48
O discurso midiático está imbuído de poder. É ao mass media que se deve o
reaparecimento do monopólio da história. Navarro- Barboza, citando Nora (1995), diz
que “a imprensa, o rádio, as imagens não funcionam somente como meios dos quais os
acontecimentos seriam relativamente independentes, ‘mas como a própria condição de
sua existência’” (NAVARRO – BARBOSA, 2004, p. 118). A mídia produz o fato, cuja
historicidade não deriva da possibilidade de ele ter ocorrido, mas de ter sido contado.
A mídia também ajuda na construção de identidades, produzindo significações,
impondo saberes que servem para oferecer uma “direção”. Fisher (2003, p.25), citando
Stuart Hall, diz que estamos vivendo uma “revolução cultural”, pelo fato de hoje as
atividades relacionadas à expressão e comunicação de sentidos terem grande
importância. Essa revolução é conseqüência de um considerável aumento dos meios de
produção e circulação da cultura. Há uma indissolubilidade entre o que é econômico e o
que é cultural hoje mais do que nunca, com a superposição dos dois campos. “Os
discursos, ao se tornarem presentes no grande espaço da mídia, não só ampliam seu
poder de alcance público como conferem à própria mídia, ao próprio meio, um poder de
verdade, de ciência, de seriedade” (FISHER, 2003, p. 50).
O jornal, por sua vez, como uma mercadoria como outra qualquer, tem interesse
em fazer com que o seu leitor se sinta singularizado e que estabeleça para com ele uma
relação de fidelidade. Para isso, o jornal se subdivide em cadernos para públicos
específicos, como um mosaico de informações e interesses, criando estratégias
particulares para atrair o seu leitor. Sobre isso, Fisher, retomando a norte-americana
Elizabeth Ellsworth (1997), que usa o termo “modos de endereçamento”, exemplifica:
Não basta, por exemplo, pesquisar os hábitos e desejos dos
adolescentes brasileiros das grandes cidades, e depois produzir um
programa como o Erótica, da MTV, para obter sucesso. Não. Os
modos de endereçamento constituem estratégias bastante complexas
de interpelar alguém, um certo público, como se literalmente assim
acenasse: “Ei, você, veja o que fiz para você, exatamente para você.”
São estratégias que não se produzem de uma hora para outra. Elas
têm uma longa história de “educação” dos espectadores, de formação
de um público. (FISHER, 2003, p. 79)
Falar para os adolescentes, especificamente, virou um ótimo produto de
consumo. Por isso, há tantas publicações voltadas para esse público. Elas buscam
assuntos variados, os quais não deixam de espetacularizar, e os impregnam da influência
da indústria cultural, a qual ajuda a difundir, publicando assuntos efêmeros, que perdem