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MAGALI LUZIO FERREIRA
AS AÇÕES DOS CATÓLICOS CARISMÁTICOS NA
TERRITORIALIDADE DA PARÓQUIA DE SÃO FRANCISCO
EM CAMPO GRANDEMS: A CULTURA IMATERIAL
(MÍSTICA) COM ALTERNATIVAS DE DESENVOLVIMENTO
LOCAL
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO - UCDB
PROGRAMA PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO LOCAL
MESTRADO ACADÊMICO
CAMPO GRANDE - MS
2006
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MAGALI LUZIO FERREIRA
AS AÇÕES DOS CATÓLICOS CARISMÁTICOS NA
TERRITORIALIDADE DA PARÓQUIA DE SÃO FRANCISCO
EM CAMPO GRANDEMS: A CULTURA IMATERIAL
(MÍSTICA) COM ALTERNATIVAS DE DESENVOLVIMENTO
LOCAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Local Mestrado
Acadêmico da Universidade Católica Dom Bosco,
como requisito para obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento Local, sob orientação da
Professora Doutora Maria Augusta de Castilho.
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO - UCDB
PROGRAMA PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO LOCAL
MESTRADO ACADÊMICO
CAMPO GRANDE - MS
2006
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Ficha catalográfica
Ferreira, Magali Luzio
F383a As ações dos católicos carismáticos na territorialidade da Paróquia de São
Francisco em Campo Grande-MS: a cultura imaterial (mística) com alternativas
de desenvolvimento local / Magali Luzio Ferreira, orientação, Maria Augusta de
Castilho. 2006.
79 f.: il + anexos
Dissertação (mestrado) Universidade Católica Dom Bosco, Campo
Grande, 2006.
Inclui bibliografias
1.Desenvolvimento local 2.. Movimento de renovação carismática 3. Cultura imaterial.I.
Martins, Sérgio Ricardo Oliveira II. Título
CDD-338.98171
Bibliotecária: Clélia T. Nakahata Bezerra CRB 1-757
4
FOLHA DE APROVAÇÃO
Título: As Ações dos Católicos Carismáticos na Territorialidade da Paróquia de São
Francisco em Campo Grande-MS: A Cultura Imaterial (Mística) com Alternativa de
Desenvolvimento Local.
Área de concentração: Territorialidade e Dinâmicas Sócio-Ambientais.
Linha de Pesquisa: Cultura e Identidades Locais.
Dissertação submetida à Comissão Examinadora designada pelo Colegiado do
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Local Mestrado Acadêmico da
Universidade Católica Dom Bosco, como requisito para a obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento Local.
Dissertação aprovada em: 24/02/2006
BANCA EXAMINADORA
Prof
a
Dr
a
Maria Augusta de Castilho
Universidade Católica Dom Bosco
Orientadora
Prof
a
Dr
a
Terezinha Bazé de Lima
UNIGRAN
Examinadora
Prof. Dr. Aparecido Francisco dos Reis
Universidade Católica Dom Bosco
Examinador
5
Dedico a presente pesquisa à minha
família, a quem amo muito.
6
AGRADECIMENTOS
Ao meu filho Fábio, in memoriam, razão de minha vida, cuja presença, mesmo
distante é constante em meu viver, dando-me força e estímulo para que eu continue
caminhando.
As minhas filhas Carla e Marcela, razões de minha vida, motivos de busca
incessante, que sempre estiveram ao meu lado, incentivando-me com paciência e carinho.
Ao meu esposo, que muito me apoiou nos momentos difíceis.
A minha querida cunhada e amiga Neli Corrêa Luzio, por acompanhar todo
este processo, desde o princípio.
Aos meus pais e irmãos, in memoriam, Lourenço, Eudóxia, Milton e Osmar,
pela educação, amor e carinho que me deram em momentos especiais da minha vida.
A todos os meus sobrinhos, em especial à minha querida e amada sobrinha
Tatiana, sempre presente nos momentos tristes e alegres de minha vida.
A Mayara e ao Pedro Henrique, pelo abraço afetuoso constante em nossos
encontros.
Aos amigos que estiveram a todo momento ao meu lado, em especial à Carla
Ribeiro, Solange França, Roberval Furtado, Regina Casttelli, Hélio Daher, Nelagley
Marques.
Em especial, os meus sinceros agradecimentos e profunda admiração pela
Doutora Maria Augusta de Castilho, pela atenção e confiança dispensadas a mim durante
todo o processo de mestrado.
A professora Cleonice Alexandre Le Bourlegat, que sempre se preocupou com
o processo de formação dos mestrandos, dedicando-se com afinco para o bom andamento
do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local.
7
Ao professor Doutor Aparecido Francisco dos Reis, pelo apoio e atenção no
direcionamento desta pesquisa.
A professora Doutora Terezinha Bazé de Lima, pela preciosa contribuição no
processo de qualificação e pelo incentivo no prosseguimento da pesquisa.
Aos professores das disciplinas cursadas, pelos conhecimentos e reflexões
proporcionados.
A Liliane Valverde, pelo apoio durante todo o processo de mestrado.
Aos funcionários da Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande/MS
SEMED, em especial ao Olavo Barrios Costa Filho e Rita de Cássia Galícia, pelo
incentivo e paciência que tiveram para comigo no decorrer de todo o mestrado.
Ao Núcleo de Geografia da Secretaria Municipal de Educação de Campo
Grande/MS SEMED, em especial à Analice Talgatti, pelos momentos de auxílio, pelas
sugestões e informações ao longo de todo o processo da dissertação.
Ao Centro Municipal de Tecnologia CEMTE de Campo Grande/MS, em
especial ao Lourenço Ezidio de Melo, pelos momentos de auxílio.
Ao Movimento de Renovação Carísmática da Paróquia de São Francisco de
Campo Grande/MS, em especial à coordenadora Srª Maria Luiza dos Santos e à secretária
da Casa de Apoio aos Moradores de Rua São Francisco de Assis, Srª Francisca Lúcia Lima
Caramalac, por facilitarem meu acesso às pesquisas.
Aos colegas e amigos da Faculdade Estácio de Sá, pelo incentivo e
preocupação, pois nunca deixaram de perguntar como estava o meu desenvolvimento no
mestrado.
8
RESUMO
A presente pesquisa investiga os pressupostos do Mestrado em Desenvolvimento Local no
Bairro São Francisco, em Campo Grande MS, com enfoque no Movimento de
Renovação Carismática da Paróquia de São Francisco. Para tanto, o estudo foi baseado no
aporte bibliográfico sobre o tema, tais como: livros, sites e apostilas, bem como na coleta
de dados realizada in loco, para se poder dimensionar a pesquisa dentro de uma realidade
local e concreta. A população estudada foi composta por carismáticos do local pesquisado
e fora deste, por moradores do bairro e por mendigos, através de entrevistas e observações
pessoais, baseadas em questões chaves sobre o referido assunto, dificuldades encontradas e
resultados obtidos. Quanto à análise dos dados coletados, constatou-se que os
procedimentos utilizados pelos carismáticos, após a interlocução do pesquisador podem ser
modificados, como por exemplo, esclarecer para a população local quais são os princípios
da Renovação Carismática. Por outro lado, identificou-se que o crescimento, tanto
individual quanto coletivo, interferiu diretamente nas ações comunitárias, com aspectos
voltados ao Desenvolvimento Local.
PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Local, Movimento Carismático, Cultura
Imaterial, Territorialidade.
9
ABSTRACT
The present research aims to support the ideas from the Master Degree in Local
Development in São Francisco quarter in Campo Grande/ MS, focusing on the Charismatic
Renovation from the São Francisco Parish. The study was based on the references about
the theme, as: books, sites, lecture notes, such as the collected data consummated in site to
guide the research into a concrete local reality by Charismatics from the researched place,
by its neighbourhood and some beggars through personal interviews and observation based
on determined questions about the mentioned subject, finding difficulties and obtained
results. As to the analysis from the collected data, it was found out that the utilized
procedures by the Charismatics after the researcher interlocution can be modified, as for
example the Charismatic Renovation principles. In conclusion the researches and the
reflexions about the data show the human growing as individual as collective, interfering
directly in the community actions, conceiving Local Development.
KEY-WORDS: Local Development, Charismatic Moviment, Non-Material Culture,
Territoriality
10
LISTA DE FOTOS
Foto 01 – Casa de apoio 24
Foto 02 Horta 25
Foto 03 Horta vista por outro ângulo 25
Foto 04 Sala de TV 25
Foto 05 Sala de aula 25
Foto 06 Dormitório 26
Foto 07 Cozinha 26
Foto 08 Lavanderia 26
Foto 09 Capela 26
Foto 10 Escritório 27
Foto 11 Paróquia de São Francisco de Assis. 51
Foto 12 Srª Maria Luiza Silva dos Santos, coordenadora do Movimento 52
Foto 13 Reunião do Movimento 52
Foto 14 Reunião vista por outro ângulo 52
Foto 15 Momentos da reunião. 52
Foto 16 Participantes 52
Foto 17 Depoimento 55
Foto 18 Depoimento 55
Foto 19 Moradores de rua São Francisco de Assis. 57
Foto 20 Natal na casa de apoio 58
Foto 21 Natal na casa de apoio 58
Foto 22 Natal na casa de apoio 58
Foto 23 Natal na casa de apoio 58
Foto 24 Natal na casa de apoio 59
11
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01 Naturalidade 62
Gráfico 02 Idade 63
Gráfico 03 Sexo 64
Gráfico 04 Estado civil 65
Gráfico 05 Número de filhos 66
Gráfico 06 Nível de e scolaridade 68
Gráfico 07 Residência 68
Gráfico 08 Religião 69
Gráfico 09 Tempo de freqüência no grupo de Renovação na Paróquia
de São Francisco 70
Gráfico 10 Tipo de freqüência no grupo 72
12
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Motivos enfocados 71
Quadro 02 O que faz o crescimento humano dentro da Renovação Carismática
na Paróquia de São Francisco 72
Quadro 03 O significado da ação do Espírito Santo para os entrevistados 73
Quadro 04 A ação do Espírito Santo no dia a dia dos entrevistados 73
Quadro 05 A ação do Espírito Santo no dia-a-dia dos entrevistados 74
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Naturalidade 61
Tabela 02 Idade 63
Tabela 03 Sexo 64
Tabela 04 Estado civil 65
Tabela 05 Número de filhos 66
Tabela 06 Nível de escolaridade 67
Tabela 07 – Residência 68
Tabela 08 Religião 69
Tabela 09 Tempo de freqüência no grupo de Renovação na Paróquia
de São Francisco 70
Tabela 10 Tipo de freqüência no grupo 72
14
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 15
CAPÍTULO 1 CONCEPÇÃO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL E
ASPECTOS DO SAGRADO 19
1.1 DESENVOLVIMENTO LOCAL 19
1.2 CAPITAL SOCIAL E A SOLIDARIEDADE 24
1.3 A COMUNIDADE LOCAL 29
1.4 AS PERCEPÇÕES DO SAGRADO COM ÊNFASE NO DESENVOLVIMENTO
LOCAL 32
1.5 ESPAÇO E LUGAR, AMBIENTES SAGRADOS 34
1.6 OS SÍMBOLOS TERRITORIAIS 37
CAPÍTULO 2 A RENOVAÇÃO CARÍSMÁTICA NO CONTEXTO DA
.TERRITORIALIDADE DO BAIRRO SÃO FRANCISCO 40
2.1 PRINCÍPIOS DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA 40
2.2 A ORIGEM E AÇÃO DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA 43
2.3 A ORIGEM E A O PERFIL DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA
NO BRASIL 46
2.4 O BAIRRO SÃO FRANCISCO, CAMPO GRANDE/MS E O MOVIMENTO
DE RENOVAÇÃO CARÍSMÁTICA 50
CAPÍTULO 3 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS
DADOS 61
3.1 DADOS PESSOAIS 61
3.1.1 Naturalidade 61
3.1.2 Idade 63
15
3.1.3 Sexo 64
3.1.4 Estado civil 65
3.1.5 Número de filhos 66
3.1.6 Escolaridade 67
3.1.7 Endereço residencial 68
3.1.8 Religião 69
CONSIDERAÇÕES FINAIS 75
REFERÊNCIAS 77
APÊNDICES 80
ANEXOS 83
16
INTRODUÇÃO
Dissertar sobre a Renovação Carismática Católica na Paróquia de São
Francisco, em Campo Grande/MS, é adentrar por questões sagradas e profanas, implicando
conhecimento não só das percepções humanas, como também da territorialidade destas
manifestações. É estar disposto à observação constante da cultura material e imaterial que
envolve esta paróquia, deixando um legado para que as ações espirituais, permanentes em
um território como parte do contexto cultural, possam reverter em desenvolvimento local.
Como profissional da área de História desde a década de 80, foi possível
perceber a importância do entendimento da cultura como eixo norteador principal do fazer
histórico. Essa percepção foi ampliada no exercício da profissão, iniciada em 2003,
ministrando aulas de Patrimônio Histórico-Cultural no curso de Turismo da Faculdade
Estácio de Sá e integrando a Comissão de Patrimônio Histórico-Cultural da Prefeitura
Municipal de Campo Grande/MS.
Os estudos e ações desenvolvidos em ambientes ainda confinados do ensino
superior e da Prefeitura me conduziram a anseios mais amplos de aprofundamento nesse
campo de pesquisa. Como discente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Local,
participar do Grupo de Pesquisa sobre a territorialidade do sagrado tornou-se o caminho
viável para este fim.
As primeiras oportunidades de aprofundamento teórico dentro do grupo deram-
se com a reflexão a respeito da obra “A Religiosidade Popular no Brasil-Colônia”,
realizada em 2004, no VII Encontro de História de Mato Grosso do Sul oferecido pela
Associação Nacional dos Professores Universitários de História ANPUH conhecendo
melhor, dessa forma, a origem e trajetória da fé cristã brasileira e sua expressão no
cotidiano vivido.
Esse estreitamento do entendimento com a cultura imaterial, em especial a
cultura religiosa e, a condição de católica freqüentadora da Paróquia São Francisco,
17
condicionaram-me a atenção mais aguçada para a atuação em um dos grupos de religiosos
leigos ligados ao Movimento da Renovação Carismática. Embora fosse um grupo de
pequenas dimensões e de aparência tímida por ocasião das cerimônias religiosas, a ele era
atribuído, pelos populares freqüentadores do bairro, um conjunto de benefícios, tais como:
a cura de doenças, possibilidades de empregos e a construção da casa de apoio que abriga
os moradores de rua, diminuindo assim expressivamente o número de pedintes.
Para a coleta de dados, em função da complexidade e profundidade do
problema, utilizou-se:
- Método bibliográfico, estudo de livros, revistas, jornais, publicações
técnicas, relatórios e outros;
- Visitas a bibliotecas;
- Uso de roteiro para entrevistas;
- Roteiro para discussão em grupo;
- Roteiro para observação;
- Uso de pequenas amostras (casos);
- Estudo de caráter explorativo;
- Entrevista pessoal;
- Aplicações de questionários estruturados;
- Tabulação e organização dos dados coletados, de modo racional, para
definir o processo de planejamento;
- Análise e interpretação dos dados correlacionados às variáveis, buscando
conhecer o objeto de estudo.
As interrogações emergentes dessa observação e que nortearam a presente
pesquisa foram: Em que contexto religioso essas pessoas estariam se mobilizando para
ajudar a comunidade? Qual a territorialidade dessas ações e os efeitos delas em termos de
Desenvolvimento Local?
Desse modo, o objetivo geral compreende:
- Investigar as características e ações desenvolvidas pelo grupo da Renovação
Carismática da Paróquia São Francisco, de Campo Grande-MS, em sua
18
manifestação territorial, relacionadas ao Desenvolvimento Local.
Especificamente, buscou-se:
- caracterizar a origem e trajetória do movimento de Renovação Carismática,
enfocando Campo Grande e, especificamente a Paróquia São Francisco,
como parte dos espaços ocupados no campo religioso e na sociedade;
- identificar a natureza das formas de devoção, espiritualidade e misticismo
do Movimento de Renovação Carismática que atribuem coesão ao grupo e o
impulsionam a determinadas ações em prol da comunidade;
- pesquisar as práticas religiosas desenvolvidas pelo grupo de Renovação
Carismática da Paróquia São Francisco em prol da comunidade, a
territorialidade e natureza de suas ações, assim como os vínculos com o
Desenvolvimento Local;
- caracterizar os atores que integram essa rede de relações no bairro, do ponto
de vista sócio-profissional.
O primeiro capítulo, cujo tema é a “Concepção de Desenvolvimento Local e
Aspectos do Sagrado”, foi dedicado à apresentação e discussão do referencial teórico de
base que, serviu para iluminar as análises e interpretações a respeito das informações
coletadas.
No segundo capítulo, que tem como título “A Renovação Carismática no
Contexto da Territorialidade do Bairro São Francisco”, tratou-se dos resultados obtidos
para se responder aos dois primeiros objetivos específicos, caracterizando-se a origem e
trajetória do movimento de Renovação Carismática no mundo, no Brasil, enfocando
Campo Grande e, especificamente a Paróquia São Francisco, em termos de expansão dos
espaços ocupados no campo religioso e na sociedade. Ao mesmo tempo, fez parte do texto
desse capítulo a apresentação das formas de devoção, espiritualidade e misticismo do
Movimento de Renovação Carismática, que impulsionam para determinadas ações em prol
da comunidade.
No último capítulo, faz-se apresentação, análise e interpretação do dados e
organizaram-se, de forma logicamente encadeada, os resultados obtidos em resposta aos
dois últimos objetivos específicos do trabalho de pesquisa, caracterizando-se os atores que
integram a rede de relações estabelecidas pelo Grupo de Renovação Carismática da
19
Paróquia, descrevendo-se e relacionando-se as práticas religiosas do grupo e identificando-
se a territorialidade e a natureza dessas ações. Por último, procurou-se interpretar essasr
essas ações como indutoras de Desenvolvimento Local.
20
CAPÍTULO 1
CONCEPÇÃO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL
E ASPECTOS DO SAGRADO
Nesse capítulo estão presentes argumentos sobre o Desenvolvimento Local e
questões que completam esse assunto, tais como: valores, comunidade e simbologia. Com
ênfase no sagrado, os itens a seguir não têm a finalidade de exaurir o assunto, porém,
apontam caminhos para que os projetos nessa performance sejam realizados com sucesso,
isso através de reflexões, comparações, semelhanças e diferenças, embasados em autores
contemporâneos que se debruçaram sobre o assunto.
1.1 DESENVOLVIMENTO LOCAL
Desenvolvimento significa mudança, crescimento e progresso. As diversas
sociedades que compõem o mundo, de maneira geral e natural buscam desenvolver-se com
o objetivo de alcançar bem-estar social, político e econômico. Nestes estão contempladas
várias questões que permeiam a vida humana, em especial também os assuntos sagrados.
Desenvolver-se é um desejo nato da vontade humana, é uma ação bastante remota e
abrangente neste ínterim de particularidades e especificidades. Historicamente, sua
importância foi-se adequando às exigências do meio, preenchendo o devido valor que seu
significado requer para cada momento.
O termo desenvolvimento ganhou maior notabilidade com a Revolução
Industrial iniciada na Inglaterra, no século XVIII. Advento este que acelerou a busca de
matéria-prima, produção e consumo e impulsionou ainda mais o imperialismo já existente
no mundo. Os países dominadores buscavam se desenvolver submetendo outros sob seu
jugo, desrespeitando e interferindo abusivamente sobre as mais variadas culturas, como se
pode notar no aporte de Cânedo (1994, p. 8),
Da Inglaterra, essas transformações se estenderam, de forma desigual,
para os países da Europa continental e outras poucas áreas de além-mar,
21
revolucionando, num espaço de duas gerações, a natureza da história dos
homens e as relações entre eles. É nesse sentido que a expressão
Revolução Industrial, empregada para nomear esse processo, ganha seu
significado: uma transformação rápida, fundamental e qualitativa.
Não se pode afirmar que somente com o advento da Revolução Industrial as
sociedades até então conhecidas passaram a desenvolver-se. Desde a pré-história, o ser
humano está em constante “evolução” , transformando sua maneira de viver. O fato é que,
com o boom da Revolução Industrial, as sociedades começaram a se transformar de
forma acelerada. Esse desenvolvimento sempre foi sinônimo de ação; trabalho que
historicamente vem sendo cronometrado pelas medidas de tempo. As primeiras
civilizações se organizavam delimitando seu tempo e usando recursos naturais, como por
exemplo: o sol, os nós encontrados em bambus e outros. Logo depois, com o controle e a
dominação da Igreja Católica, o tempo passou a ser controlado pelo soar do sino da
paróquia local. Com a Revolução industrial, o tempo passa a ser controlado pelo relógio,
objeto de consulta constante, recurso de grande valia para a sociedade capitalista,
marcando assim a grande transformação do termo desenvolvimento que veio a disseminar
também em desenvolvimento local, tendo como suporte básico os espaços territoriais.
Porém, a operacionalidade deste, no que se refere a alternativa de
desenvolvimento e as questões que permeiam o assunto são bastante recentes. Ávila
(2003,p.16) em seus estudos menciona que, tal alternativa começou a ser conhecido e
aplicado na Europa, há mais ou menos uns vinte anos. Entretanto, o significado desta
expressão ainda é objeto de contínua análise e discussão, em virtude de sua curta trajetória
histórica
Para Ávila (2003 apud MARTÍN, 1999, p. 16),
[...] a Europa começou a se interessar pelo desenvolvimento local, “como
uma estratégia adecuada a lãs demandas sociales de mayor bienestar
social y de creación de empleo” há pouco mais de vinte anos,
intensificando-se significativamente na Espanha durante os anos 80, mas
estendendo-se e propagando-se sobretudo na América Latina, ao longo
dos anos 90, por intercâmbios entre geógrafos espanhóis e países ibero-
americanos.
É comum associar o fator desenvolvimento com o crescimento econômico.
Este por sua vez, está centrado apenas no quantitativo, enquanto que o desenvolvimento é
mais abrangente e para ser realmente contemplado como tal, outros fatores devem estar
compilados, tais como, a qualidade desse processo de evolução, não só da parte econômica
22
como também social e a participação constante da população envolvida.
Ávila et alii (2000, p.23) elucida que:
No processo de desenvolvimento, o alvo central é o ser humano como
artesão do seu êxito ou fracasso, pois se requer que cada um, ao se tornar
responsável pelo seu próprio progresso, de toda ordem e em todas as
direções, influencie o seu entorno como fonte irradiadora de mudanças,
de evolução cultural, de dinamização tecnológica e de equilibração meio-
ambiental. Portanto, não se obtém desenvolvimento sem que se visualize
o homem, à luz da hierarquia de valores, em sua integridade como pessoa
humana, membro construtivo de sua comunidade e agente de equilibração
em seu meio geofísico.
O homem, por natureza, é considerado agente social e agente histórico, sendo
que a construção da história local deve priorizar a participação deste em seu meio. Sem
esta, não se pode afirmar se há ou houve desenvolvimento local, pois foi-se o tempo em
que os méritos do desenvolvimento eram concedidos aos cidadãos não pertencentes à
localidade. Pode ser essa a explicação para os inúmeros fracassos dos projetos
desenvolvidos em comunidades.
Para o verdadeiro sucesso de desenvolvimento local é preciso que os autores e
personagens dos projetos sejam pessoas da localidade, visando à qualidade de vida para
todos, sendo que, os agentes externos devem estar em cumplicidade permanente com a
população local.
Ávila et alii (2000, p.23), entende local como
[...] o significado básico de local, achamos pelo menos conveniente
aprofundarmos um pouco mais no nosso entendimento do que vem
denominado local, no contexto da expressão desenvolvimento local, pela
busca de compreensão também dos princípios conceitos imbricados nas
concepções de local [...]: espaço, território, comunidade (embora não
explícito, este vocábulo está fortemente latente em todas elas),
identidade, solidariedade, potencialidade e agente [...]
A aplicabilidade do desenvolvimento local não pode ser a mesma para todos os
lugares, o que pode ocorrer é mera semelhança, pois cada lugar tem as suas peculiaridades.
E estas dependem não só do espaço territorial como também da comunidade. As ações
envolvidas tanto dos agentes locais como a dos externos, devem ser pautadas no respeito à
identidade local e no trabalho solidário, contribuindo, dessa maneira, com a descoberta e o
desenvolvimento das potencialidades locais.
Ressalta Martin (2001, p. 160) que:
23
[...] por isso mesmo, é impossível querer transferir modelos de
desenvolvimento local aplicados em países da Europa com muito
sucesso, para realidades tão diferentes como a dos países da América
Latina. Entretanto, apesar das diferenças, muitos princípios e
características podem ser adequados às realidades estudadas.
O desenvolvimento local apesar de suas especificidades, as experiências e
estudos de sua implantação em espaços territoriais e culturalmente diferentes, podem servir
de referência para outras realidades, partindo do princípio que as forças propulsoras deste
são os fatores endógenos e estes, por sua vez, partem dos anseios e necessidades materiais
e imateriais da população envolvida. Tal concepção isenta o sucesso de projetos
engessados que, se afirmam ser aplicáveis a todo e qualquer espaço físico que independe
da população local.
Ainda citando Martin (2001, p. 162):
Existe no desenvolvimento local uma força de caráter endógeno, que
busca o aproveitamento dos recursos naturais e de infraestrutura
disponíveis e, principalmente, a potencialidade das comunidades de
acreditar no desafio do seu próprio desenvolvimento. Dessa forma, busca-
se reduzir a dependência externa.
A citação acima lança um grande desafio para as comunidades existentes no
mundo. Mesmo para aquelas que já se mantêm na performance do desenvolvimento local,
baseando-se no contexto universalmente difundido que, a cultura é dinâmica assim como
seus criadores, e, portanto manter a redução dos fatores externos em uma comunidade é
tarefa que deve ser constante, pois, a influência e instalação da dependência externa em
uma comunidade fazem parte do sistema capitalista cada vez mais dominador, no qual o
lucro permanece apenas nas mãos de poucos que buscam a todo momento o domínio, se
possível por completo, deste sistema. Enquanto que, para outras comunidades que ainda
não despertaram para o desenvolvimento local e vivem basicamente da força do caráter
exógeno, é fundamental que passem a reconhecer suas potencialidades, acreditando que
sua colaboração é de grande valor para a comunidade local, onde seus próprios integrantes,
em vez de se deslocarem para fora, no desejo de encontrar qualidade de vida, a encontrem
em seu local de origem.
Em relação ao endógeno no desenvolvimento local, com propriedade,
apresenta-se relatado na citação abaixo:
ÁVILA (2001 apud NÓVOA, 1992, p. 80).
O desenvolvimento endógeno não significa, todavia, que as comunidades
locais se isolem em relação aos processos exteriores ou de âmbito
nacional; pelo contrário, as interacções com o meio envolvente tenderão a
24
reforçar-se, no quadro de uma internalização (ou de uma localização)
desses processos. O desenvolvimento endógeno tende a apropriar-se dos
contributos dos actores e a configurá-los no contexto local, dando-lhes
uma forma específica e adaptada às características e às necessidades das
populações.
Sabemos que, como já mencionado na citação acima, as ações endógenas são
significativas e importantes na vida comunitária, mas os projetos no perfil do DL
Desenvolvimento Local, normalmente envolvem pessoas carentes. Portanto, as ações
exógenas não devem ser deixadas inteiramente de lado, uma vez que a maioria dos projetos
visam suprir a pobreza e melhorar a qualidade de vida e, os fatores externos, nestes casos
,podem contribuir também com as ações solidárias.
Para Bourdieu (1989, p. 87):
Isto faz com que tantas acções, [...] por meio das quais os agentes que
nem por isso são actores desempenhando papéis entram na pele da
personagem social que deles se espera e que eles esperam de si próprios
(é a vocação), e isto pela força desta coincidência imediata e total do
habitus e do hábito que faz o verdadeiro monge.
A sobrevivência do desenvolvimento local depende unicamente da
perseverança de seus participantes e da convivência destes com as questões externas e
internas, sabendo ou não fazer uso dos recursos naturais oferecidos pelo meio, bem como
os recursos advindos de outros espaços físicos.
Veiga (2005, p. 85) apresenta o objetivo básico do desenvolvimento local que é
o alargamento das liberdades humanas e menciona os efeitos deste na população
envolvida. O processo do desenvolvimento pode expandir as capacidades humanas e
sobrenaturais, levando-as à plenitude e criatividade.
Assim, o objeto de pesquisa mencionado é o grupo de Renovação Carismática
da Paróquia São Francisco, situada na rua 14 de julho, nº 4.213, em Campo Grande/MS,
que nasceu do modelo de outros lugares, mas também da vontade de um pequeno grupo de
pessoas que adequou o movimento carismático católico mundialmente difundido às suas
particularidades emergenciais, que continuam sendo a exaltação da fé na crença no Espírito
Santo.
É importante pontuar que os benefícios materiais e imateriais que o grupo
proporciona logo começaram a despontar da paróquia, expandindo-se pelo seu entorno. O
primeiro passo de seus autores e personagens crentes foi saber acatar as contribuições
25
exógenas e a sensibilização para os fatores endógenos os quais foram acontecendo na
medida em que o grupo foi se tornando coeso e cúmplice de suas aspirações. Em se
tratando de questões religiosas, a solidariedade e o enfrentamento com o capital social
estão presentes em espaços territoriais onde a cultura imaterial, em especial a fé, serve de
alicerce para o desenvolvimento local.
1.2 CAPITAL SOCIAL E A SOLIDARIEDADE
Capital social refere-se aos valores concebidos e partilhados por uma
comunidade com elementos qualitativos, como a valorização da cultura e a capacidade de
produção dos indivíduos que visam realizar investimentos na mesma. Na concepção de
Abramovay (2000, p.6): “O capital social corresponde a recursos cujo uso abre caminho
para o estabelecimento de novas relações entre os habitantes de uma determinada região”.
Por meio do mesmo, podem-se abrir novos caminhos ou despertar velhos, ainda
imperceptíveis pela comunidade.
A interação entre os membros de um grupo leva à fomentação deste capital,
pois ações comunitárias tendem a receber ajuda de toda espécie, sempre com um objetivo
comum entre os envolvidos. No grupo de Renovação Carismática da Paróquia de São
Francisco, de Campo Grande/MS, está bem visível o capital social, quando uma de suas
ações é a manutenção da casa de apoio (casa criada pelo grupo) aos moradores de rua. As
fotos a seguir (1 a 10) mostram os trabalhos realizados na mesma e demonstram a presença
do capital social, pois, desde a casa e tudo que tem dentro dela foi conseguido com a
solidariedade de pessoas que de uma maneira ou outra se sensibilizam com os problemas
dos beneficiados.
Foto 01 Casa de apoio
Foto de: Carla Luzio (setembro, 2005)
26
A casa fica localizada na rua Monte das Oliveiras, nº 113, Bairro Estrela do
Sul. Seu primeiro endereço era dentro do Bairro São Francisco e tinha como objetivo
retirar os moradores de rua que viviam como andarilhos pelo bairro e também pela cidade.
Sua mudança para o bairro vizinho não alterou seu atendimento, já que a casa continua
acolhendo os moradores oriundos do bairro de origem. Possui estrutura ampla e
confortável, como mostram as fotos a seguir.
Foto de Carla Luzio (setembro, 2005)
Foto 04 Sala de TV Foto 05
Sala de aula
Foto de Carla Luzio (setembro, 2005) Foto de Carla Luzio (setembro, 2005)
Na foto 05 vê-se o local onde funciona o Movimento de Alfabetização
MOVA. Este foi instituído pelo Governo Federal para redução do índice de analfabetismo
no país e é subsidiado tanto pela Secretaria de Educação do Estado como do município.
Foto 02 - Horta Foto 03 Horta vista por outro ângulo
Foto de Carla Luzio (setembro, 2005)
27
Foto 06 Dormitório Foto 07 Cozinha
Foto de Carla Luzio (setembro, 2005)
Foto 08 Lavanderia Foto 09 – Capela
Foto de Carla Luzio (setembro, 2005)
Todo o serviço da casa é realizado pelos próprios moradores. O cozinheiro é
um ex-morador de rua, proveniente do Estado de São Paulo, o qual, chegando aqui não
tinha onde ficar e procurou a casa de apoio.
Kliksberg (1998, p. 27) afirma que:
Por sua vez, o capital social pode ter, também, retornos muito elevados
para o avanço econômico e o bem-estar geral. O conhecido estudo de
Robert Putnam ratifica, empiricamente, sua contribuição estratégica para
o crescimento. O autor assinala que se trata de um bem público: “Uma
característica especial do capital social, como a confiança, as normas e as
redes, é o fato de que, normalmente, ele um bem público, diferente do
capital convencional, que, em geral, é um bem privado”. Ocorre um
processo de valorização oblíqua: “Como todos os bens públicos, o capital
social tende a ser subvalorizado e subadministrado pelos agentes
privados”.
Foto de C
arla Luzio (setembro, 2005)
Foto de Carla Luzio (setembro, 2005)
28
O gerenciamento do capital social requer, inicialmente, uma confiança mútua
entre os indivíduos envolvidos e uma socialização entre os diversos grupos governamentais
ou não governamentais que participam do trabalho. A confiança constante lubrifica a
cooperação e, nesta, está instalado o primeiro passo para o desenvolvimento local.
Foto 10 Escritório
Foto de: Carla Luzio (setembro, 2005)
Dentro da casa funciona o escritório, o que corrobora, a foto de número dez, a
qual apresenta a Srª Francisca Vera Lúcia Lima Caramalac, membro do grupo de
Renovação Carismática, no cargo de diretora administrativa da casa de apoio.
Nos anexos, neste trabalho estão os seguintes documentos: no anexo A, as
normas de convivência da referida casa e no anexo B, modelo de ofício onde as
administradoras pedem colaboração para comemorar o 8º aniversário da casa.
Leonel, (2003 apud KLIKSBERG, 1999, p. 46), destaca que
[...] não existe uma definição de capital social consensualmente aceita.
Comenta a abordagem de Robert Putnam, precursor da análise do capital,
onde sugere que este capital está fundamentado no grau de confiança
existente entre os atores sociais de uma sociedade, das normas de
comportamento cívico praticadas e ao nível de associatividade. Estes
elementos mostram a riqueza e o fortalecimento do tecido social.
Putnam (2000, p. 117) ainda revela que a superação dos problemas coletivos
depende do contexto social. A cooperação coletiva é mais fácil numa sociedade que tem
29
uma herança participativa entre os membros da mesma. Também encontramos
solidariedade e cooperação em situações sociais emergenciais, como já assistimos na
história a passagens catastróficas onde comunidades em situações de risco de vida
receberam ajuda de lugares distantes destes.
Com a proliferação das redes de cooperação em uma sociedade, torna-se nítida
a presença de ações solidárias. Estas, por sua vez, vêm a desenvolver não só a cidadania
como também reforçar a identidade do local. Os trabalhos solidários quase sempre não são
remunerados nem envolvem partidos políticos ou correntes religiosas; o que leva à
solidariedade é a necessidade.
Elizalde (2000, p. 51) pontua que:
El subsistema de las necesidades incluye lo que podríamos describir
como nuestra interioridad; nuestra necesidades son algo que está radicado
al interior de nuestra piel y que solamente podemos vivenciar en forma
subjetiva. La necesidad siempre se vivencia en un plano absolutamente
personal. Lo afirmado no significa una postura individualista, sino más
bien que la necesidades son algo que nos constituye como humanos, que
está impreso en nuestra naturaleza. Somos nuestras necesidades algo que
fundamentalmente nos estamos refiriendo a este subsistema. Siendo las
necesidades algo que fundamentalmente nos es dado, por más que
queremos no las podemos modificar, de la misma manera como no
podemos modificar nuestro subsistemas biológicos, poeque ellos hacen
parte de la vida. Por razón afirmamos que las necesidades humanas
fundamentales son universales, es decir son y han sido las mismas para
todos los seres humanos a lo largo de la historia y de las culturas.
Conforme a citação acima, a necessidade é uma condição humana que está
presente em todas as culturas. O ser humano vive para suprir suas necessidades e, como ser
social que é, passa a suprir as necessidades também daqueles que o cercam, vivendo num
interminável processo de interações para suprimentos das necessidades.
Klisberg (1998, p. 115) ainda assinala que:
O capital social e a cultura são componentes-chave destas interações. As
pessoas, as famílias, os grupos, são capital social e cultura por essência.
São portadores de atitudes de cooperação, valores, tradições, visões da
realidade, que são sua própria identidade. Se isso for ignorado, saltado,
deteriorado, importantes capacidades aplicáveis ao desenvolvimento
serão inutilizadas, e serão desatadas poderosas resistências. Se, pelo
contrário, se reconhecer, explorar, valorizar e potencializar sua
contribuição pode ser muito relevante e propiciar círculos virtuosos com
as outras dimensões do desenvolvimento.
Diante do exposto, compreende-se que, onde há pessoas, o capital social está
30
presente, pois o ser humano como portador de atitudes básicas permeadas de valores é
também capaz de apresentar dentro de uma comunidade, atitudes solidárias.
Exemplificando tal atitude e mostrando sua importância, pode-se citar o europeu Benko
(2001, p. 11), que conclui:
[...] um dos valores mais exigentes é a coesão, ou seja, um
desenvolvimento sustentável fundado sobre a solidariedade, uma
ferramenta indispensável para construir uma grande Comunidade
Européia (em várias escalas) mais forte, mais ampla, mais equilibrada e,
portanto, melhor compreendida pelos povos que a compõem. Para obter
sucesso é preciso passar de uma Europa abstrata a uma Europa política,
social e economicamente coerente, cuja integração política é possível no
âmbito de uma federação de Estados-Nação.
Benko analisa a comunidade européia, mas nós nos ocupamos desta
experiência para refletirmos sobre o nosso país, sendo possível, a exemplo do mencionado
acima, estabelecermos também em nossas ações comunitárias a coesão entre seus
membros, pautando-nos em um recurso fundamental para a prosperidade das mesmas: a
solidariedade, este termo bastante explorado, o qual não poderíamos deixar de mencionar,
reafirmando sua grande importância para a construção de uma Nação. Afinal, de
comunidade em comunidade formamos um país, ponto geográfico “limite” para nossas
ações.
Em suma, Ávila (2001) afirma que a solidariedade desenvolve a afetividade e,
esta, com a efetividade, andam juntas. As pessoas, individualmente ou em grupo, também
podem se educar para exercer a cooperação de maneira solidária, pois é uma habilidade
que pode ser adquirida pelo ser humano. Cooperação é uma habilidade de fundamental
importância para o Desenvolvimento Local.
1.3 A COMUNIDADE LOCAL
Uma comunidade geralmente é formada por um grupo de pessoas que
compartilha de um mesmo espaço geográfico, com situações econômicas e culturais
comuns. Ávila apud Pierson (1968, p. 322) enfatiza que dentro de uma comunidade pode
haver entre os seus habitantes um relacionamento primário espontâneo e informal. Já os
relacionamentos secundários são respaldados em leis, regimentos e regulamentos, sendo
que, estes últimos são características que permeiam uma sociedade.
31
O ideal de uma comunidade é que nela estejam presentes os dois
relacionamentos, tanto o primário como o secundário, como mostra a figura a seguir:
Figura 01 Comunidade: relacionamentos primário e secundário
Dentro de uma comunidade, para que haja coesão, confiança, cooperação e
solidariedade, os relacionamentos começam partindo de elos amistosos com um certo grau
de afinidade entre seus membros. Não sendo regra geral, diga-se de passagem, as
comunidades são diferentes em se tratando de atitudes e valores; portanto, os
relacionamentos diferem de comunidade. para comunidade. Esse primeiro comportamento
citado faz parte do relacionamento primário, permeado de informalidade, como mostra o
esquema acima. Já os relacionamentos secundários, que são as normas, leis e regimentos
estão presentes nestas sociedades para consolidar e assegurar também as ações
comunitárias. Nas comunidades, os indivíduos vivem sob normas comuns e são
submetidos a regulamentos, exercem atividades comuns ou defendem interesses comuns:
associações, instituições escolares, igrejas e outros. Assim sendo, os relacionamentos no
âmbito do teor comunitário estão interligados, como mostra o esquema acima.
Para Ávila existem dois tipos de comunidade: a stricto sensu, conservadora e
fechada e a lato sensu, mais extensa e aberta. Ávila elucida que a comunidade ideal para o
desenvolvimento local é a stricto sensu, onde predominam os relacionamentos primários
COMUNIDADE
RELACIONAMENTO
PRIMÁRIO
RELACIONAMENTO
SECUNDÁRIO
Informal Formal
32
sobre os secundários, nos quais as questões endógenas estão em destaque. Sendo assim,
pode-se afirmar que é uma comunidade auto-suficiente. Já os relacionamentos secundários
estão em supremacia nas comunidades lato sensu. Contudo, a citação abaixo menciona o
constante equilíbrio que deve existir entre essas duas categorias, lato sensu e stricto sensu.
Ávila (2001, p. 33) esclarece que:
A comunidade média ideal’ para efeito de desenvolvimento local é aquela
stricto sensu em que haja certa (não exagerada) preponderância dos
relacionamentos primários sobre os secundários ou no máximo se
constate o equilíbrio entre essas duas categorias: a localidade
demasiadamente primarizada é muito conservadora e fechada, tendendo a
se manter no isolamento. E a muito secundarizada já se encontra
esfacelada em termos de seus comuns sentimentos, interesses, objetivos,
perfis de identidade e outros laços de coesão espontânea, sem os quais o
desenvolvimento não emergirá de dentro para fora da própria
comunidade, [...]
O ideal de desenvolvimento local é aquele em que as ações partem de dentro
para fora e não o inverso. Portanto, para que esse processo se configure, é necessário o
conhecimento profundo do lugar onde os atores e os beneficiados das ações nasceram e
cresceram ou dos que já vivem dentro da comunidade há muitos anos. Diante desse prisma,
os moradores mais antigos do Bairro São Francisco e os que moram nas imediações da
paróquia relatam que, quando não havia a casa de apoio para os moradores de rua, grande
era a quantidade dos que perambulavam pelas ruas do bairro, como podemos observar no
relato da professora mestre Neli Corrêa Luzio que mora no bairro há 40 anos:
“Com a criação da casa de apoio pela Renovação Carismática Católica, não
encontramos mais mendigos pelas ruas ou pedintes de casa em casa, os
mesmos hoje se dirigem para a paróquia, pois já sabem que lá serão
encaminhados, devido à divulgação da casa”.
Assim, essas atividades emergencias acabam por apontar caminhos para
pessoas necessitadas. Dentro da comunidade da Paróquia São Francisco encontramos
moradores de rua que, depois de passarem pela casa de apoio são empregados na própria
paróquia, como por exemplo encontramos ex-moradores de rua sendo guardas no
estacionamento daquele local. Direcionando e acomodando os carros, não pedindo nenhum
dinheiro por isso, pois têm seus salários pagos pela instituição, vivem com mais dignidade
e cidadania. Quanto à alfabetização de adultos, a casa oferece o MOVA, já citado nesta.
As pessoas beneficiadas nestas comunidades adotam o lugar que lhes dá dignidade para
seu viver.
33
Para Goodey (2002, p. 48):
[...] cada pessoa nasceu em algum lugar, possui um ou vários lugares ao
qual se refere com “lar”, um lugar onde trabalha, e talvez lugares onde vá
regularmente para descansar ou se divertir. Qualquer um desses locais
pode ser a comunidade com a qual a pessoa se relaciona.
Na maioria das comunidades existentes estão presentes duas instituições: a
igreja e a escola, sendo que a primeira, segundo Biddle (1967, p. 234), “têm aberto
caminho na criação das profissões que se dedicam à ajuda ao homem, provendo recursos
como escolas, hospitais, ambulatórios e instituições sociais”. São instituições que exercem
atividades baseadas nas necessidades humanas.
Fukuyama (1996, p. 43),
[...] pessoas que não confiam umas nas outras acabarão cooperando
somente num sistema de regras e regulamentos, que têm de ser
negociados, acordados, litigiados, e postos em vigor muitas vezes por
meios coercitivos. Esse aparato legal, servindo de substituto da
confiança, acarreta o que os economistas chamam de “custos
transacionais”. Em outras palavras, a desconfiança generalizadas no
interior de uma sociedade impõe uma espécie de ônus sobre todas as
formas de atividade econômica, ônus que as sociedades de alto nível de
confiança não têm de pagar.
A citação acima apresenta um perfil comunitário típico dos dias de hoje, em
função do capitalismo, no qual a certeza do desenvolvimento e bem-estar de todos está na
cobrança de encargos econômicos. Porém, dentro desta mesma sociedade permeada de
desconfiança existem entidades religiosas onde fé e confiabilidade estão presentes entre os
participantes. No âmbito de cada cidade existem vários bairros com grupos de pessoas
pertencentes a religiões diferentes. Em cada núcleo religioso a confiança se torna aparente,
por meio não só dos templos onde estas religiões são cultuadas, quer eles sejam simples ou
suntuosos, mas esta confiança se mostra também nas ações que impulsionam o
desenvolvimento local.
1.4 AS PERCEPÇÕES DO SAGRADO COM ÊNFASE NO DESENVOLVIMENTO
LOCAL
Todo espaço territorial não é estático e sim dinâmico. Esta dinamicidade leva-o
a uma constante mutação. Nesta percepção, é a transformação pela qual o território passa
34
com o desenvolvimento das relações humanas em seu meio, em especial ao princípio mais
sagrado: a fé, que envolve e impulsiona os seres humanos a acreditarem, primeiro em si
mesmos e, depois, na interferência que causam ao meio onde vivem.
Terrin (2004, p. 223) aponta que:
O sagrado não tem estruturas, falar de “estruturas do sagrado” seria como
falar da “quadratura do círculo”: a expressão contém uma idiossincrasia,
uma impossibilidade lógica que não permite associar os termos
“estrutura” e “sagrado” e leva a evitar toda combinação possível, seja ela
intencional ou ingênua.
Esta não definição estática do sagrado é que o possibilita a movimentar-se de
um limite ao outro, sem estruturas conceituais definidas. As questões sagradas são
permeadas pela fé.
A fé também é um sentimento que diferencia o ser humano dos outros animais;
biologicamente, tem-se um cérebro através do qual e, segundo a evolução humana dos
estudos até então realizados (mas nada comprovado), o homem foi crescendo e adquirindo
uma inteligência diferenciada dos outros animais. Sabe-se também que a fé não é única
para todos os seres humanos. Essa diferenciação de indivíduo para indivíduo, quer no
mesmo meio ou não, é bastante complexa, pois, junto com a fé vem a questão cultural e
sua diversidade. Para Tuan (1980 p. 14):
[...] Embora todos os seres humanos tenham órgãos dos sentidos
similares, o modo como as suas capacidades são usadas e desenvolvidas
começa a divergir numa idade bem precoce. Como resultado, não
somente as atitudes para com o meio ambiente diferem, mas em
determinada cultura podem desenvolver um olfato aguçado para
perfumes, enquanto os de outra cultura adquirem profunda visão
estereoscópica. Ambos os mundos são predominantemente visuais: um
será enriquecido por fragrâncias, o outro pela agudeza tridimensional dos
objetos e espaços.
O autor descreve como as atitudes para com o meio ambiente são diferentes de
cultura para cultura. É por meio do corpo e dos órgãos dos sentidos que os espaços são
construídos para depois serem apropriados. Pode-se viver num mesmo espaço, mas a forma
como se visualiza e se sente esse espaço se diferencia de pessoa para pessoa. Tuan (1980)
,no estudo das percepções, atitudes e valores do meio ambiente, acredita que os seres
humanos são altamente sociais e precisam primeiro compreender a si mesmos. Enfatiza
também que os problemas ambientais são problemas humanos e estes, dependem dos
valores e atitudes que dirigem as energias para alcançarmos os objetivos.
35
Assim, estão contribuindo com o desenvolvimento do local mais próximo e
imediato, o meio, onde retrata o que somos e o que queremos ser. No aporte de Veiga
(2002, p. 5),
[...] à idéia do desenvolvimento local; isto é, de que as iniciativas locais
podem ser cruciais para o desenvolvimento, pois se tornam importantes
fatores de competitividade ao fazerem dos territórios ambientais
inovadores.
As ações que desencadeiam o desenvolvimento local desenvolvem a
criatividade de seus atores e, como já mencionado na citação acima, despertam também a
competitividade. Esta última evidência pode ser local ou fora do local, mas tudo está
relacionado com as funções biológicas que são natas no ser humano (e diferenciadas), o
qual estabelece relações afetivas com o lugar onde vive, podendo também estar ligado
afetivamente a um lugar distante, porém familiar. É no lugar que se domina
ecologicamente a natureza e é nele que se desenvolvem as percepções, atitudes, valores e
se estabelecem relações afetivas com outros lugares e crenças.
1.5 ESPAÇO E LUGAR, AMBIENTES SAGRADOS.
O espaço é o óbvio para a realização da vida. Sabemos que sem espaço nada
existiria, mas a presença da vida está na força ao sentirmo-nos posicionados ao pisar em
um solo. Na história da vida sabemos que o solo existe não como coisa supérflua, mas de
forma densa e sustentável, já que é ele que sustenta e conduz a história da humanidade.
Os espaços são lugares delimitados que podem estar preenchidos ou não. Nesta
dissertação, faz-se necessário abordar o espaço ocupado por uma cidade, pois o objeto de
pesquisa (Renovação Carismática da Paróquia de São Francisco) acontece dentro de um
espaço urbano.
Uma cidade é constituída de histórias sagradas e profanas. Freitas (2000, p.14)
enfatiza que:
O mundo do sagrado se opõe ao mundo do profano assim como um
mundo de energia se opõe a um mundo de substâncias (coisas, objetos).
Uma coisa tem natureza fixa, ao passo que uma força ou energia pode
comportar o bem e o mal, dependendo das circunstâncias; tal é o caráter
ambíguo do sagrado.
36
Reafirmando o que Freitas escreve, Rosendahl (2002, p. 31) evidencia que o
sagrado e o profano se opõem e ao mesmo tempo se atraem. Jamais, porém, se misturam.
Assim, encontramos pessoas que fazem partem do grupo da Renovação Carismática, mas
que têm sua vida diária permeada de encontros e desencontros com o Espírito Santo.
Porém, a perseverança neste Espírito os colocam em supremacia para que desenvolvam as
tarefas locais em sua comunidade.
O caráter do sagrado pode ser ambíguo, porém, Freitas assinala que para os
homens religiosos, o espaço não é homogêneo, mas apresenta quebras e rupturas,
estabelecendo oposição entre o sagrado e todo o resto.
Rosendahl (2002, pp. 26 27) infere em seus estudos sobre o sagrado que:
É preciso ressaltar a íntima correspondência do objeto sagrado e do
espaço destinado para realização dos rituais religiosos. Cada religião
doméstica tinha o seu espaço no interior da casa onde as cerimônias eram
realizadas; não existiam regras uniformes, nem ritual comum. Cada
família tinha as suas próprias cerimônias. Ali, em tempos bastante
remotos, a religião doméstica definia o objeto sagrado do culto, como
também demarcava o espaço sagrado no qual deveria ocorrer o conjunto
das práticas religiosas limitadas ao sagrado. Cada família possuía e
vivenciava seu espaço sagrado. A idéia de religião associa-se à idéia de
sagrado. Ambos contêm muita coisa em comum. Não sabemos dizer qual
das suas idéias apareceu primeiro; o certo é que ambas se manifestam no
espaço.
A manifestação do sagrado no espaço depende também da cultura e do meio
ambiente Tuan (1997) ressalta que a cultura e o meio ambiente determinam em grande
parte quais são os sentidos privilegiados. É fácil perceber que, tratando-se da cultura
brasileira, dentre os órgãos dos sentidos, o mais privilegiado é a visão. Como prova disto,
pode-se citar a carta escrita por Pero Vaz de Caminha ao rei Dom Manuel, onde a ênfase
maior está na beleza que esta terra possui.
A força da igreja está presente na cultura brasileira e, apesar da posterior
imposição da fé católica, outras imposições de fé (religiões e crenças) se fizeram presentes
no espaço territorial do Brasil. Para Carlos (1996, p, 23):
[...] o espaço tem uma monumentalidade que pode ser entendida como
elemento revelador da história de um determinado lugar. Mas o que se
revela no lugar não é apenas a história de um povo, mas o peso da
história da humanidade. O lugar é também o espaço do vazio que se
refere ao da monumentalidade do poder.
No espaço territorial brasileiro encontra-se a representação da fé católica, quer
37
seja representada de forma material ou imaterial. Nota-se em cada Estado, cidade ou bairro
de uma cidade que é comum encontrar paróquias ou capelas fazendo parte do cotidiano das
pessoas do lugar e, assim, construindo não só a história do mesmo, mas a das pessoas, de
forma individual. Carlos (1996) destaca que lugar é a base da reprodução da vida e pode
ser analisado pela tríade habitante-identidade-lugar. O espaço religioso de um bairro, nos
dias atuais, é permeado também por diferentes religiões. No bairro São Francisco, existem
outras instituições religiosas, tais como: um centro espírita, uma Igreja Batista,
Congregação Cristã do Brasil e mais recentemente outra Igreja Batista “Frente Missionária
Nações por Herança”. A religião católica não é a única a fazer parte do cotidiano das
pessoas, mas em todo bairro existe grande quantidade de católicos, principalmente aqueles
que a seguem por uma tradição familiar. A reflexão refere-se basicamente ao bairro,
porque é neste que se desenvolvem as questões básicas dos seres humanos.
De acordo com Carlos (1996, p, 21),
[...] a metrópole não é “lugar”, ela só pode ser vivida parcialmente, o que
nos remeteria à discussão do bairro como o espaço imediato, da vida das
relações cotidianas mais finas as relações de vizinhança, o ir às
compras, o caminhar, o encontro dos conhecidos, o jogo de bola, as
brincadeiras, o percurso reconhecido de uma prática vivida/reconhecida
em pequenos atos corriqueiros, e aparentemente sem sentido que criam
laços profundos de identidade, habitante-habitante, habitante-lugar.
Neste espaço de convivência comum entre os moradores de um bairro,
aparecem diferenças entre os mesmos quanto à apropriação do lugar. Mas o espaço sagrado
é bem visível, principalmente nas manifestações populares.
Arns ressalta (1981, p. 49) que:
As festas populares e devoções tradicionais devem buscar nas celebrações
oficiais da Igreja o seu modelo e a sua inspiração.
[...] Por um lado, retratam elas a alma e a situação do povo.
Por outro lado, transmitem riquezas do Evangelho e fé profunda na
providência e presença de Deus [...].
As festas no calendário católico marcaram a cultura brasileira. Essas se
manifestam principalmente nos bairros e conservam sempre uma longa história que
preserva a memória coletiva. As festas constituem um dos grandes patrimônios imateriais
de nosso país. Moura (2001 apud PINSKY, 2003) relata estas, começando pelas festas
natalinas, dia 24 de dezembro; logo em seguida, outras, tais como: o Carnaval, Semana
Santa, festa do Divino que faz parte do calendário litúrgico, festa de São Gonçalo, dia 10
38
de janeiro; festa de São Sebastião, dia 20 de janeiro; festa de Nossa Senhora dos
Navegantes, dia 2 de fevereiro; festas da Santa Cruz, dia 03 de maio; festas Juninas, dias
13, 24 e 29 de junho; festa do Padre Cícero, dia 30 de outubro; festa de Nossa Senhora do
Rosário, dia 7 de outubro; festa de N. S. Aparecida, 12 de outubro; festa de Nossa Senhora
da Conceição, dia 8 de dezembro; festa de Santa Joaquina, em agosto; Círio de Nazaré,
segundo domingo de outubro.
É essa religiosidade que se faz presente no território brasileiro. A
territorialidade do sagrado no espaço brasileiro se fez por meio da fé que aparece envolta
em situações diárias de tradicionalismo, fazendo com que a manifestação do divino seja
permeada de ritos, tais como as procissões e festas sacras que podem envolver outros
membros da comunidade no espaço. Os membros da comunidade local percebem uma
divisão, ainda que esporádica, entre as pessoas do bairro. Por exemplo: pessoas do bairro
que eram católicas e, que por algum motivo deixaram de ser colaboradoras, mas que não
deixam de participar das festas religiosas. Sendo assim, os vínculos do espaço sagrado
católico “desde primórdios da colonização” estão presentes na sacralidade católica atual. O
sagrado e o profano delimitam o território em uma convivência mútua. Um não sobrevive
sem o outro.
O homem, quer individual ou em grupo, provoca uma atuação sagrada em seu
espaço e, em convivência com outros, no mesmo espaço, passa a viver em um espaço
sagrado homogêneo, sendo ao mesmo tempo heterogêneo devido às condições sociais,
políticas e econômicas que permeiam o local, ou seja, o profano. Para Elíade (s.p.), “o
lugar quando não apresenta nada de sagrado, o homem provoca-o, tendo como objetivo
imediato a orientação na homogeneidade do espaço”.
Na conjuntura contemporânea, estes espaços se entrelaçam. O sagrado, para
manter-se, precisa dos recursos profanos que são vividos e sentidos pelo homem que busca
proteção para sua vida no espaço sagrado. Espaço este que o coloca em situação
confortável e lhe dá segurança, enquanto agente social e agente histórico.
1.6 OS SÍMBOLOS TERRITORIAIS
O ser humano vive entre o sagrado e o profano e este viver é permeado de
39
símbolos, como afirmam LE BOURLEGAT e CASTILHO, (2003, p.4):
Os símbolos também representam as conquistas de um homem ou de um
povo. Exprimem suas vidas, significam tudo aquilo que as palavras não
conseguiram dizer, mas está vivo, e assim permanecerá, nos símbolos.
Estes contam a história de um povo, sendo, assim, um dado antropológico
universal. Contém energias, forças que, ao serem reativadas,
materializam-se em imagens, emoções e sons, recontando suas histórias.
Os símbolos sagrados e profanos que se fazem presentes no território brasileiro
hoje, são resultados de uma longa caminhada da história. Todo território é formado por
símbolos que constituem a identidade social e histórica, herdando (ou não) a interferência
de agentes externos.
O Bairro São Francisco também tem seus símbolos sagrados e profanos,
materiais e imateriais. Os símbolos materiais estão na suntuosidade da Paróquia de São
Francisco, em toda a sua arquitetura, nos estilos diversos; das as casas residenciais e
comerciais ali existentes, com fachadas que vão do barroco ao estilo eclético. Quanto ao
imaterial, no bairro existem histórias que são contadas de gerações a gerações, como o
apelido do mesmo de Cascudo devido à grande quantidade de peixes dessa espécie que
existia no córrego Segredo, pois este passa no local, cortando todo o bairro, de norte a sul.
Outras histórias existem, como a de um bêbado com o apelido de Puera, que perambulava
gritando a seguinte frase: “Chora bugrada!”.
Enfim, existem outros inúmeros símbolos que se fazem presentes no Bairro
São Francisco, porém, relatamos apenas alguns, confirmando assim o que relata Bourdieu
(1989): Os símbolos são instrumentos de comunicação e poder de construção da realidade
do mundo; ícones de integração social.
Ainda Bourdieu (1989, p. 15):
O poder simbólico, poder subordinado, é uma forma transformada, quer
dizer, irreconhecível, transfigurada e legitimada, das outras formas de
poder: só se pode passar para além da alternativa dos modelos
energéticos que descrevem as relações sociais como relações de força e
dos modelos cibernéticos que fazem delas relações de comunicação, na
condição de se descreverem as leis de transformação que regem a
transmutação das diferentes espécies de capital em capital simbólico e,
em especial, o trabalho de dissimulação e de transfiguração [...]
Os locais são permeados de símbolos, descrevendo a história e representando a
identidade de um povo que sofre modificações e, com o passar do tempo, a própria
40
dinamicidade cultural cria novos símbolos e estes passam a fazer parte do conjunto
simbólico e, conseqüentemente, do legado histórico da população em favor do
Desenvolvimento Local.
O grupo carismático da Paróquia de São Francisco, com suas ações e devoções,
está também construindo os símbolos do bairro, sendo que estes são de natureza muito
mais imaterial do que material, pois neste se reza, canta e evoca-se a presença do Espírito
Santo. Porém, apesar de não ser o foco principal da Renovação Carismática, esta
instituição realiza obras que, dentro do contexto simbólico, fazem parte da cultura material,
com suas ofertas e cuidando permanentemente da casa de apoio aos moradores de rua e,
desta maneira, contribuindo com o Desenvolvimento Local.
41
CAPÍTULO 2
A RENOVAÇÃO CARÍSMÁTICA NO CONTEXTO DA
TERRITORIALIDADE DO BAIRRO SÃO FRANCISCO
O estudo de investigação neste capítulo, aborda a atitude dos que estão
comprometidos com a Renovação Carismática Católica no Bairro São Francisco.
2.1 PRINCÍPIOS DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA
O princípio da Renovação Carismática Católica está na fé ao Espírito Santo.
Anunciado na Bíblia (Novo Testamento), nos Atos dos Apóstolos, com ênfase maior no
capítulo 2, suas ações, no entanto, no contexto bíblico, se fazem presentes desde a origem
da vida até as previsões do Apocalipse, anunciando o fim do mundo.
Em pleno século XXI, a fé, a fidelidade ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo
continuam sendo exaltadas, em especial no movimento pesquisado. Mas sua origem está
registrada na citação abaixo, comprovando sua menção no Antigo Testamento.
Falvo (1975, p. 60) escreve que:
Os filhos de Adão e de Caim, “que se tornaram carne”, são engolidos
pelas águas do dilúvio.
Mas o Espírito guardou “a promessa” na Arca, subtraindo-a à fúria das
águas devastadoras; e significado pela pomba misteriosa, adeja sobre a
natureza renascida, como portador de paz, de alegria e de vida.
A promessa é salva, e ele a depõe no coração dos patriarcas para que a
transmitam de geração a geração.
Jacó a leva ao Egito e, ao morrer, entrega-a aos doze filhos que formarão
o “povo da Promessa”. Um povo que terá “um cetro, isto é, um reino que
durará até que venha aquele, ao qual pertence, a quem devem os povos
obediência” (Gn 49, 10).
Mas o povo da promessa torna-se um rebanho de escravos do faraó.
E a partir deste momento o Espírito se manifesta como uma força
invencível, ao lado do povo de Deus.
Ele reveste de poder sobre-humano um pastor de Oreb, transformando-o
42
em chefe e libertador do povo eleito.
Flagela com as dez pragas o povo do Egito, e dá ao bastão de Moisés o
poder de abrir o mar e de fazer jorrar água do rochedo.
Cinqüenta dias depois da saída do Egito, aquela grei de escravos, no sopé
do Sinai, encontra-se pela primeira vez com Deus.
Moisés desce do Monte, trazendo o anúncio de uma aliança que Deus
estabeleceu com seu povo, que assim volta a ser “o povo da promessa”. É
o primeiro Pentecostes. Na saída no Egito, celebraram a Páscoa, isto é, a
passagem da escravidão à liberdade; aqui, ao pé do Sinai, celebram o
Pentecostes, ou seja, a tomada de consciência da própria dignidade como
povo de Deus e objeto de suas predileções.
Os escritos de Falvo são baseados no contexto bíblico, no qual o Espírito Santo
se manifesta nos homens, nos animais e na natureza, abrindo caminho para uma vida nova.
Observa-se também que a mudança de espaço físico se configura para que a promessa do
espírito se confirme ultrapassando fronteiras. É relatado o primeiro Pentecostes antes de
Cristo, por meio dos ensinamentos bíblicos, através dos quais sabemos que a origem
pentecostal é judaica e que significa qüinquagésimo dia, pois se refere à comemoração da
colheita. È também chamado de festa das Sete Semanas, celebrado no qüinquagésimo dia
depois da Páscoa. Porém, a origem da Páscoa é diversa. Sabe-se que é uma festa universal
onde é comemorada a vida, independentemente de credo e origem.
No texto retirado do site www.abordo.com.br apresenta-se uma das versões da
Páscoa:
Entre informações históricas e um número infinito de lendas, conseguiu-se
estabelecer que a primeira Páscoa foi celebrada no século 13 antes de
Cristo, pelos hebreus. Esta é também reconhecida como a primeria versão
da Páscoa com um sentido religioso. Moisés, antes de lançar a última das
sete pragas sobre o faraó e o Egito, ordenou que cada família hebréia
tomasse um cordeiro ou um cabrito e o sacrificasse no dia 14 do primeiro
mês de cada ano. O sangue do animal deveria ser espalhado nas portas e a
carne, assada, comida com pães azedos e ervas amargas. Com isso, a festa
tomava um sentido de libertação e de nova era para o povo hebreu, o
Pessach Passagem.
Ainda o mesmo site relata a versão nórdica da Páscoa:
Bastante diferente, mas também muito difundida, é a versão de que a
Páscoa teria origem entre os povos nórdicos, não com um sentido
religioso, mas como uma manifestação coletiva de agradecimento à terra
pelas colheitas e, ao mesmo tempo, um festejo à primavera que se
aproxima, nesta época, naquela região. Sob esse aspecto, seria então a
Páscoa uma festa pela prosperidade e, em síntese, pela própria vida,
consubstanciada na íntima união entre o homem e a terra.
As duas versões comemoram a vida, sendo que na primeira o Espírito Santo
43
está presente quando os hebreus saem do Egito deixando de ser escravos do povo egípcio,
cumprindo assim a promessa que Deus fez a Moisés. Na segunda versão é comemorada a
colheita e a fartura, não estabelecendo nenhuma ligação dos homens com um ser espiritual
e superior.
Já o primeiro Pentecostes, depois da morte de Jesus Cristo, relatado no Novo
Testamento, é marcado com a descida do Espírito Santo sobre Jerusalém em forma de
línguas de fogo, onde todos que estavam presentes, inclusive os doze apóstolos, ficaram
possuídos pelo Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, fato este que ocorre até
hoje durante as reuniões do Movimento da Renovação Carismática.
Jesus Cristo menciona também a presença do Espírito Santo dizendo aos
apóstolos:
[...] ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem
a realização da promessa do Pai a qual, disse Ele, ouvistes da minha boca:
João batizou com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo
dentro de poucos dias. (At 1, 4- 5).
Os fiéis à Igreja Católica Apostólica Romana e, conseqüentemente, os que
crêem nos ensinamentos de Jesus Cristo recebem por meio dos sacramentos de batismo e
de crisma, os primeiros dons do Espírito Santo, que são os seguintes: sabedoria,
inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor. Das origens pentecostais à morte
de Jesus Cristo, houve várias manifestações do Espírito Santo.
Suenens (1975, p. 40) esclarece que:
[...] o Espírito Santo manifesta-se de maneira surpreendente,
desorientadora mesmo, tão numerosas, inesperadas e, às vezes,
fulgurantes são suas intervenções. É ele, visivelmente, que conduz os
fatos, e anima os apóstolos e a comunidade dos fiéis. Intervém a tal ponto
nos pormenores da vida cotidiana da igreja e de sua expansão no Império
Romano, que se pôde dizer que os Atos dos Apóstolos formam como que
um quinto Evangelho: o Evangelho do Espírito Santo.
O livro dos Atos dos Apóstolos apresentado na Bíblia Sagrada, no Novo
Testamento, é o Evangelho do Espírito, no qual o Espírito Santo faz nascer a comunidade
cristã e a impulsiona para o testemunho aberto e corajoso do nome de Jesus, isto é, para
anunciar a palavra e ação libertadora de Jesus. Vem para transformar pessoas, relações e
estruturar a sociedade. Sua mensagem é carismática, pois atende às necessidades e
exigências da missão da vida comunitária, pelo empenho apostólico. A Igreja é apresentada
nos Atos como modelo utópico, e frente a ele as comunidades de todos os tempos e lugares
44
podem fazer uma reflexão e revisão a fim de descobrir seu real caminho nos tempos de
hoje.
2.2 A ORIGEM E AÇÃO DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA
O movimento da Renovação Carismática Católica não nasceu dentro da Igreja
Católica ou outra instituição religiosa. Foi no ano de 1900, nos Estados Unidos, quando um
grupo de jovens universitários se reuniu para rezar e pedir com ferventes orações ao
Espírito Santo os mesmos dons que ele tinha concedido aos 12 apóstolos.
Sobre este ensejo, Falvo (1975, p. 31) relata que:
Uma moça, em particular, Agnese Ozman, sentiu o impulso interior de
pedir a Parham que lhe impusesse as mãos e invocasse sobre ela a efusão
do Espírito Santo, como se fazia nos tempos dos apóstolos. O pastor a
princípio hesitou, depois acedeu. “Naquele momento contou a jovem
senti-me como que arrastada por um rio, e como se um fogo ardesse em
toda a pessoa, enquanto palavras estranhas me vinham espontaneamente
aos lábios e me enchiam a alma de uma alegria indescritível”. Mais tarde,
um armênio reconheceu naquelas frases estranhas sua própria língua. No
dia seguinte, os outros estudantes e o próprio Parham receberam os
mesmos dons. Alguns anos depois, em 1906, estes fenômenos
carismáticos verificaram-se em proporções mais vastas em Los Angeles,
na Califórnia, enquanto dois anos antes se haviam repetido também em
Galles, na Inglaterra. Estes fatos não passaram despercebidos; de todas as
partes, as pessoas acorriam para receber aquilo que foi chamado “o
batismo no Espírito” e “o dom das línguas”.
Hoje, essa manifestação do Espírito Santo está não só na Renovação
Carismática Católica, mas também nas igrejas Pentecostais. A fé no Espírito Santo e na
Igreja Católica foi renascida com o Concilio Ecumênico Vaticano II, em 1959.
Parafraseando Falvo (1975), o Papa João XXIII ao convocar o concílio, diga-se de
passagem, o mais ecumênico da história por estarem ali reunidas praticamente todas as
igrejas cristãs do mundo, vem para anunciar na Igreja Católica um novo Pentecostes, um
convite para a volta ao cenáculo, local no qual os apóstolos haviam recebido o Espírito
Santo. João XXIII não chega ao fim do concílio em 1963 e seu sucessor, Paulo VI,
continuou com os trabalhos até o encerramento em 1965. Não havia passado um ano do
término do concilio, quando despontou o fenômeno religioso que agora é chamado
45
“Renovação Carismática Católica”
1
.
Sobre a Renovação Carismática, movimento que nasceu nos Estados Unidos e
em relação ao lugar do nascimento, Falvo (1975, p.25) pontua que:
[...] os lugares não tem importância alguma o fato de o monaquismo
ocidental ter nascido em Montecassino, o franciscanismo na Úmbria, a
devoção ao Sagrado Coração no convento de Paray-le-monial, e que a
Virgem Maria tenha escolhido uma gruta dos Pireneus e os bosques de
Fátima para revelar aos homens as ânsias de seu coração materno.
Quanto ao movimento nascer fora da Igreja, sabemos que os caminhos do
Senhor são misteriosos. O costume cultural tradicional, tanto profano como sagrado, é que
considera a Igreja como o lugar onde deve reinar a palavra e as coisas de Deus. O próprio
Jesus Cristo escolheu como apóstolos os homens comuns que viviam normalmente na
sociedade. Jesus quer nos mostrar que o plano de Deus pode ser vivenciado e transmitido
por qualquer ser humano. Falvo (1975, p. 30) elucida que: “No alvorecer do novo século, o
Espírito Santo procurava anunciar a aproximação de uma era carismática que se
desenvolveria nos próximos decênios. E anunciou-a com os sinais evidentes do primeiro
Pentecostes”.
Renovação Carismática significa renovação dos dons espirituais. Portanto, não
é uma nova espiritualidade revolucionária tendente a eliminar a ascética e tradicional
devoção ao Espírito Santo. É o renascimento da fé, que vem por meio de um movimento
se espelhar em seus dons, trazendo a mensagem de boa-nova a seus fiéis.
Falvo (1975, p. 105) esclarece:
A Renovação Carismática, como diz a própria palavra, é reviver a
experiência do Pentecostes. Significa, em outros termos, renovar na
Igreja de hoje o clima ardente das origens, a experiência carismática da
Igreja apostólica, que não era somente depositária de verdades reveladas,
mas estava de posse de energias poderosas e irresistíveis. É recriar a
atmosfera pneumática da primeira comunidade cristã, para a qual o
Espírito Santo não era uma abstração teológica, mas vida, força,
orientação, entusiasmo e coragem.
Há uma certa oposição entre os grupos carismáticos e as comunidades
eclesiais de base, porém há muitos católicos que simpatizam com os dois
movimentos. A Renovação Carismática cura, faz milagre e resolve
problemas.
No discurso carismático embora também se mencione o demônio, está
sempre o livre arbítrio: cada um adere ou não ao pecado, por sua vontade.
1
Site: http:// www.renovacaocarismatica.com.br, acessado em 25/09/2005.
46
Os dois grupos condenam o aborto, a pornografia, o alcoolismo e o uso
de drogas. Valorizam imensamente a castidade.
Para a Renovação Carismática o culto à Maria é muito importante, do
ponto de vista da fé e da identidade católica do movimento, pois ela é a
intercessora dos fiéis e da Igreja.
Os carismáticos sempre fizeram questão de afirmar sua obediência ao
Papa, à igreja e ao bispo social mais privilegiada que os demais católicos.
A fórmula tradicional carismática é primeiro a mudança do indivíduo, e a
partir daí toda a sociedade mudará. A pregação carismática deixa claro a
preocupação com a família e seus costumes tradicionais, afastando-se do
mundo dos pecados.
Os carismáticos aparentemente rejeitam a política no sentido da
participação e atuação militante. Mas se interessam pela política
partidária e votam com posições políticas bem definidas, e têm
representantes entre os deputados federais, estaduais e vereadores.
Revivendo a experiência pentecostal, a Renovação Carismática não despreza os
princípios da Igreja Católica Apostólica Romana, apenas recria a presença do Espírito
Santo nesta, penetrando na vida de seus adeptos, proporcionando-lhes força e fé e
revivendo constantemente as promessas do batismo e da crisma. Porém, apesar de haver
uma certa oposição entre os grupos carismáticos e as comunidades eclesiais de base, é
comum encontrarmos fiéis que freqüentam tanto o grupo da Renovação Carismática, como
também fazem parte das comunidades com trabalhos paroquiais, tais como equipe do
dízimo, equipe da liturgia e outros.
Catão (1995, p. 8) afirma que:
Uma das principais características de nossa época é o redespertar
religioso. Depois de uma fase cultural marcada pelo agnosticismo, pelo
materialismo e até pelo ateísmo, o Ocidente cristão constata, com certa
surpresa que a religião não só não morreu, como se mostra cada vez mais
viva e presente na cena cultural. Torna-se preocupação primordial de um
número cada vez maior de pessoas, chega a ocupar lugar de destaque na
mídia e é vista como um dos traços indispensáveis das pessoas
equilibradas, realizadas e eficazes, em todo os níveis sociais.
Tal citação propicia uma reflexão sobre as questões religiosas presentes hoje e,
percebemos que as pessoas buscam alicerçar sua vivência, participando de movimentos
religiosos. A Renovação Carismática com seus princípios, sua origem e ação já
mencionados, está no aporte da experiência vivenciada em Jesus Cristo, com fundamentos
para a nova Igreja que, antigamente baseava-se apenas nos escritos de ordens religiosas
católicas. Porém, a participação da comunidade local no movimento deve estar atenta
47
diante dos problemas que poderão aparecer.
O autor acima citado destaca que:
[...] a estrutura canônica que prevalece continua a se basear na distinção
dos territórios, adaptada ao campo e, de certo modo, às periferias urbanas,
enquanto, inclusive por razões econômicas, as populações carentes
carecem também de maior mobilidade. No entanto, quando se pensa na
sociedade urbana mais representativa, cujo poder de influência, através da
mídia, por exemplo, não pode ser menosprezado, é claro que o modelo
local precisa se caracterizar por uma flexibilidade ainda muito maior do
que o universal, para permitir, numa mesma diocese ou paróquia, o
convívio de pessoas e grupos das mais diferentes culturas e tendências.
O movimento de Renovação Carismática, desde suas origens, convive com as
questões exógenas que influenciam o espaço religioso. As ações locais de natureza
endógena, em se tratando da Renovação Carismática se entrelaçam com as exógenas, pois
não se trata de um movimento unicamente local. Para os carismáticos, a ação do Espírito
Santo é única e universal em todos os espaços, porém, obedecendo a certas peculiaridades,
pois nenhum espaço físico é simétrico.
2.3 A ORIGEM E O PERFIL DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA NO
BRASIL
Este movimento no Brasil foi se formando baseado no exemplo de outros
lugares, como comenta Jesus (2001, p. 84): “A Renovação Carismática Católica foi
introduzida no Brasil na cidade de Campinas, se irradiou pelos centros urbanos sob a
direção das dioceses brasileiras.” Já a apostila da Renovação, em anexo C, p.22, reproduz
que, no ano de 1969, foram realizados os primeiros encontros em três cidades brasileiras,
simultaneamente: Campinas-SP, Campo Grande-MS e no interior do Amazonas, e no
início dos anos setenta por sacerdotes jesuítas que começaram a realizar pelo país orações
chamadas inicialmente de Experiência do Espírito Santo.
A proliferação Carismática no meio católico não foi nada difícil de acontecer,
em um país onde o povo, desde a colonização, recebeu os ensinamentos católicos,
aprendendo desde cedo a reverenciar o Espírito Santo. Os símbolos do catolicismo no
Brasil estão presentes de norte a sul, onde a maioria dos lugares recebe nomes de Santos,
tais como Estado do Espírito Santo, cidade de São Paulo, de São Bernardo do Campo e
outros.
48
A religião católica sempre foi a predominante no Brasil. Em sua maioria é
constituída de católicos tradicionais que freqüentam a igreja esporadicamente em
batizados, casamentos e cerimônias fúnebres, assim como os que freqüentam regularmente
os serviços religiosos e a missa, mas muitas vezes, nem todos os católicos se envolvem em
movimentos de renovação ou agremiações.
A maioria dos católicos vai à igreja para os ritos comuns. Por outro lado, 14%
dos brasileiros católicos estão engajados em movimentos como Comunidades Eclesiais de
Base, Renovação Carismática, Equipes de Nossa Senhora, Grupos de Jovens e outros. Dois
movimentos chamam a atenção no catolicismo: Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e o
Movimento de Renovação Carismática Católica. As CEBs, com início nos anos 1960 e,
hoje em declínio, enfatizam os interesses coletivos das classes sociais desfavorecidas: a
opção pelos pobres.
O Movimento de Renovação Carismática Católica, desde seu nascimento nos
Estados Unidos em 1960 e logo vindo para o Brasil, segundo Prandi (1998), vem se
desenvolvendo também no espaço brasileiro, acentuando o controle moral familiar, dos
costumes e da realidade, desta maneira dando grande importância aos dons do Espírito
Santo, sobretudo o de falar línguas desconhecidas.
Para Juanes (1997 apud SUENENS,1979, p.89),
São Paulo não despreza o ‘falar em línguas’: confessa que o pratica, mas
situa-o num lugar subordinado. Não o rejeita, nem o supervaloriza
indevidamente [...] Essa forma de oração mais livre, mais espontânea que
a oração formulada, tem e sentido. [...] Assinalei o benefício espiritual que
pode ser retirado dela, e, por tê-lo experimentado, de minha parte não
duvidei em colocá-la entre os frutos da Renovação”.
Observa-se nos encontros dos carismáticos que o ato de falar em línguas é
ensinado pelo Espírito Santo. Não poderíamos deixar de mencionar que os carismáticos
têm acentuada devoção à Nossa Senhora, apego à Eucaristia e fidelidade ao Papa. Nesse
movimento, as mulheres são a maioria. Entre seus seguidores, predominam os da classe
média.
A população brasileira não é unicamente católica, os evangélicos totalizam
cerca de 13.000.000 de brasileiros, classificados em protestantes históricos e tradicionais.
Os protestantes históricos são representados pelas igrejas: Batista, Luterana, Prebisteriana,
Metodista, Episcopal e Congregacional.
49
Os Pentecostais têm o culto centrado no apelo emocional, principalmente no
dom das línguas e no dom da cura: Congregação Cristã no Brasil, Assembléia de Deus e a
Igreja do Evangelho Quadrangular. Entre os Pentecostais, o mal é sempre visto como obra
do demônio, adotando, por isso, o exorcismo e a expulsão dos demônios.
Mais recentemente surgiram as igrejas chamadas de Neopentecostais, que
valorizam a prosperidade e reabilitam eticamente o dinheiro e os ganhos materiais: Brasil
para Cristo, Casa da Bênção, Nova Vida, Deus é Amor, Igreja Universal da Graça de Deus,
Internacional da Graça Divina e Renascer em Cristo.
Já a grande maioria dos espíritas no Brasil segue a religião do francês Alan
Kardec, sobretudo as camadas médias urbanas. Valorizam o progresso espiritual e
intelectual dos indivíduos e dão grande importância à assistência social.
As religiões afro-brasileiras introduzidas no Brasil devido à presença dos
africanos neste território e, em intersecção com a cultura destes, valorizam a sabedoria que
decorre da própria vivência, do esforço próprio, enaltecem o bravo, o experiente, o
realizador.
Já os agnósticos são 5% do total da população brasileira, sobretudo do grupo
masculino. Nesta pluralidade de alternativas, as pessoas se sentem com o direito de optar
por uma religião ou não ter nenhuma, como também mudar de religião.
As religiões Pentecostais e a Renovação Carismática curam, fazem milagres e
resolvem problemas de toda sorte, sendo que, para o pentecostalísmo, o verdadeiro inimigo
a ser vencido é o demônio. No discurso carismático, embora também se mencione o
demônio, está sempre o livre arbítrio: cada um adere ou não ao pecado, por sua vontade.
Os dois grupos, como já mencionado, condenam o aborto, a pornografia, o
alcoolismo e o uso de drogas. Valorizam imensamente a castidade. Para a Renovação
Carismática também o culto à Maria é muito importante do ponto de vista da fé e da
identidade católica do movimento, pois ela é a intercessora nossa e da Igreja.
Os carismáticos sempre fizeram questão de afirmar sua obediência ao Papa, à
Igreja, ao bispo e aos padres de suas paróquias. Geralmente são de origem social
privilegiada, como mostra essa pesquisa.
A fórmula tradicional carismática é exercer primeiro a mudança do indivíduo, e
a partir daí, toda a sociedade mudará. A pregação carismática deixa clara a preocupação
50
com a família e seus costumes tradicionais, afastando do mundo os pecados. Quanto à
política, os carismáticos aparentemente a rejeitam no sentido da participação e atuação
militante. Mas se interessam pela política partidária, votam com posições políticas bem
definidas e têm representantes entre os deputados federais, estaduais e vereadores.
No site da Renovação Carismática
2
enfatiza-se que:
A célula da Renovação Carismática Católica são os Grupos de Oração.
Através deles os fiéis têm a possibilidade de um crescimento efetivo na
sua vida espiritual. Igreja é comunidade, por isso é um grande erro
afirmar que o crescimento espiritual se faz individualmente.
Normalmente, os Grupos de Oração promovem Seminários, Experiências
de Oração, Cursos de Aprofundamento, entre outros, que ajudam o
crescimento espiritual, pelo conhecimento da fé e orações especiais, que
nesses momentos são mais intensas.
O movimento realiza serviços como a cura, a libertação, o aconselhamento, a
profecia e outros. Os serviços pastorais mais comuns são: ministério da cura, ministério de
música, ministério de coordenação de grupos de oração, ministérios de servos de
seminários de vida no Espírito Santo, ministério de pregação, ministério de evangelização,
ministério de ensino, uma vez que este termo ministério é usado para designar as diversas
atividades do movimento.
Para complementar o assunto, ver anexo C que é a primeira apostila da
Renovação Carismática, cedida pelo Josimar Alves Franco, que participa do movimento na
paróquia São João Bosco, em Campo Grande/MS. Este material serve de embasamento
para a formação das pessoas adeptas ao mesmo, pois os assuntos tratados estão divididos
em cinco temas, na seguinte disposição: primeiro tema, primeira parte - “IDENTIDADE
DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA”; segunda parte do primeiro tema -
“IDENTIDADE DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA”; não consta na apostila a segunda
parte, o terceiro se divide em duas partes, com um único tema - “A ESPIRITUALIDADE
DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA”,; quarto tema, - “RENOVAÇÃO
CARISMÁTICA CATÓLICA COMO UM NOVO PENTECOSTES” e, por fim, o último
e o quinto tema -“O CONTEXTO ECLESIAL DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA
CATÓLICA”.
Nesta apostila é acrescido que, a identidade da Renovação é um conjunto de
características da espiritualidade que a identificam como um movimento pentecostal
2
http:///www.renovaçaocarismatica.com.br, acessado dia 29/08/2005
51
católico, diferente dos demais movimentos eclesiais sendo que são os seguintes os
elementos básicos da Renovação: batismo no Espírito Santo, práticas dos carismas e
trabalhos comunitários. Em seguida, a apostila apresenta outro elenco que vai desde a
aceitação incondicional de Jesus como Salvador pessoal à conversão. Está também nesta, a
explicação do batismo no Espírito com os fundamentos bíblicos baseados tanto no Velho
como no Novo Testamento. Na fundamentação teológica da Renovação Carismática,
dentre outros assuntos mencionados, está nítida a fundamentação bíblica que decorre desde
Igreja primitiva à prática de Jesus Cristo. Enfim, a Renovação é apontada como a autêntica
expressão da Igreja Nova.
2.4 O BAIRRO SÃO FRANCISCO DE CAMPO GRANDE/MS E O MOVIMENTO DE
RENOVAÇÃO CARÍSMÁTICO
O Bairro São Francisco é um dos mais antigos da cidade de Campo
Grande/MS. Nasceu junto com a cidade após a chegada do mineiro José Antonio Pereira,
fundador da mesma no ano de 1872. A presença da Paróquia de São Francisco neste bairro
é escrita por Marques (2001, p. 246), da seguinte maneira:
A pedra fundamental foi lançada em 12 de dezembro de 1950. A Missão
Franciscana da Primeira Ordem São Francisco construiu a igreja no
terreno de uma chácara à margem esquerda do córrego Segredo. O
projeto do engenheiro-arquiteto Frei Valfrido Stäle é inspirado no
Convento dos Franciscanos de Pari, localizado em São Paulo. Em 1955,
os frades mudaram para o convento e, no mesmo ano, foi inaugurada a
nova Igreja Matriz.
A Igreja Católica foi a primeira a ser implantada no bairro São Francisco (ver
foto 11), justificando seu pioneirismo, pois, vive-se num país onde a religião católica
sempre foi predominante.
52
Foto 11 Paróquia de São Francisco de Assis.
Fonte: www. misfra.com.br, acessado em 02/09/2005.
Fonte: http://www.misfra.com.br, acessado em 02/09/2005
Na Paróquia de São Francisco, os serviços religiosos também são
desenvolvidos por leigos. Estes estão engajados em movimentos como Comunidades
Eclesiais de Base, Equipes de Nossa Senhora, Grupos Jovens e Renovação Carismática.
O Movimento de Renovação Carismática na Paróquia de São Francisco
começou em 1980. No início, as reuniões eram realizadas no salão paroquial, localizado
ao lado da igreja, pois nesta época os membros da mesma não aceitavam o movimento de
renovação, por suas orações realizadas também em línguas e por seus adeptos realizarem
aclamações levantando braços e batendo palmas. Esses procedimentos não eram muitos
bem aceitos pelos frades.
Em 1997 o grupo é acolhido dentro da igreja, onde eram realizadas as reuniões
do movimento até os dias atuais. As reuniões do núcleo acontecem sempre às segundas-
feiras, às 19h40 min (depois da missa) e fazem parte do núcleo as pessoas que coordenam
os grupos de orações. Nessas reuniões rezam o terço e, às quartas-feiras, também das
19h40 min às 21h30 min acontece uma reunião geral com todos os componentes do grupo,
incluindo os coordenadores das orações (o núcleo citado anteriormente). A coordenadora
geral do Movimento de Renovação Carismática da paróquia é a Srª Maria Luiza Silva dos
Santos, que está no grupo há 20 anos, sendo que, o primeiro a coordenar o grupo foi seu
marido já falecido. Após sua morte, a viúva passou a coordenar o movimento, como
mostram as fotos 12 a 16.
Foto 12..Srª Maria Luiza Silva dos Santos coordenadora do Movimento da
Renovação Carismática na Paróquia de São Francisco.
53
Foto de Carla Luzio (dezembro, 2005)
Foto 13 Reunião do Movimento Foto 14 Reunião vista por outro ângulo
Foto de Magali Luzio (dezembro, 2005) Foto de Magali Luzio (dezembro, 2005)
Foto 15 Momentos da reunião Foto 16 Participantes
Foto de Magali Luzio (dezembro, 2005) Foto de Magali Luzio (dezembro, 2005)
A foto 15 mostra que durante as reuniões existem momentos de
confraternização entre os membros, nos quais eles se abraçam desejando a paz de Cristo.
54
Esse ato acontece em todas as reuniões.
Durante as reuniões são rezadas diversas orações, entre elas estão às dirigidas
a Maria e a Jesus Cristo, sendo que a oração de evocação ao divino Espírito Santo citada
abaixo, não falta em nenhuma reunião, e foi retirada do livro de cantos e orações,
disponível na entrada da igreja para que os fiéis acompanhem as celebrações. Inclusive o
Movimento da Renovação da Paróquia utiliza o mesmo livro durante seus encontros,
cantando:
Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles
o fogo do vosso amor. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado e
renovarei a face da terra. Oremos: Ó Deus, que instruístes os corações
dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos
retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito Santo e gozemos
sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor nosso Amém.(Paróquia de
São Francisco 2000 pág.10)
A oração acima mostra que todos que crêem no Espírito Santo buscam
continuamente alicerçar sua missão evangelizadora. Esta, em especial, faz com que o
discernimento esteja sempre presente no cotidiano das pessoas e afirma que, pedindo
consolação ao Espírito, há também aceitação da vida que Deus oferece.
Este pensamento é confirmado por DaMatta (1984, p.111), que explica:
Existem formas de falar com o mundo de Deus que são solitárias e outras
que são coletivas. Coletivamente, o modo mais comum é através da
cantoria, onde a prece faz com que se juntem todos os pedidos num só,
que deve “subir” aos céus levado pelas harmonias das vozes que o
entoam. De fato, no nosso modo de conceber o espaço religioso, a linha
vertical e hierarquizada, que relaciona o céu com a terra e o alto com o
baixo, é algo dominante e crítico. O “alto”, conforme sabemos muito
bem, é tudo que deve ser mais nobre e mais forte, tudo que tem mais
poder. É lá nessa esfera situada em cima que moram os anjos, os santos e
todas as entidades que nos podem proteger e guiar os destinos. O “baixo”
é a terra em que vivemos: vale de lágrimas onde sofremos, trabalhamos e
finalmente morremos. A reza, a festividade religiosa e o canto
propicitório coletivo são meios de se chegar até essas regiões superiores,
ligando o aqui e agora com o além e o infinito.
A oração, quer seja cantada ou rezada, coletiva ou solitária, delimita o espaço
religioso. A linha imaginária que separa Deus dos homens, ligando o céu e a terra é algo
que vem confortar o sofrimento terreno, pois quando estamos em contato com Deus por
meio desses atos imateriais é como se estivéssemos no paraíso, e este é sinônimo de poder,
sendo que o fortalecimento da alma que as religiões superiores nos proporcionam é o único
recurso que temos certeza que está presente até os fins de nossos dias. Mesmo que, toda a
55
fé se acabe, não precisaremos de dinheiro para tê-la de volta, pois, a magia dessa prática
exige um estudo profundo que não se esgota neste trabalho.
A coordenadora do movimento da paróquia, Srª Maria Luiza Silva dos Santos,
relata para esta pesquisa alguns cantos entoados nos encontros da Renovação Carismática,
como maneira de orar:
As sementes que me destes e que não eram pra guardar. Pus no chão da
minha vida, quis fazer frutificar.
Dos meus dons que recebi pelo Espírito do amor, trago os frutos que
colhi e em tua mesa quero pôr. (Refrão)
Pelos campos deste mundo quero semear, os talentos que me deste para
eu mesmo cultivar.
Quantas mais eu for plantando, mas terei para colher. Quanto mais eu for
colhendo, mas terei a oferecer. (Livro Cantemos com Francisco, 2000, p. 109)
Bendito sejas, Senhor, pelo trigo que a terra gerou é pão neste altar,
presente do teu grande amor
Eis nossa oferta, Senhor, da vida que a vida contém. Ao proclamar o teu
louvor, num gesto de Amor, Paz e Bem!
Bendito sejas, Senhor, pela vinha que em ramos floriu, uva que brotou
deste Chão, e assim doce vinho surgiu.
Junto do vinho e do pão, nossa vida oferenda se faz, para depois repartir,
a ceia feliz neste altar. (Livro Cantemos com Francisco, 2000, p. 110)
Glória a Deus nos altos céus! Paz na terra a seus amados!
A vós louvam, Rei celeste, os que foram libertados.
Deus e Pai, nós vos louvamos, adoramos, bendizemos; Damos glória ao
vosso nome, vossos dons agradecemos.
Senhor nosso, Jesus Cristo, Unigênito do Pai, Vós, de Deus Cordeiro
Santo, nossas culpas perdoai!
Vós, que estais junto do Pai, como nosso intercessor, Acolhei nossos
pedidos, atendei nosso clamor!
Vós somente sois o Santo, o Altíssimo, o Senhor, Com o Espírito Divino,
de Deus Pai no esplendor!.(Livro Cantemos com Francisco,2000, p. 80)
Para a família ser feliz, para estar sempre em conversão: deve perdoar
sem medida, e receber o perdão.
É na Eucaristia, fonte de vida e ação, que a família encontra forças de
renovação.
A oração em família une seus membros em comunhão, realiza o plano
divino que é contra separação.
É também na liturgia, não só festiva e dominical, que a família reassume
seu compromisso social.
A comunhão eucarística, o Corpo e Sangue do bom Jesus, faz que a
família transforme do mundo as trevas em luz. (Livro Cantemos com
56
Francisco, 2000, p. 180).
Todos os cantos são de exaltação ao Espírito Santo e em defesa da família. As
formas de devoção, espiritualidade e misticismo do Movimento de Renovação Carismática
na paróquia impulsionam seus atores para determinadas ações em prol da comunidade.
Estes, portanto fazem parte não só do movimento como também se dedicam a outras
equipes de trabalho, como por exemplo: a equipe do dízimo, liturgia, coral e outros, pois a
área da paróquia é bastante extensa e conta com 17 comunidades, além da matriz situada
na rua 14 de julho, 4.213. No local funciona a sede regional da CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil), juntamente com o Tribunal Eclesiástico, o Instituto de
Teologia, Seminário Maior, a casa de Formação Monte Alverne e o Seminário dos Pobres
Servos da Divina Providência. Com tantas atribuições, faz-se necessário contar com a
ajuda da população local e imbuí-la em trabalhos religiosos, visando ao crescimento
espiritual e conseqüentemente ao desenvolvimento local.
O crescimento espiritual dos participantes da Renovação Carismática na
paróquia também é constatado quando, durante as reuniões, alguns desses, se sentem em
glória com Deus e vão à frente do altar dar depoimentos das transformações positivas que
estão ocorrendo em suas vidas por viverem em orações, como mostram as fotos 17 e 18.
Foto 17 Depoimento Foto 18 Depoimento
Foto de Magali Luzio (dezembro, 2005) Foto de Magali Luzio (dezembro, 2005)
Na foto 17, Terezinha Barbosa da Silva Teles e na foto 18, Vera Lúcia Lima
Caramalac, as depoentes, representam várias outras pessoas que no encontro do dia 15 de
dezembro de 2005, também deram seus depoimentos. Ambas, nas fotos, mostram a
satisfação e a alegria com que realizam este ato e disseram:
57
Terezinha Barbosa da Silva Teles:
“Agradeço aos meus amigos pelo convite de participar do grupo, pois às
vezes penso em desistir, mas uma força interior faz com que eu venha às
reuniões. Pois, antes de participar do grupo não dormia durante a noite, no
dia que vim para a primeira reunião passei a dormir e nunca mais tive insônia.
Foi o pedido que fiz em oração para Jesus”.
Vera Lúcia Lima Caramalac:
“É aqui que eu busco forças para enfrentar o dia-a-dia, cheio de dificuldades
e transtornos...”.
Em espaços onde a violência prevalece e as questões sagradas são tímidas,
pouco contribuindo para o cultivo da auto-estima, confiança e solidariedade local, projetos
com o perfil do Desenvolvimento Local nestes espaços, tendem a se ocupar mais com
ações exógenas, pois as ações endógenas necessitam das habilidades discorridas acima
para a prosperidade material e espiritual da população envolvida, como já citado; apenas
para lembrar que o equilíbrio entre as duas ações deve existir.
Em análise, resgatamos o conceito de Girard (1990, p.325) que entende
comunidade como:
Cada comunidade percebe a si própria como um navio único, perdido em
um oceano sem margens, ora pacífico e sereno, ora ameaçador e agitado.
A primeira condição para não naufragar, necessária e não-suficiente, é
conformar-se com as leis de qualquer navegação, imposta pelo oceano.
Mas a mais extrema vigilância não garante que se flutuará para sempre: o
casco faz água, o fluido insidioso não pára de se infiltrar. É preciso
impedir que ele tome todo o navio, repetindo os ritos...
Para exemplificar a citação acima, voltamos à ação dos Carismáticos da
Paróquia de São Francisco, na Casa de Apoio aos Moradores de Rua. Sabemos que existem
outras, mas tomamos esta como exemplo para tecermos os devidos comentários a respeito
de ação comunitária. A comunidade local agiu de maneira criativa e generosa para
diminuir o número de mendigos que perambulavam pelas ruas, construindo a casa de
apoio. A manutenção da casa exige vigília e trabalho constante, tanto lá dentro como nas
suas imediações. É evidente que isto não garante a perfeita consolidação para o
Desenvolvimento Local. É preciso impedir que ações maléficas, como abandono, descaso
ou a simples visita corriqueira estejam presentes e isso se faz com ações solidárias,
tratando os hóspedes (da casa de apoio), como uma verdadeira família (ver foto 19)
58
Foto 19 Casa de Apoio aos Moradores de Rua.
Foto de Carla Luzio (setembro, 2005).
As pessoas da foto apresentam uma diversidade de origem. São pessoas que
migraram de lugares como: São Paulo, São Bernardo do Campo, Rio de Janeiro, Ponta
Porã, Dois Irmãos do Buriti, Minas Gerais, Caxias do Sul e outros. Existem também
aqueles que são de Campo Grande, porém, com algo em comum: viviam a vagar pelas ruas
da cidade. O maior problema detectado entre eles são as drogas. Há na casa um número
elevado de doentes com HIV, hepatite C, cirrose, câncer e fraturados. Outro problema
detectado é que muitos perderam os documentos e não têm como retornar à cidade de
origem. Enfim, este trabalho social e comunitário é desempenhado pelo grupo da
Renovação Carismática Católica São Francisco de Assis.
As fotos a seguir (20 a 24) ilustram como foi o Natal dos Moradores de Rua da
Casa de Apoio, no ano de 2005.
Foto 20 - Natal na casa de apoio Foto 21 - Natal na casa de apoio
59
Foto de Magali Luzio (dezembro, 2005) Foto de Magali Luzio (dezembro, 2005).
Foto de Magali Luzio (dezembro, 2005) Foto de Magali Luzio (dezembro, 2005)
Foto 24- Natal na casa de apoio
Foto 23
-
Natal na casa de apoio
Foto 22
-
Natal na casa de apoio
60
Foto de: Magali Luzio (dezembro, 2005)
Todos os ex-moradores de rua alojados na casa receberam presentes e tiveram
os momentos de oração e ceia. Ação permanente de carinho e apoio por parte dos que os
acolhem, oferecendo auto-estima, carinho e amor da forma que teriam se eles tivessem a
tão proclamada “família”.
Mais uma vez enfatiza Da Matta (1994, p. 325) e define a casa como
[...] a casa distingue esse espaço de calma, repouso, recuperação e
hospitalidade, enfim, de tudo aquilo que define a nossa idéia de “amor”,
“carinho” e “calor humano”, a rua é um espaço definido precisamente ao
inverso. Terra que pertence ao “governo” ou ao “povo” e que está sempre
repleta de fluidez e movimento. A rua é um local perigoso. Aliás, sempre
foi assim, e as descrições deste espaço como zona livre são copiosas.
Da Matta faz a relação entre a casa e a rua, dois espaços comuns em nosso
cotidiano. Quantos de nós convivendo entre esses têm lembranças de conflitos que estes
locais nos apresentaram e “apresentam” em alguns dos momentos de nossas vidas? Temos
medos e reservas para com os que estão expostos aos perigos da rua, enquanto que o lar,
“família” e os que estão dentro dele, nos passam um valor imediato de confiabilidade e
segurança.
A Casa de Apoio aos Moradores de Rua nasceu no Bairro São Francisco e
depois mudou de endereço, instalando-se no entorno deste, porém não dentro do espaço do
bairro, com as ações do Movimento de Renovação Carismática da paróquia local, oferece
amparo a todos que buscam conforto e aconchego familiar, oferece proteção aos que
sentem desamparados.
61
Não podemos ignorar que as ações sagradas e materiais partem também de
ações imateriais, como é o caso dos que fazem parte do grupo de Renovação Carismática
Católica da Paróquia de São Francisco, os quais revelam que a obra edifício de “pedra e
cal”, vem acoplada ao imaterial, nascendo a perseverança em mantê-la, não apenas no
aspecto material, bem como no imaterial. Isto comprova que o Desenvolvimento Local se
faz com ações materiais e imateriais.
62
CAPÍTULO 3
APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E
INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
No Capítulo 3 busca-se, por meio de questionários, responder a questões tais
como: o perfil dos integrantes do grupo de Renovação Carismática da Paróquia de São
Francisco, a natureza de suas ações e a influência destas no Desenvolvimento Local.
Foram aplicados dois questionários, sendo que o primeiro apenas coletou os
dados pessoais do grupo Carismático da Paróquia de São Francisco (Apêndice A). O
segundo questionário (Apêndice B) coletou o histórico religioso de cada componente do
grupo, bem como suas expectativas, assiduidades nas reuniões e a contribuição do grupo
para o crescimento espiritual e coletivo das pessoas que o compõem.
3.1 DADOS PESSOAIS
Os dados foram coletados durante o período da pesquisa no grupo de
Renovação Carismática na Paróquia de São Francisco, em Campo Grande-MS, os quais
foram analisados e interpretados, através de tabelas, gráficos e análises teóricas. A ênfase
maior é a análise interpretativa dos dados coletados.
3.1.1 Naturalidade
Tabela 01 Naturalidade
Estado Quantidade Percentual
Ceará 1 5
Mato Grosso do Sul 13 65
Rio Grande do Sul 2 10
São Paulo 4 20
Total 20 100
Gráfico 01 Naturalidade
63
5%
65%
10%
20%
Ceará
Mato Grosso do Sul
Rio Grande do Sul
São Paulo
Observa-se no gráfico 1 que a maior parte dos entrevistados são do Estado de
Mato Grosso do Sul e que os outros são de outras regiões do país, constatando assim que o
fluxo migratório dentro do país, de Estado para Estado, é uma permanente.
Pessoas de diversas regiões do país se reúnem em um espaço, onde passam a
ter objetivos comuns, independente do Estado de origem, como é o caso do grupo de
Renovação Carismática da Paróquia de São Francisco, que buscam viver na fé com base no
Espírito Santo.
Apesar de haver um número pequeno de pessoas de outros Estados, percebe-se
que este grupo, assim como outros que participam de movimentos religiosos ou não dentro
do país, apresenta uma diversidade de origem, comprovando que o processo, de ir e vir
dentro do mesmo é uma constante e que as linhas demarcatórias que separam os Estados,
com a integração dos brasileiros essas demarcações parecem não existir. Porém, dentro
dessa “homogeneização” do espaço brasileiro, existe um espaço que jamais se mistura:
estamos nos referindo ao espaço sagrado, que não é homogêneo; este se apresenta com
roturas, quebras, com porções espaciais qualitativamente diferentes de outras. Essa não-
homogeneidade espacial religiosa difere de todo o resto da extensão que o cerca.
(ELIADE, 1999).
3.1.2 Idade
64
Tabela 02 Idade
Idade Quantidade Percentual
Menos de 20 anos 1 5
De 21 a 25 anos 2 10
De 26 a 30 anos 4 20
De 31 a 40 anos 6 30
Acima de 41 anos 7 35
Total 20 100
Gráfico 02 Idade
5%
10%
20%
30%
35%
Menos de 20 anos
De 21 a 25 anos
De 26 a 30 anos
De 31 a 40 anos
Acima de 41 anos
Neste gráfico 2 foi levantada a faixa etária dos entrevistados, onde a média de
idade predominante verificada foi na faixa etária acima de 41 anos, com 35%, seguinda por
um público mais jovem, na faixa etária entre 31 e 40 anos, com 30 %.
De modo geral, a idade das pessoas pode influenciar na maneira de conceber e
entender o que a vida oferece de bom ou de ruim, sendo que tal afirmação leva-nos a um
raciocínio lógico de que os grupos se fazem por faixa etária.
No caso de grupos religiosos pode haver uma diferenciação na formação desses
grupos ou não. Por exemplo, é comum encontrarmos grupos religiosos somente formados
por jovens e outros por pessoas com mais idade, como é o caso das Filhas de Maria, grupo
antigo nas igrejas católicas. Porém, essa diferenciação de grupos, principalmente
religiosos, formados também por idades diferenciadas, compõe a performance dos grupos
de pessoas que fazem parte do Movimento Carismático em estudo. Isto mostra que existe
uma faixa etária em grande concentração, que são os mais idosos. Mas estão presentes
65
também pessoas de outras idades, porém, em menor número. Certo é que pessoas de
diversas idades procuram os movimentos religiosos, cujo fato se justifica porque as
mesmas buscam ser responsáveis, verificando seus erros e suas limitações, e assim cuidam
da consciência, buscando graça, perdão e a plenitude da vida na mensagem de Jesus
(ARNS, 1975). Assim, o grupo em estudo, apresenta uma interação também com pessoas
jovens que buscam uma vida em família pautada nos ensinamentos religiosos, como será
revelado nesta pesquisa, nos comentários que se referem ao número de filhos dos
integrantes do Movimento de Renovação Carismática da Paróquia de São Francisco.
3.1.3 Sexo
Tabela 03 Sexo
Sexo Quantidade Percentual
Masculino 3 15
Feminino 17 85
Total 20 100
Gráfico 03 Sexo
15%
85%
Masculino
Feminino
No gráfico 3 foi identificado que os Carismáticos da Paróquia de São
Francisco, em sua maioria, são pertencentes ao sexo feminino 85%, e os do sexo masculino
somam um total de 15%.. Estes dados se constatam, mesmo quando informalmente
voltamos o olhar para a maioria dos grupos religiosos, onde as mulheres sempre foram
maioria nestes movimentos. É neste grupo que a averiguação formal vem constatar com a
66
informal, observada constantemente em diversos grupos religiosos de todos os gêneros,
quer sejam católicos ou evangélicos.
No entanto, o gráfico apresentado permite-nos conhecer melhor o perfil do
grupo pesquisado. Em suma, a presença do sexo feminino ou masculino nas questões
religiosas não pode ser abordada em mera formalidade ou informalidade, mas sim, na
sinceridade de cada um e de todos (DAMATTA, 1984).
3.1.4 Estado civil
Tabela 04 Estado civil
Estado Civil Quantidade Percentual
Solteiro 3 15
Casado 13 65
Separado/Divorciado 0 00
Viúvo 4 20
Total 20 100
Gráfico 04 Estado civil
15%
65%
0%
20%
Solteiro
Casado
Separado/Divorciado
Viúvo
Percebe-se que a maioria dos integrantes do grupo de Renovação da Paróquia
de São Francisco integra os estados civis de casado e viúvo. Isso se justifica pelo fato de
que a Renovação Carismática Católica enfatiza a preservação da família. Já os solteiros,
que em sua maioria também são jovens, encontram-se em um percentual de 15%.
Em geral, os envolvidos na Renovação Carismática testemunham o poder de
Deus de curar, libertar e fortalecer. Descobrem que esses poderes estão à disposição na
67
oração, ao mesmo que se preocupam com a prática do sacramento da penitência.
Acreditam esses católicos que o Senhor quer perdoá-los e transformá-los de maneira que
sejam cristãos livres e amorosos, aliviados das peias dos pecados habituais. Crêem que o
Senhor assumiu esses pecados e por estes satisfez-se plenamente, mediante a efusão do seu
sangue. Crêem que o perdão e a cura já foram dados através do poder de Jesus Cristo
(SCANLAN, 1976). Pelos dados referentes a este item e parafraseando o autor, está nítido
que as pessoas com experiência de vida e sofridas, mesmo os solteiros, encontraram dentro
do grupo razões lógicas para dele participarem. É óbvio que tais experiências se
configuram entre os casados e viúvos pela própria condição e compromisso familiar. Por
isso, a margem de participação destes no grupo pesquisado é maior.
3.1.5 Número de filhos
Tabela 05 Número de filhos
Filhos Quantidade Percentual
Um zero 00
Dois zero 00
Três 9 45
Quatro 9 45
Mais de quatro zero 00
Nenhum 2 10
Total 20 100
Gráfico 05 Número de filhos
0%0%
45%
45%
10%
0%
Um
Dois
Três
Quatro
Mais de quatro
Nenhum
No gráfico 5 observa-se que a média de filhos dos carismáticos entrevistados
está entre três e quatro filhos, atingindo o percentual de 45%. Porém, nenhum dos
68
entrevistados apareceu nas estatísticas com um, dois e mais de quatro filhos. Apenas 10%
se apresentam sem filhos e entre esses computados, verificamos que 15% referem-se ao
cômputo do gráfico anterior, que são os solteiros.
A relevância de tal questionamento está no fato de que os integrantes do grupo,
em seus depoimentos explicitados em capítulo anterior, tecem agradecimentos à família,
sendo que os relatados a seguir não foram mencionados formalmente com questionários,
mas ouvidos in loco: a mãe que, mesmo com a filha internada em hospital, a deixa sozinha
para participar das reuniões (pela fé). Outra menina com idade de doze anos, que agradece
o envolvimento dos pais no grupo, relatando que depois desse envolvimento, tudo mudou
para melhor em sua casa. Este último depoimento está registrado neste, mesmo gráfico,
onde se comprova que os jovens estão presentes no grupo, contribuindo com o
Desenvolvimento Local, trazendo a família para o Movimento de Renovação Carismática
da Paróquia de São Francisco, como foi mencionado. Afinal, de família em família, bem
estruturadas, teremos um espaço muito mais fácil de projetar o Desenvolvimento Local.
3.1.6 Escolaridade
Tabela 06 Nível de escolaridade
Escolaridade Quantidade Percentual
Ensino fundamental 1 5
Ensino médio 2 10
Ensino superior 8 40
Ensino técnico 8 40
Não teve oportunidade de estudar 1 5
Total 20 100
Gráfico 06 Nível de escolaridade
69
5%
10%
40%
40%
5%
Ensino fundamental
Ensino médio
Ensino superior
Ensino técnico
Não teve oportunidade de
estudar
No gráfico 6 observa-se, em relação à escolaridade, que o percentual para o
ensino fundamental e entre os que não tiveram oportunidades de estudar está em 5%,
enquanto os que atingem 10%, possuem o ensino médio. Quanto ao ensino técnico e
superior, o resultado equivale a um percentual de 40%, facilitando para que os defasados
nesta área possam entender melhor as leituras da bíblia, principalmente o Ato dos
Apóstolos, Novo Testamento, nos quais estão registradas as performances da Neo-Igreja
Católica Apostólica Romana, após a vinda de Jesus Cristo.
3.1.7 Endereço residencial
Tabela 07 Residência
Residência Quantidade Percentual
Pessoas que moram no bairro 17 85
Pessoas que moram no entorno do bairro. 3 15
Total 20 100
Gráfico 07 Residência
85%
15%
Pessoas que moram no Bairro
Pessoas que moram no entorno
do Bairro.
Observando o gráfico 7 percebe-se que a população Carismática da Paróquia de
70
São Francisco não é formada totalmente por pessoas pertencentes ao Bairro São Francisco,
pois, 85% das pessoas que compõem o grupo residem no bairro, e os outros, num
percentual de 15%, não moram no bairro, mas em seu entorno e não encontramos nenhum
componente do grupo que reside distante deste. Isto vem comprovar a dinamicidade dos
espaços e que as ações destes para o Desenvolvimento Local podem causar reflexos em seu
entorno, como é o caso desta pesquisa, no qual a ação material em destaque dos
Carismáticos (casa de apoio) fica no entorno do bairro.
Nestes espaços pesquisados existe uma diversidade cultural, onde os pobres
são os que mais sofrem com a desvalorização cultural, além das dificuldades materiais. Ao
desvalorizar a cultura, está se enfraquecendo a identidade. Uma identidade golpeada gera
sentimentos coletivos e individuais de baixa auto-estima (KLIKSBERG, 2001). Este
aspecto o trabalho da Renovação Carismática do Bairro São Francisco está procurando
suprir com suas ações já mencionadas.
Em questionamentos sobre o histórico religioso do grupo e suas impressões
sobre o Movimento de Renovação Carismática da Paróquia de São Francisco foram
coletados os seguintes dados:
3.1.8 Religião
Tabela 08 Sempre foi católico
Religião Quantidade Percentual
Sim 20 100
Não 0 0
Total 20 100
Gráfico 8 – Religião
100%
0%
Sim
Não
No gráfico 8 todos os entrevistados responderam que sempre foram católicos.
71
Mas para conhecermos melhor o grupo, estivemos em suas reuniões no período desta
pesquisa, onde um de seus participantes, durante seu depoimento, assinalou que já fora
espírita, sendo que o mesmo já teve um centro espírita dentro da própria casa. Outra jovem,
também em depoimento, relatou que estava no grupo porque há muito tempo vive à
procura de um movimento que acrescente coisas boas para sua vida. Inclusive já chegou a
ser evangélica durante determinado tempo. Isto comprova que apesar de os entrevistados,
como mostra o gráfico número 8, serem todos católicos, o universo dos Carismáticos da
Paróquia de São Francisco é diversificado.
Existem ainda pessoas dentro do grupo que têm outras experiências religiosas,
porém, todas com um único objetivo: paz de espírito, vivendo o Espírito Santo e assim
trazendo coisas boas tanto para si mesmas, bem como para toda a Comunidade
Franciscana. A essência da religião está num elemento não-racional, que não pode ser
conceituado, apenas pode ser descrito, indicado, evocado, avaliado (BIRCK, 1993).
Tabela 09..Tempo de freqüência no grupo de Renovação na Paróquia de São
.Francisco
Freqüência no grupo Quantidade Percentual
2 anos 8 40
4 anos 3 15
7 anos 3 15
20 anos 1 5
Há pouco tempo 5 25
Total 20 100
Gráfico 09.Tempo de freqüência no grupo de Renovação na Paróquia de São
..Francisco
40%
15%
15%
5%
25%
2 anos
4 anos
7 anos
20 anos
Há pouco tempo
O gráfico 9, acima, apresenta que um percentual elevado de pessoas é antigo
72
no grupo, enquanto que uma grande maioria se encontra no mesmo há 2 anos (40%). A
permanência destas pessoas por longos períodos no movimento facilita o desenvolvimento
das ações do grupo. A perseverança é vista neste como algo altamente positivo, inclusive
há uma certa cobrança entre os integrantes do grupo (um cobra do outro) pela contínua
participação.
Em relação ao motivo que levou essas pessoas a fazerem parte do grupo da
Renovação Carismática na Paróquia de São Francisco, em Campo Grande/MS, vários
motivos foram enfocados, como apresenta o quadro abaixo.
Quadro 01 Motivos enfocados
O que o levou a fazer parte do grupo
Recebimento de bênção na família.
Por já conhecer a Renovação Carismática de outros lugares.
Indo à missa diariamente.
Depressão
Cura de doença
Em conversa com as pessoas do grupo, as mesmas afirmavam que todos que
freqüentam o grupo têm um motivo para estar ali. Que a ação do divino Espírito Santo
opera de uma maneira ou outra trazendo as pessoas para junto dele. Que saber escutar seu
chamado é também um carisma que nem todos possuem.
Como já foi afirmado nesta dissertação, a perseverança em continuar no grupo
é muito importante para o caminhar deste. Por isso, o levantamento no que se refere à
freqüência foi apresentado na tabela 9, porém esta apresenta dados anuais.
Faz-se necessário abordarmos também se este freqüentar anualmente é
permanente, de vez em quando ou somente quando se tem tempo, pois foi constatado
através da pesquisa de campo que existem pessoas que já estão no grupo há muito tempo,
mas por ser um movimento onde a presença não é obrigatória, achamos necessário o
levantamento desses dados.
Tabela 10 Tipo de freqüência no grupo
73
Freqüência no grupo Quantidade Percentual
Permanente 18 90
De vez em quando 2 10
Somente quando tem tempo zero 00
Total 20 100
Gráfico 10..Tipo de freqüência no grupo
90%
10%
0%
Permanente
De vez em quando
Somente quando tem
tempo
Os dados da tabela apontam que a maioria freqüenta o grupo de maneira
permanente e que apenas um pequeno percentual de pessoas participam das reuniões de
vez em quando. O gráfico revela ainda que nenhum dos entrevistados participa das
reuniões somente quanto tem tempo.O quadro a seguir apresenta o que esta participação
assídua no Movimento de Renovação Carismática tem contribuído para o crescimento do
ser humano.
Quadro 02 O que faz o crescimento humano dentro da Renovação Carismática .na
..Paróquia de São Francisco
Contribuições para o crescimento humano
Bem-estar do próximo.
As orações em línguas e os testemunhos.
Ouvir as leituras bíblicas.
A palavra da coordenadora do grupo.
O crescimento espiritual faz a diferença.
As ações imateriais relacionadas acima fazem a diferença na participação
74
comunitária do Bairro São Francisco. Todo o patrimônio material existente neste é zelado
por essas ações imateriais, quer seja com orações, leituras, palavras, citações, etc. , como
afirmado por um dos entrevistados, em conversa informal: “o bem-estar do próximo e o
crescimento espiritual fazem a diferença local, mesmo que seja ação pequena, mas que, de
uma forma ou outra, refletem no meio”.
O quadro a seguir apresenta o significado da ação do Espírito Santo para os
entrevistados:
Quadro 03 O significado da ação do Espírito Santo para os entrevistados
O significado da ação do Espírito Santo
É aquele que move, transforma e que habita em nosso coração.
É tudo, fé e vida.
pessoa da Santíssima Trindade
Presença de Deus em nossas vidas.
O Espírito que nos revela os dons em línguas.
Revela-nos o dom da ciência, inteligência e da sabedoria.
Espírito de Deus ilumina e transforma a vida.
Revelação das vontades de Deus.
As respostas obtidas neste item do questionário demonstram que há uma
confirmação do apresentado no quadro 03, quanto ao crescimento espiritual das pessoas
em relação ao significado do Espírito Santo. O quadro a seguir demonstra a ação do
Espírito Santo no dia-a-dia dos entrevistados.
Quadro 04 A ação do Espírito Santo no dia-a-dia dos entrevistados
A ação do Espírito Santo no dia-a-dia
Transformação. Vida com qualidade.
Atendimento em minhas orações.
Fé e alegria em viver.
Bênção das graças recebidas.
75
O próximo e último quadro, 05, apresenta a preocupação e o interesse dos
integrantes do grupo em trazer mais adeptos ao Movimento de Renovação Carismática na
Paróquia de São Francisco.
Quadro 05 A ação do Espírito Santo no dia-a-dia dos entrevistados
A ação do Espírito Santo no dia-a-dia
Ter maior conhecimento sobre o mesmo.
Disponibilidade.
Deixar que Deus, venha ser fonte de vida.
Incentivo.
Divulgação, principalmente dos freis da paróquia.
Com a análise destes dados pode-se agora responder algumas das questões
norteadoras, bem como chegar a uma conclusão a respeito do problema pesquisado.
Enfim, os participantes do Movimento de Renovação Carismática do Bairro
São Francisco vêm crescendo numericamente, dia-a-dia, e percebe-se que há uma
convivência harmoniosa entre seus membros durante os encontros. As ações solidárias
presentes na comunidade pesquisada apontam características voltadas para o
Desenvolvimento Local.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final deste percurso, busca-se efetuar algumas considerações a respeito do
tema abordado.
O trabalho apresenta interrogações emergentes, tais como: em que contexto
religioso essas pessoas que fazem parte do Movimento da Renovação Carismática na
Paróquia de São Francisco estariam se mobilizando para ajudar a comunidade? Qual a
territorialidade dessas ações e os efeitos delas em termos de Desenvolvimento Local?
Pesquisar sobre o Movimento da Renovação Carismática no Bairro São
Francisco e em quais aspectos insere-se o Desenvolvimento Local, obriga o pesquisador a
adentrar no universo da cultura imaterial, com ênfase na religiosidade.
A cultura imaterial se apresenta como elemento de organização em todos os
espaços. Pode-se afirmar que é o elemento fundador do espaço material. Todos os
símbolos de um lugar (quer sejam materiais ou imateriais) estão concisos na alma de um
povo e, conseqüentemente, em suas atuações.
O espaço abordado, bem como seu entorno, apresenta reflexos de ações
imateriais em compromisso com as ações materiais, mostrando a importância do imaterial
para o Desenvolvimento Local, a partir de orações, cantos e louvores ao Espírito Santo.
Das interferências imateriais nascem as materiais, onde todos os integrantes do
grupo de Renovação Carismática Católica trabalham em Comunidades Eclesiais de Base
(Cebs), porém foi observado na pesquisa que, isso é recomendado e não obrigatório. Tal
atividade é realizada sem remuneração, mas alicerça e dá sustentação às ações matériais.
As ações, tanto imateriais quanto materiais, se complementam.
Quanto à territorialidade, percebe-se que esta não é estática, mas move-se
atravessando fronteiras, que é a essência do Desenvolvimento Local em matéria de inter-
relações.
77
A ação carismática no bairro é acatada por todos do grupo da Renovação como
fator importante para o Desenvolvimento Local. Porém, foi constatado que, para que essas
ações se configurem em maior escala, são necessários esclarecimentos sobre este
movimento, e envolvimento de mais adeptos, bem como é preciso assegurar o apoio dos
religiosos capuchinhos, a começar pela maior divulgação nas missas sobre o trabalho do
Movimento de Renovação Carismática na Paróquia de São Francisco/MS.
De tudo o que ficou exposto nesta pesquisa uma coisa há de ter relevância: a
necessidade de se cultivar a fé. Desde que o homem surgiu no mundo, ele demonstra a
importância de ter uma consciência tranqüila, e para isso se assegura em um ser superior.
Isso está registrado desde o Antigo ao Novo testamento. Apesar do tempo que passa, os
símbolos da fé vão ficando cada vez mais marcantes nos espaços ocupados pelo homem.
Os símbolos materiais da fé como a igreja, o terço (de madeira), etc, estão
presentes porque existem as ações imateriais, como as orações, os cantos, etc. Portanto,
preservar e conservar a fé do homem é mais do que necessário para que ele possa continuar
a defender seu espaço. Não é possível imaginar um bairro vivendo o contraste do luxo e da
fome, sem que exista nele uma atividade sagrada que o impulsione a continuar a gerar
recursos, empregando gente, dando ao mesmo maior fôlego para suportar as crises pelas
quais o mundo atravessa. Então será necessário compatibilizar desenvolvimento com as
ações sagradas e, para isso, nada melhor do que voltar os olhos às pessoas que vivem seu
dia-a-dia em consonância com Deus, procurando seguir seus exemplos ou simplesmente
sendo parceiras em suas ações.
78
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