretaria Municipal de Indústria e
Comércio de Tupaciguara.
Figura 11: Produtos comercializados na FEMUART de
Tupaciguara-MG, setembro/2003.
Acervo: Secretaria Municipal de Indústria e Comércio de Tupaciguara.
101
1.2.1.7 – Rádio
Tudo começou quando um grupo de moradores da cidade, em 1912, observando o
desenvolvimento desta, organizou e assim montou a primeira emissora de Tupaciguara-MG, a
- Rádio Tupaciguara Ltda ZYL 295 AM 850 KHEZ, localizada na Rua Coronel Joaquim
Mendes n
o
19. O grupo precursor da rádio ficou em atividade até o ano de 1945, quando o
atual proprietário, Sr. Fauze Abdulmassih, juntamente com seu irmão Sr. Abdo Messias Neto
compraram-na ainda na mesma década.
Antes da Rádio fixar-se no atual endereço, teve outros dois, porém a proposta de
transferência se deu porque o prédio pertence à família e no térreo funcionava o cinema Cine
Helena, que também era da família. Ainda no mesmo ano de 1945, a emissora transferiu-se
para o prédio em que permanece em atividade até os dias atuais (sem nenhuma reforma). O
prédio encontra-se deteriorado, sua parte física está danificada, tanto externa como
internamente, precisando ser restaurado, como se observa nas figuras 12 e 13.
Figura 12: Rádio parte externa - Tupaciguara-MG, dezembro/2003.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
102
Figura 13: Rádio parte externa - Tupaciguara-MG, dezembro/2003.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
A explicação para o descaso é que o proprietário Sr Fauze Abdulmassih, que também
tem outra rádio na cidade, que FM (Rádio Sucesso FM), pretende transferir a AM para o
prédio da FM, pois, segundo ele, salas próprias e aparelhagens novas. Alega, ainda, que
hoje as pessoas gostam mais de ouvir FM “hoje observo que o povo gosta mais da FM, um
som mais perfeito, mais puro...”.
Porém o mais importante é o que no prédio da rádio AM, o palco, onde
apresentação ao vivo de duplas sertanejas, grupo de Catira, Folia de Reis, que se manifestam
no palco da Rádio AM aos domingos, uma prática que existe e persiste há mais de 50 anos.
As pessoas que ali vão todos os domingos das 9:00 às 12:00, religiosamente, para
participar do programa que se chama - A Voz do Coração da Cidade -, perderão seu palco, ou
seja, o espaço que têm para cantar, divertir-se, comunicar-se, dando audiência para a Rádio
quase 50 anos. É o seu momento de lazer, alegria, reunião e de interação com a sociedade,
quando cantam, atendem a pedidos, mandam seus recados, oferecem as músicas. Os cantores
não recebem para cantar, estão no palco porque amam a música e porque o que fazem tem
significado para eles, figuras 14, 15 e 16. Como antigamente, a rádio ainda é um meio de
comunicação para os participantes.
103
A rádio abre espaço para a apresentação da Folia de Reis, a Catira e outras Práticas
Culturais Populares que queiram se apresentar. São participantes do programa duplas de
violeiros e cantores, grupos de forró entre outros, como relatamos a seguir, na programação
ocorrida aos domingos.
Figura 14: Zé do Trio e Mirandinha, setembro/2003.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Figura 15: Nani e Nanito (marido e mulher), setembro/2003.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
104
Figura 16: Grupo de forró tocado com Paulo Caixa D’água,
Manoel Pandeirista e Antônio Eustáquio, setembro/2004.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Algumas cidades são privilegiadas pela programação que a Rádio oferece e, em
especial, o programa de domingo, que é ouvido em: Araguari-MG, Buriti Alegre- MG,
Corumbaíba-GO, Itumbiara-GO, Monte Alegre de Minas-MG, Uberlândia-MG e em toda a
Zona Rural que as ondas da rádio alcançam. Para o funcionamento, a rádio tem seus
patrocinadores fiéis como: Superlar (móveis), auto peças Dom Bosco, Armazém do Rinco,
Supermercado Bom Preço, Utralar, Smart Lucas, segundo o radialista Wilson.
O programa é ao vivo desde a década de 1945. Antes, o auditório contava
constantemente com um grande público. Dizem que não cabia na Rádio tanta gente, mas,
hoje, o público diminuiu, embora os violeiros, os grupos de forró, a Folia de Reis e a Catira
105
não desistam de levar para as casas dos ouvintes e os poucos que ali vão para prestigiá-los,
tudo o que eles mais gostam de fazer. A Rádio Tupaciguara AM é o “pulmão” das pessoas
que ali doam seu tempo para cantar e encantar todas as manhãs de domingo.
A presença de Práticas Culturais Populares apresentadas mostra que, apesar da
chamada “cultura de massa” estar tomando conta do país, existem pessoas que não medem
esforços para que a Cultura Popular Local e Regional continue fazendo parte do cotidiano dos
cidadãos. A herança que Tupaciguara recebeu durante a construção de sua história está
identificada por meio do Congado, Folia de Reis, Carnaval, Catira, Capoeira, como também
na FEMUART e na Rádio Tupaciguara-AM. Sejam elas de cunho religioso, lazer, diversão,
comercial ou exposição, estão contribuindo para que a identidade deste significativo
patrimônio imaterial permaneça viva e praticada, bastando apenas preservá-lo e incentivá-lo.
Nas linhas a seguir serão apresentados o “rico” acervo de edificações históricas que a
cidade possui e seus quatro prédios tombados pela Prefeitura Municipal, sendo que um dos
bens tombados se trate de um cemitério.
1.3 – Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural Material em Tupaciguara
...É importante entender que o tombamento não tem por objetivo congelar a
cidade, termo utilizado muitas vezes como um instrumento de pressão para
contrapor interesses individuais ao dever que o poder público tem em direcionar
as transformações urbanas necessárias. De acordo com a Constituição Federal,
tombar não significa cristalizar ou perpetuar edifícios ou áreas urbanas,
inviabilizando toda e qualquer obra que venha contribuir para a melhoria da
cidade. Preservação e revitalização são ações que se completam e, juntas, podem
valorizar bens que se encontram deteriorados. (MANSO, 2004, p. 07).
Nesta parte, será apresentado o Patrimônio Histórico Cultural Arquitetônico existente
no município, e que a Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de Tupaciguara
identificou e declarou tombado, bem como os Levantamentos e Inventários tanto dos Bens
Imóveis como o Inventário das Imaginárias (imagens católicas) e alfaias (sacros).
A proposta em trabalhar com tombamento e preservação do Patrimônio Histórico
Cultural Arquitetônica teve início em 1990, quando a Secretaria municipal de Cultura fez um
levantamento do Patrimônio da Arquitetura Colonial Urbana e Rural de Tupaciguara, por
meio de um concurso entre fotógrafos da cidade. Eles tinham que fotografar, na zona urbana e
106
rural, edificações que tivessem o estilo da Arquitetura Colonial e, assim, descobriram-se
vários imóveis que são a “história” do município, registrados fotograficamente.
No ano de 1997, foi realizado de um Plano de Inventário dos Bens Móveis Culturais,
com objetivo de fazer um levantamento para detectar quais os bens existentes que têm
importância histórica, cultural e artística, arquitetônica, arqueológica e arquivistica. O
Inventário está metodologicamente embasado pelo IEPHA-MG - Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais -, que visa cadastrar o acervo Cultural de
Minas gerais.
A intenção com esse inventário dos bens móveis foi que cada cidade, cada
município não pra pontuação do ICMS do Patrimônio Histórico e cultural, mas
também que o município tivesse consciência do seu valor Artístico e Cultural o
que a gente tem aqui que é importante pra história da nossa cidade, nosso
município, e pra história do nosso estado... (Depoimento de Rosália funcionária da
Secretaria de Cultura, realizada no dia 08 de julho de 2004)
Foram levantados e Inventariados dentro da Categoria: Imaginária e Alfaia – ano 1997,
todas as Alfaias e Litúrgicos (sacros) e as Imaginárias (imagens católicas).
Acervo: Igreja Nossa senhora D’Abadia
Endereço: Praça Dr. Raul Carneiro – Tupaciguara - MG
Acervo: Igreja Nossa Senhora de Fátima
Endereço: Rua Rodrigo do Vale, 175 – Tupaciguara - MG
Acervo: Igreja do Rosário
Endereço: Praça do Rosário – Tupaciguara - MG
Acervo: Museu Histórico Chico Ribeiro
Endereço: Praça do Rosário, 12 – Tupaciguara - MG
Acervo: Colégio Imaculada Conceição
Endereço: Rua Bom Sucesso, 25 – Tupaciguara - MG
Este Inventário foi o ponto de partida para o tombamento e a proteção de quatro
Patrimônios Históricos Culturais, porque os bens haviam sido descobertos e registrados
pelos fotógrafos.
1.3.1 – Reconhecendo prédios de valor histórico existentes no município
107
A importância dos registros de bens de valor histórico e cultural para a
preservação da memória da cultura e da própria identidade do povo é mais viva
hoje que em épocas passadas. Hoje nota-se um aumento da conscientização do
patrimônio o que leva à necessidade de preservação, tanto dos monumentos
históricos como da própria história. (MANSO, 2004, p. 38).
Tendo conhecimento de que é importante preservar a herança histórica cultural predial
e que esse patrimônio histórico é de grande valor para a cidade, preservando a história cultura,
o município estará fortalecendo a identidade do povo tupaciguarense. A cidade possui, em seu
território, edificações tombadas desde o ano de 1997 sob a Lei no 2099/97, cujo título é
“Declara Tombados pela Prefeitura a Casa da Cultura Tias Polveiras e o Museu Histórico e
Arqueológico Chico Ribeiro”, com influência da arquitetura eclética
2
, sendo o prédio
localizado na Praça do Rosário n
o
12, ver figura 17.
Figura 17: Casa da Cultura Tias Polveiras / Museu Histórico e
Arqueológico Chico Ribeiro - Tupaciguara-MG, julho/2004.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Por essa ótica, outros três Bens Móveis foram tombados, de acordo com o Artigo 25,
pela Prefeitura.
2
Ecletismo Em arquitetura, o movimento ou a tendência resultante da falta de originalidade e de caráter na
obra arquitetônica que surge em determinado momento no qual existe o embate de idéias e o conflito de culturas.
O período mais caracteristicamente eclético da arquitetura foi o fim do Século XIX onde os estilos arquitetônicos
até então existentes não conseguiram exprimir a realidade e não fixaram-se como manifestação cultural. Daí o
aparecimento da renovação arquitetônica, que, com bases objetivas, foi se desenvolvendo para alcançar enormes
proporções, evidenciando uma grande arquitetura. A tendência eclética pode prejudicar bastante até mesmo a
arquitetura contemporânea, se for iniciada em nossos dias. CORONA & LEMOS (1972:177)
108
I – A Igreja do Rosário, do bairro Bom Sucesso, Praça do Rosário, ver figura 18;
II – Cemitério do antigo distrito do Mato Grosso, fazenda Mato Grosso ver figura 19 e 20;
III Edifício da Prefeitura Municipal, (Situado na Rua Bueno Brandão n
o
22) com
características modernista-eclética, ver figura 21.
Figura 18: Igreja do Rosário - Tupaciguara-MG.
Acervo: Secretaria Municipal de Indústria e Comércio de
Tupaciguara.
109
Figura 19: Cemitério do antigo Distrito do
Mato Grosso,
fazenda Mato Grosso, outubro/2004
Autora: LIMA, Silvana Oliveira de.
Figura 20: Cemitério do antigo Distrito do Mato Grosso,
fazenda Mato Grosso, outubro/2004
Autora: LIMA, Silvana Oliveira de.
110
Figura 21: Prédio da Prefeitura Municipal de
Tupaciguara-MG, julho/2004.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Até o presente momento, esses são os Patrimônios Históricos Edificados e Materiais
para cujo tombamento o município deu o primeiro passo, seduzido pela sua história.
Tupaciguara possui ao longo de seus 1.518,13 km
2
vários prédios de beleza espetacular que
valem a pena serem identificados, pois imprime a história do município e que podem ser
tombados.
1.3.2 – Edificações que poderiam ser tombados
Reconhecendo os edifícios antigos, pode-se notar, sobretudo, a riqueza de Bens
Imóveis de caráter Histórico pertencentes à cidade. Dentre tantos, serão traçados alguns que,
segundo a Secretaria de Cultura, têm importância Histórica e que poderiam passar pelo
processo de tombamento e outros, que não foram citados pela secretaria, mas que também não
poderiam faltar em nossa análise, veja onde estão localizados na figura 22.
Após o registro das imagens fotográficas dos patrimônios-históricos culturais presentes
na cidade de Tupaciguara, tratamos agora de apresentá-las como imagens memoriais e
identificadas.
111
112
um prédio que está construído na Rua Coronel Joaquim Mendes n
o
51, atualmente
é uma residência, mas, por um tempo, esteve alugado para sediar uma clínica. A edificação
tem uma arquitetura antiga, que merece um olhar especial, figura 23. Encontramos traços que
caracterizam o estilo arquitetônico de influência eclética.
Figura 23: Antiga policlínica, julho/2004.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Em frente ao prédio da Câmara Municipal, um casarão, na Rua Bueno Brandão n
o
37, ver figura 24 que, segundo Rosália (funcionária da Secretaria Municipal de Cultura), tinha
uma pintura de Sesquiate
3
. No que se refere ao estilo, trata-se do eclético.
3
Artista citado por Rosália, mas não foi encontrada nenhuma biografia a respeito do artista.
113
Figura 24: Residência, julho/2004
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Outro prédio que merece ser tombado é o Colégio Imaculada Conceição que já tem
cinqüenta anos e comemorou o Jubileu de Ouro, situado na Rua Bom Sucesso n
o
23, figura
25. Observa-se um estilo não definido, construído originalmente com a finalidade
educacional. Atualmente é a sede da Fundação Presidente Antônio Carlos – UNIPAC.
Figura 25: Colégio Imaculada Conceição, julho/2004.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
uma casa na Rua Prefeito Joubert n
o
02, que está bem conservada e é também uma
arquitetura antiga do estilo eclético, poucas residências desse estilo na cidade e que se
114
mantêm preservada, como mostra a figura 26. Ultimamente, o imóvel é locado somente para
fins comerciais, já que se situa em local privilegiado.
Figura 26: Casa comercial, julho/2004.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Ainda há, na cidade, uma casa de esteio
4
, que, infelizmente, já foi reformada, porém, é
de muito valor histórico e, antes de ser totalmente descaracterizada, deveria ser tombada. Está
localizada na Praça do Rosário n
o
01, é o que pode ser observado na figura 27. A construção
desse tipo de residências data do meados do século XIX, influência casarão colonial.
4
Esteio Peça de madeira, ferro, pedra, etc. usada para segurar ou amparar alguma coisa. Em geral o termo é
mais empregado para designar estaca com que se sustenta ou escora um teto ou uma parede. Diz-se “os esteios
dos cunhais”, isto é, as estacas situadas nos cantos externos das construções, sobre as quais cruzam-se os
frechais. No linguajar técnico diz-se que esteio é qualquer barra ou haste destinada a receber esforços de
compressão na direção de seu comprimento. Dessa maneira, opõe-se ao TIRANTE ou TENSOR. O mesmo que
ESCORA ou PÉ DIREITO. CORONA & LEMOS (1972: 204/205)
115
Figura 27: Residência com telhado de esteio, julho/2004.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Existem outras edificações importantes, de grande valor para o município, localizadas
na zona rural, como o casarão da figura 28. Construção utilizada pelos fazendeiros e este
estilo colonial, com direito alto, amplas janelas, vários cômodos amplos sustentados sob
porões, simbolizava prestígio e poder político e social.
Figura 28: Fazenda Lajeado.
Acervo: Secretaria Municipal de Cultura de Tupaciguara.
116
Outras edificações, não citadas pela funcionária da Secretaria Municipal de Cultura de
Tupaciguara, merecem, em nossa opinião, um olhar especial devido sua riqueza histórica,
figuras 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, e 37.
Figura 29: Administração Fazendária. Rua Coronel Joaquim
Mendes n
o
01, julho/2004, estilo eclético.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Figura 30: Previdência Social. Rua Coronel Joaquim Mendes n
o
02,
117
julho/2004, estilo eclético.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Figura 31: Rádio - Tupaciguara-MG. Rua Coronel Joaquim Mendes n
o
19,
dezembro/2003, estilo Art déco
5
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Figura 32: Comércio. Rua Bueno Brandão n
o
08,
5
art déco (ar decô). [., f. red. de art. Décoratif, ‘arte decorativa’.] loc. s.m. 1. Movimento nas artes decorativas
que surgiu nos anos 20 e dominou a década de 30, e que, inspirado basicamente no cubismo e nos preceitos da
nova arquitetura, buscava o equilíbrio dos volumes, uma certa singeleza linear e uma fácil adaptação à produção
industrial. . adj. 2g. e 2n. 2. Referente a, ou próprio do Art déco; decô: um salão art co. FERREIRA
(1975:176)
118
julho/2004, estilo eclético.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Figura 33: Residência. Rua Bueno Brandão n
o
30,
julho/2004, apresenta linhas da Art déco.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Figura 34: Residência e comércio. Rua Bueno Brandão n
o
26,
julho/2004, traz traços da arquitetura Art déco.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
119
Figura 35: Residência. Praça Dr. Raul Carneiro n
o
02,
julho/2004, estilo Art déco.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Figura 36: Residência que ainda preserva as janelas em madeira.
Rua Bom Sucesso n
o
20, julho/2004, casarão colonial.
120
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Figura 37: Fórum Adolfo Fidélis dos Santos.Rua Olegário Maciel n
o
01,
julho/2004, arquitetura com linha modernista.
Autora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
A passagem pelo primeiro Capítulo da dissertação teve um grande objetivo, identificar
por meio dos seus sujeitos praticantes quais Práticas Culturais Populares Locais, denominadas
como Patrimônio Imaterial, que persistem no município e que são as responsáveis pela
identidade da cidade. Coube registrar, também, as edificações antigas, o Patrimônio Histórico
Material de um “charme” particular e de um sentido único e impar que também faz parte da
história de Tupaciguara e precisa ser valorizado.
O segundo capítulo, trará contribuições sobre revitalização urbana. Apresentamos
alguns exemplos de intervenções, umas em andamento e outras concluídas, em especial no
Brasil. Com objetivo de observar a questão do aspecto cultural nessas revitalizações.
121
2
REVITALIZAÇÃO URBANA E A QUESTÃO
CULTURAL
122
2 – REVITALIZAÇÃO URBANA E A QUESTÃO CULTURAL
A dinâmica e o sucesso de uma área revitalizada se também com a promoção de
atividades culturais, sendo assim, é necessário explorar elementos que existem. O principal
é a valorização e a preservação da tradição e da identidade cultural ali cravada. Caso contrário
a revitalização desse espaço, pode-se tornar sem significado, temos que pensar em
revitalização qualitativa e não excludente.
2.1 – Revitalização Urbana e Sua Contextualização
É possível repensar uma revitalização de forma mais humanizada incluindo
características sumárias, que tornam o espaço verdadeiro, e deixar de pensar que o
funcional é mais atrativo. É preciso somar todos os significados existentes, redesenhando os
centros urbanos com mais vida. Na citação a seguir, o autor expõe que, nos centros urbanos
revitalizados, há de se considerar que,
- A revitalização ou requalificação de áreas centrais deve-se caracterizar não
somente por critérios funcionais, mas também políticos, sociais, culturais e
ambientais. (FERREIRA, 2002, p. 274).
Apoiamo-nos na referida defesa da citação acima, em que o autor defende a
revitalização não só com uma visão funcional, mas principalmente tendo de estar ancorada em
aspectos sócio-culturais, é que se abre a discussão do segundo capítulo da dissertação.
De acordo com SIMÕES JÚNIOR (1994), a intervenção do espaço urbano está
dividida em três marcos bastante significativos, estando estes baseados em três momentos
históricos: o embelezamento urbano, a renovação urbana e a revitalização urbana, que serão
discutidos abaixo.
embelezamento urbano
123
Este marco refere-se à implementação do plano de Haussmann na cidade de Paris
( França ) na década de 1850.
As desapropriações, as demolições e reconstruções realizadas por esse e outros planos
da época eram, no entanto, ainda marcadas por uma escala razoavelmente pequena de
intervenção (face ao que viria a ocorrer no período posterior), em que prevaleciam, ainda, os
princípios de ordenamento urbano marcado pelo aspecto do embelezamento e da
monumentalidade.
As intervenções realizadas, nesse primeiro momento, nas áreas centrais das cidades
do Plano de Haussmann à Carta de Atenas –, podem ser assim designadas pelo nome de
embelezamento urbano, pois era a atitude corretiva e saneadora que prevalecia, sobretudo,
implantando um novo padrão de estética urbana, de acordo com os valores de uma nova classe
social ascendente, para qual a beleza e os melhoramentos técnicos em infra-estrutura viriam
representar não o aburguesamento do espaço urbano, com o seu conseqüente impacto de
segregação, mas, principalmente, a instauração da “modernidade”, criando, pois, as condições
propícias para a afirmação dos valores dessa nova classe social perante toda a população.
A renovação urbana
Este segundo período histórico das intervenções urbanas é marcado pela prevalência
dos ideais da modernização, que se inicia com a publicação da Carta de Atenas, em 1933, e se
encerra no início dos anos 1970, quando se acentua a crítica a esse modelo, aos “ambientes
modernistas” produzidos especialmente no período de reconstrução do pós-guerra. Passam-se,
a partir de então, a valorizar aspectos de maior abrangência (humanística, cultural, etc.), que
irão caracterizar o terceiro e atual momento das intervenções urbanas praticadas nas cidades.
Essas transformações surgiram em meados do século XIX, na cidade de Londres, e
logo, em Paris, exigidas pela tal modernidade. (FRÚGOLI JR, 1995, p. 13-14) explica melhor
como ocorreu a intervenção na área central:
Através de intervenções urbanas abriram-se novas avenidas e bulevares (como no
caso de Paris), Destruíam-se antigos bairros e colocou-se a população em
movimento, ao mesmo tempo em que foram geradas, com motivações políticas,
outras formas de segregação social...
124
... Intervenções urbanas procuraram alterar os tipos de usos tradicionais:
contraditoriamente, as novas praças surgidas ... tanto em Londres como em Paris
marcadas pela monumentalidade, por grandes espaços abertos ou jardinsnegaram
estrategicamente seu papel como espaço de uso múltiplo e popular, enfraquecendo-
se como ponto central da vida urbana. Essas cidades deixaram de ter um centro
referencial, iniciando a dispersão e fragmentação de sua centralidade.
Nesse segundo momento, denominado por renovação urbana, os conceitos e objetivos
do Movimento Modernista surgem como uma resposta à crescente necessidade de expansão
do capital financeiro, industrial e imobiliário e seu rebatimento nas esferas de produção e
consumo urbanos.
Em relação às áreas centrais de cidades, esse período de intervenções deixou suas mais
profundas marcas por meio dos projetos de renovação urbana dos “distritos de negócios” de
inúmeras cidades de porte médio dos Estados Unidos, cujo objetivo era a valorização
fundiária e a conseqüente expulsão de populações de baixa renda sediadas em “slums”
(favelas), especialmente aqueles ajuntamentos de raça negra. No Brasil, as intervenções
sob essa ótica da renovação urbana podem ser resumidas diante de algumas ações diluídas
provenientes, sobretudo, de uma política desenvolvida pelo BNH, valorizando a renovação da
infra-estrutura instalada em áreas centrais das cidades como, por exemplo, o Projeto CURA
Comunidade Urbana para Recuperação Acelerada. (SIMÕES JÚNIOR, 1994 apud, cf.DEL
RIO, p. 35).
A revitalização urbana
Surgem, então, o terceiro momento de intervenções nos centros urbanos, a
revitalização urbana”, assim denominada, por vários autores, que implica a busca de uma
nova vitalidade para essas áreas centrais, fomentando tanto o aspecto econômico quanto o
funcional, o social e o ambiental.
Algumas alterações mais estruturais passaram a contribuir para o lançamento de novas
bases e de novas posturas nas intervenções urbanísticas, tais como:
- a busca de referenciais mais humanos na escala dos espaços coletivos produzidos;
- a valorização dos marcos históricos e simbólicos existentes mediante políticas de
preservação do patrimônio arquitetônico e cultural;
125
- o incremento das atividades de turismo e lazer nesse locais;
- a ampliação da consciência ecológica (gerando medidas de contenção no consumo
de energia e na emissão de poluentes).
Esse conceito de maior amplitude abrange ações como a reabilitação de áreas
abandonadas, a restauração do patrimônio histórico e arquitetônico, a reciclagem de
edificações (ou refurbishment) e a requalificação urbana de setores degradados.
Outro autor define a revitalização como mostram VAZ e JAQUEZ (1982 apud
PORTAS, p. 8), ao esclarecer qual o sentido de intervenção.
Por intervenção na cidade existente entendemos o conjunto de programas e projetos
públicos ou de iniciativa autônomas que incidem sobre os tecidos urbanizados dos
aglomerados, sejam antigos ou relativamente recentes, tendo em vista: a sua
reestruturação ou revitalização funcional (atividades e redes de serviços); a sua
recuperação ou reabilitação arquitetônica (edificação e espaços não construídos,
designadamente de uso público); finalmente a sua reapropriação social e cultural
(grupos sociais que habitam em tais estruturas, relações de propriedade e troca,
atuações no âmbito da segurança social, educação, tempo livre, etc.).
Não é novidade que, com a “modernidade”, as áreas centrais das cidades brasileiras
passaram por um novo formato, conseqüentemente, contribuindo para segregação espacial e
da maioria da população.
Nesse momento, a mudança da paisagem urbana na área central acaba por exercer um
único papel, o da economia, do lucro, deixando de lado o que é de mais importante, pessoas
que ali viveram com suas práticas culturais populares, que nada mais são do que a identidade
desse espaço, ou seja, o patrimônio vivo, a verdadeira história do lugar, o seu significado.
Patrimônios históricos não são somente as edificações, os casarões, são muito mais que isso,
são os sujeitos que ali ajudaram a construir uma história juntamente com suas Manifestações
Culturais, que, nesse processo de revitalização, são excluídos do seu mundo, gerando,
portanto, a alteração de toda uma dinâmica do local, cujos verdadeiros “donos” saem dando
espaço para outras dinâmicas, em outras palavras, fazendo com que a cultura local, se é que é
notada, caia no esquecimento.
É perceptível que a revitalização vem traçando, ao longo dos anos, a recuperação de
áreas centrais, focando apenas os fins econômicos, funcionais e imobiliários, (SIMÕES
JÚNIOR, 1994, p. 12) confirma, mostrando que:
126
...surge o momento da readequação funcional, da recuperação e renovação das
estruturas existentes e que, hoje em dia, designamos por revitalização urbana.
Dessa forma, essa parcela do território é resgatada e novamente integrada ao seu
entorno urbano. Este é o instante em que o mercado imobiliário que numa fase
anterior havia preterido o centro por outros locais onde a reprodução de seu capital
pudesse ocorrer de forma mais intensa passa a realizar a “operação retorno”,
pelo fato de esses outros locais já terem atingido grande saturação.
O centro da cidade volta então a ser visto como uma alternativa atraente por
esse mercado, dadas as suas qualidades de acessibilidade e de infra-estrutura.
Essa forma de intervenção acaba por atrair o mercado capitalista não como proposta de
espaços humanísticos, sociais, de lazeres e de significados, depreciando, assim, a história.
A idéia de revitalizar uma área seja ela central ou não, está objetivada em resgatar a
herança da área, proporcionando, por meio de espaços culturais, momentos de lazer, dando-
lhe nova vida, reutilizando elementos que nele existem, especialmente, da história local,
construída por seus moradores, e a Cultura Popular ali plantada há vários anos. Portanto,
... a revitalização implica em ações visando resgatar a identidade histórica de partes
significativas da cidade, valorizando o seu conteúdo simbólico face à memória
coletiva, reabilitando e requalificando seus espaços e imprimindo uma nova
dinâmica na sua vida quotidiana, através do incentivo às atividades de lazer capa o
cidadão, com ênfase nos seus aspectos culturais e turísticos. (SIMÕES JÚNIOR,
1994, p. 63).
Uma observação, do mesmo autor, significativa, de que é verdadeira essa afirmação
pressupõe que, para o sucesso no processo de revitalização, os agentes envolvidos no projeto
vão desde os moradores, os comerciantes, até as instituições pública e privada.
O processo de revitalização deve ser contínuo, deve resgatar valores e elementos
culturais esquecidos e, portanto, deve contar com grande apoio e participação da
população local, o que naturalmente, é algo lento. Esse ritmo natural do processo
transformador é o que, no entanto, pode garantir a permanência do projeto no
futuro. (SIMÕES JÚNIOR, 1994, p. 65).
2.1.1 – Exemplos de revitalização em outros países
Várias cidades de outros países vêm desenvolvendo projetos de revitalização vários
anos, objetivando a preservação do patrimônio histórico voltado aos setores de cultura e de
lazer, como, por exemplo, nos países da Europa, da América do Norte e no Brasil como
mostra SIMÕES JÚNIOR (1994):
127
Na Europa, o exemplo pioneiro veio da cidade de Bologna / Itália, em meados de
1960, lançando um projeto de revitalização da área central da cidade, sendo, depois, seguida
por Paris (França), Londres (Inglaterra), Barcelona (Espanha), Amsterdam (Holanda) e
diversas cidades da Alemanha.
na América do Norte, o primeiro local a desenvolver um projeto focando esse
aspecto foi Baltimore, que reurbanizou toda a área ao redor de seu porto, considerado o mais
movimentado dos Estados Unidos. Depois, vieram Nova York, Miami, Boston, São Francisco
e muitas outras cidades, em cujas áreas históricas revitalizadas propiciou-se o
reaproveitamento de antigos edifícios, de armazéns e de velhas cervejarias, integrando-os a
novas áreas que eram inteiramente remodeladas com edificações mais modernas.
Tais cidades preocupadas com vários problemas urbanos, ocorreu, no ano de 1998,
uma Conferência Internacional Sobre Revitalização de Cidades. Diante disso, algumas
questões sobre os problemas urbanos foram levantadas, tais como: Até que ponto o modelo
de desenvolvimento e vida baseado nas grandes cidades está obsoleto? É possível consagrar
nas grandes cidades o espaço de vivência comunitária? Quais as formas mais eficazes de
superação dos problemas urbanos? O texto Experiências Internacionais - extraído do site
<http://www.spsitecity.com.br/cidadania/expinter.htm.> - relata algumas experiências no
sentido de propor soluções para os problemas urbanos, também em âmbito internacional.
A organização do evento representou a articulação harmônica dos dois aspectos chave
das experiências de revitalização urbanas fecundas e eficientes: a participação da comunidade
e o estabelecimento de parcerias entre a sociedade civil, universidades e poder político.É
quase um consenso de que o melhor caminho para a realização de projetos para benfeitorias e
melhoria da qualidade de vida nas cidades é o esforço conjunto entre comunidade e poder
político.
A constatação de que a gestão das cidades não deve ser encarada como atribuição
exclusiva do poder público inaugurou um sentido para a compreensão da cidadania. Nos
Estados Unidos, existem diversas agremiações que tratam de estimular e desenvolver ações,
nas quais interajam comunidades, poderes estatais e entidades interessadas na revitalização
urbana. São elas:
128
Pleasanton Downtown Association (PDA): A PDA é uma associação que desenvolve
parcerias com vistas à melhoria da qualidade de vida nas cidades norte-americanas. Além
de servir como canal de intercâmbio, a PDA também promove a divulgação e a
propaganda de seus parceiros através de seu website, como um incentivo a novas adesões
e à captação de recursos voluntários. Hoje, o trabalho da PDA é reconhecido pelo
California Main Street Program, o que tem ensejado um incremento de seus parceiros,
vistos a importância e o alcance do programa californiano. Em 2001, a PDA organizou um
projeto de parceria entre restaurantes e varejistas para a revitalização de centros urbanos.
Hud Headquarters (HUD): A Agência HUD é um organismo governamental norte
americano de cooperação e estabelecimentos de parcerias para a revitalização das cidades,
sediado em Washington D.C. Ela é um exemplo bem sucedido de integração entre os
poderes públicos e a comunidade local, contando com investimentos governamentais e
privados e com a participação de senadores e secretários. Em New Orleans, a HUD
desenvolveu programas interativos para o controle de enchentes, prevenção ao crime e ao
uso de drogas e para moradias populares.
Main Street Program: O programa foi criado em 1980, com o objetivo de revitalizar os
centros comerciais nos Estados Unidos, por meio de ações integradas das comunidades e
comerciantes. Entre suas ações, destaca-se o interesse em recuperar e preservar o
patrimônio histórico, a arquitetura e o tecido urbano central das cidades. Essas ações
pretendem também incrementar a utilização econômica dessas localidades. Entretanto, o
programa traz também preocupações com bens não materiais: a participação pública, o
bem-estar, a manutenção de valores tradicionais locais e, principalmente, a boa sensação
de pertencer ao ambiente urbano e à comunidade.
Massachusets Rural Development Council (MRDC): O Conselho de Desenvolvimento
Rural de Massachusets também representa iniciativas importantes em termos do
estabelecimento de parcerias, desta vez, dedicadas ao desenvolvimento das comunidades
rurais. Ele promove estudos e pesquisas com o envolvimento de instituições públicas e
privadas sobre a realidade do campo. Seus trabalhos abrangem projetos de
telecomunicações rurais, projetos para abrigos de sem-tetos, projetos de apoio ao
desenvolvimento de small farms (sítios). Os trabalhos do MRDC são direcionados pela
análise das situações locais, implementando soluções encontradas por cada comunidade.
129
Um exemplo disso é o incentivo ao uso de pontes de madeira em lugar das de aço e
concreto.
Gateway Cities Partnership: A Gateway Cities Partnership Inc foi fundada em 1997
como uma aliança de negócios, trabalho, educação e setor público, abrangendo 27 cidades
do sudeste de Los Angeles. A GCPI tem por missão definir, desenvolver e protagonizar
esforços colaborativos entre negócios, trabalho, educação e setor público, para a o
crescimento e a revitalização econômica regional.
Foram citadas algumas experiências internacionais, no sentido de apresentar como
estão sendo trabalhadas as propostas de revitalização em cidades de outros países e as
possíveis soluções encontradas por elas.
2.1.2 - A revitalização de áreas urbanas no Brasil
No Brasil, encontram-se várias cidades nas quais foram ou estão sendo desenvolvidos
projetos de revitalização em suas áreas centrais sendo que as primeiras são: Rio de Janeiro-RJ,
São Luis do Maranhão-MA, Salvador-BA, Recife-PE e São Paulo-SP abordas por SIMÕES
JÚNIOR (1994). Dentre outras como: Belém-PA, Curitiba-PR, Florianópolis-SC, São
Sebastião-SP, Santos-SP, Poços de Caldas-MG, Cidade de Goiás-GO e, mais recentemente, a
cidade de Goiânia-GO, encontradas em dezesseis textos eletrônicos que contribuíram
substancialmente para conhecer as propostas dessas áreas revitalizadas.
Rio de janeiro-RJ A revitalização do Centro Histórico do Rio de Janeiro, cujo nome do
Projeto é Corredor Cultural, o primeiro projeto de revitalização urbana, e é considerado
no Brasil o mais correto e bem sucedido. Teve início em 1984, (Lei no 506, de 17/01/84)
cinco anos após apresentação de uma dissertação de mestrado no ano de 1979. O Projeto
busca a revitalização dessa área histórica, procurando compatibilizar o crescimento da
cidade com a manutenção de espaços e modos de vida tradicionais da capital carioca. A
área total do projeto é 1,5 milhão de m2, considerada de preservação permanente, com
cerca de 1.238 edificações, mais de 100 monumentos, 11 igrejas e marcos históricos
tombados pelo Patrimônio. As intervenções, que porventura, forem realizadas deverão
obedecer a três critérios: a preservação ambiental, que diz respeito à preservação das
características arquitetônicas, artísticas e ornamentais tanto na fachada dos edifícios como
130
nas coberturas; a reconstituição e a renovação urbana implicando a recuperação da
arquitetura e da decoração original, o conjunto das fachadas e a construção de novos
edifícios, desde que obedeçam ao estilo, figura 38 e ao gabarito dos edifícios do entorno,
todos mediante aprovação prévia do Grupo Executivo do Corredor Cultural. O projeto
também estabelece controle no uso do solo, proibindo, por exemplo, a construção de
edifícios-garagem e a supressão das salas de espetáculos existentes no térreo dos edifícios,
medidas que visam potencializar a atividade turístico-cultural do local. Incentivos são
oferecidos mediante a insenção do IPTU para aqueles que recuperam seus imóveis.
Figura 38 – Arco do Teles restaurado Centro do Rio de Janeiro.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo 17/11/99.
Organizadora: ATTUX, Denise Elias.
Se, realmente, investir-se em atividades turística-cultural local, estar-se-á
proporcionando à população daquela área a oportunidade de também participar utilizando os
equipamentos urbanos oferecidos. Resta saber se tais atividades estão propiciando a inserção
também de seus moradores ou apenas de turistas.
São Luis-MA Os trabalhos de restauração iniciaram-se no histórico bairro da Praia
Grande a partir de 1979; são cerca de 3.500 edificações, numa área de 270 hectares, o
mais belo redutor de sobrados e casarões azulejados de São Luís. O Projeto Reviver
recuperou mais de 200 prédios, restabelecendo a implantação de atividades voltadas ao
turismo e lazer cultural: teatros, cinemas, bares, restaurantes e hotéis. Momento de lazer
para quem pode pagar, o que não é o caso da população de baixa renda. Preservaram
originalidade das larguras, a pavimentação de pedra e a iluminação que voltaram ao estilo
131
original. Todas as fiações elétrica e telefônica passaram a ser subterrâneas. Ao todo, são
dez ruas, onde os automóveis são proibidos de circular e onde os prédios foram
restaurados, tanto os de propriedade do poder público quanto os de particulares, que
tiveram incentivos à recuperação. Observa-se que o projeto de revitalização não explora as
práticas culturais local existentes no espaço. Grande parte da população de baixa renda
sediada no centro de São Luis ainda contínua morando em áreas contíguas ao Centro
Histórico. no perímetro de intervenção, foi desenvolvido um projeto de habitação com
função de residência. Em um dos casarões restaurados, acomodaram-se 10 famílias que
antes habitavam em cortiços da região, visando abrigar, no conjunto do projeto, cerca de
1.000 famílias.
ANDRÉS (1986, p. 222) informa sobre a permanência das famílias no local:
Por outro lado, as principais políticas adotadas pela Coordenadoria do Programa
de Preservação e Revitalização do Centro Histórico de São Luís visam criar
condições não para a permanência das famílias que residem atualmente na área,
mas também assegurar o aumento da oferta de unidades habitacionais, reforçando o
uso residencial como um dos principais fatores na ocupação do solo no centro da
cidade.
O autor ainda afirma que a revitalização definiu-se pela tradição e pelo significado do
lugar,
... a área da Praia Grande propriamente dita, (Largo do Comércio e suas
adjacências) como sendo aquela que abrange em todos os aspectos, as
características marcantes do Centro Histórico. Esta área possui atividades
comerciais, institucionais, portuárias e residenciais: tem a Feira da Praia Grande, as
repartições públicas, os becos e escadarias, as ruas de pé-de-moleque e as pedras de
cantaria; tipos populares como o mascate, o ambulante, o raspadinho, o feirante, o
vendedor de bilhetes, o engraxate, o carroceiro e seu jegue, e inúmeros outros. É
uma rica história, digna de atenção e aprofundamento. (ANDRÉS, 1986, p. 223).
Este é um projeto que não visa à continuidade das Manifestações Culturais Populares
Locais, colocando em risco a identidade do espaço, e, sim, se pauta na locação de habitações
para população encortiçada e criação de centros culturais em edificações históricas. Sabe-se
que esses centros englobam apenas uma parte da população, sendo um projeto significativo,
no entanto, melhor seria se fomentasse o artístico cultural, que não é possível que não
existisse antes da revitalização.
Salvador-BA O Centro Histórico da cidade de Salvador, denominado Pelourinho, foi
tombado pela UNESCO, em 1974, devido ao seu significado histórico, no ano de 1992,
132
iniciou-se um projeto de recuperação da área pelo governo estadual. Numa primeira etapa,
recuperaram-se 104 sobrados e casarões e também toda a rede de infra-estrutura. Estando
no projeto a restauração de 400 dos 800 imóveis tombados pela UNESCO. Para a
restauração, está sendo exigido o seguimento de alguns critérios, no que tange à restituição
do local, está privilegiando a recomposição das fachadas segundo o seu aspecto original,
de maneira a criar uma ambiência externa que valorize o caráter histórico do local.
no interior das edificações, a preservação não precisa ser original, sendo este aspecto
um ponto positivo, pois, adaptando para seu novo uso, estará proporcionando a inserção
do novo” no “antigo”, um exemplo próximo é o MUNA-Museu Universitário de Arte
(Uberlândia-MG) cuja fachada foi preservada, mas cujo espaço interno foi adaptado para
um museu contemporâneo como pode ser observado na figura 39.
Figura 39: Museu Universitário de Arte de
Uberlândia-MG, setembro/2004.
Aurora: FERREIRA, Alessandra Rodrigues.
Voltando a Salvador, a nova utilidade está privilegiando atividades turísticas, restaurantes
típicos, cafés, sorveterias, bares, lojas de artesanato, galerias de arte, joalherias, estúdios,
livrarias, repartições públicas voltadas à cultura, que são bibliotecas, arquivos, museus e
casas de cultura, É um projeto que visa, também, ao artístico-cultural por meio da
culinária, da dança, das Manifestações Culturais Popular que a cidade, ou melhor, o lugar
oferece no intuito de atrair os turistas, projeto maquiador-cultural, que está gerando lucro
para a cidade.
Porém o Pelourinho passou a ser um espaço segregador para atender o turista, excluindo
moradores que ali residiam mais de 30 anos, para revitalizar a área, e o projeto nem ao
133
menos se preocupou em preservar a identidade do espaço e a cultura local, ou seja, a
verdadeira história tornou-se realmente passado. No intuito de realizar o projeto em
período o curto, ele acabou se distanciando muito de uma interação original de
revitalização, pois a recuperação do bairro marcou-se mais pelo aspecto de querer
transformá-lo num pólo turístico do que propriamente pela intenção de querer restaurá-lo,
de procurar resgatar plenamente o sentido histórico e cultural.
A realização do projeto implicou, inicialmente, o remanejo da população encortiçada que
habitava os casarões. Para tanto, foram estabelecidos acordos de comodato com os
proprietários por períodos variando de 10 a 30 anos, e as famílias que ocupavam os
casarões foram em quase sua totalidade indenizadas para que saíssem e procurassem outro
lugar para morar. Dentre as 104 casas restauradas, como mostra a figura 40 na primeira
fase, apenas quinze permaneceram com os antigos moradores, e o restante teve seu uso
alterado, implicando indenização a 525 famílias;
Figura 40 – Visão de conjunto arquitetônico restaurado Pelourinho.
Fonte: Encarte Governo da Bahia 1993.
Organizadora: ATTUX, Denise Elias.
Recife-PE A origem da cidade se deu no Bairro do Recife, mas, com o tempo, foi se
deteriorando e caiu no abandono público, tornando-se uma área marginalizada, habitada
por pessoas de baixa renda. Na finalidade de inverter essa nova característica, veio, então,
orientada pela empresa de Urbanização do Recife, a proposta de revitalização para
reintegrar o bairro à cidade. O Plano trata de um setor de preservação rigoroso, que
contém os monumentos e o casario mais significativo dos séculos XVIII, XIX e XX, em
134
que a ênfase reside na preservação da volumetria e dos elementos da fachada e cobertura;
um setor de preservação ambiental, contíguo ao setor anterior responsável pela ambiência
do conjunto e servindo de elemento de transição para o restante do bairro, no qual são
enfatizados a limitação do gabarito a forma de ocupação do lote pela construção e um
setor de uso múltiplo, onde se situa a maior parte do casario do século XX e que deve
preferencialmente abrigar usos voltados à função portuária. A reabilitação abrange uma
área da antiga zona portuária, com 100 ha, engloba 75 quarteirões e 383 prédios. uma
preocupação de permanência da população que deu origem ao bairro com a recuperação da
infra-estrutura para recebê-la, criando imóveis em habitações coletiva, para que a
população de baixa renda originalmente moradora do bairro continue ali após a as
intervenções, criando também creches, restaurantes popular, centros comunitários. A
recuperação busca o desenvolvimento turístico do local, por meio de incentivos ao
proprietário, como a insenção de 10 anos do IPTU para que eles instalem comércios e
restaurantes. O proprietário do imóvel arcará com todas as despesas na restauração do seu
imóvel seguindo sempre a orientação técnica dos arquitetos da prefeitura.
Como se vê, o plano hora nenhuma promove momentos de lazer aos seus moradores
mediante a rica Cultura Popular Local que existe. Como nas outras intervenções, a da
cidade do Recife não foge à regra de voltar-se apenas para o atendimento de grupos sociais
privilegiados e turistas.
São Paulo-SP O Centro Histórico de São Paulo passou por duas intervenções antes dos
meados dos anos 1970. Nos anos 1910 e 1920 tendeu-se a transformar a ainda São Paulo
rural, economicamente voltada à atividade do café, em cidade européia, projeto de
renovação. Nos anos 1940 e 1950, como a industrialização tomou o lugar da economia do
café, São Paulo perde seu aspecto europeu e ganhou aspecto americano, uma cidade mais
dinâmica. Nesse momento, a cidade foi invadida por avenidas largas para os automóveis,
sendo estes grandes segregadores do espaço. Em meados dos anos 1970 e final dos anos
de 1980, houve a reversão desse espaço público, devolvendo-o aos pedestres, por meio de
um calçadão, o que antes era do veículo. Esta intervenção privilegiou a qualidade de vida.
As propostas de revitalização para a área central da cidade de São Paulo: a reurbanização
do Vale do Anhangabaú, boulevard São João, reurbanização do Parque D. Pedro II, eixo
Sé-Arouche - Programa-Piloto de ordenação da paisagem da área central -, projetos
visando à melhoria da manutenção urbana e ao controle no uso do espaço público,
restaurações em edifícios públicos e em logradouros, projeto “centro sem carros”, deram
135
ênfase à recuperação da paisagem e das condições ambientais. Na expectativa de trabalhar
com incentivos para a dinâmica imobiliária, a revitalização focou a Operação Urbana,
incentivando as construções e o mercado imobiliário nas áreas de potencial atrativo. A
Associação Viva o Centro tem uma política de revitalização voltada para o Centro
Histórico da Cidade de São Paulo. O programa Pró-Centro procura deter o processo de
declínio do centro da cidade.
Segundo texto eletrônico de Ana Cândida Vespucci
<http://www.vivaocentro.org.br/publicaçoes/urbs/urbs>, hoje, a requalificação do centro
de São Paulo conta com recursos internacionais do BID - Banco Interamericano de
Desenvolvimento -, num valor de US$ 100,4 milhões, quantia que vai viabilizar de forma
definitiva o Programa Ação Centro, para a recuperação da área central. O Programa Ação
Centro envolve 130 iniciativas, 16 secretarias municipais e cinco empresas públicas
devendo contemplar de intervenções urbanas a projetos sociais. A recuperação da área
central prevista pelo Programa Ação Centro é bastante abrangente, com destaque para
cinco vertentes: recuperação de áreas degradadas, melhoria da qualidade ambiental,
fomento da pluralidade econômica, inclusão social e reversão do esvaziamento residencial
do centro, objetivando, na requalificação, a devolução da área, à fruição da população e,
por extensão, resgatar-lhe a dignidade como referência cívica de São Paulo. A recuperação
de espaços emblemáticos, entre eles, o Mercado Municipal, a Casa da Marquesa, o
Edifício Martinelli, não se refere apenas ao restauro dos edifícios, o que, por si só, é
importante, pois, em certos casos, significa submeter espaços com infra-estrutura e
conceituação obsoletas a um processo de modernização com o intuito de adequá-los às
atuais exigências de uso. O projeto reservado à Biblioteca Mário de Andrade deve passar
por um processo de recuperação do prédio e também ganhará um perfil mais dinâmico
com café e áreas de lazer.
FERREIRA (2002, p. 266) mostra ainda, na figura 41 a seguir, como está o andamento
dos projetos de revitalização em algumas cidades, informando os altos valores gastos. É
necessário que se reflita a respeito das implantações desses projetos, quando se trata da
população de baixa renda, pois esta é excluída, sendo assim, o espaço é utilizado para
diversão e consumo dos turistas e das classes médias locais, o que ocorreu em Salvador com a
revitalização do Pelourinho.
136
Figura 41 - Projetos de revitalização de áreas centrais nas capitais estaduais brasileiras, jun. 2001
Cidade Custo da recuperação (em
Reais)
Recursos já investidos (em
Reais)
O que está prometido
Belém 100 milhões 2,7 milhões pela prefeitura, 33
milhões pelo governo estadual.
Recuperar o mercado Ver-o-Peso, o Forte do Castelo, prédios particulares e cinco
igrejas localizadas nos dois bairros que formam o centro histórico
Curitiba 17 milhões Cerca de 10,3 milhões Recuperação de calçamento e instalação de sistema de TV na rua marechal
Deodoro; recuperação de prédio, reforma da iluminação e revitalização das ruas
Barão do Rio Branco e Riachuelo
Manaus 26 milhões Cerca de 3 milhões em 2001 Reurbanizar a rua Bernardo Ramos; restaurar e reabrir o paço da Liberdade (antiga
prefeitura); a primeira rua 24 horas ainda não está pronta
Porto Alegre Só para o projeto Monumenta (de
preservação do centro histórico):
21 milhões
Sem estimativa Parcerias com o setor privado e com os governos federal e do Estado; construção
de um bar-restarurante e de uma casa de eventos junto à Usina do Gasômetro
Recife Não há estimativa Em oito anos foram investidos
cerca de 11 milhões
Falta recuperar dois terços da área central, onde estão cerca de 400 imóveis;
concluir implantação de fiações subterrâneas e da central de tecnologia digital
conhecida como porto digital
Rio de Janeiro 3 bilhões nos próximos 8 anos Cerca de 230 milhões, desde o
início dos anos 1990
Disciplinar o comércio ambulante, a propaganda irregular e os estacionamentos nas
calçadas; melhorar os serviços de limpeza pública, conservação e iluminação
Salvador 500 milhões 100 milhões na revitalização do
Pelourinho
Restaurar casarões antigos (mais de 3.000); construir estacionamentos; melhorar
limpeza de ruas e avenidas
São Luíz 100 milhões 39 milhões nos últimos cinco
anos
Recuperar os prédios públicos e todas as ruas da área tombada pelo Estado;
reforma do prédio do Imparcial, na rua Afonso Pena, e urbanização do Canal do
Portinho
São Paulo Não há estimativa Pelo menos 223 milhões,
incluindo verbas públicas e
privadas
Retirada ou reordenamento de camelôs; construção e reforma de moradias; reforma
da Estação da Luz e da área do entorno; ainda não foi concluído o Centro Cultural
dos Correios, obra estimada em 22 milhões de reais
Vitória 26 milhões 5 milhões Revitalização do parque Gruta da Onça e da praça do Índio; reurbanização da
avenida Gerônimo Monteiro, a principal do centro, e de sete outras ruas; integração
do porto com a cidade, criando uma praça para o desembarque de passageiros
(FERREIRA, W.R., 2002, p. 266)
76
Belém-PA – Belém elegeu o Ver-O-Peso (feira Ver-O-Peso) como símbolo e cartão postal
da cidade. Desde o ano de 1997, a prefeitura vem investindo com recursos próprios na
revitalização do seu cartão-postal. Ver-O-Peso estava em estado deplorável,
desorganizado e sujo, faziam parte de sua paisagem a prostituição, e o tráfico de tóxicos.
Era preciso fazer as pessoas voltarem a visitar, fazer compras e ter orgulho de mostrar o
Ver-O-Peso para os turistas. Em 1998, realizou-se um concurso para a escolher o projeto
de reforma; instituiu-se, também, uma campanha envolvendo a sociedade civil, no sentido
de preservar o monumento e credenciar o complexo Ver-O-Peso na UNESCO, como
Patrimônio Cultural da Humanidade.
As primeiras mudanças no Ver-O-Peso deram-se em 1999, com a recuperação do Mercado
de Ferro, conhecido como mercado de peixes, que passou por uma profunda mudança, e
do Solar da Beira e da Praça do Pescador, o que possibilitou a abertura de 130 metros de
orla. A primeira intervenção que a prefeitura fez foi na Praça do Pescador, entregando para
a população um novo espaço com mureta na beira-rio, bancos e iluminação, com 130
metros.
A inauguração da primeira etapa se deu em 2001, recuperando os setores de ervas, plantas
medicinais, hortifrutigranjeiros e do caranguejo, com instalação de 404 novas barracas e
120 tabuleiros. A praça dos Estivadores, que integra a paisagem da área, também foi
reurbanizada, recebendo nova iluminação, ampliação do jardim e a instalação de um
chafariz multifuncional servindo de palco para apresentações. A obra beneficiou cerca de
50 trabalhadores, que ganharam novas barracas padronizadas no mesmo estilo do Ver-O-
Peso, e o Solar da Beira recebeu nova pintura.
Na segunda etapa, em 2002, com a nova pintura do Mercado de Ferro, 700 barracas foram
cobertas com lonado tensionado, tecido importado com durabilidade de 20 anos;
drenagem, reforma de piso, pavimentação e iluminação de toda a área da feira.
Em 2003, foi entregue a terceira etapa, plataforma situada do setor de industrializados,
onde era antes a Praça dos Velames, para abrigar em barracas padronizadas, 56 feirantes
que estavam na avenida Portugal, comercializando refeições. Na plataforma, também
ficaram 42 feirantes do setor de raízes, que vendem maniva e tucupi; 16 comerciantes de
artesanato que estavam no Solar da Beira e 10 vendedores de polpa de fruta.
Para a recuperação da Feira do Açaí, praça do Relógio, doca do Ver-O-Peso e calçadas do
Boulevard Castilhos França e da avenida Portugal, estava sendo investidos cerca de R$ 4
milhões dos cofres da Prefeitura de Belém e, assim, encerra-se o trabalho de recuperação
do complexo do Ver-O-Peso. A feira do açaí vai recuperar todo o seu charme e beleza
para voltar a receber turistas e consumidores. As antigas malocas (com cobertura de
palha) serão substituídas por um lonado padronizado do mesmo estilo da feira do Ver-O-
Peso. Descendo a ladeira, vai passar o bondinho que será reimplantado com o projeto Via
dos Mercadores incluindo a recuperação das ruas João Alfredo e Santo Antônio que
está sendo executada. a travessa Marquês vai ser transformada em estacionamento com
170 vagas. A calçada da doca do Ver-O-Peso (que é conhecida como pedra do peixe) terá
um revestimento mais moderno, semelhante ao utilizado nas orlas de Icoaraci e
Mosqueiro, e a praça do Relógio ganhará um novo paisagismo.
As intervenções físicas estão sendo feitas, e a preservação da cultura local das feiras
garantida, fatos significamente positivos. Mas parece que a revitalização não insere o
artístico-cultural, as Manifestações Culturais Populares Locais paraenses, que, sem
dúvida, são de uma imensa beleza, e a vitalidade do espaço que neste entendimento está
adomercido; com exceção da culinária.
A revitalização está projetada para receber turistas e consumidores, pensando apenas por
uma ótica, sendo esquecido o artístico-cultural que pode ser um grande aliado para a
atração turística também, já que este parece ser o ponto principal da revitalização.
Florianópolis-SC – Adams e Araujo (arquitetas) relatam, em seu texto, a ação municipal
de revitalização de Florianópolis. O processo de preservação na cidade de Florianópolis
iniciou-se em 1974, com a proposta de preservar não o acervo natural e arqueológico,
como também o seu acervo cultural de natureza material, mediante a Lei Municipal nº.
1202, que dispõe sobre a proteção de seu patrimônio. Essa lei instituiu o instrumento do
lxxv
iii
tombamento e criou o órgão competente para essa preservação, denominado SEPHAN -
Serviço do Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Município. Esta estrutura
administrativa conta com a colaboração de uma a comissão técnica, COTESPHAN -
Comissão Técnica do Serviço do Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Município -,
que é composta por representantes de diferentes instituições vinculadas à cultura e ao
patrimônio ambiental. Vinculado à estrutura municipal do planejamento, do Instituto de
Planejamento Urbano de Florianópolis IPUF -, a preservação foi concebida como
elemento integrante do planejamento urbano da cidade, resultando em legislação
urbanística própria, bem como na proteção de conjuntos urbanos e edificações isoladas, o
que representa aproximadamente 500 unidades protegidas, classificadas segundos
parâmetros diferenciados de proteção. A exemplo da política nacional, inicialmente,
também em Florianópolis, a preservação contemplava apenas os grandes monumentos,
tanto que, até 1985, haviam sido tombadas dez edificações, na maioria, igrejas. Em
1979, com a transferência do SEPHAN, até então vinculado à Secretaria Municipal de
Educação, para o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis IPUF -, a
preservação passou a ser considerada como elemento integrante do planejamento urbano
da cidade. A partir de então, foi dada também prioridade à preservação de conjuntos
arquitetônicos que ainda testemunhavam a evolução urbana, mantendo, assim, os
referenciais culturais na paisagem construída.
Em 1985, o esforço de vinculação da preservação com o planejamento urbano da cidade
resultou na consolidação da legislação urbana, realizada, inicialmente, por meio da
proposta do Plano Diretor de Uso e Ocupação do Solo dos Balneários do Interior da Ilha
(Plano Diretor dos Balneários), preservando os núcleos, Ribeirão da Ilha, Santo Antônio
de Lisboa e Lagoa da Conceição. Foi introduzido o novo conceito das Áreas de
Preservação Cultural APC - que dispõe critérios orientadores de intervenção e
determina três categorias de preservação, cada qual com especificações próprias: Imóveis
monumentais e de valor excepcional que devem ser preservados em sua totalidade, tanto
no seu interior como no seu exterior; imóveis que fazem parte da imagem urbana da
cidade não podem ser demolidos, preservando as suas características externas, fachadas,
cobertura e volumetria. As reformas internas são admitidas desde que não interfiram com
o exterior da edificação e nos imóveis importantes para a harmonia do conjunto e que se
encontram mesclados aos bens preservados. No entanto, podem ser demolidos ou
readequados, mas estão sujeitos a restrições que evitem a descaracterização do conjunto
no qual estejam inseridos, ou do qual são vizinhos. É imprescindível que as intervenções
tenham o caráter de contemporaneidade. Não para impedir falsidades históricas, mas
para estimular o registro da marca do nosso tempo no espaço protegido com isso, dar-se
uma nova dinâmica, transformando edifícios para novas atividades, como, por exemplo, o
antigo armazém de secos e molhados (Armazém Vieira), que foi transformado em
bar/restaurante.
Em 1993, foi criado o “Projeto Renovar”, objetivando a recuperação e a revitalização
global dos conjuntos históricos presentes na área central e a revitalização do espaço
urbano, resgatando a memória urbana, que, pouco a pouco se integra ao viver cotidiano e é
incorporado à dinâmica econômica de Florianópolis, sobretudo, nos setores vinculados ao
turismo, comércio e serviços. Tem como característica a parceria entre instituições e
comunidade, com ações dos proprietários e inquilinos, associadas às municipais e ações de
reabilitação urbana. Para a efetiva transformação e valorização das áreas históricas, era
necessária uma mudança de consciência, da qual cidadãos, não os proprietários e
empresários, mas também os usuários, teriam que participar.
Atualmente, existem, aproximadamente, 650 edificações preservadas em âmbito
municipal. O tombamento se fez acompanhar por medidas complementares que
contribuem para sua viabilização econômica. Nesse sentido, a municipalidade concede
benefícios, tais como: o incentivo fiscal de redução do IPTU (Imposto Predial e Territorial
Urbano) aos imóveis tombados, para diminuir os custos de recuperação. Trata-se de um
percentual de redução variável, em função do estado de conservação, e que deve ser
requerido anualmente pelo proprietário. Assim, é feita uma reavaliação contínua do estado
de conservação do acervo protegido, possibilitando a informação aos proprietários das
medidas necessárias para a recuperação total do imóvel. O outro mecanismo adotado foi o
incentivo urbanístico de transferência do direito de construção, instrumento inserido agora
no recém-aprovado Estatuto da Cidade, medida encontrada para solucionar o impasse da
“perda de área construída”, que o Plano Diretor vigente possibilitava, de forma
irrestrita, a construção de prédios de 12 andares. Este incentivo urbanístico permite ao
proprietário negociar sua propriedade sem nenhum prejuízo, transferindo a área
teoricamente edificável e ainda mantendo a área de valor histórico-arquitetônico intacta
como patrimônio particular. A certidão do direito de construção, que é o instrumento legal
para a viabilização deste benefício, é concedida após a recuperação integral do bem
protegido.
Algumas das ruas do Centro Histórico da cidade foram transformadas em “calçadões”.
Esta iniciativa trouxe para a cidade novos espaços para manifestações artísticas e culturais.
lxxx
Desde 1988, estão sendo desenvolvidos trabalhos de restauração dos elementos artísticos,
contemplando, sobretudo a arquitetura religiosa. Como exemplo, a restauração da Igreja
de Nossa Senhora da Conceição, da Lagoa, e da Igreja Nossa Senhora do Rosário e São
Benedito, realizadas em parceria com a comunidade e cujos resultados provam a
viabilidade deste tipo de trabalho. A vocação da ilha de Santa Catarina está consolidada,
não pelos inegáveis atrativos naturais, mas também pelas edificações históricas
preservadas, com seu valor cultural, que poderão ser alternativas para o prolongamento da
permanência de visitantes na região. A proposta da prefeitura, como foi salientado,
implica preservar o acervo cultural de natureza material, ou seja, patrimônio histórico
edificado, que também é a identidade da cidade, pois sabe-se que a esta vai mais além,
sendo as manifestações populares essenciais e que, conseqüentemente, contribuíram para
essa tão falada identidade.
Santos-SP A Revitalização da Área Central de Santos se deu com o plano de
revitalização da região Central Histórica, que visa à retomada do desenvolvimento da
cidade. O plano apóia a instalação de novos empreendimentos no centro, com valorização
do patrimônio histórico e iniciativas nas áreas de urbanismo, infra-estrutura, mobilidade,
equipamentos públicos e bem-estar social. Diversos projetos mobilizaram recursos acima
de R$ 30 milhões (na área pública e privada): Remodelação da paisagem urbana do centro
- pode ser notada na Rua Tuiuty, no Largo Marques de Monte Alegre, na Rua do
Comércio e na Rua XV de Novembro. Recuperação das praças Mauá, Rui Barbosa,
Andradas, República e Barão do Rio Branco. A recuperação de imóveis históricos no
centro é um dos itens fundamentais no plano de revitalização. o projeto do Bonde
Turístico, que contou com ampla aceitação da população santista. Foram criados a
Associação Centro Vivo e o Projeto Alegra Centro, que garantem incentivos fiscais para
as empresas que se instalarem em imóveis históricos, padronização de mobiliário urbano
e equipamentos em fachadas; apoio à instalação de novas empresas com atividades
múltiplas e incentivo ao uso residencial.
Os próximos passos do projeto são a Restauração Estação Ferroviária (Museu do
Transporte e pavilhão de eventos); Casarões do Valongo (Museu da Cidade e Museu dos
Imigrantes); Terrenos da RFFSA (torres de escritórios); Complexo turístico-cultural
(armazéns 1 a 4); Nova Esplanada na Rua Tuiuty e armazém 5. A revitalização também
conta com o Projeto PAC - Programa de Atuação em Cortiços -, elaborado pela CDHU do
Governo Estadual; fomento à implantação de edifícios pluri-habitacionais nos Bairros Vila
Nova, Paquetá e Vila Mathias; melhoria da infra-estrutura de pavimentação; instalação de
sistema de comunicação por fibra ótica; melhoria na iluminação. Pensando na mobilidade,
existe o projeto de Veículos Leves sobre Trilhos VLT -; Avenida Perimetral / Túnel sob
o Estuário e ampliação da linha do bonde, além da ligação do Porto ao Centro Histórico
que servirá como alavanca de desenvolvimento e integração. Por meio do Projeto de
revitalização e restauração Alegra Centro, a cidade de Santos teve sua a história resgatada,
proporcionando aos turistas novos passeios e variedade gastronômica.
Curitiba-PR A revitalização do centro comercial de Curitiba é fruto de uma parceria
entre a Prefeitura de Curitiba e a Associação Comercial do Paraná (ACP), que lançou, em
outubro de 2003, o projeto “Centro Vivo”. O objetivo é dar “vida nova” para área central
da cidade, beneficiando 1.300 lojas do "coração" de Curitiba, tendo como apoio a
administração pública. O “Centro Vivo” teve como início algumas mudanças que vão
desde as intervenções imobiliárias, paisagística, aperfeiçoamento de gestão até a melhoria
de qualidade do atendimento em lojas visando ao aumento dos negócios. Dentre estas,
outras mudanças previstas, como a implantação de um Centro Cultural do Banco do
Brasil, provavelmente, no local onde funcionava o Museu Paranaense; a restauração de
vários edifícios e de locais que tinham uma importância histórica material e o incentivo
para que as pessoas voltem a morar no centro, mediante a lei de zoneamento e de uso do
solo. A revitalização contará, também, com um grande estacionamento previsto para a
região central, divulgação de mapas da cidade nos pontos de ônibus, com referenciais
culturais e comerciais do centro para estimular a circulação de pessoas na área central. A
exploração do potencial econômico, cultural e turístico da região, eventos comuns a todos
os segmentos comerciais, são referenciais que nortearão o projeto.
Poços de Caldas-MG A cidade de Poços de Caldas está revitalizando sua área central,
as praças centrais e os jardins, fazendo parte do projeto “Viva Poços”, que consiste,
também, na substituição das redes elétricas aéreas por redes subterrâneas na área central,
como plantio de novas árvores e a colocação de postes ornamentais. O pavimento foi
trocado pelo piso que imita saibro, haverá mais canteiros, e os bancos voltaram a fazer
parte da praça. A revitalização tem por objetivo fazer com que as praças voltem ao estilo
da década de 1928 e que adquiram o mesmo estilo da praça Pedro Sanches recém-
revitalizada e do parque José Affonso Junqueira. A área possui 205m
2
, e foram
investidos por parte da Prefeitura cerca de R$ 100 mil. Foram entregue, para a população
as obras de revitalização da praça Pedro Sanches e jardins laterais do Palace Hotel. Depois
lxxx
ii
da conclusão da obra da praça, que devolveu a ela o seu estilo original de 1928, começou a
ser feita a intervenção nos jardins laterais do Palace Hotel. A lateral sul foi a primeira a ser
recuperada, recebendo o mesmo estilo da praça Pedro Sanches, o piso simula o saibro. O
monumento Dr. Nelson de Paiva foi restaurado, os tijolos ornamentais foram trocados e os
canteiros renovados. As árvores “doentes” e velhas foram retiradas e novas foram
plantadas. Triplicou-se a iluminação da praça e instalou-se um sistema de irrigação. O
próximo passo dado pelo Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE),
Departamento Municipal de Eletricidade (DME) e secretarias municipais de Obras e
Viação e de Planejamento, responsáveis pela obra, foi a revitalização do jardim norte e as
calçadas da frente e atrás do hotel. A obra seguiu o mesmo padrão do jardim sul com a
recomposição da vegetação, colocação de novas luminárias e sistema de irrigação,
substituição dos tijolos dos contornos e piso de concreto estampado. Marcelo Dias
Loichate, responsável pela obra, informa que a meta é que se continue com o trabalho de
revitalização das praças centrais, dentro do projeto “Viva Poços”.
Cidade de Goiás-GO A Cidade de Goiás, conhecida como Goiás Velho, pode ser
considerada um museu a céu aberto pela beleza de suas edificações e cultura local.
FOLGATO, em seu texto Goiás Velho será patrimônio cultural da humanidade, esclarece
que a Cidade de Goiás é tombada e possui um acervo considerável, mas estava distante
da preservação e da recuperação. Porém, com o envolvimento da comunidade, conseguiu-
se uma série de mudanças, como o restauro dos monumentos históricos, recaracterização
do casario e captação e tratamento do esgoto para que os rios passem limpos pela cidade.
Foram envolvidas até as escolas e as crianças que ao verem a cidade revitalizada,
passaram a se preocupar e preservar seu patrimônio. Foram investidos R$ 30 milhões na
infra-estrutura e revitalização do centro histórico. Entre as mudanças, foi trocada a fiação
da iluminação pública, que era aérea, pela fiação subterrânea, restauraram-se as igrejas, foi
instalado um museu onde era a antiga cadeia local e foi feito o restauro dos prédios
antigos. A revitalização contou também com a participação do governo do Estado, que
incentivou a revitalização da cidade histórica.
Goiânia-GO O “Projeto Cara Limpa” foi desenvolvido para dar continuidade ao
processo de revitalização do Centro de Goiânia. Segundo o livro publicado pela Prefeitura
Municipal de Goiânia, “Centro de Todos, tem como objetivo principal o resgate das
fachadas dos prédios históricos da capital, valorizando, assim, as antigas construções da
cidade. Propõe, ainda, a padronização das calçadas, retirada de letreiros e pintura dos
edifícios históricos, obedecendo à paleta de cores adotada pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN); instalação de fiação subterrânea, e conta ainda
com um plano de arborização para a Avenida Goiás. Revitalizações realizadas: a do centro
começa na Avenida Goiás, resgatando as características originais da cidade, preservando
os monumentos, valorizando o estilo Art Déco e inserindo novos equipamentos da
realidade local nos moldes do século XXI. Teve ainda seu calçamento alterado, novas
luminárias, caramanchões, instalação de bancos e para amenizar a temperatura ambiental,
um espelho d’água. A Praça Eurico Viana teve sua revitalização concluída em agosto de
2003, abrangendo toda a área da praça, e ganhou um novo paisagismo, arborização e
jardim; bancos, lixeiras, piso de pedra portuguesa e nova iluminação. A Praça Joaquim
Rufino contou com a interação da comunidade e o poder público. A Praça Santos Dumont
foi requalificada com a parceria da prefeitura com a comunidade local, inserindo novos
equipamentos, pisos diferenciados, e a iluminação foi toda refeita, concluída no final de
agosto de 2003. A revitalização da praça procurou restaurar o local para ser um ambiente
de lazer e encontro. A intervenção no Mercado Aberto da Avenida Paranaíba criou
condições de trabalho diferenciadas, para os trabalhadores informais da Avenida Goiás,
que era realizado de forma desordenada e acabava dificultando a circulação dos pedestres,
sendo também palco de marginalidade, que gerava um desestímulo para a população
freqüentar esta área. Segundo (LABAIG, 2004, p. 8), o interesse de requalificar implica
promover o desenvolvimento econômico e social “... como fomentar o investimento social
e econômico que possam representar o desenvolvimento sustentável da cidade...”.
Foram citadas algumas experiências de projetos nas cidades brasileiras, executados
e outros em andamento, sendo que estes foram abordados com a finalidade de discutir a
ausência, nessas intervenções, da Cultura Imaterial, melhor dizendo, a inexistência da Cultura
Popular Local. Observa-se que a maioria dessas revitalizações está objetivando elitizar a área
central revitalizada (área onde normalmente estão sendo feitas as revitalizações), dando
prioridade ao turismo e ao lazer para os turistas e a classe média. Aproveitar o potencial
turístico que certas áreas abrigam foi a justificativa apontada para a realização dos projetos de
intervenções.
O conteúdo artístico cultural não fomentado é a negação da Cultura Popular Local,
que, ao longo do tempo, se formou e está ali enraizada. Portanto, esse espaço revitalizado fica
lxxx
iv
pouco atrativo quando ignora essas práticas culturais, e é assim que ainda está ocorrendo, não
sendo exploradas na grande maioria das revitalizações das áreas centrais acima observadas.
Elas, quando não priorizam o aspecto artístico-cultural, tendem automaticamente a excluir os
indivíduos que fazem parte desse espaço antes da revitalização. O esquecimento dessas
práticas faz com que essas áreas percam sua identidade. O trecho a seguir refere-se à
emergência de espaços ligados à práticas identidárias.
Observando esse conjunto de fatos, em seu intricamento, tomamos em conta, como
questão, a necessidade de compreender o jogo que impulsiona a emergência dos
espaços de práticas identidárias, os modos em que, por meio deles, se trabalha uma
demanda de identificação dos sujeitos na relação com a cidade: de sujeitos que se
identifiquem com, e que também serão identificados (e qualificados). (MORELLO,
2001, p. 37).
Observou-se que, em outras áreas centrais revitalizadas, houve a criação de “Centros
Culturais”, mas, dependendo de como criado e para qual público, podem ser considerados
também como “não-culturais”. Quando esses espaços culturais são criados em lugares que
realmente têm significado e para todos os cidadãos, a sua identidade permanece ali enraizada.
MORELLO (2001, p. 36) considera a instalação de alguns centros culturais como
espaços sem significados, não-culturais.
... As formas de linguagem, quaisquer que sejam, instalam-se nesse jogo com o
desejado e inevitável preenchimento do sentido e com a falta contida.
Esse modo de compreensão dos processos de significação permitem indicar
alguns deslocamentos no comum do sentido de algumas noções com as quais
lidamos. Entre elas, a de cultura e de cidade.
Como qualquer definição, aquelas que, por meio de procedimentos mais ou menos
legitimados, discriminam os atributos de um acontecimento, para significá-lo como
cultura ou cultural, se entretecem sempre num jogo de sentidos que se opõem e se
recobrem. O cultural instala, precisamente, um não-cultural, um menos ou um mais-
cultural, e em sua definição intervêm, entre outras, oposições parametradas e
valorizadas pela ordem do civilizado em seus infinitos deslizes sobre o exótico, o
natural, de um lado, e sobre o desconhecido, estranho, estrangeiro, migrante, de
outro. Dos shopping centers ao hip-hop das ruas, do sertanejo ao caipira ao
nordestinos ao gaúcho..., essas ordens não cessam de se repor, de organizar
circuitos e investir multiplamente seus valores.
SCHIMIDT e WERNEK (1986, p. 208) citam como deve ser aproveitado um espaço
cultural,
O uso mais indicado parece ser o de Casa de Cultura. Por notícias em jornais, sabe-
se da existência de algumas expectativas da comunidade que devem ser levadas em
conta na definição do programa definitivo. Dentre as atividades que nela forem
desenvolvidas, seria desejável a existência de um vinculo com a memória da
cidade, um Museu da Cidade, que contemplasse, além da história da ferrovia, as
manifestações culturais populares e a história cotidiana. Desta forma, ele não seria
nem um “espaço mistificador do passado, nem diluidor das contradições sociais”.
Para se tornar um patrimônio cultural de todos os cidadãos, o museu deve conter
tudo o que foi significativo para a construção e a transformação da cidade.
A área central é lugar de todos os cidadãos e concentra as varias manifestações da
Cultura Imaterial, portanto, a revitalização deve atrair as várias camadas sociais. SIMÕES
JUNIOR (1994, p. 68) relata que as áreas centrais do Brasil, hoje em dia, são espaços de plena
democratização, onde estão concentrados todas as classes sociais, no entanto não deve mudar
essa característica, pois é um fato natural. É por esse motivo, quando se fala em revitalizar
uma área, que se entende que é preciso requalificar, objetivando a melhoria da qualidade
ambiental etc., mas sem necessariamente elitizar esse espaço.
Portanto, revitalizar é pensar em trabalhar a totalidade do espaço urbano, ou seja, é
priorizar o homem por inteiro e atender a todas as suas necessidades, proporcionando a ele
momentos de lazer e qualidade de vida, porque revitalização não é somente a preservação do
patrimônio arquitetônico, o embelezamento, a maquiagem. É trabalhar essencialmente o
resgate do conteúdo existente no espaço, sua história, a sua identidade local, construída ao
longo do tempo pelos sujeitos e pela cultura imaterial por eles praticadas, que é de muita
significação para a cidade, para a região e até mesmo para o país e, por isso, deve ser
preservada. A seguir, será ressaltada a cultura como um aspecto importante nas revitalizações.
2.1.3 - A Cultura como instrumento básico para revitalização
Após anos de descaracterização e de modificar a identidade local, hoje, percebe-se
uma certa preocupação em priorizar a Cultura Popular Local, visto que a grande maioria das
revitalizações ainda se volta muito para a identidade edificada, e a identidade imaterial fica a
desejar como foi comentado no capítulo I. A Cultura Imaterial é peça fundamental na vida das
pessoas e para a cidade, antes dos Patrimônios Histórico Materiais, existia a Cultura
Imaterial, mas parece que poucos agentes visualizam esse fato.
Os Patrimônios Históricos Materiais e Imateriais são importantes e essenciais, porque,
ao longo dos anos, contribuíram para a história das cidades, e estes estão presentes
normalmente nas áreas centrais ou, pelo menos, no lugar onde deveriam estar presentes,
fazendo parte da paisagem, independente da modernização. Se são a identidade das cidades e
lxxx
vi
estão fortemente resistindo a tanta modernização, têm de estar viva no cotidiano da sociedade.
A falta de interesse por parte de alguns em preservar a herança (diga-se de passagem,
identidade que o povo construiu e a geração de hoje herdou) de suas áreas centrais acarreta
uma mudança espacial sem significado. Não é mais fácil valorizar e preservar a história
criando vitalidade para o lugar em vez de demolir ou por no chão o que já está pronto?
A autora (PADILHA, 2001 apud, AMERICANO, p. 20) conta como foram feitas as
inovações e as construções urbanas na cidade de São Paulo.
Inicia-se o alargamento da Avenida São João, pela demolição, na Praça Antônio
Prado, da Confeitaria Castelhões e da Chapelaria Alberto (...) Alarga-se a rua
Líbero Badaró, demolindo-se a casa da baronesa de Itapetininga e uma série de
casinhas que dava fundos para o Vale do Anhangabaú (...) Leva-se a rua Líbero
Badaró, por mais um quarteirão, até a Ladeira de São Francisco, onde se constrói o
prédio Saldanha Marinho, em que está a Companhia Paulista de Estradas, e
estiveram parte do Consulado-Geral Norte-Americano e o Instituto de Engenharia.
A busca incansável do novo altera e modifica a história e a herança do espaço urbano,
tornando-o sem significado ou pouco atrativo, foi o que a cidade de São Paulo presenciou em
sua área central, que, pouco a pouco, perdeu as raízes, e rapidamente alteram-se os hábitos de
seus cidadãos, uma nova paisagem surgia, e o centro se transformava.
O centro era parte da cidade que mais rapidamente se transformava. Tudo o que
havia de novo e suntuoso aparecia naquela região: o Viaduto do Chá, o Teatro
Municipal, as requintadas casas comerciais Mappim e Casa Alemã e os luxuosos
prédios de bancos. O famoso triângulo formado pelas ruas São Bento, Direita e XV
de Novembro era uma das áreas que mais se modificava e absorvia a inovações da
vida urbana. Os elegantes da cidade freqüentavam os requintados cafés e
restaurantes da região, desfrutando da nova paisagem que o movimento de pessoas,
a luz elétrica, os cartazes e luminosos proporcionavam. Um sem-número de lojas,
vitrines e cartazes se enfileiravam nas calçadas por onde passavam os pedestres,
uns a passeio, outros a negócios. Passar por ali era entrar em contado com as
últimas novidades que surgiam na cidade, tanto em termos da paisagem urbana,
propriamente dita, como em termos de consumo.
Desde o centro, onde se encontravam as lojas mais chiques, até os bairros simples
como o Bexiga e o Brás, o comercio se desenvolvia rapidamente, alterando as
feições das ruas e os hábitos dos paulistanos. (PADILHA, 2001, p. 20/21).
O moderno pode perfeitamente estabelecer um diálogo entre o passado e o presente,
quando as intervenções ocorrem fazendo essa ligação com o passado, os traços do espaço se
modificam, mas a sua origem permanece, e a memória histórica é resgatada. Resgatar a
memória urbana local é manter os grupos significativos ali instaladosanos. BAHIA (1986,
p. 217) defende o resgate da memória urbana, explicando:
Quando procuro defender uma proposta de resgate de memória urbana desses
espaços não se trata de um romantismo exagerado por causa do rendilhado de uma
rica arquitetura do passado. Tal riqueza não teria sentido não fosse a vida que nela
se processa, tão estranha àquilo que estamos acostumados chamar de espaços
ordenados e quase sempre alvo de urbanistas famintos.
É necessário continuar buscando o novo, pois ignorá-lo seria ir contra a atualidade,
que o mundo assim vive hoje em dia, é preciso ter o cuidado quando se fala em inserir o
moderno, como foi relatado acima, é viável e possível fazer uma interação entre o novo e o
antigo. DIAS (1986, p. 242) faz ótima observação sobre o tema, afirmando que
Não se trata aqui de uma mera padronização, pois isso poderia levar à adoção de
modelos supostamente “práticos” ou “modernos”; nem tampouco à adoção de
soluções “coloniais” ou supostamente típicas ou de “estilo”.
Não se trata de recusar o novo, mas de assimilar aquilo que se harmoniza com o
antigo, sem desrespeitá-lo; luzes, cores, formas e tamanhos devem resultar na
integração do mobiliário em seu contexto urbano, sem aparecer em destaque, sem
entrar em conflito.
A identidade histórica da cidade precisa permanecer no redesenho do espaço e que este
redesenho dê ênfase na Cultura Popular Local, e que deva ser incansavelmente trabalhada para
que ela não perca seu lugar e ali permaneça, apenas recriando o que existe. Com mais
informações precisas, VAZ e JAQUEZ (1982, p. 670-671) relatam que,
As transformações espaciais não se restringem mais a sua físico-territorial, mas
envolvem em grau crescente, considerações de ordem simbólica. O lugar, a sua
imagem e a sua identidade se transformam fundamentais. No mundo global, onde
muitas cidades industriais viram diluir-se a sua identidade e onde impera a
estandardização e a homogeneidade, a diferenciação através da força da identidade
local se torna um trunfo essencial. Como a especificidade e a identidade de cada
povo se encontram fortemente ancoradas na imagem e na cultura local, será
principalmente através da cultura que as cidades poderão se individualizar,
acentuando suas identidades, marcando seu lugar no panorama mundial.
É por essas razões que cabe insistir, portanto, que a revitalização promova nos espaços
centrais (lugar onde, geralmente, se trabalha com revitalização), a preservação de toda a
herança local edificada e, principalmente, da significativa Cultura Popular Local Imaterial da
cidade, promovendo a não descaracterização da paisagem ambiental, fomentando a
continuidade identidárias.
lxxx
viii
2.2 - Revitalização Urbana para Todos
Ainda hoje, observa-se que as transformações de espaços estão atendendo as
necessidades de demandas de grupos sociais de renda média e alta, como também atendem
aos interesses públicos para atração turística, afastando, assim, os chamados grupos
“populares”, ou seja, a população de baixa renda.
Essa característica está presente em diversas cidades, como visto anteriormente, cujo
interesse e orientação é de atrair o turismo, acabando por orientar o ordenamento no sentido
de preservar o patrimônio histórico (entendam-se, aqui, edificações) e embelezar, maquiar os
espaços públicos, sem a devida inserção dos diversos e significativos agentes humanos, que
dão significado sócio-cultural à cidade, à região; caracterizando esse espaço não como de
“domínio público”, e, sim, como ambiente produzido para atender a grupos sociais de
inserção política e econômica significativa.
A não preocupação com os interesses da população de baixa renda, não respeitando
sua identidade com o “lugar vivido”
6
, nos projetos de estruturação, reestruturação e
manutenção dos espaços públicos das áreas centrais, acarreta impactos negativos na qualidade
de vida de toda a população.
Em referência à exclusão dos cidadãos de baixa renda das áreas centrais a citação
abaixo vem para a confirmação.
Os princípios da revitalização de centros urbanos surgiram em reação às ações de
renovação urbana que dominaram as intervenções urbanísticas entre as décadas de
1930 a 1970, marcadas pelo urbanismo modernista. As intervenções de grande
porte nas áreas centrais eram de caráter ‘saneador’: eliminando áreas centrais eram
de populações de baixa renda, destruindo grandes áreas com sua posterior
reedificação para novos usos, constituindo pólos comerciais e de serviços,
produzindo edificações e espaços públicos marcados pela monumentalidade. Os
críticos desse tipo de intervenção no espaço urbano acusam-no de atender mais aos
interesses do capital imobiliário. (INSTITUTO PÓLIS, 2000, s/p – DICAS no 31).
6
Lugar é quando se cria um vinculo afetivo, alma, espírito. Palestra da profa.Dra. Luci Marion Caderoni P.
Machado .
FERREIRA (2002, p. 262) completa: “As áreas urbanas vêm sendo construídas e
reconstruídas obedecendo a tendências ou critérios adotados por planejadores e urbanistas de
acordo com momentos históricos”.
O mesmo autor torna mais clara essa idéia, quando afirma que,
Pode-se dizer que, nas intervenções urbanas em áreas centrais, pautadas apenas no
embelezamento do ambiente construído, onde são contratados “estilistas” ou
“maquiadores” urbanos, o apelo social está longe da capacidade de entendimento
do que vem a ser a cidade, pois os grupos sociais populares estão a todo o momento
excluídos, tanto do processo de “repensar o espaço” quanto do processo de
efetivamente recuperar ou requalificar (como queiram os “urbanistas”) essa região
da cidade, que é freqüentada predominantemente por eles. São esses grupos que dão
vida a essas áreas, e no entanto, nesse processo, são afastados para dar vazão aos
“delírios” arquitetônicos, paisagísticos e de embelezamento requeridos pelos grupos
sociais mais abastados. (FERREIRA, 2002, p. 273-274).
Para essas formas de intervenções urbanas, as quais já estão sendo realizadas, é
necessário refletir sobre a importância de haver uma mudança na forma de repensar o
espaço urbano, pois não é possível continuar priorizando as classes altas e médias e excluir
a população de baixa renda. É essencial que estes últimos permaneçam inseridos nas áreas
revitalizadas, porque são eles os agentes significantes, portanto, esse espaço deve também
priorizá-los e atender a suas necessidades.
2.2.1 – Revitalizar para os cidadãos
Assim se inicia a intervenção urbana nas áreas centrais das cidades, alimentando-se da
economia por meio do fluxo constante de pessoas e da exclusão dos cidadãos que ali fizeram
história, como se este fosse o único meio de reorganizar um espaço público. Sabemos que não
é. Essa forma de pensamento acaba por segregar e deteriorar o espaço público, desse modo,
descaracterizando o tecido urbano.
Quando a população é, forçadamente, obrigada a deixar seu mundo e reconstruir uma
nova vida em outro lugar, deixa também sua história para traz, dando lugar para que este seja
xc
transformado e, certamente, à maneira dos agentes interventores. O que antes tinha significado
passa a ser mudado, dando a esse espaço outro “significado”, passando a pertencer a outros.
... Esses espaços, por sua vez, também se tornam ameaçadores frente ao novo
modelo de urbanização inspirados nos subúrbios e nas autopistas, que desfiguram o
tecido urbano e remetem os moradores para longe do coração das cidades, com
franca deterioração da esfera pública, no que tange às possibilidades de interação
social marcada pela diversidade... (FRUGOLI, 1995, p. 18).
Esses sujeitos, quando excluídos, estão, conseqüentemente, abandonando suas raízes,
e, por essa ótica, que é tão notável ainda hoje, altera-se esse espaço, tornando-o segregador, e
o que é de mais expressivo, os cidadãos, com suas práticas, elementos de muita significação, e
simbolização, são afastados do seu espaço e, então, a revitalização perde seu caráter
simbólico.
A partir do momento em que se revitaliza a área central pensando em todos e não
apenas numa minoria, os excluídos terão garantido sua permanência e a continuidade de suas
atividades cotidianas no espaço reorganizado, que, sim, continuará significativo. Mas,
enquanto se continuar agindo para priorizar a classe média, a revitalização continuará
rompendo, ou melhor, interferindo em vez de reorganizar, recriar o espaço urbano. No
momento em que há exclusão social, há o rompimento do significado plantado pelos cidadãos,
e não haverá o real significado da área revitalizada para estes sujeitos.
A área central é um espaço urbano público e comum a todos, portanto deve ser
percebido como espaço coletivo, visto que neste todos circulam para passeio, encontro,
trabalho, estudo, compras e/ou para dirigir-se para suas residências. São diversos os motivos
que proporcionam a movimentação de diferentes grupos sociais, dando a esse lugar, vida.
Este é o centro, cheio de vida, um lugar simbolicamente transitável, o caminho dos cidadãos,
o dia-a-dia, lugar onde estão concentrados a diversão, o lazer, o trabalho, as residências, o
consumo, o espaço culturalmente significativo e com uma pluralidade de pessoas. É certo que
tem de haver a continuidade deste e não o seu rompimento. CARDOSO confirma esse
pensamento quando enfatiza que o centro não é de ninguém e, sim, de todos.
... O centro da cidade tem certas condições de promover isso, esses valores. Em
primeiro lugar, ele permite uma defesa maior da população quando é recebido por
ela, porque ninguém é do centro. As pessoas que estão circulando são também, de
alguma maneira, defesas para aqueles que estão apenas se abrigando. Então, essa é
uma razão importante. O centro é um território não definido e não delimitado, e
ninguém é propriamente dono... (CARDOSO, 2001, p. 41).
Outro autor convida-nos para uma reflexão quando poetiza sobre o centro, trazendo-o
como algo de extrema identidade e referência cidadã, quando o apresenta como um álbum de
família que só pertence a ela, porém é a identidade dos cidadãos.
... Existe até uma expressão que infelizmente em português não soa tão forte, mas
em espanhol identidad/pertenencia faz a gente tremer nas bases quando ouve. É
esse sentimento de identidad/pertenencia que devemos ter na cidade. E se cortamos
todos os nossos vínculos, nossas referências, perdemos a identidade. Os centros das
cidades são os pontos de referência maior, porque é nele que se concentra a maior
parte da nossa identidade, da nossa memória. Funcionam como o velho retrato de
família que, como se costuma se dizer, ninguém rasga. Se vemos um retrato de
família, podemos até não gostar de um tio ou da cara de um parente, mas não o
rasgamos. Pois bem, nós não podemos rasgar o nosso retrato de família, que é o
centro da cidade, que é a âncora da nossa identidade... (LERNER, 2001, p. 50).
Se o espaço é coletivo, logo, a revitalização tem que ser pensada no coletivo, na vida
coletiva. O centro é a referência cultural e histórica, lugar coletivo e de enorme significado e é
assim que tem de ser entendido, um centro humano que permite que a cidade seja mais
humana. Portanto, revitalizar para poucos, resulta na exclusão da maioria dos cidadãos. É
importante que a área central permaneça como está, com seus símbolos e seus significados,
representados pelos seus significantes, a âncora do centro, importa apenas que o reorganizem
o recriem, com sua continuidade e com todas as suas heranças. O centro deve assim ser
revitalizado, para, então, se requerer a permanência de um lugar atraente, significativo e
acessível a todos.
A revitalização de áreas centrais deve ser pensada como tornar um espaço mais
atraente tanto para as pessoas em trânsito, os turistas, mas, principalmente, para o cidadão
local que construiu sua história. É preciso refletir sobre a questão, sobre a forma como se está
revitalizando as áreas centrais do Brasil e para quem se está revitalizando. Fica, aqui, esta
reflexão, para que se possa repensar uma forma de intervenção mais humanizada, tornando o
espaço menos abstrato, ou seja, distante da realidade tão significativa, portando, é necessário a
sua continuidade.
2.2.2 – Revitalização dia e noite
Sendo o centro da cidade um núcleo urbano onde concentração de pessoas de todas
as camadas sociais, circulando para fins de negócios, lazer, é um lugar também de passagem,
de encontros, de passeios, enfim, um espaço de extrema movimentação, de socialização e de
xcii
intensa atividade cultural.
É importante fazer uma observação sobre o centro da cidade, que, na grande maioria
das cidades, vai se esvaziando a partir de uma determinada hora do dia, à noite ocorrendo a
perda de movimento (circulação de pessoas), levando-o à decadência e a assaltos, tornando-se
um lugar violento. Sendo que poderia ser um espaço permanentemente atrativo, vivo
continuando a receber parte dos cidadãos que por ali passam cotidianamente.
Não é nenhuma novidade a área central, normalmente, estar ativa durante o dia, ou
melhor dizendo, em horário comercial, havendo, no período da noite, um esvaziamento quase
que total da área. O público diurno, finalizando suas atividades do dia, retorna para seus
lares, deixando a área central quase deserta. Conseqüentemente, este lugar passa a receber
outro público (não se trata aqui de preconceito, mas de abordar o perigo que um espaço vazio
à noite pode trazer para todos), e à noite o cenário é modificado, e a área se torna um lugar
perigoso e violento.
O centro transforma-se em um ambiente de perigo, embora, para alguns, este lugar
servirá de abrigo para aqueles que o vêem como seu dormitório, isto ocorre quando, a partir
das dezoito horas, começa o esvaziamento. CARDOSO (2001, p. 41) faz uma ótima
observação a respeito que pode ser estendida também para as cidades médias e de pequeno
porte,
...É um lugar mais ou menos de abrigo, mas ao mesmo tempo pode ser perigoso,
porque nele, quando a violência se desencadeia, a defesa também pode ser menor.
Estou falando do centro desocupado, do centro não diurno, sem a população
circulando. Esta questão acontece em muitas metrópoles.
A mesma autora ainda lembra que, se as ruas se encontram desocupadas e sendo
públicas, automaticamente, estão à mercê de todos que por ali queiram se alojar ou de que se
apossam. De uma certa forma, o centro está abandonado e sujeito a todas as ações ou
necessidades humanas, esta é uma realidade que os centros urbanos vêm enfrentando nas
cidades brasileiras, centros vazios, centros vulneráveis.
Quem chega ao centro e dorme na rua não encontra a mesma resistência que
encontra ao se defrontar cara a cara com alguém que se sente dono de uma rua. De
certa maneira, as ruas do centro, quando está desocupado, são mais públicas, o
domínio ainda é dos cidadãos em geral... (CARDOSO, 2001, p. 41).
Portanto, é preciso trabalhar, constantemente, em busca de se repensar na reutilização
das áreas centrais, criar vida também à noite. Esse espaço público precisa ser revitalizado,
reorganizado-o para que possa ser freqüentado também à noite, para estimular a circulação de
pessoas a fim de desfrutar de momentos de encontros, de diversão. A revitalização pode
reaproveitar aos conteúdos da área central, reorganizando-o para que este tenha o mesmo
vigor à noite. Se presença de pessoas e a área central estiver permanentemente “ativa”,
haverá uma porcentagem menor no que diz respeito ao perigo, à violência.
LERNER, outro autor que também se posiciona, positivamente, para que haja um
centro vivo, ocupado, agitado, um centro sem esvaziamento, um espaço alegre vinte e quatro
horas, comenta ainda que, revitalizando a área central para torná-la viva, viva no sentido de
que tem de ser visitada dia e noite. Ele cita o exemplo de sua cidade, qual mantém-se função
vinte e quatro horas por dia, a cidade de Curitiba-PR, e, no texto, ele trata também de um
centro utilitário tanto para moradia quanto para serviços.
...As ruas ou regiões de uma grande cidade têm de estar preparadas para exercer
funções diferentes as vinte e quatro horas do dia. Nenhuma cidade do mundo pode
se dar ao luxo de deixar vazias, durante tantas horas, as suas áreas mais equipadas.
E eu me refiro ao centro da cidade. E uma pena que dezesseis horas por dia, esses
centros fiquem vazios. Vão ao Rio à noite e procurem ver se tem alguma luz em
algum sobrado. É triste. E eu digo com orgulho que a minha cidade não tem isso.
Tem vida o tempo todo, as vinte quatro horas do dia, o centro da minha cidade. Às
vezes. Tem de procurar, no fundo, a função que está faltando. Revitalizar é tornar a
viver. Se hoje, no centro da cidade, está faltando a função moradia, temos de trazê-
la de volta. Se, em algumas regiões da cidade está faltando a função serviços, temos
de levá-la, porque senão só fica a moradia, sem os serviços. (LERNER, 2001, p. 52-
53).
LERNER 2001 conclui, ainda, que hoje se observa tendo uma concepção diferente,
pensando em cidades “vinte quatro horas” por dia.
“Acho que está começando a nascer o conceito das cidades das vinte quatro horas.
Eixos de grande solicitação viária podem, em determinadas horas, virar
estacionamentos, vias de distribuição de mercadorias, feiras livres, espaços de
recreação, de animação cultural...”. LERNER (2001, p. 53)
xciv
Se é preciso repensar uma revitalização para que todos possam participar. Este mesmo
espaço deve ser trabalhado para servir aos cidadãos durante o dia e à noite. Aqui se defende a
revitalização dia e noite, pois é nesse espaço que estão concentrados as diversas atividades
culturais e utilidades funcionais. É preciso entender que revitalização significa dar vida para a
área onde se vai intervir, sendo assim, há que se fomentar uma dinâmica para as vinte e quatro
horas do dia. Pensando desta forma funcional e cultural, o espaço terá a circulação de pessoas
e inibirá mais a violência e tornar-se-á pouco perigoso e mais atrativo.
Tupaciguara é uma das cidades de pequeno porte que tem a intensão de revitalizar sua
área central, que se localiza na parte antiga do município. A passagem pelo segundo capítulo
abordou as revitalizações urbanas enfocando a importância do aspecto cultural nos projetos de
revitalizações. O caminho que faremos no terceiro capítulo é o da organização do espaço
urbano na visão cultural. Analisamos o Plano Diretor do município de Tupaciguara ,
especificamente da área cultural e fizemos propostas de Diretrizes Culturais para o futuro
Plano Diretor de Tupaciguara.
3 TUPACIGUARA: ORGANIZAÇÃO DO
ESPAÇO URBANO NA VISÃO CULTURAL
3 - TUPACIGUARA: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO NA VISÃO
CULTURAL
Este objetivo de qualidade de vida será alcançado quando a cidade conseguir a
atender não apenas às necessidades objetivas dos cidadãos, mas passar a atender
também às suas necessidades subjetivas. Por exemplo, quando oferecer a cada
cidadão moradia, trabalho e lazer próximos um do outro. (PLANO DIRETOR DE
UBERLÂNDIA-MG, 1991)
São os Planos Diretores que nos orientam como trabalhar para conquistar a qualidade
de vida urbana. É neste documento que constam todas as necessidades e todas as melhorias
possíveis para se ter uma cidade desenvolvida em todos os sentidos: cultural, econômico e
social. O Plano Diretor é a garantia de desenvolvimento humano e físico e, também, a garantia
de uma cidade acessível para todos.
xcvi
3.1 – Tupaciguara e seu Plano Diretor
A cidade de Tupaciguara possui um Plano Diretor elaborado pela Fundação João
Pinheiro, no ano de 1992 (mais precisamente, de jun/set 1992). O documento está dividido em
duas partes, sendo que a primeira trata do corpo da referida legislação e a segunda, de análises
e detalhamentos dos setores econômico, social e área física.
Antes de apresentar o Plano Diretor do município de Tupaciguara, consideramos
importante trazer ao leitor o significado do Estatuto da Cidade, o qual legitima a
obrigatoriedade do Plano Diretor nas cidades de pequeno porte com uma população acima de
20.000. Depois, entraremos no texto que trará um esclarecimento sobre o que seja Plano
Diretor, e em seguida, mostraremos o Plano Diretor da cidade em estudo.
O Estatuto da Cidade é o regulamento dos artigos 182 e 183, que estão incluídos na
Constituição, que trata da política urbana, enfocando a função social da cidade e da
propriedade no desenvolvimento. Para saber mais, ler Estatuto da Cidade: guia para
implementação pelos municípios e cidadãos: Lei n. 10.257, de 10 de julho 2001, que
estabelece diretrizes gerais da política urbana. Reforçando o que foi dito,
...a Constituição incluiu em capítulo específico para a política urbana, que previa
uma série de instrumentos para a garantia, no âmbito de cada município, do direito
à cidade, da defesa e da função social da cidade e da propriedade e da
democratização da gestão urbana (artigos 182 e 183).
No entanto, o texto constitucional requeria a legislação específica de abrangência
nacional: para que os princípios e instrumentos enunciados na Constituição
pudessem ser implementados, era necessária, por um lado uma legislação
complementar de regulamentação dos instrumentos; por outro, a constituição
obrigatória de Planos Diretores que incorporassem os princípios constitucionais em
municípios com mais de 20.000 habitantes. (ESTATUTO DA CIDADE, 2002, p.
21).
O Estatuto da cidade aposta em uma política urbana local, por isso, o Plano Diretor
deixa de ser um plano para a cidade ideal e passa a ser um plano voltado para a cidade que
pretendemos:
...o Estatuto funciona como uma espécie de “caixa de ferramentas” para uma
política urbana local. É a definição da “cidade que queremos”, nos Planos Diretores
de cada um dos municípios, que determinará a mobilização (ou não) dos
instrumentos e sua forma de aplicação... (ESTATUTO DA CIDADE, 2002, p. 21-
22).
A exigência e a obrigatoriedade de confeccionar um Plano diretor nas cidades
pequenas, com mais de 20.000 habitantes, implementou-se com a Constituição de 1988,
A Constituição de 1988 define como obrigatórios os Planos Diretores para cidades
com população acima de 20.000 habitantes. O Estatuto da Cidade reafirma essa
diretriz, estabelecendo o Plano Direto como o instrumento básico da política de
desenvolvimento e expansão urbana... (ESTATUTO DA CIDADE, 2002, p. 38).
Estabelece, ainda, os princípios constitucionais que orientarão as funções sociais da
cidade, enfatizando, também, e chamando atenção para a cultura e o lazer, sendo estas
apontadas como funções essenciais para atender às necessidades dos cidadãos e,
principalmente, dos cidadãos que não têm acesso a alguns equipamentos, por serem excluídos.
É certo que as duas funções são imprescindíveis nos planos governamentais para então
proporcionar qualidade de vida. Prosseguindo esta afirmação,
As funções sociais da cidade estarão sendo desenvolvidas de forma plena quando
houver redução das desigualdades sociais, promoção da justiça social e melhoria da
qualidade de vida urbana. Esse preceito constitucional serve como referência para
impedir medidas e ações dos agentes públicos e privados que gerem situações de
segregação e exclusão de grupos e comunidades carentes. Enquanto essa população
não tiver acesso à moradia, transporte público, saneamento, cultura, lazer,
segurança, educação, saúde, não haverá como postular a defesa de que a cidade
esteja atendendo à sua função social. (ESTATUTO DA CIDADE, 2002, p. 45).
Dando ênfase para a questão da desigualdade social, a prática da cultura pode
contribuir para que os excluídos participem da cidade, por isso, ela deve ser incorporada como
função social, o que é confirmado pelo (ESTATUTO DA CIDADE, 2002, p. 45-46).
A incorporação da função social das cidades como preceito que deve balizar a
política de desenvolvimento urbano, à luz do desenvolvimento sustentável, aponta
para a possibilidade de superarmos o marco da crítica e da denúncia do quadro de
desigualdade social, e passarmos para a construção de uma nova ética urbana, em
que os valores ambientais e culturais se sobreponham no estabelecimento de novas
cláusulas dos contratos sociais originários de novos paradigmas de gestão pública,
mediante práticas de cidadania que reconheçam e incorporem os setores da
sociedade excluídos de seus direitos e necessidades básicas.
Imprimindo requisitos para a aplicabilidade das funções sociais, o Estatuto da Cidade
apresenta instrumentos do §4º, artigo 182, que são facultados ao poder público municipal,
definidos e incorporados em seu Plano Diretor. Trata-se da utilização de edificações também
para fins culturais, de lazer dentre outros (no texto, fala-se da região central, mas não
necessariamente que tenha que ser e estar no centro da cidade), a citação do texto a seguir se
refere a essa utilização,
Vamos supor outro exemplo, no qual uma área urbana situada na região do centro
de uma cidade tenha uma grande concentração de imóveis destinados para
xcvi
ii
estacionamentos, prédios armazéns e galpões fechados ou abandonados e, por outro
lado, exista uma demanda para usar esta área para habitação social destinada a
população moradora de cortiços e de rua, bem como uma demanda cultural para
destinar parte desses imóveis em centro e espaços culturais. Em razão da
comprovação desta demanda social e cultural, o Plano Diretor poderá delimitar esta
área urbana como subutilizada, em razão de concentrar prédios, galpões e armazéns
fechados, e destiná-la primordialmente para fins de habitação de interesse social.
A demanda social e cultural para a utilização de áreas urbanas deve ser incorporada
no Plano Diretor, especialmente como critério para considerar se um imóvel urbano
se caracteriza como um imóvel subutilizado, de modo que as áreas onde exista uma
concentração de imóveis nesta situação sejam delimitadas no Plano Diretor para
fins de aplicação da edificação ou utilização compulsória. (ESTATUTO DA
CIDADE, 2002, p. 53).
É preciso compreender o que vem a ser um Plano Diretor, para tanto, teremos uma
discussão conceitual, porém não é o objetivo deste estudo aprofundar nesse sentido, sendo ele
o ponto inicial para a transformação da imagem das cidades. Autores ajudaram a definir sobre
o Plano Diretor. VILLAÇA e MONTEIRO, assim o conceituam. Para (VILLAÇA, 1999, p.
237):
Seria um plano que, a partir de um diagnóstico científico da realidade, física, social,
econômica, política e administrativa da cidade, do município e de sua região,
apresentaria um conjunto de propostas para o futuro desenvolvimento
socioeconômico e futura organização espacial dos usos do solo urbano, das redes
de infra-estrutura e de elementos fundamentais da estrutura urbana, para a cidade e
para o município, propostas estas definidas para curto, médio e longo prazos, e
aprovadas por lei municipal.
Além de ter que suprir a necessidade local, para garantir uma vida digna aos seus
cidadãos, o Plano Diretor, segundo (MONTEIRO, 1990, p. 13), é destacado assim,
..., o plano diretor deve ser visto como um instrumento que, ao indicar caminhos e
trocar rumos, coloca o desafio do município atuar não apenas como um simples
ordenador espacial das atividades, mas alargando horizontes, também como
catalisador espacial das ações de âmbito regional ou nacional, que tenham
repercussões significativas sobre o seu território e sua gente...
MONTEIRO (1990, p. 23) ressalta ainda que:
O plano diretor é um plano de desenvolvimento. Como tal, o seu conteúdo é
abrangente. Ele deve abordar todas as dimensões necessárias ao conhecimento do
processo desenvolvimentista; suas causas e conseqüências, bem como as
possibilidades de intervenção nesse processo, com vistas à melhoria das condições
de vida da população. Todas as dimensões do desenvolvimento político, social,
econômico, espacial, administrativo e financeiro devem ser contempladas. A ênfase
deverá estar na compreensão das inter-relações entre cada uma dessas dimensões,
tendo em vista a identificação das possibilidades concretas da intervenção do Poder
Público municipal.
Definição do plano diretor segundo Estatuto da Cidade:
O Plano Diretor pode ser definido como um conjunto de princípios e regras
orientadoras da ação dos agentes que constroem e utilizam o espaço urbano. O
Plano Diretor parte de uma leitura da cidade real, envolvendo temas e questões
relativos aos espaços urbano, sociais, econômicos e ambientais, que embasa a
formulação de hipóteses realistas sobre as opções de desenvolvimento e modelos de
territorialização. O objetivo do Plano Diretor não é resolver todos os problemas da
cidade, mas sim ser um instrumento para a definição de uma estratégia para a
intervenção imediata, estabelecendo poucos e claros princípios da ação para o
conjunto dos agentes envolvidos na construção da cidade, servindo também de base
para a gestão pactuada da cidade. Desta forma, é definida uma concepção de
intervenção no território que se afasta da ficção tecnocrática dos velhos Planos
Diretores de Desenvolvimento Integrado, que tudo prometiam (e nenhum
instrumento possuíam para induzir a implementação do modelo idealizado
proposto!). (ESTATUTO DA CIDADE, 2002, p. 40).
Portanto, compreende-se que o Plano Diretor pode ser uma ferramenta a qual orienta a
melhor maneira de se ordenar uma cidade, assegurando a ela melhorias para a sua população.
Nesse entendimento, o Plano Diretor, é sem dúvida, um documento, que, elaborado após um
profundo estudo e uma avaliação da realidade do município a qual se queira implantá-lo, com
a finalidade de atender seus cidadãos, mesmo porque o Plano Diretor tem por dever reger a
qualidade de vida das pessoas. Para facilitar o trabalho e a leitura da cidade, é necessário que
o plano esteja dividido em realidades locais, setoriais ou regionais para melhor se analisar e,
então, por em prática sua estratégia e/ ação.
O (ESTATUTO DA CIDADE, 2002, p. 47) enfatiza essa especificidade,
Cabe aos Municípios aplicar as diretrizes gerais, de acordo com as suas
especificidades e realidade local, devendo para tanto constituir uma ordem legal
urbana própria e específica tendo como instrumentos fundamentais a Lei Orgânica
Municipal e o Plano Diretor.
Lembrando ainda que
O Plano Diretor deverá explicitar de forma clara que o objetivo da política urbana.
Deve partir de um amplo processo de leitura da realidade local, envolvendo os mais
variados setores da sociedade. A partir disso, vai estabelecer o destino específico
que se quer dar às diferentes regiões do município, embasando os objetivos e as
estratégias... (ESTATUTO DA CIDADE, 2002, p. 41).
Falando da especificidade, (MOREIRA, 1999, p. 251) também acrescenta que “... os
planos diretores municipais variam em função da especialização funcional das cidades, porque
varia a intensidade do conflito entre atividades humanas de cidades com diferentes
especializações.”
Nota-se que um estudo regional, setorial ou local tem as suas vantagens, porque, só
assim, detectar-se-ão os necessidades e, logo, será mais fácil propor as diretrizes a serem
seguidas. Mas, se não esse contato específico com a cidade, então, fica complicado propor
c
alguma ação. Tem-se que, inicialmente, observar e fazer esse um levantamento criterioso,
para, depois, estudar a cidade por setores e, por fim, propor algo.
Se o pensamento é estudar as realidades, locais, setoriais e regionais, nesse caso, deve
haver uma equipe profundamente envolvida com o município, a fim de detectar quais são suas
potencialidades e suas necessidades para, assim, propor melhorias. O que não é o caso de
algumas empresas que realizam Planos Diretores, que estão, constantemente, insistindo em
erros, ao propor, quase freqüentemente, diretrizes iguais para as cidades diferentes.
Não se propõem as mesmas diretrizes para todos os municípios; pressupõe-se que as
dinâmicas culturais, econômicas e sociais de uma cidade demandam um estudo particular
sobre ela. Cabe à sociedade organizada fazer uma avaliação de como estão sendo elaborados
alguns Planos Diretores em diversos municípios brasileiros, por empresas de Consultoria, pois
uma das exigências que o Estatuto da Cidade faz é que o processo de discussão e elaboração
seja participativo. Além disso, outra exigência se faz: deve haver a participação de técnicos
das administrações públicas municipais envolvidas em todas as etapas de elaboração do Plano
Diretor.
Algumas empresas que elaboram de Planos Diretores prestam seus serviços sem ao
menos conhecer a realidade do município. Traçam diagnósticos superficiais e generalistas,
tornando-se quase impossível “construir” um bom Plano Diretor para atender às necessidades
básicas para um desenvolvimento sustentável do município. A atuação dessas empresas pode
ser observada, em sua maioria, nas cidades pequenas; primeiro, porque uma carência de
profissionais (técnicos) capacitados para a elaboração de Plano Diretores nessas cidades,
segundo, porque o Estatuto da Cidade estabeleceu a obrigatoriedade de um Plano Diretor para
municípios acima de 20.000 habitantes num prazo curto de cinco anos a partir de 2001.
Na perspectiva de que haja para todos o direito à cidade, um Plano Diretor deve ser um
documento elaborado, com base em um diagnóstico e em uma análise apurada da realidade
local, objetivando o desenvolvimento sustentável da cidade, enfocando a melhoria da
qualidade de vida para todos os cidadãos que nela vivem, sendo necessário, dessa maneira,
que a questão cultural tenha relevância nas proposições apresentadas.
3.1.1 – O Plano Diretor de Tupaciguara - 1992
O Plano Diretor está estruturado em dois momentos. Volume I - Lei de uso e
Ocupação do solo, que contém dois cadernos; primeiro, Lei de Loteamento e Parcelamento e o
segundo, Código de obra e Código de Posturas. Volume II – Diagnóstico.
O primeiro volume, que trata do Código de Posturas, traz o título: I Disposições
Preliminares, que diz em seu art. - Esta lei define as posturas municipais relativas ao poder
de política local, bem como as respectivas, infrações. Apresenta, no parágrafo único, o item II
- Bem-estar público, declarando o seguinte:
II bem-estar público é o resultante da aplicação do conjunto de preceitos e regras
que tratam das relações da comunidade local quanto à segurança, comodidade,
costume e lazer e todas as demais atividades que estiverem, intrínseca e
extrinsecamente, ligadas à matéria. (PLANO DIRETOR, 1992, p. 02)
Se no código de postura uma preocupação com o bem-estar do cidadão, falta
acrescentar as Práticas Culturais Populares. Como não foi denominado, acredita-se que esteja
dentro do então tulo Costume. Mas o que deve ser lembrado, no plano, é que, para o ser
humano ter qualidade de vida, é necessário também enfocar as suas Manifestações Culturais,
portanto, deve conter, dentro do item bem-estar público do parágrafo único, as Práticas
Culturais Populares do município.
O segundo capítulo do referido Código de Posturas imprime os divertimentos
públicos, “Art. 70 – Serão considerados divertimentos e festejos públicos os que se realizarem
nas vias e logradouros públicos ou em recintos fechados de livre acesso ao público”. (PLANO
DIRETOR, 1992, p. 22). Visto que as Práticas Culturais identificadas no estudo são realizadas
nesses espaços, elas, automaticamente, devem ser inseridas no art. 70 desta legislação.
O segundo volume do Plano Diretor traz o diagnóstico intitulado de: Análises e
detalhamentos dos setores econômico/social e área física. O documento trata de forma única,
abordando, de maneira geral a cultura, o esporte e o lazer como problemas básicos e
prioritários. No que diz respeito à cultura, o diagnóstico demonstra que falta programas,
órgãos e funcionários que respondam por essa área da cultura.
cii
Após o diagnóstico, o documento propõe ações de reestruturação do setor de educação
como também de implementação dos setores: de cultura, esporte e lazer, definindo papéis e
responsabilidades, ampliando e treinando equipes de trabalho; desenvolvimento de programas
culturais e esportivos, mais voltados para o lazer da população, entre outros. (PLANO
DIRETOR, 1992, p. 08)
Que programas culturais são esses que não dizem a que se referem? Será que estão
considerando as Práticas Culturais Populares tão vivenciadas pela população local e de
tamanha significação para esta?
Ao longo da leitura do Plano Diretor, coube registrar a metodologia utilizada para a
cultura. “No que diz respeito aos grupos e associações culturais, foram entrevistados os
responsáveis pelo Congado e pela Associação dos Artesãos de Tupaciguara”. (PLANO
DIRETOR, 1992, p. 119). Mas é sabido que, no município, outras Práticas Culturais
Populares, não enfocadas no plano, fazendo uma ressalva ao Congado, que o está sendo
praticado em Tupaciguara desde o ano de 1979, cuja última apresentação, como está
salientado no I capítulo, foi no ano de 1978.
Ainda no diagnóstico do Plano, uma atenção para a Fundação Cultural de
Tupaciguara, que administra o patrimônio material, Museu Histórico “Chico Ribeiro” e a
Casa da Cultura “Tias Polveiras”.
Uma entidade que merece particular atenção, é a Fundação Cultural de
Tupaciguara, criada pela Lei Municipal n
o
11.691/88 a 8 de dezembro de 1988.
Funcionando desde setembro de 1987, esta fundação é responsável pela
administração da Casa da Cultura das “Tias Polveiras” e o Museu Histórico “Chico
Ribeiro”, que estão instalados em um prédio, localizado na Praça do Rosário n
o
12,
bairro Bom Sucesso. (PLANO DIRETOR, 1992, p. 125).
O diagnóstico contempla, também, uma atenção para o museu: “Primeiro, é necessário
enfatizar a importância desse Museu Histórico, ao preservar bens culturais significativos para
a história municipal”. (PLANO DIRETOR, 1992, p. 126).
Ressalta inclusive, a biblioteca comunitária como: “Outra entidade cultural importante
a nível local é a Biblioteca Comunitária da Escola Braulino Mamede criada em 1978 e única a
prestar serviços a toda a comunidade”. (PLANO DIRETOR, 1992, 128).
Seguindo, traz, para seu diagnóstico, as Manifestações Culturais Populares cujo título
é “Grupos e associações culturais”, referindo que: “De acordo com levantamento realizado, a
cidade não possui grupos culturais significativos, atuando em nível profissional, nas áreas de
teatro, artes plásticas, música, etc”. (PLANO DIRETOR, 1992, p. 129).
Expõe como Práticas Culturais, que chamam de folclóricos, a Folia de Reis, o
Congado e os cantores de moda de viola. Mas não cita a rádio, que, além de ser antiga, é o
local onde esses violeiros se apresentam. “Além da tradição os “violeiros” bastante difundida
no meio rural, Tupaciguara conta com alguns grupos folclóricos de Folia de Reis e com um
grupo de Congada, que alguns anos vem se reestruturando”. (PLANO DIRETOR, 1992, p.
129).
Menciona, como organização cultural, a Associação dos Artesãos: “A nível das
organizações culturais, é necessário mencionar também a criação no município de uma
Associação dos Artesãos, que tem como um de seus projetos implantar na cidade, locais de
difusão do artesanato local (loja e centros de exposição)”. (PLANO DIRETOR, 1992, p. 130).
Abre um espaço para apresentar os principais eventos municipais e faz uma
observação sobre a feira de artesanato, FEMUART.
Além dos eventos religiosos tradicionais e de festas agro-pecuárias, o principal
acontecimento anual da cidade é a feira de artesanato instituída por Lei Municipal
em agosto de 1983. A organização desta atividade, que ocorre no início do mês de
setembro, na Praça João de Barros Ferreira, fica a cargo da Unidade de Apoio do
SENAC. Participam da feira, expositores locais, que fornecem uma amostra variada
de artesanato local (predominantemente de crochet, tricot, bonecas de pano e
artigos de tear), além de artesãos convidados de outros estados e cidades vizinhas.
(PLANO DIRETOR, 1992, p. 131).
Tornou-se necessário, após o diagnóstico, fazer uma síntese dos principais problemas
encontrados no que tange à cultura. São apontados como problema central: “área com baixa
prioridade política, ausência de recursos e empenhos no setor da Fundação Cultural de
Tupaciguara”. (PLANO DIRETOR, 1992, p. 138-139).
Faltam: projetos culturais que atendam aos interesses da comunidade; espaços adequados
para atividades culturais (auditórios, teatros, etc); recursos humanos para o gerenciamento
do Museu e da Casa da Cultura.
civ
Fazendo uma ressalva sobre esses espaços acima, as Manifestações Culturais
Populares citadas pelo Plano Diretor foram: a Folia de Reis e o Congado, práticas que não
precisam, necessariamente, de um teatro ou de auditórios, pois se apresentam em espaços
públicos, na rua. os violeiros têm seu próprio auditório, mas deteriorado, é necessária,
urgentemente, uma intervenção neste espaço.
3.1.2 – Situação atual: análise da implantação Plano Diretor
Passaram-se treze anos, visto que o Plano Diretor foi elaborado no ano de 1992 e
estamos no ano de 2005, e ainda não houve a implantação deste Plano. Portanto, é preciso
reconhecer que, em se tratando da área cultural, essa continua na expectativa da implantação;
os cidadãos praticantes da cultura imaterial continuam esperando por um programa que
priorize e que melhor atenda aos aspectos culturais da cidade. Mesmo sem implantar, essas
pessoas permanecem expressando-se e colocando em prática suas Manifestações Culturais
Populares, tanto no auditório da rádio, como também nas ruas e nas praças de Tupaciguara,
levando alegria, festa e fé para seus cidadãos.
O fato é que, após a leitura do Plano Diretor - 1992, identificou-se que, em se tratando
do conteúdo e especificamente da área cultural, não se inseriram todas as Práticas Culturais
Populares Local existentes no município. Como salientamos antes, essas são de importância
expressiva tanto para os praticantes como para a população e os visitantes. Os itens
observados no Plano referem-se somente à Folia de Reis, feira de artesanato (FEMUART) e o
Congado, que foram diagnosticados. Falou-se dos violeiros, mas que violeiros são esses? Eles
tocam e cantam na primeira rádio e a mais antiga da cidade, tendo uma boa audiência no meio
rural e urbano. O Congado foi citado, mas sua última aparição foi no ano de 1978 (segundo a
senhora Jacira, a caixeira do grupo de Congado de Canápolis-MG), são 25 anos sem essa
manifestação. A feira de artesanato foi brevemente lembrada apenas como um dos principais
eventos da cidade sem mais detalhes, leva-nos a entender que é um diagnóstico falho.
Importa enfatizar que não foram diagnosticadas as outras Práticas Culturais Populares
existentes em Tupaciguara, como vimos: a Catira, bastante antiga, que se apresenta em
vários eventos do município e em cidades vizinhas também; o Carnaval, que faz sucesso na
região e fora e a Rádio acima citado o que é preocupante. A Capoeira, que é bem difundida,
inclusive em outras cidades e estados, começou no ano de 1998 e não poderia ser
contemplada no Plano Diretor de Tupaciguara, pois este tinha sido feito, cuidado que
deve ser reparado no Plano Diretor futuro.
Se essas práticas são tão importantes para os tupaciguarenses, visto que são por eles
praticadas e existem vários anos com muita persistência e força de vontade, fica então uma
pergunta: Por que não foram identificadas e inseridas no corpo do Plano Diretor de
Tupaciguara?
No que tange à cultura, percebe-se que ainda muito que se fazer, importa,
urgentemente, focar melhor os olhares e direcioná-los com mais atenção para as
Manifestações Culturais Populares Local, presentes na cidade e praticadas durante todo ano. É
necessário que não se fechem os olhos ao fato de que, cada vez mais, essas riquezas imateriais
são de suma importância e, portanto, que não venham a acabar e nem a cair no esquecimento
de todos, ao contrário, devem ser incentivadas. Essas reflexões sobre as Práticas Culturais
Populares, as não diagnosticadas e as diagnosticadas, devem ser respeitadas e contempladas
no Plano Diretor, levando em consideração que são realidade do município e fazem parte da
vida cotidiana de seus cidadãos.
Acredita-se que os governantes ainda venham a enxergar a grande necessidade de dar
continuidade a essas práticas, incentivando e apoiando os grupos, visto que são a identidade, a
história da cidade e do povo que ali vive. Acrescenta-se, ainda, que se constrói e se promove
qualidade de vida, a partir do instante em que as pessoas voltam-se, também, para o
reconhecimento da importância e da valorização do aspecto cultural.
É necessário que haja uma política que busque a priorização dessas manifestações. E,
se estas ainda persistem diante da modernidade, é porque os grupos trouxeram-nas consigo ao
longo de suas gerações e precisam delas em seu cotidiano. O que é moderno deve ser
assimilado, sem necessariamente implicar o esquecimento e a total negação do antigo, do
passado.
A política adotada deve atuar na busca do alcance da qualidade de vida para a
população, preocupação que vem sendo abordada o tempo todo no Plano Diretor. Portanto,
para almejar a qualidade de vida, é importante que esta esteja também focada e centralizada
cvi
nas culturas imateriais, priorizando sua continuidade. Ou seja, precisa-se de um Plano Diretor
que tenha uma política voltada a atuar e garantir qualidade de vida, dando um direcionamento
para o trabalho e o fomento de toda a raiz cultural e identidárias da cidade. É possível
promover o desenvolvimento econômico e cultural da cidade por intermédio da cultura.
3.1.3 – Diretrizes do conteúdo cultural
No Plano Diretor de 1992, foram apontados os conteúdos culturais existentes em
Tupaciguara, para os quais foram elaboradas as diretrizes que foram fundamentadas com base
em uma síntese do diagnóstico.
No que toca a cultura, observa-se a baixa prioridade política dada a esta área. No
setor da Prefeitura denominado de educação e cultura, inexiste qualquer esboço de
política cultural. As poucas entidades e grupos culturais existentes, não encontram
apoio e incentivo junto a administração municipal. (PLANO DIRETOR, 1992, p.
140).
As recomendações: (PLANO DIRETOR, 1992, p. 141-142).
a) reestruturação da Fundação Cultural de Tupaciguara mediante a contratação de
técnicos especializados, revitalizar o Museu Histórico “Chico Ribeiro” e a Casa das
“Tias Polveiras”, por meio de projetos culturais específicos; criar um arquivo histórico
municipal, que, junto com o Museu, se integre ao sistema de preservação da memória
do Município.
b) proteção do patrimônio cultural do Município, por meio da regulamentação,
manutenção e fiscalização de seus bens;
c) apoio e implementação de projetos culturais que incentivem o estudo da história
municipal;
d) destinação de recursos para publicar obras de valor histórico, literário e cultural;
e) apoio à Biblioteca Comunitária da Escola Estadual Braulino Mamede, destinando
funcionários especializados e verbas satisfatórias para o funcionamento,
f) incentivo para os grupos “folclóricos” municipais, cadastrando-os e destinando
subvenções para suas atividades;
g) elaboração de um calendário de atividades culturais para o Município e designar
responsáveis por sua realização.
Primeiramente, foi dada uma atenção especial ao Plano Diretor de Tupaciguara
elaborado no ano de 1992. Nesse sentido, buscamos fazer uma análise do conteúdo cultural do
Plano, para tanto trouxemos a análise do conteúdo cultural traçado por este. Esse momento de
análise foi necessário para elaborar novas propostas de diretrizes culturais que para comporem
o futuro Plano Diretor de Tupaciguara.
3.2 – Proposta de Diretrizes Culturais para Tupaciguara
Constatado que o município de Tupaciguara é palco de algumas e importantes
Manifestações Culturais Populares de âmbito tanto nacional, regional e local, é nosso
interesse e objetivo que o Plano Diretor da cidade em estudo inclua os aspectos culturais
como instrumento necessário e essencial para a vida cotidiana de seus cidadãos e para também
a dinâmica da cidade. Oferecendo a esses cidadãos melhoria da qualidade de vida por meio
dos aspectos culturais que ali persistem e se encontram enraizados, sendo praticado, e
repassados de gerações para gerações.
Por intermédio de entrevistas tanto com pessoas envolvidas com as Manifestações
Culturais Populares do município quanto como outras envolvidas indiretamente, constatamos
a importância dessa herança cultural na vida desses cidadãos. Por esta razão, não é possível
preocupar-se apenas com a estética da cidade e esquecer o “passado”, como as Práticas
Culturais Populares e os sujeitos construtores da história imaterial.
A utilização das entrevistas foi necessária para identificar quais são as Manifestações
Culturais Populares Local, que vêm sendo praticadas na cidade ainda no ano de 2005.
Fazendo tais manifestações parte da rotina de muitos tupaciguarenses, cabe-nos, pensando na
qualidade de vida destes e na preservação desta raiz cultural, redigir diretrizes para o novo
Plano Diretor, que deverá ser atualizado até o ano de 2006, prazo estabelecido pelo Estatuto
da Cidade visto anteriormente. Enfocando conteúdos na área da cultura imaterial, que venham
a contribuir efetivamente no incentivo e na auto-estima dos cidadãos (construtores de uma
história, ou seja, da identidade do município), garantindo a preservação e o reconhecimento da
identidade cultural local. Portanto, é necessário que a cultura imaterial seja revista e
revitalizada, tendo como referência a realidade local.
cviii
Diretrizes:
I Criação de um projeto voltado para escolas da rede municipal, que estabeleça, em sua
grade curricular, a inclusão de atividades e estudos abrangendo as Práticas Culturais Populares
Local para reforçar a presença da identidade imaterial cultural na cidade;
II Incentivo a atividades culturais na Casa da Cultura Tias Polveiras / Museu Histórico e
Arqueológico Chico Ribeiro, enfocando o rico patrimônio imaterial e material do município;
III Criação de uma casa ou loja de artesanato na Rua Coronel Joaquim Mendes, cujo espaço
no fundo também poderá ser de produção, dando continuidade à confecção do artesanato
local, para a culinária, o que, ao mesmo tempo, poderá atrair turistas;
IV – Estimulo ao ensino do artesanato, dessa maneira, garantindo a valorização do artesanato
local;
V – Elaboração de um calendário permanente, englobando as festas e tradições culturais local;
VI Revitalização da rua Coronel Joaquim Mendes, antiga Rua do “Vai e Vem”, com
finalidade de resgatar a movimentação, o encontro e a dinâmica mediante atividades culturais
e serviços, como bares, lojas, galerias etc., oferecendo à população local e aos turistas
oportunidades e momentos de lazer;
VII – Criação de galerias de arte, oficinas de músicas, boite, cafés, restaurantes teatro, sede da
FEMUART, sede para encontros e ensaios das Práticas Culturais Populares, ou seja, de
espaços para o lazer;
VIII Revitalização da Rádio Tupaciguara do início do século XX, a qual, faz parte da rua
Coronel Joaquim Mendes por ter sido, também, prédio do famoso Cine Helena, e que,
vários anos, persiste com a prática de violeiros locais, regionais e até de outros estados. Esta
prática é herança cultural e motivo de lazer para todos que ali se encontram aos domingos, no
entanto deve ser incentivada e preservada;
IX Aplicação de ações de resgate do patrimônio cultural imaterial para ser suporte na
inserção do mercado turístico em Tupaciguara;
X Planejamento de uma inter-relação entre cultura imaterial e meio ambiente para o
fomento de atividades de atração turística urbana e rural;
XI Consolidação, resgate e recuperação de valores históricos do município, criando redes de
parcerias com instituições privadas e públicas de Tupaciguara;
XII Projetos e campanhas para promover o turismo cultural e a preservação do patrimônio
imaterial, ação a longo prazo.
3.2.1 – Revitalização das práticas culturais populares do município
Dando seqüência, seduzidos pelo atual passado cultural do município de Tupaciguara,
e preocupados com o possível desaparecimento dessas festas e costumes populares, coube-nos
a incumbência de, primeiro, traçar diretrizes para garantir a continuidade de tais práticas
imateriais.
Em um segundo momento, falaremos da revitalização de cada uma dessas Práticas
Culturais Populares identificadas, mas, antes, sentimos a necessidade de responder a uma
questão que pode ficar em aberto. Como se preserva uma tradição, ou como preservar um
patrimônio imaterial? Primeiramente, deve-se registrar, seja por meio de depoimentos, fotos,
vídeo, depois, apoiando, incentivando e valorizando tais práticas. Ações desta natureza é que
nos permitem levar ao conhecimento das pessoas quais são as Manifestações Culturais
Populares Local existem na cidade e por que é tão importante sua preservação.
Voltando à revitalização imaterial, certamente que a maneira de agir é completamente
diferente quando se trata de uma área urbana. Para revitalizar as Práticas Culturais Populares,
é necessária a reorganização dos grupos populares, dando vida a estes, fomentando,
incentivando e estimulando a continuidade das identidades culturais. Apresentaremos abaixo
possíveis sugestões, buscando demonstrar como se revitalizam as Manifestações Culturais
Populares, pois não há uma regra.
cx
O grupo do Congado está tentando reerguer-se e reativar-se mas vimos que ainda não
houve a sua primeira apresentação, quando estava marcada para o mês de maio/2004,
portanto, o grupo, mesmo com muita força de vontade, não está conseguindo ir para a rua.
Uma parceria entre o grupo e as instituições públicas (Prefeitura Municipal local) e privadas
(os comerciantes) seria o ideal para motivar e acender essa chama ainda apagada. A
revitalização do Congado é o incentivo, porque o grupo espera apoio no calendário da cidade,
da mídia e das parcerias para entrar em cena e transformar a cidade em um grande espetáculo
popular (o Congado é um espetáculo religioso), e também em um espaço de encontro entre
todos os cidadãos e os grupos de congados da região.
Sabemos que a Folia de Reis sai o ano todo na cidade, dependendo do voto, e a grande
maioria da população tem conhecimento disto, não tem a oportunidade de participar. Seria
interessante a união entre parcerias do setor público (Prefeitura Municipal de Tupaciguara),
privado e praticantes, que essa manifestação é conhecida, e que os parceiros trabalhassem
no sentido de anunciar e convidar a população local para participar da chegada da folia no
município e também para a festa do último dia, pois, como é de praxe, no último dia, essa
manifestação é recebida na casa do festeiro com muita festa e alegria. Esta ação ajudaria a
valorizar a prática, seria a oportunidade para que outras pessoas participassem e conhecessem
como é uma Folia de Reis.
A revitalização do Carnaval ocorreria mediante parcerias com os lojistas, com os
restaurantes, pois a Prefeitura é parceira, para que os blocos criados permanecessem
ativos e atraindo foliões, como para a escola de samba, porque a escola precisa de verbas para
se apresentar. Aproveitando que a cidade recebe vários turistas nessa época, seria necessário
um investimento maior no que se trata das bandas, trazer para a festa bandas conhecidas e que
estivesse consolidada no mercado musical, para que o Carnaval de rua de Tupaciguara
ganhasse mais repercussão na região, pois não seria recomendado trazer banda desconhecida.
Faz parte do cotidiano de alguns cidadãos da cidade o grupo de Catira, que, mesmo
ainda tímido, vem se apresentando quando convidado. É uma prática pouco conhecida, porém,
muito dinâmica. Antigamente, era praticada apenas por homens, hoje, a maior parte do grupo
é representado por mulheres. É essencial que promovam a Catira, incentivando-a e criando
dias de encontro para grupos catireiros da região, ou seja, organizar festival de Catira. Agindo
assim, o papel da revitalização seria fundamental para que o grupo e sua prática dançada e
tocada fossem reconhecidos e, então, valorizados. Como se sabe, o homem valoriza aquilo
que conhece, por isso, é indispensável a difusão por meio de festivais.
A cultura da Capoeira no município ainda é recente, mas está indo a todo vapor,
conquistando seu espaço, não nos esquecendo de que o grupo vem fazendo um trabalho
voltado para sua aceitação frente à população local. Foi criada a associação AACC, que vem
realizando ações voltadas para a divulgação e projetos futuros para mostrar como é sua
cultura, dança, ritual e origem. Como se vê, não está difícil a revitalização dessa prática. Sem
dúvida, o apoio e o estímulo para que ações como estas já planejadas são importantes para que
venham a se tornar realidade. Organizar encontro anual na cidade de capoeiristas e criar
oportunidade para que tenham a chance de se apresentar em outros lugares seria um bom
início.
A comunidade local espera todos os anos a semana da FEMUART, quando acontecem
várias apresentações, inclusive, dos grupos populares da cidade. Para que a feira continue, é
necessário que se criem mediante (ONGs.) incentivos nas linhas financeiras e mídias, como:
Rádio, televisão, investimento permanente e, principalmente, que haja parcerias privadas
dispostas a incentivá-la.
Em seguida, discorreremos sobre a revitalização da prática dos violeiros juntamente
com a revitalização do edifício, porque se encontram localizados na rua Coronel Joaquim
Mendes entre a rua Bueno Brandão e a rua Manoel Hipólito Machado, pertencente ao
triângulo de revitalização da cidade.
Inicialmente, é importante o tombamento do prédio para garantir que este não venha a
ser demolido, pois, além de ser a história cultural do município, recebe, todos os domingos,
duplas que cantam modas sertanejas, a Catira, a Folia de Reis, entre outras Práticas Populares,
para se expressarem. Além disso, é preciso restaurar o prédio tal como ele foi construído.
Este, como sabemos, tem elementos da Art déco e se encontra atualmente deteriorado em
estado de abandono. Para tanto, uma parceria com instituições públicas e privadas para a
restauração seria necessária. A priorização se pelo fato de uma Rádio com auditório e que
acolhe uma Prática Cultural Popular Local, realizada no prédio há mais de 50 anos, vem sendo
preservada pelos violeiros, fazendo parte de uma realidade rara e pouco presenciada em todo
cxii
o Brasil, por esta razão, foi feito um documentário para registrar a dinâmica dominical da
Rádio.
É preciso pensar ainda na revitalização da rua Coronel Joaquim Mendes, que,
juntamente com a edificação citada, faz parte da história da cidade, pela dinâmica cultural que
ela comportou por vários anos. Esta, como já foi comentado, tinha o nome de “Vai e Vem”, ao
proporcionar encontros entre as pessoas, era a passarela da cidade, que hoje se tornou mais
uma rua, portanto, urge recriá-la resgatando sua história.
Quando revitalizamos o local em que há uma prática desse porte, estamos preservando
e respeitando a cultural imaterial que ali está instalada muitos anos. Se reorganizamos o
espaço, estamos dizendo aos praticantes que sua atuação é tão importante para a comunidade
local quanto para eles, e, automaticamente, estamos garantindo a permanência da identidade
cultural tupaciguarense, que é tão rica e presente na vida cotidiana da cidade. A revitalização
desse espaço e da Prática Cultural ali instalada e resistente à época, será o começo para que a
população venha valorizar sua cultura. Reforçando que a rádio pode ser utilizada como
instrumento para o turismo cultural local por ser parte da história do município.
A revitalização dessa Prática Cultural imaterial se dá com a divulgação e a fomentação
dessa cultura, criando ações para garantir a preservação e o envolvimento de cada vez mais
pessoas para virem assistir as práticas e participar diretamente desse momento único. Desta
maneira, levantar-se-á a auto-estima dos violeiros, que se sentirão reconhecidos por um
público maior e terão esperança de que sua prática continuará viva.
Em suma, a revitalização da cultura imaterial é diferente da revitalização de
edificações, mas o objetivo permanece o mesmo, a preservação, dando cara nova para esses,
preservando o que existe, fazendo algumas intervenções. Nas edificações, reorganiza-se o
espaço urbano, nas Práticas Culturais, reorganizam-se os grupos populares culturais que
fazem parte desse espaço e que levam alegria, festa e tradição para todos. A revitalização das
culturas imateriais se dá, principalmente, com ações voltadas para o incentivo, apoio e,
essencialmente, com a valorização e preservação destas. Compreendemos que esta seja a idéia
de se revitalizar uma cultura imaterial.
3.2.2 – Manifestação cultural popular local e turismo
Tupaciguara tem algumas das principais festas e Manifestações Populares, sendo que
as consideradas local são: FEMUART, Rádio. As de níveis regional e nacional como: Catira,
Folia de Reis, Congado, Carnaval e Capoeira. Não nos esquecendo de que também, na
cidade, algumas edificações históricas de muita relevância, que, além de serem importantes
para seus moradores, tem seu valor histórico, que poderia muito bem ser explorado
turisticamente. Ser motivo de divulgação, abrir espaço para que as pessoas de outras
localidades possam desfrutar e conhecer a história do município.
É pertinente sustentar a possibilidade de uma proposta de trabalho a partir dessas
Práticas Culturais imateriais e materiais, sendo estas, como salientado, de muita
expressividade. O interesse se dá, também, na tentativa de investir no campo turístico, visto
que, na execução do trabalho de campo, se constatou que a cidade tem um grande potencial
para esse fim. Tupaciguara pode encontrar nessa área uma grande oportunidade de revelar e de
apresentar, não somente para os visitantes, mas principalmente para seus moradores, a sua tão
recente história, mas que tem uma presença histórica cultural forte e marcante como
comentada no primeiro capítulo .
A função do turismo é de atrair visitantes, o que, conseqüentemente, gerará empregos e
lucro para Tupaciguara, e, com isso, despertar interesse dos cidadãos tupaciguarenses para o
que de riqueza cultural popular em sua cidade, até porque pouco conhecem sua história e
tampouco as Práticas Culturais Populares Local ali resistentes, que, insistentemente, existem
ainda nos dias de hoje.
Mesmo ainda tímido, o “Grande Lago”, ou lago da Represa de Furnas, é um ponto
turístico do município, esse quadro pode ser incrementado, pois, é preciso trabalhar para que o
município ofereça mais atrativos turísticos para os visitantes desfrutarem, e o turismo-cultural
pode contribuir para isso. KENT (2002, p. 46) confirma a presença turística do Lago.
A exploração, até o momento, do turismo, principalmente ecológico, no município é
muito tímido, porém a proximidade de centros urbanos de porte (São Paulo, Belo
Horizonte, Goiânia, Uberlândia e Uberaba) somados a existência de razoável malha
viária, junto com uma política objetiva, pode transformar, efetivamente, esses
pontos turísticos, em uma indústria geradora de riqueza e progresso.
cxiv
Visto que Tupaciguara apresenta um grande potencial para o turismo, é relevante citar
um exemplo de uma cidade turística que deu certo, a partir do instante que passou a explorar,
fomentar e apostar também em sua cultura imaterial e material. É o caso de Pirenópolis-GO
uma cidade que tem cerca de 12.000 habitantes e, mesmo assim, investiu no turismo.
CARVALHO (2000, p. 156) comenta que a cidade projetou uma parceria entre a
cultura e a natureza, e é esta parceria que faz com que a cidade receba tantos visitantes de todo
o Brasil.
Em Pirenópolis, a natureza e a cultura fizerem uma parceria. A riqueza do
patrimônio histórico, com seus monumentos e casarões seculares, o folclore, as
tradições, o artesanato, a culinária, junto às cachoeiras, rios, serras e toda a riqueza
da fauna e da flora faz a cidade e a região se destacarem no cenário turístico de
Goiás.
O lazer com pitada da cultura local. A rua do Rosário pode ser conhecida também
como “Rua do Lazer”, com o aumento de turistas a rua do Rosário vem mostrando sua
peculiar vocação para a vida noturna, proporcionando, assim, aos visitantes momentos de pura
diversão e apreciação do que de tradição e costume local. Tal exemplo que poderia dar
certo, em Tupaciguara, na rua Coronel Joaquim Mendes, onde se localiza a Rádio mais antiga,
onde funcionava o cine Helena, o bar Vera Cruz. Chamada pelos seus antigos cidadãos de rua
do Vai e Vem, porque antes da entrada no cine Helena, os rapazes ficavam no passeio
paquerando as moças que ficavam nesse vai e vem “mostrando-se” para eles. Era uma
dinâmica ocorrida na cidade que poderia ser retomada, no sentido de incentivar e mostrar
como era a rua, resgatando essa tradição de ser local de encontro das pessoas. No momento
em que essa prática acabou, morreu também a rua, o comércio está sobrevivendo
precariamente, ou seja, a rua perdeu sua referência e sua identidade. Para resgatá-la não é tão
difícil, pois, em cima do antigo cine Helena a Rádio continua em ativa e apresentando a
prática da moda de viola todos os domingos como já pudemos conferir.
...E era muito concorrido. Tinha um nome sugestivo e muito próprio “Vai e vem”.
Na verdade, as moças, iam e voltavam, em um pequeno trecho da rua Cel. Joaquim
Mendes do no 7 ao 23, em frente ao Cine Teatro Helena.
De fato esse trecho, era compreendido, da Farmácia São Judas Tadeu (do Manoel
Michellin) até a casa do sr. Abdala José da Silva, antes do Bar Vera Cruz, onde
havia um banco de madeira.
Todos os dias com maior afluxo de pessoas nos fins de semana, sexta-feira (dia de
seriado no cinema) Sábado e Domingo, as moças se aprontavam com esmero ou
como se diz hoje “se produziam” ao máximo, usando os vestidos mais atraentes e
na moda, passeavam, em alas de quatro ou cinco, invariavelmente. Os rapazes
sempre de ternos (paletó e gravata) no “istique”, ficavam fora das calçadas
apreciando o movimento, principalmente jogando “o esperte nacional do flerte”...
(KENT, 2002, p. 38).
Veja o exemplo de Pirenópolis.
Com o crescimento do turismo, a rua do Rosário mostrou a sua vocação
para a vida noturna. Esta começou com o Bar Aravinda, de propriedade de Edna
Lúcia Lucena Ribeiro, em 1977 e depois foram surgindo outros bares até que em
1996, foi criada a “Rua do Lazer”, em um pedaço da rua do Rosário. Nas noites de
finais de semana e feriados, o trecho da rua é fechado ao tráfego de veículos.
Colocam-se mesas e cadeiras nas calçadas e na rua e acontece de tudo: comes e
bebes, teatro, apresentação de filmes, concertos etc. Os freqüentadores da Rua do
Lazer criaram o bom costume de não aceitar música eletrônica em alto volume,
pois a rua é um ótimo local para bate-papos. (CARVALHO, 2000, p. 157).
A parceria com a natureza abriu espaço para que outros locais da região viessem a ter
visitação como: as fazendas abertas ao público, com suas cachoeiras, museus, parques
ecológicos, exploração do ecoturismo, a área urbana da cidade.
Os moradores e os turistas do município de Pirenópolis contam, também, com um
calendário turístico permanente de festas da cidade com uma forte presença efetiva das
Práticas Culturais Populares Local, dessa forma, as festas fazem parte do turismo. A seguir,
mostra-se como pode ser elaborado o calendário de Tupaciguara, visto que as festas populares
ocorrem o ano todo e devem fazer parte do turismo cultural:
CALENDÁRIO DE FESTAS DO MUNICÍPIO DE PIRENÓPOLIS
JANEIRO
Festa de São Sebastião
Na cidade, com missas e leilões de produtos agropecuários;
No povoado da Capela, com novenas, missas e procissões;
No povoado de Gaianópolis com missas, leilões e jogos;
No povoado de Radiolândia tem Folia de Reis;
No povoado de Bom Jesus, com missas, fogueiras, leilões.
MARÇO / ABRIL
Semana Santa
cxvi
Na cidade, com procissão de Nossa Senhora das Dores saindo da Matriz. Procissão de
Nosso Senhor dos Passos saindo da Igreja do Bonfim. Procissão da Ressurreição,
missas, folia de rua e apresentação da Banda Phoeniz. Queima do Judas e outros
eventos na cidade.
MAIO / JUNHO
Festa do Divino
Na cidade, com folia na roça, chegada de folia, novenas, levantamento de mastro,
queima de fogos, teatro e Pastorinhas, cavalhadas, mascarados, reinados etc.
Cavalhadinha
No feriado de Corpus Christi, na cidade, com os mesmos eventos da Festa do Divino
representados por crianças.
Festa de São Miguel Arcanjo e N. S. Bom Parto
Em junho, no povoado de radiolândia, com carreata de carros de boi, leilões, missas
etc.
JUNHO / JULHO
Festa em louvor a N. S. Aparecida e São Judas Tadeu
No povoado de Jaranápolis, com leilões, barraquinhas, mastro, procissão, missas,
novenas, ranchão, parque de diversões etc.
Romaria em louvor a N. S. Santana
No povoado da Capela, com missas, procissões, queima de fogos, mastro, fogueira,
acampamentos no local. Geralmente em julho.
Festa em louvor ao Divino Pai Eterno, M. S. Rosário e São Benedito
No povoado de Lagolândia, geralmente em julho, com missas, barraquinhas, mastro,
fogueira, queima de fogos, ranchão, torneios esportivos, reinados, leilões, banquetes de
doces, acampamentos no local.
Festa em louvor a Santo Antônio e São Geraldo
No povoado de Santo Antônio, geralmente em julho, com missas, leilões, queima de
fogos, mastro, procissões, fogueira e torneio de futebol.
Festa em louvor ao Divino Pai Eterno
No povoado de Caxambu, geralmente em julho, com leilões, procissões, ranchão,
barraquinhas, torneio esportivo e carreata de carros de boi.
JULHO / AGOSTO
Festa do Morro
Romaria realizada na Serra dos Pireneus, geralmente em julho, quando é época de lua
cheia, com missas, fogueira, queima de fogos etc. Acampamento no local.
Festa em louvor ao Senhor Bom Jesus
No povoado de Bom Jesus, com missas, procissão, fogueira, queima de fogos, leilões,
mastro e barraquinha.
AGOSTO / SETEMBRO
Festa em louvor a São Vicente de Paula e N. S. aparecida
No povoado de Placa, com missas, fogueiras, leilões, mastro, barraquinhas, ranchão
etc.
Exposição Agropecuária
Na cidade, geralmente em setembro, com rodeio, barraquinhas, parque de diversão,
mostra de animais de raça etc.
OUTUBRO
Aniversário da Cidade
Na cidade, com desfile retratando a história da cidade, desfile militar e outros eventos.
Festa de São Judas Tadeu
Na cidade, com procissão, queima de fogos, leilões etc.
OBSERVAÇÕES:
Na época do Natal são montados presépios em vários locais na cidade;
Praticamente todo final de semana acontece um evento na cidade;
Festas Extintas: janeiro Reis; julho São Pedro; agosto N. S. da Boa Morte; setembro
– N. S. Bonfim; dezembro – N. S. Conceição.
Carregada de significação, como pode se ver, a cidade de Pirenópolis com suas festas e
história bastante representativa, é reconhecida no cenário histórico e turístico brasileiro. Deu
certo, porque os cidadãos pirenopolinos acreditaram em sua riqueza cultural artística e natural,
que, vários anos, vem se construindo e fazendo parte do cenário do município. Fazendo
parte da realidade cotidiana, está sendo preservada, e é hoje cidade turística, um dos museus
vivo da história do estado de Goiás.
cxvi
ii
Tupaciguara também tem como investir e fomentar o turismo, diante de tanta riqueza
cultural popular que existe. Com o apoio do turismo cultural, pode-se garantir um novo
resedenho da cidade e, assim, gerar e garantir renda. No momento em que se trabalha com o
turismo, criam-se também novos empregos e, automaticamente, o município dará para si a
oportunidade de estar apresentando sua identidade cultural local, possibilitando até a
conquista de novos caminhos, caminhos conduzidos para melhoria da qualidade de vida de
seus moradores.
Acredita-se que essa conquista tem grande chance de ser alcançada, e o turismo
cultural é a principal ferramenta, podendo implicar, também, a explosão de um crescimento
econômico significativo e transformando, principalmente, o município em um pólo turístico.
Respeitado em nível regional e até chegando a nível nacional, criando, então, uma nova
dinâmica cultural para cidade. E por que não? Mas, para tanto, precisa apoiar-se em seus
elementos culturais.
Conforme foi registrado e diagnosticado, a identidade cultural faz parte, direta e
indiretamente, da vida cotidiana das pessoas e está enraizada no município, tem como e
pode se promover como uma cidade turística cultural. Esta ação permite compreender a
preocupação com os aspectos culturais, quando trabalhados turisticamente. Se seus
governantes fomentarem o universo cultural identidário e fornecerem a seus turistas atrativos
culturais
7
, estará reconhecendo e preservando sua cultura imaterial, por esta razão, é pertinente
apostar no turismo. O turismo será uma maneira de garantir sua repercussão tanto regional
quanto nacional, conquistando visitantes e garantindo o sucesso turístico da cidade. É o que
acontece em Pirenópolis-GO.
O turismo cultural em Tupaciguara pode ser um ponto de partida para que os
moradores e os visitantes venham a ter um novo e/ um outro olhar frente à cidade. Como se
viu, tratando-se de Cultura Popular, o município está bem servido, visto que suas Práticas
Culturais Populares Local fazem parte do dia-a-dia da cidade e podem ser consideradas de alto
valor significativo para a comunidade local, que, no momento de sua pratica, está resgatando a
sua identidade e a tradição cultural.
7
Com, por exemplo, o carnaval da cidade, quem conhece o Carnaval de Tupaciguara sabe que a cidade recebe
vários turistas.
Os turistas e os cidadãos local terão a oportunidade de visualizar esses costumes e ir ao
encontro dessas tradições e também dos monumentos históricos (no caso edificações) de
Tupaciguara. FISCHER (1996, p. 166) fala de um Centro Histórico que define o que é esse
encontro com a cultura local, que está intrinsecamente relacionado com o turismo cultural.
Lembrando que não é somente no Centro Histórico que se encontram tais singularidades, no
caso da cultura imaterial, esta pertence a toda a cidade.
O momento em que se fala de volta ao local, de definir singularidades, repensar o
cotidiano, ler significados, é aí, no Centro Histórico, que vamos encontrar
continuidades, reconstruções, reapropriações em torno de monumentos,
personagens, hábitos, costumes, valores, negociações, acertos e desacertos e sempre
sob uma base comum: o ser e estar no Centro Histórico.
A mesma autora agora imprime que
Essa forma de viver que ali se constrói no cotidiano da vida é, sobretudo, uma
tradição que ora se expressa, ora se omite, ora se esvanece, mas está sempre
marcando o seu lugar no momento em que se confronta com a alteridade. O falar do
outro, o relacionar-se com o que vem de fora, o jeito de assumir ou gastar o tempo,
no interior dos casarões ou nas calçadas, estabelece uma diferença, contrastando o
que é de lugar e o que vem de fora do lugar. Esse lugar ocupa um espaço público,
isto é, espaço de cidadania, espaço do todos. (FISCHER, 1996, p. 166).
Assim, é possível, quando se faz uma ligação entre a Cultura Popular Local e o
turismo, abrir novas oportunidades de trabalho, direcionados para o lazer cultural. Neste
momento, a dinâmica cultural, voltada para novas atividades, pode contribuir para um turismo
mais atraente e, dessa maneira, garantir a afirmação cultural imaterial e material do município.
É importante ressaltar que, o turismo não deve estar voltado apenas para os visitantes
de classe média e alta, outra parte da população é necessária nesse mercado turístico cultural,
se não Tupaciguara cairá no mesmo erro de algumas cidades brasileiras onde, “...o que
interessa é atrair um público apto a consumir seus sofisticados produtos e serviços...”, pois,
não podemos selecionar o público por sua situação socioeconômica, “status”
8
, (FISCHER,
1996, p. 177), o que torna esse espaço em um lugar, um ambiente segregador.
A autora continua (1996, p. 178) “...talvez os turistas sejam o segmento de público que
utilize o espaço de forma mais ampla, mas consenso de que apenas esse segmento não é
capaz de sustentar economicamente as atividades e setores introduzidos no local...” essas
8
Status [Lat.] sm. 1. Situação ou posição hierárquica num grupo ou numa organização, e que implica
determinados direitos e obrigações. 2. Prestígio ou distinção social. FERREIRA (2001:686)
cxx
palavras confirmam o que se apontou acima, o papel do mercado turístico é de inserir todos os
sujeitos, exatamente todos, nesse negócio turístico.
3.2.3 – Gestão da questão cultural no município
Diga-se de passagem, sem dúvida alguma, que a cultura local é fundamental para a
dinâmica cultural, social e econômica da cidade. A Cultura Popular do município de
Tupaciguara vem, com muito esforço de seus praticantes, enfrentando barreiras, mas, esses
obstáculos não são o bastante para que tais manifestações venham a perder o seu encanto,
conquistado vários anos. Portanto, suas Práticas Culturais Populares estão cada vez mais
fortalecidas, resistindo ao tempo e, principalmente, à modernidade e sua missão continua,
levar a todos os sujeitos sua tradição secular, trazida e repassada de geração para geração.
Portanto, acredita-se que a gestão-cultural, no que diz respeito à cultura de
Tupaciguara, pode contribuir para que outros tenham um novo olhar e uma nova percepção
perante o que vem sendo praticado culturalmente ao longo dos anos no município. A gestão-
cutural será uma ferramenta para valorizar mais e mais o que ainda está, de certa forma,
apagado
9
. Se bem trabalhada, a gestão-cultural dará forças para que a Cultura Local venha dar
continuidade, a suas ações, levando aos cidadãos um pouco do que esses praticantes
conhecem e sabem fazer.
DANTAS (1996, p. 151) traz-nos uma conversa sobre gestão, mas, particularmente,
sobre as novas formas de gestão-cultural que vêm sendo, elaboradas hoje, em algumas cidades
brasileiras, englobando o social e o econômico por intermédio da identidade cultural. São
organizações que podem ser setorizadas, neste caso, o exemplo é de uma organização afro-
baiana, o Olodum que trabalha com a sua realidade.
Essas organizações, cuja inserção social e econômica se concretiza por intermédio
da expressão de uma identidade cultural que está na origem das raízes étnicas da
negritude, introduziram novas formas de gestão, singulares e bem-sucedidas.
Também inauguraram um novo estilo de relação entre o mundo organizacional e a
realidade exterior e social.
9
Digamos, que as pessoas moradoras do município pouco sabem das Práticas Culturais Populares de
Tupaciguara, sendo assim, não há valorização e apoio.
A partir dessa nova gestão (estamos denominando aqui como setorial), dividida em
grupos, organização formada por associações, pela qual poderão ser valorizadas e
reconhecidas as Práticas Culturais.
Um novo modelo se esboça a partir dessas organizações. Criadas sob forma de
associações e grupos culturais, elas passam por um processo de transformação,
saindo de um status informal e até de uma certa marginalidade em relação ao
mercado pra se tornarem produtos valorizados da indústria cultural. (DANTAS,
1996, p. 51).
A gestão voltada para o mercado cultural turístico vem, de uns anos para cá, dando
certo, porque seus componentes esforçam-se e trabalham em prol da sua identidade cultural e
do conteúdo histórico cultural, e, especialmente, porque suas ações são multiplicadas
(carnaval, butique, cursos paralelos de música, história, inglês e confecção de instrumentos
musicais etc.), dessa maneira, conquistam seu espaço como também o sucesso nessa indústria
cultural.
A presença cultural do Olodum é ainda enriquecida pelo Bando de Teatro Olodum,
responsável pela montagem de sete peças em quatro tanto, entre elas a Trilogia do
Pelô em que se traça um painel da Bahia contemporânea a partir de personagens
típicos do Pelourinho antes (Essa é nossa praias), durante paí ó) e depois da
reforma (Bai, bai, Pelô) e o espetáculo Zumbi, estreado em maio de 1995, em
homenagem aos 300 anos do herói negro do quilombo dos Palmares.
Essa multiplicidade de ações, que alia conteúdo histórico-cultural, produção
artística e capacidade empresarial, vem dando ao Olodum um lugar importante no
competitivo mercado da indústria cultural, base da sua influência cultural e
ideológica na sociedade.
O sucesso do Olodum tem um significado exemplar para as lideranças da
organização, que acreditam que um dos mais fortes obstáculos às conquistas sociais
da população negra é justamente uma incapacidade histórica de disputar os espaços
sociais e econômicos incapacidade nascida da exclusão dos meios de produção e
da riqueza. (DANTAS, 1996, p. 157).
É factível trazer essa forma de trabalhar a gestão acima mostrada para a cidade em
estudo, diante da herança cultural que ela carrega. Digamos que seja possível, sim, definir um
modelo próprio de gestão, trabalhando com organizações setoriais. Se assim for feito, poderá
ter sucesso, pois, como sabemos, em Tupaciguara sete Práticas Culturais Populares, e
importa fazer desta maneira, formando associações e dividindo tarefas entre elas. Salienta-se
que para que isso venha se tornar realidade, é preciso que a ação e a estratégia sejam bem
traçadas, de forma que haja a participação de todos os agentes. A gestão deve estar ancorada,
neste caso, tanto nas identidades culturais quanto na vida cotidiana da sociedade local, que,
agindo assim, estará proporcionando a continuidade das manifestações e garantindo a
permanência da identidade local.
cxxi
i
O papel da gestão é de propiciar o desenvolvimento cultural, econômico e social, e,
concomitante a isso, haverá a reconquista da identidade cultural construída vários anos. É
pertinente focar a gestão como finalidade de prosseguimento histórico cultural, como uma
proposta para a melhoria da qualidade de vida, visto que é de grande importância a Cultura
Local para a sociedade.
Ainda DANTAS afirma que essa nova forma de gestão pode gerar forças para
economia local, porque gera emprego. Na Bahia, isso é realidade, essa gestão é uma forma
de garantir também espaço cultural com afirmação da negritude, a ligação entre a cultura e o
mercado é força que possibilita pouca concorrência, conseqüentemente, seu espaço no
mercado permanece garantido.
Os blocos afros do carnaval da Bahia tornaram-se uma nova força na economia
local. Parte fundamental do imaginário baiano, eles influenciam a sica e a
cultura, ao mesmo tempo em que criam empregos, acumulam lucros e investimentos
e também diversificam suas atividades e produtos, começando a desenvolver uma
espécie de nicho de mercado. (DANTAS, 1996, p. 152).
A gestão organizacional-cultural estando também trabalhada efetivamente para a
identidade cultural local, e automaticamente sustentada por meio do mercado informal /
formal, pode promover melhorias e sucesso para o mercado local. agindo por intermédio
das Manifestações Culturais Populares Local, temos uma organização no Brasil que está
consolidada no mercado, o grupo Olodum de Salvador, que vem alcançando seus objetivos,
porque suas estratégicas estão centralizadas não na mostra de suas atividades e produtos
culturais local, mas, essencialmente, em estatutos e ações bem planejadas .
Cravado na região do Centro Histórico de Salvador denominada Maciel/Pelourinho,
o Grupo Cultural Olodum busca a sua fonte de vitalidade na estreita relação com a
comunidade e nos valores da negritude. A identidade cultural, resgatada pelo grupo
em seus produtos (música, carnaval, discurso ideológico), é apropriada do cotidiano
da população e a esta devolvida em forma de manifestações de cultura, cidadania e
produtos.
...Estruturado de forma mais complexa do que os Apaches ou o Ilê-Ayê, o Olodum
tem, nos seus estatutos, os pilares de uma organização marcada pela ambigüidade,
que vem conseguindo realizar os seus objetivos estratégicos definidos em
períodos de 10 anos – sustentados por uma mistura de formal e informal, lucrativo e
não-lucrativo, social e mercadológico, apartidário e politizado. (DANTAS, 1996, p.
156).
Não muito distante, mas claro que ainda um poucomida, temos em de Tupaciguara a
ASSO’ART - Associação dos Artesãos de Tupaciguara, cujo artesãos confeccionam seus
produtos e os comercializam tanto nas feiras, por eles constituídas, como em outros lugares.
Esta associação está tomando frente e organizando também a FEMUART - Feira Municipal
de Artesanato de Tupaciguara. A intenção da associação é a predominância do trabalho
manual, artesanal, está também preparando um projeto pensando na realização de outra feira
de artesanato, que ocorrerá mensalmente, é a LU’ART. é um caminho e uma estratégica de
ação que a associação vem colocando em prática, na expectativa de seguir em frente com
sucesso nesta gestão-cultural.
Paralelamente à gestão-cultural, devem-se buscar parceiros, a fim de contribuir para
que estratégias venham ser postas em prática. Voltando ao caso de Salvador
10
, o estado vem
colaborando com eventos culturais. FISCHER (1996, p. 171) aborda que:
Além das atividades desempenhadas anteriormente, o Estado passa a atuar na
promoção de eventos culturais, tendo em vista a manutenção e dinamização dos
negócios dos novos empreendedores. Eventos culturais aconteciam de forma
espontânea, por tradição e/ou em função de determinados agentes – por exemplo, os
ambulantes na festa da bênção visando atrair clientela, o Olodum e outros grupos
com seus ensaios.
Ainda (FISCHER, 1996, p. 172).
...A busca de novas formas de gestão local e de resolução de problemas e conflitos
determinados tem levado à realização de reuniões, estimuladas por organizações
governamentais, envolvendo novos e antigos empreendedores. Também a promoção
estatal de eventos, como Ritos e Agitos, por exemplo, integra outros atores em seu
processo de realização.
Assim, as redes de ação pública assumem contornos diferenciados, segundo os
propósitos em questão. Outro elemento diferenciador pode ser observado ao
incorporar-se ao universo estatal a produção de serviços de caráter público,
comandada por organizações e redes não-governamentais ou privadas. Nas áreas
educacional, cultural e assistencial um conjunto de iniciativas que também
contribuem para a dinamização do lugar, trabalhando com públicos diferenciados.
Por que o procurar parceiros de iniciativa pública ou privada para o evento que ocorre na
Rádio de Tupaciguara aos domingos, a moda de viola? Eles poderão ajudar a difundir ainda
mais o programa e essa Prática Cultural Popular Local, ao mesmo tempo, atrair espectadores
até o auditório da Rádio. Reunem-se, nesse dia, cantores de moda de viola desde a idade de
cinco anos até idosos apresentando-se. Poderia se pensar também essa nova gestão-cultural
como uma possibilidade de dar prosseguimento a tal prática. Aulas de violão e outros
instrumentos, seriam um início, por exemplo.
A Catira e a Capoeira poderiam espelhar-se nessa nova forma de gestão-cultural e
elaborar uma única organização, afinal, ambas são categoricamente danças. O Congado ainda
10
Uma ressalva, estamos utilizando a cidade de Salvador e o Pelourinho como exemplo, porque é mais fácil de
entender através o Pelourinho, porque quase todas as pessoas conhecem pessoalmente ou pela mídia, ou
ouviram falar.
cxxi
v
não está se manifestando por falta de parceria e incentivo. O Congado e a Folia de Reis
formariam outra organização, por serem manifestações de cunho religioso, reunir-se-iam em
uma única organização.
o Carnaval, como é difundido em nível regional, por ser animado, o qual faz a
cidade receber vários turistas, já é parte do calendário municipal, tem até uma escola de samba
e blocos. Esta manifestação já se organizou e formou uma ONG. Núcleo de Cultura União das
raças de Tupaciguara e está em atividade a oficina de bordado, musicalização, é o que diz
Horácio (presidente e fundador da Uni-raça).
...Hoje, ela é um núcleo de cultura porque, pra poder, funcionar oficinas de de
bordado, musicalização, estão hoje, nós transformamos numa ong e dentro da ong
funciona a escola de samba, então é Núcleo de Cultura, hoje ela chama Núcleo de
Cultura União das Raças de Tupaciguara e dentro do núcleo tem a Escola de Samba
União das Raças, pra gente fazer, tamo fazendo um trabalho social com menino de
rua, num ta assim é funcionando total, mas a gente vai caminhando que tudo é passo
a passo mais Graças a Deus, ta, ta indo em frente... (Entrevista realizada com o
Sr. Horácio, presidente e fundador da Uni-raças em 14 de maio de 2004)
Essas Práticas Culturais Populares do município de Tupaciguara, se partirem para
trabalhar pensando nessa nova gestão-cultural e criarem entre si organizações (vale lembrar
que o carnaval já é uma ONG.), estarão se fortalecendo, para dar prosseguimento às atividades
culturais, sociais e econômicas, gerando empregos e acumulando lucros com a confecção de
seus próprios produtos. Não esquecendo de também trabalhar com a comunidade no intuito de
mostrar suas tradições. Mas, para tanto, as organizações criadas terão a necessidade de buscar
parcerias públicas e privadas, e estas com a finalidade de darem todo o suporte tudo o que as
ONGs. precisarem.
Agindo dessa maneira, Tupaciguara terá uma grande possibilidade de ser bem
sucedida, destacar-se no mercado turistico-cultural e, finalmente, apresentar-se para o Brasil.
Não é impossível, se o município confiar e acreditar em seus aspectos culturais populares e
trabalhar em prol deles, comprometendo-se em mostrar sua identidade cultural trazida por
gerações passadas. Será até motivo de influência e de espelho para que outros municípios de
pequeno porte, tendo a cidade de Tupaciguara como exemplo positivo no fomento turístico-
cultural.
3.2.4 – Calendário Cultural do município de Tupaciguara
Fica aqui uma proposta de sugestão de calendário cultural do município de
Tupaciguara, calendário exclusivo e permanente das festas culturais que a cidade pode
proporcionar tanto para seus cidadãos como para seus visitantes. que Tupaciguara tem uma
rica cultura imaterial, é necessário que esta seja explorada no sentido incentivá-la, garantindo
que suas Práticas Culturais Populares permaneçam presentes na vida de todos, abrindo
caminho para a preservação da identidade cultural da cidade e, concomitantemente,
conquistando e alcançando qualidade de vida para os sujeitos. Este calendário de épocas, é
uma proposta de revitalização que atrairá turistas nesses dias, permitindo que a cidade
permaneça movimentada, pessoas circulando por suas ruas, dando a ela vida durante esses
dias e noites e, principalmente, usufruindo das atividades culturais oferecidas por
Tupaciguara.
JANEIRO
Festa de Santos Reis
Chegada da folia de reis;
Folia na rua;
Coroação do festeiro.
FEVEREIRO
Carnaval
Carnaval de rua;
Desfile de blocos;
Desfile da escola de samba;
apresentação de bandas.
ABRIL
Catira
Encontro regional de grupos de catira;
Oficinas;
apresentação dos grupos de catira.
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vi
JULHO
Moda de viola
Encontro nacional de violeiros na rádio durante os domingos do mês de julho.
OBSERVAÇÃO:
A Rádio promove no palco de seu auditório, todos os domingos do ano a apresentação de
grupos de moda de viola através do programa a Voz do Coração da Cidade transmitida ao
vivo das 9:00 às 12:00 pela AM, abre espaço para apresentação de outras Práticas
Culturais Populares que desejarem se apresentar .
AGOSTO / SETEMBRO
FEMUART
Mostra da Feira Municipal de Artesanato de Tupaciguara;
barraquinhas, artesanato local, regional e nacional, culinária, apresentação de grupos
populares, trem da alegria turístico, etc.
NOVEMBRO
Congado
Festa religiosa na Igreja Nossa Senhora do Rosário;
apresentação de ternos convidados nas ruas da cidade;
louvor a Nossa Senhora do Rosário.
DEZEMBRO
Capoeira
Encontro de capoeiristas;
oficinas;
apresentação dos grupos de capoeira.
A grande tarefa do Plano Diretor é garantir que todos os cidadãos tenham qualidade de
vida e proporcionar-lhes uma vida digna. O Plano Diretor deve estar voltado para atender às
necessidades, tanto objetivas como subjetivas. Especialmente esta última, é de fundamental
importância para a vida urbana. No caso de Tupaciguara, foi possível observar a forte
presença das Manifestações Culturais Populares na vida dos tupaciguarenses, no entanto
devem ser preservadas no seu Plano Diretor as que ainda não foram inseridas.
Apresentamos uma análise do Plano Diretor de Tupaciguara de elaborado no ano de
1992, analisamos a parte da cultura imaterial. Exibimos a análise da implantação deste mesmo
Plano Diretor, e constatamos que ainda não houve a sua implantação. Expusemos as diretrizes
culturais do Plano Diretor do município, para, posteriormente, descrever novas propostas de
diretrizes culturais para compor o futuro Plano Diretor de Tupaciguara. Tratamos também de
trazer sugestões de revitalização para a cultura imaterial, e a necessidade do município
trabalhar o turismo-cultural, pois é importante apresentar, aos seus moradores e aos visitantes,
a riqueza do seu aspecto cultural.
Mostramos a importância da gestão-cultural no sentido de informar como essa gestão
pode contribuir para o desenvolvimento cultural, social e econômico. Para fechar o terceiro
capítulo, elaboramos um calendário cultural inserindo as sete Práticas Culturais Populares
identificadas, que fazem parte da história e da identidade de Tupaciguara.
cxx
viii
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos afirmar que ficamos surpresos ao saber que Tupaciguara continua sendo
palco de uma riqueza cultural tão forte e de muito significado, que permanece presente em seu
cotidiano. O que nos impressionou, também, foi como essas culturas imateriais são dinâmicas
e como essas Práticas Culturais Populares herdadas de pais, prosseguem sendo repassadas
para os filhos, netos, para as gerações vindouras. As Práticas Culturais Populares não se
perderam com o tempo, pelo contrário, vêm sendo praticadas ainda hoje neste século XXI,
mesmo com a modernidade desestruturada em que vivemos.
Chamou-nos a atenção, ainda, que os grupos populares o fiéis às suas manifestações.
Mesmo não tendo o devido reconhecimento, fazem o esforço para que suas práticas
continuem fazendo parte de suas vidas e, também, de todos os cidadãos tupaciguarenses.
Percebemos que esses grupos estão contribuindo diretamente para a construção da história
cultural imaterial e, principalmente, para a identidade cultural do município. São eles os
personagens principais dessa herança. Diante desse quadro, insistimos em que essa história
identidária é de suma importância devido a sua atuante manifestação, sendo assim, não pode
faltar no Plano Diretor e na proposta de requalificação de seu espaço urbano, deve ser
imediatamente inserida nesse processo, e, em hipótese alguma, excluída, pois as culturas
imateriais o efetivamente a alma e a vida do município, são necessárias para seus
praticantes. Deste modo, é indiscutível que é essencial a preservação das Manifestações
Culturais Populares, quando se fizer a revitalização em área urbana do município.
O levantamento realizado permitiu-nos constatar que Tupaciguara tem presente em seu
cotidiano sete Práticas Culturais Populares, como: Congado, muito atuante até o final da
década de 1970, mas, por motivos não revelado deixou de fazer parte desse cotidiano, no
entanto seus praticantes vêm tentando reativá-la devido à importância e ao significado tanto
religioso como festivo para eles. A Folia de Reis foi a segunda manifestação que encontramos.
Sua presença é confirmada todos os anos, iniciando em dezembro e findando no mês de
janeiro (dependendo do voto, a folia sai em outros meses), fazendo da cidade uma grande
festa, quando percorre as ruas rezando, cantando.
O Carnaval, já está bem divulgado na região e, a cada ano, atrai mais foliões, que vão a
Tupaciguara no intuito de se divertir nas ruas e na praça João de Barros, onde ocorre à festa.
Lembrando que o Carnaval traz consigo bandas, desfile de blocos e desfile da escola de
samba. A quarta Prática Cultural Popular revelada foi a Catira, e, contrariando as regras, a do
município é composta em sua maioria de mulheres (meninas), apenas um rapaz. É uma
prática que enriquece a identidade cultural da cidade, diante de tanta beleza que é sua dança,
indumentária e sua cantoria poética.
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A prática mais recente é a Capoeira, que, dia após dia, leva para os cidadãos
tupaciguarenses sua cultura, dança, ritual. O grupo trabalha para que a cultura continue
fazendo parte da dinâmica cultural da cidade.
Desde a década de 1980, Tupaciguara apresenta a FEMUART Feira Municipal de
Artesanato de Tupaciguara, Cultura Popular Local, que está no calendário da cidade na
semana de 30 de agosto até 07 de setembro. Esta prática toma conta do município, atraindo
cidadãos e visitantes para um encontro na praça João de Barros, para apreciarem o artesanato,
para assistirem às apresentações de bandas, das duplas sertanejas, da Folia de Reis, da Catira,
da Capoeira, consumir, enfim, em busca de lazer, visto que o município é de pequeno porte e
deixa a desejar quando o assunto é lazer. É a época em que os artesãos mostram e
comercializam seu artesanato, resumindo, uma festa importantíssima para todos.
Finalmente, a Rádio Tupaciguara Ltda, considerada, aqui, também, uma Prática
Cultural Popular Local, que pouco se encontra em outros lugares. Esta acolhe um grupo de
violeiros mais de cinqüenta anos com o programa A Voz do Coração da Cidade –, que
vai ao ar e ao vivo (logo após a transmissão da missa) todos os domingos, das 9:00hs às
12:00hs. Seu auditório recebe pessoas para assistir às duplas que cantam moda sertaneja, os
grupos que tocam forró e as Práticas Culturais Populares que queiram apresentar-se, é algo
peculiar. São Manifestações Culturais Populares Local e regional, herdadas de geração em
geração, responsáveis pela identidade cultural de Tupaciguara.
Esse é o quadro cultural de Tupaciguara, portanto, deve ser considerado no futuro
Plano Diretor da cidade, devido a sua expressividade.
Afirmamos que a cultura imaterial está espalhada por toda a cidade, mas manifesta-se
na área central também, como é o caso da Catira, da Folia de Reis, da Capoeira. A Práticas
Culturais Populares que se concentram na área central do município são o Carnaval e a
FEMUART, que acontecem na praça João de Barros. A prática dos violeiros está localizada
na parte antiga da cidade e na rua Coronel Joaquim Mendes, trecho da proposta de
revitalização, que também faz parte da área central.
Foram privilegiadas as identidades materiais, melhor dizendo, o Patrimônio Histórico
Cultural Arquitetônico existente na cidade, identificado e tombado pela Secretaria Municipal
de Cultura da Prefeitura de Tupaciguara, como: a Casa da Cultura Tias Polveiras e o Museu
Histórico e Arqueológico Chico Ribeiro, um lugar mágico e cuja sua beleza é inexplicável; a
Igreja do Rosário, lugar preparado e destinado para as festas do congado; o cemitério do
antigo distrito do Mato Grosso local, cheio de histórias e o Edifício da antiga Prefeitura
Municipal, que, atualmente, abriga a Câmara Municipal. Ao observar atentamente as
edificações, percebemos como esses prédios antigos agregam uma riqueza peculiar, sendo
assim, foram apresentados alguns que poderiam passar também pelo processo de tombamento
e precisam efetivamente ser valorizados, pois é fundamental para a história da cidade.
Foi possível perceber que as intervenções urbanas vêm pecando no que diz respeito à
cultura imaterial, não fomento para a continuidade desta. Neste entendimento, concluímos
que é necessário enfocar a cultura como instrumento básico e de prioridade nas revitalizações,
assim se garantirá que tanto a identidade, as Práticas Culturais Populares Local, como os
sujeitos permaneçam preservados e respeitados. É essencial a promoção da herança não
edificada, mas, principalmente, da herança imaterial, caso contrário, tornar-se-á um lugar
segregador (para poucos freqüentarem), sem significado e sem conteúdo.
Como expusemos, no caso da revitalização, esta deve dar ênfase para a Cultura
Popular Local, pois, quando deixa de atender aos aspectos culturais, automaticamente,
entende-se que o espaço está sendo transformado para um determinado grupo social e,
conseqüentemente, eliminando outro. Obviamente, essa forma de intervenção, que
prioridade aos turistas, às classes altas e médias e exclui a classe baixa, deve ser abolida. Esta
última são os agentes construtores da identidade local e, que na maioria das vezes, são
obrigados a deixar sua área, quando isto acontece, eles deixam também sua história
enraizada, e esta vai se apagando com tempo, por esta razão, não é concebível deixá-los de
fora do projeto. Certamente, a revitalização tem o papel de atentar para as necessidades
subjetivas e objetivas de todos os cidadãos.
Para terminar, as áreas urbanas revitalizadas tendem, em sua grande maioria, como
visto, a ser realizadas nas áreas centrais, espaço de maior fluxo de pessoas durante o dia, e
que, normalmente, se encontram abandonadas a partir de uma determinada hora do dia, diante
desse cenário, acreditamos que seria interessante uma proposta de trabalhar a revitalização
pensando em sua reutilização noturna para manter o local com vida. Assim, esse lugar terá
vida vinte e quatro horas do dia, sendo, permanentemente ativo dia e noite, tornando-se uma
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xii
área menos perigosa e inibidora da violência, pois terá uma circulação constante de pessoas
que desfrutarão das diversas atividades culturais e utilitárias funcionais ali oferecidas.
Quando analisado o Plano Diretor de Tupaciguara, constatamos que, no que toca à
cultura imaterial, pouco se priorizou e pouco se deu importância para essa área. Das sete
Práticas Culturais Populares identificadas no município, é possível afirmar que é de muito
significado para os cidadãos tupaciguarenses. Observou-se que o plano diagnosticou apenas: o
Congado, a Folia de Reis, a feira de artesanato (FEMUART) e os violeiros. Não foram
incluídas no Plano as outras Práticas Culturais, como o Carnaval e a Catira existentes
muitos anos em Tupaciguara. A Capoeira, se iniciou depois que o Plano Diretor de
Tupaciguara foi elaborado, portanto, não poderia ser considerada cuidado que deve ser
reparado no futuro Plano Diretor.
Prosseguindo a análise, o plano nos traz as diretrizes culturais e, diante de tais
diretrizes e do cenário atual, em que não houve a implantação do Plano, indiscutivelmente, foi
necessário elaborar outras propostas de diretrizes culturais, sustentando a importância da
herança e da preservação dessa raiz cultural para todos.
Todavia as diretrizes para compor o futuro Plano Diretor de Tupaciguara, a nosso ver,
devem contribuir para o incentivo, o apoio e para a promoção do aspecto cultural, implicando,
diretamente, a auto-estima e a qualidade de vida dos cidadãos, certamente, quando estamos
garantindo a preservação, estamos reconhecendo a importância da identidade imaterial.
Nesse âmbito de preservar as Práticas Culturais Populares Local e evitar que ocorra o
desaparecimento das festas e dos costumes populares que marcam o município, com muita
cautela, traçamos-se sugestões para revitalizar as Práticas Culturais Populares de Tupaciguara.
Pensamos, no entanto, que esta revitalização deve ser especialmente processada na
reorganização dos grupos populares. Concluímos que a revitalização da cultura imaterial tem
que estar ancorada no fomento, no incentivo, para ser suporte de continuidade das identidades
culturais tão importantes para o município.
Ao insistir na preservação das culturas imateriais, acreditamos estar abrindo um novo
campo para trabalhar, em Tupaciguara, o turismo, riqueza cultural, que pode ser um geradora
da economia local e do lazer. O turismo-cultural é importante para trazer turistas, para
difundir o município e também para que as pessoas conheçam as Práticas Culturais Populares
Local de Tupaciguara.
A cidade tem a ganhar, visto que sua identidade imaterial (lembrando que uma
identidade edificada bastante significante) pode contribuir para o turismo-cultural, sendo ela
explorada, a dinâmica cultural do município terá um novo rumo, o mercado turístico. Assim,
Tupaciguara poderá estar-se divulgando, e tanto os visitantes como os moradores terão a
oportunidade de conhecer e de desfrutar da sua história e de sua riqueza cultural. Essa nova
maneira de redesenho pode garantir lucro e emprego, assim, os cidadãos tupaciguarenses não
precisarão ir para as cidades médias e grandes em busca de lazer e emprego.
Este trabalho soma mais uma de tantas reflexões no mundo peculiar e mágico da
Cultura Popular, não importa se é manifestada nacional, regional ou localmente. O que
importa é que seus praticantes nos enchem os olhos, quando vão para as ruas, praças ou até
mesmo auditório levar sua sabedoria popular, em forma de ritual, de reza, festas, música e
cantos. Os praticantes não medem esforços para que toda gente tenha conhecimento da
riqueza cultural do povo brasileiro. É assim que somos, cheios de cultura. A cultura imaterial
é a nossa herança, que, trazida das gerações, está sendo repassada numa eterna continuidade.
É a identidade do nosso povo que ajuda a construir e enriquecer a historia das cidades. Como
não preservá-la? Sendo assim, essa realidade deve constar nos Planos Diretores como
prioridade, e deve considerar nos projetos de requalificação.
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REFERÊNCIAS
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cxli
v
ANEXOS
Entrevista n
o
1: Rádio Tupaciguara - Dupla: Tião Mineiro e Paulistinha. Realizada no dia
13 de julho de 2003.
Bom dia Sr. Tião Mineiro! Bom dia!
Gostaríamos de saber um pouquinho da
estória do senhor aqui na rádio, da dupla?
Ah! Pois não, é um prazer colaborar com a
imprensa. A estória da dupla nasceu aqui,
então esse ponto aqui da Rádio
Tupaciguara, isso é um lazer que nós
violeiros temos aqui entendeu, aqui dia de
domingo, ainda é uma cidade meio do
campo não tem muito lazer dia de domingo,
e juntam a violeirada e vem pra qui no
auditório e fazer uma hora e volta pra casa.
É assim, é o dia da dia, domingo que vem
nós volta de novo é isso ai tem ce que vê,
uns 30 anos que a gente faz isso, esses dois
que tão cantando ai do Trio e
Mirandinha, capaz que tem uns 40 ou mais.
Então, então, a gente tem isso no sangue
então, a gente peleja pa agrada ouvinte,
inclusive, o povo gosta mutio, liga das
fazenda, aqui da cidade mesmo, de outras
cidades também, então ai é isso ai a gente
vai levando a vida.
Vocês tocam moda de viola...
Moda de viola, o sertanejo mesmo, aqui a
gente faz é ao vivo, o dono da Rádio é mito
bão da o apoio pra nós beleza, que hoje em
dia não acha mais programa de auditório
assim.
É verdade! É ce pode procurar diversas cidades, não
tem então isso aqui. Oh! seu ... é o dono,
então ele nunca deixou esse programa aqui
acaba, porque ele também gosta sabe, ele
também gosta ficou, esse é um pograma
tradicional então vai mantendo, inclusive
que esse pograma aqui não muita
renda pra ele, sabe mais ele porque virou
tradição. Então isso aqui oh, tem gente de
fora, tem domingo que enche, tem domingo
que quase num vem muita gente, mais
sempre vem gente.
Que tipo de gente que vem? Tem gente mais jovem, vem gente mais
idoso, não vem assim pessoa muito
idoso, porque, por causa da da escada ai não
tem condição de subi, são aquelas escada
ali, a pessoa mais idoso, pode correr perigo
de cai né, então não vem maisi. Tem
domingo que enche isso aqui ... agora,
tem domingo que vem mais poço, mais
como diz o outro, vai levando (riso), vai
levando.
cxlv
i
O senhor recebe para estar participando
desse programa?
Não, aqui a gente, a gente canta porque nois
gosta, aqui é, nois num, num ganhamo nada,
a não ser nosso direito de cantar aqui nois
chega aqui aqui nois tem nosso espaço, nois
tem sala da gente ensaia, vai ensaia e
prepara direitinho, então é isso ai o dia a dia
maisi, maisi. É muito sabe porque? Cantar
faiz parte da alegria a gente canta porque
gosta e alegra o ouvinte, as pessoa qui gosta,
tem muita gente que gosta muito da música
sertaneja, Outros gosta mais é da jovem
guarda né, muita gente, mais muita gente
principalmente os da meia idade pra lá,
aprecia muito o sertanejo.
Não é o da meia idade não, a gente
também gosta muito!
Pois é gosta, agora, hoje em dia a viola ta
virando tradição outro dia eu é vi no
pograma na, aqui na globo capaz que tinha
um quase uns dizoito ou vinte pessoa cada
um com uma viola, então o povo ta
gostando muito de viola né, a música
sertaneja é a música de viola e violão, agora
esse negócio de baxo, gitarra esse trem isso
ai é outro departamento, agora, o
sertanejo mesmo, é a viloa e o violão e
as, que as veis tem um cavaquinho né, a
sanfona ai toca o sertanejo. Agora, a
guitarra, o baxo e o teclado, isso ai é
outro tipo de agora o sertanejo é a essência é
música raiz, inclusive oce vai ouvi nossa ...
tem poço tempo que eu conto mas num ta
um dos piores sabe, não ta bão.
Como chama a dupla do senhor? É Tião Mineiro e Paulistinha, aquele
menino moreno sabe. Então a gente é muito
amigo e a gente gosta como eu te falei todo
mundo, a gente vamo , vamo lá, é isso ai
e a gente vai levando a vida, até quando
Deus quise né se Deus quise.
E por muito tempo se Deus quiser ouvindo
o senhor cantar e tocar.
Eu sei que é assim.Eu sei que é assim
Vamos ouvir então o senhor cantar no
auditório?
Vamo.
Entrevista n
o
2: Rádio Tupaciguara - Dupla: Zé do Trio e Mirandinha. Realizada no dia 13
de julho de 2003.
Bom dia! ... falem um pouquinho sobre a
carreira de vocês...?
do Trio: Perfeitamente, é a minha dupla
com o Mirandinha não é muito antiga não
13 anos, tem mais né 86 é ... a gente canta ...
no programa de auditório. Esse programa
aqui é antigo, ele tem no mínimo 40 anos e
eu participo desse programa vários
anos. O Mirandinha é mais novo, nós
começamos mais ou menos em 86, mais eu
tive outras duplas a não ser com o
Mirandinha... tive uma dupla com meu
cunhado, chamava Pavão e do Trio, nós
gravamos um compacto é pela ... São Paulo.
O senhor ainda tem?
do Trio: Eu acho que ainda, tem que
procurar no fundo da caixa... é tive uma
música nós gravamos, que foi uma história
verídica, uma coisa, até não é bom contar,
naquele tempo, é e era uma novidade, era
horrível né. Hoje parece ta mais comum né,
mas, sabe um pai que matou a fia então essa
música, o povo não esqueceu até hoje, essa
música, eles pede a gente canta no
programa. Depois isso foi na década de 70,
ai na década de 70 tive outra dupla
também..., nós gravamos também LP na
época o LP era o forte ... nós gravamos LP,
nós gravamos participação duas músicas no
LP é foi, foi gravado. A turma de da roda de
violeiro daqui da Rádio do programa ..., é
nós participamos ..., é nós gravamos é ...,
mas é todas as duas músicas foram
divulgadas também, tem uma que, que o
povo pede até hoje ... conta a história de
minha terra que eu não sou daqui ..., eu pra
quin aos deis anos, sou de Abadia dos
Dourados.
Ah! Eu conheço.
do Trio: Conhece lá! Então é e fiz essa
letra em homenagem a minha terra Abadia,
Abadia dos Dourados é a música chama
Relembrando a Infância, e tem uma... Até
hoje a música essa, muito pedida. Agora, eu
quero ouvir você fazer pergunta pro
Mirandinha também.
cxlv
iii
A é, eu quero que os dois contem a estória
da dupla.
Mirandinha: O negócio é o seguinte, na
fazenda em 73, a gente veio para
Tupaciguara... ai foi trazendo os
companheiro junto com o do Trio, ai
gente cantava umas modas, cantando ...,
gosta muito das músicas sertaneja. Também
contamos com o apoio do diretor dessa
emissora né, são muito bão, da toda
liberdade pra gente, não é pra gente, pra
todos os violeiros ... A gente num sabe
muita coisa que quanto mais a gente
aprende, a te, que aprende ... Com o do
Trio cantando ai ... muita gente acha bão,
dano o apoio tem que agradece todo mundo,
toda pessoa que apóia a gente, que ta ai
junto com a gente, como é o diretor da
emissora né, ta sempre ai apoiando a gente.
Eu acho muito mais que isso, temos que
agradecer vocês por estarem cantando e nos
alegrando, porque a gente não escuta mais
moda de viola.
Mirandinha: É difícil mesmo, ara tudo tem
que ter seu valor né, a gente num pode
dizer, cada geração vem, vem
modificando ... talvez a gente num gosta,
porque a gente sabe que eles tão cantando
bem, mas tudo bem, não é o ritmo da, mas a
gente valoriza tudo, que cada tempo cada
espaço tem sua música, cada um tem um
gosto, a gente num pode, gosto não se
discute. Mas igual a gente, a música raiz, ta
diminuindo porque parece que o povo, o
ritmo mudando, os jovens. comércio,
por exemplo, as veis num confia par vender
esses CD ... ta querendo mais comércio nois
não, nois queremos ... nois vamos conservar
a música raiz até o fim da nossa vida, é
verdade que tamo vei né, o futura tamo ai
pra aprender.
Claro isso é muito importante pra gente
também aprender, saber também que existe
essa música, é uma estória diferente.
Mirandinha: Até pra dizer a verdade, tem
muitos novos, muitas dupla novas que estão
regravando as músicas antigas, é isso ai,
quer dizer, eles também tão sentindo que
existe valor, eles tão fazendo a música as
veis pra comércio, mas também ... também
tem que ser lembrado sempre né.
É bom que as pessoas também gostam, o
mundo não é feito de jovens, minha mãe
gosta, meu pai, eu gosto muito da música de
raiz, não sei se isso vem de família.
Mirandinha:É que a música de raiz muita
gente das veis de certo as veis sabe, liga
o rádio e sabe o que a gente ta cantando,
tem uma história né tem muitas músicas que
toca ..., que canta qualquer coisa pra
comércio ... não que todo mundo entende,
poça gente entende a música que tão
cantando né, não tem uma história é a
música raiz sempre tem história.
Toca muito a gente. Então seu do Trio e
Mirandinha, desejam falar mais alguma
coisa?
Zé do Trio:Eu gostaria de falar que a minha
dupla com o Mirandinha por em quanto nós
ficamos em nós não fizemos nenhum,
fizemos nenhum disco ainda, nois ei de
faze, faze um CD ai é o que ta na moda hoje
né. I espera continuar tendo o apoio é dos
diretores da emissora, e também o apoio de
vocês que divulga as notícias que corra a
notícia e depois divulga ela e isso é muito
importante pra nois, a gente é junto,
juntamos uma força com a outra talveis a
gente consegue realizar, talveis estamos
descobrindo uma coisa que a gente não
tinha condições de chegar até ... é uma
força.
Na verdade, nós somos pesquisadores...eu
acho até importante também, vocês falarem
isso, nós vamos conseguir a T.V. ... para
vocês mesmos divulgarem isso, falar que
tem vontade de fazer um CD ...
do Trio: A gente pensa em fazer uma
ciosa simples, é bem caprichadinho sabe no
capricho que possa roda no emissora que
tem muita gente gravando ai em fundo de
quintal, mas eu acho ai, nem as emissora
pode toca né, num tem é, num tem é a
qualidade e a permissão dos órgão
competente né, mas eu espero que um dia
nós ainda vamo ouvir nossa voz num CD.
...A música sertaneja é a música verdadeira,
a música que vocês estão cantando...eu
estava no Brilhante ontem...fiquei
observando...não é esse povo da cidade
grande que fica nessa correria...essa festa
bacana que tem, é uma festa sadia não tem
briga...
Zé do Trio: É só festa de família né.
É isso que a gente sente falta...
do Trio: É as coisas feito assim com
amor né.
Eu gostaria de agradecer muito a
colaboração de vocês
do Trio: Sempre as ordens, responder
aquilo que vocês pergunta, e a gente
agradecer também pra... divulgar a gente
também.
Entrevista n
o
3: Rádio Tupaciguara - Dupla: Parasim e Pinta Silva. Realizada no dia 31 de
agosto de 2003.
cl
Sr. Parasim e Pinta Silva, é uma dupla que
canta aqui na Rádio ...
Parasim: Oia, a história nossa, nois canta
desde criança, eu comecei a fazer. O Pinta
Silva começou com, com da idade do
Rafael (criança de 05 anos que canta na
rádio), o Pinta Silva cantava com 05 anos
de idade ele cantava, eu comecei, eu
comecei com uns dez anos. Foi dez anos ele
com doze comecemo a nossa dupla, com
dez, doze anos nossa dupla, morava na roça,
ai mudemo, morava na fazenda em Goiás e
viemo pra qui e aqui nois divia comparecer
na rádio foi a rádio que nois compareceu,
foi aqui na Rádio Tupaciguara isso deve ter
quantos anos, deve ter uns 35 anos já.
Pinta Silva: Há tem mais...
Parasim: Mais de 35 anos que a gente canta
nessa rádio aqui e daqui saimo e
apresentemo noutras rádio.
vocês se apresentaram ao vivo
também em outras rádios?
Pinta Silva: Circo nois teve oportunidade
de ir até em circo graças a Deus, tivemos na
Rádio de Araguari, incentivado pelos
amigos que nois divia ir, nois recebemo o
convite e fomo, participamo de muitas
festas e sempre aqui é nois. Tem outra dupla
muito assídua aqui na rádio aqui tem o
do Trio mais o Mirandinha também, tem
muitos e muitos anos que eles freqüenta
aqui, então a gente vem aqui, a gente
considera aqui a casa da gente, vem por
gostar, por amor a música sertaneja a gente
vem.
Parasim: Eu também tem a dizer é isso ai,
eu sinto bem graças a Deus, tem muito
prazer que aqui a gente ta divertindo, ta
fazendo aquilo que a gente gosta e é uma
diversão nois num ganhemo nada mais isso
aqui é uma diversão, é um prazer ta aqui
todo domingo com os irmãos violeiro,
divertimo né como quem fala assim graças a
Deus, sempre falo com meus amigo..., falei
não parei não ainda to dano conta de segurar
o violão, muitos anos se Deus quiser. E nois
tem também aqui em Tupaciguara, a
tradição do folclore , folia de Santo Reis,
nois temo ela, eu e o Parasim é o capitão das
folia ai né, a nossa, a nossa folia que é o, a
folia, a irmandade e Estrela do Oriente,
terça-feira quereno Deus nois vamo
apresenta na Fomoart aqui em Tupaciguara,
terça-feira, ce esteja, esteja mais o rapais ai,
esta ai com você, teja convidado pra ir
assistir a apresentação do grupo de folia de
reis nossa, lá na na feira, é terça-feira às sete
e meia da noite, pois é, sai pras oito
horas, ce esteja convidada, é um prazer pra
gente receber oce lá.
clii
É um prazer enorme em estar participando,
estar ouvindo.
Parasim: Nós cemo da folia também, nois
temo ela em desde criança, isso veio do
nosso avô, nosso avô deixou pra nosso pai,
e o nosso pai nois quando era criancinha
acompanhava nosso pai aprendeno também.
Hoje nois sai o capitão, os capitão das folia,
pelejamo pra passa pra, larga pos netos
pros fio mais ta ... inclusive eu mais ele
evem começano a querer trazer já, tem
muito filho nossa família gosta jaz parte
inclusive, o Rafael que canta ali junto com
nois com 05 anos de idade e gosta ... Tem
em Deus que quando tiver mais rapaizinho,
se eu o dia que Deus levar, que eu fo,
tem ele pra ficar no meu lugar né.
Eu estava falando...esse garoto vai ser
cantor, já é.
Parasim: É ele adora, ele adora , ele gosta.
Ele gosta mesmo, você olha no olhinho
dele, que brilha...
Parasim: Ele sabe daquele tamanzinho,
com 05 anos nem direito na escola ainda
num sabe ta começando a ler agora, ce oce
o tanto de música que ele sabe,
Encantado, ele canta Encantado, umas
músicas... aquele Cancioneiro é padrinho
dele, aquele que cantou com ele... apóia de
mais ele, ajuda de mais.
Eu quero vir mesmo na terça-feira...
Parasim: E esse grupo de folia, faiz parte, o
Pinta Silva e o Parasim, aqueles menino que
ta cantando lá, o Nenzico e Albino, o
Cancioneiro mais o Oriente faz parte do
grupo também, são, o grupo nosso são
desses violeiros mesmo.
Tem jovens participando da folia de reis?
Pinta Silva: Tem, os mais jovem é o
Rafael, tem o Rafael, tem o Wesley, tem o
Wislei irmão do Wesley, eles participa, é
um filho meu também ta ali com o Wislei
mais o Wesley que também participa do
grupo.
Parasim: entre família, família, tem
neto, tem netinha ai participando também ta
com dez ano ela ta participando... que
beleza quando é família nois acha bão
canta quando é só família agora...
... é a família ...
Parasim: E pelejei esposa do Pinta
Silva pra vim com ele aqui porque ela canta,
ela tem voz mais é que ele tem vergonha de
vim por enquanto ta sentindo acanhada de
vim.
É tem que vir a primeira vez, ai perde o
medo.
Parasim: Eu também sou acanhado sou
tímido demais.
Nois tivemos em Araguari e tivemo um
apoio grande de mais lá, muito bão o apoio
deles lá, o o apoio que o povo tava dando
pra nois, eu nem num acreditava que era eu
que tinha chegado... cantar, a vontade era de
ir embora, vergonha.
De ver aquele público?
Parasim: É aquele e pensar assim é,
mais eu que vou apresentar pra esse povo
aqui, sou amador, se fosse um artista
profissional, mais amador.
Ah! Mas vocês não são amadores, tem tanto
tempo que cantam...
Parasim: Nunca tive a oportunidade de
gravar, porque é custoso de mais né, agora a
gente já ficou mais maduro, igual eu...
Vocês gostariam de falar mais alguma coisa
sobre a rádio?
Parasim: Da rádio, somente agradecer o ...
que contribuíram muito pra essa festa que
nois faiz aqui, que nois gosta, agradecemo
de mais os diretor da rádio, da emissora aqui
que ... que eles deram um apoio excelente
pra nois, tão dando até hoje e daí vai,... fala
que o pograma vai acaba, começa quere da
uma paradinha ai eles força e arriba o
pograma, então tamo ai na luta e vamo lutar
se Deus quise.
Entrevista n
o
4: FEMUART Edi Ferreira da Silva. Artesão, mas esse ano está
participando como espectador. Realizada no dia 30 de agosto de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Sim, eu participo da FEMUART desde a
FEMUART, eu e minha esposa
participamos da FEMUART junto com o
seu Samuel que foi o fundador, era um
grande colaborador que ele tinha, e ele
confiava e no fim eu acabei sendo o
presidente da FEMUART, ah então 17
ano que nois acompanhamo a Femuart de
Tupaciguara.
Acha importante a FEMUART? Sim, a FEMUART vem trazer pra
Tupaciguara, o desenvolvimento mostrando
a capacidade dos artesão de Tupaciguara
que tem aqui em Tupaciguara de serviço
que como você, como entrevistado, você ta
vendo dentro das barracas o que é feito
nosso certo. Então é, foi um grande
oportunidade para nossos artesão de
Tupaciguara.
E pra comercializar também né? É fazer a comercialização do do da
mercadoria nossa e ajudar, hoje na crise que
está ta difícil viu se não tiver uma imenda
nois tamo perdido viu.
cliv
Do que você mais gosta? É a união de todos os artesão e da
comunidade de Tupaciguara que te a vista
pra Deus, pra todo mundo que teve,
nos anos anterior ta vendo como que ta
diluindo, cada eles ta aumentando mais,
gente chegando mais artesão mais a
população ta dando apoio pra essa turma
que ta pelejando com a vida.
O que é esse evento para você? Pra mim pessoalmente, é uma grande
desenvolvimento, pra minha pessoa e pra
minha esposa que nois tamo batalhando
junto, desde que o Samuel surgiu pra nois,
foi um grande evento, foi um grande
colaboração mostrando que a gente é capaz
de fazer, hoje eu num participo com barraca,
minha esposa mais todo material que é
feito ele tem mão minha também junto.
E se a FEMUART acabar? Vai ser uma grande desilusão pra todos os
artesão de Tupaciguara, eu acho não os
artesão, como a comunidade. Como as
autoridade de Tupaciguara não pode deixar
terminar, é um evento que ta em
calendário, chegou essa data, no dia 30 à 07
de setembro ta, todo mundo na cabeça
que vai ser a feira, se acabar vai ser uma
desilusão pra muita gente em Tupaciguara.
Entrevista n
o
5: FEMUART Maria Euzelia Borges Cardoso Bostino. Artesã. Realizada
no dia 30 de agosto de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Não essa é a primeira vez.
Acha importante a FEMUART? Que tem... pra gente... porque é que
emprego é difícil então é um meio da
gente ganhar um dinheirinho a mais.
Do que você mais gosta? O que, por exemplo. É o movimento a
parte geral né.
O que é esse evento para você? Pra mim, a é uma criatividade que as
pessoas adquire pra ganhar um dinheirinho
a mais né.
E se a FEMUART acabar? Ah! Apesar de ter sido a primeira vez que
eu to participando, mais fica ruim pra mim
que está pela primeira vez e as pessoas que
tem as barracas muitos anos, o o povo,
essa turma..., Dona Luzia faz 06 anos que
ele participa então se acabar ele vai achar
ruim... porque aqui, emprego é super difícil.
Então, o meio de ganhar dinheiro não é
verdade?
Entrevista n
o
6: FEMUART Valquiria Dias Parreira. Artesã. Realizada no dia 30 de
agosto de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Já tem dois anos que eu participo da
FEMUART como artesã.
Acha importante a FEMUART? Eu acho que é uma maneira de você mostrar
seu trabalho, então eu acho que é
importante. Que todo ano a gente coloca e, a
gente a cada ano que passa a gente fica mais
conhecida na cidade né, seu trabalho.
Do que você mais gosta? Ah! Eu gosto de tudo, eu gosto de muito
movimento de muita festa, então eu gosto
de tudo que tem na FEMUART, eu acho
que é importante.
O que é esse evento para você? Oia é além de ser de você ta colocando seu
nome, ta mostrando seu também é assim
uma maneira de você ta ganhando dinheiro
então é é um meio, um meio doce participar
da da cidade sabe, então eu acho que é isso
que é a FEMUART pra pra todo mundo
aqui Tupaciguara.
E se a FEMUART acabar? Uai! Acho que todo mundo ia ficar muito
triste por acaso se a FEMUART um dia,
porque tem 20 anos a FEMUART. Então
ó esse ano ela ta sendo assim principalmente
mais importante, porque ta sendo fruto
nosso, nos não tamo tendo muita ajuda da
Prefeitura né, nem de coisa e tal, ta sendo
importante porque ta sendo nós é que
estamos fazendo a FEMUART. Então ta
sendo importante, se ela acabar um dia eu
tenho a impressão que fica, fica um um vão,
fica uma coisa vazia porque Tupaciguara ta
acostumada todo ano, do do dia 30 à 07 de
setembro a feira de artesanato.
Entrevista n
o
7: FEMUART – Maria do Carmo Pereira Georjutti. Artesã. Realizada no dia
30 de agosto de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Fui uma das primeiras é completando a
vigésima, participei da primeira, tinha foto,
tava grávida da filha, ela nasceu em
novembro, foi assim super emocionante. A
primeira atividade que eu comecei na feira
foi trabalhando com bonecas de pano e
modelava com durepox.
Acha importante a FEMUART? É, você faiz a propaganda as vendas são
poucas, mas aqui você faiz a sua
propaganda.
Do que você mais gosta? Mais assim interessante aqui, que você
cumprimenta todo mundo e o estress vai
embora, aqui é assim, uma terapia.
clvi
O que é esse evento para você? Você gosta do que faiz, mais você vem pra
pensando no retorno, a FEMUART aqui
é as vendas o principal.
E se a FEMUART acabar? Eu Maria do Carmo, ce pode chegar em
Tupaciguara o frentista de posto ce fala
assim, que que é a Maria do Carmo, ele fala
assim, aquela que faiz flor? Aquela que
faiz bichinho? Então! Pela minha idade eu
tinha 20 anos de feira, eu to com a
cama feita em Tupaciguara mais nos vamos
torcer pra ela não acabar, porque cada dia
que passa com o pessoal que chega de fora é
a propaganda da nossa que não tem loja.
Insisto que aqui na FEMUART as vendas
não são tanta, vem depois o retorno, com a
propaganda que faiz.
Entrevista n
o
8: FEMUART – Dalila Aparecida Frederigo. Artesã. Realizada no dia 30 de
agosto de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Não, é meu primeiro ano de FEMUART em
Tupaciguara, eu não morava aqui, então
agora é o primeiro ano que eu to
participando. Mais pra mim ta sendo uma
maravilha porque da moda do outro a gente
faiz a os crochê, os bordado, então a gente
num quase num conhece ninguém, então a
gente faiz as vezes fica até parado então
a gente expor igual a gente ta expondo, eu
expus a exposição e agora então é a
primeira vez.
Acha importante a FEMUART? Ah, eu acho que sim, é claro que sim
porque, sei os produto da gente passa a
ser conhecidos né. Então da moda do outro,
agora vendo mais vem gente de fora
procurando né então é é uma venda da gente
tem.
Do que você mais gosta? Olha num tem, a gente faiz muita amizade
que nem eu disse pra você, eu quase não
conhecia ninguém aqui, então a gente passa
a ter uma amizade a gente passa a
conhecer mais gente então é importante.
O que é esse evento para você? A ce sabe que é assim um evento muito
bom pra cidade porque acho que quase
todos os sentidos.
E se a FEMUART acabar? Ah não, acho que ai fica muito difícil
acho que ela não vai acabar de jeito
nenhum, porque ta sendo muito importante.
Entrevista n
o
9: FEMUART Dorcilene Marques de Paula. Espectadora (presidenta do
bairro Morada Nova). Realizada no dia 30 de agosto de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Eu participo da FEMUART vindo pra
passear conhecer o trabalho dos das
artesãs é apreciar a festa né, esse ano a gente
ta, numa barraca junto com a, com as
artesãs mesmo, mais assim como voluntária,
a gente ta tentando montar um ... e essas
pessoas que estão nessa barraca é que o
ajudando voluntariamente, ... na oficina
de moda.
Acha importante a FEMUART? Muito importante, é o encontro de pessoas
que vem ce vê, revê amigos pessoas que
ce passa muito tempo sem vê, i ce encontra
ai nas barracas, ai tomando um uma
cervejinha, olhando os produtos.
Do que você mais gosta? É isso que eu acabei de dizer, é o
encontro das pessoas, dos amigos que as
vezes ce faz muito tempo que você não
que mora nas fazenda que vem, que mostrar
seu trabalho aqui na feira, e é as atrações
né que é da própria cidade o pessoal
cantando.
O que é esse evento para você? A FEMUART é o que que eu posso dizer, é
o trabalho, é o trabalho ce que pessoas
desconhecidas que derrepente aparece ai
com seu trabalho mostrando pinturas , é
um crochê, é um bordado, é são todos tipos
de trabalho que oce as vezes não tem
oportunidade de conhecer e que derrepente
nessa feira ce vem e conhece né.
E se a FEMUART acabar? É muito triste, é porque vai tirar uma parte
da da atração da cidade é acostumado
ta todo ano é se acabar, vai ficar mutio sem
graça.
Entrevista n
o
10: FEMUART Sônia Maria Ferreira Carvalho. Artesã. Realizada no dia
30 de agosto de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Todo ano eu participo, e assim eu acho
muito importante pra gente, que é um lugar
da gente mostrar o trabalho da gente, é
um lugar que a gente convive mais conhece
mais as pessoas, as pessoas fica conhecendo
mais o trabalho da gente né, volui mais pra
cidade volui com as amigas, com as colega
que ajuda também né. Então são todas
assim, todas amigas então eu acho que é
uma coisa que não pode nem ter fim, tem
que continuar.
clvii
i
Acha importante a FEMUART? Oh, eu acho bom quando começa sabe a arte
de começar levantar as barraquinha ajuda, o
serviço voluntário todo mundo são muito
voluntário sabe, todo mundo ajuda,
ninguém que saber de preço então eu acho
muito legal isso, então eu acho que, uma
coisa que todos nois participano eu tem
02 anos que eu to e não arrependi não, não
tem muito sim lucro mais a gente pega
muito trabalho conhece muito as pessoa,
muito trabalho que vai pra fora, então eu
acho muito importante pra nois.
Do que você mais gosta? Respondeu antes.
O que é esse evento para você? Olha eu acho a FEMUART assim um uma
arte de lazer, por a cidade ser pequena então
é um evento que tem na cidade, muito bom
tanto quanto pra mim, pra todos de fora que
vem, os turismo que tão na cidade, ta
evoluindo muito, ta vino então eu acho
assim que sem ele nessa época ficaria bem
parada a cidade mais como tem ai é
diferente, fica mais agitado assim
começa mais o movimento do pessoal de
fora fica sabendo, ai vai vino, igual hoje
mesmo tem poça gente mais amanhã deve
aumentar muito né. Então pra nois aqui, eu
acho importante a FEMUART.
E se a FEMUART acabar? Nossa! Nem nem sei, como isso é uma
coisa, eu acho que não pode acabar, sabe eu
acho a FEMUART que evem muitos
anos, eu nem sei mesmo a idade que tem a
ela porque que eu to aqui dentro tem uns
dez anos mais que eu to convivendo com a
FEMUART com com artesã tem dois
anos e meio que eu to aqui dentro mesmo
sabe, vai fazer três anos, mas eu. Não pode
acabar, tem que continuar é.
Entrevista n
o
11: FEMUART Divina Maria de Freitas Carvalho. Vereadora. Realizada
no dia 30 de agosto de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Sim, eu sempre participo mesmo antes de ta
como vereadora, eu sempre participei
porque, uma festa tradicional na cidade e é
um evento que uma as pessoas, então eu
acho muito importante pra nossa cidade esse
acontecimento.
Acha importante a FEMUART? Eu gosto é é assim, de tudo pra te dizer,
principalmente dos trabalhos que são
apresentado pelos artesãos, então são coisas
maravilhosas, trabalhos muito bonito, e que
a gente vai descobrindo em pessoas assim
simples, o valor que eles tem pelo trabalho
que eles consegue desempenhar, é
maravilhoso.
Do que você mais gosta? Respondida antes
O que é esse evento para você? FEMUART pra mim, e ela é lazer é também
assim igual eu te digo, união das pessoas né,
então um lugar que as pessoas vem, pra se
divertir, pra encontrar os amigos, então a
FEMUART é um lugar onde vem crianças,
jovens, idosos então uni as pessoas.
E se a FEMUART acabar? A isso seria é seria muito triste porque nós
tupaciguarense, nós nos acostumamos,
então pra nós é é que a gente nós não
esperamos que isso aconteça, porque
sempre vai ter pessoas que vão
desempenhar esse trabalho, porque
realmente, é um trabalho que as pessoas se
dedicam, então pra nós eu acredito que num
vai termina, num vai acabar não, jamais.
Entrevista n
o
12: FEMUART Marilda Aparecida Ramos Silva. Funcionária pública.
Realizada no dia 30 de agosto de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Pra te dizer a verdade, em Tupaciguara é
festa que eu mais adoro, eu adoro, eu mais
gosto, participo sempre, se eu tiver
doente pra num vim.
Acha importante a FEMUART? Nossa! E como, trais artesãos de outras
cidades, é i i i é o modo dos artesãos
mostrar seus produtos, muito importante.
Do que você mais gosta? O que em mais gosto, é o contato onde você
encontra os amigos, bate papo, no meu caso,
eu adoro minha menina também aquela
nenininha de quatro anos, é onde ela tem o
trenzinho que ela está brincando, então é o
modo da gente sair de casa, que aqui quase
em Tupaciguara quase não tem nada pra
gente participar mesmo, é um modo de
né.
O que é esse evento para você? A FEMUART pra mim, é o encontro de
pessoal, dos artesãos também de mostrar
seus produtos, que tem muitos artesãos aqui
em Tupaciguara que num expõe seus
produtos, estão escondidos, então essa é a
forma deles mostrar.
clx
E se a FEMUART acabar? Nem me fala (riso) vou lamentar muito,
peço a Deus pra que isso não aconteça
jamais.
Entrevista n
o
13: FEMUART Jarbas Feldner de Barros. Vereador e professor de
história. Realizada no dia 30 de agosto de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? É, participo indiretamente porque eu o
sou artesão, não sou expositor, mas eu...,
Porque foi o criador do projeto e eu sempre
acompanhei de perto dando apoio naquilo
que era necessário, e o fato de eu ser
vereador, praticamente desde o início da da
caminhada da FEMUART, eu tenho
acompanhado muito de perto a luta e o
trabalho dos artesãos pra chegar no nível
que chegou hoje. Então a minha
participação tem sido mais na ajuda de
apoio político de regulamentos, quando tem
concursos que dentro da FEMUART, tem
uma série de concursos, então eu ajudava
mais a nível familiar do meu sogro.
Acha importante a FEMUART? Ela é importante, ela é importante primeiro
porque, ela cria uma consciência na
comunidade da importância do trabalho
artesanato. Que diante da grande evolução
da sociedade, do avanço da máquina né, é a
de repente e esse, esse, esses talentos, esses
trabalhos é, estavam esquecidos, e foram
agora resgatados com a FEMUART. Então
é uma importância muito grande pra
comunidade, além de trazer essa
consciência, também aquele momento de
entrosamento da comunidade, é um período
de uma semana em que a praça fica cheia de
gente, em que os artistas da cidade se
apresenta, é muito importante, que ela não
trabalho com o trabalho artesanal, ela
apresenta também por exemplo: as duplas
sertanejas, a capoeira da cidade, as duplas
sertanejas, a a o desfile de pequenas
meninas que sonham um dia ser manequim.
Então ela traz uma série de outros tipo de
trabalho e de atividades pra comunidade
além de fazer com que a comunidade se
reúna. E o mais importante é que eu não me
recordo nesse 20 anos, que eu tenho visto,
brigas né, bebedeira ce numné, a polícia,
ce pode vê, a polícia não deve ta por aqui,
porque raramente tem problemas. E além do
mais oferece aos clubes de serviço da cidade
com é o Lions, atividade num bar que cujo a
arrecadação vai pra ajudar é é pessoas mais
carentes da cidade, então acaba envolvendo
toda a cidade, então ela é de uma
importância muito grande pro município.
Do que você mais gosta? Eu gosto de tudo mais, primeiro eu gosto
dessa aproximação da comunidade de é é
muito bonito ver as pessoas unidas e a
praça por ser um espaço público, o espaço
do povo né, as pessoas ficam muito a
vontade, é é as pessoas conversam,
encontram velhos amigos , quer dizer,
esse momento de confraternização é muito
importante. Eu pessoalmente gosto muito
disso, por exemplo, você eu estou
conhecendo você graças a a praça ta cheia
de gente (risos), então é é eu acho uma
das coisas mais importante, além de
proporcionar à cidade essa oportunidade de
mostrar o seu trabalho, a cultura.
clxii
O que é esse evento para você? Não ele marca exatamente o resgate da
cultura né, o resgate de atividades, de de
participação de pessoas que até então tinha
seu trabalho que ficava escondido né. Eu
pessoalmente agora antes de vir pra cá,
passei numa barraca ali do pessoal da zona
rural, eu tava vendo uma, uma coberta feita
naquele tear manual, antigo, né, é a primeira
ali ce vai ao lado do Samuel, ao lado
assim na curva, é um trabalho feito duma
coberta, feita à mão naqueles tear manual.
Quer dizer, onde ce isso hoje né, roupas
feiras de uma artesã, que pega jeans e é que
não usa mais corta o jeans e faz saia pra
crianças, todo trabalho com portas, quer
dizer, são resgates. Doces caseiros pois é
coisas fantásticas né, então são obras
realmente que chamam a atenção é
importante esse resgate cultural.
E se a FEMUART acabar? Não, eu não quero nem pensar porque essa
hipótese eu acho que hoje é muito difícil
porque, principalmente igual eu tava te
explicando, eu gosto de deixar gravado, pra
depois você colocar isso parte da sua tese,
vai ser um aspecto muito importante. É que
este ano ele ta tendo a conotação de
diferença dos outros anos, porque, porque
este ano a o envolvimento da prefeitura que
até na feira passada, a prefeitura montava
tudo com seus funcionários, e o artesão
chegava e colocava seu produto dentro da
barraca. Este ano devido a prefeitura, ter
afastado devido as dificuldades financeiras,
coube aos artesãos fazer desde a limpeza da
praça até o que ta acontecendo agora, que
são as barracas montadas. Então eles
passaram a participar ativamente e
aconteceu uma coisa que eu como professor
de história né eu tenho batido a muitos anos,
e a mudança da da da cultura de achar, que
o poder público é que tem que fazer tudo
quando nós é que temos que começar a nos
virar e a buscar o nosso próprio espaço. E
eles provaram hoje, eu falava hoje com a
presidente da da Associação, parabéns vocês
provaram que vocês podem, que vocês não,
não precisa ficar mais dependendo da
prefeitura fazer tudo. Então este ano tem
essa conotação nova, esta grande avanço da
sociedade e dos artesãos de mostrar que eles
são capazes, que eles podem fazer uma feira
e que a prefeitura antes de ser patrocinadora,
ela possa ser parceira né, isso ela pode ser,
uma parceira de ajudar no trabalho. Então
eu acho que o grande avanço foi esse, agora
terminar eu acho muito difícil, quer dizer
tudo nesse mundo tem fim, pode ter fim,
mais eu acho que ela vai levar muito tempo
ainda, porque ela faz parte inclusive hoje do
calendário turístico da cidade né, entre,
quando você faz a programação do
município você tem, no começo do ano o
Carnaval, você tem a Exposição e ce tem a
Feira de Artesanato, ela no final do mês de
agosto e no início do mês de setembro é
característica né. que ela pouquinho de
uns aspectos que ela visava que o professor
Samuel colocou nos sete dias de feiras, de
feira. Todos os dias de manhã as 08:00 ele
trazia uma escola, fazia o asteamento da
bandeira, cantava o hino nacional, tinha
clxi
v
Entrevista n
o
14: FEMUART Maria Abadia de Oliveira. Artesã, mas esse ano está
participando como espectador. Realizada no dia 30 de agosto de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Não é sim participava como visitante né,
mais participando é a primeira vez. A é
participei na exposição né, depois teve um
outro evento aqui eu participei e agora to
participando mesmo a primeira vez.
Acha importante a FEMUART? Acho muito importante que é uma coisa
assim que a gente mostra aquilo que a gente
faz, mesmo que a gente não vende as vezes
nenhum, mais os outros vê, gosta, as vezes
depois procura a gente, encomenda alguma
coisa, então acho importante sim.
Do que você mais gosta? Eu gosto de tudo assim porque a gente faz
muita amizade, é a gente participa, a
gente sai , que a gente ficar em casa parada
é ruim né, então a gene enterte, a gente
disfarça né é muito importante, eu gosto.
O que é esse evento para você? A eu acho que sim, uma coisa muito
importante, assim porque eles gosta muitas
coisas assim que a mocidade de hoje as
vezes nem conhe, nem tinha oportunidade
de conhecer e agora isso que a gente ta
mostrando eles tão vendo, tão conhecendo
que tem muita antiguidade né, então é uma
coisa eu acho importante
E se a FEMUART acabar? A eu aço que vai ser muito ruim porque,
muitas coisas sim que a mocidade, as
crianças que evem as vezes não vão vê né se
ela acabar, porque esse é o meio da gente
mostrar sempre ta mostrando muito
então, acho que é muito importante, não
deve acabar né.
Entrevista n
o
15: FEMUART Elizete Neves Pereira. Artesã. Realizada no dia 06 de
setembro de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Participo.
Acha importante a FEMUART? Muito importante
Do que você mais gosta? A gente divulgar os trabalhos da gente
ficar, fica conhecido o trabalho né, eu acho
muito importante.
O que é esse evento para você? A FEMUART é um... um meio de você
comunicar com as pessoas te conhecer né,
seu trabalho e apresentar seus trabalhos pras
pessoas.
E se a FEMUART acabar? Ah! Nem posso pensar, eu acharia muito
ruim se viesse acabar, gostaria que sempre
tivesse.
Entrevista n
o
16: FEMUART Aureni Augusta de Souza Firmino. Artesã. Realizada no
dia 06 de setembro de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? É a primeira vez, primeira vez que, eu
mudei pra pouco tempo né, morava no
Paraná. Ai então a primeira vez que eu to
participando.
Acha importante a FEMUART? Nossa! É muito, porque os artesãos, se eles
ficar trabalhando em casa e não ter onde
expor seus trabalhos coitado do artesão né.
Do que você mais gosta? Eu gosto de expor o trabalho que a gente faz
e as pessoas olhar e falar. Nossa que
lindo! Isso pra gente é um encanto, eu adoro
que eu vejo falar isso.
O que é esse evento para você? FEMUART pra mim, ta sendo importante
né, porque eu to participando agora,
começando i eu acho que todos os artesãos
deveria fazer parte da FEMUART, ingressar
que, que vai dar certo , ta dando certo
sempre né, tem vinte anos, vem tento
também, não é a primeira vez.
E se a FEMUART acabar? Oh! Eu acho que vai ser uma decepção pros
artesãos e muito né, porque eles tão
acostumados com essa festa todo ano. Todo
ano então é é acho que eles vão ficar muito
triste e sei eu acho que não deve acabar
não, será que pode acabar isso? É
importante de mais pra todos né, e que
trabalha né, todo mundo se diverte, vem se
distrair também, tudo isso.
Entrevista n
o
17: FEMUART Elizete Gonçalves de Oliveira. Artesã. Realizada no dia
06 de setembro de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? É a dezoito, acho que dezenove anos que eu
participo da FEMUART.
Acha importante a FEMUART? Eu acho, acho muito importante pena que é
uma vez por ano eu acho muito pouco
porque pra um artesão. Então eu acho que
deveria ser mais mais vezes, agora a gente
ta pretendendo fazer mais vezes, mais é
muito importante é muito triste quando não
tem, porque teve um ano que não teve. Esse
ano quase num teve né.
clxv
i
Quando não teve Dona Elizete? Eu num lembro, teve um ano que num teve,
mais faz mais ou menos uns oito anos
mais ou menos, num teve e a gente que vive
disso, assim, a gente num vive, é um bico é
é um meio de você ganhar um pouquinho
né, na na feira, então a gente ficou muito
triste, foi muito ruim. Agora esse ano, o ano
passado por exemplo, eu num pudi expor foi
muito ruim pra mim também porque, a
gente acostumo, a participar, e é
importante porque o artesão mostra seu
trabalho, mostra a o trabalho de
Tupaciguara, da gente né, coisas da gente
mesmo que a gente faz com as próprias
mãos, e eu acho muito importante, e não
deve faltar não, o povo tem que medir mais
esforços e e num deixar acabar e ter mais
vezes ao ano né.
E eles estão pensando para o próximo ano
já?
A gente ta pensando em fazer uma em
novembro. É esse ano, é em novembro a
gente ta pensando em fazer uma e depois a
gente vai fazer a feira da Lua, chama Luarte,
a gente vai criar a Luarte sabe, ai vai ser ou
uma vez no mês se melhorar vai ser
quinzenal, de quinze em quinze dias, então
a gente vai ver, vai tentar, ai vai ser bom pro
artesão né.
Porque é tão importante a gente ter é esse
trabalho dos artesãos expostos na cidade.
Então ai aqui é o Tupaciguara é uma cidade
rica em artesanato, e num é só esses
trabalho que estão aqui não, tem muito
artesão ainda assim que ainda num entrou
na associação que ainda num ta, ainda por
dentro ainda, mais tem muito trabalho
bonito mais muito mesmo, num é isso
que ta aqui não, tem muito mais coisa ai
com essa. A gente teve até a loja dos
artesãos sabe, nessa época eu era vice-
presidente fio mais ou menos uns três anos
que funcionou, foi um sucesso também.
E porque não continuou? Não continuou porque a gente ganha muito
pouco né, o artesão ganha muito pouco, se
sustentar um aluguel, funcionário, água, luz
é uma dificuldade, a gente teve que fechar
mais pensamos também em abrir a loja
dos artesãos.
Eu ouvi falar, não sei se foi a Lindaura,
falou quase em frente à rádio, ou do lado da
rádio... parece que estão pensando naquele
espaço ali.
É ainda num arrumou ainda, ainda um lugar
assim definitivo não.
Do que você mais gosta? Ah! O que eu mais gosto é de é a união de
todos né, assim a gente encontra todo
mundo, os artesãos discute o trabalho, a
gente pega encomenda , por exemplo: eu
peguei encomenda que eu nem sei se eu vou
da conta, porque eu trabalho não é com
aquelas parte de bonecas... mas eu trabalho
com enxoval também, com bordado, crochê,
que eu vendi tudo em casa, ai eu tinha
essas bonecas e e inclusive esses brinquedos
eu faço sempre época de natal ai eu
ponho nas lojas né ai como eu tinha vendido
meus trem, meus bordado todos porque
eu tenho que por, fazer alguma coisa ai eu
fui em Uberlândia, aqui, aqui tem
inexistência de material, não tem material,
você tem que ir ou Goiânia ou Uberlândia e
as vezes nem em Uberlândia num ta
achando mais, vamo em Goiânia parece que
o povo vai deixando ai que foi a onde
eu fiz as bonecas, mais meu forte mesmo
que eu gosto é os bordado, as toalhas de
banquete.
O que é esse evento para você? A a FEMUART é é uma festa né, uma festa
folclórica, uma festa, é uma necessidade de
também assim de como eu desse, dos
artesãos então a FEMUART é um meio
doce mostrar seus trabalhos, de ser
reconhecido né, o artesão ser conhecido, eu
acho muito importante, eu acho.
E se a FEMUART acabar? Não eu acho a FEMUART, a FEMUART é
eu acho que não acaba mas se acabar eu
acho que o artesão não acaba, o artesão ta
vivo, sempre vivo, trabalhando. A gente tem
através da FEMUART por exemplo eu sou
conhecida de mais, mais de mais mesmo, ce
dezenove anos de artesanato, de feira, de
trabalho, então já tem gente do Brasil inteiro
que me encomenda as coisa, me liga, me
encomenda, então não morre não, o artesão
num morre não, e agora também assim, a
presidente a Linda, o Fabinho, as pessoas
que ajudam a gente, tão assim muito
empolgado e são, por exemplo: a Lindaura
que é a presidente, ela é artesã também,
então ela tem esse esforço de por as coisas
pra frente de funciona e eu acho que num
aça, se se acaba, num acaba né que isso ai ta
ta ta, vai melhorar, eu acho que só vai
melhorar.
clxv
iii
Entrevista n
o
18: FEMUART Dalva Amaral Ramos. Espectadora. Realizada no dia 06
de setembro de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Não a primeira vez.
Acha importante a FEMUART? É muito importante né, traz muito
movimento pra cidade, coisas nova né.
Diversão que aqui quase não tem, a gente vê
tanta coisa diferente né, tanta coisa boa que
acontece é assim... as meninas como o balé,
coisinha mais linda do mundo.
Do que você mais gosta? De ver as, os arranjo, tudinho, tudo... é
bonito as barracas, as músicas, o movimento
do povo que eu num to acostumada com
movimento, num sai quase a noite, to
adorando aqui acho uma beleza.
O que é esse evento para você? Eu acho que a, no meu modo de pensar a é
um evento que traz, gera coisa pra cidade
né, movimentação da cidade, é traz mais
movimento, traz mais gente de fora, é como
fala é ... valoriza mais a cidade que se
não tivesse ela num tinha agora contato com
você, com os artesãos tão trabalhando
também, traz tanta novidade, tanta coisa
bonita que traz. Amanhã termina o
ano que vem de novo.
E se a FEMUART acabar? A eu acho que fica muito triste que a
gente não vai ver nada que ta acontecendo
aqui hoje, por exemplo, né: num tem as
novidades tão bonita, ali na barraca dos
presos, ce foi lá.
Não fui. Tem tanta coisa linda lá que eles faz
artesanato mesmo, tudo na mão, é aquela
que ta no escuro, ta tampada com uma
coisa... roubaram os fios, tem coisas
lindas, ce pode ir pra ce tem navio
feito de pauzinho de picolé, tem carro de
boi, tudo artesanato mesmo, tudo na mão
mesmo, coisa mais linda. A outra tem coisa
pra venda é doce, é coberta feita no tear,
tapete, tem tapete de crochê, tem muita
coisa boa, muita coisa bonita aqui. De
comida também, faz muita coisa gostosa , a
gente fica com água na boca, faz muita
coisa boa mesmo, a eu to adorando... é uma
beleza, nunca participei assim não, e eu
moro aqui a mais de, quase trinta anos, eu
nunca vim assim, eu nunca participei assim.
Nem para passear? Um, um (risos), por isso que eu to adorando
isso aqui, acho bom mesmo.
Entrevista n
o
19: FEMUART Eliabe Ferreira Rodrigues. Artesã (adolescente).
Realizada no dia 06 de setembro de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Sim.
Acha importante a FEMUART? Acho.
Do que você mais gosta? A não, eu gosto da FEMUART porque hoje,
eu conheço mais pessoas, participo, você
os trabalhos das pessoas, é só.
O que é esse evento para você? FEMUART pra mim é a reunião de várias
pessoas, pra expor seus trabalhos é assim
novas que tão conhecendo o trabalho delas.
E se a FEMUART acabar? Ai vais ser uma falta na cidade, que a
FEMUART ta ajudando as pessoas expor
seus trabalhos. Assim num teno mais a
FEMUART é vai ser, vai fechar as portas
pra essas pessoas.
Entrevista n
o
20: FEMUART Vagner Luis Robles. (Lions Clube). Realizada no dia 06
de setembro de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Todo ano através do do Lions Clube, a
gente ta sempre presente ano a ano.
Acha importante a FEMUART? A FEMUART, a FEMUART é importante
porque resgata a cultura e ela traz também a
oportunidade de comercialização dos
artesanatos dos pequenos, dos pequenos
artesãos então, é importantíssima pra
eles, é uma renda a mais que vem agregar
pra eles isso é interessante.
Do que você mais gosta? Bom, é eu o movimento em si é importante
a interação, a o pessoal que, que traz o
artesanato em si e a gente que da o
suporte pra uma festa e uma
oportunidade melhor pra eles negociarem
né.
O que é esse evento para você? FEMUART é a manutenção da cultura, da
raiz do município né. O município ele ta
voltado no, pro agro-negócio, e a a no caso
o artesanato ele vem completar a a renda
dos pequenos produtores né, e os pequenos
comerciantes isso é importante pra eles.
E se a FEMUART acabar? É cogitou-se desse ano não fazer a
FEMUART mais eu acho que estamos
na vigésima edição da FEMUART que seria
um retrocesso muito grande. Então deveria
haver mais motivação mesmo sendo o
próprio governo municipal e a interação
da sociedade com um todo pra manter
porque é uma tradição e a gente tem que
manter as tradições, a cultura, isso é
importantíssimo pro município.
clxx
Entrevista n
o
21: FEMUART – Sandra Aparecida Alves Paula. Espectadora. Realizada no
dia 06 de setembro de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Participo todo ano.
Acha importante a FEMUART? Acho muito importante que a cidade é
pequena quase não tem nada então, é
uma diversão a mais.
Do que você mais gosta? Eu gosto mais dos desfiles, da escolha das
bonecas e das rainhas.
O que é esse evento para você? Acho que é um incentivo pra cidade uma
cultura a mais né eu gosto.
E se a FEMUART acabar? Ai acaba o passeio do trenzinho né (riso).
Que trenzinho? A carreta da alegria que é um supérfluo da
criançada aqui que todo mundo adora e todo
ano ele ta aqui, dez dias ele ta aqui
presente.
Entrevista n
o
22: FEMUART – Tereza de Fátima Marques. Artesã (Comunidade da
Descarga). Realizada no dia 06 de setembro de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Não, hoje é a primeira vez.
Acha importante a FEMUART? Acho.
Do que você mais gosta? A eu acho que as pessoa apresenta as coisas
que fazem que não tem muito opção pra
apresenta e vendem alguma coisa, eu acho
que é uma coisa boa.
O que é esse evento para você? ...Pra num é uma feira, uma feira
comunitária, eu acho que é.
E se a FEMUART acabar? Num pode acaba não, eu acho que tem é que
melhorar ela mais.
Entrevista n
o
23: FEMUART – Abadia Braga Pereira. Artesã. (Comunidade Rural).
Realizada no dia 06 de setembro de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Eu participei, é a primeira FEMUART
quando se criou a associação da
FEMUART, eu fui a primeira secretária
juntamente com o Sr. Samuel que na época
era o presidente e a gente sempre participou.
Mas ultimamente eu tava afastada porque eu
mudei e esse ano estou aqui de volta.
Acha importante a FEMUART? Muito importante pois é a oportunidade do
artesão mostrar o seu trabalho, hoje é a
gente tem que ta assim procurando meios é
de sobrevivência então, o artesanato eu acho
que é uma das maneiras dos, aumentar a
renda familiar e de ta passando também uma
cultura que vem de geração pra geração.
Como o bordado que avó fazia, passa pra
mãe, pra filha então, eu acho assim muito
importante mesmo e eu até acho assim, que
a FEMUART deveria acontecer não uma
vez no ano mais até mensal pra as pessoas ta
comercializando e mostrando o o que a
comunidade ta produzindo e divulgando
essa cultura que eu acho tão linda e tão
importante.
Do que você mais gosta? Ah, eu gosto de tudo, eu gosto da do
movimento, as pessoas é os stand, as
apresentações artística, é o trenzinho da
alegria, eu gosto de tudo, eu amo tudo,
eu acho lindo, maravilhoso.
O que é esse evento para você? eu acho que é assim, é um momento de
lazer, é um momento de de uma
confraternização da gente encontrar velhos
amigos, é o momento também da gente
comercializar, é os produtos da gente
divulgar mostrar então, eu acho que a
FEMUART é, faz parte assim da vida da
gente é muito importante.
E se a FEMUART acabar? A vai ficar muito triste né eu acho assim que
o artesão vai ficar sem ter como mostrar seu
produto e e sem divulgar e e até mesmo sem
sem ta passando essa cultura e que é uma
tradição que vinte anos de FEMUART
mas eu acredito que é pra mim a
FEMUART ta recomeçando porque eu
estou aqui esse ano e pretendo está todos os
anos e trazer mais as comunidades rurais.
Estou representando a comunidade rural e
somos oito comunidades rurais tem três
expondo ali, eu espero que o ano que vem
as oito esteja aqui, todos participando,
trazendo também assim os produtos da roça.
O artesanato da roça também que o pessoal
da fazenda também, da roça também são
artesões assim incrível faz coisas
maravilhosas e a oportunidade deles ta
também mostrando né.
clxx
ii
Entrevista n
o
24: FEMUART Manoel Agmar Lourenço. Realizada no dia 06 de
setembro de 2003.
Participa da FEMUART todo ano? Todo ano.
Acha importante a FEMUART? Eu acho importante.
Do que você mais gosta? Uai! Aqui praticamente tudo.
O que é esse evento para você? Uai! É um evento muito bão né.
E se a FEMUART acabar? A a gente vai ficar triste né.
O que o senhor está expondo? To expondo é é um invento dos presidiários,
que pe ajudar eles lá na na cadeia né, porque
eles ta ta preso não tem como ganhar
dinheiro, eles faz então põe na exposição ai,
e vende pra eles.
O senhor vende muito? É ta muito bão pra vender não, de vez em
quando vende um é.
O que eles fazem? Faz, faz aqueles barquim de time: framengo,
Vasco, palmeiras, eles fazem cesto, fruteira,
essas casinha, carrim de boi. Tudo eles faz
que vê, am, que mais eles faz mais, porta
retrato muito bonito, tudo eles faz...
É tava quatro meses desempregado então eu
tava em casa o cara da feira chegou e que
perguntou se eu queria o serviço, fazer
limpeza, e veio eu e mais minha mulher e
nois veio fazer essa limpeza, ele pego e me
deu outro serviço aqui na feira, eu fiquei
muito com ele, o nome dele é é , como é que
ele chama é agora esqueci o nome do rapaz,
a é Fabim, eu agradeço muito pra ele te mi
dado esse emprego.
Entrevista n
o
25: Capoeira – Carlos. Contra-mestre. Realizada no dia 14 de maio de 2004.
Você poderia falar sobre a Capoeira? Bom, Tupaciguara se eu me lembre bem ele
teve início a capoeira aqui no ano de
1998com a visita do então, mestre Chibata
do grupo cordão de ouro de Uberlândia
formado, por mestre Cúrias. Através daí
então ele, ele designou um aluno 17 aluno
instrutor na época pra dar aula aqui em
Tupaciguara ma como ficava, custiá a
passagem ida e volta então surgiu então um
o então professor Curiango que é o Luis ,
que residia em Tupaciguara e voltou a ter a
sua atividade na capoeira desde dessa época
de 98 também mais ou menos o mês de
agosto, que ele teve início em julho e
continuou o Curiango por com uma data
mais ou menos de um ano seno professor de
Tupaciguara de capoeira, ai com a chegada
do instrutor Buchecha, que é o Célio hoje
reside novamente em Uberlândia veio pa
Tupaciguara através de convite começou um
trabalho junto com o Curiango, devido é
entreterimento não a toque de informação
adequada, os dois tiveram uma
descombinação, foi onde o Buchecha
formou a Associação Cultural de Capoeira -
Guerreiros da Capoeira e o Curiango ficou
com a Academia Mãe Capoeira que os dois
manteve um trabalho separado. Ai com a
minha vinda pa Tupaciguara a convite de
alguns amigos, eu sempre tava aqui
passeando olhando a capoeira de perto
participando do processo e sempre dava
uma orientação pra Curiango pro Buchecha
trabalhar na questão social, a criança
carente, com as escolas, creche municipais,
eles não tinha essa visão. Porque é é eles
tinha uma ambição na, no requisito
dinheiro, ai eu falei, é complicado então, ai
eu pertencia ao grupo de Palmares é o grupo
Palmares Capoeira de Mestre No e Sabiá da
Paraíba, fiquei vino passear aqui, minha
família e continuei sempre tendo um elo
com esse pessoal. Até que então surgiu a
oportunidade deu retornar nova, pra morar
em Tupaciguara começamos uns projetos ai
de curto prazo foi se destacando ai o
Curiango era então mestrando num deu
certo mais o trabalho dele por questões
pessoais mesmo, familiar, questões
próprias, o Buchecha que era contra-
mestre na época tinha mais ou menos em 90
e, 2000, no ano de 2000 que eu dei início
clxx
iv
O que é a ACCA? ACCA significa Associação Cultural de
Capoeira Abolição, quiser maiores
informações nos temos nosso site também
que é www.aboliçaocapoeira.com.br ok.
Entrevista n
o
26: FEMUART Dona Vita esposa do Sr. Samuel fundador da Femuart.
Realizada no dia 14 de maio de 2004.
A senhora poderia contar a história de
quando começou a Femuart aqui em
Tupaciguara.
No início da década de 80 deu foi dada
início pelo Samuel a feira de artesanato. E
foi feito na praça do ginásio né, na praça do
ginásio, praça João de Barros e com quanto
temp foi que eu não me lembro mais que foi
passada pra cima, e daí pra fez uma
pausa no falecimento dele um ano nesse
ano é foi de 1900 Ângela, 1990 que não
houve a ... 1990 ai não teve a feira.
A única época que não teve? Foi a única época e ai depois nunca mais
falhou.
E foi sempre ali na praça? Era na praça João de Barros e umas duas ou
três vezes foi na praça da Policlínica. Agora
foi inaugurado, agora vai ser na praça da
Matriz, vai ser é tem um...então
puseram o nome dele já foi inaugurado
É a praça da Igreja Matris em frente à Igreja
Matriz. Vai ser a partir de agora 2004
A praça da Igreja Matriz, é sim e ... de agora
em diante já tem o local, tem tudo direitinho
com o nome dele.
Porque antes estava sendo na praça onde
acontece o carnaval, vai sair de lá, e vai para
a outra praça?
É isso mesmo, vai, isso.
E como o Sr. Samuel teve a idéia de fazer a
FEMUART aqui Dona Vita?
Ele foi convidado, ou mandado que eu não
me lembro muito bem, pela prefeitura pra
Belo Horizonte, ai eu mesmo ajudava ele
fazer as campanha na rua dos trabalho e
tudo e eles iam uma perua lotada, e por ai
ele se entusiasmou, alguém animou ele deu
muito apoio e ele fundou aqui.
Seu Samuel era artesão? Não ele tinha muito assim entusiasmo...,
mas ele não era artesão, ele quis foi ser
padre (risos), ai depois ele sei desistiu
e foi lecionar
Ah! Então ele era professor. Foi professor né, professor.
E toda vida ele deu muito apoio e gostou
bastante é gostava de artesanato, também
nordestino gosta dessas coisas né, ele era
nordestino, eles adora isso ai e portanto
parou com ele, nas mãos dele quando
Deus levou, mas o pessoal continua é.
Entrevista n
o
27: Carnaval Horácio. Presidente e fundador da Uni-raças. Realizada no
dia 14 de maio de 2004.
Horácio como começou o carnaval na
cidade de Tupaciguara?
Antigamente era o carnaval feito na
Associação Recreativa e tinha vários
blocos cada, é uma turma tinha cada um
tinha um bloco de de trinta, quarenta
sessenta pessoas pra participar no clube e
tinha é tinha os concurso pra pode ta
incentivando mais né. e depois quando foi é
em 84 eu tinha um bloco, eu tinha um bloco
a gente participava no clube durante o
carnaval e quando foi em 84 o então
candidato Doutor Enoris me procurou pra
que, se tinha condições de de fundar uma
escola de samba, transformar o bloco em
escola de samba, e era um sonho nosso a
muito tempo de ta querendo montar uma
escola de samba, fazer um carnaval é po
povão, que a gente eu ficava assim vendo o
pessoal, que tinha condições ia pro clube
que não tinha não conhecia nem o que era
carnaval né, ai nos pegamos fizemo com ele
o trato que se ele ganhasse a campanha nós
íamos ajudar na escola de samba, ai quando
foi, aconteceu um incidente ...,e a esposa
dele que assumiu né ganhou como prefeita é
chamou a gente. Era do professor Carlos
Antonio do Vale que era o Secretário de
Cultura na época ai ele me chamou falou o a
prefeita que cumprir o que o Enoris fez
então seis tão disposto? Falei uai disposto
nos tamo precisamo é apoio e verba.
falou não quanto isso ai vamo fazer vamo
correr e isso tava assim próximo a a
fevereiro pro carnaval, mas mesmo assim,
nos corremo, nos juntamo a gente tinha
um pouco um pouco de instrumento do
pessoal nosso mesmo ai comprou mais um
pouco com a verba da prefeitura e fundou,
saiu ainda assim um um um meio bloco
como escola né. Foi confeccionado tudo
no museu que tinha a secretaria,
funcionava mais a Secretaria de Cultura
ai foi confeccionou com as costureira que
tinha lá bordou as roupa fizemo a bandeira e
saimo como é o, chamava o bloco chamava
União das Raças e ai passou a chamar
Escola de Samba União das Raças. E
fizemo um pequeno sambinha pra
intensificar né, ter um ritmo na música e
fizemo, fizemo o desfile, saiu com sessenta
pessoas.
clxx
vi
Em 84. É em 84 nós saímos com sessenta pessoas
umas quinze, vinte na bateria e o restante
era passista, porta bandeira e fizemo um um
carro alegórico assim em cima dum trator
improvisado (risos)..., e fez um convênio
com a prefeitura e clube e a escola, e a
escolinha que faria o carnaval até certa
hora, até onze horas mais ou menos seria na
rua e depois voltaria gente contratou uma
banda que faria o carnaval dentro do clube
foi o primeiro carnaval, foi o primeiro passo
que a gente teve pra fazer o carnaval de rua,
então funcionou foi todo dia, era durante
quatro, os quatro dias fazia na rua da
sete até onze horas e depois é. Onze horas
parava ia pro clube e num é num me
recordo, fez um popular no Bem Te Vi,
mas, pela prefeitura mesmo que
contratou o Vilmar né pra ta fazendo, só que
a distância era muito é longa né, então o
pessoal num num ia muito lá num tava, num
gostou muito de ir pra então ia todo
mundo embora pra casa, ai quando foi no
domingo nós fizemos o desfile da escola,
fizemos o desfile na avenida e tudo,
preparou fez o desfile foi assim, foi bom
porque foi o primeiro experiência foi o
primeiro e tudo ai nos falamos, falei, agora
nós vamos, vamos brigar durante o ano todo
arrumar uns padrinhos ai pra nós conseguir
mudar esse carnaval pra praça João de
Barros que é muito melhor, seria muito
melhor lá, o espaço é o banheiro essas tudo
lá em baixo não tinha.
Lá em baixo, era onde? É na Bueno Brandão esquina com a Raul
soares, tinha um caminhão, um trio elétrico
que ficava estacionado no meio da avenida
e o povo ficava dentro da rua ali é
brincando de frente, quase em frente a RT,
terminava era subir mais uns dois metros
se tava dentro a RT. Só que o povo, o povão
ia era embora pra casa porque, reservar
mesa na época era caro sempre foi caro,
então quem tinha condições ia clube, quem
não tinha ia embora pra casa ou então tinha
que ir no outro clube que era gratuito mas
era muito longe, perigoso atravessar a
rodovia e tudo então quando foi no outro
ano nós fomos conversado com o
Secretário, fomos passa o carnaval em cima
e ele meio irredutível, ai nós arrumamos uns
vereador conversamos com os vereador
também, assim não vamos conversar com o
Vitor que é o chefe de gabinete ai ele
conversa com a mãe dele, ai nós fizemos,
ai ... ficou meio assim falou não mas, vai
dar certo vamos levar pra ai trouxe.
Levou pra praça João de Barros e fizemos,
passou a todo ano durante, de 85 pra frente
o carnaval veio pra praça João de Barros. A
escola cresceu aumentou os componentes,
fizemos passou a ter samba enredo é é com
compositor próprio pra fazer o samba
enredo a gente criava o samba, onde teve é
Aquarela do Brasil que foi esse ano, teve
500 Anos, teve uma homenagem a Nalva
Aguiar e Minas Gerais foi os principais é
sambas enredos que nós fizemos, que fez
e hoje a escola ta hoje com 680
componentes é que nos estamos saindo na
avenida, uma bateria com 150 e doze ala
dividida em torno de 60, 70 componentes
cada ala. Tem o clube dos idosos que
participa com ala das baianas são 55
baianas e a escola ta com esse número de
componentes. Hoje ela é um núcleo de
cultura porque, pra poder, funcionar oficinas
de de bordados, musicalização então hoje,
nós transformamos numa ong e dentro da
ong funciona a escola de samba, então é
Núcleo de Cultura, hoje ela chama Núcleo
de Cultura União das Raças de Tupaciguara
e dentro do núcleo tem a Escola de Samba
União das Raças, pra gente fazer, tamo
fazendo um trabalho social com menino de
rua, num ta assim é funcionando total, mas a
clxx
viii
O carnaval de rua. De rua.
Está vindo muita gente? Tem, todo ano é em torno ai de trinta, trinta
mil pessoas, quarenta mil pessoas que vem
passa o carnaval aqui, virou um ponto
turístico. Na época do carnaval é o pessoal
passou acreditar no carnaval, na cidade, o
comércio né, é investir aluguel de casas, o
povo passou a alugar casas na época do
carnaval, então hoje o carnaval ficou um,
ficou é, se tornou o ponto referencial de
Tupaciguara ele, ultimamente ele anda
perdendo pra CampinasVerde, o
carnaval, é aqui virou, a região ficou sendo
o melhor ta que nós tamos conseguindo
fazer, ele tem muita, muito vem muito
turista esse ano, o ano passado, todo ano
tem, aluga casas, inúmeras casas, ficou
mesmo um suporte pra cidade, acho que
né.
É o carnaval de clube, com a vinda do
carnaval de rua, o carnaval do clube
terminou é agora tem de rua agora,
tem de rua, num tem o de clube fechou,
acabou.
É a noite inteira? É a noite inteira começa, são cinco dias
começa as seis horas da tarde e vai até sete
horas da manhã durante os cinco dias. O
pessoal num, dorme na praça, acampa
porque aqui em Tupaciguara por ser uma
cidade assim é pequena mas aconchegante,
então ce tem, o povo nunca aconteceu
durante esses anos tudo, nunca aconteceu
nenhum acidente assim, falar que matou
alguém, essa briguinhas sai normal
mesmo mas um incidente grave nunca
saiu. Então ce pode deixar uma criança lá de
carrinho na praça brincando que não
acontece nada, tem o matinê nos dois dias
de feriado no domingo e na terça tem o
matinê. Aqui o desfile da escola é no
domingo, no domingo a escola faz o desfile
na apresentação dela e na segunda feira tem
os desfiles dos blocos que tem mais de trinta
blocos que desfila, esse é são separados da
escola, ai é um concurso que a prefeitura
promove pra incentivar o pessoal
também a ta brincando vindo participar do
carnaval com bloco. Ai tem concurso
primeiro, segundo lugar, os blocos tem na
segunda-feira ele faz o desfile deles
separado da escola pra, tem blocos até de
fora pra fazer, pra participar aqui com a
gente, com os blocos daqui ai eles fazem
cria né, é temas e tudo inclusive tem bloco
ai ta até falando em transformar ele em
escola que são blocos ai grandes.
Só tem uma escola. Escola tem uma, tem uma escola a
nossa escola, mas ta, tão querendo
montar mais uma ai pra concorrer com nós.
É bom porque incentiva mais os
componente da nossa a (risos) a caprichar
mais ainda no serviço.
Entrevista n
o
28: Folia dos Reis – Sr. Nenzico. Realizada no dia 08 de julho de 2004.
clxx
x
Senhor Nenzico, o senhor podia contar pra
mim a história da Folia de Reis?
A Folia de Reis é vem de uma tradição
da Bíblia Sagrada mesmo que, que ...é foi
da vigília dos Três Reis Magos, quando o
menino Jesus nasceu, então apareceu a
estrela no oriente aquela estrela pareceu
pra eles, quase ninguém via aquela estrela e
e foi um sinal que eles esperava, o
nascimento de Cristo então eles foram
seguindo aquela estrela e cada vez que eles
andava aquela estrela ia mudando de lugar e
eles acompanhando ela, e foi indo até chega
a onde estava Jesus naquela manjedoura e
ali foram, chegaram também os pastores, os
visitantes, todas pessoas visitaram e daquele
tempo pra saiu essa tradição, da Folia de
Reis, então é eles levaram presentes pro
menino Jesus, levaram ouro, incenso, milho,
mais, então siguiu a Folia de Reis que saiu
pedino esmola, é pra leva também presente,
então vem desde daquele tempo, vem essa
tradição, seguindo hoje, então hoje as Folia
anda na cidade, nas roças, é, no interior, na
cidade grande é no Brasil inteiro tem essa
tradição, sobre o nascimento de Cristo.
E a Folia de Reis em Tupaciguara, quando
começo?
A Folia de Reis em Tupaciguara, des que
eu fui nascido muitos anos eu toda vida
eu lembro tem a Folia de Reis, sempre teve.
Umas épocas as veis aumenta mais, outra
diminui isso depende muito do apoio das
autoridade que da pra Folia as veis aumenta
e as veis diminui também.
E o Senhor faz parte da Folia de Reis? Sempre fiz desde o começo é quando eu
era bem novo ainda, comecei a aprende e sai
fora da nossa cidade pa pode aprende, se
tinha diferença das daqui e quando eu sabia
que tinha uma, Folia em Goiás ou nos
outros estados eu ia atrás , ia atrás pra assisti
e aprender, então eu aprendi bem a fundo
aquilo, bem muita coisa mesmo eu aprendi
da Folia de Reis. E comecei a sai ai guiando
a Folia, de capitão e também passei a canta
nas parte pra trás também que é a primeira,
segunda, terceira, quarta, quinta e sexta voz
e quer dizer participo de tudo.
Qual a época da Folia de Reis aqui em
Tupaciguara seu Nenzico?
A certa mesmo é é vinte e cinco de
dezembro né, vinte e quatro pra vinte e
cinco que é o dia de nascimento nos
saimo e fazemo a chegada dia seis de
janeiro é a Folia certa, mas a gente sai fora
de época também porque as veis tem argum
voto de alguma pessoa que precisa e na
época as veis num da pra fazer tudo as veis
sai alguma... que se fala temporana que
eles diz.
Seu Nenzico tem muita Folia aqui na
cidade?
Eu calculo que aqui quando é, na época
mesmo deve sai umas de seis a oito Folia na
época.
O senhor lembra mais ou menos a data
quando o senhor começou essa Folia de
Reis?
Quando eu comecei mesmo foi na na década
de sessenta por ai mais ou meno.
E já existia? A já, i muitos anos desde criancinha que
eu via a Folia de Reis né, isso é uma
tradição que vem de muitos e muitos anos.
E tem muita gente participando seu
Nenzico, criança, jovens?
Tem bastante e embora assim é alguns ai
falta organização, mas tem bastante gente
participano novo mais velho né, tudo
participano.
E essa Folia ela sai aqui na cidade ou em
outros lugares também seu nenzico?
Sai na zona rural também né, zona rural
primeiro a gente andava muito mais, mais
na zona rural mas devido a mudança de do
povo pra cidade né. Que, pelas lei que
mudou de mais o povo vei pra cidade então,
a gente anda mais na cidade, mais de vez
em quando vai na zona rural também.
Seu Nenzico, são quantos dias de Folia
assim na cidade?
Sempre é nove dias que é que faiz, agora
depende muito do voto da pessoa, tem gente
que as veis faiz pa sai sete dias, outro nove,
outro pa sai cinco dias então depende
é da da ocasião e do voto.
Seu Nenzico o que o senhor acha da Folia
de Reis pra cidade de Tupaciguara e para
senhor?
A eu acho que é uma tradição que não podia
morrer é uma coisa que vem dos dos antigo,
é um folclore muito bonito se a gente fo
estuda a fundo mesmo é uma coisa muito
linda e que tinha que ter os apoio das
autoridade, tinha que não podia para a Folia
de Reis é uma coisa que a gente tem que
pesquisa a fundo mesmo e inveis de deixar
acaba tem que ajuda pra não acaba.
Muito obrigada, o senhor deseja falar mais
alguma coisa?
Não, beleza, (rizos).
Entrevista n
o
29: Patrimônio Histórico Rosália. Funcionária da Secretaria Municipal de
Cultura. Realizada no dia 08 de julho de 2004.
clxx
xii
Rosália, o que é o IEPHA? O IEPHA, é um Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas
Gerais, que tem a sede em Belo Horizonte e
esse IEPHA, esse instituto ele tem uma série
de seguimentos dentro dele, são secretaria,
são departamentos. E um dos objetivos do
IEPHA é cadastrar o nosso acervo cultural
o acervo de Minas Gerais, e acervo do
País. Então a intenção é com esse inventário
dos bens móveis foi que cada cidade, cada
município não pra pontuação do ICMS
do Patrimônio Histórico e cultural, mas
também que que o município tivesse
consciência do seu valor é Artístico e
Cultural né o que que a gente tem aqui que é
importante pra história da nossa cidade,
nosso município, e pra história do nosso
estado, que ingraçado, a gente pesquisando
isso fazendo esse trabalho de levantamento
dos bens nós descobrimos uma imagem de
Nossa Senhora da Abadia do século dezoito
que foi feita por um discípulo de
Aleijadinho, é interessante né, nós
descobrimos isso. Ela é toda de madeira e
aqui a igreja por não ter consciência disso,
não ter ciência de que era uma peça
importante porque ele foi feita por Veiga
Vale um dos alunos de Aleijadinho é
mandou pinta, mandou uma pessoa que não
tinha a menor sabe! Assim não to querendo
aqui denegri a imagem de que fez, não é
isso mas assim, é porque uma peça valiosa
ela teria que ter tido um restauro assim por
uma pessoa que tivesse realmente.
Que entendesse né. É que tivesse realmente capacidade pra
fazer isso né, que fosse um restaurador
próprio pra isso, mas infelizmente a igreja
sem ter esse conhecimento mandou uma
pessoa pinta porque ela tava um pouco
descascada e tal, tal, tal mas nós
descobrimos isso que é uma peça valiosa e
até quando a gente foi fazer apresentação
desse inventário em Araxá as pessoa
ficaram encantadas com a imagem, porque
ela realmente é maravilhosa sabe, uma
imagem de Nossa Senhora da Abadia bem
avolutada assim com nuvens embaixo do do
dela e com os anjinhos e ta na igreja
Nossa Senhora da Abadia. Depois olha pra
você como é importante esse trabalho de
inventariado, depois que foi descoberto a
importância nessa imagem, então a gente
chegou pro padre, olha padre aqui a gente
tem uma imagem que é super importante
que não da pra ficar levando daqui pra li, ela
precisa de um lugar próprio porque
primeiro, nós descobrimos que ela não tem
a menor segurança, ela pode cai quebra
porque ela num, ela num tem um pedestal
próprio, ela num tem, então que aconteceu,
é pegou a que tinha de gesso mandou é
restaurar a de gesso e agora fica guardada
essa de Nossa Senhora da Abadia que ela é
usada em ocasiões especiais, entendeu,
então é uma maneira de ce ta protegendo
o patrimônio né. Então no fizemos esse
trabalho, foi um trabalho um levantamento
mais ou menos feito em três meses, depois
nós apresentamos esse trabalho e
cadastramos e mandamos pro IEPHA, a
gente em isso em vídeo e tem isso através
dessas ficha aqui de documentos próprios
do IEPHA. Quanto ao que existe assim de
de interessante nós fizemos em noventa um
levantamento do Patrimônio da Arquitetura
Colonial Urbana e Rural de Tupaciguara, na
época a gente pensou assim, naquela época
a gente tinha pouca grana a secretaria tinha
pouca grana pra fazer isso e era muito caro.
Então nós fizemos acabamos fazendo um
concurso pegamos fotógrafos da cidade e
pedimos a eles que fotografassem dentro da
zona rural, da zona urbana essa Arquitetura
Colonial pra gente depois então qual
fotografia que era mais interessante a gente
premiaria então o fotografo que fizesse a
clxx
xiv
Nossa isso é antigo, tudo muito antigo! Antigo é, e o Sesquiate ele, ce sabe que ele
tem aquela igrejinha da Pampulha tem um
teto que é pintado por Sesquiate né.
A é! É tem as obras de... tem aquele ladrilho,
mosaico de Portinari na frente e o canto da
Capela é uma obra de Oscar Niemeyer...
então, e aqui em Tupaciguara o pessoal
construía a casa e chamava Sesquiate pra
fazer pintura nos alpendres, então tinha
muita casa, e mas o que que aconteceu
como o passar do tempo isso ficou démodé
e como as pessoas não tinham noção de que
era Sesquiate achou que era um pintor,
como aqueles que pintam parede comum,
pintava em cima da obra de Sesquiate. Me
parece que tem uma fazenda aqui em
Tupaciguara, porque tinham três fazendas
pintadas por Sesquiate, duas ficara debaixo
da água, com a represa de Furnas (risos)
sabe, e não foi fotografado nem nada e uma
outra ta na beirada da represa mas a pintura
está bem descascada sabe ta uma coisa
assim que que teria que ser recuperado
mesmo por um um um restaurador
profissional né que tivesse a técnica própria.
Agora aqui, então nós temos por exemplo
nós temos o prédio onde que é o prédio eu
não sei como é que eu vou te expli. ele ta na
na rua Coronel Joaquim Mendes.
Que tem lá hoje? Ele Ele então é um prédio residencial,
lembra onde que, eu não sei se a gente
passou lá, perto da biblioteca.
Sei ali perto da biblioteca. É um predinho, sabe.. foi uma clinica
médica também mas ela foi construída pra
residência, é uma arquit. Arquitetura
neoclássica muito interessante, de frente a
Câmara municipal tem uma casa também
neoclássica com, que tinha também pinturas
do Sesquiate hoje não tem mais.
Em frente, eu sei tirei foto dela. É aquela enorme isso e uma que tinha uma
pintura de Sesquiate também, é aquela que
ta do lado da biblioteca mas não do lado
esquerdo lado direito é uma casa bem
moderna sabe pra época então era super, de
arquitetura super arrojada. Todo aquele
Núcleo Histórico que a gente te falou da
rua Coronel Joaquim Mendes que
contempla ali a Rádio, o Bar Glória, a
Pensão é a rua do Vai e Vem que foi
conhecida aqui e a primeira rua de
Tupaciguara né porque foi o Lago da Matriz
e em seguida a rua Coronel Joaquim
Mendes tanto que leva o nome o primeiro
Prefeito de Tupaciguara Coronel Joaquim
Mendes.
Ah é, não sabia não que era o nome dele. É nome do primeiro Prefeito de
Tupaciguara é então também aquilo, é uma
é é um Patrimônio rico assim pra nossa
história.
E aqui tem muita casa não é. O Colégio Estadual eu acho que merecia, o
colégio das Irmãs que tem cinqüenta anos
comemorou o Jubilo de Ouro o ano
passado que também merece ser
inventariado, e merece ser até tombado eu
acho sabe, tem a tem uma casa aqui, como é
que chama aquela rua aquela casa da Bit
Company, como é que chama aquela rua.
Ah eu sei qual é, aquela casa bem antiga. É linda aquela casa, é antiga, é uma casa
bem antiga aqui e poucas assim daquela
época foram preservadas né.
Não. Mas aquela casa é linda! Ela á maravilhosa com certeza ela é mesmo.
E ainda tem algumas casas de esteio que,
que fazem parte dessa daquela que eu te
mostrei lá da Praça do Rosário que fica atrás
da igrejinha. mexeram nela, puseram
veneziana em alguma parte do lado de
entendeu tão descaracterizano ela, então
se ti, se acelerasse esse processo de
tombamento e não permitisse que nada
fosse mudado, então eu acho que é um
trabalho que a Secretaria ainda tem que
desenvolver ainda tem que desempenhar
isso ai, é uma luta ce sabe que é uma
briga.
Eu sei que você está lutando, e o tanto que é
difícil.
Não e assim, com o próprio proprietário
porque quando ce tomba uma casa ele não
pó, ele acaba não ficando tão dono dela
quanto ele era né porque ele não pode fazer.
clxx
xvi
Não pode mexer. Não pode mexe, às vezes até dentro ele
pode mexe mas na fachada ele não pode
descaracterizar, então é é uma briga.
Até você provar pra ele também, a
importância de um Patrimônio Histórico.
Elas acham, não isso é velharia isso tem que
tomba? Oh isso ta cheio de cupim isso aqui
já. Entendeu.
Tem que demolir e construir outra. Porque quando ce pensa em Patrimônio ce
tem que pensar que gasta dinheiro, porque
não é ce restaurar um prédio é uma grana,
por exemplo ce reformar a Casa da Cultura
é uma coisa, restaurar ela é bem outra.
É outra né. É bem diferente.
É isso que as pessoas tem que entender
Rosália, por isso que gasta muito dinheiro e
as pessoas não investem.
Gasta muito dinheiro, é por isso que é
importante ta buscando esse ICMS do
Patrimônio Histórico né. Porque é um
dinheiro que tem que ser investido no
Patrimônio Histórico.
E essa instituição ela, ela dispõe de verbas
pra vocês, ou não.
Porque essa lei foi criada pelo, pelo
Eduardo Azeredo quando ele era
governador aquela lei Robim Hudi, lembra,
então instituiu isso do ICMS de é tem, é
porque tem vários tem o ICMS do Meio
Ambiente né, tem o ICMS do Patrimônio
Histórico que não tinha antes, então foi uma
lei criada por ele pra beneficiar as cidade
menores tirar das cidade maiores e
contemplar as cidades menores com essa,
com essa ajuda de custo que é muito
importante.
E que ela pode, a cidade...bom no meu
ponto de vista, eu imagino que a cidade
quando ela preserva os patrimônios ela atrai
turista.
Claro, mas isso é com certeza é interessante
por exemplo um guia de turista sai fala o
aqui foi o nosso primeiro cinema ou aqui foi
a primeira praça e tal tal tal, por isso que a
gente luta tanto, pra não descaracterizar as
praças que tão agora porque as vezes ah
vamos desmanchar essa praça vamos
reformar, então constrói outra mas preserva
aquela porque hoje as vezes a gente acha a
ta démodé ta feia, mas daqui trinta anos ce
olha, gente que que isso que coisa
maravilhosa que é isso aqui, acabou
entendeu a gente sabe porque a gente ta
vivendo isso com a própria praça da
Matriz, com a própria igreja Matriz. Que a
primeira igreja Matriz ela era uma igreja
bem Barroca meio Maneirista mas era igreja
Barroca, então assim é um estilo bem
Colonial mesmo, que que aconteceu
demoliram a igreja Matriz, hoje nós
temos o retrato dela pra construir então
outra que ta, que é essa agora que ta que
não deixa de ser bonita mas ela é um
estilo neogótico então assim tira um
pouco da beleza daquela época poderia ter
construído até outra em outro lugar né, mas
que preservasse aquele Centro Histórico do
começo da cidade ali então,
O Centro Histórico é aquele ali ? É o Centro Histórico de Tupaciguara é
aquilo ali é o Largo da Matriz com a rua
Coronel Joaquim Mendes dali pro lado do
Fórum é é aquela sabe a rua Camilo
Abdumassi que vem logo abaixo da praça e
a rua Bom Sucesso que era o caminho pra
Goiás.
Qual é a Bom Sucesso? A que vai pro Museu, aquela que desse pro
Museu entendeu, porque aquilo ali era a
saída pra Goiás, é a saída pra Goiás até hoje
de pela estrada de terra, ai depois com a
construção da 365 então ai ela mudou
então pelo asfalto mas era a saída pra Goiás
entendeu então assim tinha todo um uma
riqueza Cultural Histórica por trás disso que
as pessoas num preservaram, num
lembraram de preservar as vezes assim
por não dá tanto, tanto incentivo, tanto valor
é pra cultura acaba ficano né porque não são
todos que, entende isso.
clxx
xvii
E ai a cidade perde sua história não é. Perde sua história, perde o por muitos e
muitos anos é até com os próprios
professores de história mesmo. Tinha um
professor de história que batia, porque que
batia o que Tupaciguara começou na
onde é a igreja do Rosário, gente a igreja do
Rosário é bem mais recente né.
Do que a Matriz! Do que a Matriz que foi demolida então,
num é então a gente sabe, a gente foi
pesquisa pra conversar com pessoas mais
antigas, pessoas, os primeiros moradores da
cidade, ou filhos, ou netos que que
receberam essa, essa história então pra gente
ter noção de. Porque tupaciguara é de 1842
quando começou história de Tupaciguara
foi 1842, quando a dona Maria Teixeira que
era uma goiana fazendeira o marido dela
comprou terras aqui e ela muito devota de
Nossa Senhora da Abadia veio e trouxe uma
imagem de Nossa Senhora da Abadia pra
e formou uma, construiu uma capelinha pra
colocar essa imagem. Ai ce sabe como é que
formavam as primeiras vilas né, em torno da
igrejinha construíam aquelas casinhas e a
coisa foi né, foi, foi acontecendo, então de
1842 pra Tupaciguara foi é vila de
Nossa Senhora do Monte Alegre, depois de
Bom Sucesso até 07 de setembro de 1923
Tupaciguara recebeu o nome de
Tupaciguara, sabe assim por um, por
políticos interessados que eu acho que
antigamente tinha muito mais isso do que
tem hoje, eu acho que as pessoas tem que
ter essa consciência crítica de que realmente
hoje em dia no, o modernismo tomou conta
da gente, a gente parece que nem sau,
saudosista é mais aquela, aquela correria,
aquela coisa nós vamos esquecendo o
passado e o homem sem passado ele não
tem condições de construir seu futuro isso ai
não existe então assim é foi muito, foi
muito interessante o que eles fizeram,
porque eles se reuniram pra discutir o nome
pra cidade como sabia que Tupaciguara
foi habitada primitivamente por antigos
índio que, que me parece os caiapós que
moravam, o caiapó que moravam, que
habitaram essa região é então ele resolveram
dar um nome indígena pra Tupaciguara ai
dai Tupaciguara Tupam Deus, ci te e
mãe e guara morada então ficou, morada da
mãe de Deus, quem que é a mãe de Deus,
Nossa Senhora, Nossa Senhora da Abadia
entendeu então esse topônimo. Existiram
outros que na época eles foram é
questionados parece que teve Buritirama,
Ita, Itagua, Itaquice é Matauguaçu, mas ai
Tupaciguara por ter essa, essa significação
de terra ou morada da mãe de Deus e por
cxc
Está ótimo. Que mais ce quer saber.
eu queria saber de outros prédios
antigos.
Existem outros prédios também que eu acho
que merecia uma atenção aqui sem ser essa
casa, eu acho que um uma assim muito
importante seria da muito valor as coisas
que está zona rural também, porque tem
muita coisa legal e principalmente pro
turismo sebe, porque hoje em dia a gente
sabe que o turismo rural tem é é, uma
procura muito grande né, o turismo
ecológico também.
E aqui tem a pescaria, não é essa... É com o Grande Lago e tem, aqui tem
um potencial hídrico muito grande, série de
coisas que, que a gente ainda tem que luta
pra conseguir fazer um trabalho legal
também pra estrutura turística como da
infra-estrutura cultural também sabe que as
vezes pensam muito as vezes a infra-
estrutura turística mas a infra-estrutura
cultural um povo sem cultura, sem tradição
não tem condição de, né, o turismo, o
turismo fica muito concreto assim, muito
coisa armada, ce entendeu.
É eu penso assim, o Pelourinho ele foi
Disneylândia isso que você está falando ele
foi descaracterizado porque, dali eles
tiraram as pessoas que moravam, tirou a
história.
Muito Disneylândia, exatamente, é é uma
Disneylândia é ham.
E fez um outro pelourinho, para os turistas. Tirou a história, exatamente é. E acaba com
impacto negativo porque o turismo tem
mesmo, não tem impacto positivo isso ai
é a própria Embratur reconhece que tem
impacto negativo, então com o impacto
negativo, da sujeira, da depredação, da falta
de, de, de recursos pra restaura, pra
conservar acaba então como aconteceu o
ano passado, o ano atrasado não me lembro.
Daquele chafariz em Ouro Preto coisa de
1600, mil bolinha né, o cara vai bate o
carro lá e quebra o chafariz. Então assim, há
que se cuidar muito dessa parte ainda é um
trabalho, tem um começo aqui em
Tupaciguara a gente ta mexendo com isso
desde 89, sabe mas ainda tem muita coisa a
ser feita, muita coisa a ser inventariada, a
ser cadastrada, muita coisa a ser preservada,
muita coisa, que tem que passar por
legislação específica.
Isso é muito burocrático né... É, é esses dias eu tava pensando isso ai em
of (risos).
cxci
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